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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO SEM REVISÃO COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIAS EVENTO: N°: 0154/02 DATA: 20/03/02 INÍCIO: 14:20 TÉRMINO: 17:33 DURAÇÃO: 03:13 TEMPO DE GRAVAÇÃO: PÁGINAS: 90 QUARTOS: 20 REVISORES: SUPERVISÃO: CONCATENAÇÃO: DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO SUMÁRIO: OBSERVAÇÕES

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO SEM REVISÃO

COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIASEVENTO: N°: 0154/02 DATA: 20/03/02INÍCIO: 14:20 TÉRMINO: 17:33 DURAÇÃO: 03:13TEMPO DE GRAVAÇÃO: PÁGINAS: 90 QUARTOS: 20REVISORES:SUPERVISÃO:CONCATENAÇÃO:

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

SUMÁRIO:

OBSERVAÇÕES

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ SEM REVISÃONome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0154/02 Data: 20/03/02

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Declaro aberta a presente

reunião de audiência pública para discussão sobre a regulamentação da relação de

consumo entre instituição financeira e consumidor, Código de Defesa do

Consumidor versus Resolução BACEN 2.878.

Convido para tomar assento à Mesa dos trabalhos a Sra. Tereza Grossi,

Diretora de Fiscalização do Banco Central. Convido a Sra. Amanda Flávio de

Oliveira, Diretora do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor. Convido o

Sr. Gabriel Jorge Ferreira, Presidente da Federação Brasileira das Associações dos

Bancos — FEBRABAN. Convido o Sr. João Batista de Almeida, Coordenador da

Terceira Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público. Convido o Sr.

Marcos Diegues, advogado representando a Sra. Marilene Lazarine, Coordenadora

Executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor — IDEC.

Esclareço que concederei inicialmente a palavra aos expositores por dez

minutos. Em seguida fará uso da palavra o Deputado Salatiel Carvalho, que

requereu esta audiência. Falarão por 3 minutos os Parlamentares previamente

inscritos, sempre facultadas, em qualquer caso, a réplica e a tréplica. A lista de

inscrições encontra-se à disposição dos Parlamentares com o servidor desta

Comissão. Para facilitar a transcrição desse debate, que está sendo gravado, solicito

a gentileza daqueles que desejarem fazer uso da palavra declinarem previamente

seus nomes.

Feitas essas considerações iniciais, passo a palavra à Sra. Tereza Grossi,

Diretora de Fiscalização do Banco Central.

A SRA. TEREZA GROSSI - Boa tarde a todos. É com prazer que — eu

pessoalmente — atendemos esse convite da Comissão de Defesa do Consumidor,

Meio Ambiente e Minorias para aqui comparecer e discutir com os outros convidados

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presentes o tema da proteção ao consumidor no que se relaciona às instituições

financeiras que estão sob a supervisão do Banco Central. Estou à disposição para

responder qualquer pergunta. Gostaria de deixar clara neste momento a posição do

Banco Central quanto à aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao

sistema financeiro nacional.

Apesar de toda a polêmica que se viu recentemente na imprensa, a posição

do Banco Central não é a que se vem publicando. A posição do Banco Central é a

de que o Código de Defesa do Consumidor aplica-se sim ao cliente bancário em

tudo que se referir à prestação de serviços bancários, mas não ao que se refere ao

preço desses serviços. Então, não há como aplicar o Código de Defesa do

Consumidor à taxa de juros, que é livremente pactuada entre as partes e que

consta dos contratos bancários.

Não há como usar os dispositivos do Código de Defesa do Consumidor para

alterar uma taxa de juros pactuada entre as partes e constante de um contrato. Caso

uma situação dessa fosse possível teríamos sérios problemas no mercado de

crédito. O primeiro problema que veríamos seria rapidamente uma redução da oferta

de crédito, porque esse não é um serviço que pode ser tabelado ou cujo preço ser

dirimido ou decidido em uma ação judicial.

Evidentemente que cláusulas contratuais abusivas podem e devem ser

discutidas. Contratos com letras miúdas podem e devem ser discutidos, mas nunca

o preço dos serviços. Caso se aplique o Código de Defesa do Consumidor também

ao preço dos contratos, teríamos uma situação de impossibilidade da continuação

do papel de intermediação que os bancos fazem hoje na economia deste País e em

qualquer outro país do mundo.

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Então, a nossa posição é bastante clara. Somos favoráveis sim em tudo que

se relaciona com prestação dos serviços. Estamos falando de como o cliente é

atendido na agência, de débitos indevidos na conta corrente, de transações

eletrônicas que precisam estar claras para o cliente. Em tudo isso aplica-se o Código

de Defesa do Consumidor, mas não ao preço do crédito. É isso que gostaria de dizer

inicialmente e estou à disposição para qualquer esclarecimento adicional.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Passo a palavra à

próxima expositora, Sra. Amanda Flávio de Oliveira.

A SRA. AMANDA FLÁVIO DE OLIVEIRA - Boa tarde, Deputado, meus

colegas de Mesa, todos os presentes, é um prazer está aqui. Iniciei as atividades no

DPDC no dia de ontem, mas não poderia deixar de estar aqui discutindo um tema

tão relevante e que traz tantas conseqüências para a defesa do consumidor no

Brasil. A questão dos bancos tem sido uma das mais reclamadas nos PROCONs de

todo o Brasil.

A posição do Ministério da Justiça em relação especificamente à questão da

aplicabilidade ou não do Código de Defesa do Consumidor às instituições bancárias

fez parte do parecer por ele elaborado, pelo próprio Ministério da Justiça, e anexado

aos autos da ADIN que discute essa questão. De acordo com o parecer que ali

está, a questão do cliente e as instituições bancárias é uma questão em que deve

ocorrer a incidência do Código de Defesa do Consumidor. Às relações bancárias se

aplicam de forma geral o Código de Defesa do Consumidor, com exceção das taxas

de juros praticadas, porque estamos em um mercado livre e se não podemos fixar

preço de nenhum produto, também não poderíamos fixar preço ou limite de taxas

de juros.

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Essa é a posição do Ministério da Justiça no sentido de que o Código se

aplica a recebimento e pagamento de tributos, a cobranças, às cláusulas contratuais

em que não haja clareza de seus termos, mas o Código não se aplicaria única e

exclusivamente às taxas de juros. Afora isso, é perfeitamente compatível a lei que

regulamenta o sistema financeiro nacional ou as determinações constitucionais

como determinado pelo Código de Defesa do Consumidor.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Dando prosseguimento à

nossa audiência pública, convido para fazer sua exposição o Sr. Gabriel Jorge

Ferreira, Presidente da Federação Brasileira das Associações dos Bancos —

FEBRABAN.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Dando prosseguimento à

esta reunião de audiência pública, concedo a palavra ao Sr. Gabriel Jorge Ferreira,

Presidente da Federação Brasileira das Associações dos Bancos, FEBRABAN.

S.Exa. dispõe de dez minutos.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, membros da Mesa, primeiramente registramos nossa satisfação em aqui

comparecer a convite desta importante Comissão de Defesa do Consumidor, Meio

Ambiente e Minorias, da Câmara dos Deputados, para trazermos nossa visão sobre

o debate que ora se trava a respeito das relações entre consumidores e instituições

financeiras.

Cumpre-nos, de início, consignar de forma clara e inequívoca a posição da

entidade que ora representamos, do apreço e do respeito irrestritos aos direitos da

cidadania, nos quais se inserem a proteção e defesa do consumidor, conquista

insofismável da sociedade brasileira consagrada na Carta Magna.

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A discussão em torno da aplicabilidade ou não das Disposições do Código de

Defesa do Consumidor às instituições financeiras deve ser conduzida de forma a

aprofundar-se a análise do cerne da questão por ela envolvida, ou seja, o seu

verdadeiro significado e o porquê dela. Esse é o principal objetivo de nossa

presença aqui, com o intuito de contribuir para o debate, esclarecer situações e

desfazer equívocos, como passamos a expor.

Uma das principais metas da atual diretoria da FEBRABAN é o trabalho firme

e persistente em prol da eficiência e do fortalecimento da intermediação financeira.

Sobre essa questão fundamental, registramos aqui algumas idéias e preocupações,

permitindo-nos até sugeri-las como uma agenda de trabalho a ser desenvolvida

mediante combinação de esforços entre o Governo, o Legislativo, o Judiciário, os

órgãos de defesa do consumidor, o setor financeiro e os demais segmentos da

sociedade interessados nessa discussão.

No atual quadro de estabilidade monetária em processo de consolidação, o

crédito terá papal preponderante no suporte financeiro das atividades produtivas.

Sua expansão deverá ocorrer gradualmente na medida em que as instituições

financeiras melhor se estruturem para a adequada avaliação dos riscos de crédito.

Portanto, as atividades das instituições financeiras decompõem-se em

operações ativas, ou os créditos, em operações passivas, ou os depósitos, e

atividades diversas, ou acessórias, próprias do atendimento bancário, como ordens

de pagamento, cobranças, recebimentos, contas correntes etc.

As atividades correspondentes às operações ativas e passivas compõem a

chamada intermediação financeira, onde, de um lado, situa-se o poupador, o

depositante, o detentor da poupança pública, e, de outro lado, o tomador, ou

mutuário, que é o destinatário dos recursos captados pelas instituições financeiras.

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Compete à autoridade monetária, nos termos da legislação reguladora do

sistema financeiro nacional, formular e executar a política monetária, através dos

instrumentos próprios dessa função, como a taxa de juros, o recolhimento

compulsório, o redesconto e outros mecanismos próprios da função da autoridade

monetária.

Na intermediação financeira, o cliente pode, simultaneamente, encontrar-se

em dupla relação com o banco: a de devedor, quando toma empréstimos ou faz uso

de suas atividades acessórias, e a de credor ou depositante, quando ao banco

confia suas economias. Essa é a grande diferença entre o consumidor convencional

de bens e serviços e o cliente de banco, o que justifica a regulação dessa matéria

através de regime jurídico específico que leve em conta a importância da

estabilidade e solvência das instituições financeiras, a defesa da poupança pública e

o equilíbrio da relação contratual.

Conflita com esse quadro, entretanto, uma predisposição hoje corrente no

País para o questionamento judicial do contrato(?) bancário, em conseqüência do

que o Poder Judiciário é hoje chamado a intervir nas relações entre bancos e

clientes, em processos onde o tomador deixa de pagar o principal pelo simples fato

de pretender contestar encargos pactuados, garantias e cláusulas contratuais

diversas, o que constitui direito legítimo do cidadão, mas não legitima a

inadimplência pelo efeito perverso que ela acarreta na composição do custo da

intermediação financeira.

É inquestionável que o recurso ao Poder Judiciário é direito inalienável de

toda pessoa e princípio basilar da sociedade democrática, mas a grande questão

para a qual se quer chamar a atenção, entretanto, é sobre a atipicidade das

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operações bancárias de crédito, sem perder de vista — insisto — a preservação dos

justos interesses do cliente ou do mutuário da instituição financeira.

O que se questiona é que o atual ambiente regulatório não é propício ao

desenvolvimento do crédito na sua plenitude, pois as instituições credoras acabam

ficando expostas não apenas ao risco do crédito, que isso, sim, é objeto de seu

negócio, mas também a incomensuráveis e imprevisíveis riscos jurídicos que

contingenciam suas operações creditícias.

É bom que se diga que as afirmações aqui feitas sobre a proteção da

intermediação financeira não se destinam à proteção unilateral dos bancos, mas sim

à defesa da saúde e da eficiência da atividade de intermediação financeira, que

abriga, afinal, o poupador, de um lado, e o credor, de outro, sendo o banco apenas o

gestor dessa intermediação, cabendo, portanto, algumas considerações.

Primeiro, o exercício da atividade de intermediação financeira pressupõe a

gestão responsável e competente da aplicação dos recursos captados do poupador.

Isso significa que o intermediário financeiro, ao aplicar recursos, isto é, ao realizar

operações de empréstimo e crédito, deve ser diligente no sentido de constituir

carteira de crédito integrada por mutuários adequadamente analisados, segundo as

técnicas de concessão de crédito e de avaliação de riscos.

Por esse motivo, os ativos e passivos das instituições financeiras têm de

guardar compatibilidade em termos de prazos, taxas, encargos e moeda, sob pena

de que qualquer descasamento pode provocar o desequilíbrio econômico-financeiro

da instituição e levá-la à ruína ou à quebra. Daí, a absoluta necessidade de que a

atividade de intermediação financeira continue sob controle e fiscalização da

autoridade monetária

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intermediação financeira continue sob controle e fiscalização da autoridade

monetária que dispõe dos instrumentos e mecanismos necessários para assegurar o

funcionamento regular e normal do mercado financeiro.

O aprimoramento e o fortalecimento do sistema financeiro nacional tem uma

importância especial pelo momento histórico que vivemos. E a FEBRABAN está

totalmente alinhada com essa missão. O Brasil está entrando com o pé direito no

século XXI, com a estabilização da economia consolidada. E presentemente a tarefa

da Nação é a de retomar o crescimento sustentável.

O sistema financeiro nacional tem um papel basal nesta retomada, que é o de

financiar os investimentos. Quanto mais eficiente e forte for o sistema financeiro

nacional, mais investimentos e mais crescimento teremos no Brasil.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Convido o Sr. João

Batista de Almeida, Coordenador da 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do

Ministério Público.

O SR. JOÃO BATISTA DE ALMEIDA - Sr. Presidente, demais expositores

que compõem esta Mesa, Srs. Deputados, senhoras e senhores, devo destoar um

pouquinho dos meus antecessores, porque vou tentar discutir a questão da

Resolução nº 2.878 do Conselho Monetário Nacional, que é chamada de Código do

Cliente Bancário, isso em face do Código de Defesa do Consumidor.

Prefiro não discutir agora a ADIN 2.591 dos bancos, que está em sub judice,

em fase de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, e que tem pauta para o dia 3

e 4 de abril. Então, não podemos antecipar agora aquele julgamento. Acho que a

convocação da reunião foi mais para discutir a questão da Resolução 2.878 do

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Banco Central: “Regulamentação das Relações de Consumo entre a Instituição

Financeira e Consumidor. CDC e Resolução Bacen 2.878”.

Inicio pela Constituição de 1988, que é o grande momento da defesa do

consumidor no Brasil, quando o artigo 5º, inciso 32, estabeleceu que o Estado

promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. Houve aqui uma tomada de

consciência muito importante, mas que tem um significado muito profundo. O Estado

significa aqui todo o aparato público, todas as instituições públicas, todos os órgãos

públicos de todos os níveis — União, Estados, Municípios, Autarquias, etc. O

Estado, então, promoverá a defesa do consumidor. Aqui está implícito um princípio

chamado a vulnerabilidade do consumidor, está reconhecido que o consumidor é a

parte mais fraca, portanto ele merece proteção. E essa proteção será feita através

de uma lei. Não se outorga proteção e tutela a quem dela não necessita. Se a

Constituição diz que o estado promoverá a defesa do consumidor, está implícito que

o consumidor necessita dessa tutela.

O artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias diz também

que o Congresso Nacional votará em 120 dias o Código de Defesa do Consumidor.

Houve um pequeno atraso, mas tivemos a Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990,

que é o Código de Defesa do Consumidor, que foi amplamente discutido pela

sociedade, pelas entidades de defesa do consumidor, pelos órgãos públicos, pelos

Parlamentares, pelo Senado, pela Câmara, e chegamos ao texto que conhecemos

hoje.

O Código de Defesa do Consumidor é um microsistema, tem várias tutelas

coordenadas entre si, e ele enumera os direitos do consumidor — e aí ele o faz

reconhecendo o que existe universalmente, também reconhecendo o que já foi dito

pela ONU através de uma resolução.

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Em seguida, ele vem dispondo sobre as tutelas. Ele fala da tutela civil, onde

ele fala da responsabilidade civil pelo fato (ininteligível), da proteção contratual, da

publicidade enganosa; passa para a tutela administrativa, define quais são as

sansões administrativas; passa pela tutela penal, define quais são os tipos penais

relacionados à área de direito do consumidor; e, por fim, a tutela jurisdicional,

criando uma ação nova, que se chama ação civil coletiva. Portanto, verificamos que

o Código de Defesa do Consumidor decorreu da Constituição, foi ela que determinou

que ele fosse feito. Outros artigos falam também da defesa do consumidor,

principalmente na parte da ordem econômica, da competência para legislar, mas eu

ficaria com esses, por enquanto.

O artigo 2º vem dizer o que seja consumidor: é aquele que adquire produtos e

contrata prestação de serviços como destinatário final. Temos uma definição clara

do que seja consumidor, não é uma figura abstrata, está definido pela lei.

Fornecedor é aquele que fornece esses produtos e serviços.

Em seguida, o Código vem definir o que são produtos e o que são serviços.

Na definição de serviços, essa parte tem sido muito comentada e divulgada pelos

jornais, vem dito que serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo

mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito,

securitária, salvo as decorrentes de relações de caráter trabalhista. Então, só se

exclui aqui o que é de trabalho trabalhista. Todas as demais categorias de prestação

de serviços estão incluídas no Código de Defesa do Consumidor, inclusive a

bancária.

O que há de fato novo? O fato novo foi em 1991, com o surgimento do

chamado Código do Cliente Bancário, através da Resolução do Conselho Monetário

Nacional nº 2.878, de julho de 2201.

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Podemos comparar o Código do Cliente Bancário com o Código de Defesa do

Consumidor. A primeira comparação que podemos fazer é a que a Resolução do

Conselho Monetário Nacional devota um desprezo imenso pelo Código de Defesa

do Consumidor, que não é referido quando é citada a fundamentação legal da

Resolução. São citadas a Lei nº 4.595, que teria que ser citada, sem dúvida; Lei nº

4.728; Lei nº 6.099. Mas não é citado em momento algum o Código de Defesa do

Consumidor, que é a Lei nº 8.078, de 1990. Deve haver alguma razão para isso.

Segundo, essa resolução o tempo toda usa o termo cliente, ela não

reconhece a figura do consumidor. Para o Banco Central e para o Conselho

Monetário Nacional não existe consumidor na área bancária; existe cliente. Não

existe fornecedor, aquele que está definido no artigo 3º do Código de Defesa do

Consumidor; existe instituição financeira. Isso é importante, porque lá na frente

vamos ver as conseqüências que isso tem.

Essa resolução cita alguns princípios que estão expressos no Código de

Defesa do Consumidor, como o da transparência. O item I do artigo 1º fala sobre a

transparência das relações contratuais, mas não fala dos outros princípios. Por

exemplo, o princípio da boa fé, não está dito aqui. O princípio da equidade, do

equilíbrio também não está dito de maneira expressa aqui. Não fala também da

vulnerabilidade do consumidor em face do fornecedor, que é um banco. E isso é

expresso. Sabemos que a ONU tem a sua resolução dizendo que o consumidor é a

parte mais fraca na relação de consumo, é vulnerável em relação ao poder

econômico. E aqui no caso o poder econômico são os bancos.

Essa resolução cuida também da publicidade enganosa ou abusiva, nos

artigos 4º a 6º. Mas nesse ponto ela quase copia o que está no Código de Defesa do

Consumidor. Se é para copiar, então não precisaria fazer uma resolução. Quando

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ela copia, se ela fica aquém ou contraria aquilo que está numa lei, é lógico que vale

o que está na lei e não o que está na resolução. Mas, como eu falei que o Código é

um micro sistema, vocês vão verificar que lá no Código a publicidade enganosa ou

abusiva é punida como crime, artigo 67 e 68 do CDC. Na Resolução do Banco

Central não tem nada a respeito disso e nem poderia ter. A resolução não poderia

criar o crime de publicidade enganosa feito pelas instituições financeiras, que para

mim são fornecedores.

Os contratos com pessoas portadoras de deficiência visual ou auditiva,

encaro o que está na resolução como normas complementares, porque tudo que se

relaciona a contrato com todos os fornecedores está no Código de Defesa do

Consumidor, onde há um capítulo chamado Da Proteção Contratual, ao contrato de

adesão. Tudo que for relacionado ao contrato está regulado pelo Código de Defesa

do Consumidor. Lógico que o Código não regulou a questão do contrato com os

deficientes visuais e auditivos. Portanto, esse detalhe, que não contraria o Código de

Defesa do Consumidor é válido, poderia ser objeto de uma resolução como poderia

ser objeto até de uma carta circular do Banco Central dirigida às instituições

financeiras. Não precisaria

de uma resolução, como poderia ser objeto até de uma carta circular do Banco

Central dirigida às instituições financeiras, não precisaria fazer uma resolução para

isso, é feita em nível de regulamento, apenas complementando, sem contrariar,

aquilo que está no Código.

Cláusulas abusivas. A resolução é silente a respeito da questão das cláusulas

abusivas, ela não trata por exemplo das cláusulas abusivas como é feita no Código

de Defesa do Consumidor, art. 51. Aqui diz o seguinte: são nulas de pleno direito,

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dentre outras, as seguintes cláusulas. E vem lá assim um elenco imenso de

dezesseis cláusulas abusivas.

A resolução não chega a esse ponto, ela discute algumas cláusulas, nunca

poderia dizer, como não diz, que são nulas de pleno direito, não poderia atribuir essa

sanção de nulidade de pleno direito através de um ato administrativo que é a

resolução, isso só pode ser feito através de lei. Portanto, nesse ponto ela fica aquém

do Código de Defesa do Consumidor.

Em relação a operação casada. Dentre as cláusulas abusivas do Código de

Defesa do Consumidor uma delas é a vedação da venda casada. Não se pode

vender um produto condicionando a aquisição de outro produto. Não se pode

contratar a prestação de serviço condicionando a venda do outro serviço.

Então, aqui a resolução vem dizer a mesma coisa, vem dizer que em relação

a bancos, o banco não pode fazer um contrato e obrigar o cliente a fazer outro ao

mesmo tempo, condicionar um ao outro, fazer a venda casada. Então, o que está

aqui na resolução já estava no Código de Defesa do Consumidor, não custaria.

Prevalecimento com relação aquelas pessoas que tem mais dificuldade de

entender. Isso está no código e está na resolução, portanto, não haveria

necessidade.

Expor o consumidor a constrangimento. Isso está na resolução, art. 18, inciso

VII, mas também está no Código de Defesa do Consumidor art. 42. Portanto, não

haveria necessidade de repetir, mesmo porque a definição do código está muito

mais completa.

A repetição de indébito é em dobro, quer dizer, se o banco cobrou

indevidamente ele é obrigado a devolver em dobro aquilo que ele recebeu. A

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resolução não fala nada disso, o consumidor sai perdendo aqui se for aplicar a

resolução e não aplicar o Código de Defesa do Consumidor.

Portanto, o que vale, o Código de Defesa do Consumidor ou a Resolução nº

2.878?

Entendo que o Código de Defesa do Consumidor prevalece basicamente

porque ele é uma lei votada legitimamente pelo Congresso Nacional, pelos

representantes do povo brasileiro em cumprimento ao que dispôs a Constituição

Federal. Então, é uma lei que decorreu da Constituição que foi debatida, discutida e

ela então é a que prevalece inclusive na área bancária. E também porque o Código

de Defesa do Consumidor dá ampla garantia, ampla cobertura ao consumidor, ele

outorga mais direitos, dá uma cobertura muito mais ampla do que a resolução

conseguiria fazer.

Segundo, também há uma coisa chamada princípio de hierarquia das normas.

Se eu tenho uma lei e tenho uma resolução, a resolução é subalterna, vale menos

que a lei. Isso é um ponto primário em Direito, mas está implícito que aquilo que é

complementar não pode contrariar a lei que ela busca regulamentar. Portanto, as

atividades bancárias e financeiras de crédito e seguro já estão previstas no Código

de Defesa do Consumidor, no art. 3º, § 2º, portanto, para mim banco é fornecedor e

cliente é consumidor.

A resolução não pode contrariar a lei, portanto ela é vista em caráter

suplementar, ela tem apenas o caráter de regulamento, ela não pode, como nunca

poderia, extrapolar nem restringir o que está na lei.

Se for revogada hoje a Resolução nº 2.878, o consumidor não sofrerá

nenhum prejuízo porque ele será garantido pela lei, a garantia que é dada ao

consumidor é dada pela lei, não é dada pela resolução. Portanto, no embate entre

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as duas, dos dois diplomas, uma resolução e a lei, lógico que prevalece o Código de

Defesa do Consumidor.

Só justificaria a Resolução nº 2.878, primeiro, se os bancos estivessem fora

do Código de Defesa do Consumidor, nós já vimos que não está, o art. 3º, § 2º deixa

bem claro que as atividades bancárias estão inseridas no âmbito de aplicação do

Código de Defesa do Consumidor.

Segundo, se a resolução fosse adotada como mero regulamento do Código

de Defesa do Consumidor. Aí, sim, ela poderia valer. Aquela parte, por exemplo,

relacionada ao contrato com pessoas com deficiência visual e auditiva, isso poderia

ser visto porque não é contraditório em relação ao Código de Defesa do

Consumidor.

Portanto, como regulamento, poderíamos aceitar a Resolução nº 2.878 do

Conselho Monetário Nacional, porque a função do regulamento é exatamente isso,

dar um maior detalhamento à lei sem contrariar, sem restringir e sem criar direitos

novos. Portanto, prevalece o Código de Defesa do Consumidor.

Então, são essas as minhas manifestações por ora, se houver necessidade,

gostaria de aprofundar essa questão da prevalência da lei sobre a norma, sobre a

resolução. E trago aqui doutrina de Pontes de Miranda, outros juristas de peso e

trago também a jurisprudência de Tribunais de Justiça e Supremo Tribunal Federal.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Dando seguimento,

convido o Sr. Marcos Diegues, advogado representando a Sra. Marilena Lazarini,

Coordenadora do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor — IDEC, para quem

concedo a palavra.

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O SR. MARCOS DIEGUES – Muito obrigado. Em primeiro lugar, quero

agradecer o convite de participação nesta audiência. É meu dever apresentar aqui o

pedido de desculpas da Marilena Lazarini que não pôde comparecer por motivo de

viagem ao exterior. E tenho que concordar com o Dr. João Batista, que me

antecedeu, em 100% das suas afirmações.

Infelizmente, não dá para conversarmos sobre o chamado Código de Defesa do

Consumidor bancário ou do cliente bancário sem que hoje a gente fale um pouco

sobre esse questionamento que a Confederação Nacional das Instituições

Financeiras está fazendo junto ao Supremo Tribunal Federal. Vou-me ater um pouco

mais a fatos do que ao Direito propriamente dito porque acho que existem coisas

muito importantes que estão em volta desse Código de Defesa do Consumidor

bancário e desse questionamento de constitucionalidade junto ao Supremo Tribunal

Federal. E o IDEC tem uma breve manifestação sobre a Resolução nº 2.878, vou

deixar com a Comissão, mas queria registrar que a luta ou o ataque ao Código de

Defesa do Consumidor por parte especificamente das instituições financeiras talvez

tenha uma história mais antiga do que o próprio Código.

Não é à-toa que o Código de Defesa do Consumidor cita expressamente as

atividades dessas instituições, isto é resultado já de uma resistência manifestada na

época da redação do anteprojeto dessa lei.

A par disso, do meu ponto de vista particular, de nada adiantaria excluir do

Código de Defesa do Consumidor aquelas três ou quatro últimas palavras, porque

da mesma forma o código se aplicaria. E temos ouvido, nos últimos dias, falar muito

sobre a atividade de intermediação que exercem as instituições financeiras. E esta

também é uma atividade que está prevista no Código de Defesa do Consumidor.

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Então, talvez a tese de questionamento da constituicionalidade tenha dirigido,

tenha sido dirigida para um ponto do código que passou, que não é o mais

importante, vamos dizer assim.

Então, ainda, repito, que essa expressão seja retirada do código, do nosso

ponto de vista, não muda absolutamente nada.

Quero agora então entrar especificamente ... Ah! Historicamente também há

um dado importante. Desde que o IDEC ajuizou ações coletivas em nome de

poupadores para recuperar as perdas nas poupanças dos Planos Collor e Plano

Verão, os bancos apresentam nas suas defesas pareceres e teses que propugnam

pela inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor nestas relações. Isto

restou solidificado, a posição dos consumidores que o Código se aplica, no Superior

Tribunal de Justiça do meio para o fim do ano passado.

Então, a ADIN é conseqüência da falta de recurso para essas decisões. E

então se desenvolveu uma tese que do nosso ponto de vista é absurda, que parte

de duas afirmações verdadeiras e cria, não se sabe como, uma terceira afirmação

absolutamente falsa

que parte de duas afirmações verdadeiras e cria, não se sabe como, uma terceira

absolutamente falsa, quais sejam, de que o Código é uma lei ordinária, ninguém

discute isso, de que o sistema financeiro deve ser regulado por uma lei

complementar, também ninguém discute isso, e que o Código não pode regular o

sistema financeiro. Não sabemos de onde surgiu essa tese que pretende atribuir ao

Código esta capacidade.

Estou convencido que, diante da chegada à última instância daquelas ações

que discutiam naquele momento, a aplicabilidade do Código de Defesa do

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Consumidor nas relações com os bancos só restou a essas instituições o recurso do

Supremo Tribunal Federal e, para tanto, precisariam questionar a

inconstitucionalidade.

Mais especificamente sobre a Resolução nº 2.878, queria registrar alguns

fatos, porque entendemos da mesma forma que o Dr. João Batista, que não há

problema nenhum que haja uma resolução do Banco Central, do Conselho

Monetário Nacional, que contribua para a interpretação, ou aplicação, com

reconhecimento dos direitos previstos no Código de Defesa do Consumidor. O que

não pode é que esta Resolução pretenda restringir direitos do consumidor, ou se

contrapor à Lei nº 8.078. Lembro que a Resolução nº 2.878 nasce através do Edital

de Audiência Pública nº 9/2000, de 21 de setembro de 2000. Nessa oportunidade, o

IDEC apresentou três propostas de redação para essa resolução. Objetivamente,

solicitávamos que houvesse a fixação de um prazo de cinco dias para que as

instituições financeiras respondessem aos questionamentos dos seus consumidores,

que houvesse a previsão de reajuste das tarifas nos contratos de abertura de conta

corrente e que ficasse impossibilitada a negativa de aceitação de cheque pelas

próprias instituições financeiras.

Essas considerações foram apresentadas na audiência pública e a Resolução

nº 2.878 publicada no dia 26 de julho de 2001 — mais de seis meses depois, sem

que houvesse a menor consideração sobre essas três propostas apresentadas pelo

IDEC. Não bastasse todo esse prazo, em que essa resolução demorou para ser

publicada, imediatamente depois sai a Resolução nº 2.892 que, modificando a 2.878,

a chamada Código de Defesa do Consumidor Bancário, restringe especificamente

no art. 7º um direito consagrado do consumidor de obter desconto proporcional dos

juros quando quitar antecipadamente o financiamento. Nesse ponto a resolução

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contraria frontalmente o Código de Defesa do Consumidor, é absolutamente ilegal.

Ao mesmo tempo, aquilo que se pretende chamar de Código de Defesa do

Consumidor não consagra, por exemplo, uma disposição que está Resolução nº

2.747, 28 de junho de 2000, que pedia, ou exigia, simplesmente que a instituição

financeira comunicasse o seu cliente quando o seu pedido de encerramento de

conta estivesse completamente efetuado. Aquilo que se pretende chamar de código,

até pelo significado que tem a palavra código... Sinto muito, não é aplicável a

Resolução nº 2.878. Repito: não temos nada contra a existência dessas resoluções,

acho que devemos ter cuidado com o que elas dispõem. Temos principalmente uma

preocupação com o que está vivendo concretamente o consumidor. Primeiro, porque

estamos tratando de uma atividade, ou de uma relação de consumo, em que o

consumidor já não tem mais um dos seus direitos fundamentais, que é o direito à

escolha. Hoje se não quiser ter conta em banco não tenho como exercer o meu

direito, porque qualquer pessoa que tenha um empregador e que recebe o seu

salário, porque se o empregador não paga o salário não tem problema, mas se

recebo salário não tem como não ser cliente, consumidor de uma instituição

financeira. Depois não tem sequer a escolha entre uma ou outra instituição

financeira, porque é o meu empregador que decide onde vou ter conta. Temos que

considerar algumas coisas mais. Às vésperas, ou logo depois do ajuizamento da

ação direta de inconstitucionalidade, a imprensa foi em busca de explicações para

esse tipo de coisa e as manifestações, muito embora a Sra. Tereza Grossi já tenha

desmentido, mas existem aqui manifestações atribuídas a dois principais diretores

do Banco Central que defendiam publicamente que o Código de Defesa do

Consumidor não deveria ser aplicado. Isso foi publicado no jornal Folha On Line, no

dia 16 de janeiro de 2002. O jornal Folha, em Brasília, citando especificamente seu

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Sérgio Darcy: Cabe ao BC e ao CMN regular esta matéria, o Código de Defesa do

Consumidor não se aplica.

Quero chamar a atenção para o seguinte. Segundo o jornal Folha de

S.Paulo, também nos anos de 2001 e 2002, o Banco Central recebeu 23, 24 mil

reclamações respectivamente, também afirmações dos jornais, a Dra. Tereza Grossi

alegou que não havia como resultado dessas reclamações nenhuma punição. Quero

citar outras matérias. Jornal do Brasil, 8 de janeiro: Brasileiro paga mais tarifas e

juros bancários com imposto de renda; revista Consultor Jurídico, 26 de novembro:

Nos bancos dos tribunais em um só fórum sete bancos respondem a 481 processos

por mês. Durante o período de levantamento num intervalo de três horas só contra o

Banco Bradesco foram distribuídos sete processos. Muito embora, e com certeza,

não defenda que a correção de problemas, não só nas relações de consumo, de

uma maneira geral, tenha que passar necessariamente pela punição, não me parece

que 23, 24 mil reclamações jamais tenham concluído com uma punição sequer, até

porque hoje, por exemplo, nos defrontamos com o seguinte. Nós, consumidores dos

serviços bancários, nós, clientes bancários, a negativação dos nossos nomes no

Serviço de Proteção ao Crédito quando nossos cheques são sustados, quando

damos contra-ordem por motivo de furto, a instituição financeira não quer saber, seu

nome vai para o SPC.

Recebemos hoje com o Código de Defesa do Consumidor e com o Código de

Defesa do Consumidor Bancário cartões de crédito em nossa residência sem ter

jamais solicitado. Sofremos ainda a venda casada, prevista no Código de Defesa do

Consumidor, sofremos alteração unilateral dos preços das tarifas sem que se

respeite a periodicidade mínima prevista na lei do Plano Real de doze meses. No

Estado de São Paulo para o pagamento do IPVA o consumidor tinha que pagar R$5

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para a instituição financeira. Nenhuma autoridade do Banco Central se manifestou a

respeito e foi o Secretário de Estado que veio a público corrigir esse absurdo que as

instituições estavam praticando. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – A Dra. Tereza Grossi

utilizou apenas três minutos do seu tempo e solicita da Presidência mais três

minutos. A Mesa vai deferir para que S.Sª. possa concluir algumas considerações

que desejar fazer.

A SRA. TEREZA GROSSI - Sr. Presidente, pedi a palavra outra vez para

fazer algumas observações sobre a Resolução nº 2.878, do Conselho Monetário

Nacional.

Esse trabalho foi feito pelo Banco Central, pela área do Diretor Sérgio Darcy,

demorou bastante tempo, houve longa audiência pública, como mencionado pelo Dr.

Marcos, recebemos um série

que demorou bastante tempo. Houve uma audiência pública com o Dr. Marcos

bastante longa. Recebemos uma série de sugestões da sociedade, de órgãos de

defesa do consumidor, de outros inúmeros, todos que se interessaram em mandar...

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Inclusive uma visita da

Comissão de Defesa do Consumidor para falar sobre isso.

A SRA. TEREZA GROSSI – Para tratar disso também. Muito bem. Todas

essas sugestões foram analisadas, algumas foram incluídas na Resolução, outras

não. Quanto à Resolução do Conselho Monetário Nacional gostaria de deixar claro

que nunca houve a proposição por parte do Banco Central quando levou este

assunto ao Conselho, nem por parte do Conselho Monetário, de que esta

Resolução substituiria o Código de Defesa do Consumidor.

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Precisávamos regular de alguma maneira como aplicar isso às instituições

financeiras. Diferentemente do que o Dr. João Batista de Almeida mencionou, não

seria possível divulgarmos isso através de uma carta circular nem de uma própria

circular, precisávamos passar com essa matéria pelo Conselho Monetário Nacional.

A carta circular, dentro da hierarquia das normas do Banco Central, vem

esclarecer pontos de uma circular. Portanto, não poderíamos fazer isso através de

uma carta circular, teria que ser por uma resolução do Conselho Monetário Nacional.

Da maneira como entendo a Resolução ela em nada contraria o Código de

Defesa do Consumidor. Não existe nada na Resolução que esteja especificado

contrariamente ao Código de Defesa do Consumidor. Ela não é tão extensa quanto

o Código e inclui uma série de dispositivos que não estão previstos no Código de

Defesa do Consumidor e que constam da Resolução em função da peculiaridade

dos serviços bancários. Alguns foram até mencionados, por exemplo, com relação

ao atendimento do deficiente físico que não consta do Código mas consta da

Resolução. Esta foi uma sugestão que recebemos das associações dos deficientes

físicos.

Outro ponto importante de mencionar é com relação ao art. 7º, realmente

fizemos uma alteração nesse artigo mas não com o objetivo que o Dr. Marcos

entendeu. Quando pensamos no art. 7º qual era o objetivo? Proteger o consumidor,

que aqui chamamos de clientes, mas que é um consumidor. É a questão do uso de

uma palavra. Muito bem. Preciso proteger a grande empresa? Preciso proteger o

cliente que negocia com o gerente, que consegue sentar com o diretor do banco e

negociar a taxa de juros ou o desconto do contrato? Entendemos que não,

entendemos que temos que proteger o hiposuficiente, aquele que não consegue

valer seus direitos.

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Na primeira redação estavam incluídas as grandes empresas, na segunda

redação quem está incluído? O cliente que tem operações de crédito pessoal e de

crédito direto ao consumidor. Estamos protegendo aqueles que o Código de Defesa

do Consumidor também procura proteger, porque o forte ele se protege sozinho, ele

não precisa usar o Código de Defesa do Consumidor porque tem formas de

negociação. O objetivo da alteração do art. 7º foi torná-lo mais claro atingindo a

parcela dos consumidores que gostaríamos realmente de atingir.

Outro ponto importante é com relação às manifestações. A entrevista que

Sérgio e eu demos naquela época tinha o objetivo de mostrar o que a área de

atendimento ao público estava fazendo no Banco Central no sentido de fazer valer

os direitos dos consumidores dos serviços bancários. Fomos mal interpretados e nos

dias seguintes saíram uma série de matérias dizendo que estávamos defendendo os

bancos e que éramos contra os consumidores. Como disse anteriormente, isso não

é verdade, nunca dissemos isto. O diretor Dr. Sérgio Darcy disse que os jurídicos do

Banco Central e do Ministério da Fazenda tinham chegado a conclusão que a

resolução poderia...

(Fora do microfone.)

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – De acordo com o Regimento da

Câmara cabe aos expositores tempo de até vinte minutos para expor suas idéias.

Também está previsto no Regimento que quando há opiniões diversas que os

representantes dessas opiniões diversas sejam convidados a expor o seu ponto de

vista. Mas não está previsto que um expositor responda a um ou a mais expositores.

Cada expositor responde aos Srs. Parlamentares.

Quando V.Exa., com a generosidade habitual, procurou conceder mais tempo

à representante do Banco Central entendi que era para que complementasse suas

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idéias, jamais poderia supor que ela iria, usando da prerrogativa de expositora,

contestar os seus pares.

Na minha interpretação pode estar havendo — até involuntariamente, quem

sabe — uma burla do Regimento. Para compensar isso seria necessário depois dar

a palavra aos citados, até para ser justo com os expositores, porque senão fica

quase uma armadilha, fala-se pouco para depois recuperar o tempo para responder.

Não é o hábito e muito menos o Regimento da Casa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – A questão de ordem de

V.Exa. está deferida. Peço desculpas pela aquiescência mas entendi que a Dra.

Tereza Grossi iria complementar a sua exposição.

Solicito a Dra. Tereza que concluísse a sua exposição para que possamos a

seguir dar a palavra ao autor do requerimento.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Pela ordem, Sr. Presidente.

Gostaria de dizer que foi bem lembrada essa observação neste momento, mas se

ficarmos na discussão da Mesa, nós, Parlamentares, não poderemos conversar com

os nossos expositores.

Pediria a V.Exa., como já manifestou a intenção de fazer, que desse a

palavra ao autor do requerimento logo após o término da exposição da Dra. Tereza

Grossi e os expositores poderiam durante suas falas complementar alguma coisa

referente à apresentação da Dra. Tereza Grossi.

A SRA. TEREZA GROSSI – Vou parar por aqui e me desculpo com os

Deputados por não ter seguido o Regimento, que na realidade desconhecia.

O motivo de ter pedido para fazer uso da palavra é que quando falei

inicialmente me ative ao assunto específico da pauta, não citei nenhum dos

participantes, nenhum dos convidados desta Mesa e nenhum dos outros órgãos que

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aqui estão representados. Como a minha instituição e eu fomos citadas me senti no

direito de pedir a palavra outra vez para poder fazer as minhas colocações. Mas

encerro por aqui e respondo as perguntas dos senhores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Dando prosseguimento

aos trabalhos concedo a palavra ao autor do requerimento, nobre Deputado Salatiel

Carvalho.

O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sr. Presidente, ao propor a esta

Comissão a realização desta audiência pública o fizemos, antes de mais nada,

ressaltando o firme propósito desta que é a Comissão de Defesa do Consumidor e

foi o palco de todos os debates que ensejaram há doze anos atrás a produção do

Código de Defesa do Consumidor. E como já disse aqui o Dr. João Batista, creio que

é a lei que teve o maior volume de debates nesta Casa, com a participação de

organizações não governamentais, do Ministério Público, porque estava

estabelecendo praticamente o novo arcabouço jurídico nesse campo moderno do

Direito que é a defesa do consumidor. Evidentemente que surgiram as próprias

promotorias de defesa do consumidor, os PROCONs espalhados

com a participação de organizações não-governamentais e do Ministério Público, até

porque estava estabelecendo um novo arcabouço jurídico nesse campo moderno do

Direito que é a defesa do consumidor. A partir da implantação do Código,

evidentemente surgiram as próprias promotorias de defesa do consumidor e os

PROCONs, espalhados por este Brasil afora.

Sr. Presidente, ao presidir a Comissão de Defesa do Consumidor, Meio

Ambiente e Minorias, em 2001, realizamos seminário, dos mais importantes que esta

Comissão já promoveu, sobre a comemoração aos dez anos do Código de Defesa

do Consumidor, lei que representa a menina dos olhos da sociedade brasileira,

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venerada e respeitada por nós e pelo Ministério Público, que exerce sua prerrogativa

constitucional de zelar pelo cumprimento da lei.

Nem quero me referir à resolução do Conselho Monetário, até porque, no seu

início, está escrito que nada do que estabelece aquela resolução pode prejudicar o

que já está estabelecido em lei. Quem ler atentamente a norma perceberá isso. É

um dos primeiros pontos. No entanto, o que nos chocou foi exatamente a notícia,

que deve ser esclarecida por representantes do Banco Central, de que a instituição

estava ao lado dos bancos, principalmente a Dra. Tereza Grossi, nessa tentativa de

desrespeitar o Código de Defesa do Consumidor. A notícia diz o seguinte: “Os

bancos propuseram uma ação direta de inconstitucionalidade contra a aplicação do

Código de Defesa do Consumidor.” Ora, Sr. Presidente, isso não é agressão ao

código, mas à sociedade brasileira. Ninguém melhor do que o Dr. Gabriel para dizer

quais as reais intenções que motivaram os bancos a entrar com essa ação que hoje

se encontra no Supremo Tribunal Federal e deve merecer julgamento nas próximas

semanas. Trata-se de fato real. O que está por trás disso tudo? A intenção dos

bancos em dispensar a aplicação do Código? Por quê? Não há como contestar que

a relação entre bancos e sociedade é de consumo. E a essência do Código de

Defesa do Consumidor é proteger o consumidor nessa relação sempre desigual, que

prejudica o lado mais fraco.

Sinceramente, Sr. Presidente, isso nos choca. E pelo respeito desta

Comissão pelo Código de Defesa do Consumidor, eu diria que V.Exa., como

Presidente, e nós, como membros, temos a responsabilidade de dele ser os

guardiões, assim como tem o Ministério Público o dever constitucional de zelar pelo

cumprimento não só do código, mas de todas as leis brasileiras.

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O Código de Defesa do Consumidor foi debatido pela sociedade e pelos

bancos. Quando realizamos o seminário, em 2000, convocamos representantes do

setor financeiro para dele participar, assim como várias entidades, e fizemos uma

reavaliação do Código. Até lamentamos por ainda termos poucos PROCONs

instalados no Brasil, órgãos por onde respira a sociedade nas suas angústias, as

quais terminam nesta Comissão.

Sr. Presidente, é preciso que o Presidente da FEBRABAN preste

esclarecimentos e a Dra. Teresa Grossi deixe mais clara a posição do Banco

Central, pois existem notícias divergentes: o Governo se manifesta contra essa ação

que está no Supremo Tribunal Federal. Há parecer do Palácio do Planalto, através

do Ministério da Justiça, e parecer do Banco Central. O Governo se manifesta via

Banco Central e Ministério da Justiça contra essa posição. Mas a posição da Dra.

Teresa Grossi é favorável.

Isso precisa ficar bem claro, pois esta Casa tem de saber quem está contra o

Código de Defesa do Consumidor. Diante dessa realidade, ele tem inimigos

poderosos, pois a FEBRABAN é poderosa.

Esta é a primeira pergunta que faço ao Presidente da FEBRABAN e à

Diretora de Fiscalização do Banco Central.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Para responder à

pergunta do Deputado Salatiel Carvalho, concedo a palavra ao Dr. Gabriel Jorge

Ferreira.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – A colocação feita pelo nobre

Deputado Salatiel Carvalho abre-me a oportunidade de realmente esclarecer grande

equívoco que se instaurou em torno dessa discussão. A notícia mencionada por

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V.Exa. há pouco de que bancos se insurgem contra o Código de Defesa do

Consumidor não corresponde ao objetivo da ação direta de inconstitucionalidade.

Como mencionei na minha introdução, as instituições financeiras exercem

atividades típicas de intermediação financeira e também atividades acessórias ou de

serviços. A atividade de intermediação financeira, que significa concessão de

créditos e captação de depósitos, é a atividade mais crítica porque envolve recursos

da poupança pública — recursos de terceiros —, que têm de ser aplicados

diligentemente, de forma que a instituição financeira mantenha sua solubilidade e

sua liquidez.

A controvérsia instaurada em torno da relação instituição financeira e Código

de Defesa do Consumidor refere-se exclusivamente a esse item de crédito e de

depósito. Se assim não o for, o Banco Central do Brasil ou a autoridade reguladora

do sistema bancário pode criar o sistema de supervisão mais eficiente e continuará

correndo riscos, se houver possibilidade de uma taxa de juros que foi contratada

numa operação modificada, contrariando, portanto, política monetária estabelecida

que fixou uma taxa básica de juros. Em função dessa taxa, a instituição financeira,

de acordo com as regras do mercado, pratica a sua atividade.

A atividade de instituição financeira tem de ser conduzida num equilíbrio

muito bem controlado entre ativos e passivos. As instituições financeiras não se

furtam de atender ao seu cliente ou ao seu consumidor da melhor forma possível,

até porque seria absolutamente um contra-senso não fazê-lo. Quando os bancos

compram uma outra instituição financeira, pagam um ágio alto, que representa o

valor de uma carteira de clientes, um fundo de comércio.

Portanto, quando uma instituição compra uma outra, avalia o que vem junto

como carteira de clientes. Seria, como já disse, um contra-senso que uma instituição

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financeira pague um alto preço para comprar outra instituição que coloca o seu

cliente para fora, maltratando-o.

O objetivo da ação é unicamente saber qual o regime jurídico aplicado nas

relações entre atividades de instituições financeiras e Código de Defesa do

Consumidor, quando se trata de matéria de crédito — ativos e passivos. É apenas

isso. Os bancos jamais pretenderiam ter qualquer privilégio em relação ao restante

da economia, no tocante às suas relações com o cliente. Até porque não há sentido.

Ao contrário, os bancos têm realizado encontros periódicos com os PROCONs. Ano

passado, tivemos a iniciativa de fazer um encontro em Campos do Jordão, quando

convidamos representantes dos órgãos de defesa do consumidor — o próprio

Ministério Público esteve presente através de um Procurador de Brasília. Tivemos

amplo diálogo para discutir essa questão. Não há agressão ao Código. Os bancos o

respeitam e o prestigiam

esta questão. Não há agressão ao código. Os bancos respeitam e prestigiam o

código.

Quanto ao número de reclamações em relação aos bancos, o que é muito

grande, se houver tempo gostaria de falar um pouco sobre o assunto. Os bancos

operam anualmente cerca de 18 a 20 bilhões de transações. Se olharmos, por

exemplo, um determinado ano, ano 2000, em cerca de 650 milhões de transações o

Banco Central recebeu uma reclamação. Em 2001, o Banco Central recebeu uma

reclamação em 1 milhão e 200 mil transações. Pode parecer que essas estatísticas

não são utilizadas, que são olhadas de uma forma unicamente do ponto de vista

absoluto, e isso cria esse tipo de distorção.

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Outro ponto. O cliente bancário vai muito mais ao banco do que o cliente de

um estabelecimento comercial. O consumidor de uma instituição financeira costuma

visitá-la várias vezes durante a semana e, às vezes, várias vezes durante o dia.

Portanto, se ocorrer erros ou algum problema, isso tem um reflexo na estatística, o

que não significa uma tendência ou uma forma de os bancos estarem exportando o

atendimento. O objetivo dessa ação, que o senhor mencionou, foi exclusivamente de

pedir ao Supremo Tribunal Federal que diga qual é o regime jurídico aplicável às

instituições financeiras, enquanto exercendo sua atividade de intermediação

financeira. É exclusivamente isso.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Gostaria de pedir aos

senhores expositores que limitassem suas repostas a 3 minutos.

O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Só para ficar mais claro, para

complementar meu entendimento.

Então, a Comissão de Defesa do Consumidor pode ficar tranqüila que essas

informações da imprensa não procedem. Ou seja, a FEBRABAM e os bancos não

estão preocupados com a aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas

relações bancárias.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Absolutamente. Nas relações que

compõem relações de consumo, de serviços e atendimento bancário, todas essas

questões não teriam legitimidade e nem os bancos iriam correr um risco ...

O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - A preocupação dos bancos é

apenas no aspecto de concessão de crédito e de depósito.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - De crédito e de depósito, porque essa

é a atividade que quebra uma instituição se houver um descasamento entre ativos e

passivos.

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O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - No seu entender, nessa de

concessão de créditos de depósitos, o usuário não pode ser visto como consumidor,

e se os bancos cometerem algum abuso nesse campo de concessão do crédito...

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Pode ser visto se tiver havido algum

abuso, se o contrato não definiu claramente qual é o encargo financeiro...

O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Mas esse que é o objetivo do

Código de Defesa do Consumidor.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Isso, é claro que continua. O que não

pode é haver o questionamento da taxa de juros que foi contratada, que foi

pactuada, em função da execução da política monetária, e a taxa que foi pactuada

no depósito, porque senão você quebra a instituição financeira. Como mencionei no

meu texto, a instituição financeira tem que casar ativos e passivos em termos de

prazo de moeda e de taxas. Este é o único ponto que se discute, e houve um

equívoco na minha opinião na forma como foi abordado por parte da imprensa,

inclusive, que talvez não tenha alcançado esse conceito verdadeiro ou talvez não

tenhamos nos explicado direito.

O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Dr. Gabriel, só para esclarecer.

O objetivo fundamental de todo código é a defesa do consumidor.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Perfeito.

O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - V.Exa. acha que nesses dois

aspectos não há nenhuma demonstração ou explicitação de vulnerabilidade do

cliente? do consumidor? Ou seja, ele nunca, jamais, poderá ser prejudicado? Porque

aí, sim, é que estaria o temor de não se aplicar o código nesses dois casos.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Não, absolutamente. O Banco Central

tem competências para regular o funcionamento das instituições financeiras e as

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suas operações. Quando ele editou essa resolução, editou exercendo uma

competência regulamentar, porque achou que deveria também editar normas

aplicáveis à operações, onde os órgãos de defesa do consumidor não estão muito

envolvidos, como, por exemplo, abertura de conta corrente, talonário de cheques,

que são muito próprios do jargão bancário. Mas o objetivo exclusivo é que atividade

de intermediação financeira, crédito e captação de recursos, seja regida pela

autoridade monetária.

O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sr. Presidente, não estou

absolutamente convencido, mas, como autor do requerimento, não posso deixar de

privilegiar a sabedoria de Parlamentares como Celso Russomanno, Luciano

Pizzatto, especialistas nesta área. Até gostaria de ouvi-los. Quem sabe talvez

ouvindo-os e às respostas dos expositores, possa entender um pouco melhor as

reais intenções dos bancos nessa matéria.

O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Sr. Presidente, peço a palavra

para uma questão de ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Tendo em vista a afirmação do Dr.

Gabriel Jorge Ferreira, que tem uma certa lógica, mesmo que questionável.

Simplesmente, o que ele está declarando é 100% diferente das transmissões da

mídia. Temos vários representantes da mídia aqui, lógico. Peço ao Sr. Presidente

uma cópia da ADIN para podermos ler o requerimento. Talvez a Dra. Tereza Grossi

ou o Dr. Gabriel tenham uma cópia da ADIN. Enquanto a Dra. Tereza responde à

sua ponderação, gostaria de olhar o requerimento, porque, realmente, não estou

entendendo o questionamento parcial do Código do Consumidor, que não trata de

taxas de juros, muito menos trata do repasse do tabelamento de juros, que é uma

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relação típica do Banco Central. Mas, como ainda não é o meu momento de

perguntar, a minha questão de ordem é quanto à cópia da ADIN, que eu gostaria dar

uma lida rápida para depois balizar meu questionamento. Desculpe-me a Dra.

Tereza.

A SRA. TEREZA GROSSI - Respondendo ao Deputado Salatiel Carvalho,

mais uma vez, houve da nossa parte, quando demos a entrevista, ou da parte da

imprensa, quando nos ouviu, uma percepção inadequada. Nunca houve da parte de

Diretores do Banco Central ou da instituição Banco Central um posicionamento

contrário à aplicação do Código de Defesa do Consumidor às instituições

financeiras. Em momento nenhum. Se essa fosse a posição do Banco Central ou de

alguns dos seus Diretores, e aí me incluo até como uma peça importante em função

da posição que tenho, Diretora de Fiscalização, o Banco Central teria duzentas

pessoas trabalhando na central de atendimento de público em dez capitais

brasileiras. Fazendo o quê? Tratando de prestar informações e esclarecimentos e de

atender reclamações de clientes de bancos, solucionando em torno de 90% delas

num prazo de até 48 horas. Se fôssemos contra, não iríamos criar um serviço dessa

natureza, simplesmente diríamos que não temos nada com isso e o cliente que vá

ao PROCON, que é quem deve cuidar disso. Portanto, nossa posição não é

contrária. Mais uma demonstração de que não somos contra isso.

Nós nos comprometemos a passar a divulgar a partir de abril a lista dos

bancos mais reclamados. Evidentemente, levando em consideração o porte. Se

tenho um banco com duas agências, cem clientes e cem reclamações ou tenho um

banco com rede no Brasil inteiro com as mesmas cem reclamações, uma coisa é

mais importante que a outra, então teremos que ponderar a questão.

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Com relação ao tipo de serviço que os bancos têm prestado aos seus

clientes, a minha opinião é de que, apesar de ter havido uma melhora, o

atendimento do cliente da agência ainda não é como deveria ser feito. Ainda temos

um número muito grande de reclamações. Apesar de ter dito já e continuar

afirmando que as 24 mil, em 2000, e 26 mil, em 2001, reclamações não é um

número significativo, dado o tamanho do sistema financeiro, o temos percebido é

que este número não cai, pelo contrário, está subindo devagarinho. O que isso

significa

-

pede uma conta e não tem garantia de que aquele dinheiro realmente está entrando

no banco, porque se aquele caixa for arrombado, ou alguma coisa acontecer, sumir

um envelope dele, ele não tem como garantir que realmente depositou e colocou

dinheiro naquele envelope. Ele só tem essa garantia na chancela feita no guichê.

Então, parabéns, Dra. Tereza Grossi. Isso aqui está obrigando os bancos a

receberem as contas. O que estava acontecendo é que todo mundo ia até as loterias

da Caixa Econômica para pagar suas contas, porque o banco se recusa a receber.

Ou seja, o banco se recusa a fazer um dos seus serviços.

O pior é que fui atrás da companhias de energia elétrica e de telefonia para

saber como é a relação comercial entre elas e os bancos. Elas pagam uma taxa

para o banco receber a conta, e nem assim o banco recebe, quer que vá ao caixa

eletrônico.

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E quando vejo uma ADIN como essa, e muito clara, desculpe-me, Dr. Gabriel,

não é nada pessoal, fico indignado. A questão é que não há nenhuma relação de

consumo. Se essa ADIN for julgada favorável aos bancos pelo Supremo Tribunal

Federal, acredito que ele não fará essa besteira, em qualquer relação de consumo

os bancos estarão fora. Quer dizer, na verdade não são só os bancos, todo mundo

quer sair fora do Código de Defesa do Consumidor.

O Instituto Nacional de Defesa do Consumidor tem uma representação no

Ministério da Justiça, que também está no Supremo Tribunal Federal, solicitando o

preço do produto junto ao código de barras, o que os supermercados não querem

fazer. Daí recorreram ao Supremo, e a ação está lá parada há dois anos, porque o

Ministro responsável por ela não tem coragem de julgá-la. Isso é uma vergonha.

Então é assim: cada segmento da sociedade quer sair fora do Código de

Defesa do Consumidor e não sobra absolutamente nada para nós, consumidores.

Agora vejam o que acontece, na prática, com relação aos bancos. Hoje, eles

operam cartão de crédito. Quem fiscaliza cartão de crédito no Brasil? Ninguém,

absolutamente ninguém. O mais interessante é o seguinte: o cartão de crédito

deveria recolher para cada Município, onde está sendo descontado o valor da

compra feita, porque é uma prestadora de serviço, o ISS. Será que alguém conhece

algum Município no Brasil que recebe algum centavo de alguma administradora de

cartão de crédito neste País pela prestação de serviço efetivamente realizada? Não

existe.

Na semana passada, conversando sobre cartões de crédito com o Secretário

de Direito Econômico do Ministério da Justiça, onde está o Departamento de

Proteção e Defesa do Consumidor, ele me disse: “Até para notificar as

administradoras de cartões de crédito é difícil, porque elas não têm endereço certo,

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vivem correndo de um lado para o outro.” O que é pior hoje em dia é os bancos

administrarem os cartões de crédito. Então, cada banco tem seu cartão. Eles fazem

um acordo com a administradora e aquele segmento da sociedade para quem eles

mandam o cartão de crédito é administrado pelo próprio banco, e não pela VISA,

American Express e outras administradoras do mercado.

Infelizmente, é isso que vem acontecendo. Moral da história: os

consumidores, como foi colocado aqui, continuam recebendo cartão de crédito sem

ter feito pedido.

Tenho publicado em meu livro, inclusive uso a portaria do Banco Central,

porque acho que o que abunda não prejudica, essa resolução ajuda, e muito, o

consumidor, e se ferir o Código de Defesa do Consumidor, evidentemente, a lei vale,

está acima da resolução. Mas digo o seguinte para o consumidor: se receber cartão

de crédito, use o ano inteiro, até findar a data de validade do mesmo, e não pague a

taxa. Pague o que consumir, a taxa não, porque o Código de Defesa do

Consumidor, em seu art. 39, é muito claro: todo produto ou serviço entregue ao

consumidor sem que ele tenha pedido inexiste obrigação de pagamento, é

considerado amostra grátis.

Então veja como é profunda essa questão dos bancos, e eles não param

nisso. Hoje em dia os bancos administram também seguros e transferem o

patrimônio maior para uma seguradora. Por exemplo: o Banco do Brasil administra

parte das prestações de serviço de seguro para a Sul América, que tem uma grande

carteira com o Banco do Brasil. E aí sai também das regras do Código de Defesa do

Consumidor a questão securitária, porque é o texto do art. 3º do Código de Defesa

do Consumidor. E como fica essa questão?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Para concluir, Deputado.

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O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Desculpe, Sr. Presidente, mas

é que tem algumas coisas a serem faladas. Espero que meus Pares entendam.

Vamos à seguinte relação: faça empréstimo num banco. Sabe o que acontece

Dr. João Batista? O Ministério Público conhece isso. Os contratos e as notas

promissórias são entregues em branco ao consumidor, e o banco se nega a entregar

esses contratos preenchidos. Não estou falando de um, posso citar dez bancos

nominalmente: ITAÚ, BRADESCO, UNIBANCO, nenhum quer que o consumidor

tenha o contrato assinado, e a nota promissória vai em branco.

Eu mesmo, na compra de um veículo, financiado pelo Banco FORD, o banco

queria me obrigar a assinar nota promissória em branco. Vá atrás das notas

promissórias, o Banco Central pode fazer isso, dos contratos que estão nas

agências bancárias e veja se existe valores. Os valores são colocados nas ações

judiciais, e não o valor emprestado, o principal, como determina a lei. O valor

colocado é aquele, infelizmente, acrescido de juros, correção monetária e uma série

de outras coisas.

Olha só como ficam as relações. Isso com o Código de Defesa do

Consumidor protegendo o consumidor. Imaginem só o dia em que não o tivermos

mais para nos proteger.

Vejam o que os bancos estão fazendo hoje: não encerram contas bancárias.

Cito até como exemplo o HSBC, antigo Bamerindus. Conheço 30 casos de

consumidores que estão tentando encerrar sua conta bancária, que já fizeram por

escrito o encerramento, mas o banco não encerra. Sabem por quê? Porque

enquanto existe a conta bancária, existem as taxas a serem cobradas. Quanto mais

contas bancárias, mais taxas a serem cobradas. Tenho reclamação de

consumidores que pediram o encerramento de conta há seis meses, mas ela não foi

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encerrada. Só que o banco mandou a cobrança. O consumidor afirma que encerrou

a conta há seis meses, e o banco diz que se ele não pagar a taxa o nome vai para o

SERASA. E vai mesmo e não tem quem discuta. Isso eu trago a público.

Vamos mais além: cheques roubados antes de chegar às mãos do

consumidor. Isso acontece constantemente. Os carros-fortes são assaltados no

meio do caminho, e os consumidores não têm sequer conhecimento de que seus

cheques são preenchidos por outra pessoa, tendo seus nomes enviados ao

SERASA. Tenho vários casos desses nesta Comissão para mandar. Não estou

falando de apenas um.

Sr. Presidente, não vou me prolongar, mas tenho muito o que falar da relação

de consumo e de práticas ligadas aos bancos que acontecem todos os dias. Vivo

isso freqüentemente, porque recebo centenas de reclamações desse tipo. Tenho 70

mil acessos no meu site, 5 mil e-mails para receber e milhares de reclamações de

bancos.

No Instituto Nacional de Defesa do Consumidor de São Paulo atendo

gratuitamente cerca de 50 a 100 pessoas por dia. Portanto, vivo na prática o que

acontece. Não podemos aceitar, de forma alguma, que o Código de Defesa do

Consumidor seja abortado de determinados segmentos da sociedade, assim como

não aceitamos a questão do “apagão”. E vamos brigar com o Governo por causa

disso. Temos que achar outros caminhos? Com certeza. Agora, revogar o Código de

Defesa do Consumidor para qualquer setor da sociedade, aí não vamos permitir.

Inclusive já estou correndo com uma lista aqui para fazer uma lei complementar,

caso isso aconteça. E vamos fazer uma mudança na Constituição. Ou seja, a íntegra

do Código de Defesa do Consumidor será uma lei complementar e resolveremos a

questão.

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(Intervenção fora do microfone).

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - A gente muda a Constituição,

em uma penada a gente resolve o problema.

Desculpem, inclusive a minha exaltação, mas é porque o meu sangue sobe.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Concedo a palavra ao

Deputado Luciano Pizzatto.

O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, demais convidados, eu e o Deputado Celso Russomanno temos

pensamentos muito próximos em relação à questão dos serviços prestados pelo

setor bancário brasileiro. Portanto, quando ele fala antes de mim esvazia um pouco

o meu discurso; e quando eu falo, esvazio o dele.

dado o tamanho do sistema financeiro, estamos percebendo que esse número não

cai. Pelo contrário, está subindo bem devagar. Os bancos, para atender o Banco

Central quando ele transmite uma reclamação do cliente, são ágeis e resolvem

rápido. Noventa por cento deles, em 48 horas.

Porém, o atendimento na agência, que é o que precisa mudar para que a

reclamação não exista, não está melhorando. Esse é o motivo por que vamos

divulgar.

Ponto claro: não somos contrários. A posição do Banco Central é a de aplicar

o Código de Defesa do Consumidor.

Faço questão de ler o que está escrito no parecer, produzido pelo nosso

Procurador Jurídico, em conjunto com o Ministério da Justiça, sobre a posição do

Banco Central:

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Seja julgada improcedente a presente ação direta

de inconstitucionalidade, conferindo-se a expressão

“inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e

securitária”, constante do art. 3ª, § 2º, da Lei nº 8.078,

uma interpretação conforme a Constituição, com emprego

do instrumento previsto no parágrafo único do art. 28 da

Lei nº9.868, de 1999, excluindo da aplicação do Código

de Defesa do Consumidor o custo das operações ativas e

a remuneração das operações passivas praticadas por

instituições financeiras no desempenho da intermediação

de dinheiro na economia, de modo a preservar a

competência constitucional da lei complementar do

Sistema Financeiro Nacional.

Essa é a posição oficial do Banco Central.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

No começo de qualquer exposição, temos que tomar alguns cuidados.

Quando informações conflitantes acontecem, creio que temos de ter cuidados.

Fui até a Mesa, ao Dr. João Batista, buscar um resumo da movimentação que

o Ministério Público — entendi assim — fez sobre essa ação. Vou lhe explicar por

quê, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - V.Exa. está inscrito.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Sim, eu sei. O Deputado Luciano

Pizzatto fez uma pergunta, e a resposta do Presidente da FEBRABAN...

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - V.Exa. está inscrito e

pode esperar o momento de falar.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO –Vou falar depois também.

Só quero dizer que a ADIN apresentada — e foi V.Exa., Deputado Luciano,

que fez a pergunta — tem relação com questões financeiras, com o momento

financeiro, com taxas de juro. Essa ADIN requer a inconstitucionalidade da

expressão “inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária”.

Ou seja, ela requer a inconstitucionalidade de tudo o que o nosso Código de Defesa

do Consumidor prevê.

Por isso alerto a Comissão. Existem informações dadas pela metade.

Sr. Presidente, peço desculpas. V.Exa. pode me chamar a atenção, sem

problemas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Com a palavra o nobre

Deputado Celso Russomanno, que dispõe de 3 minutos.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Tenha a impressão de que em

3 minutos não conseguirei fazer a minha exposição, de forma nenhuma,

evidentemente respeitando meus companheiros da Comissão de Defesa do

Consumidor.

Em primeiro lugar, gostaria de parabenizar pela realização da audiência o

autor do requerimento, Deputado Salatiel Carvalho. A audiência e o comparecimento

de todos os convidados são extremamente importantes. Esta é a casa do debate,

onde podemos realmente fazer democracia. Quero parabenizar também o Dr. João

Batista pela sua exposição, que foi muito boa, e o Dr. Marcos Diegues. Sinto a Dra.

Amanda ter-se ausentado. Foi extremamente importante a participação de S.Sa., já

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que o Departamento de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça é o órgão

que determina a política em defesa do consumidor no País.

O Código de Defesa do Consumidor, em momento nenhum, fala sobre as

taxas que devem ser praticadas pelos bancos, até porque ele é genérico, é para

todos os segmentos da sociedade. No seu art. 3º, ele deixa clara a relação de

consumo, para que não escape em nenhum momento onde está o pólo fornecedor e

onde está consumidor. Vai um pouco além no art. 22, determinando como devem

ser os serviços permissionários:

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas

empresas, concessionárias, permissionárias ou sob

qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados

a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e,

quanto aos essenciais, contínuos.

Os bancos são permissionários do serviço público. Isso é muito claro. Só esses dois

artigos que pincelam, exprimem exatamente o que é relação de consumo, muito

bem colocada pelo Dr. João Batista, que excetuou somente as questões de natureza

trabalhista.

Se o Código de Defesa do Consumidor, em primeiro lugar, não fala sobre taxas,

temos a grande discussão que ensejou essa confusão toda, essas ações judiciais

que envolvem práticas de financiamento de automóveis através de arrendamento

mercantil.

Até então, quando se fazia financiamento para compra de veículo, não havia

problema nenhum. Um belo dia, os bancos viram que, fazendo arrendamento

mercantil para pessoa física, se por acaso alguém ficasse inadimplente, o veículo

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seria tomado. Além disso, como se trata de arrendamento, o banco não teria que

devolver absolutamente nada.

Começaram, então, os problemas, porque os bancos disseram que captavam

dinheiro fora do Brasil e por isso emprestavam em dólar. Isso ensejou todas essas

ações nos institutos de defesa do consumidor. O IDEC tem várias ações nesse

sentido, o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor, que presido, também.

Começou-se a pressionar os bancos. Isso fez com que os bancos saltassem de um

lado para outro. Qual era questão? O dinheiro fora ou não angariado no exterior para

que fosse feito o empréstimo no Brasil em dólar? Essa é a primeira questão que

deveria ser fiscalizada pelo Banco Central, para ver se isso realmente aconteceu.

Hoje, esse mundo de ações só existem porque não foi feita uma fiscalização para

saber se esse dinheiro realmente é veio de fora, Dra. Teresa.

Num café da manhã com a Dra. Teresa Grossi, apresentei uma série de questões

relativas à relação bancária com o consumidor, a consórcios, a cartões de crédito.

Algumas dessas questões estão aqui nesta resolução. Quero dizer que, por sinal,

são muito boas.

Se há uma coisa que os bancos não queriam fazer é atender o consumidor no

guichê. Eles simplesmente cessaram esse serviço. Só por imposição do Banco

Central ou porque o Banco Central baixou essa resolução, eles começaram de novo

a fazer o atendimento.

Esqueça pagar conta de telefone, de água, de luz em guichê de banco. O banco não

recebe nem do próprio cliente. Quero que alguém me desminta. Cheguei a travar

uma briga homérica no Banco do Brasil e na Caixa Econômica dentro deste próprio

Congresso para obrigar os gerentes a receberem contas no guichê. Eles se

negavam a receber, principalmente se fossem de outro banco. Nem pensar em

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pagar uma conta com o cheque de outro banco no guichê. Ou é em dinheiro ou o

banco não recebe. Onde está esse serviço permissionário?

O que interessa aos bancos agora é diminuir a quantidade de funcionários. Não

estou aqui para defender sindicatos de funcionários, mas a intenção é encaminhar

todo mudo para os caixas eletrônicos, onde o consumidor faz o pagamento de uma

conta e não tem garantia de que realmente aquele dinheiro está entrando no banco.

Se aquele caixa for arrombado ou alguma coisa acontecer, se sumir o envelope dele

dos serviços prestados pelo setor bancário brasileiro. Portanto quando ele fala

antes, esvazia um pouco o meu discurso. Quando eu falo, eu esvazio o dele. Vou

tentar complementar a visão dada pelo Deputado Russomanno, se é que isso é

possível, porque a visão de S.Exa. foi muito veemente. Inicialmente quero elogiar a

Dra. Teresa Grossi porque manteve uma relação com essa Comissão durante o

último ano extremamente aberta. Ela é uma pessoa que defende suas posições

também de uma forma muito firme, mas como o Deputado Russomanno disse, tudo

que foi possível dentro das limitações legais do Banco Central já foi feito com esta

publicação. E sei que está sendo desenvolvido um trabalho melhor pelo Banco

Central, tanto em relação aos consórcios como em relação aos cartões de crédito. E

entendo a dificuldade do Banco Central nesse aspecto. Creio, após ter ouvido as

ponderações daquele Banco, que talvez não seja somente o Banco Central que nós

devamos estar cobrando. Acho que o Banco Central deve ser limitado à sua

atuação, mas devemos cobrar sim do Ministério da Justiça essa relação na área do

direito do consumidor. Quanto ao tema da discussão, resgatando o que foi dito aqui

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anteriormente, quero dizer que li rapidamente a ADIN e realmente o senhor tem

razão, Dr. Gabriel: segundo o requerimento, a posição é de decretar parcialmente

inconstitucional um trecho do texto do art. 12 da Lei de Defesa do Consumidor.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA (Fora do microfone) – Inaudível.

O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – Art. 12, não?

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA (Fora do microfone) – Inaudível.

O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – É, exatamente. Só que me

perdoe, a sua interpretação é muito lógica, se fosse esse o efeito dessa declaração.

Porque na verdade ao pedir que elimine-se do texto a aplicação do Código de

Defesa do Consumidor aos serviços de operação de natureza bancária, “natureza

bancária, financeira, securitária etc”. Natureza bancária é toda a relação do

consumidor de serviço. Eu acho que se a preocupação verdadeira da FEBRABAN

fosse a que foi apresentada aqui — não estou duvidando da sua preocupação —

deveria simplesmente ter sido pedida uma ação declaratória no sentido de que o

Código de Defesa do Consumidor não se aplica às questões de valores e créditos,

juros etc. E não eliminar a aplicação sobre as operações e serviços de natureza

bancária. Porque aí a amplitude é total. A justificativa, o senhor tem excelentes

advogados, são de uma capacidade fantástica em termos de poder explicar o

processo constitucional e de legalidade da questão, mas a ótica que foi dada ao

eliminar-se essa parcela do texto leva a uma interpretação muito mais ampla,

excluindo o setor bancário do Código de Defesa do Consumidor. E esse é um

presente, Dr. Gabriel, que o povo brasileiro não podia ter recebia ao completar 10

anos do Código de Defesa do Consumidor. Doze, mas foi logo depois dos nossos 10

anos, em 80 completaram-se os 10 anos. Então, acho que o setor bancário, que eu

respeito muito, deveria ter dado o exemplo ao contrário, ou seja, ter assumido o

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Código de Defesa do Consumidor, relação essa que eu não vejo. Eu vejo, a título da

tentativa, é a busca da diminuição do custo do crédito e a garantia de diminuição do

risco. A título dessa procura, que é um direito legítimo do setor bancário, e até

mesmo do Estado de proteger isso, eu tenho visto passarem por cima do direito à

individualidade, do direito do cidadão de ter sigilo à sua informação, e passar por

cima de quase todos os direitos fundamentais do Art. 5º da Constituição Brasileira.

Quase todos. O setor bancário, ao interagir CGCs, CPFs etc descaracteriza a

existência da individualidade da pessoa humana, que é um direito fundamental,

como nosso Ministério Público está aqui para garantir, do cidadão brasileiro, da

pessoa, do indivíduo, do ser humano brasileiro. Essa é uma insensibilidade que, por

mais que nós tenhamos que defender os interesses empresariais e da legalidade de

um processo que seja mais dinâmico, com diminuição de custos etc gera um preço

que a nação brasileira não pode pagar.

Quanto ao Código de Defesa do Consumidor o que nós buscamos nesta

Comissão é a transparência. é a possibilidade de o consumidor ver a cobrança de

uma taxa, que pode ser legítima, mas que tenha, como nós exigimos na conta de

luz, na conta d’água, na conta de telefone, nas gôndolas dos supermercados, uma

explicação clara do que seja essa bendita taxa que estamos pagando. Qual a

relação que está sendo cobrada? Que nós não tenhamos que ver, sistematicamente,

as operações de crédito sendo casadas com outras operações. Porque o que eu

entendo como banco é o lugar onde se negocia dinheiro. Aqui no Brasil, não. Se

uma pessoa se senta na frente de um gerente de banco e diz que quer negociar

dinheiro, a primeira coisa que o gerente diz é o seguinte: “Bom, você tem saldo

médio para pedir dinheiro emprestado?” “Ou se você tiver um valor da poupança

igual ao que está pedindo emprestado, eu te empresto. “ Bom, então, não precisa de

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banco. Claro, o banco tem um cliente bem melhor que é o Governo. Falo isso de

uma maneira prática. Tenho empresas, trabalho com banco 24 horas por dia, e sei o

que é essa relação de opressão porque o cidadão chega perante o gerente do

banco precisando do recurso. E sai de lá com seguro de vida para ele, para a tia,

para a avó, para um parente que já morreu, e é (ininteligível) no limite do seu

seguro. Uma barbaridade. Banco no Brasil só poderia ser permitido operar na ação

financeira, na relação financeira. Não poderia operar outro tipo de atividade,

corretora etc. Mas tem coisa mais grave: banco no Brasil opera agência de viagens.

O Banco do Brasil é o maior concorrente do setor de agência de viagens deste

País, colocando em risco a existência de milhares e milhares de empregos. A

agência de viagens da BBTur opera em conjunto com a agência do banco. Eu tenho

uma microagência de viagens, sei bem disso. O que acontece é o seguinte: Ou os

grandes clientes operam com a BBTur ou não ganham empréstimo. Agora, está

escrito isso? Não, não está.

Nós vamos nos dedicar este ano a trabalhar em relação ao cartão de crédito.

Em relação aos cartões de crédito existe uma relação com os bancos extremamente

estranha. No mínimo estranha. O Deputado Russomanno falou sobre a questão do

cartão de crédito e o banco. Então vamos pegar alguns cartões de crédito

aleatoriamente na minha carteira. Dois cartões. Visa. Isso não é um cartão Visa, é

um cartão do Banco do Brasil.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Administrado pelo Banco do Brasil.

O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – Não, administrado não. Ele é

operado acho que integralmente. Porque estou no exterior, eu tenho um problema

com o cartão de crédito, a operadora do Visa diz: “O senhor fale com o seu banco.”

Eu digo: “Não, eu quero falar com a Visa.” “Não, a Visa não tem nada a ver com o

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seu cartão.” O limite que eu tenho aqui é dado pelo banco. A restrição de crédito que

eu tenho nesse cartão é porque uma empresa coligada tem um programa de

saneamento no setor agrícola, aquela restrição está aqui nesse cartão. O gerente

responsável, meu saldo médio do banco, determina quanto eu posso gastar. Ora, a

minha senha de operação da conta corrente está nesse cartão Visa. O meu saque

do banco é feito com o cartão Visa. Como que essa não é uma operação casada

com o Banco? E como essa não é uma operação da qual não se deve prestar

contas ao Banco Central? O Mastercard, Caixa Econômica. Se eu tivesse com meu

American Express aqui, seria HSBC. E mais: cartões que estão subordinados ao

banco são virtuais, porque se você tiver um problema com qualquer um desses

cartões é impossível conseguir umas resposta por escrito. Temos aqui presentes

representantes do IDEC e do Ministério Público: quem conseguir a tarefa de ter uma

resposta por escrito num cartão de crédito, vai ganhar um prêmio especial da

Comissão, porque é impossível. Pode mandar fax, carta, notificação registrada.

Silêncio absoluto. Eles não existem. São entes neste País que devem ter relação

muito íntima com o meio da informática. Eles são virtuais. Agora, o teu gerente tem o

cartão, tem o limite, tem a conta, tem o código vinculado. Essa é uma relação que

tem que estar intimamente ligada ao Código de Defesa do Consumidor e que tem

que estar também subordinada às operações de natureza bancária.

Portanto, Dr. Gabriel, fiquei muito feliz com o seu esclarecimento de que não

foi essa a intenção da FEBRABAN. Fica o meu voto de confiança à sua declaração.

Mas gostaria de dizer que a interpretação que pode ser dada eliminando-se essa

parcela do texto do Código de Defesa do Consumidor será danosa, e daí não será

aquela que o senhor apresentou, será aquela que a imprensa efetivamente divulgou.

Acho até que há um tempo hábil para os seus advogados alterarem essa ação e

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pedirem especificamente a intenção que o senhor aqui apresentou. E creio que o

Código de

hábil de seus advogados alterarem essa ação e pedirem, especificamente, a

intenção que o senhor apresentou.

O Código de Direito do Consumidor é um grande instrumento para melhorar a

relação entre o banco e o consumidor, aumentando, inclusive, os lucros do banco.

Tendo um consumidor mais feliz e confiante, sem dúvida ele usará mais os serviços

do banco. A relação tornar-se-á mais positiva.

Muito obrigado a V.Exa., Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Franqueamos a palavra ao Dr.

Gabriel Jorge Ferreira e à Dra. Tereza Grossi, quando convier, para responderem às

inquisições feitas pelos Deputados Celso Russomanno e Luciano Pizzatto.

Prosseguiremos com os Deputados Luiz Ribeiro e Arlindo Chinaglia.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – As considerações dos jovens

Deputados Celso Russomanno e Luciano Pizzatto foram semelhantes, com ênfases

diferentes, mas centrando suas observações em procedimentos: operações

casadas, deficiência de informação e dificuldade de encerramento de conta

bancária.

O Deputado Celso Russomanno dizia que o Código não se refere, em

nenhum momento, às taxas de juros.

A idéia da propositura da ADIN, como disse há pouco, foi de definir o regime

jurídico que é aplicável ao crédito e ao depósito; ao custo do dinheiro que se

empresta e à remuneração(?) do depósito. O objetivo exclusivo foi esse. Qual a

razão? O Código tem dez anos. Ninguém pode imaginar que esperamos dez anos

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ SEM REVISÃONome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0154/02 Data: 20/03/02

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para tomar essa iniciativa, porque a relação entre as instituições financeiras e os

órgãos de defesa do consumidor é sadia.

Registrei que realizamos encontros anuais, seminários, com a participação

dos PROCONs de todo o País e de representantes do Ministério Público, buscando

as soluções dos problemas.

Discordo das observações dos Deputados Luciano Pizzatto e Celso

Russomanno referentes à generalização dos serviços do sistema bancário. Em

qualquer setor há deficiências, ocorrem falhas, faz parte do ser humano, ainda mais

hoje em que a tendência é utilizar cada vez mais os serviços eletrônicos, tendo em

vista o volume dos serviços.

Sem qualquer hesitação, o nosso sistema bancário é um dos mais eficientes e

competentes do mundo. Digo isso com muito orgulho. Trabalho no setor há cerca de

44 anos. Comecei em uma empresa, onde permaneço até hoje. Acompanhei a

evolução desse sistema. Se compararmos a qualidade de serviços de instituições

financeiras do exterior com as brasileiras, veremos que a nossa não deixa a desejar.

As instituições financeiras brasileiras deram demonstrações de competência que

jamais se viu em lugar nenhum do mundo. Nos planos econômicos, quando a

decisão de mudar a moeda ou de bloquear as contas era tomada na sexta-feira, na

segunda-feira as instituições financeiras tinham que estar adaptadas.

Há um novo sistema de pagamentos em implantação, com prazo previsto

para o dia 22 de agosto, o que é uma tarefa descomunal pela mudança que trará a

toda a sociedade. Os bancos têm que dar entrada a esse novo sistema, em conjunto

com o Banco Central, muito bem preparados.

Dentro da economia, não hesito em dizer que os bancos foram os que mais

investiram em tecnologia, pesquisa, equipamentos, softwares e hardwares, para

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prestar o melhor atendimento. Os atendimentos automáticos ou auto-atendimentos

foram o resultado de um grande esforço dos bancos para oferecer opções no

atendimento bancário.

Lembro aos senhores que há no País um sistema de pagamentos e de

recebimentos, em que se presta serviços às concessionárias de serviços públicos.

Trata-se de um volume descomunal de contas de valor pequeno. Várias vezes o

PROCON trabalhou conosco no sentido de conversar com as concessionárias, que

elas deveriam unificar os valores de contas e cobrar a períodos mais extensos.

Contas de valores pequenos, por exemplo, deveriam ser unificadas em período de

três meses. Tudo isso por quê? Porque havia um grande volume. Seria impossível

abrir agências em quantidade para eliminar filas. Referimo-nos a um sistema de

recebimentos, que não é uma atividade bancária. Sou o mais velho do Plenário, na

década de 40, existiam as corretorias estaduais e federais que arrecadavam tributos

e as concessionárias tinham suas agências para recebimento de contas. Houve uma

evolução recente, o Banco Central autorizou a criação dos chamados agentes

correspondentes, em que seria possível fazer a pulverização do serviço de

cobranças de contas de valores menores.

Fez-se um grande investimento no setor financeiro. O que o setor investiu em

treinamento e continua investindo é fantástico. Esse setor é o que hoje tem o maior

investimento em formação de pessoal, para qualificá-los na execução de suas

funções.

Reafirmo, nosso sistema bancário é muito eficiente, de muita qualidade,

prestando excelentes serviços a este País, e é um dos mais sólidos e estáveis do

mundo. O Banco Central tem hoje um serviço de supervisão comparado aos

melhores do mundo, de modo que tem a fotografia do que acontece em cada

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instituição. Há reclamações de clientes encaminhadas ao Banco Central. Depois que

o Banco Central tem a informação do que aconteceu — e ele cobra isso num prazo

extremamente curto —, determina a retificação, o estorno, a devolução. O Banco

Central não deixa o cliente ir à Justiça reclamar, exerce a competência de forma

firme.

Claro que ocorrem erros e desvios. Num volume de 18 bilhões de transações

por ano, se fizéssemos uma relativização desses dados, veríamos que não há uma

expressão ou um material que questionem a qualidade dos serviços bancários

oferecidos.

Esse é o primeiro ponto a abordar.

O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – V.Sa. me desculpe. O senhor

reiterou este fato duas vezes — estou quebrando o protocolo —, se é tão irrelevante,

por que a ação?

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Chegarei a esse ponto.

O Deputado Celso Russomanno mencionou

a qualidade dos serviços bancários.

Esse é o primeiro ponto.

O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Desculpe-me, V.Sa. reiterou por

duas vezes esse fato — estou quebrando o protocolo — ; se é tão irrelevante, por

que a ação?

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Vou chegar nesse ponto.

Qual é o grande problema que estamos enfrentando? No intróito, mencionei

os riscos jurídicos. O risco jurídico reside na medida em que são propostas ações

coletivas por órgãos de defesa do consumidor em que se questiona operação ativa

ou passiva de instituição financeira. Por exemplo, operações de crédito imobiliário.

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As instituições financeiras pagaram aos depositantes de poupança o IPC, no Plano

Collor, e mutuários insurgiram-se nas operações ativas querendo pagar o BTNF e

não o IPC. Na Justiça, conseguiu-se provar, obtendo-se a decisão favorável do STJ

no sentido de que as instituições financeiras tinham direito à cobrança do IPC. Isso

foi uma ação civil pública ou uma ação civil coletiva. Em alguns Estados, liminares

suspenderam o pagamento até mesmo do principal das operações de crédito

imobiliário, um dos mais importantes para a economia, pelo que representa para a

realização do sonho da casa própria e para o fortalecimento da construção civil.

Esse é o único ponto que se discute. Quer dizer, é realmente não excluir dessa

relação de consumo o contrato bancário no que se refere à concessão de crédito, ao

custo do dinheiro, como lembrou Tereza Grossi, e da remuneração do passivo. Se

isso não foi colocado de forma clara, como lembrou S.Exa., talvez tenha sido

questão de redação, mas nossa visão é de obter o esclarecimento do regime jurídico

aplicável a essa parte específica do negócio financeiro.

Com relação ao oferecimento de cartão de crédito pelas respectivas

companhias sem que tenha sido solicitado, essa prática deve ter diminuído muito.

Essa prática começou quando esse produto foi-se tornando mais popular. Por ser

um meio de facilitação de pagamento, as instituições passaram a oferecer o produto.

Há recomendação expressa de todas as instituições para que essa prática não seja

adotada, bem como em relação às operações casadas, o seguro, lembrado por

V.Exa.

Essas operações subordinadas a outras nasceram há muitos anos em função

do critério de reciprocidade, mas diminuíram ao longo do tempo. Hoje os bancos

olham muito mais sua relação com o cliente. Em função de ser um conselheiro do

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cliente, este se aproxima da instituição financeira pela qualidade dos serviços que

ele oferece.

Mas não vamos nos iludir, a instituição financeira administra riscos, trabalha

com recursos do público. A instituição financeira tem o direito de zelar pela aplicação

e eficiência desses recursos. Quando V.Exa. mencionava a quantidade de

informações que o gerente pede para conceder crédito, lembrei-me de um filme...

O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO – Era uma informação anormal. É o

nível de relação com a sociedade.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Sr. Presidente, ainda disponho de

tempo?

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Se possível, gostaria que

V.Exa. concluísse a exposição para darmos oportunidade...

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - O crédito tem de ser objeto de análise

de risco. Se assim não procede, a instituição financeira está sendo imprudente, pode

estar fazendo uma gestão temerária.

Por exemplo, a preocupação com pequenas e médias empresas. Sempre se

diz que o setor precisa ser apoiado financeiramente. Temos grande dificuldade de

conhecer a situação econômica de pequena e média empresas, porque elas não

têm balanços que refletem de forma confiável os dados ali contidos para que se

possa fazer uma análise de crédito técnica, como acontece em todos os lugares do

mundo.

Quanto à inscrição do cliente em cadastros, entendo que a legislação precisa

ser aprimorada para que se possa fazer um cadastro não apenas negativo, mas

também positivo; com as qualidades do cliente, não apenas com seu lado ruim, que

é mais ou menos o que acontece atualmente.

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Eu também disse no início da exposição que há uma agenda de trabalho a

ser feita. Como filtra os grandes problemas que ocorrem na economia nacional,

principalmente nas empresas que vendem serviços, esta Comissão tem de fato um

rol de informações muito importante para nos ajudar a corrigir erros e buscar

soluções.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Passo a palavra à Dra. Tereza

Grossi.

A SRA. TEREZA GROSSI – Vou fazer apenas algumas observações rápidas,

uma delas sobre como fazer chegar o serviço bancário a um número cada vez maior

de usuários, o problema do pagamento das contas.

O Dr. Gabriel Jorge Ferreira mencionou o item correspondente bancário.

Entendemos que essa regulamentação, aprovada pelo Banco Central, surtirá

bastante efeito porque vai ser possível a qualquer banco fazer convênio com

comerciante de pequenas cidades ou vilas onde não seja possível instalar uma

agência bancária, passando esse comerciante a funcionar como prestador de

serviços bancários. Isso vai ajudar a disseminar o serviço bancário por locais onde

hoje não existem agências bancárias.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Desculpe-me, posso fazer uma

pergunta sobre algo importantíssimo?

A SRA. TEREZA GROSSI - Pois não.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - E nas cidades onde não

existem ou estão sendo fechadas as agências bancárias? Às vezes pessoas que

residem em pequenas cidades têm de se locomover para outra a fim de fazer

pagamento de conta. Como o Banco Central vai...

A SRA. TEREZA GROSSI – O correspondente...

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O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Mesmo fora do Município?

A SRA. TEREZA GROSSI - Mesmo fora do Município. Não é preciso haver

agência de banco no lugar para que haja correspondente.

Outro ponto importante que tem a ver com o consumidor é uma

regulamentação que aprovamos no Banco Central no ano passado. Refiro-me à

portabilidade, o direito do cliente de, se quiser mudar de banco, levar para o outro

seu histórico de crédito, todo o seu cadastro, o histórico do seu relacionamento com

a instituição. Isso melhora substancialmente a vida do consumidor de serviços

bancários.

Quero fazer uma observação sobre o problema do contrato em branco,

mencionado pelo Deputado Celso Russomanno. Na nossa resolução...

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sei o que consta da resolução.

A SRA. TEREZA GROSSI - Há um item que estabelece que o banco tem de

adotar medidas para entregar ao consumidor a cópia dos contratos que o

consumidor assinou.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Mas continua acontecendo de

forma diferente, Dra. Tereza Grossi. A Comissão de Defesa do Consumidor, Meio

Ambiente e Minorias, por intermédio do seu Presidente, tenho certeza absoluta,

participaria de uma fiscalização — a Comissão integra o Sistema Nacional de

Defesa do Consumidor, juntamente com o Banco Central — para verificar isso nas

agências bancárias. Não podemos generalizar, como disse o Dr. Gabriel Jorge

Ferreira, mas, na maioria dos bancos, encontraremos os contratos nas agências,

contratos

Eu não posso generalizar, como bem disse o Dr. Gabriel Ferreira, mas a maioria dos

bancos vai encontrar os contratos nas agências, contratos de gaveta de

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financiamento de automóveis principalmente, que não estão preenchidos. O

consumidor não tem a cópia do contrato e as notas promissórias assinadas estão

em branco.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Ainda vou franquear a palavra

por alguns minutos ao Dr. Gabriel Ferreira.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Eu gostaria muito de chamar os

ilustres convidados para fazermos um encontro lá na FEBRABAN. E devemos fazer

um encontro trazendo a diretoria, os diretores setoriais, pois estão representados os

que participam de todos os setores dentro de bancos. Eu acho que isso seria muito

proveitoso. Recebi depoimentos como esse.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Sr. Presidente, o Sr. Gabriel Ferreira vai

ter oportunidade até de prestar outros esclarecimentos nas próximas perguntas. Eu

estou aqui aguardando há muito tempo também. Se o senhor pudesse dar

continuidade aos trabalhos, depois S.Sa. poderia complementar nas respostas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Eu vou franquear a palavra ao

Deputado Luiz Ribeiro e, em seguida, ao Deputado Arlindo Chinaglia, para que no

final nós possamos alcançar todos.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, senhoras e senhores convidados,

quero agradecer a presença de todos. Eu vou tentar ser um pouco diferente. Eu vou

fazer perguntas, até porque eu não tenho a capacidade que o Deputado Luciano

Pizzatto e o Deputado Celso Russomanno têm de verbalizar as questões. Então, eu

vou direto às perguntas, até porque nós estamos tratando de instituições que não

são empresas quaisquer, são instituições que, pelos balanços e pelos lucros

apresentados, o Dr. Gabriel até nos disse que talvez sejam as melhores do mundo.

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Acredito que até nisso, em termos de apresentação de resultados, são as melhores

do mundo.

A primeira pergunta é para o Dr. João Batista de Almeida:

Dr. João Batista, eu fiz um tipo de interpretação quando o Dr. Gabriel Ferreira

falou. Até peço desculpas de novo, pois tive de usar da palavra naquele momento de

maneira até um pouco agressiva. Mas parece que as coisas estão mais ou menos

encaminhadas. Parece que o senhor é o Vice-Diretor que entrou com a ADIN da

CONSIF, não é? Veio uma interpretação. Quer dizer, talvez não esclarecendo muito

no primeiro discurso, mas, na visão do Ministério Público, o que realmente a

FEBRABAN quer? O senhor já tratou disso, mas eu gostaria que o senhor revelasse

a visão do Ministério Público. Com essa ação, com essa ADIN, o que que a

FEBRABAN quer na realidade?

Ao Sr. Gabriel Ferreira, as perguntas são as seguintes:

Apesar de o senhor ter dito que existe, o senhor não disse de quem é a

orientação para que os bancos não operassem em determinadas carteiras. Eu quero

saber do senhor se os bancos brasileiros operam em carteiras de turismo, em

carteiras cambiais, em carteiras de seguros e também em bolsas de valores. Quanto

representa isso no movimento dos bancos? Qual é o faturamento anual?

Eu sei que o senhor pode até responder dizendo que isso não tem a ver com

a nossa audiência pública. Mas seria bom se pudesse responder. Quantas

instituições são congregadas pela FEBRABAN? (Risos.)

O senhor também errou o nome do Celso. Então, está tudo certo.

Empatamos. (Risos.)

Qual é o faturamento mensal das instituições financeiras que compõem a

FEBRABAN?

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Com relação à minha segunda pergunta, à questão do turismo, à questão

cambial, à questão de seguro, etc., se existem bancos fazendo isso, o senhor na sua

ADIN deixou claro que essas carteiras operadas — não uma carteira específica para

contratação de crédito — estariam separadas? Ou seja, o Código de Defesa do

Consumidor valeria para elas ou não? Pergunto isso, porque vale para todas as

outras empresas que lidam com essas carteiras.

Os bancos apresentam lucros. Os senhor saberia dizer se esse lucro é

específico das transações financeiras ou se existem outros componentes que podem

oferecer esse lucro?

Para a Sra. Teresa Grossi, eu não tenho realmente perguntas. Quero

parabenizá-la pelo seu trabalho. Nós temos acompanhado o seu trabalho durante

muito tempo. Porém, o que se alega aqui da Comissão não é um puxão de orelha,

nada disso, mas um pedido: quando se tratar do consumidor, não deixe de trazer o

assunto especificamente ao conhecimento da Comissão, para que nós também

possamos dar a nossa opinião. Então, isso seria muito importante. Logo, não se

trata basicamente de uma pergunta.

Farei uma outra pergunta ao Sr. Gabriel Ferreira. O apresentou alguns

números. O senhor afirma que vocês têm um movimento de seiscentos milhões de

transações em dinheiro. Eu gostaria de saber se é seiscentos milhões ao mês. E o

senhor também afirma que só há uma reclamação até hoje no Banco Central. Eu

gostaria de saber qual é a periodicidade desses dados. E a outra refere-se a alguns

bilhões de transações. Eu gostaria de saber se são referentes a dia, a mês ou a ano.

(Pausa.)

É ao ano, não é? Então, não é preciso nem escrever essa pergunta.

Eu acho que essas perguntas são suficientes.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Passamos a palavra ao

Deputado Arlindo Chinaglia.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, senhoras e senhores convidados que nos honram com sua presença, eu

estou com uma impressão que eu quero tentar esclarecer aqui. Quando o Dr.

Gabriel Ferreira afirma que tão somente se busca com a ADIN impetrada pelo

CONSIF saber qual é o regime jurídico que deve reger a relação entre os clientes do

banco e as instituições financeiras, parece-me que a própria ADIN está contrariando

o que S.Sa. está dizendo, salvo melhor juízo. Aqui eles dizem:

“…inconstitucionalidade de expressão constante do §2º do art. 3º da Lei nº 8.078, o

Código de Defesa do Consumidor. Aí está dito: “Não incidência do Código de Defesa

do Consumidor sobre as operações ativas, passivas e acessórias do Sistema

Financeiro Nacional. Violação do art. 192 da Constituição Federal”. Veja: o senhor

disse que jamais a FEBRABAN haveria questionado o Código de Defesa do

Consumidor. Mas, se a essência da atividade e do lucro do Sistema Financeiro é

exatamente o que está contido nesta ADIN, parece-me que os senhores estão

questionando o Código de Defesa do Consumidor no que diz respeito às atividades

financeiras e bancárias. Se assim é, o senhor em dado momento da sua exposição

falou algo. Poderei não me lembrar exatamente das palavra usadas, mas creio que

retive o conteúdo. O senhor falou assim: “Neste momento histórico, o senhor me

parece ter encadeado a importância da estabilidade do sistema.” Isso é algo com o

que eu concordo. Mas, o óbvio se impõe. Em dez ou onze anos de existência do

Código de Defesa do Consumidor, independentemente das divergências que

tenhamos e temos em relação à orientação da política monetária do Governo, do

ajuste fiscal, etc., o fato é que o Sistema Financeiro foi o segmento de atividade

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econômica que mais lucrou no País com o Código de Defesa do Consumidor

vigendo. Ou seja, perdoem-me, mas não me convenci. Eu não vou dizer que seria

uma falácia, porque não quero ser agressivo. Mas colocar como pretexto que o

Código de Defesa do Consumidor é um risco à estabilidade do Sistema Financeiro

Nacional parece-me que é um argumento completamente despropositado.

Não cabem considerações de ordem econômica do País, de momento

histórico nem da Argentina e nem de panelaço, como alguns juristas inclusive

disseram na imprensa.

histórico nem de Argentina nem de panelaço, como alguns juristas inclusive

disseram na imprensa.

Pergunto ao senhor: na sua opinião, o cliente, o consumidor, ou melhor

dizendo, o cidadão é hiposuficiente frente ao banco ou não? A Dra. Tereza Grossi e

o Dr. João Batista, se entendi bem, em dado momento, justificando a resolução do

Banco Central, valorizaram, com razão, a importância do deficiente físico. Agora,

mesmo não sendo deficiente físico, pergunto também a Dra. Tereza Grossi, se ela

julga o cidadão, o consumidor ou o cliente hiposuficiente frente ao banco ou não.

Antecipo-me parafraseando Leon Trótski, que, ao explicar as injunções

políticas da correlação de força na sociedade, falou: “Quando um assaltante chega

para um cidadão, encosta-lhe uma arma no peito, ele fala: ‘de-me a carteira ou a

vida’.” Ali se faz uma negociação. Porém, naquela condição, não há negócio melhor

para o cidadão do que entregar a carteira. Mas é só imaginar um outro momento que

evidentemente entregar a carteira não é um bom negócio para aquele que não tinha

alternativa.

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Quero chegar nas taxas de juros, o que se pode chamar de contratos

leoninos. Pergunto a Dra. Tereza e ao Dr. Gabriel: que outro segmento ou atividade

econômica senão o sistema financeiro bancário pode ter lucros que extrapolem a lei

da economia popular? Não há. O único segmento que pode ter lucros de 1000%,

1400% é o sistema financeiro e bancário.

Parto do pressuposto que vocês questionam todo, com a defesa naquilo que

é essencial. Pior. Perdoem-me se eu estiver equivocado. Parece-me que a disputa

entre a FEBRABAN e o Governo é uma Batalha de Itararé, porque a imprensa está

dizendo que o Governo Federal concorda com o pleito principal dos bancos quando

ressalta que o Código de Defesa do Consumidor não pode questionar taxas e juros,

exatamente a arma no peito daquele que se socorre do banco.

O jornal Gazeta Mercantil, em matéria assinada por Daniel Pereira, diz: “Em

uma das petições, a CONCIF diz que os pareceres do Presidente Fernando

Henrique Cardoso, elaborado pelo Ministério da Justiça e o Banco Central e da

Procuradoria-Geral da República, ‘na aparência, contrários a ação, reconhecem que

o CDC...”

Pergunto a Dra. Tereza e ao Dr. Gabriel: O senhor mantém que é só na

aparência que o Governo Federal está contra a ação que a CONCIFE impetra? Dra.

Tereza, o Banco Central avalia — pergunta a mais direta possível. Quero que a

senhora entenda pelo menos a intenção da pergunta —, na sua opinião — pretendo

reproduzir o que aqui estamos conversando, por justiça —, o CONCIFE tem razão

no pleito? O Supremo Tribunal Federal deve atender o pleito ou deve manter a

prevalência do Código de Defesa do Consumidor?

Aproveito para pedir, se possível, o parecer do Banco Central por inteiro para

que, se possível antes do encerramento desta reunião, possamos tocar um pouco

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mais no assunto. Mas antecipo a preocupação. Vou buscar, se não agora,

posteriormente, o texto para saber qual é a verdadeira opinião do Banco Central.

Preocupou-me, quando, em dado momento, ficou a impressão de que houve má

interpretação da imprensa. Não que não possa ter havido, mas de repente — admito

como hipótese —, a imprensa pode estar percebendo aquilo que outros não estão.

Penso que a CONCIF entregou o ouro. Ao buscar o amparo do Presidente, do

Banco Central, da Procuradoria-Geral da República, entre outros que foram citados,

de repente pode ter falado a verdade. Quero saber se é isso mesmo. Perguntei se o

senhor reitera que é só na aparência que esses órgãos estão contra, no mérito, a

impetrada pelo senhor.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Com a palavra a Dra. Tereza

Grossi.

A SRA. TEREZA GROSSI – Primeiro, respondendo a manifestação do

Deputado Luiz Ribeiro, sabemos do interesse da Comissão em participar das

discussões que existem dentro do Banco Central sobre o que afeta o consumidor.

Pessoalmente, já estive algumas vezes discutindo com alguns Deputados,

como o Deputado Celso Russomanno e Luciano Pizzatto. O diretor Sérgio Darci(?)

tem um contato até mais estreito, porque é o diretor que trabalha com a parte das

normas. Dentro do possível, estamos sempre mantendo um contato bastante aberto.

Comprometo-me, no futuro, talvez tornar isso um hábito mais freqüente.

Com relação às perguntas do Deputado Arlindo Chinaglia, primeiro, se eu

considero que o cliente bancário é hiposuficiente. Nem todos; alguns, sim, outros,

não. Como mencionei anteriormente, a mudança que fizemos na resolução do

Banco Central foi exatamente para cobrir as necessidades do que consideramos

hiposuficiente, que é aquele que não tem capacidade de negociar. Uma grande

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empresa não precisa de um Código de Defesa do Consumidor. Ela tem capacidade

de negociação suficiente para fazer valer seus direitos perante o banco.

Com relação ao problema do código, se aplicaram ou não a taxa de juros.

Vamos conversar um pouco sobre o nível das taxas de juros no Brasil. O nível da

taxa de juros no Brasil é bastante alto. No início do ano passado, até março, havia

uma tendência descendente. Com todas as crises que aconteceram no exterior e no

Brasil também, tivemos que aumentar as taxas de juros durante o ano de 2001.

Recentemente, na última reunião do Comitê de Política Monetária, reduzimos um

pouquinho a taxa de juros básica da economia. Essa é a taxa que normalmente é

aplicada aos passivos.

Olhando do lado do ativo, temos que pensar nos prédios bancários. Os

prédios bancários no Brasil são altíssimos, por uma série de razões que, se

fôssemos discutir aqui, iríamos discutir talvez por horas a fio. O que é importante

nisso? Ao invés de querer tabelar taxa de juros, deixar para a Justiça a decisão se

aquela taxa de juros é justa ou não, o Banco Central vem tomando uma série de

medidas no sentido de reduzir os prédios. Se olharmos o tamanho dos prédios que

existiam em 1998, eles vêm numa curva descendente até por volta de março, abril

de 2001. De lá para cá, ele se estabilizou até porque as taxas de juros se

estabilizaram. Mas conseguimos reduzir os prédios de pessoa física em torno de

metade do que ele era, até março. De lá para cá, ele subiu um pouquinho. Hoje

imagino que, comparando com 1998, estejamos conseguindo uma redução entre

35%, 40%, com uma série de medidas que o Banco Central está tomando, para

fazer uma redução dos prédios. O que temos feito? Temos tentado dar mais

transparência às taxas praticadas pelos bancos. Divulgamos a nossa

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do spread. O que temos feito? Temos tentado dar mais transparência às taxas

praticadas pelos bancos. Divulgamos na nossa página as taxas praticadas por todos

os bancos. Isso não existia até 1999, é coisa nova.

Há uma série de outras medidas que vêm sendo tomadas pelo Banco Central,

no sentido de tentar reduzir o spread e vai ser nessa redução que vamos conseguir

a prática de taxas de juros menores. Conseguimos reduzir a taxa básica da

economia, por outro lado temos que reduzir os spreads e aí, então, vamos ter taxas

de juros menores de um dígito, que são praticadas em outros países na mesma

situação do Brasil — países emergentes que têm taxas de juros menores do que as

nossas.

Não vai ser com a decisão que vai ser possível mexer nos contratos

bancários, que se vai conseguir reduzir taxas de juros neste País, pelo contrário, o

efeito é outro e é muito ruim, porque vai haver uma redução da intermediação, uma

menor oferta de crédito. Seria a mesma coisa que, por exemplo, voltarmos à época

de tabelamento de preço no supermercado, de preço de carro e coisas dessa

natureza.

Respondendo à sua última pergunta sobre a decisão do Supremo, nossa

opinião já mencionei anteriormente. Entendemos que o código se aplica a tudo que

se refere a prestação de serviços bancários, com exceção das operações de

intermediação, que são as operações de crédito e de captação de depósitos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Com a palavra o Dr. Gabriel.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - (Inaudível.) também na linha do que

mencionou a Dra. Tereza, em parte.

Quem toma crédito, pressupõe obrigação de que deve devolver à instituição

financeira, porque está usando recursos de terceiros, e a instituição tem que dar

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crédito a quem tem capacidade de amortizar os encargos do financiamento dentro

dos prazos respectivos.

Na prática, em função das crises recentes, em que aumentou o nível de

inadimplência, as instituições financeiras têm tido uma grande compreensão e

renegociado dívidas de devedores que estavam com dificuldades em fazer seus

pagamentos, seja aumentando o prazo, seja até repactuando taxas.

Mas, o fato é que o crédito, da mesma forma que o passivo ou o depósito que

o lastreia, é atividade que delas não pode se dissociar, sob pena de causar aquele

desequilíbrio que mencionei.

Por isso, concluindo, já na outra pergunta do senhor, sobre o que se pediu ao

Supremo, é rigorosamente isso, que a relação consumidor e instituição financeira,

quando se tratar de operações de empréstimos ou operações de captação, essas

operações situam-se no âmbito da política monetária, portanto, sujeitas à regulação

e às normas emanadas do Conselho Monetário Nacional e executadas pelo Banco

Central .

A respeito dos lucros, discordo do senhor, quando diz que os bancos são as

únicas empresas da economia que têm resultados assim tão bons. Primeiro, caberia

fazer um reparo do porquê dos bancos brasileiros serem tão eficientes. Porque são

competentes, eles souberam adaptar-se. Vivemos, não se esqueçam, uma fase

longa de inflação, um período difícil, onde as instituições financeiras viviam do

chamado floating inflacionário e que depois tiveram que passar para o regime de

tarifas

Posso citar, se me permitirem, alguns agentes financeiros que não estão mais

nesse mercado, porque não foram capazes de se ajustar à mudança do regime

inflacionário para o regime de ter que viver de receita de crédito ou de tarifas. Só

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para lembrar alguns nomes: Bandeirantes, BANEB, BANERJ, BANFORT, BCN,

Bamerindus, BANORTE, BMD, Crefisul, Econômico, CINDAM, Interatlântico,

IOCHPE, Itamaraty, Marka, Martineli, Pontual, Real, ou seja, muitos quebraram,

muitos mudaram de dono, em função da dificuldade de se ajustarem.

Dou até outros exemplos de instituições que não quebraram, mas tiveram

dificuldades de obter o retorno do investimento feito pelos seus sócios. É o caso do

Bandeirantes, que a Caixa Federal de Depósito havia comprado; é o caso da

operação do Banco Boavista, que pertencia a Grupo Espírito Santo e que foi

comprado por uma instituição financeira brasileira; e recentemente o Itaú, que

adquiriu o Sudameris. Isso porque fizeram investimentos que se revelaram

inadequados. Os problemas que havia nesses bancos eram tantos que tinha que pôr

mais investimentos, então resolveram vender essas instituições ou fazer parcerias

que os livrassem desses problemas.

Essa fase de transição foi muito crítica. Os que não souberam administrá-la,

sucumbiram ou saíram do mercado ou deixaram de ser instituição financeira.

Os bancos investiram muito em consolidação, adquiriram instituições,

investiram muito em sistemas, buscando um fator essencial para o êxito de qualquer

instituição financeira, que é a redução de custos. Só assim ela pode ser eficiente na

atividade de intermediação financeira.

Quero dar um exemplo para o senhor, pegando um retorno sobre o patrimônio

líquido de algumas empresas brasileiras, que foram muito bem sucedidas e com um

patamar de retorno muito acima ao de bancos. Geralmente, olha-se os lucros dos

bancos de uma forma isolada, não se olha em relação ao retorno sobre o patrimônio,

sobre o capital que já investiram.

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(Não identificado) – Mas, nos balanços publicados em jornais o que sai é o

lucro líquido de banco.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Sim, o lucro líquido, mas se o senhor

olhar o balanço consolidado, que é aquele que congrega todas as companhias de

que os bancos participam, aparece um índice que é o retorno sobre o patrimônio.

Por exemplo, vamos pegar Souza Cruz: retorno sobre o patrimônio de 50,6%;

Embraer: 45,6%; Polialden: 40,6%; Petrobrás: 34,1%; Petróleo Manguinhos: 33,1%;

Itaú: 31,5%, que foi um dos resultados maiores. Citei para o senhor, como exemplo,

seis empresas e há tantas outras com retorno sobre o patrimônio acima de 20%.

Portanto, é uma questão de competitividade, de eficiência, de buscar valor

para acionistas, lembrando que os bancos são todas as empresas abertas, são

empresas de mercado, os fundos de pensão, que congregam economias de

trabalhadores, todos eles são grandes investidores em ações, inclusive em ações de

bancos. São grandes contribuintes de impostos, que remuneram adequadamente

seus acionistas e que agem com toda transparência.

Ao responder essa pergunta do Deputado, também respondi a uma das

perguntas do senhor.

(Não identificado) – Ainda não, Sr. Presidente, ainda não respondeu a

nenhuma das minhas perguntas. Só esclarecendo.

Para sistematizar, Sr. Presidente, as perguntas foram diretas. Tanto minhas,

quanto do Deputado Arlindo Chinaglia. Já são quase 17h, Sr. Presidente, daqui há

alguns minutos poderemos ser chamados.

Vimos o Dr. Gabriel, a Dra. Tereza escreverem as perguntas, então têm que

disciplinarem suas respostas de maneira sistemática, ou seja, o senhor respondeu

apenas as perguntas do Deputado Arlindo Chinaglia, as minhas, o senhor não

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respondeu. Após, ainda há as do Dr. João. São perguntas objetivas. Então, por

favor, se o senhor pudesse — solicitando a vênia do Presidente...

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Posso até verificar se terminei as

perguntas

são perguntas objetivas. Então, por favor, se o senhor pudesse... Eu até, solicitando

a vênia do Presidente...

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA - Eu só queria verificar se eu terminei

as perguntas do senhor...

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Pois não, Deputado Arlindo

Chinaglia.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - Eu queria, então, Sr. Presidente,

aproveitando que eles ainda vão procurar responder as perguntas do Deputado

Ribeiro... Comentando as respostas, eu fiz uma pergunta ao Dr. Gabriel que ele não

respondeu. Se em sua opinião é apenas aparente a contraposição do Banco

Central, do Ministério da Justiça, da Procuradoria-Geral da República, como está,

entre aspas, em uma reportagem, atribuindo-se ao CONSIF a segunda petição do

CONSIF. Então, gostaria que o senhor respondesse porque eu estou... A Dra.

Tereza falou: no que diz respeito à taxa de juros, nós achamos que o Código de

Defesa do Consumidor não deve agir. O que eu interpreto, até, para a senhora, caso

queira me corrigir que, naquilo, em minha opinião, que é mais importante para os

bancos, para a FEBRABAM, para o CONSIF, o Banco Central está de acordo.

Porque, quando o Presidente da FEBRABAM relata que busca e questiona a ação

do Código de Defesa do Consumidor no que diz respeito à captação e empréstimos

— eu poderia até para, digamos, ilustrar, perguntar para o senhor, o que é que dá

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mais dinheiro para bancos, que não seja captação e empréstimo. Isso é a essência

da lucratividade.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – É, a essência da lucratividade.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Os senhores, então, estão

questionando a essência do Código de Defesa do Consumidor para a essência da

atividade dos senhores. Então, não pode ficar aquela situação. Há um político

famoso que fala: eu não tenho dinheiro lá fora. Mas, ao mesmo tempo, aciona

grandes escritórios jurídicos para guardar o dinheiro para ele.

Então, o senhor não pode... senão ficaríamos incomodados... Acho que é

melhor dizer: nós questionamos o Código de Defesa do Consumidor para a essência

da nossa atividade, porque acho que fica bastante claro, até porque está escrito.

Caso contrário, fica uma tentativa mal sucedida, pelo menos aqui, de não

entendermos, sequer, o que se busca. Observe, vocês estão procurando o

instrumento. Depois de outras tentativas, vocês se socorrem do último órgão que

pode dar uma decisão favorável.

E eu estou tentando, simplesmente, consolidar aquilo que é, para mim, o

óbvio: o sistema financeiro, os bancos, a FEBRABAM, o CONSIF, que questionam o

Código de Defesa do Consumidor, sim, naquilo que é o essencial para o

consumidor, para o cliente, e naquilo que, em contrapartida, é o essencial para os

bancos.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Não, eu não diria naquilo que é

essencial para o cliente. Eu diria que, quando o Código diz que se aplica às

operações bancárias e creditícias, todas as imposições daquele Código, inclusive o

direito de invocar a teoria da imprevisão, e justificar, então, um pedido em juízo para

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modificar um contrato, e reduzir uma taxa de juros, ou mudar um índice de uma

operação financeira...

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – O Sr. me perdoe, Dr. Gabriel,

caso contrário perderemos tempo, e fica parecendo uma conversa entre surdos, mas

eu quero me fazer entender. Perdoe-me, se não estou sendo claro. Mas, observe, se

os bancos têm que cumprir normas que dizem respeito à política monetária...

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Perfeito.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - ... que é definida pelo Governo,

o banco jamais terá prejuízo, porque, caso tenha prejuízo, ele vai se socorrer das

leis para cobrar do Governo: “vocês me meteram em uma fria”. Ou não é assim?

Eu estou aparentemente abstraindo, mas, até para não parecer que os

bancos são tão coitadinhos assim, mas os riscos que correm quando há

inadimplência, quando alguém não paga, isso faz parte do cálculo dos senhores

para cobrar pelos serviços de intermediação, ou não. Vocês devem ter estudos,

seguramente têm, que uma determinada parcela quebra, uma determinada parcela

não vai conseguir honrar o compromisso.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Sim, sim.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – E vocês compensam, porque é

próprio da atividade.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Mas isso aí significa descumprimento

de contrato que foram assumidos.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Mas vocês não terão prejuízos,

é isso que estou dizendo, não precisa atacar o Código de Defesa do Consumidor.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Não. Mas veja bem, acredito que aqui

continua havendo um equívoco de entendimento.

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O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Por favor, então.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – O que eu quero dizer, é que nós não

estamos insurgindo contra o Código de Defesa do Consumidor, e o respeitamos. E

reafirmo tudo isso aqui. O que estamos pedindo é que se defina o regime jurídico

aplicável à intermediação financeira, se é a legislação que administra a política

monetária, ou o Código do Consumidor, é isso.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Quando o senhor diz que não

está questionando, o senhor não me convence. Explicarei, para que a gente, pelo

menos, fique com divergências, mas bastante claras.

Vocês não querem que o Código de Defesa do Consumidor faça essa

regulação, é isso. Tanto é que vocês fazem uma ADIN, alegando

inconstitucionalidade. É isso. Aí o senhor faz de uma maneira eufêmica, mas quero

dizer ao senhor que não me convenceu, e creio que a ninguém que está nos

assistindo. Por quê? O senhor fala: nós simplesmente queremos que se defina qual

é o regime jurídico que irá regulamentar. Mas tem o pressuposto que não pode ser o

Código de Defesa do Consumidor.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Bem, o que estamos pedindo é que a

operação de intermediação financeira continue e seja reconhecida ou interpretada

pelo Supremo Tribunal Federal, de que é regida pela legislação aplicável ao sistema

financeiro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Dr. Gabriel, para o bom

andamento dos trabalhos, em função do adiantado da hora e compromissos com o

Plenário, esta Presidência pediria, na medida do possível, que o senhor fosse mais

objetivo nas respostas, e procurasse também não convencer. A sua resposta fica à

critério do Parlamentar, caso não o satisfaça.

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Para uma questão de ordem darei a palavra ao Deputado Luiz Bittencourt.

O SR. DEPUTADO LUIZ BITTENCOURT – Sr. Presidente, eu só queria fazer

uma colocação, aqui, até para auxiliar o Deputado Arlindo Chinaglia que, inclusive,

faz parte do material dessa sinopse que foi distribuído a nós no início dessa

audiência. E ele faz uma alusão, aqui, em um dos textos, dizendo o seguinte: “o

banqueiro pode comprar a mercadoria que ele adquire, que é o dinheiro, por menos

de 1% ao mês do seu consumidor do fundo de investimentos, e vendê-lo a mais de

10% ao mês para o seu consumidor de cheque especial, ou ainda, a mais de 14%

para o seu consumidor de cartão de crédito. Isso permite ao banqueiro um lucro de

1.000% no primeiro caso, e 1.400% ao mês, no segundo caso”. E ele faz, ainda,

uma comparação: “jamais um fabricante de calçados, para ficar com o exemplo do

ilustre advogado, poderia operar com tais margens, e se o fizesse, estaria infringindo

o disposto na Lei de Economia Popular, que limita o lucro a 20% sobre o custo,

mais, sobretudo, o fabricante de calçados não teria condições de mercado para agir

dessa forma”. Ele diz aqui, que, na realidade, é uma ilusão achar que o cliente de

um banco está lidando com a livre concorrência. Ele não está lidando com a livre

concorrência. Ele não pode atravessar a rua, e encontrar um outro banco com taxas

mais favoráveis, com condições mais favoráveis, com a prestação de serviços mais

favorável.

E, aqui, mais na frente, o outro texto volta a dizer o seguinte: “Isso se chama teoria

da lesão enorme, excesso de obrigação para uma das partes”. Então, fica bem claro

que o setor bancário quer fugir do Código de Defesa do Consumidor, porque, na

realidade, ele infringe essa lei. O consumidor é onerado, explorado, tem um serviço

de má qualidade, não tem como reclamar. O Banco Central não tem um serviço de

olho no olho. Tem um serviço estatístico, mas olho no olho não tem. Conheço

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pessoas que vão à agência bancária e são maltratadas, são obrigadas a fazer

contrato de gaveta, fazer aqueles serviços que são vendidos conjuntamente, e ele

não tem como reclamar. O Banco Central não tem esse serviço de olho a olho, ele

tem um serviço estatístico, ele não estabelece esse controle.

Então, a discussão no nosso caso, aqui, da Comissão, queremos trazê-la

para esse campo, que entendo ser a colocação que o Deputado Arlindo Chinaglia

está fazendo aqui. Se os bancos têm um lucro excessivo no Brasil, ou se têm um

lucro no País, não é pecado ter lucro. Mas entendo que não é só pela competência.

Existe uma reserva de mercado, existe uma condição de favorecimento das

empresas bancárias, em que eles são favorecidos por essa situação.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sr. Presidente, só queria

concluir a minha participação, pois estava na reta.

(Intervenção inaudível no plenário.)

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Agradeço, mas acho que é útil

para nós.

Quero encerrar dizendo à Dra. Tereza e aos demais candidatos que na

exposição do Dr. João Batista — e eu até gostaria de ter mais tempo para perguntar

algumas de suas opiniões —, quando ele, literalmente, ponto a ponto, mostra frente

ao Código de Defesa do Consumidor, digamos, a falta de necessidade daquela

resolução

Literalmente, ponto a ponto, mostra frente a defesa do consumidor, digamos, a falta

de necessidade daquela resolução do Banco Central. V.Sa. ao dizer que concorda

que o consumidor não pode ou que não deva questionar a taxa de juros...

A SRA. TEREZA GROSSI – Só um minuto, por favor.

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O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - Na hora que couber, de acordo

com a Presidência.

A SRA. TEREZA GROSSI – Só um minuto.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Pois não.

A SRA. TEREZA GROSSI – Não disse que o consumidor não deva

questionar a taxa de juros. Não é isto. O que disse é que o contrato assinado,

pronto, precisa ser levado até o fim. Este é o ponto. Não é a Justiça que depois de o

contrato assinado e a taxa de juros aceita que vai dizer que aquela taxa não deve

ser aplicada, que tem de ser outra. Este é o meu ponto. O consumidor deve, sim,

questionar a taxa de juros alta, deve questionar a taxa de juros altíssima do cartão

de crédito, deve questionar a taxa de juros do cheque especial, não deve usar o

cheque especial. Ele tem todos os direitos. A partir do momento que o consumidor

chegou a um acordo com o banco, que assinou um contrato, daí temos um

documento acordado entre as partes. Se não existirem cláusulas dentro daquele

contrato que possam indicar que o consumidor foi enganado não há porque aquele

contrato não ser levado ao final.

Então, quando se fala de taxa, de como se está remunerando o depósito e

qual a taxa aplicada ao contrato, vamos imaginar uma hipótese, por exemplo. A taxa

de juros básica da economia, hoje, é de 18,75. Então, vou a um banco e aplico o

dinheiro a 18.75, ok? Só existe esta operação no banco, não tem outra. Uma outra

pessoa vai lá para retirar aquele dinheiro emprestado. Então, apliquei 1 mil reais e

uma outra pessoa vai lá e retira mil reais emprestado. E vamos, por hipótese, do

jeito que estou dizendo que hoje o spreed da pessoa...

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Já entendi.

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A SRA. TEREZA GROSSI - Então, vamos que eu aplique 20 a 25 no ativo.

Daí, essa pessoa do 25 vai lá no juiz e o juiz fala: “ não, não são 25, são 12”. Se

recebo 12 no ativo como vou pagar 18.75 no passivo?

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - V.As. tem razão.

A SRA. TEREZA GROSSI - É esta relação que estamos dizendo que não

pode ser alterada por uma decisão judicial, senão desequilibra e quebra o banco.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Para ajudar V.Exa.,

Deputado Arlindo Chinaglia.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sr. Presidente, só para concluir,

com licença. Veja, neste aspecto ao invés de o Banco Central — e não sei, por isso,

gostaria de ler — no seu posicionamento frente ao pleito apresentado pela

FEBRABAN tem que ter cuidado, porque se concordar na essência com aquilo que a

FEBRABAN reivindica V.Sa. vai abrir de tal monta a possibilidade que o consumidor

vai ser, digamos assim, hiposuficiente. Portanto, os casos individuais ou esses

casos que V.Sa. relata como hipótese, entendo perfeitamente, não podem ocorrer

uma situação onde de um lado recebe-se muito e de outro lado paga-se pouco ou

vice-versa. Estes casos específicos podem e devem ser regulamentados, porém

preservando-se as linhas gerais do Código de Defesa do Consumidor, senão dar-se-

á o inverso.

A SRA. TEREZA GROSSI - Posso ler novamente o que li no início?

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Pois não, Deputado

Celso Russomanno.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Um aparte só para orientar a

discussão. Veja, a questão é a seguinte: todos os contratos são discutidos não pela

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taxa de juros praticada no contrato como um todo, mas pelos juros sobre juros e

pelas cláusulas abusivas que estão constando deste contrato. É em cima deste

parâmetro que as ações estão correndo na Justiça.

Veja, se V.Sa. está dizendo que concorda que os contratos possam ser

discutidos no que diz respeito a suas cláusulas abusivas citadas no Código de

Defesa do Consumidor e nulas de pleno direito, dentre estas cláusulas existem

cláusulam de cobrança de juros sobre juros, multas que não estão amparadas no

Código de Defesa do Consumidor, que são multas superiores a 2% e uma série de

outros aspectos.

A SRA. TEREZA GROSSI - Também somos contra a cobrança de multas

altas.

(Não identificado) - Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Só para colocar os trabalhos em ordem,

Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Vamos assegurar a

palavra ao Deputado Luiz Ribeiro.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Vou ser obrigado a ser indelicado com

os companheiros e também com os convidados.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - Mas, Deputado Luiz Ribeiro, é

um segundo.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Sr. Presidente.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Nesta hipótese que V.Sa. fez

jamais o Código de Defesa do Consumidor ...

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O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Sr. Presidente, vamos colocar os

trabalhos em ordem.

O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA - ... ou a Legislação daria uma

atenção contrária aos bancos. Para isso, não é necessário alterar. Só isso. Nesta

hipótese que V.Sa. levanta a Justiça garantiria o interesse do banco.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Com a palavra o Dr.

Gabriel Jorge Ferreira para dar seqüência às perguntas.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Sr. Presidente, para colocar os trabalhos

em ordem. Fiz perguntas e até agora — estou aqui desde às 14h, como todos os

companheiros — não obtive resposta. Gostaria de obter respostas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – É o que estamos

fazendo.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – O que está acontecendo, Sr. Presidente,

é que a discussão se transformou em um monólogo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Deputado, é o que

estamos fazendo e vamos assegurar a palavra.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Gostaria de obter esta resposta e depois

vou me retirar de deixar a Comissão sem nenhum tipo de problema. Agora, preciso

das minhas respostas, só isso.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Com a palavra o Dr.

Gabriel Jorge Ferreira, atendendo e respondendo às perguntas do Deputado Luiz

Ribeiro.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – V.Exa. me perguntou, inicialmente, se

as operações tipo atividade de turismo, atividade de seguro ou de cartões de crédito,

se estas operações estariam abrangidas também pelo requerimento...

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O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Corrigindo, perguntei o seguinte. V.Sa.

falou em discurso que existiam recomendações, mas não disse de quem, para que

os bancos parassem determinadas atividades. Hoje, um banco é um supermercado

de vários serviços e dentre deles consta turismo, títulos cambiais — não sei se é

primário de banco, não sei —, vários tipos de seguros, bolsa de valores. E, por

exemplo, quanto a turismo e seguros tenho certeza de que o Código de Direito do

Consumidor é válido e na sua totalidade tem de ser aplicado. A minha pergunta —

ajudado pelo Deputado Arlindo Chinaglia — é se na sua ADIN foi retirado este

serviço para que o Código de Defesa do Consumidor possa agir dentro do banco

nestas questões, pelo menos nestas: turismo, seguros.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Veja bem, turismo é uma companhia

autônoma.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Sim ou não, por favor? Na sua ADIN.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Não.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – A segunda questão, por favor.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – V.Exa. me perguntou quem são os

associados da FEBRABAN.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Quantos são os associados, quantas

instituições o V.Sa. tem?

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – A FEBRABAN tem hoje cerca de 120

associados: bancos comerciais e bancos múltiplos.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Cento e vinte associados.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Cerca de, não tenho o número certo.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Perfeito, sem problema. Quanto o

faturamento mensal?

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O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Não tenho este número.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Mas V.Sa. poderá mandar, com certeza.

Quanto a outra pergunta acabei esquecendo. Demorou tanto tempo para

conversarmos que acabei esquecendo. Não sei se V.Sa. anotou.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Não, foi o que anotei, Deputado.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO – Muito obrigado, reservando o direito a

minha réplica, e possível tréplica, porque até agora não obtive a resposta. Gostaria

da resposta a minha pergunta feita ao Dr. João Batista de Almeida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Com a palavra o Dr. João

Batista de Almeida.

O SR. JOÃO BATISTA DE ALMEIDA – Inicialmente, farei um

esclarecimento. A autora da Ação Direita de Inconstitucionalidade é a Confederação

Nacional do Sistema Financeiro — CONSIF, que é composta por quatro federações.

A primeira delas é a Federação Nacional dos Bancos. Não é a FEBRABAN. Não sei

porquê, mas é a Federação Nacional dos Bancos. Portanto, talvez seja interessante

convocar alguém da Federação Nacional dos Bancos.

Segundo ponto, a pergunta do Deputado é direta: o quê a FEBRABAN com a

ADIN nº 2.591 ou o que a CONSIF quer com a ADIN nº 2.591. Bom, isto consta do

pedido da ação. É muito simples. A CONSIF quer que o Supremo Tribunal Federal

declare com eficácia ex tunc — esse é um detalhe importante — a

inconstitucionalidade da expressão “inclusive de natureza bancária financeira de

crédito e seguritária constante do art. 3º § 2º

Bom, isso consta do pedido da ação. É muito simples, a FUNCIF, quer que seja

declarada.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ SEM REVISÃONome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0154/02 Data: 20/03/02

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – V.Sa. pode aproximar o

microfone um pouco.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – A CONSIF quer que o Supremo

Tribunal declare como a eficácia ex tunc. Este é um detalhe importante, a

inconstitucionalidade da expressão, inclusive, de natureza bancária, financeira, de

crédito e securitária, constante do art. 3º, parágrafo 2º, da Lei nº 8.078, de 1990, que

é o Código de Defesa do Consumidor, em face da pretendida afronta aos comandos

dos artigos 5º e 192, da Constituição.

Ele quer a inconstitucionalidade, essa expressão. Se o Supremo julgar

procedente a ação direta de inconstitucionalidade, tornar-se-á inconstitucional, não

terá eficácia esse artigo. Portanto, o banco estará fora do Código de Defesa do

Consumidor. Tudo o que está relacionado a banco está fora do Código de Defesa do

Consumidor.

(Não Identificado) – Mesmo naquela hipótese da área turismo trabalhando

dentro do banco, do supermercado?

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Entendo que não. É uma outra

empresa que trabalha dentro do banco. A BB-TUR é uma outra empresa que está

dentro do banco, não é o Banco do Brasil. A BB-TUR é uma empresa vinculada ao

Banco do Brasil.

(Não Identificado) – Então haveria esse entendimento?

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Mas o que é ligado a banco, não a

outras coisas, seria inconstitucional, quer dizer, não poderia ser aplicado o Código

de Defesa do Consumidor às relações bancárias, vamos dizer assim.

O grande perigo está aqui: com eficácia ex tunc. Significa que, desde a

vigência do Código de Defesa do Consumidor, que foi em setembro de 1991.

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(Não Identificado) – Entendi, essa expressão quer dizer “desde de setembro

de 1991”, todas as possíveis ações que tiverem.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – É. A outra expressão é ex nunc, a

decisão do Supremo para frente, do dia que ele julgar a ação para frente. Ex tunc é

para trás, retroativo. Então afeta todas as ações que estão em andamento hoje, em

qualquer nível de tribunal, enquanto não julgado em caráter definitivo.

É lógico, se ela é inconstitucional, é inconstitucional desde lá de trás. Não

seria inconstitucional desde agora. Daí a razão de se pedir eficácia ex tunc, desde

lá de trás. Isso quer dizer que os consumidores que estão brigando hoje na justiça,

as associações que têm ações em andamento, serão afetados com a declaração de

inconstitucionalidade.

Frisando bem, a CONSIF pediu apenas a declaração da inconstitucionalidade.

Se julgada a ação procedente, declara-se inconstitucional. Se for julgada

procedente, é inconstitucional; se for julgada improcedente, é válida a expressão

que consta do Código de Defesa do Consumidor.

Aí temos outra posição, temos de abordar. Peço um pouco de tempo para

esclarecer isso. Temos umas variantes aqui que foram colocadas pelos pareceres

que constam dos autos. Primeiro, a informação da Presidência da República, na

verdade, é assinada pelo Presidente da República, encaminhando as informações

elaboradas pela Advocacia Geral da União. Na verdade, é um parecer do Ministro da

Justiça, do Procurador Geral do Banco Central. Esse parecer foi encampado pela

Advocacia Geral da União. O que há de diferença entre a petição inicial da CONSIF

e as informações da Presidência da República, é que as informações dão um passo

além. Elas concordam que o Código é constitucional, sim, aplica-se aos bancos.

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Porém, a Presidência da República pede que haja uma interpretação conforme a

Constituição.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Realmente, V.Sa. está

falando um pouco baixo. Aquele microfone é melhor. Realmente, não entendemos

essa parte.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Queria mostrar que há um passo adiante,

houve uma evolução. Se me defendo apenas da ADIN, estou defendendo uma ação

que foi pedida a inconstitucionalidade, simplesmente. Ou é constitucional ou é

inconstitucional. As conseqüências já sabemos. Mas uma informação da Presidência

da República que encampa Banco Central ou Advocacia Geral da União é dado um

passo adiante. Eu vou ler.

“Logo, requer seja julgada improcedente a presente ação direta de

inconstitucionalidade”. Até aqui é igual à inicial, conferindo-se a expressão ‘incluindo

a de natureza bancária, financeira de crédito e securitária, constante do art. 3º,

parágrafo 2º do Código de Defesa do Consumidor’. Não a interpretação conforme a

Constituição, toma o emprego do instrumento previsto no parágrafo 1º, com o art. 28

da Lei nº 9.868, de 10 de novembro de 1999, excluindo da aplicação do Código de

Defesa do Consumidor o custo das operações antigas e a remuneração das

operações passivas praticadas por instituições financeiras no desempenho da

intermediação do dinheiro na economia, de modo a preservar a competência

constitucional da Lei Complementar do Sistema Financeiro Nacional.

Se o Supremo julgar improcedente, o Supremo não pode fazer interpretação

conforme. Se julgou a ação improcedente, é constitucional. Se é constitucional, não

tem interpretação. Mas o fato seguinte, o Procurador Geral da República emitiu um

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parecer. O parecer é mais ou menos igual o da Presidência da República com uma

variação.

“Opino seja julgada procedente, em parte, a ação para declarar a

inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, a expressão ‘inclusive a de

natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, inscrita no art. 3º, § 2º, da Lei

nº 8.078’, para mediante interpretação conforme a Constituição, tal como

preconizado pelo Ministro de Estado da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, e pelo

Procurador Geral do Banco Central do Brasil, Carlos Eduardo da Silva Monteiro,

afastar a exigência que inclua naquela norma do Código de Defesa do Consumidor “

o custo” nas operações ativas e a remuneração das operações passivas praticadas

por instituições financeiras no desempenho da intermediação do dinheiro na

economia de modo a preservar a competência constitucional da Lei Complementar

do Sistema Financeiro Nacional, incumbência atribuída ao Conselho Monetário

Nacional, Banco Central do Brasil, nos termos da Constituição da República.

Praticamente, o Procurador Geral encampou as informações, o parecer da

Presidência da República, mas ele corrigiu uma falha das informações do

Presidência da República. Se julgou improcedente, não tem interpretação conforme

a Constituição. Se julga procedente, parcial, em parte, aí declara-se a

inconstitucionalidade parcial sem a redução de texto. Significa que não retiro do art.

3º, parágrafo 2º aquela expressão ‘inclusive de natureza bancária, financeira, de

crédito e securitária’. Não retiro, continua lá no Código. Mas dou alcance muito

menor através da interpretação conforme a Constituição.

Esse é o grande perigo. Temos três posições diferentes, uma corrigindo a

outra, porque a petição inicial não pede interpretação conforme. Isso foi pedido pela

Presidência da República, mas de maneira equivocada a improcedência.

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Improcedência não leva interpretação conforme. Já o parecer do Procurador Geral

corrige e pede procedência em parte para declarar inconstitucionalidade parcial sem

redução de texto.

Então em termos de público, a solução é boa. Todos estão pedindo a

constitucionalidade no Código de Defesa do Consumidor, só que o efeito pode ser

desastroso. Onde está escrito operações ativas e a remuneração das operações

passivas praticadas por instituições financeiras, por exemplo, no desempenho da

determinação de dinheiro na economia significa que tudo que é relacionado a juro

está fora do Código de Defesa do Consumidor. Mas falar de cláusula abusiva, se

houver fraude, aí, fica para depois. No caso a caso, até lá, já foi declarada de

maneira oblíqua a inconstitucionalidade. O efeito será o mesmo. Declara-se

inconstitucional, mas na prática será uma inconstitucionalidade de via oblíqua,

porque conseguiu o resultado que queria.

Essa é a posição do Procurador Geral. Não é necessariamente a minha.

Entendo que, em momento algum, pretendeu-se colocar no Código de Defesa do

Consumidor a fixação do juro como instrumento de política monetária. Isso está fora

do Código. Se o Supremo disser isso, ótimo, nisso estamos de acordo. Mas se

disser isso que foi pedido, temos sérios motivos para preocupação. O Consumidor

ficará totalmente desamparado em matéria de relacionamento com banco, em

matéria de cobrança de juros abusivos, excessivos, duplicidade, (inaudível), porque

tudo isso ficará fora.

(Não Identificado) – Sr. Presidente, penso que estamos chegando ao

encerramento desta audiência pública. O nosso objetivo era analisar tudo o que

ocorreu e termos uma posição desta Comissão.

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Evidentemente, a conseqüência de toda a audiência pública, pelo Regimento

Interno da Casa é um relatório. Tudo o que foi dito aqui hoje, a palavra do Ministério

Público, do Presidente da FEBRABAN, da ilustre Dra. Tereza Grossi, dos

consumidores, através do IDEC, e do Governo, através do Ministério da Justiça,

DPDC, estão registradas e isso vai gerar um relatório. Fica evidente que a única voz

aqui, se estiver errado, Dra. Tereza, corrija-me, o Promotor e o IDEC

Caso eu esteja errado, peço que a Dra. Tereza Grossi ou o promotor me

corrijam, mas, em minha opinião e de acordo com o que foi dito pelos Parlamentares

e pelos expositores, a única voz a concordar com a anulação dos direitos do

consumidor constantes do Código de Defesa do Consumidor é a FEBRABAN. Afinal,

trata-se de relação de consumo quando um cliente solicita dinheiro emprestado a

determinado banco, pois o produto que o banco tem para vender é o dinheiro, cujo

custo é o preço do juro. Nenhum expositor, o Ministério Público ou esta Casa

defende tal posição.

Por isso, o relatório desta audiência pública deve ser feito no sentido de

repudiar a atitude da FEBRABAN. Isso deve ser feito com urgência. Além disso,

nosso relatório precisa ser encaminhado ao Supremo Tribunal Federal para que,

antes de se manifestar, esse órgão saiba qual a posição desta Casa, que é aquela

expressa nos resultados das reuniões desta Comissão de Defesa do Consumidor,

Meio Ambiente e Minorias.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem, pois desejo fazer a réplica.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Sr. Presidente, eu havia feito uma

pergunta ao Dr. João Batista de Almeida, Coordenador da Terceira Câmara do

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Ministério Público Federal, pois, no início, tinha me empolgado com o assunto. Em

minhas indagações, procurei não fugir ao objetivo da reunião, que era discutir uma

resolução do Banco Central à luz do Código de Defesa do Consumidor.

Na realidade, quem está sub judice não é o Procurador-Geral da República,

Dr. Geraldo Brindeiro, ou a Câmara dos Deputados, mas o próprio Código de Defesa

do Consumidor, que pode ser representado pelo consumidor. E é isso o que está

ocorrendo neste momento, como já foi dito. O assunto está dependendo da posição

a ser tomada pelo Supremo Tribunal Federal.

Como meu pai sempre me disse, a verdade sempre está, mais ou menos, no

meio daquilo que fala uma pessoa e outra. Às vezes, nem mesmo no meio do

caminho está a verdade. Isso era o que meu pai dizia, e, por isso, sempre levo a

sentença em consideração.

Em minha opinião, a última exposição do Dr. João Batista de Almeida deixou

claro aquilo que a FEBRABAN não disse logo no início da reunião. É lógico que,

após o parecer da Procuradoria-Geral da República, essa entidade pode ter mudado

de posição. Se a inconstitucionalidade for declarada, a questão nem sequer precisa

ser discutida aqui. Por isso, a FEBRABAN ficou em posição confortável.

A posição expressa pela Dra. Tereza Grossi, que creio ser a do Banco Central

e a do Governo Federal, também foi sempre muito clara. Desde o primeiro momento

de sua exposição, ela disse que aquilo que o Banco Central queria e quer com a

Resolução nº 2.878 é exatamente isto: separar as relações de consumidores, apesar

de avançar em alguns aspectos mal definidos, como a questão dos deficientes

físicos. Por outro lado, deixou-se claro que não poderia haver ingerências maiores

do Código de Defesa do Consumidor na questão dos juros.

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É evidente que a Justiça deve ser procurada sempre que alguém se sentir

prejudicado. E não é uma resolução ou uma decisão de nossa parte que poderá

impedir esse acesso.

Como disse o Deputado que me antecedeu e ajudado pela exposição

absolutamente clara do representante do Ministério Público, creio ser necessário

que o relatório expresse de maneira franca aquilo que escutamos. Não podemos

tirar conclusões, mas devemos mostrar claramente os caminhos, ou seja, o que

cada setor deseja.

Não estou dizendo que isso influenciará qualquer decisão. Nenhum Ministro

do Supremo Tribunal Federal será influenciado por qualquer posição de nossa parte,

mas temos de expressar o pensamento da Câmara dos Deputados.

Estamos reunidos desde as 14 horas. Sei que todos os presentes são

dotados de paciência cristã, pois estão nos aguardando enquanto falamos uma série

de bobagens. Agradeço-os por essa paciência.

A minha réplica é no sentido de que precisamos encaminhar ao Supremo

Tribunal Federal, o mais rápido possível, o relatório desta audiência pública.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Esta Presidência

concede, de maneira improrrogável, três minutos ao Dr. Gabriel Jorge Ferreira e ao

Dr. Marcos Diegues, a fim de que encerremos esta reunião de audiência pública.

O SR. GABRIEL JORGE FERREIRA – Sr. Presidente, creio não precisar dos

três minutos que me foram concedidos.

Desejo apenas reafirmar aquilo que já disse algumas vezes, para que não

haja qualquer equívoco. Refiro-me ao fato de que a nossa defesa e postulação é de

que a atividade própria das instituições financeiras continua regida pela política

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monetária, que é de competência exclusiva do Conselho Monetário Nacional e do

Banco Central do Brasil. Os pareceres e relatórios aqui lidos pelo Dr. João Batista de

Almeida caminham nessa direção.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Tem a palavra o Dr.

Marcos Diegues.

O SR. MARCOS DIEGUES – Sr. Presidente, eu estava morrendo de vontade

de responder à pergunta feita pelo Deputado Arlindo Chinaglia. Estava sendo difícil

chegar a essa resposta. Sei que tenho um modo diferente de responder às

perguntas que me são feitas, apesar de considerar que o Dr. João Batista de

Almeida deu uma aula a respeito daquilo que realmente consta da ADIN.

A verdade é que esta Federação e as instituições financeiras desejam que o

Código de Defesa do Consumidor não valha para as suas relações.

Sinto-me inserido em um grande mal-entendido. Citei declarações publicadas

na imprensa, mas tais declarações não foram feitas. Pedi a revogação de parte do

Código de Defesa do Consumidor, mas não é isso o que querem a FEBRABAN ou a

CONSIF, Confederação Nacional do Sistema Financeiro. Aliás, vale registrar que a

Confederação abrange as administradoras de cartões de crédito, que nada tem a ver

com as questões das instituições financeiras ou com a tese da necessária lei

complementar.

O próprio advogado da Confederação foi aos jornais para dizer não possuir o

hábito de escrever sobre as causas que patrocina e que estão sub judice. No

entanto, desde o dia 27 de dezembro, os advogados não têm feito outra coisa senão

plantar artigos de opinião nos grandes jornais, tentando explicar a posição das

instituições financeiras, que não é aquela escrita no papel, como bem disse o Dr.

João Batista de Almeida.

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Já que as instituições financeiras são tão bem intencionadas, encerro minhas

considerações deixando uma proposta: que vocês desistam da ADIN e coloquem no

papel que apenas querem, pura e simplesmente, que não seja feita, pelo Código de

Defesa do Consumidor, a fixação da taxa de juros. Esse é o meu desafio.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Não havendo mais quem

queira fazer uso da palavra, declaro encerrada a presente reunião, antes

agradecendo aos expositores e aos demais convidados a presença.

Convoco reunião ordinária para a próxima quarta-feira, às 9 horas, quando

espero contar com a presença de todos os membros desta Comissão.

Está encerrada a reunião.