helicarnasso, d. tratado da imitação

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II BIBLIOTECA EVPHROSYNE -1 ionisio de Halicarnasso TRATADO DA IMIT A ;ÄO · \ o , . . . . . . . · I .. .. . ' ( . - I J -  ~

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    I

    BIBLIOTECA EVPHROSYNE -1ionisio de Halicarnasso

    TRATADODA IMITA ;O

    \o , . . . . . . . I.. .. .

    ' ( . - IJ - ~- - - .___. . . . a - - - . ' ' jInstituto Na.ci nal de r i v e s t i g a ~ o tentifica

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    DIONtSIO DE HALICARNASSOTRATADO DA IMITA< XO

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    f fOBIBLIOTEC EVPHROSYNE 1 lJs CJ :v,

    Dionisio de HalicarnassoTR T DO

    D I M I T ~ OEditado por

    Raul Miguel Rosado Fernandes

    U F M G BIBLIOTECA UNIVERSITARIA~ \ l l l l l l l l l l l l l l l l l l l390650910

    NO DANIFIQUE ESTA ETIQUETA

    19?

    Instituto Nacional de l n v e s t i g ~ o CientfficaCentro de Estudos Chissicos das Universidades de LisboaLISBO986

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    oma colaborac;o deMARIA FILIPA MENESES CORDEIRQARNALDO MONTEIRO O ESPJRITO SANTOlOSE SJLV 0 MORE RA FERNANDESMANUEL UGUSTO NAIA D SILVA

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    NOTA PR EVIA

    Esta edir;iio e o resultado do trabalho do Seminariode Problematica da Literatura do Mestrado em Literaturas Classica. ) (1982-1984) da Universidade de Lisboa.Os quatro capitulos introdut6rios foram redigidos,respectivamente, pelo orientador do Seminario, ProfessorDoutor Raul Miguel Rosado Fernandes, e pelos alunosDr. lose Silvio Moreira Fernandes, Dr. Manuel AugustoNaia da Silva e Dr.a Maria Filipa Meneses Cordeiro.As notas ao texto ficaram a cargo do Dr. Arnaldo Monteiro do Espirito Santo, tambem aluno deste Seminario.A tradur;ao de que foi preparada uma versao provis6ria por Arnaldo Espirito Santo para ser discutida nassesses do Seminario e na sua forma definitiva, daautoria do Prof. Rosado Fernandes.A apresentar;ao final beneficiou das pertinentes observar;es da Professara Doutora Maria H elena da RochaPereira, a quem deixamos aqui expresso o nosso reconhecimento pelo arecer dado ao INI sobre a oportunidadede publicar;iio do De imitatione em portugues.

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    INTRODU{_;O

    CONCEP

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita ,;aoartes o mesmo que plagiar; significava contudo na antiguidadee ate ao seculo XVIII, algo de diferente, de formalmente diferente,ainda que na essencia tudo seja, antes e agora, profundamenteo mesmo. S6 o acidental mudou, como mudou a moda, como sealteraram os preceitos, que no mundo modemo parecem menosevidentes, como os velhos cnones. Mudou a atitude, o que e significativo, mas no ha duvida de que os autores ou os artistas continuam a pertencer a escolas, continuam a escolher modelos, continuariam a imitar, se a palavra e a noc;o, se o significante e osignificado estivessem em uso, se os realistas ou os neo-realistasse reolamassem dos seus modelos, se os cultores do nouveau-romanafirmassem a paternidade do seu discurso, se os que seguem cuidadosamente as estruturas narrativas de um James Joyce admitissemque claramente o imitam sem que com isso o reproduzam e delefac;am Centes. Tudo isso passou; fala-se de reescrita, de intertextualidade, quando ha um modelo evidente, como e o caso deHomero para o Vlysses de Joyce, ou de Horacio para o RicardoReis de Pessoa 1 mas ja no se fala de imita9do. Na antiguidade

    1 A imita

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    Um Enquadramento para Dionisio de Halicamasso

    no era assim nos tempos antigos se assim podemos dizer, tambem no. Vamos tentar mostn}...lo e examinar a opinio de algunsteorizadores da literatura atraves dos seculos.

    2. Mimese entre s regosJa na antiguidade havia a noc;;o de que a mimese ou imita9o

    era expressa com varios matizes semnticos conforme a posic;ofiJos6fica do teorizador. Para Plato mimeisthai - que no fundosignifica em grego representar por mimica a realidade desdeA primeira parte e dedicada inteiramente pp. 13-153, a La Doctrine de laMimesis. A i n f o r m a ~ o do A. e excelente bem como e correcta a perspeotivaqrue nos da.

    W. Kroll Studien zum Verstndnis der Romischen Literatur, Estugard:a,1924: escrito IPQr este grande mestre da Hteratura latina encontmmos oessencial sobre a i m i t a ~ o nas letras romanas no cap. VII Originalitt undNachahmung (Originalidade e Imita9ao). Introduz o Ieitor moderno nesteaspecto da literatura latina cujos maiores representantes nunca esconderamseguirem os >modelos gregos.Creative Imitation and Latin Literature, edited by Davd.d West TonyWoodman Cambridge s.d. 1979): excelente recolha de artigos sobre a imita-

    ~ o na literatura latina bern oomo na. literatur.a eruropeia que foi influenciada pelos modelos romanos ChatUcer, J. onne e Shakespeare versus Ovidio).E Ullll livro estimulante pela forma despretenciosa embora altamente criticae erudita como apresenta os assuntos. Apontamos como essencial o artigonwnero I de D. A. Russel De imitatione, pp. 1-16, que com muita brevidadecoloca o Ieitor moderno dentro de um problema que ele, moderno tem difiou1dades em compreender.AnibaJ. Pinto de Castro Ret6rica e Teoriza9ao Literaria em Portugal,Coitmbra, 1973: .ainda que seja uma obra muito especializada eextremamenteimportante para o conhecimento das ati1Judes e sensibil>idades dos teorizadoresportrugueses quanto a i m i t a ~ o mUJito especia1mente da orat6ria religiosa.

    Obras genericas sobre literatura la:tina e i l m i t a ~ o fundamentais paraquem desejar abarcar o problema em todas as sruas vertentes so:

    Gordon Wiilliams, Tradition and Originality in Roman Poetry, Oxford 1968;Andree Thill, Alter ab l lo Recherehes sur l imitation dans la poesiepersonneUe a l epoque augusteenne, Paris 1979.Quanto as influencias dos temas classicos na poesia portuguesa e, porconsequencia quanto as tais fontes de i m i t a ~ o de ,que se fala, e extrema-

    mente util a leitrura de M. H. Rooha Pereira Temas Classicos na PoesiaPortuguesa, Lisboa 1972, bem como da mesma A. A A p r e c i a ~ o dos Tn1gicos13

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da I m i t a ~ oo canto do passaro a fala de a lguem- e, portanto, a mimeszsrelaciona transcendentalmente a arte humana com o arquetipoou a dea so que a rela

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    Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnassodas aq;es humanas e outras. Naturalmente que essa i m i t ~ oe pr6pria de muitas artes, como a musica, o canto, a pinturaque servini como exemplo em Horacio para a pr6pria poesia,A.P., 361, ut pictura poesis) e, obviamente, da poesia. Ha contudo

    uma r e l ~ o directa com a realidade, que chega ao ponto de fazerafirmar a Arist6teles que a arte imita a natureza 5 Naturalmenteque o imitar no significa aqui copiar, mas sim fazer como oufazer como a natureza faz, na medida em que o verbo mimeisthaique inegavelmente significa imitar, nem sempre pode ser traduzido como tal, como e o caso da f i r m ~ o contida na Poeticaem que o fil6sofo nos explica qual a d i f e r e n ~ entre a tragediae a comedia: esta quer representar mimeisthai) os homens piores,ao passo que a outra os quer representar melhores do que narealidade . E evidente que no e possivel simplificar demasiadamente o processo imitativo, na medida em que so varios os caminhos seguidos por quem tenta reproduzir a realidade e comunica-laao leitor, ao destinatario em geral, e na medida tambem em quea pr6pria i n t e n ~ o varia, no sem que o poeta o queira fazer sentira quem o le. A c6pia no e servil e permite varia

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    Dionisio de Halicamasso: Tratado da Imita{:oPouco a pouco vini a forrnar-se a teoria da i m i t a ~ o que compreendeni a i m i t a ~ o em si pr6pria, isto e, como t r a n s p o s i ~ oda realidade envolvente por meio de um catalizador, que e opr6prio artista, que transmite o que aprende dos homens, dascoisas e dos acontecimentos ao destinatario, para quem escreve,pinta ou d a n ~ a . Mas no e esta a unica forma de i m i t a ~ o emboraem Arist6teles seja a prevalecente. Nas epocas posteriores viraa criar-se a teoria da i m i t a ~ o de modelos, no fundo, dos cldssicosdos que se ~ e e m na classe, na escola, por serem universais. Cornose deve comportar o artista para com os modelos a imitar, e o quese explicara a seguir.Continuando ainda na Grecia seria possivel observar a permanencia da teoria da mimese por toda a epoca a1exandrina, e e estaque por certo influenciara Honicio, teoria que a nosso ver seafastara cada vez mais dos moldes plat6nicos para seguir a human i z a ~ o que lhe injectou Arist6teles e, mais ainda, para a tornarcada vez mais concebiv-el e perceptivel em moldes praticos. Haviaa n ~ o de que os teorizadores podiam inf.luenciar os artistas,facto de que muitos duvidamos nos tempos modernos, a menosque, tal como nos tempos idos, artista e teorizador sejam umae a mesma coisa. Quer influenciem ou no, ha que observar noentanto os teorizadores, po11que pelo menos so eles que reflectemdo ponto de vista hist6rico as correntes que estavam em uso noseu tempo. Na v:erdade, uma das obras que posteriormente veioa i n ~ l u e n c i a r muito do pensamento te6rico da c r i a ~ o literariafoi uma obra tardia, do seculo I d.C., atribuida a um Longino dedificil i d e n t i f i c a ~ o por falta de provas concludentes, intituladaDo Sublime e que alem de reflectir a p r e d i s p o s i ~ o antiga paraprivilegiar os grandes modelos e o eslo sublime da epopeia, datragedia ou do discurso polico, em o p o s i ~ o por exemplo, aoesttlo obsccenum a representar fora da cena do romance, nostransmite importantes reElexes sobre o que entende o autor sera mimese. Desde os tempos helenisticos e muito especialmentedesde o dominio romano se tinha c o m e ~ a d o a e s ~ r uma tendencia para o retorno aos grandes autores do passado, tendenciaa que poderiamos chamar arcaizante do ponto de vista linguisticoe que se vai acentuar cada vez mais e atingir o seu auge coma segunda Sofistica do seculo II d.C. 0 pseudo-Longino, embora6

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    Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnassono seja um exemplo tipico desse arcaismo nem por isso deixade recomendar no seu tratado Do ublime as diversas formas deatingir a suhlimidade do pensamento tendo para isso presentea teoria plat6nica das tres fases da imitac;o em que o terceiroimitador bem Ionge ficava do arquetipo. Assim Longino aconselhaa imi ac;o e a emulac;o dos grandes prosadores e poetas dosvelhos tempos 8 mimesis e zelosis dos antigos modelos portanto.Quanto aos modelos dignos de serem imitados nada admira:ja ha muito se irnstitufra a ~ p r a t i c a Mas Longino acrescenta maisum dado que e a zelosis lat. remulatio 0 despique ri.mativo ins-pirado pelos ch1ssicos. Existe pois um novo conceito que implicaquase que inveja e competic;o defeitos parece que saudaveis paraatingir a sublimidade da composic;o liteniria. Mais adiante Longinoavanc;a mesmo a descric;o dessa luta competitiva entre imitadore modelo afirmando que Plato no teria atingido to grandesbelezas se no 1ivesse tal como um atleta moc;o 1utado oom todaa al1ma contra Homero para ficar depois no primei ro lugar 9.E pois com esta nota de imitac;o que nos deixa Longino que eao firne ao cabo o tipo de imitac;o que todos acabaro por defen-der com matizes mais ou menos profundos pelos s ~ e c u l o s fora.

    Tambem Dionisio de HaHcamasso falara de mimesis junta-mente com zelos s6 que este ultimo no seni concebido to subli-memente como o de Longino sera sim uma actividade do espiritoque o move no sentido da admirac;o daquilo que lhe parece serbelo 10 . Ternos aqui uma emulac;o ao alcance de muitos sema preocupac;o aristocratica de um Longino que certamente exagerano platonismo e como plat6nico tudo coloca a distncias s6atingiveis quase que pela fe que no pelo espirito do artista menosreligioso.

    Ernbora no encontremos grande novidade nas teorias expen-didas por Dionisio de Halicamasso nem por ~ s s o temos de deixarde reconhecer que o canicter pratico dos seus ensinamentos edirfamos ate das suas parabolas nos da uma ideia concreta muitolonge da inspirac;o plat6nica e mantemos religiosa de Longino.

    8 Do Sublime XIII 29 Do Sublime XIII 4

    to Da I i t a ~ o I 3.17

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    Dion:isio de Halicamasso: Tratado d m i t ~ oA hist6ria do campones que parater filhos bonitos que a si pr6priono poderiam sair pois era feio faz ver a mulher quadros de gentebela para que ao procriar transmitisse essa mesma beleza 11 elucida-nos sobre a necessidade de contemplar e imitar os melhoresmodelos da arte que cultivamos. Assim tambem a hist6ria deZeuxis o celebre pintor grego que em Crotona conseguiu recolherde varios modelos femininos e nus o que em cada um havia demais belo mostra-nos pela imagem que o imitador tem uma

    f u n ~ o individual importante que pressupe escolha e uoluntase exige por conseguinte uma i n t e r v e n ~ o pessoal que no secoaduna com o serviilismo e a ideia de c6pia que esto no fundamento das n ~ s de imita9o-pldgio. Poder-se-a inferir isso simque toda a i m i t a ~ o teria de ser realista e que o realismo seriaa constante da literatura antiga o que no e aceitavel na medidaem que a pr6pria ideia de c o m p o s i ~ o tirada de varios modelospodera ter resultados pessoais que no reflictam necessariamenteo real tanto mais que os cnones estreitos tantas vezes impostosso a nosso ver a primeira e mais importante prova de que nose procura essencialmente a realidade mas as vezes ate comovimos em Arist6teles 12 melhora-1a ou piora.;la. 0 facto de se aconselhar a rivalidade e e m u l a ~ o mais nos convence de que o individuo tem um papel importante no processo de mimese e comotal devera sair da c6pia reaJista que alias dificilmente existedevido ao movimento e drama de tudo o que nos rodeia.

    Na epoca de Dionisio de HaJicarnasso sec. I d.C. ainda sefazia sentir o calor da polemica entre o asianismo e o aticismoque mais no e do que a discusso entre neoterismo e arcaismoas duas vertentes da sempre nova e da sempre velha questo entreantigos e modernos com ref.lexos evidentes no circulo de escritoreslatinos da epoca final da republica como veremos mas que continuara na epoca imperial nas diversas fases em que Atenas procurarenascer culturalmente por meio do e s f o r ~ o de teorizadores literarios e de decadentes renovadores no campo da orat6ria 13 Quando

    18

    a Imitar;o l i 6.12 Vid. p. 15 n. 7.13 Vid. E. No:rden ie antike Kunstprose vol. I p. 258 ss.

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    Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnassochega a Segunda Sofisica e esta dominada pelos mestres de Ret6-rica e por especialistas em exercicios literarios progymnasmata)que apesar da repugnncia que por tais actividades possamossentir no deixaram de ter enorme relevncia no seu temporepresentantes que so de um certo culto da forma e do empenhoem executar os preceitos te6ricos das artes de bem falar. Naturairnente que tinham os seus modelos e como os tinham to-poucolhes era estranha a i m i t a ~ o como teoria e pnitica. Luciano e umcontemporneo condigno dessa epoca de gvande teoriza

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imitac;oa teoria da imitatio apare9a ja formulada. Ternos de esperar pelofinalizar da republica para encontrarrnos tal corno na Grocia darnesrna epoca algurn corpo de doutrina ern que se diga o quepensavarn os Rornanos do processo irnitativo. Ern principio novo pensar muito d i f e r ~ e n t e m e n t e dos Gregos, m ~ s tarnbern noe possivel ignorar que vo seguir caminhos rnais pragrnaticos ernuito mais pedag6gicos no contrastando neste aspecto corn opendor generalizado do Romano ern seguir a passo firme peloscarninhos da pratica. Ha urna no9o cada vez mais segura do quese possa charnar boa ou ma irnita9o. preciso ler rnuito terouvido rnuito para ser um bom orador diz Cicero no De Oratore 16,e Horacio aconselha a cornpulsar dia e noite os exemplaria Grceca 17,no porque estes sejarn gregos, diz D. A. Russe , mas porque eramde qualidade 18 De facto a leitura dos classicos e o principio uni-versalmente admitido e agora aconselhado de forma categ6ricapelos teorizadores e nos dois casos indicados artistas igualmente.No entanto ha forrnas rnenos subtis de irnitar taJ. como acontececom os orado1:1es mais fracos que s6 imitam o que e facil, adverteCicero: Conheci frequentemente muitos oradores que persistiarnern irnitar ou assuntos faceis de copiar ou rnesmo quase defeitosbern conhecidos. Nada e rnais facil do que irnitar a forma de vestirde alguem ou a sua posi9o ou o seu andar 19 . Esses so irnita-dores a quem Horacio charna de gado servil seruum pecus 20 econtra os quais no se esquece de alertar na Arte Poetica o candi-dato boa poesia: E to-pouco procuraras corno servil. interpretetraduzir palavra por palavra nern entraras corno irnitador emquadro rnuito estreito de onde te irnpediro de sair a tirnidez e aeconomia da obra 21 .

    Na verdade imita9o no supe servilismo pois os bons modelos so na teoria horaciana publica materies priuati iuris 22, isto e

    2

    16 I 218; II 85 131.17 Arte Poetica 268-9.18 D. A. Rus,sel, art. cit. p. 1.19 e oratore II 90-1.o Epist. I 19 19.

    21 rte Poetica 133-135.22 rte Poetica 131.

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    Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnassomateria a todos pertencente que seni legitima perten

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    Dionisio de Halicamasso: Tratado da ImitQ fiioprivado e criativo podia com efeito preservar-se dentro de umatecnica que permitia a imitac;o deolarada, ao inves do que sepassa com os autores dos nossos tempos. Isso no impedia contudo que ja na pr6pria antiguidade se tivessem levantado problemas de indole etica e artistica como os que hoje so conhecidosda nossa sensibilidade 4

    4 0 pl gio na antlguidadeA ideia de klope furto, pldgio) ou de plagium roubo de gado,de escravos, pldgio) ja existia na antiguidade a par da de mim sise de imitatio. Ao firn e ao cabo quem copiava demais roubava omodelo. Cornoern todos os roubos havia evidentemente graus de

    gravidade do crime tanto mais que os criticos ao imputarem-nonem sempre esto livres de certo facciosismo e subjectivismo.Seja como for, interessa saber que a ~ o de plagiato existia,embora de uma forma mais difusa por vezes mais pessoal e colerica, no respeitante aos acusadores mas sem que um autor porexernplo, de hist6ria se sentisse sempre na obrigatoriedade de citaras suas fontes. De resto em todas as artes se pe o mesmo problema da dependencia de artistas literarios ou plasticos dos modelos que porventura lhes so atribuidos e nada impediu como jase disse a principio que artistas modernos buscassem modelosantigos e sobre eles fizessem variac;es, sem que por isso perdessem a sua originalidade (Pessoa, Joyce, etc.). Lembramos aprop6sito as pec;as de J. S. Bach sobre temas de Vivaldi, que nuncaforam consideradas por nenhum critico ou por qualquer colega,como tendo sido furtadas ao compositor italiano. Julgamos defacto que o termo varia9es, que vem do mbito musical, podede certa forma ilustrar o quese pretendia com a imitac;o, sabendon6s todos de antemo que quanto menos forem as varia9es,mais se aproxima a obra analisada do furto e do plagiato.

    Para coligir as opinies antigas que abonavam ou no a originalidade dos artistas so de excepcional utilidade os comentadores

    4 Vid. C. 0. BrJnk, Horace on Poetry vol. I Cambridge 1971 comentario ao v. 134 da A. P22

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    Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnassoe os escoliastas. Tanto na Grecia como em R o m a ~ esses f i l 6 ~ o g o s ljuntamente com os teorizadoresl expendem juizos sobre os grandesnomes da literatura e por vezes fazem-no com algum veneno.Escapavam automaticamente a quaisquer criticas os chamadosinventores dos generos liteniriosl como Homero para a epicalmodelo de todas as g e r a ~ e s vindouras no sabemos se por seremos primeiros do ponto de vista e s c o l a r ~ e 6 b v i o ~ se por se desconhecerem os seus antecedentes. Entre os inumeros exempJosooligidos de a o u s a ~ e s de plagiato a varios autores da antiguidadellembremosl s6 para exempHficar e sobretudo para mostrar quenem os grandes nomes estavam ao abrigo de a c u s a ~ e s desse genero,que Ateneu nos transmite a opinio do historiador Teopompode Quiosl no seu Ataque a Escola de Plato que afirma peremptoriamente: Poder-se-ia descobrir que em grande parte os dialogosso inuteis e falsos; na maior parte so de autoria diversal sendoalguns tirados dos discursos de Aristipo e muitos tambem dosde Brison de Heraaleia 25 . Corno vemos nem Plato escapou a

    a c u s a ~ e s o que :iJlustra o facto de que mesmo os antigos corriamos mesmos perigos que os nossos contemporneosl ainda que houvesse maior liberdade de imitar e ate a ideia clara de que imitaros grandes modelos era positivo. Nem assim contudo se deixavamos intelectuais da antiguidade de se mimosear uns aos outros comrequintes identticos ao usadopelos arstas do nosso tempo ...Assim no admira que os difamadores de Virgilio, do generode AuJo Gelio e de Macr6bio 1 se comprazam em lhe apontar passosimitados de Homero e mal imitados segundo eles ou mesmo emdar a entender que de furta se t r a t a ~ como M a c r 6 b i o ~ que depoisde apresentar uma lista de passos imitados por V i r g i l i o ~ nos diz:Ha outros passos de muitos versos que Maro transferiu dosvelhos poetas para a sua obra apenas mudando poucas palavras.E porque leva muito tempo a transcrever inumeros versos de amboslassinalarei os livros antigos, para que quem o deseje possa rele-lose admirar-se ao conferir a s e m e l h a n ~ a entre os dois passos 26 .

    25 Deipnosofistas 508 c.26 Esta e, entre muitas uma das a1uses malevalas de Macr6bio, Satur

    nalia 6 2 30. Mas tcxlo o livro 5 esta recheado de c o m p a r a ~ e s {com Homero)e aluses congeneres. A mesma atitude se encontra em Allio Gelio em diversos passos das Noctes Atticre 9 9 12-16 e passim. Vid. Rene Marache, La criti-23

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imitat;oNao eram os antigos to cerimoniosos com as c u s ~ e s depldgio, como podemos sentir no vituperio l n ~ d o por Cicero

    contra o seu ille noster Ennius to louvado no Pro Archia, masnem mesmo assim poupado no Brutus: Muitas coisas de Nevioou tomaste se o confessares ou surripiaste se o negas .

    Ilustram estes exemplos o que se passava na antiguidadea firn de que o leitor mode1:1no no se c o n v e n ~ de que ento seimitava sem limites embora se aprendesse o processo na escola.A i m i t ~ o nos tempos actuais e mais complicada porque tendodeixado de ser regra mas defeito e criticavel vicio e por vezesmenos facilmente detectavel.

    Seja como for o sentimento dos antigos era polarizado entrea neoessidade de seguir os bons modelos e o criterio de que ai m i t ~ o devia ser feita no s6 com o conhecimento do espiritoe da forma daqueles mas tambem com a componente criativado pr6prio artista. No se mudou essencialmente a atitude nodecorrer dos seculos como podemos avaliar por alguns exemplosescolhidos do Humanismo e das epocas posteriores ate ao sec. XIX.

    5 A imita;o n literatura crlstSeria errado pensar que os grandes escritores cristaos tivessem

    dado menos importncia aos modelos que imitavam bem comoa sua nova realidade religiosa. Modelo e realidade espiritual eramdicotomia que os preooupava na medida em que alguns educadosna d m i r ~ o dos grandes classicos pagos tinham dificuldadeem deles se libertarem. E esse um dos aspectos mais marcantesna p o s i ~ o nova das autores cristos faoe aos velhos e novosmodelos face ao prazer puro Iiterario contraposto a actividadeartistica ao s r v i ~ o de uma causa espiritual. Vamos contentar-nos

    que litteraire de Iangue latine et le developpeme.nt du gout archa isant auI e siecle de notre ere, Rennes 1952 que demonstra ser a atitude de AulaGelio especialmente motivada quanto a VirgiHo pela sua preferencia pelosescritores arcaicos.

    27 Brutus, 76: A Nreuio uel sumpsisti multa si fateris uel si negassurripuisti.

    24

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    Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnassocom os testemunhos de S. Agostinho e de S. Jer6nimo que pensamos exprimem o essencial dessa atitude recente e que tentavaem vo, cortar com o passado tal como acontece geralmenie comas viragens revolucionarias.S. Agostinho aponta bem a aherac;o, que se tinha dado noseu espirito quanto a tudo o que tinha aprendido da literaturapag e insiste na bondade das letras crists em relac;o as queconhecera nos tempos em que andava no erro e desviado do bomcaminho. Por isso, na sua paixo de ne6fito no deixa de impressionar o leitor moderno mais atento pela ingratido que revelapara com a cultura que o tinha por que no dize-lo, amamentado.Lemos de facto nas Confissoes: Na verdade eram de qualquerforma melhores porque mais pr6ximas da verdade as primeirasletras que me formaram e permitiram ter capacidade de ler sealgo de escrito encontro e de eu pr6prio escrever o que quero.So melhores do que as outras pelas quais era obrigado a aprenderos errores de um tal Eneias esquecido dos meus pr6prios errorese a chorar a morte de Dido, porque se matou por amor enquantopobre de mim eu pr6prio permitia nesse tempo que de olhosenxutos eu estivesse de ti afastado 6 Deus, minha vida 28 Eis amudanc;a radical demodelos a imitar e como na antiguidade pagno s6 se pretendia imitar a letra mas o espirito tambem s6 queo espirito no era mais profano mas sim reHgioso e regido porum s6 livro, a Biblia.

    Mais conhecida pelas variac;es que provocou atraves dosseculos e a atitude de S. Jer6nimo que ele conta nas cartasdescrevendo de forma enternecedora o como tinha comec;ado acusto a abandonar o gosto das letras pags forc;ado pelo seu amora Cristo. Na Carta a Eust quio conta-nos S. Jer6nimo que depoisde ter abandonado todos os bens do mundo e a pr6pria familiano conseguia deixar de ter ternura pela biblioteca que com tantocarinho tinha constituido nem deixar de sentir prazer na leiturados autores pagos como Plauto no meio de uma noite de vigilia,influenciado por certo pela Senpente do mal. Sente-se doente naQuaresma e tem uma viso, em que o seu ente culpado esta presente diante de um tribunal e ai o Juiz supremo o interroga

    28 Confisses I 13 20.25

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    Dionisio de Halicamasso: Tratado da I m i t a ~ i i ofazendo a pergunta habitual quanto a sua c r e n ~ a c o n d i ~ o ) . E eiso dia.logo: Acariado quanto a minha c o n d i ~ o respondi que eracristo. Ento o que presidia d i s s e ~ m e : Estas a mentir. E ciceroniano que tu es, mas no cristo ... ). E S. Jer6nimo e castigado,ate que faz a promessa: Senhor, se alguma vez possuir obrasprofanas, ou mesmo se as ler, e como se te renegasse 9.Desde esta altura a i m i t a ~ o literaria passau a ter a novacomponente crist na escolha de modelos. E evidente que passadoo fervor de S. Jer6nimo, c o m e ~ o u a operar-se nas letras ocidentaisuma habil c o m b i n a ~ o entre as literaturas sagradas e profanas,como vira a ser o caso do Humanismo, com o retorno aos textose o abandono dos comentadores.

    6. 0 Humanismo, S seculos XVII e XVIII e S imitadores0 movi,mento humanista, que na Buropa se o m ~ a s ~

    nos fins do seculo XIV e se acentua na epoca do Renascimento doseoulo XV e XVI, conhece o seu auge em Portugal entre 1500-1600,data no inamovivel mas que facilita a s i t u a ~ o deste fen6menocultural no tempo. Ja L o u r e n ~ o Vala faz, no prefacio ao livro IIdas Elegantire 3(), c o n s ~ d e r a ~ e s sobre o plagium e plagiarius pla-giador sera palavra do secuJo XIX) 31 No entanto, do ponto devista da imitatio julgamos ser de r e a l ~ a r a querela entre Cicero-nianos, chefiados pelo Cardeal Bembo, e Anticiceronianos, chefiadospor Erasmo e Justo Lipsio 3 A frase de a c u s a ~ o a S. Jer6nimofoi invertida pelos humanistas que, pela boca de Erasmo, dizemChristianus sum, non Ciceronianus - e cristo que SOU e nociceroniano. Seja como for a i m i t a ~ o e aconselhada, e seguida,por vezes mesmo e pregada com ardor, como em Jer6nimo Vida,

    29 Carta XX a Eust6quio, 30; S. Jerme, Lettres, vol. I, Paris, BeilesLettres, pp. 144-145.

    3 ) Lorenzo Valla, Elegantire, Paris, 1532.31 Vid. E. Stemplinger, Das Plagiat . p. 1, n. 1.32 Vid. E. Norden, ob. cit., vol. Il, p. 773 ss. Ecos da querela em

    A. Resende, Ora9o de Sapiencia Oratio pro rostris), Lisboa, 1956 (Pintode Menezes), p. 42 (editada em 1534), em que Resende, p. 40, recorda ospreceitos horacianos da i m i t a ~ o . Vid. n. 17 .6

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    Um Enquadramento para Dionisio de Halicamassoem 1527, que nos diz: Atentai na maneira de adaptar a n6s osdespojos e as insignias dos antigos. Deles tomamos ora a i n v e n ~ obrilhante dos temas, ora o encadeamento e o sentido das palavrase ainda as pr6prias palavras. E no temos vergonha de falar asvezes pela boca de outrem. Quando praticais os vossos furtosem poetas conhecidos, deveis v n ~ r com mais cautela. No vos

    e s q u e ~ i s de ocultar o roubo, voltando noutra d i r e c ~ o o rastodas palavras, e assim enganai os leitores, alterando-lhe a ordern 33.As palavras de Vida recordam-nos que nem sempre foi neme nitida a fronteira equivoca entre i m i t ~ o e originalidade e que

    as repugnncias eticas so menos fortes quando se l n ~ um movimento Iiterario no meio de um entusiasmo que depois c o m e ~ ra esfriar. De facto, em 1561 Escaligero vem a aconselhar a i m i t ~ oem termos mais brandos: Primeiramente, para que escolhamospara imi ar os passos melhores; em segundo lugar, para que tudoo que for por n6s realizado seja por n6s minuciosamente pesadoe examinado e meditado como se fosse obra alheia 34 .

    So estas as atitudes que prevalecem e que vo ser respeitadas,naturalmente com variantes que reflectem sensibilidades diversas,no seculo XVII, em que V6ssio vai publioar em Ameste.ndo e em1647 um tratado sobre a i m i t a ~ o no qual se ocurpa em t r a ~ a rerudita hist6ria da t e o r i z a ~ o sobre este a:ssunto, tanto no querespeita a Poetica como a Ret6rica, fornecendo grandes listas deautores que devem ser Iidos, no ao acaso, mas quando tem algumponto de contacto com a nossa sensibilidade: Para imitar e necessario quese leia o mais notavel, e por vezes s6 a ele; seguidamenteo que for mais parecido; finalmente mesmo os que no foremparecidos, mas que se distingam por um louvor qualquer. Nemsempre por n6s deve ser escolhido o melhor como modelo, masno raro um que no seja to bom, mas que melhor se adaptea nossa Capaeidade 35 .

    33 Marci Hieronymi Vidre Cremonensis, e arte poetica lib. /I/ Roma,1527 111 213-220 traduc;o a publicar por Arnaldo do Espirito Santo .

    34 Julii Cresaris Scaligeri, Poetices libri septem V cap. I, 561 p. 214.35 Gerardi Joannis Vossii, e imitatione cum Oratoria tum prcecipuePoetica deque recitatione ueterum liber Amesterdo, 1647 p. 5. Trata-se de

    uma obra extremamente ordenada, com um excelente indice de materiase com uma intenc;o taxin6mica e pedag6gica evidente.27

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita9aoAs indicac;es de V6ssio exprimem uma posic;o equilibradae uma assunc;o 6bvia quanto a necessidade de imitar. 0 sec. XVIII

    no seni diferente, ainda que a polemica poetica e ret6rica seanime, numa epoca fertil em palavras, que para o moderno Ieitorcaiu um pouco em desuso, mas que continua a ser um manancialde ensinamentos para todos. A imitac;o e estudada e aconselhadaem diversas medidas e artes pelos teorizadores. Escreve-se cadavez mais em vernaculo, e assim limitamo-nos a exemplos portugueses que nos parecem sufidentes, porque muito influenciadospela ltalia, pela Franc;a e, por meio destas, pela Buropa em geral 36alem de apresentarem uma tendencia de retorno aos teorizadoresclssicos evidente. E ass]m que Levto Ferreira afirma sem rodeios:E a imritac;o Senhores) a antiga mestra dos racionais e o seuexercicio e a escola onde aprendemos todos. Com nenhum viventese mostrou a natureza me mais avara que com o homem; querendoque com rigoroso trabalho seja um discipulo de outro, naquilomesmo em que ela e mestra pr6diga e pr6vida dos brutos .Com esta introduc;o Iiga-se o autor a escola aristotelica e continuaa discretear sobre imitarao Iivre e imitarao servil, reproduzindo,naturalmente com aspectos individuais, as teorias dos antigos.A linguagem barroca, influenciada pelo italiano Tesauro, representabem o estilo da epoca, bem como os conceitos, que so o termoque aparece no titulo: Nova Arte de Conceitos, recolhidos daslic;es proferidas na Academia dos An nimos de Lisboa e publicadaem 1718. Leito Ferreira no s6 se preocupa com os modelos eformas de imitar como tambem com os preceitos a seguir paraobter a mutac;o 38 que diferencie a obra imitada do original.Teremos Einalmente de esperar mais alguns anos pela obrade Francisoo Jose Freire, Cndido Lusitano, que na sua Arte Poeticade 1747 para encontrarmos um texto te6rico verdadeiramente representativo do seculo XVIII portugues ligado ao pensamento frances

    36 Vid. Anibal Pinto de Castro, Ret6rica e Teoriza9ao ... a partir docap. II, pp. 43 ss.37 Francisco Leito Ferreira, Nova Arte de Conceitos, Primeira Parte,Lisboa 1718 p. 150 ss. e li9ao setima I, a Imita9ao, quinta e ultimaespecie de exercicio . Na p. 177 c o m ~ a li9ao oitava em que vai esta dar

    as regras para que as imita98es nao pare9am furtos, p. 179.8 Ob. cit., p. 185 ss.

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    Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnassoe italiano, tenta despegar-se dos conceitos do barroco e procuraa nivel da teoria como que um neo-classicismo. Assim CndidoLusitano considera a imitac;o nas suas duas vertentes. A primeirasurge quando define a essencia da Poesia, ao afirmar: que aessencia desta Arte e a imitac;o das coisas, com as quais criameles poetas) novas imagens e se fazem deste modo criadores .. ),o que e certo ... ) e que consiste a essencia da Poesia na imitac;oda natureza ..) 39Mais adiante dedica Cndido Lusitano dois capitulos a imitac;o 40, em que repete a definic;o ja dada e a desenvolve, aindaque as considerac;es essenciais se reHrarn a imitac;o da Naturr,eza.Os universais da imitac;o, como podemos ver, tem sido mantidas sem que haja demasiadas ~ u g s ou qualquer recusa a esteprooesso que pelos vistos pode ser criativo. 0 soculo XIX d e i ~ rpouco a pouco os preceitos da imitac;o, mas nem mesmo assimdeixamos de ver em 1830 a posic;o de Alfred de Musset, que contrasta com a atitude que cada vez mais se ira impor, quando opoeta frances muito claramente defende a imitac;o dentro dosparametras tradicionais: Pourquoi desavouer l imitation, si eileest belLe? Bien plus, si eile est originale ene .meme? Virgile estd Homere et le Tasse est fils de Virgile. l y a une imitation sale,indigne d un esprit releve, c est celle qui se cache et g.e renie, vraimetier de voleur; mais l inspiration, quelle que soit la source estsacree 41 .

    Nem mesmo esta declarac;o lucida evitara que a imitac;ocomo pnitica aberta caia em desuso, pois ja Byron comentava comgrac;a que um Poeta facilmente poderia com excluso de dinheiro)tudo pedir emprestado a outro, excepto os seus pensamentos, porque estes viro sempre a ser reclamados 42

    Com efeito a propriedade artistica passou a ser cada vez maisindividualizada e aparentemente intocavel, o que naturalmente em

    39 Francisco Jose Freire, Arte Poetica ou Regras da Verdadeira PoesiaLisboa, 1748 p. 16.

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    Dionisio de Halicarnasso: ratado da Imitaf_ onada altera as disposi

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    TI

    DIONiSIO DE HALICARNASSO

    1 ida

    Dionisio nasceu em Halicamasso na Asia Menor, talvez entre60 e 55 a.C., e f oi viver para Roma durante a realiza

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    Dionisio de Halicarnasso: ratado da lmitafo2. Historiador

    A faceta do historiador maniJiesta--se essencialmente na elabov a ~ o das Antiguidades Romanas obra em 20 l i v ~ r o s de que restarnos 10 pnimeiros. Dionisio, admimdor fervoroso da virtus romanaoomps uma hist6da que pretendia oonstituitr uma i n t r o d u ~ o aPolibio. No entanto tal intento enoonirou problemas de r e a z a ~ opor abvangea:- um periodo hi1st6rico que ainda hoje se mantemnebuloso. ConHando excesshnamente nos a111alistas romanos aoaboupor p ~ r o d u z r r uma obra qUJe peca pel1a quase total ausenc:a desentido crimoo e pela u t i z a ~ o em:gerada de discuvsos a maneimhelenistica. E neste aspecto que apesar de 1rudo demonstra a:ssuas qualidades de retor ao realimr um exoelente exeKicio dei m i t a ~ o . A exoessliva v e n e r a ~ o pela patrcia adoptiva reflecte-senas caracterfsoas moralizantes e po1it:camen1Je tendenaiosas destaobDa que pouoo interesse sUJscitou nos rseus comrpatriotas gregos,a quem era destinada rpor partilharem o o n r v i c ~ e s ~ t o t a l m e n t e opostas as suas facto a que no .tera sido a1heio o tratar-se da hi,st6riado povo seu ocupante. No entanto o fundamental em Dionf,sioe ter sido o pdm e1]}o grego a esorever sobre este assunto com adimenso :e ampli ude que merecia.

    3. etorFoi nos div,ersos esonitos ret6rioos que Dionilsio melhor mani

    festou as suas qualidades d.e critko literario. A aotividade de I'etorlevou-o, frequentes v e ~ e s a esorever tnatados de ret61I'ica, oorresp o n d e n t ~ e antigo da moderna critica liteniria que eram elaboradosou por inioi,ativa propria ou para satisfazer s o L i c i t a ~ e s de am,igose interlooutores interessados em oonhecer os seus pontos de vistasobJ1e questes lhere:Wi:as de mutuo interesse.Os Escritos Ret6ricos de Dionisio oonstam de cinco tratadose tres cartas: Sobre os Oradores Antigos Dinarco TucididesSobre a Colocafao das Palavras a Imitagao Carta a Pompeioe Cartas a Emeu.0 tratado sobre os oradores antigos e formado pela reuniode dois estudos que ciJxmlavam ~ s e p a r a r d a m e n t e um sobre Lisias32

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    Dionisio de Halicarnassoe outro sobre Is6crates, aos quais se juntou um terceiro sobre Iseu.Segundo o plano de Dionisio, estes tres estudos sobre a p r i m e i ~ rgerac;o de orador;es deveria constituir o pdme:Lro volume de umaobra maJ s vasta sobre a antiga eloquenoia a:tica. 0 segundo volumeabarcania os estudos sobre Dem6stenes, Esquines e Hiperidesoradores da segunda gerac;o. Deste volume possufmos apenas oesorito sobroe Dem6stenes, considerado rpor Dionisio como o orodorque deV>eria ser tomado por modelo. 0 prologo que preoede oprime.iJro volume e de extrema import:ncia para a hist6ria doat1cismo por oonter aquilo a que se pode11i a chamar uma verdade1:m .carta de intenc;es dos ati .cistas- a escola n t ig sujcitos,ento, a violentos ataques por parte da escola moderna, os asinicos.

    0 tratado sobre Dinarco e um estudo critico sobre o estHodeste orador de segundo plano que imi ou Lisias, i p e r ~ d e s eDem6stenes, e cuja ohra oolocava problemas de autenticidade.A um pedido de Elio Tubero, Dionisio escreveu um t:mtadode cri ica Hter{wia sobre Tucidides, oonsiderado por ele o maiorhistoriador grego. De facto, alem do seu valor historico intrinseco,este estudo revela.,se de exoopcional importncia por conter referendas a um escrito de Dionisio em deEesa da H1osoEia politica.DefendendQ-ose dos que o ataoavam, em especial dos epicuristas,adopta a opiJnio, herdada de Is6crates e partilhada pelos est6icos,segundo a qua ret6rica deveria servir a formac;o moral doo11ador e no ser apenas um mero formuhivio e receitas parafazer vingar as causas injustas.

    obre a Colocafo das Palavras e um tratado de ret6ricaprop11iamente dito que corresponde a um estudo m ~ i n u c i o s o e pormenorizado sobre o sentido da 1ingua:gem entTe os antigos, va1orizando, em particular, a intima associac;o da musicalidade dapal,avra oom o seu signi.fioado. Considerado um dos melhorest11abalhos de Dionisio, este tratado oontem a:inda fragmentos dooli11ioos que de outro modo nunca teri:am chegado ate n6s.Do importante tratado sobre a imitac;o oonservou-se apenasuma pequena parte. Na c r t ~ a Pompeio oap. 3), Dionus.io afirmaque este tratado cLevera ser constituido por tres livros: o primekoaborda11ia o problema da imitac;o em geral; o segundo indicariaos pr,iJncipais autores a serem tomados oomo modelos; o tercekoestabelecerua os prooeitos sobre a arte de imitar. Ent:retanto, tmns-

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita9oorev.e uma p a r t ~ e significativa do livro II sobre os h i s t o r i a d o ~ e s .0 tex:to do a Imitafiio chegado ate nos oonsta do Codex Parisilensis 1741 do sec. X. p,ensa-se que se trata de um fmgmentoacvescentado e oopiado no sec. V. Codex Venetus Maroianus 508(sec. XV), o Codex Monaoensis n.o 170 e a Editio Prinoops deH. Stephanus de 1544 so de extrema importncia para a f i x a ~ odo texto do Tratado da lmitafiio

    Os ourtros ~ e s t u d o s peDderam-se oompletamente. Apenas t ~ e m o snotfcia de tres obras criHcas individualilJadamente consagradasa Lisias, Is6orates e Dem,6stenes, de um escrito m defes:a dafilosofia politlica e de um tratado sobre as f i ~ s de estilo.

    No que diz 11espeito a oo 1Iiespondencia de D i o n i ~ s ~ o a primeiracarta a Emeu refuta os argurnentos dos peripateticos que preten-diam enoontrar em Demostenes 'influencias directas da Ret6ricade Arist.Qt,eles. A segunda escrita depois da p u b l i c ~ o do Tucididestenta oompletar a ana1ise do estilo do historiador g,rego oontidano t11atado a ~ e e cons,ag11ado. A Carta a Pompeio admirador fervovoso de Plato pretende respander aos esclareoimentos ~ s o l i o i . t a d o spelo destina:tanio sobre oriticas severas que Dionisio havia feitoa linguagem do fil6so:5o grego. Alem de amenizar o sentido da suacritioa ao eslo de P1ato, aproV1eita a oportunidade para apre-sentaT o plano do Da Imitafiio.

    No e possivel descob11ir nos Escritos Ret6ricos uma doutTinaliterar:ita .ooerente e s ~ i s t . e m a t i z a d a . Menosprezar este aJSpecto dap r o d u ~ o de Dionisio e .oometer a imprudencia de no reconheceTne1e a e v o l u ~ o que vai ap11esentando de escrito para escrito.Esta e v o l u ~ o e o ,11esuhado de um trabalho serio e atumdo quese p11oLonga por mais de 22 anos duran ~ e os quas houve constarrltres l t e n ~ e s dos objectivos prog:ramatioos das esoolas e tam-bem da pratica fovens1e. Ern f aoe de p o s i ~ e s t ~ e 6 r i e a : s extremasadoptou uma p o s i ~ o intermediaentre atkista:s e asinioos. A suaobra aHgura-se de extrema importncia para o estudo da histO.riado aticismo e tambem da propria e v o l u ~ o da retorioa nos finaisdo sec. I a.C.

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    0 TRATADO DA IMITA :AO E A SUA ESTRUTURA

    Tres livros dedicou Dionisio de Halicarnasso ao problema daimita

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita o3 - Por firn, Dionisio d e b r u ~ a s e sobre os conceitos de :i,mi-

    t a ~ o e e m u l a ~ o . Se a respeito de i m i t a ~ o diz que elaIiefunde um modelo o com.entador do texto por sua vez, precisrao conoeito, acr.esoentando que refunde a s e m e l h a n ~ a dos pe.nsamentos. E pois, possivel aHrmar-se que o uso da s e m e l h a n ~oonstitui o segredo do bom imitador oomo ,alias, o haviam deacentuar tambem os nossos doutrinadores de ret6rioa a partirdo Renascimento.

    0 segundo livro trata dos autores que se devem imitar.So de odgem grega todos os modelos apontados se bem quea Hngua latina ja tenha atingido o nivel 1iterario, mais de doissecu1os antes de o autor ter chegado a Roma e ai permanecidodurante 22 anos. A partir da e n u m e r a ~ o feita por Dionisio, sabe-seque Quintiliano elaboraria uma outlia lista.

    C o m e ~ a o autor grego por justificar a d e s c r i ~ o que vai fazerdos diversos modelos susceptiveis de serem imitados. E para Hustrar :refere a lenda da .mulher do campones que sendo feia, ooncebeu filhos bonitos por contemplar ooiJsas belas e o ca/SO de Z e u ~ i sque pintou a mulher be1a, oomo resultado da j u n ~ o dos pormenor.es mais belos de muitas e variadas mulheres.

    No que conoerne aos poetas contam-se como tais HomeroHesiodo Antimaoo, Paniasis Pindaro Sim6nides Estesiooro e Alceu.P.elo realoe ou pela amplitude da d e s c r i ~ o patrece atdbuir--seuma importnoia especral a Homero e a Pindaro. 0 autor acrescenta ainda que Paniasis r.eune as qualidades de Hesiodo eAntimaco que Esteskoro se evridencia precisamente nos aspeotosem que os outros parecem fraquejar e que Sim6nides sobrelevaa Pindarro quanto ao Dom patetico.

    D a ~ a n a l i s e dos tragedi6gmfos- Esquilo S6focles e Euripidesfacilmente se pode ooncluir um certo escalonamento: O esti.losublime do primeiro O m:eio termo do estilo comp6sito dosegundo da muita grandeza ... para a vulgaridade do terceiro.Por outro lado apenas M ~ e n a n d r o e citado entre os comedi6grafose quem so de imitar todas as qualidades estilfstioas ... Quanto a histor:adores, oonstam H.er6doto, Tucidides Xeno

    fonte FiHsto e Teopompo de Quios. Consoante os aspectos emcarusa, Her6doto e Tucidides ora se igualam ora se sobrepem6

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    0 Tratado da Imitat o e a sua Estruturawn ao outro. Filisto, por sua vez, procura seguir, quase sempre,na esteira de Tucidides, enquanto Teopompo de Quios chega aaprox.ti.mar.;Se de Is6crates, no que diz respeito Sua qualidadeestilistica

    Tres grupos de fi.l6sofos so apontados: os plitag6ricos; Xeno-fonte e p},ato; Arist6teles e os seus discipulos. Por motivos diver-sos ou identkos, todos so de imitar.

    Ao terminar a descri

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    VECOS DO TR T DO D IMITA :AO

    No e faoil discernir reflexos da imirta90 de Dionfsrio deHa1icarnasso na literatura posterior. Se atentarmos em algunsteorizadores da Antiguidade poderemos reconhecer ideias semelhantes as de Dionfsio, por vezes, frases inteiras reproduzidaspalavra por palavra. Que se pode concluir dai? Talvez tenhambebido numa fonte mais antiga de que se terta apToveitado opr6prio Dionisio. Poils, como s e pode ve11iHcar pelas suas obrasde hist6ria Dionis.io de Halicarnasso e sobretudo um compiladornem sempre muito feliz, de inscri9es, de lendas de tradi9esmais ou m ~ n o s segum:s, ou seja de tudo quanto lhe pare9a relac1onar se com os acont,eoimentos que ele transmite. Por conseguinte no goza de grande fama nem como historiador nemcomo estHista.

    Vejamos por exemplo Quintiliano. Muito do que ele nos dizsobre a imrita9o foi decalcado sobre os fragmentos que nosrestarnde Dionisio de Halicarnasso 1, a ponto de a verso do autor latinofacilitar a compreenso de certos passos mais obsouros do autorgrego. Quintiliano que na verdade conhecia perfeitamente a obrade Dionisio de Halicarnasso menciona-o vrias vezes, nos outroslivros da Institu;iio , no capitulo em que aoonselha a i:mita9o

    1 Livro X da Institui9o Orat6ria2 IH.I.16; IX.III.89; IX,IV.88.

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    Dionisio de Halicamasso: Tratado da lmitar;ao

    como metodo pedag6gico, apesar de repetir preceitos do seu predeccssor grego, no indica uma s6 vez o nome de Dionisio. E nofoi para afectar originalidade: os Antigas no conheciam esse tipode preocupa

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    Ecos do Tratado da Imita9otinho, cheio de remorsos, recorda o passado da sua alma pecadorae na:rra nas Confissoes V, 1, 6 a d e e p ~ o que lhe dera a Bibliaindigna de se confrontar com a grandiosidade de Cicero.Na mesma epoca, So Jer6nimo declarava numa carta a Eust6-qu o XXII, 30): ... e Plauto chegava-me as mos. Mas se voltavaa mhn e comegava a ler um profeta, o seu estilo inculto horrorizava-me. Corno se depreende, Santo Agostinho e So Jer6nimo,sob o veu de antipaganismo, nada mais fazem que repetir osprincipios chissicos imbuidos de c i t a ~ e s dos modelos biblicos.No seculo XIII, persistindo no mesmo paradoxo, So Tomas deAquino reafirma os principios dos Antigas que simultaneamenteoondena.

    Examinemos, agora, o que Quintiliano teni aproveitado deDionisio: s ~ e r v e - s e da complexa nomenclatura do seu antecessorque traduz em latim e a que acrescenta vanios termos. Veja-se queD1onfsio de Halicarnasso, quando elogia as qualidades de Homerono frag. VI, II descreve: o ethos o pathos o megethos e a oikono-mia enquanto Quintiliano, para qua1ificar o es:tilo homerico, amontoa uma enorme serie de vocabulos Inst. Orat. X, I, 46-51):sublimitas proprietas lcetus pressus iucundus grauis copia bre-vitas amplificationes digressus poetica virtus oratoria virtusadfectus similitudines. Quintiliano deveria ter restringido as suaspalavras, pois parece querer ap1icar, a f o r ~ a a sua c i t ~ n c i a emHomero que era, no entanto, m a i ~ s conhecido pela sobriedade quepor esse aglomerado confuso de termos. Arpresenta, tambem, umoatalogo de escritores onde figuram todos os que Dionisio indicarae, ainda, poetas alexandrinos e autores romanos. Este costume deapresentar um repert6rio demodelos ilustres para serem seguidos,persistiu nas poeticas posteri.ores.

    Com efeito, Escaligero 1484-1558) 3 repete a mesma lista deGregos e de Romanos e junta-lhes alguns contemporneos italianos.

    3 Escaligero 1484-15558). Por meio da sua obra Poetices libri septem queconstitui uma reelaborac;o muito aumentada da poetica aristotelica, sistematiza a doutrina estetica italiana do sec. XVI. Este tratado foi publicadoem 1561 e varias vezes reimpresso; difundiu, com especial impacto em Franc;a,as concluses da especulac;o renascentista italiana acerca de determinadasquestes esteticas.

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imitar;iio0 gosto da sua epoca estava ja um pouco mudado e vemo-lodefender a superioridade dos Romanos sobre os Gregos e atacarcom uma excessiva energia Erasmo.Alguns seculos depoi s, M. V. Lomonosov (1711-65) 4 indica OS

    m ~ e s m o s nomes do classicismo ant,igo, acrescenta alguns autoresf ~ a : n c e s e s polaoos e russos no Breve Manual da rte de Bem falarpublicado em S. Petersburgo.

    P. Fontani:er 5 no seculo XIX enumera mais concisamenteos classicos an igos, mas da a primazia aos escri ores franceses

    A obra divide-se em sete 1ivros:Historicus trata da origem e generos das composi

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    Ecos do Tratado da Imita9ao

    do secuJo XVII e a Shakespeare que os romanticos haviam redes-ooberto.

    Dionisio de Halicarnasso fala dos historiadores como dosoutros escritores poetas ou dramaturgos tratando apenas daquesto estilistica; Quintiliano segue esse exemplo e acrescentaalguns nomes o pr6prio Dionisio e PoHbio) ao catalogo do autorG11ego EscaHgero, que conserva na sua poetica um capitulo paraa histr6ria, teve a p r e o c i p a ~ o de dist:iJnguirr as f u n ~ e s do pootadas do historiador: na sua perspectiva o pdmeiro ao contrario dosegundo no se H.mita a imitar as coisas como elas so po1s asapresenta tambem como elas podedam ser. Os te6ricos das epocasseguintes, baniram a hist6da dos trart:ados de Ret6rica.

    Outra caracteristica de Dionisio, quese reflecte em QuintHtiano,e a inexistencia de fronteiras entre a escultura pintura ret6ricae rpoesia. Ambos divagam de uma arte para a outra sem a menor

    t r a n s i ~ o Erssa perspectiva globalizante interrompeu-se do seculoXIV ao seoulo XVIII e r e o m e ~ u no seculo XIX.

    Ern suma a tese de Dionisio de Halicarnasso percorreu todasas epocas com diversas variantes e subsiste ainda um pouco nasactuairs teorias da c r i a ~ o arHstica.

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    DIONlSIO DE HALICARNAS,SOTR T DO D IMIT Q O

    LIVRO PRIMEIRO0 primeiro deles contem a propria pesquisaacerca da i m i t a ~ o DIONISIO

    A ret6rica e a actividade 1 da arte do discurso com credibilidade 2, utilizado na i n t r v n ~ o pub1ica 3 e tem como finalidadeo hem falar 4A presente tradu9o assenta no texto de H. Usener- L. RadermaoherDionysii Halicarnassei qw e exstant vol. VI, opuscula II Estugar:da 1904-1929),1965, pp. 197-217. No texto portugues no se distingue graficamente o texto

    de D. H. dos textos das muitas fontes utilizadas que o citam e o comentamcomo e o caso de Doxopater e de outros A.A. que se seguem ao frag. IAssim acontecera com todos os frags. As obras de teoria literaria de D. H.publicadas ja com texto e tradw;o nas coleq;es Loeb e Belles Lettresainda no compreendem este tratado de que no existe tradu9o recente.0 texto da Institutio oratoria de Quintiliano, a que a seguir se recorrecom frequencia, encontra-se publicado por L Radermacher Leipzig, Teubner1907-1935; e, com tradu9o por H. E. Butler Londres, Loeb, 1921-1922 Reimp.1966-1969) e por J. Cousin, Paris, les Beiles Lettres, 1975-1980.

    1 Actividade da arte pretende traduzir dynamis technike. Ern Arist6telesle mot de techne est-il souvent rapproehe de celUJi de faculte dynamis).La techne est une faculte de ceer ou plutt elle guide et soutient par samethode notre faculte creatrice Dufour, Aristote Rhetorique Paris LesBeiles Lettres, 1960, 2.a ed., t. I p. 31). Para o conceito de techne em Arist6-teles, vid. Eth. Nie. VI, 4, 1140a 6 ss.

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da I m i t a ~ i i oD o ~ o p a t e r in Walz1i rhetoribus t VI p 17,9 cf proleg in Aphtho

    nium in Montefaloonti. bibLiotheca Coislin p 593 et proleg in Hermogenern t IV p 25, 31 . Posteriormente, porem, no tempo de C6sarAugusto, Dionisio, proveniente de urna fumilia de Halicarnasso,que foi o grande mestre da nossa arte e seu verdadeiro pai, deuda ret6rica uma d e f i : n i ~ o inteligente e adequada, qu.ando disse:A ret6rica ... bern falar. Na verdade, esta d e f i n i ~ o e tida comoboa e muito sabia, pois no diz de .menos nem de mais e r m ascar,actedstkas pr6prias das d e f i n i ~ e s quer dizer, e constituidapor genero e por d i f w e n ~ a s genericas e especificas. Ao dizer aotivtidade, :ilndicou o genero, porque uma acthnidade pode ser comarte ou sem arte. Ao di21er da arte, indicou a d i f e r e n ~ a . Masaorescentou uma segunda d i f e r e n ~ ao dizer COm credibilidade.Depois, visto que no e apenas o retor que possui credibilidademas tambem a medicina e a geometri.a mesmo nestas materiasas d e m o n s t r a ~ e s no devem s ~ r desprovlidas de persuaso, pelooontniri.o, devem ser convincentes), ele juntou algo que e especifico

    2 Bsta defini

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    Dionisio de Halicamasso: Tratado da Imita oda ret6riea, algo que outra r t ~ e no pode possuir. E em que consiste esse algo? Consiste na interven

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita9iioacresoentou uti1izado na interven

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imitar;oSyr.ianus in Hermogenis status p 4, 19 Rah (t IV p 40 adn 6

    WaJzH cf MorellH bibliothecre manuscriptre t I p 299). Dionis:io..o-Velho, seguindo o divino Plato, diz, no primeiro livro Da i.mita-9o que tres so as coisas ... formam um peon. Com efeito,oomo se prodUZJiria o conhooimento da vefldade e da j u s t i ~ e aindamais a c ~ n c i a e a pnitica do belo no homem que aprende a falara partir da fala, etc.

    soho1ia mixta Aldi et Walzii t IV p 41, 1. Mas tambem Dionisiode Halicarnasso sustenta que essas tres coisas proporcionam omais alto gmu de destreza nos disouPsos e i n t e r v e n ~ o pubhlcabem como em qualquer arte ou ciencia: um estudo aturado, umanatureza dotada, uma e x e r c i J a ~ o di1igente. rn virtude disso,Dem6stenes merece a p r o v a ~ o nos gener.os juditCial e deliberativo,mas menos no genero demonstrativo, porque, embo[ a exacto, ternfalta de pnitica.

    III

    A i m i t a ~ o e uma actividade que, segundo detei'Illlinados prin-cipios te6ricos, refunde um modelo 6A e m u l a ~ o por sua vez, e uma actividade do espidto que

    o move no sentido da a d m i r a ~ o daqruilo que lhe parrece ser belo 7As tres palavras que no texto grego formam um peon so: physismathesis askesis (natureza, aprendizagem, exercita9o).s Por mimesis entenderam os antigos, no sentido filos6fico, a imita9o

    do mundo real, ou seja, a recria9o 1iter:kia de costumes, caracteres, comportamentos, ac9es, etc. Sem perder de yista esta perspectiva, os teorizadores da ret6rica reservaram o termo mimesis para designar a imita9ode uma obra liteniria, nos seus mais variados aspectos de conteudo, esrtiloe linguagem. Condenada por Plato, Rep. 597 e, 602 b-c, a teoria da imita9ofoi consagrada por Arist6teles, partkularmente na Poet. passim. Dos estudosmais completos sobre o assnnto, ficou-nos o de Quintiliano, e imit. noLivro X da I 0., o qual se serviu de Dion. Halic. Sobre o alcance da im.ita9ona teoria literaria da Antiguidade vid. D. A. Russel, De imitatione in DavidWest and Tony Woodmann, Creative mitation and Latin Literature Cambridge, Cambridge University Press, 1979 pp. 17-34; J. Bompaire, Lucienecrivain Paris, Brocard, 1958 pp. 21-32.7 A julgar por esta defini9o, Dion. Halic. faz da em.ula9o uma pre-disposi9o de espirito. Atente-se, porem, que uma defini9o como esta, trun-cada do contexto, pode no ser represen tativa do pensamento do seu autor.

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da lmita9oSyria.nus in H ~ e r m o g de formis p 3, 16 Rah t VII p 865,8

    Walzii cf Morellii bibl manuscr p 303). Dionisio, no livro primeif1oDa imita9ao define a i m i t a ~ o desta maneira: i m i t a ~ o ... ummodelo. Corno dizem OS que se lhe seguiram, e ela um discursoou a c ~ o que contem uma bem suced1da s e m e l h a n ~ a do modelo.A e m u l a ~ o por sua vez ... pareoe ser belo.

    Maximus Planudes ibid t V p 440, 5. Dionisio define a i m i t a ~ odesta maneira: i m i t a ~ o ... um modelo. Os quese lhe seguiramdefinem-na assim: e m u 1 a ~ o por sua v z ... pareoe ser belo.

    cf [Dionysius] art rhet X 19 p 394. No devemos considerarque o af1caismo :r:eside no conteudo dos livf1os, mas sim no uso das e m e l h a n ~ a . Com ~ e f . e i t o a i m i t a ~ o no e a u t i H z a ~ o dos pensamentos, mas sim o tratamento, oomo arrte, semelhante ao dos ant,igos.E im,ita Demosterres no aquele que diz o mesmo que Demosterres,ma:s sim o que diz a maneira de Demostenes. E o mesmo se digaquanto a Plato a Horne:r:o. Toda a i m i t a ~ o se resume nisto:

    e m u l a ~ o da arte que :r:efunde a s e m e l h a n ~ a dos pensamentos.a i ~ s extensa seni a e x p o s i ~ o acerca da i m i t a ~ o que em outro

    lugar faremos.IV

    Vita Epipha:nii p 336 c Petauii t I 25, 20 Dind). Com efeito,dizia Dionisio de Halicarnasso que as pessoas, examinando-se umasas outras, podem ser mais belas ou Se os maus se Juntaremaos bons sero expostos na mesma banca. Pois nenhum homemque use uma tunka rota consegue proteger o oorpo. Com efeito,na maior partedas v,ezes e o acaso que nos proporciona a maiorparte dos discursos. E quando OS discursos so em ma.or numero,maior e a experienda de assuntos diferentes.Por emulac;o deve entender-se o esforc;o que leva o imitador a igualar,se no a ultrapassar, o pr6prio modelo. Falando da imitac;o, Quintiliano diz:S6 pela imitac;o no ha crescimento nihil autem crescit sola imitatione)(' . 0., X, l i 9). E logo acrescenta: Tambem sero celebrados aqueles queforem considerados como tendo superado os seus antecessores e ensinadoos seus sucessores Nam erit hrec quoque laus eorum ut priores superasse,posteras docuisse dicantur) 1. 0., X, H, 28).50

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita9aoV

    SyPi:anus in Hermog de formis p 5, 25 Rah t VII 2 p 868, 8Walzii cf Morelli bibl manuscr p 303 . Foi ainda o pr6prio Dionisioque, na parte final do Hvro pri.meiro Da imitar;iio, ao tDatar dopoder de esoolha e da capacidade nos discursos, disse que O quinhomais importante da nossa capacidade Deside na natureza e no epossivel que e1a exista em n6s com a qualidade que desejamospossuir; mas quanto escolha, no ha paroela que no estejanas nossas possibiLidades 8

    E parece que o tratadista que abordou aque},es conceitos cuida-dosamente tambem ele no especirfioou a natureza qrue ha em n6s.schoHa mixta ibid. E ainda o pr6prio Dionisio, na parte finaldo quarto livro Da imitar;iio, diz que do poder de escolha e dacapacidade o mais importante, etc.

    Nos proleg6menos de Siriano, ou seja, no tratado de Febd.mondedicado a Herm6genes, que foi discutido por Rah p 98,20-108, 2),e fd cil convencermo-nos que muita materia foi extraida deste primeiro livro de Dionisio.

    LIVRO SEGUN O

    0 segundo trata das autores que se devem imitar:poetas, fil6sofos, historiadores e oradores.DIONJS 0

    VII Por isso, importa que oompulsemos as obras dos antigos

    para que dai sejamos orientados no apenas para a materia doargumento mas tambem para o desejo de superar as particularida-des dessas obras. Na verdade, pela observa9o continuada, a mente

    8 Cf. nota 551

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    Dionisio de Halicamasso: Tratado da Imitar;iio

    do Leitor v.ai assimilando as caracteristicas do genero, tal comoa 1enda diz ter acontecido com a mulher de um campones.Contase que um campones, feio de aspeoto, tinha receio de setornar pai de Hlhos s e m e l h n t ~ e s a e1e. mesmo medo, porem,ensinou-1he a art:e de ter Hlhos bonitos. Juntou imagens belase habituou a mulher a contemphi-las. Depois, quando a ela se uniu,conseguiu gerar a beleza das imagens. Da mesma forrna, com as

    i m i t ~ e s dos discursos se gera a sim:Llitude, sempre que alguemprocura rivalizar oom o que pareoe haver de melhor m cada umdos antigos e, como que :reunindo de va:ri:as nasoentes um s6 caudal,o canaliza para a sua ment:e 9Ocorre-m e confirmar com um exemplo o que acabo de dizer.Zeuxis era um pintor muito admirado pe1os habitantes de Crotonae estes, quando e1e estava a pintar um nu de Helena, mandaram-nover, nuas, as raparigas da cidade, no porque fossem todas belasmas porque no era natuual que fossem feias sob todos os aspectos.0 que em cada uma havia digno de ser pintado reuniu-o ele na

    f i g u r a ~ o de um s6 -oo11po. Assim, a partir da s e l e c ~ o de variaspartes, a arte realizou uma f.orma uni Qa, perfeita e bela 10 Tambemtu, da mesma maneima, tens a possibiltidade de procurar no teatroformas de antigos co11pos, de oolher o melhor do seu espfdto e,ao Juntar,es a tudo 1isto o dom da e r u d i ~ o de modelar no umafigura que se :desgasta com o tempo, mas sim a beleza imortalda ,arte

    ... Se a i m i t ~ o tiv,er preferencias evidentes e claras para osque esoutam.

    9 A b s o r ~ o das virtualidades existentes nos modelos escolhidos supeuma ldtura critica, uma c o n t e m p l ~ o dos modelos, atitude oposta a daquelesque se deixam impregnar inconscientemente. Sobre a importancia da leiturana teoria da i m i t ~ o vid. Bompaire, Luc. ecriv. pp. 33-43. Cf. Quintiliano,I. 0., X, I, 19: Assim a leitura no deve ser crua mas sim amassada commuita r e p e t i ~ o e, como que confeccionada, seja ento passada a mem6riae a i m i t ~ o ita lectio non cruda, sed multa iteratione moUita et uelutconfecta memorire imitationique tradatur).

    o A anedota de Zeuxis (c. 222-189 a.C.) toma a i m i t ~ o no sentidofilos6fico de i m i t ~ o da realidade e no no sentido especificamente ret6rico.No entanto, a sua f o r ~ sugestiva levou outros teorizadores a servirem-sedela u de exemplos do mesmo estilo. Cicero desenvolve-a Iongarnente noe inv. II, 1.

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita{:o

    II. Da poesia de Homero no imites apenas uma determinadap o r ~ o do seu corpo mas sim o todo, e procura rivalizar comos caracteres que nela se encontram, com as paixes, com a sublimidade, com a e s t r u t u r ~ o e com todas as outras qualidades,transformadas em autentica i m i t ~ o na tua obrn 11

    No entanto, importa ainda imi1tar outros naquilo em que sejammelhores. Com efeito, Hesiodo p r e o o u p ~ com o prazer que seobtem pela suavidade d s pa:lavras e pela c o m p o s i ~ o harmoniosa 12Antimaco, por sua vez, preocUJPa-se com o vigor, com a asperezado dialogo agonistico e com a h e r ~ o do que e habitua:l 13

    11 Cf. Quintiliano, /. 0., X, I, 46-51. Homero vem sempre a cabe9a dequalquer lista, porque era considerado o poeta sem modelo que serviu demodelo a todos os outros. Ele foi origem e exemplo pa.ra todas as partesdo discurso Omnibus eloquentire partibus exemplum et ortum dedit) Quintiliano, ibid.). As qualidades essenciais de Homero (ethos, pathos, megethos,oikonomia) esto reduzidas ao minimo em compara9o com a lista quedelas da Quintiliano: sublimitas, proprietas, lc:etus, pressus, iucundus, grauis,copia, breuitas, poetica uirtus, oratoria uirtus, adfectus, similitudines, ampli-ficationes, exempla, digressus. A venera9o por Homero levou Quintilianoa afirmar: De :tal forma que e pr6prio de um grande escritor seguir-lheas qualidades, no para o superar, o que e impensavel, mas por escolhaintelectual ut magni sit, uirtutes eius non remulatione, quod fieri non potest,sed intellectu sequi) (ibid.). A ideia de Dion. Halic. parece ser a mesma.

    12 Hesiodo sec. VIII-VI1I a.C.) e tambem o segundo em Quintiliano,que dele refere a leveza das palavras leuitas uerborum} CI 0., X, I, 52).Vid. B. A. van Groningen, La Composition litteraire archa i.que Grecque,Amsterdam, 1958.Edi9o: F. Solmsen- R. Nerkel- W. L West, OX ford, Clarendon Press, 1970;P. Mazon, Paris, Les Belles Lettres, 1951 (2.a ed., 1979); H. G. Evelyn- White,Loeb Class. Lib., Londres, 1936.

    13 Antimaco de C6lofon t c. 350 a.C.), considerado precursor da poesiahelenistica (A. Lesky, Hist6ria de la Literatura Griega, Madrid, Gredos, 1968,p. 669) e o terceiro tambem em Quintiliano /. 0., X, I, 53): Ern Antimacomerecem lauvor a for9a, a gravidade e um genero de discurso muito forado comum Conitra n Antimaoho uis et grauitas et minime uulgare eloquendigenus habet laudem). Aiem de Quintiliano e de Dion. Halic. que volta areferir-se a Antimaco De compos. uerb., 22), Plutarco emitiu sobre ele juizoscdtioos em Timol., 36 e De garrul., 21.Edi9o: B. Wyss, ntimachi Colophonii Reliquic:e, Bedim, 1936.

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    Paniasis 11etine as qualidades de ambos, distinguindo-se ele pr6priono tratamento e na estruturac;o que lhe e p r p r ~ i a 14

    Tambem Pindaro e digno de emulac;o por causa do vocabulario e dos concehos, da magnifkenoia, da intensidade, da abundnoia de ornatos, do vigor e de uma amargura misturada de prazer;e ainda por causa da densidade, da majestade, das sentenc;as, davivraddade e pormenor das desoric;es, das figuras de estilo, daetopeia, da amplificac;o e da exagerac;o; mas, acima de tudo,por causa dos caracteres voltadas para a sabedoria, para a piedadee para a magn:ificeno1a 15

    De Sim6ni,des deves observar a selecc;o dos vocabulos e o rigorda oomposic;o 16 Alem disso, observa o modo como se lamenta

    14 Paniasis de Halicamasso t c. 450 a.C.), provavelmente tio de Her6doto,e tambem o quarto da lista de Quintiliano (I. 0., X, I, 54): [Os gramaticos]so de opinio que Paniasis, sendo um misto de ambos [de Hesiodo e Antimaco], no iguala, no discurso, as qualidades de nenhum deles, mas que ume superado por ele quanto a materia e 0 outro quanto a c o m p o s i ~ o (Panyasin, ex utroque mixtum, putant in eloquendo neutrius requare uirtutes,alterum tarnen ab eo materia, alterum disponendi rartione superari).

    Vid. Radermacher, Mythos und Sage bei den Griechen Viena, 1943, 2 a ed.E d i ~ o : E. G F. Kinkel, Epicorum Gnecorum fragmenta Lipsia, 1877.l5 Entre Paniasis e Pindaro c. 52 c. 460 a.C.), Quintiliano intercala

    nada menos que dez poetas, nove dos quais da epoca helenistica Apol6nio,Te6crito, Calimaco, etc.), ampliando o cnone dos modelos restringido porArist6fanes de Bizncio e Aristarco de Samos aos escritores anteriores aosec. III a.C. Ao contnirio de Quintiliano, Dion. Halic. fica-se, pois, peloclassicismo grego em sentido restrito. Reconhecendo que Pindaro e o principedos nove liricos do cnone, Quintiliano menciona dele as seguintes qualidades: Tem grandiosidade na i n s p i r a ~ o nas frases, nas figuras, naquelaabundncia to feliz de materias e de palavras, e rtambem naquele comoque rio de eloquencia (spiritu magnificentia, sententiis figuris, beatissimarerum uerborumque copia et uelut quodam eloquentire flumine) (I. 0., X, I, 61).Vid. G. Norwood, Pindar Berkeley, 1945; M Untersteiner, La formazionepoetica di Pindaro Messina d Anna, 1951; J. Duchemin, Pindare poete etprophete Paris, 1955.

    E d i ~ e s : C M Bowra, Oxford, 1947, 2 a ed.; Aime Puech, Les BeilesLetrres, Paris, 1949-1958; A Turny, Oxford, 1952; J. Sandys, Loeb ClassicalLibrary, Londres, 1958; B. Snell, Lipsia, Teubner, 1959, 3.a ed.

    16 Entre Pindaro e Sim6nides c. 556 c. 468 a.C.), Quintiliano insereEstesicoro e Akeu. Assim, a ordern do cnone de Dionisio e: Pindaro, Sim6-nides, Estesicoro, Alceu; a do cnone de Quintiliano e: Pindaro, Estesicoro,54

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita9aosem grandHoquencia mas em tom patetico, no que e consideradomelhor do que o pr6prio Pindaro. Ve que Esteskoro se evidencioumesmo nas qualidades de cada um dos poetas mencionados e como,sobretudo, lhes e superior naquilo m que eles deixam a desejar,refiro-me a magnificencia dos assuntos, nos quais observa oscaract,eres e os valores das personagens, conforme os argurnentos 17De Alceu examina a sublimi.dade, a brevidade e a suavidadeoom veemencia, e ainda a linguagem figurada e a clareza, que nelee rtlanta que em nada e prejudicadta por usar um d:iaJecto. E, antesde tudo, repara no canicter dos poemas politicos. Pois se alguem,em muHos passos, lhe retirasse a metvica, encontramia ret6ricapoHtioa 18 Alceu, Sim6nides. De Sim6nides diz Quintiliano: Sim6nides, menos inspiradoaqui e ali, pode, no entanto, ser recomendado por um discurso que lhe ecaracteristico e por uma certa alegria. Tem uma qualidade bem distintaque e a de provocar a c o m ~ o a ponto de, neste particu:lar, alguns haverque o preferem a torlos os autores desse genero. Simonides tenu:is alioqui,sermone proprio et iucunditate quadam commendari potest; prrecipua tarneneius in commouenda miseratione uirtus, ut quidam in hac euro parte omnibuseius operis auctoribus prreferanrt:) /. 0., X, I, 64).Vid. Br. Gentili, Simonide Roma, 1959.

    E d i ~ o D. L. Page, Poetce Melici Grreci Oxford, 1962; J. M. Edmonds,Lyra Grceca Loeb Classical Library, Londres, 1922-1927.17 De Estesicoro sec. VI I VI a.C.) diz Quintiliano: Quanto ao valor

    do talento de Estesicoro, mostram-no as materias que tratou, porque cantaas grandes guerras e os chefes mais distintos e, assim, sustenta na sua lirao peso da epopeia. Confere as suas personagens, tanto nas a c ~ e s como naspalavras, a dignidade que lhes e devida, e se tivesse respeitado a medida,parece que teria podido emular com Homero a muito pouca dist.ncia.Mas e redundante e transborda, o que e digno de repreenso, tal e o defeitoda abund.ncia Stesichorum, quam sit ingenio ualidus, materire quoqueostendunt, maxima bella t clarissimos canentem duces et epici carminisonera lyra sustinentem. Reddit enim personis in agendo simul in loquendoque debitam dignitatem, ac si tenuisset modum, uidetur remulari proximusHornerum potuisset; sed redundat atque effunditur, quod est reprehendendum, ita copire uitium est) /. 0. X, I, 62 .Vid. C. M. Bowra, Greek Lyric Poetry Oxford, 1961, 2.a ed.

    E d i ~ o D. L Page n. 16 ; J. M. Edmonds, Lyra Grceca Loeb ClassicalLibrary, Londres, 1922-1927.18 Alceu c. 63 ? a.C.) foi considerado na Antiguidade como o poeta

    de Baco, das Musas e de Venus. Ao caracter dos seus poemas referem-seCicero, Tusc. 4 71, De nat. deor. I, 79 e Horacio, Carm. I, 32 9. Cf. tambem55

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da ImitQ.foEntremos agora no capftulo dos tragicos, no porque no haja

    vantagem em abordar todos os poetas, mas porque no ha oportunidade d.e os recoroar a todos na presente obra. Dos seleccionadosbasta o que se disse.BsquiJo foi o primei1ro a uviHzar o estilo sublime, detentor demagnificencia, conhecedor do que e adequado aos caracteres e spaixes, adornando-se em inenternente com uma Hnguagem e sentido pr6prio e Hgurado, sendo ele mesmo, em muitos passos, ar1:ificee omador de palarvrm.s somente suas e e assuntos, mais variadoque Euripides e S6focles na p r e s e n t ~ o das personagens 19

    Quintiliano, /. 0. X I, 63: Alceu merece ser agraciado com o pleotro deouro na parte da obra em que, atacando os tiranos, muito contribui parao estudo dos caracteres; no discurso e breve, grandiloquente e esfor9ado,e em tudo semelhante a um orador. Mas brinca e desce para o plano dosamores, sendo, contudo, mais apto para temas mais sublimes (Alcreus inparte operis aureo plectro meritto donatur, qua tyrannos insectatus multumetiam moribus confert, in eloquendo quoque breuis et magnificus et diligenset plerumque oratoris simtilis; sed et lusit et in amores descendit, maioribustarnen aptior). Dion. Halic., porem, insiste de preferencia nos poemas politicos de Alceu. 0 pr6prio Quintiliano a eles se refere em tyrannos insectatus.De facto, a julgar pelos seus poemas, Alceu, pertencente aristocracia e61ica,participou activamente na luta contra a tirania que se implantou repetidasvez.es na ilha de Lesbos, ap6s a queda da r e a l e ~ aVid. C. M. Bowra, Greek Lyric Poetry Oxford, 1961, 2.a ed.; D. L. Page,Sapho and Alceus Oxford, 1955.Edi9es: E. Lobel- D. Page, Poetarum esbiorum fragmenta Oxford, 1955;Th. Reinach- A. Puech, Alcee. Sappho., Les Belles Lettres, Paris, 1937(Reimp. 1966); J. Bdmonds, Lyra Grceca Loeb Classical Library, Londres,1922-1927.

    19 Para a critica liteniria de E.squilo vid. Arist6fanes, Rs 830-846,907-1062. E.squilo e censurado por ter criado palavras grandes como bois Icom sobrecenho e penacho (vv. 924-925), Corno o Licabeto I ou do tamanhodo Parnasso (vv. 1057-1058) e, sobretudo, por inventar palavras desconhecidasdo publico, como o celebre galo-cavalo (v. 933). Cf. Nuvens 1366-1367:EU entendo que Esquilo e, mais que todos OS poetas, I cheio de barulho,incoerente, grandiloquo, criador de palavras como abismos. A tradw;odos versos de Arist6fanes e de M. H. Rocha Pereira, Belade Coimbra, 1975,3.a ed., pp. 355-363). Vid. tambem Quintiliano, I. 0., X, I, 66, onde E.squiloe considerado to sublime, grave e grandiloquo, que ja e defeito, mas emmuitas coisas e rude e mal trabalhado (sublimis et grauis et grandiloquusad uitium, sed rudis in plerisque et incompositus).56

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da lmitat;aoS6fodes distingue-se nos caracteres e nas paixes, salvaguar

    dando a nobreza das personagens 20 Ora a Eudpides agradou-lhetudo o que fasse autentico e pr6ximo da actualidade da vida.E por :Lsso que em muitos passos se afasta do que e adequadoe belo, e no consegue obter, como o frizera S6focles, a nobrezae a magniticencia das personagens nos caracteres e nas paixes.Pelo oontnirio, se algo ha de menos digno, de menos oorajosoe vulgar, e muito possivel ver ento que o reproduz com rigor.S6focles e excessivo nas introdu

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imiiafao

    no vocabulario e, muitas vezes, precipitando-se da muita grandezano bombastico vazio, desce, por exemplo, para a vulgaridade davlida privada, em todas as formas. 0 outro no e sublime nemhumilde, mas recorre ao meio termo do estilo comp6sito.

    So de imitar todas as qualidades estilisticas dos comediografos. Eies, com efeito, observam a pureza do vocabulario, sotranspaventes, breves, sublimes, veementes, e pintam fielmente oscostumes De Menandro deve ter-se em conta o modo como trataos assuntos 3

    III. Dos historiadores e Her6doto o que melhor trabalha oaspecto tematioo. Tucidides ora lhe e superior no aspecto estilisticoora inferior. Mas ha aspectos em que se igualam. Com efeito, ambos,em virtude do USO ~ e x a c t o das palavras, preservam 0 que e especifico no dial,ecto que escolheram. A Her6doto, porem, se concedeindiscutivelment e o primeiro 1ugar na clareza. Ern Tucidides existea oondso, e em ambos a vivaoidade das d e s c r i ~ e s . Na d e s r i ~ odos caracteres e Her6doto que domina, na das paixes e Tucidides.E mais uma vez em nada se distinguem um do outro quanto aelegncia e a subHmidade, mas ambos dominam estas qualidadese outras do mesmo gene:ro. Mas quanto ao vigor, a f o r ~ a a intensidade, a abundncia e a a r i ~ e d a d e de figuras, Tucidides e Superior.Por outro lado, achamos Her6doto de Ionge o mais notavel nodeleitar, no persuadi r, na grac;a, na simplicidade, na naturalidade

    Apreciac;ao identica em Quintiliano (1. 0., X, I, 65): A comedia antiganao s6 e quase a unica a manter aquela celebre e pura grac;a de linguagematica, como e notavel pela maior liberdade de expressao e se distingue emprofligar os vicios (Antiqua comredia cum sincera.m illam sermonis Atticigratiam prope sola retinet, turn facundissimre libertatis est et in insectandisui1tiis prrecipua).

    3 0 passo em que Dion. Halic. apreciava os comedi6grafos gregoschegou ate n6s muito incompleto, a julgar pelo desenvolvimento que Quintiliano faz do a.ssunto. Alem de Menandro, a quem dedica cerca de vinte linhase concede o primeiro lugar, Quintiliano fala de Filemon que na opiniaode todos deve ser considerado o segundo (consensu tarnen omnium meruitcredi secundus) (I. 0., X, I, 72). Vid. A. Blancha.rd, ssai sur la compositiondes Comcdies de Menandre Paris, 1983 com indicac;ao das principais edic;es.58

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    Dionisio de Halicamasso: Tratado da Imita9oe na espontaneidade. A l t ~ m disso, tambem ele observa melhor oque e adequado a o r g a n i z a ~ o das materias e a c r i a ~ o de personagens 24 De Filisto e Xenofonte ... Xenofonte foi emulo de Her6dotonas qual,idades tematicas e estilisticas. No esbo

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita9iioFilisto e i1rnitador de Tucidides, excepto no canicter 26 Ern Tuci

    dides a libe11C1ade e a plenirtude do pensarnento; ern Filisto a subrnisso a tirania e o servi

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita9iiOe m u l a ~ o sobretudo, devido aos principios da expresso francado pensamento sobre cada um desses factos e por no esconderas causas secretas do que aconteceu ou foi dito, e por atingir comrigor a i n t e n ~ o dos que disseram ou fizeram. A sua qualidadeestilistica e parecida com a de Is6crates, com a d i f e r e n ~ de quee duro e muito veemente; mas quanto ao resto e semelhante o seuestilo. Na verdade, este e comum, claro, elevado, majestoso e pom-poso, e oonsegue uma c o m p o s i ~ o que da prazer. E prejudicial,porem, a c o n s e r v a ~ o frequente das vogais em hiato, os periodoscirculares demasiadamente elaborados e as figuras de estilo sempreiguais 28 Falhou tambem pela mediocridade tematica na i n t r o d u ~ odas digresses. Com efeito, algumas so oontadas friamente e adesprop6sito, como, por exemplo, as hist6rias de Sileno 29 na Mace-d6nia e do Drago 30 que combateu contra uma trirreme.lhante a um orador, uma vez que, antes de ter sido solicitado para o trabalhohist6rico, foi orador durante muito tempo (Theopompus bis proximus utin historia prredictis minor, ita oratori. magis similis, ut qui, antequa estad hoc opus sollicitatus, diu fuerit auctor). Cf. Suda, in F. Jacoby, F. Gr. H.zweiter Teil, B, p. 526 n. 115: Teopompo de Quios, retor; filho de Dama-sistrato; nasceu durante a anarquia de Atenas 404-403 a.C.), por altura danonagesima Olimpiada 408-405 a.C.), tal como Eforo. Foi ouvinte de Is6cratese de Eforo. Escreveu um epitome das Hist6rias Helenicas seguem as deTucidides e Xenofonte, e so em 11 livros desde a Guerra do Peloponesoe mais coisas.

    28 Cf. Lausberg, Elementos de Ret6rica Litertiria, Lisboa., Fundac;oCalouste Gulbenkian, 1972, pp. 261-266, nomeadamente: 0 periodo periodus,ambitus, circuitus, periodos; port. periodo), como construc;o frasica ciclica(circular) oratio uincta atque contexta, connexa series, katestrammene lexis),consiste na unio de varios pensamentos res) numa frase, de tal modo queseguidamente a um.elemento protasis; port. pr6tase), que cria tenso pendensoratio), vem um elemento apodosis; port. ap6dose), que dissolve a tensosentente clausula).

    29 0 mito de Sileno era contado por Teopompo em Thaumasia (Prodi-gios) segundo Eliano, U H. III, 18 (in F. Jacoby, F Gr. H. zweiter Teil, B,pp. 551-552 n.o 115). Numa conversa de Sileno com o rei Midas, aquele reveloua este a existencia de ilhas no oceano, cujos habitantes viviam em justic;ae felicidade. Referiram-se a esta especie de utopia Di6genes Laercio, Plutarco,F6cio, Porfirio, Ateneu, Teon, Servio, Eliano, Tertuliano e Apo16nio (cf. Jacoby,op. cit., pp. 547-552). Ern nenhum desses autores ha referencia ao mito deSileno na Maced6nia.

    30 Segundo Eliano, Teopompo, numa digresso a prop6sito do vale deTempe, na Tessalia, refere a derrota infligida por Apolo ao drago Piton,

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    Dionisio de Halicamasso: Tratado da lmita9iioIV. De entre os fil6sofos devem ler-se os pitag6ricos, devidoa gvavidade do estilo, a descri

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da lmitac;oja que apresentamos sumariamente o que havia a dizer

    acerca de outras leituras, resta-nos falar do que ha a extrair decada um dos oradores. 0 que certamente e para n6s, mais indispensavel.

    V. 0 disourso de Lisias basta-se a si pr6prio pela viso que temdo que e util e indispensavel a causa; evita a secura, mas e demasiado simples e humilde na narrac;o. E contudo, elegante, autentico e agradavel pelo seu aticismo. Amplifica, mas no sem arte,atingindo o objectivo imperceptivelmente, e causa elevado prazerque resulta da sua beleza, de tal modo que, lido, no se consideradificil, sendo no entanto dificil para os que tentam rivalizar com ele.Sobretudo, resulta bem nas narrac;es. Gra

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da I m i t a ~ i i o0 discurso de Is6crates e elegante mas com gravidade, e mais

    panegiristico do que judicial. Cultiva o ornato com a ajuda dap o r m e n o r i z ~ o e e pomposo para alem do que a eficacia e autilidade exigiam. No e combativo, mas circunscreve a n r r ~ odentro de periodos e tempera inteiramente a maJestade por meiode tlitotes, r e l ~ n d o a simplicidade ... Dele deve imitar-se, sobretudo a s e l e c ~ o e a densirlade do vocabulario e o poder demonstrativo de toda a c o n c e p ~ o 3ti.0 discurso de Licurgo e em tudo amplificante, definido, digno,todo ele acusat6rio, autentico e franco. No e urbano nem agradavel, mas sim voltado para o fundamental. Deste devem procuraratingir-se, sobretudo, as e x g e r ~ e s 37 0 discurso de Dem6stenes e vigoroso na expresso, comedidona d e s c r i ~ o dos caracteres, adomado oom as formas de e l o c u ~ o

    Vid. F. Ferckel, Lysias und Athen, Wrzburg, 1937; E. Heitsch, Rechtund Taktik in der Rede des Lysias, Museum H elveticum, 18, 1961, p. 204.Edi

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    Dionisio de Halicarnasso: Tratado da Imita9aoque escolhe, usando da o r d e n a ~ o no que importa, gracioso comgravidade e denso. E sobretudo por essas caracteristicas que osjuizes so influenciados 80 discurso de Esquines e menos vigoroso que o de Dem6stenes, mas pomposo nas formas de e l o c u ~ o que escolhe, tendendoao mesmo tempo para a e x a g e r a ~ o No estando inteiramentedentro da tecnica, e conduzido pela faciJ.idade que lhe vem dapr6pria natureza. Muito vigoroso, grave, ampHficante, duro e, porisso mesmo, agradavel para quem o compudsa, mas violento quandoanalisado 9

    38 Dion. Halic. volta a referir-se a Dem6stenes mais adiante H, Xe XI, p. 69 e ainda em De rhetoribus antiquis. Demosthenes, Usener-Radermaaher, vol. V, opusc. I, pp. 127-252. Quintiliano considera Dem6stenes o primeiro dos oradores do seu cnone: Segue-se o impressionante batalho dosoradores, visto que em Atenas uma unica epoca produziu dez, ao mesmotempo. Deles o mais importante foi, de Ionge, Dem6stenes, que constituiuquase a lei da arte de dizer. Tamanho nele e o vigor, tudo e to condensadoe retesado por uma especie de nervos, de tal modo nada ha de superfluo,tal e a cadencia do seu discurso, que nada se encontra nele que falte ouque sobeje. Sequitur oratorum ingens manus, ut cum decem simul Athenisretas una tulerit. Quorum Ionge princeps Demosthenes ac pa:me lex orandifuit: tanta uis in eo, tarn densa omnia, ita quibusdam neruis intenta sunt,tarn nihil otiosum, is dicendi modus, ut nec quod desit in eo nec quodredundet inuenias) 1. 0. X, I, 76). Plutarco consagra a Dem6stenes umcapi1tulo das Vitre decem oratorum (Plutarch s Moralia, X, t:ranslated byH. N. Fowler, Loeb Classical Library, Londres, 1 9, pp. 413-437 .Vid. G. Ronnet, tude sur le style de Demosthene dans les discourspolitiques, Paris, 1951.

    Edi9es: S. H. Butcher, W. Rennie, OXJford, 1903-1931; M. Croiset, LesBeiles Lettres, Paris, 1924-1925; J. H. Vmce, A.T. Murray, Loeb ClassicalLibrary, Londres, 1956.

    9 Sobre a vida e a critica literaria de :Esquines na Antiguidade, veja-seDion. Halic., De rhetoribus antiquis Usener-Radermacher, vol. V, opus. I,pp. 206, 247-248; 250, 254 e Plutarco, Vitre decem oratorum (Plutarch s Moralia,X, Loeb Classical Library, Londres, 1 9, pp. 389-395 . De Esquines diz aindaQuintiliano, I. 0. X, I, 77: Esquines e mais abundante, mais profuso e deaparencia tanto mais imponente quanto menos conciso. No entanto tem maiscarne do que musculos. CPlenior Aeschines et magis fusus et grandiorisimilis, quo minus strictus est; carnis ltamen plus habet, minus lacertorum).Vid. Blass e Navarre, citados na nota 37.Edi9es: F. Blass, Leipzig, 1908; C. D. Adamms, Loeb Classical Library, 1919;G. de Bude, V. Martin, Les Beiles Lettres, Paris, 1927-1928.

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    Dionisio de Halicamasso: Tratado da I m i t a ~ oHiperides e subtil mas raramente amplificante. Ultrapassa aLisias no ornato da e l o c u ~ o e a todos na sagacidade da i n v e n ~ o .

    Atem-se em tudo a materia em juizo, fixa-se no essencial da a c ~ oconduz-se com muita ,int,eligencia e esta cheio de beleza. E, parecendo simples, no se desvia do estilo veemente. Com este deve,sobretudo, rivalizar-se na beleza e na simetria da n a r r a ~ o e aindanos oaminhos que segue ate ehegar aos factos 40

    Sendo