de volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do...

17
yearbook 2016 1 De volta à prancheta Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Yearbook 2016 Sustentável no trabalho da Ca2

Upload: danghanh

Post on 09-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

1

De volta à pranchetaEnsaios sobre a Ciência da Arquitetura

Yearbook 2016

Sustentável no trabalho da Ca2

Page 2: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados32

Prefácio

Ca2|Consultores Ambientais Associados

Somos uma empresa de consultoria e gestão de projetos sustentáveis, conforto ambiental e efici-ência energética de edificações.

Auxiliamos arquitetos, proprietários e construto-res à realizarem sua visão sustentável através de avançados métodos de análise e de nossa experi-ência global em projetos.

O conceito “As sustainable as possible” - Tão sus-tentável quanto for possível - dentro das condicio-nantes arquitetônicas e econômicas do projeto, é a base de nossa metodologia de trabalho.

O futuro dos espaços de trabalhoTIVIT Contact Center - Palhoça | SC, Brasil (2008) 4

O papel do desenho arquitetônico na produção de edifícios de alto desempenho ambientalCETA|Centro de Educação Ambiental Gênesis | Barueri | SP,São Paulo (2006) 8

“Faça-se a luz” Iluminação Natural e Arquitetura Concepção do projeto da Caixa Econômica Federal agência USP através de simulação paramétrica em ilumiação naturalSão Paulo | SP, Brasil (2015) 12

A (Re)invenção do brise-soleilIntroduzindo elementos sombreadores em edifícios verdadeiramente sustentáveisConcepção do projeto da Caixa Econômica Federal agência USP através desimulação paramétrica em ilumiação naturalSão Paulo | SP, Brasil (2016) 16

O Processo de Projeto Integrado na concepção de edifícios de alto desempenhoFlorianópolis | SC, Brasil (2016) 20Concepção do projeto Sede da FATMA|FAPESC

Quanto custa a sustentabilidade de uma edificação?Ourinhos | SP, Brasil (2016) 26SENAC

Sobre a Ca2...A Ca2 foi idealizada em 2006 em São Paulo, pelos arquitetos Ricardo Vasconcelos e Marcelo Nudel com o objetivo de auxiliar arquitetos, proprietários e construtores na concepção de edificações de alto desempenho ambiental, sempre de forma cientifi-camente comprovada e observando suas premis-sas arquitetônicas e condicionantes econômicas.

A metodologia de trabalho construída pela Ca2 tem como base a experiência em projetos globais adquirida por Marcelo Nudel em sua trajetória profissional e no profundo conhecimento multidis-ciplinar de Ricardo Vasconcelos em seus 25 anos em seu escritório de arquitetura.

Page 3: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados54

O Futuro dos espaços de trabalhoTivit Contact Center

Palhoça | SC, Brasil (2008)

Ca2|Consultores Ambientais Associados

Em nossa prática profissional nos últimos 10 anos, temos discutido com nossos clientes

idéias e tendências relacionadas ao futuro dos es-paços de trabalho e escritórios e como isso deverá influenciar os projetos de empreendimentos cor-porativos nas próximas décadas.

Entendo que podemos moldar hoje o futuro do es-paço de trabalho com base em 4 pilares principais: Mobilidade, Flexibilidade, Colaboração e Sustenta-bilidade.

Arquitetos e incorporador de edifícios e espaços corporativos, sejam eles especulativos ou Built to suit têm a oportunidade de influenciar decisões chave de projeto que prepararão as bases para que os ocupantes futuros possam criar condições ade-quadas à seus espaços de trabalho. Algumas das questões que entendemos serão fundamentais na criação dos espaços de trabalho nas próximas dé-cadas são resumidos nos 4 pilares:

Mobilidade

A busca por qualidade de vida e menos tempo gas-to em deslocamentos demanda formas de traba-lho descentralizadas, redução de custos fixos de escritório e prática de home office, cuja tendência é se tornar mais comum. A tecnologia das comu-nicações irá tornar deslocamentos até o escritório cada vez menos necessários. O espaço físico de trabalho do futuro deve estimular o funcionário a frequentar esses espaços fornecendo múltiplos usos locais, como academias, comércio, creches,

espaços de co- working e equipamentos culturais. A mistura entre público e privado em espaços co-muns fará parte dessa transformação, convidando a populacão maior a utilizar e manter vivos esses equipamentos também fora do horário comercial. O edifício corporativo se torna multi-uso, com tér-reo e embasamento integrado com a malha urbana pública em contraposição ao lobby privativo vasto e sem função social e comercial.

Page 4: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados76

O Tivit Contact Center foi o vencedor do V Prêmio

Office Solution de Arquite-tura Corporativa 2008 Ca-

tegoria Green Buildings

Flexibilidade

A força de trabalho se torna cada vez mais multi- cultural, diversa em faixas etárias e em necessida-des cada vez menos padronizadas. Uma população heterogênea deve ter condições de ocupar espaços de escritórios flexíveis, adaptáveis às necessidades individuais. A retenção de funcionários no futuro dependerá também do bem estar físico dos indi-víduos. Os espaços não são mais vistos como um bem imóvel da corporação, mas como uma ferra-menta de estímulo à criatividade e produtividade. Instalações com de task lighting (iluminação indi-vidual de tarefa), task cooling (insuflamento de ar pelo piso, conectado às estações de trabalho), task based seatting (flexibilidade de assentos), além de elementos sombreadores internos e externos, au-xiliam no controle individual de conforto térmico, lumínico e de ofuscamento, além de proporciona-rem redução de energia em operação.

O incorporador de produtos especulativos tem a oportunidade de oferecer infra- estrutura para que sistemas com operação individualizada possa ser explorados pelos ocupantes.

Colaboração

Cada vez menos, escritórios se parecem com uma série de caixas isoladas sem comunicação. A ten-dência futura é a integração física entre departa-mentos e áreas distintas das empresas. Permitir comunicação e encontro entre funcionários de áreas diversas, afeta diretamente o resultado dos processos produtivos, estimula a cooperação e a criatividade. O incorporador pode fornecer as ba-ses para esse processo ao pensar projetos capazes de estimularem a comunicação entre os usuários, que possuam espaços de convivência e conexão entre o interno e externo, que facilitem o encontro informal entre funcionários.

Sustentabilidade

Assim como ocorreu em muitos países do mundo, os sistemas de certificação tornam-se commodities de projeto, e muito mais exigentes ao passar dos anos. Um projeto que há alguns anos atrás foi clas-sificado como LEED Platinum, possivelmente seria hoje certificado como Silver. A comoditização dos sistemas de certificação farão com que a real ope-ração eficiente de um edifício seja cada vez mais valorizada e que as exigências quanto à eficiência energética sejam cada vez maiores. O incorporador que tiver maior controle sobre decisões que envol-vem fachadas, equipamentos de ar- condicionado e sistemas luminotécnico de forma a compor um sis-tema integrado terá mais sucesso nesse processo. O escopo de entrega típico de um incorporador de edifícios especulativos deverá ser revisto, uma vez que assumir responsabilidade pelo planejamento e entrega de sistemas que afetam o consumo energé-tico é a melhor forma de se obter sucesso na bus-ca por eficiência energética e conforto térmico. Os edifícios de escritório tendem à observar maior va-lorização de elementos de eficiência de fachadas, além da exploração de sistemas de ar- condiciona-do de menor consumo, como as centrais de Água gelada com distribuição de ar VAV, insuflamento pelo piso ou vigas geladas (chilled beams).

Page 5: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados98

Apesar da evolução significativa em sustentabi-lidade ocorrida nos últimos anos no mercado

da construção brasileira, encontramo-nos apenas no início de um processo longo de aprendizado e aprimoramento. O mercado tem se focado muito na adição de soluções tecnológicas de forma a do-tar os edifícios de um caráter mais sustentável. São exemplos disso os sistemas de iluminação e ar-con-dicionado mais eficientes, captação e reciclagem de águas pluviais, sistemas solares de geração de energia, além de reciclagem e reaproveitamento de resíduos de obra. Na prática, há uma tendência em se projetar edifícios de maneira convencional e, em seguida tentar torná-los mais sustentáveis adicio-nando itens de uma lista de tecnologias disponíveis na prateleira. A envoltória dos edifícios, é particu-larmente relegada a segundo plano, estando sujeita apenas às variáveis custo capital e partido arquite-tônico.

Em países onde a cultura da construção sustentá-vel encontra-se em estágios mais maduros, como os EUA, Inglaterra, Austrália e Alemanha, compreen-

de-se que os verdadeiros diferenciais dos edifícios susten-táveis são provenientes da etapa de conceituação de pro-jeto, sendo os elementos tecnológicos importantes, porém secundários. Para acompanhar essa tendência, o mercado brasileiro deve passar necessariamente por uma completa revisão na maneira em que concebe seus projetos. Nossa experiência indica que conceber um projeto com a sus-tentabilidade em mente desde suas linhas iniciais é muito mais eficaz do que tentar adequar tecnologias a um projeto arquitetônico concebido de maneira convencional.

É na prancheta de projeto que elaboramos, por exemplo, as condições ideais para a adequação climática e eficiência energética de edifícios. O desenho adequado da envoltória é parte fundamental desse processo e deve ser resultado não apenas do conceito arquitetônico ou com base em aná-lise simplista de custo capital, mas fundamentalmente do seu desempenho no que tange a variáveis climáticas e am-bientais.

São nas etapas preliminares de projeto que temos a chan-ce de trabalhar junto aos arquitetos, direcionando atenção especial à orientação solar dos edifícios e ao desenho de fa-chadas, como a primeira linha de defesa contra ganhos tér-micos excessivos e como forma de criação de espaços con-fortáveis e produtivos. Um exemplo clássico disso é o brise

O papel do desenho arquitetônico na produção de edifícios de alto

desempenho ambientalCETA|Centro de Educação Ambiental Gênesis

Barueri | SP, Brasil (2006)

Page 6: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados1110

soleil, elementos de fachada que protegem panos de vidro contra radiação solar direta. Fazem parte da tradição arquitetônica brasileira e são extrema-mente necessários às nossas condições climáticas e, no entanto, foram abandonados há muito pelo mercado.

Entendo que por 3 principais razões: (1) Inércia do mercado: há décadas se produz edifícios que igno-ram as variáveis climáticas deixando a cargo das ciências mecânicas o condicionamento dos edifí-cios, (2) a dificuldade em se quantificar os benefí-cios dessa e outras estratégias durante a etapa de projeto, e (3) a caracterização do processo de pro-jeto não integrado, típico no mercado brasileiro.

Abordamos a problemática dos pontos 1 e 2 em nossa prática profissional na área de consultoria unindo a criação arquitetônica à ciência da enge-nharia. Através de análises técnicas e simulações computacionais podemos antever o futuro desem-penho das edificações e quantificar os benefícios que cada estratégia de projeto irá trazer consigo. Essa prática contribui gradativamente para o fim

O CETA traduz as intenções ar-quitetônicas ao explorar técni-

cas passivas desde a concepção.

Recebeu Menção Honrosa no I Prêmio Masisa de

Arquitetura Sustentável em 2006

da inércia do mercado, pois reduz o risco do incor-porador ao prever em projeto os benefícios tangí-veis na futura operação dos edifícios.

Nesse sentido, investir no projeto e em consultorias especializadas é portanto bom não apenas para os usuários finais, que se beneficiam com maior con-forto térmico, melhor iluminação natural e reduzi-da demanda energética, mas para o incorporador através da redução de riscos de investimento.

Quanto à problemática do processo de projeto não integrado, exemplifico essa questão com uma questão de projeto. Como se parece, por exemplo, a envoltória de um edifício com alto índice de ilu-minação natural, porém com reduzida carga tér-mica (e portanto menos consumo energético de ar- condicionado), se sabemos que em geral esses dois índices de desempenho são inversamente proporcionais? Perguntas como essa são em geral respondidas por mais de uma cabeça e sua respos-ta está, portanto, associada ao processo integrado de projeto.

O planejamento de edifícios sustentáveis exige uma simbiose harmoniosa entre as mentes de ar-quitetos, engenheiros e construtores. Essa simbio-se, conhecida como “processo integrado de proje-to”, ainda é timidamente praticada no Brasil, onde cada profissional tende a trabalhar de maneira isolada. O processo integrado envolve toda a gama de profissionais envolvidos nas grandes decisões de projeto, desde as etapas de concepção. Dessa forma, encontram-se oportunidades e soluções de design que cabeças ou pontos de vistas individuais não conseguiriam visualizar.

Arquitetos, engenheiros, incorporadores e cons-trutores devem sempre desafiar o status quo do processo de produção de projeto, de maneira a encontrar soluções sustentáveis inovadoras. So-luções capazes de criar edifícios que, ao mesmo tempo em que contemplam a conservação ambien-tal, são também espaços vibrantes, capazes de en-cantar, proporcionar ao usuário uma experiência mais saudável, mais confortável e reduzido custo de operação.

Page 7: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados1312

No que tange à questão iluminação no âmbito da sustentabilidade de edificações, o senso

comum é observar em primeira instância o uso de tecnologias ativas de baixo consumo, como o LED.

É fato que o custo desse sistema vem reduzindo e portanto sua aplicação ampliada. No entanto a forma mais sustentável e saudável de iluminação, ainda pouco explorada em projetos no país é a iluminação natural. Por mais óbvio e simples que possa parecer, ainda não observamos a iluminação natural como meta de projeto.

É comum estabelecermos metas para desempenho energético, por exemplo, principalmente em pro-jetos que buscam algum tipo de certificação. Po-rém a iluminação natural, sob o ponto de vista do conforto ambiental não tem sido explorada em seu potencial. Projetistas em geral relegam a qualida-de da iluminação natural à segundo plano, quase que como consequência do desenho de fachada em função de suas metas energéticas e estéticas.

Insisto sempre em meus artigos e em minha práti-ca profissional que a sustentabilidade real de edi-fícios começa na boa arquitetura, sendo as tecno-

logias secundárias. Esse “mantra” é especialmente verdadeiro no quesito iluminação natural.

A iluminação natural, ao contrário das mais avan-çadas tecnologias ativas não apenas pode fornecer condições ambientais adequadas às diversas ati-vidades humanas no ambiente construído, como também é comprovadamente benéfica à melhoria de produtividade, bem estar e satisfação no am-biente de trabalho e de ensino, auxilia na recupe-ração de pacientes em hospitais, além de nos co-nectar com o ambiente externo reduzindo níveis de stress e fadiga. Não há nada mais sustentável do que cuidar do bem estar do ser humano e ainda mais com consumo energético reduzido. Nenhuma tecnologia é capaz de desempenhar esse papel.

Atingir adequados níveis de iluminação natural, com reduzido risco de ofuscamento não é tarefa simples. É necessário que se compreenda com pre-cisão a trajetória solar em determinada localidade, avaliar zonas e horários de sombreamento, assim como possuir detalhado conhecimento acerca das condições lumínicas do céu específico da região em que se projeta. A utilização de avançados méto-dos de análise computacional podem (e na maioria

“Faça-se a luz”

Concepção do projeto da Caixa Econômica Federal agência USP através de simulação paramétrica

em ilumiação naturalSão Paulo | SP, Brasil (2015)

Iluminação Natural e Arquitetura

Page 8: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados1514

dos casos devem) ser utilizadas na exploração de opções de projeto capazes de fornecer as informa-ções necessárias à concretização de metas de de-sempenho.

O processo de exploração paramétrica computa-cional em iluminação natural foi utilizado pela Ca2 Consultores Ambientais Associados no auxílio à concepção arquitetônica da nova agência da Caixa Econômica Federal no Campus da USP, atualmente em construção. Demonstramos, através da explo-ração computacional, as melhores estratégias para que se atingissem níveis adequados de luz natural com controle de ofuscamento. Foram projetados brises específicos para cada fachada, além do di-mensionamento e posicionamento de claraboias na cobertura e adequada especificação de vidros. A imagem que ilustra essa matéria é fruto desse trabalho (simulação computacional de luz natural com o uso do software Radiance)

Esse projeto envolveu dimensionamento de brises e

soluções de envoltória de forma a controlar ganhos

solares excessivos e maximizar a iluminação

natural.

Page 9: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados1716

Em 1933, Le Corbusier entrega um de seus pri-meiros e mais importantes projetos, o Cité de

Refuge, um edifício residencial em Paris, construí-do para abrigar favorecidos pelo Exército de Salva-ção. O edifício tinha como conceito uma fachada de pele dupla de vidro, e um sistema de condiciona-mento (resfriamento e calefação) intersticial que serviria como “muro neutralizante” entre o meio interno e externo, protegendo assim o interior do edifício contra perda excessiva de calor no inverno e ganho excessivo de calor no verão. Dessa forma, o “muro neutralizante” como foi chamado por Le Corbusier eliminaria a necessidade de elementos de proteção solar externa (brises-soleil) e de jane-las que pudessem ser operadas pelos ocupantes.

O edifício foi construído com redução de orçamen-to e o muro neutralizante foi eliminado do projeto.

A (Re)invenção do brise-soleil

Concepção do projeto da Caixa Econômica Federal agência USP através de simulação paramétrica

em ilumiação naturalSão Paulo | SP, Brasil (2016)

Introduzindo elementos sombreadores em edifícios verdadeiramente sustentáveis

yearbook 2016

Page 10: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados1918

Brises desenvolvidos para proporcionar altos níveis

de conforto térmico aos ocupantes.

Restou uma fachada sem a possibilidade de aber-tura de janelas e exposta à radiação solar intensa. No verão de 1934, o problema veio à tona: O edi-fício, exposto à intensa radiação solar tornou-se uma estufa e portanto inabitável.

A prefeitura de Paris apressou-se em exigir altera-ções de projeto para solucionar o problema.

A solução era simples: permitir aberturas para ventilação natural e proteger os vidros com ele-mentos sombreadores. E então a envoltória do edifício foi inteiramente reconfigurada seguindo esses princípios. Nessa ocasião Le Corbusier (Re) inventou o brise-soleil. E a partir daí, seus projetos passaram a contar sempre com esse elemento tão indispensável à fachadas envidraçadas.

Importantes arquitetos modernistas brasileiros, no início de suas carreiras adotaram essa aborda-gem Corbusiana à adaptação climática de edifícios. São exemplos disso os primeiros projetos de Nie-meyer e Lúcio Costa, Reidy, Rino Levi, os irmãos Roberto e tantos outros.

Mais de 80 anos depois, encontramo-nos em ple-na ebulição do movimento por edifícios mais sus-tentáveis. No entanto, o brise-soleil parece ter sido relegado novamente pelos arquitetos brasileiros, deixando o controle térmico dos edifícios à cargo das ciências mecânicas.

Com vista aos erros da história, buscamos em nos-so processo de consultoria auxiliar o arquiteto à “re-inventar” o brise-soleil em sua arquitetura. De-monstramos o passo a passo de projeto auxiliados por moderna simulações computacionais como implementar de forma técnica e economicamente viáveis brises adaptados ao conceito arquitetônico e ao clima local, visando a concretização de um edi-fício verdadeiramente sustentável.

Page 11: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados2120

O processo de projeto no Brasil, especialmente na concepção de envol-tórias de alto desempenho ambiental encontra-se ainda muito linear

e fragmentado, salvo exceções de incorporadoras e projetistas específi-cos e em projetos de maior visibilidade e complexidade. Ou seja, em sua maioria não representa o que se convencionou chamar de Processo de Projeto Integrado (PPI).

O conceito de Processo de Projeto Integrado (PPI) é hoje tema de aten-ção e discussão no mercado, porém ainda em estado de amadurecimento no Brasil. Em nosso país ainda trabalha-se muito com o conceito simplis-ta de que um PPI é aquele em que os stakeholders trabalham juntos, dis-cutindo interferências entre as disciplinas para que assim possam che-gar à decisões de projeto em conjunto. Se analisarmos essa colocação, percebemos que não se difere em nada de um processo de projeto con-vencional durante a etapa de compatibilização. Faltam ainda elementos na prática massiva de mercado que possam caracterizar esse processo como PPI.

Para entendermos um PPI é necessário que se caracterize primeiro o processo convencional de projeto. O processo geralmente se inicia com o arquiteto e o cliente elaborando em conjunto um projeto conceitual, consistindo em estudo de massa, orientação, aspecto visual das facha-das e materiais básicos de acabamento. As disciplinas das diversas en-genharias se encarregam posteriormente de selecionar e sugerir siste-mas apropriados ao conceito. Esse é um processo portanto linear, pois a contribuição dos membros da equipe é sequencial. A contribuição de especialistas em áreas específicas na otimização do projeto é limitada, principalmente porque são envolvidos em fases avançadas de projeto.

O Processo de Projeto Integrado na concepção de edifícios de

alto desempenho Concepção do projeto Sede da FATMA|FAPESC

Florianópolis|SC, Brasil (2016)

Ca2|Consultores Ambientais Associados

yearbook 2016

Mindlin Loeb + Dotto Arquitetura

Page 12: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados2322

No caso das envoltórias, o envolvimento de espe-cialistas em conforto ambiental e energia costuma ocorrer em fases posteriores à concepção arquite-tônica e oportunidades se perdem na busca por ín-dices melhores de eficiência energética, qualidade da luz natural e conforto térmico aos ocupantes. Se nesse processo, engenheiros e consultores forem competentes, irão sugerir estratégias capazes de melhorar os índices de desempenho do edifício, porém ao serem incorporadas em fases avançadas de projeto os benefícios tornam-se apenas margi-nais.

A introdução de estratégias paliativas em fases subsequentes à concepção nunca será capaz de su-perar as decisões não acertadas no início do pro-jeto.

Para contrapor ao processo convencional de proje-to, explicando agora o processo de projeto integra-do (PPI) gostaria de expor três referências interna-cionais que definem o tema.

Cito a definição do iiSBE (International Initiative for a Sustainable Built Environment) pois entendo ser uma excelente forma de abordar a questão do ponto de vista da sustentabilidade, a seguir em tra-dução e interpretação livres do documento “iiSBE: The integrated design process: History and Analy-sis” [1] .

O cliente assume um papel mais ativo do que o convencional, o arquiteto se torna o líder da equi-pe ao invés do simples criador da forma e os en-genheiros e especialistas assumem papéis ativos e consultivos no início do processo de projeto. A equipe sempre inclui um especialista em energia e conforto ambiental. As habilidades de engenheiros e especialistas técnicos é sempre introduzida na concepção, logo no início do processo de projeto. Testes de diversas opções de projeto fazem parte do processo, muitas vezes envolvendo simulações computacionais para informar as melhores deci-sões através de informações objetivas.

O processo inclui especialistas específicos na equi-pe (exemplo: iluminação natural, conforto térmi-co, materiais, etc), para consultas específicas ao longo do processo.

Sempre há metas claras de desempenho, sendo as mesmas constantemente monitoradas durante o processo de projeto.

Menciono também, como forma de complementar o raciocínio, duas outras fontes de respaldo inter-nacional, o USGBC (United States Green Building Council) e o BRE (Building Research Establish-ment) do Reino Unido:

USGBC em tradução e interpretação livres[2]:

Equipes de um processo de projeto integrado de-vem desenvolver habilidades novas que não foram

exploradas no passado em sua prática profissional. São elas: análise crítica e questionamento; comuni-cação e uma profunda compreensão dos processos naturais. O processo de projeto integrado requer mais tempo de maturação de idéias e colaboração durante as fases conceituais de projeto.

É necessário gastar-se tempo em estabelecer me-tas de desempenho e na elaboração de análises e simulações que possam balisar as decisões antes de sua implementação no projeto.

BRE em tradução e interpretação livres[3]:

Trabalhar em conjunto com o cliente e o seu brief. A equipe principal de projeto é incorporada ao pro-cesso nos estágios iniciais para tomadas de decisão e questionamento do brief do cliente.

Mindlin Loeb + Dotto Arquitetura

Page 13: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados2524

No processo integrado, a equipe de projeto e o cliente interagem constantemente para considerar iterações diversas de opções projetuais. Dessa for-ma, os projetos têm a capacidade de culminarem em edifícios melhores em operação e com reduzi-do consumo energético quando comparados à pro-cessos tradicionais de projeto.

De forma a concluir, retomo minha afirmação inicial de que o processo de projeto no Brasil en-contra-se ainda em sua maioria destoando dos princípios base do processo de projeto integrado. Especificamente na concepção de envoltórias de alto desempenho ambiental destaco com base em nossa experiência global em projetos sustentáveis alguns itens que julgo serem fundamentais na alte-ração desse cenário, corroborando com as referên-cias supracitadas:

O cliente deve se envolver ativamente, em geral através de um gerente de projetos com habilidades multidisciplinares, com um brief claro e objetivo, metas de desempenho e processos de monitora-mento durante as fases de projeto.

No caso do projeto de envoltórias essas metas en-volvem entre outras, metas para iluminação natu-ral, conforto térmico, controle de ofuscamento e carga térmica máxima.

Sem metas claras, não se pode medir o sucesso;

O arquiteto deve se tornar o líder da equipe (e não apenas um compatibilizador), observando o aten-dimento das metas de desempenho, ora defen-dendo e implementando suas idéias originais, ora cedendo à outros conceitos propostos por outros especialistas e adaptando seu projeto em prol do atendimento das metas ambientais;

As equipes de engenheiros e especialistas devem assumir participação ativa e principalmente de natureza consultiva (não apenas executiva). Os mesmos devem ser envolvidos sempre no início do projeto conceitual, podendo (e devendo) analisar criticamente e questionar o brief do cliente sempre que necessário para o atendimento das metas am-bientais. As próprias metas de desempenho am-biental do cliente devem ser questionadas quando pertinente;

Mindlin Loeb + Dotto Arquitetura

O processo deve sempre incluir espe-cialistas nas diversas áreas do con-forto ambiental e energia;

O processo deve admitir a produção de testes e simulações computacio-nais que estudem diversas opções de projeto, validando em última instân-cia a mais adequada ao atendimen-to das metas de desempenho. Idéias pré- concebidas antes do início do processo de projeto devem sempre ser testadas, pois o que funcionou em um projeto específico no passado pode não funcionar em outros.

Sistema de HVAC

Temp. Ext. > 22ºC

Ventilação Natural - Fachada Norte

16ºC < Temp. Ext. < 22ºC - 23ºC - com vento na fachada norte

O projeto contempla envoltória de alto desempenho e espaços adequadamente dimensionados para funcionar com

ventilação natural pela maior parte do ano.

yearbook 2016

Page 14: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados2726

Essa pergunta clássica é constante no mercado. Surge em reuniões de trabalho, em congres-

sos, discussões em revistas. Em geral, para efeito de cálculo de sobre-custo utiliza-se o parâmetro da certificação, no Brasil em geral o LEED. Como o termo “edifício sustentável” pode signifcar vir-tualmente qualquer coisa, a discussão de custos costuma se basear nos custos de uma edificação certificada, o que em muitos casos é um parâmetro adequado para efeito de comparação (com ressal-vas, mas um bom parâmetro).

Em geral as respostas à essa pergunta são vagas. A resposta mais comum entre consultores é “um bom projeto pode ser dotado de características sustentáveis sem sobre-custo algum, se o projeto for bem feito”. Essa resposta pode estar correta. Mas nem sempre, principalmente no Brasil. Expli-co as razões à seguir.

O conceito de custo extra em edificações certifica-das sempre será relativo e depende do rigor da le-gislação local e do padrão atual de mercado.

O sobre –custo será tão baixo quanto rigorosas forem a legislação local e o padrão de mercado. É portanto um sobre-custo aparente e não absoluto. Devido ao padrão atual de mercado e a inexistên-cia de legislação específica adequadamente rigoro-sa, o sobre-custo no Brasil existe.

Em 2003, no início da difusão do sistema LEED nos Estados Unidos, o Governo do Estado da Califórnia encomendou um estudo (KATS, G. 2003. The Cost and Financial Benefits of Green Buildings) com o objetivo de compreender os reais custos de edifi-cações certificadas. Coletaram dados e custos de projetos certificados naquele país durante os 4 primeiros anos de aplicação do sistema LEED. Os resultados indicaram um acréscimo que variava de acordo com o nível de certificação, de 0,66% a 6,5% em comparação com edifícios não certifica-dos.

Esse sobre-custo é relativo à realidade do mercado norte- americano da época e não pode, no entanto, ser transposto ao Brasil dos dias de hoje.

Quanto custa a sustentabilidade de uma edificação?

SENACOurinhos|SP, Brasil (2016)

Ca2|Consultores Ambientais Associados

yearbook 2016

Aflalo/Gasperini arquitetos

Page 15: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados2928

Nos países onde a cultura da sustentabilidade já atingiu estágios mais avan-çados de maturidade, como Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Alemanha, os próprios códigos de edificações obrigam o mercado a “elevar a régua” na concepção de edifícios convencionais, não certificados. Isso reduz os custos adicionais aparentes.

O padrão de mercado também regula esse sobre-custo aparente. Em 2002, ano do surgimento do sistema Australiano Green Star os edifícios de escritó-rios naquele país eram em sua maioria providos de vidros laminados.

Após os primeiros 5 anos de aplicação do sistema, o mercado passou a produ-zir largamente edifícios com fachadas de vidros insulados low-e, adequados ao clima local, assim como a explorar alternativas para a aplicação de ele-mentos sombreadores externos (brises). Atualmente, edifícios certificados no país são dotados quase que em sua totalidade por ambos os elementos. O mercado se transformou, e o que era considerado inovador antes, tornou-se padrão, o que contribui para a redução de sobre-custos aparentes.

Na nossa experiência no Brasil, entendemos que a média de acréscimo de custos em uma edificação certificada pelo LEED por exemplo fique próximo dos 2% a 6%, podendo chegar à 10-12% em determinadas regiões. Perce-bemos também que nos últimos 5 anos esse acréscimo vem sofrendo ligeira redução, principalmente quando observados projetos elaborados pela mes-ma empresa incorporadora e equipe de projeto. A experiência adquirida na concepção de edifícios sustentáveis é um grande aliado na redução de custos capitais.

Entendo que empresas de incorporação e construção podem reduzir signi-ficativamente o sobre-custo de edificações certificadas, porém não eliminar por completo os custos adicionais decorrentes da intenção de certificar en-quanto nossa legislação não elevar o padrão. Cito um bom exemplo de proje-to cujos sobre-custos foram reduzidos em função de uma adequada concep-

Ventilação Natural Sistema de HVAC

Aflalo/Gasperini arquitetos

Page 16: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2 yearbook 2016

Ca2|Consultores Ambientais Associados3130

ção de projeto integrado em um contexto em que a legislação e o padrão de mercado são restritivos.

Em meu portfólio de projetos, consta participação na equipe de consultoria em sustentabilidade do edifício Sydney

Water Potts Hill na Austrália, sede da empresa de abastecimento de água de Sydney, cuja foto ilustra esse artigo. Se considerarmos o código de edifica-ções vigentes e as práticas tradicionais de mercado podemos afirmar que a certificação não elevou os custos de construção além do convencional.

O edifício, certificado pelo sistema Green Star con-ta com 6.000 m2 de área de escritórios divididos em 2 pavimentos. Possui um fantástico átrio cen-tral que traz luz natural aos espaços de trabalho e áreas de uso comum.

Suas fachadas são dotadas de vidros insulados low-e e são protegidos externamente por brises com-pletamente integrados à arquitetura e adequada-mente dimensionados para reduzir a carga de pico, o consumo anual de energia e proteger os ocupan-tes contra ofuscamento. O edifício opera durante as estações intermediárias sob o regime de vetila-ção natural, o que é possível através de aberturas adequadamente posicionadas e dimensionadas e em função da redução de carga térmica de facha-da proporcionada pelos brises. É um edifício de escritórios quase que convencional com base na legislação local e práticas vigentes, portanto não apresenta custos adicionais no mercado em que se insere.

No Brasil, onde a prática vigente e a legislação per-mitem a criação de verdadeira estufas, edifícios

caixas de vidro, obviamente algum custo extra irá incorrer na busca pela certificação, sejam elemen-tos de fachada, sejam sistemas prediais mais efi-cientes para compensar os gastos energéticos de-correntes de excessiva carga térmica.

O aumento de custos em projetos sustentáveis ainda é no Brasil forte impeditivo de investimen-tos. Em especial àquelas empresas que produzem edifícios especulativos e não se beneficiam da eco-nomia nos custos de operação. Em alguns casos o custo será realmente proibitivo, em especial nos empreendimentos de menor porte.

O que o Brasil ainda não respondeu definitivamen-te são perguntas como: “Quanto a mais o mercado está preparado para pagar por edifícios sustentá-veis?” ou “Quanto a mais vale o aluguel de edifícios

sustentáveis em função da economia em operação “. Um estudo elaborado em 2011 pela Western Syd-ney University (“Building Better Returns: A study of the Financial Performance of Green Buildings in Australia”) avaliou o retorno financeiro de edifícios sustentáveis após 11 anos de aplicação do sistema de certificação local Green Star (com cerca de 360 edifícios certificados até então). Os autores con-cluiram que projetos certificados possuem um va-lor de venda e de aluguel respectivamente de 12% e 5% superior a edifícios convencionais, e atingem taxa de vacância de até 2% a menos do seus pares não certificados. Não há no Brasil um estudo con-clusivo como esse.

Que nosso mercado possa substituir o “quanto cus-ta a mais”, pelo “quanto vale a mais”.

Ca2|Consultores Ambientais Associados

yearbook 2016

Aflalo/Gasperini arquitetos

Page 17: De volta à prancheta - gbcbrasil.org.br · Em nossa prática profissional nos últimos 10 ... do de menor consumo, como as centrais de Água ... que cada estratégia de projeto irá

De volta à prancheta: Ensaios sobre a Ciência da Arquitetura Sustentável no trabalho da Ca2

Ca2|Consultores Ambientais Associados32

Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1378Jd. Paulistano, São Paulo, SP | Brasil 01442-001

[email protected] 11 3081 2569

/ca2consultoresambientaisassociados

/company/ca2-consultores-ambientais-associados

www.ca-2.com

fin