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Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da UCS Laboratório de Jornalismo Impresso Caxias do Sul | Ano 2011 No Brasil, cerca de 18 milhões de brasileiros são dependentes químicos. Em Caxias do Sul, uma casa acolhe quem está disposto a deixar o vício de lado, com trabalho terapêutico e recuperação da auto-estima. Além disso, acolhe moradores de rua, em parceira com a administração municipal. p. 10 e 11 RESENHA Cinema em Caxias: do Apollo ao Ópera p. 4 e 5 ECONOMIA Bom pra cachorro: crescimento do mercado pet p. 14 e 15 CIDADE De pai para filho: tradição no comércio p. 4 e 5

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Page 1: de brasileiros são dependentes - Frispit · tares, além da cancha de bocha coberta e dos monumentos artís-ticos espalhados pelo local. Os dois parques têm uma grande área verde

Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da UCSLaboratório de Jornalismo ImpressoCaxias do Sul | Ano 2011

No Brasil, cerca de 18 milhões de brasileiros são dependentes químicos. Em Caxias do Sul, uma casa acolhe quem está disposto a deixar o vício de lado, com trabalho terapêutico e recuperação

da auto-estima. Além disso, acolhe moradores de rua, em parceira com a administração municipal.

p. 10 e 11

RESENHA

Cinema em Caxias:do Apollo ao Óperap. 4 e 5

ECONOMIA

Bom pra cachorro:crescimento do mercado pet p. 14 e 15

CIDADE

De pai para filho:tradição no comérciop. 4 e 5

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Chegamos à metade de julho com muitas expectativas. Enquanto os amigos estavam ansiosos para o início do recesso acadêmico, nosso pequeno grupo esperava a hora de começar a disciplina de férias para, enfim, saber como é o dia a dia em uma reda-ção de jornal. Pela prática do jornal Textan-do sentimos o clima de viver na pressão de conseguir as fontes, a decepção quando uma pauta cai, as dificuldades de diagramação.

Em busca de informação com quali-dade, o sarampo, o novo aeroporto, a Feira do Livro, a segurança em parques públicos, os novos políticos e a tradição no comércio integram o nosso jornal.

Nossa matéria especial do cader-no de Cultura recorda os idos tempos do Cine Ópera, que iniciou como Cine Teatro Apollo, nos anos 20, e era o ponto de encon-tro dos jovens da época. Hoje, abriga um es-tacionamento e um dos principais terminais de ônibus da cidade. A rua movimentada e requintada, hoje é um ponto de lojas popu-lares e também de assaltos. Na região cen-tral da cidade, a uma quadra da praça Dante Alighieri, o antigo cinema ainda é lembrado pela comunidade caxiense com saudades. As tradicionais lojas, quase centenárias e que sobrevivem às mudanças, contrastam com o novo comércio caxiense. Nas ruas onde antes circulavam jovens casais apaixo-nados, carroças, charretes e cavalos, hoje o que se vê são pessoas apressadas, os grandes ônibus e uma infinidade de carros e motos. As pessoas, sentadas uma ao lado das ou-tras, nem sequer se olham, quanto menos

Reitor – Isidoro ZorziVice-Reitor – José Carlos KöchePró-Reitor Acadêmico – Evaldo An-tonio KuyavaDiretora do Centro de Ciências da Comunicação – Marliva Vanti Gon-

EDITORIALconversam. A calma e tranquilidade de an-tigamente, foram substituídas pela correria e insegurança.

Em qualquer lugar da cidade, você sempre corre o risco de ser assaltado, a qualquer momento por algum jovem que vai usar o dinheiro para comprar drogas. E o aumento do consumo de drogas é um dos temas que vem preocupando Caxias do Sul. Os usuários da maconha, crack e cocaína usam os lugares públicos, como parques e praças para esconder e saciar seus vícios. O lugar que foi criado com o intuito de ser um recanto de paz e alegria, com as crianças brincando, os pais passeando com os filhos, jovens se conhecendo e conversando, trans-formou-se em um lugar de medo, tristeza e vergonha. Os principais parques da região central da cidade, o Parque Cinquentenário e o Parque Getúlio Vargas (Macaquinhos) são pontos de assaltos, estupros e consumo de drogas.

E quase todo mundo que entra nes-se caminho, acaba no mesmo lugar: na rua, sem amigos, sem família, sem dinheiro. So-mente a louca vontade de sustentar o vício. Alguns procuram ajuda espontaneamente, sabendo que jamais chegarão a algum lugar além do que já estão: o fundo do poço. Com o apoio de familiares e orientação adequada, os ex-dependentes químicos se recuperam, e ajudam outros a saírem do buraco. Infeliz-mente, nem todos tem essa chance. Muitas vezes, os primeiros a abandonar o barco são os próprios familiares. E algumas pessoas não conseguem se reerguer sozinhas.

Felizmente existem as instituições que ajudam, gratuitamente, essas pessoas. E de um jeito prazeroso. No interior da cida-de, ao ar livre, ouvindo o som dos pássaros e interagindo com a natureza, os internos mantém a mente ocupada e longe das dro-gas. Após reabilitados, ganham uma nova oportunidade de recomeçar a vida, e ajudar outras pessoas.

Ir “à campo”, buscar as fontes, co-nhecer as pessoas, suas histórias, ouvir seus relatos e depois passar isso para o papel, querendo que o leitor sinta o mesmo que nós quando ouvimos a história pela primeira vez. Esse é um dos nossos objetivos. Fazer com que o texto “entre” no leitor e o faça refletir, buscando uma solução para os pro-blemas, e adotando como exemplo algumas ações.

Como foi fazer o Textando? Nos sentimos verdadeiros jornalistas, afinal, vir para aula era quase como ir para a reda-ção. Discutir em que pé estão as matérias, como poderiam ser as fotos utilizadas, qual a melhor pauta para ser a capa, diagramar o jornal, encaixando todo o conteúdo e, o mais difícil: cortar o texto. Porque quando o professor exigia um texto de até 5 mil carac-teres, nos desesperamos, porque era demais. De onde tiraríamos tanto? Então, na hora de diagramar, o problema: os textos chegavam com sete, oito, dez mil caracteres. Nosso jornal poderia ter 30 páginas, tamanha foi a empolgação. Começar a escrever é difícil. Mas depois que pega o embalo, o difícil é parar. E saber parar também é ser jornalista.

Jornalistas em teste

EXPEDIENTE

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çalvesCoordenador do curso de Jornalismo – Álvaro Benevenutto JúniorProfessor – Dinarte Albuquerque Fi-lhoTextando é um produto da disciplina

Laboratório de Jornalismo Impresso / 1º semestre de 2011

A turmaCassiane Silveira Osório, Clarissa Biasuz De Antoni, Geremias Orlandi,

Leonardo Lopes, Letícia Kirchheim, Marco Antonio de Matos, Marcos Camargo, Marjory de Vargas, Nestor Junior Copeli, Raquel de Almeida.

Projeto gráfico: Cassiane Silveira

Osório e Letícia KirchheimEditora de fotografia: Raquel de Almeida.

Impressão: Gráfica da UCSTiragem: 400 exemplares

FOI DITO“Tirar os livros de quatro paredes e levar até o povo.” Maria Helena Lacava, livreira, sobre um dos prazeres em participar da Feira do Li-vro

“Nem acaba uma temporada e já temos que co-meçar a procura por dinheiro para outra. Pra-ticamente o trabalho começa do zero, mesmo tendo conquistado bons resultados.” Gabriel Citton, técnico da Luna ALG/APAH/UCS/Pre-feitura de Caxias do Sul

“Enquanto o motorista tem medo, ele está se-guro. A auto-confiança em excesso traz a falta de limites.” Joel Portela, fiscal de trânsito

“Os filmes antigos eram mais calmos, davam importância à arte cinematográfica. Hoje em dia, estão submetidos à técnica, não mais a arte.” Sônia Regina Adami, professora e artis-ta plástica.

“O jovem está na inércia.” Rafael Bueno, as-sessor parlamentar, sobre a participação do jovem na política.

“A música também é uma forma de trabalho e tenho muito orgulho em dizer que hoje a músi-ca é o meu trabalho.” Tatiéle Bueno, cantora e estudante de Relações Públicas da UCS.

“Atualmente, o esporte caxiense depende dos paitrocinios. É mãe de uma atleta que tem uma empresa, um pai que conhece um empresário... é o apoio que recebemos.” Fernando Lemos, técnico da UCS/Mais Fruta/IMEC/APAAVôlei.

Milena Leal

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Lazer é restringido pela insegurançaMARJORY VARGAS

[email protected]

Parques e praças da região central da cidade são usados para consumo de drogas e a disseminação de atos violentos

Tranquilidade em meio ao caos

Toda cidade, independen-te de ter 5 mil ou 500 mil habi-tantes tem, no mínimo, uma área de lazer urbana. Seja a pracinha com dois balanços, um cantei-rinho de flores e três bancos, ou os grandes parques com árvores, lagos, calçadas e pistas de atle-tismo. Caxias do Sul, com seus mais de 400 mil habitantes, conta com três pontos de lazer na sua área central: o Parque Cinquen-tenário, o Parque Getúlio Vargas, mais conhecido como Parque dos Macaquinhos, e a Praça Dante Alighieri.

O Parque dos Macaqui-nhos é uma área verde de 9,8 hectares. Quem frequenta o local desfruta de uma ampla estrutura para a prática de esportes, com a ciclovia, a pista de skate, as vias pavimentadas para as caminha-das, quadras de vôlei, futebol e basquete. Além disso, as fontes, as árvores e os bancos são um convite ao descanso da vida agi-tada.

Já o Parque Cinquentená-rio dispõe de uma infra-estrutura parecida, em proporções meno-res, já que sua área é de 2,8 hec-tares, além da cancha de bocha coberta e dos monumentos artís-ticos espalhados pelo local.

Os dois parques têm uma grande área verde e, nos finais de semana, as famílias e amigos lo-tam os gramados para beber um chimarrão e jogar conversa fora. Já a praça está sempre movimen-tada. Durante a semana, é comum encontrar pessoas sentadas nos bancos, lendo um jornal ou li-vro, ou alimentando as pombas

que ficam por ali. A praça fica no coração de Caxias, e é ponto de passagem para se chegar aos qua-tro cantos da cidade.

No entanto, tanta movi-mentação e circulação gera um pequeno problema: a inseguran-ça. Pequenos assaltos, vandalis-mo e uso de drogas são comuns nesses lugares.

Há 30 anos, dona Antô-nia passa boa parte do seu dia na praça. Dona de uma banca de revistas, ela conta que a praça e as pessoas que passam por ali, mudaram muito. “Antes, quem passava por aqui era a elite ca-xiense. Hoje, é comum a circu-lação das pessoas de baixo nível social”, comenta. Ainda, segundo ela, quando a avenida Júlio ocu-pou o lugar do calçadão, no final de 2003, a tranquilidade da praça acabou, devido ao intenso movi-mento dos carros.

A banca fica aberta até as 19horas, pois, segundo dona An-tônia, depois disso é muito arrisca-do. “Tem sempre quatro rapazes, sentados em um banco, que ficam o dia todo bebendo. As prostitutas marcam território. Você pode estar sentado em um banco, ela chegam e te mandam sair, por que aquele é o ponto delas.”

Para dona Antônia, a pra-ça está abandonada. “É comum as pessoas ficarem subindo pelos monumentos, estragando os ban-cos.” A Guarda Municipal pos-suiu um posto 24h, mas, segundo a comerciante, “dependendo do guarda, ele não faz nada”. Apesar da situação, os tempos são bons. Já houve casos de assalto à mão armada às 16h; no entanto, no úl-timo ano a criminalidade na praça diminuiu.

A Brigada Militar possui um módulo em cada parque, além de um toldo na praça. Os policiais que ficam no módulo do Parque dos Macaqui-nhos são responsáveis por toda a área central da cidade, e abrangem, tam-bém, os bairros Rio Branco, São Pe-legrino, Nossa Senhora de Lourdes e Exposição. Já o módulo localizado no Parque Cinquentenário responde por toda a parte norte e oeste de Ca-xias. Em qualquer um dos módulos há sempre um PM 24 horas por dia.

Nos finais de semana, quan-do os parques ficam lotados, a Bri-gada Montada auxilia, com rondas pelo Parque dos Macaquinhos. Na praça, ponto de referência da cidade, há sempre um PM que circula pelo local e assegura a tranquilidade do ambiente, além de auxiliar as pesso-as que precisam de algum tipo de in-formação. Além do policial, há duas câmeras ligadas direto à Brigada Mi-litar, pelas quais é possível monitorar todo o movimento na praça.

O capitão Alencastro e o ma-jor Ribas afirmam que os parques, apesar da má fama que os ronda, são seguros. Segundo o capitão Alen-castro, “no último ano, não houve registros de assalto no Parque dos Macaquinhos. Somente flagrantes de usuários de drogas”.

Os PMs são orientados a, pelo menos meia hora antes de encer-rar seu turno, fazer uma ronda pelo Parque dos Macaquinhos, abordan-

do as pessoas que estão no local. A droga mais usada ainda é a maconha, embora o número de usuários do cra-ck aumente a cada dia.

Mas, ressaltam os policiais, dificilmente alguém será atacado por algum deles. “Eles vão lá fumar e fi-car tranquilos. O que incomoda é o cheiro. As pessoas vão ao parque ca-minhar, sentem o cheiro da maconha e não se sentem seguras”, ressalta o capitão Alencastro.

O major Ribas destaca que os módulos da Brigada não estão dispo-níveis somente para a vigilância dos parques. Tanto no módulo do Parque dos Macaquinhos quanto no do Cin-quentenário, é possível fazer regis-tros de ocorrência de assaltos.

Já a Guarda Municipal é um

órgão da Prefeitura responsável por proteger o patrimônio municipal. No momento, a Guarda Municipal ca-xiense conta com 165 servidores, que se revezam em quatro turnos. Segun-do o diretor geral da Secretaria Mu-nicipal da Segurança Pública e Prote-ção Social, José Francisco Barden da Rosa, há um guarda, 24h, na guarita da Praça Dante Alighieri. No Parque Cinquentenário, as rondas ocorrem durante o dia, das 6h às 20h. E no Parque dos Macaquinhos, durante as 24 horas, é possível ver guardas mu-nicipais em rondas motorizadas.

Segundo Barden “a função da Guarda não é proteger as pesso-as”, somente o patrimônio público. Para isso, diz, existem órgãos res-ponsáveis, como a Brigada Militar.

Orientação da BM é para rondas

Paulo Luiz Zugno, 76 anos, é professor aposentado. Mora perto da praça, e gosta de alimentar as pombas que estão sempre por lá. “Sempre dou uns três ou quatro pãezinhos, e depois a so-bremesa.” A sobremesa são dois sacos de milho pipoca. E o revoar das pombas atrás dos grãos é encantador. Pessoas param e tiram fotos. “Eu gosto de ver as crianças brincando com elas”, conta. Ele vai quase todo dia e diz ter até um pomba que é sua amiga.

Zugno cresceu nos arredores da praça. “Lembro da praça quando ela ainda tinha cascalho.” O lugar era o preferido para os jovens namorar. “Mas tudo muito supervisionado. Não como hoje, que saem e os pais nem sabem aonde estão”, compara.

Para ele, “depois que abriram a avenida, ela ficou mais barulhenta. Mas ainda é um bom lugar para passar o tempo”. Ao mesmo tempo, com a reforma, a praça ficou mais limpa, e menos perigosa. “Tinha muito matagal, e os maconheiros e prostitutas ficavam por aí.”

Parque dos Macaquinhos tem intenso movimento nos dias ensolarados

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Fotos Marjory Vargas

CIDADE

Praça Dante Alighieri é ponto de encontro e referência de localização em Caxias, embora alguns frequentadores reclamem

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4 CIDADE

Caxias do Sul não é mais uma cidade pequena, a maioria da sua população não tem mais ori-gem Italiana, a agricultura não é mais a base da economia. Os tem-pos são outros e os costumes tam-bém mudaram através dos anos. Das décadas passadas resta mui-to pouco: algumas construções, igrejas, escolas e, claro, algumas lojas.

O comércio sempre mo-vimentou a cidade, principalmen-te na área central do município. Lojas que hoje mudaram de do-nos estão nas mão daqueles que eram crianças na época de sua fundação. Mais que uma herança, o ritual do trabalho é passado de geração para geração, como se definisse a personalidade de cada família.

CASA DA ELITE CAXIENSE

A Óptica Martinato foi fundada em 12 de agosto de 1912, na cidade de Rio Grande, por Guerino Martinato. Com a mudança da família – a esposa, Margherita Giacomini, e quatro filhos – para Caxias do Sul no ano de 1934, a loja “veio” na ba-gagem. Na empresa, que então se chamava Eberle, Martinato & Cia, comercializava-se diver-sos artigos, desde joias, relógios e bijuterias até cristais alemães, perfumes franceses e bandejas de prata boliviana. Assim, a empresa passou a ser considerada a casa da elite caxiense.

Ao longo do tempo, a loja sempre preservou essa caracte-rística de comercializar itens de

Relógio da Casa das Arnas, complementando o estilo rústico da decoração da empresa e informando, sempre, a hora certa.

Fotos Marco Matos

David Andreazza, pronto para atender clientes, na venda de ferragens e de artigos do bazar

Carlos Martinato, em frente ao balção principal da loja

MARCO [email protected]

De pai para filho, a tradição permaneceHerdeiros se orgulham por honrar as tradições e o trabalho semeado pela família, ao longo dos anos, em suas lojas

Bom atendimento e umalinha variada de produtos

Uma das lojas mais antigas da cidade é a fer-ragem Luiz Andreazza, fundada em 1919 pelo pró-prio Luiz. O local é ponto de referência de qualquer outro estabelecimento que fica em sua volta. Com mais de 90 anos e com um número incontável de itens para venda, a ferragem se destaca pela versati-lidade e o jeito caseiro de atender.

Logo após sua criação, na loja vendia-se inclusive alfafa, milho e cereais. Na época, David Andreazza era criança mas, desde os anos 80, ad-ministra a empresa. David, hoje com 84 anos, sem-pre trabalhou com o pai e aprendeu o ofício ainda jovem, com 18. “Naquela época tínhamos muitos clientes do interior, hoje existem casas especializa-das para isso “, conta.

A transformação do antigo local onde se

vendiam os tecidos a metro em um local onde está o bazar, com artigos de decoração e utensílios domés-ticos , foi provocada para adequar a loja às novas necessidades. “A venda de tecidos tinha caído mui-to, então colocamos o bazar”, diz. As mudanças são necessárias para a empresa se manter no mercado. “Hoje, por exemplo, não há como trabalhar sem o computador, coisa que antes nem precisávamos”, completa.

As mudanças influenciaram diretamente o desenvolvimento do comércio na cidade, mas a tra-dição em trabalhar no que foi construído pela sua própria família é um estímulo a mais para seguir em frente, sem desistir. “Nós mantemos a tradição, pois tratamos o negócio como se fosse a nossa família”, diz o lojista.

qualidade. Em 1939, Guerino Martinato adquiriu a parte de seus sócios e passou a ser o único dono do estabelecimento. A fa-mília sempre ajudou no negócio e, com o passar do tempo, o filho Carlos Antonio Martinato de-monstrou grande interesse pelos negócios do pai.

O menino, que cursou matemática na Universidade de Caxias do Sul e fez curso de con-tabilidade, sempre trabalhou na empresa. No início dos anos 80, com a saída dos irmãos da loja, Carlos passou a administrar o ne-gócio e contou com o apoio de sua mulher e de seus filhos. “A minha família sempre me ajudou muito, estando do meu lado em todos os momentos”, conta.

Com o desenvolvimento do ramo ótico a Casa Martinato se transformou em Óptica Marti-nato, e passou a oferecer cada vez mais produtos ligados ao ramo. Carlos, que tem uma fotografia de seu pai – feita pelo fotógrafo Ulysses Geremias – pendurada atrás da mesa de trabalho, consi-dera o fato da empresa ser fami-liar como um dos grandes moti-vos para ela perdurar todos esses anos. “A maneira de trabalhar de forma correta, assim como apren-di com meu pai, é o que orienta a firma até hoje”, diz.

Perto do aniversário de 100 anos da empresa, Carlos pretende, com o tempo, passar a administração para sua filha, Vera Martinato, mas não preten-de abandonar o trabalho. “Quero ficar na loja até a hora de morrer”, planeja.

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5 CIDADE

A Casa das Armas foi fundada no ano de 1947 por Orildo Stédile e Nercy Sambaquy. Funcionário da ex-tinta Ferragens Triches, Sambaquy per-cebeu o potencial do ramo e resolveu arriscar e montar um negócio próprio. Algum tempo depois, em 1952, Stédi-le retirou-se da empresa e sua parte foi vendida para Silviro Cassina, cunhado de Sambaquy.

Em 1967, Sambaquy faleceu e, então, Cassina continuou adminis-trando o negócio. Nos primeiros anos de empresa, o ramo da caça e da pesca eram muito fortes na cidade, fato que ajudou a alavancar os negócios com as vendas de espingardas e munições. Cassina teve cinco filhos, mas apenas três deles seguiram com o comércio do pai. São eles: Flávio, Rui e Raul Cassina, que ainda trabalham na loja.

O ramo da caça se expandiu muito desde a origem da empresa. “A tradição italiana ajudou a desenvolver

a atividade de caça, e se tornou co-mum os pais levarem os filhos para as caçadas, tornando-a um esporte fami-liar”, conta Rui. Caxias chegou a ter mais de 7 mil caçadores ativos na dé-cada de 1960.

Com as novas legislações e barreiras impostas à prática esportiva da caça, o ramo passou por uma trans-formação. Enquanto antes vendiam muitas espingarda, passaram a vender armas de defesa, como revólveres e pistolas, já que a cidade começou a crescer rapidamente, o que provocou o aumento dos índices de criminali-dade.

Conservar as tradições sempre foi um dos principais valores da empre-sa, até a decoração da loja é em estilo rústico e cheia de objetos antigos. No meio das cabeças de javalis empalha-das e das carcaças de alguns animais, é possível “viajar no tempo” com os relógios, rádios e pôsteres de época.

Adote um amigo estranho e leve a encrenca de “brinde”

Mais de 60 anos incentivando o esporte de caça e tiro na região

Os irmãos Raul (E), e Rui (D), dando continuidade aos negócios da família.

Amigo estranho. Todos tem um. Todos mesmo. Você pode ser cético e afirmar com toda convicção que não possui, mas na verdade não há como escapar desta estatística. Mas como podemos identificar um exemplar dessa espécie? Muito fácil. Vamos usar situações cotidianas para ilustrar melhor o que é um amigo estranho.

Amigo estranho é aquela pessoa que fala muito, mui-to mesmo, e , além disso, fala mais alto que todos do seu grupo, que faz as outras pessoas alheias a sua turma te per-guntarem:

Ei cara, o que tem o seu amigo? Tipo, além de falar alto, fala pra caramba...

Calma, é só o jeito dele mesmo...Mas ele está perturbando a paz do ambiente...Eu sei meu senhor, mas é melhor não contrariar...sabe

como é né...Entre algumas desculpas, você acaba sendo amigo

deste tipo de amigo estranho por muito tempo, praticamen-te toda a vida. Afinal, um amigo estranho vale mais que mil palavras.

Mas o que dizer daquele amigo que chega no final do jogo na sua casa, assiste ao narrador na televisão indignado com o que acabou de ver e pergunta:

O Brasil perdeu?Não não calma, eles só erraram os quatro pênaltis que

bateram, mas foi culpa do campo...Eu não acredito que o Brasil perdeu...Calma, é só um jogo de futebol, vai melhorar, tem tem-

po ainda pra Copa do Mundo em 2014...Copa do Mundo de 2014??O pior nessas horas é quando o amigo estranho come-

ça a chorar, e alguém tem que consolar a criança de 35 anos que está ali, naquela situação. É , mais uma coisa em que a culpa pode ser atribuída ao campo. E ao atraso das obras...

E aquele amigo que usa os óculos do pai, achando que é surfista? Aqueles mesmos óculos que Raul Seixas mencio-nava em uma das suas canções mais conhecidas. Isso, aque-la mesma que tem uma frase que diz mais ou menos assim: “quem não tem colírio, usa óculos escuros”. E ninguém vai falar pra ele cair na real, que estamos a quase mil metros do nivel do mar. Não podemos fazer isso. Afinal, ele é estranho, mas é nosso amigo. E não tem colírio.

Tem aquele amigo que não bebe nada, e consegue se divertir nas festas mais que o resto do grupo inteiro, que acabou com o estoque do bar. E tem uma outra versão deste amigo festeiro, aquele que você convida pra balada, e ele vem com a desculpa clássica que não vai sair porque está sem dinheiro. Tudo bem, você entende, ou tenta, pois você sabe que ele acabou de ser promovido. Bom, ele deve ter os seus motivos para estar mentindo.

Como é um amigo querido você simplesmente aceita estas desculpas. Você então vai para balada e ao chegar, para sua surpresa, lá está esse mesmo amigo pagando bebidas pra todo mundo. Ao te ver, não pestaneja e lhe paga muitas be-bidas, como se não se lembrasse que havia acabado de lhe mentir algumas horas atrás. Bom, bebida paga por amigo a gente nunca pode negar. Mas que isso é bem estranho, isso sim. Pelo menos ele mesmo tenta te ajudar a esquecer a si-tuação.

Amigo estranho é aquele que fala que vai xingar muito no twitter. Este fenômeno pode ser raro, mas aconte-ce com alguma frequência, por mais redundante que pos-sa parecer. E a situação pode ficar #tensa quando você perceber que ele xingou, xingou muito mesmo, e o alvo dos xingamentos era você. Muito estranho, principalmente por que você o segue, claro, obviamente, por que ele é seu amigo. Você até fica com vontade de dar um unfollow de vez em quando, mas seria muita falta de sacanagem de sua parte. E não poderia acompanhar quando ele voltasse a te xingar.

E a pior parte é quando você olha para todos os lados e todos os seus amigos parecem ser da espécie amigo estra-nho. E não há nada que se possa fazer. Existe uma explica-ção para isso: neste momento o amigo estranho só pode ser você! (Geremias Orlandi)

“Acredito que a tradição é o que nos faz prosseguir na empresa que pertencia a nosso pai”, diz Rui.

Ao lembrar do tempo de crian-ça, Rui conta que algumas ruas do centro da cidade não eram calçadas e muitos clientes iam fazer suas compras a cavalo, e que na loja havia um local para amarrar os animais e tirar o barro das botas.

O segmento cresceu muito, prin-cipalmente o de camping, entretanto a concorrência também; os supermerca-dos, por exemplo, passaram a comer-cializar grande parte dos produtos de aventura. Mas mesmo com as dificul-dades de manter um negócio por tantos anos, a vontade de seguir com os ne-gócios da família é maior. “Não é ape-nas uma herança, isso aqui faz parte da nossa família, é a nossa personalidade”, define Rui.

Agora resta esperar a terceira geração; logo, será a vez dos netos.

Se há lojas são antigas que conservam as tradições, também encontra-se funcioná-rios que praticamente cresce-ram junto com as empresas. É o caso de Leandro Baldissarini, 45 anos, que, aos 19, após sair do quartel, foi trabalhar na Casa das Armas, onde teve sua primeira oportunidade de emprego. Até aí nada de diferente, exceto o fato do Baldissarini ainda trabalhar na loja 25 anos depois.

Baldissarini, que, influen-ciado pelo pai, sempre gostou de caçar, pescar e, principalmen-te acampar, se identificou com o estabelecimento e ali ficou, perto de tudo que mais gosta.

“Lembro da época que a caça era permitida, as exigências para a aquisição de armas eram me-nores, o que impulsionava o ne-gócio”, conta.

Os 25 anos de dedicação à mesma empresa lhe renderam muito mais do que o emprego ou o salário; a maior conquis-ta é a amizade de clientes e de seus chefes. “Gosto daqui, acho até que virou rotina, criei muitos amigos e estou perto de pessoas de quem eu gosto”, diz. Mesmo após todo esse tempo, Baldis-sarini nem pensa em mudar de emprego, e completa: “Preten-do continuar aqui, pois gosto do que faço.”

“Bodas de Prata” no mesmo emprego

Baldissarini na venda de armas há 25 anos

Tanques em miniatura na vitrine.

Decoração com animais empalhados

Fotos Marco Matos

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6 CIDADE

Caxias do Sul conta com quatro associações de super-mercados: Multi Mercados, Rede Fort, Super Bom e Smart Supermercados. Para o representante da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) no município, Ildemar José Bres-san, a união de mercados menores gera um fortalecimento para a concorrência contra os grandes mercados. “A Agas vê com bons olhos essas uniões, pois fortalece o mercado, e os menores conseguem agir com maior ‘agressividade’ na busca por preços e campanhas de marketing”, diz Bressan. O repre-sentante explica, ainda, que o ranking estadual contabiliza a lucratividade somente por CNPJ, o que resulta na não divul-gação das associações, por conta de cada mercado ter seu pró-prio registro. As redes mercadistas encontram-se no ranking das centrais de negócios da Agas, que divulga somente as 18 principais redes do estado.

As redes de associação possibilitam aos mercados menores contar com preços competitivos, produtos de mar-ca própria, otimização no processo de compras e campanhas promocionais. Conforme a Agas, o Rio Grande do Sul tem 18 redes de supermercados. Uma das associações, sem fins lu-crativos, a Multi Mercados, ficou em 8 lugar em lucratividade no ranking estadual das centrais de negócios de 2009/2010.

Fundada em 2002, a Multi promove a união de mer-

Associação resulta em boas vendasO crescimento de hiper-mercados em Caxias fez mercados menores unirem forças para sobreviverem

NESTOR JÚNIOR [email protected]

cados e proporciona competitividade, expansão e aprimora-mento das atividades. Como o próprio nome diz, a rede tem o intuito de causar impacto e demonstrar sua grandeza. Atu-almente, figura entre as principais redes do Estado, contan-do com 21 lojas, distribuídas em Caxias, Bento Gonçalves, Farroupilha, Flores da Cunha e Canela, e proporciona cerca de 350 empregos diretos. Segundo a Associação Brasileira de Super-Mercados (Abras) e a revista Super Hiper, em 2010 a rede Multi Mercados ocupou a 33ª posição no ranking do país, com faturamento superior a R$ 98 milhões.

A soma de experiências, campanhas promocionais, aperfeiçoamento profissional, mídias cooperativadas, folhe-teria padrão, aumento das vendas e otimização no processo de compras, além de estar presente junto aos principais for-necedores do país, são alguns dos benefícios para o associado da rede.

Conforme o presidente da associação, Gelson Zappa-roli, a Multi proporciona poder de mídia e preços que, so-zinhos, os empresários não conseguiriam. “Nos unimos pois sentimos a necessidade de fazer algo. Os grandes (mercados) estavam dominando o mercado.” Zapparoli explica que a as-sociação compra de 30% a 40% dos produtos da rede, dispo-nibilizando os itens em seu site. “Os super-mercadistas asso-ciados fazem seus pedidos conforme a necessidade. O valor é igual para todos independente da necessidade e quantidade. O pagamento dos pedidos é realizado pelo CNPJ de cada mer-

cado.” O restante da aquisição das mercadorias fica a cargo do proprietário de cada loja.

A rede divulga um único panfleto de ofertas nas mí-dias e impresso, que circula nos primeiros 15 dias do mês e vale para todos os Multi Mercados. No restante do mês cada associado faz a promoção conforme achar melhor, podendo até fazer novos panfletos, mas por conta própria. Só não pode fazer concorrência com outros mercados da associação.

Ao longo dos nove anos de atividade, a Multi procu-rou estabelecer um novo conceito sobre associativismo, ao estabelecer em seu plano estratégico sua missão: comerciali-zar produtos e serviços satisfazendo plenamente seus clientes, funcionários, fornecedores e a comunidade. Com a linha de projeto bem definida, a rede colhe os frutos do trabalho rea-lizado. A presidência da associação é escolhida por votação e disponibilidade de tempo, mas no futuro a ideia é que todos os associados passem pelo cargo para obter um maior envol-vimento e comprometimento de todos.

O associado participa de reuniões técnicas e comerciais em que são tratadas as atividades principais da associação. Segundo Zapparoli, “em 2011 o Multi Mercados está se repo-sicionando, através do Planejamento Estratégico 2011/2013, que vislumbra um maior crescimento para os associados, bem como a abertura de novas lojas”. Em abril de 2012, a rede Multi Mercados completa 10 anos, e ações de marketing estão sendo planejadas e desenvolvidas para marcar a data.

Para fazer parte da rede Multi Mercados é necessário preencher alguns re-quisitos. O interessado passa por entrevista e consultas de créditos (SPC e Serasa). O estabelecimento deve estar em atuação há, no mínimo, cinco anos e dispor de CNPJ. Além disso, o super-mercado deve respeitar as distâncias entre associados da rede (2 Km no Centro e 5 Km em bairros).

Após esta etapa, é realizado o pagamento de uma taxa de adesão. Todas as tratativas são feitas da mesma maneira quando da aquisição de uma franquia. Depois de aprovado, o associado adquire o direito de usar o nome e o logotipo da associação, começa a pagar mensalidades referentes às campanhas de divulgação e passa a cumprir com as normas do estatuto da associação. Torna-se, ao mesmo tempo, responsável pelo bom desempenho e pela organização da associação, con-forme o presidente Gelson Zapparoli.

Para quem faz parte do quadro de associados e pretende abrir uma nova loja na rede, a associação não auxilia na aquisição desta, mas possibilita o não pagamento das mensalidades por um determinado tempo, que é acordado entre os integrantes de sua comissão.

Para se associarBom atendimento e satisfação dos clientes e funcionários está inserido na missão da Multi Mercados

Marca própria de produtos influênciam diretamente na busca de preço e nas promoções diárias

Fotos Nestor Júniro Copeli

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7 CIDADE

Vila Oliva, localidade do in-terior de Caxias do Sul, terá em bre-ve sua rotina mudada para sempre. Essa é a certeza depois que foi anun-ciado que o novo aeroporto regional ali será construído. E não apenas este distrito, mas praticamente toda a região da Serra gaúcha sentirá um impacto positivo. Mas isso vai de-morar um pouco. Ainda há muito o que ser feito antes de o novo aero-porto começar a ser efetivamente construído.

Distante cerca de 45 Km do centro de Caxias, para se chegar em Vila Oliva existem vários caminhos pelo interior da cidade, mas o mais aconselhado é passando pelo distrito de Fazenda Souza. Por este caminho, existe uma estrada que está em fase de asfaltamento, devendo estar pron-ta até março de 2012. Antes de che-garmos no centro do distrito, passa-se por uma enorme propriedade rural onde existe um pomar de maçãs, onde será o futuro aeroporto.

Por essa localização, perce-be-se que este futuro aeroporto po-derá movimentar de maneira nunca vista o interior o município. Con-forme o destino dos passageiros que desembarcarem no futuro aeroporto, eles terão, a princípio, duas rotas: ou

passarão por Fazenda Souza, em di-reção a Rota do Sol; ou passarão por Vila Oliva, por uma estrada que, 25 Km depois, os conduzirá à cidade tu-rística de Gramado.

Este é apenas um dos diver-sos exemplos que mostram o grau de importância que a instalação do aeroporto representará. O prefei-to de Gramado, Nestor Tissot, já

reinvidica obras na estrada que une Vila Oliva a Gramado. “Depen-demos muito do futuro aeroporto, pois recebemos cerca de 1 milhão de turistas por ano vindos do ae-roporto Salgado Filho”, comenta Tissot. Este número deverá aumen-tar com a conclusão do aeroporto e o consequente asfaltamento desta rota turística.

MUDANÇAS A CAMINHO

Em Vila Oliva, cuja princi-pal atividade econômica é a fruti-cultura, a rotina também deve mu-dar. Em vários sentidos: poderão surgir ali pousadas, lancherias, uma infinidade de negócios. “Vai trazer desenvolvimento, e vai tumultuar um pouco nossa rotina”, diz, em

tom descontraído, o sub-prefeito Nelson Marcarini, que mora no dis-trito desde que nasceu, em 1947.

O empresário Rogério Da-neluz, 46 anos, também nasceu no distrito, saiu para estudar, mas re-tornou anos depois para montar o restaurante Vilaggio Point Lanches. Sobre o futuro aeroporto, Dane-luz comenta: “Uma alternativa de desenvolvimento, vai aproximar o interior da cidade, não seremos mais vistos como final de linha.” O empresário ainda menciona que a intenção é manter o restaurante, onde serve uma média de 20 a 30 refeições diárias, e ampliá-lo. “Eu normalmente sei bem certo a quan-tidade de pessoas que almoçam, mas com o aeroporto a clientela irá aumentar bastante”, visualiza Dane-luz.

Segundo Milton Corlatti, presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CICS), de Ca-xias do Sul, em uma reunião reali-zada ainda em julho, a intenção é a reinvidicação por um aeroporto com capacidade para voos internacionais. “Hoje, mais da metade das pessoas da nossa região que precisam viajar de avião embarcam em Porto Ale-gre”, aponta Corlatti. Aparentemen-te, este novo aeroporto poderá ser uma alternativa para o Aeroporto Internacional de Porto Alegre, o Sal-gado Filho.

Daneluz já visualiza novas oportunidades para o pequeno negócio. Atualmente ele serve de 20 a 30 refeições diariamente

Ao analisar o projeto do ae-roporto, que custará cerca de R$ 200 milhões, o governo prefere ser mais cauteloso e adotar, a princípio, um modelo similar ao já existente no aeroporto Hugo Cantegiani, em Caxias do Sul, apenas com voos nacionais. Segundo dados da dire-toria do aeroporto de Caxias, para 2011 existe a projeção de que 194 mil passageiros embarcarão a partir do solo caxiense. Número que po-deria subir facilmente para mais de 200 mil se houvesse alternativas de voos, ou seja, mais linhas.

Conforme Roberto Barbosa de Carvalho Netto, diretor do De-partamento Aeroportuário do Estado (DAP), o novo aeroporto deverá ter capacidade para, inicialmente, 400 mil passageiros por ano. Mas a obra vai demorar para começar. “Dentro de um ano e meio teremos o projeto executivo, com todas as definições necessárias para o início das obras”, declarou Carvalho Netto.

Questionado sobre que me-lhorias no sistema viário seriam ne-cessárias para quando o aeroporto efetivamente começar a funcionar,

o secretário municipal do Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMT-TM), Jorge Dutra foi franco. “Já existem diretrizes para a construção de estruturas viárias para atender a essa área. A Rota do Sol pode ser aproveitada, mas obviamente deve-rá haver uma melhoria”, aponta Du-tra. De fato, a melhoria já começa a acontecer com o asfaltamento da estrada até Vila Oliva.

Mas a grande aposta, mes-mo, é uma complementação no anel viário do municipio, denominada

Contorno Sul-Leste. Com 27 km, serviria como uma variante da BR 116. Entretanto, o custo da obra é elevado, cerca de R$ 850 milhões, e não existe orçamento previsto. A solução seria incluir o projeto, já co-nhecido pela comunidade, no plano viário nacional, o que possibilitaria buscar recursos federais para a exe-cução da obra. “Com a chegada do aeroporto, essa estrada será de fun-damental importância, as duas obras tem que tomar forma juntas”, argu-menta Dutra.

O deputado federal Assis Mello (PC do B), em nota de sua assessoria de imprensa, assume o compromisso na busca de recursos para a viabilização das diferentes etapas do projeto e construção do novo aeroporto. “Esta conquista histórica para a Serra Gaúcha exige uma responsabilidade individual e coletiva de todos que lutam em defe-sa do desenvolvimento, da geração de emprego e renda e pela conquista de melhores dias para os moradores de nossa próspera região.”

Entre todos os envol-vidos na mobilização pela busca de recursos para o novo aeroporto, com diver-sas autoridades públicas e lideranças da iniciativa pri-vada da Serra gaúcha, uma participação importante é a do prefeito de Farroupilha, Ademir Baretta.

Depois de uma lon-ga disputa política para que o aeroporto fosse para a re-gião de Monte Bérico, com o anúncio oficial de Vila Oli-va ele, literalmente, “baixou as armas” e declarou apoio incondicional ao empreendi-mento. “Sempre lutamos pela instalação do aeroporto na re-gião de Farroupilha. A partir do momento que foi definida a área de Caxias do Sul, de-cidimos dar nosso apoio total ao empreendimento”, decre-tou Baretta.

Esta declaração é importantíssima para simbo-lizar uma união da Serra gaú-cha em torno de um objetivo que beneficiará a todos.

Fim da briga Estrutura exigirá recursos milionários

Aeroporto movimentará Serra gaúchaInterior de Caxias do Sul já se movimenta por conta do novo aeroporto. Obras devem começar em 2012

GEREMIAS [email protected]

Sub-prefeito Nelson Marcarini mostra o terreno do aeroporto O asfaltamento da estrada deve ser concluído até 2012

Fotos Geremias Orlandi

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SAÚDE

Em Caxias do Sul, 63 pessoas lota-ram o auditório da Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM), em um sábado pela manhã do mês de julho. Ocorria, na ocasião, mais uma edição da palestra “Superando o medo de dirigir”, promovida pela Escola Pública de Trânsito da cidade, como parte do Programa de Hu-manização no Trânsito.

Todos eram bem-vindos; entretanto, apenas três homens destacavam-se entre as 60 mulheres. Tudo teve início com a fala do gerente de educação para o trânsito e fiscal de trânsito Joel Portela, que condu-ziu a primeira hora de palestra com infor-mações sobre trânsito e atitudes seguras para os participantes do evento.

“É natural sentir medo diante do desconhecido. Enquanto o motorista tem medo, ele está seguro. A auto-confiança em excesso traz a falta de limites. Vocês não vão sair daqui com o medo superado, mas este é um pequeno passo, e gradati-vamente vocês irão conseguir”, explicou o palestrante.

O MEDO TOMA CONTA

A segunda parte da palestra foi mi-nistrada pela psicóloga Paula Bisol, que enfatizou aos participantes a diferença en-tre medo e fobia, e incentivou a busca pela cura. “Quando tenho medo de algo, evito, mas sou capaz de fazer. A fobia é algo mais intenso, uma patologia que deve ser tratada com medicamento e terapia”, esclareceu.

A fobia é o caso de Ida Marini, 56 anos. Ela cursava as aulas teóricas no Centro de Formação de Condutores (CFC) mas, quando viu que as práticas se apro-ximavam, desistiu. “Tenho verdadeiro

De acordo com a psicóloga Paula Bi-sol, as vítimas desse medo são pessoas que têm um mesmo perfil. Todas responsáveis, organizadas, com ansiedade generalizada, e que não admitem erros em qualquer setor de suas vidas. Normalmente, sofrem precon-ceito e por medo de críticas abandonam o volante.

O trabalho em terapia faz com que a pessoa se permita a errar. “Será que todos acertam sempre? Todos humanos erram e isso não significa que sejam incapacitados. Devemos aprender com nossos erros, e ter persistência. Nos momentos de enfrenta-mento a pessoa costuma fugir, é preciso re-sistência para se superar”, alertou.

A palestra “Superando o Medo de Dirigir” acontece a cada 60 dias, sempre às 9h, no prédio da SMTTM, na Rua Moreira César, 1666.

As próximas datas já estão definidas: 10 de setembro e 12 de novembro. As vagas são limitadas, e as inscrições são feitas pelo telefone (54) 3290.3955. Informações pelo e-mail: [email protected]

Tratamento para fobia

pânico, tenho pesadelos, penso que estou dirigindo, tento frear e o carro nunca para. Acordo suada, com dor na panturrilha. Es-pero encontrar alguma orientação nesta pa-lestra”, contou.

A participante Neiva Ceconi, 55, também não dirige. Ela cursa auto-escola, porém, já mudou de CFC três vezes, pois nunca está suficientemente segura para fazer a prova. “Meu caso é um trauma de infância, sofri um acidente quando era nova, e sinto um pavor terrível já ao ligar o motor carro. Simplesmente não consigo ir adiante, tudo treme e o coração fica acele-rado”, lamentou.

A psicóloga Paula Bisol aconselha, em casos mais extremos, terapia cognitiva-comportamental. Na primeira fase do tratamento o profissional detecta a origem do medo. Após, é feito um trabalho de relaxamento muscular profundo. Neste momento, o paciente libera suas tensões e aprende exercícios de respiração. É recomendada a prática de exercícios físicos, o que faz liberar, naturalmente, endorfinas. O tratamento não fica somente na teoria, os pacientes dirigem com acompanhamento de um instrutor de trânsito e discutem cada aula com o psicólogo. Depois, vem a fase da “meia inde-pendência”, quando o aluno vai às ruas e é seguido pelo instrutor. No fim do tratamento o paciente já dirige sozinho, repete sempre o mesmo trajeto até superar seus medos.

Persistência pela superação

Para encarar o trânsito com segurança

De acordo com a última pesquisa do Ministério da Saúde (MS) sobre o consumo de bebidas alcoólicas, as mulheres bebem cada vez mais. Em 2006, o índi-ce de mulheres que consumiam bebidas alcoólicas regularmente era de 8,2%, na pesquisa divul-gada em abril deste ano, o índice aumentou 2,4%, passando para 10,6% da população feminina, o que corresponde a mais de 10 mi-lhões de mulheres que consomem bebidas alcoólicas regularmente.

Em Caxias do Sul, a situ-ação se revela verdadeira. Nas baladas, fica claro que as mulhe-res bebem cada vez mais. André Souza, 31 anos, trabalha como barman em uma casa noturna da cidade e revela que, constan-temente, vê mulheres bêbadas durante as festas. “Elas estão be-bendo igual aos homens, ou até mais. Depois da 1 hora da manhã a maioria delas já está mais pra lá do que pra cá”, conta.

Márcio*, proprietário de uma boate tradicional de Caxias do Sul, conta que as mulheres têm se tornado suas melhores clientes nos últimos anos. “Ultimamente elas têm consumido mais, mesmo

com os limitantes, como o preço alto das bebidas nas festas”, diz o comerciante.

“Muitas das gurias que bebem demais saem dirigindo daqui”, revela. O fato preocupa, pois, o álcool, associado à dire-ção, pode ocasionar diversos aci-dentes de trânsito. “O que aconte-ce muito é que algumas mulheres já chegam bêbadas na festa, pois o costume de fazer o ‘aquece’ an-tes da balada é tradicional aqui na

cidade”, conclui. Em contrapartida, elas de-

fendem o direito de consumir ál-cool. Caroline Schiavo, 24, estu-dante universitária, é uma mulher que gosta de sair à noite e beber uma cervejinha com os amigos. “Gosto da sensação da bebida. Se eles podem beber, porque as mu-lheres não podem?”, questiona. E continua: “Não podem julgar as mulheres por beberem, mas sim pelo seu comportamento. Tam-bém não aprovo as que bebem até cair, mas o consumo de forma social não pode ser condenado.”

A nutricionista Luiza* é uma notívaga de carteirinha, ado-ra sair com os amigos e está sem-pre nas baladas da região, e, para ela, a bebida alcoólica é um item obrigatório das festas. “A bebida é uma necessidade. Não adian-ta sair à noite pra ficar bebendo água”, diz.

Mas Luiza sempre se pre-vine quanto ao modo como vol-tará para casa depois da festa. “Sempre volto de táxi, ou pego carona com algum amigo que está sóbrio”, conta. E afirma: “A sociedade já recrimina o cigarro, só falta agora querer intervir no que cada um bebe.”

*As fontes preferiram não se identi-ficar.

Álcool associado à direção é um problema que atinge homens e mulheres; hoje, mulheres já chegam bêbadas nas baladas

Elas “enchem a cara” nas baladasPesquisa revela que mais de 10 milhões de mulheres consomem bebidas alcoólicas regularmente

MARCO [email protected]

CLARISSA DE [email protected]

Fotos Guilherme Dedececk

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9 SAÚDE

Uma doença morta. Segundo especialistas da saúde, no Brasil sim. Erra-dicada. Essa é a palavra que decreta que o sarampo, tecni-camente, não se desenvolve em terras brasileiras. Mas ela ainda existe em outros paí-ses, principalmente aqueles subdesenvolvidos e que não têm campanhas de vacinação contra este tipo de doença. Mas de algum modo, a do-ença voltou ao Brasil, prova-velmente trazida por turistas. Pessoas que visitaram outros países recentemente foram detectadas com a doença.

Há notícias vindas da Europa que mostram a ocorrência de um surto no velho continente. Principalmente na França. Informações re-centes da Organização Mundial da Saúde (OMS) apon-tam que os franceses estão assustados com cerca de 5 mil casos registrados da doença. E outros 32 países também tem apresentam casos. Conforme dados da OMS, em 2008 morreram 164 mil pessoas em todo o mundo vitímas do sarampo. A grande maioria espalhada pelos continentes africano e asiático. Atualmente se tem notícias de uma epi-demia que atingiu o Congo, onde morreram cerca de 32 pessoas no mês de junho e mais de 800 estavam infectadas.

Segundo informações no portal do Ministério da Saúde do Brasil, a vacina contra o sarampo é a única me-dida preventiva, e também a mais segura. É importante que o esquema vacinal esteja completo. A primeira dose deve ser aplicada aos 12 meses de vida, e o reforço entre quatro a seis anos de idade. Todas as mulheres até 49 anos devem receber uma dose da vacina e os homens até 39 anos também devem ser vacinados, independente de seu histórico em relação à doença. Frequentemente, são reali-

zadas campanhas de vacinação no Brasil.Conforme a chefe do Núcleo de Imunizações da

Secretária de Saúde do Estado, Taine Rainieri, sete casos já foram registrados no Rio Grande do Sul neste ano de 2011. “No ano passado foram oito casos, todos importa-dos por turistas gaúchos que visitaram países que ainda têm surtos da doença”, complementa Taine. Em decorrên-cia do risco de a doença se espalhar, houve uma nova cam-panha. Em Caxias do Sul, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde foram vacinadas mais ou menos 95% das crianças com idade até seis anos, que geralmente são as que correm maiores riscos de contraírem a doença.

Também é importante lembrar dos estudantes que vão fazer intercâmbios. Para Scheila Salvati, diretora de intercâmbios da agência CI, é muito válido que a pessoa que irá fazer um intercâmbio tenha consciência da impor-tância de fazer a vacina. “Embora os países não exijam a vacina como um dos requisitos para entrar na Europa, ela é altamente recomendada, para o bem do estudante”, afirma Scheila.

Onde esse problemavai parar

Sarampo retorna e país recorreà nova campanha de vacinação Quem discorda que a palavra problema desde seu

nome indica que algo está errado? Independente do tama-nho, grau ou circunstância, problema é sinônimo de algo ruim. Devemos saber lidar com as situações, pois proble-mas todos temos. Tirar conhecimento dos momentos de problemas serve e ajuda para a vida toda, basta ter paci-ência.

Era noite de uma quarta-feira típica de inverno, chovia muito, aliás, havia chovido durante todo o dia, sem trégua, e o frio também incomodava. Eu acabara de reali-zar uma entrevista no bairro Ana Rech, zona norte de Ca-xias do Sul, para escrever uma matéria para a faculdade. Estava com os pés congelados e molhados, além da fome, por não ter feito nenhum lanche durante a tarde. Mas, tudo estava tranquilo, nenhum problema me incomodava. A chuva iria embalar meu sono durante toda a noite.

Esperei por alguns minutos o Visate, até que apon-tou lá adiante o ônibus que me faria ver, pessoalmente, uma cena nunca presenciada antes. Embarquei no ônibus, linha Ana Rech/Salgado Filho, rumo ao Centro. Eu ainda teria que pegar mais um antes de chegar em casa e tirar os calçados molhados, tomar um banho quente e comer algo.

Na parada localizada em frente à empresa Marco-polo é que tudo iria acontecer. Alguns passageiros embar-caram e um deles estava acompanhado de sua parceira. Eu estava bem acomodado no antepenúltimo banco do lado esquerdo do ônibus. Percebi uma movimentação estranha lá na frente e espichei um pouco o pescoço para ver melhor o que acontecia.

O rapaz que entrou acompanhado estava enfureci-do, tentando agredir o motorista, este no seu lugar. O mo-tivo, segundo os berros do rapaz - que demonstrava estar drogado - era que o motorista não queria dar carona para ele e sua mulher, grávida. Gritava chamando o motorista para a briga, insultando-o com adjetivos como “velho filho da p...”, “velho careca”, “seu m...”, e prometendo “que-brar” o velho “a pau” quando o encontrasse pela frente. Questionava se o “velho” nunca havia precisado de aju-da. O condutor aparentava ter uns 50 anos e manteve-se calmo. Seus cabelos brancos demonstravam o aprendizado que a vida lhe concedeu ao longo de sua história.

A agressão não chegou a acontecer porque um pas-sageiro, que não tinha nada a ver com a situação, pagou as duas tarifas. O casal passou a catraca, mas a indigna-ção do rapaz não. Seguiu falando em bater, xingava em voz alta, mandava o motorista andar e este não arrancou o carro. Cansado dos insultos, levantou-se de seu banco e falou que chamaria a polícia caso o revoltado não calasse a boca. Nesse momento, o rapaz pulou do banco e tentou partir novamente para cima do motorista; sua acompa-nhante não deixou, pedia para ele pensar em seu filho. De-pois de uns 15minutos o ônibus voltou a andar. A polícia não foi acionada e nada aconteceu para o “valente” rapaz.

Uma pessoa que trabalha de forma correta e que tem seus problemas para tratar, quase foi agredida pelo problema de outra pessoa. Uma criança que ainda não nasceu causou um enorme constrangimento dentro uma condução urbana, sem saber, por culpa de seu pai, que não tinha 5 reais para pagar o transporte. Em nenhum momento o homem ouviu ou, ao menos, deixou transpa-recer preocupação com a esposa e seu herdeiro, ainda no ventre da mãe, que ali, de certa forma, passou vergonha pela circunstância causada pela falta de razão, além de dinheiro.

Se antes de nascer, o filho é motivo de desculpa para o pai não ter verba nem pra pagar uma condução, devemos temer o futuro. Pois se, naquela noite, o escolhido para a culpa foi o motorista do ônibus e, amanhã, poderá ser um de nós, qual o exemplo, a educação que este pai vai dar para a criança? Culpar o ensino público não poderá, pois educação se aprende em de casa. Devemos saber resolver os nossos problemas e não descarregar no próximo nossas raivas. Temo que, no futuro, a pobre criança que está para nascer seja um problema de todos nós, nas ruas. (Nestor Júnior Copeli)

Relatos históricos registram pela primeira vez a exis-tência do sarampo na Europa nos séculos II e III d.C. A pri-meira grande vítima que se tem notícia foi o Império Romano; uma grande proporção da população não totalmente imune à doença acabou vitimada. O sarampo, junto com outros doen-ças como a varíola, foi um dos grandes responsáveis, segundo alguns historiadores, pela queda do império Romano.

Aparentemente, quando surgiu, muitos adultos eco-nomicamente ativos não haviam contraído a doença na in-fância, não tendo portanto, resistência natural a ela, o que explica o enorme estrago que causou nesta época. Diminuiu a população do império ao ponto de leis serem decretadas, como a da hereditariedade das profissões, postos oficiais e redução à servidão dos agricultores, antes livres, dando ori-gem ao feudalismo.

Ainda desta época, relatos históricos apontam que o sarampo também pode ter sido a causa da queda do império Han, na China. Já muitos séculos depois, a doença veio para a América, trazida da Europa com a chegada de Cristóvão Colombo. Obviamente causou muitas mortes, praticamente ajudando a dizimar as civilizações asteca e inca. Junto com doenças como a varíola e a varicela, ela matou cerca de 90% da população até então existente no recém-descoberto con-

tinente. O vírus do sarampo só foi isolado pela primeira vez em 1954, e, quase uma década depois, no ano de 1963, foi desenvolvida a vacina contra a doença.

No Brasil, até o final dos anos 70, esta virose era uma das principais causas de óbito dentre as doenças infecto-contagiosas, sobretudo em menores de cinco anos, em de-corrência de complicações, especialmente a pneumonia. Em 1992, o Brasil adotou a meta de eliminação do sarampo para o ano 2000.

Destruidora de civilizações

GEREMIAS [email protected]

Crianças de zero a seis anos receberam gotinhas contra o sarampo em campanha nacional

Cristofer Giacomet/DivulgaçãoDoença voltou a ser foco de atenção na área da saúde, mesmo em países que não apresentavam mais casos

Em países sub-desenvolvidos, como na África, doença ainda é risco

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ESPECIALHora de recomeçarEspaço para recuperação de dependentes químicos é exemplode superação e se mantém somente com doações da comunidade

NESTOR JÚNIOR [email protected]

Um lugar onde você che-ga e é recebido com um sorriso e chamado de irmão. A Casa de Apoio Celeiro de Cristo foi funda-da em 2008, no bairro Vale Verde, zona norte de Caxias do Sul, após se desmembrar da Igreja localiza-da em parte do terreno ao lado da Casa. O responsável pela organiza-ção do lugar é José Fernando Silva Andrade, que prefere ser chamado apenas de Fernando, diretor geral, também ex-dependente químico, assim como os 62 internos, hoje, que procuraram ajuda para tratar de seus vícios.

A equipe é formada pelo diretor, mais José Mario Wodzik, pastor presidente e três monito-res. Contam ainda com o apoio de obreiros (ex-pacientes que optam em permanecer na Casa prestan-do apoio aos internos). Todas as sextas-feiras recebem a visita e atendimento de uma psicóloga, fi-nanciada por uma igreja parceira do Celeiro.

A casa aceita somente ho-mens, entre 18 e 59 anos. Entre eles, está Allan Cristiano Borges de Farias, 35 anos, que mostra, com orgulho, o certificado de mo-nitor da Casa pendurado na pare-de do escritório da entidade. Ex-dependente químico, conheceu as drogas aos 22. Estas o fizeram morar nas ruas, passar fome e, in-

clusive, o levaram a roubar para sustentar o vício. Farias perdeu a esposa e o contato com a filha, hoje com sete anos. Mas a maior dor foi ver sua mãe sofrer com a sua situação. “Minha mãe chorou ao me proibir de entrar em casa porque eu roubava as coisas, me alcançava comida pela janela e, banho, só tomava quando conse-guia entrar em casa”, diz.

O medo da morte o fez buscar ajuda por conta própria há três anos. O monitor salienta que não há centros que recupe-ram 100%, mas a pessoa precisa

se ajudar e contar com ajuda. Na Casa, sua vida começou a mudar; ele reconquistou a confiança da família, recebendo um convite carinhoso da mãe para voltar a morar com ela. O convite não foi aceito, pois o trabalho no Celei-ro e o amor pela nova família o fez ficar. “Não trocaria a vivência que tenho aqui por nenhuma das profissões que já exerci, entre elas soldador e programador de torno CNC.”

Uma figura diferente, por sua alegria, é Jairo, somente Jairo,

mais conhecido como “Barbei-ro”. Ele prefere ouvir a falar. “Te-nho duas orelhas para ouvir muito e uma boca para falar a metade”, diz. Cortar o cabelo de todos os internos é motivo de mais alegria. Jairo garante que o trabalho é de primeiro mundo e brinca com o colega na cadeira e os outros ao seu redor que ninguém reclama de seus cortes, até porque é ele quem está com a navalha na mão, sol-tando uma enorme risada em alto som, acompanhada pelos colegas. “Para estar aqui no Celeiro deve ser por amor e não pela dor”, sa-lienta o “Barbeiro”.

Outro exemplo de supera-ção é o do monitor Marciano Luis de Oliveira, 34. Morador da Casa há um ano e quatro meses, além de monitor é diretor da Chácara Celeiro de Cristo. Permanece na entidade por se sentir seguro, dis-tante das drogas, e por amor ao trabalho que ali realiza. “Recebi proposta para voltar ao meu antigo trabalho, mas recusei. Prefiro ficar aqui, pois posso ajudar as pessoas que chegam debilitadas”, afirma Oliveira. O monitor destaca ainda a maravilhosa sensação de ver a evo-lução daqueles que chegaram mal saírem com suas famílias. Oliveira trata os pacientes como “almas”. “O dependente químico tem um vazio profundo dentro de si; este representa sua alma que deve ser preenchida com coisas boas, em busca da paz interior”, afirma

Espaço onde acontece as rodas de chimarrão serve para internos encontrarem os familiares

Atividades envolvem todos os internos, inclusive na manutenção dos produtos recebidos por doações da comunidade

“A vontade do ex-dependente

nunca vai deixar de existir”,diz Farias

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Para entrar em contatoPara ajudar a Casa de Apoio Celeiro de Cristo, ou buscar ajuda, os contato são: 8426.5871, com Fernando, ou 9903.0027, com pastor José [email protected]

Marciano (c) entre amigos, demonstra a alegria de sua vida hoje, como monitor da Casa

Divulgação

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A rotina é rigorosamente cumprida por todos. O despertar acontece às 7h e até às 8h todos se preparam para tomar o café matinal. Após, é realizado um culto. Às 10h todos participam da laborterapia – trabalhos diversos que ocupam a cabeça dos pacien-tes, para evitar que pensem nas drogas. No restante da manhã, os 42 moradores se reúnem para repensarem em seus erros e bus-carem soluções para repararem os danos causados no passado. Em seguida, é servido o almoço. A tarde se inicia com oração e, no-vamente, seguem-se os trabalhos de laborterapia, até a hora do lan-che da tarde, 15h30min. Os tra-balhos se encerram às 16h, com a lavagem e a organização de todo o material usado durante o dia. Com tudo limpo e arrumado, é a hora do banho e da confraterniza-ção, com uma roda de chimarrão que segue até o sinal do jantar. Depois, todos participam de um novo culto, antes do toque de si-lêncio; a noite é finalizada com um lanche.

O tempo na Casa é repleto de atividades, mas nos momentos de lazer os internos podem ler jornal. Este é o principal meio de informação externa que eles têm; além disso, só livros evangélicos. Ouvem músicas, também evan-gélicas, e quanto ao uso do apare-lho de televisão, somente para as-sistir filmes de ensinos bíblicos.

A extensão, localizada em Vila Oliva, abriga 20 internos. No local, ficam longe das tentações da cidade grande, uma segurança a mais para os primeiros dias de abstinência. O novo morador é encaminha-do para o anexo no segundo dia de interna-ção. Na Chácara, como é conhecido o local, são realizadas as mesmas atividades que na Casa. A permanência inicial é de 30 dias, mas pode ser alterada conforme o caso.

O TRATAMENTO

O paciente pode procurar ajuda na Casa por conta própria, sem custo algum para ele ou seus familiares. O primeiro pas-so é assinar um documento confirmando a livre e espontânea vontade de buscar aju-da, ou de familiares que se responsabilizem pelo interno. Após, é realizada uma avalia-ção médica na UBS do bairro, caso o pa-ciente não tenha um atestado comprovando suas condições de saúde. No lugar, ele será medicado e tratado da maneira adequada para curar suas dependências, sejam quais forem.

A internação de cada um dura nove meses, mas este período pode ser maior,

Ex-usuários obedecem rotina para recuperaçãoAinda participam de oficinas e cursos que igrejas oferecem para os internos.

Outra atividade que envol-ve toda a casa é o Grupo de Te-atro da Casa da Apoio, montado em 2010 pelos próprios internos. Este trabalho também traz reco-nhecimento para o lugar. Segun-do Fernando, o dinheiro arreca-dado pelo teatro é somente para os custos do grupo teatral. “O grupo já se apresentou em diver-sas escolas, teatros da cidade e to-dos os domingos se apresenta em diferentes igrejas evangélicas”, destaca o diretor.

O Celeiro sobrevive de doações de empresas parceiras, sem nenhuma ajuda dos governos municipal ou estadual. Durante o inverno, serve também de abrigo para muitos moradores de rua que chegam até a Casa por meio da Prefeitura de Caxias do Sul. De acordo com Fernando, a partir do mês de agosto o Banco de Ali-mentos de Caxias passa a ajudar com doação de alimentos para o local. Algumas famílias dos inter-nados que têm condições ajudam com R$ 250, cada. A Prefeitura liberou, uma vez por mês, a Casa fazer os chamados pedágios nas sinaleiras no centro da cidade para a arrecadação de fundos que servem de ajuda nos custos. O auxílio da comunidade é um im-portante impulso para o Celeiro de Cristo seguir com seu trabalho. “Barbeiro” retoma sua profissão e é referência entre colegas do Celeiro, e também é quem cuida da aparência dos amigos

Chácara Celeiro de Cristo“afasta” as tentações

conforme a melhora ou a confiança que cada paciente adquiriu em si para voltar a enfrentar o mundo fora dos muros da Casa. O Celeiro mantém um projeto com as em-presas parceiras, que ajudam a manter o local, onde fazem a recolocação do interno no mercado de trabalho. Todos que estão ali têm alguma profissão interrompida pelas drogas.

Após o período na Casa, o paciente que resolve sair tem um acompanhamento mensal, oferecido somente àqueles que se-guem morando em Caxias.

O último domingo do mês é reser-vado para a visita de familiares, que parti-cipam de um churrasco. Os internos com mais de 45 dias de internação, se autoriza-dos, podem visitar a família aos domingos. Para aqueles com mais de 75 dias, também com autorização da família e comprometi-mento da mesma em buscar e trazer de vol-ta à Casa, podem passar o final de semana com os familiares. Um quadro na parede da sala destaca os nomes autorizados para essa “regalia”: os na parte azul são os liberados às saídas, enquanto os nomes que figuram no vermelho ainda não estão preparados para tal atividade.Peças contra drogas são encenadas em escolas e igrejas da cidade e resultam em benefícios à Casa

Fotos Nestor Júnior Copeli

Divulgação

Divulgação

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Depois do telejornal,vem a telenovela

São nove horas da noite e o hábito manda ligar a tele-visão. Começa a novela, e os enredos direcionam a atenção de grande parte da população para a ‘telinha’. Virou rotina assistir aos dramas das mocinhas e dos vilões da ficção.

Não vou entrar no mérito de discutir o conteúdo das telenovelas, mas o efeito que isso causa nas pessoas comuns, que tem apenas a TV como meio de informação. O fato é que o entretenimento sempre dominou a grade televisiva e o jornalismo sempre foi um plus na programação. Basta com-parar o tempo de duração do Jornal Nacional, com o so-matório das novelas que a Globo exibe. Também não quero criticar a emissora por produzir ficção, pois também sou da geração dos que assistem as novelas, mas eu leio jornal e revista, e uso a internet para ler notícias e me atualizar dos acontecimentos do mundo.

Imagine a parte da população que não tem acesso a internet, nem tem hábito de ler, apenas assiste, passivamen-te, a televisão. Essa pessoa possivelmente não esteja acostu-mada a contestar o que o apresentador diz. Para eles tudo é aceito, sem questionar. Essa é a receita dos meios de comu-nicação de massa, principalmente da televisão.

Uma população que está extremamente acostumada a assistir ficção, que, por se tratar de algo inventado, faz com que o telespectador se acostume a não ter poder de ação, e a se sentir impotente diante dos assassinatos e das trai-ções da novela. Neste caso temos um problema: as pessoas se acostumam em receber e não emitir, e passam a fazer isso com tudo o que vêem na televisão. Até mesmo os telejornais.

A ficção da novela e a realidade do jornalismo se con-fundem e tudo vira o famoso “vi na TV”, mas não passa dis-so. Os folhetins são criados a partir da realidade, mas não a substituem. É preciso reeducar os telespectadores e parar de acreditar que todo mundo sabe e entende tudo. Na prática não é bem assim.

Recentemente o caso Palocci invadiu as telas e pas-sou a ser pauta em todos os telejornais por cerca de um mês. As pessoas viram tudo, desde as denúncias de enriquecimen-to súbito até o pedido de demissão do ministro, que poucos anos atrás já esteve envolvido em outro escândalo semelhan-te, que também lhe tirou da cena política. A população as-sistiu a tudo do sofá da sua casa, mas quando foram ques-tionadas pelos institutos de pesquisa quanto à avaliação do governo Dilma, a grande maioria respondeu que tudo estava ótimo.

É o que acontece quando depois dos desastres e fal-catruas que o jornal apresenta começa uma novela, com uma estética limpa, cheia de personagens com contradições e, principalmente, com gente e histórias de mentira, que não permitem que ninguém interceda.

As coisas não vão bem não, o governo não está tudo aquilo. Basta analisar os aumentos dos produtos básicos, como leite, pão, feijão, ou até mesmo o aumento da gasolina e do diesel. Mesmo com o “monstro” da inflação rondando o bolso do cidadão, ainda assim, está tudo certo. O diag-nóstico para a população brasileira não é otimismo, mas sim comodismo. Está tudo relativizado, poucos têm opinião própria. Enquanto no Egito usaram o Facebook e o Twitter como uma maneira de organizar a população para derrubar o governo de um ditador, aqui no Brasil Facebook é usado para postar as fotos das festas e Twitter para escrever o iti-nerário do dia: “Fui pro cinema”; “Vou almoçar”, “Tô no banho”...

Não estou pedindo que parem de ver novelas, mas que tenham discernimento suficiente para entender que nem tudo é irreal e não está ao nosso alcance. A família Sarney não é intocável como se pensa. Nenhum governo resiste à oposição do povo. Mas aqui no país do “jeitinho”, as coisas são dife-rentes. E eu não estou sendo pessimista, mas, sim, realista. Entendo perfeitamente que as pessoas que lêem jornal, como este aqui, poderão achar bonitas essas palavras e concordar, mas o público que eu gostaria de atingir com esse texto não são os leitores de jornais, mas sim o que não o julga im-portante suficientemente para dedicar-lhe alguns minutos do seu dia. Minutos esses que os tirariam da escuridão. (Marco Matos)

O jovem foi muito importante para a história do País e lutou em várias frentes para promover avanços sociais. Mas será que a juventude de hoje se inte-ressa pelo debate e pela luta política?

Segundo o vereador Rodrigo Bel-trão (PT), 32 anos, a participação desse público na política é muito pequena. Ele reconhece que alguns estão preocupados, mas preferem não se envolver. Outros têm a ideologia do consumo e não se in-teressam em discutir o contexto social no qual vivem, estão acomodados.

Beltrão foi eleito vereador em 2008, mas conta que sua trajetória nas lutas sociais começou muito antes, ao ser eleito presidente do DCE da Uni-versidade de Caxias do Sul (UCS), aos 18 anos. Ele também já trabalhou em ONGs e foi secretário municipal da Ju-ventude, em 2003.

Conforme Beltrão, a sociedade espera grande participação dos jovens, pois eles têm grande destaque em ou-tros setores, como nos clubes espor-tivos e nas igrejas; porém, quando o assunto é política, surge o desinteresse. “Lotam estádios, mas não participam de reuniões”, constata.

Já o vereador Vinícius Ribei-ro (PDT), 34, diz que a juventude não está mobilizada porque, em primeiro lugar, está preocupada com sua sobre-vivência. “O jovem trabalha o dia todo, depois vai para a universidade e chega tarde em casa. As condições não pro-porcionam que ele se dedique aos mo-vimentos sociais”, relata.

Enquanto estudante, Ribeiro

participou do DCE e do DA de Arquite-tura da UCS. Ele enfatiza também, suas participações no Cenáculo de Maria, no Movimento Escoteiro e na prática de judô, que concentram jovens para a conscientização em diversos aspectos, inclusive na política.

Nem todos os cidadãos são de-sinteressados pelos temas sociais e pela política. Assim como os vereadores, outros jovens também estão preocupa-dos com os problemas da comunidade, e decidiram lutar pelos seus objetivos por meio da política.

Um exemplo é o universitário Ra-fael Bueno, 20 anos, que atua como asses-sor parlamentar. Ele conta que se interes-sou pela liderança política desde cedo, o que o motivou, quando cursava a 5a série do Ensino Fundamental, a fundar o grê-mio estudantil na escola onde estudava.

Movido pela perspectiva de mu-dança, e sempre motivado pelos colegas, Bueno continuou sua atuação até ser con-vocado a filiar-se a um partido político,

aos 15 anos, e ampliou seu trabalho.Hoje, ele cursa História e Sociolo-

gia na UCS e é presidente do bairro Boa Vista, sendo o mais jovem nessa função na UAB de Caxias do Sul. Ele também foi coordenador de comunicação na ges-tão 2010 do DCE da UCS e, hoje, milita na União da Juventude Socialista (UJS).

Bueno concorda que a partici-pação do jovem na política é pequena. Para ele, a economia corrompe o jovem, o deixa em situação de comodismo, sem vontade de lutar e protestar por seus interesses. “O jovem está na inércia”, constata. Ele lembra que a juventude foi fundamental na história do País, em fatos como a derrubada do presidente Fernan-do Collor de Mello, nos anos 90.

O assessor também está engaja-do na reativação da União Caxiense dos Estudantes Secundaristas (UCES). Nesse projeto, também está presente o estudante do Ensino Médio, Cláudio Libardi Jr., 16.

Além desse projeto, Libardi ain-da participa do Grêmio do colégio onde estuda. Sua motivação é a vontade de evoluir, de lutar pelos interesses dos estu-dantes. “O Grêmio não era muito atuante, estamos tentando mudar essa realidade.”

Com o novo Grêmio, ele está promovendo jogos inter-séries e a cria-ção de uma biblioteca com conteúdo específico para o vestibular. Para Libar-di, o jovem perdeu a noção de luta. “O jovem espera que o outro lute por ele, está acomodado.”

Os microfones estão abertos, mas falta a participação da juventude na política local

Jovens se interessam pouco pela luta social e pelos debates Em Caxias, o assunto não chama a atenção de grande parte do público

MARCOS [email protected]

POLÍTICA

Participação deve começar cedo

Para Ribeiro, a presença do jovem no meio político é fundamental, pois ele precisa conhecer a realidade do espaço em que vive. “Ele não deve procurar a política apenas num momento de dificul-dade. Ele precisa entender o ambiente ao seu redor durante toda a formação”, diz.

Marcos Camargo

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ECONOMIAO otimismo que move o brasileiroApesar das dificuldades o povo nunca perde as esperanças e consegue superar os problemas do dia a dia

MARCOS [email protected]

Economia favorávelOs indicadores econômicos mostram uma situação favo-

rável para os brasileiros. Segundo dados da Fundação de Econo-mia e Estatística (FEE/RS), no Rio Grande do Sul, a porcentagem de pobres (que recebem até ½ salário mínimo por mês) caiu de 37,7%, em 2001, para 25,3% em 2008. Já a renda real per capita, que era de R$ 491,00 em 2001, subiu para R$ 597,00 em 2008.

Em janeiro deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou que o poder de compra da popula-ção ocupada brasileira, teve um crescimento de 19%, entre 2003 e 2010.

O povo brasileiro é mun-dialmente conhecido pelo seu otimismo, alegria, solidariedade e empreendedorismo. Há alguns anos atrás, uma campanha publi-citária da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) difundiu a expressão “brasileiro não desiste nunca”, e reforçou ainda mais essas características. O povo tupiniquim já passou por muitas dificuldades, como a inflação e as crises econô-micas, mas, mesmo assim, sempre deu a “volta por cima” e superou as dificuldades.

Hoje, a economia se encon-tra estável e o surgimento de faci-lidades, como os financiamentos e os auxílios governamentais, fazem com que o otimismo do brasileiro seja ainda maior. As dificuldades do passado, e aquelas ainda exis-tentes na sociedade, são superadas por meio do que é retratado na ex-pressão “jeitinho brasileiro”.

Segundo pesquisa realizada nos anos 80 pela antropóloga Lí-via Barbosa, citada pelo professor Robson Stigar em artigo, o jeitinho brasileiro pode ser definido como uma forma especial ou criativa de se resolver um problema ou emer-gência, que pode se caracterizar por um acordo, um ato de esperteza ou habilidade, ou até mesmo, a quebra de alguma regra.

O jeitinho brasileiro é lem-brado pela professora do curso de Economia da UCS, Maria Carolina Gullo, 41 anos. Ela rememora que o povo utilizou do jeitinho para dri-blar as dificuldades nos anos 80 e 90 quando o País viveu a inflação na economia. “Todos arranjaram alternativas para sobreviver à eco-nomia instável”, argumenta.

A professora faz uma com-paração da situação atual com a situação de 1985, época em que a inflação estava em seu auge e era conhecida como “dragão”. Segun-do ela, o brasileiro é um dos povos mais empreendedores e criativos do planeta, e esses fatores foram fundamentais para a superação dos problemas. “Foi um salto muito grande, e o povo foi muito otimista para vencer esse problema. Passa-mos de uma instabilidade, para a estabilidade econômica”, comenta.

Em comparação com ou-tros países, Maria Carolina vê com bons olhos a economia brasileira e acredita que o país está em situação privilegiada. Em 2009, juntamente

com outros países em desenvol-vimento, como China e Índia, o Brasil superou a crise sem grandes dificuldades. “Isso é reflexo de uma economia mais madura e menos vulnerável”, diz.

Maria Carolina lembra, porém, de um grave problema do país: as desigualdades sociais. Por outro lado, a economia deixou mais otimistas as classes menos favore-cidas, que agora, se tornaram con-sumidores em potencial.

Conforme a professora, quando o governo faz reduções de impostos para compra de produtos, como ocorreu com o IPI sobre car-ros, móveis e eletrodomésticos na última crise mundial, a população responde imediatamente, pois se tratam-se de necessidades. “As classes C, D, e E representam uma demanda reprimida, ou seja, elas têm uma necessidade de consumo, pois ainda não têm os produtos”, explica.

MERCADO

Gerente de uma concessio-nária de veículos, Ronaldo Peirano, 38, é otimista com a situação atual da economia. Segundo ele, a redu-ção do IPI fez com que o consumo aumentasse e, mesmo com a volta do imposto ao seu índice normal, a venda não diminuiu como espera-do, e até registrou recorde.

O carro é um desejo de con-sumo e as facilidades proporcio-nadas, conforme Peirano, sempre aumentam as vendas. “A economia sólida e o aumento da renda, trans-formaram em consumidores pesso-as que antes não podiam adquirir um veículo”, comenta. Na hora de pagar, segundo ele, os números di-zem que o brasileiro tem consegui-do saldar suas dívidas.

Os veículos mais comer-cializados são os populares, e re-presentam 55%, mas o aumento das vendas se deu em todos os modelos. Peirano revela, como uma característica que demonstra o otimismo do brasileiro, que as pes-soas estão sempre em busca de um veículo mais completo. “Quem não tem, quer ter. Quem tem, quer ter melhor”, exemplifica.

Já nos supermercados, se-gundo o gerente José César Miola, 45, o consumo caiu em relação ao ano passado. Para ele, o reflexo dessa diminuição é visto em todos os produtos, desde os mais básicos, até os de maior valor.

Miola alerta para um

ponto negativo do otimismo exa-gerado: a acomodação. Com os benefícios e descontos concedidos nos últimos anos, o povo passou a consumir mais, mas não poupou o dinheiro. “O povo tem dinheiro, e não guarda. Quanto mais ganha, mais gasta”, opina.

NA PSICOLOGIA

Para a psicóloga Marília Zanella, 40, o otimismo do ser hu-mano pode estar ligado a diversos fatores, como os aspectos bioló-gicos, as experiências vividas em família e a influência cultural e so-cial, que moldam a personalidade. “Experiências ricas em emoções positivas e valores como altruísmo, solidariedade, alegria e esperança, contribuem para uma postura mais positiva diante da vida”, explica.

Segundo Marília, pesquisas sugerem que o otimismo pode ser aprendido e ensinado. “O otimismo permite ao indivíduo transformar ‘fora’ a partir de ‘dentro’, e con-verter criativamente aspectos nega-tivos em possibilidades positivas e construtivas”, diz. Para a psicólo-ga, o povo brasileiro, em especial, é muito criativo, e busca se “rein-ventar” constantemente.

O “segredo” do otimismo, segundo Marília, pode estar tam-bém na natureza exuberante, no clima e na forma afetiva e extrover-tida com que o brasileiro se relacio-na. Esses fatores fazem com que as pessoas se sintam mais alegres, promovam o bem-estar e tenham uma postura mais otimista diante da vida.

CONTRAPONTO

Para a terapeuta Luciana Lourdes Mattana Thomé, 49, par-te do povo brasileiro é otimista, e outra, em seu entender, é acomoda-da. “O otimismo faz parte da vida do ser humano, mas o que ocorre no Brasil é um comodismo geral”, opina. Para ela, a população está imóvel diante da realidade do País e se mostra satisfeita.

Não há protestos em defesa dos direitos dos cidadãos e con-tra as injustiças que ocorrem. A terapeuta não se mostra otimista, e alega que os impostos são altos para as empresas, o que dificulta o crescimento. “Como podemos ter uma economia atuante e em desen-volvimento se exportamos matéria-prima e importamos o que deveria ser produzido aqui?”, desabafa.

Sonho de consumo dos brasileiros, o automóvel zero km está mais acessível

Com o aumento do poder aquisitivo do brasileiro, a população sai às compras

Fotos Marcos Camargo

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14 ECONOMIA

Há algum tempo os ca-chorros deixaram de ser apenas o melhor amigo do homem para se tornarem integrantes da família em milhões de lares brasileiros. A “hu-manização” dos animais e a opção em não ter filhos, são tendências que influenciam o comportamento das pessoas. Consequentemente, o crescimento deste segmento é tan-to que, a cada dia, o mercado lan-ça novos produtos e serviços, para satisfazer as necessidades dos ani-mais de estimação e, principalmen-te, as necessidades de seus donos. Os números são impressionantes e evidenciam o sucesso do setor. Segundo a Anfal Pet (Associação Nacional dos Fabricantes de Ali-mentos para Pequenos Animais), o crescimento em 2010 foi de 3%. Para este ano, a estimativa é de 4%.

Os dados de 2010 ainda re-velam que o Brasil tem a segunda maior população do mundo em cães e gatos: são 34,3 milhões de cães e 18,3 milhões de gatos. O Brasil também é o quarto maior do mundo em população total de animais de estimação, e o sexto em faturamen-to, que chega a movimentar R$ 11 bilhões ao ano. Os pet foods, como são chamadas as comidas para os animais, lideram as vendas, com 66% do mercado; em seguida, es-tão os serviços, com 20%. O país tem hoje o segundo maior merca-do pet do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.

Com o setor aquecido, a quantidade de pet shops e clínicas veterinárias duplicou nas cidades. Contam com inúmeros produtos curiosos, e até excêntricos, à dispo-sição para todos os tipos de cães, gatos e donos. Coleiras que mais parecem joias, roupas de pele, per-fumes, petiscos, chicletes, tosa ar-tística, massagem relaxante e hotel para cachorro, são alguns dos mui-tos produtos e serviços diferencia-dos, oferecidos no mercado.

Nivaldo Corrêa e Caroline Rossa, há dois anos, fizeram da necessidade uma oportunidade de negócio. “Estava desempregado quando surgiu a ideia. No início era para ser somente um comér-cio de rações e acessórios”, conta Corrêa. Com um estudo mais de-talhado do setor, viram que tinha espaço no mercado em Caxias para oferecer o banho e a tosa, junto com uma clínica. Segundo Corrêa, o mercado para pet cresce a cada dia. “Empresas de ração aparecem todos os dias. Mas as que ficam são poucas”, afirma.

Caroline conta que a televi-são e as propagandas também in-fluenciam os consumidores. “Esses dias fizemos uma tosa artística e pintamos de rosa um poodle, igual ao cachorro da novela das sete,

Morde e assopra”, diz. Para Corrêa, apesar de tantos produtos, o cuida-do começa com carinho. “Oferecer uma boa ração, fazer todas as vaci-nas e, depois de certa idade, fazer uma bateria de exames no seu pet.

Além, de dar carinho e atenção”, completa.

OPORTUNIDADES

Novos postos de trabalho surgiram com os novos serviços oferecidos, principalmente para o banho e a tosa. Vanessa Santos, 28 anos, trabalhou durante seis anos no ramo da contabilidade. A rotina estressante e burocrática a fez pen-sar em mudar de área radicalmen-te. Há três meses, dá banho e faz tosa em um pet e pretende entrar de cabeça na área. Vanessa garante

que valeu a pena a troca. “Não me arrependo. Trabalhar com animais é gratificante. E o melhor, não se leva problema para casa”, diz. A estética nos animais é um merca-do amplo, uma espécie de cabe-

leireiros para animais. “As pesso-as gostam de exibir seus animais domésticos. Por isso eles exigem que eles saiam do pet impecáveis”, conta Vanessa.

HOTEL E ADESTRAMENTO

Os hoteis para cachorros vi-raram moda e se espalharam pelas cidades. Sem ter com quem deixar, muita gente opta pelas diárias cani-nas, tanto para um dia ou dois fora da cidade, quanto nos períodos de festas de final de ano e de férias. Marcelo Luis Marcílio é adestrador de cães há 10 anos. Um dia, deixou sua cachorra em um hotel para via-jar e quando retornou ela estava se-dada. “Ela era extremamente dócil, mas por ser da raça pitbull, a seda-ram todos os dias”, conta Marcílio. Depois desse episódio, ele se espe-cializou na área e resolveu montar um local para adestrar e hospedar os animais. “Eu sempre gostei bas-tante de cachorros. Por causa da carência de hoteis em Caxias do Sul que soltassem os animais, pois geralmente eles ficam presos, com-prei uma chácara e montei o hotel”, diz.

O hotel Sul Serra e Adestra-mento existe há seis anos. Locali-zado na Rota do Sol, tem espaços individuais para 25 cachorros, em box com 10 m2. Dependendo do porte do animal, tem espaço para dividir o box com outro cachorro. Com seis hectares de terra, a chá-cara tem espaço para os cachorros ficarem soltos. “No hotel, o cachor-ro sai em média cinco vezes por dia do box, para poder brincar, em uma área de 3,6 mil m2. Eu tiro a ener-gia do cão através do exercício, as-sim ele fica mais relaxado”, explica Marcílio.

Para adestrar o seu pet, é necessário que ele tenha oito meses de idade e é preciso que ele fique, em média, dois meses com o treina-dor. “Obrigatoriamente o dono tem que vir aqui todos os sábados, para passar para ele o que eu trabalhei com o cachorro durante a semana. Ele só sai daqui quando aprender tudo”, diz. O preço do adestramen-to básico varia em torno de R$ 750. As diárias do hotel variam de R$ 20 a R$ 30, dependendo do tama-nho do animal.

Marcílio mora na chácara onde tem alguns animais de esti-mação próprios: três pitbull, dois rottweiler e três pastor-alemão, além de 20 vira-latas. Para ele, o crescimento dessa área aconteceu porque ter filhos se tornou caro. As pessoas estão substituindo os filhos pelo animal de estimação, os tra-tando como criança. “Eu não con-cordo em substituir uma criança por um cachorro. Acho que dá para ter os dois. Hoje em dia, tem gen-te que faz apartamento com quarto para o cachorro, com guarda-roupa e tudo”, revela.

LETÍCIA [email protected]

[ [ “Empresas de raçãoaparecem todos

os dias.Mas as que

ficam são poucas.”(Nivaldo Corrêa)

[ “Trabalhar comanimais é gratificante.

E o melhor, não seleva problema

para casa.”(Vanessa Santos)

[ Serviços e produtos são cada vez mais solicitados, para atender as necessidades do animal ou de seus donos

Bom pra cachorroRoupas para cães: de olho no mercado, confecções se multiplicaram e oferecem produtos para todos os gostos e tamanhos

Maurício Concatto/Divulgação

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15 ECONOMIA

Entre tantos produtos ofe-recidos, o que chama a atenção são as roupas para cachorros. De olho nesse potencial, Felipe Egger e Gabriela Sartor Egger criaram a Dig Doggy Pet, uma confecção de roupas para cães. A marca tem co-leção de outono/inverno e prima-vera/verão, além de fazerem cama para os pets. Pioneiros nesse ramo em Caxias, começou em janeiro de 2009, e mostra que cachorro pode ter estilo.

Os empresários acreditam que o crescimento nesse ramo se dá principalmente pela renovação dos investidores. “Os jovens co-meçaram a montar pets e ir para São Paulo e vir com informação. O pessoal mais antigo dos pets já sabia o que queria, roupa de soft e camas baratas”, revela Egger. Ga-briela é estudante de Moda e Estilo na UCS e desenha as peças da cole-ção. Apesar de ser filha de veteriná-rio, ela nunca teve um cachorrinho. Há cerca de três anos, ela ganhou uma cachorra e surgiu a ideia de fa-zer roupas para cachorro. A partir de então ela começou a pesquisar em sites, a comprar roupinhas e a participar de feiras em São Paulo. “Começamos a fazer lacinhos, que

era o mais fácil”, lembra.No início, a Dig Doggy tra-

balhava com uma linha de roupas mais infantilizadas. “Com o tempo mudamos e seguimos uma linha de roupas mais para adultos, seguindo a tendência da moda em cores e te-cidos. Como o xadrez está em alta, o usamos também na nossa coleção de inverno”, diz.

Segundo Gabriela, o mer-cado está em ascensão porque as pessoas têm o seu estilo e gostam que o seu cachorro o acompanhe. “As pessoas querem que o cachor-ro seja uma extensão da roupa que ela está vestindo. Não querem mais uma roupa tão infantil”, conta.

A aceitação das roupas foi difícil no início, principalmente na Serra, mas de um ano para cá os pedidos duplicaram “Eu tenho pe-didos já para o inverno inteiro, e a mão de obra está escassa, tá difícil encontrar costureiras nos merca-do”, conta Gabriela.

A Dig Doggy atende prati-camente a todo o estado. Em algu-mas regiões, como Porto Alegre, a empresa tem uma distribuidora. Em Caxias do Sul, quase todas as petshops vendem as roupinhas da Dig Doggy.

Não é de hoje que os bene-fícios da relação entre o homem e os animais, se tornaram objeto de pesquisa. Um estudo realizado em 2008, pela Universidade de Missou-ri-Columbia, nos Estados Unidos, demonstrou que brincar por 15 mi-nutos com um cão faz o nosso cére-bro liberar hormônios como a sero-tonina e a ocitocina, que melhoram o humor e reduzem a irritabilidade.

O crescimento do segmento de pet shops nos últimos anos indi-ca uma mudança, tanto no mercado quanto no comportamento das pes-soas: os animais passaram a ser tra-tados como um membro da família. Devido à necessidade que as pes-soas têm de companhia, os animais de estimação passaram a ocupar um espaço importante na vida delas. “Hoje, para a família ter um cres-cimento em número de filhos, gera grandes gastos. Por isso as pessoas preferem ter animais”, conta Nilton Messerschmidt, veterinário há 25 anos e que tem clínica para os cães e gatos há 15 anos.

O veterinário tem oito ani-mais de estimação, entre cachorros e gatos. “É uma companhia que tem retorno. Eu chego na clinica e eles me recebem, ficam comigo o tempo todo. Esse carinho, não tem o que substitua”, diz. Para ele, a variedade

Nilton Messerschimidt é veterinário há 25 anos e tem cliníca há 15 em Caxias

de produtos é maior para atingir as necessidades do proprietário, que exagera nos gastos para ver o animal bonito. “Tem artigos de necessidade e artigos de ‘desne-cessidade’. Nunca um cachorro usou roupa”, completa.

O número de veteriná-rias, de remédios, exames e tra-tamentos na área também teve aumento. Messerschmidt é na-tural de Passo Fundo e mora há 15 anos na cidade. “Quando eu

vim para Caxias, tinha em mé-dia 45 clínicas, durante esses 10 anos esse número dobrou”, conta. Com tantos animais por aí, existem aqueles que cui-dam de forma exagerada e ou-tros que abandonam. “Animal não é brinquedo, as pessoas devem ter essa consciência. Alguns pais dão de presente para a criança brincar como se fossem objetos”, diz Messers-chmidt.

Crescimento do mercado se dá pela renovação

Felipe Egger e Gabriela S. Egger, sócios da Dig Doggy Pet, confeccionam roupas para cães e distribuem para todo o Estado

Mercado Pet 2010

População de animais no Brasil

Dados Anfalpet 2010

Novo membro na família

Fotos Letícia Kirchheim

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SEGURANÇA

Vigilantes são opção de tranquilidadeCom o crescimento dos investimentos no ramo de segurança privada, as salas de aula dos cursos de formação de vigilantes ganham cada vez mais alunos

MARCO [email protected]

Com um efetivo maior que o da Brigada Militar, o crescimento da profissão indica o aumento da criminalidade

Estima-se, segundo o Sindicato Profis-sional dos Vigilantes de Caxias do Sul e da Re-gião da Serra (SINVICXS), que haja mais de 3 mil pessoas empregadas na área em Caxias do Sul. O aumento da criminalidade e os altos ín-dices de violência estimulam os investimentos em segurança privada.

Com tamanha oferta de emprego, os profissionais precisam estar cada vez mais atu-alizados. Para o exercício da profissão é neces-sário fazer um curso de formação de vigilantes, regulamentado pela Polícia Federal.

Para ser vigilante não basta apenas ter vontade, pois, para fazer o curso de formação, é preciso ser idôneo, ou seja, não apresentar antecedentes criminais; ter 21 anos completos; apresentar comprovante de escolaridade, no mínimo, da 4a série do ensino básico; e realizar exames médico e psicotécnico. Após a conclu-são do curso, o certificado é homologado pela Polícia Federal.

Quando o vigilante começa a trabalhar na área, a empresa a qual ele estará vinculado deve encaminhar para a Polícia Federal o pe-dido de emissão da Carteira Nacional de Vigi-lante (CNV), que serve como uma habilitação para o exercício da função, e é uma obrigato-riedade da empresa contratante providenciá-la. Em 2010, foram solicitadas apenas 137 cartei-ras na delegacia da Polícia Federal de Caxias do Sul.

O curso de formação é de 160 horas/aulas, divididas entre as disciplinas de arma-mento e tiro, noções de Direito Penal, defesa pessoal, relações humanas no trabalho, sistema nacional de segurança pública e crime orga-

nizado, criminalística e técnica de entrevista, prevenção e combate a incêndios e primeiros socorros, rádio-comunicação e alarmes, vigi-lância e noções de segurança privada. O custo do curso na região da Serra gaúcha é, em mé-dia, R$ 730.

A PROFISSIONALIZAÇÃO

Em 2010, em Caxias, 215 pessoas con-cluíram o curso de formação de vigilantes, e 682 realizaram o curso de reciclagem, atuali-zação que deve ser feita a cada dois anos por todos os profissionais que exercem a função.

A psicóloga Monica Boone, 37 anos, é coordenadora da escola de formação de vigi-lantes e gerente de gestão de pessoas da Prote-sul. Segundo ela, o público que busca o curso é, na maioria, composto de pessoas entre 25 e 40 anos, e cerca de 70% de homens contra 30% de mulheres, diferença que vem diminuindo nos últimos tempos. Além dessas estatísticas, Monica ainda diz que a maior parte dos alunos não é natural de Caxias do Sul. “A maioria vem de fora, principalmente pessoas da fronteira, pois lá a formação militar é muito presente, e trabalhar com a área de segurança é uma das profissões de maior status para eles.”

O mercado de trabalho está aquecido e, cada vez mais, oferece oportunidades para os vigilantes. “Nos últimos anos, as pessoas pas-saram a investir em segurança privada. Infeliz-mente, isso acontece devido ao aumento da cri-minalidade.” E completa: “Todas as empresas de segurança estão contratando profissionais.”

Monica não acredita que a segurança privada possa, um dia, substituir a presença do Estado no setor, já que a função de vigilante é apenas a prevenção e não a ação contra a cri-

minalidade. “Hoje o efetivo da segurança pri-vada é maior do que o da segurança pública, entretanto não acredito que possa haver uma substituição”, diz.

Quanto ao uso de armas de fogo no lo-cal do trabalho, Monica é cautelosa e diz que é preciso fazer uma análise em cada caso, pen-

sando se a utilização do armamento irá mesmo ser eficaz. “Os shoppings, por exemplo, têm grande circulação de pessoas. Dessa forma, é provável que a utilização de armas não seja uma boa opção”, conclui.

ARMAMENTO E TIRO

Uma das disciplinas do curso de forma-ção de vigilantes, e também da reciclagem, é a de armamento e tiro. Os instrutores da discipli-na de armamento e tiro são credenciados pela Polícia Federal, e, para isso, passam por testes e avaliações criteriosas para serem aprovados.

Douglas Cioato, 37 anos, é instrutor de tiro credenciado pela Polícia Federal e profes-sor do curso de formação de vigilantes. Ele afir-ma: “Na instrução de armamento e tiro é mais interessante habilitar o aluno a usar a arma de forma legal e defensiva do que, simplesmente, usar armas.”

O uso do armamento pelo vigilante deve ocorrer só em casos extremos, quando a vida dele ou a de pessoas sob sua responsabili-dade estiverem em risco. “Para questão de pa-trimônio, eles não são orientados a reagir com o uso de força letal”, diz Cioato.

As mulheres que procuram a profissão, cada vez mais, normalmente têm um bom de-sempenho com a utilização de armamento nas provas para a formação. “Quanto ao tiro, as mulheres chegam a ser melhores que os ho-mens, pois são mais dedicadas”, afirma.

A função do vigilante não é agir con-tra a criminalidade, mas sim tentar inibi-la. “A função básica do vigilante é alertar as autori-dades competentes, visto que o vigilante deve vigiar, já a polícia que tem o dever de policiar”, define.

Foto: Marco M

atos

Números78

Tiros efetuados no curso de forma-ção de vigilante

137*Solicitações da Carteira Nacional

de Vigilante (CNV)

215*Pessoas que fizeram o curso de

formação

682*Vigilantes que fizeram o curso de

reciclagem

R$ 730Valor médio do curso de formação

R$ 903,96Piso da categoria na Região da

Serra Gaúcha

* Dados da Delegacia de PolíciaFederal de Caxias do Sul.

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Em busca da diminuição de custos com vigilância, algumas pessoas contratam profissionais não habilitados para exercer a função, principalmente em alguns mercados e como vigilantes de quadra, aqueles que vigiam as ruas duran-te as madrugadas. Entretanto, nem todos podem ser pessoas, de fato, confiáveis.

O presidente do Sindicato Profissional dos Vigilantes de Caxias do Sul e da Região da Serra (SINVICXS), Clau-diomir Brum, alerta a população para esse tipo de contra-

O perigo do “bico”: o barato que pode sair carotação: “É possível que você contrate um informante de um futuro assalto”. Segundo ele, “na busca de segurança, muitas pessoas acabam contratando criminosos”.

Além de pessoas sem qualificação para exercer a função, há também muitos policiais militares que fazem o famoso “bico”, para complementar a renda. Entretanto, a legislação não permite que funcionário público exerça outra função fora de seu horário de trabalho. “O ‘bico’ não é certo, a Brigada Militar tem o dever de prestar o

serviço para a comunidade, sem cobrar para isso”, afirma Brum.

Outro problema, segundo Brum, é o excesso de em-presas “picaretas” no mercado. “Elas acabam fazendo pre-ços muito baixos e depois não cumprem com as normas tra-balhistas. Dessa forma estão prostituindo a categoria”, diz. Hoje, o piso da profissão é de R$ 903,96 adicionado de 20%, devido ao risco de vida, assim como os benefícios de vale-transporte e adicional noturno, se for o caso.

Quero ser vigilante

“Quero ser vigilante pois eu gosto de fazer

coisas novas e de aprender atividades

diferentes”

Nome: Marcos João Volpatto Idade: 37 anosEstado civil: CasadoCidade: Carlos Barbosa/RSAntiga profissão: Vendedor autônomo

“Sempre gostei de quartel e de manusear

armas de fogo”

Nome: Vinícius Capeletti de MoraisIdade: 22 anosEstado civil: SolteiroCidade: Caxias do Sul/RSAntiga profissão: Motorista

“Espero conseguir um bom emprego, na

área, em Vacaria”

Nome: Jeferson Roberto de Oliveira VieiraIdade: 23 anosEstado civil: SolteiroCidade: VacariaAntiga profissão: Metalúrgico

“Pretendo melhorar minhas condições financeiras e ter

uma vida um pouco melhor”

Nome: Rosangela MalgarinIdade: 25 anosEstado civil: CasadaCidade: Caxias do Sul/RSAntiga profissão: Auxiliar de segurança

“Meu marido também é vigilante, ele me

incentivou,e eu gosto de trabalhar com pessoas e em um

local livre”Nome: Rosária Teresinha HeroldIdade: 29 anosEstado civil: CasadaCidade: Caxias do Sul/RSAntiga profissão: Metalúrgica

“Sempre gostei da área, servi o Exército

e gostei dostreinamentos de lá”

Nome: Eberson Freire PereiraIdade: 23 anosEstado civil: SolteiroCidade: Caxias do Sul/RSAntiga profissão: Auxiliar de frigorífico

“Por ser mulher temos que enfrentar

grandes desafios, mas as criticas me

dão mais força para continuar”

Nome: Keli LuzIdade: 23 anosEstado civil: Casada com um vigilanteCidade: Caxias do Sul/RSAntiga profissão: Secretária

“Há tempo tinha decidido fazer o curso, daí aproveitei que meu

filho ia fazer e vim junto com ele”

Nome: Marcos Roberto VieiraIdade: 45 anosEstado civil: CasadoCidade: VacariaAntiga profissão:Metalúrgico e Pintor

“A remuneração é melhor que no meu

antigo emprego (...),meu pai é vigilante há 15

anos e me incentivou a fazer o curso”

Nome: Tiago KlainIdade: 23 anosEstado civil: Solteirocidade: Caxias do Sul/RSAntiga profissão: Metalúrgico

Fotos: Marco Matos

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ESPORTEEntre crescer e desaparecerCaxias do Sul corre o risco de ter apenas a dupla Ca-Ju como representante do esporte de alto rendimento

Há menos de um ano do início dos Jogos Olímpicos de Londres uma preocupante tendência pode ser constatada: o maior município da Serra gaúcha não terá representantes na competição. A falta de atletas de alto rendimento é um reflexo do panorama esportivo da cidade.

A Universidade de Caxias do Sul (UCS), última referência es-portiva com equipes que disputavam a Superliga Masculina de Vôlei e a Liga de Futsal, mudou sua política de apoio e “passou a bola” para o poder público e empresários da cidade. “Como uma universidade comunitária a UCS não pode lidar com custos tão altos para manter projetos externos. A nossa filosofia, agora, é que os projetos têm que ser auto-sustentáveis, e a universidade contribui com o espaço físico e a marca”, avalia o coordenador de Esportes e Formação da Vila Olím-pica, professor Ubirajara Klamos Maciel.

Sem uma política de apoio dos governos municipal e estadual, e sem a valorização das grandes empresas da região, o esporte de alto rendimento resiste graças a pessoas que se sacrificam em nome da sua modalidade.

ORGULHO PESSOAL

Se Caxias tem uma equipe que ainda pratica esporte de primei-ro escalão, a “culpa” é de Gabriel Citton, 33 anos. Caxiense, formado em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), em 2005, ele se “divide” em seis para manter a cidade no cenário do han-debol nacional.

Citton começou como treinador de goleiros da modalidade na UCS em 1999. Aos poucos o trabalho consolidou-se, conquistaram-se títulos e meninas foram convocadas para as seleções de base. Dez anos depois, já como o supervisor do handebol, Citton conseguiu mon-tar uma equipe para disputar a Liga Nacional de Handebol Feminino 2009.

Tendo como base meninas formadas na universidade, reforçada por atletas experientes, a equipe fez história. Gabriel Citton se tornou o técnico mais novo a participar da competição, com 30 anos, e a equipe sagrou-se a primeira estreante a chegar à s semifinais do torneio. O sucesso do primeiro ano trouxe mais investimentos, e aquela equipe feita para disputar a Liga Nacional se transformou numa categoria pro-fissional.

Em 2011, com o nome de Luna ALG/APAH/UCS/Prefeitura de Caxias do Sul, a equipe é motivo de orgulho. Com um orçamento que é a metade do das adversárias, a representante caxiense na Liga Nacio-nal encaminha, pela terceira edição consecutiva, a classificação para a fase final. No ano passado viu sua atleta Laís Bordin da Silva, 19, ser a primeira caxiense a conquistar uma medalha oficial do Comitê Olímpico Internacional (COI), com o bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Cingapura.

Porém, a história de sucesso dentro da quadra não é um reflexo dos bastidores. São quatro pessoas, que dividem um orçamento de R$ 50 mil por ano e se esforçam para manter a existência do clube. Cit-ton, por exemplo, tem de fazer as funções de supervisor, coordenador técnico, técnico da equipe adulta, técnico da categoria juvenil, gerente geral e captador de recursos. “Faz três anos que não tenho salário, todo o dinheiro acaba indo para a equipe. Eu faço isso por mim, pelo orgu-lho pessoal de ver o handebol na minha cidade... mas está chegando a um ponto insustentável”, declara.

Das sete equipes que disputam a Liga Nacional, quatro tem um orçamento estimado em mais de R$ 450 mil. Os custos mínimos para participar giram em torno de R$ 180 mil. A representante caxiense conta, neste ano, com um orçamento de R$ 230 mil, sendo 65% prove-niente da Lei de Incentivo ao Esporte do Governo Federal. E a Luna ALG/APAH/UCS/Prefeitura de Caxias do Sul ainda disputa o Campe-onato Gaúcho, a Copa Mercosul e a Copa do Brasil. “Falta incentivo tanto público quanto privado. A cidade só dá valor ao esporte às vés-peras das Olimpíadas, quando vem as cobranças por falta de represen-tantes”, avalia Citton, que não garante que a equipe vá ter forças para continuar na próxima temporada.

LEONARDO [email protected]

Artilheira da temporada, a ponta Samira Rocha (e) abandonou a equipe em meio à Liga Nacional para receber mais na Europa

Jonas Ram

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Recentemente, Caxias do Sul per-deu sua equipe que disputava a Superliga Masculina de Vôlei. A mudança de política de investimentos da UCS e a falta de patro-cinadores obrigaram o clube a se “refugiar” em Porto Alegre. Porém, o trabalho nas ca-tegorias de base continua e mantém acesa a esperança da cidade voltar a representar o estado em cenário nacional.

Esta é a aposta de Fernando Lemos,

Desde 2009, com a criação do Novo Basquete Brasil (NBB), a modalidade vem reconquistando espaço na mídia nacional. Mas este é mais um esporte em que os gaú-chos não contam com um representante na elite. O Caxias do Sul Basquete, projeto desenvolvido em 2005 pelo técnico Ro-drigo Barbosa, almeja levantar as cores do Estado, mas esbarra na falta de um gran-de parceiro. “Falta uma cultura esportiva aos nossos empresários. Esporte não é uma ajuda, é um negócio. Investir dá vi-são, consolida a imagem e torna conhecida marca”, avalia .

Para participar do NBB, a Liga Nacional de Basquete (LNB) exige que a

Base consolidada à espera de uma Superliga

À procura de um nome

A Lei do Incentivo ao Esporte permite que parte do imposto que seria pago ao governo seja repassado a projetos esportivos e paradesportivos pré-aprovados. Uma pessoa física pode deduzir até 6% do imposto de renda devido, enquanto pessoa jurídica tributada com base no lucro real pode repassar 1%. Vale ressaltar que este benefício não compete com outros incentivos fiscais, sendo exclusivo para o setor esportivo. Quem tiver interesse basta entregar uma carta de intenções ao responsável pela equipe a ser privilegiada.

Lei de Incentivo ao Esporte

Esforço olímpico

Se nos esportes coletivos é difícil, no atletismo a saga vira épica. Em Caxias, a mo-dalidade está diretamente ligada ao tempo de escola. “Logo que terminam o 2º grau, mesmo os nossos atletas mais promissores abandonam o esporte para trabalhar. É um ciclo natural do atletismo na cidade”, relata Gisele Nogueira, supervisora do atletismo da UCS/Sesi/Prefeitu-ra de Caxias do Sul.

Para ultrapassar esta barreira é necessá-ria muita força de vontade. E esta é a princi-pal característica de Diogo Mello da Rosa, 18 anos, único representante do alto rendimento em Caxias. Praticante desde os dez anos, Rosa definiu como objetivo de vida ser atleta, e move montanhas para isso. Por conta, ele procurou a Eletrobras e, através de um edital, conseguiu patrocínio. Para cursar Educação Física garan-tiu bolsa integral na UCS e começou a trabalhar como estagiário no Programa UCS Olimpíadas.

A gana em seguir em frente comove os que o cercam e deixam uma certeza: se o atletismo caxiense tiver um representante nas Olimpíadas do Brasil, o nome será Diogo Mello da Rosa. Diogo treina forte e sonha com as Olimpíadas

Jonas Ramos

técnico das categorias femininas da UCS/APAAVôlei/Prefeitura de Caxias do Sul. Sua crença e força de vontade é tamanha que, nesta temporada, ele conseguiu mon-tar uma equipe para disputar o Campeonato Gaúcho Adulto de Vôlei com um custo mí-nimo. “Tanto eu quanto as atletas estamos jogando por amor à camisa, ao esporte. Nenhum de nós tem salário para estar na equipe”, comenta o técnico caxiense.

Lemos, que trabalha há 15 anos com o voleibol da categoria de base, 12 deles com o naipe feminino, afirma ter o projeto pronto para participar da principal competição nacional de vôlei feminino – só falta o dinheiro. “Tenho dez atletas, for-madas aqui, com experiência de Superliga, interessadas em retornar e representar a cidade, entre elas a central Angélica Ma-liverno que está na Seleção Brasileira de

Novas”, afirma.Para participar da Superliga Femini-

na calcula-se necessário um orçamento mí-nimo de R$ 800 mil. Um investimento alto, mas com um retorno de mídia garantido. A competição já tem os direitos de transmis-sões acertados com três canais de televisão de âmbito nacional. Vale ressaltar que o Rio Grande do Sul atualmente não conta com nenhuma representante nesta liga.

Para lançar o projeto, o técnico Fernando Lemos foi até Antonio Prado e Lajeado encontrar empresas dispostas a investir um valor mínimo, o que obriga as meninas a trabalharem de dia e treinar apenas à noite

equipe tenha um orçamento mínimo de um milhão de reais. Um investimento que se mostra como um retorno seguro: na tem-porada de 2010, participando do Campe-onato Gaúcho e da Copa do Brasil, o Ca-xias do Sul Basquete teve um retorno de mídia de R$ 1,3 milhão. “O que nos falta é um patrocinador máster, aquele que tem a marca diretamente ligada ao nome da equipe. O suporte e a estrutura necessários temos garantidos graças à parceria com o Clube Juvenil”, informa Barbosa.

Além disso, segundo o técnico, para o esporte caxiense se desenvolver é preci-so “um novo pensamento político ou dos empresários” .

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Mais que torcer, eles “vivem” o clubeO Conselho Deliberativo é o órgão máximo de um clube de futebol profissional. Nas reu-

niões são decididas mudanças no estatuto, controle do patrimônio e a prestação de contas. Ser um conselheiro envolve mais do que votar e supervisionar o clube, é se dedicar a uma paixão.

No S.E.R. Caxias, o momen-to é de harmonia e foco para voltar à Série B. Quem garante isto é Alceu Fassbinder, 64 anos de idade e mais de 50 deles dedicados ao clube do seu coração.

Atual presidente do Conselho Deliberativo do Caxias, Fassbinder é o responsável por manter a sintonia entre, aproximadamente, 136 tor-cedores fanáticos. “O conselheiro é um torcedor dedicado, que conhece mais, vive o cotidiano e sente o san-gue ferver pelo clube”, analisa.

Para fazer parte do Conselho Deliberativo do clube basta ser sócio grená, se cadastrar e ser aprovado em eleição dos sócios. Entre as obriga-ções de um conselheiro, há o paga-mento de uma taxa mensal, no valor de R$ 150, e a participação em reu-niões, quando convocados. Em con-trapartida, ganha livre trânsito pelas dependências do clube e tem direito a opinião em reuniões com outros conselheiros.

Todo torcedor de futebol so-nha em ter acesso ao vestiário do seu clube, falar com comissão técnica e grupo de jogadores, opinar e ser ou-vido. É importante ressaltar que isto só cabe ao Departamento de Futebol, mas um membro do Conselho pode chegar bem perto disto. “Por ser conselheiro nós conhecemos mais, vivemos o cotidiano do Caxias. Te-mos contato com quem trabalha no dia a dia, por isso é importante saber manter a harmonia e sintonizar com a diretoria”, conta o conselheiro.

Esta vivência do cotidiano e a ligação com os principais assuntos do clube, discutidos nas reuniões do Conselho Deliberativo, dá a oportu-nidade de ascender no Departamento de Futebol do clube. Um exemplo disso é a história de Fassbinder que, em tanto anos de dedicação, já foi dirigente em algumas oportunidades, entre elas em 2000, ano do maior título da história do S.E.R. Caxias, com a conquista do Campeonato Gaúcho, quando ele era vice de fu-tebol. “A cidade parou. Chegamos de avião e encontramos um estádio lota-do em plena madrugada”, relembra.

Atualmente, como presidente do Conselho Deliberativo, Fassbin-der se orgulha da organização do Ca-xias, com salários em dia e harmonia entre os comandos, em termos de clube, e pelas histórias que pode con-tar depois de tantos anos. “Pela mi-nha experiência, 64 anos hoje, temos que ter uma história, uma contribui-ção social para com a sociedade da qual usufruimos. Valorizar os clubes da nossa cidade é uma dessas formas, pois sabemos que há muita coisa por trás”, afirma.

No Esporte Clube Juventude o ano é de restruturação. Após um período conturbado, marcado por re-baixamentos, o clube alviverde busca absorver a nova realidade para iniciar uma reação rumo à elite brasileira novamente. Quem sintetiza este mo-mento é Rodrigo Tramontina Segat, 35 anos, ativo nos bastidores do clu-be desde 2002.

Secretário da Mesa Diretora do Conselho Deliberativo do Juven-tude, Segat relata um bom momento interno. “Não podemos ser hipócri-tas, existem alas dentro do Conselho e já tivemos tempos conturbados in-ternamente no clube, mas o momen-to agora é pacificador, de foco no Ju-ventude”, relata o secretário.

Para ser um conselheiro papo o torcedor precisa ser sócio há mais de três anos ininterruptos, para en-tão encaminhar um pedido, via outro conselheiro, e ser aprovado em reu-nião do Conselho Deliberativo. Atu-almente, o clube conta com aproxi-madamente 220 conselheiros, de um total de 300 permitidos por estatuto.

Nestes nove anos como con-selheiro, Segat acompanhou de perto momentos distintos do clube. Dos bastidores, ele destaca 2006, quando era diretor de futebol, como um dos melhores momentos. “Foi uma cam-panha brigando até o fim por vaga na Sul-Americana. Convivi com gran-des jogadores e lideranças no vesti-ário como o Antonio Carlos, o André Doring, o Cristian...”, relembra.

É importante ressaltar que ser conselheiro não garante o direi-to de se intrometer no Departamento de Futebol. Mas estar nesta posição significa estar no cotidiano do clube, discutir os assuntos mais importan-tes, em sintonia com quem busca o melhor para o clube. E este convívio abre portas, faz amizades e lhe dá a oportunidade de, em uma rápida pas-sagem, trocar palavras de incentivos com o técnico, os dirigentes e joga-dores. “Futebol é um negócio sem garantias. Quando temos este conví-vio, percebemos que todos querem o melhor para o clube, mas às vezes não dá certo”, conta Segat.

Ingressar no conselho é o pri-meiro passo para aquele torcedor que se acha capaz de trabalhar no Futebol de um clube. Assim, começa o “viver o clube”, se familiariza com as pes-soas e a rotina, e ganha o direito de montar uma chapa e ser eleito para cargos como presidente, vice de fu-tebol e vice de finanças. “Ser conse-lheiro nos torna torcedores com mais responsabilidades. Aprendemos a ouvir, conciliar o torcedor e dirigen-te, para tomar as melhores decisões para o clube que amamos”, resume.

LEONARDO [email protected]

Fotos Leonardo Lopes

Com sua experiência, Fassbinder diz que a participação no Conselho é uma forma de contribuir socialmente com a cidade

Segundo Segat, ser conselheiro acresce responsabilidade ao torcedor, que “aprende a ouvir, conciliar o torcedor e dirigente”