desenvolvimento profissional num grupo cooperativo...

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84 ESCOLA MODERNA N.º 1• 6.ª série • 2013 Introdução O presente artigo pretende descrever o tra- balho de um grupo de autoformação coo- perada (grupo cooperativo) a funcionar online, formado no ano letivo 2011/12. Pretende tam- bém partilhar alguns produtos considerados pertinentes para o desenvolvimento profissio- nal dos elementos do grupo. Era constituído por pessoas dos núcleos regionais dos Açores e de Lisboa. Um desses elementos trabalhava em Angra do Heroísmo, outro em Bruxelas e os restantes na área de Lis- boa. Com uma distância geográfica considerá- vel, o grupo resolveu aproveitar as hipóteses de trabalho através de uma disciplina da plata- forma Moodle/MEM, criada para o efeito, e realizou as suas reuniões semanais através de um chat. Nesta disciplina o grupo partilhou do- cumentos, descreveu o que fez em sala de aula e questionou as suas práticas. Começarei este artigo com um breve enqua- dramento teórico acerca dos grupos de autofor- mação cooperada, com algum destaque para o trabalho colaborativo virtual. Seguidamente contarei como formámos o grupo, como apresentámos a nossa disciplina, o que fizemos e as conclusões a que chegá- mos. Alguns dos diálogos mais relevantes de cada sessão de trabalho, bem como os mate- riais que partilhámos, serão os suportes deste artigo. Para concluir, apresentarei considerações finais sobre o funcionamento do grupo coope- rativo. Enquadramento teórico Para nós, sócios do Movimento da Escola Moderna, o desenvolvimento profissional faz- se em grupos de autoformação cooperada. Um grupo cooperativo é uma comunidade que in- tervém sobre as práticas dos professores do grupo e constrói conhecimento sobre a prática que idealizam. Nestes grupos contamos e mostramos o que fazemos nas nossas salas de aula, expomos os produtos culturais elaborados pelas crianças com quem trabalhamos, partilhamos as nossas dúvidas e os problemas com que nos depara- mos no dia a dia. Refletimos em conjunto sobre as práticas pedagógicas e através da análise que fazemos, desencadeamos alterações em vários aspetos para as melhorar. São espaços de refle- xão construtiva para o aprofundamento das nossas práticas e para o desenvolvimento da profissionalidade. No dizer de J. Solomon (1987), citado por F. Marcelino (2002, p. 53), [a] reflexão construtiva sobre a experiência (…) obriga-nos a construir um fórum social para a sua construção. A falta de troca de ideias dentro dos grupos inibe a construção saudável das convicções pessoais, uma vez que só se tornam reais e claras quando podemos falar delas com os outros. Este contexto de partilha e reflexão neste ano, de forma virtual, ajudou-nos a tomar cons- Desenvolvimento profissional num grupo cooperativo online Carmen Correia* * Formação. REVISTA N.º 1 160pp 05/07/13 17:57 Page 84

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Introdução

O presente artigo pretende descrever o tra-balho de um grupo de autoformação coo-

perada (grupo cooperativo) a funcionar online,formado no ano letivo 2011/12. Pretende tam-bém partilhar alguns produtos consideradospertinentes para o desenvolvimento profissio-nal dos elementos do grupo.

Era constituído por pessoas dos núcleosregionais dos Açores e de Lisboa. Um desseselementos trabalhava em Angra do Heroísmo,outro em Bruxelas e os restantes na área de Lis-boa. Com uma distância geográfica considerá-vel, o grupo resolveu aproveitar as hipóteses detrabalho através de uma disciplina da plata-forma Moodle/MEM, criada para o efeito, erealizou as suas reuniões semanais através deum chat. Nesta disciplina o grupo partilhou do-cumentos, descreveu o que fez em sala de aulae questionou as suas práticas.

Começarei este artigo com um breve enqua-dramento teórico acerca dos grupos de autofor-mação cooperada, com algum destaque para otrabalho colaborativo virtual.

Seguidamente contarei como formámos ogrupo, como apresentámos a nossa disciplina,o que fizemos e as conclusões a que chegá-mos. Alguns dos diálogos mais relevantes decada sessão de trabalho, bem como os mate-riais que partilhámos, serão os suportes desteartigo.

Para concluir, apresentarei consideraçõesfinais sobre o funcionamento do grupo coope-rativo.

Enquadramento teórico

Para nós, sócios do Movimento da EscolaModerna, o desenvolvimento profissional faz-se em grupos de autoformação cooperada. Umgrupo cooperativo é uma comunidade que in-tervém sobre as práticas dos professores dogrupo e constrói conhecimento sobre a práticaque idealizam.

Nestes grupos contamos e mostramos o quefazemos nas nossas salas de aula, expomos osprodutos culturais elaborados pelas criançascom quem trabalhamos, partilhamos as nossasdúvidas e os problemas com que nos depara-mos no dia a dia. Refletimos em conjunto sobreas práticas pedagógicas e através da análise quefazemos, desencadeamos alterações em váriosaspetos para as melhorar. São espaços de refle-xão construtiva para o aprofundamento dasnossas práticas e para o desenvolvimento daprofissionalidade. No dizer de J. Solomon(1987), citado por F. Marcelino (2002, p. 53),

[a] reflexão construtiva sobre a experiência(…) obriga-nos a construir um fórum socialpara a sua construção. A falta de troca de ideiasdentro dos grupos inibe a construção saudáveldas convicções pessoais, uma vez que só setornam reais e claras quando podemos falardelas com os outros.

Este contexto de partilha e reflexão nesteano, de forma virtual, ajudou-nos a tomar cons-

Desenvolvimento profissional num grupo cooperativo online

Carmen Correia*

* Formação.

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ciência da nossa ação educativa e, muitas vezes,a alterar e a transformar essa ação dentro da salade aula. Quando contamos e mostramos os pro-cessos de aprendizagem das crianças estamos areviver o que fizemos na sala de aula, o que nospermite um olhar mais atento ao percurso reali-zado e uma abertura às críticas, às questões esugestões de todos os elementos do grupo coo-perativo. Confrontamo-nos com as nossas fra-gilidades, mas também com as nossas conce-ções quando explicitamos as intenções que te-mos em determinada atividades, quandoexpomos os materiais construídos e até quandorelembramos os diálogos que temos com ascrianças.

Em conjunto procuramos respostas para es-sas mesmas fragilidades de forma fundamen-tada, uma vez que estamos constantemente aconstruir, a desconstruir e a reconstruir a profis-são com os relatos uns dos outros, com a leiturae discussão de alguns relatos de práticas edita-dos na revista Escola Moderna e outros textosdos dossiês temáticos do Centro de Recursos.Estes textos foram apresentados por elementosdo grupo, assumidos de forma cooperativa e li-dos individualmente. De seguida, partilhámos ediscutimos as ideias que considerámos maispertinentes e as questões que surgiram durantea leitura. Esta discussão ajudou-nos a aprofun-dar teoricamente as práticas, pelos questiona-mentos que nos provocou e pelos problemaspara que nos alertou.

O facto de constituirmos um grupo coopera-tivo online fez com que a escrita fosse determi-nante em todas as sessões do grupo. Foi atravésdela que comunicamos o que fazíamos na sala,as nossas dificuldades e ansiedades, bem comoo que pensamos e o que queremos enquantoprofessores. A escrita das nossas falas é um es-pelho constante com que nos deparamos sem-pre que consultamos o chat.

Além da partilha que fazemos, um grupocooperativo implica que façamos pequenos ba-lanços sobre o seu funcionamento ao longo doano no seio dos núcleos regionais e nos Conse-lhos de Coordenação Formativa.

Por isso podemos reafirmar que o trabalhode reflexão individual e nos grupos de autofor-

mação cooperada é um alicerce permanentepara o nosso próprio desenvolvimento pessoale profissional, como refere Sérgio Niza (2012):

“A sistemática interação social em que as-senta o desenvolvimento da profissão me-diado pela cooperação formativa torna visíveisos processos da profissão, isto é, as formas depensamento e de ação pedagógica, públicas ecompartilhadas, emprestando-lhe uma signifi-catividade social acrescida. É assim que os pro-fessores se socializam profissionalmente,adentro de uma comunidade onde cada um seassume como formador e formando e se ob-riga a pensar e a refletir criticamente os seuspercursos pela consciencialização partilhadana resolução dos problemas da profissão, natransformação dos conhecimentos e na revisãodas práticas” (p. 603).

Como começámos

Durante os trabalhos realizados no Encontroda Páscoa de 2011 dois elementos do grupo, Ál-varo Sousa e Ângela Costa, discutiram sobre apossibilidade de constituir um grupo coopera-tivo interregional online, não só para obviar adistância geográfica entre a Angra do Heroísmoe Lisboa e um certo isolamento profissional,mas também para ajustar o trabalho colabora-tivo com a vida familiar.

No dia do primeiro Conselho de Coordena-ção Pedagógica desse ano letivo apresentaram-me a mim e à Esmeralda Raminhos o projeto deorganizar um grupo cooperativo online, ondecomeçássemos por escrever sobre as rotinas detrabalho que instituímos na sala de aula. Comojá nos conhecemos há muito conversámos so-bre as ferramentas que nos poderiam servir desuporte para um grupo online e combinámosque nos iríamos reunir todas as semanas.

A este grupo inicial juntou-se a Sandra Car-valho, a partir de uma troca de e-mails sobreuma comunicação do congresso de 2011. Elaexplicitou a vontade de pertencer a um grupocooperativo e as dificuldades em fazê-lo comoilustram os seguintes e-mails:

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21 de Setembro de 2011 22:09Olá,Obrigada pela tua resposta.Tenho imensa pena de não poder participar num

grupo cooperativo (porque acho que só aí é que secresce como profissional) mas estou a trabalhar no es-trangeiro, por isso é mesmo impossível.

Resta-me carregar baterias no Congresso que é oúnico momento do MEM em que posso estar pre-sente.

Aqui, à distância, resta-me o apoio dos textos queme vão mandando do Centro de Recursos (semprepertinentes), as revistas que leio e releio e o meu jádesatualizado dossier da Oficina de Iniciação!

Beijinhos e votos de um bom ano,Sandra Carvalho

Perante este interesse integrámos a Sandrano grupo cooperativo, como se pode ler noe-mail:

21 de Setembro de 2011 22:13Olá Sandra!Oh que pena! Mas olha... ontem eu experimen-

tei uma coisa bastante inovadora. Estive a reunirnum grupo cooperativo online e gostei muito. Com-binámos uma hora (do continente e dos Açores) e es-távamos todos presentes num chat de uma disciplinado Moodle.

Creio que esta forma de reunir é-nos muito útil...principalmente quando as pessoas estão nos Açoresou no estrangeiro.

Um abraçoCarmen Correia

Após a constituição do grupo passamos aconstruir uma disciplina no Moodle/MEM e aelaborar o projeto com todos os participantes:Ângela Costa (Núcleo Regional dos Açores), Ál-varo Sousa, Carmen Correia, Esmeralda Rami-nhos (Núcleo Regional de Lisboa) e Sandra Car-valho (também de Lisboa, mas a lecionar emBruxelas).

Começámos então por definir os temas queiríamos abordar ao longo das sessões de traba-lho/estudo:

Aprofundamento do Modelo Pedagógico doMEM

– Trabalho comparticipado pela turma – Momen-tos colectivos de trabalho: rotinas de cálculo mental,trabalho de revisão de textos

– Regulação das aprendizagens através dos pla-nos de desenvolvimento do currículo.

Os efeitos que pretendíamos alcançar e queinscrevemos na ficha de projeto do grupo coo-perativo eram:

– melhorar as nossas práticas;– melhorar os instrumentos de pilotagem que usa-

mos nas nossas salas;– partilhar materiais (ficheiros e propostas de tra-

balho).

A par disto assumimos o compromisso deapresentar dois produtos:

– a própria disciplina do grupo cooperativo com asatas das sessões de trabalho, os ficheiros, as propos-tas de trabalho, os instrumentos de regulação dasaprendizagens

– pequenos relatos das nossas rotinas de trabalho.

Como difusão dos produtos construídospensámos poder fazer:

– comunicações no congresso em conjunto sobre asrotinas de cálculo mental e o trabalho de revisão detexto, sobre um percurso de implementação de rotinasem especial do TEA;

– um escrito sobre as rotinas de cálculo mental.

Por fim, os recursos, materiais de apoio e do-cumentação escolhidos foram os que estão ar-quivados nas seguintes disciplinas do Moo-dle/MEM:

– Disciplina do grupo cooperativo, com os chatspara as sessões de trabalho e os glossários para par-tilhar documentos.

– Disciplina do Centro de Recursos.

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O moodle/MEM como instrumento de trabalho

O facto de se pretender criar um grupo coo-perativo online exigiu a escolha de uma ferra-menta adequada a esse projeto. Tendo emconta o software disponível equacionámos autilização dos chats do messenger, do gmail, doskype (que nos permitia videoconferências) eaté do Facebook. Em quaisquer destas hipóte-ses poderíamos conversar uns com outros e tro-car documentos online. Porém, considerámosque devíamos rentabilizar a plataforma moo-dle/MEM para ficarmos com o registo do per-curso e ter a possibilidade de, no futuro, mos-trar o que fizemos a outros grupos de formaçãodo MEM.

Para dar início ao trabalho foi necessário queo administrador do moodle criasse uma novadisciplina, o que demorou pouco tempo. Poste-riormente começámos a utilizá-la para registaras nossas atividades e ao longo do ano letivo fo-mos introduzindo alterações na própria disci-plina, à semelhança do que fazemos com osdossiês que utilizamos nos grupos cooperativosou noutra modalidade de formação.

Nesta disciplina do Moodle, denominada2011/12 Açores – Grupo cooperativo online Aço-

res/Lisboa 1.º CEB, existe uma primeira parte de-dicada à organização e utilização e uma se-gunda parte que serve de apoio ao trabalho pe-dagógico.

Na primeira podemos encontrar um tópicocom a constituição do grupo; o fórum das notí-cias, as ajudas técnicas (ver fig. 1) e a calendari-zação das reuniões de trabalho (ver fig. 2).

É com base no que escrevemos no fórum dasnotícias que recebemos e-mails antes e/ou apóscada sessão de trabalho. Utilizamos este fórumpara pequenos resumos sobre as reuniões, paralembrar os compromissos entre sessões e tam-bém para dar indicações sobre os documentosque tínhamos partilhado. Por exemplo:

Sessão do dia 19 de outubropor Carmen Correia – Quarta, 12 Outubro

2011, 00:28Olá!Na próxima sessão do dia 19 de outubro iremos

falar (novamente) das listas de verificação.Deixamos a sugestão de ler as listas que já estão

no glossário e de comentá-las. A Esmeralda vai par-tilhar uma lista e o Álvaro está a construir listas no-vas. Até lá mantêm-se outros compromissos:

– colocar estratégias de cálculo mental e descreveros nossos momentos de trabalho

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Figura 1

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– colocar os registos que utilizamos no trabalho derevisão de texto

Relembro ainda um desafio que o Álvaro nos fez:– escrever um pouco sobre as rotinas de trabalho.Por isso, boas escritas!Um abraço a todos

Sessão de 13 de dezembro – leituraspor Carmen Correia – Quarta, 7 Dezembro

2011, 02:03Olá!Até à próxima sessão combinámos escrever (lis-

tar) as dificuldades que sentimos no momento dos li-vros e leituras.

Está no glossário Partilha de documentos uma co-municação sobre os livros e as leituras que fiz no con-gresso, um registo de regulação deste momento e oprojeto de leituras do grupo de 4.º ano do meu agru-pamento.

No glossário das conversas está a sessão de tra-balho de hoje para se inteirarem do que foi discutido.

Para terminar, no glossário das reflexões e outrosescritos está a descrição (sumária) das sessões dos li-vros e leituras da Sandra e da Ângela. Espreitem eescrevam também vocês o que tem feito.

Um abraço e resto de boa semana

Para que todos os elementos do grupo sou-bessem utilizar a disciplina fizemos um esclare-

cimento no tópico das ajudas técnicas, à seme-lhança do que também acontece na disciplinado Centro de Recursos:

Ajudas:Como utilizamos esta disciplina?Quando queremos partilhar um documento esco-

lhemos o glossário adequado. Cada documento de-verá ter uma categoria, para facilitar a consulta pos-terior. Um glossário funciona como um dossiê.

Depois escrevemos uma notícia para avisar as ou-tras pessoas. Estas recebem a notícia no seu e-mail,visitam a disciplina e quando querem escrever, co-mentar, provocar, ajudar a melhorar, a reflectir fa-zem-no a partir do glossário. Os nossos glossáriosaceitam comentários. As notícias servem para avisose lembretes.

Para a consulta de documentos no glossário deve-mos escolher a opção “ver por categorias”. Assim ébem mais fácil encontrar o que pretendemos.

Na segunda parte da disciplina existe um tó-pico dedicado à conversação em que temos umchat onde nos reunimos e um glossário no qualfomos arquivando as reuniões com um sumáriosobre cada sessão (ver fig. 3).

De seguida organizámos mais dois tópicoscom glossários: um intitulado Partilha de docu-mentos das nossas rotinas de trabalho (Planos dedesenvolvimento do currículo, ficheiros, guiõesde trabalho de apoio ao TEA e aos projectos deestudo e de intervenção, registos do TrabalhoComparticipado pela Turma, do Trabalho deTexto, da Matemática Coletiva, dos Problemasda Semana, do Cálculo Mental e dos Livros edas Leituras), outro chamado Reflexões e outrosescritos, no qual colocámos os resumos das con-clusões, alguns textos que escrevemos sobre as-petos da nossa prática e também os índices dostextos que lemos e que nos ajudaram a refletir.

O que fizemos no grupo cooperativo

Quando elaborámos o projeto do grupo coo-perativo combinámos que as reuniões seriamtodas as semanas, à terça-feira. Para quem esti-ES

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vesse em Lisboa seria às 22h30, em Angra doHeroísmo a reunião começava às 21h30 e emBruxelas às 23h30.

Em cada uma das sessões de trabalho tínha-mos um tema para discussão previamente com-binado na calendarização do grupo. Como nosreuníamos durante cerca de uma hora e meiasentimos necessidade de manter o mesmo temadurante várias sessões.

Ao longo do ano refletimos sobre: estraté-gias de cálculo mental, trabalho de revisão detexto, critérios de avaliação da leitura, listasde verificação (planos de desenvolvimento docurrículo), os livros e as leituras, o trabalho emprojetos cooperativos, o tempo de estudo autó-nomo (TEA), o conselho de cooperação educa-tiva (avaliação do trabalho coletivo, dos proje-tos e do TEA) e o trabalho comparticipado pelaturma nos momentos de matemática coletiva eproblemas coletivos. Trocámos ainda opiniõessobre as provas de aferição e decidimos as for-mas de avaliação do grupo comprometendo-nos a apresentar comunicações em congresso ea escrever pelo menos um artigo para a revistaEscola Moderna.

Alguns temas discutidos online

Cálculo Mental

Um dos primeiros temas sobre o qual refle-timos foi o cálculo mental, um momento queinstituímos nas nossas turmas com uma dura-ção entre cinco a dez minutos, para trabalhardiversas estratégias de cálculo com as diferentesoperações.

Começámos por relatar o que fazíamos nasturmas e por apresentar algumas dificuldadesna sessão do dia 20 de setembro:

Álvaro – 22h27: Gostava de falar sobre os mo-mentos de cálculo mental. Com o passar do tempo fuitendo cada vez menos ideias para as sessões de cál-culo mental.

Ângela – 22h33: Eu tenho várias rotinas de cál-culo mental, que fazia no início da aula de Matemá-tica durante 10 ou 5 minutos.

Álvaro – 22h34: Podíamos trocar ideias e plani-ficações sobre estes momentos.

Carmen – 22h34: E tens sempre registos indivi-duais ou é sempre na oralidade?

Ângela – 22h35: Por vezes eram cadeias escritasem que eles resolviam e depois explicavam como ti-nham feito, outras vezes era só para treino de umadeterminada estratégia de cálculo.

Carmen – 22h35: E eles têm um tempo curto pararesolver e estar sozinhos e depois explicam ao grupo?

Álvaro – 22h37: Acho que podíamos escrever oque fazemos com os nossos alunos durante a próximasemana nestes momentos de cálculo mental e depoispartilhávamos.

Após esta sessão partilhámos, no glossário,algumas rotinas de cálculo mental e na sessãode 3 de outubro conseguimos trocar alguns re-gistos dos alunos.

Ângela – 22h41: As tuas rotinas envolvem a di-visão ou alguma estratégias de cálculo?

Sandra – 22h14: Esta semana são sobre o dobroe a metade porque estou no início do terceiro ano, masestive à procura de rotinas para alunos mais velhos.

Ângela – 22h15: Se puderes partilha-as con-

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Figura 3

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nosco, pois eu quero trabalhar os dobros relacionadoscom a metade.

Sandra – 22h25: O documento de que estou àprocura é exatamente uma lista de todas as estraté-gias de cálculo para a adição, subtração, multiplica-ção e a divisão. Deram-me numa formação de Mate-mática, porque a verdade é que não são assim tantase é preciso termos consciência delas e trabalhá-lascom os miúdos.

Também lemos um documento com uma sé-rie de estratégias de cálculo mental, discutimo--lo afincadamente e concluímos que:

– deve ser de curta duração, não mais de 20minutos diários;

– devem desenvolver-se diferentes estraté-gias de cálculo, mas com o enfoque numa estra-tégia diferente por sessão;

– as cadeias de cálculo devem estar estrutu-radas de acordo com o feedback que vamostendo dos alunos e devem ser elaboradas deacordo com as suas dificuldades;

– é fulcral desenvolver cadeias de cálculo emque o grau de dificuldade aumente progressiva-mente;

– podemos utilizar diferentes materiais, masprecisamos de ser bastante sistemáticos na es-tratégia que estamos a trabalhar com os alunos.

Planos de desenvolvimento do currículo (listas de verificação)

No início de cada ano letivo organizámos osplanos de desenvolvimento do currículo (as lis-tas de verificação) para os alunos dos anos deescolaridade com quem estamos a trabalhar.Este foi um dos temas que discutimos. Adequa-mos as listas de verificação que fizemos ante-riormente e analisamos outras, como ilustra asessão de 20 de setembro:

Esmeralda – 22h54: Já têm as listas de verifica-ção?

Carmen – 22h55: Vi as listas do agrupamento daInácia e gostei muito.

Álvaro – 22h55: Eu estou a utilizar umas que ti-

nha do ano passado, mas não estou contente comelas.

Ângela – 22h56: Hoje fiz a de Língua Portuguesaque a Esmeralda me deu.

Álvaro – 22h56: Vamos partilhar as que temos?Esmeralda – 22h57: Eu estou a construir mas

ainda estou atrasada, queria fazer umas listas maissimplificadas.

Carmen – 22h58: Já coloquei no glossário as lis-tas do agrupamento da Inácia Santana.

Porém, a leitura e análise de outras listas queelaborámos e que partilhámos no glossário aca-bou por se tornar um processo moroso como sevê nos diálogos da sessão de 27 de setembro:

Esmeralda – 22h31: Carmen que listas estás ausar?

Carmen – 22h31: Estou a usar aquelas que colo-quei no glossário.

Álvaro – 22h31: Eu não estou muito contente comas listas que estou a usar. Acho que, em alguns con-teúdos, deviam ser mais específicas, quase como eta-pas de desenvolvimento dessas competências. Vamosrever as partes que não gostámos do 3.º e 4.º anos?Podíamos partir por partes e vermos uma parte decada vez, por semana. Assim conseguimos fazer a re-visão das listas até ficarmos contentes.

Carmen – 22h35: Podemos fazer o compromissouns com os outros de ver as listas uns dos outros e co-mentar para que as possamos melhorar.

Álvaro – 22h36: Gostei da decisão sobre as listas. Esmeralda – 22h36: Eu vou tentar fazer listas

mais curtas, porque de outra forma não consigo cum-prir o seu preenchimento.

No fim das sessões sobre este tema concor-dámos que as listas de verificação coletivas po-dem ser diferentes das individuais, de formaque as coletivas sejam menos extensas e as indi-viduais mais detalhadas. Além disso, as listas deverificação coletivas devem ser curtas para faci-litar a sua utilização sistemática, não só para aplanificação, mas também para a avaliação.

É fundamental que as listas de verificação te-nham os conteúdos bem explícitos, que a es-crita seja acessível às crianças e que cada itemda lista refira os números das fichas que estasES

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crianças podem realizar durante os momentosde Tempo de Estudo Autónomo.

Apesar de já termos alguma experiência, daanálise que fizemos ainda não conseguimosconstruir uma lista que cumpra todos os requi-sitos. Assim, continuamos a considerar perti-nente a discussão sobre as listas de verificação ea sua implementação na sala de aula, uma vezque os programas foram alterados recente-mente, e também porque é necessário incluir asmetas curriculares.

Trabalho de revisão de texto

Para as sessões de discussão do trabalho derevisão de texto decidiu-se que cada um descre-veria o que fazia em sala de aula e a partir daícolocávamos questões uns aos outros.

Maqueta do trabalho de revisão de texto 1por Carmen Correia – Terça, 11 Outubro 2011,

22:17

Esta maqueta de trabalho de revisão de texto (re-gisto_do_tt_Joao2.doc) foi utilizada no trabalho detexto em coletivo (ver fig. 4).

Cada menino tem um tempo para ler o texto esco-lhido e para elaborar os comentários ou as perguntas.No segundo ano, já fazem a proposta de reescrita apares.

Após este tempo de trabalho individual ou a pa-res, eu escrevo o texto original no quadro. O autor dotexto lê-o em voz alta. Depois cada um partilha osseus comentários. Temos como regra não ter comentá-rios repetidos. No final destes comentários fazemosperguntas. Cada um faz as perguntas que organizoue o autor do texto responde. Quando os colegas fazemuma pergunta que o autor não consegue responder aturma ajuda.

Quando terminamos esta parte da discussão –perguntas e respostas – fazemos o plano de reescrita.De seguida cada um deve apresentar a sua propostae reescrita para que o autor, com a ajuda da turma,possa aproveitar algumas ideias para o enriqueci-mento do texto. Só depois se fará a reescrita do texto

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em coletivo. Este trabalho é feito parágrafo a pará-grafo e, por último, faz-se uma leitura de todo o textopara verificar a coesão e a coerência.

Maqueta do trabalho de revisão de texto 2por Carmen Correia – Terça, 11 Outubro 2011,

22:28Senti necessidade de alterar a maqueta de traba-

lho de revisão de texto quando a turma começou a es-crever muito na proposta de reescrita. (registo_tt_diana1.doc) Todas essas propostas começaram a sercopiadas com o objetivo de as colocarmos no blog daturma.

Porém, todo o trabalho de texto é feito com o apoiode um datashow. Utilizamos a maqueta do trabalhode texto na horizontal e é esta que serve como referên-cia para a turma.

Em todos os trabalhos de texto as crianças podemutilizar as revisões feitas anteriormente em coletivo eainda um guião de revisão de texto.

A par dos escritos no glossário vamos con-versando:

Sessão de 11 de outubro Álvaro – 22:13: querem que explique como é que

faço em linhas gerais? Cada um vai fazê-lo??Ângela – 22:14: Gostaria de saber, pois a se-

mana passada foi horrível. Conduzi demasiado asessão de trabalho de texto.

Álvaro – 22:15: Eu começo por pedir um texto deum dos alunos. Um que queira oferecer um texto paratrabalhar. Posso fazer de várias formas: posso tirarcópias do texto original e dar a cada um para pensarnele, escrevê-lo numa folha A2 e pedir para lermos emcoletivo, ditar o texto e pedir para eles o escreverem edepois apresento a folha A2 para que as criançasanalisem o texto.

Ângela – 22:18: Ditas o texto tal e qual o autorescreveu? Sem pontuação, erros ortográficos…?

Álvaro – 22:18: Ditar sem erros? Quando escrevona folha A2 só escrevo alguns erros, no caso de ele/adar muitos. Escrevo aqueles que mais me interessamtrabalhar de acordo com o programa ou os casos queaparecem mais na turma.

Carmen – 22:20: Eu tenho algum cuidado com oserros ortográficos. Muitas vezes “limpo” o texto de er-ros (ortográficos e outros) e deixo só alguns, porque

numa sessão de trabalho de texto só conseguimos tra-balhar bem alguns erros, muitos nunca conseguimos.

Álvaro – 22:22: Depois dou algum tempo paracada um escrever o que acha que podemos melhorarno texto ou comentários que queira fazer sobre omesmo.

Ângela – 22:23: Dás à turma algum instrumentoconstruído por ti ou eles escrevem no caderno?

Álvaro – 22:23: No caderno, de preferência na fo-lha ao lado do texto original.

[…]Esmeralda – 22:28: Dependendo de cada texto

oferecido eu vou variando as estratégias. Na maioriadas vezes tenho aquela grelha para eles trabalharemprimeiro a pares. Se o texto oferecido é muito grandedivido-o por partes e cada par trabalha esse bocadode texto. Depois partilham as suas propostas.

Carmen – 22:29: (Eu já coloquei na Partilha dedocumentos a descrição de como o faço e que instru-mentos utilizo)

Álvaro – 22:32: Podes partilhar a tua grelha, Es-meralda?

Esmeralda – 22:33: Sim, posso pôr agora.Carmen – 22:35: A grelha que partilhei tem co-

mentários, perguntas, plano de reescrita e propostade reescrita.

Esmeralda – 22:37: Já coloquei no glossário. Vãolá ver e comentem (ver fig. 5).

Ângela – 22:37: Gostei da grelha. Amanhã vouusá-la. Depois conto como correu.

Sessão de 18 de outubro Ângela – 22:50: A revisão de texto que fiz usando

o teu guião correu muito melhor. Tenho ainda que tra-balhar alguns aspetos, mas a adesão dos alunos foimuito boa. Eles tiveram mais dificuldades em realizaro plano a pares, tivemos que o realizar em coletivo.

Carmen – 22:52: Nas primeiras vezes que o useicom a turma também fiz em coletivo. Os teus meni-nos conseguiram chegar à proposta de reescrita?

Ângela – 23:03: Deram propostas mas alterarammuito o texto.

Carmen – 23:04: É normal que isso aconteça,com os meus acontece também. Depois podemos sem-pre discutir o que é a reescrita. Um texto novo podeser sempre integrado nos circuitos de comunicação.Temos é de agilizar os circuitos.ES

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Ângela – 23:05: Poderiam por exemplo integrarno jornal da turma?

Carmen – 23:07: Sim, penso que sim. Já tens ojornal da turma a funcionar?

No final concluímos que, nas sessões de tra-balho de revisão de texto, o papel do professoré o de guiar a reflexão e a análise de texto. É ne-cessário dar um tempo para as crianças analisa-rem o texto sozinhos e/ou a pares, a partir deuma maqueta e de um guião que devemosconstruir com a turma para orientar a análisedo texto. Em relação à ortografia pensamosque deve ser feita uma correção prévia doserros ortográficos durante o TEA entre paresou entre o autor e o professor. Quanto ao tra-balho em coletivo deverá ser o professor a sele-cionar alguns dos erros mais frequentes e, emmomentos de trabalho comparticipado pelaturma, fazer um trabalho específico inferindoconceitos e generalizando regras – trabalhandoa gramática.

Desta discussão percebemos que nas nossasturmas a reescrita dos textos foi a atividade emque as crianças revelaram mais dificuldades,uma vez que não conseguiam propor alteraçõesao texto original ou quando o reescreviam alte-ravam-no demasiado. Desta forma, considera-mos fundamental reescrever os textos em cole-tivo, para que as crianças se apropriem dos pro-

cedimentos da revisão e se sintam segurasquando sugerem alterações ao autor. É crucialrespeitar o autor pelo que os contributos decada criança têm de ser apresentados e discuti-dos com ele.

O professor deve ter ainda em conta a diver-sificação do tipo de texto que é trabalhado emcoletivo, para que a turma tome consciência dasdiferentes estruturas dos diversos textos. Tam-bém a construção das fichas de leitura com osautores do texto é fundamental para que ascrianças aprendam a criar questionários.

A avaliação que fizemos destas sessões evi-dencia uma melhoria das práticas como setorna claro neste excerto:

Ângela – 23h47: O trabalho de texto foi muitoimportante para mim pela partilha que fizeram so-bre como o faziam. Notei melhorias na minha turma.lembras-te de eu dizer que tinha muita dificuldade?O guião que tu usaste, passei a usá-lo. Os alunoscomeçaram a participar muito mais porque eram ca-pazes de fazer perguntas muito mais claras ao autor.Depois a reescrita do texto era feita com base noplano e eles eram capazes de encaixar no texto asrespostas do autor ou as sugestões dos colegas.Houve sem dúvida um salto qualitativo na revisãode texto.

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Figura 5

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Tempo de Estudo Autónomo e a sua avaliação

Outro dos temas de discussão deste grupocooperativo foi o trabalho no Tempo de EstudoAutónomo (TEA), regulado pelo Plano Indivi-dual de Trabalho (PIT), para planeamento e ava-liação.

À semelhança do que acontece com outrostemas, começámos por nos referirmos às ativi-dades que as crianças fazem durante o TEA.Partilhámos as nossas dificuldades e fizemostambém o levantamento dos instrumentos deregulação existentes em cada uma das nossassalas. Para aprofundar o estudo deste tema le-mos um artigo escrito por Joaquim Liberal, donúcleo do Porto. Fizemo-lo autonomamenteentre sessões e discutimo-lo durante três ses-sões consecutivas. Numa primeira sessão parti-lhámos os impactos da primeira leitura e assu-mimos algumas mudanças nas nossas práticas.

Sessão de 31 de janeiroÁlvaro – 22h11: Estive a ler o artigo do Joaquim,

duas vezes, e até pensei em fazer algumas alteraçõesao PIT que uso com a minha turma.

Sandra – 22h17: Álvaro, a semana passada es-tivemos a contar mais ou menos como fazíamos o PITe eu contei que bem tentei mas nunca consigo fazerporque aqui só tenho 14 horas letivas para Matemá-tica, Língua Portuguesa e Estudo do Meio. Então aCarmen teve uma ideia brilhante. Sugeriu que eutentasse fazer um PIT semelhante ao dos professoresdo ensino por disciplinas. É disso que ela anda agoraà procura!

Carmen – 22h18: E já encontrei. É um artigo daIsaura Custódio, aconselhado pela Marina Canuto.É mesmo sobre o que tu precisas.

Álvaro – 22h51: Sobre o texto do Joaquim: gosteida parte sobre o registo dos comentários na Apresen-tação de Produções, porque também acho que seperde material precioso. Muitas vezes eles fazemmuita análise, quase parece um autêntico trabalho detexto (e é).

Sandra – 22h54: Estou a reler a parte que o Ál-varo referiu e fala muito dos guiões.

Carmen – 22h56: Aquelas categorias que o Joa-quim utiliza são fabulosas: “Bloco A – Cumprimento

de trabalhos planeados, tarefas e regras. Bloco B –Aspetos formais do trabalho. Bloco C – Aprendiza-gem. Bloco D – Estratégias de apoio à aprendizagem.Bloco E – Gestão do trabalho. Bloco F – Atitudes.”Muitas vezes sinto que escrevo o mesmo no PIT dosmeninos e isso não os ajuda a avançar. Tambémacontece o mesmo com vocês?

Na sessão seguinte, dia 15 de fevereiro de2011, contámos uns aos outros as alteraçõesque introduzimos e continuámos a refletir so-bre o TEA a partir da leitura do artigo de Joa-quim Liberal:

Ângela – 22h34: Já introduzi no PIT um espaçopara escreverem quando vão apresentar, o que vãoapresentar e como podem melhorar a sua produção.Isto na apresentação de produções. O presidente es-creve no quadro as sugestões dos colegas ou as mi-nhas. E quem apresentou copia para o PIT. Eles ade-riram bem. Comecei eu por dar sugestões e agora jáhá quem também dê.

Carmen – 22h35: Os meus meninos escrevem de-pois de ouvirem os comentários, mas ainda sentemmuitas dificuldades em escrever.

Ângela – 22h45: Segui a sugestão do Joaquim emescrever tudo aquilo que os colegas sugeriram paramelhorar, as opiniões dos colegas. Penso que paracomeçar é mais simples.

Carmen – 22h47: No artigo do Joaquim o quemais me organizou o pensamento foi aquela catego-rização dos comentários dos alunos e do professor.Pelo que percebi o Joaquim analisou os comentáriosque eram escritos pelos alunos e pelo professor (elepróprio). Depois teve a necessidade de categorizar es-ses comentários (pg. 46 e 47). Ao ler aquela tabelapensei: como é que eu faço a avaliação dos meus alu-nos? Escrevo sempre o mesmo?!

Ângela – 23h04: Tenho de reler o texto do Joa-quim para melhorar a avaliação que faço e ajudar osmeus alunos a melhorar também. Ainda tenho umproblema em abstrair-me e concentrar-me só nos alu-nos que estou a apoiar. Sou interrompida muitas ve-zes e deixo que isso aconteça e pior, muitas vezes, soueu quem me levanto e vou “pôr o nariz”… este pés-simo hábito que tenho em me controlar.

Sandra – 23h06: Eu escreveria isso no Diário deTurma e discutia com os miúdos. A mim ajuda-meES

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imenso passar a bola para o lado deles. Pedir a suaajuda. Vão ser eles a dizer que não te podes levantardo lugar enquanto estás a apoiar!!!!

Ao longo destas sessões o glossário das nos-sas conversas foi essencial para arquivar, resu-mir um pouco as nossas sessões e para tomar-mos consciência, mais uma vez, que a discussãodo mesmo tema continua a ser pertinente.

Sessão de 24 de janeiro:Esta foi a primeira sessão sobre o TEA. À seme-

lhança do que fizemos com o Trabalho em ProjetosCooperativos quisemos ler um artigo da revista sobreo tema.

Porém, nesta sessão apresentámos as nossas an-gústias relativamente ao tempo e à organização destemomento na nossa agenda semanal.

Ficou ainda muito para discutir e analisar e, porisso, vamos continuar na próxima sessão.

Sessão de 31 de janeiro:Nesta sessão continuámos a conversar sobre o

TEA, desta vez com a leitura do artigo do Joaquim jáfeita. A leitura deste artigo fez com que sentíssemosnecessidade de alterar o nosso Plano Individual deTrabalho e de estarmos mais atentos aos comentáriosque fazemos nos PIT’s dos nossos meninos.

O Álvaro contou como dinamiza o TEA na suaturma de oito alunos e quais as dificuldades que en-contra.

Sessão de 15 de fevereiro:Nesta sessão de trabalho continuámos a falar so-

bre o TEA. Identificámos dificuldades, fizemos o ba-lanço e uma espécie de retrato das nossas turmas.

Chegámos a algumas conclusões:– escrevemos sempre o mesmo na avaliação dos

PIT’s, o que devemos alterar. O artigo do Joaquimajuda-nos a organizar-nos e faz-nos pensar sobre osentido da avaliação.

– o trabalho coletivo ainda não é avaliado em to-dos os PIT’s das nossas turmas, porque nem todas asturmas estão preparadas para o fazer, nem os pró-prios professores.

– o apoio e as parcerias de trabalho podem provo-car angústias porque queremos apoiar todos e quere-mos estar disponíveis para todos. E... apesar de de-fendermos a autonomia das nossas crianças deixa-

mos muitas vezes que interrompam o apoio e vamosver os trabalhos deles.

Quando fizemos um balanço sobre a discus-são deste tema verificámos o quanto impor-tante foi a leitura dos artigos O Plano Individualde Trabalho: contributos para a avaliação qualitativadas aprendizagens, de Joaquim Liberal e Plano In-dividual de Trabalho: para que te quero?, de IsauraCustódio.

Ao fim destas sessões percebemos melhorque o Plano Individual de Trabalho é um instru-mento de regulação de todo o trabalho reali-zado pela criança. Por isso, deve contemplar umespaço para a planificação e avaliação do traba-lho realizado em TEA, no trabalho coletivo e notrabalho em projetos cooperativos. Além disso,os trabalhos que as crianças mostram na Apre-sentação de Produções são também avaliadospelos colegas e pelos professores, por isso o PITtambém pode ter um espaço onde cada criançaescreve as sugestões que lhe foram dadas.

Como é óbvio, este foi um dos instrumentosde regulação que mais alterações sofreu, já quea leitura e reflexão sobre o artigo de Joaquim Li-beral nos provocou e ajudou a compreender asmudanças que é urgente fazer e que qualquerinstrumento tem de ser adaptado à realidade decada sala de aula.

Em todas as sessões uma preocupação cons-tante foi o acompanhamento individual dosalunos durante o TEA, uma vez que é o mo-mento privilegiado para trabalhar as suas difi-culdades. Quando estamos a trabalhar indivi-dualmente com um aluno ou com um pequenogrupo é importante que esse trabalho não sejainterrompido pela restante turma. Por isso, épreciso respeitar o que foi planeado e registadono PIT, quando combinámos os apoios indivi-dualizados e as parcerias de trabalho que se es-tabelecem na turma. Desta forma, estamos aajudar os alunos a tornarem-se cada vez maisautónomos e cooperantes uns com os outros.

A par desta grande preocupação está a ava-liação do Plano Individual de Trabalho, feita se-manalmente. Quando refletimos sobre este mo-mento de trabalho em Conselho, identificamosas atividades que valorizamos mais e a quanti-

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dade de atividades que os alunos fazem em mé-dia, o que escrevemos na avaliação do Plano In-dividual de Trabalho e como ajudamos as crian-ças a planificar o seu PIT para trabalharem nasatividades onde sentem mais dificuldade.

Considerações finais

Participar num grupo cooperativo online exi-giu-nos não só uma grande disponibilidade paranos colocarmos, todas as semanas, uma hora emeia em cada terça-feira, em frente ao compu-tador, para escrever sobre as nossas dúvidas,levantar questões, tentar resolver problemas,partilhar angústias, melhorar práticas, recriarinstrumentos, para aprender a dominar esta fer-ramenta (moodle), mas acima de tudo para de-senvolver esta capacidade de nos envolvermosemocionalmente, estabelecendo laços de ami-zade cada vez mais fortes.

Este grupo cooperativo online evidencia aimportância da escrita. Na nossa disciplina te-mos acesso ao registo de todas as nossas con-versas através do chat, dos e-mails, do fórum edos glossários, o que não acontece nos outrosgrupos cooperativos. É esta memória dos nos-sos diálogos que ajuda a resolver problemas deinformação provocados pelas inevitáveis ausên-cias em determinadas sessões de trabalho.

Sandra – 22h05: Estive a ver as coisas que esta-vam na disciplina. Estive a ler as vossas duas últimasconversas para ter uma ideia do que se tinha pas-sado. Depois lembrei-me de um documento que acheique poderia ser interessante e estou aqui à procuradele. (3 de outubro de 2011)

Esmeralda – 22h24: Olá! Estive a ler as vossasconversas das últimas sessões em que não estive. (13de março de 2012)

No entanto, a utilização da plataforma moo-dle nem sempre foi fácil, mas através da partilha

do que cada um sabe conseguimos aprender aresolver os problemas com que nos deparámos.

Com a leitura posterior das nossas intera-ções demo-nos conta que nem sempre temosum discurso linear. Com cinco ou quatro pes-soas no chat ao mesmo tempo cruzamos muitasvezes conversas, escrevemos sobre duas coisasao mesmo tempo, tal como acontece nos diálo-gos de um grupo cooperativo presencial ou aténuma mesa de café com os nossos amigos. O nú-mero de participantes no grupo cooperativoinfluencia os diálogos e, num grupo desta natu-reza, isso é ainda mais visível, por isso pensa-mos que cinco elementos será o número má-ximo de participantes aconselhável para os gru-pos que queiram sessões síncronas, como oÁlvaro afirmava numa das nossas sessões detrabalho: “Acho que isto está bem com cinco, commais seria ainda mais confuso.” (18 de outubro –23h13)

Além disso, um grupo de formação onlinepode implicar uma série de constrangimentoslogísticos: a distância geográfica, a dificuldadede marcação de um horário conveniente paratodos, ou nem todos nos conhecermos pessoal-mente. Apesar de tudo, estes aspetos não foramde modo algum um constrangimento, mas umamotivação para o grupo.

A partir da avaliação que fizemos do gruporealçamos ainda a importância das quatro ses-sões de trabalho presenciais feitas ao longo doano letivo. Com estas sessões continuámos otrabalho que fazíamos online, conhecemo-nosmelhor uns aos outros, conversámos e relem-brámos compromissos assumidos no grupo.

Acreditamos que um grupo cooperativo sefaz também pelos laços afetivos que nos unem,por isso este, ou qualquer outro grupo de auto-formação cooperada, precisou de um grandecompromisso social entre os participantes, ca-racterística desta comunidade, que é o Movi-mento da Escola Moderna.

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