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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica 2007
Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL –
PDE
OAC
RESERVA 2007
OAC Autora: ROSÂNGELA MIRANDA DA SILVA
Orientadora: MIRIAN MARTINS SOZIM
Estabelecimento: COLÉGIO ESTADUAL MANOEL ANTONIO GOMES – ENSINO
FUNDAMENTAL, MÉDIO E NORMAL
Ensino: ENSINO MÉDIO
Disciplina: LÍNGUA PORTUGUESA
Conteúdo: DISCURSO ENQUANTO PRÁTICA SOCIAL
Título: VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS
Proposta número: 8030
Paraná
Título: Diversidade cultural do Paraná
Texto:
A Secretaria de Estado do Paraná, em parceria com a Secretaria de Estado da
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, criou o Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE, que prevê avanços na carreira e tempo livre para estudos
proporcionando ao professor o retorno às atividades acadêmicas, elaboração de
material didático, a elaboração de uma proposta de estudo e orientação a outros
professores que estarão participando do Grupo de Trabalho em Rede.
Nesta perspectiva de ação do Programa, abre-se um espaço importante para
estudo e valorização da cultura regional, preservando nossa diversidade lingüística
como forma de identidade cultural.
Graças ao tamanho do nosso país e à variedade de etnias existentes aqui, a
língua nunca é usada de modo homogêneo por seus falantes. “As terras que hoje
pertencem ao estado do Paraná eram habitadas, durante a época do descobrimento
do Brasil, pelos carijós no litoral do estado, do grupo tupi e pelos caingangues do
grupo jê.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Paran%C3%A1)
“O povo paranaense descende de uma mistura de raças. Colonizadores
portugueses, nativos e escravos africanos constituíram a base racial. [...] Os povos
que mais imigram para o Paraná são os alemães, austríacos, húngaros, eslavos,
espanhóis, italianos, japoneses, sírios, libaneses e suíços.”
(http://www.paranaturismo.com.br/povo.asp)
Todos os povos que aqui se estabeleceram, trouxeram com eles sua cultura,
seus costumes, sua língua, contribuindo para a grande variedade lingüística existente.
A língua é a expressão viva da cultura humana e sendo um processo social,
está sujeita a transformações, pois varia no tempo e no espaço, entre classes sociais,
entre profissões. Segundo Soares (1986), a língua e o comportamento lingüístico
estão ligados à cultura de seus falantes e cada registro é adequado às necessidades e
características do grupo, ou à situação em que a fala ocorre.
Existem vários falares no Paraná. A maior dificuldade é reconhecer que o
português falado em nossa região é caracterizado por imensa diversidade e avaliar
essa diversidade como um fato positivo da linguagem. Desta forma, ao valorizar a
linguagem local e regional, conseqüentemente, haverá a preservação da nossa cultura
e nossa história.
Não se deve nunca esquecer de que todos somos diferentes e que conviver
com as diferenças requer uma postura firme contra o preconceito e a desigualdade
social.
Referência bibliográfica:
SOARES, Magda. Linguagem e Escola – Uma perspectiva social. São Paulo: Ática,
1986.
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Relato
Chamada para o relato:
Romance LII ou das Palavras Aéreas
I
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
II
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!
[...]
(Cecília Meireles)
Fonte:
http://www.vidaslusofonas.pt/cecilia_meireles.htm
O ideal na linguagem seria que cada palavra significasse apenas uma coisa,
uma só idéia, tivesse apenas um sentido. Mas como isso não acontece em nenhuma
língua, as palavras se transformam, adquirem novos significados. Cada variedade é
resultado das peculiaridades das experiências históricas do grupo, como ele se
constitui, como é seu trabalho, como ele está socialmente organizado.
Na sociedade brasileira, por exemplo, um grupo de jovens de São Paulo tem
uma história e uma experiência muito diferente daquelas vividas por um grupo de
jovens de uma cidadezinha do interior do Paraná. Assim também, um grupo de
agricultores tem histórias e experiências muito diversas de um grupo de empresários
de uma grande cidade. Essa diferenciação vai resultar em “falares” diferentes.
Isso quer dizer que qualquer sociedade vai ter sua variação lingüística de época
para época, de grupo social para grupo social, de região para região, de situação para
situação. Além dessas, existem outras formas de variações, como, por exemplo, o
modo de falar de grupos profissionais, a linguagem usada na internet e celulares e a
gíria, que é uma forma de linguagem baseada em um vocabulário especialmente
criado por um determinado grupo social com o objetivo de servir de emblema para os
seus membros, distinguindo-os dos demais falantes.
Tradicionalmente, a escola tem agido como se todos falassem da mesma forma
e como se a escrita fosse a língua. A oralidade não é muito valorizada, o que inibe o
aluno, às vezes, de falar fazendo uso da variedade de linguagem empregada em suas
relações sociais. Conforme as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a
Educação Básica do Estado do Paraná (2006), “devemos lembrar que a criança,
quando chega à escola, já domina a oralidade, pois cresce ouvindo e falando a língua.
[...] O espaço escolar, então, deve propiciar e promover atividades que possibilitem ao
aluno tornar-se um falante cada vez mais ativo e competente, capaz de compreender
os diferentes discursos e de organizar os seus de forma clara, coesa e coerente.”
(SEED/PR, 2006, p. 24)
Então, o que fazer para que a escola garanta a socialização do conhecimento,
acolhendo e respeitando os alunos independentemente de sua origem quanto à
variação lingüística? Como desenvolver um trabalho que permita ao professor
reconhecer a língua em diferentes situações de uso, adequando-a conforme o contexto
e interlocutor? De que forma possibilitar aos alunos de classes sociais menos
favorecidas o acesso à cultura letrada para que tenham a chance de lutar pela
cidadania?
O objetivo deste OAC é refletir sobre todas essas questões, num trabalho
competente e comprometido com a transformação social.
Segundo Bagno (2006), uma das tarefas do ensino de língua na escola seria a
discussão dos valores sociais atribuídos a cada variante lingüística, conscientizando o
aluno de que sua produção, oral ou escrita, estará sujeita a uma avaliação social,
positiva ou negativa.
É função da escola e do professor trabalhar com essas situações, refletindo
sobre as práticas pedagógicas ao que se refere ao multiculturalismo, diminuindo a
exclusão social, principalmente no âmbito escolar, que é, por regra, um ambiente
bastante rico em diferenças.
Referências bibliográficas:
BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. 5.ed. São
Paulo: Parábola, 2006.
DIRETRIZES CURRICULARES DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA.
SEED/PR, 2006.
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Sugestão de Leitura
Categoria: Livro
Sobrenome: Bagno
Nome: Marcos
Título do Livro: A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira
Edição: 5ª
Local da Publicação: São Paulo
Editora: Parábola Editorial
Disponível em (endereço WEB):
Ano da Publicação: 2006
Comentários:
Marcos Bagno aprofunda em seu livro o estudo das relações entre língua e
poder no Brasil e estabelece que o preconceito lingüístico na sociedade brasileira é, na
verdade, um profundo preconceito social. Discute conceitos, fala dos tratamentos
preconceituosos da mídia e faz um relato histórico da língua portuguesa.
Seu livro revela o jogo ideológico existente por trás da defesa do uso das
regras lingüísticas padronizadas que disfarçam uma discriminação que é, em tudo,
social. Como diz Mário A. Perini: “... o livro vai muito além disso, e (para dizer logo de
início) deveria ser lido e discutido por todos os profissionais e estudantes da
linguagem: alunos, professores de Português, jornalistas, escritores e gramáticos.”
(Revista Ciência Hoje)
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Categoria: Livro
Sobrenome: Bortoni-Ricardo
Nome: Stella Maris
Título do Livro: Educação em língua materna: a sociolingüística na sala
de aula
Edição: 4ª
Local da Publicação São Paulo
Editora: Parábola Editorial
Disponível em (endereço WEB):
Ano da Publicação: 2006
Comentários:
O livro cria várias oportunidades para que os professores possam refletir sobre
o português brasileiro e sobre o trabalho com a nossa língua materna na escola.
O texto é de uma leitura muito agradável, apresenta fundamentos teóricos e
aplicações práticas que promovem o uso das variações lingüísticas em sala de aula.
Os interlocutores preferenciais são os professores de Ensino Fundamental e
Médio e demais leitores que se interessam pela questão da educação em língua
materna realmente comprometida com a formação do cidadão e contra qualquer tipo
de preconceito através da linguagem.
Categoria: Livro
Sobrenome: Soares
Nome: Magda
Título do Livro: Linguagem e Escola - Uma perspectiva social
Edição: 3ª
Local da Publicação São Paulo
Editora: Ática
Disponível em (endereço WEB):
Ano da Publicação: 1986
Comentários:
Ao fazer uma análise das relações entre linguagem, escola e sociedade, a
autora explica o fracasso escolar na aprendizagem da língua materna e contribui para
a compreensão da crise da linguagem.
O uso da língua na comunicação pedagógica e o ensino da língua materna são
discutidos sob uma perspectiva social das teorias da Sociolingüística e da Sociologia
da Linguagem.
O livro mostra o quanto é importante compreender as relações entre
linguagem, escola e sociedade para um ensino de língua materna realmente
competente e comprometido com a transformação social.
Imagens
Fonte:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/bancoimagem/frm_buscarImagens3.ph
p
Num país tão grande como o nosso, com tantas paisagens geográficas e
pessoas tão distintas, é necessário que haja um reconhecimento adequado do
multiculturalismo existente aqui.
A imagem sugere uma reflexão sobre essa imensa diversidade ao mostrar
peões a cavalo trafegando numa rua asfaltada ao lado de veículos modernos. Fica
evidente que por diferenças culturais e até socioeconômicas esses contrastes são
muito fortes na nossa sociedade.
Cabe à escola a tarefa de desenvolver atividades que fortaleçam em seu aluno
e em sua comunidade os seus valores, sua história, sua diversidade como formas
importantes de resgate e valorização da identidade cultural.
Sítios
Título do Sítio: Marcos Bagno
Disponível em (endereço web): http://www.marcosbagno.com.br
Acessado em (mês.ano): Setembro/2007
Comentários:
Este é um portal importante para conhecer o trabalho do escritor lingüista
Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília e autor de mais de trinta livros.
Neste sítio você encontra textos e artigos escritos por ele, comentários de seus
livros, sugestões de leitura e vários links relacionados à diversidade lingüística,
preconceito lingüístico e pluralidade cultural.
Certamente, é uma ótima fonte de estudo para todo professor interessado
sobre as discussões relacionadas ao ensino da língua materna.
Título do Sítio: Museu da Língua Portuguesa
Disponível em (endereço web): http://www.museudalinguaportuguesa.org.br
Acessado em (mês.ano): Setembro/2007
Comentários:
O sítio, além de nos dar a oportunidade de fazer uma visita virtual ao Museu da
Língua Portuguesa, trata de três objetivos: convidar o usuário a explicitar seu
conhecimento da língua, divulgar estudos modernos sobre ela e disponibilizar
amostras dos nove séculos de Língua Portuguesa.
Para cumprir esses objetivos, o portal traz informações sobre Língua e
Literatura, Língua Falada, Língua Escrita, Glossário, Bibliografia e vários links muito
interessantes para pesquisa.
Título do Sítio: Linguagem – Cultura e transformação
Disponível em (endereço web):
http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling08.htm
Acessado em (mês.ano): Setembro/2007
Comentários:
O sítio traz várias reportagens de diversos autores sobre linguagem, como por
exemplo: A História do Português Brasileiro, A Língua na TV, Os empréstimos no
léxico do futebol, A origem e o destino das línguas, A globalização da língua, Línguas
Crioulas, Atlas lingüístico do Brasil, poemas e bibliografias.
Ótima dica para estudo e pesquisa.
Título do Sítio: Alô Escola. Recursos Educativos para estudantes e professores
Disponível em (endereço web):
http://tvcultura.com.br/aloescola/linguaportuguesa/varianteslinguisticas/regionalismo
s-sarto.htm
Acessado em: Setembro/2007
Comentários:
O programa Nossa Língua Portuguesa aborda questões relacionadas ao
preconceito lingüístico. Traz exemplos de uso de variantes lingüísticas empregadas em
situações informais e mostra as dificuldades do uso da língua no cotidiano.
Sons e Vídeos
Categoria: Áudio - CD
Título da Música: Ninguém = Ninguém
Autor: Gessinger
Intérprete: Engenheiros do Hawaii
Título do CD: Gessinger, Licks & Maltz
Número da Faixa: 01
Nome da Gravadora: BMG
Ano: 1992
Disponível em (endereço web):
http://www.uol.com.br/engenheirosdohawaii/index2.htm
Local: Rio de Janeiro
Comentário:
A letra da música retrata a riqueza da diversidade cultural de um país
constituído por vários grupos étnicos, com histórias, culturas, línguas próprias e
indivíduos que vão adquirindo sua identidade e sua maneira particular de ver e sentir
o mundo.
Embora as pessoas pertençam a uma mesma espécie, a um mesmo grupo, elas
contrastam entre si em muitos aspectos: “todos iguais e tão desiguais”.
Texto (ex: letra da música):
Ninguém = Ninguém
“Há tantos quadros na parede
Há tantas formas de se ver o mesmo quadro
Há tanta gente pelas ruas
Há tantas ruas e nenhuma é igual a outra
(ninguém = ninguém)
Me espanta que tanta gente sinta
(se é que sente) a mesma indiferença” (...)
Disponível no acervo de: Encontrável em lojas de discos
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Categoria: Vídeo
Título: Tapete Vermelho
Direção: Luiz Alberto Pereira
Produtora: (distribuidora?): Europa Filmes/ Produção: Ivan Teixeira e Vicente Miceli
Duração: 100 minutos
Local de Publicação:
Ano: 2006
Disponível em endereço na web:
Comentários:
O filme Tapete Vermelho retrata, de uma forma muito bem humorada e
sensível, a história de um pai em busca da realização de um sonho. Eles saem de um
pequeno sítio no interior de São Paulo para a cidade grande com o objetivo de assistir
a um filme do Mazzaropi no cinema. Nessa aventura pelas cidades do interior paulista
nos deparamos com muitas peculiaridades regionais, como benzimentos, tradições e
ditos populares, crendices, moda de viola, simpatias, danças folclóricas.
”Tapete Vermelho” é um excelente filme para se trabalhar com a diversidade
cultural e lingüística pois ele resgata essa cultura popular, valorizando tanto o cinema
quanto a música sertaneja e o folclore de uma forma muito poética e apaixonante.
Sinopse:
Quinzinho (Matheus Nachtergaele) tem uma promessa a cumprir: levar seu
filho, Neco (Vinícius Miranda), à cidade para assistir a um filme do Mazzaropi. Eles
moram num pequeno sítio no interior de São Paulo. Nessa verdadeira odisséia por
cidades do interior paulista, ele também leva sua esposa Zulmira (Gorete Milagres),
que parte a contragosto, e o burro Policarpo. Na jornada, eles encontram
peculiaridades regionais e passam por situações mágicas, relacionadas à crendice
popular.
Disponível no acervo de: Vídeo Locadora
Categoria: Vídeo
Título: Narradores de Javé
Direção: Eliane Caffé
Produtora: (distribuidora?): Lumière e Riofilme
Duração: 100 minutos
Local de Publicação:
Ano: 2003
Disponível em endereço na web:
(Produção: Vânia Catani e Bananeira Filmes; Co-Produção:Gullane Filmes e Laterit
Procuctions)
Comentários:
“Narradores de Javé” marca a luta de um povo, os moradores do Vale de Javé,
no sertão baiano, na tentativa de reconstruir sua história através das fontes orais para
a escrita. A verdade popular que está na boca do povo é que é o elemento-chave do
filme.
O filme é brilhante, ganhador dos principais prêmios nos Festivais do Rio e de
Recife, onde também José Dumond, que é a alma do longa, também foi premiado.
Neste cenário de “contadores de causos” é claro que não poderia faltar
interessantíssimas expressões populares, como por exemplo: “saber onde formiga
mija”, “cachacinha diet”, “tapioca de exu”, “piaba de silicone”, “disenteria de tinta”,
“no talo do abacaxi”, “clonado de miolo de pão”, “um dilúvio bovino”, “intelectuário”,
entre outras.
Excelente material para quem quer trabalhar com diversidade lingüística.
Sinopse:
Somente uma ameaça à própria existência pode mudar a rotina dos habitantes
do pequeno vilarejo de Javé. É aí que eles se deparam com o anúncio de que a cidade
pode desaparecer sob as águas de uma enorme usina hidrelétrica. Em resposta à
notícia devastadora, a comunidade adota uma ousada estratégia: decide preparar um
documento contando todos os grandes acontecimentos heróicos de sua história, para
que Javé possa escapar da destruição e se transformar em patrimônio histórico a ser
preservado. Como a maioria dos moradores é analfabeta, a primeira tarefa é
encontrar alguém que possa escrever as histórias.
Disponível no acervo de: Vídeo Locadora
Notícias
Categoria: Revista
Sobrenome: Bagno
Nome: Marcos
Título da Notícia/Artigo: Carta ao Professor: A língua sem erros
Nome do Jornal/Revista: Carta na Escola
Data da Publicação: Junho/Julho de 2007
Página: 66
Coluna:
Disponível em (endereço web):
Editora: Confiança
Edição número: 17
Comentários:
O texto leva à reflexão sobre a existência das mais diferentes formas de
expressão do indivíduo. Ressalta a urgência em existir na escola o reconhecimento de
toda essa diversidade como formas válidas e
constituintes de uma identidade individual e coletiva dos membros das mais variadas
comunidades.
TEXTO:
A língua sem erros
Nossa tradição escolar desprezou a língua viva, falada no dia-a-dia, como se
fosse toda errada, uma forma corrompida de falar “a língua de Camões”. Havia (e há)
a crença forte de que é missão da escola “consertar” a língua dos alunos,
principalmente dos que vêm de grupos desprestigiados, como a maioria dos que
freqüentam a escola pública. Com isso, abriu-se um abismo profundo entre a língua (e
a cultura) própria dos alunos e a língua (e a cultura) própria da escola, uma instituição
comprometida com os valores e as ideologias dominantes. Felizmente, nos últimos 20
e poucos anos, essa postura sofreu muitas críticas e cada vez mais se aceita que é
preciso levar em conta o saber prévio dos estudantes, sua língua familiar e sua cultura
característica, para, a partir daí, ampliar seu repertório lingüístico e cultural.
Por isso, em vez de reprimir e proibir o uso, na escola, da linguagem dos
jovens, há muito mais vantagens em dar espaço para ela em sala de aula, promover
algum tipo de trabalho que tenha como objeto essa linguagem. Por exemplo, trazer
para a sala de aula a produção escrita ou musical desses jovens– grafites, fanzines,
raps -, examinar os traços lingüísticos mais interessantes, os tipos de construções
sintáticas mais freqüentes, a pronúncia, o vocabulário, sem erguer barreiras
preconceituosas contra as gírias e expressões consideradas “vulgares”. Sugerir
atividades lúdicas como “traduzir” um poema clássico para a linguagem dos guetos,
das favelas, das periferias.
É urgente reconhecer que todas as formas de expressão são válidas e
constituem a identidade individual e coletiva dos membros das múltiplas comunidades
que compõem a nossa sociedade. Que a formação do cidadão também passa pela
admissão, no convívio social, de todas as formas de falar e de escrever. Que é preciso
levar o estudante a se apoderar de recursos lingüísticos mais amplos, para que se
possa inserir (se quiser) na cultura letrada, isso não deve passar pela supressão nem
pela substituição de outros modos de falar, de amar e de ser.
Categoria: Revista
Sobrenome: Farias
Nome: Ivy
Título da Notícia/Artigo: Quantas línguas são faladas no Brasil?
Nome do Jornal/Revista: Superinteressante
Data da Publicação: Agosto/2007
Página: 42-43
Coluna:
Disponível em (endereço web):
Editora: Abril
Edição número:
Comentários:
O texto faz um relato sobre os idiomas falados no Brasil e mostra as
comunidades indígenas existentes aqui.
Vale destacar que existem, fora o português – o único idioma oficial –
aproximadamente 180 outras línguas, considerando apenas as indígenas.
TEXTO:
Quantas línguas são faladas no Brasil?
Fora o português – o único idioma oficial – há aproximadamente 180 outras
línguas no Brasil. E olha que esse número não considera as comunidades de
imigrantes nem as pessoas que aprendem uma língua estrangeira. São só os idiomas
indígenas, falados por cerca de 160 000 pessoas.
A situação não está nada bonita para essa gente: segundo o lingüista Aryon
Rodrigues, da UnB, 87% das línguas indígenas estão ameaçadas de “morte” –
encaixam-se nessa categoria as línguas com 10 000 falantes ou menos. Se um
idioma tem só um falante, ele já é considerado morto, pois essa pessoa não tem mais
ninguém para conversar em sua língua.
Ao contrário das pessoas, línguas podem ressuscitar, desde que o
conhecimento seja preservado (num dicionário, por exemplo) e passado adiante. Foi o
que aconteceu com o hebraico, que sumiu na Idade Média – quando passou a ter
somente uso litúrgico – para renascer como o idioma oficial de Israel. Se a língua
morre sem registro, ela é considerada extinta. A lingüista Januacele da Costa, da
UFPE, estima que esse tenha sido o destino de 1 200 idiomas brasileiros desde a
chegada dos portugueses. Na tentativa de salvar as línguas indígenas, lingüistas e
professores se esforçam para ensiná-las às novas gerações. Hoje, há 2 422 escolas
que oferecem alfabetização bilíngüe para as crianças índias.
A BABEL BRASILEIRA
Conheça algumas das línguas faladas pelos índios.
Tucuna (40 000 falantes)
É a língua indígena mais conservada do Brasil. Os tucunas, habitantes da região do
alto Solimões, no Amazonas, aprendem sua língua nativa em escolas públicas – onde
os professores são, em sua maioria, não-índios.
Macu (1 falante)
Não se sabe por onde anda o único falante, Sinfrônio Makú, de mais de 70 anos. A
última notícia que se teve dele é que trabalhava como jardineiro em Boa Vista,
Roraima.
Xipaia (1 falante)
Maria Xipáya, de Altamira, Pará, é a última falante. Ela é uma idosa que nem sabe a
própria idade. A língua está sendo dicionarizada pela lingüista Carmen Lúcia
Rodrigues, da UFPA.
Embiá (10 000 falantes)
O embiá é uma variante do guarani falada em 7 estados: Mato Grosso do Sul, Paraná,
Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, além de
Argentina e Paraguai. Os falantes do embiá também se comunicam em português.
Xetá (1 falante)
Mais uma língua prestes a sumir do mapa: o índio Kwen, de aproximadamente 80
anos, é o único falante. Ele mora em Laranjeiras do Sul, Paraná.
Nheengatu (3 000 falantes)
Conhecida como a língua geral amazônica – era usada por índios de diferentes etnias,
além de caboclos -, é derivada do tupinambá. O idioma foi adotado pelo povo baré, do
Amazonas, após o sumiço da própria língua.
Puruborá (0 falante)
Todas as pessoas que sabiam falar o idioma puruborá já morreram. Os índios da tribo,
em Roraima, falam o português, mas alguns ainda conhecem poucas palavras da
língua de seu povo.
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Destaques
Título: Revista Patrimônio – Revista eletrônica do IPHAN (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional)
Disponível em (endereço web): http://www.revista.iphan.gov.br
A revista traz reportagens e artigos sobre diversidade lingüística, poder e
preconceito, mudança das línguas, línguas africanas, indígenas, notícias, fotos, além
de resenhas de livros que abordam essa pluralidade cultural.
A Revista Patrimônio é uma realização do Laboratório de Estudos Avançados
em jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp) e do Instituto
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Entre os principais objetivos da revista estão a divulgação do patrimônio
artístico e cultural brasileiro, reflexão e debate sobre a importância da história e da
memória para a identidade nacional e divulgação dos trabalhos e ações do IPHAN em
favor do patrimônio cultural brasileiro.
Título: Expressões populares usadas pelos falantes do município de Reserva – Paraná
Fonte: Monografia: Um estudo Lingüístico das gírias usadas pelos falantes da cidade
de Reserva
Autora: Rosângela Miranda da Silva
Ao trabalhar com a diversidade lingüística é importante a observação das
expressões típicas dos falantes de sua região. Dessa forma é possível reconhecer a
utilidade dos termos como instrumento importante na transmissão da cultura da
cidade e também valorizar a espontaneidade da língua como forma de expressão
natural e eficiente.
Segundo Tarallo, “a língua falada a que nos temos referido é o veículo
lingüístico de comunicação usado em situações naturais de interação social, do tipo
comunicação face a face. É a língua que usamos em nossos lares ao interagir com os
demais membros de nossas famílias. É a língua usada nos botequins, clubes, parques,
rodas de amigos; nos corredores e pátios das escolas, longe da tutela dos professores.
É a língua falada entre amigos, inimigos, amantes e apaixonados.” (TARALLO, 1986,
p. 19)
Sendo assim, a seguir, darei alguns exemplos de expressões populares
utilizadas em meu município:
amarrar o burro - ficar bravo, ficar quieto
apitar na curva – morrer
ar de graia - expressão da pessoa tola
asprejar – exigir
atiar esquema - arranjar namorado(a)
bacon - gata, bonita
bateria de buá - muitos desaforos
boca de urtiga - bobo, irritante
cabeça seca - pessoa boba, que não pensa para falar
cada quá no seu suruquá - cada um no seu lugar
caiu da gaiota? - diz-se para a pessoa que fala bobagens
caiu do borso - falou asneiras
cecília – quando se está mentindo (o mesmo que “papo”, por existir na cidade
uma mulher com esse nome e que possui um aumento do tamanho da
tireóide, uma glândula localizada no pescoço)
chergão – sujeira
defruço – gripe
desceu com o arreio – morreu
deu ar – bobeou
deu uns nuques - deu uns beijos
Deus que ataie! (rejeição)
espanô a rosca - ficou bravo
esperando doença – gravidez
esperando famia – gravidez
estar no bico do corvo - estar bêbado, quase morto
farejando – paquerando
fechar o repoio – brigar
ficou com a capa da gaita - perdeu tudo
ficou só com o cavalinho da carreta - perdeu tudo
ficou com o soaio da gaiota - perdeu tudo
ficou só com o pó do bagaço - perdeu tudo
ficou só com o talo do cová - ficou pobre
ficou só com pena e bico - ficou pobre
foi de juntá criança - foi assustador
foi de voá a paia do borso - foi assustador
foi pra pedra de afiá – morreu
foi pro carço – morreu
forrar o peito - fazer algo em excesso
goela de apito – fala demais
giguá - pessoa boba, chata
lavar a égua - ganhar muito dinheiro
maior zica - tudo errado
mais quebrado que arroz de terceira - sem dinheiro
maniá – amarrar
matando o potrinho - pessoa vagabunda
nó cego - bobo, atrapalhado
no tempo em que o inferno era tocado a lenha - tempo muito antigo
nuve - bobo, atrapalhado
ofendido por... (cobra, aranha) - mordido por...
passar cutia – mentir
picô a mula - foi embora
picuera - coisa pequena
pinga-pinga - homem ou mulher que sai com todos
pintchumbado – louco
pipocou – complicou
pirô na batatinha - falou asneiras
pôr na chave - conquistar alguém
puxar a paia – dormir
quengo – bobo
rachou o bico - riu demais
rapando o canudo - sem dinheiro
rasgaram as contas – quando o casal briga ou se separa
sai azur! - (rejeitar alguém)
sair com o pé que uma seta - sair correndo
Sapopema de Goiás! - (surpresa)
sartei do avião - saí estrategicamente
se inriando - encolhendo-se
se metidando - exibindo-se
secar as quireras – morrer
secou o sabugo – morreu
só lavá e mandá pro Val – quando alguém fala uma asneira
sorterícia - período em que está solteiro
tá fugido - roubou a namorada
tilingar – passear
tomou chá de meia - ficou triste
verdeada - fez o que não devia
vi um poeirão - desconfiei de algo
Aqui estão somente alguns exemplos retirados de minha monografia. Fica como
dica de um trabalho que pode ser realizado com o envolvimento de toda a comunidade
escolar de uma forma prazerosa e ao mesmo tempo mostrando que a linguagem
popular pode ser tratada de uma maneira menos preconceituosa, entendida como um
instrumento de comunicação e transmissão da cultura regional.
Referências bibliográficas:
TARALLO, Fernando. A Pesquisa Sociolingüística. São Paulo: Ática, 1986.
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Investigação Disciplinar
Título: Valorizando as variantes lingüísticas
Nenhuma língua é um fato homogêneo. Na verdade, toda e qualquer língua é
um conjunto heterogêneo de variedades. Essas variedades não resultam da
“preguiça”, “falta de cultura”, “ignorância”. Cada variedade é resultado das
peculiaridades das experiências históricas do grupo que a fala: como ele se constituiu,
como é seu trabalho, como ele está socialmente organizado, e assim por diante.
Segundo Tarallo (1986), a variedade lingüística considerada padrão é aquela
mais conservadora e que tem mais prestígio na comunidade. As variantes inovadoras,
quase sempre não-padrão, são estigmatizadas.
“Do ponto de vista sociolingüístico, as variações lingüísticas não são
consideradas boas ou ruins, melhores ou piores, primitivas ou elaboradas, pois
constituem sistemas lingüísticos eficazes, falares que atendem a diferentes propósitos
comunicativos, dadas as práticas sociais e os hábitos culturais das comunidades.”
(SEED/PR, 2006, p. 24)
Propõe-se, aqui, que o ensino de língua materna deva propiciar o trabalho com
a oralidade, permitindo que o aluno conheça e se aproprie da variedade lingüística
padrão entendendo a necessidade de seu uso em situações formais. A escola talvez
seja o único lugar que possibilita à grande maioria da população a apropriação desse
conhecimento. No entanto, deve também promover o diálogo entre os diferentes
falares, fazendo do ensino de português uma forma de o aluno compreender melhor a
sociedade em que vive, o que ela espera de cada um lingüisticamente e de que forma
ele pode usar essa ou aquela variedade do português.
Conforme nos diz Bagno (2006) “uma das tarefas do ensino de língua na escola
seria, então, discutir os valores sociais atribuídos a cada variante lingüística,
enfatizando a carga de discriminação que pesa sobre determinados usos da língua, de
modo a conscientizar o aluno de que sua produção lingüística, oral ou escrita, estará
sempre sujeita a uma avaliação social, positiva ou negativa.” (BAGNO, 2006, p.150)
Referências bibliográficas:
BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. 5.ed. São
Paulo: Parábola Editorial, 2006.
DIRETRIZES CURRICULARES DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA.
SEED/PR, 2006.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática, 1986.
Propondo Atividades
Texto:
Conforme as Leis de Diretrizes e Bases, “compete à escola tomar como ponto
de partida os conhecimentos lingüísticos dos alunos, promover situações que os
incentivem a falar, ainda que do seu jeito, ou seja, fazer uso da variedade de
linguagem que eles empregam em suas relações sociais.” (SEED/PR, 2006, p. 24)
Cabe então ao professor reconhecer os fenômenos lingüísticos que ocorrem no
ambiente escolar, identificar o perfil sociolingüístico de seus alunos para, junto com
eles, construir uma educação que leve em conta os conhecimentos prévios de cada
um.
Se existe na escola a valorização apenas da chamada norma padrão da
linguagem, em detrimento das outras formas de falar e escrever, certamente haverá
um prejuízo na aprendizagem reforçado pela distância e a hierarquia entre educadores
e alunos.
Não há aqui a pretensão de dizer como tem que ser feito o trabalho de ensino
de língua materna, mas algumas sugestões de como esse trabalho pode se tornar algo
mais prático, produtivo e prazeroso.
Atividade 1
Título: A variação lingüística no ensino da língua materna
Tipo de atividade: Prática
Objetivo: Verificar características lingüísticas que marcam o papel social de cada
indivíduo dentro da família: pai, mãe, filho, filha, avô, avó, marido, mulher etc.
Recursos utilizados: Textos.
Método utilizado: Dramatização em grupo.
Desenvolvimento: Juntamente com o professor da disciplina de Artes, monte com
seus alunos uma pequena peça de teatro sobre um tema previamente trabalhado, em
que fiquem bem claras as diferenças de linguagem observadas no interior da família e
relacionadas aos papéis sociais de cada um. Nessa atividade você pode explorar o uso
das gírias na linguagem dos jovens.
Número de alunos: Podem ser envolvidos praticamente todos os alunos da turma.
Avaliação: Observar a diferença existente na linguagem usada pelas pessoas em
função do papel desempenhado dentro da família e verificar se o aluno soube utilizar
essas variações adequadamente. Por exemplo, um diálogo entre pai e filho deve
marcar ambos os papéis, assim como o diálogo entre pessoas mais velhas com as
mais novas. Fazer o aluno entender que ao usarmos a linguagem para nos comunicar
também estamos reforçando nosso papel social.
Referência Bibliográfica:
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística
na sala de aula. 4.ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
Atividade 2
Título: Valorização da cultura regional
Tipo de atividade: Prática
Objetivo: Combater o preconceito lingüístico e valorizar as variedades regionais.
Recursos utilizados: Textos, vídeos, computadores, fotos, mapas, artesanatos,
postais.
Método utilizado: Entrevista, pesquisa e leitura de textos previamente escolhidos
pelo professor.
Desenvolvimento: Forme algumas equipes com seus alunos e convide-os para
realizarem a seguinte atividade: entrevistar pelo menos cinco pessoas vindas de
outros estados e uma da própria cidade pedindo a elas que forneçam uma lista de
expressões típicas de sua região. Peça para que as equipes complementem sua
entrevista fazendo uma pesquisa sobre a cultura representativa dessas regiões. O
professor pode trazer textos que exemplifiquem essas diferenças na oralidade. Com
todo esse material, monte um painel reunindo fotos, as expressões coletadas na
entrevista, mapas, gravuras, artesanatos, postais e o que mais for encontrado. Você e
seus alunos convidem pessoas de outras regiões brasileiras para a inauguração do
painel e para trocarem experiências e informações sobre sua terra natal.
Número de alunos: Todos os alunos da turma.
Avaliação: Observar o esforço de cada equipe na coleta de materiais e fazer uma
análise se houve uma rejeição ao preconceito social e lingüístico, já que são valores
que precisam ser trabalhados na escola.
Exemplo de um texto que pode ser trabalhado pelo professor nesta atividade:
Historinha Mineira
“Sapassado, era sessetembro, taveu na cozinha tomando uma pincumel e
cuzinhando um kidicarne com mastumate pra fazer uma macarronada com galinha
assada. Quascaí de susto, quando ouvi um barui vindidentoforno, parecendo um
tidiguerra. A receita mandopô midipipoca dentro da galinha prassá. O forno isquentô,
misturô e a galinha ispludiu! Nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um
trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovim, pronconvô, oncotô.
Oiprocevê quelucura! Grazadeus ninguém simaxucô!”
Pasquim 21. TOX.nº50. 11/02/2003
Referência Bibliográfica:
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística
na sala de aula. 4.ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
Atividade 3
Título: A variedade lingüística nas histórias em quadrinhos
Tipo de atividade: Prática
Objetivos:
Despertar em nossos alunos a consciência da diversidade sociolingüística
usando as historinhas em quadrinhos como principal recurso.
Fixar a noção de que é o contexto que torna o uso da língua adequado ou
inadequado em determinadas situações.
Recursos utilizados: Textos, internet, revistas do Chico Bento, filme, computador.
Método utilizado: Leitura das histórias do Chico Bento, produção de bilhetes, cartas
e e-mails, filme: “Tapete Vermelho”.
Desenvolvimento:
Nos diálogos das histórias de Chico Bento, encontramos palavras e expressões
que são características dos falares da zona rural, pois o personagem é apresentado
como um típico caipira. Uma das propostas de atividades é usar essas histórias em
quadrinhos para que os alunos analisem o desenho, os diálogos e façam um
levantamento dos elementos visuais e textuais. Depois inicia-se uma discussão: Quem
é do campo e quem é da cidade? Por quê? Que aspectos visuais confirmam tal
hipótese? A linguagem usada pelo personagem parece errada, mas é adequada ao
contexto da fala? Por quê? No final da discussão, o professor pode propor ao aluno
que escreva um texto, que pode ser um bilhete, uma carta, um e-mail, mas que tenha
claro o seu interlocutor, o qual o professor vai direcionar: um amigo, um professor,
uma autoridade, os pais, um jornal, uma revista. E se quiser ainda, pode pedir para
que seu aluno escreva uma carta para o Chico Bento no seguinte endereço: Estúdios
Maurício de Souza, Rua do Curtume, 745 – Bloco F, Lapa – São Paulo – SP, ou mande
um e-mail acessando o site da turma da Mônica: www.monica.com.br. Para essa
atividade, sugiro que assistam ao filme “Tapete Vermelho”, já comentado no item
Sons e Vídeos.
Outra proposta é fazer uma lista das palavras que são típicas dos falares rurais
e pedir ao aluno que escreva ao lado a variante que ele usaria em situações mais
formais do uso da língua. Assim:
Variedades próprias dos falares
rurais
Variedades próprias de situações
formais
Inté até
Biete bilhete
Arresorver resolver
Dispois depois
Orguiosa orgulhosa
Número de alunos: Todos os alunos da turma.
Avaliação: O professor deve verificar, através dos textos escritos pelos alunos e/ou
da lista das variantes lingüísticas, se ficou claro para o aluno que, em determinados
contextos, é importante seguir as regras da norma culta. Em outras situações, pode-
se ter uma liberdade maior quanto ao uso da linguagem.
Sugestões de sites para essa atividade:
http://www.universohq.com
http://www.monica.com.br
Referências bibliográficas:
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística
na sala de aula. 4.ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
RAMA, Ângela; VERGUEIRO, Waldomiro; BARBOSA, Alexandre; RAMOS, Paulo.
Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. (orgs.) 3. ed. São Paulo:
Contexto, 2006.
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Atividade 4
Título: Valorizando a espontaneidade da língua e respeitando as diferenças
Tipo de atividade: Pesquisa
Objetivos:
Enfatizar a importância das expressões e ditos populares dentro de uma
comunidade lingüística, como instrumento importante na transmissão da cultura da
região.
Fazer com que o aluno consiga entender e respeitar as diferenças, valorizando
a espontaneidade da língua como forma de expressão natural e eficiente.
Recursos utilizados: Textos, glossário, slides, cartazes.
Método utilizado: Observação, pesquisa, produção de um glossário
Desenvolvimento:
Ao pesquisar uma variedade lingüística, entra-se em contato com falantes
levando em consideração as variáveis: classe social, faixa etária, etnia e sexo. O
professor pode pedir para toda a comunidade escolar para que fique atenta a todas as
expressões típicas da localidade e que anotem essas expressões com seus possíveis
significados. Pretende-se, com esse trabalho, coletar uma grande quantidade de
dados, já que as observações serão feitas de forma espontânea, nos mais variados
setores da comunidade.
Depois de se fazer todo o levantamento, terá início a fase de elaboração de um
glossário contendo todas as expressões coletadas com suas possíveis significações.
Esse material pode ser divulgado através de slides, cartazes e do próprio glossário,
ficando à disposição de toda a comunidade escolar como fonte de pesquisa e
valorização da cultura regional.
Número de alunos: Todos os alunos da turma.
Avaliação: O professor vai verificar se existiu interesse pelos alunos em realizar a
pesquisa, se houve respeito às diferenças, aceitando a espontaneidade da língua, se
entenderam que valorizar as diversidades culturais é um importante instrumento na
transmissão da cultura regional.
Professor, para auxiliá-lo nesta tarefa, há alguns exemplos de palavras e
expressões populares usadas no município de Reserva – Paraná (item
Destaques).
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Contextualização
Título: Um ensino comprometido com a formação plena do cidadão
Texto
A vinda da língua portuguesa para o Brasil não se deu em um só momento.
Aconteceu durante todo o período de colonização entrando em relação constante com
outras línguas. Com o tempo, o português, como qualquer língua viva do mundo, vai
sofrendo alterações e essas variedades se instalam em lugares diferentes do Brasil,
com características próprias, devido às novas condições em que passam a funcionar,
como reforça Bagno (2006):
A mudança lingüística é inevitável como a própria mudança de
tudo o que existe no universo. Como já dizia o filósofo grego
Heráclito, quinhentos anos antes de Cristo, “panta rhei” – tudo
flui, tudo muda, e a língua não tem como (nem por quê)
escapar dessa inevitabilidade. Gostando ou não, tudo o que se
pode fazer é reconhecer esse caráter inevitável da mudança
lingüística. (BAGNO, 2006, p.128)
A variedade mais cuidada do português geralmente se aproxima da chamada
variedade padrão, que recebe várias denominações, como língua padrão, norma
padrão, norma culta. Quando ligada à escrita, tenderá a mudar menos, pois a
linguagem torna-se mais reflexiva, mais bem organizada, pressupondo um rascunho,
uma reelaboração.
No entanto, a variedade padrão não pode se transformar num instrumento de
autoritarismo e discriminação social. Soares (1986) afirma que avaliações em termos
de “certo” ou “errado”, “melhor” ou “pior”, em relação a usos da língua, refletem
preconceitos que estigmatizam o uso que dela fazem os grupos de baixo prestígio
social. Falantes de um dialeto não-padrão são considerados lingüisticamente
deficientes e, conseqüentemente, também cognitivamente deficientes.
A língua padrão é, portanto, uma construção cultural em que se privilegiam
certos modos de dizer como sendo mais adequados em certas situações de fala e
escrita.
Assim nos dizem as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a
Educação Básica (2006): “O professor deve planejar e desenvolver um trabalho com a
oralidade que, gradativamente, permita ao aluno conhecer, usar também a variedade
lingüística padrão e entender a necessidade desse uso em determinados contextos
sociais.” (SEED/PR, 2006, p.25)
Enfim, a educação em língua materna deve ter o compromisso com a formação
plena do cidadão, contra toda forma de exclusão social pela linguagem e deve
possibilitar aos alunos das classes sociais desfavorecidas o acesso à cultura letrada
para que tenham a chance de fazer suas próprias escolhas nas situações de uso da
língua.
Referências Bibliográficas:
BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. 5. ed. São
Paulo: Parábola Editorial, 2006.
DIRETRIZES CURRICULARES DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA.
SEED/PR, 2006.
SOARES, Magda. Linguagem e Escola – Uma perspectiva social. São Paulo: Ática,
1986.
Perspectiva Interdisciplinar
Título: A pluralidade cultural num estudo interdisciplinar
Texto
É praticamente impossível a realização de um estudo sociolingüístico sem que
tenhamos em mente os fatores históricos, políticos e econômicos que conferem o
prestígio a certas variedades regionais, de forma a aumentar mais ainda o preconceito
em relação aos outros falares. Sabemos também que esse tipo de preconceito deve
ser seriamente combatido, principalmente na escola, um ambiente bastante rico em
diversidades culturais.
Mediante esse panorama, é de fundamental importância o trabalho em
sociolingüística envolvendo as disciplinas de Geografia, História, Artes e também
Literatura.
Ao se falar de variantes regionais, o professor deve ter a preocupação em
mostrar a região, num mapa geográfico, e segundo BORTONI-RICARDO (2006),
enfatizar para seu aluno que toda variedade regional é um instrumento que confere
identidade a um grupo social. Ser nordestino, ser mineiro, ser carioca, ser paranaense
etc. é motivo de orgulho e a forma de alimentar esse orgulho é usar a linguagem
característica de sua região e praticar seus hábitos culturais.
Então é muito importante mostrar aos alunos a cultura de cada região: seus
costumes, músicas, danças, linguagem, tradições populares, sua história. O professor
pode fazer isso através de diversos tipos de textos, músicas, filmes que exemplifiquem
a fala e a cultura em diferentes regiões. Os alunos também terão a oportunidade de
produzir seus diferentes textos, encenar peças teatrais, enfim, utilizar as diferentes
linguagens mostrando as variantes regionais.
Ao fazer uma análise do contexto histórico brasileiro, poderemos entender por
que existem falares considerados de maior prestígio, justamente os usados em regiões
economicamente mais ricas. Ainda nas palavras de BORTONI-RICARDO (2006):
Quando um falar, isto é, um dialeto ou variedade regional, é
alçado à condição de língua nacional em virtude de um
processo sócio-histórico, ele adquire maior prestígio em
detrimento dos demais. [...] No Brasil, os falares das cidades
litorâneas, que foram sendo criadas ao longo dos séculos XVI e
XVII, como Salvador, Rio de Janeiro, Recife e Olinda, Fortaleza,
São Luís, João Pessoa, entre outras, sempre tiveram mais
prestígio que os falares das comunidades interioranas. [...]
Observemos também que, até 1960, a capital do Brasil se
situava no litoral: primeiro Salvador, desde o início da
colonização, e depois o Rio de Janeiro, no período de 1763 até
a fundação de Brasília em 1960. É natural que a cidade sede do
governo tenha mais poder político e prestígio, e esse prestígio,
como vimos, acaba por se transferir ao dialeto da região.
(BORTONI-RICARDO, 2006, p. 34)
Para um trabalho que relacione o ensino de língua materna, História e
Literatura, é importante a análise, leitura e comparação de autores como José de
Alencar, Luis Fernando Veríssimo, Machado de Assis, entre tantos outros, para que se
observe o uso da linguagem hoje em comparação com outros tempos, percebendo
suas transformações num determinado período histórico. Para mostrar a diversidade
regional sugiro a obra de Ariano Suassuna, Luis Fernando Veríssimo, Guimarães Rosa,
também o livro Rememória Dois de Carmo Bernardes, que nos mostra muitas palavras
e expressões novas, ilustrando a riqueza da linguagem rural.
Enfim, são inúmeras as possibilidades que existem para a realização de um
trabalho eficiente em relação ao ensino de língua materna. Cabe a nós, professores, o
trabalho da pesquisa, do estudo, proporcionando aos alunos o uso, com segurança,
dos recursos comunicativos necessários para um bom desempenho nos contextos
sociais. Assim nos fala Bortoni-Ricardo: “Precisamos tomar plena consciência dos usos
que fazemos de nossa língua, para podermos levar nossos alunos a fazerem o
mesmo.” (BORTONI-RICARDO, 2006, p. 105)
Referência Bibliográfica:
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística
na sala de aula. 4.ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
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