danilo - filosofia como fundamento e fronteira da psicologia

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Ciências Humanas e Sociais em Revita. Seropédica, RJ, EDUR, v. 30, n. 1, jan.-jun., p. 10-18, 2008. 10 Filosofia como fundamento e fronteira da psicologia. 1- Graduado em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ – e em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. É mestre em Psicologia Social pela UERJ e doutor em Psicologia pela UFRJ. Atualmente ministra cursos nas graduações em Psicologia das universidades Estácio de Sá e Católica de Petrópolis, e cursa o Mestrado em Lógica e Metafísica da UFRJ, tendo se dedicado nos últimos dez anos a investigações de Epistemologia da Psicologia. Endereço para contato: [email protected]. FILOSOFIA COMO FUNDAMENTO E FRONTEIRA DA PSICOLOGIA GUSTAVO ARJA CASTAÑON 1 RESUMO: CASTAÑON, G. A. Filosofia como fundamento e fronteira da psicologia. Revista Universidade Rural: Série Ciências Humanas, Seropédica, RJ: EDUR, v. 30, n 1, p. 10-18, jan.-jun., 2008. Nas três últimas décadas temos assistido a uma retomada das discussões filosóficas sobre os fundamentos da psicologia e o significado de seus resultados empíricos. Ao mesmo tempo, a Filosofia da Mente emergiu como a principal área de interesse filosófico contemporâneo. Existem três grandes áreas de intersecção entre a Psicologia e a Filosofia. Na primeira, reconhecida plenamente por todos os psicólogos, temos a investigação filosófica sobre os fundamentos ontológicos e epistemológicos da psicologia, assim como sobre seus limites de investigação. Ordinariamente chamamos esta disciplina de Filosofia da Psicologia. Na segunda, temos a investigação filosófica do significado dos resultados empíricos da Psicologia e da Neurociência, que é boa parte do que se produz em Filosofia da Mente. Na terceira, acusada de ilegítima por behavioristas e neurocientistas materialistas, temos a investigação filosófica de aspectos psicológicos que não se consideram passíveis de investigação experimental, a Psicologia Filosófica. Defende-se aqui que esta terceira área não só é legítima como fundamental para a sobrevivência da Psicologia como ciência relevante. Palavras-chave: Filosofia da Psicologia; Filosofia da Mente; Psicologia Filosófica. ABASTRACT: CASTAÑON, G. A. Philosophy as foundation and boundary of Psychology. . Revista Universidade Rural: Série Ciências Humanas, Seropédica, RJ: EDUR, v. 30, n 1, p. 10-18, jan.-jun., 2008. In the last three decades we have seen a revival of the philosophical discussions about the foundations of psychology and the meaning of their empiric results. At the same time, the Philosophy of Mind has emerged as the main area of contemporary philosophical interest. Three great intersection areas exist between Psychology and Philosophy. First, completely recognized by all of the psychologists, there is the philosophical investigation of the ontological and epistemological foundations of psychology, as well the investigation of their limits. Ordinarily we called this discipline ‘Philosophy of Psychology’. Second, there is the philosophical investigation of the meaning of the empiric results of Psychology and Neurosciences, and that is a significant part of what is produced in Philosophy of Mind. Third, considered illegitimate by behaviorists psychologists and materialistic neuroscientists, we have the philosophical investigation of psychological aspects that are not susceptible of experimental investigation, the Philosophical Psychology. This article defends that this third area is not only is legitimate but also fundamental to the survival of Psychology as relevant science. Keywords: Philosophy of Psychology; Philosophy of Mind; Philosophical Psychology. As últimas três décadas assistiram um renascimento do intercâmbio e integração entre a Filosofia e a Psicologia. Com o fim da utopia fisicalista do Positivismo Lógico e a derrocada do Operacionalismo como filosofia da ciência, ficou cada vez mais evidente para todos os psicólogos que suas pesquisas estavam mergulhadas em pressupostos ontológicos e epistemológicos. Foi a filosofia de Popper (1975) que tornou isto muito evidente, muito embora psicólogos ingleses e americanos tenham entrado em contato muito tardiamente com sua obra, e costumem a atribuir a Kuhn (1990) e a Quine (1975) muitas das idéias de Popper, que haviam influenciado estes dois últimos. O maior exemplo é a idéia de que toda observação se faz à luz (no arcabouço) de uma teoria, contra ou à favor dela (Comte, Darwin e Pierre Duhem já tinham inclusive manifestado esta posição antes de Popper). Dossiê Diálogos com a Psicologia

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Page 1: Danilo - Filosofia Como Fundamento e Fronteira Da Psicologia

Ciências Humanas e Sociais em Revita. Seropédica, RJ, EDUR, v. 30, n. 1, jan.-jun., p. 10-18, 2008.

10 Filosofia como fundamento e fronteira da psicologia.

1- Graduado em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ – e em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. É mestre em Psicologia Social pela UERJ e doutor em Psicologia pela UFRJ. Atualmente ministra cursos nas graduações em Psicologia das universidades Estácio de Sá e Católica de Petrópolis, e cursa o Mestrado em Lógica e Metafísica da UFRJ, tendo se dedicado nos últimos dez anos a investigações de Epistemologia da Psicologia. Endereço para contato: [email protected].

FILOSOFIA COMO FUNDAMENTO E FRONTEIRA DA PSICOLOGIA

GUSTAVO ARJA CASTAÑON1

RESUMO: CASTAÑON, G. A. Filosofia como fundamento e fronteira da psicologia. Revista UniversidadeRural: Série Ciências Humanas, Seropédica, RJ: EDUR, v. 30, n 1, p. 10-18, jan.-jun., 2008. Nas três últimasdécadas temos assistido a uma retomada das discussões filosóficas sobre os fundamentos da psicologia e o significadode seus resultados empíricos. Ao mesmo tempo, a Filosofia da Mente emergiu como a principal área de interessefilosófico contemporâneo. Existem três grandes áreas de intersecção entre a Psicologia e a Filosofia. Na primeira,reconhecida plenamente por todos os psicólogos, temos a investigação filosófica sobre os fundamentos ontológicos eepistemológicos da psicologia, assim como sobre seus limites de investigação. Ordinariamente chamamos esta disciplinade Filosofia da Psicologia. Na segunda, temos a investigação filosófica do significado dos resultados empíricos daPsicologia e da Neurociência, que é boa parte do que se produz em Filosofia da Mente. Na terceira, acusada deilegítima por behavioristas e neurocientistas materialistas, temos a investigação filosófica de aspectos psicológicosque não se consideram passíveis de investigação experimental, a Psicologia Filosófica. Defende-se aqui que estaterceira área não só é legítima como fundamental para a sobrevivência da Psicologia como ciência relevante.

Palavras-chave: Filosofia da Psicologia; Filosofia da Mente; Psicologia Filosófica.

ABASTRACT: CASTAÑON, G. A. Philosophy as foundation and boundary of Psychology. . Revista UniversidadeRural: Série Ciências Humanas, Seropédica, RJ: EDUR, v. 30, n 1, p. 10-18, jan.-jun., 2008. In the last threedecades we have seen a revival of the philosophical discussions about the foundations of psychology and the meaningof their empiric results. At the same time, the Philosophy of Mind has emerged as the main area of contemporaryphilosophical interest. Three great intersection areas exist between Psychology and Philosophy. First, completelyrecognized by all of the psychologists, there is the philosophical investigation of the ontological and epistemologicalfoundations of psychology, as well the investigation of their limits. Ordinarily we called this discipline ‘Philosophy ofPsychology’. Second, there is the philosophical investigation of the meaning of the empiric results of Psychology andNeurosciences, and that is a significant part of what is produced in Philosophy of Mind. Third, considered illegitimateby behaviorists psychologists and materialistic neuroscientists, we have the philosophical investigation of psychologicalaspects that are not susceptible of experimental investigation, the Philosophical Psychology. This article defends thatthis third area is not only is legitimate but also fundamental to the survival of Psychology as relevant science.

Keywords: Philosophy of Psychology; Philosophy of Mind; Philosophical Psychology.

As últimas três décadas assistiram umrenascimento do intercâmbio e integraçãoentre a Filosofia e a Psicologia. Com o fim dautopia fisicalista do Positivismo Lógico e aderrocada do Operacionalismo como filosofiada ciência, ficou cada vez mais evidente paratodos os psicólogos que suas pesquisasestavam mergulhadas em pressupostosontológicos e epistemológicos. Foi a filosofiade Popper (1975) que tornou isto muitoevidente, muito embora psicólogos ingleses e

americanos tenham entrado em contato muitotardiamente com sua obra, e costumem aatribuir a Kuhn (1990) e a Quine (1975) muitasdas idéias de Popper, que haviam influenciadoestes dois últimos. O maior exemplo é a idéiade que toda observação se faz à luz (noarcabouço) de uma teoria, contra ou à favordela (Comte, Darwin e Pierre Duhem já tinhaminclusive manifestado esta posição antes dePopper).

Dossiê Diálogos com a Psicologia

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Mas o fato é que, de uma forma oude outra, hoje a Psicologia parece terrestabelecido as relações com seus pais. Temosna fronteira de baixo da Psicologia a disciplinada Fisiologia (com o campo interdisciplinarda Neuropsicologia), e na fronteira de cima, aFilosofia (com a disciplina da Filosofia daMente). Sustentando todas, temos aEpistemologia e a Ontologia. Ainda não é umafamília completamente feliz e integrada. Mastodos já se comunicam melhor do que antesdos anos cinqüenta. Baars (1986) oferece umainteressante metáfora sobre as relações daPsicologia com a Filosofia, indicando que elasse assemelham a uma crise de adolescência.Poderíamos reconstruir esta metáfora daseguinte maneira. Na sua infância, a Psicologiaprocurava se moldar à imagem de seus pais,seguindo os métodos herdados da Fisiologiae os objetos herdados da Filosofia. Com oBehaviorismo, como todo adolescente, aPsicologia, insegura de si mesmo, de seu lugarno mundo, procurava enfatizar suas diferençascom a Fisiologia e a Filosofia e buscar novosmodelos, como a Física. Começando a sair desua adolescência com a Revolução Cognitiva,um pouco mais confiante de seu lugar nomundo, de sua identidade, a Psicologia começaa reatar suas relações com os pais, e voltar aser influenciada por eles (assim como passa ainfluenciá-los).

Não há mais espaço hoje para aestranha utopia positivista tradicional derejeição da reflexão filosófica em Psicologia.Recentemente, o behaviorista O’Dohonue(1996), em colaboração com RichardKitchener, lançou uma coletânea de trabalhosem Filosofia da Psicologia em que lista ospontos hoje generalizadamente aceitos naPsicologia como atribuições de uma Filosofiada disciplina. Primeiro, cabe à Filosofia aanálise dos méritos das metodologias depesquisa usadas pelos psicólogos. Segundo,cabe a Filosofia explicar e compreender asinterconexões entre os vários campos doconhecimento científico. Terceiro, identificarmovimentos ilegítimos nos programas depesquisa (LAKATOS, 1984), como hipótesesad hoc, para salvar teorias favoritas. Quarto,

identificar e resolver problemas conceituaisnos programas de pesquisa. Quinto, identificarou estabelecer a ontologia pressuposta emafirmações e objetos de pesquisa selecionadospor psicólogos. Sexto, identificar ou formularas influências filosóficas que determinam aescolha do objeto de estudo por parte doPsicólogo.

Todos estes aspectos levantadosacima, valem não somente para a Psicologia,mas para todas as ciências. Mas uma vez quea Psicologia é a mais fragmentada e multi-fronteiriça destas, é na Psicologia que aFilosofia tem o mais importante papel acumprir. Staats (2004) pontuou que um dosaspectos centrais de uma possível unificaçãofutura da Psicologia é o trabalho declarificação conceitual e uniformizaçãoterminológica, e esta também é uma tarefamais urgente para a Psicologia do que para asoutras ciências.

O Cognitivismo e a PsicologiaCognitiva não só tem trabalhado em conjuntocom a Filosofia, como também reconheceramplenamente esta interdependência. Naverdade, muitos pontos chaves doCognitivismo e da Psicologia Cognitiva nãosão mais do que antigas questões filosóficas:construtivismo, racionalismo, intencionalida-de, consciência, representação mental,inatismo, significado. Não é surpresa que aFilosofia da Psicologia tenha conhecido umaexpansão sem paralelo nos últimos anos,enquanto a Filosofia da Mente cada vez maisé reconhecida como a filosofia primeira.O’Dohonue & Kitchener (1996) citam que nosúltimos anos surgiram nada menos que seteperiódicos dedicados à Filosofia da Psicologia.Além do tradicional Journal of Theoreticaland Philosophical Psychology, da APA, hojetemos o Behaviorism, Journal of Mind andBehavior, Journal for the Theory of SocialBehavior, New Ideas in Psychology ,Philosophical Psychology, PsychologicalInquiry e Theory and Psychology.

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A PSICOLOGIA COMO PSICOLOGIAFILOSÓFICA

Estas duas áreas tradicionais daFilosofia da Psicologia, qual sejam, a análisedos fundamentos ontológicos eepistemológicos da psicologia, e ainvestigação filosófica do significado dosresultados empíricos da Psicologia e daNeurociência, são hoje tranqüilamente aceitaspelo conjunto dos psicólogos, como pudemosver, até pelos remanescentes do Behaviorismo.À primeira área damos o nome deEpistemologia da Psicologia ou maisprecisamente de Filosofia da Psicologia. Àsegunda, podemos tanto classificar deFilosofia da Psicologia – quando se trata dainvestigação sobre os limites e adequaçõesmetodológicas das pesquisas concretas emPsicologia – como de Filosofia da Mente –quando se trata da investigação do significadoe conseqüências filosóficas dos resultadosdestas pesquisas.

Porém este trabalho quer defender umaspecto ainda mais profundo dainterdependência entre Psicologia e Filosofia.Defendo que a Psicologia seja uma disciplinaconstitutivamente dividida entre problemascientíficos (e filosóficos) e problemasexclusivamente filosóficos. Pretendoargumentar no sentido de que a Psicologia éuma disciplina dividida pois seu objeto deestudo apresenta aspectos abordáveis, aspectosinabordáveis, e aspectos somente parcialmenteabordáveis pelo método científico.

O primeiro destes aspectosinabordáveis é a pura atividade da consciência.Tal coisa, como tem como característicacentral a intencionalidade, sendo sempre arelação com algo diferente dela própria, nãopode ser objeto de investigação empírica ouobjetiva (como fenômeno de terceira pessoa),uma vez que é a própria condição depossibilidade da experiência (um fenômeno deprimeira-pessoa). A investigação daspropriedades da consciência é uma tarefafilosófica, e tem hoje no filósofo Searle (1992)sua maior expressão. Quando investigadacomo fenômeno de terceira-pessoa, só

podemos inferir da atividade da consciênciaseus aspetos funcionais e estruturais, masnunca sua dimensão qualitativa e subjetiva.

Em segundo lugar temos acriatividade. Não podemos pensar em nadacomo uma lei explicativa do ato criativo, nemem uma predição de um ato de criação. Tãopouco a criatividade está circunscrita a atosde grandes descobertas. De fato a criação éuma condição permanente da vida psicológica:desde elaborar a estratégia que seguiremospara realizar uma meta a decidir comointerpretar um estímulo ambíguo. Talvezpudéssemos pensar em algo como a descobertade condições necessárias para a emergênciade atos criativos, mas até o momento nãoexistem razões para acreditarmos que tal coisaseria possível.

O terceiro domínio é o domínio daqualia. Esta palavra significa algo comoqualidade singular. Refere-se às qualidadesfenomenológicas da consciência, mas não àessência destes fenômenos: se refere a suaexperiência singular, não aos aspectosuniversais (essências) através dos quais vocêos reconhece como pertencentes a umadeterminada categoria de fenômenos. Nãoestamos falando portanto do sentir dor, masda experiência única de sentir umadeterminada, singular e irrepetível dor.Ninguém jamais saberá como é realmenteexperimentar, um determinado fenômenocomo uma outra pessoa. Não podemosdescrever sequer aspectos efetivamentesingulares da experiência ou do mundo atravésde palavras, porque estas sempre se referem auniversais, como bem demonstrou Hegel(2003) em sua Fenomenologia do Espírito.Portanto, o estudo da qualia em si mesma éimpossível cientificamente, mas tambémimpossível filosoficamente. Esta confusãopodemos assistir na Psicologiacontemporânea, particularmente latino-americana, com uma abordagem política daPsicologia denominada psicologia sócio-histórica, ou crítica, ou pós-moderna, ouconstrucionista social (GERGEN, 1973).Nesta, ouvimos continuamente se afirmar queo objeto de estudo da Psicologia seria algo que

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denominam ‘subjetividade’, e que em outraspalavras seria a forma única, irrepetível esubjetiva de cada um experimentar o mundo.Definida a subjetividade desta forma, comoqualia, temos aqui uma contradição. Talescolha de objeto é um erro filosófico, poiseste é impossível não só para uma ciênciacomo a Psicologia (pois não existem padrõesou leis regulares a descobrir), mas mesmo paraa Filosofia, que por usar a linguagem – que sóexpressa universais – só pode teorizar sobreaspectos universais de seus objetos. Sobrequalidades subjetivas, a Filosofia não podeafirmar nada mais do que sua existência, poisnão tem como expressar aspectos únicos devivências subjetivas, através de universaislingüísticos.

O quarto é a questão do significado.O significado que as pessoas dão aosfenômenos e às informações só é abordávelpela Psicologia indiretamente, por inferênciasa partir de reações comportamentais que aspessoas apresentam a determinadasinformações. O domínio semântico daexperiência, o significado vivido, no entanto,é absolutamente impenetrável à ciência. Fodor(1991) ilustrou este limite com seu princípiodo ‘solipsismo metodológico’, afirmando quesó o aspecto sintático da mente é abordávelcientificamente. Podemos estudar regras erepresentações, não o significado delas. Comoabordei em trabalhos anteriores (CASTAÑON2006, 2006b), temos muito a dizer sobre comose dá o processamento de informação pelo serhumano, mas a informação é cega paraquestões semânticas: é naquele que codifica ainformação e naquele que a decodifica que seencontra seu significado, não no meio que atransmite nem em seu padrão específico. Nãotemos muito a dizer sobre como representaçõespodem significar algo distinto delas próprias,e pelo menos até o momento, esta é umaquestão diretamente inabordávelcientificamente. Assim, o significado das açõese experiências só é investigado por derivaçãode terceira ordem: um comportamento, queindica uma representação, que se refere a umsignificado. Em virtude disso, defendo que aFenomenologia, conforme estabelecida por

Husserl (1976), é o método adequado para ainvestigação do significado, e portanto, esteé um domínio filosófico da Psicologia.

Podemos ainda distinguir questões designificado de questões de sentido, que serevelariam um quinto domínio somentemarginalmente abordável pelo métodocientífico. A palavra significado geralmente éutilizada em dois sentidos diferentes. Oprimeiro é o que significa a informação, ouseja, o que significa aquele objeto que temuma coluna de madeira que se abre em váriosramos, os quais possuem folhas verdes. Vocêpode atribuir àqueles estímulos o significado:árvore. O segundo é qual o sentido dainformação, ou seja, como ela se relacionacom o conjunto de sua vida: o lugar onde vocêcaindo quebrou um braço, o fruto da mudaplantada por seu avô, a futura coluna de seunovo chalé, etc. De fato, aqui também, sópodemos ter acesso ao sentido atribuído poruma pessoa a uma informação de maneiraindireta: ou pelo comportamento verbal dapessoa ou pela reação comportamental emface de determinado estímulo. Mas o processode atribuição de sentido é um ato criativoimpenetrável ao conhecimento científico.Novamente aqui, temos um domínio daPsicologia que já foi abordado com maestriapor psicólogos fenomenólogos como Frankl(1973), no que também constitui um domínioexclusivo da Psicologia Filosófica.

O sexto domínio psicológicoinacessível à investigação científica é o valor,intimamente ligado à questão do sentido. Osvalores são fins em si mesmos, inúteis paraprovocar ou conseguir qualquer coisanecessária biologicamente, mas ainda assimperseguidos por nós. A verdade, a beleza, osagrado, o amor, a justiça, o prazer são todosexemplos deste tipo de motivação que difereprofundamente daquelas que podem serprovocadas ou manipuladas (e portantoestudáveis de modo indireto em laboratório),como dor, fome, sede, sono, frio e calor. AFenomenologia, particularmente com a obrade Max Scheler (2001), e mais uma vez coma de Frankl, parece o método filosófico mais

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adequado para a abordagem deste tipo deaspecto da vida psicológica.

Por fim, temos um sétimo domínioapenas parcialmente acessível à investigaçãocientífica, que é o da causação final, ouvontade, ou agency. Só podemos investigarmotivos e razões do comportamentoindiretamente, depois que estes setransformaram em metas, que podem serinferidas do padrão geral do comportamento.Mas não podemos sequer estabelecercientificamente o que seriam motivos e razões:se ações diretas livres da consciência ou se asrazões são causadas eficientemente, comoalegou o filósofo da Psicologia Davidson(1963). De toda maneira, pensar em causasfinais como causas últimas do comportamentotem o inconveniente de sempre resultar emteorias infalsificáveis. O caso da teoria doraciocínio dialético conforme definida porRychlak (1994) (como o processo de decisãoentre duas ou mais interpretações possíveis dasinformações do ambiente ou duas alternativasigualmente plausíveis de curso de ação), éexemplo da natureza irrefutável destasalegações. Uma vez alegada que a causa deum comportamento foi a vontade, ou a decisãoentre duas alternativas igualmente plausíveisde interpretação da informação, ou ainda acriação de uma nova estratégia de ação comoresultado de um processo dialético deraciocínio, a investigação finda e a alegação éinfalsificável. A afirmação de que um serhumano possui determinada meta emdeterminada situação é indiretamentefalsificável por seu curso de ação, mas a deque ele “mudou” sua meta como resultado deum ato de criatividade e vontade éabsolutamente infalsificável. Isto não significaque esta afirmação é falsa, somente significaque tal afirmação pertence ao campo daespeculação filosófica, não ao campo doconhecimento de base empírica.

A COMPLEMENTARIDADE DAFILOSOFIA EM RELAÇÃO À

PSICOLOGIA

Por tudo o quanto ficou evidente portoda esta argumentação, defendo aqui que maisdo que as relações com a Filosofia comuns atodas as ciências, a Psicologia é ela própriauma disciplina que para oferecer umaabordagem completa a seu objeto de estudoprecisa se dividir entre uma abordagemcientífica e uma abordagem filosófica. Nãopodemos nos submeter à falsa opção oferecidapelo Positivismo nos últimos cento e vinteanos, entre destruir a imagem de ser humanopara adaptá-la a ciência ou destruir a imagemda ciência para adaptá-la ao ser humano. Noprimeiro caso ficamos com uma imagemdegradada da condição humana, e um objetoque não se assemelha em nada ao ser humano.No segundo caso, como afirma o humanistaRychlak (2004), temos outra catástrofe: aPsicologia rejeita o método científico e assimrejeita seu status científico, como também tudoo que o método científico tem a oferecer paralegislar sobre teorias rivais.

Não se trata aqui também da outrafalsa opção oferecida por alguns psicólogoshumanistas, em dividir a Psicologia em umaciência nomotética e uma ciência idiográfica.Como afirma o filósofo da psicologiaRobinson (1985) a própria idéia de umaciência do singular é um contra-senso. Todaciência só se realiza com o estabelecimentode leis universais. Toda ciência é nomotética.A investigação do individual pode se valer detécnicas surgidas das ciências nomotéticas,mas ainda assim é sempre interpretativa efilosófica. Mais do que isso, esta investigaçãoé sempre baseada em conceitos universais,razão pela qual a psicologia pós-moderna secoloca tanto fora da ciência quanto da filosofia(CASTAÑON, 2007). Diz Robinson sobrecomo a Psicologia deve lidar com seusaspectos idiográficos:

“O que é proposto aqui não são ossignificados pelos quais alguma nova‘ciência’ pode ser criada para suportar

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tópicos idiográficos, mas a aplicaçãode verdadeiros e testados métodos não-científicos de análise para estesproblemas psicológicos que sãonomoteticamente inexplicáveis.”(1985b, p.73) 1

Muitos outros psicólogoscontemporâneos compartilham desta posição,no Brasil e no exterior. Entre nós recentementeUed Maluf apresentou sua Teoria dasEstranhezas (2002), a partir da qual interpretaa Psicologia como um mosaico de teoriasfragmentadas e ontologicamente irredutíveis.Penna (1997) expressou também recentementesua convicção de que a dispersão dopensamento psicológico é um fenômenoirremediável, assim como suainterdependência visceral e inextrincável dopensamento filosófico, tema, aliás, váriasvezes defendido ao longo de sua obra.

Koch (1985, 1993), importantefilósofo da psicologia, defendeu famosa tesede que a Psicologia não era um campo passívelde unificação nem teórica nem metodológica,em virtude do que ele acreditava que se deveriamudar sua denominação de Psicologia paraPsychological Studies, dos quais eram algunscientíficos, outros não. O cognitivista Gardner(1992) adere à tese de Koch e defende quegrande parte dos tópicos de investigaçãopsicológica não é passível de adequadaabordagem científica, sendo de naturezafilosófica. Ele acredita que psicólogos não sódevem investigar em colaboração comfilósofos, como também com lingüistas,neurocientistas, engenheiros de computação eoutros profissionais, como por exemplo,romancistas. Ainda Gardner (1996) acreditaem alguma forma dialética de investigaçãocientífico-filosófica na Ciência Cognitiva.

Rychlak (1993) é outro expressivopsicólogo contemporâneo que não vê maiscomo se pensar uma disciplina psicológicacientífica isolada da Filosofia. Ele propõe parao campo a importação do princípio dacomplementaridade, de Niels Bohr. Para ele,uma vez que o fenômeno psicológico émulticausado, não existe possibilidade de

reduzi-lo a uma única esfera de causalidade, aum único nível de explicação (físico,biológico, lógico ou social):

“’Explicar’ deriva do latim planare, quesignifica aplainar ou nivelar. Umprincípio psicológico decomplementari-dade tornará evidenteque uma explicação teórica deve serreduzida (nivelada) para qualquer umdos quatro níveis evidentes [Physikos,Bios, Socius, and Logos], cada um dosquais com status igual. Nós não estamosfalando de quatro níveis de explicaçãoaqui. Os níveis não são ordenados emhierarquia de dependência.Complementar não é reduzir um nívela outro. Zukav observou que o impactoda complementaridade na física era,com efeito, ‘que não interessa sobre oque trata a mecânica quântica! A coisaimportante é que ela funciona em todasas situações experimentais possíveis’.Eu gostaria de parafrasear estadeclaração dizendo que se nósaceitamos os quatro níveis que eurecomendei, não importará quais destasbases nós selecionamos para construirnossa teoria. Enquanto o que nósdissermos for instrutivo e consistentecom os achados empíricos relevantespara a abordagem teórica em si,estaremos praticando Psicologia”.(1993, p.939)2

UMA NOVA PROPOSTA: AEXPLICAÇÃO CONDICIONAL EM

PSICOLOGIA COMO FRONTEIRA DACIÊNCIA

Atualmente tenho trabalhado nodesenvolvimento teórico de uma novaproposta de natureza da explicaçãopsicológica. Minha tese é que, para tornarmosa explicação científica uma empresa precisa erespeitável, ou ainda para incorporarmos aoempreendimento científico as teorias queassumam o pressuposto da liberdade relativa

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do ser humano em relação aos condicionantesbiológicos, psicológicos, físicos e sociais, épreciso promover uma mudança na naturezada explicação em Psicologia. Em virtude daextrema complexidade que uma supostaexplicação dedutivo-nomológica emPsicologia teria, e da evidência da existênciada capacidade humana de raciocínio dialético(conforme definido por RYCHLAK, 1994) econstrução de hipóteses originais, advogo atese da impossibilidade de explicaçãodedutivo-nomológica ou probabilística dofenômeno psicológico, e a necessidade deadotar uma forma de explicação condicionalpara a Psicologia. Em outras palavras, julgoque a exigência de explicação de um eventopsicológico ocorrido está suficientementesatisfeita se demonstrarmos que o ocorrido foipossível, não havendo possibilidade dedemonstrar, além disso, que era necessário.

As explicações condicionais se limitama indicar uma série de leis e condições particu-lares (explanans) que tornaram possível aocorrência do explanandum. É uma explicaçãodas condições necessárias, porém, nãosuficientes. Elas têm a forma geral de “dadasas leis gerais X, Y e Z, e as condiçõesparticulares x, y e z, então o comportamentoC foi possível”. Ou seja, certas condiçõestornam possíveis certos comportamentos,porém, não os determinam. Uma lei de formasomente necessária mantém a mesma condiçãofalsificável da lei necessária e suficiente,embora perca conteúdo falsificável.

Isto implica no fato de que todas asleis psicológicas deveriam apresentar umaestrutura condicional, trocando a formanecessária e suficiente “se x estiver presenteentão o comportamento y acontecerá” pelaforma somente necessária “se x não estiverpresente então o comportamento y não podeacontecer”. Esta segunda forma de lei equivalea “se e somente se x estiver presente então ocomportamento y pode acontecer”. Em outraspalavras, um evento x, em Psicologia, não énunca suficiente para causar y, mas pode sernecessário para que o comportamento y possaacontecer.

Tendo em vista a proposta dei m p o r t a ç ã o d o c o n c e i t o d ecomplementaridade feita por Rychlak e destaproposta de que a verdadeira explicaçãocientífica psicológica é condicional, queropropor um novo critério de demarcação entrePsicologia Científica e Filosófica. É cientificana Psicologia, toda assertiva universalcondicional falsificável e empiricamentecorroborada. É filosófica na Psicologia, todaassertiva universal ou idiográfica, nãofalsificável, que atribua causalidadedeterminante de um determinadocomportamento a algum dos níveisirredutíveis da explicação psicológica. Assim,toda assertiva que aspirar a uma condição dedeterminação causal última em Psicologia seráconsiderada metafísica, porque é infalsificável.

Creio realmente que se há algumaesperança de unidade futura para a Psicologia,ela não está em explicações causais necessáriase suficientes, mas somente em explicaçõesnecessárias, ou seja, condicionais. Em umfenômeno multicausado como o psicológico,sempre haverá disputas de interpretaçõesquanto ao nível determinante. Deixemos quecontinue a haver: estas disputas sãometafísicas. A unidade da Psicologia nuncapoderá acontecer nas interpretaçõesmetafísicas de seus resultados empíricos. APsicologia pode um dia ser uma disciplinaunificada, não em teoria, mas em método. Estaé uma utopia distante. Mas estas sempre valema pena, pois sem utopias, não há estradas aseguir.

Não conseguiremos a unidade daPsicologia como ciência querendo afirmardeterminadas posições metafísicas (portantofilosóficas, infalsificáveis e não-científicas)como sérias e outras como ingênuas. Creio quea conseguiremos reconhecendo uma fronteiraintransponível entre a Psicologia científica ea Psicologia filosófica. Poderemos alcançarconsenso em relação a regularidadesempíricas, mas não em relação à interpretaçãodestas. O reconhecimento não só destainterdependência, mas também desta fronteiraintransponível entre Psicologia e Filosofia, éfundamental para a sobrevivência da

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Psicologia como ciência, inclusive para suadiferenciação em relação à nova velha ameaçacientificista vinda das assim chamadas‘neurociências’, ou mais especificamente, davelha Fisiologia.

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(Footnotes)1 “What is proposed here is not the means bywhich some new ‘science’ can be brought tobear upon ideographic topics, but theapplication of tried and true nonscientific

methods of analysis to those psychologicalproblems that are nomothetically inexplicable.“ (tradução do autor)2 “Explain also devolves from the Latin wordplanare, which means to flatten or make thingslevel. A psychological principle ofcomplementarity will therefore make it clearthat a theoretical explanation must be broughtdown (leveled) to any one of four clear (flat)grounds, each of which has equal status. Weare not speaking of four levels of explanationhere. The groundings are not to be rankordered. To complement is not to subsume oneground by another. Zukav observed that theimpact of complementarity on physics was, ineffect, “that it does not matter what quantummechanics is about! The important thing is thatit works in all possible experimentalsituations”. I would like to paraphrase thisstatement by saying that if we accept the fourgrounds that I have recommended, it will notmatter which of these bases we select to buildour theory on. So long as what we say isinstructive and consistent with the empiricalfindings relevant to the theoretical groundingper se, we will be practicing psychology.”(tradução do autor)

Submissão: 04/2008.Aprovação: 08/2008.