desenvolvimento da linguagem na educaÇÃo … maria santana beckmann.pdf · o desenvolvimento...

60
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-DIRETORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL POR: SÔNIA MARIA SANTANA BECKMANN RIO DE JANEIRO 2002

Upload: phungkhuong

Post on 12-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESPRÓ-DIRETORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAISPROJETO “A VEZ DO MESTRE”

DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NAEDUCAÇÃO INFANTIL

POR: SÔNIA MARIA SANTANA BECKMANN

RIO DE JANEIRO2002

Page 2: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESPRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAISPROJETO “A VEZ DO MESTRE”

DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NAEDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho Monográfico apresentado àUniversidade Cândido Mendes comorequisito parcial para a obtenção dograu de especialista em Psicopedagogia- Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

Por: Sônia Maria Santana Beckmann

Orientadora: Profª. Ms. Yasmim Maria Rodrigues Madeira da Costa

Rio de Janeiro2002

Page 3: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

Aos meus filhos Leonardo, Renatoe Karina por me inspirarem nessetema. E todos que de alguma formame auxiliaram a construir meucaminho.

Page 4: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

A Deus que me deu sabedoria e disposição para terminaresse curso e ao meu marido pelo apoio e compreensão.

Page 5: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

"O vento é sempre o mesmo,mas, sua resposta é diferenteem cada folha. Somentea árvore fica imóvel entreborboletas e pássaros."

Cecília Meireles

Page 6: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

RESUMO

O trabalho apresenta as etapas do desenvolvimento da linguagem, no período da

pré a primeira infância, destacando a importância das mesmas para o progresso do

desenvolvimento normal do indivíduo. Este desenvolvimento é, pois, um processo

que se baseia numa seqüência de fatos biológicos, psicológicos e sociais,

estreitamente inter-relacionados.Tendo em vista o interesse sempre atual do estudo

da linguagem, por parte dos educadores, a necessidade de se acompanhar

constantemente este desenvolvimento, considerou-se oportuno apresentar

informações que venham facilitar a compreensão de comportamento observados

nestas etapas que se tornam de fundamental importância para a formação da

estrutura adulta. O presente trabalho fundamentou-se em diferentes teóricos: O

desenvolvimento global da criança da pré a primeira infância; Os momentos

fundamentais do desenvolvimento da linguagem; Fatores que interferem na

aprendizagem da linguagem; Algumas teorias sobre o Início da Aquisição da

linguagem.

Page 7: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 09

CAPÍTULO I

O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA

................................................................................................................................ 10

1.1-O DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL..................................................... 18

1.2-REVOLUÇÃO PIAGET.................................................................................... 20

1.2.1-PROCESSOS QUE CARACTERIZAM A EVOLUÇÃO NOS DOIS

PRIMEIROS ANOS................................................................................. 21

1.3-A PRIMEIRA INFÂNCIA DE DOIS A SETE ANOS ......................................... 23

1.3.1-A SOCIALIZAÇÃO DA AÇÃO............................................................... 24

1.3.1.1-SUBORDINAÇÃO................................................................... 25

1.3.1.2-MONÓLOGO COLETIVO....................................................... 25

1.3.1.3-SOLILÓQUIOS........................................................................ 26

1.4-EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO.................................................................... 26

1.4.1-PENSAMENTO EGOCÊNTRICO........................................................ 26

1.4.2-PENSAMENTO VERBAL .................................................................... 27

1.4.2.1-FINALISMO............................................................................. 27

1.4.2.2-ANIMISMO.............................................................................. 27

1.4.2.3-ARTIFICIALISMO.................................................................... 28

1.4.3-PENSAMENTO INTUITIVO.................................................................. 28

1.5-INTERIORIZAÇÃO DA AÇÃO - DESENVOLVIMENTO AFETIVO E MENTAL 29

CAPÍTULO II

MOMENTOS FUNDAMENTAIS DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

NA PRÉ A 1ª INFÂNCIA ........................................................................................ 30

2.1-AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM..................................................................... 33

Page 8: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

2.1.1-SIGNIFICADO DAS PALAVRAS.......................................................... 36

2.1.2-A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO E UM BRINQUEDO............ 36

2.2-PRIMÓRDIOS DA FALA.................................................................................. 37

2.2.1-CARACTERÍSTICAS DO INÍCIO DA FALA........................................... 38

CAPÍTULO III

COMO SE PROCESSA O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM DIRETAMENTE

LIGADO À FAIXA ETÁRIA...................................................................................... 40

CAPÍTULO IV

FATORES QUE INTERFEREM NA APRENDIZAGEM DA LINGUAGEM............. 44

4.1-RELAÇÃO ENTRE BALBUCIO E DESENVOLVIMENTO POSTERIOR......... 48

4.2-INFLUÊNCIAS CULTURAIS NA LINGUAGEM............................................... 51

CAPÍTULO V

ALGUMAS TEORIAS SOBRE O INÍCIO DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM........ 53

5.1-TEORIA DE SKINNER..................................................................................... 54

5.2-TEORIA DE CHOMSKY................................................................................... 55

5.3-TEORIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL, IMITAÇÃO E LINGUAGEM............ 56

CONCLUSÃO........................................................................................................ 57

BIBLIOGRAFIA...................................................................................................... 59

Page 9: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

INTRODUÇÃO

A finalidade do presente trabalho é a de proporcionar, as pessoas envolvidas

no processo de desenvolvimento da criança da pré a primeira infância, uma base

teórica-prática. As teorias e práticas são unânimes em uma questão: a criança,

recebendo estímulos durante esse período, tanto em nível formal como no convívio

familiar, estará tornando-se uma pessoa integrada e participante em seu meio.

As capacidades sensoriais permitem à criança experimentarem diferenças nas

qualidades da visão, som, gosto, cheiro e tato e o bebê humano vem ao mundo

dotado de um conjunto intacto de receptores sensoriais para as modalidades

básicas.

O bebê inicia sua vida com um conjunto pequeno de reflexos. Certos reflexos

como sugar, chorar são adaptativos e necessários à sobrevivência, e embora o meio

contribua significativamente para o desenvolvimento das respostas sociais e dos

talentos cognitivos, a criança não consegue um aproveitamento máximo dessas

experiências, até que certas forças biológicas tenham-na preparado para essas

mudanças.

A linguagem é uma característica inata no ser humano e está presente desde

muito cedo na criança. Sua aquisição inicia-se no momento em que ela começa a

usar sons diferentes.

Page 10: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

9

Em determinado momento a criança passa a demonstrar um maior controle de

suas ações e parece capaz de formular um plano para se comportar, formando

assim sua identidade em relação ao mundo, onde ela se comunica consigo mesma e

com os outros, dando significados às expressões do pensamento, considerando a

importância da aquisição da linguagem.

A educação na pré a primeira infância, ao promover experiências significativas

de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita,

constitui os espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e

de acesso ao mundo literário pelas crianças.

Em algumas práticas se considera o aprendizado da linguagem como um

processo natural, que ocorre em função da maturação biológica. Em outras práticas,

ao contrário acredita-se que a intervenção direta do adulto é necessária e

determinante para a aprendizagem da criança.

O trabalho está baseado, teoricamente, nas pesquisas desenvolvidas por

Piaget,J. , Brunner,J.S. e outros.

Para a realização do trabalho monográfico a metodologia utilizada foi de

pesquisa bibliográfica.

O capitulo I -O Desenvolvimento global da criança da pré a Primeira Infância.

O capítulo II- Momentos fundamentais do desenvolvimento da linguagem da

pré a primeira infância.

O capítulo III - Como se processa o desenvolvimento da linguagem diretamente

ligada à faixa etária.

O capítulo IV - Fatores que interferem na aprendizagem da linguagem.

O capítulo V - Algumas teorias sobre o início da aquisição da linguagem.

Page 11: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

10

CAPÍTULO I

O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ APRIMEIRA INFÂNCIA

Como todos os organismos, a criança, antes e depois do nascimento, está

equipada para sobreviver, crescer e funcionar e que realiza estas coisas em um

contexto ambiental de qual nunca pode ser inteiramente separada.

A nível biológico, o ambiente apropriado é definido pelas necessidades

metabólicas e homeostáticas e pelas vulnerabilidades físicas. À medida que o

indivíduo se torna mais crescido, idoso, cada vez mais seu comportamento e

desenvolvimento se tornam compreensíveis, apenas no nível psicológico, podendo

assim falar de uma pessoa que vive bem, é consciente de e se comporta em relação

ao mundo. Quando começa a funcionar como uma pessoa durante a infância,

apesar de sua necessidade biológica carece também de uma relação pessoal.

O desenvolvimento do comportamento depende nitidamente do crescimento

físico. Na infância a maioria dos novos comportamentos é produto da maturação dos

padrões biológicos regulares e previsíveis da anatomia e do funcionamento

fisiológico. A cada estágio de maturação a criança realiza uma série de ações

possíveis independentes de treinamento e ainda que possam requerer sinais do

ambiente (tais como a fase de adulto que sorri pode ocasionar o sorriso na criança).

Page 12: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

11

Segundo L. Joseph Stone e Joseph Church, o crescimento tem dois aspectos

visíveis: primeiro a mudança no tamanho, forma, proporções e complexidade do

corpo, segundo, as emergentes formas de comportamento.

Ao descrever novos comportamentos, apresentaremos o desenvolvimento

mês a mês, baseado na época média em que determinadas respostas aparecem,

nos detendo também no que envolve vocalizações.

No primeiro mês a criança permanece mais tempo dormindo. Levanta

ligeiramente a cabeça para olhar as coisas ou pegar o seio. O choro é real, mas

seco, sem lágrimas.

Em seu segundo mês, o bebê permanece mais tempo acordado e começa a

perceber o mundo por meio dos sentidos. O bebê parará de chorar quando a mãe

dele se aproxima ou quando outras pessoas o acariciam. A certa altura do mês, ele

responderá com um sorriso a um rosto humano que se move. Quando ele chora,

aparecem lágrimas pela primeira vez.

Durante o terceiro mês, não perde de vista os objetos para os quais está a

olhar e pode segui-los movendo a cabeça. Entretanto, se um objeto se move para

fora de seu campo visual, age como se repentinamente o objeto tivesse deixado de

existir e não mostra qualquer consciência do que pode reencontrá-lo virando a

cabeça ou olhando a sua volta. O bebê torna-se gradativamente mais sociável, a

ponto de gostar de uma moderada algazarra doméstica. Suas vocalizações tornam-

se balbucios e arrulhos, que ele emite tanto em resposta a pessoas como

espontaneamente. Esta é a ocasião em que freqüentemente dizem que a criança se

está tornando humana.

No quarto mês o bebê pode experimentar um divertido susto quando um dos

seus pais diz "buu", sorri e lhe faz cócegas. Reconhece sua mãe entre outras

Page 13: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

12

No quarto mês o bebê pode experimentar um divertido susto quando um dos

seus pais diz "buu", sorri e lhe faz cócegas. Reconhece sua mãe entre outras

pessoas em geral.

Durante seus quatro primeiros meses, o bebê apreende o mundo, em

proporções cada vez maiores, à medida que seus ritmos fisiológicos se estabilizam.

No princípio do quinto mês já dorme à noite inteira ou acorda para se

alimentar apenas uma vez, e tira algumas sonecas bem definidas durante o dia.

Pode ser capaz de acordar e se entreter sozinho por algum tempo antes de reclamar

alimento e atenção. Durante o dia pode brincar prazenteiramente sozinho. Se achar

confortável pode ficar sentado ou recostado silenciosamente parecendo gostar da

conversação de seus pais ou da música do rádio. Ele agora emite sons expressivos

de bem estar ou prazer seja por estar satisfeito seja simplesmente porque quer

emiti-los.

No sexto mês, sua consciência crescente é vista no temor e na insegurança

que manifesta na presença de estranhos esta estranheza atinge seu auge entre as

idades de seis a oito meses - e na crescente sensibilidade com relação ao humor de

seus pais.

Suas vocalizações estão tornando-se mais maduras e diferenciadas: os

arrulhos cedem lugar a gorgolejos e os gorgolejos a balbucios, onde a criança

ensaia todos os sons da fala humana. Mais tarde naturalmente, estes sons serão

padronizados seletivamente de acordo com a estrutura da língua materna da

criança.

No sétimo mês gostará de brincar em seu cercado, desde que não seja

deixado ali por muito tempo. Tornar-se-á consciente de sua imagem no espelho e

interessado nela.

Page 14: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

13

No nono mês gostará de divertir-se com as brincadeiras de dar e tomar,

entregando e recebendo sucessivamente um objeto de um adulto. Gosta de

atividades repetidas. Ao mesmo tempo, o bebê começará a mostrar ativo

ressentimento quando alguma coisa que deseja lhe for tomada.

Aos dez meses, em geral é extremamente sociável com os adultos e participa

de jogos avançados. Ele pode até conhecer algumas palavras apesar de seu

vocabulário não ir muito além de "mamã" e "papa”. Estas primeiras palavras tem

provavelmente pouco significado, além do fato de os adultos reagirem

entusiasticamente a elas. Além de poder usar palavras, o bebê parece entender

muitas outras, respondendo a simples ordens tais como "dá-me..."

Aos onze meses pode ficar de pé com ajuda, e pode até dar alguns passos

sustentados por um dos pais. Já compreende um bom número de palavras, embora

ainda não possa ser capaz de usar nenhuma, e pode acenar.

Durante os meses finais da primeira fase da infância aproximadamente o

primeiro quarto do segundo ano pouco aparece em termos de novas e distintas

habilidades, porém tendo muito a se consolidar, sobretudo na obtenção de uma

estabilidade bípede e uma locomoção segura e no aperfeiçoamento e combinação

de habilidade manipulatórias. Agora não apenas gosta de receber carinho, mas é

capaz de retribuí-lo com abraços e beijos. Tenta cantar e gosta de ouvir canções

simples, rimas e sons metálicos. Sabe seu próprio nome. Conforme suas

capacidades lingüísticas se desenvolvem e se torna conscientes das outras crianças

da sua idade, ele se prepara para seu próximo grande passo na socialização.

A idade de quinze ou dezesseis meses até cerca de dois anos e meio, é o

período em que a criança é um infante, ou seja, é uma criança que está aprendendo

a andar.

Page 15: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

14

No princípio deste período, apenas de a criança poder estar andando há

alguns meses, ela provavelmente o tem feito de forma incerta.

Na aparência, o infante ainda é um bebê, apesar de ser agora um bebê que

caminha, e é assombroso constatar que durante este período ele atingirá metade de

sua estatura adulta. Ainda é um bebê também, ao ser, geralmente, muito mais

motora do que verbal em suas transações.

O tema central do desenvolvimento da criança nestes períodos como afirmou

Erikson, é autonomia: tornar-se consciente de si mesma como uma pessoa entre

outras, e desejar fazer coisas por si mesma. A criança demonstra sua autonomia

emergente e seu impulso para incrementá-la em todos os campos: no domínio de

seu próprio corpo (andando, subindo, pulando); no domínio de objetos (ela deseja

carregar coisas grandes e um lugar para outro e torna a colocá-las de volta no

lugar); nas relações sociais (aprende a língua, começa a recusar-se aos comandos

dos pais e aos pedidos e oferecimentos de ajuda).

A arrancada da criança para a autonomia não de forma alguma absoluta. É

contínua. Durante este período a criança vai vacilando entre dependência e a

independência, um padrão que persistirá, sob aparências variadas, até dentro da

adolescência.

Nesta idade já atingiu o controle de uma postura erguida e habilmente anda,

trota ou corre de um lado para outro ao invés de engatinhar ou andar de quatro pés

apesar de brejeiramente recorrer a estes recursos à vontade. Demonstra uma

idêntica dependência de um membro sobre o outro do mesmo par. Não apenas no

uso de suas mãos, mas em muitas situações durante o dia ele demonstra que tem

dois anos de idade como: abrir desmensuradamente a boca para meter a colher.

Page 16: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

15

É também nesta idade que vemos os começos dos jogos dramáticos, a

imitação ou representação dos temas diários como se a criança pudesse melhor

participar de tais atividades e compreendê-las, representando-as nos brinquedos.

Gosta de ouvir e dançar ao som da música, sobretudo música vocal, a que

contribuirá com palavras ocasionais de canções familiares.

O comportamento motor atinge o clímax na idade de dois anos. Sua

linguagem não é elaborada e freqüentemente é inadequada aos seus sérios

esforços de comunicação. É imatura na consciência social e suas técnicas são

primitivas ao estremo.

A demonstração mais notável da autonomia da criança está em seu

negativismo intermitente expresso variadamente pelo "não". Normalmente a criança

faz o que lhe dizem, automaticamente e casualmente, mas o comportamento

negativista aparece repetidamente no meio de seu gentil conformismo.

O negativismo é uma parte norma; e saudável do desenvolvimento e mesmo

que seja transformado em um problema entre pais e filho, em breve a assimilado aos

aspectos mais positivos da autonomia. Sua experiência tornou-se diferenciada a

ponto de possuir algum senso de ser uma pessoa das outras e do ambiente físico.

Em algum momento as idades de dois e três anos, a crianças ingressam no

período pré-escolar e estes anos pré-escolares não se prestem a um simples

resumo com uma fase-chave, como aquelas empregadas pelas crianças na fase da

infância ("confiança") e ("autonomia"), sobretudo porque é um grande

desenvolvimento está se dando em muitas direções.

Erikson aponta, que os anos pré-escolares são uma idade de flutuações

rápidas, quando a criança pode ser dependente ou ansiosa por independência, em

determinado momento surpreendentemente madura, e logo depois infantil, algumas

Page 17: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

16

vezes masculina outra feminina, algumas vezes simpaticamente afetuosa e

construtiva e logo depois bruscamente destrutiva e anti-social.

A criança de cinco anos de idade aparece refinada, competente e

autoconfiante. Socialmente, de dois a seis anos, a criança evolui do jogo paralelo

para projetos de brinquedos integrados, cooperativos. Os jogos dramáticos dos

primeiros anos pré-escolares são episódicos e desconexos, no final deste período, a

criança estará dramatizando temas elaborados e coerentes. O vocabulário do pré-

escolar cresce de quinhentos para duas mil palavras, sua voz estridente e muitas

vezes indistinta torna-se ressoante e precisa, e sua linguagem atinge novos níveis

de fluência, expressividade, em muitas crianças, criatividade.

Ela está desenvolvendo uma nova e aguda consciência de seu corpo. Está

aprendendo a ser um menino ou uma menina, de tal forma que no final da idade pré-

escolar podemos ver os primeiros sinais da divisão em comunidade de mesmo sexo.

À medida que suas habilidades motoras e sua esfera de ação se expandem,

está adquirindo, no seu próprio nível, as habilidades do filósofo contemplativo, está,

agora trazendo a linguagem para inclui-la na sua percepção e codificação do mundo.

Está mesmo se preparando para expandir-se no mundo da experiência vicária

fornecida pela literatura escrita, para o final dos anos pré-escolares, ela não apenas

ouve histórias, mas faz como se lesse "recitando" no seu decorrer.

Há três aspectos das relações sociais que começa a aparecer durante os

anos pré-escolares que, embora aparentemente contraditórios, aparecem mais

fortemente nos mesmos indivíduos: simpatia, agressão e liderança. Os primeiros

sinais de simpatia aparecem quando a criança pára de brincar para olhar para outra

criança que está perturbada. Mas no final dos anos pré-escolares, podemos

observar um comportamento mais similar à simpatia madura.

Page 18: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

17

A verdadeira simpatia implica compreensão de como as outras pessoas se

sentem incluindo tanto sentimentos positivos como negativos e é talvez por isso que

simpatia e liderança andam juntas. Em geral, nesta idade, a organização do grupo

muda de momento a momento, tornando difícil ema liderança continuada, levando

em conta este impedimento, um grande número de crianças em idade pré-escolar

apresenta traços de liderança em diversas formas.

A relação entre simpatia e liderança entre liderança e agressividade são muito

claras. A relação entre simpatia e agressividade é mais sutil. Parece provável que

ocorram juntas em indivíduos que possuam sentimentos fortes que são altamente

sensíveis aos sentimentos dos outros e que não suficientemente seguros tanto para

ficarem em oposição como para concordarem com os sentimentos dos outros, como

as circunstâncias exigirem. A correlação entre simpatia e agressão, naturalmente,

não é, de forma alguma perfeita. Algumas crianças que sentem ou demonstram

pouca hostilidade são capazes de considerável grau de simpatia mais

especificamente, talvez, em situações em que elas mesmas se sentem ameaçadas.

A agressões de outras crianças podem ser totalmente carentes do componente de

simpatia ou podem mesmo ser a expressão de profundas desordens psicológicas.

É durante este período, especialmente nas idades de quatro a cinco anos que

os companheiros imaginários são pequenos sentidos como vividez e solidez de

objetos reais, e as famílias das crianças podem ser obrigadas a fazer extravagantes

ajustamentos ao visitante invisível. Os companheiros ou domínio imaginários

algumas vezes nascem de uma necessidade especial na vida de criança: um amigo,

um vítima, uma consciência extra, um modelo, ou um lugar para alhear-se de tudo.

A autoconsciência da criança em desenvolvimento é quase um caso especial

do desenvolvimento de sua consciência das coisas em seu redor, e particularmente

Page 19: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

18

de outras pessoas. Sua consciência tanto de si mesma como de seu ambiente,

aumenta à medida que a criança se torna psicologicamente mais diferenciada de

tudo que a cerca, à medida de que chega a distinguir entre os acontecimentos

internos e os externos, e à medida que aprende a suspender a ação em favor da

contemplação, do pensamento e do sentimento. Num sentido natural, a consciência

da criança sobre outras pessoas procede à consciência de si mesma.

A vulnerabilidade que vem com a autoconsciência é freqüentemente expressa

por um afloramento de novos temores aos quatro e cinco anos. Aos quatro anos,

estes temores parecem ter menos a ver com algum dano específico à integridade na

criança do que com um efeito ameaçador em seu mundo emocional. Ela está

aprendendo sobre os perigos reais e imaginários que existem.

Pelos cinco anos, freqüentemente tem um senso muito especifico de dano

que ela pode sofrer. Pode-se tornar temerosa de morrer simplesmente porque as

pessoas morrem e que alguma coisa poderia acontecer-lhe. Nos jogos, a morte é

reversível.

1.1-DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL

Logo no princípio da idade pré-escolar, a consciência da criança desempenha

um papel de pouca importância em sua identidade. A criança pode prontamente

dizer se é menino ou menina, mas a designação provavelmente não terá qualquer

sentido mais profundo ou qualquer apoio estável.

Page 20: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

19

A maioria das crianças sente-se livre para desempenhar tanto papeis

masculinos como femininos de acordo com a ocasião, sem referencia à sua

constituição biológica e sem o embaraço que sentiria uma criança em idade escolar.

Aos quatro anos, mesmo as crianças que conhecem as diferenças genitais entre

meninos e meninas encaram-nas como secundárias; com relação ao estilo de

penteado ou de vestir, para a determinação do sexo e das diferenças de sexo. A

curiosidade de uma criança de três ou quatro anos por assuntos de sexo e suas

aventuras nas brincadeiras sexuais, provavelmente serão passageiras. Pelos cinco

anos, as crianças tomam as diferenças sexuais mais a sério e começam a ter

consciência de diferenças de personalidade relacionada ao sexo. Nos grupos de

cinco anos, pode-se ver os meninos perseguindo interesses masculinos em

companhia predominante masculina, e as meninas agrupando-se em atividades

femininas. Aqui temos o prenúncio da pronunciada separação dos sexos que ocorre

durante os anos escolares. A consciência de sexualidade e dos papéis sexuais dá-

se mais cedo, como diz Ralban, nas crianças de classes inferiores (e para a maioria

dos povos primitivos) do que para as crianças de classe média. Não apenas a

criança da classe inferior tende a levar uma vida menos protegida, senão que os

papéis masculinos e femininos são definidos mais claramente para ela do que na

nossa sociedade da classe média em que muitas atividades para homens e

mulheres são sobrepostas - L. Joseph Stone e Joseph Church (1972).

1.2-REVOLUÇÃO PIAGET

Segundo Piaget (1976) o período que vai do nascimento até a aquisição da

linguagem é marcado por extraordinário desenvolvimento mental. É decisivo para

Page 21: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

20

todo o curso da evolução psíquica; representa a conquista através da percepção e

dos movimentos de todo o universo prático que cerca a criança. Esta assimilação

senso-motora do mundo exterior imediato realiza em dezoito meses ou dois anos

toda uma revolução Copérnico em miniatura.

As etapas desta revolução Copérnico, sob duplo aspecto: o da inteligência e o

da vida afetiva em formação. No primeiro destes pode-se distinguir três estágios

entre o nascimento e o fim deste período: o dos reflexos, o da organização das

percepções e hábitos e o da inteligência senso-motora propriamente dita.

1º Estágio:

No recém nascido, a vida mental se reduza às coordenações sensoriais e

motoras de fundo hereditário, que correspondem a tendências instintivas, como a

nutrição. Estes reflexos enquanto está ligado às condutas que desempenharão um

papel no desenvolvimento psíquico ulterior manifestam uma atividade verdadeira

que atesta, precisamente, a existência de uma assimilação senso-motora precoce.

2º Estágio:

Com diversos exercícios, os reflexos que são a prenuncia da assimilação

mental, tornam-se mais complexos por integração nos hábitos e percepções

organizadas constituindo o ponto de partida de novas condutas, adquiridas com

ajuda da experiência.

3º Estágio:

É o estágio de inteligência prática ou senso-motora.

A inteligência aparece, com efeito, bem antes da linguagem, isto é, bem antes

do pensamento inferior que supõe o emprego de signos verbais. Esta é uma

inteligência totalmente prática que se refere à manipulação dos objetos e que só

Page 22: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

21

utiliza, em lugar de palavras e conceitos, percepções e movimentos, organizados em

"esquema de ação".

A finalidade deste desenvolvimento intelectual é transformar a representação

das coisas, a ponto de inverter complemente a posição inicial do sujeito em relação

a elas. No ponto de partida da evolução mental, não existe, certamente, nenhuma

diferenciação entre o eu e o mundo exterior as impressões vividas e percebidas não

são relacionadas nem à consciência pessoal sentida como um "eu" como que

expostos sobre o mesmo plano, não é nem interno nem externo, mas meio caminho

entre esses dois pólos. O eu no início, está no centro da realidade, porque é

inconsciente de si mesmo e à medida que se constrói como uma realidade interna

ou subjetiva o mundo exterior vai-se objetivando.

1.2.1-PROCESSOS QUE CARACTERIZAM A REVOLUÇÃO NOS DOIS

PRIMEIROS ANOS

Quatro processos fundamentais caracterizam a revolução intelectual nos dois

primeiros anos de vida: as construções de categorias do objeto e do espaço, e

construção da casualidade e do tempo.

Construções de categorias do objeto - O esquema prático do objeto é a

permanência substancial atribuída aos quadros sensoriais. É, portanto, a criança

segundo a qual uma figura percebida corresponde a "qualquer coisa" que existe,

mesmo quando não a percebemos. É fácil mostrar que durante os primeiros meses o

lactante não percebe os objetos propriamente ditos. A ausência inicial de objetos

Page 23: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

22

sólidos e permanentes é o primeiro exemplo da passagem do egocentrismo integral

primitivo para elaboração final de um universo exterior.

Construções de categorias do espaço - A evolução do espaço prático é

inteiramente solidária com a construção dos objetos. No começo há tantos espaços

não coordenados entre si, quanto domínio sensorial e cada um deles está

centralizado sobre movimentos e atividades próprias. O espaço visual, em especial

não tem no começo as mesmas profundidades que construirá em seguida. No fim do

segundo ano, no contrário está concluído em espaço geral que compreendem todos

os outros, caracterizando as relações entre si e o contendo na sua totalidade

inclusive o próprio corpo. A elaboração do espaço é decidida essencialmente à

coordenação de movimentos, sentando-se aqui a estrita relação que une este

desenvolvimento ao da inteligência senso-motora.

Construções de categoria da causalidade - A causalidade é primeiramente

ligada à atividade em seu egocentrismo: é a ligação que fica muito tempo fortuito

para o sujeito, entre um resultado empírico e uma ação qualquer que o atraiu.

Construções de categorias temporais - A objetivação das séries temporais é

paralela à causalidade. Em suma em todos os domínios encontra-se esta espécie de

revolução Copérnico. Esta permite à inteligência senso-motora sair do seu

egocentrismo inconsciente radical para se situar em um "universo", não importando

quão prático e pouco "reflexivo" este seja.

A evolução da afetividade durante os dois primeiros anos dá lugar a um

quadro que, no conjunto, corresponde exatamente àquele estabelecido através das

funções motoras a cognitivas. Existe, com efeito, um paralelo constante entre a vida

afetiva e intelectual que seguirá por todo o processo de desenvolvimento da infância.

Page 24: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

23

1.3-A PRIMEIRA INFÂNCIA DE DOIS A SETE ANOS

Com o aparecimento da linguagem, as condutas são profundamente

modificadas no aspecto afetivo e intelectual. Graças à linguagem a criança é capaz

de reconstituir suas ações futuras pela representação verbal o que em três

conseqüências essenciais para o desenvolvimento mental são: o início da

socialização, a aparição do pensamento e a exteriorização da ação. Do ponto de

vista afetivo, segue-se uma série de transformações paralelas, desenvolvimento de

sentimentos interindividuais e de uma afetividade interior organizando-se de maneira

mais estável do que no curso da pré-infância.

Neste período com a aparição da linguagem, a criança se acha às voltas, não

apenas com o universo físico como antes, mas com dois mundos novos e

intimamente solidários: o mundo social e o das representações interiores.

A criança reagirá primeiramente às relações sociais e ao pensamento em

formação com um egocentrismo inconsciente que prolonga a do bebê. Ela só se

adaptará, progressivamente, obedecendo às leis do equilíbrio análogas às do bebê,

mas transportas em função destas novas realidades. Sendo assim observamos,

durante todo a primeira infância, uma repetição parcial, da evolução já realizada pelo

lactente no plano elementar das adaptações práticas. Estas espécies de repetição

com defasagem de um plano inferior aos planos superiores são extremamente

reveladoras dos mecanismos íntimos da evolução mental.

Page 25: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

24

1.3.1-SOCIALIZAÇÃO DA AÇÃO

A troca e a comunicação entre s indivíduos são a conseqüência mais evidente

do aparecimento da linguagem. Estas relações existem em germe desde a segunda

metade do primeiro ano, graças à imitação, cujos progressos estão ligados ao

desenvolvimento senso-motora.

Quando os sons imitados são associados a ações determinadas, a imitação

prolonga-se com a aquisição da linguagem. Enquanto a linguagem se estabelece

sob forma definida, as relações interindividuais se limitam à imitação de gestos

corporais e exteriores, é a uma relação afetiva global sem comunicações

diferenciadas. Com a palavra, ao contrário, é a vida interior como tal, que é posta em

comum e, deve-se acrescentar, que se constrói conscientemente, na media em que

pode ser comunicada.

Nessa convivência social, marcado pela linguagem, três aspectos se

sobressaem, segundo Piaget:

1.3.1.1-SUBORDINAÇÃO

Da criança em relação ao adulto; para a criança, os adultos aparecem como

seres grandes e fortes, capazes de muitas atividades misteriosas para ela.

A submissão, mesmo quando não aparece explicitamente, existe na forma

inconsciente e pode ser verificado tanto no plano intelectual, do conhecimento,

quanto no aspecto afetivo. Quase todas as crianças tendem a reagir contra essa

Page 26: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

25

subordinação: por volta dos três anos o "não" tornar-se uma resposta freqüente. Mas

acaba cedendo à sua impotência diante do adulto.

1.3.1.2-MONÓLOGO COLETIVO

Até mais ou menos os sete anos, as crianças não sabem comunicar-se bem

entre si, discutir sobre o mesmo assunto, conversar, trocar idéias. As conversas são

paralelas, cada criança faz afirmações sobre assuntos diferentes sem tomar

conhecimento do que a outra esta falando. Elas não conseguem sair do seu próprio

mundo ou ponto de vista para colocar-se no ponto de vista do outro.

1.3.1.3-SOLILÓQUIOS

Esta terceira categoria de fatos: a criança não fala somente às outras fala-se

a si própria, sem cessar, em monólogos variados que acompanham seus jogos e

sua atividade. Comparados ao que será mais tarde, a linguagem interior do adulto

ou do adolescente, estes solilóquios são diferente, pelo fato de que são

pronunciados em voz alta e pela característica de auxiliares da ação imediata,

Page 27: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

26

constituem mais de um terço da linguagem espontânea entre criança de três e

quatro anos diminuindo por volta dos sete anos.

1.4-EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO

Dos dois aos sete anos, Piaget constata a existência de três etapas

sucessiva:

1.4.1-PENSAMENTO EGOCÊNTRICO

Puramente incorporativo, transforma as outras pessoas, em função das

necessidades momentâneas da criança. O pensamento que acompanha o jogo

simbólico é o exemplo mais típico deste pensamento.

1.4.2-PENSAMENTO VERBAL

O pensamento mais característico desta fase. Observando pensamento das

crianças da 1ª infância percebe-se a maneira como pensam e concebem o mundo.

Neste período, três características são principais do pensamento infantil:

Page 28: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

27

1.4.2.1-FINALISMO

A partir dos três anos a criança entra na idade do "por quês". Querendo saber o

porque de tudo e o adulto, muitas vezes tem dificuldades em responder

satisfatoriamente. Para as crianças, tudo deve ter uma finalidade, não existe acesso

na natureza.

1.4.2.2-ANIMISMO

Tendência em atribuir qualidades humanas aos seres inanimados. São

observados três estágios no animismo:

1º- A criança considera como vivo todo objeto que tenha atividade e seja útil.

2º- Só serão considerados vivos os corpos que se parecem mover por si

mesmos.

3º- Depois dos sete anos a criança já percebe os movimentos aparentes dos

objetos como a lua.

1.4.2.3-ARTIFICIALISMO

A criança acredita que todas as coisas foram feitas artificialmente, pelo

homem ou por qualquer outro fabricante.

Page 29: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

28

1.4.3-PENSAMENTO INTUITIVO

A intuição é um pensamento que se baseia na realidade da forma como esta

é percebida, vista ou ouvida. Trata-se de um pensamento pré-lógico irreversível. A

intuição consiste em afirmar pura e simplesmente o que os sentidos percebem, sem

procurar saber se uma mudança da situação alteraria a percepção ou sem pensar

em alternativas para interpretação da percepção.

O pensamento intuitivo é mais adaptado que o pensamento verbal, porque se

baseia na realidade observada, percebida.

1.5-INTERIORIZAÇÃO DA AÇÃO - DESENVOLVIMENTO AFETIVO E MENTAL

Vários aspectos do ser humano se desenvolvem paralelamente.

Sentimentos de simpatia e antipatia vão sendo desenvolvidos em relação às

pessoas que o cercam. A partir do respeito universal que a criança desenvolve em

relação ao adulto, desenvolve-se a primeira moral da criança. Essa moral depende

de uma vontade exterior à criança, chama-se moral heterônima.

Page 30: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

29

A moral baseada em valores dos adultos só poderá ser superada na medida

em que o respeito unilateral da criança para com o adulto for substituído pelo

respeito mútuo. Isto tende ocorrer na terceira infância depois dos sete anos quando

ocorre a formação de grupos infantis, baseados no respeito entre companheiros.

Surgirá então a chamada moral autônoma, a moral que resulta de regras

estabelecidas pelo grupo, de comum acordo.

O erro dos adultos é julgar as crianças a partir de seus próprios critérios de

adultos. Na verdade até os seis anos e às vezes até mais tarde a criança não tem

noção de grupo, de respeito mútuo, de responsabilidade. Portanto suas falhas em

relação a moral adulta, em relação às regras estabelecidas pelos adultos, não são

intencionais. A criança não tem consciência do valor dessas regras: seu único valor

é que são estabelecidas pelos adultos e, como estes são mais fortes são superiores,

devem ser obedecidos.

Page 31: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

30

CAPÍTULO IIMOMENTOS FUNDAMENTAIS DO DESENVOLVIMENTO

DA LINGUAGEM NA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA

"A linguagem é um aspecto do desenvolvimento global diretamente ligado ao

desenvolvimento da inteligência da afetividade, da motricidade e da socialização de

indivíduo, que depende não só do ciclo da maturação como também dos círculos

funcionais perceptivos expressivos, sendo regido por dois princípios básicos: O da

economia e o da facilidade na compreensão mútua". (Maria Helena Novaes - 1976 p.

212).

Segundo Joseph Stone e Joseph Church (l972) um grande marco atingido

pela criança quando aprende a linguagem é no final da pré-infância e início da

primeira infância que a fala atinge seu primeiro florescimento.

Quando a criança adquire nomes para as coisas, ações e relações, ela passa

a possuir seu mundo em forma: está sempre com ele, estendendo-se para além da

interação imediata na qual costumava encerrar, ela pode falar e pensar a seu

respeito, e manipular o mundo mesmo quando este não está fisicamente presente.

A primeira coisa que se deve notar é que a linguagem não e algo inteiramente

novo para a criança no final da pré-infância, mas que emerge do comportamento

que remonta ao começo de sua existência. Por todo este tempo,

Page 32: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

31

podemos notar dois aspectos principais na aprendizagem da linguagem: aprender a

compreendê-la e aprender a falá-la. A compreensão ou linguagem passiva aparece

pela primeira vez quando a criança a selecionar a linguagem de entre todos outros

sons, visões, odores, pressões, etc., que a movam à ação. A linguagem é primeira

aprendida em situação práticas e a criança tem de diferenciá-la das expressões

faciais, tom de voz, gestos e objetos que a acompanham. Provavelmente as

primeiras palavras que distingue são aquelas que sempre acompanham uma ação

óbvia e com o tempo evocam a ação quando são usadas sozinhas.

A fala, ou linguagem ativa vem logo depois da compreensão. As palavras se

tornam diferenciadas a partir das vocalizações da infância em um número de

estágios mais ou menos definidos. Uma vez que a criança começou a falar, a

linguagem irrompe amplamente, nem sempre é fácil separar em estágios. Os

primeiros choros de desconforto e mais tarde de prazer, apesar de eles poderem

dizer aos pais o que a criança está sentindo, representam um transbordamento de

emoção e não devem ser considerados com expressões deliberadas. Dentro de

poucos meses, entretanto, o bebê parece compreender que pode emitir sons à

vontade e toma gosto com o uso de sua voz. Aqui encontramos o que tem sido

chamado o reflexo circular: ao produzir sons, a criança se estimula a si mesmo a

emitir mais sons, é digno de nota que a crianças surdas começam a balbuciar

também, mas logo param. Mas tarde o reflexo circular se torna também social: os

pais, freqüentemente acreditando que a criança pronunciou uma palavra, repetem

"mamã" ou "papa" de volta a ela, fornecem-lhe o sinal de estimulação até que se

desenvolve uma troca de balbucios que se assemelha a uma conversação em

alguma língua exótica. Ao longo disto, a criança aprende que as pessoas reagem à

Page 33: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

32

sua voz, e começa a usá-la intencionalmente para chamar a atenção de seus pais

ou iniciar uma troca de tagarelice. Começa então a verdadeira comunicação.

A aquisição própria da linguagem ativa começa mais ou menos no fim do

primeiro ano, quando a criança começa a aprender nomes simples para as coisas e

ações e a compilar um catálogo do seu ambiente. Dentro de poucos meses começa

a usar estes nomes com finalidade de comunicação sobre tudo em forma de ordens

e de pedidos. Um pouco mais tarde a criança começa a se comunicar sobre fatos

concretos, como em narração ou descrição. Seus primeiros esforços ou longo destas

linhas possivelmente consistirão no "jargão expressivo" segundo Gesell, uma

torrente de tagarelice, freqüentemente pontilhada da palavra verdadeiras, que imita

os sons da fala com alguma dificuldade e freqüentemente parece estar à beira de se

tornar compreensível como o jargão dos comediantes. Em breve, porém a fala da

criança se estabiliza no uso de palavras reais (mas palavras que implicam em frases

completas e não de palavras isoladas com um único significado), depois em frase,

depois sentenças e os fundamentos da linguagem são firmemente estabelecidos.

Como seria de esperar, diferentes crianças apresentam estes padrões em

idades diferentes e com diferentes ritmos de desenvolvimento. Algumas crianças

passam rapidamente por todos os estágios acima descritos num breve período de

aprendizagem e a seguir florescem com uma linguagem altamente avançada. Em

outras, o desenvolvimento lingüístico parece passar diretamente do balbucio à fala,

de forma que a criança salta os estágios intermediários. Algumas crianças são

notavelmente silenciosas e repentinamente começam a produzir linguagem

inteiramente florescente. Algumas crianças parecem estar arrebentando com a fala e

dificilmente podem esperar que as palavras venham, noutras parecem indiferentes à

linguagem; ainda outras parecem aguardar o momento: ouvindo, observando,

Page 34: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

33

ponderando as coisas até que fiquem prontas a falar seriamente. Aproximadamente,

no momento em que o jargão expressivo aparece, bom número de crianças passam

por um período de imitação em que, reproduzindo o que os adultos dizem, elas

parecem mais capazes de compreendê-los. Outras crianças atravessam um período

de escolha, em que novamente estão repetindo o que os adultos dizem, mas neste

caso numa repetição cega e mecânica que pode continuar por longo tempo.

2.1-AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Os jovens com freqüência desenvolvem um grande interesse em nome, uma

vez aprenderam a dar nome a alguns poucos objetos familiares. É quase como se os

nomes fossem mais reais do que os objetos mesmos, como se estes tomassem uma

nova existência quando enquadrados no íntimo esquema de linguagem

peculiarmente humana.

Assim como os nomes dão forma e identidade ao mundo eles também dizem

à criança o que acontece dentro dela mesmo e lhe possibilitam dize-los aos outros.

É na medida em que ela adquire palavras para seus desejos, pulsões, prazeres,

incômodos e dores, que sua experiência se torna clara para ela e adquire

propriedade comum com as das outras pessoas. É importante observar a este

respeito, o quanto à criança se comunica consigo mesma, em primeiro lugar dando

nome às coisas que encontra e eventualmente dizendo para si mesmo o que ela

está fazendo, dando ordem a si mesma, criticando-se repetindo as proibições e

encorajamentos dos pais.

Page 35: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

34

Assim que o infante começa a olhar para seus pais para aprovação dá nome

a alguma coisa, sua linguagem está sendo assimilada ao processo de informação

comunicante. Estrutura da linguagem nas comunicações de fato, o infante parece

mudar de fluência do jargão expressivo para o que se tem chamado de palavra-

frase, tais como: "ir", "mama", ou como "quebrar" ou "papa". Apesar de expressões

para os adultos aparecem como simples palavras, para a criança são expressões

altamente condensadas necessitam de uma grande quantidade de sinais e gestos, a

fim de tornar claro o seu sentido. Gradativamente, à medida que a linguagem e a

experiência do infante se tornam mais diferenciadas, nós vemos suas palavras-

frases se tornarem expressões altamente articulares e completas e com todos

atavios gramaticais da linguagem dos adultos.

Apesar de parecer haver um imenso abismo entre o global e impressionista

da linguagem da criança, esta é o maior, sem dúvida, natural e o mais afetivo de se

aprender uma língua. À medida que as formas de linguagem de infante se tornam

mais diversificadas ele tem menos necessidades de se apoiar em sinais,

movimentos físicos para completar o que ele deseja dizer. Suas primeiras

expressões se referem à situação imediata e são ditas no tempo presente. A seguir

ele começa a usar o futuro, e depois o passado. Como na infância, suas primeiras

antecipações do futuro e lembrança de coisas passadas parecem uma espécie de

"futuro-presente" e "passado-presente", referindo-se a direção, que agora toma ou

que acaba de deixar. Logo depois vem a consciência de acontecimentos que se

acham pouco além da situação e em seguida vem uma consciência de

acontecimentos que se situam a um ou mais passos do presente. Qualquer coisa

mais remota, provavelmente, se desvanece na eternidade. Ele levará muito ainda,

Page 36: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

35

até poder captar o sentido dos conceitos mais formais de tempo ou daqueles que

incluem um lapso maior.

A variedade crescente de experiência do enfante se reflete no número de

palavras que ele usa. É quase impossível saber quantas "palavras" a criança tem à

sua disposição, mas uma boa estimativa pareceria a de que durante a infância seu

vocabulário falado cresce de vinte para quinhentas palavras. O infante pode

compreender muito mais palavras do que as que usam.

As palavras que a criança usa nos dizem algo sobre as coisas das quais ele é

consciente e com as quais se preocupa. Ela aprende os nomes de outras pessoas

ates de aprender o seu próprio. Isto indica o baixo grau de autoconsciência. Quando

chega o tempo de se referir a si mesma, a criança faz geralmente pelo nome que lhe

foi dado, pela terceira pessoa "nenê" ou pelo acusativo "me". Ele leva bastante

tempo para realizar o milagre de aprender corretamente a noção de "eu" como

sendo sempre aquele que fala e não uma pessoa em particular. Não é possível que

ele use pronome, exceto "me" com alguma precisão até que alcance a idade pré-

escolar. Seu pensamento é ainda absolutista não pode tratar com o relativismo dos

pronomes pessoais.

É interessante também notar que a criança pode usar "não" muito antes de

poder usar "sim". Antes da idade de dois e meio ou três anos, quando aprende a

dizer "sim" ela possui duas principais maneiras de manifestar consentimento: ou ela

vai e faz o que lhe foi pedido ou no que se refere às questões de fato, ele repete o

que o adulto lhe disse. No domínio das quantidades a criança distingue entre "um" e

"dois" alguma coisa mais do que um.

Page 37: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

36

2.1.1-SIGNIFICADO DAS PALAVRAS

Deve-se observar também e examinar o significado das palavras para a

criança, isto é, como forma conceitos. Como podemos inferir da palavra-frase, em

que uma só “palavra" contém um conjunto inteiro de idéias, o conceito da criança é

freqüentemente riquíssimo, incluindo conotações ainda indiferenciadas e não

separadas. Isto se deve tão somente a que a linguagem da criança ainda está ligada

de perto ao "aqui" e "agora", ainda não se tornou abstrata em geral, com efeito, ha

evidência de que, inicialmente, os nomes não ocupam o lugar dos objetos, mas

estão concretamente mergulhados nele, podendo durar até os anos escolares. A

palavra diz o que é a coisa, e apesar desta ligação concreta da palavra à coisa, a

criança generaliza as novas situações, os rótulos que aprendeu.

Parte da confusão de significado para a criança provem do fato de que sua

experiência não é ainda claramente diferenciada, outra parte, provém das

irregularidades da linguagem mesma.

2.1.2-A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO E UM BRINQUEDO

Exatamente porque as palavras possuem poder sobre a realidade que é tão

divertido para a criança brincar com a linguagem. O jogo de linguagem de um certo

tipo começa com os balbucios da infância. Na infância, alguns jargões expressivos

da criança são uma modalidade mais avançada do jogo de palavras, em que ela

emite formar sem sentido, paralelamente, pelo simples prazer de ouvir os padrões se

som. Até que a criança atinja o refinamento relativo dos anos pré-escolares, ela não

Page 38: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

37

terá alcançado suficiente domínio de sua linguagem para entrar no estágio seguinte

em que o sentido e a falta de sentido são misturados conscientemente.

A linguagem da criança freqüentemente acompanha e pontua, as suas outras

brincadeiras, como música de fundo, narrações, ordens a si mesma e a seus

brinquedos. À medida que seus jogos dramáticos se tornam mais sociais e menos

solitários, a conversação propriamente dita, desempenha um papel importante neles.

As crescentes habilidades da criança são assimiladas a tudo o que ela faz, além

disso, abrem-lhe novos domínios da atividade na aprendizagem e pensamento e no

intercâmbio social que virá a ocupar uma parte sempre crescente de sua ainda

estreita existência. Ela caminha da música verbal da infância para a poesia ainda

egocêntrica doa nos anos pré-escolares e a prosa comunicativa, mas

freqüentemente árida do discurso adulto.

2.2-PRIMÓRDIOS DA FALA

Início da vocalização.

A matéria prima da linguagem falada são os sons elementares ou fonemas,

os sons básicos das vogais e consoantes qual aproximadamente correspondem às

letras do alfabeto. Inicialmente os bebês vocalizam um número limitado de sons que

incluem k,g,x, i, e, u, muitos sons são acrescentados e ocorrem em combinações

complexas, na verdade, durante este estágio, os bebês produzem todos os sons

que formam a base de todas as línguas. O início do balbuciar de um bebê não é

diferenciado de acordo com sua nacionalidade.

Por volta do nono ou décimo mês, o bebê concentra-se nos sons elementares

que aparecerão em suas primeiras palavras. Os primeiros sons significativos são

Page 39: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

38

consoantes produzidas com a língua na parte anterior da boca, tais como p,m,b, e,t,

além de vogais posteriores, produzidas na parte anterior da boca, tais como e ou a.

O aparecimento inicial de m, e p, em sons de fala, pode ser o motivo pelo qual

mamã e papá estão entre as primeiras palavras adquiridas pela totalidade das

crianças.

2.2.1-CARACTERÍSTICAS DO INÍCIO DA FALA

A aquisição da linguagem se inicia com o que se tem chamado de fala

sincrética, emissão de uma única palavra que pode expressar intenções e

significados complexos. Estas primeiras palavras, faladas ao final do primeiro ano, é

geralmente rótulo para pessoas, objetos ou atos, mas a criança começa logo a

empregar palavras isoladas para representar sentenças inteiras, para denominar

objetos, descrever uma ação, servir como ordem ou pedido ou para com entonação

adequada, expressar um estado emocional.

As crianças começam a combinar as palavras mais ou menos entre os dezoito

e vinte e quatro meses, iniciando com "sentenças" simples, no entanto, a maioria da

criança adquire a sintaxe (regras gramaticais) de sua própria língua quase que

complemente entre quatro e cinco anos. Num certo período de mais ou menos trinta

meses, uma criança progride de uma combinação primitiva de suas palavras para o

quase domínio do sistema complexo da gramática de sua própria língua. Esta é uma

incrível realização intelectual e parece ocorrer independente da língua a ser

adquirida ou das circunstâncias em que o foi.

Page 40: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

39

CAPÍTULO IIICOMO SE PROCESSA O DESENVOLVIMENTO DA

LINGUAGEM DIRETAMENTE LIGADA A FAIXA ETÁRIA

De um seis meses de idade a criança entra na fase de balbucio e vocalização,

de sete a nove meses entra na fase se imitação involuntária, dos dez a doze meses

já tem uma reação adequada a ordens simples (sentar, levantar, etc.) e aos doze

para quinze meses começa o uso ativo das primeiras palavras significativas.

A linguagem, embora utilize inicialmente o recurso de imitação de modo

intensivo, cada vez afirma-se mais como processo individual, desenvolvendo cada

criança a sua própria linguagem.

De um a dois anos a criança fala para satisfazer seus desejos. As palavras

chaves tendem a desaparecer no período de um ano e meio a dois anos, iniciando-

se então o período das frases curtas ainda incompletas.

Quando a criança desperta para o simbolismo verbal, não só emprega as

palavras como símbolos, mas também adverte que as palavras representam algo e

empenha-se na busca de palavras novas. Descobre que a todo objeto corresponde

um complexo sonoro que o simboliza, que serve para designar esse objeto e

dialogar com os outros. Gesell indica para a criança de um ano e onze

Page 41: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

40

meses um vocabulário de cinqüenta palavras diferentes partindo daí para as

palavras de relações.

A partir de três anos aparecem s sentenças simples a completas com todos

os elementos.

Dos quatro anos em diante aparecem em percentagem significativa as

orações completas, dependente do vocabulário da criança, naturalmente, das

condições de vida da família, das próprias condições.

A linguagem como o hábito desenvolve-se sob a influência contínua do

ambiente social. Pelo processo da imitação são adquiridos os termos referentes ao

convívio social e a produção de atitudes emocionais.

Entre cinco e seis anos a criança preocupa-se em conseguir o equilíbrio

simétrico no jogo de construção, tendo nítida preferência pelas formas harmoniosas

que influenciam tanto a aquisição das noções de tamanho, como das quantidades.

A linguagem coopera na construção do mundo dos objetos do mundo da

percepção e da intuição objetivas, bem como é indispensável na construção da

imaginação pura.

A fantasia livre da criança transforma o mundo das idéias e da realidade e

envolve fábula imaginada e falada. Por volta dos sete anos o monólogo em voz alta

desaparece totalmente, substituído pela linguagem interior, e a lógica da criança já

vai ajuntando-se a realidade das coisas aparecendo uma organização mental e

processo intelectual, tanto na linguagem falada, como no desenho.

A linguagem infantil no período de uns seis anos é nitidamente funcional e

atente aos maiores interesses da criança. Aliás, observa-se que a aquisição da

linguagem está em função dos interesses e necessidades básicas; assim os

assuntos predominantes na linguagem do pré-escolar são ligados a pessoas,

Page 42: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

41

familiares, objetos de uso pessoal, animais e plantas, alimentos, veículos, ruas,

cenas da vizinhança, ou paisagens. (Maria Helena Novaes, 1976).

Desenvolvimento da linguagem durante os nos escolares.

Inúmeros aspectos importantes da gramática estão apenas parcialmente

desenvolvidos entre os cinco e os sete anos, nem sempre usamos de modo

apropriado, a não mais tarde. Estes aspectos incluem o uso do ter como auxiliar, da

substantivação, e de conjunções, tais como se e, portanto. Além disso, há certas

formas usadas apenas pelas crianças, mas não pelos adultos.

Embora as crianças de seis anos compreendem sentenças nas quais o sujeito

das estruturas profunda e superficialmente é o mesmo, têm dificuldades para

entender frases nas quais os sujeitos de uma e outra estrutura não são congruentes.

Os erros das crianças indicam que a dificuldade como frases deste tipo ocorre

na atribuição de um sujeito incorreto ao verbo infinito. A partir dos nove anos,

entretanto, as crianças têm menos dificuldades para compreender estas afirmações

e parece haver uma seqüência ordenada de estágios na aquisição de sentenças

dessa espécie.

O estudo longitudinal da linguagem demonstra que durante os anos

decorridos de jardim de infância até o primeiro colegial, melhora o desempenho oral,

a sintaxe se torna mais complexa e as crianças usam uma maior variedade de

padrões gramaticais, bem como uma variação maior na estrutura de uma sentença,

ou seja, seu vocabulário e ordenação de palavras e frases apresenta-se mais rico.

Frases escritas e faladas aumentam acentuadamente tanto em extensão quanto em

complexidade gramatical bem como uma variação maior na estrutura de uma

sentença, seu vocabulário apresenta-se mais rico. Frases escritas e faladas

aumentam acentuadamente tanto em complexidade gramatical neste período. Os

Page 43: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

42

resultados gerais, extraídos de vários estudos indicam que há uma consolidação

geral, conquanto gradual, das habilidades lingüísticas desde o jardim até a 7ª série

havendo também algumas alterações bruscas de desempenho.

Piaget assinalou que os significados de termos complexos relativos a

parentescos, tais como, irmão e irmã se desenvolvem gradualmente no estágio mais

primitivo os termos irmão e menino, irmão e menina, são tratados como sinônimos.

Aparentemente, os primeiros significados atribuídos a termos indicativos de

parentesco derivam-se de dados percentuais; mais tarde, com o aumento de

desenvolvimento cognitivo, a criança acrescenta critérios funcionais ou sociais as

definições. O significado adulto completo de termos que expressam

consangüinidade inclui atributos percebidos e, além deles, fatores cognitivos,

conhecimento de estrutura social, papéis e relacionamentos.

Palavras de dupla-função, como brilhante, duras, doce, frio que tem tanto

significado físico quanto psicológicos, não são compreendidos antes dos primeiros

anos de escola primária. Antes dos dois anos as crianças aplicam adequadamente

estas palavras apenas a objetos físicos, talvez com a possível exceção de doce,

mas não acreditam que estas sejam palavras aplicáveis a pessoas, embora as

crianças desta faixa etária não consigam relacionar o significado físico da palavra ao

seu significado psicológico.

Page 44: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

43

CAPÍTULO IVFATORES QUE INTERFEREM NA APRENDIZAGEM DA

LINGUAGEM

Alguns teóricos acham que o mais importante para a aprendizagem da fala é

estruturas herdadas biologicamente. Isto é, só ser humano aprende a falar porque

só ele traz essa capacidade, que é própria da espécie. Outros teóricos, como

Skinner, acham que o mais importante é o ambiente: a criança aprende porque é

recompensada toda vez que tenta falar ou fala alguma coisa.

Sabe-se que as estruturas lingüísticas herdadas não são suficientes para que

uma criança aprenda a falar, pois um bebê não aprende a falar senão conviver com

pessoas que falam. A influência do ambiente também não é suficiente, pois por mais

que se tenha tentado ensinar macacos a falarem, até hoje eles não conseguiram

aprender a linguagem complexa e rica em combinações faladas pelos animais

humanos.

Pode-se afirmar que para falar, o ser humano precisa de maturação do

sistema nervoso e de suas cordas vocais, de certas estruturas genéticas que

possibilitam o desenvolvimento da linguagem, num determinado ritmo. Verifica-se,

por exemplo, que todas as crianças seguem determinadas "regras" não ensinadas,

ao aprender a falar e que todas têm uma espécie de explosão vocabular.

Page 45: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

44

De um ambiente favorável, pessoas que falem e estimulam a criança a falar, o

ambiente influi na aprendizagem mais lenta ou mais rápida da linguagem. (Nelson

Pilett, 1987).

Vocabulização - Balbucio e vocalização são respostas universais durante a infância.

Em crianças normais, não há nenhuma relação forte entre a freqüência do balbuciar

inicial e a quantidade ou o tempo de surgimento da fala, no segundo ano de vida. O

balbuciar de um bebê de seis meses, ocorre usualmente quando a criança está

excitada pelo que vê, ou ouve, sendo muitas vezes acompanhada de atividades

motoras. Durante a segunda metade do primeiro ano da criança, via de regra, ficará

silenciosa quando escutar algum som. Quando cessa o barulho começará a

balbuciar. Este balbucio reflete uma reação de excitação criada pelo processamento

dos sons ouvidos.

A expressão de palavras com significado é um fenômeno muito diferente. A

fala significativa é empregada com o fito de atingir objetivos e comunicar

pensamentos, não sendo apenas o reflexo de uma excitação geral. A fala requer

expor-se a pessoas que falam certos idiomas, enquanto que o balbucio, não. A

vocalização inicial do bebê passa, no entanto, por determinados estágios. Vejamo-

los resumidamente.

O bebê produz dois sons básicos. O primeiro inclui todos os sons

relacionados ao choro e já está presente no nascimento. Uma segunda categoria

emerge durante a sexta e oitava semana, inclui o incremento da atenção visual, a

diminuição do choro, bem como sinais de percepção de profundidade. O gorjeio é

diferente do choro porque, naquele som, a língua está envolvida na sua modulação.

Isto normalmente não se verifica quando o bebê chora. O balbucio, mais ou menos

ocorrendo na sexta semana, é uma resposta inata e relativamente inalterada pelas

Page 46: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

45

experiências do período. O meio ambiente parece afetar a freqüência e a variedade

destes sons infantis após oito a dez semanas. As crianças criadas em lares em que

tanto a mãe como a criança engaja-se em jogo vocal recíproco vocalizam mais e

com maior variedade do que os bebês oriundos de lares onde esta troca verbal é

mínima.

Uma demonstração dramática do papel do jogo vocal dos pais é encontrada

na comparação de bebês índios da área rural da Guatemala, com os bebês

americanos. Estes últimos com quem se fala de 25 a 30% do tempo que estão

acordados, vocalizam aproximadamente 25% do tempo de vigília. O bebê índio, com

quem se fala em menor por cento do tempo, vocalizam aproximadamente 7% do

tempo.

De modo semelhante, os bebês com menos de seis meses de idade, que

residem em ambiente menos estimuladores de orfanatos, tanto que no se concerne

à freqüência de vocalização, como ao número de tipos de sons. Durante a segunda

metade do primeiro ano, os bebês cuidados em lares de classe média, mostram

sons mais freqüentes e variados do que as crianças de famílias de trabalhadores,

posto que as mães da classe média vocalizam mais com seus bebês, o que, por sua

vez estimula a expressão vocal da criança. Esta diferença de classe também se

mantém para as crianças de dez meses.

As observações da interação mãe-filho em casa revelam mínima diferença de

classe social com respeito a afagar a criança, contado físico e afeto geral. No

entanto, as mães da classe média falavam muito mais com suas crianças e

respondiam mais ao seu balbuciar com fala recíproca do que as mães da classe

operária.

Page 47: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

46

Responder as verbalizações de uma criança de três meses com sorrisos e

afagos em seu abdome após cada som, produz um incremento na quantidade das

vocalizações do bebê. O comportamento de balbuciar do bebê pode,

aparentemente, ser modificado através da experiência, para mais ou menos,

dependendo da quantidade de estimulação social que a vocalização da criança

receba. Na medida em que as vocalizações dos Bebês institucionalizados são

monos passíveis de atrair a atenção de um adulto, sendo em conseqüência

reforçadas menos vezes, a freqüência destas respostas entre tais crianças

provavelmente não aumenta em ritmo normal.

Uma vez adquiridos os sons elementares da fala, seu progresso consiste no

uso destes sons de varias maneiras e diferentes combinações. As diferenças

individuais no ritmo de desenvolvimento da fala são evidentes desde a mais tenra

infância.

Uma das questões mais intrigantes que há muito tem desafiado os psicólogos

é que os bebês continuam a balbuciar por si mesmos, ainda que ninguém responda

às suas vocalizações. Acredita-se que a percepção da criança, quanto à produção

de sua voz, atua como um estímulo para mais vocalizações, durante a última metade

do primeiro ano. Os sons primitivos do bebê de um ou dois meses parecem ser,

entretanto, independentes tanto de fatores ambientais quanto da percepção que a

criança tem desses ruídos.

A mais convincente demonstração deste fato advém de observações de

crianças surdas nascidas de pais surdos-mudos. As vocalizações destes bebês,

durante as primeiras oito semanas não ouvidas nem pelos pais nem pelas próprias

crianças não diferem das de crianças normais, cujos pais podem ouvir os seus sons.

Após dois meses de idade, o meio ambiente desempenha seu papel na modelagem

Page 48: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

47

da variedade e da freqüência de sons do bebê, contudo (muitos dos) psicólogos

atuais parecem concordar em que os novos sons não são aprendidos por imitação

da fala dos outros mas, antes emergem no jogo vocal espontâneo da criança como

resultado da maturação e que a criança imita apenas sons que já apareceram em

seu balbuciar espontâneo. Esta perspectiva assegura que a imitação da fala dos

outros só serve para chamar a atenção para novas combinações de sons já usados.

4.1-RELAÇÃO ENTRE BALBUCIO E DESENVOLVIMENTOPOSTERIOR

Embora a freqüência e a variedade do balbucio, durante os primeiros meses

de vida, não sejam bons preditores da futura habilidade da criança para falar nem da

extensão de seu vocabulário, parece haver uma diferença bastante interessante

entre os sexos quanto ao poder preditivo do balbuciar inicial entre quatro e doze

meses. Os bebês de sexo feminino que balbuciam em respostas a rostos humanos

tendem a prestar mais atenção e a obter escores de inteligência ligeiramente mais

elevados com um, dois e três anos de idade do que os que balbuciam muito pouco

frente às feições humanas.

Estudos longitudinais independentes tem relatado resultados igualmente

interessantes e parecidos. Os bebês de sexo feminino que freqüentemente

vocalizaram em situação de teste, durante o primeiro ano, tinham escores de

Quociente Intelectual aos dois e três anos do que os que não vocalizam. Entretanto,

Page 49: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

48

essa relação entre vocalização precoce e Quociente Intelectual não se verificou para

os meninos.

Como é que podemos interpretar essa intrigante diferença nos sexos

encontrada em três estudos longitudinais independentes? Há diversas

possibilidades. Uma delas assume que a organização neuro-muscular inata de

meninos e meninas é basicamente diferente. Se o sistema nervoso central das

meninas fosse estruturado de tal sorte que lhes fosse mais provável vocalizar do que

aos meninos, quando prestam atenção ou são excitadas por um evento interessante,

então as suas vocalizações seriam uma boa medida da tendência das meninas para

prestar atenção aos acontecimentos ao seu redor e talvez pudesse prever a futura

inteligência delas. Se a organização neuro-motora inata dos meninos não o faz

vocalizar, quando estão prestando atenção às coisas decorre, que a vocalização em

meninos não deve estar associada à sua futura habilidade mental.

Uma segunda explicação possível argumenta a favor de uma maior

estabilidade do desenvolvimento cognitivo nas meninas do que nos meninos.

Neste caso, pressupõe-se que a vocalização frente a eventos interessantes

reflita um desenvolvimento mental avançado tanto para meninos como para

meninas. Mas devido ao fato de o ritmo de vocalização do bebê prevê melhor a

inteligência futura de meninas do que a de meninos. Talvez seja apenas uma

coincidência que as dimensões do crescimento físico, tais como altura, peso e ritmo

de crescimento ósseo, sejam mais estáveis de ano para ano entre as meninas do

que entre os meninos. É possível que um maior poder preditivo da vocalização

infantil para as meninas seja outro reflexo de uma tendência geral para maior

estabilidade no desenvolvimento feminino.

Page 50: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

49

Uma última explicação potencial afirma que as mães tratam os filhos e as

filhas de modos diferentes, argumentando que as mães, motivadas a encorajar o

desenvolvimento mental de suas filhas, gastam um bom tempo vocalizando para

elas, mais tempo do que gastariam com um filho e ainda mais tempo do que o gasto

por mães não interessadas pelo ritmo do desenvolvimento de suas filhas. A

vocalização face a face da mãe deve provocar o aumento dos níveis de balbucios na

menina. Seria também de se esperar que esta mãe continuasse a estimular sua

filha, provavelmente ensinando-lhe mais cedo as palavras encorajando o

desenvolvimento de outras habilidades intelectuais. O vínculo preditivo entre

balbuciar precoce e habilidades cognitivas futuras parece então ser uma função da

continuidade da estimulação que a mãe proporciona a filha. A ausência de um

vínculo semelhante entre a vocalização do bebê e o desenvolvimento cognitivo para

os meninos exigiria o pressuposto de que as mães estimuladoras não se engajam

preferencialmente em tanta vocalização com seus filhos. Os dados preliminares

aprovam esta suposição. As observações da interação materno-filial no lar revelam

que as mães bem educadas, ao passo que não há diferenças comparáveis

referentes às mães de meninos. Além disso, as mães de classe média têm maior

possibilidade de imitar a vocalização de suas filhas de três meses do que a de seus

filhos. (Nussen, Conger Kagan, 1977 pags. 147 a 150).

Page 51: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

50

4.2-INFLUÊNCIAS CULTURAIS NA LINGUAGEM

As diferenças de classe social na linguagem e na facilidade verbal são

evidentes desde o início da vida. Do primeiro ao quinto ano de vida, as crianças de

classe média e superior, são melhores do que as de classe inferior em todas as

medidas tradicionais de habilidades lingüísticas resultados de vocabulário,

estruturação de sentenças, discriminação auditiva e articulação. Estas diferenças

bem documentadas parecem ser, em grande parte, tributáveis ao contraste entre os

meios ambientes lingüísticos da classe média baixa. Teriam esses resultados

implicações para as diferenças culturais e de classe social, no funcionamento

cognitivo.

Há alguns anos, Basil Bernstein, sociólogo educacional Inglês, começou a

estudar o que chamava de códigos restritos da linguagem, da classe baixa e códigos

elaborados, ou mensagem da classe média. Ao lidar com seus filhos, as mães da

classe baixa empregam sentenças facilmente compreensíveis, gramaticamente

simples, curtas e fáceis, basicamente denotativas de coisas e ações. De acordo com

Bernstein, os códigos de comunicação da classe baixa “enfatizam verbalmente o

comum mais do que o individual, o concreto mais do que o abstrato, a substância

mais do que a elaboração de processos, o aqui e agora, mais do que a exploração

de motivos e intenções...”.

Em oposição, as mães de classe média enfatizam mais o uso da linguagem

para a socialização e disciplina dos filhos, ensinando-lhes os padrões para

significados universalistas que transcendem o contexto dado. Ao passo que as

afirmações de uma criança de classe baixa estão "intimamente relacionadas ao

contexto apresentado e, portanto, o transcendem".

Page 52: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

51

O resultado é que a criança de classe baixa aprende apenas o código restrito

segundo Bernstein, e é por isso mais provável que se defronte com dificuldades na

escola do que crianças que adquiriu um código elaborado. O código restrito é

relativamente simples, regido, e contém poucas diferenciações verbais de

sentimento e de relações sociais (embora sejam percebidas e sentidas). E, de

acordo dom Bernstein, o código restrito favorece o pensamento do tipo mais

concreto e menos conceitual. (Mussen, Conger e Kagen, 1977)

Page 53: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

52

CAPÍTULO VALGUMAS TEORIAS SOBRE O INÍCIO DA AQUISIÇÃO

DA LINGUAGEM

No estudo do desenvolvimento da linguagem há maior riqueza de explicações

teóricas do que de dados empíricos que apoiam uma ou outra posição. As teorias

que há sobre o desenvolvimento da linguagem pertencem a duas orientações

radicalmente opostas, com repercussões de interesse não apenas para o campo da

linguagem como para toda a psicologia. Estas duas orientações são a Behaviorista e

a psicolingüístas.

Do lado Behaviorista, destacam-se as teorias de condicionamento aplicadas a

linguagem, proposta por Skinner (1957), Mowrer (1960) e Staats (1964,1968). As

teorias do condicionamento também foram refinadas para incluir processos de

mediação que aplicam a aquisição de significados (Osgood, 1953), a sintaxe

(Jenkens e Palermo 1964; Osgood 1963; Braine 1963 a). Todos esses enfoques

surgiram da orientação empírica tradicional Behaviorista, e embora haja diferença

entre eles, estão todos dentro do mesmo paradigma científico, que considera a

psicologia como ciência natural. Todos esses aceitam as mesmas pressuposições a

respeito do comportamento e aceitam os mesmos métodos de pesquisa para testar

as teorias.

Page 54: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

53

Por outro lado há um grupo de teorias propondo explicações sobre o

desenvolvimento da linguagem dentro de outro paradigma, o racionalismo (Mcneill,

1964; Slobin, 1966; Lenneberg, 1967 a). Esta posição que chamamos de ponto de

vista psicolingüístico, está muito ligado ao nativismo. Essas teorias tomam uma

posição mentalista no estudo do comportamento e baseiam-se fundamentalmente

nas contribuições de Chomsky (1957, 1965), ao campo da lingüística.

(A.M.B.Saggio, 1985).

5.1-TEORIAS DE SKINNER

John F. Skinner argumenta que a linguagem, como outras funções

comportamentais são aprendidas através de condicionamentos operantes do

comportamento. De acordo com esta teoria, o condicionamento operante verbal se

baseia em reforçamentos relativos de sons e combinações de sons, oriundas do

meio ambiente. Os bebês espontaneamente produzem sons, ao acaso ou por

imitação. Os pais e outras pessoas adultas de seu meio ambiente reforçam

diferencialmente certos sons. A criança é gradativamente reforçada por

aproximações cada vez mais semelhantes à fala do adulto.

Esta teoria também advoga que as crianças aprendem a imitar as respostas

da fala de seus pais através de reforçamento. Quando a mãe diz "diga doce", será

imediatamente recompensada a resposta que se aproximar de "doce". Deste modo,

a criança vem discriminar sons agrupados dos não apropriados.

Além de aprender respostas de fala, a criança também deve aprender as

situações adequadas para cada resposta. Segundo a terminologia Sknneriana, o

comportamento verbal deve estar sob controle da estimulação ambiental. Quando a

Page 55: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

54

criança diz pela primeira vez papai ou algo aproximado, é possível que seja

reforçada, esteja seu pai presente ou não. A resposta papai é, portanto passível de

ser omitida na presença de muitos homens diferentes, ela ainda não está sob um

"controle de estímulo" específico. Rapidamente, a criança descobre que é reforçada

quando usa essas respostas frente ao seu pai e que não o é por uma resposta

supergeneralizada. Assim, a resposta passa a estar sob o controle preciso de um

estímulo ambiental, o pai (segundo Mussen, Conger e Kagan, 1977).

5.2-TEORIA DE CHOMSKY

Chomsky sugere que os humanos possuam um tipo de sistema inato,

chamado por ele de dispositivo para aquisição da linguagem: a elaborar regras, a

compreender e a produzir uma fala gramatical apropriada. O dispositivo não é

realmente um órgão, mas apenas analogia.

Através do uso de alguns meios complexos ainda não compreendidos, o

dispositivo processa, de algum modo, o imput lingüístico para a criança (a linguagem

que ela ouve ao seu redor) e constrói uma teoria a respeito das regras de gramática

do imput lingüístico. Isto possibilita à criança compreender as sentenças que escuta

bem como criar novas. É obvio que isso deve ser universalmente aplicável e capaz

de permitir a aquisição de qualquer linguagem. (Mussen, Conger e Kagan, 1977).

Page 56: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

55

5.3-TEORIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL, IMITAÇÃO E

LINGUAGEM

Uma abordagem menos tradicional de aprendizagem, que não requer

reforçamento enquanto um conceito exploratório é sugerido por teóricas da

aprendizagem social como Albert Bandura, que sustenta a tese de grande parte do

que uma criança aprende é resultado da observação e imitação do comportamento

de um modelo e, em muitos casos, sem reforçamento. Sua pesquisa fornece

evidências substanciais de que a modelagem influi em grande medida no

desenvolvimento dos padrões sociais de respostas das crianças. As crianças

escutam a linguagem à sua volta o tempo todo e, mesmo se não imita a fala,

ouvindo ou outros, conseqüentemente, de acordo com os teóricos da aprendizagem

a aquisição da linguagem.

Page 57: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

56

CONCLUSÃO

Fundamentados nos estudos sobre o desenvolvimento da linguagem no

período da pré e primeira infância, percebeu-se que o recém nascido é um ser

incrivelmente capaz de aprender associações entre um estímulo e resposta,

tornando-se importante o papel do significado e da familiaridade com eventos, antes

que termine os primeiros meses.

Ao final do primeiro ano, o bebê é uma criatura complicada, conhecedora e

pensadora, que adquiriu um certo conhecimento e algumas idéias a respeito do

mundo, bem como o modo de se confrontar com ele.

Durante os anos pré-escolares, a personalidade da criança se enriquece, se

diferenciando ainda mais. Emergem características e motivos novos e significantes,

ao passo que os já estabelecidos podem ser modificados e expressos de maneira

nova e diferente.

Devido ao fato de a linguagem ser a aquisição humana mais distinta e

também por ter tanta influência nas interações sociais e no funcionamento cognitivo,

muitos psicólogos propuseram teorias que tentam explicar como se desenvolve a

linguagem. Teóricos da aprendizagem como Skinner, crêem que a linguagem é

adquirida em grande parte, através de recompensas ou reforçamento de respostas

verbais. Porém os lingüistas profissionais e os psicolingüístas que estudam a

Page 58: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

57

origem e o desenvolvimento da linguagem, afirmam que nenhuma teoria de

reforçamento pode explicar completamente o desenvolvimento espantosamente

rápido da compreensão e o uso da linguagem pela criança nem seu precoce

domínio de regras gramaticais (sintáticas).

Os psicolingüístas têm sido estimulados e influenciados pela teoria de

Chomsky que consideram bastante atraente e conduzem interessantes pesquisas

cujos os dados apóiam parcialmente.

A linguagem ocorre por várias formas, porém, o conhecimento envolve uma

estrutura progressiva de experiências. Por isso a criança, não se caracteriza apenas

pela herança biológica, mas também por padrões de comportamento adquiridos

através das relações sociais estabelecidas pela sociedade.

Outra observação feita na revisão da literatura é que de acordo com

pesquisas, crianças de classe alta e média apresentam um desempenho superior os

das crianças de classe baixa em muitas medidas de linguagem tais como:

vocabulário, discriminação auditiva e articulação. Conseqüentemente alguns

psicólogos e sociólogos têm definido a idéia de que as crianças de classe baixa são

"deficientes" na habilidade verbal quando comparadas com as de classe média. Tais

julgamentos podem refletir uma não-diferenciação entre a competência e

desempenho lingüístico, ficando difícil separar o hereditário do ambiental, ou

valorizar a importância de cada um individualmente.

Page 59: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

58

BIBLIOGRAFIA

BIAGGIO, A.M.B. Psicologia do Desenvolvimento. Vozes RJ. 1985

MUSSEN P.H., CONGER, J.J. E KAGAN, J. Desenvolvimento e Personalidade da

criança. Harper e Row do Brasil Ltda, 1977.

NOVAES, M.H. Psicologia Escolar. Vozes RJ. 1976.

PENNA, A.G. Aprendizagem e Motivação. Zahar Editores RJ. 1980.

PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. Forence Universitária RJ. 1976.

PILLETTI, N. Psicologia Educacional. Ática S.A. SP. 1987.

STONE, L.J. e CHURCH, J. Infância e Adolescência Interlivro de Minas Gerais

1972.

ABELIN, L.T. e Siqueira, A.M.S. Orientação Educacional - Novas Dimensões para

pais e professores. Vozes RJ. 1989.

AMORIM, N. Atirei o Pau no Gato A pré-escola em serviço. Parasiense. 1988.

BOOTH, T. Curso Básico de Psicologia. Ed. Larkos. 1976.

BRUNNER, J.S. Uma nova Teoria de Aprendizagem. Bloch Editores. RJ. 1976.

CAGHART, L.C. Alfabetização Lingüística. Scipione. 1980.

FEIL, J.T.S. Alfabetização um Desafio para um Novo Tempo. Vozes. RJ. 1986.

HALL, C.S. e Nodoby, V.J. Introdução a Psicologia Junguiana. Cultrix. SP. 1980.

FLAVELL, J. A Psicologia do Pensamento de Jean Piaget. Biblioteca Pioneira de

Ciências Sociais. 1975.

LIRA, MT. Primeiro Ano de Vida Manuales de Estimulación. Editorial Galdoc Ltda.

Santiago do Chile. 1977.

Page 60: DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO … MARIA SANTANA BECKMANN.pdf · O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA DA PRÉ A PRIMEIRA INFÂNCIA Como ... antes e depois do nascimento

59

LYLE, B., BRUCE, RT. e DOMINOWSKI, R.L. Psicologia del Pensamiente.

Editorial Trilhas. México 1978.

RIZZO, G. E LEGEY, E. Fundamentos e Metodologia da Alfabetização Método

Natural. Francisco Alves 1983.

RIZZO, G. Educação Pré-Escolar. Francisco Alves. 1983.

TELLES, A.X. Psicologia Moderna. Ática SP. 1967.

TELES, A.X. Psicologia Organizacional e Psicologia na Empresa e na Vida em

Sociedade. Ática SP. 1981.

WANDSOWORTH, B.J. Piaget para Professores de Pré-Escola e Primeiro Grau.

Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais – 1982.