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DELTA-LACUSTRE MIOCENO DA PARTE LESTE DA BACIA DO SOLIMÕES: IMPLICAÇÕES NA HISTÓRIA DO RIO AMAZONAS THE MIOCENE LACUSTRINE DELTA OF THE EASTERN PORTION OF THE SOLIMÕES BASIN: AMAZONAS RIVER HISTORICAL IMPLICATIONS Angela Maria Leguizamon Vega – [email protected] Afonso C.R. Nogueira- [email protected] Russell W. Mapes-[email protected] Drew S. Coleman - [email protected] Universidade Federal do Amazonas, Departamento de Geociências/ Schlumberger/ Universidade Federal do Pará, Faculdade de Geologia, Instituto de Geociências University of North Carolina, Department of Geological Science INTRODUÇÃO Eventos pós-cretáceos ligados à Orogenia Andina condicionaram a drenagem amazônica atual. A história inicial deste sistema de drenagem remonta o Mioceno e tem sido mais detalhada no extremo oeste da Amazônia ocidental, enquanto na porção central desta região, particularmente na Bacia do Solimões, ainda é pouco conhecida. A idéia de que este sistema fluvial tenha se estabelecido no Mesomioceno tem sido considerada em diversos trabalhos com enfoques palinológico, sedimentológico, estratigráfico e tectônico (Hoorn et al., 1995, Potter, 1997, Rossetti et al. 2005). A área de estudo, por situar-se nas adjacências do Arco de Purus, no limite com a Bacia do Amazonas, é estratégica para desvendar a história da inversão da drenagem do proto-Amazonas e verificar o papel do referido arco como uma barreira estrutural no controle da sedimentação e/ou conexão entre as bacias (Fig. 1). Além disso, este estudo representa uma excelente oportunidade em desvendar os eventos deposicionais da Amazônia Ocidental correlatos à deposição do Grupo Barreiras, amplamente estudados na Amazônia Oriental (Rossetti et al. 2005). O estudo da Formação Solimões do Mioceno Superior foi realizado em terraços do rio Solimões, na região entre as cidades de Tefé e Coari, Estado do Amazonas. Nesta região, pelitos e arenitos foram investigados com base na análise de fácies e estratigráfica que permitiram a reconstituição paleoambiental e paleogeográfica, contribuindo para o entendimento do Neógeno nesta parte da Amazônia (Fig. 2). Figura 1-Localização da área de estudo, limites e principais feições estruturais da Bacia do Solimões. Modificado de Ecopetrol (1999). ASSOCIAÇÕES DE FÁCIES Foram identificadas 11 fácies sedimentares, compostas por arenitos finos e pelitos, agrupadas em 4 associações que caracterizam um sistema deposicional deltaico lacustre, com sistema alimentador fluvial meandrante (Fig. 3): 1) prodelta lacustre , com maior espessura na região leste mais próxima do Arco de Purus, sendo constituída por fácies pelíticas com esporádicas camadas arenosas, estruturas de escorregamento e sobrecarga; 2) frente deltaica lacustre , dividida em barra de desembocadura proximal que consiste em arenitos com estratificação cruzada complexa (estratificações planar a ondulante e cruzada sigmoidal, laminação cruzada cavalgante), Área estudada Área estudada

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DELTA-LACUSTRE MIOCENO DA PARTE LESTE DA BACIA DO SOLIMÕES: IMPLICAÇÕES NA HISTÓRIA DO RIO AMAZONAS

THE MIOCENE LACUSTRINE DELTA OF THE EASTERN PORTION OF THE

SOLIMÕES BASIN: AMAZONAS RIVER HISTORICAL IMPLICATIONS Angela Maria Leguizamon Vega – [email protected]

Afonso C.R. Nogueira- [email protected] Russell W. [email protected]

Drew S. Coleman - [email protected] Universidade Federal do Amazonas, Departamento de Geociências/ Schlumberger/

Universidade Federal do Pará, Faculdade de Geologia, Instituto de Geociências University of North Carolina, Department of Geological Science

INTRODUÇÃO Eventos pós-cretáceos ligados à Orogenia Andina condicionaram a drenagem amazônica atual. A história inicial deste sistema de drenagem remonta o Mioceno e tem sido mais detalhada no extremo oeste da Amazônia ocidental, enquanto na porção central desta região, particularmente na Bacia do Solimões, ainda é pouco conhecida. A idéia de que este sistema fluvial tenha se estabelecido no Mesomioceno tem sido considerada em diversos trabalhos com enfoques palinológico, sedimentológico, estratigráfico e tectônico (Hoorn et al., 1995, Potter, 1997, Rossetti et

al. 2005). A área de estudo, por situar-se nas adjacências do Arco de Purus, no limite com a Bacia do Amazonas, é estratégica para desvendar a história da inversão da drenagem do proto-Amazonas e verificar o papel do referido arco como uma barreira estrutural no controle da sedimentação e/ou conexão entre as bacias (Fig. 1). Além disso, este estudo representa uma excelente oportunidade em desvendar os eventos deposicionais da Amazônia Ocidental correlatos à deposição do Grupo Barreiras, amplamente estudados na Amazônia Oriental (Rossetti et al. 2005). O estudo da Formação Solimões do Mioceno Superior foi realizado em terraços do rio Solimões, na região entre as cidades de Tefé e Coari, Estado do Amazonas. Nesta região, pelitos e arenitos foram investigados com base na análise de fácies e estratigráfica que permitiram a reconstituição paleoambiental e paleogeográfica, contribuindo para o entendimento do Neógeno nesta parte da Amazônia (Fig. 2).

Figura 1-Localização da área de estudo, limites e principais feições estruturais da Bacia do Solimões. Modificado de Ecopetrol (1999). ASSOCIAÇÕES DE FÁCIES Foram identificadas 11 fácies sedimentares, compostas por arenitos finos e pelitos, agrupadas em 4 associações que caracterizam um sistema deposicional deltaico lacustre, com sistema alimentador fluvial meandrante (Fig. 3): 1) prodelta lacustre, com maior espessura na região leste mais próxima do Arco de Purus, sendo constituída por fácies pelíticas com esporádicas camadas arenosas, estruturas de escorregamento e sobrecarga; 2) frente deltaica lacustre, dividida em barra de desembocadura proximal que consiste em arenitos com estratificação cruzada complexa (estratificações planar a ondulante e cruzada sigmoidal, laminação cruzada cavalgante),

Área estudadaÁrea estudada

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estruturas deformacionais (falhas de crescimento, estruturas de escorregamento), foresets inclinados para leste, e barra de desembocadura distal/crevasse formada por intercalações de camadas arenosas/heterolíticas com pelitos ricos em detritos vegetais e sem evidências de bioturbação; 3) planície deltaica, composta de depósitos de canais distributários caracterizados por arenitos e pelitos com estratificação inclinada heterolítica de médio porte, depósitos de baia interdistributária e canal abandonado, constituídos por pelitos, com material vegetal com sucessões crevasse splay granocrescentes ascendentes bioturbadas ; e 4) canal fluvial meandrante, representado por depósitos de barra em pontal, constituídos de arenitos e pelitos, com estratificação inclinada heterolítica de grande porte, e pelitos de canal abandonado. Figura 2 - Carta estratigráfica da área de estudo. Biozonas palinológicas de Silveira et al. (neste simpósio).

Figura 3 – Fácies da Formação Solimões. Pelito cinza laminado de prodelta lacustre (A) contendo abundantes vegetais, com folhas preservadas (B). Barra distal sobre pelitos de prodelta lacustre (C), exibindo ciclos com granocrescência ascendente (setas). Macroforma composta por lobos sigmoidais de frente deltaica (D, E e F). O diagrama de roseta mostra migração preferencial dos lobos sigmoidais para leste.

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MODELO DEPOSICIONAL O sistema deltaico lacustre foi restrito à Bacia do Solimões e progradou para leste contra o Arco de Purus durante o Neomioceno. A presença de um delta lacustre que não ultrapassava o Arco de Purus fornece uma nova concepção evolutiva que aponta este arco como uma barreira geográfica importante durante o Neomioceno e coloca a conexão da drenagem Solimões-Amazonas, anteriormente considerada como estabelecida no Mesomioceno, para o final do Neógeno. Além disso, a Formação Solimões possui zircões detríticos de origem Andina com idades entre 0,3 a 0,7 Ma, enquanto que nos depósitos correlatos da Bacia do Amazonas, do Mioceno Médio a Superior, predominam zircões transamazônicos de 1,9 a 1,4 Ma típicos da província Venturi-Tapajós do Cráton Amazônico (Mapes et al 2006, Abinader et al., neste simpósio). Este estudo geocronológico confirma a interpretação de barreira geográfica do Arco de Purus e corrobora com uma reversão paulatina do Sistema Amazonas que teria adquirido a configuração atual, com migração para leste, somente nos períodos mais jovens do Neógeno. Figura 4 - Modelo paleogeográfico para o norte da América do Sul. O Arco de Purus que funcionava como uma barreira geográfica importante no Neomioceno. O sistema deltaico Solimões progradava para ESSE e com áreas fontes a oeste (regiões dos arcos de Cauari ou Iquitos?). A colocação de leques aluviais advindos do Arco de Purus é esquemática. REFERÊNCIAS ABINADER, H. D., NOGUEIRA, A. C. R., MAPES, R. W., COLEMAN, D. S. neste simpósio.

Estratigrafia do Cenozóico do Oeste da Bacia do Amazonas. HOORN, C.; GUERRERO, J.; SARMIENTO, G. 1995. Andean tectonics as a cause for changing

drainage patterns in Miocene Northern South America. Geology, v. 23, p.237–240. MAPES, R. W., NOGUEIRA, A. C. R., COLEMAN, D. S., VEGA, A. M. L. 2006. Evidence for a

continental scale drainage inversion in the Amazon Basin since the Late Cretaceus. Philadelphia Annual Meeting. Geological Society of America Abstract with Program, vol. 38, No. 7, p. 518.

POTTER, P.E. 1997. The Mesozoic and Cenozoic paleodrainage of South America: a natural history. J.South Am. Earth. Sci. 10 (5-6):331-344.

ROSSETTI, D.F.; TOLEDO, P.M. de; GÓES, A.M. 2005. New geological framework for Western Amazonia (Brazil) and implications for biogeography and evolution. Quaternary Research 63 (2005) 78– 89

SILVEIRA, R. R. neste simpósio. Cronoestratigrafia de depósitos miocenos da Bacia do Solimões e sua correlação com os depósitos da Amazônia Oriental.

ECOPETROL. 1999. Atlas de Cuencas Sedimentarias Republica de Colombia. (Cd).