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Aspectos da precariedade no emprego em Portugal, o caso dos trabalhadores pobreza Fernando Diogo, Centro de Estudos Sociais da Universidade dos Açores www.uac.pt/~fdiogo [email protected]

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Aspectos da precariedade no

emprego em Portugal, o caso

dos trabalhadores pobreza

Fernando Diogo, Centro de

Estudos Sociais da Universidade

dos Açores

www.uac.pt/~fdiogo

[email protected]

Introdução

Fala-se muito e sabe-se pouco sobre a precariedade no emprego;

A elaboração e avaliação das políticas de emprego não conta com conhecimento sobre esta temática.

Existem especificidades portuguesas, na lei e nas práticas que a importação acrítica de teorias feitas para outros contextos esconde.

2. A precariedade no emprego

Conceptualização do que é a

precariedade no emprego

Emprego precário opõe-se a emprego fixo,

sem termo, seguro.

Define-se, pois, a precariedade, por exclusão

de partes: é precário o que não é permanente

ou efectivo, o que sai fora da norma.

A pluralidade das formas de precariedade

Destacamos a precariedade tradicional;

Sem esquecer, a precariedade legal... E alguma

ilegal;

O emprego ameaçado e a precariedade subjectiva;

As novas formas intermédias entre emprego e

desemprego.

Trajectória de emprego em carrossel:

Há um recomeçar contínuo de um percurso profissional

Este percurso define-se mais pelas ausências do que por características próprias: • ausência de progressão salarial,

• ausência de um aumento das responsabilidades, ausência de um aumento do prestígio na organização associada à subida de mais um degrau na carreira,

• ausência do aumento da satisfação associado à ideia de progresso pessoal e às tarefas desempenhadas.

Objecção teórica a esta definição

(Glória Rebelo, 2002:76) :

Inclui formas de emprego que não são,

necessariamente precárias.

Exemplos: o auto-emprego e o trabalho a

tempo parcial, considerando que podem ser

opções com garantias sociais dentro da

norma.

Três objecções à objecção de

Glória Rebelo:

1º O carácter involuntário. Os indivíduos optam pelo emprego precário porque não têm melhor escolha.

2º A associação a baixos rendimentos e a uma redução dos direitos sociais dos trabalhadores, quando não mesmo à sua ausência (Rebelo, 2004:43, Duarte, 2009:44 e Dornelas et al., 2010:10).

3º Uma definição sofisticada de precariedade dificilmente será operacionalizável.

Os problemas metodológicos na medição da precariedade no emprego:

Comparações internacionais limitadas

Dificuldade de definir o que é a precariedade laboral

Reduzido número de estudos

Cifras negras

Taxas de emprego, % de contratos

a termo (EU 27)

12,3 12,4 12,3

12,7

13,3

14,0

14,4

14,0

13,5

14,5

11

11,5

12

12,5

13

13,5

14

14,5

15

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Fonte: Labour Force Survey (Eurostat)

Portugal, no contexto da União Europeia,

é o 3º país da União com uma maior percentagem de contratos temporários, um valor de 23.2%,

Com números superiores situam-se a a Espanha e a Polónia com 24.4% e 25.9%,

A média da EU fica-se pelos 13.2%

(fonte: Eurostat: 2010)

Quadro 1

% da população empregada em Portugal no regime de trabalho temporário,

relativamente ao total de empregados, no 1ºtrimestre de 2010

%

Total 23.2

Homens 22.6

Mulheres 23.9

15-24 55.0

25-49 23.0

50-64 10.9

Fonte: Eurostat (2010)

Contratos não permanentes

no total dos contratos, em %

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

Fonte: Pordata, 2010

Perfis dos trabalhadores precários em

Portugal:

Rebelo (2004:103 e 156), na sequência da

sua tese de doutoramento (Rebelo, 2001:277

e 338);

Centro de Estudos Territoriais do ISCTE

(2009).

Trajectórias de emprego em carrossel e precariedade volátil

41.9%, diz-se efectivo

Três quintos, tem empregos com formas diversificadas de precariedade.

• De entre estes, 22.7% encontram-se envolvidos nas formas mais extremas de precariedade, o trabalho ao dia ou à tarefa.

• Os trabalhadores a prazo representam apenas 14.8% do total.

Só 9.7% foram alguma vez promovidos

Em conclusão,

A precariedade no emprego é relevante na sociedade portuguesa

Assume características variadas e tem maior intensidade entre os mais pobres (mais afastados na norma e em grande número nessa situação)

A precariedade no emprego está associada ao subemprego

Uma análise diacrónica permite uma melhor compreensão dos processos de precariedade no trabalho

A construção e análise das políticas de emprego está limitada pelo desconhecimento deste processo social

Muito obrigado