programa de apoio ao desenvolvimento sustentÁvel da zona da mata de pernambuco

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PROGRAMA DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL DA ZONA DA MATA DE PERNAMBUCO - PROMATA Clvis Cavalcanti[*] Adriano Dias Ctia Lubambo Henrique de Barros Levy Cruz Maria Lia C. de Arajo Morvan Moreira Osmil Galindo O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentvel da Zona da Mata de Pernambuco Promata, a ser executado nos 43 municpios dessa mesorregio, foi elaborado com a finalidade de apoiar seu desenvolvimento em bases durveis atravs de aes bem especficas quanto a servios bsicos, diversificao econmica e gesto e proteo ambientais. Para apresent-lo aqui, elaborou-se o presente documento, que est composto de trs grandes partes. Na primeira, expe-se um diagnstico da Zona da Mata de Pernambuco, nos seus aspectos ambientais, populacionais, econmicos, sociais, tecnolgicos e organizacionais. Na segunda, descreve-se o Programa, salientando-se suas caractersticas. E na terceira, d-se ateno a programas j em pleno funcionamento na regio da Zona da Mata e que tm interfaces com o Promata, deles apresentando-se caracterizao sucinta. Uma quarta (e curta) parte includa por derradeiro, integrando as trs anteriores.

1. DIAGNSTICO1.1 IntroduoA Zona da Mata de Pernambuco, parte mais mida do territrio estadual, com uma populao de pouco mais de 1,2 milho de pessoas, equivalente a 15,2% do contingente estadual, ocupa pouco mais de um dcimo da superfcie total do Estado. Caracteriza-se por ser mais estreita ao norte (com 80 km de largura), e tambm menos mida a, correndo junto ao mar para alargar-se na parte mais meridional, onde a pluviosidade tambm maior, at o limite de 150 km de extenso. De antiga ocupao e terra por excelncia, desde o sculo XVI, da monocultura da cana-de-acar, a Zona da Mata sobrevive hoje em condies difceis. Suas cidades, que incham, so rodeadas de populao miservel vivendo em condies subhumanas, com muitos problemas de nutrio e elevada incidncia de doenas. Uma crise que se prolonga h bastante tempo na regio, envolve a atividade sucroalcooleira, sem que surja uma dinmica econmica suficiente, em outros segmentos da economia, para contrabalanar os percalos da atividade tradicional. Essa realidade, cheia de desafios e aspectos que do cores dolorosas ao cenrio percebido, examinada a seguir atravs de uma anlise de seus diversos aspectos. 1.2 Dinmica Populacional O Censo Demogrfico de 2000 encontrou no espao da Zona da Mata, localizada em trs microrregies homogneas, uma populao de 1.207.274 habitantes, distribuda por 43 municpios e respectivos distritos-sedes, alm de outros trinta distritos. Da populao, 69%

vivem em reas definidas como urbanas e 31% em rurais, sendo que os distritos-sedes congregam 87% de toda a populao, 93% da populao urbana e 70% da populao rural, a mostrar ampla concentrao populacional nas sedes municipais. O grau de urbanizao observado situa-se pouco abaixo da mdia estadual, contrastando com o vigente em 1991 (62,2%) e apontando a existncia de movimento de esvaziamento das reas rurais. Esse movimento de populao rural em direo s cidades mais intenso em alguns municpios, como o caso de Buenos Aires e Glria do Goit (o grau de urbanizao de Glria do Goit passa de 31,9%, em 1991, para 45,5%, em 2000). Porm, redues no grau de urbanizao, sugerindo diferenas nos movimentos migratrios rurais-urbanos e, em menor escala, no crescimento demogrfico vegetativo, so observadas em municpios como Paudalho, Lagoa do Carro, Goiana e Jaqueira, nos quais o incremento na populao rural foi superior ao da urbana. A urbanizao da rea em que incidir o Promata, como processo de concentrao espacial de populao, tem significativas repercusses para a efetiva implantao de polticas, programas, projetos e aes de desenvolvimento da regio como se quer implantar ali. Marcados dficits sociais so responsveis pela ocorrncia de uma taxa de mortalidade infantil das mais elevadas do Estado 85 por mil nascidos-vivos, por exemplo, na Mata Setentrional, contra a mdia estadual de 62 por mil. Os dados de esperana de vida ao nascer acompanham a trajetria da mortalidade infantil e os municpios da Zona da Mata, vis--vis dos demais municpios pernambucanos, apresentam populaes com longevidade mais baixa. Em termos estritamente demogrficos, nada obstante, no se pode considerar o volume populacional existente, sua concentrao espacial a densidade demogrfica da Zona da Mata de 142,6 habitantes por km2 e o crescimento demogrfico como entraves ou freios ao processo de desenvolvimento da regio. Isto porque, semelhana dos decnios anteriores, na ltima dcada o contingente de pessoas que a vive praticamente manteve-se estagnado, tendo aumentado de 1,1 milho em 1991 para 1,2 milho em 2000. A taxa de crescimento populacional da regio, da ordem de 0,7% ao ano o que significa que a populao da Zona da Mata demandaria, aproximadamente, 98 anos para dobrar, a manter-se o ritmo de expanso observado , s mais elevada do que a do Serto Pernambucano (0,47%) e muito inferior quela da regio de mais intenso crescimento (o So Francisco Pernambucano, que subiu a 2,23% ao ano entre 1991 e 2000), ficando abaixo da mdia estadual (1,17% ao ano). A baixa taxa de crescimento da populao da Zona da Mata , em parte, fruto do decrscimo da populao rural, que migra para os centros urbanos da prpria regio ou se soma aos migrantes urbanos que se dirigem preferencialmente para os municpios da Regio Metropolitana do Recife, um movimento facilitado pela proximidade dos municpios da Zona da Mata aos da RMR e pela qualidade do sistema virio a encontrado. Em que pese a existncia de movimentos populacionais para fora de Pernambuco, a maior movimentao da populao da Zona da Mata ocorre dentro do prprio Estado e, na sua maior expresso, em termos de trocas intra-regio. Os resultados do Censo Demogrfico de 1991 mostram que, no intervalo intercensitrio imediatamente anterior, no movimento intraestadual a Zona da Mata era perdedora lquida de populao, tendo dela sado, no todo, aproximadamente 38 mil pessoas (3,3% da populao de 1991), resultado da entrada de cerca de 50 mil pernambucanos e da emigrao de 88 mil para outros municpios do Estado. No tocante s migraes com origem nos municpios da Zona da Mata, Aliana, Corts e Macaparana sobressaem por fornecer populao em volumes expressivos para os municpios de Condado, Barra de Guabiraba e So Vicente Ferrer, respectivamente. Por outro lado, so destacadas as sadas de pessoas de Carpina, Nazar da Mata, Aliana e Palmares na direo do Recife, assim como de Ribeiro, Sirinham e Escada para Jaboato dos Guararapes e de Sirinham para Ipojuca. Em relao s populaes que se destinam aos municpios da Zona

da Mata, os resultados do Censo de 1991 mostram que migrantes originrios do Recife foram em nmeros significativos para Carpina, Nazar e Tracunham, assim como pondervel a proporo dos que vo de Feira Nova para Lagoa de Itaenga e de Bonito para Corts. As informaes geradas a partir dos resultados preliminares do Censo Demogrfico de 2000 e pesquisas de campo conduzidas na regio sugerem no ter havido mudanas substantivas no volume de populao migrante, sendo possvel especular-se quanto a uma relativa estabilidade na origem e destino dos fluxos populacionais que ocorreram na rea do Promata em poca mais recente. Fenmeno demogrfico que se registra na regio uma queda da fecundidade, o qual remonta aos anos 80, como resultante, em parte, da inviabilizao das famlias numerosas em virtude dos altos nveis de pobreza que caracterizam a populao da rea (em 2000, os valores dos rendimentos nominais mediano e mdio mensais das pessoas com rendimento, responsveis pelos domiclios particulares permanentes, na Zona da Mata, eram de 151 e 310 reais, respectivamente, inferiores aos estaduais, que ascendiam a 200 e 517 reais). De outro lado, a queda da fecundidade fruto de processos de transformaes socioeconmicas, para os quais as polticas de interveno pblica, mormente as de sade e educao, contribuem de forma efetiva. Alm de se reduzirem os nveis da fecundidade, a estrutura da mesma por idades tem se modificado, ampliando-se o peso dos nascimentos entre as mulheres mais jovens e reduzindo-se substancialmente o das mulheres mais velhas. No bojo dessas variaes, crescem os problemas da sade reprodutiva e da fecundidade das adolescentes. Junto com o processo de urbanizao da populao, o declnio dos nveis da fecundidade determina uma reduo no s na taxa de crescimento natural da populao da Zona da Mata mas, mais do que isto, uma profunda transformao na sua estrutura etria. Assim, observada slida diminuio, inclusive em valores absolutos, no tamanho da populao jovem, com a populao de menos de quinze anos de idade caindo de 450 mil em 1991 para, aproximadamente, 395 mil em 2000, correspondendo a um declnio de 40 para 34% em sua participao na populao total regional. Observa-se que se reduziu o peso relativo da populao jovem no efetivo total de habitantes da Zona da Mata em 1991-2000, incrementando-se o daquela em idade ativa (de 55% para 60% da populao total). O da populao idosa (a de mais de 65 anos) amplia-se de 5% para 6%, o que aponta na direo de que as questes ligadas gerao de emprego e renda devam ser consideradas com especial ateno. nesse sentido, tambm, que se h que ter em conta que a taxa de dependncia total (populao menor de quinze anos mais as dos acima de 65 anos de idade em relao populao de 15 a 64 anos de idade) est em declnio, tendo se reduzido de 82% em 1991 para 67% em 2000. Configura-se, pois, um ciclo em que se reduzem as presses quantitativas das demandas de populao jovem e crescem expressivamente as necessidades associadas populao em idade ativa, acompanhadas por modestas presses geradas pelos crescentes nmeros de idosos. Este perodo de tempo configura-se como uma oportunidade mpar para a atenuao dos graves problemas sociais que caracterizam a regio.

1.3 A Economia1.3.1 Condicionantes histricos O processo de implantao e expanso da lavoura canavieira na Zona da Mata foi inicialmente facilitado por condies naturais e promovido por oportunidades de insero nos circuitos mercantis coloniais. Nos anos recentes, restries de ordem natural, em particular a degradao de solos e as condies de relevo, que restringem a elevao da produtividade da cana-se-acar via mecanizao, tm apontado para a urgncia de serem buscadas novas

opes produtivas que ofeream oportunidades competitivas com a atividade tradicional. Em termos de comportamento histrico da produo, a cana-de-acar foi a cultura que mais se expandiu nas ltimas dcadas. Seu incremento se deu a taxas muito elevadas, especialmente entre os anos de 1975 e 1985, estimulado pelos incentivos produo de lcool atravs do Programa Nacional do lcool (Proalcool). Apesar de tal elevao ter se dado exclusivamente em reas antes ocupadas com cultura de alimentos, observa-se que na maior parte dos produtos alimentares cultivados em meio cana, a rea declinou ou manteve-se relativamente constante no perodo analisado, como pode ser observado pelos dados dos Censos Agropecurios de 1975, 1980 e 1985. 1.3.2 Importncia da Cana-de-Acar na Economia da Zona da Mata A cana-de-acar estruturou os espaos fsico, econmico e social da Zona da Mata, especializando a economia local e individualizando a sua sociedade no contexto regional e nacional. Por razes de acumulao de riqueza, na forma de benfeitorias permanentes, estruturas de construes e instalaes e valorizao da terra, nessa regio onde se encontram os preos mais elevados de compra e venda da terra no Estado de Pernambuco. tambm a onde se acham as maiores taxas estaduais de urbanizao, densidade demogrfica e concentrao de servios. A cana-de-acar presta-se fabricao de vrios produtos e subprodutos, dentre eles o acar, o lcool, o melao e a torta, alm da aguardente. O seu bagao ainda aproveitado como matria-prima energtica e os resduos da calda como fertilizante natural. As diferenas de produtividade da cana-de-acar em Pernambuco, comparativamente ao pas como um todo, sem considerar o caso de So Paulo, mostram o atraso a que chegou o setor na regio Nordeste, e a baixa transformao da base tcnica na produo regional. A cana-deacar atividade cujo comportamento de oferta esteve historicamente ligado s oscilaes de demanda no mercado externo. Antes da dcada de setenta do sculo passado, a produo canavieira se retraa ou expandia em funo da demanda no mercado internacional. Aps a segunda metade dos anos setenta, ela se liga no pas s necessidades de demanda criadas pela expanso das usinas processadoras de lcool, o que explica seu crescimento, mesmo diante de restries de preos externos. A importncia do setor para a economia do Estado pode ser avaliada por sua participao histrica nas exportaes, com uma gerao de receita de divisas no montante de 360,8 milhes de dlares em 1995. A participao do acar no total das exportaes pernambucanas, que se mantivera sempre em torno dos 60,0%, alcanando 62,9%, em 1995, cai progressivamente a partir da, at representar 40% em 1999 e apenas 26% em 2000. 1.3.3 Diversificao da base produtiva A relativa homogeneidade dos sistemas agrcolas na Zona da Mata, organizados em torno da cana-de-acar, vem cedendo lugar a uma lenta, embora persistente, diversificao produtiva, tanto na agricultura quanto nas atividades industriais. Curtumes, indstrias integradoras para o beneficiamento de produtos avcolas, laticnios, aguardente, processamento de pescado, entre outras, so algumas das indstrias presentes na mesorregio, concentradas em quatro centros de importncia microrregional: Vitria de Santo Anto, Carpina, Timbaba e Palmares. Apesar de manter-se como atividade comercial dominante na Zona da Mata, a cana-de-acar permitiu o desenvolvimento de outras culturas exploradas pelos trabalhadores moradores, normalmente cultivos temporrios, como a mandioca, macaxeira, e tambm rvores frutferas, que servem para a alimentao humana e animal. Os pequenos stios e pomares desapareceram quase completamente com o fim do sistema de morada, ao final da dcada de 1960. Apesar disso, a produo de alimentos e a de outras culturas comerciais continuaram a existir em reas marginais no propcias ao cultivo da cana, normalmente em

mos de pequenos e mdios proprietrios. Para citar alguns exemplos, existe substancial produo de coco nos municpios de Goiana, Igarassu e So Jos da Coroa Grande; de mandioca nos de Ch Grande, Pombos e Vitria de Santo Anto; e de banana em Buenos Aires, Macaparana e Vicncia. A fruticultura, incluindo laranja, abacaxi, caju, goiaba, pitanga, umbu e caj, ainda significativa em municpios circunvizinhos rea de domnio da cana que esto nos limites geogrficos da regio do Agreste. Observam-se tambm as alternativas da olericultura, do inhame, da seringueira, do cacau e da acerola, alm de experincias bem sucedidas de cultivo de flores. Acerca da fruticultura, uma das alternativas mais viveis para a Zona da Mata o aproveitamento da polpa da fruta como bem de consumo in natura. Nesse sentido, tanto a iniciativa privada, atravs do Servio Brasileiro de Apoio Micro e Pequena Empresa Sebrae, quanto os governos estadual, via Instituto de Tecnologia de Pernambuco ITEP e federal, com o apoio tecnolgico da Universidade Federal de Pernambuco, vm incentivando o segmento no que se refere ao manejo adequado, ao conhecimento da dimenso do mercado e incorporao de tcnicas modernas de produo e de tratos culturais, alm da disponibilidade de crdito. Quanto ao beneficiamento da banana, trata-se de atividade econmica de grande rentabilidade e baixos custos de produo, atravs da utilizao do processo de climatizao, que proporciona maior durabilidade ao produto. Concentrando-se nos municpios de Vicncia, Macaparana, Maraial e Buenos Aires, a produo e comercializao da banana a atividade econmica que apresenta maior crescimento na mesorregio, chegando a representar pouco mais de 40% da produo agrcola de Vicncia. No que respeita mandioca, registra-se grande concentrao de cultivos nos municpios de Ch de Alegria, Feira Nova, Glria do Goit, Paudalho, Pombos e Vitria de Santo Anto, com potencial elevado de expanso em toda a rea. Encontra-se a quantidade marcante de casas-de-farinha, acompanhada da presena de fbricas de equipamentos para o setor. 1.3.4 Produo pecuria e animal Dados de 2000 indicam uma participao da pecuria da Zona da Mata no conjunto do Estado relativamente significativa quanto a bovinos (11% do total do setor), caprinos (6%) e principalmente aves (22%), notando-se o registro de experincias isoladas, mas com grande potencial de expanso, da criao do bicho-da-seda e de escargot. Na avicultura mesorregional destacam-se os municpios de Nazar da Mata, Paudalho, Tracunham,Vitria de Santo Anto, Pombos, Carpina, Glria do Goit, Goiana e Lagoa do Carro. No que diz respeito pecuria, destaca-se crescimento considervel da bovinocultura de leite e de corte, o que tem contribudo para o surgimento de estabelecimentos de industrializao leiteira na rea. Esse segmento tem se apresentado como um setor com potencial de crescimento, constituindo-se como gerador de emprego e renda para a Zona da Mata pernambucana, inclusive contando com grande vantagem comparativa, que a proximidade do importante mercado consumidor da Regio Metropolitana do Recife. Outra atividade que tambm se apresenta com grande potencial na Zona da Mata a apicultura. Nas condies edafo-climticas da regio, praticada em bases racionais, a apicultura surge como mais uma opo econmica para o pequeno produtor rural. O potencial apcola da rea, aliado adaptao da abelha africanizada, necessita apenas de tecnologia prpria para tornar a criao de abelhas mais uma fonte de renda para a propriedade rural da Zona da Mata. Os principais determinantes endgenos do xito da apicultura local dependem da organizao dos municpios, da estruturao das atividades em associaes e cooperativas e da vontade dos produtores de prosperar.

1.3.5 Influncias recentes sobre o desempenho da economia da Zona da Mata A perda de dinamismo da agroindstria aucareira no tem oferecido obstculos expanso de outras atividades na mesorregio, em particular o turismo nas reas litorneas. Investimentos pblicos em infra-estrutura, facilitados pelo Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste Prodetur, que um programa de implantao e modernizao dos equipamentos tursticos estaduais, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento BID e intermediado pelo Banco do Nordeste, merecem destaque. Em sua primeira fase, iniciada h cinco anos, estima-se que tenham sido atrados US$ 5 bilhes em investimentos privados para a regio Nordeste como um todo. Na Zona da Mata pernambucana, em particular, a ampliao do acesso s praias do litoral sul facilitou a implantao de diversos empreendimentos hoteleiros de grande porte e estimulou o aumento da freqncia s praias da regio. A atividade do turismo vem apresentando significativa expanso na Zona da Mata, principalmente nas reas litorneas e nas localidades onde se encontram antigas usinas. Com obras de infra-estrutura em andamento e atravs da articulao entre os municpios, a regio vem se tornando importante plo de turismo regional. Destacam-se, inclusive, alguns investimentos de alto porte, como o Centro Turstico de Guadalupe (acima de US$ 4 milhes), parte do Projeto Costa Dourada, que totaliza um investimentos de 2 bilhes de reais. Procura-se, com isso, desenvolver atividades que tenham como opo o ecoturismo, minimizando os impactos ambientais e beneficiando as bases locais, agregando s atividades existentes uma nova economia. Acerca desse segmento, merece ser enfocado o turismo rural como atividade que vem sendo incrementada aos poucos, principalmente na regio da Zona da Mata Sul. Nesse sentido, alguns proprietrios de antigos engenhos de acar tm elaborado projetos, identificando o potencial existente e visando atender a uma demanda crescente de turistas que buscam o espao rural e se interessam pela cultura do homem do campo. Ademais, estabelecimentos do tipo hotis-fazenda surgem como uma alternativa decadente monocultura da cana-deacar. Deve ser destacado como atividade promissora da rea o segmento moveleiro localizado nos plos de Joo Alfredo, Ipojuca e Timbaba. Para que essa atividade seja alavancada na regio so necessrios investimentos na qualificao da mo-de-obra bem como o estmulo ao cooperativismo no setor, procurando agregar os produtores numa associao de classe de modo a que possam reivindicar seus pleitos junto aos canais competentes. Como parte da dinmica do desenvolvimento local, a organizao de produtores artesanais em cooperativas de produo tem sido fato notvel na mesorregio, promovida no contexto de iniciativas tanto governamentais (Banco do Nordeste, Sebrae, Prorenda, Programa Estadual de Capacitao) quanto no governamentais, abrindo perspectivas de acesso dos produtores a programas pblicos de incentivo modernizao de pequenos negcios.

1.3.6 Distribuio da terra A grande concentrao da posse da terra na Zona da Mata, em particular nos municpios especializados no cultivo da cana-de-acar, constitui trao peculiar dessa regio. Nos locais onde se situam unidades industriais que transformam a cana em acar, lcool, melao e torta, o tamanho mdio da unidade de produo agropecuria excede os 200 ha, enquanto nos municpios onde predominam fornecedores de cana ou existe uma produo mais diversificada, o tamanho mdio da unidade de produo desce para menos de 50 ha. Na verdade, a Zona da Mata de Pernambuco onde a terra se apresenta mais concentrada em todo o Nordeste, por fora de sua especializao canavieira, uma atividade exigente quanto ao uso de grandes glebas. Segundo dados do Cadastro do Instituto Nacional de Colonizao e

Reforma Agrria INCRA, de 1992, existe grande nmero de pequenas unidades de produo na Zona da Mata pernambucana (72,8% do total de propriedades), consideradas minifndios, as quai ocupam apenas 6,8% do total da terra cadastrada. Elas se acham localizadas em reas marginais ao domnio da cana, produzindo alimentos. J as grandes propriedades, que representam apenas 5,1% do total de imveis rurais, concentram uma rea que equivale a 72,6% do total cadastrado. 1.3.7 Valor adicionado e arrecadao do ICMS A contribuio do valor adicionado pela indstria e comrcio da Zona da Mata ao total respectivo referente ao Estado de Pernambuco no ano de 2000 situou-se em 7,6%. As maiores contribuies municipais originam-se em municpios onde a agroindstria canavieira mantm-se como principal atividade produtiva. o caso de Goiana, Vitria de Santo Anto, Rio Formoso, Joaquim Nabuco, Escada, Lagoa de Itaenga e Carpina. Um indicador da capacidade local de gerao de receita a relao entre o valor arrecadado do imposto sobre circulao de mercadorias e a parcela recebida como transferncias pelo Estado. Para a Zona da Mata como um todo, essa proporo atingia 53% em 2000. Dos 43 municpios que constituem a rea, apenas quatro Vitria de Santo Anto, Paudalho, Goiana e Carpina apresentam arrecadaes superiores aos repasses recebidos do Estado. Em proporo arrecadao estadual global, a Zona da Mata contribuiu em 2000 com apenas 2,4% do total, enquanto os repasses recebidos atingiram quase 16% do valor referente ao Estado naquele ano. 1.3.8 Assentamentos de reforma agrria e seu impacto sobre a economia da Zona da Mata Historicamente, a Zona da Mata pernambucana tem sido cenrio de disputas acirradas entre trabalhadores e grandes proprietrios pela repartio de recursos. Nos ltimos vinte anos, as situaes de conflito tm dado lugar a processos de negociao coletiva por melhores condies de trabalho por parte dos assalariados da lavoura canavieira, intermediados pelo Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais MSTR. Ao mesmo tempo, a degradao natural da base produtiva, associada obsolescncia dos sistemas de cultivo, tem conduzido falncia um nmero crescente de usinas de acar na regio. Em 1997, por exemplo, 15 das 48 usinas aucareiras do Estado deixaram de funcionar. Progressivamente, as grandes propriedades tm sido desapropriadas ou oferecidas em troca de dvidas, especialmente de natureza fiscal e trabalhista. Como resultado desse processo, tm se ampliado os assentamentos de reforma agrria em Pernambuco, 70% dos quais situam-se na Zona da Mata. Usinas como Catende, Central Barreiros e Aliana devero representar um acrscimo significativo no contingente de novos assentados nos prximos anos. Acrescentem-se a esse nmero os 92 acampamentos do Estado, a maioria dos quais na Zona da Mata e grande parte deles reivindicando a desapropriao de engenhos em suas proximidades. Estimativas do Incra sugerem um total de 10 mil famlias assentadas na mesorregio, s quais devem somarse pelo menos mais 5 mil famlias a acampadas.[1] A forma de organizao dos assentamentos de reforma agrria facilita a capacitao dos assentados para assumirem a condio de produtores familiares. Os recursos que lhes so repassados pelo Incra (R$ 4.000 a fundo perdido e R$ 12.500 em crdito do Pronaf, por famlia) representam, indiscutivelmente, significativa contribuio economia local.

1.3.9 Emprego Uma caracterstica da economia da Zona da Mata reside na sazonalidade do emprego rural na atividade econmica predominante, que a lavoura da cana-de-acar, com liberao de

mo-de-obra na entressafra. No perodo chuvoso, quando cessa a produo aucareira, apenas uma pequena frao dos trabalhadores permanece realizando tratos culturais, progressivamente substitudos por processos mecanizados, como no plantio e adubao, ou por processos qumicos. Com a contnua transferncia de terras para unidades familiares, no bojo de iniciativas de reforma agrria, as conseqncias negativas do desemprego sazonal na quadra do inverno, para as economias locais, devero atenuar-se. Nos engenhos da usina Catende, hoje pertencentes a trabalhadores, observa-se crescente diversificao produtiva, embora permanecendo o cultivo da cana como atividade agrcola mais importante, com efeitos positivos em relao ao emprego. 1.4 Quadro social 1.4.1 Pobreza Apesar das potencialidades naturais da Zona da Mata pernambucana, seus habitantes convivem com uma estrutura econmica de insuficiente dinamismo e reduzida diversidade produtiva, requerendo especial interveno do setor pblico no s para orientar as aes privadas necessrias para ampliar o perfil produtivo, diversificar a economia, ampliar o crescimento econmico e criar as condies necessrias para a sua consecuo, como tambm para intervir diretamente em termos de provimento das necessidades sociais bsicas e criao do capital necessrio ao processo de desenvolvimento sustentvel da regio. O histrico da supremacia da explorao sucroalcooleira e a estrutura social que engendrou ajudam a explicar os baixos nveis de desenvolvimento social apresentados pelos municpios da regio e a pobreza de sua populao, da qual 62,8% dos domiclios tm como responsveis pessoas que no possuem nenhum rendimento ou recebem at um salrio mnimo. Mensurado pelo ndice de desenvolvimento humano (IDH), o bem-estar das populaes da Zona da Mata pernambucana inserir-se-ia entre os mais baixos do Estado. O municpio de So Benedito do Sul, que dela faz parte, o que apresenta o menor ndice em Pernambuco (0,296), correspondendo ao dcimo-segundo mais baixo em escala nacional. Em 1991, fazendo-se ordenao descendente dos nveis de desenvolvimento social relativo mensurados pelo IDH, entre os 168 municpios pernambucanos, dos ento 39 municpios includos na Zona da Mata, nada menos do que 26 situavam-se abaixo da octagsima posio, sendo Carpina o de melhor posicionamento (vigsimo-primeiro lugar), imediatamente seguido por Barreiros. Nenhum dos municpios pertencentes rea do Promata apresentava ndice superior a 0,52, o que, comparado com o valor de 0,79 obtido pelo Recife, mostra claramente o desnvel de bem-estar social atingido por aquela regio. 1.4.2 Renda Sem dvida, um determinante central dos baixos valores do IDH encontrados nos municpios que figuram como objeto das aes do Promata associa-se s condies de renda da populao local, seja quanto a nvel, seja quanto a distribuio, particularmente pela alta proporo de pessoas a encontradas cuja renda familiar per capita fica abaixo de meio salrio mnimo. De fato, os municpios da Zona da Mata exibem situao de inequvoca desvantagem em termos desse indicador. A pobreza atinge maior incidncia em So Benedito do Sul, com um IDH-renda de 0,179, e em Buenos Aires (0,188) em contraposio a Barreiros (0,428) e Carpina (0,422). 1.4.3 Educao A populao da Zona da Mata conta com um nmero de estabelecimentos educacionais e corpo docente que parece corresponder s suas necessidades mais imediatas. Apresenta, entretanto, deficincias quanto localizao de estabelecimentos educacionais na rea rural e

uma parcela do quadro de professores a necessitar maior qualificao. Apesar dessas restries e de persistirem os problemas associados continuao dos estudos alm do ensino fundamental, razo principal de serem ainda modestos os incrementos no nmero mdio de anos de estudo da populao da Zona da Mata, entre as polticas sociais postas em prtica a, as referentes educao so as que certamente apresentam maior sucesso. Fruto dos gastos em educao, complementados por outras aes destinadas a levar e reter na escola a populao alvo, cresceu nos ltimos anos no s a oferta de vagas, como melhorou sua distribuio espacial, com aumento da taxa de matrcula da populao em idade escolar, reduzindo-se a repetncia e a evaso escolar. Resultados do Censo Demogrfico de 2000 sugerem amplo ganho social advindo da ampliao do sistema escolar, da construo de escolas, qualificao e remunerao de professores. Assim, na regio, a proporo de analfabetos entre a populao de cinco anos e mais que, em 1991, era da ordem de 43% declinou, em 2000, para 36%, com maiores propores encontradas entre a populao rural (48%). Os ganhos em alfabetizao em 1991-2000 ocorreram mais intensamente nas faixas etrias jovens, tendo declinado de 57 para 31% a proporo de analfabetos no grupo de idades de 5 a 14 anos e de 31 para 17% no de 10-14. Os amplos ganhos que parecem ter sido obtidos pela poltica educacional refletem-se na constatao de que, em nenhum municpio da rea do Promata, em 2000, a proporo da populao de 10-14 anos alfabetizada era inferior a 70%. Nos municpios de Nazar da Mata e Ferreiros, essa frao ascende a 90%; para outros dez municpios supera 85% (entre os quais So Benedito do Sul) e, para outros treze, fica acima de 80%, a indicar que, mantidas as polticas de investimento em educao, o analfabetismo tende a ser erradicado dentro das geraes mais jovens. Sucessos expressivos quanto substancial reduo das taxas de analfabetismo tm sido conseguidos por municpios como Carpina, Nazar da Mata, Palmares, Paudalho e Timbaba os quais, em 2000, apresentavam menos de um tero de suas populaes de cinco anos e mais como analfabetas. Em municpios como os de Quipap e So Benedito do Sul, porm, ainda se acusa um ndice de 50% de pessoas sem nenhuma instruo formal. Visto que as novas geraes apresentam ndices de alfabetizao relativamente elevados, so as crianas de cinco e seis anos, junto com os adultos e idosos analfabetos, os principais responsveis pelos indesejados ndices de analfabetismo ainda vigentes na populao da rea do Promata. Nesse bem sucedido processo de resgate da educao, as mudanas na estrutura demogrfica e na distribuio espacial da populao devem ser consideradas em termos das programaes de curto e mdio prazos, levando em conta que se reduz o contingente de populao jovem e amplia-se a populao adulta e idosa. 1.4.4 Sade A maior contribuio para que o IDH nos municpios includos no mbito do Promata no se aproxime dos baixos nveis espelhados pelos valores dos rendimentos deve-se ao conjunto de indicadores que compem as condies de longevidade da populao (esperana de vida ao nascer e taxa de mortalidade infantil). Na verdade, no que respeita ao posicionamento dos municpios, no h significativas diferenas de ordenamento, e sim quanto magnitude dos ndices. Dessa forma, 17 municpios posicionam-se na metade inferior do ordenamento e 22 na superior. Em termos de indicadores de menor qualidade de vida, So Benedito do Sul e Itamb apresentam os piores ndices, enquanto Ribeiro e Goiana, os melhores indicadores. Alm de dependerem das condies materiais de vida da populao, os indicadores de longevidade associam-se fortemente s polticas de sade e saneamento. No que respeita s primeiras, pode-se observar que elas se beneficiam das transformaes na estrutura etria e so, simultaneamente, elementos determinantes das mesmas. Assim, programas destinados baixa dos nveis da mortalidade infantil, no estilo dos conduzidos pelo Programa de Reduo da Mortalidade Infantil PRMI e pelos da Comunidade Solidria, alm das campanhas de

imunizao, de suplementao alimentar de crianas e nutrizes e ampliao dos servios bsicos de saneamento, afetam a qualidade de vida das crianas (particularmente, ao reduzirem a severidade da desnutrio infantil e a incidncia de doenas infecciosas e parasitrias). Com isso, repercutem diretamente sobre os nveis de sobrevivncia dos recmnascidos. A municipalizao dos servios de sade e a incorporao da multiplicidade de programas de sade esfera municipal (desde o Programa de Sade da Criana, at o do Idoso, o de Imunizaes PNI , o de Controle de Doenas Especficas, o de Agentes Comunitrios de Sade PACS e de Sade da Famlia, entre outros) ainda no se traduziram em ampliaes significativas nos nveis de sade da populao da Zona da Mata, ressentindo-se inclusive quanto populao coberta. Tambm no se transformaram em aumentos nos indicadores da oferta de servios de sade, tais como as relaes leitos/habitantes, pessoal mdico/habitantes, etc. Na Zona da Mata, a modesta rede de estabelecimentos de sade, a pequena disponibilidade de leitos para internao, as carncias de pessoal mdico e de especialidades mdicas, a precria rede de hospitais de urgncia e emergncia, etc. s so suportadas em virtude da proximidade Regio Metropolitana do Recife e das facilidades de deslocamento em direo aos estabelecimentos hospitalares e consultrios do Plo Mdico da capital. De qualquer forma, parcialmente como resultado de intervenes pblicas diretas e indiretas na rea de sade, a taxa de mortalidade infantil (TMI) da populao da Zona da Mata vem declinando de forma sistemtica, ainda que se mantenha entre as mais elevadas do Estado. Na Mata Meridional, a taxa de mortalidade infantil caiu de 96 por mil nascidos vivos, em 1989, para 76,5, em 1998 (diminuio de 20,5%). O mesmo ganho no observado na Zona da Mata Setentrional, na qual a TMI declinou de 92,7 para 85,1 por mil nascidos vivos entre 1989 e 1998 (queda de 8,2%) nem na microrregio de Vitria de Santo Anto, onde a TMI reduziu-se de 87,7 para 79 por mil nascidos vivos no perodo (baixa de 9,9%). Os bitos dos residentes na Zona da Mata, segundo as causas de mortes, mostram que polticas de sade relacionadas imunizao de crianas tiveram importante impacto sobre os nveis de mortalidade regional. Em 1999, por exemplo, nessa rea, ocorreu um nico caso de bito de menor de um ano de idade que poderia ter sido evitado por meio de imunopreveno. Por outro lado, as causas associadas inadequada ateno pr-natal e necessria ateno no parto mostram a necessidade de se incrementarem aes para se obter efetiva reduo nos bitos de menores de um ano. As doenas do aparelho respiratrio so as principais causas de morte das crianas de menos de cinco anos, refletindo no s as condies objetivas de vida da populao e as agresses ao meio ambiente, mas tambm a sobrevivncia mortalidade infantil em condies inadequadas. Entre os cinco e os quatorze anos, os acidentes, mormente os de trnsito e os afogamentos, constituem os principais responsveis pela mortalidade. Digna de nota a excessiva mortalidade por causas violentas na faixa de idades entre os 15 e 35 anos, as quais respondem por 70% dos bitos. Tal sobremortalidade, que tipicamente masculina, estende seu peso at o grupo de 35-44 anos, respondendo por 40% dos bitos, afetando ainda, de forma expressiva, a populao de 45-54 anos. As agresses, isoladamente, constituem a componente principal da mortalidade por causas violentas e acidentes nessas idades. Nmeros ainda elevados de casos de bitos resultantes de doenas transmissveis, vigentes na Zona da Mata, sugerem que as condies de saneamento bsico ou de eficincia das estratgias de preveno e controle dessas causas de morte ainda deixam a desejar, configurando as questes de sade bsica como elementos essenciais do processo de superao das baixas condies sociais experimentadas pela populao regional. O quadro de morbi-mortalidade da Zona da Mata afigura-se como aquele comum s populaes pobres, com alta incidncia de doenas infecciosas e parasitrias, combinada com

a crescente morbidade prpria de reas mais desenvolvidas (doenas do corao e neoplasias). Entretanto, na regio, afigura-se como um agravante da morbi-mortalidade na infncia o alto grau de desnutrio da populao, estimando-se que, entre as crianas de um a quatro anos de idades, em torno de 20% sejam desnutridas de segundo a terceiro grau e que no mais de 30% das mesmas poderiam ser consideradas normais em termos nutricionais. Entre as principais doenas a afetar a populao da Zona da Mata, as do aparelho respiratrio, no apenas entre as crianas, em muito se devem aos efeitos poluentes da queima da palha da cana, o que contribui para depauperar a sade da populao local, pelo uso de agrotxicos e utilizao de crianas e jovens na colheita da cana. 1.4.5 Infra-estrutura social As condies gerais da infra-estrutura domiciliar so de fundamental importncia para a caracterizao do perfil social de uma populao. Com efeito, a disponibilidade de servios bsicos condio imprescindvel ao exerccio da cidadania plena. A natureza da infraestrutura social surge dentro dessa perspectiva como um dos requisitos para a consolidao do bem-estar da populao, ao mesmo tempo em que fortalece a formao de sua conscincia social e poltica. Ou seja, a dignidade e o uso dos direitos essenciais das pessoas dependem do acesso aos bens e servios sociais bsicos e de sua qualidade. No caso da Zona da Mata, os dados dos dois ltimos censos demogrficos permitem visualizar a evoluo de alguns indicadores. Abastecimento dgua. possvel constatar uma ligeira melhoria no que se refere ao nmero de domiclios atendidos pela rede geral pblica, registrando-se um crescimento em torno de 6%, entre 1991 e 2000, para a Mata como um todo. Atualmente, apenas 64% dos domiclios recenseados esto conectados rede de abastecimento de gua. Deve-se ponderar, ainda, que os dados mencionados dizem respeito, preponderantemente, situao das reas urbanizadas, desde que grande parte da populao rural que representa cerca de 30% do total de residentes na regio permanece na dependncia do abastecimento atravs de carrospipa, cisternas, poos artesianos ou amazonas. Nota-se, portanto, a inadequao desse servio pblico, mesmo em comparao com a situao do estado de Pernambuco, que tem 71% dos domiclios ligados rede. Dos 43 municpios da Zona da Mata, to-somente nove (Barreiros, Carpina, Catende, Corts, Macaparana, Nazar da Mata, Palmares, Ribeiro e Vitria da Santo Anto) apresentam percentuais superiores ao valor registrado para Pernambuco. Tratase de municpios onde o grau de urbanizao supera 60%. Esgotamento sanitrio. Apenas 33% dos domiclios da Zona da Mata contam com algum sistema de coleta e esgotamento sanitrio relativamente adequado, seja vinculado rede pblica, seja mediante a utilizao de fossas spticas particulares. De modo geral, predomina o uso de fossas rudimentares ou o lanamento dos dejetos em rios, mar, valas, a cu aberto, e at na rede de galerias de guas pluviais, prticas causadoras de danos ambientais, como a contaminao de mananciais, com conseqncias na sade pbica. A situao progrediu entre 1991 e 2000, pois a proporo de domiclios conectados rede geral ou que dispem de fossas spticas, passou de aproximadamente 20% para 33%. Cabe destacar que, em alguns municpios da regio (Vitria de Santo Anto, Palmares, So Jos da Coroa Grande e Nazar da Mata) o esgotamento sanitrio encontra-se em melhores condies do que no Estado como um todo. Chamam ateno situaes como as de Condado, Carpina, Lagoa de Itaenga, Tamandar, Buenos Aires, Tracunham, Vicncia, Itamb, Itaquitinga, Lagoa do Carro e Sirinham, onde o nmero de domiclios com esgotamento adequado (rede geral ou fossa sptica) inferior a 10% do total do municpio. Nos quatro ltimos, os ndices de domiclios que dispem de conexo com a rede pblica ou de fossa sptica so inexpressivos (abaixo de 3%). Aproximadamente 15,4% dos domiclios de Pernambuco e 13% dos da regio analisada no dispem de banheiro ou sanitrio, fato que revela condies de vida marcadas por

grandes carncias. A situao mais sria em Maraial (43,9% de domiclios sem banheiro ou sanitrio), gua Preta (37,4%) e Jaqueira (34,8%), cujas populaes rurais ainda representam cerca de 50% do total. Coleta de lixo. Os servios de coleta de lixo atendem, de acordo com o Censo 2000, a cerca de 61% do total de domiclios da Zona da Mata. Observam-se algumas variaes quando se comparam os nveis de atendimento nos vrios municpios, cabendo ressaltar que a maior precariedade na oferta do servio acontece nos dezessete onde a coleta alcana menos da metade dos domiclios: Itaquitinga, Ch de Alegria, Pombos, Jaqueira, Maraial, gua Preta, Amaraji, Ch Grande, Primavera, Corts, Gameleira, Rio Formoso, So Jos da Coroa Grande, Tamandar, Aliana, Buenos Aires e Vicncia. Na Mata como um todo, entre 1991 e 2000, porm, ocorreu uma ampliao na quantidade de domiclios que contam com coleta de lixo regular. No primeiro desses anos apenas 40% eram, de fato, atendidos. O grande problema da regio consiste na deposio de lixo que, na maioria dos casos, ocorre em locais inadequados e desprovidos de sistemas de tratamento de resduos slidos. 1.5 Problemas de dimenso ambiental Comeando com o livro Nordeste, de Gilberto Freyre[2], que talvez constitua o mais antigo diagnstico ambiental da Zona da Mata de Pernambuco, at trabalhos mais recentes, inequvoca a constatao dos enormes prejuzos ecolgicos de que essa rea tem sido vtima desde o perodo colonial. Percebe-se claramente a natureza do problema ao adotar-se uma perspectiva de observao que combine a dimenso ecolgica com a dimenso das atividades humanas. Nesse caso, a sociedade deve ser vista na moldura do ecossistema, ou seja, como um subsistema do sistema ecolgico maior, com ele fazendo trocas de matria e energia, seja dele retirando recursos, seja a ele devolvendo sujeira. Assim, as funes ecossistmicas, por um lado, assumem a forma de proviso de insumos, extrados da natureza para a realizao das atividades humanas; e, por outro, a de receptao do produto derradeiro de tudo aquilo que o ser humano faz, a comear dos resduos de seu metabolismo vital. Em outras palavras, a natureza d e depois recebe de volta aquilo que proveu, transformado (e quase sempre degradado) pela ao humana. No caso da Zona da Mata, a situao evolui de uma base que, at comeos do sculo XIX, no parecia to completamente aviltada a despeito da perda de muito de sua exuberante Mata Atlntica , at o cenrio que Gilberto Freyre descreve em 1937, resultante do desprezo do homem poderoso da regio pela gua do rio e pelo meio ambiente em geral. A monocultura da cana entrou aqui como um conquistador em terra inimiga: matando as rvores, secando o mato, afugentando e destruindo os animais, e querendo para si toda a fora da terra. Vegetao e vida nativas, de maneira persistente, seriam esmagadas pelo monocultor. O processo sobrevive at hoje, acentuado, da dcada de setenta do sculo XX em diante, por transformaes acarretadas pelo programa do lcool combustvel, o Proalcool, que s fizeram agravar o quadro de destruio ecolgica e vilificao ambiental que marca do modelo de explotao da lavoura canavieira. O avano da cana sobre as encostas, acentuado aps o Proalcool, ocupando inteiramente as colinas, especialmente na Mata Sul onde, tradicionalmente, se conservavam restos de bosques no topo das elevaes levou a mais perda de vegetao. Com isso, acentuou-se a eroso, a sedimentao de vrzeas, o assoreamento de leito dos rios[3], alm de prejuzos referentes menor produtividade associada cana em terrenos acidentados. Outro efeito do desmatamento o assoreamento dos rios, alm das enxurradas, que provocam cheias de grande porte como as de 2000 em Maraial, Catende, Palmares, etc. Assoreados, os rios ficam com menos gua na estao seca, quando mais deles necessita a cana, castigando a populao com as grandes precipitaes do inverno e as inundaes catastrficas que desencadeiam.

O quadro ambiental da Zona da Mata de Pernambuco encerra, pois, todo um legado de modo de uso dos recursos ecolgicos que foi e continua sendo bastante predador, particularmente pela onipresena da cana-de-acar no cenrio. No so muitos, porm, os diagnsticos abrangentes e minuciosos a esse respeito. No entanto, trabalhos como o Diagnstico da Gesto Ambiental nas Unidades da Federao (Relatrio Final, Estado de Pernambuco), do Ministrio do Meio Ambiente (MMA), atravs do Programa Nacional do Meio Ambiente II (Braslia, fevereiro de 2001), evidenciam perfeitamente a realidade apontada, especialmente no que toca aos recursos hdricos. O processo de discusso da Agenda 21, importante iniciativa da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectma) de Pernambuco, nos ltimos dois a trs anos, conduz a concluses anlogas. A degradao dos recursos ambientais da Zona da Mata ocorre seja por sua exausto perda da biodiversidade da Mata Atlntica, eroso e esgotamento dos solos, desaparecimento de espcies piscosas fluviais, empobrecimento da paisagem, tratamento imprprio dos recursos hdricos , seja pelo acmulo de emisses nefastas. O Diagnstico do MMA, por exemplo, informa que o rio Botafogo com seus afluentes exibe ndices bastante elevados de poluio e que o rio Jaboato se caracteriza como rio morto, ou seja, um rio submetido ao mximo de degradao. Por outro lado, insuficiente, para dizer o mnimo, a forma como os resduos slidos so tratados em praticamente todas as cidades da Zona da Mata de Pernambuco. Alm disso, registra-se a prtica comum do despejo de dejetos humanos diretamente nos rios, apesar de esforos para que se adotem procedimentos ecologicamente sos. As cidades da regio no dispem de tratamento adequado do lixo, muito menos de coleta seletiva. No tocante ao lixo hospitalar, prevalece uma realidade ainda mais assustadora, sobretudo porque a populao cresce, as cidades incham na faixa mida pernambucana e os servios de sade so cada vez mais procurados por uma populao de baixos ndices de salubridade. Os resultados so uma elevada incidncia de doenas endmicas, a perda de piscosidade dos cursos dgua, a proliferao de insetos e bactrias. Tudo isso agravando uma situao de extrema pobreza da populao. Faltam, ademais, iniciativas de reciclagem de lixo (uma exceo no Estado a usina recicladora de plsticos em Araoiaba, na Regio Metropolitana do Recife), como faltam de transformao de resduos orgnicos em composto. Ou seja, o meio ambiente se deteriora pelo lado da emisso de dejetos e fica mais pobre pelo da depredao dos recursos naturais, os problemas sendo bastante visveis e constatados nos estudos tcnicos existentes a respeito. Nas imediaes das usinas de acar, que, no passado, jogavam suas caldas destruidoras nos rios da regio, transformando-os, como classificou Gilberto Freyre, em mictrios, um problema que sempre afligiu a populao, e continua afligindo, o do lanamento de fuligem pelas chamins da indstria aucareira. Esse p preto, que tudo emporcalha, encontra em Catende, historicamente, o exemplo mais conspcuo, exemplo que sobrevive nos dias atuais. As guas de lavagem da cana, com alto teor de agrotxicos prejudiciais ao ecossistema, continuam sendo tambm atiradas nos rios, com efeitos danosos a jusante dos cursos dgua, um problema eliminado em Cuba atravs do uso de ar comprimido para a limpeza da cana. Na verdade, sempre faltou e continua a faltar uma conscincia ecolgica generalizada cuidando bem do meio ambiente da Zona da Mata. Essa uma rea onde h enorme espao para aes regeneradoras, conservacionistas e poupadoras de recursos, respaldadas por um indispensvel despertar da cidadania atravs da educao ambiental. Alguns esforos j se delineiam nessa direo, e constituem tambm uma linha de iniciativas do Promata. A Agenda 21 Estadual talvez constitua o elemento mais importante da nova perspectiva de ao, procura de conserto para uma situao que se agrava desde muito tempo. Atravs dela se busca implantar gesto participativa dos recursos naturais, com o fortalecimento da sociedade civil, a mobilizao dos agentes sociais e o fortalecimento da idia de desenvolvimento sustentvel idia essa que significa impor um freio em prticas

predatrias e na frmula tradicional do desenvolvimento a todo custo. Ao lado disso, uma iniciativa importante a de criao de reservas ecolgicas ou unidades de conservao. Tambm o o incipiente Programa de Desenvolvimento Florestal de Pernambuco Pernambuco Verde, que representa esforo dirigido para reverter-se o quadro de devastao dos recursos florestais e promover-se o desenvolvimento florestal sustentvel, com a melhoria das condies socioeconmicas da populao e a manuteno do equilbrio ecolgico. Merece relevo ainda a criao do Comit Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlntica o qual, diferentemente das outras aes, diz respeito diretamente Zona da Mata , do mesmo modo que a de comits de bacias hidrogrficas, a exemplo da do Pirapama. 1.6 Gesto Municipal no Contexto da Descentralizao Muitos pases com diferentes caractersticas culturais, sociais, polticas e econmicas, vm adotando medidas com vistas descentralizao de seus governos e instituies. No caso brasileiro, ao longo da dcada de oitenta do sculo passado, com medidas como, particularmente, a reforma de eleies diretas para todos os nveis de governo e a descentralizao fiscal da Constituio de 1988, recuperaram-se as bases do Estado federativo no Pas. A autoridade poltica de governadores e prefeitos foi expandida expressivamente, sobretudo com relao aos recursos federais, mediante a redistribuio tributria. Acrescente-se o fato de que os municpios foram declarados entes federativos autnomos. Essa recuperao das bases federativas do Estado brasileiro, onde o governo federal vem lhes delegando grande parte das funes de gesto das polticas sociais, parece que tem surtido efeito no desempenho da gesto pblica municipal. A relao entre a esfera federal e as subnacionais mudou com a nova correlao de foras. A gesto pblica apresenta hoje seu carter difuso, gerador de uma fragmentao de poder, em que os polticos locais tm espao prprio para desempenhar sua capacidade como gestores. Paradoxalmente, a maioria dos municpios do Nordeste brasileiro permanece fortemente dependente dos governos federal e estaduais, alm de exibirem, em sua maior parte, dficit oramentrio e incapacidade de investimento. A reduzida produtividade das bases tributrias prprias, em termos de gerao de receitas, atualmente configura um quadro de fragilidade financeira. Isso significa que os municpios dependem, quase que exclusivamente, das transferncias bsicas de tributos, garantidas pela Constituio[4], dispondo de margem muito pequena de recursos a serem alocados livremente. Tal fragilidade financeira, sobretudo nas regies mais pobres, tem sido associada a fatores variados que vo desde a ineficincia administrativa ou organizacional, at mesmo falta de capacitao dos gestores e dos tcnicos. Por outro lado, o municpio continuamente pressionado a assumir encargos tradicionalmente debitados ao governo federal como aqueles ligados implementao das polticas sociais e tambm aqueles ligados infra-estrutura urbana de suporte. Conter gastos e equilibrar o oramento tem sido apontado como a forma possvel, mas tambm a tarefa rdua dos governos para viabilizar o investimento pblico. Esse quadro, que parece constituir um limite ao processo de descentralizao em curso no pas, expressa, contudo, a realidade na qual esto inseridos os municpios nordestinos mais pobres, como o caso da maioria daqueles da Mata Pernambucana. Tal modo de perceber as limitaes da gesto municipal, por sua incapacidade de investimento, conduz a que se analise a forma como os municpios se inserem na proposta federal de descentralizao das polticas pblicas, mediante sua adeso aos programas sociais. Notadamente, o impacto da descentralizao de polticas sobre o desempenho das gestes municipais tem como principal medida os resultados e fatores vinculados a programas sociais nas reas de sade e educao. A questo da sade situa-se entre as que

mais preocupam os brasileiros nos ltimos anos. Essa evidncia mensurvel tanto pela assiduidade da temtica setorial na mdia, como pelos resultados de pesquisas de opinio[5]. Quanto educao, reconhecido o papel fundamental que o tema desempenha para construo da cidadania, na mobilidade social e na insero no mercado de trabalho, alm de que o acesso educao de qualidade deve ser visto como um indicador de democracia. Sobretudo nesses dois setores, onde ocorreu ao deliberada do governo na direo da descentralizao, definiu-se de modo quase imperativo um compromisso dos governos municipais em aderir aos programas sociais implantados, como alternativa para garantia de recursos. o caso do Programa Bolsa-Escola, das propostas para aplicao do Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio (Fundef) nos municpios e dos Programas de Agentes Comunitrios da Sade (PACS) e de Sade da Famlia (PSF). Sob o ponto de vista da capacidade de gesto, esse processo vem contribuindo para o fortalecimento das secretarias municipais na conduo e formulao das polticas locais, oferecendo incentivos tambm para a ao coletiva no mbito da esfera pblica, a exemplo da instalao dos Conselhos Municipais de Sade, em todos os municpios da regio. Dados disponveis sobre o desempenho da gesto de algumas municipalidades da regio[6] demonstram que a descentralizao, dentro do arranjo proposto pelos programas, tem favorecido a melhoria da qualidade dos servios de sade e aperfeioado os mecanismos de responsabilizao dos governos locais. Com relao cobertura da educao, a municipalizao da rede de ensino fundamental apresenta-se como um indicador significativo da maior ou menor participao dos municpios na proposta de descentralizao fortemente defendida e induzida pelo governo federal. A rigor, no existe um programa deliberado de transferncia da rede de ensino fundamental em todos os Estados, da a divergncia na municipalizao das matrculas nesse nvel de ensino de uma unidade da federao para outra[7]. Embora a Constituio de 1988 estabelea que o ensino fundamental seja oferecido preferencialmente pelos municpios e os obrigue a aplicar 25% de suas receitas em gastos com manuteno e desenvolvimento do ensino, assumir a gesto de tais redes implica investimentos para a construo, instalao e manuteno de escolas e pagamento de professores e outros servidores. Os dados do grau de municipalizao do ensino fundamental expressam, pois, o compromisso de cada municpio com esse setor da poltica social: municpios como Escada, Maraial e Pombos apresentam hoje 65% das matrculas de 1a a 8a sries sob a responsabilidade da Prefeitura; enquanto outros ainda vivenciam o processo de modo mais lento, ostentando um grau de municipalizao desse nvel de ensino abaixo dos 50%. 1.7 Organizao Social Existe quase unanimidade em torno da idia de que a descentralizao no processo decisrio condio bsica para a efetivao das polticas sociais. Acredita-se que, com ela, os recursos sejam destinados mais eficientemente e que o controle de sua aplicao se faa da maneira mais ampla possvel. Ou seja, uma das justificativas apresentadas para a implementao de estratgias de descentralizao o aperfeioamento democrtico e a melhoria da participao social. Sob a alegao de que um Estado democrtico no pode prescindir de canais de participao, a Constituio de 1988 instituiu a ao popular como elemento do processo poltico. Introduziu-se uma srie de mecanismos permitindo que representaes de segmentos sociais tivessem acesso ao governo e tomassem deciso sobre alguns problemas pblicos, sinalizando para o fato de que a dinmica macrossocial deve exercer um impacto significativo sobre as experincias participativas na formulao e implementao de polticas

locais. A abertura de novos canais de comunicao entre a sociedade civil e o poder poltico local passou a constituir-se instrumento fundamental da gesto pblica, evidenciando inusitados aspectos da dinmica poltica da sociedade civil. Foi criado, assim, um ambiente propcio insero dos atores sociais e, para alm de qualquer princpio ideolgico, um fato passou a se impor no panorama brasileiro: a colaborao entre entidades da sociedade civil e rgos governamentais. Essa cooperao multiplicou-se, em vrios nveis, desde a atuao no plano comunitrio, at a colaborao em programas sociais. Novas tambm passaram a ser as estratgias: as entidades abriram arenas alternativas de intermediao de interesses ao se relacionarem diretamente com a burocracia estatal, quer mediante comisses tcnicas e de articulao, a exemplo dos fruns populares de programas especficos, quer mediante mecanismos de controle social criados a partir de ento, como os conselhos setoriais nos municpios. A rigor, a criao e a atuao dos conselhos setoriais nos municpios e Estados compuseram a proposta governamental para institucionalizar o processo de descentralizao no pas, na medida em que se constituem em precondio para a implantao de um vasto nmero de polticas pblicas. As experincias de oramento municipal participativo so exemplos paradigmticos desse propsito. Nessa perspectiva, ento, interessa analisar o quadro institucional em que se desenrolam as aes pblicas de dada regio. Ao longo de uma prtica mesmo recente, j se tm revelado inmeras questes em relao organicidade dos conselhos; o exame das reais condies de funcionamento dessas entidades , sem dvida, um ponto analtico na agenda sobre o tema. A despeito disso, a presena dos conselhos merece ser apresentada como um trao no perfil da descentralizao poltico-institucional nos municpios, com vistas a maior conhecimento da realidade e das possibilidades de aperfeioamento democrtico da gesto. Na Mata Pernambucana, segundo dados do IBGE[8] h um total de 213 conselhos municipais, distribudos nos vrios setores: sade (43); educao (39); assistncia social (36); emprego (33); criana e adolescente (31); poltica urbana (19); meio ambiente (6) e turismo (6). Em todos os municpios foram instalados conselhos de sade como pr-requisito implantao do Programa de Agentes Comunitrios de Sade-PACS e Programa de Sade Familiar. Por outro lado, em apenas trs dos 43 municpios focalizados no foram criados conselhos de educao. A maioria dos municpios da regio conta com cinco ou mais conselhos instalados, cabendo ressaltar que os que tratam de questes ligadas a meio ambiente, poltica urbana e turismo ainda esto restritos a poucas localidades. No plano das articulaes intermunicipais, merece destaque o funcionamento de duas Comisses de Desenvolvimento, uma envolvendo prefeitos da Zona da Mata Sul (Codemas) e a outra, os dirigentes da Zona da Mata Norte (Codeman). A Unio de Vereadores de Pernambuco (UVP) pode, igualmente, ser considerada como uma instncia de articulao, s que em nvel estadual, assim como os colegiados ou conselhos que renem secretrios municipais de sade (Cosems), de educao (Udime-PE), de emprego e turismo (Astur). No contexto municipal atuam organizaes representativas de interesses de segmentos sociais igualmente distintos e, eventualmente, antagnicos. Alm das peculiaridades relativas estrutura organizacional, existem outras singularidades no tocante s prticas de ao e formas de luta. Na regio focalizada, at os anos 90 houve uma certa hegemonia dos sindicatos de trabalhadores rurais como reflexo da natureza das relaes sociais pautadas pela importncia de uma economia e de uma sociedade predominantemente rurais. Atualmente tem grande visibilidade, em alguns municpios, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). Na dcada de 90 assistiu-se a um processo de dinamizao de outras modalidades de ao, a partir da constituio de associaes civis, congregando pequenos produtores ou canalizando reivindicaes dos moradores dos ncleos urbanos. O incremento do associativismo, em

certa medida, encontra-se vinculado nova agenda e diretrizes presentes em programas e polticas governamentais e das agncias de fomento, que estabelecem como requisito a participao das comunidades beneficirias. Ressalte-se, ainda, a presena de organismos de representao de grupos sociais especficos, como mulheres, jovens, idosos, mes, dentre outros. As cooperativas de produo ou de consumo aparecem com menor freqncia. Tomando-se como referncia a lista de participantes das reunies preparatrias elaborao do Oramento Participativo Estadual, observou-se que apenas uma cooperativa do municpio de gua Preta figura entre os presentes. Por fim, cabe destacar a atuao das organizaes no governamentais, de setores da igreja catlica (por exemplo, as pastorais) e evanglicas, que muito tm contribudo para a conscientizao da populao e para a dinamizao dos canais de representao de interesses. 1.8 A Zona da Mata sob o Prisma Tecnolgico 1.8.1 Tecnologia na agroindstria sucroalcooleira A Zona da Mata de Pernambuco sobressai por sua terra argilosa, conhecida pela pluviosidade farta do inverno equatorial de chuvas. Seus vales e elevaes deixam a rea das incmodas inclinaes ser maior do que as vrzeas e os plats. Os engenhos de aguardente, mel, rapadura e acar mascavo foram, com o advento dos engenhos centrais e das usinas, esvaziados do seu contedo industrial e reduzidos a fornecedores da matria-prima para as usinas de acar e destilarias de lcool. Ainda h uns poucos engenhos empregando a mesma tecnologia e o mesmo conhecimento transmitido por tradio, para produzir aguardente e rapadura. Nas vrzeas e reas planas baixas da Zona da Mata o cultivo da cana conduzido por algumas usinas e destilarias de forma competitiva. A, o cultivo da cana-de-acar, apoiado em melhoramento de espcies, tem condies de se tornar de competitividade imbatvel. A lucratividade, tornada assim positiva, mesmo nas reas relativamente adversas, conduziu permanncia do uso de tcnicas inapropriadas na produo da cana-de-acar. O corte nos incentivos veio simultaneamente ao fechamento da entidade oficial, o Instituto do Acar e do lcool, que fazia a redistribuio de recursos entre os anos de bons e os de maus preos dos produtos finais, um fator adicional viabilizando a continuidade da produo, mesmo incluindo o uso das reas inclinadas. A tecnologia do segmento industrial dos processos de produo de acar e lcool relativamente atualizada. No falta conhecimento sobre a tecnologia de processamento, em escala industrial, dos produtos bsicos acar e lcool, disposio das cerca de quatro dezenas de unidades de produo, de tamanho de ordem de grandeza significativamente maior do que os engenhos, denominadas de usinas e de destilarias autnomas. Existe competncia tecnolgica dedicada a racionalizar a transformao de cana-de-acar em aguardente, lcool, melao, acar mascavo e rapadura em volumes compatveis com os nveis de produo dos engenhos. Pensa-se, obviamente, na cana-de-acar cultivada em reas propcias, dadas as atuais tcnicas, como visto atrs. Os novos equipamentos prometem rendimentos e custos competitivos, se usados em condies favorveis. A modernizao desta atividade produtiva em unidades de produo correspondentes aos engenhos autnomos est, todavia, restringida por questes de mercado, por questes de capacidade de absoro de conhecimentos por parte dos pequenos produtores, por questes de incapacidade de investimento dos mesmos e por questes de continuado aperfeioamento dos equipamentos a eles destinados. H margens para retomar a competitividade do processo industrial de produo de acar e lcool correspondentes difuso de tecnologia j existente, provada e aprovada, sem haver necessidade de recurso de montagem de complexo industrial lcoolqumico.

1.8.2 Tecnologia em outros cultivos O vazio deixado pela no utilizao das terras ngremes para o cultivo da cana tem dois componentes necessrios para seu preenchimento. H que encontrar utilizao a um tempo tecnolgica e economicamente adequada para o uso agrcola das terras, alm de criao de emprego para a oferta de trabalho no mais necessria ao cultivo da cana. No h grandes dificuldades tecnolgicas para isso em regies equatoriais. A silvicultura , no mnimo, uma opo facilmente adotvel. Registra-se a silvicultura aqui por sua garantia de economicidade, caso no se concebam outras opes de maior retorno. Na falta desses outros empregos mais atrativos do ponto de vista microeconmico, a explorao de florestas cultivadas tem retorno garantido. Outras alternativas agrcolas contam com apoio, dada a existncia de conhecimento tcnico nos centros de ensino agrcola, ou, no mnimo, mediante apoio para efetiva e rpida aprendizagem. Estudo da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuria IPA de 1995, contemplou as palmeiras nativas, de grande rusticidade, muito produtivas, pouco exigentes em termos de fertilidade qumica natural dos solos e muito adaptveis composio de sistemas mltiplos, pelo seu porte, tipos de copa e outras caractersticas.[9] Incluem-se no estudo as palmeiras oleoginosas, como o dendenzeiro amaznico, o babau e outras menos divulgadas, como as macaibeiras dentre vrias. Incluem-se, tambm, as palmeiras para a produo de palmito comestvel, como a pupunheira e para a produo de outros produtos de importncia econmica. Coqueiros so tambm considerados, assim como eucalipto, bambu e sabi. O primeiro demonstrado ser mais rentvel do que a cana-de-acar. O ltimo competitivo para a produo de estacas, indispensveis na atividade agrcola. Quanto fruticultura, o IPA destaca a bananeira, que se d bem nos solos argilosos, necessitando de mais de 1200 mm anuais de chuva, valor que usualmente excedido de muito em toda a Zona da Mata. A gravioleira outra rvore que pode contribuir para a produo nas encostas. O IPA dispe de cultivares com desempenho superior ao dos que esto em uso rotineiro atual. Eles atingem 4 t/ha no quarto ano, estabilizando a produo do oitavo em diante, com a produtividade de 8 t/ha. A mangueira sofre restrio por causa da alta umidade relativa do ar. S as variedades menos adaptadas para venda em mercados internacionais, como a itamarac, a espada e a rosa, podem ser cultivadas com resultado econmico, dirigidas ao mercado regional e visando aos apreciadores locais das mesmas variedades. Mas a utilizao para fins de industrializao no fica sacrificada pelo alta umidade do ar. As mangueiras cultivadas so capazes de apresentar produtividade de 3 t/haano. No quarto ano, estabilizam a produtividade em 12 t/ha. Acerolas e pitangas podem tambm ser cultivadas com bom proveito. Mais recentemente, o IPA difundiu cultivares de caj-umbu, cujo fruto apreciado para polpas e sorvetes, com grande produtividade nas condies especificamente vigentes na Mata Norte. A proposta de uso do solo reserva 27 % da rea da Zona da Mata para reserva natural e recomposio da Mata Atlntica, 20% para a cana-de acar, 18% para silvicultura, 10% para pecuria, 5% para seringais, 4% para fruteiras diversas, 3% para palmeiras e coqueiros, 3% para culturas temporrias e, finalmente, 10% para reas no-agrcolas. Registre-se que, restrita a produo de cana-seacar aos 20% da rea da Zona da Mata que lhes so favorveis, atinge-se produtividade de 140 t/ha-ano, contra as 50 t/ha hoje alcanadas, com igual teor de sacarose. Os problemas para a adoo, na Zona da Mata, de solues agrcolas encontradas em outras terras ngremes de condies edafo-climticas assemelhadas, por sua vez, no so de ordem tecnolgica. So de natureza econmica.

2. O PROMATA2.1 IntroduoO Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentvel da Zona da Mata de Pernambuco Promata constitui iniciativa do governo do Estado de Pernambuco, a ser executada pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Social, em cooperao com diversos rgos e entidades da administrao direta e indireta do Estado, com as 43 prefeituras dos municpios que integram a mesorregio-programa e com instituies no-governamentais com foco sobre a Zona da Mata de Pernambuco. Desde sua concepo, foi idealizado para melhoramento da infra-estrutura de servios bsicos, apoio diversificao econmica, com nfase no desenvolvimento de pequenos e micronegcios, e fortalecimento e assistncia tcnica aos nveis locais de poder e organizao social[10]. Trata-se, portanto, de empreendimento ambicioso, verdadeiro tratamento de choque, muito na linha, guardadas as devidas propores, de esforos dos reclamados nos anos cinqenta pela chamada teoria do grande impulso ou big push , de P. Rosenstein-Rodan. De certa forma, Celso Furtado recorreu a essa referncia na elaborao do I Plano Diretor da Sudene, na suposio de que uma estratgia de investimentos simultneos em vrios setores da economia, desde que haja continuidade (e o Promata, saudavelmente, abre um leque de cinco anos de iniciativas sob sua gide) termina provocando efeitos de empurro. O Promata no explicita tal influncia positiva (afinal, seus documentos so de planejamento), mas ela est presente no Programa, at como parte inevitvel da herana que chega dos primeiros tericos do desenvolvimento. uma influncia, ademais, adaptada aos novos tempos, ao colimar, adotando um conceito que toma corpo na atualidade, a consecuo do desenvolvimento local sustentvel da Zona da Mata de Pernambuco.

Grfico 1 Concepo do PromataPode-se asseverar que, primordialmente, o desenvolvimento buscado pelo Promata seja de natureza econmica e social com nfase na gesto dos recursos ambientais , ao orientar-se pela melhoria das condies de vida da populao da Zona da Mata de Pernambuco, mediante trs linhas de ataque concomitante (ver Grfico 1): (i) melhoramento dos servios bsicos; (ii) diversificao econmica, tema, alis, contemplado sem maior nfase no I Plano Diretor da Sudene; e (iii) gesto e proteo ambiental, dimenso do problema que remete s

discusses sobre sustentabilidade ecolgica do desenvolvimento. Como resultado de suas aes, atravs de seus subprogramas (itens i-iii acima), o Promata contempla uma etapa que consiste em monitoramento, avaliao e aprendizagem. Dela resulta efeito de retroalimentao (ver o Grfico 1) na implementao do Programa atravs de aes corretivas, resultantes da informao obtida e da anlise de impactos especficos, tpicos e estratgicos observados no acompanhamento dos subprogramas. Como temas centrais ao Promata, que lhe do sua caracterstica de interveno mais atual, salientam-se: a busca de transparncia; o uso de processos participativos; a concepo de novas prticas (de negcios, de gesto, inclusive com maior integrao gerencial), com relevo para prticas ambientalmente ss; os cuidados com o combate degradao; a nfase nos pequenos negcios; a difuso de tecnologias adaptadas s condies locais; a prestao de diversos tipos de assistncia tcnica; os esforo de modernizar e melhor qualificar quer os servios pblicos, quer a mo-de-obra, quer a natureza das atividades econmicas. O somatrio de tudo isso incluindo, como elemento importante de todo o processo, articulao do Promata com outros tipos de intervenes na Zona da Mata pernambucana seria o desenvolvimento sustentvel da mesorregio Um desenvolvimento capaz de reproduzir-se, espera-se, pelas foras que seriam desencadeadas localmente. A seguir, faz-se um detalhamento do Programa, iniciando-se com a abrangncia geogrfica e populacional; vm depois as aes substantivas e, por ltimo, os tpicos instrumentais.

2.2. Abrangncia Espacial do PromataQuarenta e trs municpios da mesorregio da Mata Pernambucana, formada por trs microrregies (Mata Setentrional, Mata Meridional e Vitria de Santo Anto), compem a rea selecionada para participao no Promata. Esses municpios esto agrupados em duas regies de desenvolvimento, Mata Sul e Mata Norte, como segue: Regio de Desenvolvimento da Mata Sul, 24 municpios: gua Preta, Amaraji, Barreiros, Belm de Maria, Catende, Ch Grande, Corts, Escada, Gameleira, Jaqueira, Joaquim Nabuco, Maraial, Palmares, Pombos, Primavera, Quipap, Ribeiro, Rio Formoso, So Benedito do Sul, So Jos da Coroa Grande, Sirinham, Tamandar, Vitria de Santo Anto e Xexu. Regio de Desenvolvimento da Mata Norte, dezenove municpios: Aliana, Buenos Aires, Camutanga, Carpina, Ch de Alegria, Condado, Ferreiros, Glria do Goit, Goiana, Itamb, Itaquitinga, Lagoa do Carro, Lagoa de Itaenga, Macaparana, Nazar da Mata, Paudalho, Timbaba, Tracunham e Vicncia. 2.3 Aes que do Substncia ao Promata 2.3.1 Participao Um aspecto a destacar no Promata a participao das comunidades abrangidas na elaborao do programa local. A identificao e a priorizao dos projetos e atividades sero feitas atravs da instalao e implementao de um processo de planejamento participativo comunitrio, envolvendo desde as autoridades municipais aos representantes da sociedade civil, de modo a refletir, no contexto de uma viso de planejamento regional, as prioridades e perspectivas dos diferentes agentes e atores envolvidos no processo. Os projetos e atividades sero selecionados a partir de uma lista de opes para os municpios, e devero ser hierarquizados com base nos problemas e potencialidades locais, tendo como foco as populaes em situao de pobreza e de vulnerabilidade social. Sero eles consubstanciados num Plano de Investimento Municipal PIM, em especial como parte do item de melhoramento de servios bsicos. Devero constar tambm do PIM as metas a serem

alcanadas com sua implementao e os respectivos indicadores, visando ao acompanhamento e avaliao de seu impacto no desenvolvimento do municpio. Organizacionalmente haver, no processo de elaborao do PIM, uma Comisso Gestora Local, composta por um mnimo de seis pessoas, com pelo menos metade delas representantes da sociedade civil local. Igualmente, dever ser criado e mantido, com recursos prprios do municpio, um Ncleo de Superviso Local, visando apoiar a implementao do Programa no nvel local. 2.3.2 Gesto e Proteo Ambiental Totalmente localizada na ex-Mata Atlntica, a regio objeto do Programa sofre os efeitos da conduta dos governos e das populaes passadas no que diz respeito ao tratamento dado ao meio ambiente, que resultou em degradao generalizada. Hoje, quando todos se tornam conscientes de que aes corretoras tm que ser tomadas, o Promata, em boa hora, inclui no seu contexto um elenco de aes de gesto e proteo ambiental a serem levadas a efeito. O subprograma pertinente busca fortalecer a gesto e proteo ambientais da regio e promover a recuperao e o manejo sustentvel de seus recursos naturais. Para tal fim ser elaborado um Plano de Ao Ambiental Integrado (PAAI) que contemplar: (i) identificao de reas em estado crtico de degradao ambiental; (ii) elaborao de um diagnstico e prognstico de qualidade ambiental; (iii) elaborao de um Plano de Proteo e Recuperao da Mata Atlntica; (iv) elaborao de um Plano de Desenvolvimento Florestal; (v) elaborao de mapas temticos bsicos, de um diagnstico e carta de qualidade ambiental e de perfis ambientais para cada um dos municpios. Sero ainda includas as atividades voltadas ao desenvolvimento institucional dos rgos integrantes do Sistema de Gesto Ambiental do Estado, em especial, da Sectma e da CPRH. Desenvolver-se-o aes para (i) desenvolvimento e implantao de um sistema de informao ambiental da regio; (ii) fortalecimento do sistema de acompanhamento e avaliao da qualidade ambiental; (iii) instalao de dois postos avanados da agncia governamental de controle ambiental (CPRH) para atender Zona da Mata como um todo, alm de aes voltadas a capacitao e treinamento de seu pessoal. Sero tambm elaborados e executados (i) projetos de proteo e recuperao da Mata Atlntica, que incluiro quatro projetos demonstrativos, sendo dois voltados para recuperao de cerca de 120 ha de bosque; dois para a criao de duas Reservas Privadas do Patrimnio Natural (RPPN); e dez projetos de recuperao e/ou proteo da Mata Atlntica, cobrindo pelo menos trezentos hectares de bosques, selecionados pela Sectma; (ii) elaborao de projetos bsicos para cerca de dez Sistemas Integrados de Destinao Final de Resduos Slidos para grupos de municpios e implantao de at quatro desses sistemas. 2.3.3. Diversificao Econmica O objetivo do subprograma Apoio Diversificao Econmica tem por finalidade estimular novas atividades econmicas da regio, beneficiando pequenos e mdios agricultores e microempresrios locais, de forma individual ou associativa. Sero financiados servios de apoio s atividades produtivas, especialmente em aspectos produtivos, mercadolgicos e empresariais; validao e difuso de tecnologia e aes complementares, como rodada de negcios e elaborao de roteiros tursticos, entre outros. O subprograma possui os seguintes componentes: Apoio aos Agronegcios. Prestao de servios de assistncia tcnica e capacitao a pequenos e mdios produtores rurais, visando a melhoria do desempenho de seus negcios agropecurios nas etapas de planejamento, produo e comercializao, com o objetivo de aumentar a rentabilidade e as receitas dos mesmos. A metodologia de trabalho inclui a formulao e implementao de Planos de Negcios Planegs, que sejam desenvolvidos

pelos produtores com a assessoria tcnica de entidades privadas de assistncia tcnica agropecuria EPAs. No desenvolvimento dos Planos de Negcios devero ser abordados temas estratgicos para a regio, tais como diversificao produtiva e manejo sustentvel dos recursos naturais. Validao e Difuso de Tecnologia Agropecuria. Compreende projetos de validao e difuso de tecnologias, inclusive projetos demonstrativos de tecnologias agroflorestais que venham promover a preservao da Mata Atlntica. Os recursos (com financiamento, a fundo perdido, de um mximo de 80% dos custos) sero destinados a projetos de curto prazo (mximo de trs anos), selecionados em bases competitivas e de acordo com a demanda dos produtores. De modo complementar, o Programa apoiar trs projetos de pesquisa pridentificados, nas reas de fruteiras tropicais, hortalias e pecuria e um de difuso tecnolgica. Apoio Microempresa No-agrcola. Abrange aes de capacitao e assessoria tcnica, voltadas diretamente para a promoo do empreendedorismo e consolidao das micro e pequenas unidades produtivas, principalmente nas seguintes reas: (i) turismo, com nfase nos tipos rural e agroecolgico; (ii) artesanato; (iii) agroindstria; (iv) pequenas unidades industriais; (v) pequenas empresas de comrcio e servios; (vi) confeces. Quatro tipos de cursos e assessorias j se encontram pr-identificados: (a) promoo empresarial, (b) elaborao e implementao de Planos de Negcios para microempresas, (c) assessoria empresarial na implantao e operao dos Planos de Negcios; (d) capacitao dos trabalhadores relacionados com as atividades dos microempresrios assistidos. 2.3.4 Gesto Municipal A importncia para o desenvolvimento econmico, social e ambiental de municpios bem estruturados algo consensual em todos os meios que trabalham com o problema. Por isso, a gesto municipal receber no Promata tratamento especial. As aes a serem levadas a efeito sero dimensionadas a partir de diagnstico participativo do municpio, a ser desenvolvido durante o processo de elaborao do PIM. Dever tambm incluir a identificao, seleo e priorizao dos projetos e atividades que sero financiados pelo Programa. O Projeto de Fortalecimento da Gesto Municipal visa a proporcionar condies para que o setor pblico municipal atenda melhor, e de forma mais eficiente, as demandas da comunidade. As atividades envolvidas compreendem o fortalecimento da administrao municipal, que enfatizar a transparncia da administrao pblica, a ampliao da qualificao gerencial e tcnica dos dirigentes e servidores municipais, a modernizao da administrao fiscal e a de programas sociais, o planejamento territorial e a gesto e proteo ambiental locais. Para alcanar esses objetivos, o Programa incluir: (i) aes de capacitao e treinamento de recursos humanos; (ii) contratao de consultorias e assistncia tcnica; (iii) aquisio de computadores, de sistemas informatizados, de materiais de apoio e de comunicao; (iv) a adequao de instalaes fsicas. 2.3.5 Organizaes Comunitrias Vem-se tornando cada vez mais importante, em todas as sociedades, o papel das organizaes comunitrias, que exercem funo de controle das organizaes pblicas; trabalham em complementaridade com estas; e servem como unidades de defesa dos interesses maiores de populaes desassistidas, quando no total ou parcialmente excludas. O Projeto de Fortalecimento das Organizaes Comunitrias concebido pelo Promata propiciar a oportunidade para que as organizaes da sociedade civil (OSCs) atuem mais efetivamente no planejamento participativo e tambm na operao e manuteno de bens e servios financiados pelo Programa. Suas atividades esto concentradas nas reas de mobilizao, participao e conscientizao social, operao e manuteno de investimentos

e educao ambiental. 2.3.6 Aes Sociais Incluem-se aqui atividades compensatrias de prestao de servios sociais, visando promover o desenvolvimento do capital humano da regio, atravs de aes complementares ao sistema de educao formal e de apoio ao processo de municipalizao dos servios de sade, voltados para populaes em situao de pobreza e vulnerabilidade social. Sade. Este item contempla aes de apoio aos municpios para avano do processo de municipalizao e descentralizao da sade, de modo a que se atinja a situao de gesto plena, de acordo com os princpios e diretrizes do Sistema nico de Sade SUS, com a implantao e implementao de aes de sade ambiental. So os seguintes os projetos considerados: (i) apoio ao desenvolvimento do sistema de ateno integral sade (sade da criana, sade do adolescente, sade da mulher, sade da famlia e sade bucal); (ii) ateno sade no ambiente e (iii) fortalecimento institucional do setor de sade municipal. Educao O item compreende aes complementares na rea de educao, a saber: (i) alfabetizao de jovens e adultos; (ii) alfabetizao de pequenos e mdios produtores rurais e microempresrios atendidos pelo Promata no subprograma de diversificao econmica; (iii) ciclos avanados da aprendizagem, para crianas de sete a quatorze anos fora da escola ou com defasagem idade/srie igual ou superior a dois anos; (iv) aquisio de equipamentos e materiais para a melhoria didtico-pedaggica de escolas rurais; e (v) implantao de centros de enriquecimento cultural. 2.3.7 Infra-estrutura Este mdulo prev investimentos em infra-estrutura municipal para melhorar as condies de vida da populao, especialmente do meio rural, e para apoiar a diversificao econmica regional. Projetos: Sistemas de Saneamento Bsico. Inclui os seguintes subprojetos setoriais: (i) gesto dos sistemas de saneamento bsico; (ii) sistemas de abastecimento d'gua; (iii) sistemas de esgotamento sanitrio; (iv) sistemas de limpeza urbana. Os subprojetos de abastecimento d'gua e de esgotamento sanitrio atendero s comunidades de duzentos a 10 mil habitantes. O subprojeto de limpeza urbana atender s comunidades de duzentos a 3 mil habitantes. No subprojeto de limpeza urbana sero elaborados, para cada um dos municpios beneficirios, o diagnstico de resduos slidos e o Plano de Gesto Integral de Resduos Slidos PGIRS. Para as sedes municipais e reas urbanas com mais de 3 mil habitantes, o Programa prev solues em escala regional. Caminhos Vicinais Intra-municipais. Esta atividade contempla melhorias e pequenos reparos nos sistemas de drenagem e na recuperao de leito de terra e cobertura com cascalho, alm da construo de passagens midas, pequenas pontes e instalao de sinalizao vertical. Estima-se a reabilitao de um total de mil quilmetros de estradas vicinais nos 43 municpios. Matadouros e Mercados Pblicos Municipais. Estas atividades contemplam a recuperao ou construo de matadouros e mercados municipais, incluindo sistemas de tratamento de guas residuais. Os novos matadouros sero padronizados por projetos-tipo para permitir o abate de vinte ou quarenta animais por semana, ou valores intermedirios, de acordo com as necessidades locais. Prev-se recuperar ou construir trinta matadouros e dez mercados. Infra-estrutura de Apoio ao Desenvolvimento Econmico. Inclui aes de recuperao de infra-estrutura pblica municipal voltada para o desenvolvimento econmico, tais como praas, espaos pblicos de valor histrico/cultural e outras que visem apoiar setores de negcios como o artesanato e o turismo, contanto que exibam viabilidade econmicofinanceira.

2.4 Aes Instrumentais 2.4.1 Monitoramento, Avaliao e Aprendizagem Cabe destacar, no mbito das aes do Promata, a implementao de aes de monitoramento, avaliao e aprendizagem. Esse conjunto de aes fortalecer a capacidade da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Social e de seu Instituto de Planejamento de Pernambuco Condepe, de administrar a informao do Programa. Com o apoio do Condepe, ser criada uma Coordenadoria de Monitoramento, Avaliao e Aprendizagem, para acompanhar a execuo das aes do Promata, subsidiando a tomada de decises do Programa. As atividades que sero desenvolvidas compreendem: Sistemas de Informao. Contratar-se- uma empresa especializada e se proceder aquisio de equipamentos de escritrio e de informtica para a implantao de dois sistemas de informao (de estatsticas bsicas e de apoio aos Planos de Negcios Planegs). Essa base informacional fortalecer uma rede de coleta e difuso de informaes de suporte aos PIMs, gesto municipal e s aes do Promata. Monitoramento e Avaliao. Sero realizadas as atividades necessrias para monitoramento, acompanhamento e avaliao dos impactos do Programa, incluindo o estabelecimento de uma base de dados, sua alimentao, a contratao de consultorias especficas, estudos de base e de impactos, avaliaes peridicas do Programa (e do prprio sistema de avaliao implantado), bem como capacitao do pessoal incremental do Condepe. Aprendizagem. Dois tipos de estudos configuram este item: (a) aqueles especficos, pertinentes avaliao do Programa, quais sejam: (i) estabelecimento da linha bsica de fortalecimento da gesto municipal, (ii) avaliao da gesto do Programa, (iii) avaliao dos resultados e dos impactos do Promata; e (b) aqueles considerados de natureza estratgica, a saber: (i) exame do emprego rural no-agrcola na Regio; (ii) identificao de debilidades e potencialidades econmicas nos municpios da Zona da Mata e recomendaes de estratgias de desenvolvimento e priorizao de investimentos para maximizar os benefcios econmicos; (iii) anlise da contribuio da regio para a receita dos tributos federais, estaduais e de arrecadao municipal, bem assim identificao do potencial contributivo da regio, por tributo de competncia. O estudo tambm dever identificar as distores e a necessidade de aes corretivas a serem efetuadas no mbito de cada municpio. Alm disso, haver seminrios, oficinas temticas e cursos de curta durao. 2.5 Beneficirios Finais Algumas aes do Programa beneficiaro toda a populao dos 43 municpios abrangidos. o caso de saneamento bsico, caminhos vicinais, matadouros e mercados pblicos etc., que alcanam indiferentemente a uns e outros. Outras aes sero destinadas a faixas especficas da populao como, apenas a ttulo de exemplo, as crianas de nove a quatorze anos de idade fora da escola ou com defasagem idade/srie, no projeto Ciclos Avanados de Aprendizagem; ou as mulheres em idade frtil, dos treze aos 49 anos, objeto do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento do Sistema de Ateno Integral Sade/Sade da Mulher. Dadas as especificidades da natureza da maioria dos mdulos, projetos, planos etc., o nmero de beneficirios varia bastante de um para outro. Pode-se ter uma idia mais concreta desse nmero atravs da seguinte distino: (a) projetos que tm como beneficirios todos os habitantes da regio abrangida (1,2 milho): fortalecimento da gesto municipal; matadouros pblicos; mercados pblicos; ao ambiental integrada; proteo e recuperao da Mata

Atlntica e ecossistemas associados; educao ambiental; gerenciamento de resduos slidos; fortalecimento institucional dos rgos estaduais e municipais de meio ambiente; (b) demais aes do Promata atingindo um publico total de 2,1 milhes de pessoas (obviamente com repeties, j que muitos sero beneficiados por mais de um projeto). 2.6 Custo A magnitude do custo total do Programa, estimado em US$ 150 milhes, dimensiona a grandeza da interveno proposta, que pretende, efetivamente, causar impacto em termos de acelerao do desenvolvimento regional. Seis por cento do valor do Promata sero destinados a administrao e superviso; 80,6% a custos diretos (subprogramas); 2,4% a outros custos (acompanhamento, avaliao e aprendizagem, e auditoria); e 11,1% a custos financeiros. Trata-se de uma composio de gastos preocupada com atividades-fim os subprogramas e sua consolidao. Sero, em realidade, 120 milhes de dlares que se iro derramar nas iniciativas previstas, equivalendo a um gasto per capita em toda a Zona da Mata, no qinqenio, de cem dlares, valor nada desprezvel, pois se est falando aqui de toda a populao da mesorregio, indistintamente, como sendo de beneficirios do Promata. 3. PROGRAMAS E PROJETOS EM EXECUO NA ZONA DA MATA PERNAMBUCANA 3.1 Introduo Na Zona da Mata de Pernambuco h em curso um variado leque de polticas pblicas e de iniciativas que contribuem para as transformaes em processo na regio. O Promata possui reas de coincidncia com algumas dessas polticas e iniciativas, com intercesses ora superficiais, ora mais intensas, o que pode se verificar com a apresentao, a seguir, do elenco das intervenes encontradas, atravs de breve anlise dos vrios programas e projetos governamentais federais, estaduais e municipais que esto sendo executados na regio. 3.2 Programa de Erradicao do Trabalho Infantil Peti O Peti tem como objetivo "contribuir para a erradicao do trabalho infantil no Estado, atravs da assistncia scio-educativa s crianas, adolescentes e s suas famlias". Seus objetivos especficos so: garantir ao pblico-alvo acesso e permanncia na escola de ensi