da precariedade laborai à falta de estratégia política · da precariedade laborai à falta de...

3
31-07-2020 " 1/ ti RUI CUNHA VIANA . Sem título (2016) CULTURA Da precariedade laborai à falta de estratégia política A pandemia veio expor as feridas da precariedade generalizada no sector das artes, da suborçamentação crónica e da ausência de estratégia nas políticas culturais. E intensifica duas necessidades, a do investimento público e a da organização colectiva do sector, em defesa de direitos laborais elementares. AMARÍLIS FELIZES * e sde quatro meses, milhares de trabalhadoras e trabalhadores do sector da cultura vivem com gran- des dificuldades. Se cumpriram os critérios, contam com o parco apoio da Segurança So- cial para os trabalhadores independentes (a maioria dos casos fica abaixo do limiar da pobreza, entre 219 euros e 438 euros men- sais); se não, restam-lhes a sua própria rede de cuidados ou o apoio dos grupos de volun- tários que recolhem e distribuem bens de primeira necessidade. As actividades culturais e artísticas, por se- rem destinadas à fruição pública e colectiva, envolveram grandes equipas ou necessita- rem de contacto fisico, entraram em parali- sação mais cedo, e esta será mais prolongada e mais abrangente do que noutros sectores. Contudo, a severidade dos efeitos sociais da pandemia no sector da cultura deve-se à ge- neralizada ausência de segurança laborai. Saltam-nos agora aos olhos as consequên- cias de uma história de más práticas. Os vín- culos laborais ilegais, a generalização dos re- cibos verdes para todas as tarefas e a falta de um regime de protecção social adequado à intermitência (isto é, ao trabalho por perío- dos curtos, para empregadores diferentes, alternados com períodos de paragem) de- terminam a precariedade da vida de quem, acima de tudo, recebe sempre muito pouco pelas coisas extraordinárias que faz. Aqui, falharam sempre as políticas laborais e cul- turais e falharam as instituições públicas, ao manterem no seu seio as piores práticas. Quando a pandemia determinou o can- celamento dos projectos em que milhares de pessoas iam trabalhar, o chão fugiu-lhes dos pés. Segundo o Sindicato dos Traba- lhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos - CENA-STE, 98% dos profis- sionais das artes tiveram trabalhos cance- lados. Não se tratou do esquema habitual da insegurança, que se contorna com uma perninha no sector da hotelaria, restaura- ção ou comércio, mas sim de uma devasta- ção total de perspectivas, levada a cabo pela paralisação e pela incerteza. A resposta política foi desastrosa. Al- gumas autarquias, instituições públicas e instituições privadas (mas que depen- dem de financiamento público), trataram de cancelar espectáculos e projectos, sem garantir qualquer rendimento a quem ne- les ia trabalhar Em muitos casos, dispen- saram também trabalhadores pagos com falsos recibos verdes ou através de falso outsourcing, mas indispensáveis ao fun- cionamento diário das instituições, como os assistentes de sala, o pessoal das bilhe- teiras, as equipas da formação e mediação nos serviços educativos, e as áreas de ma- quinaria, som, luz e vídeo. Logo em Março, num jornal local, podia ler-se que uma autarquia iria utilizar o di- nheiro destinado aos eventos culturais para comprar material de protecção do vírus. «Verbas dos eventos vão ajudar no combate à pandemia COVI D-19» era o título da notí- cia em que era possível ler-se o orgulho do autarca nas entrelinhas das suas declara- ções [1] . A indignação foi notada, mas foram necessárias três revisões ao decreto-lei que tratou dos cancelamentos para que, em Maio, passasse a ser obrigatório as institui- ções públicas pagarem metade dos cachês dos projectos cancelados. Apesar disso, mui- tas autarquias continuam a ignorar a lei e a encarar a paralisação como uma oportuni- dade para se furtarem aos compromissos assumidos e pouparem algum dinheiro. No que toca às actividades sem qualquer aporte público, um cancelamento traz constrangi- mento financeiro evidente, que em todo o caso deverá ser compensado com eventuais resultados positivos passados para proteger trabalhadores. Mas nas actividades das ins- tituições públicas ou com financiamento pú- blico as contas são outras. Estas instituições têm transferências fixas e é com base nisso que desenham os seus orçamentos. Tiveram perdas de receita, mas também fizeram pou- panças. Por isso, a decisão de não pagar uma actividade ou dispensar um trabalhador é inaceitável. Por isso os despedimentos na Casa da Música e em Senalves geraram per- plexidade. Tais práticas se explicam à luz do quadro de uma hegemonia ideológica da flexibilização laborai que os «donos da cul- tura» subscrevem, mas para os subordi- nados. O cinismo chega ao ponto de justifi- carem as faltas de solidariedade com o facto de as pessoas dispensadas poderem vir a ter apoio social. Ora, esse apoio nunca foi uma resposta à altura. Apoios exíguos e atrasados Quando as medidas extraordinárias de apoio aos trabalhadores independentes co- meçaram a ser implementadas, não foi es- tabelecido um valor mínimo, e muitos tra- balhadores receberam menos de 100 eu- ros mensais. Também nesta primeira fase, os critérios de acesso deixavam de fora quem tinha tido contribuições intermiten- tes para a Segurança Social nos últimos me- ses, ou quem estava no ano de isenção de contribuições. O governo foi respondendo à contestação a estas insuficiências. Insti- tuiu valores mínimos para o apoio, ainda que permanecessem abaixo do limiar da pobreza; incluiu alguns grupos excluídos; e, no Orçamento Suplementar, no que toca aos trabalhadores da cultura a recibos ver- des, decidiu atribuir um apoio social adicio-

Upload: others

Post on 05-Oct-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Da precariedade laborai à falta de estratégia política · Da precariedade laborai à falta de estratégia política A pandemia veio expor as feridas da precariedade generalizada

31-07-2020

"1/

ti

RUI CUNHA VIANA . Sem título (2016)

CULTURA

Da precariedade laborai à falta de estratégia política

A pandemia veio expor as feridas da precariedade generalizada no sector das artes, da suborçamentação crónica e da ausência de estratégia nas políticas culturais. E intensifica duas necessidades, a do investimento público e a da organização colectiva do sector, em defesa de direitos laborais elementares.

AMARÍLIS FELIZES *

e sde há quatro meses, milhares de trabalhadoras e trabalhadores do sector da cultura vivem com gran-

des dificuldades. Se cumpriram os critérios, contam com o parco apoio da Segurança So-cial para os trabalhadores independentes (a maioria dos casos fica abaixo do limiar da pobreza, entre 219 euros e 438 euros men-sais); se não, restam-lhes a sua própria rede de cuidados ou o apoio dos grupos de volun-tários que recolhem e distribuem bens de primeira necessidade.

As actividades culturais e artísticas, por se-rem destinadas à fruição pública e colectiva, envolveram grandes equipas ou necessita-rem de contacto fisico, entraram em parali-sação mais cedo, e esta será mais prolongada e mais abrangente do que noutros sectores. Contudo, a severidade dos efeitos sociais da pandemia no sector da cultura deve-se à ge-neralizada ausência de segurança laborai.

Saltam-nos agora aos olhos as consequên-cias de uma história de más práticas. Os vín-culos laborais ilegais, a generalização dos re-cibos verdes para todas as tarefas e a falta de um regime de protecção social adequado à intermitência (isto é, ao trabalho por perío-dos curtos, para empregadores diferentes, alternados com períodos de paragem) de-terminam a precariedade da vida de quem, acima de tudo, recebe sempre muito pouco pelas coisas extraordinárias que faz. Aqui, falharam sempre as políticas laborais e cul-turais e falharam as instituições públicas, ao manterem no seu seio as piores práticas.

Quando a pandemia determinou o can-celamento dos projectos em que milhares de pessoas iam trabalhar, o chão fugiu-lhes dos pés. Segundo o Sindicato dos Traba-lhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos - CENA-STE, 98% dos profis-sionais das artes tiveram trabalhos cance-lados. Não se tratou do esquema habitual da insegurança, que se contorna com uma perninha no sector da hotelaria, restaura-ção ou comércio, mas sim de uma devasta-ção total de perspectivas, levada a cabo pela paralisação e pela incerteza.

A resposta política foi desastrosa. Al-gumas autarquias, instituições públicas

e instituições privadas (mas que depen-dem de financiamento público), trataram de cancelar espectáculos e projectos, sem garantir qualquer rendimento a quem ne-les ia trabalhar Em muitos casos, dispen-saram também trabalhadores pagos com falsos recibos verdes ou através de falso outsourcing, mas indispensáveis ao fun-cionamento diário das instituições, como os assistentes de sala, o pessoal das bilhe-teiras, as equipas da formação e mediação nos serviços educativos, e as áreas de ma-quinaria, som, luz e vídeo.

Logo em Março, num jornal local, podia ler-se que uma autarquia iria utilizar o di-nheiro destinado aos eventos culturais para comprar material de protecção do vírus. «Verbas dos eventos vão ajudar no combate à pandemia COVI D-19» era o título da notí-cia em que era possível ler-se o orgulho do autarca nas entrelinhas das suas declara-ções[1]. A indignação foi notada, mas foram necessárias três revisões ao decreto-lei que tratou dos cancelamentos para que, já em Maio, passasse a ser obrigatório as institui-ções públicas pagarem metade dos cachês

dos projectos cancelados. Apesar disso, mui-tas autarquias continuam a ignorar a lei e a encarar a paralisação como uma oportuni-dade para se furtarem aos compromissos assumidos e pouparem algum dinheiro. No que toca às actividades sem qualquer aporte público, um cancelamento traz constrangi-mento financeiro evidente, que em todo o caso deverá ser compensado com eventuais resultados positivos passados para proteger trabalhadores. Mas nas actividades das ins-tituições públicas ou com financiamento pú-blico as contas são outras. Estas instituições têm transferências fixas e é com base nisso que desenham os seus orçamentos. Tiveram perdas de receita, mas também fizeram pou-panças. Por isso, a decisão de não pagar uma actividade ou dispensar um trabalhador é inaceitável. Por isso os despedimentos na Casa da Música e em Senalves geraram per-plexidade. Tais práticas só se explicam à luz do quadro de uma hegemonia ideológica da flexibilização laborai que os «donos da cul-tura» subscrevem, mas só para os subordi-nados. O cinismo chega ao ponto de justifi-carem as faltas de solidariedade com o facto de as pessoas dispensadas poderem vir a ter apoio social. Ora, esse apoio nunca foi uma resposta à altura.

Apoios exíguos e atrasados

Quando as medidas extraordinárias de apoio aos trabalhadores independentes co-meçaram a ser implementadas, não foi es-tabelecido um valor mínimo, e muitos tra-balhadores receberam menos de 100 eu-ros mensais. Também nesta primeira fase, os critérios de acesso deixavam de fora quem tinha tido contribuições intermiten-tes para a Segurança Social nos últimos me-ses, ou quem estava no ano de isenção de contribuições. O governo foi respondendo à contestação a estas insuficiências. Insti-tuiu valores mínimos para o apoio, ainda que permanecessem abaixo do limiar da pobreza; incluiu alguns grupos excluídos; e, no Orçamento Suplementar, no que toca aos trabalhadores da cultura a recibos ver-des, decidiu atribuir um apoio social adicio-

Page 2: Da precariedade laborai à falta de estratégia política · Da precariedade laborai à falta de estratégia política A pandemia veio expor as feridas da precariedade generalizada

31-07-2020

nal, criando aquela que é a medida mais re-levante para quem trabalha no sector.

Contudo, os valores continuam a ser in-suficientes. Em finais de Junho, há muitos que esperam ainda por uma resposta aos pedidos que não foram processados auto-maticamente e ficaram em análise. Esta de-mora é inaceitável quando falamos de uma medida que se diz de urgência, em resposta a uma situação de emergência, e que te-ria de ter um procedimento expedito. São também de lamentar as decisões de inde-ferimento, com justificações lacónicas, que nada dizem sobre as situações concretas, como já vem sendo hábito nos procedimen-tos da Segurança Social.

Fora do âmbito da protecção social, as medidas que foram sendo divulgadas pelo Ministério da Cultura vieram confirmar o desnorte, o carácter errático e o espírito voluntarista que caracterizam não só a ac-ção da ministra Graça Fonseca, mas toda a história das políticas culturais em Portugal. Tudo é esporádico, num contexto em que o orçamento nunca chega para implementar qualquer estratégia. Acumulam-se os pro-jectos-piloto, e a recuperação de um monu-mento ou a construção de uma biblioteca nunca faz parte de práticas continuadas, mas é sempre motivo de mobilização ex-cepcional de recursos, com a heróica inter-venção ad-hoc de um político.

A primeira medida de resposta à parali-sação na cultura foi a abertura de um con-curso para criação artística, erroneamente chamado «Linha de Apoio de Emergência às Artes», que abriu em Março. A verba -1 milhão de euros - nunca seria suficiente para acudir às necessidades; mesmo com um reforço de 700 mil euros, os resultados deixaram de fora grande parte dos projec-tos candidatos e, além disso, os projectos foram financiados com valores muito me-nores do que os que tinham sido apresen-tados a concurso. A cereja no topo deste bolo de inconsistências, que criou mais uma corrida de todos contra todos, é o facto de no final de Junho ainda não terem chegado verbas «de emergência» a ne-nhum dos projectos vencedores.

Depois foi apresentado o TV Fest - um fes-tival de música com os artistas escolhidos se-gundo um esquema em pirâmide, em que os primeiros músicos seleccionariam os músi-cos seguintes, estando no topo da pirâmide quatro artistas populares escolhidos pelo próprio Ministério, em parceria com a RTP. A contestação a este esquema foi tão forte que ofestival foi cancelado em poucos dias.

Surgiu também um programa de aquisi-ção de livros a editoras e livrarias indepen-dentes, cujos escassos 600 mil euros não pu-deram ter o alcance necessário, e uma liber-tação de 8,5 milhões de euros do saldo de gerência do Instituto do Cinema e do Audio-visual (ICA) para engrossar as verbas a dis-tribuir nos novos concursos, ou seja, sem ca-rácter de urgência

À revolta das trabalhadoras e dos traba-lhadores, contra a fragilidade em que se en-contravam, somava-se agora a fúria perante a falta ou a inadequação das respostas. Sur-giram diariamente cartas abertas, artigos de opinião e petições e formaram-se grupos in-formais de debate e acção solidária e reivin-dicativa As adesões às associações repre-sentativas do sector e aos sindicatos aumen-taram freneticamente. Em resposta, o Minis-tério anunciou a criação de um grupo de tra-balho para análise do regime laborai do sec-tor e para construção de novo estatuto para a intermitência. A ideia foi bem acolhida, mas, novamente, não se adequava à urgên-cia das vidas paralisadas, e as acções reivin-dicativas ganharam força As estratégias de viralizar gestos simbólicos nas redes sociais, como colocar a imagem de perfil em branco, ou divulgar a hashtag #unidospelopresente efuturodaculturaemportugal, tiveram re-conhecido sucesso. A reivindicação princi-pal de quem se organizava era muito clara: uma linha de emergência para apoiar direc-tamente quem perdeu rendimentos.

Não basta retornar a actividade

Com a aproximação de Junho, altura em que voltará a haver a possibilidade, em teo-ria, de realização das actividades culturais,

o Ministério simulou um diálogo com o sec-tor sobre as medidas para a retoma, mar-cada por ouvidos moucos e atropelos, con-tribuindo mais urna vez para a insurgência de quem sentia agora que estava a deixar de ser descartável para passara ser cobaia Che-gada a hora, assistiu-se a sucessivas tentati-vas de branqueamento da situação calami-tosa no sector, através das intervenções pú-blicas diárias da ministra da Cultura em va-riados eventos culturais, desenhados à me-dida da própria aparição, a prometer mila-gres. Contudo, a tentativa de simular que a possibilidade de abertura significa a retoma do sector esbarra contra as evidências. As medidas sanitárias têm um impacto finan-ceiro muito significativo nas artes do espec-táculo, porque acarretam aumento de des-pesas, seja na aquisição de materiais de pro-tecção, seja na contratação de pessoal, e le-vam a uma redução de receitas, uma vez que as regras de limitação de audiências geram perdas de bilheteira, e a pandemia cria difi-culdades de captação de público. Além disso, muitas estruturas e trabalhadores que le-vam a cabo trabalhos artístico-pedagógicos, com diferentes públicos, não podem reto-mar a sua actividade.

Provavelmente na sequência deste ra-ciocínio, ainda em Maio, foi anunciada uma nova medida, desta vez uma linha de 30 milhões de euros para as autarquias apli-carem em programação cultural. Parecia haver finalmente a intenção de recuperar o sector, não tivesse o anúncio coincidido com os relatos sobre a suspensão de vários projectos de um programa chamado «Cul-tura para Todos», de participação artística de comunidades excluídas, com financia-mento comunitário. O governo dá com uma mão e tira com a outra, sem nunca admitir ocancelamento do programa que já estava no terreno, dado que cabe a cada autarquia cancelar os projectos a ele afectados.

Especialmente atentos às sinuosidades de cada medida anunciada, e particularmente desconfortáveis com a ideia de se entrega-rem todos os fundos às autarquias, aquelas

[1] Cf. A Voz da Póvoa, 25 de Março de 2020.

mesmas que tinham descartado actividades culturais e trabalhadores sem mais nada, os profissionais da cultura intensificaram a sua pressão sobre o governo. A 4 de Junho tive-ram lugar grandes manifestações com uma impressionante demonstração de força e or-ganização do Sector.

No mesmo dia 4, no conselho de minis-tros em que se aprovou o Plano de Recupe-ração Económica, foram anunciadas mais três medidas para o sector das artes e da cultura. A mais relevante já foi referida: um apoio extraordinário da Segurança So-cial para os trabalhadores da cultura que se prevê que corresponda a cerca de 30 milhões de euros. As outras duas medidas são uma linha para a adaptação dos espa-ços culturais às novas necessidades de hi-giene e segurança, de 750 mil euros, e uma linha de apoio a equipamentos culturais in-dependentes, de 3 milhões de euros. Mas um mês depois ainda estão por conhecer as formas de acesso a estas linhas.

Nesta e noutras áreas, só .o aumento do investimento público poderá garantir a re-cuperação. Num sector em que paralisação caiu em cima de uma histórica fragilidade das estruturas de produção, muitas das quais prestam um serviço público num con-texto em que o orçamento para as políticas culturais é cronicamente insuficiente, não há volta atrás: só com investimento se pode al-cançar uma verdadeira abrangência estética, territorial e social das práticas culturais e ar-tísticas, ou seja, desenvolver o sector que os governos consideram estratégico, mas ape-nas nos discursos. Agora, mais do que nunca, as trabalhadoras e os trabalhadores da cul-tura não vão desistir desta ideia. A pandemia fez com que todo um sector de actividade parasse para olhar para si próprio. Quem fi-cou sem chão pôde reconhecer a falta que fa-zem todos os direitos laborais elementares que lhe são negados há anos, tal como pôde reconhecer a força de estar organizado. a

* Economista, produtora cultural e estudante do

Doutoramento Interdisciplinar em Economia Política

(15CTE/ISEG/FEUC).

Page 3: Da precariedade laborai à falta de estratégia política · Da precariedade laborai à falta de estratégia política A pandemia veio expor as feridas da precariedade generalizada

31-07-2020