pequenas centrais hidrelétricas

154
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS Aplicação ao seu desenvolvimento na América Latina e no Caribe

Upload: aafgalo

Post on 14-Dec-2015

66 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Pequenas Centrais Hidrelétricas

TRANSCRIPT

PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Aplicação ao seu desenvolvimento na América Latina e no Caribe

Pequenas Centrais Hidreléctricas

Índice

PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS .................................................................................................... 1

Objetivos do Módulo .............................................................................................................................. 1

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 2

1.1 Introdução .................................................................................................................................... 2

1.2 Desenvolvimento das pequenas usinas hidrelétricas. ................................................................. 4

1.3 Classificação das pequenas usinas hidrelétricas. ......................................................................... 5

1.4 Potencial hidrelétrico aproveitável. ............................................................................................. 6

1.5 Potencia instalada em pequenas usinas hidrelétricas nos países da América Latina e do Caribe ........................................................................................................................................................... 6

Resumo .............................................................................................................................................. 7

2. ESTUDO DO RECURSO HIDRÁULICO.................................................................................................... 8

2.1 Processo de gestação de um projeto de uma pequena usina hidrelétrica ................................. 8

2.2 Estudo prévios ............................................................................................................................. 8

2.3 Determinação da queda líquida ................................................................................................. 45

2.4 Potencia teórica de uma queda d’água ..................................................................................... 46

2.5 Potencia instalada e produção .................................................................................................. 47

Resumo ............................................................................................................................................ 49

3. TIPOS DE MINI USINAS ...................................................................................................................... 50

3.1 Tipos de mini Usinas Hidrelétricas ............................................................................................. 50

Resumo ............................................................................................................................................ 58

4. OBRA CIVIL ........................................................................................................................................ 59

4.1 Introdução ............................................................................................................................. 59

4.2 Açude .................................................................................................................................... 60

4.3 Escada de peixes ................................................................................................................... 62

4.4 Tomada de água .................................................................................................................... 63

4.5 Canal de derivação ................................................................................................................ 63

4.6 Desarenador e câmara de carga ........................................................................................... 67

4.7 Conduto forçado ................................................................................................................... 69

4.8 Edifício da usina .................................................................................................................... 72

4.9 Sistema de descarga ............................................................................................................. 73

Resumo ............................................................................................................................................ 75

Pequenas Centrais Hidreléctricas

5. TURBINAS HIDRÁULICAS ................................................................................................................... 76

5.1 Introducción. Descripción general ........................................................................................ 76

5.2 Descrição geral. Localização da turbina dentre os componentes principais da usina .......... 77

5.3 Percurso da água na turbina. Elementos fundamentais ....................................................... 79

5.4 Fundamento hidráulicos teóricos ......................................................................................... 82

5.5 Parámetros hidráulicos básicos de una turbina .................................................................... 84

5.6 Tipos de turbinas hidráulicas. Escolha .................................................................................. 85

5.7 Considerações para sua escolha ........................................................................................... 91

Resumo ............................................................................................................................................ 91

6. EQUIPO ELECTROMECÁNICO ............................................................................................................ 92

6.1 Elemento de fechamento e regulação .................................................................................. 92

6.2 Turbina Hidráulica ................................................................................................................. 95

6.3 Grupo óleo-hidráulico ........................................................................................................... 95

6.4 Caixa multiplicadora de Velocidade ...................................................................................... 96

6.5 Gerador síncrono .................................................................................................................. 99

6.6 Equipamento elétrico geral ................................................................................................. 105

6.7 Equipamentos auxiliares ..................................................................................................... 112

6.8 Elementos de regulação, controle e proteção .................................................................... 112

Resumo .......................................................................................................................................... 115

7. AUTOMATIZAÇÃO E CONTROLE ...................................................................................................... 116

7.1 Automatização e controle ................................................................................................... 116

7.2 Modos de funcionamento................................................................................................... 119

Resumo .......................................................................................................................................... 121

8. IMPACTO AMBIENTAL. GESTÃO ADMINISTRATIVA ........................................................................ 122

8.1 Fases de um estudo de impacto ambiental ........................................................................ 122

8.2 Análises do projeto ............................................................................................................. 124

8.3 Identificação e avaliação de impactos ................................................................................ 124

8.4 Medidas preventivas e corretivas ....................................................................................... 125

8.5 Efeitos positivos do ponto de vista ambiental .................................................................... 125

8.6 Trâmites Administrativos .................................................................................................... 126

8.7 Legislação ............................................................................................................................ 127

Resumo .......................................................................................................................................... 128

TEMA 9. ASPECTOS ECONÓMICOS ..................................................................................................... 129

9.1 Índice de potencia ............................................................................................................... 129

9.2 Índice de energia ................................................................................................................. 129

9.3 Horas equivalentes de funcionamento ou tempo característico ....................................... 130

Pequenas Centrais Hidreléctricas

9.4 Fator de capacidade ............................................................................................................ 130

9.5 Fiabilidad y disponibilidad ................................................................................................... 130

9.6 Critérios para analisar a rentabilidade do investimento .................................................... 131

9.7 Fatores a considerar no estudo econômico ........................................................................ 132

9.8 Calculo de investimento de uma mini usina hidrelétrica ................................................... 133

9.9 Exemplo de cálculo de investimento e rentabilidade econômica ...................................... 134

9.10 Conclusões finais ............................................................................................................. 137

Resumo .......................................................................................................................................... 137

Glossário ............................................................................................................................................. 138

Bibliografia .......................................................................................................................................... 143

Páginas de Internet ............................................................................................................................. 145

Índice de figuras .................................................................................................................................. 146

Tabelas/Gráficos/Figuras .......................................................................................................................... 146

Pequenas Usinas Hidreléctricas 1

PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS Aplicação ao seu desenvolvimento na América Latina e no Caribe

Objetivos do Módulo Pretende-se apresentar os fundamentos teóricos relativos ao estudo de um aproveitamento hidrelétrico em um determinado local, bem como revelar as diferentes tipologias de pequenas usinas hidrelétricas e seus componentes; da obra civil ao equipamento eletromecânico.

Os objetivos mais importantes deste módulo são:

Entender como se avalia o recurso hidráulico disponível em um determinado local, para

determinar a queda líquida e a vazão de equipamento.

Definir a tipologia da usina hidrelétrica a ser instalada em cada local, bem como todos seus componentes relacionados com a obra civil.

Entender o funcionamento das turbinas hidráulicas, os tipos que podem ser utilizados e o processo de escolha da turbina ideal.

Definir e dimensionar o equipamento eletromecânico da usina.

Analisar os distintos modos de funcionamento e o aproveitamento de automatização.

Estudar o impacto ambiental que representa a instalação de uma pequena usina hidrelétrica.

Considerar aspectos econômicos e estudar a rentabilidade econômica.

Estudo de viabilidade de um aproveitamento hidroelétrico aplicado a uma área concreta de LAC (a resposta do exercício está na documentação anexa).

Os conteúdos dos módulos se estruturam nos seguintes temas:

1. Introdução. Estado da arte. Classificação

2. Estudo do recurso hidráulico, como aproveitamento hidroelétrico

3. Tipologias de pequenas centrais hidráulicas

4. Obra civil. Componentes

5. Turbinas hidráulicas. Fundamentos teóricos. Descrição dos elementos básicos

6. Equipamento eletromecânico

7. Automatização e Controle. Modos de funcionamento

8. Impacto ambiental. Legislação

9. Aspectos econômicos e rentabilidade

Pequenas Centrais Hidreléctricas

2

1. INTRODUÇÃO

1.1. Introdução

Dentre as energias renováveis, a energia hidrelétrica é a principal aliada na geração limpa, autóctone e inesgotável, constituindo uma das principais fontes de eletricidade.

A energia hidráulica é a energia cinética do movimento de massas de água e a energia potencial da água disponível a uma altura determinada. Indiretamente, provém da radiação solar, no que se conhece como ciclo hidrológico (figura 1.1).

Figura 1.1 A energia hidráulica no ciclo hidrológico. Fonte: Centrais de energias renováveis. José Antonio Carta

A produção mundial anual foi de 3288 TWh em 2008 (IEA, “Informações sobre a electricidade” de 2010), equivalente a 16,3% da produção total de eletricidade global.. Em alguns países da América Latina, a fração da energia elétrica gerada com as usinas hidrelétricas alcança um alto nível: Equador 85%, Peru 79%, Brasil 78,2%, Colômbia 77%. Em outros países, a fração da energia elétrica com usinas hidrelétricas é consideravelmente menor: nos Estados Unidos, por exemplo, é somente de 10%; no Japão, 12,2%; na Espanha, 20%, na CEI, 14%, etc. Estes dados justificam-se a partir do ponto de vista de que a energia elétrica nos países é obtida principalmente através da exploração de centrais térmicas (de carvão e gás natural) e nucleares.

Em termos de produção mundial, de “Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos” da

UNESCO, divulga previsões de crescimento para o ano 2010 em que se constata este maior

Pequenas Centrais Hidreléctricas

3

potencial de crescimento nos países em desenvolvimento. Na Tabela 1.1 é possível observar como a União Européia e seus países mais próximos, que em 1995 possuíam 18,5% da população mundial, somente representavam uma décima parte no ano 2010. Isso se deve ao crescimento, principalmente, da Ásia e, em menor medida, da América Latina.

Tabela 1.1 Produção de energia hidráulica no mundo. Fonte: UNESCO

Localização Área de mercado

1995 (TWh/ano) % 1995 2010 (TWh/ano) % 2010

Mundo Grandes usinas 2.265 100 3.990 100

Pequenas usinas 115 100 220 100

Total 2.380 100 4.210 100

UE+AELC Grandes usinas 401,5 17,73 443 11,10

Pequenas usinas 40 34,78 50 22,73

Total 441,5 18,55 493 11,71

CEE Grandes usinas 57,5 2,54 83 1,44

Pequenas usinas 4,5 3,91 16 7,28

Total 62 2,60 99 2,35

CIS Grandes usinas 160 7,06 388 9,72

Pequenas usinas 4 3,48 12 5,45

Total 164 6,89 400 9,50

NAFTA Grandes usinas 635 28,03 685 17,17

Pequenas usinas 18 15,65 25 11,36

Total 653 27,44 710 16,86

OCDE Zona Pacífica Grandes usinas 131 5,78 138 3,46

Pequenas usinas 0,7 0,61 3 1,36

Total 131,7 5,53 141 3,35

Zona mediterránea Grandes usinas 35,5 1,60 72 1,80

Pequenas usinas 0,5 0,43 0,7 0,32

Total 36 1,51 72,7 1,73

África Grandes usinas 65,4 2,89 147 3,68

Pequenas usinas 1,6 1,39 3 1,36

Total 67 2,81 150 3,56

Oriente Medio Grandes usinas 24,8 1,09 49 1,23

Pequenas usinas 0,2 0,17 1 0,45

Total 25 1,05 50 1,19

Asia Grandes usinas 291 12,85 1.000 25,06

Pequenas usinas 42 36,52 100 45,45

Total 333 13,99 1.100 26,13

América Latina Grandes usinas 461,5 20,37 990 24,81

Pequenas usinas 3,5 3,04 10 4,54

Total 465 19,54 1.000 23,75

UE + AELC: União Européia e Associação Européia de Livre Comércio; CEE: Europa Central e do Leste;

CEI: Comunidade de Estados Independentes; Países NAFTA: Estados Unidos, Canadá e México; OCDE

Zona Pacífica: Austrália, Japão, Nova Zelândia; Zona Mediterrânea: Turquia, Chipre, Gibraltar, Malta; Ásia: Ásia sem incluir a ex-URSS.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

4

Em grande escala esta fonte de energia tem um campo de expansão limitado devido a aspectos de caráter financeiros, ambientais e sociais. Em pequena escala (na maior parte dos países com uma potencia instalada menor ou igual a 10 MW), a geração hidrelétrica com pequenas usinas oferece possibilidades de crescimento, em razão da diversidade de vazões que ainda são suscetíveis de aproveitamento.

Existem inúmeras vantagens que são compartilhadas entre as pequenas e grandes usinas hidrelétricas. As vantagens gerais são:

Constitui uma fonte de energia renovável

É uma tecnologia madura, consolidada e com alto nível de confiança e rendimento.

Os custos da energia gerada são praticamente independentes dos efeitos inflacionários. Constituem uma fonte de energia autóctone e, portanto, seu aproveitamento reduz a vulnerabilidade energética do país com relação aos mercados internacionais de combustíveis fósseis.

Seus custos de operação e manutenção são relativamente baixos.

Têm uma vida relativamente longa.

Possui um alto grau de disponibilidade operativa.

1.2. Desenvolvimento das pequenas usinas hidrelétricas.

A princípios do século XX ocorreu uma intensa construção de pequenas usinas hidrelétricas na América do Norte, Europa e Ásia [1]. Nos anos 1920, a energia hidrelétrica gerada constituía 40% do total produzido mundialmente pelas usinas em seu conjunto. Depois, durante um longo período (50 anos), houve uma queda na construção de pequenas usinas hidrelétricas, dando lugar às grandes usinas hidráulicas que possuíam um maior rendimento econômico. Durante a década dos 70, em muitos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, devido à crise energética mundial, as usinas hidrelétricas de pequena potencia atraíram novamente a atenção com o auxílio das seguintes razões:

Brusco aumento dos preços do petróleo

Aumento dos requerimentos ecológicos durante a construção

Necessidade de eletricidade nas regiões distantes e de difícil acesso

Tendência ao uso múltiplo dos recursos hidráulicos, o que reduz os investimentos na hidroenergia.

Por estas razões, em muitos países a construção de pequenas usinas recebeu um novo impulso. Assim, ampliou-se a cooperação internacional neste terreno: em 1982 foi realizada a Conferência Européia de Pequenas Usinas Hidrelétricas em Montecarlo e, em 1984, a I Conferência Internacional sobre Pequenas Usinas Hidrelétricas em Singapura. No seio da Comissão Internacional sobre Energia (IEC) fundou-se o grupo de trabalho de pequenas usinas hidrelétricas para desenvolver os requerimentos técnicos no projeto, construção e exploração. Na Espanha, em 1980, criou-se a Comissão de Pequenas Usinas hidrelétricas e uma análise de sua distribuição geográfica.

[1] José Mª de Juana. Energias Renováveis para o Desenvolvimento. .Editorial Thomson Paraninfo 2003

Pequenas Centrais Hidreléctricas

5

De acordo com o "Livro Branco para uma a Estratégia Comum e um Plano de Acção para as Energias Renováveis", desenvolvido em 1997 pela Comissão das Comunidades Européias, o objetivo geral fixado pela UE em pequenas usinas hidrelétricas é alcançar 14.900 MW no ano 2010.

1.3. Classificação das pequenas usinas hidrelétricas.

As pequenas usinas hidrelétricas podem ser classificadas por distintos parâmetros tais como potencia, altura de carga e regime de trabalho, dentre outros. Na grande maioria dos países toma-se como base a potencia instalada em kW ou MW (Tabela 1.2). Em alguns países consideram-se pequenas usinas hidrelétricas aquelas com um potencial de até 2.000 kW (Itália, Noruega, Suécia, Suíça) ou até 5.000 kW (Áustria, Índia, França, Canadá, Alemanha e outros). A organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial. (ONUDI) tipifica como pequenas usinas hidrelétricas as que possuam uma potencia instalada de até 5.000 kW. Em outros países, consideram esta potencia até 30.000 kW, como nos Estados Unidos e no CEI.

A Organização Latino-americana de Desenvolvimento de Energia (OLADE) considera como pequena usina as que possuem uma potencia entre 1.000 e 10.000 kW.

Esta diversidade na classificação das pequenas usinas hidrelétricas resulta dos diferentes níveis de desenvolvimento alcançados nos distintos países, das particularidades das condições naturais, dos diferentes procedimentos de reconhecimento dos projetos de aproveitamentos hidrelétricos assim como de outros fatores.

Tabela 1.2 Classificação das pequenas usinas hidrelétricas

Potencia limite instalada da central (kW) País, organização

internacional Pequena usina Mini usina Micro usina

Pins 30.000

Pins 30.000

Pins 12.000

Pins = 100 - 1000

Pins 100

CEI ( antiga URSS)

Estados Unidos

China e países do sudeste da Ásia

Pins 5.000 América Latina (OLADE)

Pins 5.000

Pins 10.000 (*)

UNIDO, Áustria, Espanha*, Índia, Canadá, França, Alemanha e outros

Pequenas Centrais Hidreléctricas

6

1.4 Potencial hidrelétrico aproveitável.

Para determinar o potencial hidrelétrico aproveitável é necessário avaliar os recursos potenciais que podem ser aproveitados em cursos pequenos, médios e grandes dos rios.

Esta classificação, de acordo com seu tamanho, pode ser feita com base em diferentes critérios: por vazão, potencia, comprimento do rio e área da bacia, dentre outros. Segundo o critério da área da bacia, os pequenos rios possuem até 5.000 km2 e os médios até 100.000km2.

Podemos distinguir três tipos de potencial hidrelétrico (figura 1.2):

Teórico (bruto): energia teórica do curso de água sem considerar perdas

De exploração: energia do curso de água que tecnicamente pode ser aproveitada considerando perdas. Mundialmente esta magnitude é avaliada em uma média de 60%.

Econômico: energia do curso de água cuja utilização resulta economicamente efetiva. Mundialmente representa 47% do potencial de exploração e 26% com relação ao teórico.

O potencial hidrelétrico econômico, diferentemente do teórico e técnico, varia com relação ao tempo e utilização, dependendo das condições energéticas e econômicas.

1.5 Potencia instalada em pequenas usinas hidrelétricas nos países da América Latina e do Caribe

Conforme o estudo Climascopio 2012, divulgado na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20 e realizado pelo Fundo Multilateral de Investimentos, a porcentagem de potencia instalada em pequenas usinas hidrelétricas em MW até 2011, nos países da América Latina e do Caribe, foi a seguinte:

Tabela 1.3 Porcentagem de potencia instalada em MW. Fonte: Climatescope Estudo de 2012

PAÍS % DE POTENCIA

INSTALADA

Argentina 2

Belize 39

Bolívia 18

Brasil 4

Chile 4

Colômbia 3,9

Costa Rica 10

República Dominicana 7

Equador 6

El Salvador 2

Guatemala 10

Haiti 45

Honduras 9

Jamaica 3

Nicaragua 5

Panamá 13

Perú 6

Pequenas Centrais Hidreléctricas

7

Resumo

Neste tema 1, de introdução, realizou-se uma apresentação do aproveitamento da energia hidrelétrica enfocada em pequenas usinas hidrelétricas com uma potencia média de 10 MW na maioria dos países. Analisou-se seu grau de desenvolvimento em âmbito mundial e sua classificação em micro, mini e pequenas usinas hidrelétricas. Ademais, apresentou-se também o potencial hidrelétrico aproveitável no mundo e a potencia instalada até o ano 2011 nos países da América Latina e do Caribe, de acordo com o estudo Climascopio 2012, divulgado na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20 e realizado pelo Fundo Multilateral de Investimentos ( www5.iadb.org /mif/Climatescope/2012).

Pequenas Centrais Hidreléctricas

8

2. ESTUDO DO RECURSO HIDRÁULICO 2.1 Processo de gestação de um projeto de uma pequena usina hidrelétrica

O processo de gestação de um projeto de uma pequena usina hidrelétrica pode ter várias origens. As mais frequentes são:

Projeto que faz parte de um desenvolvimento em âmbito nacional ou regional, no qual geralmente são realizados estudos prévios ou existe informação básica preliminar suficiente.

Projeto proposto por uma comunidade ou prefeitura diante da necessidade de abastecimento energético de uma população ou região.

Projeto proposto por entidades privadas para usos da energia em processos industriais ou comerciais para a venda a populações ou às redes elétricas nacionais.

São vários os recursos que a natureza disponibiliza para a realização, conservação e exploração dos aproveitamentos hidrelétricos, ainda que, por sua importância, é possível citar três:

altura da queda

hidrologia

vazão sólida: elementos que a água carrega com seu movimento

Os dois primeiros permitem a execução e funcionamento do aproveitamento, enquanto o terceiro, consistente na entrada de elementos estranhos que deve ser evitada, pode resultar em problemas de índole diversa.

2.2 Estudo prévios

É necessário dispor de suficiente informação através de diversos estudos do meio físico da área ou região onde se pretende instalar a usina hidrelétrica. Isso permite conhecer com detalhes as características morfológicas, hidrológicas, socioeconômicas e de impacto ambiental para poder definir as alternativas tecnicamente e economicamente viáveis.

Na figura 2.1 se apresenta um fluxograma com os tipos de estudos a realizar.

2.2.1 Estudos da demanda

Este tipo de estudo é muito importante, principalmente quando se trata de fornecer energia elétrica a pequenas populações ou comunidades rurais isoladas da rede elétrica nacional. Utiliza-se para avaliar qual é a demanda de energia elétrica dos potenciais clientes da central e a forma do perfil de demanda diário.

2.2.2 Estudo socioeconômico

Neste se realiza a avaliação econômica do projeto, sua organização e desenvolvimento, além do impacto social que causaria na comunidade ou região como a compra de terras, a relocação de

Pequenas Centrais Hidreléctricas

9

comunidades inteiras, etc. Abrange o desenvolvimento e construção da usina, bem como a manutenção, administração e operação da mesma.

Figura 2.1 Fluxograma dos estudos para um aproveitamento hidrelétrico. Fonte: Elaboração própria T. Adrada

Pequenas Centrais Hidreléctricas

10

2.2.3 Estudos de impacto ambiental

As obras a serem construídas e a operação da usina implicam um grande impacto ambiental, pois se inunda uma grande extensão de terra, resultando em perdas agrícolas, de flora e fauna. Uma das barreiras mais importantes para o desenvolvimento desta tecnologia é o impacto ambiental que pode provocar. Na Tabela 2.1 estão presentes alguns destes impactos e as medidas corretoras a serem utilizadas.

Tabela 2.1 Impacto ambiental e medidas corretoras. Fonte: elaboração própria.

IMPACTO AMBIENTAL ESTRUTURAS QUE O PROVOCAM

MEDIDAS PROPOSTAS PARA REDUÇÃO

Detração de vazões (com a conseguinte perda de hábitat fluvial, que por sua vez provoca a diminuição das população de fauna piscícola, a redução da riqueza vegetal das margens, etc.)

Todas as instalações em conjunto.

Estabelecimento de uma vazão ecológica mínima

Medidas de revegetação e integração paisagística

Destruição de formações vegetais por ocupação das estruturas

Todas as estruturas Medidas de revegetação e integração

paisagística

Impacto visual Todas as estruturas

Medidas de revegetação e integração paisagística

Enterrar estruturas (canal de derivação, câmara de carga e conduto forçado)

Construção das estruturas com tipologia semelhante a do meio

Mortalidade de fauna piscícola Usina (pela ação da turbina)

Instalação de grades na entrada do canal

Instalação de uma barreira sônica para peixes na entrada do canal

Efeito barreira ao trânsito de fauna

Açude Instalação de uma escada para peixes

Impacto acústico Usina (turbina e geradores) Isolamento acústico da usina

2.2.4 Estudos geológicos e geotécnicos

Os estudos geológicos e geotécnicos indicam as condições e propriedades dos terrenos. Permitem obter uma boa informação sobre o subsolo. Realiza-se a localização e adequação das obras com relação à estabilidade dos terrenos. O estudos das possíveis falhas geológicas é essencial para o projeto e construção da usina, já que permite aos desenhadores ter uma ideia de quais riscos geológicos devem considerar no momento de projetar a usina. Um estudo completo deverá obter os conhecimento da Geologia Histórica, Geomorfologia, Estratigrafia e Geologia Estrutural da área. Normalmente nos projetos são analisados os seguintes pontos:

Pequenas Centrais Hidreléctricas

11

Disponibilidade de materiais de construção

Permeabilidade dos terrenos

Estabilidade das encostas

Métodos construtivos

O conflito enfrentado pelo planejador de pequenas usinas hidrelétricas consiste em ter que escolher entre:

Custo elevado dos estudos detalhados geotécnicos e hidrotécnicos para cada projeto.

Elevação de custos de construção ao desenhar obras com fatores de segurança elevados.

As falhas mais frequentes correspondem a problemas geotécnicos (40%) e hidrológicos (40%).

2.2.5 Estudos cartográficos e topográficos

A cartografia necessária é obtida através dos Institutos Cartográficos existentes nas diferentes comunidades ou regiões e permite fixar as coordenadas geográficas da área do projeto:

- Altitude

- Latitude

- Longitude

Geralmente, quando o estudo começa as informações disponíveis são:

- Mapas do país a escalas de 1:500.000 a 1:2.000.000

- Cartas nacionais a escalas de 1:25.000 a 1:200.000

- Fotografias aéreas a escalas de 1:10.000 a 1:60.000

A partir da informação topográfica, elabora-se um perfil do comprimento do rio (figura 2.2) que mostra, ao longo do seu curso, quais são as inclinações existentes em seu transcurso segundo a área de estudo, definindo os trechos com potenciais mais interessantes.

Figura 2.2 Perfil longitudinal de um rio. Fonte Adaptado de Rosgen (1996)

Pequenas Centrais Hidreléctricas

12

Com este perfil é possível conhecer fatores fundamentais: por um lado, a altura bruta da queda (Hb) em metros, isso é, a diferença de cotas entre o ponto em que se realiza a captação da água do rio e o ponto onde é devolvida a seu curso natural, depois de haver aproveitado sua energia potencial, ou energia de altura (figura 2.3).

Figura 2.3 Esquema geral de uma queda. Fonte: IDAE

Do mesmo modo, define-se a localização do canal, do conduto forçado e do lugar físico das máquinas em que será realizado o retorno das água ao seu curso natural através do canal de escoamento.

Recomendações adicionais na informação topográfica

• O local de descarga e a edificação das máquina deve cobrir pelo menos 50m ao longo do curso e nas margens, até 5m acima do nível de captação.

• O canal necessita uma faixa não maior que 10m de cada lado do eixo. Para o desarenador a largura do canal aumenta de 25 a 30% em um comprimento de 50m. O mesmo ocorre com a câmara de carga.

• Aoconduto de pressão é representada sobre um eixo com topografia de 10m para cada lado, e um perfil longitudinal com suficiente detalhe para o desenho das mudanças de direção do conduto de pressão com seus apoios e bases.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

13

A Tabela 2.2 mostra os intervalos entre as curvas de nível recomendáveis

Tabela 2.2 intervalos entre as curvas de nível. Fonte: Jairo Arcesio. Tese de Doutorado 1998

ELEMENTO INTERVALO ENTRE CURVAS (m)

ESCALA

Captação 0,50 1:200

Canal 2,00 1:2000

Desarenador 0,50 1:200

Câmara de Carga 0,50 1:200

Descargas 0,50 1:200

Conduto de pressão 0,50 1:100

Edifício de máquinas 0,50 1:2000

Caminhos de acesso 2,00 1:2000

Linha aérea 2,00 1:500

Por outro lado, a informação cartográfica e topográfica permite obter a superfície da bacia de drenagem em km2, chamada bacia hidrográfica ou topográfica (a) (figura 2.3.1), e que desemboca na captação de água ou, em outras palavras, na área na qual a chuva coletada pode ser aproveitada. Pode ser definida como a superfície na qual todas as águas procedentes das precipitações produzidas (em Hm3) (b), desembocarão no rio na área de coleta de água. Equivale à drenagem superficial desta superfície.

Figura 2.3.1. Detalhe de uma bacia hidrográfica

Pequenas Centrais Hidreléctricas

14

Uma bacia de drenagem se separa de suas vizinhas por uma linha de crista de curvas de nível (figura 2.4), cuja longitude será limitada por duas linhas de máxima inclinação.

Figura 2.4 Determinação da superfície de uma bacia

2.2.6 Estudos hidrológicos e pluviométricos

Estes estudos são os responsáveis pelo recursos hídrico disponível e determinam a vazão do projeto da usina.

Pretende responder duas perguntas:

• Qual é a vazão garantida ou projetada existente em um aproveitamento?

• Qual pode ser o valor do vazão de máxima cheia em um determinado momento? Sua avaliação é muito importante para dimensionar corretamente as obras de proteção e evacuação de enchentes.

A determinação da quantidade de água existente em um rio em um ponto determinado está vinculada às condições físicas de sua bacia de drenagem e às condições meteorológicas presentes na região.

Quando se dispõe de estações meteorológicas e de medições dentro da bacia de drenagem, a informação estatística que proporcionam permite determinar a curva de precipitação média, bem como a curva de vazões médias classificadas.

Se não se dispõe de estações meteorológicas e/ou pluviométricas dentro da bacia de drenagem, mas se conhecem suas características físicas, é possível avaliar a quantidade de água que pode passar por uma determinada seção de um rio interpretando a correlação destas condições.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

15

2.2.6.1 Determinação da vazão de equipamento da usina hidrelétrica Para a obtenção da vazão de equipamento são considerados três métodos de atuação:

• Por pluviometria • Por estação de Medição • Por correlação entre bacias com características, composição e proximidade semelhantes.

Os três métodos são válidos, ainda que a maior efetividade, em princípio, corresponda às estações de Medições. Contudo, sempre que possível, convém utilizar todos os métodos disponíveis devido à incerteza dos resultados, especialmente se somos conscientes de que o trabalho será realizado com base em dados passados e que se acredita que ocorrerão de forma cíclica, em distintos períodos de tempo.

2.2.6.1.1 Determinação da vazão de desenho por pluviometría

O estudo das precipitações é básico dentro de qualquer estudo hidrológico regional, para quantificar os recursos hídricos. Também é fundamental na previsão de inundações, desenho de obras públicas, estudos de erosão, etc. A precipitação é qualquer água meteórica coletada sobre a superfície da terra. Isto inclui basicamente: chuva, neve e granizo. A unidade de medida é o milímetro.

Precipitação= ET +Esc.Sup + Esc.Sub

Sendo:

Esc Sup. = Escoamento superficial Esc Sub = Escoamento subterrâneo ET = Evapotranspiração Denomina-se ciclo hidrológico (figura 2.5) ao movimento geral da água, ascendente em razão da evaporação e descendente, em primeiro lugar, pelas precipitações, e logo em forma de escoamento superficial e subterrâneo.

Figura 2.5 Ciclo hidrológico. Fonte: Departamento de Geologia da Universidade de Salamanca.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

16

O escoamento subterrâneo é muito mais lento que o superficial. Outros conceitos fundamentais são:

• Escoamento direto: o que chega aos cursos superficiais em um período de tempo curto após a precipitação e que normalmente envolve o escoamento superficial.

• Escoamento básico: o que alimenta os cursos superficiais na estiagem, durante os períodos sem precipitações e que normalmente envolve o escoamento subterrâneo.

Como média, na grande maioria das bacias hidrográficas:

(Precipitação) 670 mm (100%) = (ET) 480 mm (72%) + (Esc.Sup) 130 mm (19%) + (Esc.Sub) 60 mm ( 9%)

A relação entre a entrada no rio e a precipitação é conhecida pelo nome de coeficiente de escoamento e seu valor varia muito dependendo de inúmeras variáveis como a área de estudo, sua vegetação, a época do ano, etc.

Quando se sabe qual é a precipitação, a área da bacia de drenagem e o coeficiente de escoamento, obtém-se o valor do curso, de acordo com a fórmula 1:

Sendo

- Q = vazão em m3/s.

- I = Intensidade da precipitação em mm/hora

- A = superfície da bacia de drenagem em km2

- C = coeficiente de escoamento

O valor do coeficiente de escoamento pode ser calculado através da fórmula 2.

Nesta o Pd =precipitação diária em mm (obtida estatisticamente para o período de retorno considerado) e P0 =limiar de escoamento em mm.

Exemplo 1. Calcular a vazão do projeto para um período de retorno de 50 anos em uma bacia com uma superfície de 12,1Km2. Comprimento do curso: 5,1 km. Quota máxima: 956 m; Quota mínima: 889 m. A precipitação diária Pd: 71mm (para o período de retorno de 50 anos). Limiar de escoamento P0: 27mm. Intensidade de precipitação de 16,2 mm/hora.

Solução: Substituindo estes dados na fórmula 1, com x= Pd/P0 = 71/27=2,60

A Vazão de drenagem da bacia aplicando a fórmula 2:

Pequenas Centrais Hidreléctricas

17

Apresentação dos dados pluviométricos

A mensuração das precipitações é realizada através das estações pluviométricas distribuídas por todos o território nacional. Por exemplo, no caso da Espanha, estas estações dependem do Instituto Nacional de Meteorologia. Os dados são fornecidos de forma mensal e anual (ano hidrológicos), conforme mostra a seguinte figura 2.6.

Figura 2.6 Precipitações mensais médias. Fonte: Departamento de Geologia da Universidade de Salamanca.

O ano hidrológico varia de acordo com o regime climático. Em muitos países, é considerado de 1 de outubro a 30 de setembro, como é o caso da Espanha.

Os gráficos utilizados em pluviometria se denominam hietogramas e expressam precipitações em função do tempo. Podem figurar a precipitação que cai, ou a intensidade de precipitação (mm/hora) (figura 2.7).

Figura 2.7 Hietograma: Intensidade de precipitação em função do tempo. Fonte: Dpto. de Geologia da Univ. de Salamanca.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

18

Para calcular as vazões geradas nos cursos superficiais a partir das precipitações, por exemplo, para o desenho de obras públicas, utiliza-se a curva Intensidade-Duração (figura 2.8) que expressa a máxima intensidade de precipitação registrada em diversos intervalos de tempo.

Figura 2.8 Curva intensidade-duração. Fonte: Departamento de Geologia da Universidade de Salamanca.

É comum representar conjuntamente várias curvas de intensidade-duração para diversos períodos de retorno, ensejando uma família de curvas denominadas Intensidade-Duração-Frequência (Curvas IDF) (figura 2.9).

Figura 2.9 Curvas IDF. Fonte: Departamento de Geografia da Universidade de Salamanca

Pequenas Centrais Hidreléctricas

19

A frequência é o inverso do período de retorno. Ocorrendo algo a cada 50 anos, sua frequência é de 0,02.

Quando dispomos de séries pluviométricas longas (mais de 20 anos) podemos calcular a probabilidade existente de que as precipitações do próximo ano superem um valor determinado.

Normalmente trabalha-se com o dado da precipitação média sobre a bacia: volume total de água coletado na bacia. Conhecido o valor da precipitação média sobre uma bacia em um período de tempo determinado (um dia, um mês, um ano) e conhecida a superfície total da bacia, é possível obter o volume de água (lâmina de água captada).

Definida a superfície da bacia hidrográfica e sabendo os dados pluviométricos da área, podemos definir os seguintes conceitos:

• Descarga (Hm3): É o volume de água aportado pelo curso em um ponto determinado durante um ano.

• Vazão específica (litros/s.km2): Vazão por unidade de superfície. Representa a vazão aportada por cada km2 de bacia. Permite comparar bacias de superfícies distintas. As áreas de montanha proporcionam mais de 20 litros/s. km2, enquanto nas partes baixas da mesma bacia somente de 4 a 5 litros/s.km2.

• Lâmina de água equivalente: obtém-se dividindo a descarga pela superfície da bacia.

Na figura 2.10 apresentam-se os dados de descarga anual coletados em um bacia, com histórico de 30 anos.

Figura 2.10 Dados de descarga anual. Fonte CEDEX.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

20

2.2.6.1.2 Por estações de Medições

Destinam-se a medir uma vazão. Na Hidrologia superficial pode ser necessário medir pequenas vazões (litros/s) de rios com muitos m3/s. A determinação das vazões deve ser realizada por seções específicas, fixas e inalteráveis no tempo, denominadas medições.

Vários países dispõem de redes de estações de Medições. Os resultados são editados pelas Confederações Hidrográficas. Por exemplo, na Espanha, estas medições são realizadas nas estações de Medições distribuídas pelas diferentes Bacias Hidrográficas espanholas dependentes do Ministério de Fomento, através do CEDEX (Centro de Estudos e Experimentação de Obras Pública) (www.hercules.cedex.es). Atualmente, depende do Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente, sendo que o anuário de dados de medições pode ser encontrado em www.sig.magrama.es. Na figura 2.11 apresenta-se uma bacia que dispõe de um ponto de medição de águas acima do ponto de interesse.

Figura 2.11 Bacia hidrográfica com estação de Medição. Fonte: Jairo Arcesio. Tese Doutoral 1998.

2.2.6.1.2.1 Tipos de medições

As medições podem ser:

a) Medições diretas: Com algum aparelho ou procedimento medimos diretamente a vazão. Os métodos podem ser:

a.1) Método área velocidade: Molinetes, medidores ultrassônicos, etc.

a.2) Diluição com marcadores: Medição de descarga constante

a.3) Medição de descarga única ou de integração

Pequenas Centrais Hidreléctricas

21

b) Medições indiretas ou contínuas: Mede-se o nível de água no curso e, a partir deste nível, calcula-se a vazão. Os métodos são:

b.1) Estruturas hidráulicas com escalas linimétricas e linígrafos

b.2) Método área inclinada

Descrição dos métodos por medições diretas

a.1) Método área - velocidade com molinetes (figura 2.12). Mede-se a velocidade da água em seções conhecidas do curso e se calcula com:

Vazão (m3/s)= Seção (m2) x Velocidade (m/s)

• Divide-se a área transversal em seções não maiores que 1/15 a 1/20 da largura total da seção

• Em cada vertical, dentre as várias em que se divide a seção, medem-se velocidades a diferentes profundidades com molinetes e determina-se a velocidade média em cada seção. O molinete envia por cada volta um impulso elétrico que é registrado em um contador. Dispõe de uma curva que correlaciona o número medido de impulsos com a velocidade da corrente que se deseja medir. Isto permite obter o perfil vertical da velocidade da água em cada seção.

• Calcula-se a vazão correspondente em cada seção, conhecendo-se sua área.

• A Vazão total será a soma de todas as vazões obtidas em cada seção ou área.

Moinho de hélice

Pequenas Centrais Hidreléctricas

22

Figura 2.12 Método área - velocidade com molinetes.

a.2) Diluição com marcadores. Medições químicas.

Esta técnica é utilizada em correntes muito largas, em rios caudalosos ou em rios de montanha. Baseia-se em aplicar uma substância de concentração conhecida no curso que se dilui na corrente, tomando-se amostras a jusante. Quanto maior for a vazão, mais diluídas estarão as amostras analisadas.

É importante destacar que para aplicar este método parte-se do pressuposto de que a vazão é permanente e os marcadores possuem as seguintes propriedades:

• Não devem ser absorvidos pelos sedimentos ou vegetação, nem devem reagir quimicamente.

• Não devem ser tóxicos. • Devem ser facilmente detectáveis em pequeñas concentrações.

São 3 os tipos de marcadores:

• Químicos: desta classe são o sal comum e o dicromato de sódio • Fluorescentes: como a rodamina. • Materiais radioativos: os mais usados são o iodo 132, bromo 82, sódio.

O sal comum pode ser detectado com uma margem de erro de 1% para concentrações de 10 ppm. O dicromato de sódio pode ser detectado em concentrações de 0,2 ppm e os marcadores fluorescentes com concentrações de 1/1000. Os marcadores radioativos são detectados em contrações muito baixas (1/1014). No entanto, sua utilização requer pessoal muito especializado.

As medições químicas podem ser:

Medições de descarga constante (figura 2.13). Injeta-se um marcador em uma determinada seção em uma vazão constante, com uma concentração de marcador C1. Realizando-se um balanço de massa do marcador entre o ponto 1 e o ponto 2, supondo-se que a corrente leva uma concentração de marcador de C0, tem-se:

Q C0 + q C1 = (Q+q) C2

Pequenas Centrais Hidreléctricas

23

Mas como C0 ≅ 0 , q C1 = (Q+q) C2 e como Q+q ≅ Q, logo

Q = q (C1/C2)

Figura 2.13 Aforo de vertido constante. Fuente Dpto. Geología. Univ. Salamanca

Exemplo: Uma solução de sal comum com uma concentração de Co = 200 g/l foi aplicada em um rio com uma vazão constante de q= 25 l /s. O rio tinha uma concentração inicial de sal de C1 =10 ppm = 0,01 g/l. A jusante, mediu-se uma concentração de C2 = 45 ppm = 0,045 g/l.

Aplicando a equação anterior, tem-se que Q=113,6 m3/s

Medições de descarga única ou de integração (figura 2.14). Em uma seção 1 de um rio, adiciona-se um pequeno volume de marcador (V1) com uma concentração alta C1. Existindo no rio uma concentração C0, o perfil de concentrações se comporta com o tempo assim:

Figura 2.14 Medição de descarga única.

A continuação, tem-se:

Pequenas Centrais Hidreléctricas

24

Donde Q es el caudal que se desea conocer, resolviendo la ecuación para Q se tiene:

Q=

Descrição dos métodos por medições indiretas.

b.1) Estruturas hidráulicas com escalas linimétricas e linígrafos

• Escalas linimétricas: São escalas graduadas em centímetros presas ao solo. Todos os dias coleta-se o valor máximo e mínimo alcançado.

• Linígrafo: Aparelho que mede o nível da água através de uma boia. O valor é registrado de forma contínua.

escalas que indicam o canal real

hidrograma gráfico

disco conversor de h1 em Q

leitura do totalizador volumétrica

Pequenas Centrais Hidreléctricas

25

• Estruturas hidráulicas: São estruturas de controle fixas e inalteradas (conhecidas como vertedouros) em que a partir da medida do nível da água é possível estimar a vazão.

Estes vertedouros podem ser:

- de parede fina para vazões menores que 0,5 m3/s.

- de parede grossa para vazões maiores

Podem ser construídos com seções de triangulares, retangulares ou trapezoidais.

Pode-se estabelecer uma relação H-Q direta com o linígrafo e, a partir desta, pode-se obter um hidrograma de Q-t.

Figura 2.14.1 Curva H-Q e hidrograma Q-t

A) Vertedouro de parede fina

Pequenas Centrais Hidreléctricas

26

Os vertedouros de parede fina (figura 2.15) estão formados por uma placa com uma borda muito fina. Este tipo de estruturas utiliza-se como dispositivo de medição em canais de pequenas dimensões.

O ponto ou aresta mais baixa de um vertedouro é conhecido como crista (w), enquanto o desnível existente entre a superfície livre da água, a montante do vertedouro, e sua crista, são conhecidos coma carga hidráulica (H ou h).

A equação do vertedouro com seção retangular é:

Q= C.L.H 3/2 (m3/s)

Na qual C = coeficiente de contração do vertedouro, L = largura do vertedouro e H = altura da água. Dependendo da forma, a equação pode ser distinta:

TIPO DE VERTEDEURO Equação

RETANGULAR Q=C.l.H 3/2

TRIANGULAR Q=C.H 5/2

TRAPEZOIDAL Q= C.L.H 3/2

Figura 2.15 Vertedouro de parede fina: a) seção retangular, b) seção triangular e c) seção trapezoidal. Fonte: SOTELO ÁVILA; Gilberto. Hidráulica General.

Os valores de C podem ser obtidos mediante a medição de w e H

Pequenas Centrais Hidreléctricas

27

w H=0.05 H=0.10 H=0.20 H=0.40 H=0.60 H=0.80 H=1.00

0.5 2.316 2.285 2.272 2.266 2.263 2.262 2.262

1.0 2.082 2.051 2.037 2.030 2.027 2.026 2.025

2.0 1.964 1.933 1.919 1.912 1.909 1908 1907

B) Vertedouros de parede grossa

Os vertedouros de parede grossa são utilizados para medir grandes vazões (figura 2.16). A vazão sobre a parede possui linhas de correntes paralelas, de modo que existe uma distribuição de pressões hidrostáticas.

O valor da vazão pode ser calculado com a seguinte fórmula:

Sendo:

C = coeficiente de descarga b = comprimento do vertedouro ε1 = coeficiente que depende da relação (e/h) h = altura da água

Figura 2.16 Vertedouro de parede grossa e construção de um vertedouro em forma de V. Fonte: SOTELO ÁVILA, Gilberto. Hidráulica General. p. 267.

b.2) Método área-inclinada

Pode-se fazer uma estimativa aproximada do curso determinando as propriedades geométricas de duas seções diferentes, separadas por uma distância L e pelo coeficiente de rugosidade no curso.

Partindo-se do pressuposto de que existe um curso do rio com profundidades Y1 e Y2 nas seções 1 e 2, respectivamente, sendo NR o nível de referência (figura 2.17):

Pequenas Centrais Hidreléctricas

28

Figura 2.17 Método área-inclinada

Aplicando a equação de Bernoulli tem-se:

Na qual:

h = (Y+Z) e Hf são as perdas de energia que podem ocorrer usando a fórmula de Manning V = velocidade em m/s Rh = raio hidráulico em m Sf = inclinação da linha de energia A = área da seção transversal em m2 n = coeficiente de rugosidade de Manning

2.2.6.1.3 Determinação da vazão de equipamento por correlação de bacias

Em alguns casso pode ocorrer que não existam Estações de Pluviometria ou de medição na área em que será implantado o aproveitamento (figura 2.18), nem mesmo em todo o curso do rio, somente em áreas adjacentes com alguma estação que possa proporcionar os dados. Nesse caso, se as condições de vegetação, orientação das chuvas dominantes, morfologia, encostas, distância, etc., são adequadas, podem ser utilizados seus dados e aplicados à área a ser estudada. O coeficiente de aplicação a ser utilizada costuma ser o da relação entre as superfícies da bacia.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

29

Figura 2.18 Correlação entre bacias. Divisórias de águas: topográficas (em laranja), direção do escoamento nas ladeiras (azul escuro) e rede de drenagem principal (azul celeste). Fonte: Instituto Cartográfico de Valencia.

Para os estudos de viabilidade e avaliação de vazões, recomenda-se avaliar as seguintes características:

• Área da bacia (A) (km2). A área da bacia está definida pelo espaço delimitado pela curva do perímetro ou linha da crista das curvas de nível.

• Comprimento do curso principal (L) (km), perímetro (P) (km) e largura (W) (km). O comprimento L da bacia está definido pelo comprimento do curso principal, sendo a distância equivalente percorrida pelo rio entre o ponto de descarga a jusante e o ponto situado na maior distância topográfica a montante.

Comprimento do canal principal

A largura é definida como a relação entre a área (A) e o comprimento da bacia (L).

• Fator de forma. É a relação entre a área da bacia e o quadrado da longitude de seu curso principal. A forma da bacia determina seu conduto forçadomento hidrológico e influi diretamente no modo de escoamento.

• Fato de compacidade. É um índice comparativo com a forma da bacia de drenagem (perímetro e área da bacia).

• Extensão superficial da bacia. É o mais importante entre bacias. É a área circunscrita pelo “divortium-aquarum” ou linha divisória da bacia que influi diretamente nos resultados de qualquer fenômeno hidrológico que ocorra dentro dela.

- Bacia com estação de medição

- Bacia sem estação de medição

Pequenas Centrais Hidreléctricas

30

• Extensão superficial média. É a relação entre a área total da bacia e a dupla longitude do curso maior.

• Elevação média da bacia. Dentre os fatores que modificam as características hidrológicas de uma região encontra-se a altura sobre o nível do mar.

• Inclinação média do curso (j). Pode-se obter da informação topográfica. É a relação existente entre o gradiente de altitude da bacia e seu comprimento.

j = h/l, sendo que h = gradiente de altitude em km e L = comprimento da bacia em km.

• Inclinação média da bacia (J). Calcula-se como média ponderada das inclinações de todas as superfícies elementares da bacia nas quais a linha de máxima inclinação se mantém constante; é um índice da velocidade média de escoamento e, portanto, do seu poder para arrastar ou poder erosivo.

Na qual: Li = Comprimento de cada curva de nível (km) E = Equidistância das curvas de nível (km) A = superfície da bacia (km2)

2.2.6.2 Conclusões: utilização de um método ou outro

O método mais direto e fiável é utilizar os dados oferecidos pelas Estações de Medições, já que os valores obtidos são vazões em m3/s.

Atualmente, todas as obras realizadas nos rios implicam a realização de uma Estação de Medição, determinada pela Administração do Estado e que se encontra em bom estado, realizando medições fiáveis.

Para que um estudo hidrológico tenha validade, é preciso dispor de dados fiáveis de um período não menor do que 25 anos.

As Estações Pluviométricas, por seu próprio método de funcionamento, não estão relacionadas com o sistema das Estações de Medição. O fornecimento de dados mensais, o coeficiente de escoamento, etc., faz com que os dados obtidos se revistam de notável incerteza.

O sistema da correlação de bacias, sobretudo quando os dados a correlacionar são de precipitações, possui uma escassa fiabilidade.

De todos os modos, como já se indicou anteriormente, um estudo hidrológico é um estudo que prevê o que ocorrerá no futuro em função do que ocorreu nos anos passados. Isso indica que os anos abrangidos pelo estudo deverão ser suficientes para que possam abarcar um ciclo de umidade-seca completo pois, do contrário, as surpresas e principalmente as consequências poderiam ser muito importantes.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

31

2.2.6.3 Determinação da vazão de equipamento Define-se coma vazão de equipamento de um aproveitamento hidrelétrico aquela que fornece a maior quantidade de energia, considerando uma série de condicionantes como:

• a vazão ecológica.

• o Vazão mínima que pode ser admitida pela turbina, o Vazão mínima técnica

• o tipo de aproveitamento

• a disponibilidade ou não de uma represa reguladora, etc.

O estudo aqui realizado está baseado em um aproveitamento com água fluente, no qual não existe capacidade de regulação e as turbinas somente podem turbinar as vazões circulantes pelo rio.

2.2.6.3.1 Vazão ecológica

Os aproveitamentos hidrelétricos coletam a água em um ponto determinado do rio e a restituem ao curso natural em outro, situado a jusante e a uma distância, que pode ser considerável, do anterior. Isto ocorre sobretudo nos aproveitamentos hidrelétricos do tipo fluentes com canal de derivação (figura 2.19).

Figura 2.19 Usina de tipo corrente com canal de derivação. Fonte EVE

Pequenas Centrais Hidreléctricas

32

A área do rio assim definida deve dispor de vazões mínimas capazes de manter o funcionamento do ecossistema fluvial em todos seus níveis (figura 2.20), o que é possível ver nos gráficos que relacionam a Largura Ponderada Útil (LPU) com a vazão circulante pelo curso Q em cada um dos cursos considerados.

Figura 2.20 Ecossistema fluvial. Fonte: CONAMA (Congresso Nacional de Meio Ambiente - ETSI Montes).

A LPU total do curso, para uma vazão e etapa de vida concretos, determina-se como a soma das LPUs correspondentes a cada seção transversal do curso que representam com relação ao total. Uma vez calculadas as LPUs para diferentes vazões e etapas de vida, obtém-se curvas que servem para estabelecer o regime de vazões de manutenção ou servidão.

2.2.6.3.2 Métodos de modelagem do hábitat

Os métodos de modelagem da idoneidade do hábitat baseiam-se na simulação hidráulica, acoplada ao uso de curvas de preferência do hábitat físico para a espécie ou espécies objetivo, obtendo-se curvas que relacionem o hábitat potencial útil com a vazão nos cursos escolhidos.

Uma das metodologias mais utilizadas é a IFIM (Instream Flow Incremental Methodology), que analisa as diferentes condições hidráulicas produzidas em um curso com a variação das vazões circulantes, relacionando também as preferências das espécies escolhidas através do uso de curvas, obtendo finalmente uma relação entre a vazão circulante e o hábitat disponível para a espécie. Na figura 2.21 apresenta-se em que consiste esta metodologia

Pequenas Centrais Hidreléctricas

33

Figura 2.21 Metodologia IFIM

Dentre as vazões ecológicas podem-se destacar os seguintes:

• Vazão mínima absoluta: É a vazão capaz de suportar tanto a vida macro-invertebrada, como a piscícola e, portanto, deverá ser capaz de, pelo menos, gerar uma LPU igual a um metro ou a 10% da largura total do curso em cada seção (o que possuir maior número). Como largura média será considerada a correspondente ao nível de seção plena ou bankfull.

Para sua obtenção se utilizam as curvas LPU / vazão para cada transecção (técnica de observação e coleta de dados que estabelece uma rede de referências fixas) segundo o exposto na figura 2.22.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

34

Figura 2.22 Escolha da vazão ecológica. Curvas LPU/vazão. Descrição de uma transecção. Fonte: CONAMA (Congresso Nacional de Meio Ambiente - ETSI Montes).

• Vazão mínima de estiagem: É possível reforçar o critério do mínimo absoluto com a exigência de que a LPU seja maior do que 30% da largura média do curso, já que uma redução maior e permanente afetaria a ecologia de inúmeras espécies adaptadas a um rio de dimensão determinada. Esta vazão indicará o mínimo necessário na época de estiagem.

• Vazão mínima ideal: Outro critério para determinar a vazão ecológica mínima é encontrar a menor vazão a partir da qual a inclinação da curva LPU / Q diminui sensivelmente e, possivelmente, na qual maiores vazões não aumentariam apreciavelmente o hábitat útil.

• Vazão aconselhável: O conceito das vazões ecológicas aconselháveis nasce da observação do fato de que algumas vazões baixas, que originam escassez de peixes, não possuem interesse do ponto de vista da pesca esportiva ou da manutenção de populações piscícolas. Assim, considera-se que, sempre que possível, devem circular pelos cursos vazões aconselháveis capazes de manter uma biomassa ou produção piscícola em função dos fins perseguidos.

2.2.6.3.3 Normas ambientais

Atualmente existem normas ambientais em distintos países que indicam as vazões mínimas existentes em função da vazão presente em 347 dias do ano (obtida da curva de vazões classificadas).

Pequenas Centrais Hidreléctricas

35

Pode-se estabelecer que a vazão ecológica, em litros/segundo, deverá ser igual ou superior ao maior valor obtido nas três formulas seguintes:

2.2.6.3.4 Vazão mínima técnica

As turbinas obtém seu rendimento ideal para vazões circulantes compreendidas entre seu valor nominal e seu mínimo técnico. A primeira coincide com a do equipamento, isso é, aquela que fornece a máxima energia, enquanto a segunda depende do fabricantes da turbina e do seu tipo.

A Vazão mínima técnica é diretamente proporcional à vazão de equipamento (Qe) com um fator de

proporcionalidade K que depende do tipo de turbina:

Qmin = K. Qe

TIPO DE TURBINA FACTOR K

PELTON 0,10

FRANCIS 0,40

KAPLAN 0,25

SEMIKAPLAN 0,40

2.2.6.3.5 Tratamento estatístico dos dados da medição

Conforme comentou-se no ponto 2.2.6.2, o método mais direto e fiável é utilizar os dados oferecidos pelas Estações de Medição e, a partir destes, realizar:

Análise da série histórica

• A partir dos dados iniciais, realiza-se uma análise da descarga (Hm3) das estações de medição mais próxima da implantação da central (devem ter mais de 30 anos de dados de vazões médias diárias).

Classificação dos anos tipo

• Em todo estudo teórico ou com dados reais, é preciso obter uma série anual ou grande o suficiente que inclua anos secos (65-100%), úmidos (0-35%) e normais (35-65%).

Pequenas Centrais Hidreléctricas

36

• Com esta série, realiza-se uma distribuição estatística que tipifica os anos em função da descarga registrada (figura 2.23). Obtém-se um ano natural mais próximo à média, ao qual se denominará ano centralizado.

Figura 2.23 Curva de classificação dos anos hidrológicos. Fonte: IDAE

2.2.6.3.5.1 Curva de duração da vazão ou curva de vazões médias classificadas

É um procedimento gráfico para analisar a frequência dos dados de vazões e representa a frequência acumulada das vazões médias diárias ou mensais, indicando a porcentagem de tempo durante o qual as vazões se igualam ou superam um determinado valor.

Quando se dispõe de n dados de vazões, o tratamento estatístico encaminha-se a avaliar a probabilidade de que se apresente no futuro uma vazão maior ou menor do que um determinado valor, ou avaliar qual vazão superará uma determinada % dos anos, para considerar a probabilidade de que ocorram enchentes ou secas.

Deve-se ordenar os dados disponíveis do menor ao maior, desconsiderando sua ordem cronológica, e calcular para cada um a probabilidade (frequência relativa) de que a vazão ou descarga alcance este valor.

As curvas de duração de vazões fornecem informação sobre a porcentagem de tempo relativa a uma vazão de um rio superior ou inferior a um determinado valor, mas não refletem a distribuição ou sequência deste período, nem o momento do ano em que se produz, o que pode ser de grande importância para as espécies aquáticas.

A inclinação da curva depende do tipo de dados disponíveis (ver figura 2.24). Vazões diários produzem uma curva mais inclinada do que uma calculada com vazões mensais.

- A presença de um reservatório modifica a natureza da curva.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

37

- A forma e inclinação destas curvas refletem a capacidade de regulação da bacia hidrográfica ou a regulação artificial por reservatórios.

Figura 2.24 Curvas de duração de vazões

Quando se desenha um papel logarítmico, a curva se transforma em uma reta.

- Se a reta está muito inclinada, indica vazões variáveis.

- Se a inclinação é pequena, indica respostas lentas à chuva e variações pequenas da vazão.

As curvas de duração são utilizadas para a avaliação do potencial hidráulico de um rio, para estudos de controle de inundações, no desenho de sistemas de drenagem, para calcular a carga de sedimentos e para comparar bacias hidrográficas.

Através desta curva, definem-se também as seguintes vazões características (figura 2.25):

- Vazão de máxima cheia ou de inundação (QM): vazão de mais de 10 dias ao ano

- Vazão de seca: vazão que ultrapassa 355 por ano

- Vazão média anual: Valores médios das 12 vazões médias mensais (para cada ano)

- Vazão mínima provável ou de estiagem: é a vazão que a corrente deve fornecer durante todo o ano, com uma probabilidade de excedência próxima a 100%

- Vazão ecológica (Qsf): aquela que deve ser deixada no curso normal do rio. Inclui a vazão necessária para outros usos. A Vazão ecológica é fixada pelo Organismo da Bacia. Quando não existe uma estimação prévia, pode ser considerada como 20% da Vazão média interanual.

- Vazão mínima técnica (Qmt): é aquela diretamente proporcional à vazão de equipamento, com um fator de proporcionalidade K que depende do tipo de turbina.

- Vazão de equipamento ou vazão nominal (Qe): é a vazão que pode ser turbinada com uma determinada turbina hidráulica.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

38

Figura 2.25 Curva de vazões médias classificadas. Fonte: IDAE

EXEMPLO 1. Procedimento para obter a curva de vazões médias diárias classificadas

A seguir se descreverá o procedimento para a obtenção da curva de vazões médias diárias classificadas. De um determinado rio, dispõe-se dos dados de vazões médias diárias obtidas para cada dia e em cada mês, durante 20 anos, conforme consta na Tabela 2.3. Estes dados foram obtidos através de uma estação de medição

.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

39

Tabela 2.3 Dados de vazões médias diárias

Ordenando os valores da vazão do menor ao maior, desconsiderando a ordem cronológica de surgimento e descontando 20% da vazão ecológica para todo o ano, ficariam ordenados da forma apresentada na Tabela 2.4:

Vazão (Q) (m3/s)

Q – Qsf (m3/s)

Nº de vezes que o valor

se repete

Dias acumulados

Dias / ano

Horas disponíveis de

cada vazão (h)

Energia (kWh /ano)

0 0 0 0 365 0 0,0

5 4 7 7 358 168 48519,5

8,95 7,16 4 11 354 96 49628,5

9,5 7,6 12 23 342 288 158034,9

10,25 8,2 3 26 339 72 42627,8

11 8,8 1 27 338 24 15249,0

11,75 9,4 3 30 335 72 48866,0

12,5 10 5 35 330 120 86641,9

13,35 10,68 5 40 325 120 92533,6

14,2 11,36 3 43 322 72 59055,1

15,05 12,04 6 49 316 144 125180,2

15,9 12,72 13 62 303 312 286542,2

16,75 13,4 13 75 290 312 301860,4

17,6 14,08 4 79 286 96 97593,5

18,45 14,76 4 83 282 96 102306,8

19,3 15,44 10 93 272 240 267550,2

20,15 16,12 1 94 271 24 27933,4

21 16,8 9 103 262 216 262005,2

22,7 18,16 5 108 257 120 157341,7

25,25 20,2 12 120 245 288 420040,0

29,5 23,6 13 133 232 312 531634,8

31,2 24,96 1 134 231 24 43251,6

Dia JAN FEVER MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEM OUTUB NOV DEZE

Pequenas Centrais Hidreléctricas

40

Vazão (Q) (m3/s)

Q – Qsf (m3/s)

Nº de vezes que o valor

se repete

Dias acumulados

Dias / ano

Horas disponíveis de

cada vazão (h)

Energia (kWh /ano)

33,75 27 2 136 229 48 93573,3

34,6 27,68 2 138 227 48 95929,9

36,3 29,04 24 162 203 576 1207719,1

38 30,4 37 199 166 888 1949096,6

39,9 31,92 5 204 161 120 276561,0

42,75 34,2 12 216 149 288 711156,9

45,6 36,48 5 221 144 120 316069,7

47,5 38 16 237 128 384 1053565,7

49,4 39,52 1 238 127 24 68481,8

52,25 41,8 8 246 119 192 579461,2

53,2 42,56 1 247 118 24 73749,6

55,1 44,08 9 256 109 216 687451,7

57 45,6 14 270 95 336 1106244,0

59 47,2 2 272 93 48 163579,9

62 49,6 6 278 87 144 515692,7

67 53,6 5 283 82 120 464400,7

72,5 58 3 286 79 72 301513,9

75,8 60,64 2 288 77 48 210158,6

78 62,4 7 295 70 168 756903,8

80,2 64,16 2 297 68 48 222357,8

84,6 67,68 1 298 67 24 117278,5

86,8 69,44 1 299 66 24 120328,3

89 71,2 7 306 59 168 863646,7

94,75 75,8 1 307 58 24 131349,2

100,5 80,4 4 311 54 96 557280,8

102,9 82,32 2 313 52 48 285294,5

112 89,6 1 314 51 24 155262,3

117,6 94,08 1 315 50 24 163025,4

118 94,4 1 316 49 24 163579,9

118,88 95,104 1 317 48 24 164799,9

125,25 100,2 9 326 39 216 1562673,7

127,8 102,24 1 327 38 24 177165,4

131,62 105,296 5 332 33 120 912304,8

138 110,4 4 336 29 96 765221,4

144,5 115,6 2 338 27 48 400632,2

151 120,8 3 341 24 72 627980,6

164 131,2 3 344 21 72 682045,2

185 148 2 346 19 48 512920,2

192 153,6 1 347 18 24 266164,0

213,75 171 1 348 17 24 296315,4

221 176,8 3 351 14 72 919097,5

Tabela 2.4 Tabela de vazões ordenadas da menor à maior e energia

O valor da energia elétrica ou produção em kWh/ano para cada valor de vazão da tabela 2.4 foi calculado segundo a fórmula:

E = 9,81. Hn . (Q-Qsf) . h .e ( kWh/año)

Sendo:

h = horas de disponibilidade de cada valor de vazão por ano Hn = Queda líquida. Considerou-se um valor de 8 metros

Pequenas Centrais Hidreléctricas

41

e = eficiência global da usina (turbina + gerador elétrico + transformador) = 92% Q-Qsf = Vazão média diária menos a vazão ecológica em m3/s.

Representando graficamente os valores da vazão em função dos dias do ano em que é maior ou igual a este valor, obteremos a curva de vazões médias diárias classificadas (figura 2.26):

Figura 2.26 Curva de vazões médias classificadas

Según esta curva, el caudal máximo o de crecida es de 221 m3/s, donde corta la curva con el eje de abscisas y el caudal medio anual es de 50,58 m3/s.

2.2.6.3.6 Determinação da vazão de equipamento

A Vazão de equipamento Qe será escolhida de modo que o volume turbinado seja máximo, isso é, a área fechada entre os pontos A, B, C, D e E seja máxima, de acordo com a figura 2.25.

Para determinar o valor ideal, pode-se utilizar os seguintes métodos:

MÉTODO 1

Uma vez descontada a vazão ecológica (Qsf) na curva de vazões médias classificadas, escolhe-se a vazão de equipamento (Qe) no intervalo da curva compreendido entre o Q80 e o Q100, sendo o Q80 a vazão que circula pelo rio durante 80 dias por ano e o Q100 a que circula durante 100 dias por ano. Representando estes dois valores na curva da figura 2.26:

Pequenas Centrais Hidreléctricas

42

A Vazão de equipamento estaria entre valores aproximados de 45 a 58 m3/s na curva de vazão, reduzindo-se a vazão ecológica.

MÉTODO 2

Este método para a obtenção da vazão de equipamento (Qe) está baseado em fazer funcionar a central o maior número de dias a sua potencia nominal. A partir de cada valor de vazão, vazão ecológica ou de servidão (Qsf) e Vazão mínima técnica (Qmt), que dependerá do tipo de turbina escolhida, obtém-se a energia elétrica correspondente.

Observando os valores obtidos no Exemplo 1, o valor da vazão Q = 38 m3/s repete-se 37 dias por ano, e obtém-se um valor de energia de 1949096,6 kWh/año (descontando-se 20% da vazão ecológica). Este é, portanto, o valor ideal.

De forma gráfica, pode-se observar também esta conclusão (figura 2.28):

Figura 2.28 Gráfico da energia em função da vazão

Flujo = 38 m3/seg

Pequenas Centrais Hidreléctricas

43

Escolhendo como vazão de equipamento Qe = 38 m3/s, e descontando 20% por vazão ecológica, teremos Qe=30,4 m3/s.

Comparação de resultados dos métodos propostos

Considerando que o tipo de turbina hidráulica é Kaplan, o Vazão mínima técnica de funcionamento se calculará:

Qmin = Qe .K

para K=0,25 (según apartado 2.2.6.3.4),

Portanto, a energia elétrica total produzida será a soma dos valores de energia do Qmt até o Qe considerado.

Na Tabela 2.5 apresentam-se os resultados obtidos por ambos métodos:

Tabela 2.5 Comparação de resultados

Qe

(m3/s) Número de dias que este

valor se apresenta por ano Qmt

(m3/s) Energia total

kWh/ano

MÉTODO 1 (Q80)

45 14 11,25 10.901.355,69

MÉTODO 1 (Q100)

58 3 14,5 11.573.904,93

MÉTODO 2 30,4 37 7,6 6.472.567,31

Conclusões

Com o método 1, obtém-se maior quantidade de energia. Dentre os valores da vazão Q80 = 45 m3/s e Q100 = 58 m3/s, não existe muita diferença no valor da energia, de modo que será escolhido o valor de 45, apresentado 14 dias por ano, diante do valor de 58, que somente se apresenta 3 dias por ano. A potencia instalada da usina, a energia produzida e o custo de investimento dependem do valor da vazão de equipamento. Quanto maior a vazão, maior a potencia instalada, a quantidade de energia produzida e o custo de investimento.

Do ponto de vista do método 2, é interessante que a usina trabalhe sempre o maior número de dias com sua potencia nominal, apresentando, assim, o melhor rendimento. O valor da vazão de 30,4 m3/s apresenta-se 37 dias por ano e, portanto, seria o valor ideal. Tanto a potencia instalada, quanto a energia produzida e o custo de investimento, serão também menores.

Escolher um valor alto de vazão pode provocar um superdimensionamento dos equipamento para funcionar poucas horas ou dias por ano a plena potencia.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

44

2.2.6.3.7 A Vazão sólida

Todos os rios carregam, de uma forma ou de outra, materiais sólidos como pedregulhos, areia, lodo, árvores, galhos, folhas, etc. Saber qual é o transporte sólido do rio é fundamental em um aproveitamento, já que seus efeitos podem ensejar:

O aterro dos depósitos criados pelos reservatórios e pelas câmaras de carga, que a longo prazo pode ensejar a anulação das instalações.

A entrada de materiais sólidos na descarga de água traz consigo uma redução da vazão e da altura disponível. A acumulação de detritos flutuantes pode romper elementos como as grades. As pás das turbinas podem ser danificadas pelo envelhecimento e destruídas pela erosão ou atritos.

Infelizmente, o fenômeno da vazão sólida não é fácil de avaliar, devido ao grande número de parâmetros que nele interferem, de modo que o estudo deverá focar-se em averiguar o comportamento dos materiais sólidos, em tentar eliminá-los utilizando as medidas adequadas como grades, desarenadores, etc.

2.2.6.3.8 Histograma de vazões médias mensais

Outra forma de representação é através de histogramas de vazões médios mensais, com um histórico determinado de anos. Na seguinte figura 2.29 representa-se o histograma de vazões médias mensais correspondente aos dados da Tabela 2.3.

Figura 2.29 Histograma de vazões médias mensais

2.2.6.3.9 Vazão de máxima cheia ou de enchente

Para dimensionar o açude ou a represa, bem como a descarga de água, é necessário conhecer a inundação correspondente em um período de retorno ou de recorrência (T) ao longo de n anos, e se define como o intervalo médio entre as inundações de magnitude, a vazão (Q) no período de observação (T).

Pequenas Centrais Hidreléctricas

45

Para o cálculo das vazões e dos níveis para diferentes inundações em função dos períodos de retorno, utiliza-se a fórmula empírica de Fuller (1914):

Q(T) =QM. (1+ 0,8 Log10 T)

Considerando o dado do exemplo 1, se QM = 221 m3/s (dado da curva de vazões classificados), os valores de vazão de cheia para diferentes valores de T são:

T = 50 anos Q = 521,37 m3/s

T = 1.000 anos Q = 751,40 m3/s

T = 5.000 anos Q = 874,97 m3/s

Se estes valores de vazão fossem alcançados em algum momento, provocariam uma elevação do nível da água na represa que poderia resultar em seu transbordamento, com o conseguinte risco de rompimento. Portanto, o desenho da represa deve garantir que, diante do surgimento de uma vazão de cheia desta magnitude, não se produza uma situação de risco.

2.3 Determinação da queda líquida

A queda é outra magnitude fundamental no projeto de uma pequena usina hidrelétrica. Normalmente é medida em metros. Deverá possuir a máxima altura permitida pela topografia do terreno, considerando os limites marcados pelas condições ambientais e viabilidade econômica do investimento.

Podemos falar dos seguintes conceitos:

Queda bruta (Hb). Altura existente entre o ponto de descarga de água no açude ou representa, e o ponto de descarga da vazão turbinada ao rio (SOCAZ).

Queda útil (Hu). Desnível entre a superfície da água na câmara de carga e o nível de descarga na turbina.

Queda líquida (Hn). É a diferença entre Hu e as perdas de carga produzidas por todas as condições. Representa a máxima energia que poderá ser transformada pelo eixo da turbina.

Perdas de carga (Hp). São perdas por fricção da água contra as paredes do canal, conduto forçado, válvulas, grades, etc. Mede-se como perdas de pressão (ou altura da queda). Considera-se normalmente que as perdas de carga representam de 5 a 10% da queda bruta.

Na seguinte figura 2.30 estes conceitos são apresentados para uma usina hidráulica com canal de derivação

Pequenas Centrais Hidreléctricas

46

Figura 2.30 Conceito de queda bruta, útil e líquida. Fonte Ente Vasco de la Energía

2.4 Potencia teórica de uma queda d’água

A potencia teórica de uma queda d’água em watts pode ser estimada através da seguinte expressão:

Sendo:

ρ = densidade da água (1000 kg/m3)

g = gravidade (9,81m/s2)

Q = vazão de água (m3/s)

Hb = queda bruta (m)

O produto de p.g é o peso específico da água γ (N/m3). Seu valor depende da temperatura da água, isso é, a 4ºC vale γ = 9,8 (kN/m3). . Na seguinte Tabela 2.6 apresenta-se sua variação para diferentes valores de temperatura da água.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

47

Tabela 2.6 Variação do valor de γ em fundação de T (ºC)

Temperatura ˚C Peso Específico N/m3

0 9805

5 9806

10 9803

20 9786

40 9737

60 9658

80 9557

100 9438

Este valor pode ser considerado constante nos estudos de produção de energia elétrica, porque sua variação para a gama de temperaturas da água que uma vazão pode apresentar costuma ser muito pequena.

Se substituímos estes valores na expressão da potencia teórica, para o caudal de equipamento Qe teremos:

2.5 Potencia instalada e produção

A potencia disponível varia em função do valor da vazão a ser turbinada e da queda existente a cada instante. Descontando as perdas de carga e o valor da queda bruta, a expressão da potencia seria, em função da queda bruta:

Considerando agora um fator de eficiência global da central (e), teríamos:

Pequenas Centrais Hidreléctricas

48

O fator de eficiência global da centra e é um produto de rendimentos dos diferentes equipamentos que intervém na produção da energia, mais o consumo próprio:

Onde:

ηt = rendimento da turbina hidráulica (0,90 a 0,94) ηg= rendimento do gerador elétrico (0,96 a 0,98) ηm=rendimento da caixa multiplicadora (si existe) (0,96 a 0,98) ηT=rendimento do transformador de potencia de saída (0,97 a 0,98) ηL= rendimento da linha aérea ou subterrânea (0,95 a 0,96) ηauto = rendimento do consumo próprio ( 0,96 a 0,97). Entre 3 e 4 % da potencia instalada

Um valor aproximado de e de uma pequena usina hidráulica moderna oscila entre 0,80 e 0,85.

No caso de um usina micro hidráulica (figura 2.31) este rendimento pode estar entre 0,50 e 0,60

Figura 2.31 Perdas nos distintos elementos de uma central micro hidráulica (Sánchez, T y Ramírez, J. ITDG-Peru, 1995)

Os elementos que compõem a central são praticamente os mesmos que os de turbinas com potencia maior. No entanto, aqui as obras de engenharia civil são significativamente menores, especialmente com relação à descarga e ao canal de derivação. Do mesmo modo, os elementos auxiliares, como o sistema de regulação, serão específicos para potencias menores, e não haverá as opções de pontos de funcionamento das turbinas maiores.

A potencia instalada da turbina, ou potencia mecânica no eixo, será:

Pequenas Centrais Hidreléctricas

49

E a potencia instalada ou nominal do gerador elétrico:

A potencia nominal do gerador elétrico costuma ser um pouco inferior à potencia da turbina hidráulica. Normalmente está em kVA ou MVA.

A potencia do transformador principal de saída costuma ser igual à potencia do gerador elétrico, mas poderia ser um pouco inferior devido a que é preciso descontar a potencia consumido pelo consumo próprio da usina.

Uma vez conhecida a potencia disponível, é possível calcular a produção média da central, como produto da potencia em cada momento pela horas de funcionamento:

Sendo:

T = horas de funcionamento equivalentes anuais ou mensais

c = coeficiente de imponderáveis que reflete as perdas devidas à manutenção e reparação, disponibilidade de água, etc. Costuma-se usar um valor entre 0,8 e 0,85

Resumo

No tema 2, intitulado Recurso Hidráulico, foram apresentados os diferentes estudos prévios que devem ser realizados para a realização de um projeto de uma mini usina hidrelétrica. O estudo do recurso hidráulico em um determinado local é fundamental para poder realizar um estudo de viabilidade do projeto. Para tanto, são necessários dados de vazões com um registro de anos elevado. Foram analisadas as distintas metodologias de medição de vazões através de aferições diretas e indiretas (estações hidrométricas), através da correlação de bacias hidrográficas e pluviometria (estações pluviométricas). Também foi analisada a obtenção da vazão de equipamento, mediante a curva de vazões médias classificadas, por dois métodos, considerando a restrição devida à vazão ecológica imposta pelas Confederações Hidrográficas. Por fim, apresentou-se a expressão da potencia teórica de uma queda d’água e o cálculo da energia elétrica anual, em função do rendimento global da central.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

50

3. TIPOS DE MINI USINAS

3.1 Tipos de mini Usinas Hidrelétricas

As características geográficas, geológicas e ambientais determinam a localização do aproveitamento hidráulico e os componentes da obra civil mais convenientes para maximizar a transformação da energia hidráulica em energia elétrica. Devido a grande variedade de soluções possíveis para conseguir aproveitar a maior parte de quedas hidráulicas, as mini usinas hidrelétricas podem ser classificadas tanto em função do tipo de queda, quanto por sua localização com relação à queda a ser explorada.

3.1.1 Em função do tipo de queda hidráulica a explorar

As minis usinas hidrelétrica classificam-se em:

A) Mini usinas de alta pressão: estão associada a quedas elevadas, com mais de 200 m, e vazões pequenas. Nelas costumam-se instalar turbinas Pelton ou Francis em função da queda. O uso das turbinas Pelton é mais indicado nas quedas de grande altura, enquanto para as quedas de menor altura são mais idôneas as turbinas Francis.

B) Mini usinas de média pressão: instaladas em quedas compreendidas entre 20 e 200m e vazões médias. Geralmente instalam-se turbinas Francis normais nas quedas com maior altura, enquanto as Francis rápidas estão indicadas para as quedas menores nas quais a vazão também é mais elevada do que nas primeiras.

C) Minicentrais de baixa pressão: associadas a quedas hidráulicas com menos de 20m e elevadas vazões. Utilizam-se turbinas de Hélice e principalmente Kaplan.

No tema 5 será explorado com mais detalhes o processo e critérios de seleção das turbinas hidráulicas mais indicadas para cada queda.

3.1.2 Em função da localização da mini usina hidrelétrica e do tipo de captação de agua a turbinar

As mini usinas podem ser classificadas em:

A) Mini centrais de água corrente

São instalações preparadas para turbinar diretamente parte da vazão de um curso natural. Segundo esta característica, os elementos construtivos ou de obra civil associados a este tipo de instalações dependerão das características hidráulicas das quedas, ensejando dois grande grupos, a mini usinas hidrelétricas de agua corrente de alta pressão e as mini usinas de média e baixa pressão. Em seguida serão descritas com maior detalhe cada uma delas.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

51

A.1) Mini usinas de água corrente de alta pressão

Uma das características mais notáveis destas instalações é que não possuem um reservatório que assegure o aporte contínuo de água às turbinas para produzir a energia elétrica, ou este não é grande o suficiente para compreender funções de regulação. Compreende um açude ou pequena represa para elevar o nível da água do rio e reduzir a velocidade da água. Seguindo o esquema da figura 3.1, a água do rio se desvia a um conduto fechado ou canal, através da captação de água pelo açude. Para evitar a entrada de corpos estranhos nas conduções que transportam a água a turbinar, a captação de água inclui uma grade ou filtro. O conduto ou canal é de pequena inclinação (entre 0,2 e 0,5 metros por mil, seguindo as linhas de nível) e comunica o açude com um depósito, chamado câmara de carga, no qual a água é armazenada para assegurar uma vazão constante durante o funcionamento da turbina. Deste depósito a água passa a um conduto forçado com um desarenador em sua extremidade inicial para evitar a entrada de areia na turbina. Finalmente, a água é devolvida ao curso do rio através do canal de descarga.

Figura 3.1 Esquema de uma mini usina hidrelétrica de água corrente de alta pressão.

Os principais elementos da infraestrutura da obra civil necessários para este tipo de instalações são (figura 3.1):

Açude ou pequena represa com escada de peixes

Tomada de água com grade

Canal de derivação

Desarenador

Câmara de carga. Inclui um vertedouro lateral que permite a descarga de água no caso de grandes vazões

Conduto forçado

Edifício da usina, no qual se encontra a turbina e os grupos eletromecânicos usados para a transformação da energia mecânica em energia elétrica

Canal de descarga

Pequenas Centrais Hidreléctricas

52

Em algumas instalações, a câmara de carga pode estar aberta (sob pressão atmosférica) ou fechada (sob pressão). Nas câmaras de carga fechadas é necessário incluir na instalação uma chaminé de equilíbrio para amortizar as pressões excessivas produzidas no caso de um golpe do martelo de água por um fechamento brusco da extremidade final do conduto forçado (ver figura 3.2).

Figura 3.2 Mini usina hidrelétrica de água corrente com canal de derivação. A) Um canal aberto se encarrega de transportar a água do pequeno reservatório até a câmara de carga, também aberta; b) entre o reservatório e a câmara de carga existe um conduto forçado

que comunica o açude com uma câmara fechada (Fonte: http://www.galeon.com/sloren/luciapra/ouren93.htm).

Este tipo de mini usinas também pode ser denominado mini usinas hidrelétricas com canal de derivação.

Conforme anteriormente mencionado, estas mini usinas estão instaladas nos cursos altos dos rios caracterizados por uma queda elevada e uma vazão pequena, que em algumas ocasiões do ano pode chegar a ser insuficiente para que o aproveitamento hidráulico seja ideal. Assim, é normal que estas mini usinas não funcionem durante alguns meses do ano e o tempo de funcionamento médio oscila de 2500-3000 horas/ano.

Ao extrair uma fração da vazão do rio para sua turbina, deve-se assegurar que no trecho do rio a jusante da captação exista uma vazão mínima garantida, que normalmente se denomina vazão ecológica (ver Tema 2).

A.2) Mini centrais de água corrente de média/baixa pressão Estas mini usinas são instaladas nos cursos médios e baixos dos rios nos quais as quedas são de pequena altura e a vazão elevada. O aproveitamento hidráulico da queda pode ser realizado com canal de derivação ou no próprio curso do rio..

a) Com canal de derivação (figura 3.3). Esta solução é semelhante a utilizada nas mini centrais de água corrente de alta pressão com canal de derivação (ver figura 3.1). Através de um canal de grandes dimensões, deriva-se uma fração da vazão às turbinas através de um conduto forçado.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

53

Figura 3.3 Componentes de uma usina hidráulica de média ou baixa pressão com canal de derivação. Fonte EVE

Os elementos da construção compreendidos nestas mini usinas são, portanto, muito semelhantes aos usados nas mini usinas de alta pressão:

Açude ou pequena represa com escada de peixes

Tomada de água com grade

Canal de derivação

Desarenador

Conduto forçado

Edifício da usina

Canal de descarga

Represa

Comporta arenera

Comporta de entrada

Canal de derivação

Comporta de segurança

Comporta arenera

Grade e máquina para limpar as grades

Turbina Kaplan

Multiplicador

Gerador

Equipamento eléctrico

Grupo hidráulico

Comporta de saída

Canal de saída

Pequenas Centrais Hidreléctricas

54

Figura 3.4 Mini usina localizada em um curso médio de um rio com canal de derivação

b) No próprio curso do rio.

Este tipo de mini usinas consiste em uma represa dotada com um vertedouro pelo qual a água transborda. Na lateral da represa se situa o edifício em que se encontram as turbinas (figura 3.5). Não possuem conduto forçado e a entrada da água às turbinas ocorre através de uma câmara aberta. Portanto, seus principais elementos são:

Represa com vertedouros de comporta

Desarenador

Escada de peixes

Edifício da central

Pequenas Centrais Hidreléctricas

55

Figura 3.5 Esquema de uma mini usina hidrelétrica de água corrente de média/baixa pressão.

Este tipo de mini usinas não introduzem modificações na vazão em nenhum trecho do rio.

As mini usinas hidráulicas localizadas nos cursos médios/baixos dos rios garantem o aporte da vazão durante mais meses com relação às mini usinas localizadas em cursos altos dos rios. Assim, o tempo médio de funcionamento destas mini usinas é maior, oscilando entre 3000-4000 horas.

B) Mini usinas ao pé da represa

As mini usinas ao pé da represa dispõem de uma vazão procedente de um reservatório construído no curso de um rio através de uma represa, na qual se dispõe de uma tomada de água. Denominam-se ao pé da represa porque a sala de máquinas está localizada na base da represa. Este tipo de mini usinas pode ser usado como mini central de uso compartilhado, já que o reservatório também pode ter funções de abastecimento de água potável às populações, ou para regular o curso dos rios e evitar as enchentes.

Ao interpor um obstáculo (represa) na corrente natural, o nível da superfície livre do rio aumenta, elevando-se a queda natural disponível. Este novo desnível é aproveitado pela turbina instalada para gerar maior energia hidrelétrica. O reservatório criado no curso do rio permite a regulação da vazão que recebe a turbina em função da demanda elétrica. Outra vantagem é que se garante a produção continua de energia elétrica durante todo o ano, inclusive nos meses secos.

Os elementos que constituem o esquema mais característico deste tipo de mini usinas são (ver figura 3.6).

Represa que permite a acumulação para posterior regulação

Tomada de água

Grades

Pequenas Centrais Hidreléctricas

56

Conduto forçado

Edifício da usina

Canal de descarga para retornar a água turbinada ao curso do rio

Figura 3.6 Central a pie de presa . Fuente IDAE

Dentre os tipos de usinas situadas ao pé da represa estão as de tipo caverna (figura 3.7) na qual o edifício da usina se encontra instalado no interior de uma montanha, a uma quota que pode estar abaixo do nível da descarga para evitar o fenômeno de cavitação.

Figura 3.7 Mini usina hidrelétrica ao pé da represa em caverna

As usinas ao pé da represa costumam ter um tempo de funcionamento médio de 2500-3000 horas/ano.

C) Usinas de uso compartilhado

Pequenas Centrais Hidreléctricas

57

São mini usinas incluídas nas redes de água destinadas a outros usos, como a irrigação, abastecimento de água potável à população e transferências de águas entre rios (figura 3.8). A energia que pode ser extraída destes canais está associada à vazão excedente para seu uso principal. A vazão desviada à turbina logo é devolvida ao canal.

É importante construir um canal auxiliar que garanta a água de irrigação, de transferência ou abastecimento de água a populações quando a turbina não estiver operando.

Este tipo de mini usinas tem um tempo característico de funcionamento, de 2000 horas/ano.

Estas instalações têm a vantagem de exercer um impacto ambiental menor, devido a que aproveitam parte dos elementos do sistema em que se integram, com a consequente redução do custo da instalação.

Os elementos principais que constituem este tipo de mini usinas são:

- Tomada de água do canal

- Grades

- Conduto de pressão que parte diretamente do canal

- Edifício da usina

- Canal de descarga que retorna a água turbinada ao próprio canal de irrigação

Figura 3.8 Mini usina localizado no canal de irrigação. Fonte: IDAE

Pequenas Centrais Hidreléctricas

58

Resumo

A grande diversidade de quedas hidráulicas e suas características geográficas, geológicas e topográficas associadas ensejam uma ampla variedade de mini usinas hidráulicas. Os critérios normalmente usados para classificar são o tipo de queda e a localização da mini usina com relação à queda, bem como a instalação usada para a captação da água a ser turbinada.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

59

4. OBRA CIVIL

4.1 Introdução

Conforme apreciou-se nos capítulos precedentes, existem três tipos fundamentais de mini usinas hidráulicas:

a) de água corrente b) ao pé da represa c) no canal de irrigação

A construção de uma mini usina inclui todas as infraestruturas necessárias para:

1) derivar ou conduzir a água à usina, inclusive os desvios na fase de construção 2) devolução da água ao curso 3) alojar os componentes eletromecânicos 4) facilitar os acessos de veículos de construção e manutenção

Em comparação com as grandes centrais hidrelétricas, as obras nas mini usinas são, geralmente, muito menores.

En comparación con las grandes centrales hidroeléctricas, las obras en las minicentrales son, en general, mucho más reducidas.

Dependendo da localização da mini usina, as instalações mais frequentes de engenharia civil são (figura 4.1):

- Açude/represa com escada de peixes - Tomada de água - Canal de derivação - Câmara de carga com desarenador - Conduto forçado - Edifício da usina - Canal de descarga - Viales

Figura 4.1 Esquema típico de una mini usina com instalações de obra civil (Sánchez T. Ramírez, J. , ITDG-1995)

Pequenas Centrais Hidreléctricas

60

A estes componentes é possível agregar as adequações nas represas ou açudes existentes, bem como os canais de irrigação, quando as mini usinas aproveitam estas infraestruturas

4.2 Açude

Essencialmente trata-se de um muro transversal ao rio, de pequena altura (máximo 15m), destinado a conseguir um regime fluvial com escoamento a montante para facilitar o desvio da água por uma lateral através de um canal de derivação. No próprio açude, ou na entrada do canal, a jusante, existirá um vertedouro de coroação que fará com que a vazão restante retorne ao rio antes de passar à usina.

Os tipos de açudes e represas, por sua forma, são variados: de gravidade, de terra ou enrocamento. Por suas características construtivas, podem ser: de concreto, de terra construída e de enrocamento com tela de impermeabilização (figura 4.3). As represas de contrafortes, em arco ou abóboda, por sua envergadura, não costumam ser utilizadas nas mini usinas.

Figura 4.2 Tipos de açudes. Fonte IDAE

Figura 4.3 Corte na represa de enrocamento com impermeabilizaçãoo. Caspe, Espanha

Pequenas Centrais Hidreléctricas

61

Em outros casos, como na represa da figura 4.4, a represa foi projetada para a instalação de uma mini usina ao pé da represa em sua margem esquerda e um canal de derivação para irrigação na margem direita.

Figura 4.4 Represa de Estremera, rio Tajo, Espanha (foto J.A.Mancebo, 2007)

As represas dispõem de vários tipos de vertedouros, destinados a evacuar a vazão excedente em condições de segurança:

a) vertedouros de superfície, com comportas verticais ou de setor (figura 4.4)

b) vertedouros de fundo médio ou de fundo, com válvulas de borboleta, tronco-cônicas ou de jato oco, etc.

Um exemplo de açude típico a ser utilizado em uma mini usina seria o exposto na figura 4.5. Encontra-se no rio Kaseke (Tanzânia) e tem capacidade para evacuar pelo conduto forçado (de 14km de comprimento) uma vazão de 20 l/s. O problema associado a este caso, e a outros semelhantes existentes na mesma região, radica nas obstruções pelas enchentes provocadas constantemente pelas intensas chuvas na cabeceira da bacia.

Figura 4.5 Açude no rio Kaseke, Tanzânia (Foto J.A.Mancebo, 2010)

Neste caso concreto foram efetuadas reparações, como a representada na figura 4.6, agregando uma caixa de captação complementar para águas altas, situada fora do alcance da máxima enchente do rio.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

62

Figura 4.6 Planta de açude com detalhes de reabilitação.

4.3 Escada de peixes

Facilita a subida dos peixes em suas migrações a montante do rio interceptado pela represa da usina. Existem vários tipos de escadas que se adaptam às características especificas de cada caso, sempre utilizando uma vazão não turbinável mínima para que os peixes possam saltar contra a correnteza. Sobre as formas de construção, em alguns casos se trata de pequenas poças desniveladas por pequenas cascatas de 30cm de queda cada uma. Em outros casos, constrói-se um canal muito inclinado com divisórias alternadas entre as quais a água corre em zig-zag (figura 4.7) antes de cada queda.

O tipo de escada determinada como mais apropriada em cada caso, depende de vários fatores:

- Tipo de peixes - Capacidade natatória - Salto de cada peixe

Cada dispositivo de passagem está desenhado para determinadas condições de vazão. Se no rio circular muita ou pouca água, a escada pode não ser funcional.

Os dados para o cálculo da escada de peixes:

- Altura da queda - Q mínimo - Altura dos degraus ou estanques - Vazão da escada

Figura 4.7 Escada de peixes. Fonte: ESHA

Pequenas Centrais Hidreléctricas

63

4.4 Tomada de água

Trata-se de uma estrutura encarregada de desviar a água do açude ou represa até o canal. Nas usinas ao pé da represa é uma embocadura na parede da qual parte o conduto forçado até a turbina. Nas usinas de água corrente, a água é canalizada. A tomada também pode estar submersa e igualmente desembocar no canal.

Costumam resultar em uma série de elementos adicionais: sistemas de desbaste (barras com pentes de limpeza automáticos ou barreiras de limpeza – figura 4.8 - ), sistemas para evitar a entrada de peixes, uma pequena lagoa de decantação de areia e lodo e uma comporta com vertedouro para regular a entrada de água.

O desenho hidráulico destas estruturas baseia-se no critério de que sejam competentes para permitir a passagem pelo menos da enchente prevista no projetada, aplicando-se a fórmula para a descarga livre de vertedouros.

Figura 4.8 Barreira de limpeza automática na entrada de uma tomada de água. Fonte: ESHA

4.5 Canal de derivação

O canal parte da tomada e conduz a água até a câmara de carga, de onde é conduzida pelo conduto forçado à usina.

Os canais costumam ser abertos à atmosfera, ainda que constantemente estejam cobertos em alguns trechos para evitar contaminações, avalanches de materiais de ladeiras adjacentes,

Pequenas Centrais Hidreléctricas

64

quedas de animais ou pessoas; ou para que uma elevação do terreno possa atravessá-lo através de um túnel.

Por sua forma, em uma seção transversal ao fluxo, os canais podem ser trapezoidais, retangulares, semicirculares ou de seção irregular. Com relação aos materiais, os mais comuns na mini hidráulica são dos de concreto, ainda que na micro hidráulica também sejam construídos a base de pré-fabricados de concreto armado, reforçados com fibras, ou através de um corte longitudinal por um plano diametral a uma condução circular.

Em seu desenho, procura-se fazer com que as perdas de energia sejam mínimas.

Figura 4.9 Formas dos canais

A inclinação do canal costuma estar entre os valores de 0,2 e 0,5 metros por mil, seguindo as linhas de nível. A forma do canal obedece a considerações econômicas ou construtivas.

A seção transversal dependerá do tipo de terreno: normalmente para canais em rochas utiliza-se a seção retangular, e para canais na terra utiliza-se a trapezoidal.

Nos canais de comprimento considerável, instala-se um vertedouro intermediário que pode incluir um desarenador ou um ladrão protegido com rede, como na figura 4.10:

Figura 4.10 Vertedouro com desarenador e

vertedouro lateral em canal. (Foto J. A. Mancebo 2010)

Pequenas Centrais Hidreléctricas

65

Para o desenho de sua seção, podem ser adotadas fórmulas de Chezy e Manning adaptadas aos materiais e à forma do canal. A velocidade média de circulação da água no canal em m3/s, conforme a fórmula de Chezy, é:

- C: coeficiente de Chezy:

Que modificada por Manning fica:

n= coeficiente de rugosidade do material

rh=Raio hidráulico (Área/ perímetro molhado, em m)

I= Declive inferior ou comprimento do canal

Sabendo-se qual é a velocidade média Vm (m/s) (m/s) e o valor do caudal Q (m3/s), é possível obter a seção ou área transversal do canal S (m2) através de: S=Q/Vm=b.y. A condição da seção econômica de um canal resultaria no raio hidráulico rh= y/2.

Começa-se estabelecendo os parâmetros a serem determinados, que serão os seguintes:

b = largura do canal y = profundidade do canal rh = raio hidráulico (figura 4.11) S = seção do canal I = Inclinação longitudinal que normalmente se estabelece en 0,0005 n = coeficiente de rugosidade de Manning. Vale 0,01 para paredes muito polidas e para revestimento de concreto aproximadamente 0,014 V= velocidade de circulação da agua pelo canal. Costuma-se ter um valor máximo de 1,5 m/s Q = vazão a transportar (m

3/s)

)( IRCvhm

6/11

hRnC

Pequenas Centrais Hidreléctricas

66

Figura 4.11 Diferentes formas de canais e raio hidráulico. Fonte: ESHA

Assim, por exemplo, em um canal de seção retangular de largura 1,2m e lâmina de água de altura 0,5m, revestido de concreto, tem-se uma velocidade de 0,67 m/s e uma vazão de 0,4 m3/s.

Outro método interessante para a obtenção das dimensões ou da vazão é através de ábacos, como o da figura 4.12, válido para seção retangular.

Gráfico 4.12 Gráfico de vazão em função de dimensões do canal retangular. Fonte: IDAE

Área A

Perímetro molhado P

Largura superior da seção T

Raio hidráulico

Profundidade hidráulica D

Fator de seção

Pequenas Centrais Hidreléctricas

67

4.6 Desarenador e câmara de carga

Qualquer tipo de captação sempre deixa passar uma quantidade de materiais sólidos que avançam pelo sistema de condução (canal ou conduto), produzindo grandes prejuízos e deterioração em toda a estrutura da usina.

A fim de evitar este tipo de inconvenientes, constrói-se um desarenador.

Existem vários tipos de desarenadores aplicáveis ao desenho de pequenas usinas hidrelétricas. O objetivo principal é aumentar a longitude do curso de água a fim de conseguir a sedimentação.

O desenho mais simples e econômico consiste em um tanque dotado de um degrau ou grade (figura 4.13), para diminuir a velocidade da agua trazida pelo canal, de modo que seja possível assentar dentro do tanque as partículas consideradas prejudiciais para a operação da usina.

O volume de sólidos para as cheias de um rio de montanha é de aproximadamente 4 a 6% do volume de água, e planícies em torno de 0,2 a 1%.

Figura 4.13 Detalhe de um desarenador na entrada da câmara de carga. Fonte Jairo Arcesio Palacios. Tese Doutoral 1998

Não possuir um desarenador pode provocar:

Redução da seção do canal por sedimentação

Pequenas Centrais Hidreléctricas

68

Redução da capacidade da câmara ou tanque de carga (diminuição do volume)

Quando as partículas adquirem velocidade, aumenta o desgaste do conduto, injetores e turbinas, aumentando os custos de manutenção e reduzindo a vida útil da usina.

A câmara de carga se localiza depois do desarenador e dela parte o conduto forçado (figura 4.14). Do mesmo modo, possui um vertedouro lateral que permite evacuar toda a vazão no caso de uma parada rápida da turbina ou de uma enchente.

Figura 4.14 Detalhe de uma cámara de carga

Em alguns casos, serve como deposito de regulação, ainda que normalmente somente tenha capacidade de fornecer o volume necessário para o funcionamento das turbinas sem intermitências.

No calculo da câmara de carga deve-se garantir o volume e o nível de água adequado durante a operação da planta.

A geometria da câmara de carga deve ser dimensionada para minimizar as perdas de carga e evitar a formação de redemoinhos que provocam a formação de vórtices se o conduto forçado não está suficientemente submerso.

Quando isso acontece, o ar empurrado pelo vórtice pode chegar às turbinas produzindo uma forte vibração e diminuindo seu rendimento.

Na figura 4.15 pode-se observar uma grade de filtro automatizado e a comporta ensecadeira para fechar a passagem da água ao conduto forçado.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

69

Figura 4.15 Câmara de carga com barreira de limpeza e ensecadeira. (Foto J. A. Mancebo 2010)

4.7 Conduto forçado

O conduto forçado parte da câmara de carga e leva a água ao edifício da usina e à turbina nele instalada. É construído com aço com reforçadores e apoios desenhados para os esforços de resistência em cada caso, incluindo os possíveis golpes do martelo de água. No caso de micro usinas, são fabricados com outros materiais menos resistentes como fundição, fibrocimento e plásticos reforçados. Na tabela 4.1 se apresenta uma comparação para distintos tipos de material:

Tabela 4.1 Comparação de diferentes tipos de material para condutos

Material Perda por

fricção Peso Corrosão Custo

Pressão de trabalho

Ferro dúctil 4 3 2 1 5

Asbesto cimento

3 3 4 4 4

PVC 5 5 4 4 4

Aço comercial 3 3 3 2 5

Polietileno 5 5 5 3 4

Variações: Ruim: 1; Excelente: 5

O conduto forçado é desenhado através de cálculo mecânico (resistência à solicitações constantes, a sobrepressões do martelo de água e a forças por mudanças de direção, de seção, etc.), bem como de calculo hidráulico de velocidade, vazão e perdas de carga. A espessura mínima dos condutos é de 5 a 6mm e seu diâmetro é calculado em função da vazão, com velocidades máximas de água de 4 a 5 m/s.

Um fator muito importante ao determinar o diâmetro ideal do conduto de pressão são as perdas de carga no próprio conduto. As perdas são representadas como uma porcentagem sobre a queda bruta da usina e traduzidas em perdas de energia. Estas se reduzem com o aumento do diâmetro, mas representam um aumento de custo importante.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

70

O diâmetro do conduto é determinado para que as perdas de energia sejam mínimas (figura 4.16). Estas perdas se devem a:

• Atrito de água ao deslocar-se sob grande pressão e velocidade em seu interior. Serão proporcionais ao diâmetro da mesma

• Mudanças de direção do conduto (cotovelos verticais e horizontais), estreitamento e passagem pela válvula na entrada da turbina

• Temperatura da água. A viscosidade da água depende de sua temperatura. Costuma-se considerar uma temperatura de 22ºC

• Estado superficial do conduto. Liso para um conduto novo e rugoso para um conduto antigo. Dependerá também do tipo de material com o qual esteja construído

• Comprimento do conduto

Figura 4.16 Relação entre o diâmetro, número de condutos e custo relativo. Fonte: Centrais Eléctricos, Universidade Politécnica da

Catalunha, UPC.

Para o calculo mecânico em seções distantes das conexões pode-se utilizar a formula da teoria membranal, através da qual a espessura e o diâmetro podem ser obtidos mediante as expressões:

Nas quais:

- e: espessura do conduto (mm)

- P: pressão interior da agua e considerando sobrepressão por golpe de martelo de água ( normalmente 6.105 N/m2)

- D: diâmetro do conduto em metros

- σadm: tensão admissível de cálculo ( para o aço utiliza-se um valor de 2400 N/m2)

- V= velocidade máxima da água pelo interior o conduto. Normalmente 4m/s

adm

DPe

2 2.

.4

D

QV

Pequenas Centrais Hidreléctricas

71

Em seções próximas às conexões aparecem solicitações por momentos de flexão que obrigariam um calculo mais conservador, que considerasse a combinação de solicitações.

De forma gráfica (figura 4.17), é possível obter o diâmetro ideal do conduto em função do valor da vazão.

Figura 4.17 Determinação gráfica do diâmetro do conduto sob pressão. Fonte IDAE

Figura 4.18 Conduto forçado. Foto J. A. Mancebo 2010

De modo semelhante a outras partes do projeto, devem-se reduzir as perdas de carga no conduto forçado, ainda que por vezes estas sejam inevitáveis quando, como se verifica na figura 4.19, seja necessário manter uma floresta para minimizar o impacto ambiental. Resolveu-se o caso através de um cotovelo e um suporte de concreto, já que as forças às quais o conduto deverá resistir são consideráveis.

Figura 4.19 Mudança de direção no conduto forçado. Foto J. A. Mancebo 2010

Pequenas Centrais Hidreléctricas

72

4.8 Edifício da usina

Neste se situa o equipamento que converte a energia hidráulica em mecânica e elétrica e todos os elementos auxiliares: turbinas, geradores, quadros elétricos de controle, sistema de regulação, válvula de guarda e de desvio e o sistema de descarga ao rio.

A configuração física do edifício depende do tipo e número de maquinas a utilizar e do tamanho das mesma, devido a que pode ser um grupo de turbinas – gerador de eixo horizontal ou vertical. O edifício costuma ser construído ao lado do rio ao qual a água será devolvida, produzindo o mínimo impacto ambiental. Deve-se considerar também que, devido ao tamanho e viabilidade da instalação, a usina somente será visitada ocasionalmente.

O ponto em que se deve localizar o edifício deve ser escolhido cuidadosamente, considerando os estudos topográficos, geológicos e geotécnicos, bem como a acessibilidade.

Figura 4.20 Edifício na usina com barreira de limpeza e ensecadeira. Instalada no rio Júcar, Espanha (foto J.A.Mancebo, 2012)

A localização do edifício responde a uma seleção meticulosa baseada no projeto da central. Basicamente procura-se:

- facilidade para a entrada do conduto forçado

- capacidade para alojar todos os componentes

- facilidade para a aspiração e descarga

- cumprimento das normas relativas a este tipo de instalações, incluída a legislação ambiental

- minimizar o custo de implantação como medida para garantir a viabilidade da exploração

Tudo isso sem esquecer do estudo geotécnico e de acessibilidade. Em alguns casos, o edifício localiza-se em grande parte no subsolo, como medida para minimizar o impacto ambiental.

Normalmente se situa a alguns metros acima do nível de desague, para evitar sua inundação no caso de uma enchente.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

73

Figura 4.21 Localização do edifício da usina. Fonte ESHA

No interior do edifício da usina encontram-se as turbinas, os geradores elétricos e os demais equipamentos elétricos e auxiliares necessários para seu funcionamento. Ademais, é comum possuir um guindaste de ponte, ainda que em alguns casos pode ser suficiente um guindaste portátil durante a montagem e operações de manutenção.

Figura 4.22 Interior da mini central hidráulica Molino de Suso (Álava – Espanha). Fonte IDAE

4.9 Sistema de descarga

A usina devolve a água ao rio no próprio edifício ou em suas proximidades. As turbinas de ação vertem diretamente ao canal de desague, já que não incorporam o tubo de aspiração, e as de reação o fazem a partir do tubo de aspiração (figura 4.23).

Pequenas Centrais Hidreléctricas

74

Figura 4.23 Seção de sistema de descarga de uma turbina Francis

O sistema de descarga ao rio está formado pela saída em lâmina livre e pela descarga da válvula de desvio ou de guarda (figura 4.24). Em todos os casos, convém situar a grade na saída e uma ensecadeira como se mostra nas figuras seguintes.

Figura 4.24 Sistemas de descarga ao rio

Descarga da válvula de guarda

Pequenas Centrais Hidreléctricas

75

Resumo

O tema 4 foca-se nos aspectos concretos do projeto de implantação de uma mini usina hidrelétrica. Trata-se das infraestruturas de engenharia civil da central. No tema descrevem-se os principais elementos que configuram a construção seguindo a ordem de fluxo da água: da captação à descarga e devolução da água ao rio, passando pela tomada, a condução de desvio, a câmara de carga e o edifício da central. Procurou-se sintetizar de maneira resumida a caracterização dos principais elementos das obras de modo que o leitor possa obter uma ideia geral próxima ao projeto da vertente da engenharia civil.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

76

5. TURBINAS HIDRÁULICAS

5.1 Introducción. Descripción general

Foram publicados vários estudos sobre os engenhos precursores das turbinas hidráulicas. A evidencia mais antiga é a roda hidráulica romana, que tinha sido previamente implementada na Índia e na China, e depois chegou à Europa através do Egito. Mais tarde, durante a Idade Média e o Renascimento, generaliza-se o uso dos moinhos hidráulicos, além dos eólicos. Exemplos disso são as rodas d’água de Aleppo (Síria) e de Córdoba (Espanha). Outro caso interessante é o dos moinhos de regolfo na Península Ibérica e na América, muito próximos em sua forma e fundamentos às turbinas hidráulicas (Los veintiún libros de los ingenios, anónimo, S XVI). Logo, os estudos de Euler, Burdin e Forneyron prepararam o campo para o avanço definitivo de Pelton, Kaplan, Francis e outros.

Atualmente admite-se como limite superior para a mini hidráulica as usinas com uma potencia instalada de 5000 kW, e considerando que quando as potencias são inferiores a 500 kW, denomina-se micro hidráulica. No entanto, na América Latina são aceitos os valores da Tabela 5.1:

Tabela 5.1 Classificação de mini usinas (Sánchez, T. y Ramírez, J. ITDG-Perú, 1995)

Classificação de MCH segundo a potencia

Região Instituição Micro usina Mini Usina Pequena Usina

Mundial ONUDI1 < 100 kW 101-2000 kW 2000-10000 kW

América Latina OLADE2 < 20 kW 21-500 kW 500-5000 kW

1. Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial2. 2. Organização da América Latina de Energia

Devido a sua potencia limitada e seu caráter de geração, em algumas ocasiões, como sistema isolado, a energia mini hidráulica encontra-se vinculada a intervenções de desenvolvimento em áreas menos favorecidas, com o objetivo geral de melhorar o acesso a serviços básicos. No entanto, nestes casos a implantação das energias renováveis, baseada em pequenas turbinas hidráulicas, encontra numerosos problemas, dentre os quais:

a) Escassez de correntes de água com desníveis suficientes para instalar mini-turbinas. Em algumas regiões inclusive as micro-turbinas são inviáveis.

b) Dificuldades técnicas para a realização das instalações

c) Sustentabilidade complicada, que frequentemente se verifica com o abandono de instalações

Pequenas Centrais Hidreléctricas

77

Figura 5.1 Turbina tipo Pelton de dois injetores

5.2 Descrição geral. Localização da turbina dentre os componentes principais da usina

Como foi possível ver nos capítulos anteriores, um aproveitamento típico poderia ser o que está representado na figura 5.2, no qual se indicam as partes principais de uma mini hidráulica, que dispõe de: uma captação em forma de represa, uma condução forçada como sistema de alimentação da água da turbina, o edifício da usina no qual se localiza a turbina, com todos seus elementos acessórios, e o gerador elétrico.

Destaca-se que um dos menores componentes da usina é precisamente a turbina, ainda que seja nela onde se realiza a captura da energia hidráulica da corrente, para logo convertê-la em energia elétrica no gerador.

Figura 5.2. Elementos principais de uma usina hidráulica (modificado de Fernández, P. 2002)

1 Represa- captação 2 Conduto forçado 3 Central 4 Turbina 5 Gerador elétrico

Pequenas Centrais Hidreléctricas

78

Pequenas Centrais Hidreléctricas

79

5.3 Percurso da água na turbina. Elementos fundamentais

Quando seguimos a trajetória teórica da água no interior da turbina (figura 5.3), encontramos seus elementos principais. Devido a que os órgãos são diferentes conforme os distintos tipos de turbinas, são concebidos de maneira geral para uma turbina de reação, especificando depois as diferenças com as de ação.

Figura 5.3 Corte esquemático de uma turbina de eixo vertical

Em primeiro lugar, na extremidade final da condução de alimentação da água à usina (conduto forçado, canal de derivação, etc.), situa-se a câmara espiral da turbina (figura 4.5). As turbinas de reação são uma câmara de pressão que circunda os elementos seguintes, convertendo a direção do fluxo de unidirecional e tangencial à turbina, em radial, e com admissão completa de todo o perímetro até o interior da turbina. A cessão uniforme de vazão até o seguinte órgão, o distribuidor, faz com que a vazão na câmara espiral seja reduzida conforme avança na periferia do distribuidor, de modo que a câmara tem uma seção decrescente, como um espiral em forma de caracol.

Figura 5.4 Turbina Francis. Câmara e tubo de aspiração. CH Torrelaguna, Espanha (Foto Mancebo, 2012)

câmara espiral

Pequenas Centrais Hidreléctricas

80

O seguinte órgão que encontra a água é o distribuidor (chamado também distribuidor tipo Fink) (figuras 5.5 e 5.6), que na verdade é um corredor prévio ao rotor. Essencialmente está formado por duas coroas circulares entre as quais se situam pás direcionais. Nele se orienta a água de modo conveniente, em direção à turbina, já que as pás direcionais podem girar sobre um eixo conectado às coroas superior e inferior.

Figura 5.5 Mecanismo exterior de acionamento das pás do distribuidor Fink. CH EL Atazar Espanha (Foto Mancebo, 2012)

Figura 5.6 Eixo da turbina com acoplamento. Acionamento da coroa do distribuidor. CH El Villar, Espanha (Foto Mancebo, 2013)

O movimento das pás é acionado por um mecanismo de biela-manivela exterior ao fluxo, obedecendo o sistema de regulação da turbina. Deste modo, o distribuidor atua na regulação da vazão de entrada e, portanto, da velocidade e da potencia. A velocidade de fechamento do distribuidor está condicionada ao possível golpe do martelo de água que pode ser produzido no conduto de alimentação se o fechamento é muito rápido. Quando em uma condução são produzidas manobras de fechamento e abertura com uma rapidez determinada, produz-se uma sobrepressão do golpe do martelo de água – que, em alguns casos, pode ser aproveitada para realizar impulsões sem aporte energético mecânico exterior.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

81

Através da formula de Michaud para manobras lentas, obtemos uma altura de sobrepressão (em metro de coluna de água) por golpe de martelo de água, que aplicada a um exemplo simples nos oferece os seguintes resultados:

No qual:

L : comprimento do contudo: 100 m v : velocidade da água em regime estacionário: 4 m/s g : aceleração da gravidade: 9,81 m/s2 T : tempo de duração da manobra: 3 s

Obtemos assim: ΔH = 27,2 mca

Mas se a manobra é rápida, com uma celeridade da onda de sobrepressão de 1000 m/s:

Nas turbinas de ação as funções da câmara e do distribuidor são realizadas pelo bico ou injetor. Aqui o fluxo de entrada na turbina possui direção tangente ao rotor (figura 5.7), sendo de admissão parcial, ainda que constantemente existam vários injetores fracionando a vazão total.

Figura 5.7 Turbina Pelton (alterado de Fernández, 2002)

Logo o fluxo alcança o órgão giratório da turbina, o rotor, que está dividido em uma série de canais através de divisórias entortadas que conduzem a água ao mesmo tempo em que transferem parte do seu potencial energético ao próprio eixo do rotor, que o transmite, por sua vez, ao gerador elétrico.

O último trecho deste percurso pelo interior da turbina está constituído pelo tubo de aspiração (somente disponível em turbinas de reação). Este órgão é essencialmente um conduto de seção crescente no sentido do fluxo, que evacua a água até o canal de desague, devolvendo-a ao curso do

Tg

vLH

2

mg

vCH 408

81.9

41000

1. Misturador 2. Hélice 3. Cobertura 4. Eixo

Pequenas Centrais Hidreléctricas

82

rio. Este elemento reduz a pressão na saída do rotor e, assim, contribui com o aumento da queda disponível na turbina. No entanto, sua altura está limitada pela possibilidade de alcançar a pressão de saturação e, portanto, ter cavitação, com efeitos destrutivos na área de saída da água do rotor.

5.4 Fundamento hidráulicos teóricos

Da perspectiva do balanço energético, podemos definir uma turbina hidráulica como a máquina (motora) que é capaz de transformar parte da potencia disponível em uma corrente hidráulica em potencial mecânica no eixo.

A cessão de energia é realizada no rotor, mas para tanto existe uma importante contribuição de outros órgãos, como o distribuidor (nele parte da energia potencial se converte em cinética), e o conduto de aspiração que, como se mencionou, reduz a pressão de saída do rotor, aumentando a queda líquida disponível.

Do ponto de vista teórico, os sistemas utilizados no projeto de aproveitamento da energia hidráulica cumprem com a aplicação das equações básicas de mecânica de fluídos:

a) Continuidade: Dela obteremos, para os regimes permanentes: velocidades, vazões e seções de passagem em conduções, tanto livres quanto forçadas. Assim, integrando em volume finito (figura 5.8) a conservação da massa para um conduto de fluxo elementar:

ou utilizando as velocidades médias, em uma seção transversal ao fluxo de área (A):

Figura 5.8 Conduto de corrente

A

dAnv 0.

cteAvQ

Pequenas Centrais Hidreléctricas

83

b) Conservação de quantidade de movimento: Permite conhecer forças atuantes.

Geralmente ficam reduzidas a:

Na qual ( )é a força que exerce o fluído sobre o contorno de confinamento.

c) Conservação do movimento cinético: Oferece o torque motor (Tm) das máquinas hidráulicas

e a potencia capturada por uma maquina de uma corrente de fluido,

Figura 5.9 Modelo ideal de triângulos de velocidade de entrada e saída do rotor de Francis

Na qual:

ρ: densidade da água (kg/m3)

Q: vazão (m3/s)

r1 , r2 : raio vetor de um ponto a seção de entrada e na de saída ao rotor da turbina.

α1 , α2: ângulo da velocidade absoluta com a tangencial na entrada e saída do rotor.

A

localnaceleracióporfuerzasesióndefuerzasPesodAvnv 0Pr)..(

0)()()( 221121 LFApApVolgvvQ

LF

´

2

222111222

1

111 )coscos()()(A

z

A

m evrvrQdAvrvdAvrvT

Peso + Forças de pressão + forças de aceleração locais = 0

Pequenas Centrais Hidreléctricas

84

Se a máquina gira a uma velocidade angular (ω), a potencia desenvolvida será

Por outro lado, do balanço energético obtemos:

Energia:

sendo geralmente:

Na qual:

Z: quota geométrica ( L ) P: pressão (ML-1 T-2 ) γ : peso específico ( L3T-1 ) v : velocidade ( LT-1 ) g : aceleração da gravidade ( LT-2 )

Finalmente, a queda efetiva resulta em:

Sendo o rendimento hidráulico

5.5 Parámetros hidráulicos básicos de una turbina

Costuma-se dar como dado de partida a “queda bruta” (Hb) que na prática representa a diferença de quota entre o nível de água e o ponto de captação (uma vala de irrigação, um canal ou uma represa) e o ponto de localização da turbina (nível do canal de descarga). No entanto, os parâmetros básicos que melhor definem a turbina são a queda líquida ou disponível (Hn) em metro, que na realidade é a queda bruta menos as perdas no trajeto até a mini usina, e a vazão útil ou de equipamento (Qe) em m3/s, que é a turbinável menos as perdas. Assim, obtemos a potencia efetiva dada por uma turbina com um rendimento η:

Pe = γ ∙Q∙H∙η = γ ∙Q∙He (W)

)coscos( 222111 uvuvQPefectivaPotencia m

ee HQP

eHHHH 21

Hg

VPZ

2

2

)coscos(1

222111 uvuvg

He

gH

vuvu 222111 coscos

Potência efetiva =

Pequenas Centrais Hidreléctricas

85

A potencia real transmitida ao gerador será:

Pr= γ ∙Q∙H∙ηg

Sendo (ηg) o rendimento global.

Como exemplo, uma micro turbina que tem um rendimento global de 70% com uma vazão de 30 l/s e dispõe de um salto de 20m, resultará em uma potencia:

Pe = 9810∙0,03∙20∙0,6 = 3532 W

Quando não se dispõe de dados prévios com séries temporais ou de vazões, será preciso construir um sistema de medição in situ com os meios dos quais se disponha em cada lugar, por exemplo, para turbinas pequenas:

- Vertedouro retangular. A vazão é o resultado da aplicação da equação do vertedouro correspondente

Q = f ( h )

Sendo h a carga ou altura da água sobre o limite de saída.

- Depósito. Apenas é necessário um recipiente com capacidade mínima de 100 litros, sendo a vazão a relação entre o volume completo e o tempo que demora para encher-se.

- Tubo de Pilot, para correntes superficiais. Se o aumento da altura da água sobre a superfície livre é (∆h), a velocidade resulta:

A queda bruta pode ser medida facilmente quando se dispõe de aparelhos topográficos. Para a perda de carga no conduto forçado ou no canal de derivação é preciso ter alguma tabela de perdas de carga dos materiais mais comuns: PVC, PE, concreto, etc.

5.6 Tipos de turbinas hidráulicas. Escolha

Todas as turbinas têm seu fundamento teórico no princípio da reação, do qual se obtém a equação de Euler que expressa o torque motor (Tm), como já mencionado:

Tm (N∙m) = ρ∙ Q∙ (r1v1cosα1 - r2v2cosα2 )

Segundo a forma de realizar a conversão de energia hidráulica em mecânica, existem dois tipos de turbinas:

hgv 2

Pequenas Centrais Hidreléctricas

86

- Turbinas de ação ou de impulso (Pelton, Turgo, Ossberger ou Michell-Banki. Trabalham sob pressão atmosférica. Toda a energia foi convertida em cinética no conduto.

- Turbinas de reação (Francis e Hélice, ou Kaplan). Trabalham sob pressão superior à atmosférica, na entrada; como possuem um conduto de aspiração, estão em depressão na saída do rotor (figura 5.10).

Figura 5.10 Detalhe dos tubos de aspiração em uma mini usina hidráulica.

A) Nas seguintes figuras 5.11 e 5.12, apresentam-se as diferentes tipos de turbinas:

Figura 5.11 Micro turbina de ação tipo Michell-Banki (Sánchez T. e Ramírez, J. ITDG-Peru, 1995)

Pequenas Centrais Hidreléctricas

87

Figura 5.12 Tipos de turbinas hidráulicas

Uma vez determinados a vazão e a queda disponível, é preciso escolher a máquina que melhor se adapte às características da queda. Existem vários critérios que ajudam nesta escolha:

a) Velocidade especifica (ns)

Aplicável a todos os tipos de turbina, tem o mesmo valor para turbinas semelhantes.

Sendo:

n: velocidade de giro ( r.p.m) Pe: potencia global da turbina em CV H: queda disponível o útil (m )

As variedades de utilização são:

Turbinas de acción, Pelton, 3 < ns <30

Turbinas Michell-Banki 51 < ns <150

Turbinas Francis 50 < ns < 500

Turbinas Hélice 420< ns < 1200

Na tabela 5.2 apresentam-se as características principais para os diferentes tipos de turbina.

25,1H

pnn cve

s

Pequenas Centrais Hidreléctricas

88

Tabela 5.2 Características principais das turbinas (Sánchez, T. y Ramírez, J. ITDG-Peru, 1995)

TURBINA Inventor e ano da patente Ns (rpm, HP, m)

rpm

Q

m3/s

H

m

P

kW

max

%

A

Ç

Ã

O

PELTON Lester Pelton (EEUU) 1880

1 Ch: 30

2 Ch: 30-50

4 Ch: 30-50

6 Ch: 50-70

0.05-50 30-1800 2-300000 91

TURGO

Eric Crewdson (G. Bretaña) 1920

60-260 0.025-10 15-300 5-8000 85

MICHELL-BANKI

A.G.Michell (Australia) 1903

D. Banki (Hungría) 1917-1919

40-160 0.025-5

1-50

(200)

1-750 82

R

E

A

Ç

Ã

O

Bomba rotodinâmica

Dionisio Papin (Francia) 1689

30-170 0.05-0.25 10-250 5-500 80

FRANCIS

James Francis (Gran Bretaña) 1848

L: 60-150

N: 150-250

R: 250-400

1-500 2-750 2-750000 92

DERIAZ P. Deriaz (Suiza) 1956 60-400 500 30-130 100,000 92

KAPLAN e de hélice

V. Kaplan (Austria) 1912 300-800 1000 5-80 2-200000 93

AXIAIS:

- Tubular - Bulbo - Gerador periférico

Kuhne 1930

Hugenin 1933

Harza 1919

300-800 600 5-30 100,000 93

Observação: Ns: velocidade específica, Ch: Jato, L: lento, N: normal, R: rápido

b) Queda líquida (Hn)

As turbinas Pelton podem ser instaladas em grandes quedas, superiores a 150m, com seu teto atual de 1.300m. As Francis em quedas médias, de 25 a 350m, e as tipo hélice ou Kaplan, em pequenas quedas, inferiores a 40m. Deve-se indicar que no caso das micro-turbinas, estas variações são diferentes, de modo que, por exemplo, uma micro turbina Pelton pode trabalhar com quedas menores que 50m.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

89

Tipo de turbina Altura do salto em

Kaplan e hélice 2 < Hn < 40

Francis 25 < Hn < 350

Pelton 50 < Hn < 1.300

Michel-Banki 5 < Hn < 200

Turgo 50 < Hn < 250

c) Vazão de equipamento (Qe)

As vazões de até 20 m3/s são melhor utilizadas pelas turbinas Pelton, as vazões médias, de 10 a 50 m3/s, são o campo de trabalho das Francis e para vazões maiores costuma-se utilizar turbinas Kaplan. Esta gama varia no caso das mini-turbinas e micro-turbinas.

Tipo de turbina Sensibilidade a

variações de fluxo Sensibilidade a

variações de fluxo

Kaplan e hélice Alta Baixa

Francis Média Baixa

Pelton Alta Alta

Michel-Banki Alta Média

Turgo Baixa Baixa

Pequenas Centrais Hidreléctricas

90

É necessário ressaltar que a escolha do tipo de turbina deve atender a uma combinação de todos os fatores que influenciam em seu funcionamento.

Na seguinte figura 5.13 apresenta-se um gráfico Q- Hn, que permite escolher o tipo de turbina mais adequado e sua gama de potencia em kW.

Figura 5.13 Diagrama para escolha de turbinas (Sánchez, T. y Ramírez, J. ITDG-Perú, 1995)

Também podemos escolher a turbina em função de sua velocidade específica (ns) e da queda líquida (Hn) (figura 5.14)

Figura 5.14 Escolha do tipo de turbina em função de ns e Hn

Queda Líquida

Fluxo

Pequenas Centrais Hidreléctricas

91

5.7 Considerações para sua escolha

- A potencia por unidade de peso é maior nas turbinas Pelton do que nas Francis e nas Kaplan, nesta ordem.

- Observando as curvas de rendimento em função da vazão, as turbinas Pelton têm excelente rendimento para valores da potencia entre 0,3 e 1,0 da potencia máxima.

- As turbinas Francis obtém seu melhor rendimento entre 0,6 e 1,0 da potencia máxima, reduzindo-se esta margem na medida em que aumenta a velocidade específica.

- Observa-se também o campo limitado das turbinas de hélice com pás fixas, sobretudo em comparação com as turbinas Kaplan com pás móveis, graças à possibilidade de otimizar o ângulo de ataque da corrente de água sobre as pás.

- A turbina Kaplan é mais cara (com a mesma potencia) do que a turbina Francis.

- Nas quedas de pequena altura, a experiência demonstrou que é mais conveniente instalar o menor número possível de unidades, quando se instalam dois ou mais grupos é possível utilizar uma turbina de hélice para o grupo de trabalho com vazão constante e uma Kaplan para as demais vazões.

- Com relação ao número de grupos de uma usina, deve-se considerar que a solução mais econômica é a de apenas um grupo, mas pode ocorrer que o rendimento seja notavelmente reduzido quando trabalha-se com cargas parciais. Neste caso, é melhor dividir o gasto em dois ou mais grupos.

- Como orientação, o custo de instalação referente a apenas um grupo é:

o 1 grupo 1,00 o 2 grupos 1,40 o 3 grupos 1,60

Os custos de exploração não possuem a mesma relação.

Resumo

O tema 5 aborda o estudo das turbinas de pequeno tamanho e potencia de uma perspectiva teórico-prática. As pequenas turbinas tentam adaptar-se a características dos recursos hídricos e suas prestações, estando para tanto especialmente desenhadas. Assim, o presente tema parte dos fundamentos teóricos básicos das turbinas e senta as bases para sua escolha através dos parâmetros fundamentais de vazão, queda, velocidade específica, etc. Também são apresentados alguns casos e exemplos de aproveitamento com pequenas turbinas que pretendem ilustrar o tema e ajudar sua compreensão.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

92

6. EQUIPO ELECTROMECÁNICO

O equipamento eletromecânico de uma pequena usina hidráulica está formado pelos seguintes elementos:

- Elementos de fechamento e regulação

- Turbina hidráulica

- Grupo óleo-hidráulico

- Caixa multiplicadora de velocidade

- Gerador elétrico

- Equipamento elétrico geral

- Equipamentos auxiliares

- Elementos de regulação, controle e proteção:

o Controle da turbina hidráulica o Controle do gerador elétrico

6.1 Elemento de fechamento e regulação

Em todo o aproveitamento hidrelétrico é necessária a instalação de algum dispositivo que isole a turbina ou a central do aproveitamento no caso de parada.

Estes dispositivos são:

- Comportas

- Válvulas, que podem ser:

- De fechamento ou segurança: válvula de guarda

- De regulação: são os injetores nas turbinas Pelton ou os distribuídos nas turbinas de reação, tipo Francis e Kaplan

As comportas são utilizadas para fechar o acesso da água para realizar tarefas de limpeza ou reparações. Estas comportas estão situadas na tomada de água, condutos e canalizações.

Costumam ser comportas de acionamento manual, como a apresentada na figura 6.1. As características principais destas comportas são:

- Fechamento do pórtico e volante

- Aberta: baixa perda de carga

- Fechada: boa estanqueidade

- Utilizada como tudo/nada e boa estanqueidade (fechada)

- Torque necessário alto (by-pass paralelo para equilibrar pressões)

- Não se vê sua posição

Figura 6.1 Detalhe de uma comporta

Pequenas Centrais Hidreléctricas

93

A válvula de guarda na entrada da turbina é o elemento que permite o fechamento em casos de parada da usina por períodos de manutenção ou no caso de falhas do sistema de regulação.

As válvulas mais utilizadas podem ser manuais ou automáticas, e os tipos são (figura 6.2):

- De borboleta

- De comporta by-pass

- Esférica com by-pass

Figura 6.2 Tipos de válvulas de guarda

As características mais importantes deste tipo de válvula são::

Válvula de borboleta com contrapeso (figura 6.3)

- Fechamento através de disco giratório

- Abertura (em linha)/fechamento (perpendicular)

- Aberta (90º grau abertura)/Fechada (0º grau abertura)

- Risco de manobra rápida

- Baixa perda de carga (aberta)

- Torque necessário baixo (hidráulico + mecânico)

- Pequenas (não multiplicador): gatilho de imobilidade

- Médias: manuais com multiplicador

- Grandes: motor elétrico, multiplicador de manobra

- Visualização de posição

Figura 6.3 Válvula de mariposa. Fonte: COMEVAL

Pequenas Centrais Hidreléctricas

94

Válvula esférica ou bola com contrapeso (figura 6.4)

- Dotadas com válvulas by-pass e contrapesos

- Aberta: Perda muito baixa de carga

- Fechada: Boa estanqueidade

- Torque necessário baixo (hidráulico + mecânico)

- Pequenas (não multiplicador): gatilho de imobilidade

- Médias: manuais com multiplicador

- Grandes: motor elétrico, multiplicador de manobra

- Visualização de posição

Os dados para sua escolha correta são, portanto:

- Diâmetro nominal da válvula: Costuma coincidir com o diâmetro do conduto forçado

- Coeficiente de perda de carga

- Tempo de fechamento adequado para evitar o golpe do martelo de água

Comparativamente, a perda de carga nas válvulas esféricas é menor e são mais utilizadas do que as mariposas, apesar de que seu custo seja maior.

Nas figuras 6.5 e 6.6 apresenta-se a localização da válvula de guarda na entrada de uma turbina Francis de uma mini usina hidráulica.

Figura 6.5 Usina hidráulica do canal de Isabel II em Torrelaguna (Madrid).

Válvula de guarda tipo esférico com by-pass e contrapeso

Figura 6.4 Válvula esférica. Fonte: COMEVAL

Pequenas Centrais Hidreléctricas

95

Figura 6.6 Localização da válvula de guarda e comporta de fechamento. Fonte: T.Adrada

6.2 Turbina Hidráulica

Um elemento essencial da instalação hidráulica é a turbina hidráulica.

O tipo, geometria e dimensões da turbina estão condicionados, fundamentalmente, pelos seguintes critérios:

- Altura líquida da queda - Forquilha de vazões a serem turbinadas - Velocidade de rotação - Problemas de cavitação - Velocidade de fuga - Custo

Com relação à escolha, podemos estabelecer diferentes critérios, como descrito no Tema 5.

6.3 Grupo óleo-hidráulico

Para o acionamento dos elementos de regulação da vazão e válvulas, dispõe-se de um grupo óleo-hidráulico de óleo sob pressão.

Estes acionamentos são:

- o acionamento das pás do rotor (KAPLAN ou SEMIKAPLAN) - o acionamento das pás do distribuidor ou dos injetores (PELTON) - o acionamento da válvula de guarda

Pequenas Centrais Hidreléctricas

96

Um grupo óleo-hidráulico típico pode conter os seguintes equipamentos:

- Deposito de aproximadamente 100 litros de capacidade (com termostato, chave de esvaziamento e tampa de enchimento

- Motobomba de engrenagens - Filtro de aspiração - Válvulas unidirecionais - Regulador da vazão - Pressostato - Eletroválvula de acionamento de pás - Servo-acionamento de pás

Nas seguintes figuras 6.7 e 6.8 apresenta-se o grupo óleo-hidráulico para o acionamento das pás do distribuidor de uma turbina Francis.

Figura 6.7 Grupo óleo-hidráulico de uma turbina Francis. Fonte: IMPSA Hydro

Figura 6.8 Detalhe do grupo óleo-hidráulico em uma mini usina hidráulica. Fonte: ANDRITZ HYDRO

6.4 Caixa multiplicadora de Velocidade

Em pequenas usinas hidráulicas, costuma ser normal a instalação de uma caixa multiplicadora de velocidade entre a turbina e o gerador, devido a que a velocidade de giro da turbina hidráulica

Grupo óleo-hidráulico

Pequenas Centrais Hidreléctricas

97

costuma ser baixa diante da velocidade do gerador elétrico que costuma ser alta (máquinas elétricas com poucos pares de pólos).

A introdução de uma caixa multiplicadora de velocidade implica o surgimento de perdas nas transmissão da potencia mecânica ou do torque mecânico no eixo, que pode chegar a 4%. São elementos que precisam de maior manutenção do que resto de elementos da usina.

Em função do tipo de engrenagens utilizados em sua construção, os multiplicadores se classificam nos seguintes tipos (figura 6.9):

• A) Eixos paralelos: Utilizam engrenagens helicoidais, para potencias médias.

• B) Eixos cônicos: Geralmente limitados a pequenas potencias, utilizam engrenagens cônicas espirais para o reenvio a 90º. Podem ter duas etapas: a primeira com engrenagens planetárias e outra segunda com engrenagens cônicas.

• C) Eixos epicicloidais ou planetários: São desenhos muito compactos, especialmente adequados para potencias com mais de 2 MW.

• D) De correia (plana ou trapezoidal): Utilizados com baixas potencias; são de fácil manutenção.

Figura 6.9 Tipos de caixas multiplicadoras de velocidade

A caixa multiplicadora é desenhada para garantir, inclusive sob solicitações extremas, a correta alienação dos componentes. Geralmente são construídas com aço soldado muito rígido para que possa resistir, sem deformar-se, à força da turbina e ao torque transmitido pelo gerador.

O multiplicador deve suportar esforços elevados, causados por situações excepcionais, como um defeito de sincronia, um curto-circuito ou uma fuga da turbina, que geram esforços pontuais que podem chegar a romper as engrenagens.

A

C B

Pequenas Centrais Hidreléctricas

98

É importante que o volume, qualidade, temperatura e viscosidade do óleo se mantenham sempre dentro das especificações.

70% dos problemas devem-se à deterioração ou à deficiência no circuito do lubrificante: com frequência os filtros são entupidos ou entra água no circuito de lubrificação.

A perda de rendimento por fricção pode alcançar e inclusive superar 4% da potencia, de modo que soluções alternativas são buscadas incansavelmente, como a utilização de geradores de baixa velocidade, conectados diretamente à turbina..

Figura 6.10 Acoplamento de um gerador elétrico a uma turbina Kaplan de eixo vertical através de caixa multiplicadora de velocidade de eixos planetários. Fonte ISOLUX.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

99

6.5 Gerador síncrono

O gerador elétrico é uma máquina que se encarrega de transformar a energia mecânica de rotação que proporciona a turbina em energia elétrica.

O gerador (ou alternador) está formado por duas partes:

- O rotor (ou indutor móvel), que se encarrega de gerar um campo magnético variável ao girar arrastado pela turbina.

- O estator (ou induzido fixo), sobre o qual se gera a corrente elétrica aproveitável.

Em centrais menores que 1000 kW a tensão de geração é de 380 a 500 V c.a., e para potencias mais altas a tensão aumenta até 6000 V.

O gerador elétrico pode ser de dois tipos: síncrono ou assíncrono..

6.5.2 Generador síncrono

Neste tipo de geradores, a velocidade de giro é constante uma vez sincronizado com a rede elétrica, e resulta da expressão:

Na qual:

n= velocidade de sincronismo expressada em r.p.m.

f= frequência da rede elétrica em Hz (50 ou 60 Hz)

p= número de pares de pólos do gerador

Conforme aumenta o número de pares de pólos, a velocidade síncrona diminui, segundo a tabela 6.1.

Tabela 6.1 Relação entre a velocidade e o número de pares de pólos.

Número de pólos Freqüência

50 Hz 60 Hz

2 3000 3600

4 1500 1800

6 1000 1200

8 750 900

10 600 720

12 500 600

14 428 540

Pequenas Centrais Hidreléctricas

100

16 375 450

18 333 400

20 300 360

22 272 327

24 250 300

26 231 377

28 214 257

O campo magnético giratório é criado pelas bobinas conectadas aos pólos do rotor, alimentadas pela corrente contínua. Dependendo da velocidade de giro, seu rotor pode ser cilíndrico (para velocidades de 1500 ou 3000 rpm) ou de pólos salientes (para velocidades abaixo das 1500 rpm), como se mostra na figura 6.11.

Figura 6.11 Distintas configurações construtivas de um gerador assíncrono. Fonte: T.Adrada

Para produzir esta corrente contínua, podem ser utilizados diferentes sistemas de excitação:

- Auto-excitação estática

- Auto-excitação através de diodos giratórios e excitatriz de corrente alternada

- Excitação através de máquina de corrente contínua

6.5.1.1 Sistema de auto-excitação estática

A auto-excitação consiste em captar a corrente a partir dos terminas do gerador, transformá-la mediante um transformador de excitação, retificá-la por um sistema eletrônico estático e injetá-la no enrolamento de campo induto através de um sistema de escovas e anéis deslizantes (figura 6.12).

Pequenas Centrais Hidreléctricas

101

Este sistema se utiliza em máquinas de pequena potencia, devido aos problemas de manutenção gerados pela combinação de escovas e anéis deslizantes. No instante em que o gerador começa a funcionar, não existem bornes de tensão e, consequentemente, não se dispõe de corrente de excitação. Portanto, necessita-se uma fonte auxiliar (exemplo, uma bateria) para iniciar o funcionamento.

Figura 6.12 Esquema de sistema de auto-excitação estática. Fonte José Antonio Carta: Centrales de energías renovables

6.5.1.2 Sistemas de auto-excitação através de diodos giratórios e excitratriz de corrente alternada

Para evitar a utilização de escovas e anéis deslizantes, em geradores síncronos de grande potencia utiliza-se o sistema de auto-excitação através de diodos giratórios e uma máquina excitatriz de c.a. acoplada no mesmo eixo. A tensão trifásica gerada pela excitatriz é retificada na ponte de diodos giratórios montada sobre o mesmo eixo do alternador. O ajuste da corrente de excitação do gerador síncrono realiza-se através do controle da corrente de excitação da excitatriz, que pode ser fornecidas por um transformador de excitação e uma ponte retificadora controlada (figura 6.13).

Pequenas Centrais Hidreléctricas

102

Figura 6.13 Esquema de auto-excitação com diodos giratórios e excitatriz de c.a. Fonte T.Adrada

6.5.1.3 Sistema de excitación mediante máquina de corriente continua

Consiste em alimentar o enrolamento de campo indutor através da corrente contínua gerada por uma dínamo auxiliar montada no mesmo eixo do gerador síncrono. Mediante a regulação da corrente de excitação da dínamo através de um reóstato, controla-se a corrente de excitação do gerador síncrono (figura 6.14).

Figura 6.14 Esquema do sistema de excitação com gerador de contínua. Fonte T.Adrada

Pequenas Centrais Hidreléctricas

103

6.5.3 Gerador assíncrono

Este tipo de gerador é utilizado em usinas com pouca potencia, até 500 kW, por sua simplicidade, robustez e baixo custo. Seu rotor está formado por condutores ou barras de curto-circuito (figura 6.15).

Figura 6.15 Detalhe construtivo de um gerador assíncrono. Fonte Google. www.monogafías.com

Para poder funcionar como gerador, é necessário que o torque mecânico comunicado ao rotor produza uma velocidade superior à velocidade de sincronismo. Quanto maior for esta velocidade, maior será a potencia ativa gerada. Na figura 6.16 apresenta-se a evolução do torque mecânico e a corrente em regime de funcionamento como motor e como motor gerador.

Figura 6.16 Curva par- corriente de una máquina assíncrona. Fonte: T. Adrada

O gerador assíncrono apresenta a vantagem adicional de não precisar de um sistema de excitação, o que simplifica o equipamento e facilita as manobras sequenciais de arranque. Para tanto, atua sobre a admissão da turbina, acelerando-a ligeiramente acima de sua velocidade de sincronismo, momento em que um sensor de velocidade á a ordem de fechamento do interruptor de linha.

O gerado passa rapidamente da velocidade de hipersincronismo à necessária para que se igualem os pares motor e resistentes na zona de funcionamento estável.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

104

Estes tipos de geradores consomem energia reativa da rede para a criação do campo magnético. Para evitá-lo é preciso colocar uma bateria trifásica de condensadores regulável que compense este consumo. A potencia reativa desta bateria trifásica em kVAr, que corresponderia à potencia reativa que consumiria o gerador à plena potencia, pode ser calculada de acordo com a seguinte fórmula:

Na qual:

Uf = tensão de fase em voltes

= 2f (rad/s)

C= Capacidade dos condensadores em F

= ângulo de desfase entre a tensão e a intensidade

Na figura 6.17 apresenta-se o esquema elétrico unifilar de conexão de um gerador assíncrono a uma rede de 380 V, com a bateria de condensadores conectados em bornes do gerador.

Figura 6.17 Esquema elétrico unifilar de conexão à rede elétrica de um gerador assíncrono com condensadores. Fonte: Iberdrola.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

105

6.6 Equipamento elétrico geral

Em uma central hidrelétrica é necessário um equipamento elétrico que tem por objetivo transformar a tensão, medir os diferentes parâmetros da corrente elétrica da central, a conexão à linha de saída e a distribuição da energia.

Um elemento fundamental constitui-se no transformador de tensão. Dependendo da tensão de trabalho do gerador, a transformação pode ser de baixa/média ou de média/alta tensão.

O objetivo é elevar a tensão ao nível da linha existente para tornar possível um transporte sem perdas excessivas.

É normal instalá-lo no interior do edifício da central, ainda que em algumas ocasiões seja instalado fora, principalmente quando a tensão de saída é maior do que 30 kV.

Deve contar com um sistema de refrigeração natural ou por circuito fechado de óleo ou silicone.

Podem ser:

Transformadores encapsulados em seco (resina epoxy), quando instalados no interior do edifício da usina, minimizando a obra civil da subestação. Apresenta uma menor evacuação de perdas de calor.

Transformadores de óleo mineral. Instalados fora da usina, requerem a construção de um fosso para a coleta de óleo diante de uma fuga ou vazamento. Costumam alcançar maiores potencias nominais do que os secos.

Dispõem de um enrolamento único relacionado com tomadas de regulação à vácuo no enrolamento de alta tensão, por exemplo 400/30000 V ±2,5% ±5, e o grupo de conexão no lado de baixa tensão costuma estar conectado em forma de estrela com o neutro fixado na terra através de uma

impedância, e o da alta conectado em triangulo.

Figura 6.17.1 Tipos de transformadores trifásicos A) De resina epoxy B) De óleo mineral. Fonte: Fabricante IMEFY

A potencia do transformador principal costuma ser igual que a potencia do gerador em kVA ou MVA, apesar de que poderia ser um pouco menor devido a que é preciso descontar a potencia do autoconsumo da central.

A B

Pequenas Centrais Hidreléctricas

106

Dentre os equipamentos elétricos necessários se encontram;

Disjuntores e seccionadores, utilizados para a conexão e desconexão à rede.

Transformadores de medida e de proteção, tanto de tensão quanto de intensidade, para o equipamento de faturação de energia elétrica e relés de proteção.

Transformador de serviços auxiliares, que fornece a tensão adequada a todos os equipamentos de controle para o bom funcionamento da central.

Para-raios ou auto-válvulas, que atuam como descarregadores à terra das sobretensões produzidas na rede elétrica, sobretudo pelas produzidas por descargas de raios. Sua missão é evitar que se danifiquem os isolamento das máquinas e cabos. Existirá um jogo de auto-válvulas nos bornes de alta do transformador. Estarão conectados entre cada uma das fases e terra.

1.- Disjuntores ou interruptores automáticos e seccionadores

Geralmente, estes equipamento se dispõem em quadros elétricos localizados no interior do edifício da usina. Quando a tensão da linha de saída é de média ou alta tensão (superior a 1000V), estes equipamentos costumam estar dentro de caixas blindadas, que contém gás SF6 (hexafluoruro de enxofre) para facilitar a extinção do arco elétrico nas manobras de abertura em carga. São caixas modulares unidas através e conectores, formando um único conjunto (figura 6.18).

Figura 6.18. Caixas blindadas de até 36kV. A) Caixa de interruptor-seccionador. B) Caixa de disjuntor com seccionador. C) Caixa de transformadores de medida e proteção de tensão e intensidade. D) Conjunto de caixas modulares. Fonte: Fabricante Ormazabal

2.- Transformadores de medida e proteção

2.1 Transformadores de tensão

Serão instalados dois jogos de três transformadores indutivos monofásicos conectados à fase terra e situados a cada lado do interruptor. Um jogo, conectado ao lado da linha, será dedicado à proteção, enquanto o segundo, conectado depois do interruptor, será utilizado exclusivamente para alimentar o equipamento de medida. Suas características serão:

A B C D

Pequenas Centrais Hidreléctricas

107

- Tensão primária de acordo com a tensão da rede

- Tensão secundária para medida: 110:√3V y 110:3. O enrolamento de campo 110:3 se conectará em triangulo aberto para alimentar o relés de tensão homopolar (64) e se instalará uma resistência para proteção contra sobretensões por ferro-ressonância.

- Classe de Precisão: 0,2 para medida, 0,5 para proteção e 3P para ferro-ressonância.

- Os transformadores ficarão conectados à terra, de acordo com o estabelecido pela regulamentaçãos

2.2 Transformadores de intensidade

Será instalado um jogo de três transformadores de intensidade com as seguintes características:

- Intensidade primária em função da máxima intensidade intercambiada. - Intensidade secundária: 5A. - Enrolamento de campos independentes para medida e proteção. - Classe de precisão: 0,2s para medida e 5P10 para proteção - Potencia nominal: para medida e proteção se ajustarão de acordo com o consumo

dos secundários - Os transformadores ficarão conectados à terra, de acordo com a regulamentação.

3.- Transformador de servicios auxiliares

Os serviços auxiliares da usina estão constituídos fundamentalmente pelos elementos que, sem intervir diretamente na produção de energia elétrica, são necessários e inclusive indispensáveis para o processo. Do bom funcionamento dos serviços auxiliares depende a fiabilidade e continuidade do serviço.

Os serviços auxiliares se classificam segundo dois aspectos:

Segundo a tensão de alimentação: em corrente alternada ou em corrente contínua

Segundo o grau de segurança e fiabilidade na alimentação:

• Serviços auxiliares essenciais: Sistema contra-incêndio, acionamento de interruptores e seccionadores.

• Serviços auxiliares seguros ou principais: Iluminação de emergência, sistema de refrigeração do gerador e transformador principal, retificadores para carga do banco de baterias.

• Serviços auxiliares normais: Ponte guindaste, bombas de evasão de água, iluminação normal, etc.

A potencia do transformador trifásico de serviços auxiliares depende da potencia instalada da usina. Para estimar sua potencia, deve-se seguir os seguintes passos:

• Calcular o consumo de todos os aparelhos e equipamentos conectados aos quadros dos serviços auxiliares

Pequenas Centrais Hidreléctricas

108

• Estimar um fator de simultaneidade em função das condições normais de funcionamento da central

• Aplicar um fator de segurança diante de futuras ampliações

Normalmente, e até uma potencia instalada de 5MW, a potencia do transformador de serviços auxiliares oscila de 50 a 100 kVA. Costuma ir conectado entre o gerador e o transformador principal em meia tensão e proporciona uma tensão de saída de 240 ou 400 V para alimentar os equipamentos auxiliares da usina.

Em seguida apresenta-se o esquema elétrico unifilar do transformador de potencia até a rede (figura 6.19), obrigatório pela companhia distribuidora de energia (Iberdrola) e o esquema elétrico completo de uma mini hidráulica com potencia instalada de 3,0 MW (figura 6.20).

Pequenas Centrais Hidreléctricas

109

Figura 6.19. Esquema elétrico unifilar de conexão no lado de alta tensão. Fonte Iberdrola.

Disjuntor

Pára-raios válvula automática

Transformador principal

Relés de proteção de linha

Transformador de tensão de medição e protecção

Seccionador de línea con seccionador de puesta a tierra

EQUIPAMENTO A SER INSTALADO EM UMA UNIDADE DE PRODUÇÃO EM REGIME ESPECIAL.

*- Necessário para autoprodutores de mais de MVA **- Deve ser considerado pela Iberdrola ***-Quando instalado um transformador de serviços auxiliares, a disposição dos transformadores de medição será adaptado para incluir o consumo na equipe de faturamento de energia

Pequenas Centrais Hidreléctricas

110

Figura 6.20. Esquema elétrico unifilar de conexão de uma central hidrelétrica de 3.5 MW a uma rede elétrica de 45 kV. Fonte: Proymeca (Madri-Espanha).

A linha elétrica de saída para transportar a energia produzida até os centros de consumo ou até a rede de distribuição pode ser aérea ou subterrânea. A tensão nominal da rede costuma ser de 3kV a 66kV. Dependendo de seu comprimento, traçado e tensão da rede a qual será conectada em alta tensão, o custo da linha pode superar 12.000 euros por quilometro, o que pode influir na viabilidade econômica do projeto.

Figura 6.21. Usina hidrelétrica com saída de linha aérea e subestação fora do edifício

Bloco disjuntor seccionando o gerador

Transformador de serviços auxiliares

Equipamento de sincronização

Relés de proteção do gerador

Regulador de tensão do gerador

Pequenas Centrais Hidreléctricas

111

Na seguinte figura 6.22 apresenta-se o esquema dos comutadores de alta tensão de intempérie necessária quando a saída da linha da central é aérea.

Figura 6.22. Subestação de intempérie

Quando a distancia ao ponto de consumo é pequena, a linha de saída da central pode ser subterrânea, utilizando cabos isoladas de meia ou alta tensão como o da figura 6.24, em cujas extremidades colocam-se os conectores às caixas blindadas com SF6.

Figura 6.23. Cabo isolado de alta tensão e conector

Pequenas Centrais Hidreléctricas

112

6.7 Equipamentos auxiliares

Além dos equipamentos principais anteriormente descritos, deve existir uma série de equipamentos auxiliares necessários para o correto funcionamento das instalações.

Os equipamentos auxiliares que podem ser considerados são:

- Ventilação

- Iluminação normal de emergência

- Equipamento de corrente contínua (baterias) utilizado para alimentar as bobinas de desconexão do disjuntor e o enrolamento de campo de excitação do gerador no arranque

- Bombas de achique de água diante de possíveis fugas ou inundações

- Bateria de condensadores, no caso de que exista um gerador assíncrono

- Ponte guindaste (em alguns casos)

- Rede de terra de proteção e serviço, para limitar a tensão no caso do surgimento de uma falta a terra

- Barreira de limpeza motorizada localizada na tomada de água e na entrada do conduto forçado

- Sistema de proteção contra incêndios

- Água de refrigeração para os geradores síncronos de grande potencia

O consumo elétrico destes equipamentos auxiliares oscila em torno de 2% da produção da usina.

A alimentação dos serviços auxiliares de corrente contínua se realiza através de baterias de Ni-Cd de 110V cc, com uma capacidade de 100 Ah e alimentada por um retificador de 35A. Para a alimentação autômata (PLC) e elementos de controle deve-se colocar um conversor de 110V/24V.

6.8 Elementos de regulação, controle e proteção

Para o correto funcionamento da usina é necessária a instalação de diversos mecanismos de regulação e controle de seu bom funcionamento, bem como dispositivos de proteção, tanto da usina quanto da linha de saída, diante de possíveis falhas que possam ocorrer.

Os principais aparelhos de controle e sistemas de supervisão em uma usina hidrelétrica de pequena potencia são:

Para o controle da turbina:

- Regulador de velocidade, principalmente para usinas com geradores síncronos - Reguladores de nível para usinas com grupos assíncronos - Regulador de vazão turbinado

Para o controle do gerador:

- Regulador de tensão para os grupos síncronos (RAT) - Equipamento de sincronização, no caso de geradores síncronos conectados à rede - Baterias de condensadores, no caso de geradores assíncronos conectados à rede

Pequenas Centrais Hidreléctricas

113

Nas seguintes figuras 6.24, 6.25 e 6.26 apresentam-se os sistemas de controle e regulação anteriormente mencionados.

Figura 6.24. Esquema de controle de uma pequena usina hidrelétrica

Figura 6.25 Esquema de controle de velocidade e controle de tensão. Fonte: T.Adrada

Entrada água

Saída água

Sistema de controle de tensão

Pequenas Centrais Hidreléctricas

114

Figura 6.26 Sistema de regulação de velocidade em uma turbina Pelton

As proteções para os diferentes sistemas atuam quando se produz algo anormal no funcionamento e podem ativar um alarme, a parada do grupo ou a parada da usina.

As principais falhas nas quais as proteções podem atuar são:

1. Proteções mecânicas

- Por fuga de turbina e gerador devido à abertura do interruptor de acoplamento da usina com a rede

- Temperatura do eixo e rolamentos - Nível e circulação do fluído de refrigeração - Nível mínimo hidráulico - Temperatura do óleo do multiplicador de velocidade - Desconexão da bomba de óleo de regulação

2. Proteções elétricas do gerador e transformador principal (ver esquema elétrico da Figura 6.20)

- Intensidade máxima. Relé 50 - Inversão de potencia ativa (máxima admitida 5% da nominal). Relé 37 - Aquecimento do gerador e/ou do transformador - Derivação no estator. Relé 87 - Produção de gases no transformador originador por arcos elétricos internos (Buchholz) - Nível de tensão (entre 68 e 100% da tensão nominal). Relé 27 e 59 - Nível de frequência (entre 47,5 e 51 Hz). Relé 81

Entrada do óleo a pressão

Pequenas Centrais Hidreléctricas

115

3. Proteções da linha de saída de média ou alta tensão (ver esquema elétrico da Figura 6.20)

- Derivação de uma fase sob terra. Relé 64L - Sobrecorrente. Relé 51 - Máxima tensão. Relé 59V

Os relés estão agrupados em um conjunto, chassis ou armário, compacto e diferenciado do resto de equipamentos da instalação. Os circuitos de disparo dos relés atuarão diretamente sobre o interruptor de interconexão (52L).

Em redes com reativação automática, o autoprodutor é responsável pelo fato de que as proteções da interconexão com a rede atuem em um tempo inferior ao tempo de reativação da linha.

Resumo do tema 6

Neste tema 6 foram descritos os diferentes elementos que compõem o equipamento eletromecânico de uma mini usina hidrelétrica, imprescindíveis para seu funcionamento. O equipamento elétrico se divide em elementos de tipo geral: gerador, transformador de potencia, transformador de serviços auxiliares, etc., elementos auxiliares cuja instalação, ainda que possam funcionar esporadicamente, é necessária. Ademais, apresentaram-se os diferentes tipos de geradores elétricos que podem ser utilizados. Para os geradores síncronos, seus diferentes sistemas de excitação; e para os geradores assíncronos, sua utilização com bateria de condensadores. Foram expostos também os elementos de controle e proteção, tanto da turbina, quanto do gerador.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

116

TEMA 7. AUTOMATIZAÇÃO E CONTROLE

7.1 Automatização e controle

A automatização de uma pequena usina hidrelétrica tem como objetivos: reduzir os custos de operação e manutenção, aumentar a segurança dos equipamentos e otimizar o aproveitamento energético da instalação.

O grau de automatização depende de vários fatores: da localização da usina, do tipo de usina e do custo do pessoal.

A automatização pode ser total, isso é, arranque, regulação e parada, ou simplesmente parada e alarme, quando atua alguma das proteções da usina.

Existem diversos equipamentos mecânicos, como as barreiras de limpeza e comportas, cujo funcionamento também pode ser automático.

A tecnologia utilizada para o tele-controle e controle remoto geralmente consiste em relés eletromecânicos ou estáticos e um controlador programável ou PLC de funcionamento autônomo (figura 7.1)..

Figura 7.1 Esquema geral de um sistema de automatização. Fonte IDAE

Pequenas Centrais Hidreléctricas

117

Os equipamentos de automatização baseados em microprocessadores oferecem uma maior flexibilidade, sendo possível a programação de todas as sequencias de funcionamento da central, dentre as quais estão:

- Arranque do grupo

- Parada normal do grupo

- Parada de emergência

- Regulação do grupo por nível ou vazão e por tensão

- Otimização do funcionamento do conjunto da instalação

Cada sequencia se subdivide em um número de estados intermediários estáveis chamados “passos”, que estão programados de forma sequencial na controlador. Em cada passo se controla uma série de condições de entrada e, em função destas, emite-se um conjunto de ordens à instalação, esperando-se até receber daquela uma série de respostas que determinam o salto ao seguinte passo, até que se acabe a sequencia (figura 7.2).

Figura 7.2. Sinais de entrada de controle à PLC. Fabricante de PLC-OMROM

Pequenas Centrais Hidreléctricas

118

A figura 7.3 apresenta um exemplo genérico dos passos que podem surgir na sequencia de arranque e parada.

Figura 7.3. Esquema de sequencia de arranque e parada. Fonte: IDAE

Pequenas Centrais Hidreléctricas

119

O funcionamento de uma ou várias centrais automatizadas pode ser administrado por um centro de controle distante através de técnicas de controle remoto. O sistema de transmissão de informação pode ser feito através de rede telefônica por um modem RS232 ou via GPS.

As manobras de controle remoto são realizadas através de um aplicativo software SCADA e uma tela gráfica que permite ver o estado das variáveis de controle e introduzir valores ou consignas para modificar seu funcionamento (figura 7.4).

Figura 7.4. Imagens das telas gráficas de controle de pequenas usinas hidráulicas

7.2 Modos de funcionamento

Podem ser considerados os seguintes casos:

7.2.1 Central conectada a uma rede elétrica com gerador síncrono.

Ao estar conectado e sincronizado o gerador síncrono com a rede elétrica, a rede que possui uma potencia muito superior à potencia do gerador impõe suas condições de funcionamento, isso é, sua frequência e sua tensão, e não permite modificações.

Neste estado, através do regulador de velocidade (figura 6.26 do Tema 6), controla-se a válvula de regulação de entrada de vazão, para variar a potencia mecânica no eixo, que se traduz em aumentos de potencia ativa elétrica no gerador síncrono. Quanto maior for a vazão de entrada, maior será a potencia mecânica e elétrica ou vice-versa.

Por outro lado, através do regulador de tensão ou corrente de excitação do gerador síncrono, pode-se controlar o valor da potencia reativa, que pode ser gerada ou consumida pelo gerador síncrono.

O objetivo é manter o fator de potencia em barras de saída da usina, próxima à unidade em qualquer estado de carga. Evita-se, assim, a penalização na cobrança de consumo de energia reativa e recebe-se uma bonificação que pode chegar a ser de 4%.

No entanto, pode acontecer que a usina tenha um contrato com a empresa distribuidora de energia para participar no controle da tensão da rede, o que a obrigaria a que, em determinadas horas do dia, possa gerar ou consumir reativa em função do valor da tensão da rede. Este serviço é retribuído

Pequenas Centrais Hidreléctricas

120

economicamente e pode chegar a 8% quando se emite energia reativa nas horas de maior consumo, ou se consome energia reativa nas horas de menor consumo.

Este funcionamento em dois quadrantes está representado mediante o diagrama de capacidade ou área de funcionamento (área sombreada) (Figura 7.5), no qual o gerador síncrono pode situar-se sem ultrapassar os limites de funcionamento (linha vermelha).

Figura 7.5. Diagrama de capacidade de um gerador síncrono acoplado a uma rede elétrica

7.2.2 Usina isolada de uma rede elétrica com gerador síncrono

Neste modo de funcionamento o controle da turbina deve assegurar a manutenção da frequência em qualquer condição de carga, necessitando para tanto um sistema de regulação de velocidade e potencia.

No caso da tensão da rede, o regulador de tensão deve mantê-la constante variando a corrente de excitação do gerador síncrono. Nas horas de maior demanda de energia, a tendência é que a tensão diminua, e deve-se trabalhar no quadrante sobre-excitado aportando energia reativa à rede. Por outro lado, nas horas de baixo consumo, a tensão tende a subir, de modo que deve-se situar o gerador no quadrante sub-excitado absorvendo energia reativa.

7.2.3 Usina conectada à rede com gerador assíncrono

O controle da turbina prescinde de um regulador de velocidade, já que a frequência é mantida pela rede. O controle do distribuidor varia por meio de um óleo-hidráulico servo, e as ordens de abertura e fechamento do regulador do nível de água.

Área de funcionamento

Limite térmico do induzido

Limite térmico do indutor

Limite de estabilidade

Máquina subexcitada

cos capacitivo

Máquina sobreexcitada

cos indutivo

Limite de potência mecânica máxima da turbina

Limite de potência mecânica mínima da turbina

Pequenas Centrais Hidreléctricas

121

O controle do gerador é possível mediante uma bateria de condensadores estáticos controlados de forma contínua através de tiristores. O objetivo é manter o fator de potencia em um valor próximo à unidade.

Para a conexão do grupo à rede, deverá possuir um detector de velocidade que proporcione um sinal quando o grupo chegue à velocidade de sincronismo, para o que se utiliza um relé taqueométrico que pode ser mecânico ou elétrico.

No caso de geradores assíncronos com baterias de condensadores para a auto-excitação, estas se desconectam automaticamente no caso de disparo do interruptor de acoplamento.

Para evitar a auto-excitação do gerador é preciso que a potencia reativa das baterias dispostas tenha como limite a potencia absorvida pelo gerado a vácuo. Como regra prática, toma-se 40% da potencia nominal da maquina (kVA).

Resumo

A automatização e o controle de uma pequena usina hidrelétrica, através de PLCs, é fundamental para a otimização da produção de energia elétrica. Geralmente, este tipo de usinas está completamente automatizada, funcionando sem a presença de operários. Os custos de operação e manutenção são muito baixos, fazendo com que a rentabilidade econômica seja mais alta.

Através de um modem ou por GPS, envia-se a informação do estado de todas as variáveis de controle a um posto de controle, que geralmente pertence à companhia distribuidora de energia elétrica e que, por sua vez, pode enviar ordens por tele-mando à usina.

Também foram descritos os diferentes modos de funcionamento da usina, dependendo do tipo de gerador elétrico que tenha sido instalado.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

122

TEMA 8. IMPACTO AMBIENTAL. GESTÃO ADMINISTRATIVA

Os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) pretendem analisar e compreender a relação de incidência entre um projeto determinado e o meio afetado.

A avaliação do impacto ambiental exige comparar as situações do meio em cada uma das fases do projeto: construção, exploração e abandono.

8.1 Fases de um estudo de impacto ambiental

A realização de um estudo de avalição de impacto ambiental deve conter as seguintes fases (ver figura 8.1):

Figura 8.1. Esquema de um estudo de impacto ambiental. Fonte IDAE

Pequenas Centrais Hidreléctricas

123

Uma vez escolhida a melhor alternativa de projeto do ponto de vista ambiental, passa-se ao desenho de medidas corretivas e preventivas. Ademais, inclui-se um Programa de Vigilância Ambiental, cuja missão é comprovar que as previsões realizadas atendem limites admissíveis. Como resumo, são descritas as principais fases de um Estudo de Impacto Ambiental na figura 8.2 e figura 8.3:

Figura 8.2. Fases de um estudo de impacto ambiental

Figura 8.3. Trâmites de um EIA.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

124

8.2 Análises do projeto

A análise ambiental do projeto permitirá identificar as possíveis causas de impacto que podem ocorrer na fase de construção e na fase de exploração do projeto.

Particularmente, os parâmetros básicos das mini usinas a serem contemplados nos estudos de impacto ambiental são os seguintes:

Objetivos da mini usina

Presença de outras mini usinas no trecho do rio

Potencia instalada

Vazões mínimas, de equipamento e ambiental

Açude ou represa prevista: desenho (altura, localização, etc)

Vazões de derivação: localização, tipo (aberta, fechada), comprimento, etc.

Câmara de carga e chaminé de equilíbrio: características

Conduto forçado: localização, materiais utilizados e tipo de conduto

Edifício: tipologia construtiva

Presença de canais de descarga

Plano de obras e medidas de re-vegetação

Movimento de terras

Disposição e características do TENDIDO elétrico

Épocas de exploração previstas

Medidas para evitar o aterro da represa ou açude

8.3 Identificação e avaliação de impactos

O objetivo da identificação de impactos é analisar os possíveis impactos que podem ser produzidos e o da avaliação é considerar a gravidade de cada afetação ambiental de acordo com distintos critérios.

Dentre as possíveis alterações do meio físico que as instalações hidrelétricas podem gerar durante a etapa de construção e a etapa de exploração, encontram-se:

A inundação de extensas áreas a montante do ponto no qual se coloca o açude ou represa

Perdas de solo agrícola, pecuária ou florestal com erosão e inundação

Reajustes das correntes de agua e efeitos associados sobre a qualidade e quantidade de água e fauna aquática

Redução da diversidade biológica

Efeito barreira do açude ao transito de fauna

Impacto acústico originado pelas turbinas e geradores

Desaparição de espécies animais por degradação ou destruição de seu hábitat

Subtração de vazões de água aproveitáveis para outros usos

Detração de vazões e efeitos sobre a qualidade de água por fuga, descarga temporal de lodos e diminuição da capacidade de diluição do trecho do rio afetado. Eutrofização (diminuição do conteúdo de oxigênio dissolvido na água)

Impacto de aves na rede elétrica

Pequenas Centrais Hidreléctricas

125

8.4 Medidas preventivas e corretivas

Em seguida se inclui uma lista orientativa de medidas corretoras, diferenciando as que podem ser aplicadas na fase de construção e na fase de exploração

Fase de construção

Alterações Medidas Corretoras

Perda de solo por erosão Revegetação de encostas, terraplenos e superfícies nuas

Destruição da vegetação e do habitat para determinadas espécies animais

Cuidados durante a fase de construção

Efeitos sobre a qualidade da água Evitar o derramamento acidental

Alterações no paisagem devido a:

Movimento de terras

Construção do edifício

Condutos forçados e canais de derivação

Faixas de acesso

Revegetação e remodelação das inclinaçoes

Respeitar o tipo de construção na zona

Enterro de tubos

Reposição da vegetação

FASE DE OPERAÇÃO

ALTERAÇÕES AÇÕES CORRETIVAS

Erosão hídrica na saída de água da turbina Estabelecer um canal de drenagem

Diminuição dos fluxos Manutenção da vazão ecológica ou de servidão

Efeitos sobre a qualidade da água por:

Formação de reservatórios

Descarga temporal de limos

Diminuição da capacidade de diluição

Evitar a termoclina com descargas de fundo para as plantas de regulamentação própria e saneamento

Evitar a construção em momentos difíceis (seca, desova dos peixes). Se possível, realizado de forma gradual.

Manter um fluxo mínimo

Impactos de aves em linhas eléctricas Desenho de apoios e instalação de elementos para salvar as aves

Efeitos de barreira pela represa ou açude Instalar passagem para peixes

Diminuição dos fluxos utilizável para outros usos Manutenção dos fluxos

Aumento do nível de ruído Insonorização do edifício e da turbina

8.5 Efeitos positivos do ponto de vista ambiental

Do ponto de vista ambiental, a energia hidrelétrica apresenta efeitos positivos como:

- Seu uso não consome água: esta se coleta do rio em um ponto e é devolvida no curso em uma quota inferior, uma vez utilizada.

- Auto-abastecimento: seu desenvolvimento origina a redução da dependência do setor energético exterior e o reforço da segurança de abastecimento.

- Energia limpa: não produz resíduos contaminantes (ou em mínima proporção), exceto na fase de construção (nesta fase devem ser implantadas medidas minimizadoras dos impactos ambientais) e na de abandono.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

126

- A energia hidrelétrica constitui um recurso renovável, não emite CO2 nem NOx à atmosfera, não contribui com a chuva ácida e não produz resíduos tóxicos de difícil eliminação.

- Efeitos mínimos (quase nulos) sobre o meio ambiente: os impactos gerados são pequenos e facilmente minimizáveis ou evitáveis (escada de peixes, vazão ecológica, soterramento de instalações e condutores, etc.). Deve ser realizado um estudo ambiental específico e desenvolver-se as medidas corretivas.

- Proximidade das áreas de demanda: Normalmente as mini usinas estão localizadas próximas dos pontos de consumo. A distancia entre a geração e as áreas de consumo gera perdas de 10% líquidos de eletricidade.

Na maior parte dos casos, os impactos originados não têm um caráter permanente e a reversibilidade dos impactos causados é total.

É uma tecnologia fiável e madura.

Praticamente inesgotável: devido ao ciclo hidrológico natural.

Facilidade de uso: sua geração e acoplamento à rede é praticamente instantânea, de modo que possibilita que sua energia seja utilizada em altas de demanda.

Fomenta a criação de postos de trabalho durante seu desenho, construção e exploração.

Figura 8.4. Benefícios de uma mini usina hidrelétrica. Fonte IDAE E

8.6 Trâmites Administrativos

O procedimento para a obtenção de concessões de água para aproveitamentos hidrelétricos é estabelecido na Lei de Águas e no Regulamento do Domínio Público Hidráulico de cada país.

Para realizar um uso público da água requer-se uma concessão de águas outorgada, geralmente, pela Confederação ou Organismo da Bacia, e possuem caráter temporário. Na figura 8.5 apresentam-se os tramites administrativos para a instalação da usina e construção da linha elétrica.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

127

DGCEA: Departamento de Qualidade e Avaliação Ambiental do Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente (Espanha).

Figura 8.5 Trámites administrativos

8.7 Legislação

Com relação à legislação vigente relativa ao uso privado de água, encontram-se as seguintes:

Legislação Comunitária

• COM (2005) 627 final, dezembro de 2005. Comunicação da Comissão sobre o apoio à eletricidade gerada a partir de fontes de energia renováveis.

• COM (2005) 265 final, junho de 2005. Livro verde sobre eficiência energética ou como fazer mais com menos.

• Diretiva 2001/77/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa à promoção da eletricidade gerada a partir de fontes de energia renováveis no mercado interior da eletricidade.

• Diretiva 2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outubro, pela qual se estabelece um marco comunitário de atuação no âmbito da politica de águas

Legislação Nacional Espanhola

• Real Decreto Legislativo 1/2008, de Estudo de Impacto Ambiental de projetos e Lei 6/2010, de modificação da Lei de Estudo de Impacto Ambiental de projetos

Pequenas Centrais Hidreléctricas

128

• Lei 10/2001, do Plano Hidrológico Nacional, e Lei 11/2005, que modifica os Planos Hidrológicos de Bacia, aprovados em 1999, e que são anteriores à Diretiva Marco da Água, de modo que devem ser adaptados a esta Diretiva (a seu anexo VII)

• Diretiva 2000/60/CE, Diretiva Marco de Águas (DMA) (Transposta ao ordenamento espanhol através do artigo 129 da Lei 62/2003)

• Real Decreto Legislativo 1/2001, pelo qual se aprova o Texto refundido da Lei de Água (modificado pela Lei 62/2003, de medidas fiscais, administrativas e de ordem social).

• Real Decreto 849/1986, pelo qual se aprova o Regulamento do Domínio Público Hidráulico, que desenvolve os títulos Preliminar I, IV, V, VI e VII do texto refundido da Lei de Águas (modificado pelos Reais Decretos 606/2003 e 9/2008).

• Real Decreto 606/2003, pelo qual se modifica o Real Decreto 849/1986, pelo qual se aprova o Regulamento do Domínio Público Hidráulico, desenvolvido pelos títulos Preliminar I, IV, V, VI e VII, do texto refundido da Lei de Água.

Legislação Ambiental em alguns dos países da América Latina

• Colômbia: Lei 99 de 1993, o Decreto 1753 de 1994, o Decreto-lei 2150 de 1995, a Resolução 655 de 1996

• Peru: Projeto de Lei n. 4335/2010-PE

• Argentina: Lei Nacional 23.879 de 1990. Impacto Ambiental de obras hidráulicas com aproveitamento energético

• Brasil: Decreto 4613 de 11 de maio de 2013 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos

• Republica do Equador: Lei de Gestão Ambiental RO 399 de 2001.

Resumo do tema 8

O estudo de impacto ambiental (EIA) desenvolvido em um projeto de uma mini usina hidráulica é de realização e apresentação obrigatória ao organismo correspondente que gerencie os recursos hidráulicos da área na qual se pretende realizar o projeto. Outorgar a concessão de água passa obrigatoriamente por este trâmite que deve ser submetido, ademais, à informação pública durante um período de tempo determinado. Neste tema abordou-se as fases para tramitação de um EIA, a identificação e avaliação dos impactos e as medidas preventivas e corretivas que devem ser realizadas, tanto na fase de construção da usina hidráulica, quanto na fase de exploração. Por ultimo, adicionou-se diferentes normativas e legislações de países distintos ao respeito.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

129

TEMA 9. ASPECTOS ECONÓMICOS

A rentabilidade econômica de uma pequena usina hidrelétrica pode ser avaliada sobre a base da efetividade comparativa. Comparam-se os investimentos na construção e a exploração da usina com investimentos análogos pela variante alternativa que garanta um efeito energético semelhante.

Para realizar esta comparação são utilizados diferentes parâmetros:

- Índice de energia (Custo do investimento/energia produzida em kWh/ano) - Índice de potencia (Custo do investimento/potencia instalada em MW - Horas equivalentes de funcionamento por ano - Fator de capacidade - Fiabilidade - Disponibilidade

Estes indicadores não fornecem uma informação objetiva sobre a viabilidade do projeto, mas são de grande ajuda para, de uma forma rápida, saber se o projeto em estudo é ou não interessante, comparado com os índices médios de projetos semelhantes. Se o projeto é interessante em uma primeira estimativa, será necessário aplicar os critérios objetivos de análises de rentabilidade.

Dentre os critérios para analisar a rentabilidade de um investimento encontram-se os que se baseiam em considerações do valor do dinheiro no tempo, podendo-se citar:

- Valor atual líquido (VAL) - Taxa interna de retorno (TIR) - Período de retorno do investimento (PAY-BACK)

A análise destes indicadores pode ser realizada considerando a taxa de inflação e a taxa de interesse.

9.1 Índice de potencia

O índice de potencia ou custo do KW instalado define-se como o cociente entre o investimento total e a potencia instalada em kW e proporciona uma boa relação de comparação entre diferentes projetos. O valor médio do índice de potencia situa-se em torno de 1.200 euros/kW (923 $/kWh).

Na medida em que aumenta a potencia instalada da usina, este índice diminui, podendo chegar a um valor próximo de 1.800 euros/kWh (1.384 $/kWh) para uma potencia instalada de 5MW. Para potencias instaladas pequenas, com menos de 500kW, este índice pode chegar a 2.200 euros/kWh (1.692 $/kWh).

9.2 Índice de energia

Sabendo-se qual é a produção elétrica da usina em um ano médio, com base em um bom estudo hidrológico, calculo da vazão ideal de equipamento e decisões sobre as turbinas a serem instaladas considerando a vazão mínima, pode-se calcular o índice de energia como o cociente entre o investimento e a energia media produzida em kWh/ano.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

130

Como ocorre com o índice de potencia, na medida em que aumenta a potencia instalada, o índice de energia diminui. Seu valor médio situa-se em 0,36 euros/kWh (0,27 $/kWh). Para potencias menores do que 500 kW alcança valores em torno de 0,43 euros/kWh (0,33$/kWh) e para potencias de 5MW diminui a 0,32 euros/kWh (0,24$/kWh).

9.3 Horas equivalentes de funcionamento ou tempo característico

As horas equivalentes de funcionamento de uma usina podem ser calculadas como o cociente entre a produção anual em kWh e a potencia instalada em kW. Na medida em que a potencia instalada aumenta, o número de horas equivalente ou tempo característico diminui. Este tempo característico dá uma ideia do grau de aproveitamento da usina. Como média, o número de horas equivalentes está em torno de 3.100h.

Como se comentou no Tema 3: Tipos de pequenas usinas hidrelétricas, cada tipo de usina tem um tempo característico médio:

Usinas situadas em canal de irrigação: entre 4.300 a 2.000 horas

Usinas ao pé da represa: uma média de 2.500h

Usinas de tipo corrente situadas nos cursos altos dos rios: sobre 3.100h

Usinas de tipo corrente localizadas nos cursos médio dos rios: cerca de 4.000h

9.4 Fator de capacidade

Define-se como a relação entre a energia média gerada em um ano tipo e a energia que poderia produzir a usina se trabalhasse 8.760h por ano a plena potencia

Este fator está relacionado com as horas equivalentes de funcionamento. Para pequenas usinas hidrelétricas que funcionam entre 2.500 a 4.000 h, este fator está entre 29 e 43%.

9.5 Fiabilidad y disponibilidad

A fiabilidade da usina é obtida como:

E a disponibilidade como:

Pequenas Centrais Hidreléctricas

131

9.6 Critérios para analisar a rentabilidade do investimento

9.6.1 Valor atual líquido (VAL)

Denomina-se valor atual líquido o valor presente de uma quantidade S a ser percebida ao longo de n anos, com uma taxa juros i. De forma matemática:

O normal em um projeto é ter um desembolso inicial para o total do investimento y, em períodos sucessivos ter um fluxo de caixa (ingressos-gastos) que em geral é variável. Portanto, a expressão anterior fica:

No qual;

I =Investimento total

FCk =fluxo de caixa para o período K

I = taxa de juros considerada ou “preço do dinheiro”

n =número de períodos (anos)

Para que um investimento seja aceito, deverá ter um VAL positivo, o que significa que a avaliação dos fluxos de caixa, ou cashflows, seja superior ao desembolso inicial. Entre dois projetos será mais rentável o que tenha um VAL superior.

9.6.2 Taxa Interna de Retorno (TIR)

A taxa interna de retorno é o valor da taxa de juros que torna nulo o valor atual líquido. Utilizando a expressão anterior, tem-se:

Pequenas Centrais Hidreléctricas

132

Esta taxa interna pode ser interpretada como a taxa de juros que o projeto de investimento é capaz de proporcionar e, portanto, se é superior a taxa de juros, o investimento geral será rentável. Entre todos os projetos comparáveis, sempre será mais rentável o que tenha uma TIR superior.

9.6.3 Período de retorno (PAY-BACK)

Define-se como o prazo de tempo que deve transcorrer para que o investimento seja recuperado. Um projeto será mais rentável quanto menor seja seu período de retorno.

Para o caso de pequenas usinas hidrelétricas, o período de retorno situa-se entre 8 e 10 anos.

9.7 Fatores a considerar no estudo econômico

Os fatores mais importantes a serem considerados para poder realizar o estudo econômico são:

- Vida útil da instalação: pode-se tomar entre 25 e 40 anos

- Período de amortização do investimento: como média costuma ser de 25 anos

- Investimento: Custo total de execução do projeto

- Fundo de manobra: Requerido para realizar o pagamento de impostos ou para depositar fianças

- Gastos pré-operacionais: Deve-se considerar estes gastos gerados pela realização do projeto concessional, gastos administrativos, licenças, seguros de responsabilidade civil, estudo de impacto ambiental, etc.

- Ingressos pela venda da energia produzida a uma companhia distribuidora de energia

- Gastos de operação e manutenção. São os gastos produzidos na exploração da usina, como pessoal, reposição, seguros, etc.

- Impostos. A Confederação Hidrográfica pode exigir um imposto por turbinar vazões que foram previamente reguladas por obras hidráulicas localizadas a montante do aproveitamento. Além disso, estão os impostos de sociedades e o IVA

- Índice de preços ao consumo (IPC)

- Taxa de juros: costuma-se considerar entre 2 e 3

- Divida adquirida com uma entidade bancaria com uma taxa de juros anual

- Subvenções

Na figura 9.1 apresenta-se um procedimento para acometer um investimento em uma mini hidráulica.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

133

Figura 9.1. Procedimento para acometer um investimento. Fonte IDAE

9.8 Calculo de investimento de uma mini usina hidrelétrica

O calculo dos custos que deve ser considerado para determinar o investimento implica diferentes elementos e equipamentos:

- Açude ou represa - Tomada de água, incluída grades e comportas - Canal de derivação

Pequenas Centrais Hidreléctricas

134

- Câmara de carga - Conduto forçado - Edifício da central e canal de descarga - Turbina - Gerador - Transformador principal - Sistema elétrico geral e automatização - Linha elétrica - Caminhos de acesso à usina - Engenharia e direção de obra

A distribuição percentual do investimento em uma mini usina hidráulica, na grande maioria dos projetos, ocorre como indicado na figura 9.2:

Figura 9.2. Distribuição percentual dos custos. Fonte: IDAE

9.9 Exemplo de cálculo de investimento e rentabilidade econômica

Como exemplo de calculo de investimento de uma mini usina hidrelétrica, tomaremos uma usina tipo corrente localizada em um curso médio de um rio, com as seguintes características:

Queda bruta: 7m

Vazão de equipamento: 25 m3/s

Vazão mínima técnica: 10 m3/s

Potencia instalada 1.500 kW

Produção estimada (tomando os dados de um ano médio): 4848 MWh/ano

Açude de 150m de comprimento e 5m de altura média construído em concreto

Obra de tomada

Canal de derivação de seção trapezoidal escavado na terra com um comprimento de 200m

Edifício da usina

Pequenas Centrais Hidreléctricas

135

Conduto tipo Kaplan

Geradores Síncrono de 1.500 kW

Transformador principal de 1.500 kW

Sistema elétrico geral e automatismos

Linha elétrica de interconexão a 20 kV com um comprimento de 2 Km

Preparação de 0,5 hm de acesso.

Elementos Custo unitário (€) Quantidade Custo total ($)

Açude 4.328/ m 150 m 649.730

Tomada, comporta e grades 118.037 1 118.152

Canal de derivação 551,3/m 200 m 110.274

Câmara de carga No No No

Conduto forçado no No No

Edifício da central 291.346 1 29.323

Turbina 630 1 630.148

Gerador 94.522 1 94.522

Transformador 55,137 1 52.516

Sistema elétrico 299.320 1 299.320

Linha elétrica 10.547/ km 2 km 36.233

Acessos 23590.8/ km 0,2 km 4.718 Engenharia e direção de obras 8% 183.184

Investimento total 2.208.120 $

Razões da instalação

Índice de potencia 1.257 € /kW

Índice de energia 0,31 € / kWh

Horas equivalentes 3225 horas

Fator de capacidade 35 %

Dados considerados para a análise financeira:

Precio del kWh 115,12$/MWh

Coste de operación y mantenimiento 189.727 $/año

Relación de deuda 80%

Tasa de interés de la deuda 2,5%

Duración de la deuda 10 años

Vida útil 40 años

O preço do MWh é diferente em cada pais. Este preço de 115,12 $/MWh, considerado neste exemplo, seria aplicável na Colômbia.

Para a análise financeira, utilizou-se o programa RETScreen da Natural Resources Canada (http://www.retscreen.net ). O resultado obtido foi:

Pequenas Centrais Hidreléctricas

136

TIR antes de impostos-capital 18,5 %

TIR antes de impostos-ativos 11,6%>2,5%considerado

Pay-back (amortização) 6,7 años

VAL (15 anos) 4.000.000 $

VAL (40 anos) 12.000.000$

O seguinte mostra a tela do programa RETScreen (a tela do modelo energético).

Portanto, pode-se concluir que é rentável a construção desta pequena central hidrelétrica.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

137

9.10 Conclusões finais

As pequenas usinas hidrelétricas têm períodos de gestação mais curtos, de dois a cinco anos, em comparação com as grandes usinas hidrelétricas, que pode estar em torno de sete anos. Além disso, estas pequenas usinas, ou mini usinas, têm um período de retorno do investimento menor e seus custos de operação e manutenção são mais baixos. São mais fáceis de construir e de funcionar porque seu desenho é mais simples, o que proporciona também custos menores. As usinas hidrelétricas grandes requerem estudos rigorosos que não são necessários para a construção de uma pequena usina hidrelétrica. Ademais, a construção de uma pequena usina de energia hidrelétrica tem um impacto ambiental mínimo e não perturba o habitat como é o caso das grandes plantas de energia hidrelétrica. Sua instalação não implica a construção de grandes represas e barragens e, portanto, não enseja os problemas de deflorestação, inundação e reabilitação.

Além disso, não requerem uma grande superfície de terra para sua instalação e podem ser construídas para aproveitar pequenas correntes de água, com pequenas quedas.

São de alta confiança e disponibilidade, por ser uma tecnologia plenamente desenvolvida e madura.

Resumo do tema 9

O estudo de viabilidade econômica é uma parte do projeto muito importante, já que a realização do projeto depende de seu resultado. Para que o projeto seja rentável e possa ser realizado, é necessário que tenha um VAL positivo, um TIR maior do que a taxa de juros e um reduzido prazo de recuperação do investimento em anos. Como exemplo, realizou-se um estudo econômico de um projeto de uma mini usina hidráulica, considerando os fatores econômicos mais importantes e utilizando o programa RETScreen da Natural Resources Canada.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

138

Glossário Bacia hidrográfica ou topográfica : Área da bacia em km2 Barragem: Muro transversal ao rio, de baixa altura (máximo 15 m), destinado a conseguir um regime fluvial com remanso a montante, para facilitar o desvio da água lateralmente mediante um canal de derivação. Bico ou injetor: Elemento de controle de vazão em turbinas Pelton Calado do canal: Refere-se à altura do canal em metros Câmara de carga: Depósito para armazenar um volume de água que evite as oscilações de vazão no conduto forçado Câmara espiral da turbina hidráulica: Câmara em forma de espiral de seção decrescente que mantém a velocidade constante. Está envolta ao distribuidor da turbina. Canal de derivação: Infraestrutura que tem como missão transportar a água da tomada à câmara de carga.

Canal de drenagem: Infraestrutura utilizada para levar a água ao rio após passar pela turbina.

Capacidade : Seção determinada, fixa e inalterável para medir a vazão Coeficiente de Chezy (C): Seu valor depende do raio hidráulico e do coeficiente de rugosidade do material. É adimensional Coeficiente de escoamento (C): É a relação entre a contribuição ao rio e a precipitação. É um valor adimensional. Coeficiente de rugosidade de Manning (n): Seu valor depende do tipo de material utilizado. Utiliza-se para calcular a velocidade media da água por um canal. É adimensional. Comporta: Dispositivo manual o automático utilizado para cortar a passagem da água. Conduto forçado: Canalização fechada sob destinada a transportar a água da câmara de carga à turbina hidráulica. Contribuição (hm

3): O volume de água fornecido pelo canal em um determinado ponto durante um

ano.

Curva de vazões médias classificadas: Curva de probabilidade acumulada que expressa a probabilidade de obter um valor de vazão maior que um determinado. Desarenador: Dispositivo que serve para reter os materiais sólidos que se movem através do sistema de condução e poderiam ser prejudiciais ao resto da instalação.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

139

Disjuntor: Dispositivo de corte de corrente elétrica capaz de cortar intensidades de curto-circuito Disponibilidade (%): Relação entre o número de horas totais do ano, excluindo-se as horas de paradas fortuitas e as horas de paradas por manutenção, entre o número de horas totais por ano. Distribuidor: Dispositivo encarregado de dirigir e regular a passagem da vazão até o impulsor. EIA : Estudo de Impacto Ambiental Escada de peixes: Estrutura construída na lateral da represa destinada a facilitar a subida dos peixes em suas migrações a montante.

Escala limnimétrica: Escalas graduadas em centímetros presas ao solo. Utilzadas para medir a altura da água no leito do rio. Escoamento superficial: É a que chega às vazões superficiais em um período de tempo curto após a precipitação. Estação hidrométrica: É a encarregada de medir as vazões de um rio mediante a construção de um aforo. Estação pluviométrica: É a encarregada de medir as precipitações. Extensão superficial da bacia: É a área circunscrita pelo "divortium-aquarum" ou linha divisória da bacia. Fator de capacidade (FC): Relação entre a energia real produzida (kWh/ano) e a que poderia haver sido produzida funcionando a potencia nominal durante 8760 h/ano. Fator de compacidade: É um índice comparativo com a forma da bacia de drenagem (perímetro e área da bacia) Fator de forma: É a relação entre a área da bacia e o quadrado do comprimento de seu canal principal Fiabilidade (%): Relação entre o número de horas totais por ano, excluindo-se o número de horas de paradas, entre o número de horas totais por ano. Frequência acumulada: Curva que expressa a probabilidade de obter um valor menor ou igual, o maior que um valor determinado. Frequência relativa (%): É a relação entre o número de vezes que um acontecimento é repetido, dividido pelo número total de observações

Pequenas Centrais Hidreléctricas

140

Gerador assíncrono: Máquina elétrica cuja velocidade de giro é superior à de sincronismo Gerador síncrono: Máquina elétrica que gira à velocidade de sincronismo Golpe de aríete: Sobrepressão produzida no conduto forçado devida ao fechamento da válvula de guarda. Hietograma: Gráfico que expressa a precipitação em função do tempo Horas equivalentes de funcionamento: É o quociente entre a produção anual em kWh e a potencia instalada em kW. Impulsor: É a parte da turbina hidráulica com lâminas que proporcionam a rotação da turbina. Inclinação média da bacia: Média ponderada das inclinações de todas as superfícies elementares da bacias nas quais a linha de inclinação máxima permanece constante. Inclinação média de uma bacia: É a relação existente entre o gradiente de altitude do canal e seu comprimento. Índice de energia ($/kWh): Quociente entre o investimento e a energia media produzida em kWh/ano Índice de potencia ($/kW): Define-se como o quociente entre o investimento total e a potencia instalada em kW Intensidade de precipitação (mm/h) : Quantidade de precipitação por hora. IPC : Índice de Preços al Consumo IVA : Imposto sobre o valor agregado Lâmina de agua vertida: Obtém-se dividindo a contribuição pela superfície da bacia

Largura útil ponderada (LUP): área definida do rio que deve possuir uma vazão mínima capaz de manter o funcionamento do ecossistema do rio em todos os níveis. Límnigrafo: Instrumento que mede o nível da agua mediante uma bóia. Limpa grades: Dispositivo automatizado cuja missão é limpar as diversas grades situadas ao longo do percurso a montante da usina. Longitude da bacia (L): A longitude da bacia está definida pelo comprimento de seu leito principal Pára-raios o válvula automática : Dispositivo de proteção contra sobretensões tipo raios

Perdas de carga (m): São perdas causadas pela fricção da água nas paredes do canal e do

Pequenas Centrais Hidreléctricas

141

conduto forçado, além da passagem pelas válvulas, comportas, etc. Considera o valor da queda bruta. Período de retorno o de recorrência (anos): Define-se como o prazo de tempo necessário para recuperar o investimento

Peso específico da água () (Nm): É o produto da densidade relativa de água (ρ) e gravidade (g). Potência teórica de uma queda d’água (kW): Define-se como o produto do peso específico da água pela vazão e pelo valor da queda líquida. Precipitação (mm): A precipitação é qualquer água meteórica coletada sobre a superfície terrestre. Produção (KWh/ano): Define-se como a quantidade de energia elétrica gerada pela usina em um ano. Queda bruta (Hb) (m): Diferença de cotas entre a superfície da água no açude e a superfície da água no canal de escoamento. Mede-se em metros. Queda líquida (Hn) (m): É o valor da queda útil menos as perdas de carga no conduto forçado. Queda útil (Hu) (m): Define-se como a queda bruto menos as perdas de carga no canal. Raio hidráulico (rh): Relação entre a área e o perímetro molhado de um canal

Rendimento ( %): valor que mede a eficiência energética da instalação. É a relação entre a potência elétrica produzida e a potencia teórica da queda d’água na entrada da turbina hidráulica. Socaz: Nível de água no canal de escoamento Taxa interna de retorno(TIR) (%): A taxa interna de retorno é o valor da taxa de juros que torna nulo o valor atual líquido Tomada de água o entrada: Trata-se de una infraestrutura encarregada do desvio da água do açude ou da represa até o canal Transecto: Seção perpendicular ao leito do rio relacionada com a LUP Tubo de aspiração: Parte de una turbina hidráulica de reação que se encontra na saída do impulsor para provocar uma depressão e incrementar o rendimento da turbina. Turbina hidráulica de ação: Turbina que trabalha sob pressão atmosférica Turbina hidráulica de reação: Turbina que trabalha a uma pressão inferior à atmosférica.

Pequenas Centrais Hidreléctricas

142

Valor atual liquido (VAN) ($): É o valor atual, de una quantidade S, a ser recebido em n anos, com uma taxa de juros i, em uma quantidade que , se a tivéssemos hoje, geraria em n anos a quantidade S Válvula de guarda: Dispositivo que situado na entrada da turbina, cuja missão é cortar a passagem da água diante de situações de emergência ou de manutenção. Válvula: Dispositivo que pode cortar a passagem da água, total ou parcialmente. Vazão de cheia (m3/s) : vazão máxima que pode ser apresentada ou que ultrapassa 10 dias por ano Vazão de estiagem (m3/s): Esta vazão indicará o mínimo necessário na época de seca Vazão ecológica (m3/s): A vazão ecológica é fixada pelo Agência da Bacia, como uma porcentagem da vazão média interanual Vazão específica (litros/s.km

2): Vazão por unidade de superfície. Representa a vazão aportada por

cada km2 de bacia

Vazão media anual (m3/s): O valor médio das 12 vazões médias mensais. Vazão remanescente (m3/s): É a vazão que o rio necessita para seguir seu curso normal. Inclui a vazão ecológica e a necessária para outros usos. Vazão mínima absoluta (m3/s): É a vazão capaz de gerar uma LUP igual a um metro ou com 10% da largura total do leito em cada seção. Vazão mínima técnica (m3/s): É o valor de vazão diretamente proporcional à vazão de equipamento com um fator de proporcionalidade K que depende do tipo de turbina Vazão mínima ideal (m3/s): É o menor valor de vazão a partir do qual a inclinação da curva LUP / Q diminui Vertedouro: Estrutura projetada para extrair a vazão excedente com segurança

Pequenas Centrais Hidreléctricas

143

Bibliografia

Arcesio Palacios, Jairo. Optimización del diseño de pequeñas centrales hidroeléctricas de agua fluyente mediante sistemas expertos. Tesis Doctoral, ETSII- Madrid 1998. Universidad del Valle en Santiago de Cali.Colombia.

De Juana, José Mª. Energías Renovables para el desarrollo. Editorial THOMSON. Paraninfo.2003

Creus Solé, Antonio. Energías renovables. Editorial CEYSA. 2004

Carta González, José Antonio y otros. Centrales de energías renovables. Editorial UNED-

Pearson Prentice Hall. 2009.

IDAE .Manuales de energías renovables. Minicentrales hidroeléctricas.1996

ESHA, European Small Hydropower Association. Guide on How to Develop a Small Hydropower Plant. 2004

Martínez Montes, German. Minicentrales Hidroeléctricas: mercado eléctrico, aspectos técnicos y viabilidad económica de las inversiones. Editorial Bellisco 2004

S. Rojas Rodríguez, V. Martín Tejeda. Cáceres. Centrales Hidroeléctricas. Teoría y Problemas. Universidad de Extremadura, Servicio de publicaciones, 1997. Manuales Unex: 18. ISBN: 84-7723-283-0

Guía para el desarrollo de una pequeña central hidroeléctrica. Stream map. European Small Hydropower Association. Web: http://streammap.esha.be/

Carpi Abad, Mª Victoria. Aprovechamientos hidroeléctricos: Su régimen jurídico- administrativo. Colección DP derecho público. Editorial Lex Nova.2002

Cuesta, Luis y Eugenio Aprovechamientos hidroeléctricos I y II Villarino CICCP. Madrid, 2000

Almandoz, Javier. Monguelos, Mª Belén. Pellejero, Idoia .Apuntes de Máquinas Hidráulicas.. Universidad del País Vasco. Donostia-San Sebastián, 2007

Coz, Federico. Manual de mini y microcentrales hidráulicas: Una guía para el desarrollo de proyectos.. ITDG Perú. Lima, 1995

Polo, Manuel. Turbomáquinas Hidráulicas., Editorial Limusa. México, 1975

Pequenas Centrais Hidreléctricas

144

Revista: Energías Renovables nº 120. Especial Latinoamérica: Un continente cargado de futuro renovable.

Viedma, Antonio. Zamora,Blas. Teoría de Máquinas Hidráulicas., Universidad de Murcia. Murcia, 1997

Pequenas Centrais Hidreléctricas

145

Páginas de Internet

http://www5.iadb.org/mif/Climatescope/2012

http://www.slideshare.net/geopaloma/energa-hidrulica-1967699

www.energías-renovables.com

www.idae.es

www.unesco.org

www.olade.org

www.iea.org

www.ana.gob.pe

www.geni.org

http://www.hydrovisionbrasil.com

Pequenas Centrais Hidreléctricas

146

Índice de figuras

Tabelas/Gráficos/Figuras

Figura 1.1 A energia hidráulica no ciclo hidrológico. Fonte: Centrais de energias renováveis. José Antonio Carta .......................................................................................................................................... 2

Figura 2.1 Fluxograma dos estudos para um aproveitamento hidrelétrico. Fonte: Elaboração própria T. Adrada ................................................................................................................................................. 9

Figura 2.2 Perfil longitudinal de um rio. Fonte Adaptado de Rosgen (1996) ....................................... 11

Figura 2.3 Esquema geral de uma queda. Fonte: IDAE ......................................................................... 12

Figura 2.4 Determinação da superfície de uma bacia........................................................................... 14

Figura 2.5 Ciclo hidrológico. Fonte: Departamento de Geologia da Universidade de Salamanca. ...... 15

Figura 2.6 Precipitações mensais médias. Fonte: Departamento de Geologia da Universidade de Salamanca. ............................................................................................................................................ 17

Figura 2.7 Hietograma: Intensidade de precipitação em função do tempo. Fonte: Dpto. de Geologia da Univ. de Salamanca. ......................................................................................................................... 17

Figura 2.8 Curva intensidade-duração. Fonte: Departamento de Geologia da Universidade de Salamanca. ............................................................................................................................................ 18

Figura 2.9 Curvas IDF. Fonte: Departamento de Geografia da Universidade de Salamanca ............... 18

Figura 2.10 Dados de descarga anual. Fonte CEDEX. ............................................................................ 19

Figura 2.11 Bacia hidrográfica com estação de Medição. Fonte: Jairo Arcesio. Tese Doutoral 1998. . 20

Figura 2.12 Método área - velocidade com molinetes. ........................................................................ 22

Figura 2.13 Aforo de vertido constante. Fuente Dpto. Geología. Univ. Salamanca ............................. 23

Figura 2.14 Medição de descarga única. ............................................................................................... 23

Figura 2.14.1 Curva H-Q e hidrograma Q-t ........................................................................................... 25

Figura 2.15 Vertedouro de parede fina: a) seção retangular, b) seção triangular e c) seção trapezoidal. Fonte: SOTELO ÁVILA; Gilberto. Hidráulica General. ........................................................ 26

Figura 2.16 Vertedouro de parede grossa e construção de um vertedouro em forma de V. Fonte: SOTELO ÁVILA, Gilberto. Hidráulica General. p. 267. ........................................................................... 27

Figura 2.17 Método área-inclinada ....................................................................................................... 28

Figura 2.18 Correlação entre bacias. Divisórias de águas: topográficas (em laranja), direção do escoamento nas ladeiras (azul escuro) e rede de drenagem principal (azul celeste). Fonte: Instituto Cartográfico de Valencia. ...................................................................................................................... 29

Figura 2.19 Usina de tipo corrente com canal de derivação. Fonte EVE .............................................. 31

Figura 2.20 Ecossistema fluvial. Fonte: CONAMA (Congresso Nacional de Meio Ambiente - ETSI Montes). ................................................................................................................................................ 32

Pequenas Centrais Hidreléctricas

147

Figura 2.21 Metodologia IFIM ............................................................................................................... 33

Figura 2.22 Escolha da vazão ecológica. Curvas LPU/vazão. Descrição de uma transecção. Fonte: CONAMA (Congresso Nacional de Meio Ambiente - ETSI Montes). ..................................................... 34

Figura 2.23 Curva de classificação dos anos hidrológicos. Fonte: IDAE ................................................ 36

Figura 2.24 Curvas de duração de vazões ............................................................................................ 37

Figura 2.25 Curva de vazões médias classificadas. Fonte: IDAE ........................................................... 38

Figura 2.26 Curva de vazões médias classificadas ................................................................................ 41

Figura 2.28 Gráfico da energia em função da vazão ............................................................................. 42

Figura 2.29 Histograma de vazões médias mensais ............................................................................. 44

Figura 2.30 Conceito de queda bruta, útil e líquida. Fonte Ente Vasco de la Energía .......................... 46

Figura 2.31 Perdas nos distintos elementos de uma central micro hidráulica (Sánchez, T y Ramírez, J. ITDG-Peru, 1995) ................................................................................................................................... 48

Figura 3.1 Esquema de uma mini usina hidrelétrica de água corrente de alta pressão. ...................... 51

Figura 3.2 Mini usina hidrelétrica de água corrente com canal de derivação. A) Um canal aberto se encarrega de transportar a água do pequeno reservatório até a câmara de carga, também aberta; b) entre o reservatório e a câmara de carga existe um conduto forçado que comunica o açude com uma câmara fechada . ........................................................................................................................... 52

Figura 3.3 Componentes de uma usina hidráulica de média ou baixa pressão com canal de derivação. Fonte EVE .............................................................................................................................................. 53

Figura 3.4 Mini usina localizada em um curso médio de um rio com canal de derivação ................... 54

Figura 3.5 Esquema de uma mini usina hidrelétrica de água corrente de média/baixa pressão. ........ 55

Figura 3.6 Central a pie de presa . Fuente IDAE ................................................................................... 56

Figura 3.7 Mini usina hidrelétrica ao pé da represa em caverna.......................................................... 56

Figura 3.8 Mini usina localizado no canal de irrigação. Fonte: IDAE .................................................... 57

Figura 4.1 Esquema típico de una mini usina com instalações de obra civil (Sánchez T. Ramírez, J. , ITDG-1995) ............................................................................................................................................ 59

Figura 4.2 Tipos de açudes. Fonte IDAE ................................................................................................ 60

Figura 4.3 Corte na represa de enrocamento com impermeabilizaçãoo. Caspe, Espanha .................. 60

Figura 4.4 Represa de Estremera, rio Tajo, Espanha (foto J.A.Mancebo, 2007) .................................. 61

Figura 4.5 Açude no rio Kaseke, Tanzânia (Foto J.A.Mancebo, 2010) .................................................. 61

Figura 4.6 Planta de açude com detalhes de reabilitação. ................................................................... 62

Figura 4.7 Escada de peixes. Fonte: ESHA ............................................................................................. 62

Figura 4.8 Barreira de limpeza automática na entrada de uma tomada de água. Fonte: ESHA .......... 63

Figura 4.9 Formas dos canais ................................................................................................................ 64

Figura 4.10 Vertedouro com desarenador e vertedouro lateral em canal. (Foto J. A. Mancebo 2010) .............................................................................................................................................................. 64

Figura 4.11 Diferentes formas de canais e raio hidráulico. Fonte: ESHA .............................................. 66

Pequenas Centrais Hidreléctricas

148

Gráfico 4.12 Gráfico de vazão em função de dimensões do canal retangular. Fonte: IDAE ................ 66

Figura 4.13 Detalhe de um desarenador na entrada da câmara de carga. Fonte Jairo Arcesio Palacios. Tese Doutoral 1998 ............................................................................................................................... 67

Figura 4.14 Detalhe de uma cámara de carga ..................................................................................... 68

Figura 4.15 Câmara de carga com barreira de limpeza e ensecadeira. (Foto J. A. Mancebo 2010) ..... 69

Figura 4.16 Relação entre o diâmetro, número de condutos e custo relativo. Fonte: Centrais Eléctricos, Universidade Politécnica da Catalunha, UPC. ..................................................................... 70

Figura 4.17 Determinação gráfica do diâmetro do conduto sob pressão. Fonte IDAE ........................ 71

Figura 4.18 Conduto forçado. Foto J. A. Mancebo 2010 ...................................................................... 71

Figura 4.19 Mudança de direção no conduto forçado. Foto J. A. Mancebo 2010 71

Figura 4.20 Edifício na usina com barreira de limpeza e ensecadeira. Instalada no rio Júcar, Espanha (foto J.A.Mancebo, 2012)...................................................................................................................... 72

Figura 4.21 Localização do edifício da usina. Fonte ESHA .................................................................... 73

Figura 4.22 Interior da mini central hidráulica Molino de Suso (Álava – Espanha). Fonte IDAE .......... 73

Figura 4.23 Seção de sistema de descarga de uma turbina Francis ..................................................... 74

Figura 4.24 Sistemas de descarga ao rio ............................................................................................... 74

Tabela 5.1 Classificação de mini usinas (Sánchez, T. y Ramírez, J. ITDG-Perú, 1995) ........................... 76

Figura 5.1 Turbina tipo Pelton de dois injetores ................................................................................... 77

Figura 5.2. Elementos principais de uma usina hidráulica (modificado de Fernández, P. 2002) ......... 77

Figura 5.3 Corte esquemático de uma turbina de eixo vertical ............................................................ 79

Figura 5.4 Turbina Francis. Câmara e tubo de aspiração. CH Torrelaguna, Espanha (Foto Mancebo, 2012) ..................................................................................................................................................... 79

Figura 5.5 Mecanismo exterior de acionamento das pás do distribuidor Fink. CH EL Atazar Espanha (Foto Mancebo, 2012) .......................................................................................................................... 80

Figura 5.6 Eixo da turbina com acoplamento. Acionamento da coroa do distribuidor. CH El Villar, Espanha (Foto Mancebo, 2013) ............................................................................................................ 80

Figura 5.7 Turbina Pelton (alterado de Fernández, 2002) .................................................................... 81

Figura 5.8 Conduto de corrente ............................................................................................................ 82

Figura 5.9 Modelo ideal de triângulos de velocidade de entrada e saída do rotor de Francis ............ 83

Figura 5.10 Detalhe dos tubos de aspiração em uma mini usina hidráulica. ....................................... 86

Figura 5.11 Micro turbina de ação tipo Michell-Banki (Sánchez T. e Ramírez, J. ITDG-Peru, 1995) ..... 86

Figura 5.12 Tipos de turbinas hidráulicas ............................................................................................. 87

Tabela 5.2 Características principais das turbinas (Sánchez, T. y Ramírez, J. ITDG-Peru, 1995) .......... 88

Figura 5.13 Diagrama para escolha de turbinas (Sánchez, T. y Ramírez, J. ITDG-Perú, 1995) .............. 90

Figura 5.14 Escolha do tipo de turbina em função de ns e Hn ............................................................. 90

Figura 6.1 Detalhe de uma comporta ................................................................................................... 92

Figura 6.2 Tipos de válvulas de guarda ................................................................................................. 93

Pequenas Centrais Hidreléctricas

149

Figura 6.3 Válvula de mariposa. Fonte: COMEVAL ............................................................................... 93

Figura 6.4 Válvula esférica. Fonte: COMEVAL ....................................................................................... 94

Figura 6.5 Usina hidráulica do canal de Isabel II em Torrelaguna (Madrid). ........................................ 94

Figura 6.6 Localização da válvula de guarda e comporta de fechamento. Fonte: T.Adrada ................ 95

Figura 6.7 Grupo óleo-hidráulico de uma turbina Francis. Fonte: IMPSA Hydro ................................. 96

Figura 6.8 Detalhe do grupo óleo-hidráulico em uma mini usina hidráulica. Fonte: ANDRITZ HYDRO 96

Figura 6.9 Tipos de caixas multiplicadoras de velocidade .................................................................... 97

Figura 6.10 Acoplamento de um gerador elétrico a uma turbina Kaplan de eixo vertical através de caixa multiplicadora de velocidade de eixos planetários. Fonte ISOLUX. ............................................ 98

Figura 6.11 Distintas configurações construtivas de um gerador assíncrono. Fonte: T.Adrada ........ 100

Figura 6.12 Esquema de sistema de auto-excitação estática. Fonte José Antonio Carta: Centrales de energías renovables ............................................................................................................................ 101

Figura 6.13 Esquema de auto-excitação com diodos giratórios e excitatriz de c.a. Fonte T.Adrada . 102

Figura 6.14 Esquema do sistema de excitação com gerador de contínua. Fonte T.Adrada ............... 102

Figura 6.15 Detalhe construtivo de um gerador assíncrono. Fonte Google. www.monogafías.com . 103

Figura 6.16 Curva par- corriente de una máquina assíncrona. Fonte: T. Adrada ............................... 103

Figura 6.17 Esquema elétrico unifilar de conexão à rede elétrica de um gerador assíncrono com condensadores. Fonte: Iberdrola. ....................................................................................................... 104

Figura 6.18. Caixas blindadas de até 36kV. A) Caixa de interruptor-seccionador. B) Caixa de disjuntor com seccionador. C) Caixa de transformadores de medida e proteção de tensão e intensidade. D) Conjunto de caixas modulares. Fonte: Fabricante Ormazabal ........................................................... 106

Figura 6.19. Esquema elétrico unifilar de conexão no lado de alta tensão. Fonte Iberdrola. ............ 109

Figura 6.20. Esquema elétrico unifilar de conexão de uma central hidrelétrica de 3.5 MW a uma rede elétrica de 45 kV. Fonte: Proymeca (Madri-Espanha). ....................................................................... 110

Figura 6.21. Usina hidrelétrica com saída de linha aérea e subestação fora do edifício .................... 110

Figura 6.22. Subestação de intempérie .............................................................................................. 111

Figura 6.23. Cabo isolado de alta tensão e conector .......................................................................... 111

Figura 6.24. Esquema de controle de uma pequena usina hidrelétrica ............................................. 113

Figura 6.25 Esquema de controle de velocidade e controle de tensão. Fonte: T.Adrada .................. 113

Figura 6.26 Sistema de regulação de velocidade em uma turbina Pelton ......................................... 114

Figura 7.1 Esquema geral de um sistema de automatização. Fonte IDAE .......................................... 116

Figura 7.2. Sinais de entrada de controle à PLC. Fabricante de PLC-OMROM ................................... 117

Figura 7.3. Esquema de sequencia de arranque e parada. Fonte: IDAE ............................................. 118

Figura 7.4. Imagens das telas gráficas de controle de pequenas usinas hidráulicas .......................... 119

Figura 7.5. Diagrama de capacidade de um gerador síncrono acoplado a uma rede elétrica ........... 120

Figura 8.1. Esquema de um estudo de impacto ambiental. Fonte IDAE ............................................ 122

Figura 8.2. Fases de um estudo de impacto ambiental ...................................................................... 123

Pequenas Centrais Hidreléctricas

150

Figura 8.3. Trâmites de um EIA. .......................................................................................................... 123

Figura 8.4. Benefícios de uma mini usina hidrelétrica. Fonte IDAE E ................................................. 126

Figura 8.5 Trámites administrativos ................................................................................................... 127

Figura 9.1. Procedimento para acometer um investimento. Fonte IDAE ........................................... 133

Figura 9.2. Distribuição percentual dos custos. Fonte: IDAE .............................................................. 134

Tabela 1.1. Produção de energia hidráulica no mundo. Fonte: UNESCO ............................................... 3

Tabela 1.2. Classificação das pequenas usinas hidrelétricas .................................................................. 5

Tabela 1.3. Porcentagem de potencia instalada em MW ....................................................................... 6

Tabela 2.1. Impacto ambiental e medidas corretoras. Fonte: elaboração própria. ............................. 10

Tabela 2.2. intervalos entre as curvas de nível ..................................................................................... 13

Tabela 2.3. Dados de vazões médias diárias ......................................................................................... 39

Tabela 2.4. Tabela de vazões ordenadas da menor à maior e energia ................................................. 40

Tabela 2.5. Comparação de resultados ................................................................................................. 43

Tabela 2.6. Variação do valor de γ em fundação de T (ºC) ................................................................... 47

Tabela 4.1 Comparação de diferentes tipos de material para condutos.............................................. 69

Tabela 5.1 Classificação de mini usinas (Sánchez, T. y Ramírez, J. ITDG-Perú, 1995) ........................... 76

Tabela 5.2. Características principais das turbinas (Sánchez, T. y Ramírez, J. ITDG-Peru, 1995) ......... 88

Tabela 6.1. Relação entre a velocidade e o número de pares de pólos. .............................................. 99

Autores: Adrada, T., Mancebo, J.A. e Martineza, C. (2013). Pequenas Centrais Hidrelétricas