afinidade da hemoglobina para oxigénio

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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – NORTE BIOQUIMICA 1º ANO TEMA: Afinidade da hemoglobina para oxigénio - exemplos de casos em que podem estar modificados Data de entrega do trabalho: 04/12/2007 Turma:1 Grupo: 5 Trabalho realizado por: -Antonio Pereira

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Page 1: Afinidade da hemoglobina para oxigénio

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – NORTE

BIOQUIMICA

1º ANO

TEMA: Afinidade da hemoglobina para oxigénio - exemplos de casos em que

podem estar modificados

Data de entrega do trabalho: 04/12/2007

Turma:1

Grupo: 5

Trabalho realizado por:

-Antonio Pereira

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Bioquímica – 1º ano

Índice

Introdução_______________________________________________________3

Estrutura e função da hemoglobina ___________________________________4

Interacções da hemoglobina com oxigénio e outros ligantes________________6

Ventilação pulmonar ______________________________________________9

Asfixiantes químicos (monóxido de carbono) __________________________10

Hemoglobinopatia________________________________________________1

1

Anemia falciforme _______________________________________________13

Conclusão

______________________________________________________16

Bibliografia_____________________________________________________17

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Introdução

A bioquímica é voltada principalmente para o estudo da estrutura e função de componentes celulares: hidratos de carbono, lipídicos, ácidos nucléicos e outras biomoléculas. Recentemente a bioquímica tem se focalizado mais especificamente na química das reacções enzimáticas e nas propriedades das proteínas.

Neste trabalho escrito, o objectivo resume-se a conhecer a estrutura, função e coordenação de uma proteína, a hemoglobina, na respiração, tendo em conta anomalias que afectam esta coordenação e consequentemente a alteração dos processos de respiração, que afectam o nosso organismo. Para tal, começou por descrever-se o tipo de ligação que a hemoglobina é capaz de estabelecer, bem como os diferentes compostos a que esta é capaz de se associar. Ao longo do trabalho foram apresentadas as diferentes relações, bem como as consequências da ligação entre a hemoglobina e o oxigénio, responsáveis pelas trocas gasosas, durante a respiração. As deficiências desta ligação podem provocar no indivíduo várias disfunções, que estão retratadas ao longo do trabalho, sendo que podem ter diferentes intensidades, sendo que todas as doenças por certo não foram expostas, apenas as mais relevantes e as que foram encontradas nas pesquisas efectuadas.

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Estrutura e função da hemoglobina

A hemoglobina é o principal componente do sangue e é responsável pelo transporte do oxigénio dos pulmões aos tecidos e de dióxido de carbono dos tecidos até aos pulmões. A hemoglobina situa-se então no sangue, mais concretamente nos eritrócitos que são um dos constituintes do sangue. É uma proteína tetramérica constituída por dois tipos de subunidades, α e β, num arranjo α2β2, em que cada subunidade tem um heme como grupo prostético. Este grupo prostético consiste em porfirina com um átomo de ferro como átomo central, ao qual se liga ao oxigénio. Este define-se como uma unidade não peptídica mas essencial à função da proteína.

A hemoglobina é formada por quatro cadeias polipeptídicas, duas de um tipo, e duas de outro. As quatro são mantidas juntas por ligações não covalentes. Cada uma contém um grupo heme e um só centro de ligação ao oxigénio. O interior das cadeias é constituído maioritariamente por aminoácidos apolares e cada uma das cadeias assemelha-se a uma cadeia de mioglobina. A hemoglobina A, a principal dos adultos, é constituída por duas cadeias alfa (α) e duas beta (β). Uma outra hemoglobina nos adultos (cerca de 2% da hemoglobina total) é a hemoglobina A2, na qual as cadeias β são substituídas por cadeias delta (δ). Sendo assim, a composição da hemoglobina A é α2 β2 e da hemoglobina A2 é α2δ2. Os fetos produzem subunidades um pouco diferentes.

Figura 1 - Formação da estrutura quaternária da hemoglobina

 

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Figura 2 - Estrutura quaternária da hemoglobina

O grupo heme consiste num átomo de ferro no estado de oxidação +2 no centro de uma molécula de porfirina, localiza-se num nicho apolar que o protege da oxidação à forma férrica. O ião Fe(II) tem um número de coordenação 6 e apresenta uma geometria octaédrica: os quatro ligandos do plano são azotos da porfirina; a quinta posição de coordenação é ocupada por um resíduo de histidina e a sexta é onde se liga o oxigénio. Esta posição pode também ser ocupada por outros ligandos (H2O, NO, e NO-

2).

Figura 3 - Esquema do ferro hexacoordenado numa disposição octaédrica.

A mioglobina do tecido muscular armazena oxigénio. Esta funciona como uma reserva de oxigénio. Quando há falta de oxigénio no músculo, o oxigénio armazenado é libertado e será utilizado, na mitocôndria do músculo, para a síntese de ATP. Uma das situações em que pode haver falta de oxigénio nos músculos é em casos de exercício físico intenso.

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Figura 4 - Comparação entre mioglobina e hemoglobina

Interacções da hemoglobina com o oxigénio e outros ligantes

A capacidade da hemoglobina se ligar ao oxigénio depende de uma unidade não peptídica que é o grupo heme. Este grupo também dá à hemoglobina a sua cor característica. Muitas proteínas requerem unidades não peptídicas específicas, tais unidades já foram referidas e são denominadas de grupo prostético. Uma proteína sem o seu grupo prostético característico é designada por apoproteína. O átomo de ferro no grupo heme liga-se aos 4 azotos no centro do anel protoporfirínico. O ferro pode formar duas ligações adicionais, uma em cada lado do plano do grupo heme. Estes pontos de ligação são denominados de quinta e sexta posição de coordenação. O átomo de ferro pode estar no estado de oxidação ferroso (+2) ou no férrico (+3), e as formas correspondentes de hemoglobina são denominadas, respectivamente, ferro-hemoglobina e ferri-hemoglobina (também chamada meta-hemoglobina). Somente a ferro-hemoglobina, o estado de oxidação +2, pode ligar-se ao oxigénio.

Figura 5 - Átomo de ferro ligado aos 4 átomos de azoto

Interacções alostéricas habilitam a hemoglobina a transportar O2, CO2 e H+ coordenadamente. As subunidades α e β da hemoglobina têm o mesmo plano estrutural da hemoglobina. A hemoglobina transporta H+ e CO2, para além do O2. As propriedades de ligação ao oxigénio da hemoglobina são reguladas por locais separados e não adjacentes. A ligação de O2 à hemoglobina promove a ligação de mais O2 à mesma

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molécula de hemoglobina. Por outras palavras, o O2 liga-se cooperativamente à hemoglobina. A afinidade da hemoglobina para o oxigénio depende do pH e do CO2. Tanto o H+ como o CO2 promovem a libertação do O2 ligado. Reciprocamente o O2

promove a libertação de H+ e CO2. A afinidade entre o oxigénio e a hemoglobina é também regulado por fosfatos orgânicos, tais como o 2,3-bifosfoglicerato, o que resulta numa menor afinidade para o oxigénio da hemoglobina. A hemoglobina é, portanto, uma proteína alostérica. O CO2 liga-se às aminas terminais da hemoglobina e a sua afinidade pelo oxigénio baixa. No metabolismo aeróbio por cada O2 consumido, cerca de 0,8, em proporção, de CO2 é produzido. A maior parte do CO2  é transportada como bicarbonato, o qual é formado dentro das células vermelhas, pela acção da anídrase carbónica.

CO2 + H2O  <―>    HCO3- + H+

A maioria dos H+  gerados por esta reacção é captada pela desoxi-hemoglobina, como parte do efeito de Bohr. O restante CO2  é carregado pela hemoglobina na forma de carbamato, porque a forma não ionizada das aminas ą da hemoglobina pode reagir reversivelmente com CO2. Os carbamatos ligados formam pontes salinas que estabilizam a forma T. Daí, a ligação do CO2 baixa a afinidade da hemoglobina pelo oxigénio. As propriedades alostéricas da hemoglobina surgem de interacções entre as suas subunidades. A unidade funcional da hemoglobina consiste em dois tipos de cadeias polipeptídicas. Em 1938, Félix Haurowitz descobriu que cristais de desoxi-hemoglobina se fragmentavam quando eram expostos ao oxigénio. A fragmentação dos cristais da hemoglobina sugeriu que a proteína passa por uma mudança conformacional importante quando se liga ao O2. De facto, estudos de cristalografia com raios X mostraram que a oxi e a desoxi-hemoglobina diferem acentuadamente nas suas estruturas quaternárias. A molécula oxigenada é mais compacta. A estrutura quaternária da desoxi-hemoglobina é chamada de forma T (Tensa), a da oxi-hemoglobina é chamada de forma R (relaxada). Resumindo, na estrutura quaternária tensa há ligações salinas entre as subunidades, o que diminui a afinidade de ligação ao oxigénio, enquanto na estrutura quaternária relaxada ocorre precisamente o contrário. Assim a estrutura quaternária da hemoglobina muda acentuadamente pela oxigenação, sendo que o átomo de ferro move-se em direcção ao plano do grupo heme quando o oxigénio se liga.

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Figura 6 - Transição da hemoglobina da forma T para a forma R

Efeito de Bohr

Na hemoglobina o aumento do pH induz uma maior libertação de oxigénio. Fisiologicamente, baixando o pH há um deslocamento da curva de dissociação do oxigénio para a direita, de tal maneira que a afinidade pelo oxigénio fica diminuída. Aumentando a concentração de CO2 (a pH constante), diminui também a afinidade pelo oxigénio. Em tecidos em rápida metabolização, tais como o músculo em contracção, muito CO2 e ácido são produzidos. A presença de maiores níveis de CO2 e H+ nos capilares de tal tecido metabolicamente activo promove a libertação de O2 da oxi-hemoglobina. Este importante mecanismo para enfrentar a maior necessidade de oxigénio nos tecidos metabolicamente activos foi descoberto por Christian Bohr, em 1904. O efeito recíproco, descoberto 10 anos mais tarde por J. S. Haldane ocorre nos capilares alveolares dos pulmões. A alta concentração de O2 promove a libertação do H+ e o CO2 da hemoglobina, assim como as altas concentrações de H+ e de CO2 nos tecidos activos libertam o O2. Estes elos entre a ligação do O2, H+ e CO2 são conhecidos como o efeito de Bohr.

Figura 7 - Efeito do pH e da concentração de CO2 na afinidade da hemoglobina ao oxigénio

O abaixamento do pH de 7.4 (curva vermelha) para 7.2 (curva azul) resulta em libertação de O2 pela oxi-hemoglobina. O aumento da pressão parcial de CO2 de 0 para 40 torr (curva violeta), também promove a libertação de oxigénio.

O 2,3-Difosfoglicerato (DPG)

Nos tecidos periféricos, a deficiência de oxigénio determina uma acumulação de 2,3- difosfoglicerato (DPG). Este composto é formado de um intermediário glicolítico, o 1,2-difosfoglicerato. Uma molécula de DPG liga-se à hemoglobina tetramérica, numa cavidade central, formada pelas 4 subunidades. Portanto, a afinidade da hemoglobina para o oxigénio é também regulada pelo 2,3-BPG, que se liga à desoxi-hemoglobina mas não à oxi-hemoglobina, diminuindo a afinidade para o oxigénio. Assim, o DPG estabiliza a forma T, a forma desoxigenada, da hemoglobina, por ligação cruzada das

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cadeias beta, e contribui, adicionalmente, para a formação de pontes salinas, que devem ser rompidas para que a forma T se “transforme” na forma R da hemoglobina. O indicador da transição entre as formas R e T da hemoglobina é o movimento do ferro para dentro e para fora do anel porfirínico. Factores estéricos e electrostáticos regulam a iniciação com uma energia livre de 3000 calorias por mol. Assim, a mudança mínima da posição do Fe2- em relação ao anel porfirínico induz uma significativa mudança na conformação da hemoglobina e produz efeitos cruciais nas suas funções biológicas, em resposta a factores externos como na adaptação do organismo a elevadas altitudes.

Ventilação pulmonar

Na inspiração, o diafragma baixa e as costelas elevam-se, promovendo o aumento da caixa torácica, com consequente redução da pressão interna (em relação à externa), forçando o ar a entrar nos pulmões.

Na expiração, o diafragma eleva-se e as costelas baixam, o que diminui o volume da caixa torácica, com consequente aumento da pressão interna, forçando o ar a sair dos pulmões.

 

Figura 8 – Regulação da respiração

Transporte de gases respiratórios

O transporte do oxigénio está a cargo da hemoglobina, proteína presente nas hemácias. Cada molécula de hemoglobina combina-se com 4 moléculas de gás oxigénio, formando a oxi-hemoglobina.

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Figura 9 – Trocas gasosas ocorridas entre os alvéolos pulmonares e as células (entrada de O2)

Nos alvéolos pulmonares o oxigénio do ar difunde-se para os capilares sanguíneos e penetra nas hemácias, onde se combina com a hemoglobina, enquanto o dióxido de carbono (CO2) é libertado para o ar (processo chamado hematose).

Figura 10 – Trocas gasosas ocorridas entre os alvéolos pulmonares e as células (entrada de CO2)

Nos tecidos ocorre um processo inverso: o oxigénio dissocia-se da hemoglobina e difunde-se pelo líquido tissular, atingindo as células. Cerca de 23% do dióxido de carbono libertado pelos tecidos associam-se à própria hemoglobina, formando a carboemoglobina.  O restante dissolve-se no plasma. 

Asfixiantes químicos (monóxido de carbono)

Asfixiantes químicos são gases que, penetrando no organismo, impedem a obtenção do oxigénio do ar atmosférico, ou ainda, a utilização do oxigénio pelos tecidos. Podem, portanto, causar asfixia mesmo que haja suficiente concentração de oxigénio no ar. Os asfixiantes químicos mais conhecidos são o monóxido de carbono e os cianetos.

O monóxido de carbono (CO) é um gás inodoro, incolor, insípido, mais leve que o ar (densidade 0,97), produzido onde ocorre combustão incompleta de material orgânico.

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Suas propriedades tóxicas sobre o organismo já vêm sendo observadas há muitos séculos, pois antes que fosse conhecida sua composição química, gregos e romanos utilizavam-no para a execução de criminosos, bem como para provocar o suicídio  Ocorrência

O CO é formado pela combustão incompleta de materiais orgânicos, tais como o petróleo e seus derivados, gás natural e manufacturado, explosivos, madeira, carvão. No processo de combustão, um excesso de carbono favorece à formação de monóxido de carbono, enquanto que um excesso de oxigénio leva a formação de dióxido de carbono (C02).

Devido ao uso universal de combustíveis fósseis, o CO pode ser encontrado em concentrações perigosas tanto no ambiente doméstico quanto nas ruas, na agricultura e principalmente na indústria.

Fisiopatologia

O monóxido de carbono exerce sua acção de asfixiante químico ao reduzir a capacidade da hemoglobina, de transportar o oxigénio através de, principalmente, dois mecanismos.

O primeiro mecanismo é ao fixar-se à hemoglobina com sua afinidade 210 a 300 vezes maior do que a do oxigénio, vindo a formar a carboxihemoglobina. Esta afinidade pode ser medida pelo número de moles de oxigénio, necessário para cada mole de CO, a fim de manter igual saturação da hemoglobina.

O monóxido de carbono, libertado pela combustão de combustíveis fósseis e pelo fumo dos cigarros entre outros, combina-se com a hemoglobina de uma maneira mais estável do que o oxigénio, formando a carboxiemoglobina. Dessa forma, a hemoglobina fica impossibilitada de transportar o oxigénio, podendo levar à morte por asfixia.

Para analisar os efeitos do CO sobre os seres humanos, dispõe-se dos seguintes dados:

Concentração de CO (ppm) Sintomas em seres humanos10 Nenhum15 Diminuição da capacidade visual60 Dores de cabeça100 Tonturas, fraqueza muscular270 Inconsciência800 Morte

Hemoglobinopatia

Hemoglobinopatias são doenças genéticas decorrentes de anormalidades na estrutura ou na produção da hemoglobina. Mais de 300 defeitos estruturais da hemoglobina já foram identificados, sendo a anemia falciforme e a hemoglobinopatia mais conhecida. Os defeitos na taxa de produção das cadeias de hemoglobina são as

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talassemias (alfa ou beta-talassemias, de acordo com a cadeia cuja síntese está prejudicada). As hemoglobinopatias são causadas por uma alteração genética afectando a estrutura da molécula (hemoglobinopatia estrutural) ou sua taxa de produção (talassemia).

As manifestações clínicas variam muito de acordo com o tipo de problema apresentado. As crianças com anemia falciforme produzem hemoglobina S no lugar da hemoglobina A normal, sendo altamente susceptíveis à anemia hemolítica (por ruptura dos glóbulos vermelhos) e a infecções que podem levar à sepsis (infecção generalizada do sangue). Obstruções em pequenos vasos causam dor e comprometem progressivamente a função de órgãos e tecidos. As alterações nas hemácias afectam também o baço, que aumenta muito de tamanho e contribui ainda mais para a anemia.

As talassemias constituem um grupo de doenças genéticas que resultam da diminuição do ritmo da síntese de cadeias α e β. Essas síndromes são causadas em geral por delação de genes. Havendo normalmente quatro cópias do gene de α – globina, a gravidade clínica pode ser classificada conforme o número de genes que faltam ou estão inactivos. A perda de todos os quatro genes suprime completamente a síntese da cadeia α. Sendo ela essencial na hemoglobina fetal e do adulto, esse defeito é incompatível com a vida e leva à morte na fase uterina. Três delações do gene α provocam anemia microcítica hipocrómica moderadamente grave com esplenomegalia. Ela é conhecida como doença Hb H porque a hemoglobina H pode ser detectada nos eritrócitos desses pacientes por eletroforese ou em preparações de reticulócitos. Na vida fetal ocorre a Hb Bartz.

Embora não exista ainda cura para as hemoglobinopatias, as medidas de tratamento da anemia, a prevenção das crises hemolíticas e das infecções aumenta significativamente a qualidade e o tempo de vida. Alertados há tempo sobre o risco de recorrência da doença na família, os pais podem beneficiar de aconselhamento genético e/ou de diagnóstico pré-natal para uma futura gestação

Fisiopatologia

Em alguns casos de substituição de um aminoácido na cadeia de hemoglobina não há significante alteração na sua função e outros casos há comprometimento fisiológico da integridade da hemoglobina. A hemoglobina instável pode gerar:

Diminuição da afinidade pelo oxigénio: lembrando que a hemoglobina normal carrega oxigénio do sangue para os pulmões, quando há a produção de uma hemoglobina anormal isso pode gerar uma diminuição na afinidade da hemoglobina pelo oxigénio. Exemplos: Hb Seattle, Hb Vancouver e Hb Mobile.

Aumento da afinidade pelo oxigénio: raramente acontece. Exemplos: Hb Chesapeake e HbJ Capetown.

Meta hemoglobina: a hemoglobina neste caso apresenta ião férrico no estado oxidado (Fe3+) ao invés do ferroso normal (Fe2+). Acontece em caso de HbM.

Hemoglobina instável: Ocorre a formação de inclusões dentro das hemácias chamadas corpúsculos de Heinz.

Cristalização: Ocorre em casos de HbS e HbC. Falcização: Em casos de HbS.

Hemoglobinopatias mais comuns: Talassemias HbS

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HbC HbE HbD-Punjab HbO-Arab HbM Hb Lepore

Figura 11 – Exemplo de uma hemoglobinopatia

Diagnóstico

Hemograma é o principal exame a ser realizado quando há uma suspeita de anemia. O mais importante num hemograma, no que diz respeito a uma suspeita de anemia, é a avaliação da série vermelha (glóbulos vermelhos ou hemácias). Esta avaliação inclui a determinação do número de hemácias, hematócrito, hemoglobina, do volume corpuscular médio (volume da hemácia), hemoglobina corpuscular média (peso da hemácia) e concentração corpuscular média (concentração da hemoglobina dentro de uma hemácia). Normalmente realiza-se uma análise estatística em testes realizados em um grande grupo de indivíduos normais para se chegar aos limites estabelecidos para hemoglobina, hematócrito e número de hemácias, isto quer dizer que cada região possui um limite de normalidade. A normalidade varia de acordo com sexo, idade e etnia. A morfologia das hemácias ou estudo da sua forma ajuda a diagnosticar alguns tipos de anemias. Algumas formas só aparecem em alguns tipos de anemia.

A contagem de reticulócitos é usada para avaliar a produção de hemácias. Expresso em percentagem, o valor normal é de até 2%. Há um aumento quando ocorre uma anemia hemolítica ou após perda de sangue. Reticulócitos são hemácias imaturas e possuem resíduos de RNA no seu interior, são visualizadas ao microscópio usando-se corantes especiais.

Quando se desconhece a causa da anemia, outros exames são utilizados para ajudar nos diagnósticos. A dosagem de ferritina ajuda no diagnóstico da anemia ferropriva, assim como do ferro sérico. A eletroforese de hemoglobina é usada para detectar o tipo de hemoglobinopatia que tem causa genética. A deficiência de G6PD, uma enzima, é detectada pelo teste de G6PD. Resistência Globular Osmótica (ou RGO) ajuda no diagnóstico de algumas anemias hemolíticas (esferocitose, eliptocitose). Teste de Coombs é usado para detectar se a anemia é um defeito extracorpuscular adquirido. Teste de HAM serve para detectar anemia causada pela hemoglobinúria paroxística nocturna. DHL aumentado aparece quando há hemácias lisadas, portanto em casos de hemólise.

Anemia falciforme

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A anemia falciforme é uma desordem onde metade das hemácias do indivíduo possui um aspecto de foice, que resulta numa alta taxa de desintegração destas, provocando uma anemia aguda. Ela foi descoberta em 1904 por um médico americano, ao atender um estudante negro que apresentava fraquezas e dores de cabeça. Ao examinar uma amostra de sangue do paciente, ele percebeu que o número de células vermelhas estava diminuído pela metade, e que havia uma grande quantidade de corpúsculos finos, alongados e em forma de foice. No passado, ela normalmente era uma doença fatal, onde os afectados morriam antes dos trinta anos. A morte ocorria devido a infecções, insuficiência renal, insuficiência cardíaca e trombose. As hemácias falciformes, além de serem hemolizadas mais rapidamente, entopem pequenos vasos sanguíneos, impedindo a circulação e provocando danos a vários órgãos.

Figura 12 – Ilustração dos diferentes tipos de estado em que as hémacias se podem encontrar

Transmissão

Essa doença é transmitida geneticamente. Pessoas afectadas são homozigóticas para um gene anormal localizado num cromossoma autossomal. Se for recebido um gene normal e um gene anormal de outro pai, o indivíduo é denominado portador da anemia falciforme. Heterozigotos não apresentam sintomas da doença. Somente 1% das suas hemácias é falciforme, onde nos homozigotos esse número chega a 50%. Ela é uma doença genética recessiva. O gene anormal foi formado devido a uma mutação do tipo transversão. Um nucleotídeo adenina foi substituído por uma timina na região beta 6 da hemoglobina S ( o nome da hemoglobina normal é hemoglobina A ). O resultado disso foi a substituição de um glutamato por uma valina na posição 6 das duas cadeias beta da hemoglobina S. Isso não afecta a afinidade por oxigénio ou as propriedades alostéricas, mas reduz drasticamente a solubilidade da desoxi-hemoglobina. A razão disso é que a valina na cadeia da hemoglobina S reage com uma região complementar de outra hemoglobina. A área complementar só é exposta na forma desoxigenada. Essa interacção provoca uma precipitação fibrosa das hemoglobinas, deformando as hemácias e proporcionando um aspecto falciforme.

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Figura 13 – Ilustração da forma das hémacias quanto aos genótipos e fenótipos humanos possíveis

Evidências Evolutivas

A frequência da doença é maior entre os negros, atingindo 4 em cada 1000 indivíduos. Em certas regiões da África, a presença do gene pode chegar a 40% da população negra. Isso é devido a vantagem que um heterozigoto tem em relação ao não portador. O heterozigoto possui uma boa protecção contra a forma mais letal da malária, por causa da rapidez em que ele degrada os eritrócitos infectados. Em regiões assoladas pela malária, um heterozigoto tem uma eficiência reprodutiva 15% superior a uma pessoa com hemoglobina normal. De facto, os lugares mais afectados pela malária são também onde se encontrará uma maior presença do gene anormal. Isso deve-se à selecção natural, onde o homozigoto recessivo morria e o heterozigoto, por ter uma vantagem, sobrevivia, promovendo a continuidade na propagação do gene anormal.

Importância

Análises de mutações que afectam o transporte de oxigénio tiveram um grande impacto na genética, medicina e biologia molecular, como:

- Fonte de informação sobre a estrutura e função da hemoglobina, indicando as regiões críticas e indispensáveis para o funcionamento da proteína.

- A descoberta de mutações da hemoglobina revelou que uma doença pode ocorrer devido a uma troca de um aminoácido numa cadeia polipeptídica, ocasionada por uma substituição de um nucleotídeo por outro. O conceito de doença molecular, que agora é parte integrante da medicina, nasceu com os estudos sobre a anemia falciforme.

- A ocorrência de hemoglobinas mutantes melhorou o nosso entendimento sobre os processos evolutivos. A matéria prima das evoluções são as mutações; o estudo sobre a anemia falciforme mostrou que a mutação pode ser benéfica e maléfica.

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Conclusão

O objectivo do trabalho foi concretizado, possibilitando a compreensão da importância da hemoglobina para a sobrevivencia do ser humano, ou seja, o estudo da estrutura, função e coordenação da hemoglobina no sangue, e o controlo da respiração, realizado pelo organismo foi concretizado. Com este estudo aprofundado foi conseguindo assimilar conhecimentos sólidos sobre a hemoglobina.

Com o estudo das doenças relacionadas com a hemoglobina, pode-se constatar os fenómenos que as envolvem e da perigosidade que contêm. Um alerta e sensibilização sobre estas doenças é importante, nomeadamente, a patologia relacionada com o gás asfixiante monóxido de carbono, pois este é produzido em enorme escala pelo consumo de combustiveis fósseis e pelo tabaco consumido por milhões de pessoas.

Portanto a realização deste trabalho escrito foi importante, pois relaciona termos e aspectos bioquímicos com factos actuais da sociedade.

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Bibliografia

1- Murray, R.K. et al; Harpers Biochemestry, Prentice-Hall International Inc;.24ª

edition; 1988

2- Campos, Luís S.; Entender a bioquímica; Escolar Editora, 4ª edição; Lisboa

2005

Web sites utilizados:

- www.afh.bio.br ; - www.iq.usp.br ; - www.biocristalografia.df.ibilce.unesp.br .

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