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INSTITUTO HOMEOPÁTICO JACQUELINE PEKER CURSO DE ESPECIALIAZAÇÃO EM ACUPUNTURA VETERINÁRIA ACUPUNTURA COMO TRATAMENTO COMPLEMENTAR NAS ANEMIAS EM PEQUENOS ANIMAIS. TATIANA ELENA DA SILVA CAMPINAS 2013

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INSTITUTO HOMEOPÁTICO JACQUELINE PEKER

CURSO DE ESPECIALIAZAÇÃO EM ACUPUNTURA VETERINÁRIA

ACUPUNTURA COMO TRATAMENTO COMPLEMENTAR NAS

ANEMIAS EM PEQUENOS ANIMAIS.

TATIANA ELENA DA SILVA

CAMPINAS

2013

ACUPUNTURA COMO TRATAMENTO COMPLEMENTAR NAS

ANEMIAS EM PEQUENOS ANIMAIS.

TATIANA ELENA DA SILVA

CAMPINAS

2013

Monografia apresentada no Instituto Homeopático Jacqueline

Peker, como parte integrante do Curso de Especialização em

Acupuntura Veterinária

Orientadoras: Ma. Regina Raquel Perez

Dra. Márcia Valéria Rizzo Scognamillo Szabó

SILVA, TATIANA ELENA. Acupuntura como tratamento complementar nas Anemias em Pequenos

Animais. Campinas, 2013, 27 pag. Trabalho de conclusão de Curso de Especialização em Acupuntura

Veterinária – Instituto Homeopático Jacqueline Peker, Campinas, SP.

RESUMO

A abordagem das anemias em pequenos animais envolve o completo conhecimento da

fisiopatologia, dos sinais clínicos e do diagnóstico para a escolha do protocolo terapêutico adequado.

Os aspectos referentes aos quadros anêmicos na Medicina Ocidental foram discutidos e elucidados

nessa monografia. A acupuntura visa à terapia e à cura das enfermidades, com a inserção de agulhas

em pontos específicos aplicando estímulos através da pele. De acordo com a Medicina Tradicional

Chinesa, foram descritos a síntese sanguínea, os sinais clínicos, fisiopatologia da anemia de acordo

com os padrões de desarmonia dos Sistemas Internos, os Zang Fu, a teoria dos Cinco Elementos e os

Oitos Princípios. O tratamento, a anatomia, a localização e a indicação dos acupontos são discutidos

nessa monografia.

Palavra-chave: Anemia, acupuntura, sangue, medicina tradicional chinesa.

SUMÁRIO

1. Introdução........................................................................................................................... 5

2. Anemia na Medicina Ocidental........................................................................................... 6

2.1. Sangue................................................................................................................................. 6

2.1.1 Conceito.............................................................................................................................. 6

2.1.2 Origem................................................................................................................................. 6

2.1.3 Função................................................................................................................................. 7

2.2. Definição de Anemia.......................................................................................................... 7

2.3. Classificação das Anemias................................................................................................. 8

2.3.1. Anemias Regenerativas....................................................................................................... 8

2.3.1.1. Anemia Hemorrágica.......................................................................................................... 8

2.3.1.2. Anemia Hemolítica............................................................................................................. 9

2.3.2. Anemias Arregenerativas.................................................................................................. 10

2.4. Sinais Clínicos................................................................................................................... 10

2.5. Diagnóstico....................................................................................................................... 11

2.6. Tratamento........................................................................................................................ 12

3. Anemia na Medicina Tradicional Chinesa........................................................................ 14

3.1. Conceito de Sangue........................................................................................................... 14

3.2. Fonte de Sangue................................................................................................................ 14

3.3. Função do Sangue............................................................................................................. 16

3.4. Alterações do Sangue........................................................................................................ 16

3.4.1. Teoria dos Zang Fu........................................................................................................... 17

3.4.2. Teoria Cinco Elementos.................................................................................................... 17

3.4.3. Oito Princípios.................................................................................................................. 19

3.5. Tratamento........................................................................................................................ 19

4. Considerações Finais......................................................................................................... 24

5. Conclusão.......................................................................................................................... 25

6. Referências Bibliográficas................................................................................................ 26

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1.INTRODUÇÃO

O sangue, bem como todo sistema hematológico, é essencial à manutenção da vida.

Circulando por todo o corpo, nutre, oxigena e faz transporte de diversas substâncias de diferentes

órgãos e tecidos, mantendo a homeostase do organismo. A produção de sangue é realizada na medula

óssea dos ossos longos, nos mamíferos adultos, ocorrendo de forma organizada, como uma cascata

onde se processa a transformação e maturação dos diferentes tipos celulares, que pode se dar ao longo

dos dias (DRUMMOND, 2009).

As anemias são condições patológicas secundária de uma doença em algum outro órgão ou

sistema. São caracterizadas pela diminuição do número de eritrócitos e consequentemente pela

diminuição da quantidade de hemoglobina circulante, acarretando numa menor capacidade de

oxigenação do organismo. É uma das anormalidades mais frequentemente encontrada na clínica de

pequenos animais (NAVARRO, 2005).

A acupuntura é uma das terapias da Medicina Tradicional Chinesa, que cada vez mais adquire

credibilidade no mundo ocidental, a sua indicação pode ser para pacientes anêmicos e

imunossuprimidos, e outras afecções. A palavra acupuntura origina-se do latim: Acus = agulha;

pungare = perfurar; sendo a arte de inserir agulhas sobre pontos específicos que se encontram

espalhados na superfície corpórea, denominados de acupontos. Os conjuntos de pontos formam os

meridianos. A utilização da acupuntura tem função terapêutica preventiva e curativa nos desequilíbrios

da Energia Interna (ESPER, et al, 2012).

A produção de sangue sob a ótica da medicina tradicional chinesa (MTC) se dá em local e de

forma diferente da ocidental. O tratamento da anemia pela acupuntura exige também a identificação de

um padrão de desarmonia sistêmico. O entendimento da produção de sangue, e os sinais clínicos

decorrentes de sua deficiência mais o conhecimento de acupontos específicos para o tratamento, fazem

da acupuntura uma terapia eficaz comprovada cientificamente, que pode ser utilizada em conjunto

com a Medicina Ocidental no restabelecimento da homeostase energética e orgânica (LOURENÇO,

2004).

O presente trabalho tem como objetivo esclarecer o uso da acupuntura como tratamento

complementar da anemia, abordando aspectos importantes para compreensão dessa enfermidade,

esclarecendo os conceitos e aplicações desta técnica milenar.

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2. ANEMIA NA MEDICINA OCIDENTAL

2.1 Sangue

2.1.1 Conceito

O sangue é um tecido de cor vermelha e consistência líquida formada por um meio intercelular

chamado plasma e por células de dois tipos: os glóbulos vermelhos, também conhecidos como

hemácias ou eritrócitos, e os glóbulos brancos ou leucócitos. Circulam ainda no sangue as plaquetas

ou trombócitos, que são fragmentos de citoplasma de megacariócitos, que são células existentes na

medula. O plasma é composto por, aproximadamente, 91,5% de água, 7,5% de sólidos orgânicos

(proteínas como albumina, globulinas e os demais fatores de coagulação), e 1,0 % de sólidos

inorgânicos (NAVARRO, 2005).

2.1.2 Origem

A hematopoiese (do grego: haima,haimatos: sangue; e poiten: fazer) é a produção das células

do sangue. Segundo Navarro (2005), a teoria mais aceita é a da existência, na medula óssea, de uma

célula pluripotencial indiferenciada, chamada célula-tronco.

Na vida embrionária a hematopoiese começa no saco vitelínico, quando surgem as primeiras

ilhas de células eritropoiéticas formadoras de hemoglobina. Com o desenvolvimento fetal a

eritropoiese predomina no fígado, em seguida vem a etapa esplênica e a linfática. A terceira e última

etapa é a medular, que começa na metade da gestação e perdura pelo resto da vida (JAIN, 1993;

NAVARRO, 2005; FRY & McGAVIN, 2009). Esses órgãos que desempenharam papéis

hematopoiéticos na vida pré-natal podem voltar a exercer essa função quando necessário. Essa

metaplasia eritrocitária ocorre geralmente nas hipoplasia ou aplasias, e é chamada de hematopoiese

extramedular (JAIN, 1993; NAVARRO, 2005).

Após o nascimento, a hematopoiese limita-se exclusivamente à medula óssea e compreende

duas etapas: a infantil, que envolve a medula de todos os ossos, e a adulta, com atividade

hematopoiética limitada à medula dos ossos chatos e das extremidades dos ossos longos (NAVARRO,

2005). Os recém-nascidos e os animais muito jovens apresentam a medula óssea constituída

principalmente de tecido hematopoieticamente ativo (medula vermelha), com relativamente pouca

gordura. Com a idade esse tecido retrocede e será substituído por um tecido hematopoieticamente

inativo, principalmente gorduroso (medula amarela). Em adultos, os principais ossos envolvidos na

hematopoiese são pélvis, esterno, costelas, vértebras, e as extremidades proximais de úmero e fêmur

(JAIN, 1993; FRY & McGAVIN 2009).

7

A eritropoiese refere-se à produção de células vermelhas do sangue, os eritrócitos, cuja

principal função é a troca gasosa (O2 e CO2). O regulador dominante é uma glicoproteína, denominada

eritropoetina. A eritropoetina é um hormônio produzido pelo rim, quando o corpo está sob os efeitos

de hipóxia tecidual. A disponibilidade adequada de ferro é, também, essencial para eritropoiese, pois

os eritrócitos sintetizam hemoglobina, da qual o ferro é um componente (FRY & McGAVIN 2009).

A eritropoetina atua sobre a célula-tronco da medula óssea, determinando a sua divisão, com a

produção da unidade formadora de colônias da linha eritrocitária, ou UFCe (NAVARRO, 2005).

A produção e a maturação dos eritrócitos é um processo contínuo, que pode ser dividido em

seis etapas sucessivas a partir das UFCe, cada uma delas constituindo um tipo celular: rubroblasto

(pró-eritroblasto), pró-rubrócito (eritroblasto), rubrócito (normoblasto ortocromático), metarrubrócito

(normoblasto metacromático), reticulócito e eritrócito maduro (NAVARRO, 2005).

Segundo Nunes (2010) a nomenclatura recomendada para células eritróides morfologicamente

identificáveis é: rubriblasto – pró-rubrícito – rubrícito basofílico – rubrícito policromático –

metarrubrícito – reticulócito – eritrócito.

As hemácias têm um tempo de vida limitado. Em cães, o tempo normal de circulação é de

aproximadamente 100 dias, e em gatos é de 85 a 90 dias (REBAR et al , 2003). As hemácias velhas

são fagocitadas e metabolizadas pelos macrófagos do baço, medula óssea e fígado. O ferro é

preservado para reutilização (STOCKHAM & SCOTT, 2001).

O baço é um importante órgão na transformação e manutenção do sangue. Entre as suas

principais funções estão a destruição e reciclagem de componentes sanguíneos, liberação e

armazenamento de células de defesa do organismo. O órgão é ainda o segundo maior reservatório de

sangue e seus componentes no corpo, perdendo apenas para o sistema circulatório em si

(DRUMMOND, 2009).

2.1.3 Função

A função primária das hemácias é desempenhada pelo seu componente principal, a proteína

hemoglobina, e consiste em carrear o oxigênio para os tecidos e de retirar o dióxido de carbono

(REBAR et al , 2003).

2.2. Definição de Anemia

A anemia (do grego, an: ausência e haim: sangue) é um estado mórbido, causado por uma

diminuição da quantidade de hemoglobina circulante. Raramente a anemia é um distúrbio primário,

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aparecendo mais como uma manifestação secundária de uma doença em algum outro órgão ou sistema

(NAVARRO, 2005). Segundo Raskin (2003), constitui uma das anormalidades mais frequentes

encontrada na clínica.

2.3. Classificação das Anemias

De acordo com Lourenço (2004), as anemias podem ser classificadas de acordo com o

processo envolvido (hemorragia agudas ou crônicas, hemólise, diminuição da produção medular

eritrócitos), com o grau de regeneração ou resposta medular (regenerativa, arregenerativa) e também

com a morfologia eritrocitária (normo, micro ou macrocítica e hipo ou normocrômica).

As anemias regenerativas ocorrem devido a uma perda aumentada de eritrócitos, mantendo-se

normal sua produção. Nas anemias não regenerativas há uma diminuição da produção dessas células,

associada a uma perda das mesmas em quantidades normais (NAVARRO, 2005).

2.3.1 Anemia Regenerativa

A anemia regenerativa usualmente resulta de perda excessiva ou destruição de hemácia e a

resposta a esse tipo de anemia é o aumento da população de células jovens (reticulócitos) na

circulação. Portanto, um aumento de células jovens circulantes é um bom indicador de regeneração

medular, contudo a medula óssea necessita de dois a três dias no cão, e quatro a cinco dias no gato

para uma resposta adequada (LOURENÇO, 2004).

2.3.1.1 Anemias Hemorrágicas

A anemia por perda de sangue pode ser aguda ou crônica. Na hemorragia aguda todos os

achados laboratoriais se mantêm normais quando os elementos do sangue e do plasma são perdidos em

iguais proporções. Quando o volume sanguíneo é restaurado pelos fluidos que atingem o sistema

vascular, ocorre a diminuição do hematócrito, hemoglobina e contagem de hemácia. A policromasia e

a reticulocitose ocorrem dentro de 48 a 72 horas (MEYER et al, 1995).

De acordo com Navarro (2005) há casos nos quais a anemia não apresenta uma fase aguda

inicial. Ela se instala de uma forma incipiente, seja através de um parasitismo por parasitas

hematófagos como os carrapatos ou os vermes gastrintestinais, ou através do sangramento de mucosas

provocado por ulcerações ou coagulação deficiente. Essas anemias geralmente são descobertas já na

sua fase regenerativa.

As anemias por perdas de sangue são menos regenerativas do que as anemias hemolíticas. A

principal razão é a de que, quando há perda de sangue, o ferro também é perdido e este é necessário

9

para a síntese de hemoglobina. Uma vez que a hemorragia envolva a perda de proteínas plasmáticas e

também das células sanguíneas, essas anemias podem apresentar diminuição da proteína plasmática,

da proteína sérica, da albumina e das concentrações de globulinas séricas (REBAR et al, 2003).

2.3.1.2 Anemias Hemolíticas

A anemia hemolítica ocorre quando a meia-vida das hemácias circulantes é reduzida em

decorrência do aumento da taxa de destruição das hemácias. A hemólise pode resultar tanto de um

defeito nas hemácias (hereditário ou adquirido), quanto de danos na microvasculatura em que elas

circulam. (REBAR et al, 2003).

A hemólise pode ser intravascular, onde os eritrócitos são destruídos dentro dos vasos, com

liberação de hemoglobina livre no plasma, fenômeno conhecido como hemoglobinemia que, por sua

vez, resulta em hemoglobinúria. A hemólise também pode ser extravascular, na qual os eritrócitos

apresentam anormalidades de superfície causadas por parasitas ou alterações de membrana de origem

imunológica e são fagocitados pelo sistema mononuclear fagocítico (SMF) em baço, fígado e medula

óssea. Esse aumento na destruição dos eritrócitos resulta num aumento da taxa de bilirrubina

circulante, levando o animal a um estado de icterícia (NAVARRO, 2005; NELSON & COUTO,

2009).

As anemias hemolíticas são normalmente, refletidas por uma reticulocitose moderada a

acentuada e os parâmetros eritrocitários vão de macrocíticos/normocrômicos a macrocíticos/

hipocrômicos (LOURENÇO, 2004).

As principais anemias regenerativas hemolíticas são de origem parasitária causada por

parasitas dos eritrócitos, com estes sendo destruídos pelos próprios parasitas (hemólise intravascular)

ou pelas células do SMF (hemólise extravascular). As principais causas de anemia infecciosa são a

micoplasmose, babesiose, erliquiose e hemobartonelose (NAVARRO, 2005; NELSON & COUTO,

2009).

Uma das doenças hemolíticas mais encontradas é a Anemia Hemolítica Imunomediada

(AHIM), que acomete tanto cães como gatos e sua patogenia é descrita por suas hemácias tornarem-se

cobertas por anticorpos presentes na circulação sanguínea (NUNES, 2010). Essas hemácias podem

sofrer lise intravascular ou serem removidas por macrófagos no baço e no fígado. Os anticorpos

podem ser dirigidos contra as próprias hemácias (anemia hemolítica auto-imune), ou contra antígenos

estranhos. Dentre as condições que podem causar (AHIM) estão a dirofilariose, linfoma, lúpus

eritematoso, hemólise induzida por drogas ou medicamentos (REBAR et al,2003).

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Outra causa de anemia hemolítica é a tóxica, causada por certos produtos como a

acetaminofeno em gatos que determinam uma oxidação da hemoglobina e o aparecimento de

corpúsculo de Heinz na superfície dos eritrócitos que são fagocitados no baço. E a anemia hemolítica

congênita que são raras em animais, e é causada por um gene recessivo e caracterizada por

aparecimento de porfirinemia, com acúmulo de porfirina nos dentes e nos ossos (NAVARRO, 2005).

2.3.2 Anemias Arregenerativas

São também chamadas de anemias aplásicas e são causadas por uma hipoplasia eritrocitária,

que é uma queda da produção de eritrócitos com uma diminuição no número de precursores nucleados

dos eritrócitos na medula óssea ou uma supressão secundária da eritropoiese. Do ponto de vista

morfológico são normocíticas e normocrômicas, e seu índice de reticulócitos é zero (NAVARRO,

2005). E segundo Raskin (2003) frequentemente afetam-se também neutrófilos e plaquetas, e o nome

dado à redução de hemácia, leucócitos e plaquetas é pancitopenia.

As causas de anemia não regenerativas incluem agentes infecciosos como o vírus da leucemia

felina, panleucopenia felina, erliquiose, leishmaniose; deficiências nutricionais como deficiência de

ferro, cobalina (vit B12), folato; inflamação crônica; doenças orgânicas como hepatopatias,

insuficiência renal crônica; endocrinopatias como hipotireoidismo e hiperestroginismo; intoxicação

por chumbo, ou por algumas drogas como cloranfenicol em gatos; neoplasias; mielofibrose e

irradiação (RASKIN, 2003).

2.4 Sinais Clínicos

Na anemia ocorre inicialmente uma diminuição do volume de sangue circulante, esta queda da

volemia produz uma diminuição do aporte de oxigênio aos tecidos. A hipóxia tecidual coloca em

funcionamento um mecanismo de compensação do organismo, onde o primeiro deles é a

taquipinéia, buscando assim aportar mais oxigênio aos pulmões. Em seguida, o animal faz uma

taquicardia, buscando assim distribuir com maior rapidez o oxigênio captado pelos pulmões. A

taquicardia leva a uma aceleração de toda a circulação, com o aparecimento de um pulso mais

acelerado (NAVARRO, 2005).

O paciente pode se apresentar com letargia, fraqueza, anorexia, sopros cardíacos, dispnéia,

mucosas pálidas (Figura 1) ou ictéricas. Ocasionalmente, o animal pode parecer normal, mas uma

avaliação sanguínea rotineira pode revelar a anormalidade (RASKIN, 2003).

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Figura 1. Mucosa oral pálida cão e gato

2.5 Diagnóstico

Há vários procedimentos para documentar e caracterizar a anemia em termos morfológicos ou

etiológicos. Entre eles estão os métodos de diagnóstico laboratoriais e os métodos clínicos. A

realização de um exame físico completo é muito importante para a investigação da ocorrência da

anemia em um paciente bem como a diferenciação do tipo de anemia que acomete esse animal

(NUNES, 2010).

Uma boa anamnese e exame físico determinam a ocorrência de traumatismo ou cirurgia,

exposição a drogas, substâncias químicas ou toxinas, intercorrência de doenças infecciosas,

parasitárias ou neoplásicas, duração da doença, locais com perda de sangue e presença de

organomegalia. (RASKIN, 2003).

Os sinais clínicos dão apenas um indício da existência de uma anemia, cuja confirmação deve

ser, obrigatoriamente, feita através do laboratório. São três os exames laboratoriais utilizados no

diagnóstico da anemia: o hematócrito, a taxa de hemoglobina e o número de eritrócitos por mm3

sangue. O mais simples e rápido dos três é o hematócrito que, na anemia, estará abaixo do normal. A

taxa da hemoglobina circulante acompanha o valor do hematócrito, permanecendo igualmente baixa

na anemia. Quanto à contagem de eritrócitos, esta pode estar diminuída ou não. A contagem encontra-

se diminuída nas anemias não regenerativas ou aplásicas, e podem permanecer no limite normal

inferior no caso de anemias regenerativas (NAVARRO, 2005).

A classificação e o diagnóstico das anemias são realizados de acordo com os índices

eritrocitários como o hematócrito ou volume globular (VG) (Tabela 1), o volume celular médio e da

concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) bem como a contagem de células jovens, os

reticulócitos. Os termos utilizados para o tamanho são normocítica (normais), macrocítica

(aumentadas) ou microcítica (diminuídas), e para as propriedades tintoriais da hemoglobina são

normocrômica (normais) ou hipocrômica (pálidas) (MEYER, 1995).

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Tabela 1. Graduação de Anemia (NELSON & COUTO, 2009)

HEMATÓCRITO CÃES HEMATÓCRITO GATOS

BRANDA 30 A 36% 20 A 24%

MODERADA 18 A 29% 15 A 19%

GRAVE < 18 % < 14%

De acordo com Nunes (2012), em pacientes com anemia microcítica, é preciso dosar teores

séricos de ferro para definir se a micrositose realmente é decorrente da deficiência desse mineral.

Além disso, deve-se realizar exames de fezes investigando a presença de sangue, porque a hemorragia

gastrointestinal crônica é uma causa comum de anemia por deficiência de ferro.

O diagnóstico também deve incluir a avaliação de teste sorológicos para doenças infecto-

contagiosas (FIV, Felv, Leptospirose, Histoplasmose), a pesquisa de hematozoário (Erlichia sp,

Babesia sp, Hemobartonella, sp) em esfregaços sanguíneos, a detecção de autoaglutinação e teste

direto de Coomb’s nos casos em que há suspeita de anemia hemolítica imunomediada. Nas anemias

hipoproliferativas, a aspiração ou biópsia de medula óssea deve ser realizada, a fim de se chegar a um

diagnóstico (LOURENÇO, 2004).

2.6 Tratamento

O tratamento da etiologia primária que ocasionou a anemia geralmente conduz à resolução da

mesma, portanto o diagnóstico correto favorece a cura do animal. De maneira geral, no tratamento das

anemias regenerativas por perda sanguínea a hemorragia deve ser identificada e contida o mais rápido

possível. Se há a presença de desordens hemostáticas, o tratamento específico deve ser instituído o

mais breve possível, perdas agudas requerem fluidoterapia agressiva com soluções cristalóides ou

colóides naturais, como sangue (LOURENÇO, 2004).

As anemias hemolíticas não associadas à destruição imunomediada das hemácias são tratadas

removendo-se a causa, como fármacos, agente infeccioso, juntamente com o tratamento de suporte

como transfusão sanguínea. A Doxiciclina geralmente resulta na solução dos sintomas em cães e gatos

com micoplasmose e cães com erliquiose. Nas anemias hemolíticas imunomediadas a utilização de

corticóides e fármacos imuno-supressivos como azatioprina, se faz necessária para diminuir a

hemólise excessiva (NELSON & COUTO, 2009).

As anemias por deficiência de ferro, secundárias a depleção por hemorragias gastrintestinais

causadas por úlceras gástricas, neoplasias, endoparasitas, em gatas lactentes e mais raramente por

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infestações maciças por pulgas, tem resolução dentro de seis a oito semanas após a descoberta e

eliminação da causa. Suplementações com ferro injetável ou na dieta são eficazes (LOURENÇO,

2004).

Na anemia da doença renal o hematócrito encontra-se na faixa de 20% a 30%, embora valores

mais baixos sejam comuns, isso ocorre porque o rim é o principal local de produção de eritropoetina, o

principal estímulo da eritropoese. A melhora na função renal pode resultar em aumento marginal na

massa de eritrócitos. Eritropoetina recombinante humana tem sido usada com sucesso no tratamento

de anemia de cães e gatos com insuficiência renal crônica (NELSON & COUTO, 2009).

A transfusão de sangue total ou de componentes de sangue é indicada em diversas situações

clínicas. A transfusão de sangue total ou de concentrado de hemácia é mais comumente indicada para

se restabelecer a capacidade de transporte de oxigênio em pacientes com anemia. O sangue total deve

ser usado se o paciente anêmico for hipovolêmico ou se necessitar dos fatores de coagulação, enquanto

o concentrado de hemácia é recomendado para cães e gatos normovolêmicos com anemia. A terapia

transfusional deve ser usada com cautela em animais com Anemia Hemolítica Imunomediada por

causa da possível ocorrência de reação transfusional maciça (NELSON & COUTO, 2009).

No tratamento não específico das anemias, regenerativas ou arregenerativas, substâncias como

complexos vitamínicos, minerais e estimulantes de medula podem auxiliar na recuperação. De todos

os tipos de anemias, as arregenerativas são as mais difíceis de tratar, pois frequentemente há um

comprometimento medular em grande escala, sendo a resposta mais tardia ou mesmo inexistente

(LOURENÇO, 2004).

Qualquer terapia adjuvante para as anemias é sempre considerada importante, uma vez que

grande parte dos quadros anêmicos, normalmente não possui uma etiologia primária facilmente

identificável. Deste modo, a acupuntura pode contribuir muito (LOURENÇO, 2004).

14

3. ANEMIA NA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA (MTC)

3.1. Conceito de Sangue

O conceito de sangue, na medicina chinesa é diferente da medicina ocidental. Na medicina

chinesa, o sangue, também chamado de Xue, é por si só uma forma de Qi, muito denso e material,

sendo uma das substâncias vitais, juntamente com Jin Ye (fluido corpóreo), Jing (essência), Shen

(mente) e o próprio Qi (energia). Além disso, o sangue é inseparável do Qi, uma vez que o Qi

proporciona vida ao sangue. Sem o Qi, o sangue seria um fluido inerte (MACCIOCIA, 2007).

De acordo com Schoen (2006) o sangue nutre os órgãos que produzem Qi, eles

complementam um ao outro, sendo dependentes um do outro; são diferentes, embora inseparáveis. Há

um ditado chinês que diz: “Qi é o comandante do sangue. Aonde o Qi vai, o sangue segue atrás. O

sangue é a mãe do Qi. Onde o Qi está o sangue já está lá”.

3.2. Fonte de Sangue

Segundo a MTC, o sangue é produzido principalmente no tórax pela função do Qi do pulmão

e do baço. Também é produzido na medula óssea (SCHOEN, 2006).

O sangue deriva, em sua maioria, do Qi do alimento (Gu Qi) produzido pelo baço. O baço

envia o Qi do alimento para cima, para o pulmão e, por meio da ação impulsora do Qi do pulmão, ele é

enviado para o coração, onde é transformado em sangue. Toda essa síntese é auxiliada pelo Qi

original, cuja fonte original é o rim, que armazena a essência (Jing), que produz a medula, que, por sua

vez produz a medula óssea, que contribui pra gerar o sangue. A partir disto fica evidente que o Rim

desempenha um papel importante, pois o sangue é formado pelo Qi pós-celestial do estômago e baço e

pelo Qi pré-celestial armazenado nos rins (Figura 2) (MACCIOCIA, 2007).

Figura 2- Formação de Xue segundo MTC (adaptado)

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O coração governa o sangue e os vasos sanguíneos, responsáveis pela sua circulação. O

pulmão auxilia o baço a enviar o Qi dos alimentos para o coração onde é transformado em sangue.

Além disso, ele controla os canais e vasos sanguíneos, infundindo o Qi, para auxiliar na função

impulsora do coração (MACCIOCIA, 2007).

O baço está relacionado ao sangue sob dois aspectos. Primeiro, porque é a origem do sangue,

já que produz o Qi do alimento, que é base da formação do sangue. Segundo, porque o Qi do baço

certifica-se de que o sangue permanece nos vasos sanguíneos e não se extravase. Se o Qi do baço

estiver deficiente, o Qi poderá não manter o sangue, podendo resultar em hemorragia (MACCIOCIA,

2007).

O fígado armazena o sangue, ele direciona o sangue que o coração faz circular, ou seja,

quando o corpo está em movimento, o sangue flui para os músculos e tendões, quando o corpo

descansa o sangue flui novamente para o fígado. O sangue estocado no fígado apresenta também a

função de umedecer os olhos, promovendo uma boa visão; e de hidratar os tendões, proporcionando

flexibilidade das articulações (MACCIOCIA, 2007).

Deste modo, resumem-se as. relações do sangue (Xue) com os sistemas internos:

O Baço é a principal fonte de sangue, e faz com que este permaneça nos vasos sanguíneos;

O Qi do Pulmão assume um papel importante ao empurrar o Qi do Alimento para o

coração;

O coração sintetiza e governa o sangue;

O Fígado o armazena;

O Rim contribui para sua formação.

Existe uma relação muito íntima entre Qi e o sangue. O Qi é Yang comparado ao sangue, o

sangue é mais Yin se comparado ao Qi. A íntima relação pode ser observado nos sinais clínicos

seguidos de hemorragia grave, onde o paciente após perda excessiva de sangue, desenvolve sinais de

deficiência de Qi, tais como sudorese, dispnéia e membros frios.

Há quatro aspectos da relação do Qi do sangue:

O Qi gera o sangue de maneira que o Qi dos alimentos seja a base do sangue, portanto é

necessário tonificar o Qi para nutrir o Xue;

O Qi movimenta o sangue “Quando o Qi se move, o sangue segue”;

O Qi mantém o sangue nos vasos sanguíneos “Qi é comandante do sangue”

O sangue nutre o Qi “Sangue é a mãe de Qi”.

16

3.3. Função do sangue

O sangue na MTC tem três funções primárias: nutrir, manter e umedecer estruturas como pele,

pêlos, tendões, ossos, órgãos, canais e qualquer outro tecido que dependa da sua nutrição (SHOEN,

2006).

A principal função do sangue é nutrir o organismo, além de complementar a ação nutriente do

Qi. O sangue também apresenta a função umedecedora, assegurando que os fluidos corpóreos não

sequem. Por exemplo, o sangue do coração umedece a língua (MACCIOCIA, 2007).

O sangue ainda possui outra função importante, proporciona a fundação material para a mente

(Shen). O sangue é parte Yin e abriga a mente, envolve-a permitindo que ela floresça. Se o sangue

estiver deficiente, a mente terá sua base abalada e se tornará inquieta e infeliz, isso se manifesta por

meio de inquietude, irritabilidade, insatisfação. “Quando o sangue está harmonizado, a mente possui

uma residência” (SHOEN, 2006).

3.4. Alterações do sangue

Na Medicina Tradicional Chinesa a anemia responsiva aguda ou crônica (perda sanguínea, má

nutrição, parasitismo) pode estar correlacionada à deficiência de sangue, contudo é pertinente salientar

que na MTC nem todas as deficiências de sangue (Xue) são anêmicas, ao contrário da Medicina

Ocidental (LOURENÇO, 2004).

As condições patológicas ou desarmonias do Xue são deficiência, estase, calor e perda de

sangue. A deficiência é observada quando há insuficiência de sangue, decorrente de baixa produção

deste. É geralmente uma condição crônica, pode cursar com anemia, embora esta não esteja sempre

presente na MTC. Como vários órgãos estão envolvidos na produção de sangue, em especial o Baço, o

Rim e o Fígado. Sendo assim a deficiência de um ou mais desses órgãos levam a deficiência de Xue.

Os sintomas característicos incluem insônia, palpitações, tontura, língua pálida, pele seca, contratura

de tendões e pelagem seca e sem vida (SCHOEN, 2006; MACCIOCIA, 2007).

Já a estase de sangue é causada por uma obstrução do fluxo normal, ou por acúmulo deste em

uma área. Normalmente decorrente de traumas, caracteriza-se por sinais como contusões, nódulos e

inchaços dolorosos, coágulos de sangue e dor semelhante à facada sobre o ponto de estagnação. Os

órgãos afetados são fígado, coração, pulmão, estômago, intestinos e útero. A estase de sangue pode

derivar de estagnação de Qi (Qi estagnado não se move), deficiência de Qi (Qi deficiente não se

move), calor no sangue (calor condensa o sangue), deficiência de Xue (sangue deficiente não se

move), frio interior (frio congela o sangue) (SCHOEN, 2006; MACCIOCIA, 2007).

17

O calor no sangue irá causar sintomas gerais como sensação de calor, doenças de pele com

erupções vermelhas, sede, hemorragia, língua vermelha e pulso rápido. Se o sangue do Coração tiver

calor, ocorrerá ansiedade, inquietude mental, aftas. Se o sangue do Fígado apresentar calor, haverá

doenças de pele caracterizadas por coceira, calor e vermelhidão. Se houver calor no sangue nos

Intestinos, haverá sangue nas fezes (MACCIOCIA, 2007).

A perda de sangue pode ocorrer por duas causas principais: por Qi deficiente, incapaz de

segurar o sangue; ou por causa de calor no sangue, que empurra o sangue para fora dos vasos. As

manifestações clínicas de perda de sangue incluem epistaxe, hematêmese, hemoptise, melena, e

hematúria (MACCIOCIA, 2007).

3.4.1. Teoria dos Zang Fu

Como visto anteriormente, vários órgãos ou sistemas internos (Zang Fu) estão envolvidos

direta ou indiretamente na formação do Xue, dessa forma, várias condições podem estar envolvidas na

deficiência de Xue. A deficiência do Qi do Baço conduz à deficiência de sangue, e tem como

principais sintomas a incontinência fecal, diminuição de apetite, perda de peso, cansaço, fraqueza dos

membros, tosse branda, a língua será pálida, e o pulso fraco.

A deficiência de Qi do baço também leva à deficiência de sangue do Fígado e do sangue do

Coração. A deficiência de sangue do Fígado leva a um espaço vazio nos vasos que acaba sendo

preenchido pelo vento interno, dessa forma a língua será pálida, haverá anemia, os pelos serão secos e

o pulso será fraco.

A deficiência de Xue do coração leva a uma deficiência de Qi, pois o Xue é a mãe de Qi. A

deficiência de Qi do Coração dificulta a função do Coração em controlar o Xue. A deficiência do

Yang do Rim também pode ocasionar a diminuição de Xue, pois o Yang do Rim é responsável pela

produção de eritropoetina, e também o não conseguirá nutrir o baço (WALDEMARIM, 2012).

3.4.2. Teoria dos Cinco Elementos

As anemias podem na MTC ser caracterizadas segundo a Teoria dos Cinco Elementos. Os

Cinco Elementos são Água (Rim e Bexiga), Fogo (Coração e Intestino Delgado, Pericárdio e Triplo

Aquecedor), Madeira (Fígado e Vesícula Biliar), Metal (Pulmão e Intestino Grosso) e a Terra

(Baço/Pâncreas e Estômago). “A Água umedece em descida, o Fogo inflama em subida, a Madeira

pode ser dobrada e esticada, o Metal pode ser moldado e endurecido, a Terra permite a disseminação,

o crescimento e a colheita”. Na Teoria dos Cinco Elementos há um inter-relacionamento entre eles

fazendo com que tudo na natureza, inclusive os padrões de doença, aja de acordo com o ciclo Sheng

18

ou de geração, e o ciclo Ko que pode ser de controle ou de destruição (SCHOEN 2006; MACIOCIA,

2007).

No ciclo de geração cada elemento gera o outro, sendo ao mesmo tempo gerado. Assim, a

Madeira gera o Fogo, o Fogo gera a Terra, a Terra gera o Metal, o Metal gera a Água e a Água gera a

Madeira. Na sequência de controle cada elemento controla outro ao mesmo tempo em que é

controlado. Assim a Madeira controla a Terra, a Terra controla a Água, a Água controla o Fogo, o

Fogo controla o Metal e o Metal controla a Madeira. A sequência de controle assegura que um

equilíbrio seja mantido entre os Cinco Elementos (SCHOEN, 2006; MACCIOCIA, 2007). A figura 3

ilustra esses ciclos.

Figura 3 – Os cinco elementos no ciclo Sheng e o ciclo Ko

Gera Controla

Tudo flui em perfeita harmonia neste ciclo, porém pode ocorrer um desequilíbrio, e o

elemento mãe não consegue controlar o elemento Filho, ou o elemento Filho pode consumir muito o

elemento Mãe. O fígado (mãe) pode afetar o coração (filho) quando o sangue do fígado encontrar

deficiente, ele afeta o sangue do coração, o qual se torna deficiente. O coração (filho) pode afetar o

fígado (mãe) quando o sangue do coração estiver deficiente, levando a uma deficiência generalizada

do sangue, afetando o estoque de sangue do fígado. O baço (filho) pode afetar o coração (mãe) quando

o baço não conseguir fornecer sangue suficiente para o coração, causado por uma hemorragia severa

ou alimentação pobre, o coração sofrerá e poderão ocorrer sintomas de palpitação, insônia, cansaço,

pulso fino e flutuante. O baço (mãe) pode afetar o pulmão (filho), quando o Qi do baço estiver

deficiente gerará deficiência do Qi do pulmão, e irá causar pulso vazio, e língua pálida sintomas como

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tosse branda, fraqueza nos membros, incontinência fecal, hiporexia, cansaço e fezes amolecidas

(MACCIOCIA, 2007; WALDEMARIM, 2012).

3.4.3. Oito Princípios

As anemias na MTC também podem ser interpretadas de acordo com os Oito Princípios

(Interior-Exterior; Calor-Frio; Vazio-Cheio; Yin-Yang), o qual é o fundamento básico do padrão de

identificação que permite a identificação, a localização e a natureza da desarmonia, assim como

estabelecer o princípio do tratamento. Nos Oito Princípios, nem todas as condições patológicas

precisam conter todas as quatro características. Os sinais clínicos (apatia, pulso profundo e vazio) e

também a caracterização dos padrões segundo o Zang Fu, a deficiência de Xue pode ser decorrente da

Deficiência de Yang do Coração, do Baço e do Rim, existindo, portanto um padrão de Frio-Vazio. Na

diferenciação entre Exterior-Interior (localização da patologia), as anemias ou Deficiência de Xue,

podem ser classificadas como Interior uma vez que são os órgãos internos (Coração, Baço-Pâncreas,

Fígado e Pulmão) que estão acometidos. A condição de Vazio é caracterizada pela debilidade do Qi do

organismo e pela ausência de um fator patogênico. As principais manifestações do Vazio do Xue são

palidez de mucosas, pelos secos, depressão, cansaço (deficiência de Xue do Fígado), parestesia, pulso

fino ou agitado e língua pálida e fina (deficiência de Xue do Coração) (LOURENÇO, 2004).

3.5. Tratamento

Para se estabelecer um protocolo de tratamento para as anemias na MTC, primeiramente deve-

se caracterizar o padrão de desarmonia presente segundo os Sistemas Internos (Zang Fu) ou pelos

Cinco Elementos ou pelos Oito Princípios. Uma vez estabelecido e caracterizado o padrão em questão

pode-se então começar a Acupuntura (LOURENÇO, 2004).

De modo geral, o tratamento das anemias envolve alguns aspectos comuns independente da

etiologia envolvida que a deflagrou. Por tratar-se de padrões frequentemente de Deficiência ou Vazio

de Yang, o princípio básico da terapêutica envolve, portanto a tonificação. Os órgãos relacionados

com a síntese de Xue devem ser estimulados por meio da tonificação do Yang com Moxa ou

eletroacupuntura (SHOEN, 2006).

A tonificação do Baço, do Rim e do próprio Xue pode ser obtida com a estimulação de

acupontos correlacionados que serão descritos a seguir de acordo com a localização, função energética

e principais indicações de acordo com SCHOEN (2006); MACCIOCIA (2007); SCHWARTZ (2008);

XIE & PREAST (2011); LOBO (2012).

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BP-6 San Yin Jiao

Indicação: Ponto mestre do abdômen superior, encontro dos três meridianos yin da perna;

harmoniza, fortalece e tonifica o Qi do baço; tonifica o Qi do rim e a essência, harmoniza

o Qi do fígado a circulação do Qi e do Xue, tonifica o Qi e o Xue, harmoniza a via das

águas.

Localização: Na superfície medial do membro pélvico próximo ao maléolo medial, em

uma pequena depressão na borda caudal da tíbia.

BP- 3 Tai Bai

Indicação: Ponto de máxima concentração de energia; ponto fonte, dor abdominal.

Localização: Ponto médio na superfície medial do segundo metatarso.

BP-10 Xue Hai

Indicação: ponto mar do sangue; regula o Qi do baço, regula a distribuição e tonifica o

sangue.

Localização: Boda crânio medial da patela

VC-4 Guan Yuan

Indicação: ponto de conexão do fígado, rim e baço; tonifica o Qi, sangue e jing, harmoniza

o jiao inferior e fortalece o jiao médio, harmoniza o intestino delgado e a via das águas.

Localização: Na linha média ventral, no ponto médio entre o umbigo e o tubérculo púbico.

VC-6 Qui Hai

Indicação: Tonificação geral de Qi, fraqueza generalizada, dor abdominal

Localização: na linha média ventral, a ¼ da distância entre umbigo e o tubérculo púbico

VC -12 Zhong Wan

Indicação: ponto de influência dos órgãos yang, tonifica o Qi, regula o estômago, retira

fatores patogênicos, regula Qi e Xue.

Localização: Linha média ventral, no ponto médio ente o processo xifoide e o umbigo.

E-36 Zu San Li ou Hou San Li

Indicação: maior ponto de tonificação geral do organismo; regulariza, fortalece e

harmoniza o Qi do baço e estômago, tonifica o Qi nutritivo, Qi e Xue.

Localização: Lateral a crista da tíbia, na porção lateral ao músculo tibial cranial.

B-20 Pi Shu

Indicação: ponto de assentimento do baço, harmoniza a energia yang do baço; harmoniza

o Qi do baço, estômago, do aquecedor médio e do fígado, fazaumentar a energia da terra,

drena a umidade e a água em excesso, afasta a umidade e umidade calor.

Localizaçao: Na superfície dorsolateral da coluna, lateral a borda caudal do processo

espinhoso dorsal da décima segunda vértebra torácica.

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B-21 Wei Shu

Indicação: Ponto de assentimento do estômago; harmoniza e fortalece o Qi do estômago e

baço, tonifica o sangue do estômago, afasta a umidade, umidade calor e mucosidade,

drena umidade e umidade-frio.

Localização: Na superfície dorsolateral da coluna, lateral a borda caudal do processo

espinhoso dorsal da décima terceira vértebra torácica.

B-17 Ge Shu

Indicação: Ponto de reunião do sangue, ponto de assentimento do diafragma, ponto de

harmonização da energia yang; harmoniza e tonifica o sangue, facilita a formação dos

fluidos corpóreos, refresca o calor do sangue, harmoniza o Qi do tórax.

Localização: Na superfície dorsolateral da coluna, lateral a borda caudal do processo

espinhoso dorsal da sétima vértebra torácica.

B-18 Gan Shu

Indicação: Ponto de assentimento/transporte dorsal do fígado; usado para tonificar o

fígado e retirar a estagnação do órgão.

Localização: Na superfície dorsolateral da coluna, lateral a borda caudal do processo

espinhoso dorsal da décima vértebra torácica.

B-23 Shen Shu

Indicação: Ponto de assentimento/transporte dorsal do rim; usado para tonificar o rim e yin

geral do organismo

Localização: Na superfície dorsolateral da coluna, lateral a borda caudal do processo

espinhoso dorsal a segunda vértebra lombar.

VB-39 Xuan Zhong

Indicação: Ponto de reunião da medula óssea, espinal e cérebro, ponto mar da medula;

harmoniza a vesícula; fortalece o Qi dos ossos, sangue e encéfalo.

Localização: Na superfície lateral do membro pélvico, distal ao joelho, próximo ao

maléolo lateral da fíbula, em uma depressão na borda caudal da fíbula.

F-8 Qu qan

Indicação: Ponto de tonificação, harmoniza e tonifica o Qi e sangue do fígado,dissipa o

yang excessivo do fígado, dissipa umidade e calor.

Localização: Na superfície medial do joelho, No aspecto medial da articulação da soldra,

na depressão entre o côndilo medial do fêmur e a inserção do músculo semitendinoso.

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IG-11 Qu Chi

Indicação: Ponto mar e terra do intestino grosso; ponto de imunomodulação e para retiar

calor do organismo, importante ponto de tonificação geral.

Localização: Na extremidade lateral da fossa cubital; quando a articulação do cotovelo é

fletida em ângulo reto, localiza-se no ponto médio entre o tendão do bíceps braquial e o

epicôndilo lateral do úmero.

Pc-3 Qu Ze

Indicação: Ponto de tonificação do meridiano do Pericárdio, responsável pela

movimentação de energia no aquecedor superior, onde se dá a formação do sangue.

Localização: Numa depressão na fossa cubital, medial ao tendão do bíceps braquial e

lateral ao redondo pronador.

VG-20 Bai Hui

Indicação: Recebe energia de todos os canais secundários, mantém, regula e harmoniza o

yang Qi do corpo; acalma o Fígado, o shen e clareia a mente.

Localização: Na linha média dorsal do crânio, na intersecção da linha coronal proveniente

dos dois lados da base rostral da orelha, na extremidade rostral da crista sagital externa.

A tonificação do Baço torna-se um ponto importante no tratamento das anemias, uma vez que

este órgão é responsável pela captação do Qi dos alimentos, fundamental para a síntese de Xue. Os

acupontos utilizados são BP-6, VC-4, VC-6, E-36, VC-12, BP-3, BP-10, B-20, B-21. Suas

localizações são ilustradas na figura 4.

Figura 4 – Localização anatômica dos acupontos para tonificação de baço e rim

(LOURENÇO, 2004)

A tonificação do Xue propriamente também pode ser feita com a estimulação de acupontos

como o B-17 ponto de influência do sangue, B-18 ponto de associação do fígado, B-23 ponto de

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associação do Rim e com o VB-39 ponto de influência da medula. A figura 5 ilustra a localização

destes pontos em um cão.

Figura 5- Localização anatômica dos acupontos para tonificação de Xue (LOURENÇO, 2004)

Drummond (2009) avaliou laboratorialmente a resposta dos parâmetros hematológicos

(eritrócitos, hemoglobina, leucócitos totais, volume globular e proteína total sérica) de sete cães

submetidos ao tratamento com acupuntura nos pontos: BP-6, E-36, B-10, B-17, B-18, B-20, VB-39, F-

8, IG-11, Pc-3 e VG-20. Neste trabalho foi observado aumentos, em 24 horas, de 16,10%, 41,98%,

1,25%, 4,44% e 2,77% nos valores dos eritrócitos, leucócitos, hemoglobina, volume globular e

proteína total, respectivamente. Assim, comprovando a eficácia da acupuntura em diversas moléstias

capazes de acometer o sistema hematológico. Em outro trabalho feito por Esper et al (2012),

comprovou o aumento da concentração média corpuscular (CHCM) de animais tratados com

eletroacupuntura nos acupontos E-36, IG-4 e IG-11, pois aumentaram a células jovens, sendo assim

benéficas para pacientes anêmicos.

24

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diversas patologias possuem relação e causam alterações no sistema hematológico.

Hemoparasitoses, assim como outras patologias diariamente diagnosticadas na clínica geral de

pequenos animais levam a diminuição dos parâmetros sanguíneos fisiológicos. Embora o tratamento

de várias destas doenças se baseie grandemente no suporte terapêutico do paciente, são deficientes no

mercado alopático medicamentos que aumentam ou aceleram o processo de produção sanguínea. No

entanto, sob a ótica da MTC, podemos modular este processo orgânico, auxiliando na recuperação de

pacientes enfermos e convalescidos (DRUMMOND, 2009).

Uma doença do sangue pode se manifestar e ter tratamento conforme o principal órgão

afetado. No caso das hemoparasitoses, a causa da alteração do sangue é bem definida. O hemoparasita

é um fator patogênico externo relacionado a vento calor, que causa febre, gerando aquecimento do

sangue e por consequência aquecimento do fígado. Assim, o fígado não exerce sua função de controlar

o sangue, falta energia nos órgãos, e o baço, sendo afetado leva a diminuição da produção de sangue.

Se o vento calor se aprofunda, atingem-se as camadas mais profundas dos órgãos, podendo levar a

alterações nos rins, e descontrole da medula na produção de sangue, acentuando mais o processo

(LOBO, 2012).

Na vivência da autora, a acupuntura se enquadra em uma prática de modo integrativo. Nesse

contexto, os casos de anemia são manejados com fármacos associados à acupuntura, seja qual for a

origem dessa anemia. Nessa casuística a incidência maior é de anemia secundária à Insuficiência

Renal Crônica e à hemoparasitoses. A autora obtém uma alto índice de reversão dessas anemias desde

que não tenha se instalado uma aplasia de medula.

25

5. CONCLUSÕES

A anemia é uma das anormalidades hematológica mais frequentes na clínica de

pequenos animais. É uma manifestação secundária de uma doença em um órgão ou

sistema.

Qualquer terapia adjuvante para as anemias é muito importante, uma vez que grande

parte dos quadros anêmicos, normalmente, não possui uma etiologia primária

facilmente identificável.

O diagnóstico acurado, tanto pela MTC, quanto pela Medicina Ocidental deve ser

feito para a escolha do protocolo terapêutico adequado.

Sendo a acupuntura uma terapia eficaz, deve-se utilizá-la em conjunto com a Medicina

Ocidental no restabelecimento do equilíbrio energético orgânico dos pacientes

portadores de enfermidades hematológicas.

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6. Referências Bibliográficas

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