estimativa de idade atravÉs da anÁlise de raios-x … · mineralização dos dentes permanentes...

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Vol.13n.3,pp.22-33 (Dez 2015 – Fev 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr ESTIMATIVA DE IDADE ATRAVÉS DA ANÁLISE DE RAIOS-X DE TERCEIROS MOLARES E DE MÃO E PUNHO: RELATO DE CASOS ESTIMATE OF AGE THROUGH THE ANALYSIS OF X-RAY OF THIRD MOLAR AND HAND AND WRIST: CASES REPORT RODOLFO JOSÉ GOMES DE ARAÚJO 1* , RENATA DE ASSIS MAIA 2 , JONES MOTA SANTOS 3 , CAROLINA AMADOR DA SILVA CALANDRINI 4 , ROSEANE DE FÁTIMA COSTA DE SOUZA 5 1. Doutorando em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários – UFPA; 2. Mestranda em Periodontia e Cirurgia Plástica Periodontal e Peri-implantar – São Leopoldo Mandic; 3. Coordenador de Odontologia Legal e Antropologia Forense do Centro de Perícias Científicas – Renato Chaves (PA); 4. Mestre em Periodontia – São Leopoldo Mandic; 5. Técnico em Radiologia – HGEBE. * Av. Bras de Aguiar 681 / 902 Nazaré, Belém, Pará, Brasil. CEP: 66035-415 email: [email protected] Recebido em 10/12/2015. Aceito para publicação em 06/01/2016 RESUMO A Odontologia Legal e Antropologia Forense, em uma de suas ramificações visam embasar perícias tornando possível estimar um período de idade para um indivíduo, através de fatores como mineralização dentária e desenvolvimento ósseo. Este trabalho tem como objetivo relatar dois casos ocorridos no Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, Belém-PA. Onde dois indivíduos, após cometerem delito, foram encaminhados como menores de 18 anos, sem documentos comprobatórios. Através de dados coletados nos arquivos do Centro de Perícias, foram feitas as análises da mineralização dos dentes, destacando os terceiros molares através da radiografia panorâmica; assim como o estudo do desenvolvimento ósseo de mãos e punhos dos indivíduos através de radiografias, após, as análises foram confrontados com pesquisas realizadas por Nicodemos, Moraes e Médici Filho, condizente à cronologia de mineralização dos dentes permanentes entre brasileiros, somados com o trabalho de Greulich-Pyle, concernente à correlação radiográfica pela cronologia do desenvolvimento da mão e punho. Como resultado das análises obteve-se para o caso 01, idade estimada em 17 anos, e para o caso 02 a idade estimada estava compreendida entre 18-19 anos. PALAVRAS-CHAVE: Odontologia Legal, Antropologia Forense, idade, dentes, mão e punho. ABSTRACT The Forensic Anthropology and Forensic Dentistry, in one of its branches aim to base skills making it possible to estimate an age period for an individual, through factors such as tooth mineralization and bone development. This paper aims to report on two cases from Centro de Perícias Científicas - Renato Chaves, Belém- PA. Where two individuals after committing crime, were referred to under 18s without supporting documents. Through data collected in the archives of the Centro de Perícias, analyzes of the mineralization of the teeth were made, highlighting the third molars by panoramic radiography; as well as the study of bone development of the hands and wrists of individuals through radiographs, after the analyzes were compared to surveys conducted by Nicodemos, Moraes e Médici Filho, befitting the chronology of mineralization of permanent teeth among Brazilians, together with the work of Greulich-Pyle, Radiographic correlation concerning the chronology of the development of the hand and wrist. As a result of the analyzes was obtained for case 01, an estimated age of 17, and to case 02 if the estimated age was between 18-19 years. KEYWORDS: Forensic dentistry, Forensic Anthropology, age, teeth, hand and wrist. 1. INTRODUÇÃO A odontologia legal é uma especialidade que aplica os conhecimentos odontológicos, sem exceção, desde anatomia e matérias básicas, até as mais complexas especialidades, aos interesses do Direito 1 . A Antropologia Forense cuida dos estudos sobre a identidade das pessoas, sua identificação, entre outros, com seus métodos, processos e técnicas. Através da identificação humana, procura estudar qualitativa e quantitativamente diversos tipos caracteres que se diferenciam entre os indivíduos. De fato, o exame dos ossos fornece auxilio fundamental para a investigação da espécie animal, sexo, biótipo, para a estimativa de idade, e determinação do seu envelhecimento 2 . Alves (1965) 3 esclarece que em geral a ocultação de identidade pressupõe a existência de crime ou contravenção. Continua dizendo que quando um delito é cometido, o seu autor é que deve ser punido e não outro;

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Vol.13n.3,pp.22-33 (Dez 2015 – Fev 2016) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR

BJSCR (ISSN online: 2317-4404) Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr

ESTIMATIVA DE IDADE ATRAVÉS DA ANÁLISE DERAIOS-X DE TERCEIROS MOLARES E DE MÃO E

PUNHO: RELATO DE CASOSESTIMATE OF AGE THROUGH THE ANALYSIS OF X-RAY OF THIRD MOLAR AND

HAND AND WRIST: CASES REPORT

RODOLFO JOSÉ GOMES DE ARAÚJO1*, RENATA DE ASSIS MAIA2, JONES MOTA SANTOS3,CAROLINA AMADOR DA SILVA CALANDRINI4, ROSEANE DE FÁTIMA COSTA DE SOUZA5

1. Doutorando em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários – UFPA; 2. Mestranda em Periodontia e Cirurgia Plástica Periodontal ePeri-implantar – São Leopoldo Mandic; 3. Coordenador de Odontologia Legal e Antropologia Forense do Centro de Perícias Científicas – RenatoChaves (PA); 4. Mestre em Periodontia – São Leopoldo Mandic; 5. Técnico em Radiologia – HGEBE.

* Av. Bras de Aguiar 681 / 902 Nazaré, Belém, Pará, Brasil. CEP: 66035-415 email: [email protected]

Recebido em 10/12/2015. Aceito para publicação em 06/01/2016

RESUMOA Odontologia Legal e Antropologia Forense, em uma desuas ramificações visam embasar perícias tornandopossível estimar um período de idade para um indivíduo,através de fatores como mineralização dentária edesenvolvimento ósseo. Este trabalho tem como objetivorelatar dois casos ocorridos no Centro de PeríciasCientíficas – Renato Chaves, Belém-PA. Onde doisindivíduos, após cometerem delito, foram encaminhadoscomo menores de 18 anos, sem documentoscomprobatórios. Através de dados coletados nos arquivosdo Centro de Perícias, foram feitas as análises damineralização dos dentes, destacando os terceiros molaresatravés da radiografia panorâmica; assim como o estudodo desenvolvimento ósseo de mãos e punhos dos indivíduosatravés de radiografias, após, as análises foramconfrontados com pesquisas realizadas por Nicodemos,Moraes e Médici Filho, condizente à cronologia demineralização dos dentes permanentes entre brasileiros,somados com o trabalho de Greulich-Pyle, concernente àcorrelação radiográfica pela cronologia do desenvolvimentoda mão e punho. Como resultado das análises obteve-separa o caso 01, idade estimada em 17 anos, e para o caso 02a idade estimada estava compreendida entre 18-19 anos.

PALAVRAS-CHAVE: Odontologia Legal, AntropologiaForense, idade, dentes, mão e punho.

ABSTRACTThe Forensic Anthropology and Forensic Dentistry, in one ofits branches aim to base skills making it possible to estimate anage period for an individual, through factors such as toothmineralization and bone development. This paper aims toreport on two cases from Centro de Perícias Científicas -Renato Chaves, Belém- PA. Where two individuals aftercommitting crime, were referred to under 18s without

supporting documents. Through data collected in the archivesof the Centro de Perícias, analyzes of the mineralization of theteeth were made, highlighting the third molars by panoramicradiography; as well as the study of bone development of thehands and wrists of individuals through radiographs, after theanalyzes were compared to surveys conducted by Nicodemos,Moraes e Médici Filho, befitting the chronology ofmineralization of permanent teeth among Brazilians, togetherwith the work of Greulich-Pyle, Radiographic correlationconcerning the chronology of the development of the hand andwrist. As a result of the analyzes was obtained for case 01, anestimated age of 17, and to case 02 if the estimated age wasbetween 18-19 years.

KEYWORDS: Forensic dentistry, Forensic Anthropology,age, teeth, hand and wrist.

1. INTRODUÇÃOA odontologia legal é uma especialidade que aplica

os conhecimentos odontológicos, sem exceção, desdeanatomia e matérias básicas, até as mais complexasespecialidades, aos interesses do Direito1.

A Antropologia Forense cuida dos estudos sobre aidentidade das pessoas, sua identificação, entre outros,com seus métodos, processos e técnicas. Através daidentificação humana, procura estudar qualitativa equantitativamente diversos tipos caracteres que sediferenciam entre os indivíduos. De fato, o exame dosossos fornece auxilio fundamental para a investigação daespécie animal, sexo, biótipo, para a estimativa de idade,e determinação do seu envelhecimento2.

Alves (1965)3 esclarece que em geral a ocultaçãode identidade pressupõe a existência de crime oucontravenção. Continua dizendo que quando um delito écometido, o seu autor é que deve ser punido e não outro;

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Por intermédio de exames radiográficos de ossos edentes, é possível redigir o exame de interesse judiciário,relatado em juízo, o qual se chama de perícia, a fim deobter o parecer técnico final. Devido à necessidade daperícia de ser um meio de esclarecimento técnico, énecessário que os peritos tenham conhecimento nãoapenas do aspecto anatômico dos ossos, articulações edentes, estes devem conhecer sobre particularidades quepossam ser encontradas, os quais devem colherinformações suficientes, para que após análise possamalcançar o principal objetivo: a conquista da verdade.

Segundo Arbenz (1988)1, em suas linhas gerais, aspericias de estimativa de idade têm indicações práticasprecisas nos seguintes casos: a) ausência de registrocivil. b) registro existente, mas imputado de falsidade. c)existência de dois registros, requerendo opção com basecientifica.

Existem sinais que, se não nos fornecem a idadeexata, podem fornecer um período da vida humana, vistoque o organismo sofre transformações com o correr dotempo, nos permitindo a fixação da idade da pessoa, docadáver ou do esqueleto. Estes sinais compreendem odesenvolvimento dental, a maturidade óssea, odesenvolvimento dos caracteres sexuais secundários,presença de estrias longitudinais nas unhas,aparecimento de cabelos encanecidos, dentre outros.

Os estudos da odontologia legal e antropologiaforense, rotineiramente associam o desenvolvimentodental ao esquelético para se obter um diagnóstico maispreciso. A maturidade óssea, como o desenvolvimentocarpal, e os elementos dentários são os que menossofrem transformação do ambiente, por isso são os maiscomumente usados em exames de estimativa de idade,portanto é imprescindível a utilização e análise de raio-xpara resultados mais fidedignos, onde pode se observar amineralização dos dentes permanentes assim como apresença ou ausência de 3° molares, classificando-os nosestágios descritos por Nicodemos, Moraes e MédiciFilho (1974)4.

A mão e o punho são as partes do esqueleto maisfrequentemente usadas para avaliar a maturidadeesquelética5,6.

Na avaliação do desenvolvimento deve-se observar amaturação esquelética através do fusionamentocompleto, incompleto, ou ausência de fusão, das epífisescom as diáfises dos ossos longos. O grau defusionamento é caracterizado pela metáfise, linhacartilaginosa que separa os dois ossos, a qual desaparececom a calcificação óssea completa. A presença edesenvolvimento do osso sesamóide dos adutores dospolegares, também é fator indicativo de idade, por issodevemos leva-lo em consideração na análise do raio-x.

Através de dados obtidos nos arquivos do Centro dePerícias Científicas – Renato Chaves objetiva-se estimara idade em dois indivíduos vivos com finalidade legal,

onde estes após cometerem delitos foram encaminhadosao centro sem documentos comprobatórios de idade.Foram feitas as análises da mineralização dos 3° molarese do desenvolvimento ósseo das mãos e punhos, tendocomo principal instrumento as radiografias.

2. MATERIAL E MÉTODOSRealizou-se levantamento nos arquivos do Centro

de Perícias Científicas – Renato Chaves (Belém-Pa),sendo critério de inclusão as perícias realizadas noperíodo de 2011- 2013, que tenham o objetivo de estimara idade de um indivíduo que tenha cometido delito e nãopossua documento comprobatório de idade.

Através dos arquivos, tornou-se possível conheceras características dos indivíduos, como estatura e peso,assim como os elementos dentários ausentes oupresentes na cavidade bucal e radiografias panorâmicas ede mãos e punhos de cada indivíduo.

A partir dos dados coletados, partiu-se do princípioque os indivíduos possuem crescimento esquelético edesenvolvimento dentário normais e comuns àbrasileiros.

Observados os caracteres descritos nas análisesdentárias, destacando o grau de mineralização dosterceiros molares, estes foram enquadrados em estágiosdescritos por Nicodemos, Moraes e Médici Filho(1974)4, e posteriormente foram relacionados às idadescondizentes com os respectivos estágios dedesenvolvimento, foram feitas médias aritméticas paraos valores encontrados na tabela e estabelecida umaidade dentária para cada indivíduo.

Ao exame radiográfico de mão e punho,observou-se o grau de fusionamento presente entre asepífises e diáfises dos ossos longos, metacarpos efalanges, relacionando com os estágios descritos porGreulich e Pyle (1959) correspondentes à cada idade.

3. DESENVOLVIMENTODeterminamos dentição, os fenômenos que se

observam desde o momento em que se origina oespessamento do epitélio do estomódeo, até o fim daevolução dos dentes (por queda senil, ausência de germedentário, reabsorção patológica ou por remoçãocirúrgica). A evolução dentária tem início muito cedo epor isso sofrem elevada ação do tempo para que estaacompanhe o desenvolvimento do corpo todo doindividuo. Transformando-se à medida que a vida evolui,os dentes podem ser utilizados para estimar, entre outros,a idade, através dos dados de importância práticacontidos nas seguintes etapas: calcificação, rizólise,erupção e modificações dentárias tardias1.

Em casos isolados, podem ocorrer divergências deidades, dentre vários fatores, a maioria dos autores relata

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que a discrepância entre a idade estimada e a real,deve-se à diferença entre as várias populações estudadas.

Marcondes (1983)7 estudou a idade óssea e a idadedentária, verificando que quando há um atraso da idadeóssea em relação à idade cronológica, a idade dentáriamantém-se comparável à idade cronológica,demonstrando que o processo de mineralização dosdentes segue um ritmo mais uniforme, sendo menosinfluenciado pelos fatores que provocam a alteração daevolução óssea.

O estudo das fases de evolução do indivíduo, sejapara finalidades periciais ou outros, deve ser realizadopor meio de exames radiográficos. Com o auxílio destesexames torna-se relativamente fácil estabelecer umaidade para o indivíduo em questão.

No que diz respeito à erupção, segundo Bhaskar(1958)8, atendendo ao aspecto fisiológico, considera umafase pré-eruptiva, que corresponde ao tempo decorridoentre o início do desenvolvimento do dente e a completaformação da coroa; uma fase pré-funcional, que começacom a formação da raiz e se estende até o momento emque o dente entra em contato com o antagonista, oumelhor, até que entre em oclusão; e uma fase funcionaldaí para diante. Do ponto de vista pericial deveadmitir-se que, vencido o obstáculo ósseo e mucoso, odente está irrompido.

Segundo Massler & Schour (1958)9, o primeiromolar permanente, chave de oclusão dos ortodontistas,de acordo com os achados, irrompe seis meses mais cedonas crianças do sexo feminino. Dentre as alteraçõespatológicas os casos de anodontia parcial ou total não serevestem de tanta importância, não havendo risco deinterpretações errôneas a respeito da idade; nos casos depatologias sistêmicas investigar à fundo o paciente, poiseventualmente pode-se notar alterações, como oraquitismo, onde a erupção dentária pode ocorrertardiamente, assim como alterações ósseas perceptíveisem radiografias.

Métodos para avaliação de desenvolvimentodentário método de Nolla (1960)

Nolla (1960)10 realizou um estudo que se tornoureferência na avaliação de desenvolvimento dentário.Analisou os dentes permanentes de 25 pacientes do sexofeminino e 25 pacientes do sexo masculino, todosoriundos de Michigan (USA). Propôs 10 estágios dedesenvolvimento dentário ao avaliar o estágio decalcificação individualmente para os caninos, osprimeiros e segundo pré-molares e os segundos eterceiros molares inferiores (Figura 1 Estágios dedesenvolvimento dentária segundo Nolla 196010).

Os movimentos de erupção, nos dentes permanentes,iniciam somente quando a coroa está completa,correspondendo ao estágio 6 de Nolla (1960)10, passandopela crista alveolar com aproximadamente 2/3 de raiz

formada (estágio 8 de Nolla (1960)10), rompendo amargem gengival quando ¾ de raiz estejam completos(estágio 9 de Nolla (1960)10).

Figura 1. Estágios de desenvolvimento dentária segundo Nolla (1960).Fonte: The development of permanent teeth, 1960.

Método de Nicodemo, Moraes e Médici Filho(1974)

Nicodemo (1967)11 em seus estudos propôs-se aelaborar um trabalho sobre a mineralização dos terceirosmolares, baseado no exame radiográfico de umapopulação selecionada no Vale do Paraíba- São Paulo. Aamostra foi radiografada pelas técnicas periapical eextraoral, e as imagens radiográficas comparadas a oitodos dez estágios de mineralização propostos por Nolla(1960)10.

As pesquisas de Moraes e Médici Filho foramelaboradas simultaneamente, em 1973, com a diferençade que cada um se ocupou de um grupo definido dedentes: Moraes (1973)13 estudou os incisivos e primeirosmolares permanentes, e Médici Filho (1973)14, caninos,pré-molares e segundos molares permanentes. Foiutilizada a norma lateral nos crânios secos e radiografiaspanorâmicas nos indivíduos vivos. Houve concordânciaentre a opinião de Moraes (1973)13 e de outros autoresquanto à discreta precocidade constatada do sexofeminino, em relação ao masculino, e do arco inferiorcomparativamente ao seu antagonista, no que tange àcronologia de desenvolvimento. Todavia, assim comoseus colaboradores, o autor observou que taldiscrepância entre os sexos não era significativa,contrapondo-se, portanto, a outros pesquisadores, queenfatizavam a diferença entre os sexos e entre ossuperiores e inferiores.

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Tabela 1. Cronologia de mineralização dos dentes permanentes(1974).

Fonte: Revista da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos.

Figura 2. Estágios de desenvolvimento dentário segundo Nicodemo,Moraes e Médici Filho (1974). Fonte: Revista da Faculdade de Odon-tologia de São José dos Campos.

Moraes (1973)13 ainda reafirmou as conclusões deNicodemo (1967)11, na observação de algum retardo noinício do processo de mineralização e precocidade emseu término, quando comparados os resultados de suaspesquisas com as tabelas existentes para outraspopulações. Considerou, portanto, que as tabelascronológicas do desenvolvimento da dentição humanaconhecidas até então não se aplicam ao nosso meio. Asconclusões do trabalho de Médici Filho (1973)14 tambémcoadunaram com as obtidas pelos dois outros autoresacima mencionados, permitindo a reunião das trêspesquisas na confecção de uma tabela única4. (Tabela 1 -Tabela cronológica de mineralização dos dentespermanentes 1974).

Serão utilizados como base, neste caso, os estudos deNicodemo, Moraes e Médici filho (1974)4, pois estes

basearam seus estudos em brasileiros tornando osintervalos de idade mais confiáveis (Figura 2 Estágios de

desenvolvimento dentário segundoNicodemo, Moraes e Médici Filho 1974)4.

Métodos para avaliação dedesenvolvimento ósseo

Maturidade esquelética é amensuração do desenvolvimento ósseoincorporando o tamanho, forma e grau demineralização do osso para definir a suaproximidade com a plena maturidade. Aavaliação da maturidade esqueléticaenvolve um rigoroso exame de váriosfatores e um conhecimento fundamentaldos vários processos pelos quais osso sedesenvolve, segundo Gilsanz & Ratib

(2011)15.Idade esquelética, ou idade óssea, a medida mais

comum para a maturação biológica do crescimentohumano, deriva do exame de estágios sucessivos dedesenvolvimento do esqueleto, como visto emradiografias de mão e punho. Estas observações emradiografias carpais, usada por pediatras, ortopedistas eantropólogos físicos, é atualmente o indicador maisusado para análise de desenvolvimento que se estende donascimento até o envelhecimento. Essencialmente, ograu de maturidade esquelética depende de duascaracterísticas: crescimento da área através daossificação, e de deposição de cálcio na área. Emboraessas duas características possam não manter o ritmo emtodos os indivíduos, e nem sempre apresentarem-se aomesmo tempo, eles seguem um padrão bastante definidode tempo. Através de radiografias, este processoproporciona um critério útil para estimar o crescimento ematuração normal e anormal2.

Figura 3. Estágios de ossificação entre epífise e diáfise. Fonte: Orto-dontia preventiva: diagnóstico e tratamento (2014).

Segundo Junqueira (2008)16, o crescimentolongitudinal dos ossos longos ocorre por um processo deossificação endocondral, porém o processo decrescimento em largura ocorre através da membrana

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fibrosa. Todos os ossos do carpo e os ossos chatos sedesenvolvem apenas pelo processo de ossificaçãoprimária. Porém nos ossos longos ocorrem dois centrosde ossificação, um primário, localizado perto do eixolongitudinal, o qual desenvolverá a diáfise, e um centrosecundário que se localiza na extremidade dascartilagens desses ossos, o qual desenvolverá a epífise. Amaturação nos dois centros de ossificação ocorrem damesma maneira, com ossificação de cartilagem e invasãode osteoclastos e osteoblastos.

Durante o processo de maturação óssea, nota-se apresença de linha radiolúcida denominada metáfise, quedesaparecerá assim que ocorrer a completa fusão dasepífises com as diáfises (Figura 3 Estágios de ossificaçãoentre epífise e diáfise; Figura 4 Representação, daesquerda para a direita, dos graus progressivos de fusãodas epífises da ulna e do rádio).

Figura 4. Representação, da esquerda para a direita, dos graus pro-gressivos de fusão das epífises da ulna e do rádio. Fonte: Hand BoneAge - A digital Atlas of Skeletal Maturity 2005.

Figura 5. Representação da ordem de aparecimento dos ossos do car-po. Capitato (1), Hamato (2), Piramidal (3), Semilunar (4), Trapézio(5), Trapezoide (6), Escafóide (7), Psiforme (8). A epífise distal do raioossifica antes do piramidal e a epífise da ulna antes da pisiforme. Fon-te: Hand Bone Age - A digital Atlas of Skeletal Maturity 2005.

Denomina-se estágio epifisário, o grau de ossificaçãoda cartilagem de crescimento (metáfise) localizada entre aepífise e a diáfise e, portanto, a maneira pela qual a epífiseinicia e aumenta sua ossificação, até que se una à diáfisenos ossos longos. Esses estágios epifisários ocorremprimeiro nas falanges distais, depois nas proximais e porúltimo nas falanges médias. Também a sequência deocorrência destes fenômenos epifisários nos dedosaparece primeiro no polegar indo em direção ao mínimo

(1 ao 5). Radiograficamente, em ossos muito jovens, asepífises não são visualizadas. Em seguida aparece umpequeno ponto de ossificação que vai aumentando emlateralidade até chegar à mesma largura da diáfise. Apartir daí a epífise começa a emitir prolongamento lateral(capeamento), depois a porção central da cartilagem vaisendo substituída pela fusão óssea (união inicial) efinalmente observa-se uma fusão total.

A mão divide-se em três partes: carpo, metacarpo ededos. O carpo constitui-se de oito ossos distribuídos emduas fileiras. A fileira proximal é composta por quatroossos que são, de fora para dentro: escafóide, semilunar,piramidal e psiforme. A fileira distal está formada pelosossos: trapézio, trapezóide, grande osso ou capitato (oqual é o primeiro a ser formado e visívelradiograficamente) e ganchoso ou hamato. (Figura 5Representação da ordem de aparecimento dos ossos docarpo. Capitato (1), Hamato (2), Piramidal (3), Semilunar(4), Trapézio (5), Trapezoide (6), Escafóide (7), Psiforme(8). A epífise distal do raio ossifica antes do piramidal e aepífise da ulna antes da pisiforme).

Formado por cinco ossos longos, com suas epífises ediáfises, os metacarpos são numerados de 1 a 5, de forapara dentro. Junto à parte interna e distal do metacarpo 1encontra-se o osso sesamóide medial, sendo o flexorsesamóide de difícil visualização.

Chapman (1972)18 estudou a correlação existenteentre o crescimento e o aparecimento dos sesamoidesexistentes na região dos dedos da mão. Observou, emseus resultados, que o sesamoide ulnar do polegarapareceu em praticamente todos os casos,constituindo-se no melhor indicador da maturidadeesquelética. Sua presença, a qual tem início aos 14 anos,indicaria que a puberdade já teve início e que avelocidade de crescimento em altura encontra-se na fasede aceleração, tendo sua completa maturação aos 18anos.

Método de fishman (1979)Fishman (1979)19 apresentou um estudo no qual

relacionou o crescimento facial com registros da idadecronológica e esquelética, utilizando telerradiografias emnorma lateral, radiografias carpais e registros dedesenvolvimento estatural obtidos semestralmente de 60meninos e 68 meninas, com idade variando entre 7 anose meio e 15 anos. Desenvolveu então quatro estágios dematuração óssea que são encontrados em seis sítiosanatômicos localizados no polegar, no dedo médio, nodedo mínimo e no rádio (Figura 6 Estágios de maturaçãoóssea segundo Fishman (1979)19).

Nesses sítios, são encontrados onze indicadores dematuridade esquelética (IME) que cobrem todo o perío-do de desenvolvimento adolescente. A sequência dosquatro estágios de maturação óssea segue abaixo:

1. Aumento em largura da epífise;

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2. Capeamento;3. Fusão;4. Ossificação do adutor do sesamoide;

Figura 6. Estágios de maturação óssea segundo Fishman. Fonte: Ra-diographic evolution of skeletal maturation. A clinically orientedmethod based on hand-wrist films (1982).

Método de Greulich e Pyle (1959)Greulich e Pyle (1959)18 é a técnica para estimar a

idade esquelética mais predominantemente empregadahoje.

Figura 7. Radiografia de mão e punho correspondente à 14 anos -Masculino. Fonte: Hand Bone Age - A digital Atlas of Skeletal Ma-turity 2005.

Seus estudos são baseados no reconhecimento deindicadores de maturidade, ou seja, mudanças naaparência radiográfica das epífises dos ossos longos,desde os primeiros estágios de ossificação até a fusãocom a diáfise, ou mudanças nos ossos chatos, atéobtenção da forma adulta.

Greulich & Pyle (1959)20 realizaram um estudolongitudinal contendo 60 imagens radiográficas de mãoe punho, relativas à idade óssea de indivíduos

norte-americanos, de zero à 20 anos (Figura 7Radiografia de mão e punho- 14 anos – Masculino;Figura 8 Radiografia de mão e punho- 15 anos –Masculino; Figura 9 Radiografia de mão e punho- 16anos - Masculino; Figura 10 Radiografia de mão epunho- 17 anos - Masculino; Figura 11 Radiografia demão e punho- 18 anos - Masculino).

Figura 8. Radiografia de mão e punho correspondente à 15 anos -Masculino. Fonte: Hand Bone Age - A digital Atlas of Skeletal Matu-rity 2005.

Figura 9. Radiografia de mão e punho correspondente à 16 anos -Masculino. Fonte: Hand Bone Age - A digital Atlas of Skeletal Ma-turity 2005.

Através deste estudo, idealizaram o primeiro atlasutilizando a idade óssea como índice de desenvolvimen-

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to.

Figura 10. Radiografia de mão e punho correspondente à 17 anos -Masculino. Fonte: Hand Bone Age - A digital Atlas of Skeletal Ma-turity 2005.

Figura 11. Radiografia de mão e punho correspondente à 18 anos -Masculino. Fonte: Hand Bone Age - A digital Atlas of Skeletal Ma-turity 2005.

No intuito de obter a idade esquelética do indivíduo,a utilização do atlas se baseia em comparar determinadasfases de formação ou ossificação dos ossos carpais daimagem radiográfica carpal do paciente, com as imagensradiográficas impressas no atlas, por meio da observaçãovisual dos 28 centros de ossificação presentes na radio-grafia de mão e punho, quando a radiografia não se en-contra exatamente igual à imagem descrita no livro, de-ve-se comparar com a imagem que mais se aproxima.

Na Figura 12, a representação radiográfica dos com-

ponentes de mão e punho. 1-Escafóide, 2-Semilunar,3-Psiforme, 4-Piramidal, 5-Hamato, 6-Capitato,7-Trapezóide, 8-Trapézio, 9-Epífise do osso rádio,10-Epífise do osso ulna, 11-Epífise proximal do 1º me-tacarpo, 12-Epífise distal do 2º metacarpo, 13-Epífisedistal do 3º metacarpo, 14-Epífise distal do 4º metacarpo,15-Epífise distal do 5º metacarpo, 16-Epífise da falangeproximal do 1º dedo, 17-Epífise da falange proximal do2º dedo, 18-Epífise da falange proximal do 3º dedo,19-Epífise da falange proximal do 4º dedo, 20-Epífise dafalange proximal do 5º dedo, 21-Epífise da falange distaldo 1º dedo, 22-Epífise da falange média do 2º dedo,23-Epífise da falange média do 3º dedo, 24- Epífise dafalange média do 4º dedo, 25-Epífise da falange médiado 5º dedo, 26-Epífise da falange distal do 2º dedo,27-Epífise da falange distal do 3º dedo, 28-Epífise dafalange distal do 4º dedo, 29-Epífise da falange distal do5º dedo, 30-Osso sesamóide.

Figura 12. Representação radiográfica dos componentes de mão epunho. 1- Escafóide, 2-Semilunar, 3-Psiforme, 4-Piramidal, 5-Hamato,6-Capitato, 7-Trapezóide, 8-Trapézio, 9-Epífise do osso rádio,10-Epífise do osso ulna, 11-Epífise proximal do 1º metacarpo,12-Epífise distal do 2º metacarpo, 13-Epífise distal do 3º metacarpo,14-Epífise distal do 4º metacarpo, 15-Epífise distal do 5º metacarpo,16-Epífise da falange proximal do 1º dedo, 17-Epífise da falange pro-ximal do 2º dedo, 18-Epífise da falange proximal do 3º dedo,19-Epífise da falange proximal do 4º dedo, 20-Epífise da falange pro-ximal do 5º dedo, 21-Epífise da falange distal do 1º dedo, 22-Epífiseda falange média do 2º dedo, 23-Epífise da falange média do 3º dedo,24- Epífise da falange média do 4º dedo, 25-Epífise da falange médiado 5º dedo, 26-Epífise da falange distal do 2º dedo, 27-Epífise da fa-lange distal do 3º dedo, 28-Epífise da falange distal do 4º dedo,29-Epífise da falange distal do 5º dedo, 30-Osso sesamóide. Fonte:Acervo do Centro de Perícias Científicas – Renato Chaves.

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4. RELATO DE CASOCaso 01

Paciente JCLS, sexo masculino, foi detido apósprática criminosa e encaminhado para o Centro dePerícias Científicas – Renato Chaves em Belém/Pa nodia 02/06/2013 através de solicitação judicial, pararealização de exame pericial com finalidade de estimaruma idade para o indivíduo.

Figura 13. Radiografia panorâmica do periciando J.C.L.S. Fonte:Acervo do Centro de Perícias Científicas – Renato Chaves.

Figura 14. Terceiro molar inferior direito evidenciado com ápicesabertos. Fonte: Acervo do Centro de Perícias Científicas – RenatoChaves.

O indivíduo apresentava cor parda, sexo masculino,sem profissão, brasileiro, paraense, morador de rua. Semdocumentação de identificação.

Ao exame biométrico: peso 77 Kg e estatura 1,72metros. Ao exame intra-oral apresentava os seguinteselementos dentários permanentes segundo notaçãodentária internacional (FDI): 18, 17, 15, 14, 13, 12, 11;21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28; 38, 37, 36, 34, 33, 32, 31;41, 42, 43, 44, 45, 46, 47,48. Estavam ausentes porprováveis avulsões antigas, os elementos dentais: 16 e

35 (Figura 13 Radiografia panorâmica do periciandoJ.C.L.S).

Ao exame radiográfico dos arcos dentais,observaram-se imagens dos ápices radiculares doselementos dentais 18; 28; 38; 48, abertos, pormineralizar, no estágio 07 da tabela de Nicodemo,Moraes e Médici Filho (1974) (Figura 14. terceiro molarinferior direito evidenciado com ápices abertos; Figura15 terceiro molar inferior esquerdo evidenciado comápices abertos).

Figura 15. Terceiro molar inferior esquerdo evidenciado com ápicesabertos. Fonte: Acervo do Centro de Perícias Científicas – RenatoChaves.

Figura16. Radiografia de mão e punho do periciando J.C.L.S. Fonte:Acervo do Centro de Perícias Científicas – Renato Chaves.

Ao exame radiográfico dos punhos das mãos,observou-se: imagem de linha radiolúcida entre asepífises e as diáfises dos ossos rádios e ulna, revelandoque o processo de maturação óssea estava ativo com alinha cartilaginosa evidente; presença do osso sesamóidedo adutor dos polegares (Figuras 16 Radiografia de mãoe punho do periciando J.C.L.S; Figura 17 Radiografia de

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mão e punho esquerdo do periciando J.C.L.S.evidenciando presença de metáfise entre as epífises ediáfises dos ossos rádio e ulna; Figura 18 Radiografia demão e punho direito do periciando J.C.L.S. evidenciandopresença de metáfise entre as epífises e diáfises dosossos rádio e ulna). Após a análise do desenvolvimentodentário segundo Nicodemo, Moraes e Médici Filho(1974)4 e desenvolvimento ósseo (carpal) segundoGreulich e Pyle (1959)20, através dos exames clínico eradiográficos, estima-se que a idade do periciando acimacitado está compreendida entre 17 anos e 17 anos e seismeses.

Figura 17. Radiografia de mão e punho esquerdo do periciandoJ.C.L.S. evidenciando presença de linha radiolúcida entre as epífises ediáfises dos ossos rádio e ulna. Fonte: Acervo do Centro de PeríciasCientíficas – Renato Chaves.

Figura 18. Radiografia de mão e punho direito do periciando J.C.L.S.evidenciando presença de linha radiolúcida entre as epífises e diáfisesdos ossos rádio e ulna. Fonte: Acervo do Centro de Perícias Científicas– Renato Chaves.

Aos quesitos de lei solicitados em perícias deestimativa de idade, respondeu-se:

1º - “O(a) periciando(a) é menor de 18 anos? Sim.”2º - “Em caso afirmativo é maior de 14 anos? Sim”.

Usando como base os estudos descritos no presentetrabalho estimou-se que a idade do periciando estava

compreendida entre 17 anos e 17 anos e 6 meses.Confirmando a idade determinada pelo perito.

Caso 02Periciando A.P.M., detido após cometer delito foi

encaminhado ao Centro de Perícias Científicas – RenatoChaves no dia 08/03/2013, para perícia odontológica,com finalidade de estimar uma idade para o indivíduoem questão através de solicitação judicial.

O indivíduo apresentava cor parda, sexo masculino,brasileiro, paraense, residência não informada, semprofissão. Sem documento de identificação.

Figura 19. Radiografia panorâmica do periciando A.P.M. Fonte:Acervo do Centro de Perícias Científicas – Renato Chaves.

Figura 20. Terceiro molar inferior direito evidenciado com ápicesfechados. Fonte: Acervo do Centro de Perícias Científicas – RenatoChaves.

Ao exame biométrico: peso 60,2kg e estatura 1,67metros. Ao exame intra-oral apresentava os seguinteselementos dentários permanentes segundo notaçãodentária internacional (FDI): 11, 12, 13, 14, 15, 17, 18;21 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28; 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37,38; 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48. Estava ausente porprovável avulsão antiga o elemento 16 (Figura 19Radiografia panorâmica do periciando A.P.M).

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Ao exame radiográfico dos arcos dentais,observaram-se imagens dos ápices radiculares doselementos dentais 18; 28; 38; 48 fechados,correspondente ao estágio 08 de Nicodemo, Moraes eMédici Filho (1974)4 (Figuras 20 terceiro molar inferiordireito evidenciado com ápices fechados; Figura 21terceiro molar inferior esquerdo evidenciado com ápicesfechados).

Figura 21. Terceiro° molar inferior esquerdo evidenciado com ápicesfechados. Fonte: Acervo do Centro de Perícias Científicas – RenatoChaves.

Figura 22. Radiografia de mão e punho do periciando A.P.M. Fonte:Acervo do Centro de Perícias Científicas – Renato Chaves.

Ao exame radiográfico dos punhos das mãos, obser-vou-se: ausência de linha radiolúcida entre as epífisese diáfises distais, sugerindo mineralização completa epresença do osso sesamóide (Figuras 22 Radiografia demão e punho do periciando A.P.M; Figura 23 Radiogra-fia de mão e punho esquerdo do periciando A.P.M. evi-denciando ausência de metáfise entre as epífises e diáfi-ses dos ossos rádio e ulna; Figura 24 Radiografia de mão

e punho direito do periciando A.P.M. evidenciando au-sência de metáfise entre as epífises e diáfises dos ossosrádio e ulna).

Figura 23. Radiografia de mão e punho esquerdo do periciandoA.P.M. evidenciando ausência de linha radiolúcida entre as epífises ediáfises dos ossos rádio e ulna. Fonte: Acervo do Centro de PeríciasCientíficas – Renato Chaves.

Figura 24. Radiografia de mão e punho direito do periciando A.P.M.evidenciando ausência de linha radiolúcida entre as epífises e diáfisesdos ossos rádio e ulna. Fonte: Acervo do Centro de Perícias Científicas– Renato Chaves.

Após a análise do desenvolvimento dentáriosegundo Nicodemo, Moraes e Médici Filho (1974)4 edesenvolvimento ósseo (carpal) segundo Greulich e Pyle(1959)18, através dos exames clínico e radiográficos,estima-se que a idade do periciando acima citado estácompreendida entre 18 e 19 anos.

Aos quesitos de lei solicitados em perícias deestimativa de idade, respondeu-se:

1º - “O(a) periciando(a) é menor de 18 anos? Não.”2º - “Em caso afirmativo é maior de 14 anos?

Prejudicado”.Usando como base os estudos descritos no presente

trabalho estimou-se que a idade do periciando estava

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compreendida entre 18 anos e 19 anos. Confirmando aidade determinada pelo perito.

5. DISCUSSÃO

A Odontologia Forense, trabalhando na perspectivade determinação de idade, vem utilizando amineralização de terceiro molar como parâmetro paraauxiliar na determinação da idade de cadáveres e restoshumanos, bem como a idade de pessoas que vivem parafins de diferenciação entre estado juvenil e adulto emcasos de direito penal21,22.

Cordeiro et al. (1999)23 discorreram sobreestimativa de idade, afirmando que o métodocomumente utilizado para a estimativa de idade nosInstitutos de Medicina-Legal é o método visual,observando a presença ou ausência de terceiros molaresna cavidade bucal e colocando o indivíduo maior de 18anos com a presença do terceiro molar ou menor de 18anos com a ausência do mesmo. Porém este método seapresenta bastante falho, pois esse dente tem umaerupção irregular e devido a evolução houve adiminuição do arco o que ocasiona, muitas vezes faltaespaço e ocorre que o dente fica impactado ou foramextraídos por razões ortodônticas, entre outras. Ummétodo mais confiável seria o radiográfico que com umaradiografia panorâmica, observa-se a mineralização detodos os dentes e com um treinamento adequado ecomparação com as tabelas poderia se estimar com maisprecisão a idade do indivíduo, por avaliar todos osdentes.

Em indivíduos normais, a idade óssea deve seraproximadamente dentro de 10% da idade cronológica.Ao contrário da idade cronológica, a idade esqueléticanão pode ser determinada com precisão, sendonecessário considerar uma margem de erro de mais oumenos 6 meses, nos resultados obtidos.

Dentre os vários métodos, descritos por diferentesautores, em regiões especificas, torna-se mais difícil deaplica-los em regiões diferentes das descritas. ParaSaliba (1997)25, o método de Nolla (1960)10 é o maisaplicável, porém este não possui uma tabela que associea idade ao gráfico de desenvolvimento o que dificultasua aplicação. Portanto torna-se mais confiável utilizaros métodos de Nicodemos, Moraes e Médici Filho, osquais descreveram uma tabela de cronologia dedesenvolvimento correspondente à cada idade, entre osbrasileiros.

Greulich e Pyle (1959)20 analisaram sobre amaturação óssea e seu desenvolvimento relacionado àidade, nos estudos realizados perceberam que o grau dedesenvolvimento ósseo estava intimamente ligado aosurgimento, desenvolvimento e fusionamento dasepífises com as diáfises dos ossos longos. Com base nosestudos estabeleceram que as cartilagens entre as

epífises e diáfises dos ossos longos são preenchidas porosso indicando o completo fusionamento e que oprocesso de maturação ósseo cessou e o indivíduoencontra-se com idade mínima de 18 anos.

No laudo deve-se responder aos quesitos de lei,solicitados pelas autoridades, de forma precisa einsuscetível de interpretações dúbias. Ao exame deestimativa de idade responde-se à dois quesitospropostos pela autoridade: 1º - O(a) periciando(a) émenor de 18 anos? 2º - Em caso afirmativo, o(a)periciando(a) é maior de 14 anos?. As respostas devemser “sim” para casos afirmativos, “não” para respostanegativas e “prejudicado” nos casos onde a perguntaencontra-se associada com outra anterior cuja respostainvalida qualquer outra conclusão posterior. (Gomes1972)

Aos quesitos de lei do caso 01, encontrou-se a idadecompatível entre 17 anos e 17 anos e 6 meses, assimcomo a idade encontrada para este periciando, baseadanos estudos expostos por este trabalho. Portanto, aoprimeiro quesito o perito designado respondeu “Sim” eao segundo quesito “Sim”. Para o caso 02, encontrou-seidade compatível entre 18 anos e 19 anos, assim como aidade encontrada para este periciando, baseada nosestudos expostos por este trabalho. Aos quesitos de leirespondidos pelo perito para este caso, ao primeiroobteve-se “Não” como resposta, ao segundo obteve-se“Prejudicado” como resposta.

6. CONCLUSÃOBaseado em estudos realizados por autores citados

anteriormente, realizou-se a análise das radiografias. Aofinal da observação, os caracteres apresentados pelospericiandos foram comparados com os descritos nastabelas, levando em consideração a maturação óssea e àmineralização dentária tornou-se possível determinar umperíodo de vida para cada indivíduo.

Conclui-se que a idade estimada do indivíduorelatado no Caso Clínico 01 compreende o padrão demineralização dentária observados nos terceiros molares,enquadram-se no estágio 7 de Nicodemos, Moraes eMédici Filho (1974)4, após realizada a média aritméticaentre os períodos descritos na tabela de cronologia dosautores conclui-se que a idade dentária do indivíduo estácompreendida em 17,7 anos. À análise de mão e punhosegundo Greulich e Pyle (1959)20 observou-se apresença de metáfise entre as epífises e diáfises dosossos rádio e ulna, sugerindo que ainda não houvefusionamento total, portanto o indivíduo ainda está emprocesso de maturação óssea, confirmando a idadeencontrada no estudo de mineralização dentária,compreendida em aproximadamente 17 anos.Reafirmando a idade encontrada pelo perito durante oexame pericial, compreendida entre 17 anos e 17 anos e6 meses.

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Para o Caso Clínico 02 o indivíduo possui padrão demineralização dentária observada nos terceiros molares,condizente ao estágio 8 de desenvolvimento dentáriosegundo Nicodemos, Moraes e Médici Filho (1974)4,sendo possível observar selamento no ápice radicular,após realizada a média aritmética entre os períodosdescritos na tabela de cronologia dos autores, conclui-seque a idade dentária do indivíduo está compreendida em19,2 anos. À análise de mão e punho segundo Greulich ePyle (1959)20 observou-se o completo fusionamento dasepífises com as diáfises dos ossos longos rádio e ulna,demonstrando que o indivíduo encontra-se comcompleto processo de maturação, confirmando a idadeencontrada no estudo da mineralização dentária,compreendida entre 18 e 19 anos. Reafirmando a idadeencontrada pelo perito durante o exame pericial,compreendida entre 18 anos e 19 anos.

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