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A REFLEXÃO-OBSERVACÃO DA PRÁTICA DOCENTE: o brincar
REFLECTION-OBSERVATION OF TEACHING PRACTICE: the play
GESSANA VITOR MAGALHÃES DA SILVEIRA 1JOSÉ REIS JUNIOR
2 LIZANDRO POLETTO
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RICARDO DE ANDRADE KRATZ4MARIA DO ROSARIO RIBEIRO
5 ROSANGELA APARECIDA
CARDOSO6
RESUMO: O objetivo da educação é socializar e integrar as gerações. Com esse propósito, este artigo tem a finalidade de analisar a educação escolar como um processo de construção do conhecimento, com o intuito de integrar socialmente nossa geração. Neste trabalho houve busca incessante da reflexão sobre a importância da prática docente, que oferece ao professor condições de experimentar, no próprio processo de ensino-aprendizagem, o desenvolvimento de competências e habilidades importantes na atuação de agente transformador mediador e na construção do conhecimento. Apresenta também a contribuição do ‘brincar’ no processo de desenvolvimento e formação de conceitos e valores da criança. Para isto, foram abordados teóricos importantes que fundamentam o trabalho pedagógico, a importância da formação do educador e como as tendências pedagógicas aqui também abordadas têm influência na prática docente. Mostra ainda a importância do Projeto Político Pedagógico como instrumento norteador da prática, retratando desafios e valores da prática docente e dos métodos avaliativos escolares. Palavras-chaves: Alunos. Aprendizagem. Brincar. Competências. Docente. ABSTRACT: The goal of education is to socialize and integrate generations. For this purpose, this article aims to analyze education as a process of knowledge construction, in order to socially integrate our generation. In this study, there was relentless pursuit of reflection on the importance of teaching practice that offers the teacher able to experience the very process of teaching learning skills development and skills important in mediating transforming agent of activity and the construction of knowledge. It also shows the contribution of the 'PLAY' in the development process and concept formation and child values. To this we were approached theoretical important underlying pedagogical work, the importance of teacher education, and how has influence in our teaching practice teaching trends here also addressed. It also shows the importance of the Pedagogic Political Project as the guiding instrument practice, portraying challenges and values of teaching practice and school evaluation methods.
1Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia, Faculdade Alfredo Nasser.
2Professor da Fac UNICAMPS e Oficial da PMGO e Mestre em Ciências da Saúde pela UnB
3Professor Me. Lizandro Poletto, orientador. [email protected].
4Professor da Fac UNICAMPS e Mestre em Ciências da Computação
5 Professora da Fac UNICAMPS e Mestre em Matemática
6Professora da Fac UNICAMPS e Doutora em Linguística
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Keywords: Students. Learning. Play. Skills. Teacher.
1 INTRODUÇÃO
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi realizado para atender às
exigências da Faculdade Alfredo Nasser, em que houve reflexão e produção sobre
os conhecimentos adquiridos durante o curso de Pedagogia. O objetivo é transmitir
na prática os estudos recebidos durante 4 anos, fazendo com que a sala de aula
seja o espaço perfeito para que ocorram as mudanças tão necessárias à sociedade
atual.
Vive-se em uma sociedade onde os avanços tecnológicos e o mercado de
trabalho, cada vez mais exigente, fazem com que uma mudança radical seja
necessária na educação. Para tanto, uma formação acadêmica, com aprimoramento
e aquisição de novos paradigmas, se faz imprescindível.
Este estudo tem também como finalidade os elementos teóricos que norteiam
a educação e sua aplicação às situações práticas vividas diariamente pelos
professores. Este artigo, em forma de Trabalho de Conclusão de Curso, foi dividido
em dois momentos: teoria e observação.
Os momentos teóricos foram divididos em três tópicos, sendo que o primeiro,
intitulado ‘Fundamentos da prática docente no enfoque das tendências pedagó’icas',
foi embassado nos seguintes autores: Zabala (1998) e Rabelo (2000). Estes fazem
referências aos pressupostos teóricos, trazidos hoje como subsídios
importantíssimos para o exercício da profissão.
O segundo tópico, com título ‘Organizaçâo do trabalho pedagogico e prática
educativa compartilhada, conforme as ideias de Veiga (1991), Veiga (1994), Libâneo
(2003), enfatiza a escola dentro dos parâmetros do Projeto Político Pedagógico, sua
construção e vigência, o trabalho em equipe, as exigências socioculturais e legais
para a efetivação de uma prática educativa e participativa; e, o Projeto Político
Pedagógico como prática enriquecedora das ações educativas e comunitárias.
Através de pesquisa de campo foram obtidos subsídios para desenvolver o referido
tópico.
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Finalmente, o terceiro tópico, intitulado ‘Reflexão-ação da prática docente: o
brincar’, de acordo com os autores Oliveira (2000), Perrenoud (2000), Piaget (1971),
Munhoz (2000), Kishimoto (1999) e Paiva (2003), tem como foco principal a
necessidade do professor ser um profissional reflexivo, voltado para a melhoria e o
enriquecimento do processo ensino-aprendizagem.
2 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA DOCENTE NO ENFOQUE DAS TENDÊNCIAS
PEDAGÓGICAS
A história da educação é parte da história da cultura, tal como está, e por sua
vez é parte da história geral. Não é fácil definir a história, da qual têm sido dadas
muitíssimas interpretações. A história é o estudo da realidade humana ao longo do
tempo e não apenas do passado, pois o presente também lhe pertence como parte
no desenvolvimento da vida humana. Por outro lado, a história da cultura se refere
antes aos produtos da mente do homem, tais como se manifestam na arte, na
técnica, na ciência, na moral ou na religião. A educação é uma dessas
manifestações culturais. Portanto, para se ter uma ideia precisa do que são história
da educação e história da pedagogia, é preciso relembrar o significado próprio de
cada uma. Pode-se dizer que educação é a influência recebida pelo ser juvenil com
o propósito de sua formação e desenvolvimento. A pedagogia é a ciência da
educação. Educação sem pedagogia, sem reflexão metódica, seria atividade
mecânica, mera rotina.
Segundo Libâneo (2003), a história da didática está ligada ao aparecimento
do ensino como atividade planejada e intencional dedicada à instrução. Desde os
primeiros tempos, existem indícios de formas de instrução e aprendizagem que
constituem uma forma de ação pedagógica, mas não o “didático como forma
estruturada de ensino”.
A didática contribui na formação dos professores, sistematizando no seu
conteúdo a contribuição de acontecimentos de outras disciplinas, que convergem
para o esclarecimento dos fatores do processo de instrução e ensino, provendo os
conhecimentos específicos necessários para o exercício das tarefas docentes. E,
dentro da didática, é possível perceber no processo ensino-aprendizagem a prática
do lúdico, isso porque as brincadeiras são necessárias e deverão ser uma constante
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no trabalho do professor, seja como recreação ou como incentivo na prática docente
para o bom desenvolvimento do aluno.
Miranda (2001, p. 39) pontua: “Encontra-se em Anchieta um forte exemplo do
uso lúdico e do criativo, objetivando superar a escassez de recursos materiais para o
exercício da pedagogia e conquistar os ‘gentios’ à catequese e à aprendizagem”.
Demo (apud RABELO, 2000, p. 26) afirma que não é possível gestar
cidadania competente, sem manejo adequado de conhecimento, o que leva de
imediato a valorizar didáticas reconstrutivas, que privilegiam o saber pensar e o
aprender.
O objetivo maior da educação deve ser o bom desempenho do aluno que
precisa aprender a reconstruir conhecimentos em seu sentido formal e tornar-se
cidadão crítico, participativo e responsável politicamente.
Segundo Zabala (1998), as atividades que podem garantir um melhor
conhecimento do que cada aluno compreende implicam a observação do uso de
cada um dos conceitos em diversas situações e nos casos que o aluno os utiliza em
suas explicações espontâneas.
Segundo Libâneo (2003), contéudos escolares, sua relação e direcionamento,
dependem de uma tessitura teórico-metodológica, articulada com uma concepção
filosófica de mundo e de educação. Procedimentos de ensino são meios técnicos
utilizados para cumprir uma proposta educacional, são articulados e dependem de
uma perspectiva teórico-filosófica. Deve-se estar atento e avaliar a atividade,
tomando novas e subsequentes decisões. Se um procedimento não está sendo útil,
não vale a pena insistir nele.
Ao praticar essa constante reflexão e avaliação dos procedimentos de ensino,
o professor está cumprindo mais uma etapa para alcançar o seu objetivo maior
enquanto profissional: ser cada vez mais competente em seu ofício.
De acordo com Zabala (1998), essa qualidade é alcançada mediante o
conhecimento e a experiência. Sendo assim, o sucesso da atividade profissional
passa pela análise do que se faz da prática e do contraste com outras práticas.
Necessita-se de critérios que permitam realizar uma avaliação racional e
fundamentada da prática.
Na educação, infelizmente, existem formas de atuação e intervenção,
relações professor-aluno, materiais curriculares, instrumento de avaliação, etc, que
não são apropriados para o que pretendem. São necessários meios teóricos que
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contribuam para que a análise da prática seja realmente reflexiva. Referenciais
teóricos, entendimento como instrumentos conceituais que permitam fundamentar a
prática, dando pistas acerca dos critérios de análise e da seleção das possíveis
alternativas de mudanças. Para isto, deve-se entender as variáveis que configuram
a prática educativa.
Os estudos da prática educativa, a partir de posições analíticas, preveem que
a decisão de adotar uma estratégia de mudança precede o desenvolvimento da
compreensão. A ação inicia a reflexão.
Zabala (1998) defende uma atuação profissional baseada no pensamento
prático, mas com capacidade reflexiva. A maneira de configurar as sequências de
atividades do profissional é um dos traços mais claros, que determina as
características diferenciais da prática educativa, pois essas sequências são um
conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de
certos objetivos educacionais, que tem um princípio e um fim conhecidos tanto pelos
professores como pelos alunos.
Sistematizar os componentes da complexa prática educativa comporta um
trabalho de esquematização das diferentes variáveis que nada intervém, de forma
que com esta intenção analítica e, portanto, de alguma maneira compartimentadora,
podem se perder relações cruciais, traindo o sentido integral que qualquer
intervenção pedagógica tem.
Joice e Weil (apud ZABALA, 1998) utilizam quatro dimensões para identificar
as variáveis que configuram a prática: a síntese, que se apresenta como conjunto de
atividades sequenciais; o sistema social, em que os papéis dos professores e
alunos, as relações e os tipos de normas são descritos; os princípios de reação, que
definem regras para selecionar as respostas ao que lhe é proposto; e, os sistemas
de apoio, que preveem condições necessárias, tanto físicas como pessoais, para
que seja possível a intervenção.
Tann (apud ZABALA, 1998), ao discorrer sobre o modelo de trabalho dos
professores por tópicos, identifica as seguintes dimensões: o controle, com grau e
participação dos alunos na definição do trabalho a ser realizado; o conteúdo, como
amplitude e profundidade do tema desenvolvido; o contexto, que é a forma como se
organiza os alunos em aula; o objetivo/categoria, ao sentido que se atribui ao
trabalho e à temporalização que lhe é dada; o processo, que é o grau em que o
estilo de ensino-aprendizagem está orientado desde um ponto de vista disciplinar ou
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de descobrimento, e a natureza e variedade dos recursos empregados; e, os
registros, que se referem ao tipo de materiais para a informação do trabalho
desenvolvido e as aprendizagens realizadas pelos alunos.
Professores justificam a impossibilidade de mudar sua prática pedagógica ou
as variáveis metodológicas que utilizam por falta de conhecimentos teóricos, ficando
presos a conceitos ultrapassados. A contextualização dos conhecimentos e
habilidades constituídas (professor-aluno) na escola, numa perspectiva reflexiva, e a
interdisciplinaridade, que vem sendo tema de constantes discussões, são vistas
como palavra de ordem das propostas educacionais, não só no Brasil, mas no
mundo todo. Os educadores sentem-se perplexos com sua implementação por
estarem inseguros na forma como trabalham essa interdisciplinaridade. Vários
estudiosos têm procurado definir a interdisciplinaridade, porém, muitas vezes, na
busca dessa definição, perdem-se na diferenciação de aspectos como multi, pluri e
transdisciplinaridade, e não conseguem assim chegar a uma definição clara e
objetiva.
Segundo Fazenda, citada por Miranda (1993, p. 119), “só se tem consciência
de ser interdisciplinar quando se reconhece a interdisciplinaridade nas ações e
quando se conhece o que pode ser identificado”.
É necessário conhecer tais estudos para se obter subsídios teóricos para o
trabalho interdisciplinar, pois uma reflexão epistemológica possibilita avanços que
permitem a visualização de projetos concretos, de investigação que possam
corresponder ao novo paradigma emergente de conhecimento que está surgindo.
Alguns educadores têm trabalhado com um currículo que parte de uma
exploração indiscriminada de conhecimentos do senso comum, deixando de lado os
conhecimentos tradicionalmente organizados e sistematizados. Porém, se
esquecem que, planejar somente pelo senso comum, pode torná-los conservadores,
gerando prepotências maiores que o conhecimento científico. Portanto, o ideal é
partir do senso comum aliado ao conhecimento científico, o que resulta em uma
postura aberta, favorecendo um crescimento maior e real.
Para Fazenda (2008, p. 65-83), há um resgate da evolução conceitual e
prática da interdisciplinaridade na educação, ensino e formação de professores ao
alertar para a existência de uma visão simplista da interdisciplinaridade, situada
como resultado apenas da integração/relação entre disciplinas. A compreensão do
conceito de interdisciplinaridade amplia-se a partir de um novo olhar sobre as
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ciências. A atitude interdisciplinar caracteriza-se pela busca e pesquisa,
transformando a insegurança num exercício do pensar, num construir.
Em conformidade com as ideias de Fazenda (1993), o conhecimento
interdisciplinar não se restringe à sala de aula, mas ultrapassa os limites do saber
escolar e se fortalece na medida em que ganha amplitude da vida social. Assim, o
educador tem a possibilidade de rever e reorganizar o saber, promovendo a
produção de novos conhecimentos. Trabalhando de forma interdisciplinar, o
educador resgata do aluno sua visão do mundo em que está inserido e torna as
aulas, portanto, em momentos em que se pode discutir e perceber nos conteúdos
programáticos fatos ocorridos no cotidiano.
3 ORGANIZAÇÂO DO TRABALHO PEDAGOGICO E PRÁTICA EDUCATIVA
COMPARTILHADA
Segundo Veiga (1991), o Projeto Político Pedagógico (PPP) pode ser definido
como um processo de mudança e de antecipação do futuro norteado por princípios,
diretrizes e propostas de ação, melhorando e otimizando atividades desenvolvidas
pela escola, sua origem epistemologica é do latim projeto, particípio passado do
verbo projicerre, o mesmo que lançar para adiante. O Projeto Político Pedagógico
resgata valores possibilita sonhos, ajustes e reorganiza idéias, sendo assim uma
ação transformadora, que deve ser feita com participação de todos e executado
também por todos, não deve ser esquecido ou ter sua importância diminuída.
A autora (1991) afirma ainda que o Projeto Político Pedagógico em sua
dimensão política contribui para a formação do cidadão para um determinado tipo de
sociedade; em sua dimensão pedagógica possibilita essa formação do cidadão
participativo, crítico, responsável, enfim, politizado.
Para Veiga (1994), as peculiaridades, a multiculturalidade, as diferenças e
tantos outros aspectos individuais devem ser considerados quando quando o
assunto é Projeto Político Pedagógico, dessa maneira evitam e superam-se
conflitos, garantindo-se a democracia.
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Segundo Padilha (1999), o Projeto Político Pedagógico ressalta a alegria
existente no espaço educacional, a escola tem sua autonomia ainda que relativa,
reavivada ou mesmo construída. Essa autonomia exige uma reorganização que se
torna um desafio para os pais, alunos e funcionários; esse desafio para ser vencido
precisará da união, de compromisso da equipe escolar e da abertura constante por
parte de todos que compõem a escola.
Na visão de Libâneo (2003), o Projeto Político Pedagógico precisa ser
entendido como algo diferente do planejamento curricular que acontece no início do
ano, quando os dirigentes escolares e os professores discutem os problemas da
escola e compartilham os planos de ensino das disciplinas. O Projeto Político
Pedagógico como instrumento e processo de organização da escola, considera o
que já está instituído (legislação, currículos, conteúdos, métodos, formas
organizativas da escola, etc.), mas tem também uma característica de instituinte, o
que significa que ele sintetiza os interesses, os desejos, as propostas das pessoas
que trabalham na escola, o Projeto Político Pedagógico responde as perguntas:
- Que tipo de escola, nós profissionais queremos?
- Que objetivos e metas interessam aos úsuarios desta escola, desta
comunidade?
- Que necessidades precisamos atender em termos de formação dos alunos
para a autonomia, cidadania e participação?
Segundo o autor (2003), a característica de instituinte significa também que o
projeto institui, estabelece, cria objetivos, procedimentos, instrumentos, modos de
agir, estruturas, hábitos, valores. E que em vários momentos do ano letivo esse
projeto é avaliado para se tomar novas decisões, retomar o rumo, corrigir desvios.
Todo projeto é, portanto, inconcluso. Isso é assim porque as escolas são intituições
marcadas pela interação entre pessoas pela sua intencionalidade, pela interligação
com o que acontece no mundo exterior ( na comunidade, no país, no mundo), o que
leva a concluir que as escolas não são iguais.
Libâneo (2003) ressalta que a elaboração do Projeto Político Pedagógico, é a
melhor demonstração de autonomia da equipe escolar. A escola que conseguir
elaborar seu projeto pedagógico e revê-lo sistematicamente dá mostras de
maturidade, de preparo de seus professores e de participação da comunidade. O
autor afirma ainda que é conveniente que as fases de elaboração do projeto sejam
desenvolvidas a partir de um esboço prévio, formulado por uma pequena comissão
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escolhida pela equipe escolar. Isso permitirá destacar os tópicos do projeto e
distribuir responsabilidades para a coleta de dados, análise e interpretação,
estabelecimento de metas e atividades.
O autor (2003) sugere que as decisões a serem tomadas em função do
Projeto Político Pedagógico considerem, ao menos, os seguintes pontos:
1) Princípios (pontos de partida comuns) - é desejável que a equipe forme um
consenso mínimo em torno de opções sociais, políticas e pedagógicas, do papel
escola na sociedade, do papel do professor e dos alunos, dos conteúdos e métodos.
2) Objetivos (pontos de chegada comuns) - expressam intenções bem
concretas. Aqui entra a importância do diagnóstico, que é o retrato realista da
situação, dos problemas, das necessidades a atender, em termos das necessidades
pessoais e sociais dos alunos em relação à escolarização.
Seguindo-se, a tomada de decisões, escolha de prioridades, o que se atacará
em conjunto com toda a equipe, o que é de responsabilidade de cada setor da
escola, de cada professor. Dentro desses objetivos, pode-se citar:
- A luta contra as desigualdades sociais na escola em favor de um trabalho
sistemático, para que todos os alunos tenham chances de serem bem sucedidos;
- Empenhar o esforço de todos para enfrentar o desafio do fracasso escolar,
assumir o compromisso pelo sucesso escolar de cada aluno, acreditar na
capacidade de aprender da criança, considerar sua experiência sociocultural e suas
diferenças;
- Unir a luta pedagógica com as lutas sociais nos sindicatos, nos movimentos
populares, nas organizações de pais, no combate à fome e à pobreza.
- Assegurar métodos e procedimentos de ensino, que garantam a participação
ativa do aluno na construção da própria aprendizagem;
- Transformar as práticas cotidianas de organização da vida escolar, aliando a
gestão participativa com a unidade e eficácia das ações.
3) Sistema e prática de gestão negociada - é preciso que a direção e os
professores entrem em acordo sobre as práticas de gestão. Por exemplo: define-se
que as decisões são tomadas coletivamente. Entretanto, uma vez tomadas as
decisões, cada membro assume sua parte no trabalho, admitindo o exercício da
direção para coordenar, acompanhar e avaliar o trabalho de cada um.
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4) Unidade teórico-metodológica no trabalho pedagógico-didático - começa
pela definição de objetivos comuns e é assegurada por um trabalho de coordenação
pedagógica.
5) Sistema explícito e transparente de acompanhamento e avaliação do
projeto e das atividades da escola.
6) O acompanhamento e a avaliação põem em evidência as dificuldades
sugeridas na implantação e execução dos planos, confrontando o que foi decidido e
o que está sendo feito. A avaliação depende de informações concretas e objetivas, o
que supõe o acompanhamento. A avaliação da organização e gestão escolar pode
ser quantitativa (matrículas/evasão, rendimento escolar dos alunos, cumprimento de
prazos, presença dos pais na escola, etc) e qualitativa (grau de atendimento das
necessidades e expectativas, nível de satisfação dos alunos e das famílias,
evidências de comportamento dos alunos, etc).
Portanto, o Projeto Político Pedagógico expressa as decisões da escola e o
seu conteúdo varia de sistema para sistema, de escola para escola. Ele é a forma de
concretizar as intenções e as expectativas da equipe escolar.
O Projeto surge como forma de superação de um paradigma técnico (ou
tecnicista), em que tudo o que a escola e os professores precisam fazer já vem
estalabelecido de cima. Porém, o Projeto pelo qua os agentes diretos da escola
tornam-se sujeitos históricos, isto é, sujeitos capazes de intervir conscientemente e
coletivamente nos objetivos e nas práticas de sua escola, na produção social do
futuro (da escola, da comunidade, da sociedade).
Pode-se dizer então que o Projeto Político Pedagógico representa a
oportunidade de a direção, a coordenação pedagógica, os professores e a
comunidade tomarem a escola nas mãos, definirem seu papel estrátegico na
educação das crianças e jovens, e organizarem suas ações, visando atingir os
objetivos a que se propõem.
Segundo Veiga (1994), alguns princípios fundamentam o Projeto Político
Pedagógico para que este possa ser instrumento de organização do trabalho da
escola como um todo:
a) Igualdade de condições para acesso e permanência na escola - Saviani
(1982) afirma que a escola deve ofercer igualdade em relação não só á oferta como
também á manutenção do ensino de qualidade. Para o autor (1982, p. 63):
“Portanto, só é possível considerar o processo educativo em seu conjunto sob a
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condição de se distinguir a democracia como possibilidade no ponto de partida e
democracia como realidade no ponto de chegada”;
b) Qualidade que deve ser oferecida a todos - essa qualidade divide-se em
duas: a qualidade técnica ligada aos métodos e instrumentos; e, a qualidade política
que possibilita a participação;
c) Gestão democrática - é vista como um compromisso na construção de um
Projeto Político Pedagógico que atenda a educação das classes populares que, para
tanto, deve ser feita com a participação e integração de todos;
d) Liberdade - está associada à ideia de autonomia, de possibilidades de
crescimento;
e) Valorização do magistério - se apresenta como um dos princípios
fundamentais do Projeto Político Pedagógico, pois atenta para aspetos de formação,
remuneração, condições de trabalho em sala e outros aspectos, que favorecem a
qualidade do serviço prestado nas escolas.
Veiga (1991) alerta para a construção do Projeto Político Pedagógico que
realmente atue na organização do trabalho pedagógico, tornando-o menos
fragmentado, rotimizado e prejudicado pelo poder autoritário dos órgaos de
administração central, contamos com os príncipios e com os elementos constitutivos
da organização. Desses elementos, sete são indispensáveis: finalidades da escola,
estrutura organizacional, currículo, tempo escolar, processo de decisão, relações de
trabalho e avaliação.
- Finalidades da escola: a escola deve ter entendimento e clareza de suas
finalidades, para promover ajuste que as torne significamente reais e possam
estruturar a autonomia necessária para a formação do indivíduo politizado.
- Estrutura organizacional: a estrutura organizacional da escola divide-se em
administrativa e pedagógica. Ao que se refere à estrutura administrativa, tem-se a
locação e a gestão de recursos humanos, físicos e financeiros, e todos os elementos
materiais necessários ao trabalho pedagógico. As estruturas pedagógicas
asseguram as funções educativas para que a escola atinja com sucesso suas
finalidades.
- Currículo: é composto pela produção, transmissão e assimilação de
conhecimento. É também instrumento que passa ideologia e expressa uma cultura,
portanto, não pode ser descontextualizado.
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- Tempo escolar: o calendário escolar determina o tempo para o
desenvolvimento do trabalho pedagógico dentro da escola. Esse tempo é por vezes
mal administrado, deixando o trabalho pedagógico em desvantagem. É preciso
dispor de tempo para o aprofundamento do professor sobre seus alunos e tudo que
permeia a aprendizagem.
- Processo de decisão: o principal sentido de “político” do Projeto Político
Pedagógico associa-se à participação democrática, mediante a discussão de
propostas e a votação sobre as normas para o funcionamento da escola.
- Relações de trabalho: o Projeto Político Pedagógico torna indispensável que
a equipe trabalhe num clima de solidariedade, reciprocidade e participação coletiva.
- Avaliação: mostra-se como um dos mais importantes mecanismos para o
sucesso do Projeto Político Pedagógico, pois é o momento em que há reflexão da
escola como um todo, propiciando as mudanças e ajustes necessários.
Portanto, o Projeto Político Pedagógico constrói-se fazendo uma distinção
entre educação e ensino, e entre os objetivos da escola e os processos que nela
ocorrem. Apoia-se na educação como um processo de desenvolvimento e de
descoberta por parte do indivíduo, sob a responsabilidade da família, da instituição,
dos meios de comunicação, da sociedade e do estado.
4 REFLEXÃO-OBSERVAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE: o brincar
Ao longo dos anos, tem-se observado que a educação vem procurando
acompanhar a evolução da humanidade. Sendo assim, o professor preocupa-se a
cada dia com sua prática, questinando sempre sobre a problemática educacional. A
reflexão sobre a prática constitui o questinamento da prática e um questinamento
efetivo inclui intervenções e mudanças. Para se ter reflexão, é preciso ter
questionamento e autoquestionamentos, ou seja, é preciso que o educador conheça
a si mesmo, sua experiência e capacidade de ensinar, e acima de tudo a capacidade
de relacionamento, receptividade e autocontrole diante de situações problemáticas.
Segundo Vasquez (1997), a experiência docente é espaço gerador e produtor
de conhecimento, mas isso não é possível sem uma sistematização que passa por
uma postura crítica do professor sobre as próprias experiências. Para o autor (1997),
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fundar e fundamentar o saber docente na práxis (ação-reflexão-ação) é cortar com o
estilo “tecnicista mecânico” da comum decisão do trabalho; impor um novo
paradigma epistemológico capaz de emancipar e “autonomizar” não só o educador,
mas olhando a si e à própria autonomia; e, possibilitar a autêntica emancipação dos
educandos, não sendo mais um agente formador de mão de obra para o mercado,
mas o construtor da nova sociedade, livre e consciente de seu projeto político.
De acordo com Contreras (1997), o professor reflexivo estende suas
deliberações profissionais a uma situação social mais ampla, colaborando para que
se gere uma mudança social e pública, que possa ser mais reflexiva e ampliar o
horizonte da compreensão crítica de sua atuação. É preciso que cada professor
analise o sentido político, cultural e econômico que cumpre a escola, como esse
sentido condiciona a forma em que ocorrem as coisas no ensino, o modo em que se
assimila a própria função e como se têm interiorizado os padrões ideológicos sobre
os quais se sustenta a estrutura educativa.
Na prática docente, o conhecimento não só é uma construção social como
também uma possibilidade de resgatar a dignidade do ser humano no interior da
cultura a qual se pertence. Conhecer é desvendar, na intimidade do real, a
intimidade do próprio ser, que cresce justamente porque a ignorância vai se
dissipando diante das perguntas e respostas construídas, enquanto sujeito entregue
ao conhecimento, como dependência da compreensão do ser no mundo. Pode-se
dizer que conhecer é tornar-se hábil em descortinar os horizontes escondidos por
trás das aparências.
Segundo Zeichner (1993), reflexão e educação são temas indissociáveis ou
pelo menos deveriam ser, isto é, a escola deve ser necessária e, essencialmente, o
lugar geográfico da construção e do diálogo crítico. Ninguém deve ser obrigado a ser
reflexivo, embora todos devam ser estimulados a sê-lo, pois se não há um professor
com postura reflexiva como se esperar alunos reflexivos? O professor precisa ter
uma formação abrangente, generalista e, principalmente, voltada para a preparação
do exercício de uma prática reflexiva. De acordo com a formação que recebe, o
educador pode ter três modelos de identidade docente: tecnólogo do ensino, que
desenvolve sua atividade a partir de conhecimentos formalizados, embasados em
pesquisas científicas, instaurando um ensino estratégico; ator social é agente de
mudança e procura integrar saberes sociais à formação dos alunos; prática reflexiva,
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como o próprio nome diz, reflete sobre suas ações e sobre os caminhos para atingir
seus objetivos.
Para Schon (apud PAIVA, 2003), o profissional reflexivo resolve situações do
cotidiano, utilizando-se de investigações, discussões e reflexões, confrontando o
conhecimento acumulado e o conhecimento implícito com a situação problema em
que se encontra, construindo assim, novas teorias e desenvolvendo novas técnicas
para a compreensão desse problema. Quando reflete sobre o problema, o professor
vai além de soluções práticas, lógicas e racionais, ele coloca emoção e paixão na
situação em questão. O educador reflexivo faz com que saberes implícitos venham a
se tornar mais conscientes.
Para Kemmis (1999), a reflexão deve ser vista como uma ação coletiva e
social, que contribui na formação do professor e do processo educativo da escola. O
educador reflexivo possibilita ao seu aluno meios para que este encontre
informações de que necessita, elaborando e transformando-as em novos
conhecimentos.
De acordo com Weber (1994), o professor enfrenta o desafio de estar
motivado a pesquisar para encontrar alternativas que facilitem a aprendizagem.
Assim, é preciso que o professor esteja em formação contínua e em sintonia com o
mundo de informações. Tendo o professor o perfil de um profissional preparado,
interessado e principalmente reflexivo, torna-se mais fácil o principal papel que lhe
cabe: o de educar os alunos para autonomia e para a cooperação.
Segundo Perrenoud (2000), formar para as novas tecnologias é formar o
julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de
observações e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar,
a leitura e a análise de textos e de imagens, a representação das redes, de
procedimentos e de estrategias de comunicação. Assim, torna-se inconcebível que
um profissional da educação não tenha conhecimentos básicos de informática para
trabalhar com seus alunos. Um computador conectado à rede traz inúmeras
possibilidades de aprendizagem novas.
Tardif (apud PERRENOUD, 2000) propõe uma educação voltada para as
aprendizagens, em que o professor preoucupa-se não em ensinar, mas sim em fazer
aprender e nada melhor do que o computador que, através dos inúmeros
programas, torna essa aprendizagem atrativa e diversificada. É preciso que o
educador esteja inteirado desses novos conhecimentos, afinal o mundo das novas
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tecnologias avança numa velocidade assustadora, deixando para trás os que
resistem a elas. No entanto, não se pode utilizar essas novas tecnologias de forma
indiscriminada. Há que se formar um senso crítico, a capacidade de julgar o que
existe na rede como realmente importante ou não.
A informatização das escolas ainda caminha a passos lentos, mas é preciso
acreditar e trabalhar visando o futuro, pois é a partir da reflexão sobre a prática
docente e as propostas viáveis à melhoria e ao enriquecimento do processo ensino-
aprendizagem, que se busca em Zabala (1998), entender que desde o século XX os
professores são vistos como detentores do saber absoluto e seus alunos meros
receptores, que interiorizam o conhecimento tal qual lhe é apresentando sem poder
agir sobre o mesmo. Essa relação entre professor e alunos na sala de aula nem
sempre tem ocorrido com sucesso, o que traz consequências negativas para a
aprendizagem. Com isso, o resultado dessa aprendizagem será diferente para cada
aprendiz, segundo sua interpretação.
Todo esse processo requer que alunos e professores estreitem suas relações,
tornando possível um acompanhamento dos processos que os alunos realizam em
sala. O professor deve dispensar uma atenção maior ao grupo e a cada aluno
individualmente e de forma mais específica. A partir do momento em que o professor
mudar a maneira de trabalhar, fazendo do seu aluno agente da sua própria
aprendizagem, deverá estar devidamente preparado com o maior número de meios
atrativos como brincadeiras e estratégias possíveis para poder atender às diferentes
demandas que aparecem durante a aula e as diferenças individuais de cada aluno.
Para tanto, um planejamento diversificado se faz necessário, inclusive com
atividades recreativas e momentos de observação do processo que os alunos
seguem. Esse planejamento deve despertar no aluno desafios que explorem seus
conhecimentos prévios e que possibilitem as modificações desejadas e necessárias,
segundo os objetivos educacionais estabelecidos.
O brincar é muito importante no processo ensino-aprendizagem e, para isso,
é preciso que o professor seja animado para orientar os alunos sobre as
brincadeiras com entusiasmo, para que os mesmos possam entender e sentir
interesses em participar com segurança e autoconfiança no brincar. Segundo
Munhoz (2000), as brincadeiras são universais e fazem parte da história da
humanidade e, ao longo dos tempos, fazem parte da história de um povo. Pode-se
dizer que o brincar é expressar a permanência da infância. Para Munhoz (2000, p,
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17), “Brincar sempre foi e sempre será uma atividade espontânea e muito prazerosa,
acessível a todo ser humano de qualquer faixa etária, classe social ou condição
econômica”.
Ainda neste pensamento, pode-se verificar em Piaget (1971) que a evolução
é o desenvolvimento que a criança traz consigo, na sua ação sobre os objetos e as
pessoas. Em situações que lhe apresentam, elas se identificam com os brinquedos e
as brincadeiras, e para continuar com essa visão do processo evolutivo em relação
às atividades lúdicas é necessário que a criança se integre com os mesmos, e
assim, ela vai construindo seu conhecimento e promovendo suas habilidades.
Segundo Oliveira (2000), brincando a criança se humaniza, aprendendo a se
conciliar de forma afetiva, conhecendo a si mesma. Na integração e manipulação
dos objetos e pessoas, a criança constrói o seu conhecimento e promove suas
habilidades. O brincar desenvolve na criança o seu espírito construtor e artístico,
deixando com que ela lide de forma afetiva com as dificuldades encontradas,
identificando seus estilos de agir e criar. Conforme a autora (2000), em todas as
épocas, os seres humanos sempre brincaram, independentemente de idade ou de
condição social, pois brincar sempre foi uma diversão que vem acompanhando a
história da humanidade. Portanto, a lúdicidade pode acontecer em qualquer
ambiente, começando em casa e se estendendo até mesmo no trabalho. A
recreação e o lazer dizem respeito aos tempos modernos e surgem para que as
pessoas possam se diverter ou fazer o que bem entenderem.
Ainda segundo Munhoz (2000), a criança, na fase pré-escolar, através da
produção lúdica, desenvolve o seu conhecimento por meio das relações sociais com
o adulto, construindo de forma criativa, visto sua própria maneira de ver o universo.
O brincar é de fundamental importância na vida da criança, pois tem a função de
incentivar a prática dos jogos e brincadeiras. Através do brincar, a criança constrói
relações às quais define sua personalidade, organizando o mundo que a cerca. O
brincar na vida da criança é essencial para que ela tenha uma infância saudável.
Para que a criança sinta confiança e prazer ao brincar em grupo, é necessário
passar por diversos estágios de aprendizado.
Portanto, deve-se favorecer a criança com maneiras fáceis de aprender, por
meio da interação com outras crianças, com a realidade social, na aquisição de
condutas e significados, no cumprimento regras e no desenvolvimento do prazer e
da confiança de forma satisfatória dos participantes. O prazer para criança é muito
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importante, mas, para que ela possa desenvolver de maneira saudável, é necessário
evitar medos, discriminações em relação aos menos capacitados de qualquer
natureza. Ao brincar, a criança desenvolve a espontaneidade e a criatividade,
porém, através das brincadeiras, é que a criança aprende a dominar sua afetividade.
A brincadeira em grupo é fundamental para a socialização por parte do grupo,
excelente para dominar os impulsos de hospitalidade. Por outro lado, libera a
tensão, favorece o relaxamento, renova as ideias para o aprendizado de novos
ensinamentos, desafiando o medo do desconhecido.
Para Munhoz (2000), por meio do brincar, a criança associa o seu corpo e os
símbolos numa inserção constante do mundo com o universo cultural, dando
prioridade ao respeito próprio, para com o outro e priorizando a liberdade. A imitação
é um fator importante para o desenvolvimento da criança. Através da imitação, a
criança reproduz sons, gestos, mímicas, obtendo resultados semelhantes. Para a
autora (2000, p. 20), “Brincando a criança desenvolve suas potencialidades. Os
desafios que estão ocultos no brincar fazem com que a criança pense e alcance
melhores níveis de desempenho”.
A imitação se refere ao ato da criança reproduzir gestos, expressões faciais e
sons produzidos por outras pessoas, imitam os animais domésticos e tudo aquilo
com que ela convive no seu dia a dia, sendo uma maneira da criança se comunicar,
brincar. Pela imitação, a criança pode representar situações prazerosas ou aquelas
que a fazem sofrer; não é apenas uma cópia ou repetição mecânica, mas sim uma
reconstrução interna, em que ela observa o que acontece ao seu redor, percebendo
que é um ser diferente dos outros, com características próprias, e que possui sua
identidade própria. Porém, aos poucos, a criança vai associando uma ideia a outra,
formando correspondência mental, colocando-se no lugar do outro.
A imitação é parte integrante da atividade lúdica, porque, através da cópia
(imitação), a criança aprende por meio do processo contínuo de construção ativa,
passiva ou condicionada, partindo de fora para dentro. As brincadeiras são de
fundamental importância para o desenvolvimento integral das crianças, porém o
contato com outras crianças é de suma importância para que ela possa encontrar
condições fisicas de brincar no chão, ter contato com a natureza, não ficar só no
imaginário, mas transportar para o mundo real. Portanto, nas brincadeiras, as
crianças necessitam de um objeto concreto, real, para distinguir entre o significado e
o próprio objeto.
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Segundo Kishimoto (1999), o brincar de “faz de conta” é fundamental para o
desenvolvimento da criança, visto que a criança pequena começa a desenvolver
suas vivências e experiencias através do brincar de “faz de conta”. Porém, passa a
imitar os adultos, interiorizando as experiências e vivências dos adultos, tornando-as
suas. Por outro lado, a criança conhece a realidade na qual está inserida. Na visão
da autora (1999, p. 39), “A brincadeira de faz de conta, também conhecida como
simbólica, de representação de papéis ou sociodramática, é a que deixa mais
evidente a presença da situação imaginária”.
A partir das brincadeiras, a criança experimenta através dos variados papéis
vivenciados e aprendidos com a participação de outras pessoas. Em função dos
diferentes tipos de situações, a criança estabelece relações entre ela e as outras
pessoas. Contudo, a criança reflete sobre a forma de ver o mundo. As brincadeiras
possibilitam vivenciar experiências e aprender com elas. Ao brincar, a criança
desenvolve o cognitivo; estimula a capacidade de mobilizar esquemas, resolver
situações-problemas no decorrer das atividades, estimulando um salto muito
importante em seu desenvolvimento; deixa a visão individualista; percebe o outro
nas suas relações; participa dos benefícios da relação dialética, estabelecendo
metas para o social e as habilidades motoras proporcionadas pelas brincadeiras. A
criança, quando brinca, dá preferência especial ao que está realizando no ato de
brincar. Neste momento, o que interessa para a criança e realizar suas atividades
por meio das brincadeiras.
Segundo Munhoz (2000), a vida de qualquer pessoa também pode ser
conceituada como uma sucessão contínua de transformações. De um bebê
completamente dependente, transforma-se num ser brilhante, glorioso, criador e
autônomo. É o mesmo ser, mas com as devidas transformações biológicas,
intelectuais, afetivas e espirituais, que obedecem as leis imutáveis da evolução.
Estas transformações ocorrem segundo a natureza das energias pleinipotentes
existentes no físico, na mente, emoção e espírito de cada ser humano. O que
diferencia um ser do outro são as qualidades e quantidades de energia
desenvolvidas em cada um. O desenvolvimento destas energias requer a
contribuição dos profissionais da educação para direcioná-las competentemente na
direção evolutiva.
No âmbito da educação, é senso comum que liberdade, autonomia,
cooperação e criatividade são alguns dos valores humanos que possibilitem uma
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formação plena. Não existe uma área do conhecimento privativo que possa cuidar
da educação isoladamente. Mas é certo afirmar que algumas conseguem estimular o
desenvolvimento mais integrado dos diferentes tipos de energia. É o caso das
atividades recreativas. O brincar ativa o corpo, a inteligência, os sentimentos e o
fantástico estado espiritual de se integrar (consigo mesmo, com os outros e no
universo). O que ativa estes diferentes componentes do ser humano é a energia
chamada prazer: de fazer, de conviver, de aprender, de ser. O prazer desbloqueia
as energias retidas nas pessoas; libera as tensões estagnadas no corpo, na mente e
nos sentimentos, possibilitando um canal propício para se alcancar a espiritualidade,
a realização suprema.
Quem brinca o faz porque é capaz de mobilizar prazer, energia que
desbloqueia restrições para alcançar o bem-estar. Fazer o que se gosta, rir, brincar,
criar ambiente prazeroso, mobilizar pessoas que proporcionam prazer são tarefas
primordiais do educador. Assim, o aprendiz é capaz de, por si só, ativar-se na
conquista da autonomia, criatividade, solidariedade e condições basilares para sua
realização plena. Como visto no contexto escolar, as situacões que envolvem as
atividades lúdicas promovem aprendizagens mais significativas por interferirem na
zona de desenvolvimento proximal, cabendo ao professor promover tais situações
no cotidiano da sala de aula. Considerando o valor interacional da atividade lúdica e
sua relação intríseca com o desenvolvimento da criança, é certo que sua ultilização
no cotidiano escolar, de forma planejada e direcionada para a aprendizagem, pode
desempenhar um papel fundamental nesse processo, pois possibilita ao aluno
tornar-se sujeito de sua própria aprendizagem e construir seus conhecimentos de
forma prazerosa e descontraída.
É certo também que, quando o professor desperta na criança o prazer de
estudar, ela mesma buscará cada vez mais o conhecimento. Nessa perspectiva, o
educador, como mediador do processo ensino-aprendizagem, pode utilizar as
brincadeiras como recursos didáticos na construção da leitura e da escrita, na
matemática e demais disciplinas, para desenvolver diversos conteúdos, porque o
brincar desencadeia a ação, e o movimento, proporcionando à criança a alegria de
estar na escola.
5 CONSIDERACÔES FINAIS
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Diante dos momentos de estudos teóricos e de reflexão para a realização do
presente relato, foram observadas considerações importantes a respeito do
desenvolvimento desse trabalho, abordando a observação num âmbito científico. Os
conhecimentos adquiridos fazem uma reflexão sobre a profissão docente e
automaticamente pensar na formação continuada, não podendo parar diante das
mudanças que ocorrem diariamente na educação.
É preciso recuperar o verdadeiro sentido da escola, ou seja, que ela não deve
se restringir à transmissão de conteúdo, mas, principalmente, ensinar o aluno a
pensar, ensinar formas de apropriação do conhecimento elaborado, para que possa
ser praticado ao longo da vida, além de garantir sua permanência na escola. É
essencial repensar a formação do professor, não só no que se refere ao
conhecimento teórico, mas também na sua prática pedagógica, que deve se
alimentar do desejo de aprender cada vez mais para poder transformar o ambiente
escolar, de modo que o aluno sinta o desejo de estar na escola.
Conhecer o Projeto Político Pedagógico faz com que o professor possa
trabalhar com as leis e diretrizes da escola, trazendo o aluno e sua familia numa
forma de trabalharem juntos para uma melhor educação na sociedade. O Projeto
Político Pedagógico busca valores, libera as pessoas para que sonhem e os
realizem, acerta e reorganiza as ideias, fazendo assim uma transformação, que deve
ser feita com participação e execução também de todos; não deve ser esquecido ou
ter sua importância diminuída. Ouvir pessoas que contribuem para a escola,
independente do grau de escolaridade ou cultura, pode ser uma forma de
desenvolver, juntos, uma proposta pedagógica que pode ajudar muito a instituição
de ensino.
Deve-se usar a democracia na direção da instituição de ensino, ao permitir
que todos participem com suas ideias e, quando acatadas, que sejam reconhecidas,
dando a devida importância e fazendo com que todos se sintam valorizados e
desejosos de cuidar e participar da gestão, com divisão das sobrecargas e também
dos erros e acertos. Trabalhar em conjunto faz com que a escola não atrase e seu
funcionameto pode ser bem melhor.
Através do brincar, pode-se trabalhar o aluno de forma a torná-lo cidadão
consciente e também reflexivo. Brincar é uma forma de adquirir conhecimento e
lazer, fazendo com que seja uma parte integrante da forma de aprender. É também
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uma forma lúdica que, se deixar de ser, fica descaracterizada como jogo ou
brincadeira. O ato de brincar na escola pode se tornar uma forma de observação do
professor. Ele pode adquirir informações ao observar a forma de agir da criança,
como ela se interage e conduz suas habilidades, e usá-las no dia a dia, reajustando
suas dificuldades e destacando suas habilidades, o que fará com que todos se
desenvolvam juntos dentro de suas limitações.
O profissional da Educação Infantil deve ter criatividade e responsabilidade
em desenvolver momentos bem elaborados, com envolvimento da brincadeira,
participando como organizador, observador das brincadeiras, sem limitar ou exigir
formas e pensamentos pessoais, ao deixar com que a criança possa criar
desenvolvendo sua autonomia e adquirindo sua confiança pessoal.
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