demerval da hora

45
7/14/2019 Demerval Da Hora http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 1/45 1

Upload: alexandre-machado

Post on 28-Oct-2015

249 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 1/45

1

Page 2: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 2/45

2

FONÉTICA E FONOLOGIA

DEMERVAL DA HORA OLIVEIRA

APRESENTAÇÃO

Este capítulo introduz uma visão acerca de Fonética e Fonologia, tendo como

objetivos:

- conceituar Fonética;

- explicar a natureza e produção dos sons vocais elementares da Língua

Portuguesa;

- classificar, foneticamente, os sons da Língua Portuguesa;- transcrever, fo-neticamente, palavras da Língua Portuguesa;

- conceituar Fonologia;

- distinguir Fonética de Fonologia;

- apresentar os conceitos principais da Fonologia;

- elencar múltiplas possibilidades de aplicação dos estudos fonéticos e

fonológicos.

CONCEITOS BÁSICOS

- som

- letra- fone

- fonema

- alofone

- arquifonema

- par mínimo

- distribuição complementar 

- transcrição

INTRODUÇÃO

A Lingüística pode ser definida como o estudo científico da estrutura da língua. Ela

reúne estudos em diversos campos, dentre eles, a Sintaxe, a Morfologia, a Semântica,

que se preocupam com unidades maiores, e a Fonologia que se volta para as unidades

lingüísticas menores. Ao lado da Fonologia, que visa ao estudo sistemático dos sons,

temos a Fonética, que se volta para a produção, propagação e percepção dos sons.

Os estudos fonéticos e fonológicos têm sua origem em momentos distintos. Os

estudos fonéticos foram preocupação dos estudiosos da língua muito antes do século XX;

 já a Fonologia tem sua origem com os estudos do Círculo de Praga, no início do século

XX, por isso que muitos trabalhos realizados no início daquele século não tem limites

Page 3: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 3/45

3

definidos. Embora tenham objetos de estudo diferenciados, estes dois campos de

estudo são interdependentes. Isso é o que veremos ao explicitar um e outro.

FONÉTICA

O Domínio da Fonética

A Fonética é o estudo sistemático dos sons da fala, isto é, trabalha com os sons

 propriamente ditos, levando em consideração o modo como eles são produzidos,

 percebidos e quais aspectos físicos estão envolvidos na sua produção.

Uma classificação básica para a Fonética situa-a em três domínios:

1. Fonética ArticulatóriaÆestuda os sons do ponto de vista fisiológico. Descreve

e classifica os sons. Assim, ao descrevermos a realização de um som, por 

exemplo [p], podemos afirmar que na sua articulação quase não houve

vibração das cordas vocais, por isso ele é não-vozeado, que o fluxo do ar 

seguiu o caminho do trato vocal, não das fossas nasais, o que o caracteriza

como oral, e que houve obstrução pelos dois lábios, por isso ele é oclusivo e

 bilabial. Este é o papel da Fonética Articulatória.

2. Fonética AcústicaÆ leva em conta as propriedades físicas do som, como os

sons da fala chegam ao aparelho auditivo. Quando realizamos qualquer som,

a sua propagação se dá através de ondas sonoras até chegar ao ouvido do

interlocutor. A análise desse som e sua propagação, realizada com o auxíliode programas computacionais específicos, permite avaliar sua altura, sua

intensidade etc.

3. Fonética AuditivaÆcentraliza seus estudos na percepção do aparelho auditivo.

Muitas vezes, nem sempre percebemos o mesmo som de forma idêntica. Só

uma análise mais acurada permitirá identifica-lo. Este tipo de estudo cabe à

Fonética Auditiva, campo de pesquisa muito pouco explorado, principalmente

no Brasil.

Esses três campos de estudos nem sempre são implementados concomitantemente.E um dos motivos para que isso não ocorra é a falta de especialização, principalmente,

no que concerne aos estudos acústicos e auditivos. Por isso, sempre nos detemos na

 parte articulatória, considerando ser esta a parte mais fácil de ser verificada, já que

diz respeito à produção dos sons. Vale salientar, entretanto, que para fazermos um

estudo mais detalhado da produção de alguns sons, temos necessidade de recorrer a

estudos acústicos. Tais estudos, no passado, necessitavam de aparelhos bem

sofisticados, e, muitas vezes, de difícil acesso. Hoje, com um computador bem

equipado, e com “softwares” específicos, podemos realizar excelentes análises

acústicas.

Page 4: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 4/45

4

Considerando as dificuldades apontadas, aqui nos deteremos na parte articulatóriados sons, ou seja, na Fonética Articulatória, aquela que, como afirmamosanteriormente, está voltada para a produção dos sons, levando em conta seu modo

de articulação, ser ponto, seu caráter vozeado ou não e ainda sua configuração nasalou oral. Para isso, iniciaremos apresentando como os sons se realizam.

Aparelho fonador

O ser humano não possui um órgão, ou sistema, que tenha como função primáriaa produção dos sons da fala. Utiliza-se de partes do corpo, como pulmões, traquéia,laringe, epiglote, cordas vocais, glote, faringe, véu palatino, palato duro (ou céu da

 boca), palato mole, língua, dente, mandíbula, lábios e cavidades nasal, cujas funções primárias são de alimentação e respiração, ou seja, vitais ao ser humano.

Como se realiza o som? Para respondermos a essa pergunta, temos queentender o caminho que o fluxo de ar segue na respiração. Importante lembrarmosque os sons não se realizam no momento de “inspiração”, mas na “expiração”. Ooxigênio, vital ao ser humano, chega até os pulmões pela traquéia. Em seu caminhode volta, ainda ar, ele sofre a primeira deformação ao chegar à laringe. É na laringeque definimos dois tipos de sons.

O ar expelido pelos pulmões chega à laringe e atravessa a glote, que fica naaltura do chamado pomo-de-adão ou gogó. O ar, então, chega à abertura entre asduas pregas musculares das paredes superiores da laringe, conhecidas pelo nome decordas vocais (ou pregas vocais). O fluxo de ar pode encontrá-las fechadas ou abertas,em virtude de estarem aproximadas ou afastadas. Caso estejam fechadas, o ar força

sua passagem, fazendo-as vibrar e produzir os sons chamados de vozeados. Nosegundo caso, quando relaxadas, o ar escapa, com pouca vibração das cordas,

 produzindo sons chamados de não-vozeados.

Fig. 1: Cordas vocais

Todos os sons da fala humana, sejam vogais, consoantes ou semivogais (tambémdenominadas de glides) são produzidos no trato vocal, este pode ser consideradocomo um aparelho constituído de câmaras, tubos e válvulas, cuja função é pôr o ar em movimento e controlar seu fluxo.

A distinção entre sonora e surda pode ser claramente percebida na pronúnciade pares de consoantes como [p] ~ [b], [t] ~ [d], [k] ~ [g], dentre outras, que seopões apenas pelo traço de vozeamento. Enquanto [p,t,k] são classificadas comonão-vozeadas, por terem pouca vibração das cordas voais, [b,d,g] são classificadascomo vozeadas, por terem maior vibração das cordas vocais.

Page 5: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 5/45

5

Veja na figura abaixo, os órgãos envolvidos na realização dos sons:

Figura 2. Órgãos envolvidos no processo de realização dos sons

Vamos seguir o fluxo de ar depois de passar pela glote, que é onde ficam ascordas vocais, definidoras da sonoridade ou não dos sons.

Quando sai da laringe, o ar vai para a faringe. Aí o fluxo de ar, já não mais ar,mas som, pode tomar duas direções: o trato vocal ou o nasal. Entre estes dois canaisfica a úvula, órgão dotado de mobilidade capaz de obstruir, ou não, a passagem do ar na cavidade nasal e, conseqüentemente, determinar a natureza oral ou nasal de umsom.

• Quando levantada, a úvula impede o fluxo de ar pelas fossas nasais, resultando,

assim, na produção de sons orais, a exemplo de [p], [b] [a].

• Quando a úvula está abaixada, temos a realizações de sons nasais, isto porqueo ar passa tanto pelo trato vocal como pelas fossas nasais. É o que acontececom a realização de sons como [m], [n].

ATIVIDADE

Tape seus ouvidos com as mãos e realize os sons mencionados anteriormente.Identifique pela ressonância os vozeados e os não-vozeados.

OBSERVAÇÃO

Como estamos tratando da Fonética, veja que os sons mencionados estão sempreentre colchetes[ ]. Isto não aconteceria se estivéssemos tratando da Fonologia. Nessecaso, utilizaríamos barras / /.

Page 6: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 6/45

6

 Na Figura 3, podemos verificar onde se realizam os sons orais e nasais.

Figura 3: Cavidade oral e cavidade nasal

Depois da faringe, local onde o fluxo do ar vai definir sons orais e nasais,

 passemos agora ao trato vocal. No trato vocal temos o conjunto de articuladores.

Tais articuladores, como vistos na Figura 4, podem ser classificados como ativos e

 passivos.

Articuladores ativos são denominados aqueles articuladores como lábio superior,

língua, palato mole, que, na realização dos sons, se movimentam. Ao contrário, o

lábio inferior e o palato duro são denominados de articuladores passivos.

Figura 4: Articuladores ativos e passivos

Os sons lingüísticos ainda podem ser classificados quanto ao modo articulação

e quanto ao ponto de articulação. Utilizaremos apenas os sons realizados na Língua

Portuguesa.

Quanto ao modo de articulação, temos:

 

Page 7: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 7/45

7

a) oclusiva ou plosiva: o fluxo de ar encontra uma interrupção total, seja pelofechamento dos lábios, seja pela pressão da língua sob a arcada dentária ou sob o

 palato duro etc. São elas: [p, b, t, d, k , g ].

 b) fricativa: há um estreitamento da passagem do ar, que resulta em um ruídosemelhante ao de uma fricção. São fricativas: [f, v, s, z, S, , x].

c) africada: na realização dessas consoantes, temos a soma da oclusão e dafricção. É o que acontece na realização de: [t S, d].

d) nasal: aquele som que, na sua realização, parte do ar sai pelo trato vocal e parte pelas fossas nasais, a exemplo de [m, n, ]

e) lateral: a língua, ao tocar os alvéolos, obstrui a passagem do ar nas viassuperiores, mas permite que o ar passe através das paredes laterais da boca. Sãolaterais: [l e ].

f) vibrante: caracteriza-se pelo movimento vibratório e rápido da língua, provocando, assim, breves interrupções na corrente de ar. Para a vibrante, temos:[r]. Palavras como “caro”, “barato” apresentam este som.

g) tepe: ao contrário da vibrante, o tepe se caracteriza por apenas uma batidada ponta da língua nos alvéolos. É o caso do []. Este som é aquele sempre usadonos encontros consonantais em palavras como “prato”, “fraco” etc.

h) retroflexa: caracteriza-se pelo levantamento e encurvamento da ponta dalíngua em direção ao palato duro: [ ]. Este é o “erre” encontrado comumente no falar de algumas comunidades de São Paulo, do Paraná e também de Minas Gerais.

Quanto ao ponto de articulação, isto é, o local onde os sons são articulados notrato oral temos os seguintes sons:

:laibaliB solepod íurtsboéraodmeg assapa

oãçnujalepodizudorpémosO.soibálsiod

 ]m,b,p[ :sometsiaibalibomoC.soibálsod

Page 8: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 8/45

8

Com estas descrições articulatórias, podemos classificar os sons da língua

humana. Para unificar as transcrições dos sons, uma vez que suas realizações podem

variar de uma língua para outra, foi criado o Alfabeto Fonético Internacional (IPA).

Este sistema, ao ser utilizado na transcrição fonética, também permite que qualquer 

falante conhecedor de seus símbolos realize sons de quaisquer línguas.

Até aqui temos descrito como se realizam as consoantes. Passemos agora às

vogais. Uma pergunta vale a pena ser feita: o que torna uma vogal diferente de uma

consoante?

Enquanto as consoantes, em geral, são classificadas como vozeadas e não-

vozeadas, as vogais são sempre vozeadas. Uma outra diferença diz respeito à posição

que a vogal ocupa na sílaba. A Língua Portuguesa, diferente de outras línguas, como

o Inglês por exemplo, não admite consoante no núcleo silábico. Todas as sílabas do

Português têm sempre uma vogal como seu núcleo. No Português, as consoantes

t S, d , S,

 

 ,  

Labiodental: Há sons que são produzidos

pela obstrução parcial do ar. Desta forma, o

som é produzido pela aproximação do lábioinferior e a arcada dentária superior. São

labiodentais: [f, v].

Dental/Alveolar: os sons são produzidos

pelo toque da língua na parte de trás dos

dentes superiores (dentais) ou nos alvéolos

(alveolares). São elas: [t, d, s, z, l, n, r, R, ]

Palato-alveolar: são os sons produzidos coma lâmina da língua contra a parte anterior do

palato duro, logo depois dos alvéolos. São

palato-alveolares: [  ]

Palatal: os sons que são produzidos com a

lâmina da língua tocando o palato duro. Como

em [ ].

 Velar: Estreitamento da cavidade bucal entre

o dorso da língua e o véu palatino (ou palato

mole). São velares: [k,g,x].

Page 9: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 9/45

9

ocupam sempre as margens da sílaba. Na seção sobre as consoantes, isto está maisexplicitado.

Foneticamente, podemos classificar as vogais considerando três parâmetros:

a) a posição vertical da língua; b) a posição horizontal da língua;c) a posição dos lábios.

Quanto à posição vertical da língua, as vogais podem ser classificadas em:alta, média e baixa.

As vogais altas são aquelas que, em sua realização, a língua, seja em direção à parte anterior da boca ou à parte posterior atinge maior altura. Na Língua Portuguesatemos as vogais [i] e [u].

As vogais médias mantêm, em sua realização, como o próprio nome diz, a línguanem na posição mais alta nem em repousa. É o que ocorre quando realizamos as vogais[e], [], [o], [].

Já a vogal baixa, na Língua Portuguesa o [a], mantém, em sua realização, a línguaem posição de repouso.

 No que concerne à posição horizontal da língua, temos a possibilidade de a língua,na realização das vogais, ir na direção anterior da boca ou na direção frontal, o que nos dáas vogais anteriores [i], [I], [e], []. Se a língua fica em repouso, temos a vogal [a],classificada, sob essa perspectiva, como central. Se a língua recua na direção posterior da

 boca, temos as vogais [], [o], e [u], também denominadas de posteriores.Quanto à posição dos lábios, temos as vogais arredondadas e as não-

arredondadas. Fácil verificar quais são elas. Basta observar a configuração dos lábios em

sua realização. São arredonddasas, as vogais [], [o], e [u]; e, não-arredondadas, asvogais [e], [], [] e [a].

A disposição das vogais da Língua Portuguesa nos dá um sistema triangular de base para cima.

A seguir, temos o Alfabeto Fonético Internacional, apresentando tanto as consoantescomo as vogais utilizadas nas diferentes línguas do mundo.

Tabela 1: Alfabeto Fonético Internacional

Page 10: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 10/45

10

Os dois quadros representam as transcrições das consoantes e das vogais.

Podemos observar que os fones da Língua Portuguesa estão aí representados,

mas, além deles, existem muitos outros.

Transcrição fonética

Para analisarmos a língua utilizada falada por um falante sob o ponto de vista fonético,

é necessário que façamos sua transcrição fonética. Para isto, uma possibilidade é lançarmos

mão dos símbolos fonéticos que constituem o IPA. Essa transcrição, algumas vezes, pode

variar, dependendo do sistema fonético que está sendo utilizado.

Temos dois tipos de transcrição fonética: um mais amplo e um mais restrito. No tipo

amplo, não levamos em conta aqueles aspectos considerados secundários na produção

dos sons, a exemplo da palatalização, da velarização etc. Em geral, é este tipo de

transcrição que mais utilizamos no dia-a-dia da sala de aula ou em pesquisas de caráter 

dialetal.

ATIVIDADE

Identifique na Tabela 1, quais os fones consonantais e vocálicos que fazem parte da

Língua Portuguesa falada em sua comunidade.

ATIVIDADE

Procure um falante de sua comunidade, grave sua fala e transcreva-a foneticamente,

utilizando o tipo de transcrição mais amplo.

Page 11: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 11/45

11

FONOLOGIA

A Fonologia está ligada aos sistemas e padrões que os sons possuem. Todas as

línguas do mundo têm seus próprios padrões sonoros. Embora as línguas compartilhemcertas propriedades básicas é improvável encontrarmos duas línguas que tenham o mesmo

 padrão sonoro, ou seja, nunca encontraremos duas línguas que tenham o mesmo inventário

de sons, a mesma ordem e que sofram os mesmos processos. Um fonólogo pode estudar 

sistemas de sons os mais diversos possíveis, como os encontrados nas línguas africanas,

nas variedades do português brasileiro e de Portugal etc. Pode também trabalhar na solução

ou amenização de deficiências da fala.

Se compararmos os padrões do Português e do Inglês, por exemplo, veremos

que essas duas línguas têm padrões sonoros diferentes, que as posições ocupadas por 

algumas consoantes nas duas línguas não são as mesmas, e assim por diante. O Português

não tem consoantes interdentais do tipo [] , [], encontradas no Inglês em palaveas

como “three” e “that”, respectivamente. As sílabas do Português podem ter no seu final

apenas quatro consoantes /N/, /l/,/r/ e /S/, já o Inglês pode ter várias outras consoantes,

como, por exemplo: /t/, /d/, /b/ etc.

Antes de ver os tipos de questões sobre o sistema de sons levantados por fonólogos,

 precisamos observar, brevemente, as relações entre fonologia e outros componentes da

língua.

De modo bastante conceitual, podemos definir língua como sendo um sistema de

símbolos arbitrário e convencionado pelo qual os seres humanos se comunicam em um

nível abstrato – não há nada concreto ou material que confirme a existência da nossa

língua, pois tudo está na mente dos falantes. Os estudos lingüísticos mais tradicionais se

ocupam de um desses três componentes: a Semântica, a Sintaxe e a Fonologia. Ocomponente semântico da língua envolve os significados das palavras e como estas se

combinam para formar sentidos de grupos de palavras. O componente sintático diz respeito

aos grupos de palavras se combinam pala formar sentidos variados. O componente

fonológico compreende a representação mental dos sons, ou seja, os fonemas.

Se voltarmos nossa atenção, agora, para o que foi dito quando tratamos da

Fonética, verificamos que os itens lexicais que constituem a língua, podem ser agrupados

em dois conjuntos: de um lado, os fones, de outro, os fonemas. Isto, em se tratando da

língua falada. Se considerarmos a língua escrita, ao lado deles, temos as letras ou grafemas,

as formas gráficas que representam os sons.

Assim, em um item lexical como “poda”, temos quatro fones [p d a], quatrofonemas /p d a/ e quatro letras ‘p’ ‘o’ ‘d’ ‘a’. Nem sempre esta correspondência é tão

sistemática como no exemplo que acabamos de dar.

A palavra falada é constituida de unidades mínimas de sons. Na escrita, essas

unidades são representadas através de letras, porém nem todas as letras representam um

som diferenciado na língua, por isso não se deve confundir letra com fonemas. Enquanto

um é elemento gráfico, o outro é acústico. Uma mesma letra pode representar sons

diferenciados, a exemplo a letra s que, na escrita, pode ter o som de [s] (sela) ou [ z]

(casa).

Page 12: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 12/45

12

Para conhecermos os fonemas de uma determinada língua, precisamos, inicialmente,

fazer um levantamento dos fones que pertencem a esta língua. Para isto, precisamos deixar 

claro o que seja fonema e o que seja fone.

A noção de fonema está diretamente ligada à noção de oposição. Nos itens lexicais“tia” e “dia”, observamos que eles são distintos pela oposição estabelecida entre os sons

[t] e [d]. Assim podemos afirmar que /t/ e /d/ são dois fonemas. Por outro lado, se tivermos

 para o item lexical “tia” as realizações [t] e [t], não podemos dizer que temos dois

fonemas, mas dois alofones de um mesmo fonema. Para termos uma oposição entre

fonemas é necessário que tenhamos alteração de significado.

Uma possibilidade de determinarmos o sistema fonológico de uma língua, ou seja,

definirmos o número de fonemas que ela tem, é trabalharmos com o que chamamos de

par mínimo, ou seja, reunirmos itens lexicais que se diferenciem por apenas um elemento.

Se reunirmos os itens lexicais [pala] e [bala], verificamos que eles se distinguem apenas

 pelo [p] e pelo [b]. Logo podemos afirmar que /p/ e /b/ são dois fonemas, pois a alternância

de um pelo outro implica, conseqüentemente, o significado de cada um dos itens.

Encontrar um par mínimo é sempre a esperança dos fonólogos, mas nem sempre

isto acontece. Muitas vezes, temos que trabalhar com outras opções, uma delas é considerar 

o contraste, não em ambiente idêntico, mas em ambiente análogo, que é o que acontece

em itens como “sumir” e “zunir”. Podemos observar que, neste caso, a diferença entre um

item e outro se dá em mais de um segmento, tanto entre [s] e [z],como entre [m] e [n], mas

isto não impede de considerá-los como fonemas.

Ao definirmos os fonemas de uma língua, também definimos quais são seus alofones.

Se o par mínimo é uma possibilidade de identificação dos fonemas, a distribuiçãocomplementar é uma possibilidade de identificar os alofones de um fonema. Dizemos

REFLEXÃO:

Quando dois itens lexicais se distinguem pela troca de um único som e essa troca

representa uma mudança de significado, estamos diante do que chamamos de pares

mínimos. Caso a mudança de sons não acarrete alteração do sentido não teremos

 pares mínimos, mas simplesmente um caso de variação (alofones). Desta forma pode-

se detectar fonemas ou constatar variação.

LEITURA

Para maiores detalhes sobre ambiente idêntico e ambiente análogo, sugerimos a

leitura:SILVA, Thaïs Cristófaro. Fonética e Fonologia do Português. São Paulo:

Contexto.

Page 13: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 13/45

13

que dois segmentos estão em distribuição complementar, quando um não pode ocupar omesmo lugar do outro.

Um exemplo bem simples para entendermos a distribuição complementar é a

distribuição dos segmentos [s] e [] no falar paraibano. Se considerarmos os dados:

a. poste b. frascoc. espoletad. esfola

Verificamos que o /s/ só se realiza como [] antes de [t]; antes de [k], [p] e [f], elese realiza sempre como [s]. Assim, podemos dizer que [s] e [] estão em distribuiçãocomplementar, ou seja, o espaço ocupado por um não pode ser ocupado pelo outro.

 Neste caso, [s] [] são alofones de um mesmo fonema /s/.A possibilidade de utilizar um fonema para representar dois alofones, como no caso

acima, dá àquele fonema um status que foi designado pelos lingüistas estruturalistas dearquifonema. O arquifonema, assim, neutraliza as oposições.

Dois níveis de Fonologia

Ao classificarmos os componentes da fonologia das línguas, podemos ressaltar, pelo menos, dois níveis: um nível mais “baixo”, nele, encontramos todos os sons quefalamos e escutamos (a Produção do Discurso); já em um nível mais “alto”, está a formulaçãode seqüências de sons que são baseados no conhecimento do sistema fonológico que oouvinte e o falante possuem de uma determinada língua (o Conhecimento Fonológico). AFigura 5 ilustra esses dois níveis. O primeiro deles pode ser também chamado de nívelsubjacente; o segundo, nível de superfície.

O uso dos sons da fala em contexto e comunicação se dá de modo tão natural queé preciso lembrar que esses componentes fonológicos existem e que precisamos conhecer os elementos fonológicos de uma língua para que haja comunicação.

ATIVIDADE

A partir da noção de par mínimo, e com base em dados de sua comunidade,elabore o quadro de consoantes da Língua Portuguesa. Faça o mesmo com asvogais.

LEITURA

Acerca dos pontos levantados, sugerimos a leitura:CÂMARA Jr. Joaquim Mattoso. Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis: Vozes.

Page 14: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 14/45

14

Figura 5: Dois níveis de Fonologia

Podemos ainda observar dois traços do conhecimento fonológico essenciais para a

formação de uma língua:1- Um grupo de sons consistentes de sentido;

2- Regras de como esses sons devem ser usados para formar palavras.

Ao solicitarmos a tarefa, partimos do princípio dasregras simples de formação de palavras da Língua Portuguesa,

fazendo o falante (o participante do jogo) agrupar as letras de

acordo com o que é permitido na língua. Por exemplo, observe

que no português não é permitido um grupo de consoantes do

tipo “bf”, “db, “rd” etc. dentro de uma sílaba. No entanto,

seqüências do tipo “br”, “fr”, “fl” são facilmente aceitas.

ENTRADASSEMÂNTICAS,SINTÁTICAS EPRAGMÁTICAS

COMPONENTE FONOLÓGICO

CONHECIMENTO FONOLÓGICO(DISCURSO OCULTO)

PRODUÇÃO DO DISCURSO(DISCURSO IMPOSTO)

ANALISE A FRASE:

Vamos para casa agora em uma versão “de trás pra frente”Æ  Ragoa Zaca rapa

mosva. Para a leitura de ambas as frases, você faz o uso do nível mais baixo, o da

 produção do discurso. No entanto, para você reconhecer como uma frase

fonologicamente aceita na Língua Portuguesa, apenas a primeira ganha consistência.

Em um jogo de formação de palavras, imagine que você sorteou as seguintes le-

tras: R, B, A, F, O, L, C, I, D. Quantas palavras podem ser formadas a partir 

dessas letras? liste algumas em seu caderno antes de prosseguir a leitura! lembre-

se de utilizar apenas as letras acima.

Page 15: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 15/45

15

RAZÕES PARA ESTUDAR FONÉTICA E FONOLOGIA

Existem muitas razões para estudarmos Fonética e Fonologia. Conseqüentemente,

 pessoas de muitas disciplinas diferentes se tornam envolvidas pelas pesquisas nesta área.Vejamos algumas delas:

- Entendemos ser impossível ensinar uma língua estrangeira sem o conhecimentodo seu sistema fonológico e sem o conhecimento de como os seus sons sãorealizados. Só de posse desse conhecimento é que os professores podem alcançar seus objetivos.

- No ensino da língua materna, se é que isto seja possível, os professores precisamentender como se dá o processo de aquisição dos sons. É importante saber, por 

exemplo, que os sons não adquiridos ao mesmo tempo, que existe uma idade para que determinados processos não aceitáveis na norma sejam descartados eassim por diante.

- Nos tarefas clínicas dos fonoaudiólogos, principalmente naquelas que dizemrespeito à linguagem, é de suma importância o conhecimento tanto da Fonéticacomo da Fonologia. Sem esse conhecimento, terapias podem tornar-se muitomais longas do que o necessário.

- O conhecimento dos diferentes falares atrelado ao conhecimento da Fonologiada língua poderá ser utilizado para a compreensão dos processos variáveis da

língua. Esse conhecimento pode ser utilizado para amenizar atitudes preconceituosas em relação a diferentes formas de dizer a mesma coisa. Exemplosdessa natureza são muito comuns no Brasil. Há quem acredite, por exemplo, queexiste uma região que fale melhor Português do que outra. Acredito nisso denotadesconhecimento dos diferentes falares.

- Muito tem sito usado o conhecimento da Fonética e da Fonologia na identificaçãode voz, trabalho realizado com freqüência pela polícia técnica que procuraidentificar envolvimento de pessoas culpadas em ações de infração.

ATIVIDADE

Faça um levantamento de outras aplicações dos estudos fonéticos e fonológicos.

Page 16: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 16/45

16

UNIDADE IVOGAIS

APRESENTAÇÃO

Este capítulo introduz uma visão acerca das vogais da Língua Portuguesa, considerando

sua tonicidade na palavra, tendo como objetivos:

- Classificar as vogais do português brasileiro;

- Apresentar as possibilidades de realização das vogais na fala, seguindo os estudos

variacionistas;- Elencar os processos fonológicos que acompanham na realização das vogais em

suas diferentes possibilidades.

CONCEITOS BÁSICOS

- vogal tônica

- vogal pretônica

- vogal postônica

- neutralização

- nasalidade fonética

- nasalidade fonológica

- harmonia vocálica

- assimilação

Aprendemos, desde a infância, que existem cinco vogais no alfabeto na nossa

língua. O estudo das vogais do português, no entanto, vai muito além desses cinco símbolos

gráficos usados para representá-las. A língua oral apresenta, na verdade, sete fonemas

vocálicos, que se comportam de maneira específica, dependendo da sua posição em

relação ao acento tônico.

De acordo com modelo exposto por Câmara Jr. (2006), a Língua Portuguesa do

Brasil apresenta um quadro de vogais que são definidas de acordo com a posição da

sílaba a que pertencem, em relação à tonicidade da palavra, e mutáveis dependendo do

 processo de neutralização que sofrem.

Para caracterizar as vogais da nossa língua em sua plenitude, podendo identificar 

todas as suas variedades, a tonicidade das sílabas da palavra é a melhor opção, no sentido

de que a sílaba tônica é o contexto ideal para representá-las. Dessa forma, as vogais

classificam-se como no Quadro 1:

Page 17: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 17/45

17

Quadro 1: As vogais da Língua Portuguesa segundo Câmara Jr.

Assim, quando temos um contexto de sílaba tônica, os segmentos vocálicos podem assumir essas sete representações, sem apresentar variações de um dialeto para

o outro.

Podemos observar, então, que as vogais tônicas assumem

um quadro categórico, composto de sete vogais /i, e, , a, u, o, ç/

distribuídas em todas as posições possíveis.

Saindo da posição tônica, o quadro de vogais sofre uma

redução, dependendo do processo de neutralização de cada

 posição. Vale lembrar que proeminência da sílaba que tem

representação na vogal, torna-se mais débil à medida que sai da

 posição tônica. E é importante salientar que entre as posições pretônica e postônica, a posição postônica é mais débil do que a pretônica.

As posições pretônica e postônica podem nos dar um outro quadro de vogais.

Em se tratando desta última, temos que considerar ainda a diferenciação entre as finais e

as não-finais.

Antes de passarmos para as vogais pretônicas, consideremos ainda o

comportamento das vogais tônicas em um contexto específico: o de consoante nasal. A

 presença de uma consoante desse tipo na sílaba seguinte à vogal tônica elimina as vogais

médias de 1º grau, como podemos constatar nos exemplos em (2):

(2)

roiretn A lartneC roiretsoP

atl A  i u

atl A aidéM e o

axiaBaidéM

axiaB a

sadadnoderra-oãN sadadnoderr A 

:/a/ ot ]a[ m

:/e/ od ]e[ m

:// ort ][ m

:/o/ orr ]o[ m

:// ot ][ m

:/i/ oc ]i[ m

:/u/ or ]u[ m

/a/ edadin ]a[ s

/e/ ahn ]e[ s

/o/ on ]o[ s

/i/ on ]i[ s

/u/ om ]u[ s

ç

ç

 A sílaba tônica é a sílaba mais proeminente da palavra. As sílabas menos proeminentes se denominam

sílabas átonas. Sendo assim, as sílabas átonas antes da tônica se denominam pré-tônicas e as depois se

denominam pós-tônicas.

Page 18: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 18/45

18

 Na Língua Portuguesa, na verdade, não temos vogais nasais, o que temos são

vogais orais seguidas de um arquifonema nasal. Logo, as vogais do Português são

nasalizadas.

 No que concerne à nasalização das vogais, podemos estabelecer, seguindo aorientação de Câmara Jr., a distinção entre nasalidade fonética e nasalidade fonológica.

A nasalidade fonética é aquela que não estabelece distinção de significado, como

a que acontece em palavras como “camelo”, “banana”, que podem ser realizadas tanto

como [kãmelU], [bãnãna] ou como [kamelU], [banãna], respectivamente.

Já a nasalidade fonológica pressupões alteração de significado, a exemplo de

[kãtU] e [katU]. Observe que a não- nasalização da vogal [a], na segunda palavra, gerou

um outro item lexical com significado totalmente diferente do anterior.

Consideremos agora as vogais em posição átona. Segundo Câmara Jr., as sete

vogais tônicas se reduzem a cinco na posição pretônica (/a/, /o/, /e/, /u/, /i/), a quatro em

 posição postônica não-final (/a/, /e/, /i/, /u/) e a três na posição átona final (/a/, /i/, /u/).

Essa classificação foi feita com base no dialeto culto carioca. Sabemos, entretanto, que o

comportamento das vogais no português do Brasil apresenta-se de forma variável, atestado

 pelas inúmeras pesquisas sociolingüísticas realizadas no país.

Sendo assim, compreendemos que o contexto das vogais átonas é bastantecomplexo, no que concerne à heterogeneidade existente na língua. Para tanto, faremos

algumas considerações sobre as vogais em posição átona, levando em conta os trabalhos

 já realizados no país sob a perspectiva variacionista. Comecemos pelas vogais pretônicas.

As vogais pretônicas

O sistema vocálico do português é reduzido, na posição pretônica, de sete para

cinco vogais. Assim, desaparece a oposição entre as médias de 1º e 2º grau.

(3)

Essa supressão é interpretada como um fenômeno de ‘neutralização’, que consiste

numa na redução de mais de um fonema em uma só unidade fonológica. Essa classificação

de Mattoso, em favor das médias de 2º grau não é categórica, tendo em vista que as

vogais pretônicas da Língua Portuguesa do Brasil apresentam um comportamento bastan-

ATIVIDADE

Faça um levantamento de palavras na língua de sua comunidade que apresentem

variação no uso das vogais nasalisadas

satla /i/ /u/

saidém /e/ /o/

axiab /a/

Page 19: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 19/45

19

te variável.

Como já atestava Antenor Nascentes (1953), aqui estabelecemos nossa linha que

delimita os dois grupos de falares brasileiros em relação às vogais pretônicas. Em geral,

afirma-se que, com relação à posição pretônica, os dialetos das regiões norte-nordestecaracterizam-se pela presença das vogais médias abertas, mais do que as fechadas, na

 posição pretônica (// e /ç/) e os do sudeste-sul pelas vogais fechadas (/e/ e /o/), como

mostram os exemplosem (4):

(4)

Essa possibilidade, porém, não é categórica. Há uma possibilidade de variação

entre as pretônicas e a alternância se dá entre as médias de segundo grau [e, o] e as altas

[i, u]. Tal fenômeno é chamado de ‘harmonização vocálica’ e diz respeito ao processo em

que as vogais pretônicas assimilam o traço de altura da vogal seguinte, tornando-se altas

como a vogal tônica, como podemos ver em (5):

(5)

Havíamos dito que onde prevalecem para os falares do sul e do sudeste as vogais

médias de segundo grau, para o nordeste, norte e centro-oeste prevalecem as médias

de primeiro grau.

Esta disposição das vogais pretônicas não é algo tão tranqüilo, principalmente

quando se trata da região nordeste. Podemos encontrar nessa região uma variação

muito grande. O certo, entretanto, é que a realização preferida por seus falantes é a

média aberta, ao contrário do sul e do sudeste que preferem as médias de segundo

:etsedroN-etroN :etseduS-luS

arutr ][ ba arutr ]e[ ba

oãf  ][ hc oãf  ]e[ hc

oda v  ][ rtne oda v  ]e[ rtne

atnug r ][ p atnug r ]e[ p

ospal ][ c ospal ]o[ c

oãç ][ l ][ c oãç ]e[ l ]o[ c

odadl ][ s odadl ]o[ s

oãçar ][ oãçar ]o[ 

~airg  ]e[ la airg  ]i[ la

~adib ]e[ b adib ]i[ b

~odid ]e[ p odid ]i[ p

~açiug  ]e[ rp açiug  ]i[ rp

~atreb ]o[ csed atreb ]u[ csed

~ajur ]o[ c ajur ]u[ c

~red ]o[ p red ]u[ p~rehl ]o[ c rehl ]u[ c

ç

ç

ç

ç

Page 20: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 20/45

20

grau.Vale salientar que essas representações não são realizadas na escrita. As palavras

seguem a convenção do código determinado na fala. É importante, sobretudo, conhecer o

funcionamento variável das vogais, uma vez que nossa realidade de ensino exige quetrabalhemos conscientemente ante a nossa língua, no sentido de reconhecer as diferençase saber lidar com elas.

Vogais Postônicas

Quando se trata das vogais postônicas, a primeira consideração a ser feita é queelas podem estar no meio da palavra (são as postônicas não-finais) ou no final (são as

 postônicas finais). A sua caracterização é específica, dependendo do contexto silábico emque ela estiver localizada.

Diferentes das pretônicas, as vogais postônicas, tanto em posição não-final como

final, apresentam uma configuração mais homogênea de norte a sul. E os estudos sobreessa questão ainda não são muito numerosos.

Postônicas não-finais

Já que estamos seguindo a classificação de Câmara Jr. (2006, p. 44), traremosabaixo o quadro das vogais postônicas não-finais descrito por ele:

(6)

Segundo esse autor, há neutralização entre as vogais /u/ e /o/, mas não entre /e/ e/i/, como pode ser visto nos exemplos em (7):

ATIVIDADE E EXEMPLO

a) A partir do falar de sua comunidade, identifique as vogais presentes na posição pretônica. Considere:- o tipo de consoante que antecede e segue a vogal;- o tipo devogal que ocupa o centro da sílaba tônica.b) Procure textos escritos de alunos doEnsino Fundamental e verifique a utilização das vogais pretônicas médias.

satla /i/ /u/

saidém/e/ //

axiab /a/

 Vale salientar que vogais postônicas não-finais só aparecem em palavras proparoxítonas

Page 21: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 21/45

21

(7)

Outro fenômeno que pode ser observado no comportamento das vogais postônicas

não-finais é o seu ‘apagamento’. Os estudos realizados sobre as postônicas não-finais

têm confirmado essa tendência, já na passagem do Latim para o Português. Como constata

Amaral (2002, p. 101), “a variação das proparoxítonas é um fenômeno difundido em

todo território, não só na fala normal dos menos escolarizados como na fala

espontânea dos mais escolarizados, em determinadas situações”.

O apagamento das vogais, nesta posição, acaba sendo previsível, isto porque a

ordem dos segmentos no ataque silábico1 não pode contrariar o padrão da língua em

termos do Princípio de Seqüenciamento de Soância (cf. CLEMENTS, p.283-284), como

nos casos em (8):

(8)

Caso não ocorra o apagamento, outras alterações podem ser encontradas, comonos exemplos em (9):

(9)

Observando o caso de “relâmpago”, verificamos que, além do apagamento da vogal

 postônica, se dá também a queda da consoante que a segue ‘g’, sua manutenção geraria

um ataque mal formado (com um encontro consonantal inexistente na língua portuguesa).

Para evitar isso, o falante apaga a seqüência VC (Vogal Consoante). Se observarmos o

caso de “estômago”, podemos verificar que o falante efetua um processo bastante

interessante: ele apaga a vogal, mas mantém a consoante seguinte. Como a consoante

~or ]e[ mún or ]i[ mun*

~al ]o[ rep al ]u[ rep

~arac íx arcix

~ero v rá er v ra

~aracáhc arcahc

~arob í v arbi v 

~arepsé v arpse v 

alul íp aluip

epicn írp epsnirp

odabás obas

ocilótac ociótac

og apmâler opmaler

og amôtse obmotse

1  As noções sobre estrutura silábica serão explicitadas na seção que tratará das consoantes do Português.

Page 22: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 22/45

22

nasal que ocupa a posição do ataque é uma labial, ele altera o traço dorsal da consoante

seguinte de dorsal para labial, resultando, assim um padrão bem formado. Esses são

alguns dos processos que ocorrem na variação vocálica do português.

Vamos agora conhecer o comportamento das postônicas finais.

Postônicas finais

O sistema vocálico apresentado por Câmara Jr. é o mais reduzido. Das sete vogais

em posição tônica, passamos a três: /i, a, u/.

(10)

Considerando os estudos realizados no sul do Brasil, este quadro não se revela

categórico, e é possível encontrarmos, convivendo variavelmente, médias de segundo

grau e altas. Tal variação é atribuída, principalmente, ao tipo de colonização.

(11)

Apesar de não termos estudos conclusivos em outras regiões brasileiras, intuitivamente

 podemos afirmar que existe um padrão geral para as postônicas não-finais, com manutenção

das cinco vogais. Isso acontece quando temos a vogal postônica em sílaba travada2. Em

geral, sílabas travadas por segmento soante (nasal, lateral, vibrante) tendem a desfavorecer 

a elevação da vogal, como em (12a), e sílabas travadas por obstruinte coronal tendem a

favorecer sua elevação, como em (12b):

(12)

Acreditamos que, de norte a sul,os resultados sejam similares.

Essas explanações representam uma proposta rumo à organização dos estudos

realizados no Brasil sobre o uso variável das vogais em todas as suas posições na palavra.

satla /i/ /u/

saxiab /a/

 ]e[ tiel ]I[ tiel

 ]e[ tned ]I[ tned

 ]o[ tag ]U[ tag 

 ]o[ tsop ]U[ tsop

 )ar ]e[ tárac~retárac

 )bs ]U[ nem~sonem

red íl r ]e[ d íl

2

Sílabas travadas são aquelas que têm a coda (posição final da sílaba) preenchida.

Page 23: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 23/45

23

A compreensão da variabilidade que aparecem nas vogais é apenas uma primeira etapa,

mas essencial para futuros estudos com vistas à Língua Portuguesa do Brasil e também

como forma de avaliar os processos da língua em geral.

Os estudos variacionistas realizados e os que ainda serão implementados tambémterão aplicabilidade no ensino do Português, principalmente no nível fundamental, aquele

em que muitas questões são silenciadas pela falta do conhecimento teórico por parte dos

 professores que poderia respondê-las.

Page 24: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 24/45

24

UNIDADE II

DITONGO

Apresentação

Este capítulo introduz uma visão acerca de Ditongo na Língua Portuguesa, tendo

como objetivos:

- conceituar ditongo;

- classificar os ditongos da Língua Portuguesa, com base na Gramática Normativa

e na Lingüística;

- descrever o uso do ditongo na Língua Portuguesa.

Conceitos básicos:

- ditongo

- monotongação

- semivogal

- glide

- ditongo crescente

- ditongo decrescente

A noção de ‘ditongo’ é apresentada desde as séries iniciais no ensino de Língua

Portuguesa. Esse termo é comumente utilizado para designar um encontro vocálico em

uma mesma sílaba. A Gramática Tradicional classifica os ditongos em crescente (quando

há uma semivogal, seguida de uma vogal) e decrescente (quando a vogal é precedida da

semivogal).

 Na Lingüística, os ditongos são também caracterizados como uma seqüência de

segmentos vocálicos. Esses segmentos, no entanto, assumem qualidade diferente na

realização, sendo uma das vogais da seqüência realizada como semivogal (também

conhecida como glide).

As semivogais são vogais assilábicas, ou seja, elas ocupam a margem do núcleosilábico, pois não apresentam proeminência acentual para ser o centro da sílaba, como as

vogais. O português apresenta dois segmentos que se caracterizam como semivogal: o [j],

que muitas vezes é representado pelo [y], e o [w].

(1) le[j]te

 bo[j]

 pa[w]ta

mé[w]

Page 25: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 25/45

25

Existe uma discussão em torno dessa questão: os glides devem ser considerados

segmentos vocálicos ou segmentos consonantais? Assumindo aqui a explicação de Câmara

Jr. em seu livro  Estrutura da Língua Portuguesa, que usa como argumento o

comportamento do ‘r’ na palavra, consideramos o glide como um segmento vocálico,uma vez que em fronteira silábica, o ‘r’ é realizado como brando depois de vogal (ex.:

mora) e forte depois de consoante (ex.: honra). Nos casos de ‘r’ depois de um ditongo,

este é realizado como brando (ex: europeu), o que justifica o status vocálico do glide.

Sendo assim, os ditongos definem-se pela presença de uma vogal mais um glide

numa seqüência. Vale salientar que esses dois segmentos fazem parte da mesma sílaba,

diferindo, portanto, do que se conhece por hiato, que são duas vogais em seqüência, mas

que mantêm a sua qualidade (ou seja, nenhuma das duas é ‘semivogal’) e estão em sílabas

distintas (ex.: pais [‘pajs]* x país [pa’js]**.

Há também uma discussão sobre a existência e classificação dos ditongos na

Língua Portuguesa. Muitos lingüistas (dentre eles Câmara Jr., Leda Bisol) consideram que

os verdadeiros ditongos são os decrescentes (formados por vogal + semivogal); eles

defendem que os ditongos crescentes (semivogal + vogal) não existem na origem das

 palavras e, portanto, podem variar livremente com o hiato (ex.: [‘swar ~ su’ar]. Há, no

 português, somente um tipo de ditongo crescente que não alterna com hiato: aqueles

formados na seqüência de consoantes oclusivas /k/ ou /g/ mais a semivogal /w/, seguida

de /a/ ou /o/ (ex.: qual [‘kwaw].

Segundo Câmara Jr., os ditongos existentes na língua portuguesa classificam-se

assim:

Ditongos decrescentes

/ai/: pai;/au/: pau;

/éi/: papéis (só diante de /s/);

/êi/: lei;

/iu/: riu;

/ói/: mói;

/ôi/: boi;

/ôu/: vou

/óu/: sol

/ui/: fui

Ditongo crescente

/kw; gw (a,, ê, i, ç, ô)/ : ex.: qual [extraído de Câmara Jr (2006, p. 56)]

Alguns ditongos decrescentes, entretanto, sofrem variação e podem ser realizados

como uma única vogal na fala, quando ocorre o processo de monotongação. A

monotongação diz respeito a um processo de redução de um ditongo a um monotongo

(uma vogal que não muda de qualidade na sua realização). Em outras palavras, ocorre

* Mesma sílaba

** Sílabas diferentes

Page 26: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 26/45

26

monotongação quando um ditongo (vogal + glide) é realizado como uma vogal simples,

ou seja, a semivogal da seqüência é apagada.

Esses ditongos decrescentes, capazes e sofrer redução são classificados, na

literatura específica, como ditongos leves; ao passo que os verdadeiros ditongos nãotornam-se monotongos.

Ditongos leves

Ex.: c[aj]xa ~ c[a]xa

f[ej]ra ~ f[e]ra

c[ow]ro ~ c[o]ro

Verdadeiros ditongos

Ex.: b[aj]rro ~ *b[a]rro

m[ej]go ~ *m[e]go

m[ej]ga ~ *m[e]ga

Para compreendermos a sistematização da língua é imprescindível que levemos em

consideração o seu real funcionamento. Neste sentido, verificamos que as pesquisas na

área da Sociolingüística Variacionista têm dado uma grande contribuição para os estudos

da Língua Portuguesa no Brasil, revelando o verdadeiro comportamento da língua(gem)

usada efetivamente pelas pessoas em contexto concreto.

ATIVIDADE

A partir de dados da língua falada em sua comunidade, verifique que ditongos podem

sofrer o processo de monotongação.

Page 27: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 27/45

27

UNIDADE IIICONSOANTES

APRESENTAÇÃO

Este capítulo apresenta o sistema consonantal da Língua Portuguesa, considerando

a consoante em sua posição na sílaba. Tem como objetivos:

- descrever o sistema consonantal;

- identificar as consoantes que ocorrem como primeiro segmento de uma sílabaCV;

- identificar as consoantes que ocorrem como segundo segmento de uma sílaba CCV;

- identificar as consoantes que ocorrem na posição de coda do padrão silábico CVC.

CONCEITOS BÁSICOS

- consoante

- padrão silábico

- ataque

- coda

- núcleo

1 Introdução

As consoantes, como sabemos, são segmentos que têm como características

 principais serem articuladas sempre com algum tipo de obstrução e ocuparem as margens

da sílaba.

O número de consoantes da Língua Portuguesa é bem maior do que o número de

vogais, conseqüentemente, na sua variabilidade, é de se esperar que seja mais produtiva.

Em geral, o quadro de fonemas consonantais da Língua Portuguesa é constituído

de 19 fonemas, como ilustra o quadro abaixo:

Quadro 2: Fonemas consonantais da Língua Portuguesa do Brasil

Este quadro, entretanto, nem sempre é categórico, como veremos a seguir.

edodoM

oãçalucitr A 

oãçalucitr A edotnoP

laibaliB latnedoibaL . v l A /.tneD raloe v l A -laP latalaP rale V 

.ruS .noS .ruS .noS .ruS noS .ruS .noS .ruS .noS .ruS .noS

a v isulcO /p/ /b/ /t/ /d/ /k / /g /

a v itacirF /f / / v / /s/ /z/ // // /x/

lasaN /m/ /n/ //

laretaL /l/ //

etnarbi V  /r/

 

Page 28: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 28/45

28

Se, para elencarmos o número de vogais, observamos a sua posição de acordo

com a tonicidade da sílaba na palavra, para as consoantes, vamos considerar a sua posição

na sílaba, levando em conta, para isso, o padrão silábico da língua. Nossa língua tem um

 padrão silábico relativamente simples, não permitindo mais do que duas consoantes nemna posição inicial (ataque) nem na posição final (coda).

. Assim, se a consoante ocupa o ataque silábico ou segunda posição de ataque

complexo, ter-se-á um número de consoantes, que, por sua vez, será alterado se a consoante

ocupa a posição de coda. Neste capítulo, serão analisadas as consoantes nas três posições,

considerando a variação existente.

Antes de descrevermos o sistema consonântico da Língua Portuguesa,

apresentaremos alguns conceitos relacionados com a sílaba, o que facilitará a compreensão

do que virá em seguida.

2 Sobre a sílaba

Em Chomsky & Halle (1968), com a proposta denominada de The Sound Patterns

of English (SPE), foi defendido que uma representação fonológica seja simplesmente uma

seqüência de feixe de traços não-ordenados, apresentada com um conjunto de símbolos

de fronteira que reflitam a composição morfológica das palavras, e um sistema de colchetes

rotulados representando a organização sintática dessas palavras. Hoje, com o passar dos

anos e com os estudos que vêm sendo desenvolvidos, sabe-se que fazer fonologia sem

sílaba é um erro.

Com o aparecimento da estrutura hierárquica, envolvendo não só a estrutura

silábica, mas também a estrutura prosódica mais alta, e a desconstrução do segmento em

termos de uma hierarquia das camadas de traços, a proposta do SPE foi substituída por uma visão sobre as representações que favoreceram uma estrutura mais elaborada.

Interessante observar que o falante nativo, em geral, sabe algo sobre a estrutura

silábica das palavras em sua língua, ou seja, eles podem identificar quantas sílabas constituem

uma determinada palavra e até sabem onde cada uma delas começa e onde termina.

2.1 Organização interna da sílaba

Ao identificar o número de sílabas, o falante está demonstrando seu conhecimento

acerca da arquitetura envolvida na sua realização. De um ponto de vista fonético, cada

sílaba tem um pico de sonoridade, isto é, um segmento que é mais sonoro do que outro.Logo, a sonoridade é uma propriedade relativa. Em termos auditivos, o pico de sonoridade

é mais proeminente do que os segmentos vizinhos, e forma o elemento silábico. No caso

do Português, por exemplo, as vogais são inerentemente mais sonoras do que as consoantes

e só elas constituem o pico silábico. Há línguas, como o Inglês, em que os segmentos com

sonoridade espontânea, como o /r/ e o /l/ podem ser o pico silábico.

Há propostas diferenciadas sobre a representação fonológica da sílaba. Aqui será

adotada a proposta de Selkirk (1982), segundo a qual, a sílaba pode ter os seguintes

constituintes: há uma divisão principal da sílaba em ataque3 e rima, e a rima, por sua vez,

se divide em núcleo e coda, conforme o diagrama 1:

Page 29: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 29/45

29

Diagrama (1)

ó (=sílaba)

Ataque Rima

Núcleo Coda

É óbvio que nem todas as sílabas do Português preenchem todas as posições. Háaquelas do tipo CV, como em ‘cá’, em que apenas o ataque e o núcleo são preenchidos,a exemplo do que apresenta o diagrama 2:

Diagrama (2)ó

Ataque Rima

Núcleo Coda 

c a

Há algumas em que apenas o núcleo é preenchido, a exemplo de ‘a’ no diagrama 3:

Diagrama (3)ó

Ataque Rima

Núcleo Coda a

e ainda outras em que apenas o núcleo e a coda são preenchidas, como em ‘ar’, nodiagrama (4):

1 Para Câmara Jr. (2002, p. 53), o ataque corresponde à fase crescente da sílaba e a coda corresponde à decrescente. O núcleo é o ápice

da sílaba.

Page 30: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 30/45

30

Diagrama (4)

ó

Ataque Rima

Núcleo Coda

 

a r 

Comum a todas elas é o fato de o núcleo ser sempre preenchido por uma vogal,

como já foi mencionado anteriormente.

Além disso, o Português apresenta também possibilidades de o ataque e a coda

serem complexos, o que significa serem ramificados, como em ‘pra’, em que o ataque é

constituído pelas consoantes ‘p’ e ‘r’, como na sílaba “pra” no diagrama (5):

Diagrama (5)

ó

Ataque Rima

Núcleo Coda

 

 p r a

e também tem a coda complexa, como ‘mons’ da palavra ‘mons.tro’, em que ‘n’ e ‘s’

ocupam tal posição, como mostra o diagrama 6:

Diagrama (6)

ó

Ataque Rima

Núcleo Coda

 

m o n s

Vale chamar a atenção para o fato de o ataque e a coda complexos serem muito

 pouco produtivos no PB, como vermos adiante.

Page 31: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 31/45

31

3. Fonotática4 do PB

A estrutura fonotática das palavras pode ser entendida ao se pensar que os segmentos

estão organizados em unidades silábicas, e que as palavras podem conter várias ocorrências

diferentes ou semelhantes entre si. Algumas línguas apresentam palavras que mostram

uma simples repetição de sílabas CV, outras apresentam padrões diferenciados. Entre

estas últimas está a Língua Portuguesa

3.1 Padrões silábicos

Em seu estudo sobre a sílaba na Língua Portuguesa, Collischonn (2002)

apresenta um molde silábico que determina o número máximo e o número mínimo de

elementos permitidos, variando de um a cinco segmentos. Os padrões silábicos são

 preenchidos por vogais (V) e consoantes (C), como em (1):

(1)

Extraído de Collischon (2002, p. 110).

SUGESTÃO DE LEITURA

Como o objetivo deste capítulo não é discutir propriamente a sílaba e seus constituintes,

analisando-os fonologicamente, para maior aprofundamento, sugerimos que sejam

lidos os seguintes textos:BISOL, Leda. A sílaba e seus constituintes. In: NEVES,

Maria Helena de Moura. Gramática do Português Falado. Vol. VII. São Paulo: Editora

da Unicamp, p. 701-742COLLISCHONN, Gisela. A sílaba em português. In:

BISOL, Leda (org.). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro.

Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

 V é

C V ra

CC V etnat.sni

 V C ác

C V C ral

CC V C ort.snom

 V CC irt

C V CC sêrt

CC V CC etrop.snart

 V  V al.ua

 V  V C iel

 V  V CC uarg 

C V  V CC ort.sualc

4

Por Fonotática devemos entender a forma como os segmentos estão dispostos ou ordenados nos contextos.

Page 32: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 32/45

32

REVISÃO

O ataque silábico corresponde à primeira posição na sílaba. Há quem o denomine

de aclive, como Câmara Jr. Este ataque pode ser preenchido por até duas consoantes,

não mais que isto.

Para a Língua Portuguesa, como já afirmamos anteriormente, o que existe de comum

a todos os padrões é a presença do elemento V, que constitui o núcleo da sílaba. A sua

esquerda, o ataque silábico, tem-se o preenchimento por até duas consoantes.

(2)

3.2 A posição de ataque

Ao se examinar o ataque, temos que levar em

consideração que ele pode ser preenchido por um

elemento (ataque simples) e por dois elementos (ataque

complexo).

O ataque simples pode ocorrer tanto em posição

inicial como em posição medial. Alguns segmentos,

dependendo da posição, são muito pouco produtivos.

Como é o caso de / / e // na posição inicial. Outros

se circunscrevem, a exemplo do /r/, a realizações dedialetos específicos. Em (2), tem-se uma descrição das

 possíveis ocorrências.

ATIVIDADE

Faça um levantamento de palavras da Língua Portuguesa que preencha os padrões

silábicos apresentados em (1) , identificando os mais e os menos produtivos.

5  Variante comum nos falares do sul do Brasil, como atesta Monaretto (1992).

otnemgeSoãçisoP

laicini

oãçisoP

laidem

/p/ ac.ap ap.oc

/b/ ac.ob ob.ac

/t/ al.et et.op

/d/ ac.od ad.ac

/k / ap.ac ac.ap

/g / at.ag ag .or

/f / og .of of .rag 

/ v / ac.a v o v .erf 

/s/ oc.as as.roc

/z/ arb.ez as.ac

// am.ahc ahc.ram

// ac.aj at.ej.rog 

/x/ ot.ar or.rac

/m/ at.am am.am

/n/ at.an an.am

// euq .ahn ahn.am

/l/ at.al al.af 

// am.ahl ahl.af 

/r/ ot.ar or.ac5

 

 S

Z

Page 33: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 33/45

33

A observação das possibilidades na distribuição do ataque simples em início de

 palavra sinaliza que alguns segmentos são mais freqüentes do que outros. Essa baixa

 produtividade resulta mais de fatores históricos do que da inerente má-formação do início

de palavras com esses segmentos. Se o segmento ou segmentos que evoluíram para umfonema específico era raro ou não ocorria em determinada posição no Latim, não é de se

surpreender que o segmento resultante seja também raro na mesma posição.

Se olharmos (2), verificaremos que a posição do ataque é preenchida por todas as

consoantes. Algo que merece atenção, entretanto, é que a realização dessas consoantes

nem sempre é categórica, ou seja, nem sempre se realiza da mesma forma. Vejamos

alguns casos:

a) as consoantes oclusivas bilabiais /p,b/ têm realização categórica, independente

de qual seja a posição da sílaba, se inicial, medial ou final, e também da vogal que lhe

acompanha, como nos exemplos a seguir:

 b) o mesmo não acontece com as oclusivas dentais /t,d/, que têm realização

condicionada à vogal que lhe segue, como nos exemplos:

 Neste caso, podemos observar que, se as consoantes /t,d/ forem seguidas de /i/,

independente de qual seja a posição em que ocorram, teremos duas possibilidades de

realizações:

[d]i.to ~ [d ]i.to po.[d]i.do ~ po.[d ]i.do

[t]i.ro ~ [t S]i.ro po.lí.[t]i.co ~ po.lí.[t S]i.co

o que não acontece com os demais casos.

ot.ap ab.atot.ab ap.at

el.ep et.ep.at

ob.eb ef .eb.at

oç.op as.op.ar

ol.ob ol.ob.er

ed.up oãç.at.up.er

os.ip ot.ip.er

ef .ib ed.ib.ac

ot.at at.ar

at.ad ad.ad.or

l.et a c.et.ep a

al.ed al.ed.or

ar.ud ad.iz.ud.er

ot.id od.id.op

or.it oc.it. íl.op

Page 34: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 34/45

34

Em se tratando do ataque complexo, a Língua Portuguesa se configura de forma bastante simples. Apenas as consoantes /r/ e /l/ podem ocupar a segunda posição doataque, independente de a sílaba ocorrer em posição inicial ou medial, como podemos ver em (3):

(3)

O fato de termos apenas duas consoantes podendo ocupar tal posição pode ser uma das explicações para a grande produtividade de substituições de uma pela outra,

 principalmente, na fase de aquisição da língua. Não é incomum, ouvirmos, por exemplo,“praca” em vez de “placa”.

ATIVIDADES

- Com base no exposto, verifique, a partir do falar de sua comunidade, o que acontececom as demais consoantes que ocupam a mesma posição na sílaba, ou seja, o ataque.Há ou não variação no uso?- É comum, na escrita, e também na fala, a substituiçãode algumas consoantes nesta posição. Que consoantes estão envolvidas nessasubstituição? Procure sistematizar sua ocorrência tanto na escrita como na fala.

/r/ /l/

otnemg eSoãçisoPlaicinI

oãçisoPlaideM

otnemg eSoãçisoPlaicinI

oãçisoPlaideM

/p/ ot.arp arp.moc /p/ ac..alp alp.ud

/b/ oç.arb arb.ac /b/ oc.olb oc.ilb.úp

/t/ og .art art.mE /t/ milt salt.a

/d/ ag .ord ord.auq /d/

/k / om.orc erc.a /k / or.alc am.alc.a

/g / am.arg erg .it /g / air.ólg alg .is

/f / oc.arf erf .an.ip.se /f / ahc.elf od.alf .um.ac

ATIVIDADES

- A partir de um levantamento de palavras que apresentem ataque complexo, verifiquequais são as consoantes possíveis na primeira posição, considerando como segundaconsoante tanto a lateral “l” como a vibrante “r”.- Faça um levantamento de palavras, a partir da observação do uso em suacomunidade, de palavras em que ocorrem a substituição de um /r/ por um /l/ e vice-versa. Verifique qual delas é mais freqüente.- Verifique se o mesmo ocorre na escrita de alunos em diferentes níveis de ensino.

Page 35: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 35/45

35

PARA REFLETIR

Por que não é tão incomum a substituição de uma consoante líquida /l/ por uma vi- brante /r/?

3.3 A posição de coda

Se no ataque simples, como vimos, é possível ocorrer qualquer segmento

consonantal, o mesmo não se pode afirmar sobre a coda simples, quer em posição medial

quer em posição final. Os padrões silábicos VC e CVC só podem ter a coda preenchida

 por uma dessas quatro consoantes /l, r, S, N/ ou por uma semivogal6, como atesta Câmara

Jr. (2002). Em (4) se ilustram as possíveis ocorrências.

(4)

 Na Língua Portuguesa, com exceção de /S/, todos os outros segmentos têm

sonoridade espontânea, ou seja, são soantes, o que leva a concluir que os obstruintes,

aqueles que não têm sonoridade espontânea por terem uma contraparte não-vozeada,

são extremamente raros nesta posição. Vocábulos que são incorporados à Língua

Portuguesa através de empréstimos, quando apresentam uma consoante na coda que nãoseja uma das mencionadas, acaba, a partir de um processo de ressilabificação,

desenvolvendo uma vogal, e o segmento que era coda torna-se ataque, como “club” >

“clube”, ou muitas vezes sofrendo processo de apagamento da consoante, a exemplo de

“carnet” > “carnê”.

Em se tratando de coda complexa, as possibilidades no PB são ainda mais limitadas,

e, em final de vocábulo, elas, praticamente, não existem. Em posição medial, é interessante

observar que a segunda posição será sempre preenchida pelo segmento “s”, e, quando

em posição final pelo “x” [ks] como se vê em (5):

(5)

Este tipo de padrão silábico, como se vê, é muito pouco produtivo na Língua

Portuguesa.

/l/ /r/ /S/ /N/

media l final media l fina l medial fi na l media l fina l

fa l. ta jor.nal car. ta tu.mor pas.ta mas cam.po nu.vem

6

Como o objetivo deste Capítulo é tratar das consoantes, não discutiremos o preenchimento da coda pela semivogal.

Posição medial

 pers.pi.caz

trans.por.te

mons.tro

abs.tra.to

Posição final

tó.rax

Fé.lix

Page 36: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 36/45

36

Fica evidente, a partir dos exemplos acima, que há uma unidade que o falante

nativo reconhece como uma sílaba. Ele tem a capacidade de julgar se uma seqüência

arbitrária de segmentos pode ter ou não lugar em uma palavra na língua. Uma organização

silábica bem-formada será atualizada pelo falante apenas se ela for possível em uma palavra.

 Na seção a seguir, discutiremos os quatro segmentos que ocupam a coda silábica

do tipo simples, nas posições medial e final, enfatizando o comportamento variável de

cada uma delas em diferentes falares brasileiros.

3.3.1 A consoante lateral /l/ 

A consoante lateral em posição de coda tem como variantes as possibilidades: [w],

[³] e [ø], como podemos ver em(6):

(6)

A variante semivocalizada [w], tanto em posição medial como em posição final, é amais recorrente no Brasil. De norte a sul, é possível encontrá-la, e sua utilização independe

de sexo, idade ou escolaridade.

Vale observar que se ela for precedida pela vogal “u”, seu apagamento é praticamente

categórico, devido à impossibilidade de se ter um ditongo com vogal e semivogal com o

mesmo ponto *[uw], já que ambas são posteriores e altas.

A realização semivocalizada da consoante lateral tem fortes implicações na escrita.

Muito comum é encontrar-se a substituição da lateral pela vogal “u”, principalmente em

 posição final, pois temos na Língua Portuguesa formas como “degrau”, “véu” etc.

Estudo realizado em grupos do ensino fundamental (HORA & JONES, 2003) mostra

que, principalmente com palavras novas, há uma forte tendência à substituição.Dois aspectos valem ressaltar: (a) os professores que atuam nas séries iniciais, em

sua maioria, ignoram o fato de que, se utilizarem o processo derivacional de formação de

 palavras, poderão facilitar a vida dos estudantes, como ilustra (7).

7

O uso do * (asterisco) indica formas não aceitas na Língua Portuguesa.

(7)

laidemoãçisoP lanif oãçisoP

 ] w [ ][ ][ ] w [ ][ ][ 

oc. ] w [ ap oc. ][ ap oc. ][ ap* ] w [ an.roj ][ an.roj ][ an.roj

at. ] w [ ed at. ][ ed at. ][ ed* ] w [ ep.ap ][ ep.ap ][ ep.ap

ert. ] w [ ib ert. ][ ib ert. ][ ib* ] w [ in.a ][ in.a ][ in.a

ag  ] w [ of ag . ][ of ag . ][ of 

ahc. ] w [ oc ahc. ][ oc ahc. ][ oc ] w [ os ][ os ][ os

ap. ] w [ uc* 7 ap. ][ uc ap. ][ uc ] w [ uz.a* ][ uz.a ][ uz.a

³

³

³

³

³

³

³

³

³

³

³

³

³

³

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

 jornal

 papel

anil

sol

azul

 jornaleiro

 papelaria

anilina

solar 

azulado

*jornaueiro

*papeuaria

*aniuina

*souar 

*azuuado

Page 37: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 37/45

37

(b) palavras com coda “l”, no PB, são muito mais produtivas do que com coda “u”.

A variante alveolar velarizada [ ³ ] está muito associada à variável faixa etária. Estudos

realizados no Brasil (QUEDNAU, 1993; TASCA, 1999; SPIGA, 2004) mostram que,na região sul, ela é muito recorrente, principalmente nas comunidades do interior do estado.

Em estudo realizado por Hora (2005), na comunidade pessoense, há indícios de que sua

 principal restrição é a faixa etária, tendo a probabilidade de ser encontrada com mais

força entre os falantes mais idosos, independente da posição, quer medial quer final.

O apagamento da lateral em posição de coda tem comportamento curioso,

dependendo da posição analisada e a vogal que antecede a lateral tem papel fundamental,

 principalmente se for levado em conta resultado obtido em João Pessoa, que pode ser,

acredita-se, generalizado para o Nordeste.

Em posição medial (cf. 6), se a vogal que antecede a lateral for anterior, o

apagamento nunca deverá ocorrer, uma vez que geraria ou uma palavra inexistente em PB

ou uma palavra com outro valor semântico. Se a vogal for posterior, há uma espécie de

gradação em direção à elevação, à medida que a vogal vai-se elevando o apagamento

torna-se mais previsível. Ao chegar ao último grau, que seria uma vogal alta, o apagamento

é praticamente previsível, devido à impossibilidade de se ter um ditongo com formação do

tipo *[uw].

Em posição final, o apagamento da lateral pode ter outros condicionamentos. Sua

realização está diretamente ligada à escolarização do falante. Em geral, falantes com menos

anos de escolarização apagam mais, exceto quando a vogal antecedente é “u”, com

realização praticamente categórica entre todos os falantes, conforme dados obtidos em

João Pessoa (HORA, 2005).

Desta consoante e suas variantes, o que podemos concluir, no estágio atual das pesquisas realizadas no Brasil é que a forma semivocalizada é a mais forte entre os

falares, e as demais se circunscrevem ou à faixa etária, no caso do [ ³ ], ou à escolaridade,

no caso do [ø].

ATIVIDADE

A partir da observação da fala em sua comunidade, considerando o sexo, a idade e

a escolaridade dos falantes, verifique como se dá a realização da lateral em posição

de coda. Não se esqueça de observar: - a posição na palavra, se medial ou final;- o

tipo de vogal que antecede a lateral

Page 38: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 38/45

38

4.2 Os róticos8

Os róticos, na Língua Portuguesa e nas demais línguas do mundo, têm um

comportamento extremamente variável, apresentando uma multiplicidade de variantes, principalmente se em posição medial, como indica (8).

(8)

Estudos realizados acerca dos róticos no Brasil, que datam da primeira metade do

século XX, podem ser reunidos em dois grandes grupos: aqueles que não seguem uma

orientação variacionista, a exemplo de Mendonça, 1936; Bueno, 1944; Marroquim, 1945;

Stavrou, 1947; Cunha, 1968; Câmara Jr., 1970; Leite de Vasconcelos, 1970; Pontes,

1973; Thomas, 1974; Amaral, 1976; Chaves de Mello, 1976; Silva Neto, 1976 e aque-

les que a seguem, como Votre 1978; Oliveira, 19839; Callou, Moraes e Leite, 1996;

Skeete, 1996; Monaretto, 1997.

Alguns destes trabalhos são relatos de observações, principalmente os primeiros;

outros resultam de pesquisa sistemática, seguindo uma metodologia variacionista, como é

o caso dos estudos realizados por Oliveira (1983); Callou, Moraes e Leite (1996) e

Monaretto (1997).

Os problemas que envolvem a variação dos róticos, salientados nesses trabalhos,são mais abundantes do que aqueles voltados para seu apagamento. Alguns deles menci-

onam o aspecto estigmatizante que algumas variantes carregavam na primeira metade do

século XX, principalmente em estados da região Nordeste .

Bueno (1944, p. 22-23) afirma que em vários meses de observação nos estados da

Bahia, Alagoas, Pernambuco e na cidade do Rio de Janeiro, muitas pessoas, principal-

mente com nível intelectual baixo, realizam o rótico com som aspirado.

Marroquim (1945, p. 43), descrevendo o Português dos estados de Alagoas e

Pernambuco, afirma que a articulação do rótico interno e inicial se apresenta como uma

leve vibração da língua na parte posterior da boca, com notada aspiração, podendo ser 

[R] ou [x]. Diferente de Bueno, para Marroquim esta pronúncia é encontrada entre letra-dos e iletrados e que a tentativa de realizar uma essa vibração da língua em posição

alveolar é vista como pedantismo.

Oliveira (1983, p. 89) afirma que relatos sobre o apagamento do rótico estão mais

8  Todas as variantes da vibrante são denominadas de róticos, incluindo a fricativa velar. Exceto, obviamente, a semivogal.

9 Oliveira (1983) faz uma interessante revisão em seu trabalho, apresentando diversificadas posturas frente ao uso do rótico no

Português Brasileito. Sua consulta é de fundamental importância.

]r[ ]R [ ]x[ ][ ]h[ ][ edilg

oãçisoP

laideM

at. ]r[ acof . ]r[ ag 

at. ]R [ acof . ]R [ ag 

at. ]x[ acof . ]x[ ag 

at. ][ acof . ][ ag 

at. ]h[ acof  ]h[ ag 

at. ][ ac*of . ][ ag 

at. ]j[ acof . ] w [ ag 

oãçisoP

laniF

 ]r[ am ]r[ at.nac

 ]R [ am ]R [ at.nac

-nac ]x[ am ]x[ at.

 ][ am ][ atnac ]

 ]h[ am ]h[ at.nac

 ][ am ][ at.nac

Page 39: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 39/45

39

relacionados a sua posição de coda em final de palavra. Há apenas três deles que menci-

onam seu apagamento em posição interna.

O primeiro deles é o de Jucá-Filho (1937, p. 112), que afirma haver uma tendência

no Português do Brasil ao apagamento de consoantes em final de sílaba, mesmo quandoocorrem internamente. Os exemplos dados são: ca(r)naval, me(s)mo e ma(r)melada. Para

ele, a nasal condiciona o apagamento.

A segunda referência é encontrada em Chaves de Mello (1976, p. 57), para quem

o pagamento do rótico é um processo que pode afetar até os erres que fecham uma sílaba

na posição interna. Um de seus exemplos é o nome de família Albuque(r)que.

O terceiro relato é fornecido por Marroquim (1945, p.90), onde a possibilidade de

ocorrer supresa x surpresa sugere o apagamento do rótico interno.

Em se tratando do apagamento do rótico, em linhas gerais, Oliveira (1983, p. 93) afirma:

a) o apagamento é muito mais freqüente e saliente em posição de final de palavra do que

no interior da palavra; b) sua ausência em final de palavra é mais comum em verbos do

que em não-verbos; c) de acordo com alguns relatos, o apagamento está relacionado a

falantes de classe mais baixa e é considerado um vulgarismo; d) o apagamento é um

 processo variável, sujeito a condicionamento fonológico.

Ainda em relação ao apagamento do rótico em posição de coda, Oliveira (1983, p.

99-100), analisando dados de Belo Horizonte, constata que, dos fatores lingüísticos , o

mais saliente é o contexto fonológico seguinte, que pode ser vogal, consoante ou pausa.

A consoante, favorecendo o apagamento, e a vogal favorecendo a ocorrência do tepe

sempre em final de palavra, já que, no interior do vocábulo, vogal e pausa não são contex-

tos possíveis. Para as consoantes, foram considerados o ponto, o modo e o vozeamento.,

ressaltando que o ponto mais favorável é o labial, o modo é o plosivo e, para o vozeamento,

consoantes vozeadas são mais favoráveis.Callou et al. (1996) analisam ocorrências do /r/ em cinco capitais brasileiras (Porto

Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife – Projeto NURC10) em posição

 posvocálica no interior e no final da palavra. Os resultados globais demonstram que o

indíce de apagamento é maior na posição final de palavra do que em posição interna.

Monaretto (1997), utilizando dados que dizem respeito à região Sul do Brasil, e

isolando a posição posvocálica, observa que o apagamento em posição final é muito mais

forte do que em posição medial, o que corrobora os resultados encontrados por Callou et

al. Comparando os dialetos do Sul do Brasil com o do Rio de Janeiro, Monaretto afirma

que os dialetos do Sul podem distinguir-se por duas variantes: a vibrante simples (tepe) e

a vibrande múltipla.Os estudos realizados até então levam a concluir que, na Língua Portuguesa, só há

um contraste significativo, aquele que se percebe emcaro x carro ou em pares semelhan-

tes. Tal contraste se dá entre vogais e só entre vogais. Em outras posições, temos casos

de variação condicionada ou uma neutralização obrigatória em favor de um fone ou outro,

dependendo da região.

10Projeto da Norma Urbana Culta que tem como objetivo descrever, a partir do falar de universitários das cinco capitais brasileiras

mencionadas, a norma culta utilizada no Brasil. Este Projeto tem como principal resultado os volumes da Gramática do Português

Falado, sob a coordenação geral do Prof. Ataliba Teixeira de Castilho.

Page 40: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 40/45

40

A partir das inúmeras descrições realizadas no que concerne aos róticos, as análi-

ses nem sempre são concordantes, mas, consensualmente, a posição intervocálica é onde

se dá o contraste entre o tepe e a fricativa velar.

E considerando essa variabilidade, notamos que há um comportamento diferencia-do quando se observa a posição que ele vai ocupar.

Um fato curioso é que no Nordeste, por exemplo, em posição medial, o zero [O]

só se manifesta antes de fricativa, como nos casos em (9)

(9)

Já em posição final, a variante [ø] é a mais produtiva de todas, como se constata

nos exemplos em (10):

(10)

Ao considerarmos as posições em que ocorrem os róticos, verificamos que, nos

verbos, o apagamento no final, é bastante produtivo, o que não acontece nos nomes,

 principalmente na região sul do Brasil.

Em posição final, quando o rótico é seguido por uma vogal, em geral, há um pro-

cesso de ressilabificação, e aí ele deixa de ser coda para ser ataque da sílaba resultante,

como em ‘mar abaixo’ > ‘ma.ra.bai.xo’

ATIVIDADES

- A partir de dados de sua comunidade, verifique quais os róticos são mais utiliza-

dos. Não deixe de considerar: - a sua posição na palavra; - a categoria gramatical

da palavra;- Com base no levantamento, estruture um quadro de suas ocorrências,

avaliando os mais e os menos recorrentes

 ][ am

 ][ omut

 )o v itinif ni(  ][ atnac

 )o v itinif ni(  ][ itrap  )o v itinif ni(  ][ es

aç ][ of 

aez ][ á v 

of  ][ ag 

aje v  ][ ec

ahc ][ amatej ][ og 

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

ø

Page 41: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 41/45

41

4.3 As fricativas

 Na  posição de coda, as fricativas encontradas são aquelas classificadas com o

traço coronal, semelhantes aos róticos, têm sido objeto de inúmeros estudos no Brasil etambém em diferentes regiões. As suas variantes mais produtivas são: [s], [ S], [z], [Z ],

[h], [O].

Em (11), são apresentados os contextos em que elas podem ocorrer:

(11)

Os trabalhos já realizados sobre o PB permitem que se esboce uma distribuição

 para as variantes da fricativa coronal entre diferentes falares.

O que se observa, quando se trata da posição medial, é que dessas seis variantes,

as mais produtivas são as duas alveolares [s,z] e as duas palato-alveolares [ S,Z]. As

alveolares ocorrem na maioria dos falares brasileiros. O estudo de Callou, Moraes e Leite

(1994), utilizando dados do NURC, mostra que no Rio Grande do Sul, São Paulo eSalvador há preferência por elas, ao contrário do Rio de Janeiro e Recife. Hora (2000),

em estudo realizado sobre o falar paraibano, observa que, na Paraíba, há preferência

também pelas formas alveolares. Ele observa, entretanto, que as palato-alveolares também

são possíveis, dependendo do contexto fonológico seguinte. As variantes palato-alveolares

terão alta probabilidade de ocorrer se o contexto fonológico seguinte for uma oclusiva

dental, como ilustra (12):

(12)

Quando se trata da posição final de palavra, em geral, a opção é sempre pelas

fricativas coronais desvozeadas [s, S]. Também nessa posição, a preferência por uma ou

outra mantém a mesma tendência observada no contexto de posição medial.

setnaira V laidemoãçisoP lanif oãçisoP

 ]s[ ac. ]s[ ac ]s[ ip.ál

 ][ ac. ][ ac ][ ip.ál

 ]z[ ed. ]z[ ed ses.em. ]z[ ed

 ][ ed. ][ ed ses.em. ][ ed

 ]h[ ed. ]h[ ed ses.em. ]h[ ed

 ][ om. ][ em ][ ip.ál

 S S S

Z Z Z

O O O

ac. ]s[ ac et. ][ el

ap. ]s[ ar at. ][ ef 

.ar.ef . ]s[ e ot. ][ uc

om. ]z[ em ed. ][ ed

am. ]z[ er oãç.id. ][ ir.uj

al.a v . ]z[ er rad.rob. ][ nart

 S

 S

 S

Z

Z

Z

Page 42: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 42/45

42

4.4 As nasais

As nasais, na posição de coda, podem ser representadas pelas letras “m” e “n”.

Fonologicamente, elas são representadas pelo arquifonema nasla /N/.

 Na Língua Portuguesa, verificamos que a nasal, nesta posição, sempre assimila o

traça de ponto da consoante que lhe segue. Vejamos os exemplos em 13:

(13)

Em 13a, como a consoante seguinte é uma oclusiva bilabial, a nasal é bilabial; em

13b, temos como consoante seguinte, uma alveolar, logo a nasal é uma alveolar; em 13, a

nasal assimila o traço de ponto velar da consoante seguinte e em 13d, o traço labiodental.

Aí encontramos a explicação para termos sempre a letra “m” antes de “p” e “b”, fato que

nem sempre os professores encontram explicação.

Ainda em relação ao uso da nasal, constatamos que há momentos em que elaérealizada e há momentos em que ela é apagada. Em geral, seu apagamento não é muito

 produtivo, sendo restrito aos itens lexicais com a terminações –em e –am, como podemos

ver em14.

ATIVIDADES

- Com base em dados de fala de sua comunidades, verifique o uso das fricativascoronais, considerando sua posição na palavra;

- A partir da distinção entre alveolares e palato-alveolares, investigue se um dos usos

é mais aceito do que outro.

SUGESTÃO DE LEITURA

Mais informações sobre as fricativas coronais podem ser encontradas em:

HORA, Dermeval da. Fricativas coronais: análise variacionista. In: RONCARATI,

Cláudia; ABRAÇADO, Jussara. Português brasileiro: contato lingüístico,

heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003, p. 69-89.

13a cam..po

rom.bo

13b can.to

ron.da

13c ron.ca

pon.ga

13d cân.fora

en.vio

(14) Posição Final jar.dim

a.tum

 ba.tom

on.tem

ca.ta.ram

fa.lam

or.fã

Page 43: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 43/45

43

Os exemplos mostram que o condicionamento ao acento é um dos determinante

 para o apagamento ou não da nasal. Ele se dá em palavras com proeminência acentual na

 penúltima sílaba e principalmente se a vogal nasalizada é anterior e média, como em <ontem>.

Se o acento tônico estiver presente na última sílaba, não há tendência ao apagamento, aexemplo de <armazém>, <também> etc. Palavras como “batom”, “atum”, “jardim” não

favorecem o apagamento. Comparando-as às anteriores o que se conclui é que, primeiro,

as motivações para a manutenção do traço nasal nessas palavras é a tonicidade, visto que

todas elas são oxítonas; segundo, não se tem ditongo nasal, diferente do que acontece

com as terminadas em “-em”.

Também deve-se observar que a terminação –am é restrita aos verbos e que

 podemos encontrar com freqüência o apagamento da consoante, implicando no elevação

da vogal baixa, a exemplo de: cantaram ~ cantaru.

A coda na Língua Portuguesa, preenchida pelas consoantes /l. r, S, N/, como vimos,

tem uma multiplicidade de variantes, mas possível de serem identificadas. Os estudos

realizados até o momento já permitem que se tenha um perfil de cada uma delas de acordo

com o contexto social em que se inserem e também de acordo com sua fonotática.

Podemos afirmar que a Língua Portuguesa, como outras línguas do mundo, tem

uma forte tendência ao apagamento da coda e os comentários aqui apresentados ratificam

essa tendência.

REFLEXÃO

Será que o fato de a consoantes nasal estar localizada na coda ou no ataque tem

implicações para a variação na língua? Busque evidências que possam justificar sua

resposta.

ATIVIDADE

Com base em dados de sua comunidade, sistematize o uso da consoante nasal. Não

esqueça de levar em conta alguns fatores condicionadores, como, por exemplo, otipo de vogal que a antecede.

Page 44: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 44/45

44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira. 3.ed. São Paulo: Hucitec, 1976.

ANDRADE, Elton Jones Barbosa. Relatório final sobre o apagamento do /l/ em posição

de coda. João Pessoa: UFPB, 2004.

BISOL, Leda. A sílabas e seus constituintes. In: NEVES, Maria Helena de Moura (org.).

Gramática do Português falado. Vol. VII. Campinas: Unicamp, 1999, p. 701-742.

CALLOU, D. et al. Variação e diferenciação dialetal: a pronúncia do /r/ no português do

Brasil. In: KOCH, Ingedore G. Villaça. Gramática do português falado. Campinas:

Editora da Unicamp/FAPESP, 1996, vol. VI.

CÂMARA JR. Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. 8.ed. Petrópolis:

Vozes, 1977.CLEMENTS, G.N. The role of the sonority cycle in core syllabification. In: KINGSTON,

J; BECKMAN, M (eds.). Papers in Laboratory Phonology I : between the grammar 

and physics of speech, p. 283-333, 1990..

COLLISCHONN, Gisela. A sílaba em português. In: BISOL, Leda (org.). Introdução a

estudos de fonologia do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro

Técnico S/A, 1976.

DEMASI, Maria do Socorro. O –l pós-vocálico na fala culta do Rio de Janeiro. In:PEREIRA, Cilene da Cunha; PEREIRA, Paulo Roberto Dias. Miscelânea de estudos

lingüísticos, filológicos e literários in memoriam Celso Cunha. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1995.

ESPIGA, J. W.R. A lateral posvocálica na fronteira dos Campos Neutrais: estudo

sociolingüístico da regra telescópica nos dialetos de Chuí e Santa Vitória do Palmar. Letras

de Hoje, Porto Alegre, n. 127, p. 26-49, 2002.

 ______. Alofonia de /l/ no sul do Rio Grande do Sul: aspectos fonéticos e fonológicos. In:

HORA, Dermeval da ; COLLISCHON, Gisela. Teoria lingüística: fonologia e outros

temas. João Pessoa: Editora Universitária, p. 251 – 290, 2003.

HORA, Dermeval da.Vocalização da lateral /l/: correlação entre restrições sociais e

estruturais. A ser publicado na Revista Scripta. PUC-MG.

HORA, Dermeval da. Fricativas coronais: análise variacionista. In: RONCARATI, Cláudia;

ABRAÇADO, Jussara. Português brasileiro: contato lingüístico, heterogeneidade e história.

Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003, p. 69-89.

 ______; PEDROSA, Juliene L. R. Projeto Variação Lingüística no Estado da Paraíba.

João Pessoa: Idéia, 2001.

Page 45: Demerval Da Hora

7/14/2019 Demerval Da Hora

http://slidepdf.com/reader/full/demerval-da-hora 45/45

MARROQUIM, Mário. A língua do Nordeste (Alagoas e Pernambuco). São Paulo:

Cia. Editora Nacional, 1934.

MONARETTO, Valéria de O. A vibrante: representação e análise sociolingüística.

Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Letras. Porto Alegre: Universidade Federal

do Rio Grande do Sul, 1992.

MONARETTO, Valéria N. de Oliveira. Um reestudo da vibrante: análise variacionista

e fonológica. Tese de Doutorado. PUC-RS, 1997.

 ______. O apagamento da vibrante posvocálica nas capitais do Sul do Brasil. Letras de

 Hoje, v. 35, n.1, p.275-284, março de 2000.

 NASCENTES, Antenor.O linguajar carioca. Rio de Janeiro: Simões, 1953.

 NUNES, J. J. Compêndio de gramática histórica portuguesa: fonética e morfologia.

Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1975.

OLIVEIRA, Marco Antônio de. 1983. Phonological variation and change in Brazilian

Portuguese: the case of the liquids. Tese de Doutorado. University of Pennsylvania.

QUEDNAU, Laura. A lateral pós-vocálica no português gaúcho: análise variacionista

e representação não-linear, 1993. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade

Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1993.

SELKIRK, E. Syllables. In: HULST, Harry van der; SMITH, N. (eds.). The structure of 

 phonological representations, p. 337-383, 1982.

SILVA, Thaïs Cristófaro. Fonética e Fonologia do Português. 6.ed. São Paulo: Contexto,2006.

SILVA NETO, Serafim. História da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Livros de

Portugal, 1970.

SKEETE, Nadir Arruda. O uso variável da vibrante na cidade de João Pessoa.

Dissertação de Mestrado. João Pessoa: UFPB, 1996.

TASCA, Maria. A lateral em coda silábica no Sul do Brasil, 1999. Tese ( Doutorado

em Lingüística Aplicada) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto

Alegre, 1999. ______. Variação e mudança do segmento lateral na coda silábica. In: BISOL, Leda;

BRESCANCINI, Cláudia. Fonologia e variação: recortes do Português Brasileiro. Porto

Alegre: EDIPUCRS, 2002.

TASCA, Maria.. Variação e mudança do segmento lateral na coda silábica. In: BISOL,

Leda; BRESCANCINI, Cláudia. Fonologia e variação: recortes do Português Brasileiro.

Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.