daiane bertasso ribeiro - dissertação 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO A CONCORRÊNCIA POR LUGARES ENTRE AS MÍDIAS JORNALÍSTICAS IMPRESSAS: ESTUDO DAS ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO DE SENTIDOS NO DISCURSO AUTORREFERENCIAL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Daiane Bertasso Ribeiro

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM COMUNICAO

    A CONCORRNCIA POR LUGARES ENTRE AS MDIAS JORNALSTICAS IMPRESSAS: ESTUDO DAS ESTRATGIAS DE

    PRODUO DE SENTIDOS NO DISCURSO AUTORREFERENCIAL

    DISSERTAO DE MESTRADO

    Daiane Bertasso Ribeiro

    Santa Maria, RS, Brasil 2010

  • 1

    A CONCORRNCIA POR LUGARES ENTRE AS MDIAS JORNALSTICAS IMPRESSAS: ESTUDO DAS ESTRATGIAS DE

    PRODUO DE SENTIDOS NO DISCURSO AUTORREFERENCIAL

    por

    Daiane Bertasso Ribeiro

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Comunicao, rea de Concentrao em Comunicao Miditica, da

    Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Comunicao.

    Orientadora: Prof. Maria Ivete Trevisan Foss

    Santa Maria, RS, Brasil 2010

  • 2

    Universidade Federal de Santa Maria Centro de Cincias Sociais e Humanas

    Programa de Ps-Graduao em Comunicao Mestrado em Comunicao Miditica

    A Comisso Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertao de Mestrado

    A CONCORRNCIA POR LUGARES ENTRE AS MDIAS JORNALSTICAS IMPRESSAS: ESTUDO DAS ESTRATGIAS DE

    PRODUO DE SENTIDOS NO DISCURSO AUTORREFERENCIAL

    elaborada por Daiane Bertasso Ribeiro

    como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Comunicao

    COMISSO EXAMINADORA:

    Maria Ivete Trevisan Foss, Dr. (Presidente/Orientadora)

    Antnio Fausto Neto, Dr. (UNISINOS)

    Adair Caetano Peruzzolo, Dr. (UFSM)

    Eugnia Maria Mariano da Rocha Barichello, Dr. (UFSM-Suplente)

    Santa Maria, 1 de maro de 2010

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    AGRADECIMENTOS

    prof. Maria Ivete Trevisan Foss, pelo aprendizado oportuno da sua orientao e docncia orientada, pela sua postura carinhosa, dedicada e confiante.

    Ao prof. Adair Caetano Peruzzolo, pela constante motivao em explicar os fundamentos da comunicao humana e social.

    Ao prof. Antnio Fausto Neto, pela valiosa contribuio em proporcionar a reflexo e o entendimento a respeito da complexidade dos processos oriundos da midiatizao.

    Aos demais professores do Mestrado em Comunicao Miditica, com os quais obtive a oportunidade de aprendizado em diversas disciplinas e, em especial, a coordenadora do PPGCOM prof. Eugenia Mariano da Rocha Barichello pela dedicao ao Programa.

    Aos colegas do Mestrado, com os quais foi possvel a troca de saberes, experincias e dificuldades, e pela convivncia alegre e unida da nossa turma.

    Aos coordenadores e funcionrios do Sinprosm (Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria), onde trabalhei no primeiro ano do Mestrado, pela compreenso e flexibilidade em relao s atividades do Mestrado.

    A Capes que me concedeu bolsa no ltimo ano do Mestrado, possibilitando maior dedicao a pesquisa.

    minha me Elisabete pelo amor incondicional, confiana e dedicao. Ao amado Hugo, que por meio do seu amor e compreenso, possibilitou que esses dois

    anos de Mestrado fossem mais alegres e tranquilos. Aos meus irmos Danilo e Luana, meu padrasto Valdir, e demais familiares, por

    incentivarem e acreditarem na minha capacidade de xito profissional. Aos colaboradores dos jornais A Razo e Dirio de Santa Maria, que disponibilizaram

    os arquivos em PDF para facilitar a formatao das matrias e reportagens nesse trabalho. fora Divina, que compreendo como a fora da vida, da natureza do ambiente e do

    homem e sua imensa capacidade de desenvolvimento, renovao e evoluo.

  • 4

    RESUMO

    Dissertao de Mestrado Programa de Ps-Graduao em Comunicao

    Universidade Federal de Santa Maria

    A CONCORRNCIA POR LUGARES ENTRE AS MDIAS JORNALSTICAS IMPRESSAS: ESTUDO DAS ESTRATGIAS DE

    PRODUO DE SENTIDOS NO DISCURSO AUTORREFERENCIAL

    AUTORA: DAIANE BERTASSO RIBEIRO ORIENTADORA: MARIA IVETE TREVISAN FOSS

    Data e Local da Defesa: Santa Maria, 1 de maro de 2010.

    O presente trabalho se inscreve no atual cenrio da midiatizao, em que a amplitude de acesso s novas tecnologias de informao e comunicao, bem como aos inmeros dispositivos miditicos, afeta os diversos sistemas sociais e, inclusive as prprias mdias, alterando os modos de fazer e o relacionamento entre os comunicantes e aumentando o grau de complexidade desses processos e relaes. Nesse contexto, propomos reconhecer os lugares concorridos pelas mdias jornalsticas impressas de Santa Maria RS, por meio do estudo das estratgias de produo de sentidos no discurso autorreferencial dos jornais A Razo e Dirio de Santa Maria, no perodo de campanha para as eleies municipais de 2008. Buscamos investigar qual o lugar que o jornalismo autorreferencial de mdia impressa de Santa Maria busca instituir por meio dos seus discursos? A partir disso, nossos objetivos especficos so: Contextualizar a incidncia da autorreferencialidade como uma consequncia da mudana de estratgias dos dispositivos miditicos em decorrncia da midiatizao; Apresentar o modo de construo do discurso jornalstico autorreferencial das mdias, relacionando conhecimento terico e emprico; Identificar os ncleos de sentidos/formaes discursivas e a cena da enunciao dos discursos autorreferenciais que vo nos possibilitar visualizar a imagem de si (ethos discursivo) construda por cada um dos jornais; Reconhecer o contrato de comunicao proposto pelos discursos autorreferenciais dos jornais em estudo. Para tanto, utilizamos como embasamento terico-metodolgico a Anlise do Discurso de linha francesa, especialmente desenvolvida por Dominique Maingueneau (1997, 2006, 2008). Desse modo, a anlise das estratgias discursivas de autorreferencialidade dos jornais A Razo e Dirio de Santa Maria nos possibilitaram verificar que os jornais concorrem para ocuparem os lugares de legtimos enunciadores dos fatos e informaes do espao pblico na sociedade midiatizada. Essa concorrncia por lugares no contexto da midiatizao altera os processos e prticas jornalsticas, bem como os modos de enunciao de seus discursos. Com isso, o sistema jornalstico torna-se um espao de atorizao dos acontecimentos e informaes que se tornam notcia, ao mostrar a sua realidade, o modo como faz para encenar esse processo de noticiabilidade. Assim, constata-se que alm da concorrncia entre as mdias no sistema jornalstico h a concorrncia pelo lugar de enunciador legtimo da sociedade midiatizada tambm com os demais sistemas sociais. Por isso, o presente trabalho aponta para a necessidade de pesquisas futuras que problematizem e reflitam as relaes de poder do sistema jornalstico com os demais sistemas, bem como aponta para a necessidade de repensar a mudana dessa lgica autorreferencial do sistema jornalstico atual para um papel de agente democrtico no espao pblico contemporneo.

    Palavras-chave: Midiatizao; Produo de Sentidos; Estratgias Discursivas; Discurso Jornalstico Autorreferencial.

    IV

  • 5

    ABSTRACT

    Dissertation Master's Degree Programa de Ps-Graduao em Comunicao

    Universidade Federal de Santa Maria

    THE COMPETITION FOR PLACES AMONG PRINT JOURNALISM MEDIAS: THE STRATEGIES STUDY OF MEANING PRODUCTION IN

    SELF-REFERENCIAL DISCOURSE

    AUTHOR: DAIANE BERTASSO RIBEIRO ADVISOR: MARIA IVETE TREVISAN FOSS

    Date and Place of Defense: Santa Maria, March 1st, 2010.

    This work is part of the current scenario of media coverage in the range of access to new information technologies and communication as well as the many media devices, affects different social systems and even the media themselves, changing ways of doing and relationship between the contacts and the degree of complexity of these processes and relationships. In this context, we recognize the places crowded by the media of print journalism Santa Maria - RS, by studying the strategies of production of meaning in self-referential discourse of newspapers A Razo and Dirio de Santa Maria, in the campaign for municipal elections 2008. We seek to investigate what role that self-referential journalism of print media of Santa Maria seeks to establish through their discourses? From this, our specific objectives are: Contextualizing the impact of self-referentiality as a result of the change strategies of media devices as a result of mediatization; Present method of construction of self-referential journalistic discourse the media, linking theoretical and empirical knowledge; Identify the core meanings/discursive formations and the scene of enunciation of self-referential discourses that will enable us to visualize the image of himself(discursive ethos) constructed by each newspaper; Recognize the communication contract proposed by the self-referential discourses of the newspapers in study. We used as theoretical and methodological Discourse Analysis of the French line, especially developed by Dominique Maingueneau (1997, 2006, 2008). Thus, the analysis of the discursive strategies of self-referentiality newspaper A Razo and Dirio de Santa Maria helped us to verify that newspapers compete to fill posts of legitimate statements of facts or information to the public space in mediated society. This competition for places in the context of media coverage changes the processes and journalistic practices, and modes of enunciation of his discourses. Thus, the journalistic system becomes a space actorization of events and information that become news, showing its reality, how to stage makes the process of newsworthiness. Thus, it appears that apart from the competition between the media system is the journalistic competition to the place that speaks of legitimate society also mediated with the other social systems. Therefore, this study points to the need for future research should discuss and reflect the power relations of the journalistic system with other systems and points to the need to rethink this logic self-referential change the current system to a journalistic role agent democratic in contemporary public space.

    Key-words: Mediatization; Production of Meaning; Discursive Strategies; Self-referential Journalistic Discourse.

    V

  • 6

    LISTA DE ILUSTRAES

    QUADRO 1 Reconhecimento do material selecionado........................................................ 79 QUADRO 2 Seleo do Corpus............................................................................................ 79 QUADRO 3 Formao discursiva 1 do A Razo e sequncias discursivas.......................... 82 QUADRO 4 Formao discursiva 2 do A Razo e sequncias discursivas.......................... 85 QUADRO 5 Formao discursiva 3 do A Razo e sequncias discursivas.......................... 86 QUADRO 6 Formao discursiva 1 do Dirio de Santa Maria e sequncias discursivas................................................................................................................................ 98 QUADRO 7 Formao discursiva 2 do Dirio de Santa Maria e sequncias discursivas............................................................................................................................. 110 QUADRO 8 Formao discursiva 3 do Dirio de Santa Maria e sequncias discursivas.............................................................................................................................. 112 FIGURA 1 Esquema para el analisis de la mediatizacin................................................... 32 FIGURA 2 Esquema bsico de Luhmann............................................................................. 36 FIGURA 3 A construo do ethos efetivo............................................................................ 73 FIGURA 4 Logomarca do jornal A Razo........................................................................... 82 FIGURA 5 - A Razo, 17 de julho de 2008, p.3. .................................................................... 87 FIGURA 6 A Razo de 18 de julho de 2008, p. 3. .............................................................. 88 Figura 6.1 A Razo de 18 de julho de 2008, p. 5. ................................................................ 88 FIGURA 7 - A Razo, 19 e 20 de julho de 2008, p.3. ............................................................ 89 Figura 7.1 - A Razo, 19 e 20 de julho de 2008, p.5. ............................................................. 90 FIGURA 8 - A Razo, 22 de julho de 2008, p.3. .................................................................... 90 Figura 8.1 - A Razo, 22 de julho de 2008, p.5. ..................................................................... 91 FIGURA 9 - A Razo, 25 de julho de 2008, p.3. .................................................................... 91 FIGURA 10 - A Razo, 29 de julho de 2008, p.3. .................................................................. 91 FIGURA 11 - A Razo, 25 de agosto de 2008, p.3. ................................................................ 92 FIGURA 12 - A Razo, 30 e 31 de agosto de 2008, p.3. ........................................................ 92

    VI

  • 7

    FIGURA 13 - A Razo, 1 de setembro de 2008, p.3. ............................................................ 92 FIGURA 14 - A Razo, 3 de setembro de 2008, p.3. ............................................................. 93 FIGURA 15 - A Razo, 22 de setembro de 2008, p.3. ........................................................... 93 FIGURA 16 - A Razo, 23 de setembro de 2008, p.3. ........................................................... 93 FIGURA 17 - A Razo, 25 de setembro de 2008, p.3. ........................................................... 94 FIGURA 18 - A Razo, 29 de setembro de 2008, p.8. ........................................................... 94 Figura 18.1 - A Razo, 29 de setembro de 2008, p.9. ............................................................. 94 FIGURA 19 - A Razo, 30 de setembro de 2008, p.4. ........................................................... 95 Figura 19.1 - A Razo, 30 de setembro de 2008, p.5. ............................................................. 95 FIGURA 20 - A Razo, 4 e 5 de outubro de 2008, p.5. .......................................................... 95 FIGURA 21 Logomarca do jornal Dirio de Santa Maria.................................................... 97 FIGURA 22 Dirio de Santa Maria, 1 de setembro de 2008, p.8. ...................................... 97 FIGURA 23 Dirio de Santa Maria, 12 e 13 de julho de 2008, p.16 e 17. ........................ 116 Figura 23.1 Dirio de Santa Maria, 12 e 13 de julho de 2008, p.18. ................................. 116 Figura 23.2 Dirio de Santa Maria, 12 e 13 de julho de 2008, p.19. ................................. 116 FIGURA 24 Dirio de Santa Maria, 19 e 20 de julho de 2008, p.16 e 17. ........................ 117 Figura 24.1 Dirio de Santa Maria, 19 e 20 de julho de 2008, p.18. ................................. 117 Figura 24.2 Dirio de Santa Maria, 19 e 20 de julho de 2008, p.19. ................................. 117 FIGURA 25 Dirio de Santa Maria, 26 e 27 de julho de 2008, p. 16 e 17. ....................... 118 Figura 25.1 Dirio de Santa Maria, 26 e 27 de julho de 2008, p. 18. ................................ 118 FIGURA 26 Dirio de Santa Maria, 2 e 3 de agosto de 2008, p.16 e 17. .......................... 118 Figura 26.1 Dirio de Santa Maria, 2 e 3 de agosto de 2008, p.18. ................................... 119 Figura 26.2 Dirio de Santa Maria, 2 e 3 de agosto de 2008, p.19. ................................... 119 FIGURA 27 Dirio de Santa Maria, 9 e 10 de agosto de 2008, p.16 e 17. ........................ 119 Figura 27.1 Dirio de Santa Maria, 9 e 10 de agosto de 2008, p.18. ................................. 120 Figura 27.2 Dirio de Santa Maria, 9 e 10 de agosto de 2008, p.19. ................................. 120 FIGURA 28 Dirio de Santa Maria, 16 e 17 de agosto de 2008, p.18 e 19. ...................... 120 Figura 28.1 Dirio de Santa Maria, 16 e 17 de agosto de 2008, p.20. ............................... 121 Figura 28.2 Dirio de Santa Maria, 16 e 17 de agosto de 2008, p.21. ............................... 121 FIGURA 29 Dirio de Santa Maria, 23 e 24 de agosto de 2008, p.16 e 17. ...................... 121 Figura 29.1 Dirio de Santa Maria, 23 e 24 de agosto de 2008, p.18. ............................... 122 Figura 29.2 Dirio de Santa Maria, 23 e 24 de agosto de 2008, p.19. ............................... 122 FIGURA 30 Dirio de Santa Maria, 30 e 31 de agosto de 2008, p.16 e 17. ...................... 122 Figura 30.1 Dirio de Santa Maria, 30 e 31 de agosto de 2008, p.18. ............................... 123

    VII

  • 8

    Figura 30.2 Dirio de Santa Maria, 30 e 31 de agosto de 2008, p.19. ............................... 123 FIGURA 31 Dirio de Santa Maria, 6 e 7 de setembro de 2008, p.16 e 17. ...................... 123 Figura 31.1 Dirio de Santa Maria, 6 e 7 de setembro de 2008, p.18. ............................... 124 FIGURA 32 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.18 e 19. .................. 124 Figura 32.1 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.20. ........................... 124 Figura 32.2 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.21. ........................... 125 FIGURA 33 Dirio de Santa Maria, 20 e 21 de setembro de 2008, p. 16 e 17. ................. 125 Figura 33.1 Dirio de Santa Maria, 20 e 21 de setembro de 2008, p. 18. .......................... 125 Figura 33.2 Dirio de Santa Maria, 20 e 21 de setembro de 2008, p. 19. .......................... 126 FIGURA 34 Dirio de Santa Maria, 27 e 28 de setembro de 2008, p.16 e 17. .................. 126 Figura 34.1 Dirio de Santa Maria, 27 e 28 de setembro de 2008, p.18. ........................... 126 Figura 34.2 Dirio de Santa Maria, 27 e 28 de setembro de 2008, p.19. ........................... 127 FIGURA 35 - Dirio de Santa Maria, 27 e 28 de setembro de 2008, p.20. .......................... 127 FIGURA 36 Dirio de Santa Maria, 15 de julho de 2008, p.6. .......................................... 128 FIGURA 37 Dirio de Santa Maria, 22 de julho de 2008, p.6. .......................................... 129 FIGURA 38 Dirio de Santa Maria, 29 de julho de 2008, p.6. .......................................... 129 FIGURA 39 Dirio de Santa Maria, 5 de agosto de 2008, p.8. ......................................... 129 FIGURA 40 Dirio de Santa Maria, 12 de agosto de 2008, p.6. ....................................... 130 FIGURA 41 Dirio de Santa Maria, 19 de agosto de 2008, p.6. ....................................... 130 FIGURA 42 Dirio de Santa Maria, 26 de agosto de 2008, p.6. ....................................... 130 FIGURA 43 Dirio de Santa Maria, 2 de setembro de 2008, p.8. ..................................... 130 FIGURA 44 Dirio de Santa Maria, 9 de setembro de 2008, p.12. ................................... 131 FIGURA 45 Dirio de Santa Maria, 16 de setembro de 2008, p.8. ................................... 131 FIGURA 46 Dirio de Santa Maria, 23 de setembro de 2008, p.8. ................................... 131 FIGURA 47 Dirio de Santa Maria, 30 de setembro de 2008, p.11. ................................. 132 FIGURA 48 Dirio de Santa Maria, 14 de julho de 2008, p.6. .......................................... 132 FIGURA 49 Dirio de Santa Maria, 19 e 20 de julho de 2008, p.8. .................................. 133 FIGURA 50 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.8. ........................... 133 Figura 50.1 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.10. ........................... 133 FIGURA 51 Dirio de Santa Maria, 15 de setembro de 2008, p.7. ................................... 134 FIGURA 52 Dirio de Santa Maria, 20 e 21 de setembro de 2008, p.6. ........................... 134 FIGURA 53 Dirio de Santa Maria, 4 e 5 de outubro de 2008, p.14. ................................ 134 FIGURA 54 Dirio de Santa Maria, 4 e 5 de outubro de 2008, p.20 e 21. ........................ 135 FIGURA 55 Dirio de Santa Maria, 4 de agosto de 2008, p.8. ......................................... 135

    VIII

  • 9

    FIGURA 56 Dirio de Santa Maria, 30 e 31 de agosto de 2008, p.8. ................................ 135 Figura 56.1 Dirio de Santa Maria, 30 e 31 de agosto de 2008, p.9. ................................. 136 FIGURA 57 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.11. ......................... 136 Figura 57.1 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.12. ........................... 136 Figura 57.2 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.13. ........................... 137 Figura 57.3 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.14. ........................... 137 Figura 57.4 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.15. ........................... 137 Figura 57.5 Dirio de Santa Maria, 13 e 14 de setembro de 2008, p.16. ........................... 138 FIGURA 58 - Dirio de Santa Maria, 17 de setembro de 2008, p.10. .................................. 138 FIGURA 59 Dirio de Santa Maria, 20 e 21 de setembro de 2008, p.10. ......................... 138 Figura 59.1 Dirio de Santa Maria, 20 e 21 de setembro de 2008, p.11. ........................... 139 FIGURA 60 Dirio de Santa Maria, 22 de setembro de 2008, p.7. ................................... 139 FIGURA 61 Dirio de Santa Maria, 4 e 5 de outubro de 2008, p.8. .................................. 139 Figura 61.1 Dirio de Santa Maria, 4 e 5 de outubro de 2008, p.10. ................................. 140 Figura 61.2 Dirio de Santa Maria, 4 e 5 de outubro de 2008, p.12. ................................. 140 FIGURA 62 Dirio de Santa Maria, 4 e 5 de outubro de 2008, p.15. ................................ 140 Figura 62.1 Dirio de Santa Maria, 4 e 5 de outubro de 2008, p.16. ................................. 141 Figura 62.2 Dirio de Santa Maria, 4 e 5 de outubro de 2008, p.17. ................................. 141 Figura 62.3 Dirio de Santa Maria, 4 e 5 de outubro de 2008, p.18. ................................. 141

    IX

  • 10

    LISTA DE APNDICES

    APNDICE A Descrio exploratria do material selecionado......................................... 157

    X

  • 11

    SUMRIO

    RESUMO................................................................................................................................ IV

    ABSTRACT............................................................................................................................. V

    LISTA DE ILUSTRAES................................................................................................. VI

    LISTA DE APNDICES........................................................................................................ X

    INTRODUO...................................................................................................................... 13

    I DA COMUNICAO HUMANA MIDIATIZAO A AUTORREFERENCIALIDADE COMO ESTRATGIA DO DISPOSITIVO MIDITICO NO CONTEXTO MIDIATIZAO............................................................ 22 1.1 A comunicao como fenmeno antropolgico e social................................................ 23 1.2 A passagem da comunicao miditica midiatizada.................................................. 30 1.3 As estratgias de autorreferencialidade como a realidade das mdias no contexto

    midiatizado....................................................................................................................... 34 1.4 Estratgias discursivas autorreferenciais como investimento das mdias

    jornalsticas....................................................................................................................... 43

    II A PRODUO DE SENTIDOS NO DISCURSO JORNALSTICO AUTORREFERENCIAL DE MDIA IMPRESSA............................................................ 49 2.1 A lgica do sentido em Gilles Deleuze............................................................................ 49 2.2 O discurso e suas relaes com o sentido, a formao discursiva e a

    enunciao......................................................................................................................... 56 2.3 A anlise de discurso de Dominique Maingueneau....................................................... 58 2.4 A produo de sentidos no dispositivo de enunciao.................................................. 63 2.4.1. Dispositivo miditico de enunciao e contrato de comunicao.................................. 65 2.4.2. Marcas discursivas de autorreferncia........................................................................... 67 2.4.3. Ethos discursivo e os seus elementos de anlise............................................................ 68 2.4.3.1. O fiador.................................................................................................................... 70 2.4.3.2. A incorporao........................................................................................................ 71 2.4.3.3. Ethos e cena de enunciao......................................................................................... 71 2.4.3.4. Elementos lingusticos e discursivos para anlise do ethos........................................ 73

  • 12

    III ESTUDO DAS ESTRATGIAS DE PRODUO DE SENTIDOS NO DISCURSO AUTORREFERENCIAL DOS JORNAIS A RAZO E DIRIO DE SANTA MARIA.................................................................................................................................... 77 3.1 A delimitao do objeto de anlise................................................................................. 77 3.2 A produo de sentidos nos discursos autorreferenciais do jornal A Razo.............. 81 3.2.1 Os ncleos de sentidos/formaes discursivas............................................................. 82 3.2.2 A cena de enunciao e o ethos discursivo.................................................................. 87 3.2.3 O contrato de comunicao.......................................................................................... 96 3.3 A produo de sentidos nos discursos autorreferenciais do jornal Dirio de Santa

    Maria................................................................................................................................. 96 3.3.1 Os ncleos de sentidos/formaes discursivas............................................................. 98 3.3.2 A cena de enunciao e o ethos discursivo................................................................ 114 3.3.3 O contrato de comunicao........................................................................................ 141 3.4 O lugar pretendido pelo discurso jornalstico autorreferencial de mdia impressa em

    Santa Maria RS e as transformaes decorrentes da midiatizao....................... 142

    CONSIDERAES FINAIS.............................................................................................. 146

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................... 153

  • 13

    INTRODUO

    A presente pesquisa um processo construdo ao longo do nosso percurso acadmico, profissional e pessoal, o qual se desenvolve de modo correlato com as mudanas oriundas do desenvolvimento das novas tecnologias de comunicao e informao, as quais ampliam a diversidade de mdias, assim como a disseminao destas nos diversos sistemas sociais. A partir disso, o modo como temos percebido a atuao dos dispositivos miditicos1 na contemporaneidade, os quais tm utilizado novas estratgias de comunicao para assegurarem os seus lugares de produo e circulao de sentidos2 nessa ambincia midiatizada3, nos despertou o interesse e a motivao em estudar as estratgias de autorreferencialidade4 em discursos jornalsticos, mais especificamente a concorrncia por lugares entre as mdias jornalsticas impressas, por meio do estudo das estratgias de produo de sentidos no discurso autorreferencial.

    Vemos na autorreferncia uma das principais estratgias utilizadas atualmente pelas empresas/organizaes de mdia em seus dispositivos miditicos, a fim de assegurar o reconhecimento por parte da sociedade, em relao a sua importncia enquanto mediadoras de informao, relatos, acontecimentos, entretenimento, etc. Assim, direcionando nossos questionamentos e anseios para a realidade local, optamos por delimitar o nosso tema e pesquisar a concorrncia por lugares entre as mdias jornalsticas impressas, por meio do

    1 Entendemos como dispositivo miditico uma materialidade (texto, vdeo, jornal, site, etc.) que traz consigo a

    complexidade da organizao miditica que a originou, a qual constituda de estrutura organizacional, tecnologias, relaes sociais e humanas, etc. Ento o dispositivo miditico pe em funcionamento as estratgias comunicacionais e discursivas que configuraram essas materialidades. 2 O sentido no algo que nos dado, diferente do significado, o qual estabelecido pelo consenso social.

    Conforme Deleuze (1974, p.73): O sentido efetivamente produzido por esta circulao, como sentido que volta ao significante, mas tambm sentido que volta ao significado. Em suma, o sentido sempre um efeito. No somente um efeito no sentido causal; mas um efeito no sentido de efeito ptico, efeito sonoro, ou melhor, efeito de superfcie, efeito de posio, efeito de linguagem. 3 A ambincia midiatizada consiste em toda a abrangncia do processo de midiatizao, o qual ser resumido

    aqui nas palavras de Sodr (2006b, p.22): a midiatizao pode ser pensada como um novo bios, uma espcie de quarta esfera existencial, com uma qualificao cultural prpria (uma tecnocultura), historicamente justificada pelo imperativo de redefinio do espao pblico burgus. 4 Conforme Fausto Neto (2006) a autorreferencialidade nas mdias a competncia discursiva que os

    dispositivos miditicos possuem de poder falar de si mesmo e dos outros campos sociais.

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    estudo das estratgias de produo de sentidos no discurso autorreferencial dos jornais A Razo e Dirio de Santa Maria, no perodo de campanha para as eleies municipais de 2008, de 02 de julho a 05 de outubro de 2008.

    A delimitao dessa temtica surge a partir das estratgias de autorreferenciao utilizadas pelos jornais impressos da cidade de Santa Maria/RS no perodo das eleies municipais. Estes jornais ao tratarem do tema poltica/eleies fizeram uso de estratgias de autorreferencialidade para poderem falar de si ao falarem das eleies de 2008. Acreditamos que essas estratgias autorreferenciais poderiam ser visualizadas em qualquer editoria de ambos os jornais (Educao, Esporte, Geral, Opinio, etc.), entretanto encontramos na cobertura das eleies municipais de Santa Maria pelos jornais A Razo e Dirio de Santa Maria a oportunidade para observamos a presena de estratgias autorreferenciais em editorias diferentes daquelas que j so especficas para este tipo de contrato de leitura5, como no caso dos editoriais.

    Alm disso, a editoria de Poltica, em especfico a abordagem do tema eleies um tipo de produo jornalstica que desperta o nosso interesse em pesquisar futuramente. Isso porque entendemos a poltica em seu sentido mais amplo, a partir de sua origem epistemolgica, de que se refere a tudo aquilo que diz respeito a polis, que em grego quer dizer os muitos e significa cidade. Assim, o poltico cada um dos muitos que constitui a polis, a cidade, so os muitos que refletem e planejam pelo melhor da cidade (SCHNEIDER, 1999). Entendemos a poltica como aquilo que se refere a tudo o que pblico, que diz respeito a toda a sociedade e, portanto, aquilo que deve estar visvel nas sociedades politicamente democrticas.

    Da mesma maneira, compreendemos que o jornalismo deve ser constitudo por valores que dizem respeito ao interesse pblico e no as prticas editoriais de cada empresa jornalstica. Neste sentido, consideramos que seria interessante pesquisar as estratgias discursivas autorreferenciais utilizadas pelas mdias em estudo na editoria de poltica/eleies municipais, muito embora na presente pesquisa no tenhamos a pretenso de problematizar as relaes entre o sistema social, poltico e jornalstico, mas para que futuramente a proximidade com estes temas nos possibilite investir nesse tipo de pesquisa.

    5 Por contrato de leitura entendemos que ele est no plano das modalidades do dizer, como nos coloca Vern

    (2004, p.218): Todo suporte de imprensa contm seu dispositivo de enunciao: este ltimo pode ser coerente ou incoerente, estvel ou instvel, adaptado a seus leitores ou mais ou menos inadaptado. No caso da imprensa escrita, denominaremos esse dispositivo de enunciao o contrato de leitura [grifos do autor]. Neste trabalho, considerando a complexidade dos processos oriundos da midiatizao, preferimos renomear o contrato de leitura denominado por Vern (2004) para contrato de comunicao miditico ou contrato de comunicao.

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    Por que optamos falar em concorrncia por lugares entre as mdias jornalsticas impressas, por meio dos seus discursos autorreferenciais? Por ser uma temtica que vai ao encontro da teoria de Anlise do Discurso de tendncia pragmtico-enunciativa que tem como principal expoente o pensador Dominique Maingueneau (2008), o qual explica o uso que se faz do termo concorrncia:

    Concorrncia deve ser entendida da maneira mais ampla; ela inclui tanto o confronto aberto quanto a aliana, a neutralidade aparente etc. ... entre discursos que possuem a mesma funo social e divergem sobre o modo pelo qual ela deve ser preenchida ( MAINGUENEAU, 2008a, p. 34).

    Assim, adotaremos este termo concorrncia porque ele est de acordo com a hiptese do primado do interdiscurso exposto por Maingueneau (2008a, p.31), que segundo ele se inscreve na perspectiva de uma heterogeneidade enunciativa constitutiva, a qual amarra o Mesmo do discurso e seu Outro, aproximando-se do princpio dialgico de Bakhtin (1981) que expressa o carter constitutivo da interao enunciativa6.

    Alm disso, os dois jornais em estudo (A Razo e Dirio de Santa Maria) apresentam nas suas prprias biografias miditicas os elementos que nos permitem falar em concorrncia, j que o jornal A Razo um dos jornais mais tradicionais do estado do Rio Grande do Sul (fundado em 1934) e carrega todo um investimento simblico nessa posio que ocupa, sendo reconhecido por muitos representantes da sociedade santamariense como o jornal de Santa Maria, voltado para os assuntos de interesse do municpio; em contraponto, o jornal Dirio de Santa Maria j carrega um esteretipo, formado por esses mesmos representantes da sociedade santamariense, de que o jornal de fora, que est interessado apenas na concorrncia e no nos interesses da comunidade local. O Dirio de Santa Maria um dos jornais mais recentes do Grupo RBS, fundado em 2002, e oriundo de toda uma estrutura organizacional miditica (outros jornais, rdios, emissoras de televiso e portais na internet) que abrange os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

    Ao refletirmos a respeito da concorrncia por lugares entre essas mdias jornalsticas impressas, por meio do estudo das estratgias de produo de sentido no discurso autorreferencial dos jornais A Razo e Dirio de Santa Maria, pretendemos verificar que, embora os discursos destes sejam diferentes, bem como suas estratgias (o que se pretende pesquisar), se pressupem que os objetivos sejam os mesmos (j que se referem ao mesmo

    6 Maingueneau (2008a) atribui a essa orientao de Bakhtin (1981) um quadro metodolgico, o que explicamos

    melhor mais adiante mo item 2.3.

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    campo discursivo7), ou seja, firmar uma modalidade de contrato de comunicao com seus leitores, visando ao devir8 de cada jornal. Alm disso, entendemos que a concorrncia por lugares exprime a posio que cada jornal, enquanto dispositivo miditico dotado de complexidades, deseja ocupar em relao ao seu concorrente, sendo que com isso cada um dos jornais pretende definir de modo correlato o lugar do outro. J em se tratando do contrato de comunicao miditico expresso nos discursos autorreferenciais, este exprime a relao que se estabelece entre estes e os leitores destes discursos.

    Entendemos cada jornal como um dispositivo miditico dotado de complexidades, e neste contexto que so produzidos os seus discursos. O dispositivo miditico jornal busca manter uma relao de comunicao com os seus leitores por meio de um discurso que contm a intencionalidade de produzir efeitos de sentido9 nestes leitores, objetivando fortalecer o jornal enquanto o lugar onde os acontecimentos miditicos tornam-se pblicos e so tidos como pertencentes realidade. No decorrer do processo de produo de sentidos do discurso autorreferencial dos jornais em estudo h questes cruciais que iro estabelecer a ordem (FOUCAULT, 1970) em que estes discursos foram produzidos. Essas questes envolvem as mutaes no sistema das mdias e, em especial no sistema jornalstico, decorrentes da midiatizao, em que se observam constantes transformaes na sociedade midiatizada, nesta os modos de fazer e estratgias das mdias tornam-se conhecidos por outros sistemas, e as mdias de massa j no possuem um lugar central10; as regras e lgicas (econmicas, tecnolgicas e simblicas) de construo dos sentidos em cada dispositivo jornalstico; a concorrncia por lugares entre as mdias jornalsticas impressas, a qual se supe estar expressa nos discursos autorreferenciais, que objetivam produzir efeitos de sentidos para assegurar o lugar de cada jornal. Sendo assim, a nossa questo : qual o lugar que o jornalismo autorreferencial de mdia impressa de Santa Maria RS busca instituir por meio dos seus discursos?

    Ao falar sobre contrato de comunicao miditico, em especial sobre autorreferencialidade, observamos que cada jornal possui a sua lgica de legibilidade11 que est presente no conjunto de marcas que configuram a identidade do jornal. Desse modo, o

    7 O campo discursivo , segundo Maingueneau (2008a, p.34), conjunto de formaes discursivas que se

    encontram em concorrncia, delimitam-se reciprocamente em uma regio determinada do universo discursivo. 8 Entendemos por devir o vir a ser, o tornar-se.

    9 Conforme Vern (1980) os efeitos de sentido esto no nvel das condies de recepo (ou de

    reconhecimento) do discurso. 10

    Diferente de como ocorria na sociedade miditica (RODRIGUES, 1997), na qual as mdias ocupavam um lugar central, de mediadoras entre os diversos campos sociais. 11

    Aqui se refere ao modo como a mdia apresentada, no se refere necessariamente a leitura escrita, mas tambm imagens, sons, cores, grficos, diagramao, etc.

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    que difere os jornais so os contratos de comunicao, ou seja, as marcas e estratgias que fazem com que os indivduos se identifiquem com estes.

    As mdias quando nos disponibilizam os seus discursos esto colocando em ao os contratos de comunicao de produo de sentidos que foram estrategicamente planejados, ou seja, os discursos contm os princpios, ideais e regras do dispositivo. Em conformidade com Charaudeau e Maingueneau (2006) entendemos que cada jornal possui seu ethos discursivo, ou seja, a imagem que o jornal mostra de si em seu discurso, em que o locutor/enunciador (jornal) busca exercer influncia no alocutrio/enunciatrio (leitor). Esse ethos discursivo no est, necessariamente, explcito no texto, ou seja, ele no considerado similar ao discurso autorreferencial, ao contrrio, ele se mostra por meio do modo como se diz. De modo correlato, nossa primeira hiptese que o ethos discursivo dos jornais em estudo tambm est expresso nos seus discursos autorreferenciais. Assim, ao investigarmos as marcas discursivas que identificam o contrato de comunicao nos discursos jornalsticos autorreferenciais, se pretende tambm identificar qual o ethos discursivo destes.

    Cabe ressaltar que a teoria central que embasa a lgica da autorreferncia utilizada para este trabalho parte da posio terica-espistemolgica de Niklas Luhmann (2005), em consonncia com as contribuies de Fausto Neto (2005, 2006, 2009), Ciro Marcondes Filho (2004), entre outros. Assim, a mdia jornalstica por meio da teoria luhmanniana vista como um sistema autopoitico (LUHMANN, 2005), ou seja, constitui-se em um sistema autnomo, que possui uma estrutura organizacional complexa fechada ao mundo externo, visando busca do seu devir. Luhmann (2005) observa que a autonomia autopoitica dos meios de comunicao (ns estamos usando mdias) est baseada no fechamento operacional, ou seja, no seu modo de fazer, em que o sistema s pode reproduzir suas prprias estruturas e operaes, com base em produtos prprios, e tambm por meio dos seus programas/produtos que ele interage com o meio externo, aprimorando as suas estratgias para se autofortificar (LUHMANN, 2005). Atualmente, as estratgias de autorreferencialidade esto, a cada dia, mais explcitas, em que as mdias, inclusive, transformam em acontecimento miditico o modo como fazem para construir determinadas notcias, reportagens, programas, etc. A partir dessa constatao, observamos que as mutaes decorrentes da midiatizao aumentam no s o nvel de complexidades da relao entre as mdias e os demais sistemas sociais, como tambm complexificam ainda mais o prprio modo de dizer e fazer das mdias. Partindo do pressuposto de que os discursos autorreferenciais se caracterizam como uma modalidade de estratgia discursiva que visa estabelecer um contrato de comunicao miditico, queremos destacar que os discursos autorreferenciais de mdia impressa, alm de

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    objetivarem firmar o contrato com o leitor, querem afirmar o seu lugar enquanto produtores de verdades, de construtores da realidade, ou seja, querem se afirmar em relao ao outro, ao diferente (alteridade), estabelecendo uma concorrncia por lugares. Nesta perspectiva, a nossa segunda hiptese que cada um dos jornais (enquanto dispositivo enunciador) busca a sua autoafirmao, ao seu devir, dentro do prprio sistema que configura o sistema jornalstico e, ambos, buscam afirmar o sistema do jornalismo dentro do sistema social. Com isso, ao mesmo tempo em que cada jornal, enquanto subsistema do sistema jornalstico global concorre por lugares dentro desse sistema maior que o jornalismo, eles sustentam este enquanto o lugar de produo dos discursos a respeito dos acontecimentos miditicos e de reduo das complexidades dos demais sistemas que constituem a realidade do sistema social (sociedade midiatizada), produzindo, com isso, um efeito de sentido de pluralidade no jornalismo12.

    O estudo da autorreferencialidade no jornalismo se justifica especialmente pela complexidade envolta na produo dos seus discursos. Alm disso, em um contexto macro, observa-se que vivemos em uma sociedade repleta de complexidades, praticamente todas as instituies sociais so interpeladas por lgicas dos mais diversos sistemas e que, em sua maioria, tornam-se pblicas, ganham visibilidade, por meio das mdias. Desse modo, grande parte daquilo que conhecemos sobre o mundo, como nos coloca Luhmann (2005), ns conhecemos por meio dos jornais, rdios, televiso, internet, etc., ou seja, pelas mdias de um modo geral. Esses dispositivos miditicos, por sua vez, tambm se estruturam em meio a complexidade de lgicas econmicas, tecnolgicas e simblicas, alm de serem tambm interpelados pelos demais sistemas sociais, e ainda so constitudos pela complexidade de sujeitos que so interpelados pelas lgicas das organizaes miditicas em que estes esto inseridos. O resultado dessa complexidade configura a realidade que construda pelas mdias e que tem nos possibilitado conhecer o mundo.

    Essa realidade que apresentada pelas mdias nos incita a estudarmos os fenmenos miditicos oriundos das estratgias comunicacionais e discursivas que so colocadas em ao quando os discursos das mdias chegam at ns, no s para melhor compreendermos esses processos (enquanto leitores crticos das mdias), mas tambm contribuirmos na contnua

    12 A pluralidade no jornalismo se refere ao discurso jornalstico que embora seja de uma mdia especfica

    (enunciador) busca reforar esse discurso em outros enunciadores (fontes), neste caso as duas mdias estudadas so as fontes do sistema jornalstico. Rodrigues (2002) lembra que no discurso miditico possvel observar a distino entre diversos enunciadores, fenmeno que, segundo ele, est associado a um dos aspectos da prtica, a que Oswald Ducrot d o nome de polifonia ou de pluralidade de vozes. Um locutor singular enuncia um discurso que, embora seja seu, tambm de outros enunciadores (RODRIGUES, 2002, p. 231).

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    busca de saberes, para avanarmos na construo de uma Teoria da Comunicao que procure dar conta das complexidades que constituem esses fenmenos miditicos.

    A nosso ver essa complexidade est explcita hoje nos discursos autorreferenciais, os quais esto mostrando como os dispositivos de enunciao fazem para mostrar a realidade, como essa realidade foi construda, ou seja, mostram a realidade da construo (LUHMANN, 2005). Essa realidade das mdias e seus leitores, bem como as complexidades envoltas tanto na instncia da produo como na de reconhecimento , por si s, algo que se justifica enquanto temtica a ser estudada, e nos instiga a refletir e revisitar os conhecimentos tericos e empricos, para que tenhamos um melhor esclarecimento desses fenmenos miditicos.

    O estudo da autorreferencialidade no jornalismo impresso a nosso ver interessante porque se trata de uma mdia que j atravessou sculos, considerando que desde o mundo ocidental moderno, a partir do sculo XV, com a impresso de Gutenberg (cerca de 1450 d.C), se convive com o formato impresso (BRIGGS & BURKE, 2004). Ento consideramos essa mdia como sendo importante para estudar os efeitos (estratgias) decorridos das mudanas, principalmente tecnolgicas e econmicas, oriundas do processo de midiatizao em nossa sociedade.

    Com isso, por meio do estudo das estratgias de produo de sentidos nos discursos autorreferenciais dos jornais A Razo e Dirio de Santa Maria, no perodo de campanha para as eleies municipais de 2008, e considerando o contexto social de produo e circulao desses discursos, tem-se como objetivo geral reconhecer os lugares concorridos pelas mdias jornalsticas impressas de Santa Maria RS.

    Para tanto, nossos objetivos especficos se constituem em: Contextualizar a incidncia da autorreferencialidade como uma consequncia da mudana de estratgias dos dispositivos miditicos em decorrncia da midiatizao; Apresentar o modo de construo do discurso jornalstico autorreferencial das mdias, relacionando conhecimento terico e emprico; Identificar os ncleos de sentidos/formaes discursivas e a cena da enunciao dos discursos autorreferenciais, que vo nos possibilitar visualizar a imagem de si (ethos discursivo) construda por cada um dos jornais; Reconhecer o contrato de comunicao proposto pelos discursos autorreferenciais dos jornais em estudo.

    Buscando alcanar os objetivos propostos organizamos a estrutura da dissertao em trs captulos, de modo que na primeira parte explicamos o fenmeno da midiatizao at chegar elucidao da incidncia cada vez maior de estratgias discursivas autorreferenciais

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    nas prticas miditicas. Para tanto, partimos da explicao do que a comunicao na perspectiva antropolgica, seguida das transformaes decorrentes do uso de tecnologias de informao e comunicao (comunicao miditica), e o crescente desenvolvimento destas, chegando explicao do processo atual de midiatizao. Paralelo a esse entendimento, buscamos no socilogo alemo Niklas Luhmann (2005) compreender a realidade dos meios de comunicao (mdias) enquanto sistemas sociais autorreferentes.

    A seguir, verificamos nesta nova teoria dos sistemas sociais de Luhmann (2005) que a particularidade da relao que o sistema das mdias jornalsticas estabelece com o ambiente (todos os sistemas sociais) se d por meio do acoplamento estrutural, que se refere s estratgias discursivas (em especial a autorreferncia) produzidas pelas mdias jornalsticas. Com isso, explicamos as estratgias discursivas autorreferenciais como investimento das mdias jornalsticas no cenrio da midiatizao.

    No segundo captulo, procuramos entender a produo de sentidos no discurso jornalstico autorreferencial de mdia impressa, trazendo a concepo a respeito da lgica do sentido em Gilles Deleuze (1974). A seguir, apresentamos as contribuies tericas a respeito do discurso e suas relaes com o sentido, a formao discursiva e a enunciao, tendo como principais referncias os autores Michel Foucault (1969, 1970), Dominique Maingueneau (1997, 2006, 2008) e Eliseo Vern (1980, 2004), a fim de buscarmos o entendimento do sentido da comunicao promovida pelas produes miditicas. Ainda nesse captulo apresentamos de modo explicativo as principais estratgias discursivas (contrato de comunicao, marcas discursivas de autorreferncia, e o ethos discursivo e os seus elementos de anlise) de produo de sentidos no dispositivo miditico de enunciao. Essas estratgias e parte desses elementos foram analisados no terceiro captulo em que apresentada a anlise da produo de sentidos dos jornais em estudo.

    O terceiro e ltimo captulo se refere ao estudo das estratgias de produo de sentidos no discurso autorreferencial dos jornais A Razo e Dirio de Santa Maria. Para tanto, apresentamos a delimitao do nosso objeto de anlise, seguida da apreciao dos discursos autorreferenciais dos jornais A Razo e Dirio de Santa Maria, por meio da observao de marcas discursivas e, especificamente, marcas de autorreferncia, nas quais identificamos os ncleos de sentidos/formaes discursivas, a cena de enunciao e a construo do ethos discursivo, bem como o contrato de comunicao que foi proposto por cada jornal. Por meio desse percurso metodolgico apresentamos uma reflexo sobre o lugar pretendido pelas mdias jornalsticas impressas de Santa Maria RS, no perodo das eleies municipais de

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    2008, bem como apresentamos uma reflexo sobre a transformao do lugar do enunciador no jornalismo midiatizado13, expresso principalmente nas estratgias de autorreferencialidade.

    13 Entendemos como jornalismo midiatizado a prtica e o tipo de fazer jornalstico que realizado no contexto da

    midiatizao, em meio a mudanas tecnolgicas, discursivas e sociais. A respeito dessas mudanas que configuram o jornalismo midiatizado, relevante a contribuio da tese de Doutorado de Demtrio Azeredo Soster (2009), O jornalismo em novos territrios conceituais: internet, midiatizao e a reconfigurao dos sentidos miditicos.

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    I DA COMUNICAO HUMANA MIDIATIZAO A AUTORREFERENCIALIDADE COMO ESTRATGIA DO

    DISPOSITIVO MIDITICO NO CONTEXTO MIDIATIZADO

    Pretendemos aqui traar um caminho que nos leve ao entendimento do fenmeno da autorreferencialidade nas mdias. Para tanto, devido complexidade em volta deste, adotamos uma postura transdisciplinar, conforme os pressupostos do pensamento complexo14. Na tentativa de poder dar conta de explicar esse fenmeno, buscamos contribuies de diferentes correntes tericas, da Comunicao, da Filosofia, da Sociologia, da Lingustica e da Semiologia, levando em considerao que estas tambm esto interpeladas por conceitos fundantes de outras teorias.

    Para tanto, procuramos contextualizar as mudanas ocorridas no desenvolvimento dos meios de comunicao/mdias decorrentes, principalmente, das tecnologias de comunicao e informao, bem como do surgimento de novas mdias que impulsionaram a mudana de estratgias comunicacionais e discursivas utilizadas pelos dispositivos miditicos, tendo como exemplar dessas mudanas a questo da autorreferencialidade, presente atualmente nas prticas das diversas mdias.

    Partimos do conceito central de comunicao, em sua perspectiva antropolgica, tendo como referncia o pensamento do professor Adair Peruzzolo (2006), chamando a ateno para a essncia estratgica da comunicao humana inserida na cultura. Na sequncia procuramos discernir a passagem da comunicao miditica, partindo dos pressupostos de Adriano Duarte Rodrigues (1997), midiatizada, conforme as contribuies de Eliseo Vern (1997, 2004), Muniz Sodr (2002, 2006) e Antnio Fausto Neto (2005, 2006, 2007, 2008).

    14 Se ainda podemos ousar esperar uma melhora em algumas das relaes humanas (no quero dizer s entre

    imprios, s entre naes, mas entre pessoas, entre indivduos e at consigo mesmo), ento esse grande salto civilizacional e histrico tambm inclui, na minha opinio, um salto na direo do pensamento da complexidade (MORIN, 2005, p.193). Aqui no pretendemos apresentar a teoria do pensamento complexo, estamos destacando que apenas vamos adot-lo como postura de conduta para a pesquisa.

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    Procurando delinear melhor o entendimento a respeito da autorreferencialidade utilizadas em especial pelas mdias no contexto da midiatizao, trazemos as contribuies do socilogo alemo Niklas Luhmann (2005), em consonncia com as observaes do tambm socilogo e jornalista Ciro Marcondes Filho (2004) que procura explicar a posio terica-espitemolgica de Luhmann partindo tambm de textos anteriores obra A realidade dos meios de comunicao (LUHMANN, 2005). Vimos aqui que a autorreferencialidade entendida na teoria luhmanniana como a realidade dos meios de comunicao (mdias) e que isso ocorre por meio do acoplamento estrutural presente nos produtos miditicos que contem as estratgias discursivas. Essa realidade das mdias justifica o investimento destas em estratgias discursivas autorreferenciais, como enfatizamos no final deste captulo.

    1.1 A comunicao como fenmeno antropolgico e social

    Antes de falarmos em comunicao miditica e midiatizao, consideramos de fundamental importncia distinguir o modo como entendemos a comunicao e em que medida ela se diferencia dos termos acima referidos. Partimos do princpio de que a comunicao essencialmente humana, pois ela sempre esteve presente no desenvolvimento social e antropolgico do homem. Em nosso entendimento o rpido desenvolvimento dos meios de comunicao e das tecnologias tem reduzido a inteligibilidade do que a comunicao em sua essncia. Isto porque nas inmeras abordagens tericas e empricas existentes recorrente o uso do termo comunicao como sinnimo de transmisso, enfatizando apenas o aspecto tcnico das relaes de comunicao. Por essa razo, consideramos de fundamental importncia revisitar alguns autores para refletirmos sobre a comunicao como um fenmeno antropolgico e social, antes de tratar sobre o atual processo de constituio da ambincia midiatizada.

    Precisamos pensar o sentido da comunicao humana para compreender os seus efeitos nos processos comunicacionais de nosso tempo. ... a Comunicao, em seu sentido pleno, constitui prerrogativa humana bsica, regendo a vida de todo ser humano, seja em sua formao individual, seja em sua imerso em meio social (POLISTCHUK e TRINTA, 2003, p.66).

    Pensar a comunicao a partir da sua natureza antropolgica significa pens-la pela sua qualidade, pela relao que estabelecida entre os comunicantes, j que os recursos

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    materiais, linguagem, meios de comunicao, entre outros, no comunicam por si, pois a qualidade de comunicar-se intrnseca natureza do homem15.

    Ns queremos pensar a comunicao pela sua qualidade, porque nmeros e medidas, e coisas que os representam, organizam pensamentos incompletos e lidam com a aparncia das coisas, como coloca Peruzzolo (2006, p.19) ao contrapor mais adiante um dos modelos comunicacionais bsico, segundo ele geralmente aceito entre os usurios e estudiosos da comunicao, que o de Shannon/Weaver, que enfatiza a mecnica da comunicao.

    Dessa maneira, para compreendermos o fundamento daquilo que nos leva a comunicar precisamos entender qual a fora da comunicao. Para Peruzzolo (2006) a fora da comunicao vem do desejo que a vida tem de tornar-se plena, ou seja, o comunicar-se a prpria fora da vida nos seres, que leva a ao para a sobrevivncia. A ao de comunicao estruturada por uma relao, pois o ser humano precisa se relacionar com outro ser para sobreviver.

    O entendimento que Peruzzolo (2006) nos proporciona a respeito da comunicao traz consigo marcas dos conceitos apresentados pelos bilogos chilenos Maturana e Varela (2001), para os quais a vida um processo de conhecimento que est inscrita nas bases biolgicas do desenvolvimento dos seres vivos. Esses autores so alguns dos precursores do pensamento sistmico, para o qual um dos princpios fundamentais nos diz que fazemos parte do mundo em que vivemos, e compartilhamos com outros seres esse processo vital. Construmos o

    mundo e ele nos constri (as partes so constitudas do todo e o todo constitudo das partes). O argumento dos autores se institui primeiro, na afirmao de que o conhecimento no algo que nos dado, no algo oriundo de um mundo anterior experincia do observador, mas construdo por este no decorrer da sua experincia. O segundo argumento que os seres vivos so autnomos, autoprodutores, ou seja, capazes de produzir seus prprios componentes ao interagir com o meio.

    Maturana e Varela (2001) criticam o modelo transmissionista da comunicao, o que eles chamam de metfora do tubo, que seria o modelo tambm citado por Peruzzolo (2006), dos primeiros tericos da comunicao, como o conhecido modelo de Shannon/Weaver. Neste, a comunicao entendida como algo que se produz num ponto, levado por um conduto (ou tubo) e entregue no outro extremo, para o receptor. Ao contrrio disso, Maturana e Varela (2001) afirmam que no h transmisso de informao na comunicao.

    15 Concordamos com a afirmao de Peruzzolo (2006, p. 19) de que seguramente, a comunicao no um

    fenmeno exclusivamente humano, mas tambm no verdade que tudo comunica, como, por vezes, se houve dizer. Desse modo, fundamental, ao falar sobre comunicao em uma perspectiva de histria social do homem, enfatizar a sua natureza humana, pr-estabelecida geneticamente, ou seja, legtima.

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    Peruzzolo (2006) busca explicar o fenmeno da comunicao de modo semelhante com essa perspectiva, para ele pensar a comunicao pens-la da maneira que ela , de modo essencial, e no da forma como ela funciona:

    A comunicao , ento, uma relao especfica que se efetua por um meio material que se torna base dos investimentos pessoais nessa relao. Por isso, no na sua forma plena, mas na sua forma primeira e necessria, isto , na sua gnese e como processo essencial, a comunicao , minimamente, uma relao de ser a ser; de um ser que quer passar uma mensagem a outro, cuja mensagem ser confirmada por uma certa resposta, no nvel meramente aquiescente do encontro, porque tudo se passa nos encontros dos corpos ao se agenciarem (PERUZZOLO, 2006, p. 30).

    Partindo das concepes do autor, os mecanismos vitais que organizam a comunicao so: percepo e representao. A percepo depende das possibilidades fsicas dos indivduos e biolgicas da espcie, o que estimula o cdigo, que so as aes vitais dos animais estimuladas pelas percepes dos rgos sensoriais, ou seja, a apreenso sensorial.

    A representao o investimento qualitativo no dado percebido, desse modo a representao se forma atravs da percepo. Peruzzolo (2006) explica que a representao no nvel humano cultural, embora haja nela uma base infracultural (biolgica). Por exemplo, um homem condicionado a perceber uma mulher pelas caractersticas da sua prpria espcie, assim como o animal macho vai perceber uma fmea de acordo com a espcie dele. Mas a representao que o homem tem da mulher, mesmo possuindo uma base biolgica, determinada pelo smbolo, pela cultura humana, assim como a relao de comunicao estabelecida entre eles tambm estar baseada na cultura.

    Peruzzolo (2006) afirma que nem toda a relao comunicao, mas toda comunicao uma relao. A relao tem uma amplitude lgica maior que a comunicao. E a relao de comunicao tem um componente especfico que ser operada por uma matria, que subentende as representaes dos comunicantes. As materializaes so o meio de comunicar, de dizer, de ver, de gesticular, uma linguagem que representa e organiza aquilo que quero mostrar para chegar ao outro, ao mesmo tempo em que antecipo nessa

    representao o modo de ser do outro e experimento o lugar do outro a partir do meu prprio lugar.

    Assim, a relao de comunicao humana simblica (PERUZZOLO, 2006), isso porque a condio que permite ao homem trabalhar objetos numa esfera livre do controle do cdigo gentico e construir uma reserva de experincias, conhecimentos e modos de ao a cultura. As relaes se estabelecem na procura do outro, na percepo do outro, o desejo e a necessidade do outro. Para se comunicar, preciso definir de algum modo o lugar e o

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    significado do outro (o significado do outro dado pela definio desse lugar) (PERUZZOLO, 2006, p. 57). na representao do outro que se configura a imagem do eu, ou seja, nesse devir que se produz a fora geradora do sentido (PERUZZOLO, 2006, p. 58).

    Na sequncia Peruzzolo (2006) explica como a relao de comunicao humana simblica. Segundo ele, ela ocorre primeiro no nvel do Programa, que so aquelas caractersticas que esto no cdigo gentico. E em um segundo nvel, no Projeto, que aquilo que o ser humano deseja para o futuro. No Programa h os estados de (1) imagem (onde o objeto e o signo no se diferenciam porque o objeto da comunicao o signo); e de (2) sinal (em que o sujeito deduz a existncia do significado do outro). No nvel do Projeto est a capacidade do sujeito em antever a obra, em que se observa a existncia do (3) smbolo (a ordem de representaes que o homem desenvolveu para operar com as realidades). a partir da construo de meios simblicos entre a percepo e o sentido que a relao humana sai da esfera da sobrevivncia da espcie para a opo do indivduo.

    A procura de relao com o outro o desejo da procura de si, mas que ainda no comunicao. Para Peruzzolo (2006) o que faz a comunicao certa resposta, que se encontra no acolhimento da mensagem pelo outro. Assim, o sentido da comunicao est na necessria busca do outro para si mesmo, assim que a comunicao essencialmente o encontro.

    ... o sentido da comunicao produz-se na relao, pois ela se estabelece a partir de desejos e necessidades bsicas sobrevivncia da espcie e, assim, sobrevivncia do indivduo. O sentido da comunicao no existe fora da relao, todavia ele no uma propriedade dela, mas in(e)xiste (= insiste) nela [grifos do autor] (PERUZZOLO, 2006, p.91).

    Conforme o autor a comunicao uma relao no jogo do encontro com a alteridade (o diferente, o estranho), em que a matria da comunicao a informao, que ter que ser entendida como uma possibilidade de ser (um efeito de sentido possvel). Aqui Peruzzolo (2006) refora a sua abordagem da comunicao como ato social (concepo antropolgica da comunicao) contrapondo concepo da realizao fsica da comunicao.

    Como aspecto essencial do ato social do que comunicar Peruzzolo (2006) prope que falar de comunicao j referir-se a um fenmeno naturalmente recproco. Pertencem vida social aqueles que possuem competncia comunicativa.

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    ... a reciprocidade, de modo fundamental, no est no ato da reao ou da resposta, na repercutibilidade da comunicao, mas na natureza mesma da proposta, ou seja, a mensagem organizada , primeiramente, resposta necessidade e ao desejo do outro para a necessidade e desejo prprios (PERUZZOLO, 2006, p. 97).

    Sendo assim, a comunicao reciprocidade em razo da bipolaridade das necessidades, que coloca os comunicantes numa relao de foras. assim que comunicar significa sair do prprio crculo mgico e estabelecer relaes com os outros (PERUZZOLO, 2006, p. 103). E tambm assim que, alm de pensar a reciprocidade da comunicao como a busca do outro para a necessidade prpria, por meio da relao, do encontro, tambm uma condio necessria para o social.

    Quando a relao de comunicao passa do Programa para o Projeto (aquilo que o ser humano deseja para o futuro) ocorre o afastamento entre os comunicantes, os quais passam a se comunicar e a operar com as realidades a partir de smbolos em comum, e materialidades que representam estes smbolos (PERUZZOLO, 2006). Neste estgio, em que a comunicao j est no limiar do cultural, cada indivduo opta pela melhor forma de buscar o outro para o seu prprio devir. neste sentido que consideramos que a relao de comunicao humana como fenmeno cultural pode ser considerada estratgica.

    Conforme Charaudeau e Maingueneau (2006, p.218) o termo estratgia vem da arte de conduzir as operaes de um exrcito sobre um campo de ao.... Segundo eles essa noo acabou sendo empregada em diferentes disciplinas do pensamento, ampliando o seu significado para designar toda ao realizada de maneira coordenada para atingir um certo objetivo (CHARAUDEAU e MAINGUENEAU, 2006, p. 218).

    Essa perspectiva que estamos propondo de pensar a relao de comunicao humana como fenmeno cultural como sendo essencialmente estratgica se refere principalmente aos meios de comunicao (mdias). Esta proposta vem ao encontro do pensamento do francs Armand Mattelart (1996), na obra Comunicao-mundo: histria das idias e das estratgias, em que o autor realiza uma retrospectiva histrica das estratgias, desde os mecanismos tcnicos de comunicao utilizados nas guerras militares que ocorreram no mundo, at os atuais meios de comunicao de massa e a relao destes com a sociedade capitalista.

    Desse modo, a inter-relao entre comunicao e cultura que faz emergir a sua caracterstica humana estratgica.

    A escolha de uma relao pelo homem torna-se, pois, uso, hbito, costume, que a institucionalizao desse modo de ser, a que denominamos cultura. No fenmeno

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    cultural, h institucionalizao de relaes privilegiadas e estabelecidas porque o homem tem a necessidade de dar continuidade sua comunicao (PERUZZOLO, 2006, p. 140).

    A partir da inter-relao entre comunicao e cultura acreditamos que a comunicao, desde sua origem antropolgica at o atual fenmeno da midiatizao, possui uma essncia estratgica. Cultura, meios de comunicao e tecnologias representam, hoje, a estratgia mais eficiente de ocupao humana dos espaos do planeta (PERUZZOLO, 2006, p. 343).

    O pensador francs Dominique Wolton (2004), em sua obra Pensar a Comunicao, realiza uma reflexo sobre as relaes entre comunicao e sociedade, dando trs sentidos principais para a comunicao: a comunicao direta, a comunicao tcnica e a comunicao social. A definio para cada um desses trs sentidos de comunicao se assemelha em partes com o pensamento de Peruzzolo (2006), que estamos endossando neste trabalho. Como comunicao direta, Wolton (2004) define:

    A comunicao , antes de mais nada, uma experincia antropolgica fundamental. Do ponto de vista intuitivo, comunicar consiste em compartilhar com o outro. Simplesmente no h vida individual e coletiva sem comunicao. E o que caracteriza cada experincia pessoal, como a de qualquer sociedade, definir regras de comunicao. No h seres humanos sem sociedade, como no h sociedade sem comunicao. E por isso que a comunicao , ao mesmo tempo, uma realidade e um modelo cultural [grifos do autor] (WOLTON, 2004, p. 30).

    Em relao aos outros dois sentidos conceituados por Wolton (2004, p.30-31) para a comunicao, a tcnica e a social, o autor define a comunicao tcnica como um conjunto de tcnicas que quebrou as condies ancestrais da comunicao direta, substituindo-a pelo reino da comunicao a distncia (mediatizada pelas tcnicas telefone, televiso, rdio, informtica, telemtica...). E como comunicao social o autor define a necessidade social funcional da comunicao para as economias interdependentes, em que os sistemas tcnicos, dos computadores s redes e aos satlites, so necessidades funcionais para as sociedades.

    Peruzzolo (2006) traz um detalhado estudo a respeito dos modos de organizao e evoluo do fenmeno cultural da comunicao na histria social. A anlise do autor desenvolvida segundo trs grandes paradigmas da comunicao humana: a comunicao nas organizaes humanas (quando ainda no havia o alfabeto); as comunicaes desenvolvidas pelas sociedades da escrita e, depois, pelas sociedades tecnolgicas.

    Pensada ecologicamente a partir da expresso e organizao da vida, a comunicao se desenvolve progressivamente sobre diferentes paradigmas: pr-oral e oral, que definem os modos da comunicao quando ainda no havia a escrita; da escritura e da tipografia, o tempo do desenvolvimento e domnio da letra; da difuso

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    tecnolgica e da comunicao ciberespacial que so as bases e a essncia das comunicaes atuais (PERUZZOLO, 2006, p. 186).

    O resgate histrico e antropolgico que o autor traz desde a comunicao nas sociedades grafas, passando pelos paradigmas pr-oral, oral, da escritura, tratando da comunicao nas sociedades tipogrficas, depois nas sociedades tecnolgicas, passando pela cultura das mdias at o paradigma da comunicao ciberespacial, alm de nos possibilitar o conhecimento sobre diversos dados da cultura e histria social do homem, possibilita observar a intrnseca relao entre tecnologia e comunicao. Tecnologia no s a inveno de um instrumental fsico operacional, tambm o movimento de uma mudana no fazer humano e no seu pensamento (PERUZZOLO, 2006, p.260).

    Desse modo, a concreta forma de organizao do fenmeno cultural da comunicao passa a ser representada pelos meios de comunicao social (jornal impresso, rdio e televiso), que mais tarde, com o desenvolvimento das tecnologias de comunicao e informao, e o surgimento de outras mdias, vo configurar a denominao de comunicao miditica, como veremos mais adiante.

    Os meios de comunicao social se constituem em tipos de materialidades que mediam a comunicao humana por meio da tecnologia. A tecnologia, por sua vez, um modo de organizao da sociedade. O uso da tecnologia pelos meios de comunicao pode ser pensado por dois modos principais, o econmico (macrossocial) e o simblico (microssocial). A forma de pensar o uso da tecnologia pelo econmico enfatiza a insero dos meios de comunicao social como meios de comunicao de massa, abordando principalmente a respeito do uso destes pelo sistema capitalista para a disseminao da chamada indstria cultural (converso da cultura em mercadoria), conceito este difundido pelos pensadores da Escola de Frankfurt, os quais enfatizam a influncia socializadora das empresas de comunicao (RDIGER, 2001).

    Pensar o uso da tecnologia pelo seu aspecto econmico (macrossocial) significa preocupar-se com o rpido desenvolvimento do capitalismo e das tecnologias de informao e comunicao que intensificam o modo de organizao e estruturao social. Octavio Ianni (2003), no artigo O prncipe eletrnico, descreve uma transio de como expressa a vontade poltica da nossa sociedade no decorrer da histria, ou seja, a metamorfose do Prncipe de Maquiavel. Em Maquiavel o prncipe uma pessoa, uma figura poltica, um lder que deve atuar com virtude e fortuna. J para Gramsci, o moderno prncipe j no mais uma pessoa, mas uma organizao social. Embora tanto em Maquiavel como em Gramsci sejam trabalhadas as categorias de hegemonia e soberania. O agora, o prncipe eletrnico realiza e

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    ultrapassa as atividades dessas duas figuras clssicas da poltica. Ele simboliza toda a sociedade e o seu rpido desenvolvimento tecnolgico, nas diversas instncias do saber, por meio das mdias.

    J o modo de pensar o uso da tecnologia na comunicao pelo simblico (microssocial) enfatiza este uso como um modo organizado de representar o simblico e estabelecer a relao de comunicao. Este pensamento que pode ser claramente representado pela teoria de Peruzzolo (2008) nos diz que a tecnologia que entra na cultura tem por finalidade expandir as sensorialidades humanas. Desse modo, a virtualidade uma tecnologia com a capacidade de expandir as nossas formas vivenciais.

    Claramente, os meios tecnolgicos impem distanciamentos no encontro com o outro, mas essa realidade no determinada pela tecnologia desses meios modernos de comunicao e, sim, pela natureza do pensamento projetivo (memria do futuro) que libertou as formas de sobrevivncia do hominida da dependncia exclusiva do seu cdigo gentico. Em outras palavras, da natureza simblica do homem o operar no diferimento dos termos da relao (PERUZZOLO, 2006, p.182-183).

    Esse modo de pensar o uso da tecnologia na comunicao pelo simblico , a nosso ver, o que melhor pode contribuir para possibilitar o entendimento a respeito da complexidade de relaes oriundas das realidades virtuais (realidades simuladas nas mdias e nas novas tecnologias). Isto porque importante pensar o uso que o homem faz das mdias e das novas tecnologias, ou melhor, que tipo de realidade e de comunicao se configura pelo uso destas, e no o que estas fazem com o homem. Com isso, a seguir elucidamos a respeito da passagem da comunicao miditica midiatizada, sendo que nesta ltima a presena de estratgias discursivas de autorreferencialidade se torna explcita.

    1.2 A passagem da comunicao miditica midiatizada

    A comunicao miditica teve incio com a introduo de recursos tecnolgicos para ampliar a comunicao. Assim sendo, a partir do momento em que o homem iniciou a desenvolver meios tcnicos para aumentar, massificar a ao de comunicao, ele j estava desenvolvendo a comunicao miditica, ou seja, desde o mundo ocidental moderno, a partir do sculo XV, com a impresso de Gutenberg (cerca de 1450 d.C), poca em que a comunicao mais se desenvolveu no mbito tecnolgico (BRIGGS & BURKE, 2004). A

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    comunicao miditica se desenvolveu de modo correlato com o fenmeno da globalizao16. Como nos coloca Thompson (2008), as origens da globalizao podem remontar expanso do mercantilismo ao longo dos sculos XV e XVI, sendo que foi nos sculos XVII, XVIII e XIX que o processo de globalizao gradualmente se firmou e adquiriu caractersticas que persistem atualmente. Desse modo, todo o desenvolvimento de tecnologias de informao e comunicao se desenvolveu de modo correlato ao processo de globalizao, estando a includos diversos interesses sociais, econmicos, polticos e inclusive culturais. importante destacarmos essa perspectiva porque partimos desse marco referencial para entendermos como se configura hoje a realidade das mdias.

    Consideramos necessrio marcar a mudana de concepes a respeito da comunicao miditica, que passa a ser entendida pelo atual processo denominado de midiatizao. Inicialmente, para situar o que entendemos por comunicao miditica, partimos da concepo de Rodrigues (1997), para o qual a mdia, assim como um espelho, reflete a realidade na medida em que desempenha funes essencialmente simblicas, na medida em que assegura, ao mesmo tempo, o funcionamento dos dispositivos de representao e reflete, como um espelho, os diferentes domnios de experincia. Para o autor nos processos comunicacionais representados pelas mdias cada um dos actores assim, ao mesmo tempo, tambm espectador, na medida em que a visibilidade do desempenho dos papis inseparvel do espetculo que os actores do inevitavelmente de si (RODRIGUES, 1997, p. 26).

    Para enfatizarmos a mudana dessa concepo trazida por Rodrigues (1997), observamos a contribuio de Vern (2004, p.277) que diferencia as sociedades miditicas das sociedades midiatizadas em dois perodos das sociedades industriais. Para ele, o primeiro perodo o das sociedades miditicas, que so sociedades industriais em que os meios de comunicao de massa foram progressivamente instalados. J o segundo perodo o das sociedades industriais midiatizadas, em que as prticas institucionais de uma sociedade miditica se transformam em profundidade.

    Vern (1997, 2004) j h algum tempo tem se dedicado a estudar o processo de midiatizao, como podemos observar em seu Esquema para el analisis de la mediatizacin (1997), pelo qual possvel identificarmos as inter-relaes entre os diversos campos sociais

    16 Por globalizao, nosso entendimento est de acordo com o que nos coloca Thompson (2008, p.135), para o

    qual a globalizao envolve mais do que a expanso de atividades alm das fronteiras de estados nacionais particulares. Globalizao surge quando (a ) atividades acontecem numa arena que global ou quase isso (e no apenas regional, por exemplo); (b) atividades so organizadas, planejadas ou coordenadas numa escala global; e (c) atividades envolvem algum grau de reciprocidade e interdependncia, de modo a permitir que atividades locais situadas em diferentes partes do mundo sejam modeladas umas pelas outras.

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    (ns estamos utilizando sistemas) instituies, o campo dos meios de comunicao (mdias), e dos atores individuais.

    Na Figura 1 podemos examinar a produo dos processos de midiatizao por meio de quatro zonas de afetao: as relaes entre instituies e as mdias (C 1), as relaes entre os indivduos e as mdias (C 2), as relaes entre indivduos e instituies (C 3), e tambm o modo como as mdias afetam as relaes entre as instituies e os indivduos e so tambm afetados por estes (C 4). Apesar de no esquema a mdia estar centralizada importante ressaltar que essas relaes no esto centralizadas pelas mdias, mas sim que esto organizadas de modo a afetarem-se mutuamente.

    Figura 1 - Esquema para el analisis de la mediatizacin. In: VERN (1997).

    Assim como Vern (1997, 2004), Sodr (2002) tambm se refere midiatizao. Para Sodr (2002), diferentemente de Rodrigues (1997), o meio simula o espelho e a mdia constitui um condicionador daquilo que diz refletir. Assim, nesta concepo, a mdia no deve ser vista como refletora do que acontece na realidade, mas deve ser entendida como um ordenamento cultural da sociedade em que as imagens deixam de ser reflexos e mscaras de uma realidade referencial para se tornarem simulacros tecnicamente auto-referentes (SODR, 2002, p.22).

    Antnio Fausto Neto (2006) tambm compartilha com o conceito de midiatizao, ao considerar que os fenmenos atuais relacionados com as mdias, tenham passado pela transformao das sociedades miditicas em midiatizadas, as quais ele diferencia:

    Na primeira, as mdias representavam um lugar de interao dos demais campos sociais, inclusive o da poltica. Na segunda, as mdias se constituem em um aspecto de uma complexa ordem e cultura que d origem a uma ambincia que tecida e

    C

    1 2

    Actores individuales Medios Instituciones

    C

    C 4 C

    3

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    estruturada pelo trabalho das linguagens, engendrando-se uma nova maneira de funcionar das diferentes prticas das instituies (FAUSTO NETO, 2006, p.159).

    Essa ambincia da sociedade midiatizada de que discute Fausto Neto (2006) se assemelha tecnomediao, de que fala Sodr (2002). Este ltimo situa a mdia contempornea na esfera das relaes sociais moldadas pela cultura tecnolgica, a tecnocultura, sendo esta constituda pelo mercado e pelos meios de comunicao, que formam o quarto bios, o bios miditico, que implica uma reconfigurao do mundo (SODR, 2002, p.27-28). Para o autor, esse quarto bios uma nova forma de vida regida pela tecnocultura que implica em uma transformao nas formas tradicionais de socializao, nas formas de ver e de ser visto, nos hbitos e nos costumes. Em obra mais recente, intitulada As estratgias sensveis: afeto, mdia e poltica (SODR, 2006a), o autor aprofunda a anlise desse novo bios e a influncia deste na formao do capital humano dessa sociedade midiatizada capitalista. Para ele as estratgias sensveis desse bios midiatizado se referem aos jogos de vinculao dos atos discursivos s relaes de localizao e afetao dos sujeitos no interior da linguagem (SODR, 2006a, p. 10). Assim, para Sodr (2006, p. 11) a dimenso do sensvel implica uma estratgia de aproximao das diferenas, decorrentes de um ajustamento afetivo, somtico, entre partes diferentes num processo.

    O atual processo de midiatizao que afeta os diversos sistemas sociais e, inclusive as prprias mdias, alterando os modos de relacionamento entre os comunicantes que atuam nesses sistemas, e aumentando o grau de complexidade destas relaes, que nos impulsiona para a necessidade de pensar a comunicao, partindo da sua natureza antropolgica, para procurar entend-la nesta nova ambincia midiatizada.

    Para Muniz Sodr (2002, p.259) a questo fundamental de uma cincia da comunicao (...) implica, em termos prticos, pensar no midiaticamente (...) e pesquisar os caminhos polticos de abertura existencial para o homem contemporneo.... Ou seja, em meio a sociedade midiatizada necessrio valorizar a comunicao humana, como refora Wolton:

    Nenhuma tcnica de comunicao, por mais eficiente que seja, jamais alcanar o nvel de complexidade e de cumplicidade da comunicao humana. Em outras palavras, existe uma margem de manobra, uma capacidade crtica que no poder jamais ser destruda, porque ela tem suas razes na dimenso antropolgica da comunicao... (WOLTON, 2004, p. 35).

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    O que at aqui conceituamos como midiatizao, seguindo principalmente o pensamento de Sodr (2002), Vern (2004) e Fausto Neto (2006), se assemelha ao que Peruzzolo (2006) define como cultura das mdias, conceituada por ele como modos relacionais que so consagrados como modelos de relacionamento com o outro, ou seja, modos de ser que so aceitos e ajustados para o estabelecimento da vida social humana, tendo nos meios de comunicao social a sua fora. Para esta questo Peruzzolo (2006) refora a inter-relao comunicao-cultura-tecnologia:

    Nesse sentido, a questo, por vezes colocada, sobre o que o meio de comunicao e as novas tecnologias fazem com a sociedade, nos parece uma questo posta pelo avesso. Pertinente refletir como as distintas instncias sociais se valem das comunicaes miditicas, pois a mdia no est fora da sociedade. Ela no somente parte integrante da vida social quanto exatamente a sua dinmica. (PERUZZOLO, 2006, p. 181).

    Assim, consideramos equivocado, por exemplo, afirmar que as mdias influenciam ou impem o consumo exagerado de bens materiais (por meio de propagandas, por exemplo), pois cada ser humano que faz uso das mdias s ir consumir esses bens se considerar que aquilo que est sendo publicizado faz sentido pra ele. Alm disso, se formos considerar a possibilidade de que a propaganda possa impulsion-lo ao consumo, esse tipo de produto miditico nada mais do que uma representao da nossa sociedade capitalista, da nossa cultura, que h muitos sculos tem valorizado a questo econmica, do consumo de bens, em detrimento de outros valores importantes para o desenvolvimento humano, como o conhecimento.

    Desse modo, queremos resguardar esse vis de pensamento que valoriza a comunicao humana (simblica) em detrimento dos aspectos tecnolgico e econmico, muito embora tenhamos que admitir que estes dois ltimos esto interpelados no processo de midiatizao e, por isso, as prprias mdias, em especial a jornalstica, se valem de estratgias discursivas para preservarem os seus lugares de construtoras da realidade. Assim sendo, a seguir apresentamos o embasamento terico da autorreferencialidade proposto por Niklas Luhmann, o qual contribui para o entendimento da produo discursiva nas mdias jornalsticas.

    1.3 As estratgias de autorreferencialidade como a realidade das mdias no contexto midiatizado

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    Para explicar o fenmeno da autorreferencialidade nas mdias, utilizamos a base da teoria de Niklas Luhmann (2005) a respeito da realidade dos meios de comunicao17. E, com a ajuda do tradutor e pesquisador de Luhmann Ciro Marcondes Filho18 (2004), realizamos uma breve sntese do pensamento luhmanniano, direcionando-o para as questes desta pesquisa.

    Marcondes Filho (2004) explica que o pensamento luhmanniano primeiramente considera que as teorias de comunicao pecam em supor o processo comunicacional como uma transferncia de informao, uma vez que comunicar no desfazer-se de nada, mas, antes, um processo multiplicador. Em segundo lugar, derivado ainda da hiptese da transmisso, as teorias clssicas de comunicao supem que se possa conhecer o estado interno dos que participam do processo comunicacional, e isso Luhmann (apoiado em Maturana) considera que no possvel, pois todos somos sistemas autopoiticos fechados. Por fim, em terceiro lugar, o socilogo refuta a concepo de que o ato de comunicar ocorra na simultaneidade do comunicar e do entender: a escrita j estabelecia um processo comunicacional sem considerao da simultaneidade (MARCONDES FILHO, 2004, p. 461).

    Na concepo de Luhmann (2005) a realidade dos meios de comunicao consiste em suas prprias operaes e em mostrar para os outros essa realidade operacional como sendo a realidade social. Obviamente que a teoria de Luhmann no simples assim, at porque ele parte de uma teoria dos sistemas extremamente singular, diferenciada dos tericos tradicionais dessa corrente, assim como tambm refuta todas as teorias de comunicao anteriores. Assim, conforme Marcondes Filho (2004) o pensamento luhmanniano pode ser sintetizado num modelo de sistemas fechados, com margem de indeterminao:

    cada sistema fechado diante do contexto exterior, est isolado dele, e realiza internamente duas operaes bsicas para sua manuteno: o fechamento operacional e o acoplamento estrutural. Esta seria sua dimenso ontolgica. Ela precisa, contudo, ser contrabalanada pela contingncia: a provisoriedade da observao [grifos do autor] (MARCONDES FILHO, 2004, p.426-427).

    17 Luhmann (2005) usa meios de comunicao e recusa o termo mdia porque para ele meios de

    comunicao mantm relao com o termo medium, no plural media (meios) e possui ligao com a origem dos processos comunicacionais, ou seja, a comunicao o medium e os diversos suportes comunicacionais os media. Entretanto, neste estudo consideramos similares meios de comunicao e mdia/mdias, por isso, utilizaremos apenas o termo meio de comunicao quando nos referirmos a teoria de Luhmann. 18

    Marcondes Filho (2002, 2004) tambm procura elaborar uma nova Teoria da Comunicao, partindo do campo filosfico primeiramente, para s depois relacionar aos campos da lingustica, semiologia, semitica e das teorias gerais de smbolos. Esse pensamento j foi lanado em duas obras (O espelho e a mscara. O enigma da comunicao e o caminho do meio: Nova teoria da comunicao I. So Paulo/Itu, Discurso/Uniju, 2002; e O escavador de silncios. Formas de construir e desconstruir sentidos na Comunicao: Nova teoria da comunicao II. So Paulo: Paulus, 2004. A terceira obra ainda no foi lanada).

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    O fechamento operacional luhmanniano no rgido, mas flexvel e sujeito a imprevisibilidades. Os processos bsicos que ocorrem no interior do sistema so a auto-organizao (onde ocorre a construo de estruturas responsveis pela auto-reproduo do prprio sistema), e a autopoiese (determina o estado seguinte do sistema). J o acoplamento estrutural se refere s relaes de um sistema fechado com o mundo circundante, onde cada sistema possui um equipamento voltado produo de irritaes no interior do sistema, em que este seleciona uma pequena parte do ambiente e por este corte viabiliza o acoplamento. A existncia de um mundo externo provoca irritaes no sistema; irritaes essas que sero transformadas em informaes e tornar-se-o estruturas (MARCONDES FILHO, 2004, p.428). Essas irritaes so remetidas s estruturas se tiverem relao com as expectativas do sistema, a partir destas que a autopoiese reage. Se for do interesse do sistema ela ir se atualizar pela autopoiese, conforme esquema da Figura 2:

    Figura 2 Esquema bsico de Luhmann (MARCONDES FILHO, 2004, p. 428).

    Nesse esquema possvel observar que alm das operaes de fechamento operacional e de acoplamento estrutural, o sistema realiza uma terceira operao, que a observao. No sistema luhmanniano a observao consiste em escolher, ou seja, fazer uma seleo, por isso tambm uma operao. Como explica Marcondes Filho:

    Observar igualmente uma atividade interna dos sistemas, no nenhum acesso a uma realidade exterior. O observador no nenhuma pessoa (um sistema psquico ou uma conscincia): num ambiente de aula, por exemplo, no nem o professor, nem os alunos, mas a interao entre ambos que os observa, um entre-meio, essa

    Fechamento Operacional

    OPERAO OBSERVAO

    Observao de

    Segunda Ordem

    seleo pelo sistema

    Acoplamento Estrutural

    irritaes / acontecimentos

    informaes

    estruturas estruturas

    Auto-organizao Autopoiese

    memria expectativas complexidade (deformao)

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    dinmica especfica do social que est entre os sujeitos, independente das pessoas, ela que observa [grifos do autor] (2004, p. 429).

    A observao se d por um modo especfico de operao apoiado na diferenciao, no sentido de a cada construo separar o que sistema do que mundo externo19, o que Marcondes Filho (2004) traduz por procedimentos de caracterizao e diferenciao, sendo essas construes sucessivas que constroem a complexidade, e justificam o sentido luhmanniano de comunicao: a capacidade de sistemas observarem e de se observar sua observao. nessa dupla operao que os sistemas vivem e sobrevive