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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM
ARTIGO CIENTÍFICO
A CULTURA AFRICANA NO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO (1890-1950)
Claudia Luciane Martinez Castellani
MARINGÁ 2009/2010
CLAUDIA LUCIANE MARTINEZ CASTELLANI
A CULTURA AFRICANA NO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO (1890-1950)
Artigo Científico, apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE, sob a orientação do professor Dr. Lupércio Antonio Pereira, do Departamento de História, da Universidade Estadual de Maringá.
Maringá 2010/2011
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A CULTURA AFRICANA NO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO (1890/1950)
Claudia Luciane Martinez Castellani1
Lupercio Antonio Pereira2
Resumo
O presente artigo discute a contribuição africana para a formação da cultura brasileira, através de alguns clássicos do pensamento brasileiro. Sabe-se que no pensamento social brasileiro existem outras visões sobre a contribuição do africano na formação cultural do Brasil. Assim, voltaremos aos clássicos do pensamento brasileiro que estudaram a questão africana em diferentes momentos de nossa história, como Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre. Essas leituras críticas dos clássicos proporcionaram uma visão bastante compreensiva das mutações operadas no pensamento brasileiro sobre a questão do negro no final do século XIX e primeira metade do século XX, fornecendo uma base mais sólida para a nossa interpretação dos novos estudos sobre cultura afro-brasileira produzidos a partir da segunda metade do século XX. Os trabalhos foram desenvolvidos com os alunos da 8ª série do Colégio Estadual “Professora Denise Cardoso de Albuquerque”, Ensino Fundamental e Médio de Flórida, Paraná. No decorrer dos trabalhos, observou-se a importância da contribuição do africano na formação cultural do Brasil, mostrando que as relações sociais e políticas se dão em um sentido que passa também pela criação de uma identidade cultural.
Palavras-chaves: Cultura; Africano; Brasil; Branco.
Abstract The present article discusses the African contribution the formation of the Brazilian culture, through of some classic Brazilian thoughts. It is known that in the Brazilian social thought there are other visions about the contribution of the African in the
1 Pós-graduação em História do Brasil pela FAFIMAN, Graduada em História pela FAFIMAN, atua no Colégio Estadual Professora Denise Cardoso de Albuquerque -Ensino Fundamental e Médio. 2 Graduado em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestrado em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo. Professor da Universidade Estadual de Maringá, onde atua como docente no ensino de graduação e de pós-graduação.
4 Brazilian cultural formation. Therefore, we will come back to the classics of the Brazilian thought that studied the African question in different moments in our history, like Nina Rodrigues, Arthur Ramos and Gilberto Freyre. This critical reading of the classics provide a sufficiently comprehensive point of view of the performed mutation in the Brazilian thought about the question of the African in the end of the XIX century and in the first half of the XX century, providing a solid base to our interpretation of the news studies about the Afro-Brazilian culture produced from the second half of the XX century. These assignments were developed with the students of eightieth series from the Cólegio Estadual. “Professora Denise Cardoso de Albuquerque”, Basic Education and High School from Flórida, Paraná. During the assignments we can see the value of the African contribution in the Brazilian cultural formation, showing that the social and political relations are in a given way that also pass by the creation of the cultural identity. Keywords: Culture; African; Brazil; Caucasian. Introdução
Existe uma História do povo negro sem o Brasil, mas não existe uma História do Brasil sem o povo negro. (Januário Garcia)
Em “Formação do Brasil Contemporâneo”, livro clássico que exerceu
extraordinária influência na cultura brasileira do século XX, o historiador Caio Prado
Junior minimizou a contribuição dos africanos na formação cultural do Brasil, ao
afirmar que a “contribuição do escravo preto [...] para a formação brasileira é além
daquela energia motriz [trabalho físico] quase nula. Não que deixasse de concorrer,
e muito, para a nossa cultura [...] mas antes é uma contribuição passiva [...] que uma
contribuição ativa e construtora”. E, mais adiante, acrescenta que o “cabedal de
cultura que traz consigo da selva [...] africana” é abafado ou deturpado pela dureza
do regime escravo, de modo que a cultura afro agiria “ mais como fermento corruptor
da outra cultura, a do senhor branco que se lhe sobrepõe”. Sabe-se que no
pensamento social brasileiro existem outras visões sobre a contribuição do africano
na formação cultural do Brasil.
Assim voltaremos aos clássicos do pensamento brasileiro que
estudaram a questão africana em diferentes momentos de nossa história, como Nina
Rodrigues, Arthur Ramos e Gilberto Freyre. Essas leituras críticas das clássicos
proporcionaram uma visão bastante compreensiva das mutações operadas no
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pensamento brasileiro sobre a questão do negro entre o final do século XIX e
primeira metade do século XX, fornecendo uma base mais sólida para a nossa
interpretação dos novos estudos sobre cultura afro-brasileira produzidos a partir da
segunda metade do século XX. Assim sendo, procuramos construir uma narrativa
didático-pedagógica, mostrando ao aluno que as relações sociais e políticas se dão
em um sentido que passa também pela criação de uma identidade cultural; com
isso, espera-se uma maior integração do conteúdo de História do Brasil e História e
Cultura Afro-Brasileira.
Esperamos colaborar com a ideia de que trabalhar História e Cultura
Afro-Brasileira possa ser um momento de crescimento na compreensão de nosso
papel, o papel de cada um na História, entender que não faremos História algum dia,
mas fazemos parte dela agora.
Desenvolvimento
Uma grande conquista que tivemos foi a promulgação da Lei 10.639,
de 09 de janeiro de 2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei 9.394/96, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Em seu parágrafo
primeiro, a nova Lei estabelece que o conteúdo programático a ser desenvolvido
pela escola deverá conter o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos
negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade
nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e
política pertinentes à História do Brasil. O estudo parte da análise e reflexão sobre a
presença do negro na sociedade brasileira, a influência da cultura como resultado do
processo histórico.
Ao conquistar a costa africana no século XV, os portugueses deram
início ao tráfico humano e à escravização dos negros, sendo essa uma atividade
extremamente lucrativa. Os povos africanos foram inseridos dentro do contexto do
mercantilismo português, em um sistema econômico baseado na mão-de-obra
escrava. Essas populações foram violentamente arrancadas de suas terras e
trazidas para o Brasil para servir de mão-de-obra em fazendas, plantações, cidades
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e minas. Ao longo dos séculos de história, a sociedade brasileira foi desenvolvendo
relações raciais complexas, embasadas no processo de escravização do negro.
Foram mais de três séculos de violência e exploração até os afro-
descendentes conseguirem a liberdade oficial. Essa liberdade foi carregada de
exclusão, não garantindo a integração social do negro na nova estrutura econômica
e política do país. Os ex-escravos e seus descendentes, apesar de libertos pela lei,
foram excluídos socialmente, abandonados à própria sorte e não se livraram da
discriminação racial, da marginalização social e da miséria. Segundo a expressão de
Florestan Fernandes.
(...) o negro foi estilhaçado pela escravidão tanto quanto pela pseudoliberdade e igualdade que conquistou posteriormente. (...) Negros e mulatos se viram condenados a ser o outro, ou seja uma réplica sem grandeza dos “brancos de segunda classe”. (FERNANDES, 1989, p.46).
Nessa nova perspectiva de se estudar as culturas africanas de modo
mais abrangente e não apenas ao processo de escravidão, destacando a África
como uma das principais mães da cultura brasileira, abrem-se espaços para
socializar experiências de grupo que até então tiveram sua memória dilapidada pela
historiografia tradicional e pela ideia positivista de educação que durante muito
tempo reinou em nossa nação.
O recorte histórico do período (1890/1950) nos remete à questão da
formação do Brasil como nação, e dentro deste projeto de nação, a participação e
contribuição dos povos (negros) formadores do povo brasileiro. Povos estes até
então desprovidos ou desmembrados de sua história enquanto povo.
Nesta questão, sem dúvida, as obras estudadas de Gilberto Freyre
“Casa Grande e Senzala”; Arthur Ramos, “As Culturas Negras no Novo Mundo”
e de Nina Rodrigues, “Africanos no Brasil”, nos revelam a alteridade no
pensamento social brasileiro desse período a respeito da influência cultural africana
em nossa sociedade.
Arthur Ramos, em sua obra “As Culturas Negras no Novo Mundo”,
nos conduz a uma reflexão, dizendo que precisamos em primeiro lugar saber fazer
uma discriminação prévia das origens de suas culturas, no campo da antropologia
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cultural e na psicologia social, adotando um critério que tem por finalidade corrigir os
métodos da antropologia física, restrito à noção de raça. Conforme aponta Ramos:
Com o termo de “raça”, com efeito, a antropologia designa “um grupo de homens que se aparentam unicamente pelos seus caracteres físicos, isto é, anatômicos e fisiológicos, em outros termos, por seus caracteres somáticos”. (Ramos, 1979, p.16).
No estudo das culturas desses povos, Arthur Ramos considera
necessário um esclarecimento em relação aos termos “civilização” e “cultura”, pois
estes se confundem.
Segundo Ramos (1979, p.16), o termo “civilização” é utilizado em dois
sentidos: para qualificar o conjunto de manifestações culturais do homem e para
designar a forma mais elevada da cultura; nesse sentido, a “civilização” refere-se
quase sempre à civilização ocidental moderna. Já a palavra “cultura” será reservada
a um sentido novo, isto é, às formas particulares, no tempo e no espaço da
civilização.
Diante dessa afirmação pode-se dizer que cultura é um complexo que
compreende ao mesmo tempo as ciências, as crenças, a moral, as leis, os costumes
e outros hábitos adquiridos pelo homem no estado social.
Nessa obra, pode-se observar a preocupação do autor em analisar o
negro e a cultura negra nesse Novo Mundo, inserindo-o no contexto da formação
histórica e cultural do país. As culturas negras, em contato com as culturas brancas,
não só aceitaram os padrões destas, ou se adaptaram aos mesmos, como lhes
emprestaram muitos dos seus próprios elementos.
Outro aspecto a ser destacado é o fato de que, na África, existiam
diversos grupos populacionais distintos com organizações sociais e culturais
próprias. A maioria dos negros que veio para o Brasil com o tráfico de escravos
pertenceria aos seguintes grupos populacionais e culturais: Bantu (Angola, Congo,
Moçambique); Sudanes (Yorubas, Ewes, Daomeianos e Fanti-Ashanti); Islamizados
(Haussás, Tapas, Mandigas, Fulahs, Malês). Quando chegou ao Brasil cada um
destes grupos foi colocado em uma região do país, reagindo de formas
diferenciadas à escravidão.
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Uma parcela minoritária destes procurou manter sua unidade cultural e
social. Esse seria o caso dos quilombolas e dos grupos islamizados, principalmente
os haussás. Outra parcela dos negros, majoritária, teria se aculturado aos grupos
aqui existentes, buscando, neste sincretismo, reelaborar sua herança cultural
africana sincretizando-a com a cultura indígena e portuguesa.
A cultura yoruba foi a mais importante das culturas negras trasladadas
ao Brasil.
Essa cultura foi introduzida pelos negros da Costa dos Escravos, que
forneceu um grande número de escravos para o Brasil. A grande massa de negros
Yoruba foi introduzida na Bahia e lá tomaram a denominação geral de nagôs, termo
que davam os franceses aos negros da Costa dos Escravos que falavam a língua
yoruba.
Os negros nagôs foram desde logo preferidos nos mercados de
escravos da Bahia. Eram altos, corpulentos, valentes, trabalhadores, de melhor
índole e os mais inteligentes de todos. Usavam tatuagens, “marcas de nação”, na
face. E antropologicamente ofereciam dois tipos bem distintos, como destacou Nina
Rodrigues:
Nuns, a cor é negra, carregada, os caracteres da raça muito acentuados, dolicocéfalos, prognatas, lábios grossos e pendentes, nariz chato, cabelo bem carapinha, talão saliente, gastrocnêmios pouco desenvolvidos... Os outros têm uma cor clara, quase dos nossos mulatos escuros, menos desenvolvidos e parecendo menos fortes, possuem os caracteres da raça negra, embora sem a exuberância que apresentam os primeiros. ( Rodrigues, 1982, p.160)
Religiões e cultos, folclore, músicas e dança, cultura material, língua...
todos esses elementos culturais foram transportados para o Brasil pelos negros
nagôs, dominando as outras culturas negras aqui introduzidas.
O culto nagô é celebrado em templos especiais, os terreiros, e os
santos nos altares, pegis. As festas religiosas são chamadas candomblés, na Bahia
(catimbós e xangôs, no nordeste; macumbas, no Rio de Janeiro, termo que tende a
generalizar-se). Os sacerdotes nagôs chamam-se como na África, babalaôs, na
Bhaia, babás, babaloxás (Rio de Janeiro) e babalorixás (nordeste), literalmente: pais
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de santo. Nos terreiros baianos, é ainda o grão-sacerdote chamado pegi-gan. Há
também sacerdotisas, de funções mais limitadas: mães de santo (yalorixás, no
nordeste).
A iniciação da filha de santo ainda segue, na Bahia, o ritual yoruba da
Costa dos Escravos: reclusão no terreiro, proibição de sair de casa, abstinência de
relações sexuais, privação de certos alimentos. A cerimônia da iniciação chama-se
dia de dar o nome. A filha de santo torna-se, então, feita e passa a dedicar-se
exclusivamente ao serviço do seu orixá.
O folclore negro-brasileiro de origem yoruba é riquíssimo. A dança e a
música saíram dos candomblés, constituíram as festas profanas ou afochés e se
espalharam em todos os atos da vida dos negros brasileiros.
A predominância cultural não se avalia pelo número de indivíduos
introduzidos no país, mas pelo adiantamento da cultura, em seus elementos
essenciais.
É o que aconteceu com a cultura yoruba, a mais adiantada das culturas
negras puras, introduzidas no Brasil.
O sincretismo teria sido, pois, uma forma disseminada entre os negros
escravos para manter traços dos grupos culturais provindos da África. Ademais, o
sincretismo teria permitido a criação de novas formas de expressão cultural,
resultado de uma aculturação intra-racial dos negros escravos.
Para Ramos, entende-se que:
Aculturação compreende aqueles fenômenos resultantes do contato, direto e contínuo, dos grupos de indivíduos de culturas diferentes, com as mudanças conseqüentes nos padrões originais culturais de um ou ambos os grupos. (Ramos, 1979, p.244).
Dessa forma, segundo Ramos (1979.p.240) observa-se que o destino
das culturas negras no Novo Mundo foi o mais imprevisto possível. Aqui elas se
amalgamaram umas com as outras e não se conservaram em estado puro. Além
disso, a conservação dos elementos sobreviventes foi desigual. A escravidão
desempenhou ainda um papel de grande importância no apagamento ou
esfacelamento das culturas negras. Como diz Ramos:
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O regime da escravidão alterou por completo o behavior social do negro. A escravidão triturou-se na mesma grande mó da opressão branca. No Novo Mundo, não se podia falar em negros da cultura ocidental, ou negros pastores, ou negros de civilização maometana, ou súditos de grandes reinados, ou ainda em descendestes de linhagens aristocráticas. Aqui houve apenas negros escravos. As suas culturas, eles as disfarçavam em formas caricaturais, para só assim vencerem a censura dos brancos seus senhores. Talvez se salvasse, neste trabalho de distorção, as suas crenças, tal o poder dinamogênico que as acompanhou. Porque o mais se tornou sobrevivência no folclore: língua, música, dança e outras instituições sociais. (Ramos, 1979, p.240)
Diante de tais aspectos, pode-se dizer que nenhum estudo da civilização do Brasil,
e, em geral, do Novo Mundo, poderá ser realizado eficazmente, sem a discriminação
dos padrões de cultura de origem do trabalho de aculturação.
Por outro lado, Arthur Ramos aponta a importância de entender-se a
presença civilizadora do português na história dos contatos culturais que formaram o
Brasil. Tal característica civilizadora já teria existido na África. Aponta Ramos
(1938.p.321):
Da longa epopeia colonizadora portuguesa, estão marcados no Continente Negro, os traços decisivos da civilização lusa. Podemos afirmar que todas as áreas culturais africanas guardam a impressão dominante do colonizador português. (...) Portugal deve ser considerada a maior nação civilizadora do mundo (...) Sua principal ação constitui em despertar povos atrasados em culturas para o dia claro da civilização. Portugal dominou estes povos para torná-los conscientes dos seus destinos.
Já Gilberto Freire em seu livro “Casa Grande e Senzala”, dá ênfase
às origens da sociedade brasileira, vista através do cotidiano na casa senhorial no
Brasil Colonial. Naquela época, a sociedade brasileira teve sua sustentação na
atividade econômica, a monocultura açucareira, dela resultando uma sociedade
patriarcal, agrária, escravista e mestiça.
Essa formação social brasileira girou em torno da casa-grande, pois foi
lá que germinou muitos aspectos da cultura brasileira. E toda a estrutura em torno
da casa-grande representa melhor que qualquer coisa as contradições da terra,
convivendo em equilíbrio assimétrico entre o negro e o branco, o escravo e o
senhor. Estes conviviam juntos dentro da casa-grande, palco de representação ao
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qual até a Igreja Católica se fazia presente, pois o ponto em comum da sociedade
colonizadora era o catolicismo que funcionava como um aglutinador social.
A unificação do território nacional se deu, entre outras coisas, pela via
de língua e da religião, considerada o cimento da sociedade. No Brasil não havia
pureza de raças, uma vez que havia grande necessidade de ocupação territorial e
colonização, se dando através da miscigenação, pois havia pouca gente no Brasil.
Essa miscigenação pode ser confundida com sifilização, em termos de Brasil no
período colonial, devido aos altos índices de doenças no país com a chegada dos
colonizadores.
Com a chegada dos europeus, a América desmantelou toda a estrutura
social e econômica antes aqui predominante, desarticulando as bases da sociedade
indígena. Essa degradação ao contato com os brancos é o resultado natural do
encontro de uma sociedade de cultura mais avançada com uma de cultura menos
avançada.
Outro aspecto a ser destacado é a importância que o autor dá aos
traços herdados da cultura africana, que está presente em todos os brasileiros,
traços estes representados pela ternura da fala, no amolecimento da linguagem, nos
apelidos, nos gestos, na música. Esta influenciou de maneira significativa desde os
tempos coloniais em que se ouviam as canções de ninar pela boca da ama negra.
Os africanos que vieram para o Brasil são caracterizados como
melhores que os índios, pois possuíam uma cultura bem mais desenvolvida que a
cultura indígena aqui encontrada, devido serem provenientes de uma região mais
desenvolvida e por serem melhor alimentados, já que conviviam com os brancos
dentro das casas-grandes. Assim sendo, tinham certa facilidade de convivência com
os brancos.
As festas dos africanos eram feitas com mais alegria e vivacidade que
as dos que aqui habitavam. A cultura dos africanos que vieram para o Brasil era
mais adiantada que a dos de outros territórios africanos, mais cheias de lendas,
mitos, rituais, festas, com gastronomia e astrologia mais avançadas do que de
outros povos, seus conterrâneos. Suas cerimônias religiosas eram sempre bem
emotivas, em contraste com os índios aqui situados.
A sujeição do africano ao português, tanto nas relações de trabalho
como sexuais produziu a base do que seria a sociedade brasileira. Ainda que já
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houvesse contato entre ambos desde o início do período ultramarino, foi no Brasil
que aconteceu o aprofundamento das relações em uma fusão cultural e racial entre
brancos e negros.
Assim como o branco português, o negro africano também foi
apresentado como colonizador, mas dentro da lógica da escravidão. A sua influência
se daria através da criação de um mundo paralelo ao dos brancos, utilizando para
isso a relação de submissão, necessária para sua sobrevivência, e as lembranças
de suas tradições e sua cultura de origem. É principalmente o escravo doméstico,
por sua ligação “íntima” com a casa-grande, o veículo da colonização através do
sexo forçado pelo senhor à mucama resultando no filho mulato, no negrinho que
servia de brinquedo para o filho do senhor, ambos criados sob cuidados das
mesmas escravas, que se resignavam com o sadismo da sinhá para garantir sua
sobrevivência. É dessa relação entre poder e sobrevivência, respectivamente entre
brancos e negros, que surgiram uma cultura propriamente brasileira expressa na
fusão do vocabulário das duas raças, nas práticas diárias, nas crenças e nas
representações de poder.
Com relação aos sepultamentos dos senhores e das pessoas de
famílias simples, era costume os mesmos serem realizados quase dentro de casa:
em capelas que eram verdadeiras puxadas da habitação patriarcal. Era como se os
mortos ficassem na companhia dos vivos, até que os higienistas do segundo
Império começaram a condenar essa prática.
Os enterros eram realizados à noite, com grandes gastos de cera. Com
muita cantoria dos padres em latim e muito choro das senhoras e dos negros.
Os defuntos das famílias fidalgas eram enterrados com muito luxo,
vestidos de fardas, uniformes, sedas, hábitos de santos, condecorações, medalhas,
jóias; as criancinhas muito pintadas de ruge, cachos de cabelo louro, asas de
anjinhos; as virgens, de branco, capela de flor de laranja, fitas azuis. Nesse luxo de
dourados, ruge, sedas, eram os defuntos conduzidos para as sepulturas nas igrejas:
igrejas que nos dias úmidos esalavam um odor insuportável; os defuntos só faltavam
estourar das covas.
Os negros, é claro, não eram enterrados envolvidos em sedas e flores,
nem dentro das igrejas. Enrolavam-se seus cadáveres em esteiras; e perto da
capela do engenho ficava o cemitério dos escravos, com cruzes de pau preto
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assinalando as sepulturas. Quando eram negros já antigos na casa morriam como
qualquer pessoa branca: confessando-se, comungando, entregando a alma a Jesus
a Maria e a todos os Santos.
Outro ponto que merece ser destacado é em relação à educação das
crianças que por muito tempo perdurou nas mãos dos escravos, pois muitos deles
tinham uma formação escolar que muitos brancos aqui na época do Brasil Colonial
não tinham e também porque eram estes negros que passavam a maior parte do
tempo com as crianças, através do melhor amigo que era o negrinho e das
mucamas que acompanhavam as crianças. Conforme aponta Freire: Os pretos e pardos no Brasil não foram apenas companheiros dos meninos brancos nas aulas das casas-grandes e até dos colégios; houve também meninos brancos que aprenderam a ler com professores negros. A ler e a escrever e também a contar pelo sistema de tabuada cantada (FREIRE, 2004,p.503).
Algo que impressionava no Brasil do século XIX era o comportamento
dos meninos. Agiam como homens desde muito cedo, se tornavam pessoas sérias e
responsáveis ainda jovens. A educação era feita em colégios jesuítas no começo e
depois em colégios de padres ou em seminários posteriormente; era um ensino
rígido, sendo o mestre senhor todo poderoso em suas salas de aula, as crianças
deviam obediência e respeito aos padres, e foram esses colégios os grandes focos
de irradiação da cultura no Brasil. Muitas vezes os mestres senhores eram sádicos,
sorte tinham os meninos ensinados por mestres negros, estes melhores que os
outros. Nestes colégios, até o século XVII, os negros e pardos eram excluídos, com
os pardos sendo progressivamente incluídos no sistema educacional brasileiro com
mais freqüência que os negros, devido ao incentivo aos casamentos mestiços pelo
governo.
Além da contribuição do negro com a cultura, este também foi quem
animou a vida doméstica do brasileiro através de sua alegria. Como destaca Freire: A risada do negro é que quebrou toda essa “apagada e vil tristeza” em que se foi abafando a vida nas casas-grandes. Ele que deu alegria aos São-Joões de engenho; que animou os bumbas-meu-boi; os cavalos-marinhos; os carnavais; as festas de Reis. (FREIRE,2004,p.551).
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Nos engenhos, tanto nas plantações como dentro das casas, nos
tanques de bater roupa, nas cozinhas, enxugando prato, fazendo doce, pilando café;
nas cidades, carregando sacos de açúcar, pianos, sofás de jacarandá de ioiôs
brancos, os negros trabalhavam sempre cantando. Seus cantos de trabalho, tanto
quanto os de xangô, os de festa, os de ninar menino pequeno, encheram de alegria
africana a vida brasileira. Às vezes de um pouco de banzo; mas principalmente, de
alegria.
Resta-nos acentuar um traço importante de infiltração de cultura negra
na economia e na vida doméstica do brasileiro: a culinária. O escravo africano
dominou a cozinha colonial, enriquecendo-a de uma variedade de sabores novos.
A culinária nos primeiros séculos de história do Brasil era toda negra. A
cozinha negra era muito higiênica. Ainda hoje se vê, principalmente nos estados do
norte e nordeste, a grande influência negra na culinária brasileira, sendo a dieta do
povo responsável por muitas características sociais.
No regime alimentar brasileiro, a contribuição africana afirmou-se
principalmente pela introdução de azeite-de-dendê e da pimenta malagueta, tão
característicos da cozinha baiana, pela variedade na maneira de preparar a galinha
e o peixe.
Havia uma guerra entre padres e senhores de engenho por causa do
trabalho nos domingos. Os senhores de engenho o queriam para trabalho enquanto
os padres, para Deus. Acabou por se institucionalizar o feriado no domingo. Afinal
era um dia com menos comida para os negros, que significava economia para os
senhores. Dizia-se que se não fosse pelos santos e pelas amásias, os colonos
seriam ricos. Com exceção dos jesuítas, donzelões natos, padres e frades se
amancebaram com pretas e índias. Essas relações fizeram bem à sociedade
brasileira, uma vez que muitos filhos de padres se tornaram ilustres intelectuais, pois
os padres teriam eugenia para assuntos intelectuais superiores ao resto da
população, trazendo ascensões sociais.
Pode-se dizer que o autor procurou através de seus relatos retratar a
importância da contribuição africana para o desenvolvimento cultural e econômico
na época do Brasil Colonial, através das observações a respeito do cotidiano desses
negros na sociedade da época colonial.
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No livro “Os Africanos no Brasil”, de Nina Rodrigues (1982), temos
claro que o autor reúne ideias em torno do estudo das religiões, das artes, das
músicas, das línguas e dos dialetos, enfim, tudo que está relacionado à cultura
africana, destacando as crendices, os cultos, os templos, a mitologia, a liturgia, a
arte religiosa, as festas, as tradições e os templos, procurando retratar como os
africanos praticavam as suas religiões, que eram inúmeras. As religiões variavam de
acordo com a procedência dos africanos, a sua origem.
Reúne vários comentários a respeito das religiões, merecendo
destaque a religião iorubana, a qual considera que a concepção dos orixás é
sobretudo politeísta, que o deus supremo Olorum praticamente não recebe nenhum
culto e que os orixás são fenômenos metereológicos divinizados. Conforme aponta
Nina Rodrigues:
Evidentemente houve uma época na mitologia iorubana, correspondente àquela em que se acham agora os tshis em que a fecundidade foi o predicado de um orixá de funções complexas e pouco discriminadas, Olorum, que era ao mesmo tempo o céu, a terra, o trovão, o raio, etc.(Nina Rodrigues, 1982.p.219).
O autor faz menções à existência de vários terreiros de candomblé em
Salvador e outros tantos nos arrabaldes da cidade, que conhecia e que diz terem
preservado os costumes africanos com maior rigor. Percebemos que Nina
Rodrigues, em alguns momentos em seu livro, menciona que havia rivalidades entre
pais e mães de terreiros africanos, pois os mesmos queriam dominar o terreiro e se
tornarem as pessoas mais poderosas e importante deste.
Em alguns momentos, notamos que os pais e mães de terreiros tinham
auxiliares que dirigiam os trabalhos, chamavam os santos nas árvores e o mestre
dos sacrifícios. A transmissão hereditária das funções não parece rigorosa, mas
todos saem da confraria dos filhos-de-santo. As vestes e contas usadas variam com
os santos a serem cultuados.
O autor também procura retratar as várias línguas e dialetos africanos,
relatando que na África o mais seguro critério para divisão étnica é o das línguas. E
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esse critério de divisão linguística permaneceu em território brasileiro. Conforme
aponta Nina Rodrigues:
Apenas de uma coisa me deixam certo os meus vocabulários com todos os seus defeitos: é de que eles provam de modo indiscutível terem sido e serem ainda faladas corretamente na Bahia as línguas a que pertencem. (Nina Rodrigues, 1982, p.142 e 147).
Pode-se dizer que a influência cultural dos africanos no Brasil foi muito
intensa, quando percebemos que em todos os meios culturais eles estão presentes,
seja na música, na religião, nas artes, na pintura, nos contos populares, enfim, em
tudo que podemos chamar de cultura.
Eles nos proporcionaram uma enorme riqueza cultural, confirmando a
poderosa influência exercida pelos negros na formação da nossa cultura popular.
Como diz Nina Rodrigues:
O problema “o negro” no Brasil, tem, de fato, feições múltiplas: uma do passado: - estudo dos negros africanos que colonizaram o país, outra do presente: - negros crioulos, brancos e mestiços; a última, do futuro: - mestiços e brancos crioulos. (Nina Rodrigues, 1982, p.10).
As características morais transmitidas pela herança não são mais
suscetíveis do que as físicas de serem apagadas pela simples mudança de crença
dos negros. Qualquer tentativa de impor à força ao negro as nossas condições
artificiais de existência há de falhar, pois os caracteres de raça não podem ser
transformados de repente; e mesmo se fosse possível impor-lhes a nossa
civilização, esta não seria duradoura, porque entre a situação deles e a nossa
faltariam as fases de transição. Para ser permanente, a civilização deve ser gradual,
pois só quando um passo avante está dado com segurança é que o caráter de raça
se torna firme e capaz de sofrer novo impulso.
Sendo assim Rodrigues (1982, p.267) esclarece que mesmo que o
negro da América tenha progredido muito exteriormente, mesmo que tenha
assimilado as formas de vida civil, todavia, no fundo da alma, ele é ainda uma
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criança; de bem pouco tem ultrapassado aquele estádio infantil da humanidade em
que se acha o seu co-irmão da África.
Dada a sua absorção na população compósita do país, e por outro lado
dadas as diferenças de capacidade e graus de cultura entre os povos negros
importados, está claro que a influência por eles exercida sobre o povo americano
que ajudaram a formar será tanto mais nociva quanto mais inferior e degradado tiver
sido o elemento africano introduzido pelo tráfico. Ora, os nossos estudos
demonstraram que, ao contrário do que se supõe geralmente, os escravos negros
introduzidos no Brasil não pertenciam exclusivamente aos povos africanos mais
degradados, brutais ou selvagens. Aqui introduziu o tráfico poucos negros dos mais
adiantados e mais do que isso, mestiços camitas convertidos ao islamismo e
provenientes de estados africanos bárbaros sim, porém dos mais adiantados.
Na implementação pedagógica, buscou-se analisar e compreender
melhor “A Cultura Africana no Pensamento social Brasileiro – 1890/1950”. A
implementação foi realizada com os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental do
Colégio Estadual “Professora Denise Cardoso de Albuquerque”. Ensino
Fundamental e Médio do município de Flórida. Alunos de idade entre 13 e 14 anos,
composta por diferentes níveis socioeconômicos. Esse grupo de alunos, como
tantos outros, traz consigo as ideias pré-concebidas da história como algo distante
que não lhe diz respeito, não se sentem sujeitos ou partícipes da História, porém ao
perceberem que o projeto oportunizava estudar História da Cultura Africana, houve
uma visível curiosidade do grupo em relação à temática.
No processo de implementação, buscou-se compreender melhor a
cultura africana por meio da leitura da análise da revisão bibliográfica das obras de
Gilberto Freyre “Casa Grande e Senzala”, de Arthur Ramos “As Culturas negras no Novo Mundo” e de Nina Rodrigues, “Os Africanos no Brasil”, feitos pelo
professor PDE.
Os alunos fizeram a leitura de extratos selecionados destes textos junto
com o professor PDE, fizeram pesquisas na internet sobre a biografia pessoal e
profissional de cada autor, levantaram questionamentos sobre o assunto para serem
debatidos e analisaram trechos dos livros juntamente com o professor.
Foram exibidos os filmes “Diamante de Sangue” e “Besouro”, como
também o Documentário sobre o “Tráfico Negreiro”. Em seguida foi aplicado um
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roteiro com questões para os alunos preencherem e, na socialização de tais
questões, foram trocadas impressões e levantados alguns pontos significativos
referentes aos filmes.
Ao término da implementação, foram recolhidas todas as atividades
trabalhadas e confeccionado um painel juntamente com os alunos para apresentar o
trabalho realizado e a nova visão sobre a influência da Cultura Africana em nossa
sociedade.
Também foi realizado o Grupo de Trabalho em Rede o (GTR) com os
professores da Rede estadual de Ensino. Foi apresentado e discutido com os
cursistas o Projeto e uma Proposta de Produção Didático-Pedagógica envolvendo o
tema em questão. Na realidade concluímos que trabalhar essa questão da Cultura
Afro-Brasileira é muito gratificante, pois é uma temática muito rica que nos possibilita
mostrar qual a verdadeira contribuição da Cultura Africana para a formação da
Cultura Brasileira.
Conclusão
O presente estudo buscou refletir essa temática justificando-se pela
importância de se fazer um resgate histórico e pela necessidade de conhecer a
influência da cultura africana em nossa sociedade. É importante promover a
educação de cidadãos atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural e
pluriétnica do Brasil para buscar relações étnico-sociais positivas, visto que muitos
de nossos alunos não conseguem se valorizar devido à ausência de atitudes
positivas de seu grupo apresentadas pelas sociedades.
O estudo apresentado contribui para a produção de conhecimentos, de
atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-
racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que
garantam a todos o respeito aos direitos legais e a valorização da identidade. E
também, a valorização das raízes africanas da nação brasileira, mudando
estereótipos e questionando valores presentes na nossa sociedade.
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Ao término deste trabalho, verificamos que houve mudanças no que diz
respeito à valorização da cultura africana na nossa sociedade, pois os alunos
perceberam a importância dessa cultura em nossa história e em nosso meio social.
Conseguiram perceber a ideia principal dos autores estudados, como Arthur Ramos,
em seu livro “As culturas negras no novo mundo”, conseguindo identificar os
vários grupos populacionais africanos trazidos para o Brasil na condição de
escravos. Esse foi um dos mais interessantes assuntos já pesquisados e fez a
diferença para a compreensão da situação dos escravos no Brasil, sobre o destino
da cultura e da sua conservação.
Já Gilberto Freyre, em sua obra “Casa Grande e Senzala”, destaca
uma sociedade patriarcal, agrária, escravista e mestiça, mas, sobretudo, destaca os
traços da herança cultural africana que está presente em todos os brasileiros que
são eles: ternura da fala, amolecimento da linguagem, apelidos, nos gestos, na
música, entre outros. Influências que ajudaram a formar o povo brasileiro.
E Nina Rodrigues, em sua obra “Os Africanos no Brasil”, destaca
vários aspectos como: religiões, línguas, dialetos, crendices, cultos, templos,
mitologia, entre outros, assim ajudando-nos a entender o sincretismo religioso
presente hoje no Brasil e sua origem africana.
Notamos que a história do Brasil e a formação do povo brasileiro foram
de tal modo reduzidas a esquemas simplificados no dia a dia das escolas, que
nossos alunos chegam a terminar o ensino superior sem conhecer a História do
Brasil e a sua verdadeira identidade, o que dificulta o referencial e valorização dos
indivíduos. Faz-se necessário destacar a importância de se conhecer melhor a
história e a cultura dos afro-descendentes que fogem ao estigma da escravidão.
Mais do que saciar curiosidades, esse estudo nos ensina que, desde cedo, esses
brasileiros impuseram, com sua existência, o fato de que a cor jamais os condenou à
inferioridade intelectual. Apesar do ambiente que lhes era desfavorável, eles
alcançaram admiração e respeito assim como muitos outros que lutaram pela
conquista de seu espaço, levando nossos alunos a se identificarem com esses
personagens tão importantes para a construção de nossa história e que podem
também oferecer ao aluno uma nova possibilidade de analisar as suas origens.
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É preciso que se compreenda a necessidade de modificar a visão
sobre o negro, repensar os valores, conceitos, a partir da realidade social, cultural e
étnica.
“Sempre que pensamos em mudar, queremos tudo muito rápido. Mas
as pequenas mudanças são as que mais importam. Por isso, não tenha medo de
mudar lentamente, tenha medo de ficar parado” (Provérbio chinês).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Parecer 3/2004. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Publicado no DOU em 4/06/2004. Brasília: Casa Civil, 2004.
BRASIL. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Brasília: Casa Civil, 2003. CADERNOS TEMÁTICOS. Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana: Educando para as relações étnico-raciais. Curitiba: SEED/PR,2006.
FREIRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. 49. ed. São Paulo: Ed. Global, 2004.
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PRADO JR, CAIO. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1977. RAMOS, Arthur. A aculturação negra no Brasil. São Paulo: Ed. Comp. Nacional, 1942.
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REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Ano 5, Nº 58, Julho 2010.
Rio de Janeiro: Ed. SABIN
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RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. 6. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1982.