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GLOBALIZAÇÃO E INOVAÇÃO

LOCALIZADA: EXPERIÊNCIAS DE SISTEMAS LOCAIS NO MERCOSUL

Disponível para download em www.redesist.ie.ufrj.br/livros.php

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Globalização e inovação localizada

Helena M. M. Lastres, José E. Cassiolato,Cristina Lemos, José Maldonado e

Marco Antônio Vargas

1. INTRODUÇÃO

A emergência de um novo paradigma tecnológico e a globalização financeirasão os traços mais marcantes da economia mundial nos últimos 15 anos. Estreitou-seainda mais a integração da economia mundial, enquanto a revolução tecnológicase difundia rapidamente, porém de forma desigual, mesmo entre as principaiseconomias avançadas. Em tal quadro, a competitividade de firmas e nações pareceestar cada vez mais correlacionada à sua capacidade inovativa, cenário onde amudança tecnológica tem-se acelerado significativamente e as direções que tomamtais mudanças são muito mais complexas.

No contexto internacional da década de 90, uma das características principaisdas intensas mudanças observadas nos processos produtivos relaciona-se àcrescente intensidade de investimentos em conhecimento. De fato, umatransformação fundamental se observa no significado relativo dos investimentosem conhecimento e investimentos em capital fixo. Como uma conseqüência, emvários setores os gastos anuais em P&D das empresas líderes já são maiores queseus investimentos em capital fixo, o que requer uma mudança de perspectivatambém fundamental para quem está acostumado a ver o investimento em capitalfixo como o motor do crescimento econômico.

As implicações das atuais transformações para países em desenvolvimento,como o Brasil, Argentina e Uruguai, não são ainda totalmente claras. Tais países,em uma expectativa de obter maior integração com a economia mundial e sobpressão dos países mais avançados e de organismos internacionais como o FMI eo Banco Mundial, abriram suas fronteiras comerciais, privatizaram suas empresasestatais e promoveram uma desregulamentação das atividades econômicas,particularmente facilitando o acesso de empresas multinacionais a seus mercados.

A expectativa de que a entrada maciça do capital estrangeiro pudesse acelerara difusão das novas tecnologias e a integração das economias locais com ummercado global frustrou-se, e a crise social na região tornou-se mais aguda.

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A importância da inovação para a competitividade impõe uma discussão maisaprofundada sobre os processos de desenvolvimento tecnológico na região e oimpacto neles da abertura acelerada e da criação do Mercosul.

Estabeleceu-se desta maneira um projeto de pesquisas nos países da regiãocujo objetivo central é o de analisar as experiências de sistemas locais selecionadosno âmbito do Mercosul, objetivando o entendimento dos sistemas nacionais de taispaíses e gerar proposições de políticas de C&T em níveis nacional, supra esubnacional. Para tal, delineia-se um conjunto de objetivos subordinados, os quaisreferem-se à necessidade concreta de a) identificar e analisar as experiênciascom arranjos locais de inovação em países do Mercosul e b) discutir soluçõesalternativas quanto à adoção de políticas de desenvolvimento que considerem nãoapenas as questões nacionais e supranacionais de aumento da competitividade.

Este primeiro capítulo, resultante da primeira fase do referido projeto de pesquisa,visa a iniciar a discussão proposta focalizando a questão da globalização tecnológicae da dimensão local da inovação do ponto de vista de países em desenvolvimento.

2. GLOBALIZAÇÃO

A idéia predominante subjacente ao termo globalização econômica é que secaminharia para um mundo sem fronteiras, com a predominância de um sistemainternacional autônomo e socialmente sem raízes, onde os mercados de bens eserviços se tornam crescentemente globais. Nesta perspectiva, sustenta-se quea economia mundial é dominada por “forças de mercado incontroláveis”, cujosprincipais atores econômicos são grandes corporações transnacionais que nãodevem lealdade a nenhum Estado-nação e que se estabelecem em qualquerparte do planeta, exclusivamente, em função de vantagens oferecidas pelosdiferentes mercados. Assim, apregoa-se que a única forma de evitar se tornarum perdedor – seja como nação, empresa ou indivíduo – é ser o mais articuladoe competitivo possível no cenário global. Neste quadro, o papel dos Estadosnacionais, particularmente da periferia menos desenvolvida, é descrito comoextremamente diminuído senão anulado, só lhes restando a aceitaçãoincondicional e o azeitamento do crescente processo de desenvolvimento dasforças econômicas em escala global. Paralelamente, a ideologia da globalizaçãotem servido aos governos como bode expiatório, ao se transferir aresponsabilidade pelas vicissitudes econômicas e sociais nacionais para o âmbitodas forças supranacionais, fora de seu controle.

No entanto – e conforme argumentamos em trabalhos anteriores1 –

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consideramos fundamental, ao iniciarmos a discussão proposta neste capítulo,salientar o carregado conteúdo ideológico do termo, particularmente no que serefere à criação e consolidação de um ambiente intelectual ideal para a adoção depolíticas econômicas e sociais favoráveis aos grandes interesses econômicos efinanceiros que operam no plano internacional. A conseqüência talvez mais gravedisto é que, em uma realidade supostamente dominada por forças internacionaisavassaladoras e movimentos econômicos irreversíveis, a globalização é vista comoum mito, que rouba a esperança, anula a busca de alternativas e tende a paralisaras iniciativas estratégicas nacionais2 .

Um importante aspecto recorrentemente salientado na literatura é, portanto,que a noção de globalização não apresenta consistência conceitual tanto no quese refere ao verdadeiro significado do termo, quanto à extensão do processo emsuas várias instâncias, uma vez que seus efeitos e impactos se fazem sentir deforma diferenciada em diversos segmentos dentro da própria esfera econômica,sejam estes financeiro, comercial, produtivo, institucional, tecnológico. E, paraalém de diferentes indicadores (que nos mostram, por exemplo, que cerca de 80%de toda a produção mundial ainda são consumidos nos países em que são produzidose que a poupança doméstica financia 95% da formação de capital), ressalta-secomo distorção talvez mais flagrante a constatação de aumento nas barreiras aodeslocamento de pessoas, ou melhor, trabalhadores3 . Trata-se de fato conhecidoque alguns autores inclusive recusam-se a discutir o assunto, devido, não apenas,à sua inconsistência e ao modismo, mas principalmente ao conteúdo ideologicamentecarregado do mesmo4 .

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1 Ver, particularmente, Lastres, Cassiolato, Lemos, Maldonado e Vargas (1997) no qual muitas das idéiasdiscutidas aqui têm origem.

2 Ver, entre outros, Fiori (1993 e 1995), Coutinho (1996), Ianni (1995 e 1996), Furtado (1992 e 1998)Chesnais (1996), Tavares e Fiori (1997), Carrion e Vizentini (1997) e Cordelier (1998).

3 Benjamin et al. (1998) acrescentam: “Assim o conceito de globalização não descreve o processocomo um todo, mas o faz tão somente de um certo ponto de vista. Junto com a globalização do grandecapital, ocorre a fragmentação do mundo do trabalho, a exclusão de grupos humanos, o abandono decontinentes e regiões, a concentração da riqueza em certas empresas e países, a fragilização da maioriados Estados, e assim por diante” (p. 33).

4 Nota-se, por exemplo, que Jean Lojkine (diretor do Centre d’Étude des Mouvements Sociaux da Écoledes Hautes Études en Sciences Sociaux, Paris) iniciou sua conferência na UFRJ sobre globalização, em1996, apontando para estes aspectos e chamando a atenção para o fato de, na língua francesa, o termosinônimo ‘mundialização’ ser mais utilizado. Entre outras razões, argumenta-se que o termo globalização,difundido após a queda do Bloco Socialista, foi utilizado por alguns autores norte-americanos paradisseminar a idéia de que o mundo (ou melhor, o mercado mundial) teria, a partir de então, tornado-seum só, global.

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Contudo, concorda-se com o argumento de que poucos são os casos determos tão utilizados5 e com tanta força política quanto este passou a possuirneste final de século. Como nos lembram Tavares e Fiori (1997), Hobsbawn, emseu livro A Era do Império (1988), já salientava – à semelhança da globalização– o caráter ideológico e impreciso que o conceito de imperialismo teve no final doséculo passado, ao ser cunhado inicialmente pelos meios jornalísticos políticostransformando-se posteriormente em peça teórica fundamental da economiapolítica. Assim, se no início imperialismo significava coisas positivas, acabouadquirindo uma conotação política cada vez mais negativa com o passar do tempo.Desta maneira, justificam a importância de aprofundar a discussão sobre talfenômeno: “A história pode estar nos ensinando que uma crítica séria e consistenteda palavra globalização – introduzida pelo jargão liberal deste final de milênio –talvez possa contribuir para uma melhor compreensão das transformações daeconomia capitalista ocorridas a partir da crise dos anos 70 e dos desafiosenfrentados pela sociedade política mundial na entrada do século XXI” (p. 7-8).

Adicionalmente, destaca-se que, apesar da imprecisão do termo e das grandesdivergências entre os diversos estudos, alguns aspectos do atual processo sãoobjeto de relativo consenso entre os diferentes autores6 . Primeiramente, aponta-se que, diante de um ambiente de mudanças e incertezas, um grande número depaíses respondeu aos novos desafios com a adoção de políticas de cunho liberal,as quais atribuem ao mercado a prerrogativa de prover a auto-regulação econômica.Conforme salientado por vários autores, essas idéias tornaram-se hegemônicasnos anos 80, sob a liderança dos países anglo-saxônicos e se propagaram emgraus diferentes a diversos países do mundo, incluindo os em desenvolvimento eos ex-comunistas, resultando sobretudo na diminuição das barreiras nacionais eregionais previamente existentes7 . Assim, abrir, estabilizar, desregular e privatizartornaram-se as palavras de ordem no âmbito da maior parte das políticasmacroeconômicas implementadas a partir de então.

5 Conforme discutido por Humbert (1995) ao iniciar uma de suas contribuições à discussão do temaglobalização, uma análise da progressão do uso deste termo nos revelaria que o número de livrospublicados em inglês com o termo global no título passou de zero em 1950 para 1 766, em 1970, e para4 496, em 1980.

6 Para uma discussão mais detalhada sobre diferentes contribuições teóricas quanto à definição doconceito, ver Lastres (1997).

7 Ver, entre outros, Chesnais (1996); Fiori (1993 e 1995); Ianni (1995); Cassiolato (1996a).

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Em segundo lugar, associado ao desenvolvimento do novo paradigma tecno-econômico, destaque-se a acelerada difusão das novas tecnologias de informaçãoe comunicação (TICs), que possibilitaram radical ruptura quanto à extensão doscontatos e de trocas de informações possíveis entre os atores, individuais e coletivos,mediante a diferenciação e ampliação de sistemas, canais, redes e organizaçõesde geração, tratamento e difusão de informações. Essas tecnologias, além depossibilitarem a rápida comunicação, processamento, armazenamento e transmissãode informações em nível mundial a custos decrescentes, encontram-se na basetécnica do que se convencionou denominar ‘revolução informacional’, a qual vemcontribuindo para a conformação de uma nova era, para cuja caracterizaçãoconcorrem diferentes designações: sociedade ou economia da informação ou doconhecimento; paradigma tecno-econômico das tecnologias da informação ecomunicação etc.8 .

Assim, a conjugação destes dois fenômenos – o crescente movimento deliberalização e desregulação dos mercados (sobretudo dos sistemas financeiros edos mercados de capitais) e o advento do paradigma das tecnologias de informação– é vista como elemento catalisador do processo de globalização nas últimasdécadas.

Esse novo paradigma inaugurou nova dinâmica tecnológica e econômicainternacional, com a substituição paulatina de tecnologias intensivas em capital eenergia e de produção estandardizada e de massa, características do ciclo dedesenvolvimento anterior, para as tecnologias intensivas em informação. Nestenovo padrão, o conhecimento torna-se um ativo primordial de competição, aomesmo tempo em que vêm-se impondo novas formas de organização e interaçãoentre as empresas e entre estas e outras instituições (incluindo as de ensino epesquisa) e favorecendo rápidas mudanças nas estruturas de pesquisa, produçãoe comercialização. A principal expressão organizacional deste conjunto demudanças é a formação de redes de todo o tipo, maximizando o potencial oferecidopelos novos meios técnicos disponibilizados pelo desenvolvimento e barateamentodos bens e serviços gerados particularmente pelos setores de informática etelecomunicações.

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8 Ver, por exemplo, Lastres (no prelo), a qual salienta a estreita articulação entre o desenvolvimentodas novas TICs e o setor financeiro, destacando como um dos reflexos de tal articulação o fato de nestesetor o processo de globalização ter se dado de forma mais acelerada, até porque grande parte dasatividades financeiras não envolve trocas físicas, mas sim de informações traduzidas e transmitidas emtempo real no mundo inteiro.

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Como exemplo em nível meso e microeconômico, destaca-se a formação daempresa rede (network firm), que engloba todo o tipo de colaborações e relaçõesinter e intrafirma, intensificando a montagem e operação de redes de fornecimentode insumos, equipamentos, serviços, produção, distribuição e consumo. Taltendência, além de se cristalizar como formato mais eficiente e competitivo, tendetambém a assumir dimensões globais, onde os principais agentes são as grandesorganizações transnacionais que mais rapidamente conseguem fazer uso dasinovações técnicas e organizacionais disponibilizadas pelo novo padrão em difusão.Conforme apontado por alguns analistas do tema, as organizações transnacionais,além de controlarem em grande parte as áreas que compõem o núcleo central doprogresso tecnológico, detêm, através da montagem de redes corporativas, acapacidade de realmente definir e implementar estratégias de competitividade decaráter global. Tais estratégias são centradas na obtenção de vantagens advindasda crescente mobilidade de certos ativos e fatores (como capital, acesso a matérias-primas, partes e componentes etc.) e das possibilidades de manejar sistemascomplexos proporcionados pelo avanço e difusão das tecnologias da informação9 .

Faz-se necessário frisar que, além das dimensões tecnológica, organizacionale institucional, o atual processo de globalização resulta de (e também envolve)mudanças políticas, comerciais, financeiras, culturais e sociais. Tais mudanças, aose relacionarem de maneira dinâmica, vêm gerando – entre vários outros resultados– uma reorganização espacial da atividade econômica e uma clara re-hierarquizaçãode seus centros decisórios. Como decorrência, salienta-se a realocaçãointernacional da atividade produtiva e dos fluxos de comércio, informação econhecimento, concentrando-se aceleradamente na denominada Tríade (EstadosUnidos, Japão e países da Europa Ocidental), que, com o desmantelamento doBloco Socialista, vêm-se consolidando como blocos econômicos hegemônicos.

Como destacado por diversos autores, como, por exemplo, Fiori (1995), é “nesteespaço que são tomadas as decisões e se desenvolvem as novas formasorganizacionais de competição global que acabam alcançando, de uma formaou de outra, os respectivos espaços periféricos” 10. Tendo em vista a extensãoda crise deflagrada no mercado financeiro globalizado e particularmente na Ásia,durante a década de 90, diversos autores vêm enfatizando as tendências de os

9 Ver, por exemplo, Lastres (1993) e Cassiolato (1996a).

10 Ver, por exemplo, Tavares e Fiori (1997), onde, no exame da evolução do processo de retomada dahegemonia norte-americana, dá-se ênfase especial aos aspectos relacionados à “diplomacia do dólar”.

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EUA manterem e reforçarem, dentro do conjunto dos países mais avançados, suaposição hegemônica. Assim, a globalização principalmente daquelas atividadesmais estratégicas, além de concentrar-se nos países da Tríade (e particularmentenos EUA), é vista como provocando um processo de polarização crescente entreblocos, países, regiões e grupos sociais. Paralelamente, destaca-se a tendência aincorporar nesse processo aqueles mercados (alguns inclusive da periferia menosdesenvolvida) que possuem peso e posição relevante em nível mundial e que adotamnormas trabalhistas, ambientais, tributárias, entre outras, consideradas como maisatrativas, flexíveis ou competitivas (Lastres, 1997).

Assim é que se sugere entender o fato de – ao se analisar a atual fase doprocesso de globalização – alguns autores apontarem que não existem evidênciasconcretas comprovando mudanças significativas no sentido de umadesconcentração da apropriação dos resultados ou da divisão do trabalho intelectualentre as diferentes instâncias das empresas, blocos de países ou das diversasregiões que compõem os países. Na verdade, a análise das evidências disponíveisressalta não apenas a inexistência de um processo de globalização daquelasinformações e atividades consideradas estratégicas para as empresas e países(relacionadas ao planejamento e controle decisório e às atividades de pesquisa edesenvolvimento, por exemplo), como, em muitos casos, conclui-se por umareconcentração de tais atividades e informações, conforme aprofundado a seguir.

3. GLOBALIZAÇÃO TECNOLÓGICA

A leitura das atuais estratégias tecnológicas das empresas, países e blocostem suscitado um intenso debate entre os autores que tentam interpretá-las eaferir o processo geral de globalização11. A adoção de “estratégias globais depesquisa”, mediante a implantação de unidades de P&D em diferentes países,estabelecimento de networks para inovação e mesmo os grandes programas depesquisa transnacionais cooperativos desenvolvidos, sobretudo, pela União Européiae Japão, entre outros, são elementos considerados como constituintes do processode tecnoglobalismo. Assim, para um conjunto de autores, as atuais estratégiastecnológicas das empresas expressam um processo de globalização tecnológica,tanto pela descentralização à escala mundial da atividade de P&D levada a efeito,sobretudo, pelas multinacionais, quanto pelo grande número de alianças tecnológicasrealizadas nas duas últimas décadas. Nestas análises, aponta-se, particularmente,

11 Para uma reflexão em português sobre esta questão privilegiando-se o enfoque de país em desenvolvimento,ver: Lastres e Cassiolato (1995); Cassiolato (1996b); Maldonado (1996); Lastres (1997); Lastres, Cassiolato,Lemos, Maldonado e Vargas (1997).

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para o papel desempenhado pelos avanços nas tecnologias de comunicação einformação, viabilizando não só a realização conjunta de atividades de P&D porparticipantes localizados em diferentes países do mundo, mas também o controlee coordenação das mesmas.

Nesta perspectiva, a idéia de um possível tecnoglobalismo é interpretada pormuitos como deslocando os sistemas nacionais de inovação, tornando redundante,e no limite sem efeito, qualquer tentativa por parte dos governos nacionais empromover o desenvolvimento tecnológico doméstico. Já outros trabalhos criticame refutam os princípios básicos de tal hipótese, ao mesmo tempo em que apontamque os dados disponíveis não evidenciam tal tendência. Aliás, aponta-se que aprópria criação e disseminação do conceito de sistemas nacionais de inovaçãoresponde às teses que advogam o final da história e da geografia. Os criadorese disseminadores de tal conceito consensualmente manifestam pelo menos anecessidade de investigar e discutir mais amplamente as especificidades eespaços para projetos, políticas e atuação nacionais diante do processo deglobalização.

Dentro desta lógica, para um conjunto de autores, em oposição aos defensoresda vertente do tecnoglobalismo, a atividade tecnológica representa exatamenteum dos casos de não-globalização. O argumento principal aqui é que os dadosestatísticos disponíveis sobre o crescimento de gastos de P&D no exterior sãoinsuficientes para basear conclusões mais acuradas, não havendo evidências deque este processo seja generalizado. O essencial das atividades de inovação continuasendo desenvolvido no país de origem das empresas, segundo estratégias definidasem tais espaços, e, quando se internacionalizam, objetivam, principalmente, realizaratividades de monitoração e adaptações ao mercado local.

Mediante a análise da evolução recente de dados estatísticos sobre patentespara os países da OCDE e sobre acordos de cooperação constantes dos principaisbancos de dados internacionais, conclui-se que:

• a geração de tecnologia permanece basicamente “doméstica”, no sentido deque o essencial da P&D continua sendo desenvolvido nos países de origemdas empresas;

• a colaboração internacional, por sua vez, é um fenômeno que diz respeitoessencialmente às empresas dos países desenvolvidos e, deste modo,“triadizada”;

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• a exploração internacional de tecnologia, que se manifesta pela venda diretade produtos nos mercados internacionais, na criação de subsidiárias, no depósitode patentes no exterior, no licenciamento de tecnologias etc., é a única dimensãoque vem conhecendo efetivamente um processo de globalização;

• configura-se, portanto, a visão da empresa-polvo que usa seus tentáculos paraadquirir e explorar em cada país suas excelências em pesquisa, maispropriamente do que descentralizar seu cérebro.

Salienta-se também nesta discussão que – na medida em que as grandescorporações estão sendo capazes de vender seus produtos e serviços à escalamundial e de produzi-los em diferentes localizações geográficas – elas podem eagem como agentes indutores de uma padronização e homogeneização doconsumo, da produção e da tecnologia. Contudo, aponta-se que, ao mesmo tempoem que se verifica essa tendência à padronização global em algumas áreas, nota-se também uma crescente diversidade noutras12. Adicionalmente, destaca-se sertal diversidade perfeitamente plausível e coerente com a estrutura das estratégiasglobais das multinacionais. Reconhece-se que a internacionalização da P&D jáconduziu a um processo de adaptação e modificação de produtos para fazer frenteàs especificidades locais, como parte integrante das atividades de rotina dasmultinacionais. No entanto, as empresas permanecem essencialmente nacionaisno que tange à sua propriedade e controle e grande parte das atividades de P&Dcontinua sendo desenvolvida nos seus países de origem e fortemente influenciadapor seus sistemas nacionais e locais de inovação.

4. GLOBALIZAÇÃO TECNOLÓGICA E OS PAÍSES EMDESENVOLVIMENTO

Ao se confrontarem as posições e os argumentos dos estudiosos do tema,constata-se que – apesar de diferentes interpretações quanto à questão daglobalização tecnológica – de um modo geral, os mesmos não incluem nas suasanálises uma discussão mais aprofundada sobre o papel desempenhado pelos paísesem desenvolvimento neste processo. Os dados estatísticos por si só sãosintomáticos. Mesmo aqueles que defendem a tese da globalização tecnológicaapenas apresentam dados sobre os países da Tríade, e, neste sentido, as duascorrentes se aproximam. Na essência, estão tratando de um processo que vem

12 Enquanto para alguns produtos a demanda mostra-se crescentemente global, para outros, variaçõeslocais no que se refere a preferências, regulamentações, clima e mesmo aspectos culturais, entre outros,continuam sem poder ser ignorados.

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ocorrendo essencialmente entre os países mais desenvolvidos e, portanto, de uma“triadização” (ao invés de globalização) tecnológica.

Assim, a literatura sobre processo de globalização tecnológica e os países menosdesenvolvidos (PMDs) é ainda relativamente emergente. Geralmente, o assunto étratado de forma marginal, dentro de outras problemáticas. Outrossim, verifica-seque a principal preocupação em tais estudos centra-se na identificação dos impactose efeitos do processo geral de globalização sobre as economias destes países, emfunção de variáveis macroeconômicas como investimento externo direto, comércioexterior, fluxos financeiros etc.. Cabe inclusive uma ressalva de que, mesmo nestesníveis, geralmente as análises sobre o atual processo de internacionalização nãoincluem duas grandes regiões do planeta, que juntas comportam mais de 60 países.Assim, destaca-se a ubiqüidade na utilização dos termos “comércio global” e “produtoglobal”, os quais escondem uma realidade em que a participação no comérciomundial destas regiões vem apresentando uma tendência decrescente, representando,em 1996, apenas 4,30% para a América Latina e 2,12% para a África13 .

No que toca especificamente à discussão proposta nesta pesquisa sobreglobalização tecnológica e PMDs, apresentam-se, a seguir, algumas das principaisconclusões produzidas nos últimos anos14. Primeiramente, destaca-se que se vêmmultiplicando os obstáculos à circulação dos conhecimentos científicos etecnológicos, devido a sua importância estratégica para empresas e para governosno domínio das tecnologias de ponta, como forma de conquistar e garantir posiçõeshegemônicas no cenário econômico e político internacional. Como decorrência,muito mais do que antes, o progresso tecnológico atual e seus efeitos chegam àperiferia de maneira extremamente restrita e segmentada e como resultado dedecisões tomadas dentro do oligopólio mundial15 . Decisões extremamenteconcentradas, mas que têm um poder cada vez maior na hierarquização econômicados espaços políticos nacionais, estabelecidas a partir da importância deles ou dealgumas sub-regiões, para os governos ou empresas decisoras.

Como resultado desta reordenação, ao contrário de uma suposta globalizaçãotecnológica, observa-se maior estreitamento do acesso dos países menosdesenvolvidos ao conhecimento e particularmente às tecnologias de ponta, poissua utilização flexível e segmentada corresponde a este controle concentrado. E,

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13 IMF (1998).

14 Para maiores detalhes, ver Lastres, Cassiolato, Lemos, Maldonado e Vargas (1997).

15 Ver, entre outros, Chesnais (1996).

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como conseqüência, sua transferência e difusão para os espaços periféricos ésempre parcial, dificultando ainda mais do que no passado a possibilidade de criaçãode uma capacidade endógena de progresso técnico.

De fato, de acordo com as evidências atualmente disponíveis:

• a participação de países menos desenvolvidos no esforço de pesquisa edesenvolvimento realizado em nível mundial é muito reduzida e verifica-se umadiminuição do licenciamento de tecnologias para os países emdesenvolvimento16; sabe-se que, no momento atual de grande dinamismotecnológico, as empresas dos países mais avançados, ao invés de licenciartecnologia, estão mais voltadas ao estabelecimento de acordos de cooperaçãotecnológica, tendo em vista, entre outros fatores, a diminuição de custos eriscos; com a exceção dos chamados Tigres Asiáticos, a participação deempresas de países menos desenvolvidos nos novos arranjos de cooperaçãocientífico-tecnológica tem sido apenas marginal17;

• as novas formas de investimento externo nestes países concentram-se emprojetos que utilizam tecnologias estáveis ou maduras, apontando-se comoprincipal motivo para tal o fato de as empresas estrangeiras estarem maispropensas a dividir o controle e a propriedade de um investimento quando atecnologia envolvida é amplamente disponível ou não se constitui em um ativoestratégico.

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16 Maldonado (1996), mediante exame das atividades de patenteamento, parceria e importação detecnologia no Brasil, analisa em que medida os principais aspectos associados ao processo de globalizaçãotecnológica estão sendo sentidos do ponto de vista da economia nacional. Suas conclusões mostram aexclusão do país nos processos gerais de geração e de cooperações internacionais de tecnologia, e a suainclusão no processo de exploração global de tecnologia. Ou seja, as multinacionais são mais propensasa realizar a comercialização e exploração de suas inovações no território nacional via patenteamento,mais propriamente do que o desenvolvimento de atividades tecnológicas no país, seja de forma individualou em parceria com empresas nacionais. Em relação à importação de tecnologia, o autor tambémconclui que vem ocorrendo uma diminuição destes fluxos, o que significa um acesso cada vez maisrestrito às novas tecnologias por parte dos agentes nacionais.

17 Dentre as conclusões relacionadas ao envolvimento destes países nas novas alianças, destaca-se que:a) apenas 4.3% das associações estratégicas tecnológicas registradas entre 1980 a 1989 envolvemempresas destes países; b) a maior parte dos acordos concentra-se em projetos envolvendo tecnologiasrelativamente maduras e estáveis; c) considerando os acordos nos quais transferência de tecnologia é oobjetivo central, a fatia dos PMDs caiu de 5.3% na primeira metade dos anos 80 para 4.8% na segundametade da década (Lastres, 1993). Tal tendência continua na década de 90 (Narula e Hagedoorn, 1997).

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As grandes transformações tecnológicas e organizacionais da atual fase e aintegração restrita da economia mundial, centrada fundamentalmente entre aseconomias da OCDE, afetam o Mercosul e a América Latina de formamultiplamente desfavorável. Entre as razões que, na última década, reforçaramesta situação, incluem-se:

• a perda de dinamismo das economias da região, que, com o significativo declíniodos investimentos, conduziu a uma defasagem na absorção das transformaçõestecnológicas e organizacionais e a uma perda de posição desses países nocomércio internacional;

• a intensificação das fricções comerciais interblocos e o exercício cada vezmais agressivo de pressões unilaterais pelos EUA que reduziram os graus deliberdade das políticas nacionais de desenvolvimento18;

• a instabilidade macroeconômica associada à crise da dívida e à desorganizaçãodas finanças públicas, que afetou os níveis de investimentos tanto internosquanto externos de longo prazo, com impactos negativos particularmente nosesforços em capacitação e desenvolvimento tecnológico;

• a aderência quase que ilimitada aos princípios do Consenso de Washington,que resultou na ausência completa de políticas ativas de promoção aodesenvolvimento industrial e tecnológico, particularmente importantes nomomento de transição, conforme demonstrado pela experiência dos países maisavançados19.

Relativamente a este último aspecto, ressaltam-se, acima de tudo, as reflexõescríticas, realizadas por diferentes autores ao longo desta década, ao conjunto demedidas econômicas neoliberais voltadas para “a reforma e a estabilização das

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18 A estas, somam-se condições desfavoráveis de natureza estrutural. No caso específico do Brasil,salienta-se a fragilidade da sua economia em todos os complexos de alto valor agregado e conteúdotecnológico, com competitividade revelada apenas em setores produtores de commodities de elevadaescala de produção, baixo valor agregado e intensivos em recursos naturais, insumos agrícolas e energia;a debilidade e o reduzido tamanho dos grandes grupos empresariais brasileiros em face do que seriarequerido para atuar como setores ativos no plano global e a profunda regressão da base doméstica definanciamento de longo prazo, que atrasa a centralização dos capitais e obriga à dependência de recursosfiscais ou de endividamento externo para sustentar a acumulação (Coutinho, 1996).

19 Ver, por exemplo, análise de tais políticas para Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Itália,Espanha realizado pelo Grupo de Economia da Inovação do IE/UFRJ, Cassiolato e Lastres (1998) e daqual participaram todos os autores desta nota técnica (além de outros).

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economias emergentes”, que resultaram do seminário que reuniu, em Washington,em 1990, economistas do governo americano e instituições internacionais20 e osresultados nefastos da adoção de tais princípios, os quais vêm recorrentementesendo evidenciados por análises elaboradas no mundo inteiro. Dentre tal conjunto,destacam-se particularmente as críticas do próprio vice-presidente do BancoMundial, Joseph Stiglitz, propagadas internacionalmente em 1998, inclusive naAmérica Latina, e sua proposta de estabelecimento de um novo consenso quecontemple a intervenção dos governos na economia e dêem atenção a questõescomo emprego, saúde, educação e meio ambiente.

Finalmente, faz-se necessário destacar que, ao se discutir a hipótese deglobalização tecnológica, deve-se alertar que, implicitamente, os “tecnoglobalistas”assumem que tecnologias são commodities e propõem que, em um mundo semfronteiras, as mesmas são acessíveis (inclusive a empresas de países emdesenvolvimento) e podem ser “transferidas” sob a mediação dos mercados viamecanismos de preço. Neste sentido, argumenta-se que o conhecimento daliteratura publicada nos últimos 20 anos sobre inovação e difusão ajuda a clarificare qualificar melhor tal discussão. Entre os pressupostos básicos desenvolvidos,incluem-se aqueles que indicam que tecnologia não pode ser vista como mercadoriae não se trata de algo facilmente transferível, além da constatação de que tem seuacesso e sua aquisição efetiva condicionados por muito mais variáveis do quesimplesmente preço, incluindo desde as decisões políticas de como utilizar esteinstrumento crescentemente estratégico para a competitividade, até oreconhecimento dos requerimentos de importantes capacitações por parte dasempresas adquirentes. No que se refere a tais capacitações, deve-se salientartambém que os principais canais de difusão internacional de inovações não ocorremcom base em hierarquias de corporações multinacionais (isto é, através de relaçõesmatriz/filial), nem via puramente transações de mercado (compra e venda detecnologias), mas sim resultam de formas de aprendizado e aquisição deconhecimentos, para as quais a influência dos níveis de desenvolvimento local ésignificativa21.

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20 Tais medidas, além de apregoar a necessidade de se reduzir o papel dos Estados a um mínimo,propugnavam também a liberalização do comércio, controle da inflação e privatização.

21 Tais formas compreendem principalmente esforços internos em P&D e em projetos de engenharia,“engenharia reversa” e colaborações com outras empresas e instituições locais, conforme demonstra opioneiro estudo realizado na Universidade de Yale (conhecido como ‘Yale Innovation Survey’) no casode empresas norte-americanas (Levin et al. 1992).

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Assim, uma conclusão da discussão proposta neste trabalho é que os referidosposicionamentos sobre a existência ou não de um processo de globalizaçãotecnológica ou tecnoglobalismo, na verdade, derivam de uma outra polêmica sobreo caráter tácito, as especificidades e a importância da inovação, particularmenteem sua dimensão local. Assim, o objetivo central dos próximos itens é exatamentediscutir mais em detalhe as contribuições teóricas e empíricas dos diferentes autoresque vêm abordando tal questão.

5. A DIMENSÃO LOCAL DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOE DA INOVAÇÃO

5.1 – O enfoque do local na economia

O mainstream da teoria econômica sempre apresentou dificuldades em analisaro processo inovativo. Da mesma forma que para esta corrente a tecnologia éconsiderada como fator exógeno à economia e o processo inovativo como igualpara os agentes, não se reconhece o ambiente onde se localizam as empresascomo um elemento capaz de influenciar sua capacidade de inovação e odesenvolvimento econômico. Assim, considera-se, nesta que é a vertente aindadominante em várias esferas do debate econômico, que a inovação pode ser geradaindependentemente do local em questão, sendo esta dimensão geralmentedesconsiderada pela literatura econômica.

Entretanto, mais recentemente, diversas foram as contribuições da literaturaque se propuseram a discutir o caráter localizado do desenvolvimento econômicoe da inovação, assim como sua relevância. Tais literaturas, que podem seridentificadas principalmente a partir do início da década de 80, vêm buscandocompreender o papel relativo ao local para compreensão do processo inovativonas empresas, regiões e países.

Salienta-se, em particular, a atenção que passou a ser dada ao caráter localizadoda inovação e do conhecimento, ao constatarem-se as grandes assimetrias emtermos da distribuição espacial da capacidade de geração e de difusão de inovações.Conforme se pode notar, o motivo central de muitas das análises realizadas refere-se à tentativa de explicar as razões dos significativos níveis de concentração emnível mundial da taxa de introdução de inovações, com algumas regiões, setores eempresas tendendo a desempenhar o papel de principais indutores de inovações,enquanto outras parecem ser relegadas ao papel de adotantes.

Globalização e inovação localizada

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É importante enfatizar que a discussão sobre o caráter local da inovaçãoantecede cronologicamente as questões que vêm se colocando mais recentementesobre o processo de globalização, discutido anteriormente. Contudo, com aemergência de tais questões, o enfoque sobre o caráter localizado da inovaçãopassa a ganhar maior evidência, tendo em vista os vários esforços deequacionamento sobre como se estabelecerão as relações entre o local e o globale sobre o papel que cada uma destas dimensões irá desempenhar em níveiseconômico e político.

De forma geral, pode-se observar que as contribuições sobre a questão dadimensão local da inovação partem de diferentes grupos de autores que adotamvariadas linhas de pensamento não só econômico, mas também geopolítico,sociológico, histórico e filosófico, entre outros. Como decorrência, verifica-se umvariado número de enfoques, terminologias e formas de analisar a capacidade dearranjos locais gerarem desenvolvimento econômico e inovativo22.

Essa profusão e diversidade de estudos amplia os ângulos da análise proposta.Porém, a falta de maior uniformidade e a insuficiência de argumentos em váriosenfoques, por vezes, dificultam a comparação entre as diferentes experiências e acompreensão completa deste fenômeno, bem como a proposição de políticas.Importantes tentativas neste sentido estão sendo realizadas. Entretanto,permanecem argumentos de que cada caso particular traz em si especificidadesdo processo de capacitação inovativa e de desenvolvimento econômico, que tornamdifícil o estabelecimento de modelos a serem seguidos.

Apesar desta ressalva, análises que privilegiam o papel do ambiente e dainteração que se dá entre diferentes agentes como elemento de promoção dainovação passaram a confrontar as abordagens mais tradicionais. O foco decontribuições mais recentes neste sentido, em particular na economia da inovação,reside fundamentalmente na noção de que os processos de geração deconhecimento e de inovação são interativos e localizados. Isto é, argumenta-seque a interação criada entre agentes localizados em um mesmo espaço favoreceo processo de geração e difusão de inovações.

Em particular, no âmbito da abordagem evolucionista, buscou-se destacar opapel do local enquanto elemento ativo no processo de criação e difusão de inovação.

Globalização e inovação localizada

22 No campo conceitual, esse fato se reflete, por exemplo, na criação de múltiplas classificações edefinições que abarcam as principais características desses arranjos locais, conforme discutido maisdetalhadamente em Lemos, 1997.

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Esta literatura ressalta que a interação entre tecnologia e contextos locais possuipapel fundamental na geração das inovações, por meio de mecanismos específicosde aprendizado formados por um quadro institucional local específico (Cohendet eLlerena, 1997). Assim, aponta-se que diferentes contextos locais com diferentesestruturas institucionais terão processos inovativos qualitativamente diversos.

Geralmente, argumenta-se que o conhecimento e a mudança tecnológica sãolocalizados, tendo em vista que decisões técnicas das firmas são path-dependents,isto é, em cada firma, em qualquer momento, a geração, implementação, seleçãoe adoção de novas tecnologias são influenciadas pelas características dastecnologias que estão sendo utilizadas e pela experiência acumulada no passado.A geração do conhecimento é vista como o resultado de um processo conjuntoque envolve tanto a atividade formal de ensino e P&D como os fluxos correntesdas atividades da empresa e de sua interação com o ambiente que a cerca. Destaca-se também que tal dimensão localizada do processo inovativo confere um papelprimordial às especificidades locacionais, particularmente aos diferentes mercadose instituições (firmas, instituições de P&D, governo) delimitados em um espaçoeconômico e suas formas de interação no processo de geração e difusão deinovações (Antonelli, 1995).

No entanto, como discutido a seguir, uma série de contribuições adicionais vemcolocando ênfase à análise da conformação de tipos de relações que têm tambéma proximidade geográfica como elemento de relevância entre os agentes. Taisrelações – denominadas neste e em outros trabalhos de arranjos locais – podemse dar de diferentes formas e são analisadas sob diferentes enfoques.

5.2 – Contribuições para o entendimento da dimensão local da inovação

Para uma síntese da discussão sobre as características e importância de arranjosprodutivos locais, é necessário remeter à primeira contribuição de peso na economia,realizada por Marshall em fins do século XIX, quando cunhou o conceito de distritosindustriais23. Tal conceito deriva de um padrão de organização comum à Inglaterrado período, no qual pequenas firmas concentradas na manufatura de produtosespecíficos, em setores como o têxtil, localizavam-se geograficamente em clusters,em geral na periferia dos centros produtores.

23 Marshall elaborou o termo em “Princípios da Economia”, cuja primeira edição data de 1890.

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A importância de tais experiências para Marshall foi tal, que o autor considerouos distritos industriais de pequenas empresas britânicas como a ilustração maiseficiente do capitalismo, tendo em vista que, apesar das limitações de economiasde escala, os mesmos apresentavam reduzidos custos de transação, bem comoeconomias externas particularmente significativas. Sua abordagem de distritosindustriais, ressaltando a eficiência e competitividade das pequenas firmas de umamesma indústria localizadas em um mesmo espaço geográfico, fundamentou osrecentes trabalhos sobre o tema e tornou-se referência de arranjos locais dedesenvolvimento industrial. Tais estudos, de forma geral, recuperam o conceitomarshalliano para estabelecimento de definições e características dos distritosindustriais atuais.

Desde a década de 80, análises de diversas experiências têm demonstrado odinamismo tecnológico e o potencial de desenvolvimento inerente a diversos tiposde arranjos, em especial de pequenas e médias empresas localizadas em um mesmoespaço regional. Estas análises se iniciaram fundamentalmente a partir do sucessodas experiências de arranjos locais da região da Terceira Itália24, comumentechamados de distritos industriais italianos, e levaram ao surgimento de diversosoutros estudos de casos que destacam a importância que assume a proximidadeterritorial na dinâmica inovativa de sistemas produtivos. Destacam-se, em taisanálises, as características específicas desses arranjos, relativas ao contextosocioeconômico e histórico no qual emergem, e a identidade territorial criada, queresulta de um processo de construção derivado das estratégias de seus atores,dos processos de aprendizagem coletiva, da formação dos vínculos e da interaçãoentre estes diferentes elementos.

O caso da Terceira Itália é ilustrativo, pois esta região é caracterizada porconcentrar grande número de distritos industriais de pequenas e médias empresas,localizados em pequenas cidades especializadas na produção de vários itens desetores industriais tradicionais, tais como cerâmica vermelha, têxteis e máquinasferramentas. As indústrias locais são freqüentemente compostas por pequenasempresas de estrutura familiar com poucos empregados, organizadas emcooperativas promovidas por governos locais e apresentam um alto grau decoordenação cooperativa. A competição é intensa, mas limitada a certas esferas

24 Conforme aponta Schmitz (1995), o conceito de Terceira Itália, cunhado por Arnaldo Bagnasco,começou a ser utilizado no final dos anos 70, tendo em vista um contexto onde, enquanto o norte daItália apresentava declínio e o sul se mantinha pouco desenvolvido, o nordeste e o centro apresentavamrápido crescimento.

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25 Ressalta-se a importância de tais tipos de arranjos na Itália, onde a contribuição das PMEs na geraçãode empregos e no PIB italiano é estimada em cerca de 40%. Para maior detalhamento, ver Lemos eDuarte (1998) e Lemos (1997).

26 Essa é a região que foi afetada pela presença de multinacionais. Ver Chesnais (1996).

das atividades, nas quais desenvolvem competências distintas. A cooperação écomum em atividades tais como serviços tecnológicos, gerenciais e comerciais,oferta de infra-estrutura, promoção de feiras comerciais e outros negóciosenvolvendo o marketing nacional e internacional e estende-se também afinanciamento25.

A experiência da região da Terceira Itália, em arranjos locais de empresas desetores tradicionais estimulou o interesse na pesquisa de formatos similaresexistentes em outros países, onde se destacam regiões da Europa, como Baden-Württemberg, na Alemanha, Jutland, na Dinamarca26, e algumas experiências emsetores de alta tecnologia nos EUA, como as do Vale do Silício e da Route 128.

Destas experiências analisadas, apontam-se como principais atributos dosdistritos industriais contemporâneos: a) proximidade geográfica; b) especializaçãosetorial; c) predominância de pequenas e médias empresas; d) estreita colaboraçãoentre firmas; e) competição entre firmas baseada na inovação; f) identidadesociocultural e confiança; g) organizações de apoio ativas, para prestação deserviços comuns, atividades financeiras, etc.; e h) promoção de governos regionaise municipais (Schmitz, 1995).

Como pano de fundo para compreensão da emergência, neste período, da vastae heterogênea literatura sobre arranjos de diversos tipos (e em particular aquelesreunindo pequenas empresas), encontrava-se a crise do modelo de produção emmassa, sustentado na dominação das grandes empresas verticalmente integradas,com produção de bens estandardizados e voltados para mercados baseados emcompetição via preços. Na fase de transição do modelo fordista, marcada porintensas mudanças tecnológicas e organizacionais, alguns autores observaram que,enquanto as grandes empresas atravessavam dificuldades, arranjos de pequenase médias empresas mostravam maior flexibilidade e dinamismo. Com estasreferências, tornou-se intenso o debate travado entre aqueles que viam odesenvolvimento e inovação como liderados por grandes empresas e, de outrolado, aqueles que observavam possibilidades alternativas de desenvolvimento pormeio de pequenas empresas concentradas em um mesmo ambiente e com fortedivisão de trabalho.

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Piore e Sabel (1984), autores da linha que ficou conhecida como especializaçãoflexível, podem ser vistos como representantes do lado extremo dos argumentosque consideram arranjos locais de pequenas empresas como o formato maisfavorável de desenvolvimento industrial. Ao analisarem as principais fontes dasmudanças observadas nas décadas de 70 e 80, estes autores apontaram para asaturação dos mercados de massa e para as dificuldades deste sistema de produção,pouco ágil e flexível, atender à demanda por produtos especializados ediferenciados. O argumento central destes autores é que sistemas de empresasespecializadas e interconectadas, baseados em plantas multipropósito e emtecnologias da informação e comunicação, trabalhadores polivalentes (alguns commarcantes tradições artesanais), estariam bem posicionados para responder, comeficiência, a tais condições, mais propriamente do que as grandes empresas líderesdo padrão fordista. Para alguns dos defensores da especialização flexível, estetipo de arranjo tenderia a tornar-se o padrão dominante de desenvolvimentoindustrial.

Destaca-se que a noção de especial ização f lexível reforçou oreconhecimento da importância de articulações geográficas particulares,propondo uma espécie de reconsolidação da região como uma unidade deprodução integrada. No entanto, como discutido também a seguir, diversasponderações foram colocadas quanto a algumas das conclusões principais dosautores desta vertente – em particular no que se refere às perspectivas deeste padrão ser considerado como uma tendência válida para diferentescontextos, permanente e até predominante. Entretanto, cabe também discutiras contribuições de vários outros autores que objetivaram analisar o fenômenoda dimensão espacial da inovação sob diferentes pontos de vista, seja dos distritosindustriais, das relações entre os agentes, das formas de interação eaprendizagem e das estratégias adotadas, seja do ambiente inovativo e do papelde outras dimensões, particularmente as socioculturais.

Algumas abordagens, ainda que balizadas pelo enfoque dos distritosindustriais marshallianos, criam novas terminologias, definições e conceitos,no esforço de compreensão deste tipo de arranjo que têm a proximidadegeográfica e a interação entre agentes como elementos-chave. Podem-semencionar, entre outras, as que privilegiam a importância do ambiente local edas relações (não somente econômicas) nele criadas, tais como os milieuxinnovateurs, os sistemas produtivos locais, as redes locais ou regionais entreagentes de vários tipos - empresas fornecedoras e usuárias, pequenasempresas da mesma indústria, ou outros agentes, tais como instituições de

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27 Para outros detalhes sobre alguns dos conceitos que procuram captar a diversidade das experiências dearranjos locais, tais como distritos industriais, parques tecnológicos, redes locais, sistemas produtivoslocais, milieux inovativos, etc., ver Lastres et al. (1997).

28 Em suas análises, Lundvall (1992), Cassiolato (1992) e outros ressaltam em particular o papel dasredes institucionalizadas de usuários-produtores, que apresentam processos de aprendizado interativos,relevância da confiança nas relações e as proximidades geográficas e culturais como fontes importantesde diversidade e vantagens comparativas, assim como a oferta de qualificações técnicas e organizacionaise conhecimentos tácitos acumulados.

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pesquisa, etc. - e também, aquelas abordagens que analisam os modelos deparques tecnológicos e tecnópolis em geral27.

5.3 – Sistema local de inovação

De maneira geral, aponta-se para a contribuição de um conjunto de autores(principalmente preocupados com a área de economia da inovação), os quais, aopropor a adoção do conceito de sistemas nacionais de inovação, argumentam quedesempenhos nacionais, no que tange à inovação, derivam claramente de umaconfluência social e institucional particulares e de características histórico-culturais(Freeman, 1987 e 1995; Lundvall, 1992; Nelson, 1993). Freeman e Lundvall, porexemplo, definem sistema nacional de inovação como um sistema constituído porelementos e relações que determinam em grande medida a capacidade deaprendizado de um país e, portanto, aquela de inovar e de se adaptar às mudançasdo ambiente.

Estes e outros autores, ao discutirem os elementos que constituem os sistemasnacionais de inovação, enfatizam que as diferenças relacionadas à experiênciahistórica, lingüística e cultural implicam características idiossincráticas que serefletem na configuração institucional geral dos países. E assim, portanto, sãoreproduzidos na organização interna das firmas e dos mercados produtor econsumidor, no papel do setor público e do setor financeiro, na intensidade eorganização das atividades educacionais e inovativas etc.28. Alerta-se, no entanto,para a existência de diferenças importantes nos enfoques atualmente utilizados,por exemplo, pelos autores acima relacionados. Alguns autores, como Smith (1997),argumentam que os diferentes enfoques de sistemas nacionais de inovação seestruturam em três pilares conceituais básicos, os quais permitem distingui-los ediferenciá-los de acordo com a ênfase colocada em cada um destes. Tais pilaresbaseiam-se no entendimento de que:

• As vantagens competitivas resultam da variedade e da especialização e que talfato realmente apresenta efeitos indutores path-dependents. Isto é,especializações que apresentam sucesso econômico – com criação de sistemas comoresultado – ocorrem particularmente ao redor de estruturas industriais específicas.

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29 Ver, entre outros, Ehrnberg e Jacobsson (1997).

• O conhecimento tecnológico é gerado por intermédio de um aprendizadofundamentalmente interativo, tomando, em geral, a forma de capacitaçõesdistribuídas entre os diferentes tipos de agentes econômicos que devem interagir,de alguma maneira, para que o mesmo possa ser utilizado.

• O comportamento econômico repousa em instituições e “regras do jogo”estabelecidas legalmente ou por meio de costumes que evoluem, tendo emvista as vantagens que elas oferecem na redução da incerteza. Assim, diferentesmodos de organização institucional levam a diferentes comportamentos eresultados econômicos.

No caso das análises sobre sistemas nacionais de inovação, a história éconsiderada evidentemente como uma fonte importante de tal diversidade. Nestaúltima ótica, o desenvolvimento institucional e as diferentes trajetórias tecnológicasnacionais contribuem para a criação de sistemas de inovação com característicasmuito diversas. Assim, a diversidade entre os sistemas nacionais de inovação éentendida como produto de diferentes combinações das suas características. Umaimplicação dessa idéia é que a ênfase na diversidade e no caráter localizado dosprocessos de aprendizado e, portanto, na dimensão local da inovação possibilita aconceitualização de sistemas locais de inovação como a definição algo próxima,por exemplo, dos “sistemas tecnológicos regionais ou locais”29.

Neste sentido, pondera-se, neste trabalho, que a proposta conceitual de sistemalocal de inovação parece oferecer uma melhor possibilidade de compreensão doprocesso de inovação na diversidade que se considera existir entre os diferentespaíses e regiões, tendo em vista seus processos históricos específicos e seusdesenhos políticos institucionais particulares. Na verdade, como foi vistoanteriormente, trata-se de um referencial que permite e até mesmo exige o estudodo processo inovativo em seus diferentes e específicos níveis. Tal quadro dereferência está baseado em alguns conceitos fundamentais – aprendizado,interações, competências, complementaridades, seleção, path-dependencies, etc.– que enfatizam significativamente os aspectos regionais e locais.Conseqüentemente e conforme também destacado, igualmente neste caso sereconhece a importância dos estímulos aos diferentes processos de aprendizado ede difusão do conhecimento, assim como a necessária diversidade nas formas daspolíticas envolvidas.

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Considera-se a extensão de tal vantagem a todos os casos e ainda maisparticularmente aos países menos desenvolvidos, cujas especificidades geralmentenão se alinham e, como enfatizado neste trabalho, na maior parte das vezes divergemradicalmente daquelas dos mais desenvolvidos que costumam basear os modelose as contribuições conceituais a respeito do tema.

6. PERMANÊNCIA DO LOCAL

Em relação ao papel e trajetória evolutiva recente dos arranjos locais produtivose inovativos, as principais questões que se colocam neste trabalho são referentesà permanência ou não, no atual quadro, da importância da dimensão local para ainovação - e, portanto, dos arranjos locais - e de políticas para a promoção destetipo de formatos.

Em tal discussão, concorrem, de um lado, as teses de autores que advogam aperda de importância da dimensão local na atual fase do capitalismo, tendo emvista principalmente duas condicionantes associadas – uma de cunho geopolítico-econômico e a outra de cunho técnico:

• Conforme apontado por diversos autores que reforçam estas teses, os impactosda globalização tornam o mundo crescentemente centralizado e controlado porgrandes corporações transnacionais e anulam os resultados de esforçosinovativos locais, tendo em vista as possibilidades destas corporações seapropriarem das vantagens locais.

• As tecnologias da informação e comunicação, por seu turno, vêm gerandoimpactos no espaço produtivo e inovativo, alterando e recriando as dimensõesdeste espaço e, conseqüentemente, reduzindo a relevância do local.Aproveitando os desenvolvimentos associados a estas novas tecnologias, opapel desempenhado pelo crescente uso do espaço informacional é visto comoabrindo múltiplas possibilidades de interações, até então inéditas. As formasde relações estabelecidas neste novo espaço passariam a orientar os agentes,em detrimento das tradicionalmente realizadas na esfera local, regional, oumesmo nacional. De acordo com tal perspectiva, as sinergias até então atribuídasao ambiente físico seriam superadas pelas novas possibilidades de acesso ainformações e a conhecimentos gerados por diferentes agentes, não importandoa distância entre os mesmos.

Em outra linha de argumentações, incluem-se as teses que consideram que adimensão local é um fator determinante da capacidade inovativa e que arranjoslocais com as características elencadas anteriormente – enfatizando o aprendizado

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interativo (coletivo) e a capacidade de inovação – podem ser uma alternativaviável e importante de desenvolvimento econômico. Para alguns desses autores,estabelece-se, em um extremo, a noção de especialização flexível e a crença deuma transição em curso em direção ao localismo e ao regionalismo, consolidando-se um renascimento do interesse sobre a potencialidade das economias locais eregionais. Em direção algo semelhante, autores dos estudos relativos aos distritosindustriais europeus chegaram a supor que esta forma de estruturaçãoorganizacional seria crescentemente importante no contexto econômico presentee futuro, conforme já notado anteriormente e como será mais explorado adiante.

Como resposta a este bloco de argumentações e alinhando-se com osargumentos sobre a perda de relevância da dimensão local, uma série deobservações tem-se colocado. Neste conjunto, inclui-se a ressalva de alguns autores,como, por exemplo, Amin e Robins (1991), que consideram tais teses como uma“alternativa radical ao pensamento econômico neoliberal que perpassa as políticasatuais”. Inclui-se também o questionamento de alguns estudiosos sobre até queponto atualmente permaneceriam ainda válidos tais formatos organizacionais, tendoem vista que alguns dos arranjos locais estudados vêm apresentando dificuldadespara enfrentar os desafios impostos neste segundo momento da transição do modelofordista para o novo.

A principal argumentação neste sentido indica que, conforme destacadoanteriormente, durante a fase de saturação do modelo de produção em massa eem economias de escala, a reorganização das grandes empresas para responder anovas necessidades não foi imediata, tendo em vista principalmente as suasestruturas rígidas e verticalizadas. Os distritos italianos e outros arranjos locais depequenas empresas, que se estabeleciam em setores tradicionais e fora dos padrõesde competição então vigentes, despontaram como alternativas, apresentandocaracterísticas fundamentais para atendimento das novas exigências, destacando-se, entre outras, especialização, flexibilidade, estruturas não hierárquicas, economiasde escopo e cooperação interfirmas. Estas vantagens foram consideradas pormuitos como uma via de desenvolvimento adequada ao novo modelo.

Podem-se observar, entretanto, algumas tendências a argumentações de que osucesso obtido nas duas últimas décadas por tais formatos foi temporário,circunscrito a um período específico de transição de modelos. Aponta-se quearranjos locais de pequenas empresas especializadas tenderam a se desenvolverdentro de contextos específicos e de suas circunstâncias. De acordo com taispontos de vista, mais recentemente, com a consolidação e crescente maturidade

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do novo modelo, as grandes empresas já teriam tido tempo para se reorganizar ecapacitar para enfrentar os novos imperativos, enquanto as pequenas teriamcomeçado a esbarrar em diversos tipos de dificuldades em manter o seudesempenho30.

6.1 – Grandes versus pequenas empresas

Relacionado ao último ponto, é importante ressaltar que, quando se questiona apermanência da importância atribuída à dimensão local, estabelece-se subjacentequestão sobre qual seria a forma de arranjos locais que sobreviveriam no novocontexto. Neste sentido, as discussões têm focalizado mais comumente os formatosque envolvem pequenos fornecedores estabelecidos em uma rede em torno deuma grande empresa líder do arranjo; ou arranjos locais de pequenas empresasque interagem entre si.

Em alguns dos casos de redes mais destacados na literatura, grandes firmasprodutoras organizam um sistema de fornecedores regionais de componentes, emgeral pequenas firmas, como os casos típicos de Baden-Wurttemberg e do Valedo Silício. Em outros casos, apontam-se, atualmente, diversos tipos de redes locaisou regionais de pequenas empresas que se especializam em um setor, colaborandoem pesquisa e desenvolvimento, design, produção e distribuição, tais como osexemplos europeus de distritos industriais especializados em produtos específicos,como na Terceira Itália.

Conforme argumentado neste e em trabalho anteriores31, o estabelecimentode redes de todo o tipo vem crescentemente se consolidando como parte do novoformato de organização industrial, incluindo-se também nas estratégias atuais degrandes empresas, confrontadas com a exigência de maior capacidade inovativa,especialização e flexibilidade produtiva. No caso das redes de fornecedoresespecializados, geralmente as pequenas firmas se concentram em torno de grandesempresas para fornecimento de insumos ou componentes específicos, atuandoem parceria para a obtenção do produto de acordo com as especificaçõesdesejadas.

No entanto, na literatura, encontram-se argumentos diferentes sobre a relaçãoentre grandes e pequenas empresas atuando em redes. Alguns destes enfocam opapel das pequenas empresas como agentes importantes nas redes de fornecedores

30 Para uma discussão, ver Lastres et al. (1997).

31 Lastres (1993), Lemos (1996), Maldonado (1996) e Cassiolato (1996).

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de grandes empresas, tendo em vista vantagens comparativas tais como: estruturasadministrativas mais leves; ausência de restrições burocráticas; e a importânciaatribuída às atividades inovativas nas suas estratégias competitivas. Argumenta-se ainda que, embora as grandes empresas sejam mais ativas na realização deassociações com universidades e instituições de pesquisa, as pequenas tendem aexplorar melhor estas parcerias, de modo a gerar inovações.

Alguns autores, como Hobday (1994), consideram, entretanto, que de um modogeral as pequenas empresas não dispõem de ativos complementares necessáriospara explorar inovações em mercado de produção em massa e têm maioresdificuldades de obter resultados de suas inovações e que as grandes empresasraramente dividem suas core capabilities dentro da rede, por questõeseconômicas, tecnológicas e estratégicas.

Alguns dos autores que estudaram e acreditaram no sucesso dos arranjos daTerceira Itália reviram seus argumentos, mais recentemente, à medida em quealguns destes distritos passaram a enfrentar novas dificuldades e que se reconheceua emergência de tentativas de flexibilização nas grandes empresas, por meio deestratégias tais como a intensificação de suas relações de cooperação internas eexternas, abertura de unidades independentes e subcontratação de pequenasempresas. Para alguns destes autores que questionam a sobrevivência de arranjoslocais exclusivos de pequenas empresas, em um ambiente de acirrada competiçãointernacional, a alternativa que se vislumbra é de um modelo baseado em redesque articulem grandes e pequenas empresas.

Bianchi (1996), por exemplo, aponta mudanças nas características e dinâmicadestes arranjos locais. Destaca particularmente que tanto as vantagens atribuídasàs pequenas empresas, quanto as desvantagens das grandes tenderam a sereduzir32, concluindo que os modelos anteriores de produção tendem a convergirem um único, baseado em redes de firmas. Sugere, portanto, que as políticasgovernamentais de desenvolvimento regional devem ser reformuladas para apromoção de redes de parcerias entre pequenas e grandes empresas e instituiçõesde ensino e pesquisa. Para o autor, os objetivos de tais políticas devem se concentrarna transformação das relações de subcontratação de pequenas empresas emparcerias estáveis, na substituição da dependência de poucos clientes por parte

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32 Aponta especificamente para uma crescente hierarquização dos arranjos de pequenas empresas, porum lado, e forte crescimento dos níveis de cooperação nos arranjos de grandes empresas, por outro.

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destas para uma razoável autonomia de mercado, e no reforço das tendências demaximização de qualidade nas grandes empresas. Os instrumentos de políticadevem incluir a promoção de atividades de P&D para grandes empresas, programasde educação e treinamento para pequenas empresas e redes de colaboraçãointernacional entre pequenas empresas visando a facilitar a inovação e autonosmiade mercado.

6.2 – Global versus local

Em outras argumentações de autores que não acreditam na sobrevivência dosarranjos locais, ressaltam-se questões e críticas considerando a impossibilidadede formulação de políticas locais, tendo em vista fundamentalmente uma mudançaestrutural nas relações econômicas e sociais, que atualmente se caracterizampela combinação de concentração e centralização do capital, associados ao processode globalização.

Amin e Robins (1991), por exemplo, reconhecem os tempos atuais como‘globais-locais’, com o desenvolvimento de relações crescentemente diretas eimediatas entre estas esferas. Para estes autores, as esferas locais estão sendoradicalmente reformuladas em termos e sob as condições e forças do globalismo,sendo as mesmas vistas como conformadoras da nova estrutura e dinâmica daslocalidades, regiões e nações. Ao mesmo tempo em que identificam um maiorreconhecimento e importância atribuídos a questões espaciais, argumentam emfavor da tendência dominante de homogeneização dos mercados, globalizaçãodas indústrias, integração das firmas e centralização internacional da hegemonia.Para os autores, as diferenças nas dinâmicas espaciais, ao contrário de seremcontraditórias ou incompatíveis, refletem novas e complexas articulações locaise globais, com diferentes combinações geográficas entre as alternativas empoder das corporações.

Longe de ser homogêneo e uniforme, o espaço se torna mais variado eheterogêneo, porque é vivido um processo de reconhecimento do espaço e porqueas grandes corporações têm agora o poder de explorar estas diferenças espaciais,argumentam os dois autores. Podendo tal exploração ser dada por meio deestratégias locacionais e produzir uma variedade de efeitos espaciais, centripetais,centrifugais, localizados ou globalizados. Assim, argumentam, como afirma Castells,que se verifica intensificação da tendência de o “espaço de fluxos se sobrepor aoespaço de lugares” (p. 113). De acordo com tal ponto de vista, os espaços locaisestão sendo reconstruídos não por uma escolha própria, mas predominantemente

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por estarem subordinados a uma lógica global formada pelos interesses econômicosdominantes.

Consideram, contudo, que ainda podem existir espaços não inseridos nestalógica global, mas que a sobrevivência dos mesmos é uma questão em aberto, nãopodendo ser vistos como modelo de uma nova era econômica e social. Para osautores, a separação entre estas duas formas está se tornando difusa, tendo emvista que consideram que as hierarquias funcionais estão dando lugar a redesfuncionais – territorializadas ou globais –, mas que se caracterizam,fundamentalmente, por serem hierárquicas, em termos da distribuição do comando,controle e autonomia.

Entretanto, é necessário ainda recuperar algumas considerações, como a dosautores da noção de milieu, por exemplo, de que o fracasso de alguns distritosindustriais especializados nos últimos anos, desafiados por uma poderosa competiçãoexterna, poderia ter sido evitado com a adoção de estratégias ativas e mais abertasde cooperação com competidores externos ao arranjo, visando a reforçar ascompetências adquiridas. Neste caso, destaca-se a participação em joint venturese acordos de colaboração de vários tipos, incluindo principalmente os tecnológicos,financeiros e de marketing (Camagni, 1991).

Outros autores, como Robertson e Langlois (1995), consideram que as duasformas de organização, as redes de grandes com pequenas e os arranjos depequenas, podem coexistir no atual contexto crescentemente globalizado. Nestesentido, argumenta-se que os vários tipos de redes de pequenas empresas e omodelo das grandes firmas integradas podem ser bem-sucedidos, de acordo comas características específicas da indústria e local em questão33. Ressaltam saimportância do ambiente inovativo, de uma relação positiva entre as fontes deinovação e seus usuários, do escopo da inovação, de seus impactos nas váriasindústrias usuárias, da presença ou não de economias de escala e dos estágios dociclo de vida do produto. Consideram, finalmente, que o papel do Estado deve serde facilitador, provendo infra-estrutura e mecanismos de regulação, permitindo odesenvolvimento das formas organizacionais que sejam mais bem adaptadas àsfirmas, ao tipo de inovação, à indústria ou setor, e aos seus ambientes específicos.

Globalização e inovação localizada

33 As necessidades específicas das várias estruturas industriais dependem fundamentalmente da naturezae perfil da mudança tecnológica e dos efeitos dos vários padrões de ciclo de vida do produto, sendo queestas estruturas diferem na capacidade de coordenar os fluxos de informação necessários à inovação ede ultrapassar relações de poder adversas à inovação.

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Alguns desses autores que se propõem a discutir a coexistência dos dois tiposde organização, em um mundo crescentemente globalizado, salientamadicionalmente a relevância da promoção de arranjos locais de pequenas empresas,especialmente sob o ponto de vista de países em desenvolvimento. Neste sentido,são destacadas as vantagens características de tais empresas: a) representamparcela significativa e diversificada do setor privado; b) simbolizam fortesoportunidades de emprego, em uma conjuntura onde estes se tornam cada vezmais restritos34; c) por fim, em muitos casos significam a possibilidade única (oumais importante) de promoção do desenvolvimento econômico local.

Independentemente da discussão sobre tamanho mais apropriado dos agentesenvolvidos em arranjos diante do processo de globalização, diferentes autoresconvergem em uma série de pontos. Um deles é que os agrupamentos em redespermitem às corporações a possibilidade de identificar oportunidades tecnológicase impulsionar o processo inovativo. Considerando-se a existência de dificuldadescada vez maiores de obtenção de conhecimento e realização de P&D que abranjamas mais diversas áreas, aponta-se largamente a complementaridade tecnológicacomo um forte motivo de inserção em redes. Participar delas é uma forma demonitorar novos desenvolvimentos e de avaliar e ter acesso, por meio de processode interação, a outras tecnologias que não as disponíveis pela firma, necessáriaspara a viabilização de uma inovação.

7. CONCLUSÃO

Como resumo do amplo leque de discussão sobre os arranjos locais, reforçam-se tendências diferentes, dentre as quais se destacam duas linhas de argumentaçãoprincipais.

A primeira incluindo aqueles autores que acreditam que o sucesso dos arranjoslocais foi temporário e circunscrito a um período de transição entre padrões distintosde crescimento econômico. Neste caso, a introdução das tecnologias de informaçãoe comunicação é vista como alterando (e mesmo aniquilando) o sentido daproximidade geográfica para a interação entre os atores, inaugurando e reforçandoa possibilidade de interconexão, independentemente do lugar e das distâncias entreestes. Adicionalmente, a aceleração da globalização da economia é vista comotendendo a diminuir (ou mesmo a acabar com) as chances de as especificidadeslocais poderem ser aproveitadas como alternativa de desenvolvimento autóctone.

34 A este respeito, cabe ressaltar que micro e pequenas empresas empregam cerca de 60% da mão-de-obra no Brasil. Ver, entre outros, Lemos (1996).

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Para estes autores, a tendência é de que as grandes corporações predominemtanto na esfera global, quanto naquelas locais que apresentem relevância econômica.Alguns destes autores sugerem que as políticas a serem adotadas devem objetivarreforçar a formação e o dinamismo de redes entre grandes e pequenas empresassubcontratadas.

A segunda linha de argumentação sustenta que, no contexto atual deglobalização, existem possibilidades de conjugação de ambos os padrões deorganização, que dependerão sobremaneira do espaço, ambiente e setores emquestão e das relações e redes de cooperação que forem promovidas entre osagentes internos ao local e os agentes externos. Mais especificamente, considera-se, neste caso, a dimensão local ainda válida e relevante. Sugere-se também quearranjos locais com alguma dinâmica de aprendizado e capacidade inovativa devemser reforçados, especialmente quando se enfocam os países em desenvolvimento.Neste sentido, argumenta-se que – tendo em vista ser o contexto da inovaçãocomplexo e variado – o papel do Estado deve ser o de promover a consolidaçãode diferentes formas de organização que sejam mais bem adaptadas ao espaço eambiente específicos, tanto de grandes empresas, quanto de redes de grandescom pequenas empresas e mesmo de arranjos de pequenas empresas. Argumenta-se também que a existência prévia destes últimos certamente deve ser apoiadapor governos, tendo em vista as possibilidades de desenvolvimento inovativo,econômico e social que podem estar embutidas em tais arranjos.

Desemboca-se, portanto, em alguns dos objetivos centrais e articulados doprojeto de pesquisa que, em primeiro lugar, reconhece a necessidade de efetuardiscussões mais aprofundadas sobre tais questões focalizando o ponto de vistados países menos desenvolvidos e, em segundo lugar, aponta para a premência deavaliar os impactos das recentes transformações sobre os diferentes arranjosprodutivos destes países, suas capacidades inovativas, assim como a relevância enovos desenhos das políticas de apoio tanto ao desenvolvimento industrial quantoinovativo.

A análise de diferentes experiências, localizadas tanto nos países maisavançados como naqueles menos avançados, certamente representa contribuiçãoimportante para a pesquisa proposta. No entanto, além do exame crítico dessasexperiências, propõe-se aqui a realização de trabalho empírico no Brasil e emoutros países integrantes do Mercosul, visando a reunir evidências e indicaçõesatualizadas, que baseiem a elaboração de sugestões quanto à promoção de políticasde C&T articuladas em nível municipal, estadual, regional, nacional e supranacional.

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