biblioteca almanaque urupÊs · sobre o pântano de minha alma estou certo de que minha alma sofre...

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BIBLIOTECA URUPÊS ALMANAQUE

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1

BIBLIOTECA

URUPÊSALMANAQUE

Sobre o AutorTeteco dos Anjos é “músico, proto-poeta e jornalista”

e com a cabeça cheia de ideias mirabolantes.

[2016]Realização:Biblioteca Almanaque Urupês

Autor:Teteco dos Anjos

Revisão:Heloisa Nogueira

Capa e Diagramação:Nicole Doná

BIBLIOTECA

URUPÊSALMANAQUE

Eis...

meus queridoso tal

PAPO DE PANGAIO

livro meu escrito em 2013

eu o acho bonito e engraçado.Heloisa Helena Nogueira Chaves,

especialista em línguas e literaturasinglesa e portuguesa o revisou.

espero que gostem

Teteco dos Anjos

ela deu o fora

cobrança

o mototaxista

chove

meu amor

urubu

poucos sabem da bomba

o anjo da noite

lisboeta

a dela

mais

karol com k

17 anos

toxic girl

ela vem me visitar

culpa

flores mortas

poderia

cara de cachorro

como assim???

morrerei bem louco???

demência

meu coração trepida

Indice6

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você

sem beber

ela quer se matar

apartamento

raiva raiva raiva

eu odeio

se você

um poeta redimido diz agora...

teus olhos são...

noite qualquer

escrotices

apocalipse

absurdo mim

ecco homo 2

considerações sobre a vida, entre outros

eis uma página em branco

disse o diabo; não menosprezem teteco

se

é preciso lutar

nunca foi fácil

entenda de uma vez por todas, otário...

uau uau uau

perto da janela ela ria e chorava

entre guerras e mais guerras

sonetos arremessados...

chuva noturna

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ela deu o forae com ela foi-se a paz, o futebol, o jumento, o avião,o computador, o milho, o asfalto, o mangue, o legume...

foi-se também o sonoe deus, o capeta, o mar e meus versos imbecis

o que faço aqui é poesia ocasem brilhosem luarsem mistériosem magiacomo uma boceta de cerâmica

ela deu o foraela fora um relâmpagosobre o pântano de minha alma

estou certo de que minha alma sofreestou certo de que sofre o cachorroestou certo de que tudo arde e se contorceno meu mundo como uma serpente moribunda

queiram por favor me passar a “cicuta”

preciso dar alguns conselhos ao velho e bom sócratesque mora além daquela nuvem enferrujada no poente

ela deu o fora

7

o telefone gritou por volta das 08h30

umaduastrêsquatrocincoseis...

e quando o telefone esperneia assim por mim,logo cedo,sei de que não se trata de coisa boa

bem, era o gerente de alguma espeluncadizendo que meu cheque havia voltado

“que bom que ele voltou. estavacom saudades desse cheque”, disse eu.

a voz do outro lado da linha engrossou...

“isso aqui não é brincadeira sr. marcelo,podemos mandar seu nome para a serasa “

“muito bem, faça isso, mande meu nome para a serasa,para a nasa , para a cia, para o deic. preciso ir à paraty hojee, já que estou sem nome, viajarei só com meus apelidos”

teteco dos anjos é só mais um deles.

cobranCa

8

por volta de meia noite de um sábado chuvosoa agência de mototaxi mandou que procurasse por priscilana avenida juventino pereira lemes, 294, na vila albina

a chuva lenta e fria inaugurava assimmais uma noite do cão em minhas lambanças terrestres

na verdade já estou acostumado com noites do cão

e lá fui eu com minha mente acesa que nem lampiãopara a vila albina, buscar priscila

embora “albina”...a vila era mais escura que cu de iaque

e por cerca de 30 minutos fiquei rodandopor toda vila albina atrás de priscilasob a chuva lenta e gélidae buscando informações do endereçocom alguns poucos alucinados que perambulavampelas estranhas e precárias ruas abatidas sob frio e chuva

e nada de alguém saber onde, enfim, ficavaa avenida juventino pereira lemes...concluí que era uma avenida fantasma

sem achar o tal endereço, eu deveria retornar à agênciamasopneutraseirode minha moto furou

o mototaxista

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quandojustamentenessa horaa chuva se tornava mais densa e o vento mais descontrolado

olhei para o céu nebuloso e enraivecidoolhei também para deus(se é que é possível olhar para esse não tal)e urrei...

“ok grandalhão do infinito cósmico,mande teus raios assassinos,tua ventania e teu manto cinza e pesado de chuvae toda tua birra para comigoque aqui estareiesperandopara enfrentá-lo”

e priscila???o que se deu à ela???

seria uma sereia?seria uma gostosa?seria um trubufu do pântano? teria a xota risonha ou a xota tristonha?

jamais saberei !!!

10

chovee tenho de trabalhar sob a chuvadentro da noite encharcada e feérica

e meus melhores entre os piores amigos sãodrogadosbêbadostortosladrões de galinha

e minhas amantes são putas de longa data,desde antes da criação do sol e das estrelas

será que com proust fora assim???com victor hugo, james joyce, bandeira, neruda, borges ???

sei que muitos comeram merda;buckowski, corso, kerouac, dostoiewski, pound...

outros se mataram;harte crane, hemingway, virgínia woolf, jack londonmaiakowski, petrônios...

mas, foda-se todos eles...

minha dor é minhaminha labuta é minhao coliseu nosso de cada dia é estranhamente só meue a arena está repleta de sanguináriose querem que eu me fodaquerem que eu me estrepe

chove

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e meus demônios, só eu posso acalmá-losou vomitá-los sobre o curtumedeste estranho mundo em que vivemos

12

posso ser um poeta obscuroum fanfarrãoum bêbadoum adictouma coisa tristeuma tempestadeuma insignificânciaestúpidoeestapafúrdio

um viajante errantenesta lacuna de tempoconhecida como vida

mas o amor que tenho no coraçãoe as trepadas aqui comigo guardadascomo flores que ainda não desabrocharamsão coisasalém

de fato, há alguma coisa comigoque está alémou mesmo aquém

e seguramenteessa coisafaz com que teteco conheça todas as estrelase todos os abismos...onde flores místicas e translúcidas flutuam

posso eu

meu amor

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assimejacularversos em mancheiana grande bocetabe-bopcarnavalescafantasiada depálidapáginaem branco

14

cadê vielas e velas e farolins que espalhei pelo caminho?

urubu a tudo comeuurubu a tudo comeu

mas não sei se eram vielas ou muralhasapenas sei que não eram fontes de água límpidanem ao menos singelas manhãs enxertadasno meu pesadelo

preciso de um verso lindo para resolvero problema dos congestionamentos...

urubu é livre mundano preto voador magníficoquando fito graúda chuva de estilhaços do sol em pane

urubu

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a bomba já explodiujá detonou com todos os caminhos...o planeta está agonizando

mastem gente comprando sapatos

mastem gente comprando gel lubrificantepara brincar entre rabos e caralhos

e todos eles estão certos

a bomba, prezado “Carlos”, mantêm-seexplodindo a cada segundoa todo momentotodo instanteaqui agoralá acolá ontem e depois

no entanto, poucos sabem da bomba

o elefante no zoológico levanta sua trombae um cara fotografa aquela tromba

poucos sabem da bomba

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o anjo da noiterompe novamenteo cinturão cruento da aurora

conversa com o solfuma um cigarropega mais duas latas de cervejae as coloca na mochila

e cheio de uma eternidade sem arestasparte com sua moto vermelhasob o azul da manhã mais tristeque um furúnculo no cu da hiena

o anjo da noitesabequandoondee comobrincar com boas e belas bocetas desgarradas

mas nenhumatem mais sentido, mais silêncioe poder de explosão...do que aquela que se foi

o anjo da noite

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lisboeta...quero tua boceta

lisboetafui eu quem ensinou trambiques do mundoao inocente capeta

oh lisboetaoh lisboetaeu penso na tua boceta

aliás, penso em qualquer boceta

não precisa ser de lisboa ou de mercúrio

é preciso somente ser uma bocetade lugar nenhumda via lácteaou do último expresso fumegante do inferno

oh lisboetavemmetascaruma punheta

lisboeta

18

a boceta delaé doce afável elétrica caridosa

ligeiramente densa...polpa de caju

por causa delajoguei aristóteles no lixo

aristóteles não tem bocetanão me interessa...ele que vá cuidar de seu pupilo...alexandre..o grande

deixem “teteco...o pequeno”com a boceta delae só

eu e ela

nosso encontro provoca raios violentos e belosque refletem mil vezes nos telhadosde todas as cidadeslançando sinais benignos ao infinito

a dela

19

mais louco que ectoplasma de orangotangodopado no carrossel murmurante dos sobrinhos do capeta...mais imbecil que uma ratazana maconhadana avalanche de neve da estação de esqui do palhaço bozo...mais triste que zorro com síndrome do pânicoa galopar sobre um mamute congelado...mais intrigante que boceta de jacaré fêmeaalcoolizada na roda gigante do parque de diversões do cu do inferno...mais depressivo que gambá cheiradaçocom charles buckowski nos labirintos do purgatório...mais atravessado que mulaempanturrada de ketaminae guiando uma carroça voadora na marginal do tietê...

mais

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karol com “k” esteve comigo noite passadabebemos e trepamosoutrepamos e bebemos...nunca sei ao certo

então ela me disse

“estou preocupada com você, poisvocê me parece preocupadocom alguma coisa”

“não é nada querida”

“é sim, você está com uma cara estranha”

“eu sou estranho querida”

“mesmo assim te acho preocupado”

“bem, talvez eu esteja preocupadocom o fato de que há dias nãoacerto um verso imortal...ou então devo estar muito preocupadocom o cu do lagarto”

“nossa”, disse ela...“isso tudo não é coisa para ficarpreocupado”

karol com k

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“coisas de um grande poeta querida. sabe, shakeaspeare, um dia, pelo que sei, esteve muito preocupadocom a vagina preta da aranha no tetoe dante se preocupou demais com o destinodas minhocas bizantinas, a tal pontode não conseguir mais tocarpunheta sob as estrelas”

“que absurdo!!!”

“também acho !!!”

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ela tem 17 anos emora em florianópolise tem um pai que tem a mesmaidade que eue elalê victor hugoesem sabercom palavras inocentese purasatravés da internet(eu sou o grande poeta da revolução dessa porra da internete serei lembrado através dos séculos por issoe pelas minhas grandiosas lambanças do inferno)eentão...foi atravésde palavras pipocando na tela do computadorquesem saber,a garota de 17 anossoprou para longedensas e obscuras nuvensde pensamentos suicidasdeste velho inútilque sou eu

agora posso dormir tranqüilorelaxado, como um sapo gordo no mangue enluarado,em minha estúpida eternidade sem arestasnem razão

17 anos

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eu já te fiz um lindo bolerodouro vermelho claro como as manhãs recém nascidas...ou misterioso âmbar de um crepúsculo de outono...

puta merda...acho que isso foi bem poético

eu nasci na escuridão para a escuridãomas você nasceu na escuridão para a luz...

eu sei do teu brilhar iminentetua orbita cheia de luzes cativanteseum pouco dessa luzquero eupara o jantar, para meus porres,para minha mente torpe,meu estranho coração de escorpiãoeminhas inesperadas e salvadoras trepadas inusitadasque do acaso me caem como jacas apodrecidas na grama

toxic girl

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a garota que vemme visitarmisturou suas lágrimas ao anoitecer...por isso são lágrimas escurascomo as que se misturam com maquiageme borram lindos e feios rostos femininos...masas lágrimas delasão escuras porqueforam diluídas no breu da noite

ela vem me visitarpara dizer que carrega uma noite imensa no peitomaior que as profundezas escuras e friasdo oceano pacífico

creio que minha noite é vinte vezesmaior que a dela

no entanto ela chora...eu nãoela diz que vai se matar...eu não

eu até concordo que o suicídioé uma boa saída, das melhores,porém...dá trabalhoe eu tenho preguiça de fazê-lono maisotários podem pensarque fui um

ela vem me visitar

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pobre coitado

pobre coitado é o caralho

eu sou muitíssimo bem um grande embusteiroe não me grilo com dores ou angústiasdentro deste circo de horroresque se chama existência

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a quem ou o que devo culpar?

deuscapetatempoobstetraparteiraespermatozóideóvulomistériocartório de registro

???????????????????

estou na lamae tenho pressa embotar a culpa em alguémou em alguma coisapor tudo isso

exceto em mim...não sou besta !!!

culpa

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semeando flores mortas todas as manhãssemeando flores mortas todas as manhãsassim descemos a ladeirabombardeada pela chuva fria

a moça da televisão tem a cara bonitae com um sorriso imbecil qual mente de mosquitoanuncia alegremente que “há vagas de empregono balcão da prefeitura”

e mais alegremente ainda, como se uma notícia qualquerpudesse salvar a humanidade do caos, da miséria e do desamordespede-se com o mesmo sorriso imbecil de mente de mosquito

digo; aquele tipo de mosquito verde metálicoque faz manobras radicais de vôo sobre um monte de merda

flores mortas

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poderia é a forma verbal dos infernos

eu poderia ter nascido ricovocê poderia ter nascido talentosonós poderíamos nunca ter de lidar com hemorróidas gigantes

ocorre que assim nasci;torto qual minhoca cega na lama

eu poderia estar bem vestidoocorre que todos os dias e todas as noitesno chão de fábrica do cu do mundoencontro velhos e bons camaradasque, como eu, estão peidando para a vida e para a morte

poderia

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uma aranha no tetoela parece não gostar de mimrealmente não sei o que sinto por ela

a lamparina azul e cálida está brilhando lá foracomo se enfrentasse sozinha e tímidatodos os imensos abismos escuros da noitee o vento frio

a mulher que dorme do meu ladotem cara de cachorro magrotem bunda e pernas boas

eu não sei seu nome, nem sua idadenem seus antecedentes criminaisno entanto, ela dorme...eu não tenho esse dom

sinceramente, não sei onde estou,nem como ali fui parar...deve ser a casa dela

penso que preciso salvar o meu raboantes de ler qualquer coisa de sartre

o sol não deve aparecer hoje para trabalhar...ao menos é essa sensação que eu tenho

ela tem cara de cachorroe pouco me importo

cara de cachorro

30

uns poucos nascem ricos, bonitos, poderosos e ‘caralhudos ‘outros muitos nascem pobres, feios, inoperantes e fodidos

como assim???

tenho certeza de que justiça e igualdade jamaisexistiram, nem nunca existirão neste planeta filho do cu

equidade então é uma utopia em frangalhos

nunca esteve tão escuro

as contas reapareceram novamente...toda semana, todo mês...não há como nos livrar delassão grandestemperamentaistempestuosase desumanas

parecem saltar aos meus olhos como peixes na pororoca

a motocicleta está quebradao fogão está quebradomeu pau...esse não está quebrado,mas dorme como um defunto frio

estamos na periferia da periferiae fomos criados entre vândalosque, de tão comuns aqui,

como assim???

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parecem até chiques e ornamentais

nossos amigos e próximosparecem belos, inócuos, familiaresno entanto são horrendos,bombásticos, explosivose vivem cheios de armadilhas para nos pegar

deus...bem...acho que deus vez em quandopassa por aqui tentando criar obras de artes com as mãoscom a maior pinta de artista descoladomas em vãoafinalele não tem talento algumnem bom senso

nunca esteve tão escuro meu bem...vamos dormir !!!

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depois de fumar cinco baseadosdepois de inalar a mais nervosa cocaína das elegantes trevas do submundodepois de brincar com boas putas e bons travestisdepois de voltar pra casa e tocar quatro punhetasdepois de me encharcar de cerveja e cachaça ???

gosto dissodessa morte exuberanteessa morte que nos faz estremecer e balançar as estrelas

eu estou falando de punhetas olímpicas, claro,consagradas sob o céu de inquietas galáxiase pensando em você...você mesma...de quatrocom o cu apontado para saturno e seus anéiscom a boceta brilhante como carne de caramujoporém mística e misteriosa como são as noites de outono

eu sou um santo dos mais importantes para a existênciaeu sou um anjo que joga milagres no mundo quando olho e fixo meu olhar no absoluto nada que compõe o firmamento

morrerei bem louco???

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a humanidade é a coisa mais dementeque pode existir

aliás, não sei mesmo se ela “pode” existir

deveriam tê-la proibido disso...

ao menos creio que o universoa proibiu de existir

porém, deve ter havidoalgum trambiqueum embuste lá das profundezase nós estamos aqui

os tomates na geladeira parecem bonsa humanidade sobre a terra pareceuma coisa gosmenta, pútrida, pegajosa,patológica, obscura, uma lástima

você admira os ídolos ???eles fazem merda tão ou mais fedorentaque um “cachorro babucho”

aliás, pra lá eu vou agoratomar uma branquinhae ficar burilando o rabo da via-lácteacom minhas insinuações poéticasde primeira grandeza

ahhhhhhhhhh

vamos nessa ???

demencia

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cavalos negros despencam do céu noturnoenfeites de sonho ou milagre

meu coração trepida

espanholas de pernas brilhantesdançam flamenco pelas ruas de madriintimidando muros e solidões

meu coração trepida

portenhas rasgam o véu na noitecom suas coxas enfeitiçadas pelo tango

meu coração trepida

passistas mulatas e negrasrequebram a lei universalfazem tilintar as estrelas do breupelo remelexo de suas nádegasuntadas de samba e magia

meu coração trepida

violeiros saúdam e desafiamo parto da aurora anunciado pelo vento

meu coração trepida

federico garcia lorca está nestes versoscomo o vermelho está no murmúrio lívido do crepúsculo

meu coração trepida

meu coracao trepida

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vocêpequenaeinfinita

flor do sol e flor da lua

não vejo em você nenhum defeitonada que não possa ser belo e mágico

e para você estendo minha mãoem todas as estradas que pisarem todos os projetos que você lança ao futuroem todas as páginas de tuas lembranças

certa ou erradaeu estarei com vocêmuito além do certo e do erradoeu estarei com vocêonde tudo é água claraonde tudo é sol de ouroonde tudo é lua rara e rara e rara...

este modesto poemafoi feito para você mariahe para você rafaelacom muito amorcom muito amor imprescindível

voce

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fiquei três semanas sem beber e... minhas pernas congelaram, meus dedos das mãos viraram minhocas, meu pênis começou a dançar funk e a girar como uma hélice abando-nada, minha mente entrou em total colapso...comecei a achar o deputado marco feliciano o maior dos poetas sur-reais

meus olhos e minhas orelhas começaram a voar pela amplidão do uni-verso como quatro urubus intrépidos e esquizofrênicos.

e a pior degradação a qual entrei foi ver hoje 5 minutos do jogo do corinthians.

god...oh god....uma cerveja urgente..por favor....

sem contar que meu umbigo virou um imenso buraco negroe meu fiofó se pôs a cantar qualquer coisa em esperanto

sem beber

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de novooutra malucame carrega para a casa delae diz que quer se matar

calma garota, muita calma.deus já vai nos executar mesmo,mais cedo ou mais tarde.

não precisamos do suicídio...já nascemos dentro do corredor da morte...é só esperar...e pronto

bem, a gente vai levandocom mil lambanças e trepadasno mais inacreditável corredor da morte

na verdade, esse corredor da morte é bem bonito;tem estrelas, flores, canções, gatos, cães e contas a pagar

a vida é uma máquina de mortemuito bem bolada por deus...nenhum facínoranenhum ditador carniceironem o mais nefasto assassino de todos os tempospoderia criar algo mais mortal que a própria vida

eu seié broxante...poderíamos nos encantar com mensagens de auto-ajuda na internetessas

ela quer se matar

38

que muitos propagam em lindas e maravilhosa teoriase que poucos ( ou ninguém) conseguem viver delasou por elas...mas

acalme-se

vamos nos entorpecer, vamos trepar,vamos torcer por algum time,vamos cultivar boas confusões por aí...só por diletantismo

aliás, você quer botar o dedo no meu rabo ???você....eu deixo !!!

acho que ela está mais calmacom uma lata de cerveja pendente na mão

lágrimas de betume ainda escorrem pelo seu rostoe caem no chão

ela tem olhos fixos no absoluto nadaque singra sobre o chão

ou no absoluto nada que eu sempre enxergoem todos os lugares

39

flores capengas coloridas despejadas na sacadasob o dia que fermenta a grande velha são paulo

estou só e nada façoalém de ver e não ver longas avenidas e edifíciosque se espalham charmosamente diante da minha sacada

sampa é uma bela cidadequem diz que ela é feiatem furúnculo gigante no cu

amanhã vou ao trabalho e já domino todo o universoespero agora uma amiga que gosta de treparcomigo e com outros tantos escolhidos por deus...ela tem dois olhos, dois peitos, um umbigo, uma bocetae coisas fantásticas em ebulição dentro da alma

trimmm...trimmmberra o interfone...deve ser ela

apartamento

40

grande merda do cão do infernozelai por nósgrande ódio do cu da víboraeletrizai as vísceras do mundo pútrido moribundogrande pai universo filho da putamatai a todos nós

soldesgraça dourada autor canastrão dos dias imbecisluamegera puta decadente de todas as esquinas sórdidas e desumanasventoinútilmargrande otárioalmaeterna escrava do nada que vibra em agoniacorpofebre contínua da morte e da vida seca

que tudo e todos nós possamosir e aqui ficarjá na imensa desgraça da existência

raiva raiva raivahoje estou com raivae nojo

meu poema é demasiado obscuro para você?

raiva raiva raiva

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meu poema é contra a vida?é diabólico?eu o quis assim...e poderia tê-lo feito com mais venenocom outros mais poderosos demônios

não lhe faz bem? não lhe cai bem ?jogue-o no mais fedorento, radioativo e infeccioso dos lixos

agradecido !!!

42

eu odeio caféeu odeio gases no esgoto do intestinoeu odeio cagar e me limpareu odeio que outros caguem e limpem o raboou que não limpemeu odeio respirar esse ar que embrulha a terra numa seda azul inútileu odeio nascimento, vida e morteeu odeio ter de correr atrás de granae ter grana e não ter grana

odeio amar aquela desgraçadaaquela deslumbrada com a natureza

a natureza é uma lástimauma estranha imensurável merda do cu do universo

eu odeio o universo e suas estrelase cientistas que observam estrelase delas falam sem saber porra alguma das estrelas

eu odeio os que dão bom dia para a vida todas as manhãseu odeio aos que agradecem a deus por mais um diaquando vão se deitareu odeio deusodeio saber que esse merda não existee que milhares botam fé nessa inexistência do cão

eu odeio aos milhares de idiotas que postamlouvores a deus em redes sociais da internetaos que cantam a vidae aos pássaros e o verde das árvores

eu odeio

43

eu gosto dos hospitais fervilhando de moribundoseu gosto do cara que não tem o que comereu gosto daquele que ao invés de arroz e feijão investe na cachaçaeu gosto dos drogadose não sou nem gosto de parecer ser politicamenteou eticamente correto...e das putase de todos os desesperados e imprestáveis

e amo com amor maior o caraque pode apertar o botão que detona mil bombas atômicase torço e rezo para que ele faça isso o mais rápido possível

44

se você não tem estômagose você é bonzinho e ama o canto dos pássarosou que com carinho e ganância mascaradasabe engordar mais e mais sua conta bancáriaatravés da exploração e do embuste arrivistachamado ‘bom negócio’ouse você vai à igreja para se encontrar com deusou com o sebo e o mofo letal de todas as igrejas

já aviso...não leia este livro;este livro não é para você

mas, se você se parece comigo,se você é punk, metaleiro,sofredor, desiludido do amor,apto ao suicídio, poeta desequilibrado,sambista pobre do morro,um exímio e iluminado cachaceiroah...seja bem vindo

se voce

45

nunca diga a um mendigo;você nada tem

pois você não o conhece por completo,nem jamais poderá assim conhecê-lo...e talvez ele tenha um paraíso na almamaior e melhor que o teu e o meu

nunca diga a um homem derrotado;é o fim

pois as derrotas podem estar apenasnas aparências

e quem pode saber se as vitórias deum homem caído são na essência mais gloriosasque as tuas e as minhas???

todos arquitetam ilusões;na vida práticano dia a dianos sonhosna utopiano delíriona loucura

pois, seja um presidente ou um lunáticoambos vivem dentro de grandes ou pequenas ilusões

todos nós habitamos belas ou grotescas ilusõese com elas viajamos pelo universo

um poeta redimido diz agora...

46

e tudo é ilusão porque tudo passa,tudo morre e renasce e morre e renasce cem mil vezes...cem milhões de vezes...cem bilhões de vezes...

tua casa é de tijolo?pedra?madeira?nuvem?

tua casa é bela...e generosa...e divinamas é ilusão...não poderás nela morar para semprevocê a deixa um diae ela também o deixa um diana vastidão de um elo invisível e mágico que no firmamento resiste

nunca diga a um soldado desconhecidoferido de morte no front;a guerra está perdida

pois, por anos e anos vasculhando toda dimensãoda alma humana e do infinito juncado de astros e estrelas(ambos são a mesma coisa)eu já sei e posso dizer que a verdadeira guerranunca está perdida

e também sei e posso dizerque nem mesmo a força da morte ou a força da vidaou a ferocidade da derrota ou da glóriapodem macular o brilho sublime, miraculoso e eternode todos os seres e coisas desta existência

no mais, de dia o sol é a lâmpadaque ilumina a casa onde vivo com os meus,os teus, os nossos irmãos e irmãs,nossos pais e mães e avôs e avós,filhos e filhas, netos e netas,nossos amigos, nossos inimigos também

47

e de noite a lua é a doce lamparina misteriosaque espalha encantos e perfumes em toda nossa casae que nos faz querer dançar e cantar

48

teus olhos são floresmais que floresa dança das corespor toda amplidão cósmicateus olhos são pulsares, magnetares,são quasares

numa esquina perdida e sófumo um cigarroe teus olhos passeiam na fumaçaenquanto a lua despenca da noite

eu te falei que correríamos o riscode sermos somente alguns versospuros e brilhantesna página de um livro belo e infinito

isso dóimas me transformaem algum maiakowski

teus olhos sao...

49

noite qualquer me enfrenta na rua do tiroteioestou só e nada tenhonem amor, nem dinheiro

noite qualquer durona impávidacabeça de prego de aço e marfimnoite...ela se aproximade mimcom a boca cravejada de granadase alma tal qual um buraco negro

aquilo dela suga e arrota meus versos,minhas canções de outrora,e nada pode ser meu feliz aroma durável...

noite qualquer dispara cinco tiros no meu peito

tombosobre um tapete de turvas lembranças e filhotes de arcanjos viciados

noite qualquer

50

pulsar é uma estrela escrotaque não sabe o que querassim como a pulga no cu do cachorro

procurar emprego é uma coisa degradante,arrumar um emprego é suicídio,ser demitido é um exemplo do quanto a humanidade te ama

todos os sistemas financeiros do mundosão máquinas mortíferassão campos de concentraçãona esfera psicológica

mulheres podem ser lindas e gostosas,mas são todas, implícitas ou explícitas,homicidasgenocidassarcásticase mal agradecidas

amar uma mulher é o mesmoque pular dentro de um vulcão ativocomo o fez john hoffman

homens são merda de abutre ao solhomens são merda de abutre à chuva

ruas e avenidas não te levam a lugar algummuito menos rodoviasou rotas de vôo e navegação

escrotices

51

psicanálise é o mesmo que polir pentelhosdo cu

nascer é uma aberração

música é mortemozart é mortejobim é morte- não pense que é uma coisa alegre ou bonita

poesia é a única formade vomitar o pâncreas com amor e elegância

52

o apocalipse deve sera coisa mais divertida da existência

rezo diariamente para que ele venha logo,que ele ao menos seja possível

não somente uma vaga idéiauma hipótese que flanasem bases sólidas

o apocalipse é, certamente,o verdadeiro orgasmo do universo

e disso eu sei e dou fé

apocalipse

53

deslizando pelo absurdo mimtodo dia, toda noiterespiro a atmosfera e sou “um” com a atmosferaexpiro a atmosfera e sou “um” com a atmosfera

e milhões de invisíveis sinais de estrelaspassam pelo meu corpo a cada segundoe passam pela minha alma e meus pensamentose, assim como a força dos alimentos e da água,enchem todo meu ser de uma graça misteriosainfinita e eternalívida, clara, cantante, dançante

você também é assimpor isso vejo em vocêtudo o quanto eu vejo em mim

absurdo mim

54

eu não tenho medo de dizeras coisas que pensomesmo que me coloquem em apuros

aliás, nunca tive esse medo

é claro que se pode ferir amargamente alguémentão eu não digo as coisas que pensosó por uma questão de humanismoe também porque sou um cara legalou estou interessado em comer a irmã de fulanoou foder a prima de sicranoou mesmo tocar uma punheta cósmica em homenagem à elas

também não tenho medo de dizeras coisas que não penso

aliás, creio que digo muito mais o que não pensodo que digo o que penso

souum ator canastrãoum mentiroso cheio de lábiarealmente inspirado pelo céuou pelo infernopara dizer coisas que não pensopara ter a chance de comer a irmã de fulanoa prima de sicranoa sobrinha de beltranoou qualquer outra coisa que tenha boceta

ecco homo 2

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um vomito de raios e coresefêmero e de mau gostovindo da boca do nadadiretamente para a privada do nada

realmente uma viagem insólitaa lugar nenhum

sexo pode ser bom,mas nada além disso.no mais, sexo é perigoso...dele nasce gentee gente é um perigo

deus é certamente gregopois a vida é um presente do cão

eu não paciência com deusnem com o diabonem com anjos e santosnem com homens que esbanjam seriedadeou mulheres que cuidam bem da bocetaou pessoas que controlam bem os negócios...

eu admiro os descontrolados...são mais autênticose parecidos com a vidae a morte

entre a vida e a morteeu acho a morte mais humana

consideracoes sobre a vida, entre outros

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e comparsa

entre uma mulher sériae outra putaeu gosto mais da putaou a odeio em menor escala

a morte e algumas drogas são boas amantes,podemos nos entregar a elas e não haverátraições, nem abandono

algumas fotosalgumas cançõesalguns poemasuma grana fácil e recheadauma linda boceta taradae um bom entorpecente

isso já me basta !!!

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eis uma página em brancoeao redor delana neblina do meu sertoda minha vida despedaçada e não linear

uma página em branco sempre funciona comigo

coisas vão sendo despejadas no papele percebo que são coisas maravilhosas,magníficas, literatura de primeira, do caralho...nem shakeaspeare, nem Goethe, Dante ou camões;só mesmo um teteco dos anjos

você queporventura me lêpode achar que nãopode achar que teteco é um dementeporémse assim foreu acho que demente é vocêe estamos quites

não é preciso haver aspereza entre nóseu com minha demência e você com a suaepodemos tomar um porree correr atrás de putas

sinceramentenão vejo grandes problemas nisso

eis uma pagina em branco

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nem tampouco pequenos problemas

evidente que as portas do mundosão como lindas bocetas preciosas;coisa que dificilmente se abre facilmente pra mim...a menos que eu esteja armadoou nem assim

mas, não me importocontanto que eu tenha sempre umapágina em branco na minha frentecomo uma virgem em flor...pronta para receber o jorro mágico e indecentede minha alma

assimo mundo e seu desfile de horrorespode ser camufladoamenizadoreduzido a um mínimoao menossuportável

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você que desdém de minha loucuraque vá para o inferno

você que despreza meus versose minha mente descompassadaque vá para o inferno

você que não vê poesianas minhas armações estéticasque vá para o inferno

você que detona loucos, miseráveis,sonhadores, lunáticos, bêbados e decaídosque vá para o inferno

você que não crê nas minhas mentiras alegóricaslançadas ao vento para enfeitar ao mundoque vá para o inferno

você que diz ser meu pau pequeno ou medianoque vá para o inferno

você que chama de putasmulheres viciadas em sexoque vá para o inferno

você que nem sabe da minha grande alucinaçãoou minha grande verve talentosa e selvagemque vá para o inferno

você que não vê que marco rio branco

disse o diabo; nao menosprezem teteco

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é um homem-poeta bonitoque vá para o inferno

você que não responde minhas cartasmeus emails, meus acenosque vá para o inferno

você que nem sabe da minha existênciagloriosa e horrorosaque vá para o inferno

você que não limpa minha bunda,não paga minhas contas e nem admira extasiado as veias do meu pauque vá para o inferno

e é bem provável que vocêvá mesmo para o inferno,pois eu sou comparsa do diaboe disse ele; “não menosprezem teteco”

os demais estão absolvidos e abençoados.amém !!!

beleza

a vida é tão belaquanto o cu do cavalo ensaiando “Fígaro”

existir...humaqui estousem dormirsem intenção de dormirnem de ficar acordadosem intenção de me matar por dinheironem de matar alguém por dinheirosem intenção de pagar impostosnem de cagarnem de extrair do mistério da noite

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lindos versos imortaisou receber mensagens de consolo dos alienígenas

a vida é tão belaquanto uma placa velha e enferrujadaindicando lugar algumnuma encruzilhada ondeninguém passaninguém sabenem mesmo deus ou o capeta voltando do carnaval

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se fosse só poesiaeu estaria bemou flores e avencas despejando-se nas janelasse fossem só elaseu estaria bem

se fosse apenas o teu olhara me indicar o futuroa colorir o presentee suavizar o passadoeu estaria bem

se fossem somente o teu cantoe tua boca enquanto cantasdizendo tudo o que for preciso dizer em melodiapara a harmonia do universodas estrelas, do mar, das ruas e do vivereu estaria bem

se fossem tuas mãos...se fossem como a brisa leve da noite a roçar suavemente meu rostominha barbameus cabeloseu estaria bem

e bem contigoe bem no mundo contigoeu poderia estender-me assimpor todo o firmamento

se

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é preciso lutar e lutarmesmo que sem nada nas mãosmesmo que no vão de pensamentos esparsoscansadosé preciso lutar e lutarmesmo que não lutando aparentementemesmo que a noite seja densae as dobradiças do tempo pareçam enferrujadasé preciso lutar como luta o universofazendo o rio corrermesmo que não percebamos a issofazendo o sol nascer e correr o azulmesmo que de olhos fechados estejamosmesmo assim, é preciso lutar e lutar sempre

e preciso lutar

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a vida nunca foi fácil pra mimnem nunca para o maltrapilho rabo do gambáe os pentelhos da mandioca

mas, eu não desisto.às vezes eu não luto, como disse nopoema anterior , pois às vezes éidiotice lutar

então eu sofro, eu caio, eu espero,eu vou morro abaixo trezentas vezesmas não desistoalguma coisa de caráter ou falta dele,de herói ou de bandido, gana ou pirraçame garante de eu nunca desistir

portanto, cá estounovamente

meu sorriso cínico e divinominhas mãos de estetaou de tarado

uma coisa eu confesso;deus sempre fodeu comigoe, de certa forma, eu sempre fodi com deus

comigo é assim;bateu..levou

sou o verdadeiro discípulo de hammurad

nunca foi facil

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a vida nunca foi fácil pra mim...mas...porra...creio que já está na horado grande intestino do destinodar uma aliviada para o meu lado

não, não cagando ainda mais sobre minha cabeça

lá longe, lá longeno matoou na privada obscura elegante de um buraco negro

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não existe um único grão de areia ou uma única estrela no firmamentoou um único peixe fluindo célere e brilhante nas águas do rionenhum homemnenhuma mulherde todas as raçasde todas as imperfeiçõesde todas as virtudesque não sejam sagrados como raios de sol que quicam no chãoe são suavemente espalhados pela brisa da manhã

entendeu, otário ???

se não entendeu,irei te dar porrada até que você entendade uma vez por todas !!!

entenda de uma vez por todas, otario...

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minha mente não é punitiva, queridanãonãonão

eu não acredito que devemos punir as pessoasou punir os animais, os dinossauros, as crianças,os ornitorrincos, as torres de transmissõesou os órgãos sexuais dos anfíbiospor coisas pequenas ou banais

devemos sim explodir um Hitler,um Stalin, um assassino cruel,um estuprador

mas, punir uma criança porque ela nãofez “lição de casa” ?!punir um maluquete qualquer porqueele fumou um baseadinho ?!punir alguém que derrubou pipocadentro do carro ?!detonar alguém que esqueceu um coposujo sobre a pia ou a cueca atrás da porta ?!

muitas, mas muitas pessoas deviamler e entender “crime e castigo” de dostoiewskipoisvejopor aíque as relações entre crime e castigoestão totalmente desencontradas e descabidas

uau uau uau

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punições baratas e grosseirasme dão ascoe gente de mente punitiva, que adoradar lições de moral e ensinamentosem todos e sobre tudo,me cheira a merda de abutre depois de um porre

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eu não me lembro o nome delasó sei que era bela e desencontradacomo todas as mulheres que entraram e saíramda minha vida

e tinha olhos verdes e era brancae duas coxas maravilhosasmas eu não tinha ainda conseguido chegar naquela vaginanão por incompetência ou falta de querermas porque sempre acontecia algoque desviava meu pau da trilha

no inverno, de jeans e casaco peruanoela sentava numa espécie de poltrona sob a janelae fumava seu último cigarro da noitede maconha

me olhava e diziasempre nesta hora

“o inverno é lindo e humano,a lua desliza como uma elegante damaentre as nuvens do inverno”

eu dizia“sim, isso é muito poético e bonito”

então ela sempre ria e chorava ao mesmo tempoe eu passava as mãos nos seus cabeloscrespos de cor castanho-claro

perto da janela ela ria e chorava

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éramos dois derrotados,mas com uma estranha elegância magníficaperante deuses e demônios

uma noite, após rir e chorarela me pediu“faça um poema...faça um poemasobre as flores lá fora,o frio e a lua”

eu nunca soube fazerno exato momentopoema ou cançãoque me pedissem pra fazerno exato momento

as vezes passavam-se dias, semanas, meses, anos,muitas vezes nunca vingaram ou vingarão...

mas ali eu peguei um papel e uma canetae comecei

“flores densas dentro da noite,flores densas de cores furtivas no invernoeno céu, a lua debruçada em nuvensespia o único caminho que nos falta...”

era tão somente o começo ou esboçode um texto qualquer, imbecil ou poéticoequando eu parei por segundospara pensar, ou receber dos deuses e demôniosoutros versos para colocar no papelelarapidamente tirou a folha de minha mãoe se pôs a lercom olhos verdes e grandese lábios de batom barato e gasto

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entãose pôs a rir e a chorar novamenteede súbitome puxou pela mãocom raiva e forçae me levou para o quarto pobrede paredes bege-amareladas pobres e carentese me jogou na camapulou por cima e me beijoucom mais raiva e força

em seguida estávamos nuse elajá por baixoe com olhos verdes que pareciam esverdeara semi-luz que vinha da sala e da janela pobreou a esverdear minha mente e o abismo de minha almaesperou apenas que eu a penetrassecom amor e profundidadepara rir e chorar novamente ao mesmo tempode uma forma nova e acintosamente sensual

“...o único caminho que nos faltava...”e eu já podia voltar ao poema

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sempre umapocalipseum buraco negrouma desolaçãoum pântano sombrioum cataclismoe uma guerra sem fimem minha alma

coisas que eu nunca relatei para todosnem deixei que tomassem conta de tudodias e noitesentre eu e o mundo

eu sempre as deixei alino vazio de minha almaa ruminarem e darem cambalhotas no espaço turvo de mimessas coisas grandes e gigantescasas quais eu nunca quis ou deixeique tomassem conta de mim por inteiroe me levassem para o ralo dos infernos

sempre foi natural para mimandar pela ruas com um apocalipse na alma

sempre de boaestar entre pessoas desencontradasnos bares desencontradosnuma noite desgarrada do calendáriocom aquela doce a apavorante bomba atômica

entre guerras e mais guerras

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no peito

entre guerras e mais guerrascá dentrosempre fui levando e sendo levadotranquilamente, talvez profundamente místico,ou meramente idiota,do nada ao nadado desimportante ao desimportanteentre guerras, porres, trepadase não-trepadas, canções e fotografias

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sonetos arremessados contra o ventovoltam e espalham-se pela minha carameu coração vadio

voltam como pétalas no are dançam no que tenho de infinito

tédio vivomorto...

tédio vivomortovociferadocravadoem mim

uma boceta cairia bemem mimcomo a grande água-vivasobre o molusco

ou a morte repentinade um parente ricoe a minha herança...

se é que tenho essas coisas paradisíacas

conheci dois irmãos certa vezou trêseram os caras mais idiotas e tapados do mundoe os mais miseráveis

mas um avô morreuos deixando na trilha de uma grana violenta

sonetos arremessados...

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viraram grande comedores de bocetasrespeitadoscom carros e viagenscontas em dianegócios abertos na cidadea todo vaporsem tédio ou angústianem ansiedadeou grandes problemas de se gastar demais no puteiro

dois ou três irmãos pra lá de idiotasamados por deus e pelo destino em que os engendrou

deus ama os idiotaspois são incapazes de perceber ou contestaro fino embuste da divindade

um cara porreta e “poeteiro” como eue tantos outros miltemos que se foderdesde o nascimento até o último suspironeste mundoneste pocilga equivocadamente entendida como vida

ou estarei enganado ???

espero que sim,enquanto mergulho no tédiona bebidana putariana guerranos fogos de artifícios

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gosto da chuvae do silencioe do silêncio misturado à chuvadentro da noite fria

o nada em que pensaro nada fazerapenas eu comigotranqüilorelaxado em toda a dimensão do silencio

o barulho da chuva é um desdobramentosensual e divino de todo o silencioque sintoe me sinto bem

chuva noturna

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BIBLIOTECA

URUPÊSALMANAQUE