túmulo em esfera imitação da abóbada - francobuffoni.it filegiulia lanciani traduce 40 poesie da...

41
Giulia Lanciani traduce 40 poesie da “Roma” di Franco Buffoni, ed. Guanda 2009 Túmulo em esfera imitação da abóbada Celeste, luz telúrica brilhante No interior com dupla intensidade, Enquanto em volta do olho do ciclone Desorganizada pulsa Roma anónima Julgando-se entendida. Pelo reflexo duma janelinha À direita em cima Fachadas barrocas com enfeites em estuque Levantam cósmicos voos De pátios medievais, Os berros confessando Aos autóbus de descer E legações de Marche Úmbria Romanha No alto-relevo assomam-se ao balcão Além do triplo fosso, poternas, cunículos esconsos Cavados na rocha pelos eslavos Para a lareira do primeiro fogo. °°°°°°°°°°°°°°

Upload: phamtuyen

Post on 08-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Giulia Lanciani traduce 40 poesie da “Roma” di Franco Buffoni, ed. Guanda 2009

Túmulo em esfera imitação da abóbadaCeleste, luz telúrica brilhanteNo interior com dupla intensidade, Enquanto em volta do olho do cicloneDesorganizada pulsa Roma anónimaJulgando-se entendida.Pelo reflexo duma janelinhaÀ direita em cimaFachadas barrocas com enfeites em estuqueLevantam cósmicos voosDe pátios medievais,Os berros confessandoAos autóbus de descerE legações de Marche Úmbria RomanhaNo alto-relevo assomam-se ao balcãoAlém do triplo fosso, poternas, cunículos esconsosCavados na rocha pelos eslavosPara a lareira do primeiro fogo.

°°°°°°°°°°°°°°

Com as crateras do metro cósmico em anilhasCirculares, next stop Praça Imperatore,Cresce o trânsito e a memória atenua-seComo do olho o olho afasta-seDescortunandono Aventino a fechadura.No seu tempo fê-lo Werner, Karl,Obra de:O Carnaval romano no Corso,a Festa dos artistas em Tor de’ Schiavi.Resiste da história o concentradoNo olho,Ficam passadeiras às vias consularesOs aquedutos,Como satélites lançados em rajadaLongínquas as casas, além de Centocelle.

°°°°°°°°°°°°°°°°

Donde a balaustrada toma o marRoçando com desesperada vaidadeDe Ostia as escavações,Os restos hoje avistam-se daqueleQue poderia definir-se um edifício deHabitação urbana de vastas dimensões,Uma labreguice imperial com desenhosGeométricos em mosaico de mármore polícromo,Opus alexandrinum a cotejar-seCom o opus novum de um hodiernoEvasor total.

°°°°°°°°°°°°°°°°°

Como era o mundo onde aportou EneaPor debaixo do chão da campina?Removido o estrato de cinza compactaAparecem aposentos de época helenísticaJá em 79 após Cristo abandonadosPor anteriores terramotos e inundações.Havia tantas Romas dispersas nas aldeias,Varrão já o escreve em tom de conto:Mons Capitolinus era chamado um tempoO cole de Saturno, e cita ÉnioComo numa fábula, sobre o coleSatúrnia era dita a cidade…E perto da Porta Mugônia, no PalatinoDesde a casa dos TarquíniosNa passagem subterrânea que conduzAo santuário de VestaEscava ainda a equipa para demonstrarComo quer o professorA ligação entre os poderesSó ao rei permitia-se um acesso directo Ao sagrado fogo.Roma, Roma que ainda brincas com isto.

°°°°°°°°°°°°°

Nos Horti Caesaris o ditador albergou Cleópatra,Em Villa Torlonia Mussolini, Hitler.Quatro intestinos ainda assustadosPelas dimensões do Oceano ExternoPara aplacar com sacrifícios.

°°°°°°°°°°°°°°°°°

E desta calçada compostaDe lájeas em pedra calcáriaAcedia-se à fortaleza com funções de cultoE abrigo em caso de guerras; no interiorOs três nichos com abóbadas de arestaPara os sarcófagos.Tinha dezoito anos Antonio BosioEm 1953Quando, entrado por um pequeno forâmenSerpeando e com o peito no chão,Se reencontrou em Santa Domitila.

°°°°°°°°°°°°°°°

«Sodomita» grafou um jovem colegaSob uma abóbada da Domus ÁureaAo pé do nome PinturicchioAutógrafo, como a sua enveja.Baixavam-se ali os jovens pintoresE rastejavam até àquelas coresE relevos em estuques. TrabalhavamPor horas com pouca luz e pãoEntre cobras mochos corujas E depois grafavam a assinatura.Eram acesos os seus olhares vígeisE atrevidos. Eram machos.

Pinturicchio definiu Del Piero o AdvogadoNo momento do máximo fulgor.

°°°°°°°°°°

Para não se entregarem nús ao espectáculoNo efeito deslumbrante produzidoPela polidura dos mármores, Entre ursos da Dalmácia e crocodilos egípciosSuicidaram-se em massaAcabando-se um ao outroAntes de saltarem para a arenaOs vinte e nove guerreiros saxóniosConcedidos a Aurélio SímacoPelo emperadorPara celebrar a pretura do filhoNo munus memorável da nova estação

°°°°°°°°°°°

Dos remotos cantos do Império, rostosDe prisioneiros de guerra, de baixo-relevos,Ao domingo passeando pelos ForosEstendidos sem raiva,Centrados sobre um mármoreInócuo: não os queroColher e correr-lhe atrásPara lhes fazer ter razãoE ceder ao seuNavio de solução.Como num filme de Ozpetek abrigo-meNa arqueologia industrialEntre Pirâmide Céstia e São Paulo.Assim só há um mármoreLiso enquanto a chuvaDesliza por entre as veias,Torna-se verdadeDe vinho no tempo sólidoDe barqueiros e carreteiros.Na presença do monstro de ferroQue teria ligado Roma a Óstia.

°°°°°°°°°°°°°°

Na rua Marmorata porque ali aportavamPara serem trabalhados e lavradosOs mármores de cor– Granito e pórfiro do EgiptoMármore preto e verde da TessáliaE Espanha, amarelo de Simito –E os brancos das Cíclades e de Luni.Se passas devagar berram aindaDe colunetas torsasPelos chicotes de então: a metade posterior duma cabeçaE um antebraçoSão englobados num umbral em rua Bodoni.Depois a própria Roma tornou-se uma pedreira,Pela Câmara Capitolina foi aprovadaA tarifa da espoliação:Doze denários por blocoPara transformar em cal os mármores de corE a ferros os abusivosCavadores clandestinos. Enquanto os brancos – Colunas e capitéis – da rua Marmorata repartiam,Com berros novos pelas vias da água Atrás dos Banchi no rio Tibre.

°°°°°°°°°°°°°

Por arcos imperiais na rua CássiaTornadas torres de guarda medievais,Por delicadas igrejinhas do milSurgidas sobre templos de Juno,Pelo sarcófago constituídoPor dois elementos justapostosCom grampos de ferroE o ponto de junçãoDesfarçado na decoração,Eu penso-te ainda nos horti extremiAlém das muralhas servianas,Entre um circo e uma naumaquiaOs terraços em nicho e os jogos d’água.E ainda não encerrada nos palácios.

Cunículos escadas passagens inesperadasSalas sobrepostas e nas paredesQuadrangulare nichos pelo deusNascido de rocha e destinadoPor ordem de ApoloA redimir o genero humano.Aqui onde a bava das velasAinda exala da estrutura,Através do estreito espaço entre os plúteosEu sou um sacerdote no afresco.E dum recanto escondido distinguoO latim mastigadoDo canto grego nas pausas…Até que por cima dos originaisVolumes arquitectónicos,Suspensa a uma única sílaba,Uma ampla passagem melismáticaFura o ar,Juntando-se ao canto feminimoDos Santos Quatro Encoroados.

°°°°°°°°°°°°°

Pensei em ti, conde Giacomo, vendoNuma revista em papel couchéAs fotos das escavações a Urkish na Síria,Em ti e nos teus impérios e povos da ÁsiaQuando intuías imensamente longaA história da humanidade.Bem mais do que os Gregos o povo jovem de HegelOu o mundo de só quatro mil anos da BíbliaJulgando dizer tanto, até ontem.Tu sabias que sob sete estratos estava UrkishA rainha com firmaisO arquivo todo em mil tabuínhasJá no seu falar indo-europeiaO acusativo em eme. Capital urritaCom jóias atadas à infinita paciênciaDos bordados em ouro. Tu sabias que depois os HititasChegariam a conquistá-la,Já eles velhos e de velhos arquivos nutridos…Estou farto de padres e de poetas, conde Giacomo.E de mitos infantilmente readaptados.

°°°°°°°°°°°°°

Minha filosofia desagradou aos padres, os quais e aqui e no mundo todo, sob um nome ou sob um outro (sob um ou sob outro nome), podem ainda e poderão eternamente tudo.

De Leopardi que volta com o pensamento a RomaDas encostas do Vesúvio: «Anco ti vidiDei tuoi steli abbellir l’erme contradeChe cingon la cittade». Desolação por desolação,Natural por intelectual, deserto por deserto…De Leopardi súbdito do estado pontifícioLiberal clandestino em ideológico isolamentoO ridículo e o grotesco das OperettePor excelência armas iluminísticasContra antropocêntricas metafísicas.Naquele angusto reino do silêncioCom as monstruosas tipologias censóriasQue foi o governoDa Reverenda Câmara Apostólica.Roma desértica.

°°°°°°°°°°°°°°°

Aqui onde se convenceu mormenteDa existência em filosofiaDa via da dúvida e do realismo,Superiores Provinciais EcónomosConselheiros do Padre GeralEncontrava-os no refeitórioNos exercícios espirituaisE não lhe falavam.O estatuto da explicaçãoE da prova empíricaPor ele propugnadoEntre móveis pratas e pinturasCristais relógios esculturasMolduras e objets de vertu,Ressaía como militariaEm ordem hierárquica inclinandoA cabeça ou mostrando a gargantaÀ entrega de gráceis obediências:Pessoas modeladas por orações Como arquitecturas pelas fedesPara alcançarem um mercadoDe complacentes comitentesAtravés do encanto de memóriasTradições e textos sagradosCuidadosamente postos nas estantes.

°°°°°°°°°°°°°°

O coxo então saltará como um cervo Lembra Isaías 35 ao Santo EspíritoCom os instrumentoso pontudos (a punta)Gravados e após pintados em paredes brancas.Tanto é o bem que para mim esperoQue qualquer pena me é deleito.Sobreposições e acostamentosDe quadros nús e quadros molduradosAcabando com os lábios entre as pernasEntroncadas (Atarracadas) de CristoNuma crucifixão de campo.Ele com olhos nocturnos de guardiãoDescarregador criado cozinheiro:De vário tamanho e espécieOs pássaros silenciosos no Gólgota.

°°°°°°°°°°°°°°°°°

De ti enviado em luz ao mundoSob a asna as chagas reflectidas pela bandasCor de pistache que te enrolam (envolvem),Adivinhando os dentes estragadosAtrás dos lábios túmidosDo camponês aflitoSorvindo-se as gotas do costado,Até ao volteamento (volteação) conquiformeDas suas bragas roxas.Esbrecha gorgolando a sinópiaOnde havia o diabo das tonsilas vermelhas,Que me mantenha Deus na sua graça.E onde as linhas do rosto franciscanoCruzam-se com as fendas da paredeEntre cavalos definhados, no fundo (sullo sfondo)A cabeça de bode expiatório do BaptistaColhida (Apanhada) enquanto desce o machado.

Colete de veludo em seda sobre camisa de linhoSola de couro e presilha de cabritoCalças de libré em pele de gamoNo palácio para a ceia ao papa-rei,No seu processo de adequaçãoDo círculo celeste ao quadrado terrestreO pintor aqui e depois o arquitectoResolveram em entrosamento.Enquanto no meio da fachada posteriorEntre as duas torrinhas angularesOnde pelos fâmulos se abre a loja com frescosRoma com seus horizontes que provêmDe outros horizontes mais remotosEra um baralho de cartas, um jogo a encaixeUm casal uma tasca cor-de-rosa entre pinheiros marítimosDuas mulheres detidas em entrançar canastrasCom técnicas em espiral espigada.

Até ao salto do caçadorDa íngreme encosta de entulhos,Fardado de cardeal que mata os rouxinoisNa moldura celesteContraíndo-se como o braço na espingardaKeats em empaulada carroçaAvançava a caminho da Barcaccia.

°°°°°°°°°°°°°°°°

Rouxinol apenas penduradoÀ armadilhinha (esparrelinha) operosaDa época da caça,O teu som atulhado de LeteE orvalho, de abertas janelasPor cima de mares em borrasca, frange-seNo vento deste dia Ao sinal de aviso aos tiros (disparos)Para os séculos nas muralhasEntre lagartos e primaveras.Os teus fundantes milénios rouxinolescosOs teus meses de eternidade prometidaSão gritos, artifício e naturezaChios e arte do conservar (guardar)Tolices de acariciar docementeE profundamente estrangular.

Longínquos num mar lisoAbandonados navios em desarmaçãoDa marinha vaticana.E a dominar os prodígiosQue naquelas águas de paulOperava a natureza,No palácio com loja decoradaPor sete leões passantes,Ao lado do emblema ataviadoPor palmeiras frutadas de vermelho,Dois papas em fato (traje) de jogralAguardam o juízoSem nem sequer uma nesgaDe céu que os espere.

°°°°°°°°°°°°°

São pretas redondasBem prensadas as sombras da cornijaNa parede: pares de santas nos entablamentosBernini de par seu inseriaRealizando coros.E quando olho para esta estátua, o seuMármore desbordante,Vejo de joelhos o velho GalileiPerante os cardeais anchos e flácidos.

°°°°°°°°°°

E a noite dos santos Abûndio e PróculoO catorze de AbrilPara observar o céu das MuralhasGalileo subiu com o telescópio ao Gianicolo.E mesmo em cima do Bosque Parrásio– Taça em mármore quadrifoliado, e no meioDois tritões em travertinoDeitados nos lados segurandoFlores e fruta, do cabazJorra um esguicho –Descobriu os satélites de Júpiter mostrandoDo sistema solar a estrutura.A árvore de Judas cresce ainda ali em voltaEntre sempre-verdes louro e aderno, e em abrilPresenta uma intensa floração cor de púrpuraCombinada com o traje de AgesandroTespóride, civilmente Monsenhor Ciccolini,Árcade e guardador do Bosque.

°°°°°°°°°°°°°

VII Uma cava a céu aberto de perfil

Com veste de jade verde pálidoA criatura alada em procissãoFica inanimada. E os cravos ensanguentados são untosCom os joelhos que chegam a tocar-seE o respiro a fechar-se.No deambulatørio gótico a capelas radiaisEntre relicários à luz das persianasOs confrades vestem um sacãoBranco com cordão preto,No peito o emblema do santo sacramento,Mas de perto apercebes-te Que é cartáceo o tecido falsa a uniforme.

°°°°°°°°°°°°°°°

O pervinca florido entrandoPela delspichada despojada porta lateralEsventra numa arcada parietalA estátua de Miguel-Ângelo ao trabalho,Uma pedreira e cielo aperto de perfil.Cor forma linha movimento, se possuiUma estética o cérebro na igreja da Opus DeiAgora reage a minha visão do interiorAo monumento de papa ClementeRestaurado nos seus ornamentos em estiloCom a temperança apoiada na urnaA mansidão em pensosa postura.E àqueles braços que rasgam o peitoAbertos sob nádegas de putos.

°°°°°°°°°°°°°°°°

O travertino romano, oh o travertino romano!Mas tu que percebes, que sabes,Pequeno anjo mancoQue te arrastas no empedradoDos santos Ambrósio e Carlos?Nos momentos em que Roma te vivoComo uma grande galeria de quadros,Vendo nascer aqui a crítica de arteA academia, o museuCom as obras-primas do maneirismo tardioNos retratos dos cardeais protectoresE o pequeno dueto “Là ci darem la mano”Que se imprime na parede,Vejo ainda alejados e mendigosÀ volta como então em rua del Corso.

°°°°°°°°°°°°°°°

Não há um centímetro de branco não te deixaDesejar uma cor entre aqueles ourosE os azuis-de-cobalto (os cobaltos) os rosa fúcsia das abóbadasNas tapeçarias da cidade pespontadaO arquitecto impunha fantasias embridava estilos,Saía-lhe fácil acabá-los– Estilos e cardeais –A golpes de modelos lígneosE vidrarias subtís.Se vos trato assim, meus fardéis, gostais?

°°°°°°°°°°°°°°°

Tapeçarias entretecidas (entremeadas) de vermelhoPara aqueste retrato de cardeal,Para o seu rosto de cão de caça de perfilCom o simulacro de voo de anjoQue na parede se lhe contrapõe,Enquanto tremando os átomos se viramDe fina porcelana à sua passagemE o cãozinho com laço cor-de-rosaEnfia-se por baixo da poltrona.

°°°°°°°°°°°°°°

VICO (vd. Traduzione)

Cantam graças à pressão da águaPequenas aves em ramilhos de bronzeOnde lindos de mais músicos coram.Mas do átrio ao pátio à escadariaDe honra ao ninfeu, um só gritoUma razão só: «Morra de todoE em companhia dos seus!»Na ampla galeria entre os antepassadosEstavam os padres os agrimensores,Mais recentemente os alquimistas– A parede é segmentada Já no início do século das Luzes –Com os tintureiros e os farmacêuticos.

°°°°°°°°°°°°°°°

Por quem na sombra, como naquela tábua (naquele painél),Não pára de fazer rir a corte,Mãos cruzadas apoiadas no ventreDentro de mangas estreitas de mesquinho,Enquanto na tapeçaria seiscentistaO abade aguarda, no fundo a abadia,Dentro das amplas mangas da batina,O ferrolho bem à vista.Num enredo de traves e aranheirasOs quadros da colecção FrangipaneSão restos de sentimentos humanos:Nuvens como elipsóides vagantes na lua,Pingentes de coral em forma De leão e de delfim,Corpos como massas musculares,Pássaros com os ossos desenhadosPor um aprendiz na Renascença.

°°°°°°°°°°°°°°

Onde aquela mesa refinadaHá sessenta anos não vem usada,Só olhada de esquelho (de viés) e como hojeAnalizada,Da casa de autor visitávelCom aquela pátina de tempo não vividoDepositado nas alfaias, de caféNunca mais deitado e de póNão aspirada dos soumiers.Virados para tapeçarias não renovadasAté pratos e copos: ali assistindo (a assistir)À passagem de comidas em digestão assumidas alhures.Coisa viva? Intacta como morte morta e sem nome.

°°°°°°°°°°°°°°°°

Embora soubesse desenharComo se move um escorpiãoNa arrecadação (armazém) das ferramentas,Fica um menor este bomMestre seiscentista: os seus cestos (cabazes, canastros)São amaneirados e os frutosAcerbos com as cores inteiras.Soubesse eu dizer de um pintor como consegueMostrar da cor das floresA podridão, o cancro que desabrocha entre suas folhas,O súbito entreabrir-se dos revérberos do verme.Como não depende de modo algum (em absoluto) a magiaDa cromática versatilidadeMas do cheiro: a prega (vinco) enviesada de uma vesteQue o deixa passar.

°°°°°°°°°°°°°°

Do mestre na oficina sem vontadeDe desenhar mais (ainda)…Mas os ajudantes empenhados com os dezoitoPutos todos iguaisE os moços aprendizes (praticantes) em volta aprendendo (a aprender)A moer as cores a limpar…

Era o azul a cor mais preciosaNenhum molusco a produzí-loNenhum juncoPara perfilar a nuvem de meioO meu pintorTeria feito qualquer sacrifícioOu malefício, teria matadoPara a serenidade desta abóbada.

°°°°°°°°°°°°°°°°°

Derreado pela viagem de volta o marinheiroCom ar de convocar as forçasPara virá-las ao bordel.Ou aquele moço muito novoCom o punhalzinho no ladoE uma cota de malha vestidaDe rosto belo e austero não lascivo.Ter-se-á perguntado se deviaPartir a romã,Pôr também uma vela nova,Descobrir-lhe só o ombro direito,Virar-lhe o olhar para a tábua de cortarCegando-o com o reflexo?

De uma casa junto da Porta di CastelloIndo em direcção a (para) Prati A passo vagaroso (lento), o sol já posto,Ficava como suspenso o brilhar das cores No corpo cinzento da pedra dura,Cor do sangue os tijolos cozidosE verde o azul da água.

Pirata vermelho carregado já violetaMostrava as artérias debruçava-sePara a água sem muralhas nas margensRevelando praias e ribeirasCorrentes seguras para os barcosDas (Com as) bocas impudicas.Do génio a vilaniaDe uma tíbia reluzenteVislumbrada na sacristiaSabia-se confirmar no momentoDo sorriso, largo (amplo) quase morto (matado)De face a face.

Enquanto a areia se tornava friaOs pés estavam imersos sufocados,Mal se moviam outro frioPercebiam, e mais novo.

°°°°°°°°°°°°°°°°

As cores que procuram à auroraSaindo-lhe do ventreAbandonar entre os canteirosO preto (negro) que as impregna,O solar brocado bruno e cor-de-rosa nuVirado para a noite acocoradaDa água lúdica romana,Que bombas de roda hidráulica (hidráulicas) consentemLevantar até às fontes…

°°°°°°°°°°°°°°°

O que faz Roma esta manhã?As luzes não se apagam, e os ruídosTardam, mal se sentem (sentem-se apenas (só)Lentos gorgolejos. Depois do acordarE do amor não previstoNum não dia de festaReadormeceuFeliz.Roma de corrida, Roma desesperadaE descoordenada, agora és a violaQue desafinada fazia enfurecerA cantora na encruzilhada pedonal.E tremia o chiffon, vibrava de ira.

°°°°°°°°°°°°°°

Chovem acordos sussurros de «cuidado há pausa»Até à uma quando fechaO salão (ridotto) do teatro,Duas palmeirinhas postas de guarda à cancela.Ensaiar quer dizer encontrar-seVinte manhãs às dezE fora berros de portadores (carrejões), rua VitóriaAs tampas dos esgotos abertasFora também um cigarroDe K 34 para violino e piano:Se minha boca te enfada com vozes de amorDe alegria, por ti percebidas com garboDe enfado, do meu saco brancoCom cordão preto e no peito o emblemaDo só, eu dirijo-me à orquestra in buca???E torno a provar.

°°°°°°°°°°°°°

O mundo é um grande teatro onde há tantos comediantes quantos são os homens. Procura, o mais possível, ser um espectador, não uma personagem. Os que representam trabalham (fadigam); mas os que olham riem e divertem-se.

Quem sabe porquê devia ser um dramaAquele incidente do segundo actoAo actor principal, representação interrumpidaCicios protestos alguma restituição (devolução)O grito de raiva deus da comparsaE desça o pano. Porquê aquela emoçãoPalpitação: um fresco de estaçãoOs cisnes fora e ovos abrigoNada sabia o condutor da linha: o teatro é invenção.

°°°°°°°°°°°°°

E como numa sinfonia dos adeuzesPrimeiro um oboé e um cornoDepois o fagote e o outro oboéEm seguida o outro corno e o contrabaixoCada um executandoAntes de terminarO seu pequeno solo,Deixando o movimento apagarNo último compassoDos violinos.

°°°°°°°°°°°°