aquicultura ornamental na zona da mata mineira

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Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Zootecnia.RENATO SILVA CARDOSO. 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE VETERINRIA COLEGIADO DOS CURSOS DE PS-GRADUAO

Renato Silva Cardoso

CARACTERIZAO DA AQUICULTURA ORNAMENTAL NA ZONA DA MATA MINEIRA

Belo Horizonte Escola de Veterinria UFMG 2011

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Renato Silva Cardoso

CARACTERIZAO DA AQUICULTURA ORNAMENTAL NA ZONA DA MATA MINEIRA

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Zootecnia da Escola de Veterinria da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Zootecnia

rea de concentrao: Produo Animal

Orientador: ngela Maria Quinto Lana Co-orientador: Edgar de Alencar Teixeira

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Aquaculture, not the Internet, represents the most promising investment opportunity of the twenty-first Century.

Peter Ferdinand Drucker, 1999

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AGRADECIMENTO

minha orientadora ngela Maria Quinto Lana, por ter participado intensamente deste trabalho. Aos professores, alunos e funcionrios da Escola de Veterinria da UFMG pelos materiais e sugestes na elaborao deste texto, sobretudo meu co-orientador Edgar de Alencar Teixeira. Ao Ministrio da Pesca e Aquicultura, principalmente Wagner Alves Benevides e colegas da Superintendncia de Minas Gerais pelo incentivo na realizao do curso. Aos servidores da EMATER e das Prefeituras locais, pelo suporte logstico. Aos produtores de peixes ornamentais, de maneira especial a Lorena Felisberto Goulart Pereira. minha esposa Helga e aos meus filhos Joo Vtor e Thasa pela compreenso e apoio durante o curso, os mais sinceros agradecimentos.

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SUMRIO

I INTRODUO GERAL

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II CAPTULO 1: A SITUAO DA AQUICULTURA ORNAMENTAL NO MUNDO E NO BRASIL 2.1 Introduo 2.2 O comrcio internacional de peixes ornamentais 2.3 O comrcio exterior brasileiro de peixes ornamentais 2.4 A importncia do cultivo 2.5 Consideraes finais 2.6 Referncias Bibliogrficas 09 09 09 11 12 13 13

III CAPTULO 2: CARACTERIZAO DA AQUICULTURA ORNAMENTAL NA REGIO DA ZONA DA MATA MINEIRA Resumo Abstract 3.1 Introduo 3.2 Material e mtodos 3.3 Resultado e discusso 3.4 Concluses 3.5 Referncias Bibliogrficas 3.6 Anexo 16 16 16 17 17 18 50 51 52

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RESUMO A globalizao trouxe mudanas no comrcio de peixe ornamental, bem como aumento nas oportunidades de mercado. De acordo com a Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao o crescimento mdio do comrcio internacional de peixes ornamentais tem sido de 14% ao ano desde 1985. O Brasil um dos principais exportadores de peixe ornamental, no em termos de quantidade e valor, mas em termos de biodiversidade. Muitos dos peixes ornamentais de gua doce e marinha exportados so capturados da natureza. Entretanto, apesar dos avanos na produo de peixes ornamentais, muitos produtores nacionais ainda no adotaram bons mtodos de produo. Eles necessitam da assistncia do governo brasileiro para que o pas possa deixar de ser simplesmente um exportador extrativista e passe a ser um exportador produtor. Palavras-chave: mercado; peixe ornamental; produo.

ABSTRACT Globalization has brought changes in ornamental fish trade as well as an increase in market opportunities. According to the Food and Agriculture Organization of the United Nations the average growth of international trade in ornamental fish has been 14% per year since 1985. Brazil is one of the leading exporters of ornamental fish, not in terms of quantity and value but in terms of biodiversity. Most of the imported and exported freshwater and saltwater ornamental fish are collected from the wild. However, in spite of advances in the ornamental fish production, many Brazilian producers still have not adopted good methods of production. They need the assistance of the Brazilian government in order to the country to become an exporter-producer instead of an exporter-extractor. Keywords: market; ornamental fish; production.

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INTRODUO GERAL

A aquicultura trata da criao ou cultivo controlado de organismos aquticos tais como peixes, moluscos e plantas, de gua doce ou salgada. Alm de ser uma atividade muito antiga, ela difundida em todo o mundo, dividindo-se em dois segmentos: o cultivo de organismos direcionados para a alimentao humana e/ou animal e o cultivo para fins ornamentais. Observa-se aumento na atividade ornamental em todo o mundo, por meio de investimentos pblicos e privados. O crescente interesse na atividade leva produtores a ofertarem o que o mercado quer: originalidade, cores vivas, formatos diferenciados. Assim, com as vendas, h gerao de lucro, gerando mais empregos, formando a corrente que d razo existncia do capitalismo. A pouca exigncia na atividade, o rpido retorno econmico e o alto valor dos peixes ornamentais no mercado, tanto nacional quanto mundial, estimulam o ingresso de produtores na atividade e, de acordo com Vidal (2002) existem, aproximadamente, mil e oitocentos produtores em todo o Brasil. A regio Sudeste (Minas Gerais, So Paulo e Rio de Janeiro) a que apresenta a melhor estrutura de cultivo. As espcies mais cultivadas so aquelas que necessitam de pouca tcnica de manejo e que so, em geral, muito prolferas, tais como beta (Betta splendens), espada (Xiphophorus helleri), platy (X. maculatus), molinsia (Poecilia latipinna), tricogaster (trichogaster leeri), colisa (Colisa lalia) dentre outras (Lima et al., 2001). No Estado de Minas Gerais, o plo de peixes ornamentais est localizado na Zona da Mata Mineira, havendo cultivo em oito municpios (Baro do Monte Alto, Eugenpolis, Miradouro, Muria, Patrocnio do Muria, Rosrio da Limeira, So Francisco do Glria e Vieiras). Na regio acredita-se haver cultivo de mais de 50 variedades e/ou espcies em diferentes sistemas de produo. A mo-de-obra familiar, sendo a principal e nica fonte de renda da grande maioria das propriedades. A criao de peixes ornamentais popularizou-se na Zona da Mata Mineira ao se mostrar uma alternativa de renda para famlias de reas rurais. Alm do clima favorvel e da grande disponibilidade de gua, a regio tem atrado grande nmero de produtores devido vantagem de ser uma atividade barata e de rpido retorno econmico. Apesar de todo o potencial da regio, h carncia de informaes precisas quanto ao nmero real de produtores, quais as espcies produzidas localmente, por que foram escolhidas tais espcies, entre outras questes vinculadas. Em decorrncia da escassez de informaes, tanto o setor pblico quanto a iniciativa privada deixam de participar mais intensamente no desenvolvimento deste agronegcio. O setor pblico, neste caso, atua discretamente porque no tem a real dimenso do panorama da piscicultura.

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Cada entidade pblica que possui representao na localidade, seja em nvel estadual (Instituto Estadual de Florestas IEF, Instituto Mineiro de Agropecuria IMA, EMATER), seja em nvel federal (Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento MAPA) estima um nmero diferente de produtores, variando entre 250 a 550. A informao sobre a atividade to imprecisa que o Ministrio da Pesca e Aquicultura (MPA), rgo responsvel pela gesto da piscicultura brasileira, possui apenas 38 produtores registrados na regio. Assim, oficialmente, em funo do nmero subestimado, polticas pblicas do MPA de incentivo atividade ficam comprometidas. Como conseqncia, a iniciativa privada no executa o seu papel na integralidade. No existem fbricas de raes nas proximidades, bem como laboratrios de anlise de gua e realizao de exames patolgicos de peixes, conforme determina o MAPA. Se o nmero real de produtores fosse considerado, provavelmente haveria investimentos do setor privado na regio, o que aumentaria a produtividade per capita, a produo total, a logstica, o acesso ao financiamento bancrio, entre outros. O objetivo deste trabalho foi identificar o panorama aqucola ornamental da Zona da Mata Mineira sob o aspecto produtivo e de lucratividade. Para este fim, esta dissertao foi dividida em dois captulos. O primeiro uma reviso de literatura abrangendo temas como a aquicultura ornamental na regio, no Brasil e no mundo. O segundo captulo trata da caracterizao da atividade na Zona da Mata Mineira.

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CAPTULO 1: A SITUAO DA AQUICULTURA ORNAMENTAL NO MUNDO E NO BRASIL2.1 INTRODUO A aquicultura est registrada em informaes de povos to distantes no espao e tempo quanto egpcios, romanos e maias sob a forma de pinturas e objetos de manuseio. Porm, competem aos chineses os escritos mais remotos indicando a utilizao de kinguios como ornamentais h mais de trs milnios. O domnio da tcnica de reproduo, entretanto, consolidou-se somente no sculo III (Vidal, 2002). Algumas ilustraes de tanques para peixes ornamentais, muitas vezes da espcie tilpia, no Egito Antigo, indicam que este hobby era praticado na regio (Vinatea, 1995). Por outro lado, no bero da civilizao ocidental, o sbio grego Aristteles, que viveu entre os anos de 384 e 322 A.C., considerado o primeiro ictilogo por haver descrito 115 espcies de peixes do mar Egeu (Botelho, 1997). Em termos comerciais, no entanto, cabe ao tratado chins de aquicultura de Fan Li (475 a.C.), que define a desova em cativeiro como um negcio rentvel, a primazia do registro mais antigo conhecido neste campo (Chamas & Gardi, 1996). Aps o desenvolvimento inicial do aquarismo na China e no Japo entre 970 a 1279 d.C., a atividade chegou Europa em meados do sculo XVII, onde foi construdo o primeiro aqurio pblico em 1853. Em seguida, como toda novidade poca, desembarcou nos Estados Unidos da Amrica (Mills, 1998). Segundo Lima et al. (2001) no Brasil, a atividade teria sido registrada pela primeira vez no Rio de Janeiro em 1922, durante a realizao da Exposio da Independncia nos pavilhes construdos pelo Governo Federal, e, posteriormente, transferidos para a antiga Universidade do Brasil. Um filho de comerciante de peixes ornamentais no Japo, o imigrante Sigeiti Takase, trouxe consigo algumas espcies asiticas de peixes ornamentais que, mediante reproduo em cativeiro, forneceram o material para o comrcio de peixes ornamentais que ele viria fundar (Vidal Jr., 2007). O salto da atividade veio somente no fim da dcada de 70 quando a produo pisccola ornamental brasileira teve grande impulso (Vidal, 2002), principalmente pelo extrativismo de significativas quantidades de peixes da regio amaznica e do mar ocenico, pelo clima adequado e pelo desenvolvimento do comrcio especializado em equipamentos e acessrios para aqurios. 2.2 O COMRCIO INTERNACIONAL DE PEIXES ORNAMENTAIS A FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), entidade pertencente ao quadro das Naes Unidas voltada para alimentao e agricultura publicou relatrio informando que o valor mdio anual das importaes de peixes ornamentais e invertebrados dos seus membros durante o perodo de 1994 a 2003 foi de 278 milhes de dlares estadunidenses (FAO, 1996-2005). A criao desses organismos em cativeiro

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impulsiona o mercado ornamental, refletindo no crescimento do nmero de aqurios pblicos e privados desde a dcada de 80 (Delbeek, 2001). Os nmeros do setor de peixes ornamentais no mundo impressionam: a cadeia industrial ultrapassa US$ 15 bilhes (Meyers, 2001), movimentada pelo comrcio aproximado de 1.539 espcies (Cato & Brown, 2003). Segundo a FAO, desde 1985 o crescimento mdio do comrcio internacional de peixes ornamentais de 14% ao ano supera o crescimento da economia que mais cresce no mundo, a chinesa. De acordo com Ribeiro (2008), as estatsticas da FAO referentes s exportaes mundiais de peixes ornamentais atingiram a cifra US$ 277,2 milhes em 2006. Os mesmos dados informam que Cingapura o principal exportador de peixes ornamentais do mundo, com US$ 61,4 milhes, seguido pela Espanha com US$ 26,5 milhes e pela Repblica Tcheca com US$ 21,7 milhes. A indstria do aquarismo nos Estados Unidos tem movimentado mais de um bilho de dlares estadunidenses anualmente (Cato & Brown, 2003), impulsionada por estudos que indicam a melhora na qualidade de vida de crianas, adultos e idosos que tm aqurio em casa (Reaser & Meyers, 2007). O Estado da Flrida, devido ao seu clima mais tropical o maior plo de produo de peixes ornamentais de gua doce daquele pas, onde mais de 200 piscicultores produzem cerca de 800 espcies e variedades (Vidal Jr., 2007). Em 2005 o pas contava com 356 fazendas de produo gerando uma receita de US$ 51 milhes (Ribeiro, 2008). Segundo Ribeiro (2008) os doze principais pases exportadores so pequenos em extenso territorial e a grande maioria pertence ao continente asitico, de temperatura mais elevada, o que favorece uma maior biodiversidade. Espanha e Marrocos, pases no-asiticos, possuem em comum com os asiticos o fator climtico. A Repblica Tcheca, pas da Europa Central de temperatura mais baixa exceo a esta regra. Ainda segundo Ribeiro as principais espcies exportadas pelo sudeste asitico originadas do extrativismo so: botiapalhao (Cromobotia macracanthus), gourami-chocolate (Sphaerichthys osphromenoides), tricogaster-leri (Trichogaster leeri), rasbora-harlequim (Rasbora heteromorpha) e flying fox (Epalzeorhynchus kalopterus). A piscicultura asitica, de acordo com Ribeiro, est baseada nas seguintes espcies: beta (Betta splendens), beijador (Helostoma temminckii), tricogaster (Trichogaster trichopterus), bala-shark (Balantiocheilos melanopterus), barbus-tigre (Puntius tetrazona) e pangassius (Pangasius sutchi) e espcies exticas como tetras, poecildeos (guppies, molinsias e espadas), cicldeos (discos, flower-horn, papagaio) e kinguio. Os Estados Unidos foram os maiores importadores de peixes ornamentais do mundo em 2006, comprando US$ 48,3 milhes, seguidos pelo Reino Unido com importaes de US$ 30,8 milhes e pelo Japo com US$ 27,2 milhes (Ribeiro, 2008). Estes trs pases possuem dficit em sua balana comercial de peixes ornamentais vivos, pois compram mais do que vendem. Segundo Vidal Jr. (2007), os Estados Unidos, na exportao, revendem principalmente peixes ornamentais da Amrica do Sul e sudeste asitico para a Europa e Japo onde os peixes ornamentais so muito requisitados. O autor estima a existncia de um milho e duzentos mil aquaristas no Japo, onde h crendice de que possuir aqurio traz sorte.

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Na importao os Estados Unidos compram preferencialmente a espcie guppy (Poecilia reticulata) (Ribeiro, 2008). Este peixe tropical considerado o mais popular devido sua beleza, fcil reproduo e manuteno, principalmente para os iniciantes do aquarismo. Os guppies so capazes de tolerar superpopulao, aceitam uma variao ampla de temperatura, dureza da gua, pH e salinidade e no so caros, alm de serem prolferos e apresentarem dimorfismo sexual. Como resultado de hibridizao entre diferentes variedades e reproduo seletiva, h mais de 40 variedades de guppies sendo comercializados. Tambm so chamados de peixes arco-ris devido a numerosas cores padres sobre a cauda e o corpo. 2.3 O COMRCIO EXTERIOR BRASILEIRO DE PEIXES ORNAMENTAIS Atualmente, o comrcio exterior brasileiro de peixes ornamentais apresenta crescimento contnuo incluindo mais de mil espcies de peixes e envolvendo 45 pases. H uma participao significativa de peixes marinhos (Sampaio & Rosa, 2003). Todavia, a maior parte das vendas de peixes dulccolas, originados do Rio Negro e de seus afluentes na regio de Barcelos e Santa Izabel do Rio Negro (Barthem et al., 1997). Dentre essas espcies de peixes ornamentais, o acar-bandeira (Pterophyllum scalare) um dos peixes tropicais mais vendidos no mundo, estando entre as oito espcies de peixes ornamentais mais importadas pelos Estados Unidos (Chapman et al., 1997). O Brasil considerado o maior celeiro de peixes ornamentais de gua doce do mundo, possuindo dois plos principais: a regio amaznica e o pantanal mato-grossense (Santos et al., 2008). De acordo com Lima et al. (2001) somente na Amaznia, das cerca de 2.500 espcies conhecidas, 1.300 possuem potencial para o negcio. Na exportao de peixes ornamentais, o Brasil tem mudado sua colocao no ranking com muita frequncia, assim como outros pases. No perodo de 1995 a 1997 ocupou a 15 posio; em 2000, a 10a posio (FAO, 1996-2005). Em 2006, o Brasil era o 18 maior exportador mundial com vendas de US$ 4,1 milhes (Ribeiro, 2008). Segundo esse autor, o Brasil seguiu a tendncia mundial de reduo das exportaes de 1998 at 2003. A partir da, as exportaes aumentaram, dobrando de valor entre 2003 e 2006. O fato de ter sido apenas o 18 exportador em 2006, mesmo sendo o quinto pas do mundo em extenso territorial, possuir boa parte das reservas hdricas do planeta e um vasto litoral, alm de ter diversas espcies endmicas, sugere que o Brasil, por causa destas vantagens comparativas, pode escolher algumas espcies de maior valor comercial, desenvolver pacotes tecnolgicos de produo, incentivar a criao e exportao, tornando o pas lder no mercado internacional de peixes ornamentais. Na importao, Vidal Jr. (2007) e Ribeiro (2008) mostram que entre 1998 e 2002 houve quedas sucessivas nas compras, de US$ 198.988 para US$ 53.496. A partir da, houve uma retomada de crescimento, chegando o pas, em 2006, a comprar US$ 85.255. Comparando-se com as vendas externas brasileiras, as compras nacionais so reduzidas. As espcies importadas, segundo Souza (1996), so peixes como: Acanthophtalmus sp.; Botia, Melanotaenia e Synodontis, alm de variedades oriundas de cicldeos brasileiros que, no exterior, surgiram de mutaes espontneas ou induzidas e, posteriormente, por

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cruzamentos seletivos visando a intensificao da sua colorao. De acordo com o autor, so exemplos os acars disco, peixes do gnero Symphysodon, com linhagens desenvolvidas na Alemanha, Estados Unidos e Japo. E, como celebridade, por causa do filme infantil O Espanta Tubares, o apaiari (Astronotus ocellatus), conhecido no exterior como Oscar. 2.4 A IMPORTNCIA DO CULTIVO No Brasil o comrcio teve incio com as espcies de gua doce da regio amaznica por meio da descoberta do cardinal (Paracheirodon axelrodi) por Herbert Axelrod (Chao et al., 2001). Por ter a regio uma biodiversidade nica, ainda impera o extrativismo, o que leva a maioria das espcies aquticas ornamentais de gua doce, ou mesmo marinhas no ser cultivada (Lima, 2003). Segundo este autor, a abundncia com que muitas dessas espcies so encontradas no ambiente natural serve de justificativa para que no se desenvolvam tecnologias de cultivo. De acordo com Tsuzuki et al. (2008) a realidade extrativista deste comrcio, demonstrando sua insustentabilidade, bem como a falta de regulamentao sobre a explotao, geraram a necessidade de criao de medidas de regulamentao que controlassem a presso de pesca sobre as populaes naturais. Bartley (1996) j demonstrara preocupao com a sobrepesca de espcies-chave para o aquarismo, porque poderia haver desequilbrio em todo o sistema ecolgico, levando a extino de diversas espcies correlacionadas. Souza (1996) procura avanar para alm do extrativismo, apostando no cultivo, especialmente daquelas espcies de peixes ornamentais cujas exigncias de manejo sejam mais simples, que apresentem maior facilidade de manuteno e cuja reproduo conte com mnima interveno humana. Apesar disso, reproduzir as condies ambientais em um aqurio difcil, dado as prprias limitaes fsicas de espao e isolamento. Como consequncia direta, a infestao por bactrias a causa mais frequente de mortalidade de peixes em aqurios (Wood, 1992). Embora o peixe em seu ambiente natural esteja cercado de bactrias, seu sistema imunolgico encontra-se em equilbrio, mas quando submetido a altos nveis de estresse, choque trmico ou qumico, torna-se debilitado e passvel de infestaes (Bassleer, 1996). Ao se implantar uma piscicultura ornamental, Souza (1996) ainda argumenta que do mesmo modo como em outros tipos de cultivos aquticos, alm do bom senso e da seriedade, imprescindvel observar fatores como: a escolha de espcies com valor comercial, conhecimento da biologia da espcie, contar com gua apropriada, proximidade do mercado consumidor, acompanhamento dirio da criao e seleo criteriosa de reprodutores, pois, na maioria das vezes, cabe ao prprio criador produzir suas matrizes, uma vez que muitos produtores no fornecem aos seus pares as melhores linhagens para evitar ou fortalecer a concorrncia. Tratando-se de piscicultura, observa-se aumento no ingresso de produtores, principalmente devido ao rpido retorno econmico, utilizao de pouco espao fsico na criao e ao valor dos peixes ornamentais no mercado (Vidal Jr., 2007). No Brasil, uma piscicultura ornamental bem administrada, operando em sistema intensivo em tanques de

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pequeno volume com ambiente controlado, pode gerar uma receita bruta de R$ 30.000,00 por hectare, se for produzido o Betta splendens (Ribeiro, 2008). Watson & Shireman (2002), entretanto, chamam a ateno para o fato do preo no varejo no servir de referncia para os produtores como indicativo de alta rentabilidade. Segundo estes autores, h muitos intermedirios na cadeia o que pode gerar uma diferena de mais de 1.800% entre o preo de venda do produtor e o preo de venda ao consumidor final. Outro que compartilha da mesma preocupao Prang (2001), que estudou o processo de comercializao do cardinal desde o pescador piabeiro at o consumidor final. De um valor unitrio de US$ 0,005, o peixe vendido no varejo a US$ 2,00 (40.000% de aumento). Com isso no h fixao da renda no centro produtor, inviabilizando a atividade extrativa, porque gera a necessidade de se capturar grande nmero de indivduos para a obteno de uma renda mnima. Observa-se que a FAO (1996-2005) incentiva a aquariofilia, porque em sua tica as pessoas envolvidas na atividade tendem a preservar os ambientes naturais. Outro ponto abordado pela entidade a necessidade de assistncia s populaes dos pases em desenvolvimento que dependem do extrativismo, para que a captura no chegue ao nvel de tornar invivel a atividade econmica quando a natureza no puder mais repor os estoques naturais, ou seja, promover a prtica responsvel da pesca. 2.5 CONSIDERAES FINAIS A aquicultura ornamental no mundo uma atividade de importncia econmica e social uma vez que pode ser conduzida em regime familiar, gerando renda e servindo como opo para manter a populao rural no campo. O setor pblico brasileiro precisa buscar mais informaes para que possa instituir polticas que estimulem o desenvolvimento da atividade de maneira sustentvel, sob os aspectos econmico, social e ambiental. Paralelamente, o setor privado tambm deveria buscar informaes que possibilitassem investimentos na cadeia produtiva, o que ajudaria a fortalecer a produo de peixes ornamentais no s na Zona da Mata Mineira, mas em todo territrio nacional. 2.6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BARTHEM, R. B.; PETRERE JR., M.: ISAAC, V. J.; RIBEIRO, M. C. L. B.; MCGRATH, D. G.; VIEIRA, I. J. A.; VALDERAMA-BARCO, M. A pesca na Amaznia: problemas e perspectivas para o seu manejo. In: Valadares-Pdua, C. & Bodmer, R. E. [eds.] Manejo e Conservao da Vida Silvestre no Brasil. MCT-CNPq, Sociedade Civil Mamirau, p.173184, 1997. BARTLEY, D. M.; SUBASINGHE, R. P. Historical aspects of international movement of living aquatic species. Rev. Scien. et Tech., v. 15, n. 2, p.387-440, 1996. BASSLEER, G. Color guide of tropical fish disease. Bassleer Biofish, p. 270, Belgium, 1996. BOTELHO, G. Aqurios. So Paulo: Nobel, p.85, 1997.

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CAPTULO 2: CARACTERIZAO DA AQUICULTURA ORNAMENTAL NA REGIO DA ZONA DA MATA MINEIRARESUMO O objetivo deste trabalho foi identificar o panorama aqucola ornamental da Zona da Mata Mineira sob o aspecto produtivo e de lucratividade do agronegcio. Foram aplicados 80 questionrios distribudos aleatoriamente entre produtores dos quatro principais municpios que compem a regio, com perguntas objetivas sobre produo, comercializao, nutrio, sanidade, reproduo e licenciamento ambiental. Melhores prticas de manejo, como um controle mais efetivo da qualidade, temperatura, dureza, oxigenao, nveis de amnia, nitrito, slidos totais e da variao do pH da gua evitariam perda do plantel, bem como diminuiriam o custo financeiro e ambiental do uso de medicamento em um eventual tratamento veterinrio. A comercializao pode ser melhorada, por meio de associativismo, com reduo da participao do intermedirio que gerencia a atividade no modelo atual. H demanda por aumento na quantidade e qualidade da assistncia tcnica entre os produtores que melhoraria a sanidade e reproduo. No campo nutricional h reclamao quanto falta de oferta de produtos especficos por parte da indstria de rao, assim como desinformao quanto disseminao do uso de alimento vivo para algumas espcies de peixes ornamentais. O licenciamento ambiental motivo de preocupao entre os produtores por causa das exigncias mais frequentes dos rgos responsveis pelo seu controle. Palavras-chave: agronegcio, panorama aqucola ornamental, Zona da Mata Mineira ABSTRACT The aim of this study was to identify the outlook ornamental aquaculture of the Zona da Mata Mineira under the aspect of production and profitability of agribusiness. Eighty questionnaires were randomly distributed among producers in four major districts within the region, with objective questions about production, marketing, nutrition, animal health, reproduction and environmental licensing. Best management practices, as a more effective control of quality, temperature, hardness, oxygenation, ammonia levels, nitrite, total solids and pH variation on the water would prevent loss of the production, as well as would decrease the financial and environmental cost of using of medicine in an eventual veterinary treatment. The marketing can be improved, through associations with reduced participation of the middleman that manages the activity in the current model. There is demand for increased quantity and quality of technical assistance to producers would improve the health and reproduction segments. In the nutrition field there is no complaint about the lack of supply of specific products by the feed industry, as well as misinformation about the widespread use of live food for some species of ornamental fish. The environmental licensing is a concern among producers because of the recent demands by government agencies responsible for their control. Keywords: agribusiness, outlook ornamental aquaculture, Zona da Mata Mineira

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3.1 INTRODUO Atualmente, acredita-se que o maior plo produtor brasileiro de peixe ornamental localiza-se no estado de Minas Gerais, na regio da Zona da Mata Mineira (ZMM), sendo o municpio de Patrocnio de Muria seu ncleo. Segundo Cardoso & Igarashi (2009) um estudo realizado pela AAQUIPAM (Associao de Aquicultores de Patrocnio de Muria), em 2006, estimou a existncia de mais de 350 produtores na regio, prevalecendo pequenos criatrios, com mdia de 2 a 3 hectares cada. A produo anual foi de 940.000 unidades em 4.500 tanques (caixas de lona de 3m x 3m), destacando-se as espcies beta (Betta splendens), kinguio (Carassius auratus), acar-bandeira (Pterophyllum scalare), tricogaster (trichogaster leeri), barbus-tigre (Puntius tetrazona), tetra (Paracheirodon innesi), mexirica (Etroplus maculatus) e guppy (Poecilia reticulata), que renderam R$ 270.000,00 de comercializao destinada aos Estados de MG, SP, DF, RJ, PR, ES, GO e MS. Uma grande vantagem da aquicultura ornamental no estudo supracitado seu baixo custo de produo, normalmente operado em regime familiar, onde a maioria dos produtores da regio produz em tanques escavados ou de alvenaria localizados nos fundos de sua propriedade. Dependendo da espcie, h estufas para manter a temperatura da gua em torno dos 28 C. Muitas vezes o produtor utiliza um cmodo da casa como laboratrio de reproduo e para guardar rao. A associao destaca a importncia da atividade na gerao de renda, fazendo com que o trabalhador rural tenha um meio de sustento digno, auxiliando assim, sua permanncia no campo. O estudo tambm cita o reaproveitamento de garrafas plsticas de refrigerante usadas na criao de algumas espcies, gerando benefcio ao meio ambiente. de se registrar que o MPA (Ministrio da Pesca e Aqicultura) iniciou, em parceria com a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), no comeo de 2010, um censo aqucola nacional georeferenciado com a inteno de identificar todos os produtores de peixes, seja de corte ou ornamental. Este censo pioneiro est sendo conduzido paralelamente em todo o mundo. Todavia, em alguns estados do pas est atrasado, principalmente devido a questes logsticas. Na ZMM, at o final de dezembro de 2010, menos de 50% do trabalho havia sido concludo. Quando estiver pronto constar a totalidade dos produtores da regio e suas localizaes por coordenada GPS. Baseado na escassa informao sobre o panorama aqucola ornamental na ZMM e sua aparente importncia junto aos produtores locais, o objetivo desse trabalho foi caracterizar a produo de peixes ornamentais na regio. 3.2 MATERIAL E MTODOS A coleta de dados foi realizada de forma indireta e direta. A primeira coleta foi a partir de informaes da EMATER, entidade que tem o nmero mais preciso de produtores de peixes ornamentais. Segundo levantamento dos tcnicos da EMATER lotados na Zona da Mata Mineira, havia na regio, em 2009, 270 produtores, assim distribudos nos seguintes municpios: 70 em Patrocnio do Muria, 30 em Eugenpolis, 100 em Vieiras, 20 em Miradouro, 20 em Baro do Monte Alto, 10 em Muria e 20 em So Francisco do Glria.

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Na segunda coleta, questionrios foram aplicados a amostra representativa de produtores sorteados aleatoriamente de municpios que compem a regio. Foram visitados quatro municpios que pertencem mesorregio conhecida como Zona da Mata Mineira, segundo diviso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE. O clculo do tamanho amostral foi baseado no intervalo de confiana da mdia, com nvel de significncia de 5%, de acordo com metodologia apresentada por Sampaio (2007). Obtidos os dados, esses foram criticados, procura de possveis falhas e incoerncias que pudessem influir sensivelmente nos resultados. A apurao dos dados foi feita baseada na soma e processamento das informaes obtidas mediante critrios de classificao estatstica. Em seguida os dados so apresentados sob a forma de tabelas e/ou grficos, para caracterizao da situao da piscicultura ornamental na Zona da Mata Mineira. Foram realizadas estatsticas descritivas para as respostas paramtricas, por meio de mdias e desvios padro. Para as respostas qualitativas foram realizados clculos estatsticos de frequncias absoluta e relativa. As entrevistas foram realizadas nos perodos de 25 a 30 de julho de 2010 e de 18 a 30 de agosto de 2010, a maioria feita nos locais de produo. O modelo do questionrio encontra-se no final deste trabalho. 3.3 RESULTADOS E DISCUSSO Patrocnio do Muria possui uma rea de 108,471 km, altitude mdia de 179,2 metros, clima tropical com temperatura anual mdia de 23,5C, populao de 5.298 habitantes de acordo com o censo de 2010 e IDH de 0,742. A topografia do municpio 10% plana, 20% ondulada e 70% montanhosa. So Francisco do Glria possui uma rea de 164,023 km, altitude mdia de 1.095 metros, clima tropical com temperatura anual mdia de 20,9C, populao de 5.184 habitantes de acordo com o censo de 2010 e IDH de 0,692. A topografia do municpio 15% plana, 35% ondulada e 50% montanhosa. Miradouro possui uma rea de 301,548 km, altitude mdia de 409 metros, clima tropical com temperatura anual mdia de 23,5C, populao de 10.251 habitantes de acordo com o censo de 2010 e IDH de 0,698. A topografia do municpio 15% plana, 35% ondulada e 50% montanhosa. Vieiras possui uma rea de 112,185 km, altitude mdia de 1.015 metros, clima tropical de altitude com temperatura anual mdia de 23,5C, populao de 3.732 habitantes de acordo com o censo de 2010 e IDH de 0,71. A topografia do municpio 2% plana, 8% ondulada e 90% montanhosa. Observa-se que maior nmero de produtores de peixes ornamentais concentra-se em Vieiras (40%), sendo a menor frequncia relativa (Fr) observada em Miradouro (tabela 1).

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Tabela 1. Distribuio amostral de frequncia de produtores por municpios na Zona da Mata Mineira em 2009 Amostra (N) Municpio Fr Patrocnio do Muria So Francisco do Glria Miradouro Vieiras Fonte: Questionrio 23 15 10 32 28,75 18,75 12,5 40

Os produtores possuem reas de produo bem distintas em termos de tamanho da propriedade entre e dentro dos municpios, haja vista a grande variao observada no estudo (tabela 2). Enquanto So Francisco do Glria apresenta as maiores reas, com mdia 23,23 ha, Patrocnio do Muria possui as menores, com mdia de 4,35 ha. Tabela 2. Tamanho da propriedade, participao da renda e idade dos produtores por municpio da Zona da Mata Mineira em 2009 Participao relativa da Tamanho da produo aqucola na Idade (anos) propriedade (ha) renda Municpio Desvio- CV Desvio- CV Desvio- CV Mdia Mdia Mdia padro (%) padro (%) padro (%) Patrocnio 4,35 4,32 99,31 87,82 23,00 26,19 39 11,55 29,61 do Muria So Francisco 23,23 19,42 83,60 59,66 23,33 39,10 42,46 11,71 27,58 do Glria Miradouro 13,49 11,38 84,35 80,50 31,83 39,54 43,8 11,12 25,39 Vieiras 11,01 27,04 245,59 50,28 36,53 72,65 39,28 10,3 26,22 Fonte: Questionrio Observou-se a existncia de grandes, mdios e pequenos produtores em termos de rea produtiva. Os dados estatsticos corroboram esta observao: a mdia geral do tamanho da propriedade em hectares paulistas1 foi de 11,7, enquanto o desvio-padro foi de 20,38 hectares. A maior propriedade de 150,04 hectares e a menor de 0,22 hectares.

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A medida adotada aqui foi a paulista que equivale a 2,42 hectares, seguida nos estados de MG, SP, RJ, ES, PR, SC, RS, MT, GO, MA, PE e PB (Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA).

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Os dados da tabela 2 mostram que a variao de tamanho de reas grande em todos os municpios, entretanto, mais baixo em So Francisco do Glria e Miradouro, sendo mais alto em Vieiras, onde o CV 245,59%. Vieiras o municpio que apresenta a maior disperso em torno da mdia, o que indica a existncia de muitos produtores de diversos tamanhos (tabela 2). Ou seja, h uma grande probabilidade de se encontrar piscicultores com diversas estruturas produtivas, indicando haver grande variabilidade na cadeia produtiva de piscicultura ornamental desse municpio. A produo e comercializao de peixe ornamental no oramento domstico, responde na mdia geral por 66,61% (tabela 2) da fonte de renda da populao produtora dos municpios avaliados. A participao da renda relativa dos produtores deste mercado varia de 4% a 100%. O municpio cuja renda dos produtores deriva, principalmente, da criao e comercializao de peixes ornamentais Patrocnio do Muria (87,82%), seguido por Miradouro (80,50%). Em terceiro est So Francisco do Glria (59,66%) e, por ltimo, com 50,28%, Vieiras (tabela 2). Esta informao importante por indicar o nvel de comprometimento dos produtores com seu negcio. A diversificao de fonte de renda pode ser importante durante uma crise comercial ou diante de uma catstrofe da natureza. Nos ltimos anos, durante o vero, Patrocnio do Muria sofreu com chuvas que causaram perdas elevadas nos plantis dos produtores, uma vez que o municpio encontra-se situado em um vale que recebe grande volume de gua das serras que contornam o municpio e do transbordamento do rio Muria. Por outro lado, Vieiras que se situa no alto de uma serra e est distante de rios que possam transbordar, possui a caracterstica do comrcio peixes ornamentais responder por metade da receita dos produtores pesquisados. No quesito idade a mdia geral ficou em 40,36 anos e o desvio-padro da amostra foi de 10,98 anos. O mais velho produtor possua na poca da pesquisa a idade de 63 anos e o mais jovem, 19 anos. Os municpios que possuem os produtores mais jovens so Patrocnio do Muria e Vieiras, seguidos de So Francisco do Glria e Miradouro (tabela 2).

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Tabela 3. Distribuio de frequncia relativa de compartilhamento de produo e fonte de rendimento dos produtores dos municpios da Zona da Mata Mineira em 2009 Municpio N Exclusiva Compartilhada Duas ou Fonte nica com outras mais fontes de renda atividades de renda 39,13 73,91 26,09

Patrocnio do Muria So Francisco do Glria Miradouro Vieiras Total

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60,87

15 10 32 80

20,00 50,00 28,12 38,75

80,00 50,00 71,88 61,25

13,33 60,00 25,00 41,25

86,67 40,00 75,00 58,75

Fonte: Questionrio De todos os casos pesquisados nos municpios, 31 piscicultores (38,75%) produzem exclusivamente peixe ornamental, enquanto 49 piscicultores (61,25%), alm de peixe ornamental, trabalham com outros produtos agropecurios, tais como banana, caf, eucalipto, leite bovino, frango e gado (tabela 3). Em Patrocnio do Muria 60,87% dos piscicultores produzem somente peixe ornamental e 39,13% produzem tambm outros produtos agrcolas. Em So Francisco do Glria h 20% de produtores exclusivos de peixes ornamentais e 80% que produzem tambm outros bens. Em Miradouro encontram-se 50% de produtores exclusivos de peixes ornamentais e 50% que tambm diversificam sua produo. Em Vieiras foram identificados 28,12% de produtores exclusivos de peixes ornamentais e 71,88% de no-produtores exclusivos (tabela 3). Os dados pesquisados mostram que h uma grande concentrao de produtores, principalmente em Patrocnio do Muria, 73,91% (tabela 3), que tm na piscicultura sua nica fonte de renda. Miradouro vem em seguida, com mais da metade de seus produtores. J Vieiras, e especialmente So Francisco do Glria, possuem poucos produtores que tm nessa atividade sua nica fonte de renda. Interessante observar, que Patrocnio do Muria conhecido como o centro da piscicultura ornamental da Zona da Mata Mineira, todavia, tal atividade no est oficialmente colocada como a principal nos dados da prefeitura, porque como no uma atividade regulamentada junto aos rgos oficiais responsveis, responde apenas indiretamente como atividade geradora de divisas e empregos no municpio. Oficialmente as atividades principais so: confeco e pecuria.

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Trinta e trs produtores da regio (41,25%) responderam que a piscicultura ornamental era sua nica fonte de renda, enquanto 47 (58,75%) responderam que no era sua fonte nica de renda (tabela 3). H em Patrocnio do Muria 73,91% de produtores que tm na piscicultura ornamental sua fonte exclusiva de renda, enquanto 26,09% tm outra fonte de renda. So Francisco do Glria, por outro lado, possui 13,33% de produtores que vivem exclusivamente da piscicultura ornamental e 86,67% que tm outras fontes de renda, sejam outras produes agropecurias, ou alguma renda decorrente de vnculo trabalhista, benefcio previdencirio ou ajuda governamental, como bolsa-famlia. Miradouro possui 60% de produtores com renda exclusiva da piscicultura ornamental e 40% com outra fonte de renda. Vieiras possui 25% de produtores que vivem somente da renda decorrente da produo e comercializao de peixes ornamentais e 75% que possuem uma segunda ou terceira fonte de renda (tabela 3). Assim, enquanto Patrocnio concentra aqueles produtores que vivem exclusivamente da piscicultura ornamental, em Vieiras observa-se uma realidade diametralmente oposta, j que a maioria dos que l produzem possuem pelo menos uma fonte alternativa de renda. De acordo com os relatos obtidos, aps dois anos no cultivo de uma mesma espcie, os entrevistados acreditam que o manejo produtivo necessrio para que a criao seja viabilizada economicamente j foi dominado. Os produtores, nesta questo, referem-se mais precisamente reproduo, no necessariamente ao melhoramento gentico. De uma forma geral, as informaes mais comuns sobre reproduo so compartilhadas entre vizinhos e conhecidos. Questes mais especficas sobre melhoramento gentico esto restritas a parentes prximos ou a produtores que possuem vnculo comercial mais significativo. Observa-se que os produtores costumam no repassar informaes de natureza produtiva que possam fortalecer produtores concorrentes, situao considerada normal no meio empresarial. H 62 produtores que criam espcies diversas de peixes ornamentais, dentre estes, 57 as criam separadamente, enquanto 5 criam todas as espcies conjuntamente, devido s caractersticas das espcies produzidas. A distribuio por municpio muito semelhante entre si: Patrocnio do Muria, Miradouro e Vieiras so as localidades onde todos os que produzem mais de uma espcie o fazem separadamente. J So Francisco do Glria tem 14 piscicultores de espcies variadas, nove deles criando-as separadamente e cinco, conjuntamente. Durante a entrevista 16 produtores no souberam informar precisamente todos os quantitativos por espcies que cultivavam em seus terrenos. Grande parte destes indivduos sabia informar a produo anual das espcies em que eles se especializaram, todavia, sempre produziam outras espcies, cujo volume no era computado com exatido, mas que no podiam ser desconsiderados no trabalho. Diante do impasse o critrio utilizado consistiu em computar esta produo no identificada como espcies diversas. Assim estimaram-se 3.651.000 peixes ornamentais produzidos em 2009 sem considerar precisamente de que espcie (tabela 4).

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Tabela 4. Distribuio de frequncia de produtores e de peixes ornamentais nos municpios da Zona da Mata Mineira em 2009 Produo DesvioMximo Mnimo Mdia Peixe Produtor total padro Espcies diversas 16 3.651.000 2.200.000 2.000 228.187,50 542.653,50 Beta 30 585.100 144.000 100 19.503,33 26.869,13 Acar 19 168.400 20.000 500 8.863,15 6.706,15 Colisa 24 413.610 151.000 150 17.233,75 34.783,16 Tetra 5 49.000 20.000 2.000 9.800,00 7.224,95 Mato grosso 1 36.000 Kinguio 23 939.350 400.000 50 40.841,30 83.103,66 Paraso 3 38.600 18.000 5.000 12.866,66 6.917,61 Oscar 2 6.000 5.000 1.000 3.000 2.828,42 Mexirica 1 1.000 Guppy 5 43.000 20.000 2.000 8.600 8.354,64 Tricogaster 11 284.500 100.000 1.500 25.864 29.797,73 Melanotenia 2 2.200 1.200 1.000 1.100 141,42 Barbo 15 694.000 200.000 3.000 46.266,66 49.153,50 Danio 4 96.000 50.000 6.000 24.000 20.264,91 Paulistinha 9 432.000 200.000 3.000 48.000 59.516,80 Espada 20 1.448.000 300.000 2.000 72.400 81.600,69 Beijador 2 25.000 20.000 5.000 12.500 10.606,60 Molinsia 16 626.200 200.000 200 39.137,50 54.232,91 Lira 1 12.000 Vactel 1 12.000 Ramirezi 3 36.000 30.000 1.000 12.000 15.716,23 Sumatra 2 65.000 50.00015.000 32.500 24.748,73 Plati 15 740.000 200.00010.000 49.333,33 47.990,57 Esfema 1 2.000 Pacu 1 24.000 Carpa 13 512.000 200.000 5.000 39.384,61 54.474,05 Cascudo 1 30.000 Cubiceps 1 3.000 Tanite 2 62.000 60.000 2.000 31.000 41.012,19 Fonte: Questionrio A espcie individualmente identificada mais produzida a espada com quase um milho e meio de unidades/ano, seguido pelo kinguio, com quase 950.000 unidades/ano e pelo plati com 740.000 unidades/ano. Estas espcies so de alta rotatividade junto aos criadores, especialmente a espada e o plati. O preo baixo no varejo, que acaba ditando o

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comportamento da produo, estimula a renovao de plantel, e, por conseguinte, a produo destas espcies. O kinguio produzido para consumo de aquaristas mais experientes. O guppy, por sua vez, considerado por diversos produtores um dos mais simples do aquarista ter em casa ou iniciar este hobby. Considerando-se que uma espcie muito procurada no mercado pelo consumidor final, no restou claro por que motivo(s) a produo no deveria ser bem maior, s 43.000 unidades/ano (tabela 4). A produo total de peixes ornamentais dos oitenta produtores entrevistados da regio da Zona da Mata Mineira, no ano de 2009, atingiu o patamar de 11.036.960 unidades. O sistema de produo utilizado na piscicultura ornamental varia em funo do grau de tecnologia empregado, podendo ser dividido didaticamente em trs categorias: intensivo, semi-extensivo e extensivo. O sistema de produo intensivo indica uma utilizao de tcnicas e equipamentos sofisticados de produo animal, ou seja, a participao humana no processo produtivo influencia mais do que o processo natural de reproduo e desenvolvimento animal. Normalmente visto em laboratrios de pesquisas, onde o mximo de variveis ambientais controlado e a produtividade priorizada. O sistema de produo semi-extensivo seria um processo intermedirio entre o primeiro e o terceiro sistema, mais simplificado. No sistema semi-extensivo h certo controle ou monitoramento de variveis ambientais, pode ser em estufas ou em tanques escavados, mas o que determina o sistema produtivo algum nvel de controle externo do ambiente. O sistema extensivo o mais simples de todos, onde a participao humana muito restrita. Ele consiste em se criar peixes dentro de tanques escavados, porm, sem quaisquer cuidados adicionais, onde os peixes alimentam-se de fitoplnctons e zooplnctons e sua reproduo no assistida. Consequentemente, a produtividade reduzida. Para efeito de pesquisa durante o preenchimento dos questionrios no houve direcionamento de respostas, cada produtor respondeu que produzia em um dos sistemas de acordo com o que ele entendia sobre qual sistema de produo era utilizado em sua propriedade. Portanto, as respostas refletem exclusivamente como cada um acredita que seja seu sistema produtivo, no necessariamente como ele deve ser classificado nos meios cientficos ou acadmicos. Os 23 produtores de Patrocnio do Muria e os 15 de So Francisco do Glria pertencem ao grupo que se considera intensivista. Em Miradouro temos cinco que se vem como intensivista, quatro que se vem como semi-extensivista e um que se v como extensivista. Por sua vez em Vieiras temos 31 que acreditam ter um sistema intensivo e um que se considera semi-extensivo. Ao considerar que o sistema intensivo resultado de alto investimento em equipamentos modernos e interligados, tal como se v em laboratrios de ltima gerao, nenhum produtor da regio trabalharia de forma intensiva. Assim, na regio estudada s existiriam os sistemas semi-extensivos e os extensivos. Sendo o sistema semi-extensivo um retrato bastante fiel do sistema real da grande maioria dos produtores da regio, enquanto o

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sistema extensivo seria o modelo de produo de pequena parte dos piscicultores mineiros da Zona da Mata Mineira. Muitos dos entrevistados tiveram dificuldade em responder questo se produzem mediante encomenda ou no. A dvida diz respeito se a encomenda que determina a produo ou se a produo que determina a demanda (encomenda). De modo geral, entretanto, todos disseram que se pudessem produzir mais teriam mercado para seus peixes porque a procura sempre alta. O limitador de suas produes seria a dificuldade de acesso ao crdito rural para poderem criar mais peixes, das espcies que j produzem ou de novas. Do total entrevistado, 42 produtores (52,5%) responderam que produziam mediante encomenda, 37 (46,25%) responderam que no produziam sobre encomenda e um produtor de Patrocnio do Muria respondeu as duas opes (1,25%), porque tinha vendas pr-agendadas para um atravessador e tambm para clientes no contumazes. Quatro produtores de Patrocnio do Muria produzem sobre encomenda, 18 dizem que no produzem nesta condio e um diz que produz com e sem encomenda. Em So Francisco do Glria 13 produzem mediante encomenda e dois no. Em Miradouro trs produzem sobre encomenda e sete no. Em Vieiras 22 produzem por encomenda e dez no. Quando perguntados se h produo durante todo o ano, 62 piscicultores responderam que sim (77,5%) e 18 responderam que no (22,5%). A principal alegao da interrupo a inviabilidade econmica, j que a reproduo comprometida nestas condies, alm de maior susceptibilidade no surgimento de doenas bacterianas e virticas. A totalidade dos produtores de Patrocnio do Muria cria peixes durante o ano sem interrupes. Em So Francisco do Glria nove produzem continuamente, enquanto seis param durante alguns meses. Em Miradouro todos produzem sem interrupes. Em Vieiras 20 produzem continuamente, enquanto 12 interrompem sua produo quando a temperatura interfere no desempenho de crescimento de seus peixes. Doze produtores de Vieiras interromperam sua produo no frio. Em So Francisco do Glria foram seis produtores, sendo quatro no frio e dois no calor e frio. Tabela 5. Frequncia relativa de controle de temperatura, oxignio dissolvido, pH e amnia nas propriedades dos produtores dos municpios da Zona da Mata Mineira em 2009 Temperatura Municpio N Sim Patrocnio do 23 Muria So Francisco 15 do Glria Miradouro 10 Vieiras 32 Total 80 Fonte: Questionrio 43,48 20,00 40,00 25,00 31,25 Oxignio dissolvido Sim 8,70 0 10,00 0 3,75 pH Sim 60,87 33,33 50,00 46,88 48,75 Amnia Sim 17,40 13,33 0 3,13 3,13

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No quesito controle de temperatura, 25 produtores (31,25%) responderam que fazem algum controle (tabela 5), enquanto 55 responderam que no fazem nenhum controle da temperatura da gua na produo de peixes ornamentais. A medio de oxignio dissolvido realizada por somente trs produtores (3,75%) do total pesquisado (tabela 5). O controle do pH feito por 39 produtores (48,75%), conforme tabela 5. Sobre este item, durante a aplicao dos questionrios, diversos produtores espontaneamente disseram que o principal item a ser controlado seria o pH, o que pode explicar porque este item o mais executado pelos criadores de peixes ornamentais entrevistados. J o monitoramento da amnia presente na gua objeto de preocupao de sete produtores (8,75%), de acordo com a tabela 5. Muitos entrevistados, apesar de no realizarem com frequncia procedimentos de monitoramento da gua sugeridos pelos profissionais que costumam ministrar cursos na regio, reconhecem a importncia de se fazer controles regulares. No dia-a-dia no o fazem por acharem que tm o controle da situao, que a prtica adquirida dispensa tais procedimentos. Foi dito durante a entrevista pelos produtores que estes conhecem kits de diagnstico no mercado que analisam variveis diversas, como temperatura, pH, amnia etc. Estes kits so, porm, pouco utilizados, seja por causa do preo, ou principalmente por conta do trabalho de checagem. Aps certo tempo de atividade, tais controles deixam de ser prioridade, ou seja, o domnio da situao torna os produtores menos preocupados com os procedimentos de monitoramento, direcionando suas preocupaes para questes mercadolgicas (onde comprar, para quem vender, quais produtos investir, formas de pagamento, entre outros). Tabela 6. Distribuio de frequncia relativa de produtores que fazem controle de temperatura nos municpios da Zona da Mata Mineira em 2009 Municpio Patrocnio Muria do N 9 Dirio 44,45 0 0 25,00 25,00 Semanal 33,33 66,67 50,00 12,50 33,33 Mensal 0 0 25,00 0 4,17 Espordico 22,22 33,33 25,00 62,50 37,50

So Francisco do 3 Glria Miradouro Vieiras 4 8

Total 24 Fonte: Questionrio

Apenas 24 produtores entre o total de 80 realizam algum controle de temperatura, sendo que seis (25%) fazem controle dirio, oito (33,33%) o fazem semanalmente, um (4,17%) o faz mensalmente e nove (37,50%) o realizam esporadicamente, diante de algum sinal de anormalidade na produo (tabela 6). Considerando-se que efetuar o controle de temperatura seja o mais simples e barato mtodo de acompanhamento de produo, fica claro que os produtores esto negligenciando importante controle interno de sua criao. A anlise piora quando so excludos aqueles que se declararam espordicos, j que s fazem anlise trmica quando h alguma anomalia em sua produo.

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O controle de amnia feito por quatro produtores de Patrocnio do Muria, dois o fazem semanalmente e dois esporadicamente. Dois produtores de So Francisco do Glria tambm fazem controle, um semanalmente e o outro esporadicamente. Em Vieiras foi identificado um produtor que faz o controle semanalmente. Um total de apenas sete pessoas que efetuam o controle de amnia, sendo trs esporadicamente, um nmero preocupante, menos de 10% do total pesquisado, haja vista que em todos os cursos ministrados os palestrantes chamam a ateno para os controles que devem ser feitos periodicamente. Inclusive, os prprios criadores recordam das instrues recebidas nos eventos dos quais participam ou enviam acompanhantes. Pelo observado nas entrevistas, os produtores preferem correr o risco de no faz-lo para economizar no tempo e no investimento de um kit de anlise conjunta de gua ou em um aparelho especfico de anlise de concentrao de amnia em seus tanques criatrios. Tabela 7. Distribuio de frequncia relativa dos produtores em relao ao controle de pH nos municpios da Zona da Mata Mineira em 2009 Dirio Semanal Quinzenal Mensal Espordico Municpio N Patrocnio 14 21,43 28,57 0 42,86 do Muria 7,14 So Francisco 5 0 20,00 0 40,00 40,00 do Glria Miradouro 5 0 20,00 13,33 20,51 0 6,67 2,56 40,00 13,33 17,95 40,00 60,00 48,72 Vieiras 15 6,67 Total 39 10,26 Fonte: Questionrio

Dos 39 produtores que realizam o controle de pH da gua, 10,26% o fazem diariamente, 20,51% fazem semanalmente, 2,56% fazem quinzenalmente, 17,95% realizam mensalmente e 48,72% esporadicamente, normalmente quando surge algum fato relevante, como durante um perodo quarentenrio (tabela 7). Tabela 8. Distribuio de frequncia relativa dos produtores em relao ao controle de nitrito, dureza da gua, slidos e outros nos municpios da Zona da Mata Mineira em 2009 Municpio N Nitrito H Patrocnio do 23 Muria So Francisco 15 do Glria Miradouro 10 Vieiras 32 Total 80 Fonte: Questionrio 8,70 13,33 0 3,12 6,25 Dureza da gua Slidos totais H 4,35 13,33 0 6,25 6,25 H 0 0 0 0 0 Outras medidas H 0 0 0 0 0

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O controle de nitrito um item pouco verificado, apenas 6,25% dos produtores informaram que o fazem. Mesmo nmero de produtores que verificam a dureza da gua utilizada na produo. Com relao aos slidos totais e a outras medidas de controle na produo, nenhum dos 80 produtores informou fazer (tabela 8). Dos produtores de Patrocnio do Muria, 8,70% efetuam controle espordico de nitrito, enquanto 13,33% dos produtores de So Francisco do Glria fazem este controle, sendo um semanal e o outro espordico. Em Vieiras, 3,12% fazem apenas o controle de nitrito esporadicamente. Este controle, portanto, no um item considerado importante pelos produtores da Zona da Mata Mineira. Apenas um produtor de Patrocnio do Muria faz o controle mensal da dureza da gua. Em So Francisco do Glria um produtor faz o controle semanal e outro faz o controle espordico da dureza da gua. Em Vieiras h um produtor que faz o controle semanal e outro que faz o controle mensal da dureza da gua. Este controle, pelo observado na pesquisa, tambm um quesito considerado sem importncia pela maioria dos produtores da Zona da Mata Mineira. Melhores prticas de manejo, como controle mais efetivo da gua, em termos de qualidade, temperatura, dureza e oxignio dissolvido, dos nveis de amnia, nitrito e slidos totais e da variao do pH diminuiriam o custo financeiro e ambiental do uso de medicamento em um eventual tratamento veterinrio. Durante o ano de 2009, 50 produtores tiveram contato com algum tipo de assistncia tcnica que os auxiliou no desenvolvimento de produo de peixes ornamentais, sendo 21 de Patrocnio do Muria, nove de So Francisco do Glria, dois de Miradouro e 18 de Vieiras. Os outros 30 que no tiveram contato, no participaram pelas mais diversas razes: no tinham com quem deixar a produo, no foram avisados (especialmente aqueles que moram muito isolados das reas mais urbanas dos municpios), o lugar de treinamento era mais distante de suas residncias, entre outros motivos. A assistncia tcnica, em forma de cursos ou palestras, realizada por veterinrios, zootecnistas, bilogos, engenheiros de pesca e tcnicos da EMATER com formao em engenharia agrcola. Foram 39 produtores que tiveram treinamento pelo menos uma vez no ano de 2009. Quatro produtores tiveram dois treinamentos naquele ano, sendo dois produtores de Patrocnio do Muria e dois produtores de Vieiras. Outros quatro produtores de Patrocnio do Muria tiveram trs treinamentos. Dois produtores informaram a participao em quatro eventos, sendo um produtor de Patrocnio do Muria e outro de So Francisco do Glria. Por fim, um produtor de Patrocnio do Muria disse ter participado de cinco treinamentos no ano de 2009. Observou-se que os produtores de Patrocnio do Muria esto mais preocupados com a capacitao tcnica do que os produtores dos outros municpios, provavelmente por causa do empenho da AAQUIPAM em oferecer treinamento aos seus associados. Dos 23 entrevistados de Patrocnio do Muria, 21 (91,3%) haviam participado de pelo menos um evento de capacitao no ano de 2009.

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Alguns produtores argumentaram que os treinamentos, em certos momentos no poderiam ser chamados assim. Segundo estes produtores, todo treinamento deveria ser dividido em duas partes: uma introdutria com exposio terica e outra com exemplos prticos. Constatou-se certo nvel de insatisfao quanto aos resultados dos cursos ministrados, a partir da metodologia empregada, no quanto aos capacitadores. Muitos deles, de acordo com os produtores, demonstram todo empenho no trabalho que executam, todavia, no dispem de conhecimento tcnico necessrio para sanar algumas particularidades, devido s suas formaes acadmicas originais, normalmente diversas do ramo da aquicultura. Como a produo de peixes ornamentais de boa qualidade est vinculada a boas tcnicas de manejo, um aumento da frequncia de cursos e aprofundamento terico-prtico, com profissionais da rea, ampliao da carga horria dos treinamentos, aliados ao interesse particular em participar de eventos capacitaria melhor o produtor em seu negcio, aumentando a produtividade e reduzindo a mortandade de seu plantel.

Grfico 1. Espcies mais produzidas no municpio de Patrocnio do Muria em 2009 Fonte: Questionrio Verifica-se no grfico 1 que as principais espcies produzidas no municpio de Patrocnio do Muria em 2009 foram o beta, o kinguio, o acar e a colisa. O destaque da produo, de acordo com os dados pesquisados, o beta, onde neste municpio houve uma especializao na produo desta espcie. Dos 23 produtores pesquisados, apenas trs no produzem beta. Esta especializao na produo no observada em nenhum dos outros trs municpios pesquisados. Alguns produtores, no s de Patrocnio do Muria, quanto dos demais municpios pesquisados, disseram que a fama daquele municpio na produo de beta ultrapassou as fronteiras de Minas Gerais, trazendo vantagens para compradores e vendedores da espcie, principalmente quanto logstica de distribuio. Outro aspecto informado que a AAQUIPAM foi fundada justamente para agregar os interesses dos produtores de beta do municpio de Patrocnio do Muria. Os associados mais engajados da entidade esto constantemente buscando treinamento, divulgao de informaes, entre outras aes com o intuito de fortalecer a associao, e, consequentemente,

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os prprios membros, na produo e comercializao, com gerao crescente de lucro para os produtores.

Grfico 2. Espcies mais produzidas no municpio de So Francisco do Glria em 2009 Fonte: Questionrio De acordo com o grfico 2 as duas principais espcies produzidas no municpio de So Francisco do Glria em 2009 foram o espada e o kinguio, seguidas pelo beta, guppy, plati e pacu. Observou-se durante os levantamentos dos dados que h uma interao quase nula entre os produtores do municpio de So Francisco do Glria, ou seja, os produtores deste municpio tm pouqussimo contato profissional entre si, diferentemente do panorama observado em Patrocnio do Muria. Uma possvel justificativa para esta particularidade seria o distanciamento geogrfico e as precrias condies de acesso entre os produtores, alm da falta de uma instituio comunitria como a AAQUIPAM.

Grfico 3. Espcies mais produzidas no municpio de Miradouro em 2009 Fonte: Questionrio

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Conforme os dados disponveis no grfico 3, as espcies mais produzidas no municpio de Miradouro foram relativamente bem distribudas, com destaque para a produo de espada, seguido do acar e do kinguio. A produo de paulistinha, plati e carpa tambm foram representativos.

Grfico 4. Espcies mais produzidas no municpio de Vieiras em 2009 Fonte: Questionrio De acordo com o observado no grfico 4, h uma produo muito diversificada de espcies no municpio de Vieiras, onde das 11 espcies produzidas, predominam beta, colisa e kinguio. De acordo com o estudo feito o principal motivo desta distribuio seria o fato de um importante produtor do municpio ter influncia sobre grande parte dos demais produtores. Atuando paralelamente como atacadista aquele produtor de Vieiras consegue direcionar a produo de boa parte dos pequenos produtores, seja ofertando rao por ele produzida, seja estimulando uma especializao na produo de determinadas espcies entre seus fornecedores de peixes ornamentais, seja atuando como avalista em emprstimos junto instituio financeira responsvel pelo crdito rural para aquisio de estufas, ou por meio de outras aes. A atuao do supracitado produtor de Vieiras como agente indutor da produo e comercializao de peixes ornamentais justifica a distribuio verificada no grfico 4, fazendo com que o panorama do municpio seja diverso do observado nos outros trs municpios pesquisados no ano de 2009. Sob o ponto de vista da teoria econmica o ordenamento observado racional. Torna-se, entretanto, necessrio aprofundar o estudo para ver se este o melhor plano individualmente para os produtores da regio. De uma maneira geral, as espcies mais produzidas na regio esto de acordo com as espcies dulccolas mais cultivadas no pas, conforme Lima et al. (2001). Segundo estes autores seriam as espcies que necessitam de pouca tcnica de manejo, normalmente, muito prolferas. Mills (1998) acrescenta mais alguns pontos para explicar o comrcio de peixes ornamentais: o exotismo da espcie, que inclui o colorido, o formato e seu comportamento.

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Segundo Souza (1996) o peixe de origem asitica goldfish Carassius auratus, conhecido como peixe japons o mais comercializado no pas. Seguido pelos anabantdeos dos gneros Colisa, Trichogaster e Helostoma (peixe beijador), alm do peixe-briga Betta splendens, que na atualidade, aps seleo rigorosa, apresenta nadadeiras mais desenvolvidas, bem como colorido mais intenso que o original asitico. Tabela 09. Estatsticas descritivas de preo de venda unitrio em reais no atacado dos produtores dos municpios da Zona da Mata Mineira em 2009 Peixe Beta Acar Colisa Tetra Kinguio Paraiso Guppy Tricogaster Barbo Danio Paulistinha Espada Molinsia Ramirezi Plati Carpa Melanotenia Beijador Sumatra Tanite Oscar Mato grosso Mexirica Lira Vactel Esfema Pacu Cascudo Cubiceps Diversos Fonte: Questionrio N 30 19 23 5 22 3 5 10 15 4 9 20 16 3 15 13 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 16 Mdia 0,95 0,65 0,65 0,13 1,05 0,71 0,40 0,20 0,23 0,16 0,08 0,11 0,25 0,15 0,07 0,68 0,97 0,45 0,16 0,10 1,75 0,08 0,50 0,10 0,07 0,07 0,50 1,00 0,15 0,46 Desvio-padro 0,07 0,37 0,25 0,02 0,82 0,49 0,10 0,11 0,18 0,04 0,04 0,12 0,20 0,01 0,02 0,33 0,74 0,42 0,02 0,06 1,06 0 0 0 0 0 0 0 0 0,49 MximoMnimo 1,00 0,75 1,50 0,15 1,00 0,15 0,15 0,10 3,00 0,25 1,00 0,15 0,50 0,30 0,50 0,10 0,65 0,08 0,20 0,10 0,20 0,05 0,65 0,07 0,60 0,07 0,16 0,15 0,15 0,06 1,20 0,20 1,50 0,45 0,75 0,15 0,18 0,15 0,15 0,06 2,50 1,00 0,08 0,08 0,50 0,50 0,10 0,10 0,07 0,07 0,07 0,07 0,50 0,50 1,00 1,00 0,15 0,15 2,00 0,06

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Parece haver um direcionamento de produo para aquelas espcies de menor custo. O preo mdio mais alto o do kinguio e o preo mais baixo o do plati (tabela 09). Boa parte dos produtores prefere produzir as espcies de mais fcil reproduo e manuteno em aqurio, de baixo valor, porque observaram que a procura dos consumidores finais maior. Assim, h preferncia pelo ganho derivado da maior quantidade de vendas com baixo preo ao ganho proveniente de poucas vendas com alto preo. O preo mdio unitrio ponderado dos peixes ornamentais da Zona da Mata Mineira, no ano de 2009, foi de R$ 0,50 (cinquenta centavos), enquanto o valor total arrecadado pelos produtores da regio foi de R$ 6.878.241,30 (seis milhes, oitocentos e setenta e oito mil, duzentos e quarenta e um reais e trinta centavos). Tabela 10. Distribuio de frequncia relativa de financiamento bancrio dos produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 Municpio Patrocnio do Muria So Francisco do Glria Miradouro Vieiras Total Fonte: Questionrio Observa-se que o nmero de produtores que utilizam crdito agrcola para produo de peixes ornamentais na regio da Zona da Mata Mineira muito limitado: 4,35% em Patrocnio do Muria, 40% em So Francisco do Glria e 40,62% em Vieiras (tabela 10). A justificativa pela qual houve discrepncia entre Vieiras e os demais municpios foi a ajuda pontual de um importante produtor e atacadista de peixes ornamentais de Vieiras. Durante a entrevista com este produtor, ele dissertou sobre acordo com uma agncia bancria local que tinha como objetivo auxiliar os produtores de Vieiras a terem acesso ao crdito oficial para construo de estufas em suas propriedades. Conhecedor do potencial empreendedor de seus fornecedores, o produtor comprometeu-se, junto instituio bancria, em honrar o pagamento do emprstimo caso algum dos indicados no o fizesse. At o momento da pesquisa no havia registro de atraso no pagamento dos treze emprstimos concedidos. Apesar de ser uma situao atpica, mostrou-se, porm, eficaz quanto meta de aumentar a produo. O mtodo de construo de estufas no municpio tambm contm dose de ineditismo, j que no havia especialista local na construo das mesmas. A primeira a ser feita no ficou boa por causa da altura do vo central, muito alto, o que dificulta o aquecimento interno da estufa, fundamental para o desenvolvimento de algumas espcies que requerem temperaturas mais altas. O problema foi corrigido nas estufas posteriores. N 23 15 10 32 80 Utiliza financiamento bancrio 4,35 40,00 0 40,62 25

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Tabela 11. Distribuio de frequncia relativa das razes pela no utilizao de financiamento bancrio dos produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 Motivo de no utilizao de financiamento bancrio Municpio N No quer 4,55 No pode 27,27 No precisa 22,73 Falta avalista 4,55 No sabe 40,91 No existe 0

Patrocnio do Muria So Francisco do Glria Miradouro Vieiras Total

22

9 10 19 60

11,11 20,00 26,32 16

11,11 0 31,58 21,66

11,11 10,00 21,05 18,33

11,11 10,00 5,26 6,66

33,33 30,00 5,26 26,66

22,22 30,00 10,53 11,66

Fonte: Questionrio Dos 60 que no utilizam financiamento bancrio, 16% no querem; 21,66% no podem, seja por conta de restries cadastrais ou porque as propriedades no esto em seus nomes; 18,33% no precisam; 6,66% no tm avalista; 26,66% no souberam dizer o motivo porque nunca tiveram ou no tm financiamento e 11,66% afirmaram no existir financiamento especfico para a piscicultura ornamental (tabela 11). Estes ltimos informaram que os produtores que conseguem financiamento bancrio s o conseguem porque solicitaram o recurso para produo de outros bens agrcolas e no para a produo aqucola ornamental. Os produtores dos municpios pesquisados informaram vender seus produtos para os estados de Minas Gerais, So Paulo, Rio de Janeiro, Esprito Santo, Paran, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Gois, Distrito Federal, Amazonas e Bahia. O destino mais comum So Paulo com 17 ocorrncias, o segundo mais indicado o Paran. A razo de So Paulo ser o destino mais frequente a concentrao de atacadistas e/ou intermedirios no estado, onde inmeros negcios so realizados semanalmente, principalmente na feira mais importante de comercializao, a do municpio paulista de Guarulhos. Para as vendas, o meio de transporte mais empregado pelos produtores da Zona da Mata Mineira o carro de passeio (44 produtores). Em seguida vem o caminho, com 26 registros. Os outros dez produtores informaram utilizar mais de um meio de transporte, porque suas vendas vo a lugares distantes. A predominncia do uso de carro de passeio foi justificada em funo de as vendas serem realizadas quase diariamente e em quantidades fracionadas. Alm disso, a distribuio geogrfica dos produtores e as condies das vias rurais favorecem o uso de transporte leve, mais rpido entre o produtor e o atravessador.

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Tabela 12. Distribuio de frequncia relativa do acompanhamento das guias de transporte animal dos produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 Municpio N Sim No s vezes Patrocnio do Muria 23 4,35 91,30 4,35 So Francisco do Glria 15 100,00 0 0 Miradouro 10 100,00 0 0 Vieiras 32 96,88 3,12 0 Total 80 71,25 27,5 1,25 Fonte: Questionrio Cinquenta e sete produtores (71,25%) informaram que vendem suas mercadorias com acompanhamento de Guia de Trnsito Animal (GTA) e/ou Guia de Trnsito de Peixes com Fins Ornamentais e de Aquariofilia (GTPON), enquanto 22 (27,5%) vendem sem nenhuma das guias e um produtor (1,25%) de Patrocnio do Muria vende das duas maneiras, dependendo do seu comprador (tabela 12). Observa-se que todos os produtores de So Francisco do Glria e de Miradouro informaram que efetuam as vendas com as guias oficiais, quando na realidade so os revendedores locais que providenciam a emisso das guias de trnsito. Os produtores de Patrocnio do Muria em sua grande maioria responderam que no emitem nenhuma guia, j que os compradores, de outros estados, ou mesmo atravessadores locais, que ficam responsveis pela expedio das citadas guias (tabela 12). Tabela 13. Distribuio de frequncia relativa das formas de comercializao dos produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 Patrocnio do So Francisco Miradouro Vieiras Comercializao Muria do Glria Direto ao varejista 0 0 10,00 0 Para o atravessador 95,65 80,00 40,00 93,75 Direto ao varejista/para o 4,35 6,67 50,00 0 atravessador Direto ao varejista/ao prprio 0 0 0 3,12 aquarista Para o atravessador/ao 0 0 0 3,12 prprio aquarista Direto ao varejista/para o 0 13,33 0 0 atravessador/ao prprio aquarista N 23 15 10 32 Fonte: Questionrio A quase totalidade dos produtores comercializa seus peixes por meio de intermedirios, so 95,65% de Patrocnio do Muria, 80% de So Francisco do Glria, 40%

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de Miradouro e 93,75% de Vieiras (tabela 13). Dos 80 piscicultores, 68 deles (85%) dependem de intermedirios para escoar sua produo. No jargo comercial se diz que os produtores da regio so comprados, ou seja, realizam vendas de maneira passiva, quando o ideal seria realizar uma venda ativa, indo at o comprador final ou atacadista. A estrutura da maioria dos produtores entrevistados, porm, est apenas voltada para a produo. Uma possvel soluo seria a associao de diversos produtores na distribuio dos peixes no destino desejado, seja por meio de uma associao ou cooperativa. Agindo assim, os produtores poderiam reduzir custos logsticos, o que, consequentemente, aumentaria o lucro da venda. Na situao apresentada perante a pesquisa, o intermedirio que fica com esta diferena de valor. Durante o transporte o acondicionamento dos peixes ornamentais feito por meio de saco plstico e/ou caixa. Dependendo da espcie transportada adiciona-se oxignio. A combinao mais comum saco plstico com adio de oxignio (37 casos, seguido de saco plstico sem adio de oxignio, com 21 ocorrncias). Tabela 14. Distribuio de frequncia relativa das medidas de transporte para locais distantes realizadas pelos produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 Patrocnio do So Francisco Miradouro Vieiras Medida adotada do Glria Muria Adio de oxignio 8,70 57,14 30,00 44,44 Controle de temperatura 4,35 0 0 0 Sedao 21,74 0 0 0 Adio de medicamento 0 0 0 16,67 Nenhuma ao 30,43 28,57 0 0 Adio de oxignio/ controle de 4,35 7,14 10,00 5,56 temperatura Adio de oxignio/ Sedao 4,35 0 20,00 5,56 Adio de oxignio/adio de 8,70 0 40,00 0 medicamento Controle de temperatura/sedao 8,70 0 0 0 Controle de temperatura/adio 4,35 0 0 0 de medicamento Sedao/ adio de 4,35 0 0 5,56 medicamento Adio de oxignio/ controle de 0 7,14 0 0 temperatura/sedao Adio de oxignio/ 0 0 0 22,22 sedao/adio de medicamento N 23 14 10 18 Fonte: Questionrio Um produtor de So Francisco do Glria e 14 de Vieiras no souberam responder quais as medidas de transporte para locais distantes adotadas por eles, porque entregam seus

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produtos a atravessadores que os reembalam. Assim, nesta tabulao s foram consideradas 65 respostas. A resposta mais frequente foi adio de oxignio para transporte de longas distncias. Em Patrocnio do Muria apenas 8,70% dos produtores realizam esta operao, diferentemente dos trs outros municpios pesquisados (tabela 14). Enquanto em So Francisco do Glria so 57,14% dos produtores, em Miradouro so 30% e em Vieiras so 44,44%. O motivo por que esta situao observada decorre do principal produto de Patrocnio do Muria ser o beta, que por suas caractersticas fsicas possuir um rgo chamado de labirinto, localizado logo acima das brnquias, com funo auxiliar de respirao. Sendo assim, torna-se desnecessrio adicionar oxignio para transporte desta espcie, o que se reflete na pesquisa feita. H outro produtor de So Francisco do Glria que, apesar de vender para atravessador, no aprecia o mtodo de os peixes comprados de diferentes fornecedores serem misturados para revenda. Isto porque se um peixe saudvel entra em contato com outro, doente, o peixe sadio tambm poder ficar doente. Este produtor j teve desconto ou devoluo de peixe morto, tendo, segundo ele, certeza da sade de seus peixes. Teria alegado junto ao intermedirio que a doena no teria vindo de sua propriedade, mas de outra, o que, porm, no foi considerado pelo atravessador. Observa-se, portanto, que este mtodo empregado na regio no seguro, do ponto de vista de dificultar a rastreabilidade de eventuais doenas. Um dos maiores produtores da regio, do municpio de So Francisco do Glria, possui um ba trmico que mantm a temperatura em 25 para transportes longos. Segundo o produtor, ele investiu no equipamento porque comercializa grande quantidade de peixes produzidos por ele e pelos seus fornecedores. A literatura ampla em estudos sobre perda no transporte de peixes ornamentais oriundos da pesca extrativa, seja pela captura, pelo entreposto, pelo transporte em si, pelas mudanas extremas nas condies da qualidade e temperatura da gua, pelo uso indiscriminado de substncias qumicas para tratamento profiltico de controle de doenas e mesmo em decorrncia das variaes biolgicas das diferentes espcies (Chao et al., 2001 e Cato & Brown, 2003). A partir destes estudos, possvel estabelecer orientaes e procedimentos padronizados de manuseio que reduzam a mortalidade na chegada da carga do exportador para o importador para menos de 5% (Lim, 2005). Assim, treinamentos voltados para este assunto poderiam minimizar as perdas dos produtores da Zona da Mata Mineira. Cinquenta e dois produtores (65%) utilizam rao comercial, sendo 23 de Patrocnio do Muria, nove de So Francisco do Glria, 10 de Miradouro e 10 de Vieiras, enquanto 28 (35%) usam rao produzida pelos intermedirios, sendo seis de So Francisco do Glria e 22 de Vieiras. Um nmero considervel de produtores reclamou das raes comerciais existentes. Quarenta e dois dos produtores acreditam que as raes comerciais disponveis no so feitas para as espcies de peixes ornamentais que eles produzem. Os outros 38 acham que as raes do mercado atendem as necessidades de alimentao dos peixes. Foi mencionado que algumas raes no so encontradas devidamente modas para os peixes menores. Outras raes, em funo do preo alto, induzem os produtores a comprar duas ou mais marcas e as misturar na proporo que acham correto. Em algumas ocasies os produtores adicionam farinha de carne para render mais ao fornecido aos peixes adultos. Adiciona-se discusso o fornecimento de rao produzida por alguns intermedirios locais

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que a vendem aos seus clientes, da mesma forma que lhes fornecem matrizes e apoio tcnico na produo. A queixa dos 42 produtores que acreditam no serem as raes comerciais adequadas aos peixes produzidos pode ser explicada pela dificuldade de se achar raes comerciais especficas para produo das diversas espcies de peixes ornamentais. O que se encontra certo nmero de fabricantes de raes ofertando raes genricas, ou seja, para qualquer peixe. Todavia, sabido que h peixes ornamentais carnvoros, onvoros e herbvoros que possuem uma exigncia nutricional diferente. No comrcio varejista de aquarismo, encontram-se algumas raes especficas em pequenos frascos para alimentao de peixes em aqurio. Porm, o preo invivel para atender o produtor, que requer grande quantidade de rao adequada a um preo acessvel. As reclamaes dos produtores da regio indicam que os fabricantes de rao poderiam intensificar os estudos no desenvolvimento de produtos mais especficos para peixes ornamentais, atualmente inexistentes, para que o produtor tivesse acesso a composies nutricionais de melhor qualidade. Uma maior utilizao de alimento vivo tambm seria til na reduo do custo de produo, quando fosse possvel o seu fornecimento espcie produzida. Para isso, so necessrias pesquisas na rea nutricional da piscicultura ornamental no pas, como a existente na linha de produo de tilpias, trutas ou camares em cativeiro. De acordo com 43 produtores (53,75%) o tipo de alimento varia de acordo com a idade do peixe, enquanto 37 (46,25%) no pensam assim. Para a maioria, a diferenciao diz respeito percentagem de protena fornecida de acordo com a fase de vida. Para a larva pode ser oferecida, por exemplo, uma rao com 48%. Para o alevino oferece-se a rao com 36%. Para o juvenil oferece-se a rao com 32% e para o adulto a rao ofertada a de 28%. Ou seja, da primeira poro fornecida at a fase adulta o nvel de protena vai diminuindo. O percentual de protena presente na rao varia um pouco entre os produtores, mas segue o exemplo descrito. Alguns produtores acreditam que basta fornecer uma mesma percentagem de protena (22%, 36% ou outro valor), s modificando a forma como a quantidade diria ofertada. Para peixes maiores pode-se fornecer maior volume de rao poucas vezes ao dia. Alternativamente, pode-se fornecer menor volume mais vezes ao dia. A quantidade total fornecida nas duas situaes idntica, variando apenas o nmero de vezes em que a rao fornecida diariamente. Esta dicotomia entre os dois grupos reflete as informaes contidas nas embalagens das diversas marcas existentes no mercado. Como difcil encontrar raes nacionais feitas para peixes ornamentais especficos, o que parece ser a regra o fabrico de raes para peixes de uma maneira geral e sua peletizao em diversas granulometrias. Tal procedimento, no observado quando se l instrues de raes para gatos e para cachorros. Estas espcies contam no mercado com raes diferenciadas produzidas para as mais diversas raas. Durante uma entrevista foi observado que a rao importada de uma marca conceituada fornecida para os peixes era exclusiva para camares, conforme indicao constante na embalagem. Quando perguntado se o produtor j tinha lido o rtulo este

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respondeu que nunca o fizera, demonstrando surpresa diante da observao. Percebe-se, assim, grande falta de informao e pesquisas em relao parte nutricional dos peixes ornamentais. Tabela 15. Distribuio de frequncia relativa de alimentao diria dos peixes realizada pelos produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 Patrocnio So do Francisco do Miradouro Vieiras Quantidade Muria Glria Uma vez 0 33,33 60,00 34,38 Duas vezes 82,61 46,67 20,00 46,88 Trs vezes 8,70 0 10,00 9,38 Mais de trs vezes 0 0 0 0 Uma vez/duas vezes 0 20,00 10,00 9,38 Duas vezes/trs vezes 8,70 0 0 0 N 23 15 10 32 Fonte: Questionrio A alimentao diria dos peixes em duas ocasies predominante na regio. Em Patrocnio do Muria, 82,61% dos produtores informaram este procedimento. Em So Francisco do Glria o ndice foi de 46,67%, enquanto em Miradouro foi de 20% e Vieiras, de 46,88% (tabela 15). Como no h estudos conhecidos sobre a alimentao da maioria das espcies cultivadas na Zona da Mata Mineira, os produtores baseiam-se em sua experincia prtica para alimentar os peixes ornamentais. Em decorrncia disto, foi observado que, em alguns casos, a frequncia alimentar sofreria influncia do valor da espcie produzida, do perodo do dia, da poca do ano e da fase de vida do peixe produzido, variveis introduzidas sem critrio cientfico. Tabela 16. Distribuio de frequncia do fornecimento de alimento vivo aos peixes realizado pelos produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 Municpio N Sim Patrocnio do Muria 23 91,30 So Francisco do Glria 15 53,33 Miradouro 10 20,00 Vieiras 32 37,50 Total 80 53,75 Fonte: Questionrio Quarenta e trs produtores (53,75%) fornecem alimento vivo para suas criaes (tabela 16), enquanto 37 no o fazem. Constatou-se pouca informao por parte dos produtores de So Francisco do Glria, Miradouro e Vieiras sobre o que alimento vivo, qual fornecer sua criao e como o uso pode reduzir os custos de produo. Em Patrocnio do Muria, por causa do beta, a grande maioria dos produtores, 91,30% (tabela 16) utiliza alimento vivo no fornecimento de protena na piscicultura ornamental.

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Tabela 17. Distribuio de frequncia relativa das espcies de alimento vivo fornecido aos peixes pelos produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 So Patrocnio do Tipo Francisco do Miradouro Vieiras Muria Glria Daphnia 80,95 25,00 50,00 100,00 No sabe 4,76 75,00 50,00 0 Daphnia /Rotfero 4,76 0 0 0 Daphnia /Artmia 4,76 0 0 0 Daphnia 4,76 0 0 0 /Rotfero/Paramecium N 21 8 2 12 Fonte: Questionrio A Daphnia o alimento vivo mais fornecido pelos produtores de peixes ornamentais. Em Patrocnio do Muria, 80,95% dos produtores fornecem exclusivamente Daphnia para sua criao. Em So Francisco do Glria o percentual de 25%. No municpio de Miradouro de 50%, enquanto a totalidade dos produtores de Vieiras fornecem Daphnia para sua criao (tabela 17). Por ser de fcil cultivo e de baixo custo, observa-se que falta maior conhecimento dos produtores sobre a utilizao de alimento vivo. O produtor poderia reduzir seu custo de produo, pelo menos nas primeiras fases de vida dos peixes ornamentais. Tabela 18. Distribuio de frequncia relativa do uso de medicamento no cultivo de peixes pelos produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 Municpio N Sim Patrocnio do Muria 23 52,17 So Francisco do Glria 15 20,00 Miradouro 10 30,00 Vieiras 32 21,88 Total 80 31,25 Fonte: Questionrio Apesar de somente 25 (31,25%) produtores dizerem utilizar algum tipo de medicamento, provavelmente quase a totalidade deles j utilizou ou utiliza esporadicamente alguma substncia autorizada pelo MAPA ou substncia proibida (tabela 18). Em Patrocnio do Muria 52,17% dos produtores informaram o uso de medicamento em sua piscicultura. Em So Francisco do Glria foram 20%, em Miradouro 30% e em Vieiras 21,88% (tabela 18). A colorao da gua, verdeada ou azulada, de muitas sacolas plsticas com peixes ornamentais j embalados para transporte so o indicativo que o meio aquoso havia sido adicionado com algum produto qumico. Muitos entrevistados disseram que vrios produtores utilizam produtos no recomendados. E quando no o fazem o prejuzo quase certo, ou seja, h uma cultura disseminada na regio de aplicao de medicamento para impedir o aparecimento de alguma eventual doena antes de sua manifestao. As medidas sanitrias so utilizadas de acordo com a crena dos produtores.

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Tabela 19. Distribuio de frequncia relativa dos tipos de medicamentos utilizados no cultivo de peixes pelos produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 So Patrocnio do Medicamento Francisco do Miradouro Vieiras Muria Glria Tetraciclina 16,67 0 0 14,29 Aquaflor (Shering) 8,33 0 0 0 Masoten (Bayer) 0 0 33,33 0 Sal grosso 41,67 0 0 0 Folidol 8,33 0 0 0 Azul de metileno 8,33 0 0 0 Terramicina 0 33,33 0 0 Outros 0 66,67 33,33 0 Tetraciclina/sal grosso 8,33 0 0 42,86 Sal grosso/azul de metileno 0 0 0 14,29 Sal grosso/outros 0 0 0 14,29 Tetraciclina/aquaflor (Shering)/ 8,33 0 0 0 masoten (Bayer) Tetraciclina/sal grosso/outros 0 0 33,33 0 Tetraciclina/sal grosso/azul de 0 0 0 14,29 metileno/outros N 12 3 3 7 Fonte: Questionrio Deve ser considerado no estudo que o levantamento da veracidade na resposta pergunta sobre o uso de medicamento na produo de peixes ornamentais de difcil mensurao. Observou-se um cuidado na resposta por parte da maioria dos entrevistados, em funo de haver receio que as informaes cassem em domnio pblico, com eventual penalizao por parte das autoridades competentes na fiscalizao do uso de medicamentos, alguns deles de uso restrito a grandes animais. Foi observado que muitos produtores fazem experimentaes quanto dosagem utilizada em suas criaes sem nenhum rigor cientfico. Alguns tambm no sabem a distino entre vrus, bactria ou ectoparasita. Foi constatado ainda que o uso de medicamento costuma ser indicao de vizinhos, amigos e parentes que utilizaram anteriormente e obtiveram algum resultado satisfatrio. O sal grosso foi apontado como o mais utilizado individualmente, sendo considerado para os piscicultores como medicamento. Em Patrocnio do Muria, 41,67% dos produtores confirmaram seu uso (tabela 19). Diversos produtores no sabem diferenciar os medicamentos proibidos dos que esto liberados para uso pelo MAPA. A utilizao daqueles indiscriminadamente traz grandes prejuzos para a sade dos peixes, dos aplicadores e para o meio ambiente.

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Tabela 20. Distribuio de frequncia relativa produtores da Zona da Mata Mineira em 2009 Municpio Patrocnio do Muria So Francisco do Glria Miradouro Vieiras Total Fonte: Questionrio

da desinfeco dos utenslios usados pelos N 23 15 10 32 80 Sim 86,96 80,00 40,00 75,00 75,00

Sessenta produtores (75%) desinfetam seus utenslios, tais como peneiras, redes, baldes e pus (tabela 20). Observa-se que uma medida simples e eficaz no controle de doenas no tomada pela totalidade dos produtores da regio, considerando-se que o uso destes utenslios dirio. Verificou-se que so instrumentos baratos e que poderiam ser substitudos por novos, aps certo tempo de utilizao. Apesar disto, alguns utenslios em uso estavam em condies higinicas precrias, com lodo e/ou rasgados e, em a