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CARDOSO A LEITURA DE PORTUGAL MACKSEN LUIZ .áo I 23> /:YI=H. E " raro um escritor português de geração mais jovem nos visitar. José Cardoso Pi- re s está no Brasil para o lançamento de seu romance O Delfim, o primeiro de uma série que a Editôra Civilização Bra- sileira espera lançar. Inquieto, extrema· mente preocupado com o movimento cultural de seu país, Cardoso Pires lan- çou a pergunta: quem é o português? Na busca da resposta, fêz sua obra A visita de José Cardoso Pires ao Brasil abre perspectivas bem maiores do que o simples lança-. mento de seu livro O Delfim. A falta de comunicação cultural en- tre Brasil e Portugal reduz nosso conhecimento de literatura por- tuguêsa a dois, no máximo três, escritores. Agora que a Editôra Civilização Brasileira inaugura s ua Coleção Caravelas (literatu- ra portuguêsa em edições brasi- leiras) com o título de José Car- doso Pires, o mercado editorial nada mais faz que reconhecer uma falha. José Cardoso, como todo pm·- tuguês, é um homem afável que aparentà menos 10 anos do que sua idade real (45 anos) , meio re- servado e extrremamente cautelo- so. Nada diz que seja supérfluo ao raciocínio, ainda que não con- siga fugir ao excesso de loquaci- dade do português. Mas seus dois anos em Londres - foi professor de Literatura do King's College da Universidade de Londres - lhe deram uma postura intelec- tual de rigor analítico. Esta;:r no Rio representa uma volta de oito anos nas suas vivências. Por isso seu entusiasmo pela cidade é f'l"anco e nada camuflado. - Andei de Ipanema ruté ao Leme. Foi quase uma redesco- berta da cidade depois de tanto tempo. Gosto muito do Rio, que sempre me lembra aquela can- ção da Nara que diz qu.e "mas que nunca é preciso cantar." Esta é uma ddade que continua a can- tar , é um lugar espontâneamen- alegre. Mas tem, por outro la- do, uma palidez sombria que se prolonga sem interferir no clima de amabilidade que a envolve. Nunca conheci uma ci:dade tão atlântica quanto o Rio. Lisboa, Cap Town também o são, mas em nenhuma delas sinto esta sensa- ção estar dentro de um navio como aqui. A insinuação de dados biográ- ficos, José Cardoso Pires logo se retrai. É uma pessoa de hábitos simples, como as histórias que conta, casado e que adora Barce- lona. - Tenho dificuldade em falar sôbre isto. Embora fôsse até agora professor de Literatura em Lon- dres e esteja habituado a dar au- las, mas é sempre mais fácil fa- lar dos outros do que de nós me s- mos. Prefiro ser provocarêlo por perguntas. Estou com 45 anos, quero viver unicamente dos meus livros. Por isso deixei de lecionar. Por outro lado, Londres era uma cidade de que muito gostava, mas que agora começa a perder seu encanto. E' quando fala de Barcelona que José Cardoso Pires começa a revelar o ·escritor. A trajetória O clima estimulante de cria- ção de Barcelona e mais a liga- ção familiar com a Espanha co- locam a cidade quase que como um símbolo da criatividade não colonizada. -Pertenço a uma corrente na literatura que reagiu às tradições, as piores que existem, da cultu- ra francesa. De cultura extrema- mente formalista e burguesa, a França nos deixou uma restrita liberdade de movimentos. Portu- gal, a ·exemplo de outros herdou o que de menos estlmu- lante havia na cultura francesa. Em 1945, quando alguns escrito- res jovens reuniram-se quase em um manifesto, tivemos uma lu- ta bastante grande contra o na- turalismo de um Eça de Queirós. Afirmei, por esta época, que gostava mais de Ma- chado de Assis do que de Eça, pa- ra grande escândalo. Prefiro Ma- chado como forma· pois seu estilo é mais ad libitum do que o de Eça, ainda que êste tenha uma temática mais rica. Por uma fiÍiação e procura, das raízes portuguêsas, a revista francesa L'Express atribuiu a Jo- sé Caxdoso Pires a criação de um estilo a que a revista deu o nome de "portugalidade." Cardoso Pi- res não reconhece a expressão e muito menos o estilo. - A geração de escritores a qual pertenço está impregnada de uma filosofia chamada "filo- sofia portuguêsa", integralista, representada por Coimbra. Como reação a esta filosofia u'ma ge- ração de escritores engag,és, ueo- realistas. Todos nós viemos dês- tes dois grandes troncos. Foi pre- ciso muito cutdado para que o neo-realismo português não caís- se no romantismo. E quanto ao que a revista me atribui, isto é lá nomenclatura dela. Mas a verdade é que, mesmo sem o querer, Cardoso Pires po- de ser um representante desta "portugalidade." A evolução de seus livros só o provam. O primei- ro dêles, Os Caminheiros e .Outros Contos, não encontrou ninguém que o quisesse editar. Prova de que violava certos padrões. Com a ajuda de amigos, conseguiu pu- blicá-lo. · - Foi difícil a edicão de Ca- minheiros por ser um 'livro radi- calmente contra a tradição fran- cesa. Estava mais ligado a uma certa literatura norte-americana. Por muitas razões, êste é um livro que não quis que fôsse reeditado. Uma discr·eta experiência sur- realista, que nunca o atingiu, foi apenas o estágio que mostrou que "o surrealismo não é uma corrente, não é •coisa nenhuma, é sàmente uma atitude perànte a vida." A viagem episódica ao mundo surrealista teve a vanta- g.em de nos treinar dentro de A visita de Cardoso. Pires tem dupla função : lançar seu livro O Delfim e abrir o mercado bras ileiro pam a literatu ra portuguêsa uma certa liberdade interior, na expressão formal e em tudo mais. Em todo caso, foi uma ruptura com aquela literatura de Vossa Excelência, tão comum em Por- tug-al. A chegada O Delfim é um romance que fala de um Portugal que acaba. O dos grandes senhores aristo- cráticos de base rm:al. Cheio de caminhos insinuados, é um ro- mance construído com detalhes e rigor, numa pesquisa clara de forma. - Portugal é um país que ve de .abstrações. Quando um in- divíduo não tem tcapacidade de se reconhecer nas atttudes que pratica, desenvolve a tendência em criar uma car81paça, mitoma- niza sua vida. Cria, como defesa, uma imagem fàJsa de si. A mito- mania é realmente típica de tô- da uma geração de Portugal. Por isto quis dar neste livro a ima- gem dêste problema. A própria es- trutura do liv• ro é partida. O que desejo é que o leitor, ao chegar ao final, se pergunte: "Isto é grave? Isto é mentira? Onde estou?". Tudo fica um pouco fl1+tuante , sem respostas definitivas, como a realidade. Não propria- mente uma história, no sentido tradicional da narrativa. Para alguns pode ser uma simples his- tória policial. O Delfim é um livro de insônia. Antes da publicação de O Del- fim, Ca·rdoso Pires escreveu Car- tilha de Marialva e Hóspede de Jó, dois romances feitos num momento psicológico muito espe- cial. Cardoso Pires .estava cansa- do do ambioote que o cer,cava, vi- via como que esmagado pelas condições. O ·Convite de Londres chegou-lhe no momento em que acabava de publicar O Delfim, hoje . na 4a. edição portuguêsa. - É evidente que fui para Londres porque estava cansado psicologicamente do meu am- biente. Escrever é uma atividade ri:mito dependente da temperatu- ra ambiente. Todo e qualquer condicionamento (dinheiro, polí- tica, as próprias autocensuras) criam terríveis inibições. O que é grave. Penso que o escritor não é só o homem que faz uma obra, é o homem em dimensão mais vasta. Com algum desâ- nimo e incorrigí_vel esper'ança, Cardoso Pires, de rosto grave e · fala um ·pouco mais pausada, tra- ça o panorama da literatura por- tuguêsa de hoje. Sua visão, ain- da que pessimista, inclui a certe- za da vitalidade. - Portugal não conseguiu formar outra geração além da minha. Sobretudo na prosa. Há Almeida de Faria, um jovem de 25 anos, mas que no fundo nada deve a nossa geração. Os jovens vivem sôbre a égide da censura em todos os níveis. Quando abrem-se concursos literá:rios, não surge nenhum nome. Na poesia ainda um certo alento. Mas pouco. O problema, segundo Cardoso Pires, não é exclusivo de Portu- gal.· Outros países, em estágios diferentes de desenvolvimento, como a França, a Inglaterra, Itá- lia e Alemanha, não têm revelado grandes nomes. - Êsses são países de grande consumo literário ·e, no entanto, não apareceu ninguém que se dest81casse. A França, por exem- plo, é uma miséria ·em maté·ria de ficção. Mesmo assim Portugal tem uma literatura extremamen- te que não reno- vada. Alves Redol, exemplo, é um nome importante com uma produção irregular de qualidade. Aquilino Ribeiro, destaque em sua geração, é infinitamente su- perior a Lampeduda de Il Gatto- pardo. Escreveu um romance que trata do mesino tema e com mui- to mais profundidade. Fernando Namora é eonhecido de vocês bra- sileiros. . Carlos Oliveira possui uma quaUdade formal muito só- bria. Júlio Ferreira .sofre influên- cia de Malraux e carrega bastan- te na dose mística. Augusto Abe- la: ra tem sua obra construída, de modo que • C81da livro está muito ligado ao anterior. Porém é um ·romancista com estrutura técni- ca muito pessoal. Seu livro mais signifi.cativo é A Cidade das Flô- res. Almeida Faria . é jovem (30 anos) , numa linha de faulkineriana. Luís Pacheco é uma espécie de Jean Gênet por- tuguês, um suj-eito cheio de in- terêsse, mas com obra pequena. É um aventureiro das letras, cheio de originalidade e anar- quismo interior.

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Page 1: CARDOSO PIRE~hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/josecardosopires/Entrevistas/PDF/...O Delfim é um livro de insônia. Antes da publicação de O Del fim, Ca·rdoso Pires escreveu

CARDOSO PIRE~

A LEITURA

DE PORTUGAL MACKSEN LUIZ

J~ .áo ~1 I 23> /:YI=H.

E" raro um escritor português de geração mais jovem nos visitar. José Cardoso Pi­res está no Brasil para o lançamento de seu romance O Delfim, o primeiro de uma série que a Editôra Civilização Bra­sileira espera lançar. Inquieto, extrema· mente preocupado com o movimento cultural de seu país, Cardoso Pires lan­çou a pergunta: quem é o português? Na busca da resposta, fêz sua obra

A visita de José Cardoso Pires ao Brasil abre perspectivas bem maiores do que o simples lança-. mento de seu livro O Delfim. A falta de comunicação cultural en­tre Brasil e Portugal reduz nosso conhecimento de literatura por­tuguêsa a dois, no máximo três, escritores. Agora que a Editôra Civilização Brasileira inaugura sua Coleção Caravelas (literatu­ra portuguêsa em edições brasi­leiras) com o título de José Car­doso Pires, o mercado editorial nada mais faz que reconhecer uma falha.

José Cardoso, como todo pm·­tuguês, é um homem afável que aparentà menos 10 anos do que sua idade real (45 anos) , meio re­servado e extrremamente cautelo­so. Nada diz que seja supérfluo ao raciocínio, ainda que não con­siga fugir ao excesso de loquaci­dade do português. Mas seus dois anos em Londres - foi professor de Literatura do King's College da Universidade de Londres -lhe deram uma postura intelec­tual de rigor analítico. Esta;:r no Rio representa uma volta de oito anos nas suas vivências. Por isso seu entusiasmo pela cidade é f'l"anco e nada camuflado.

- Andei de Ipanema ruté ao Leme. Foi quase uma redesco­berta da cidade depois de tanto tempo. Gosto muito do Rio, que sempre me lembra aquela can­ção da Nara que diz qu.e "mas que nunca é preciso cantar." Esta é uma ddade que continua a can­tar, é um lugar espontâneamen­t~ alegre. Mas tem, por outro la­do, uma palidez sombria que se prolonga sem interferir no clima de amabilidade que a envolve. Nunca conheci uma ci:dade tão atlântica quanto o Rio. Lisboa, Cap Town também o são, mas em nenhuma delas sinto esta sensa­ção d~ estar dentro de um navio como aqui.

A insinuação de dados biográ­ficos, José Cardoso Pires logo se retrai. É uma pessoa de hábitos simples, como as histórias que conta, casado e que adora Barce­lona.

- Tenho dificuldade em falar sôbre isto. Embora fôsse até agora professor de Literatura em Lon­dres e esteja habituado a dar au­las, mas é sempre mais fácil fa­lar dos outros do que de nós mes­mos. Prefiro ser provocarêlo por perguntas. Estou com 45 anos, quero viver unicamente dos meus livros. Por isso deixei de lecionar. Por outro lado, Londres era uma cidade de que muito gostava, mas que agora começa a perder seu encanto.

E' quando fala de Barcelona que José Cardoso Pires começa a revelar o ·escritor.

A trajetória

O clima estimulante de cria­ção de Barcelona e mais a liga-

ção familiar com a Espanha co­locam a cidade quase que como um símbolo da criatividade não colonizada.

-Pertenço a uma corrente na literatura que reagiu às tradições, as piores que existem, da cultu­ra francesa. De cultura extrema­mente formalista e burguesa, a França nos deixou uma restrita liberdade de movimentos. Portu­gal, a ·exemplo de outros p~íses , herdou o que de menos estlmu­lante havia na cultura francesa. Em 1945, quando alguns escrito­res jovens reuniram-se quase em um manifesto, tivemos uma lu­ta bastante grande contra o na­turalismo nov~centista de um Eça de Queirós. Afirmei, por esta época, que gostava mais de Ma­chado de Assis do que de Eça, pa­ra grande escândalo. Prefiro Ma­chado como forma· pois seu estilo é mais ad libitum do que o de Eça, ainda que êste tenha uma temática mais rica.

Por uma fiÍiação e procura, das raízes portuguêsas, a revista francesa L'Express atribuiu a Jo­sé Caxdoso Pires a criação de um estilo a que a revista deu o nome de "portugalidade." Cardoso Pi­res não reconhece a expressão e muito menos o estilo.

- A geração de escritores a qual pertenço está impregnada de uma filosofia chamada "filo­sofia portuguêsa" , integralista, representada por Coimbra. Como reação a esta filosofia há u'ma ge­ração de escritores engag,és, ueo­realistas. Todos nós viemos dês­tes dois grandes troncos. Foi pre­ciso muito cutdado para que o neo-realismo português não caís­se no romantismo. E quanto ao que a revista me atribui, isto é lá nomenclatura dela.

Mas a verdade é que, mesmo sem o querer, Cardoso Pires po­de ser um representante desta "portugalidade." A evolução de seus livros só o provam. O primei­ro dêles, Os Caminheiros e .Outros Contos, não encontrou ninguém que o quisesse editar. Prova de que violava certos padrões. Com a ajuda de amigos, conseguiu pu-blicá-lo. ·

- Foi difícil a edicão de Ca­minheiros por ser um ' livro radi­calmente contra a tradição fran­cesa. Estava mais ligado a uma certa literatura norte-americana. Por muitas razões, êste é um livro que não quis que fôsse reeditado.

Uma discr·eta experiência sur­realista, que nunca o atingiu, foi apenas o estágio que mostrou que "o surrealismo não é uma corrente, não é •coisa nenhuma, é sàmente uma atitude perànte a vida."

A viagem episódica ao mundo surrealista teve a vanta­g.em de nos treinar dentro de

A visita de Cardoso. Pires tem dupla função: lançar seu livro O Delfim e abrir o mercado brasileiro pam a literatura portuguêsa

uma certa liberdade interior, na expressão formal e em tudo mais. Em todo caso, foi uma ruptura com aquela literatura de Vossa Excelência, tão comum em Por­tug-al.

A chegada

O Delfim é um romance que fala de um Portugal que acaba. O dos grandes senhores aristo­cráticos de base rm:al. Cheio de caminhos insinuados, é um ro­mance construído com detalhes e rigor, numa pesquisa clara de forma.

- Portugal é um país que vi~ ve de .abstrações. Quando um in­divíduo não tem tcapacidade de se reconhecer nas atttudes que pratica, desenvolve a tendência em criar uma car81paça, mitoma­niza sua vida. Cria, como defesa, uma imagem fàJsa de si. A mito­mania é realmente típica de tô­da uma geração de Portugal. Por isto quis dar neste livro a ima­gem dêste problema. A própria es­trutura do liv•ro é partida. O que desejo é que o leitor, ao chegar ao final, se pergunte: "Isto é grave? Isto é mentira? Onde estou?". Tudo fica um pouco fl1+tuante, sem respostas definitivas, como a realidade. Não há propria­mente uma história, no sentido tradicional da narrativa. Para alguns pode ser uma simples his­tória policial. O Delfim é um livro de insônia.

Antes da publicação de O Del­fim, Ca·rdoso Pires escreveu Car­tilha de Marialva e Hóspede de Jó, dois romances feitos num momento psicológico muito espe­cial. Cardoso Pires .estava cansa­do do ambioote que o cer,cava, vi­via como que esmagado pelas condições. O ·Convite de Londres chegou-lhe no momento em que acabava de publicar O Delfim, hoje . na 4a. edição portuguêsa.

- É evidente que fui para Londres porque estava cansado psicologicamente do meu am­biente. Escrever é uma atividade ri:mito dependente da temperatu­ra ambiente. Todo e qualquer condicionamento (dinheiro, polí­tica, as próprias autocensuras) criam terríveis inibições. O que é grave. Penso que o escritor não é só o homem que faz uma obra, é o homem em dimensão mais vasta.

Com desalente~ algum desâ­nimo e incorrigí_vel esper'ança, Cardoso Pires, de rosto grave e · fala um ·pouco mais pausada, tra­ça o panorama da literatura por­tuguêsa de hoje. Sua visão, ain­da que pessimista, inclui a certe­za da vitalidade.

- Portugal não conseguiu formar outra geração além da minha. Sobretudo na prosa. Há Almeida de Faria, um jovem de 25 anos, mas que no fundo nada deve a nossa geração. Os jovens vivem sôbre a égide da censura em todos os níveis. Quando abrem-se concursos literá:rios, não surge nenhum nome. Na poesia ainda há um certo alento. Mas pouco.

O problema, segundo Cardoso Pires, não é exclusivo de Portu­gal. · Outros países, em estágios diferentes de desenvolvimento, como a França, a Inglaterra, Itá­lia e Alemanha, não têm revelado grandes nomes.

- Êsses são países de grande consumo literário ·e, no entanto, não apareceu ninguém que se dest81casse. A França, por exem­plo, é uma miséria ·em maté·ria de ficção. Mesmo assim Portugal tem uma literatura extremamen­te v~riada, ~inda que não reno­vada. Alves Redol, po~ exemplo, é um nome importante com uma produção irregular de qualidade. Aquilino Ribeiro, destaque em sua geração, é infinitamente su­perior a Lampeduda de Il Gatto­pardo. Escreveu um romance que trata do mesino tema e com mui­to mais profundidade. Fernando Namora é eonhecido de vocês bra­sileiros. . Carlos Oliveira possui uma quaUdade formal muito só­bria. Júlio Ferreira .sofre influên­cia de Malraux e carrega bastan­te na dose mística. Augusto Abe­la:ra tem sua obra construída, de modo que •C81da livro está muito ligado ao anterior. Porém é um

·romancista com estrutura técni­ca muito pessoal. Seu livro mais signifi.cativo é A Cidade das Flô­res. Almeida Faria . é jovem (30 anos) , numa linha de inspira~ão faulkineriana. Luís Pacheco é uma espécie de Jean Gênet por­tuguês, um suj-eito cheio de in­terêsse, mas com obra pequena. É um aventureiro das letras, cheio de originalidade e anar­quismo interior.