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ANO XXIII-N.º 1118 16 DE JUNHO DE 1968 SEAN AIO ELEGAÇÔES DE LISBOA COM AMOR �1 rn1u- tu a r��ºº NEVES Editor e Prrietário: António Paulouro DrnECTOR - ANNIO P UI.URO ꝃ- . Visconde da Gori<s·cada, 116 -Telef. 23623 CAST CO- Rua 5 de Outub, 2 - Telef. 774 1$50 hábito é nso, muito nosso e vai d emo-lo. Redacção, Atração e icinas: �'Ꜵ-Telef. X 52211 Crónica dos Andes . Estanho, av1oes, créditos & (.ª Acaba de rnir-se em La Paz oConselho Internacional do Es- tanho com a presença dos dele- gados dos principais países pro- dutores e- consumidores daquele mineral. No dia da penúltima reunião, uma carga explosiva destruiu parte do edifício onde se realiza- ram as sessões. Milagrosamente nenhum d deegados sofreu m q1+e o susto, mas o ,tre- mendo esitrondo que fez ale+tar a cidade v�io de no�o fazer re- lembrr o que o to repre- sentou no pdo, e hoje ms do que nunca reprta de i- po+tte, m tamb de dolo- A crónica dos Andes, que hoje os o gos de pvbli- car, foi-n mandada pelo noo sinante na Boli sr. dr. M. F. Pereira mos. on, director de uma importante empresa indus- tri e comercial em La Paz, o dr. Pereira Ram fruen- tou a Escola Comercl e - dustrial de Ctelo Branco e depois, ajudado aפnas pela sua inteligência e quali de trablho, cenciou-se Oi.ência8 Económicas e - nancs. A aprbiação dos probl m � daque o fala- da , e g "' do MJ ndo reves- , OF V' ê temunha idónea e presencial, de in- vulJ" intere. M. F. P. ROS que, passando aquelas às mãos do Estado, o país poderia final- mente usufruir todas as vanta- gens de possuir tão grande ri- queza no seu território. flutuações demasiado pronuncia- das nos preços internacionais do estanho. Assim, quando a pro- cura excede demasiado a oferta com provãvel subida acentuada dos preços, o Conselho intervém e lança no mercado as suas re- servas. Desta forma se defendem os interesses do consumidor. m situação oposta, Uando a proàu- ção não encontra suficiente pro- cura, o gerente do «Buffer Stock» adquire os excedente5 com intenção de assegurar aos países produtores preços inter- nacionais remuneradores. O sistema, teôricamente certo, deveria funcionar sem atritos se um factor externo, independente do Conselho Internacional do Es- tanho, não etivesse intervindo, desde hã alguns anos, de forma decisiva no jogo de oferta e pro- cura tornando infrutíferos, ou quase, os mecanismos ama indi- cados. Durante a última guerra e mercê duma políti-ca de congela- mento de preços, os Estados Uni- dos constituíram grandes resr- vas tratégicas de estanho que compraram aos paísei produto- (CONTINUA NA 6.• PAGINA) ANIMATóGRAFO ' A margem de O DELFIM ( entrevista com JOSÉ CARDOSO PIRES) Cardoso Pires no lançamento de O Delfim: o escritor não é bicho de gabinete . cktail no Teatro vmaret. A Moraes fütora aprenta O Del- fim, novo ·romance de José Car- )So ir, e, su1tâneamente, a nova coleco A Mar do Tempo>. Se bem me lembro dei dele conta e eu miúdo de calçoni- cos de coti cirandando em tor- no do Monte s brincadeas que s dizer-se são da ide. A min tia - rordo-a re- donda, baixota, morena, peixeira de rua - fizera uma opera a qualquer coisa que tin a mais na baia. Ficou boa, magní- f.ica, menos ronda, mais baí- xota l, goela aprimoda e, de outrora, o feio · de pêlo na venta. A famil que a insupor- va em sde, la-se-lhe na lei. E foi f rija quando ela vol- tou sã de novo. Festa rija, nesse mpo e hoje ainda, não d:sp,ensa comezaina. o l hãbito. Aprovtou-se um B e n f i c a- -Oriental no Oampo Grande e manhã cedo abalou a hoste fa- miliar, o avô e a avô mai-la grda de corpo e a ranch.'da de filhot. Comeu-se - bem me lembro - o prato que de todos eles - beirõ de riba e <le ab:- xo - era saudade: favas com mouro e toucinho, molhado com litros de maduro rrascão para os varões, débil água-pé para da de frãgil arcaboiço fl ga- sosa gida para nõs, a sem direitos miudagem. Depois, o Benfi deu golo de todo o est:Io ao Oriental - só os homens e a crida ma graúda viam penetdo no forum dport_,vo que a mulherada ficara com os trôpeg ou pádos rebentos charlando no jar grande - e se foi, ao findar da feta a que outra fes se junra (a vitõrio do glorloso) tragar copi- tos de cerveja com carol cozi- do na mesma tasca almoço. 1------ roso, para a econa oliviana. A eloração do o na Bolívia data do tempo da ocupa- ção espanhola mas tomou o seu maior impulso a partir de mea- dos do século passado em que o essencial das explorações passa- ram às mãos dos célebres Ro- chschilà, Aramayo e sobretudo Simon Patino conhecido por «Ba- rão do Estanho». Todos eles ti- ,,eram o grande méri1: > de im- pulsionar decisivamente a indús- tria mineira boliviana, mas o as- pecto negativo da sua obra en- contra-se no facto de nem sem- IJre ter tomado em conta os interesses nacionais, jã que gran- de parte dos formidãveis lucros conseguidos foram levados ao exterior, quando poderiam ter si- do extremamente úteis para o desenvolvimento económico do pais. A nacionalização das minas re- presenta realmente um marco transcendente na s,tória da Bo- lívia, mas não trouxe na prãtica oi resultados prometidos e que o povo boliviano tão ansiosa- mente esperava. O idl da revo- lução não tardou a ser preju- dicado pela inexperiência dos go- vernantes e pela acção nefa+ta de uns quantos, que se aprovei- taram da situação em benefício dos seus interesses pessoais. O organismo estatal encarregado da gestão das minas foi comple- tamente invadido pela burocra- tização e pelos amigos dos donos do Poder que aí buscavam refú- gio e compensação material. O fracasso económico da naciona- lização foi facto consumado pelo que não só não melhorou a si- tuação dos trabalhadores minei- ros como também se elevaram demasiado os custos de produ- ção. Esta situação, que se man- t�ve, veio mais tarde a ser agra- vada pela pronunciada descida das cotações do estanho nos mer- cados internacionais. Para mino- rar a gravidade do problema e reduzir os enormes prejuízos com a exploração do estanho, o go- verno do General René Barrien- tos, triunfador da revolução de 4 de Novembro de 1964, decidiu baixar os salãrios dos mineiros como medida transitória até que se registe uma melhoria da si- tuação. Para mais 1lguns dólares O fÔyer do Teatro é centro de convilv'lo: reunem-se, convem, oontactam escriores (Alexandre O'Nll, Alvaro iSala, Pal e Cao, lanc de Portugal, re- za Hota, Carlos de Ohl�eira, Jú- lio oreira, Gaspar 1ões), jor- nalistas e directores de jornais (A. Ruella Ramos, Guilhene Pe- reira da Rosa, Francisco Balse- mão, António Paulouro, Franc co ata, Baptista Bastoo), pro- fesso,res un.ivereitários (Jaointo Prado Coelho, i ar,qu, e. Manuel Antunes, iller Guerra), pintores (Jo A bel Mata, Sã Nogueira), actores (Caen o- lores, Fernando Gu=ão, Rui de Cawalho, Solnado, Maria do u Guerra), iplomata (Ana Can- ctigo e Prof. R:cardo Aent!ni, do [nstituto ItaJoiano; oto ra Rezende, adido cultural da Em- badΞada do ril; Feando o- ran, secretãrio da Embaixada de Espanha), ens da banca (drs. Manuel Ja!llto Nunes, José o- quette, ilipe Nobre Guedes, Joapo de Magalhães, Vco Vieira de A1meida, Artur Cuper- t:no de randa, Almeida er- nands), e&,tores, arqnütectos, gente da rádio e da mca li- gra. Ma tarde, já com um saber de oui, crayon e fenêtre a esn- r-me a inrna msa cinzenta, o profeor de história falou- -me de Afonso, o Conqutador e SS viri a braça- das de esp•ada sobre a mou- rama gen. Gostava o mestre de abrilhantar a dl:SSertação - colar com coloridas d1iç invejas dos reptos finais das ba e das suas 1entas: o javali sado no espeto, o veado tuncho à unha e a pulso, o vinho no pichel, o truão lamben- do as oadas e vomitando nos siot de malha, no meio do gáudio chicoteante d cavalei- ros e do sor.zito enjoado mas gozo d cortesã. Mouro ven- cido era banquetagem de truz. A revolução de 1952 veio mo- dificar totalmente este estado de coisas. Com efeito, em 31 de Ou- tubro desse mesmo ano, foi assi- nado o decreto que nacionalizou grande parte das minas e com ele nasceu a grande esperança de E porquê baixaram os preços do estanho? Ao contrãrio do que sucede com a maior parte das matérias primas, a comercializa- ção do etanho encontra-se pro- tegida por um interessante sis- tema que, em condições normais, deve assegurar uma certa esta- bilização das cotações. O Conse- lho [nternacional do Estanho ad- ministra reservas dete mineral que constituem o chamado <:Buf- fer stock» que, agindo como «tampão», evita que se produzam O que , afinal, «w- iterns> europeus, ms dwada- mente, 0 ,weste> tn? P+imeiro que tudo, um negócio que se t rendoso numa ci- netografila naonal em crise. Um público que olta as cos� aos clásmcos e não recebe bem a nova geração rae para o Corbucci e para os Leone. Etes «westers> ,têm audiência e fa- z-se lidaanee, com um or- çento mio. Pouê matar ' POR JOSÉ VAZ PEREIRA a galinha dos os de ouro? A receita Silifüca-se de fil1me pa- ra fiLme e ruLtados estão à vista. Claro que os «wetde que falam não apresentam a (CONTINUA NA 6.• PAGINA) . . .. . . . . . . . . . . . .... . ... .. . . . . .. . . . . . . . . . .. . .. . . .. . ... . . .. . . . . A MULHER DA ERVA UMA CRÓNICA TELEIMPRENSA POR FERNANDO DACOSTA FOTOS DE PACO GARCIA A mulher sentada na ladeira é o único sinal de da na paisa- gem da tarde. A auto-estrada passa longe, no meio dos campos rejuvenescidos nesta época do ano, mas é uma auto-estrada va- zia d'e velocidades e de zumbido de motores - que sempre são v,m sinai de vida a quebrar solidões, ali, pesadas, naquela peq·uena povoação surgida uma data. de quilómetros depois de Coimbra. A mulher, a auto-estrada, a povoação são, porém, vulgares, entre muitas ao acaso que o aca- so (um pne� furado) nos desco- bre e revela. A mulher está entretida a des- coser uma saca de serapilheira, num taque-taque repetid:o de fios rebentados pelos dedos e pelos dentes - ambos velhos e fos. Ao lado há uma cesta velha, ar- redondada, cheia de erva que a mulher ajeita de vez em quando e revolve por hábito, por ter- nura. Ela é a mulher da ea. Cha- mam-lhe assim (são poucos os que lhe sabem o nome por in- teiro: Evangelina Costa P- toni) porque velha e desamp-ar da descobriu o recurso de ir, ma- nhãzinha, pelos cos apanhar ervas que depƣs em trœa de qualquer coisa, pouca que ela susten-se de qu nada. Uns tostões apenas, que a sopa e a mercria dãlha as senhoras de S. Vice de Paulo. Ela t�m (CONTINUA NA 6.• PAGINA) Evangelina da Oosta Pitoni - A mulher da ea... VISADO PELA COMISSÃO DE CENSURA O !facto quase roça insólito: nunca se viu reunião tão he,tero- génea a propóito do lançamento I de um livro de um escritor por- tuguês 'vo, raqU:i ao nosso lado, cansado, fcando oi,garro, oo-' \ po de whisky na· mão. Não há' pooe, não haiverã cronica munda- 1 na. Alçada Baptista, em nome da: Morais Editora, agradece a pre- 1 sença dos cirounsttantes, duas 1 palras diz o pouê da reunião. O actor Feando Gusmão apre- seta O Delfim. Rui de Carvalho lê depois um íulo do roman- ce. A cerimónia, à· havê-la, , ter- mina ruqui. o res i to merece registo: um escri,tor t à sua volta muita e diversa gente, con- trariando a ida-feita de icho de (CONTINUA NA 4.• PAGINA) Aos pouc, eu e o demais catraios, (que, no rreio, mor- díamos a sardinha frita <lentro da carca ou nos lambuz.va- mos o azte da omele entalada no o, merenda amoromente determinada pelas maternidad,) fom assiando a gesta físlca ao sabor da carne mal p3sada. Crescemos inevitàvelmente e, um dia, o senhor industrial ou el - rei banqueiro completav an de nascença, nos de fun- dação, anoS de expansão, anos de extoão. A ementa é que mu- da e o filete de pcada fez a sua obrigaria ario nos jantares comemorativos. Por isso, há dias, a língua re- voluteou-se-me na boca quando encontrei um colega de curso, eufóco e cara, recordando que d anos nos havíamos for- mado. O ideal era reunirmo-n num moço de ftividade à ve- lhice. Não no restaurante da es- quina no Campo de Santana onde diàiamen protestâvamos con- tra a insonsa sopinha de nab;ço, o óvo estrelado-turrlca0 ou o blhau codo sem todos que (CONTINUA NA 6." PAGINA) . . . . . . . . . . .. . . . ... . . . . . . . . . . . .. .. PRÉMIO DA CORAGEM - quer dar uma sugestão? A morte de Helena Keller, a admirável mulher cujo exemplo de cogem tantas vezes exal- mos, mpõe agora a reazação de um novo projecto que por cir- cunstâncias vári anos m vindo a adiar: o de saber quais são, nas Beir, s פssoas que por seu for e vontade te- nham superado e venc'do inferio- ridades fíc1• Pa estimulo, consolação e esperança dos que, tados plo infortúnio, se vm obrigados a lutar semanas, mes, anos, para conseguir fazer o que a maio- r faz natalmte, vamos apontar cs de tenacidade e coragem realmente exemplar. Aos nossos ires pedimos que nos digam: a) - conhem alguém n condições referidas; b) - se concordam com a de- si «Prémio Helena Keller» ou se lbrani outro exeJo, mais próximo no pa�. mas igualmente digno de ser recrda- do a quant sofrem e se deixam abar pelo dnimo. Um simpl postal com qual- quer ds indicações, ou am- bas, é o que oos pedir.

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Page 1: DE LISBOA COM AMOR rn1u-tuhemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/josecardosopires/Entre...A minha tia - recordo-a re ... xota talv:erz, goela aprimorada e, de outrora, o feitio

ANO XXIII-N.º 1118

16 DE JUNHO DE 1968

SE1MAN AiRIO iDELEGAÇÔES

DE LISBOA COM AMOR

�1 rn1u-tu a r��::.ºº NEVES

Editor e Proprietário: António Paulouro DrnECTOR - AN'füNIO P .AUI..úURO OOVwLHA- iR. Visconde da Gori<s·cada, 116 -Telef. 23623

CASTELO BR.AiNiCO- Rua 5 de Outubro, 2 - Telef. 774 1$50 Este hábito é nosso, muito

nosso e vai daí esti:memo-lo. Redacção, Admlinlistração e Oficinas: �'AO-Telef. PiBX 52211

Crónica dos Andes

....

Estanho, av1oes, créditos & (.ª Acaba de reunir-se em La Paz

o Conselho Internacional do Es­tanho com a presença dos dele­gados dos principais países pro­dutores e- consumidores daquele mineral.

No dia da penúltima reunião, uma carga explosiva destruiu parte do edifício onde se realiza­ram as sessões. Milagrosamente nenhum dos de.legados sofreu ma:is q111e o susto, mas o ,tre­mendo esitrondo que fez ale11tar a cidade v�io de no�o fazer re­lembr,ar o que o estanho repre­sentou no pass.ado, e hoje mais do que nunca representa de i.m­po11tante, mas também de dolo-

A crónica dos Andes, que hoje temos o gosto de pv.bli­car, foi-nos mandada pelo nosso assinante na BoliVlia. sr. dr. M. F. Pereira Ramos.Economista, director de uma importante empresa indus­trial e comercial em La Paz, o dr. Pereira Ramos frequen­tou a Escola Comercial e In­

dustrial de Castelo Branco e depois, ajudado apenas pelasua inteligência e qualidades de trabitlho, licenciou-se em Oi.ência8 Económicas e Fi­

nanceiil\s. A aprb.ciação dos probl,,m� daquela tão fala­da ,egiã"' do MJndo reveste­--se, \}OF Vil' tlê têstemunha idónea e presencial, de in­vulJ:'M" interesse.

M. F. P. RA!MlOS

que, passando aquelas às mãos do Estado, o país poderia final­mente usufruir todas as vanta­gens de possuir tão grande ri­queza no seu território.

flutuações demasiado pronuncia­das nos preços internacionais do estanho. Assim, quando a pro­cura excede demasiado a oferta com provãvel subida acentuada dos preços, o Conselho intervém e lança no mercado as suas re­servas. Desta forma se defendem os interesses do consumidor. Elm situação oposta, fJ.Uando a proàu­ção não encontra suficiente pro­cura, o gerente do «Buffer Stock» adquire os excedente5 com intenção de assegurar aos países produtores preços inter­nacionais remuneradores.

O sistema, teôricamente certo, deveria funcionar sem atritos se um factor externo, independente do Conselho Internacional do Es­tanho, não e:;.tivesse intervindo, desde hã alguns anos, de forma decisiva no jogo de oferta e pro­cura tornando infrutíferos, ou quase, os mecanismos acima indi­cados.

Durante a última guerra e mercê duma políti-ca de congela­mento de preços, os Estados Uni­dos constituíram grandes res!lr­vas estratégicas de estanho que compraram aos paísei. produto-

(CONTINUA NA 6.• PAGINA)

ANIMATóGRAFO

'

A margem de O DELFIM ( entrevista com JOSÉ CARDOSO PIRES)

Cardoso Pires no lançamento de O Delfim: o escritor não é bicho de gabinete .

Cocktail no Teatro vmaret. A Moraes IDfütora apresenta O Del­fim, novo ·romance de José Car-410\So (Pires, e, sirnu1tâneamente,

a nova colec(}ã.o <IA Marca do Tempo>.

Se bem me lembro dei deleconta era eu miúdo de calçoni­cos de coti.m, cirandando em tor­no do Monte n,as brincadeiras que soiJ dizer-se são da idade.

A minha tia - recordo-a re­donda, baixota, morena, peixeira de rua - fizera uma operação a qualquer coisa que tinha a mais na ba.rri,ga. Ficou boa, magní­f.ica, menos redonda, mais baí­xota talv:erz, goela aprimorada e, de outrora, o feitio · de pêlo na venta. A familia que a insupor­tava em saúde, dedlca.ra-se-lhe na m,aleita.

E foi festa rija quando ela vol­tou sã de novo.

Festa rija, nesse tempo e hoje ainda, não d:sp,ensa comezaina.

o tal hãbito.Aproveitou-se um B e n f i c a­

-Oriental no Oampo Grande e manhã cedo abalou a hoste fa­miliar, o avô e a avô mai-la guarda de corpo e a ranch.'.lda de filhotes. Comeu-se - bem me lembro - o prato que de todos eles - beirões de riba e <le abru:­xo - era saudade: favas com mouro e toucinho, molhado com litros de maduro carrascão para os varões, débil água-pé para as damas de frãgil arcaboiço fl ga­sosa tingida para nõs, a sem direitos miudagem. Depois, o Benfica deu golo de todo o est:Io ao Oriental - só os homens e a criançada mais graúda haviam penet,ro,do no forum desport_,vo que a mulherada ficara com os trôpegos ou pálidos rebentos charlando no jardim grande - e alinda se foi, ao findar da fe.;;ta a que outra festa se juntara (a vitõrio do glorloso) tragar copi­tos de cerveja com caracol cozi­do na mesma tasca do almoço.

1------

roso, para a economiia :boliviana. A exiploração do estanho na

Bolívia data do tempo da ocupa­ção espanhola mas tomou o seu maior impulso a partir de mea­dos do século passado em que o essencial das explorações passa­ram às mãos dos célebres Ro­chschilà, Aramayo e sobretudo Simon Patino conhecido por «Ba­rão do Estanho». Todos eles ti­,,eram o grande méri1: > de im­pulsionar decisivamente a indús­tria mineira boliviana, mas o as­pecto negativo da sua obra en­contra-se no facto de nem sem­IJre terem tomado em conta os interesses nacionais, jã que gran­de parte dos formidãveis lucros conseguidos foram levados ao exterior, quando poderiam ter si­do extremamente úteis para o desenvolvimento económico do pais.

A nacionalização das minas re­presenta realmente um marco transcendente na rus,tória da Bo­lívia, mas não trouxe na prãtica oi. resultados prometidos e que o povo boliviano tão ansiosa­mente esperava. O ideal da revo­lução não tardou a ser preju­dicado pela inexperiência dos go­vernantes e pela acção nefa11ta de uns quantos, que se aprovei­taram da situação em benefício dos seus interesses pessoais. O organismo estatal encarregado da gestão das minas foi comple­tamente invadido pela burocra­tização e pelos amigos dos donos do Poder que aí buscavam refú­gio e compensação material. O fracasso económico da naciona­lização foi facto consumado pelo que não só não melhorou a si­tuação dos trabalhadores minei­ros como também se elevaram

demasiado os custos de produ­ção. Esta situação, que se man­t�ve, veio mais tarde a ser agra­vada pela pronunciada descida das cotações do estanho nos mer­cados internacionais. Para mino­rar a gravidade do problema e reduzir os enormes prejuízos com a exploração do estanho, o go­verno do General René Barrien­tos, triunfador da revolução de 4 de Novembro de 1964, decidiu baixar os salãrios dos mineiros como medida transitória até que se registe uma melhoria da si­tuação.

Para mais 1lguns dólares

O fÔyer do Teatro é centro de convilv'lo: reunem-se, conversam, oontactam escri,tores (Alexandre O'Nelill, Alvaro iSale:ma, Palla. e Carmo, iBlanc de Portugal, Tere­za Hor;ta, Carlos de Ohl�eira, Jú­lio !Moreira, Gaspar 1Siunões), jor­nalistas e directores de jornais (A. R.uella. Ramos, Guilherune Pe­reira da Rosa, Francisco Balse­mão, António Paulouro, Franc:i& co !Mata, Baptista Bastoo), pro­fesso,res un.ivereitários (Jaointo Prado Coelho, iDiias íMar,ques, iPe. Manuel Antunes, !Miller Guerra), pintores (João A•bel Maruta, Sã Nogueira), actores (Carmen iDo­lores, Fernando Gu=ão, Rui de Cawalho, Solnado, Maria do Céu Guerra), diiplomata;s (Ana Can­cti,ago e Prof. R::cardo A1Vent!ni, do [nstituto ItaJoiano; otto Lara Rezende, adido cultural da Em­badXiada do iBrai.sil; Fernando .:Mo­ran, secretãrio da Embaixada de Espanha), l:J.omens da banca (drs. Manuel Jaci!llto Nunes, José IRo­quette, IF'ilipe Nobre Guedes, José iRapo.so de Magalhães, Vasco Vieira de A1meida, Artur Cuper­t:no de Miiranda, Almeida !Fler­nandeis), e&,tores, arqnütectos, gente da rádio e da música li­geira.

Mais tarde, já com um saber de oui, crayon e fenêtre a espan­tar-me a interna massa cinzenta, o professor de história falou­-me de Afonso, o Conquistador e das SWIIS vitórias a braça­das de esp•ada sobre a mou­rama gente. Gostava o mestre de abrilhantar a dl:SSertação es­colar com coloridas desc1ições invejosas dos repastos finais das batalhas e das suas en1entas: o javali assado no espeto, o veado tunchado à unha e a pulso, o vinho no pichel, o truão lamben­do as ossadas e vomitando nossaiiotes de malha, no meio do gáudio chicoteante dos cavalei­ros e do sorrü.zito enjoado mas gozoso das cortesãs,. Mouro ven­cido era banquetagem de truz.

A revolução de 1952 veio mo­dificar totalmente este estado de coisas. Com efeito, em 31 de Ou­tubro desse mesmo ano, foi assi­nado o decreto que nacionalizou grande parte das minas e com ele nasceu a grande esperança de

E porquê baixaram os preços do estanho? Ao contrãrio do que sucede com a maior parte das matérias primas, a comercializa­ção do e1,tanho encontra-se pro­tegida por um interessante sis­tema que, em condições normais, deve assegurar uma certa esta­bilização das cotações. O Conse­lho [nternacional do Estanho ad­ministra reservas dei,te mineral que constituem o chamado <:Buf­fer stock» que, agindo como «tampão», evita que se produzam

O que são, afinal, os «wes­iterns> europeus, mads dwgnada­men te, 0.11 ,.:westernlS> d,tali,anos? P11imeiro que tudo, um negócio que se tOTillOIU rendoso numa ci­nematografila naoional em crise. Um público que ivolta as cos� aos clásmcos e não recebe bem a nova geração vtira.-<ie para o.s Corbucci e para os Leone. El'.tes «wester.ns> ,têm audiência e fa­zem-se l'àJpidaanenrt:e, com um or­çamento miillÍJno. Porquê matar

'

POR

JOSÉ VAZ PEREIRA

a galinha dos 01Vos de ouro ? A receita SilffiiPlifüca-se de fil1me pa­ra fiLme e os resiuLtados estão à vista.

Claro que os «we.sterns» de que falamos não apresentam a

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A MULHER DA ERVA UMA CRÓNICA TELEIMPRENSA

POR FERNANDO DACOSTA

FOTOS DE PACO GARCIA

A mulher sentada na ladeira é o único sinal de vida na paisa­gem da tarde. A auto-estrada passa longe, no meio dos campos rejuvenescidos nesta época do ano, mas é uma auto-estrada va­zia d'e velocidades e de zumbido de motores - que sempre são v,m sinai de vida a quebrar solidões, ali, pesadas, naquela peq·uena povoação surgida uma data. de quilómetros depois de Coimbra.

A mulher, a auto-estrada, a povoação são, porém, vulgares, entre muitas ao acaso que o aca­so (um pne� furado) nos desco­bre e revela.

A mulher está entretida a des­coser uma saca de serapilheira, num taque-taque repetid:o de fios rebentados pelos dedos e pelos dentes - ambos velhos e feios. Ao lado há uma cesta velha, ar­redondada, cheia de erva que a mulher ajeita de vez em quando e revolve por hábito, por ter­nura.

Ela é a mulher da e11Va. Cha­mam-lhe assim (são já poucos osque lhe sabem o nome por in­teiro: Evangelina d,a Costa Pii.­toni) porque velha e desamp-ara­da descobriu o recurso de ir, ma­nhãzinha, pelos campos apanhar ervas que depois dá em troe.a de qualquer coisa, pouca que ela sustenta-se de quase nada. Uns tostões apenas, que a sopa e amercearia dão-lha as senhoras de S. Vice:t;1.te de Paulo. Ela t�m sõ

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Evangelina da Oosta Pitoni - A mulher da erva ... VISADO PELA COMISSÃO

DE CENSURA

O !facto quase roça ,o insólito: nunca se viu reunião tão he,tero­génea a propósiito do lançamento Ide um livro de um escritor por­tuguês 'Viivo, raqU:i ao nosso lado, cansado, fumIBcando oi,garro, oo-'

\ po de whisky na· mão. Não há'pooe, não haiverã cronica munda- 1na. Alçada Baptista, em nome da: Morais Editora, agradece a pre- 1 sença dos cirounsttantes, em duas 1 palaivras diz o porquê da reunião. O actor Fernando Gusmão apre­se.Tuta O Delfim. Rui de Carvalho lê depois um C2\t)íttulo do roman­ce. A cerimónia, à· havê-la, ,ter­mina ruqui. iM"JaJs o resito merece registo: um escri,tor tem à sua volta muiita e diversa gente, con­trariando a ideia-feita de !J:icho de

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Aos poucos, eu e os, demais catraios, (que, no recreio, mor­díamos a sardinha frita <lentro da carcaça ou nos lambuz!'i.va­mos o azeite da omeleta entalada. no pão, merenda amorosamente determinada pelas maternidades,) fomos associando a gesta físlca ao sabor da carne mal p3.Ssada.

Crescemos inevitàvelmente e, um dia, o senhor industrial ou el - rei banqueiro completavam anos de nascença, ,anos de fun­dação, anoS de expansão, anos de extorsão. A ementa é que mu­dara e o filete de pescada fez a sua obrigatória aparição nos jantares comemorativos.

Por isso, há dias, a língua re­voluteou-se-me na boca quando encontrei um colega de curso, eufórico e careca, recordando que há dez anos nos havíamos for­mado. O ideal era reunirmo-n<>i> num almoço de festividade à ve­lhice. Não no restaurante da es­quina no Campo de Santana onde diàr'iamente protestâvamos con­tra a insonsa sopinha de nab;ço, o óvo estrelado-esturrlca-00 ou o bacalhau co:l.ido sem todos que

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PRÉMIO DA CORAGEM - quer dar uma sugestão?

A morte de Helena Keller, a admirável mulher cujo exemplo de coragem tantas vezes exaltá­mos, !impõe agora a realização de um novo projecto que por cir­cunstâncias várias há anos te­mos vindo a adiar: o de saber quais são, nas Beiras, ,as pessoas que por seu esforço e vontade te­nham superado e venc'do inferio­ridades físicas1•

Para estimulo, consolação e esperança dos que, tocados p-elo infortúnio, se vêem obrigados a lutar semanas, meses, anos, para conseguirem fazer o que a maio­ria faz naturalmente, vamos

apontar casos de tenacidade e coragem realmente exemplares.

Aos nossos Leitores pedimos que nos digam:

a) - se conhecem alguém nas condições referidas;

b) - se concordam com a de­sign.ação «Prémio Helena Keller» ou se lernbrani outro exernr,Jo, mais próximo no espa�. mas igualmente digno de ser rec4:>rda­do a quantos sofrem e se deixam abater pelo desânimo.

Um simples postal com qual­quer dessas indicações, ou am­bas, é o que ousa.mos pedir.

Page 2: DE LISBOA COM AMOR rn1u-tuhemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/josecardosopires/Entre...A minha tia - recordo-a re ... xota talv:erz, goela aprimorada e, de outrora, o feitio

PAGINA QTÍÀTRO

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A margem de O DELF[M(CONTINUAÇÃO DA 1-" PAGINA)

gabinete, :isolado na sua torre de marfim, longe da <V!Lda e de q<uem nela vwe - ou junto, apenas, de seus confrades, � tertúliias que só existem n:a, • óptica de liitera<tos menores.

Num !breve !Pa1:1êntesis da reu­nião, puxamos Cardoso Pires pa­ra um canto do foyer. iDois wrus­lcy!S e uma conversa.

- Ora aqui estamos numa 1sl:­tuação mui.to especial. Você há seis anos que não �reisenta um or.igúnal, ipublica pouco, furta-se · à curiosidade dos leitores. Agora surge O Delfim. Pode dizer-se que esta apresentação do liwo é um acontecimento ...

- Sim, mas isto é a parte pos­terior ao livro. Um livro é um produto imtegrado numa indlls­tria, um bem de consumo nas sociedades desenvolvidas. S6 as­sim, e só para isso, se criou a indústria do pockett-book.

- Qual a tiragem do romance?

- 5500 exemplares.-Para o nosso meio é excep-

cional ... - Mas em relação a uma so­

ciedade de consiimo seria wm nú­mero bastante baixo. Trata-se ã,e uma edição cartonada no estilo a que comercialmente, na lingua­gem internacional dos editores, se chama um paperbound. Nos Estados Unidos, na França, en­fim ... , a estas edições sucedem­-se as do grande público, em for­mato de bolso, por vezes milhões de exemplares ...

-Qual a tiragem maior queteve até hoje?

-A d'O Hóspede de Job, naHungria. 50 000 exemplares, já esgotados.

- O seu editor não prevê umaedição de bolso de O Delfim?

- impossível. Em primeiro lu­gar porque aquilo a que entre nós se chama edições de bolso é comercialmente uma distorsão, um eufemismo. Uma edição de bolso não pode ter o preço que justifique a definição - um pre­ço que.significa grandes tiragens, dezenas de milhares de exempla­res. Em Portugal, por ora, esses limites são fantasiosos. Acresce ainda que eu recebo dos meus editores, de há uns anos para cá, uma mensalidade regular que tem de ser coberta com os direi­tos dos livros que publico. O montante desses direitos é fun­ção do preço de capa. S6 com grandes tiragens, em edições de custo baixo, eu podia compensar o que recebo.

-A tiragem de um livro rela­ciona-se, obviamente, com a ca­pacidade de consumo e esta con­duz-nos por força aos mass me­dia ...

- Eu penso que os mass me­dia são um problema para as sociedades s o b r edesenvolvidas. Mas mesmo nessas sociedades o livro, e portanto a literatura, entrou ele próprio no circuito dos mass media. :e indiscutivel­mente um bem de consumo e não um luxo de biblioteca. Por outro lado, o terror apregoado sobre a nefasta expansão da idade da electricidade, como lhe chama Me Luhan, esse terror é parcial, é sectário. A televisão, a electró­nica, a rádio, o disco, da comuni­cação sonora influenciaram tam­bém, no melhor sentido, as es­truturas literárias. A oralidade, por exemplo, a imagética, o en­riquecimento vocabular e a dé­coupage de planos do romance contemporâneo devem muito a essas técni,cas de comunicação. Por outro lado, a indústria elec­tr6nica permitiu que se fizesse nos países desenvolvidos uma in­vestigação estilística ( conhecid'a sobre várias designações, como por exemplo a da Poética Mate­mática, levada a cabo pelos ale­mães ocidentais) que veio reve­lar novos ângulos da interpr_eta­ção da obra literária. Graças a milhares de operações estatísti­cas até aqui impossíveis de rea­lizar, os. soviéticos e os america­nos puderam detectar as linhas de criação, os gostos vocabulares e os ritmos da prosa de alguns escritores, sistematizando regras verdadlciramente inesperadas. Es­ta conquista ser.viu e está a ser­vir de base dê investigação à análise científica do processo 'de criação e do me.canismo , da ima­ginação. Certos· ramos da cién­cia, como a angeografia, foram enriquecidos com - estas desco­.bertas.

-E o que tem a dizer-nos so­bre o seu livro propriamente ��?

- Como ,calcula, tenho falad0 demasiado dele. .Depois deste whisky acho que é altura de meseparar de y.m trabalho, de uma aventura e de meia dúzia de personagens com os quais oon­.vivi mais ou menos regularmerz­te durante. seis anos..

' l p .

.,«JORNAL '!)O F':U}!J)ÃO»

Vende-se . ,no Fu:ryião .. ·: ..

na. PAPELARIA .E .J.Jv.R�IA

DO ESTUDANTE

José Cardoso Pires mostra si­nais visíveis de cansaço. Não in­sistimos. De qualquer modo, te­mos na x;nemória o que ele es­creveu de si e dos seus livros a páginas 109 de O Delfim. E es­clarecedor e poderá satisfazer a curiosidade dos nossos leitores: «Nenhum escritor gosta de falar do que escreveii a não ser em ocasiões muito, mas mesmo mui­to, especiais ( ... ) Vamos deixar em paz as minhas prosas e o prazer que as acompanha pela 1vida fora.»