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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PRMAIO - 2010

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ROSA MARIA CARLOTTO PIVA

PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Produção Didático Pedagógica desenvolvida na área de História, sob a orientação da Profª. Dra. Méri Frotscher da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus de Marechal Cândido Rondon, a ser desenvolvido em 2009-2010, no Colégio Estadual Leonardo da Vinci na cidade de Dois Vizinhos - PR.

MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PRMAIO - 2010

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APRESENTAÇÃO

Como atividade de produção do PDE/PR - Programa de Desenvolvimento Educacional que objetiva a articulação teórico-prática como um de seus eixos curriculares, optou-se por apresentar uma Unidade Didática composta de cinco oficinas que permitam analisar a construção das diferenças étnicas culturais do Brasil escravocrata, tendo como foco principal análise e interpretação de imagens relacionadas a primeira metade do séc. XIX.

Considerando as imagens como documento histórico, o professor de história pode trabalhar com novas metodologias e abordagens oferecidas pela historiografia, motivando o aluno a exercitar seu olhar e a problematizar a construção e reprodução das diferenças. Para tanto, foi realizado pesquisa bibliográfica e de fontes documentais e imagéticas que resultassem na construção do conhecimento histórico a partir de fontes iconográficas.

O presente material tem por objetivo desenvolver atividades de análise de imagens e referências textuais produzidas por Jean Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas. Através delas, os alunos poderão pesquisar sobre a biografia dos autores e o processo de concepção das obras, analisar os cenários, o olhar do viajante, as formas de representação, os elementos que compõem a iconografia, como os escravos estavam classificados, entre outros aspectos. O objetivo é entender a construção das imagens e poder dialogar com outras fontes textuais e visuais e, dessa forma, desconstruir compreensões do conhecimento histórico e visões estereotipadas e naturalizadas como reais.

Considerando a importância da Educação das Relações Étnico-Raciais, principalmente para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, este trabalho se propõe a garantir questionamentos relevantes ao aprofundamento da Lei 10.639/03 que inclui a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afrobrasileira, enfatizando a maior visibilidade a temática da produção de alteridade na história.

Neste trabalho, são utilizadas fontes diversificadas que possibilitam analisar o papel das representações visuais de populações afrodescendentes e a sua conexão com a afirmação de diferenças, envolvendo obras de viajantes europeus do início do séc. XIX. O desenvolvimento das atividades propostas neste caderno temático é feito com os alunos da 7ª série do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Leonardo da Vinci, no município de Dois Vizinhos.

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INTRODUÇÃO

Entende-se que o trabalho escolar deve ser construído de modo a colocar em prática conceitos que priorizem maior compreensão da heterogeneidade sócio-cultural da qual a escola de modo geral e cada indivíduo em particular é integrante. Reconhecer a diversidade presente na escola torna rico o saber e o fazer educação. Porém, muitas vezes, ocorrem práticas discriminatórias e racistas. Compreender e perceber as condições históricas e sociais da reprodução da desigualdade na sociedade brasileira demanda também um esforço no sentido de se questionar a história. Partindo deste pressuposto, ou seja, como a disciplina de história pode problematizar a construção das diferenças, essa proposta pretende, a partir da análise de fontes visuais, discutir a produção e reprodução de diferenças étnicas e culturais no Brasil escravocrata.

O objetivo do uso das fontes imagéticas é revelar o caráter documental que possui, através dos recursos visuais. Entretanto, esta revelação precisa ter como ponto de partida o entendimento de que imagens (caricaturas, fotografias, pinturas, entre outras) são documentos históricos e, para tanto necessitam de compreensão e interpretação. O aluno precisa desenvolver um olhar crítico e investigativo, que possibilite múltiplas abordagens, tais como observação, identificação, contextualização, objetivando assim a compreensão e a interpretação da imagem e consequentemente a história nela retratada.

Para o desenvolvimento deste trabalho serão usadas imagens dos viajantes europeus, Debret e Rugendas. Segundo Valéria Lima, “As viagens dos artistas constituem importantes referências culturais para o estudo das interpretações sobre o Brasil, sua história, sua gente e suas instituições” (2007, p. 217). Baseado nessas considerações que iremos implementar as atividades propostas no Colégio Leonardo da Vinci no município de Dois Vizinhos com alunos de 7ª série do Ensino Fundamental.

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DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

OFICINA 1

A CORTE PORTUGUESA NO RIO DE JANEIRO

Referência ao conteúdo Vinda da família Real...

Fundamentação histórica:

Quando Napoleão Bonaparte decretou o Bloqueio Continental em 1806, o governo português ficou em uma situação difícil: se não aderisse ao bloqueio, as tropas francesas invadiriam Portugal; se o fizesse, a Grã-Bretanha bombardearia Lisboa.

Em janeiro de 1808, D. João e toda a Família Real desembarcaram em Salvador, na Bahia. Dois meses depois, estabeleceram-se no Rio de Janeiro.

Imagens usadas “Os refrescos do Largo do Palácio” – Debret e “Comércio na Rua Direita” – Rugendas

*1 - Os refrescos do Largo do Palácio - Jean Baptiste Debret)

http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/usp/primeiro_trimestre/imagens/Debret/tomo_segundo/e.60_p.9.html

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Objetivo Geral: Possibilitar ao aluno a compreensão do conteúdo estudado a partir de fontes visuais.

Recursos utilizados

Projetor Multimídia, computador, laboratório de informática e biblioteca, imagens, texto sobre a vinda da família real ao Brasil.

Metodologia da oficina

Inicialmente será apresentada uma contextualização histórica referente a vinda da família Real ao Brasil, destacando as condições urbanas e os contrastes da identidade nacional, com o uso do texto 1. A seguir, os alunos serão apresentados aos pintores-viajantes Debret e Rugendas, para, na sequência pesquisar sobre a biografia dos viajantes (utilizando o laboratório de informática – bibliotecas virtuais e a biblioteca da escola).

Após conhecerem um pouco sobre a vida e a obra dos pintores-viajantes iniciam a leitura das imagens sugeridas para esta oficina, a saber: Os Retratos do Largo do Palácio – Debret e Comércio na Rua Direita – Rugendas. E, desenvolverão as atividades propostas para a oficina.

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Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/portugues/rio1827.jpg

Texto 01

A presença da Corte em terras brasileiras e o significativo número de estrangeiros que habitavam e percorriam o país indicavam um processo irreversível de cosmopolitismo da antiga colônia. Os obstáculos a superar eram, como esperado, em grande número. Como a maioria das cidades européias da época, o Rio de Janeiro carecia das mais básicas condições de higiene. Sob o olhar de alguns viajantes, as habitações, os edifícios públicos e as ruas reuniam-se em um triste e precário quadro da cidade, ao qual se somava uma população de aspecto e odor desagradáveis e uma violência já digna de nota. (Valéria Lima, 2007, P. 247).

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Após a leitura no livro didático, a professora fará alguns apontamentos em relação a cidade do Rio de Janeiro: sede da corte portuguesa.

- Rio de Janeiro capital do reino português.

- Condições da cidade.

- Transformações urbanísticas

- A vinda de pintores, cientistas, naturalistas e sábios estrangeiros.

- Costumes brasileiros alterados.

Atividades

1- Observe com atenção as imagens de Debret e Rugendas e descreva as diferentes personagens.

2- Após a leitura do texto 01 e do texto no livro didático: é possível entender as mudanças ocorridas no Brasil após a chegada da Corte portuguesa? Explique sua resposta.

3- Observando as imagens responda:

a) As pessoas representadas têm a mesma condição social?

b) Estão desempenhando as mesmas atividades?

c) O que aparece em primeiro plano? E ao fundo? Faça uma descrição de cada uma das imagens.

d) O que você sabe sobre os autores dessas gravuras.

Duração desta oficina

04 horas aula

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OFICINA 2

A ICONOGRAFIA E A HISTÓRIA

Referência ao conteúdo O que é iconografia e iconologia.

Fundamentação histórica: Representação iconográfica da imagem brasileira do começo do séc XIX.

Imagens usadas “ ” – Debret “ e ” – Rugendas

Rugendas- A venda em RecifeFonte: http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/3849/imagens/mandioca.jpg&imgrefurl=http://por

Debret- O Jantar- Família brasileira no Rio de Janeiro.Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/viewcat.php?cid=12&min=600&orderby=ratingA&show=10

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Debret- Uma senhora brasileira em seu larFonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/9622/imagens/debret.jpg

Objetivo GeralSaber a importância da iconografia para o ensino de história e compreender a leitura das imagens.

Recursos utilizados Projetor Multimídia, computador e materiais produzidos em slides.

Metodologia da oficinaInicialmente será apresentado o que é iconografia, a importância da imagem como documento histórico e a biografia de alguns dos principais artistas viajantes que contribuíram para os registros históricos, através de material de apresentação em slides ou em imagens para a TV Multimídia, cujos exemplos seguem abaixo:

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Na sequência, utilizando outra apresentação, será realizada a leitura das imagens anteriormente citadas.

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Duração desta oficina - 02 horas aula

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OFICINA 3

AS RELAÇÕES DOS ESCRAVOS E SEUS DESCENDENTES COM OS SENHORES

Objetivo: Analisar através dos textos, trecho da música e imagens a relação dos escravos com seus senhores e perceber as diferenças sociais.

As primeiras relações mais estáveis que um africano escravizado mantinha em sua nova situação eram com seus companheiros de sofrimento, nas caravanas, barracões, nos porões dos navios e depois nos lugares onde seria posto para trabalhar. Aí tinha de dar conta de outro conjunto de relações novas com seu senhor, que pertencia a uma cultura muito diferente da sua e que tinha sobre ele poder de vida ou de morte, de bons tratos ou castigos, de mantê-lo junto àqueles aos quais se apegara ou vendê-lo para longe, onde teria de tecer nova rede de relações (Mariana de Mello e Souza, 2006).

Observe o trecho da Poesia, de Gilberto Gil:

Agora leia este fragmento do texto sobre o Escravismo Colonial de Mariana de Mello e Souza.

O escravismo foi a principal forma de utilização do trabalho e esteve na

base da organização da sociedade brasileira durante mais de trezentos anos. Para

sua manutenção, além da importância econômica (sendo a exploração do trabalho

escravo a principal forma de acumulação de riqueza), foi montado um sistema de

justificação e legitimação da escravização de seres humanos. Teólogos e juristas

argumentaram durante séculos a favor ou contra o trabalho escravo, mostrando por

que a sua existência se justificava, ou por que não se justificava.

No que diz respeito à vida de todo dia, a norma na sociedade brasileira era

possuir escravos que fizessem os trabalhos pesados e desagradáveis e que

trouxessem dinheiro para seu senhor, que tinha apenas de mandá-los fazer as

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Negra é a mãoDe quem faz a limpezaLavando a roupa encardida, esfregando o chãoNegra é a mão da purezaNegra é a vida consumida ao pé do fogãoNegra é a mão (...)(Gilberto Gil, 1984)

A MÃO DA LIMPEZA

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tarefas e controlá-los. Todo aquele com o mínimo de condições, mesmo entre os

mais modestos, tinha um ou mais escravos. Assim era a sociedade escravista

brasileira: baseada numa relação de trabalho colonial que se manteve igual depois

da independência política de Portugal, na qual os centros mais dinâmicos e

capitalizados da economia dependiam do trabalho escravo, os intelectuais debatiam

a legitimidade ou não da escravidão e todos os que podiam faziam uso de escravos

na sua vida cotidiana.

Proponho a observação das imagens “Escravidão no Brasil.”, de Debret

Fonte: http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/usp/primeiro_trimestre/imagens/Debret/tomo_segundo/e.64_p.15.html

Debret: PalmatóriaFonte: http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/usp/primeiro_trimestre/imagens/Debret/tomo_segundo/e.61_p.12.html

A seguir você vai realizar a seguinte atividade:

1 – Em grupo, após as orientações sugeridas, relacione as três propostas (Poesia, Texto e Imagem), descrevendo em um texto, paralelo entre estas questões das relações na época da escravidão e os dias atuais. Leve em consideração aspectos que destaquem a situação atual dos negros, quanto a: trabalho.

Duração desta oficina03 horas aula

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OFICINA 4

CONHECENDO OUTRAS FORMAS DE ESCRAVIDÃO

Objetivo: Entender as outras formas de exploração do trabalho escravo.

Leia o texto abaixo, que irá fundamentar as atividades propostas com imagens nesta

oficina.

Os Escravos de Ganho no Rio de Janeiro do século XIX

Na primeira metade do século XIX, a presença de grandes contingentes de escravos nas ruas do Rio de Janeiro foi fenômeno muito comum, que impressionou inclusive a muitos viajantes estrangeiros que visitaram cidade. Uma parcela considerável desses cativos era constituída pelos escravos de ganho. Estes desenvolviam as mais diversas modalidades de comércio ambulante, carregando as suas mercadorias em cestos e tabuleiros à cabeça, ou transportavam, sozinhos ou em grupos, os mais variados tipos de carga, ou ainda ofereciam os seus serviços em quaisquer eventualidades, até mesmo no transporte de pessoas em seus ombros pelas ruas da cidade nos dias chuvosos ou carregando em suas cabeças barris com os dejetos das residências que à noite eram jogados ao mar.

Os escravos de ganho eram mandados pelos seus senhores à rua, para executar as tarefas a que estavam obrigados, e no fim do dia tinham que entregar a seus proprietários uma determinada quantia por eles previamente estipulada. Existiam também aqueles senhores que preferiam estipular aos seus cativos o pagamento de uma quantia semanal, enquanto outros, em número bem reduzido, exigiam-lhes um pagamento mensal. Com o dinheiro recebido dos escravos de ganho, muitos senhores garantiram o seu sustento e o de suas famílias.

Entretanto, seria um grande equívoco considerar como escravos de ganho somente aqueles cativos que trabalhavam no chamado ganho de rua (comércio ambulante e transporte de carga). Jean Baptiste Debret, atento às particularidades da escravidão urbana, inclui entre os “negros de ganho”, além dos vendedores ambulantes e dos carregadores, os operários, os marinheiros e os quitandeiros de loja. O pintor francês ainda forneceu indicações de que muitos escravos barbeiros, cirurgiões e pescadores também trabalhavam sob o regime de ganho.

A escravidão de ganho era bastante diversificada. As modalidades do ganho de rua eram as mais evidentes e chamavam imediatamente à atenção dos visitantes estrangeiros mais preocupados em registrar os diversos aspectos da vida da cidade, isto porque uma multidão de cativos tomava as ruas da cidade, vendendo os seus produtos e transportando pesados fardos. Porém, as outras modalidades de ganho também empregavam um grande número de escravos e muitas vezes forneciam aos senhores rendimentos muito mais elevados do que o ganho de rua. Uma das práticas mais comuns era os senhores mandarem ensinar ofícios industriais aos

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cativos que, depois do seu período de aprendizado, ofereciam os seus serviços aos proprietários das oficinas e manufaturas. Os fabricantes pagavam-lhes salários e estes posteriormente eram obrigados a entregar aos seus senhores as quantias por eles estipuladas. Da mesma forma, procederam muitos senhores que ensinaram aos seus cativos os segredos da navegação em botes ou barcos à vela na Baía de Guanabara ou a arte da condução de veículos de passageiros pelas ruas da cidade, também lhes exigindo o pagamento de uma quantia diária ou semanal.

Até mesmo a prostituição e a mendicância constituíram-se em modalidades de exploração dos ganhos dos cativos, fornecendo aos senhores consideráveis rendimentos. Apesar de a polícia proibir a prática da prostituição por mulheres cativas, não era raro que os senhores obrigassem as suas escravas a se prostituírem durante o dia ou à noite, tendo estas que entregar-lhes uma soma diária previamente estipulada. Muitos cativos enfermos, inválidos ou idosos também eram obrigados pelos senhores a exercer a mendicância nos logradouros públicos ou nas portas das igrejas, entregando-lhes no fim do dia uma soma pré-fixada.

A venda maciça dos escravos do Rio de Janeiro para as áreas cafeeiras, após a abolição do tráfico negreiro em 1850, veio reduzir o contingente de escravos de ganho da cidade. Não existem números exatos para avaliarmos a dimensão desta redução. Mas alguns contemporâneos afirmam que ela foi grande. Dez anos depois de cessação do tráfico africano, o estatístico Sebastião Ferreira Soares, ao referir-se aos “transportes e outros misteres do tráfico e labutação da capital” enfatizava que estas atividades, que anteriormente empregavam muitos escravos de ganho, já eram desenvolvidas em grande parte por trabalhadores livres (na sua maioria imigrantes portugueses) e podia-se ver muito bem um “menor número de escravos obstruindo as ruas ”. Apesar da redução do seu número, os escravos de ganho continuaram a desenvolver as suas atividades até as vésperas da abolição da escravatura, quando estes ainda podiam ser vistos perambulando pelas ruas da cidade, oferecendo os seus produtos ou carregando pesadas cargas.

Fragmento do texto de SOARES, Luiz Carlos, Rer. Bras, de Hist, São Paulo, v. 8 n 16, PP.107-142, março/88 – ago/88.

Agora observe as imagens:

Debret: Negros vendedores de avesFonte: http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/usp/primeiro_trimestre/imagens/Debret/tomo_segundo/e.63_p.14.html

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Debret: Negros vendedores de cestosFonte: http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/usp/primeiro_trimestre/imagens/Debret/tomo_segundo/e.63_p.13.html

Debret: Barbeiros ambulantesFonte: http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/usp/primeiro_trimestre/imagens/Debret/tomo_segundo/e.61_p.11.htm

1 – Atividades:

- Em grupos, de três participantes, leiam o texto, analisem as imagens dos Escravos

de Ganho (seguindo orientações de aulas anteriores para fazer a análise e

interpretação das imagens) e registrem as diferentes formas de trabalho escravo.

- A seguir, utilizando revistas de circulação atual, registre as diferentes formas de

trabalho e quais os atores nelas representados. Destaque se é possível perceber

alguma relação de preconceito, discriminação e exclusão social nessas imagens.

- Terminadas as duas primeiras etapas desta atividade, ainda com a mesma

formação do grupo, construam um painel com recortes das imagens das revistas,

sobre as formas de trabalho escravo, ainda exercidas atualmente no Brasil.

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- A partir da leitura do fragmento do texto de Regina Beatriz Guimarães Neto, trace

um paralelo e identifique as mudanças e as permanências ocorridas ao longo do

tempo, no que se refere ao trabalho análogo ao de escravo, hoje, no Brasil.

Fragmento do Texto de Regina Beatriz Guimarães Neto:

Duração desta oficina

03 horas aula

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Atraídos pela propaganda oficial, brasileiros de todas as partes tentaram a sorte na Amazônia, no início da ditadura, mas em vez de prosperidade encontraram um território controlado pela violência e trabalho escravo.

Atraídos pelas promessas do Eldorado amazônico, homens e mulheres, em situação de grande pobreza, três décadas e meia depois se deslocam de forma constante pela região em busca de trabalho. Ora atuam nas áreas de mineração, ora participam das derrubadas da floresta. E ainda nas grandes lavouras de soja, algodão e milho. Excluídos do mercado regular de trabalho e sem qualquer documento de identidade, recebem variadas denominações, sempre pejorativas, nos lugares por onde passam. São conhecidos como “peões de trecho”, “andarilhos” ou “pés-inchados”. Move-se de uma cidade para outra, mudam de região e de estado. Esses trabalhadores transformam o próprio caminho que percorrem na sua morada. Trabalhar e caminhar, para eles, é sinônimo.

TERRAS PARA TODOS

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OFICINA 5

TRABALHANDO COM IMAGENS CINEMATOGRÁFICAS

Objetivo: Propor, através do filme Besouro (produzido em 2009 – Direção de João

Daniel Tikromiro), uma discussão sobre o papel das imagens, e no caso específico

do cinema, a difusão de imaginários sociais sobre a escravidão e do cotidiano dos

ex-escravos, uma vez que a escravidão por lei já havia sido abolida no Brasil.

Recursos utilizados Fragmentos do filme Besouro e fragmento de texto.

Metodologia da oficina1ª Etapa – Situar as condições de produção do filme, assistir e analisar fragmentos do filme Besouro.2ª Etapa – Leitura e comentários do fragmento do texto de Letícia Vidor de Sousa Reis sobre a Capoeira.

SITUANDO O ALUNO

A História do filme se passa em um cenário mítico e histórico no Recôncavo Baiano em 1924, menos de 40 anos após a abolição da escravidão, os negros continuam a ser tratados como escravos. O Candomblé é reprimido e a capoeira é proibida por Lei.

Os negros começam a se organizar para terem seus direitos respeitados e são liderados por Mestre Alípio, que por causa de sua luta pela liberdade é jurado de morte e passa a ser protegido pelos capoeiristas e por seu principal discípulo, Besouro.

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ELEMENTOS PARA ANÁLISE

A partir das oficinas já trabalhadas e da análise das imagens do filme, serão tecidas relações com o conteúdo estudado, através da problematização de situações-chave contempladas no filme, tais como:

- Capoeira- Trabalho forçado no engenho- Racismo- Religiões afro-brasileiras

Faça a leitura do fragmento do texto” A Capoeira” de Letícia Vidor de Sousa Reis.

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A existência da capoeira parece remontar aos quilombos brasileiros da época

colonial, quando os escravos fugitivos, para se defenderem, faziam do próprio

corpo uma arma. Não há indicações seguras de que a capoeira, tal qual a

conhecemos no Brasil ainda hoje, se tenha desenvolvido em qualquer outra parte

do mundo.

Como não existem pesquisas históricas a respeito da capoeira para os

séculos XVI a XVIII, não é possível reconstruirmos o deslocamento da capoeira

do campo à cidade, o que deve ter ocorrido por volta do começo do século XIX,

posto que datam desse período as primeiras referências históricas (até agora

conhecidas) sobre os capoeiras urbanos.

No século XIX, os três principais centros históricos da capoeira eram as

cidades do Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Destas, destacava-se a capoeira

carioca em virtude da presença maciça e organizada das maltas de capoeiras, as

quais se distribuíam por todas as freguesias da Corte.

Durante a primeira metade do século XIX, a capoeira parece ter-se

configurado como uma experiência essencialmente escrava. Entretanto, a partir

dos anos 1850, altera-se a composição étnica e social de seus praticantes, com a

incorporação de libertos e livres, muitos dos quais brancos.

A CAPOEIRA

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AVALIAÇÃO

Objetivo: Propiciar ao aluno uma retomada das oficinas para contribuir com sua

aprendizagem.

Para a avaliação e a socialização da aprendizagem os alunos terão que, em grupo confeccionar um mapa conceitual o que possibilitará uma retomada dos conceitos abordados em todas as oficinas.

Será dada ênfase no mapa conceitual aos seguintes aspectos:

- A Vinda da Família Real

- Papel do Trabalho Escravo

- Diferenças Sociais

- Resistência

- Formas de trabalho

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. LEI N. 11.645 de 10 de março de 2008. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

GUIMARÃES NETO, Regina Beatriz. Terras para todos in: Revista Nossa História. Ano 2, n 19. São Paulo: Editora Vera Cruz, 2005.

LIMA, Valéria. J.-B.DEBRET. Historiador e Pintor. Campinas, SP. Editora Unicamp, 2007.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; SOUZA REIS, Letícia Vidor de, (organizadoras). Negras Imagens. São Paulo, 1996. P.42-43.

SOARES, Luiz Carlos. Os Escravos de Ganho no Rio de Janeiro do século XIX. In: Revista Brasileira de História. São Paulo, v.8 n 16, P.107-142, março/88- agosto/88.

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil Africano. São Paulo. Editora Ática, 2006.

VAZ, Paulo Bernardo F; MENDONÇA, Ricardo Fabrino; ALMEIDA Sílvia Capanema Pereira de. Quem é quem nessa História? Iconografia do Livro Didático. in Vera Regina Veiga França (org). Imagens do Brasil: modos de ver, modos de conviver. Belo Horizonte. Editora Autêntica, 2002.

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