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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/048/2015; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. Em 8 de maio de 2015, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento de uma exposição subscrita pelo utente J., visando a atuação do Hospital de Santarém, E.P.E. (HDS) e do Hospital CUF Cascais, S.A. (HCC), estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde inscritos no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS, sob os números 12297 e 13824 respetivamente, versando sobre questões atinentes ao agendamento e realização de cirurgia no âmbito do programa SIGIC. 2. Para uma análise preliminar da reclamação supra referida, foi aberto o processo de avaliação n.º AV/097/2015.

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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de

supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades

económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo

5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/048/2015;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. Em 8 de maio de 2015, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou

conhecimento de uma exposição subscrita pelo utente J., visando a atuação do

Hospital de Santarém, E.P.E. (HDS) e do Hospital CUF Cascais, S.A. (HCC),

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde inscritos no Sistema de

Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS, sob os números 12297

e 13824 respetivamente, versando sobre questões atinentes ao agendamento e

realização de cirurgia no âmbito do programa SIGIC.

2. Para uma análise preliminar da reclamação supra referida, foi aberto o processo

de avaliação n.º AV/097/2015.

3. No entanto, face à necessidade de uma averiguação mais pormenorizada do caso,

ao abrigo das atribuições e competências da ERS, o Conselho de Administração

deliberou, por despacho de 2 de setembro de 2015, a abertura de processo de

inquérito registado sob o n.º ERS/048/2015.

I.2. Diligências

4. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as

diligências consubstanciadas em:

(i) Pesquisa no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados

(SRER) da ERS relativa ao registo do Hospital de Santarém, E.P.E. e

do Hospital CUF Cascais, S.A.;

(ii) Pedido de informação enviado ao Hospital de Santarém, E.P.E., por

ofício de 11 de junho de 2015, e análise da resposta endereçada à

ERS em 19 de junho de 2015;

(iii) Pedido de informação enviado ao Hospital CUF Cascais, S.A., por

ofício de 11 de junho de 2015, e análise da resposta endereçada à

ERS em 03 de julho de 2015;

(iv) Comunicação de abertura de Processo de Inquérito, remetida ao

Hospital de Santarém, E.P.E., Hospital CUF Cascais, S.A. e ao

exponente por ofício de 2 de outubro de 2015 e análise das respostas

rececionadas na sequência da referida comunicação, a 3 de novembro

de 2015, 6 e 26 de outubro e 15 de outubro de 2015, respetivamente.

(v) Pedido de informação enviado à Unidade Regional de Inscritos para

Cirurgia de Lisboa e Vale do Tejo (URGIC LVT), por ofício de 02 de

outubro de 2015, e análise da resposta endereçada à ERS em 25 de

outubro de 2015.

II. DOS FACTOS

II.1. Do teor da reclamação apresentada na ERS

5. A exposição rececionada pela ERS dava conta dos vários constrangimentos

verificados na gestão do processo do utente J. quer pelo Hospital de Santarém,

E.P.E., quer pelo Hospital Cuf Cascais, S.A., no âmbito do acesso a uma cirurgia

para correção de patologia de litíase biliar.

6. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente:

“ […]

(i) Por indicação do Hospital de Santarém, foi-me dado um vale de cirurgia

“SIGIC” para ser operado a litíase biliar […];

(ii) Das hipóteses mencionadas no mesmo, escolhi o Hospital da CUF.

(iii) No dia 6 de Fevereiro fui a uma primeira consulta no referido hospital […],

onde me foi pedido vários exames, alguns dos quais feitos nesse dia e

nesse hospital. Nessa mesma consulta foi marcada a consulta de

anestesia para o dia 24 do mesmo mês […] e a operação para o dia 7 de

Março. Foi-me também dito […] que, devido ao meu historial clinico, a

operação talvez não pudesse ser feita pelo processo mais simples e

actual, mas pelo processo antigo o que seria mais caro.

(iv) Por este alerta fui ao SIGIC em Santarém pedir este esclarecimento onde

me disseram para não estar preocupado, pois era um procedimento

normal e se o valor fosse insuficiente o hospital só tinha de comunicar ao

SIGIC que procederia às devidas alterações. Seria um problema a resolver

entre as duas entidades.

(v) No dia 7 de Março às 8 Horas estava no Hospital para a operação. Fui

atendido, entrei para a sala de preparação, fui entubado e penso que

medicado para a operação. Enquanto estava a aguardar para entrar no

bloco operatório, assisti a uma acesa discussão entre o médico e a

anestesista, (não a que me consultou no dia 24 de Fevereiro). Era evidente

a discordância entre os dois médicos. Depois dessa discussão vieram os

dois ter comigo, dizendo que os exames pedidos […] eram insuficientes,

uma vez que se tratava de um doente de risco e que não podia concordar

em avançar para a operação sem os exames complementares. Muitas,

muitas desculpas mas tinham de me mandar embora, para completar os

exames em falta.

(vi) Perguntei que exames eram, o [médico] disse que ia de férias e que

quando voltasse comunicava comigo para me passar os exames em falta.

Esperei…. Esperei e há duas semanas, quase dois meses depois, liguei

para o Hospital para saber o porquê de tanto silêncio. Tomaram nota do

meu pedido e disseram-me que iam entrar em contacto com o médico para

saber o que se passava. Como nada me diziam, liguei de novo, desta vez,

directamente para o médico que depois de algumas tentativas, me atendeu

e para meu espanto, disse-me, que aquela operação se previa ser

complicada e que o vale que o SIGIC enviara era insuficiente, por isso não

podia fazer lá a operação.

(vii) O que me faz pensar que a discussão entre os dois médicos, nada tinha a

ver com a falta de exames, mas sim com o custo da operação, sendo

portanto um mau negócio para o hospital. Não houve o cuidado de me

informar e se não tivesse a iniciativa de ligar e de insistir, continuava a

aguardar que me enviassem o pedido de mais exames […].

(viii) Continuo à espera da operação. Fiz 4 idas e volta de Santarém para

Cascais (800 Km), mais portagens, quem me vai pagar tudo isto? Os

exames que fiz, vão certamente ser pagos e não vão servir para nada?

[…].”

II.2. A resposta do Hospital de Santarém, E.P.E.

7. Com o objetivo de investigar a situação denunciada, através de ofício datado de 11

de junho de 2015, a ERS dirigiu um pedido de elementos ao Hospital de Santarém,

E.P.E., solicitando que:

“[…]

1. Pronunciem-se, de forma fundamentada, sobre o teor da reclamação que se

junta;

2. Descrição pormenorizada das etapas percorridas pelo utente, com indicação

das datas (i) das consultas de especialidade realizadas, (ii) da decisão clínica

de procedimento cirúrgico, (iii) da inscrição do utente em LIC, (iv) da emissão

de vale cirurgia (v) dos procedimentos atinentes ao processo de transferência

do utente, acompanhado dos respetivos elementos documentais de suporte,

designadamente da proposta cirúrgica e do vale cirurgia emitido;

3. Indicação da situação atual da inscrição do utente em LIC, incluindo

indicação da data de efetivação da cirurgia, caso a mesma já tenha ocorrido;

4. Indicação da troca de comunicações com o Hospital Cuf Cascais relativas à

recusa do vale cirurgia emitido, acompanhadas do respetivo suporte

documental;

5. Confirmação sobre se o utente terá sido informado das alternativas

existentes no SNS para acompanhamento da sua situação clínica e, no caso

afirmativo, indicação dos meios de comunicação utilizados para esse fim e das

respetivas datas, bem como identificação dos profissionais de saúde

envolvidos.”.

8. Nessa sequência veio aquele prestador, por ofício rececionado a 19 de junho de

2015, esclarecer que:

“[…]

(i) Em nossa análise, o utente reclama do Hospital convencionado que

selecionou através do Vale de Cirurgia emitido para a sua intervenção

cirúrgica - Hospital da CUF Cascais, entidade onde terá ocorrido o

incidente relatado pelo utente na sua exposição […];

(ii) O utente foi inscrito em Lista de Espera para Cirurgia (LIC), com prioridade

normal, em 19-05-2014, na consulta de Cirurgia Geral […] Posteriormente,

realizou os exames pré-operatórios em 03-06-2014 (Rx Torax, ECG

Simples e Análises Clínicas). Em 08-09-2014, realizou consulta de

Anestesia […];

(iii) Em 21-12-2014, foi transferido através de emissão de Vale de Cirurgia

com o número […], documento que o utente cativou, tendo optado pelo

Hospital Convencionado CUF Cascais […];

(iv) Em 04-05-2015, o utente deslocou-se à Unidade Hospitalar de Gestão de

Inscritos para Cirurgia (UHGIC) para obter informações sobre o ponto de

situação da sua cirurgia. Foi nesta data que o utente entregou na UHGIC

do HDS EPE cópia da reclamação enviada para o Hospital Convencionado

CUF Cascais […];

(v) Após consulta ao SIGLIC e à integração realizada na aplicação informática

SONHO, constatou-se que a cirurgia do utente, apesar de não ter sido

realizada, se encontrava registada;

(vi) De imediato foi registada uma comunicação na rede […] para a ARSLVT

onde se solicitou o cancelamento da cirurgia registada, de forma a dar

continuidade do processo do utente no HDS EPE;

(vii) No seguimento desta comunicação na rede e não tendo havido resposta

imediata, foi enviado email em 06-05-2015 para a Coordenadora da

Unidade Regional de Inscritos para Cirurgia da Administração Regional de

Saúde […] com conhecimento para a ACSS (Unidade Central de Gestão

de Inscritos para Cirurgia - UCGIC).

(viii) Após várias consultas à aplicação informática SIGLIC, verificou-se que

o Hospital Convencionado CUF Cascais devolveu o processo do utente em

20-05-2015, pelo que a partir de 21-05-2015 foi possível retomar o

processo do utente […];

(ix) Desta forma, foi contactada a médica responsável pelo utente […], que

autorizou o agendamento de nova consulta. Posteriormente, contactou-se

telefonicamente o utente a fim de saber qual a data possível para o

agendamento da referida consulta. O utente referiu que a primeira

quinzena de Julho seria oportuna. Assim, inicialmente a consulta ficou

agendada para 06-07-2015, às 11h30, contudo, em 15-06-2015 a pedido

da médica a referida consulta foi remarcada para o dia 07-07-2015, às

11h30, pelo facto de ter sido escalada para assegurar a urgência no dia

06-07-2015 […];

(x) Em 26-05-2015, foi elaborado e enviado ofício dirigido ao utente com

informação relativa às diligências efetuadas pelo HDS EPE junto da ARS e

ACSS […];

(xi) Informamos que, no que diz respeito ao HDS EPE foram efetuados todos

os esforços no sentido prestar toda a informação importante e necessária

ao utente, assim como de encaminhar a reclamação para a URGIC e

UCGIC, no sentido de esclarecer o ocorrido junto das entidades que têm a

competência de acompanhar os contratos com as entidades

convencionadas e monitorizar e controlar os processos de transferência

dos utentes.”.

9. De referir ainda, que na sequência da supra mencionada comunicação de abertura

do presente processo de inquérito, veio o HDS, por comunicação eletrónica de 3

de novembro de 2015, remeter aos autos documentos referentes “[…] à

situação/prestação de cuidados ao Utente”, da qual se infere que a cirurgia para a

qual o utente havia sido proposto, com prioridade normal, a 19 de maio de2014,

veio a ocorrer no HDS a 15 de outubro de 2015, conforme Nota de Alta junta aos

autos e cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido.

II.3 A resposta do Hospital Cuf Cascais, S.A.

10. Igualmente, com o objetivo de investigar a situação denunciada, através de ofício

datado de 11 de junho de 2015, a ERS dirigiu um pedido de elementos ao Hospital

Cuf Cascais, solicitando que:

“[…]

1. Pronunciem-se, de forma fundamentada, sobre o teor da reclamação que se

junta;

2. Confirmação da situação de entidade protocolada com o SNS, da Clínica

Cuf Cascais, no âmbito do SIGIC, com indicação das especialidades clínicas

contratadas e envio de cópia dos elementos documentais que confirmam essa

mesma qualidade;

3. Descrição pormenorizada das etapas percorridas pelo utente, com indicação

das datas (i) da cativação do “vale cirurgia”, (ii) da transferência, (iii) da(s)

consulta(s) de avaliação da proposta cirúrgica (iv) de internamento;

4. Indicação da situação atual do utente em LIC, incluindo indicação da data

de efetivação da cirurgia, caso a mesma já tenha ocorrido;

5. Indicação dos fundamentos existentes para o cancelamento/ recusa do vale

cirurgia em causa, incluindo os esclarecimentos prestados ao utente, bem

como indicação de reporte ao Hospital de Santarém, à URGIC territorialmente

competente e/ou à UCGIC, da impossibilidade de realização da cirurgia

proposta, acompanhado do suporte documental de todas as comunicações

existentes;

6. Confirmação sobre se o utente terá sido informado das alternativas

existentes no SNS para acompanhamento da sua situação clínica e, no caso

afirmativo, indicação dos meios de comunicação utilizados para esse fim e das

respetivas datas, bem como identificação dos profissionais de saúde

envolvidos.”

11. Assim, veio aquele prestador, por ofício rececionado a 03 de julho de 2015,

remeter cópia de carta enviada ao utente esclarecendo que:

“[…]

(i) Consideramos que a origem da reclamação apresentada, resulta de

uma falha de comunicação entre equipas do HCC, que gerou uma

expectativa errada ao Senhor J., facto que lamentamos;

(ii) Dos factos verificados […] esclarecemos:

a) O Senhor J. foi integrado na lista de cirurgias do HCC no âmbito do

programa SIGIC, após cativação de um Vale de Cirurgia no dia 21 de

Janeiro de 2015;

b) A proposta cirúrgica indicava que o procedimento a ocorrer seria o de

Colecistectomia por Via Laparoscópica;

c) Após cativação do referido Vale de Cirurgia, o Senhor J. veio à

consulta de avaliação no dia 6 de Fevereiro de 2015 […] e à Consulta

de anestesia […] no dia 24 de Fevereiro de 2015;

d) Seguidamente [foi] admitido para cirurgia no dia 7 de Março de 2015;

e) Após reavaliação anestésica por parte da Dra. C., a equipa cirúrgica

ponderou a não realização de cirurgia pelo risco anestésico e co-

morbilidades [do utente] o qual necessita no pós-operatório de uma

Unidade de Cuidados Intensivos, Unidade que o HCC não dispõe;

f) O Senhor J. teve de facto indicação para realizar novos exames, no

entanto, na semana seguinte, a Coordenadora de anestesia, Dra. D.

analisou o caso com o Dr. J.J. e reforçou que não seria exequível a

realização do procedimento cirúrgico a este doente no HCC pelos

motivos apontados na al. anterior;

g) Confirmamos que o Dr. J.J. ausentou-se de férias durante duas

semanas, sendo que infelizmente existiu uma falha de comunicação

entre o cirurgião e o secretariado clínico que originou a omissão de

informação dada a V. […];

(iii) Lamentando o sucedido e o transtorno causado a V. Exa. estamos

disponíveis proceder ao ressarcimento de todas as despesas de

deslocação incorridas em todo este processo, pelo que solicitamos para

esse efeito os correspondentes comprovativos. [...].”

12. De referir que também o HCC veio aos autos, na sequência da comunicação de

abertura do presente processo de inquérito, informar que “[…] procedemos ao

ressarcimento de todas as despesa de deslocação incorridas em todo o processo,

após o envio dos respetivos comprovativos pelo [utente]”, conforme ofício

rececionado pela ERS a 26 de outubro de 2015, cujo teor se dá por integralmente

reproduzido.

II.4 A resposta da URGIC, LVT

13. Subsequentemente, à luz competências atribuídas às URGIC, de “[…] Monitorizar,

avaliar e controlar a evolução de inscritos para cirurgia nas unidades hospitalares”

– cfr. § 50.º e § 52.º do Regulamento do SIGIC – por ofício de 02 de outubro de

2015 - foi solicitado à URGIC LVT:

“[…]

1. Pronunciem-se, de forma fundamentada, sobre o teor da reclamação que se

junto se anexa, identificando a situação atual do utente, concretamente, se o

mesmo já foi intervencionado, em que data e em que instituição hospitalar;

2. Indicação sobre se a situação relatada era já do conhecimento de V. Exas., e

informação quanto às eventuais conclusões alcançadas no âmbito de

eventuais diligências de averiguação desenvolvidas;

3. Indicação de todas as comunicações trocadas com HO e HD sobre o processo

do utente em causa, acompanhado do respetivo suporte documental;

4. Indicação da existência de comunicação do HD a essa URGIC através do

SIGLIC da existência de situações clínicas que impediam a realização da

cirurgia, acompanhado do respetivo suporte documental;

5. Indicação dos procedimentos de controlo existentes para verificação da efetiva

realização dos procedimentos propostos pelo HD, após cativação do vale

cirurgia pelo HO e após registo da realização no SIGLIC;

6. Indicação dos procedimentos de controlo existentes para aferição do

cumprimento das etapas pós-cirúrgicas, por comparação com a data de

realização da cirurgia.”.

14. Tendo tal solicitação sido respondida por ofício rececionado pela ERS a 25 de

outubro de 2015, e do qual cumpre destacar:

“[…]

1. O utente Sr. J. foi inscrito para o procedimento cirúrgico "Colecistectomia" em

19/05/2014 pelo Hospital Distrital de Santarém, E.P.E. (HDS, EPE), com nível

de prioridade clínica normal, considerando que o tempo máximo de resposta

garantido (TMRG) é de 270 dias, de acordo com as regras do Sistema

Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), quando tiver ocorrido

cerca dos 75% (quando o hospital não regista o agendamento até ao

momento) ou 100% (quando o hospital não regista o agendamento ou apesar

de ter o utente agendado não o opera até ao TMRG) desse período, é emitido

Vale-Cirurgia com identificação da(s) entidade(s) convencionada(s) que

disponibiliza(m) o procedimento cirúrgico para o qual o utente foi proposto.

Da análise efetuada à aplicação informática de suporte ao SIGIC (informação

dos estados do episódio em anexo), verifica-se que o Vale-Cirurgia foi emitido

na data 31/12/2014 de acordo com o tempo regulamentado, no qual foi

proposto a seleção das unidades hospitalares: Hospital da Ordem Terceira de

S. Francisco da Cidade; Hospital de Jesus - Venerável Ordem Terceira da

Penitencia de São Francisco a Jesus; Hospital de S. Louis; Hospital Soerad;

Associação de Socorros Mútuos de Empregados no Comércio de Lisboa e

Clínica CUF Cascais.

Das unidades hospitalares referidas no Vale-Cirurgia, o utente registou o Vale-

Cirurgia na entidade Clínica CUF Cascais em 21/01/2015.

Após cativação do Vale-Cirurgia em hospital de destino (unidade hospitalar

convencionada no âmbito do SIGIC que recebe o doente por via de Vale-

Cirurgia), este passa a ter acesso a quaisquer dados clínicos, nomeadamente

aos dados da proposta cirúrgica e ao processo clínico enviado pelo hospital de

origem (unidade hospitalar do SNS onde é efetuado o registo do utente para

inscrição em cirurgia) e convoca o utente transferido para avaliar a proposta

cirúrgica (consulta de avaliação) e desencadear os mecanismos necessários à

realização da cirurgia.

Nesta prossecução o hospital de destino pode solicitar à Unidade Regional de

Gestão de Inscritos para Cirurgia (URGIC) a devolução do episódio ao hospital

de origem por impossibilidade de realização da cirurgia por motivos clínicos ou

administrativos. Caso o hospital de destino detete que existem situações

clínicas que impedem a realização da cirurgia, solicita a devolução do episódio

à URGIC, sendo que o pedido de devolução deve ser acompanhado de um

relatório médico que detalhe e justifique o motivo da devolução, de autoria do

responsável clinico. Posteriormente o episódio é devolvido ao hospital de

origem, que analisa a situação do utente.

A 14/05/2015 a Clínica CUF Cascais solicitou a devolução do episódio à

URGIC com o motivo "Incapacidade técnica para realizar a cirurgia",

acompanhando pelo relatório médico elaborado pelo responsável clínico com a

indicação "O Doente foi "chumbado" no bloco operatório de comum acordo

pelo Cirurgião e Anestesista responsável, dado que as co morbilidades do

doente prevêem um risco acrescido na cirurgia necessária e o Hospital CUF

Cascais não tem UCIP", pelo que o pedido foi aceite e devolvido em

21/05/2015 ao hospital de origem para avaliação da situação clínica do utente.

Neste contexto e na medida em que o utente Sr. J. continuou em lista de

espera para cirurgia no Hospital Distrital de Santarém, E.P.E, foi emitido novo

Vale-Cirurgia a 30/06/2015, que o utente recusou por optar permanecer no

hospital de origem a aguardar pela sua cirurgia, pelo motivo "Não, quero mudar

de médico/hospital" (documento de justificação de recusa do Vale-Cirurgia em

anexo). Em 15/10/2015 o utente foi intervencionado no Hospital Distrital de

Santarém, EPE.

2. A situação era do conhecimento da ARS pese embora não tivesse sido

apresentada diretamente pelo utente qualquer reclamação.

Com efeito, a URGIC teve conhecimento pela Unidade Hospitalar de Gestão de

Inscritos para Cirurgia (UHGIC) do Hospital Distrital de Santarém, EPE (HDS,

EPE), em 06/05/2015, via correio eletrónico, da reclamação apresentada pelo

utente com destino à Clínica CUF Cascais e com conhecimento à UHGIC

(documento em anexo), no qual o HDS, EPE informou:

• "O utente refere não ter sido operado no hospital de destino";

• "Desconhecemos qual a razão da não realização da intervenção cirúrgica [...]

informamos que a mesma se encontra registada no SIGLIC [...]".

Face ao exposto, em 07/05/2015 a URGIC solicitou esclarecimentos à Clinica

CUF Cascais sobre o sucedido, via correio eletrónico (documento em anexo),

bem como o envio de toda a documentação inerente ao processo clínico do

episódio. Foi-nos comunicado pela Clínica CUF Cascais em 08/05/2015 que

"De facto a cirurgia não se realizou, conforme o utente explica. Como o mesmo

foi admitido para a cirurgia e não foi dada a indicação pela Equipa cirúrgica dos

constrangimentos existente o programa informático assumiu que a cirurgia

tinha sido realizada e daí a mesma ter sido concluída".

Contudo, na sequência dos esclarecimentos prestados pela Clinica CUF

Cascais, os quais considerados insuficientes, em 11/05/2015 a URGIC reiterou

a necessidade de envio de toda a documentação inerente ao processo clínico e

informação sobre quais os procedimentos implementados pelo Hospital CUF

Cascais, no sentido de assegurar a continuidade dos tratamentos necessários

para um acompanhamento adequado à situação clínica do utente.

Em 14/05/2015 a Clinica CUF Cascais informou que:

• "O Utente efetuou consulta pré-operatória, tendo sido realizados todos os

exames pré-operatórios";

• "O Utente fez admissão para o BOC";

• "Na altura da admissão, e após conversa com o utente e equipa cirúrgica, o

cirurgião principal optou por não operar o utente por considerar que a clínica

CUF Cascais não tem condições para o risco do utente (ausência de UCIP),

conforme documento em anexo";

• "A partir deste momento existiu um erro de registo administrativo, onde se

registou a cirurgia como realizada por objetiva falha de comunicação entre os

vários intervenientes";

• "Este registo despoleta imediatamente um aviso à nossa administrativa

responsável pelo SIGIC, que por sua vez regista em SIGLIC todo o processo";

• "Na altura da faturação, e por coincidência na mesma altura da reclamação

do utente, deparámo-nos com a ausência de débitos e outros documentos

clínicos, tendo imediatamente dado origem a "desconcluir" o episódio (algo que

não fizemos até data recente por falta de resposta do helpdesk do SIGIC)";

• "Inclusivamente pelas razões invocadas no ponto anterior, nunca efetuámos

qualquer faturação";

• A Clinica CUF Cascais mais informou e deu conhecimento à URGIC do

pedido de devolução do episódio:

• "O episódio será devolvido conforme documento em anexo, por falta de

condições clínicas da clínica CUF Cascais para o risco do utente em questão";

• "[...] um acontecimento excecional onde aconteceram uma sucessão de erros

improváveis, e iremos reforçar os controlos e comunicação com as equipas

para que este episódio não torne a acontecer".

3. Identificámos em SIGLIC que foi efetuada comunicação na rede a 04/02/2015

associada ao processo SIGIC n.º […], na qual a Clínica CUF Cascais (HD)

solicitou ao HDS, EPE (HO) a reformulação da proposta, conforme documento

em anexo.

4. Não identificámos em SIGLIC qualquer comunicação na rede associada ao

Processo SIGIC n.s […] do HD com destino a esta URGIC.

5. Relativamente aos procedimentos de controlo existentes para verificação da

efetiva realização dos procedimentos propostos pelo HD, após cativação do

Vale-Cirurgia e após registo da realização no SIGLIC, importa referir que após

tratamento cirúrgico no HD, o HO deve, após a alta e o período normal de

recuperação, atendendo à patologia e procedimento, convocar o utente para

prosseguir com os tratamentos ou consultas posteriores necessárias. Assim,

cumpre ao HO convocar o utente para uma consulta de revisão destinada a

avaliar o utente, concluir sobre a prestação no HD e verificar se há

necessidade de outras ações.

De salientar que a transferência pela emissão e cativação de Vale-Cirurgia,

implica apenas a transferência da prestação dos procedimentos cirúrgicos

relativos ao(s) problema(s) identificado(s) e às eventuais intercorrências da

responsabilidade da instituição hospitalar ou complicações identificadas até

sessenta dias após a alta hospitalar. Após a cirurgia, os restantes tratamentos

complementares, quando necessários, a avaliação dos serviços prestados no

HD, e a fase da catamnese são da responsabilidade do hospital de origem que

inscreveu o utente em LIC.

Neste sentido, todos os episódios que apresentem cirurgia registada, cujos

episódios tenham sido concluídos em HD, necessitam de ser igualmente

concluídos no HO, que decorre da necessidade do HO realizar as validações

mencionadas anteriormente (avaliar o utente, concluir sobre a prestação no HD

e verificar a necessidade de outras ações).

A fase de conclusão do episódio, para os hospitais de destino, termina após a

confirmação do pagamento do valor faturado do episódio, sendo a faturação

realizada através da aplicação informática SIGLIC.

As entidades prestadoras de cuidados de saúde convencionadas faturam à

ARS do hospital de origem, que por sua vez fatura ao hospital de origem.

Aquando da validação por parte da ARS das faturas emitidas pelas entidades

convencionadas é realizado o cruzamento entre o que foi proposto pelo

hospital de origem e o que foi realizado pelo hospital de destino. Em termos

práticos, visto que a responsabilidade financeira das intervenções cirúrgicas

realizadas em entidades convencionadas SIGIC é dos hospitais de origem, são

estas últimos quem avalia a conformidade das cirurgias realizadas por

entidades convencionadas […].”

II.5 A resposta do Utente

15. Na sequência da comunicação ao utente da abertura dos presentes autos, veio o

mesmo por ofício rececionado pela ERS a 15 de outubro de 20151, alegando que

“[…] a minha situação se mantém […].”.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

16. De acordo com o n.º 1 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS, esta tem por missão

“[…] a regulação da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde.

17. Ainda, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 5.º dos seus Estatutos, as

atribuições da ERS compreendem “[…] a supervisão da atividade e funcionamento

dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que respeita:

[…] b) À garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à

prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais

direitos dos utentes;

c) À legalidade e transparência das relações económicas entre os diversos

operadores, entidades financiadoras e utentes.”.

1 De referir que, não obstante a comunicação do utente tenha sido rececionada pela ERS a 15

de outubro de 2015, a mesma data de 8 de outubro de 2015, daí que a informação prestada se possa compaginar com a posteriormente prestada quer pelo HDS, quer pela URGIC LVT, dando conta que a cirurgia em causa ocorreu a 15 de outubro de 2015.

18. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º

dos seus Estatutos “[...] todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde, do setor público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua

natureza jurídica, nomeadamente hospitais, clínicas, centros de saúde,

consultórios, laboratórios de análises clinicas, equipamentos ou unidades de

telemedicina, unidades móveis de saúde e termas.”.

19. O que é o caso quer do Hospital de Santarém, E.P.E., quer do Hospital CUF

Cascais, S.A., ambos inscritos no SRER da ERS sob os números 12297 e 13824,

respetivamente.

20. No que se refere ao objetivo regulatório previsto na alínea b) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, de assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos

cuidados de saúde, a alínea a) do artigo 12.º do mesmo diploma legislativo

estabelece ser incumbência da ERS “ assegurar o direito de acesso universal e

equitativo à prestação de cuidados de saúde nos serviços e estabelecimentos do

Serviço Nacional de Saúde (SNS), nos estabelecimentos publicamente

financiados, bem como nos estabelecimentos contratados para a prestação de

cuidados no âmbito de sistemas ou subsistemas públicos de saúde ou

equiparados, acrescentando a alínea b) do mesmo artigo o dever de “prevenir e

punir as práticas de rejeição e discriminação infundadas de utentes nos serviços e

estabelecimentos do SNS, nos estabelecimentos publicamente financiados, bem

como nos estabelecimentos contratados para a prestação de cuidados no âmbito

de sistemas ou subsistemas públicos de saúde ou equiparados”.

21. Podendo fazê-lo mediante o exercício dos seus poderes de supervisão

consubstanciado no dever de “zelar pela aplicação das leis e regulamentos e

demais normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação, no âmbito das

suas atribuições”, bem como na emissão de ordens e instruções, bem como

recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre

quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora,

incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção das providências

necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos utentes – cfr. al. a)

e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS.

22. E, no que concretamente respeita à obrigação de assegurar o cumprimento dos

critérios de acesso aos cuidados de saúde, se é certo que a violação do direito de

acesso, como direito complexo, pode surgir sob diferentes formas, ou ser originada

por diferentes causas, é igualmente certo que uma das suas violações mais

gravosas e últimas se consubstancia na rejeição infundada de pacientes.

23. É também competência da ERS, prevenir e punir as práticas de rejeição e

discriminação infundadas de utentes nos serviços e estabelecimentos do SNS, nos

estabelecimentos publicamente financiados, bem como nos estabelecimentos

contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas ou subsistemas

públicos de saúde ou equiparados (cfr. alínea b) do artigo 12.º dos Estatutos da

ERS).

24. Sendo estabelecido na alínea b) do n.º 2 do artigo 61.º dos Estatutos da ERS, que

“Constitui contraordenação, punível com coima de 1000 EUR a 3740,98 EUR ou

de 1500 EUR a 44 891,81 EUR, consoante o infrator seja pessoa singular ou

coletiva:

[…]

b) A violação das regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde:

i) A violação da igualdade e universalidade no acesso ao SNS, prevista

na alínea a) do artigo 12.º;

ii) A violação de regras estabelecidas em lei ou regulamentação e que

visem garantir e conformar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde, bem

como práticas de rejeição ou discriminação infundadas, em estabelecimentos

públicos, publicamente financiados, ou contratados para a prestação de

cuidados no âmbito de sistemas e subsistemas públicos de saúde ou

equiparados, nos termos do disposto nas alíneas a) e b) do artigo 12.º”.

25. Já quanto ao objetivo regulatório de zelar pela prestação de cuidados de saúde de

qualidade, previsto na alínea d) do artigo 10.º, incumbe à ERS, entre outras, a

garantia do direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde qualidade,

conforme estatuído na alínea c) do artigo 14.º dos Estatutos da ERS.

III.2 Das regras do SIGIC

26. Conforme descrito na Portaria n.º 45/2008, de 15 de janeiro2 que aprovou o

Regulamento do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), é

este último um sistema de regulação da atividade relativa “[…] a utentes propostos

para cirurgia e a utentes operados, assente em princípios de equidade no acesso

2 Alterada por via da publicação da Portaria n.º 179/2014, de 11 de setembro.

ao tratamento cirúrgico, transparência dos processos de gestão e

responsabilização dos utentes e dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde

(SNS) e dos estabelecimentos de saúde que contratam e convencionam com

aquele a prestação de cuidados de saúde aos seus beneficiários.”; e

27. São elegíveis para efeitos de inscrição na lista de inscritos para cirurgia (LIC) “[…]

todos os utentes dos hospitais do SNS e os utentes beneficiários deste Serviço

referenciados para os estabelecimentos de saúde do sector privado e do sector

social, ao abrigo dos contratos e convenções celebrados.”.

28. Sendo que toda a programação cirúrgica é registada no SIGLIC e deve obedecer

aos critérios:

(i) da prioridade clínica estabelecida pelo médico especialista, em função da

doença e problemas associados, patologia de base, gravidade, impacto na

esperança de vida, na autonomia e na qualidade de vida do utente,

velocidade de progressão da doença e tempo de exposição à doença; bem

como

(ii) da antiguidade na LIC, sendo, em caso de igual prioridade clínica,

selecionado em primeiro lugar o utente que se encontra inscrito na lista há

mais tempo – cfr. § 73. do Regulamento.

29. Cumprindo a este propósito ressaltar que, cronologicamente, a inscrição dos

utentes em LIC é precedida da consulta da especialidade e da consequente

elaboração de um plano de cuidados, ou seja da elaboração de uma proposta de

abordagem de um ou mais problemas de saúde do utente, onde se inscrevem e

caracterizam os eventos necessários à sua resolução, ordenados de forma

cronológica, não havendo limitação ao registo na proposta quanto ao número de

diagnósticos descritos ou procedimentos a realizar, cfr. § 3.2.1.1. e 3.2.1.2.1 do

Manual de Gestão de Inscritos para Cirurgia (MGIC).

30. Concretamente, prevê o MGIC de forma taxativa as causas de exclusão de

inscrição de atos a realizar, como sendo os atos praticados fora do bloco

operatório (BO), por não cirurgiões ou pequenas cirurgias que não necessitem de

utilização do BO;

31. Elencando igualmente os elementos de menção obrigatória no preenchimento da

proposta de cirurgia, nos quais consta, entre outros a caracterização dos

problemas a abordar, incluindo patologias associadas, em termos de descrição,

codificação e respetiva lateralidade, e episódio antecedente se aplicável cfr. §

3.2.1.2.1 do MGIC.

32. Igualmente prévia à inscrição do utente em LIC, uma vez concluído o

preenchimento da proposta de cirurgia, é a recolha do consentimento informado do

utente, garantindo que o mesmo atesta a concordância com a proposta e respetiva

inscrição em LIC.

33. Por outro lado, “[…] todos os atos relacionados com a inscrição do utente em LIC,

desde a efetivação da primeira consulta em serviço hospitalar relacionada com a

proposta cirúrgica até à realização da intervenção cirúrgica e respetiva alta, são

registados no SIGLIC, de acordo com as regras previstas no MGIC”, devendo

qualquer registo na LIC respeitar os procedimentos ali considerados, mormente os

constantes dos § 58 a 75.

34. Pelo que, “[…] após a emissão de certificado de inscrição, dá-se lugar à ativação

da inscrição do utente na LIC do serviço/unidade funcional da instituição

hospitalar.” – cfr. § 3.2.1.2. do MGIC.

35. Ademais, aos utentes é reconhecido, nomeadamente, o direito de obter um

certificado comprovativo da sua inscrição e de obter informação a todo o tempo

junto da Unidade Hospitalar de Gestão de Inscritos para Cirurgia (UHGIC) do seu

hospital e a seu pedido, sobre os dados que lhe respeitem registados na LIC,

como seja o nível de prioridade que lhe foi atribuído e o seu posicionamento

relativo na prioridade atribuída – cfr. § 44. do Regulamento.

36. Assim, a UHGIC é o principal elo de ligação do utente com o hospital, e todos os

contactos com aquele e outros factos são registados no SI, competindo-lhe a

informação aos utentes ou seus representantes, sobre o estado da inscrição, o

teor dos deveres e direitos e qualquer outra sobre as diferentes fases do processo.

– cfr. § 3.3.3. e § 3.3.5. do MGIC que remetem para o Volume II – Área da gestão.

37. Compete ainda aos responsáveis pelas unidades ou serviços dos hospitais

envolvidos nos procedimentos cirúrgicos zelar pela atualização permanente da

lista de procedimentos cirúrgicos suscetíveis de serem realizados pelos seus

serviços, garantindo que a cada um está corretamente associado o código do

sistema de codificação em vigor e ainda, garantir a seleção dos utentes inscritos

em LIC para efeito de programação cirúrgica de acordo com os critérios de

antiguidade e prioridade estabelecidos no MGIC e neste Regulamento – cfr.

alíneas b) e c) do § 57 do Regulamento.

38. Pelo que, “[…] sempre que a instituição hospitalar de origem não consegue

garantir ou a realização da cirurgia ou o seu agendamento até 100% do TMRG, o

serviço/UF tenha perdido ou a capacidade técnica para realizar a cirurgia ou

apresente piores tempos de acesso do que outro que se lhe equipare e ainda por

conveniência justificada do utente, estão criadas as condições para se dar início à

etapa de transferência. Seja qual for o tipo de transferência, esta só pode ocorrer

com o acordo expresso do utente […]”. – cfr. § 3.2.1.4. do MGIC.

39. Concretamente, no que à transferência cirúrgica diz respeito, é “[…] operada pela

emissão e cativação de NT/VC [nota de transferência/vale cirurgia3], implica

apenas a transferência da prestação dos procedimentos cirúrgicos relativos ao(s)

problema(s) identificado(s) e às eventuais intercorrências da responsabilidade da

instituição hospitalar ou complicações identificadas até sessenta dias após a alta

hospitalar […] “- cfr. § 3.2.1.4. do MGIC.

40. Ainda, “[…] a transferência de utentes através da emissão de NT/VC para outras

unidades hospitalares integradas no SNS ou unidades convencionadas é

obrigatória sempre que o hospital de origem, com os seus recursos, não possa

garantir a realização da cirurgia dentro dos TMRG estabelecidos por prioridade

clínica, por patologia ou grupo de patologias, presumindo-se a falta de garantia

quando a cirurgia não for agendada até ao limite do prazo estabelecido para cada

nível de prioridade, a contar da data de inscrição na LIC. […]”,- cfr. § 3.2.1.4.1.1.

do MGIC.

41. Decorridos os prazos para agendamento da cirurgia, tal como previstos nos n.ºs 79

e 80 da Parte V do Regulamento4 sem que o agendamento no Hospital de Origem

tenha ocorrido, “[...] e não existindo HD do SNS disponível nos termos do [...]

Regulamento, a UCGIC emite de imediato um vale cirurgia a favor do utente.” – cfr.

n.º 108 da Parte V do Regulamento;

42. Competindo, com efeito, à Unidade Central de Gestão de Inscritos para Cirurgia

(UCGIC), nos termos da alínea l) do.º 49 da Parte IV do Regulamento do SIGIC

“[e]mitir e enviar vales cirurgia.”.

43. Efetivando-se essa mesma transferência mediante a emissão pela UCGIC de “[...]

nota de transferência a favor do utente, propondo-lhe a selecção de uma das

3 “[…] Quer a nota de transferência, quer o vale cirurgia, habilitam o utente a marcar a cirurgia

diretamente numa das entidades de destino […] a diferença reside no facto da primeira permitir

apenas a sua utilização no âmbito do SNS e a segunda poder ser utilizada quer nos hospitais

do SNS, quer nas instituições convencionadas do sector privado e social.” – cfr. § 3.2.1.4.1.7

do MGIC.

4 Nos termos dos n.ºs 79 e 80 da Parte V do Regulamento do SIGIC, o agendamento das

cirurgias deve ocorrer até ao limite de 50 % e 75 % do tempo de espera, respetivamente se os

utentes estiverem classificados com nível 2 e nível 1.

unidades hospitalares constante da listagem anexa de hospitais disponíveis” – cfr.

n.º 98 da Parte V do Regulamento .

44. Sendo que a emissão de vale cirurgia pela UCGIC pressupõe a aplicação de um

algoritmo automático que procura as instituições hospitalares do SNS com

capacidade para realizar o procedimento cirúrgico, indicando em primeiro lugar as

instituições do concelho de residência, seguido das instituições dos concelhos

limítrofes e por último do distrito.

45. No que tange à preparação dos episódios para transferência o HO “[…] é

responsável pela preparação do processo clínico do utente, para […] envio ao

hospital de destino selecionado […] para o que deve “[…] proceder de acordo com

as legis artis para que o processo clínico se encontre suficientemente completo e

actual, de modo a permitir documentar o médico”, cfr § 3.2.1.4.1.3. do MGIC.

46. Após a cativação do vale cirurgia o Hospital de Destino (HD) deve convocar o

utente transferido […] para avaliar a proposta cirúrgica e desencadear os

mecanismos necessários à realização da cirurgia […] o HD deve dispor dos

exames complementares necessários à caracterização cabal da patologia e órgãos

afetados, de forma a poder executar os procedimentos propostos […] o HD deve

proceder à avaliação da situação clínica actual do utente, realizando os meios

complementares inerentes á rotina pré-operatória […]”, cfr. § 3.2.1.4.2.3. do MGIC;

47. No âmbito da avaliação pré-operatória pelo HD prevê o MGIC que HD possa não

considerar os procedimentos propostos os mais indicados, podendo solicitar ao

HO ou à URGIC a sua alteração.

48. Concretamente, no § 3.2.1.4.2.3 do MGIC prevê-se que “[…] O HD pode entender

que os procedimentos para os quais o utente foi proposto já não são os mais

indicados ou que o utente necessita de outros procedimentos adicionais aos

propostos face à situação clínica actual” e que “[…] ao detectar a necessidade de

um ou mais procedimentos cirúrgicos que não constam na proposta de origem, o

HD deve avaliar se tem capacidade para realizar esses novos procedimentos […]

para o que […] deve pedir autorização ao HO através do SIGLIC para actualizar a

proposta cirúrgica, justificando detalhadamente o proposto.”

49. Ademais, “[…] a URGIC deve através do SIGLIC analisar e validar os pedidos de

devolução do HD e devolver o episódio ao HO, para que esta possa validar a

necessidade de atualização da proposta”, sendo que “[…] os procedimentos que

forem realizados sem autorização prévia do HO, URGIC ou UCGIC não podem ser

facturados, uma vez que correspondem a prestações que não foram solicitadas–

cfr. § 3.2.1.4.2.3 do MGIC.

50. Após realização da cirurgia, a qual deve obedecer ao programa Cirurgia Segura da

Direção Geral de Saúde, aquando do registo da alta de internamento, deve ser

fornecida nota de alta ao utente e médico assistente, a qual deve conter, entre

outros elementos, identificação das cirurgias realizadas.

51. Após o tratamento cirúrgico em HD, o HO deve […] convocar o utente para

prosseguir com os tratamentos ou consultas posteriores necessárias” e […] avaliar

o utente, concluir sobre a prestação no HD e verificar se há necessidade de outras

acções.”- cfr. § 3.2.1.4.2.3 do MGIC 3.2.3;

52. E, “[…] sempre que o HO identifique situações de negligência, má prática,

prestações insuficientes, procedimentos desnecessários, incongruências ou

insuficiências nos registos é obrigado a registar as mesmas no relatório de

consulta de revisão disponibilizado no SIGLIC.” cfr. § 3.2.1.4.2.3 do MGIC 3.2.3..

53. Refira-se, ainda, que as UHGIC ficam integradas nos hospitais, competindo-lhes:

a) Zelar pelo cumprimento das normas aplicáveis à LIC e respetivo

Regulamento;

g) Prever e identificar os casos dos utentes que deverão ser transferidos

para outra unidade prestadora de cuidados de saúde […] – cfr. § 54.º e

56.º do Regulamento.

54. As URGIC ficam integradas nas Administrações Regionais de Saúde, competindo-

lhes:

a) Monitorizar, avaliar e controlar a evolução de inscritos para cirurgia nas

unidades hospitalares, designadamente os tempos de espera;

j) Autorizar a emissão de vales cirurgia para a realização de

procedimentos cirúrgicos propostos pelo HD, quando sejam

complementares de procedimentos cirúrgicos realizados anteriormente,

apos auscultação do HO;

m) Decidir nas situações em que se verifiquem conflitos entre HO e HD;

n) Verificar se a facturação emitida pelas entidades convencionadas

corresponde à actividade realizada no âmbito dos vales cirurgia […] –

cfr. § 50.º e § 52.º do Regulamento.

55. Ainda, a UCGIC fica integrada na ACSS, competindo-lhe:

j) Selecionar os utentes a transferir e garantir o cumprimento e

monitorização dos protocolos de transferência definidos por parte dos

restantes intervenientes;

l) Emitir e enviar vales cirurgia;

m) Autorizar o […] HD a elaborar propostas cirúrgicas e a realizar os

procedimentos que lhes correspondam – cfr. § 47.º e 49.º do

Regulamento.

III.3. Análise da situação concreta

56. Recorde-se que os factos em análise se reportam aos constrangimentos

verificados no acesso do utente J. à realização de uma cirurgia para correção de

patologia de litíase biliar em sede do programa SIGIC, para a qual havia sido

proposto pelo Hospital de Santarém, E.P.E. e no âmbito da qual veio a ocorrer a

emissão de um vale cirurgia que o utente cativou no Hospital Cuf Cascais, S.A.

57. Assim, cumpre ab initio consignar que, nos termos do articulado preambular da

Portaria n.º 45/2008, de 15 de janeiro5 que aprovou o Regulamento do Sistema

Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), este último foi criado […]

com o objetivo de minimizar o período que decorre entre o momento em que um

doente carece de uma cirurgia e a realização da mesma, garantindo, de forma

progressiva, que o tratamento cirúrgico ocorre dentro e um tempo máximo

estabelecido.”.

58. Estabelecendo ainda o referido normativo que o SIGIC é um sistema “[…] assente

em princípios de equidade no acesso ao tratamento cirúrgico, transparência dos

processos de gestão e responsabilização dos utentes e dos hospitais do Serviço

Nacional de Saúde (SNS) e dos estabelecimentos de saúde que contratam e

convencionam com aquele a prestação de cuidados de saúde aos seus

beneficiários.”.

59. Com efeito, a Lei n.º 15/2014, de 21 de março, elenca, no seu artigo 4.º, como

direito do utente dos serviços de saúde o de “[…] receber […] num período de

tempo considerado clinicamente aceitável […] os cuidados de que necessita […]”,

igualmente instituindo tal normativo que, a Carta dos Direitos de Acesso aos

Cuidados de Saúde pelos Utentes do Serviço Nacional de Saúde, define “[…] os

5 Alterada por via da publicação da Portaria n.º 179/2014, de 11 de setembro.

tempos máximos de resposta garantidos [e] o direito do utente à informação sobre

esses tempos.”.

60. Em obediência a tal preceito, a Portaria n.º 87/2015, de 23 de março fixa os

Tempos Máximos de Resposta Garantidos (TMRG) para todo o tipo de prestações

sem carácter de urgência e pública a referida Carta de Direitos de Acesso,

concretamente, estatuindo como TMRG para a realização de cirurgia programada

de nível 1 (prioridade normal), 270 dias seguidos após a indicação clínica.

61. Ora, compaginando o referido quadro normativo com os factos apurados nos

presentes autos relativos ao processo de inscrição, transferência e realização de

cirurgia do utente J., temos que:

(i) O utente foi inscrito para o procedimento cirúrgico "Colecistectomia" em 19 de

maio de 2014 pelo HDS, realizou os exames pré-operatórios em 03 de junho de

2014 (Rx Torax, ECG Simples e Análises Clínicas) e a 08-09-2014 realizou

consulta de Anestesia;

(ii) O Vale-Cirurgia foi emitido a 31 de dezembro de 2014, tendo sido cativado

pelo utente no HCC em 21 de janeiro de 2015;

(iii) O utente teve consulta de anestesia no HCC no dia 24 de Fevereiro de 2015,

consulta de avaliação no dia 6 de Fevereiro de 2015, sendo admitido para

cirurgia no dia 7 de Março de 2015 a qual não se veio a realizar;

(iv) Em 04 de maio de2015, o utente deslocou-se à Unidade Hospitalar de Gestão

de Inscritos para Cirurgia (UHGIC) do HDS para obter informações sobre o

ponto de situação da sua cirurgia. Após consulta ao SIGLIC e à integração

realizada na aplicação informática SONHO, constatou-se que a cirurgia do

utente, apesar de não ter sido realizada, se encontrava registada;

(v) A 14 de maio de2015 o HCC solicitou a devolução do episódio à URGIC com o

motivo "Incapacidade técnica para realizar a cirurgia", foi aceite e devolvido em

21/05/2015 ao hospital de origem para avaliação da situação clínica do utente,

tendo dado origem à marcação de consulta no dia 07 de julho de2015;

(vi) Na medida em que o utente J. continuou em lista de espera para cirurgia no

HDS foi emitido novo Vale-Cirurgia a 30 de junho de 2015, que o utente

recusou, por optar permanecer no hospital de origem a aguardar pela sua

cirurgia, pelo motivo "Não, quero mudar de médico/hospital";

(vii) A cirurgia veio a ocorrer no HDS a 15 de outubro de 2015.

62. Ora, da análise sistemática dos factos vindos de elencar temos que o tempo que

mediou entre a inscrição do utente para realização de cirurgia, com prioridade

normal, e a sua efetiva realização ultrapassou largamente os 270 dias fixados.

63. Por outro lado, considerando que o SIGIC visa conforme visto “minimizar o

período que decorre entre o momento em que um doente carece de uma cirurgia e

a realização da mesma”, estando por isso alicerçado em mecanismos que

permitem obviar a períodos de espera que ultrapassem o TMRG fixado para

efetivação da prestação de cuidados de saúde de que o utente necessita, como

seja a emissão de vale cirurgia verificada no caso vertente;

64. Cumpre analisar se tal mecanismo (emissão de vale cirurgia) funcionou, in casu,

como verdadeira alternativa de acesso, possibilitando ao utente, em tempo

considerado clinicamente útil, aceder aos cuidados de saúde prescritos;

65. Ou, se antes funcionou como mero expediente dilator, ao eleger e ao elencar como

passíveis de procederem à satisfação das necessidades do utente, prestadores

convencionados que à partida não reuniam as condições necessárias para

proceder à prestação de tais cuidados, como se veio a verificar ser o caso do HCC.

66. Com efeito, “[…] a transferência de utentes através da emissão de NT/VC para

outras unidades hospitalares integradas no SNS ou unidades convencionadas é

obrigatória sempre que o hospital de origem, com os seus recursos, não possa

garantir a realização da cirurgia dentro dos TMRG estabelecidos por prioridade

clínica, por patologia ou grupo de patologias, presumindo-se a falta de garantia

quando a cirurgia não for agendada até ao limite do prazo estabelecido para cada

nível de prioridade, a contar da data de inscrição na LIC” – competindo à UCGIC a

sua emissão;

67. Emissão essa que pressupõe a aplicação de um algoritmo automático que procura

as instituições hospitalares do SNS com capacidade para realizar o procedimento

cirúrgico, indicando em primeiro lugar as instituições do concelho de residência,

seguido das instituições dos concelhos limítrofes e por último do distrito;

68. Emitindo depois uma NT/VC “[…] a favor do utente, propondo-lhe a selecção de

uma das unidades hospitalares constante da listagem anexa de hospitais

disponíveis”.

69. Assim, cumpre questionar se, tendo o utente no momento em que se processou a

sua transferência para o HCC, por via da emissão de um vale cirurgia, sido já

objeto de análise e estudo por toda uma equipa multidisciplinar do hospital de

origem que, integradamente, havia procedido à realização da proposta cirúrgica,

da avaliação pré-cirúrgica e anestésica;

70. Não deveria já ser um dado relevante do seu processo as alegadas co-

morbilidades e riscos anestésicos que o tornavam num utente de risco e que

ditavam por isso a necessidade de disponibilização de uma Unidade de Cuidados

Intensivos?

71. Como enquadrar, no momento da emissão de um vale cirurgia pela UCGIC, a

elegibilidade de prestadores que, de facto e perante as concretas particularidades

do utente a que tal vale se destina, não constituem uma verdadeira alternativa de

acesso porquanto incumprem o conjunto de requisitos necessários à prossecução

do ato cirúrgico proposto?

72. Sendo forçoso concluir que a emissão de um vale cirurgia nestas condições não

representa mais do que a protelação de uma expectativa de acesso, não

constituindo verdadeiro instrumento de garantia da tempestividade do mesmo;

73. Mais imperativa surge esta conclusão, quando nos deparamos que no caso

presente viu o utente serem-lhe emitidos dois vales cirurgia:

- O primeiro, emitido a 31/12/2015, no qual surgem como prestadores elegíveis:

Hospital Ordem Terceira de S. Francisco da Cidade, Hospital de Jesus – Venerável

Ordem terceira da Penitência de S. Francisco a Jesus, Hospital S. Louis, Hospital

Soerad, Associação Socorros Mútuos de Empregados do Comércio de Lisboa,

Clínica Cuf Cascais6;

- O segundo, emitido a 30/06/2015 (cronologicamente posterior à informação

prestada pelo HCC em SIGLIC de “Incapacidade para realizar cirurgia”) no qual

surgem como prestadores elegíveis: Hospital Ordem Terceira de S. Francisco da

Cidade, Hospital de Jesus – Venerável Ordem terceira da Penitência de S.

Francisco a Jesus, Hospital Soerad, Clínica Cuf Cascais Hospor – Hospitais

Portugueses S.A. – Hospital de Santiago, Clínica Cuf Torres Vedras7;

74. Assim se evidenciando a insusceptibilidade da UCGIC proceder, quer a uma

seleção dos prestadores com real capacidade de resposta para a situação

concreta a que o vale se destina, quer à integração, gestão e atualização dos

6 Conforme descritivo da Informação dos Estados do Episódio, junta aos autos pela URGIC

LVT, e cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido.

7 Conforme descritivo da Informação dos Estados do Episódio, junta aos autos pela URGIC

LVT, e cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido.

dados cronológicos do episódio cirúrgico em causa que evidenciam a

impossibilidade de determinados prestadores, que por duas vezes listou no vale

emitido, constituírem alternativa de acesso ao hospital de origem.

75. Por outro lado, cumpre considerar que também na perspetiva do hospital de

origem e do hospital de destino há falhas substanciais a apontar na gestão do

processo do utente J..

76. Assim, analisados os procedimentos empregues pelo HCC (HD) cumpre por um

lado questionar a dilação verificada na identificação/assunção da

insusceptibilidade de proceder à intervenção cirúrgica proposta e por outro a

inoperacionalidade verificada na comunicação à entidade com capacidade de

integração da alegada impossibilidade de realização do ato cirúrgico proposto –

URGIC – a qual poderia, atempadamente, remeter novamente o processo do

utente ao HO.

77. Com efeito, atentos os factos relatados de que o utente teve “Consulta de

anestesia […] no dia 24 de Fevereiro de 2015, consulta de avaliação no dia 6 de

Fevereiro de 2015 [sendo] admitido para cirurgia no dia 7 de Março de 2015;

78. E considerando ainda que “[…] Após cativação do Vale-Cirurgia em hospital de

destino (unidade hospitalar convencionada no âmbito do SIGIC que recebe o

doente por via de Vale-Cirurgia), este passa a ter acesso a quaisquer dados

clínicos, nomeadamente aos dados da proposta cirúrgica e ao processo clínico

enviado pelo hospital de origem (unidade hospitalar do SNS onde é efetuado o

registo do utente para inscrição em cirurgia) e convoca o utente transferido para

[…] para avaliar a proposta cirúrgica e desencadear os mecanismos necessários à

realização da cirurgia […] o HD deve dispor dos exames complementares

necessários à caracterização cabal da patologia e órgãos afetados, de forma a

poder executar os procedimentos propostos […] o HD deve proceder à avaliação

da situação clínica actual do utente, realizando os meios complementares

inerentes á rotina pré-operatória […]”, cfr. § 3.2.1.4.2.3. do MGIC;

79. Não se compreende que o referido risco anestésico e co-morbilidades apenas se

tenham tornado evidentes já com o utente no bloco operatório “[…] No dia 7 de

Março às 8 Horas estava no Hospital para a operação. Fui atendido, entrei para a

sala de preparação, fui entubado e penso que medicado para a operação […]”,

assim se questionado a qualidade assistencial dos procedimentos existentes em

sede de análise prévia e atempada dos processo clínicos dos utentes transferidos

por via da emissão de vale cirurgia.

80. Ainda incompreensível, surge o facto de perante a não realização da cirurgia

agendada, o HCC nada ter reportado, via SIGLIC, à URGIC LVT, assim

permanecendo o registo da cirurgia como se de facto a mesma tivesse ocorrido;

81. Para tanto bastando-se o prestador com a justificação de que “[…] infelizmente

existiu uma falha de comunicação entre o cirurgião e o secretariado clínico que

originou a omissão de informação dada […]”;

82. Quando na verdade e à luz do estatuído no MGIC “[…] Caso o HD detecte que

existem situações clínicas que impedem a realização da cirurgia, deve solicitar a

devolução do episódio à URGIC […]”, procedimento que só veio a ocorrer a 14 de

maio de2015, mais de dois meses volvidos da não realização da cirurgia

agendada.

83. Tal omissão poderia contudo ter sido identificada, se também o HDS (HO) tivesse

cumprido com o dever que sobre si impendia de […] convocar o utente para

prosseguir com os tratamentos ou consultas posteriores necessárias” e […] avaliar

o utente, concluir sobre a prestação no HD e verificar se há necessidade de outras

acções.”- cfr. § 3.2.1.4.2.3 do MGIC 3.2.3 e “[…] sempre que o HO identifique

situações de negligência, má prática, prestações insuficientes, procedimentos

desnecessários, incongruências ou insuficiências nos registos é obrigado a registar

as mesmas no relatório de consulta de revisão disponibilizado no SIGLIC.” cfr. §

3.2.1.4.2.3 do MGIC 3.2.3.;

84. O que não se verificou, sendo que só por via da interpelação do utente junto da

UHGIC a 04 de maio de 2015 veio a referida falha a ser conhecida e detetada,

demorando ainda mais de 5 meses a ser solucionada.

85. Por fim, sempre se diga que também a URGIC LVT, à luz das suas competências

de “Monitorizar, avaliar e controlar a evolução de inscritos para cirurgia nas

unidades hospitalares, designadamente os tempos de espera”, falhou ao não

detetar o desvio à adoção dos procedimentos tipificados quer pelo HO quer pelo

HD, não constituindo verdadeiro garante da monitorização esperada;

86. Assim se concluindo pela necessidade de reforço dos procedimentos de controlo

existentes para verificação da efetiva realização dos procedimentos propostos pelo

HD, após cativação do vale cirurgia pelo HO e após registo da realização no

SIGLIC e dos procedimentos de controlo existentes para aferição do cumprimento

das etapas pós-cirúrgicas, por comparação com a data de realização da cirurgia.

87. Tudo concorrendo para uma falha sistémica de procedimentos que

consecutivamente constrangeram o direito de acesso tempestivo do utente J. aos

cuidados de saúde de que necessitava, assim se impondo a adoção da atuação

regulatória infra delineada.

IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

88. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do

Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS,

tendo para o efeito sido chamado a pronunciar-se relativamente ao projeto de

deliberação da ERS o Hospital de Santarém, E.P.E., o Hospital CUF Cascais, S.A.,

a ACSS e a ARS LVT.

89. Assim, por ofício rececionado a 12 de fevereiro de 2016, tomou a ERS

conhecimento da pronúncia aduzida pelo Hospital CUF Cascais, S.A., o qual veio

esclarecer que:

“[…]

1. Em resultado da situação exposta pelo Senhor J., procedeu-se a uma análise

detalhada e aprofundada aos factos referidos pelo mesmo, nomeadamente de todo

o circuito SIGIC no HCC:

2. É prática instituída neste Hospital, a revisão de procedimentos, na sequência de

eventuais exposições e/ou reclamações, como a que sucedeu no caso vertente, no

sentido de, se necessário, proceder a melhorias;

3. Tal é desde logo a prática sempre que possa estar em causa o cumprimento de

Convenção celebrada com ARSLVT, IP.;

4. O HCC entende que cumpriu as melhores práticas no superior interesse do

Senhor João Pereira, após concluída a reavaliação anestésica por parte da Dr" C.

[…] pelo risco anestésico e co-morbilidades do doente, que necessitaria no pós-

operatório de uma Unidade de Cuidados Intensivos, Unidade de que o HCC não

dispõe;

5. Após essa decisão, o HCC assume que se verificou uma deficiente

comunicação entre as suas equipas e o Cliente, bem como com a URGIC LVT, via

SIGLIC, facto que lamenta e que foi objecto de análise no sentido da sua não

recorrência futura;

6. Nesse sentido e até mesmo antes de conhecida a Instrução dessa ERS

procedeu à revisão de procedimentos, tal como acima se expôs;

7. De salientar que desde a entrada cm vigor da Convenção celebrada com a

ARSLVT, I.P., já se realizaram no HCC, 353 cirurgias sem nunca se ter verificado

alguma situação semelhante ou qualquer outra passível de Reclamação;

8. O HCC tudo tem feito para cumprir escrupulosamente a Convenção celebrada e

o melhor interesse de todos os Clientes que procuram os seus serviços;

9. Assim, e em resultado da Instrução emanada da Entidade Reguladora da Saúde

e anexa à comunicação que ora se responde, o HCC, enquanto entidade

convencionada no âmbito do programa SIGIC, garantirá que:

i. os procedimentos por si adoptados, previamente ao agendamento de

uma cirurgia, sejam os necessários para garantir uma avaliação integrada

da condição do utente, antecipando a efetiva capacidade de realização

do procedimento cirúrgico proposto;

ii. o atendimento dos utentes se processe dentro do estrito cumprimento

das regras de funcionamento do programa SIGIC, designada mas não

limitadamente aquelas aplicáveis em matéria de transmissão e registo no

SIGLIC de informação entre o Hospital de Origem e o Hospital de

Destino, procedimentos de devolução do utente ao hospital de origem e

de controlo da conformidade existente entre o procedimento proposto e o

realizado;

iii. todo e qualquer procedimento por si adoptado seja capaz de promover

a informação completa, verdadeira e inteligível, com antecedência, rigor e

transparência a todos os utentes, sobre todos os aspectos relativos ao

acompanhamento c alternativas existentes no SNS para garantia de um

acesso adaptado à respectiva condição clinica, com clara explicitação do

papel que compete a cada estabelecimento prestador na rede nacional

de prestação de cuidados de saúde;

iv. em complemento com a comunicação, por esta via, a V. Exas. sobre o

cumprimento imediato da instrução emanada por V.Exas., iremos dar

conhecimento à ERS da revisão de procedimento interno, podendo o

mesmo vir a ser confirmado por V.Exas. […]”.

90. Subsequentemente, por ofício rececionado pela ERS a 16 de fevereiro de 2016,

veio o Hospital de Santarém, E.P.E aduzir que:

“[…]

i. Em termos gerais parece a este Conselho de Administração não serem

censuráveis os procedimentos da responsabilidade do Hospital de

Santarém, sem prejuízo de poderem ser aperfeiçoados e, nesse sentido, o

presente Relatório revela-se como um instrumento importante.

ii. Existe a convicção de que pelo Hospital de Santarém foram feitos os

esforços no sentido de prestar ao utente toda a informação que lhe

permitisse o esclarecimento junto das Entidades competentes para

acompanhar os contratos com convencionados e monitorizar e controlar as

transferências de doentes no âmbito do SIGIC.

iii. O utente encontrava-se inscrito para cirurgia de prioridade normal. O

Hospital CUF Cascais, que em momento algum põe em causa a atuação do

Hospital de Santarém, reconhece expressamente desconformidades e

falhas de comunicação, com óbvio lamento por transtornos causados ao

doente, por tempo prolongado e com falsas expectativas, acabando por não

resolver o problema do doente.

iv. Também a URGICLVT não põe em causa, em momento algum, a atuação

do Hospital de Santarém […]:

• O vale de Cirurgia foi emitido atempadamente.

• O vale propunha 6 hipóteses de escolha de O.D.

• O utente escolheu o Hospital CUF Cascais, que assume o vale.

• O Hospital de Santarém não "comenta" as razões do Hospital CUF

Cascais. Cabe a URGICVT a avaliação do caso. Também não comenta o

episódio de registo de cirurgia realizada, quando na realidade não o tinha

sido.

• O pedido foi devolvido ao Hospital de Santarém que readmitiu o doente

apesar da dificuldade da lista de espera.

• Foi emitido novo vale de cirurgia que o doente recusou argumentando

"não querer mudar de médico/hospital.

• O dente manteve-se em lista de espera e foi intervencionado no Hospital

de Santarém a 15/10/2015.

• Todos os procedimentos devidos pelo HO após cirurgia no HD não foram

efetivados porque o HD não realizou qualquer cirurgia e foi o HO que

reassumiu e resolveu a cirurgia, no tempo possível após recusa do utente

de novo VC.

v. No que respeita à análise da situação concreta:

• Doente inscrito a 19/05/2014;

• Doente aceite pelo HD em 21/01/2015 (215 Dias) para cirurgia, com

previsão de cirurgia a 7 de março (260 dias) e foi como tal registada;

• Para o Hospital de Santarém a cirurgia tinha sido realizada a 7 de março.

Porque assim não foi retomou-se o processo quando se tomou

conhecimento dos factos;

• Não tendo sido realizada a cirurgia e tendo o episódio sido devolvido a

21/05/2015 e mantendo-se a prioridade normal, foi agendada consulta para

7/7/205, e emitido novo VC a 30/06/2015, considerando manterem-se as

dificuldades de lista de espera no HDS. Vale de Cirurgia que o doente

rejeitou, permanecendo em lista de espera do HDS, por opção própria.

Após a readmissão, o doente foi operado em 15 de outubro no HDS;

• O Hospital de Santarém continua a não entender as razões de rejeição do

HCC;

• A emissão de VC é um ato da competência da UCGIC;

• O elenco de hospitais de destino é da exclusiva responsabilidade da

UCGIC;

• A escolha do HD é da exclusiva responsabilidade do utente, dentro do

leque de opções;

• À UHGIC do Hospital de Santarém está expressamente vedado qualquer

ato ou gestão de aconselhamento, por razões óbvias;

• Ao HO cabe dar toda a informação Clínica pertinente mas não cabe

indagar junto dos possíveis HD quais os que dispõe deste ou daquele

requisito, no pressuposto de que todos os públicos ou convencionados

estão registados como competentes para a UCGIC;

• Desconhece o Hospital de Santarém das razões a pontos 70 a 74;

• Também o Hospital de Santarém não encontra justificações para os

procedimentos do HCC conforme pontos 76 a 82 embora não questione a

realização de MCD imediatamente antes das cirurgias, independentemente

dos MCD já disponibilizados pelo HO;

• O Hospital de Santarém atuou logo que tomou conhecimento da

desconformidades no HD, informando quem tinha que informar e

procurando de imediato a resolução do problema do utente, que consistiu

na realização da própria cirurgia, quando o utente recusou o VC;

• O juízo a ponto 83 encerra em si alguma injustiça para o HO

considerando que apenas dois meses, (no mínimo), após a realização das

cirurgias no HD, se recebem os Relatórios Clínicos da conclusão dos

processos, após o que se convocam os doentes para prosseguir com

tratamento [...];

• O problema que a ERS parece não valorizar é que esse Relatório nunca

chegou porque a cirurgia nunca foi realizada pelo HD, responsabilizando o

HO.

vi. O Hospital de Santarém acolhe as instruções emitidas pela ERS, na

perspetiva da melhoria dos procedimentos e do cumprimento de todas as

regras estabelecidas contando com a participação e o envolvimento de

todos os intervenientes, nomeadamente o utente, o Hospital de Santarém e

a UCGIC e a URGIC. […]”.

91. A ERS não rececionou qualquer pronúncia da ACSS ou da ARS LVT, até à

presente data.

92. Assim, analisada a pronúncia do HDS e do HCC cumpre acolher ambas as

manifestações de pronto e integral cumprimento da instrução emitida por parte de

ambos os prestadores.

93. Não obstante tal ensejo, certo é que inexistem nos autos documentos

comprovativos da efetiva implementação de todas as medidas e procedimentos

que a deliberação projetada visa garantir;

94. Designadamente, inexiste nos autos prova documental da efetiva implementação

de todos os procedimentos e medidas cuja aplicação é determinada, carecendo a

mesma do envio do suporte respetivo, cujo envio deve acontecer no prazo fixado

pela ERS.

95. Por outro lado, considera-se igualmente necessária a manutenção da intervenção

regulatória, tendo em vista, desde logo, a garantia de uma interiorização e

assunção das obrigações legais em causa, bem como, a adequação permanente

do comportamento dos prestadores, para que no futuro se possa aferir se as

diligências levadas a cabo se coadunam com o conteúdo da referida intervenção.

96. Termos em que se conclui que as pronúncias ora aduzidas não são de molde a

infirmar a decisão projetada, a qual se mantém na íntegra.

97. Quanto à ACSS e a ARSLVT não se tendo pronunciado sobre o projeto de

deliberação, não foi trazido ao conhecimento da ERS qualquer facto capaz de

infirmar ou alterar o sentido do projeto de deliberação da ERS tal como

regularmente notificado e que, por isso, se mantém também na íntegra.

V. DECISÃO

98. O Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos e para os efeitos do

preceituado na alínea a) do artigo 24.º e das alíneas a) e b) do artigo 19.º dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto,

emitir uma instrução ao Hospital de Santarém, E.P.E. e ao Hospital CUF Cascais,

S.A., nos seguintes termos:

(i) O Hospital de Santarém, E.P.E. deve garantir, sempre e em qualquer

momento, adoção de todos os comportamentos que garantam,

efetivamente, o rigoroso cumprimento de todas as regras estabelecidas

no quadro legal relativo aos Tempos Máximos de Resposta Garantidos;

(ii) O Hospital CUF Cascais, S.A., enquanto entidade convencionada no

âmbito do programa SIGIC deve garantir que os procedimentos por si

adotados, previamente ao agendamento de uma cirurgia, sejam aptos a

garantir uma avaliação integrada da condição clínica do utente,

antecipando a sua efetiva capacidade de realização do procedimento

cirúrgico proposto;

(iii) O Hospital de Santarém, E.P.E. e o Hospital CUF Cascais, S.A. devem

garantir que o atendimento dos utentes se processe dentro do estrito

cumprimento das regras de funcionamento do programa SIGIC,

designada mas não limitadamente aquelas aplicáveis em matéria de

transmissão e registo no SIGLIC de informação entre Hospital de

Origem e Hospital de Destino, procedimentos de devolução do utente

ao hospital de origem e de controlo da conformidade existente entre o

procedimento proposto e o realizado;

(iv) O Hospital de Santarém, E.P.E. e o Hospital CUF Cascais, S.A. devem

garantir que todo e qualquer procedimento por si adotado seja capaz de

promover a informação completa, verdadeira e inteligível, com

antecedência, rigor e transparência a todos os utentes, sobre todos os

aspetos relativos ao acompanhamento e alternativas existentes no SNS

para garantia de um acesso adaptado à sua condição clínica, com clara

explicitação do papel que compete a cada estabelecimento prestador

na rede nacional de prestação de cuidados de saúde;

(v) O Hospital de Santarém, E.P.E. e o Hospital CUF Cascais, S.A. devem

dar cumprimento imediato à presente instrução, comunicando à ERS,

no prazo máximo de 30 (trinta) dias úteis contados da presente

deliberação, os procedimentos adotados para o efeito.

99. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do

artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com

coima de € 1000,00 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da

ERS que, no exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou

sancionatórios determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos

14.º, 16.º, 17.º, 19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”.

100. O Conselho de Administração da ERS delibera ainda nos termos e para os

efeitos do preceituado na alínea a) do artigo 24.º, e da alínea b) do artigo 19.º dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto,

emitir uma recomendação à Administração Central do Sistema de Saúde, I.P. e à

Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, I.P., para que as

unidades de apoio ao SIGIC nas mesmas integradas, respetivamente Unidade

Central de Gestão de Inscritos para Cirurgia e Unidade Regional de Gestão de

Inscritos para Cirurgia atuem no sentido de promoverem:

(i) a existência de mecanismos que, aquando da emissão do vale cirurgia,

assegurem uma correta seleção dos prestadores elegíveis como passíveis de

constituírem uma efetiva garantia da tempestividade de acesso que tal

emissão visa constituir;

(ii) a existência de mecanismos de controlo e monitorização da evolução de

inscritos para cirurgia nas unidades hospitalares, antecipando e assegurando

assim a oportuna decisão nas situações em que se verifiquem

desconformidades nos procedimentos adotados quer pelo hospital de origem

quer pelo hospital de destino;

(iii) a existência de mecanismos de controlo e monitorização para aferição

da efetiva realização dos procedimentos propostos pelo HD, após cativação

do vale cirurgia pelo HO e após registo da realização no SIGLIC e dos

procedimentos de controlo existentes para aferição do cumprimento das

etapas pós-cirúrgicas, por comparação com a data de realização da cirurgia.

Porto, 29 de fevereiro de 2016

O Conselho de Administração.