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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica 2007 Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4 Cadernos PDE VOLUME II

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

Produção Didático-Pedagógica 2007

Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4Cadernos PDE

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Autor: Maria Helena Silvestre NRE: Pitanga Escola: Colégio Estadual Adonis Morski - EFMP Disciplina: Língua Portuguesa/Literatura ( ) Ensino Fundamental

( x) Ensino Médio Disciplina da relação interdisciplinar 1: História Disciplina da relação interdisciplinar 2: Filosofia Conteúdo estruturante: Discurso como prática social Conteúdo específico: Leitura do gênero literário

Você compraria este imóvel?

Fonte: revista Isto É de 18/julho/2007 nº1968

Afinal, vampiros, misticismos, feitiços... existem na realidade? Ou foi a Literatura que os criou, portanto são pura ficção?

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Como vimos no anúncio publicado na revista Isto É, o castelo do maior

vampiro da história está à venda. Está localizado na cidade de Bram na

Transilvânia, onde viveu no século XV o príncipe Vlad Tepes (filho de Vlad

Dracul) não virou celebridade apenas por lutar contra os turcos pela

independência , e lhe permitiu reinar por três vezes. Porém o príncipe Vlad não

marcou a história do seu país apenas por suas lutas e conquistas. Ele inspirou

a criação do livro “Drácula de Bram Stoker”, escrito em 1897,cujo protagonista

apreciava especialmente a execução em massa, quando várias vítimas eram

empaladas de uma vez, e içadas em estacas enormes, através das quais seus

corpos deslizavam vagarosamente pelo chão.Para apreciar o espetáculo,

Drácula rotineiramente ordenava um banquete em frente às vítimas, para

desfrutar do prazer de comer assistindo aos lamentáveis sinais e ruídos dos

moribundos

Sua crueldade alimentava o imaginário popular que logo o identificou como um

vampiro, sem dúvida trata-se do mais famoso da literatura.

O mito do homem imortal existe desde os primeiros registros históricos da humanidade. No Egito antigo o sangue era derramado e bebido por sacerdotes do Deus egípcio Set. Entre os Incas, isso também era uma prática comum nas noites de solstício de inverno. Mas os registros históricos mais recentes, depois da moralização cristã do mundo, falam de vampiros que existiram entre criminosos e hereges, os quais,mesmo depois de enforcados, voltavam de suas tumbas para beberem o sangue dos incautos que se aventuravam pelos caminhos obscuros da vida. Portanto a imagem dos vampiros habitando cemitérios abandonados veio da Idade média quando teriam sido enforcados pela santa inquisição e queimados na fogueira.Disponível em<http://ducvampi.blogspot.com/>

FERREIRA apud Jean Jacques Rousseau: “Se alguma vez existiu no mundo uma história provada e digna de crédito, é a dos Vampiros. (...) Não falta nada: autos, certificados de homens notáveis, de cirurgiões, clérigos e juízes. A prova jurídica abarca tudo. Com tudo isto, quem acredita pois nos Vampiros?” (2003)

Para a filosofia os mitos eram formas de narrativa oral que ajudavam a comunidade a compreender o mundo.Também cumpria uma função moralizante de direcionar as condutas do cidadão.

Segundo os autores do livro didático público de filosofia: “os mitos são formas de narrativa oral sobre os tempos primordiais. Na sociedade moderna um dos modos de entender o mito é pensá-lo como fantasmagoria, isto é,

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aquilo que a sociedade imagina de si mesma a partir de uma aparência que acredita ser a realidade” (Filosofia/vários autores,2006,p.22-23) Para o mitologista CAMPBELL: “Aquilo que os seres humanos têm em comum se revela nos mitos. Eles são histórias de nossa vida, de nossa busca da verdade, da busca do sentido de estarmos vivos.” (http://www.geocities.com/Vienna/2809/mitos.html Acesso em 03/08/2007) Baseados na definição de CAMPBELL,de que os “mitos” são pistas das nossas

potencialidades espirituais, daquilo que somos capazes de experimentar

interiormente, vamos testar nossos conhecimentos lendo o poema “O Morcego”

de Augusto dos Anjos e tentar relacionar o poema com o assunto tratado.

Esse autor escreveu uma única obra denominada “Eu” (1912),ficou conhecido

como “o poeta do mau gosto” para nós é no mínimo curioso. Veja só:

O MORCEGO

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:

Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."

- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,

Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh'alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!

Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto!

Difícil de entender? Nem tanto... Não desista, o poema pode precisar de várias

leituras.

Quer uma dica? Então lá vai:

v Tenha um dicionário próximo para procurar esclarecer melhor o sentidos

das palavras desconhecidas;

v Leia o poema em voz alta, dramatizando o texto como se fosse uma

peça de teatro;

v Sinta as semelhanças dos sons, ou seja, as rimas. Percebe uma

musicalidade?

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v Percebeu? Agora experimente contar as sílabas poéticas.

Mei/a-/noi/te. Ao /meu/quar/to /me/ re/co/lho.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

É um verso com 10 sílabas poéticas, ou um verso decassílabo ( a última sílaba só

conta se ela for tônica, isto é, de som forte, como na palavra Paraná).

Agora é a sua vez:decubra quantas sílabas tem os outros versos. Se não deu 10,

conte novamente ( é como se fala emendando as vogais, como na quarta sílaba do

primeiro verso).

v Agora veja as rimas.

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.

Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:

Na bruta ardência orgânica da sede,

Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."

- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,

Circularmente sobre a minha rede!

Também há um rigor : o som do primeiro verso ( costuma-se chamá-lo de “A”

é igual ao do quarto verso; e o segundo som que aparece no segundo verso

(chamá-lo de “B”) temos assim um esquema rítmico ( de rima), ABBA ,BAAB.

v Curioso no Augusto dos Anjos é tanto rigor na forma do poema,(um soneto :14

versos de 4 estrofes, sendo dois quartetos e dois tercetos),mas com um

conteúdo moderno de horror. Mas claro: traz uma reflexão de nós mesmos.

v Já que estamos comparando uma forma rigorosa (soneto) com um conteúdo

moderno para a época de 1912. Notou onde ele usa palavras não poéticas?

Quais são?

v O poema de Augusto dos Anjos é formado como se fosse parágrafos.Cada

estrofe apresenta um aspecto do assunto. Crie palavras-chaves para cada

estrofe.

Atividade: tente reproduzir uma ilustração a sua compreensão formada do poema a partir da leitura realizada. Pense nas cores, nas imagens, escolha-as de acordo com sua criatividade, mas com base no poema.

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Agora vamos conhecer o vampiro que existe dentro de nós retratado

mais uma vez pelo autor Augusto dos Anjos no poema “À Mesa”. Lembre-se

de seguir a mesma dica de leitura do poema anterior.

À MESA

Cedo à sofreguidão do estômago. É a hora De comer. Coisa hedionda! Corro. E agora,

Antegozando a ensangüentada presa, Rodeado pelas moscas repugnantes,

Para comer meus próprios semelhantes Eis-me sentado à mesa!

Como porções de carne morta... Ai! Como

Os que, como eu, têm carne, com este assomo Que a espécie humana em comer carne tem!... Como! E pois que a Razão me não reprime,

Possa a terra vingar-se do meu crime Comendo-me também.

Atividade : Gostou do poema? Não é de fato curioso? A proposta agora é você produzir um poema assim,digamos esquisito! Diferente!. Que tal um poema nojento?Mas não um nojento qualquer,você pode mais que isso...digamos o pior que você puder...!!!

Já que você está se sentindo uma vampira ou um vampiro, não custa lembrar

que estamos no mundo da leitura literária ( não vá saindo por aí mordendo os

pescoços dos meninos e meninas!)

Voltando a realidade não podemos perder de vista nossa pergunta:Afinal,

vampiros, misticismos, feitiços... existem realmente?Ou foi a Literatura

que os criou, portanto são pura ficção?

Vamos deixar para o final desta unidade de estudo, a liberdade de você

respondê-la .

Bom, não quero influenciar ninguém, mas posso afirmar com

conhecimento de “causa e de causo” ,que pelo menos um está em nosso

convívio. Dalton Trevisan “O Vampiro de Curitiba”, considerado um dos

maiores contista contemporâneos. Segundo informações das revistas e joranis,

o autor é tímido e arredio, foge do assédio dos jornalistas e guarda a sua vida a

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sete chaves ( tenho certeza que você nunca o deve ter visto, nem eu). Não

fornece telefone, tem raros amigos nos círculos literários e por vezes recusa-se

a receber os prêmios conquistados. Meio vampiro né? É possível imaginá-lo à

noite percorrendo às escondidas as ruas da capital paranaense, escutando

atrás das portas as manifestações de desejo escondidas da população,

alimentando-se deles,trazendo-os à superfície e incorporando-os aos seus

escritos. Não por acaso o escritor costuma ser designado por um dos seus

livros. Como deve estar “se mordendo” de curiosidade, procure na biblioteca de

sua escola, o livro “O vampiro de Curitiba”, é capaz dele estar cheio de teias de

aranha e manchado de sangue.Este livro faz parte da biblioteca do Ensino

Médio. Abaixo apresentamos uma resenha sobre a obra.

“Em O Vampiro de Curitiba, Nelsinho é o personagem que transita por todos os contos, dando unidade ao livro. Obcecado por sexo, ele vagueia pela provinciana Curitiba atrás de suas vítimas.Cidade em que se esconde um vampiro no fundo de cada "filho de família", conforme ironiza o protagonista do livro. Ele é o próprio Drácula nivelado à cidade degradada sob as vestes do cafajeste brasileiro. Nelsinho, assim como o vampiro, é presa da repetição infindável dos seus atos e de sua obsessão, que agravam sua solidão: "Tem piedade, Senhor, são tantas, eu tão sozinho". -- por Adriana Camargo

Assim como a lenda dos vampiros, a magia, as crendices, enfim o

misticismo faz parte da cultura popular e desperta em nós uma certa

admiração pelo mistério e o desconhecido. O sobrenatural nos encanta,

mesmo que não faça sentido nas nossas mentes lógicas, ele é fascinante para

nossas mentes criativas e intuitivas.

Um pouco de magia...

“Os procedimentos mágicos foram transmitidos de geração a geração, ao longo dos séculos, tiveram origem em muitas civilizações, inclusive nas dos antigos persas, babilônios, egípcios, hebreus, gregos e romanos.

Em todas as sociedades antigas, a magia e a religião estavam interligadas. Acreditava-se que existiam muitos deuses e espíritos secundários bons e maus, que controlavam a maioria das coisas da vida e eram responsáveis pelo sol, pela chuva, pela prosperidade, pela pobreza, pela doença e pela saúde. O propósito da magia era agradar e controlar esses espíritos. As pessoas acreditavam que os mágicos (magos, bruxas, feiticeiros), assim como os sacerdotes, tinham acesso privilegiado aos deuses. Só que, em vez de adorar essas divindades os mágicos pediam, ou até exigiam favores. Ás vezes os mágicos apelavam aos deuses simplesmente para obter ajuda quando queriam lançar um feitiço ou proferir uma maldição. Portanto a “magia negra” existe há milhares de anos. Enquanto alguns indivíduos das antigas civilizações criavam feitiços e palavras mágicas na tentativa de curar doenças, provocar chuvas em campos secos ou proteger uma aldeia contra a invasão de um

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inimigo, outros concebiam maldições e outros meios sobrenaturais de infligir dor e azar aos seus vizinhos.

No século IV d.C todas as formas de magia e adivinhação foram decretadas ilegais no Império Romano. No entanto na Idade Média, as crenças

(curas mágicas), continuaram a ser transmitidas secretamente e tornou-se parte do repertório dos “rezadores” ou magos da ladeia dos séculos posteriores.

Enquanto que nos séculos IX e X uma pessoa respeitável na certa evitaria qualquer ligação com a magia, no Renascimento a magia natural (uma espécie de ciência da época, que se baseava na crença da natureza para curar as pessoas) era aceita pelos intelectuais, médicos, sacerdotes e todos que tivessem um sentimento de curiosidade científica.

A partir de meados do século XII, a magia começou a ser apresentada de forma muito mais favorável, pelo menos por escritores de ficção. Poções, adivinhações, astrologia, feitiços e ervas que curavam tinham um papel de destaque nas obras épicas. Entretanto a crença da magia entrou novamente em declínio em meados do século XVIII quando as pessoas começaram a descobrir maneiras mais práticas e eficazes de enfrentar seus problemas, quando a química moderna permitiu a criação de medicamentos.

Hoje a idéia de conseguir poderes extraordinários por meio da invocação dos espíritos desapareceu na maior parte do mundo.Mas também podemos considerar que o mundo é hoje mais mágico do que nunca. Coisas julgadas impossíveis, como voar ou conversar com uma pessoa que está do outro lado do mundo, são fatos cotidianos. Porém a magia na Literatura continua a encantar, um bom exemplo disso é o livro Harry Potter de J. K. Rowling. O apelo da magia parece não ter nada a ver com o fato de ela ser ou não “real”. A magia veio da imaginação e alimenta a imaginação. Acreditamos que será sempre assim.”

Texto adaptado por Maria Helena do Manual do Bruxo: um dicionário do

mundo mágico de Harry Potter ( Allan Zola Kronzek e Elizabeth Bronzek)

Vamos conhecer um pouco mais do mundo mágico, através do conto: “São

Marcos”, um dos contos nove contos que fazem parte de Sagarana de João

Guimarães Rosa. Já ouviu falar dele?Espero que sim, pois é considerado um

dos maiores escritores de toda a língua portuguesa. Você acha muito? Pois

veja esta: uma de suas obras mais conhecidas “Grande Sertão Veredas”,figura

na lista 100 melhores livros escritos desde 18 séculos antes de Cristo

(segundo pesquisa publicada na revista Época de dezembro de 2003,

organizada pela Norwegein Book Clubs). Seu estilo é absolutamente novo na

ficção brasileira, por trabalhar com a linguagem, em que poesia e prosa

confundem-se. Nas suas obras estão presentes as indagações universais do

homem: a existência ou não de Deus e do Diabo, o significado do amor, do

ódio, da ambição.

No conto abaixo o mito e a fantasia aparecem sob formas de

superstições e premonições, crença em aparições, devoção a curandeiros e

videntes, misticismo e temor religioso.

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São Marcos O conto narra história de José (Izé), que é o próprio narrador da sua história,

No passado morava no Calango-Frito e não acredita em feitiçaria. Tanto que se ria das pessoas que acreditavam na Nhá Tolentina (que segundo José estava ficando rica de vender no arraial pastéis de carne mexida com ossos de mão de anjinhos) e no João Mangolô (velho-de-guerra, orixá-pai de todos os metapsíquicos por perto, cuja cafua vivia repleta de clientes para encomendar rezas, despachos, mandingas). José foi alertado para não abusar com os feiticeiros: “ Bem...Bem que Sá Nhá Rita Preta cozinheira não cansava de me dizer: _ Se o senhor não aceita, é rei no seu; mas,abusar,não deve-de! Todos os domingos ele ia no mato das Três Águas para dormir e admirar a natureza. O melhor atalho renteava o terreirinho em frente da cafua do Mangolô, de quem ele zombava já por prática.Certo domingo, numa manhã, o narrador, a caminho de suas visitas ao mato das Três Águas, passa rente à cafua de João Mangolô e, como sempre, zomba do curandeiro e o insulta sem motivo. O feiticeiro passa do riso bobo das brincadeiras de José para caranca de ódio, então resmunga e bate a porta. José continua o seu caminho contemplando a natureza. De repente escuta o bater das alpercatas de Aurísio manquitola. Os dois seguem o caminho juntos. José pergunta ao Aurísio se ele estava vindo do Mangolô ele responde que estava vindo da missa e que não gostava de urubu, mas que também não gosta de abusar dessas coisas. “_ Mas você tem medo dele? Há-de-o!...Agora, abusar e arrastar mala, não faço. Não faço, porque não paga a pena...De primeiro, quando eu era moço,isso sim!...Já fui gente!,gente.Para ganhar aposta, já fui,de noite, foras d”hora,em cemitério...Acontecer, nunca me aconteceu nada;mas essas coisas são assim para rapaz.Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito,gosta de se comparecer.Hoje,não: estou procurando é sossego...” Durante a conversa dos dois, José começa a recitar a oração sesga, milagrosa e proibida de São Marcos: “Em nome de São Marcos e São Manços, e do anjo-mau seu e meu companheiro...” Neste momento Aurísio pulou para beira da estrada e gritou para que o amigo parasse de recitar, porque era considerada reza brava. Que para fazer efeito era rezada à meia-noite, com um prato-fundo cheio de cachaça e uma faca nova espetada em tábua de mesa. Aurísio diz a Izé que só de saber a reza de cor ela já da muita desordem. E então começa a relatar os causos de feitiçaria. Começa falando do Gestal

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Gaita que sabia a reza de São Marcos quando queria. Um dia o seu compadre Silivério de Araras teve de pernoitar no mesmo quarto com Gestal e contou que durante a madrugada o parceiro se mexia dormindo, falava enrolado, subia na parede pé-em-pé. Depois Aurísio despediu-se de José e se entranhou no mato José continua a caminhada descrevendo cada espetáculo da natureza (dos lagos, das flores, das árvores, dos pássaros, das aranhas... Até que resolve descansar debaixo de uma árvore. Tira o paletó e recosta. Fica meio deitado de lado observando a natureza e sentindo a paz. “ E pois, foi aí que a coisa se deu, e foi de repente: como uma pancada preta, vertiginosa, mas batendo de grau em grau- um ponto, um grão, um besouro, um anu, um urubu, um golpe de noite...E escureceu tudo.” Para descobrir o final do conto, procure Sagarana na biblioteca do

colégio e faça a leitura do conto “ São Marcos” na íntegra. Caso não

consiga o livro, solicite ao professor que providencie uma cópia do conto.

ATIVIDADE 2

Correlacionando os dois textos acima: “ Magia” e “São Marcos” pudemos

perceber que a magia foi aceita em determinadas épocas,mas em outras

tentaram exterminá-la, levando os bruxos a julgamento, alguns a pena de

morte ou queimados na fogueira.Vamos nos posicionar a respeito desse

assunto por meio das seguintes atividades:

A) Pesquisa: A questão da magia nas religiões: afro,católica e

evangélica.

B) Reflita: você possui alguma crendice? Já fez alguma simpatia?

Acredita em jogar praga? Praga pega? As manifestações

místicas têm valor? Funcionam? Não? Então porque elas

estão tão presentes em nossas vidas? Conhece algum causo

de natureza sobrenatural?

C) Debate: a aceitação social da magia atualmente.

D) Produção de texto: a partir do debate realizado proponho que a

síntese da atividades seja realizada por meio da produção de

um texto, para não perder todo esse esforço. Que poderá ser

uma das sugestões abaixo:

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a) Transcrição em forma de um texto narrativo de um dos

causos relatados oralmente sobre feitiçaria, misticismo, magia

(deverão ser transcritos em forma de um texto narrativo).

b) Produção de um texto ficcional sobre o assunto.

c) Texto dissertativo debatendo as questões estudadas ( pode

ser enviado a algum jornal ou site para publicação);

d) Confecção de um mural: com o material coletado ( simpatias,

causos, praga, crendices), para mexer com as opiniões dos

colegas da escola.

Chega de tanta atividade sanguessuga, não é? É hora de distração. Teste e saiba se você está se transformando em um bebedor de sangue!! Tire esta dúvida da sua cabeça e durma tranqüilamente, ou não!

1- Você tem preferido a noite mais do que o dia?

A ( ) sim B ( ) não

2- Você tem crises de sede e a água não te satisfaz?

A ( ) sim B ( ) não

3- Quando sai de dia prefere :

A ( ) lugares escuros B ( ) lugares claros

4- Qual a sua atitude quando vê um pescoço:

A( ) sente vontade de morder B( ) pensa: é bom para pendurar um colar

5- Da última vez que foi ao dentista, o que ele comentou?

A ( ) disse que os caninos estão aumentando B ( ) seus dentes estão ótimos

6- O que tem acontecido nas últimas vezes que foi a um restaurante

A ( ) preferiu pratos que não tinham alho B ( ) preferiu pratos com alho

7- Quando vai a um churrasco, como você prefere a sua carne?

A ( ) muito mal passada pingando sangue B ( ) bem passada

8- Quando passa na frente do espelho?

A ( ) Não vê sua imagem refletida B ( ) Vê sua imagem refletida

9- Quais suas cores preferidas?

A( ) vermelho e preto B( ) branco e azul.

Se você respondeu mais a letra B RELAXE, você não está se transformando em um vampiro, seus hábitos não vão mudar e você não vai sentir vontade de beber sangue. Se você não esteve muito seguro com as suas respostas e está se sentindo estranho (a) faça o teste novamente.

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Se você respondeu mais a letra A PREPARE-SE, sua vida está prestes a sofrer uma reviravolta, você vai começar a trocar a noite pelo dia e sentir coisas estranhas.Poderá ler o pensamento das pessoas e passará a vai sentir uma vontade tremenda de beber sangue. Se ainda não se deu conta, alguém tem que te dizer: Você está se tornando um vampiro. Se você ficou interessado nesse assunto aqui vai algumas sugestões: música

Vampiro – compositor e intérprete Jorge Mautner - disco Árvore da vida Eu uso óculos escuros pras minhas lágrimas esconder E quando você vem para o meu lado, ai, as lágrimas começam acorrer E eu sinto aquela coisa no meu peito Eu sinto aquela grande confusão Eu sei que eu sou um vampiro que nunca vai ter paz no coração

Além dos livros trabalhados sugerimos os seguintes:

Ø STOKER, Bram. Drácula. São Paulo: Nova Cultural,2002. Ø TOLKEIN,J.R.R; tradução Lenita Maria Rímoli Esteves. O Senhor dos

Anéis ( livro I,II,III.IV,V,VI).São Paulo: Martins Fontes,2001.

Ø ROWLING,J.K. tradução de Lia Wyler. Harry Potter e as Relíquias da Morte.Rio de Janeiro:Rocco,2007.

Ø LEWIS.C.S. As crônicas de Nárnia.São Paulo: Martins Fontes,2005.

Ø POE.Edgar Allan. Contos de terror Misterio e Morte.São Paulo: Nova

Fronteira,1981. Filmes

Ø Drácula de Bram Stoker (1992, EUA,direção: Francis Ford Coppola) No século XV, um líder e guerreiro dos Cárpatos renega a Igreja quando esta se recusa a enterrar em solo sagrado a mulher que amava, pois ela se matou acreditando que ele estava morto. Assim, perambula através dos séculos como um morto-vivo. Ø Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa(2005, EUA / Nova Zelândia, Andrew Adamson) A aventura começa durante a Segunda Guerra Mundial, quando Peter, Lucy, Edmund e Susan são obrigados a sair de Londres e a instalar-se numa pequena cidade em Inglaterra, na casa de um professor solteirão. Enquanto exploram a mansão, Lucy descobre uma passagem secreta muito especial no guarda-fatos do velho professor, que dá acesso a um misterioso mundo... Ø Harry Potter e a Ordem da Fênix -( 2007, Inglaterra / EUA, David Yates) De volta às aulas, Harry descobre que boa parte da comunidade da magia foi levada a acreditar que a recente história sobre o encontro entre ele e Lord Voldemort foi uma mentira.Para complicar ainda mais, o Ministro da Magia, Cornélio Fudge, designou uma nova professora Dolore Umbridge.Entretanto, o curso da professora, em vez de protegê-los acaba por deixá-los despreparados contra as forças do mal.

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Referências Bibliográficas

ANJOS, Augusto de Carvalho Rodrigues dos. Eu e Outras poesias.Porto Alegre: L&PM,2002. BALEIRO, Marcos. O Vampiro na Literatura. Disponível em <http://www.themaozoleum.com/phoenix/delta1.html> Acesso em 03 de agosto de 2007 BORDINI, Maria Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Formação do leitor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. BUNZEN, Clecio; MENDONÇA, Márcia; KLEIMAN, Ângela B....(et-al). Português no Ensino Médio e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial,2006. CAMARGO, Adriana. Dalton Trevisan o Vampiro de Curitiba.Disponível em:<http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/Contemporanea/Dalton_Trevisan_O_Vampiro_de_Curitiba_comentarios.htm.> Acesso em 03 de agosto de 2007.

CAMPBELL,Joseph. O Poder do Mito. Disponível em http://www.geocities.com/Vienna/2809/mitos.html Acesso em 03/08/2007 COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo:contexto,2006. FERREIRA, Cid Vale org. Voivode:Estudos sobre os vampiros. São Paulo: Pandemonium, 2003. KRONZEK ,Allan Zola e KRONZEK Elizabeth. O manual do Bruxo: um dicionário do mundo mágico de Harry Potter. Rio de janeiro:Sextante, 2003. Livro Didático Público.Filosofia.Curitiba: SEED,2006.

MALARD, Letícia. Ensino e literatura no 2ºgrau: problemas & perspectivas. Porto Alegre: Mercado Aberto,1985. ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de janeiro: Record, 1995. Vampirismo.Disponível em <http://ducvampi.blogspot.com/ >acesso em 14 de janeiro de 2008.

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Validação da disciplina de Língua Portuguesa Professor:José Ferreira RG: 4.221.320-9 A situação problema apresentada no Folhas é muito interessante e adequada para o Ensino Médio, pois sugere uma reflexão que leva o aluno a tomada de posição. Para isso ele precisa de buscar mais conhecimentos sobre o assunto, cabe a contribuição das disciplinas de Filosofia e História. Alguns momentos o aluno entrará provavelmente em choque com suas idéias e crenças, e terá portanto de organizar o seu pensamento.Em relação a proposta de estudo , atividades, sugestões dos gêneros textuais, nota-se que o Folhas está embasado nas DCEB de Língua Portuguesa,no Método Recepcional, pois parte do interesse dos alunos ( texto de revista com tema mitos,vampiro) para uma ruptura apresentando pelos gêneros literários como: poema e conto. O interessante desse folhas é a gradativa sugestão de leitura literária, pois desperta o interesse por meio do poema e sugere a frente, a leitura do Conto São Marcos na obra Sagarana( na íntegra).É a Literatura de fato em contato com o livro. As atividades propostas também são bem diversificadas: ilustração, debate, colagem, diferente do que traz os livros didáticos: compreensão escrita, escolha a alternativa. Também é interessante a oportunidade dada na atividade 2 em que o aluno ou grupo de alunos poderá escolher uma proposta de trabalho das sugeridas na atividade.É a oportunidade de opção do aluno, daquilo que ele têm interesse em realizar, O referido Folhas não apresenta preconceitos, o assunto é apresentado por meio de citações com argumentos e contra-argumentos de estudiosos do assunto. O inovador no Folhas estudado é apresentar a literatura sem a preocupação com a cronologia ou historiografia literária dentro da nova concepção de ensino.

Validação da disciplina de História Professora: Ademir Antonio Franco RG: 5.061.578-2

Deve-se deixar claro que os educandos deverão buscar através da História e da Literatura o sentido das palavras-chaves: vampiros, misticismos e feitiços, pois cada período histórico da humanidade essas palavras designaram e designam certas atitudes que despertaram e despertam reações de acordo com o momento histórico e as interpretações das pessoas, buscando-se construir a ponte passado-presente. Vampiros1. Ente fantástico que, segundo a superstição do povo, sai,á noite, das sepulturas, para sugar o sangue das pessoas, principalmente das crianças. 2. Indivíduo que enriquece a custa alheira ou por meios ilícitos. 3.Espécie de morcego, muito grande ( Vampirium Spectrum) que a princípio foi considerado erroneamente como hematofago.4. Todos os morcegos chupadores de sangue.

Na disciplina de História os Conteúdos Estruturantes do Ensino Médio: Relações de Trabalho de Poder e Cultura o tema proposto no Folhas poderá ser trabalhado nos eixos: Poder e Cultura. No aspecto relações de poder, analisar o que alguns seres humanos são capazes de fazer, que grau de crueldade esse ser humano age para conquistar ou manter-se no poder: Os atos do príncipe Vlad “comer prazerosamente assistindo a execução de seres humanos”.No aspecto relações culturais, buscar compreender o quanto o misticismo, feitiços...fazem parte do cotidiano do ser humano desde os primórdios até os dias atuais. Pois ao longo da história os homens desde

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sempre, sentiram necessidade de explicar para si próprios sua origem e sua vida e a primeira forma de explicação foi o mito. Para nós seres humanos do século 21, acostumados a um pensamento dito científico, uma explicação mítica parece irracional e ligada a superstição.Mas é preciso que reconheçamos no mito uma forma de pensamento primitivo, com sua lógica e coerência prórpias, não sendo simples invenção ou engodo.

Em relação as atividades propostas no material didático, estão bem colocadas, mas também seria importante elaborar algumas questões aos educandos que levem os mesmos a refletirem sobre como o misticismo, o sobrenatural é utilizado na sociedade capitalista como grilo mercadológico, seja através, seja através da literatura, filmes, propagandas etc. Observar a influência da cultura de um país sobre outros por exemplo: dia das Bruxas ( Halloween), nos desenhos animados, onde super-heróis ( Super-Homem, Mulher maravilha, Capitão América, enfim a Liga da Justiça) representam sempre o bem na luta contra o mal.

Validação da disciplina de Filosofia Professora:Luciane Apª Gomes RG: 8.985.531-4 Considerando a abordagem apresentada no Folhas, à relação interdisciplinar entre literatura e Filosofia, percebe-se que o conteúdo foi desenvolvido de certa forma, para que o aluno possa compreender a questão mística e histórica relacionando com a Literatura. O tema mito suscita indagações de diferentes ordens: Qual o sentido real? Se há razões no mito? A permanência do mito até hoje, manifestando-se através de atos que o ser humano realiza e muitas vezes não percebe que está realizando um ritual. Estas questões fazem relação com o texto do Folhas. Afinal, vampiros, misticismos, feitiços....Existem na realidade? Ou foi a Literatura que os criou , portanto são pura ficção? Estas e muitas outras questões despertam o interesse e abrem espaço para o aluno dar continuidade a pesquisa, possibilitando um maior conhecimento do conteúdo abordado. Enfim, parece-me que tudo o que pensa e quer se situa inicialmente nos pressupostos místicos. E persiste, não só nos contos populares e no folclore, como também na vida diária do homem. O mito é a primeira leitura do mundo e é o ponto de partida para a compreensão do ser:“A força expressiva do mito permanece camuflada, mas viva em nossa época, nas histórias em quadrinhos, nos romances policiais, nos contos de fada, estão em jogo as temáticas da redenção e da superação do tempo” ( MORAES,1988,p.40).Em suma os mitos revelam que o mundo, o homem e a vida têm uma origem e uma história sobrenatural, e que essa é significativa, preciosa e exemplar. O texto dá ênfase ao autor Joseph Campbell, considerado um dos maiores mitólogos de todos os tempos. Para Campbell, a riqueza dos mitos não está em elucidar ou revelar algum tipo de significado para a vida, mas o de ser um registro simbólico da própria experiência de estar vivo. Este autor contribui significativamente para o estudo dos mitos. A referência deste autor está corretamente registrada. Para a continuação da pesquisa para o aluno o conteúdo proposto, sugere-se a leitura das seguintes obras:. CAMPBELL,Joseph, e MOYERS,Bill, O Poder do Mito. São Paulo: Palas Atenas,1990. DROZ,Geneviéve. Os Mitos Platônicos. Brasília:UNB,1997. ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva,2002. MORAIS, Regis de. As Razões do Mito. São Paulo. Papirus,1988.

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