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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

1

LEITURA E RELEITURA DA OBRA DE CÂNDIDO PORTINARI

MÁGDA SALA ZAMBON1

ÁUREA MARIA PAES LEME GOULART2

RESUMO

Este artigo apresenta uma proposta de releitura e dramatização das obras de Cândido Portinari, valorizando sua produção artística sua temática social. Propor a releitura das obras que contemplam cenas de um Brasil cuja diversidade cultural desconhecemos e dramatizá-las, constitui-se num desafio, pois este trabalho não apresenta uma imitação da realidade, mas oportuniza ao aluno um processo de internalização, observando a situação social por meio da arte, vivenciando-a e recriando-a. O Projeto de Intervenção, objeto de descrição deste Artigo, foi implementado no Colégio Estadual Helena Kolody, com o propósito de oportunizar ao aluno a dramatização pautada no conhecimento do outro – Portinari -, sendo necessário o exercício da criatividade, socialização, práticas que facilitam ao aluno a oralidade. Partindo dos momentos de estudo, a dramatização auxilia o aluno a amadurecer sua visão de mundo, pois o ato de dramatizar firma-se na construção social do homem em seu processo de desenvolvimento. Na proposta desenvolvida houve o seguinte questionamento: em geral, nas escolas, por que somente alunos que não têm dificuldades participam e destacam-se nos mais diversos eventos? Propusemo-nos assim, dar oportunidades de participação a todos os alunos, auxiliá-los a superarem os próprios limites. Este foi, sem dúvida, outro desafio do projeto, pois foi objetivo nosso também, por meio da valorização da arte, da releitura das obras de Portinari, dar suporte ao aluno no momento de suas escolhas, agindo e interagindo em favor de mudanças no seu relacionamento com a escola, com o professor, com o colega e consigo mesmo. Resultados: foi possível observar que os alunos envolvidos foram capazes de responder significativamente ao conhecimento da produção artística de Portinari, manifestando sensibilização para as questões sociais próprias do seu lugar, alcançando desenvolvimento afetivo-cognitivo e cultural, ultrapassando o status de mero observador, para o de agente participativo, de cidadão atuante no meio onde está inserido.

1 Professora da Rede Estadual do Ensino Médio, Graduada em Educação Artística, Licenciatura Plena pela

Universidade do Oeste Paulista e Graduada em Pedagogia – Licenciatura Plena pela Universidade do Oeste

Paulista; Pós Graduação em Didática – Fundamentos Teóricos da Prática Pedagógica pela Faculdade de

Educação “São Luís” 2 Professora mestre e doutora em Educação pela Faculdade de Educação da USP (FEUSP), especialista em

Fundamentos da Educação pela UEM, graduada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Oswaldo

Cruz,-SP, professora aposentada da Universidade Estadual de Maringá e voluntária no Programa de Pós-

Graduação em Educação (PPE-UEM).

2

Palavras-chave: Cândido Portinari; temática social; releitura; ressignificação;

dramatização.

INTRODUÇÃO

Nosso propósito ao escrever este artigo é apresentar o tema selecionado

para o presente trabalho: “Ensino Médio – Conhecendo o Universo Social de

Portinari”, e deste modo relatar o Projeto de Intervenção Pedagógica

implementado no Colégio Estadual Helena Kolody – Ensino Médio e Profissional,

na 2ª série A do Ensino Médio no período matutino, entre os meses de agosto e

dezembro do ano de 2010, do Município de Terra Boa.

Todos nós, profissionais da educação, bem sabemos que nas últimas

décadas toda a escola pública brasileira tem atendido um número cada vez maior

de jovens estudantes advindos das classes populares. Jovens e crianças que

muitas vezes, chegam à escola sem ter entrado em contato com o que

frequentemente chamamos de “mundo da arte”. Abre-se então uma excelente

oportunidade para discussões que devem ocorrer sobre a educação com

equidade e justiça, sobre o acesso à escola, ao mundo das artes e aos modernos

recursos tecnológicos, direitos esses que devem ser assegurados a todos.

Porém, também sabemos que muitos alunos da rede pública sequer têm

em casa computador, a maioria nunca foi ao cinema nem tampouco ao teatro.

Grande parte do que conhecem fica bastante associado à televisão. Deste modo,

podemos seguramente refletir sobre o importante espaço que a disciplina de Arte

vem conquistando também nos últimos anos. Aos poucos, neste novo contexto,

ela pode aproximar o aluno da arte por inúmeros motivos – para apreciá-la,

respeitá-la, para, por meio dela, apreender a realidade, ressignificá-la e

principalmente para senti-la e humanizá-la. Entretanto, não é difícil percebermos

que grande parte de nossos alunos têm dificuldade na expressão oral, bem como

apresentam comportamento tímido e resistente quando o professor lhes propõe o

desafio de participar de dramatizações nas diversas atividades escolares

cotidianas: seja para declamar um texto ou poema, na apresentação de um

seminário, no posicionamento diante de um debate, até mesmo na leitura de um

3

simples texto em sala de aula. Frente a tais circunstâncias é que julgamos o

trabalho desenvolvido e implementado, por meio do Projeto de Intervenção que

ora relataremos, bastante positivo para o enriquecimento do conteúdo explorado

nas atividades do cotidiano escolar.

A disciplina de Arte expressa uma determinada visão de pessoa e de

realidade. Por meio dela, é possível que o aluno, auxiliado pelo professor, se

aproprie do conhecimento, interaja com todos aqueles com quem convive na

escola, conheça-se melhor e deixe-se conhecer. Cabe-nos mais uma vez lembrar

que, muitas vezes, o professor, da disciplina de Arte, encontra dificuldades para

desenvolver determinadas atividades, uma vez que muitos alunos recusam-se a

participar delas. O mesmo ocorre quando a escola organiza seus eventos internos

e estes envolvem a disciplina de Arte; se observarmos atentamente

perceberemos sempre a participação mais efetiva de alunos que já possuem

experiência de representar, em oposição aos alunos intimidados que participariam

apenas por se sentirem coagidos, visando à nota.

Nossas reflexões nos levaram então a questionar a respeito dessas

práticas, procurando outras que contribuíssem para que os alunos de fato

alcançassem maior conhecimento na disciplina de Arte e, em decorrência,

experiências de aprendizagem que os auxiliassem a participar de eventos e de

apresentações culturais. Entendemos também que ao professor cabe uma tarefa

de importância indiscutível: no ambiente da sala de aula mediar não apenas a

apropriação dos conhecimentos científicos, mas mediar também a superação de

limites de seus alunos, reconhecendo que muitos deles, sem a presença, o apoio

e o encorajamento do professor definitivamente seriam meros espectadores

diante de muitas atividades culturais que a escola pode e deve ofertar.

No decorrer da aplicação de Projeto de Intervenção Pedagógica, tivemos o

cuidado de, primeiramente, auxiliar o aluno a identificar e compreender a

representação da identidade social brasileira nas obras de Portinari,

oportunizando-lhe a expressão oral e corporal, por meio da releitura das obras de

Cândido Portinari voltadas para a temática social. Sob este viés, à medida que os

alunos entraram em contato com as obras de Portinari e perceberam a

intensidade de sua significação com relação à sua temática social, ingressaram

também no universo social de nosso Município. Assim, constituiu-se também

4

nosso objetivo auxiliar os alunos a redescobrir esta realidade, discuti-la e

ressignificá-la.

Este artigo encontra-se organizado da seguinte maneira: apresentamos

inicialmente a Fundamentação Teórica, a seguir os Procedimentos

Metodológicos, os Resultados, as Considerações Finais e Referências

Bibliográficas.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

“Daqui fiquei vendo melhor a minha terra (...). Vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor...” (Cândido Portinari, 1930).

Durante muitos anos, desde a colonização de nosso país, quando a

Companhia de Jesus assumia, organizava e tornava efetiva a educação dos

jovens, conforme as Diretrizes Curriculares de Arte do Estado do Paraná, a

educação ministrada era de tradição religiosa e os registros revelam o uso

pedagógico da arte (PARANÁ, 2008). No decorrer dos anos a educação brasileira

firmou-se cada vez mais em propósitos tradicionais, e, implicitamente, a arte

encontrou-se bastante associada à literatura e à música ficando distante das

camadas populares. Tinham acesso irrestrito a ela apenas os jovens das classes

mais abastadas.

Segundo Azevedo, 1971:

Nos espaços dos colégios jesuítas passaram a funcionar colégios-seminários [...] onde padres-mestres eram responsáveis pelo ensino que continuou organizado sob a tradição pedagógica e cultural jesuítica, ou seja, uma educação estritamente literária, baseada nos estudos de gramática, retórica, latim e música (PARANÁ, 2008, p. 39).

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Ao ingressarmos, por meio de diferentes estudos, nos anos subsequentes

da história brasileira – já nas décadas iniciais de 1900 (em especial a semana de

Arte Moderna – 1922), no período literário modernista, constatamos o empenho

de diferentes profissionais para a valorização da cultura popular. Aos poucos o

ensino de Arte ganha enfoque na expressividade, no espontaneísmo e na

criatividade. O ensino de Arte, pensado inicialmente para crianças, foi aos poucos

chegando às outras faixas etárias. Ainda assim, é possível constatar que já nos

tempos contemporâneos, as aulas de Arte, muitas vezes têm ficado aquém do

que poderíamos esperar, configurando-se como aulas bastante expositivas e

teóricas. Quantas obras de arte, durante as aulas, permaneceram cristalizadas

nas páginas dos livros, quantas técnicas foram apenas analisadas, jamais postas

em prática por alunos sob a orientação de seus professores?

No contexto atual, voltando nossos olhos para o passado, para o trabalho

já realizado, compreendemos a necessidade de superar o que fizemos até hoje,

procurando integrar a arte e a vida, somando conhecimentos específicos e a

experiência do aluno, valorizando assim a reflexão e a crítica. Concordando com

Vygotsky, entendemos que na efetivação do trabalho da disciplina de Arte em

sala de aula, deve haver uma interação entre o sujeito e a realidade, construindo

conhecimentos a partir das relações inter e intrapessoais.

Atualmente, é inegável o avanço e o reconhecimento que a disciplina de

Arte tem recebido nos bancos escolares. Um exemplo bastante concreto é a

Instrução Secretarial n. 015/2006 que estabelece o mínimo de 2 e o máximo de 4

aulas semanais/série para todas as disciplinas do Ensino Médio. Os avanços são

sem dúvida, relevantes e importantes. Hoje percebemos dentro das escolas a

valorização da compreensão de arte que o aluno já traz consigo, daquilo que ele

conhece, aprecia e desenvolve na comunidade onde vive. Enfim, suas

experiências não são mais descartadas com a justificativa de que o ensino deve

ocorrer na ordem de “cima para baixo” – o professor ensina, o aluno aprende.

Toda a quebra de preconceitos a que assistimos acontecer no mundo tem

levado, sem dúvida, a uma transformação no mundo da arte, no entanto, serão

ainda necessárias muitas discussões e reflexões que conduzam a ações que nos

permitam maior compreensão da arte como campo de conhecimento, não apenas

como entretenimento ou terapia.

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Durante nossos estudos, enfocamos o ensino da arte sob uma

perspectiva desafiadora e apaixonante, dando ênfase à oportunidade de criação,

pois também compreendemos que a capacidade de imaginar e criar está

diretamente relacionada às oportunidades de experiências e aprendizagens que a

criança (ou o jovem) tiver a oportunidade de vivenciar. (JAPIASSU, 2009)

Conforme salienta Vygotsky,(1982) quanto mais rica for a experiência

humana, tanto maior será o material colocado à disposição da imaginação, pois

seu trabalho assinala que a faculdade de combinar o antigo e o novo é que lança

as bases da atividade criadora tipicamente humana. Salienta ainda que esta

atividade criadora só é possível com a constituição de um novo funcionamento

psíquico ou “superior” que não nos é dado biologicamente, ou seja, segundo o

autor, a aprendizagem se faz por meio de interações sociais e de modo espiral –

desde cedo o aluno tem a oportunidade de entrar em contato com as mais

diversas formas de conhecimento e informação e, à medida em que vai

amadurecendo, estes conhecimentos e informações cristalizam-se na

aplicabilidade social daquilo que foi experienciado na escola.

Assim, destacamos a grande contribuição, dever e comprometimento do

professor da disciplina de Arte, que vai mediar os conhecimentos, oferecendo

subsídios necessários aos alunos para que esta enculturação seja oportunizada

no ambiente escolar a todos os que lá estão. Vejamos o que diz sobre isto

Leontiev:

O homem não nasce dotado das aquisições históricas da humanidade. Resultando estas do desenvolvimento das gerações humanas, não são incorporadas nem nele, nem nas suas disposições naturais, mas no mundo que o rodeia, nas grandes obras da cultura humana. Só apropriando-se delas no decurso da sua vida ele adquire propriedades e faculdades verdadeiramente humanas. Este processo coloca-o, por assim dizer, aos ombros das gerações anteriores e eleva-o muito acima do mundo animal (1978, p. 282).

Não há o que discutir sobre as afirmações acima, pois vemos confirmar-

se a força do grupo social, da escola e do professor no sentido de atuarem como

promotores do conhecimento, conhecimento este, que nenhuma função terá se

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não for direcionado para as práticas de interação social, caminhando na direção

do outro, e é nesta simbiose que se efetiva o processo ensino-aprendizagem.

Foi sob esta perspectiva que propusemos aos alunos da segunda série do

Ensino Médio do Colégio Estadual Helena Kolody de Terra Boa, entrar em contato

com a vida e obra do grande pintor brasileiro Cândido Portinari, que, segundo

Jorge Amado (1994, p.), foi um dos homens mais importantes do nosso tempo.

“De suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa

gente; com seus pincéis ele tocou fundo em nossa realidade”.

A terra e o povo brasileiros constituem-se na matéria com a qual trabalhou

Cândido Portinari e assim construiu sua obra imortal. Deixou um acervo de mais

de 4.600 obras, distribuídas em mais de vinte países.

O trabalho realizado, não tratou, portanto, somente de “ver” Portinari, tratou

de – proporcionar o conhecimento do autor – Portinari, chegar à releitura de suas

obras e, por meio da intervenção do professor, aproximar-se da realidade social e

cultural brasileiras, construindo diversas “ressignificações”, chegando finalmente à

dramatização de algumas obras ligadas à temática social abordadas pelo pintor.

A proposição da “releitura” das obras do pintor aqui referenciado e a

construção de “ressignificações” constituíram um trabalho de extrema

responsabilidade, uma vez que coube ao professor chamar o aluno a este

trabalho, que num primeiro momento pode confundir-se em realizar meras

“cópias” daquilo que um dia foi artística e historicamente produzido. Porém o

compromisso antes proposto foi devidamente mantido: revelar aos alunos

princípios de ética e determinação, interação social, para então ingressar pelo

processo da releitura. Pillar (2003, p. 15) afirma que “[...] ler uma imagem é muito

diferente da leitura que se faz de uma obra de arte”. Também este foi o caminho

aqui percorrido. Vejamos a esse respeito mais um comentário da autora:

Ler uma obra seria, então, perceber, compreender, interpretar a trama de cores, texturas, volumes, formas linhas que constituem uma imagem. Perceber objetivamente os elementos presentes na imagem, sua temática, sua estrutura. No entanto, tal imagem foi produzida por um sujeito num determinado contexto, numa determinada época, segundo sua visão de mundo. E esta leitura, esta percepção, esta compreensão, esta atribuição de significados vai ser feita por um sujeito que tem uma história

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de vida, em que objetividade e subjetividade organizam sua forma de apreensão e de apropriação do mundo (PILLAR, 2003, p. 15).

A delimitação do trabalho, direcionada para as obras de temática

exclusivamente social do grande pintor Cândido Portinari levou todos os alunos

envolvidos a uma incursão pelo mundo da reflexão, sobre os fatos da vida

cotidiana, percebendo que a fome, o trabalho duro, as grandes ausências, a

diversidade cultural, a aceitação do diferente, tudo isto também está inserido no

contexto das artes, da história e dos tempos contemporâneos.

Sensibilizado, numa viagem dialógica pelo mundo da arte, o aluno obteve

mais segurança ao dramatizar, sem medo de tornar pública a sua oralidade, as

oportunidades constituíram-se nas mesmas para todos os alunos, pois a

proposição aqui relatada de construir dramatizações a partir do conhecimento de

algumas obras de Portinari, firmou-se também no que afirma Vygotsky a respeito

da dramatização, vejamos:

A dramatização, ou a criação teatral infantil é a que está

mais próxima da criação literária infantil. Junto à criação

literária, a dramatização ou a representação teatral constitui

o tipo de criação infantil mais freqüente e divulgada e se

entende que está mais próxima à criança por duas questões

fundamentais: em primeiro lugar, o drama fundamentado

por ações, em situações realizadas pela própria criança,

vincula de maneira mais efetiva e direta a criação artística

com a vivência pessoal.[...] outro motivo de proximidade da

forma dramatizada com o mundo infantil ocorre pela relação

de toda encenação com o jogo. A dramatização está mais

ligada que qualquer outra forma de criação com o jogo,

onde reside a raiz de toda criação infantil, e é por isto a

forma mais sintetizada, ou seja a que contem em si

elementos dos mais diversos tipos de criação (VIGOTSKY,

2003, p. 94-95).

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A dramatização proposta nos trabalhos realizados, além de sua ligação

intrínseca com o processo de criação, auxiliou o aluno na prática da oralidade,

pois, enquanto educadores, é preciso que reconheçamos o relevante e

indiscutível papel que a linguagem ocupa em nossas vidas, seja na modalidade

oral ou escrita. Propor práticas como essas, permitiu-nos auxiliar nossos alunos a

adquirir mais segurança, desenvoltura e espontaneidade em suas ações e

interações não só no cotidiano escolar, como também na vida pessoal.

Ratificamos a presença da linguagem viva e presente em todos os campos

da atividade humana, portanto consideramos que o professor da disciplina de Arte

pode e deve utilizar produções artísticas para estimular o uso e a aplicabilidade

da linguagem em favor do processo de ensino e aprendizagem. Com base em

todos os estudos realizados e práticas pedagógicas efetivadas, podemos afirmar

que, expressar-se, para o aluno, significa ser percebido, significa também ter suas

atitudes e produções reveladas de maneira sincera, permitindo-lhe, portanto,

revelar também seus sentimentos.

Por meio de nossos estudos percebemos que o aluno do ensino médio

pode compreender com um novo olhar que é inerente ao homem produzir

diferentes maneiras de ver e sentir em cada momento da história e em cada

sociedade. Portanto, é primordial considerar as influências sociais, políticas e

econômicas sobre as relações entre os homens e destes com os objetos, para

compreender a relatividade do valor estético e as diferentes funções que a arte

tem cumprido ao longo da história.

[...] toda obra de arte é a expressão da realidade, ao mesmo tempo em que cria a realidade, uma realidade que não existe fora da obra ou antes da obra, mas

precisamente apenas na obra (2002, p. 139).

Assim, reler as obras de Cândido Portinari, tentar “ressignificá-las” com o

olhar e sentimento próprios, tendo em conta os olhos do artista, sempre voltados

para a temática social brasileira, oportunizou a esse aluno, não uma simples

imitação da realidade, mas, num grande processo de internalização, observar a

10

situação social da maneira específica com que a percepção do artista a apreende,

caminhando assim para a dramatização.

Acreditamos que, especialmente para os alunos do Ensino Médio, construir

novas significações e leituras partindo daquilo que de fato foi estudado,

pesquisado e compreendido, foi de grande auxílio para seu amadurecimento, não

apenas enquanto alunos, mas principalmente como pessoas e cidadãos, no

momento em que estes novos significados e estas novas leituras caminham para

a compreensão da realidade cotidiana.

Conforme Vygotsky (1991), a aprendizagem promove, desencadeia,

impulsiona o desenvolvimento das funções psicológicas tais como atenção

voluntária, percepção, memória, raciocínio, imaginação, dentre outros, permitindo

a constituição da consciência. Para isto é necessário que o aluno se aproprie de

instrumentos físicos e de signos dentre os quais, a arte pode ser identificada.

Foi também nossa intenção revelar ao longo do trabalho que o ensino da

disciplina de Arte pode contribuir para o enriquecimento do “letramento” do nosso

alunado, pois não partimos de proposições fragmentadas, isentas de significado.

Valemo-nos de Barbosa3 quando diz:

[...] não se alfabetiza fazendo apenas as crianças juntarem as letras. Há uma alfabetização cultural sem a qual a letra pouco significa. A leitura social, cultural e estética do meio ambiente vai dar sentido ao mundo da leitura verbal (1996, p. 26 - 27).

Acreditamos que auxiliando o aluno a conhecer profundamente aquilo que

está estudando, a encontrar prazer, sentido e sensibilidade naquilo que faz, o

letramento acontecerá de forma natural, dando ao aluno a chance de construir

significados próprios para tudo que vê, ouve e sente.

Nesta proposição defendemos o mesmo posicionamento de Barbosa com

relação à Proposta Triangular, que como o próprio nome indica, sedimenta-se em

três pilares: a Apreciação, a História da Arte e o Fazer Artístico. A História da Arte

3 Obra: A Imagem no Ensino da Arte, de Ana Mae Barbosa. Este livro foi impresso em Guarulhos, nas

oficinas da Cherma Indústria da Arte Gráfica Ltda., em agosto de 2009, para a Editora Perspectiva S.A.

11

seria então o contexto social que se nos apresentou como proposta de trabalho e

de dramatização. A autora citada nos alerta ao pontuar que a leitura de uma obra

é:

[...] questionamento, é busca, é descoberta, é o despertar da capacidade crítica, nunca a redução dos alunos a espetáculos das informações do professor, por mais inteligentes que elas sejam [...] (BARBOSA,1998, p. 40).

O Projeto de Intervenção utilizou o desafio de revelar, por meio da Arte, as

contradições da sociedade, prestando-se desse modo, a uma crítica social, ao

mesmo tempo em que descortinou ao aluno possibilidades de demonstrar seu

talento: lendo, pesquisando, discutindo, compreendendo, internalizando,

dramatizando, praticando sua oralidade.

Finalizando, reforçamos que a arte está em nossa vida. Cotidianamente

necessitamos dela para compreender e conhecer o mundo que nos cerca, bem

como nosso entorno, outras culturas, conhecer também nós mesmos, nossas

emoções, nossos temores, nossos anseios e nossas mais diversas

possibilidades. Finalmente acreditamos ser a arte a linguagem da vida.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Em conformidade com o que já antecipamos no início deste artigo, o

Projeto de Intervenção Pedagógica foi implementado no Colégio Estadual Helena

Kolody – Ensino Médio e Profissional, no Município de Terra Boa, Estado do

Paraná, na 2ª série B do período da manhã, com 35 alunos, durante o segundo

semestre do ano letivo de 2010. Seguem abaixo organizados os itens que

descrevem detalhadamente os procedimentos metodológicos que foram utilizados

em cada uma das etapas:

- Primeira etapa: Conceito de Imagem: Este foi o momento em que

apresentamos aos alunos um breve conceito de “imagem”. Realizamos

explanações sobre o que significa na disciplina de Arte “ler e explicar imagens”.

12

Foram realizadas pesquisas sobre diferentes imagens a qual foram feitas no

laboratório de informática do colégio, onde os alunos tiveram a oportunidade de

debater sobre o assunto.

- Segunda etapa: Leitura de Imagens: Aqui fizemos, de forma breve, uma

explanação sobre a leitura de imagens, destacando dois elementos categóricos

para a leitura de imagens: o primeiro, a respeito do conhecimento de base técnica

e o segundo referindo-nos à criação artística. Foram realizadas pesquisas na

internet no qual os sites visitados foram;

Significado do Guernica de Pablo Picasso (1937)

http://peace_terrorists.blogs.sapo.pt/9487.html

http://wwwbaladegoma.blogspot.com/2008/09/obras-de-arte-releitura-muiiiito.html

http://alemdocaderno.blogspot.com/2009/10/releitura-as-borboletas-romero-

brito.html

A partir do contato e familiarização dos alunos com as pinturas de artistas plásticos eles começaram a pintar a sua arte utilizando lápis colorido. http://www.pintoresfamosos.com.br/?pg=portinari

http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=7

Na sequência foram apresentadas cinco imagens, e os alunos foram

provocados para expressar seus sentimentos sobre as imagens que se sucediam

na apresentação. Feitas as discussões, solicitamos que os alunos pesquisassem

em casa e trouxessem para a sala de aula imagens que lhes chamassem a

atenção. A imagem escolhida por eles foi “Pintura Corporal”. Fizeram a releitura

dessa imagem, assim ocorreu e na continuação das aulas, o trabalho foi

finalizado.

Portal da Educação Imagens

13

http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/arte/2Areia1.j

pg

- Terceira etapa: o conhecimento do outro- “Cândido Portinari”: Ocorreu no

laboratório de informática uma pesquisa sobre a vida e obra do grande pintor

brasileiro Cândido Portinari, e foram elencadas cinco obras voltadas para a

temática social. Foram propostos questionamentos sobre a relação da obra com a

vida das pessoas ali representadas, sua cultura, o conhecimento do contexto

histórico/político/social do observador. Os alunos receberam a informação de que

as cinco obras selecionadas estariam presentes em todas as etapas do projeto.

Assim ocorreu o primeiro trabalho de releitura formal em sala de aula. As obras

selecionadas foram: Os Retirantes, Despejados, Casamento na Roça, Café e

Meninos Soltando Pipas.

http://www.pintoresfamosos.com.br/?pg=portinari http://www.benissimo.com.br/novosite/icones_de_estilo.asp?cod=17&tit=C%E2ndido+Portinari http://www.culturabrasil.pro.br/portinari.htm http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=121

- Quarta etapa - A ressignificação: Nesta etapa, mediante sorteio efetuado por

nós, cada equipe recebeu uma das cinco obras previamente selecionadas e teve

início o processo de ressignificação – partindo do estudo da obra de Portinari,

bem como de um texto informativo sobre a mesma. Os alunos realizaram a

contextualização da obra comparando-a com a realidade do Município em que se

encontravam e uma nova tela foi produzida e apresentada aos demais alunos.

- Quinta etapa: A dramatização: Cada uma das cinco equipes produziu

um texto sobre a tela ressignificada e com o nossa orientação e auxílio, uma

dramatização foi organizada com a participação de todos os integrantes da

equipe. O resultado desse estudo, a transformação das informações em uma

pequena peça teatral foram apresentados aos demais alunos do período matutino

do Colégio.

Abrangência do Projeto: levando em conta a abrangência do Projeto,

desenvolvemos algumas atividades no contraturno, a fim de que todas as etapas

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fossem cumpridas com a efetiva participação dos alunos envolvidos. Os estudos

teóricos, bem como as revisões bibliográficas foram realizados em cada uma das

etapas do desenvolvimento do projeto e serviram de referência para que os

alunos percebessem a importância do ensino da arte nos seus mais diversos

contextos e nas suas inesgotáveis possibilidades de uso, reflexão e apreciação.

Todas as etapas que constam dos itens acima foram cumpridas com

compromisso e seriedade de modo que não encontramos nenhum tipo de

dificuldade para desenvolver as ações, possibilitando-nos assim detalhar os

resultados na próxima seção deste artigo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

É possível afirmar que o Projeto de Intervenção Pedagógica “Leitura e

Releitura da Obra de Cândido Portinari”, implementado entre os meses de agosto

e dezembro de 2010 no Colégio Estadual Helena Kolody – Ensino Médio e

Profissional com a 2ª série B do período da manhã, como já expusemos

anteriormente, foi desenvolvido a contento, atendendo a todas as nossas

expectativas.

Desde os estudos iniciais que conduziram à efetivação deste projeto,

temos por certo que o principal desafio proposto foi o de trabalhar a releitura, a

ressignificação e a dramatização em sala de aula, por meio de obras

selecionadas do pintor Cândido Portinari, com a participação efetiva de todos os

alunos, e mais que isto, nossa expectativa era de que os alunos percebessem

este estudo de modo maduro e prazeroso.

Tendo sido os objetivos muito bem delimitados e estabelecidos, cabe-nos

fazer apontamentos importantes sobre os resultados obtidos com o trabalho

realizado. Consideramos indispensável lembrar de que a oportunidade ofertada

aos professores, de acesso a capacitações, como ocorreu conosco por meio do

PDE, possibilita uma profunda reflexão sobre nossas práticas pedagógicas

cotidianas, é algo necessário e que traz, de fato, inúmeros benefícios aos alunos.

Desenvolver um trabalho de forma organizada, por meio de um cronograma

15

específico, tendo acompanhamento de um professor orientador com a visão

acadêmica que extrapola os muros das universidades, sustenta de modo

inusitado nossa prática em sala de aula. Mais que isto, este é um direcionamento

que não mais perderemos e do qual não mais prescindiremos no retorno definitivo

para a sala de aula.

Quanto aos resultados específicos do Projeto, percebemos que sensibilizar

os alunos a desenvolver um determinado trabalho, é muito mais fácil quando tudo

é previamente planejado, organizado e explicitado aos participantes, como

ocorreu na implantação de nossa proposta. Desde a primeira aula expositiva os

alunos foram inteirados de que o trabalho seria tematizado (tema selecionado – a

violência), como também tomaram conhecimento de que suas produções seriam

conduzidas de forma que toda a comunidade tivesse acesso a elas. Isso os

estimulou a cumprir cada uma das etapas com responsabilidade, compromisso e

principalmente espírito de equipe, uma vez que todos os trabalhos foram

direcionados para que se realizassem dessa forma.

Constatamos que a sensibilização dos alunos para a participação em um

determinado trabalho, quando existe uma organização prévia, como aqui se deu,

fica muito mais fácil e produtivo. Os alunos souberam desde a primeira aula

expositiva, qual seria cada um dos passos a serem seguidos durante toda a

execução da proposta, de modo, que desde cedo já vislumbravam como ficariam

suas telas ao final da releitura e da ressignificação. À medida que iam produzindo

uma nova tela, também discutiam sobre como seria o texto final destinado à

dramatização. Com essas colocações, nossa intenção é afirmar que mesmo o

aluno, que ainda é tão jovem na fase do Ensino Médio, aprecia a organização,

observa se de fato o professor tem fundamentação para o trabalho que propõe

desenvolver e participa de forma mais efetiva quando acredita que o que lhe é

proposto tem significado, de fato vale a pena para seu crescimento interior e para

a construção de novos conhecimentos.

Foi possível identificar a mudança de atitudes e postura dos alunos no

decorrer de cada uma das etapas desenvolvidas. Devido a isto, faremos de forma

sintética a descrição dos resultados em cada uma dessas etapas:

Primeira etapa: Conceito de Imagem: Já nesse primeiro momento, quando

não só o conceito de imagem, mas também o Projeto de Intervenção foi

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apresentado, os alunos demonstraram interesse, participaram fazendo

indagações, trouxeram argumentos para a discussão utilizando seus

conhecimentos anteriores; citaram exemplos de outros recursos imagéticos,

enfim, mostraram-se abertos e desafiados à construção de novos conhecimentos.

Segunda etapa: Leitura de Imagens

Aqui, à medida que as imagens foram apresentadas aos alunos, nós

observamos e registramos os diversos comentários feitos pelos alunos, trazendo

informações fundamentais que os auxiliassem a responder perguntas diversas,

tais como: como as imagens foram geradas? Por quem? Para quem? Por quê?

As discussões foram ricas e mesmo a tarefa atribuída para ser feita em casa foi

prontamente atendida por todos, uma vez que se encontravam muito

sensibilizados para a próxima etapa do trabalho.

- Terceira etapa: o conhecimento do outro- “Cândido Portinari”

Antes de dar início à pesquisa sobre o pintor Cândido Portinari, dividimos

previamente a sala de aula em cinco equipes e trouxemos inúmeras informações

sobre o pintor alvo deste estudo. Os alunos demonstraram muito interesse,

expuseram informações de que já dispunham e realizaram uma investigação da

respeito do autor em questão.

A partir do momento em que cada equipe recebeu a obra que estudaria

mais profundamente para realizar a releitura, os alunos mostraram-se mais

interessados. Por várias vezes nós mediamos a discussão que ocorria dentro de

cada equipe, auxiliando-os a compreender melhor o contexto social da obra

produzida.

Além disto, observamos que os alunos tinham muito sobre o que discorrer,

pois identificavam-se com as situações ali retratadas e nos foi possível permitir

que as discussões avançassem para relatos de experiência sobre situações

cotidianas dos alunos que se assemelhavam àquilo que eles observavam nas

cinco obras selecionadas e que anteriormente já haviam sido elencadas.

Averiguamos que a opção pela seleção de obras que abordam a temática social

despertou ainda mais interesse nos alunos pela vida deste grande pintor. O

momento também foi oportuno para que apresentássemos aos alunos inúmeros

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detalhes da vida pessoal de Portinari, o que na sala de aula causou mais

admiração, mais comoção e também mais respeito por suas produções.

Estes são relatos dos alunos do 2º B sobre algumas das obras de Portinari: Café Na obra Café, de Cândido Portinari, observamos, muitas pessoas trabalhando, onde os homens colhiam e carregavam sacos de café, as mulheres levavam seus filhos para o trabalho, pois tinham que ajudar seus maridos. Ficou muito evidente para nós, as condições precárias em que as pessoas trabalhavam. Pés descalços e inchados, demonstram o sofrimento desses trabalhadores. Suas expressões de cansaço, são claramente marcadas em suas faces, o que nos despertou um sentimento de revolta inexplicável, pois a injustiça demonstrada na obra é tão grande, que somente o patrão estava calçado e usava roupas descentes. Logo após, de tanta revolta, que chegamos a uma única conclusão: tudo que aqueles trabalhadores desejavam naquele momento seria pelo menos, um minuto de descanso e um pouco de solidariedade. Ao realizarmos a releitura da obra Café, foram despertados vários sentimentos, mas um tocou com mais força em nosso coração. A vontade de ajudar esses trabalhadores, dizer para aquele patrão, que eles são pessoas como ele, que todos somos irmãos. ''Um homem não deve maltratar a sua imagem e semelhança''.

O Casamento Fizemos a releitura da obra Casamento na roça de Candido Portinari e o que se observou pela maioria dos integrantes que a noiva está com um vestido longo, branco e rasgado. E notamos o triste e confuso olhar da mulher. Já o noivo com a camisa combinando com o véu da noiva e um pequeno chapéu de palha, está pensativo olhando para o nada. O casal está magro, desnutrido e para alguns dos integrantes existe uma impressão que o casal não parece feliz, como se eles estivessem sendo obrigados a casar. Ao lado dos noivos estão alguns montes de carvão que parecem um caminho. Ao fundo da obra houve algumas divergências, para alguns integrantes parece um fim de tarde, como se estivesse escurecendo, já para outros, o fundo escuro está formando uma tempestade. Existem duas crianças felizes uma delas soltando uma pipa, e a outra correndo para pega-la. Observaram ao fundo uma casa que para alguns é um seleiro e para outros uma casa dos senhores. A obra casamento na roça despertou em nós certa tristeza e desilusão. Pois um casamento é algo de grande alegria ao casal, mas, o que vemos na obra não é realmente isso.

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Os Despejados.

Há na obra seis pessoas: três são crianças (dois meninos e uma menina) e três mulheres, aparentemente idosas. Eles parecem ser muitos pobres, devido às vestes retalhadas e aos pés descalços. Também possuem uma grande saliência somente na região do estômago, o que imaginamos que fosse às chamadas “barrigas de verme” típico de pessoas que passam fome.

Estão localizados à beira de um trilho de trem, com suas malas no chão. Devido às expressões dos rostos daquelas pessoas e também ao título da obra, imaginamos que eles estejam partindo contra a vontade, pois, ao olharmos para eles sentimos grande tristeza em suas expressões. As mulheres que aparecem na obra, nos deram à sensação de sofrimento, pois todas têm a pele muito ressecada e parecem estar muito cansadas.

O fundo da obra transmite a sensação de um lugar seco, desmatado. Devido a este motivo, associamos a idéia de que, talvez uma forte queimada tenha passado por aquele lugar, queimando árvores, casas e por este motivo eles estejam partindo para outro lugar.

A obra Os Despejados causou em cada membro do nosso grupo um sentimento diferente, porém gerou também um sentimento em comum a cada um de nós: compaixão; devido ao fato de que, segundo as conclusões que tivemos sobre a obra, não gostaríamos de estar no lugar daquelas pessoas que pareciam tão infelizes. Pelo contrário, gostaríamos de poder ajuda – los naquele momento para que enfim, pudéssemos ver no rosto de cada uma daquelas pessoas um belo sorriso.

Retirantes: O nosso grupo fez a releitura da obra de Candido Portinari "Retirantes". Constatamos que se trata de uma família que vivia no campo e por causa de uma seca que prejudicou toda suas plantações, precisaram ir embora de suas casas para poderem sobreviver. Mas todos da família estão muito tristes e cansados pelos acontecidos. Seguindo para a cidade a procura de novos empregos e atrás de cuidados pelos seus filhos e netos que estão muito doentes com desnutrição e barriga d'água. A família perdeu seus investimentos na roça e por causa disso não tenham dinheiro para comprar roupas ou até mesmo calçados para as crianças. Os mais velhos estão precisando de cuidados também pois estão muito fracos , estão muito triste por terem que saírem de suas casa pois foi aonde viviam deis de sua infância e tinham muitas lembranças e agora vão ter que reconstruírem sua vida em uma nova casa longe do campo.

- Quarta etapa: A ressignificação

Este foi um momento em que pudemos observar e constatar que os alunos

já estavam mais amadurecidos para a construção de ressignificados, tendo em

vista as ricas discussões ocorridas na etapa anterior. Novamente os integrantes

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das equipes testemunhavam cenas cotidianas que conheciam, e uma situação

comum observada foi a de que a grande maioria dos alunos concordava que ali

retratariam cenas antes já vistas, mas que anteriormente haviam passado

despercebidas. Este foi um momento importante, quando a atenção dos alunos foi

direcionada para o fato de que “olhar e não ver”, atitude muito comum em nosso

dia-a-dia. Prosseguimos reforçando que aí está o diferencial do “artista” que “olha

e vê”, sente e reproduz o que viu e sentiu em forma de arte. Tendo em vista todas

essas reflexões as telas foram produzidas, com o olhar voltado para a temática

social de nosso Município. Aqui é possível afirmar que o resultado superou

nossas expectativas.

Veja algumas imagens do trabalho de releitura sendo realizado pelos alunos, na

seqüência:

Releitura da obra – Café

Fonte – Zambon, 2010

Releitura da obra – Café

Fonte – Zambon, 2010

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Releitura da obra – Casamento na Roça

Fonte – Zambon, 2010

Releitura da obra – Retirantes

Fonte – Zambon, 2010

Veja algumas imagens do trabalho de ressignificação sendo realizado pelos

alunos. Na seqüência: Casamento na Roça, Retirantes, Meninos soltando Pipa,

Despejados e Café, todos sob o olhar voltado para nossa cidade.de Terra Boa:

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Ressignificação da obra – Casamento na Roça

Fonte – Zambon, 2010

Ressignificação da obra – Retirantes

Fonte – Zambon, 2010

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Ressignificação da obra – Meninos soltando Pipa

Fonte – Zambon, 2010

Ressignificação da obra – Despejados

Fonte – Zambon, 2010

23

Ressignificação da obra – Café

Fonte – Zambon, 2010

- Quinta etapa: A dramatização

Ainda mesmo durante a produção da tela os alunos já discutiam o

texto a ser produzido. Nesta etapa, a troca de experiências prosseguiu, e aos

poucos, o desafio de revelar, por meio da Arte, as contradições da sociedade, foi

sendo superado pelos alunos envolvidos, os quais se sentindo íntimos do texto

produzido para a dramatização não encontraram dificuldades em apresentá-lo à

coletividade escolar. Tivemos a satisfação de observar que o trabalho propiciou

aos alunos diferentes oportunidades para demonstrar seu talento – lendo,

pesquisando, discutindo, compreendendo, internalizando, dramatizando,

praticando sua oralidade.

Trilhando caminhos pelo mundo da imaginação, uma excelente experiência

ocorreu com relação à valorização da arte, ao processo de criação, enfim, à arte

como ideologia, como forma de conhecimento e como prática criadora. A

valoração pode ser efetuada, muito além da qualidade da pintura em si e foi

possível identificá-la na aprendizagem que ela representa, no interesse, no

companheirismo com a ajuda mútua, na compreensão das dificuldades do outro,

na criatividade e no desencadear de um outro olhar, ou seja, um olhar diferente,

sob novas perspectivas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que a arte está em nossa vida. Cotidianamente necessitamos

dela para compreender e conhecer o mundo que nos cerca, bem como nosso

entorno, outras culturas, conhecer também a nós mesmos, nossas emoções,

nossos temores, nossos anseios e nossas mais diversas possibilidades.

Acreditamos enfim, ser a arte a linguagem da vida.

Assim, temos plena certeza de que ao realizar o trabalho proposto por meio

do Projeto de Intervenção na Escola, pela desenvoltura e o resultados obtidos

junto aos alunos diretamente envolvidos e o demais alunos que puderam apreciar

as telas pintadas, fomos capazes de responder satisfatória e significativamente

que o conhecimento da produção artística de Cândido Portinari pode

despertar/sensibilizar/conscientizar o aluno do Ensino Médio para as questões

sociais próprias do seu lugar e que ele contribuiu para seu desenvolvimento

afetivo-cognitivo e cultural, tornando-o capaz de ser não só apenas um

observador, mas um agente construtor e inovador da história, seguro de suas

ações valoradas como cidadão atuante no meio onde está inserido.

Em suma, o trabalho em questão colocou o aluno em contato com obras de

arte, não como um compromisso comum de sala de aula em função da

organização dos conteúdos da disciplina de Arte, mas sim com o intuito de

constituir-se numa proposta mais que educacional, mas também social, histórica,

afetiva e cognitiva, privilegiando sua natureza funcional e interativa. Todas estas

observações nos remetem novamente a Vygotski, a suas afirmações de que

quanto mais rica for a experiência humana, tanto maior será o material colocado à

disposição da imaginação. Ao aluno foi possível também analisar o seu próprio

comportamento em sociedade, sensibilizando-se em relação aos problemas

sociais, percebendo também a necessidade do seu envolvimento nas causas

sociais.

“Olhar e ver”: acreditamos que essa aprendizagem tenha sido um dos

nossos maiores resultados, uma vez que ao “ver”, sentimos com muito mais

intensidade aquilo que se cristaliza diante de nós como realidade com a qual

agimos e interagimos enquanto alunos e cidadãos e passamos a perceber

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causas, fatos estabelecer conexões entre estes que anteriormente não havíamos

tomado consciência.

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