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ANO I Nº 38 QUINTA-FEIRA, 2 DE ABRIL DE 1987 BRASÍLIA-DF ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE 1 ATA DA 43ª SESSÃO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE, EM 1º DE ABRIL DE 1987. I Abertura da sessão II Leitura da Ata da sessão anterior, que é, sem observações, assinada. III Leitura do Expediente ADYLSON MOITA Questão de ordem sobre impossibilidade regimental do funcionamento simultâneo de Comissões e do Plenário da Assembléia Nacional Constituinte. Validade das inscrições feitas para o Pequeno Expediente da sessão de ontem. PRESIDENTE Resposta à questão de ordem do Constituinte Adylson Motta. IV Pequeno Expediente ANTONIO MARIZ Conseqüências, para a região Nordeste, da implantação da correção monetária nos financiamentos agrícolas. JOSÉ GENOINO Propósito das manifestações de figuras da velha República sobre o quadro político nacional. Signifi cado do movimento de 31 de março para o povo brasileiro. MOZARILDO CAVALCANTI Propostas do orador para a futura Constituição. IRMA PASSONI Questão de ordem sobre impossibilidade regimental de funcionamento simultâneo das comissões e do plenário da Assembléia Nacional Constituinte. PRESIDENTE Resposta à questão de ordem da Constituinte Irma Passoni. NELSON AGUIAR Posição do oficialato das Forças Armadas sobre o movimento político brasileiro. MÁRIO LIMA Impossibilidade prática do exercício do direi to de greve pelos trabalhadores. MOYSÉS PIMENTEL Questão de ordem sobre suspensão da sessão, por falta de número legal. PRESIDENTE Resposta à questão de ordem do Constituinte Moisés Pimentel. CRISTINA TAVARES Racionamento de energia elétrica para a região Nordeste. ADEMIR ANDRADE Antecedentes do assassinato de agentes da Polícia Civil do Distrito Federal em Conceição do Araguaia, Estado do Pará. Expulsão do policial militar agressor do Constituinte João Herrmann durante assembléia dos bancários em Brasília, Distrito Federal. JOSÉ VIANA Falecimento do Sr. Juvenal Oliveira. Iminência de deflagração de greve pelos servidores da Sucam no Estado de Rondônia. Regulamentação da atividade garimpeira no País. PAULO DELGADO Tentativa governamental de prolongar o período de transição política. A Assembléia Nacional Constituinte como única instância de poder legítimo no País. ROSE DE FREITAS Apreço da oradora ao Presidente da Casa pelo solene recebimento de documento endereçado pelas mulheres brasileiras à Assembléia Nacional Constituinte. PRESIDENTE Esclarecimentos ao plenário sobre fiel cumprimento, pelo Presidente eventual dos trabalhos, das normas regimentais durante recebimento de documento endereçado pelas mulheres brasileiras à Assembléia Nacional Constituinte. EDUARDO JORGE Solidariedade do orador aos médicos residentes em greve. MENDES RIBEIRO Inconformidade do orador com o processo de escolha dos presidentes e vice-presidentes das comissões da Assembléia Nacional Constituinte. OSVALDO BENDER Situação do pequeno produtor rural. LÉZIO SATHLER Inconformidade do orador com o processo de escolha dos presidentes e vice-presidentes das comissões da Assembléia Nacional Constituinte. PRESIDENTE Esclarecimentos ao Plenário sobre providências adotadas pelo Presidente em face dos incidentes ocorridos com Constituintes durante assembléia dos bancários em Brasília, Distrito Federal. MENDES RIBEIRO Questão de ordem sobre impossibilidade regimental de funcionamento simultâneo das Comissões e do Plenário da Assembléia Nacional Constituinte. PRESIDENTE Resposta à questão de ordem do Constituinte Mendes Ribeiro. MICHEL TEMER Inviolabilidade do advogado no exercício da profissão. SAMIR ACHÔA Questão de ordem sobre estranheza do orador pela divulgação, através da imprensa nacional, de apoio do PMDB ao Ministro Dilson Funaro, da Fazenda, em face de política econômica adotada. PRESIDENTE Resposta à questão de ordem do Constituinte Samir Achôa. ADHEMAR DE BARROS FILHO Violência policial na cidade de São Paulo e no Distrito Federal. NILSON GIBSON Prestação de contas da administração do Ministro Raphael de AI - SUMÁRIO

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  • ANO I N 38 QUINTA-FEIRA, 2 DE ABRIL DE 1987 BRASLIA-DF

    ASSEMBLIA NACIONAL CONSTITUINTE

    1 ATA DA 43 SESSO DA ASSEMBLIA NACIONAL CONSTITUINTE, EM 1 DE ABRIL DE 1987.

    I Abertura da sessoII Leitura da Ata da sesso

    anterior, que , sem observaes, assinada.

    III Leitura do Expediente

    ADYLSON MOITA Questo de ordem sobre impossibilidade regimentaldo funcionamento simultneo de Comisses e do Plenrio da Assemblia Nacional Constituinte. Validade das inscries feitas para o Pequeno Expediente da sesso de ontem.

    PRESIDENTE Resposta questo de ordem do Constituinte Adylson Motta.

    IV Pequeno Expediente

    A N T O N I O M A R I Z Conseqncias, para a regio Nordeste, da implantao da correo monetria nos financiamentos agrcolas.

    JOS GENOINO Propsito das manifestaes de figuras da velha Repblica sobre o quadro poltico nacional. Significado do movimento de 31 de maro para o povo brasileiro.

    MOZARILDO CAVALCANTI Propostas do orador para a futura Constituio.

    IRMA PASSONI Questo de ordem sobre impossibilidade regimental de funcionamento simultneo das comisses e do plenrio da AssembliaNacional Constituinte.

    PRESIDENTE Resposta questo de ordem da Constituinte Irma Passoni.

    NELSON AGUIAR Posio do oficialato das Foras Armadas sobre o movimento poltico brasileiro.

    MRIO LIMA Impossibilidade prtica do exerccio do direit o de greve pelos trabalhadores.

    M O Y S S P I M E N T E L Questo de ordem sobre suspenso da sesso, por falta de nmero legal.

    PRESIDENTE Resposta questo de ordem do Constituinte Moiss Pimentel.

    C R I S T I N A T A V A R E S Racionamento de energia eltrica para a regio Nordeste.

    A D E M I R A N D R A D E Antecedentes do assassinato de agentes da Polcia Civil do Distrito Federal em Conceio do Araguaia, Estado do Par. Expulso do policial militar agressor do Constituinte Joo Herrmann durante assemblia dos bancrios em Bras l ia, Distr i to Federal.

    JOS VIANA Falecimento do Sr. Juvenal Oliveira. Iminncia de deflagrao de greve pelos servidores da Sucam no Estado de Rondnia. Regulamentao da atividade garimpeira no Pas.

    PAULO DELGADO Tentativa governamental de prolon g a r o perodo de transio poltica. A Assemblia Nacional Constituinte como nica instncia de poder legtimo no Pas.

    ROSE DE FREITAS Apreo da oradora ao Presidente da Casa pelo solene recebimento de documento endereado pelas mulheres brasileiras AssembliaNacional Constituinte.

    PRESIDENTE Esclarecimentos ao plenrio sobre fiel cumprimento, pelo Presidente eventual dos trabalhos, das normas regimentais durante recebimento de documento endereado pelas mulheres brasileiras AssembliaNacional Constituinte.

    E D U A R D O J O R G E Solidariedade do orador aos mdicos residentes em greve.

    M E N D E S R I B E I R O Inconformidade do orador com o processo de escolha dos presidentes e vice-presidentes das comisses da Assemblia Nacional Constituinte.

    OSVALDO BENDER Situao do pequeno produtor rural.

    L Z I O S A T H L E R Inconformidade do orador com o processo de escolha dos presidentes e vice-presidentes das comisses da Assemblia Nacional Constituinte.

    PRESIDENTE Esclarecimentos ao Plenrio sobre providncias adotadas pelo Presidente em face dos incidentes ocorridos com Constituintes durante assemblia dos bancrios em Braslia, Distrito Federal.

    MENDES RIBEIRO Questo de ordem sobre impossibilidade regimental de funcionamento simultneo das Comisses e do Plenrio da Assemblia Nacional Constituinte.

    PRESIDENTE Resposta questo de ordem do Constituinte Mendes Ribeiro.

    M I C H E L T E M E R Inviolabilidade do advogado no exerccio da profisso.

    SAMIR ACHA Questo de ordem sobre estranheza do orador peladivulgao, atravs da imprensa nacional, de apoio do PMDB ao Ministro Dilson Funaro, da Fazenda, em face de poltica econmica adotada.

    PRESIDENTE Resposta questo de ordem do Constituinte Samir Acha.

    ADHEMAR DE BARROS FILHO Violncia policial na cidade de So Paulo e no Distrito Federal.

    N I L S O N G I B S O N Prestao de contas da administrao do Ministro Raphael de AI-

    SUMRIO

  • DIRIO DA ASSEMBLIA NACIONAL CONSTITUINTE 2

    meida Magalhes, da Previdncia e Assistncia Social, durante o exerccio de 1986.

    LAEL VARELLA Advertncia da Associao de Hospitais de Minas Gerais sobre relacionamento do INAMPS com hospitais da rede particular.

    S I Q U E I R A C A M P O S Solidariedade do PDC a movimento da populao de Campos Belos, Estado de Gois, contra as altas taxas dos juros bancrios. Reivindicaes dos servidores da SUCAM.

    J O A Q U I M F R A N C I S C O Sugestes do orador para a proteo de meio ambiente na futura Constituio.

    FERES NADER Destinao, pelo Ministrio da Previdncia e Assistncia Social, de recursos para os programas de assistncia e amparo aos idosos. Combate ao uso de drogas.

    G O N Z A G A P A T R I O T A Agradecimentos do orador por sua indicao para integrar o quadro de vice-lderes do PMDB na Assemblia Nacional Constituinte Unio do partido em torno d a d e f i n i o de objetivos para atendimento das expectativas da sociedade brasileira.

    MAURO SAMPAIO Apoio do orador construo de fbrica de cajuna e doces no campo de Cajueiro de Paracuru, Estado do Cear.

    STLIO DIAS Reformulao da legislao do Imposto de Renda.

    C H I C O H U M B E R T O Necessidade da execuo de reparos em clulas dos silos de Capinpolis, Estado de Minas Gerais. Instalao de secador de gros para ensacados no Municpio.

    NYDER BARBOSA Greve dos bancrios. Repulsa do orador agresso p o l i c i a l c o ntra Constituintes durante assemblia dos bancrios em Braslia, Distrito Federal.

    A R N O L D F l O R A V A N T E Responsabilidades do trip Governo-empresrios-trabalhadores.

    CSAR CALS NETO: Eleio do Sr. Francisco Xavier da Silva para Presidente da Associao de Prefeitos do Cear.

    G I L S O N M A C H A D O Necessidade de restaurao da ordem jurdica no Pas, com o cumprimento da lei.

    ASSIS CANUTO Repdio do orador a declaraes do jornalista Paulo Francas a respeito do grau de instruo dos Constituintes.

    TILA LIRA Recuperao da BR-316, trecho Piripiri Pedro II, Estado do Piau.

    E V A L D O G O N A L V E S Atendimento s reivindicaes apresentadas pela Confederao Nacional das Pequenas e Mdias Empresas.

    JOS MOURA Situao dos aposentados e pensionistas da PrevidnciaSocial.

    SIGMARINGA SEIXAS A visita do Papa Joo Paulo lI ao Chile e a represso militar contra os direitos humanos naquele Pas.

    S A L A T I E L C A R V A L H O Concentrao dos Constituintes na tarefa de elaborao do novo texto constitucional.

    ARTENIR WERNER Crise scio-econmico-financeira vivido pelo Pas.

    R U B E R V A L P I L O T T O Reformulao da legislao tributria em favor dos municpios, com melhor distribuio dos tributos arrecadados.

    JOS SANTANA DE VASCONCELOS Insero no Capitulo "Da Ordem Econmica" d a f u t u r a Constituio de princpios voltados para a promoo de Justia social.

    LYSNEAS MACIEL Violncias contra trabalhadores urbanos sem-terra em So Paulo, Estado de So Paulo.

    FRANCISCO AMARAL Instalao d e 3 Vara na Comarca de Indaiatuba, Estado de So Paulo.

    FRANCISCO ROLLEMBERG Proposta do orador para a futura Constituio.

    ANTNIO SALIM CURATI Reduo do nmero de representantes do povo na Cmara dos Deputados.

    DAVI ALVES SILVA Apoio da Cmara Municipal de Imperatriz criao do Estado do Maranho do Sul.

    PERCIVAL MUNIZ Crise scio-econmico-financeira vivida pelo Pas.

    LYSNEAS MACIEL Questo de ordem sobre protesto do orador contra declaraes do Secretrio de Segurana Pblica do Distrito Federal a respeito da atuao da Polcia Militar local durante assemblia dos bancrios em greve.

    PRESIDENTE Resposta questo de ordem do constituinte Lysneas Maciel.

    V Comunicao das lideranas

    A M A R A L N E T T O Comparecimento do Ministro Dilson Funaro, da Fazenda, Cmara

    dos Deputados para prestar esclarecimentos a respeito da poltica econmica adotada pelo Governo.

    LUIZ HENRIQUE Disposio do Ministro Dilson Funaro, da Fazenda, de comparecer Cmara dos Deputados.

    JOS MARIA EYMAEL Presenade crianas na Assemblia Nacional Constituinte para expressar esperana no resultado dos seus trabalhos.

    SAMIR ACHA Questo de ordem sobre supresso de encontro do Ministro Dilson Funaro, da Fazenda, com a bancada do PMDB.

    PRESIDENTE Resposta questode ordem do Constituinte Samir Acha.

    BETH AZIZE N o -indicao da oradora para integrar uma das comisses da Assemblia Nacional Constituinte.

    S A N D R A C A V A L C A N T I Solidariedade do PFL indignao da Constituinte Beth Azize pela sua no-indicao para Comisso da Assemblia Nacional Constituinte. Presena, na Assemblia Nacional Constituinte, de lideranas nacionais de entidades que atendem a pessoas portadoras de deficincias fsicas.

    AUGUSTO CARVALHO N o -indicao do orador para integrar uma das comisses da Assemblia Nacional Constituinte.

    V I R G I L I O G U I M A R E S Redefinio do papel constitucional das Foras Armadas na futura Constituio.

    JOS CARLOS COUTINHO Inconformidade do orador com o processo de escolha dos presidentes e vice-presidentesdas comisses da Assemblia Nacional Constituinte. Compromissos dos constituintes com as mudanas.

    BRANDO MONTEIRO Questo de ordem sobre inexistncia de quorumregimental para prosseguimento da sesso.

    PRESIDENTE Resposta questo de ordem do Constituin te Brando Monteiro.

    VISugestes dos Constituintes

    GERSON PERES, EDMILSON VALENTIM, MOZARILDO CAVALCANTI, FRANCISCO CARNEIRO, ANTNIO CMARA, EDME TAVARES, NILSON GIBSON, SARNEY FILHO, NIVALDO MACHADO, UBIRATAN AGUIAR, AMLCAR MOREIRA, ANTNIO SALIM CURIATI Apresentao de sugestes Assemblia Nacional Constituinte.

    VII Encerramento

    Ata da 43 Sesso, em 1 de abril de 1987

    Presidncia dos Srs.: Ulysses Guimares, Presidente; Mauro Benevides, 1 Vice-Presidente;Jorge Arbage, 2 Vice-Presidente; Mrio Maia, 2 Secretrio; Arnaldo Faria de S, .3 Secretrio.

    S 14:30 HORAS COMPARECEM OS SENHORES:

    A b i g a i l F e i t o s a P M D B ;A c i v a l G o m e s P D B A d a u t o Pereira PDS; Ademir Andrade

    PMDB; Adhemar de Barros Filho PDT; Adolfo Oliveira PL; Adroaldo Streck PDT; Adylson Motta PDS; Acio d e B o r b a PDS; Acio Neves DB; Afonso Camargo PMDB; Afif

    Domingos PL; Afonso Arinos PFL; Agassiz Almeida PMDB; Agripino de Oliveira Lima PFL; Airton Cordeiro PDT; A i r t o n S a n d o v a l PMDB; Alarico Abib PMDB; Albano Franco

  • 3 DIRIO DA ASSEMBLIA NACIONAL CONSTITUINTE

    PMDB; Albrico Cordeiro PFL; Albrico Filho PMDB; Alceni Guerra PFL; Aldo Arantes PC do B; Alrcio Dias PFL; Alexandre Costa PFL; Alexandre Puzyna PMDB; Almir Gabriel PMDB; Aloysio Chaves PFL; Aloysio Teixeira PMDB; Aluzio Bezerra PMDB; Aluzio Campos PMDB; lvaro Antnio PMDB; lvaro Valle PL; Alysson Paulinelli PFL; Amaral Netto PDS; Amaury Mller PDT; Amilcar Moreira PMDB; ngelo Magalhes PFL; Anna Maria Rattes PMDB; Annilbal Barcellos PFL; Antero de Barros PMDB; Antnio Brito PMDB; Antnio Cmara PMDB; Antnio Carlos Franco PMDB; Antnio Carlos Konder Reis PDS; Antnio Carlos Mendes Thame PFL; Antnio de Jesus PMDB; Antonio Faria PMB; Antonio Ferreira PFL; Antonio Gaspar PMDB; Antonio Mariz PMDB; Antonio Perosa PMDB; Antnio Salim Curiati PDS; Arnaldo Faria de S PTB; Arnaldo Martins PMDB; Arnaldo Moraes PMDB; Arnaldo Prieto PFL; Arnaldo Floravante PDS; Arolde de Oliveira PFL; Artenir Wemer PDS; Artur da Tvola PMDB; Asdrubal Bentes PMDB; Assis Canuto PFL; tila Lira PFL; Augusto Carvalho PCB; Baslio Villani PMDB; Benedicto Morteiro PMDB; Benedita da Silva PT; Benito Gama PFL; Bernardo Cabral PMDB; Beth Azize PSB; Bezerra de Melo PMDB; Bocayuva Cunha PDT; Bonifcio de Andrada PDS; Borges da Silveira PMDB; Brando Monteiro PDT; Caio Pompeu PMDB; Cardoso Alves PMDB; Carlos Alberto PTB; Carlos Alberto Ca PDT; Carlos Cardinal PDT; Carlos Chiarelli PFL; Carlos Cotta PMDB; Carlos De' Carli PMDB; Carlos Mosconi PMDB; Carlos Sant'Ana PMDB; Carlos Virglio PDS; Carrel Benevides PMDB; Cssio Cunha Lima PMDB; Clio de Castro PMDB; Celso Dourado PMDB; Csar Cals Neto PDS; Chagas Duarte PFL; Chagas Rodrigues PMDB; Chico Humberto PDT; Christvam Chiaradia PFL; Cid Carvalho PMDB; Cid Sabia de Carvalho PMDB; Cludio vila PFL; Cleonncio Fonseca PFL; Costa Ferreira PFL; Cristina Tavares PMDB; Cunha Bueno PDS; Dlton Canabrava PMDB; Darcy Deitos PMDB; Daso Coimbra PMDB; Davi Alves Silva PDS; Del Bosco Amaral PMDB; Delfim Netto PDS; Dlio Braz PMDB; Denisar Arneiro PMDB; Dionisio Dal Pr PFL; Dirceu Carneiro PMDB; Divaldo Suruagy PFL; Djenal Gonalves PMDB; Domingos Juvenil PMDB; Domingos Leonelli PMDB; Doreto Campanari PMDB; Edsio Frias PDT; Edison Lobo PFL; Edivaldo Motta PMDB; E dme Tavares PFL; Edmilson Valentim PC do B; Eduardo Bonfim PC do B; Eduardo Jorge PT; Eduardo Moreira PMDB; Egdio Ferreira Lima PMDB; Eliel Rodrigues PMDB; Elizer Moreira PFL; Enoc Vieira PFL; Eraldo Tinoco PFL; Eraldo Trindade PFL; Erico Pegoraro PFL; Ervin Bonkoski PMDB; Euclides Scalco PMDB; Eunice Michiles PFL; Evaldo Gonalves PFL; E x p e d i t o J u n i o r PMDB; Expedito Machado PMDB; zio Ferreira PFL; Fbio Feldmann PMDB; Fbio Lucena PMDB; Fbio Raunheitti PTB; Farabulini Jnior PTB; F a u s t o F e r n a n d e s PMDB; Fausto Rocha PFL; Felipe Mendes PDS; Ferez Nader PDT; Fernando Cunha PMDB; Fernando Gasparian PMDB; Fernando Gomes PMDB; Fernando Henrique Cardoso PMDB; Fernando Lyra PMDB; Fernando Santana PCB; Fernando Velasco PMDB; Firmo de Castro PMDB; Flavio Palmier da Veiga PMDB; Flvio Rocha PFL; Florestan Fernandes PT;

    xeira PMDB; Francisco Amaral PMDB; Francisco Benjamim PFL; Francisco Carneiro PMDB; Francisco Digenes PDS; Francisco Dornelles PFL; Francisco Kster PMDB; Francisco Pinto PMDB; Francisco Rollemberg PMDB; Francisco Rossi PTB; Francisco Sales PMDB; Furtado Leite PFL; Gabriel Guerreiro PMDB; Gastone Righi PTB; Genebaldo Correia PMDB; Geovani Borges PFL; Geraldo Alckmin PMDB; Geraldo Campos PMDB; Geraldo Fleming PMDB; Geraldo Melo PMDB; Gerson Camata PMDB; Gerson Marcondes PMDB; Gerson Peres PDS; Gidel Dantas PMDB; Gil Csar PMDB; Gilson Machado PFL; Gonzaga Patriota PMDB; Guilherme Palmeira PFL; Gumercindo Milhomem PT; Gustavo de Faria PMDB; Haroldo Lima PC do B; Haroldo Sabia PMDB; Hlio Costa PMDB; Hlio Duque PMDB; Hlio Rosas PMDB; Henrique Crdova PDS; Henrique Eduardo Alves PMDB; Herclito Fortes PMDB; Hermes Zaneti PMDB; Hilrio Braun PMDB; Homero Santos PFL; Hugo Napoleo PFL; Humberto Lucena PMDB; Humberto Souto PFL; Iber Ferreira PFL; Ibsen Pinheiro PMDB; Inocncio Oliveira P F L ; IrajRodrigues PMDB; Iram Saraiva PMDB; Irapuan Costa Jnior PMDB; Irma Passoni PT; Ismael Wanderley PMDB; Israel Pinheiro PMDB; Itamar Franco PL.; Ivan Bonato PFL; Ivo Lech PMDB; Ivo Mainardi PMDB; Jairo Azi PFL; Jairo Carneiro PFL; Jalles Fontoura PFL; Jarbas Passarinho PDS; Jayme Paliarin PTB; Jayme Santana PFL; Jess Freire PFL; Jesualdo Cavalcanti PFL; Jesus Tajra PFL; Joaci Ges PMDB; Joo Agripino PMDB; Joo Alves PFL; Joo Castelo PDS; Joo da Mata PFL; Joo de Deus Antunes PDT; Joo Hemnann Neto PMDB; Joo Lobo PFL; Joo Machado Rollemberg PFL; Joo Menezes PFL; Joo Natal PMDB; Joo Paulo PT; Joo Rezek PMDB; Joaquim Bevilcqua PTB; Joaquim Francisco PFL; Joaquim Hayckel PMDB;Joaquim Sucena PMDB; Jofran Frejat PFL; Jonas Pinheiro PFL; Jonival Lucas PFL; Jorge Arbage PDS; Jorge Hage PMDB; Jorge Leite PMDB; Jorge Uequed PMDB; Jorge Viana PMDB; Jos Agripino PFL; Jos Carlos Coutinho PL; Carlos Martinez PMDB; Jos Carlos Sabia PMDB; Jos Carlos Vasconcelos PMDB; Jos Costa PMDB; Jos Dutra PMDB; Jos Egreja PTB; Jos Elias PTB; Jos Dias Murad PTB; Jos Fernandes PDT; Jos Fogaa PMDB; Jos Freire PMDB; Jos Genoino PT; Jos Geraldo PMDB; Jos Guedes PMDB; Jos Igncio Ferreira PMDB; Jos Jorge PFL; Jos Lins PFL; Jos Loureno PFL; Jos Luiz de S PL; Jos Luiz Maia PDS; Jos Maranho PMDB; Jos Maria Eymael PDC Jos Maurcio PDT; Jos Melo PMDB; Jos Mendona Bezerra PFL; Jos Mendona de Morais PMDB; Jos Moura PFL; Jos Paulo Bisol PMDB; Jos Santana PFL; Jos Sena PMDB; Jos Tavares PMDB; Jos Teixeira PFL; Jos Thomaz Non PFL; Jos Tinoco PFL; Jos Ulsses de Oliveira PMDB; Jos Viana PMDB; Jovanni Masini PMDB; Jlio Costamilan PMDB; Jutahy Jnior PMDB; Jutahy Magalhes P M D B ; K o y u l h a PMDB; Lael Varella PFL; Lavoisier Maia PDS; Leite Chaves PMDB; Llio Souza PMDB; Leopoldo Bessone PMDB; Leopoldo Perez PMDB; Leur Lomanto PFL; Lezio Sathier PMDB; Ldice da Mata PC do B; Louremberg Nunes Rocha PMDB;

    tara PFL; Lus Eduardo PFL; Lus Roberto Ponte PMDB; Luiz Alberto Rodrigues PMDB; Luiz Freire PMDB; Luiz Gushiken PT; Luiz Henrique PMDB; Luiz Incio Lula da Silva PT; Luiz Marques PFL; Luiz Salomo PDT; Luiz Viana Neto PMDB; Lysneas Maciel PDT; Maguito Vilela PMDB; Maluly Neto PFL; Manoel Casto PFL; Manoel Moreira PMDB; Manoel Ribeiro PMDB; Mansueto de Lavor PMDB; Manuel Viana PMDB; Marcelo Cordeiro PMDB.; Mrcio Braga PMDB; Marcondes Gadelha PFL; Marcos Lima PMDB; Maria de Lourdes Abadia PFL; Maria Lcia PMDB; Mrio Assad PFL; Mrio Bouchardet PMDB; Mrio Covas PMDB;Mrio de oliveira PMDB; Mrio Lima PMDB; Mrio Maia PDT; Marluce Pinto PTB; Matheus Lensen PMDB; Maurcio Campos PFL; Maurcio Corra PDT; Maurcio Fruet PMDB; Maurcio Nasser PMDB; Maurcio Pdua PMDB; Maurcio Ferreira Lima PMDB; Mauro Benevides PMDB; Mauro Campos PMDB; Mauro Miranda PMDB; Mauro Sampaio PMDB; Max Rosemann PMDB; Meira Filho PMDB; Mello Reis PDS; Mendes Botelho PTB; Mendes Ribeiro PMDB; Messias Gis PFL; Messias Soares PMDB; Michel Temer PMDB; Milton Barbosa PMDB; Milton Reis PMDB; Miro Teixeira PMDB; Moema So Thiago PDT; Moyss Pimentel PMDB; Mozarildo Cavalcanti PFL; Mussa Demes PFL; Myrian Portella PDS; Nabor Jnior PMDB; Naphtali Alves PMDB; Narciso Mendes PDS; Nelson Aguiar PMDB; Nelson Carneiro PMDB; Nelson Jobim PMDB; Nelson Seixas PDT; Nelson Wedekin PMDB; Nelton Friedrich PMDB; Nilson Gibson PMDB; Nion Albernaz PMDB; Nivaldo Machado PFL; Noel de Carvalho PDT; Nyder Barbosa PMDB; Octvio Elsio PMDB; Odacir Soares PFL; Olavo Pires PMDB; Olvio Dutra PT; Onofre Corra PMDB; Orlando Bezerra PFL; Orlando Pacheco PFL; Oscar Corra PFL; Osmar Leito PFL; Osmar Lima PMDB; Osmundo Rebouas PMDB; Osvaldo Bender PDS; Osvaldo Coelho PFL; Osvaldo Macedo PMDB; Osvaldo Sobrinho PMDB; Osvaldo Almeida PL; Osvaldo Lima Filho PMDB; Ottomar Pinto PTB; Paes de Andrade PMDB; Paes Landim PFL; Paulo Almeida PMDB; Paulo Delgado PT; Paulo Macarini PMDB; Paulo Marques PFL; Paulo Mincaentel PFL; Paulo Ramos PMDB; Paulo Roberto Cunha PDC; Paulo Silva PMDB; Paulo Zarzur PMDB; Pedro Canedo PFL; Pedro Ceolin PFL; Percival Muniz PMDB; Pimenta da Veiga PMDB; Plnio Arruda Sampaio PT; Plnio Martins PMDB; Pompeu de Souza PMDB; Prisco Viana PMDB; Rachid Saldanha Derzi PDMB; Raimundo Bezerra PMDB; Raimundo Lira PMDB; Raimundo Rezende PMDB; Raquel Cndido PFL; Raquel Capiberibe PMDB; Raul Belm PMDB; Raul Ferraz PMDB; Renan Calheiros PMDB; Renato Benardi PMDB; Renato Johnsson PMDB; Renato Vianna PMDB; Ricardo Fiuza PFL; Ricardo Izar PFL; Rita Camata PMDB; Roberto Augusto PTB; Roberto Balestra PDC; Roberto Brant PMDB; Roberto Campos PDS; Roberto D'vila PDT; Roberto Freire PCB; Roberto Rollemberg PMDB; Roberto Torres PTB; Roberto Vital PMDB; Robson Marinho PMDB; Rodrigues Palma PMDB; Ronaldo Arago PMDB; Ronaldo Carvalho PMDB; Ronaldo Cezar Coelho PMDB; Ronan Tito PMDB; Ronaro Corra PFL; Rosa Prata PMDB; Rose de Freitas PMDB; Rospide Neto

  • DIRIO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE 4

    Medina PFL; Ruben Figueir PMDB; Ruberval Pilotto PDS; Ruy Bacelar PMDB; Ruy Nedel PMDB; Sadie Hauache PFL; Salatiel Carvalho PFL; Samir Acha PMDB; Sandra Cavalcanti PFL; Sarney Filho PFL; Saulo Queirz PFL; Srgio Brito PFL; Sergio Naya PMDB; Srgio Spada PMDB; Srgio Werneck PMDB; Sigmaringa Seixas PMDB; Silvio Abreu PMDB; Simo Sessim PFL; Siqueira Campos PDC; Slon Borges dos Reis PTB; Stlio Dias PFL; Tadeu Frana PMDB; Telmo Kirst PDS; Teotnio Vilela Filho PMDB; Theodoro Mendes PMDB; Ubiratan Aguiar PMDB; Ubiratan Spinelli PDS; Uldurico Pinto PMDB; Ulysses Guimares PMDB; Valmir Campelo PFL; Valter Pereira PMDB; Vasco Alves PMDB; Vicente Bago PMDB; Victor Faccioni PDS; Victor Fontana PFL; Victor Trovo PFL; Vieira da silva PDS; ViIson Souza PMDB; Vingt Rosado PMDB; Vincius Cansano PFL; Virgildsio de Senna PMDB; Virglio Galassi PDS; Virglio Guimares PT; Virglio Tvora PDS; Vitor Buaoiz PT; Vivaldo Barbosa PDT; Vladimir Palmeira PT; Wagner Lago PMDB; Waldec Omlas PFL; Waldyr Pugliesi PMDB; Walmor de Luca PMDB; Wilma Maia PDS; Wilson Campos PMDB; Ziza Valadares PMDB.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage): A lista de presena registra o comparecimento de 434 Senhores Constituintes.

    Est aberta a sesso.Sob a proteo de Deus e em nome do

    povo brasileiro, iniciamos nossos trabalhos.O Sr. Secretrio proceder leitura da

    ata da sesso anterior.II O SR. ARNALDO FARIA DE S, 3

    Secretrio, servindo como 2 Secretrio procede leitura da ata da sesso antecedente, a qual , sem observaes, assinada.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage): Passa-se leitura do expediente.

    O SR. MARCELO CORDEIRO, 1 Secretrio, procede leitura do seguinte.

    III EXPEDIENTE

    No h expediente a ser lido.O Sr. Constituinte Adylson Motta:

    Sr. Presidente, peo a palavra pela ordem.O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage):

    Tem a palavra o nobre Deputado.O SR. ADYLSON MOTTA (PDS RS.

    Sem reviso do orador.): Sr. Presidente, fundamento minha questo de ordem no art. 13, 10, do nosso Regimento Interno, que diz:

    "As Comisses e Subcomisses desenvolvero ordinariamente seus trabalhos na parte da manh, podendo, por deliberao do seu Plenrio, faz-lo em carter extraordinrio em outros horrios, inclusive nos feriados, sbados e domingos, salvo nos perodos destinados s sesses plenrias da Assemblia Nacional Constituinte".

    Sr. Presidente, exatamente por ter sido autor da emenda, tive a cautela de evitar a,coincidncia dos trabalhos das comisses com o do Plenrio. A fim de se preservara imagem desta Casa e de se evitar a realizao de sesses com poucos Deputados, quero dizer a V. Ex. que recebi hoje uma convocao para estar presente instalao de comisses, nos horrios de 15, 16 e 17 horas. Isto vem contrariar a citada disposio do Regimento Interno. Mas ser, s 15 horas a instalao da Comisso da Ordem Econmica; s 16 ho-

    ras a da Comisso da Ordem Social; s 17 horas a da Comisso da Famlia, Educao, Cultura, Esporte, Comunicao, Cincia e Tecnologia.

    Sr. Presidente, apelo a V. Ex. para que, em contato com a Mesa Diretora da Assemblia Nacional Constituinte, evite a realizao simultnea dessas sesses, conforme dispe o Regimento Interno. Parece-me que a soluo mais vivel seriasuspender a instalao dessas comisses tarde, transferindo-aspara horrio compatvel com a disposio regimental: noite, ou pela manh, sbado ou domingo exceto no horrio vedado pela nossa lei interna

    Outro assunto que me traz aqui, Sr. Presidente, diz respeito inscrio para falar da tribuna. Hoje, pela manh, vim fazer a minha inscrio para falar nesta sesso. Depois de assinar o livro, foi-me dito que seria dada preferncia queles que se inscreveram ontem. Ento, peo que V. Ex. d uma definio sobre a validade da inscrio de vspera. Do contrrio, seria um esforo intil vir aqui, pela manh, proceder inscrio, porque a tribuna ser ocupada apenas pelos oradores inscritos na sesso de ontem.

    Parece-me que ontem houve uma inobservncia do Regimento Interno. Liquidou-secom a sesso, com prejuzo para os oradores inscritos. Isto no quer dizer que no se aceitar a inscrio antecipada, mas, se tornar-se hbito nesta Casa, no haver mais aquela inscrio diria, conforme determinao do Regimento Interno.

    Era apenas isto, Sr. Presidente, que queria dizer, no intuito de colaborar com a Mesa.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage): Nobre Constituinte Adylson Motta, a questo de ordem suscitada por V. Ex., com fundamento no Art. 13, 10, tem procedncia.

    A Presidncia vai suspender a sesso pelo prazo de 5.minutos, enquanto aciona as campainhas para chamar ao plenrio os parlamentares que se encontram ausentes.

    Est suspensa a sesso.O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage):

    Est finda a leitura do expediente.IV Passa-se ao Pequeno Expediente

    Tem a palavra o Sr. Constituinte Antnio Mariz.O SR. ANTNIO MARIZ (PMDB PB.

    Pronuncia o seguinte discurso.): S r . Presidente, Sras. e Srs. Constituintes, quero repisar a questo dos juros. Especialmente dos juros agrcolas no Nordeste.

    Se de fato estarrecedora a deciso do Banco Central de aplicar correo monetria ao crdito agrcola de modo geral, chega a ser criminoso estender tal critrio agricultura, pecuria e agroindstria do Nordeste. A resoluo n 1266 constitui golpe letal economia da regio mais desassistida, mais pobre do Pas.

    Em toda parte do mundo, atividade rural, por seu carter eminentemente aleatrio, dispensa-se tratamento privilegiado, seja em matria de crdito, sempre subsidiado, seja por todas as formas de estimulo permanncia e fixao de parcelas da populao no campo.

    Afinal, ai est em Jogo a produo de alimentos, o abastecimento das cidades, fator essencial ao bem-estar coletivo.

    No Brasil faz-se o inverso. As polticas agrcolas dir-se-ia que se inspiram no secreto objetivo de despovoar os campos. A reforma agrria arrasta-se, os programas de habitao rural inexistem, a eletrificao paraltica, as estradas no chegam, a telefonia rural no passa de promessa, faltam armazns, no se concretizam as medidas

    de garantia dos preos mnimos, a irrigao esperana irrealizada.

    A Resoluo 1.266, do Banco Central, manda aplicar aos crditos para investimento agrcola correo monetria igual das cadernetas de poupana. No faz exceo quanto s reas reconhecidamente subdesenvolvidas de jurisdio da Sudene, Sudam, Vale do Jequitinhonha e Esprito Santo, apenas ressalvando os programas de irrigao e de apoio ao pequeno produtor. A todas nivele na fria inflacionria que assola o territrio Nacional. Ignora as caractersticas regionais que desfavorecem o Nordeste, estigmatizado pela escassez e pobreza dos solos, tributrios das secas e, por isso mesmo, condenado a baixos ndices mdios de produtividade, em relao s reas mais frteis e melhor aquinhoadas por clima e regime de chuvas.

    Ao efeito devastador da correo monetria, incidente a partir de 1 de maro, deve-se acrescentar o aspecto insidioso da deciso adotada pelo Banco Central: aretroatividade da correo aos contratos assinados em 1986, quando se dizia extinta a correo monetria. Graas a sibilinas clusulas inseridas nesses contratos, os crditos pactuados no ano passado, cujo vencimento se estenda alm de 1 de maro, sofrem igualmente a incidncia dos mesmos "fatores de atualizao", como diz o Banco, na linguagem que, pretendendo ser eufemstica, chega a ser, na verdade, sarcstica.

    Esta surpresa traioeira tem levado ao pnico os agricultores que contrataram investimentos em 1986 e forado empresas slidas e tradicionais a requerer concordata, quando no a se submeter decretao de falncia.

    Quanto aos crditos de custeio agrcola, no diferente o tratamento, salvo quanto a curto lapso de tempo. J em 1.de Julho deste ano, a correo monetria, com base nas Letras do Banco Central (LBC) ou no ndice de Preos Recebidos (IPR) estar incidindo sabre todas as culturas na esfera de atuao da Sudene e da Sudam.

    E, mesmo agora, neste limitado perodo de trgua que se esgota no final do primeiro semestre, somente algumas lavouras esto isentas. A correo j se abateu desde 1 de maro sobre as culturas canavieiras, os hortigranjeiros, o fumo, o abacaxi, a fruticultura em geral, a pecuria.

    As conseqncias desastrosas dessa poltica de crdito no se limitam economia agrria mas repercutem sobre o comrcio e a indstria locais, estas por sua vez sufocadas pelas altas taxas de juros vigentes no mercado. Alastram-se como rastilho de plvora os protestos. De um lado, fecha o comrcio as portas, como ocorreu na Paraba, desde a capital, Joo Pessoa, at Sousa no alto serto, na indignada denncia dos juros escorchantes. De outro lado, os trabalhadores recorrem s greves, na justa defesa de seus salrios consumidos pela inflao impenitente.

    De tudo isso, Sr. Presidente, ressalta a urgncia da reformulao das diretrizes econnico-financeiras do Governo, que contenham a inflao, reponham a economia nos eixos e permitam a efetivao das metas de desenvolvimento econmico e justia social, pelas quais luta o povo brasileiro.

    O SR. JOS GENOINO (PT SP. Sem reviso do orador.): Sr. Presidente, Srs. constituintes, necessrio fixarmos aqui alguns elementos importantes que marcam o desenvolvimento da atual conjuntura poltica e que tm sido objeto de vrias especulaes, que vo desde um provvel golpe at manifestaes de figuras de proa da ditadura militar, que vm tona tentando credenciar-se ao defenderem um governo forte.

  • 5 DIRIO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE

    O problema central que o GovernoSarney, enfrentando uma crise poltica profunda, produzida por urna crise econmica e social, perde sua legitimidade poltica e abre espao, no qual tentam credenciar-se aquelas figuras chamadas de vivas ou saudosistas da ditadura militar. Esse o sentido das manifestaes do General Medeirose principalmente do pronunciamento do General Figueiredo, que tenta, exatamente nesse momento de crise, credenciar-se, advogando a sada da represso, da ditadura militar e do autoritarismo, tentando, junto opinio pblica, no momento de perplexidade, a auto-absolvio do que esses governos representaram para o Pas em matriade represso, de concentrao de renda, de endividamento externo, dos grandes escndalosfinanceiros. Se eles fazem isso, tm espao e buscam navegar nas guas turvas da perplexidade que tomou conta da opinio pblica, porque isso tem a ver com a Nova Repblica. E esse foi um ponto da nossa crtica. A formao da Nova Repblica representou uma composio com o passado ditatorial e nunca se ajustou com ele,porque o seu nascimento ocorra com a composiodessas foras e, no seu prosseguimento e nas medidas, tem sido uma constante a proposta de absolvio, de aceitao do passado ditatorial, como se isso pudesse ser auto-transformadonaturalmente.

    Mas a verdade que as coisas no se passam desta maneira. Nos momentos em que a crise se agua, em que o Governo se enfraquece a nvel das composies internas no Palcio do Planalto, a nvel da opinio pblica, ele fica isolado e t e n t a enfrentar o movimento social, os trabalhadores, com o endurecimento poltico. Esse foi o sentido do pronunciamento do Governo Sarney antes da represso violenta contra os bancrios aqui em Braslia, represso que hoje se repete em Juiz de Fora, em Salvador e em vrios lugares. E s t a b e l e c e -,se uma ponte, independentemente das intenes dos Srs. Governantes, com os senhores que ontem levaram o Pas a essa situao que a est. Foram exatamente esses senhores que levaram o Pas a essa situao. Os que hoje governam, como no romperam com esse passado e nem podem faz-lo, acabam criando os elementos para que aquele passado busque consolidar-se crescer e se legitimar. Esses senhores que hoje aparecem perante a opinio pblica com ousadia, na poca da campanha das diretas, na poca das denncias dos casos de corrupo, preferiram ficar calados. O prprio General Figueiredo afirmou, ao deixar a Presidncia da Repblica, que gostaria que a imprensa o esquecesse. E, sem que a imprensa o procurasse, tomou a iniciativa de dar um recado opinio pblica, como se o povo brasileiro tivesse esquecido o que representou o Governo Figueiredo e os governos militares para este Pas.

    Quando ns, do Partido dos Trabalhadores, afirmamos a oposio Nova Repblica, quando defendemos a eleio direta para a Presidncia da Repblica, estamos buscando ser oposio a esse passado que combatemos, renegamos e denunciamos. Mas tambm condenamos esse presente exatamente porque ele nos d elementos para que o velho passado tente ganhar foras para se credenciar no presente.

    Sr. Presidente, qual a sada diante do movimento de massa que hoje cresce neste Pas? A busca de uma unificao poltica para enfrentarmos a crise de governo, no com medidas ditatoriais, no com medidas de fora, m a s c o m medidas populares em torno da bandeira das eleies diretas para Presidente da Repblica. E necessria uma posio ofensiva nesse sentido; ne-

    cessrio tomarmos a iniciativa poltica para que ossaudosistas, para que aqueles que levaram o Pas a essa situao que ai est no se credenciem dianteda perplexidade da opinio pblica como sendo a nica sada possvel, atravs da fora e da represso. preciso levantarmos bem alto a bandeira da eleio direta para Presidente da Repblica e defendermos uma plataforma que atenda s necessidades bsicas do povo brasileiro. No podemos simplesmente contentar-nos com a multiplicao das greves. Temos de nos preocupar com a unificao poltica desses movimentos, buscando enfrentar a crise de governoatravs da campanha por eleies diretas.

    A Assemblia Nacional Constituinte tem um papel muito importante nesta hora, porque, ao mesmo tempo em que esses setores de direita tentam credenciar-se defendendo a represso e oautoritarismo, tambm procuram colocar-se perantea Assemblia Nacional Constituinte como ocorreu com as medidas de ontem para desgast-la,desmoraliz-la perante a opinio pblica.

    A Assemblia Nacional Constituinte ter de enfrentar politicamente essa questo, sob pena deestar assinando o seu prprio suicdio poltico.

    necessria uma atitude corajosa de audcia poltica para enfrentarmos repito o saudosismo da ditadura militar e tambm esse Governo que a est, incapaz, pela sua natureza, de enfrentar os graves problemas que preocupam a maioria da populao brasileira.

    Solicito a transcrio nos Anais da Assemblia Nacional Constituinte de pronunciamento que deveria ter feito ontem, por ocasio das comemoraes, mas de denncia do que significou o 31 de maro para o povobrasileiro.

    Muito obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage): A solicitao de V. Ex. ser atendida.

    DISCURSO A QUE SE REFERE O ORADOR.

    Sr. Presidente, Sras. e Srs. Constituintes, desnecessrio assinalar o significado deste dia. Esto vivas na lembrana as cenas que compuseram a Histria deste Pas aps o golpe militar de 64. Como esquecer, por exemplo, das prises indiscriminadas, dos atos institucionais, da violncia tornada oficial e cotidiana, do arbtrio generalizado? Como esquecer das lutas rduas que fizemos e dos companheiros que se foram, que j no temos mais? Tudo isto so marcas impagveis na nossa vida e na vida de milhes. Porm, no disto que pretendemos falar neste momento. Queremos falar do presente, dos dias atuais. Porque o regime militar no apenas o passado amargo guardado na memria; sua herana se projeta pelos nossos dias, faz parte do presente desta nova Repblica.Hoje, nos quartis, comemora-se o vigsimo terceiro aniversrio do golpe. Nas ordens do dia oschefes militares relembram os feitos gloriosos de"revoluo" redentora, a vocao patritica dasForas Armadas e sua inabalvel f na democracia. Expoentes da ditadura, com ou sem farda, proclamam seus princpios e ideais. Cerimnias so realizadas em vrias partes do Pas em desagravo aos "heris" da luta contra a subverso! Mas, repetimos, o regime militar no est presente apenas neste ritual que festeja o passado, alis, a prpria existncia de um ritual deste gnero evidencia isto. A pgina da Histria que se abriu em 31 de maro de 64, por mais que se diga o contrrio, no foi definitivamente fechada. E noo ser, enquanto persistir o fardo pesado destaherana que caminha entre ns.

    No dia que assinala o aniversrio doregime militar, que se prometia enterrar, seus arautos, com o beneplcito do Governo, o cantam em prosa e verso, como a dizer: ns continuamos aqui. E, de fato, os sinais de que continuam se fazem sentir em todas as esferas da vida nacional. Como homens concretos, comoleis e instrumentos e aparatos de dominao e represso, como interesses de classe, como valores e doutrinas. A Nova Repblica no um regime militar, mas est impregnada de elementos fundamentais dele. um outro regime poltico, que conserva velhos e introduz novos e mais sofisticados instrumentos e mtodos de controle e dominao. Apontar estes elementos, velhos e novos, denunci-los e combat-los de modo decidido a melhor maneira de, neste dia, rendermos nossa homenagem aos que tombaram na luta contra a ditadura nascida com o golpe de 31 de maro de 64. A Joaquim Alencar Seixas, Carlos Danielli, Alexandre Vannucchi Leme e Eduardo Leite, assassinados no DOI -CODI comandado pelo j famoso Coronel Brilhante Ustra, e a tantos outros assassinados nas mos deste ou de outros torturadores. tambm a melhor maneira de nos prepararmos para as lutas dos dias atuais, para as lutas do presente e do futuro que haveremos de construir.

    Faz cerca de um ms que o Congresso Constituinte aprovou o seu Regimento Interno,que dever nortear os trabalhos para a redao da prxima Constituio. Naquele episdio, veio tona, mais uma vez e com meridiana clareza, o carter desta transio, na Nova Repblica, do Governo Sarney, dos partidos que compem a Aliana Democrtica e dos pequenos partidos que os secundaram na votao.Esta Constituinte j desde o incio um processo antidemocrtico. O ato que a convocou retirou seu carter de exclusividade, vinculou sua eleio s dos Governadores, manteve os Senadores eleitos em 82. Tudo foi programado para uma Constituinte conservadora. O que estava em questo portanto, nos debates acerca do Regimento Interno? Todos sabemos, restos de soberania, isto , a dimenso do poder da Constituinte. Se ela teria, por exemplo, poder para revogar a Lei de Segurana Nacional, as Medidas e o Estado de Emergncia, a Lei de Greve, os aparatos de represso e tantos outros dispositivos que constam na legislao ordinria ou na Constituio outorgada pelos militares em 67. A proposta do Senador Fernando Henrique Cardoso, prcer da Nova Repblica, era j uma proposta restritiva e conservadora. No tocava em nada do chamado entulho autoritrio, apenas inclua o projeto de deciso que permitia Constituinte pronunciar-se sobre matria considerada relevante, mas que impunha inmeras limitaes e dificuldade para um projeto de deciso fosse votao em plenrio. Diante disto, o que vimos? Tambm todos sabemos, a soberania, ou melhor, seu ltimo suspiro, foi sepultada por ampla maioria. E o Palcio da Planalto no se fez de rogado para que assim fosse. Sarney, seus ministros, acompanhados pelo Alto Comando das Foras Armadas, no pouparam palavras, gestos e aes para alertar, exigir e enderear cuidadosas mas certeiras ameaas. Para deixar claro de quem o poder e como se exercita a tutela. O PFL e nada h para se estranhar, fez o papel de linha de frente e articulou a fina flor do reacionarismo. E o PMDB, que durante anos defendeu nas ruas e praas pblicas uma Constituinte livre e soberana, abandonou mais uma de suas promessas e aliou-se aos homens da direita de sempre para derrotar os restos

  • DIRIO DA ASSEMBLIA NACIONAL CONSTITUINTE 6

    de soberania, demonstrando assim sua verdadeira vocao, uma vocao servil e conservadora. A Constituinte da Nova Repblica, em definitivo, a sua imagem e semelhana, uma Constituinte sem povo, que tem como incumbncia produzir uma Constituio contra os interesses do povo.

    Faz semanas, a Marinha e o Exrcito sa ram dos quartis. Ocuparam portos e refinarias de petrleo. Nos portos, 1.300fuzileiros navais foram dar combate a 40 mil martimos em greve. Nas refinarias, tanques de guerra, carros blindados, homens armados de metralhadoras, bazucas e morteiros foram dar combate aos petroleiros que ameaavam desencadear "operaes tartaruga e de viglia". Os motivos que moveram os martimos e petroleiros so sobejamente conhecidos: reivindicaes salariais. Ao que parece, no Brasil da Nova Repblica, para intimidar trabalhadoresque lutam por melhores salrios a polcia j no basta, faz-se necessrio o auxlio do Exrcito e da Marinha. Entretanto, bvio que os motivos que moveram os Ministros militares, e o Presidente Sarney, no foram to-somente a intimidao e a tentativa de acabar ou evitar greves. Muito alm disso, os motivos vinculam-sea uma demonstrao de fora que pode ser assim traduzida: as Foras Armadas no aceitam qualquer modificao no seu papel constitucional, ou seja, querem conservar o militarismo que impregna o Estado brasileiro, querem continuar intervindo nas decises de governo, querem opinar e agir no tratamento s greves; em suma, querem preservar sua funo de guardis da chamada segurana interna. Na Nova Repblica, os chefes militares no exigem que um dos seus seja o Presidente da Repblica, desde que se assegure os seus "direitos" de propagar e concretizar em aes sua doutrina de segurana nacional.

    Faz tambm poucas semanas que o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra publicou um livro denominado "Rompendo o Silncio". Com isso, ele no apenas informou os leitores que "no se combate, terrorismo com flores", como descumpriu o Regulamento Disciplinar do Exrcito. verdade, o Coronel Ustra, o antigo Major Tibiri, jamais usou flores, a elas semprepreferiu a "cadeira do drago", os choques eltricos, as pancadarias, o afogamento, a tortura de todas as formas e o "desaparecimento" dos presos polticos. Talvez por isto, e tambm para preservar a comunidade de informaes e represso, ele no foi punido por descumprir o Regulamento Disciplinar, pois, ao justificar tal fato, o Estado-Maior das Foras Armadas alega, entre outros motivos, a "relevncia dos servios prestados". Evidentemente, a est mais uma demonstrao dos homens da ditadura e mais um recado das Foras Armadas: querem a manuteno da impunidade dos torturadores. Impunidade esta que a Nova Repblica vem assegurando de modo exemplar.

    No perodo ureo do Plano Cruzado, Sarney e seus ministros faziam pose de estadistas. E recebiam aplausos quase unnimes dos rgos de imprensa, de artistas, de economistas, de empresrios e polticos. A festa acabou, melancolicamente. A credibilidade do Governo diminui a cada dia. Ao invs deaplausos, recebem apupos. Ao invs de pretensos estadistas, temos um Presidente e ministros perdidos na sua pequenez em meio a um vendaval de crticas. A palavra crise habita todas as salas e ruas, todas as pginas de jornais e revistas, todas as conversas de homens e mulheres. O Governo a prpria imagem da desmoralizao. E nem poderia ser diferente. Sua figura de maior destaque o genro do Presi-

    dente, que ali chegou por possuir o talento de ser genro do Presidente.

    Nem por isto Sarney desiste de querer prorrogar seu mandato. Ao contrrio, as articulaes palacianas no objetivam outra coisa. A durao do seu mandato, o mais longo possvel, seu principal, quem sabe seu nico, programa de governo. Para alcan-lo, promove almoos em fazendas de empresrios, loteia cargos entre os governadores eleitos em 15 de novembro. Newton Cardoso, o "Maluf das Gerais", foi contemplado com a Seplan. Qurcia, que no peca por falta de fisiologismo, levar o Ministrio da Indstria e do Comrcio. Os demais j fazem fila. Mas as manobras de Sarney no param a; ele busca mais e mais o apoio dos militares para suas pretenses.

    O povo, depois da enganao do Plano Cruzado, da inflao zero e do congelamento, das promessas feitas antes das eleies e da traio que veio logo aps, percebe que seus anseios no sero atendidos. A demagogia e os apelos cnicos j no comovem. O presidente foi televiso conclamar a populao para mais uma cruzada "cvica" em defesa da "moratria tcnica. A conclamao no surtiu efeito. As palavras do Presidente no esconderam as evidncias: a "moratria tcnica", antes de representar uma atitude soberana frente aos banqueiros internacionais, atestou a falncia da poltica econmica, que, alm de ter aprofundado a misria, reduziu a quase nada as reservas do Pas. Na verdade, todos sabem, e o prprio governo o diz, procura-se um caminho para retornar o pagamento da dvida externa. E esse caminho passa por fazer com que o custo da recesso, que j se faz sentir, seja pago de novo pelos trabalhadores, atravs de um arrocho salarial ainda maior.

    Diante disso, nos ltimos dias temos assistido a uma crescente onda grevista. Alm dos martimos, porturios, petroleiros, mais recentemente os bancrios, funcionrios pblicos, operrios de vrias empresas e outras categorias desencadearam ou preparam-se para desencadear movimentos. a resposta mais do que justa dos trabalhadores situao vigente no Pas. Com a escalada inflacionria e a perda brutal do poder aquisitivo dos salrios, o nico caminho a luta. O governo pede pacincia, conclama ao "patriotismo" e, ao mesmo tempo, incentiva e promove represlias e demisses. A lgica que orienta tal conduta "democrtica" de que a grave um direito, desde que no seja utilizado. Mas nesse caso, sobretudo, no se pode acusar os homens do Palcio do Planalto por falta de coerncia. Esto onde sempre estiveram, ao lado dos banqueiros e demais capitalistas. Que o diga o General Ivan de Souza Mendes, do SNI, alis em mais um exemplo do seu zelo pela segurana interna do Pas. Para ele, a sociedade est "reivindicativa demais". A sociedade a qual se refere so os trabalhadores, obviamente. Ou estar o General criticando os empresrios da FIESP por suas exigncias de mais arrocho? Ou a UDR de Ronaldo Caiado por suas reivindicaes e manifestaes?

    Estes so, sinteticamente, os dias atuais. Dias onde no h mais tortura indiscriminada contra presos polticos, onde no h generais-presidentes. Dias de Nova Repblica. Onde h represso s greves, onde h impunidade e promoo para torturadores e assassinos de camponeses, onde h uma Constituinte tutelada onde h arrocho salarial e subordinao ao imperialismo, onde h a permanncia de um Estado militarizado at a raz, onde h um governo ilegtimo e comprometido com os interesses do capital. Algo mudou,

    sem dvida. Mas os problemas essenciais dopovo continuam sem soluo. E este governo da Nova Repblica no ir solucion-los. Nem iro os saudosistas da ditadura no ir solucion-los.Nem iro os saudosistas da ditadura militar, que diante dos fracassos do Governo Sarney retornam salientes para com sua costumeira hipocrisia, dizer "antes era melhor do que agora".

    Qual a sada para enfrentar tudo isto? Qual rumo devemos seguir para enfrentar este momento de crise e de frustrao? A desesperana que se alastra entre largas parcelas dos trabalhadores e do povo justificada mas no deve continuar. preciso semear a revolta e construir um nova esperana, que aponte para uma sociedade verdadeiramente nova, liberta da explorao e da opresso. Uma sociedade socialista capaz de desenvolver plenamente as potencialidades materiais e espirituais dos homens e mulheres. Sabemos, esta ser uma luta rdua, prolongada, mas necessria. E uma luta que se faz hoje, apresentando propostas para o presente.

    O Partido dos Trabalhadores, em reunio do Diretrio Nacional, qual j nos referimos aqui, tomou a deciso de iniciar, em conjunto com outras foras populares, uma campanha em defesa dos interesses do povo. Campanha esta baseada numa plataforma de reivindicaes imediatas, capazes de atenderem aos anseios mais sentidos do povo. E que tem como centro a exigncia de eleies diretas j para Presidente da Repblica. necessrio desenvolv-la com urgncia. Reunir as lutas e greves dispersas numa luta nica, e numa luta essencialmente poltica. S assim as multides tornaro a ocupar as ruas, e desta vez de modo independente, para construrem seu prprio projeto poltico.

    A herana do regime militar s ser banida com a luta constante do povo. Uma luta dirigida hoje contra os depositrios desta herana: o Governo Sarney e a Nova Repblica.

    Ao finalizar, quero deixar registrado, neste dia 31 de maro, que, na comisso constitucional de que participo, apresentarei propostas que se voltam, uma a uma, contra a doutrina de segurana nacional e a militarizao do Estado brasileiro. Sabemos que os conservadores de sempre tudo faro para evitar que qualquer uma delas seja aprovada e como de costume nos chamaro de radical. De fato o somos, porque acreditamos que o mal s pode ser enfrentado quando vamos raiz.

    O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL RR. Sem reviso do orador.): Sr. Presidente, Srs. Constituintes, apresento nove propostas Constituinte:

    1) Dispe sobre a eleio para Presidente e Vice maioria absoluta de votos e maioria das Unidades da Federao.

    2) Extino da figura de Territrio Federal do contexto da Federao.

    3) Transforma em Estados os Territrios de Roraima e Amap.

    4) Destina 5% do Oramento da Unio para programas de desenvolvimento da Amaznia.

    5) Destina 25% do Oramento da Unio para a educao.

    6) Extingue o concurso vestibular para o ingresso nas universidades.

    7) Estabelece direito de voto para os brasileiros maiores de 16 anos.

    8) Igualdade de remunerao entre servidores ativos e aposentados.

    9 ) E s t a b e l e ce: estabilidade no emprego aps 6 anos de trabalho; seguro desemprego; aposentadoria aos 25 anos de servio para professores,

  • 7 DIRIO DA ASSEMBLIA NACIONAL CONSTITUINTE

    mdicos, profissionais da rea de sade e policiais.

    Sr. Presidente, Srs. Constituintes, entre as proposies quero destacar aquela que extingue o concurso vestibular.

    Entre as inmeras crticas sobre a explorao do ensino no Pas, nenhuma aparece com tanta freqncia quanto a que se refere prestao do exame vestibular.

    Para a maioria dos educadores, o vestibular uma maratona que no mede realmente os conhecimentos dos alunos, visto que o fator emocional pode influir na hora da realizao das provas, bloqueando o raciocnio, assim como o fator sorte pode favorecer os mais tranqilos, ou at os mais espertos.

    Isto pode ser constatado pelo baixo nvel dos que conseguem, s vezes, por mera casualidade, atingir os pontos necessrios sua aprovao, tal qual os felizardos que so contemplados com o acerto dos 13 pontos da Loteria Esportiva.

    A presso do aluno de 2 grau que se prepara para o vestibular fez cair o nvel do ensino, cujo contedo se canalizou na direo de um saber baseado, muitas vezes, em "massetes" ou tcnicas de adivinhaes, pelo processo de eliminao de respostas tidas visivelmente como impossveis, sem que haja um mnimo de raciocnio ou escolha consciente por parte do candidato.

    Estudiosos e tcnicos em educao, preocupados com o problema do vestibular, procuram encontrar uma sada atravs de contedos novos, capazes de mensurar, realmente, o conhecimento do educando.

    Em muitos pases a seleo para ingresso na Universidade feita levando em considerao o aproveitamento do aluno durante todo o curso fundamental.

    Tal prtica tem o grande mrito de motivar o aluno a estudar e auferir bons resultados desde as primeiras sries, vez que o somatrio de todos os conceitos de aprendizagem, por ele obtidos nos nveis anteriores, garantiro, por si, o seu ingresso nos cursos superiores.

    No momento em que se pensa em renovao de mtodos de ensino e aprimoramento de toda a educao brasileira, atravs da Constituinte, no se pode mais conceber a adoo de exame vestibular traumatizante, elitista e ineficaz, como tivemos at hoje.

    tempo de mudanas, de atualizaes pedaggicas e, sobretudo, de instituio de novos modelos educacionais.

    Justificada nestes termos, estou apresentando proposta com o seguinte teor:

    Inclua-se no texto da nova Constituio, no Captulo da Educao, o seguinte dispositivo:

    "Art. assegurado o acesso no ensino superior aos portadores de certificado de concluso de 2 grau, independente de prestao de concurso vestibular.

    Pargrafo nico. O critrio de seleo obedecer ao grau de aproveitamento dos candidatos nos nveis anteriores de ensino."

    A SR CONSTITU I N T E I R M A PASSONI: Sr. Presidente, peo a palavra pela ordem.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage): Tem a palavra a nobre Deputada.

    A SR IRMA PASSONI (PT S P . Sem reviso da oradora.): Sr. Presidente, quero fazer uma indagao. Enquanto estamos com trabalho nas comisses e h pouco passei por algumas que esto elegendo os seus presidentes, portanto

    e s t o t r a b a l h a n d o pergunto: podem funcionar, regimentalmente, ao mesmo tempo, comisses e Plenrio? Parece-me que o Plenrio prejudica a comisso e a comisso prejudica o Plenrio. Levanto esta questo porque tenho de comparecer Comisso da Ordem Econmica, da qual fao parte, s 15:30 horas; portanto, h dupla funo, o que no cabvel.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage): A Mesa informa a V. Ex. que questo de ordem nesse sentido foi anteriormente suscitada pelo nobre Deputado Adylson Motta, e est praticamente resolvida.

    A SR IRMA PASSONI: Perdo, Sr. Presidente, mas no est solucionada. Se se considera que eleio no trabalho, eu recorro dessa deciso, porque parece-me que a eleio de presidente de comisso tambm um trabalho da Assemblia Nacional Constituinte, que, regimentalmente, se desenvolve neste momento.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage): V. Ex. tem respaldo no Regimento para o recurso.

    O S r . Jorge Arbage, 2-Vice-Presidente, deixa a cadeira da presidncia, que ocupada pelo Sr Arnaldo Faria de S, 3-Secretrio.

    O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de S): Tem a palavra o Sr. Nelson Aguiar.

    O SR. NELSON AGUIAR (PMDB ES. Sem reviso do orador.): Sr. Presidente, Sras e Srs. Constituintes, nesta madrugada acordei os Deputados Brando Monteiro e Luiz Henrique, aps conversar, durante algum tempo, com um parente nosso, oficial, atualmente servindo no I Exrcito, no Rio de Janeiro. A condio de parentes permitiu que ele abrisse seu corao e conversasse franca e abertamente, mostrando-me seu ponto de vista a respeito do momento poltico e da crise que a Nao vive.

    Segundo me informou, hoje o esprito da oficialidade jovem, especialmente a do Exrcito, contra um retrocesso, mas advertiu-me de que esto redondamente enganados aqueles que acham que a Nao j dispe de suficiente espao poltico para suportar os abalos a que a Nao se encontra submetida. Quero lembrar que aquele oficial votou no ex-Governador Leonel Brizola e no nosso ex-companheiro Srgio Lomba, que no se reelegeu, o que mostra que suas preferncias so bastante avanadas no momento de conferir seu voto.

    No sou to burro, dizia ele, a ponto de no perceber que so exatamente os que no querem realizadas as mudanas estruturais atravs da Constituinte que esto a armar o espetculo da desordem e do caos, a fim de que possam preparar o caminho de volta, tarefa em que, alis, se acham ocupados em regime de tempo integral e de urgncia urgentssima.

    Diro que os trabalhadores que esto em greve em todo o Pas, em funo dos nfimos salrios que percebem, e do alto custo de vida que tm que suportar, no podem mais esperar o tempo necessrio elaborao de uma nova Constituio, por melhor e mais eficaz que esta venha a ser no campo das desejadas mudanas estruturais.

    Podem at ter razo os que assim argumentam e eu mesmo estou empenhado no apoio irrestrito aos movimentos dos trabalhadores. Contudo, no me pode passar desapercebido o fato de que o aprofundamento da crise e o acirramento das contradies, neste momento, no favorecem a

    elaborao constitucional, alm de somarem a quantos ora se aproveitam das imensas dificuldades e desgraas que eles prprios ajudaram a criar, a fim de enfraquecer o Governo, desmoralizar o PMDB, tornar as solues impossveis, tentar provar a incompetncia de classe poltica para gerir os negcios da Nao, e, numa situao incontornvel, pr as tropas na rua, obstruir o caminho da transio e, finalmente, impedir a consolidao da democracia, com a promulgao de uma nova Carta constitucional.

    Essas observaes eu as ouvi, Sr. Presidente, na madrugada de hoje, de um oficial da ativa das Foras Armadas que, segundo afirmou, est comprometido com seus colegas a trabalhar contra o retrocesso.

    Creio que, se as mudanas estruturais dependem da elaborao de uma nova Carta, ento desestabilizar o Governo significa desestabilizar a Constituinte; desmoralizar o PMDB desmoralizar o principal instrumento de sustentao poltica de que a Repblica lana mo hoje, de que o Governo faz uso hoje, para garantir os trabalhos da Assemblia Nacional Constituinte e, desta forma, Sr. Presidente, Srs. Constituintes, instrumentar esta Nao para queela possa realizar as mudanas que todos reclamam.

    Encerro dizendo que, se o Governo Sarney, hoje, ainda no pode realizar essas mudanas at porque elas esto impedidas em funo do entulho autoritrio ainda no removido , preciso trabalhar com pacincia, prudncia e competncia para garantir os trabalhos da Constituinte, a fim de que, com a elaborao de uma nova Carta, possamos produzir as mudanas que a Nao reclama.

    O SR. MRIO LIMA (PMDB BA. Sem reviso do orador.): Sr. Presidente, Sras e Srs. Constituintes, o Pas est vivendo momentos de muita perplexidade. A situao econmica difcil, ocorrem muitas greves, porm preciso que esta Casa entenda que o movimento dos trabalhadores o que menos tem responsabilidade por toda essa confuso.

    A nossa legislao trabalhista toda feita base de decretos-leis. Comea com a Consolidao, que um decreto-lei. O direito de greve, que desde 1946 vem figurando nas Constituies, sempre foi, na prtica, inviabilizado tambm atravs desse instrumento.Era o Decreto-lei n 9.070 e, recentemente, a Lei n 4.330, aprovada em junho de 1964, quando esta Casa no tinha fora para reagir a qualquer tipo de presso. E, ultimamente, para inviabilizar ainda mais o direito de greve, o Governo, pelo Decreto-Lei n 1.632, volta a impedir que o trabalhador exera esse direito.

    O que realmente se pretende, Sr. Presidente, que o direito de greve tenha uma lei que no o inviabilize. Os trabalhadores no podem aceitar que, a pretexto de impedir greves que no atingem as suas finalidades, se procure, na prtica, inviabilizar esse direito.

    Como parlamentar, acho que todos temos uma grande responsabilidade com esta situao que a est, pois desde 1946 que consta da Constituio Federal, de maneira expressa, o direito de greve aos trabalhadores. Na prtica, porm, leis arbitrrias e injustas sempre fizeram com que esse direito fosse impossvel de se concretizar.

    Hoje mesmo, pela manh, o Ministro-Presidente do Tribunal Superior do Trabalho dizia que a classe dos bancrios, que se encontra em greve em todo o Brasil, era a mais oprimida e prejudicada na histria dos trabalhadores deste Pas. O Sr. Ministro chegou ao ponto de dizer que o salrio dos bancrios era to ruim que no parecia salrio

  • DIRIO DA ASSEMBLIA NACIONAL CONSTITUINTE 8

    e, sim, mesada, e dizia mesmo que, hoje, a profisso de bancrio no existe. H pessoas que exercem a funo provisoriamente, enquanto no encontram emprego melhor. Isto foi dito atravs da televiso pelo Presidente da maior corte da justia trabalhista deste Pas.

    Fica claro, Sr. Presidente, que a luta dos companheiros bancrios possa at merecer essa ou aquela restrio, mas, no fundamental, uma luta justa, que visa a corrigir as graves injustias que a classe bancria tem sofrido nos ltimos tempos.

    Ainda, a pretexto da greve, procura-sedesestabilizar o Ministro do Trabalho. S. Ex.ausentou-se do Brasil, para cumprir as suas obrigaes de Ministro de Estado. Foi ao exterior para fazer um convnio com o objetivo de melhorar o desempenho da formao profissional do Pas, adaptando-a s novas tecnologias emergentes. E dessa viagem, das converes mantidas com o BIRD resultou o financiamento de cerca de 74 milhes e 500 mil dlares, que sero empregados nos programas de melhoria da mo-de-obra.

    Para concluir, Sr. Presidente, na condio de Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Petrleo da Bahia, quero dizer Casa e Nao que, se h algum que tenha contribudo para esse estado de perplexidade e confuso, no foram os trabalhadores brasileiros. Nenhum trabalhador impediu que a Casa votasse uma lei de greve que realmente permitisse o exerccio desse direito. O que se viu, nos quarenta e um anos que decorrem da Constituio de 1946, foi o direito de greve ser inviabilizado por leis que impedem que se distinga a greve em defesa dos reais interesses dos trabalhadores daquela greve realizada por minorias que s vezes visam at a prejudicar o trabalhador. Sabemos de fbricas que, quando tm problemas, colocam seus testas-de-ferropara fomentarem a greve.

    O verdadeiro trabalhador, o verdadeiro dirigente sindical faz greve para melhorar as condies de trabalho e de remunerao. E a responsabilidade volto a afirmar no cabe nem ao trabalhador nem ao dirigente sindical. O que gera esta confuso o desejo de impedir que o trabalhador exera realmente o direito de greve. Entre todas as naes civilizadas, no h uma sequer em que o trabalhador no tenha o direito de greve estabelecido em legislao clara.

    No pode o Pas continuar convivendo com a mentira do direito de greve, que, na prtica no existe. Toda greve declarada ilegal. A Lei n 4.330, elaborada em junho de 1964, em plena ditadura, uma farsa, uma lei que no pode existir num pas que se diz democrtico. por isso que h problemas no Brasil e estamos vivendo estes dias de incerteza e insegurana da nossa parcela de responsabilidade. A Casa tem obrigao de, no mais rpido tempo possvel, votar uma lei que realmente sirva ao Pas, porque servir aos trabalhadores, viabilizando seus verdadeiros anseios de melhores salrios e condies de trabalho.

    Muito obrigado. Muito bem! Palmas.O SR. CONSTITUINTE MOYSS

    PIMENTEL: Sr. Presidente, peo a palavra pela ordem.

    O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de S): Tem a palavra o nobre Deputado.

    O SR MOYSS PIMENTEL (PMDB CE. Sem reviso do orador.): Sr. Presidente, evidente a falta de nmero. Por conseguinte, peo a V. Ex. que suspenda os trabalhos.

    O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de S): Em virtude da inexistncia de quorum, a sesso suspensa por cinco minutos.

    O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de S): Tem a palavra a Sr Cristina Tavares.

    A SRA. CRISTINA TAVARES (PMDB PE. Pronuncia o seguinte discurso.): Sr. Presidente, Sras, Srs. Constituintes, antes de decidir pelo racionamento de energia eltrica para o Nordeste, as autoridades deveriam, num procedimento natural, analisar o significado do sistema CHESF para a regio, qual a situao atual, como se chegou a ela e quais os reflexos de uma medida extrema na economia regional. Diante das evidncias de que a questo no foi analisada a fundo, sou forada a faz-lo agora, em rpidas pinceladas, chamando a ateno do Governo para as conseqncias de uma medida adotada com precipitao, sem a merecida anlise, e responsabilizando-o por mais este golpe contra o Nordeste.

    de pasmar que as autoridades do setor energtico no saibam da vulnerabilidade da economia nordestina, dada sua dependncia de uma nica fonte de energia, a hidreltrica, em sua grande totalidade gerada por um mesmo rio. De fato, do rio So Francisco saem, aproximadamente, 91% da energia eltricaconsumida, ficando 6% a cargo da usina de Tucuru, pertencente Eletronorte, atravs deinterligao com linhas de 500 quilowatts de tenso, e outros 3% a cargo de estaes instaladas em rios de pequeno porte.

    Como se no bastasse a dependncia de uma nica fonte, a regio no dispe de alternativas energticas diferenciadas para enfrentar ou evitar o racionamento, e no as ter tambm no futuro se no forem tomadas decises polticas de imediato.

    Num governo que se prope a pautar suas aes pela transparncia, tal princpio tambm pressupe o reconhecimento de erros, de falhas nas decises que envolvem o setor eltrico. evidente que o problema tambm sofreu influncias de fatores alheios ao controle dos responsveis pelo setor, como o compor tamento adverso das condies pluviomtricas e de vazo da bacia do rio So Francisco, desde outubro do ano passado. Houve, ainda, o aumento do mercado consumidor, devido ao reaquecimento da economia. Contudo, em pocas anteriores, o Nordeste sofreu faltas de chuvas mais severas do que a atual, e isso no serviu de alerta aos responsveis pelo setor. J em 1981, alguns sindicalistas da CHESF advertiam a sociedade sobre os riscos e custos sociais dos cortes de investimentos nos recursos da empresa naquele ano.

    Tais advertncias foram respondidas com demisses, a usina de ltaparica no foi concluda e, em conseqncia do atraso nas obras necessrias, o Nordeste sofre, hoje, risco de dficit de mais de 20% de suas necessidades energticas, quando o limite mnimo aceitvel de 5%.

    Apesar do quadro sinistro, h possibilidades de ameniz-lo, o que s depende da boa vontade e do esprito pblico dos governantes. Uma delas o corte do suprimento de energia eltrica para a Alumar, no Maranho, como forma de aliviar as condies d e racionamento para o Nordeste. Hoje gastamos US$ 1.550 para produzir uma tonelada de alumnio, que vendemos por US$ 1.100. No custo de produo j esto embutidos o retorno e a depreciao do capital, da ordem de US$ 570 por tonelada. Portanto, para uma entrada lquida de US$ 530 (1.100-570), estamos perdendo US$ 450 por tonelada. E isso, ainda, com energia subsidiada, pois a Alumar compra a energia eltrica a uma tarifa 10% mais barata do que os outros consumidores e fornecida por quase metade do preo do seu custo de produo.

    Os defensores da Alumar alegam que o corte de energia representar dois mil desempregos diretos. Por acaso os governantes sabem o que representa para o Nordeste como um todo no ter os 450 mW mdios fornecidos Alumar?

    Contudo, u m e m p r e e n d i m e n t o subsidiado de reduzido alcance social, alm de beneficiar regiamente o capital estrangeiro, tem defensores dentro do prprio Governo. Entre os advogados de defesa da Alumar est o DNAEE, que utiliza argumentos como o da manuteno d e t r a t amento igualitrio para todos os consumidores industriais, esquecendo os subsdios e a forma trapaceira como a Alumar se instalou no Maranho e contrariando, inclusive, recomendaes tcnicas que identificam a inviabilidade econmica do projeto, e a defesa do cumprimento dos contratos de fornecimento.

    O comportamento do DNAEE torna-seainda mais inaceitvel porque, enquanto toda a Nao vive um estado de crise econmica das mais graves, o rgo continua defendendo a manuteno de privilgios para quem no precisa deles e j se refestela em lucros astronmicos conseguidos custa dos nossos sacrifcios.

    Enquanto isso, ao Nordeste so impostos novos sacrifcios, sem qualquer perspectiva de reparao pelos danos sofridos. Para que no se imputem ao Governo da NovaRepblica a mesma culpa e as mesmas responsabilidades que os governos anteriores tiveram pelo atraso da regio, urge a adoo de providncias. preciso que sejam garantidos recursos para a concluso da hidreltrica de Itaparica, para a duplicao da interligaoCHESF/Eletronorte e a garantia das obras do Xing.

    Alm do mais, num governo que se prope democrtico, preciso levar ao conhecimento e discusso da sociedade toda a gravidade do problema e, ao mesmo tempo, punir os responsveis por este estado de coisas. Que este quadro to indesejado sirva de exemplo aos novos governadores, para que no permitam, no futuro, o alijamento da sociedade nas decises sobre o uso de formas alternativas de energia.

    O SR PRESIDENTE (Arnaldo Faria de S): Sendo evidente o nmero necessrio para constituio da Sesso, suspendo a chamada nominal, continuando com o Pequeno Expediente.

    O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de S): Tem a palavra o Sr. Ademir Andrade.

    O SR. ADEMIR ANDRADE (PMDB PA. Sem reviso do orador.): S r . Presidente, Srs. Constituintes, trago hoje tribuna desta Casa uma denncia da maior gravidade. Hoje pela manh, ao abrir o CorreioBraziliense, deparei com o fato da morte de dois policiais da Polcia Civil do Distrito Federal e mais dois feridos em Conceio do Araguaia, no meu Estado, na fazenda denominada Nazar. Fala-se que no se sabe o que esses policiais do Distrito Federal estariam fazendo no Par. Supe-se, segundo o Secretrio, que poderia ser por questes de terra, mas ainda existe a alternativa de que estariam pescando no meu Estado.

    Sr. Presidente, Srs. Constituintes, trago hoje ao conhecimento desta Casa que esses policiais efetivamente estavam l no s eles, mas tambm colegas deles. Desde novembro de 1986 h um grupo de pistoleirosem Conceio do Araguaia especificamente queimando casas, torturando posseiros e expulsando-os das seguintes fazendas: Nazar, Agropecuria Companhia Santa Maria de Canarana, Maria Luiza Curral de Pedras.

  • 9 DIRIO DA ASSEMBLIA NACIONAL CONSTITUINTE

    Todas elas dizem de propriedade dafamlia Gomes dos Reis, do Estado de So Paulo.

    Sr. Presidente, Srs. Constituintes, estes fatos so do conhecimento do Governo, das autoridades deste Pas, porque comearam a ocorrer em novembro de 1986. No dia 6 de dezembro foi feita a primeira denncia, pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais, de que homens armados com armas privativas do Exrcito, com farda camuflada, privativa do Exrcito, estavam naquelas fazendas a expulsar posseiros e a queimar as suas casas. Nenhuma providncia foi tomada.

    No dia 11 de fevereiro deste ano estivemos com o Ministro Dante de Oliveira eu, Padre Ricardo Rezende e vrios trabalhadores rurais denunciando estes fatos. S. Ex. imediatamente mandou para a rea, Conceio do Araguaia, dois tcnicos do Mirad e fui junto com eles. L, no sbado, passamos a ouvir os trabalhadores rurais envolvidos nessas questes. As denncias foram feitas. Foi claramente demonstrado que pistoleiros estavam a expulsar os posseiros e que tais pistoleiros diziam, a todo momento, ser integrantes do quadro da Polcia Federal.

    No dia seguinte, eu, o coordenador do GETAT e outros companheiros dirigimo-nos a Redeno, no Estado do Par, e apresentamos essa denncia na delegada da Polcia Federal daquela localidade, para que providncias fossem tomadas no sentido de se prender esses pistoleiros que agiam de maneira arbitrria sem ordem judicial, sem coisa alguma.

    O delegado da Polcia Federal, Moacyr Silva Rodrigues, no dia seguinte disse-nos que tinha consultado a Polcia Federal e que ela nos havia orientado para que levssemos o fato ao conhecimento do Ministro da Justia, porque l em Redeno no poderiam fazer coisa alguma. Fiquei a me perguntar: para que serve, ento, essa delegacia da Polcia Federal naquela localidade?

    Pois bem, Srs. Constituintes, dois dias depois, 17 de fevereiro, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceio do Araguaia e a CPT Regio Norte enviaram telex ao Ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrrio, ao Ministro da Justia, ao Governador do Estado do Par e ao Secretrio de Segurana Pblica para que providncias fossem tomadas com relao a esses dois pistoleiros que l agiam. Os dois tcnicos do Mirad apresentaram relatrio de sua viagem, onde citam todas as barbaridades praticadas por esses pistoleiros contra os trabalhadores rurais.

    Sr. Presidente, apelo a V. Ex. para que sejam transcritos nos Anais desta Casa, a fim de ficarem registrados na Histria, esses dois documentos: a denncia feita Polcia Federal de Redeno e o relatrio apresentado por dois tcnicos do Mirad. No um documento feito por mim, mas por dois tcnicos do Mirad.

    Pergunto: o Governo tomou alguma providncia? Algum agiu para salvar a vida desses trabalhadores rurais naquela localidade? No. O resultado est a. Policiais foram mortos. Quem, Sr. Presidente, est por trs disso? Como que o Secretrio de Segurana Pblica do Distrito Federal vai ficar agora, diante da opinio pblica, sabendo que policiais seus esto no Par a expulsar trabalhadores rurais? Quem est por trs disso precisa ser descoberto.

    Concluo o meu pronunciamento dirigindo-me Mesa da Assemblia Nacional Constituinte. Ontem, ao chegar minha casa, liguei a televiso e assisti ao jornalda TV Manchete. Vi, claramente, um policial chutar pelas costas o Constituinte Joo Herrmann. Foi muito claro. Sugiro Mesa da Assemblia Nacional Constituinte que

    requisite as fitas do jornal da TV Manchete e, atravs delas, sero facilmente identificados os policiais militares de Braslia que agrediram os Constituintes desta Casa, que l estavam a defender e a ajudar os bancrios, a fim de resolver de maneira pacfica aquela situao. No esquea, Sr. Presidente, pois fica o meu registro: pelo jornal da TV Manchete identifica-se o policial que chutou, pelas costas, por duas vezes, o Deputado e Constituinte Joo Herrmann.

    O Secretrio de Segurana Pblica de Braslia deveria ser imediatamente demitido. Este o papel do Governo do Distrito Federal: demitir esse irresponsvel, que ainda ontem foi televiso dizer que no houve violncia policial e que a ao da Polcia foi exemplar. Exemplar para ele, que permite a seus policiais, hoje no sul do Par, servirem de milcias privadas de grandes proprietrios de terra.

    Era essa a manifestao que desejvamos registrar. (Palmas.)

    DOCUMENTO A QUE SE REFERE O ORADOR

    Ministrio da Reforma e doDesenvolvimento Agrrio MIRAD

    Grupo Executivo das Terras doAraguai/Tocantins GETAT

    Unidade Executiva de Conceiodo Araguaia UECA

    Of. n 12/87Ilmo. Sr.Chefe do Posto do DPF, emRedeno PA.

    Lavradores ocupantes das Fazendas Nazar e Maria Luiza, situadas no Municpio de Conceio do Araguai, vieram a esta Unidade Executiva para denunciar que grupos armados os expulsaram de seus lotes nos imveis mencionados, dizendo pertencerem ao Departamento de Polcia Federal.

    Citado procedimento foi reiterado, ontem, na reunio realizada na sede do STR de Conceio do Araguaia, onde estiveram presentes o Dep. Federal Ademir Andrade, representantes do Mirad, do GETAT, da Contag e de outros rgos da regio.

    Os denunciantes acrescentaram, ainda, que essas pessoas portam armas de vrios tipos e calibres, algumas delas privativas das Foras Armadas.

    Ante a gravidade da ocorrncia solicito a V. Sa., sejam adotadas as providncias adequadas, com o fito de que se realize a competente apurao dos fatos aqui expressos.

    Sem outro assunto para o presente, expresso a V. Sa. protestos de considerao e apreo.

    Atenciosamente, Raimundo Jos Oliveira, Chefe da UECA.

    Secretaria Geral MiradSecretaria de Planejamento

    Coordenadoria de Programao e ProjetosRelatrio de Viagem ao Sul do Par

    De 14 a 22 de fevereiro de 1987

    Braslia DF

    Sumrio

    PgI INFORMAES GERAIS.................. 03

    A. Perodo........................................ 03B. Municpios visitados.................... 03C. O b j e t i v o................................ 03D. Integrantes da Equipe................. 03E. Sistemtica de trabalho............... 04

    II CARACTERIZAO DOS CONFLITOS 04A. Reunio com trabalhadores rurais em

    Conceio do Araguaia............ 04B. Reunio com trabalhadores rurais em

    Redeno................................. 07C. Reunio com trabalhadores rurais em

    Santana do Araguaia............... 11D. Reunio com trabalhadores rurais em

    So Geraldo do Araguaia......... 14III CONCLUSO E SUGESTES DE

    ENCAMINHAMENTO............... 19

    "Se as autoridade no tomar providncias o trabalhador vai ter que tomar. No podemos permitir mais esta ameaa porque ns precisamos da terra para trabalhar e no podemos deixar nossas criana morrer de fome". (Depoimento de um posseiro Conceio do Araguaia.)

    I INFORMAES GERAIS

    A .PerodoDe 13 a 17 de fevereiro de 1987.B. Municpios visitadosa) Conceio do Araguaia;b) Redeno;c) Santana do Araguaia;d) Distrito de So Geraldo do Araguaia,

    no municpio de Xinguara.C. ObjetivoComprovar denncias realizadas em

    Braslia, dia 11-2-87, ao Sr. Ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrrio, Dante de Oliveira, por uma Comisso composta por representantes do STR de Xinguara, Pe. Ricardo Rezende Diretor da CPT Araguaia-Tocantins, Waldir Vereador do Distrito de So Geraldo do Araguaia, Dep. Ademir Andrade e CONTAG, bem como caracterizar a natureza dos conflitos acompanhando, em visita a alguns municpios do Sul do Par, o Deputado Federal Ademir Andrade.

    D. Integrantes da Equipea) Deputado Ademir Andrade;b) Dois representantes

    CPP/SEPLO/SG/Mirad Marcos Antonio Macedo Cintra e Clara de Assis Vale Evangelista;

    c)Representantes do GETAT o Coordenador, Dr. Benigno Ges e os chefes das Unidades Executivas visitadas (UECA; Dr. Raimundo de Oliveira; UESGA, Dr. Ruberval Silva).

    E. Sistemtica de TrabalhoRealizao de Reunio com os

    trabalhadores rurais em cada localidade visitada, para ouvir depoimentos, denncias e prestar esclarecimentos quanto ao do Mirad/GETAT na rea.

    Participaram das reunies alm das pessoas acima citadas, representantes de entidades locais, representantes de STR's, polticos municipais, tendo esta participao variado segundo a localidade.

    II CARACTERIZAO DOS CONFLITOS

    A. Reunio com Trabalhadores Rurais em Conceio do Araguaia em 14.2.87;

    Participaram tambm: STR de Conceio do Araguaia, CPT Araguaia/Tocantins, CONTAG e Candidato a Deputado Estadual pelo PMDB em 86 (Raimundo Marques).

    Presentes aproximadamente 200 trabalhadores rurais.

    Os conflitos pela posse e uso da terra no municpio de Conceio do Araguaia abrangem 16

  • DIRIO DA ASSEMBLIA NACIONAL CONSTITUINTE 10

    reas, perfazendo um total de aproximadamente1.265 famlias, assim relacionadas;

    Localidade N FamliasFazenda Poragominas 42Fazenda Batente: lotes 28, 29 e 38 250

    Fazenda Colorado ou Centro da Mata: lote 27 64

    Fazenda S. Domingos 60 (aprox.)Fazenda Guampa 70 (aprox.)Fazenda Gacha 60Fazenda Nazar: lote 24 80Fazenda Maria Luiza: Lote 12 70 (aprox.)Fazenda Serrinha 14Fazenda Ing, Lote 3 60Fazenda Bela Vista Mais de 300Fazenda Lontra 30Fazenda Curral de Pedra 40 (aprox.)Fazenda Cruzeiro 50Fazenda Vera Cruz 25Fazenda Indiana 50

    Entretanto, segundo depoimentos dos posseiros e demais presentes reunio, a situao est se agravando em algumas destas fazendas, tendo os proprietrios se articulado para expulsar aleatoriamente os ocupantes de reas que at ento, estavam mantidas inexploradas. Nas Fazendas Curral de Pedra, Nazar (lote 24), Maria Luiza, de propriedade da Cia. Santa Maria da Canarana; na Fazenda Lontra de Murilo Machado; na Fazenda Gacha, de Jairo de Andrade; e na Fazenda Cruzeiros, existe um grupo pra-militar de mais ou menos 34 homens que se diz da Polcia Federal, alguns inclusive usando farda utilizada pelo exrcito em operao anti-guerrilha (camufagem).(1). Dentre eles, foi reconhecido pelos posseiros, um pistoleiro chamado Arildo que saiu recentemente da cadeia de Conceio do Araguaia. Eis um relato breve da ao do grupo na rea:

    (I) Dia 14-2-86 a equipe esteve no Posto da Policia Federal no municpio de Redeno onde foi apresentada uma denncia formal do GETAT quanto presena de grupos pra-militares que se diziam da Polcia Federal expulsando posseiros no Municpio de Conceio do Araguaia. Aps consulta ao Comando da Polcia Federal, em Braslia, fomos informados de que a denncia deveria ser feita diretamente ao Ministro da Justia para que este encaminhasse qualquer deciso junto ao Diretor da Polida Federal, Romeu Tuma.

    a) Dia 11-2-87, segundo os trabalhadores, este grupo expulsou os posseiros da Fazenda Nazar, queimou 4 barracos e ameaou matar a todos se voltassem para rea;

    b) Na Fazenda Maria Luiza, 30 homens armados, com o auxlio de mquinas, destruram 3 barracos e as roas dos posseiros;

    c) Na Fazenda Gacha, 15 homens armados invadiram as casas dos posseiros afirmando que possuam ordem do Juiz, da Polcia Federal, e do Presidente da Repblica.Tiraram retrato dos posseiros, procurando saber em quem eles votaram e afirmando: "se querem viver devem sair da rea, somos polcia do DOPS";

    d) Dia 17-1-87, Adalberto Gonzales Alcntara, posseiro da Fazenda Cruzeiro foi assassinado dentro de sua casa, na presena da famlia, pelo pistoleiro "Paraba".

    Este grupo est atuando, at o momento, apenas nestas 6 reas, entretanto, os posseiros de todas as outras esto sendo ameaados de serem expulsos, o que tem gerado um clima de insegurana e tenso generalizado.

    Segundo os depoimentos, o clima de terror na regio se exacerba na ameaa de morte a

    lderes sindicais, objetivando destruir a organizao dos trabalhadores, como, por exemplo: Murilo Machado, proprietrio da Fazenda Lontra afirmou a Dozinha, membro da Diretoria do STR de Conceio do Araguaia, que "se a Lontra for desapropriada ele morrer". Ofereceu-lhe Cz$ 50.000,00 para que abandonasse o sindicato. Antonio Balbino, um pistoleiro que reside ao lado da sede do STR de Conceio, ameaa-o afirmando que "existe um pistoleiro de Redeno contratado para mat-lo".

    Estas ameaas tm atingido inclusive pessoas que se solidarizam com os problemas dos posseiros. Toinzinho, gerente da Fazenda Charlon afirmou (segundo Dozinha) que para se acabar com as ocupaes de terra no Municpio de Conceio do Araguaia, cinco pessoas devero morrer: Pe. Ricardo Rezende, Raimundo Marques candidato a Deputado Estadual pelo PMDB PA nas eleies de 1986, e trs membros do STR de Conceio: Felipe Macedo (Presidente), Daniel e Dozinha (da Diretoria).

    Em todos os depoimentos dos habitantes da regio presentes reunio, trabalhadores rurais ou no, ficou evidente o clima de tenso e ameaa em que vive a populao da rea.

    B. Reunio com Trabalhadores Rurais em Redeno 15-2-87;

    Participaram tambm: Candidato a Deputado Estadual (Raimundo Marques), um Vereador (Pedro) e outros.

    Presentes aproximadamente 100 trabalhadores rurais.

    Os conflitos existentes no municpio de Redeno, abordados pelos trabalhadores na reunio, abrangem 3 reas: Fazenda Santa Tereza da Cia. de Terra Fazenda Mata Geral, 34.402,7 ha; Fazenda Agropecus, 25.970 ha; e Fazenda Morada da Prata, onde se encontra o garimpo Machadinho, controlado por Limiro Antonio da Costa Filho (lotes 177, 180, 204 e 301).

    a) Fazenda Santa TeresaNo incio de 1986, aproximadamente

    480 posseiros foram expulsos da Fazenda Santa Tereza. Aps negociao do ento Ministro da Reforma e Desenvolvimento Agrrio, Dr. Nelson Ribeiro, com os posseiros, e segundo o compromisso de que estes no voltariam a ocupar novamente a rea, o GETAT realizou duas vistorias objetivando instruir o processo de desapropriao. A rea desta propriedade, que originariamente era de 201.528,0 ha, foi sendo dividida em lotes e vendida, pelo proprietrio,constituindo no momento da vistoria uma rea de 34.402,7 ha. Apesar da grande extenso no h at o presente momento possibilidade concreta de resoluo do problema. Ela est classificada no Cadastro de Registro de Imveis do INCRA como Empresa Rural, devendo portanto, ser descaracterizada para poder vir a ser desapropriada. Alis, dia 3-11-86, foi vetada a desapropriao deste imvel pela Comisso Agrria do Par. Por outro lado, as informaes so de que o proprietrio continua a lote-la,vendendo partes da rea, para evitar sua desapropriao.

    Atualmente, os posseiros expulsos somam-se a outros sem-terra do municpio constituindo uns 1000 trabalhadores rurais que esperam pelo acesso terra prometida pelo Plano Nacional de Reforma Agrria da Nova Repblica. Desta forma, intensifica-se a presso sobre a terra e o clima de tenso. Os trabalhadores rurais da rea reclamam a urgncia de uma soluo.

    b) Faz. Morada da Prata Garimpo Machadinho.

    O pretenso proprietrio, Sr. LmiroAntnio da Costa Filho no possui direito de lavra, mas controla os garimpeiros em regime de servido forada. Segundo depoimentos temos que:

    1) de 30 em 30 dias, os garimpeiros so obrigados a assinar um papel em branco;

    2) para entrarem na rea do garimpo so obrigados a deixar todos os documentos com os guardas dos postos de controle;

    3) so obrigados a vender o ouro ao Sr.Lmiro que lhes paga apenas 70% do valor estipulado pela Caixa Econmica Federal;

    4) as mercadorias de consumo vendidas dentro do garimpo possuem um preo 5 (cinco)vezes maior (um saco de arroz custa Cz$ 1.200,00);

    5) os garimpeiros denunciaram, tambm, que apenas 10% do ouro arrecadado pelo pretenso proprietrio comercializado com o governo, ou seja, o ouro contrabandeado.

    Os garimpeiros denunciaram as arbitrariedades descrias acima e solicitaram um mandado de segurana da Polida Militar do Municpio, obtendo atravs deste a liberao do garimpo, o que permitiu a livre comercializao do ouro.

    Objetivando obter novamente o domnio da rea, o pretenso proprietrio solicitou ao Juiz de Santana do Araguaia (Walton Csar) um mandado de reintegrao de posse, cuja liminar autorizou o despejo de 20 posseiros, que na realidade eram garimpeiros. E, mesmo no existindo nenhum posseiro na rea, com esta l iminar, executou-se o despejo dos 333 garimpeiros que nela trabalhavam.

    Os garimpeiros voltaram novamente a trabalhar na rea, existindo atualmente 500 garimpeiros que se submetem ao mesmo regime de coao acima descrito. Eles reivindicam desapropriao desta rea, que segundo eles improdutiva. Entendem que, desta forma, a terra seria viabilizada para os agricultores da regio e o garimpo liberado para que possam trabalhar.

    O GETAT, em 5-8-86, entrou com um pedido de vistoria judicial com a proteo da Polcia Militar, na Comarca de Conceio do Araguaia, mas at o momento, ainda no se tem o veredito do Juiz

    c) Faz. AgropecusA Faz. Agropecus, lotes 3, 4, 6, 8, 9,

    42, propriedade da Empresa Agropecus S/A, com rea de 25.970 ha e processo de desapropriao n 0137/86/UECA, es t ocupada por 127 famlias que possuem 350 ha de roa com capacidade de colheita entre 20 a 30 mil sacos de arroz e milho, a partir de maro de 1987. Toda esta produo corre o risco de ficar perdida, porquanto, os posseiros esto impossibilitados de retomarem suas posses devido a presena de pistoleiros e soldados da Polcia Militar na rea, aps o conflito que resultou na morte de Tarley Andrade, filho do proprietrio da Fazenda Forkilha, circunvizinha. A entrada na rea para realizar a colheita, tem sido a principal reivindicao destas famlias.

    Foram inmeros os depoimentos de familiares dos posseiros esposas, mes, irms denunciando o clima de terror e desrespeito que vivem desde janeiro. Casas invadidas pela madrugada por supostos policiais (vestidos como camponeses) sem mando judicial, procura de maridos, ou irmo desaparecido devido s ameaas de morte ou de priso preventiva decretada; maridos espancados e presos sem mando judicial, etc. Todo este trabalho feito pela Polcia de Santana do Araguaia e de redeno, segundo afirmam, ajudado por pistoleiros conhecidos na rea (Pedro Paran e Nenm Simo) cujo papel principal

  • 11 DIRIO DA ASSEMBLIA NACIONAL CONSTITUINTE

    tem sido indicar Policia a residncia de cadaposseiro procurado.

    Encontram-se presos na Delegacia de Santana do Araguaia, 6 (seis) trabalhadores acusados da morte de Tarley Andrade, em 19-12-86: Errol Flyn Barbosa, Jos Camilo da Silva, Raimundo Pereira da Costa, Raimundo Nonato da Silva, Raimundo Cerpa Arajo e Clsio Santana Barbosa. Foram presos sem mandado judicial; dois deles sequer estavam presentes no momento do crime e um dos quais mora, inclusive, em outra propriedade Arroiapor. O pedido de "habeas corpos" no foi considerado pelo juiz.

    Segundo depoimento dos trabalhadores presos (2) de 6 a 16 de janeiro do ano em curso, antes de serem trazidos para a penitenciria de Santana do Araguaia, foram submetidos a tortura, cujo objetivo era obter depoimentos que os incriminasse em todos os assassinatos j ocorridos na Fazenda Agropecus (12 posseiros e 15 madeireiros) e acusar o Deputado Ademir Andrade / PMDB-PA e Pe Aristides, da Parquia de Santana do Araguaia, de serem os mandantes das ocupaes de terra.

    Errol Flyn Barbosa, preso pela Delegacia de Furtos e Roubos de Goinia deu seu depoimento: "com os ps amarrados com cordas, mos algemadas, fui colocado numa sala com 5 cm de gua No pescoo enrolaram uma espcie de cobertor onde foi colocado um grampo, que, por sua vez, era ligado a um aparelho que girado enviava uma descarga eltrica". Entre uma descarga e outra, foi tomado seu depoimento.

    Alm dos 6 presos, outros 15 trabalhadores da regio esto com priso preventiva decretada, dentre os quais o Presidente do STR de Santana do Araguaia Natal Viana que sequer posseiro na rea.

    Ressaltamos que a UDR vem desenvolvendo uma campanha nos meiosde comunicao objetivando caracterizaro conflito como apenas banditismo pela posse de madeira. No entanto, segundo depoimentos por ns ouvidos, de trabalhadoresou no, o conflito origina-se na disputa pela terra, ou seja, os trabalhadores presos so posseiros da Faz. Agropecus e a madeira que estavam vigiando havia sido retirada de suas posses.

    O presidente do GETAT confirmou a Faz. Agropecus na pauta da Comisso Agrria do Par em maro prximo.

    C Reunio com Trabalhadores Rurais de Santana do Araguaia e m 15-2-87.

    Participaram tambm: Vereador Deijalma Rodrigues Lyra, outros candidatos na eleio de 86, p r o f e s s o r e s , e t c . Presentesaproximadamente 400 pessoas.

    Os conflitos pela posse e uso da terra no municpio de Santana do Araguaia abrangem, principalmente, duas reas Faz. Campo Alegre e Faz. Manah.

    a) Fazenda Campo AlegreDe propriedade da Cia Industrial

    Agropastoril Vale Campo Alegre, com uma rea de 74.083ha. Encontra-se hoje no interior do imvel, a sede do municpio de Santana do Araguaia, para onde esta foi transferida. (3)