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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL EVENTO: Audiência Pública N°: 000134/01 DATA: 29/03/01 INÍCIO: 10:38 TÉRMINO: 12:19 DURAÇÃO: 1:41:00 TEMPO DE GRAVAÇÃO: 1:44:00 PÁGINAS: 42 QUARTOS: 21 REVISORES: DEBORA, LUCIENE FLEURY, CLÁUDIA LUIZA SUPERVISÃO: ESTELA, NEUSINHA, ZUZU CONCATENAÇÃO: LÍVIA COSTA DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO ARNOLD WALD – Jurista e Professor SUMÁRIO: Debate acerca do tema “A Globalização dos Mercados e a Reforma do Sistema Financeiro Nacional”. OBSERVAÇÕES Há termo ininteligível.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONALEVENTO: Audiência Pública N°: 000134/01 DATA: 29/03/01INÍCIO: 10:38 TÉRMINO: 12:19 DURAÇÃO: 1:41:00TEMPO DE GRAVAÇÃO: 1:44:00 PÁGINAS: 42 QUARTOS: 21REVISORES: DEBORA, LUCIENE FLEURY, CLÁUDIA LUIZASUPERVISÃO: ESTELA, NEUSINHA, ZUZUCONCATENAÇÃO: LÍVIA COSTA

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOARNOLD WALD – Jurista e Professor

SUMÁRIO: Debate acerca do tema “A Globalização dos Mercados e a Reforma do SistemaFinanceiro Nacional”.

OBSERVAÇÕESHá termo ininteligível.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Sistema Financeiro NacionalNúmero: 000134/01 Data: 29/03/01

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Rubem Medina) – Bom dia, senhores.

Havendo número regimental, declaro abertos os trabalhos da presente

reunião de audiência pública, que se destina a ouvir a palestra do Prof. Arnold Wald,

renomado jurista brasileiro, com várias obras publicadas, entre as quais se destaca o

“Curso de Direito Civil”, com cinco volumes, que está na décima segunda edição,

sobre o tema “A Globalização dos Mercados e a Reforma do Sistema Financeiro

Nacional”.

Peço às Sras. e aos Srs. Deputados que queiram participar do debate que se

inscrevam junto à Secretaria.

Não preciso ler o currículo do Dr. Arnold Wald, pois todos o conhecem. Passo

a palavra imediatamente ao nosso palestrante.

O SR. ARNOLD WALD – Exmo. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

demais presentes, quero dizer da honra, do prazer e da alegria de estar hoje nesta

sala para discutir o problema da globalização do sistema financeiro e apresentar

algumas idéias. Agradeço a indicação do meu nome e a aprovação do convite, o

que realmente muito me sensibilizou, especialmente por ter sido feito pelos membros

desta ilustre Comissão.

Na realidade, o assunto que nos traz aqui é da maior importância, há muito

discutido, mas ultimamente tem tomado certamente um ritmo mais acelerado.

Recentemente, o Ministro da Fazenda, o Presidente do Banco Central e vários

membros do Congresso se manifestaram no sentido da necessidade de

encontrarmos uma solução rápida e adequada para alguns problemas básicos do

nosso sistema financeiro, entre os quais vários estão ligados à globalização, em

geral, e à globalização financeira, em particular, que tem sido tema de livros, artigos,

discussões. Dizem, de um lado, que é uma forma de imperialismo; de outro lado,

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vêem nela uma espécie de armadilha para o mundo moderno; e há quem diga até

que, afinal de contas, a globalização é um meio de alcançar mais rapidamente o

desenvolvimento.

Esse paradoxo se explica porque, na realidade, a globalização é um fato, a

exemplo do que foi o decorrente da eletricidade, da máquina a vapor, uma

verdadeira revolução tecnológica com ampla repercussão na vida das pessoas.

Portanto, não adianta admitirmos a idéia de que não é a melhor solução. Os

operários do século XIX não podiam quebrar as máquinas, para não deixar a

industrialização acontecer. É preciso aceitá-la e, em certo sentido, tentar defender os

nossos interesses nessa composição.

Lembro-me de que recentemente um Ministro do Supremo Tribunal Federal,

durante a manifestação do seu voto, afirmou: “Eu não quero ser globalizado”. Talvez

nenhum de nós queira ser globalizado, mas o seremos de um jeito ou de outro, não

podemos evitar o uso de todos os instrumentos da informática e da telemática com

os quais vivemos e acabamos nos acostumando.

Então, podemos dizer que a globalização tem as suas grandezas e as suas

misérias, mas é preciso tentar aproveitar os seus benefícios e restringir, na medida

do possível, com defesa adequada, os seus malefícios. Em certo sentido, podemos

dizer que a globalização é a abertura das fronteiras econômicas, vinculada a uma

revolução tecnológica devida à informática e às telecomunicações. Também se pode

dizer que ela significa a ampliação ilimitada do mercado e, ao mesmo tempo, a

extensão progressiva dessa ampliação a todas as esferas da atividade humana. Não

só desaparecem as fronteiras, mas uma série de matérias tipicamente regionais

passam a sofrer a influência da globalização em todos os seus sentidos, como

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acontece até em setores culturais específicos em relação à educação, à saúde e aos

direitos intelectuais.

Não há dúvida de que a globalização representa verdadeira revolução,

mudança de mentalidade. Isso é reconhecido por todos, porque se fala até numa

ruptura com o passado. Um historiador americano disse que é o fim da história. Não

é o fim da história, mas o início de uma nova história. Não há dúvida de que essa

transformação global tem um aspecto difícil para o homem, ou seja, a criação da

incerteza: ninguém sabe aonde ela vai nos levar nas suas finalidades.

A globalização, na realidade, não é uniforme em todos os setores. Em alguns

ela é realmente universal. Por exemplo, em matérias financeira e de comunicações.

E todos os países passam a se unir, a ter os mesmos problemas e a tentar encontrar

as mesmas soluções.

Em relação a outros setores, há globalizações regionais. É o caso da

indústria, da agricultura e de determinadas áreas culturais. Em vez de pensar numa

globalização total, temos globalizações regionais. Vamos manter durante muito

tempo ainda as peculiaridades de cada região, que vão ser defendidas, até porque a

igualdade, dizia Rui Barbosa, consiste em tratar desigualmente os desiguais. Então,

não é possível colocar no mesmo plano países totalmente desenvolvidos e países

em vias de desenvolvimento. Temos de diferenciar as situações que decorram dessa

globalização.

No plano financeiro ela realmente se apresenta como transformação radical.

Na realidade, a distância não só desapareceu, mas também fez com que as

transações financeiras virtuais se tornassem muito mais importantes do que as

transações físicas. Antigamente a transação física era a mais importante porque se

pagava em dinheiro e em cheque. Hoje cada vez mais esquecemos o dinheiro — já

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se fala em uma sociedade sem dinheiro —, o cheque, aos poucos, porque é um

instrumento caro. Hoje usamos mais o cartão de crédito, o lançamento eletrônico, o

contrato eletrônico, o que faz com que praticamente não haja mais distância entre os

países.

E isso criou uma espécie de tirania nos mercados financeiros. Eles se

tornaram, em certo sentido, quase mais fortes do que os próprios Estados. Não é

uma constatação, uma verificação valorativa, mas um fato. Em determinados

momentos, os mercados lutaram contra o que entendiam ser a supervalorização de

uma moeda. Foi o que aconteceu, por exemplo, na tradicional Inglaterra: a libra

esterlina, durante muito tempo, foi uma moeda tradicional, até o início do século XX,

a moeda padrão, antes de o dólar assumir esse papel; e foi destruída praticamente

pela especulação financeira em alguns dias. O mesmo aconteceu com a Itália.

Em certos momentos, o Estado se sente ameaçado, mais fraco do que o

próprio mercado. Falo até de países que têm tradições e estruturas muito mais

importantes de tempo e especialização nesse setor do que as existentes em nosso

País.

Isso, então, faz com que haja imprevisibilidade completa em relação ao

problema monetário. Por isso, há necessidade de nos precavermos contra ela. Não

é contra um fato determinado, é contra o imprevisível. Por exemplo, contra

terremotos, maremotos, inundação; não se sabe quando virão, de que modo virão.

Isso cria para as autoridades e legislações locais a necessidade de

reaparelhamento, de revisão dos seus textos escritos, das suas estruturas e das

suas instituições. A melhor prova é o reflexo das crises. Antigamente o Brasil

dedicava-se à vida brasileira. Quando muito ouvíamos falar de uma guerra mundial,

passávamos a sofrer no dia em que nossos navios foram afundados. Até então

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aquilo era um problema da Europa e não nosso. Nos últimos anos fomos atingidos

pelas crises mexicana, asiática, russa e argentina. E nos últimos dias, por mais

estranho que pareça, estamos sendo atingidos pela crise americana. Creio que os

brasileiros nunca pensaram que pudessem sofrer com a falta de confiança na

possibilidade de enriquecimento do americano ou de crescimento das bolsas. Ao

menos é o que dizem os jornais e os especialistas.

Um dos problemas que enfrentamos hoje, na medida em que a Argentina está

melhorando — os jornais de hoje publicam a notícia —, diz respeito aos Estados

Unidos. O Presidente do Banco Central não estaria agindo com a rapidez

necessária, não conseguiu antever todos os problemas, não foi um profeta

adequado, a sua bola de cristal não funcionou, e nós vamos pagar o pato.

O fato é importante porque essa transformação implica revolução cultural.

Temos de pensar de modo diferente. Ao mesmo tempo, junto a essa revolução

financeira, a essa globalização, temos toda uma revolução tecnológica da

telemática, da chamada nova economia. Essa é uma revolução importante, porque

não se limita apenas a aumentar os fatores de produção, mas também cria

necessidade de consumo muito maior. Há dos dois lados — produção e consumo —

um crescimento do leque de alternativas, de produtos a serem criados, de

concepções novas, de inovações, o que é realmente da maior importância.

Diante disso, o mundo tenta encontrar o consenso em relação a alguns

princípios. Em primeiro lugar, temos a idéia de que, se tudo está mudando, devemos

estar aparelhados para mudanças, ou seja, precisamos de maior prudência no

manejo da moeda, a unidade de todas as coisas. A idéia do passado é de que havia

unidade monetária. Desde o início do século passado sabemos que a unidade

monetária não corresponde à realidade, há uma ilusão sobre a moeda estável.

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Ilusão esta pela qual pagamos caro durante os anos de inflação, porque verificamos

que a inflação modificava diariamente o valor da moeda.

Dessa forma, há necessidade de sermos prudentes e relativamente

conservadores em matéria de controle da moeda, de poupança e sistema financeiro,

que utiliza e faz circular a moeda no País. Essa cautela é nacional e internacional; o

assunto preocupa tanto instituições nacionais quanto instituição de outros países.

Além da prevenção, temos de ter terapêutica, ou seja, devemos estar

preparados para a gestão da crise. Notamos, por exemplo, que em janeiro de 1999

nós não estávamos preparados para a gestão da crise. Ela aconteceu, havia muitos

comandos, muitas discussões. No entanto, logo em seguida retomamos o controle e,

em dois anos — de 1999 a 2000 —, conseguimos restabelecer a plena solidez do

sistema financeiro, apagando todos os resquícios e seqüelas daquela crise.

É preciso dizer que o Brasil apresentou, nesses últimos 15 anos,

determinados fatores que prepararam a globalização. Na realidade, foi uma espécie

de globalização interna: desapareceu um segmento tradicional na instituição

financeira brasileira. Tínhamos bancos especializados; de um lado, o banco

comercial, de depósito; do outro, o banco de investimento. No meio, a financeira, a

corretora, a empresa de leasing. Cada área desempenhando determinada atividade

específica. Era uma espécie de muralha, que conhecia também o Direito americano,

com a idéia que numa fase de crise era melhor não confundir investimento com

depósito, porque indo embora o investimento podia ir também o depósito.

Isso ocorria numa época em que investimento era uma coisa e depósito era

outra. Na medida em que a função monetária fez com que vários setores se

integrassem cada vez mais, tivessem interpenetração cada vez maior, essa distinção

passou a não ter mais razão de ser. Então, todos os países adotaram, a partir de

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1980 — no Brasil, a partir de 1989 —, a idéia do banco múltiplo, que exerce todas

as funções já citadas e, por isso mesmo, deve ter cautela e fiscalização maiores do

que quando era compartimento estanque. Esse primeiro aspecto podemos chamar

de globalização interna, em relação ao sistema financeiro.

Em segundo lugar, tivemos certa desregulamentação. Embora mantida a

Constituição vigente, na prática, houve desregulamentação. Aos poucos, o Banco

Central passou a entender que precisava aumentar a fiscalização e diminuir a

regulamentação, ou seja, dar mais liberdade, com responsabilidade. Ao mesmo

tempo, teve de acertar todas as questões pendentes do passado, quando

instituições bancárias cresceram sem bases adequadas. Iniciou-se, então, um

programa de saneamento financeiro em bancos públicos e privados.

Quando o Banco Central entendeu que tinha de controlar a moeda e evitar a

inflação, descobriu que havia duas moedas no Brasil: a federal e a estadual. Embora

não constasse da Constituição, havia a emissão de moeda fiduciária pelos bancos,

que poderia representar dívidas estaduais muito altas, não controladas pelo Governo

Federal.

Portanto, houve essa desregulamentação, seguida, em parte, da limitação da

operação do Estado. Vários bancos estaduais foram extintos; lançaram programas

especiais — PROEX E PROER —, com a finalidade de fazer o saneamento,

mantendo os bancos que podiam funcionar adequadamente.

Ao mesmo tempo, houve um movimento de "desintermediação". Na verdade,

é um investimento que não passa pelo banco. Antigamente os investimentos

normalmente eram feitos por via bancária. Essa desintermediação surgiu na medida

em que novas entidades fortes podiam fazer seus investimentos diretamente, quer

se tratasse de fundos de pensão — objeto de discussão ontem aqui na Câmara —,

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quer se tratasse de fundos mútuos. Eram novas figuras de acionistas, que

representam os grandes investidores, cuja atuação passava ou não pelos bancos.

Daí a desintermediação bancária. Algumas vezes, em vez de receber o depósito e

fazer a operação, o banco se torna um elemento da engenharia financeira que vai

transformando o dinheiro de uma empresa em participação acionária.

Daí decorreu a modificação no conceito de controle e de acionistas

minoritários, objeto do projeto de lei aprovado ontem pela Câmara dos Deputados.

Verificamos que aquela idéia patriarcal, que vinha do antigo privatismo doméstico,

da sociedade anônima que tinha um dono começou a desaparecer, pois os

minoritários entenderam que também tinham direitos. Desapareceu a idéia que os

majoritários do exterior e do Brasil fizeram dos minoritários durante muito tempo, ou

seja, que eram bobos e arrogantes; bobos porque entregavam o dinheiro para a

empresa e arrogantes porque ainda queriam receber dividendos e o dinheiro de

volta ao saírem da empresa. Então, tendo sido bobos, não poderiam ser arrogantes.

Essa idéia foi aos poucos desaparecendo porque os minoritários deixaram de

ser pessoas físicas com pequena poupança e se transformaram em grandes

investidores, sejam os fundos de pensão, sejam as empresas seguradoras etc. O

equilíbrio de poderes mudou.

Ao mesmo tempo, com as privatizações e concessões, criou-se uma figura

que não existia no Direito brasileiro, a não ser na lei: o controle partilhado, que, ao

invés do controle único, obrigou a empresa a adotar uma estrutura diferente, tendo

em vista que já não tinha mais um dono só, mas vários donos, cada um querendo

saber o que o outro fazia. Esse tipo de controle passou a funcionar.

Tudo isso teve repercussões nos bancos e nas instituições financeiras,

ensejando o desenvolvimento do capitalismo financeiro ao lado do capitalismo

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industrial, o aprimoramento tecnológico e facilidade cada vez maior de

internacionalização dos bancos.

Os bancos brasileiros começaram a ir para o exterior; os bancos estrangeiros

vieram para o Brasil. Em determinado momento, nas multinacionais não se sabia

muito bem se a operação era interna ou externa; começava num lugar, ia para outro.

A lei do menor esforço ou da maior rentabilidade no plano monetário não conhece

nacionalidade. Querem realizá-la com a maior eficiência, escolhendo o porto

adequado para isso.

Tudo isso aconteceu junto a uma evolução econômica imensa e, com toda a

sinceridade, à paralisação do Direito. O nosso Direito ficou parado, olhando a banda

passar. O que ele representava em relação a essas matérias? O Código Comercial

de 1850 tem um artigo ainda em vigor, que se refere aos mil réis. O nosso Código é

de 1850! O nosso Código Civil, mais do que centenário na sua elaboração — foi

elaborado em 1899 e entrou em vigor em 1917 —, também envelheceu um pouco; já

não é mais o jovem que Clóvis Bevilácqua tentou montar. Ainda tem algumas

referências ao cruzeiro corrigido; depois veio uma lei nova, que instituiu a ORTN.

Não existem mais cruzeiro nem ORTN. Que Código é esse?

Temos, por outro lado, leis mais recentes, mas que envelheceram muito

rapidamente. Para uma lei comercial, 70 anos já é uma idade mais ou menos

provecta. As Leis de Usura e sobre moeda estrangeira envelheceram porque o

tempo se modificou em progressões geométricas e não em progressões aritméticas.

Entre o Brasil de 1930, quando foi aprovada a Lei de Usura, e o Brasil de 2001 não

há semelhança alguma. Aliás, a única semelhança é que se falava português nos

dois casos. Nada mais. A sociedade e o meio comercial brasileiro se modificaram

por inteiro, ou seja, o mundo se modificou, e o Brasil não conseguiu ser antigo num

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mundo que se modificou. Não há mais possibilidade de viver em sistema autárquico,

com o qual sonharam alguns, durante certo tempo. E realizaram o sonho no

momento oportuno e de modo adequado, mas era um outro momento da vida

brasileira, para chegar à mesa internacional em condições de discussão. Chegou a

hora em que não havia mais como ficar fora do mundo.

Essas legislações estão ladeadas por resoluções do Banco Central, por

algumas normas mais modernas. No entanto, há uma espécie de caos legislativo. E

se torna necessário pensar em acabar com o que chamaria de entulho legislativo, do

mesmo modo que se falou em outro momento do entulho autoritário.

A idéia de transformar as 30 mil normas jurídicas vigentes no Brasil,

reduzindo-as a um número de regras claras e inequívocas, é muito importante. Não

se trata apenas de preocupação acadêmica, mas de preocupação pragmática,

prática, pois estamos enchendo os tribunais de problemas ligados a legislações

superpostas que não se coadunam. Uns vão escolher a Lei de 1850; outros vão

escolher o Código Civil ou a Lei de Usura; e haverá aqueles que escolherão a Lei nº

4.595. Cada um decide o que bem entende.

Na realidade, como a interpretação do Direito não é ciência exata, existe a

possibilidade de argumentação, estamos diante de um caos legislativo ao qual

corresponde um caos jurisprudencial, judiciário. E um dos motivos que tornam

necessária a reforma da Justiça é justamente a falta de regras precisas e objetivas

sobre essa matéria, especialmente no setor bancário. O problema referente ao

FGTS, que nos tem dado tanto trabalho, representou centenas de milhares de

processos na Justiça e tempo. É um custo imenso para o País, justamente porque

as leis não foram claras e oportunas.

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Do mesmo modo, os planos econômicos provocaram as mesmas

dificuldades. Ainda tramita no Supremo Tribunal Federal Ação Direta de

Inconstitucionalidade por nós encaminhada, para saber se as tablitas eram

constitucionais ou não. Já se passaram quinze anos da vida brasileira. E a decisão

terá repercussões múltiplas e em cadeia, pois, se for julgado inconstitucional, haverá

um caos generalizado. A única possibilidade de voltar à normalidade será

estabelecer prescrição sui generis. Não há outra saída. Ainda não acabou o

julgamento; quatro ou cinco Ministros ainda vão apreciá-la. Se levarem o mesmo

tempo que levaram até agora para julgá-la — sem nenhuma crítica —, chegaremos

a 2015 sem saber se a tablita dos anos 80 era válida ou não.

Também estamos discutindo ainda, em milhares de processos, o Plano

Collor. Realmente é um caos legislativo. Talvez haja necessidade, em matéria de

constitucionalidade, de se decidir as demandas judiciais rapidamente. O meio

financeiro não admite dúvida. Fala-se na alergia ao vazio. O meio financeiro tem

alergia à dúvida; ele tem de saber exatamente qual é a norma vigente, caso

contrário, será criado o custo da inadimplência e do litígio.

O Presidente do Banco Central dizia outro dia que cerca de 40% do custo do

dinheiro decorrem da previsão de adimplência. Daí a famosa frase do nosso Ministro

da Fazenda, que parece ter surgido inicialmente em relação ao sistema financeiro

imobiliário. S.Exa. disse que em todos os países o futuro é imprevisível, mas no

Brasil temos algo mais: o passado também é imprevisível. Queria dizer o seguinte:

não sabemos, em determinado momento, quais serão os efeitos dos atos que

estamos praticando hoje. O que aconteceu durante o Plano Collor de 1990 ainda é

imprevisível em 2001.

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Na realidade, durante muito tempo o Direito tem sido considerado o ramo

auxiliar da vida nacional, partindo-se da idéia de que devemos dar solução aos

problemas econômicos. Entretanto, chega certo momento em que não basta dar

solução econômica. É preciso dar também solução jurídica, senão a solução

econômica vai acabar padecendo da ausência de normas, o que sentimos de

maneira muito forte no próprio sistema financeiro brasileiro e nas repercussões da

globalização.

Podemos dizer que o nosso Constituinte de 1988, nos setores econômico e

financeiro, elaborou normas constitucionais para o Brasil da época. E só podia fazer

isso; não podia prever o que aconteceria no mundo inteiro; não podia prever o

NAFTA, a ALCA ou todas essas evoluções internas e internacionais.

É preciso lembrar que o nosso Constituinte vivia numa economia fechada, em

1988, e a idéia básica era aplicar o princípio da substituição das importações, ou

seja, praticamente fazer tudo o que pudesse para que isso fosse alcançado, a

qualquer preço, a preço mínimo ou mesmo que fosse mais oneroso do que no

exterior. E ainda convivíamos com inflação razoável de 5.000% ao ano. Acho que foi

a base calculada no final do Governo Sarney. Em 1963 considerávamos 144% ao

ano algo insuportável. Conviver com inflação daquele nível foi experiência

considerada internacionalmente quase impossível, mas o Brasil conseguiu

sobreviver e se desenvolver durante um longo período graças à indexação, um mal,

a exemplo da cortisona, que nenhum médico aconselha tomar, mas muitas vezes é

a única saída. Não é sobremesa para um banquete, mas é o remédio para

determinadas doenças graves.

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Não há dúvida de que a Constituição brasileira ainda se refere à correção

monetária, ao valor real da moeda para efeitos de inflação, ao equilíbrio econômico-

financeiro, enfim, essas idéias dizem respeito a uma fase de inflação.

A partir de 1990, houve a abertura da economia brasileira e, ao mesmo

tempo, a consolidação dos grandes grupos econômicos, das grandes regiões. A

União Européia surgiu, em certo sentido, da idéia de evitar a guerra entre França e

Alemanha. Acreditaram os especialistas que o melhor meio era juntar a economia

dos dois países. Daí se desenvolveu uma série de planos, até chegarem à União

Européia, que hoje tem uma unidade básica estrutural e uma unidade monetária,

esta última recebida com muito receio, porque o europeu, ao contrário do brasileiro,

não se acostuma a mudanças de moeda.

Quando se estabeleceu o euro como moeda da Europa, recebemos uma série

de consultas, porque, segundo os europeus, nós, brasileiros, somos especialistas

em mudanças de moeda a curto prazo. E temos realmente um know-how específico

sobre o assunto.

Não há dúvida de que moeda única significa política única; significa unir o

controle de receita e despesa de vários países. É a grande preocupação que temos

em relação ao MERCOSUL, quando se fala na sua viabilidade.

Por outro lado, estamos admitindo que existe hoje um poder monetário, o

Direito monetário. Já se fala na Lei de Responsabilidade Monetária. Realmente a

moeda, sendo unidade que representa a circulação das riquezas no País, deve ter

tratamento e regime próprios. É o que se pretende dar ao Banco Central, no

momento em que se diz que ele é especialmente o guardião da moeda, quem deve

salvaguardar o seu valor, a sua estabilidade e fixar a política monetária.

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Para fixar a política monetária, o Banco Central deve ter poder amplo, a

exemplo do poder que o Ministro Cavallo acaba de pedir ao Congresso argentino.

Nas crises emergenciais, é necessário que alguém tenha poderes para decidir.

Quando ninguém tem o poder de decisão, as coisas não andam tão bem quanto

poderiam.

O Banco Central é uma instituição importante. Já se disse que é a maior

criação do homem depois da roda e do fogo, mas é preciso também que seja

devidamente controlado; sendo um Poder, não pode ser um Superpoder, nem na

letra, nem no espírito, nem na vivência da lei, donde a sua importância, quando se

pensa no sistema financeiro.

Já se disse que a moeda é de certa maneira o sangue que circula na

sociedade. Se isso é verdade, o Banco Central é o coração que faz esse sangue

circular mais ou menos rapidamente, de acordo com a velocidade que se atribui à

moeda, com a taxa de juros e as possíveis emissões de moeda, a regulamentação

da liquidez e do crédito.

A nossa Constituição trata muito dos problemas do Banco Central e da

moeda. Acho que é a constituição no mundo que mais trata desses assuntos.

Levantei cerca de dez artigos da Constituição que, direta ou indiretamente, tratam da

moeda e do Banco Central, como os arts. 21, 22, 48, 52, 84, 190 e os arts. 163, 164,

192. Isso quer dizer que temos quase uma miniconstituição monetária, que tem as

suas grandezas, mas também alguns defeitos.

Pelo fato de serem constitucionais, tais artigos criam uma camisa-de-força

num mundo em plena evolução. A evolução do mundo tem sido muito rápida. Como

a Constituição só pode ser modificada de acordo com determinados rituais, a

excessiva constitucionalização pode ser uma camisa-de-força negativa para o País.

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Ou, ainda, acabam-se modificando as constituições de tal modo que elas perdem o

seu próprio caráter. Acho que a Constituição tem que ter o nível constitucional, do

mesmo modo que o Código Civil tem que ter o seu nível. Não vamos pôr no Código

Civil normas absolutamente emergenciais, porque o Código Civil representa um

certo nível da civilização num determinado momento. Não se deve mudar o Código

Civil todos os dias; a Constituição, muito menos. Este é um dos aspectos do qual se

poderia dizer que houve um detalhamento um pouco excessivo, no sentido de fazer

com que as normas constitucionais sejam excessivamente abrangentes e dificultem,

algumas vezes, determinadas providências que devem ser tomadas com urgência.

Os dois artigos mais importantes certamente são os arts. 163 e 192. Vamo-

nos restringir ao art. 192, para não abusar da paciência do nosso público.

Realmente, esse artigo tem algumas idéias que se explicam em relação à

época em que foi elaborado. O que se pretendeu foi estabelecer uma espécie de

carta básica do sistema financeiro, contendo princípios básicos que devem ser

aplicados amplamente. Por quê? Porque temos a inflação, porque os bancos

ganham muito dinheiro, porque não confiamos no Poder Executivo, porque não

confiamos no Banco Central. Temos quase a impressão de que esses são os artigos

da desconfiança. Considero que uma constituição não pode basear-se na

desconfiança. É preciso estabelecer princípios básicos com relação ao que é

necessário e deixar à legislação — eventualmente à legislação complementar,

outras vezes à legislação ordinária — a possibilidade de encontrar soluções.

O primeiro problema que surgiu foi o dos juros de 12%, que tem sido discutido

nesses doze anos. Acho que já deve ter havido mais de 100 mil processos para

discutir a matéria. Até hoje ela não está acertada, do ponto de vista judicial, embora

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haja uma súmula do Supremo Tribunal Federal a esse respeito e embora tenha

havido a ADIN nº 4.

Na realidade, há uma série de discussões sobre a área limítrofe da aplicação

da usura, de acordo com o art. 192. O que se deve entender como instituição

financeira? A instituição que é autorizada pelo Banco Central, só por este motivo, é

considerada instituição financeira? É preciso haver uma legislação especial em

relação a cada título? Há um caos enorme!

De fato, esse artigo da lei referente à usura é relativamente incompatível com

a globalização. Houve épocas da vida americana em que os juros chegaram a 15%

ou 16%. Como nós, no Brasil, vamos dizer: "Não, amigos americanos, tudo bem,

vocês são americanos; nós só receberemos o dinheiro de vocês na base de um

deságio de ‘x’ por cento?

Agora, depois de dois anos de luta, quando o Banco Central reduziu à metade

as suas taxas, chegamos à taxa de juros de 15%, dinheiro do Banco Central! Este é

o chão, este é o desnível mínimo. Portanto, se temos a posição do Banco Central de

15%, é inconcebível que se estabeleça na Constituição 12%, a menos que se queira

chegar a uma hipocrisia generalizada e dizer: "Vamos estabelecer a regra, para

todos os interessados vão voltar às fraudes e haverá uma tolerância necessária,

porque a lei do menor esforço e a lei da oferta e da demanda, infelizmente, não

podem ser modificadas nem pela Constituição".

Esse é o primeiro aspecto. O segundo é o problema da Lei Complementar

Única para toda área abrangente do mercado financeiro, mercado de capitais, etc.

Nesse ponto também há um problema, porque a legislação é muito ampla. São

áreas que têm, em primeiro lugar, um grande dinamismo. Por outro lado, cada uma

das áreas tem as suas peculiaridades. Quase se poderia dizer que, com esse

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sistema, estamos paralisando todo o desenvolvimento. A Lei nº 4.595, que foi

considerada lei complementar, na realidade ainda está sendo adaptada e adotada

com alguma flexibilidade, mas a matéria fica muito complicada, porque ou se aplica

com rigor, e aí estamos parados, o Brasil parou completamente, ou aplica-se sem

rigor e não há mais sentido. Aplicado com muito rigor, poderíamos dizer que uma

parte do projeto aprovado ontem na Câmara é inconstitucional, porque, tratando-se

de mercado de capitais, teria que ser matéria a ser tratada por lei complementar.

Não estou defendendo essa tese. Penso que devemos flexibilizar por todos os

motivos, porque o Brasil precisa de flexibilidade, não pode ficar numa posição

retrógrada, mas, de qualquer modo, há a necessidade de repensar essa matéria.

O problema da limitação dos bancos estrangeiros também está no Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias e foi driblado mediante uma decisão do

Ministro da Fazenda e do Presidente da República que diz que interesse público

cabe ao Executivo dizer qual é. Presumimos que todo dinheiro estrangeiro é de

interesse público, então, o banco estrangeiro pode se instalar no Brasil com base no

interesse público.

Talvez tivesse sido mais adequado estabelecer em lei complementar algo

determinando o equilíbrio, por exemplo, do sistema financeiro, que atende o varejo e

os bancos de investimento. Em relação ao mercado de varejo, queremos uma

preponderância dos bancos brasileiros, porque quando há uma crise de uma

indústria local, uma empresa comercial, numa área determinada, é muito melhor

poder decidir os assuntos em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília, em Belo

Horizonte, do que em Londres, em Xangai, em Tóquio, onde será muito difícil as

pessoas compreenderem exatamente a necessidade de um crédito maior.

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Na área do banco de investimento, de montagem de negócio, já não há mais

necessariamente a mesma posição. Mas, de qualquer modo, temos hoje um

equilíbrio. Talvez não valesse a pena criar um desequilíbrio desfavorecendo as

empresas nacionais.

Outro problema foi o fundo garantidor, que também deu margem a uma ADIN.

A idéia de que, na realidade, não é possível usar determinados recursos públicos

para o fundo garantidor e assim transferir para a iniciativa privada de vez,

especialmente com recursos do passado, que eram considerados da iniciativa

privada — é o caso do recheque, por exemplo — tem também dado ensejo a uma

ADIN. Consideramos algo que precisa ser reexaminado. Talvez não precise ser um

princípio constitucional. Na lei complementar poderia haver algumas normas mais

claras a respeito dessa matéria.

Quando pensamos no que está acontecendo hoje no Brasil em matéria de

sistema financeiro, podemos dizer que, em certo sentido, a norma constitucional,

que precisa ser regulamentada, é uma camisa-de-força. Não adianta regulamentá-la

como ela está hoje. Hoje, a regulamentação é a existente. Não há grandes

modificações que se possa fazer com o texto constitucional vigente.

Se pudermos tentar descongestionar, liberalizar essas normas da

Constituição, de tal modo que tenhamos dois ou três princípios básicos, mas se

permita uma maior flexibilidade à legislação, que é, em certo sentido, a idéia do

projeto que se discutiu no Senado Federal, parece-nos que vamos poder ter uma

solução. Aplicadas rigidamente, essas normas paralisam a economia. Se forem

excessivamente flexibilizadas, numa interpretação muito liberal, não têm mais razão

de ser, não significam mais nada.

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Portanto, esse é o dilema, juntamente com o fato de, na situação atual,

termos o Poder Judiciário sofrendo seriamente de uma crise decorrente do tumulto

legislativo existente com relação a essa matéria, que faz com que, conforme o Juiz e

o Ministro, a interpretação venha a ser diferente. Como não temos a súmula

vinculante, como as uniformizações demoram muito tempo, ainda temos dúvidas em

relação à interpretação de um texto constitucional, que está fazendo mais de doze

anos de vida.

Parece-me que é o momento de repensar com seriedade nestes dois

aspectos: o constitucional e o legislativo. Ao mesmo tempo, essa reformulação

constitucional deve ter em mente que estamos pensando cada dia mais em uma

arquitetura financeira internacional, ou seja, em compromissos internacionais em

relação às matérias financeiras e especialmente em alguns acordos, que serão

progressivamente relevantes no tocante ao MERCOSUL em matéria de moeda. Sem

chegar a uma moeda comum, não há dúvida de que alguns princípios deverão ser

estabelecidos e é importante nossa Constituição não ser uma vedação.

Assim, é preciso permitir que o legislador possa prever as situações e tomar

medidas antecipadas, porque é melhor prever do que prover, ou seja, prever para

prover. Se pudermos evitar, é melhor do que termos excelentes bombeiros para os

incêndios que de vez em quando surgem e que podem ter reflexos sistêmicos, como

o sistema dominó. Depois, durante dez anos, vamos discutir no Congresso e no

Poder Judiciário se havia ou não o risco sistêmico. Quando uma casa pega fogo, se

o vizinho vai ter ou não a casa incendiada é um problema de risco sistêmico. Mas o

melhor é desocupar a casa, enquanto o fogo não chega, além de chamar os

bombeiros.

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Portanto, esses problemas devem ter uma sistemática adequada. Daí a idéia

de uma reforma constitucional, que já está em curso, aguardando o pronunciamento

da Câmara dos Deputados, depois de uma longa e ampla discussão, no Senado

Federal e nesta Casa, que teve o mérito de trazer audiências públicas, não

necessariamente hoje, mas em outras ocasiões, com o consenso das várias classes

econômicas e da opinião pública brasileira, com a idéia de uma autonomia

operacional e não de uma independência do Banco Central, estando sob a

fiscalização dos Poderes. Isto não é moderno, porque quando Napoleão criou o

Banque de France, disse que deveria ser um órgão livre, autônomo ma non troppo,

porque não poderia se transformar em um superpoder. E, também, a consolidação

da legislação vigente nesta matéria, para que possamos ter um sistema financeiro

em que a lei dê garantias e segurança. Nós, advogados, podemos ser até os

beneficiados deste tumulto. Um colega nosso, antigo Ministro da Justiça, Dr. Saulo

Ramos, disse que ia colocar no seu escritório uma estátua de bronze em

homenagem ao economista legislador. Quando perguntaram o que quis dizer com

isso, respondeu que foi assim que o (ininteligível). Graças a ele.

Penso que hoje o momento é de os advogados, em vez de pensarem nos

litígios, pensarem na prevenção; é a possibilidade de cooperar com os senhores,

com a empresa, com as associações de classe, com os consumidores, para

encontrar soluções. Entendendo-se, também, que não adianta estabelecer

excessiva proteção ao consumidor. Quando a proteção é excessiva e viola as regras

do mercado, o consumidor tem direitos, mas não tem o que consumir. Então, como

ninguém pode ser obrigado a fabricar, a entregar e etc, em determinados momentos

aquela idéia de proteção ao consumidor não é a favor dele e, sim, contra ele.

É preciso ter esse justo equilíbrio que o Congresso Nacional sempre teve.

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Agradeço à Comissão o convite e peço desculpas por ter abusado um pouco

do tempo. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Rubens Medina) – Muito obrigado, Prof.

Arnold Wald, por sua brilhante exposição, como sempre.

Passo a palavra ao Relator, Deputado Edinho Bez.

O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ – Vamos ouvir, em primeiro lugar, a Sra.

Deputada Yeda Crusius. Depois, farei minha manifestação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Rubem Medina) – Tem a palavra a Sra.

Deputada Yeda Crusius.

A SRA. DEPUTADA YEDA CRUSIUS – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.

palestrante, quem sabe eu tome um pouquinho mais do tempo regimental, pelo

entusiasmo com que tratamos o assunto. Antes vou contar umas histórias. (Risos.)

Tenho uma escultura em meu gabinete que me foi dada pela Ordem dos

Economistas. Em um debate sobre lavagem de dinheiro, o então Ministro da Justiça,

Nelson Jobim, deu um cutucada nos economistas, como se o sistema tivesse uma

causa, uma culpa e um efeito sobre eles.

O SR. ARNOLD WALD - A culpa é nossa, dos advogados. (Risos.)

A SRA. DEPUTADA YEDA CRUSIUS – Não, não é! Apenas disse a S.Exa.

depois... E a escultura veio com a frase que eu disse àquela ocasião. Dizia: os

economistas nos causam muitos problemas. São os que desmancham o equilíbrio

da sociedade, por causa da questão do dinheiro. Ora, o economista entende como

se constrói uma moeda e os outros todos têm de se acomodar em cima disso.

Ao fazer a provocação disse o seguinte: pois é, Ministro Jobim, lembro-me de

quando a Faculdade de Economia era sempre nos porões da Faculdade de Direito.

Era alguma coisa saída da contabilidade. Hoje, os prédios das Faculdades de

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Economia, além de mais modernos, são maiores do que os prédios das Faculdades

de Direito. Até hoje os advogados não nos perdoam por termos conseguido

autonomia e reconhecimento como campo particular do conhecimento e da ciência.

Não fui tão delicada assim, mas S.Exa. também não havia sido. E ganhei a

escultura.

Sr. Presidente, a degravação demora muito. E a divulgação de sua palestra,

no momento, é importante. Então, se houver um roteiro ou uma cópia, solicitaria a

V.Exa. que nos passasse para divulgação. A degravação concorre com outros temas

nesta Casa e, às vezes, perde.

Sr. Arnold Wald, lembro-me também da leitura dos seus livros e do livro

elaborado com Mário Henrique Simonsen a respeito de uma regra que existiu, no

tempo da inflação e da hiperinflação, que permitiu a convivência no Brasil em cima

de um sistema de desconfiança. As pessoas conheciam as instituições. A caderneta

de poupança estava ali na esquina, o banco não sei onde. As pessoas entravam,

mas não sabiam o que havia dentro. A correção monetária foi a regra que permitiu

essa convivência durante os anos 70 e praticamente os anos 80.

Ao dar as aulas de Moeda e Banco, na faculdade, como se chamava — e

voltou a ser Moeda e Banco, é interessante —, percebemos que a costureira, o

porteiro tinham que interagir com coisas complicadas chamadas correção monetária

e taxa de inflação, para saber do que se tratava e o que ocorria nos bancos. Então,

desencravei do cofre o BANRISUL uma ORTN física, o papel ORTN atrás dos

quadradinhos, correção monetária trimestral e daí por diante. Fizemos uma

universidade aberta no campo financeiro. Ali reunimos grupos de trinta ou cinqüenta

estudantes, para mostrar que aquilo não era o demônio, que aquela desconfiança

não precisaria acontecer.

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Mas voltamos a isso com a globalização. De uma certa maneira volta o ciclo

da desconfiança. Ele precisa ser analisado e esmiuçado naquilo que sua palestra

apresentou de forma tão rica.

Vamos falar da Argentina. Vou fazer as duas perguntas, até para simplificar.

Quando foram discriminados os superpoderes que o Ministro Cavallo pediu, isso foi

na semana seguinte a nossa ida — um grupo de líderes partidários foi à Argentina, o

Ministro era outro, era o Murphy —, estava lá o Cavallo, o ex-Presidente e ex-

Ministros para dizer ao mundo, pela fotografia que foi tirada, que a América Latina

estava unida na Argentina, desse o que desse. E da lista dos superpoderes que ele

solicitou vi muito de regras brasileiras já antigas. Ele pede, como Ministro da

Economia, para ter o direito de editar medidas provisórias com duração de um ano,

no que diz respeito às questões federativas e às reformas administrativas, e pede a

CPMF, ou seja, o que estamos vivendo já há algum tempo. Inclusive citou o próprio

PROER, que deu estabilidade à fase de reformas constitucionais nos mais diversos

campos. Portanto, o Ministro Cavallo está pedindo razoavelmente a mesma coisa.

Não é à toa que ele veio conversar conosco.

Queria lhe fazer uma pergunta: o que está acontecendo com a Argentina

ajuda ou atrapalha na construção de uma moeda que não pode mais ser

simplesmente nacional? Se a nossa âncora era a inflação, no tempo da correção

monetária, para muitos países da América Latina, como a Argentina, é o dólar, mas

para outros a moeda é o dólar. Estou firmemente convencida de que temos de fazer

o exercício de construção da moeda do MERCOSUL antes de atingir os limites da

ALCA.

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A minha pergunta é essa: o que acontece com a Argentina, com relação a

essa questão de reforma constitucional no sistema financeiro, para a construção de

um poder financeiro que gere uma moeda estável, ajuda ou atrapalha?

O SR. ARNOLD WALD – Queria primeiro dizer que a minha citação do

Économiste não é crítica, porque tenho a impressão de que fui, muito

humildemente, um dos primeiros advogados a escrever livro a quatro mãos, ou a

seis mãos até, com economistas. Na realidade, lembro-me que, desde o tempo de

faculdade, uma das idéias que tínhamos era de encontrar um vocabulário, uma

linguagem comum, porque não adiantavam essas críticas de um lado a outro. Isso

surgiu na fase do regime militar. O advogado tinha que entender de economia e o

economista tinha que ter uma certa sensibilidade com relação ao problema jurídico.

Mário Henrique Simonsen para mim foi um dublê de economista e jurista.

Escreveu-se sobre Mário Henrique Simonsen cantor de ópera, mas eu ainda queria

escrever artigo sobre Mário Henrique Simonsen jurista, porque ele tinha uma grande

sensibilidade em relação ao problema jurídico. Acho que aí a simbiose é completa,

como também o sociólogo. Estamos vivendo a época da parceria pluridisciplinar.

Ninguém pode mais mandar sozinho. Gostaria apenas que o fim da minha palestra

não fosse mal interpretada.

A SRA. DEPUTADA YEDA CRUSIUS – Se me permite, é só para deixar

gravado. Eu entendi muito bem. De maneira nenhuma eu levaria para o outro lado.

Pelo contrário, quando foi colocado pelo Saulo, demos muitas risadas e continuamos

nosso pega, porque tem que haver humor.

O SR. ARNOLD WALD – Acho que cada vez mais esse trabalho é

pluridisciplinar. Tanto é perigoso o economista que não quer saber de Direito, e diz

que faz suas normas, aconteça o que acontecer — e depois acontecem muitas

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coisas nos tribunais, até dez anos depois, mas o Brasil é que vai sofrer —, quanto o

jurista que não quer saber de economia.

Diria, dentro do assunto específico, que o entrosamento quanto à moeda é

indispensável para que se possa fazer alguma coisa. Vamos ter — argentinos e

brasileiros —, como mostrei em teses nacionais, que montar uma moeda

MERCOSUL em um determinado momento. Essa é uma questão a ser tratada.

A Argentina talvez manteve a qualidade monetária com excessivo rigor. Não

tenho condição de julgar. Mas acho que levou isso um pouco ao exagero, e pagou

um certo preço. Enquanto nós tentamos flexibilizar, sem perder o controle monetário.

É importante o controle monetário, a luta contra a inflação. Ao mesmo tempo

em que achávamos muito necessário naquela fase a correção monetária, a tal

cortisona, achávamos que era um remédio muito amargo, mas não tinha outro jeito.

Seria importante tentar evitá-la no futuro. Mas temos de evitar a causa e não a

conseqüência. Ninguém é proibido de tomar cortisona; a idéia é tentar evitar o

câncer.

Em relação à Argentina, o momento é difícil para eles. Eles têm que tomar

algumas medidas, têm que reacertar a sociedade. O argentino tem que fazer aquela

revolução cultural completa que ele fez um pouco aos pedaços. Teve todos os

resquícios do peronismo, que na Argentina criou uma problemática um pouco mais

complicada do que o nosso Estado Novo.

Acho que, daqui a pouco, vamos ter que sentar, argentinos e brasileiros, para

pensar em uma moeda comum. Já estamos aceitando, no Brasil, alguns sacrifícios

para salvar a moeda argentina. E somos um país pobre para salvar a moeda dos

outros.

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Na realidade, estamos salvando o nosso modelo, o nosso bloco. É a

solidariedade do grupo; não é a solidariedade internacional, a solidariedade do

grupo que está perto de nós. Sabemos, também, que o fato de estarem abalados vai

repercutir na nossa vida.

Então, além da solidariedade, do afeto e do amor, é, na verdade, uma

legítima defesa. Acho que vamos chegar a uma moeda. Como é que vai ser feito

esse controle monetário? Quando o controle monetário é estabelecido, é uma

verdadeira unidade política. O grande problema da Europa é que fizeram a unidade

monetária e esqueceram que quem controla a moeda controla a política

governamental. Então, criam-se pequenas divergências. Acho que a União Européia

cresceu no mundo, e dela fazem parte países de níveis muito diferentes um dos

outros. Isto é um complicador. Pode ser muito bom para alguns, mas é um

complicador.

Vamos trazer o Uruguai e o Paraguai para essa conversa e, eventualmente, o

Chile. Talvez possamos chegar a uma moeda comum. Certamente será uma moeda

comum que teremos que proteger contra a inflação. Não sei se terá de haver uma

proteção cambial rígida. Confesso que, em primeiro lugar, isso vai demorar algum

tempo. É preciso que a Argentina se restabeleça plenamente, que andemos mais um

pouquinho para podermos sentar e conversar a respeito disso.

Lembro-me, quando estudante, que fui à Bolívia e o Ministro João Neves da

Fontana, Ministro das Relações Exteriores, nos chamou e disse: vocês vão entrar

em uma área de conflito entre Brasil e Argentina. E perguntamos por quê e ele

respondeu que, na realidade, a Bolívia é uma área de luta colonial. Disse que eles,

argentinos, estão lutando para ocupar a área. Então, é preciso que os jovens

estudantes de Direito, tenham isso em mente. Trata-se de uma luta de poder. É um

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pouco o que aconteceu na Índia, entre franceses e ingleses, no século XIX.

Queremos ocupar a área. É importante a ocupação, não militar. Temos até os

militares, as comissões mistas etc. Isso tem meio século.

De lá para cá andamos muito. Um dos momentos importantes foi aquele em

que o Presidente José Sarney foi convidado para conhecer as instalações atômicas

da Argentina. Aquele momento foi o que representou o carvão e o aço entre a

França e a Alemanha. Agora, não há mais guerra possível. Agora é um momento de

solidariedade. Evidentemente leva tempo. Não vejo a criação da moeda única para

2001, não. É mais fácil fazermos a reforma constitucional, a reforma do sistema

financeiro do que chegar a uma moeda única. Acho até que a reforma constitucional

e a reforma do Sistema Financeiro são caminhos que devem deixar em aberto

alguma coisa para um diálogo futuro com a Argentina.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Rubem Medina) – Deputada Yeda Crusius, já

terminou? (Pausa.)

Com a palavra o Deputado Coriolano Sales.

O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES – Sr. Presidente, inicialmente,

quero cumprimentar o expositor, Prof. Arnold Wald, figura muito conhecida nos

meios acadêmicos, sobretudo nas escolas de Direito. O Prof. Orlando Gomes falava

muito no Prof. Arnold Wald. Fui aluno do Prof. Orlando Gomes na Bahia.

O SR. ARNOLD WALD – De quem eu era um grande admirador. Fui

examinado por ele com muita alegria, com muita honra.

O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES – Para mim é uma satisfação vê-lo

aqui hoje, nesta reunião, com a certeza de que a contribuição de S.Sa. será

inestimável para o deslinde dos trabalhos desta Comissão com referência à

regulamentação do art. 192. Já vi que o senhor é a favor da Emenda Serra.

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O SR. ARNOLD WALD – A nosso modo.

O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES – A Emenda Serra praticamente

desconstitucionaliza esse processo de regulamentação. Temos algumas questões. É

exatamente a esse respeito que gostaria de ouvir a opinião de S.Sa. Essa

regulamentação deveria ser feita em bloco, em uma lei só no Sistema Financeiro,

complementar, ordinária, embora o Relator do Senado mandou que se fizesse uma

lei complementar? Está na Câmara para se decidir se se encampa a sugestão do

Relator do Senado ou se se deixam as coisas como estão. Na opinião de S.Sa., far-

se-ia essa regulamentação em bloco, numa única lei, complementar ou ordinária,

pouco importa, tendo em vista a complexidade do Sistema Financeiro? A economia

do Brasil não é mais a economia dos anos 30, de 64, quando se teve a Lei nº 4.595.

Estamos diante de uma outra economia, muito mais complexa. Do ponto de vista

financeiro, não se trata apenas da existência de bancos. Hoje há bancos e bancos.

Será que o Brasil vai resistir à internacionalização do Sistema Financeiro?

Deveríamos ter uma norma na lei bancária, na lei financeira nacional de reserva, por

exemplo, para o mercado bancário de varejo, para os bancos nacionais, como tem o

Canadá, por exemplo?

Estivemos no Banco Central do Canadá há três anos, juntamente com o

eminente Relator, e o Presidente do Banco Central do Canadá disse-nos, de viva

voz, sem meias palavras, que se não tivesse havido uma reserva para o mercado de

varejo bancário para os bancos nacionais canadenses, o sistema financeiro bancário

do Canadá já teria desaparecido há muito tempo, porque teria sido engolido pelos

bancos americanos, japoneses, ingleses.

Qual é sua opinião sobre isso? O sistema bancário nacional vai resistir à

internacionalização na hora em que se tiver uma abertura total sem nenhum tipo de

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controle de interesse público nacional, que está previsto nas Disposições

Transitórias? Qual a opinião de S.Sa. sobre a questão da regulamentação, se em

bloco, se por partes?

Há uma necessidade enorme de se criar estruturas financeiras menores no País

para desenvolver a base da sociedade brasileira que está empobrecida, na miséria,

porque não é atingida pelos bancos nacionais e muito menos pelos estrangeiros.

Falo da política de microcrédito, da política para os pequenos. No Brasil, hoje,110

milhões de pessoas não têm conta em banco. Quando dissemos isso na Alemanha,

na Universidade de Humbold, numa palestra sobre os temas dos bancos populares

alemães, como o Bundesbank, o professor disse: “Mas isso não é humano”. O que

ele quis dizer? Logo em seguida ele completou: “Na Alemanha, não há um único

cidadão que não tenha conta em banco”. Tendo em vista a complexidade e as

necessidades de crédito na base da sociedade para impulsionar o desenvolvimento,

pergunto ao professor se essa regulamentação deveria ser feita em bloco ou

separadamente.

Sobre as funções do Banco Central, não deveria este cuidar somente da

moeda e deixar a regulação e a fiscalização para outro setor, como uma empresa

estatal, que poderia tratar da supervisão bancária? A exemplo do que ocorre na

Alemanha, o Bundesbank cuida basicamente da moeda. Embora o controle da

moeda seja feito pela União Européia, as funções de regulação e fiscalização são

basicamente da superintendência de fiscalização bancária de Berlim.

Quanto ao mandato dos diretores do Banco Central, há autonomia sem

mandato? Qual é a sua opinião sobre essa questão? Quanto ao que está inserido no

192, sou favorável à derrogação dos 12%. Considero isso um empecilho. Pode se

chegar a um momento na economia em que a taxa de juros poderá ir até a 200%.

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Então, como é que se controla a fúria taxativa, essa ânsia de taxação de certos

instrumentos financeiros, tais como as administradoras de cartões de crédito, cujas

taxas de juros são de 14% a 15% ao mês?

Parabenizo V.Sa. pela brilhante exposição.

O SR. ARNOLD WALD – Agradeço a V.Exa. as palavras.

Considero-me discípulo de Orlando Gomes, alegro-me por ter sido examinado

por ele e por outros eminentes mestres da Faculdade de Direito da Bahia, como

também pelo Prof. Aderbal Gonçalves e outros que sempre nos ensinaram os

caminhos. Ainda hoje me lembro de que, no final do curso da faculdade, participei de

um seminário no Centro Acadêmico Rui Barbosa, na Faculdade de Direito em

Salvador, e continuam as amizades com ilustres advogados e Deputados, que

representam a Bahia nos seus vários setores.

Respondendo a V.Exa., número de leis é secundário, mas não deve haver

apenas uma lei. O Poder Legislativo, com sua autonomia e independência, decidirá

quantas leis serão necessárias. A idéia inicial era de uma lei única para seguros,

mercados de capitais e bancos. Porém, isso é inviável. O resto, na realidade, é uma

decisão de conveniência.

Menciono esse assunto rapidamente, porque não quero sustar a questão,

porque em até certo sentido a Lei das S.A. está mexendo na CVM, ou seja, no

mercado de capitais. Então, se levarmos ao extremo, é preciso que se façam leis

tantas quantas forem necessárias. A lei é um instrumento de desenvolvimento da

civilização. Não há razão para limitá-las, a não ser que haja interesse maior — e

acho que não existe.

Na realidade, o Canadá não é considerado um país excessivamente

nacionalista e temos de pensar em defender a nossa população. A abertura ao

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capital externo teve duas finalidades. Uma delas foi a necessidade de receber

capital externo. Uma das âncoras da nossa moeda que tem sido a entrada de capital

estrangeiro, sob as suas diversas formas — privatização, concessões, entrada de

capital nos bancos etc —, e foi o caminho que se escolheu. A outra foi entender que

havia uma espécie de oligopólio no setor bancário e que a entrada do capital

estrangeiro iria baixar os juros. Não sei se isso aconteceu. Estou de acordo com

V.Exa., pois não sei se se ensejou a baixa de juros. Talvez tenha sido ensejada uma

tecnologia mais adiantada para os bancos.

Especialmente no varejo, algo deve ser feito. Talvez até não se limitar o

interesse público, mas, em uma lei, estabelecer certo percentual em matéria de

equilíbrio. No varejo, por exemplo, 50% deve ficar na mão dos bancos brasileiros,

entendidos como os que têm realmente raízes no Brasil e não os que têm apenas a

organização etc. Acho que isso se justifica, considerando-se a posição do Brasil e as

nossas necessidades, porque, senão, vai acontecer o que teria acontecido no

Canadá, certamente, com o nosso Sistema Financeiro.

Quanto ao problema referente ao Banco Central, a fiscalização pode sair.

Quanto à regulamentação, tenho algumas dúvidas e vou dizer por quê. Na

realidade, entre a política monetária e a regulamentação bancária, há uma tal

simbiose que, sem querer, ao regulamentar os bancos, está-se mexendo na política

monetária. Se houver dois órgãos, vamos ter conflitos de competência. No Brasil,

quando há conflito de competência, nada se resolve e apenas se discute o conflito.

Tenho medo do conflito de competência. O Banco Central — como o Federal

Reserve, nos Estados Unidos — precisa realmente de poderes. Caso contrário, sua

situação pode tornar-se difícil. A fiscalização pode sair, mas a regulamentação está

muito vinculada à política monetária para termos dois órgãos. Com todo o respeito

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pela iniciativa governamental, acredito que incentivar, em uma agência

governamental, a concorrência em todos os setores talvez venha a dificultar a

posição do Banco Central. O problema da concorrência, em matéria de banco, deve

ser de competência do Banco Central.

Em relação aos juros, ninguém está dizendo que se deve acabar com a lei

dos juros. O que não se pode fazer é vincular a lei de juros a um organismo

determinado. É possível, por exemplo, dizer o que há em algumas outras licitações

— há uma taxa média, que não pode ser ultrapassada em mais de xis por cento —

e realmente criar um sistema de competição real. Se houver competição e taxa

média, acho que se chega lá, inclusive em relação aos cartões de crédito, que hoje

realmente estão cometendo verdadeiros abusos.

De modo que, nobre Deputado, estamos basicamente de acordo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Rubem Medina) – Com a palavra o Deputado

Coriolano Sales.

O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES – O eminente professor não

respondeu à questão referente ao mandato do Banco Central e a sua relação com a

autonomia.

O SR. ARNOLD WALD – Sim, desculpe-me.

O banco tem de ser autônomo e deve ter mandato. A diretoria tem de ter

mandato e acho muito importante fazê-lo. Inclusive é importante a idéia de mandatos

não-coincidentes, no sentido de termos certa continuidade e não uma composição

totalmente diferente. Do mesmo modo, são nomeados os diretores do Banco Central

justamente para que tenham mandato. O mandato é importante e relevante.

Desculpe-me por ter me olvidado desse assunto. Deixe-me levar pelo debate dos

juros, o que é mais discutido.

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O banco tem de ser autônomo e deve ter poder e responsabilidade. Durante

muito tempo tinha poderes e não tinha responsabilidade. Então, é preciso que tenha

poder e responsabilidade, liberdade e responsabilidade, mandato e algumas

limitações, tipo quarentena.

Se não há mandato, até a correnteza fica difícil. O senhor vai nomear um

diretor do Banco Central por um mês e, durante dois anos, não se pode fazer nada.

Nesse caso, acho que não é muito humano.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Rubem Medina) – Tem a palavra o Deputado

Nelson Proença.

O SR. DEPUTADO NELSON PROENÇA - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.

Arnold Wald, Sras. e Srs. Deputados, gostaria de começar meu pronunciamento

fazendo um elogio à Deputada Yeda Crusius pela oportuníssima idéia de ter

sugerido que o Prof. Arnold Wald viesse fazer esta apresentação. Incluo-me entre as

pessoas que ficaram vivamente impressionadas com o brilhantismo do professor e

especialmente com o seu bom humor, capaz de amenizar assunto tão pesado como

este. Parabéns, Prof. Arnold.

O SR. ARNOLD WALD - Obrigado.

O SR. DEPUTADO NELSON PROENÇA - Gostei de ouvir muitas coisas,

professor, mas acima de tudo me impressionou ouvir a sua preocupação, várias

vezes reiterada, com a necessidade de que fizéssemos permanente atualização da

nossa legislação. Em um mundo que muda constantemente, é necessário que a

Casa que faz as leis esteja permanentemente atualizando a legislação.

O fenômeno da globalização é decorrente do processo de inovação

tecnológica que a humanidade enfrentou e viveu nas últimas duas décadas. A

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globalização é fruto da comunicação instantânea, da informatização, do fax, da

possibilidade de se transferirem capitais, overnight, entre os continentes etc.

Permitam-me que conte rapidamente um episódio. Em 1991, no meu primeiro

mandato de Deputado Federal, entendi claramente de que forma a globalização

causaria impacto em todas as pessoas, em qualquer recanto. Estive em um pequeno

Município do meu Estado, no Rio Grande do Sul, Constantina, onde visitei uma

cooperativa de produtores de soja. A primeira coisa que me disseram foi que se

tratava de uma cooperativa pobre, de pequenos produtores. Levaram-me para ver o

silo, onde estava a safra de soja daquele ano, e, depois, para ver o escritório da

cooperativa, que era pouco mais que um barracão de madeira. Entrei no escritório, e

então, a minha surpresa: no fundo do barracão havia uma mesa de madeira e em

cima dela um terminal de computador. Quando me aproximei do terminal, o rapaz

que o operava me disse: “Fazemos aqui o habitual, mas, entre outras coisas,

Deputado, quero lhe dizer que estamos “linkados” com a Bolsa de commodities de

Chicago. A safra que o senhor viu aqui já foi vendida. Já sabemos que ela trocou de

mãos, em operações eletrônicas, três ou quatro vezes para três ou quatro

compradores em diferentes lugares do mundo, sem ter deixado de estar fisicamente

depositada no silo, em Constantina”. Para quem não sabe, Constantina fica perto de

Carazinho, famosa por ser a terra natal do Dr. Leonel Brizola.

Esse processo de globalização, fruto da tecnologia, traz um impacto brutal.

Acho difícil, Deputado Coriolano, que, mesmo usando artifícios legais, consigamos

evitar a globalização. Ela é praticamente inevitável. Concordo com a sua

preocupação e com a do Prof. Arnold no sentido de que estabeleçamos alguns

mecanismos capazes de proteger a sociedade brasileira, os nossos sistemas

produtivos do impacto, muitas vezes predatório, que a abertura demasiada provoca.

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Entretanto, desconfio que hoje é praticamente impossível criar mecanismos políticos

capazes de segurar a inovação tecnológica.

A inovação tecnológica é tão rápida e brutal que é capaz de permear a

barreira política que a sociedade possa criar. Cito exemplo: se não tivéssemos

partido para a desregulamentação do nosso sistema de telefonia, ele seria

desregulamentado pela própria tecnologia. A tecnologia iria se encarregar de

desregulamentá-lo. Essa desregulamentação iria fazer com que os ativos, que em

determinado momento a sociedade brasileira conseguiu vender, desvalorizassem-se

brutalmente. A sociedade brasileira vendeu seus ativos de telecomunicações no

último e derradeiro momento. Se não tivéssemos feito aquilo naquele momento,

hoje, seguramente, eles valeriam muito menos do que valiam naquela época, por

causa da inovação tecnológica.

Estou dizendo isso porque ouvi com muita atenção a sua intervenção e com

alguma preocupação a sua manifestação acerca do eventual estabelecimento de

algum tipo de proteção ou de reserva de mercado para alguma parte do nosso

sistema financeiro.

Em tempo, gostaria de fazer uma pergunta cuja resposta sei que não é fácil

ser dada neste momento. Em todo caso, eu a farei. Parece-me que de todas as

questões que estamos discutindo o ponto básico diz respeito à autonomia e à

independência do Banco Central, como muito bem mencionou V.Sa. Qual seria o

nível de autonomia concederemos à nossa autoridade monetária?

V.Sa. tocou em um ponto interessante: um projeto de lei que o Poder

Executivo está encaminhando a esta Casa para criar a Agência de Concorrência, e

de que maneira esta agência ficará com algumas das atribuições do Banco Central.

Provavelmente, no segundo semestre deste ano, este Congresso Nacional vai se

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debruçar sobre a necessidade de modernizarmos também este setor, criando e

regulamentando a Agência de Concorrência.

O Brasil começa a viver as megafusões que têm acontecido lá fora, e há

necessidade de se preservar a concorrência. De que maneira podemos agora, nesta

Comissão em que tem o prazer de recebê-lo hoje, esboçar a autonomia do Banco

Central para que tenha o grau de independência necessário para poder atuar neste

mundo novo globalizado, cheio de desafios? É a Argentina que quebra em uma

semana, a Rússia, na semana seguinte; é a economia americana que desacelera e,

ao mesmo tempo, acelera. É o dólar, enfim. Precisamos dotar a autoridade

monetária de flexibilidade. Mas aonde isso pode chegar?

Não sei se as minhas perguntas foram demasiadamente amplas, mas

encaminho-as à sua competência.

O SR. ARNOLD WALD – Agradeço a V.Exa. as palavras. Tenho

acompanhado o trabalho de V.Exa. no Poder Legislativo há algum tempo e os

projetos de lei de sua autoria em vários setores e reitero o especial prazer de

conhecê-lo pessoalmente nesta reunião.

Esses dois problemas não são tão simples como pensamos. Em todo caso,

vamos analisá-los. O primeiro, globalização e proteção local, leva-nos a entender

que ninguém pretende segurar a inovação tecnológica. Somos obrigados a

aproveitá-las.

Há, entretanto, lacunas entre a inovação tecnológica, a estrutura da

sociedade e os mecanismos políticos e sociais. Vamos supor o seguinte: se

estabelecermos a globalização complexa, a partir de amanhã teremos de nos

comunicar em inglês. Para que falar português? Vamos falar inglês. O fato é que

temos uma cultura a preservar. E lembrem-se de que não estou falando de cultura

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no sentido estrito, da cultura intelectual. Refiro-me à cultura como modo de viver,

qualidade de vida, problema que já não é apenas nosso, por ele também passam os

europeus, em relação aos americanos.

Há, portanto, equilíbrio entre os aspectos positivos e negativos da

globalização, em relação aos quais alguma proteção pode ou não ser possível.

Apenas para darmos um princípio à generalização que V.Exa. lançou, li um

livro de um americano que diz que a rede McDonald’s vai-se impor em todos os

lugares. Entretanto, há alguns elementos do islamismo que querem preservar.

Nesse caso, há dois pontos radicais — o islamismo, de um lado, e o McDonald’s, de

outro. Entre os dois há certas coisas que podemos proteger e, sem discutir inovação

tecnológica, admitir que poderemos dar um passo à frente.

A privatização da telefonia precisava ser feita — talvez tenha sido feita com a

miniproteção de alguns acionistas minoritários do meio. Mas tudo bem, a perfeição

não é humana, e conseguimos ver na bola de cristal depois e não antes. Eu acho

que tinha de ser feita daquela forma, não havia outro jeito de fazê-la. Ademais, foi

feita no momento exato, único meio. Do contrário, iríamos à falência.

No contexto das telecomunicações, cerca de trinta ou quarenta anos atrás,

lembro-me de uma época em que, para falarmos do Rio para São Paulo, levávamos

em torno de 18 horas e, para conseguirmos linha, havia um office-boy que ficava na

linha, o chamado “boi na linha”. Essa é uma história da qual ninguém se lembra mais

hoje em dia, mas precisa ser lembrada.

O segundo aspecto diz respeito a uma fiscalização adequada. Um dos

perigos que existem na nossa telefonia é Lei de Lavoisier: aumenta-se muito o

número de instalações, mas o sistema começa a funcionar menos. De vez em

quando não somos totalmente felizes nas ligações por celulares, elas caem muito.

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Mas isso é adaptação, é algo que precisamos admitir que vai acontecer. Foi

importante não só o dinheiro que recebemos, mas também o investimento, que o

Governo não poderia fazer. De modo que isso é importante.

Algumas defesas devemos fazer. O banco a varejo realmente precisaria de

certo equilíbrio. O exemplo do Canadá é importante, mas se tivermos como

referência só os bancos estrangeiros, isso poderá ser negativo para o brasileiro,

para a nossa cultura, para a nossa produção. Por mais que queiramos, a

multinacional sempre dá preferência ao país de origem, que tem o seu sotaque.

Sempre fui a favor da abertura do sistema financeiro Então, em determinados

setores, a abertura foi útil e razoável. Não sei se temos de ir, no campo dos bancos

de varejo, muito além disso. Estamos hoje com 40% de bancos estrangeiros e 60%

de nacionais; os estaduais perderam grande parte da sua atuação. Então, acho que

não basta proteger contra a inovação, é preciso proteger também as instituições. Sei

que é difícil. A sua pergunta decorre da dificuldade, se não, já a teríamos resolvido.

De fato, há certo equilíbrio possível e tem sido admitido em alguns países.

Portugal teve uma briga desse tipo recentemente. Não sei se V.Exa. a acompanhou.

Um dos grandes bancos portugueses foi vendido para os espanhóis. O Governo

português impugnou a venda, e o vendedor recorreu ao Conselho da Europa e

conseguiu uma decisão dizendo que não podia haver, entre os países europeus,

diferença de tratamento. E realmente o banco português foi vendido — acho que foi

para o Santander —, e o seu titular ficou com um percentual, como o segundo o

acionista do banco espanhol.

Tenho a impressão de que em nossos acordos, até no MERCOSUL, valeria a

pena fazer alguma observação para dizer que queremos ressalvar o direito de ter os

nossos bancos, assim como os argentinos poderiam fazer. Em relação ao

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MERCOSUL, acho que o sistema português teria funcionado. O Governo português

não teria permitido e era importante que em Portugal houvesse três ou quatro

bancos portugueses, porque já havia um grande número de bancos estrangeiros.

Então, podemos chegar a um justo equilíbrio que não seja, de modo algum, uma

reserva de mercado, mas a idéia de equilíbrio em mercado. Prefiro a palavra

equilíbrio à palavra reserva. E esse equilíbrio é dinâmico, não é necessariamente

rígido. Ele pode ser flexibilizado, mas deve existir.

Eu ficaria triste no momento em que não tivéssemos nenhum banco brasileiro.

Havia uma caricatura nos jornais, mostrando que o sujeito para ir ao banco teria de

falar inglês; para ir à Telefonica, espanhol. Precisamos falar português, não só o

nosso, mas também o daquele seu amigo agricultor, que consegue utilizar o

computador, está ligado à Bolsa de Commodities de Chicago e continua falando

português, sendo o dono de seu negócio.

A empresa brasileira tem de reorganizar todo o sistema de fusões e

aquisições, porque a média empresa terá dificuldade para sobreviver. Mas esse é

outro problema que não vamos necessariamente resolver hoje, porque foge ao tema

proposto pela Comissão.

O segundo assunto suscitado por V.Exa. — e vou ser muito breve para não

atrapalhar o funcionamento da Comissão — é importante. Refere-se à autonomia do

Banco Central. Essa autonomia, em um regime democrático, funciona muito bem.

Acho até que hoje — não de direito, mas de fato — estamos em um sistema de

autonomia. Ou seja, há um encaminhamento para o Presidente do Banco Central de

uma política, e S.Sa., de um modo ou de outro, vem prestar contas ao Congresso

Nacional e à opinião pública.

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É verdade que isso não decorre de um sistema. É preciso sistematizar. Mas,

quanto a esse particular, acho que o exemplo americano não é ruim, pois nos dá um

Presidente do FED forte, com alguns poderes, e a necessidade de se obedecer à

política geral do País e à fiscalização do Congresso Nacional.

Nos Estados Unidos, existe o dever de falar com a opinião pública. Quando o

Presidente da FED faz seus pronunciamentos, na realidade está prestando contas,

está dizendo o que está e o que não está fazendo.

Portanto, deve haver mandato fixo, exercido por diretores com conhecimento

da questão e com independência. Deve haver um conjunto de atribuições, tais como

a concorrência, a aquisição de bancos e a proteção do consumidor. Caso contrário,

vamos cindir a operação bancária. Vamos dizer que a operação de um lado é uma,

mas o modo de se realizar, o modo de funcionarem os bancos, o modo de se

fundirem, de aumentarem a sua área de atuação, de protegerem o consumidor é

outro. Então, se houver dois órgãos que tratam da mesma matéria, vai haver conflito

burocrático. O Banco Central tem de assumir.

A idéia da Agência de Concorrência é muito interessante em relação a fusões

e aquisições em geral. Ela tem de levar em conta duas ordens de pensamento. A

primeira delas seria a situação específica do Brasil, um pouco diferente da de outros

países que já chegaram a outro nível de desenvolvimento industrial e empresarial.

Ao mesmo tempo, em determinados setores em fase de transição, de implantação

— estou me referindo não só ao setor financeiro, mas também ao setor das

concessões de telefonia, de energia elétrica, de petróleo —, não pode haver a cisão

das competências.

A Agência de Concorrência ou o CADE renovado têm importante função, mas

não pode assumir funções que hoje são do Banco Central, da ANEEL, da ANATEL,

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sob pena de atrapalhar as políticas setoriais. A concorrência e a proteção do

consumidor têm de estar vinculadas à regulamentação setorial. Não se pode dizer

que se regulamenta o setor, indicando que um vai tratar da concorrência e o outro

do consumidor, porque, no fim, vai ser um caos. E, como estamos aqui para tentar

sair do caos, o caminho é não permitir a cisão.

Os problemas estão surgindo hoje com o conflito de competência entre o

CADE e o Banco Central. O CADE tem importante área de desenvolvimento, mas,

no campo bancário, o Banco Central é que tem de estabelecer a política, sob pena

de não pode atuar adequadamente.

Citou-se o exemplo da Alemanha, que tem outro nível de estabilidade

monetária. Os problemas que a Alemanha conheceu ocorreram nos anos 30, ou

seja, há setenta anos. No Brasil, saímos da inflação, aos poucos, nos dois ou três

últimos anos. Então, ainda não é possível dizer que o nosso Banco Central poderia

ser comparado ao Banco Central alemão. O exemplo estrangeiro é muito importante,

mas temos de adaptá-lo a nossa realidade. Não temos a tradição que se firmou no

Bundesbank, que hoje permite dizer que o problema inflacionário da Alemanha não

existe, é história do passado.

Para nós, a preocupação de manter o valor da moeda é muito importante.

Então, temos de ser mais amplos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Rubem Medina) - Concedo a palavra ao

Relator, Deputado Edinho Bez.

O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Cumprimento o Sr. Arnold Wald, e quero

elogiar a iniciativa da nobre Deputada Yeda Crusius de ter propiciado a oportunidade

da visita de S.Sa. conosco nesta reunião.

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Recebi algumas sugestões. Peço escusas por não lê-las em função de que

esses assuntos já foram abordados pelos Deputados que me antecederam e pelo

próprio expositor. Por exemplo, se o senhor é contrário à autonomia do Banco

Central. Foi respondido. Se sugere manter sua maior fiscalização. Também já foi

respondido. Eu mesmo havia feito várias perguntas, já respondidas. De maneira que

estamos mais ou menos afinados, sabemos mais ou menos o que queremos aqui.

Temos um desenho, professor, do nosso trabalho, do que pretendemos.

Visitamos vários países, temos tido várias audiências públicas, já discutimos

praticamente com todos os segmentos do Sistema Financeiro Nacional do País,

vamos continuar ouvindo-os, e priorizaremos alguns juristas. A Deputada Yeda

Crusius nos brindou com sua contribuição e sua iniciativa foi aprovada, como disse o

Deputado Nelson Proença, por unanimidade nesta Comissão.

Quero parabenizá-lo pela palestra, dizer que esta Comissão sempre estará à

disposição, como também o Parlamento, para receber as sugestões de V.Sa.,

professor de renome nacional e internacional, com grandes obras publicadas.

Agradeço a V.Sa. do fundo do coração. Estamos sensibilizados com a

maneira cortês de V.Exa.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Rubem Medina) - Agradeço ao Dr. Arnold

Wald, em nome da Comissão, pela sua presença e brilhante exposição.

Cumprimento a Deputada Yeda Crusius e o Sr. Relator, Deputado Edinho

Bez, pelo brilhante trabalho.

Declaro encerrada a reunião.