pÂmela pelizzaro - frispit · 2017. 3. 31. · notícia no jornal pioneiro, do grupo rbs, em...
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PÂMELA PELIZZARO
O JORNALISMO IMPRESSO LOCAL E A CONVERGÊNCIA DIGITAL: OS
DESAFIOS DA APRESENTAÇÃO DA NOTÍCIA NO JORNAL PIONEIRO EM
DIFERENTES PLATAFORMAS
CAXIAS DO SUL
2016
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
PÂMELA PELIZZARO
O JORNALISMO IMPRESSO LOCAL E A CONVERGÊNCIA DIGITAL: OS
DESAFIOS DA APRESENTAÇÃO DA NOTÍCIA NO JORNAL PIONEIRO EM
DIFERENTES PLATAFORMAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia II. Orientadora: Profª Ma. Adriana dos Santos Schleder
CAXIAS DO SUL
2016
3
PÂMELA PELIZZARO
O JORNALISMO IMPRESSO LOCAL E A CONVERGÊNCIA DIGITAL: OS
DESAFIOS DA APRESENTAÇÃO DA NOTÍCIA NO JORNAL PIONEIRO EM
DIFERENTES PLATAFORMAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia II, do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul.
Aprovada em: __/__/____
Banca Examinadora
______________________________________________ Profª. Ma. Adriana dos Santos Schleder Universidade de Caxias do Sul - UCS ______________________________________________ Profª. Dra. Marlene Branca Sólio Universidade de Caxias do Sul - UCS ______________________________________________ Prof. Me. Jacob Raul Hoffmann
Universidade de Caxias do Sul - UCS
4
Dedico este trabalho à minha avó Corina, que onde quer que esteja, comemora mais essa conquista comigo.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais Livonio e Vera. Sem o apoio e o
incentivo de vocês nada disso seria possível. À minha irmã Kerlloey pelas tantas
idas e vindas à biblioteca sempre que eu solicitava livros para a minha pesquisa.
Família, obrigada por entenderem meu mau humor e estarem ao me lado me
apoiando diariamente.
Amigos também são personagens fundamentais nesse processo. Além de
ouvir minhas lamentações, reclamações e frustrações, entenderam a minha
ausência. Angelo, Aline, Bruna, Débora, Jéssica, Ronaldo e Tailan, muito obrigada
por estarem ao meu lado e me apoiarem em mais essa etapa. Cada um de vocês
merece um agradecimento especial e de coração.
Professora Adriana, portadora de um conhecimento admirável, o que seria
desse trabalho sem a sua orientação para apontar qual o melhor caminho a seguir?
Agradeço por cada orientação, pela sua dedicação, por indicar as melhores
referências, sempre me incentivando e colaborando no desenvolvimento das minhas
ideias. Obrigada por acreditar na minha capacidade e me tranquilizar nos momentos
em que parecia que nada daria certo.
Agradeço aos professores Jacob Raul Hoffmann e Marlene Branca Sólio por
aceitarem avaliar a minha pesquisa e dividir seus conhecimentos e apontamentos
comigo. Obrigada aos demais docentes do curso de Jornalismo pelos momentos de
aprendizagem dentro ou fora da sala de aula.
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“Talento, só, não basta. Um jornalista pode ser menos talentoso do que o outro, porém mais determinado, persistente e teimoso. O determinado vence o talentoso. O talentoso corre mais risco de acomodar-se do que o determinado. É assim em todas as profissões”.
Ricardo Noblat
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RESUMO Esta monografia tem por objetivo investigar quais os desafios da apresentação da notícia no jornal Pioneiro, do Grupo RBS, em tempos de convergência digital. A pesquisa foi realizada a partir do referencial teórico em que se estuda sobre o jornalismo impresso e digital, conceituando os gêneros em questão e explicando as semelhanças e diferenças de cada plataforma na produção de conteúdo. O material coletado foi analisado com base no método Estudo de Caso. Como técnicas, utilizou-se a revisão bibliográfica, a entrevista e a observação. Com a realização da pesquisa foi possível concluir que é necessário compreender e utilizar as ferramentas que estão à disposição do jornalismo online, sem perder as qualidades que são atribuídas ao conteúdo do papel. Além de explorar esse recurso, o desafio maior consiste em produzir um material jornalístico atrativo para o leitor, pois a informação bem trabalhada e com o uso de recursos multimídia é o que criará uma relação de fidelidade com o internauta. Palavras-chave: Jornalismo Impresso. Jornalismo Digital. Jornal Pioneiro. Pioneiro.com. Convergência Digital.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Táticas de estudo de caso para quatro testes de projetos ....................... 62
Figura 2 – Tipos básicos de projetos para estudos de caso ..................................... 64
Figura 3 – Print Screen Capa do Pioneiro ................................................................. 86
Figura 4 – Print Screen Capa do Pioneiro ................................................................. 87
Figura 5 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ......................................................... 88
Figura 6 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ......................................................... 90
Figura 7 – Print Screen Capa do Pioneiro .............................................................. ...91
Figura 8 – Print Screen Capa do Pioneiro ................................................................. 93
Figura 9 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ......................................................... 93
Figura 10 – Print Screen Capa do Pioneiro ............................................................... 95
Figura 11 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ....................................................... 95
Figura 12 – Print Screen Capa do Pioneiro ............................................................... 96
Figura 13 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ....................................................... 96
Figura 14 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ....................................................... 98
Figura 15 – Print Screen Capa do Pioneiro ............................................................. 100
Figura 16 – Print Screen Capa do Pioneiro ............................................................. 102
Figura 17 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ..................................................... 103
Figura 18 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ..................................................... 108
Figura 19 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ..................................................... 111
Figura 20 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ..................................................... 112
Figura 21 – Print Screen Capa do Pioneiro ............................................................. 115
Figura 22 – Print Screen Capa do Pioneiro ............................................................. 116
Figura 23 – Print Screen Capa do Pioneiro .......................................................... ...116
Figura 24 – Print Screen Capa do Pioneiro ............................................................. 118
Figura 25 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ..................................................... 119
Figura 26 – Print Screen Capa do Pioneiro.com ..................................................... 120
Figura 27 – Print Screen Capa do site Zero Hora ................................................... 124
Figura 28 – Print Screen Capa do site Zero Hora ................................................ ...125
Figura 29 – Print Screen Capa do site Zero Hora ................................................... 126
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Atualização da pauta das ocupações nas escolas no site do Pioneiro.. 113
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12
2 HISTÓRIA DO JORNALISMO IMPRESSO NO BRASIL .............................. 15
2.1 O JORNALISMO IMPRESSO NO BRASIL ................................................... 15
2.2 O JORNALISMO IMPRESSO NO RIO GRANDE DO SUL ........................... 22
2.3 O JORNALISMO IMPRESSO EM CAXIAS DO SUL ..................................... 26
3 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO ................................................................. 31
3.1 AS NOVAS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO ....................................... 34
3.2 A VELHA E A NOVA MÍDIA .......................................................................... 38
3.3 AMBIENTE VIRTUAL: ACESSO COLETIVO OU INDIVIDUALIZAÇÃO DA
SOCIEDADE? ........................................................................................................ 41
4 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO JORNALISMO IMPRESSO E ONLINE . 44
4.1 NOTÍCIA VERSUS REPORTAGEM .............................................................. 44
4.1.1 Critérios de noticiabilidade ........................................................................ 45
4.1.2 Pauta, produção e apuração da notícia ..................................................... 47
4.2 A NOTÍCIA NO JORNALISMO IMPRESSO .................................................. 49
4.3 A NOTÍCIA NO JORNALISMO ONLINE ........................................................ 52
4.3.1 Características do Jornalismo Online ....................................................... 54
4.3.2 O impacto da velocidade na qualidade da informação ............................ 57
5 METODOLOGIA ........................................................................................... 60
5.1 ESTUDO DE CASO ...................................................................................... 60
5.1.1 Táticas do Estudo de Caso ......................................................................... 61
5.1.2 Tipos de Estudo de Caso ............................................................................ 63
5.1.3 Como conduzir o Estudo de Caso ............................................................. 64
5.2 TÉCNICAS .................................................................................................... 68
5.2.1 Revisão bibliográfica .................................................................................. 68
5.2.2 Entrevista ..................................................................................................... 70
5.2.2.1 Questionário elaborado para a entrevista ................................................... 72
5.2.2.1.1 Para os jornalistas do Pioneiro ................................................................ 72
11
5.2.2.1.2 Para os jornalistas do Zero Hora ............................................................. 75
5.2.3 Observação .................................................................................................. 77
5.2.3.1 Caso Único – Jornal Pioneiro ..................................................................... 78
5.2.3.1.1 Jornal Zero Hora – referência editorial .................................................... 80
5.2.3.2 Corpus da pesquisa.................................................................................... 81
6 ANÁLISE ...................................................................................................... 82
6.1 PIONEIRO ................................................................................................... 82
6.2 PIONEIRO.COM ......................................................................................... 83
6.3 APRESENTAÇÃO DA NOTÍCIA: IMPRESSO VERSUS DIGITAL .............. 85
6.4 ATUALIZAÇÃO DA NOTÍCIA ...................................................................... 110
6.5 LOCALISMO ............................................................................................... 114
6.6 DESAFIOS DA CONVERGÊNCIA DIGITAL ............................................... 121
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 128
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 132
APÊNDICES ......................................................................................................... 138
ANEXOS ............................................................................................................... 140
12
1 INTRODUÇÃO
Com a expansão da internet1, o jornalismo tradicional precisou readequar o
seu estilo de trabalhar aos critérios estabelecidos pela nova mídia. Não ter que
esperar pelo jornal impresso do dia seguinte ou o horário do noticiário na televisão
para saber o que está acontecendo no mundo renovou a maneira de oferecer e
consumir o conteúdo jornalístico. A divulgação de notícias em sites2 aumentou a
busca de informações por parte dos leitores. Se em outra época era aceitável saber
dos fatos no dia seguinte, hoje isso não é permitido.
Os jornalistas e as empresas midiáticas passaram por ajustes para abrir
espaço para o digital. O custo elevado da produção de conteúdo em outras
plataformas fez com que alguns veículos, pensando em economizar, mantivessem
apenas o site em funcionamento. Sabe-se que o consumo de informações na
internet tem crescido nos últimos anos. A Pesquisa Brasileira de Mídia3 divulgada
em 2015 apresentou dados sobre os hábitos de consumo de mídia pela população
brasileira. A internet foi apontada por 42% dos brasileiros que estão em busca,
principalmente, de informações – sejam elas notícias sobre temas diversos ou de um
modo geral, como diversão e entretenimento, forma de passar o tempo livre e estudo
ou aprendizagem.
Diante do que foi exposto, percebe-se que a noção de atualidade é um dos
aspectos mais importantes para a sociedade moderna. Sendo assim, essa pesquisa
justifica-se por investigar quais são os desafios da apresentação da notícia no jornal
Pioneiro, do Grupo RBS, em tempos de convergência digital.
Os veículos do grupo receberam investimentos nos últimos anos, inclusive
nas mídias tradicionais como o jornal impresso, o rádio e a televisão. Mudanças nos
projetos gráficos, no layout dos telejornais e no desenvolvimento de aplicativos
foram feitas recentemente para renovar o fôlego dos veículos. A plataforma online
do jornal Zero Hora, líder em circulação impressa no Rio Grande do Sul, tem
1 Internet: é uma rede de computadores interligada, que possibilita o acesso a informações sobre e
em qualquer lugar do mundo. Disponível em: <http://www.significados.com.br/internet/>. Acesso em 4 abr. 2016. 2 Sites: Informações divulgadas através de páginas virtuais. No contexto das comunicações
eletrônicas, website e site possuem o mesmo significado. Disponível em <http://www.significados.com.br/?s=site>. Acesso em: 27 mar. 2016. 3 Disponível em <http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-
qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2016.
13
recebido um forte investimento nessa área. O periódico contempla seus assinantes
digitais com um tablet4, oferecendo conteúdo atualizado e duas edições diárias –
uma pela manhã e outra à noite. Entretanto, o Pioneiro não está seguindo o caminho
trilhado pelo Zero Hora, considerado o carro chefe das mídias impressa e digital da
RBS.
Com sede em Caxias do Sul e abrangência na Serra gaúcha e regiões
próximas, percebe-se que o Pioneiro tem investido suas forças em recuperar a
qualidade do conteúdo impresso5 a partir de uma mudança editorial desde outubro
de 20156. Porém, o foco no papel tem deixado o site em segundo plano. A
plataforma online do jornal foi criada em novembro de 20087. De 2014 até a última
reforma editorial, o veículo demonstrou um investimento mais concentrado no
Pioneiro.com. Nesse período, o canal de vídeos, por exemplo, passou a ter
produções semanais. Os colunistas do papel foram direcionados para participar de
gravações audiovisuais. Mas, com a extinção de algumas publicações de colunas no
impresso em 2016, o canal de vídeos perdeu força e é abastecido esporadicamente
com alguns factuais e conteúdos de matérias.
Com isso, o que se pretende avaliar é se a última alteração editorial do
veículo foi a melhor opção em um momento onde o foco da comunicação está
voltando para o jornalismo online. Para tanto, a problemática será abordada no
intuito de responder a questão norteadora: quais os desafios do jornal Pioneiro na
apresentação da notícia em tempos de convergência digital?
Além do objetivo geral, também foram definidos os objetivos específicos, onde
se pretende conceituar a história do jornalismo impresso em nível nacional, estadual
e local; pesquisar sobre a sociedade da informação e a influência da evolução
tecnológica no jornalismo impresso e online; entender os critérios de noticiabilidade
no jornalismo impresso e online e como ocorre a produção de conteúdo para essas
plataformas; analisar a forma de apresentação do conteúdo do jornalismo impresso
e do online do jornal Pioneiro, do Grupo RBS; comparar o reposicionamento editorial
do Pioneiro com o investimento na plataforma digital do jornal Zero Hora; entrevistar
4 Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/11/zero-hora-testa-distribuicao-do-
jornal-em-tablet-exclusivo-para-assinantes-4894129.html>. Acesso em: 16 mar. 2016. 5 Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/noticias/2016/02/12/pioneiro-faz-mudancas-editoriais-
baseadas-em-pesquisa-com-leitores/>. Acesso em: 4 abr. 2016. 6 Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/noticias/2015/10/16/pioneiro-anuncia-nova-editora-
chefe/>. Acesso em: 30 mar. 2016. 7 Disponível em: <http://videos.clicrbs.com.br/rs/pioneiro/video/pioneiro/2013/11/cinco-anos-
pioneirocom/48783/>. Acesso em: 6 abr. 2016.
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profissionais envolvidos nas mudanças editoriais e no processo de produção
jornalística do Pioneiro e do Zero Hora.
A partir do material coletado, foram elaboradas três hipóteses para auxiliar na
compreensão da resposta à questão norteadora, sendo elas: a mudança editorial do
jornal Pioneiro, do Grupo RBS, com foco para o jornalismo impresso, não foi a
melhor escolha em tempos de convergência digital; o jornal Pioneiro prioriza o
jornalismo impresso para manter os assinantes do papel, sem olhar estratégico para
atrair novos assinantes digitais; um veículo de comunicação como o jornal Pioneiro,
que prioriza o jornalismo impresso, em tempos de convergência digital, perde a
característica de atualização constante da informação, própria do jornalismo online.
O desenvolvimento metodológico da pesquisa resultou na elaboração de sete
capítulos. No capítulo 2, História do Jornalismo Impresso no Brasil, pretende-se
compreender desde o surgimento da atividade no país até o seu desenvolvimento
nos dias atuais. Além disso, a história será abordada em mais duas instâncias –
regional e local – para contextualizar sobre fatos específicos que marcaram a
trajetória do papel no Rio Grande do Sul e em Caxias do Sul.
O terceiro capítulo, Sociedade da Informação, apresenta uma breve pesquisa
sobre o surgimento da internet, traz a explicação de alguns termos ligados às novas
tecnologias da informação e discute sobre o cenário atual de convergência entre
mídias.
Para o melhor entendimento dos processos de produção do jornalismo
impresso e online, no quarto capítulo, Produção de Conteúdo no Jornalismo
Impresso e Online, serão abordados os conceitos de notícia e reportagem, os
critérios de noticiabilidade, o processo da pauta, produção e apuração da notícia e
as características particulares presentes em cada uma dessas plataformas.
O método adotado para o desenvolvimento da pesquisa, Estudo de Caso,
está presente no quinto capítulo, Metodologia. Como técnicas foram utilizadas a
revisão bibliográfica, a entrevista e a observação. No capítulo 6 está a Análise,
elaborada a partir da revisão bibliográfica, das entrevistas e das observações da
pesquisadora referente ao conteúdo coletado para auxiliar no processo. No último
capítulo, Considerações Finais, foi possível responder a questão norteadora e
confirmar ou não as hipóteses da pesquisa.
15
2 HISTÓRIA DO JORNALISMO IMPRESSO NO BRASIL
O jornalismo impresso foi responsável por fazer da comunicação social um
importante instrumento para a construção da história da humanidade. Para
compreender o cenário atual dos meios de comunicação, é necessário conhecer
esta primeira e importante ferramenta do jornalismo. Sendo assim, neste capítulo
serão apresentados fatos que marcaram a trajetória desta mídia sobre a esfera
nacional, estadual e local.
2.1 O JORNALISMO IMPRESSO NO BRASIL
Além da chegada da corte de Portugal ao Brasil, o ano de 1808 marcou o
nascimento do primeiro jornal brasileiro. Ana Luiza Martins e Tania Regina de Luca,
no livro História da Imprensa no Brasil (2015), explicam que em meio à censura da
época, o Correio Braziliense, idealizado por Hipólito José da Costa Furtado de
Mendonça, era produzido na Inglaterra, em Londres. O periódico, fundado em 1º de
junho de 1808, atravessava o oceano Atlântico para discutir os problemas da colônia
portuguesa.
Martins e Luca (2015) salientam que há registros de outros jornais feitos na
Europa que circularam em solo brasileiro antes do Correio Braziliense, como por
exemplo, a Gazeta de Lisboa. Apesar de disseminar informações, essa imprensa
periódica não fazia uso do debate e da divergência política. Segundo as autoras, o
termo opinião pública começou a ser instaurado a partir de 1808, com a criação de
um espaço público de crítica. Os papéis impressos no Brasil nas primeiras décadas
do século XIX foram fundamentais para definir a consciência política adotada pela
sociedade da época.
Sob a tutela de D. Pedro I, o primeiro jornal oficialmente produzido no país foi
a Gazeta do Rio de Janeiro, em 10 de setembro de 1808. Luiz Amaral explica, em
seu livro Jornalismo: matéria de primeira página (1997), que o periódico tinha quatro
páginas de conteúdo da Europa.
Antecedendo-se à Independência, as revoluções constitucionalistas da
Espanha e de Portugal, em 1820, foram importantes para marcar o decreto da
liberdade de imprensa, que demorou cerca de um ano para chegar ao território
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brasileiro. De acordo com Martins e Luca (2015), houve um crescimento da imprensa
nessa época, mas a atividade permanecia controlada pelos interesses políticos.
Em uma linha do tempo com a cronologia da história do jornal no Brasil8,
divulgada pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), consta que, em março de
1821, foi lançado o Conciliador do Reino Unido, primeiro jornal privado brasileiro. O
periódico era impresso na única tipografia do Rio de Janeiro na época, a Imprensa
Régia. Já o primeiro jornal diário começou a ser publicado em junho do mesmo ano.
O Diário do Rio de Janeiro foi o periódico com maior tempo de circulação antes da
Independência, sendo publicado até 1878.
No período colonial, a primeira geração da imprensa circulou por todo
território nacional e foi marcada pelo debate político. Mesmo sem escapar do
assunto que dominou a época, o Jornal do Commercio, criado no Rio de Janeiro em
1827, e o Diário de Pernambuco, nascido em Recife em 1825, destacaram-se por
escolher uma linha noticiosa e mercantil. Entretanto, Martins e Luca (2015) explicam
que a mudança de uma imprensa política para a empresarial ocorreu de forma
gradativa ao longo do século XIX. “A imprensa constitui-se como formuladora de
projetos de nação distintos entre si (apesar das convergências) e de uma cena
pública cada vez mais complexa, na qual emergiam atores políticos diferenciados”
(p. 42).
Um exemplo de evolução para a época, o Jornal do Commercio investiu em
aparatos técnicos e publicação de caráter jornalístico. Batizado primeiramente de
Espectador Brasileiro, o periódico criado em 1826 era considerado a voz oficial do
reinado. O idealizador do jornal, Pierre Plancher, ampliou o número de editorias –
incluindo política e comércio – e publicou cadernos sobre economia.
O jornal desempenhou papel relevante também como veículo de divulgação
de anúncios. As propagandas, segundo Martins e Luca (2015), eram as mais
variadas, pois a sociedade buscava por todo tipo de serviço. “A função veiculadora
comercial da imprensa foi além da divulgação de negócios, pois desde a década de
1820 figurou como instância oportuna na formação de um mercado livre, instrumento
valioso para empregado e empregador” (p. 55).
O recurso da ilustração em periódicos ganhou espaço em um período de
censura vigente e introduziu a caricatura como forma de narrativa. A comunicação
pelo humor, encontrada até os dias atuais em jornais impressos, foi umas das 8 Disponível em: <http://www.anj.org.br/cronologia-jornais-brasil/>. Acesso em 04 set. 2016.
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linguagens de maior aceitação na época, pois era educativa e bem humorada. De
acordo com Martins e Luca (2015), há um consenso em atribuir a veiculação da
primeira caricatura no Brasil ao pintor Manoel de Araújo Porto Alegre, em desenho
de Rafael Mendes Carvalho, impressa no Jornal do Commercio, em 1837.
O jornalismo político que era predominante na época, perdeu forças em
meados do século XIX e, de acordo com Martins e Luca (2015) abriu espaço para
publicações literárias no folhetim de pé de página.
Ao lado do folhetim, a crônica e o conto ocuparam as páginas daquela imprensa periódica, gêneros que permitiram ao literato brasileiro colocar-se em letra impressa. Na impossibilidade de editar-se um romance, dada a inexistência de uma editoração nacional, produzia-se o conto. (MARTINS; LUCA, 2015, p. 69).
Nessa época, os jornais deixaram de lado os embates políticos e adotaram
uma linguagem mais literária. O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas,
publicado no Jornal do Commercio, foi considerado um dos primeiros sucessos do
gênero. Logo em seguida, entre 1852 e 1878, ganharam destaque nacional como
folhetim Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, no
Correio Mercantil; O guarani, de José de Alencar, no Diário do Rio de Janeiro; A
mão e a luva, em O Globo, e Iaiá Garcia, em O Cruzeiro, ambos de Machado de
Assis.
O alcance dos jornais se expandiu a partir da metade do século XIX, com a
implantação do sistema ferroviário. A notícia impressa passou a chegar a cidades e
fazendas do interior. O jornal foi transformado em um negócio de lucro, intermediado
por novos profissionais, como os correspondentes estrangeiros e funcionários de
agências de notícias. Segundo Martins e Luca (2015), o período que antecedeu o
fim do Império “imprimia outro ritmo à notícia e à própria escrita, que deveriam ser
ágeis, breves, telegráficas” (p. 71).
A Proclamação da República marcou a fase heroica do jornalismo brasileiro.
Para Amaral (1997), a imprensa em tempos republicanos se destacou como uma
fase de ordem e cultivo do progresso. O período, que durou de 1889 a 1930, trouxe
jornais que se diversificavam. Maria de Lourdes Eleutério conta, em Imprensa a
serviço do progresso (2015), que a partir do crescimento das cidades surgiram
novos focos de notícia, além dos conhecidos assuntos políticos.
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Nesse período de transformações, a imprensa conheceu múltiplos processos de inovação tecnológica que permitiram o uso de ilustração diversificada – charge, caricatura, fotografia –, assim como o aumento das tiragens, melhor qualidade de impressão, menor custo do impresso, propiciando o ensaio da comunicação de massa. (ELEUTÉRIO, 2015, p. 83).
O novo regime, contudo, foi repressor da liberdade de expressão. O que era
considerado crime de imprensa, além de manifestações e ofensa ao presidente da
República, foi regulamentado na Lei da Imprensa, aprovada em 1922. Mas esse
também foi um período de expansão dos periódicos. Conforme Amaral (1997), as
duas últimas décadas do século XIX representaram a transição da pequena para a
grande imprensa, ou seja, nessa época conseguiram se manter apenas os jornais
com mais poder aquisitivo para sustentar o negócio, que tornou-se mais caro.
Para Nelson Werneck Sodré, na obra História da Imprensa no Brasil (1999), a
passagem do século XIX para o XX marcou a consolidação da imprensa, que havia
conseguido conquistar o seu lugar e vendia a informação como qualquer outra
mercadoria.
[…] a de caráter artesanal subsistia no interior, nas pequenas cidades, nas folhas semanais feitas em tipografias, pelos velhos processos e servindo às lutas locais, geralmente virulentas; nas capitais já não havia lugar para esse tipo de imprensa, nelas o jornal ingressara, efetiva e definitivamente, na fase industrial, era agora empresa grande, grande ou pequena, mas com estrutura comercial inequívoca. (SODRÉ, 1999, p. 275).
A prática jornalística começou a ser evidenciada nas páginas do Jornal do
Brasil (1891) que, de acordo com Eleutério (2015), se destacou devido ao
profissionalismo, exaltando o uso de correspondentes internacionais. “O periódico
também inovou por ser dos primeiros a estampar em suas edições tiras das histórias
em quadrinhos e uma página dedicada aos esportes” (p. 88). Além disso, a autora
salienta que o jornal adquiriu o maior parque gráfico da imprensa brasileira, com
linotipos9, sistema fotomecânico10 e impressão em cores. Esses avanços
9 Linotipos: trata-se de um tipo de máquina de composição de tipos de chumbo, inventada em 1884
pelo alemão Ottmar Mergenthaler. A linotipia provocou, na verdade, uma revolução porque venceu a lentidão da composição dos textos executada na tipografia tradicional, onde o texto era composto à mão, juntando tipos móveis um por um. Disponível em: <http://portal.imprensanacional.gov.br/museu/acervo/linotipos>. Acesso em 6 jun. 2016. 10
Sistema fotomecânico: era um conjunto de operações fotográficas utilizado na preparação do material de impressão. Disponível em: <http://portal.imprensanacional.gov.br/museu/acervo/maquina-fotomecanica>. Acesso em 6 jun. 2016.
19
tecnológicos fizeram com que o jornal impresso fosse considerado um dos principais
veículos de comunicação durante a maior parte do século XX.
A ditadura do Estado Novo, na década de 1930, marcou a decadência do
jornalismo de militância política. A censura exercida pelo Departamento de Imprensa
e Propaganda, o DIP, controlava todo o noticiário e dificultava novas publicações.
Com o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e do governo de Getúlio Vargas,
em 1954, a imprensa brasileira passou por um processo de modernização e,
segundo Amaral (1997), concluiu a sua passagem para a fase realmente industrial.
Durante o Estado Novo, os jornais impressos foram obrigados a se registrar
no DIP e, conforme explica Tania Regina de Luca, em A grande imprensa na
primeira metade do século XX (2015), cerca de 30% não conseguiu se adequar à
regulamentação e deixou de circular.
O jornal impresso foi considerado fonte primária de informação até meados da
década de 1960, segundo afirma Ricardo Noblat, no livro A Arte de fazer um jornal
diário (2004). Após, perdeu espaço para os demais veículos de comunicação de
massa, como o rádio e a televisão. Com a chegada da internet, deixou de atingir o
público que optou por se informar pelo meio eletrônico.
A tendência geral é de as pessoas procurarem cada vez mais na internet notícias em tempo real, quase sempre servidas em estado bruto. [...] Por que pagarão caro para ler nos jornais o que já escutaram de véspera no rádio, leram na internet ou viram na televisão? (NOBLAT, 2004, p. 99).
A chegada do computador nos anos de 1980 provocou uma mudança
significativa na maneira de fazer jornalismo. Luiza Villaméa, em Revolução
tecnológica e reviravolta política (2015), explica que nessa época, a Folha de S.
Paulo lançou um manual de redação para estabelecer um padrão do trabalho
jornalístico que influenciou a imprensa nacional. A opinião, por exemplo, foi
restringida aos editoriais e colunas assinadas. No manual ainda havia outros itens
importantes que foram incorporados pela maioria dos veículos impressos do país.
Entre os fundamentais está a necessidade de o jornalista apresentar ao leitor diversos lados da história. Outros princípios foram relativizados, como a obrigatoriedade de publicar a idade de todas as pessoas citadas numa reportagem, seja essa informação relevante ou não para a notícia. (VILLAMÉA, 2015, p. 255).
20
O processo de industrialização da imprensa nacional exigiu um
aperfeiçoamento da produção jornalística. Villaméa (2015) explica que, após
décadas de redações barulhentas marcadas pelas máquinas de escrever, os
periódicos que pretendiam continuar circulação precisaram investir no seu modelo
de produção.
A internet despontou como uma nova fonte de informação a partir da segunda
metade dos anos 1990. Essa etapa de acelerada transição, iniciada com a revolução
do computador, fez com que a imprensa mudasse sua relação com a sociedade no
mundo globalizado. Cláudio Camargo explica, em O meio é a mensagem: a
globalização da mídia (2015), que a revolução digital uniu as tradicionais formas de
comunicação, sendo elas o som, a escrita e a imagem e “permitiu o surgimento e o
avanço da internet, que representa um quarto modo de se comunicar, uma nova
maneira de se expressar, de se informar, de se distrair” (p. 270).
Em 1994, com a implantação do Plano Real, houve mais um grande processo
de modernização das empresas jornalísticas, que mais tarde resultaria em dívidas e
até mesmo falências. Noblat (2004) esclarece que os jornais investiram recursos nos
parques gráficos, pois acreditaram que o país estava livre das taxas de inflação e
teria um crescimento econômico razoável. Porém, no início do segundo semestre de
2002, muitas empresas estavam quebradas devido ao endividamento de
empréstimos em dólares.
Em tempos de expansão da mídia digital, os recursos tecnológicos
construíram o paradigma da informação em tempo real. De acordo com Pollyana
Ferrari, no livro Jornalismo Digital (2003), há uma diferença expressiva entre a mídia
tradicional impressa e a digital.
[...] a tradicional tem como objetivo falar com uma grande quantidade de pessoas; oferecer conteúdo jornalístico capaz de agradar, por exemplo, mais de um milhão de assinantes [...]. A mídia digital, nascida graças aos avanços tecnológicos e à solidificação da era da informação, consegue atingir o indivíduo digital – um único ser com suas preferências editoriais e vontades consumistas. (FERRARI, 2003, p. 53).
Para marcar novamente a história do jornalismo brasileiro, o Jornal do Brasil
foi o primeiro periódico brasileiro a ter sua versão na internet, em 1995, segundo
Villaméa (2015). “Em sintonia com o movimento registrado na mídia internacional, a
imprensa brasileira também investiu pesado na modernização de suas redações” (p.
21
254). Após quase 120 anos circulando no formato impresso, o periódico migrou
exclusivamente para a plataforma online, em setembro de 2010, conforme explicam
Cindhi Barros e Ana Cristina Spannenberg, em Do impresso ao digital: a história do
Jornal do Brasil (2015).
Nesse contexto de convergência digital, o JB figura com relevância, já que é um dos mais antigos jornais do país e o primeiro a ter um site jornalístico, criado em maio de 1995. O periódico também ganha destaque no cenário de aumento da influência das novas tecnologias [...], o JB abandonou o formato impresso, tradicionalmente consolidado, e passou a ser veiculado apenas por meio eletrônico. (BARROS; SPANNENBERG, 2015, p. 2).
A discussão sobre o futuro dos jornais impressos nunca foi tão questionada
até então. Segundo Noblat (2004), pouco tem sido feito em termos de mudanças
para revolucionar o modelo dos periódicos. “O modelo dos jornais está em xeque. E
não é porque os donos de jornal e jornalistas desconheçam esse fato. O modelo
está em xeque porque o medo de mudar é maior do que o medo de conservar algo
que se desmancha no ar” (p. 16). Neste sentido, Álvaro Caldas, em O desafio do
velho jornal é preservar seus valores (2002), diz que o maior desafio dos veículos
impressos é se reinventar, preservando seus valores e principais características que
o fizeram chegar a ser a principal fonte de informação das pessoas.
Para assegurar seu espaço, caberá ao jornal do presente investir naquilo que o leitor espera encontrar nele: originalidade, texto interpretativo e analítico, com suas implicações e possíveis repercussões na vida de cada um. O fato situado dentro de um contexto mais amplo, ao lado de pesquisa e opinião. (CALDAS, 2002, p. 17).
Partindo da premissa de que os leitores de jornal e usuários da internet têm
interesses distintos, Caldas (2002) afirma que, mesmo abalado com a revolução
tecnológica dos últimos anos, tudo indica que o meio impresso sobreviverá a mais
esse desafio, apesar de haver muitas afirmações favoráveis a seu desaparecimento.
“Neste novo cenário ainda marcado pela incerteza de papéis, há os que acreditam
que nos próximos anos as redações de jornal serão ocupadas por repórteres
multimídia” (p. 17).
Antes de explorar a era da comunicação online, que será tema do próximo
capítulo, é necessário falar sobre a história do jornalismo impresso no Rio Grande
22
do Sul, que, apesar de ter características nacionais, apresenta suas peculiaridades
no contexto estadual.
2.2 O JORNALISMO IMPRESSO NO RIO GRANDE DO SUL
Seguindo o modelo dos jornais em nível nacional da época, o primeiro
impresso do Rio Grande do Sul também publicava nas suas páginas conteúdos
oficiais do governo. De acordo com Fábio Rausch, no livro O Jornalismo
Sensacionalista na Imprensa Gaúcha (2015), o primeiro jornal que circulou no
Estado foi o Diário de Porto Alegre, entre junho de 1827 e junho de 1828.
Os primórdios da imprensa gaúcha caracterizaram-se pelo domínio político.
Francisco Rüdiger, no livro Tendências do Jornalismo (2003) explica que, na época
da Revolução Farroupilha, foram lançados 32 jornais, entre eles: o Constitucional
Rio-Grandense, Sentinela da Liberdade e O Noticiador. “O conceito que guiava
esses jornais era tão-somente político. Os textos tinham forte cunho doutrinário,
constituído de matérias opinativas sobre questões públicas, comentários ideológicos
e polêmicas com os adversários de publicidade” (p. 21).
Após a revolução, em meados de 1845, muitos partidos políticos montaram
empresas para lançar seus próprios periódicos. Como consequência, os políticos
começaram a ocupar a função de jornalistas, o que segundo Rüdiger (2003)
colaborou para o período do jornalismo político-partidário gaúcho. “De qualquer
modo, o jornalismo ganhou, com a forma político-partidária, um conceito, tornando-
se meio de formação doutrinária da opinião pública” (p. 36).
A partir de 1860, o desenvolvimento agrícola e comercial contribuiu para
fortalecer a economia do Estado, gerando riquezas que serviriam de base para o
surgimento das primeiras indústrias. Conforme Rüdiger (2003), esse processo
colaborou naturalmente para o desenvolvimento da imprensa. “Os jornais foram aos
poucos perdendo seu caráter artesanal e passando à fase da manufatura, baseada
na tecnologia da máquina a vapor, com consequente melhoria na qualidade gráfica”
(p. 38). O autor destaca que nesse período houve investimentos também nas
estradas e no serviço de correio, o que contribuiu para um significativo aumento no
número de publicações em circulação no Rio Grande do Sul.
A passagem do século XIX para o XX marcou, de acordo com Rüdiger (2003),
o declínio do jornalismo político-partidário. Com a ascensão do novo jornalismo
23
informativo, as folhas partidárias da época, que não adotaram uma linha noticiosa,
foram desaparecendo gradativamente do mercado.
Para Rüdiger (2003), o Correio do Povo, que começou a ser publicado em
outubro de 1895, estabeleceu a concorrência do jornalismo opinativo com o político-
partidário. O periódico, na visão de Rausch (2015), foi considerado o precursor do
gênero da informação “muito devido à clara proposta de linha neutra, pautada, tão
somente, pela informação jornalística, algo inovador para um período profundamente
influenciado por divisões entre facções ideológicas” (p. 45). Por causa do sucesso
que conquistou na época, houve contínuos investimentos na estrutura tecnológica
do jornal.
A cultura também ganhou força nos periódicos da imprensa sul-rio-grandense
na segunda metade do século XIX. Depois, o jornalismo de caráter informativo
começou a se consolidar no início do século XX com o surgimento das primeiras
empresas jornalísticas e, conforme Rausch (2015), pode ser conferido até o período
atual nos monopólios de comunicação. Nessa época, a sociedade estava
começando a se complexificar e exigir informações mais contextualizadas. Rüdiger
(2003) afirma que essas reivindicações abriram caminho para novas demandas dos
jornais informativos. “As preocupações com a cultura, as ciências e as humanidades
se encontravam em embrião, fomentando a procura por material de leitura e
atualidade capaz de desenvolvê-lo” (p. 59). Com um propósito diferente das folhas
políticas, que queriam controlar a opinião pública, o novo jornalismo abdicou desse
papel por meio da diversificação das concepções jornalísticas, propondo a
imparcialidade editorial e a veracidade das notícias.
O Jornal do Commercio (1865-1912), fundado por Francisco Cavalcanti de
Albuquerque, marcou época nessa fase. Segundo Rüdiger (2003), o periódico
conseguiu renovar seu maquinário e material tipográfico com base na sua linha
editorial independente e conquistou o título de maior jornal do Estado à época da
Revolução Federalista. O autor destaca ainda que:
Entre 1890 e 1920, o jornalismo literário-noticioso teve, pois, seu apogeu. Nessa época, de fato, multiplicaram-se em todo o Estado os jornais comprometidos com esse novo modelo jornalístico. O ciclo de desenvolvimento econômico-social iniciado em meados do século 19 estava passando por seu auge, e a sociedade encontrava-se em processo de modernização, que afetou o jornalismo em seu conjunto, pelo menos nos maiores centros urbanos. (RÜDIGER, 2003, p. 63).
24
Com a modernização dos parques gráficos, os jornais desse período
tornaram-se um princípio básico da atividade jornalística. Sendo assim, Rüdiger
(2003) esclarece que ocorreram alterações em relação à estrutura gráfica das folhas
com o aumento do número de páginas. A paginação se tornou mais leve,
apresentando uma melhor distribuição de matérias e introduzindo as cores para
explorar títulos e ilustrações. Nesse contexto de reformas, o aumento de tiragens se
tornou uma consequência desses investimentos.
A partir de 1910, com o fortalecimento das empresas jornalísticas, os
impressos seguiram em direção à concorrência monopólica. Fruto do jornalismo
nacional, o Última Hora, para Rüdiger (2003), foi a responsável por introduzir o
jornalismo popular no Estado. Em tamanho standard11, caracterizava-se pelo uso de
fotos e diagramação.
A trajetória do que viria a se tornar o maior grupo de comunicação do sul do
país começou a ser traçada em 1957, de acordo com Lauro Schirmer, na obra RBS:
da voz-do-poste à multimídia (2002). Neste ano, o fundador da Rede Sul Brasil de
Comunicação (RBS), Maurício Sirotsky Sobrinho, assumiu a Rádio Gaúcha. A
empresa possuía, segundo Rüdiger (2003), a concessão de um canal de televisão,
inaugurado em 1962.
Schirmer (2002) explica que o Última Hora deixou de circular em 1964,
quando foi comprado por Ary de Carvalho e passou a ser vendido com o nome de
Zero Hora. Carvalho era dono de 50% das ações e Maurício e Jayme Sirotsky
detinham a outra metade. Após um impasse entre os sócios, em abril de 1970, os
irmãos Sirotsky compraram a porcentagem das ações que não lhes pertencia e o
periódico passou a integrar a RBS. O jornal sofreu uma série de mudanças de
gestão e linha editorial para se adequar às novas condições do mercado. De acordo
com Schirmer (2002), nomes conceituados do ramo empresarial ajudaram o Zero
Hora a se modernizar, buscando inspiração de fora do país.
Nessa época, o Brasil estava prestes a vivenciar o Regime Militar (1964-
1985). Paralelo à reviravolta na situação política e econômica do país, a nova
ideologia ganhou destaque na imprensa regional. Rüdiger (2003) contextualiza que o
11
Standard: medida utilizada pelos jornais de maior circulação nacional, em função do aproveitamento máximo da área de chapa das offset. Disponível em: <http://diagramaacao.blogspot.com.br/2009/12/formatos-de-jornais.html>. Acesso em: 13 jul. 2016.
25
processo de consolidação da liderança da RBS seguiu determinadas fases que
direcionaram os olhares da empresa para a mídia impressa, a televisão e o rádio.
[...] o grupo desenvolveu novos métodos de gestão empresarial em seus veículos, baseando seus negócios na inovação tecnológica de suas instalações e na qualificação mercadológica de seus respectivos produtos. Enquanto isso, seus concorrentes permaneceram aferrados aos padrões empresariais que haviam determinado o seu sucesso nas primeiras décadas do século, ignorando as transformações econômicas, sociais e culturais em curso no contexto de reestruturação monopolística do capitalismo, verificada no país a partir da segunda metade da década de 1950. O resultado desse confronto foi a estagnação, seguida de declínio dos concorrentes, e a ascensão monopolizadora da RBS. (RÜDIGER, 2003, p.107-108).
Com as novas tecnologias, as mídias tradicionais puderam ultrapassar sua
função de informar e opinar para voltar-se à prestação de serviços e ao
entretenimento. Nessa linha, Rausch (2015) afirma que a RBS desenvolveu métodos
de gestão com foco na renovação tecnológica e na qualidade de seus produtos.
Zero Hora foi o primeiro veículo da RBS a possuir endereço eletrônico e, em
junho de 1995, ocorreu o lançamento do site, de acordo com Schirmer (2002). O
autor acrescenta que o jornal foi o segundo com edição online no Brasil, ficando
atrás apenas do Jornal do Brasil. O ano de 1998 foi marcado pela euforia da internet
e, para Schirmer, o grupo de comunicação soube fazer bom uso dessa ferramenta.
“A RBS vivenciou como player esse novo mundo, na internet, na televisão por
assinatura, nas telecomunicações. Apesar do que aconteceu nas telecomunicações,
foi bem na internet e também na TV por assinatura” (p. 186).
O portal do grupo na plataforma eletrônica – o ClicRBS – passou a operar em
2000, conectando todos os veículos da rede com o mundo digital. O ano também foi
marcado pelo lançamento de um jornal popular em Porto Alegre. O Diário Gaúcho,
conforme Schirmer, repetiu o sucesso dos impressos do mesmo segmento do Rio de
Janeiro e São Paulo. “[...] começou com uma tiragem diária de 130 mil exemplares,
chegou ao pico de 200 mil em dezembro de 2001” (p. 168). Mesmo no papel,
Rausch (2015) explica que o leitor desse periódico pode fugir da linearidade dos
jornais mais tradicionais “[...] para navegar pelos espaços difusos, em que links de
assuntos mais diversos, acompanhados de outros textos, vídeos e fotos, em
profusão, quebram a lógica tradicional do acesso à informação” (p. 51).
Do ponto de vista histórico, para Rüdiger (2003), o jornalismo gaúcho pode
ser dividido em duas etapas. A primeira, político-partidária, teve domínio desde o
26
surgimento do jornalismo até a década de 1930. Depois, surgiu o regime dominado
pelo jornalismo informativo e a indústria cultural, que se consolidou com a formação
das atuais redes e monopólios de comunicação.
Em muitos momentos, a história do jornalismo impresso no Rio Grande do Sul
se mistura a do contexto nacional, conforme explica Rüdiger (2003):
Nossa hipótese é de que nosso jornalismo não tem qualquer especificidade regional, seu desenvolvimento e características, salvo as condições particulares de seu contexto social-histórico, confundem-se com aquelas do jornalismo em geral, na medida em que o jornalismo é um fenômeno ocidental moderno. Isto é, constitui um fenômeno universal em sua estrutura, significado e valor. (RÜDIGER, 2003, p. 121-122).
Seguindo no contexto histórico, o próximo subtítulo abordará um breve
resumo da trajetória do jornalismo impresso em Caxias do Sul para compreender
como os periódicos se desenvolveram na cidade sede do objeto de estudo da
pesquisa, que é o jornal Pioneiro.
2.3 O JORNALISMO IMPRESSO EM CAXIAS DO SUL
A chegada de tipografias, na década de 1890, foi fundamental para a
instalação da imprensa regional, segundo Kenia Maria Menegotto Pozenato e
Loraine Slomp Giron, na obra 100 anos de imprensa regional (2004). As autoras
explicam que exatamente em outubro 1897 surgiu o primeiro periódico local. O
Caxiense era dirigido por brasileiros e ligado ao Partido Republicano.
Enquanto a imprensa brasileira e rio-grandense passavam por profundas mudanças em sua linha editorial, com uma nova fase de estruturação, pela qual a política partidária vai sendo gradativamente “vencida pela racionalidade mercantil”, na região teve início uma imprensa altamente política. (POZENATO; GIRON, 2004, p. 37).
Apesar de defender os interesses das colônias italianas, o impresso estava
mais ligado à política do que à religião. Com isso, em janeiro de 1898, surge o Il
Colono Italiano, para dar voz aos católicos imigrantes e defender a igreja contra os
ataques publicados em O Caxiense. Quando passou a circular em português, em
1941, o Il Colono Italiano se tornou o conhecido Correio Riograndense, nome que
conserva até os dias atuais.
27
Com a inauguração da linha férrea, que ligava Caxias do Sul à capital, em
junho de 1910, a comunicação ficou mais facilitada. Pozenato e Giron (2004)
destacam que entre 1901 e 1913 foi criada uma série de jornais de curta duração.
Nessa época, além dos interesses políticos, alguns veículos tinham o objetivo de
divulgar trabalhos literários.
O humor também ganhou espaço nos periódicos caxienses a partir de 1907.
Conforme Pozenato e Giron (2004), o segmento iniciava com uma crônica, seguida
de adivinhações e piadas com anúncios em meio a notas e notícias sociais. “Os
jornais humorísticos não constituíam elementos isolados na cena política da época,
mas representavam novos espaços em que, com bom humor e suavidade, eram
reeditados os confrontos entre grupos antagônicos” (p. 55).
Pozenato e Giron (2004) esclarecem que, entre 1914 e 1930, 32 jornais
circulavam na região, sendo 18 em Caxias do Sul. Os impressos tinham linhas
editoriais bem definidas e divididas em político-partidária, humorística e crítico-
literária. “Tais periódicos eram criados com caráter imediatista, por interesses
políticos. Passada a disputa eleitoral, o jornal perdia em importância e na maioria
dos casos deixava de circular” (p. 76). Neste período, as autoras destacam que o
jornalismo regional sofreu consideráveis atrasos em comparação com o Rio Grande
do Sul e o Brasil, pois na época em que se encaminhavam para a grande imprensa,
o jornalismo regional ainda estava focado nas disputas políticas. “Nada menos do
que 62% dos periódicos da época duraram menos de um ano, caracterizando uma
relação entre a criação de jornais e as políticas municipal e estadual” (p 172).
Os jornais foram responsáveis por diversas tentativas de desenvolver a
cultura da região voltada para a diversidade de aspectos e, com o passar dos anos,
trabalharam com vários estilos de informações. Conforme registrado na obra de
Liliana Alberti Henrichs, Histórias da Imprensa em Caxias do Sul (1988), A Época,
por exemplo, foi fundada por jovens idealistas para publicar suas produções
literárias. O Momento prestava serviço à comunidade. A Voz do Povo refletia o
momento da política nacional, enquanto O Pioneiro queria divulgar ideais políticos
em contrapartida ao movimento comunista. O Jornal de Caxias era destinado a
ampliar fatos religiosos, sob influência dos padres Capuchinhos, enquanto o Correio
Riograndense voltou-se para a agricultura.
A criação de periódicos diminuiu no período da ditadura e, entre 1930 e 1945,
circularam jornais com uma duração superior aos seus antecessores. No rumo da
28
industrialização, a comunicação foi marcada pela criação de empresas jornalísticas
profissionais, o que representou mais estabilidade econômica dos periódicos. Nesse
período, o governo federal proibiu o uso de línguas estrangeiras tanto faladas quanto
escritas. Em Caxias do Sul e região, não era mais possível utilizar o italiano ou o
dialeto nos jornais. De acordo com Pozenato e Giron (2004), foi nessa época que os
jornais humorísticos deixaram de circular, pois se apropriavam principalmente dos
dialetos.
O período após a Segunda Guerra Mundial proporcionou um forte
crescimento industrial em Caxias do Sul e, com isso, o surgimento de novos jornais.
O Pioneiro, iniciativa do deputado estadual Luiz Compagnoni, foi fundado em
novembro de 1948.
“O Pioneiro”, na verdade, foi um jornal organizado com objetivos políticos e dentro de uma orientação partidária do Partido de Representação Popular, mas por conveniência comercial e até por conveniência jornalística e para evitar que ele fosse apenas um jornal representativo de uma determinada facção política, procurou-se dar a ele uma feição de independência. Embora todos os seus integrantes, os sócios que participaram da iniciativa, os que emprestaram dinheiro, a participação material, para a instalação do jornal fossem todos elementos ligados ao Partido de Representação Popular. (HENRICHS, 1988, p. 40).
Os jornais dessa época apresentavam mais notícias de interesse de um
público específico do que do público em geral, que envolvia a comunidade. Em
pleno desenvolvimento econômico, os periódicos de circulação local sofreram
mudanças que os tornariam mais modernos, com menos interesse político local,
voltando-se mais para a economia e cultura.
As empresas jornalísticas criadas de 1964 a 1988 já não possuíam vínculos
diretos com partidos políticos. Apenas a influência religiosa se manteve, como no
caso do Correio Riograndese, ligado à ordem dos Capuchinhos. Fundado em 1908 e
dirigido pelos padres capuchinhos, o periódico também passou por mudanças. Sem
desviar da tradição religiosa, investiu na exploração de notícias do mundo atual.
O Correio Riograndese e O Pioneiro, conforme Pozenato e Giron (2004),
foram exemplos de adaptação constante aos novos tempos, tanto que ambos
circulam até a data da presente pesquisa. A nomenclatura do Correio Riograndese
passou por mudanças mais significantes ao longo de sua história enquanto O
Pioneiro mudou para Pioneiro no início da década de 1980, segundo as autoras.
29
Quando foi adquirido pelo grupo RBS, em 1993, ocorreram alterações
gráficas e na área de abrangência do Pioneiro. Apresentado como Diário de
Integração Regional, passou a circular em toda a região serrana. Rüdiger (2003)
explica que a transformação do jornalismo no Rio Grande do Sul está diretamente
ligada com o processo de ascensão da RBS, que visa menos à expansão do
mercado do que à ocupação de todos os seus espaços, sendo considerada de
cunho monopolista.
Quando O Pioneiro foi comprado pela Rede (1993), Caxias do Sul foi privada de maneira quase instantânea de seu segundo jornal diário. O Pioneiro havia suplantado ou absorvido folhas menores, assumindo a liderança do mercado na região serrana. Em 1988, começou a enfrentar a concorrência por parte de um novo jornal, a Folha de Hoje. As vantagens comparativas e o poderio econômico agregados ao veículo pelos novos controladores determinaram o imediato fechamento deste último, sugerindo situação que pode voltar a se repetir em outras cidades do Rio Grande. (RÜDIGER, 2003, p. 114).
O jornalismo impresso local ganhou um jornal de postura independente que,
apesar da curta duração, deixou sua marca. A Folha de Hoje iniciou suas atividades
na cidade em setembro de 1988, com circulação semanal e, a partir de novembro de
1989, passou a ser publicada de segunda a sábado. De acordo com Pozenato e
Giron (2004), o jornal pertencia ao grupo Triches e foi dirigido por Paulo Cancian. O
periódico circulou até o dia 31 de outubro de 1994. Conforme o jornalista Rodrigo
Lopes, em publicação no blog Memórias12, o empreendimento destacava-se pela
autonomia no processo de impressão, pois possuía uma moderna máquina
americana com capacidade para imprimir uma edição de 32 páginas em 25 minutos,
com fotos coloridas.
Atualmente, a concorrência direta enfrentada pelo Pioneiro é o jornal Folha de
Caxias. A primeira edição do veículo circulou em 13 de abril de 2012. Na ocasião,
em entrevista ao portal Coletiva.net13, o responsável do jornal e diretor-geral do
Grupo Integração de Jornais, de Gramado, Claudio Scherer declarou que “uma
cidade do tamanho e da importância de Caxias do Sul não pode ter apenas um
jornal diário”. O periódico circula de segunda a sexta-feira. A tiragem inicial é de 10
12
Disponível em: <http://wp.clicrbs.com.br/memoria/2014/10/31/os-20-anos-do-fim-do-jornal-folha-de-hoje/?topo=87,1,1,,,87>. Acesso em: 12 set. 2016. 13
Disponível em: <http://coletiva.net/noticias/2012/04/jornal-folha-de-caxias-e-a-novidade-da-serra/>. Acesso em: 12 set. 2016.
30
mil exemplares, impressos no parque gráfico estruturado em Gramado, segundo a
informação da Coletiva.net.
Caxias do Sul centraliza o maior número populacional da região, e de acordo
com Pozenato e Giron (2004), também ostenta o título de ser a cidade local onde
ocorreu o maior número de criação de jornais.
Como já abordado no capítulo, a internet provocou mudanças significativas na
maneira como as pessoas se comunicam. A tecnologia da informação nunca foi tão
percebida. Desde o surgimento dos computadores pessoais, em 1980, até a
expansão do ciberespaço, as transformações tecnológicas mudaram a forma como o
ser humano se relaciona. O próximo capítulo busca compreender mais sobre a
história da tecnologia e sua influência nos meios de comunicação.
31
3 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
A maneira como as pessoas se comunicam vem sofrendo alterações ligadas
às transformações tecnológicas. Os veículos de comunicação tradicionais,
representados pelo rádio, a televisão e os meios impressos, passam por um período
de desafios relacionados ao desenvolvimento das novas tecnologias de
comunicação. Com isso, Lucas Vieira de Araujo, no artigo Mídia e novas
tecnologias: até quando os veículos de comunicação tradicionais vão resistir (2015),
explica que o cenário atual da comunicação digital inspira cuidados e reflexões por
parte dos segmentos mais antigos.
Assim, não é de se estranhar a preocupação com o futuro e os questionamentos em torno da continuidade ou não de determinado veículo, principalmente no caso do jornal e da revista. O avanço das novas mídias é avassalador, sobretudo sobre a receita e os leitores desses veículos nascidos há séculos. (ARAUJO, 2015, p. 13).
Para compreender as mídias digitais e verificar seu impacto nos veículos
tradicionais, primeiramente é necessário conhecer o processo evolutivo das
tecnologias da informação. Manuel Castells, no livro A sociedade em rede (1999),
afirma que “a tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou
representada sem suas ferramentas tecnológicas” (p. 43). Em síntese, o novo
sistema de comunicação, desencadeado por intermédio dos computadores, se
desenvolveu paralelo às transformações sociais e econômicas, sendo originado em
um período de reestruturação do capitalismo em nível mundial.
Castells (1999) entende que a tecnologia pode ser definida como o uso do
conhecimento científico para determinar a maneira de se fazer as coisas de uma
forma capaz de ser reproduzida. Como tecnologia da informação, o pesquisador
inclui o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação,
telecomunicações/radiodifusão, e optoeletrônica (transmissão por fibra ótica e laser).
Essas novas tecnologias da informação expandiram-se com o surgimento da
internet, que, de acordo com Pollyana Ferrari, no livro Jornalismo Digital (2003),
ocorreu em 1969. Na época, uma organização do Departamento de Defesa dos
Estados Unidos criou a Arpanet – rede nacional de computadores que servia para
garantir uma comunicação emergencial caso o país fosse atacado.
32
Com o rápido crescimento do tráfico de dados, novas redes começaram a
surgir e o acesso foi ampliado para universidades e organizações de pesquisa norte-
americanas. Manuel Castells, no livro A sociedade em rede (1999), afirma que os
cientistas começaram a usar a internet para suas próprias comunicações, chegando
a criar uma rede de mensagens entre eles. Sendo assim, ficou impossível separar
os fins de pesquisa das conversas pessoais.
Os avanços tecnológicos tornaram a Arpanet obsoleta, fazendo com que seus
serviços fossem encerrados em 1990, ano em que ocorreu a privatização e
consequente expansão da internet. De acordo com Ferrari (2003), a National
Science Foundation desenvolveu uma rede que conectava pesquisadores de outros
países. Nesse núcleo de estudo estava Tim Berners Lee, o inventor da World Wide
Web (WWW). O programa foi proposto em 1989 e ganhou colaboradores nos anos
seguintes. O software permitia a troca de informações com qualquer computador
ligado à internet.
A história das tecnologias eletrônicas, de acordo com Castells (1999), é
constituída por três fases: a microeletrônica, a de computadores e as
telecomunicações. Mesmo que a tecnologia tenha raízes criadas muito antes do
surgimento desses aspectos, o autor defende que é apenas na década de 1970 que
surge um novo paradigma tecnológico por meio da ampla difusão e rapidez do
desenvolvimento das novas tecnologias da informação.
As duas últimas décadas do século XX, segundo Castells (1999), trouxeram
importantes contribuições tecnológicas, como avanços na medicina, novas técnicas
de produção e tecnologia de transportes. Outro aspecto a ser salientado pelo autor
está relacionado à comunicação.
[...] o processo atual de transformação tecnológica expande-se exponencialmente em razão da sua capacidade de criar uma interface entre campos tecnológicos mediante uma linguagem digital comum na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida. (CASTELLS, 1999, p. 68).
Para Castells, as novas tecnologias da informação não são processos
definidos, com conceitos a serem aplicados. Nesse meio, não há distinção entre
usuário e criador, pois quem consome o produto na rede pode assumir o controle da
tecnologia. A internet de grande alcance e a interatividade começou a se desenhar
33
em 1993, conforme explica Ferrari (2003). Foi nesse período que os primeiros sites
de busca começaram a investir em recursos para atrair os usuários da rede online.
Manuel Castells, no livro A galáxia internet (2004), aponta que nessa década
a internet se tornou acessível para as pessoas, as empresas e a sociedade em
geral. Como as empresas privadas são a principal fonte de riqueza da sociedade, o
autor explica que a difusão dessa nova ferramenta foi mais rápida nesse setor. O
modelo de negócios foi alterado e teve impacto na relação entre fornecedor e
cliente. Castells denomina de empresa-rede os negócios que utilizam as redes para
o mercado de trabalho. O autor apresenta alguns benefícios que o meio tecnológico
trouxe para a evolução das empresas, sendo eles:
a) Escalabilidade: a rede pode incluir componentes locais e globais sem
obstáculos. Permite a evolução, expansão e até mesmo a retração do
negócio sem necessidade de altos investimentos;
b) Interatividade: permite a comunicação em tempo real;
c) Flexibilidade: permite conservar o projeto empresarial ao mesmo tempo em
que pode ser alterado;
d) Gestão da marca: em um mundo virtual onde o usuário tem acesso a diversas
opções semelhantes, destacar-se pelo reconhecimento do produto é
essencial;
e) Personalização: deixar de lado as produções em massa e investir na
combinação adequada entre o volume e a produção alinhados à necessidade
do consumidor.
Castells (2004) destaca que a ampla propagação da internet foi possível
devido à rapidez com a qual se transforma e se adapta às necessidades dos
usuários. “A história da tecnologia demonstra claramente que a contribuição dos
utilizadores é crucial para a sua produção, e que a adaptam aos seus próprios usos
e valores e, finalmente, transformam a própria tecnologia [...]” (p. 46).
A internet, segundo Castells (1999), marcou uma nova revolução tecnológica,
abrangendo todo o planeta e não apenas uma localidade isolada. Sendo assim,
surge um novo paradigma tecnológico que reúne cinco aspectos importantes na
representação da sociedade da informação, sendo eles: o uso da informação como
matéria-prima; a penetração dos efeitos tecnológicos; a lógica de rede; a
34
flexibilidade de reconfiguração; e o crescimento da convergência tecnológica, tema
do assunto explorado no próximo subtítulo.
3.1 AS NOVAS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO
A nova revolução tecnológica causada pela internet permitiu a expansão
ilimitada de acesso aos equipamentos digitais e conexões em tempo real, causando
transformações sociais e culturais. Pierre Lévy, no livro Cibercultura (2000), explica
que assistimos ao surgimento de uma transformação radical nas culturas humanas,
denominada de cibercultura. O espaço propício para o desenvolvimento dessas
relações sociais é uma rede digital que permite essa conexão, chamada pelo autor
de ciberespaço.
O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abrange, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LÉVY, 2000, p. 17).
As transformações da informação e da comunicação, conforme Lucia
Santaella explica em A crítica das mídias na entrada do século 21 (2002), provoca o
termo que conhecemos como revolução digital. A autora enfatiza que, graças à
digitalização, a informação pode ser difundida via computador para qualquer pessoa
no mundo por meio dessa rede gigante de transmissão que também conhecemos
como ciberespaço.
André Lemos, na obra Cibercultura (2013), complementa que a relação entre
a vida social e os dispositivos eletrônicos é definida como cibercultura. “A
cibercultura está inscrita no nosso dia a dia, presente em todas as atividades, sejam
elas do trabalho, lazer ou vida privada” (p. 11). Segundo o autor, a cibercultura
surgiu nos anos de 1950, mas começou a se destacar entre 1980, com a informática
de massa, e 1990, com as redes telemáticas, principalmente por meio da internet.
As transformações sociais estão diretamente ligadas às tecnologias da
informação, caracterizando um processo chamado por Lévy (2000) de inteligência
coletiva. O termo, segundo o autor, é um dos principais motivadores da cibercultura
35
e refere-se à troca de conhecimento entre os usuários, gerando um saber que não é
centralizado em uma única pessoa, pois está disponível a todos. O ciberespaço
proporciona um ambiente adequado para o desenvolvimento da inteligência coletiva
como, por exemplo, o surgimento de sistemas da aprendizagem cooperativa. Henry
Jenkins, no livro Cultura da Convergência (2009), afirma que “[...] estamos
dependendo cada vez mais dos outros para fornecer informações que não
conseguimos processar sozinhos. [...] estamos vivendo cada vez mais no interior de
culturas baseadas na inteligência coletiva” (p. 184).
Os processos de inteligência coletiva, segundo Lévy (2000), fazem surgir
novas formas de isolamento (estresse pela comunicação e pelo trabalho diante da
tela), de dependência (vícios virtuais), de dominação (centros de controle sobre
funções importantes da rede), de exploração (casos de teletrabalho vigiado) e até
mesmo de bobagem coletiva (rumores virtuais, acúmulo de dados sem informação).
O usuário da internet tem acesso ao que chamamos de mundo virtual que,
para Lévy (2000), pode ser entendido em três sentidos: o técnico, que se refere à
informática; o filosófico, que existe em forma potencial e não em atitudes; e corrente,
que significa irrealidade. No entanto, o autor destaca que o virtual pode existir sem
estar presente na forma física. “Ao interagir com o mundo virtual, os usuários o
exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interações podem enriquecer
ou modificar o modelo, o mundo virtual torna-se um vetor de inteligência e criação
coletivas” (p. 75).
A relação das categorias da comunicação sofreu alterações diante das novas
tecnologias. Lévy (2000) explica que existem três grandes tipos desse segmento:
um-todos, um-um e todos-todos. Na primeira categoria, encaixam-se o impresso, o
rádio e a televisão, pois um emissor envia suas mensagens para um grande número
de receptores passivos. A relação um-um é constituída por meio do telefone ou
correio, possibilitando o contato de indivíduo para indivíduo. Já o dispositivo todos-
todos é propiciado pelo ciberespaço, que permite uma interação entre as pessoas,
independente da sua localização geográfica. Lévy (2000) afirma que o ciberespaço
propicia a comunicação em mundos virtuais compartilhados “As realidades virtuais
compartilhadas, que podem fazer comunicar milhares ou mesmo milhões de
pessoas, devem ser consideradas dispositivos de comunicação “todos-todos”,
típicos da cibercultura” (p. 105).
36
A circulação de informações na internet é derivada de uma conexão
generalizada e atinge todos que estão conectados em um mesmo ambiente, o que
não era possível com as mídias clássicas. André Lemos, em Aspectos da
cibercultura – vida social nas redes telemáticas (2002), explica que os impactos
dessa transformação são encontrados nas áreas da cultura contemporânea e
precisam ser profundamente analisados.
A simultaneidade e interatividade (hipertexto), assim como a descentralização, fazem da Internet algo bem diferente das mídias de massa. Ela não é uma mídia, mas um (novo) ambiente midiático, uma incubadora espontânea de instrumentos de comunicação, um sistema auto-organizante criativo. (LEMOS, 2002, p. 123).
Entende-se que esse cenário propiciou o surgimento das redes sociais –
ferramentas de comunicação muito utilizadas atualmente. Graças ao imediatismo
que está presente no mundo virtual, Raquel Recuero explica no livro A conversação
em rede (2012), que o conceito de conversação sofreu mudanças a partir das
tecnologias.
[...] essas conversações são bastante diferentes dessas constituídas no espaço off-line, o que implica o fato de que as redes também são diferentes. São representações das redes off-line, espaços dinâmicos onde essas conversações são capazes de apresentar tipos diferentes de redes que, com suas conversações, influenciam o ambiente do ciberespaço. (RECUERO, 2012, p. 128).
Diante disso, as novas tecnologias da informação criam uma aproximação
entre consumidor e produtor de conteúdo. Na cibercultura, a interação entre as
mídias, além de provocar uma conexão, causam também a convergência, que tem
um impacto significativo na produção cultural. A convergência representa uma
transformação cultural, possibilitando que um mesmo conteúdo seja reproduzido em
diferentes plataformas. Jenkins (2009) explica que a convergência “[...] define
mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias
circulam em nossa cultura. Algumas das ideias comuns expressas por esse termo
incluem o fluxo de conteúdos através das várias plataformas de mídia” (p. 377).
Na era digital, um conteúdo específico para uma mídia pode ser deslocado
para vários canais, estabelecendo assim relações diretas entre produtores e
consumidores. A possibilidade de o usuário participar ativamente desse processo é
definida por Jenkins (2009) como cultura participativa.
37
Consumidores estão aprendendo a utilizar as diferentes tecnologias para ter um controle mais completo sobre o fluxo da mídia e para interagir com outros consumidores. As promessas desse novo ambiente de mídia provocam expectativas de um fluxo mais livre de ideias e conteúdos. Inspirados por esses ideais, os consumidores estão lutando por direito de participar mais plenamente de sua cultura. (JENKINS, 2009, p. 46).
O ciberespaço proporcionou a interferência direta dos usuários na maneira
como o conteúdo é pensando. Jenkins (2009) explica que a convergência criada
entre as mídias permite modos de audiência comunitários e não mais individualistas.
Como exemplo, o autor cita os reality shows, que na sua avaliação foram a primeira
experiência bem-sucedida da convergência midiática, pois demonstrou o poder de
transposição entre velhas e novas mídias. Os programas originados na televisão
americana permitiam que o espectador opinasse sobre como o show devia continuar
ou qual participante permaneceria ou seria eliminado.
O envolvimento do público com os programas é utilizado pelas empresas
como uma nova estratégia de marketing. Jenkins (2009) define essa relação entre
consumidor e mídia como uma economia afetiva, pois a indústria das mídias procura
entender as reações do consumidor para produzir conteúdos que chamem sua
atenção e, consequentemente, aumentar as vendas.
Jenkins (2009) relata que o público ganhou na internet outras plataformas
para compartilhar sua opinião sobre determinada marca comercial como, por
exemplo, a criação de paródia de um comercial ou a postagem de mensagens em
fóruns de discussão. As novas tecnologias permitiram uma conexão entre o
consumidor e a marca. Isso possibilitou que o público interferisse na forma de se
pensar um produto e influenciasse toda a questão econômica de comercialização na
mídia. Essas transformações não estão associadas exclusivamente à indústria do
entretenimento.
O atual momento de transformação midiática alterou importantes hábitos
culturais dos meios de comunicação tradicionais e, segundo o autor, as pessoas
comuns contribuíram ativamente com esse processo. “Na cultura da convergência,
todos são participantes – embora os participantes possam ter diferentes graus de
status e influência” (p. 189). As mídias tradicionais precisam lidar com as novas
tecnologias, pois Jenkins (2009) explica que qualquer pessoa com um celular e
acesso à internet pode divulgar a informação por primeiro – o conhecido furo –,
antes mesmo que os veículos tenham tempo para apurá-la.
38
A pluralidade da internet, conforme Jenkins (2009), se apresenta como um
canal de comunicação alternativa, permitindo que o usuário divulgue suas ideias
livres da filtragem de conteúdo imposta pela mídia corporativa. “As poucas barreiras
existentes para se entrar na web facilitam o acesso a ideias inovadoras e até
revolucionárias, pelo menos entre o crescente segmento da população com acesso
a um computador” (p. 290).
A indústria midiática adotou a cultura da convergência, porém Jenkins (2009)
explica que o interesse está relacionado sempre ao crescimento econômico e não
ao objetivo de delegar poderes ao público para que ele tenha uma participação mais
ativa nos meios de comunicação.
A convergência representa uma mudança de paradigma, pois, como
abordado anteriormente, possibilita que um mesmo conteúdo seja distribuído para
vários canais de comunicação. A relação entre mídia corporativa e cultura
participativa torna-se cada vez mais complexa, porque o domínio não está mais
centralizado de cima para baixo.
3.2 A VELHA E A NOVA MÍDIA
A sociedade está passando por um momento onde a velha e a nova mídia se
complementam, segundo Jenkins (2009). A internet é responsável pela
transformação das mídias tradicionais, tornando-as mais interativas e participativas
devido à necessidade estabelecida no mundo virtual. Por isso, o autor explica que é
preciso criar um fluxo entre as duas partes para dar mais poder a diversificação
cultural.
Já estamos aprendendo a viver em meio aos múltiplos sistemas de mídia. As batalhas cruciais estão sendo travadas agora. Se nos concentrarmos na tecnologia, perderemos a batalha antes mesmo de começarmos a lutar. Precisamos enfrentar os protocolos sociais, culturais e políticos que existem em torno da tecnologia e definir como utilizá-los. (JENKINS, 2009, p. 292).
Se o paradigma da revolução digital apontava que as mídias tradicionais
seriam substituídas pelas novas mídias, Jenkins (2009) expõe que o paradigma da
convergência presume uma interação cada vez mais complexa entre elas. Em um
momento onde muitos fatores ainda são desconhecidos e as transformações não
foram totalmente esclarecidas, o autor cita o editor da revista Reason, Jesse Walker,
39
para evidenciar que muitos líderes de grandes indústrias da mídia estão recorrendo
à convergência para encontrar um norte para o futuro de seus veículos de
comunicação.
Os novos meios de comunicação não estão substituindo os velhos; estão transformando-os. Devagar, mas de forma perceptível, a velha mídia está se tornando mais rápida, mais transparente, mais interativa – não porque quer, mas porque precisa. (WALKER apud JENKINS, 2009, p. 293).
As transformações tecnológicas impactaram também na maneira de se fazer
e distribuir o conteúdo. Muitos estudiosos tentam compreender sobre as recentes
mudanças no jornalismo, em especial com o aumento considerável da participação
do consumidor neste cenário. Aparecido Antonio dos Santos Coelho explica, no
artigo Impactos do uso de Hiperlocal, Dados e Aplicativos no jornalismo e
comunicação (2016), que a notícia ganhou novas maneiras de chegar ao alcance do
público. “O monopólio da informação foi rompido, deixou de ser exclusivo das
empresas de mídia e agora todos que têm acesso à internet podem receber
informações por diversas fontes, bem como, direto da fonte de interesse, sem
intermediários” (p. 3). O pesquisador aponta que o jornalista precisa estar preparado
para essas mudanças e, com isso, precisa entender as dinâmicas das novas
tecnologias que interferem na profissão. Lucas Vieira de Araujo (2015) avalia as
perspectivas de futuro do rádio, da televisão e dos impressos em relação às novas
tecnologias e ressalta a possibilidade desses meios, com poucas opções de
desenvolvimento, serem incorporados pelas novas mídias.
[...] a nova geração de consumidores tem forte apego às novas tecnologias e certa resistência ao meio físico, como o papel, e ainda ao modelo de negócio baseado em grade de programação, base de sustentação da TV e do rádio. Como não existe uma forma estabelecida de como lidar com esses fenômenos, os meios de comunicação ainda lutam para se manter sem saber ao certo se trará os resultados esperados. De qualquer forma, o processo de incorporação e de cerceamento da imprensa pelas empresas de base tecnológica e pelas operadoras já começou. (ARAUJO, 2015, p. 13).
A internet proporcionou um espaço de liberdade em uma sociedade
controlada por grandes grupos de mídia. Como exemplo, Castells (2004) apresenta
as possibilidades que as mídias tradicionais têm de aparecer no mundo virtual, como
as emissoras de rádio que emitem através de ondas da rede. Para os jornais
40
impressos, o autor salienta a falta de disponibilidade dos leitores de pagarem por
eles na versão online e destaca que, em um espaço de informação ilimitada, a
credibilidade é o diferencial do jornal impresso.
O alcance das informações tomou outras proporções com as novas
tecnologias, ampliando o seu alcance para diferentes públicos. O consumidor está
presente em diversas plataformas e, na internet, ganha espaço para uma
participação ativa no consumo de conteúdo. Isso exige do profissional de
comunicação um olhar estratégico, pois é preciso, primeiramente, entender como
seu público está consumindo o conteúdo e qual é o melhor formato para ele. A
crescente oferta de notícias é uma característica marcante da contemporaneidade. A
comunicação difundida em novas plataformas oferece diferentes maneiras de o
receptor consumir e colaborar com a informação atualmente.
Como uma grande parcela da população está presente e consumindo
conteúdo de redes sociais, Recuero (2012) explica que essa interação que ocorre no
mundo virtual – conversas públicas e coletivas – influencia diretamente na cultura,
que está sendo repensada e reconstruída. Para a autora, é possível que as
informações que os usuários escolhem publicar na internet sejam influenciadas pela
percepção de valor que podem gerar.
A cada dia, pessoas de todo o mundo conectam-se à internet e engajam-se em interações com outras pessoas. Através dessas interações, cada uma dessas pessoas é exposta a novas ideias, diferentes pontos de vista e novas informações. Com o advento dos sites de rede social, essas conversações online passaram a criar novos impactos, espalhando-se pelas conexões estabelecidas nessas ferramentas e, através delas, sendo amplificadas para outros grupos. (RECUERO, 2012, p.121).
A expansão das redes sem fio e a conexão ao alcance de todos que tenham
acesso a um aparelho celular moderno popularizaram a comunicação móvel. Apesar
da grande quantidade de informação que circula no ambiente virtual, Coelho (2016)
afirma que o jornalista é o profissional capacitado para filtrar as informações que são
relevantes para o público consumidor, auxiliando as pessoas nesse processo. “A
tecnologia, novas ferramentas e estratégias informacionais vêm para aprimorar o
processo de elaboração de conteúdo e fazer a melhor entrega determinada para a
melhor plataforma” (p. 5).
Os pesquisadores Helson de França Silva e Benedito Dielcio Moreira, no
artigo A prática jornalística e o nomadismo digital: potencialidade e possíveis
41
caminhos (2015), apontam que a produção jornalística está mais rápida e dinâmica.
A dupla elenca que a instantaneidade, o compartilhamento de notícias, a interação
com os leitores e a utilização de recursos como vídeos e hiperlinks14 trouxeram
novas possibilidades aos profissionais da área. Para os autores, apostar em novos
modelos de fazer jornalismo pode ser a solução do futuro da atividade.
A união entre a flexibilidade proporcionada pela popularização da internet e das tecnologias móveis a uma narrativa poderosa, que possa contar histórias e relatar fatos de maneira mais prazerosa, rica em detalhes e independente pode, além de reoxigenar o jornalismo, render bons frutos. (SILVA; MOREIRA, 2015, p. 13).
O momento de transformação pelo qual as mídias e, consequentemente o
jornalismo está passando, não deve ser visto como uma crise, mas sim como uma
mudança de cenário. Para Marina de Carvalho e Francisco Pimenta, no artigo Crise
ou oportunidade? Como as novas tecnologias podem contribuir na produção de uma
grande reportagem multimídia de qualidade (2016), situações como essa
impulsionam o jornalismo a se adaptar, como já ocorreu outras vezes na história. “A
rápida expansão da internet tem provocado mudanças que não podem ser deixadas
de lado. [...] Palavras escritas, áudio, vídeo, foto, texto, todos os diferentes tipos de
códigos agora podem estar reunidos em um mesmo suporte” (p. 2).
Compreender o futuro das mídias é o desafio de recentes pesquisas no
campo da comunicação.
3.3 AMBIENTE VIRTUAL: ACESSO COLETIVO OU INDIVIDUALIZAÇÃO DA
SOCIEDADE?
O sucesso da revolução causada pela internet é questionado por Dominique
Wolton na obra Internet, e depois? (2007). A atração pelos recursos oferecidos no
ambiente virtual, segundo o autor, está alinhada ao movimento de individualização
da sociedade. Autonomia, domínio e velocidade são as três palavras usadas pelo
crítico para compreender a relevância da internet na vida das pessoas. A utopia de
um mundo acessível a todos pode criar a falsa impressão de liberdade individual, de
14
Hiperlink: elemento básico de hipertexto, um hiperlink oferece um método de passar de um ponto do documento para outro ponto no mesmo documento ou em outro documento (FERRARI, Pollyana. Hipertexto, hipermídia: as novas ferramentas da comunicação digital. São Paulo: Contexto, 2007).
42
acordo com Wolton. “Quando se fala atualmente do sucesso das novas tecnologias
de comunicação, é necessário então ser preciso, lembrando que se trata de uma
mescla de realidade e mitos” (p. 85).
Vários são os aspectos citados por Wolton (2007) para explicar os motivos
que levaram os jovens a se interessarem pelas novas tecnologias como, por
exemplo, a liberdade para circular na rede e acessar apenas o conteúdo que lhes
interessa. O pesquisador afirma que, geralmente, muitos estudiosos veem nesse
contexto a emergência de uma nova sociedade em rede, livre e solidária. Entretanto,
Wolton discorda e caracteriza esse pensamento como uma utopia social e
igualitária, pois o mundo globalizado tornou as pessoas mais dependentes e
fragilizadas.
A sensação de igualdade em relação ao acesso à informação também é
contestada por Wolton (2007). Mesmo que possamos acessar livremente a
informação, o autor explica que a busca será segmentada pelo nível cultural e até
mesmo financeiro do usuário. A utilização das novas tecnologias para procurar a
informação pode ser mais seletiva do que o rádio, a televisão e o jornal, por
exemplo, que, para o autor, oferecem o mesmo produto para todos.
Um risco apontado pelo crítico de consumir a informação disponível na rede é
a segmentação do conteúdo em razão dos meios sociais. Apesar das constantes
críticas que recebem, Wolton afirma que os meios tradicionais ainda se revelam ser
mais democráticos em relação às novas mídias. “Eles são os instrumentos de
comunicação que atuam no universal e não no particular. Com essas mídias, a
informação é dirigida a todos, cada um a internalizando de acordo com a sua
personalidade quanto de sua posição social” (p. 97).
Se, por um lado, a internet tem um sistema melhor de distribuição de
informação em relação às mídias tradicionais, Wolton (2007) explica que o sistema
de comunicação está mais defasado. O autor acrescenta ainda que a comunicação
é possível por meio de uma ligação entre o emissor, a mensagem e o receptor –
razão pela qual não é possível sem a definição de um espaço no qual ela exista.
Como a informação da internet pode ser acessada em qualquer lugar do mundo, o
autor explica que se perde precedentes essenciais para uma comunicação eficiente.
43
Com a Net, se está do lado da emissão, da capacidade de transmissão sem reflexão do receptor, que pode ser qualquer internauta do mundo. Ao contrário, não se pode ter uma mídia sem uma reflexão sobre o que pode ser a demanda e o público. (WOLTON, 2007, p. 101).
Para criar uma comunicação eficiente, um dos desafios propostos pelo autor
para as novas tecnologias é um projeto e um modelo cultural. O crítico explana que
a transmissão mais veloz da informação criou uma nova maneira de comunicar, mas
que precisa ser revista para não ser banalizada.
O drama com os seres humanos é que eles não se contentam com informações; eles são portadores de emoções, nunca interpretam da mesma maneira as informações e têm dificuldade, principalmente, em distinguir informação de boatos. (WOLTON, 2007, p. 134).
O que muitos pesquisadores chamam de revolução, Wolton define apenas
como uma inovação técnica, já que na sua visão a sociedade não foi profundamente
transformada com a chegada da internet. “Por enquanto, as novas tecnologias,
como de resto das mídias de massa, remetem à mesma sociedade, a sociedade
individualista de massa, com vocações particulares de umas e de outras” (p. 186).
Com isso, o autor afirma que essa é mais uma etapa do progresso da comunicação,
pois as mídias tradicionais e as novas tecnologias são complementares.
As transformações nos processos comunicacionais são muito recentes. A
convergência de mídias e seus processos de produção e mediação de conteúdos
são temas desafiadores para os profissionais e pesquisadores da área. Para
entender melhor esses processos, a produção de conteúdo no jornalismo impresso e
digital, foco dessa pesquisa, será o tema no próximo capítulo. Por meio de um
comparativo entre as mídias será possível compreender melhor as diferenças e
semelhanças presentes nas plataformas.
44
4 PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO JORNALISMO IMPRESSO E ONLINE
O jornalismo é uma atividade múltipla e difícil de ser caracterizada em um
único conceito. A possibilidade de atuar em diversos meios, entre eles os jornais e a
internet, dificulta trabalhar com uma definição padrão sobre a produção de conteúdo
para todas as áreas. Caldas (2002) afirma que determinadas funções e habilidades
exigidas em cada um deles são muito diferentes.
Para o melhor entendimento dos processos de produção gerais e específicos
do jornalismo impresso e online, neste capítulo serão abordados os conceitos de
notícia e reportagem, os critérios de noticiabilidade, o processo da pauta, produção e
apuração da notícia e as características particulares presentes em cada uma dessas
plataformas.
4.1 NOTÍCIA VERSUS REPORTAGEM
Notícia e reportagem são conceitos que se confundem quando o assunto é a
produção de conteúdo jornalístico. Apesar das semelhanças, Noblat (2004) explica
que a notícia é o relato mais curto de um fato, enquanto a reportagem é rica em
detalhes:
notícia é uma história, assim como a reportagem. As pessoas gostam de ouvir e de ler histórias. De preferência, sobre outras pessoas. Toda história tem de ter começo, meio e fim. Notícia e reportagem, também. Um começo que chame a atenção do leitor. Um miolo atraente e para empurrá-lo até o fim da história. E um final, se possível, que o surpreenda. (NOBLAT, 2004, p. 130-131).
A reportagem, para Ana Arruda Callado, em O texto em veículos impressos
(2002), é o “levantamento de um problema ou o balanço de uma situação” (p. 52). A
autora destaca que a reportagem ganha o estilo mais pessoal de quem a escreve, o
que a diferencia da notícia. Como exemplo, a narrativa pode descrever em detalhes
o clima que envolve uma determinada situação por meio da perspectiva do
jornalista.
A distância entre os conceitos é estabelecida a partir da definição da pauta.
Segundo Nilson Lage, na obra Estrutura da notícia (2000), as pautas para as
notícias são indicações de fatos programados, de eventos que podem ter
desdobramentos ou da ligação com setores que registram acontecimentos de
45
interesses públicos, como os órgãos de polícia. Já a reportagem trata do
levantamento de um assunto amparado por um estudo de planejamento. A partir da
discussão da pauta, todos os aspectos que envolvem a sua produção são pensados
e definidos. Lage (2000) explica que a reportagem não possui uma estrutura rígida,
sendo escrita de acordo com cada veículo, público e assunto e “em certos casos,
admite-se que o repórter conte o que viu na primeira pessoa. A linguagem também é
mais livre. [...] Há reportagens em que predominam a investigação e o levantamento
de dados; em outras, a interpretação” (p. 47 e 48).
Para saber onde encontrar a notícia, Noblat (2004) destaca que o profissional
deve ter um faro bem apurado e estar atento aos detalhes.
A notícia está no curioso, não no comum; no que estimula conflitos, não no que inspira normalidade; no que é capaz de abalar as pessoas, estruturas, situações, não no que apascenta ou conforma; no drama e na tragédia e não na comédia e no divertimento. (NOBLAT, 2004, p. 31).
A partir do entendimento do conceito de notícia e reportagem, no subtítulo
seguinte serão abordados quais critérios devem ser observados para decidir se um
fato deve virar notícia ou não.
4.1.1 Critérios de noticiabilidade
Para entender o que é notícia, é preciso analisar quais são os critérios de
noticiabilidade. O tema será discutido com base nas definições de Nelson Traquina,
na obra Teorias do Jornalismo – Volume II (2005). Os critérios de noticiabilidade, ou
valores-notícia, são importantes aspectos de interação jornalística e, segundo
Traquina, representam o conjunto de regras usadas para definir que fatos merecem
um tratamento jornalístico. “Os critérios de noticibilidade são o conjunto de valores-
notícia que determinam se um acontecimento, ou assunto, é susceptível de se tornar
notícia, isto é, de ser julgado como merecedor de ser transformado em matéria
noticiável” (p. 63).
Os valores-notícia estão divididos em dois grupos: o de seleção e o de
construção. Os valores-notícia de seleção são utilizados na escolha de determinado
acontecimento para transformá-lo em notícia. Já os valores-notícia de construção
funcionam como orientação para apresentar o material. Os critérios apresentados a
46
seguir, definidos por Traquina, estão classificados no grupo dos valores-notícia de
seleção:
a) Morte: além de ser inevitável, quanto mais violenta for ou mais conhecidas
forem as pessoas, mais atenção o fato receberá. Presente diariamente no
jornalismo, a morte é considerada um valor-notícia fundamental para a
comunidade;
b) Notoriedade: celebridades, políticos, elite, entre outras pessoas famosas ou
que se destacam na sociedade, agregam importância ao fato. Em muitas
oportunidades, os acontecimentos ganham relevância pela pessoa que está
envolvida e não pelo fato em si;
c) Proximidade: é relevante em termos geográficos. Muitas vezes um fato que
aconteceu em determinada cidade será notícia em um jornal local, mas
dificilmente em outro país;
d) Relevância: para Traquina (2005), é a “preocupação de informar o público dos
acontecimentos que são importantes porque têm um impacto sobre a vida das
pessoas” (p. 80);
e) Novidade: o novo sempre foi relevante no jornalismo. Um fato já noticiado
somente volta à pauta se surge alguma novidade para relembrar o assunto;
f) Tempo: pode estar presente na forma de atualidade para um acontecimento
recente; em forma de aniversário quando, por exemplo, uma notícia completa
10 anos; ou numa forma mais estendida ao longo do tempo, pois Traquina
(2005) destaca que “devido ao seu impacto na comunidade jornalística, um
assunto ganha noticiabilidade e permanece como assunto com valor-notícia
durante um tempo mais dilatado” (p. 82);
g) Notabilidade: é a qualidade de ser visível ou tangível. Os jornalistas atribuem
importância aos fatos que dizem respeito ao grande número de pessoas
envolvidas ou quanto maior for a presença de grandes nomes, como visto na
notoriedade; também pode ocorrer quando o fato é o contrário do que
consideramos dentro dos padrões da normalidade; em falhas, excessos ou
escassez;
h) Inesperado: fatos que surpreendem e surgem de repente, chamando a
atenção do público, costumam virar notícia;
i) Conflito ou controvérsia: trata-se da violência física ou simbólica. São fatores
que representam uma ruptura na ordem social;
47
j) Infração: refere-se à violação e ao não cumprimento das regras, como por
exemplo, os crimes. Para Traquina (2005), “um crime mais violento, com
maior número de vítimas, equivale a maior noticiabilidade para esse crime” (p.
85).
Os critérios de noticiabilidade estão presentes no cotidiano de todas as
redações e não sofrem alterações, independentemente do meio onde a notícia será
divulgada. A seguir, serão apresentadas outras práticas em comum para o processo
de produção da notícia.
4.1.2 Pauta, produção e apuração da notícia
Apesar de haver diferenças no processo de produção de conteúdo para cada
meio de comunicação, algumas práticas podem ser aplicadas a todos os veículos,
independente de onde a notícia ou reportagem será divulgada. A pauta, por
exemplo, é o processo que antecede a execução de uma reportagem, sendo a
principal ligação entre a produção e a edição das matérias. Ricardo Kotscho, no livro
A prática da reportagem (2001), explica que a pauta serve para organizar e planejar
melhor o dia a dia da redação.
Para Nilson Lage, no livro A reportagem: teoria e técnica de entrevista e
pesquisa jornalística (2011), as pautas são o planejamento dos assuntos a serem
abordados em reportagens e podem incluir algumas observações técnicas e de
logística. “Uma pauta bem feita prevê volumes de informação necessário para a
garantia de eventuais quedas de pauta e ainda matérias que poderão ser
aproveitadas posteriormente” (p. 37). Lage destaca os processos que são incluídos
nas pautas de notícia:
a) Eventos programados (julgamento de acusados, votações em assembleias,
inaugurações de obras etc.) ou sazonais (início do ano letivo, vendas de fim
de ano, mobilização de boias-frias para a colheita etc.);
b) Eventos continuados (greves, festejos, pontos de estrangulamento no trânsito
etc.);
c) Desdobramentos (suítes, continuações) de fatos geradores de interesse
(acompanhamento de investigações policiais, recuperação de vítimas de
atentados ou acidentes, repercussão de medidas econômicas etc.);
48
d) Fatos constatados por observação direta e que estão lá, esperando ser
noticiados (mudanças nos costumes, ciclos de moda, deterioração ou
recuperação de zonas urbanas etc.).
Depois que a pauta é discutida e aprovada, o primeiro passo para a execução
da reportagem é a escolha das fontes. O levantamento de informações, segundo
Lage (2011), geralmente é feito com personagens ou instituições que
testemunharam ou participaram do fato, chamados de fontes. Assim, de acordo com
Luiz Costa Pereira Junior, em seu livro A Apuração da Notícia: Métodos de
Investigação na Imprensa (2010), o rigor na checagem estabelece a qualidade da
informação. Para isso, é preciso levar em consideração os seguintes aspectos:
a) As relações, o valor, a situação, os riscos e a credibilidade das fontes;
b) Os conceitos complementares, a informação que supomos que sabem e a
relação que supomos que as fontes têm com o fato;
c) Até que ponto não estamos sendo usados por fontes legitimadas por sua
autoridade, produtividade e credibilidade anterior, e não fazemos uma
avaliação isenta sobre o real valor que as informações têm para o público.
Feito isso, o contato com as fontes é a oportunidade de checar a informação.
No processo da produção é preciso levar em conta que apurar não é apenas
escolher uma fonte, anotar uma declaração ou gravar uma entrevista. Caldas (2002)
afirma que um bom repórter dever ter os sentidos apurados, pois “a observação, o
olhar, a audição, o olfato são capazes de captar detalhes que podem ampliar e
modificar o rumo de uma reportagem” (p. 27).
Uma das partes mais importantes da apuração é a entrevista e, quando bem
conduzida, é essencial para extrair do entrevistado informações cruciais para
produzir uma matéria. O repórter deve conhecer a pauta para elaborar perguntas ao
entrevistado e estar atento com as respostas. Noblat (2004) orienta começar um
questionamento com perguntas que a fonte gostaria de responder, pois isso a
deixará mais à vontade. “Não caiam na bobagem de fazer as perguntas mais
embaraçosas de uma vez, uma atrás da outra. Dosem tais perguntas. Para que o
entrevistado não se sinta acuado” (p. 69). Caso o entrevistado comece a demonstrar
nervosismo, o autor orienta a mudar de assunto e retomá-lo quando ele menos
esperar.
49
Notícia em uma entrevista está no que diz o entrevistado. Mas pode estar também no silêncio dele, na irritação que demostra diante de uma pergunta, no sorriso que esboça quando escuta outra, na recusa em responder uma determinada questão. Tudo deve ser observado. E o relevante, publicado. (NOBLAT, 2004, p. 70).
O próximo passo é fazer a narrativa do fato para sua posterior publicação. É
nessa etapa que os processos se diferem de um veículo para o outro. Para Pereira
Junior (2010), o conflito da narrativa jornalística está em conciliar a produção de
matérias bem apuradas e apresentadas com o obstáculo do tempo e das rotinas de
trabalho. Enquanto o jornalismo impresso preocupa-se com texto e imagem, o
jornalismo online deve levar em consideração outros recursos multimídia, como
áudios e vídeos, por exemplo. São essas peculiaridades que devem ser
consideradas e que serão exploradas nos próximos subtítulos da pesquisa.
4.2 A NOTÍCIA NO JORNALISMO IMPRESSO
A essência do jornalismo é a notícia, definida por Noblat (2004) como todo
fato relevante que é de interesse público. Mas, na prática, são os jornalistas que
escolhem o que querem informar ao público. Para o autor, a notícia no jornal
impresso deve prezar pela apuração minuciosa, pela profundidade e boa escrita,
estimulando uma reflexão no leitor, pois “notícia em tempo real deve ficar para os
veículos de informação instantânea – rádio, televisão e internet” (p. 38).
Para escrever uma boa notícia ou reportagem, é melhor pecar pelo exagero
do que pela falta de informação. Segundo Noblat (2004), o leitor costuma acreditar
mais em notícias contadas com detalhes. “Não se sai melhor quem publica a notícia
primeiro, mas quem publica a melhor notícia - a mais completa, a mais precisa e,
portanto, a mais confiável” (p. 61).
A notícia, conforme Lage (2000), deve ser contada na ordem em que ocorreu.
Para isso, é preciso respeitar três fases no processo de produção: a seleção dos
eventos, a ordenação dos eventos e a nomeação.
É imprescindível dominar a arte de escrever para quem vive dela. De acordo
com Noblat (2004), o jornalista deve ter uma boa imaginação para enxergar além do
que é visto por todos. Não há uma receita para redigir um bom texto, mas o autor
destaca alguns aspectos que podem facilitar o processo. Frases curtas, na ordem
direta são sinônimo de simplicidade. Além disso, o texto jornalístico deve ser preciso
50
e claro. “Escrevam uma notícia ou uma reportagem como se contassem uma história
a um amigo. Toda história tem começo, meio e fim. Notícia e reportagem também”
(p. 82).
O primeiro parágrafo de uma notícia ou reportagem que responde as
perguntas: o que, quem, quando, onde, como e por quê é conhecido como lead.
Segundo Noblat (2004), o lead foi criado para padronizar e objetivar os textos dos
jornais, separando informação de opinião. O autor critica o uso do lead tradicional
nas páginas dos periódicos, isso porque já não se encaixa no proposto pelo qual
surgiu. “O lead é inimigo do prazer que a leitura de um bom texto pode proporcionar.
Porque inibe a imaginação e a criatividade dos jornalistas. E estimula a preguiça” (p.
98). Callado (2002) concorda que o lead passou por adaptações e permitiu que o
jornalista usasse de recursos pessoais para a escrita. Entretanto, a autora alerta que
um texto interpretativo corre o risco de perder a objetividade da notícia e acrescentar
uma opinião indesejada.
Uma boa notícia deve vir acompanhada de títulos criativos e que estimulem a
leitura, fugindo do convencional. Noblat (2004) salienta que essa é a função de
manchetes de capa e de páginas internas e, caso não cumpra com seu papel, não
servem para nada.
Um bom jornal não deve publicar informações que já foram exploradas em
outros veículos de comunicação. A sua função deve ser a de acrescentar
informações sobre os fatos ou explicar com clareza o que ainda não foi entendido.
Noblat (2004) afirma que é papel da mídia impressa adiantar o que está por vir, o
que define como “jornalismo de antecipação” (p. 114). Para isso, é necessária
experiência, ousadia e uma análise minuciosa, já que antecipar não é adivinhar.
Kotscho (2001) destaca que o diferencial de um jornal em relação ao seu
concorrente é a capacidade de transformar os fatos do cotidiano em boas matérias
de ler.
Apesar de muitos profissionais escolherem o Jornalismo para trabalhar com
fatos novos todos os dias, a rotina também faz parte de uma redação, pois é preciso
respeitar regras, além de ter padrões e métodos definidos. O diálogo é essencial no
processo de produção da notícia. É necessário que o repórter converse com o editor
para definir o número de linhas que será cedido para o material, pois, segundo
Noblat (2004), “nada é mais comum também do que um repórter se matar para
apurar uma matéria, retornar à redação pensando em escrever noventa linhas e
51
ouvir do seu chefe que só haverá espaço para trinta” (p. 123). Além disso, é
necessário orientar o fotógrafo ou a editoria de arte com informações que facilitem a
produção da imagem que irá ao lado do texto.
Callado (2002) ressalta que o jornalismo impresso vem mudando por
influência das transformações sociais, incluindo a evolução tecnológica. Para Noblat
(2004), o modelo dos jornais está ameaçado pelo medo de mudar. O autor destaca
ainda que “a única coisa que um jornal não pode é deixar-se ficar para trás quando
seus leitores avançam. Porque não haverá futuro para um jornal assim” (p. 22).
Lage (2000) aponta que os jornais impressos devem apostar seu futuro
investindo na produção de reportagens mais do que de notícias. Para o autor, a
divulgação de notícias está ligada à internet, enquanto os periódicos devem se
ocupar com aprofundamentos dos fatos.
Terá futuro a notícia em jornal diário? Provavelmente não. Sua sobrevivência, aí, depende do grau de controle político e do desenvolvimento da mídia eletrônica, que é mais veloz, eficiente e não gasta papel. Mas a notícia escrita sobreviverá em veículos especializados, ainda que chegue ao consumidor por via eletrônica. (LAGE, 2000, p. 46).
A sobrevivência da mídia impressa, de acordo com Caldas (2002), será
possível por meio de duas palavras-chave: segmentação e conteúdo. Com a difusão
das informações na internet, quem oferecer o melhor conteúdo terá vantagem.
No projeto multimídia, a redação passa a assumir múltiplas funções de produção e o repórter tem sua atividade segmentada, cabendo-lhe prover ao mesmo tempo os diferentes canais de informações operados pela empresa jornalística. À medida que os grupos se consolidam e adquirem tecnologia para operar como redes integradas de comunicação, o trabalho do repórter consistirá, cada vez mais, em abastecer de conteúdo as diversas mídias do mesmo sistema. (CALDAS, 2002, p. 37).
A produção da notícia para o jornalismo impresso serviu como base para a
sua produção na internet. Assim como nos primórdios dos portais de notícias, muitas
empresas jornalísticas apenas transportam o conteúdo impresso para a web, com
algumas modificações na linguagem. No próximo subtítulo, serão abordadas as
especificidades que essa plataforma exige para tornar o conteúdo atrativo aos
usuários.
52
4.2 A NOTÍCIA NO JORNALISMO ONLINE
O desenvolvimento de novas tecnologias permitiu avanços significativos na
comunicação nos últimos tempos. A internet despontou como um novo e fascinante
trabalho para jornalistas. O meio eletrônico proporcionou a utilização de ferramentas
que não são possíveis de serem utilizadas na matéria publicada no jornalismo
impresso. Ferrari (2003) explica que no conteúdo online é possível adicionar vídeo,
áudio e animações, por exemplo.
Os recursos multimídia disponíveis no meio criaram uma maneira diferente de
consumir informação. Quando surgiu na web, a notícia ganhou outras proporções,
impondo novas regras e mudando conceitos pré-definidos de como fazer jornalismo.
E o impacto mais significativo foi em relação à velocidade da informação. Se em
outra época era aceitável saber dos fatos no dia seguinte, hoje isso não é permitido.
A partir da concepção da informação em tempo real, as empresas
jornalísticas passaram a funcionar como verdadeiras agências de notícia,
despejando reportagens em fluxo contínuo para os internautas, que participam dos
acontecimentos no momento em que eles estão ocorrendo. O vasto campo de
informação, que pode ser conferido facilmente por meio dos mais diversos aparelhos
tecnológicos, proporciona ao usuário acessar o que for do seu interesse.
Conforme Ferrari (2003), a média de atualização dos maiores websites é de
cinco minutos. Em geral, o caminho percorrido pela notícia até sua publicação na
internet demora cerca de dez minutos. Os assuntos são os mais variados, de
tragédias a ações solidárias. A hierarquia do tempo real faz com que as notícias
sejam associadas na ordem cronológica.
Promover um rodízio, fazendo a troca de chamadas e fotos na página inicial,
aumenta o desejo do leitor de estar bem informado. Além disso, Ferrari (2003)
contextualiza que outra estratégia adotada pelos sites é pesquisar qual assunto está
sendo mais acessado em determinado horário e, em cima disto, avaliar o perfil do
usuário. “Não basta apenas ter uma boa reportagem na mão para achar que ela
fará sucesso na home page15, é preciso saber onde publicar e em que horário” (p.
75).
15
Home page: página inicial que é vista por um utilizador de um site, que geralmente contém informação introdutória e hiperligações para outras partes do site ou para outros sites relevantes. Disponível em: <http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/Homepage>. Acesso em 15 jul. 2016.
53
Sites ou noticiários que tiveram sua origem na web são considerados pela
autora como produtos do jornalismo digital. Já o processo de transportar o conteúdo
impresso para a internet, utilizando as conhecidas etapas da produção da notícia e
apenas traduzindo para a linguagem da web, é classificado como jornalismo online.
Para Ferrari (2003), “os veículos cem por cento digitais são obrigados a ter todos os
departamentos de uma redação: fotografia, editorias, produção net (similar à
produção gráfica), financeiro, arte, entre outros” (p. 41).
A narrativa digital dispõe de elementos específicos que serão definidos a
seguir com base nas explicações de Nora Paul, em Elementos das narrativas digitais
(2007):
a) Mídia: é o tipo de expressão usada no suporte da narrativa. O impresso,
por exemplo, utiliza texto, fotos e gráficos estáticos. O ambiente digital
permite usar esses e outros recursos provenientes dos demais veículos,
como o áudio e o vídeo;
b) Ação: refere-se ao movimento do próprio conteúdo e a ação requerida
pelo usuário para acessar o conteúdo. São elementos exclusivos da
narrativa online as animações instantâneas, a apresentação automática de
slides e o movimento do conteúdo;
c) Relacionamento: na internet, o produtor do conteúdo pode criar recursos
para se relacionar e interagir com o usuário sem que ele fique limitado a
simplesmente ler, assistir ou ouvir a história. O conteúdo é pensando para
proporcionar uma nova experiência ao leitor da web;
d) Contexto: é a habilidade de proporcionar conteúdo adicional, remetendo a
outros materiais. Pode ser fornecido por meio de links. Os links podem ser
classificados como: embutidos, quando os materiais paralelos estão
colocados dentro da narrativa; paralelos, quando colocados ao lado do
texto principal; interno, quando são dirigidos para materiais do próprio site
que produz a narrativa; externo, quando são dirigidos para materiais de
fora do site acessado; suplementares, quando trazem um material
diferente do que está sendo exposto; duplicativos, quando remete a outra
notícia sobre o mesmo assunto; contextual, quando fornece material
especifico para a narrativa; e relacionado, quando fornece material similar;
e) Comunicação: é a habilidade de se conectar com os outros por meio da
mídia digital.
54
Sendo assim, o próximo subtítulo abordará o cenário da produção jornalística
contemporânea para a web.
4.2.1 Características do Jornalismo Online
As características do jornalismo online deram origem ao ciberjornalismo, que
Ferrari (2003) define como sendo as tarefas do dia a dia que envolvem a criação de
textos para a internet, como manter um blog. “Quem é capaz de mexer em várias
mídias ao mesmo tempo e, além disso, escreve corretamente e em português culto,
tem grandes chances de tornar-se um ciberjornalista” (p. 42).
João Canavilhas, em Webjornalismo: considerações gerais sobre jornalismo
na web (2001) retoma uma diferença apontada por Ferrari (2003) no subtítulo
anterior para enfatizar que o jornalismo online não passa de uma transposição do
texto escrito para os demais veículos de comunicação, ou seja, o conteúdo é apenas
duplicado para o novo meio. Porém, o jornalismo na web é caracterizando por certas
alterações na apresentação da notícia entre os meios. Segundo o autor, isso é
possível a partir da exploração dos recursos oferecidos na internet. “Com base na
convergência entre texto, som e imagem em movimento, o webjornalismo pode
explorar todas as potencialidades que a internet oferece, oferecendo um produto
completamente novo: a webnotícia” (p. 1).
A divulgação de notícias online foi se adaptando de acordo com as
preferências do usuário, criando recursos que permitiram uma leitura não-linear, ou
seja, que pode ser feita por diversos caminhos. Ferrari (2003) explica que isso foi
possível devido ao hipertexto, que é definido pela autora como um bloco de
diferentes informações digitais interconectadas, que, “ao utilizar nós ou elos
associativos (os chamados links), consegue moldar a rede hipertextual, permitindo
que o leitor decida e avance sua leitura do modo que quiser” (p. 42). Canavilhas
(2001) complementa a explicação afirmando que a possibilidade de conduzir a
própria leitura revela uma tendência de o usuário assumir um papel proativo na
notícia.
Com o usuário no comando, a internet proporciona saber onde ele clica. De
acordo com Ferrari (2003), é viável que cada portal de notícia faça uma análise mais
profunda para descobrir o porquê dessa escolha e entender o que fez com que
determinado conteúdo chamasse mais a atenção do leitor do que o outro.
55
A possibilidade da interação direta do usuário no webjornalismo deve ser
explorada, de acordo com Canavilhas (2001), pois ao contrário do jornal impresso,
onde o leitor interage por meio de cartas que podem vir a não ser publicadas, na
plataforma online a notícia deve servir como ponto de partida para gerar discussões
entre os leitores. “Para além da introdução de diferentes pontos de vista enriquecer
a notícia, um maior número de comentários corresponde a um maior número de
visitas, o que é apreciado pelos leitores” (p. 3).
Para Ferrari (2003), a informação bem trabalhada e que explora os recursos
multimídia é o que vai criar uma relação de fidelidade com o internauta. Canavilhas
(2001) salienta que a utilização destes recursos obedece a critérios diretamente
ligados com o conteúdo informativo e lista alguns exemplos de como integrar os
elementos na webnotícia.
a) Hiperligações: indicada para textos extensos, ligando a notícia aos seus
elementos anteriores em arquivo, bases de dados ou textos externos ao
jornal;
b) Vídeo: não se assemelha ao vídeo produzido para a televisão. Canavilhas
(2001) explica que na televisão texto e imagem são um só produto e não têm
significado quando separados. Enquanto no webjornal, o vídeo assume o
papel de legitimar a informação veiculada no texto. Para o autor, “‘uma
imagem vale mais que 1000 palavras’ e por isso a introdução do vídeo na
notícia só enriquece o produto final” (p. 5);
c) Flash e 3D: utilizado em situações como catástrofes ou acidentes, em que
não existe o registro em vídeo. Recorrendo a imagens de síntese é possível
criar ou antecipar virtualmente as situações;
d) Flash e Gráficos: aconselhado para notícias que contêm grandes quantidades
de informação associadas a questões técnicas;
e) Áudio: a utilização do som acrescenta credibilidade e objetividade à notícia.
Assim como a escrita para a web segue características do jornalismo
impresso, no caso do som é o rádio que fornece algumas especificidades.
Segundo Canavilhas (2001), “a palavra, o ruído e o silêncio combinados
permitem criar ambientes e imagens sonoras. O jornal jamais poderia causar
um efeito semelhante sobre os leitores e a televisão só com recurso a meios
de produção caros poderia obter igual resultado” (p. 4). Sendo assim, o autor
56
exemplifica que mais do que escrever uma citação, o jornalista pode divulgar
o som original do entrevistado no jornalismo da web;
f) Outros elementos: Canavilhas (2001) cita outros recursos importantes que
podem ser utilizados na internet, como a distribuição da notícia, quando o
webjornal pode enviar para os assinantes mensagens com os títulos e leads
das notícias nas áreas escolhidas pelo utilizador; personalização, quando o
webjornal pode transformar-se em um informativo pessoal que garanta uma
página onde se destaquem as áreas de interesse do utilizador; periodicidade,
característica que não deve estar presente no webjornal, já que a atualização
deve ser constante.
Ferrari (2003) explica que o processo de produção da notícia para a internet
não contempla o simples ato de transformar o texto para uma linguagem aceita na
web, pois é preciso ter domínio das mídias envolvidas. Escrever para a web não é
tarefa fácil. É preciso conhecer o público, pensar no alcance da notícia e buscar
histórias que possam ser contadas na internet com o aproveitamento de áudio,
gráficos, vídeo, links, etc.
Os repórteres de mídias impressas, por exemplo, privilegiam a informação: os de TV buscam cenas emocionantes, sons e imagens para serem transmitidos junto com o texto da notícia. Já os jornalistas on-line precisam sempre pensar em elementos diferentes e em como eles podem ser complementados. Isto é, procurar palavras para certas imagens, recursos de áudio e vídeo para frases, dados que poderão virar recursos interativos e assim por diante. (FERRARI, 2003, p. 48).
Em relação ao texto, Ferrari sugere que ele deva estar numa linha entre o
jornalismo impresso e o eletrônico. As frases devem ser mais simples, na voz
passiva e com períodos curtos, o que facilita a leitura e prende a atenção dos
leitores. Estilos não convencionais de escrita também são bem-vindos, já que o
usuário é mais receptivo pelo fato de não se sentir preso a apenas uma notícia.
Se o lead não é bem visto por alguns estudiosos das notícias no meio
impresso, no online ele não pode ser esquecido. Ferrari (2003) diz que a técnica é
essencial para mostrar ao leitor qual a notícia e por que ele deve continuar lendo o
texto, “daí a importância de recorrer à velha fórmula ‘quem fez o quê, quando, onde
e por quê’” (p. 49). Outro aspecto importante é o tamanho do texto ou, para o estilo
em questão, a quantidade de caracteres. A autora salienta que qualquer história
57
pode ser redigida em 900 caracteres, com ressalva para a revista mensal. Quando a
reportagem for maior, a sugestão é usar links para áudios, vídeos ou galerias
fotográficas, o que torna a leitura mais agradável.
Nas edições do online, o espaço é infinito, de acordo com João Canavilhas,
no artigo Webjornalismo: Da pirâmide invertida à pirâmide deitada (2006):
Em lugar de uma notícia fechada entre as quatro margens de uma página, o jornalista pode oferecer novos horizontes imediatos de leitura através de ligações entre pequenos textos e outros elementos multimédia organizados em camadas de informação. (CANAVILHAS, 2006, p. 7).
O autor destaca que estruturar uma notícia na web permite a reinvenção
diária do webjornalismo, pois o jornalista tem ao seu dispor um conjunto de
elementos multimídia que permite ao usuário navegar dentro da informação que está
consumindo.
O jornalismo online possibilita maior velocidade na disseminação da
informação se comparado com a mídia impressa. No subtítulo a seguir, será
apresentado como o fator da instantaneidade influenciou na qualidade da notícia.
4.2.2 O impacto da velocidade na qualidade da informação
A internet chegou para ficar, pois, conforme Ferrari (2003) exemplifica, jamais
os usuários de e-mail voltarão a escrever cartas para se dar ao trabalho de enviá-las
por correio. Além da velocidade, o jornalismo da web também provocou
transformações na maneira de escrever. Conforme explica Paulo Henrique Ferreira,
em Com você, a imprensa móvel (2007), as alterações atingiram também os
profissionais da área. Além de precisar aprender a comunicar de forma objetiva
transformando a notícia em um boletim, os jornalistas precisaram readequar seu
estilo de trabalhar nesta nova editoria, que começava a ocupar espaço cada vez
mais significativo nas redações.
As possibilidades técnicas implicaram em mudanças de conduta na rotina das
empresas de comunicação devido à necessidade de precisar se habituar às
tecnologias a favor do jornalismo.
58
É exigido do jornalista um olhar de editor. Analisar a importância das notícias como, por exemplo, a morte de uma celebridade para serviços de fofoca, o gol de um time no campeonato mundial de clubes e acidentes ou desastres urbanos, que impactam no trânsito de uma cidade. (FERREIRA, 2007, p. 11).
Paralelamente à evolução dos sites de notícias e às alterações que os
próprios profissionais tiveram que passar, a ansiedade de publicar primeiro acabou
sendo introduzida na rotina do jornalista. Adriana Garcia Martinez, em A construção
da notícia em tempo real (2007), diz que o repórter, denominando-se um difusor de
informação, adotou um novo jeito de trabalhar, onde a teoria ‘o mais importante é
informar antes’ passou a predominar.
Na intenção de contentar os leitores ávidos por novidades, muitas vezes sites
jornalísticos se apressam em divulgar notícias instantaneamente, sem dar a devida
atenção à checagem dos fatos, conforme explicam Elen Sallaberry Pinto e Raquel
da Cunha Recuero, no artigo Velocidade versus Qualidade da Informação no
Jornalismo Online (2009). Em busca do furo, a pressão do dia a dia impede que o
repórter confirme os dados antes de publicar a matéria, pois ele se vê obrigado a
noticiar o fato antes que o concorrente o faça.
Nesses casos, segundo Ferrari (2003), a credibilidade é um grande
diferencial, fazendo com que o melhor furo acabe sendo a qualidade da informação.
Achar que o mais importante é oferecer as últimas notícias o mais rápido possível é um grande equívoco do meio. Os leitores raramente percebem quem foi o primeiro a dar a notícia – e, na verdade, nem se importam com isso. Uma notícia incompleta ou descontextualizada causa péssima impressão. É sempre melhor colocá-la no ar com qualidade, ainda que dez minutos depois dos concorrentes. (FERRARI, 2003, p. 49).
No centro da competitividade da web, o desafio do jornalista é trazer a notícia
na qual o leitor pode acreditar. Para os autores Carlos Pernisa Júnior e Wedencley
Alves, no livro Comunicação Digital (2010), o internauta deve saber onde se
informar.
O excesso de informações das sociedades atuais seria, então, não algo que acontece só em função da velocidade, mas que apresenta aspectos que as pessoas valorizam e que podem não ser os mais relevantes. Há uma grande produção de notícias que tem pouco ou nenhum sentido. O resultado é muita informação, pouca comunicação e menos conhecimento ainda. (PERNISA JÚNIOR; ALVES, 2010, p. 23).
59
A informação não deve ser isolada, pois precisa ser analisada e comparada
com outras para criar uma compreensão sobre o assunto que é lido. Além disso, não
deve ser aceita como verdade absoluta, já que o assunto deve gerar uma discussão
para que possa haver uma seleção mais rigorosa das notícias.
Ferrari (2003) ressalta que entender o poder que a mídia tem é o primeiro
passo para criar produtos inovadores nas redes.
Uma redação onde seus fundadores entendam a força da mídia e busquem, com uma redação digital, reforçar os princípios da hipermídia de informar não mais de maneira linear, com começo, meio e fim da notícia, mas sim construir matérias múltiplas sobre o mesmo assunto. (FERRARI, 2003, p. 52).
Publicar diversas notícias por dia não é suficiente para a audiência. A autora
destaca que produzir conteúdo original é o correto a se fazer em um meio onde
muitos veículos apenas marcam território na internet.
Após a revisão bibliográfica serão apresentadas as outras etapas do processo
metodológico desta pesquisa.
60
5 METODOLOGIA
Para responder a questão norteadora da pesquisa, que indaga quais os
desafios do jornal Pioneiro na apresentação da notícia em tempos de convergência
digital, essa monografia utiliza como método o Estudo de Caso e como técnicas a
revisão bibliográfica, a entrevista e a observação.
A definição metodológica, que engloba desde a escolha do tema, dos
objetivos e das hipóteses, auxiliará no desenvolvimento da pesquisa para responder
a questão norteadora e confirmar ou refutar as hipóteses da pesquisa.
5.1 ESTUDO DE CASO
O pesquisador que adota o Estudo de Caso como método procura por
novidades, pressupondo que o conhecimento é ilimitado. De acordo com Marcia
Yukiko Matsuuchi Duarte, no capítulo Estudo de Caso (2014), quem se dispõe a
utilizar esse método deve propor perguntas e buscar novas respostas ao longo da
investigação.
Referência no tema, Robert K. Yin explica no livro Estudo de Caso:
planejamento e métodos (2010) que a utilização desse método é mais indicada
quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se
encontra em fenômenos contemporâneos no contexto da vida real. O estudo de
caso deve ter preferência quando se pretende analisar eventos contemporâneos
onde não é possível manipular comportamentos relevantes. Além disso, emprega
duas fontes de evidências, que segundo Yin (2010), geralmente não são
encontradas em pesquisas históricas: a observação direta do objeto de estudo e
entrevistas das pessoas envolvidas nos eventos.
De acordo com Yin (2010), apesar de ser uma forma diferenciada de
investigação empírica, o estudo de caso é considerado desprezível por muitos
estudiosos. Como alguns dos fatores preponderantes para a afirmação, o autor
exemplifica a falta de rigor científico da pesquisa. Por várias ocasiões, ao longo dos
últimos anos, os pesquisadores que utilizaram o método foram negligentes e
permitiram evidências erradas ou visões tendenciosas que influenciaram no
trabalho. O autor argumenta que, por não dispor de procedimentos específicos para
serem seguidos, o estudo de caso está mais exposto a esse tipo de apontamento.
61
“[...] a força exclusiva do estudo de caso é sua capacidade de lidar com uma ampla
variedade de evidências – documentos, artefatos, entrevistas e observações – além
do que pode estar disponível em um estudo histórico convencional” (p. 32).
Outro questionamento, segundo Yin (2010), é a confusão entre o ensino do
estudo de caso e a pesquisa do estudo de caso. A diferença, conforme explica o
autor, é que no ensino os materiais podem sofrer alterações a fim de demonstrar
uma determinada questão de forma mais efetiva. Na pesquisa, qualquer alteração é
proibida, pois o pesquisador deve relatar corretamente toda evidência.
5.1.1 Táticas de estudo de caso
Para Yin (2010), “o projeto de pesquisa é a lógica que vincula os dados a
serem coletados (e as conclusões a serem tiradas) às questões iniciais do estudo”
(p. 46). O autor destaca que quatro etapas devem auxiliar a pensar sobre o projeto:
quais questões estudar, quais dados são relevantes, quais dados coletar e como
analisar os resultados. Além disso, cinco elementos são imprescindíveis no projeto
de pesquisa, de acordo com Yin (2010), sendo eles:
a) Questões de estudo: indicação importante para definir o método mais
apropriado para a pesquisa. O estudo de caso é mais indicado para as
questões como e por que;
b) Proposições de estudo: são opcionais e estão relacionadas a algo que deve
ser analisado detalhadamente no projeto e pode contribuir com evidências
relevantes;
c) Unidade de análise: está relacionado com a definição de o que é o caso. Com
base nas afirmações de Yin, Duarte (2014) sintetiza que:
Ao estudar, por exemplo, certos tipos de líderes, cada indivíduo selecionado é um “caso”, ou seja, a unidade primária de análise; e nessa situação teríamos um estudo de caso único. Se optarmos por analisar vários exemplos desses indivíduos, teríamos necessariamente um estudo de casos múltiplos. (DUARTE, 2014, p. 224).
A definição da unidade de análise, para Yin (2010), está relacionada com a
importância da formulação correta das questões iniciais da pesquisa;
62
d) Vinculação dos dados às proposições e critérios para a interpretação dos
achados: os dois últimos componentes indicam os passos da análise de
dados na pesquisa.
Para avaliar a qualidade do projeto de pesquisa, Yin (2010) apresenta quatro
testes usados nas pesquisas sociais empíricas que incluem conceitos de
fidedignidade, credibilidade, confirmabilidade e fidelidade de dados. Os testes são
apresentados e explicados na tabela a seguir.
Figura 1. Táticas de estudo de caso para quatro testes de projetos
Fonte: Yin, 2010, p. 64.
Esse processo é relevante ao pesquisador, pois o prepara para ir em busca
do desenvolvimento da teoria com uma noção do material que precisa procurar.
63
5.1.2 Tipos de estudo de caso
De acordo com Yin (2010), há quatro tipos básicos de projetos considerados a
partir de estudos de casos únicos e múltiplos, que refletem situações de projetos
diferentes, sendo eles: projetos de caso único holístico; projetos de caso único
integrado; projetos de casos múltiplos holísticos; projetos de casos múltiplos
integrados.
O estudo de caso único, para Yin, é justificável onde o caso representa um
teste crucial da teoria existente, o caso é um evento raro ou exclusivo, ou serve a
um proposto revelador. Além disso, Duarte (2014) complementa que pode envolver
apenas uma unidade de análise – holístico. A escolha entre um projeto holístico ou
integrado depende do objeto a ser estudado. Projetos de casos múltiplos, segundo
Yin (2010), estão aumentando mesmo sendo mais caros e exigindo uma demanda
maior de tempo.
Na figura a seguir, o autor apresenta os tipos básicos de projetos para o
estudo de caso:
64
Figura 2. Tipos básicos de projetos para estudos de caso.
Fonte: Cosmos Corporation apud Yin, 2010, p. 70.
A presente pesquisa é um projeto de caso único integrado, que utiliza um
único caso - o Jornal Pioneiro - mas com análise do jornal impresso e do
Pioneiro.com. Além de utilizar a plataforma online do Zero Hora como referência
para alguns aspectos da investigação.
5.1.3 Como conduzir o estudo de caso
Após passar pelas etapas da definição das questões no projeto de estudo de
caso, parte-se para a coleta de dados. Essa fase, segundo Yin (2010) é complexa e
difícil e deve ser executada com muita concentração pelo pesquisador, pois “se não
for bem realizada, toda a investigação do estudo de caso pode ser prejudicada e
todo o trabalho prévio [...] terá sido em vão” (p. 93).
65
A coleta de dados exige habilidades desejadas por parte do pesquisador,
além de tópicos adicionais como: o treinamento para o estudo de caso específico; o
desenvolvimento de um protocolo de investigação; a triagem dos candidatos ao
caso; a condução de um estudo de caso-piloto.
O estudo de caso requer uma preparação consistente. São mencionadas as
habilidades desejadas, pois Duarte (2014) explica que “os procedimentos de coleta
de dados não seguem uma rotina e é contínua e intensa a interação entre as
questões teóricas estudadas e os dados coletados” (p. 228).
O treinamento, conforme Yin, também é um passo importante nessa etapa. O
objetivo é preparar o pesquisador para que assuma o papel de investigador e
consiga tomar decisões importantes que auxiliem no desenvolvimento do trabalho.
O protocolo é um documento que servirá de orientação, com o reforço do
tema analisado e antecipação de problemas que podem vir a ocorrer durante o
estudo. Conforme Yin (2010), essa etapa é uma das principais estratégias para
aumentar a confiabilidade da pesquisa, pois apresenta uma visão geral do estudo de
caso; procedimentos de campo; questões específicas do estudo de caso; guia para
o relatório do estudo de caso.
A triagem dos candidatos para o estudo de caso é importante, pois visa
garantir a escolha apropriada do caso antes da coleta formal de dados. Yin (2010)
explica que o investigador pode optar por um único caso ou uma série de casos
múltiplos.
A realização de um estudo-piloto é a preparação para a coleta de dados, mas
pode receber mais recursos que a própria fase em si. De acordo com Duarte (2014),
o caso-piloto “auxilia o pesquisador a melhorar os planos, seja em relação ao
conteúdo seja quanto aos procedimentos, que poderão ser previamente testados” (p.
229).
Yin (2010) explica quais são as maneiras de coletar os dados a partir da
preparação. A evidência do estudo de caso pode originar de seis fontes:
documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação
participante e artefatos físicos. O autor descreve um breve resumo de cada fonte,
que estão associadas a uma série de dados ou evidências:
a) Documentação: pode assumir várias formas, como documentos pessoais,
relatórios, estudos formais, recortes de notícias, entre outros. Seu uso é
66
imprescindível para confirmar e valorizar as evidências encontradas em
outras fontes, como confrontar dados contraditórios, por exemplo;
b) Registros em arquivos: seu uso pode variar de um estudo de caso para o
outro, podendo ser fundamental para uns e superficial para outros. Yin (2010)
diz que o investigador deve ter cuidado de confirmar sob quais condições a
evidência dos arquivos foram produzidas;
c) Entrevistas: é considerada uma das fontes mais importantes de informação
para aplicar o estudo de caso. Para Yin (2010), as entrevistas “exigem que
você opere em dois níveis ao mesmo tempo: satisfazendo as necessidades
de sua linha de investigação [...] enquanto, simultaneamente, apresenta
questões “amigáveis” e “não ameaçadoras” em suas entrevistas abertas” (p.
133);
d) Observação direta: é utilizada quando o pesquisador visita o local do estudo
de caso.
e) Observação participante: aqui, o observador deixa de ser passivo e assume
uma série de funções, podendo até mesmo participar de eventos que estão
sendo analisados.
f) Artefatos físicos: fontes de evidências que podem ser coletadas ou
observadas como parte dos estudos de caso. Pode ser físico ou cultural,
como um dispositivo tecnológico, uma ferramenta ou instrumento, uma obra
de arte, evidências físicas, entre outros aspectos.
A fase seguinte representa a análise da evidência do estudo de caso.
Considerada um dos pontos mais difíceis do método, Yin (2010) define que essa
etapa “consiste no exame, na categorização, na tabulação, no teste ou nas
evidências recombinadas de outra forma, para tirar conclusões baseadas
empiricamente” (p. 154). O pesquisador deve iniciar essa fase com uma estratégia
geral analítica, por meio da definição de prioridades do que será analisado e por
quê.
Com base nas definições de Yin, Duarte (2014) explica que a estratégia geral
pode se basear em proposições teóricas, que ajudam o investigador a selecionar os
dados, a organizar o estudo e a definir explicações alternativas. Outra maneira é
desenvolver uma descrição de caso, por meio da elaboração de uma estrutura que
67
descreve o estudo de caso, que facilitará nos processos de análise de situações
mais complexas.
Uma segunda estratégia analítica geral é o desenvolvimento da descrição do
caso, que por meio de uma estrutura teórica pode organizar o estudo. De acordo
com Yin (2010), é a estratégia menos preferida em relação a anterior e serve como
alternativa caso a proposição teórica não funcione.
A terceira estratégia, que é o uso de dados qualitativos e quantitativos, pode
trazer benefícios para o estudante. Yin explica que se esses dados quantitativos
foram submetidos às análises estatísticas, o investigador consegue estabelecer uma
consistente estratégia de análise.
A quarta e última estratégia geral se encaixa na definição e teste de
explanações rivais e, geralmente, aparece nos três casos citados acima. Segundo
Yin (2010), quanto mais rivais uma análise abordar e rejeitar, mais confiáveis se
tornam as afirmações feitas na pesquisa.
O relatório do estudo de caso traz os resultados e a visão do pesquisador no
encerramento do estudo. Para Yin (2010), a criação do relatório é um dos pontos
mais desafiadores do estudo de caso e deve ser iniciada antes mesmo da fase da
coleta e da análise de dados. Nos procedimentos na realização do relatório do
estudo de caso, cada pesquisador deve desenvolver seus próprios métodos.
Por último, Yin (2010) destaca que a tarefa mais desafiadora é tornar um
estudo de caso exemplar. Sendo assim, esse aspecto evidencia que o estudo deve
ser significativo, trazendo contribuições; completo, considerando perspectivas
alternativas e apresentando evidências válidas por meio de um texto claro, objetivo e
que seduza o leitor.
Produzir este tipo de estudo de caso exige que o pesquisador seja entusiástico sobre a investigação e queira comunicar os resultados amplamente. Na realidade, o bom pesquisador pode até pensar que o estudo de caso contém conclusões de importância fundamental. Este tipo de inspiração deve permear toda a investigação e resultará em um estudo de caso realmente exemplar. (YIN, 2010, p. 221).
Para auxiliar a aplicação do método na pesquisa, serão apresentadas
técnicas específicas de acordo com o que será analisado.
68
5.2 TÉCNICAS
Existem diferentes técnicas utilizadas no desenvolvimento do método do
Estudo de Caso. Para o presente trabalho, foram definidas como técnicas a revisão
bibliográfica, a entrevista e a observação.
5.2.1 Revisão bibliográfica
A pesquisa bibliográfica é a busca por informações e referências para auxiliar
na elaboração do trabalho, fazendo com que ele tenha validade científica. Para Ida
Regina C. Stumpf, em Pesquisa bibliográfica (2005), a técnica é uma etapa
fundamental que se baseia na experiência e na observação do pesquisador.
Num sentido restrito, é um conjunto de procedimentos que visa identificar informações bibliográficas, selecionar os documentos pertinentes ao tema estudado e proceder à respectiva anotação ou fichamento das referências e dos dados dos documentos para que sejam posteriormente utilizados na redação de um trabalho acadêmico. (STUMPF, 2005, p. 51).
Uma revisão da literatura disponível sobre o assunto estudado é uma detalhe
que deve ser observado pelo aluno para evitar desperdício de tempo e escolher as
melhores fontes de consulta. Segundo Stumpf (2005), além de absorver
conhecimento, essa etapa vai nortear o pesquisador, auxiliando no desenvolvimento
de suas ideias com base nas pesquisas literárias as quais teve acesso. “Através da
leitura de pesquisas relacionadas ao seu assunto de interesse, o pesquisador
poderá encontrar alguns instrumentos já prontos, podendo utilizá-los ou adaptá-los a
suas necessidades” (p. 52).
Para Antonio Carlos Gil, em seu livro Métodos e Técnicas de Pesquisa Social
(2008), é preciso estar atento às fontes escolhidas, pois podem apresentar erros, já
que foram construídas com dados coletados anteriormente. Por isso, “[...] convém
aos pesquisadores assegurarem-se das condições em que os dados foram obtidos,
analisar em profundidade cada informação para descobrir possíveis incoerências ou
contradições e utilizar fontes diversas” (p. 51).
De acordo com Stumpf, colocar o pesquisador em contato com toda
bibliografia já publicada sobre determinado assunto será possível após percorrer
69
quatro etapas, sendo elas: identificação do tema e assuntos; seleção das fontes;
localização e obtenção do material; leitura e transcrição de dados.
Com o tema de estudo definido, um esquema provisório do assunto em
categorias secundárias pode contribuir para estabelecer os limites da abordagem e
para a construção de fontes teóricas confiáveis. Listar palavras-chaves ou termos
relacionados dará um norte mais exato para a pesquisa. Essa etapa, intitulada
identificação do tema e assuntos, é importante, pois o pesquisador poderá encontrar
outros aspectos interessantes para serem abordados. Aqui, também é necessário
delimitar o período e o espaço do tema.
Na etapa seguinte, seleção de fontes, ocorre o levantamento bibliográfico,
com consulta de referências e anotação de dados dos documentos selecionados.
Além do orientador, que deve ser a primeira fonte para indicar bibliografia, Stumpf
(2005) salienta que o pesquisador deve ter a iniciativa de buscar informações
atualizadas para a temática estudada.
As fontes secundárias, que incluem a referência ou o resumo do material
garimpado, também devem ser conhecidas pelos alunos. Em seu capítulo, Stumpf
(2005) apresenta as principais fontes secundárias:
a) Bibliografias especializadas: publicações que possuem a relação de obras
publicadas sobre determinado assunto, dentro de um período
determinado;
b) Índices com resumo: conhecidos também como abstracts são um índice
da literatura corrente de artigos de periódicos, contendo a referência e o
resumo de cada item;
c) Portais: disponíveis em sites de instituições mantenedoras são a porta de
acesso a vários serviços e informações, incluindo bibliografias;
d) Resumos de teses e dissertações: contêm nas publicações dados do
autor, título, orientador, ano e universidade das dissertações e teses de
pós-graduação de uma instituição ou país;
e) Catálogos de bibliotecas: relação de obras de uma biblioteca, por autor,
título e assuntos;
f) Catálogos de editorias: publicações de livros em áreas específicas do
conhecimento, normalmente disponíveis em bibliotecas.
70
Depois da bibliografia básica estar encaminhada, o aluno dará início à terceira
etapa do processo para a revisão bibliográfica, que é a localização e obtenção do
material. Segundo Stumpf (2005), os documentos são localizados em bibliotecas por
meio da consulta ao catálogo, que pode ser acessado pela internet ou diretamente
nas editoras.
A quarta e última etapa é a leitura e transcrição dos dados. A autora descreve
que a partir da leitura será estabelecido a prioridade e o interesse dos documentos
para cada parte do trabalho. Stumpf (2005) aconselha que o resultado da leitura
possa ser anotado em fichas, processo também conhecido por fichamento do
material, que contém os principais dados de referência da obra, as palavras-chaves
e até mesmo um resumo das leituras com a visão pessoal do pesquisador. Como
complemento, recomenda-se transcrever as palavras do autor com o uso de aspas
para futuras citações e anotar as páginas de onde foram retiradas.
Para Stumpf (2005), a produção de todas essas etapas pode ser considerada
difícil e desnecessária em um primeiro momento, mas, após o domínio do
procedimento, o resultado promete ser satisfatório.
Como resultados da revisão bibliográfica dentro desta monografia, foram
apresentados três capítulos. O capítulo dois aborda a história do jornalismo
impresso no Brasil; o terceiro capítulo fala sobre a sociedade da informação; e o
capítulo quatro trata dos processos de produção de conteúdo no jornalismo
impresso e online.
5.2.2 Entrevista
A técnica da entrevista, segundo Gil (2008), é utilizada quando o investigador
formula perguntas para o investigado com o objetivo de coletar informações
interessantes para o caso. É considerada uma forma de diálogo assimétrico onde
uma pessoa está interessada em coletar dados e a outra é a fonte de informação.
Jorge Duarte, em seu capítulo Entrevista em profundidade (2005), define que
a técnica é uma busca por informações que serão analisadas e apresentadas de
forma estruturada.
71
Seu objetivo está relacionado ao fornecimento de elementos para compreensão de uma situação ou estrutura de um problema. Deste modo, como nos estudos qualitativos em geral, o objetivo muitas vezes está mais relacionado à aprendizagem por meio da identificação da riqueza e diversidade, pela integração e síntese das descobertas do que ao estabelecimento de conclusões precisas e definidas. (DUARTE, 2005, p. 63).
As entrevistas podem ser classificadas de acordo com o seu nível de estruturação. A
partir disso, segundo Gil (2008), são divididas em informais, focalizadas, por pautas
e estruturadas.
a) Entrevista informal: a única diferença de uma conversa do dia a dia é que
esse tipo de entrevista tem como objetivo a coleta de dados. É
recomendada quando o pesquisador tem poucas informações sobre o
problema pesquisado;
b) Entrevista focalizada: é livre como a informal, mas tem como foco um tema
específico. O entrevistado pode falar livremente sobre o assunto, com
cuidado para não desviar da temática;
c) Entrevista por pautas: apresenta certa estrutura, pois é conduzida por
pontos de interesse que o entrevistador explora ao fazer perguntas diretas
e deixar o entrevistado falar livremente;
d) Entrevista estruturada: é desenvolvida a partir de uma relação fixa de
perguntas para todos os entrevistados, que costuma ser em grande
número. É indicada para levantamentos sociais, pois trabalha com
tratamento quantitativo de dados. Como as informações são obtidas por
meio de uma lista de perguntas que geram respostas padronizadas, não é
possível uma análise mais profunda dos fatos. Essa lista é chamada de
questionário ou de formulário.
Para conduzir uma entrevista, Gil (2008) explica que é necessário ter
habilidade de lidar com os diferentes rumos que a conversa pode levar. Segundo o
autor, alguns aspectos como a preparação de um roteiro, o estabelecimento de um
contato inicial, a formulação das perguntas, o estímulo a respostas completas, o foco
no assunto e saber lidar com questões delicadas são comuns à maioria das
entrevistas e facilitam no processo.
Conforme Duarte (2005), a entrevista é mais do que uma técnica de coleta de
informações, podendo resultar em um rico processo de aprendizagem. “É uma
72
oportunidade para não apenas descrever e refletir sobre os resultados obtidos, mas
também propor avanços e soluções” (p. 81).
Para aplicação nesse estudo foi definida a entrevista estruturada, por envolver
diversas fontes, inclusive fora da cidade onde reside e trabalha a pesquisadora.
5.2.2.1 Questionário elaborado para a entrevista
Para o desenvolvimento dessa pesquisa, foi realizada a entrevista estruturada
por meio de questionário com seis profissionais ligados aos veículos impresso e
online do jornais Pioneiro e Zero Hora. Foram elaborados questionários diferentes,
mas com perguntas em comum para a editora-chefe do Pioneiro, Andréia Fontana e
para Nilson Vargas, que ocupa o mesmo cargo no Zero Hora. O mesmo ocorreu com
as responsáveis pelas mídias digitais, Andressa Oestreich, do Pioneiro, e Juliana
Jaeger, coordenadora de produção do Zero Hora, além do editor de Geral do
Pioneiro, Adriano Duarte, e a repórter mais antiga da editoria, também do Pioneiro,
Cristiane da Silva Barcelos.
Os questionários foram elaborados ao fim do mês de julho e, após as revisões
e contatos prévios com os entrevistados, foram encaminhados por e-mail no dia 24
de agosto. As respostas estão em anexo na pesquisa.
5.2.2.1.1 Para os jornalistas do Pioneiro
Uma das entrevistadas é editora-chefe do Pioneiro, Andréia Fontana16.
Formada em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade de Caxias do Sul
(UCS), possui MBA na Universidade de Navarra, na Espanha, e no Centro de
Extensão Universitária, em São Paulo. Desde março de 2006, era editora-chefe do
Diário de Santa Maria. De 1994 a 2002, atuou na redação do Pioneiro e retornou
para ocupar o cargo de editora-chefe em outubro de 2015. Já atuou também em
projetos de rádio e TV. Seu foco atual tem ênfase em Gestão e Organização
Editorial de Jornais Impresso e Digital. Os contatos de comunicação com a fonte são
o e-mail [email protected] e o telefone (54) 3218.1256. Abaixo,
seguem as questões elaboradas para a profissional.
16
Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/noticias/2015/10/16/pioneiro-anuncia-nova-editora-chefe/>. Acesso em: 28 jul. 2016.
73
a) Como funciona o processo de produção do jornal Pioneiro desde a escolha da
pauta até a publicação?
b) Como é a divisão das editorias no jornal? Quantos jornalistas trabalham na
redação? Existe uma editoria específica para o online?
c) O que é prioridade na produção de conteúdo: o jornal impresso ou a
plataforma online? Por quê? Pode-se afirmar que o mais recente
reposicionamento editorial do Pioneiro mantém o foco no jornalismo
impresso?
d) A matéria escrita para o impresso costuma ser a mesma publicada no site?
Uma pauta dispõe de jornalistas diferentes para produzir conteúdos para as
duas plataformas? Explique como funciona esse processo no jornal.
e) Em tempos de convergência digital, você considera que o mesmo profissional
pode produzir para o impresso e também para o online ou há necessidade de
um trabalho mais específico, concentrado em apenas uma das plataformas?
Na sua visão, uma redação integrada é a tendência para sobreviver na atual
realidade do mercado de trabalho?
f) A atualização do site do Pioneiro não ocorre com a mesma frequência de
anos anteriores. Isso tem influência das mudanças editoriais?
g) A realidade do mercado econômico impactou também as redações do país,
que cortaram custos e diminuíram a equipe de reportagem. A apuração via
telefone e redes sociais são mais frequentes. Isso ocorre no Pioneiro? Na
sua visão, o processo de produção de reportagens mais aprofundadas foi
afetado?
h) Na sua opinião, quais os desafios do jornalismo impresso e online para
jornais do interior, como é o caso do Pioneiro?
A repórter do Pioneiro Andressa Oestreich, 29 anos, é editora do site do
jornal. No ano de 2007, formou-se em Jornalismo pela UniBrasil, de Curitiba
(Paraná). Três anos depois, começou a trabalhar no jornal, no site do Almanaque,
conhecido como A+. Em 2012, foi transferida para o site do Pioneiro e, a partir de
2016, tornou-se a única jornalista com foco apenas no digital do jornal. Andressa
também assinou durante dois anos a coluna Sobre Moda, extinta em 2016. Seus
contatos disponibilizados pelo veículo foram o e-mail
74
[email protected] e o telefone (54) 3218.1250. As perguntas
elaboradas para a profissional seguem abaixo.
a) Como funciona o processo de produção do conteúdo na plataforma online?
b) O que é prioridade na produção de conteúdo: o jornal impresso ou a
plataforma online? Por quê? Pode-se afirmar que o mais recente
reposicionamento editorial do Pioneiro mantém o foco no jornalismo
impresso?
c) A matéria escrita para o impresso costuma ser a mesma que é publicada no
site? Uma pauta dispõe de jornalistas diferentes para produzir conteúdos para
as duas plataformas? Explique como funciona esse processo.
d) Você passou por diferentes processos editoriais no Pioneiro onde em alguns
momentos o foco estava voltado para a plataforma online e em outras
situações a prioridade era o impresso. Quais foram as mudanças em termos
de atualização de publicações no site ao longo desses processos?
e) Na sua opinião, quais os desafios do jornalismo impresso e online para os
impressos do interior, como é o caso do jornal Pioneiro?
Outro entrevistado é o editor de Geral do Pioneiro, Adriano José da Silva
Duarte, 42 anos. Há 19 anos no jornal, começou como diagramador, estagiou na
Editoria de Polícia por um ano e voltou para a diagramação. Retornou à reportagem
em 2005, na editoria de polícia, onde ficou cerca de três anos. Depois, seguiu para a
editoria de Geral e também integrou a extinta equipe de reportagens especiais por
seis meses. Trabalhou durante os nove primeiros meses da Rádio Gaúcha Serra.
Recentemente, assumiu a editoria de Geral e de Polícia. Os contados de Duarte do
veículo são o e-mail [email protected] e o telefone (54) 3218.1291.
Abaixo, segue o questionário elaborado para o profissional.
a) O que é prioridade na produção de conteúdo: o jornal impresso ou a
plataforma online? Por quê? Pode-se afirmar que o mais recente
reposicionamento editorial do Pioneiro mantém o foco no jornalismo
impresso?
b) A matéria escrita para o impresso costuma ser a mesma publicada no site?
Uma pauta dispõe de jornalistas diferentes para produzir conteúdos para as
duas plataformas? Explique como funciona esse processo no jornal.
75
c) Você está há quase duas décadas no Pioneiro e certamente passou por
algumas mudanças editoriais. Recentemente, essas transformações ora
focaram no online e ora no impresso. Como isso influencia na produção de
conteúdo e na fidelização com o público leitor?
d) Na sua opinião, quais os desafios do jornalismo impresso e online para
jornais do interior, como é o caso do Pioneiro?
Para contribuir com a pesquisa, a repórter de Geral do Pioneiro Cristiane da
Silva Barcelos, também foi entrevistada. Formada em Comunicação Social –
Jornalismo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) em 2009, Cristiane tem 31
anos e há 10 trabalha no jornal. Começou no administrativo da redação, depois
atuou como auxiliar de fotografia, até começar na reportagem. Passou pelas extintas
seção Bom Dia e editoria de Temáticos, responsável pelos cadernos Casa & Cia,
Vida Saudável e Almanaque. Em 2011, ingressou na editoria de Geral, onde está
atualmente. Também já escreveu para editorias de Política e Economia. Os contatos
da repórter no veículo são o e-mail [email protected] e o telefone
(54) 3218.1342. Seguem abaixo as perguntas para a profissional.
a) O que é prioridade na produção conteúdo: o jornal impresso ou a plataforma
online? Por quê? Pode-se afirmar que o mais recente reposicionamento
editorial do Pioneiro mantém o foco no jornalismo impresso?
b) A matéria escrita para o impresso costuma ser a mesma publicada no site?
Uma pauta dispõe de jornalistas diferentes para produzir conteúdos para as
duas plataformas? Explique como funciona esse processo no jornal.
c) Você está há uma década no Pioneiro e certamente passou por algumas
mudanças editoriais. Recentemente, essas transformações ora focaram no
online e ora no impresso. Como isso influencia na produção de conteúdo e na
fidelização com o público leitor?
d) Na sua opinião, quais os desafios do jornalismo impresso e online para
jornais do interior, como é o caso do Pioneiro?
5.2.2.1.2 Para os jornalistas do Zero Hora
Dois jornalistas do Zero Hora estão incluídos no questionário, pois o veículo é
considerado o carro chefe do Grupo RBS. As transformação que ocorreram em ZH
76
serviram como referência para as demais empresas impressas da rede. Uma das
fontes é o editor-chefe do Zero Hora, Nilson Vargas. Formado em Jornalismo pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em 1989, possui pós-graduação em
Teoria da Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo. Entre 1990 e
1997, atuou em assessoria de imprensa empresarial na cidade de São Paulo.
Depois, começou a trabalhar em redações de jornais e revistas, entre eles: a Veja, a
Revista Amanhã, o Diário Catarinense e o Zero Hora - onde ocupa o cargo de editor-
chefe desde abril de 2012. Os contatos disponibilizados foram o e-mail
[email protected] e o telefone (51) 3218.4305. Abaixo, seguem as
questões elaboradas para o profissional.
a) Como funciona o processo de produção do jornal Zero Hora desde a escolha
da pauta até a publicação?
b) Como é a divisão das editorias no jornal? Quantos jornalistas trabalham na
redação? Existe uma editoria específica para o online?
c) O que é prioridade na produção conteúdo: jornal impresso ou a plataforma
online? Por quê?
d) A matéria escrita para o impresso costuma ser a mesma que é publicada no
site? Uma pauta dispõe de jornalistas diferentes para produzir conteúdos para
as duas plataformas? Explique como funciona esse processo.
e) Em tempos de convergência digital, você considera que o mesmo profissional
pode produzir para o impresso e também para o online ou há necessidade de
um trabalho mais específico, concentrado em apenas uma das plataformas?
Na sua visão, uma redação integrada é a tendência para sobreviver na atual
realidade do mercado de trabalho?
f) A realidade do mercado econômico impactou também as redações do país,
que cortaram custos e diminuíram a equipe de reportagem. A apuração via
telefone e redes sociais são mais frequentes. Isso ocorre no Zero Hora? Na
sua visão, o processo de produção de reportagens mais aprofundadas foi
afetado?
g) Por que o Zero Hora está investindo cada vez mais no online, como a edição
ZH Noite e a implantação do projeto relacionado aos tablets?
h) Na sua opinião, por que os outros jornais do Grupo RBS tem menor
investimento na editoria digital, já que a ZH sempre foi uma referência para os
veículos impressos da empresa?
77
i) Na sua opinião, quais os desafios do jornalismo impresso e online para os
grandes jornais do país, como é o caso do Zero Hora?
A coordenadora de produção do Zero Hora, Juliana Jaeger, acrescentou a
visão da plataforma online do veículo. Juliana formou-se em Jornalismo pela
Unisinos em 2009 – mesmo ano em que começou a trabalhar no jornal como
Redatora do site. Depois, tornou-se Editora Assistente, fazendo a edição da capa do
site e outras funções de produção digital, quando ainda havia a divisão entre online
e impresso. Ocupou, ainda, o cargo de Editora da Contracapa do jornal e, nove
meses depois, foi produtora da área digital e coordenadora do núcleo de edição de
capas online e redes sociais. Em dezembro de 2015, assumiu como uma das
coordenadoras de produção, com funções que englobam o produto digital e o
impresso, função que ocupa até a data da pesquisa. Os contatos profissionais são o
e-mail [email protected] e o telefone (51) 3218.4120. As perguntas
que serão enviadas para Juliana seguem abaixo.
a) Como funciona o processo de produção do conteúdo na plataforma online?
b) A matéria escrita para o impresso costuma ser a mesma que é publicada no
site? Uma pauta dispõe de jornalistas diferentes para produzir conteúdos para
as duas plataformas? Explique como funciona esse processo.
c) Quantas pessoas trabalham na editoria de online e como é a divisão de
funções?
d) Por que o Zero Hora está investindo cada vez mais no online, como a edição
ZH Noite e a implantação do projeto relacionado aos tablets?
e) Na sua opinião, quais os desafios do jornalismo impresso e online para os
grandes impressos do país, como é o caso do Zero Hora?
5.2.3 Observação
O processo de observação permeia toda a pesquisa. Conforme Gil (2008), a
técnica de coleta de dados engloba desde a formulação do problema, passando pela
construção de hipóteses, até a interpretação do material coletado. O autor afirma
que “por ser utilizada, exclusivamente, para a obtenção de dados em muitas
pesquisas, e por estar presente também em outros momentos da pesquisa, a
78
observação chega mesmo a ser considerada como um método de investigação” (p.
100).
A técnica pode ser classificada em três categorias: a observação simples, a
observação participante e a observação sistemática. Para o autor, a observação
simples é aquela em que o pesquisador é isento ao assunto que pretende estudar e
observa espontaneamente os fatos que ocorrem. Essa etapa permite a obtenção de
elementos que auxiliem na definição do problema e na construção das hipóteses da
pesquisa, além de facilitar a obtenção de dados sem produzir desconfiança por parte
de quem está sendo objeto do estudo.
Na observação participante, Gil (2008) explica que exige um olhar ativo do
pesquisador que, em até certo ponto, pode assumir o papel de um membro do grupo
estudado.
A observação participante pode assumir duas formas distintas: (a) natural, quando o observador pertence à mesma comunidade ou grupo que investiga; e (b) artificial, quando o observador se integra ao grupo com o objetivo de realizar uma investigação. (GIL, 2008, p.103).
Já na observação sistemática, o pesquisador sabe quais aspectos do objeto
de estudo são significativos para alcançar o que pretende. Para Gil, a técnica é mais
utilizada em pesquisas que descrevem fenômenos ou testam hipóteses. Por isso, é
necessário elaborar um plano que estabeleça o que será observado e quando, além
de definir a forma de registro e organização das informações. É mais comum em
situações de campo ou de laboratório.
5.2.3.1 Caso Único – jornal Pioneiro
O Pioneiro foi fundado em 4 de novembro de 1948, por um grupo de pessoas
liderado pelo deputado Luiz Compagnoni, e tinha por principal finalidade a
divulgação de ideias políticas. Na obra 100 anos de imprensa regional (2004), as
autoras Kenia Maria Menegotto Pozenato e Loraine Slomp Giron explicam que o
jornal era formado por membros da antiga Ação Integralista Brasileira, sob a sigla do
Partido de Representação Popular (PRP). Francisco Rüdiger, no livro Tendências do
Jornalismo (2003), conta que em 1993, o Pioneiro passou a integrar a rede de
jornais da Rede Brasil Sul (RBS), maior grupo de telecomunicação do sul do país.
79
O jornal era, inicialmente, um semanário. A partir de fevereiro de 1975,
passou a ter edições bissemanais, circulando as quartas e sábados. Tornou-se um
impresso diário em fevereiro de 1981.
O Pioneiro passou a ser um jornal regional quando foi adquirido pelo Grupo
RBS, tornando-se um veículo de integração da Região Nordeste do Rio Grande do
Sul, ao invés de circular apenas em Caxias do Sul. Para atender ao novo
compromisso, o impresso passou por uma completa reformulação, com a criação de
novos cadernos.
O veículo inaugurou, em 6 de novembro de 2008, o site pioneiro.com. O novo
portal de notícias foi criado para desempenhar função complementar em relação à
versão em papel. Em um caderno especial intitulado Acaba de chegar o seu Pioneiro
online, publicado naquela época, o site é apresentado como um produto para
integrar a redação, já que os jornalistas do impresso ficaram também responsáveis
pelo jornal da web.
Em março de 201417, o Pioneiro passou a cobrar pelo conteúdo digital. O
preço para acessar livremente todas as notícias no site e nos aplicativos foi
estipulado em R$ 14,90 por mês, valor que se mantém até a data desta pesquisa.
Quem não é assinante tem direito a ler até 20 matérias mensais. O modelo, segundo
uma nota divulgada no site do veículo, visa investir em um jornalismo de qualidade
para diminuir os custos de produção.
No mês de agosto de 201418, um novo posicionamento gráfico da marca foi
apresentado aos leitores. Entre as novidades, o veículo mudou, pela primeira vez, o
seu logotipo e o conceito, que foi alterado de Diário de Integração da Serra para Ao
teu lado. A principal mudança no conteúdo impresso foi a reorganização do
periódico em dois cadernos. O primeiro, intitulado cotidiano, unificou as editorias
antes separadas por Economia, Política, Geral e Polícia. O Sete Dias e a revista
Almanaque se uniram e passaram a circular no caderno Comportamento, que
aborda temas como cultura, lazer e vida em família.
O site do jornal não foi considerado prioridade desde o momento em que foi
criado. A partir de 2014 até a última reforma editorial foi possível observar que o
veículo explorou com mais intensidade o jornalismo online. Neste período, quando
17
Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2014/03/site-do-pioneiro-muda-4455921.html>. Acesso em: 21 jun. 2016. 18
Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/noticias/2014/08/05/pioneiro-apresenta-novo-posicionamento-nesta-terca-feira/>. Acesso em: 18 mar. 2016.
80
houve a cobrança para acessar o material digital, o veículo investiu em conteúdo
diversificado. O canal de vídeos passou a ter produções semanais dos colunistas,
por exemplo. Com a extinção das publicações de algumas colunas no impresso em
2016, o conteúdo audiovisual acabou perdendo força.
Um novo reposicionamento editorial pode ser percebido pelos leitores desde o
dia 15 de fevereiro de 2016. As editorias de Economia, Política, Geral e Polícia
voltaram a ser identificadas e o caderno de variedades retornou com o nome Sete
Dias. O Almanaque19, caderno de fim de semana, voltou a circular desde o dia 03 de
setembro de 2016.
5.2.3.1.1 Jornal Zero Hora – referência editorial
Maior veículo de mídia impressa e referência editorial para os demais
impressos do conglomerado da RBS, o jornal Zero Hora foi comprado pelo grupo em
abril de 1970. De acordo com Lauro Schirmer, na obra RBS: Da voz-do-poste à
multimídia (2002), o impresso havia sido fundado por Ary de Carvalho, em 1964.
Em 200720, entrou no ar o website zerohora.com e, após cinco anos, o jornal
passou a cobrar pela versão digital do seu conteúdo impresso. Quando completou
cinco décadas, em maio de 2014, Zero Hora passou por uma mudança editorial,
gráfica e de marca, tanto no papel quanto no online. Além do novo site, o endereço
passou a ser adaptável para navegação em celulares e tablets.
Nas opções que oferece para assinaturas digitais21, além do acesso ilimitado
ao site, há opções de conteúdos exclusivos, acesso à edição do dia, mesma versão
do jornal impresso que pode ser folheada no celular ou tablet; ZH Noite, que reúne o
resumo dos principais fatos do dia, além de textos exclusivos de colunistas,
publicados às 19h, de segunda a sexta-feira; e Domingo Digital, disponível a partir
das 11h, com notícias atualizadas, colunas inéditas, cruzadinha e informações
esportivas. O mais recente investimento, que chegou ao mercado em dezembro de
201522, foi o ZH Tablet, uma nova modalidade de assinatura que oferece tablets aos
19
Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/noticias/2016/09/02/almanaque-do-pioneiro-volta-a-circular-na-serra-gaucha/>. Acesso em 13 nov. 2016. 20
Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/atuacao/zero-hora/>. Acesso em: 21 jun. 2016. 21
Disponível em: <https://www.assinanterbs.com.br/assinatura/zero-hora>. Acesso em: 21 jun. 2016. 22
Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/12/zh-tablet-ja-esta-a-venda-4919809.html>. Acesso em: 21 jun. 2016.
81
leitores. Além dos benefícios citados acima, por meio do novo jornal é possível
baixar as edições de Zero Hora e armazená-las.
5.2.3.2 Corpus da pesquisa
Para essa pesquisa foi realizada a observação simples, por meio do conteúdo
impresso e do site do Pioneiro, do Grupo RBS, que foi escolhido por ser o mais
antigo jornal de circulação diária de Caxias do Sul. Durante o mês de junho de 2016
foram feitos 118 prints da página inicial do site do Pioneiro e 27 prints da capa do
periódico. O objetivo da coleta desse material é avaliar como ocorre a apresentação
da notícia nessas diferentes plataformas. Em um primeiro momento, foi considerado
incluir a análise de conteúdos da editoria de Geral mas, devido ao prazo disponível
para concluir a pesquisa, constatou-se que não haveria tempo hábil para uma
análise mais profunda. Portanto, foi selecionado um único tema para análise de
cobertura do conteúdo produzido no Pioneiro sobre a ocupação das escolas públicas
estaduais em Caxias do Sul em função de o assunto permear a cobertura em grande
parte do tempo analisado e oferecer aspectos interessantes para a análise na
pesquisa. O assunto rendeu 11 prints no impresso e 23 no Pioneiro.com.
No mesmo período, foram coletados 120 prints da página online do jornal
Zero Hora, referência para auxiliar alguns aspectos da análise. Os prints nas
plataformas online foram coletados em quatro horários determinados para
possibilitar a verificação da atualização de conteúdos. As imagens capturadas às 8h,
13h, 18h e 21h resultaram em um total de 238 prints durante o projeto. O conteúdo
está gravado em CD e anexado na pesquisa.
Com a aplicação do método e das técnicas, foi possível realizar a análise do
conteúdo obtido na coleta de dados, assunto que será abordado no próximo
capítulo.
82
6 ANÁLISE
A partir da revisão bibliográfica, da seleção do corpus da pesquisa, das
entrevistas realizadas com os profissionais dos jornais Pioneiro e Zero Hora, foi
possível realizar a análise do material coletado. O objetivo era responder a questão
norteadora: quais os desafios do jornal Pioneiro na apresentação da notícia em
tempos de convergência digital? e confirmar ou não as hipóteses levantadas na
pesquisa. Para auxiliar no processo, foram definidos os seguintes temas que serão
abordados na sequência do capítulo: Pioneiro; Pioneiro.com; Apresentação da
notícia: impresso versus digital; Atualização da notícia; Localismo; e Desafios da
Convergência Digital.
A apresentação da notícia no impresso e no site do Pioneiro foi analisada a
partir dos materiais coletados no período do mês de junho de 2016 – prints do site e
da capa do impresso do veículo. No processo de codificação, evidenciou-se que as
informações sobre a situação das escolas ocupadas foram as mais recorrentes nas
duas plataformas do jornal. Em função disso, além da apresentação da notícia nas
capas, é pertinente utilizar o tema como parte do estudo para as categorias que
serão analisadas. Sendo assim, os prints desses conteúdos publicados no impresso
e no digital também fazem parte do material coletado. Para referência editorial, os
prints do site do Zero Hora também estão incluídos na análise. Além disso, uma
tabela com dados coletados a partir da observação dos prints do Pioneiro, que
resultou em 34 páginas, colaborou para a elaboração descritiva do capítulo. O
material está nos apêndices da pesquisa.
6.1 PIONEIRO
O Pioneiro apresentou, em agosto de 2014, um novo projeto gráfico para
reposicionamento do jornal impresso. Além da mudança do logotipo, o conceito da
marca foi alterado pela primeira vez na história do veículo e passou a ser ‘Ao teu
lado’. O objetivo da transformação, segundo consta na apresentação do Manual da
Marca, é criar uma proximidade com o público e estar presente na vida do leitor em
todas as plataformas. A principal alteração na edição impressa foi a reorganização
do periódico em dois cadernos: Cotidiano e Comportamento. Um novo
83
reposicionamento editorial, em fevereiro de 2016, retomou a divisão em editorias.
Em entrevista para a autora desta monografia, o editor de Geral do Pioneiro, Adriano
Duarte, afirmou que a mudança ocorreu “pela retomada do jornalismo que fez o
jornal chegar aos 68 anos como um dos veículos líderes de comunicação na Serra e
no estado” (DUARTE, 2016).
Até a data das entrevistas, quarenta e seis jornalistas faziam parte do quadro
de funcionários da redação e estavam divididos nas seguintes editorias: Arte,
Geral/Polícia, Sete Dias/Almanaque, Economia, Política/Opinião, Esportes e
Imagem, segundo a editora-chefe do jornal, Andreia Fontana, em entrevista para a
autora desta monografia. Como a análise do conteúdo das editorias não é o foco da
pesquisa, a seguir, serão explicados quais os elementos que se destacam na capa
do impresso.
Durante o período de coleta dos prints, as capas foram apresentadas
seguindo alguns padrões perceptíveis. Na maioria dos casos, a manchete e a
imagem não estão relacionadas à mesma pauta. O jornal utiliza esse recurso para
explorar assuntos diferentes e destacá-los na página principal da edição. As
chamadas geralmente são compostas por uma cartola23 e o título do assunto. No
máximo duas são destacadas com fotos. Essas percepções serão aprofundadas no
subtítulo da Apresentação da notícia.
Os assuntos abordados nas edições são definidos por meio de sugestões dos
leitores, de fontes, dos próprios jornalistas, entre outras possibilidades. Fontana
(2016) afirma que a pauta é escolhida levando em consideração a relevância do
assunto para os leitores. O localismo é uma característica marcante nas edições
analisadas. Além de Caxias do Sul, o periódico abrange outras cidades da região.
Porém, a cidade sede do jornal é a que ganha mais espaço nas capas.
No próximo subtítulo, será retratado como o Pioneiro.com se apresenta na web.
6.2 PIONEIRO.COM
O site do Pioneiro tem o primeiro e principal bloco de notícias dividido em três
colunas. A manchete é publicada na coluna da esquerda, seguida de cinco a sete
23
Cartola: uma ou mais palavras usadas para definir o assunto da matéria. É usada sobre o título do texto. Disponível em: <http://dicionariodejornalismo.blogspot.com.br/2010/08/cartola.html>. Acesso em 19 nov. 2016.
84
notícias. O número máximo é explorado na maioria dos prints coletados. A parte
mais estreita e central é composta pela ronda policial onde são publicadas
informações referentes aos casos policiais de Caxias do Sul e região. Abaixo da
ronda, podem ser conferidas as publicações dos colunistas. Ao longo do período
analisado, o espaço, também, serviu para divulgar serviços e até mesmo uma
pesquisa onde os leitores poderiam avaliar o jornal. O bloco do lado direito é
reservado ao esporte e geralmente exibe uma informação destacada, seguida de até
três notícias.
A repórter e responsável pelo Pioneiro.com, Andressa Oestreich, afirmou, em
entrevista para a autora dessa monografia, que em casos de matérias não factuais,
que não exigem uma publicação mais imediata, os horários de agendamentos são
planejados de acordo com a audiência do site. O próprio jornalista que produziu o
conteúdo é o responsável pelo agendamento ou publicação da matéria. Esse
pensamento corrobora com o que Ferrari (2003) aponta no capítulo 4 deste estudo,
que pesquisar qual assunto está sendo mais acessado em determinado horário pode
colaborar para o crescimento do portal de notícias na web. “Não basta apenas ter
uma boa reportagem na mão para achar que ela fará sucesso na home page, é
preciso saber onde publicar e em que horário” (p. 75). Nesse critério, a preocupação
com o agendamento das notícias baseado na audiência é uma estratégia
comprovada e eficiente.
Quanto à utilização de recursos multimídia, Oestreich (2016) esclareceu que
algumas matérias rendem conteúdos especiais como infográficos, vídeos e galerias
de fotos. A apresentação diferenciada para a plataforma em questão surge, muitas
vezes, do próprio jornalista que vai produzir a pauta ou de uma conversa com o
editor.
Não há, segundo Duarte, uma prioridade na produção de conteúdo para uma
área do veículo. Porém, o jornalista informou que o Pioneiro estava passando por
um processo de reestruturação com base na opinião dos assinantes e que “ainda é
cedo para afirmar para onde essa transformação vai levar, mas as mudanças
editoriais priorizam a retomada do jornalismo com profundidade e que busque
assuntos inéditos de acordo com a percepção dos leitores” (DUARTE, 2016).
Seguindo os temas de análise, no próximo subtítulo será possível comparar
como a notícia se apresenta no impresso e no online, extraindo os pontos positivos e
negativos desse processo.
85
6.3 APRESENTAÇÃO DA NOTÍCIA: IMPRESSO VERSUS DIGITAL
Na cibercultura, a interação entre as mídias estabelece uma conexão entre os
meios, possibilitando a convergência. Isso significa que, na era digital, um conteúdo
específico para uma mídia pode ser deslocado para vários canais. De acordo com
Jenkins (2009), no capítulo 3 desta pesquisa, a convergência “[...] define mudanças
tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias circulam em
nossa cultura. Algumas das ideias comuns expressas por esse termo incluem o fluxo
de conteúdos através das várias plataformas de mídia” (p. 377). A internet é
responsável pela transformação das mídias tradicionais, tornando-as mais
interativas e participativas devido à necessidade estabelecida no mundo virtual. Por
isso, o autor relata que é preciso criar um fluxo entre as duas partes para aprender a
viver em meio aos múltiplos sistemas de mídia. Com essas definições adicionadas à
contextualização dos elementos que compõem a capa e o bloco de notícias do jornal
e do online, será possível averiguar como a notícia é apresentada em cada
plataforma.
Para facilitar a compreensão das apresentações deste subtítulo, é
interessante destacar que, de acordo com Fontana, o mesmo repórter produz o texto
para o impresso e o digital. “Apenas algumas especificidades, como na arte,
dispõem de especialistas em ferramentas, que ajudam nossos jornalistas a
empacotar o conteúdo de modo que melhore a experiência digital” (FONTANA,
2016). Essa questão será retomada neste subtítulo após as definições dos
elementos presentes nos prints das capas do digital e impresso do veículo.
Na maioria dos casos, a manchete e a foto principal do impresso não são
referentes ao mesmo assunto. Dos 26 prints, em 17 ocorre essa situação. Quando a
capa interage com a imagem, o logotipo do Pioneiro é apresentado no topo. Para
fazer uma separação mais evidente quando há o contraste de assuntos, em grande
parte dos casos, o logotipo aparece centralizado para fazer essa divisão, conforme
ilustra a Figura 03.
86
Figura 03 - Print Screen Capa do Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 09 jun. 2016.
As manchetes representam as notícias mais importantes da edição e, por
isso, são apresentadas em letras grandes e em negrito. As fotografias estão
presentes em todas as capas e, relacionadas ou não às manchetes, são importantes
para apresentação visual do papel.
As chamadas de capa aguçam a curiosidade e ajudam o leitor a decidir por
comprar ou não o produto, para ir em busca de mais detalhes. No Pioneiro, esse
conteúdo é apresentado com alterações de diagramação diárias, variando de, no
mínimo, duas até seis informações por capa, totalizando 96 chamadas no mês de
junho. Em duas ocasiões, as chamadas não aparecem para dar ênfase às
87
manchetes, como é o caso da edição conjunta dos dias 11 e 12 de junho, em que há
duas fotos em destaque, referente à geada em Caxias do Sul e a um movimento
feminista; e do dia 16, quando o caxiense Tite foi anunciado técnico da Seleção
Brasileira. Em apenas uma situação, as chamadas do impresso não aparecem com
fotos. A maioria das capas é organizada, com informações relevantes e sem
elementos que possam dificultar a sua leitura. É possível identificar que ela cumpre
a função de informar sobre o conteúdo publicado na edição de maneira atraente.
Na maioria dos casos, uma chamada é apresentada com foto. Há situações
em que aparecem até duas imagens – recorrentes quando os assuntos são os times
de futebol Caxias e Juventude, que, também, serão tratados como dupla Ca-Ju
neste capítulo. Embora estejam em realidades diferentes e competindo em séries
diferentes do campeonato nacional, na maioria das situações o jornal tem o cuidado
de abordar os dois times na capa e com espaços semelhantes para ambos, como
pode ser observado na Figura 04:
Figura 04 - Print Screen Capa do Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 20 jun. 2016.
Ao contrário do papel, o site abre espaço para outras modalidades esportivas
além do futebol como: o basquete, o rugby e o tênis. Existe, ainda, uma
preocupação com a questão do localismo e, até mesmo em informações nacionais,
como é o caso das Olimpíadas que ocorreram no Rio de Janeiro, a pauta é
abordada dentro do contexto de Caxias do Sul, de acordo com a Figura 05:
88
Figura 05 - Print Screen do Pioneiro.com
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 30 jun. 2016.
89
Pode-se destacar nessa imagem que, assim como no impresso, o site,
também, tem o cuidado de evidenciar a dupla Ca-Ju sem dar preferência apenas
para um time. Na imagem, o Caxias aparece em uma oportunidade a mais, pois é
uma informação sobre o resultado da partida que havia disputado. Além disso, outro
aspecto, que foi notado apenas nesse bloco, é a divulgação de um recurso para
acompanhar as partidas dos times da cidade em tempo real. Essa ferramenta
poderia ter sido mais explorada pela plataforma em outros momentos, já que é um
diferencial em relação às edições impressas e é considerada uma característica no
jornalismo na web.
Em um mês, sabe-se que o jornal apresentou precisamente 122 informações
entre manchetes, fotos e chamadas. De acordo com Fontana (2016), todo o
conteúdo publicado no impresso pode ser acessado no online. Não é possível
invalidar totalmente essa informação, pois a pesquisa não fez um comparativo entre
os conteúdos internos, mas constatou-se que aproximadamente 30 pautas, incluindo
algumas manchetes e notícias relacionadas à foto das capas, não foram publicadas
no bloco principal do site. As informações em nível nacional abordadas nas capas do
papel em nenhum momento ganharam espaço no digital. Um exemplo é a edição, de
08 de junho, em que a manchete retrata a crise política em Brasília. A notícia não
aparece nos prints da página inicial do Pioneiro.com. Não apenas nesse caso, mas
como nos demais, nota-se que não há espaço para informações estaduais ou
nacionais no digital. É necessário salientar que por questões óbvias de espaço e
alcance, o site é a plataforma mais indicada para dar destaque a esse tipo de
informação, ao contrário do periódico que tem páginas e capacidade de circulação
fisicamente limitadas.
Destaca-se ainda que, talvez por falta de organização, informações locais
importantes deixaram de aparecer no digital, como é o caso da manchete do dia 06
de junho, em que o impresso mostra a situação das estradas na Serra gaúcha e em
nenhum print dessa data aparece a publicação da matéria no site. Além da
importância do registro, poderia ter discutido a possibilidade de alguma interação
com o leitor para mapear os pontos mais críticos das estradas na região e
possibilitar uma troca de informações entre o produtor e o consumidor do conteúdo.
Outro exemplo é um assunto que foi manchete e foto principal da edição do dia
seguinte e retratava a onda de frio que atingiu Caxias do Sul, relacionando a pauta
ao sofrimento das pessoas em situação de vulnerabilidade social. O site apresentou
90
uma informação referente ao clima frio, mas destoou totalmente do que estava no
papel. No digital, a informação foi sobre o setor do turismo e do comércio que estava
animado com as temperaturas baixas e a expectativa de aumento nas vendas.
Ao observar o conteúdo informativo completo das capas, não há registro de
assuntos que não foram publicados no site. Por exemplo, todos os dias as duas
plataformas têm informações em comum. A maioria dos conteúdos está no digital –
seja um dia antes ou na mesma data do papel. Raramente a informação que é
manchete do impresso, também, é a principal do primeiro print, feito às 8 horas.
Um aspecto a ser observado é a quantidade de vezes que o impresso e o site
tratam da mesma notícia e apenas a abordam com uma apresentação diferente,
respeitando os critérios específicos de cada plataforma. Dos mais de 100 registros –
somando as manchetes, fotos e chamadas – onde a informação que está na capa,
também, é apresentada no site são exceções os casos que o digital atualiza a
informação, aborda a mesma pauta com outra perspectiva ou oferece recursos
diferentes para atrair o leitor. Verifica-se que, em repetidas oportunidades, a
informação publicada, antecipadamente, no Pioneiro.com está presente na edição
impressa do dia seguinte com a mesma apresentação. Observa-se a seguir a notícia
sobre um protesto de agricultores contra o aumento na idade da aposentadoria, que
é manchete no site às 13 horas do dia 16 de junho, e ganha destaque com foto na
capa do impresso do dia seguinte, segundo as figuras 06 e 07:
Figura 06 - Print Screen Capa do Pioneiro.com
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 16 jun. 2016.
91
Figura 07 - Print Screen Capa do Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 17 jun. 2016.
92
Por meio dos critérios examinados, não é possível afirmar que o conteúdo da
matéria é o mesmo, mas a apresentação da notícia não é diferenciada nas
plataformas. Fontana explicou que “o mesmo jornalista produz o conteúdo para o
impresso e para o online. O repórter faz o texto para o impresso e o edita no digital,
e o repórter fotográfico faz as imagens e edita as fotos para o impresso e o digital e
faz vídeos para o digital” (FONTANA, 2016). Oestreich complementa dizendo que a
redação se tornou multiplataforma para fortalecer o jornalismo. A profissional
declarou ainda que como o repórter que escreve para o impresso é o mesmo que
produz para o online, a mesma matéria será encontrada nas duas mídias. “O que
pode acontecer é que essa matéria pode ter um extra na plataforma online. [...]
algum dado que não entrou no impresso por questões de espaço. Isso é o que o
nosso leitor pode encontrar de diferente” (OESTREICH, 2016).
Conforme Calado (2002), no capítulo 4, o repórter assume múltiplas funções
em uma redação multimídia e tem sua atividade segmentada, sendo incumbido de
produzir ao mesmo tempo para os diferentes canais de informações da empresa. “À
medida que os grupos se consolidam e adquirem tecnologia para operar como redes
integradas de comunicação, o trabalho do repórter consistirá, cada vez mais, em
abastecer de conteúdo as diversas mídias do mesmo sistema” (p. 37).
Essa situação pode ser prejudicial, pois quem consome a informação no site e
observa a capa do dia seguinte do papel pode concluir que a mesma notícia está
sendo apresentada e que se torna irrelevante ler o conteúdo. Dessa maneira, as
duas plataformas passam a competir entre si, ao invés de se complementar. Porém,
Duarte defendeu esse questionamento dizendo que, no seu entendimento, são dois
perfis de leitores diferentes para as mídias em questão. “No caso, quem lê no site,
não lê no papel e vice-versa. Portanto, é necessário levar a mesma informação para
públicos diferentes. Contudo, ambos os públicos querem informações com
profundidade” (DUARTE, 2016).
A partir da análise dos prints, constatou-se que, na maioria dos casos, o site
apenas reproduz o conteúdo que está no periódico ou vice-versa. Para apresentar
dados mais específicos, em pelo menos 58 comparações, divididos entre a editoria
de esporte e os assuntos gerais, identifica-se que o que sofre alteração é o título,
que é adaptado para a web, mas a informação é a mesma em relação ao que está
no papel, como mostram as imagens a seguir, publicadas na edição conjunta dos
dias 08 e 09 e registrada na capa do dia 04 no site:
93
Figura 08 - Print Screen do Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 04 jun. 2016.
Figura 09 - Print Screen do Pioneiro.com
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 04 jun. 2016.
É perceptível que dificilmente outro produto está sendo apresentado. Ferrari
(2003) e Canavilhas (2001) explicam, no capítulo 4, que o processo de transportar o
conteúdo impresso para a internet, utilizando as conhecidas etapas da produção da
notícia e apenas traduzindo para a linguagem da web, é classificado como
jornalismo online. Porém, o jornalismo na web possui alterações específicas na
apresentação da notícia. Segundo Canavilhas, isso é possível a partir da exploração
dos recursos oferecidos na internet. “Com base na convergência entre texto, som e
imagem em movimento, o webjornalismo pode explorar todas as potencialidades
94
que a internet oferece, oferecendo um produto completamente novo: a webnotícia”
(p. 1).
A oferta de recursos extras que podem ser utilizados no digital é praticamente
nula e ocorre em apenas dois casos que se pode destacar: no dia 07 de junho um
banco foi assaltado no bairro Ana Rech, em Caxias do Sul, e a manchete faz
referência a um vídeo publicado sobre o assunto; e no dia 09, onde abaixo do título
há um link para uma galeria de fotos sobre o registro de geada em São José dos
Ausentes.
Uma situação que, também, ocorreu, mas em raras situações, foi a mesma
pauta ser abordada de diferentes maneiras no site e no impresso – pelo menos 10
vezes. É uma opção atrativa, pois percebe-se que a informação foi pensada e
trabalhada para as duas plataformas. Mesmo com a falta de recursos multimídia, é a
melhor escolha para não passar a impressão de que o conteúdo é o mesmo. Um
exemplo pode ser conferido na edição do dia 01 de junho que aborda a Semana
Municipal do Meio Ambiente e traz a foto de uma araucária. O impresso evidencia
algumas obras que foram adaptadas para manter as árvores sem simplesmente
extingui-las. Já no site, a manchete destaca a programação do evento, conforme as
figuras 10 e 11:
95
Figura 10 - Print Screen da Capa Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 01 jun. 2016.
Figura 11 - Print Screen do Pioneiro.com
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 01 jun. 2016.
96
Mesmo que em menor quantidade, existe uma interação entre o conteúdo da
capa do impresso e do site, em que o digital cumpre a função de atualizar a
informação e não apenas reproduzi-la. Um exemplo positivo é uma informação que
está na edição de 28 de junho e aborda que o Banco de Alimentos, programa social
de Caxias do Sul, deixou de receber uma verba milionária por entraves burocráticos,
conforme mostra a Figura 12:
Figura 12 - Print Screen Capa do Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 28 jun.
2016
Como o fechamento da edição impressa do Pioneiro ocorre às 21 horas, é função
do site mostrar em primeira mão se a informação sofre alterações. Nesse caso, logo
no primeiro print da manhã de 28 de junho a informação foi atualizada trazendo um
novo desfecho, de acordo com a Figura 13:
Figura 13 - Print Screen Capa do Pioneiro.com
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 28 jun. 2016.
97
Em no mínimo 40 situações, o site noticiou antecipadamente as informações
que estampavam a capa do jornal impresso do dia seguinte. Um exemplo que
ocorreu com frequência foi o resultado de jogos da dupla Ca-Ju, que é publicado
assim que o jogo encerra na plataforma online. Nessa observação, cabe retomar o
exemplo das figuras 06 e 07, quando são apresentadas as abordagens do
Pioneiro.com e do Pioneiro referentes ao protesto dos agricultores. Evidencia-se que
a mesma informação havia sido publicada no site e, no outro dia, ganhou um espaço
relevante na capa do impresso. De certa forma, situações como essa precisam de
uma atenção especial para não deixar o periódico com impressão de desatualizado.
Certamente, é correto publicar o fato no digital no momento em que ocorreu, pois o
online remete à atualização. Porém, a capa do jornal é a maior publicidade para que
o leitor compre o produto e, se ela passar a impressão de que está trabalhando com
a mesma informação do digital, o periódico pode sofrer prejuízos.
Situações positivas como a questão da atualização, raramente são
registradas, sendo que três delas ocorrem quando o tema é a ocupação das escolas
em Caxias do Sul – assunto mais recorrente no mês analisado e escolhido como
exemplo com o intuito de tornar mais fácil a compreensão dos aspectos explorados
neste capítulo. Como o foco não é analisar o conteúdo das notícias, mas sim a sua
apresentação, optou-se por aprofundar essa pauta no impresso apenas quando ela
é noticiada nas capas. É interessante salientar que os números apresentados a
seguir não significam o número de vezes que a pauta foi publicada no mês.
A ocupação nas escolas esteve na capa do impresso em dez oportunidades,
sendo duas na manchete. Esse é um caso exclusivo no mês analisado, em que o
mesmo assunto esteve presente na capa em mais de uma vez. Percebe-se que
essas informações ganharam destaque até a metade do mês e, quando o
movimento enfraqueceu, foram retomadas em mais uma oportunidade para noticiar
que, mesmo com o fim das ocupações, os professores votaram por manter a greve
da categoria. O jornal trata a pauta com foco no contexto local, trazendo em apenas
um momento uma informação em nível estadual.
Em todos os casos, as matérias tiveram espaço considerado adequado na
parte interna do jornal, analisando a relevância dos fatos. Em quatro oportunidades,
o conteúdo da notícia faz referência ao que já foi publicado no site, mas não é uma
cópia exata do texto. Há alterações e adaptações que respeitam a questão do
espaço. Ainda, em algumas edições, o que está no papel é mais aprofundado e
98
detalhado do que o conteúdo que está no site. Um exemplo disso pode ser
observado em uma matéria publicada no Pioneiro.com no dia 6 de junho. A
informação aborda uma situação onde os pais e alunos do Instituto Estadual de
Educação Cristóvão de Mendoza de Caxias do Sul, que será retratado como
Cristóvão de Mendoza neste capítulo, discutiram sobre a ocupação. Contrários à
situação, um grupo de pais pedia a retirada dos alunos que impediam o retorno das
aulas, como mostra a Figura 14:
Figura 14 - Print Screen Capa do Pioneiro.com
(continua)
99
(conclusão)
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 06 jun. 2016.
No papel, a informação foi publicada no dia seguinte. A pauta da notícia é a
mesma, mas é mais contextualizada e mostra detalhes que não são explorados no
site, como entrevistas e informações sobre a ocupação de uma escola no bairro
Jardelino Ramos, em Caxias do Sul, além de um complemento sobre uma reunião
referente às ocupações, que ocorreria na Câmara de Vereadores da cidade,
conforme pode ser observado na Figura 15.
100
Figura 15 - Print Screen do Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 07 jun.
2016.
Em três ocasiões, o assunto que foi publicado no papel não aparece no bloco
principal de notícias do Pioneiro.com. A matéria que está na capa do jornal, no dia
02 de junho, apresenta um novo caso de agressão referente às ocupações nas
escolas. Uma aluna da Escola Estadual Henrique Emílio Meyer, de Caxias do Sul,
que será abordado no capítulo como colégio Emílio Meyer, acusou um policial militar
de agressão. A notícia é acompanhada de um box sobre um encontro que iria
ocorrer na Universidade de Caxias do Sul (UCS) para discutir o fim das ocupações.
Nessa mesma data, o que foi publicado no site abordou um novo tumulto na mesma
escola, que ocorreu no momento da desocupação. A informação da aluna que teria
sido agredida por um policial militar, que está na chamada do impresso, aparece no
interior da matéria em um link para ler mais notícias sobre o assunto. Essa matéria
ainda tem links internos para outras notícias sobre as ocupações. Nesse caso, é
perceptível que o site trabalhou de maneira correta a atualização, pois mesmo que a
informação sobre a agressão da aluna seja relevante, provavelmente não apareceu
no bloco principal de notícias devido ao novo episódio de confusão no colégio. O site
101
acertou ao dar prioridade para a informação mais atual e relacionar com o episódio
de agressão que está no impresso.
No dia 09 de junho, o Pioneiro publicou uma matéria sobre a interferência dos
pais na mobilização e a retomada parcial das aulas em algumas escolas de Caxias
do Sul. Há duas retrancas24: uma aborda o envolvimento dos pais que deve ocorrer
em todo o ano letivo, não apenas em períodos de tumultos; a outra explora um
encontro de pais de alunos e professores da Escola Estadual de Ensino Médio
Cavalheiro Aristides Germani, tratada como Aristides Germani no restante do
capítulo, para decidir sobre o retorno das aulas com os alunos mobilizados, sendo
que o encontro terminou sem consenso. O assunto estava sendo acompanhado pelo
site, mas, nesse caso, o impresso fez uma contextualização mais aprofundada,
apresentando dados e opiniões que não aparecem no digital.
Além disso, três informações publicadas no impresso nas edições conjuntas
de fim de semana dos dias 04 e 05; 25 e 26, e ainda em 08 de junho, trazem
exatamente o mesmo conteúdo que já estava no Pioneiro.com no dia anterior. É
interessante destacar que não é uma cópia exata, mas são detalhes mínimos que
sofrem alterações, conforme pode ser conferido nas figuras 16 e 17:
24
Retranca: Palavra ou pequena frase usada sobre o título para apresentar o tema da matéria. Disponível em: <http://dicionariodejornalismo.blogspot.com.br/2010/09/retranca.html>. Acesso em 19 nov. 2016.
102
Figura 16 - Print Screen do Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 08 jun. 2016
Na imagem a seguir, é possível observar que até mesmo o conteúdo da
retranca se repete e torna a matéria extensa e sem atratividade para o leitor que a
consome no digital. A informação poderia ter sido dividida em duas matérias no site
e, sendo assim, a retranca geraria um conteúdo novo. Essa estratégia deixaria a
matéria mais adequada para a plataforma online.
103
Figura 17 - Print Screen do Pioneiro.com
(continua)
104
(continuação)
105
(conclusão)
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 07 jun. 2016
Outro aspecto que se pode evidenciar nesse caso é que a pauta foi produzida
pelo mesmo repórter nos exemplos apresentados acima. Assim como os demais
profissionais do veículo que foram entrevistados para a pesquisa, a repórter da
106
editoria de Geral, Cristiane Barcelos, também, concorda que o profissional
responsável pela apuração da notícia deve produzir o conteúdo tanto para a
plataforma impressa quanto para a digital. Porém, a jornalista destaca que em
algumas situações se faz necessária a divisão de tarefas. “São os casos, por
exemplo, de reportagens que resultam na produção de infográficos ou material
multimídia” (BARCELOS, 2016). Esse é um ponto interessante a ser destacado, pois
se a pauta em questão fosse pensada ou executada por mais de um profissional,
poderia render um conteúdo mais diversificado e que explorasse os recursos
multimídia.
Ferrari (2003) explica, no capítulo 4, que o processo de produção da notícia
para a internet não contempla o simples ato de transformar o texto para uma
linguagem aceita na web, pois é preciso ter domínio das mídias envolvidas. Escrever
para a web não é tarefa fácil. É preciso conhecer o público, pensar no alcance da
notícia e buscar histórias que possam ser contadas com o aproveitamento de áudio,
gráficos, vídeo, links, etc. “Os jornalistas on-line precisam sempre pensar em
elementos diferentes e em como eles podem ser complementados. Isto é, procurar
palavras para certas imagens, recursos de áudio e vídeo para frases, dados que
poderão virar recursos interativos” (p. 48).
O que ocorre, também, em casos raros, é o site trazer atualizações do
conteúdo que está na capa do jornal. Constata-se essa situação em oito
oportunidades, sendo três delas sobre as ocupações das escolas em Caxias do Sul.
Esse assunto é presenciado no bloco principal desde o primeiro até o último dia do
mês de junho. A pauta apareceu 56 vezes em 25 dos 30 dias analisados. Desse
total, 23 eram informações novas e 33 repetidas, ou seja, sem nenhum tipo de
atualização. Essa informação será explicada de maneira mais ampla no subtítulo
Atualização da notícia.
Cabe analisar apenas a divulgação das informações novas, já que no restante
nada é alterado. O assunto foi tratado com frequentes atualizações e um
acompanhamento relevante desde o começo até o fim das ocupações. Presente
quase que diariamente no site, é possível afirmar que a pauta não caiu no
esquecimento do jornal, o que pode acontecer com assuntos menos relevantes que
não ganham desdobramentos e podem ser deixados de lado devido ao grande
número de informações que podemos encontrar no ciberespaço.
107
O número de atualizações sobre o assunto é expressivo, já que no período
analisado é possível observar que o site acompanhou cada desfecho e publicou um
extenso material sobre as escolas que estavam ocupadas, os episódios e
reivindicações de cada uma delas, as respostas dos órgãos responsáveis, a
gradativa desocupação, a interferência dos grupos contra e a favor do movimento -
até a última desocupação, o retorno às aulas e os episódios de confusão que
sucederam posteriormente.
Das 23 notícias novas, apenas uma não tem foto e algumas publicações
chegam a ter mais uma imagem, além da principal. Dezoito apresentam links no
conteúdo interno. O recurso aparece nas palavras destacadas em negrito no texto e,
na maioria das vezes, é seguido pelo título Leia Mais, onde há manchetes abaixo
com links internos para acessar o conteúdo. Apenas dois casos apresentam links
para informações que não são referentes às ocupações. É uma estratégia para que
o leitor permaneça consumindo conteúdo dentro do próprio site, pois existe apenas
um link externo em uma matéria publicada no dia 07 de junho que leva para uma
página do Facebook de um movimento da desocupação do Cristóvão de Mendoza.
Links são os únicos recursos multimídia utilizados. Porém, em cinco notícias
nem isso pode ser conferido. Há apenas o texto, em um dos casos até sem imagem,
onde as falas dos entrevistados não são ajustadas corretamente com o travessão,
para simbolizar que é a citação de outra pessoa, conforme apresentado na Figura
18:
108
Figura 18 - Print Screen do Pioneiro.com
(continua)
109
(conclusão)
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 04 jun. 2016
Um texto apresentado assim na plataforma online não é atrativo para o leitor.
Nesse contexto, o Pioneiro poderia utilizar outros recursos multimídia. Além dos links
– que são uma boa estratégia para contextualizar sobre o assunto – vídeos curtos
com depoimentos dos envolvidos no movimento ou até mesmo um infográfico para
acompanhar dia a dia a situação das ocupações poderiam ter sido pensados para as
110
pautas como um recurso adicional. Acertadamente, no primeiro dia de prints, a
matéria apresenta um vídeo, que é uma entrevista com um pai de um aluno que
agrediu um colega do filho na Escola Apolinário Alves dos Santos. Entretanto, a
manchete é uma entrevista com a vítima que foi agredida. Nesse caso, o agressor
falou com o jornal no dia anterior e o vídeo foi publicado na notícia para
contextualizar o fato. Aqui há uma falha: o jornal poderia ter gravado uma entrevista
também com a vítima. Pode-se pensar que ela não quis ser identificada, mas a
premissa é derrubada, pois há uma foto dela na matéria.
Retornando a questão do localismo, como discutido anteriormente, percebe-
se que o site não deixa espaço para informações estaduais e nesse caso não foi
diferente. Uma notícia publicada no papel em 14 de junho explica que o governo do
Rio Grande do Sul acionou a Justiça para pedir a reintegração de posse dos 120
colégios que ainda estavam ocupados no Estado. Após apresentar o contexto
estadual, a matéria centraliza nas escolas ocupadas em Caxias do Sul e publica
uma retranca com opiniões de uma mãe contrária e outra a favor das ocupações.
Essa informação não é abordada no site.
6.4 ATUALIZAÇÃO DA NOTÍCIA
A atualização da notícia é um recurso que passou a ser prioridade da
plataforma online devido às ferramentas que a internet oferece para essa
funcionalidade. Isso não significa que os demais meios de comunicação não devem
trabalhar com essa característica. Porém, em comparação ao impresso, esse
processo é limitado. Por isso, com o surgimento dos sites de notícias, grande parte
dos veículos que trabalham com o papel aposta nos portais da web como ferramenta
de atualização. Contudo, Fontana afirma que a missão do Pioneiro é ter a melhor
informação e não a mais rápida. “Procuramos agilidade, mas queremos acima de
tudo ser relevante pela qualidade da informação, não pela quantidade” (FONTANA
2016). Referente ao pensamento da editora, Noblat (2004) explica, no capítulo 4
desta pesquisa, que o jornal impresso deve prezar pela apuração minuciosa, pela
profundidade e boa escrita, estimulando uma reflexão no leitor, já que a “notícia em
tempo real deve ficar para os veículos de informação instantânea – rádio, televisão e
internet”. Nesse caso, mesmo que o Pioneiro preze pela qualidade da informação, a
plataforma online não pode deixar de ser atualizada.
111
Em um contexto geral apresentado nos 118 prints no mês de junho quatro
vezes ao dia, é possível perceber apenas duas atualizações completas do principal
bloco de notícias do Pioneiro.com. Essas situações ocorrem no dia 19, às 23 horas,
para o dia 20, às 8 horas; e no dia 24, com atualização completa das 8 para as 13
horas, conforme mostram as figuras 19 e 20:
Figura 19 - Print Screen do Pioneiro.com
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 19 e 20 jun. 2016.
112
Figura 20 - Print Screen do Pioneiro.com
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 24 jun. 2016.
Nos demais casos, também há atualização do bloco de notícias e dificilmente
ele se mantém o mesmo. Porém, não é uma atualização contínua como mostrado
nos exemplos acima. O restante dos prints aponta a permanência de informações
repetidas. Entretanto, há cinco ocorrências onde o bloco não é atualizado em
nenhum momento, sendo elas: no dia 4, das 18 às 21 horas; dia 6, das 18 às 21
horas; do dia 11, das 13 às 18 horas e das 21 até as 9 horas do dia 12; e no dia 22,
das 18 às 21 horas. Presume-se que a falta de atualização no site é maior no
113
período em que a atenção dos jornalistas está voltada ao fechamento da edição
impressa, que ocorre às 21 horas, e nos fins de semana, em que a redação trabalha
em regime de plantão, contando com um número reduzido de funcionários. Existe,
sim, atualização, tanto na apresentação da notícia como no acompanhamento dos
fatos, mas em alguns momentos essa característica deixa a desejar e isso não é
aceitável na plataforma online. Silva e Moreira (2015) apontam, no capítulo 3, que a
instantaneidade e a utilização de recursos como vídeos e hiperlinks trouxeram novas
possibilidades ao jornalismo e que a exploração desses recursos pode ser a solução
do futuro da atividade.
Quando se analisa especificamente o conteúdo da ocupação das escolas,
percebe-se que a pauta está presente, mas o número de repetições é maior do que
a atualização. O assunto ganha um desdobramento quase que diário no site. Das 59
vezes em que é abordado em 25 dias do mês, 23 são informações novas e o
restante é repetição, como mostra a tabela:
Tabela 1 – Atualização da pauta das ocupações nas escolas
Dias 8 horas 13 horas 18 horas 21 horas 01/06 Informação
nova Informação repetida
* *
02/06 * Informação nova 1 Informação nova 2
Informação repetida 2
*
03/06 * * * Informação nova
04/06 Informação repetida
Informação repetida
Informação repetida
Informação repetida
05/06 Informação nova
* * *
06/06 * Informação nova
Informação repetida
Informação repetida
07/06 * * Informação nova
Informação repetida
08/06 Informação repetida
Informação nova
Informação repetida
Informação repetida
09/06 * * * Informação nova
10/06 Informação repetida
* Informação nova
Informação repetida
11/06 * * * Informação nova
114
12/06 Informação repetida
Informação repetida
Informação repetida
Informação repetida
14/06 * Informação nova
Informação repetida
Informação repetida
15/06 * * * Informação nova
16/06 Informação repetida
Informação repetida
Informação repetida
Informação nova
17/06 Informação repetida
Informação nova
Informação repetida
Informação repetida
18/06 Informação repetida
* * *
20/06 * Informação nova
Informação repetida
*
21/06 * * * Informação nova
22/06 Informação nova
Informação repetida
Informação nova
Informação repetida
23/06 Informação repetida
* Informação nova
Informação repetida
24/06 Informação repetida
* * Informação nova
25/06 Informação repetida
Informação repetida
* *
27/06 * * Informação nova
*
30/06 * * Informação nova
Informação repetida
Sendo assim, é possível afirmar que, apesar de trabalhar com a atualização
da notícia, o Pioneiro repete a mesma informação por diversas vezes. Em duas
ocasiões, nos dias 3 e 11, a notícia aparece às 21 horas e permanece na capa até o
mesmo horário do dia seguinte. Esse é um intervalo de tempo considerado
significativo para um site que, além de querer oferecer a melhor informação, quer ser
reconhecido pela agilidade.
No subtítulo seguinte, será possível verificar como o Pioneiro se posiciona em
relação à divulgação de matérias locais – fator importante para o veículo.
6.4 LOCALISMO
Essencial para situar o leitor, o localismo está presente nas duas plataformas
do Pioneiro analisadas neste capítulo. No Manual da Marca, consta uma explicação
115
de que o veículo não deixa de olhar para os assuntos relevantes em esfera global,
mas sempre os relaciona com o contexto local. Essa afirmação pode ser confirmada
em sua totalidade apenas no impresso, pois no online não há espaço para notícias
que não estejam relacionadas a Caxias do Sul e região. Fontana afirma que o
desafio do jornal é fazer a diferença na vida do leitor, ajudando-o a entender melhor
as transformações globais ou locais, com foco no localismo. “No nosso caso, tudo
com um olhar muito próprio, da nossa janela para o mundo, ou do mundo para o
nosso quintal” (FONTANA, 2016).
Caxias do Sul é o assunto da manchete das edições impressas em 16 capas.
A foto principal – sendo em comum com a manchete ou não – traz a cidade em 19
oportunidades. A região da Serra Gaúcha é tema de quatro manchetes e
informações nacionais aparecem em cinco. Em um dos casos, mesmo trazendo um
assunto mais abrangente, o foco é direcionado para a questão do localismo,
conforme afirmou Fontana e está retratado na Figura 21.
Figura 21 - Print Screen Capa do Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 10 jun. 2016
As chamadas abrangem por diversas vezes cidades da região e, em algumas
oportunidades menos frequentes, trazem assuntos nacionais e estaduais. É possível
observar que as chamadas sobre notícias de Caxias do Sul aparecem seguidamente
sem a identificação do local, diferente de quando a pauta noticiada ocorreu em
outras cidades, como é constatado na Figura 22.
116
Figura 22 - Print Screen Capa do Pioneiro.
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 23 jun. 2016
Das 45 chamadas contabilizadas sobre a área caxiense, em 36 não aparece o
nome da cidade. Não é possível afirmar qual o critério editorial aplicado nessa
situação, pois, conforme a Figura 23, a identificação ou não de Caxias do Sul nas
chamadas pode ser observada na mesma capa e parece ser opcional.
Figura 23 - Print Screen Capa do Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 08 jun. 2016
O localismo da capa do Pioneiro também pode ser percebido com as
chamadas referentes à dupla Ca-Ju, que aparecem em 13 casos. Em apenas uma
notícia sobre esporte é dada ênfase a outra modalidade, que é o time de futebol
americano da cidade.
No site do Pioneiro, as informações sobre Caxias do Sul, também, são
maioria na manchete. Oestreich destaca que “o Pioneiro.com prioriza o que é notícia
em Caxias e região” (OESTRICH, 2016). Dos 118 prints, 75 trazem assuntos locais.
117
O restante não é estendido para muitos quilômetros de distância, ficando restrito a
cidades das regiões da Serra gaúcha, Hortênsias e Campos de Cima da Serra.
Em relação às ocupações das escolas – pauta analisada com mais
profundidade no capítulo – todas as notícias abordam apenas os colégios de Caxias
do Sul. Há apenas uma exceção na edição impressa do dia 14 de junho, onde a
matéria aborda um pedido feito à Justiça pelo governo do Rio Grande do Sul para
reintegrar as escolas que ainda estavam ocupadas no Estado. Porém, após
apresentar o contexto estadual, o texto retoma como estava a situação na cidade e
traz a opinião de duas mães de estudantes de colégios locais com opiniões
divergentes sobre o assunto.
Um aspecto relevante do localismo tratado com destaque nas duas
plataformas é o anúncio do técnico Tite para assumir o time da Seleção Brasileira.
Adenor Leonardo Bacchi, nome de batismo do profissional, nasceu no distrito de
São Brás, em Caxias do Sul. Por esse motivo, e devido à relevância do fato, o
assunto ganhou uma capa exclusiva na edição impressa, de acordo com a Figura
24:
118
Figura 24 - Print Screen Capa do Pioneiro
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 16 jun. 2016.
Já na plataforma digital, o assunto rendeu um bloco especial no dia 15, na
lateral, acima do bloco de esporte. No dia 16, ocupou a área acima da manchete,
sendo novamente transferido para a lateral no dia seguinte, onde permaneceu até o
dia 19, quando foi desativado. Os exemplos podem ser observados nas figuras 25 e
26:
119
Figura 25 - Print Screen do Pioneiro.com
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 16 jun. 2016.
120
Figura 26 - Print Screen do Pioneiro.com
FONTE: Site Pioneiro.com. Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em: 19 jun. 2016.
O destaque para a informação evidencia a importância do contexto local para
o Pioneiro, tanto no impresso quanto no online, por duas constatações: é raro o
jornal publicar apenas uma informação na capa e o digital estampar blocos especiais
no site. Traquina (2005), no capítulo 4 desta pesquisa, afirma que a proximidade e a
relevância dos fatos são importantes critérios de noticiabilidade, termo que
representa o conjunto de regras usado para definir quais fatos merecem um
tratamento jornalístico. Sendo assim, a proximidade é relevante em termos
geográficos, pois muitas vezes um fato que aconteceu em determinada cidade será
notícia em um jornal local, mas dificilmente em outro país. Já a relevância, para
Traquina, é a “preocupação de informar o público dos acontecimentos que são
importantes porque têm um impacto sobre a vida as pessoas” (p. 80).
E, para finalizar, o subtítulo seguinte apresenta como o Pioneiro trabalha com
a convergência das mídias. Como parâmetro, algumas constatações dos 120 prints
do site do Zero Hora no mesmo período serão evidenciadas no intuito de apresentar
121
como o carro chefe dos veículos impressos do Grupo RBS está se destacando no
universo digital em relação aos demais.
6.6 DESAFIOS DA CONVERGÊNCIA DIGITAL
O desafio da convergência digital na comunicação não é mais guiado apenas
pelo critério de produzir conteúdo para plataformas diferentes, pois isso já vem
sendo feito. Ainda nos primórdios dos portais de notícias percebeu-se que reproduzir
o texto do impresso para o online não era a maneira correta de trabalhar na nova
plataforma. O desafio atual é tornar esse material atrativo perante as opções
multimídia e a concorrência que se formou no mundo virtual. Para isso, é preciso
criar conteúdos inovadores e interativos na rede. Jenkins (2009), no capítulo 3,
expõe que se o paradigma da revolução digital apontava que as mídias tradicionais
seriam substituídas pelas novas mídias, o paradigma da convergência presume uma
interação cada vez mais complexa entre elas.
É possível reconhecer que, na maioria dos casos, não existe uma
convergência de dados no Pioneiro. Não é outro produto sendo apresentado, e sim
uma repetição. Sendo assim, o veículo precisa evoluir para chegar ao objetivo ideal
proposto por um site de notícias na plataforma online. A exploração de recursos
visuais é praticamente nula. A maneira mais utilizada para manter o leitor dentro do
próprio portal de notícia são os links internos que aparecem nos conteúdos
analisados. Como constatado no subtítulo da Apresentação da notícia, dificilmente é
oferecido um recurso ou uma abordagem nova das pautas nas capas do papel para
o digital e vice-versa. A personalização do conteúdo obviamente não é o foco do
jornal.
De acordo com as entrevistas dos profissionais do veículo, pode-se afirmar
que a redação está totalmente integrada, ou seja, todos os profissionais trabalham
para as duas áreas e não há um núcleo específico para pensar em conteúdos
diferenciados para o digital. Fontana (2016) explica que dos 46 jornalistas do
Pioneiro, apenas dois deles são mais focados no digital.
Nesse contexto, evidenciam-se as consequências da carência de não haver
profissionais que se dedicam a ambas as plataformas com certa exclusividade. Não
se contesta o fato de o mesmo jornalista produzir o conteúdo para o online e o
impresso, porém, além da adaptação da escrita, o profissional ainda precisa pensar
122
quais recursos pode produzir para alterar a apresentação da sua matéria nos
diferentes meios. O jornal Zero Hora, também apresentado neste capítulo como ZH,
é um exemplo positivo de que a existência de pessoas que se dedicam à plataforma
pode fazer a diferença nesse processo.
Em entrevista para a autora desta monografia, o editor-chefe da ZH, Nilson
Vargas, explicou que o jornal tem quatro grandes editorias: Notícias (hardnews),
Esporte, Cultura&Entretenimento e Sua Vida (comportamento) e, nas etapas de
apuração e edição, as demandas de cada plataforma estão dentro desses grupos,
porém “há um núcleo online que concentra profissionais com funções ‘online puras’:
editores de capas digitais e equipe de redes sociais” (VARGAS, 2016). A
coordenadora de produção, Juliana Jaeger, também em entrevista à autora desta
pesquisa, complementa explicando que ZH não trabalha mais com a divisão da
editoria de online e do papel, pois os repórteres são multiplataforma. Contudo, cada
grupo, dependendo do seu tamanho e fluxo de produção, tem seus editores mais
voltados para um meio específico. “A maior editoria do jornal, por exemplo, que é a
de notícias, tem hoje pelo menos oito editores voltados ao papel e quatro voltados
ao digital, mas todos são responsáveis pelo conteúdo nas duas plataformas”
(JAEGER, 2016).
Zero Hora, apesar de também se definir como uma redação multiplataforma,
segundo a visão dos entrevistados, dispõe de profissionais que pensam a pauta
tanto para o digital quanto para o impresso. Jaeger explica que na maior parte dos
temas, o texto é publicado antes no site e depois é editado para o papel. Desde sua
origem, pautas especiais são pensadas para as duas plataformas.
Boa parte das matérias especiais é planejada em conjunto para o site e para o impresso desde a origem: ao propor a pauta, já se pensa em como ela será apresentada no online, com vídeos, gráficos, galerias de fotos, e como será apresentada no papel, quantas páginas, quais fotos e qual apresentação gráfica terá (JAEGER, 2016).
O site do ZH é dividido em três colunas. O conteúdo analisado foi referente às
informações que estão na primeira coluna, onde se apresenta a manchete, seguida
de uma média de 20 informações. A partir disso, observaram-se quantas das pautas
que estavam no primeiro print, feito às 8 horas, se repetiam nos demais registros,
feitos às 13, 18 e 21 horas. A reincidência é maior no print do horário seguinte,
quando aproximadamente 160 informações continuam na página principal. Em
123
seguida, às 18 horas, esse número cai para uma média de 60. No último print do dia,
a permanência das notícias da manhã é praticamente inexistente, ocorrendo em no
máximo 30 casos.
A intenção não é fazer um comparativo entre o Pioneiro e o Zero Hora, já que,
segundo Vargas (2016), são cerca de 200 jornalistas que trabalham na redação de
ZH – aproximadamente três vezes mais do que no Pioneiro. O jornal de Porto Alegre
apresenta um trabalho mais dinâmico, pois mesmo sendo uma redação unificada,
direciona profissionais específicos para o online.
Com a avaliação da página inicial do site, percebe-se que frequentemente há
áreas especiais acima do bloco da manchete. Em pelo menos 50 prints é possível
identificar esse trabalho. Além disso, as informações que estão nesse espaço são
alteradas com uma frequência maior se comparadas com a permanência da área
sem atualização. Nas imagens capturadas no dia 24 de junho, é possível visualizar a
periodicidade das novas notícias. Um bloco especial sobre a votação que decidiu
pela saída do Reino Unido da União Europeia foi publicado às 13 horas, conforme
mostra a figura a seguir:
124
Figura 27 - Print Screen Capa do site de Zero Hora
FONTE: Site Zero Hora. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs>. Acesso em: 24 jun. 2016
O bloco da manchete é composto por quatro informações, sendo possível
navegar entre elas. Depois, há dez notícias que repercutem o assunto no mundo.
Logo no print das 18 horas, o bloco da manchete ganha novas informações e as
demais áreas são atualizadas com vídeos, novos desdobramentos da pauta e
opiniões de colunistas.
125
Figura 28 - Print Screen Capa do site de Zero Hora
FONTE: Site Zero Hora. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs>. Acesso em: 24 jun. 2016
No print das 21h, o bloco ainda permanece com mais atualizações e mudanças na
sua apresentação, além da inclusão de um mapa virtual.
126
Figura 29 - Print Screen Capa do site de Zero Hora
FONTE: Site Zero Hora. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs>. Acesso em: 24 jun. 2016
O veículo em questão é líder do Grupo RBS no segmento impresso e se
encontra no meio de um processo evolutivo na questão do online. Na opinião de
Vargas, os outros jornais do grupo recebem um investimento inferior na editoria
digital, por causa “da cobertura local, distribuição física menos complexa, público
leitor próximo da sede, cobertura predominantemente local e uma preferência
expressa por seus leitores pela plataforma papel” (VARGAS, 2016). Enquanto, na
visão do editor, ZH precisa de um investimento maior nessa plataforma por concorrer
com grandes marcas do jornalismo.
Jaeger explica que nos próximos anos o foco de ZH será voltado para
assinaturas digitais, acompanhando uma tendência mundial no mercado de jornais.
“É um nicho em que conseguiremos entregar, a cada dia, mais novos produtos, para
novos públicos de forma ágil e instantânea, não perdendo a visão analítica e
contextualizada que o jornalismo impresso sempre teve” (JAEGER, 2016). Por esse
motivo, o veículo investe em projetos no universo digital, inclusive com o objetivo de
migrar o leitor tradicional de jornal para esse espaço. “Nosso intuito não é mudar o
hábito dos leitores e sim ajudá-los a se adaptar ao um novo mundo digital”
(JAEGER, 2016).
127
Percebe-se, pela leitura das entrevistas e dos autores, que não existe uma
fórmula única para os desafios da convergência digital. O maior obstáculo é manter
a relevância do veículo no impresso e no digital, sabendo lidar com as diferenças.
Vargas (2016) acredita que, em meio ao processo de mudanças, o cenário é
de transformação, de reestruturação e de incertezas, mas a maneira de fazer
jornalismo é o que fará a diferença no mercado.
Quem tem desafios é o jornalismo na sua essência que é apuração, credibilidade, agilidade, afinidade com o público, ecletismo, pluralidade e todos os outros conhecidos há muito tempo, antes mesmo da existência do digital. A distinção entre papel e digital se dá mais na distribuição e nos formatos. Neste caso, a atividade precisa ter esta onipresença de plataformas, acertando nos formatos e linguagens para atender ao seu público de forma plena. (VARGAS, 2016).
Carvalho e Pimenta (2016), no capítulo 3, defendem que o momento pelo qual
o jornalismo está passando não deve ser visto como uma crise, mas sim como uma
mudança de cenário, pois situações como essa impulsionam o jornalismo a se
adaptar, como já ocorreu outras vezes na história. “A rápida expansão da internet
tem provocado mudanças que não podem ser deixadas de lado. [...] Palavras
escritas, áudio, vídeo, foto, texto, todos os diferentes tipos de códigos agora podem
estar reunidos em um mesmo suporte” (p. 2).
De fato, o Pioneiro precisa aprender a apresentar o seu conteúdo de maneira
mais adequada no digital. É necessário compreender e utilizar as novas
ferramentas, sem perder as qualidades que são atribuídas ao conteúdo do papel. O
digital também exige uma boa apuração, profundidade e contextualização, mas
oferece mais do que um bom texto. Nesse espaço, é possível explorar a
hipertextualidade. Além desse recurso, o desafio maior consiste em produzir um
conteúdo atrativo para o leitor. Mas, a partir da pesquisa, é possível concluir que a
informação bem trabalhada e que utiliza os recursos multimídia é um caminho
indicado para criar uma relação de fidelidade com o internauta.
A partir da análise, será possível responder a questão norteadora e confirmar
ou não as hipóteses da pesquisa nas considerações finais desta monografia.
128
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A divulgação de notícias na web passou por diversas transformações desde
seu surgimento. Inicialmente, o conteúdo divulgado era apenas uma cópia do que se
publicava nas mídias tradicionais. Com o passar dos anos, os recursos exclusivos
da plataforma, como a criação de conteúdos personalizados que exploravam as
possibilidades do ciberespaço, começaram a ganhar destaque no cenário do
jornalismo. A narrativa jornalística na internet apresentou aos usuários ferramentas
de rápida atualização, com a personalização do conteúdo por meio da produção
multimídia, da interatividade e do uso de hipertextos.
Buscou-se, ao longo desta monografia, responder a questão norteadora:
quais os desafios do jornal Pioneiro na apresentação da notícia em tempos de
convergência digital? A resposta para essa questão é fundamentada na análise da
pesquisa que, por meio do Estudo de Caso e da revisão bibliográfica, de entrevistas
com os profissionais dos jornais Pioneiro e Zero Hora, e da observação do material
coletado, encontrou as fragilidades da apresentação da notícia no site e no impresso
do Pioneiro. A partir disso, aponta-se caminhos para melhorar o desempenho da
plataforma digital, além de sugerir no aprofundamento de matérias para o papel,
evitando que ocorra apenas a transposição do conteúdo, como é feito atualmente.
Entende-se que o veículo está focado em trabalhar com um conteúdo mais
aprofundado, com a missão de ter a melhor informação, não a mais rápida. Porém, é
arriscado ignorar as necessidades do leitor do universo digital que exige cada vez
mais agilidade e velocidade dos sites de notícias. É possível utilizar as novas
ferramentas sem perder as qualidades que são atribuídas ao conteúdo do papel. O
digital também exige uma boa apuração, profundidade e contextualização, mas
oferece mais do que um bom texto. Nesse espaço, é possível utilizar os recursos
multimídia para fidelizar o internauta a acessar o seu conteúdo, estratégia que é
ignorada pelo Pioneiro.
Ainda na análise, foi possível constatar que o Pioneiro.com não explora os
recursos do digital na capa do site e muito menos na apresentação do conteúdo
referente às ocupações das escolas, que foi utilizado como assunto específico na
pesquisa para auxiliar na compreensão da cobertura jornalística. Pode-se constatar
que, em sua maioria, as notícias são oriundas da mídia impressa e raramente
possibilitam um conteúdo diferenciado. As matérias não exploram a incorporação
129
das características do ciberespaço, como a interatividade, a personalização de
conteúdo e a multimidialidade.
Assim, para auxiliar a resposta da questão norteadora, foram levantadas três
hipóteses. A primeira delas afirma que a mudança editorial do jornal Pioneiro, do
Grupo RBS, com foco para o jornalismo impresso, não foi a melhor escolha em
tempos de convergência digital. Nesse sentido, seguindo na linha da questão
norteadora, ela foi confirmada, pois se o veículo está presente nas duas plataformas,
ele precisa trabalhar a informação personalizada para cada uma delas. Constatou-se
que, em grande parte das capas, o Pioneiro reproduz o mesmo assunto no digital ou
vice-versa. Quando analisado o conteúdo das matérias, foi observado que, em
alguns momentos, o texto também não sofre alterações. A possibilidade de interagir
com o conteúdo é mínima e aparece sempre em formas de links. Não há outros
recursos multimídia explorados no conteúdo das matérias. Mesmo que os
profissionais não deixem evidente nas entrevistas que o foco está voltado para o
jornalismo impresso e justifiquem que não existe prioridade na produção de
conteúdo para uma plataforma específica, eles ressaltam que o veículo está em
busca de um jornalismo mais aprofundado, que preza pela boa apuração e
qualidade da notícia, sem levar em conta a quantidade de informações que deve
publicar por dia. Essas características são atribuídas ao jornalismo impresso pelos
autores apresentados na pesquisa. Percebe-se ainda que há uma carência no
veículo por profissionais dedicados exclusivamente ao digital, já que todos na
redação passaram a produzir para as duas mídias.
A segunda hipótese diz que o jornal Pioneiro prioriza o jornalismo impresso
para manter os assinantes do papel, sem olhar estratégico para atrair novos
assinantes digitais. Por meio das entrevistas, foi possível entender que o jornal
passa por um momento de reestruturação com base na opinião dos assinantes.
Sendo assim, os profissionais afirmam que o leitor prioriza a retomada do jornalismo
aprofundado nos fatos e a veiculação de assuntos inéditos. “A produção de
conteúdo no Pioneiro está passando por um processo de reestruturação com base
na opinião dos assinantes. [...] Essa é uma maneira de fidelizar, de tentar entregar o
que o assinante deseja” (DUARTE, 2016).
Apesar de trabalhar com assinaturas digitais, compreende-se que o maior
nicho do público que está disposto a pagar pelo conteúdo do Pioneiro assina o
impresso. Com isso, a hipótese é confirmada, pois não há a criação de uma
130
estratégia para consumidores de papel e de digital. Durante a pesquisa, a plataforma
online do Zero Hora foi utilizada como referência para alguns aspectos da análise.
Cabe ressaltar que o foco do veículo nos próximos anos será as assinaturas digitais,
acompanhando uma tendência mundial no mercado de jornais. “É um nicho em que
conseguiremos entregar, a cada dia, mais novos produtos, para novos públicos de
forma ágil e instantânea, não perdendo a visão analítica e contextualizada que o
jornalismo impresso sempre teve” (JAEGER, 2016). Por esse motivo, o veículo
investe em projetos inclusive com o objetivo de migrar o leitor tradicional de jornal
para o ciberespaço. Nas entrevistas, ficou perceptível que os outros jornais do
grupo, assim como o Pioneiro, não recebem um investimento semelhante ao do Zero
Hora no digital. Uma das possibilidades que justificam a afirmação é a preferência
dos leitores dos jornais do interior pela plataforma papel. “Os jornais regionais estão
num estágio ainda anterior de investimento porque a maioria do seu público ainda é
alcançada pelo papel, a concorrência é local (também papel)” (Vargas, 2016).
A terceira e última hipótese afirma que um veículo de comunicação como o
jornal Pioneiro, que prioriza o jornalismo impresso, em tempos de convergência
digital, perde a característica de atualização constante da informação, própria do
jornalismo online. Verificou-se que, em um contexto geral apresentado nos 118
prints no mês de junho captados quatro vezes ao dia, é possível perceber apenas
duas atualizações completas do principal bloco de notícias do Pioneiro.com. Nos
demais casos, também há atualização do bloco de notícias e dificilmente ele se
mantém o mesmo. Porém, não é uma atualização contínua e ainda há cinco
ocorrências em que o bloco não é alterado em nenhum momento. Fontana (2016)
justifica que a missão do Pioneiro é ter a melhor informação, não a mais rápida.
Existe, sim, atualização, tanto na apresentação da notícia como no
acompanhamento dos fatos, mas em alguns momentos essa característica deixa a
desejar e isso não é aceitável na plataforma online.
Com isso, é possível perceber que o objetivo geral, de investigar quais os
desafios do jornal Pioneiro na apresentação da notícia em tempos de convergência
digital, foi atingido. Além do objetivo geral, também os objetivos específicos, em que
se pretendeu conceituar a história do jornalismo impresso em nível nacional,
estadual e local; pesquisar sobre a sociedade da informação e a influência da
evolução tecnológica no jornalismo impresso e online; entender os critérios de
noticiabilidade no jornalismo impresso e online e como ocorre a produção de
131
conteúdo para essas plataformas; analisar a forma de apresentação do conteúdo do
jornalismo impresso e do online do jornal Pioneiro, do Grupo RBS; comparar o
reposicionamento editorial do Pioneiro com o investimento na plataforma digital do
jornal Zero Hora; entrevistar profissionais envolvidos nas mudanças editoriais e no
processo de produção jornalística do Pioneiro e do Zero Hora.
Ao longo desse ano de desenvolvimento do projeto e do trabalho, a realização
dessa pesquisa oportunizou uma importante familiarização com a área da pesquisa
acadêmica, agregando conhecimentos fundamentais sobre a profissão em si e quais
são seus desafios diante das possibilidades do mercado. Portanto, esse trabalho foi
uma experiência gratificante tanto para a formação acadêmica quanto para a
profissional.
A intenção dessa monografia é dar mais um passo para contribuir no
entendimento da etapa de transformação da comunicação que está sendo
vivenciada pela sociedade atual. Espera-se que a pesquisa possa ajudar futuros
estudantes e demais pessoas interessadas por esse campo de conhecimento
inesgotável, que está sempre em desenvolvimento.
132
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VARGAS, Nilson. Entrevista concedida à pesquisadora desta monografia. Caxias do Sul, 7 de set. de 2016. Entrevista. VILLAMÉA, Luiza. Revolução tecnológica e reviravolta política. In: MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tania Regina de (Org.). História da Imprensa no Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2015. p. 249 – 267.
ZERO HORA. Zero Hora testa distribuição do jornal em tablet exclusivo para assinantes. Porto Alegre, 4 mar. 2015. ZH Notícias. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/11/zero-hora-testa-distribuicao-do-jornal-em-tablet-exclusivo-para-assinantes-4894129.html>. Acesso em: 16 mar. 2016. ZERO HORA. ZH Tablet já está à venda. Porto Alegre, 1 dez. 2015. ZH Notícias. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/12/zh-tablet-ja-esta-a-venda-4919809.html>. Acesso em: 21 jun. 2016. WOLTON, Dominique. Internet, e depois? Uma teoria crítica das novas mídias. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
138
APÊNDICE A – PROJETO DE PESQUISA - MONOGRAFIA I.
139
APÊNDICE B – TABELA DE ANÁLISE DOS PRINT SCREENS DO PIONEIRO.
140
ANEXO A – PRINT SCREENS DO PIONEIRO E DO ZERO HORA GRAVADOS EM
CD.
141
ANEXO B – PRINT SCREENS DA ENTREVISTA COM ANDREIA FONTANA VIA
E-MAIL.
142
143
ANEXO C – PRINT SCREENS DA ENTREVISTA COM ANDRESSA OESTREICH
VIA E-MAIL E WHATSAPP.
144
145
ANEXO D – PRINT SCREENS DA ENTREVISTA COM ADRIANO DUARTE VIA E-
MAIL E FACEBOOK.
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148
ANEXO E – PRINT SCREENS DA ENTREVISTA COM CRISTIANE BARCELOS
VIA E-MAIL.
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150
ANEXO F – PRINT SCREENS DA ENTREVISTA COM NILSON VARGAS VIA E-
MAIL.
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152
153
ANEXO G – PRINT SCREENS DA ENTREVISTA COM JULIANA JAEGER VIA E-
MAIL.
154
155