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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

INSTITUTO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES

DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA

DESCENTRALIZAÇÃO E AUTONOMIA FINANCEIRA COMO

ELEMENTOS DA GOVERNABILIDADE DO SUS EM

MUNICÍPIOS DE PERNAMBUCO

ALESSANDRA DE LIMA ARAÚJO

ORIENTADORA

HELENY DE OLIVEIRA P. MACHADO

Recife, 2001

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ALESSANDRA DE LIMA ARAÚJO

DESCENTRALIZAÇÃO E AUTONOMIA FINANCEIRA COMO

ELEMENTOS DA GOVERNABILIDADE DO SUS EM

MUNICÍPIOS DE PERNAMBUCO

Monografia apresentada como requisito

parcial à obtenção do título de

Especialista no Curso de Pós­

Graduação tatu sensu a nível de

Residência Multiprofissional em Saúde

Coletiva do Departamento de Saúde

Coletiva/CPqAM/FIOCRUZ/MS, sob a

orientação da Professora Heleny de

Oliveira P. Machado

Recife, maio de 2001

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ALESSANDRA DE LIMA ARAÚJO

DESCENTRALIZAÇÃO E AUTONOMIA FINANCEIRA COMO

ELEMENTOS DA GOVERNABILIDADE DO SUS EM

MUNICÍPIOS DE PERNAMBUCO

Monografia aprovada como requisito parcial à obtenção do título de

Especialista no Curso de Pós-Graduação latu Sensu a nível de Residência

Multiprofissional em Saúde Coletiva do Núcleo de Estudos em Saúde

Coletiva/CPqAM/FIOCRUZ/MS, pela Comissão formada pelos Professores:

Orientadora:

Heleny de Oliveira P. Machado.

NESC/CPqAM/FIOCRUZ/MS

Examinador:

Garibaldi Dantas Gurgel Jr.

NESC/CPqAM/FIOCRUZ/MS

Recife, 2001

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##Desenvolver o tema do financiamento das políticas sociais no

Brasil, é tarefa particularmente difícil, devido à escassez relativa de

dados primários sobre o assunto, falta de transparência nas

informações, de homogeneidade entre elas, e porque vários dados

coletados se prestam a legitimar modelos organizados a priori".

(Emerson Elias Merhy)

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AIH - Autorização de Internação Hospitalar

APAC- Autorização de Procedimento de Alto Custo

CIB- Comissão lntergestores Bipartite

ClT - Comissão lntergestores Tripartite

CNS - Conselho Nacional de Saúde

FAE- Fração Assistencial Especializada

FNS - Fundação Nacional de Saúde

FUNASA- Fundação Nacional de Saúde

INAMPS- Instituto Nacional de Assistência Medica e Previdência Social

MS - Ministério da Saúde

NOB - Norma Operacional Básica

PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PBVS - Piso Básico de Vigilância Sanitária

PIB - Produto Interno Bruto

PSF ~,Programa de Saúde da Família

PPI - Programação Pactuada e Integrada

REFORSUS - Reforço a Regionalização do SUS

SAS - Secretaria de Assistencia à Saúde

SIA/SUS - Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS

SIH/SUS - Sistema de Informações Hospitalares do SUS

SUS - Sistema Único de Saúde

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A Deus, por todas as graças que me concedeu, à minha mãe e

minha irmã Verônica, sempre presentes nas diversas etapas da minha vida.

Meu especial agradecimento, à professora orientadora Heleny que com

muito saber e paciência me ajudou na concretização de mais esta etapa.

À todos os colegas do NESC, e a alguns em especial: a amiga Claudia

pela sua sinceridade, companheirismo e "bom humor"; a Cristiane pelas nossas

demoradas conversas; a Maísa e Domício.

A todos os professores/pesquisadores do NESC, em especial: Eduarda

Cesse, Eduardo Freese e lana Passos.

Agradeço também a todos os funcionários, em especial, Paulo Lira,

Mégine, Romero, Janice, Nilda e Sara.

A todos aqueles que convivi durante o Estágio no Distrito Sanitário 11,

experiência muito importante de aprendizagem (Eiisete, Alberto, Cícero,

Fátima, etc) e a Secretaria de Saúde de Moreno, na pessoa de Jeciane Costa

por compreender a importância deste trabalho permitindo o meu afastamento

e/ou ausências necessários a sua conclusão.

Ao professor Garibaldi por concordar em ser o examinador/debatedor

deste trabalho e pela paciência ao aguardar o recebimento do mesmo.

E, por fim, até àqueles que eu tenha deixado de contemplar mas que de

alguma forma me âjudâH:irh hastes dois anos de Residência.

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ARAÚJO, Alessandra de Lima. Descentralização e autonomia financeira como elementos da Governabilidade do SUS em municípios de Pernambuco. Recife, 2001. Monografia (Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva). NESC/CPqAM/FIOCRUZ/MS.

RESUMO

Esse estudo discute a autonomia financeira municipal em relação aos recursos do SUS, em municípios sob condição de gestão Plena do Sistema, no Estado de Pernambuco, tendo como referência o contexto de descentralização, enquanto elementos da governabilidade desse sistema. Para tanto, realizou-se um estudo de casos-multiplos (Camaragibe, Caruaru e Petrolina), exploratório, de corte quanti-qualitativo. A estrutura do estudo foi apresentada em quatro momentos: No primeiro, buscamos na literatura, elementos para situar as condições de governabilidade do SUS; no segundo, apresentamos o percurso metodológico e no terceiro, discorre-se sobre governabilidade e autonomia a partir da dinâmica do financiamento da saúde, apontando-se aspectos do campo/arcabouço legal normativo pós-Constituição de 1988, discutindo-se a autonomia na gestão dos recursos financeiros da saúde a partir de dados quantitativos dos sistemas de informações e identifica­se/apresenta-se elementos do campo/análise situacional da gestão municipal do SUS. Viu-se que os municípios apresentam uma baixa capacidade de autogestão. Chama-se a atenção na NOB 01/96 do pouco cumprimento dos critérios definidos pelo artigo 35 da Lei 8.080 quanto ao repasse regular e automático da totalidade dos recursos financeiros. Concluí-se que a autonomia do Município/Secretario na gestão dos recursos financeiros do SUS tem sido restringida nas relações internas da gestão e nas relações com as instâncias federal e estadual.

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INTRODUÇÃO _______________________________ _

OBJETIVOS-------------------------

CAPÍTULO 1: A governabilidade necessária ao Sistema Único de Saúde: Descentralização e autonomia financeira no âmbito municipal

CAPÍTULO 2: O percurso metodológico------------

2.1. Definição do Estudo---------------2.2. Seleção da Amostra---------------2.2.1. Os municípios sob condição de gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde 2.2.2. O Estado de Pernambuco e a Localização Geográfica dos Municípios-casos -----------------2.2.3. Breve perfil dos Secretários Municipais de Saúde- os Sujeitos do discurso ----------------

2.3. Os procedimentos metódicos-----------

2.4. As fontes de informações-------------

2.5. O processo de análise-------------

CAPÍTULO 3: Governabilidade e autonomia: a dinâmica do financiamento da saúde --------------------------

3.1 . A partir de aspectos do campo/arcabouço legal normativo pós Constituição de 1988 ________________ _

3.2. A partir de dados/informações quantitativas ____ _ 3.2.1. Capacidade de autonomia/autogestão do município __ 3.2.2. Capacidade de investimentos em saúde----~-3.2.3. Autonomia para gestão dos recursos financeiros do SUS _ 3.3. A partir de elementos do discurso dos Secretários Municipais de Saúde ----------------3.3.1. Autonomia do Município/Secretário de Saúde na gestão dos recursos financeiros do SUS nas relações internas da gestão 3.3.2. Autonomia do Município/Secretário de Saúde na gestão

dos recursos financeiros do SUS nas relações com as demais instâncias (Federal, Estadual)---------------

3.4. Discussão ------~------------

CONSIDERAÇÕES FINAIS-------------­

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------ANEXOS

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O presente estudo discute a autonomia municipal em relação aos recursos

financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS), em municípios sob condição de

gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde, no Estado de Pernambuco. A

preocupação com este tema tem suas referências empíricas na experiência da

autora enquanto participante da equipe de trabalho da pesquisa Análise Sítuacíonal

e Proposições para o Processo de Municipalização da Saúde em Pernambuco1 a

qual vem sendo desenvolvida pelo Laboratório de Apoio à Municipalização no

Departamento de Saúde Coletiva - NESC-CPqAM-FIOCRUZ, com o apoio financeiro

da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -

CAPES.

Discutir um tema como este, no contexto de descentralização brasileiro, não

constituí-se como uma tarefa fácil, principalmente, se levarmos em conta que do

ponto de vista dinâmico, a expansão das atividades estatais no Brasil se realizou

através da articulação de duas tendências contraditórias. De um lado, forte

concentração de instrumentos e de recursos financeiros no nível de governo federal

em detrimento dos estados e municípios; de outro lado, ampla

descentralização no âmbito federal, desses mesmos instrumentos e recursos ( via

administração pública, através de suas agências previdenciárias e múltiplas

instâncias administrativas) (Fiori, 1995).

Uma outra questão a qual torna essa tarefa mais complexa é o avanço das

concepções liberalizantes (neoliberais), com concomitante tendência à redução do

poder de ação do Estado e a busca de estímulo ao papel do setor privado ou das

iniciativas do mercado (Soares & Bava, 1998). Essas concepções tem se

materializado em propostas de reformas produzidas pelas exigências de ajuste (por

parte do Fundo Monetário Internacional- FMI e outras instituições internacionais) e

se orientado por uma lógica economicista de redução do custo social que aponta

1 Esta pesquisa teve por objetivo elaborar uma análise situacional da gestão municipal de saúde, a ser processada junto com as equipes dirigentes de forma a assegurar sustentabilidade ao conjunto de proposições dela decorrentes, visando as mudanças necessárias ao SUS no contexto da Reforma do Estado brasileiro. Para tanto, buscou aumentar a capacidade de análise estratégica dos dirigentes de saúde em relação aos problemas e possibilidades presentes em cada situação específica e propor ações para enfrentá-los e/ou potencializá-los, analisando dispositivos capazes de induzir mudanças no modo de produzir saúde em 11 municípios de Pernambuco.

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se orientado por uma lógica economicista de redução do custo social que aponta

para a desresponsabilização de governos centrais , privatização de serviços públicos

e participação social voltada para contenção e seleção de gastos {Feria & Júnior,

2001).

Assim, consideramos que a compreensão do processo de reforma do Estado

e da reforma sanitária indicaria limites/possibilidades para a governabilidade do SUS

e, mais especificamente, para as ações dos atores responsáveis pela

implementação do SUS dentro das distintas realidades sócio-políticas e econômicas

que integram o contexto brasileiro.

A concepção da chamada Reforma Sanitária Brasileira, implica na ampliação

do conceito de saúde o que demanda ao Estado novas maneiras de enfrentar os

problemas de saúde porque reconhece a determinação social das doenças e torna

necessária uma mudança na organização e nas formas de prestação dos serviços

de saúde (Cohn, 1998a). Para além das medidas racionalizadoras, almejadas pelos

governos na década de 90, ou mesmo de aumento da provisão de serviços de

saúde, a Reforma Sanitária objetiva uma transformação na estrutura de poder e na

organização do sistema de saúde.

São instituídos, de acordo com a concepção de Reforma Sanitária, os

princípios e diretrizes do SUS (Constituição Federal de 1988 e Leis n.0 8.080/90 e n.0

8.142/90):

• Universalidade de cobertura;

• Gratuidade da Assistência;

• Integralidade e Eqüidade da Atenção;

• Autonomia e articulação entre os distintos níveis de governo;

• Controle social;

• Complementaridade do setor privado;

• Descentralização da prestação de serviços e da gestão setorial. (Costa & Ribeiro,

1996).

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Estes princípios e diretrizes sugeriam, portanto, a implantação de um novo

modelo de saúde ou novo desenho institucional para o sistema de saúde brasileiro.

Por sua vez, esta sugestão resultou na institucionalização de um Sistema Único de

Saúde. Este fato obriga-nos a pensar a governabilidade desse sistema fazendo um

duplo esforço: quer aquele característico de qualquer processo de reforma - criação

de viabilidade, técnica, política e financeira para o projeto de mudanças; bem como

um adicional - de reformar a abrangência das mudanças anteriormente previstas

para as reformas (Campos, 1997:26). Nessa busca de pensar a governabilidade ou

real efetivação desse sistema, destacamos a importância da diretriz que recomenda

a descentralização de um conjunto de responsabilidades, de poder/autonomia e de

recursos financeiros para os municípios.

No que tange aos recursos financeiros ou recursos públicos para o

financiamento da saúde, no Brasil, assim como em outros países que adotam

sistemas universais unificados de saúde, a base de financiamento foi sendo

composta por recursos fiscais globais e contribuições sobre os salários.

Até a recente aprovação da Emenda Constitucional n. 0 29/2000, o

financiamento da saúde dependia dos aportes do Orçamento do Ministério da Saúde

que por sua vez depende de repasses do Tesouro da Previdência cujas principais

fontes provêm dos descontos dos salários dos trabalhadores vinculados ao mercado

formal de trabalho (registro em Carteira de Trabalho), dos contribuintes autônomos e

do recolhimento de percentual incidente sobre as folhas salariais das empresas e

dos recursos tributários e fiscais - dentre os mais significativos a Contribuição para o

Financiamento da Seguridade (COFINS), a contribuição sobre o lucro líquido, a

CPMF e, a partir de 1993, da participação mais significativa do Tesouro da União,

por meio de aportes financeiros mais regulares, necessários ante as restrições das

transferências decorrentes das políticas orçamentárias implementadas pelo Sistema

Previdenciário (Cohn, op. cit.).

O financiamento da saúde, pode ser destacado como fator contributivo para

a dimensão da ineficiência da política de saúde, determinada de um lado, por um

constante crescimento dos custos em atenção médica e, de outro, pela

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irracionalidade na alocação dos recursos decorrente, em grande parte, da força

política e ideológica do modelo assistencial médico hegemônico. Uma outra

dimensão, que vale a pena ressaltar, é a iniqüidade do sistema de saúde que tem

ligação estreita com a forma como se distribuem os recursos de saúde no Brasil

(Mendes, 1999).

Desta forma, a assistência à saúde se faz pouco eqüitativa entre as diferentes

regiões brasileiras e mesmo entre os municípios de um mesmo estado, em virtude

dos padrões ou formas de financiamento vigentes que privilegiam como critério

básico a produtividade combinada com a diferenciação de pagamento por

complexidade do ato/procedimento realizado (Soares & Bava, op. cit.). Isto acaba

resultando numa reprodução das disparidades existentes no setor, uma vez que são

as unidades públicas e privadas de maior densidade tecnológica e os estados,

regiões e municípios com maior, e no geral mais complexa, rede de equipamentos -

necessariamente de maior custo para o sistema - os que recebem maior parcela dos

recursos financeiros.

Em outras palavras, a alocação de recursos para estados e municípios

baseada na lógica de oferta de serviços é, ainda, hegemônica no Sistema de Saúde

brasileiro. Nesta lógica, o recurso é alocado para custeio dos serviços de saúde, ou

mais precisamente para custeio de dos serviços de atenção à doença. O predomínio

desse critério traz como uma das suas principais distorções o reforço das

desigualdades. Alocando recursos nas regiões onde existem mais serviços que

historicamente foram privilegiadas onde foram feitos maiores investimentos públicos

e/ou privados (mas geralmente com recursos públicos). Seguindo esta lógica, os

estados acabam privilegiando municípios mais ricos (Mendes, op. cit.).

Além disto, a base de sustentação do financiamento da política de saúde é

bastante questionável e incongruente com a proposta de Reforma Sanitária, ou seja,

um financiamento que sempre se sustentou na pequena participação dos recursos

fiscais, (arrecadação de impostos/tributos diretos) cria sérias barreiras para a

efetivação dos preceitos constitucionais propostos pelo SUS, tais como:

universalização e eqüidade (Médici, 1994).

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As formas de financiamento do SUS refletem a hegemonia da política

neoliberal. Em 1995, por exemplo, 71,7% dos gastos da União com a rede

ambulatorial foram destinados aos serviços contratados (filantrópicos e privados),

enquanto apenas 28,4% foram para os Estados e Municípios. Os que menos

receberam realizaram 64,5% das consultas médicas e um sem-número de novas

atividades no campo das ações coletivas de saúde (Campos, op. cit.).

Há, portanto, uma transposição para a esfera governamental da lógica

mercantil. Uma das principais contradições geradas por essa transposição é o fato

do Brasil apresentar financiamento predominantemente público e a prestação de

serviços, sobretudo a hospitalar, ser na maior parte, privada (Mendes, op. cit.). Isto

coloca em xeque a governabilidade do SUS à medida que, contraditoriamente, ao

constatado na prática, a atual Constituição Federal determina que o sistema de

saúde seja fundamentado em padrões não mercantis, onde o indivíduo participe não

apenas como consumidor, mas como usuário e cidadão.

A crise de governabilidade do sistema de saúde se expressa nas dificuldades

do Estado em equacionar os problemas de saúde da população de acordo com a

proposta de descentralização do SUS. Ao nosso ver, um grande responsável por tal

crise seria o modo de financiar esta política de saúde que coloca limites à autonomia

dos municípios impedindo que estes exerçam na prática o seu papel de gestores

plenos.

Portanto, destacamos o financiamento como uma das variáveis mais críticas

na análise da governabilidade do sistema devido ao entendimento de que o

processo de descentralização do SUS depende não só da quantidade de recursos

necessários para fazer frente aos compromissos/projetos assumidos no atendimento

à população, mas também da regularidade do financiamento e da capacidade para

gestão e aumento dos recursos destinados ao setor pela União, Estados e

Municípios.

A tradição centralista transferiu, assim, a Estados e Municípios a credencial

de prestadores de serviços mediante produtividade. Esta característica do

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financiamento do sistema de saúde brasileiro opõe-se ao ideário de

descentralização proposto pela Reforma Sanitária que objetiva romper com os

mecanismos autoritários característicos do período pré-reforma (Vianna et ai 1991)

contribuindo para o desenvolvimento da autonomia dos Estados e Municípios.

A preocupação com o financiamento do setor se dá, principalmente, devido

aos mecanismos de financiamento/pagamento vigentes no SUS. A precedência

deste aspecto repercute no curso do processo de descentralização, balizando seus

limites e suas possibilidade. Assim, a perspectiva de uma descentralização política

de saúde alicerçada na transferência de recursos merece ser melhor desvelada,

uma vez que esta característica constituí-se, ao nosso ver, como um obstáculo que o

projeto SUS tem que enfrentar para conseguir efetivar preceitos como a

universalização, a integralidade da atenção e a eqüidade.

O processo de implantação do SUS, requer, se fundamentado na lógica do

federalismo cooperativo, que Estados e Municípios assumam, de fato, a gestão

plena dos recursos que lhe são transferidos pela União. Para isto a descentralização

dos recursos deveria se dar através da transferência global com critérios objetivos e

automáticos e sem nenhuma vinculação apriorística, a não ser aos

princípios/diretrizes que garantam a unidade de doutrina do sistema no âmbito

nacional. Só assim, a autonomia dos estados e municípios seria respeitada e estes

entes poderiam, articuladamente, definir e implementar na sua singularidade, o SUS

de acordo com suas realidades.

O atual contexto de descentralização/municipalização da política de saúde

não pode ser compreendido de forma desvinculada do campo legal-normativo que

orienta a prática ou efetivação do SUS. Por outra parte, é necessário ainda

considerar o campo situacional da gestão saúde para que este contexto seja melhor

desvelado.

Assim, coloca-se a necessidade de repensar a descentralização percebendo,

também, a diversidade das experiências que emergem da transferência de poder

para as instâncias decisórias municipais. Para dar conta desta necessidade é

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preciso repensar a municipalização enquanto processo que deve reforçar a

capacidade de autonomia decisória dos gestores locais (Bodstein, 1996).

Neste sentido, é importante resgatar através de estudos de caso, alguns

efeitos recentes do progresso de descentralização (Souza, 1994). Diante da diretriz

descentralização/municipalização e dos impasses na implantação do SUS,

apostamos na perspectiva de reconstrução da capilaridade do sistema de saúde,

tomando como eixo a compreensão do processo de deslocamento de poder

para os municípios. Face a essa perspectiva, pode-se dizer que a viabilização do

SUS envolveria uma redefinição da estrutura de poder no sistema governamental

que ao contemplar a diretriz descentralização/municipalização poderia levar ao

aumento da governabilidade do sistema de saúde, principalmente, no nível

municipal.

A perspectiva metodológica/analítica adotada parte do entendimento de que

os problemas enfrentados pelo setor saúde não podem se expressar unicamente

através de indicadores e coeficientes tradicionalmente montados a partir de uma

lógica instrumental, ainda que, sistêmica. O tipo de investigação aqui proposta

pretende contribuir para o entendimento da descentralização/municipalização da

política de saúde a partir da apreensão desse processo no plano político

organizacional considerando como foco a questão da autonomia municipal na

gestão dos recursos financeiros, como elemento da governabilidade necessária a

efetivação do SUS.

O presente estudo consiste, portanto, num duplo esforço:

1) Teórico, no sentido de aproximar conceitos tradicionais do estudo de

políticas e do planejamento para o âmbito específico do financiamento em

saúde;

2) E um esforço mais empírico, ao utilizarmos dados/materiais dos sistemas

de informações, observados/desvelados em outra lógica, à perspectiva da

discussão teórica.

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A estrutura desse estudo encontra-se apresentada em quatro momentos: No

primeiro, buscamos na literatura, elementos para situar condições de

governabilidade do SUS apontando para a questão da autonomia financeira no

âmbito municipal; no segundo, apresentamos o percurso metodológico; no terceiro,

discorre-se sobre governabilidade e autonomia a partir da dinâmica do financiamento

da saúde, apontando-se aspectos do campo/arcabouço legal normativo pós­

Constituição de 1988; discute-se a autonomia na gestão dos recursos financeiros da

saúde a partir de dados quantitativos dos sistemas de informações; identifica­

se/apresenta-se elementos do campo/análise situacional da gestão municipal do

SUS e, por fim, no quarto momento, tecemos algumas considerações finais acerca

do desenvolvimento/resultados do estudo.

QUESTÕES DE PESQUISA OU PERGUNTAS NORTEADORAS

Como o processo descentralização político-administrativa e, mais

especificamente, dos recursos financeiros do SUS, contribui para o aumento da

governabilidade do sistema de saúde e para a autonomia dos

gestores/dirigentes do SUS?

Qual o "grau" de autonomia dos gestores municipais do SUS frente a

disponibilidade de recursos financeiros que estes detém, a capacidade para a

gestão destes recursos e como este (grau) se articula com a proposta de

descentralização do SUS?

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OBJETIVO GERAL

Discutir a autonomia municipal em relação aos recursos financeiros do SUS,

em municípios sob condição de gestão Plena do Sistema, no Estado de

Pernambuco, no contexto de descentralização da saúde, enquanto elementos da

governabilidade desse sistema.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

« Discutir, a partir da literatura, elementos que situem condições de

governabilidade do município, apontando para a questão da autonomia

financeira do SUS no âmbito municipal;

« Apontar aspectos do campo/arcabouço legal-normativo pós-Constituição de

1988, no que tange à descentralização dos recursos financeiros do SUS, dando

ênfase à questão da autonomia municipal;

« Apontar e discutir a governabilidade do SUS municipal a partir de dados

quantitativos dos sistemas de informações;

« Identificar no campo/análise situacional da gestão municipal do SUS, elementos

que acrescentem à compreensão da governabilidade do SUS, dando ênfase a

questão da autonomia do Município/Secretário de Saúde na gestão dos

recursos financeiros do SUS.

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A GOVERNABILIDADE NECESSÁRIA AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE:

DESCENTRALIZAÇÃO E AUTONOMIA FINANCEIRA NO ÂMBITO MUNICIPAL

No Brasil, o desafio da reforma do Estado e seu ajuste à nova ordem

econômica e financeira global provocou profusa literatura sobre os conceitos de

governabilidade e governança. Diversos autores dedicaram-se a recuperar a origem

histórica dos conceitos e tentar diferenciá-los, nem sempre com êxito (Santos, 1997).

Uma primeira definição aborda a governabilidade ou capacidade governativa

como a capacidade de um sistema político produzir políticas públicas que resolvam

os problemas da sociedade ou, ainda, de converter o potencial político de um dado

conjunto de instituições e práticas políticas em capacidade de definir, implementar e

sustentar políticas (Idem).

Para propósitos analíticos, pode-se desagregar a definição acima nos

seguintes termos. Diz-se que um sistema político é dotado de governabilidade ou

capacidade governativa se tiver capacidade de: (1) identificar problemas da

sociedade e formular políticas públicas, isto é oferecer soluções e (2) implementar

as políticas formuladas, mobilizando para isso meios e recursos políticos e

financeiros necessários (Idem) .

Uma outra definição deste conceito surge quando autores utilizam o termo

governabilidade para se referir às condições sistêmicas e institucionais sob as quais

se dá o exercício do poder, tais como, a forma de governo, as relações entre os

Poderes, o sistema de intermediação de interesses e as características do sistema

político (Martins, 1995; Velloso & Albuquerque, 1995).

No caso do Brasil, que é um sistema político federalista, este condicionante

implica cooperação política e financeira entre a União e os Estados e Municípios.

Esta é a razão pela qual o grau de descentralização entre as esferas é de

importância fundamental para a análise das condições de governabilidade do

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sistema político brasileiro como também à analise de governabilidade da atual

política de saúde, o SUS, na esfera municipal.

Quanto a governança ou governance a literatura recente incorpora o novo

conceito, partindo da definição geral do Banco Mundial que refere-se ao modo como

a autoridade é exercida no gerenciamento dos recursos do país em direção ao

desenvolvimento. Esse conceito refere-se, a partir de então, ao modus operandi

(modo de operar) das políticas governamentais- que inclui, dentre outras questões

ligadas ao formato político institucional dos processos decisórios, à definição do

mix apropriado do público/privado nas políticas, à participação e descentralização, o

alcance global dos programas e (vale destacar) aos mecanismos de financiamento

das políticas (Melo, 1995).

No âmbito da gestão, entendemos governabilidade como a capacidade que

os gestores no setor público têm para definir e implementar ações utilizando-se de

um conjunto de objetivos, estratégias e instrumentos políticos-administrativos e

técnicos em função do desenvolvimento econômico e social (Felicíssimo, 1998).

Poderíamos, então, dizer que a viabilização do SUS, enquanto paradigma

delineado pela Reforma Sanitária, requer um processo de desenvolvimento de

competências que possibilite o maior controle pelos gestores das variáveis políticas,

administrativas e técnicas, para que o projeto social de Reforma do Estado no

campo da saúde acumule a governabilidade necessária a sua definitiva

implementação.

Outra contribuição, pertencente ao campo do planejamento, trata a

governabilidade como a relação entre variáveis que um ator controla e não controla

no processo de governo para viabilizar políticas. Assim, a governabilidade estaria

dinamicamente relacionada ao projeto de governo ou conteúdo programático que

este ator se propõe a realizar de acordo com seus objetivos e a capacidade de

governo ou capital de conhecimento e experiência que permite transformar o plano

de governo em prática social (Matus, 1987).

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12

Governabilidade estaria, ainda, implicada às condições do município em

produzir riquezas suficientes para disponibilizar bens e serviços e às condições da

conjuntura política que definem as relações de barganha dos municípios com as

outras esferas governamentais (Pedrosa, 1999).

Em sintonia com esta implicação, as finanças do município são consideradas

nesse trabalho, como meios para atingir a governabilidade, destacando-se, neste

sentido, os avanços obtidos em direção ao crescimento das receitas próprias e nas

relações que se estabelecem dentro da conjuntura política. O aumento de receita

própria pode resultar da combinação de reforma tributária e de política fiscal

desencadeadas pelo poder público municipal respaldadas pelas mudanças

determinadas pela Constituição Federal de 1988. A experiência mostra que o

crescimento das receitas próprias se traduz em aumento da receita total do

município e gera equilíbrio financeiro, fundamental ao incremento da capacidade de

definir, implementar, sustentar políticas e priorizar investimentos que melhorem as

condições de saúde da população (Pozzobon, 1998) 2.

A ingovernabilidade é um dos desafios da atualidade brasileira, o diagnóstico

dominante enfatiza os efeitos perversos que teriam advindo da democratização

crescente da ordem social e política. Explosão de demandas, saturação da agenda,

excesso de pressões desencadeadas pelo aumento acelerado da participação,

expansão desordenada do quadro partidários e prevalência de uma dinâmica de

proliferação e fragmentação das estruturas partidárias, a indisciplina do Congresso, o

descompasso entre as capacidades de resposta do Governo na definição e

implementação de políticas públicas, seriam os aspectos mais destacados pela

maioria dos enfoques (Diniz, 1995).

No início dos anos 90, a liberação das demandas reprimidas cerca de vinte

anos pelo regime autoritário e seu alto grau de centralização acrescida da

exacerbação das expectativas por políticas mais efetivas reforça as restrições, do

2 O estudo faz parte do Projeto "Os desafios da gestão municipal democrática", desenvolvido pelo Centro Josué de Castro, de Recife, e pelo Instituto Pólis, de São Paulo, com o apoio da União Européia.

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governo acossado pela multiplicidade de pressões contraditórias, gerando paralisia

decisória e perda de credibilidade (Lamounier, 1991; 1992; Martins, 1994).

Esta perspectiva centra o foco da discussão sobre a crise de governabilidade

ou ingovernabilidade, nos fatores responsáveis pela paralisia decisória, no entanto, o

que se observa ao longo dos anos 90 é a incapacidade do Governo para

implementar políticas e fazer valer suas decisões. ''Assim, os pontos de

estrangulamento situam-se, sobretudo, no âmbito da execução e da garantia das

políticas formuladas" (Diniz, 1996:51).

Para enfrentar essa crise de governabilidade atribuiu-se um grande destaque

à redefinição do padrão centralizado de intervenção governamental a partir do

desenvolvimento da descentralização da administração e dos serviços

públicos (Pereira, 1996). Com isto, acredita-se que uma maior governabilidade seria

possibilitada, a proporção que descentralizando-se a ação pública seriam

promovidos resultados mais satisfatórios gerando maiores soluções para os

problemas da população. Dessa forma, a ação estatal estaria orientada para a

"administração para o público", em que a satisfação seria o objetivo primeiro a ser

alcançado (Idem).

Em termos conceituais, no plano político-administrativo, a descentralização

significaria a possibilidade de ampliação de direitos, a autonomia da gestão

municipal, a participação cotidiana dos cidadãos na gestão pública e uma

potencialização de instrumentos adequados para uso e redistribuição mais eficiente

dos escassos recursos públicos (Jacobi, 1990). A descentralização envolveria,

portanto, uma redefinição da estrutura de poder no sistema governamental, que se

realiza através do remanejamento ou transferência de competências decisórias e

executivas assim como dos recursos necessários para financiá-las.

Além disto, cabe deixar claro o entendimento de que a descentralização pode

ser intragovernamental, intergovernamental ou interinstitucional, expressa em

modalidades diferenciadas como estadualização, municipalização, regionalização,

autonomia de gestão, terceirização etc., em que um dos pontos mais marcantes é a

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relação de parceria entre o estatal e o privado, que deve se dar sob o domínio do

interesse público (Mendes, 1999).

É comum antagonizar o conceito de descentralização ao de desconcentração.

A desconcentração consiste no deslocamento de algumas responsabilidades

administrativas para níveis hierárquicos inferiores, dentro de uma mesma

organização. Pode ser, ainda, considerada como descentralização administrativa ou

repasse de capacidade decisória a um ente de escala inferior sem proporcionar, a

ele, autonomia ou poder decisório. A unidade receptora da desconcentração atua

com a mesma normatividade do organismo delegante e o poder decisório

permanece com a autoridade que desconcentrou. A desconcentração garante a

integridade organizacional vertical mas, ao não transferir o poder decisório,

dificulta a responsabilização local, a integração intersetorial e a participação dos

cidadãos (Mendes, 1998).

Dessa forma, falta descentralizar autonomia ou poder decisório para que

a desconcentração se converta em descentralização de fato. Se não há

transferência de autonomia a descentralização é incompleta. Assim, a

descentralização sempre traz em seu bojo uma ampliação dos núcleos de

poder, fazendo com que o processo decisório global se torne mais negociável e

complexo (Médici, op. cit.).

Pode-se dizer que no Brasil houve mais desconcentração do que

descentralização, principalmente, no período que antecede a Constituição de 1988.

Esta afirmação se justifica a medida que, no referido período, de acordo com a

estrutura tributária existente, apenas uma parte muito pequena de recursos era

destinada diretamente aos Estados e Municípios, sendo por conseguinte muito

estreitos os limites da descentralização dos serviços de saúde. Se coloca, então, a

necessidade de se travar duas batalhas: por uma maior disponibilidade financeira

dos poderes regionais e locais e por uma descentralização que só pode de fato

acontecer se tal disponibilidade financeira também for efetivada.

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Além disso, a complexidade desse conceito envolve uma série de aspectos

complementares e interdependentes. Entre estes aspectos, consideramos que a

autonomia da gestão municipal indicaria o real grau de descentralização obtido, pois:

Passar a execução do nível da União, para os Estados e municípios, no entanto, pode não ser uma forma completa de descentralização. ( ... ) a descentralização das ações do Estado envolve adicionalmente a descentralização do poder (autonomia política) e dos recursos para operacionalizar as políticas envolvidas (autonomia financeira) (ldem:58).

No processo de descentralização brasileiro, coexistem duas lógicas: a

econômica, voltada para a diminuição ou racionalização do gasto público e a

lógica(s) política(s) voltada(s) para a satisfação da demanda imediata; para a

concepção da descentralização como uma estratégia de democratização das

relações entre Estado e sociedade; além da possibilidade de reestruturação ou

reforma do próprio Estado ao assumir valores políticos como a universalização, a

eqüidade, o controle social (Teixeira, 1990).

A convivência dessas duas lógicas constitui um paradoxo ou tensão

existente em torno das propostas de descentralização, defendidas tanto pelos

setores progressistas da sociedade quanto pelos conservadores, aliados aos

preceitos praticados pelas principais agências internacionais de incentivo ao

desenvolvimento. Em outras palavras, a descentralização é instrumento fundamental

seja da proposta neoliberal, seja da social democrata. A diferença entre essas duas

lógicas de descentralização está no modo como se interpreta o papel do Estado, na

ordem econômica e social (Mendes, op. cit.).

A ingovernabilidade do SUS se expressa, então, nas dificuldades do Estado

em equacionar os problemas de saúde da população efetivando na prática uma

proposta de descentralização da saúde que sintonize com a lógica de

descentralização política do SUS que é compreendida como paradigma de reforma

do Estado no campo da Saúde. Nesta, a descentralização é um dos principais meios

para possibilitar um maior controle nas relações políticas ao criar espaços de maior

autonomia e participação nos processos decisórios possibilitando desse modo o

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equilíbrio entre responsabilidades, obrigações e poderes nas três esferas que

compõem o Estado brasileiro (Hortale, 1997).

Entendendo-se por financiamento as diferentes modalidades de provimento

dos recursos necessários para o setor de saúde (Cohn, op. cit.), considera-se,

ainda, que a análise das condições de governabilidade do SUS, destacando a

questão da autonomia no financiamento desta política, requer o desdobramento da

descentralização - enquanto conceito complexo - nos conceitos de descentralização

autônoma e descentralização dependente.

Na descentralização autônoma os recursos provêm da arrecadação da

própria esfera local, não dependendo de recursos transferidos de outras esferas de

governo para sua operação (Médici, op. cit.). Haveria assim, uma maior flexibilidade

por parte do(s) gestor(es) da política no uso dos recursos a medida em que não

depende-se dos ditames da esfera federal para obtenção de financiamento.

Por outro lado, na descentralização dependente os recursos que a esfera

local dispõe para o financiamento não provém, portanto, da própria arrecadação

local, mas sim de repasses de outras esferas de governo. Nesse tipo de

descentralização, a esfera que recebe os recursos financeiros, geralmente, tem que

se sujeitar a detalhes formais de organização e alocação dos recursos reduzindo-se

a possibilidade, no sentido de cada esfera local escolher o modelo de gestão mais

adequado às suas especificidades (Idem).

Na descentralização dependente o financiamento pode se efetuar,

principalmente, de duas formas. A primeira se dá através de transferências

negociadas de recursos, mantendo-se uma frágil relação de dependência entre a

esfera receptora e a esfera transferidora, a qual está baseada em laços políticos,

técnicos ou institucionais - é uma descentralização tutelada. A segunda é baseada

em transferências automáticas, as quais podem ser definidas legalmente

(Constituição Federal, legislação ordinária ou complementar). Nesta última forma de

descentralização, ainda que se mantenha a relação de dependência, esta não

ficaria atrelada "aos humores da esfera que realiza o repasse dos recursos". É uma

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forma de descentralização vinculada, na medida em que se baseia em recursos

vinculados a critérios legalmente estabelecidos {Idem).

No entanto, cabe deixar claro que estas duas formas de descentralização

dependente ocorrem, quase sempre, de forma paralela ou complementar, visto que

dificilmente um Estado ou Município deixa de por recursos de sua arrecadação

própria na dinâmica de sua política de saúde ou de receber recursos de forma

vinculada e/ou tutelada por parte de outra esfera de governo. Ressaltamos, então,

que na análise da governabilidade do SUS uma das questões a se pesquisar é qual

o grau de dependência de recursos externos ou, inversamente, de autonomia para o

financiamento dessa política, considerando-se as restrições importantes ou mais

graves que a esfera ou governo local efetivamente irá sofrer se cessarem os

repasses do governo federal.

Frente a situação atual de descentralização dependente consolidada no

Brasil, um dos maiores desafios para a efetivação do processo de descentralização

consiste na atribuição aos governos locais de recursos financeiros que lhes

permitam cumprir um papel efetivo no processo de desenvolvimento, "capacitando­

os financeiramente para a prestação dos serviços sob sua responsabilidade" (Mello,

1991 apud Souza, 1997).

Dessa maneira, ao mesmo tempo em que há entre os 5.507 municípios

brasileiros aqueles que podem obter recursos de seus tributos ou de outras fontes

de receita próprias, há também um grande número de municípios que mesmo

dispondo dos poderes tributários e de outras fontes potenciais de receita não

conseguem arrecadar o suficiente que permita o desempenho das funções que lhe

são atribuídas. Nesses últimos casos, o sucesso na descentralização da política de

saúde é intrínseco a capacidade efetiva de governo. A intervenção do Estado -

governo federal e governos estaduais - torna-se uma necessidade ou um suporte

fundamental para que os municípios possam cumprir, de fato, seu papel no processo

de desenvolvimento em direção a níveis mais resolutivos de eficiência no

atendimento às necessidades da população (Souza, op. cit.).

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O pressuposto explicitado acima, ressalta o teor pluridimensional da

governabilidade, compreendendo não só os aspectos técnicos e administrativos da

atividade de governar, como também a dimensão política. A autonomia para gerir os

recursos destinados ao financiamento do SUS consiste, ao nosso ver, num dos

principais pontos dessa dimensão já que ... "a eficiência não se esgota na agilidade

da tomada de decisões, mas requer também capacidade de obter aquiescência aos

comandos estatais, de garantir a observância dos preceitos legais e fazer valer as

decisões governamentais" (Diniz, 1996: 12).

Essa questão, enfrentada por muitos dos municípios, pode ser sintetizada

como capacidade de autonomia ou de autogestão, considerando a disponibilidade

de recursos próprios, tanto de arrecadação quanto de infra-estrutura e humanos, a

serem destinados a execução da política (Gerschman, 2000). Assim, quanto maior

for a capacidade de autogestão dos municípios maior será a sua governabilidade, ou

seja, as condições de governabilidade serão maiores quando em relação com outras

esferas de poder, no processo de tomada de decisões, os municípios dispuserem de

recursos próprios para definir, implementar e sustentar políticas.

Na relação com as outras esferas, o município, enquanto ator, sempre

enfrentou uma disputa de poder travada em torno de recursos técnicos,

organizacionais, políticos e, principalmente, financeiros, cuja direcionalidade decorre

da movimentação dos vários atores sociais nesse campo de poder (Bourdieu, 1989

apud Pedrosa, 1999). No campo da gestão/organização da saúde um dos atores

essenciais é o gestor municipal, corporificado, na figura do secretario municipal de

saúde (Pedrosa, 1999).

Ator pode ser entendido como uma organização ou personalidade que tem

um projeto; controla algum recurso relevante (pode acumular ou desacumular);

participa do jogo social. Sendo uma organização, tem que ser estável, o que lhe

permite, atuar com o peso de um coletivo razoavelmente coerente; sendo uma

personalidade, tem presença forte e estável no sistema (capaz de atrair um coletivo

social com suas idéias) (Cardoso, 1996).

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Para atingir a governabilidade necessária a efetivação do SUS, compreendida

como um processo de descentralização do poder decisório no campo organizacional

da saúde, em situações onde historicamente predominam relações centralizadoras

de poder político, os gestores municipais de saúde devem apresentar perfis

inovadores e mobilidade/flexibilidade para transitar com competência entre níveis de

poder de natureza e complexidade distintas (Fischer, 1997). Além disto, é

necessário que saibam manejar os recursos de poder técnico (capacidade de se

apropriar de informações científicas), os recursos de poder político (capacidade de

gerar adeptos aos seus projetos através do diálogo e da negociação (Testa, 1992) e,

em especial, os recursos de poder administrativo-financeiro (capacidade de

identificar e comprometer recursos financeiros de acordo com o seu projeto de

governo).

A dependência financeira do nível municipal dos Estados e da União é visto

como o principal fator limitante do avanço da descentralização(Campos, op. cit.).

Para que ocorra a municipalização da saúde, entendida como a efetivação do SUS

no âmbito municipal, faz-se necessário um projeto político com alto nível de

governabilidade, isto é, um projeto em que o secretario municipal de saúde obtenha

maior capacidade para controlar variáveis críticas que interferem em sua viabilidade.

Dessa forma, vê-se o financiamento como uma das variáveis - pertencentes aos

recursos de poder administrativo-financeiro - que mais tem interferência na

governabilidade do SUS no âmbito municipal.

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PERCURSO METODOLÓGICO

2.1. Definição do Estudo

O presente trabalho constitui-se como um estudo de casos-multiplos,

exploratório, de corte quanti-qualitativo. Partilha a compreensão de que os

problemas enfrentados pelo setor saúde, como fenômenos complexos, não podem

se expressar unicamente através de indicadores e coeficientes, devendo ocorrer

uma complementaridade entre o "qualitativo" e o "quantitativo". Assim, buscamos

contemplar três dimensões investigativas: o estudo do campo/arcabouço legal­

normativo no tocante ao financiamento municipal do SUS através de documentos e

literatura pertinente; a exploração de dados secundários dos sistemas de informação

existentes e a interpretação do significado contido nos dados primários que expõem

o campo/análise situacional da gestão municipal do SUS. Desta forma, procuramos

utilizar abordagens diversificadas para a compreensão da realidade (Mynayo &

Sanches, 1998).

2.2. Seleção da amostra

Trabalhamos com uma amostra intencional que utiliza critérios de

representatividade qualitativa, sendo interpretativa ou argumentativamente

controlada. A escolha se dá em função da relevância que os grupos apresentam em

relação a um determinado assunto ( ... ) "ou em função da sua representatividade

social dentro da situação considerada" (Thiolllent, 1998:62). O que se leva em

consideração é a representatividade expressiva.

A amostra deste estudo é parte integrante da amostra da pesquisa "Análise

Situacional e Proposições para o Processo de Municipalização da Saúde em

Pernambuco. Esta pesquisa caracterizou os municípios do Estado de Pernambuco a

partir de critério populacional dividindo-os em três diferentes portes. Os municípios

abaixo de 50.000 habitantes foram considerados de pequeno porte, aqueles entre

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50.000 e 150.000 de médio porte e acima de 150.000 de grande porte pois esse

intervalo de classe mostrou-se com capacidade de abarcar a realidade dos

municípios pernambucanos. Dada a diversidade regional do estado adotou-se

ainda o critério geográfico, através das regiões fisiográficas, o qual resultou na

caracterização de doze tipos de municípios.

A partir desta tipologia foram selecionados 11 municípios-caso* dos quais

escolhemos os que encontravam-se, sob a condição de Gestão Plena do Sistema

Municipal da Saúde. Para continuar a contemplar os critérios de representatividade

qualitativa resolvemos investigar um município de cada região fisiográfica. Assim,

foram selecionados: Camaragibe, considerado como de médio porte, na Região

Metropolitana do Recife; Caruaru, considerado de grande porte, no Agreste e

Petrolina, também de grande porte, no Sertão. Cabe explicitar que não havia na

Região da Mata municípios sob a referida condição de gestão.

2.2.1. Os municípios sob condição de Gestão Plena do Sistema Municipal da

Saúde

« Camaragibe

Camaragibe localiza-se na Região Metropolitana do Recife. Distando, apenas

16 km da capital. A Estrada de Aldeia (PE-027) e a PE-005 (P) são as vias de

acesso para este município.

A origem desta cidade esta relacionada ao Antigo Engenho Camaragibe,

fundado em 1.549 no território de São Lourenço da Mata, o qual funcionava como o

centro de uma comunidade rural, com instalações destinadas a atividades industriais

e outras para a moradia de escravos e administradores. A Companhia Industrial

Pernambucana (CIPER) comprou o Engenho para a construção da Fábrica de

Tecidos de Camaragibe (atualmente BRASPÉROLA), tendo sido este um dos passos

que favoreceram o crescimento. Assim, em 1982, a Lei Estadual n.0 8.951 de 14 de

maio, cria o município desmembrando-o do território de São Lourenço da Mata.

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Quanto a situação política do município, sabe-se que o Prefeito Paulo Roberto

de Santana( ex-Secretário Municipal de Saúde na gestão anterior) é vinculado ao

Partido dos Trabalhadores (PT) e o Vice-Prefeito Nadeji Alves de Queiroz ao

Partido Socialista Brasileiro (PSB). Possui 15 vereadores e um total 72.544

eleitores ( FIDEM, Síntese de Informações Municipais, 1999).

Camaragibe tem uma população residente total de 111.119 habitantes, o que

equivale ao percentual de 1 ,50% da população pernambucana. Destes habitantes,

54.113 são do sexo masculino e 57.006 são do sexo feminino. A taxa de densidade

demográfica é de 2.301 hab./ km 2 e a taxa de urbanização é igual a 100% (FIDEM,

1999). O número total de domicílios é de 26.480 e o número de moradores por

domicílio é de 4.3.

Dos chefes de domicílios do município, 75.9% percebem até 2 salários

mínimos mensalmente; 49.5% percebem até 1 salário mínimo. A renda média

mensal do chefe de domicílio equivale a 1.8 salário mínimo. A renda família per

capita média é de 0,65 do salário mínimo. O percentual de pessoas com renda

insuficiente (menos de 50% do salário mínimo) é igual a 61.9% (IBGE, 1991).

Em relação a mão-de-obra no município, o número percentual de pessoas

ocupadas por atividade econômica é de 27% nos Serviços; 18% no Comércio; 15%

na Indústria e 40% estão ocupadas em Outras atividades (IBGE/91 ). Quanto às

atividades existentes no município, 30.282 pessoas de 1 O e mais anos, estão

ocupadas da seguinte forma: 8.102 ou 26.8% estão na Prestação de Serviços; 5.424

ou 17.9% no Comércio de Mercadorias; 3.400 ou 11.2% no setor Social (Saúde,

Ensino Público/ Privado, etc.); 3.194 ou 10.5% na Indústria de Construção Civil;

1.710 pessoas ou 5.6% no Transporte e Comunicação; 1.663 pessoas ou 5,5% na

Administração Pública; 644 ou 2.1% nos Serviços Auxiliares da Atividade

Econômica; 470 pessoas ou 1.6% estão ocupadas em Outras Atividades Industriais;

por fim, 455 pessoas ou 1.5% estão em Outras Atividades (IDEM).

Em Camaragibe, existem 4 unidades hospitalares que estão ligadas ao SUS.

O município conta com 1.405 leitos hospitalares (FUSAM, 1997) e uma necessidade

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estimada de 200 leitos hospitalares (FUSAM, 1997). O número de Agentes

Comunitários de Saúde Pública é igual a 126 agentes (FUSAM/97). O município

possui 23 Unidades de Saúde da Família (USF), 6 Centros de Saúde, 1 Centro de

Especialidades Médicas(Pronto Atendimento e Ambulatório), 1 Núcleo de

Reabilitação, 1 Núcleo de Apoio Psicossocial, 1 Laboratório Municipal de Prevenção

do Câncer Cérvico Uterino, 2 Laboratórios conveniados/contratados, e ainda 2

Hospitais Psiquiátricos geridos pelo Estado. O Programa de Agentes Comunitários

de Saúde (PACS) cobre 10% da população e o Programa de Saúde da Família tem

uma cobertura populacional de 88,24% (SES/PE, 2000).

O teto financeiro assistencial do município é um montante que corresponde

ao financiamento do conjunto das ações assistenciais sob responsabilidade da

Secretaria Municipal de Saúde, assim, o valor desse teto no caso de Camaragibe é

de R$ 17.022.277,24 (MS - Extrato do Fundo Municipal, 2000). São repassados,

ainda, R$ 1.576.452,00 como Piso de Atenção Básica (PAB). Para receber tais

valores/montantes o município possui uma "conta Fundo" e uma "conta PAB".

« Caruaru

Caruaru localiza-se na região do Agreste e microrregião do Vale do lpojuca,

pertencentes ao Estado de Pernambuco. Este município é considerado um grande

pólo econômico, turístico e artesanal.

Quanto a situação política do município, sabe-se que o prefeito João Soares

Lira Neto e o Vice-Prefeito Antônio Vieira da Rocha Filho ( atual Secretário Municipal

de Saúde) são filiados ao Partido Socialista Brasileiro(PSB). O município conta,

ainda, com a atuação de 21 vereadores e um total de 133.278 eleitores (FIDEM,

Síntese de Informações Municipais, 1999).

Caruaru tem uma população residente total de 231.989 habitantes, o que

equivale ao percentual de 3,13% da população de Pernambuco. Destes habitantes,

110.139 são do sexo masculino e 121.850 são do sexo feminino. A taxa de

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densidade demográfica é de 249 hab./Km2 e a taxa de urbanização é igual a 86%

(FIDEM, 1999). O número total de domicílios é de 59.349, onde 51.171 pertencem a

área urbana. O número de moradores por domicílio é de 3,9 (IBGE, 1996).

Dos chefes de domicílios do município, 45,2% recebem até 01 S.M. e 70,7%

recebem até 02 S.M., desta forma, a renda média mensal do chefe de domicílio é de

2,3 S.M. A renda familiar per capita média é de 0,92 S.M., o que significa

praticamente metade da população (49,9%) apresentar uma renda insuficiente (

menor que 50% do S.M.).

Em relação a mão-de-obra no município, o número percentual de pessoas

ocupadas por atividade econômica é de 26% no comércio, 22% nos serviços, 14%

nas indústrias e 38% em outras atividades (IBGE/91). Há um total de 81.506

pessoas empregadas por 1 O e mais anos, das quais a maioria encontra-se no setor

do comércio de mercadorias (25,5%); seguido do setor de prestação de serviços

(21 ,9%) e o setor da indústria de transformação que ocupa 14,2% da população.

Em relação a ocupação principal e relação de emprego, há 43,9% da

população empregados no setor privado e apenas 10,9% no setor público, o restante

está distribuído entre as pessoas que trabalham por conta própria (39,4%) e os não

remunerados (1,9%). Há 3.139 empregadores em todo o município. O perfil destas

ocupações confirma o potencial de Caruaru como pólo econômico, turístico e

artesanal. Há na cidade 191 estabelecimentos industriais (FIEPE/91) e 12

estabelecimentos bancários (FIDEM, Síntese de Informações Municipais, 1999).

A rede municipal de saúde é composta por 07 unidades hospitalares ligadas

ao SUS, 01 clínica da criança, 02 serviços de pronto-atendimento pediátrico, 1 O

centros de saúde, 21 unidades de PSFs, 05 postos de saúde, 01 centro de

referência em DST/AIDS, 02 odontoclínicas, 02 unidades móveis médico­

odontológicas e 01 centro de produção de alimentos. O município conta com

589 leitos hospitalares e uma necessidade estimada de apenas 424 leitos

hospitalares (FUSAM, 1997). o Programa de Agentes Comunitários de Saúde

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(PACS) cobre 72,25% da população e o Programa Saúde da Família tem uma

cobertura populacional de 35,21% (SES/PE, 2000).

O teto financeiro assistencial do município de Caruaru é R$ 5.083.632,00 (MS

-Extrato do Fundo Municipal, 2000). São repassados, ainda, R$ 2.442.480,00 como

Piso de Atenção Básica (PAB). Para receber tais valores/montantes o município

possui uma "conta Fundo" e uma "conta PAB".

« Petrolina

Petrolina localiza-se na mesorregião do Sertão do São Francisco. Está

situada à margem esquerda do Rio São Francisco que serve de divisa estadual entre

Pernambuco e Bahia. É um importante eixo rodoviário estadual, ponto de passagem

para grande parte dos fluxos comerciais oriundos da região Centro-Sul com destino

aos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Piauí e ponto de passagem para as

exportações por via interna.

Quanto a situação política do município sabe-se que o Prefeito Guilherme

Cruz de Souza Coelho e o Vice-Prefeito marco Antônio de Oliveira Gomes são

filiados ao Partido da Frente Liberal (PFL). Um fato a destacar é o revezamento na

ocupação dos cargos políticos do município que ocorre entre os membros da

familiares Coelho. Conta com a atuação de 21 vereadores e um total 100.738

eleitores (FIDEM, Síntese de Informações Municipais, 1999).

Petrolina tem uma população residente total de 191.238 habitantes, o que

equivale ao percentual de 2,58% da população do Estado de Pernambuco. Destes

habitantes, 93.048 são do sexo masculino e 98.190 são do sexo feminino. A taxa de

densidade demográfica é de 250 hab./ Km2 e a taxa de urbanização é igual a

74%(FIDEM, 1999). O número total de domicílios é de 42.163, onde 31.700 são

urbanos e 10.463 são domicílios rurais. O número de moradores por domicílio é 4,5

(IBGE, 1996).

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26

Vem ao longo de sua história se caracterizando por um crescimento e

desenvolvimento econômico e social considerado atípico em relação aos demais

municípios do Nordeste. Conta com uma infra-estrutura de transporte, comunicação

e equipamentos sociais já instalados que contribuem para uma dinamização da

economia local de forma efetiva, com desdobramento no setor terciário, atraindo

para a região várias instituições financeiras. Aumentou-se, também, a eficiência dos

meios de transporte pela presença do aeroporto com capacidade para aterrissagens

diárias de aeronaves de grande porte.

Em relação a mão-de-obra em Petrolina, os números percentuais de pessoas

ocupadas por atividade econômica é de 32% na Agropecuária, 16% nos Serviços,

15% no Comércio e 37% estão ocupadas em Outras atividades (IBGE, 1991). Há

um total de 61.809 pessoas de 10 e mais anos, ocupadas nas seguintes atividades:

19.693 ou 31,9% na Agropecuária; 4.837 ou 7,8% na Indústria de Transformação;

4.511 ou 7,3% na Construção Civil; 9.489 ou 15,4% no Comércio de Mercadorias.

9.762 ou 15,8% na Prestação de Serviços; 5.130 ou 8,3% no Setor de atividade

Social (Saúde, Ensino Público/ Privado, etc.); 4.511 ou 7,3% na Construção Civil;

3.037 ou 4,9% na Administração Pública; 2.389 ou 3,9% no Transporte e

Comunicação; 1.030 ou 1,7% em Outras Atividades Industriais e 715 pessoas ou

1 ,2% em Outras Atividades (IDEM).

Quanto a posição na ocupação principal e a relação de emprego, 8.190

(13,3%) pessoas estão no Setor Público e 28.590 (46,3%) estão no Setor Privado.

17.741 (28,7%) trabalham por Conta Própria; 1.958 (3,2%) são Empregadores e

5.330 (8,6%) estão na categoria Não Remunerados. O número de Aposentados e

Pensionistas no município é igual a 7.989 pessoas (IBIDEM).

Os serviços básicos (saúde, saneamento, educação) vêm sendo

dinamizados, transformando este município num pólo de desenvolvimento com

influência num raio de 300 km. A dinâmica da economia da região impulsionada por

esses fatos sócio-econômicos, tem contribuído para desacelerar o êxodo e estimular

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27

a atração populacional de outras regiões, não só de Pernambuco como também de

outros estados vizinhos3.

O município de Petrolina tem sua rede de saúde distribuída nos setores públicos

Federal, Estadual, Municipal e, também, no setor de Medicina Suplementar. O

município tem disponível um total de 327 leitos hospitalares e uma necessidade

estimada de 347 leitos hospitalares (FUSAM, 1997). O Pronto Socorro Psiquiátrico

funciona em regime de plantão, e a atenção hospitalar é prestada pelo Hospital

Regional Dom Malan (municipalizado) que possui 201 do total de leitos hospitalares,

4 hospitais privados: H.G.U, Memorial, Neurocárdio e Clínica Imaculada Conceição.

Existem, ainda, duas clínicas especializadas com internação em pediatria e

ortopedia(Só Baby e Climerpe) e 1 pronto-socorro pediátrico. A rede municipal de

saúde é constituída por 1 O centros de saúde, 12 postos de saúde e unidades do

Programa Saúde da Família(PSF), localizados nos bairros periféricos e na zona

rural. O Programa de Agentes Comunitários de Saúde(PACS) conta com 175

agentes (F IDEM, Síntese de Informações Municipais, 1999) e cobre 108,75% da

população, enquanto que a cobertura do PSF é de 24,59%(SES/PE, 2000).

O teto financeiro assistencial, ou seja, o montante que destinado ao

financiamento das ações assistenciais sob responsabilidade da Secretaria Municipal

de Saúde de Petrolina, é R$ 11.378.556,00 (MS - Extrato do Fundo Municipal,

2000). São repassados, ainda, R$ 2.160.744,00 como Piso de Atenção Básica

(PAB). Para receber tais valores/montantes o município possui uma "conta Fundo" e

uma "conta PAB".

3 Estas e outras informações estão na Home Page de Petrolina, ver: http://www.pmpetrolina.etc.br/evolução.htm

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2.2.2. O Estado de Pernambuco e a Localização Geográfica dos

Municípios-Casos:Camaragibe, Caruaru e Petrolina

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29

2.2.3. Breve perfil dos Secretários Municipais de Saúde - os sujeitos do

discurso:

• A Secretária de Saúde de Camaragibe: É médica e Sanitarista, possui larga

experiência em Saúde pública, foi Secretária de Saúde Adjunta na gestão

anterior. Segue a mesma proposta-projeto de governo durante três

administrações. Sua indicação para o cargo foi técnica-política, a mesma é

militante do Partido dos Trabalhadores (PT) e não possui atividade fora do setor

público.

• O Secretário de Saúde de Caruaru: É médico, não tem formação em Saúde

Pública. Tem, contudo, experiência na referida área, pois já foi Secretário de

Saúde anteriormente. É, também, o Vice-Prefeito do município, sendo filiado ao

Partido Socialista Brasileiro (PSB) (FIDEM, Síntese de Informações Municipais,

1999). Sua indicação para o cargo foi técnica-política. Além da sua atuação no

setor público, exerce a atividade de plantonista na rede de saúde do município.

• O Secretário de Saúde de Petrolina: É odontológo, não possui formação nem

experiência anterior em Saúde Pública. É auxiliado, porém pela Secretária

Adjunta que é enfermeira e Sanitarista. Corresponde ao 4° Secretario de Saúde

na mesma gestão. Sua indicação para o cargo foi política, pois é filho de um

antigo prefeito da cidade, pertencendo, portanto, à família atuante na política

local. Possui um consultório odontológico, que corresponde à sua principal

atividade.

2.3. Os Procedimentos Metódicos

A~otamos o estudo documental para a exploração do campo arcabouço

legal-normativo onde foram analisadas, a Constituição Federal de 1988, a

Legislação Complementar do SUS e as Normas regulatórias-operacionais do SUS,

destacando, em especial, a Norma Operacional Básica (NOB) 01/96.

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30

Para tanto, buscou-se identificar e sistematizar elementos/aspectos que

situem as condições de governabilidade do SUS, dando sempre destaque aqueles

que remetessem ou tivessem ligação com a questão da autonomia financeira e/ou

descentralização do setor saúde e, mais especificamente, dos recursos financeiros

do SUS no âmbito municipal. Procuramos, ainda, identificar na literatura existente,

autores que discutem tal problemática.

A entrevista semi-estruturada ( Anexo 1) foi adotada para proceder-se à

coleta de dados que permitisse a análise situacional da gestão municipal do SUS.

Procuramos identificar elementos que acrescentem à compreensão da

governabilidade do SUS, buscando identificar e sistematizar os elementos referentes

à discussão da autonomia na gestão dos recursos financeiros do SUS. Portanto, os

discursos dos Secretários(a) Municipais de Saúde dos três municípios selecionados,

foram colhidos utilizando-se de gravação magnética com transcrição literal de fitas

que já encontravam-se disponíveis como parte dos materiais/dados coletados em

fase já concluída da mesma pesquisa.

Consideramos, ainda, como componentes desses dados/materiais, as

"anotações de campo". Estas consistem na descrição por escrito das manifestações

(verbais, ações, atitudes etc.) que podem ser observadas na investigação.

Registram, "as reflexões" do investigador e podem representar as primeiras

expressões de explicações, ficar como um produto final do estudo ou sofrer

reformulações e mesmo desaparecer. São temas que devem ser aprofundados,

aspectos sobre os quais cabem maior informação ou indagação (Trivinos, 1995).

Cabe destacar que no caso de Petrolina, devido ao fato do Secretário de

Saúde ter assumido tal cargo a apenas dois meses, recorreu-se, para complementar

as informações obtidas na entrevista ao recurso de informantes-chave que julgamos

reunir qualidades suficientes para poder complementar/enriquecer as informações já

referidas. O contato com estes foi realizado de forma informal na DIRES localizada

em Petrolina, através de uma breve entrevista, sem roteiro prévio, onde as

informações e observações mais significativas foram anotadas compondo, assim,

parte das anotações de campo.

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31

Quanto aos dados/informações quantitativos exploramos diversas fontes,

explicitadas no item abaixo, procurando levantar aspectos que nos ajudasse numa

posterior síntese ao cruzarmos as informações/ elementos encontrados com os

elementos/aspectos identificados na análise das informações qualitativas.

2.4. As fontes de informações

Quanto aos dados/materiais de natureza quantitativa optamos por utilizar

fontes que mesmo não sendo primárias permitissem complementar a análise da

dinâmica do financiamento do setor saúde nos municípios. Recorreu-se, portanto, as

seguintes fontes de informações:

« IBGE (Censo 1991 e Malha Municipal Digital do Brasil, 1997);

« FIDEM (Síntese de Informações Municipais, 1999);

« MS: Base de dados do DATASUS e Sistema de Informações Sobre

Orçamentos Públicos em Saúde -SIOPS ..

Cabe esclarecer que O SIOPS é um novo sistema que trabalha informações

anuais sobre receitas e gastos com saúde, a partir de dados dos Municípios,

Estados e União. É gerenciado pelo MS, com o apoio do Ministério Público Federal,

e tem como origem Inquérito Civil Público, aberto pela Procuradoria Federal dos

Direitos do Cidadão com o objetivo de investigar os gastos das três esferas de

governo com a área de saúde. O objetivo deste sistema é "consolidar um banco de

dados, com informações dos 5.505 municípios brasileiros, de todos os estados e

Distrito Federal, além de agregar os dados sobre gastos federais em saúde" (MS,

2000).

Cabe explicitar que dos 184 municípios( e o Distrito de Fernando de Noronha)

do Estado de PE, apenas 26 (14%) municípios constam no SIOPS ou seja :

enviaram as informações e as mesmas foram consideradas como corretas pelo

sistema. Dos três municípios que compõem a amostra de nosso estudo, apenas

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~~.

32

Camaragibe e Petrolina constavam no sistema, portanto no que tange a esse

sistema não dispomos de informações sobre o município de Caruaru.

No entanto, devido a importância do SIOPS como sistema que pode

possibilitar um controle maior dos gastos com saúde e a transparência da receita e

das despesas efetuadas no setor (CONASEMS, 2000) e, também, por ser

considerado como a base que subsidiou a discussão e regulação da vinculação de

recursos derivadas da Emenda Constitucional n.0 29, de 2000 (MS, 2000)

resolvemos trabalhar com os dados desse sistema e complementar/acessar

informações sobre Caruaru através das demais fontes já citadas.

2.5. O processo de análise

Para operacionalizar o conceito de governabilidade (ou capacidade

governativa) trabalhamos com algumas idéias ou desdobramentos do mesmo:

« Governabilidade como a capacidade de definir, implementar e sustentar

políticas(Santos, 1997), como por exemplo, a atual política de saúde;

« Governabilidade enquanto condições de produzir riquezas para disponibilizar

bens e serviços (Pedrosa, 1994);

« Governabilidade como resultante das condições de conjuntura política que

definem as relações de barganha do ator Município/Secretário de Saúde com

outras esferas ou instâncias(ldem).

« Governabilidqde enquanto relação entre as variáveis que o ator(

Município/Secretário de Saúde) controla e não controla(Matus, 1987);

Tendo por base as idéias acima, para análise dos dados/materiais de

natureza quantitativa adotamos as seguintes categorias que em nossa opinião

ajudam a desvendar aspectos relevantes da governabilidade do SUS municipal:

« Capacidade de autonomia/autogestão: capacidade que o município tem de

financiar (executar, sustentar/garantir) políticas a partir de recursos/receitas próprios,

principalmente, dos impostos/tributos de competência municipal.

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33

Como artifício para checar essa categoria, recorremos aos dados do SIOPS e

procuramos consolidar os dados encontrados na forma de informações que nos

dariam a idéia de tal capacidade tais como: participação da receita tributária e da

receita de transferências na receita total; participação das principais fontes de receita

tributária dos municípios investigados, participação do Fundo de Participação do

Município(FPM) e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) na receita

total dos municípios. No caso de Caruaru recorremos à FIDEM, desta fonte foi

possível obter a participação da receita tributária e das transferências na receita total

do município. Por fim, verificamos para os três municípios, a partir desta mesma

fonte, a evolução da participação dos municípios no total do ICMS arrecadado pelo

Estado.

« Capacidade de investimentos em saúde: representa o quanto das despesas

globais do orçamento municipal, excluídas as transferências da União e do Estado,

é despendido como despesa própria com saúde ou contrapartida. Representa,

ainda{ no caso deste estudo), os investimentos em atenção à saúde básica,

independente do reforço de transferências da União e/ou Estado para este fim.

O artifício utilizado para verificar/apresentar essa categoria foi primeiro recorrer ao

SIOPS, para obter a despesa própria com saúde efetuada nos municípios de

Camaragibe e Petrolina e à Base de Dados do DATASUS para obter os

investimentos per capita com atenção básica à saúde disponível para os três

municípios.

« Autonomia para gestão dos recursos financeiros do SUS: representa o

grau/possibilidade real do Município/Secretário de Saúde gerir os recursos

financeiros do SUS repassados pelas demais instâncias com autonomia para alocar

esses recursos de acordo com as competências legais do município para a

execução de ações e serviços de saúde e com a condição de gestão assumida.

Para disponibilizar/checar esta categoria, recorremos, como artifício, à Base de

Dados do DATASUS e concentramos nossos esforços na construção/análise de

informações sobre os recursos federais do SUS despendidos ou repassados para

os municípios de acordo com o tipo de despesa, tais informações foram

disponibilizadas para os três municípios da amostra.

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34

Procuramos, sistematizar estes dados/materiais na forma de tabelas, quadros

e gráficos os quais foram tratados/comentados descritivamente/analiticamente.

Para facilitar a análise dos materiais/informações qualitativos as categorias

adotadas foram as seguintes:

« Autonomia do Município/Secretário de Saúde na gestão dos recursos

financeiros do SUS nas relações internas da gestão: grau/possibilidade real de gerir

recursos financeiros do SUS, dado pela movimentação do ator Secretário de

Saúde nas relações internas da gestão (Prefeitura/Secretarias, etc), na busca de

comprometer/direcionar estes recursos de acordo com seu projeto.

« Autonomia do Município/secretário de Saúde na gestão dos recursos

financeiros do SUS nas relações com as demais instâncias (Federal, Estadual):

grau/possibilidade real de gerir recursos financeiros do SUS, dado pela

movimentação do ator Secretario de Saúde nas relações/articulação com as demais

instâncias (União/MS, Estado/Secretaria Estadual de Saúde), na busca de

identificar e comprometer tais recursos de acordo com seu projeto.

Após o estabelecimento/adoção destas duas categorias procurou-se

sistematizar/analisar o discurso dos Secretários Municipais de Saúde conforme dois

instrumentais: a idéia central e as expressões-chave (Lefevré, 2000). "A idéia central

pode ser entendida como a(s) afirmação(ões) que permitem traduzir o essencial do

conteúdo discursivo explicitado pelos sujeitos em seus depoimentos/falas. As

expressões-chave são constituídas por transcrições literais de parte dos

depoimentos, que permitem o resgate do essencial do conteúdo discursivo dos

segmentos/elementos em que se divide o depoimento (que, em geral, corresponde

às questões de pesquisa" (Idem: 18).

Acreditamos que buscar apreender as questões de pesquisa, as quais

envolvem o financiamento do SUS, através da análise de dados/materiais, também,

de natureza subjetiva, como os citados anteriormente, pode emergir

elementos/aspectos que de outro modo, não seriam contemplados na discussão da

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GOVERNABILIDADE E AUTONOMIA: A DINÂMICA DO FINANCIAMENTO DA

SAÚDE

3.1. A PARTIR DE ASPECTOS DO CAMPO/ARCABOUÇO LEGAL-NORMATIVO PÓS CONSTITUIÇÃO DE 1988

A Constituição de 1988 define os municípios como membros do sistema

político federalista rezando que a organização político-administrativa da República

Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios, todos autônomos entre si, não podendo haver, dessa forma, hierarquia

entre estes poderes. "É quando se passa, então, a associar descentralização à

municipalização, vinculando-a ao processo de autonomização das distintas esferas

subnacionais entre si" (Cohn, 1998b:153).

Quanto ao sistema tributário, a Constituição de 1988 atribui a Estados e

Municípios maior autonomia para legislar e arrecadar tributos próprios, aos quais se

somam os recursos originários dos Fundos de Participação e os repasses

provenientes das contribuições sociais, compondo um desenho político-institucional

que apresenta avanços no que diz respeito à descentralização fiscal. Esta por sua

vez, associada aos recursos fiscais nacionais e estaduais, representa a possibilidade

dos municípios terem maior grau de autonomia de gestão perante os demais níveis.

Em relação ao SUS, os seus três níveis de direção (Nacional, Estadual e

Municipal) são autônomos enquanto vinculados aos respectivos poderes e

necessariamente complementares para a organização de serviços suficientes e

resolutivos para a população. Contudo, consideramos que a parte que cabe a cada

um destes poderes não é apenas uma questão de princípios - definidos pela Lei

(Constituição de 1988 e Leis n.0 8.080/90 e n.0 8.142/90 ) - mas também de

capacidade que possuem os Estados e, principalmente, Municípios de financiamento

desta política.

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37

Do ponto de vista legal, a capacidade ou maior grau de autonomia está

relacionada à perspectiva de ampliação das receitas públicas municipais

possibilitada pelas mudanças previstas na constituição de 1988 (SINGER, 1998).

Por outro lado, contraditoriamente, a partir de meados dos anos 90, ao configurar-se

um quadro recessivo em função da queda do ritmo do crescimento econômico

combinada com as altas taxas de juros e de desemprego, o governo federal

acelerou a implementação de um conjunto de medidas que visa operar uma

recentralização fiscal de verbas e uma desconcentração dos encargos, transferindo

atribuições da União para os Estados e Municípios (Andreazzi & Tura, 1999).

Podemos, então, dizer que a capacidade de financiamento da política de

saúde, no caso do município, estaria diretamente implicada com a necessidade de

mudanças dos mecanismos de poder (reforma tributária, por exemplo), fortalecendo

o poder municipal personificado de forma geral nas pessoas dos prefeitos (que

passaria a gerir um volume maior de recursos) e, no caso da gestão da saúde, dos

secretários municipais de saúde.

De acordo com o entendimento acima, identificou-se que a Constituição de

1988 sincroniza com esse pressuposto à medida que, ao procurar deslocar o poder

do centro para a periferia atribuiu, ao município o status de ente federado dotado de

autonomia (artigos 1 e 18) e determinou que, nos casos de competência

concorrentes, a União limitar-se-ia a estabelecer normas gerais (artigo 24). No

campo da saúde definiu como uma das diretrizes a descentralização (artigo 198) e

determinou que a competência concorrente das três esferas - cuidar da saúde e da

assistência pública (artigo 23)- é genérica; assim, o município -por ser considerado

o ente federativo com o qual o cidadão tem relações mais próximas, freqüentes e

imediatas - recebeu maior responsabilidade na missão de prestar serviços de

atendimento à saúde da população. Para tanto cabe à União e Estados prover a

cooperação técnica e financeira necessária ao exercício dessa missão (artigo 30).

A referida Constituição estabeleceu, também, como prerrogativa a

cooperação financeira como sustentáculo do SUS (artigo 198) determinando que o

financiamento desta política pública se dará por meio de "recursos do orçamento da

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38

Seguridade Social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,

além de outras fontes" (Vianna, et ai, 1991:11).

Para que todos os novos compromissos assumidos no âmbito da saúde

pudessem ser cumpridos, designou-se, por meio de disposição transitória, que pelo

30% do total de recursos do OSS, com exceção da receita do seguro-desemprego

deveriam ser destinados à área da saúde. Mas, esta disposição foi anulada, a partir

da aprovação da Lei 8.080/90 e o percentual correspondente à saúde passou a ser

regulamentado a cada ano pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) (Melamed &

Ribeiro, 1993).

Uma das conseqüências mais visíveis dessa instabilidade foi a redução do

volume dos repasses, assim, a transferência para o Ministério da Saúde, que

representava 33,1% da receita de contribuições, em 1991, passou para apenas

20,9% em 1992. E para 1993, a LDO estipulava que, apenas, 15,5% do total

arrecadado e que compõe o OSS deveria ser repassado para a área da saúde

(Mendes, Carvalho & Marques, 1997).

A rigor, durante esses anos, houve quase que uma especialização das fontes da Seguridade Social. Os orçamentos destinaram a maior parte dos recursos do Finsocial para a área da saúde, a maior parte da Contribuição sobre o Lucro para a Assistência e a maior parte das contribuições de empregados para a Previdência Social. Essa prática tornou-se rapidamente muito cara para a saúde (ldem:11).

Diante da insuficiência de recursos para atender as necessidades do SUS, a

saúde passou a se desenvolver com, no mínimo dois terços dos recursos à ela

devidos. Todos esses fatos teriam resultado numa grande crise no SUS, refletida na

inexistência ou deficiência na oferta de leitos, consultas, exames e, muitas vezes,

ineficiência nos serviços existentes, cuja principal causa foi a falta de recursos

financeiros, isto é, o não investimento na área social, principalmente por parte do

governo federal (ibidem).

A Lei n.0 8.080 estabelece, ainda, que os recursos financeiros do SUS, devem

ser depositados em conta especial, em cada esfera de sua atuação, e

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movimentados sob fiscalização dos respectivos Conselhos de Saúde. Na esfera

federal, os recursos financeiros, originários do OSS, de outros Orçamentos da

União, além de outras fontes, serão administrados pelo Ministério da Saúde, através

do Fundo Nacional de Saúde ( artigo 33, § 1 °).

A mesma lei define que para o estabelecimento de valores a serem

transferidos a Estados, Distrito Federal e Municípios, será utilizada a combinação

dos seguintes critérios, segundo análise técnica de programas e projetos:

I - perfil demográfico da região;

11 - perfil epidemiológico da população a ser coberta;

111- características quantitativas e qualitativas da rede de saúde na área;

IV- desempenho técnico, econômico e financeiro no período anterior;

V - níveis de participação do setor saúde nos orçamentos estaduais e

municipais;

VI - previsão do plano qüinqüenal de investimentos da rede;

VIl - ressarcimento do atendimento a serviços prestados para outras esferas

do governo.

Por fim determinou que metade dos recursos destinados a Estados e

Municípios será distribuída segundo o quociente de sua divisão pelo número de

habitantes, independentemente de qualquer procedimento prévio (artigo 35, § 1°).

Contudo, há uma inclinação centralizadora na Lei 8.080/90 a qual faz com

que a diretriz de descentralização propugnada para a gestão do SUS sofra várias

restrições, entre estas, algumas ferem, claramente, a autonomia do município

(Carvalho & Santos, 1992):

« Exigência de conformidade de Estados e Municípios à programação

aprovada pelo MS (artigo 33, §4°) e da análise técnica de programas e

projetos apresentados por como pré-requisitos para o repasse de

recursos federais a Estados e Municípios;

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40

« Normatização pelo MS das relações entre o SUS e os prestadores

privados (visto que a União deveria limitar-se a fixar normas gerais, "não

se enquadra como tal o estabelecimento de critérios e valores de

pagamentos para a remuneração de serviços e parâmetros de cobertura

assistencial, atribuição concedida (artigo 26) e até hoje exercida pelo MS;

« Com a justificativa de tratar-se de "minúcias impróprias à Lei" vários vetos

foram efetuados, a exemplo, o veto no artigo 33, § 2° eliminou a referência

ao automatismo das transferências dos recursos financeiros para Estados

e Municípios;

« Um outro veto no artigo 35, § 5°, com a mesma justificativa, permitiu a

preservação do convênio como instrumento para efetivação dos repasses

dos citados recursos.

Com isto, tais restrições abriram o caminho para manter a participação federal

no financiamento do SUS, vinculada a dois mecanismos de tutela e dependência

incompatíveis com uma real descentralização:

"a transferência negociada e a relação de compra de serviços. A primeira propicia, freqüentemente, práticas clientelísticas. A segunda, entre outros inconvenientes, dificulta a reorientação do modelo de atenção, obscurece a visão dos dirigentes municipais e estaduais quanto às limitações financeiras do sistema de saúde, e altera a essência da parceria entre iguais na busca de objetivos comuns" (Barros, Piola, Vianna, 1996).

A Lei n.0 8.142/90, publicada em cumprimento ao acordo firmado entre o MS e

várias entidades da área da saúde, procurou restaurar o repasse regular e

automático dos recursos federais para os demais entes federados (Idem). Assim,

determinou que: 1 )os recursos depositados no Fundo Nacional de Saúde serão

repassados de forma regular e automática, de acordo com os critérios previstos no

artigo 35 da Lei n.0 8.080/90; 2) enquanto não for regulamentada a aplicação desses

mesmos critérios, metade dos recursos destinados a Estados e Municípios será

distribuída segundo o quociente de sua divisão pelo número de habitantes,

independente de qualquer procedimento prévio (artigo 35, § 1° da Lei 8.080/90);

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41

Para receberem os recursos, o artigo 3 da Lei n.0 8.142/90, coloca como

prerrogativa que os Municípios, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com:

I- Fundo de Saúde;

11 - Conselho de Saúde, com composição paritaria de acordo com o Decreto

n.0 99.438, de 7 de agosto de 1990;

111 - Plano de Saúde;

IV- Relatórios de Gestão( ... );

V - Contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento;

VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários

(PCCS), previsto o prazo de dois anos para sua implantação.

Este conjunto de exigências que faz parte da prerrogativa que os entes

federados deveriam obedecer para habilitar-se aos repasses regulares e

automáticos são consideradas como exigências federais que por um lado, afrontam

a autonomia subnacional e que, por outro, criam instrumentos meramente formais

de controle de eficácia duvidosa. Assim, "exigir das unidades federadas planos de

saúde em nada assegura a institucionalização do processo de planejamento. Como,

por igual, a obrigatoriedade de relatórios de gestão para instrumentalizar a auditoria

federal prevista na Lei n.0 8.080 (artigo 3, §4°) está longe de assegurar controles

eficientes ... " (Idem: 33).

Vale ressaltar, entre essas exigências, a importância do Fundo de Saúde pois

este é um mecanismo através do qual recursos podem ser administrados com

determinado grau de autonomia ( conforme às decisões do Secretario de Saúde e

aprovação do Conselho de Saúde) permitindo assumir compromissos e pagar por

bens, serviços e encargos (IBAM/UNICEF, 1991).

Entre as principais vantagens obtidas com a criação do Fundo Municipal de

Saúde merecem ser relacionadas:

« Melhor distribuição dos recursos para a saúde;

« Facilidade nas relações entre os três níveis de direção (União, Estados e

Municípios) do SUS;

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42

« Produção de informações específicas que possibilitem apurar despesas e custos

com os serviços de saúde;

« Identificação de responsabilidades e avaliação do desempenho do setor e dos

seus agentes;

« Maior transparência das informações quanto à aplicação dos recursos e ao

controle do poder Público pela sociedade, de acordo com princípios de

democratização da gestão da saúde;

« Autonomia administrativa, decisória e financeira e, conseqüentemente maior

agilidade e flexibilidade de gestão no setor saúde (Idem).

Nenhuma das duas leis referidas foi cumprida integralmente. O Artigo 35

da Lei 8.080/90 nunca foi regulamentado e o repasse regular e automático da

totalidade dos recursos, com 70% destinados aos municípios (artigo 3, §2° da Lei

8.142/90), também não aconteceu. Na prática, o que prevaleceu na definição do

financiamento do SUS foram os critérios de alocação de recursos federais

presentes nas chamadas Normas Operacionais Básicas do SUS (NOB/SUS)

(Marques, 1999).

Do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social

(INAMPS), veio a mudança que mais influenciaria os rumos da organização do

SUS: a NOB- 01/91 . Sob o argumento da inviabilidade conjuntural de regulamentar

o artigo 35 da Lei 8.080/90, pela dificuldade na operacionalização dos critérios

estabelecidos, a NOB - 01/91 redefiniu toda a lógica de financiamento e,

consequentemente, de organização do SUS, consolidando um sistema de

pagamento por produção de serviços (Júnior, 1999).

Estados e Municípios passaram a receber por produção de serviços de

saúde, executados nas unidades ambulatoriais e hospitalares próprias, nas mesmas

tabelas nacionais existentes para o pagamento dos prestadores privados, impondo

um modelo de atenção à saúde voltada para a produção de serviços e avaliado pela

quantidade de procedimentos executados, independente da qualidade e dos

resultados alcançados que, desta forma, favorece distorções assistencialistas,

comprometendo a autonomia das outras esferas de governo (Médici, 1991; Cordeiro,

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43

1991; Cordoni, 1991). Prevalecendo, na prática, a estrutura de compra de serviços

privados de saúde do INAMPS estendido aos gestores públicos estaduais e

municipais (Júnior & Bertone, 1991).

Tendo sido os recursos do setor saúde, a serem transferidos para Estados,

Distrito Federal e Municípios, alocados ao orçamento do INAMPS, o governo

desrespeitou a Constituição e as Leis 8.080/90 e 8.142/90 visto que de acordo com

a NOB - 01/91 o INAMPS passou a funcionar como o órgão financiador do SUS

tendo pleno poder para transferir recursos, exigir e analisar a prestação de contas

dos Estados e municípios, definir normas sobre contratação de prestadores privados

de serviços e, por fim, exigindo contrapartida de Estados e Municípios (esquecendo

que o próprio Governo Federal vetou dispositivo semelhante na Lei 8.080/90

respaldando-se no fato disto constituir violência ao princípio de autonomia de

Estados e Municípios) (Santos, 1991).

A descentralização estabelecida pela Constituição de 1988 é essencialmente

política, ou política administrativa. Deve, consequentemente, concretizar-se sem

nenhum entrave, requisito ou pressuposto administrativo ou depender de um

instrumento de descentralização administrativa fato, contraditoriamente, reforçado

pela NOB 01/91 que utilizou o convênio como instrumento para transferência

financeira dos recursos destinados ao SUS (Idem).

Em agosto de 1992 foi realizada a IX Conferência Nacional de Saúde que

teve como tema central a municipalização dos serviços de saúde. O seu relatório

final determinou o cumprimento da Lei 8.080/90, com a agilização da

descentralização e municipalização da saúde, bem como o cumprimento de seu

artigo 35, que define a modalidade de transferência fundo a fundo dos recursos

financeiros da União a Estados e Municípios. Esse processo deu origem a NOB

01/93 -"A ousadia de Cumprir a Lei"- que criou três modalidades transitórias de

gestão para os Municípios - incipiente, parcial e semiplena - estas apontavam para

uma condição mais definitiva onde o município pudesse alçar a desejada autonomia

ao assumir o papel de gestor pleno dos recursos, sob o controle social dos

Conselhos de Saúde (Merhy & Bueno, 1998).

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A referida NOB criou, além disso, instâncias regulatórias específicas para a

habilitação de Estados e Municípios nas novas modalidades de gestão. .Foram

criadas a Comissão lntergestora Tripartite (ClT), que habilita os Estados, e a

Bipartite, que habilita os Municípios. Sendo a primeira de representação nacional

enquanto a segunda é estadual. Ambas foram criadas para adequar as normas

nacionais às condições específicas dos entes subnacionais. A maior inovação

consistiu na transferência dos recursos do Fundo Nacional de Saúde para os fundos

estaduais e municipais de saúde, a serem criados como condição para se habilitar à

esta NOB (Gerschman, 2000).

A NOB 01/93, não conseguiu superar vários obstáculos da descentralização,

como por exemplo: o ritmo lento da descentralização; a transferência financeira

fundo a fundo se deu apenas na área da assistência, não incorporando as demais

ações da área de saúde; a avaliação do desempenho dos recursos descentralizados

foi feita apenas em cima do quantitativo de procedimentos em saúde, não sendo

realizado avaliação de resultados ou de qualidade; a mudança no modelo de

atenção à saúde foi pouco expressiva, se restringindo a experiências isoladas de

municípios; a existência de uma tabela de pagamento nacional e única limitou

propostas mais avançadas de relação com o setor privado complementar, impondo

ao mesmo tempo limites importantes à reorganização da atenção dentro do próprio

setor público (Júnior, 1998).

No caso dos municípios que assumiram a gestão semiplena, do ponto de

vista dos repasses verificou-se, contudo, um progresso ou maior autonomia

municipal na gestão da política de saúde devido à transferência direta de recursos

fundo a fundo (do teto global da assistência) para o custeio dessa modalidade de

gestão (Goulart, 1994).

A NOB 01/96 foi discutida durante mais de um ano e publicada em novembro

de 1996 . Mais de 17 versões foram produzidas até se chegar a uma de acordo com

todos os setores interessados, particularmente os representados pelos secretários

municipais, estaduais e o Governo Federal- representado pelo MS (Bueno & Merhy,

1997).

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45

Prevê mudanças nas formas de repasses financeiros, buscando resgatar

parte dos princípios legais de transferência regular e automática fundo a fundo

(mecanismos e fluxos de financiamento, diminuindo a remuneração por produção e

ampliando as transferências regulares e automáticas), mudanças nas modalidades

de gestão do SUS e ampliação da autonomia dos municípios e estados para a

gestão descentralizada( Júnior, 1999).

A primeira mudança ocorrida no financiamento do SUS com a NOB 01/96 foi

a passagem direta de todos os recursos de assistência ambulatorial básica para os

municípios que se habilitassem numa das suas modalidades de gestão: a gestão

plena da atenção básica. Os valores que eram pagos por procedimentos para os

grupos de AVEIANM (vacinas, curativos, inspeção sanitária, visita domiciliar, etc.),

as consultas em especialidades médicas básicas (clínica médica, pediatria, gineco­

obstetrícia e pequena cirurgia ambulatorial) e os procedimentos preventivos de

odontologia passaram a ser transferidos como um valor per capita nacional único - O

Piso de Assistência Básica (PAB) (Júnior, 1998).

Com o PAB, garantiu-se a cada município um montante mínimo de recursos,

calculado em função da combinação de dois eixos: a população e a série histórica

de serviços produzidos, fato que privilegiou a lógica da atenção pela oferta de

serviços. O montante mínimo ou valor per capita do PAB foi definido em R$ 10,00

por habitante/ano e R$ 18,00 por habitante/ano foi definido como o valor máximo per

capita que pode ser destinado pelos gestores da saúde para custear os referidos

procedimentos e ações (ClT de 27/01/98).

Apesar dos avanços explicitados acima, cabe explicitar que a NOB 01/96

nasce numa conjuntura desfavorável ao aprofundamento do SUS. A política

econômica de ajuste do gasto público leva a uma retração dos recursos financeiros

para a descentralização do setor público da saúde. Na medida que os recursos se

tornam escassos, o estímulo às políticas de saúde de cunho universal tende a

diminuir. Por sua vez, o setor de seguros privados de saúde cresceu

proporcionalmente ao desestímulo ao setor público, o que trouxe para a conjuntura

da saúde atores com forte vocalização de interesses econômicos, que disputam

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46

espaço e recursos com o SUS. Os anos de 1997, 1998 e 1999 são, também,

marcados por problemas financeiros e tributários, resultantes das próprias políticas

econômicas de ajuste fiscal, impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e

pelo Banco Mundial, que afetam profundamente o montante do gasto, assim como a

implementação mais eficiente do SUS e da descentralização do sistema

(Gerschman, op. cit.).

Em janeiro de 1998, o PAB muda, por força de Portarias do MS, aprovadas

na ClT, passando a chamar Piso de Atenção Básica, tendo uma parte fixa (O PAB

original) e outra variável, composta por incentivos para: o programa de agentes

comunitários de saúde (PACS), o programa de saúde da família (PSF), a aquisição

de medicamentos básicos, a vigilância sanitária (PBVS), o combate a carências

nutricionais e, mais recentemente, a área de epidemiologia (PBVE) (Júnior, 1999).

Uma outra modalidade de gestão criada pela NOB 01/96 é a gestão plena do

sistema municipal. Quando o município se enquadra nessa modalidade, ele é o

responsável pela gestão de todas as ações e serviços de saúde, inclusive pela

programação, controle e remuneração dos serviços produzidos localmente, seja qual

for o provedor. Ele passa a ter autonomia para editar normas sobre o pagamento de

serviços em seu território, inclusive alterações de valores de procedimentos

médicos, tendo contudo a tabela nacional como referência mínima (Vianna & Piola,

1999).

A partir de então, o pagamento por produção de serviços e por convênios,

passam a ser cada vez mais residuais em relação ao montante global de recursos

destinados ao custeio do SUS, persistindo, no entanto os convênios nas áreas de

saneamento básico (FUNASA), controle de endemias e AIDS, além da transferência

de recursos de capital relacionados a projetos como o Reforço à Regionalização do

SUS (REFORSUS) (Júnior, op. cit.).

Quanto a remuneração por serviços produzidos a NOB 01/96 designa que

para as internações hospitalares o pagamento dos valores apurados por intermédio

do SIH/SUS, relativos ao conjunto de procedimentos realizados em uma internação

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47

hospitalar, é realizado diretamente ao prestador, com base na AIH e de acordo com

a tabela publicada pela Secretaria de Assistência à Saúde (SAS)/MS. Enquanto que

os procedimentos ambulatoriais de alto custo/complexidade devem ser pagos por

meio da autorização de procedimentos de alto custo (APAC) apurados através do

SIA/SUS.

Chama-se a atenção para o não cumprimento na NOB 01/96, como nas que

a antecederam, dos critérios definidos no artigo 35 da Lei n.0 8.080/90 para a

transferência/repasse dos recursos devidos ao financiamento das ações e serviços

de saúde para Estados e Municípios. Diante deste limite, além dos mecanismos de

transferência financeira, a autonomia dos Municípios na utilização dos recursos

necessita ser mais debatida.

Apesar de já ter sido mais compartimentalizado, o teto financeiro de Estados

e Municípios ainda conta com várias subdivisões (PAB fixo, 06 modalidades de PAB

variável, recursos financeiros destinados ao custeio de procedimentos ambulatoriais

de média complexidade, medicamentos e insumos excepcionais, órteses e próteses

ambulatoriais (Fração Assistencial Especializada - FAE) etc, alta complexidade

ambulatorial , internação hospitalar, subtetos para campanhas e outras atividades

verticais, etc.). Esta compartimentalização "é fonte de permanente de atrito entre as

esferas de governo, tendo os estados e municípios defendido a plena autonomia na

gestão dos tetos financeiros descentralizados (Idem).

A NOB 01/96 se posiciona, no entanto, a favor de que o financiamento da

saúde ocorra por intermédio dos recursos provenientes do respectivos Tesouro

Estaduais e Municipais (contrapartida) e por recursos transferidos pela União e

Estados aos Municípios (Mendes, Carvalho & Marques, 1997).

No entanto esta não é apenas uma questão de posicionamento, pois a

heterogeneidade sócio-econômica brasileira é muito grande, não existindo

condições para que a maioria dos municípios gerem receitas próprias para financiar

a s políticas de base local. Mais de 90% dos municípios brasileiros têm menos de

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50.000 habitantes, com isto a dependência destes das transferências federais do

Fundo de Participação dos Municípios (FPM) é muito elevada (Medicai, 1994).

Os recursos do FPM vêm da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do

Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), ou seja, de tributos federais que são

distribuídos na razão inversa da produtividade dos municípios. O Governo Federal

transfere, então, os recursos correspondentes a 22,5% das parcelas do IR e do IPI

da seguinte forma: 10% são distribuídos entre as capitais, 86,4% com os demais

municípios, e o restante, 3,6% são distribuídos entre os municípios do interior com

mais de 156.216 habitantes. O coeficiente mínimo (0,6) é válido para os municípios

com até 10.188 habitantes. Para aqueles que têm mais de 10.188 habitantes foram

definidas 16 faixas populacionais, cabendo a cada uma delas um coeficiente

individual (Decreto - Lei n.0 1.881/81 ).

Na composição da receita tributária, após a Constituição de 1988, os tributos

de competência do município: o Imposto Sobre a propriedade Predial e Territorial

Urbana (IPTU), o Imposto Sobre Serviços (ISS) e o Imposto Sobre Transações de

Imóveis lntervivos, são suas principais fontes.

O IPTU destaca-se como um dos mais importantes impostos diretos do

sistema fiscal brasileiro, por possibilitar ao município agir com maior eqüidade

através do princípio da justiça fiscal, tributando com maior rigor os imóveis de maior

valor e desonerando aqueles de menor valor para o mercado, imprimindo maior

racionalidade e eficiência a administração local.

O ISS e o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), por outro lado,

são impostos indiretos, não levam em consideração a capacidade contributiva do

cidadão. "Todos pagam a mesma coisa, não importa se um mora em mansão e o

outro debaixo da ponte. São impostos que recaem sobre o consumo e a produção,

isto é, penalizam quem compra e quem produz" (Franco, 1998:50).

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49

O ICMS é, depois do FPM, uma das principais fontes de receita de

transferências. Os municípios recebem 25% do que o Estado arrecada em ICMS,

distribuídos na razão direta do que produzem. Com isto,

" ... as modificações estruturais na economia têm reflexos sobre as finanças municipais, particularmente, sobre o retorno do ICMS ao município que é uma das principais fontes de receita para as prefeituras. O retorno do ICMS aos municípios depende, em 75% do valor adicionado (vendas menos compras) das atividades, agropecuárias, industriais e comerciais ... " (Pozzobon, 1998:4).

Na prática, uma grande parte dos municípios brasileiros não dispõe de

recursos significativos oriundos do seu Tesouro que possam ser definidores de uma

agenda para a saúde no âmbito municipal. Assim, a busca da autonomia por parte

destes municípios se dá no sentido de gerir recursos da União com maior

independência já que a possibilidade de injetar recursos próprios - ou contrapartida -

contribuindo para uma gestão mais autônoma é uma possibilidade mais difícil de ser

alcançada.

Vê-se que no texto da Emenda Constitucional n.0 29/2000 aparece a

preocupação dos legisladores com os critérios de alocação de recursos

orçamentários. A Emenda estabelece a participação da União, Estados, municípios e

Distrito Federal no financiamento das ações e serviços públicos de saúde, que se

dar com a aplicação mínima de recursos no setor, com base em percentuais de

receita, a serem fixados por lei complementar (CONASEMS, 2000).

Até a entrada em vigor da lei complementar, a Emenda criou uma regra de

transição, que esta apresentada da seguinte forma (Idem):

« A União deve até o exercício financeiro de 2004, aplicar: 1) no ano 2000, o

montante empenhado em ações e serviços públicos de saúde em 1999 acrescido

de, no mínimo, 5%; 2) do ano 2001 ao ano 2004, o valor apurado no ano anterior,

corrigido pela variação nominal do Produto Interno Bruto - PIB (inflação + variação

real do PIB).

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50

« Os Estados até o ano 2004, deverão estar aplicando em ações e serviços

públicos de saúde, no mínimo 12% da base de cálculo composta: 1) da soma das

suas receitas; 2) ICMS; 3) IPVA; 4) Imposto de transmissão causa mortis e doação

de bens e direitos; 5) Imposto de renda incidente na fonte sobre rendimentos pagos,

inclusive por suas autarquias e fundações; 6) Transferência do Fundo de

Participação dos Estados- FPE; 7) Transferência de 10% do IPI sobre exportações;

8) com a dedução das transferências entregues aos Municípios: 50% do IPVA; 25%

do ICMS e 25% do IPI sobre exportações recebido da União;

« Os Municípios até o ano 2004, deverão estar aplicando em ações e serviços

públicos de saúde, no mínimo 15% da soma das seguintes receitas: 1) ISS; 2) IPTU;

3) Imposto de transmissão inter vivos; 4)1mposto de renda incidente na fonte sobre

rendimentos pagos, inclusive por suas autarquias e fundações; 5) Transferência do

Fundo de Participação dos Municípios - FPM; 6) Transferência do ITR;

?)Transferência do IPI sobre exportações; 8) Transferência do ICMS; e 9)

Transferência do IPVA.

A lei complementar deverá fixar a cada cinco anos o volume de recursos

destinados ao pagamento das ações e serviços públicos de saúde e estabelecerá os

critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos

Estados, ao Distrito Federal e Municípios objetivando a progressiva redução das

disparidades regionais (Júnior, 1999).

Os percentuais de vinculação mencionados são valores mínimos que

deverão estar sendo aplicados até 2004. Para os que aplicam recursos abaixo

desses percentuais, a Emenda prevê o ajuste progressivo ao longo dos anos. É

sugerido, portanto, pelo presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da

Câmara dos Deputados (Deputado Cleuber Carneiro - PFL/MG) e pelos autores da

Emenda (Deputados Eduardo Jorge - PT/SP e Carlos Mosconi - PSDB/MG) os

seguintes percentuais para aplicação por Estados e Municípios:

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QUADRO 1

SUGESTÃO DE PERCENTUAIS PARA APLICAÇÃO POR ESTADOS E MUNICÍPIOS EM 2001-2004, DE ACORDO COM

A EMENDA CONSTITUCIONAL n.0 29/2000 ANO ESTADOS MUNICIPIOS 2001 8% 8,6%

2002 9% 10,2%

2003 10% 11,8%

2004 12% 15%

Fonte: CONASEMS ( www.conasems.com.br).

51

A não-aplicação do mínimo exigido em ações e serviços públicos de saúde

autoriza a União a intervir nos Estados e estes em seus municípios. A União pode,

ainda, condicionar a entrega de recursos relativos às transferências constitucionais

não apenas ao pagamento de seus créditos, mas também à aplicação mínima de

recursos em ações e serviços públicos de saúde.

Expressando o princípio de justiça fiscal, o IPTU poderá ter alíquotas

diferenciadas conforme a localização e o uso do imóvel, bem como ser progressivo

em função do seu valor. A fiscalização da aplicação da Emenda Constitucional da

saúde é entendida como obrigação dos Conselhos de Saúde, das Assembléias

Legislativas, das Câmaras Municipais, dos Tribunais de Contas e do Ministério

Público ( CONASEMS, 2000).

Por fim, apesar da Emenda constitucional n.0 29/2000 (promulgada no dia 12

de setembro de 2000, depois de uma longa trajetória no Congresso Nacional, onde

tramita desde 1993) representar um retrocesso em relação à proposta original da

PEC 169 para a alocação de recursos federais, para muitos Municípios e,

particularmente, para os Estados representa uma perspectiva de maior aporte

financeiro para o SUS. Uma outra questão, é a perspectiva, a médio prazo, de que

os Estados passem a ser co-responsáveis pelo financiamento da saúde,

introduzindo um elemento novo na necessária articulação das esferas de governo na

definição da política de financiamento do SUS (Júnior, 1999), contribuindo para a

configuração da descentralização em base dos princípios da cooperação e

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52

autonomia, elementos da Constituição Federal de 1988 indispensáveis à

governabilidade do SUS.

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53

3.2. A partir de dados/informações quantitativas

3.2.1. Capacidade de autonomia/autogestão do município

Em relação à capacidade de autonomia/autogestão do município,

consideramos os dados referentes à participação da receita tributária e das

principais fontes de receita de transferências na receita total, contidos na tabela 01.

Cabe explicitar que as tabelas que serão comentadas (tabelas 01, 02, 03 e

04) não contém informações sobre o município de Caruaru, pois o mesmo não

consta no Banco de Dados do Sistema de Informações Sobre Orçamentos Públicos

em Saúde (SIOPS).

TABELA01

PARTICIPAÇÃO DA RECEITA TRIBUTÁRIA E DA RECEITA DE TRANSFERÊNCIAS* NA RECEITA TOTAL NOS MUNICÍPIOS SOB

CONDIÇÃO DE GESTÃO PLENA DO SISTEMA MUNICIPAL DE SAÚDE, NO ANO DE 1998

RECEITA RECEITA DE RECEITA MUNICÍPIOS TRIBUTÁRIA TRANSFERÊNCIAS TOTAL

R$ % R$ % R$ %

CAMARAGIBE 1.954.277,00 8,0 10.001.028,00 40,9 24.424.825,00 100

CARUARU

PETROLINA 5.216.059,00 6,9 23.631.956,00 31,5 7 4.942.245,00 100

Fonte: Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde - SIOPS. * Foram considerados apenas os valores das principais fontes de receita de transferências dos municípios- o ICMS e o FPM.

As informações apresentadas na tabela acima, mostram que a participação

da receita tributária na receita total é igual a 8,0% no município de Camaragibe e

6,9% no município de Petrolina. Pode-se ver, também, que a participação das

principais fontes de receita de transferências - FPM e o ICMS - representam 40,9 da

receita total de Camaragibe e 31,5% da receita total de Petrolina.

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54

As informações acima, mostram que nos municípios investigados existem

condições de geração de receita tributária, embora em taxas abaixo de 10%. Vale

destacar que Petrolina, considerada como um município com grande potencial de

desenvolvimento, possuindo quase o dobro da população de Camaragibe e

apresentando um volume muito maior de receita, não apresentou, por outra parte,

uma participação percentual de participação da receita tributária na receita total

muito mais elevada do que a de Camaragibe. Esta informação pode indicar que o

município de Camaragibe tem maior competência ou desenvolveu maiores esforços

no sentido de arrecadar tributos próprios. Em relação à participação das principais

fontes de transferências na receita total, os percentuais encontrados mostram a

dependência dos dois municípios dos recursos repassados através do FPM e do

ICMS, a qual é difícil de ser superada, para que os mesmos tenham maior

capacidade de autonomia/autogestão, devido a pouca representação das suas

receitas tributárias na composição da receita total.

Ainda, em relação a capacidade de autonomia/autogestão do município,

consideramos, como informações complementares, a participação das principais

fontes na composição da receita tributária, conforme expressa na tabela 02 e a

participação do FPM e do ICMS - principais fontes de receita de transferências - na

receita total, conforme expressa na tabela 03.

TABELA02

PARTICIPAÇÃO DAS PRINCIPA!S FONTES D_E RECEITA TRIBUTÁRIA NOS MUNICIPIOS SOB CONDIÇAO ~?E GESTAO PLENA DO SISTEMA

MUNICIPAL DE SAUDE, NO ANO DE 1998

IPTU ISS ITBI RECEITA MUNICÍPIOS TRIBUTÁRIA

R$ % R$ % R$ % R$ %

CAMARAGIBE 659.940,00 33,8 1.144.142,00 58,5 150.195,00 7,7 1.954.277,00 100

CARUARU

PETROLINA 783.607,00 15,0 4.133.069,00 79,2 299.383,00 5,8 5.216.059,00 100

Fonte: Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde- SIOPS.

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' \ 55

De acordo com as informações acima, a participação do IPTU na receita

tributária de Camaragibe foi 33,8%, o ISS 58,5% e o ITBI, apenas 7,7%. Em

Petrolina, a participação do IPTU representa 15,0% da receita tributária, o ISS 79,2%

e o ITBI, apenas 5,8%. As informações mostram que o ISS é a principal fonte de

receita tributária destes municípios. No entanto, pode-se ver que em valores

percentuais a participação do IPTU na receita tributária de Camaragibe é superior a

participação do mesmo imposto em Petrolina. Por outro lado, Petrolina estaria

compensando esta deficiência através do montante arrecadado de ISS.

Há portanto, uma significativa diferença entre os valores das receitas

tributárias dos dois municípios, pode-se dizer que as condições da economia local

de Petrolina, com destaque para o setor de serviços, mais do que a diferença

populacional, respondem por essa diferença que faz com que a receita de Petrolina

seja quase o triplo da arrecada por Camaragibe.

TABELA03

PARTICIPAÇÃO DO FPM E DO ICMS- PRINCIPAIS FONTES DE RECEITA DE TRANSFERÊNCIAS- NA RECEITA TOTAL DOS MUNICÍPIOS SOB CONDIÇÃO DE GESTÃO PLENA DO SISTEMA MUNICIPAL

MUNICÍPIOS

CAMARAGIBE

CARUARU

PETROLINA

DE SAÚDE, NO ANO DE 1998

FPM

R$ %

6.945.459,00 28,4

14.389.968,00 19,2

ICMS

R$ % R$

RECEITA TOTAL

3.055.569,00 12,5 24.424.825,00

9.241.988,00 12,3 74.942.245,00

Fonte: Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde - SIOPS.

%

100

100

De acordo com as informações apresentadas acima, a participação do FPM

na receita total é 28,4% e a do ICMS é 12,5%. Dessa forma o FPM tem uma

participação bem maior na receita total do que a participação do ICMS ou percentual

do ICMS que retoma ao município de Camaragibe. Em Petrolina, a diferença na

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56

participação destas fontes de transferências é mais equilibrada, assim, 19,2% é o

percentual do FPM e 12,3% é o percentual do ICMS na receita total de Petrolina.

Em relação a Caruaru optamos por tentar solucionar a referida lacuna através

do acesso a outras informações que, mesmo não sendo obtidas através da mesma

fonte, nos dessem idéia da situação deste município. Para tanto, consideramos os

dados referentes à participação da receita tributária e das transferências sobre a

receita total, contidos no quadro 02.

QUADR002

PARTICIPAÇÃO DA RECEITA TRIBUTÁRIA E DAS TRANSFERÊNCIAS NA RECEITA TOTAL NO MUNICÍPIO DE CARUARU

PARTICIPAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DAS

RECEITA TRIBUTÁRIA TRANSFERÊNCIAS

MUNICÍPIO % %

CARUARU 11.05 76.61

- . . . - ... Fonte: Fundaçao de Desenvolvimento MUniCipal- FIDEM- Smtese de lnformaçoes Mun1C1pa1s, 1999.

Observando o quadro 02 vê-se que a participação percentual da receita

tributária no município de Caruaru é de 11.05%, ou seja, um pouco maior do que a

dos outros dois municípios. Pode, no entanto, ser observado que as transferências

continuam apresentando uma participação elevada equivalendo, neste caso, a

76.61% da receita total.

Uma outra informação que achamos pertinente acrescentar e que também

faz parte da discussão da capacidade de autonomia/autogestão, é a evolução da

participação dos municípios de Camaragibe, Caruaru e Petrolina no total do ICMS

arrecadado pelo Estado, no período de 1994 a 1998, que pode ser visualizada no

quadro 03.

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QUADR003

EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO NO TOTAL DO ICMS ARRECADADO PELO ESTADO DOS MUNICÍPIOS SOB CONDIÇÃO DE GESTÃO PLENA

DO SISTEMA MUNICIPAL DE SAÚDE PERIODO

MUNICÍPIOS 1994 1995 1996 1997 1998

CAMARAGIBE 0.393 0.212 0.188 0.255 0.232

CARUARU 1.958 1.902 1.721 1.590 1.146

PETROLINA 1.350 1.265 1.339 1.147 0.698 - . . . - ...

Fonte: Fundaçao de Desenvolvimento Mumc1pal- FIDEM- Smtese de lnformaçoes Mumc1pa1s, 1999.

57

Observando o quadro 03, pode-se ver que estes municípios diminuíram sua

participação no total do ICMS do Estado, fato que implica num retorno cada vez

menor dessa fonte de receita de transferências na composição da receita dos

municípios citados. Sabe-se que os municípios recebem 25% do que o Estado

arrecada em ICMS, distribuídos na razão direta do que produzem. Este critério de

repasse faz com que esta fonte de receita de transferências para os municípios nos

períodos de crise, modificações na economia, diminua cada vez mais. Isto se dá

porque o retorno de recursos para os municípios via ICMS é condicionado a

produtividade de atividades (agropecuárias, industriais e comerciais). Os dados do

quadro 03 mostram uma tendência a diminuição do retorno dessa fonte aos

municípios talvez devido ao processo de ajuste estrutural enfrentado pelo país que

tem prejudicado o desenvolvimento de várias atividades econômicas.

3.2.2. Capacidade de investimentos em saúde

Em relação à capacidade de investimentos em saúde apresentadas pelos três

municípios consideramos as informações referentes à despesa própria com saúde,

contidas na tabela 04 e a situação dos municípios habilitados as condições de

gestão segundo a NOB 01-96, com a incorporação do piso de atenção básica,

explicitada no quadro 04.

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TABELA 04

DESPESA PRÓPRIA COM SAÚDE NOS MUNICÍPIOS SOB CONDIÇÃO DE GESTÃO PLENA DO SISTEMA MUNICIPAL DE SAÚDE, NO ANO DE 1998

DESPESA PROPRIA MUNICÍPIOS COM SAÚDE

CAMARAGIBE

CARUARU

PETROLINA

R$

2.027.662,00

5.384.008,00

Fonte: Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde- SIOPS.

%

13,3

16,2

58

As informações apresentadas na tabela acima, mostram o quanto das

despesas globais do orçamento municipal, excluídas as transferências da União e do

Estado, foi despendido com as despesas de saúde ou despesas próprias com saúde.

Dessa forma Camaragibe, despendeu 13,3% e Petrolina, 16,2%.

QUADR004

SITUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS SOB CONDIÇÃO DE GESTÃO, SEGUNDO A NOB 01/96, COM A INCORPORAÇÃO DO PISO DE ATENÇÃO BÁSICA

ANTES DA NOB 01/96 (1997) VIGENCIA DA NOB 01/96 (1998)

MUNICÍPIOS PER CAPITA/ANO (R$) PER CAPITA /ANO (R$)

CAMARAGIBE 13,82 13,82

CARUARU 5,18 10,00

PETROLINA 10,89 10,89

Fonte: DATASUS/MS.

As informações do quadro 04 mostram que Camaragibe e Petrolina já

gastavam mais de R$ 10,00 hab./ano, apresentando uma capacidade de

investimentos em atenção a saúde básica, independente do reforço do MS a esse

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/""""-, \

59

tipo despesa. Dentre os dois, o que mais investiu foi Camaragibe (13,82). Dessa

forma, entre os municípios estudados, o que se beneficiou com essa mudança foi

Caruaru que passou a contar com mais recursos para serem investidos na atenção

básica.

3.2.3. Autonomia para gestão dos recursos financeiros do SUS

Quanto a esta categoria nos remetemos às informações referentes aos

Recursos Federais do SUS repassados para o município por Tipo do Prestador

segundo Tipo de Despesa realizada. Estas informações podem ser melhor

visualizadas nos gráficos 01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08 e 09 (encontra-se no anexo 1

as tabelas/planilhas que dão origem a estes gráficos).

8.000.000,00

7.000.000,00

6.000.000,00

5.000.000,00

4.000.000,00

3.000.000,00

2.000.000,00

1.000.000,00

GRÁFICO 01

Recursos Federais do SUS despendidos por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa- Camaragibe, 1997

Contratado

Fonte: DATASUS/MS

Gestão Plena/Sem iplena

EJintern. Hosp.

•Ass. Hosp. C Fator de R e com posição

Observando o gráfico 01, vê-se que em Camaragibe, no ano de 1997,

foram classificados dois tipos de prestadores: Contratado e Gestão Plena/

Semiplena. Quanto ao Tipo de Despesa são apresentadas: internações hospitalares;

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. '

60

Assistência hospitalar/Ambulatorial e o Fator de Recomposição (corresponde a 25%

do valor referente à assistência de alta e média complexidade pagos de julho de

1995 a maio de 1998).

O total de recursos repassados para o provimento das citadas despesas,

neste ano, foi de R$ 14.591.662,28, destes R$ 7.831.987,28 (53,71 %) foram para as

internações hospitalares efetivadas pelo prestador(es) contratado(s) - pagas pelo

gestor federal através dos valores apurados por intermédio do SIH/SUS, com base

na AIH, mediante prévia autorização do gestor municipal. O valor de R$

5.407.740,00 (37,1%) corresponde ao valor dispendido para prover as despesas

com Assistência Hospitalar/Ambulatorial e R$ 1.351.935,00 (9,2%) foram

repassados como Fator de Recomposição.

Apesar de permanecer como prestador, na condição de gestão Semiplena

(NOB 01/93), o município deixa de se relacionar com a União apenas por meio da

venda de serviços e contraprestação da fatura para efetivação do pagamento das

despesas faturadas. Assim, Camaragibe recebe fundo a fundo o total de recursos

para custeio correspondente ao teto financeiro global com base na série histórica

dos gastos com assistência. Os gestores municipais de saúde podem, além disto,

controlar, avaliar e pagar os prestadores de serviços.

9.000.000,00

8.000.000,00

7 .DO 0.000,00

6.000.000,00

5.000.000,00

4.000.000,00

3.000.000,00

2.000.000,00

1.000.000,00

GRÁFICO 02

Recursos Federais do SUS despendidos por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa - Cam aragibe, 1998

Municipal

Fonte: DATASUSIMS

Contratado Gestão Plena

mllntern. Hosp. BAtend. Am bul. DAss. Hosp/Am bul. CFatorde Recomposição IIIPAB Fixo CIPACS •PSF CVig. Sanitária •carênc. Nutricional

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. .......,,

~

\

_....... \

T\

-,

61

Observando o gráfico 02, vê-se que estão apresentados como Tipo do

Prestador: Municipal, Contratado e Gestão Plena. Quanto ao Tipo de Despesa,

aparecem todas que foram contempladas no gráfico 01, acompanhadas de outras:

Atendimento Ambulatorial; PAB Fixo; e, 04 programas que compõem o PAB

Variável: PACS, PSF, Vigilância Sanitária e Carência Nutricional.

O Total de Recursos Federais repassados aumentou para R$ 16.094.695,

83, destes R$ 8.913.561,38 (55,3%) corresponde ao pagamento das despesas

com internações hospitalares que foram realizadas pelo prestador(es) contratado(s).

O repasse de R$ 7.362,56 (0,05%) deve-se ao pagamento das despesas com o

atendimento ambulatorial realizadas pelo prestador municipal.

Pode-se considerar, ainda, que ocorreu uma diminuição no teto financeiro

da assistência hospitalar/ambulatorial para R$ 4.793.132,71 (29,8%) e uma

subdivisão deste teto em várias partes. O Fator de recomposição fica com R$

431.935, 69 (2,7%) o PAB Fixo fica com R$ 1.445.076,16 ( 8,9%) com o PACS é

dispendido R$ 154.350,00 (0,95%) para o PSF são repassados 319.416, 66 (1,98%)

e as despesas com vigilância sanitária e carência nutricional são as menores com R$

16.630,67 (0,1%) e 13.230,00 (0,08%) respectivamente.

Quanto as despesas efetuadas com assistência hospitalar/ambulatorial

estas caem para 4.793.132,71. No entanto, observa-se que se somarmos os valores

dos programas de atenção básica (e o fator de recomposição) os recursos

repassados fundo a fundo sobem para R$ 7.173.771,89 (44,5%).

Portanto, o aumento dos Recursos Federais repassados diretamente ou

fundo a fundo ao que parece foi condicionado à implantação de programas

elaborados/pensados e incentivados pelo MS que, além de tudo, não garantem a

proposição da integralidade da atenção à saúde.

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10.000.000,00

9.000.000,00

8.000.000,00

7.000.000,00

6.000.000,00

5.000.000,00

4.000.000,00

3.000.000,00

2.000.000,00

1.000.000,00

GRÁFICO 03

Recursos Federais do SUS despendidos por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa • Cam aragibe, 1999

Contratado Gestão Plena

Fonte: OATASUSJMS

62

Observando o gráfico 03, pode-se dizer que permaneceu em 1999, a

mesma lógica de financiamento do ano anterior. A novidade é o acréscimo de mais

um programa prescrito pelo MS para compor, junto aos já existentes, a parte

variável do PAB. Aparece, também, entre as despesas, a cirurgia de varizes que

faz parte das transferências de recursos para alta e média complexidade

repassados para o teto financeiro da assistência do município.

O total de Recursos Federais do SUS, repassados foi R$ 18.139.017,88.

Destes, R$ 9.071.272,96 (50, 1%) corresponde ao pagamento das internações

hospitalares realizadas pelo prestador contratado; R$ 6.086.783,13 (33,5%) são

referentes as despesas com Assistência Hospitalar/ambulatorial; R$ 41.860,7 4

(0,23%) foi despendido para cirurgia de varizes; R$1.576.449,00 (8,6%) são do PAB

Fixo; R$ 302.316,66 (1,64%) correspondem as despesas do PACS; R$ 803.404,70

(4,4%) são para as despesas do PSF, R$ 29.228,53 (0, 16%) foi gasto com a

Vigilância Sanitária e, por fim, R$ 68.987 (0,38%), deve-se a Farmácia Básica.

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63

As informações referentes aos Recursos Federais do SUS repassados para o

município de Caruaru por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa realizada

foram apresentadas nos Gráficos 04, 05 e 06.

2.500.000,00

2.000.000,00

1.500.000,00

1.000.000,00

500.000,00

GRÁFICO 04

Recursos Federais do SUS despendidos por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa- Caruaru, 1997

Federal Estadual Municipal Contratado Filantrópico Sindicato Fonte: DATASUSJMS

Observando-se o gráfico 04, vê-se que em Caruaru , no ano de 1997,

foram classificados seis tipos de prestadores: Federal; Estadual; Municipal;

Contratado; Filantrópico, Sindicato. Quanto ao tipo de despesa são encontradas

apenas duas: internações hospitalares e atendimento ambulatorial.

O total de Recursos Federais do SUS repassados segundo tipo de despesa

e tipo de prestador foi R$ 5.521.262,59, destes R$ 18.462,62(0,33%) foram para as

despesas com o atendimento ambulatorial efetivadas por um prestador federal; R$

2.149.694,39(38,9%) foram para as despesas com internações e R$ 986.870,41

(17,8%) para as despesas com atendimento ambulatorial ambas efetuadas por um

prestador estadual. R$ 873.037,33 (15,8%) correspondem as despesas com

atendimento ambulatorial efetivadas por um prestador municipal; R$ 1.284.887,66

(23,2%) deve-se a, novamente, internações hospitalares realizadas por prestador

contratado e R$150.731, 19 (2,7%) vão para as despesas com atendimento

ambulatorial realizadas pelo mesmo tipo do prestador. R$ 9.102,02 (0,16%) e R$

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,,.... . \

r--, '

64

48.474,97(0,81%) são despesas com o atendimento ambulatorial realizadas,

respectivamente por um prestador filantrópico e por um sindicato.

Caruaru estava sob condição de gestão Parcial/NOS 01/93, recebendo

mensalmente recursos financeiros correspondentes à diferença entre o teto

financeiro e o pagamento efetuado diretamente pela esfera federal (após a

contraprestação das faturas) às unidades hospitalares e ambulatoriais existentes no

município que, ,como foi visto no mesmo gráfico, aparecem contempladas em seis

tipos de prestadores. Portanto o gráfico 04 expressa bem a relação entre o Município

e a União pautada no pagamento dos serviços prestados, bem como a existência de

pagamento repassado ao gestor estadual de um alto montante para as despesas

com internações hospitalares e atendimento ambulatorial.

Neste ano a soma das despesas com internações é igual a R$

3.434.582,05% ficando o prestador público estatal com a maior parte dos recursos

financeiros repassados (62,6%) em detrimento do prestador contratado (37,4%).

4.000.000,00

3.500.000,00

3.000.000,00

2.500.000,00

2.000,000,00

1.500,000,00

1.000.000,00

500.000,00

GRÁFICO 05

Recursos Federais do SUS despendidos por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa ~ Caruaru, 1998

Feder. Eslad. Munlclp. Contrai. Fllantróp. Slndlc. Gest.

Fonte: DATASUSIMS Plen./Sem lpl.

m lntern. H osp. RIAtend. Ambul. DAss. Hosp./Ambul. O Fator de Recomp. • PAB Fixo IEIPACS l!l!IIPSF DVig. Sanitâria liiiCarênc. Nutric.

Observando o gráfico 05, vê-se que no ano de 1998, foram classificados

sete prestadores de serviço: federal, estadual, municipal, contratado, filantrópico,

sindicato e Gestão Plena/ Semiplena.

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\

\

65

O total de Recursos Federais do SUS repassados para o município de

Caruaru foi R$ 10.105.246,01. Deste montante, R$ 3.493,06 (0,03%) foram

despendidos para o pagamento do atendimento ambulatorial efetivado pelo

prestador federal, R$ 3.512.745,22 (34,7%)e R$ 1.108.901 ,78(10,9%) respondem,

respectivamente, pelas despesas com internações hospitalares e atendimento

ambulatorial efetivadas pelo prestador estadual, R$ 164.985,77 (7,63%) são

referentes as despesas com atendimento ambulatorial efetivadas pelo prestador

municipal. Assim, o prestador contratado recebeu apenas R$ 204.501,93 (2,02%) e

R$ 263.271,99 (2,6%) para as despesas que efetivou com internações hospitalares

e atendimento ambulatorial. O prestador filantrópico recebeu apenas R$ 8.775,30

(0,08%) e um sindicato recebeu R$7.430,50 (0,07%) R$ 4.839.038,23 (0,47%).

No que se refere as despesas efetivadas pelo "prestador" gestão

Plena/Semiplena, R$ 2.015.690,06 (19,9%) correspondem as despesas com

assistência hospitalar/ ambulatorial, R$ 127.730,22 ( 1 ,26%) foi dispendido enquanto

fator de recomposição, R$ 1.971.250,00 (19,5%) foi dispendido para as despesas do

PAB Fixo, R$ 281.900,00 (2,8%) e R$ 228.666,65 (2,2%) equivalem,

respectivamente, às despesas do PACS e PSF, por fim R$ 49.281,30 (0,48%) deve­

se ao pagamento das despesas com vigilância sanitária e R$ 127.730,22 (1,26%) foi

repassado para o programa de carência nutricional.

4.500.000,00

4.000.000,00

3.500.000,00

3.000.000,00

2.500.000,00

2.000.000,00

1.500.000,00

1.000.000,00

500.000,00

GRÁFICO 06

Recursos Federais do SUS despendidos por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa ·Caruaru, 1999

E stadua\ Fonte: DAT ASU S/M S

Contratado Gestão Plena/Sem iplena

Ealntern. Hosp. •Atend. Am bul.

CJAss. Hosp./Ambul. CJGestantes alto risco

•PAB Fixo EIPAC S II!IPSF t::IVig. Sanitária •carênc. Nutricional lli!IFarmácla Bãsica

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_,.....,_,

66

Observando o gráfico 06, pode-se dizer que em 1999, foram classificados

apenas três tipos de prestadores: Estadual, Contratado e Gestão Plena/Semiplena.

As despesas, por outra parte, são desdobradas em dez tipo de despesa:

internações hospitalares, atendimento ambulatorial, assistência

hospitalar/ambulatorial, gestantes de alto risco, PAB Fixo, PACS, PSF, vigilância

sanitária, carência nutricional e farmácia básica.

O total de Recursos Federais do SUS aumentou para R$ 13.87 4. 732,15,

destes R$ 4.329. 443,31(31,2%) e 1.961.558,85 (14,1%) correspondem,

respectivamente, ao valor das despesas com internações hospitalares e

atendimento ambulatorial efetivadas pelo prestador estadual. O setor privado, fica

com apenas R$ 17.401,51(0,12%) e R$ 987,417.83 (7,1%) devidos as despesas

com internações hospitalares e atendimento ambulatorial já que estas foram

efetivadas pelo prestador contratado.

Em relação ao "prestador" gestão Plena/Semiplena, R$ 2.555.898,65 (18,4%)

é repassado como despesas referentes a assistência hospitalar/ambulatorial, R$

29.342,59 (0,21%) corresponde ao pagamento das despesas com gestantes de

alto risco, R$2.410.401,68 (17.3%) é o repasse do PAB Fixo, R$ 525.983,37(3,7%)

corresponde as despesas com o PACS, R$ 588.033,30(4,2%) foi dispendido para

as despesas do PFS; 60.259,95 (0,4%) corresponde ao pagamento das despesas

da vigilância sanitária, R$ 246.780,00 (1,7%) é o repassado para o programa

carência nutricional e, por fim, R$ 161.869,11(1,7%), foram repassados para as

despesas com a farmácia básica que surge como novo programa da parte variável

do PAB.

As informações referentes aos Recursos Federais do SUS repassados para o

município de Petrolina por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa realizada

foram apresentadas nos gráficos 07, 08 e 09.

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10.000.000,00

9.000.000,00

8.000.000,00

7.000.000,00

6.000.000,00

5.000.000,00

4.000.000,00

3.000.000,00

2.000.000,00

1.000.000,00

GRÁFICO 07

Recursos Federais do SUS despendidos por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa- Petrolina, 1997

Gestão Plena/Semiplena

Fonte: DATASUSIMS

67

Observando o gráfico 07 vê-se que no caso de Petrolina, no ano de 1997,

aparece apenas um tipo do prestador a Gestão Plena/Semiplena e dois tipo de

despesa: assistência hospitalar/ambulatorial e o fator de recomposição. O

primeiro destes dois tipos de despesa, conforme já explicitado, corresponde ao

valor do teto das transferências a municípios em gestão plena do sistema municipal

de saúde/NOB 01/96) ou sob condição de gestão Semiplena/NOB 01/93 como no

caso apresentado pelo referido gráfico.

Os Recursos Federais do SUS repassados para as despesas conforme o

tipo do prestador foi R$ 11.492. 715,00. Deste montante, R$ 9.194.172,00 (79,2%)

corresponde a assistência hospitalar/ambulatorial e 2.298.543,00 (20,8%)ao

pagamento ou repasse do fator de recomposição. Assim, aparece apenas um

"prestador" porque estando sob condição de gestão Semiplena, o município de

Petrolina tinha completa responsabilidade sobre a gestão da prestação de serviços

de saúde, incluindo a contratação e pagamento de prestadores de serviços com os

repasses do Fundo Nacional de Saúde para o Fundo Municipal de Saúde, deste

município.

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.,

a.ooa.ooo,oo

8.000.000,00

7.000.000,00

6.000.000,00

$,(1(1(1.000,00

4.000.000,00

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2.000.000,00

1,000.000,00

GRÁFICO 08

Recursos Federais do SUS despendidos por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa- Petrollna, 1998

M unleil'll Fllanlrlipico G estio PlenafSamiphna

I' o llh:DA TAS U SIM S

68

No ano de 1998, observa-se que ocorrem mudanças na lógica de

financiamento da saúde que repercute sobre a anterior situação do município.

Assim, o gráfico 08 mostra três prestadores: Municipal, Filantrópico e Gestão

Plena/Semiplena. Quanto ao tipo de despesa, são vistos oito tipos: Atendimento

Ambulatorial, Assistência Hospitalar/Ambulatorial, Fator de Recomposição, PAB

Fixo, PACS, PSF, Vigilância Sanitária e Carência Nutricional.

O total de Recursos Federais do SUS, aumenta para, apenas, R$

11.883.626, 16. Deste valor 10.478,62 (0,08%) corresponde a despesa com

atendimento ambulatorial efetivada pelo prestador municipal, R$ 73.293,84

(0,61%) é dispendido para o prestador filantrópico de acordo com a mesma

despesa.

Pode-se considerar, que ocorre um certo retrocesso em relação a situação

do teto financeiro da assistência hospitalar/ambulatorial que diminui para R$

8.607.571,21 (72,4%) e é subdivido para os repasses fundo a fundo em várias partes.

Dessa forma, R$ 777.665,01 (6,5%)corresponde ao fator de recomposição, R$

1.980.673,75 (16,6%) são para as despesas do PAB Fixo, R$ 223.724,98

(1 ,8%)corresponde ao valor do PACS, R$ 108.500,00 (0,9%) para despesas com o

PSF, R$ 28.936,25 (0,2%) são repassados para vigilância sanitária e R$ 72.832,50

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69

(0,61%) para o programa de carência nutricional. Portanto, neste mumc1p1o o

aumento dos Recursos Federais do SUS foi muito pequeno, comparando-o ao ano

de 1997. Este fato pode significar que para dar conta de novas despesas, ou

programas prescritos pelo MS, o incremento de recursos foi pouco significativo.

9.000.000,00

8.000.000,00

7.000.000,00

6.000.000,00

5.000.000,00

4.000.000,00

3.000.000,00

2.000.000,00

1.000.000,00

GRÁFICO 09

Recursos Federais do SUS despendidos por Tipo do Prestador segundo Tipo de Despesa- Petrolina, 1999

Contratado Filantrópico Gestão Plena/S emiplena

Fonte: DATASUS/MS

s. Hosp./Ambul. (Plena) s. Hosp./Ambul.- Dif(Mun.)

Gestantes alto risco (Mun.) Cirurgia de hérnia lnguinal (Mun.) Cirurgia de varizes (M un.) PAB Fixo PACS PSF

No ano de 1999, permanecem os mesmos três tipos de prestadores:

Contratado, Filantrópico e Gestão Plena/Semiplena e 11 tipos de despesas são

contempladas: Atendimento Ambulatorial, Assistência Hospitalar/Ambulatorial

(Plena), Assistência Hospitalar Ambulatorial - Dif. (Municipal), Gestantes de Alto

Risco (Municipal), Cirurgia de Hérnia lnguinal (Municipal), Cirurgia de Varizes

(Municipal), PAB Fixo, PACS, PSF, Vigilância Sanitária e Carência Nutricional.

O total de Recursos Federais do SUS recebidos pelo município de Petrolina,

é igual a R$ 14.717.257,42. Ocorre, neste ano, portanto, um aumento dos Recursos

Federais do SUS bem significativo paralelo ao desdobramento das despesas.

Mesmo assim, o valor repassado para a assistência hospitalar/ambulatorial continua

menor do que o valor apresentado no ano de 1997. Assim, foram repassados R$

2.192.293,50 (14,8%) e R$ 493.468,71(3,4%) correspondendo estes valores,

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71

3.3. A partir de elementos do discurso de Secretários Municipais de

Saúde em Pernambuco

3.3.1. Autonomia do M~nicípio/Secretario de Saúde na gestão dos

recursos financeiros do SUS nas relações internas da gestão

Em relação a categoria autonomia do município/Secretário de Saúde na

gestão dos recursos financeiros do SUS, identificamos trechos do discurso que

apontam para a restrição da referida autonomia nas relações internas da gestão

municipal.

No caso de Camaragibe, cabe antes de apontar tais restrições, explicitar, de

acordo com o discurso da Secretária de Saúde, que o desafio ou principal

problema enfrentado pela gestão é o financeiro:

( ... )se me perguntasse hoje, né, quais os desafios hoje, eu diria que o desafio da gente é o financeiro.

Situando melhor a afirmação acima, o discurso da Secretária de Saúde

explícita outros elementos, destacando-se o entendimento dos recursos humanos e

dos recursos financeiros como nós críticos da gestão:

( ... ) Assim, algum tempo atrás a gente sempre discutia muito que os nós críticos da gente eram recursos humanos e a questão de recursos, né, financeiros mesmo.

No entanto, os recursos humanos não seriam mais para a gestão o principal

desafio ou nó do sistema de saúde:

( ... ) hoje, dentro da equipe, né, nas discussões que a gente faz de

colegiado, ali tenho a impressão que existe um consenso que o nosso

problema hoje é financeiro mais do que de recursos humanos.

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,....._\

72

O referido discurso nos permite considerar que os recursos humanos e o

processo de aprendizagem organizacional (do qual faz parte a estruturação da

Secretaria de Saúde, o entendimento e cumprimento dos pré-requisitos da condição

de gestão assumida, etc) são juntamente, com os recursos financeiros, entendidos

como variáveis que devem ser controladas para que a gestão possa conseguir

acumular poder e, consequentemente, maior governabilidade necessária a

efetivação do sistema de saúde no município. Portanto, tendo sido os recursos

humanos não mais considerados nós críticos os recursos financeiros permanecem

como variável que pode restringir a governabilidade do SUS em Camaragibe:

(. .. )isso é a compreensão da equipe que é a mesma das duas gestões anteriores, certo: recursos humanos não é mais o nó crítico dos sistema de saúde de Camaragibe. É o recurso que a gente precisa fá continuamente capacitando, capacitando também o grupo de trabalhadores, mas não é o nó do sistema de saúde não. É do ponto de vista do aprendizado até hoje, do início da gestão até hoje, fora essas coisas mesmo de aprendizagem organizacional, de aprender a estruturar a secretaria, de entender as responsabilidades e os pré-requisitos que a gente tem que cumprir e de conseguir acumular poder pra ter a govemabilidade sobre o sistema. Mas não diria que hoje são problemas para a gente.

A restrição da autonomia do município/Secretário de Saúde aconteceu,

segundo a Secretária de Saúde, na gestão anterior quando Camaragibe assumiu a

condição de gestão Semiplena, essa restrição se expressou no fato da Secretaria

de Saúde trabalhar de forma mais isolada devido a desentendimentos com a

Prefeitura e, principalmente, na disputa de poder com a Secretária de Finanças:

( ... ) na gestão anterior a Secretaria de Saúde conviveu ... trabalhou um pouco mais isolada.

( ... ) então, de repente a Prefeitura não entendia bem o que era aquele negoc1o (gestão Semiplena), né, até fez muito pouco ... disputa de poder com a Secretaria de Finanças.

Quanto a Caruaru, alguns trechos do discurso do Secretario de Saúde nos

levam a dizer que tal restrição, também, encontra-se presente nas relações internas

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73

da gestão deste município. No entanto, a restrição da autonomia não diz respeito

aos recursos financeiros que são repassados para o Fundo Municipal de Saúde,

pelo fato da Secretaria Municipal de Saúde gerir autonomamente esses recursos. A

restrição advém, da dificuldade de gestão dos recursos da contrapartida do

orçamento da Prefeitura:

Então, dificuldade há sem dúvida nenhuma. Há dificufdades, e nós também evoluímos para a gestão plena e com a gestão plena nos passamos a possibilidade de identificar as fontes de financiamento e com a certeza de tê-las nos dias atrasados e tal. Então, foi feito um planejamento das ações dentro disso daí. E o que não esta conveniado... o que não está financiado pelo Ministério da Saúde, aquilo que vem do orçamento da Prefeitura, nós temos algumas dificuldades

( ... )Por exemplo, recentemente nós identificamos tudo aquilo que a Secretaria pode executar com o financiamento dos convênios e tudo aquilo que ela não pode executar porque depende do orçamento.

Caruaru tem um departamento de controle de vetores que se preocupa especificamente com muriçocas e muriçoca no município de Caruaru é um problema político: o Prefeito de Caruaru está bem ou mal se existe mais muriçoca ou menos muriçoca. Faz parte da história de Caruaru. Porque num determinado momento, até numa campanha política, os políticos ficaram impedidos de falar porque as muriçocas não permitiram, era uma situação de calamidade. Pois bem, este projeto estava sendo tocado e nós conseguimos a partir de convênios que temos. E agora, nós identificamos que é impossível continuar a não ser que o orçamento participe e financie o projeto.

A restrição da autonomia na gestão dos recursos da contrapartida se

expressa, mais visivelmente, no fato do Secretário de Saúde não conseguir ter

uma previsão do quanto poderá ser investido como despesa de contrapartida:

nós não temos ainda 10%, embora que ... eu não tenho condições de dizer claramente se isso alcança mas eu tenho a impressão de que nós não chegamos em 10% ... é uma batalha.

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74

No caso de Petrolina, de acordo com informações obtidas através do ator­

institucional DIRES, os gastos com assistência hospitalar e ambulatorial são

hegemônicos, consumindo a maior parte dos recursos destinados ao sistema. O

fato do hospital Dom Malan ser referência para a região é apontado como o maior

responsável por esta situação. Os diversos Secretários de Saúde que se

sucederam não conseguem controlar esta situação tornando-se, de certa forma,

regidos pela mesma. Portanto, entre as causas das mudanças bruscas de

Secretário de Saúde, estaria o fato destes não conseguirem reverter a situação do

Dom Malan fazendo com que este funcione de melhor forma. Como o citado

hospital é considerado a grande vitrine da saúde, o Secretario de Saúde precisa

adquirir maior govemabilidade sobre o mesmo para não acabar sendo substituído.

Consideramos, portanto, que as mudanças de Secretários de Saúde

passariam pelas questões explicitadas acima, mas que se devem ou estariam

implicadas, principalmente, com a dificuldade destes gerirem autonomamente o

grande volume de recursos financeiros que são destinados/repassados ao sistema

de saúde neste município:

" a questão assistencialista é muito grande, consome a maior parte dos recursos. O troca-troca ... acho que passa pela coisa da gerência, você vai mexer com um milhão de reais por mês! ... você tem uma diretriz política "x" porém no município surge, devido a questões políticas uma outra diretriz... assim você acaba lutando contra a idéia que você antes defendia."

O que se constitui para nós como restrição da autonomia do

município/Secretário de Saúde na gestão dos recursos financeiros do SUS, é o fato

que em Petrolina a Secretaria de Saúde/Secretário de Saúde não tem autonomia

para gerir o Fundo de Saúde. Na gestão do atual Secretário esta restrição pode ser

identificada na fala/discurso deste ator:

( ... ) Tem um setor de compras da prefeitura onde era centralizado todas as compras da saúde ... quando eu cheguei na Secretaria eu vi a dificuldade, os comentários que as pessoas falavam que muitas coisas não andavam porque quando chegava no setor de compras a pessoa que estava lá não tinha sensibilidade... o mesmo cara que comprava o pneu ele comprava o remédio.

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~,

75

Um outro trecho do discurso do Secretario de Saúde de Petrolina parece

indicar a compreensão de que a restrição da sua autonomia na gestão dos recursos

financeiros do SUS repercute nas condições de governabilidade deste sistema, já

que uma das conseqüências de não gerir o Fundo com autonomia seria o fato de

que o sistema não estaria contando com a agilidade necessária - entendida

enquanto agilidade das compras de saúde e medicamentos:

A coisa ainda não tá como eu quero ... ainda, tem algumas coisas precisando melhorar, ainda tá emperrando o sistema de andamento... de agilidades das compras de saúde e medicamentos.

Além disto, a fala do Secretário de Saúde, também, explícita que um dos

principais problemas enfrentados, no que se refere a gestão dos recursos financeiros

recebidos, é a questão do hospital Dom Malan. Com a gestão Plena do Sistema

assumida esse hospital passou a ser gerenciado pela Secretaria de Saúde, devendo

tornar-se, um hospital que atenderia, principalmente, à população de Petrolina já que

o recurso que vem para o hospital foi calculado tendo como base a população de

Petrolina. Porém, na prática, o Dom Malan continua a ser um hospital regional que

tem que dar resposta a uma demanda de toda a região, por serviços cada vez mais

complexos, que cresce paralelamente à impossibilidade de crescimento dos

recursos financeiros:

Qual é o grande problema do hospital D. Malan, que é o grande problema da Secretaria de Saúde, ele é um hospital regional municipalizado ... não precisa dizer mais nada pra você saber o caos que é, então toda região procura ele e a verba vem pra população do município de Petrolina, só que ele continua atendendo, trabalhando como um hospital regional atendendo toda essa região ...

. . . é aquilo que a gente tinha falado pra você, o recurso que vem pra o município é em cima da população do município ... então, a gente tem problema sim, em questões financeiras temos sim. Se fosse pra administrar Petro/ina, o que vem hoje pra Petrolina, daria o suficiente pra viver uma maravilha, o problema é o que é canalizado pra casa dos outros estados e cidades.

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.0

É ... tudo que se refere, como eu já falei a você, voltando ao D. Malan, tudo que se refere a atendimento de complexidade, tudo que é cirurgia de urgência, o paciente precisa de UTI , tudo é feito aqui, em toda essa região. A UTI daqui é até melhor do que a de hospitais particulares, é uma UTI muito bem equipada. Agora tudo isso gera problema, o hospital D. Malan é mais forte por isso. Porque era pra ele estar funcionando uma maravilha se realmente a gente atendesse a população em que é baseado o recurso pra vi~ mas só que não é.

76

E identificada, ainda, a baixa governabilidade do Secretário de Saúde na

relação com o setor privado que integra a rede de saúde mas tem uma autonomia

não condizente com a lógica de participação do setor privado no SUS, a qual lhe

permite selecionar e até deixar de atender usuários/pacientes mesmo recebendo

recursos financeiros do SUS para prestar os devidos serviços:

... uma questão que eu estou vendo, no pouco tempo que estou aqui, eu ainda vejo uma questão um pouco até problemática no sentido do bom atendimento... muitas vezes ele diz que só tem 'X' leitos pra atender pelo sus~ quando na realidade a gente sabe que ele tem uma cota de atendimento muito maior... eu não sei em que eles se amarram ali~ muitas vezes pra deixar de atender determinada pessoa que vai procurar ali~ mesmo ele tendo este convênio. Então nós estamos tentando ver o que é que a gente pode conversar com os hospitais, aqueles que atendem pelo SUS, como é que eles podem melhorar esse atendimento, a gente tem às vezes muita dor de cabeça, com essas clínicas que têm uma porta de atendimento pelo SUS.

Ainda em relação a categoria autonomia do município/Secretário de Saúde

na gestão dos recursos financeiros do SUS, identificamos trechos do discurso que

podem, por outro lado, apontar o avanço das condições de autonomia do

Município/Secretário de Saúde nas relações internas da gestão.

Em Camaragibe uma maior governabilidade sobre a gestão dos recursos

financeiros do SUS foi favorecida na gestão atual devido ao acumulo de capital de

experiência acumulado pelo Prefeito - que foi Secretário Municipal de Saúde na

gestão anterior - e pelo Secretário de Finanças - que foi o Diretor do Fundo

municipal de Saúde nessa mesma época:

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( ... ) nessa gestão agora, quando o Secretário saiu e ocupou, né, ele é o Prefeito atual. Então, pelo próprio perfil dele, ele conseguiu mudar, melhorar muito a relação entre as secretarias.

( ... ) hoje não, porque o Prefeito é o ex-Secretário de Saúde e o atual Secretário de Finanças foi o Diretor do Fundo Municipal de Saúde.

77

Conseguimos identificar, no discurso da Secretária de Saúde a questão da

previsibilidade da contrapartida de recursos do orçamento da Prefeitura definida

pela Lei Orgânica do Município que facilita, também, o relacionamento entre

Secretaria de Saúde e Prefeitura:

A gente, a Prefeitura ... 13%. Ano passado foi 13,04 ou 13,09 mas em média 13% que é o que a Lei Orgânica do Município definiu. Teve períodos anteriores que gastava um pouco mais, teve assim ... quando fecha o ano fecha em 13. Mas tem meses que a Prefeitura repassa um pouco mais, ai vai balanceando e fecha em 13. A gente tá no sufoco é socorrido. Quando eles estão no sufoco aí repassa menos aquele mês, mas sempre fecha com 13%.

A partir desta previsibilidade de recursos, mesmo que flexibilizada em alguns

meses conforme a necessidade da gestão, vale ressaltar o nosso entendimento de

que há um avanço das condições de autonomia a medida que a Secretaria de

Saúde ao saber antecipadamente o percentual de contrapartida pode planejar, por

exemplo, os investimentos de pessoal ou de equipamentos na área.

Identifica-se nos discurso alguns elementos que podem ser entendidos como

avanços conseguidos quando o município assumiu a condição de gestão

Semiplena:

( ... ) como a gente viveu na gestão passada, o fato de passar pra Semiplena, então, a gente era prefeiturinha, né, porque passa a controlar, ter Fundo de Saúde... compras éramos nós que fazíamos, licitações.a gente acompanhava.

A Secretária de Saúde faz, ainda, referência no seu discurso à condição de

Gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde como uma necessidade para se ter

mais recursos financeiros para intervir na situação de saúde no município:

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i\

'

-"\

78

... se os municípios continuarem em Gestão Plena da Atenção Básica, eles não têm recurso para mobilizar. .. pra con[eguir mudar alguma coisa, entendeu?

Com a Gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde o [município pode dar

continuidade ao processo de implantação das equipes de Saúde da Família, ao

mesmo tempo, ter o Fundo Municipal de Saúde funcionando e assumir o controle

dos recursos materiais através de um almoxarifado próprio. Além disto, a autonomia

conquistada favoreceu um modelo de gestão mais regulador das relações público­

privado, cobrando-se, assim, maior qualidade na prestação dos serviços por parte

do setor privado e corrigindo distorções com o uso de mecanismos de controle e

avaliação dos serviços:

Então, à medida que a gente instalava o Saúde da Família ampliando as equipes, a gente tinha o Fundo de Saúde funcionando, a gente assumia das estruturas da Prefeitura o controle de material, tinha almoxarifado próprio, a gente informava o SIA-SIH, daí podia cancelar do hospital privado o SIA que não nos interessava que ele fizesse e voltar pra o serviço voltar a fazer. Então você não consegue fazer mudança muito grande se você não tiver o modelo de gestão compatível.

Em Caruaru como não há uma previsibilidade da contrapartida de recursos

por parte do orçamento "da Prefeitura, o atual Secretário de Saúde melhorou sua

capacidade de gestão dos recursos financeiros em relação a gestão anterior

quando ele também foi Secretário de Saúde, pelo fato de ser ao mesmo tempo

Secretário de Saúde e Vice-Prefeito de Caruaru. Dessa forma, a condição política

de Secretário de Saúde e Vice-Prefeito do município é referida no seu discurso

como uma situação que lhe dá uma maior autonomia principalmente no processo

de tomada de decisões e na sustentabilidade dos projetos:

A partir do início dessa gestão com a função paralela de vice­Prefeito, isso me dá uma condição política de maior peso, de mais importância para a tomada de decisões e me deu mais independência para realizar um projeto que eu não digo que é projeto pessoal, esse é um projeto da equipe, nós somos uma equipe, hoje, extremamente coesa.

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\

Essa que é chamada projeto desafio que lida com vetores é um projeto grande, que lida com muito pessoal, que tem muitas viaturas e isso tinha um impacto muito grande na nossa economia e, recentemente, eu negociei com o prefeito para a continuidade desse projeto dependa do orçamento municipal porque, na verdade, antes não era. Então, são coisas que nós estamos conseguindo pouco a pouco.

79

Portanto, apesar de não haver uma previsibilidade dos recursos de

contrapartida do orçamento da Prefeitura a condição paralela de Vice-Prefeito

imprimiu uma maior autonomia do Secretário de Saúde em relação a Prefeitura,

fazendo com que esta contribua com a manutenção da Secretaria de Saúde e,

também, financie os projetos desta Secretaria:

Nós também financiávamos isso fora, nós financiávamos a reposição de peças ... a manutenção geral da Secretaria, dos veículos, o projeto desafio que é esse, o projeto do centro de produção de alimentos. Tudo isso é financiado pelo orçamento do município.

Identifica-se, também que o citado avanço foi viabilizado através de alguns

movimentos realizados pelo Secretário de Saúde/equipe para aumentar/favorecer a

capacidade para a gestão dos recursos financeiros do SUS, o que implica, também

em um aumento da governabilidade do SUS no município de Caruaru. Primeiro,

cabe destacar o entendimento do Secretário de Saúde de que o processo de

municipalização se deu sem que os municípios tivessem maiores condições de

governabilidade:

A municipalização ocorreu sem que houvesse muita preocupação ... disponibilidade de pessoal, de condições partindo do município. Os municípios, na verdade, não estavam preparados para isso, eu acho que pelo menos a maioria não estava.

Segundo, cabe destacar o entendimento de que a governabilidade do SUS é

constantemente ameaçada pela situação/conjuntura política:

. .. eu acho que num trabalho desse que é um trabalho de construir condições nos municípios .. . essa sustentabilidade nos projetos é

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\

outro aspecto extremamente importante, nós não podemos recuar mais dos patamares aos quais chegamos. E isso tem que ter o apoio da população, da comunidade. E eu tenho feito muito esse apelo à comunidade... que esse avanço que nós conseguimos, juntos com a população, nos seNiços de saúde, ele não pode mais recuar, quem quer que venha depois como político. Porque a situação política cria, as vezes, situação de recuo de volta a patamares anteriores que não são mais toleráveis. ( ... ) nós chegamos a um ponto de saber que as ações de saúde não podem ser mais isoladas visando aspectos relacionados com a forma mais tradicional de saúde como ausência de doenças.

80

Assim, em terceiro lugar, destacamos os referidos movimentos que

fortaleceram a capacidade de gestão da Secretaria de Saúde e que podem apontar

o avanço das condições de autonomia do Município/Secretário de Saúde em

relação a gestão (controle) dos recursos financeiros e, consequentemente, em

maior governabilidade do SUS.

Um dos primeiros movimentos foi, a partir da gestão dos recursos do Fundo

Municipal de Saúde pela Secretaria de Saúde, a criação de um departamento de

planejamento para assim melhor planejar as atividades que seriam desenvolvidas

com os recursos deste fundo, através do "planejamento financeiro":

A secretaria quando nós chegamos não tinha um departamento de planejamento, o planejamento já foi instituído agora depois dessa gestão. Então, houve um notável aumento das atividades do Fundo Municipal de Saúde que funciona aqui. Até o ano passado nós não tínhamos um planejamento financeiro, então as compras, as decisões eram feitas muito aleatoriamente e hoje a visão que nós temos é em função das disponibilidades. Hoje não, nós começamos a compatibilizar exatamente nesses aspectos o financiamento.

Um outro movimento conseguido pela gestão do Secretário de Saúde de

Caruaru foi a realização de reuniões sistemáticas e coletivas para

discussão/exposição da situação financeira da Secretaria de Saúde:

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""·

\

... todos os diretores participam. Por exemplo, nós temos uma reunião programada e que Flora hoje é responsável pela administração financeira da Secretaria, ela hoje está altamente especializada nisso, então, ela vai fazer uma exposição de quais são as condições financeiras da Secretaria, quais são os programas em que pé que cada programa está, quais são as prioridades que nós vamos ter, quis são as disponibilidades •.. então, ela vai fazer a sugestão de onde é que cada um pode fazer uma modificação ... anteriormente nós não tínhamos isso, isso foi uma aquisição deste ano.

81

O discurso do Secretario de Saúde nos leva a destacar a criação de uma

comissão de licitação como um outro movimento/ avanço propulsor de maior

autonomia do Município/Secretario de Saúde na gestão dos recursos financeiros do

SUS:

... em cada área daqui tem uma pessoa que hoje está muito bem preparada. Por exemplo, quando nós chegamos aqui, não tinha comissão de licitação, nós vivíamos na dependência da comissão de licitação geral da Prefeitura. Hoje, nós temos uma pessoa na comissão de licitação que está extremamente bem preparada é uma advogada Maria da Paz que é irmã deCida (Secretária Adjunta), uma funcionária egressa do Banco do Brasil, que dedicou-se, hoje, a isso, estuda e tem um papel ... e ela começou a ser hoje, uma pessoa de alta competência dessa área. ... E, hoje, nós podemos dizer que temos uma comissão de licitação da Secretaria de saúde que realmente funciona com características de absoluta transparência, honestidade, essas coisas todas que são fundamentais, claro, na visão que nós temos de administração publica.

No caso de Petrolina, pode-se dizer que um dos avanços ou movimentos

em busca dessa autonomia foi a iniciativa do Secretário de Saúde no sentido de

intervir na centralização das compras da saúde que são efetuadas, conforme já

referido, pelo setor de compras da Prefeitura. Assim, o Secretário de Saúde adota

como solução colocar uma pessoa que faz parte da sua equipe para atuar no setor

de compras da Prefeitura com a missão de descentralizar/ agilizar as compras da

saúde:

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_.--._,

(. .. )Então, teria que ter uma pessoa que tivesse sensibilidade que um hospital não pode parar, um posto de saúde não pode parar ... nós estamos tentando melhorar isso aí, estou botando uma pessoa que fique tomando conta das compras da saúde ... uma pessoa que tá lá agilizando... a gente tá sempre procurando fazer reuniões, ir lá no setor ver o que a gente pode melhorar.

82

No entanto, apesar de considerarmos o fato acima como avanço ou

movimento em busca de autonomia, esse tipo de atuação não interfere no cerne da

questão, ou seja, mesmo que se consiga, com essa atuação nas bordas do sistema,

avanços em direção a uma maior agilidade/flexibilização das "compras da saúde",

a situação de não autonomia da Secretária de Saúde/Secretário de Saúde

permanecerá como fator de restrição a governabilidade do SUS neste município.

3.3.2. Autonomia do Município/Secretario de Saúde na gestão dos recursos

financeiros do SUS nas relações com as demais instâncias (Federal, Estadual)

Em relação a autonomia do Município/Secmtário de Saúde na gestão dos

recursos financeiros do SUS nas relações com as instâncias Federal, Estadual

pmcuramos identificar alguns trechos/elementos que compõem o discurso dos

Secretários de Saúde que nos dão idéia de tais relações.

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externo da gestão, conforme se ler implicitamente no trecho abaixo:

. . . a gente tem uma situação muito favorável do ponto de vista interno.

Contudo, outros trechos encontrados colocam o entendimento de que as

relações seriam desfavoráveis apenas nas relações com a instância estadual,

devido, principalmente, a divergências político-partidárias:

Com o Estado~ .,. com a gestão estadual. Então, nos dois primeiros anos, 93 e 94, a gente tinha dificuldade muito grande com a gestão. Pelas

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escolhas diferentes, a Prefeitura era PSB, né. Veja, a Prefeitura era PSB na gestão anterior e o Joaquim Francisco (Governador) PFL.

Assim, a instância ou Governo Estadual vem se colocando como um

opositor ao processo de descentralização da política de saúde criando, assim,

dificuldades na captação de recursos financeiros por parte do município. Como

exemplo disto, estaria o fato do projeto de implementação do PSF, que de acordo 1 ' • -1 Z:: " L I 5\JiC"'"- 4 • • ~- r- • com a iog1ca ue ;manciamenLO ao ivi\:> acrescemana 1ncem:1vos nnance1ros para o

município não ter sido aprovado na gestão anterior pelo Secretário Estadual de

Saúde:

A gente não aprovou o Saúde da Família aqui porque Danilo Campos (Ex-Secretário Estadual de Saúde) não assinou.

O diSCU-f.Sõ ãpõn.tâ-, ãHlâã, 4Ué ãS fêla~õêS Gõh1 õ GQVéfilõ Fêderal que se dá .

via Ministério da Saúde, seria mais favorável. Assim, quando o Governo Estadual

anteriormente -, o município enfrentou a situação recorrendo diretamente ao

Ministério da saúde:

( ... ) Foi aprovar em Brasiliai direto com o Ministério.

Ui-i~i õUtfO tfêttlõ lló GiSCUtSõ ptêVê quê ó CêilãfiO 99-2002 CõilfiflUafi.i~ SêfiâU

desfavorável no que se refere a relação da Secretária Municipal de Saúde com a

fundamentam esse cenário dois fatos ocorridos recentemente; um programa de

Secretário Estadual de Sâúde e a questão de ter havido entre Camaragibe e a

aumento do teto financeiro da assistêndaf já que algumas unidades de saúde do

através do Projeto de Reforço a Regularização do SUS (REFORSUS); no entanto

tal aumento nunca aconteceu. Estes fatos podem ser melhor entendidos a partir dos

trechos destacados abaixo:

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(. .. ) a gente tem tido dificuldades. Por exemplo, a gente tinha um programa aqui de combate à desnutrição com o uso de protemol, um produto a base de sangue de boi e que combate ao mesmo tempo à desnutrição e à anemia. Então, primeiro ato de Robalinho (Secretário Estadual de Saúde) foi interromper a fabricação do Protemol, porque era o LAFEPE(Iaboratório do Estado) quem fazia.

( ... ) É na discussão do teto, agente tinha uma discussão anterior na Bipartite que todas as unidades que a gente aprovasse e reorganizasse com o REFORSUS ia ter correspondente aumento no teto financeiro do município. A gente visitou o CEMEC Tabatinga no dia 13 de agosto... clara mensagem de que? De que não tem nenhum reajuste de teto, então é esse tipo de dificuldade que a gente sabe que vai ter.

84

No caso de Caruaru, o Governo Estadual também é visto como um opositor

pelo Secretario de Saúde, que tem desrespeitado o que é legalmente estabelecido

pelo SUS no sentido da complementaridade do setor privado. Dessa forma, foi

privilegiado para as operações de próstata um hospital privado, mesmo tendo a

Secretaria de Saúde a compreensão de que as cirurgias deveriam ser realizadas no

Hospital Regional do Agreste. Este fato que pode ser melhor compreendido nos

trechos que se seguem do discurso do Secretário de Saúde, mostra um desrespeito

a autonomia conquistada com a condição de Gestão Plena do Sistema Municipal de

Saúde peio Município e o privilegiamento do setor privado que com isto acaba

recebendo recursos financeiros do SUS de forma desnecessária:

Os problemas políticos existem atualmente . ... um problema político aqui, que é extremamente importante... isso em relação ao Estado que é administração do Hospital Regional ... é da orientação do vice­governadorMendonça e a DIRES é ligada ao Deputado Toni Gele os dois, evidentemente, discutem os passos aqui na região do agreste e por fim, então, essas atividades da DIRES e do Hospital Regional do Agreste. Estas situações levam as vezes a um utilitarismo, assim, que eu não acho que seja correto existir no setor público.

Por exemplo, agora mesmo, o programa de operações de próstata que vão ser bancadas pelo Ministério então, nós entendemos que as operações de próstata deverão ser feitas pela magnitude da operação ... que podem ser feitas no Regional do Agreste. Caso não fosse no RD(JÍn na f rJn L!grcH::?a Vb'U;; - ~=..,} s :• ,,,.,.,H,,!I'h .•. :,

estranhamente ela devia ser feito no hospitai conveniado... mas, (Secretaria de Saúde Adjunta) está me

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comunicando que foi encontrado um hospital privado que foi privilegiado para fazer essas operações. Então, existe, ainda, um ranço de autoritarismo que não percebe a Gestão Plena do município, a municipalização e isto está, ainda, claramente ... aparece arraigado em certas decisões.

85

r'\ I -! ' ~ • • • ~ • •• -! - ., • ! l!""t< , I L;aoe uesmcar amaa, aiguns trecnos ao Ciiscurso uo t>ecretano ae ~auae que

explicitam que a implantação do PSF não teria obedecido apenas a prescrição do

Ministério da Saúde, reforçada pela sua lógica de financiamento que acrescenta

incentivos ao teto financeiro assistencial dos municípios que implantarem o

programa em questão, fato que reduz/restringe a autonomia do município. Esta foi

uma opção do município que teve por fundamentos: a necessidade de racionalizar

os recursos e a preocupação com eqüidade em termos de acesso e qualidade da

assistência na zona rural. Destacamos abaixo, um trecho onde isto é melhor

explicitado através do discurso do Secretario de Saúde:

" foi quando na exiguidade de verbas, a gente tem que estabelecer prioridades e a prioridade foi criar condições na zona rural de dar uma assistência. Então, foi quando veio a possibilidade de criar Programas de Saúde da Família. .. . nós associamos isso com as atividades realmente relacionadas com a promoção de saúde, como educação de saúde e então, o médico passou a ser utilizado de forma referenciada, com as consultas marcadas, agendadas pelo agente comunitário de saúde. e com as primeiras experiências nós vimos que o custo era viável e é baixo em relação a população, o custo de cada programa desse está em torno de doze mil reais. Com doze mil reais a gente assegura uma assistência digna, para uma população que na área da gente corresponde a 3.8 quase 4 mil pessoas, quer dizer 4 mil pessoas são assistidas por mês com 12 mil reais de despesas. Eu acho que isso é alguma coisa, um achado significativo" (Entrevista -Caruaru).

Assim a opção de implantação do PSF no município estaria contribuindo para

melhor distribuição dos recursos financeiros do SUS. Dessa forma, o município ao

ter autonomia relativa para optar pela implantação de unidades de PSF em vez das

unidades tradicionais {postos/centros) teria, segundo o Secretário de Saúde,

reduzido o número de internamento de crianças em hospitais conveniados por

causas- como a diarréia- que são resolvidas no nível de atenção básica propiciado

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pelo PSF. Este fato teria levado a conseqüente diminuição, também, dos recursos

financeiros antes repassados para esses hospitais através das AIHs:

Isso já se traduz numa redução notável de internamento e crianças em hospital conveniados e que não tinham motivos de se internar (. . .) Eu lhe digo um dado, para você ter uma idéia, tem um hospital conveniado aqui que tinha uma media de recebimento mensal na ordem de 25 mi reais e nisso ele recebeu 400. 25 mil reais e recebeu 400 reais esse mês, quer dizer, e eles estão pressionando porque não tem doentes, porque nós estamos vencendo a batalha. Por isso, por que as crianças não vão mais para lá quando tem uma diarréia qualquer, elas não se internam mais por isso.

No caso de Petmiina não conseguimos captar no discurso do Secretário de

Saúde nenhum elemento que indique restrição da autonomia do

fv1uniclpioiSecretário de Saúde na gestão dos recursos financeiros do SUS nas

relações com as demais instâncias (Federal, Estadual).

Além de não identificarmos restrição alguma, é preciso destacar ainda, como

elemento desse discurso que a influência política permanece enquanto lógica de

captação de recursos financeiros favorecendo o ftuxo de recursos repassados para

este município:

... nós temos aqui uma liderança política forte que é quem canaliza os recursos pra Petrolina, então isso é o que tem ajudado muito as coisas a andarem aqui, isso a gente tem que reconhecer.

O único eie11 ;ento que destoa dessa situação extremamente favorável do

ponto de vista das relações externas na gestão dos recursos financeiros do SUS é o

fato do Secretárioiequipe questionar a forma como vem sendo realizada na prática a

Programação Pactuada Integrada (PPI) que deveria ser uma forma do Estado

interferir no sentido de dar mais eficiência ao uso destes recursos mas que, na

prática, não estaria se efetivando:

... então o problema sério, grave daqui é esse, é aquela história da PPI, né ... é lindo, lido no papel ela é maravilhosa, ótima ... Juazeiro vai usar PP.frnlf·na >'nr;q• •a c> .o:~ ,..,;d"rf·~C' ge·' n~-~a~ ent.O:n In~7~ino u~l· ~~~un1irr ~-~~" -'"11r:v: ;JV~ Uv vaU V: OLVv .. ,J;t;; o:..:--- ri OtJ vu0-0'.. uQ C!t •. n .. :~ .. =.: H t •••• n .. :V

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de Petrolina ... mas não é de interesse de nenhum prefeito, que usufrui do hospital Dom Malan, fazer isso funcionar.

3.4. DISCUSSÃO

87

A participação da receita tributária própria na composição da recetta total dos

municípios é baixa, não chegando, segundo dados do SIOPS, a 10% nos

municípios de Camaragibe e Petrolina e em Caruaru, de acordo com outra fonte de

informação (FIDEM) chega a 11.05%.

O fato do ISS ser a principal fonte de receita tributária nesses municípios

expõe a consonância com a tendência de arrecadação de dinheiro público por meio

de impostos/tributos sobre o consumo e não sobre o patrimônio, a renda ou ainda,

sobre as exportações. No caso do ISS ( e do ICMS) por ser um imposto indireto

este recai sobre o consumo e a produção penalizando a população de baixa renda.

Como esse imposto fica embutido no preço dos serviços, ele se torna invisível para

o consumidor que não tem a consciência de que o paga e com isto acaba

recebendo os serviços públicos como "favor" (Franco, 1998).

Em relação, ainda, a participação da receita tributária na receita total dos

municípios, o caso de Camaragibe leva a supor de que houve uma busca de maior

governabilidade - entendida como aumento da receita própria do município - através

do desenvolvimento de esforços no sentido de arrecadar mais receita dos

tributos/impostos sobre sua competência. Esta suposição advém do fato deste

município ter apresentado em valor absoluto um montante arrecadado através do

IPTU muito próximo ao de Petrolina que tem quase o dobro da sua população e em

valores percentuais apresentar o dobro da participação dessa fonte na receita total

quando comparado, novamente, com Petrolina.

O IPTU segue uma lógica de redistribuição de renda pois é, como já dito, um

imposto progressivo, ou seja, suas alíquotas podem aumentar conforme a renda,

íeduzindo a desigualdade entre os contribuintes. Este fato nos peímite dizeí que no

caso de Camaragibe buscar uma maior governabilidade através desse imposto não

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88

cometeria o erro de penalizar, nesse processo, o consümo e a produção con10

acontece no caso do ISS. Por outra parte, Petrolina apresenta um volume de

arrecadação de ISS bastante alto mesmo que este mumc1p1o consiga atingir

maiores condições de governabilidade através dessa fonte de receita tributária esse

processo colaboraria, contraditoriamente, para o aumento da desigualdade e

concentração de renda já que o ISS é um imposto regressivo que incide em maior

proporção sobre a renda daqueles que menos têm.

Aponta-se, portanto a necessidade destes impostos tornarem-se visíveis para

a população para que esta contribua exigindo o retorno na forma de serviços

públicos. Isto, também contribuiria para a governabilidade de um sistema de saúde

público como o SUS, já que parte da receita dos municípios e demais instâncias

provém desses impostos é mais do que justo que a população possa receber o

retorno deste dinheiro na forma de serviços de saúde de qualidade satisfatória e

proporcional aos esforços despendidos para pagar tal imposto.

Em relação as receitas de transferências, observa-se que há uma

dependência dos municípios de Camaragibe e Petrolina desse tipo de fonte de

receita. As principais fontes de receita de transferências - o FPM e o ICMS -

apresentaram uma participação significativa na composição da receita dos

municípios destes dois municípios. No caso de Caruaru não dispomos desta

informação devido a fonte da mesma ser o SIOPS. No entanto, viu-se que a

participação das transferências na composição da receita total deste município é

bastante elevada, configurando-se, para Caruaru a mesma relação de dependência

já comentada.

Viu-se que é ma1or a participação do FPM, nos dois casos observados

(Camaragibe e Petrolina), do que a participação do ICMS na composição da receita

total dos municípios. Estes dados reafirmam a importância dos recursos financeiros

repassados para os municípios através do FPM. Além disto, os recursos do FPM

colaboram para uma maior eqüidade a medida que provém da arrecadação do

Imposto de Renda (IR) e do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) devido ao

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fato dos recursos do FPM serem distribuídos na razão inversa da produtividade dos

municípios.

Não se pode, apesar disto, considerar de menor importância a participação do

ICMS enquanto fonte de receita para os municípios. Assim, observou-se que a

participação dessa fonte de receita ficou em torno de 12% nos municípios

investigados. Uma outra informação que deve ser acrescida é o fato de que ao

observar-se a evolução do total do ICMS arrecadado pelo Estado dos três

municípios investigados, conclui-se que esta participação vem diminuindo cada vez

mais. Assim, consequentemente, o retorno desta fonte de receita para os

municípios deve diminuir na mesma proporção. Pode estar configurando-se uma

situação de possível crise fiscal nestes municípios que pode ter uma explicação

estrutural já que as modificações econômicas que vem se processando no país têm

reflexos sobre as finanças municipais, particularmente sobre o retorno do ICMS

(Pozzobon, 1998).

A dependência dos municípios das transferências expressa a baixa

capacidade de autonomia/autogestão destes em relação aos demais entes do

sistema federativo. Como estes municípios não podem prescindir de

recursos/verbas, principalmente, Federais para manutenção das suas despesas

este fato reduz a autonomia deste ente configurando-se, então, um claro limite ao

processo de descentralização da atual política de saúde.

Nessas condições, a referida descentralização necessária para que o sistema

adquira uma maior governabilidade, depara-se com o fator limitante da não­

autonomia do município caracterizada pela descentralização dependente visto que

os recursos próprios ou receita tributária, são insuficientes para prover as despesas

do conjunto de serviços e ações de saúde que foram, por definição legal, conferidas

aos municípios.

Essa relação de dependência pode ser combatida com aportes dos Estados e

municípios para compor a totalidade do gasto ou despesa com saúde no Brasil. A

mudança mais recente que pode ievar a uma diminuição dessa dependência é a

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proposta aprovada pela Emenda Constitucional n.0 29/2000. Cabe destacar, neste

sentido, que Petrolina apresentou um valor percentual de contrapartida ou despesa

própria com saúde superior aos sugeridos por esta emenda. Assim, os percentuais

sugeridos, para participação dos municípios nos gastos com saúde de 2000 a

2004, é de 7% em 2000; 8,6% em 2001; 10,2% em 2002; 11,8% em 2003 e 15%

em 2004 e o percentual apresentado por Petrolina como despesa própria com

saúde foi, de acordo, com o SIOPS, 16,2%. Camaragibe, segundo a mesma fonte

de informação, apresentou como percentual de despesa própria com saúde 13,3%

portanto, mais do que o percentual sugerido acima para o ano de 2003.

Dessa forma, apesar da referida emenda sigmhcar um aporte maJor de

recursos necessários a sustentabilidade do SUS, no caso dos dois municípios

investigados a importância desta emenda estaria mais na estabilidade do

financiamento da política de saúde do que no aporte de recursos financeiros

próprios. Podendo até significar um certo retrocesso, caso os futuros gestores

destes municípios resolvam diminuir os gastos/despesas própria com saúde pois

essa possibilidade poderia ser justificada pelos percentuais sugeridos pela emenda.

Assim, do ponto de vista da autonomia municipal na gestão dos recursos

financeiros do SUS como elemento/variável de importância nas condições de

governabilidade desse sistema a emenda acrescenta menos avanços do que os

realmente necessários para superar a dificuldade de financiamento da política de

saúde, contudo surge a partir desta a prerrogativa da esfera estadual aumentar

suas despesas com saúde, fator favorecedor de grande parte dos municípios que

são, no caso brasileiro, carentes dos serviços de maior complexidade, supridos

pelo Estado.

>

Com a criação do PAB em 1998, garantiu-se para os gàstos com o conjunto

de procedimentos básicos de saúde um valor mínimo anual per capita de R$ 10,00.

Em relação aos municípios pesquisados, vimos que dois destes (Camaragibe e

Petrolina) já investiam em 1997 com estes procedimentos mais do que o valor

mínimo instituído pelo MS. No entanto, para CaíUaru, a criação do PAB foi um

avanço. Com o PAB Caruaru dobrou o seu quantitativo de recursos financeiros

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91

para investir em procedimentos básicos por habitante. Além do que, o repasse

deste recurso se dá desde então fundo a fundo através de parcelas mensais o que

propicia, ao nosso ver, um aumento das condições de governabilidade na gestão

dos recursos financeiros do SUS a medida que para responsabilizar-se pela

prestação destes procedimentos o Município/Secretaria de Saúde pode dispor,

como no caso de Caruaru, de novos recursos.

A análise dos recursos federais do SUS despendidos por tipo do prestador

segundo tipo de despesa mostra como primeiro elemento, de acordo com os três

casos estudados, que em 1997 aqueles municípios que já estavam sob condição de

gestão Semiplena/NOB 01/93 tinham conquistado uma autonomia na gestão dos

recursos financeiros que parece ser maior do que a que se tem nos dias atuais. Isto

é bem claro nos casos de Camaragibe e Petrolina que assumiram a referida

condição de gestão.

No ano de 1997, em Camaragibe, só haviam dois tipos de prestadores: o

Contratado e a Gestão Plena/Semiplena. O prestador contratado recebeu 53,7%

dos recursos despendidos como pagamento das internações hospitalares. A

gestão Semiplena recebeu fundo a fundo 46,29% dos recursos financeiros

repassados na forma do teto da Assistência Hospitalar/Ambulatorial e, também,

parte deste recurso foi incorporado a este teto como fator de recomposição à

assistência de alta e média complexidade.

No caso de Petrolina, em 1997, esta condição de autonomia é ainda mais

evidente: havia só um "tipo do prestador" que se relacionava com o MS: a Gestão

Semiplena; Nessa condição, o município recebia fundo a fundo o total de recursos

federais repassados como teto da Assistência Hospitalar /Ambulatorial e, da mesma

forma que em Camaragibe, o fator de recomposição à assistência de alta e média

complexidade era incorporado a esse teto. Assim, estes dois municípios já tinham

no ano citado completa responsabilidade sobre a gestão da prestação de serviços

e ações de saúde, incluindo a contratação e pagamento de prestadores de serviços

com os repasses do Fundo Nacional de Saúde para os seus respectivos Fundos

Municipais de Saúde.

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Caruaru que estava sob condição de gestão Parciai/NOB-01/93 já não tinha a

mesma autonomia na gestão dos recursos financeiros por que, no seus caso, os

recursos financeiros repassados fundo a fundo correspondiam à diferença entre o

referido teto e o pagamento dos prestadores referente às internações hospitalares e

o atendimento ambulatorial era, ainda, centralizado pelo MS através da lógica de

contraprestação das faturas por parte dos diversos prestadores.

A partir de 1998 é instaurada com a NOB 01/96 uma nova lógica de

financiamento ou mudanças que permanecem até os dias atuais. A análise dos

gráficos que apresentam as informações nos anos de 1998 e 1999 mostram que

nos três municípios estudados ocorre um aumento do total de recursos federais

repassados. No entanto os recursos que antes eram repassados fundo a fundo

como teto da Assistência Hospitalar/Ambulatorial diminuíram e o "prestador" Gestão

Plena passou a receber recursos vinculados a novos tipos de despesas ou

programas prescritos pelo MS (PAB Fixo, PACS, PSF, Vigilância Sanitária, Carência

Nutricional) que, contraditoriamente ao proposto pelo SUS, dão conta apenas da

atenção básica.

No caso de Caruaru, entretanto, as despesas realizadas pelo prestador

estadual permanecem englobando a maior parte dos recursos financeiros

repassados pela instância federal, assim em 1997 este prestador fica com 56,7%

desses recursos (38,9% das internações e 17,8% para despesas do atendimento

ambulatorial) enquanto o prestador contratado fica com 25,9% dos recursos(23.2%

das internações hospitalares e 2. 7% do atendimento ambulatorial) e o prestador

municipal fica com 15,8% (para o atendimento ambulatorial), ou seja, é quem

menos recebe.

Em 1998, em Caruaru, o prestador estadual continua com a maior parte dos

recursos ou repasses federais despendidos. Assim, o mesmo fica 45,6% destes

recursos (34, 7% para as despesas com internações e 10,9% para o atendimento

ambulatorial). O "prestador" gestão Plena/Semiplena, ainda que tendo seus

recursos compartirnentaiizados em sete tipo de despesas, passa a receber fundo a

fundo 47,4% do que é repassado para o município na forma de recursos financeiros

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federais. Cabe destacar que o maior propulsor dessa mudança parece ter sido o

montante repassado através do PAB Fixo (19,5% dos recursos).

No ano de 1999, acrescenta-se aos programas prescritos pelo MS um novo

programa que novamente enfatiza a atenção básica: a Farmácia Básica. Entre as

despesas realizadas pelos municípios neste ano aparecem: cirurgia de varizes,

gestantes de alto risco, cirurgia de hérnia, etc. Contudo os recursos federais

despendidos para o pagamento dessas despesas são pouco significativos,

mostrando que o financiamento da atenção ou de serviços de maior complexidade

não se constitui como prioridade.

É preciso considerar que a NOB 01/96 surge numa conjuntura desfavorável à

consolidação do SUS. As mudanças econômicas processadas através da política de

ajuste do gasto público levam a uma retração dos recursos financeiros para a

descentralização da política em questão. Assim, o estímulo às políticas de cunho

universal tendem a diminuir. Além disto, ao definir dois modelos de Gestão Plena, .

reduz a autonomia do município impondo critérios extremamente detalhados e

exigências que teriam o intuito de homogeneizar os municípios e definir as relações

entre União, Estados e Municípios. O cumprimento destes critérios/exigências é

condição para o repasse de recursos financeiros (GERSCHMAN, 2000).

Quanto aos programas prescritos pelo MS, observou-se que de 1998 a 1999

os municípios incorporaram todos os programas, com exceção Petrolina que não

implantou a Farmácia Básica. Assim, atribuímos esta incorporação, entre outras

coisas, à lógica de repasses de recursos financeiros por parte do MS que a partir da

vigência da NOB-01/96 aumentou as transferências diretas para os municípios mas,

ao mesmo tempo, condicionou esse aumento a adoção desses programas.

Observando os tipos de despesas assumidas pela ,;Gestão Plena" vê-se que,

no caso de Camaragibe, os maiores aportes de recursos federais despendidos vão

para as despesas com o PAB Fixo, o PSF e o PACS. No caso de Caruaru, estes

aportes vão para O PAB Fixo, o PACS e o PSF e no ano de 1999, com o PSF são

despendidos, depois do PAB Fixo, mais recursos federais do que com o PACS.

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Quanto a Petrolina, no ano de 1998, os programas/despesas que mais receberam

recursos federais foram: o PAB Fixo, o PSF e o PACS. Em 1999, o PAB Fixo

continua responsável pelo maior aporte de recursos, seguido do PACS e das

Carências Nutricionais.

Assim, consideramos que a forma de repasse de recursos financeiros para os

municípios fere a autonomia que os municípios teriam para compor seus modelos de

atenção, desde que os mesmos não fugissem ao estabelecido pelas diretrizes do

SUS, por que criou um tipo de pacote composto por vários programas que podem

não ser os mais adequados às distintas realidades municipais.

O Governo Federal via MS exerce, mesmo que de forma um tanto implícita,

um tipo de coerção que leva os municípios na busca por mais dinheiro a abandonar

princípios legais universais em favor destes programas que focalizam sua atenção

para segmentos da população ou clientela com baixa vocalização de demandas de

saúde e maiores índices de pobreza.

Os resultados/elementos obtidos através do campo/análise situacional da

gestão municipal do SUS mostram que o financiamento da política de saúde,

constitui-se em maior ou menor proporção, conforme a diversidade de cada

município-caso, como um desafio ou variável sobre a qual o município/Secretário de

Saúde necessita exercer um maior controle para que assim o projeto-SUS adquira

maior governabilidade.

Nesse sentido, no caso de Camaragibe, que vem há mais de duas gestões

dando continuidade ao projeto de consolidação do SUS, o financiamento foi

apontado como principal desafio ou variável que precisa ser melhor controlada para

que, conforme discurso da secretaria de saúde, a gestão acumule poder e maior

governabilidade. No plano organizacional ou relações internas da gestão, a

restrição da autonomia do município/secretário de saúde na gestão dos recursos

financeiros do SUS, aparece como um fato vivenciado na gestão anterior quando o

município assumiu a condição de gestão Semiplena mas que foi superado na atual

gestão. Contudo, vale destacar as conseqüências mais práticas dessa restrição:

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isolamento da Secretaria Municipal de Saúde/ desentendimentos com a Prefeitura;

disputa de poder entre a Secretaria de Saúde e a Secretaria de Finanças.

A contrapartida ou alocação de recursos próprios na saúde contribui para o

fortalecimento dos órgãos municipais de saúde. Portanto, para que os

municípios/secretários de saúde tenham maior autonomia assumindo seu papel de

gestor pleno, assegurando serviços de saúde de forma mais adequada, é necessário

controlar ou ter maior governabilidade, também, sobre o montante de recursos

financeiros do Tesouro Municipal. Frente a esse pressuposto, cabe explicitar que no

caso de Caruaru a dita restrição foi colocada como fato, ainda, vivenciado pela

gestão que, com isto, não consegue administrar autonomamente os recursos

oriundos da Contrapartida ou Tesouro MunicipaL

Quanto a Petrolina, a mesma restrição se dá pelo fato da Prefeitura continuar

centralizando as compras da saúde. Tem-se, então, uma burocratização da função

de compra inadequada às necessidade dos serviços de saúde. Esta

centralização/burocratização reduz, portanto, a autonomia na gestão dos recursos

financeiros do SUS, dificultando a agilidade e flexibilidade, características

necessárias à maior eficiência desse sistema.

Ainda no caso de Petrolina, a municipalização do hospital regional Dom Malan

se por um lado aumenta a autonomia do município/secretario de saúde que estando

sob condição de gestão Plena do Sistema passa a gerenciar o total de recursos

financeiros do SUS repassados para o município na forma do teto assistencial,

incluindo os recursos antes repassados para o referido hospital, o que -em tese -

aumentaria as condições de governabilidade do sistema de saúde. Isto no entanto,

tem implicado em perda de governabilidade à medida que esse hospital foi

municipalizado mas continua, devido a universalidade do acesso ao sistema, tendo

que atuar como hospital regional.

Destacamos a questão da universalidade do acesso por que esse princípio

parece ter se tornado um incômodo para a gestão de Petrolina à medida que,

conforme visto na análise do discurso do Secretário de Saúde, outros municípios na

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96

busca de maior complexidade continuam tendo os serviços de saúde prestados pelo

Dom Malan como referência. Há, desta forma, uma situação de ingovernabilidade

que se expressa na incongruência - com uma lógica de acesso e qualidade dos

serviços defendida pelo SUS - deste município ter que manter o hospital que

continua atendendo à toda região com recursos financeiros que dariam conta

apenas da demanda da sua população.

Portanto, a maior autonomia dos recursos financeiros que pode ter sido um

dos principais motivos que levou à municipalização desse hospital é restringida pela

não proporcionalidade dos recursos financeiros repassados, por critério

populacional, com a real população atendida.

Um outro ponto que merece ser retomado é a baixa governabilidade do

Secretário de Saúde na relação com o setor privado que recebe recursos financeiros

do SUS para prestar/complementar os serviços de saúde.

Destaca-se como elemento claro dessa baixa governabilidade a negação do

acesso a usuários/pacientes do SUS por parte do setor privado. Assim, os

usuários/pacientes poderiam estar sendo selecionados conforme o valor estipulado

por procedimento, sendo o acesso negado àqueles cujos problemas demandem

tratamento que implique em déficit para o prestador privado ou, ainda, honorários

profissionais com valores estipulados inferiores aos de mercado (CAMPOS, 1997).

Novamente a forma de financiamento/pagamento é o grande problema na

busca de governabilidade para o sistema, pois o pagamento por produção,

hegemônico até hoje, induz à lógica da oferta conforme os parâmetros de ganhos/

lucro do mercado. A exemplo disto, o caso de Petrolina mostra que os prestadores

privados mesmo tendo uma cota de leitos ou AIHs que seriam parte da oferta de

serviços aos usuários/pacientes do SUS na prática, condicionam essa oferta à

reiação custo-rendimento financeiro negando com isto, conforme já comentado, o

acesso aos que fujam aos parâmetros do mercado.

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7/

Encerrando a discussão das restrições, passaremos a discutir/apontar alguns

elementos que contribuíram para o avanço das condições de autonomia do

município/Secretario de saúde, ainda, no âmbito das relações internas da gestão.

Em Camaragibe destaca-se o perfil do atual Prefeito como favorecedor da

governabilidade do município/secretário de saúde na gestão dos recursos

financeiros. Assim, o capital de experiência acumulado pelo Prefeito quando foi

Secretário de Saúde (e pelo Secretário de Finanças que já atuou como Diretor do

Fundo Municipal de Saúde) favoreceram as relações entre Prefeitura/Secretaria de

Finanças e Secretaria Municipal de Saúde.

Um outro avanço, referido, no discurso da Secretária de Saúde é a

previsibilidade da contrapartida do Tesouro Municipal destinada á saúde que teve

por parâmetro o percentual definido na Lei Orgânica Municipal. E, por fim, o fato de

Camaragibe ter assumido anteriormente a condição de gestão Semiplena ficando,

desde então, com uma maior autonomia expressa no controle/administração do

Fundo Municipal de Saúde, na realização das compras do setor, no

acompanhamento das licitações. Com a passagem à condição de gestão Plena do

Sistema esta autonomia foi consolidada pelo controle dos recursos materiais através

de almoxarifado próprios e pelo modelo de gestão mais regulador das relações

público-privado.

O Secretário de Saúde de Caruaru aumentou sua capacidade de gestão dos

recursos financeiros em relação à gestão anterior. Contribuiu para isto a sua dupla

condição de Vice-Prefeito /Secretario de Saúde que propiciou uma maior autonomia

no processo de tomada de decisões e sustentabilidade dos projetos. Em outras

palavras, a condição paralela de Vice-Prefeito possibilitou um controle/manejo dos

recursos de poder político e dos recurso e poder administrativo-financeiro (TESTA,

1992).

Este ator buscou, também, fortalecer a capacidade de gestão da Secretaria

de Saúde criando um departamento de planejamento, realizando reuniões

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98

sistemáticas de discussão coletiva da situação financeira da Secretaria de Saúde,

criando, ainda, uma comissão de licitação própria.

já no caso de Petroiina, não consideramos que tenham, segundo mostra o

próprio discurso do Secretário de Saúde, acontecido avanços no sentido da

superação da restrição da autonomia no plano das relações internas da gestão, o

único avanço identificado neste plano foi a interferência do Secretário de Saúde na

centralização das compras de saúde colocando uma pessoa de sua equipe para

atuar no próprio setor de compras da Prefeitura com a missão de

descentralizar/agilizar as compras da saúde.

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' \ 99

As condições de governabilidade do SUS estão implicadas às condições que

o ator município tem para executar e sustentar/garantir a efetivação dessa política.

Entre estas condições vimos que a autonomia financeira ou real capacidade de

autogestão pode restringir ou reforçar as referidas condições. Essa autonomia

financeira é dada, por exemplo, pela capacidade que o município tem de arrecadar

tributos/impostos.

Neste sentido a análise dos dados/informações dos municípios-casos

mostrou que é baixa a participação das receitas tributárias na receita total e,

consequentemente, alta a participação da receita de transferência.

Os percentuais da contrapartida (ou de investimento de recursos próprios em

saúde) de Camaragibe e Petrolina, confirmados pelo SIOPS, apontam para o

compromisso do município com as despesas com saúde no seu orçamento. Quanto

a Caruaru, como o mesmo não encontra-se no banco de dados do SIOPS, não

podemos tecer o mesmo comentário pois não dispomos de dados quantitativos que

o confirmem.

Essa dependência das transferências coloca-se, portanto, como um dos

fatores que mais restringem as condições de governabilidade do SUS porque o

município por não poder prescindir de recursos/verbas das demais instâncias

(principalmente as apartadas pela instância Federal) correm o risco de ter que

acabar renunciando à sua condição de ente autônomo da federação.

Cada município teria uma autonomia relativa para compor o seus propno

modelo assistencial, desde que respeitando as diretrizes/princípios do SUS, contudo,

a dependência dos recursos de transferências, principalmente, federais faz com que,

na busca por mais recursos financeiros, os municípios renunciem à possibilidade de

compor s seu próprio modelo assistencial e se adeqüe, cada vez mais, as

exigências/modelos propostos pelo nível federal os quais fariam parte de uma lógica

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de descentralização econômica voltada para a diminuição do gasto público (Cohn,

1998b).

A partir de 1998 ocorrem mudanças na lógica de financiamento do SUS,

resultando no aumento das transferências diretas de recursos da esfera federal para

os municípios. Assim, do total dos recursos federais do SUS, 55,4% foram gastos da

União, 0,4% pelos estados e 44, 2 % pelos municípios {Gerschman, 2000).

Os resultados deste estudo confirmam o aumento das transferências diretas,

a partir de 1998, mas por outra parte, apontam que esse aumento foi vinculado a

novos tipos de despesas ou programas prescritos pelo MS os quais estariam de

acordo com a referida lógica de redução e redirecionamento dos gastos com saúde.

Assim, nos municípios investigados, com exceção da Farmácia Básica (no caso de

Petrolina), todos os ditos programas prescritos pelo MS foram incorporados ao

modelo assistencial desses municípios. Atribuímos esta incorporação à lógica de

repasses de recursos financeiros que de certa forma exerce um tipo de coerção

implícita (ou pouco explícita) que leva os municípios a adotar estes programas que

(sem entrar no mérito dos mesmos) focalizam sua atenção para determinados

segmentos da população, correndo-se, portanto, o risco de "esquecer" que o SUS

deve ser universal.

Na lógica de pensar as condições de governabilidade do SUS, destaca-se o

estabelecido pela Lei n.0 8.080/90 no seu artigo 35, § 1° ao determinar que metade

dos recursos destinados a Estados e Municípios será distribuída segundo o

quociente de sua divisão pelo número de habitantes, independente de qualquer

procedimento prévio. Caso o determinado neste artigo tivesse sido cumprido o

município teria aumentado bastante a sua capacidade de autonomia/autogestão no

campo da saúde e, consequentemente, o SUS desfrutaria de maiores condições de

governabilidade.

Como o determinado neste artigo foi desconsiderado, a governabilidade do

SUS no âmbito municipal fica cada vez mais implicada às condições que o município

tem para produzir riquezas suficientes para disponibilizar bens e serviços e às

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~,

101

condições da conjuntura política que definem as relações de barganha do município

com as outras esferas governamentais (Pedrosa, op. cit.).

O descumprimento da Lei n.0 8.080/90 faz com que a participação federal no

financiamento do SUS continue, ainda, vinculada a dois mecanismos de tutela e

dependência incompatíveis com uma real descentralização: "a transferência

negociada e a relação de compra de serviços. A primeira propicia, freqüentemente,

práticas clientelísticas. A segunda, entre outros inconvenientes, dificulta a

reorientação do modelo de atenção, obscurece a visão dos dirigentes municipais e

estaduais quanto às limitações financeiras do sistema de saúde, e altera a essência

da parceria entre iguais (ou autônomos) na busca de objetivos comuns" (Barros,

Piola, Vianna, 1996).

No entanto, mesmo sendo o PAB Fixo um exemplo desses descumprimento,

este tem propiciado aos municípios uma certa autonomia que permite a estes entes

trabalhar com a lógica da população a ser coberta e não com procedimentos a

realizar. Entretanto, são necessários mecanismos que ampliem a participação do

nível de direção federal/União no financiamento da integralidade da atenção sob

pena de perdas das conquistas já alcançadas.

A ampliação do custeio da saúde ou atenção básica, também, não tem se

dado de forma satisfatória. A principal "alternativa" neste sentido é a instituição do

Programa Saúde da Família, o que pode levar os municípios a implantar tal

programa, apenas, pela busca de mais recursos para o sistema de saúde. Perde-se,

dessa forma, o sentido ou proposta de qualidade desse programa. Consideramos,

então, que um modelo de financiamento descentralizado é aquele que garanta a

autonomia do município para realizar ajustes à sua singularidade, esta seria uma

forma de se atingir/construir maiores condições de governabilidade para o projeto

SUS.

As informações qualitativas, como os elementos do discurso dos Secretários

de Saúde, nos permite concluir que a restrição da autonomia financeira no plano das

relações internas da gestão e no piano das relações externas constituem-se iimites a

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0.

102

governabilidade do SUS. No plano das relações internas, é incompatível com a

proposta de descentralização do SUS a centralização, por parte das Prefeituras ou

Secretaria de Finanças, dos recursos que juntamente com os recursos de

transferências deveriam ser depositados no Fundo Municipal de Saúde e

administrados autonomamente pela Secretária de Saúde, sob a fiscalização do

Conselho Municipal de Saúde e outros tipos de auditoria pública.

O novo modelo institucional proposto pelo SUS exige que os

municípios/Secretários de Saúde estejam cada vez mais envolvidos com as

responsabilidades de planejar e administrar os recursos financeiros do sistema. Para

tanto o rigoroso controle da execução orçamentária associado a um rigoroso

controle das receitas(incluindo a contrapartida do Tesouro Municipal) e dos

pagamentos (incluindo a realização e pagamento das "compras da saúde") permitiria

maior liquidez e, consequentemente, maior autonomia para realizar investimentos

necessários ao melhor desempenho do SUS.

A atual lógica de financiamento do setor demarca o processo de

descentralização da saúde nos limites estreitos ditados pelo governo federal, que

mantém centralizados os mecanismos de controle sobre os recursos financeiros.

Pode-se dizer, ainda, que uma das conseqüências dessa lógica é que a

descentralização tem se operado de maneira mais acentuada nos aspectos políticos

relativos ao repasse das unidades de saúde para o nível municipal, sem um

acompanhamento correspondente dos recursos necessários para uma gestão

eficiente do sistema, "gerando uma enorme diferenciação entre os municípios que

abraçaram o SUS e injetaram recursos próprios no sistema e os que não o

fizeram"(Gerschman, 1995 apud Gerschman, 2000: 154).

Assim, para se caminhar na direção de uma universalização da saúde com

eqüidade se faz necessário, portanto, repensar o financiamento do setor e para

que isto aconteça, é preciso, também, redefinir ou reformar o Estado brasileiro.

Para tanto, é indispensável entender a descentralização como um processo que

deve propiciar maior autonomia desse mesmo Estado(estados e municípios com

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103

poder de decidir) e que tem como base o princípio da cooperação, elemento da

Constituição Federal de 1988, indispensável à governabilidade do Sistema Único de

Saúde.

Mudanças na estrutura tributária que propiciem um maior aporte de recursos

repassados diretamente aos municípios se fazem necessárias, pois mesmo com os

avanços da Constituição de 1988 em direção a uma maior descentralização fiscal, o

governo federal ainda apropria o essencial da receita pública brasileira, recebendo

os mais de 5 mil municípios do país algo em torno de um sexto deste agregado -

mesmo após a aplicação dos principais mecanismos de transferências (25% do

ICMS e o repasse do FPM) (Barreira & Roarelli, 1995).

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ANEXO 1

ANÁLISE SITUACIONAL E PROPOSIÇÕES PARA O PROCESSO DE MUNICIPALIZAÇÃO DA SAÚDE EM PERNAMBUCO

1- Identificação

11-

Nome do gestor __________________ Data.· ____ _

Município _________________________ _

O gestor em relação à pesquisa

1- Você considera interessante o município participar da pesquisa ?

2- Espera algum retorno para sua gestão? De que tipo?

111- Caracterização da situação de gestão da saúde no âmbito do município/ a dinâmica das propostas, das mudanças e dos resultados.

1- Quais as principais propostas da gestão? Elas estão contempladas no

Plano Municipal de Saúde?

2- Como o Plano Municipal de Saúde foi elaborado?

3- Como cada uma dessas propostas estão se desenvolvendo? De acordo

com o previsto? Que tipo de dificuldades estão encontrando?

4- Como a Secretaria se estruturou para implementar essas propostas?

Contratou serviços? Admitiu e/ou capacitou pessoal ? Introduziu alguma nova

tecnologia? Outras?

5- Que mudanças podem ser destacadas, pela gestão, na estrutura de

atenção à saúde?

6- Como são tomadas as decisões no âmbito da Secretaria? Quem participa?

Com que instrumentos? Tem colegiado gestor? Reuniões sistemáticas?

7- Qual a relação que a gestão desenvolve com setores governamentais, em

diferentes níveis, e a sociedade em geral, incluindo o setor privado?

8- Quais as principais reivindicações da população em relação a prestação de

serviços de saúde?

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9- Considerando o momento inicial da gestão é possível identificar resultados

no se refere à saúde: Em relação a oferta de serviços; em relação ao acesso

da população aos mesmos; Os serviços melhorarm?

IV-Imagem projetada da gestão: problemas e potencialidades /sugestões

1- O que ainda espera realizar até o final desse mandato?

2- O que acha que seria necessário para concretizar tal expectativa?

3- Que tipo de ajuda seria importante?

V-Identificação dos atores e dos "informantes-chave".

1- Quem, da equipe gestora, você identifica como fundamental para participar do processo da pesquisa?

VI- A questão do compromisso/pacto entre pesquisadores e participantes.

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ANEXO 2 CAMARAGIBE

1997 Contratado Gestão Plena Total

lntern. Hosp. 7.831.987,28 7.831.987,28

Ass. Hospt/Ambulat. 5.407.740,00 5.407.740,00

Fator de Recomposição 1.351.935,00 1.351.935,00

Total 7.831.987,28 6.759.675,00 14.591.662,28

1998 Municipal Contratado Gestão Plena Total

lntern. Hosp. 8.913.561 ,38 8.913.561 ,38

Atend. Ambul. 7.362,56 7.362,56

Ass. Hosp/Ambul. 4.793.132,71 4. 793.132,71

Fator de Recomposição 431.935,69 431.935,69

PAB Fixo 1.445.076,16 1.445.076,16

PACS 154.350,00 154.350,00

PSF 319.416,66 319.416,66

Vig. Sanitária 16.630,67 16.630,67

Carência nutricional 13.230,00 13.230,00

Total 7.362,56 8.913.561 ,38 7.173.771,89 16.094.695,83

1999 Contratado Gestão Plena Total

lntern. Hosp. 9.071.272,96 9.071.272,96

Ass. Hosp/Ambul. 6.086. 738,13 6.086.738,13

Cirurgia de varizes 41.860,74 41.860,74

PAB Fixo 1.576.449,00 1.576.449,00

PACS 302.316,66 302.316,66

PSF 803.404,70 803.404,70

Vig. Sanitária 29.228,53 29.228,53

Carência nutricional 158.760,00 158.760,00

Farmácia Básica 68.987,16 68.987,16

Total 9.071.272,96 9.067.744,92 18.139.017,88

C C C C c C C C C C C C C C C C C C C C C C C CC C C C C C CC C C C C c C C C C C C C C C C C

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CARUARU

1997 Federal Estadual Municipal Contratado Filantrópico Sindicato Total

lntern. Hosp. 2.149.694,39 1.284.887,66 3.434.582,05

Atend. Ambul. 18.464,62 986.870,41 873.037,33 150.731,19 9.102,02 48.474,97 2.086.680,54

Total 18.464,62 3.136.564,80 873.037,33 1.435.618,85 9.102,02 48.474,97 5.521.262,59

1998 Federal Estadual Municipal Contratado Filantrópico Sindicato Gestão Plena Total

lntern. Hosp. 3.512.745,22 204.501,93 3.717.247,15

Atend. Ambul. 3.493,06 1.108.901 ,78 164.985,77 263.271,99 877,53 7.430,50 1.548.960,63

Ass. Hosp/Ambul. 2.015.690,06 2.015.690,06

Fator de Recomposição 127.730,22 127.730,22

PAB Fixo 1.971.250,00 1 .971 .250,00

PACS 281.900,00 281.900,00

PSF 228.666,65 228.666,65

Vig. Sanitária 49.281,30 49.281,30

Carência nutricional 164.520,00 164.520,00

Total 3.493,06 4.621.647,00 164.985,77 467.773,92 877,53 7.430,50 4.839.038,23 10.105.246,01

1999 Estadual Contratado Gestão Plena Total

lntern. Hosp. 4.329.443,31 17.401,51 4.346.844,82

Atend. Ambul. 1.961.558,85 987.417,83 2.948.976,68

Ass. Hosp/Ambul. 2.555.898,65 2.555.898,65

Gestantes alto risco 29.324,59 29.324,59

PAB Fixo 2.410.401,68 2.410.401,68

PACS 525.983,37 525.983,37

PSF 588.033,30 588.033,30

Vig. Sanitária 60.259,95 60.259,95

Carência nutricional 246.780,00 246.780,00

Farmácia Básica 161.869,11 161.869,11

Total 6.291.002,16 1.004.819,34 6.578.550,65 13.87 4.372,15

C C C C C C C C C C C CC C C C C C C C C C C C C C CC C C C C C C C C C C C C C C C C c c C C

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1997 Gestão Plena/Se Total Ass. Hosp. 9.194.172,00 9.194.172,00 Fator de R 2.298.543,00 2.298.543,00 Total 11.492.715,00 11.492.715,00

1998 Municipal Atend. Am 10.478,62 Ass. Hosp./Ambul. Fator de Recomposição PAB Fixo PACS PSF Vig. Sanitária Carência Nutricional Total 10.478,62

1999 Contratado Atend. Am 2.192.293,50 Ass. Hosp./Ambul. (Plena)

Filantrópico 73.293,84

73.293,84

Filantrópico 493.468,71

Ass. Hosp./Ambul.- Dif (Mun.) Gestantes alto risco (Mun.) Cirurgia de hérnia inguinal (Mun.) Cirurgia de varizes (Mun.) PAB Fixo PACS PSF Vig. Sanitária Carência nutricional Total 2.192.293,50 493.468,71

PETROLINA

Gestão Plena/Se Total

8.607.571,21 777.665,01

1.980.673,75 223.724,98 108.500,00 28.936,25 72.832,50

11.799.903,70

83.722,46 8.607.571,21

777.665,01 1.980.673, 75

223.724,98 108.500,00 28.936,25 72.832,50

11.883.626,16

Gestão Plena/Se Total

8.637.199,00 48.299,34 17.713,37

705,81 6.516,56

2.160.738,75 523.599,96 294.020,00

51.372,42 291.330,00

12.031.495,21

2.685. 762,21 8.637.199,00

48.299,34 17.713,37

705,81 6.51c6,56

2.160. 738,75 523.599,96 294.020,00

51.372,42 291.330,00

14.717.257,42 Fonte: DATASUS. Tab Net Win 32 2.1b: Recursos Federais do SUS (por Município)- Conceito de Período de Competência

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autonomia municipal, em relação aos recursos financeiros/governabilidade do SUS,

no âmbito do município.

Procuramos apresentar as informações/ elementos identificados através deste

método, sempre, da seguinte forma, primeiro procuramos apresentar destacar os

elementos/aspectos que acrescentam ao entendimento da governabilidade do SUS

e em seguida, reproduzimos partes dos depoimentos/trechos do discurso que para

nós constituem-se como idéia central e/ou expressões-chave destacando-as em

itálico e, por fim, destacando a parte ou elemento mais expressivo desses

elementos/aspectos em negrito. Busca-se, assim, resgatar a literalidade do

depoimento, para que comparando-se um trecho do discurso ou expressão-chave

selecionado com a idéia central obtenhamos uma espécie de "prova discursivo­

empiríca"(ldem: 18).