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Desenvolvimento sustentável Zona-Mata (MG, Minas Gerais)

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Desenvolvimento sustentvel e luta poltica na Zona da Mata (MG

Curso de Formao de Formadores para Gesto em Desenvolvimento Sustentvel e Solidrio

Mdulo A Aula 7Desenvolvimento sustentvel e luta poltica na Zona da Mata (MG)Jos Maria Pinto da Silva

Diretor regional da Fetaemg e da Articulao de Trabalhadores da Zona da Mata (MG)Desenvolvimento sustentvel e luta poltica na Zona da Mata (MG). In. Revista Debate & Reflexes n. 8. So Paulo: SP

A Federao dos Trabalhadores de Agricultura no Estado de Minas Gerais tem sua sede em Belo Horizonte e est dividida em onze regionais que fazem o trabalho de agrupamento de um certo nmero de municpios que possuem sindicatos, sejam eles municipais ou aglutinadores de dois, trs e at quatro municpios na sua base. Esses sindicatos incorporam os assalariados de carteira assinada, os que chamamos de bias-frias, que so os trabalhadores avulsos, os meeiros, parceiros, arrendatrios, posseiros e pequenos agricultores hoje denominados agricultores familiares.

Trata-se, portanto, de um sindicato bastante amplo, no corpo do qual se debate hoje uma reformulao estrutural, porque, com o decorrer do tempo, o sistema sindical que atua no campo passou a ser ineficiente. Nossa experincia , assim, uma tentativa de transformao e mudana do modelo de desenvolvimento, chamada por ns de A construo de um novo modelo de desenvolvimento sustentvel baseado na agricultura familiar.

Atuamos no plo regional da Zona da Mata, temos uma estrutura que abarca 27 municpios, os quais se renem em quatorze sindicatos de trabalhadores rurais, e esse mesmo plo sindical tem uma estrutura que atua conjuntamente a uma Associao Regional cuja estrutura jurdica tambm estamos criando de uma forma inovadora. Essa Associao representa o plo da estrutura poltica de decises, decidindo coletivamente com esses quatorze sindicatos.

O numero de trabalhadores rurais na regio em que atuamos, segundo o senso de 1991, de 128.366 trabalhadores e trabalhadoras rurais, o que representa um pblico de 46% da populao desses municpios nessa regio com mais de 35 mil habitantes. H apenas quatro municpios nessa regio com mais de 35 mil habitantes. Quanto menor o municpio, maior a presena masculina, pois o pblico feminino vai saindo por falta de total condio de permanncia no campo.

Como j foi dito, temos procurado criar uma estrutura que seja diferente da estrutura sindical dos ltimos trinta, quarenta anos do movimento sindical no campo. Tentamos trabalhar uma organizao horizontal a partir das regies. Assim, o sindicato da nossa regio passa a ter o mesmo peso do outro, com maior nmero de filiados, por exemplo.

Vivemos numa regio de certa forma privilegiada, de um lado, e sacrificada, de outro. Privilegiada, porque a estrutura fundiria da regio da Zona da Mata mineira a estrutura fundiria mais distribuda do Estado de Minas Gerais. Temos 90,9% das propriedades de zero a cem hectares. Esse pblico, que ocupa de zero a cem hectares, detm uma rea de 49,67% das terras. Ainda existe latifndio na nossa regio, embora em nmero bastante reduzido.

Conservadorismo

O contexto poltico dessa regio vem da poca dos coronis. uma propriedade que vem sendo dividida, na grande maioria das vezes se transformando em agricultura familiar por herana. Dessa forma, o mercado de terras no se faz muito presente. Um problema grave que o relevo muito montanhoso, o que traz vrios tipos de dificuldades de produo nessas reas, inviabilizando as condies de mecanizao e de fertilizao do solo.

No contexto poltico da regio, verifica-se tambm um conservadorismo muito grande, principalmente no aspecto religioso. Ainda se mata muito por questes sexuais, namoro, os chamados crimes da honra, enfim. Nossa regio est estagnada faz 20 anos, sem nenhuma poltica, por exemplo, de se levar grandes empresas para l, o que resulta num empobrecimento geral. A representao poltica da regio no poderia deixar de ser extremamente conservadora, pois os representantes eleitos so polticos tradicionais, filhos ou netos dos coronis que predominaram na regio no passado.

Despertando para o debate

O que estamos conseguindo mudar , parte o local, a criao de uma mentalidade de organizao dos trabalhadores rurais nesses municpios com menos de vinte mil habitantes, os quais comeam a discutir e a despertar para o interesse poltico-partidrio, possibilitando a eleio de alguns vereadores mais progressistas.

Embora os municpios sejam extremamente agrcolas, as administraes e grande parte da populao tm uma mensalidade e uma viso de desenvolvimento muito urbana. Dependem da agricultura, mas tm esperana de melhorar com uma viso da metrpole. Nesse sentido, nossa luta em defesa da agricultura familiar tem conseguido mudanas quanto a se recuperar uma mentalidade do interior, sem se espelhar nas grandes cidades.

Um grande problema que enfrentamos a degradao ambiental. O modelo de desenvolvimento ambiental implantado pelo Estado, pelas universidades em geral e, especificamente, pela Universidade de Viosa, no se encaixa na regio. No bastasse isso, o desmatamento e as queimadas das matas nativas foram enormes nos ltimos quarenta anos, restando pouqussimas reas de reservas. Temos lutado tambm quanto a isso e j conseguimos um parque nacional, que o Parque Nacional do Taparo, que fica no Pico Bandeira, e um estadual, o Parque da Serra do Brigadeiro, ainda que de pequenas propores.

Nossa luta tambm permanente em relao a se evitar desmatamentos, que tm causado impacto inclusive sobre os mananciais. Nos ltimos seis anos, o que assustador, alguns municpios chegaram a perder cerca de 70% do abastecimento de gua natural.

Outro problema o manejo da terra, um manejo totalmente equivocado por se tratar de regies com muitas ladeiras, declnios, e onde muitos ainda usam o trator arrastando uma grande vertical. Depois, com as primeiras chuvas, toda a fertilidade da terra se esvai.

Uma questo terrvel que tambm nos aflige o uso abusivo de agrotxicos na regio, talvez o gancho principal para fazermos que nossa luta seja compreendido pelo meio urbano. As indstrias qumicas no tm nenhum escrpulo para se utilizar da desinformao dos agricultores, bancando projetos que estimulam os tcnicos e os agrnomos a venderem e defenderem o uso de venenos de alta periculosidade, poluindo o meio ambiente e destruindo a sade de quem trabalha na agricultura e de quem consome.

Outros atores

Nosso projeto na Zona da Mata tem grande influncia da Igreja Catlica. Ele surgiu na dcada de 1970 e recebeu uma influncia muito grande das comunidades eclesiais de base. O projeto s comea a se transformar em sindicalismo nos meados dos anos 80. Todos os sindicatos que esto nesse plo que eu coordeno surgiram a partir de 1985. Temos articulado foras com os municpios, com ONGs, com a Universidade de Viosa, apesar das dificuldades, e comeamos a explorar o espao das audincias pblicas na Assemblia Legislativa do Estado. Recentemente, por exemplo, participamos de toda a discusso da criao do Conselho Estadual de Segurana Alimentar. Temos mantido contato permanente com as escolas da CUT no nosso caso, em Minas Gerais, com a 7 de Outubro- e temos tambm procurado participar de todas as instncias do movimento sindical na Contag. um desafio constante e precisamos consolidar e ampliar o nosso projeto.

Gostaria de salientar, por fim, que a questo da legislao um entrave enorme: uma legislao de mercado, uma legislao tributria extremamente excludente em relao aos pequenos produtores e aos agricultores familiares descapitalizados.