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1 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRETIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio; Visto o processo registado sob o n. º ERS/046/12. I. DO PROCESSO I.1. Da origem do processo de inquérito 1. No dia 14 de setembro de 2012, foi trazida ao conhecimento da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) uma exposição subscrita pela Sr.ª D.ª A. e respeitante ao estabelecimento prestador de cuidados de saúde Hospital dos Lusíadas, sito na Avenida da República, n.º 35, 8º andar, Lisboa, e detido pela entidade HPP Lusíadas, S.A., com o NIPC 505 962 403, e registada no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 13 833 1 . 1 Cfr. cópia do registo desta entidade no SRER da ERS, junta aos autos.

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1

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRETIVO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo

3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/046/12.

I. DO PROCESSO

I.1. Da origem do processo de inquérito

1. No dia 14 de setembro de 2012, foi trazida ao conhecimento da Entidade

Reguladora da Saúde (ERS) uma exposição subscrita pela Sr.ª D.ª A. e

respeitante ao estabelecimento prestador de cuidados de saúde Hospital dos

Lusíadas, sito na Avenida da República, n.º 35, 8º andar, Lisboa, e detido pela

entidade HPP Lusíadas, S.A., com o NIPC 505 962 403, e registada no Sistema de

Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 13 8331.

1 Cfr. cópia do registo desta entidade no SRER da ERS, junta aos autos.

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2. Considerados os elementos factuais tais como apresentados nos autos,

resultavam, desde logo, duas questões que importava à ERS analisar e que se

prendiam, por um lado, com um eventual incumprimento, na situação concreta da

utente, do contrato de convenção celebrado entre o prestador e a Portugal

Telecom - Associação de Cuidados de Saúde (PT- ACS) e, por outro lado, do

eventual comportamento adotado pelo prestador relativamente à confidencialidade

das informações relativas aos resultados dos exames dos seus utentes.

3. A predita exposição foi inicialmente tratada no âmbito do processo de avaliação

aberto sob registo n.º AV/748/12, sendo que, e após análise preliminar da mesma,

o Conselho Diretivo da ERS, por despacho de 3 de outubro de 2012, ordenou a

abertura de inquérito registado sob o n.º ERS/046/12.

I.2. Da exposição apresentada pela utente A.

4. No dia 14 de setembro de 2012, foi trazida ao conhecimento da ERS uma

exposição subscrita pela Sr.ª D.ª A. e respeitante ao prestador HPP Lusíadas,

S.A., a qual foi complementada pelos esclarecimentos adicionais prestados pela

utente em 20 de setembro de 2012.

5. Concretamente, na sua exposição inicial é referido pela utente ter rececionado

“[…] um aviso de pagamento, referente a uma análise de anatomia

patológica/patologia clínica, na sequência, de tecido que [lhe] foi recolhido durante

uma consulta de ginecologia, no dia 9 de maio de 2012, na qual [lhe foram feitos

determinados exames]. O resultado deste último exame, foi anexado a um e-mail e

circulou pelos vários departamentos administrativos do hospital!!!”.

6. Mais esclareceu a utente que quando foi à consulta de ginecologia “[…] sabendo

que iria fazer estes dois exames, [teve] o cuidado de alertar, na receção, que se

não fossem realizados no Hospital, teriam que enviar o tecido para análise para

um prestador convencionado com a PT ACS. Confirmaram-[lhe] esta informação,

[de que a análise] iria ser realizada no Laboratório Dra Isabel Belo. Ainda

pergunt[ou] se não preferiam que [fosse a utente a entregar], pessoalmente, no

laboratório, disseram-[lhe para não se] preocupar, que tudo seria realizado de

acordo com o estabelecido entre o Hospital dos Lusíadas e a Portugal Telecom –

Associação de Cuidados de Saúde.”.

7. Refere ainda a utente que “[confiou] totalmente na informação que [lhe] foi dada

pelas rececionistas do serviço de ginecologia/obstetrícia.”;

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8. Contudo, e “[…] para grande espanto [seu] no dia 11 de maio receb[eu], por carta,

na [sua] residência, um aviso de pagamento no valor de 130 euros, referente ao

exame, que a médica [lhe] tinha informado que só teria o resultado após 30 dias,

devido à metodologia utilizada.”.

9. Atendendo a que recebeu a fatura dois dias após a consulta, ainda solicitou “[…]

via e-mail que cancelassem de imediato o exame [e que] disponibilizassem o

“tecido” em análise para entregar pessoalmente a uma entidade convencionada

com o [seu] plano de saúde, ou em último caso, ser realizada uma nova colheita

pela [sua] médica, [tendo ademais reforçado o seu] e-mail com um telefonema

para a enfermagem do serviço de ginecologia [tendo sido contactada] no dia 14 de

maio, informando que estava tudo esclarecido e que não necessitava de fazer

nova recolha de tecido.”.

10. No dia 5 de junho de 2012, e na sequência de contacto prévio do prestador, a

utente foi levantar o resultado do seu exame “[…] tendo perguntado se era

necessário efetuar algum pagamento ao que [lhe] disseram que não, que seria a

PT ACS a debitar-me o valor de acordo com o [seu] plano de saúde, como é

habitual, sendo [a utente] beneficiária.”.

11. Sucede que, no dia 12 de junho de 2012, recebeu novo contacto, por correio

eletrónico, do prestador “[…] com o resultado do [seu] exame anexado, com

conhecimento das seguintes pessoas: Cc: "[M.] (HPP)" <[...]@hppsaude.pt>, "[C.]

(HPP)" <c[...]@hppsaude.pt>, "[P.] (HPP)" [...]@hppsaude.pt.”.

12. Nessa sequência, a utente contactou o prestador “[…] demonstrando o [seu]

desagrado, não só pela devassa da [sua] privacidade, em que anexam o resultado

de uma exame que já tinha em [sua] posse há mais de uma semana, que tinha

levantado no serviço de ginecologia, mas também por voltarem a mencionar um

assunto que aparentemente já estava encerrado.”.

13. Posteriormente, em 13 de setembro de 2012, a utente volta a rececionar “[…] um

aviso de pagamento de 130 euros do mesmo exame que foi realizado num

prestador convencionado com a PT ACS.”;

14. Tendo nessa sequência a utente informado o prestador que “[…] não pod[ia]

cobrar diretamente ao beneficiário da PT ACS, um exame que foi efetuado em

prestador convencionado, laboratório Dra. Isabel Belo.”.

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15. Em face de toda a situação ocorrida, a utente conclui manifestando mais uma vez

o seu desagrado com a forma como o Hospital dos Lusíadas “[…] lida com a

privacidade dos seus doentes”;

16. Tendo, neste caso concreto, e segundo o seu entendimento, “[…] agido com total

incúria, ao divulgar os resultados de um exame […], a terceiros, sem o [seu]

consentimento [podendo] mesmo afirmar, que os [seus] dados médicos, não foram

devidamente acautelados pelo Hospital dos Lusíadas, tendo sido efetuada de

forma imprópria a sua divulgação, através de e-mail com conhecimento de vários

destinatários, não médicos, divulgação esta que violou o princípio da [sua]

intimidade e da [sua] vida privada.”.

17. Na sequência da receção da exposição, a ERS solicitou à exponente, por correio

eletrónico de 20 de setembro de 2012, esclarecimentos adicionais,

designadamente,

“[…]

1. confirmação de que os cuidados de saúde foram prestados a V. Exa. pelo

Hospital dos Lusíada, S.A., concretizando a entidade de saúde integrada no

referido estabelecimento;

2. envio de todas as faturas/recibos emitidos a V. Exa. pelo prestador,

relativamente aos cuidados de saúde prestados, bem como todos os emails

que trocou com o estabelecimento relativos ao assunto da faturação;

3. informação sobre eventuais desenvolvimentos da situação após a exposição

de V. Exa.;

[…] quaisquer outros elementos ou esclarecimentos adicionais que considere

relevantes para o completo enquadramento da situação por si exposta.” – cfr.

pedido de elementos de 20 de setembro de 2012 junto aos autos.

18. Nessa sequência, e nesse mesmo dia 20 de setembro de 2012, foi anotado pela

utente que, e no que aqui importa considerar,

(i) que “[…] Desde o último e-mail enviado à ERS não se verificaram mais

desenvolvimentos”; e

(ii) ainda assim realizou “[…] um resumo por pontos da situação

anteriormente exposta.”;

(iii) tendo referido que, aquando da realização da consulta, e para além ter

questionado os serviços do Hospital sobre se iriam enviar a amostra da

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análise para um prestador convencionado da PT-ACS, solicitou que “[…

lhe] preenchessem um guia de serviços clínicos da PT-ACS onde era

discriminado, a consulta, [c.], [ci.] e [g.], com os respetivos códigos que

assin[ou].”;

(iv) mais acrescentou que as “[…] guias são enviadas pela PT ACS às

entidades convencionadas para posteriormente enviarem à PT ACS,

como comprovativo do que faturam uma vez que o beneficiário assina e

assume que os serviços lhe foram prestados no âmbito da convenção.”;

(v) e que “Já pag[ou] à PT ACS, a consulta de ginecologia, a [c.] e a [ci.],

na sequência do envio de fatura do Hospital Lusíadas ao [s]eu plano de

saúde [ sendo que apenas a g.] não [lh]e foi apresentada para

pagamento pela PT ACS.”.

I.3. Diligências probatórias

19. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as

diligências consubstanciadas

(i) na consulta e pesquisa no SRER da ERS, da entidade prestadora de

cuidados de saúde identificada na exposição;

(ii) no pedido de elementos remetidos à utente A., de 20 de setembro de 2012

– cfr. pedido de elementos juntos aos autos;

(iii) no pedido de elementos remetido à HPP Hospital dos Lusíadas, S.A., no

âmbito da reclamação exposta pela predita utente, de 9 de outubro de

2012 – cfr. pedido de elementos junto aos autos; e ainda

(iv) na análise do contrato de prestação de serviços celebrado entre o HPP

Lusíadas, SA e a PT- ACS em 1 de maio de 2009.

II. DOS FACTOS

II.1. Dos factos relativos à exposição da utente

20. Recorde-se que da reclamação da utente A. resultava que a mesma

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(i) realizou no HPP Lusíadas, S.A. um exame de [g.] que sabia previamente

que não estava abrangido pela convenção entre o referido prestador e a

PT-ACS;

(ii) nessa sequência a exponente procurou sempre garantir que a análise seria

enviada para um prestador convencionado com a PT-ACS, tendo para o

efeito desenvolvido todos os esforços junto do prestador para que tal

ocorresse;

(iii) tendo designadamente solicitado que “[… lhe] preenchessem um guia de

serviços clínicos da PT-ACS onde era discriminado, a consulta, [c.], [ci.] e

[g.], com os respetivos códigos que assin[ou].”;

(iv) o prestador garantiu-lhe que “[…] iriam enviar o “tecido” para análise a um

prestador convencionado com o [s]eu plano de saúde (PT ACS) [… tendo

confirmado] ser o Laboratório Dra. Isabel Belo que iria realizar os [s]eus

exames, com convenção com o [s]eu plano de saúde.”;

(v) sucede que, no dia 11 de maio de 2012, recebeu na sua residência “um

aviso de pagamento no valor de 130 euros” referente ao exame de

genotipagem;

(vi) para além da cobrança indevida do referido exame, a utente reclamou

ainda do comportamento do prestador “ao divulgar os resultados de um

exame […], a terceiros, sem o [seu] consentimento [podendo] mesmo

afirmar, que os [seus] dados médicos, não foram devidamente acautelados

pelo Hospital dos Lusíadas, tendo sido efetuada de forma imprópria a sua

divulgação, através de e-mail com conhecimento de vários destinatários,

não médicos, divulgação esta que violou o princípio da [sua] intimidade e

da [sua] vida privada.”.

II.2. Dos factos relativos à resposta do prestador de 30 de outubro de 2012

21. Revelando-se necessário proceder à recolha de informação adicional, junto do

HPP Lusíadas, SA, para averiguar com maior profundidade a situação em análise,

foi solicitado, por ofício datado de 9 de outubro de 2012, a prestação das seguintes

informações adicionais:

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“[…]

1. envio de uma cópia do acordo celebrado entre o HPP Hospital dos

Lusíadas e a PT ACS;

2. indicação dos procedimentos adotados por V. Exas. com vista à

informação prévia dos utentes sobre atos que não estão se encontram

abrangidos pelo acordo entre o HPP Hospital dos Lusíadas e a PT ACS;

3. envio de cópia da fatura/recibo emitido à utente [A.] pelos valores da

consulta e do exame in casu;

4. explicitação detalhada dos procedimentos genericamente adotados por

V. Exas. na divulgação dos resultados dos exames aos utentes, e, caso

se revelem distintos, expressa referência aos procedimentos que terão

sido adotados na situação denunciada pela utente/neste caso em

concreto, no comportamento adotado com a utente [A.];

5. envio dos demais esclarecimentos complementares julgados

necessários e relevantes à análise do caso concreto.” – cfr. ofício da

ERS junto aos autos.

22. Nessa sequência, e em resposta de 30 de outubro de 2012, o prestador veio

informar,

(i) relativamente aos procedimentos adotados com vista à informação

prévia dos utentes sobre atos que não se encontram abrangidos pelo

acordo entre o HPP Lusíadas e a PT-ACS:

- que tais procedimentos não são diferentes daqueles que são adotados

para qualquer outro utente que seja beneficiário de seguro de saúde ou

subsistema de saúde e solicite um ato não convencionado entre o

prestador e essa seguradora ou subsistema: “sempre que o cliente se

dirige à receção/balcão de atendimento para a realização de um ato

médico, previamente agendado com o Hospital dos Lusíadas e para o

qual não existe acordo com a entidade financiadora, é devidamente

informado que o acto não está previsto no acordo […] e que terá de ser

pago diretamente pelo cliente em conformidade com a tabela de preços

de particulares que estiver em vigor.”;

(ii) relativamente à explicitação detalhada dos procedimentos

genericamente adotados na divulgação dos resultados dos exames aos

utentes, e, caso se revelem distintos, expressa referência aos

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procedimentos que terão sido adotados na situação denunciada pela

utente:

- que quanto aos resultados dos exames efetuados aos utentes “não

são divulgados; os exames são apenas: i) disponibilizados, quando

sejam prescritos por médicos do hospital, nos respetivos processos

eletrónicos para consulta pelos médicos assistentes, e (ii) entregues aos

clientes.”;

- já quanto aos procedimentos para levantamento/entrega dos exames,

no caso concreto da especialidade de ginecologia/obstetrícia são os

seguintes:

“a. os exames de ginecologia são rececionados e arquivados no

gabinete de enfermagem da consulta externa de

Ginecologia/Obstetrícia;

b. Quando seja dada indicação pelo médico assistente ou seja

expressamente solicitado pela Cliente, o gabinete de enfermagem

informa telefonicamente a cliente que o exame está pronto e que poderá

ser levantado nesse gabinete;

c. os exames são entregues à própria cliente ou, mediante

declaração/pedido da mesma, podem ser entregues à pessoa

expressamente indicada pela Cliente;

[…]”.

(iii) relativamente à situação concreta ocorrida com a aquela utente veio o

prestador confirmar que:

- a utente foi informada do laboratório para o qual seria enviada a

análise, “ficando claro que se tratava de laboratório convencionado com

a PT-ACS”;

- “foi emitida à reclamante a factura FD2012/13624, no valor de €

130,00, referente à [g.]. Os demais custos incorridos na consulta

realizada no dia anterior (consulta, [c.] e [ci.) foram diretamente

facturados à PT-ACS, conforme factura FE2012/21451, de 28.05.2012”;

- foram remetidos à utente os resultados do seu exame, por uma

colaboradora do Back Office do Hospital dos Lusíadas, através de

correio eletrónico enviado com conhecimento “da sua chefe direta, [C.],

9

para o departamento de cobranças, [M.], e para o primeiro contacto com

o Hospital, a colaboradora [P.].”;

23. Após resposta aos esclarecimento solicitados pela ERS, entendeu ainda o

prestador, e relativamente à situação concreta, esclarecer que:

(i) de acordo com o contrato estabelecido com a PT-ACS, os atos que não

sejam prestados pelo Hospital dos Lusíadas “devem ser efetuados por

entidades convencionadas com a PT-ACS”, sendo que, no caso

concreto, o HPP Lusíadas “[…] cumpriu o contratado, remetendo os

exames a uma entidade convencionada com a PT-ACS, e mais deveria

ter dado indicação ao laboratório para faturar diretamente à PT-ACS”;

(ii) sucede que o “[…] hospital facturou diretamente o exame à Cliente: tal

prática não é admitida pelo contrato existente com a PT-ACS, pelo que,

conforme email enviado à Cliente, foi já a mesma anulada mediante

emissão de nota de crédito CP2012/4368, de 26.10.2012, no valor de €

130,00”;

(iii) no que se refere ao facto do relatório do exame ter sido enviado à

utente por correio eletrónico, com conhecimento de diversos

colaboradores do prestador, “pese embora se considerar como indevida

a anexação do relatório à mensagem copiada conforme aos

colaboradores devidamente identificados e com as qualidades acima

referidas, são claras as razões deste facto, bem como as razões que se

representaram à emitente para copiar a mensagem (com anexo)

enviada à cliente a esses colaboradores, todos estão sujeitos a sigilo

profissional e que lidam diariamente com informação respeitante aos

dados pessoais e de saúde de centenas de clientes do Hospital dos

Lusíadas.”.

24. Em anexo à resposta remetida à ERS, o Hospital dos Lusíadas veio ainda enviar

cópia da fatura emitida à PT-ACS relativamente aos atos abrangidos pela respetiva

convenção, cópia da fatura indevidamente remetida à utente relativamente ao

exame de anatomia patológica realizado em outro prestador, cópia da nota de

crédito relativa à anulação da fatura indevidamente emitida à utente e ainda cópia

Contrato de Prestação de Serviços Celebrado entre o HPP Lusíadas, SA e a PT-

ACS em 1 de maio de 2009 (de ora em diante Contrato), e respeitante à

assistência prestada aos beneficiários da PT-ACS.

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25. De acordo com o estabelecido no referido Contrato, o mesmo abrange as

consultas de especialidade, nomeadamente de ginecologia/obstetrícia, e todos os

MCDT disponibilizados pelo Hospital dos Lusíadas.

26. Relativamente à realização dos exames, ou MCDT, no anexo 8.3 ao Contrato

encontra-se estabelecido que “quando disponibilizados pelo Hospital, devem ser

facturados aos valores constantes da Tabela e normas de prestação da PT-ACS

em vigor.”;

27. E, pelo contrário, que “quando não disponibilizados pelo Hospital devem ser

efetuados por entidades convencionadas com a PT-ACS podendo ser por estas

facturados diretamente à PT-ACS.”.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

28. De acordo com o n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, a

ERS tem por missão a regulação da atividade dos estabelecimentos prestadores

de cuidados de saúde.

29. As atribuições da ERS, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 3.º do Decreto-

Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, compreendem “[…] a supervisão da actividade e

funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que

respeita:

[…]

b) À garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde e dos

demais direitos dos utentes;

c) À legalidade e transparência das relações económicas entre os diversos

operadores, entidades financiadoras e utentes.”.

30. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 1 do artigo 8.º do

Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, “[...] todos os estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde, do sector público, privado e social,

independentemente da sua natureza jurídica, nomeadamente hospitais, clínicas,

centros de saúde, laboratórios de análises clínicas, termas e consultórios”.

31. Consequentemente, o HPP Hospital dos Lusíadas, S.A. é um estabelecimento

prestador de cuidados de saúde, para efeitos do referido artigo 8.º do Decreto-Lei

n.º 127/2009, de 27 de maio.

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32. No que se refere ao objetivo regulatório previsto na alínea b) do artigo 33.º do

Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, de assegurar o cumprimento dos critérios

de acesso aos cuidados de saúde, a alínea d) do artigo 35.º do Decreto-Lei n.º

127/2009, de 27 de maio, estabelece ser incumbência da ERS “zelar pelo respeito

da liberdade de escolha nos estabelecimentos de saúde privados”; e

33. No que concerne ao objetivo regulatório previsto na alínea d) do mesmo artigo 33.º

do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, de velar pela legalidade e

transparência das relações económicas entre todos os agentes do sistema, a

alínea a) do artigo 37.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, estabelece

que incumbe ainda à ERS analisar as relações económicas nos vários segmentos

da economia da saúde, tendo em vista o fomento da transparência, da eficiência e

da equidade do sector, bem como a defesa do interesse público e dos interesses

dos utentes;

34. Por último, é ainda objetivo regulatório da ERS, nos termos do disposto na alínea

c) do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, garantir os direitos e

interesses legítimos dos utentes, onde se integra entre outros o direito dos utentes

“a ter rigorosamente respeitada a confidencialidade sobre os dados pessoais

revelados” – cfr. alínea d) do n.º 1 da Base XIV da Lei de Bases da Saúde.

35. Podendo a ERS assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus

poderes de supervisão – consubstanciado, designadamente, “no dever de velar

pela aplicação das leis e regulamentos e demais normas aplicáveis às actividades

sujeitas à sua regulação” – e ainda mediante a emissão de ordens e instruções,

bem como recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja

necessário – cfr. alínea b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de

maio.

36. Recorde-se que, quer na exposição inicialmente apresentada pela utente, quer nos

esclarecimentos adicionais prestados pela mesma, suscitavam-se três questões

essenciais:

(i) eventual ausência de informação prévia dos utentes sobre atos que não

se encontram abrangidos pelo contrato de prestação de serviços

celebrado entre o prestador e a PT- ACS;

(ii) alegado incumprimento, na situação concreta da utente, do contrato de

prestação de serviços celebrado entre o prestador e a PT- ACS,

designadamente no que se refere aos procedimentos à adotar

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relativamente àqueles MCDT que não sejam disponibilizados pelo

prestador;

(iii) do eventual comportamento adotado pelo prestador relativamente à

confidencialidade das informações relativas aos resultados dos exames

dos seus utentes, susceptível de, no caso concreto, consubstanciar

uma violação do direito daquela concreta utente à confidencialidade dos

seus dados em saúde.

37. Ora, dos factos supra expostos resultava a necessidade da sua análise sob o

prisma de uma eventual violação dos direitos e interesses legítimos dos utentes;

38. Designadamente por lesão do interesse fundamental da transparência nas

relações com os utentes, e do seu direito à informação sobre todos os aspetos

relacionados com a prestação de cuidados;

39. Bem como o direito, enquanto beneficiários da PT-ACS, a verem respeitado o

conteúdo do contrato de prestação de serviços celebrado entre o prestador e a PT-

ACS;

40. E ainda o direito a verem assegurada a confidencialidade dos seus dados em

saúde.

III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados de saúde – direitos e

interesses legítimos dos utentes

41. A prestação de cuidados de saúde – onde se incluem, designadamente, as

consultas médicas, os tratamentos e o recurso a MCDT – insere-se no conceito

amplo de prestação de serviços.

42. Atentos os factos carreados para o processo, importava aferir da tutela dos direitos

e interesses legítimos dos utentes, nomeadamente da garantia de que sejam estes

informados da natureza dos serviços prestados e/ou a prestar, do valor devido

e/ou a cobrar pelo mesmo, bem como dos atos ou exames disponibilizados pelo

prestador em questão, nomeadamente ao abrigo de convenções celebradas com

entidades financiadoras dos utentes.

43. Quando os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde do sector privado

ou social sejam detentores de convenções, como in casu com a PT-ACS, devem

ter um especial cuidado na transmissão da informação sobre as condições de

acesso dos utentes aos cuidados de saúde por si prestados.

13

44. Efetivamente, a informação sobre as convenções detidas por um prestador

constitui um elemento relevante para o exercício da livre escolha pelo utente do

prestador de cuidados de saúde a que pretende recorrer.

45. Deve, assim, ser acautelado que em momento anterior ao da prestação de

cuidados de saúde os utentes sejam integralmente informados sobre a existência

de convenções, suas aplicações a cada acto ou exame de que necessitam e

eventuais exclusões aplicáveis.

46. E isto porque a informação errónea do utente, a falta de informação ou a omissão

de um dever de informar são suficientes quer para distorcer a liberdade de escolha

dos utentes, quer para facilitarem – ou mesmo criarem – situações de lesão de

direitos e interesses financeiros dos utentes.

47. Não sendo admissível que um prestador possa propor-se iniciar a prestação de

cuidados de saúde sem previamente informar o utente da extensão da convenção

por si celebrada;

48. Também não é admissível que a informação publicamente prestada pelo mesmo

relativamente às convenções por si detidas não apresente qualquer referência a

eventuais limitações ou restrições que possam ser aplicáveis, nem qualquer

referência, por exemplo, à possibilidade de determinados atos ou MCDT poderem

não estar abrangidos por determinada convenção.

49. Ora, a informação quanto à existência de convenções e ao seu conteúdo –

divulgada tanto pelos subsistemas como pelos prestadores convencionados – não

pode, por isso, deixar de ser completa, verdadeira e inteligível;

50. Na medida em que o utente não tem, regra geral, conhecimento direto dos textos

das convenções celebradas entre os prestadores e as entidades financiadoras,

importa assim garantir que esta informação prestada ao utente é suficiente e

atempada para uma tomada de consciência do conteúdo da convenção, no que

respeita às repercussões – designadamente financeiras – que resultam para o

utente da relação contratual estabelecida entre o subsistema e o prestador.

51. Desta forma, não basta que o utente venha a ser informado da limitação do objeto

da convenção posteriormente a ter já orientado a sua escolha para um

determinado prestador.

52. É necessário, pelo contrário, que a informação que lhe é disponibilizada seja,

como já referido, suficiente e atempada para dotar o utente medianamente

14

esclarecido dos instrumentos necessários ao exercício da liberdade de escolha

nas unidades de saúde privadas;

53. Recordando-se que também resulta do dever de respeito dos direitos e interesses

legítimos dos utentes o concomitante dever de prestação de informação completa,

verdadeira e inteligível em qualquer informação que preste aos seus utentes,

atuais ou potenciais, designadamente quando utilize elementos publicitários para

dar a conhecer os seus serviços.

54. Relembre-se que no caso sub judice, veio a utente denunciante relatar – facto

aliás, confirmado pelo próprio prestador – que realizou no HPP Lusíadas, S.A. uma

“análise” que sabia previamente que não estava abrangida pela convenção

celebrada entre o referido prestador e a PT-ACS;

55. Tendo ademais a mesma procurado garantir que a “análise” seria enviada para um

prestador convencionado com a PT- ACS, tendo para o efeito desenvolvido todos

os esforços junto do prestador para que tal ocorresse; designadamente

56. Solicitando ao prestador que “[… lhe] preenchessem uma guia de serviços clínicos

da PT-ACS onde era discriminado, a consulta, [c.], [ci.] e [g.], com os respetivos

códigos que assin[ou].”.

57. Nessa sequência, o prestador garantiu-lhe que “[…] iriam enviar o “tecido” para

análise a um prestador convencionado com o [s]eu plano de saúde (PT ACS) […

tendo confirmado] ser o Laboratório Dra. Isabel Belo que iria realizar os [s]eus

exames, com convenção com o [s]eu plano de saúde.”.

58. Do exposto, decorre então que,

(i) não obstante a utente em questão ter demonstrado estar devidamente

informada, mesmo antes de recorrer ao prestador, de que o ato por si

realizado não estava abrangido pela convenção detida pelo mesmo

com a PT-ACS, da qual é beneficiária;

(ii) o que não pode deixar de ser salientado, na medida em que um utente

médio não disporá, ou poderá não dispor, em regra, do mesmo nível de

informação apresentado por esta;

(iii) e, não obstante ainda, a informação prestada pelo Hospital de que

relativamente aos procedimentos adotados com vista à informação

prévia dos utentes sobre atos que não se encontram abrangidos pelo

acordo entre o HPP Lusíadas, SA e a PT-ACS, não são diferentes

daqueles que são adotados para qualquer outro utente que seja

15

beneficiário de seguro de saúde ou de subsistema de saúde e solicite

um ato não convencionado entre o prestador e essa seguradora ou

subsistema;

59. Importará sempre à ERS assegurar, conforme entendimento que tem vindo a ser

sucessivamente reiterado por esta Entidade Reguladora no atinente à obrigação

de informação dos utentes,

(i) quer na sua Recomendação publicada no sítio eletrónico da ERS e

remetida a todos os prestadores privados de saúde;

(ii) quer em diversas instruções dirigidas a prestadores de cuidados de

saúde, incluindo a instrução dirigida ao Hospital dos Lusíadas, em 13

de Janeiro de 2011, no âmbito do processo de inquérito n.º

ERS/070/10, bem como na ordem emitida em 1 de fevereiro de 2012,

no âmbito do processo de monitorização PMT/028/09;

60. O respeito dos direitos e interesses legítimos dos utentes, e em especial o seu

direito a uma informação completa, verdadeira, inteligível e em momento prévio à

prestação de cuidados de saúde, sobre todos os aspetos relativos a essa

prestação, onde não pode deixar de se incluir a existência e âmbito de aplicação

de convenções detidas pelos prestadores de cuidados de saúde.

61. Efetivamente, não se pode olvidar que aos utentes deve ser reconhecido o direito

ao consentimento informado e esclarecido, nos termos da alínea e) do n.º 1 da

Base XIV da Lei de Bases da Saúde e, consequentemente, de escolher livremente

o agente prestador de cuidados de saúde, nos termos da alínea a) do n.º 1.º da

Base XIV da mesma Lei de Bases da Saúde;

62. Porquanto, esta livre escolha está na dependência direta da informação referente à

prestação de cuidados de saúde presentes e futuros.

63. Compete assim acautelar a garantia de que, e em momento anterior ao da

prestação de cuidados de saúde, os utentes sejam informados, designadamente

da natureza e âmbito dos serviços a prestar, bem como, ainda, dos valores a

suportar a título de preço e da existência ou não de acordos/convenções com

subsistemas financiadores de cuidados de saúde (e eventuais restrições aos

mesmos aplicáveis), e qual o âmbito de aplicação destes últimos.

64. Ora, a relação dos prestadores com os seus utentes deve pautar-se por princípios

de verdade, completude e transparência, devendo ainda, e em todo o momento,

conformar-se pelo direito dos utentes à informação, enquanto concretização do

16

dever de respeito, pelos prestadores de cuidados de saúde, dos direitos e

interesses legítimos dos utentes.

65. Com efeito, tais características devem revelar-se em todos os momentos da

relação entre utente e prestador, e incluindo nos momentos que antecedem a

própria prestação de cuidados de saúde.

66. Nesse sentido, o direito à informação – e o concomitante dever de informar – surge

aqui com especial relevância e é dotado de uma importância estrutural e

estruturante da própria relação.

67. Na verdade, o direito do utente à informação não se limita ao que prevê a alínea e)

do n.º 1 da Base XIV da Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, para efeitos de

consentimento informado e esclarecimento quanto a alternativas de tratamento e

evolução do estado clínico;

68. Trata-se, antes, de um princípio que deve modelar todo o quadro de relações

atuais e potenciais entre utentes e prestadores de cuidados de saúde, públicos e

privados.

69. A informação não pode, por isso, deixar de ser verdadeira, completa e inteligível;

70. Só assim se logrando obter a referida transparência na relação entre prestadores

de cuidados de saúde e utentes.

71. Logo, e em contraposição com o vindo de referir, a transmissão de informação

errónea ao utente, a falta de informação ou a omissão de um dever de informar

são suficientes para distorcer o exercício da própria liberdade de escolha dos

utentes;

72. Para além de facilitarem – ou mesmo criarem – situações de lesões de direitos e

interesses financeiros dos utentes.

73. Ora, na situação aqui em apreço e, embora não se tenha verificado em concreto,

pelas razões já supra expostas, uma violação dos direitos e interesses legítimos

daquela concreta utente, uma vez que recorreu àquele concreto prestador

possuindo informação completa, verdadeira e inteligível sobre todos os aspetos

relacionados com a prestação de cuidados de saúde ao abrigo do contrato de

prestação de serviços celebrado entre o HPP Lusíadas e a PT-ACS;

74. Não se pode deixar de colocar a possibilidade de nem todos os utentes estarem a

ser devidamente informados, designadamente sobre a eventual não aplicação, da

convenção celebrada pelo prestador com a PT-ACS, a determinados atos ou

MCDT;

17

75. Não podendo o prestador propor-se iniciar a prestação de cuidados de saúde sem

previamente informar o utente da extensão da convenção por si celebrada.

76. Embora se reitere o referido pelo prestador de que “sempre que o cliente se dirige

à receção/balcão de atendimento para a realização de um ato médico,

previamente agendado com o Hospital dos Lusíadas e para o qual não existe

acordo com a entidade financiadora, é devidamente informado que o acto não está

previsto no acordo […] e que terá de ser pago diretamente pelo cliente em

conformidade com a tabela de preços de particulares que estiver em vigor.”;

77. Certo é que, por um lado, na situação concreta em análise, e de acordo com os

elementos disponíveis, a utente demonstrou-se sempre ciente de todas as

condições de acesso aos cuidados de saúde naquele prestador ao abrigo daquele

contrato de prestação de serviços com a PT-ACS, mesmo antes de qualquer

contacto com o prestador;

78. Tendo sido, ademais, a utente que solicitou “[… lhe] preenchessem um guia de

serviços clínicos da PT-ACS onde era discriminado, a consulta, [c.], [ci.] e [g.], com

os respetivos códigos que assin[ou].”;

79. Não tendo sido possível demostrar ter sido o prestador a cumprir com os deveres

que sobre si impendem em matéria de informação;

80. E, por outro lado, deve-se salientar, ainda, que da informação pública

disponibilizada pelo HPP Lusíadas, SA no seu sítio eletrónico na Internet, em

www.hpplusiadas.pt não resulta qualquer informação sobre a existência de

quaisquer restrições à aplicação da convenção detida com a PT-ACS, aliás como

se passa com qualquer outro acordo ou convenção detido pelo prestador, com

exceção da convenção detida com a ADSE.

81. Ora, não pode a ERS deixar de reiterar o por si já explanado na deliberação

emitida ao prestador em 1 de fevereiro de 2012, no âmbito do processo de

monitorização PMT/028/09, relativamente à convenção da ADSE, e que, realce-se,

foi seguida pelo HPP Lusíadas, mas apenas em relação a essa convenção;

82. De que sempre que um prestador de cuidados de saúde anuncia uma convenção

que não celebrou com a extensão ou capacidade que publicita – estabelece desde

logo com o utente uma relação que antecede a prestação de cuidados de saúde e

que se acha pautada pela ausência de verdade e de transparência;

83. Na medida em que o utente não tem, regra geral, conhecimento direto do texto das

convenções celebradas pelo HPP Lusíadas, SA, e em que a informação a que tem

18

acesso lhe é disponibilizada pelo próprio subsistema ou entidade seguradora – por

via do seu site na internet/designadamente, o sítio eletrónico na internet –, bem

como é por ele obtida junto dos prestadores de cuidados de saúde.

84. Importa, assim, garantir que esta informação prestada ao utente é suficiente e

atempada para uma tomada de consciência do conteúdo da convenção, no que

respeita às repercussões – designadamente financeiras – que resultam para o

utente da relação contratual estabelecida entre o subsistema e o prestador;

85. Sendo que tal obrigação que impende sobre o prestador resulta já da atividade

regulatória da ERS e, concretamente, da instrução dirigida ao Hospital dos

Lusíadas, emitida em 13 de janeiro de 2011, e no âmbito do processo de inquérito

aberto sob o registo ERS/070/10, no sentido de

“[…] o HPP Lusíadas, S.A., no contacto com os utentes, garant[ir] em

permanência o respeito pleno e não condicionado pelo direito à

informação clara e transparente sobre os cuidados de saúde prestados

e a prestar, bem como sobre a sua necessidade clínica e o(s)

correspondente(s) preço(s)”;

86. Mas também do teor da recomendação publicada no sítio eletrónico da ERS e

remetida a todos os prestadores privados de saúde pela qual foi determinado o

dever de “[…] respeitar integralmente o dever de informação com rigor e

transparência, devendo, para isso, comunicar aos utentes os actos, exames,

consumíveis e fármacos, bem como os respectivos valores, que venham a ser

previsivelmente prestados ou administrados e cujo pagamento lhes seja exigível”;

87. Devendo-se recordar que tal exigência de informação aos utentes que impende

sobre o prestador inclui a informação sobre todos os aspetos relativos a essa

prestação, e designadamente sobre a existência e âmbito de aplicação de

convenções detidas pelos prestadores de cuidados de saúde.

88. Em face de todo o exposto, não pode a ERS deixar de advertir o prestador para a

necessidade de ser garantida de forma permanente a prestação de informação

verdadeira, completa, inteligível e transparente sobre todos os aspetos

relacionados com tal prestação, designadamente no que se refere às convenções

por si detidas, e em especial à existência de eventuais restrições, como sejam

actos ou exames não abrangidos pelas mesmas.

19

III.3. Da prestação de cuidados de saúde ao abrigo do acordo celebrado entre o

HPP Lusíadas, S.A. e a PT-ACS

89. A PT-ACS é uma associação que tem por objeto “[…] a promoção e proteção da

saúde, nomeadamente através da prestação, direta ou indireta, de cuidados de

medicina preventiva, curativa e de reabilitação.”; e

90. Para tanto, assume a gestão de planos de saúde previamente determinados e

subscritos pelos seus associados, além de prestar cuidados de saúde no trabalho.

91. Assim, assegura a prestação de cuidados de saúde através, designadamente, de

um corpo clínico em Centros Clínicos por si detidos, de estabelecimentos consigo

convencionados em distintas áreas clínicas, do apoio de natureza psicossocial em

situações de carência económica e dependência física, e ainda através de

mecanismos de comunicação com os beneficiários aos quais se pretende dar a

compreender as potencialidades do serviço, formas de acesso à prestação de

cuidados, analisar e responder às exposições e fornecer regularmente informação

sobre os serviços utilizados e respetivos encargos.

92. Para tanto, deve o beneficiário cumprir e fazer cumprir as disposições do plano de

saúde por si subscrito, utilizar de forma correta e racional os serviços disponíveis,

bem como manter a PT - ACS informada de todas as atualizações da situação

pessoal e familiar, e ainda colaborar no sentido de responder aos pedidos de

informação que lhe forem dirigidos, ao mesmo tempo que deve informar de todas

as anomalias constadas no acesso aos serviços.

93. Nesta perspetiva, a PT-ACS assume-se como subsistema de saúde que atua em

complementaridade com o SNS e, por isso, garante ao seu beneficiário o recurso a

outros estabelecimentos de saúde do setor privado com quem celebrou, ou não,

acordo para a prestação de cuidados.

94. É neste âmbito que surge o Contrato de Prestação de Serviços Celebrado entre o

HPP Lusíadas, SA e a PT- ACS, em 1 de maio de 2009 (de ora em diante

Contrato), e respeitante à assistência prestada aos beneficiários da PT-ACS.

95. De acordo com o estabelecido no referido Contrato, o mesmo abrange as

consultas de especialidade, nomeadamente de ginecologia/obstetrícia, e todos os

MCDT disponibilizados pelo HPP Lusíadas, SA.

96. Relativamente à realização dos exames, ou MCDT, no anexo 8.3 ao Contrato

encontra-se estabelecido “quando disponibilizados pelo Hospital, devem ser

20

facturados aos valores constantes da Tabela e normas de prestação da PT-ACS

em vigor.”;

97. Pelo contrário, “quando não disponibilizados pelo Hospital devem ser efetuados

por entidades convencionadas com a PT-ACS podendo ser por estas facturados

diretamente à PT-ACS.”.

98. Relembre-se que no caso sub judice era referido pela utente ter realizado no HPP

Lusíadas, S.A. um exame de g. que sabia previamente que não estava abrangido

pela convenção entre o referido prestador e a PT-ACS;

99. Tendo procurado sempre garantir que a análise seria enviada para um prestador

convencionado com a PT-ACS, tendo para o efeito desenvolvido todos os esforços

junto do prestador para que tal ocorresse, designadamente solicitando que

“preenchessem um guia de serviços clínicos da PT-ACS onde era discriminado, a

consulta, [c.], [ci.] e [g.], com os respetivos códigos que assin[ou].”.

100. Sucede que, não obstante terem garantido à utente que “[…] iriam enviar o

“tecido” para análise a um prestador convencionado com o [s]eu plano de saúde

(PT ACS) [… tendo confirmado] ser o Laboratório Dra. Isabel Belo que iria realizar

os [s]eus exames, com convenção com o [s]eu plano de saúde.”;

101. Certo é que, no dia 11 de maio de 2012, a utente recebeu na sua residência

“um aviso de pagamento no valor de 130 euros” referente ao exame de g.

realizado no HPP Lusíadas.

102. Ora, atentos os factos tais como expostos pela utente, resultava clara a

existência de uma situação de incumprimento do contrato celebrado pelo HPP

Lusíadas com PT-ACS com prejuízo direto e imediato na esfera jurídica da utente;

103. Em função da lesão dos seus interesses financeiros;

104. Na medida em que lhe estava a ser solicitado o pagamento de uma quantia,

que em função das condições estabelecidas no referido contrato, não lhe era

exigível e consubstanciava ademais o incumprimento do contrato, já que do

mesmo resultava para o prestador a obrigação de os MCDT “quando não

disponibilizados pelo Hospital devem ser efetuados por entidades convencionadas

com a PT-ACS podendo ser por estas facturados diretamente à PT-ACS.”;

105. Não podendo, como é óbvio, em situação alguma, ser solicitado aos utentes o

pagamento de tais MCDT não disponibilizados pelo Hospital, pelo valor

estabelecido nas tabelas de preços de particulares em vigor.

21

106. Acontece que, no decurso da instrução do processo, o prestador veio confirmar

que, de acordo com o contrato estabelecido com a PT-ACS, os atos que não

sejam prestados pelo HPP Lusíadas, SA “devem ser efetuados por entidades

convencionadas com a PT-ACS”, sendo que no caso concreto o HPP Lusíadas

“[…] cumpriu o contratado, remetendo os exames a uma entidade convencionada

com a PT-ACS, e mais deveria ter dado indicação ao laboratório para faturar

diretamente à PT-ACS”.

107. O que ocorreu, segundo o prestador, foi que “[…] facturou diretamente o exame

à Cliente [sendo que] tal prática não é admitida pelo contrato existente com a PT-

ACS, pelo que, conforme email enviado à Cliente, foi já a mesma anulada

mediante emissão de nota de crédito CP2012/4368, de 26.10.2012, no valor de €

130,00”;

108. Ou seja, o prestador não só assumiu o seu comportamento como indevido, e

violador do disposto no contrato de prestação de serviços por si celebrado com a

PT-ACS;

109. Como adotou os comportamentos necessários para fazerem cessar os efeitos

da violação dos direitos e interesses legítimos da utente, e em concreto os seus

interesses financeiros;

110. Na medida em que diligenciou no sentido de proceder à anulação da factura

FD2012/13624, no valor de € 130,00, referente à [g.], e procedeu à emissão de

nota de crédito CP2012/4368, de 26.10.2012, no valor de € 130,00.

III.4. Do direito dos utentes à confidencialidade dos seus dados em saúde

111. Recorde-se que é objetivo regulatório da ERS, nos termos do disposto na

alínea c) do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, garantir os

direitos e interesses legítimos dos utentes, onde se integra entre outros o direito

dos utentes “a ter rigorosamente respeitada a confidencialidade sobre os dados

pessoais revelados” – cfr. alínea d) do n.º 1 da Base XIV da Lei de Bases da

Saúde.

112. Efetivamente, o direito dos utentes à confidencialidade de toda a informação

clínica e elementos identificativos que lhe respeitam, contidos no seu processo

clínico, decorre desde logo do direito fundamental à proteção dos dados pessoais

informatizados, consagrado no artigo 35º da CRP, mas também do n.º 2 do artigo

268º da CRP, e do n.º 2 do artigo 26º da CRP, segundo o qual a lei estabelecerá “

22

[…] garantias efectivas contra a utilização abusiva, ou contrária à dignidade

humana, de informações relativas às pessoas e famílias”.

113. Neste sentido, o direito à proteção dos dados pessoais informatizados,

funciona como uma garantia do direito à reserva da intimidade da vida privada, em

especial, quando considerado como direito a impedir o acesso de estranhos a

informações sobre a vida privada e familiar e como direito a que ninguém divulgue

as informações que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem.

114. Nos termos do n.º 2 do artigo 35º da CRP, é remetida para a lei a

regulamentação dos aspetos relacionados com o direito à proteção dos dados

pessoais, nomeadamente, o conceito de dados pessoais, as condições do seu

tratamento automatizado, da sua conexão, transmissão e utilização, bem como a

sua proteção e, criação, para esse fim, de uma autoridade administrativa

independente.

115. Nesse sentido foi aprovada a Lei de Proteção de Dados Pessoais (LPDP), Lei

n.º 67/98, de 26 de outubro (que veio revogar as anteriores Leis n.ºs 10/91, de 29

de Abril e 28/94, de 24 de agosto), a qual transpõe para a ordem jurídica

portuguesa a Directiva n.º 95/46/CE, do Parlamento e do Conselho, de 24 de

outubro de 1995, relativa à proteção das pessoas singulares, no que diz respeito

ao tratamento dos dados pessoais e à livre circulação desses dados.

116. No âmbito específico da proteção de dados relativos à saúde, existem diversas

disposições normativas que lhe fazem referência, entre as quais a Lei de Bases de

Saúde (Lei n.º 48/90, de 24 de agosto) e a Lei sobre a informação genética

pessoal e informação de saúde (Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro).

117. Decorre, então, de tal quadro legal, que incumbe aos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde integrados no SNS – aliás, como qualquer

estabelecimento de saúde, independentemente da sua natureza (singular ou

coletiva e pública ou privada) – o dever de criar, manter, atualizar e conservar em

arquivo ficheiros adequados, relativos aos processos clínicos dos seus doentes.

118. Este dever que incide sobre os estabelecimentos de saúde, e que consiste na

documentação e registo de toda a atividade médica relativa a determinado utente

que aí recorreu para a prestação de cuidados de saúde decorre, desde logo, de

um dever de cuidado do médico, ou seja, de uma obrigação inserta na legis artis.

119. Refira-se, ademais, que embora o processo clínico seja propriedade do doente,

são os estabelecimentos de saúde os depositários da informação, e portanto

23

aqueles que têm os processos clínicos dos utentes à sua guarda – a cfr. n.º 1 do

artigo 3.º da Lei n.º 12/2005.

120. Assim, de acordo com a definição da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, o

processo clínico é propriedade exclusiva do próprio utente, uma vez que contém

informação sobre o próprio que, ademais, se integra no conceito de intimidade da

vida privada;

121. Cabendo, no entanto, ao profissional médico que tenha assistido o utente, ou a

outro profissional (por exemplo, um enfermeiro) sob a supervisão daquele, o dever

de proceder à referida documentação ou registo da informação médica (e que

pode incluir dados sobre consultas, tratamentos, exames ou diagnósticos a que os

utentes foram sujeitos);

122. Não podendo a informação contida no processo clínico de um utente ser

utilizada para outro fim que não seja a prestação de cuidados de saúde à pessoa

ou para investigação quando admissível.

123. Neste sentido, importa realçar que o processo clínico deve ser “guardado” pelo

estabelecimento de saúde em causa em segredo, devendo os profissionais de

saúde ao seu serviço guardar sigilo sobre a informação nele contida.

124. Importa, assim, determinar o que se deve entender por dados de saúde,

informação de saúde e processo clínico.

125. O conceito de dados de saúde deve-se integrar naquele conceito mais amplo

relativo aos dados pessoais que são definidos pela Lei n.º 67/98 (LPDP) como “[…]

qualquer informação, de qualquer natureza e independentemente do respectivo

suporte, incluindo som e imagem, relativa a uma pessoa singular identificada ou

identificável («titular dos dados»)”, sendo pessoa identificável aquela “[…] que

possa ser identificada directa ou indirectamente, designadamente por referência a

um número de identificação ou a um ou mais elementos específicos da sua

identidade física, fisiológica, psíquica, económica, cultural ou social” (art. 3º al. a)

da LPDP).

126. De acordo com esta definição, podem ser considerados dados pessoais, entre

muitos outros, o nome, a morada, o número da segurança social, o número de

contribuinte, o número do bilhete de identidade, a sua história clínica, entre outros.

127. Por seu lado, a Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, optou por utilizar o conceito

de informação de saúde “[…] como todo o tipo de informação directa e

24

indirectamente ligada à saúde, presente ou futura, de uma pessoa, quer se

encontre com vida ou tenha falecido, e a sua história clínica e familiar.” (artigo 2.º).

128. De acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 3.º do referido diploma legal, a

informação de saúde inclui “[…] os dados clínicos registados, resultados de

análises, e outros exames subsidiários, intervenções e diagnósticos.”.

129. Já o artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, para além de referir que a

informação médica “[…] é a informação de saúde destinada a ser utilizada em

prestações de cuidados ou tratamentos de saúde”, estabelece o conceito de

processo clínico como “qualquer registo, informatizado ou não, que contenha

informação de saúde sobre doentes ou seus familiares” e que deve conter toda a

informação médica disponível que diga respeito à pessoa.

130. No que se refere concretamente à necessidade de ser acautelado o direito dos

utentes à confidencialidade da informação contida no seu processo clínico,

prescreve o artigo 4.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, que os

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde quando tenham processos

clínicos à sua guarda

(i) “[…] devem tomar as providências adequadas à proteção da sua

confidencialidade, garantindo a segurança das instalações e

equipamentos, o controlo no acesso à informação, bem como o reforço

do dever de sigilo e da educação deontológica de todos os

profissionais.”;

(ii) “[…] devem impedir o acesso indevido de terceiros aos processos

clínicos e aos sistemas informáticos que contenham informação de

saúde, incluindo as respectivas cópias de segurança, assegurando os

níveis de segurança apropriados e cumprindo as exigências

estabelecidas pela legislação que regula a proteção de dados pessoais,

nomeadamente para evitar a sua destruição, acidental ou ilícita, a

alteração, difusão ou acesso não autorizado ou qualquer outra forma de

tratamento ilícito da informação.”;

(iii) “[…] deve[m] garantir a separação entre a informação de saúde e

genética e a restante informação pessoal, designadamente através da

definição de diversos níveis de acesso.”.

131. Dos dispositivos vindos de apresentar, resulta uma clara imposição legal,

incidente sobre os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, de

25

assegurar a confidencialidade de todas as informações contidas nos processos

clínicos dos utentes, nomeadamente mediante a adoção de mecanismos que

garantam a segurança das instalações ou dos meios informáticos, consoante as

mesmas se encontrem contidas sem suporte de papel ou suporte informático;

132. Mas também a necessidade de serem implementados pelos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde procedimentos adequados ao controlo do

acesso por terceiros à informação, bem como os necessários a assegurar o dever

de sigilo e a existência de uma adequada educação deontológica dos seus

profissionais.

133. No âmbito do controlo do acesso à informação importa, designadamente,

impedir o acesso indevido de terceiros aos processos clínicos e aos sistemas

informáticos que contenham informação de saúde;

134. Nesse sentido, e como forma de acautelar o acesso de terceiros a informações

abrangidas pelo dever de confidencialidade, de acordo com o disposto no artigo 4.º

da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, podem os estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde separar a informação contida no seu processo clínico, entre

informação de saúde e a restante informação pessoal, podendo estabelecer

mecanismos de controlo de acesso mais apertados, no caso da informação em

saúde, e menos restritivos, no caso da restante informação pessoal;

135. O que poderá permitir, por exemplo, que os funcionários dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde que não sejam profissionais de saúde não

devam ter acesso à informação em saúde contida em processo clínico (dados

clínicos registados, resultados de análises, e outros exames subsidiários,

intervenções e diagnósticos), mas possam ter acesso à restante informação

pessoal (por exemplo, o nome, a morada, o número da segurança social, o número

de contribuinte, o número do bilhete de identidade, o número de beneficiário de

subsistema de saúde ou de seguro de saúde, bem como a identificação dos atos

ou exames praticados ao utente).

136. Ainda no âmbito da garantia do direito à confidencialidade da informação

contida em processo clínico, estabelece o n.º 4 do artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de

26 de janeiro, que “a informação médica é inscrita no processo clínico pelo médico

que tenha assistido a pessoa ou, sob a supervisão daquele, informatizada por

outro profissional igualmente sujeito ao dever de sigilo, no âmbito das

competências específicas de cada profissão e dentro do respeito pelas respectivas

normas deontológicas.”;

26

137. E o n.º 5 desse mesmo preceito estabelece que “o processo clínico só pode ser

consultado por médico incumbido da realização de prestações de saúde a favor da

pessoa a que respeita ou, sob a supervisão daquele, por outro profissional de

saúde obrigado a sigilo e na medida do estritamente necessário à realização das

mesmas, […]”.

138. Do disposto nos n.ºs 4 e 5 do artigo 5.º da da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro,

resulta de forma clara que apenas os profissionais de saúde podem aceder ao

processo clínico dos utentes, designadamente às informações em saúde contidas

no mesmo;

139. Pelo que os demais profissionais ao serviço de um determinado

estabelecimento prestador de cuidados de saúde, não podem aceder a tais

informações;

140. E mesmo no que se refere aos profissionais de saúde, não obstante os

mesmos estejam sujeitos ao dever de sigilo, a lei determina que o acesso à

informação contida no processo clínico, ocorra apenas na medida do estritamente

necessário à realização de prestações de saúde a favor da pessoa a que o mesmo

diga respeito;

141. Ou seja, o legislador optou claramente por estabelecer um quadro legal que

restringe fortemente o acesso por terceiros à informação contida em processo

clínico, o que implica que os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde

observem um especial cuidado no estabelecimento de procedimentos internos que

assegurem a confidencialidade dos dados contidos nos processos clínicos;

142. Podendo, no entanto, serem estabelecidos diferentes níveis de acesso à

informação, de forma a que embora o acesso à informação em saúde seja

restringida apenas aos profissionais de saúde (sejam eles médicos, enfermeiros,

ou técnicos) incumbidos da realização de prestações de saúde a favor da pessoa a

que a essa informação respeita;

143. Possam os demais profissionais ao serviço do estabelecimento (como

assistentes administrativos ou responsáveis por áreas de gestão não médicas)

aceder à restante informação pessoal, que permita por exemplo a correta

faturação de todos os actos prestados a um determinado utente.

144. Ora, importa recordar que na situação sub judice a utente vinha igualmente

reclamar do comportamento do prestador “ao divulgar os resultados de um exame

[…], a terceiros, sem o [seu] consentimento [podendo] mesmo afirmar, que os

27

[seus] dados médicos, não foram devidamente acautelados pelo Hospital dos

Lusíadas, tendo sido efetuada de forma imprópria a sua divulgação, através de e-

mail com conhecimento de vários destinatários, não médicos, divulgação esta que

violou o princípio da [sua] intimidade e da [sua] vida privada.”.

145. Sendo que o prestador, no âmbito da instrução do processo, veio aos autos

confirmar que foram remetidos à utente os resultados do seu exame, por uma

colaboradora do Back Office do HPP Lusíadas, SA, através de correio eletrónico

enviado com conhecimento “da sua chefe direta, [C.], para o departamento de

cobranças, [M.], e para o primeiro contacto com o Hospital, a colaboradora [P.].”;

146. Tendo justificado que, “pese embora se considerar como indevida a anexação

do relatório à mensagem copiada conforme aos colaboradores devidamente

identificados e com as qualidades acima referidas, são claras as razões deste

facto, bem como as razões que se representaram à emitente para copiar a

mensagem (com anexo) enviada à cliente a esses colaboradores, todos estão

sujeitos a sigilo profissional e que lidam diariamente com informação respeitante

aos dados pessoais e de saúde de centenas de clientes do Hospital dos

Lusíadas.”.

147. Ora, do exposto resulta claramente que o prestador não acautelou

devidamente o direito daquela utente à confidencialidade da informação em saúde

contida no seu processo clínico, em especial no que se refere ao resultado

daquele concreto exame que lhe foi realizado pelo prestador de cuidados de

saúde;

148. Uma vez que permitiu o acesso de outros seus profissionais, que não

profissionais de saúde, a resultados de exames;

149. O que para além de estar vedado por lei, conforme estabelecido no n.º 5 do

artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de Janeiro, ao estabelecer que que “o processo

clínico só pode ser consultado por médico incumbido da realização de prestações

de saúde a favor da pessoa a que respeita ou, sob a supervisão daquele, por outro

profissional de saúde obrigado a sigilo e na medida do estritamente necessário à

realização das mesmas, […]”;

150. Não se consegue vislumbrar uma qualquer justificação para que tal facto tenha

ocorrido, uma vez que para uma correta faturação daquele concreto exame, basta

que os funcionários do Back office e do departamento de faturação tenham

conhecimento apenas da sua realização, não necessitando de conhecer o

resultado do exame.

28

151. Tanto assim é, que o próprio legislador teve o cuidado de prever a necessidade

de determinadas informações deverem ser do conhecimento de funcionários, que

não sejam profissionais de saúde;

152. Quando estabeleceu no n.º 4 do artigo 4.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro,

que os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde “[…] deve[m] garantir

a separação entre a informação de saúde e genética e a restante informação

pessoal, designadamente através da definição de diversos níveis de acesso.”.

153. Em face do exposto, resulta que o HPP Lusíadas, SA, ao adotar o

comportamento descrito pela utente, de divulgar os resultados de um exame […], a

terceiros, sem o [seu] consentimento, violou os direitos e interesses legítimos dos

utentes, onde se integra entre outros o direito dos utentes “a ter rigorosamente

respeitada a confidencialidade sobre os dados pessoais revelados” – cfr. alínea d)

do n.º 1 da Base XIV da Lei de Bases da Saúde;

154. Designadamente, o direito à reserva da intimidade da vida privada, em

especial, quando considerado como direito a impedir o acesso de terceiros a

informações sobre a vida privada e familiar e como direito a que ninguém divulgue

as informações que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem.

155. Pelo que importa garantir que a informação em saúde relativa a determinado

utente (onde se inclui, por exemplo, dados clínicos registados, resultados de

análises, e outros exames subsidiários, intervenções e diagnósticos) não deva ser,

por qualquer meio, designadamente eletrónico, transmitida a terceiros, que não

profissionais de saúde ao serviço daquele concreto prestador;

156. Devendo ademais ser adotados pelo referido prestador, e para futuro, os

procedimentos adequados a garantir a confidencialidade da informação em saúde

contida nos processos clínicos dos seus utentes;

157. De forma a que apenas os profissionais de saúde ao seu serviço, e que tenham

tido, ou venham a ter no futuro, uma intervenção direta na realização de

prestações de saúde a um determinado utente, possam aceder à informação em

saúde contida no seu processo clínico;

158. Não obstante poder adotar procedimentos que visem a separação entre a

informação de saúde e a restante informação pessoal, designadamente através da

definição de diversos níveis de acesso, de forma a garantir que os funcionários e

demais responsáveis pela faturação dos cuidados prestados no HPP Lusíadas,

SA, possam ter acesso à informação necessária a tal facturação, a qual se deve

29

restringir, unicamente, ao conceito de restante informação pessoal, onde se inclui,

por exemplo, o nome, a morada, o número da segurança social, o número de

contribuinte, o número do bilhete de identidade, o número de beneficiário de

subsistema de saúde ou de seguro de saúde e a identificação dos atos ou exames

praticados ao utente.

III.5. Conclusão

159. Em face de todo o exposto, e no que se refere à confidencialidade de informação

contida em processo clínico dos utentes, conclui-se pela necessidade de uma

intervenção regulatória da ERS, ao abrigo do disposto na alínea c) do artigo 33.º

do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;

160. Com intuito de garantir que sejam adotados pelo HPP Lusíadas, SA os

procedimentos necessários ao cumprimento das obrigações legais relativas à

confidencialidade da informação de saúde, em respeito último do dever de garantia

do direito à reserva da intimidade da vida privada, em especial, quando

considerado como direito a impedir o acesso de terceiros a informações sobre a

vida privada e familiar e como direito a que ninguém divulgue as informações que

tenha sobre a vida privada e familiar de outrem.

161. Por outro lado, e no que se refere ao dever que incumbe sobre os

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, de transmissão de

informação verdadeira, completa, inteligível e transparente sobre todos os aspetos

relacionados com a prestação de cuidados de saúde, e em especial no que se

refere à existência restrições no âmbito de acordos e convenções detidas pelos

mesmos;

162. E atendendo a que,

(i) no caso concreto em análise, não foi possível concluir pela existência

de um qualquer comportamento do HPP Lusíadas, SA

consubstanciador de uma violação dos direitos e interesse legítimos

daquela concreta utente, por não cumprimento dos deveres de

transmissão de informação verdadeira, completa, inteligível e

transparente;

(ii) ainda assim, a ERS não pode deixar de garantir que a informação

prestada aos utente pelo HPP Lusíadas, SA seja suficiente e atempada

para uma tomada de consciência do conteúdo das convenções que

30

sejam detidas pelo mesmo, no que respeita às repercussões –

designadamente financeiras – que resultam para o utente da relação

contratual estabelecida entre a entidade financiadora do utente e o

prestador;

(iii) sendo que tal obrigação que impende para o prestador, resulta já da

atividade regulatória da ERS e, concretamente, da instrução dirigida ao

HPP Lusíadas, SA, emitida em 13 de Janeiro de 2011, e no âmbito do

processo de inquérito aberto sob o registo ERS/070/10, no sentido de

“[…] no contacto com os utentes, garant[ir] em permanência o respeito

pleno e não condicionado pelo direito à informação clara e transparente

sobre os cuidados de saúde prestados e a prestar, bem como sobre a

sua necessidade clínica e o(s) correspondente(s) preço(s)”;

(iv) mas também do teor da recomendação publicada no sítio eletrónico da

ERS e remetida a todos os prestadores privados de saúde pela qual foi

determinado o dever de “[…] respeitar integralmente o dever de

informação com rigor e transparência, devendo, para isso, comunicar

aos utentes os actos, exames, consumíveis e fármacos, bem como os

respectivos valores, que venham a ser previsivelmente prestados ou

administrados e cujo pagamento lhes seja exigível”;

(v) devendo-se recordar que tal exigência de informação aos utentes que

impende sobre o prestador inclui a informação sobre todos os aspetos

relativos a essa prestação, e designadamente sobre a existência e

âmbito de aplicação de convenções detidas pelos prestadores de

cuidados de saúde;

163. Importa advertir o prestador para a necessidade de ser garantida de forma

permanente a prestação de informação verdadeira, completa, inteligível e

transparente sobre todos os aspetos relacionados com tal prestação,

designadamente no que se refere às convenções por si detidas, e em especial à

existência de eventuais restrições, como sejam actos ou exames não abrangidos

pelas mesmas.

IV. AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS

164. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita de interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no artigo 101.º n.º 1 do Código do

Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo n.º 41.º do Decreto-Lei n.º

31

127/2009, de 27 de Maio, tendo o HPP Lusíadas, SA e a utente D.ª A. sido

chamados a pronunciarem-se relativamente ao conteúdo do projeto de deliberação

da ERS;

165. Sendo que, após o decurso do prazo, apenas foi rececionada a pronúncia do

HPP Lusíadas, SA.

IV. 1. Da pronúncia do HPP Lusíadas, SA

166. O HPP Lusíadas, SA exerceu o seu direito de pronúncia nos presentes autos, por

ofício que deu entrada na ERS no dia 14 de fevereiro de 2013.

167. Na pronúncia do HPP Lusíadas, SA, que se dá aqui por integralmente

reproduzida para todos os efeitos legais, é alegado o que de seguida se apresenta

(i) a título de considerações preliminares veio o prestador esclarecer que,

“[…] tem cumprido com as regras éticas e jurídicas respeitantes

ao direito à informação dos Doentes, seja no que respeita à

informação sobre o respetivo estado de saúde ou situação

clínica, os tratamentos possíveis ou recomendados, seja quanto

aos custos previsíveis dos mesmos, sempre que o Doente o

solicite, bem como tem assegurado e respeitado as obrigações

relativas à confidencialidade dos dados pessoais e de saúde.”;

pelo que “[…] apesar de concordar na generalidade com as

considerações jurídicas tecidas a propósito dos direitos dos

doentes, como tal e como consumidores, deve pronunciar-se

sobre alguns aspetos do presente projeto de Deliberação que

não merecem a sua concordância, nem aceitação”;

(ii) no que se refere aos direitos e interesses legítimos dos utentes,

designadamente a informação prestada à utente, o prestador veio

argumentar que,

é seu entendimento que a utente em questão “[…] em momento

algum reclamou de qualquer deficiente informação por parte do

Hospital dos Lusíadas ou dos seus profissionais.”;

32

até porque como é referido no § 58 (i) do projeto de deliberação

notificado “[…] demonstrou “estar devidamente informada,

mesmo antes de recorrer ao prestador, de que o ato por si

realizado não estava abrangido pela convenção detida pelo

mesmo com a PT-ACS, da qual é beneficiária”;

considerando como tal infundada a ilação “[…] retirada do § 58

(ii), pois faltará demonstrar que a Reclamante não era “um

utente médio”, nem que a estes não seja prestada ou

apresentada pelo Hospital dos Lusíadas a informação

necessária e adequada aos cuidados a prestar”;

não havendo no seu entendimento nada a apontar ao HPP

Lusíadas, SA ou aos seus profissionais em matéria de respeito

pelos direitos e interesses legítimos dos utentes, e em especial o

seu direito a uma informação completa, verdadeira, inteligível e

em momento prévio à prestação de cuidados de saúde;

concluindo quanto a esta questão que “[…] todo o elaborado nos

§ 74 e seguintes, deve ser eliminado da presente deliberação,

por falta de fundamentos de facto (cfr. § 79, por exemplo “… não

tendo sido possível demonstrar…”), por não corresponderem à

realidade e apenas denotarem uma eventual procura de factos

que pudessem, “incriminar” o próprio prestador de serviços no

processo em causa ou “arranjar factos” que justificassem a

advertência q eu a ERS pretende exprimir, como decorre do §

88.”;

(iii) no que concretamente respeita à prestação de cuidados de saúde ao

abrigo de acordo com a PT-ACS, veio o HPP Lusíadas, SA alegar que,

a utente estava informada que o exame em causa não estava

abrangido por tal acordo “não revelando, para estes efeitos

determinar como e quando tal informação foi obtida”;

a utente sabia que o exame ia ser realizado por entidade externa

convencionada com a PT_ACS;

33

e que apenas “por lapso dos serviços do Hospital dos Lusíadas,

lapso reconhecido e oportunamente corrigido, foi apresentada à

Reclamante o aviso de pagamento da fatura correspondente ao

exame efetuado pelo laboratório.”;

A qual foi anulada face à reclamação apresentada;

(iv) relativamente ao direito dos utentes à confidencialidade dos seus dados

de saúde é alegado pelo prestador que,

é seu entendimento que “[…] a dita divulgação dos resultados de

um exame, se circunscreveu ao envio de um e-mail à

Reclamante com conhecimento de 3 colaboradores dos quadros

do Hospital dos Lusíadas que continha em anexo o relatório do

exame efetuado.”;

pelo que considerar tal facto “[…] como divulgação do exame a

terceiros, parece exagerado, e ainda concluir (como faz a ERS

no § 146) que a HPP “…não acautelou devidamente o direito

daquela utente à confidencialidade da informação em saúde

contida no seu processo clínico, em especial no que se refere ao

resultado daquele concreto exame que lhe foi realizado pelo

prestador de cuidados de saúde (ver se é o § [147]);

mais acrescentando que “[…] o presente projeto apenas (e tão

só) se poderia referir à situação ou caso concreto – nenhuma

ilação deveria ter tomado do facto consumado e reclamado.”;

e que tal facto não consubstancia uma divulgação do exame,

uma vez que “[…] o relatório foi enviado em anexo ao e-mail

emitido à Reclamante, e-mail esse que continha a indicação de

ter sido copiado a 3 colaboradoras do Hospital e apenas a

essas.”;

não entende, desse modo, “[…] a invocação do disposto no n.º 5

do artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro (cfr. § 149),

como também não se compreende, por se desconhecer os

fundamentos das afirmações contantes do projeto de

34

deliberação no sentido do hospital não respeitar a

confidencialidade dos dados de saúde dos seus doentes.”;

pelo que “[…] rejeita em absoluto que um envio de um relatório a

uma Cliente por parte de um profissional do Hospital,

eventualmente com o conhecimento (devidamente justificado

pelo emitente) de outros colaboradores do Hospital

(devidamente identificados), constitua uma qualquer violação

dos deveres de confidencialidade, ou uma divulgação dos dados

de saúde dos doentes.”;

não considerando que se tenha verificado “[…] qualquer acesso

ao processo clínico da Reclamante, mas tão só […] a resposta a

um pedido formulado pela Reclamante”, uma vez que de acordo

com a Lei “[…] o acesso ao processo clínico está limitado: ao

próprio titular da informação nele contida, aos médicos do

Hospital para prestação de cuidados de saúde assistenciais e,

sob supervisão destes, a outros profissionais de saúde

obrigados a sigilo e na medida do estritamente necessário à

realização e gestão das prestações de saúde.”;

uma vez que é seu entendimento que “[…] o HPP cumpre

integral e escrupulosamente as suas obrigações legais relativas

à confidencialidade da informação em saúde, como resulta

também dos documentos em anexo, (i) POLÍTICA DE GESTÃO

E ACESSO À INFORMAÇÃO CLÍNICA E (ii) PROCEDIMENTO

DE ACESSO À INFORMAÇÃO CLÍNICA (EM SUPORTE

ELTRÓNICO E EM PAPEL), que ora se remetem pois no âmbito

do processo de inquérito não foram solicitadas informações,

nem esclarecimentos, relativos à confidencialidade dos dados de

saúde”;

(v) por fim, o prestador alega ainda que “[…] não têm cabimento as

remissões para as instruções emitidas no âmbito do processo de

inquérito ERS/070/10, já cumpridas, porque nada têm a ver com a

matéria deste processo de inquérito que, nomeadamente, determinou

que as obrigações de informação foram cumpridas no caso concreto.”;

35

(vi) e que “[…] os procedimentos internos adotados pela HPP garantem a

confidencialidade da informação em saúde contida nos processos

clínicos, como resulta dos documentos em anexo”.

IV. 2. Análise dos argumentos aduzidos na pronúncia do HPP Lusíadas, SA

168. Refira-se, ab initio, que os argumentos apresentados na pronúncia do HPP

Lusíadas, SA foram considerados e ponderados pela ERS;

169. Embora se adiante, desde já, que os mesmos não são de molde a alterar os

quadros factual e jurídico do projeto de deliberação notificado;

170. E, consequentemente, a alterar o sentido da decisão projetada.

171. Contudo, e analisando os argumentos aduzidos de forma mais detalhada,

refira-se que relativamente às considerações preliminares produzidas pelo

prestador, e designadamente quando o prestador refere cumprir todas as

obrigações relativas ao direito à informação dos utentes “sempre que o Doente o

solicite”;

172. Importa reiterar que o direito fundamental dos utentes de cuidados de saúde à

informação, bem como os princípios da verdade e transparência relevarão,

fundamentalmente, quer em momento anterior à escolha do prestador pelo utente,

quer durante a prestação do concreto cuidado de saúde, quer ainda depois de

cessada a relação contratual com o prestador;

173. Mas tal obrigação que impende sobre os prestadores de cuidados de saúde de

garantir o direito do utente à informação, a qual deve ademais ser prestada com

verdade, com antecedência, de forma clara, adaptada à sua capacidade de

compreensão e contendo toda a informação necessária à tomada de decisão do

utente;

174. Não deve ser pelos mesmos garantida apenas “sempre que o Doente o

solicite”, mas pelo contrário deve ser sempre assegurada independentemente de

solicitação dos utentes.

175. Importa realçar a este respeito que se coloca aqui, de forma clara, a questão

que constitui um dos problemas fundamentais em saúde e que se prende com a

“assimetria de informação” que existe em todas as relações prestador – utente;

36

176. Ou seja, os mercados de serviços de saúde são caracterizados pela

informação imperfeita que, regra geral, as pessoas possuem relativamente à

saúde e à doença.

177. Com efeito, se por um lado é natural que um utente perceba a existência de um

sintoma, embora tipicamente não determine a origem e gravidade do mesmo, será,

normalmente, um profissional de saúde que determinará a gravidade do problema

e conduzirá o utente ao tratamento adequado;

178. Ora, é aqui que se verifica uma assimetria de informação que, concretamente,

resulta do facto de os profissionais de saúde serem portadores do conhecimento

exacto dos cuidados mais adequados às necessidades dos utentes.

179. O que justifica que um utente, antes de decidir ou não submeter-se à prestação

de um determinado cuidado de saúde, e no caso do recurso a uma unidade

privada de prestação de cuidados de saúde, possa por exemplo ser informado de

todos os atos e exames que serão realizados, do respetivo preço, e da sua

eventual não cobertura pelo subsistema de saúde ou seguro de saúde de que é

beneficiário;

180. Resultando daqui que a liberdade de escolha, bem como o consentimento ao

tratamento proposto pelo prestador só podem ser efetivamente garantidos se for

transmitida ao utente, completa e atempadamente, toda a informação relevante

para a sua decisão;

181. E isto independentemente do utente solicitar tal informação.

182. Relativamente à alegação do prestador, no que aos direitos e interesses

legítimos dos utentes, designadamente a informação prestada à utente, de que

não se verificou no caso concreto uma qualquer violação dos direitos e interesses

legítimos daquela utente, e em especial o seu direito a uma informação completa,

verdadeira, inteligível e em momento prévio à prestação de cuidados de saúde,

uma vez que a mesma demonstrou sempre estar devidamente informada “de que

o ato por si realizado não estava abrangido pela convenção detida pelo mesmo

com a PT-ACS, da qual é beneficiária”;

183. Importa clarificar o referido no projeto de deliberação, e supra melhor

explanado, de que não obstante não se ter efetivamente verificado uma violação

do direito à informação e da liberdade de escolha daquela concreta utente;

184. Certo é que nem todos os procedimentos que, no decurso da instrução do

processo, foram constatados, são aptos a garantir de forma permanente os direitos

37

e interesses legítimos dos utentes que recorram ao HPP Lusíadas, SA, o que

justificará a manutenção da advertência ao prestador para a necessidade de dar

cumprimento às obrigações que sobre si impendem quanto a essa matéria;

185. Devendo-se rememorar que da informação pública disponibilizada pelo HPP

Lusíadas, SA no seu sítio eletrónico na Internet, em www.hpplusiadas.pt não

resulta qualquer informação sobre a existência de quaisquer restrições à aplicação

da convenção detida com a PT-ACS, aliás como se passa com qualquer outro

acordo ou convenção detido pelo prestador, com exceção da convenção detida

com a ADSE.

186. Pelo que não pode a ERS deixar de reiterar o por si já explanado na

deliberação emitida ao prestador em 1 de fevereiro de 2012, no âmbito do

processo de monitorização PMT/028/09, relativamente à convenção da ADSE, e

que, realce-se, foi seguida pelo HPP Lusíadas, mas apenas em relação a essa

convenção;

187. De que sempre que um prestador de cuidados de saúde anuncia uma

convenção que não celebrou com a extensão ou capacidade que publicita –

estabelece desde logo com o utente uma relação que antecede a prestação de

cuidados de saúde e que se acha pautada pela ausência de verdade e de

transparência;

188. Na medida em que o utente não tem, regra geral, conhecimento direto do texto

das convenções celebradas pelo HPP Lusíadas, SA, e em que a informação a que

tem acesso lhe é disponibilizada pelo próprio subsistema ou entidade seguradora –

por via do seu site na internet/designadamente, o sítio eletrónico na internet –, bem

como é por ele obtida junto dos prestadores de cuidados de saúde, havendo

necessidade de garantir que essa informação prestada ao utente é suficiente e

atempada para uma tomada de consciência do conteúdo da convenção, no que

respeita às repercussões – designadamente financeiras – que resultam para o

utente da relação contratual estabelecida entre o subsistema e o prestador;

189. Sendo que tal obrigação que impende sobre o prestador resulta já da atividade

regulatória da ERS e, concretamente, da instrução dirigida ao Hospital dos

Lusíadas, emitida em 13 de janeiro de 2011, e no âmbito do processo de inquérito

aberto sob o registo ERS/070/10, bem como do teor da recomendação publicada

no sítio eletrónico da ERS e remetida a todos os prestadores privados de saúde

pela qual foi determinado o dever de “[…] respeitar integralmente o dever de

informação com rigor e transparência, devendo, para isso, comunicar aos utentes

38

os actos, exames, consumíveis e fármacos, bem como os respectivos valores, que

venham a ser previsivelmente prestados ou administrados e cujo pagamento lhes

seja exigível”;

190. Não podendo como tal a ERS deixar de advertir o prestador para a

necessidade de ser garantida de forma permanente a prestação de informação

verdadeira, completa, inteligível e transparente sobre todos os aspetos

relacionados com tal prestação, designadamente no que se refere às convenções

por si detidas, e em especial à existência de eventuais restrições, como sejam

actos ou exames não abrangidos pelas mesmas.

191. Razão pela qual não se podem aceitar igualmente as alegações do prestador

de que “[…] não têm cabimento as remissões para as instruções emitidas no

âmbito do processo de inquérito ERS/070/10, já cumpridas, porque nada têm a ver

com a matéria deste processo de inquérito que, nomeadamente, determinou que

as obrigações de informação foram cumpridas no caso concreto.”;

192. Com efeito, importa recordar ao HPP Lusíadas, SA que o (i) do § 177. da

deliberação proferida no referido processo de inquérito visou efetivamente

assegurar que, em situações futuras, o prestador, no contacto com os utentes,

garantisse em permanência o respeito pleno e não condicionado pelo direito à

informação clara e transparente sobre os cuidados de saúde prestados e a prestar,

bem como sobre a sua necessidade clínica e o(s) correspondente(s) preço(s).

193. Quanto à alegação do prestador, no que respeita à prestação de cuidados de

saúde ao abrigo de acordo com a PT-ACS, de que o mesmo havia reconhecido a

existência de um lapso o qual foi “oportunamente corrigido, foi apresentada à

Reclamante o aviso de pagamento da fatura correspondente ao exame efetuado

pelo laboratório.”, e procedeu à sua anulação;

194. Recorde-se que tal foi igualmente reconhecido pela ERS, no seu projeto de

deliberação, tal como se encontra supra devidamente explanado, sem que se

tenha retirado qualquer consequência, ou tenha motivado, ao contrário do alegado

pelo HPP Lusíadas, SA, qualquer reparo, ou fundamentado qualquer

recomendação ao prestador.

195. Tendo aliás sido destacado que o prestador não só assumiu o seu

comportamento como indevido, e violador do disposto no contrato de prestação de

serviços por si celebrado com a PT-ACS, como adotou os comportamentos

necessários para fazerem cessar os efeitos da violação dos direitos e interesses

legítimos da utente, e em concreto os seus interesses financeiros.

39

196. Relativamente à diferente interpretação que o HPP Lusíadas, SA efetua da

matéria de facto no que respeita ao direito dos utentes à confidencialidade dos

seus dados de saúde, refira-se que a mesma não é consentânea com o quadro

jurídico supra enunciado e regente dos direitos dos utentes;

Senão vejamos,

197. O HPP Lusíadas, SA, na sua Pronúncia, confirmou mais uma vez que “[…] o

relatório foi enviado em anexo ao e-mail emitido à Reclamante, e-mail esse que

continha a indicação de ter sido copiado a 3 colaboradoras do Hospital e apenas a

essas.”;

198. Pretendendo, porém, reconduzir tal situação a um mero envio de uma “[…]

cópia de uma mensagem de correio eletrónico dirigida à própria titular dos dados

de saúde em causa, que tinha em anexo um relatório respeitante a um

determinado exame médico”, rejeitando “[…] em absoluto que um envio de um

relatório a uma Cliente por parte de um profissional do Hospital, eventualmente

com o conhecimento (devidamente justificado pelo emitente) de outros

colaboradores do Hospital (devidamente identificados), constitua uma qualquer

violação dos deveres de confidencialidade, ou uma divulgação dos dados de

saúde dos doentes.”;

199. Não considerando que se tenha verificado “[…] qualquer acesso ao processo

clínico da Reclamante, mas tão só […] a resposta a um pedido formulado pela

Reclamante”, uma vez que de acordo com a Lei “[…] o acesso ao processo clínico

está limitado: ao próprio titular da informação nele contida, aos médicos do

Hospital para prestação de cuidados de saúde assistenciais e, sob supervisão

destes, a outros profissionais de saúde obrigados a sigilo e na medida do

estritamente necessário à realização e gestão das prestações de saúde.”;

200. Porém, tais argumentos do Hospital dos Lusíadas devem ser liminarmente

afastados;

201. Desde logo pela simples – mas fundamental – razão de que do decurso da

instrução do processo resultou claro que o HPP Lusíadas, SA, ao adotar o

comportamento descrito pela utente, de divulgar os resultados de um exame […], a

terceiros, sem o [seu] consentimento, violou os direitos e interesses legítimos dos

utentes, onde se integra entre outros o direito dos utentes “a ter rigorosamente

respeitada a confidencialidade sobre os dados pessoais revelados” – cfr. alínea d)

do n.º 1 da Base XIV da Lei de Bases da Saúde;

40

202. Designadamente, o direito à reserva da intimidade da vida privada, em

especial, quando considerado como direito a impedir o acesso de terceiros a

informações sobre a vida privada e familiar e como direito a que ninguém divulgue

as informações que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem.

203. Sendo que o prestador, no âmbito da instrução do processo, veio aos autos

confirmar que foram remetidos à utente os resultados do seu exame, por uma

colaboradora do Back Office do HPP Lusíadas, SA, através de correio eletrónico

enviado com conhecimento “da sua chefe direta, Cláudia Martins, para o

departamento de cobranças, Maria Ferreira, e para o primeiro contacto com o

Hospital, a colaboradora Patrícia Freitas.”;

204. Tendo justificado que, “pese embora se considerar como indevida a anexação

do relatório à mensagem copiada conforme aos colaboradores devidamente

identificados e com as qualidades acima referidas, são claras as razões deste

facto, bem como as razões que se representaram à emitente para copiar a

mensagem (com anexo) enviada à cliente a esses colaboradores, todos estão

sujeitos a sigilo profissional e que lidam diariamente com informação respeitante

aos dados pessoais e de saúde de centenas de clientes do Hospital dos

Lusíadas.”.

205. Resulta claro de tal comportamento que o prestador não acautelou

devidamente o direito daquela utente à confidencialidade da informação em saúde

contida no seu processo clínico, em especial no que se refere ao resultado

daquele concreto exame que lhe foi realizado pelo prestador de cuidados de

saúde.

206. Isto porque permitiu o acesso de outros seus profissionais, que não

profissionais de saúde, a resultados de exames;

207. Tal comportamento está efetivamente vedado por lei, conforme estabelecido no

n.º 5 do artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de Janeiro, ao estabelecer que que “o

processo clínico só pode ser consultado por médico incumbido da realização de

prestações de saúde a favor da pessoa a que respeita ou, sob a supervisão

daquele, por outro profissional de saúde obrigado a sigilo e na medida do

estritamente necessário à realização das mesmas, […]”;

208. Não se podendo aceitar a argumentação de que no caso concreto não se

verificou “(em sentido próprio) transmissão a terceiros de dados de saúde”, mas

apenas um mero envio de uma “[…] cópia de uma mensagem de correio eletrónico

41

dirigida à própria titular dos dados de saúde em causa, que tinha em anexo um

relatório respeitante a um determinado exame médico”;

209. Até porque, como é reconhecido pelo prestador, de acordo com a Lei “[…] o

acesso ao processo clínico está limitado: ao próprio titular da informação nele

contida, aos médicos do Hospital para prestação de cuidados de saúde

assistenciais e, sob supervisão destes, a outros profissionais de saúde obrigados a

sigilo e na medida do estritamente necessário à realização e gestão das

prestações de saúde.”.

210. Por outro lado, de acordo com a definição da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro,

o processo clínico é propriedade exclusiva do próprio utente, uma vez que contém

informação sobre o próprio que, ademais, se integra no conceito de intimidade da

vida privada;

211. Cabendo, no entanto, ao profissional médico que tenha assistido o utente, ou a

outro profissional (por exemplo, um enfermeiro) sob a supervisão daquele, o dever

de proceder à referida documentação ou registo da informação médica (e que

pode incluir dados sobre consultas, tratamentos, exames ou diagnósticos a que os

utentes foram sujeitos);

212. Não podendo a informação contida no processo clínico de um utente ser

utilizada para outro fim que não seja a prestação de cuidados de saúde à pessoa

ou para investigação quando admissível.

213. Neste sentido, importa realçar que o processo clínico deve ser “guardado” pelo

estabelecimento de saúde em causa em segredo, devendo os profissionais de

saúde ao seu serviço guardar sigilo sobre a informação nele contida;

214. Sendo que a Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, considera informação de saúde

“[…] como todo o tipo de informação directa e indirectamente ligada à saúde,

presente ou futura, de uma pessoa, quer se encontre com vida ou tenha falecido, e

a sua história clínica e familiar.” (artigo 2.º), a qual inclui “[…] os dados clínicos

registados, resultados de análises, e outros exames subsidiários, intervenções e

diagnósticos.” (sublinhado nosso);

215. Sendo o processo clínico definido, em tal diploma, como “qualquer registo,

informatizado ou não, que contenha informação de saúde sobre doentes ou seus

familiares” e que deve conter toda a informação médica disponível que diga

respeito à pessoa.

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216. Assim sendo, reitera-se não ser possível vislumbrar uma qualquer justificação

para que o relatório do referido exame tenha sido remetido por correio eletrónico

com conhecimento de outros funcionários do Hospital que não eram profissionais

de saúde, uma vez que para uma correta faturação daquele concreto exame, basta

que os funcionários do Back office e do departamento de faturação tenham

conhecimento apenas da sua realização, não necessitando de conhecer o

resultado do exame.

217. Tanto assim é, que o próprio legislador teve o cuidado de prever a necessidade

de determinadas informações deverem ser do conhecimento de funcionários, que

não sejam profissionais de saúde;

218. Quando estabeleceu no n.º 4 do artigo 4.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro,

que os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde “[…] deve[m] garantir

a separação entre a informação de saúde e genética e a restante informação

pessoal, designadamente através da definição de diversos níveis de acesso.”.

219. Importa realçar que quer dos factos resultantes da instrução do processo, quer

da pronúncia do HPP Lusíadas, SA ora em análise, quer ainda dos documentos

juntos a tal pronúncia, resulta clara a não adoção pelo prestador de procedimentos

específicos que garantam uma tal separação entre a informação de saúde e a

restante informação pessoal, designadamente através da definição de diversos

níveis de acesso, de forma a garantir que os funcionários e demais responsáveis

pela faturação dos cuidados prestados, possam ter acesso à informação

necessária a tal faturação.

220. No entanto, tal informação deve restringir-se, unicamente, ao conceito de

restante informação pessoal, onde se inclui, por exemplo, o nome, a morada, o

número da segurança social, o número de contribuinte, o número do bilhete de

identidade, o número de beneficiário de subsistema de saúde ou de seguro de

saúde e a identificação dos atos ou exames praticados ao utente.

221. Mas já não deve abranger a informação de saúde, a qual como visto supra é

definida na Lei “[…] como todo o tipo de informação directa e indirectamente ligada

à saúde, presente ou futura, de uma pessoa, quer se encontre com vida ou tenha

falecido, e a sua história clínica e familiar.”, a qual inclui “[…] os dados clínicos

registados, resultados de análises, e outros exames subsidiários, intervenções e

diagnósticos.” (sublinhado nosso);

222. Em face do exposto, resulta que o HPP Lusíadas, SA, ao adotar o

comportamento descrito pela utente, de divulgar os resultados de um exame […], a

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terceiros, sem o [seu] consentimento, ainda que apenas mediante o envio em

anexo a mensagem eletrónica de cópia de relatório de um exame, violou

efetivamente os direitos e interesses legítimos daquela concreta utente, onde se

integra entre outros o direito dos utentes “a ter rigorosamente respeitada a

confidencialidade sobre os dados pessoais revelados” – cfr. alínea d) do n.º 1 da

Base XIV da Lei de Bases da Saúde;

223. Sendo que a manutenção de um tal procedimento, que não foi assumido pelo

prestador como errado ou desadequado, tendo aliás considerado normal e não

consubstanciador de transmissão a terceiros de dados de saúde, é suscetível de

provocar uma violação dos direitos e interesses legítimos dos utentes,

designadamente, o direito à reserva da intimidade da vida privada, em especial,

quando considerado como direito a impedir o acesso de terceiros a informações

sobre a vida privada e familiar e como direito a que ninguém divulgue as

informações que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem.

224. Pelo que importa garantir que a informação em saúde relativa a determinado

utente (onde se inclui, por exemplo, dados clínicos registados, resultados de

análises, e outros exames subsidiários, intervenções e diagnósticos) não deva ser,

por qualquer meio, designadamente eletrónico, transmitida a terceiros, que não

profissionais de saúde ao serviço daquele concreto prestador;

225. Devendo ademais ser adotados pelo referido prestador, e para futuro, os

procedimentos adequados a garantir a confidencialidade da informação em saúde

contida nos processos clínicos dos seus utentes;

226. De forma a que apenas os profissionais de saúde ao seu serviço, e que tenham

tido, ou venham a ter no futuro, uma intervenção direta na realização de

prestações de saúde a um determinado utente, possam aceder à informação em

saúde contida no seu processo clínico.

227. Em face de todo o exposto, a ERS mantém in totum o seu entendimento já

constante do Projeto de Deliberação notificado.

V. DECISÃO

228. O Conselho Diretivo da ERS delibera, assim, nos termos e para os efeitos do

preceituado no n.º 1 do artigo 41.º e alínea b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º

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127/2009, de 27 de maio, emitir uma instrução ao HPP Lusíadas, SA, nos

seguintes termos:

(i) O HPP Lusíadas, SA deve garantir que a informação em saúde relativa

a determinado utente (onde se inclui, por exemplo, dados clínicos

registados, resultados de análises, e outros exames subsidiários,

intervenções e diagnósticos) não deva ser por qualquer meio,

designadamente eletrónico, transmitida a terceiros, que não

profissionais de saúde ao seu serviço;

(ii) O HPP Lusíadas, SA deve adotar os procedimentos necessários, e que

se mostrem adequados a garantir a confidencialidade da informação em

saúde contida nos processos clínicos dos seus utentes, de forma a que

apenas os profissionais de saúde ao seu serviço, e que tenham tido, ou

venham a ter no futuro, uma intervenção direta na realização de

prestações de saúde a um determinado utente, possam aceder à

informação em saúde contida no seu processo clínico;

(iii) O HPP Lusíadas, SA deve adotar os procedimentos adequados a

garantir a separação entre a informação de saúde e a restante

informação pessoal, designadamente através da definição de diversos

níveis de acesso, de forma a garantir que os funcionários e demais

responsáveis pela faturação dos cuidados prestados, possam ter

acesso à informação necessária a tal faturação, a qual se deve

restringir, unicamente, ao conceito de restante informação pessoal,

onde se inclui, por exemplo, o nome, a morada, o número da segurança

social, o número de contribuinte, o número do bilhete de identidade, o

número de beneficiário de subsistema de saúde ou de seguro de saúde

e a identificação dos atos ou exames praticados ao utente;

(iv) O HPP Lusíadas, SA deve dar cumprimento imediato à presente

instrução, bem como dar conhecimento à ERS, no prazo máximo de 30

dias após a notificação da presente deliberação, dos procedimentos

adotados para o efeito.

229. Mais delibera o Conselho Diretivo da ERS, nos termos e para os efeitos do

preceituado no n.º 1 do artigo 41.º e alínea b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º

127/2009, de 27 de maio, advertir o HPP Lusíadas, SA da necessidade de ser

garantida de forma permanente a prestação de informação verdadeira, completa,

inteligível e transparente sobre todos os aspetos relacionados com a prestação de

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cuidados de saúde, designadamente no que se refere às convenções por si

detidas, e em especial à existência de eventuais restrições, como sejam actos ou

exames não abrangidos pelas mesmas.

230. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio oficial

da Entidade Reguladora da Saúde na Internet.

Porto, 3 de abril de 2013.

O Conselho Diretivo.