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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

ROSELEIDE DE OLIVEIRA SEGURA BERTOLETTI

IMAGENS DA REPRESSÃO - UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA NO ENSINO

MÉDIO: Cultura e Autoritarismo durante o Estado Novo e a Vigência do AI-5

LONDRINA

2011

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ROSELEIDE DE OLIVEIRA SEGURA BERTOLETTI

IMAGENS DA REPRESSÃO - UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA NO ENSINO MÉDIO: Cultura e Autoritarismo durante o Estado Novo e a Vigência do AI-5*

Artigo da implementação do Projeto de Pesquisa e Caderno Pedagógico desenvolvido para o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria Estadual de Educação do Paraná – SEED.

Orientadora: Profª Drª Isabel Aparecida Bilhão

LONDRINA

2011

* Artigo realizado como conclusão à participação no PDE do Estado do Paraná, período 2009-2011.

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Roseleide de Oliveira Segura Bertoletti**

Orientadora: Isabel Aparecida Bilhão***

Resumo:

A proposta investigativa deste trabalho tem como fundamentação o projeto desenvolvido como parte do Programa de Desenvolvimento Educacional que se configura por meio da questão: é possível que a imagem estimule no educando a visão e a leitura dos dados nela contidos, possibilitando-lhe compreender melhor a cultura durante o Estado Novo e o Autoritarismo Militar? Neste sentido, o conceito cultura e os instrumentos de pesquisa, procuram possibilitar a formação de uma postura crítica e consciente dos educandos. Busca-se, também, realizar um paralelo entre o Estado Novo e o período do AI-5 no Brasil, abordando aspectos culturais representados pela imprensa alternativa, músicas, propagandas ideológicas e de divulgação, levando em consideração as produções culturais dos períodos como formas de legitimação ou de protesto aos regimes vigentes.

Palavras Chaves: Imagem, Cultura, Autoritarismo

Abstract:

The purpose of this investigative work, is the foundation work for the Educational Development Program that is configured using the question: Is it possible that the image will stimulate the student's vision and reading of the data content, allowing you to better understand the culture during the New State Military Authoritarianism?In this sense, research tools, images and culture, seek to present a possible formation of a critical and conscious of the students. The aim is to also make a parallel between the state and the period of the New AI-5 in Brazil, addressing cultural issues posed by alternative media, music, propaganda and ideological dissemination, taking into consideration the cultural productions of the periods as a way to sustainability or protest existing systems.

Key words: Image, Culture, Authoritarianism

** Professora de História da Secretaria de Estado de Educação do Paraná. Formada em Ciências Sociais pela UNIFIL/CESULON*** Doutora em História, Professora Adjunta do Departamento de História da UEL.

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Algumas premissas teóricas:

A busca pela compreensão de questões referentes aos regimes autoritários no Brasil

República, por meio da leitura e interpretação de imagens, bem como a problematização da

leitura dessas em relação aos períodos do Estado Novo Varguista e do Regime civil-militar

brasileiro, durante a vigência do AI-5, possibilitou-nos uma maior aproximação com a linha de

pensamento de Peter Burke (2004, p. 175) de que “Toda imagem conta uma História” sendo,

possível encontrar nos recursos imagéticos um material valioso para o processo ensino-

aprendizagem, viabilizando um aspecto comparativo entre esses dois momentos históricos

escolhidos, e ainda colocar as imagens como suporte para se obter uma melhor

interpretação das demais formas de linguagem.

Neste sentido, pensar o uso das imagens enquanto fontes históricas ou como

“indícios”, como prefere Renier (Apud - Burke, 2004, p.12), permitiu-nos atribuir às imagens a

importância de refletir sobre uma História possível de despertar melhor aceitação pelo

assunto, levando a ampliação do interesse dos educandos em ler além do que a imagem

apresenta em sua superficialidade. “Ver” a imagem é diferente de “Olhar”. O Olhar é algo

mais profundo, como explica Sandra Pesavento, sobre a importância de “[...] decifrar a

imagem, buscando códigos, detalhes que operam como sintomas e mensagens que

remetem ‘às sensibilidades da época’”. (2008, p. 20).

A proposta de apoiar-se na cultura enquanto conteúdo estruturante, para abordar a

imagem como recurso didático, teve como um dos suportes de pesquisa a autora Maria

Auxiliadora Schimidt, que entende a imagem na sociedade contemporânea como “artefato

cultural”. Segundo ela:

A partir desse referencial tem se procurado entender o papel central da imagem na sociedade contemporânea e, portanto, da necessidade de sua leitura crítica pelo ensino de História. A questão da influência de sua leitura crítica pelos jovens estudantes tem preocupado pesquisadores e educadores [...]. (SCHIMIDT, 1998, p.10)

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A ideia de promover uma situação comparativa entre os mecanismos midiáticos e

imagéticos durante os períodos de repressão compreendidos pelo Estado Novo Varguista

(1937-1945) e pela Vigência do AI-5 (1968-1978) sugeriu-nos um recorte histórico que

percorresse os caminhos da política, da economia e da sociedade, permitindo-nos abordar

ou perceber a cultura com mais profundidade, já que ela pode ser uma importante via de

acesso ao entendimento dos períodos em questão, especialmente em seu âmbito político.

Como defesa da importância e para um entendimento mais detalhado sobre a cultura

como ponto de partida para o ensino de conteúdos históricos, optamos também por recorrer

a Pesavento, observando que:

Todo ato cultural vive por essência sobre fronteiras: nisso está sua seriedade e importância; abstraído da fronteira, ele perde terreno, torna-se vazio, pretensioso, degenera e morre. [...] É somente nessa sua sistematização concreta, ou seja, no relacionamento e na orientação direta para a unidade da cultura que o fenômeno deixa de ser um mero fato, simplesmente existente, adquire significação, sentido transforma-se como que numa mônada que reflete tudo em si e que está refletida em tudo. (BAKHTIN,1998, Apud: PESAVENTO, 2008, p. 16)

Diante do exposto, fica difícil tanto negar a cultura como conteúdo viável ao ensino

da História, quanto à importância das imagens para essa disciplina, desde que o mundo

imagético não seja percorrido com olhos descompromissados. É importante olhar para os

signos saindo do campo descritivo e procurar neles maior significado e significação.

Tanto o Estado Novo Varguista, como o regime civil-militar1 brasileiro nasceram de

golpes que carregavam consigo a ideia de que somente a implantação de um governo

autoritário e centralizador resolveria a crise pela qual o país passava (seja ela nas décadas

de 1930 e 40 ou em sua recorrência, na década de 1960). Ambos os governos se valeram do

uso das imagens de forma intensa e exerceram forte influência nos setores midiáticos, com o

intuito de seduzir e de se legitimar, por intermédio dos símbolos, frente à sociedade de

1 Essa expressão é cada vez mais utilizada para denominar o período, reconhecendo a participação e o apoio de civis tanto na deflagração quanto na manutenção do regime. Ver, por exemplo: FERREIRA, Jorge. “O governo Goulart e golpe civil-militar de 1964”. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida N. (Orgs.). O Brasil republicano 3: o tempo da experiência democrática. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p.343-404.

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massa.

Tomando como ponto de partida o Estado Novo, Maria Helena Rolim Capelato, em

suas considerações, forneceu subsídios que se coadunaram com a proposta do trabalho

desenvolvido, no que se refere ao uso da propaganda como principal recurso ideológico do

período estadonovista.

Imagens e símbolos circulam por várias sociedades, sendo retrabalhados, mas utilizados na propaganda política como o mesmo fim: o de transmitir aos receptores das mensagens um conteúdo de carga emotiva capaz de obter respostas no mesmo nível, ou seja, relações de consentimento e apoio ao poder (CAPELATO, 2009, p.38).

Durante todo o período em que Getúlio Vargas se manteve no poder, ele fez uso

excessivo de sua imagem, e procurou projetar-se na sociedade via propaganda e

publicidade, difundindo uma imagem de governante preocupado com o desenvolvimento do

país, implantando uma política de característica nacionalista e corporativista, voltada para o

trabalho e o crescimento industrial.

O governo contava também com os veículos de comunicação, como o rádio, jornais,

cinema, música, para que a figura de Vargas estivesse sempre presente na vida dos

brasileiros e para propagar uma cultura voltada ao trabalho disciplinado e ao culto à figura do

presidente. Para tal abordagem, recorremos à Maria Celina D’Araújo:Todo esforço de Vargas em prol de uma legislação protetora para o trabalhador

sempre foi anunciada pela propaganda e pelos getulistas como obra da genialidade de

Vargas e de sua sensibilidade pelos mais pobres (D´ARAUJO, 1997 p. 87).

Temas como a aplicação da censura aos meios de comunicação, promovida pelo

DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), que foi criado em dezembro de 1939,

ajudando a assegurar a Getúlio Vargas, a implantação e legitimação do Estado Novo, dirigido

por Lourival Fontes e destinado a exercer o controle ideológico, bem como a influência de

Gustavo Capanema, ministro da Educação na época, no sentido de direcionar a cultura aos

moldes da política vigente, apoiando-se na ideia de que essa era um sustentáculo político

que, por sua vez, despertou em muitos o sentimento de nacionalismo, característico do

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Estado Novo, levou-nos a um contato mais aproximado com a política varguista de

valorização do barroco, com sentimento de brasilidade em detrimento do regionalismo,

enfatizado pela obrigatoriedade das disciplinas de Moral e Cívica e de Educação Física,

impostas na época, com a exportação da nossa cultura via teatro e cinema e com a

importação da cultura estadunidense presente nas histórias em quadrinhos e em anúncios

publicitários.

Se, nos estudos sobre o Estado Novo Varguista, percorreu-se a história pelos

caminhos da cultural e da imagem até chegarmos ao movimento queremista, que utilizou o

que o governo tinha de mais familiar: A imagem de Getúlio Vargas, o Regime Civil–Militar no

Brasil também apresentou-se rico nesses aspectos, o que se pode observar nos estudos

como os de Marcelo Ridenti ( 2007) , Luis Fernando Cerri ( 2000) e Ricardo Constante

Martins (1999).

Os primeiros anos do regime militar foram destinados a indicar o que seria uma

época marcada pela repressão e o autoritarismo. Por meio de Atos Institucionais mandatos

políticos foram cassados, e a estabilidade aos funcionários públicos foi suprimida. Os

sindicatos experimentaram, novamente, o controle estatal.

Até o golpe, a cultura brasileira buscou incansavelmente, por intermédio das artes,

sua própria identidade. Essa busca qualificou os artistas e outros seguimentos da sociedade,

a questionar a ordem social existente. Para elucidar essa ideia buscamos apoio no texto de

Ridenti, que diz:

Recolocava-se o problema da identidade nacional e política do povo brasileiro, buscava-se a um tempo suas raízes e a ruptura com o subdesenvolvimento, numa espécie de desvio à esquerda do que se convencionou chamar de Era Vargas, caracterizada pela aposta no desenvolvimento nacional, com base na intervenção do Estado. (RIDENTI, 2007, p.136).

Esse mesmo autor caracterizou as décadas de 1950 e 1960 como o período em que

jovens engajados tomaram para si a tarefa de “politizar seus colegas” tendo como armas a

cultura. Ainda nas palavras de Ridenti:

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Começava a ser escrito um importante capítulo da história da cultura nacional, numa época de busca da brasilidade e estreita vinculação entre a arte e a política, que marcou um florescimento cultural que se estenderia até o final de 1968, com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5). (RIDENTI, 2007, p. 138)

A classe dos artistas, escritores, cineastas, jornalistas, estudantes, músicos e

intelectuais, utilizaram os recursos que lhes eram possíveis para se fazer ouvir. Buscou-se

na cultura um recurso de propagação de um espírito verdadeiramente brasileiro.

A cultura serviu de ponte para a politização da juventude da época e como elo entre

os setores que pretendiam lutar contra o militarismo. Em contra partida, o governo militar

conseguiu impor sua força e autoridade, via AI-5, implantando a censura e a violência para

reprimir os que se posicionavam contrários à política autoritária. Tudo era manipulado para

sufocar as ações de resistência da esquerda, que mesmo sofrendo perseguições do DOI-

CODI (Destacamento de Operações e Informações e ao Centro de Operações de Defesa

Interna) não deixaram de expressar sua indignação com a liberdade tolhida ocasionada pelo

Golpe de 64.

O uso das torturas e das prisões sem formação de culpa, processo judicial ou direito

de defesa, também corroboraram para a forte presença autoritária na vida dos brasileiros.

Durante os anos do AI-5, nenhuma manifestação contrária ao governo foi tolerada. Era

época oficial do slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Nessa fase do regime civil-militar encontrou-se também uma maior influência do

capital estrangeiro no país. Procurando seguir o modelo de desenvolvimento estadunidense,

é que os meios midiáticos sofreram a interferência mais direta dos Estados Unidos que

saudaram os militares por conseguirem estabelecer a ordem, sem precisar de sua

intervenção direta. Essa invasão de imagens e de capital para o investimento tecnológico

estava ligada à necessidade que o governo tinha em difundir uma imagem de um país

ordeiro e promissor. Havia, contudo, a certeza de um resultado satisfatório se todo fluxo

iconográfico passasse pelo crivo da censura. A AERP (Assessoria Especial de Relações

Públicas), criada durante o governo do general Costa Silva, atuou fortemente, em sintonia

com os interesses do governo, durante o período em que Emílio Garrastazu Médici esteve na

presidência. Martins nos esclarece que:

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[...] a criação da AERP decorre principalmente da necessidade sentida pela cúpula castrense de estabelecer um canal de comunicação entre governo e sociedade civil. Essa “necessidade fundamentava-se na péssima imagem que a sociedade civil guardava do regime, constatadas pela pesquisa de opinião pública encomendada pelo governo desde o início da ditadura. (MARTINS, 1999, p. 81)

Nesse período – alvo das pesquisas relacionadas ao militarismo brasileiro, expostas

nesse artigo – a AERP posicionou-se estrategicamente como ponte entre órgãos de relações

públicas e setores de administração do governo com intuito de enaltecer, por meio de

imagens televisivas e publicitárias, os grandes feitos do governo que vislumbrava o Brasil

como um país do futuro, representados pelo “milagre econômico”.

O nacionalismo ufanista evidenciou-se pela conquista da copa de 1970, pela

colaboração grandiosa de emissoras de televisão como a Rede Globo, e pelo envolvimento

de revistas como a Manchete, Veja que se valeram da propaganda associada a elementos

da natureza e a recortes históricos do passado e a símbolos nacionais.

Para exemplificar melhor o envolvimento desses meios midiático buscamos apoio

nos estudos de Cerri (2000, p.114) que preocupado com a necessidade de compreender a

formação da consciência histórica frente aos meios de comunicação de massa e de

colaborar para que o professor não se surpreenda com as informações que os estudantes

possuem a priori, debruçou-se “sobre a propaganda em revistas do e a favor do regime

militar entre os anos de 1969 a 1973, buscando, em especial, o tema da nação e da

identidade nacional ensinadas”.

Os recursos imagéticos seguidos ou não de textos escritos presentes nas charges e

caricaturas da imprensa alternativa, anúncios publicitários de peças teatrais e

cinematográficas do período e as músicas de protesto, também foram alvos investigativos de

nossos estudos por serem capazes de nos fornecerem informações que contribuíram para

uma melhor percepção da cultura em tempos de repressão.

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Sobre a Aplicabilidade:

O projeto elaborado e desenvolvido com os alunos da 3ª série do Ensino Médio, do

Colégio Estadual Olavo Bilac- EFMNP, no município de Cambé, buscou aprofundar as

análises realizadas nas aulas de História tornando-as momentos mais atrativos e instigantes,

ao privilegiar os trabalhos desenvolvidos com base na leitura de imagens, motivados pela

compreensão de que estas nos chegam pelos mais variados meios midiáticos, não sendo

possível ignorá-las.

Antes de tratarmos do processo de desenvolvimento pedagógico dos temas

propostos, entendemos como necessário um apontamento direcionado ao material escolhido

como forma de intervenção junto aos educandos, no caso, um Caderno Pedagógico.

Tal material foi elaborado tendo por base o apoio teórico de Maria Auxiliadora

Schimidt, por ela referir-se às imagens como “artefatos culturais”, e por privilegiar seu uso

como “técnica de ensino”, “linguagem específica” e “documento histórico”; Circe Maria

Fernandes Bittencourt, que aponta positivamente para a representação iconográfica da

música em parceria com os educandos; Martine Joly, que atribui à imagem a importância de

recurso didático, ao ser lida a partir de um conhecimento prévio do contexto em que foi

inserida, para que ela possa ser um “instrumento de conhecimento”, e as Diretrizes

Curriculares do Estado do Paraná, por priorizarem as relações culturais como conteúdos

estruturantes e como ponto de partida para o conhecimento sobre autores diferentes e

recursos pedagógicos diversificados, entre eles, a imagem.

O desenvolvimento do projeto foi previsto para um período de cinco meses

envolvendo o segundo semestre do ano de 2010 e, por isso, o direcionamos para educandos

com os quais trabalhamos anteriormente. Mas é importante ressaltar que ao desenvolvê-lo

descobrimos um leque de possibilidades que poderiam ampliá-lo. Dessa forma, a seguir

apresentamos não somente a produção dos educandos e de algumas temáticas e atividades

trabalhadas no decorrer do projeto, mas também considerações relevantes que têm o intuito

de elucidar o desenvolvimento do trabalho e suas contribuições.

Outro fator importante a pontuar, é que apresentar a priori o material aos educandos

com as sugestões bibliográficas que poderiam ser utilizadas para as atividades propostas na

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Unidade III, do Caderno Pedagógico, os motivou a pensar sobre a forma com que

desenvolveriam seus trabalhos e nos ofereceu tempo e oportunidade de trocarmos ideias e

de discutirmos sobre as referências e a produção do material a ser construído por eles e que

se tornariam de conhecimento de todos, nas datas previamente agendadas.

Como primeira atividade, fizemos uma investigação acerca do que os estudantes

sabiam a respeito do contexto histórico e do recurso didático que utilizaríamos para

desenvolver as atividades propostas no material produzido.

Depois de averiguarmos as informações, percebemos que os educandos entendiam

a imagem como algo presente no cotidiano e que se interessavam em tê-las como ponto de

partida para os estudos e, ainda, que tinham um conhecimento relevante sobre os assuntos

a trabalhar. Porém, não demonstraram facilidade em compreender a cultura como um

conteúdo estruturante capaz de viabilizar maior entendimento sobre os períodos autoritários

no Brasil República, por ainda encontrarem dificuldades em conceituá-la. Isso nos levou a

trabalhar o início a Unidade II do Caderno Pedagógico, que aborda a cultura sob o prisma de

diversas áreas do saber.

Na sequência, estudamos a imagem como recurso didático, destacando a

importância de realizar uma leitura sob a ótica da Iconografia e da Iconologia. Para tal, o

texto de Erwin Panofsky, apresentado por Peter Burke, no livro “Testemunha Ocular”,

contemplado no material, proporcionou aos educandos realizar a leitura das imagens

propostas na primeira unidade com um pouco mais de profundidade analítica.

Os resultados satisfatórios dessa unidade podem ser resumidos na forma em que os

educandos, com o auxílio questionador do docente, conseguiram perceber o “significado

natural” – identificação dos objetos – o “significado convencional” – que implica em

reconhecer o ícone dentro de um contexto histórico – e o “significado intrínseco” – analisar o

que não está explicito claramente na imagem, como apresentado no exemplo a seguir:

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(http://www.wikipedia.org +/- 1938 ) ( arquivo C.S foto 003,1966 ) ( Jornal Zero Horas, 2010)

Uma ressalva: Para o reconhecimento da imagem de Vargas uma grande parte dos

alunos recorreu à legenda datada de 1938, o que nos remete ao período do Estado Novo. O

mesmo aconteceu à de Costa e Silva, que contava ainda com as iniciais de seu nome como

indicação de arquivo. Isso comprovou que, em alguns casos, a imagem associada à

linguagem escrita pode proporcionar maior entendimento.

Depois de terem reconhecido os presidentes, os educandos foram unânimes ao

definir as imagens como propaganda ideológica voltada a campanhas políticas e que os

personagens possuíam características semelhantes como os cabelos grisalhos, simbologia

de experiência e de sabedoria, e que apesar de serem de épocas diferentes, apóiam-se na

figura da criança como indicador de que pensam e trabalham olhando para o futuro. Um dos

alunos nos chamou a atenção para esse ponto enfatizando que essa ideia, ao longo do

tempo, ficou cada vez mais explicita: “Ao tempo em que Getúlio está em pé, ao lado da

criança apenas fazendo um gesto carinhoso, enquanto Costa e Silva abaixa-se ao encontro

de outra, Luís Inácio as coloca no colo e as abraça sinalizando uma preocupação e maior

intimidade com o povo brasileiro e indicando de forma sutil, que o partido dele, representado

pelo lenço que envolve os cabelos de uma das meninas sinaliza para um futuro promissor”.

A terceira etapa compreendeu os trabalhos voltados para os contextos históricos,

enfocando tanto a cultura como as políticas culturais dos regimes autoritários. A oferta de

textos e atividades proporcionou aos educandos perceberem a cultura como fator

fundamental de um povo e quanto um governo, e até uma sociedade, podem fazer dela um

recurso, um aliado a seus interesses.

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Porém, foi preciso um tempo maior do que previsto para essa unidade, pois

sentimos a necessidade de retomar alguns aspectos referentes ao Estado Novo, como por

exemplo, a atuação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) frente às

manifestações culturais e a forma como esse órgão ocupou-se da tarefa de criar uma

imagem positiva de Getulio. A leitura da obra de Maria Celina D’Araujo contribuiu para

esclarecer a força e a importância da censura para um governo ditatorial. Segundo a autora:

“O DIP, que se encarregou de divulgar uma imagem popular mística de Getúlio. Centenas de

obras apologéticas sobre Vargas e sua vida eram distribuídas nas escolas para doutrinar as

crianças e jovens.” (1997, p.29)

Um dos aspectos contemplados no Caderno Pedagógico diz respeito às formas de

utilização da radiofonia a favor do governo de maneira que a ideologia governamental se

fizesse presente na cultura popular, apostando na música, mais precisamente no Samba. Se

a música erudita acariciava os ouvidos da elite, o samba, que já era preferência nacional

desde a década de 1930, ganhou nova cara e assumiu o papel de transmitir a ideologia do

regime vigente ora enaltecendo o regime, ora transformando o malandro brasileiro, em

trabalhador ordeiro e compromissado.

Nesse sentido, as contribuições de Claudia Matos, em seu livro “Acertei no Milhar:

Malandragem e samba no tempo de Getúlio” (1982), foi de extrema importância à medida

que despertou nos educandos a vontade em se apropriarem do material e tomarem

conhecimento de letras e melodias da época, comparando-as espontaneamente com as da

atualidade. A bibliografia escolhida como suporte para o trabalho com esse recurso

midiático, possibilitou-nos apresentar a letra do samba “Salve o 19 de Abril” e desenvolver

um trabalho de interpretação capaz de oportunizar o reconhecimento dessa música como

obra apologética à imagem de Getúlio, tornando-se uma espécie de hino comemorativo ao

aniversário do então presidente do país. Como exemplo, segue a letra desse samba

considerada uma forma escancarada de apologia ao governo varguista.

“Se veio ao mundo / Foi deus quem quis / O timoneiro que está com o leme do meu

país / E para que siga rumo certo meu Brasil / Que Deus lhe dê muitos 19 de abril”.

(Intérprete: Dalva de Oliveira. Autoria: Benedito Lacerda E Darci de Oliveira. 1945)

Outra forma de doutrinação praticada durante o regime estadonovista de Vargas e

trabalhada durante o processo de desenvolvimento do projeto foram os desfiles cívicos. Um

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exemplo de imagem utilizada na atividade pode ser visualizado a seguir:

Estudantes no dia da Bandeira 1935/1945 – CPDOC/ GV ( foto116/38)

A imagem acima foi apresentada com o objetivo de proporcionar ao educando a

possibilidade, em um primeiro momento, de realizar uma leitura iconográfica seguida de uma

pesquisa comparativa entre a ditadura varguista e outros regimes totalitários que vigoravam

no mundo. O resultado foi relevante à medida que grande parte dos educandos atribuiu a ela

respostas como: “a postura de ordem e a imagem da bandeira fazem lembrar os regimes

totalitários que usavam esse símbolo para despertar o espírito de nacionalismo nos jovens

da época”. Outra resposta: “A imagem nos faz lembrar a juventude hitlerista descrita na obra:

A Menina que Roubava Livros. O amor ao símbolo nacional e a utilização dos jovens como

divulgadores de um governo forte e nacionalista também estão presentes na imagem e eram

comuns tanto no Estado Novo, como no Nazismo”. Essa última resposta nos chamou a

atenção ao passo que o educando incluiu como fator comparativo um elemento a mais: um

romance da literatura estrangeira.

Porém, à medida que apresentamos atividades que envolviam a relação de imagens

a pequenos textos acadêmicos de autores como, Maria Rolim Capelato (2009) e Peter Burke

(2004), segundo as considerações dos próprios educandos, o grau de dificuldade aumentou

o que nos fez acreditar que o trabalho com esse tipo de leitura é importante para esses que

em breve estarão iniciando sua vida universitária.

Em relação ao regime civil-militar o contato com algumas imagens e textos extraídos

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das revistas Manchete, dos anos de 1970, encontradas no Centro de Documentação e

Pesquisa Histórica (CDPH), da Universidade Estadual de Londrina, enriqueceu o trabalho e

despertou interesse em aprofundá-lo. Ao apresentarmos as informações de que essa revista

publicou uma edição exclusiva em inglês enaltecendo regiões brasileiras com suas riquezas

e seus avanços, favoreceu aos educandos perceberem a acentuada ligação existente entre o

Brasil e os Estados Unidos e o quanto essa publicação representava a política de

aproximação entre os dois países. Foi possível trabalhar também a questão da necessidade

que o governo tinha em “garantir a unidade e a integração nacional” (CERRI, 2000), pois

nesse período era comum encontrar página inteira de imagens da transamazônica ou de

slogans como “O Brasil começa no mar” para mostrar a grandeza de um país do qual

fazemos parte, quão grande é a riqueza que nos cerca (petróleo) e como são vastas as

possibilidades de crescimento e ocupação do território brasileiro. (Amazônia)

Por meio da análise de outras edições foi possível também detectar a presença de

empresas que apelavam ao ufanismo patriótico para envolver o leitor, vender seu produto e

ainda demonstrar a parceria entre o grupo empresarial e os militares que estavam no poder.

A imagem abaixo e o fragmento do texto extraído da peça publicitária,

proporcionaram aos educandos a oportunidade de esclarecerem algumas dúvidas

relacionadas aos termos ufanismo e nação, utilizados pelo governo civil-militar brasileiro.

“Muito antes dos decalques patrióticos de hoje, já havia um entendimento bem verde e

amarelo neste Brasil” / “E vê também que uma indústria com essa saúde de aço merece hastear na

frente de suas fábricas, o auriverde pendão da esperança.” (Revista Manchete, 1972).

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As considerações e apontamentos que Luis Fernando Cerri (2004) faz sobre as

revistas Veja e Visão puderam ser aplicadas à revista Manchete e assim nos auxiliou para

desenvolvermos uma análise mais profunda a medida que informa que a maioria das

propagandas desse período eram financiadas pela iniciativa privada, interessada em manter

um país ordeiro e promissor, salvo as destinadas as datas comemorativas oficiais como a

independência do Brasil, entre outras.

Sobre peças publicitárias vemos como importante e positivo o destaque que o

material didático deu ao artista plástico, Elifas Andreato, que se utilizou da arte para

denunciar os abusos do autoritarismo do período militar. Os educandos mostraram interesse

em saber que o autor que produziu a propaganda que divulgava a peça “Mortos sem

Sepultura”, imagem presente em vários livros didáticos, nasceu em Rolândia (cidade vizinha

a nossa), possibilitando a eles a percepção de que o autoritarismo não era algo distante, que

atingia somente os grandes centros e capitais do Brasil. Com a análise da imagem foi

possível analisar os subterfúgios usados pelos artistas para denunciarem os abusos e

violências praticados nesse período, por exemplo, a suástica e o pau-de-arara em uma

mesma imagem.

Ainda destacando os trabalhos desenvolvidos na Unidade II, merecem destaque as

charges e caricaturas, que despertaram um grande, senão, um maior interesse nos

educandos.

Nomes como Henfil, Ziraldo, Fortuna, Millor Fernandes e Sergio Porto ganharam

destaque nos texto que apontaram a imprensa alternativa e a linguagem metafórica das

charges como objeto de pesquisa.

Diante das atividades e, consequentemente, dos resultados obtidos, percebermos

como o contato com esse recurso pôde nos proporcionar momentos de interação e

participação coletiva. Lembramos aqui que a maioria das atividades foi desenvolvida em

equipes determinadas pelos próprios educandos, pois considerarmos mais produtivo e viável

que os envolvidos no processo pudessem trabalhar de acordo com suas afinidades e que a

discussão entre eles enriqueceria os trabalhos.

A partir de então o processo comparativo entre Estado Novo Varguista e o período

que compreende a Vigência do AI-5, começou a ganhar corpo, evidenciando-se com a

apresentação da Unidade III que propunha, entre outros, a identificação dos aspectos

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semelhantes e diferentes entre os dois momentos em que o Brasil foi governado por regimes

autoritários.

Muitos dos trabalhos tiveram como princípio argumentativo as referências ofertadas

no Caderno Pedagógico, não descartando, é claro, o auxílio da internet visto que atualmente,

muitos educandos recorrem a ela em suas pesquisas.

Os posicionamentos mais discutidos foram os que apontaram para o diferencial do

uso da imagem de Getulio Vargas, durante o Estado Novo como indicativo para a criação

das propagandas divulgadas pelo DIP, em relação aos da Assessoria Especial de Relações

Públicas (AERP) que se preocupava em construir e divulgar a imagem de Brasil e de Nação

- símbolos nacionais e slogans - como recurso favorável ao governo ( incluída a imagem de

Médici, presente em alguns livros e sites, segurando a taça do tricampeonato mundial,

transmitindo a ideia de que a conquista do título foi fruto de seu governo).

Outra temática abordada foi o fato de que no Estado Novo, não apenas importamos

a cultura estadunidense como exportamos a cultura brasileira representada pela atriz e

cantora Carmem Miranda, que brilhou nos palcos e nas telas de Hollywood.

Apesar de existir no período varguista charges e caricaturas que envolviam a figura

do presidente, que estrategicamente utilizadas pelo governo, tornavam Getúlio ainda mais

presente na vida do brasileiro e músicas que insistiram por um tempo em preservar a figura

do malandro, a imprensa alternativa, com seu humor político e as músicas de protesto, foram

apontadas pelos educandos como uma característica peculiar ao regime civil-militar

brasileiro.

Em relação às semelhanças apontadas a esses governos autoritários, alguns

argumentos defendidos pelos estudantes elucidam a temática: “Os dois governos

preocuparam–se em passar a ideia de progresso e de desenvolvimento econômico. Suas

propagandas e músicas apontavam para isso. O de Vargas procurou enaltecer o trabalhador

dando a ele uma característica de homem forte e comprometido com o país. Chegou até

regenerar o conhecido malandro brasileiro, encomendando uma nova versão da letra do

Bonde de São Januário. O regime militar se focou em uma propaganda que ressaltava as

qualidades do povo e do país reforçando a ideia de crescimento econômico (milagre

brasileiro)”.

Um posicionamento semelhante, mas com um referencial bibliográfico mencionado

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no material proposto merece destaque pelo fato de apresentar a ideia de Capelato (2009)

que julga “apelativo” e “sentimentalista” o conteúdo das propagandas políticas de Vargas

para ilustrar a mesma característica das peças produzidas pela AERP. “Percebemos ao

realizar nosso trabalho que há semelhanças entre os dois governos à medida que o primeiro,

mesmo utilizando a imagem do presidente até nos cartões postais, não deixava de

apresentar um texto que mexia com as emoções do leitor, com teor poético e patriótico,

como o exemplo apresentado nas imagens do caderno pedagógico (p, 20). O segundo

governo também fazia esse apelo por meio dos slogans do tipo: Ninguém segura esse país,

ou com propagandas que pediam a colaboração dos brasileiros em responder o censo de

1970 por meio do questionamento: Quantos elos têm aquela corrente pra frente? (referência

ao hino da copa do mundo desse mesmo ano)”.

Outra tarefa proposta aos educandos, presente na Unidade III, foi a de criar ou

adequar uma charge, uma propaganda ideológica, ou um clip musical parodiado, referente a

um dos períodos históricos em questão.

Com essa atividade pudemos entender, mais uma vez o quanto a educação deve

estar comprometida com o saber do educando e explorar ao máximo as potencialidades que

esses possuem dando-lhes oportunidades de expressarem pensamentos fundamentados em

pesquisas, seja percorrendo o campo acadêmico ou navegando pela internet, caminhos

estes que não são incompatíveis.

Como indicativos das possibilidades de sucesso de uma atividade direcionada e na

tentativa de ratificar o interesse que os estudantes demonstraram em relação ao humor

político, achamos adequado apresentar uma imagem produzida por um grupo de estudantes

bem como as considerações que fizeram sobre ela:

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“Essa charge pretende mostrar um pouco do período em que Médici esteve no

comando da política brasileira. Ao centro, retratamos esse general em que os braços

representam a falta de liberdade que foi mantida no Brasil durante o AI-5 (não vejo, não falo,

não ouço). Decidimos escrever o slogan desse período de forma diferente como uma espécie

de alusão a linguagem figurada que às vezes era utilizada no humor político como forma de

escapar da censura. Se repararem bem, as letras em destaque remetem uma leitura

parecida com: By Medici. Pensamos nisso para demonstrar o poder que o governo exercia

sobre a população e que associada aos ícones do milagre econômico ($) e da taça da copa

de 1970 dão a impressão de que essas conquistas foram frutos de seu governo. Porém,

também pretende mostrar a aproximação do Brasil com os Estados Unidos. Os outros ícones

simbolizam a esperança de um futuro diferente e a insatisfação de uma boa parcela da

população representada por um trabalhador (o cozinheiro) por um político de oposição (o

homem de terno) e por um jovem e ou artista (o negro), em relação ao autoritarismo militar.

Para finalizar os nossos trabalhos promovemos uma gincana imagética que propôs a

visualização de imagens via TV pendrive e que possibilitou uma aproximação dos temas

propostos à atualidade. Como forma de atingir um resultado ainda mais satisfatório e como

maneira de envolvimento interpessoal e cognitivo apontamos como sugestão um tempo

maior para a aplicabilidade dessa dinâmica, pois o interesse dos educandos nessa faixa

etária é bastante aguçado no quesito competitividade.

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A apresentação das imagens seguidas de desafios a serem solucionados remeteu as

equipes às pesquisas em livros e no Caderno Pedagógico destacando que cada educando

possuía um exemplar entregue logo no início de nossos trabalhos.

A parceria estabelecida entre a Universidade, a Escola, a equipe diretiva, a equipe

pedagógica e o corpo docente, bem como o interesse e incentivo dos pais e dos educandos

nos possibilitou enfrentar com determinação e persistência os desafios que a aplicabilidade

desse projeto encontrou. É importante destacar também que a atuação de outros

profissionais da educação, que participaram do Grupo de Estudos em Rede (GTR) com suas

contribuições e experiências vividas nas mais diversas escolas do Estado do Paraná, muito

colaborou para a elaboração e desenvolvimento desse projeto. Foi por meio de percalços e

sucessos que pudemos perceber que adequações, mudanças e permanências podem ser

realizadas em relação ao material e ao tema de estudo descrito nesse artigo, visto que a

proposta central do Programa de Desenvolvimento Educacional do qual fizemos parte, tem

em suas prioridades possibilitar aos educadores o aprimoramento de metodologias que

possam ser aplicadas nas diversas áreas do saber.

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RIDENTI, Marcelo. Cultura e Política: os anos 1960-1970 e sua herança. org. Jorge Ferreira e Lucila de Almeida Neves Delgado. O Brasil Republicano: O tempo da vditadura – regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. 2º edição, Rio de Janeiro: civilização Brasileira, 2007.

SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. Lendo Imagens Criticamente: uma alternativa metodológica para a formação do professor de História. In Revista História e Ensino.