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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
HÁBITOS DE VIDA E A DEFESA DO ORGANISMO
Autora: Lúcia Geni Strieder Scherer1
Orientadora: Sandra Lucinei Balbo2
1
Resumo
Os recursos didáticos devem ser utilizados no ensino da Biologia como ferramentas importantes para a construção do conhecimento sólido e eficiente. Assim objetivou-se fornecer aos alunos, por meio de atividades pedagógicas dinâmicas, condições para que os mesmos entendam a importância da qualidade de vida no funcionamento do Sistema Imunológico. O uso de diferentes metodologias em sala de aula, como encaminhamento metodológico, mostrou-se capaz de tornar o ensino da biologia mais agradável, interessante, de fácil compreensão e mais significativo para o cotidiano dos estudantes. Durante as atividades foram explorados conceitos biológicos relacionados com a imunidade do organismo, o sistema imunitário e seu funcionamento, as células do sangue e suas funções e procurou-se despertar nos estudantes atitudes de valorização da saúde e prevenção a doenças.
Palavras – chave: Ensino-aprendizagem; Hábitos de Vida; Imunidade; Saúde.
1 Pós-graduação em Biologia, Graduação em Biologia, Prof. Colégio Estadual Pe. Eduardo Michelis, Ensino Fundamental, Médio e Normal² Professora Dra. de Fisiologia Humana da Unioeste – Cascavel, PR.
1 Introdução
A opção de um estilo de vida saudável como ingestão de alimentos saudáveis,
controle do peso corporal, realização de exercícios físicos regulares e adequados,
ausência de utilização de substâncias nocivas ao organismo, entre outros, previne o
desenvolvimento de várias doenças.
Atualmente a maioria dos adolescentes tem uma qualidade de vida ruim. Eles
dormem pouco, vivem sob o efeito do estresse gerado pelas cobranças em relação aos
estudos e outras responsabilidades, consomem bebidas alcoólicas, tabaco e outras
drogas, cada vez mais precocemente, além de terem uma alimentação desequilibrada e
uma vida sedentária.
O papel da escola é fundamental na educação para a saúde, pois é o local onde
os estudantes passam a maior parte do seu dia e podem ter acesso a informações e
orientações quanto aos cuidados adequados para a promoção da saúde. Assim,
entende-se que é papel da escola, ensinar e conscientizar sobre as consequências do
estilo de vida para a saúde. É importante ressaltar que as questões ligadas a esse tema
devem ser discutidas frequentemente e de maneira simples, porém corretamente.
A modificação dos estilos de vida, visando melhorias na saúde inclui mudanças
de comportamentos e exige a compreensão da sua etiologia. Sabe-se que os
comportamentos estão relacionados com fatores biológicos, psicológicos, micro e
macro sociais e ambientais. Para Krasilchik (2005), a escola precisa aumentar a
abrangência de sua ação, considerando que ela não é a única agência educacional na
comunidade. O que o estudante aprende em casa ou em suas atividades fora da escola
também influencia em seus hábitos, em seu comportamento, bem como em suas
atitudes em geral.
A educação para uma vida saudável, baseada em hábitos necessários para
manter o bom funcionamento dos processos imunológicos do organismo, requer uma
atenção especial pelos profissionais que trabalham com os adolescentes, pois é neste
período da vida que se adquire a maior parte dos hábitos que permanecem por toda
vida adulta, sejam eles positivos ou negativos para sua saúde. Neste contexto, a
disciplina de Biologia deve possibilitar a perspectiva da interdisciplinaridade, permitindo
que o aluno compreenda as informações e possa reelaborá-las e refutá-las quando for
o caso. Esse ensino deve ser contextualizado, o que significa abordar o tema de forma
a identificar a situação ou o contexto no qual o tema está inserido, estabelecendo uma
relação entre o aprendizado do aluno na escola e em seu cotidiano.
De acordo com Precioso (2004), muitos problemas de saúde atuais,
responsáveis pela morbidade e mortalidade, estão relacionados com o estilo de vida,
incluindo os comportamentos de saúde da comunidade. Para o autor, uma das vias
para modificação de tais comportamentos é a Educação para a Saúde, que poderia
contribuir para promover a alteração de condutas de risco ou a adoção de hábitos
saudáveis de vida. Para o mesmo autor, a Educação para a Saúde na escola deve ser
defendida por vários fatores: 1) porque dificilmente algum programa de Educação para
a Saúde conseguiria atingir um número de pessoas tão grande como na escola; 2)
porque numerosas investigações demonstram que as raízes de nosso comportamento,
do nosso modo de vida se situam na infância e na adolescência; 3) porque ao fazer
Educação para a Saúde na Escola estamos atingindo indivíduos em fase de formação
física, mental e social, e 4) porque conta com a colaboração de profissionais valiosos
que sabem educar. Acredita-se que quanto mais precoces forem as ações educativas
na vida da criança, maiores serão os resultados conquistados.
Rosen 2001 mostra que 80% das visitas feitas a médicos são devido a sintomas
decorrentes do estresse que geralmente são determinantes na patogênese de doenças
físicas por causarem estados afetivos negativos, como ansiedade e depressão. Eles
exercem efeitos diretos nos processos biológicos ou geram comportamentos que
aumentam o risco de várias doenças.
Zago 2004, afirma que a fumaça do cigarro influencia o sistema imune por afetar
as funções dos leucócitos. Em fumantes, de modo geral, os leucócitos exibem
depressão na sua migração e quimiotaxia, se comparados a sua função normal.
Estima-se que 41% dos estudantes de escolas públicas e particulares já
experimentaram o cigarro (GIUSTI, 2007). Vários estudos epidemiológicos mostram
que os atuais fumantes começaram a fumar antes dos 18 anos de idade e que a
probabilidade de se tornar um fumante regular é maior quando se inicia o vício com
idades mais precoces. Vários autores constataram também que o consumo de tabaco
aumenta o risco de dependência de outras substâncias (PRECIOSO e MACEDO,
2004).
Quanto às influências dos exercícios físicos na resposta imune, sabe-se que a
atividade física de intensidade moderada, praticada com regularidade, melhora a
capacidade de resposta imune. No entanto a atividade física de alta intensidade,
praticada sob condições estressantes, provoca um estado transitório de
imunodepressão. O exercício de média intensidade está associado à diminuição de
casos de infecção, possivelmente decorrentes da melhoria nas funções dos neutrófilos,
macrófagos e células Natural Killer (NK). Exercícios praticados além do limite se
associam ao aumento da incidência de doenças infecciosas, principalmente
respiratórias. Dados epidemiológicos comprovam que ocorre menor incidência de
doenças bacterianas e virais, assim como de neoplasias, em indivíduos que praticam
exercícios físicos (JANEWAY, 2007).
O uso regular de drogas e a dependência aumentam a probabilidade destes
usuários desenvolverem problemas físicos, mentais e sociais. Eles podem apresentar
diminuição da imunidade às infecções, ansiedade, depressão, problemas com o sono,
sintomas de abstinência quando o uso é diminuído ou interrompido, dificuldades
financeiras, problemas de relacionamento e no trabalho o desempenho será reduzido
(HUMENIUK; POZNYAK, 2004).
Para Reginato e Morais (1986) somente no século 19, o alcoolismo começou a
ter aceitação científica como doença, em seu conceito mais amplo, como entidade
clínica física e mental. Esse distúrbio é um dos maiores problemas de saúde pública no
mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 20% da população
dos países em desenvolvimento consomem álcool. Embora as estatísticas sejam
falhas, no Brasil, estima-se que cerca de 10% da população seja dependente do álcool.
O consumo excessivo dessa substância é responsável direta ou indiretamente por 75%
das internações psiquiátricas e 50% das internações nas enfermarias de clínica médica.
De fato, para Reginato e Morais (1986), os indivíduos alcoolistas têm uma propensão
maior à infecção, especialmente do sistema respiratório. O consumo de álcool inibe
tanto de forma direta como indireta o sistema imune. Para estes autores, a resposta
imune pode estar comprometida em diversas etapas nesses indivíduos e a
imunodepressão decorre tanto de alterações nos mecanismos de defesa primários,
como do comprometimento da imunidade celular e humoral. Reismann (1978) destaca
que a quimiotaxia dos neutrófilos e os níveis de secreção do fator de necrose tumoral,
encontram-se também reduzidos em pessoas que consomem bebidas alcoólicas.
MEKORI 2000 mostra que o estado nutricional do indivíduo pode interferir
diretamente nos processos de defesa do organismo. A obesidade leva ao acúmulo de
tecido adiposo, e foi comprovado que tanto em animais quanto em humanos, esta
condição altera as respostas imunológicas específicas e não específicas. Resultados
epidemiológicos demonstram que há maior variedade e tipos específicos de doenças
infecciosas em indivíduos obesos em comparação com indivíduos magros. (MARTI;
MARCOS; MARTINEZ, 2001).
Para Faria (1996), a proposta de Educar para a Saúde tem recebido cada vez
mais importância, visto que possibilita ao aluno, entender quais problemas de saúde
possuem estreita relação com comportamentos e estilos de vida, permitindo que o
mesmo avalie seus comportamentos e os distingue daqueles que o conduzem para a
sua saúde e bem estar.
2 Sistema Imunitário
O sistema imunitário é formado de órgãos, glândulas e leucócitos, responsáveis
por combater agentes patogênicos como bactérias, vírus, protozoários, fungos, vermes,
substâncias tóxicas, etc. Os órgãos do sistema imunitário são basicamente os mesmos
órgãos e estruturas do sistema linfático, dentre os quais estão às tonsilas, o apêndice, o
timo e o baço (ROITT, 1999). Podem ser divididos em Órgãos linfóides primários e
secundários. Os primários são constituídos Medula óssea vermelha e timo, onde ocorre
a formação e maturação dos linfócitos. Após sua formação, os linfócitos migram e se
instalam nos órgãos linfóides secundários, linfonodos, baço, tonsilas, apêndice e a
medula óssea vermelha: São os órgãos que possuem linfócitos capazes de se
multiplicar e eliminar antígenos e patógenos (ROITT, 1999).
O Sistema imune mantém seu próprio sistema de circulação, os vasos linfáticos,
que passam por todos os órgãos do corpo, exceto no cérebro. Ele possui um desenho
engenhoso o que assegura a disponibilidade imediata e a produção rápida de uma
resposta imune em qualquer parte do corpo (SHARP, 2004).
Todos os indivíduos nascem com imunidade inata e reagem de forma
semelhante perante todas as substâncias estranhas, e o reconhecimento dos antígenos
não varia de pessoa para pessoa. A imunidade adquirida é aprendida. Ao nascimento, o
seu sistema imunitário ainda não foi confrontado com o mundo exterior, assim como
não começou a desenvolver os seus arquivos de memória, ele aprende a responder a
cada novo antígeno ao qual é exposto. Portanto, a imunidade aprendida é específica
dos antígenos que o indivíduo encontra ao longo da sua vida.
O sistema imunitário faz um registro ou memória de cada antígeno ao qual o
indivíduo entre em contato, quer seja através dos pulmões (ao respirar), do intestino (ao
comer) ou da pele. Isso é possível porque os linfócitos têm uma vida longa. Quando os
mesmos encontram um antígeno pela segunda vez, a sua resposta é enérgica, rápida e
específica. Essa resposta imune específica explica porque não se contrai varicela ou
sarampo mais do que uma vez ao longo da vida, assim como, o motivo pelos quais as
vacinas previnem as doenças (SHARP, 2004).
2.1 Sangue
O sangue carrega nutrientes, gases e produtos do metabolismo das células. Até
os dias de hoje não existe nenhum substituto para o sangue nem produção externa de
sangue humano. Doadores é a única fonte de sangue para os pacientes que dele
necessitam.
O sangue possui uma parte líquida denominada plasma e uma parte celular
composta de glóbulos vermelhos ou hemácias, glóbulos brancos ou leucócitos e
plaquetas. As células do sangue são produzidas na medula dos ossos, especialmente
nos ossos chatos como vértebras, costelas e esterno. Essas células são essenciais
para a vida, pois são responsáveis pelo transporte do oxigênio aos tecidos, pelo
controle das infecções do organismo e por ajudar no controle de sangramento (ZAGO,
2004).
O plasma é a parte líquida do sangue. Sua função é transportar água e
nutrientes para todos os tecidos do organismo. O plasma também contém sais
minerais, proteínas relacionadas com a coagulação do sangue (fatores da coagulação)
e com a defesa contra infecções (imunoglobulinas), hormônios, enzimas e células do
sangue (ZAGO, 2004).
As hemácias são células anucleadas e possuem a forma de um disco bicôncavo.
Contém no seu interior uma proteína chamada hemoglobina a qual é responsável pelo
transporte do oxigênio do pulmão a todas as partes do organismo e do gás carbônico
dos tecidos para os pulmões. A anemia resulta da alteração estrutural ou diminuição do
número de glóbulos vermelhos ou da redução da quantidade de hemoglobina presente
no seu interior (NAOUM, 2006).
São os leucócitos as células de defesa do nosso organismo contra infecções.
Eles possuem a capacidade de migrar do sangue para os tecidos e combater
microrganismos que invadem o corpo. A diminuição do número de leucócitos ou a
alteração da sua função deixa o organismo suscetível a múltiplas infecções (GAYTON e
HALL, 1998).
As plaquetas são partículas semelhantes à célula e são menores do que os
eritrócitos e os leucócitos. Sendo parte do mecanismo protetor do sangue de
interrupção do sangramento, elas acumulam-se no local do sangramento, onde são
ativadas. Após serem ativadas, elas tornam-se pegajosas e aglomeram, formando um
tampão que ajuda a vedar o vaso sangüíneo e interromper o sangramento.
Concomitantemente, elas liberam substâncias que ajudam no processo de coagulação
(SHARP, 2004).
As pessoas estão expostas diariamente à contaminação de microorganismos
patogênicos e o organismo deve estar em alerta, preparado para a defesa. Para reduzir
a probabilidade da contaminação devemos aumentar a resistência do corpo e isso pode
ser possível com uma boa qualidade de vida. Observa-se que os adolescentes estão
imaturos para a tomada de decisões quanto aos cuidados com o próprio corpo, pensam
somente no prazer imediato, alívio e bem-estar. Diante da problemática envolvendo alto
índice de sedentarismo entre os adolescentes, de doenças causadas pela falta de
alimentação balanceada, estresse e o uso descontrolado de bebidas alcoólicas e
cigarros, a escola não pode estar alheia a todos esses problemas. Assim, o objetivo do
presente estudo foi fornecer aos alunos, por meio de atividades pedagógicas
dinâmicas, condições para que os mesmos entendam a importância da qualidade de
vida no funcionamento do Sistema Imunológico.
3 Desenvolvimento do projeto
O presente trabalho foi realizado com as turmas das 2ª Séries A; B e D dos
turnos matutino e noturno do Colégio Estadual Padre Eduardo Michelis do município de
Missal - Pr. O projeto foi apresentado à direção, equipe pedagógica e professores, com
o objetivo de divulgá-lo e solicitar apoio para sua implementação.
Como primeira atividade, os alunos responderam um questionário constituído de
seis questões abertas que serviu como instrumento para identificar os conceitos por
parte dos alunos em relação a determinados conteúdos como: a formação do pus nos
ferimentos; observação dos dados de um hemograma; antígenos; anticorpos; órgãos do
sistema imune; células de defesa do organismo; hábitos de vida saudável e a
imunidade. Percebeu-se que os alunos têm pouco conhecimento sobre esses assuntos
e que os livros didáticos enfatizam muito pouco sobre os assuntos relacionados ao
processo de imunidade. Com o objetivo de melhorar os conhecimentos dos alunos
sobre o assunto, os mesmos foram divididos em grupos e para cada equipe sugeriu-se
um dos seguintes temas: Imunidade Inata e Adquirida; Antígenos e Anticorpos; Órgãos
do Sistema Imune e Problemas do Sistema Imunológico para serem pesquisados e
apresentados para os colegas. Justifica-se o uso da pesquisa em grupo, porque facilita
a aprendizagem ao promover a interação entre colegas com conhecimentos e
habilidades diferentes, estimulando a socialização, a participação, o respeito mútuo e a
cooperação entre os estudantes. Além disso, são momentos de produção do próprio
aluno, necessários para o amadurecimento no processo ensino aprendizagem.
A observação microscópica das células do sangue permitiu aos alunos a
visualização das células vermelhas e dos leucócitos, sendo que as células brancas
estão diretamente relacionadas com os processos de imunidade do organismo. A partir
daí foram realizadas a modelagem das células do sangue usando o isopor, massa de
modelar e material de E.V.A.. A confecção da ampliação de células do sangue (Figura
1), bem como os vasos sanguíneos onde as células circulam, permitiu aos estudantes,
terem uma imaginação real dos elementos microscópicos presentes em seu organismo,
tendo assim uma maior compreensão das tarefas desempenhadas pelas células, bem
como, trabalhou as habilidades do imaginar o que é microscópico. Isso permitiu ao
docente relacionar alguns conceitos já estudados e até a introdução de novos
conhecimentos. Após a confecção desses materiais cada aluno fez um breve relato
sobre cada uma das células do sangue.
Figura 1 – Representação ampliada dos glóbulos brancos do sangue.
Outra atividade desenvolvida foi à identificação e localização dos órgãos do
sistema imune responsáveis pela defesa do organismo. Cada aluno recebeu um
esquema com a localização dos órgãos do corpo que se relacionam com a proteção do
corpo. Em seguida fizeram um molde ampliado de cada órgão para facilitar o trabalho
de manuseio, logo em seguida, esses órgãos foram recortados e colados sobre o
material em E.V.A. para que fossem destacados, então foram colados com cola quente
sobre o T.N.T. o que permitiu uma maior visualização do trabalho ( figura 2).
Figura 2 – Identificação e localização dos órgãos do Sistema Imune.
Conforme depoimentos, alguns alunos da segunda série que participaram da
atividade sobre a localização dos órgãos do sistema imune afirmaram que:
“Achei a atividade legal porque a maioria dos alunos não sabia onde se
localizava os órgãos do sistema imune”.
“Foi bom para sabermos onde cada órgão se posiciona em nosso corpo e qual
são as suas funções”.
“Foi divertido desenhar cada órgão, um pouco complicado com os detalhes, e
agora ficou mais fácil de sabermos onde fica cada órgão”.
Percebeu-se que a atividade de ampliação e visualização permitiu os alunos
compreenderem melhor o assunto abordado.
Os jogos didáticos geram desafios e facilitam o aprendizado por parte do aluno.
A utilização de jogos educativos no ambiente escolar traz muitos benefícios para o
processo de ensino e aprendizagem, ou seja, o ensino utilizando-se atividades lúdicas,
cria ambiente gratificante, atraente, e desafia o aluno diante dos conteúdos, assim
como, serve de estímulo para o desenvolvimento integral do educando. Para que os
jogos produzam os efeitos desejados aos adolescentes, é necessário que os mesmos
sejam direcionados pelos educadores, devendo ensiná-los a jogar, observá-los e
auxiliá-los quando necessário, motivando-os assim para o jogo. Antes de iniciar a
atividade foram confeccionadas as peças do jogo. Os grupos de alunos receberam as
peças centrais com as seis palavras chave do jogo, sendo que, para cada palavra
chave tinham quatro afirmações verdadeiras e quatro falsas. As frases verdadeiras
eram encaixadas junto à peça central e as afirmações falsas eram corrigidas pelo grupo
de alunos. Essa atividade, facilitou os estudantes compreenderem a dinâmica relação
do mecanismo de defesa do organismo, e fixarem conceitos básicos como: imunidade,
anticorpos, leucócitos, fagocitose, quimiotaxia, antígeno, imunodeficiência. Todas as
atividades realizadas pelos alunos, utilizando as peças centrais do jogo, as afirmações
verdadeiras e as correções das proposições falsas, foram registradas no caderno dos
alunos. A execução da atividade foi registrada (figura 3).
Figura 3 – Jogo educativo “Imunidade” com alunos da Segunda Série A do Ensino Médio.
Em depoimento os alunos informaram que: “Com a utilização do jogo
aprendemos mais sobre o nosso Sistema Imune, as defesas que o corpo nos oferece
para combater os antígenos invasores de nosso organismo. “A atividade foi bem
divertida, descontraída, uma maneira diferente de conhecermos muito mais sobre nós
mesmos”.
Outra atividade teve como principal objetivo analisar os dados do hemograma,
pois ele permite perceber o estado nutricional do indivíduo, isso foi feito pela contagem
de hemácias e dosagem de hemoglobina. A análise do hemograma também avalia o
sistema imunológico do organismo, sendo que valores aumentados ou diminuídos
dessas células podem revelar processos patológicos como: viroses, processos
infecciosos, parasitoses, inflamações, doenças crônicas, entre outros. Primeiramente
foram solicitados aos alunos que trouxessem hemogramas com diferentes resultados,
alguns desses exames foram copiados e repassados para os demais alunos da turma.
Em grupos, os estudantes fizeram a análise de resultados apresentados nos
hemogramas, onde perceberam que valores alterados significam problemas no
organismo, e que na prática não podemos avaliar apenas um dado fornecido pelo
hemograma separadamente. É importante que o resultado seja levado ao médico para
que ele possa avaliar todos os valores encontrados e com as observações clínicas,
histórico familiar, tipo de alimentação, uso de medicamentos e drogas para que possa
chegar a uma conclusão diagnóstica. Por meio desta atividade percebeu-se que são
muitas as dificuldades com relação a termos desconhecidos que são básicos para a
interpretação dos resultados do exame de sangue, além disso, os valores referenciais
são diferentes para cada laboratório, o que dificultou uma interpretação mais detalhada
dos resultados dos hemogramas.
Conforme depoimentos escritos, alguns alunos que participaram do projeto
afirmaram que: “É o que mais vamos lembrar das atividades desenvolvidas no projeto,
pois aprendemos a analisar os resultados dos exames; ajudou-nos a entender os
nossos próprios exames de sangue, bem como os exames de nossos familiares”.
“Aprendi a interpretar quando o organismo está com algum problema, vimos casos de
anemia, dengue, infecções. Percebi o quanto é importante fazermos exames para
descobrirmos se temos alguma doença e que os valores de referência são diferentes
conforme a idade e o sexo da pessoa”. “Vai ser o que mais vamos nos lembrar, pois
aprendemos a identificar e analisar os hemogramas”. Para tornar a atividade mais
completa, alguns alunos confeccionaram um vaso sanguíneo com as células do sangue
circulando em seu interior (figura 4).
Após a realização da atividade os estudantes responderam em seu caderno
algumas questões para uma melhor fixação dos conteúdos e que foram apresentadas
na unidade didática.
Figura 4 – Vaso sanguíneo com células do sangue.
A atividade em forma de teatro proporciona ao aluno compreender dinâmicas
relações entre o estilo de vida saudável, baseados em ingerir alimentos saudáveis,
controlar o peso corporal, realizar adequadamente exercícios regulares, evitar
substâncias nocivas ao organismo, dormir bem, entre outros. Quanto mais
precocemente forem adquiridos hábitos saudáveis, maior será a resistência do
organismo, prevenindo doenças graves.
No início da atividade, os estudantes foram estimulados e auxiliados na
elaboração da peça teatral. A turma foi dividida em dois grupos e cada grupo se
responsabilizou em apresentar uma peça para os demais colegas. O assunto foi
abordado de forma a despertar nos adolescentes não somente a proposta deste
trabalho, mas todos os aspectos da sua criatividade. Diante de algumas manifestações
dos alunos, percebeu-se efetivamente que compreenderam que os hábitos de vida
saudável aumentam a resistência do organismo e que o sedentarismo, o consumo
excessivo de cigarros de tabaco e bebidas alcoólicas e a má alimentação, podem
danificar o sistema imunológico além de colocar a própria vida em risco. No teatro
mostraram também que a presença dos antígenos indica algo ruim e que estão
presentes principalmente em pessoas que não possuem hábitos saudáveis. Os
anticorpos fazem bem para o organismo e é proporcionado pelo estilo de vida saudável.
A partir da atividade realizada, houve o envolvimento e a participação dos alunos, a
técnica oportunizou espaço onde puderam expressar através da criatividade, os
conhecimentos adquiridos, além de sensibilizar o outro sobre o tema trabalhado. Na
figura 5 observa-se a apresentação do teatro para os colegas de sala.
Figura 5 – Apresentação da Peça Teatral sobre Imunidade.
Alguns grupos de alunos decidiram fazer a apresentação dos conhecimentos em
forma de paródia. Foi um instrumento de aprendizagem que despertou interesse dos
alunos para melhor compreender as relações entre os hábitos de vida saudável e a
imunidade do organismo. Os estudantes informaram que através das paródias
conseguem expressar a criatividade usando o ritmo de músicas de sucesso para fazer
a interpretação dos ensinamentos que envolvem o mecanismo de defesa do organismo
e assim fazer o seu uso para cuidar melhor da saúde. “É importante conhecer para
melhor compreender as dinâmicas relações entre o estilo de vida e a saúde”,
informaram os alunos. O momento da apresentação de paródias foi registrado, na
figura 6.
Figura 6 – Apresentação de paródia sobre os hábitos de vida saudáveis.
Ao final do desenvolvimento do projeto observou-se claramente que ocorreu
aprendizagem significativa dos assuntos abordados por meio das metodologias
aplicadas. Os livros didáticos, em sua maioria dão pouca ênfase ao sistema
imunológico e verifica-se a ausência de conceitos básicos. Nas tendências atuais o
mecanismo de imunidade precisa ser evidenciado perante a prática pedagógica por
parte dos docentes e pelos livros didáticos, tentando associá-los ao estilo de vida das
pessoas com o objetivo de prevenir doenças, tendo assim os ensinamentos de biologia,
significado para a conservação da saúde e para a vida.
O presente trabalho mostrou por meio das atividades realizadas que os alunos
podem ampliar seus conhecimentos com relação à imunidade do organismo e assim
decidir por hábitos saudáveis de vida, influenciando seus amigos e familiares.
Recomenda-se a realização permanente de metodologias diversificadas e
dinâmicas na escola para que a cada ano seja atingido um maior grupo de alunos. É
importante destacar que o conhecimento do sistema imunológico pode melhorar o
estilo de vida dos adolescentes e pessoas próximas a elas.
Ao final do trabalho relatamos algumas sugestões simples para melhorar a
imunidade do organismo. As mesmas foram repassadas para toda comunidade escolar
por meio de cartazes expostos nas paredes do colégio. Seguem então, algumas dicas
importantes para aumentar as defesas do corpo e melhorar a qualidade de vida:
- Tomar pelo menos 1 litro e meio de água por dia, pois manter as vias aéreas úmidas
afastam o vírus da gripe;
- Respirar mais e melhor. Respirar profundamente, oxigenando seus alvéolos
pulmonares completamente e na sua totalidade;
- Evitar tomar muito leite quando estiver resfriado, pois ele produz muito muco,
dificultando a cura;
- No lugar do leite de vaca ou leite animal, consumir leite de soja. Muito melhor para a
saúde;
- Aumentar o consumo de iogurte natural, ele é excelente para o sistema imunológico,
além de ser fonte de cálcio;
- Aumentar a quantidade de alho e cebola na sua alimentação, eles possuem
propriedades importantes para o combate a gripes e resfriados;
- Aumentar o consumo de alimentos ricos em betacaroteno (cenoura, laranja, damasco,
beterraba, espinafre, mamão e couve) e alimentos fontes de zinco (fígado de boi e
semente de abóbora);
- Consumir mais frutas e verduras diariamente;
- Colocar em sua alimentação alimentos fontes de ácido graxo ômega-3 (sardinha,
atum, salmão, bacalhau), são excelentes para o sistema imunológico;
- Procurar dormir pelo menos 8 horas por dia;
- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas;
- Fazer exercícios regularmente. Procurar exercitar-se em locais não poluídos e que
possam trazer prazer;
- Evitar alimentos gordurosos porque eles deixam o sistema imunológico debilitado;
- Escolher alimentos saudáveis nos lanches da escola e nos momentos de lazer.
Assim, de forma simples, procura-se a formação de adultos conscientes
incentivando-os a ter hábitos de vida saudáveis.
4 Conclusão
Sendo a escola, para muitos alunos o único local de informações sobre as
vantagens de uma vida saudável. Conclui-se que, é papel do professor despertar no
estudante a valorização do corpo, da saúde, através de ensinamentos que levam a
compreensão de fenômenos biológicos que ocorrem no interior das células, dos órgãos
e dos sistemas, tendo um conhecimento integrado do funcionamento do organismo. Os
docentes devem fazer com que os adolescentes se apropriem de dados científicos e
tomem decisões conscientes, no que se refere a hábitos de vida e a defesa do
organismo, percebendo a sua importância na prevenção de doenças e na qualidade de
vida. É um momento privilegiado para as intervenções na saúde, ou seja, ao se
apropriarem destes saberes, possam garantir a sua saúde e a de seus familiares.
Notavelmente com o desenvolvimento do presente trabalho, muitos alunos
poderão transformar os conhecimentos adquiridos em mudanças de comportamentos e
atitudes para terem uma boa qualidade de vida, possibilitando-os prevenir, conservar e
recuperar as qualidades funcionais que determinam a saúde física, emocional e social.
Transformar assuntos tão abstratos, como os biológicos, em algo concreto e
compreensível, por parte dos alunos é uma tarefa difícil. Porém por meio das
metodologias aplicadas no presente estudo verificou-se grande interesse e aprendizado
por parte dos adolescentes. Além de contribuir até mesmo com alguns problemas de
indisciplina. O ensino de Biologia segundo as Diretrizes Curriculares deve proporcionar
um conhecimento prático e relevante para o aluno. O trabalho despertou a
conscientização dos alunos em relação à importância dos hábitos de vida saudável e a
relação direta desses hábitos com a saúde. Para isso foi necessário planejamento de
diferentes metodologias que possibilitaram discussão a respeito do que é qualidade de
vida e o que tem de ser feito para alcançá-la.
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