república federativa assemblÉia nacional...

40
República Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE -. DIÁRIO TERÇA-FEIRA, 9 DE FEVEREIRO DE 1988 ASSEMBLÉIA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE SUMÁRIO l-ATADA 196" SESSÃO DA ASSEM- BLáA NACIONAL COI'fSmWNTE, EM 8 DE FEVEREIRO DE 1988. 1- Abertura da sessão 11 - Leitura da ata da sessão anterior que é, sem observações, assinada. 11I - leitura do Expediente OFÍCIO N° 10/88 - Do Senhor Constítuínte Eraldo Trindade, solicitando a vinculação do Desta- que n° 1.397 à Emenda nv 1.443, de sua au- toria. W - Pequeno Expediente NILSON GIBSON - Falecimento do ex- Parlamentar paraibano João Agripino. ALUíZIO CAMPOS - Requerimento de consignação em ata de voto de pesar -pelo falecimento do ex-ParlamentarJoão Agripino. FRANCISCO KaSTER - Expectativas em tomo do julgamento, pelo Tribunal Superior do Trabalho, da greve dos ferroviários. IVO VANDERLlNDE - Transcrição nos Anais de documento da Confederação Nacio- nal da Agricultura intitulado "O instituto da correção monetária e a administração de pre- ços no Brasil: efeitos sobre o setor agrícola", I ADROALDO STRECK - Falta de compen- sação dos investimentos na atividade produ- tiva. ANTÔNIO DE JESUS - Verdadeira causa da crise nacional: falta dos valores éticos e morais que constituem os fundamentos da pessoa humana. RUY NEDEL - Protesto contra corpora- tivismo evidenciado pelo Norte, o Nordeste, o Centro-Oeste e o Rio Grande do Sul. CÉSAR fwWA - Apoio ao artigo do texto constitucional que visaà integração político-e- conômica e sócio-cultural dos povos da Amé- rica Latina, Concordância do PDT com orien- tação constante do relatório do Comitê sobre PolíticaEconômica, em particular no capitulo aue trata da reestruturação do comércio e das finanças. CARLOS MOSCONI- Prejuízocausado à cafeiculturanacional pela privatização do IBC -Instituto Brasileirodo Café. VICENTO BOGO- Função social do direi- to de propriedade. Solidariedade às reivindi- cações dos ferroviários em greve. Reais posi- ções políticas do PMDB, ante noticiárioveicu- lado pela imprensa. IRMA PASSONI - Exercicio do direito à propriedade subordinado ao bem-estar social, à conservação dos recursos naturais e à prote- ção do meio ambiente. Transcrição nos Anais de artigo do jornalista César Borges publicado na Folha de S. Paulo sob o titulo "Sarney inclui no pacste fiscal mais verbas para Fer- nando de Noronha". FLORICENO PAIXÃo - Ofício do Sindi- cato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo a propósito das reivindicações da categoria. EVALDO GONÇALVES - Falecimento do 1ex-Parlamentar paraibano João Agripino. AGASSIZ ALMEIDA - Requerimento de realização de sessão solene da Câmara a dos Deputados em homenagem à memória do ex-Deputado João Agripino. INOCÊNCIO OUVEIRA - Nota da Comís- são Executiva Nacional do PFL contendo orientação programática que visa à ação poh- tica do partido. DENlSAR ARNEIRO - Críticas do Dr, Os- waldo Guilherme Roberto Gebler, endossadas pelo orador, sobre o ex-Governador Leonel Brizola. PAULO PAIM - Solidariedade às reivindi- cações dos ferrovíaríos e metroviáriosem gre- ve. JUTAHY MAGALHÃES - Crítica ao proce- dimento de Constituintes no que concerne a votarem emendas objeto de acordo das Lide- ranças e procurarem impedir o encaminha- mento de outras emendas. PAULO MACARINI - Análise da situação da indústria farmacêutica no Pais, elaborada pelo Presidente do Sindicato dos Farrnacêu- ticos e pelo Presidente e o Secretário-Geral do Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina. JORGE ARBAGE - Tentativa de erradica- ção de princípios morais que sustentam a fe religiosa e a instituição familiar. DAVI ALVES SILVA - Convenção muni- cipaldo PDS em Imperatriz, Maranhão,e indi- cação do orador para candidato a Prefeito. MAURO BENEVIDES - Artigo do econo- mista Helson C. Braga publicado na Revista da Associação Comercial do Ceará sob o titulo "Acriação das ZPE não deve ser descartada".

Upload: others

Post on 02-Nov-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

República Federativa do BrasilNACIONAL CONSTITUINTE

~ - . -~. DIÁRIO

TERÇA-FEIRA, 9 DE FEVEREIRO DE 1988

ASSEMBLÉIA

ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

SUMÁRIOl-ATADA 196" SESSÃO DAASSEM­

BLáA NACIONAL COI'fSmWNTE, EM8 DE FEVEREIRO DE 1988.

1-Abertura da sessão11 - Leitura da ata da sessão anterior

que é, sem observações, assinada.11I - leitura do Expediente

OFÍCIO

N° 10/88 - Do Senhor Constítuínte EraldoTrindade, solicitando a vinculação do Desta­que n° 1.397 à Emenda nv 1.443, de sua au­toria.

W - Pequeno Expediente

NILSON GIBSON - Falecimento do ex­Parlamentar paraibano João Agripino.

ALUíZIO CAMPOS - Requerimento deconsignação em ata de voto de pesar -pelofalecimento do ex-ParlamentarJoão Agripino.

FRANCISCO KaSTER - Expectativas emtomo do julgamento, pelo Tribunal Superiordo Trabalho, da greve dos ferroviários.

IVO VANDERLlNDE - Transcrição nosAnaisde documento da Confederação Nacio­nal da Agricultura intitulado "O instituto dacorreção monetária e a administração de pre­ços no Brasil: efeitos sobre o setor agrícola",

IADROALDO STRECK - Falta de compen-

sação dos investimentos na atividade produ­tiva.

ANTÔNIO DE JESUS - Verdadeiracausada crise nacional: falta dos valores éticos emorais que constituem os fundamentos dapessoa humana.

RUY NEDEL - Protesto contra corpora­tivismo evidenciado pelo Norte, o Nordeste,o Centro-Oeste e o RioGrande do Sul.

CÉSAR fwWA - Apoio ao artigo do textoconstitucionalque visaà integração político-e­conômica e sócio-culturaldos povos da Amé­rica Latina,Concordância do PDTcom orien­tação constante do relatóriodo Comitê sobrePolíticaEconômica, em particular no capituloaue trata da reestruturação do comércio e dasfinanças.

CARLOS MOSCONI- Prejuízocausado àcafeicultura nacional pela privatização do IBC-Instituto Brasileirodo Café.

VICENTO BOGO- Função social do direi­to de propriedade. Solidariedade às reivindi­cações dos ferroviários em greve. Reais posi­ções políticasdo PMDB, ante noticiárioveicu­lado pela imprensa.

IRMA PASSONI - Exercicio do direito àpropriedade subordinado ao bem-estar social,à conservação dos recursos naturais e à prote­ção do meio ambiente. Transcrição nos Anaisde artigo do jornalistaCésar Borges publicadona Folha de S. Paulo sob o titulo "Sarneyinclui no pacste fiscal mais verbas para Fer­nando de Noronha".

FLORICENO PAIXÃo - Ofício do Sindi­cato dos Trabalhadores nas Indústrias daConstrução Civil de São Paulo a propósito dasreivindicaçõesda categoria.

EVALDO GONÇALVES - Falecimento do1ex-Parlamentar paraibano João Agripino.

AGASSIZ ALMEIDA - Requerimento derealizaçãode sessão solene da Câmara a dos

Deputados em homenagem à memória doex-Deputado João Agripino.

INOCÊNCIO OUVEIRA - Nota da Comís­são Executiva Nacional do PFL contendoorientação programática que visa à ação poh­tica do partido.

DENlSAR ARNEIRO - Críticas do Dr, Os­waldoGuilhermeRoberto Gebler,endossadaspelo orador, sobre o ex-Governador LeonelBrizola.

PAULO PAIM - Solidariedade às reivindi­cações dos ferrovíaríos e metroviáriosem gre­ve.

JUTAHY MAGALHÃES - Críticaao proce­dimento de Constituintes no que concerne avotarem emendas objeto de acordo das Lide­ranças e procurarem impedir o encaminha­mento de outras emendas.

PAULO MACARINI - Análise da situaçãoda indústria farmacêutica no Pais, elaboradapelo Presidente do Sindicato dos Farrnacêu-

• ticos e pelo Presidente e o Secretário-Geraldo Conselho Regional de Farmácia de SantaCatarina.

JORGE ARBAGE - Tentativa de erradica­ção de princípios morais que sustentam a fereligiosa e a instituiçãofamiliar.

DAVI ALVES SILVA - Convenção muni­cipaldo PDS em Imperatriz, Maranhão, e indi­cação do orador para candidato a Prefeito.

MAURO BENEVIDES - Artigo do econo­mista Helson C. Braga publicado na Revistada AssociaçãoComercial do Ceará sob o titulo"Acriação das ZPEnão deve ser descartada".

Page 2: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7054 Terça-feira 9 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Fevereirode 1988

EDIVALDO MOlTA - Necrológico do ex­parlamentar João Agripino, do Estado da Pa­raíba,

FÉRES NADER - Desperdício dos supri­mentos terrestres do gás hélio.

ASSIS CANUTO- Condições precárias daSecretaria de Segurança Pública do Estadode Rondônia.

BENITO GAMA - Descumprímento, peloBradesco, de determinações do Banco Centralno que conceme ao refinanciamento do caféna região de Vitória da Conquista, Estado daBahia.

JORGE UEOOED- Denúncia encaminha­da ao Presidente da República por líderes polí­ticos a propósito de prática de corrupção peloMinistro das Comunicações, Antônio CarlosMagalhães, no que tange à concessão de ca­nais de rádio e televisão.

AUGUSTOCARVALHO - Esclarecimentosa propósito de declarações do Constituinte .Jo­fran Frejat quanto à inclusão de seu nomeem cartazes ofensivos a Constituintes e afixa­dos pelo Sindicato dos Bancários.

ROBERTO D'ÁVlLA - Transcrição nosAnais do artigo do jomalista Newton Rodriguesinserido na Folha de S. Paulo sob o título"Retaliação e Tragédia", a propósito da inun­dação ocorrida em Petropólis, Estado do Riode Janeiro.

V- Comunicações das Uderanças

ADOLFO OUVElRA- Pronunciamento doorador, em sessão de 29 de março de 1966,a propósito de tragédia ocorrida em Petrópolis,Estado do Rio de Janeiro, e que agora se re­pete.

OSVALDO BENDER - Apelo no sentidoda rejeição de decreto-Iei que fixa Fundo deParticipação para o Território de Fernando deNoronha. Artigo do jornalista César Borgespublicado pela Folha de S. Paulo sob o título"Sarney inclui no pacote fiscal mais verbaspara Femando de Noronha".

VITOR BUAIZ - Assassinato do Presidentedo Sindicato dos Trabalhadores Rurais dePancas, Estado do Espírito Santo, e dirigenteda cm Regional Norte I, Francisco DomingosRamos.

FARABUUNI JÚNIOR - Perplexidade doorador ante inclusão de seu nome em cartazesde responsabilidade da CUT, ofensivos aConstituintes do grupo "Centrão".

RICARDO IZAR - Crítica a cartazes, edita­dos pela CUT e afixados na cidade de SãoPaulo, ofensivos a membros do grupo "Cen­trão".

FERNANDO SANTANA - Reiteração deapoio do PCB à greve dos ferroviários. Necro­lógio do ex-Parlamentar João Agripino, da Pa­raíba.

PRESIDENTE - Solidariedade da Mesaaos votos de pesar pelo falecimento do ex-par­lamentar João Agripino.

IRAJÁ RODRIGUES - Protesto contra de­claração do Ministro da Fazenda, Mailson daNóbrega, à imprensa, no sentido de modifi­cação da economia brasileira a critério do FMI.

LUIZ SALOMÃO - Artigo de autoria do jor­nalista Jorge Caldeira publicado no jomal Fo­lha de S. Paulo sob o título "Constituintedecide disputa sobre transmissão de dadosvia satélite". Crítica a Parlamentares do grupo"Centrão", : .

SIQUEIRA CAMPOS - Solidariedade doPDC aos votos de pesar pelo falecimento doex-parlamentar João Agripino. Dificuldadesenfrentadas pela agricultura brasileira.

JAMIL HADDAD -Solidariedade aos petro­politanos, ante catástrofe ocorrida na cidade,e com os ferroviários em greve.

HAROLDO UMA --Assassinato do Presi­dente do Sindicato dos Trabalhadores Ruraisde Pancas, Espírito Santo, Francisco Domin­gos Ramos. Participação do PC do B em en­tendimentos que permitam as votações relati­vas à propriedade e à estabilidade dos traba­lhadores. Recusa do "Centrão" a comparecerao plenário e permitir quoram para votação.

PRESIDENTE - Comunicação do Presi­dente do Congresso Nacional convocandosessão matutina para o dia 9-2-88.

IRMA PASSONI (Pera ordem) - Maleffciosdo tabagismo no plenário da Assembléia Na­cional Constrtuinte.

PRESIDENTE - Resposta à ConstituinteIrma Passoni.

VICTOR FACCIONI (Questão de ordem)­Acordo firmado pelo Presidente José Sarney,na Colômbia, sobre aquisição de carvão da­quele pais pelo Brasil.

PRESIDENTE - Resposta ao ConstituinteVictor Faccioni.

PAULORAMOS (Questão de ordem) - De­císâo do Tribunal Superior do Trabalho, a serdivulgada, sobre movimento grevista dos fer­roviários.

PRESIDENTE - Resposta ao ConstituintePaulo Ramos.

JOSÉ GENOfNO (Questão de ordem) ­Pedido de verificação de quorum.

PRESIDENTE - Resposta ao ConstituinteJosé Genoíno.

PRESIDENTE- Suspensão da sessão pordez minutos para que os Constituintes se diri­jam ao plenário, a fim de participarem do pro­cesso de votação.

PRESIDENTE ....:... Reabertura da sessão.

L<JIZ SALoMÃo (Pela ordem) - Conve­niência de a Mesa divulgar relação de Consti­tuintes ausentes às sessões da Assembléia Na­cional Constituinte.

PRESIDENTE - Resposta ao ConstituinteLuizSalomão.

MÁRIO COVAS (Pela ordem) - Pedido deesclarecimentos sobre a votação.

PRESIDENTE - Resposta ao ConstituinteMário Covas.

PRESIDENTE- Verificação de quorum.

(Procede-se à verificação)

DEL BOSCO AMARAL - Desautorizaçãopara o orador ser orientado a votar, em verifi­cação de quorum.

PRESIDENTE- Prosseguimento da verifi­cação de quorUm.

GASTONE RIGHI - Sugestão no sentidode que, atingido o quorum, se suspenda averificação.

JOSÉ GENOfNO - (Pela ordem) - Con­veniência da verificação de quorum.

GASTONERIGHI-Existência de quorum.PRESIDENTE- <JItimação do processo de

votação.ANTÔNIOCÂMARA (Pela Ordem) - Pedi­

do de esclarecimento sobre a matéria a servotada.

PRESLDENTE - Resposta ao ConstituinteAntônio Câmara.

PRESIDENTE - Resultado da verificaçãode quorum.

VI - Ordem do Dia

Votação

Projeto de ConstituiçãoVotação, em primeiro turno, do Título 11. (Vo­

tação iniciada.)

PRESIDENTE- Anúncio da matéria a servotada: Emenda rr 2.038 ao § 39 do art. 6°

GASTONERIGHI-(peJa ordem) -Neces­sidade de a emenda ser submetida novamenteà decisão do Plenário, em 24 horas, não sendoalcançado o quorum de 280 votos favoráveisou contrários.

JOSÉ GENOfNO (Pela ordem) - Contra­dita à questão de ordem do Constituinte Gas­tone Righi.

CARLOS SANTANNA(Questão de Ordem)- Aplicabilidade do quorum de 280 votos,favoráveis ou não à emenda, na votação damatéria anunciada.

MÁRIO COVAS (Questão de ordem) ­Contradita à questão de ordem do ConstituinteCarlos Sant'Anna.

PRESIDENTE - Resposta às questões deordem suscitadas.

BONIFÁCIO DE ANDRADA (Pela ordem)- Pedido de esclarecimentos sobre a matériadestacada.

PRESIDENTE - Resposta ao ConstituinteBonifácio de Andrada. Anúncio da matéria aser votada: Emenda rr 2.038 ao § 39 do art.69

GASTONE RIGHI - Intenção de recorrerao Plenário da decisão da Presidência a prop6-

Page 3: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7055

, sito da matéria em votação. Retiradade plená­rio da bancada do PTB.

CARLOS SANTANNA (Questão de ordem)- Entendimento do orador acerca da matériaposta em votação e recurso concernente àdecisão da Presidência.

PRESIDENTE - Resposta ao ConstituinteCarlosSanta'Anna.

BRANDÃO MONTEIRO - (Questão de or­dem) - Participaçãodo recorrente de decisãoda Presidênciano processo de votação.

PRESIDENTE - Resposta ao ConstituinteBrandão Monteiro.

(Procede-se à votação da Emenda n?2.038ao § 39 do art. 6")

PRESIDENTE - Resultado da votação.

EDÉSIOFRIAS (Pela ordem) -Insuficiên­cia de quorum em face da ausência, em ple­nário, de Constituintesdo grupo "Centrão''

RUY NEDEL (Pelaordem) - Conveniênciade registro de abstenção, e não de insuficiên­cia de quorum, no processo de votação.

CARLOS SAN'TANNA (feia ordem) - Usoparlamentar de retirada de quorum.

HERMES ZANETI (Pela ordem) - Pedidode esclarecimento à Presidência sobre quahfí­cação de liderança do Constituinte CarlosSant"anna.

PRESIDENTE - Resposta ao ConstituinteHermes Zaneti.

BRANDÃO MONTEIRO (Pela ordem) ­Sugestão no sentido de que abstenção sejaregistrada como quorum.

PRESIDENTE - Resposta ao ConstituinteBrandão Monteiro.

VII- Encerramento

2 - Mesa - (Relaçãodos membros) J

3 - LíDERES E VICE-LíDERES DEPARTIDOS - (Relaçãodos membros)

4 - COMISSÃO DE SISTEMATIZA­ÇÃO - (Relaçãodos membros)

Ata da 196~ Sessão, em 8 de fevereiro de t 988Presidência dos Srs.: Mauro Benevides, Primeiro-Vice-Presidente;

Jorge Arbage, Segundo-Vice-Presidente

ÀS 14 HORAS COMPARECEM OS SENHO­RES:

Adolfo Oliveira - PL; AdroaldoStreck - PDT;Adylson Motta - PDS;Aécio de Borba - PDS;Alceni Guerra - PFL; Alexandre Costa - PFL;Aloysio Chaves- PFL; Aluizio Bezerra- PMDB;Aluízio Campos - PMDB; AmaralNetto - PDS;Antônlocarlos Konder Reis - PDS; Antônio deJesus - PMDB; AntonioFerreira- PFL; AugustoCarvalho- PCB; BasílioVillani - PMDB; BenitoGama- PFL; Bernardo Cabral- PMDB; Bezerrade Melo- PMDB; Bonifácio de Andrada- PDS;Brandão Monteiro - PDT; Cardoso Alves ­PMDB; Carlos Chiarelli ...- PFL; Carlos Mosconi- PMDB; CarlosSant'Anna- PMDB; Cássio Cu­nha Lima- PMDB; César Maia- PDT; ChagasNeto- PMDB; Chagas Rodrigues- PMDB; Dar­cy Pozza-PDS; Daso Coimbra-PMDB; DenisarAmeiro - PMDB; Domingos Juvenil - PMDB;Edison Lobão - PFL; EdivaldoMotta- PMDB;Edmilson Valentim - PC do B; Eliel Rodrigues- PMDB; Enoc Vieira - PFL;EtevaldoNogueira- PFL; Evaldo Gonçalves - PFL; Fábio Feld-mann - PMDB; FelipeMendes-PDS; FernandoHenriqueCardoso- PMDB; FlorestanFernandes- PT; Floriceno Paixão - PDT; Francisco Car­neiro-PMDB; Francisco Küster-PMDB; Fran­cisco Rollemberg - PMDB; Francisco Sales ­PMDB; Gabriel Guerreiro- PMDB; GeraldoAlck­min Filho- PMDB; Geraldo Bulhões - PMDB;Geraldo Campos - PMDB; Gerson-Camata­PMDB~HeráclitoFortes-'PMDB; Humberto Lu­cena - PMDB; Ibsen Pinheiro- PMDB; Inocên­cio Oliveira - PFL; Iram Saraiva - PMDB;'lra­puan Costa Júnior - PMDB; Irma Passoni ­PT; Ivo Vanderlinde - PMDB; Jacy Scanagatta- PFL;Jalles Fontoura- PFL;Jarbas Passarinho- PDS; Jayme Paliarin - PTB; João Alves -

PFL;Jofran Frejat - PFL;Jonival Lucas - PFL;Jorge Arbage- PDS;Jorge Bornhausen - PFL;Jorge Hage - PMDB; Jorge Uequed - PMDB;Jorge Vianna - PMDB; José Genoíno-PT;JoséGuedes - PMDB; José Lins - PFL;José Lou­renço - PFL; José Richa- PMDB; José ThomazNonô - PFL; Jutahy Magalhães - PMDB; LevyDias - PFL; Lídice da Màta - PC do B; LúcioAlcântara- PFL; LuisEduardo - PFL; Luís Ro­berto Ponte - PMDB; Luiz Leal - PMDB; LuizSalomão - PDT; Márcia Kubitschek - PMDB;Marco Maciel - PFL; Marcos Lima - PMDB;Mário Covas- PMDB; Mário Maia- PDT;MauroBenevides - PMDB; Mauro Sampaio - PMDB;Mendes Botelho - PTB; Mendes Canale ­PMDB; Mendes Ribeiro - PMDB; MoysésPimen­tel- PMDB; Mozarildo Cavalcanti - PFL;NelsonCarneiro- PMDB; Nelson-Jobim- PMDB; Nil­son Gibson - PMDB; Olívio Dutra - PT;OscarCorrêa- PFL; OsvaldoBender - PDS;OswaldoTrevisan- PMDB; Paes Landim - PFL; PedroCanedo- PFL; Pimentada Veiga-PMDB; Pom­peu de Sousa - PMDB; Rachid Saldanha Derzi- PMDB; Renato Johnsson - PMDB; RobertoRollemberg- PMDB; Ronan Tito - PMDB; Ru­ben Figueiró- PMDB; RuyNedel- PMDB; Sig­maringa Seixas - PMDB; Siqueira Campos ­PDC; Tadeu França - PMDB; UlyssesGuimarães--PMDB; Valmir Campelo - PFL;VicenteBogo- PMDB; Victor Faccioni - PDS; Vinicius Can-sanção - PFL; Vitor Buaiz- PT.

1-ABERTURA DA SESSÃO

O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage) - Alista de presença registra o comparecimento de124 Senhores Constituintes.

Está aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus e em nome do povobrasileiro, iniciamos nossos trabalhos.

O Sr. Secretário procederá à leitura da ata dasessão anterior.

, .11- LEITURA DA ATA

O SR. MÁRIo MAIA,segundo-secretário pro­cede à leitura da ata da sessão antecedente, aqual é. sem observações. assinada.,

O SR. PRESIDENlE (Jorge Arbage)- Pas­sa-se à leiturado expediente.

O SR. MARCELO CORDEIRO primeiro-se­cretário. procede à leitura do seguinte

111- EXPEDIENTE

OFíCIO

Do Sr. Eraldo Trindade, nos seguintes ter­mos:

OF. 10/88-GAB-280-111Brasília. 2 de fevereiro de 1988

Senhor Presidente, '

Venho solicitar a Vossa Excelência. pelo pre­sente, que seja autorizadovincularo Requerimen­to para Destaque em Plenárion7 DO-1397 à res­pectiva emenda por mim apresentada, de h~2POl443-7, que trata da modificação do textodo Art 67 do Projetode Constituiçãoda Comíesãode Sistematização.

Aproveito esta oportunidade para reiterara Vos­sà Excelênciameus sentimentos de estima e con­sideração. ,11

Cordialmente. - Eraldo Trindade PFUAP.

Page 4: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7056 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSmUINTE Fevereiro de 1988

o SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage) - Estáfinda a leitura do expediente.

Passa-se ao

W - PEQUENO EXPEDIENTE

Tem a palavra o Sr. Constituinte Nilson Gibson.

o SR. NILSON GIBSON (PMDB-PE Pro­nuncia o seguinte díscurso.) - Sr. Presidente.Sras. e Srs. Constituintes: ,

Faleceu no sábado, na cidade do Rio de Janei­ro, aos 72 anos, vítima de embolia pulmonar, oeminente e já saudoso ex-Depultado federal, ex­Senador, ex-Governador e ex-Ministro,João Agri­pino. Como parlamentar, serviuo Congresso Na­cional. Em oito anos, testemunhei o seu devota­mento ao Legislativo e a sua lucidez para com­preender e dirimir, com sabedoria, as mais intrin­cadas cotrovérsias políticas. Era o decano, o con­selheiro, o amigo afável e bondoso de todos nós.João Agripino, Constituinte de 46, Ministro dasMinas e Energia de Jânio Quadros, Ministro doTCU e ex-Govemador da Paraíba, morreu no Hos­pital Procardía, no Rio de Janeiro. Intelectual con­sumado, de inteligência viva, rara lucidez, curiosi­dade insaciável.

Nos estudos primários, segundo a crônica deum seu coestaduano. teria sido menino rebeldeà aplicação e à disciplina. Mas a adolescêncialogo o transformou no estudante distinto e desta­cado que marcou passagem, de modo indelével,nos registros do ensino secundário de João Pes­soa. Bacharelou-se em 1937, na Casa de TobiasBarreto, Faculdade de Direito do Recife, com dis­tinção em todas as matérias e a consagração deorador de turma.

Dai por diante, não conheceu senão o êxitoe remarcação para a qual o titulavam seus altosatributos e sua vocação de político, vocação eatributos que finalmente o trouxeram, muito cedo,ao Parlamento que tanto honrou nesta Casa Le­gislativa que tanto amou. Elegeu-se deputado àAssembléia Constituinte de 1945, na chapa daGnião Democrática Nacional (UDN). onde milita­va na esquerda democrática. Na Constituinte, fezparte da Comissão Constitucional, composta de31 membros, deputados e senadores. Eis o rolilustre, da chamada grande Comissão: Nereu Ra­mos, presidente; Prado Kelly, vice-presidente; Ciri­lo Júnior, relator geral; Agamenon Magalhães,Ataliba Nogueira, Ivo de Aquíno, Oodomir Cardo­so, Adroaldo Mesquita da Costa, Silvestre Pêricles,Costa Neto, Magalhães Barata, Gustavo Capane­ma. Souza Costa, AtilioVivaqua, Benedito Valada­res, Valdemar Pedrosa, Gravo Cardoso, AcúrcioTorres, Flavio Guimarães, pelo PSD; Mário Masa·gão, Aliomar Beleeiro, Ferreira de Souza, Floresda Cunha, Soares Filho, Hermes Uma e JoãoAgripino, pela UDN; Baeta Neves e Guaraci Silvei­ra, pelo PTB; Milton Caires de Brito, pelo PCB;Artur Bernardes, pelo PR; Arruda Câmara peloPDC e Raul Pilla, pejo PL Dividida a grande Co­missão em várias subcomissões, participou JoãoAgripino da sétima, a que competia o titulo sobrea Ordem Econômica e Social, composta como seu nome e os de Agamenon Magalhães,Adroaldo Mesquíta da Costa, Café Filho, HermesUma e Baeta Neves.

"Seria de temer, diz José Duarte em "A Consti­tufç60 Brasileira de 1946, que na Constituinte,

que se formava, tão heterogeneamente. aindacom os remanescentes das desatadas paixõespartidárias, não se alcançasse coordenação e en­tendimento para realizar obra meritória. Psicologi­camente, esses receios não seriam de todo emtodo infundados. Mas falharam as pessimistasprevisões e uma força superior. espiritual e cívicacongregou-se em redor de um só pensamento- elaborar a Constituição, com justiça e liber­dade".

Elaborada a Constituição, manteve-se JoãoAgripino até o flJT1 da legislatura, em 1951. Deumostra tão patente de sua capacidade de legis­lador e jurista que, decorridos dez. anos de vigên­cia da Constituição de 1946, quando Nereu Ra­mos, então Ministro da Justiça, convocou umaComissão Especial de Juristas para oferecer su­gestões à reforma da Constituição, foi ele umdos chamados a integrá-Ia, na companhia de SanThiago Dantas, Carlos Medeiros Silva, Gonçalvesde Oliveira, Hermes Uma e Francisco Brochadoda Rocha.

O lançamento de João Agripino na vida públicanacional foi parte de um movimento político quecontagiou o País de ponta a ponta. João Agripino,realmente, era o último dos notáveis, que deramevidência a um dos períodos mais férteis da vidabrasileira de todos os tempos: a redemocratizaçãode 1945.

João Agripino disse em discurso nesta CasaLegislativa, em ênfase na defmição das atribuiçõespara a distinção entre planificação e execução.Disse-ele, então: "O encargo político de pensaro Pais, de construí-lo, de organizá-lo insere-secom vigor crescente na Liderança da União. Acaracterística mais saliente de nossa vida federa­tiva é que ela evoluiu para colocar a União comoa fonte planificadora da vída nacional. Os Estadosviverãoe executarão esse plano nas suas caracte­rísticas locais. Basta assinalar que a organizaçãoe a planificação da vida brasileira não podem serpensadas em termos de Estado, mas em termosde regiões Geoeconômicas". No plano das idéiasmatrizes, universais. o que mais lhe importavaera a liberdade de pensamento de expressão. Dis­se certa vez: "um valor político, sobretudo, pairavasobre minha visão do mundo: a liberdade de pen­samento. Negar a liberdade de pensar. censurara palavra escrita e falada, coagir a criação artística,literária ou científica me soavam como a contes­tação mesma da possibilidade do ser humanoafirmar sua personalidade e seu destino. Alémdisso, o processo discriminatório contra a liber­dade do espírito acarreta-lhe na prática o confiscoem beneficio dos detentores do poder e seus es­cribas".

Ao administrador, ao político, ao advogado, queem todas essas ativídades cedo escalara a famae granjeara estima e admiração, estava ainda areservada alta e transcendente tarefa: conselheiro.Vindo da agitação do govemo e da política. empouco tempo adquiriu a tranqüilidade caracte­rística. aquela virtude de que modestamente sedesculpava, dizendo consistir na arte de envelhe­cer devagar. Essa tranqüilidade e a delicadezano trato, que de todo não o tinham abandonadomesmo nos momentos mais conturbados, en­contravam, agora, sede propicia a permitir a medi­tação necessária a soluções, a despeito dos deba­tes~ C.kn doi aço. mais distintos de leU

caráter, confirmado por toda a vida, foi a mode­ração, sem prejuízo da firmeza de suas opiniõese conceitos, vestida de tolerância para com asalheias convicções. "Do que fugi sempre, dizele,foi do perigo de tomar-me um energúmeno, umfanático". Esse traço refletia-se em seu ideáriopolítico. Era um líberal e um homem de esquerda,mas com o grave senso da ordem. A idéia deordem e o espírito de moderação estão semprepresentes em seu espírito, Era-lhe fácil, tambémconfessar os próprios erros, reconsiderar-se.

Foi ele, João Agripino, o tranqüilo homem ag­nóstico a quem Deus fez intranqüila a vida, pelogrande amor à Humanidade, que inseriu em seuespírito e em sua ação. Os homens jamais secomportarão como anjos, pois, bichos da terra,se dirigem também pelos instintos. Porém, dota­dos desse dom espantoso do raciocínio, o con­víviosocial que constroem é suscetível de desdo­brar-se em relações mais equítatívas, possivel­mente mais generosas e, talvez, quem sabe, maisfratemas. Honra a este Poder. pois o eminenteParlamentar João Agripino jamais se poderá dizerque o dever se afastou da consciência do político.Sua preocupação, pode-se dizer, era obsessivano sentido de que, em nosso regime, não deves­sem existir autoridades irresponsáveis. Não admi­tia que, por sua conduta, pudesse gerar na coletivi­dade a crença de que o Legislativo existia apenaspara os fracos e para os humildes. Mas, um ho­mem com as qualidades de João Agripino, comsua bagagem de serviços prestados à Nação ­Poder Legislativo, Executivo e Judiciário -, niodesaparece. Será uma presença constante, a lns­pirar todos quantos hoje, como no futuro, inte­gram ou venham a integrar este Poder Legislativo.

Se nas coisas e nos fatos pode haver algumsimbolismo, a morte de João Agripino representaperfeitamente a sua vida, Morreu como semprevivera, No meio de políticos. Orientando e opinan­do. E será, pelos políticos da Paraíba, seus paren­tes e pelos companheiros recordado como umque sempre esteve presente. Presente até o instan­te fatal. Presto, nesta oportunidade, minha home­nagem 11 um homem que construiu sua vida combase no trabalho honesto, no amor à sua terrae à sua gente. Deus o tenha bem perto de si.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

O SR. ALUizIO CAMPOS (PMDB - PB.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,SI'"'e Srs, Constituintes:

Em prosseguimento às palavras do eminenteConstituinte Nilson Gibson, cumpro o inesperadodever de também falar sobre o falecimento dogrande brsíleíro, ex-Constituinte, ex-Deputado eex-Senador João Agripino Filho, que tambémexerceu, ao longo da sua vida pública, os cargosde Governador do nosso Estado, de Ministro dasMinas e Energia .no Governo Jânio Quadros ede Ministro do Tribunal de Contas da União, alémde haver desempenhado advocacia militante eoutras altas funções na ativídade privada. Sua Ex­celência faleceu sábado passado, dia seis, na cida­de do Rio de Janeiro, tendo sido sepultado hojepela manhã na Capital do nosso Estado.

No Congresso Nacional atuou durante 28 anos,24 na Câmara e 4 no Senado. '

Na legislatura passada, ao exercer seu últimomandato legislativo, este plenário foi várias vezeseletrizadopor seus serenos. fortesesempre objeti-

Page 5: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAOONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7057

vos pronunciamentos. Com aquela voz pausada,que adquiria rara força de convencimento nosmomentos conclusivos do raciocínio, ele conse­guia nos deixar dominados pela segurança daargumentação, sempre utilizadacom serenidade,em defesa dos reais interesses deste País.

E isso aconteceu em anteriores ocasiões. Nacondição de Líderda UDN,debateu corajosamen­te com o então temido Ministroda Viação, respei­tada e fulgurante figura de dimensão nacional,José Américo de Almeida, outra glória da nossaParaíba; e depois, em novembro de 1955, profli­gou o novo golpe militardesfechado pelo GeneralLatt contra as instituições democráticas, com adeposição do Deputado Carlos Luz,que ocupavainterinamente a Presidência da República em vir­tude do impedimento, por doença, do Presidente,Café Filho, dias depois também destituído pelaCâmara, que preferiu manter no cargo Nereu Ra­mos, Presidente do Senado.

O pronunciamento não conseguiu remover adeterminação do General Lott, que se defendeucom a alegação de que apenas acionara um con­tragolpe preventivo para assegurar a posse doPresidente Juscelino Kubitschek. Mas o seu pesoficou gravado na história parlamentar, conformeressalta o nosso mestre Afonso Arinos em suasmemórias: "O melhor discurso da sessão foi ode João Agripino. Frio, lúcido, cortante, o parai­bano escalpelou o golpe; atacou de frente e coma maior energia Flores da Cunha; estava real­mente num grande dia. A resistência udenistaconsolidou-se, na sua voz".

Para melhor ressaltar a personalidade de JoãoAgripino no curso da nossa história política, apartir de 1946, quando começou a exercer o seuprimeiro mandato, encaminhamos à Mesa reque­rimento de homenagem especial em oportuni­dade a ser designada pela Presidência desta As­sembléia. Então, disporemos de mais tempo paraanalisar melhor a participação política do home­nageado que, desde a junventude, demonstroua vocação política que haveria de dominar suaconduta para o resto da vida.

Fomos companheiros fratemos desde quandocursávamos a Faculdade de Direito do Recife.Alinos encontramos nos primeiros anos da déca­da de 1930, logo depois da Revolução da qualparticiparam as forças políticas que defenderamas candidaturas de Getúlio Vargas e João Pessoacontra o "Perrepismo" liderado pelo PresidenteWashington Luize pelo seu candidato Júlio Pres­tes, Presidente de São Paulo. Nos Estados doscandidatos oposicionistas era natural a euforia re­sultante do movimento vitorioso, efervescida pelamocidade sempre motivada por esperançascheias de idealismo.

Alimentados pelo desejo de combater as oligar­quias, crentes na institucionalização de nova or­dem econômica e social mais justa, como agoraainda continuamos a pregar, iniciamos o nossocurso de Direito.E lá encontramos outro agitadocom patrício, sertanejo das Espinharas, que tam­bém seria Deputado Federal, Govemador e Minis­tro de Tribunal, na mesma linha partidária de Agri­pino.

Nos embates acadêmicos lutamos juntos. Er­nani Satyro, um pouco mais velho, foi abrindocaminho na composição do diretório acadêmico,tendo sido sucedido por mim e por João, atécolarmos grau em turmas sucessivas.

Essa convivência fratema perduraria ao longodo tempo, inclusivepara superar escassas e episó­dicas divergências que felizmente não se transfor­maram em feridas incuráveis.

Comparando os dois - Emani Satyro e JoãoAgripino - diria ainda o Senador Afonso Arinoem "A Alma do Tempo": "A concentração desentimentos e paixoões é muito mais forte noa1gidoAgripino que no exuberante Ernaní".

Hoje,Sr. Presidente, ao relembrá-los,eu o façocom certa preocupação. Sou o derradeiro daquelatroika, nunca completamente desintegrada peladiversidade de posições e sempre estimulada pormuitos companheiros de geração.

E só lhes posso mandar desta tribuna, que inú­meras vezes enalteceram, o recado de sempre:continuarei teimando. Menos nesta Constituinte,onde conciliar é preciso para formularmos boasnormas, sem aquela pressa inimiga da perfeição,que certamente não é a do eminente e experi­mentado Sr. Presidente desta Assembléia.

Por fim, requeiro seja consignada em Ata onosso voto de pesar pela perda de João Agripinoe comunicada esta homenagem ao Presidentedo nosso Partido - PMDB- na Paraíba, SenadorHumberto Lucena, assim como à viúva,S(1SoniaBorborema, membros da família do homenagea­do.

Muitoobrigado a V. Ex"

DOCUMENTO A QUE SE REFERE OORADOR:

Exm" Sr. Presidente da Assembléia NacionalConstituinte

Requeremos, nos termos do Regimento Inter­no, se digne Vossa Excelência de designar a ses­são pública em que a Assembléia Nacional Cons­tituinte poderá prestar homenagem especial àmemória do ex-Deputado Constituinte e ex-Se­nador João Agripino Filho, falecido no dia seisdo corrente, na cidade do Rio de Janeiro e hojesepultado na Capital do seu Estado.

Nestes Termos,P. Deferimento.Sala das Sessões, 8 de fevereiro de 1988. ­

Aluízio Campos - Cássio Cunha Uma ­Edivaldo Motta.

O SR. FRANCISCO KÜSTER (pMDB-SC.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr"e Srs. Constituintes:

Neste exato momento, está sendo julgada alegalidade da greve dos ferroviários. A reunião,que deveria ser de conciliação entre as partes- ferroviários e Govemo - transformou-se numjulgamento. Esperamos que prevaleça o bomsenso; esperamos que a Justiça faça justiça aospleitos dos ferroviários, porque se o resultado foro contrário, mais uma grande frustração, maisuma grande decepção para um segmento impor­tante da classe obreira do nosso País.

O Císe, Conselho Interministerial de Saláriosdas Empresas Estatais, responsável pela radicali­zação, determinou que a partir da fala do Sr. Minis­tro Mailson da Nóbrega, não mais se realizariareestruturação e cargos, planos de cargos e carrei­ras, tanto criação como implantação dos mes­mos. Isto levou os ferroviários a um desalentomuito grande.

Este mesmo órgão, do qual fazem parte quatroMinistérios: Fazenda, Trabalho, Administração e

Planejamento, deveria preocupar-se, também,com esta questão grave que assola este Pais ­a inflação - com os preços das mercadorias,dos produtos de primeira necessidade, dos alu­guéis, das prestações de moradias, das passa­gens, dos transportes para os trabalhadores, ocusto da saúde do trabalhador, da educação dosfilhos dos trabalhadores. Pois bem, com isto elesnão se preocupam. Preocupa-se, esse Governo,que classifico como um govemo desatinado, umgovemo sem tino, em pressionare ameaçar traba­lhadores com demissão e punição sumária. Ea Justiça, não raras vezes, soma-se à vontadedesse Governo, que tudo fazpara oprimir os traba­lhadores, não pela via da violência, sempre, maspela via do empobrecimento do poder aquisitivodos seus salários.

Por isso, esta Assembléia Nacional Constituintenão pode ficar alheia a esse grave problema. Co­mo é que esses trabalhadores vão encarar a reali­dade inflacionária deste País, a realidade dos pre­ços, a realidade do custo de vida, se o Governonega as condições para que eles possam ter ornínírno que lhes permita, não vamos falar emviver com dignidade, mas sobreviver a duras pe­nas, Sr. Presidente?

Para encerrar, devo dizer que estamos aguar­dando com muita ansiedade esse julgamento. Es­peramos que prevaleça o bom senso da Justiça,que a Justiça não fique conivente com interessesoutros, com os interesses dos poderosos, dos ex·ploradores apenas; que a Justiça se volte tambempara a defesa dos interesses, da vida com digni­dade de quem trabalha, de quem toca o progres­so, essa coisa que ousam chamar de progresso,porque o progresso só existe - em toda li impor­tância do seu conceito - se ele é UnNersaI.

, 'E criminoso, ouso conceituar desta forme, o

progresso que privilegia uma elite, uma casta,uma burguesia capitalista encastelada no poder.

É preciso que a Justiça faça justiça, reconheçaos direitos dos ferroviários e atenda suas reivindi­cações, não permitindo que ocorra com eles 115condenáveis demissões levadas a cabo no Minis­tério das Comunicações e em outros rnínístêríee,

Muit.:> obrigado.

O SR. IVO VANDERUNDE (PMDB - SC.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sra.Constituintes:

O que me traz, mais uma vez, à tribuna '" aabordagem da gravidade da crise por que passa.hoje, a agricultura brasileira.

Poucos são os setores que permitem algumarentabilidade para o agricultor. E nos preocupa,quando ouvimos as autoridades maiores destePaís dizerem que esse modelo está esgotado, queo Govemo não tem mais caixa para sustentaros créditos agricolas, para honrar os compromis­sos dos preços mínimos, e que temos que buscaroutro modelo. Nós concordamos, e há muito tem­po preconizamos isso: precisamos buscar outromodelo, com menos interferência do Estado, commenos dependência do Poder Público. Mas é pre­ciso que se criem os mecanismos e os instru­mentos para que a agricultura possa caminharpara a sua maior auto-suficiência e menor depen­dência. Não podemos é aceitar que, neste mo­mento em que o País vive, e nós reconhecemos,uma crise séria, uma crise profunda, mas que

Page 6: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7058 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Fevereiro de 1988

não foi criada pelos agricultores deste País, queo Governo deixe o agricultor à própria sorte.

Nós somos daqueles que questionamos quan­do o Governo eliminou os subsídios dos juros,dos financiamentos agrícolas e acenou para opreço real. E nós questionávamos: haverá recur­sos para honrar esse compromisso? E bastaráo preço real nas planilhas, se ele não for acessívelao povo que irá consumir os alimentos agrícolas?

Então, nós queremos deixar aqui a nossa preo­cupação, o nosso alerta. Nós recebemos na Con­federação Nacional da Agricultura, na semanaque passou, em uma visita de cortesia, o MinistroMailson da Nóbrega, que claramente, sem ro­deios, mostrou o quadro grave da situação doPaís. Acenou por caminhos, por rumos que oPaís deve tomar, mas que isto não seja prêmiode consolação para a agricultura. Nós sabemosque o País vai mal, nós sabemos que a economiavai mal, mas a agricultura vai pior. Ela não temconseguido absorver os custos, não tem conse­guido transferir para os consumidores os preçosreais que teria que receber por seus produtos.

Trago a esta Casa, e peço, Sr. Presidente, queseja registrado em seus Anais, um documentoproduzido pela Confederação Nacional da Agri­cultura, sob o título "O Instituto da Correção Mo­netária e a Administração de Preços no Brasil:efeitos sobre o setor agrícola", onde mostra queo instituto da correção monetária, da forma quetem sido aplicado, tem sido nocivo para a agricul­tura, que não tem conseguido formar preços paraos seus produtos condizentes com esses custos.

Nós mostramos aqui, neste documento, queno ano de 1986 para 1987 apenas quatro produ­tos agrícolas tiveram índices de preços superioresà inflação. Todos os demais estão abaixo dosindices inflacionários, sem falar na alta dos insu­mos agrícolas, que o insumo que menor alta teveno ano de 1987 chegou a quase 500%, e temoscustos que chegam a quase 900%.

Deixo este documento para que demonstre oestado de crise e de calamidade em que vivehoje o setor rural deste País.

DOCilMENTO A aae SE REFERE OORADOR:

CONFEDERAÇÃO NACIONALDAAGRICULTURA

O Instituto da Correção Monetáriae a administração de preços

no Brasll: Efeitos sobre o setor agricolaA correção monetária, tal como concebida e

aplicada no Brasilno primeiro governo da Revolu­ção, além de corrigir preços e rendimentos corri­giu também enormes distorções presente à épocana economia que corroiam salários e poupanças

e quase destruíram nosso sistema produtivo. Ainflação da época, porém, chegou a um máximode 80% ao ano, em 1964, caindo para níveisentre20% e 40% até o fim do Governo Geisel.A partirde 1982 superou a marca dos 200% ao ano enão mais reverteu, batendo o recorde de 365%em 1987.

Se a economia conviveu e ajustou-se tão bema este instrumento nos anos 60 e 70, porqueentão sua eficácia é questionada nos ajustes comníveis de inflação acima de 200%?

É fácila resposta. Encontra-se na varíância dospreços em tomo da média.

Como as medidas de inflação refletem a varia­ção do nívelmédio de preços, alguns desses pre­ços aumentam menos do que a média (inflação)enquanto outros aumentam mais do que a média.Na medida que os níveis de inflação tomam-semais altos a variância, ou variação relativa de to­dos os preços em tomo da média, pode até per­manecer igual, mas a variação absoluta passaa ser altamente significativa, e é isto que importa.Os setores ou produtos que tiverem variações- aumentos - muito abaixo da média "que­bram", enquanto aqueles com variações acimaganham "sobre lucros" às vezes fantásticos.

llustremos,A níveis inflacionários de 40%, por exemplo,

produtos ou setores cujos preços variaram 20%a menos, ou 32% não terão grandes dificuldadesem saldarem compromissos de financiamentoscom correção de 40% ao ano (mais juros reais).Neste caso a taxa de juros real foielevada somenteem mais 8% (40 menos 32). Quando a inflaçãose eleva para 350% e os preços desses produtosou setores mantêm a mesma vairação relativade 20%, significa que seus preços se elevaramem 280% e a diferença de 70% significa jurosreais, que nenhum setor ou produto em nenhumlugar do mundo é capaz de suportar. A falênciaé inexorável.Istoé exatamente o que tem ocorridono momento com os setores agrícola, pecuário,confecções e outros onde predomina no mercadoa competição com grande atomização (grandenúmero de empresas) e sem interferência do go­verno. Asmicroempresas urbanas, característicasde setores altamente competitivos pela relativafacilidade de acesso e investimentos, são outrosexemplos marcantes dessa distorção e vítimas,assim como o setor agropecuário, dessa políticaimpensada. De fato,para um IPC(Índicede Preçosao Consumidor) de 365% em 1987, o setor devestuário aumentou em 290% enquanto que ospreços agrícolas (não administrados) a nível deprodutor pouco passaram de 200%. Sem falarno empobrecimento relativo (relações de trocadesfavoráveis) isso implica pagar juros reais aci­ma de 100% ao ano.

A segunda parte dessas considerações procu­rará esclarecer porque o setor agrícola - e outros

poucos produtos - é o que mais sofre sob essascondições.

Seguindo o modelo da Secretaria Especial deAbastecimento e Preços - SEAP- do Ministérioda Fazenda, que distribui seu controle sobre trêsgrandes grupos de preços - preços agrícolas,preços industriais e preços "públicos" - façamosuma rápida análise de como se formam essespreços no Brasil.

Primeiramente as características dos preços emercados agrícolas. Estes preços são formadosou segundo as leis de mercados competitivos ­a grande maioria - ou são administrados peloGoverno diretamente: leite, cana, trigo. Vez poroutra o Governo interfere nos mercados compe­titivostabelando um ou outro. Os produtos agríco­las respectivos têm duas grandes linhas de comer­cialização: mercado intemo e mercado extemomais interno. Não há incentivos à exportação, mastaxação normal de cerca de 20%. Eventuais im­portações que nos últimos tempos têm-se toma­do sistemáticas completam lacunas de abaste­cimento

Os produtos industriais têm seus preços admi­nistrados pelo CIP (Conselho lnterrnínísterial dePreços), órgão subordinado à SEAP, que ou osmantém livres, ou tabelados, ou sob "liberdadevigiada" (quando o "vigia" não dorme). Procurao Governo manter livres aqueles supostamentede mercados competitivos e controlados aquelesde mercados monopolizados ou cartelizados. Es­ses produtos detêm incentivos fiscais (isenção to­tal de tributos) e incentivos financeiros (créditosgenerosos) quando destinados ao mercado exter­no e contam com altíssimas barreiras tarifáriase não tarifárias à importação.

Finalmente, "Preços Públicos" seriam todosaqueles que, não pertencendo às duas categoriasacima, são controlados diretamente pelo Gover­no: energia (elétrica,petróleo, álcool) tarifas públi­cas, transportes urbanos, interurbanos e aéreos,etc.

Como se formam os preços nessas três catego­rias no Brasil?

Os preços agrícolas de mercados competitivossão deixados livresenquanto frustrações de safrasou reduções de plantio (internas ou externas) nãoincomodam os indices oficiais de inflação. Nestahora, as tabelas são reintroduzidas e se esquecemdas más safras. Para os produtos comercializáveisexternamente só se registram guias de exporta­ções para quantidades acima daquelas suficientesao abastecimento do mercado interno, restnngin­do-se quantitativamente o número de beneficiá­rios. Uns poucos produtos têm seus preços fixa­dos diretamente pelo Governo. trigo, leite, cana.Nessas condições, os preços dos principais pro­dutos agrícolas recebidos pelos produtores em24 meses (nov/85 a nov/87 foram os seguintes:

Page 7: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAGONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7059

PREÇOS NOMINAIS RECEBIDOS PELOS PRODurORES(CZ$)

Periodo Acréscimo (%)Produto Unld. l'Iov/85 Nov/86 Nov/87 85/86 86187

!lIroz(casca) (SP) •. 50Kg 84,75 122,50 403,75 44,5 229,6

Feijão cores (SP) .,

60Kg 273,75 433,25 1425,20 63,4 228,9Feljáo.Preto(PR) ........ 60Kg 198,75 324,75 . 1.222,50 63,4, 276.4MandIoca (SA) ... t 145,93 209,67 U71,09 43,6 458,5MIlho(SP) ... ..-. 60Kg 60,25 92,50 358,75 53,5 287,8Soja (RS) ........_•• 60Kg 92,75 141.00 670,00 52,0 375,2

Borvivo (SP) • . 15Kg 220,00 480,00 1.300,00 18,2 170,8

Suino vivo(SP) ... 1Kg 9,01 14,63 27,75 62,4 89,~

Frango VIva (SP) . IKg 6,89 15,03 32.38 118,2 115,4

Alface(SPI • . • 15Kg 27,97 160,39 160,05 473,4 0,0

Batata (SP) .......... 60Kg 89,03 264,33 402,64 196.9 52,3

Cebola (SP) ...... 20Kg 43,14 66,29 246,33 53,6 271,6

Tomate (SP) ..... 25Kg 46,69 103,24 422,76 . 121,1 309,~

Trlgo(RS) 60Kg 124,44 199,80 618,60 60,5 209,6Q!na (SP) •.. ... l 75,55 94,43 515,59 25,0 446,0

Leite ............... Utro 1,42 2,31 12,02 62,7 42ú,3

VARIAÇÃO DE PREÇOS DE PRINCIPAISINSUMOSAGRiCOLAS EM 1987

Certamente o setor agrícola não absorv~u asmesmas quantidades desses insumos a esses no­vos e altos preços, estendendo a crise também(em parte) para os fabricantes.

nistros) ameaçarem de colapso o sistema se nãofor dado o aumento desejado. E nunca menosdo que a esperada inflação, embora possam terpouco aver com ela. 05 sindicatos de motoristasde ônibus decretam greve, 05 patrões aceitam,o Governo confunde essencialidade de serviçocom preço de mão-de-obra e transfere o aumentoa do salário para as tarifas. As empresas aéreas,embora com altos lucros em 1986, solicitam atra­vés de lobby e conseguem aumento, de quase1.000% em 1987. Grandes aumentos são dadosao aço por uma alegada defasàgem de preçose o problema está na defasagem de competência(vide COSIPA).A falta de uma política habitacionalestoura os aluguéis em 974%.

Mas os mercados têm que ser competitivospara a agricultura.

Esta, além de ficar para trás na corrida dospreços ainda sofre diretamente os efeitos dos mo­nopólios e cartéis do setor industrial, pois seusprincipais insumos cresceram, segundo a tabelaabaixo:

Em conclusão, podemos afirmar, diante dasevidências enunciadas acima, que a formação depreços entre os setores do Brasil está longe deobedecer às leis capitalistas da competição 05poucos setores que aí se enquadram não tempoder para disputar com 05 oligopólios e preçospúblicos na corrida inflacionaria dos reajustes ,Asrelações de troca (empobrecimento relativo) pe­nalizam esses setores onde predomina a compe­tição. A inflação alta, por sua vez, destrói o setoratravés do instituto da correção monetarla.

o SR. ADROALDO STRECK (PDT - RS.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,srs, constituintes, preocupa-me a inversão de prio­ridades patrocinada peja administração federaique perdeu a noção das suas prioridades. Poroutro lado, obsessiva e doentíarnente, insistimosem que a Constituinte será a panacéia adequadapara resolver nossos problemas. Enquanto isto.a atividade produtiva sofre por falta absoluta decompensação pelos investimentos feitos. ,

Senão, vejamos o que acontece com o meuEstado, o Rio Grande do Sul, que vive basica­mente da produção primária.

Camebovina

A carne de gado nunca esteve com preço tãobaixo, por arroba, como hoje. Já praticamos pre­ços próximos dos 40 dólares e, atualmente, acomercialização deste produto situa-se em tomode 11 dólares a arrobe, quando o mínírno parao produtor equilibrar suas contas é de 18120 dola­res por arroba, Mesmo assim, o consumo caiudramaticamente. se tomarmos como base o tem­po do Plano Cruzado. Com boi gordo à vontade,a espera de abate, damo-nos ao luxo de consumircarne argentina.

Arroz

, Com um excedente de 3 milhões de toneladasde arroz em estoque. e com previsão de umadas maiores safras desse cereal, no Rio 'Grandedo Sul (3,6 milhões de toneladas), o Brasil impor­tará este ano 200 mil toneladas de arroz uruguaioe 65 mil da Argentina. Arroz beneficiado.

Feijão

, A CFP tem estoques de 70 mil toneladas, desafras dos últimos 3 anos. Mas o Brasil importaraeste ano 80 mil toneladas de feijão preto da Argen­tina.

Trigo

O Brasil ~roduziu, na última s~fra, 6,2 milhõesde toneladas de trigo para uma necessidade na­cional de 7,2 milhões de toneladas. Por razõesdesconhecidas, vamos importar quase 2 milhõesde toneladas ti mais do que, necessitamos, daArgentina e do Canadá. O Ministro das RelaçõesExteriores, cientificado deste fato, sugeriu que sediminua a área plantada, porque o acordo coma Argentina, de fornecimento de trigo, sera prorro­gado por 2 anos, estendendo-se até 1993. i

Fazer política de boa vizinhança às custas doprodutor nacional e um desrespeito e, acima detudo, um crime contra os interesses do Pais. Epor aí seguem 05 desmandos de um governosem noção da sua economia interna. ,

O Governo da Uniáo tem atribuido aos subsí­dios dados à agricultura um significado exage-

825%

805%

764%749%

610%

561%548%

476%

458%429%

Variação dePreço. em 1987

Fonte: SEAP/MF

Insumo

Amônia.. • _ . ....-.... .. ..

Fosfato natural . ..

Pneus. .. _ . ..•. '''.- ..Óleo. lubrificantes . .. __...._.

Trator agrícola leve • ...

Trator agrícola rnedio c. . _.. ..Saca dejuta ....... _ __. _. ..

Fertilzantes patáSSICO. .. _ _ ........

Colhedeiras .... .._... ~.. ~.

Óleo Diesel ._...... ... • .. .

Fonte: CFP/SUTEC

Comparando-se com uma inflação de 365%em 1987, somente quatro produtos tiveram pre­ços acima desse nível: mandíoca., soja, cana eleite. Os dois primeiros pode-se dizer que recupe­ram-se dos preços baixos de 1986, enquanto QS

dois últimos são produtos com preços adminis­trados e não se submetem diretamente às leisde mercado, pois eventuais excessos de produçãosão colocados pelo Governo ou em programasassistenciais (leite) ou exportado e/ou transfor­mados em álcool (cana).

Salvo, portanto, os produtos "assistidos" peloGoverno - cana e leite - e a soja e mandioca-, 05 demais tiveram variações a nível de produ­tor cuja média pouco ultrapassa os 200%.Mesmoo leite, a cana, a soja e a mandioca tiveram, narealidade, uma fortuita correção pela defasagemdos aumentos em 1986. ,

Comercializar em mercados competitivos, co­mo deve ser a regra numa saudável economiacapitalista, passa a ser uma penalidade no Brasil.

Os preços industriais, por sua vez, são deixadoslivres nos mercados supostamente competitivose supostamente controlados nos mercados mo­nopolizados ou cartelizados. Esse controle porémnão tem se mostrado eficaz, pois politicamenteé dificilao Governo resistir às pressões de grupos"Iobbystas" de monopólios ou cartéis como pe­tróleo, automóveis e peças, indústrias químicas(e fertilizantes), máquinas e equipamentos, side­rurgia estatal, etc. A característíca olígopolítica denosso setor industrial permite, portanto, fixaçãode preços e conseqüente ajuste de quantidadeproduzida para maxímízaçâo de lucros. O ajusteda quantidade produzida se dá ou através de redu­ção de produção ou aumentando as exportações(altamente incentivadas), facilidade que o setoragricola não dispõe.

Finalmente, os chamados "preços públicos"aumentam mais ou menos em função do pres­tígio dos dírígentes ou dos sindicatos dos setores.É impossível, por exemplo, distinguir até que pon­to os Sistemas Eletrobrás ou Telebrás estão ope­rando com eficiência, mas certamente são preçosoumentados se os respectivos dirigentes (ou Mi-

Page 8: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7060 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAOONALCONSmUlNTEI

Fevereiro de 1988

rado, criando a imagem de que os países desen­volvidos estejam livres deste peso. Na área doMercado Comum Europeu, a agricultura é feitaà base de subsídios fortes, porque se trata deatividade estratégica. Quantas vezes temos per­dido bons negócios na competição internacionalcom o açúcar de beterraba da Europa Central,favorecido por subsídios, às vezes superiores a50% do seu valor?

Enfim, não me convence que estejamos gas­tando tempo precioso para saber se terrorismoé mais crime do que tortura, ou vice-versa, quan­do nossa agricultura está sendo destruída impie­dosamente. Comprometem-se, assim, beneficiossociais defendidos para a nova Carta constitu­cional, por falta absoluta de produção que lhesdê suporte.

Infelizmente,o Brasil não conta com uma enti­dade supraterrena, como pensam muitos, quepossa atender às benesses que se pretende ofere­cer aos brasileiros por via constitucional.

Se a produção primária for relegada e a umsegundo plano, como se faz hoje, a nova Consti­tuição brasileira será mais um dos tantos instru­mentos inúteis dos quais temos nos valido parasuprir nossas deficiências materiais. Sem umaagricultura consolidada, a nova Constituição seráuma frustração maior do que foi o Plano Cruzado,que teve o privilégiode desorganizar por completoli economia do País.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. (Muitobem!)

O SR. ANTÔNIO DE JESUS (PMDB -GO.Pronuncia o seguinte díscurso.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes:

"Ora, destruídos os fundamentos, que po­derá fazer o justo?"

Assim expressou, na Antigüidade, Davi,o gran­de rei dos judeus, sua perplexidade diante dascontradições, problemas e injustiças da sociedadeem que vivia.

Atual e pertinente, sob todos os aspectos, pare­ce-nos a reflexão: solapados os alicerces, abala­das as estruturas, como contruir? O que edificar?

Que nosso País atravessa um momento de cri­se, todos sabem, tomou-se lugar-comum, pode­se sentir ao andar pelas ruas, ao conversar comas pessoas. O que nem todos parecem, todavia,perceber, é a verdadeira natureza e dimensão des­sa crise. Não é essa uma crise rasa, efêmera,incidental.Trata-se..sim, de conturbação que atin­ge nossa sociedade pela raiz, alastrando-se portodos os aspectos da vida e da cidadania. Nãoé crise apenas das instituições sociais e políticas,embora essas sejam, sem dúvida, profundamenteatingidas. Não é nem mesmo uma crise de cunhoexclusivamente econômico, derivada tão-somen­te da injusta repartição da riqueza, como pretendeo materialismo reducionista, não obstante ser es­sa uma de suas facetas mais cruéis. É crise aindamais profunda, mais íntima, mais perversa. Vive­mos, de fato, uma crise de fundamentos. A socie­dade brasileira, além de definir suas instituiçõespolíticas, de estabelecer seu modelo e metas eco­nômicas, de delinear o perfiljurídico de seus rela­cionamentos, precisa, urgentemente, refletiracer­ca dos valores e motivos que têm orientado suasdecisões e traçado seus caminhos.

Os fundamentos da pessoa humana são preci­samente os seus valores éticos e morais. São eles

que nos orientam, que nos motivam, que nossustentem nas dificuldades, que nos incitam àação, que nos capacitam à resistência.

Um1serhumano desprovido desses valores ca­rece de razão, não tem sentido. Toma-se vazio,flácido, passivo, entrega-se às paixões, aos vícios,aos sentimentos menos nobres. É vítima fácil dacorrupção em todas as suas formas, faz-se adeptodas soluções mais cômodas e egoístas, apregoa­dor do oportunismo como estilo de vida.

Uma sociedade formada por homens assimnão poderá prosperar, uma vez que não haveráinstituições eficientes sem homens generosos,justiça eficazsem juízes honestos, governo demo­crático sem políticos decentes, progresso materialsem empresários justos, sem trabalhadores digni­ficados.

Estamos, Sr. Presidente, a braços com umacrise cuja feição principal é o desmonamento dosvalores éticos e morais.

Averdade deixou de ser o compromisso primei­ro dos homens públicos, a justiça tomou-se ques­tão de preferência pessoal, a imoralidade é agorafilosofia de vida, a hipocrisia virtude maior dosque almejam o sucesso a qualquer preço.

Preocupa-nos, profundamente, que nossascrianças e jovens cresçam e amadureçam semexemplos a serem seguidos, sem ideais' por quelutar, sem o apoio e o conforto de familias estrutu­radas, nas quais prevaleçam a paz e a harmonia.Vão para a vida já desesperançados, afeitos à cor­rupção, acostumados ao vazio ético, que carac­teriza tristemente os homens de hoje. ,

Como representante do povo evangélico e deDeus, nesta Casa, não pedemes silenciar peranteesse estado de coisas. .

Estamos aqui definindo, pelo voto, muito doque haverá de ser o futuro do Brasil. É precisoque tenhamos em mente, ao refletirmos acercadas diversas questões que nos são propostas, quesem homens melhores, sem compromisso comos valores eternos de verdade, de justiça, de amor,de dignidade humana, não poderá haver, paraeste País, o favor de Deus, e, sem este, podemosdesde já desistir da tarefa.

Inúteis haverão de ser, então, todos os esforços,infrutíferas todas as semeaduras, pois, "se o Se­nhor tVío edificar a casa, em vão trabalham osque a edificam", é o que nos garante a EscrituraSagrada.

E Deus edifica Sua Casa, construindo nos espí­ritos dos homens aqueles valores e princípios úni­cos, capazes de lhes proporcionar realização ple­na, vida frutífera,harmonia interior, numa palavra,a felicidade.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. (Muitobem!)

O SR. RUY NEDEL (PMDB - RS. Sem revi­são do orador.) -Sr. Presidente, S~ e Srs. Cons­tituites:

Durante todo o ano que passou, vi, pregadonos muros dos mais variados anexos desta Casa,aquele mapa rasgado onde Nordeste, Norte eCentro-Oeste, num jogo que me parece de corpo­rativismo, deixaram uma imagem seccíonísta aténo mapa, e não perdi uma palavra sequer sobreo assunto. Mas, ouvindo os reclamos do Sul doPaís, especialmente os da minha região, noto queessa questão, o "Somos 292", enfim, essa idéiaextrapolou os muros desta Casa e as fronte,iras

do Distrito Federal, gerando uma animosidadeno Sul do País, reacendendo o então bastanteagudo espírito separatista do Rio Grande do Sul.onde, há 150anos, enfrentou-se uma guerra con­tra o Império, que durou 10 anos.

Agora, nesta semana que passou, concomitan­te e coincidentemente, ocorre esse artigo, ocu­pando uma página inteira da revista Veja, cujotitulo, no "Ponto de Vista",é o seguinte: "Por umaRepública Gaúcha".

Ao mesmo tempo, tragicamente, na mesmasemana, ocorreu uma avalanche em Petrópolis,com um número de mortes que, até hoje, nãoconhecemos e tão breve não saberemos.

Sr. Presidente e Srs. Constituintes, é no Sudestee no Sul que ocorrem as avalanches e as tempes­tades com chuva de granizo, destelhando, às ve­zes, uma cidade inteira. furando os seus tetos;é nos morros que a chuva e as enxurradas arras­tam povoações inteiras; é no Sul e do Sudesteque ocorrem tragédias maiores do que as secastrágicas do Nordeste. Há dez dias morreram vintee sete pessoas, só numa avalanche em São Paulo,mas, há vinte e dois anos, na mesma Petrópolis,morreram trezentas. E, até hoje. não se drenaramos rios, até hoje não se fez nada de sério paraque sejam evitadas essas calamidades ou a des­graça que elas transferem para as famílias e àsociedade.

Sr. Presidente, Srs. Constituintes, nos últimosdez anos o Rio Grande do Sul sozinho entroucom 52% das divisas externas que o Brasil con­quistou, porque lá se exporta muito e não se im­porta quase nada. No entanto, é o Estado maisdesgraçado que existe no País nos dias de hoje.Vamos ter um pensamento de Pátria brasileira,não vamos ser corporativistas em termos de geo­grafia,vamos ter a nossa essência de Pátria-Brasil,pois, senão, a estaremos retalhando, e gerandoanimosidade dentro dos seus povos, variando deregião para região. Este respeito o Brasil merece,este respeito é uma obrigação nossa. Vamosdei­xar este tipo de pensamento menor e pensar nacausa maior. que é a Assembléia Nacional Consti­tuinte para o Brasil e para os brasileiros.

Era o que tinha a dizer,Sr. Presidente. (Palmas.)

O SR. césAR .MAIA(PDT - RJ. Pronunciao seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sr" e Srs.Constituintes:

Gostaria de registrar nosso, mais nítido apoioàs iniciativas do Governo brasileiro no sentido debuscar a mais ampla integração econômica com

'a América Latina e da qual faz parte a viagematual do Senhor Presidente da República.

Neste sentido contou com nosso voto a aprova­ção do art. 5° da Constituição, que diz:

"O Brasilbuscará a integração econômica,política-social e cultural dos povos da Amé­rica Latina, tendo em vista a formação deuma comunidade latino-americana de na­ções."

Além do mais, o PDT, como Partido-membroda Internacional Socialista, concorda e segue aorientação constante do Relatório do Comitê s0­bre Política Econômica de agosto de 1985, queteve a coordenação de Michael Manley e a presi­dência de WDIy Brandt

Page 9: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereirode 1988 DIÁRIODA ASSEMBLBA NAOONAL CONsmUINTEI

Terça-feira 9 7061

Este relatório,no capítulo que trata da "Reestru­tureção do Comércio e das Finanças", traz a se­guir)te orientação que gostaria de ler:

"Devemos basear-nos nos princípios dospagamentos e do comércio multilateral re­gional, como estágios para um multilatera­Iismo global.

Os países do Terceiro Mundo devem supe­rar os argumentos tradicionais sobre merca­dos comuns regionais, com propostas efeti­vas de uma operação econômica específica,a nível regional.

Para tanto, devem oferecer preferênciaatravés dos seguintes meios:

1. áreas de livre coméríco, com o ajustede tarifas mútuas e a manutenção de tarifasdiferenciadas para outros países;

2. mercados comuns, em que a área delivre comércio seja complementada por umsistema tarifário comum;

3. união econômica, através da qual omútuo acesso ao comércio seja facilitadope­las políticas econômicas nacionais; e

4. umão monetária com a qual os paísesprogridam na direção de acordos específicossobre condições para o mútuo apoio a suasmoedas, ou a uma única moeda de trocaintegrada."

Desta forma, Sr. Presidente, independentemen­te de nossa marcada oposição ao Governo Fede­ral não podemos deixar de nos solidarizar como esforço de política externa do Governo no sen­tido da integração latino-americana, dando assimrespaldo à viagem do Senhor Presidente da Repú­blica.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. (Muitobeml)

, O SR. CARLOS MOSCONI (PMOB - MG.Pronuncia o seguinte díscurso.) - Sr. Presidente,Srs Constituintes:

O Presidente da República acaba de anunciarà Nação, a privatização do IBC.

Trata-se, não há dúvidas, de iniciativaenorme­mente prejudial à cafeicultura nacional e que visa,tão-somente, a beneficiar os grandes grupos quecomandam o comércio internacional em detri­mento do produtor nacional.

Infelizmente, a se julgar pelas medidas oficiaispreconizadas para identificar a nova fase de Go­verno por contenção de gastos - a chamadaeconomia de guerra -, tudo não passará de sim­ples repetição retórica, eis que se insiste tão-so­mente no controle de salários e na privatizaçãoinfundada, desprovida de critérios, apenas dema­gógica, de determinadas instituições.

Este nefasto projeto, Sr. Presidente, inspira dú­vidas e desconfianças, porque pretende dissemi­nar na opinião pública a idéia de que o IBC éalgo pernicioso para o Estado e ocorre no mo­mento em que a atual administração consegueexecutar profunda reestruturação no complexosetor, colocando-se na defesa intransigente dosinteresses nacionais e dos produtores do café bra­sileiro.

Na verdade, ao realizarum extraordinário traba­lho de recuperação do IBC, retirando-lhe a condi­ção formada anteriormente de órgão cabide deemprego, promotor' de enriquecimentos ilícitos,gastos supérfluos aqui e no exterior,e de favoreci­mentos escandalosos, a atual direção enfrenta a

resistência de poderosos grupos que encontramnos atuais ocupantes do Palácio do Planalto, alia­dos ideais para retomarem à antiga situação deparasitas da autarquia e da cafeicultura nacional.

No plano organizacional promove-se agora ver­dadeira reforma administrativa, de maneira cora­josa e com absoluta discrição, fechando-se des­necessários escritórios no exterior- Milão, Ham­burgo, Bogotá e Nova Iorque - e agências noBrasil, além da diminuição da frota de veículose a redução, para 2.700 funcionários, dos 4.500então contratados pela autarquia.

Criou-se depois de muito empenho da classepolítica e das entidades de classe, o Fundo deDefesa da Economia Cafeeira- Funcafé -, anti­ga reivindicação dos nossos cafeicultores, consti­tuído com recursos da quota de contribuição, paragarantir a aquisição de volumes não absorvidospelo mercado.

Implantou-se, também, o Conselho Nacionalda Política Cafeeira - CNPC -, composto derepresentantantes da iniciativa privada, para as­sessorar o ministro da Indústria e do Comérciona fixação da política para o café.

Essas medidas, agora praticadas, conseguiramlevantar a cafeicultura nacional, num ano de su­persafra e de grandes dificuldades de comercia­lização externa do produto.

Pela primeira vez conseguimos fazer um esto­que regulador com recursos provenientes do Fun­café, além de termos conseguido exportar no anopassado, graças à salutar política de quotas adota­da, a vultosa quantia de vinte milhões de sacas.

Obviamente, a crise enfrentada pelos cafeicul­tores ainda persiste. No sul de Minas Gerais, porexemplo, onde se produz café de excelente quali­dade, bem como em outros Estados tradicional­mente dedicados à cultura-símbolo das nossasexportações, as profundas dificuldades financei­ras decorrem muito mais devido às oscilaçõesda política econômica do Governo, do que pro­priamente das dificuldades do setor. A alta incon­trolável dos juros tiveram igualou maior signifi­cado nos prejuízos do que a queda de preço docafé.

Portanto, se o Governo pretende seguir umaconduta de seriedade no trato das múltiplas ativi­dades, deve, isto sim, reestruturar o IBC e nuncaextingui-lo. .

É necessário soerguer definitivamente a cafei­cultura nacional, incentivando mecanismos queassegurem preços adequados aos que a ela sededicam e garantindo os instrumentos de aber­tura do processo decisório, nunca entregando aosespeculadores o poder de formular diretrizes edecisões sobre o setor.

Se o Governo federal pretende efetivamenteatender aos reclamos da Nação, que o faça comabsoluta transparência, e que governe com auste­ridade, não esbanjando recursos públicos em pro­jetos demagógicos e corruptos, como os citadosdiariamente pela imprensa, ao invés de privatizarautarquias da importãncia do IBC.

Muitoobrigado, Sr. Presidente. (Muitobem!)

O SR. VICENTE BaGO (PMDB - RS. Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs, Consti­tuintes:

Na última quinta-feira pude perceber, neste Ple­nário, muitos ruborescerem, ficarem avermelha­dos na sua expressão fllCial, quando se discutia

o § 38 do art. 6< do Projeto de Constituição qUI::estamos votando e que se refere ao direito depropriedade. Creio que aquela expressão se deu

. em razão de entendimentos de alguns, ou multoc,que pensavam estarmos, naquele momento, de­sejando banir do texto constitucional o direito depropriedade. Ao contrário, queria frisar que emhipótese alguma, creio, esta Constituinte, pensaem excluir do texto constitucional o direito à pro­priedade. Creio que, equivocadamente, também,alguns fizeram essa interpretação quando, na ver-

I dade, Sr. Presidente, o que estava em díscucsêo- e está em discussão hoje, ainda, e dever..l servotado - não é necessariamente o direito à pro­priedade, mas sim o exercício desse direito: oexercício do direito à propriedade que, para ..tI­guns, no entendimento de que o direito à proprie­dade é um direito fundamental, entendem quepodem fazerqualquer uso desse direito,enquanionós entendemos que ao direito de propriedadecumpre uma função social. uma obrigação socialno exercício desse direito. Por isso, dentro desseparágrafo entrou a discussão da indenizaçãoquando for feita a desapropriação de determinadapropriedade e, nesse ponto. concordamos quea indenização seja em dinheiro, prévia e justa,sempre que incidir sobre aquela propriedade in­dispensável ao sustento e manutenção da pessoae da família que usufrui daquele bem, todavi.:l,quando se trata de reforma agrária, reforma urba­na, entendemos que é indispensável que a indeni­zação seja feita em títulos da dívidapública, comoforma de se poder proceder às mudanças neces­sárias a fim de se garantir uma melhor distribuiçãoda riqueza, para que possamos diminuir as dístên­elas entre os ricos e os pobres, para que possamoster melhores condições de sobrevivência.

Sr. Presidente, apoiamos integralmente a reivin­dicação dos ferroviários que estão em greve eque estão tendo seu movimento julgado pelo TST,neste momento. Também gostarlamos de tecerrápidas considerações a respeito da nossa posí­ção quanto à questão do Partido que integramoee que a imprensa divulgou estaria sendo por nôeabandonado.

Em meio às tantas notíciasveiculadas na im­prensa nos últimos dias, sentimos a necessidadede esclarecer que o atual quadro de índefíníçôespolíticas é um desafio para nós que lutamos porsoluções, ainda que estas sejam ditícels.Estamossedentos por definições novas.

Assumimos compromissos com os movimen­tos popular e sindical com os quais temos estreitaidentificação.E não vamos abandonar esses com­promissos diante de crises e atitudes ocasional;como essas nascidas com o surgimento do Cen­trão e o comportamento do Presidente Serney,

A causa política que nos trouxe à Constituinteé bem maior que o problema colocado i:I nossafrente. I ,

A discussão sobre a saída ou .não do PMDB,neste momento, tem de dar lugar à Constituinte.Sera a nossa articulação dentro da AssembléiaConstituinte, enfrentando os conchavos do grupo'reacionário, que permitirá levar adiante a luta pro­gressista, recolocando as ações políticas em con­sonància com as aspirações do povo.

Anívelfederal, ajudamos a criar o MUp, - Movi­mento de Unidade Progressista, a fim de unir osprogressistas do PMOB e estes com os partid03.

Page 10: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7062 Terça-feira 9 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Fevereiro de 1988

de esquerda. Tivemos dois grandes momentos:a união na propositura de emendas de esquerdae a definição do mandato do Presidente Sarneyem quatro anos, na Comissão de Sistematização.

No Rio Grande do Sul, junto com os deputadosestaduais, vereadores e militantes do PMDB,tam­bém constnnrnos o MUP.Tudo isso teve e conti­nua tendo grande valor. Hoje temos em tornodo MUPotimos quadros, pessoas que sabem co­mo e porque lutar pelos direitos sociais. No MUPtemos identidade ideológica; temos coesão; mar­camos claramente nossas posições políticas.

Respeitando quem já saiu ou venha ainda ase afastar do PMDB agora; reafirmamos nossadecisão de definir o rumo partidário ao final dostrabalhos constituintes. A definição político-socialdo País, que se esta construindo na Constituinte,é mais importante do que o rumo partidário quevenhamos adotar.

Assim no nosso entender, o momento nos cha­ma para aliar esforços entre todos os progres­sistas, estejam eles onde estiverem, para o grandeenfrentamento com as forças retrógradas repre­sentadas pelo Centrão e avançar nas garantiassociais.

Reafirmamos nossa Juta por eleições diretasà presidência da República em 88, por uma Cons­tituinte progressista com reforma agrária, comliberdades democráticas, com uma proposta deeducação e saúde comprometida com os interes­ses e necessidades da maioria do povo brasileiro,garantida a participação popular nas decisões deGoverno.

Reiteramos, outrossim, a necessidade urgentedo PMDB retomar seu caminho e compromissoshistóricos, sob pena de nos empurrar à nova op­ção partidária e de inexorável implosão do Partido.

Era o que tínhamos a dizer,Sr. Presidente. (MUI­to bem!)

A SRA. IRMA PASSONI (PT - SP. Semrevisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Consti­tuintes:

Durante este fim de semana analisei muito pro­fundamente o § 38 do art. 6°e assim me solidarizocom as colocações do Constituinte Vicente Bago.Perguntaria, entretanto, ao Constituinte Bonifáciode Andrada, ao Constituinte Ricardo Izar,ao Cons­tituinte Roberto Cardoso Alves, por que S. Er'defendem que o exercicio do direito à propriedadenão deveria se subordinar, segundo os que assimpensam, ao bem-estar social, à conservação dosrecursos naturais e à proteção do meio ambiente?

Não conseguimos explicar isso à população,principalmente diante de uma catástrofe comoessa que aconteceu em Niterói, onde se ocupamos espaços da natureza sem nenhum planeja­mento, sem nenhuma proteção ao meio ambien­te, com centenas de mortes porque o planeja­mento humano não vem em nossa própria defesa.Então, depois, sofremos as conseqüências bárba­ras como essa que Vivemosneste fim de semana.

Tivemos dois fatos fundamentais, no ano pas­sado e neste ano agora, que foram a questãodo césio, em Goiânia, e agora essas catástrofesque se multiplicam cada vez mais. E por quê?Porque as autoridades brasileiras não planejam.A pessoa humana não sabe se autodefender, seautoplanejar. Acho que a população merece denós a maior responsabilidade ao aprovarmos esseparágrafo e jamais poderá ser explicado o porquê

de se retirar do § 6° essas expressões que sãoas bases fundamentais de proteção à vida huma­na sobre a face da Terra.

Gostaria que constasse dos Anais o artigo daFolha de S. Paulo, de Cesar Borges, intitulado"Sarney inclui no pacote fiscal mais verbas paraFernando de Noronha'. É a questão da proteçãodo Território de Fernando de Noronha, quandoencaminharemos verbas altíssimas - 2 bilhões,70 milhõesde cruzados do Fundo de Partícipaçãodos Estados, 18 milhões e 600 mil do Fundode Participação dos Municípios - ao Territóriode Fernando de Noronha, sem saber, efetivamen­te, quais são os planos, o que o Governador no­meado pensa fazer no Território. Sabemos quea população recebe combustivel de graça, recebegás de graça, transporte público, luz, ãgua, tudode graça, são 1.300 pessoas que têm esse privilé­gIOperante o País. Agora desejo saber o que iráse fazer em Fernando de Noronha, quais são osprojetos que exsitern lá? É projeto turistico? Éde auto-sustentação? Como ficará o Território emrelação à aplicação dessas verbas?

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

DOCliMENTO A oae SE REFERE AORADORA:

"SARNEY INCLUI NO PACOTEASCAL MAISVERBAS PARAFERNANDO DE NORONHA

A ofensiva da Frente Parlamentar de Defesado Contribuinte contra o pacote fiscal baixadopelo governo em dezembro passado ameaça dei­xar sem recursos o Território de Fernando deNoronha. É que, embutido no Decreto-lei n°2.397, que o Congresso Nacional vota esta sema­na, o presidente José Sarney colocou um artigoincluindo o governo de seu amigo e ex-porta-vozFernando César Mesquita como beneficiário doFundo de Participação dos Estados (FPE), da re­serva que o fundo possui e da distribuição queé feita da arrecadação do imposto sobre lubrifi­cantes líquidos e gasosos e do imposto sobreenergia elétrica.

De acordo com a estimativa de arrecadaçãoprevista no Orçamento da União aprovado para1988, Fernando de Noronha vai receber este ano,só de recursos do FPE e de sua reserva, aproxima­damente Cz$ 2,7 bilhões. Com 1,Ima populaçãoque não chega a 1.300 habitantes e uma áreade 26' quilômetros quadrados, o território teráacesso a recursos quase 145 vezes maiores doque um município de até 10.200 habitantes, queeste ano recebe Cz$ 18,6 milhões do Fundo deParticipação dos Municípios (FPM).

O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos BresserPereira, que montou o pacote fiscal, disse à Folhaque houve uma solicitação do Palácio do Planaltopara que incluisse o Território de Fernando deNoronha no Fundo de Participação dos Estados(FPEl, "e eu concordei que isso pudesse ser feitoNão me pareceu nada de mais".

O ex-ministro não concordou em que o artigodo decreto tratando do assunto tivesse sido "es­condido", já que o Decreto-Iei n- 2.397 trata dealteração de imposto de renda de pessoas jurídi­cas e a inclusão de Fernando de Noronha noFPE, é uma regulamentação de normas constitu­cionais. "Isso não é escondido, é uma carona;é muito comum e se faz sempre", disse Bresser,

alertando apenas que não participou do critériode rateio que atribuiu a quota de participaçãoao terntório.

Rateio

O critério de rateio foi definido pelo decreto-leido pacote, que diz que a quota de participaçãode Fernando de Noronha não poderia ser maiorque a metade da média das três menores. Nocaso do FPE foram somadas as quotas de Brasília(07775), Mato Grosso do Sul (1,4994) e EspíritoSanto (1,5749), cujo resultado (3,8518) foi divi­dido por três e alcançou a média de 1,2839. Ametade dessa média (0,620) foi atribuída ao terri­tório.

Essas quotas são definidas pelo.Tribunal deContas da União (TCU) com base em dados doIBGE sobre renda per capita, população, consu­mo, área etc. Como os critérios de combinaçãodesses dados para a definição da cota, pelas re­gras normais do TCU, iria colocar o território emposição mais vantajosa até do que São Paulo,o governo optou pela fórmula acima. Amanhã,o Diário OfIciai da União publica a Resoluçãon" 231/88 do TCU onde as quotas do territórioestão fixadas para 88.

O chefe do Gabinete Civil, ministro RonaldoCosta Couto, ao responder à Folha sobre as in­tenções do governo ao embutir a decisão sobreFernando de Noronha em um decreto-Iei que tra­tava de outro assunto, disse, através de seu asses­sor, José Arantes, que "não tinha sentido fazerum decreto separado, para outra publicação, sepodia ser feito tudo em um só". A intenção dogoverno, segundo ele, foi incluir Fernando de N<rronha no fundo de participação porque o territóriotinha deixado de ser uma área militar.

De fato, desde que o Congresso constituinteaprovou a Lei rr 7.608 em junho do ano passado,transferindo do Estado-Maior das Forças Arma­das (EMFA)para o Ministério do Interior a vincu­lação do território, que o seu governador, nomea­do pelo presidente Samey, Fernando César Mes­quita, vem tentando junto ao TeU sua inclusãono fundo de participação. O ministro Alberto Hoff­rnann, do tribunal deu seu parecer contrário por­que era necessária uma lei que autorízasse a inclu­são - o que foi feito através do Decreto-lei n°2.397. Segundo Hoffmann, com a participaçãode Fernando de Noronha na divisão do blocodo FPE, "os Estados podem entrar com recurso,se quiserem comprar a briga".

O governador do território, também ouvido pelaFolha, argumentou que com esses recursos "vaíprocurar a auto-suficiência e a autonomia do terri­tório, pois aqui tem muita coisa para fazer". Eledefendeu também a forma final encontrada peloPalácio do Planalto, dizendo que O' assunto foiestudado pela Seplan, pelo IBGE e pelo TCU porum bom tempo. - Cesar Borges, da Sucursalde Brasília.

o SR. FLORICENO PAIXÃo (PDT - RS.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes:

Acabo de receber oficio do Sindicato dos Tra­balhadores nas Indústrias da Construção Civil deSão Paulo, informando que a categoria, atravésde suas entidades de classe de todo o País, apro­vou, por unanimidade, em reuniões, congressose assembléias, as seguintes teses em pauta na

Page 11: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereirode 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEI

Terça-feira 9 7063

Assembléia Nacional Constituinte, e solicitandonosso decidido apoio no sentido de sua apro­vação:

- estabilidade no emprego;- unidade sindical;- representação dos trabalhadores na Justiça

do Trabalho;- aposentadoria com salário integral;-jornada de 40 horas semanais;- horas extras acrescidas de 100%;- direito de greve, amplo e livre;- férias pagas em dobro;- participação dos sindicatos nas fiscalizações

do trabalho;- não prescrição dos direitos trabalhistas.Sr. Presidente, o Partido Democrático Traba­

lhista apóia e votará a favor de todas essas eoutras reivindicações dos trabalhadores brasilei­ros.

Era o que tinha a dizer.

DOCUMENTO A QUE SE REFERE OORADOREM SEU DISCURSO:

Exm" Senhores Constituintes,Nossos congressos, estadual e nacional, nossas

assembléias, nossas reuniões em obras, sempre,unanimemente. aprovaram, como reivindicaçõesbásicas dos trabalhadores nas indústrias da cons­trução civil:

- estabilidade no emprego;- unidade sindical;- representação dos trabalhadores na justiça

do trabalho;- previdência com salário integral;-jornada de 40 horas;- horas extras acrescidas de 100%;-direito de greve, amplo e livre;- férias em dobro;- participação do sindicato nas fiscalizações

do trabalho; •- não prescrição dos direitos trabalhistas.No momento em que a Assembléia Nacional

Constituinte, decidindo o futuro da classe traba­lhadora define seus direitos sociais, vimos apelara V.Ex'para que seu voto coincida com as aspira­ções dos trabalhadores.

Contando com o seu valioso apoio, transmi­timos nossos protestos de respeito e considera­ção.

Atenciosamente, Décio Lopes, Presidente.

o SR. EVALDO GONÇALVES (PFL - PB.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Srs. ConstItuintes:

A Paraíba perdeu, ontem, um dos seus últimostrês Constituintes de 1946. Restavam, a engran­decer a paisagem humana nacional, João Agri­pino filho,José Joffilye Fernando Nóbrega. Ficamos dois últimos. desde que o primeiro, João Agri­pino Filho, passou a integrar a lista dos que seforam: Ernani Sátyro, Plínio Lemos, Osmar deAquino, Samuel Duarte, João Úrsu!o, VergniaudWanderley, Adalberto Ribeiro, Janduí Carneiro eArgemiro Figueiredo.

Esta era a nossa representação política na As­sembléia Nacional Constituinte, em 1946.

Todos, sem exceção, responderam honrada econstrutivamente às responsabilidades que lhesforam cometidas. Deverei, proximamente, falarsobre a atuação do Constituinte e Deputado Sa-

muel Duarte, o primeiro e único paraibano a assu­mir a Presidência da Câmara dos Deputados.

Havia pedido um depoimento a João Agripinosobre o nosso ilustre conterrâneo. Igual iniciativafizcom relação a José Joffllye Fernando Nóbrega,assim como solicitei depoimento de ilustres Cons­tituintes de 1946, de outros Estados.

O trabalho vai ficar desfalcado da palavra deJoão Agripino. Não há de ser nada. Lamento queisso tenha acontecido, como lamento o seu desa­parecimento. Muitos dirão sobre seu Governo, suaatuação parlamentar, seu caráter de sertanejo rijoe forte. Dirão sobre suas amizades e mais aindasuas vitórias. Na realidade. foi sempre-um vitorio­so. Não há registro, em sua trajetória, de nenhumaderrota política. Deputado Federal, durante váriaslegislaturas, Senador da República, Governadordo seu Estado, a todos os postos assomou, caval­gando apenas nos seus méritos pessoais e nocarisma indisfarçável dos seus gestos de homempúblico.

Se tivesse de destacar uma faceta do seu múl­tiplo desempenho, como homem público, diria:só teve gestos de grandeza A ninguém é lícitoatribuir-lhe um ato de mesquinharia política. Sou­be portar-se sempre com rara altivez e desusadasobranceíría, no exercício dos diversos cargos.Nunca desceu ao varejo das retaliações, desco­nhecendo, por isso mesmo, o gosto amargo dorevanchismo que apequena e amesquinha o go­vernante.

À frente do governo do Estado, foi impassívelno cumprimento de suas funções, tendo sidomais impassível ainda consigo mesmo. Sendoum homem de paixões e grandes emoções. atudo sabia superar para que prevalecesse, acimade tudo, até mesmo de suas opções pessoais,o interesse público. Se gostava de música, nin­guém sabia. Se gostava de arte, essa preferênciaele conseguia sopitar. Só uma coisa era do conhe­cimento público: ele gostava mesmo era do seuPovo. Por ele, sacrificou sua saúde e devotou seusdias.

Mereceu, por tudo isso, o reconhecimento per­manente da Paraíba, e, agora, quando deixa onosso convívio, terá mais ainda a consagraçãodo povo pelos gestos de grandeza.

Saibamos, todos nós, seus sucessores, aqui,neste Parlamento, e lá, no Governo da Paraíba.que o poder é passageiro e fugaz, e que só temsentido na medida em que é utilizado para servira todos, sem exceção, e, sobretudo, sem ódio.

João AgrIpino soube ser digno da Paraíba ede seus exemplos de civismo e espírito público.Que saibamos fazer o mesmo! Esta a maior ho­menagem.

O SR. AGASSIZ ALMEIDA (PMDB -,PB.Pronuncia o seguinte díscurso.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes:

O Deputado que este subscreve vem, no exer­cício de suas prerrogativas e na forma regimental,requerer que a Mesa da Câmara dos Deputadosrealizesessão solene. em dia e hora a serem desig­nados por Vossa Excelência, para homenageara memória do ex-Deputado João Agripino, fale­cido neste último dia 6 de fevereiro.

Justificação

João Agripino foi um dos mais admiráveisexemplos de homem público que este País conhe-

ceu, não só por sua extrema devoção aos lnteres­ses da coletividade como também por sua riqidezde caráter.

Deputado Federal, Senador, Governador da Pa­raíba e Ministro de Estado. em todas as funçõese postos coletivos que exerceu, João Agripino dei­xou a marca inconfundível de sua capacidade.talento e amor à causa pública:

Nesta Casa ele se projetou por uma fecund~atuação, em que sempre demonstrou vivo~mpe­nho na solução dos mais graves problemas brasl­leiros e, particularmente, do nordeste do Pais.

Com a morte de João Agripino perde a f:'Iaçãouma das suas mais preciosas reservas civícas- emorais, que merece ser evocada perenementecomo modelar figura para esta e para as proxímasgerações de brasileiros.

O notável político tinha orgulho de haver realiza­do, em seu Governo na Paraíba, obras em todosos municípios, graças à sua visão global dos pro­blemas sociais e econômicos. Uma das maís sig­nificativas foi a de implantação de rede de aguaem quase todas as cidades, o que tomou o Estadona primeira unidade da Federação a atender 85%da sua população urbana com esse serviço. '

Desde o seu la ingresso na vida política, foium combatente imbatível. Teve ativa participaçãono processa de redemocratização do País, apócà queda do Estado Novo, elegendo-se DeputadoFederal para a Constituinte de 1946. pela legendada antiga União Democrática Nacional (UDN),ocupando a cadeira até 1962, quando se elegeuSenador, após ter ocupado o Ministério das Mina::;e Energia em 1961. E foi o último governadorparaibano eleito pelo sufráqro popular,

Mesmo depois de deixar a militância partidária,continuou sendo sempre um Político. na acepçãopura do termo, jamais renunciando em oferecera sua larga experiência em favor das grande,:; cau­sas nacionais e nordestinas.

A Câmara dos Deputados. ao prestar horrie­nagem à memória do inolvidávellíder e adminis­trador, em sessão especial, estará oferecendo Jus­to preito também a um dos seus mais destacadose atuantes parlamentares que, inclusive, colabo­rou intensamente na elaboração da Carta Magni.lde 1946

Sala das Sessões, 8 de fevereiro de 1988. ­Agasslz Almeida.

I •

O sa, INOCÊNcio OUVEIRA (PFL - PE.Pronuncia o seguinte díscurso.) - Sr. Presidente.Srs. Constituintes:

O Partido da Frente Uberal, através da SUd Co­missão Executiva Nacional. divulgou uma nota,na qual traça a linha mestra da nossa agremiaçãopolitica, sobre o projeto constitucional. no sentidode oferecer aos seus Constituintes orientação pro­gramática, da qual resulta uma ação pohtícaarti­culada. coerente e eficaz, reafirmando seus co~­prorníssos com a democracia e com a partícl­pação, com o desenvolvimento e a justiça social.fundados num moderno liberalismo, conclarriaque a elaboração constitucional seja concluídacom brevidade, indo ao encontro do anseio detodo o povo brasileiro.

Entende o PFL que a Constituição não podeser elaborada por um grupo, por alguns gruposou nem mesmo por um partido político. tem dêser produto do entendimento ou acordo entre

Page 12: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7064 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAOONAL CONSllfUINTE Fevereiro ~e 1988

as forças políticas da Nação, tendo em vista repre­sentar a vontade da maioria do nosso povo.

Recomenda, então, as seguintes diretrizes paraos trabalhos constituintes:

A sociedade deve ser mais importante que oEstado, pois a intervenção do Estado inibe o de­senvolvimento, a medida que concorre indevida­mente com a iniciativaprivada, promove a forma­ção de monopólios e privilégios e desrespeita aracionalidade econômica inerente à atividade em­presarial. Também manifesta o direito do consu­midor, o respeito ao contribuinte, a pluralidadesindical e a indispensável co-gestão previdenciá­ria, etc.

Condena ao atraso político e defende o fimdo clientelismo, como medidas essenciais parasuperação do subdesenvolvimento político, e aerradicação do autorítarismo e populísmo,

Nos direitos sociais prega que a Constituiçãodeve assegurar a todos os brasileiros o acessoà educação, saúde, habitação, previdência social,transporte coletivo e nutrição. Combate à incom­petência e à corrupção, defende salário justo egarantia dos aposentados.

A consolidação da economia de mercado, atra­vés da limitação da atuação do Estado à ofertade serviços sociais básicos e participação em se­tores produtivos cuidadosamente selecionados earticulados com o desenvolvimento nacional. Pre­ga a redução da carga tributária e prioridade àspequenas e microempresas.

Defesa do meio ambiente e estímulo à cultura,como responsabilidade do Estado e da sociedade.

Modernização do Estado, para torná-lo eficientepara oferecer serviços de boa qualificação, preco­niza o concurso público como única forma deacesso ao serviço público e do mérito como crité­rio para a promoção e valorização dos servidores.Combate ao cartorismo.

Fortalecimento dos Estados e Municípios, ten­do em vista a efetivação do Estado FederativoBrasileiro, pela concepção de um sistema tribu­tário que proporcione uma melhor distribuiçãodos tributos e encargos públicos, revertendo ahistórica tendência centralizante.

Correção das desigualdades inter-regionais derenda, como um dos princípios que deve conteras diferentes normas constitucionais relativas àspolíticas públicas.

Sr. Presidente, Srs. Constituintes, verifica-se pe­la definição dos diferentes assuntos enunciadosque a nota do Partido da Frente Liberal constituiimportante documento para os seus integrantesà Assembléia Nacional Constituinte, que tem aresponsabilidade histórica de participar da elabo­ração e promulgação do texto constítuclnal, paraque a nova Carta Magna seja capaz de assegurarao País a plenitude democrática e a efetivaçãodos direitos civis, econômicos e sociais dos cida­dãos.

Era o que tinha a dizer.

o SR. DENISAR'ARNEIRO (PMDB - RJ.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes:

Recebemos de um eleitor uma publicação pro­duzida por ele, com a alma daqueles que estãopreocupados com os destinos do Brasil e, comoconcordamos com todos os conceitos emitidosnesta publiçação, Iígamos para sua residência epedimos autOrizaçãopara que fosse transcrito nos

Anais do Congresso Nacional Constituinte seusconceitos e observação de um fenômeno quepoderá ocorrer no Brasil, mas que a maioria dosbrasileiros desconhece. Ele é muito feliz quandodiz: Brizola Presidente? Em seguida faz comen­tários a respeito do pior governo que o nossoEstado já teve desde a sua fundação. Afinal, paraquem conhece o demagogo, incompetente e in­capaz homem que se diz público, não era novida­de. Quem chegou a imprimir dinheiro estadualem j 962 no Rio Grande do Sul - as famosas"Brízoletas" - das quais ainda tenho algumasem meu poder, para mostrar à nova geração ogrande democrata que é, procurando desesta­bilizara nação que era governada pelo seu cunha­do Dr. João Goulart, para ocupar o seu lugar,"na marra", como dizia pela Rádio MayrinkVeiganos seus programas quase que diários. Para me­lhor conhecermos este "Caudilho dos Pampas",vamos registar o que dizo Dr.Oswaldo GuilhermeRoberto Gebler,

"Em dezembro de 1985, uns três dias apóssubstancial aumento das passagens de ônibus,o então Governador Brizolaachou política e eco­nomicamente vantajoso desapropriar e encampar16 empresas de ônibus, fazendo na ocasião es­candalosas acusações de que elas roubavam ofisco, pois em 4 dias de trabalho semanal cobriamos custos, representando os outros 3 dias altoslucros sonegados. (Na ocasião, jornais mostraramfotos de considerável frota de ônibus novos des­sas empresas)

Seis meses após, em 22-5-86, O Globode­nunciava que luxuoso ônibus "frescão" de uma

. das encampadas, ocupado por apenas 9 pessoas,dentre as quais o próprio interventor da empresa,saiu de Niterói para ir passear até Foz do Iguaçu,havendo revolta de funcionários, em vista da lnter­ventoria alegar dificuldades financeiras para com­prar peças de reposição, mas esbanjam dinheiropúblico no próprio lazer. Mostrou O Globo que,em apenas seis meses e mal dirigidas, as encam­padas "entraram na contra-mão: surgiram denún­cias de empreguismo, na justiça corriam proces­sos de falência requerida por fornecedores, nasgaragens haviam muitos carros parados por faltade peças de reposição" etc.

Ao assumir em 15-3-87, o novo governo doEstado encontrou essas empresas em estado las­timável, altamente depredadas e numa falimentarpolítica de empreguismo do "peleguismo" brizo­lista, sendo os ônibus "canibalizados" e tornadossucatas, apresentando as empresas altíssimos dê­ficits operacionais, com fabulosos prejuízos parao erário.

Em 7-1-88, o novo governo, acolhendo estudotécnico, publicou nota oficial nos jornais, em que- "consideradas as razões de caráter legal, opera­cional, financeiro, a convicção moral e políticade combater a manipulação irresponsável do inte­resse público" - decide devolver às desapropria­das aos seus antigos donos, sendo, entre outros,alegados os seguintes fatos graves a motivaremtal devolução:

1) Em dezembro/85 as 16 empresas opera­vam 2.180 ônibus. Por falta de manutenção, atémarço/87 (quando Brizoladeixou o governo) essenúmero despencou para 1.219, e a intensidadeda depredação foi tal, que só 400 ônibus forampassíveis de recuperação total.

2) O número original de funcionários das 16empresas era de 10.900, equivalendo a 5,0 em­pregados por ônibus Pela administração brizolistaforam contratados 1.121 novos empregados atémarço/87, para oferecer um serviço pior (menosônibus) e caríssimo para o Estado, com 9,86 em­pregados por ônibus em circulação.

3) Até dezembro/85, as empresas mantinhamsuas contas atualizadas e todas apresentavam lu­cro operacional. A estatização, ao contrário, serviupara acumular dívidas de Cz$ 1.119 bilhão (Cz$376 milhões junto a fornecedores e 743 milhõesjunto à Previdência Social, que passou a não serpaga).

4) Para indenizar os expropriados, pagar divi­das acumuladas sob a gestão estatal, fecompore expandir a frota, seriam hoje necessários investi­mentos superiores a ez$ 13,6 bilhões (US$ 184,5milhões, em 7-1-88) só disponíveis mediante co­brança de mais impostos à população.

Com a devolução, o Estado se livrade um enor­me "abacaxi" criado pela crímmosa demagogiabrizolista.Os antigos proprietários se comprome­tem a recuperar as empresas que, com o passardo tempo, voltarão a beneficiar o própno Estadocom ° pagamento de Imposto. Até ai, tudo bem,mas é o povo quem vai arcar com os enormesprejuízos já ocasionados por tão irresponsável edestruidora estatização? Afinal, que Pais é este?Onde fica a responsabilidade do Sr. Bnzola, quepretende ser nosso presidente, para sucatear tam­bém este já infeliz moral e economicamente falidoBrasile muito provavelmente (ainda mais enrique­cido) depois se debandar para o Uruguai ou Aus­trália? Não basta o exemplo dos estragos queprovocou nesta antes belacap? Será que não te­mos bom senso, com um mínimo de inteligência?

Não subestimemos a fantástica capacidade donosso "Hitlerbrasileiro" em enganar o povo, cap­tar votos e se eleger nosso próximo presidente.Então, porque não se cortar suas asas políticascom um processo indenizatório em que, uma vezjulgado culpado por uma justiça altamente capa­citada, seria declarado também definitivamenteinapto para voltar a exercer qualquer cargo públi­co no País?

Aos nossos homens públicos que não tiverema própria consciência pesada, cabe a séria obriga­ção de tomar as necessárias providências, poisjamais o Brasil será recuperado se não agirmoscom responsabilidade e passarmos a exigir altaresponsabilidade também de todos os que exer­cem cargos públicos.

Após a leitura desta recente verdade que o nos­so Estado do Rio viu há pouco mais de um ano,tenho certeza de que aquele que tiver oportu­nidade de conhecer mais algumas loucuras doex-governador do Estado, examiná-las sem pai­xão, mas com o realismo que a hora presenteestá a exigir de todo cidadão de boa formação,verá que não é possível pensarmos em elegerpara Presidente da República um irresponsávelcomo é o Sr. Leonel Brizola. Em quatro anos,foi governador de duas obras no Estado: uma,o sambóbromo e a outra iniciada e não acabada,os "CIEP"; dos 500 que prometeu construir noEstado, somente 96 estavam prontos no fínal doseu governo, estando os restantes, uns sendo aca­bados e outros ainda iniciados pelo atual governo.Conheceu poucos municípios dos 64 existentes

Page 13: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7065

na época. Preguiçoso, não despachava com seussecretários durante meses, e não atendia às au­diências pedidas pelos prefeitos. Será para o flu­minense que gosta de sua terra, tem amor à suagente, a maior decepção a eleição deste ditadordisfarçado em democrata-social, ser eleito paraqualquer cargo, principalmente o de presidenteda República.

Era o que tínhamos a dizer.

o SR. PAULO PAIM (PT- RS. Pronunciao seguinte díscurso.) - Sr. Presidente, Srs, Cons­tituintes:

Nos últimos dias, um movimento de propor­ções nacionais, envolvendo mais de 100 mil traba­lhadores ferroviários e metroviários foi desenca­deado em todo o País.

Os jornais de hoje, como de resto toda a im­prensa, dão grande destaque às repercussões edesdobramentos que vêm tendo este movimentojusto e legítimo dos companheiros ferroviários.

E por que tudo isto, Srs. e Sr's, Constituintes?Tudo pela falta de compromisso de um Governoque aposta no caos social e no estrangulamentoda economia.

A reivindicação desses trabalhadores é a provamais cabal de que o Governo não assume comfinneza e não responde à altura aos problemasmais emergentes que lhe são colocados para so­lução. Tudo o que faz é adiar as responsabilidades,quem sabe para melhor genr o tráfico de influên­cias que tomou conta do Governo na busca inces­sante de mais um ano de mandato.

Os ferroviários e metroviários haviam obtidotanto da Rede Ferroviária Nacional SA (RFFSA),como da Companhia Brasileira de Trens Urbanos(CBTU). O compromisso de atendimento a suasreivindicações básicas, principalmente a questãoda implantação de um novo plano de cargos esalários.

Com base nisso, 05 trabalhadores começaramli receber um reajuste na ordem de 18% em de­zembro, já como adiantamento da nova políticacontida no plano de cargos e salários.

Entretanto, desrespeitando o que foi livrementenegociado e aceito pelas partes, o Císe(ConselhoInterministerial de Salários das Estatais) rejeitouo plano, sem antes avaliar as conseqüências desteato, em mais uma atitude irresponsável que trazenormes prejuízos para toda a sociedade e a eco­nomia do País.• Em recente entrevista aos órgãos de imprensa,

o Chefe da Casa Civil, Ronaldo Costa Couto, afir­mou que o Governo não pode tolerar que ummovimento grevista traga tantas inquietações eperturbações a sociedade. No final da entrevista,

'entretanto, indagado sobre o novo plano de auste­ridade e combate ao déficit público do Governo,o Ministro disse que de agora em diante "sejao que Deus quiser", ou melhor salve-se quempuder.

Isso bem demonstra que o Governo é que armaà sua própria arapuca. Primeiro, acorda com ostrabalhadores uma coisa, depois um outro órgãovai e diz que o acordo não vale e que agora apolítica econômica é outra. E quem acaba pagan­do a conta sempre são os trabalhadores.

O Governo é a causa e conseqüência destacrise toda. A população fica sem transporte, oabastecimento fica comprometido, o transported~ combustíveis fica afetado e muito mais acon-

tece porque ninguém assume nada, ninguém sa­be nada, só se sabe que a culpa é dos trabalha­dores, saída fácil para quem não tem competênciapara gerir a economia desse País.

Diante disso tudo, mais uma vez o. conflito éjogado para o Judiciário resolver, mas resolvero quê? O legal e o ilegal. E s6 isso, porque maisdo que isso é impossível.

Aliás,não se pode nem cogitar que o TST possaa vir julgar essa greve ilegal, o que deveria serjulgado na verdade é a legalidade e a legitimidadedesse Governo. Ai sim, precisamos de justiça, eela será feita o quanto ante esperamos.

Ao Governo, fica o nosso apelo para que aten­dam de vez essas reivindicações dos trabalha­dores, mostrando pelo menos um pouco de hu­mildade, sabendo que foi um erro rejeitar o planode salários que já havia sido antes acordado. Muitoobrigado.

OSR.JUfAHYMAGALHÃES (PMDB-BAPronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,srs, constituintes, Alguns parlamentares têm co­metido, em meu ver, um grave equívoco em suasintervenções em plenário. Dispostos a votar ape­nas aquelas emendas que já foram objeto de acor­do entre as lideranças, e têm, portanto, um pro­cesso de votação rápido e tranqüilo, tais parla­mentares hostilizam sistematicamente os consti­tuintes que tentam encaminhar outras emendas.

Alegando a necessidade de apressar os traba­lhos, procuram impedir a todo custo manifes­tações individuais muitas vezes necessárias, opor­tunas e que merecem nossa atenção.

Inibem, dessa forma, muitos parlamentares quequerem defender suas idéias, com contribuiçõesimportantes ao processo constituinte em desen­volvimento.

É claro que da outra parte também não deveprevalecero exagero. Os constituintes que tiveramsuas emendas preterídés em função de outrasde sentido semelhante, mas melhor redigidas oumais abrangentes, não devem insistir numa vota­ção em que fatalmente terão sua emenda rejei­tada pela maioria. É preciso que todos tenhamserenídade.e bom senso para que a vaidade pes­soal não interfira no julgamento do que é ou nãorelevante, pertinente e viável de se discutir e pro­por.

Se, entretanto, ainda que concordes com mi­nhas afirmações, julgam os srs. constituintes queo problema principal é agilizar a votação, que seadotem outras medidas para esse objetivo, como,por exemplo, a diminuição do tempo das comuni­cações das lideranças. um dos fatores que atra­sam o início da votação.

O que não pode prosseguir é essa hostíllzaçãoconstante aos que, participes do processo consti­tuinte como cada um de nós, têm o direito deexpressar-se na busca de seu aperfeiçoamentoe concretização.

Era o que tinha a dizer.Obrigado.

O SR. PAULO MACARINI (PMDB - Se.Pronuncia o seguinte díscurso.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes:

Asituação farmacêutica do País, desde o ensinouniversitário, passando pela assistência farmacêu­tica. até a fabricação de medlearnentos, apresentaum quadro caótico que está a comprometer onosso dIIenvoMmento.

Em verdade, o País está imensamente depen­dente dos laboratórios estrangeiros. o que colo­ca-o em situação vulnerável, porque não ha incenjtivo governamental à indústria de químíca finae à pesquisa de farmacos, para atender a... rt:<Ji~

necessidades da população brasileira.Nesse sentido, Santa Catarina elaborou uma

análise da situação farmacêutica no Brasil, cujotrabalho foi organizado por Norberto Rech, Presi­dente do Sindicato dos Farmacêuticos; NemesloCarlos da Silva, Presidente do Conselho Reqíonelde Farmácia, e José Miguel do Nascimento Jú­nior, Secretário Geral do Conselho Reglonal deFarmácia de Santa Catarina, do teor seguinte:1 -Introdução

Pretendemos, através deste documento, mar­car a passagem do "Dia do Farmacêutico", eaprofundar algumas questões que envolvem oâmbito do profissional e diretamente a populacão.

O farmacêutico çum profissional de nível supe­rior, capacitado e habilitado a exercer atívldadesque envolvem o medicamento em sua produçãoe pesquisa, controle de qualidade e díspensaçüo,manipulação de medicamentos homeopáticos,alopáticos e fltoteráplcos, cosméticos. soros e va­cinas.

Como opção de especialização, o farmacêuticopode atuar nas análises clínicas e análise do" ali­mentos, fechando um circulo que envolve todaa população.

Com uma formação generalistã, o farmaceu­tico pode participar de forma global no diagnos­tico, planejamento e orientação em saúde,

Estas atribuições, que poderiam nos ddiciai­de orgulho. infelizmente não são concretizadasna prática por uma série de fatores que desafiama própria segurança nacional.

Vivemos um morriento político em que a socie­dade brasileira exige mudanças, e o farmacêuticotem duas opções: ou assume seu papel sodallutando contra estas forças poderosas qUE: nossugam até a dignidade de ser humano ou alia-sea estes interesses que exploram a população bra­sileira.2 - População X Saúde

A saúde deve ser considerada como um valore um bem público e, portanto, um direito de todoe,

Direito à saúde e o acesso a um ambiente ea condições de vida biológica, social e culturaldignas do ser humano, cabendo ao Estado mobi­lizare organizar recursos que garantam este aces­so.

A saúde é resultado de um longo processo his­tórico que sempre se caracterizou pela Iconstanteexploração do trabalho, e que no Brasil tem LUaS

especificidades.O modelo econômico centralizador deíxou 1<:­

flexos profundos na área de saúde,levando dumadívida social e política com seqüelas irreversrvela,Nestes anos, agravaram-se as condições de vidada população, acelerando o ciclo vicioso: pobre­za-trabalho-meio ambiente-c-saúde.

Em nome do desenvolvimento apoiado numapolítica de arrocho salarial e numa política deexportação combinada com o endividamenteo epagamento de juros exorbitantes, permitindo alivre remessa de lucros ao exterior, fizeram de5t~País o paraíso das multinacionais e do caplt ..1financeiro. "

Dados de 81 a 82 demonstram a política dearrocho salarial: o contingente de trebelhadore,

Page 14: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7066 Terça-feira 9 OIÁRlO:OA ASSEMBLÉIA NAOONAL CONSTITUINTE Fevereiro de 1988

Fonte: AI"'lJ:

li .. Deupaçêo pc1i!\ ~6 maiores

responsável por aproximadamente 90% da pro­dução.

Segundo dados da Revista Brasileira de Tecno­logia do CNPq (março, 1987), observa-se queo Brasil é o 79 maior mercado consumidor demedicamentos, com esperanças, por parte. dasindústrias, de ascender ao 3° lugar nos próximosanos. Entretanto, apenas 63 milhões de brasileirostêm acesso ao medicamento, sendo que 52%da população permanece sem cobertura farma­cêutica,

Este mercado é ocupado por cerca de 500empresas, das quais, hoje, 96 são controladaspelo capital estrangeiro, sendo o restante nacio­nal, aqui incluídos os laboratórios oficiais. Apesarde seu menor número, as multinacionais exercemabsoluto domínio do mercado.

Uma das idéias mais difundidas entre nós éque foram razões de ordem tecnológica que de­terminaram a desnacionalização do setor. Na ver­dade, a indústria nacional teria tido condições deacompanhar a fronteira tecnol6gica caso não fos­se submetida a competição com grupos estran­geiros que entram em nosso mercado operandoa custos marginais e contando com forte suportefinanceiro de suas matrizes.

Pode-se verificar que até a década de 30 a in­dústria nacional de medicamentos se fazia pre­sente no cenário brasileiro, apresentando condi­ções adequadas ao suprimento do mercado exis­tente. Entretanto, com o advento da industria­lização, com a introdução bastante rápida dosantibi6ticos e produtos de síntese no campo daterapêutica e com a abertura de nossa economiaao capital estrangeiro, esta indústria nacionalemergente foi totalmente absorvida pelos oligo­pólios internacionais do medicamento.

O rápido processo de desnacionalização podeser observado como conseqüência direta da rápi­da evolução tecnológica, da dificuldade de com­petição frente ao aumento do mercado interno,da ausência de uma indústria quimlca nacionalde base e da adoção de políticas econômicastotalmente desvinculadas dos interesses da maio­ria do povo brasileiro e nitidamente favorecedorasda manutenção da "lucrativa indústria da doen­ça",

Por fim, de tal forma sofremos os reflexos dapolítica econômica baseada no estado de depen­dência, que vemos hoje o setor farmacêutico co­mo sendo um dos setores onde o capital intema­cional tem maior participação, chegando a ser

... OCUpllç.5o por or ç em de Cl!pIU'

HEJ:CADO BRASILEIRO DE HJ:DICAMENTOS

que vive com até um salário mínimo aumentoude 28,6 para 37,1 milhões de pessoas em umano, sendo que os dados atuais devem ser assus­tadores, devido a elevada concentração de rendapor uma classe minoritária nestes 3 últimos anos.

O Estado, como responsável por saúde em seuconceito mais amplo, tem orientado toda a suapolítica em favorda preservação desta ordem eco­nômica, privilegiando e garantindo o poder daclasse dominante.

O Estado tem confundido o direito à saúdecom o direito à assistência médica.

Em 1982, 84,6% dos gastos foram para a assis­tência médico-hospitalar e apenas 15,4% paraserviços preventivos. Em 84, o Ministério da Saú­de recebeu o percentual de apenas 1,48% doOrçamento da União, enquanto que os minis­térios militares, em tomo de 12%.(8' ConferênciaNacional de Saúde - Brasília, 1986).

Asociedade brasileira deu alguns saltos qualita­tivos na luta pela conquista à cidadania e pelademocratização do País. E oeste debate, a saúdesobressai como um dos mais graves problemassociais que enfrentamos.

De modo otimista, podemos estimar que maisde 300.000 brasileiros morrem anualmente, porcausas e problemas, a maioria evitáveis com osrecursos que dispomos.

O quadro sanitário da população brasileira nosmostra a atual realidade: a desnutrição atinge 40milhões de pessoas, a Doença de Chagas com6 milhões, a esqulstossornose com 7 milhões,a malária e a tuberculose com um crescimentoacentuado, a hanseníase com mais de 500 mil,as doenças diarréícas, que atingem milhões decrianças e são responsáveis por 40% das mortesinfantis, afora a ocorrência de mais de 100 milcasos, por ano, de doenças evitáveis por imuni­zação.

Demonstrando as grandes disparidades sociaisna questão distributiva de salários e concentraçãode renda e localização geográfica, encontramosuma mortalidade infantil no Nordeste de 200 por1.000 nascidos vivos e no Sul de 30 por 1.000.A esperança de vida de um nordestino pobre eum sulista rico representa uma diferença de até30 anos.

3 - Breve histórico da indústria famacêuticano Brasil

Com a fundação das primeiras faculdades defarmácia (1839-1898), o boticário foi lentamentesendo substituído pelo farmacêutico. A botica, on­de o boticário pesquisava e manipulava fórmulasextemporâneas, originou dois novos tipos de esta­belecimentos: a farmácia e o laboratório industrialfarmacêutico. Pelo esforço de nossos farmacêu­ticos e tendo por base os conhecimentos vindosdos países mais desenvolvidos, a indústria farma­cêutica nacional começa a receber os primeirosimpulsos.

Segundo Heitor Ferreira Uma (1977), por voltade 1859 havia no Rio de Janeiro um grande nú­mero de farmácias-boticas, nas quais não s6 sepreparavam medicamentos sob prescrição mé­dica como também se faziam preparações parti­cularizadas, utilizando-se os recursos advindos dadiversificada flora brasileira.

De acordo com Bertero (1977), algumas destasfarmácias desenvolveram e tomaram-se peque­

_ nas e médias empresas farmacêuticas.I

Page 15: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

~f:'erejro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7067

ceiro Mundo. sendo que um total de aproxima­damente duzentas substâncias essenciais seriasuficiente para a cobertura da maioria das neces­sidades terapêuticas e profllátlcas da população.

Entretanto. a estratégia básica da indústria far­macêutica e a dmâmica do mercado de especia­lidades são caracterizadas pelo lançamento çom·tante de novos produtos com novas fórmulas enovas embalagens. os quais são requisitos basí­cos para a disputa do mercado consumidor. Co­mo salienta Scardua na apresentação do "Mo­mento Terapêutico" da CEME (1983/84). "emse tratando de medicamentos, a propensão siste­mática para emprego dos lançamentos mais re­centes. geralmente correspondentes a produto"desenvolvidos em outros países, implica na im­portação maciça de matérias-primas respectivas.onerando desnecessariamente o Pais". Tal ônusfica bem caracterizado no momento em que per­cebemos que a quase totalidade dos rnedicamen­tos à disposição do mercado consumidor brasí­leiro não atende às necessidades reais da maioriada população. sendo que seu padrão de produçãoatende apenas aos interesses da política globalde acumulação das grandes indústrias, cujas ma­trízes estão no exterior. Exemplos claros de talafirmação são o grande número de associaçõesmedicamentosas sem fundamentação cientlficalógica e as alterações estruturais cuja finalidadenão visa à obtenção de compostos mais ativosou menos tóxicos. mas são operadas apenas como objetivo de burlar o controle sanitário elou depreços. bem como criar uma nova mercadorianecessária às exigências de amplas campanhaspublicitárias com o objetivo de propiciar a aber­tura de novos mercados.

Assim. tendo em vista o redírecíonernento ime­diato dos objetivos da cobertura medicamentosada maioria da população. torna-se premente aimplantação efetiva da Relação Nacional de M~i~camentos Essenciais (Rename), aprovada pelaCEME em 1979, bem como a viabilIzação de umprocesso amplo e democrático de discussão en­volvendo todos os segmentos da sociedade brasi­leira para o estabelecimento de uma política na­cional de medicamentos voltada aos interessesda maioria do povo e não apenas um, esboçode intenções cujo objetivo é manter hegernônícosaqueles que fazem do medicamento e da doençaseus veículos de dominação.

5 - Necessidade de uma politica nacional demedicamentos

Todos os estudos sobre a área da indústriafarmacêutica no Brasil não podem. nem são. des­vinculados da análise da estrutura política e socialbrasileira. Qualquer que seja a linha teórica; taisestudos apresentam os problemas básicos destaárea que podem ser assim sintetizados: '

a) na área de produção apresentam-SE deimediato os problemas da fraca presença nacionaldo setor; da dependência de matérias-primas; dafalta de uma política de produção de medica­mentos voltada para as reais necessidades da po­pulação em suas diversas regiões; da reduzidaatividade de pesquisa e desenvolvimento e da bai­xa disponibilidade de recursos humanos qualifi­cados.

b) na área da distribuição de medicamentosessenclais há, ainda. insuficiência frente à deman­da na rede oficial. Na rede privada de distribuiçúo

é a principal via para colocação dos medicamen­tos. Para acompanhá-Ia, as nacionais tiveram quedeslocar parcelas crescentes de seus recursos pa­ra a promoção de vendas, reduzindo ou elimi­nando por completo os esforços de pesquisa. de­senvolvimento e produção de matérias-primas.

Para atender à produção interna de medica­mentos, nosso País importa a maior parte dosprincípios ativos necessários. o que nos toma ex­tremamente dependentes do exterior. A indústriafarmacêutica existente no Brasil- tanto nacionalquanto estrangeira - é essencialmente uma in­dústria manipuladora de matérias-primas paraobtenção de produtos finais. Isto torna a balançacomercial do setor deficitária e põe em risco aprópria segurança nacional na medida em queprovoca eventuais faltas de medicamentos paraatendimento da população, como nos casos re­centes da insulina. vacinas e soros.

Segundo a Central de Medicamentos (CEME).existem no Brasil cerca de 43 mil medicamentoslicenciados e aproximadamente 15 mil efetiva­mente comercializados, enquanto que apenas315 especialidades farmacêuticas seriam neces­sárias para atender as demandza mais freqüentesda maioria da população brasileira I

Da mesma forma, a Organizaçãb Mundial daSaúde em sua "Série de Iníorrnes Técnicos ­615" (1977), já preconízava a adoção de listaslimitadas de medicamentos para os países do Ter-

Os estágios tecnológicos da indústria farma­cêutica são quatro. sendo aqui desenvolvidos pra­ticamente só os /11 e IVestágios:

Estágio I:Pesquisa e desenvolvimento de novosfármacos;

Estágio lI; Produção de novos fármacos;Estágio III; Pesquisa clímcae produção de espe­

dalidades farmacêuticas;Estágio IV: MArketing e comercialízação das

especialidades farmacêuticas.A indústria nacional conta somente com recur­

sos oriundos de suas vendas para investir empesquisa e desenvolvimento. As multinacionais,praticamente, não investem em pesquisa e desen­volvimento no País. As multínacíonars, contandocom "empréstimos" oriundos de suas matrízes- que agravam ainda mais a situação cambialdo Brasil- realizam agressiva política de marke­t!lng, porque a conquista do receituário médico

200

150

100

50

Fonte: Atnnac

119341

IlAI....IU\ÇA COXERCIAL DO SETOR FL'\lJ,CEillO

>250

4 - Especialidades fannacêuticas X necessl­dadesreais

O número abusivo de especialidades farma­cêuticas colocado à disposição do mercado con­sumidor representa fator primordial na avaliaçãocrítica acerca do uso indiscnminado de medica­mentos. bem como na análise do rnedícamentoenquanto veículo de dominação de mercado. detransferência de renda e de aprimoramento dosprocessos de acumulação na sociedade capita­lista.

Page 16: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7068 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBI...ÉIA NAOONAL CONSTITUINTE Fevereiro de 1988

há toda uma série de distorções que vão desdeo não atendimento às necessidades do quadronosológico brasileiro até uma demanda artificial,principalmente, nos centros urbanos, através domarketing e de uma assistência farmacêuticanão especializada.

c) na área da assistência farmacêutica públicaou privada, a escassez do profissional farmacêu­tico habilitado para uma real assistência e orienta­ção à população, a indigência total de recursoshumanos para fiscalização e, principalmente, ainexistência de uma política preocupada com aimportância social.

Nesta fase de transição por que passa a socie­dade, vem sendo esboçada uma política de medi­camentos que visa a diminuir a dependência ex­terna e apontar caminhos para universalizaçãoda assistência farmacêutica através da rede pú­blica.

Dentre as várias posições básicas que podemser adotadas pelo setor saúde, quanto à políticade medicamentos, ressaltam-se pelo menos duas:

1-Todo o mercado de medicamentos deveser abrangido e coordenado pela política de saú­de, através da estatização;

2-Apolítica de saúde deve orientar o mercadogovernamental de medicamentos para ampliar anacionalização neste setor estratégico.

Aprimeira alternativa implica em uma posiçãoque conduz inevitavelmente ao confronto comos setores industriais privados já instalados noPaís, pois a estatização redireciona o papel dessesagentes.

A segunda alternativa, mais limitada quanto àintervenção governamental, abre espaços grada­tivos à expansão nacional do setor.

Partindo-se da segunda como mais viável, noatual contexto da redemocratização da sociedadebrasileira, é fundamental a delimitação deste mer­cado governamental e o diagnóstico das maioresfragilidades do setor farmacêutico para que o es­tabelecimento de uma política as supere e orienteas potencialidades desse mercado para os interes­ses nacionais.

Com a proposta de universalidade da assis­tência a saúde estima-se que o mercado governa­mental represente um potencial de 80% da popu­lação brasileira, cujos níveis de renda exigem acobertura da ação do Estado.

A partir da cobertura atual, que está em tomode 30% da população, verifica-se que esta políticade saúde incorporará parcela importante da mes­ma. Nessa perspectiva é fundamental consideraras formas pelas quais se daria a sua expansão.

Com a proposta de universalização da assis­tência farmacêutica, através da oferta dos medica­mentos essenciais constantes da Relação Nacio­nal de Medicamentos Essenciais - Rename, aampliação do mercado referir-se-ia a este con­junto em particular.

Asituação atual da produção dos itens da Rena­me é bastante desvantajosa em relação ao con­junto da produção, devido as peculiaridades dosprodutos que esta inclue. Dentre estes, estão pro­dutos com tecnologia tradicional e já implantadosno mercado a longo tempo.

Como a inovação exerce atração sobre o con­sumidor, bem como a política oficial de preçosvalorizao lançamento de novos produtos, a Rena­me não constitui grande interesse para o setorprivado.

Desta forma expansão do mercado governa­mental atual encontra grande obstáculo na estru­tura produtiva.

Faz-se necessário estabelecer uma política deestímulo a estes produtos, aliada ao reforço daprodução nacional, em preferência ao produtoestatal que deve ter papel estratégico para res­guardar a soberania do País.

No quadro presente, verifica-se que o grandeproblema da indústria farmacêutica é a pequenaprodução nacional de matéria-prima e, ainda sig­nificativadependência tecnológia neste particular.É fundamental, assim, uma política de desenvol­vimento tecnológico que visa superar esta defi­ciência.

6 - Propaganda de medicamentosSabe-se que o controle pelas multinacionais

da estrutura industrial de determinado país signi­fica que estas podem, de acordo com sua políticaglobal e com seus interesses de acumulação,alterar investimentos e esquemas de produção,bloquear o fornecimento de insumos, transferirprodutos e tecnologia independentemente de suaadequação às economias receptoras e, atravésde produtos e serviços, modelar a ideologia doconsumidor segundo os valores das economiaspés-industriais, sobre um universo caracterizadopela dependência e subdesenvolvimento. Assimsendo, percebe-se que o grau de desnacionali­zação da economia desempenha papel funda­mental no esquema de dominação capitalista.

Neste contexto, como parte destacada na estru­tura de manutenção e ampliação da dominaçãodos indivíduos dentro do sistema produtivo, en­contra-se a propaganda.

Como foi observado anteriormente, a domina­ção de amplos setores produtivos do País atravésda injeção do capital internacional pressupõe, evi­dentemente, conotações muito mais abrangentesdo que aquelas percebidas inicialmente. A cargaideológica a que os indivíduos estão sujeitos asvinte e quatro horas do dia é por demais acen­tuada. A veiculação, através do meios de comuni­cação de massa, da idéia de que a manutençãodo estado geral de saúde só pode ser obtida pormeio do uso constante dos mais variados tiposde medicamentos, é apenas um dos aspectosda cadeia de medicamentalização a que está su­jeita a população. Desse modo, e tendo em vistaque a geração de lucros é a mola propulsorada indústria, a abrangência de um mercado con­sumidor cada vez maior justifica a ingerência docapital nos demais sub sistemas do setor saúde.Demonstrativos claros dessa afirmação são as

.constantes investidas dos representantes de taisinteresses no sub sistema formador de recursosda área farmacêutica, influindo diretamente norebaixamento da qualidade e no número de pro­fissionais farmacêuticos formados em nosso País.Da mesma forma, os profissionais médicos tam­bém sofrem influências semelhantes. Taisinfluên­cias podem ser representadas quer seja pela inter­ferência direta no processo de formação, caracte­rizada pela retirada da cadeira de terapêutica doscurrículos médicos, quer seja pela acintosa abor­dagem destes profissionais por representantesdos grandes laboratórios, cuja principal funçãoé repassar as "novas conquistas terapêuticas",acentuando as características farmacológicas de­sejáveis do produto sem no entanto, esclarecer

suficientemente as possíveis propriedades indese­jáveis.

Aabordagem direta de acadêmica de medicinae de profíssíonals médicos, paralelamente a am­plas campanhas publicitárias dos chamados "me­dicamentos populares" ou "não éticos", repre­senta fator primordial para a consolidação dosobjetivos de consumo implícitos na enorme en­grenagem da propagada, pois cabe legalmentea este profissional o ato da prescrição, elo essen­cial na cadeia de transmissão ideológica.

Assim, a cadeia "laboratório farmacêutico - mé­dico - paciente - farmácia" ocupa lugar de desta­que no processo de questionamento das estraté­gias de indução ao consumo abusivo e indiscri­minado de medicamentos, bem como na mode­lagem da expectativa dos serviços de saúde pres­tados à população.

Toma-se impossível ignorar que 30% do custodo medicamento corresponde a esta propaganda,sendo que este percentual mantém-se neste pata­mar há vários anos e praticamente correspondeaos gastos industriais.

Por fim o que se apresenta concretamente éa necessidade de que todos os profissionais dogrupo de saúde, conscientes de sua posição en­quanto técnicos e cidadãos, promovam amplacampanha pela supressão imediata da propagan­da de medicamentos através dos meios de comu­nicação de massa, ao mesmo tempo em quereafirmem seu compromisso com a luta por con­dições dignas de vida e trabalho para todos 0lIcidadãos deste País.

7 - Ensino fannacêutico no BrasUEntre as áreas do conhecimento humano, •

Farmácia 'assume um papel social de relevadaimportância por ser o campo de pesquisa cienli­fica e tecnológica para a produção e controle demedicamentos, dos quais depende em grandeparte a manutenção da saúde.

O ensino farmacêutico no Brasil, contandoatualmente com 33 escolas a nivelde graduação.8 cursos de pós-graduação em Farmácia, alémde 5 cursos de pés-graduação em Farmacologia,possui estrutura acadêmica habilitada a desen­volver a tecnologia científica para a produção dematérias-primas, bem como para a produção deprodutos acabados. No entanto, muito pouco temsido feito neste sentido e urge que as falhas desteretardamento histórico sejam detectadas e corri­gidas, para que o País possa se desatrelar da de­pendência tecnológica imposta pelas grandes po­tências mundiais, o que nos coloca permanen­temente em condições de inferioridade.

. PÕele-se enfatizarainda que as deficiências bási­cas do ensino farmacêutico no Brasil sofrem 11

influência de dois fatores primordiais: de um lado,a própria herança de autodesvalorização induzidapela dependência cultural, científicae tecnológicatípica dos países subdsenvolvidos; de outro lado,a desarticulação existente entre os setores econô­mico e social, resultante de politicas mantene­doras do estado de dependência. Assim, perce­be-se que a situação atual do ensino de Farmácianão representa fato isolado do contexto sócio-po­Iítico-econêmico geral.

Sabe-se que a dominação apenas dos meiosde produção não basta para assegurar o controlecompleto do setor saúde por parte do capital iJUr·nacional. Assim sendo, a ingerência diretano'"

Page 17: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7069

sistema formador de recursos humanos repre­senta papel fundamental. Toma-se fácil perceberque, em nenhum momento, é interessante parao poder hegemônico que se formem neste paísprofissionais capazes de gerar novos conheci­mentos e não apenas reproduzi-los, pois destemodo ficaria abalada a dependência em que nosencontramos. Profissionais que detêm conheci­mento são possíveis entraves ao avanço da gran­de indústria estrangeira, enquanto que profissio­nais estritamente técnicos e reprodutores de co­nhecimentos gerados em outros centros, são pe­ças importantes para a manutenção do circulovicioso da doença, tão útil àqueles que explorame usurpam.8 - Fannacêutica X fannácla pública

A categoria farmacêutica, assim como outrascategorias da área de saúde, sofreram acelaradoprocesso de assalariamento, verificado principal­mente a partir da década de 70.

Assim, embora legalmente considerado comoprofissional liberal, o farmacêutio passou a mte­grar o grande contingente de assalariados e su­bempregados deste país, vivencrando concreta­mente os resultados das políticas econômicas an­tipopulares, calçados no achatamento salarial damaioria dos trabalhadores.

Entretanto, tal processo não atende apenas àsexpectativas recentes do desenvolvimento da so­ciedade capitalista. Restringindo-se à analise dainserção do profissional farmacêutico neste con­texto, destacam-se alguns questionamentos im­portantes:

1 - Por que muitos farmacêuticos, emboracontratados como responsáveis técnicos por far­mácia pública, não exercem efetivamente tal res­ponsabilidade, segundo o disposto em lei?

2 - Seria importante a presença deste profis­sional à frente da farmácia pública?

3 - Qual a importância deste profissional paraa coletividade?

Quanto à primeira questão, é necessário reco­nhecer que muitos "profissionais" farmacêuticosefetivamente desconhecem seu compromissocom a ciência e com a saúde. fazendo uso siste­mático e inconseqüente do aluguel de seus diplo­mas. Entretanto, a análise desta realidade nãopode restringir-se à observação superficial de taisações. uma vez que decorrem de um longo eincisivo processo de descaracterização demarca­do historicamente.

As raízes de tal desvirtuamento devem ser res­gatadas desde o seu principio, fundamentado nadominação do setor farmacêutico pelo capitaltransnaclonal. Tal dominação, iniciada concreta­mente pelo setor produtivo, levou a ingerênciasmarcantes no processo de formação deste profis­sional, caracterizadas pela redução da qualidadedo ensino fomecido no pais, bem como pela di­versificação das áreas de atuação. Adiversificaçãodo curso de Farmácia estabelecida pelos Pare­ceres n°S 268162 e 287/69 do CFE elimina nonascedouro a tentativa de se formar no país profis­sionais capazes de gerar conhecimento, estimu­lando a geração de profissionais meramente re­produtores e dependentes. Ao mesmo tempo, so­mada às deficiências instaladas com o aval dosgovernantes brasileiros. estimulou o direciona­mento do profissional farmacêutico para áreasnão privativas de atuação, principalmente AnálisesClinicas. O desestímulo ao exercício da Farmácia,

então considerada como estabelecimento pura­mente comercial, favoreceu sobremaneira o en­caminhamento de grandes parcelas de novos pro­fissionais para áreas caracterizadas pelo consumode reagentes e tecnologias importadas. as quaisacenavam com melhores perspectivas de traba­lho.

Desta forma, a gradual retirada do farmacêuticode um campo privativo de atívrdade, dadas ascondições político-econômicas do momento,aliada à acentuada atração de áreas eminente­mente dependentes, levou ao fechamento do ci­cio lucrativo do chamado "complexo médico-in­dustrial".

Quanto à segunda e terceira questões, é lícitoressaltar que a grande maioria da categoria farma­cêutica, através de suas entidades representativas,encontra-se empenhada em resgatar uma carac­terística de profissionais da Saúde, comprome­tidos com a luta por condições dignas 'de vidaa todos os brasileiros. Esta luta inicia-se pela reto­mada de seu campo de atividade, caracterizadonão só pela farmácia pública. mas pelo medica­mento como um todo, desde sua produção atésua dispensação. Fazer da farmácia uma atividadede interesse social e não apenas um comérciolucrativo é tarefa que se inicia com os farmacêu­ticos, mas que somente logrará êxito com a parti­cipação de toda a população e daqueles que efeti­vamente a representam.

O direito do consumidor não esgota-se no pa­gamento pelo medicamento recebido. Este direitodeve estender-se ao fornecimento de informaçõescorretas e seguras a respeito do produto a serdispensado. Neste sentido, a presença permanen­te do profissional farmacêutico habilitado é funda­mentai para que a farmácia transcenda a posiçãode simples entreposto e reconquiste o papel deponto de difusão dos conhecimentos básicos desaúde.

Proposições Gerais

Criação de um sistema úmco de saúde, caracte­rizado pela universalização, regionalização, hierar­quização e eficacia dos serviços e a implemen­tação de uma reforma sanitária que representea constituição de um novo arcabouço institucio­nal, separando totalmente saúde de previdênciasocial.

Garantir a assistência farmacêutica dentro dosistema único de saúde, como parte integrantede uma política nacional de medicamento.

Elaboração de uma política nacional de desen­volvimento científico e tecnológico para a .áreadas ciências farmacêuticas com a participaçãode amplos setores da sociedade.

Incorporação de ciência e tecnologia produ­zidas em instituições públicas aos serviços e pro­dutos de saúde.

Estabelecimento de uma indústria químico-far­macêutica estatal para garantir a autonomia tec­nológica e industrial na produção e desenvolvi­mento de medicamentos, insumos e reagentesnecessários para assistência farmacêutica.

Uma política de saúde que oriente o mercadogovemamental de medicamentos para ampliar anacionalização neste setor estratégico e que res­guarde a soberania nacional.

Modificar a atual estrutura de produção de me­dicamentos visando a uma maior participação na­cional (estatal e privada) na produção.

Criar mecanismos de apoio à indústria nacionalforma de assegurar sua participação no mercadofarmacêutico govemamental.

Destinar 3% (três por cento) dos recursos totais,fixadospara atividades de aquisição e distríbuíçãode medicamentos da Ceme, para projetos de pes­quisas e desenvolvimento, voltados à autonomiatecnológica na produção de princípios ativos emtodas as suas etapas intermediárias e medica­mentos essenciais.

Implementar o programa de oferta e distribui­ção de medicamentos essenclaís, universalizandoa cobertura.

Adotar a Rename na rede govemamental desaúde e serviços credenciados, atualizando perio­dicamente em face do perfil epidemiológico pre­valente nas diversas regiões brasileiras.

Redefinir o conjunto à disposição da populaçãobrasileira segundo critérios de eficácia, segurança,custo e disponibilidade interna de matérias-pri­mas

Revisar a legislação sanitária sobre a produção,cornercíahzação e consumo de medicamentos ecorrelatos, visando a adequa-la a política nacionalde saúde. ,

Controle estatal sobre produção. distribuiçãoe consumo de imunobiológicos, assegurando aosprodutores, recursos para modernização dasplantas industriais e para formação de recursoshumanos.

Articular a polItica de saúde com a educacional,garantindo recursos às universidades e institutosde pesquisa para melhoria dos cursos de gradua­ção, especialização e pós-graduação. '

Proibição da publicidade de medicamentosatravés dos veículos de comunicação. inclusiveem artigos. científicos.

Revisão da legislação que trata de bulas de me­dicamentos.

Garantir a propriedade de estabelecimento dedispensação de medicamentos a proflsslonaís far­macêuticos, cujas funções de dispensação sãode responsabilidade privativa deste..

Como se vê, o objetivo desta análise é alcançaro redirecionamento da política de medicamentosdo Brasil, para encontrar o tão almejado caminhoda auto-suficiência, com o desenvolvimento, dapesquisa, do avanço científico e tecnológico. emdefesa da população brasileira, mas. mais notada­mente das camadas mais carentes. Era o quetinha a dizer.

Durante o discursodo Sr. ConstituintePau­lo Macarini. o Sr. Jorge Arbage, 2'-Vice-Pre­sidente, deixa a cadeira da presidência, quee ocupadapelo Sr.Mauro Benevides 1c_ Vice­Presidente.

o SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o Sr. Constituinte Jorge Arbage.

OSR. JORGE ARBAGE (PDS-PA Pronun­cia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs,Constituintes:

A despeito das transformações que vimos so­frendo ao longo do tempo, suponho seja o Brasila maior potência do catolicismo universal. QUantoa nossa tradição em cultuar e amar os valoresfundamentais, claro que, neste aspecto fomosbrutalmente atingidos pela decadência gerada navolúpia do consumismo materialista: que não

Page 18: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7070 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Fevereiro de .1988

apenas comprometeu nossos foros de civilidade,mas também deu impulso à tragédia social queestamos contemplando com profunda amarguranos corações.

Não tem explicações racionais o clima degene­rativoque parece pretender erradicar os princípiosmorais que sustentam a fé religiosa e a instituiçãofamiliar.

O primeiro sintoma de crise no cerne da religiãofoi,sem dúvida manifestado na proposta de aboliro nome de Deus do preâmbulo da Constituição.Apartir de um absurdo dessa natureza, foipossívelcompreender que a Nação está enferma.

No cenário político, onde a Assembléia Nacio­nal Constituinte se destaca pelo seu papel centrali­zador das atenções do povo brasileiro, temos as­sistido o desfilar de sugestões à Carta Funda­mental, que estarrecem os nossos sentimentose provocam justificadas apreensões.

No elenco das muitas proposições apresenta­das, podemos destacar como atentatórias a moralcristã e aos bons costumes estas que: consideramlegais a prática do homossexualismo; o exercícioda prostituição; permissão para a exibição de fil­mes sobre sexo explítico; fim da censura, libera­ção para o consumo da maconha; oficializaçãodo aborto provocado; fim do limite para o casa­mento entre divorciados.

A edição portuguesa do LosservatoreRoma­no de 29 de novembro último, divulgou a notíciaque vale ser reproduzida para conhecimento doleitor brasileiro:

"Afirmando que a "indústria dos promo­tores e exploradores da pornografia infantiltêm os seus dias contados", o Presidente Ro­naldo Reagan solicitou ao Congresso dos Es­tados Unidos da América a aprovação deuma proposta de Lei que assegure à Magis­tratura Federal novas e decisivas armas paraa eliminação de toda a forma de exploraçãosexual dos menores."

Trata-se de uma decisão corajosa, além de alta­mente relevante no combate à tão nefasta indús­tria que, segundo cálculos recentes do Ministérioda Justiça, nela investe a bagatela de US$ 10milhões por ano. O objetivo do Presidente Reagancoloca a pornografia infantil no mesmo nível dosdelitos correlatos à criminalidade organizada, as­segurando, desse modo, à Magistratura amplaspossibilidades para apuração e punição dos agen­tes responsáveis.

O fato me faz recordar a criação das famige­radas salas especiais. para exibição restrita de fil­mes pornográficos, através de decreto que seriaassinado pelo ex-Presidente João Figueiredo. Oédito foi elaborado e embutido num imenso ca­lhamaço de documentos postos sobre a mesado Chefe da Nação. De acordo com a imprensa,um conhecido empresário, ligado ao setor da Co­municação, contando com a certeza da liberaçãodos citados recintos, importara os enlatados por­nográficos, avaliados em mais de US$ 10 milhões.

Um dileto amigo meu, que explora o comérciocinematográfico em Belém, além da atividadebancária que exerce, alertou-me para o que estavaprestes a acontecer. Prometi-lhe que, na quali­dade de Vice-Uder do Governo no Congresso Na­cional, tomaria providências junto ao PresidenteFigueiredo, a fim de convencê-lo a não editaro,malsinado decreto. E assim procedi. No diálogo,

senti a sensibilidade do Presidente quando advertique

"Amão que assinara a sanção da lei federalde minha autona, instituindo o dia 12 de ou­tubro feriado nacional em homenagem aNossa Senhora da Aparecida, Padroeira doBrasil, na presença do Papa João Paulo li,não poderia se deixar conspurcar para liberaro funcionamento de salas especiais destina­das a exibições de filmes pornográficos emtodo o País."

Naquele instante, o documento fOI localizadoe retirado dentre outros que seriam despachados.Gestos como estes fizeram-me, até hoje, leal àamizade que cultuo ao ex-Presidente Figueiredo.cujo temor a Deus jamais escondeu dos amigose dos exemplos que nos legou.

Aimpunidade para os abusos perpetrados con­tra a depravação dos costumes em nosso Paístem sido generosa e estimulante a que se expandade modo amplo e ilimitado. Nos vendavais explo­ratórios do comércio pornográfico, colocam-seaté crianças nuas para propagar a venda de pro­dutos domésticos Alicenciosidade está institucio­nalizada.

São Paulo, em carta aos Conrinthos (1 Cor 6.13c - 15' 17-20) enfatize, que

"O corpo não é para a imoralidade, maspara o Senhor."

E pergunta:"Não sabeís que vossos corpos são mem­

bros de Cristo? Fugi da imoralidade! Ou nãosabeís que vosso corpo é Templo do EspíritoSanto?"

Em recente' artigo publicado em O Globo,D.Eugênio Salles, Cardeal Arcebispo do Rio de Ja­neiro, comenta a depravação que agride nossasociedade e afirma:

"O problema é decorrência de um quadromais amplo. A exploração de menores nessecampo, que provocou incontida revolta, é,apenas, uma face triste da degenerescênciahumana que adquire status na sociedade.A libertação sexual ou a escravização ao Ins­tinto de reprodução se constitui numa eutên­tica e perversa revolução dos costumes, comrepercussão negativa em toda a ordem mo­ral."

Paradoxalmente, na medida em que se acendea chama destruidora dos princípios morais, surgea Síndrome da Imuno-Deflciêncla Adquirida(AIDS), que por sua extrema gravidade, colocouem pânico a ciência de todo o universo. Seriaessa enfermidade apenas um fenômeno com ob­jetivo de desafiar os cientistas. visando a ampliaro combate às drogas e ao homossexualismo, outeria conotações de ordem naturalista, isto é, pro­vinda do plano de Deus?

Em romanos, (1 e 2 - 21 a 32), encontramoso relato de São Paulo, onde o Apóstolo se refereque:

"Porquanto. tendo conhecimento de Deusnão o glorificaram como Deus. nem lhe de­ram graças, antes se tomaram nulos em seuspróprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes ocoração insensato. Inculcando-se por sábios,tomaram-se loucos, e mudaram a glória do

Deus, incorruptível em semelhança da ima­gem de homem corruptível, bem como deaves, quadrúpedes e répteis. Por ISSO Deusentregou tais homens à imundícia, pelas con­cupiscências de seus próprios corações, paradesonrarem os seus corpos entre si; pOIS elesmudaram a verdade de Deus em mentira,adorando e servindo à criatura, em lugar doCriador, o qual é bendito eternamente.Amém. Por causa disso, entregou-os Deusa paixões infames; porque até as suas J;T1u1he­res mudaram o modo natural de suas rela­ções íntimas, por outro contrário à natureza:semelhantemente os homens também, dei­xando o contacto natural da mulher. se infla­maram mutuamente em sua sensualidade,cometendo torpeza, homens com homens,e recebendo em si mesmos a merecida puni­ção do seu erro. E, por haverem desprezadoo conhecimento de Deus, o próprio Deusos entregou a uma disposição mental. repro­vável,para praticarem coisas inconvenientes,cheios de toda injustiça, malícia, avareza emaldade; possuídos de inveja, homicídio,contenda, dolo e malignidade; sendo difama­dores, caluníadores. aborrecidos de Deus, in­solentes, soberbos, presunçosos, inventoresde males, desobedientes aos pais, i'1sensa­tos, pérfidos, sem afeição natural e sem mise­ricórdia. Ora, conhecendo eles a sentençade Deus, de que são passíveis de morte osque tais cousas praticam. não somente asfazem, mas também aprovam os que assimprocedem."

O Santo Padre, Papa Pio XII, disse certa feitaque "a humanidade perdeu a noção do pecado".Não exagerou e a sua preocupação está materia­lizada na licenciosidade que dominou a face daterra. Os exemplos de Sodoma e Gomorra nãopareceram bastantes para conter as ambiçõesdesmedidas dos inescrupulosos mercenários queexploram a literatura e os filmes pornográficos.Mesmo diante da reprovação Divinaà depravaçâo,o homem continua selvagem na sua índole ani­malesca, além de atrevido, quando se julga umser absoluto que não deve contas de seus atosa quem quer que seja.

Indaga-se o que é o homem para a fé cristã:

"No coração da concepção cristã do ho­mem, responde Renê Coste, há a convicçãode que é criatura de Deus e que sua relaçãocom Ele é o suporte definitivo de sua exis­tência."

Jamais o servo será maior que o Senhor, Vá,portanto, é a tentativa que faz o cons~ismc:ma­terialista para suprir com seus devaneios efeme­ros, a chama ardente de Fé que rege o destinodos povos civilizados.

De um dos artigos de D.Eugênio Salles, copíla­mos este fragmento:

"Em minhas anotações tenho dados deque uma pessoa na zona do meretrício podecontaminar 800 pessoas em um ano, emCopacabana. Por ignorância? Por desejar le­var consigo outros como vingança? Não sei."

O surgimento da AIDS, coincidentemente c?~a fase mais crítica que enfrenta a moral cristãno mundo contemporâneo, exige reflexões mais

Page 19: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAOOrw. CONSlITUINTE Terça-feira 9 7071

amplas que aquelas afeitas ao controle da Ciênciahumana. Há sentidas preocupações em torno dascausas e efeitos que a enfermidade trouxe como seu aparecimento na história da humanidade.Muitorecentemente o Presidente Reagan assinouum documento, datado de 29 de setembro último,no qual afirma categórico:

"A Medicina e a moral coincidem na mes­ma lição a ser tirada a respeito da preser­vação da AIDS.Surgeon General, Conselhei­ro de Saúde, já informou a todos os ameri­canos que a melhor maneira de evitar AIDSé a abstenção das relações sexuais até a ida-

_de adulta e a restrição do sexo a uma relaçãomonogâmica fiel.Estaadvertência e o conse­lho para dizer "Não" às drogas podem, semdúvida, evitar a difusão de numerosos casosde AIDS."

Nós, brasileiros, vivemos a glória de um mo­mento esplendoroso, que deve ser aproveitadocom sabedoria e força de vontade para definiros novos rumos nos horizontes do futuro. Esta­mos escrevendo a Constituição do porvir, utilizan­do a proteção de Deus como fonte inspiradorados nossos trabalhos. Sabemos, conscientemen­te, que a sociedade de nossa Pátria carece deremédios eficazes para libertar-se da degeneres­dncia em que mergulhou a luta para emergirna busca da própria redenção.

Façamos todos, os Constituintes empenhadosna feitura da Carta fundamental, um esforço cívi­co, moral e supra-religioso, no sentido de expur­gar do texto constitucional, tudo aquilo que com­prometa a boa formação do povo brasileiro. Não..deixemos empolgar pelo demagogismo sádí­CO que estimula a destruição dos valores essen­ciais, e os substitui pela depravação dos costu­mes, enfraquecendo o cerne da instituição faml­1iIr, o último bastião sólido sobre o qual se assen­tam os alicerces de qualquer país civilizado.

Ouçamos a proclamação do profeta Jonas (Jn3, 1-5,10), como se nos dissesse, em nome doSenhor, "que daqui a quarenta dias a Nínivebrasi­leira será destruída". Quem sabe esta advertênciapudesse despertar os nossos sentimentos cris­tãos, de modo que Deus se compadeça da desditaque nos aflige e faça cessar a ameaça de sermos

, transformados em vitimas da torpeza descrita porSãoPaulo na carta aos Romanos.

Razão tinha Aristóteles ao afirmar que:"Só pode ser felizo Estado edificado sobre

a honestidade."

o SR. DAVI ALVES SILVA (PDS - MA. Pro­.nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,ISrs. Constituintes, ocupo esta tribuna para comu­nicar que o Líder da bancada do PDS na Câmara

I Federal, Deputado Amaral Netto, estará enviandorepresentantes para participarem da ConvençãoMunicipal do PDS, em Imperatriz, onde será eleitoos membros que indicarão o nome do deputadoDavi Alves Silva como candidato a prefeito dacidade de Imperatriz - MA.

O presidente Nacional do Partido, senador Jar­bas Passarinho, por sua vez, indicará represen­tantes para em seu nome assistirem a realizaçãoda Convenção. Sendo que a Direção Nacionaldo Partido se mobiliza para em breve fazer o lança­mento oficial da candidatura do deputado DaviAlves Silva para disputar a Prefeitura Municipalde Imperatriz - MA.

Em Imperatriz, o deputado estadual Daniel Al­ves Silva, já se encontra mantendo os contatoscom os filiados do PDS em articulação ao lança­mento da candidatura do deputado Davi AlvesSilva. Bem como, o presidente em exercício, Dr.José Cleber dos Santos, e o 1°-secretário, AntônioSalgado Filho, estão mobilizando a população emgeral para participarem da Convenção.

Durante o discurso do Sr.constituinteDaviAlves SOva, o Sr. Mauro Benevides,primeiro-Vice-Presidente, deixa a cadeiradapresidência, que é ocupadapejo sr.Jor­ge Arbage, segundo-Vice-Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage) - Tema palavra o sr. constituinte Mauro Benevides.

O SR. MÀORO BENEVIDES (PMDB- CE.Pronuncia o seguinte díscurso.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes, o debate em tomo da criação,em nosso Pais, das zonas de processamento deexportações, tem suscitado pronunciamentos fa­voráveis e contrários, na busca da melhor maneirade se implantar tais organismos que, de fato, im­pulsionem o desenvolvimento nordestino, absor­vendo ponderável contigente de mão-de-obra.

O ministro José Hugo Castelo Branco assumiu,desassombradamente, a defesa dessa tese, fazen­

.do-o com ampla argumentação, seguidamenteexposta por sua competente assessoria.

No Ceará, as entidades de classe posiciona­ram-se ao lado do MlC, sensibilizando a opiniãopública regional para a relevância do magno co­metimento.

Ainda recentemente, a Associação Comercial,dirigida exemplarmente pelo dr. Osvaldo Dantas,reuniu diversos trabalhos da lavra de economistasrenomados, entre eles o professor de finançaspúblicas e técnico do IPEA, dr, Helson C. Braga,nos quais e realçada a significação das ZPEs, exis­tentes em 85 países.

Por sua oportunidade, entendi de transcrevero artigo do brilhante econemísta, vazado nos se­guintes termos:

Oplnão - (Comércio Exterior)

"A CRIAÇÃO DAS ZPENÁODEVESERDESCARTADA

O anúncio de que o governo está estu­dando a criação de zonas de processamentode exportações (ZPE) no Nordeste desenca­deou uma onda de manifestações contráriasao projeto, sobretudo dentro do próprio go­verno. À primeira vista, este fato poderia serinterpretado como uma saudável e oportunarejeição de uma iniciativa infeliz,que não de­veria mesmo prosperar. Contudo, a leituradas críticas feitas até agora deixa..lLf?U~Eeitade que elas foram fortemente condicionadaspela precariedade de informações sobre esteinstrumento de política, que é largamente uti­lizado no mundo inteiro. Além disso, boa par­te dessas críticas teve origem na má com­preensão de um documento preliminar e decirculação restrita, produzido no Ministérioda Indústria e do Comércio que definia crité­rios e mecanismos para a implantação daszonas e propunha a constituição de um gru­po de trabalho paraaprofundar o exame da

questão. Não chega a surpreender, portanto,o teor (e o tom) das opiniões já veiculadassobre o assunto. Parece precipitada tambem(e pouco convincente) a decisão, atribuída

, ao Ministro da Fazenda, de se descartar su­mariamente a idéia. Ao contrário, conforme

, se mostra aqui, uma avaliação mais culda­, dosa de vários aspectos envolvidos na ques­

tão pode perfeitamente concluir pela reco­mendação das ZPE.

Antes de mais nada, convém enfatizar, da­do o clima de exagerada expectativa que secriou em tomo do assunto, que as ZPE n50constituem uma solução definitiva para equi­librar nossas contas externas nem para elimi­nar o atraso relativo do Nordeste. Certamenteas ZPE deverão contribuir, num grau impos­sível de se estabelecer a prlorl, para a supera­ção desses problemas, mas não é licito espe­rar que irão resolvê-los. Trata-se de um fi&­

canismo a mais para ser incorporado ao con­junto existente de instrumento de polítícaeconômica. Da mesma forma, o' estabele­cimento de ZPE não configura uma novapohtica industrial, embora represente umamudança importante do nosso estilo auter­quico de desenvolvimento e da inserção daeconomia brasileira na economia mundial.

. Reduzidas às suas verdadeiras dimensões,fica mais fácil tratar as ZPE com a necessáriaobjetividade e desengajamento.

Essencialmente, a ZPE consiste numa áreafísica e administrativamente localizada forada jurisdição alfandegária do pais e voltadapara a produção de bens destinados à expor­tação. Trata-se, portando, de uma forma par­ticular de zona de livre comércio (ZLC), queé uma categoria mais ampla, onde é permi­tida não apenas a industrialização mas tam­bém a simples armazenagem, a montageme a embalagem de mercadorias, que tantopodem ser remetidas posteriormente para oexterior quanto vendidas no mercado do­méstico (desde que, evidentemente. se sub­

i metam às regras normais de importação).I De uma maneira mais geral, existem aindavários tipos de áreas onde são concedidostratamentos alfandegários preferenciais, taiscomo portos livres, zonas de livre trânsito(localizadas em países costeiros e que ser­vem de centros de armazenagem e dístrl­buição para países interioranos), perímetroslivres (similiares aos portos livres, mas confi­nados a regiões atrasadas do pais) e arma-

I zéns alfandegados (que são uma espécie deI ZPE para uma única empresa).I Estes esquemas de tratamento elfandequ­I rio preferencial não constituem nenhuma no­I vidade no comércio internacional: fenícios,1gregos e romanos já os utilizavam. Entre­, tanto, foi somente nos anos 60 que eles Pd3-

saram, sobretudo as ZLC, a desempenhar, um papel importante nas relações comer­

ciais. Estima-se que existam, hoje, aproxima­damente 485 ZLC,localizadas em 85 países.Quase dois terços dessas zonas estão situa­das nos países em desenvolvimento, sendo55 só na América Latina. Os Estados Unidosabrigam, isoladamente, o maior número deZLC: 128, onde cerca de 1.500 ernpreseerealizam operações de armazenagem, mono

Page 20: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7072 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Fevereirode 1988

tagem, distribuição e, em menor escala, deindustrialização. Em 1980, a China Comu­nista criou quatro ZLC e planeja implantarmais 14. Uma estimativa recente sugere queaproximadamente 15% do comércio mun­dial é produzido ou comercializado atravésdas ZLC.

Diante da larga utilização da ZLC no mun­do, incluíndo países desenvolvidos, em de­senvolvimento e até socialistas (além da Chi­na, também a Romênia e a Polônia criaramzonas deste tipo), cabe indagar por que moti­vos tão diferentes países decidiram-se a im­plantar ZLC em seus territórios. O mais im­portante desses motivos é naturalmente, ode atrair investimentos estrangeiros que deoutra forma não se estabeleceriam no país.Esses investimentos, sejam eles voltados pa­ra operações de armazenagem, montagemou, sobretudo, industrialização - produzemvários beneficios: geram divisas, criam em­pregos, promovem treinamento de mão-de­obra e de métodos gerenciais e ampliam abase industrial e tecnol6gica da área e dopaís. Em contrapartida, as ZPE acarretamcustos, representados pelos investimentosem infra-estrutura e pelas concessões fiscaisgeralmente requeridos para atrair o capitalestrangeiro. Como é óbvio, há várias ques­tões a serem levadas em conta - algumasdelas insuscetíveis de quantificação - parase decidir à conveniência de implantar umaZPE.

A primeira delas é redundância dos incen­tivos, caso os investimentos já viessem natu­ralmente, existindo ou não ZPE. Caso sejamnecessários os incentivos, ficará ainda a dúvi­da de que eles não precisariam ter sido tãoextensos. A questão fica mais complicadanão s6 porque haverá sempre países concor­rentes tentando atrair capital utilizando estí­mulos similares, como existem vários outrosfatores "extra pacote de incentivos" que in­fluenciam o fluxo de capital estrangeiro ­tais como localização da zona, estabilidadepolítica e cambial do país, etc. - dificeis ouimpossíveis de controlar.

A segunda, refere-se ao próprio tipo deárea preferencial que o país deseja implantar.A esse respeito, a experiência internacionalmostra que os países desenvolvidos tendema escolher as ZLC (excluindo a etapa de in­dustrialização), enquanto os menos desen­volvidos .preferem as ZPE . O fundamentoteórico desta preferência está no fato de queas ZPE permitem compatibilizar uma liberali­zação comercial restrita a uma pequena área,sem a necessidade de estendê-la a toda aeconomia. Esta liberalização faz-se necessá­ria porque o conjunto de políticas industriaise comerciais empregadas na fase de substi­tuição de importações distorceu os preçosrelativos, favorecendo as vendas no mercadodoméstico e restringindo o fluxo de recursos- internos e externos - para o setor expor­tador. A eliminação deste viés anti-exporta­ção requer a concessão de subsídios (cujosinconvenientes são por demais óbvios) à ex­portação ou à desmontagem da estruturaprotecionista. Ao promover essa desmonta­gem numa área limitada, a ZPE permite

que empresas se instalem e se expandamde acordo com as vantagens comparativasdo país - vale dizer, de forma mais eficiente.

A terceira questão está associada ao fatode que as ZPE tanto geram beneficios comocustos sociais, criando, por conseguinte, anecessidade de avaliar o seu resultado líqui­do. A esse respeito, entretanto, a evidênciaempírica dísponivel tem revelado resultadosconsistentemente positivos. O problema prá­tico que esta questão coloca é o de se conce­ber o modelo de ZPE - e, especialmente,o "pacote de incentivos" a ser oferecido ­mais adequado para cada caso concreto, le­vando-se em conta o conjunto geral de fato­res que afetam a atratividade da zona parao investimento estrangeiro.

As formas mais comuns e empregadas pa­ra maximizar os beneficios dos investimentosnas ZPE são: a) exigência de um valor adicio­nado nacional mínimo (lucros e salários pa­gos a residentes mais aquisição de serviços,insumos e componentes domésticos); b)obrigatoriedade de esses gastos serem reali­zados mediante utilização de moeda conver­sível; e (c) investimentos realizados tambémem moeda conversível e condicionados a umvalor mínimo. Os custos, por sua vez, podemser minimizados reduzindo-se as concessõesfiscais (por exemplo, reintroduzindo a tributa­ção sobre o lucro depois de um períodonormal de carência, usualmente cinco anos)e selecionando áreas que já dispõem de algu­ma infra-estrutura básica. Entretanto, mes­mo nos casos em que o governo tenha querealizar tais investimentos, pode-se sempreargumentar que boa parte deles precisariaser feita independentemente da instalação daZPE.

Estas são algumas questões de ordembastante geral, sugeridas pela teoria econô­mica e pela experiência intemacional - quecertamente estarão sendo levadas em consí­deração no desenho das ZPE brasileiras.Vale a pena agora examinar algumas ques­tões mais específicas quanto à implantaçãode ZPE no Brasil.

Aprimeira questão seria especular se aindafaz sentido o país recorrer a este instrumentocom 20 anos de atraso em relação aos paísesque mais se beneficiaram com as ZPE equando o espetacular desenvolvimento daautomação e da robótica reduziram o atrativoda mão-de-obra barata. A resposta poderiaser que nunca será tarde para adotar políticaseconômicas corretas, capazes de introduzirmaior dinamismo numa economia que vemregistrando uma preocupante paralisia dosinvestimentos. Além disso, se é verdade quea mão-de-obra barata perdeu o poder deatração, há o fato de que o país é abundanteem recursos naturais - que constitui o outroforte atrativo para a fixação das empresasestrangeiras nas ZPE .

A segunda questão tem a ver com a capa­cidade que uma ZPE teria em atrair investi­mentos estrangeiros dado, de um lado, oquadro atual de fuga de capital que se obser­va no Brasil e, de outro, a consolidação doSudeste asiático como uma das três áreasde maior dinamismo econômico, junto com

os Estados Unidos e a Europa Ocidental.Aqui a resposta é menos clara. A saída decapital certamente tem a ver com a instabi­lidade política, a perda de dinamismo da eco­nomia e a excessiva ingerência do estadona economia. Esses fatores compõem umcoeficiente de risco ("risco Brasil") dificil deser assimilado diante das alternativas locacio­nais existentes. Ainda assim, a ZPE poderiareduzir significativamente o risco para os in­vestidores estrangeiros, na medida em queo sistema cambial dispensasse a interme­diação obrigatória do Banco Central nas ope­rações de importação e exportação. Assim,pelo menos o risco cambial estaria elimina­do, ficando apenas o risco politico (mudan­ças nas regras do jogo), o qual, evidente­mente, não seria cancelado, por melhor quefosse a concepção da ZPE. E certo que este"risco país" existe, por exemplo, na Chinae, guardadas as devidas proporções, na ZonaFranca de Manaus, o que não está impedindoa entrada do capital estrangeiro. Mas, é bomlembrar que se trata, no primeiro caso, deacesso a um mercado de mais 1,0 bilhãoum mercado doméstico altamente protegi­do, que garante rentabilidade superior à obti­da nas exportações.

É esta a principal razão pela qual estariafadada ao fracasso a criação de um sistemaBEFlEX preferencial (com maiores incenti­vos) para o Nordeste, que tem sido sugeridacomo uma possível alternativa à ZPE, en­quanto instrumento de desenvolvimento re­gional. Apesar de permitir o acesso ao mer­cado nacional-que sempre foi consideradoo grande atrativo para o capital estrangeiro- o esquema BEFlEX envolve o "risco Bra­sil", que, hoje, vem afastando os investidoresestrangeiros. Pode-se imaginar facilmente onível de diferenciação dos incentivos que se­ria requerido para induzir um fluxo signifi­cativo destes capitais para a região. Isso, semlevar em conta a inevitãvel reação da indústriado Sul do País, que dificilmente admitiria ainstalação de empresas no Nordeste com apossibilidade de realizar um maior coeficien­te de importações (livres de quaisquer restri­ções tarifárias e não-tarifárias) para, em se­guida, lançar boa parte de sua produção nomercado doméstico.

Aparentemente, o principal fundamentodesta proposta é o desejo de se criar umesquema de incentivos que promova a indus­trialização de toda a região e não apenasde uma área restrita - um "enclave". A esterespeito, entretanto, convém ter presente que(a) a ZPE tende, naturalmente, a criar vincu­los (llnkages) mais fortes exatamente coma região em que ela está contida, ampliando,portanto, o raio de seus beneficios; (b) comoas vendas para a ZPE serão consideradasexportações, para efeito de cumprimento decompromissos no programa BEFlEX, haveráuma natural tendência de as empresas bene­ficiadas por este programa se localizarem nasproximidades da própria zona; (c) isso nãosomente expandiria a densidade industrial daregião, como ampliaria a base de incidênciados tributos locais, aumentando os benefi­cios diretos para a região; e (d) como se

Page 21: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7073

observa, os dois mecanismos não se es­cIuem, podendo, até produzir-se uma bené­fica interação entre eles, e, por último, (e)vale a pena relembrar que a ZPE constituiapenas um instrumento a mais - e essen­cialmente diferente dos empregados até ago­ra, com resultados reconhecidamente insa­tisfatórios - a ser usado para promover aindustrialização do Nordeste, objetivo esteque exigirá bem mais do que instalação deZPE e alteração do sistema BEFIEX.

A questão seguinte refere-se ainda à situa­ção das empresas do resto do pais, que terãoa faculdade de também instalar-se na ZPE.As possibilidades seriam: (a) de transferênciapara a zona das unidades voltadas exclusiva­mente para o mercado extemo, (b) utilizaçãode armazéns alfandegados, na forma já pre­vista na legislação brasileira; para aquelasempresas impossibilitadas de deslocamentoe, numa etapa posterior, (c) generalizaçãodo regime de drawback, como no sistemacoreano de promoção de exportação. Dequalquer forma, o único cuidado indispen­sável, para evitar uma concorrência indese­jada com as empresas fora da zona, seriaimpedir que as exportações da ZPE contas­sem para o preenchimento de cotas alocadasao país em acordos bilaterais de comércio.

Outra questão diz respreito ao princípioda desoneração físcal, que está na essênciadestas áreas preferenciais. O primeiro pontoa observar é que ele se aplica apenas aoimposto de-importação o qual, entretanto,dadas as características do nosso sistematributário, estende-se aos impostos indiretosinternos (IPI e ICM). Os demais impostos,inclusive o de renda, poderão ou não serincluídos no "pacote de incentivos", confor­me já foi mencionado. Evidentemente, todasas leis civis, criminais e administrativas vigo­rariam na ZPE. Não há, portanto, nada pare­cido com perda de soberania nacional naárea É também da essência da ZPE o isola­mento físico da zona e o emprego de rigoro­sos esquemas de controle de entradas e saí­das de mercadorias, para evitar o contraban­do.

Uma outra questão extremamente impor­tante refere-se à possibilidade de ser permi­tida a internação dos produtos fabricados nazona. De um modo geral, no caso das ZLCdos países desenvolvidos, a venda no mer­cado doméstico (depois de pagos todos osimpostos) constitui um dos aspectos maispositivos do mecanismo, uma vez que per­mite o barateamento das importações dopaís. A experiência mostra, entretanto, que,nos países em desenvolvimento, a internaçãodas mercadorias produzidas nas ZPE só épermitida em situações muito especiais (de­cididas caso a caso), ou limitadas a um per­centual do valor FOB das exportações oudo valor adicionado nacional . De qualquermodo, desde que sejam mantidas as restri­ções à internação e observadas as vantagenslocacionais para implantação de ZPE, pode­se garantir que não se reproduzirá a expe­riência da Zona Franca de Manau9' que naprática, converteu-se numa zona de impor­tação.

Poderíamos fechar esta nota retomandoum ponto mencionado logo no início, quan­do a ZPE foi considerada uma mudança im­portante no processo de desenvolvimento in­dustrial do país, apesar de seu possivelmentelimitado impacto quantitativo. E isso tem aver com o estágio atual desse processo, cujacontinuidade depende criticamente do au­mento substancial das exportações. Ocorreque nas condições atuais de desequilíbriofinanceiro dogoverno (e também a reaçãodos nossos principais parceiros comerciais)ISSO não pode ser feito mediante a concessãode subsídios - que foi instrumento utilizado,no passado, para compensar a desvantagemrelativa (da rentabilidade) das exportaçõesvis-à-vis as vendas no mercado doméstico.altamente protegido.

Nestas circunstâncias, a liberalização docomércio exterior surge como a única alter­nativa viável de remover os entraves às expor­tações. Esta liberalização não pode, entre­tanto, ser promovida de uma forma genera­lizada: há restrições políticas óbvias a liberali­zação das importações, como há tambémrestrições técnicas a liberalização das expor­tações, pelo menos no curto prazo. Nestecontexto, as ZPE aparecem como uma solu­ção de compromisso, que permite a desobs­trução localizada das exportações, indepen­dentemente da discussão sobre o nível e aestrutura mais adequados de proteção à in­dústria nacional. - Helson C. Braga."

Senhores constituintes, o próprio PresidenteJosé Sarney já expressou a sua decidida adesãoà causa, fazendo-o durante discurso proferido, noúltimo trimestre de 87, no lançamento da usinade Xingó, em Alagoas.

Há, desta maneira, um compromisso formaldo Governo com a iniciativa, faltando a sua viabili­zação por parte dos setores oficiais competentes

A indefinição até aqui ocorrida tem gerado in­conformismo no seio da sociedade nordestina,sequiosa por uma aceleração maior no processode seu crescimento.

Que se discuta o contorno legal que devemassumir as zonas de processamento de exporta­ções, mas não se permita uma procrastinaçãoexcessiva, capaz de frustrar a expectativa de mi­lhões de brasileiros.

O SR. EDIVALDO MOTIA (PMDB - PB.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,srs, constituintes, a Paraíba prestou, na manhãde hoje, sua última homenagem ao homem públi­co de maior projeção no meu Estado e um doschamados "caciques" da melhor safra de políticosdo Nordeste e, por que não dizer, do Brasil. Falodo ex-governador, ex-deputado, ex-senador e ex­ministro João Agripino, uma das maiores inteli­gências que os paraibanos conheceram e um doshomens de coragem pessoal que os seus conter­râneos aprenderam a respeitar e venerar.

Nascido em Catolé do Rocha, cidade sertanejaconstantemente fustigada pela seca inclementeque assola periodicamente o Nordeste, João Agri­pino começou sua vida pública no vizinho Estadodo Rio Grande do Norte, onde foi promotor, entre1935 a 1939. Em 1940 ele voltava a Catolé doRocha como advogado para substituir o pai nafunção que exercera durante longos anos, con-

quistando nessa convivência com os habitantesdaquele município a simpatia e a confiança queos levariam a política.

Em Catolé do Rocha, sua primeira e espinhosamíssêo foi a de unir duas famílias que há séculosvinham se hostilizando, os Maia e os Suassuna.João Agripino, que era da família Maia, não admi­tia as querelas que habitualmente culminavamcom a morte de algum membro de uma ou deoutra família, particularmente os jovens, mais afoi­tos e desaforados. Isso levou-o a atritar-se comsua família, mas não o desestimulou de continuaresse objetivo, contribuindo para a mínírnlzaçâodos atritos.

João Agripino não tinha nenhum -dese]o de in­gressar na política, atividade em que nunca procu­rou se envolver. mas em 1945, quando veio aredemocratização, foi convidado pelo ex-gover­nador Argemiro de Figueiredo para disputar ummandato federal Reagiu e indicou José Mariz:

, Mas, Mariz disse para Argemiro que o nome idealera o de João Agripino. Terminou aceitando e,na campanha pela redemocratízaçâo, empolgou­se e fez uma brilhante campanha que o levoua ser o segundo mais votado do Estado.

Ao chegar no Rio de Janeiro, como deputadofederal João Agripino frustrou-se. Os subsidiesde um parlamentar não ascendiam a 9 mil réis,enquanto como advogado ele conseguia, ínvaria­velmente, cem mil réis, no seu escritório.

Como constituinte de 1946, presidindo a cha­mada Grande Comissão, destacou-se pela assl­duidade e pela inteligência, recebendo elogios deseus pares ao final dos trabalhos. Prado Kelli,quando fez um relatório sobre as atividades dosconstituintes, destacou o nome de João Agripino.Embora jovem e parlamentar iniciante, conseguiaalgo que somente pouquíssimos integrantes da­quela Assembléia Nacional Constituinte alcança­va: falar e ser ouvido. Logo depois conquistoua liderança da UDN.seguindo-se com a liderançado Governo e posteriormente a liderançada Opo­sição.

Ja aclamado como um fenômeno político,João Agripino ainda não entendia toda aquelaescalada em tão restrito tempo, e muitos atri­buíam à sua força emanada das palavras, o mag­netismo de sua voz e a postura curvada. Eie pró­prio não encontrava explicação para o fenômeno.

Foi deputado de 1945 a 62, elegendo-se porte­riormente ao Senado, onde foi protagonista deum episodio que este Congresso jamais esque­cerá Refiro-me ao incidente entre os senadoresArnon de Mello e Silvestre Goes Monteiro, emque Agripino interveio evitando o assasslnato.deAmon e do presidente do Senado. Moura Andra­de, sofrendo um tiro no polegar ao tentar fechara boca do revólver.

João Agripino saiu do Senado para govemara Paraíba, disputando com as lideranças mais tra­dicionais da política do meu Estado, represen­tadas na época por Rui Carneiro e Argemiro deFigueiredo. Foi Governador num período difícile marcou sua passagem pelo Palácio da Reden­ção com uma administração que ainda hoje temsido elogiada pelos paraibanos, sendo o res~n­

sável pelo surto de desenvolvimento que a partirdesse período tomou conta de todo o Estado.

O governo de João Agripino ocorreu no iníciodo período de implantação da ditadura militnr.

Page 22: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7074 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSmUINTE Fevereiro de 1988

Mesmo assim ele não intimidou-se, atacando oserros da chamada Revolução e dos militares quecomandavam desde guarnições até os órgãos pú­blicos, continuando uma linha que já havia inicia­do no Congresso. No seu governo João Agripinonão admitia interferência dos militares e as rela­ções com os comandantes não eram nada amis­tosas.

Do governo João Agripino saiu para a iniciativaprivada, como um dos diretores da ConstrutoraCamargo Correa, voltando à vida pública poste­riormente para assumir uma vaga de ministro doTribunal de Contas. Sua carreira política foi encer­rada nesta Casa, com um mandato de deputadoestadual, deixando no último pleito o seu filhoJoão Neto para seguir os designios da família,igualmente nesta Câmara Federal.

Os Anais da Câmara e do Senado registramvários momentos da grande lucidez do políticoJoão Agripino, e a sua contribuição à democraciadeve ser lembrada não apenas pelos paraibanoscomo um legado às futuras gerações, mas princi­palmente por todos os brasileiros.

Além de democrata convicto João Agripino eraum defensor intransigente de sua região, o Nor­deste, não perdendo oportunidade para destacaras necessidades daquela área e oferecer suges­tões para a solução de seus graves problemas.

Assim é que numa sessão realizada no dia 25de maio de 1964, ele pregava como pontos capa­zes de permitir o desenvolvimento nordestino vá­rios itens, os quais anunciaremos: deixar o desen­volvimento econômico a cargo da iniciativapriva­da, sem grandes subsídios por parte do Estado;não elevar a carga tributária, que é um dos fatoresdo empobrecimento da população; planejar o pa­gamento das dividas interna e externa, com ado­ção de política de absoluta austeridade, respeitoà soberania nacional, considerável parcela de sa­crificios dos credores externos e internos; concen­tração maciça de recursos na educação, com des­taque especial para a zona rural; substancial eleva­ção do salário mínimo, de modo a possibilitaruma vida condigna à criatura humana, desenvol­vimento do mercado interno capaz de absorvera elevada parcela da população sem ocupação;reforma agrária planejada que compreenda, aces­so à terra com assistência creditícia, educaçãoe saúde, segurança e lucratividade do trabalhoe respeito absoluto aos direitos já asseguradosno Estatuto da Terra e outros indispensáveis àsua complementação aos colonos, moradores,parceiros agrícolas e rendeiros; e, para retirar oPaís do caos social em que se encontra, a maisgrave crise social conhecida em nossa história,que vem se acentuando ano a ano, o Governodeve se voltar para o homem e a terra com afinco,coragem, obstinação e austeridade, sem improvi­sações e sem desperdicio de recursos.

Ele foi, sem dúvida, uma honra para a sua re­gião, o Nordeste. Foi para o Brasil um exemploque deve ser seguido, de honestidade, austeri­dade, competência e coragem. Que a sua vidasirva de lição aos pósteros.

Muito obrigado.

O SR. FÉRES NADER (PrB - RJ.Pronunciao seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs. Cons­tituintes:

Tem-se conhecimento de que há mais de 40anos o Brasil vem desperdiçando hélio em quanti-

dades muito expressivas A maior parte produzidadesse gás simplesmente escapa para_a atmosfera,onde não pode mais ser recuperado

Por que precisamos do hélio? Por uma razão:ele é o segundo gás mais leve, depois do hidro­gêmo. O hélio e usado em balões. O hidrogênioseria ainda melhor, mas tem uma tendência gran­de a queimar-se -lembram-se do Hindenburg?O hélio é absolutamente não-inflamável e seu usoperfeitamente seguro.

O hélio é também o gás menos solúvel emágua. É usado para substituir o nitrogênio quandoo ar precisa ser aspirado a alta pressão. Ele reduzo perigo das dores provocadas em quem trabalhacom ar cornpnrnido

Esse gás não reage quimicamente com ne­nhum outro elemento. Portanto, é usado em so/­das como a substância que Circunda a chama.O material que estiver sendo soldado não reagiráa ele e o trabalho será mais perfeito

Mas deve-se considerar que a 14 graus acimado zero absoluto, tudo, com uma exceção, é sólidocongelado. Oxigênio, nitrogênio e hidrogênio sãotodos sólidos. Apenas o hélio permanece comogás.

O hélio não se transforma em líquido ate 4graus acima do zero absoluto e permanece assimabaixo dessa temperatura. O hélio líquido é fre­qüentemente o único meio que se tem para man­ter as baixas temperaturas necessárias à super­condutividade. Na verdade, descobriu-se agoramateriais que são superprodutivos a temperaturasmuito mais altas, mas não se sabe se terão usoprático. Por isso, a humanidade ainda dependedo hélio líquido.

Além disso, mesmo .que se pudesse obter asupercondunvídade a temperaturas mais altas, háoutros fenômenos que precisam ser estudadosnas temperaturas muito baixas do hélio líquido,não havendo substituto possível para ele. Podere­mos nunca compreender os porquês e como douniverso se de repente parar-se as pesquisas abaixas temperaturas

Mas existe algum outro lugar no qual se possaconquistar hélio, já que os suprimentos terrestresestão sendo desperdiçados? Talvez consiga achá­lo no espaço. A mais próxima fonte de hélio ­mais do que a humanidade usará - é o Sol,mas como obter o gás? A outra grande fonteé Júpiter, que é mais acessível. Mas não se conse­gue desenvolver a tecnologia necessária para isso,pelo menos por um bom tempo, se é que algumdia isso sera possível.

Portanto, Sr. Presidente, já é tempo de os cien­tistas terem suas atenções voltadas para esta novaameaça, entre tantas outras por eles detectadas,nos últimos tempos, que cingem os céus da hu­manidade.

Obrigado.

o SR. ASSIS CANUTO (PFL- RO. Pronun­cia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs.Constituintes:

Ocupo a tribuna no dia de hoje, não para tratarde um tema constitucional, mas para trazer aoconhecimento desta Casa de leis sobre o terrívelquadro relativo à Segurança Pública, do meu Es-tado. .

Realmente, em Rondônia, a Segurança Públicase encontra em uma situação extremamente caó-

tica e a população, em permanente estado desobressalto, ja não sabe a quem recorrer.

Por falta de recursos e de estrutura, e pelo asso­berbamento de trabalhos, os homens encarre­gados da Segurança, quer preventiva, quer osten­siva, não possuem as mínimas condições paraexercerem condignamente o seu trabalho!

Crimes e crimes se sucedem, assaltos à mãoarmada, estupros, roubos de veículos. desrespei­tos aos usos e costumes se sucedem dia-a-dia,e os culpados estão batendo de cabeça, e as polí­cias não conseguem fazer nada.

Há indícios de cotização por parte da comu­nidade' para conseguirem recursos para colocarnas mãos de delegados e policiais para que osmesmos possam trabalhar.

Não há viaturas suficientes, as que existem emsua maioria não possuem as rmnímas condiçõesde trafegabilidade, não há recursos para peçasde reposição e tampouco para combustíveis, 05

armamentos são obsoletos e não possuem muni­ções, as delegacias, a maioria delas sem as meno­res condições, outras abarrotadas de presos etc.

Louve-se os esforços do Sr. Secretário Dr, Mi­randa e de seus auxiliares; existem bons policiaisem Rondônia, mas não possuem condições detrabalho; e a população ordeira e trabalhadoraé que "paga o pato".

Faço um veemente apelo ao Governo Federalna pessoa digna do Exm" Sr. Ministro da Justiça,Senador Paulo Brossard, e ao eminente Gover­nador de Rondônia, Dr. Jerônimo Santana, paracriarem as condições mínimas de trabalho, paraque a Secretaria de Segurança possa atuar., Alguma coisa precisa ser feita, pois caso con­

trário as conseqúênclas serão danosas e o terrore o desespero tomarão conta da população deRondônia

Voltarei ao assunto!

O SR. BENITO GAMA (PFL-BA Pronunciao seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs. Cons­tituintes:

Ocupo hoje a tribuna desta Assembléia Nacio­nal Constituinte, para abordar assunto de inte­resse nacional, que considero de suma impor­tância. Trata-se do crédito rural para a região Nor­deste e em especial para o meu Estado da Bahia.

Várias são as safras da Região Nordeste quesofreram com a seca e a falta de crédito ruralNão necessariamente falta de crédito, mas a altataxa de juros que o sistema financeiro está a co­brar dos médios e pequenos produtores rurais.

Muitos são os problemas existentes, e o Gover­no Federal tem resolvido em parte alguns deles.Na Bahia mesmo, como a interveniência do Minis­tro das Comunicações, Antônio Carlos Maga­lhães, a Bahia teve amenizado o seu problemade crédito na área do café, em Vitóriada Conquistae adjacências

Ocorre, Sr. Presidente, Sr" e Srs. Constituintes,que o Bradesco, que é o maior banco particularda América Latina, não está cumprindo as deter­minações do Banco Central, no que se refere aorefinanciamento do café na região de Vitória daConquista.

Por isso, solicito, desta tribuna, que a Mesa daAssembléia Nacional Constituinte cientifique aoBanco Central o descumprimento do Bradescoàs suas normas. O produtor rural, que já sofretanto com a seca, com a falta de crédito e juros

Page 23: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7075

altos, com preços mínimos abaixo do custo deprodução, não pode ficar à mercê de banqueirosgananciosos e exploradores do produtor.

Muito obngado.

O SR. JORGE UEQUED (PMDB- RS. Pro­nuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente. srs.constituintes, o Governo federal tem sido assoladocom reiteradas denúncias de corrupção. Os gran­des jornais não têm poupado espaço para denun­ciar a prática nociva da corrupção no seio dealguns setores do Governo. Recentemente. a Con­ferência Nacional dos Bispos do Brasil, encami­nhou um manifesto repetindo criticas ao mesmoassunto. A saída do ministro Aníbal Teixeira dei­xou uma nódoa no Governo.

O ilustre Presidente da República, em carta fir­me e respeitosa, respondeu à CNBB, pedindo suaajuda no combate à corrupção.

Nesse campo, a imagem do Governo não éboa perante a opinião pública brasileira.

Mais um fato importante se agrega ao assuntoe passa a exigir uma manifestação imediata doGoverno.

lideres políticos do Congresso, entre eles doisdo PMDB,encaminharam correspondência ao Sr.Presidente da República, juntamente com líderesda oposição, denunciando a prática de corrupçãonos atos do Sr. Ministro das Comunicações. noque tange à concessão de canais de rádio e tele­visão.

O fato em si é de grande gravidade. mas aparticipação dos nomes dos líderes Mário Covase Ibsen Pinheiro, denunciando o comportamentodo Ministro de Estado, exige uma pronta açãodo Governo.

Não dou valor menor às demais denúncias,mas é que esta enquadra-se dentro da recentepostulação do Sr. Presidente da República, quesolicitou auxflío ao combate de corrupção. A de­monstração de confiança dos líderes da oposiçãoem denunciar o fato ao Governo e o apoio doslíderes do PMDBà denúncia, aumentam à exigên­cia de uma pronta e rápida resposta.

A figura do Sr. Presidente da República ressal­vada pelo líder Ibsen Pinheiro aumenta uma exi­gência rápida e eficaz ao Governo na respostaà denúncia recebida, que é da maior gravidadee necessita de amplos esclarecimentos para asociedade brasileira. O melancólico final da saídaindolor do ministro Aníbal Teixeira não foi umfato que ajudou a imagem do Governo na lutacontra a corrupção.

Tenho certeza e esperanças de uma rápida ma­nifestação do Governo.

O SR. AUGUSTO CARVALHO (PCB - DF.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,srs, constituintes, quero. em primeiro lugar, solí­.citar as minhas escusas a este Plenário, que estápreocupado com questões maiores do interesseda Nação. para aqui tratar de um assnto que con­sidero diminuto. Mas, pelo fato de ter sido citadonominalmente, em uma sessão da AssembléiaNacional Constituinte, considero um dever o es­clarecimento de certas questões levantadas peloconstituinte Jofran Frejat.

Defende-se o nobre colega das acusações detraidor do povo, feitas pelo SIndicato dos Bancá­rios de Brasílla, com uma argumentação lógica,amparada na citação de emendas de sua autoria.Aliás, quero aqui desejar-lhe êxito na sua aprova-

ção e creio que o Sindicato dos Bancários deBrasílla saberá aplaudi-lo se realmente o seu votofor favorável aos quatro anos de mandato paraSarney; à estabilidade no emprego; à jornada de40 horas; ímprescrítíbíhdade dos direitos traba­lhistas; verbas públicas só para hospitais públicos.Pena que o Sr. Jofran Frejat não se ateve à lógicados seus argumentos, optando por encerrá-Iacom desafios chulos ao presidente daquele Smdí­cato. do tipo "honrar as calças que veste" bemao estilo do urinol e do 38 que já desfilaram nestatribuna pelas mãos de seus pares do Centrão.

Quer o colega Jofran Frejat que o Partido Co­munista Brasileiro aplique sanções contra o nossomilitante dirigente do Sindicato dos Bancários.Pode ficar tranquílo o nobre colega. pois o partidonão vai punir ninguém. A decisão dos cartazesfoi tomada exclusrva e soberanamente pela enti­dade sindical- aliás. decisão tomada em reuniãonacional dos bancários - sem pedir autorizaçãoa ninguém, nem partido. nem político, nem aoBispo.

Por último, quero dizer que vou continuar rece­bendo em meu gabinete tanto os sindicalistasquanto as suas publicações, e não pretendo mesubmeter a quaisquer vetos dos informantes queenvie o prezado colega a me policiar.

Quanto à denúncia que fIZ à imprensa dos cincoconstituintes de Brasília. signatários da propostade regimento do Centrão, reafirmo minha convic­ção de que é traição ao povo a protelação davotação final da carta, ensejada pela manobra doCentrão; e traição ao povo apoiar propostas deregimento que viabilizem a derrubada das deci­sões em favor do povo. aprovadas pela Comissãode Sistematização. E condeno, de forma veemen­te. a tentativa do Governo de jogar a policia sobreos sindicalistas, com o objetivo de silenciar a clas­se trabalhadora e impedi-Ia do seu direito legitimode pressionar esta Constituinte para que venhaa aprovar uma Carta moderna, socialmente justa,que aponte perspectivas de vida melhor para mi­lhões de brasileiros marginalizados pelo modeloeconômico perverso, implantado pela ditadura emantido por este Governo desgastado e desrnora­hzado, Era o que tinha a dizer.

. O SR. ROBERTO D'ÁVlLA (PDT - RJ. Pre­nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,srs constituintes. neste momento em que se aba­te a tragédia sobre uma das principais cidadesdo meu Estado. a cidade de Petrópolis. não possodeixar de me solidarizar com o povo petropolitanopor este momento de grande infortúnio.

Como candidato a deputado federal pelo Riode Janeiro. fui daqueles que, visitando fábricas.lojas, colégios e conversando com os cidadãose cidadãs nas ruas de Petrópolis, conheci de pertoa gente daquela terra.

Sei o quanto a população de Petrópolis estáconsternada com esta inclemência dos céus, masaté que ponto não devemos nos perguntar sea incúna dos nossos governantes não é tambéma responsável por tamanha tragédia?

Peço que se transcreva nos anais desta Casao artigo do jornalista Newton Rodrigues "Reta­liação e Tragédia" publicado no dia de hoje, noJornal a Folha de S. Paulo, que representa bemo nosso pensamento sobre a catástrofe que seabateu sobre o bravo povo petropolitano.

DOCUMENTO A aUE SE REFERE OORADOR:

Folha de S. Paulo (Opinião) - 8-2-88 - bág.A-2

"RETALIAÇÃO E TRAC?ÉD~ .Rio de Janeiro - Os mortos, na catástrofe que

angustia cariocas e fluminenses. já sobem a maisde cem e, provavelmente, outros corpos serãodescobertos e outras vitimas sucumbirão nos hos­pitais, mesmo que novas cargas dágua não ve­nham a abater-se sobre as castigadas populaçõesde Petrópolis, das várias cidades da Baixada edo próprio Rio. Desde 1956, quando semanasde chuvas conduziram o então Estado da Guana­bara a uma situação caótica, repetida no ano se­guinte em grau menor, não se conhecera nadasemelhante. As imagens pungentes da televisãoduem mais, nas fisionomias desesperançadas enas faces em pranto, nos barracos e casas soterra­dos, e nas ruas e estradas obstruidas transfor­madas em imundas correntes dágua, que quais­quer palavras. Por isso, mais vale emprega-Iasem outro sentido.

As causas históricas de tudo isso todos sabemquais sejam. Consistem nos inchaços urbanos,provocados pelo êxodo acelerado das zonasrUr~e o crescimento demográfico vegetativo, de altís­simas taxas, apesar da ceifa devida aos altos indi­ces de mortalidade, gerados por toda a sorte demales físicos e sociais. O equacionamento do pro­blema está feito e refeito e exige reformas estrutu­rais profundas que, entretanto, se arrastam pordecênios a fio, como se arrastou no passado asolução abolicionista.

Nenhum governante estadual ou municipal temmeios de resolver topicamente um problema glo­bal e em todas as grandes cidades, inclusive amais jovem de todas elas, Brasília, o afavelamentotumultuário dos párías, subestrato em condiçõesdesumanas, é um libelo diário que grita mais altoquando o país assiste, como em um seriado comtomadas que alternadas do Norte ao Sul e do-Leste ao Oeste, cenas como as que. ocorrem,neste instante nas áreas carioca e fluminense.

Há, porém, medidas de pequeno e médio portecapazes de aliviar e, em alguns casos, solucionarem âmbito restrito os efeitos dos fenômenos natu­rais sobre as populações: as obras preventivase corretivas. A tragédia de Petrópolis. por exemplo,não existiria se as verbas para desobstrução dosrios transbordantes, e que dependem do governofederal, houvessem sido liberadas a tempo. QueJosé Sarney Costa, em vista das dezenas de cada­veres, possa lembrar-se, uma vez ao menos, queas retaliações políticas que determina e incentiva,não atingem os alvos individuais a que visa, maso povo que lhe paga as mordomias e as viagensde promoção. Que libere, pois, as verbas de queo Estado precisa e que o governador solicita. ­Newton Rodrigues

. O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage) -'Estdfindo o tempo destinado ao Pequeno Expediente.

Vai-se passar ao Horário de

p S - No artigo de ontem. 3' par., 8' linha, leia-se "abrevíeçãode seu IllUIdlllc". em Vezde "abreviação"

Page 24: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7076 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Fevereiro de 1988

v - COMONICAÇÕESDAS LIDERANÇAS

o Sr. Adolfo Oliveira - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma comunicação, como líder doPL.

O SR. PRESIDENTE (Jorge Arbage) - Tema palavra o nobre consntuínte AdolfoOliveira.

O SR. ADOLFO OUVEIRA (PL- RJ. Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, srs. consti­tuintes, venho a esta tnbuna realmente abatidopor mais uma calamidade que aflige a minhacidade, Petrópolis. A. tragédia, Sr. Presidente, étanto maior quando é repetida. A memória aju­dou-me na pesquisa de um pronunciamento quefiz desta mesma tribuna, há 22 anos. Não tenhonada a ,alterar.Posso, simplesmente, reler os ter­mos do que, então, disse de improviso no àia29 de março de 1966.

Senhor Presidente, nova e espantosa catástrofeabateu-se sobre o Estado do Rio. especialmentesobre a minha cidade.

Petrópolis está coberta de luto. A1í já foram en­contradas debaixo de escombros de casas queruíram, levadas pelas barreiras. em virtude da vio­lenta tromba d'água, cerca de 120 vitimas;naque­laocasião, 40. E este número deverá ser acrescidoà medida em que se forem desenvolvendo ostrabalhos de desobstrução. O comércio sofreuprejuízode bilhões de cruzeiros-leia-se milhõesde cruzados.

O povo e as autoridades estão desespe~dos.Amensagem que trago à Constituintee ao Gover­no é despida de qualquer conteúdo politico, éo eco do pranto e da revolta de todos os meusconterrâneos, que esperam da Divina Providênciauma proteção para que não se repitam tão lutuo­sos acontecimentos.

Senhor Presidente, nós, petropolitanos, vamosenterrar os nossos mortos, mas confiamos emque o Governo federal determine com a maiorurgência ao Ministro da Fazenda e ao Ministrodo Planejamento a adoção de medidas de assis­tência àquelas centenas de famílias desampara­das, ao comércio local.através de financiamentose concessão de prazos especiais, para que sejamsaldados os seus compromissos. porque o pre­juízo é total ou quase total.

E eu terminava, Sr. Presidente, repito, há 20anos, dizendo: "não é hora de indagarmos quemt~m razão.. quem não tem razão. O povo petropo­btano esta sofrendo. E o que pedimos em nomede tudo quanto pudemos fazer até hoje. Nós, pe­tropolítanos, em benefício do Estado e do País,esperamos, suplicamos. imploramos ao SenhorPresidente da República que não nos abandonenum transe tão difícil como este que estamosatravessando agora".

Em próxima oportunidade, sr. Presidente, ireitrazer à Casa dados e números que estarrecerãoesta Nação. sobre o cuidado que se teve comas vidas humanas, quando se permitiu e até seincentivou a invasão e construção indiscriminadanas encostas de nosso município. O que se feze o que não se fez é um crime pelo qual alguémvai ter que pagar e vai ter que prestar contasao País.

Era o que tinha a dizer.Sr. Presidente.

DOCUMENTO A QUE SE REFERE OORADOR:

"32' SESSÁO, EM29 DE MARÇO DE 1966

N-O SR.PRESlDENTE- Está finda a leiturado expediente.

Tem a palavra o Sr. Adolfo de Oliveira parauma comunicação.

O SR.ADOLFOOUVEIRA (Comunicação)*­Sr. Presidente, nova e espantosa catástrofe aba­teu-se sobre o Estado do Rio, especialmente so­bre minha cidade.

Petrópolis está coberta de luto. Ali já foram en­co.ntradas, debaixo de escombros de casas queruíram, levadas pelas barreiras. em virtude de vio­lenta tromba dágua, cerca de 40 vítimas. E essenúmero deverá ser acrescido à medida que seforem desenvolvendo os trabalhos de desobstru­ção. O comércio sofreu prejuízo de bilhões decruzeiros.

Esta é a terceira grande catástrofe que se abatesobre Petrópolis num prazo de 90 dias. Já secontam mais de 200 mortos. vítimas dessa fatali­dade. O povo e as autoridades estão desespe­rados. A mensagem que trago à Câmara e ao90verno é despida de qualquer conteúdo politico,e o eco do pranto da revolta de todos os meusconterrâneos, que esperam da DivinaProvidênciauma proteção para que não se repitam tão lutuo­sos acontecimentos.

Senhor Presidente, nós, petropolitanos, vamosenterrar os nossos mortos, mas confiamos emque o Governo Federal, o presidente CastelloBranco, determine, com a maior urgência, ao Mi­nistro da Fazenda e ao Ministro do Planejamentoa adoção de medidas de assistência àquelas famí­lias desamparadas, ao comércio local, através definanciamentos e de concessão de prazos espe-

. ciais para que sejam saldados seus compromis­sos, porque o prejuízo foi quase total. no melhorponto de Petrópolis.na Avenida 15 de Novembro.e, praticamente, em todos os bairros.

Que sejam imediatamente tomadas essas pro­vidências, inclusive de auxilio à Prefeitura Ml:Ini­cipal,que não tem a menor condição de consertaras ruas, de reconstruir as .pontes, de restauraras obras públicas. Está inteiramente impossibi­litada de cumprir esse seu dever. O Governo doEstado, que tinha recebido uma ajuda de trêsmilhõe~ de dólares do Governo americano, porintermedio do Ministério das Relações Exteriores.num cheque. testemunhado até por fotografiase noticiários da imprensa, sofreu a surpresa dever solicitado de volta o cheque, pelo ExecutivoFederal, para que fossem sanadas. irregularida­des, e até hoje, o dinheiro não tomou ao Estado.O Prefeito de Petrópolis pede ajuda ao Governodo Estado. O Govemador alega dificuldades fi­nanceiras. Não é hora de indagarmos quem temrazão. quem não tem razão. O povo petropolitanoestá sofrendo. O Presidente da República e o Mi­nistro da Fazenda devem adotar providênciasimediatas e reparadoras.

É o que pedimos em nome de tudo quantopudem?s fazer até hoje. nós petropolítanos, embenefído do Estado e do País. Esperamos. supli­camos. imploramos ao Presidente da Repúblicaque não nos abandone num transe tão dificil co­mo este que estamos atravessando agora. (Muitobem!)

• Não fol revisto pelo orador

Durante o discursodo sr.constituinteAdol­fo Oliveira. o sr. Jorge Arbage, 29-vice-pre­

sidente, deixa a cadeira da presidência, queé ocupadapelo sr.Mauro Benevides, I"-vice­presidente.

O Sr. Osvaldo Bender- Sr. Presidente. peçoa palavra para uma comunicação, como Iider doPDS.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. OSVALDO BENDER (PDS - RS.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, srs.constituinte, no ano passado, o Governo enviouexpediente ao Tribunal de Contas, a fím de quedesse o seu parecer sobre o Fundo de Partici­pação dos Estados para o Territóriode Fernandode Noronha.

Tomamos conhecimento do parecer, atravésdo Ministro Alberto Hoffmann, que deu parecercontrário, primeiro porque não havia lei que in­cluísse a participação de Fernando de Noronhano Fundo de Participação dos Estados, e, S. Ex­inclusive, afirmou que. antes disso. tinha de sercriada uma lei.E agora nós vemos no jornalFolhade S. Paulo onde diz o título: "Sarney incluiuno pacote fiscal mais verbas para Fernando deNoronha".

Vejam bem. como é importante essa notíciado jornal.Misteriosamente,está incluidono decre­to-lei do pacote fiscal o Fundo de Participaçãopara o Território de Fernando de Noronha. E ossrs. constituintes sabem o que isso representa?Antes disso, o Território, com 1.300 habitantes,tem 26 krrr', receberia para este ano uma partici­pação de 2 bilhões e 700 milhões, enquanto queum município com 10.200 habitantes recebe ape­nas 18,6 milhões de cruzados. Arenda per capltano Território será, então, de 2 milhões 766 milcruzados, enquanto que em um município de até10 mil habitantes a renda per capita é de 182mil cruzados. Acho que é um absurdo. Não pode­mos aprovar isso. Tenho certeza de que a maioriados srs. parlamentares não sabe que está.inclWdono Decreto rr 2397. que deverá ser votado estasemana. Então. quero alertar a Casa para quefiquemos vigilantes,porque não temos nada con­tra os recursos para o Território de Fernando deNoronha, mas uma renda per capita de 2 mi­lhões e 766 milcruzados, enquanto que um muni­cípio tem apenas 182 mil cruzados. seria fugirde toda a lógica!

Há poucos instantes ouvimos aqui o ilustreconstituinte Ruy Nedel falar das divergências edas defesas Norte e Sul, referindo-se que poderiasurgir um novo movimento de independência pa­ra o Sul. Ora, se formos de fato redistribuirdentrodesses critérios os tributos, isso vai gerar descon­tentamento generalizado, cabendo a nós parla­mentares vigiar, estarmos alertas no sentido derejertar esse decreto-lei. Porque não é admissívelque o Território de Fernando de Noronha tenhauma participação muito acima de São Paulo, se­gundo inclusive relatório do Ministro, quando foiconsultado no ano de 1987, ficando com umarenda per capita das maiores do mundo. Issovem contra qualquer regra do bom senso e dalógica. Por isso queremos protestar com veemên­cia. através desta tribuna e alertar os srs. consti­tuintes no sentido de ficarem atentos quanto aodecreto que será votado essa semana.

Era o que eu tinha a dizer.Sr. Presidente.

Page 25: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRJO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7077

DOCCIMENTOA QUE SE REFERE O ORA­DOR:

"SARNEY INCLUI NOPACOTE FISCALMAISVERBAS

PARAFERNANDO DE NORONHA

A ofensiva da Frente Parlamentar de Defesado Contribuinte contra o pacote fiscal baixadopelo governo em dezembro passado ameaça dei­xar sem recursos o Território de Fernando deNoronha. É que, embutido no Decreto-Lei rr2.397, que o Congresso Nacional vota esta serna­na.:o presidente José Samey colocou um artigoincluindo o governo de seu amigo e ex-porta-vozFernando César Mesquita como beneficiário doFundo de Participação dos Estados (FPE), da re­serva que o fundo possui e da distribuição queé feità da arrecadação do imposto sobre lubrifi­cantes líquidos e gasosos e do imposto sobreenergia elétrica.

De acordo com a estimativa de arrecadaçãoprevista no Orçamento da União aprovado para1988, Fernando de Noronha vai receber este ano,só de recursos do FPE e de sua reserva, aproxima­damente Cz$ 2,7 bilhões. Com uma populaçãoque não chega a 1.300 habitantes e uma áreade 26 quilômetros quadrados, o território teráacesso a recursos quase 145 vezes maiores doque um município de até 10.200 habitantes, queeste ano recebe Cz$ 18,6 milhões do Fundo deParticipação dos Municípios (FPM).

O ex-Ministro da Fazenda Luiz Carlos BresserPereira, que montou o pacote fiscal, disse à Folhaque houve uma solicitação do Palácio do Planaltopara que incluísse o Território de Fernando deNoronha no Fundo de Participação dos Estados(FPE), e eu concordei que isso pudesse ser feito.Não me pareceu nada de mais".

O ex-ministro não concordou em que o artigodo decreto tratado do assunto tivesse sido "escon­dido",já que o Decreto-Lei n°2.397 trata de altera­ção de imposto de renda de pessoas jurídicase a inclusão de Fernando de Noronha no FPE,é uma regulamentação de normas constitucio­nais. "Isso não é escondido, é uma carona; é muitocomum e se faz sempre", disse Bresser, alertandoapenas que não participou do critério de rateioque atribuiu a quota de participação ao território.

Rateio

O critério de rateio foi definido pelo decreto-leido pacote, que diz que a quota de participaçãode Fernando de Noronha não poderia ser maiorque a metade da média das três menores. Nocaso do FPE foram somadas as quotas de Brasília(0,7775), Mato Grosso do Sul (1,4994) e EspíritoSanto (1,5749), cujo resultado (3,8518) foi divi­dido por três e alançou a média de 1,2839. Ametade dessa média (0,6420) foi atribuída ao ter­ritório.

Essas quotas são definidas pelo Tribunal deContas da União (TCU) com base em dados doIBGE sobre renda per capita, população, consu­mo, área etc. Como os critério de combinaçãodesses dados para a definição da cota, pelas re­gras normais do TCU íría colocar o território emposição mais vantajosa até do que São Paulo,o governo optou pela fórmula acima. Amanhã,o Diário Oficiai da União publica a Resoluçãon° 231/88 do TCU onde as quotas do territórioestão fixadas para 88.

O chefe do Gabinete Civil, Ministro RonaldoCosta Couto, ao responder à Folha sobre as in­tenções do governo ao embutir a decisão, sobreFernando de Noronha em um decreto-lei que tra­tava de outro assunto, disse, através de seu asses­sor, José Arantes, que "não tinha sentido fazerum decreto separado. para outra publicação, sepodia ser feito tudo em um só". A intenção dogoverno, segundo ele, foi incluir Fernando de No­ronha no Fundo de Participação porque o territó­rio tinha deixado de ser uma área militar.

De fato, desde que o Congresso Constituinteaprovou a Lei rr 7.608 em junho do ano passado,transferindo do Estado-Maior das Forças Arma­das (EMFA) para o Mirustério do Interior a vincu­lação do território, que o seu governador, nomea­do pelo Presidente Sarney, Fernando César Mes­quita, vem tentando junto ao TCU sua inclusãono fundo de participação. O Ministro Alberto Hoff­mann, do tribunal, deu seu paracer contrário por­que era necessária uma lei que autorizasse a inclu­são - o que foi feito através do Decreto-Lei n°2.397. Segundo Hoffmann, com a participaçãode Fernando de Noronha na divisão do blocodo FPE, "os Estados podem entrar com recurso,se quiserem comprar a briga".

O governador do território, também ouvido pelaFolha, argumentou que com esses recursos "vaiprocurar a auto-suficiência e a autonomia do terri­tório, pois aqui tem muita coisa para fazer". Eledefendeu também a forma final encontrada peloPalácio do Planalto, dizendo que o assunto foiestudado pela Seplan, pelo IBGE e pelo TCU porum bom tempo - Cesar Borges - da sucursalde Brasilia.

o Sr. Vitor Buaiz - Sr. Presidente, peço apalavra para uma comunicação, como Líder doPT.

o SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o Sr. Constituinte Vitor Buaiz.

o SR. VITOR BUAIZ (PT - ES. Pronunciao seguinte discurso.) - Sr. Presidente, SI"" e Srs,Constituintes:

O latifúndio cometeu mais um crime preme­ditado em nosso País. Desta vez foi no Municípiode Pancas, ao norte do Espírito Santo, distante150 km de Conceição da Barra, onde há umasemana policiais armados invadiram a casa dojornalista Rogério Medeiros, Vice-Presidente Re­gional do PT, durante uma reunião com lideran­ças locais.

A vitima desta vez foi o Presidente do Sindicatode Trabalhadores Rurais de Pancas e dirigenteda CUT Regional Norte I, Francisco DomingosRamos, assassinado barbaramente com três tiros,de tocaia, quando retornava de moto para suacasa na noite da última sexta-feira, dia 512.

O que é mais grave, Sr. Presidente, é que háseis meses Francisco foi ameaçado de morte pelofazendeiro João Milton Breda, irmão de AcrisioBreda, que há três anos mandou matar o liderrural "Benezinho" em Torné-Açu, Estado do Pará.Diante da ameaça, Francisco, juntamente como Deputado estadual Ângelo Moschen, procurouo Governador Max Mauro, pedindo garantias devida. Há três meses Francisco também foi amea­çado de morte pelo então subdelegado de PancasJoão Ramos, um civilinvestido de autoridade poli­cial, também fazendeiro, durante um mutirão para

arrecadar fundos de ajuda a um trabalhador sem­terra.

Sr. Presidente, a omissão do Governo carac­teriza a conivência com a sanha assassina do lati­fúndio.

Tão logo foi encontrado o corpo de Francisco,seus companheiros procuraram o delegado daComarca que disse não poder fazer qualquer in­vestigação porque se encontrava de folga. 05 poli­ciais que se encontravam de plantão na delegaciaalegaram não terem ainda ordens superiores paraprocurar os assassinos, portanto nada tambempoderiam fazer. ,

Esta é a realidade nua e crua do nosso Pats,ilustres Constituintes: o cidadão pede a proteçãoda polícia ao ser ameaçado de morte. dá o nomeaos bois como quer o Presidente Sarney e, mes­mo depois de morto, a investigação policial e pro­telada porque ali também se encontram pessoasligadas ao latifúndio.

Gostaria de mais uma vez fazer um alerta destatribuna. O povo está consciente de que aquelesque detêm o poder económíco e estão sob aproteção do Governo. podem cometer os maíshediondos crimes, seja contra a pessoa humanaou contra os cofres públicos. porque a impuni­dade estará garantida. Não resta portanto nenhu­ma outra alternativa à classe oprimida deste pats.para se defender dos poderosos, senão fazer jusU­ça com as próprias mãos. Esta é a saída queo próprio Governo está apontando para o povobrasileiro

Esperamos que, antes disso. medidas sanea­doras sejam tomadas pelo governo pois a próximaVitimana lista dos assassinos do latifúndio ligadosà UDR é o Bispo de S. Mateus. D. Aldo Gema,comprometido com a luta do homem do campopeja reforma agrária.

Sr. Presidente, ilustres Constituintes:Aí estão os fatos, sem meias palavras Cabe

agora ao Governo fazer cumpnr a lei e punir 0$

culpados, se for capaz e enquanto é tempo!Muito obrigado.

O Sr. Farabulini Júnior - Sr. Presidente,peço a palavra para uma comunicação, comolíder do PTB

O SR. PRESIDENTE (Mauro BeneVldes)­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. FARABUUNI JúNIOR (PTB - SP.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente e srs.constituintes, cumpro o dever. enquanto ocupoa tribuna agora. de deixar bem claro o quantofiquei estupefato, vendo com meus proprlosolhos, aflxados em alguns pontos da cidade deSão Paulo, cartazes editados pela CUT, que con­têm fotografias de constituintes paulistas com as­sento nesta Casa, incluindo a minha propria. ten­do por fundo a expressão "Traidores do Povo".Há fotos de outros srs, constituintes peteblstas,como disse.

A estupefação se justifica em face da expressãojá aludida "Traidores do Povo". Perplexo examino,perplexo raciocino, perplexo medito e. aí, depa­ro-me filosofando, com o dilema:, Quem traiquem? Quem fala? Quem e que fala? Por quefala? Primeiro de tudo, cumpre ver quem fala.não o que se fala É a CUT que fala, autodeno­minada Central Única dos Trabalhadores.

Page 26: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7078 Terça-feira 9 DIÁRIO DAASSEMBlÉIAI'fAOONALCONSTITUINTE Fevereiro de 1988

Não é verdade, srs, constituintes, - a Naçãoque saiba disto - que a Central Única dos Traba­lhadores brasileiros seja a central única; não éo único caminho de comunicações dos trabalha­dores deste País. Não é mesmo, há outros, todossabem! Este é o fato público e notório que inde­pende portanto de prova. Não sendo o único canalreivindicatório, também não é o mais eficiente,o que tenha maior representatividade, ou o quetenha maior credenciamento; muito ao contrário,é o que conta com menor representatividade, nãotem raízes fundas no proletariado das cidades,do campo, não tem tradição neste País e nãoconta com o acatamento da opinião pública brasi­leira. Luta por um pequeno espaço e esboça aluta sem ritmo. E agora procura o caminho dacalúnia, da injúria, da difamação como arma polí­tica que não sabe manejar, na expectativa de quea população brasileira não saiba distinguir entreincautos e despreparados, sem nenhuma tradiçãono seio do proletariado brasileiro, despido da me­lhor postura, e aqueles que se originam de longaslutas na área das mais justas e honestas reivindi­cações trabalhistas, com raízes que medem algu­mas dezenas de anos de trabalho na luta limpado proletariado de todo o País. Falo dos traba­

'lhístashistóricos, cuja luta foireivindicatória e comgrandes resultados; falo do tempo de FernandoFerrarí, falo de Lúcio Bittencourt, de Pasqualinie de mim próprio, que faço parte desse tempo.Falo de Gastone Righi que, como eu, foi cassadopela ditadura.

Estive diutumamente ao lado dos trabalhistas,desde as memoráveis greves de 1953, ao ladode Cid Franco, Luciano Lepera, Miguel Jorge Ni­colau, Rogê Ferreira, Rocha Mendes Filho, RemoForli, Borbadilha, Osvaldo Lourenço, Jeterode deFaria Cardoso e tantos outros lutadores conscien­tes, incontroversos e limpos na luta séria e patrió­tica dos trabalhadores. Epoca em que os "mole­ques" de hoje, da cur, que até agora não cresce­ram, não haviam sequer nascido! Eles não lerama História deste País, que, na verdade, envolvegrandes e memoráveis lutas do proletariado. His­tória de que esses "moleques" da cur, na verda­de, não fazem parte.

Hoje, esses membros da CUT não conhecema melhor luta e pensam que são - pretensiosos,entretanto-donosda melhor postura trabalhista.Não o são, não! Ao contrário, prejudicam e levam"grandes prejuízos à classe trabalhadora - é istoque se sabe, neste País.

Já estive sob baionetas, em defesa do proleta­riado, da liberdade sindical e dos mais altos postu­lados, que dizem realmente respeito ao trabalha­dor!

Sou daqueles que levaram esguicho d'água porcausa do 13" salário e, hoje, não vou seguir essespanfletos hediondos da CUT, porque não repre­sentam coisa alguma. Primeiro, não atemorizame depois não estabelecem orientação política par­tidária. Eu sigo, sim, são os montes de ofíciosque recebo de sindicatos de todo o País e quedeploram a cur e se envergonham dela e sigo,sim, a doutrina escrita. Sou, sim, pela liberdadesindical, pela unidade sindical, pelo direito escan­carado da greve, pelo direito legítimo da estabi­lidade do trabalhador. Sou também pela legitimi­dade da postura da mulher grávida, mas não éesta que está nos planfletos nojentos que forampublicados na cidade de São Paulo, pois os meus

companheiros do Partido Trabalhista Brasileirotêm tradição trabalhista.

No ano passado, na legislatura passada, quan-, do se discutia a reforma salarial para combater

aquele hediondo caso em que os trabalhadoresestavam sendo postergados nos Decretos de n'"2.046, 2.047 e 2.048, não vi CUT alguma aqui,via COT,vios sindicatos operosos, que não fazem"politicalha" e que não querem galgar o poderà custa do trabalhador e do proletariado. Estaque é a verdade! Não intimidam coisa alguma.Podem mandar publicar um milhão daquelespanfletos vergonhosos e nojentos, mas não ate­morizam os Deputados desta Casa, que, na verda­de, têm tradição e vão votar em favor do proleta­riado, mas pela sua própria consciência e nãopor que venham a ser admoestados, através deum complô, por esses moleques que ocupama Central Única dos Trabalhadores e que não éuma Central Única não, porque há outros cami­nhos até independentes que defendem melhoro proletariado.

Sou daqueles que frequentam as fábricas. Vou,sim, às portas das fábricas e das oficinas paradizer o que é a cur, por que ela subsiste nestePaís. (Muito bem!)

o Sr. Ricardo Izar - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma comunicação, como líder doPFL.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Concedo a palavra ao nobre Constituinte.

O SR. RICARDO~ (PFL-SP. Sem revi­são do orador.) - Sr. Presidente e srs. consti­tuintes, neste fim de semana, a cidade de SãoPaulo amanheceu forrada de cartazes da cur,em todo o centro e nos principais bairros.

Tenho em mãos este cartaz, que gostaria queos srs, constítuites analisassem: primeiro, o tipode papel - é papel sulfite de primeira qualidade;segundo, mal impresso, por gráficos que há 20anos não trabalham mais em gráficas, só fazempolítica sindical; terceiro, é quanto ao tamanho.Gostaria de saber de onde veio esse dinheiro paracustear o cartaz. Uma fortuna incalculável! Nãosei se veio da A1bânia, da Alemanha OrientaI oude CMJa.

Quero fazer outra análise: dizem que a caré muito organizada, que tem computadores, má­quinas diversas, muitos funcionários, gente quenada faz, apenas "política síndical''. Eles não sãotão organizados, porque a bancada de São Paulotem 30 membros no Centrão e aqui no cartazapareceram apenas 27 srs. constituintes. Querofazer um apelo aos srs, constituintes ligados àcur de que ela se esqueceu do meu nome. Souum dos fundadores do Centrão, trabalho como Centrão, assino com o Centrão. O nosso obje­tivo está acima dessas porcarias, está acima detudo! O nosso objetivo é o bem-estar da nossacomunidade, é uma grande Constituição para opovo brasileiro.

Quero dizer o seguinte: soube que a CUT vaifazer uma segunda edição, colorida, bonita. Porfavor, não me esqueçam, porque o meu eleitoradoestá exigindo. Vieram reclamar por que a minhafotografia não saiu neste cartaz. Eu gostaria quesaisse a minha fotografia em tamanho grande,coIoridI; porque isto niío é difamação.

Não quero mandar um penico, ou cachorros,ou revólveres para a cur, não. Faço apenas umapelo: por favor, na próxima edição, não se esque­çam do meu nome, porque nós somos, sim, doCentrâo. Se não fosse o Centrão, srs, constituintes,não teríamos negociações hoje, não teríamos en­tendimento democrático, porque o Centrão sabearitmética, porque 47 não significa mais que 280.Queremos uma Constituição de todos para todos.e não de alguns para alguns!

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente. (Muitobem! Palmas.)

O Sr. Fernando Santana - Sr. Presidente,peço a palavra para uma comunicação, comoLíder do PCB.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. FERNANDO SANTANA (PCB - BA.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs.Constituintes:

Desejamos reiterar, desta tribuna, o apoio quena pnrneíra hora foi dado pelo Partido ComunistaBrasileiro à greve dos ferroviários. Defendíamos,naquele instante, a justeza da greve, porque, emverdade, ela se detonou, se rompeu, ou o movi­mento se desencadeou por falta do cumprimentode um acordo antecipadamente assinado entre05 sindicatos e a Rede Ferroviária Nacional, emnovembro passado.

Não houve diálogo. e se houvesse esse diálogo,evidentemente, não teria chegado à situação degreve. Foi uma posição de força assumida peladireção da Rede e pelas autoridades que, ao final,deu como resultado a declaração da greve pelosferroviários brasileiros

Sr. Presidente, Sr" e Srs, Constituintes, se fo.mos os primeiros a dar apoio a esse movimento,continuamos aqui dando a nossa integral solida­riedade aos trabalhadores ferroviários, que foramiludidos, que foram enganados pelo não cumpri­mento de um acordo anteriormente assinado.

Ditas estas palavras, Sr. Presidente, queremoapassar a um outro assunto que acreditamos ..do interesse geral desta Casa. Quando aqui che­gamos, fomos surpreendidos com um requeri­mento que nos foi apresentado pelo ConstituinteAluízioCampos, que solicitava da Mesa da Consti­tuinte dia e hora para uma homenagem ao Parla­mentar João Agripino Filho, falecido sábado.

Conhecemos esse grande varão brasileiro ain­da nos idos de 1958. Nunca surpreendemosJoãoAgripino numa atitude antinacional ou antipatrió­tica. Evidentemente que ele não comungava, Sr.Presidente, dos mesmos princípios que defendía­mos. Mas é justo reconhecer, é correto dizer, nestahora, neste instante, que João Agripino jamaisteve um só ato na sua vida pública que não fossedentro da mais legítima correção, que não fossedo mais alto civismo e do mais alto patriotismo.Era um orador frio e profundo; convencia pelosargumentos, jamais pelo grito.

Desta tribuna, na Legislatura 82/86, quando elese despedia desta Casa, um tanto insatisfeito como que se vinha passando no Brasil e na Câmara,perdeu o estimulo e não quis voltar a esta Assem­bléia Nacional Constituinte. Mas aqui está como próprio nome dele, seu filhoJoão Agripino, quecontinua defendendo e seguindo aquelas mes­mas orientações que o pai defendera na vida.

Page 27: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7079

Valelembrar, aqui e agora, que em 1961, quan­do Ministro das Minas e Energia, João Agripinocolocou para o Presidente Jânio Quadros a situa­ção da Petrobrás no que concerne ao problemada distribuição dos derivados de petróleo. Em1962, a Petrobrás alcançava a completa auto-sufi­ciência na refinação de petróleo para todas asnecessidades do País. Poderíamos dizer que aauto-suficiência foi alcançada em 1962. Todosos derivados seriam refinados aqui e João Agri­pino, dirigindo-se ao Presidente Jânio Quadros,pedia que a partir de 1962 fosse sendo feita, pro­gressivamente, a nacionalização da distribuiçãodo petróleo. Em 1962, já havia um brasileiro quejulgava que esse setor deveria ficar sob o com­pleto comando da empresa nacional.

Hoje,estamos repetindo essa tentativa e espera­mos que esta Casa, que se dizcontra a estatização,venha a aprovar esta emenda que não propõe,de modo algum, a estatização nem dos postosnem da distribuição, mas que se entregue a em­presas brasileiras um negócio de lucro certo, deresultado absolutamente certo, com total impossi­bilidade de prejuízos e que, entretanto, está entre­gue, na sua grande parte, a empresas interna­cionais.

Sr. Presidente, ao homenagearmos, neste ins­tante, a figura desse grande brasileiro, João Agri­pino, queremos trazer à lembrança da Casa asua atitude em 1962, que correspondia exata­mente aos interesses do País. E hoje, ainda maisdo que em 1962, essa posição é legitimamentepatriótica, cívica e, acima de tudo, deseja prestigiara chamada empresa nacional, cujos representan­tes aqui não parecem, de modo algum, sensibi­lizar-se com esta posição, que é entregar a empre­sas nacionais a distribuição dos derívadss de pe­tróleo já que nenhuma tecnologia essas empresasnos trazem; ao contrário, se hoje temos as melho­res bombas devemos aos laboratórios da Petro­brás, hoje, todos os camioneiros são brasileiros,e essél;s chamadas seis empresas internacionaispossuem apenas um mil e quinhentos postos,dos vinte e oito mil existentes, e esses mesmospostos não são explorados diretamente por essasempresas, mas por brasileiros através de arrenda-mentos. -

Acreditamos que o espírito de brasilidade venhaa prevalecer nesta Casa para se aprovar umaemenda quejá era defendida em 1962 pelo gran­de brasileiro João Agripino.

o SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência, em nome da Mesa, associa-se àmanifestação de pesar agora prestada pelo LíderFernando Santana ao inolvidável brasileiro JoãoAgnpIno, ontem desaparecido, que em mais detrês décadas de atuação como Deputado, comoSenador, como Governador e como Ministro,honrou, dignificou e enobreceu a vida pública doPaís.

O Sr. Irajá Rodrigues - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma comunicação, como LíderdoPMDB.

o SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. IRAJÁ RODRIGUES (PMDB- RS.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs.Constituintes:

Há poucos dias, na semana passada, tendo emmãos o Jornal do Brasll, tive o desprazer deler em manchete esta notícia de primeira página:"Maílson muda a economia se o FMI exigir". Fi­quei pensando se esse cidadão seria a1guem dealguma das pequenas repúblicas sul-americanasou centro-americanas, mas aí lembrei-me que eracasualmente este o nome do Ministro da Fazendado Brasil. E senti vergonha!

Quem diz isso diria certamente com a mesmafacilidade: "O Brasil muda de Presidente se o FMIquiser ou se alguma das grandes potências doNorte assim o desejar".

O que se quer, o que se pretende, na verdade,com essa possível aquiescência do Brasil à mu­dança da sua economia se o FMIo desejar?

No jornal Gazeta Mercantil há uma manifes­tação expressa pelos bancos credores ou peloscredores em geral do Brasil, que diz mais ou me­nos o que pode representar isso que o MinistroMaílson acha tão fácil de fazer:

"Os b.ancos credores entendem que a idado Brasil ao Fundo Monetário Internacionalprovocará mudanças substanciais na políticaeconômica do País e reduzirá as necessida­des de financiamento externo para este ano.Dentro da nova política econômica a seracertada com o FMI, os credores esperama firme contração da demanda interna" istoé, esperam que os brasileiros consumammenos, comam menos - "com uma combi­naçã~ de uma nova maxidesvalorizaçãocambiai, o corte dos gastos públicos e a ma­nutenção ~e elevadas taxas de juros, paraque ~ Brasil obtenha este ano superávit co­rnercíal de 13 a 15 bilhões de dólares"

O que isto quer dizer? Quer dizer que o quese pretende é aumentar ainda mais a recessão.O que se pretende é manter altas taxas de jurostiradas de forma escorjante já do trabalhador, doconsumidor, do produtor brasileiro. O que se pre­tende é ver este País, lastimavelmente, engolfadona mais profunda das recessões e para quê? Paraque, tirado todo este "caldo", tirado todo este"sangue", sobrem recursos de 13 a 15 bilhõesde dólares, apenas este ano, para remeter, paratentar, assim, diminuir, sufocar, atender a ganân­cia dos credores internacionais. E, por isto, come­ça, desde logo, uma sucessão de manifestações,através da imprensa nacional, dizendo que o FMIjá não é o mesmo, que vale a pena voltar aosbraços do FMI porque o FMI mudou, agora, eleé desenvolvimentista, preocupa-se com a sortedos países do Terceiro Mundo E é verdade. Umdos antigos. um dos ex-Ministros da época doMilagre Econômico diz o contrário: "O FMI nãomudou nada. O FMljá era bom e continua bom".

Nós entendemos que alguma coisa está errada.No finalda semana passada, a convite do InstitutoSchiller dos Estados Unidos, juntamente com oProf. Décio Garcia Munhoz, estivemos em Boston,para uma reunião com representantes de 44 paí­ses de melhor índice de desenvolvimento. E oque se ouviu lá, nos Estados Unidos. foi a conde­nação geral, de representantes da França, Ingla­terra, de representantes das pequenas repúblicascentro-americanas e representantes de todo oTerceiro Mundo, de que, na verdade, o FMIconti­nua com um modelo recessivo.

,Então, o que me foi dado pensar? É que, na

verdade, o que se estava fazendo era tentandodourar a pílulapara que o povo brasileiro aceitassede bom grado a ida do Brasil para o FMI, corritoda a sua sucessão de recessão, de fome, demiséria.

Mas não foiapenas dos países do Terceiro Mun­do que escutamos isto. Não foi da representaçãodo México, afogada em ver o seu país ha seteanos paralisado, submetendo-se, permanente­mente, à política nociva do Fundo Monetário Inter­nacional. Uma representação americana, maisprecisamente do Estado de Oklahoma, trouxe pa­ra o conhecimento do plenário a decisão da As­sembléia Legislativa de Oklahoma que, em sedirigindo ao Presidente dos Estados Unidos, aoSenado americano, a todos os setores represen­tativos da vida norte-americana, dizia mim enor­me manifesto, extremamente contundente, entreoutras coisas, o seguinte:

"Então, os Estados Unidos devem se dis­sociar e até mesmo se opor às condlclona­!idades do FMI e às políticas ímposltlvas emedidas adotadas por agências supranacio­nais. O suporte às condicionalidades e outrasmedidas impositivas conduzem as desespe­radas populações das nações afetadas a umestad~de insurreição contra os g~vemos queas aceitam ou jogam os aliados dos EstadosUnidos na esfera de influência soviética. Amaneira mais eficiente de anular as condkío­nalidades do FMIé realizar as reformas mo­netária, econômica e de comércio interiordos Estados Unidos e estabelecer tratadoscom governos de outras nações, estabele­cendo-se assim uma nova ordem monetéríainternacional, que seja consistente com 05principíos de Justiça Internacional sobre osquais foram fu~dados os Estados Unidos."

Não é, na verdade, apenas a manifestação derepresentantes do povo americano, nem de repre­sentantes do Terceiro Mundo. Não bastasse isso,temos até mesmo a manifestação de um ban­queiro, o vice-presidente de um dos grandes ban­cos do Japão. Em visita ao nosso Pais, disse queo Brasil jamais deveria fazer a suspensão.da suamoratória senão daqui a dois ou três anos, porqueacabou indo para a mesa de negociações já debraços previamente dados com o Fundo Mone­tário Internacional e sem qualquer respaldo ouresguardo nas suas posições para negociaçlo.Então, por que e como se consegue, neste p~,continuar a dizer - é verdade com o apleusode alguns - que o Brasil tem que ir rapidamentepara os braços do FMI, porque aí, então, nós tere­mos recursos para fazer tudo ,aquilo que não sefaz, por que não se pode, hoje, neste Pais? Aocontrário, se formos ao FMI, certamente este País,este povo não resistirá ao arrocho que se seguir?!a essa Ida, porque a política do FMIcontinua Igual,como diz o nosso ex-Ministro; não mudou nada,e o Brasil não pode esperar nada do FMIe multomenos pode esperar de alguém, Ministro da Fa­zenda deste País, que se dispõe a mudar a polítlcaeconômica do Brasil simplesmente ao primeiroapito do Fundo Monetário Internacional.

O que esperamos é que a Assembléia NacionalConstituinte tenha o discernimento, tenha a capa­cidade, tenha a brasilidade suficiente para por umbasta a esta situação e dizer ao mundo, e dizer

Page 28: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7080 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Fevereiro de 1988

ao Brasil, e dizer aos nosso credores: - Nós nãovamos pagar mais nada! Nós estamos pagandoesta dívida com o apoio do povo, sem FMI,semrecessão, sem desemprego, sem mais arrochosalarial. Porque senão o Brasil se verá engolfado,sem dúvida nenhuma, em uma sangrenta disputa,em uma sangrenta luta, em uma sangrenta rebe­lião de um povo que não suportará mais se verassim esmagado pela ganância internacional.

Mui!o obrigado. (Palrnas.)

O Sr. Luiz Salomão - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma comunicação, como LíderdoPDT.

O SR. PRESIDENlE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. LUIZ SALoMÃo (PDT - RJ) - Sr.Presidente, Sr'; e Srs. Constituintes:

Quero chamar a atenção de todos para o exce­lente artigo, de autoria do jornalista Jorge Cal­deira, publicado hoje no jornal Folha de S. Pau­lo, à pagina 4, onde, sob o título: "Constituintedecide disputa sobre transmissão de dados viasatélite", o ilustre jornalista paulista nos traz infor­mações preciosas para o debate da questão dastelecomunicações neste País. A tecnologia dospread spectrum, a que se refere o jornalistaCaldeira, e realmente um avanço tecnologico queestá sendo disputado por grupos econômicos quepretendem quebrar o monopólio das telecomuni­cações. Destaco um aspecto importante dessadisputa de titãs, na qual estão envolvidos a RedeGlobo e o Bradesco, associados à Victory Inter­nacional, de um lado, e, de outro, todos os usuá­rios dos serviços de telecomunicações e transmis­sões de dados. Nesse artigo consta um depoi­mento, extremamente expressivo, de um dos diri­gentes do Banco Itaú, que reconhece os perigosda quebra do monopólio estatal.

Mas, quero me referir particularmente a umaspecto abordado, en passant, nesse excelenteartigo, que são as punições aplicadas pelo Minis­tério das Comunicações e pela direção da Telerge da Cetel, que promoveram a demissão de 140líderes sindicais e funcionários dessas empresasque não vêm recebendo um tratamento justo daparte do Sr. Ministro das Comunicações, Sr. Antô­nio Carlos Magalhães.

Quero aproveitar este ensejo para fazer de pú­blico um apelo ao Sr. Ministro das Comunicações,que S. Ex' revogue os atos de demissão de funcio­nários que, com 10, 20 anos de casa, técnicosde reconhecida competência, foram punidos pelosimples fato de terem se ahado na luta pela defesado monopólio estatal das telecomunicações. -

Não podem ser punidos esses trabalhadorespelo seu espírito cívico, pelo seu direito de defen­der uma idéia que, de resto, é abraçada tambémpor representantes de grupos econômicos, comoo ltaú, que está contra a quebra do monopólioe reconhece que o sistema Telebrás presta umbom serviço aos usuários do serviço de trans­missão de dados.

Para encerrar, Sr. Presidente, quero registrarque a política é realmente 'dinâmica, porque nasexta e na qumta-feíra, e mesmo na sessão dehoje, assistíamos a protestos dos membros doCentrão porque estavam incluídos nos cartazesdivulgados pela CUT, e hoje verificamos queConstituintes como o nobre Deputado Ricardo

Izar,reivindicam a inclusão de seus nomes nessescartazes Isso significa coerência de posições, por­que reconhece o Constituinte Ricardo Izar quefaz parte do Centrão e que quer constar nos carta­zes da CUT e de outras entidades que estão divul­gando a posição dos Constituintes q~e s: co~si­

deram maioria, mas que, de fato, nao tem tidoa capacidade de colocar, nesse plenário, os du­zentos e oitenta parlamentares que possam ga­rantir a aprovação de suas propostas, e vêm recor­rendo à boa vontade, ao facciosismo mesmo, doPresidente desta Casa que se tem conduzido demaneira a favorecer as posições do grupo chama­do Centrão.

Muito obrígado, Sr. Presidente.

O Sr. Siqueira Campos - Sr. Presidente,peço a palavra para uma comunicação, comoLíder do PDC.

O SR. PRESIDENlE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. SIQUEIRA CAMPOS (PDC - GO.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs.Constituintes inicialmente, o Partido DemocrataCristão solidariza-se com as manifestações de pe­sar feitas, nesta tarde em que a Assembléia Nacio­nal Constituinte se reúne mais uma vez, em razãodo falecimento Ministro João Agripino Filho, polí­tico que honrou a classe politica brasileira, estainstituição, os quadros do Tribunal de Contas daUnião, o Governo da Paraíba, dando uma elevadacontribuição à erradicação das injustiças, do atra­so e do subdesenvolvimento no nosso País.

Quero, Sr. Presidente, em meu nome pessoale em nome do meu Partido, levar ao DeputadoJoão Agnpino e a sua ExrnsSI" Dona Sônia, ascondolências, a solidariedade da democracia cris­tã brasileira em razão da perda que sofrem a Paraí­ba e o País com o falecimento do ex-senador,ex-ministro, ex-governador, ex-deputado esta­dual, ex-vereador, João Agripino Filho. E de la­mentar-se, realmente, que, num período de transi­ção como este que a Nação vive, um dos seusexponenciais valores venha a fazer falta nas con­versações, nos entendimentos para definir os ru­mos da Nação brasileira.

E, também, Sr. Presidente, o Partido DemocrataCristão vem mostrar aqui as dificuldades da agri­'cultura brasileira. Elas podem ser vistas por umadas coisas atraves das quais se manifesta: o nú­mero de tratores que estão à venda, oferecidosnas colunas dos classificados dos jornais brasi­leiros, inclusive do Correio Braziliense, a preçobaixíssimo. Tratores que custam dois milhões decruzados estão à venda por duzentos cruzados.Há agricultores que estão entregando tratores aosbancos, por esses financiados, porque não podempagar o financiamento. Os bancos não queremsó os tratores, querem, também, as propriedadesdos agricultores.

A agricultura, com as dificuldades que está atra­vessando, Sr. Presidente, submetida a preços mí­nimos sempre insuficientes, muito em desacordocom a lníleção,está em situação desesperadora,principalmente porque o custo do financiamento,os preços dos insumos, os preços de todos aque­les materiais utilizados, tais como defensivos, tra­tores, colheitadeiras, acessórios, ferramentas,cornbustívels e lubrificantes, sobem cada vezmais, enquanto o preço mínimo sempre fica abai­xo da inflação. E o Governo, agora, está falando,

depois de estabelecer a correção monetária plen~,

depois de estabelecer juros a1t?S, em tir~~o SU':,SI­dio à agricultura. Não quer tirar SUbSldlOS, .nao,quer é fazer com que a agricultura sofra maioresdanos com a carga tributária, principalmente oImposto de Renda, que quer jogar em cima dosagricultores do Brasil.

O Sr. Jamll Haddad - Lider do PSB - Sr.Presidente peço a palavra para uma comunica­ção.

O SR. PRESIDENlE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. JAMIL HADDAD (PSB - RJ. Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Consti­tuintes:

Como representante do Estado do Riode Janei­ro no Senado Federal, trazemos aqui uma palavrade solidariedade aos petropolitanos, neste mo­mento triste que aflige aquele Município do Esta­do do Rio de Janeiro.

Segundo as últimas notícias, Sr. Presidente, Srs.Constituintes, mais de 300 irmãos nossos, do Es­tado do Rio de Janeiro, já teriam falecido emPetrópolis, apos a tromba dágua que ali caiu.

Sr. Presidente, não e a primeira nem a segundavez que acidentes desse tipo vêm ocorrendo naregião serrana do Estado do Rio de Janeiro, €'

as providências que deveriam ter sido tomadas,há muito tempo, até hoje não o foram.

LI um artigo, hoje, na Folha de S. Paulo, dojornalista Newton Rodrigues, que espero não sejaverdadeiro, porque ali, declara-se, taxativamente,que o dinheiro solicitado pelas autoridades doEstado do Rio de Janeiro, para obras no sentidode se evitarem acidentes como os que lá ocorre­ram, não havia sido concedido, em razão da posi­ção do Governador do meu Estado a favor dosquatro anos de mandato para o Presidente daRepública. ,

Não quero acreditar que sejam verdadeiras es­sas declarações, porque, Sr. Presidente, é querer,na realidade, brincar com a vida humana. Nossasolidariedade ao povo petropolitano e a certezade que podem contar nesta Casa com a Bancadado Estado do Rio de Janeiro, inicialmente, parareconstruir aquela cidade que, praticamente, des­moronou e, em segundo lugar, para lutar em prolda execução de suas obras indispensáveis, paraevitar que novamente estejamos nesta tribuna la­mentando a perda de vidas preciosas.

Sr. Presidente, quero aproveitar estes últimosinstantes do meu pronunciamento, como mem­bro do Partido Socialista Brasileiro, para me soli­darizar com os ferroviários do nosso País Espera­mos que hoje. nas negociações que estão sendofeitas, o compromisso governamental seja cum­prido e que seja pago aos ferroviários o que lhesé devido, para que possam voltar ao seu trabalhoem condições mais justas e humanas.

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Muito bem!)

O Sr. Haroldo Uma - Líder do PC do B-Sr. Presidente, peço a palavra para uma comu­nicação.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. HAROLDO LIMA (pC do B - BA.Sem revisão do orador.) Sr. Presidente, Srs, Cons­tituintes:

Page 29: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAOONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7081

São três destaques que eu, na tarde de hoje,quero fazer aos nobres colegas Constituintes Oprimeiro deles é me solidarizar com o Sindicatodos Trabalhadores Rurais de Pontas, no EspíritoSanto, e com o Partido dos Trabalhadores daque­le Estado, enlutados pelo assassinato do Presi­dente do Sindicato, Francisco Domingos Ramos,barbaramente assassinado sexta-feira passada,numa tocaia montada por latifundiários, exata­mente porque o companheiro Francisco Domin­gos Ramos era um digno Presidente do Sindicato,lutador pela causa dos camponeses e pela refor­ma agrária.

O segundo destaque, Sr. Presidente, diz res­peito à movimentação que estamos fazendo nestaCasa, em busca de um entendimento para proce­der às votações relativas à questão da propriedadee à questão da estabilidade para os trabalhadores.O Partido Comunista do Brasil tem participadodesses esforços, que diversos setores estão fazen­do, com a finalidade de chegar a um entendi­mento básico, que permita a votação dessas ma­térias. No que dizrespeito a nós, no entanto, gosta­ríamos de dizer que somos um Partido pequenonesta Casa, e que a nossa posição não é impe­ditiva a nenhum tipo de votação, como tambémnão temos força para alterar nenhum tipo de ten­dência nesta Casa. Contudo, temos a nossa con­vicção e o nosso compromisso com os princípiosque defendemos. Neste sentido, todo o nossoesforço está sendo para fazer com que, no quediz respeito à votação relativa à propriedade, nãoaceitar e não participar de qualquer acordo quenão estabeleça a subordinação da propriedade,do exercício da propriedade, da sua função social,e que não preveja, também, que a desapropriaçãodas propriedades deva ser feita apenas com justae prévia indenização, que não se estabeleça comoum princípio geral e básico a ser firmado no inícioda Constituição, porque essa desapropriação de­verá ser feita com justa e prévia indenização emdinheiro, princípio este que não é o princípio geral,não existe em nenhuma Constituição do mundocapitalista mais avançado, só existindo aqui noBrasil desde 1946, por força de imposição dolatifúndio representada na Constituinte daqueleano, e mesmo na Constituição feita e outorgadapelos generais, nem mesmo este princípio existeda forma pela qual alguns querem impor, comoo Centrão nesta Constituinte.

O terceiro ponto, Sr. Presidente, para encerrareste comunicado de Liderança do PC do B, éque dentre em pouco estamos prevendo a possi­bilidade de realizarmos votação. Ela foi convo­cada, pois hoje é dia útil de trabalho de todosos Constituintes. Pelo que dizem os jornais, e peloque estamos sabendo em função das informa­ções, que já circulam pelos bastidores desta Casa,o Centrão não dará quorum, e, por conseguinte,não haverá votação.

Ora, Sr. Presidente, o Centrão não dará quo­rum, não haverá votação, e com isto estamosfirmando uma metodologia de que só haverá vo­tação na Casa quando o Centrão quiser, quandoo Presidente Ulysses Guimarães quiser, quandolhe estiver assegurado que o Centrão vai ganhar,e quando não se esconder a votação. Queremosfirmar mais uma vez o nosso protesto, porqueo povo brasileiro, empobrecido e marginalizado,paga, diga-se de passagem, regiamente a nóstodos Constituintes, para aqui estarmos votando

esta Constituição, de segunda a sexta-feira. Entre­tanto, os Constituintes aqui não vêm, recebemo mesmo salário, coisa que nãoacontece contudocom os trabalhadores comuns de nosso Pais. En­tretanto, estes Constituintes ausentes recebemseus subsidies integralmente, procurando forma­lizar um mecanismo que só se pode votar nestaCasa às quartas-feiras, quando eles estão aquipresentes, e olhe lá se estiverem na quinta-feira!

O nosso protesto, Sr. Presidente, a nossa expec­tativa é de que, sob a Presidência de V.Ex', daquia pouco, ponhamos em votação ~ matéria empauta; se não houver quorum, a Mesa libere omais rápido possível, para o povo brasileiro, onome de todos os Constituintes que aqui nãoestiveram na tarde de hoje. '

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. (Muitobem! Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Encerrado o período de Comunicações de lide­ranças, a Presidência deseja transmitir uma co­municação do Presidente do Congresso Nacional,Senador Humberto Lucena: amanhã, às 9 horase 30 minutos, neste plenário, será realizada ul'(lasessão do Congresso Nacional, destinada à vota­ção do Requerimento nó 1, de 1988 - CN eà apreciação de matérias em regime de urgência

O SR. PRESIDENTE (Mãuro Benevides)­

COMPARECEMftWS OS SENHORES:

AcivalGomes - PMDB; Adauto Pereira- PDS;Adhemar de Barros Filho - PDT;Affonso Camar­go - PTB;AfifDomingos - PL;Agassiz Almeida- PMDB; Agripino de OliveiraLima-PFL;AirtonCordeiro - PFL; Airton Sandoval - PMDB; Ala­rico Abib - PMDB; Albano Franco - PMDB;Aldo Arantes - PC do B; Alexandre Puzyna ­PMDB; AloisioVasconcelos - PMDB; ÁlvaroValle- PL; Alysson Paulinelli- PFL; Amilcar Moreira- PMDB; Ângelo Magalhães - PFL;Annibal Bar-cellos - PFL;Antero de Barros - PMDB; AntônioBritto- PMDB; Antônio Câmara - PMDB; Anto­niocarlos Mendes Thame - PFL; Antonio Farias- PMB;Antonio Gaspar - PMDB;Antonio Mariz- PMDB; Amaldo Martins- PMDB; Arnaldo Prie-to - PFL;Arolde de Oliveira- PFL;ArtenirWer­ner - PDS; Asdrubal Bentes - PMDB; Assis Ca­nuto - PFL; Áureo Mello - PMDB; BenedictoMonteiro - PMDB; Beth Azize - PSB; BocayuvaCunha - PDT;Carlos Alberto Caó - PDT;CarlosCotta - PMDB; Carlos Vinagre - PMDB; CarrelBenevides - PMDB; Célio de Castro - PMDB;Celso Dourado - PMDB; Chagas Duarte - PFL;Chico Humberto - PDT; Christóvam Chiaradia- PFL;Cid Sabóia de Carvalho - PMDB; CláudioÁvila- PFL; Cleonâncio Fonseca - PFL; CostaFerreira - PFL;CristinaTavares - PMDB; CunhaBueno - PDS; Darcy Deitos - PMDB; DaviAlvesSilva- PDS; Del Bosco Amaral- PMDB; DelfimNetto - PDS; Délio Braz - PMDB; Dionisio DalPrá- PFL; Dirce Tutu Quadros - PTB; DirceuCarneiro - PMDB; Divaldo Suruagy - PFL; Dje­nal Gonçalves - PMDB; Domingos Leonelli ­PMDB; Edésio Frias - PDT; Edme Tavares ­PFL;Eduardo Bonfim - PC do B;Eduardo Jorge- PT;Eduardo Moreira- PMDB; Egídio FerreiraLima-PMDB; Enoc Vieira- PFL;Eraldo Tinoco- PFL; Eraldo Trindade - PFL; Erico Pegoraro- PFL; Eunice Michiles - PFL; Ézio Ferreira- PFL;Fábio Raunheitti - PTB;Farabulini Júnior

- PTB;Fausto Fernandes - PMDB; Feres Nader. - PDT; Fernando Bezerra Coelho - PMDB; Fer­nando Cunha - PMDB; Fernando Gasparian ­PMDB; Fernando Gomes - PMDB; FernandoSantana - PCB;FIrmo de Castro - PMDB; Fran­cisco Coelho - PFL;Francisco Dornelles - PFL;Francisco Pinto - PMDB; Francisco Rossi ­PTB; Gandi Jamil,- PfL; Gastone Righi - PTB;Geraldo Fleming - PMDB; Geraldo Melo ­PMDB; Gerson Peres - PDS; Gidel Dantas -

, PMDB; Gilson Machado - PFL; Guilherme Pal­meira - PFL; Harlan Gadelha - PMDB; HaroidoUma - PC do B; Haroldo Sabóia - PMDB; HélioCosta - Pf1DB; Hélio Duque - ,PMDB; HélioManhães - PMDB; Hélio Rosas - PMDB; Henri­que Córdova - PDS; Hermes Zaneti - Pl'mB;HilárioBraun - PMDB; Homero Santos - PFL;Humberto Souto - PFL; Irajá Rodrigues ­PMDB; Itamar Franco- ; IvoMainardi- PMDB;Jairo Ali ,- PFL; Jamil Haddad - PSB; .JesseFreire - PFL; Jesus Tajra - PFL; João Calmon- PMDB; João de Deus Antunes - PDT; JoãoMenezes - PFL;João Natal-PMDB; João Paulo- PT;João Rezek- PMDB; Joaquim Bevilacqua- PTB;Joaquim Francisco - PFL;Joaquim Su-cena - PMDB; Jonas Pinheiro - PFL;Jorge Leite- PMDB; José Camargo - PFL; José .CarlosCoutinho - PL~ José Carlos Grecco - PMDB;José Carlos Sabóia - PMDB; José Carlos Vascon­celos - PMDB; José da Conceição - PMDB;José Dutra - PMDB; José Egreja -;- PTB; joséElias - PTB;José Elias Murad - PTB;Jose Fer­nandes - PDT;José Fogaça - PMDB; Jose Ge­raldo - PMDB; José Ignácio Ferreira - PMDB;José Jorge - PFL; José Luiz de Sá - PL;.JoseLuiz M,aia - PDS; José Maria Eymael - PDC;José Maurício- PDT;José Melo - PMDB; JoséMendonça Bezerra - PFL; José Moura - PFL;José Paulo Bisol - PMDB; José Queiroz - PFL;

. José Santana de Vasconcellos - PFL; .loce T<:i-'xeíra - PFL; José Tinoco - PFL; José Viana- PMDB; Juarez Antunes - PDT;Júlio Campco.- PFL; Júlio Costamilan - PMDB; Koyu lha -PMDB; LaelVarella-PFL; LeiteChaves-PMDB;Leopoldo Bessone - PMDB; Leopoldo Peres ­PMDB; Leur Lomanto - PFL; Lezio.Sathler ­

'PMDB; Louremberg Nunes Rocha - PMDB; Lú­cia Braga - PFL; Lúcia Vânia - PMDB; LuizAlberto Rodrigues - PMDB; LuizFreire - PMDS;Luiz Gushiken - PT; Lysâneas Maciel" PDTiManoel Castro - PFL; Manoel Moreira - PMDB;Mansueto de Lavor - PMDB; Manuel Viam ­PMDB; Marcelo Cordeiro - PMDB; Mariade Lour­des Abadia - PFL; Mário Assad - pF.L; MarlucePinto - PTB; Matheus Iensen - PMDB; MauncioCampos - PFL; Maurício Fruet - PMDB; Mau­rício Nasser - PMDB; Maurício Padua - PMDB;MaxRosenmann - PMDB; Meira Filho - PMDB;Melo Freire - PMDB;MelloReis - PDS: Me,miasGóis - PFL; Milton Barbosa - PMDB: MiraldoGomes - PMDB; MiroTeixeira - PMDB; MoemaSão Thiago - PDT;Mussa Dernes - PFL;MyrianPortella - PDS; Nabor Júnior - Pf'\DB;NaphtaliAlvesde Souza - PMDB; Narcíso Mendes - RDS;Nelson Sabrá - PFL; Nelson Seixas - PDT; Nel­

.ton Friedrich - PMDB; Nestor Duarte - PMDB;NilsoSguarezi - PMDB; Nion A1bernaz - PMbB;Nyder Barbosa- PMDB; Octávio Elísio- PMDB;Olavo Pires - PMDB; Orlando Bezerra - PFL;Orlando Pacheco - PFL; Osmir Lima -;- PMDBiOsmundo Rebouças - PMDB; Osvaldo Coelho

Page 30: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7082 Terça-feira 9t

DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSfiUlNTE Fevereiro de 1988

- PFL; Oswaldo Almeida - PL; Ottomar Pinto- PTB; Paulo Delgado - PT; Paulo Macarini - 'PMDB; Paulo Mincarone - PMDB; Paulo Paim- PT; Paulo Pimentel - PFL; Paulo Ramos ­PMDB; Paulo Roberto - PMDB; Paulo RobertoCunha .....PDC;Paulo Silva- PMDB;Pedro Ceolin~ PFL; Plínio Arruda Sampaio - PT; RaimundoBezerra - PMDB; Raimundo Rezende - PMDB;Raquel Capiberibe - PMDB; Raul Ferraz ­PMDB; Renato Vianna - PMDB; Ricardo-Fiuza- PFL; Ricardo Izar - PFL; Rita Camata ­PMDB; Roberto Augusto - PTB; Roberto Brant- PMDB;Roberto D'Ávila- PDT; Roberto Freire- PCB; Roberto Torres - PTB; Ronaldo Aragão- PMDB; Ronaldo Carvalho - PMDB; RonaroCorrêa - PFL; Rosa Prata - PMDB;Rubem Bran­quinho - PMDB; Ruy Bacelar - PMDB; SalatielCarvalho - PFL; Samir Achôa - PMDB; SauloQueiroz - PFL; Sérgio Spada - PMDB; SérgioWerneck - PMDB;Severo Gomes - PMDB;Síl­vio Abreu - PMDB; Sólon Borges dos Reis ­PTB; Stélio Dias - PFL; Telmo Kirst - PDS;Tito Costa - PMDB; Ubiratan Aguiar ~ PMDB;Ubiratan Spinelli - PDS; Uldurico Pinto - PMDB;Valter Pereira - PMDB; Vasco Alves - PMDB;Victor Fontana - PFL; Vilson Souza - PMDB;Vingt Rosado - PMDB; Virgildásio de Senna ­PMDB;Virgílio Galassi - PDS; Virgílio Guimàrães- PT; Virgflio Távora - PDS; Vladimir Palmeira- PT; Wagner Lago ...!...- PMDB; Waldec Ornélas- PFL; Waldyr Pugliesi - PMDB; Walmor deLuca - PMDB; Zíza Valadares - PMDB.

A SI"" lJma Passoni - Sr. Presidente, peçoa palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) _Tem a palavra a Sr' Constituinte Irma Passoni,pela ordem.

A SRA. IRMA PASSONI (PT - SP. Semrevisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Consti­tuintes:

Gostaria de solicitar àMe~ e aos companheirosdo plenario, sejam Parlamentares, jornalistas oufuncionários, que, permanecendo cerca de oitaa dez horas p'0r dia neste plenário fechado, e todosfumando; fica'um ar totalmente viciado, onde nãodá para sobrevívermos. Para o nosso bem-estarcomum, para que exerçamos o direito de todosrespirarem,' solicitamos, encerecidamente, quehaja menos fumantes no plenário. -

Era o que tinha a dizer. (Muito bem! Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) _A Presidência esclarece à nobre Constituinte IrmaPassoni que o Regimento preceitua a vedaçãoapenas- para aqueles que se situam na Mesa ounas tribunas da Casa. Entretanto, o apelo queS. Ex> acaba de transmitir, a Presidência entendeque ele foi acolhido pela manifestação de aplau­sos dos Srs. Constituintes. Aqueles que desejaremfumar, que o façam noutras dependências, forado plenário da Casa.

O Sr. Victor Faccioni - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma questão de ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Líder Victor Faccioni, parauma questão de ordem.

O SR. VICTOR FACCIONI (PDS - RS. Pa~auma questão de ordem.) - Sr. Presidente, S....e Srs. Constituintes: t '-

Estamos comunicando à Mesa que iremos en­caminhar um pedido de informações, com vistasa esclarecer em que termos o Senhor Presidenteda República José Sarney está hoje na Colômbia,firmando um acordo que nos parece prejudicialao Brasil, permitindo a compra de carvão colom­biano, em detrimento do carvão brasíleiro,

Ainda há pouco, observava muito bem o Consti­tuinte Henrique Córdova, ao dizer que este Gover­no, através de acordos internacionais, acaboucom a comercialização do alho e da maçã nacio­nal. E, agora, compromete a possibilidade de co­mercialização do carvão brasileiro. O Brasil é o15° produtor mundial de carvão. Enquanto a Rús­sia consome 900 milhões de toneladas de carvãolano, a China 715 milhões, 05 Estados Unidos700 milhões, o Brasil está consumindo apenas7 milhões de toneladas. Porque lá em Santa Cata­rina, lá no Rio Grande do Sul e em outras jazidasmais do Brasil o carvão está relegado ao esqueci­mento; enquanto isso, o Senhor Presidente daRepública vai à Colômbia firmar um acordo preju­dicial ao interesse da economia nacional.

Ocorre ainda, Sr. Presidente, que este mesmoacordo foi posto no Governo anterior, mas, tantoo então Ministro das Minas e Energia Cesar Cals,como o próprio Presidente à época, João FIguei­redo, refluíram da idéia e desistiram de firmaro acordo do carvão colombiano, ao qual, parasurpresa nossa, retoma, em termos definitivos,o Governo atual.

Tal acordo deverá ser submetido à Câmara eao Senado, e nós gostaríamos de iniciar desdelogo o mais detido exame da matéria.

Daí por que, Sr. Presidente, estaremos encarm­nhando, com o nosso protesto, um pedido deinformações que esperamos não venha a ter odestino de outros tantos já encaminhados e aomissão, às vezes da Mesa e as mais das vezesdo próprio Poder Executivo.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência aguardará que o nobre ConstituinteVictorFaccioni encaminhe à Mesa o requerimentode informações, agora referenciado e a ele dare­mos o seguimento preceituado pelo Regimento.

Quanto às solicitações e pedidos anteriores,mencionados pelo nobre Líder VIctor Faccioni,~ Mesa esclarece que todos os pedidos foramencaminhados, conforme determina a nossa leiinterna, ao Chefe do Gabinete Civilda Presidênciada República. Não houve. em nenhum momento,negligência ou desídia da Mesa incumbida de diri­gir os trabalhos da Assembléia Nacional Cons­tituinte.

O SR. VICTOR FACCIONI - Agradeço aoPresidente essa preciosa informação.

Já que, no dizer de V. Ex', os requerimentosforam encaminhados, fica claro, então. a respon­sabilidade do Poder Executivo, ao não atendê-los.

O Sr: Paulo Ramos - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma questão do ordem.

, O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) _Tem a palavra o Sr. Constituinte Paulo Ramospara uma questão de ordem.

O SR. PAULO RAMOS (PMDB - RJ. Parauma questão de ordem. Sem revisão do orador.)

- Sr. Presidente. S.... e Srs. Constituintes:Todos os Constituintes estão acompanhando

a greve dos ferroviários. Tive a oportunidade,acompanhado dos Constituintes Edmilson Vale­tím, Francisco Küster e Nelton Friedrich, de estarpresente ao Tribunal Superior do Trabalho, nomomento em que seria prolatada a decisão doMinistro daquela Corte. Entretanto, a solução quese encaminha há de levar este País a uma situaçãode crise maior. visto que o Governo Federal mani­festa a sua intransigência Hoje, às 18 horas, serádada a decisão final e é preciso que os Srs. Consti­tuintes - compreendendo a gravidade do me­mento, visto que a cateqona, inclusive, vem sendoameaçada não só com demissões em massa mascom intervenções das Forças Armadas - sejamavisados, por V. &. Sr. Presidente, que hoje. às18 horas, teremos a solução dessa situação atra­vés do Ministro do Tribunal Superior do Trabalho.e seria importante, pela responsabilidade que te­mos como Constituintes, que todos nós lá estives­semos presentes porque a greve dos ferroviários,pela intransigência do Governo, caminha parauma crise muito séria para este País. As 18 horas,todos deveremos estar no Tribunal Superior doTrabalho para assumir nossas responsabilídadescomo Constituintes.

Sr. Presidente. este, o pedido que eu desejavafazer.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) -V. EX' já se incumbiu, ao utilizar o microfone,de transmitir aos Srs. Constituintes a notícia perti­nente à decisão do Egrégio Tribunal Superior doTrabalho sobre a greve dos ferroviários.

O Sr. José Genoíno - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma questão de ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o Sr. Constituinte José Genoínopara uma questão de ordem.

O SR. JOSÉ GENOÍNO (PT- SP. Para umaquestão de ordem. Sem revisão do orador.)

Sr. Presidente:É a seguinte questão de ordem que formulo.

Nos termos regimentais, solicito à Mesa da As­sembléia Nacional Constituinte a verificação dequorum para a constatação se há 280 Consti­tuintes no plenário a fim de que se processe avotação da matéria constitucional.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência esclarece ao nobre LíderJosé Ge­noíno que, ao anunciar a Ordem do Dia e aonotificar à Casa o número de presenças, adotaráas providências necessárias para que os Srs.Constituintes que se encontram em seus gabine­tes se desloquem até o plenário para o processa­mento da votação.

O SR. PRESIDENTE' (Mauro Benevides) ­A lista de presença registra o comparecimentode 260 Srs. Constituintes.

Antes de passarmos à Ordem do Dia, solicitoà Secretaria Geral o acionamento das campainhasdurante dez minutos para que os Srs, Constituin­tes que se encontram em seus gabinetes se deslo­quem para este plenário. Ficam, portanto, suspen­sos os trabalhos por dez minutos após o que

Page 31: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 mARIo DA ASSEMBLÉIA NAOONAL CONSTITUINTE. I

Terça-feira 9 7083

processaremos a votação, existindo, evidente­mente, quorum neste plenário.

Está suspensa a sessão.(Suspensa às 16 horas e 4 minutos, a ses­

são é reaberta às 16 horas e 12 minutos.)

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Está reaberta a sessão.

A Presidência pede aos Srs.- Constituintes quetomem assento nas suas respectivas bancadas,porque se vai proceder, à verificação através dopainel eletrônico, cada qual registrando a tecla"Sim" dentro da processualística que tem sidoseguida nas votações anteriores. Como estavampresentes apenas 260 Srs. Constituintes, a Mesadiligenciou, antes de iniciar a Ordem do Dia, nosentido de serem acionadas as campainhas e osSrs. Constituintes pudessem deslocar-se dos seusgabinetes para o plenário, a fim de ser verificadoo quorum se há ou não condições de se proces­sar agora a votação da matéria inserida na Ordemdo Dia.

O Sr. Luiz Salomão - Pela ordem, Sr. Presi­dente.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o Sr. Constituinte Luiz Salomão.

O SR. unz SALoMÃo - Encareço a V.Ex" que, nos termos do projeto de resolução deminha autoria e dos Deputados Paulo Delgadoe Octávio Elísio, a Mesa forneça aos Constituintese à Imprensa a relação dos Constituintes presen­tes e ausentes, até que seja, finalmente, deliberadoo projeto de resolução de nossa autoria. Muitoobrigado.

O SR. PRESIDENTE' (Mauro Benevides) ­Ao Presidência esclarece ao nobre Uder LuizSalo­mão que, de todas as votações, a Secretaria Geralda Mesa encaminha à Imprensa as respectivaslistas de votação.

Pedimos aos Srs. Constituintes que tomem as­sento nas respectivas bancadas.

O SR. MÁRIO COVAS-Sr. Presidente, pelaordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Líder Mário Covas.

O SR. MÁRIO COVAS - Sr. Presidente, V.Ex' não fará, meramente, uma verificação de vota­ção; fará a votação e, através dela, verificará onúmero, é isso?

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­J:: uma verificação de quorum nobre Líder, por­que, ao anunciar a Ordem do Dia, a SecretariaGeral informou que apenas 260 Srs. Constituintesse encontravam na Casa. Então, para dissipar adúvida, a Mesa adotou esse procedimento, paraque se constatasse se, de fato, teríamos quorumpara se proceder à votação. Se presentes, na verifi­cação a ser feita, 280 Constituintes, aí, sim, dare­mos cumprimento à Ordem do Dia já estabe­lecida para a sessão de hoje.

Os presentes acionarão a tecla "Sim" para éa­racterizar a sua presença neste plenário. Portanto,a Presidência apela para que os Srs, Constituintestomem assento nas respectivas bancadas.

A Presidência pede aos Srs, Constituintes queestavam nas bancadas cujas teclas não funcio­naram porque não foram acionadas ou porquehouve algum defeito, que busquem, nos postos

avulsos, o exercício da consignação da respectivapresença.

(Procede-se à verificaçiio.)

O Sr. Del Bosco Amaral - Sr. Presidente,peço a palavra para uma observação.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem V.Ex"a palavra.

O SR. DEL BOSCO AMARAL (PMDB ­SP) - Sr. Presidente, Sr'" e Srs, Constituintes:

Quero deixar claro a esta Casa que em facedas publicações nos jornais, notícias nas televi­sões e rádios, este Constituinte Del Bosco Amaral,Carteira rr 274, não aceita qualquer orientaçãode Liderança partidária ou de suposto líder degrupo suprapartídérío, para se abster ou a nãodar número nas sessões da Constituinte.

Fica desautorizado qualquer cidadão nesta Ca­sa, qualquer Constituinte, falar por este Parlamen­tar, para não dar número na Constituinte. Orientarum voto é outra coisa, agora, não dar número,é outra. Fica desautorizado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Casa fica empenhada.

Prossegue a constatação de quorum, nos pos­tos avulsos.

O Sr. Gastone Righi - Atingido o quorum,Sr. Presidente, é praxe suspender a verficação.

O Sr. José Genoíno - Pela ordem,Sr. Presi­dente.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra V. Ex".

O SR. JOSé GENOíNO - Sr. Presidente,solicitei a verificação de quorum e insisto quea Mesa processe...

O Sr. GastoneRig!." -Masjá existe quorum.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Estamos, praticamente, com a presença dos Srs.Constituintes nos postos avulsos, nos instantesfinais da constatação de quorum.

A Presidência pede aos Srs. Constituintes queultimem essa tarefa a fim de que se processea Ordem do Dia constante do avulso já distribuído.

(Continua a votação.)A Presidência consulta se todos os Srs. Consti­

tuintes já exercitaram o seu direito de registroà presença nos postos avulsos?

O Sr. Antônio Câmara -Sr. Presidente, peçoa palavra, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o Sr. Constituinte Antônio Câmara,

, pela ordem.

O SR. ANTÔNIO CÂMARA (PMDB- RN.)- Sr. Presidente, vai ser posto em votação, agora,o direito de propriedade, fruto do acordo que seestava buscando? É isto que a Presidência vai

, colocar?

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) -V.Ex"aguarde alguns instantes que a Mesa anun­ciará a matéria que será votada, já que está virtual­mente caracterizada a existência de quorum pelamanifestação no computador.

O SR. ANTÔNIO CÂMARA - Agradeço aV. Ex'

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Há ainda algum dos Srs. Constituintes faltandoregistrar a presença nos postos avulsos? (Pausa.)

AMesa vai declarar encerrada a fase de registrode presença nos postos avulsos.

Se houver defeito no posto avulso à direita 03Srs, Constituinte poderão procurar o posto situa­do à esquerda da Presidência. (Pausa.)

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Encerrada a consignação das presenças atravésdos postos avulsos, vai-se proceder à apuração.

(Procede-se à apuração.)

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Mesa vai proclamar o resultado da verificação Ide quorum:

SIM-315NÃO-2.ABSTENÇÃO - 6TOTAL-323

Há número para deliberação.Declararam presença os Srs, Constituintes:

Presidente Mauro BenevidesAcival Gomes - Sim.Adauto Pereira - Sim.Ademir Andrade - Sim.Adhemar de Barros Filho - Sim.Adolfo Oliveira - Sim.Adroaldo Streck - Sim.Adylson Motta - Sim.Aécio de Borba - Sim.Affonso Camargo - Sim.Agassiz Almeida - Sim.Airton Cordeiro - Sim.Airton Sandoval - Sim.Albano Franco - Sim.Alceni Guerra - Sim.Aldo Arantes - Sim.Alexandre Puzyna - Sim.Aloisio Vasconcelos - Sim.Aloysio Chaves - Sim.Álvaro Valle- Sim.Alysson Paulinelli - Sim.Amaral Netto - Sim.Antero de Barros - Sim.Antônio Britto - Sim.Antônio Câmara - Sim.Antôniocarlos Konder Reis - Sim.Antoniocarlos Mendes Thame - Sim.Antônio de Jesus - Sim.Antonio Farias - Sim.Antonio Ferreira - Sim.Antonio Gaspar - Sim.Amaldo Martins - Sim.Arolde de Oliveira - Sim.Artenir Werner - Sim.Artur da Távola -·Sim.Asdrubal Bentes - Sim.Assis Canuto - Sim.Augusto Carvalho - Sim.Basílio VJ.!lani - Sim.Benedicto Monteiro - Sim.Benedita da Silva - Sim.Benito Gama - Sim.Bernardo Cabral- Sim.Beth Azize- Sim.Bezerra de Melo - Sim.Bocayuva Cunha - Snn.Bonifácio de Andrada - Sim.

Page 32: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7084 Terça-feira 9

Brandão Monteiro - Sim.Carlos Alberto Caó - Sim.Carlos Chiarelli- Sim.Carlos Cotta - Sim.Cârlos Mosconi - Sim.Carlos SantAnna - Sim.Carlos Vinagre - Sim.Carlos Virgílio - Sim.Carrel Benevides - Sim.Cássio Cunha Lima - Sim.Célio de Castro - Sim.Celso Dourado - Sim.César Maia- Sim.Chagas Neto - Sim.Chagas Rodrigues - Sim.Christóvam Chiaradia - Sim.Cid Sabóia de Carvalho - Sim.Gáudio Ávila- Sim.Costa Ferreira - Sim.Cristina Tavares - Sim.Darcy Deitos - Sim.Darcy Pozza - Sim.DaviAlves Silva - Sim.Del Bosco Amaral- Sim.Delfim Netto - Sim.Dirce Tutu Quadros - Sim.Dirceu Carneiro - Sim.Divaldo Suruagy - Sim.Djenal Gonçalves - Sim.Domingos LeoneUi - Não.Edésio Frias - Sim.Edivaldo Motta - Sim.Edme Tavares - Sim.Edmilson Valentim - Sim.Eduardo Bonfim - Sim.Eduardo Jorge - Sim.Eduardo Moreira - Sim.Egídio Ferreira Uma - Sim.Eliel Rodrigues - Sim.Eraldo Tinoco - Sim.Eraldo Trindade - Sim.Erico Pegoraro - Sim.Eunice Michiles- Sim.Evaldo Gonçalves - Sim.Ézio Ferreira - Sim.Fábio Feldmann - Sim.Farabulini Júnior - Sim.Fausto Fernandes - Sim.Felipe Mendes - Sim.Fernando Bezerra Coelho - Sim.Fernando Cunha - Sim.Fernando Gasparian - Sim.Fernando Gomes - Sim.Fernando Henrique Cardoso - Sim.Fernando Santana - Sim.Firmo de Castro - Sim.Florestan Fernandes - Sim.Floríceno Paixão - Sim.Francisco Küster - Sim.Francisco Pinto - Sim.Francisco Rollemberg - Sim.Francisco Rossi - Sim.Gabriel Guerreiro - Sim.Gastone Righi - Sim.Geraldo Alckmin filho - Sim.Geraldo Campos - Sim.Geraldo Fleming - Sim.Geraldo Melo- Sim.Gerson Camata - Sim.Gerson Peres - Sim.Gidel Dantas - Sim.

DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

Guilherme Palmeira - Sim.Gumercindo Milhomem - Sim.Haroldo Uma - SimHaroldo Sabóia - Sim.Hélio Costa - Sim.Hélio Duque - Sim.Hélio Manhães - Sim.Hélio Rosas - Sim.Henrique Córdova - Sim.Hermes Zaneti - Sim.Homero Santos - Sim.Ibsen Pinheiro - Sim.Inocêncio Oliveira- Sim.IrajdRodrigues - Sim.Iram Saraiva - Sim.Irma Passoni - Sim.Itamar Franco - Sim.Ivo Lech - Sim.IvoMainardi - Sim,IvoVanderlinde - Sim.Jacy Scanagatta - SIm.Jairo Azi- Sim.Jamil Haddad - Sim.Jarbas Passarinho - Sim.Jesus Tajra - Sim.João Calmon - Sim.João de Deus Antunes - Sim.João Natal- Sim.João Paulo - Sim.João Rezek - Sim.Joaquim Bevilacqua - Sim.Joaquim FranCISCo - Sim.Joaquim Sucena - Sim.Jofran Frejat - Sim.Jonas Pinheiro -.gim.Jonival Lucas - Sim.Jorge Arbage - Sim.Jorge Bornhausen - Sim.Jorge Hage - Sim.Jorge Leite - Sim.Jorge Uequed - Sim.Jorge Vianna - Sim.José Camargo - Sim.José Carlos Grecco - Sim.José Carlos Sabóia - Sim.José Carlos Vasconcelos - Sim.José da Conceição - Sim.José Dutra - Sim.josé Egreja - Sim.José Elias - Sim.José Elias Murad - Sim.José Fernandes - Sim.José Fogaça - Sim.José Genoíno - Sim..PT;José Geraldo - Sim.José Guedes - Sim.José Ignácio Ferreira - Sim.José Jorge - Sim.José Luizde Sá - Sim.José LuizMaia- Sim.José Maurício - Sim.José Queiroz - Sim.José Richa - Sim.José Santana de Vasconcellos - Sim.José Tavares - Sim.José Thomaz Nonô - Sim.José Tinoco - Sim.José Viana- Sim.Juarez Antunes - Sim.Júlio Campos - Sim.Júlio Costamilan - Sim.

Fevereiro de 1988

Jutahy Magalhães - Sim.Koyu lha - Sim.Leopoldo Bessone - Sim.Leopoldo Peres - Sim.Leur Lomanto - Sim.LevyDias - Sim.LezioSathler - Sim.Udice da Mata - Sim.Louremberg Nunes Rocha - Sim.LourivalBaptista - Sim.Lúcia Braga - Sim.Lúcio Alcântara - Sim.Luís Roberto Ponte - Sim.LuizAlberto Rodrigues - Sim.Luiz Freire - Sim.LuizGushiken - Sim.LuizInácio Lula da Silva - Sim.LuizSalomão - Sim.Lysâneas Maciel- Sim.Manoel Castro - Sim.Manoel Moreira - Sim.Mansueto de Lavor - Sim.Marcelo Cordeiro - Sim.MárCIa Kubitschek - Abstenção.Marco Maciel - Sim.Marcos Uma - Sim.Maria de Lourdes Abadia - Sim.Mário Assad - Sim.Mário Covas - Sim.Mário Maia - Sim.Matheus Iensen - Sim.Maurício Campos - Sim.Maurício Corrêa - Sim.Maurício Fruet - Sim.Maurício Nasser - Abstenção.Maurício Pádua - Sim.Mauro Sampaio - Sim.Mello Reis - Sim.Mendes Ribeiro - Sim.Messias Góis - Sim.Michel Temer - Sim.MiltonBarbosa - Sim.Miraldo Gomes - Sim.MiroTeixeira - Sim.Moema São Thiago - Sim.Moysés Pimentel- Sim.Mussa Dernes - Sim.MyrianPortella - Sim.Nabor Júnior - Sim.Naphtali Alves de Souza - Sim.Narciso Mendes - Sim.Nelson Carneiro - Sim.Nelson Jobim - Sim.Nelson Sabrá - Abstenção.Nelson Seixas - Sim.Nelson Wedekin - Sim.Nelton Friedrich - Sim.Nestor Duarte - Sim.Nilso Sguarezi - Sim.Nilson Gibson - Sim.Nion A1bemaz- Sim.Octávio Elísio - Sim.Orlando Bezerra - Sim.Oscar Corrêa - Sim.Osmir Uma - Sim.Osmundo Rebouças - Sim.Osvaldo Bender - Sim.Osvaldo Sobrinho - Sim.Oswaldo Trevisan - Sim.Paes de Andrade - Sim.Paulo Delgado - Sim.

Page 33: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAOONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7085

Paulo Macarini - Abstenção.Paulo Mincarone - Sim.Paulo Paim - Sim.Paulo Ramos - Sim.Pedro Ceolin - Sim.Percival Muniz - Sim.Pimenta da Veiga - Sim.Plínio Arruda Sampaio - Sim.Pompeu de Sousa - Sim.Raimundo Bezerra - Sim.Raimundo Rezende - SIm.Raquel Capiberibe - Sim.Raul Ferraz - Sim.Renato Johnsson - Sim.Renato Vianna - Sim.Ricardo Izar - Sim.Rita Camata - Não.Roberto Augusto - Sim.Roberto D'Avila- Sim.Roberto Freire - Sim.Roberto Rollemberg - Sim.Roberto Torres - Sim.Ronaldo Aragão - Sim.Ronaldo Carvalho - Sim.Ronan Tito - Sim.Ronaro Corrêa - Sim.Rosa Prata - Sim.Ruben Figueiró - Sim.Ruy Bacelar - Sim.Ruy Nedel- SimSalatiel Carvalho - Sim.Sandra Cavalcanti - Sim.Saulo Queiroz - Sim.Sérgio Spada - Sim.Sigmaringa Seixas - Sim.Siqueira Campos - Sim.Sólon Borges dos Reis - Sim.Stêlío Dias - Sim.Tadeu França - Sim.Telmo Kirst - Sim.Teotonio Vilela Filho - Sim.Tito Costa - Sim.Ubiratan Aguiar - Sim.Ubiratan Spinelli - Sim.UlduriccJ Pinto - Sim.Valmir Campelo - Sim.Valter Pereira - Sim.Vasco Alves - Sim.Vicente Bogo - Sim.Victor Faccioni - Sim.Vilson Souza - Abstenção.Virglldásio de Senna - Sim.Virgilio Galassi - Sim.VirgilioGuimarães - Sim.Virgílio Távora - Sim.Vitor Buaiz - Sim.Vladimir Palmeira - Sim.Wagner Lago - Sim.Waldec Omélas - Sim.Waldyr Pugliesi - Sim.Walmor de Luca - Sim.Wilma Maia - Sim.Ziza Valadares - Sim.

o SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) _Vem à Me~a e vai à publicação a seguinte DE.ClARAÇAO:

Brasílía, 8 de fevereiro de 1988.Senhor Presidente:Tenho a honra de comunicar Vossa Excelência

que não respondi à chamada de painel por ques-

tão pessoal, retirada circunstancial e momentâneapor razões de saúde; todavia, estou presente oque se comprovará pela votação.

Atenciosamente. - José Paulo Bisol.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Vai-se passar à

VI- ORDEM DO DIA

PROJETO DE CONSmUIÇÃOVotação, em primeiro turno, do Título 11. (Vota­

ção iniciada.)

Parágrafo 39, art. 60, da Emenda nQ 2.038.

Essa a matéria que se acha pendente de deci­são pelo Plenário soberano da Assembléia Nacio­nal Constituinte.

Em votação.Os Srs. Constituintes que estiverem de acordo

votarão Sim e os que forem contrários, votarãoNão.

A Presidência apela para que todos os Srs.Constituintes tomem assento'nas respectivas ban­cadas a fim de que o processo de votação decorraem meio à maior normalidade.

O Sr. Gastone Righi - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma questão de ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o Sr. Constituinte Gastone Righi.

O SR. GASTONE RIGHI (PTB - SP. Parauma questão de ordem. Sem revisão do orador.)- Sr. Presidente, Srs. Constituintes:

Nos termos da Resolução na 3, de 1988, emseu art. 1a, fica facultada à maioria absoluta dosmembros da Assembléia Nacional Constituintea apresentação de substitutivos a títulos, capítulos,seções e subseções, e de emendas a dispositivosdo projeto de Constituição.

E isto que ocorre agora: uma emenda de auto­ria de maioria dos membros desta Assembléia,portanto, a chamada emenda coletiva, foi apre­sentada; submetida à votação, foi aprovada, res­salvados os destaques. Vem, então, o § 30 dessemesmo artigo 1°:

"Se na votação da matéria destacada nostermos deste artigo ..."

, Ou seja, a expressão "deste artigo" significaaquela maioria absoluta à emenda substitutiva,como a de agora.

"... não for alcançado o quorum de vota­ção de maioria absoluta, repertí-se-á a mes­ma na sessão seguinte, com 24 horas deintervalo entre uma e outra, para decisão fmaldo Plenário."

O Sr. José Genoíno - Sr. Presidente, peçoa palavra para refutar a questão de ordem.

O SR. GASTONE RIGHI - Não é possívelque o orador tenha que ficar ouvindo a pertur­bação, ao pé-do-ouvido, do "apocalipse" que éo Constituinte José Genoíno!

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A palavra está assegurada ao Líder Gastone Righi,para que S. Ex" conclua a formulação da suaquestão de ordem.

O SR. GASTONE RIGHI - Como dizia, jáque se trata de uma emenda coletiva, que tem

a maioria absoluta e da qual foi feito um destaque,nos termos do § 3", se essa materia destacadanão atingir, hoje, quorum de maioria absoluta,ou seja, 200 votos positivos, ela deverá ser subme­tida, na sessão seguinte, 24 horas apos, para deci­são final do Plenário. Pergunto a V Ex" se este;que é o entendimento literal que depreendo daleitura tranqüila e meditada do dlspositívo de Re­solução rr 3, e o que prevalecera?

Se essa emenda aqui não tiver 280 votos Po3iti­vos, terá de ser submetida, dentro de 24 horas,à decisão do Plenário.

O Sr. José Genofno - Sr. Presidente. peçoa palavra para contraditar a questão de ordemdo Constituinte Gastone Righi.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência esclarece que já havia anutdo emrelação ao nobre Líder José Genoíno que, bempróximo do Líder Gastone Righi, disputava comS. Ex' o direito de, ao microfone, contraditar 3

questão de ordem ora suscitada.Concedo a palavra ao nobre Líder JOSé Ge­

noíno.

O SR. JOSÉ GENOINO (PT- SP. Paru con­traditar questão de ordem. Sem revisão do ora­dor.) - Sr. Presidente, Srs, Constituintes: '

Aquestão de ordem levantada pelo nobre LíderGastone Righi não procede, porque o que no:vamos votar é um destaque de votação em sepa­rado Sr. Presidente. Nós não estamos votandoagora a emenda coletiva. A emenda coletiva foivotada na aprovação do texto base do CapítuloI. O que nós vamos votar é um destaque de vota­ção em separado. Esse destaque de votação emseparado requerido pelo nobre Líder Mário Covasfoi votado na sexta-feira, e não existiam 200 votosno plenário. A votação se repete; portanto: temque ter 280 no plenário. para incluir o &39 daEmenda Coletiva, votada como texto-base do Ca­pítulo I do Titulo 11. Portanto. o que vamos votaré se incluímo> ou não o § 39 para o qual o LíderMário Covas solicitou destaque de votação 10mseparado. Para incluir esse paraqrafo, são neces­sários 280 votos. AI,entra não a solução levantadapelo nobre Líder Gastone Righi. mas a levantadapelo Presidente da Assembléia Nacional Con::ti­tuínte,Dr. Ulysses Guimarães, na sessão de sexta­feira. A matéria não tem 200 votos.

Em seguida, votaremos as emendas. Se destas,nenhuma obtiver 280 votos, aí se cria, por soluçãoda Presidência da Assembléia Nacional Consti­tuinte, aquela alternativa do art. lOque dó aorelator até 48 horas para redigir o texto para nãoficar "buraco constitucional".

Portanto, Sr. Presidente, para concluir a minh~oposição à questão de ordem do nobre Constí­tuinte Gastone Righi, vamos votar o destaque devotação em separado. Se não houver 280 votos,vamos votar as emendas seguintes. Se nenhumadas emendas obtiver 200 votos, o relator terá até48 horas para apresentar uma proposta de dispo­sitivo constitucional a fim de que não exista afigura do buraco. Essa e a questão que formuloaV.Ex'.

O SR. PRESIDEI"fri:: (Mauro Bene~de.,) ­A Presidência vai decidir a questão de ordem for­mulada pelo nobre líder Gastone Righi e contra­ditada pelo nobre líder José Genoíno,

Page 34: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7086 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Fevereirode 1988

o Sr. Carlos Sant'Anna - Sr. Presidente,peço a palavra para uma questão de ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra V. Ex- para uma questão de ordem.

O SR. CARLOS SANT'ANNA (PMOB-BAPara uma questão de ordem. Sem revisão do ora­dor.) - Sr. Presidente, Srs. constituintes, estaquestão de ordem, no meu entender, já foi apre­sentada e decidida ainda neste turno de votação,recentemente, quando ficou estabelecido que, sena votação houver quorum, seja "sim", seja"não", de 280 votos, "não" haverá aquilo queestã contido no § 3° Então, o que importa saberé se o resultado da apuração que acontecerá vaidar 280 "sim" ou 280 "não". Se "não" houver280 "sim" nem 280 "não", haverá que se suspen­der por 24 horas, porque se cai no § 3° E cai-seno § 3° porque o que vai ser votado é a emendacoletiva.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­(Fazendo soar a campainha.) - Peço aos srs.constituintes que permaneçam nas suas banca­das, enquanto o nobre líder se manifesta a res­peito.

O SR. CARLOS SANT'ANNA - A emendacoletiva tem uma forma de ser votada em globo,mas também pode ser votada em separado, quan­do 187 ou mais srs, constituintes pedirem a vota­ção da emenda em separado, de um artigo oudo todo. Então, o que está sendo votado é oque consta no art. l~:

"Fica facultado à maioria absoluta dosmembros da Assembléia Nacional Consti­tuinte a apresentação de substitutivos a Títu­los, Capítulos e Seções.:"

Assim sendo, o que V.Ex' vai colocar em vota­ção daqui a pouco é um artigo da emenda cole­tiva, que tem preferência automática porque temmais de 280 assinaturas. Se esse artigo da emen­da coletiva, que simplesmente está em separado,por força de uma circunstância também regimen­tal, "não" obtiver 280 votos "sim" ou 280 votos"não", haverá o quorum de 280, que é maioriaabsoluta.

Se "não" houver 280 votos nem de "sim" nemde "não", cairemos no § 3° do art. 1°, isto é, reper­tír-se-á a mesma votação na sessão seguinte com24 horas de intervalo entre uma e outra.

Esta é a correta interpretação que a própriaMesa da Casa já deu, em sessão anterior, quandoestávamos discutindo aqui o assunto levantadopelo lider Mário Covas.

O Sr. Mário Covas - Sr. Presidente, peçoa palavra para contraditar.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A questão de ordem suscitada pelo nobre LíderGastone Righijá foi contestada pelo nobre Consti­tuinte José Genoíno. Acaba de se manifestar so­bre ela o Líder Carlos Sant'Anna.

A Presidência concede a palavra ao Sr. Consti­tuinte Mário Covas e, após essa manifestação,dará conhecimento à Casa a respeito da sua de­cisão.

O SR. MÁRIo COVAS (PMOB - SP. Paracontraditar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presi-

dente, a leitura da Resolução não deixa a menorsombra de dúvida. Em seu art. 1" diz:

"Fica facultada à maioria absoluta dosMembros da Assembléia Nacional Consti­tuinte a apresentação de substitutivos a Títu­los, Capítulos, Seções e Subseções e deemendas a dispositivos do Projeto de Consti­tuição."

Neste capítulo, foi apresentada uma emenda,envolvendo-o todo.

No § 3° se diz:

"Se na votação da matéria destacada nostermos deste artigo - esse substitutivo é au­tomaticamente destacado e tem preferênciapor ter 280 assinaturas. Se na votação damatéria - ou seja, emenda substitutiva ­não for alcançado quorum de maioria abso­luta, repetir-se-á a mesma na sessão seguintecom 24 (vinte e quatro) horas de intervaloentre uma e outra, para decisão final do Ple­nário."

Foi exatamente o que aconteceu no preâmbuloda Constituição, quando não houve 280 votosa favor e se permaneceu por 24 horas.

Posteriormente, no Capítulo I,do Título Il,houvequorum de 280 votos - para ser exato, quase400 votos - para aprovação da emenda substi­tutiva, ressalvados os destaques Se não houvessenúmero naquele instante, ter-se-ia que transferirpor 24 horas.

Ora, em seguida, foi apresentado um destaque,para votação em separado, de um pedacinho da­quela emenda substitutiva, que é outra coisa, étão outra coisa que esse destaque teve que servotado e aprovado pelo Plenário.

Bem, agora estamos votando o resultado dodestaque solicitado. O que prevalece, aí? A maté­ria sobre destaque. Qual a maténa? A do art. 8°,que diz:

"Sem prejuízo do disposto no artigo ante­rior, poderá ser votado requerimento de des­taque, para votação em separado de partesdo texto do projeto ou do substitutivo, desdeque subscrito por, no mínimo, 187 (centoe oitenta e sete) Constituintes."

"Parágrafo único. A matéria destacada naforma deste artigo somente será incluída notexto constitucional, se aprovada pela maioriaabsoluta dos Membros da Assembléia Nacio­nal Constituinte. Caso não atinja este quo­rum será tida como rejeitada, sem prejuízodas emendas que hajam sido destacadas pa­ra o mesmo texto."

Portanto, não há a menor dúvida da leitura daresolução.

Não é possível, Sr. Presidente, fazermos mu­dança regimental e continuarmos querendo ­mesmo com a mudança regimental- ter semprea vitória.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência, decidindo a questão de ordem, es­clarece ao Plenário que o requerimento de desta­que aprovado no dia 4 de fevereiro de 1988, deautoria do nobre Líder Mário Covas e com apoiode 193 assinaturas, é exatamente incidindo sobrea matéria objeto de apreciação neste momentopara votação em separado. DIZ o requerimento:

"Requeiro destaque, para votação em se­parado, do seguinte dispositivo: art. 6°, § 39."

Portanto, em razão do que preceituam o art.8" e seu paragrafo único, será processada a vota­ção neste momento.

Desta forma, a Presidência pede aos Srs. Cons­títumtes que tomem assento nas respectivas ban­cadas, a fim de que se processe a votação dentroda maior normalidade possível

O Sr. Bonifácio'de Andrada - Peço a pala­vra pela ordem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência pede aos Srs Constituintes que to­mem assento nas respectivas bancadas, porqueserá prosseguida a votação.

A questão de ordem já se acha decidida pelaMesa. Embora isto já tenha ocorrido, concedoa palavra, em deferência especial, ao nobre Cons­tituinte Bonifácio de Andrada, ressaltando que amatéria já foi objeto de deliberação

o SR. BONIFÁCIO DE ANDRADA (PDS­MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr.Presidente, a matéria que V. Ex- deliberou e deci­diu é diferente da que vamos levantar, aqui, agora.

Peço a atenção da Mesa para o seguinte: no§ 3° do art. ] 0, está escrito:

"Se na votação da materia destacada, nostermos desse artigo, não for alcançado quo­rum de maioria absoluta, repetir-se-á a mes­ma na sessão seguinte, com 24 horas deintervalo"

Então, vê V.Ex- que o § 3° se refere, se destina,se remete, aponta o regimento para a matériadestacada nos termos desse artigo.

Qual é, Sr. Presidente, a matéria destacada nostermos desse artigo? É a matéria referida no §] 9 E que matéria que é referida no § 1°?

(Manifestações do Plenário.}

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência assegura a palavra ao nobre LíderBonifácio de Andrada.

O SR. BONIFÁCIO DE ANDRADA - Amatéria, Sr. Presidente, referida no 1° é relativaàs emendas coletivas no seu.todo. Ora, Sr. Presi­dente, o que será posto em votação agora é maté­ria da emenda coletiva que não foi ainda votada:é matéria, Sr. Presidente, destacada da emendacoletiva que não foi posta em votação ainda agora.Por que não foi posta em votação? Porque existeum destaque para a votação em separado. Umdestaque para a votação em separado retira, dotexto da emenda coletiva, o parágrafo que nãofoi ainda votado. Por conseguinte, Sr. Presidente,essa matéria contida no paragrafo tem que tero tratamento do § 3°...

(Manifestações do Plenstio.)

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides)­A palavra é assegurada ao nobre Constituinte Bo­nifácio de Andrada. A Prestdêncía apela para oPlenário no sentido de que ouça as razões agorainvocadas pelo nobre Constituinte.

Page 35: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Terça-feira 9 7087

o SR. BONIFÁCIO DE ANDRADA - Sr.Presidente, queremos votar a Constituição dentrode um ambiente de concórdia. Está havendo vá­rios entendimentos a respeito desta matéria, inclu­sive, encontros com o Presidente Ulysses "Figuei-redo" a respeito desse assunto. ,

Ora, se V. Ex' não interpretar o § 3°, comoestá claro e evidente nas suas palavras, no seuenunciado, vamos cair, Sr. Presidente, no chama­do vacatio legis, a que se refere o PresidenteUlysses "Figueiredo", e vamos perder um dia paracuidar dessa matéria

O Presidente Ulysses Guimarães, da tribuna emque V. Ex' está, declarou, textualmente ...

(Manifestações do Plenário.)

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­APresidência adverte os Srs. Constituintes de quea palavra está assegurada ao nobre ConstituinteBonifácio de Andrada e pede a S. Ex' que concluaa seu raciocínio.

O SR. BONIFÁCIO DE ANDRADA - Sr.Presidente, estamos acostumados com certo es­pírito democrático existente nesta Casa. De modoque V.Ex' pode ficar tranqüilo. Estamos muitoacostumados a esse espírito democrático que,às vezes, domina certas bancadas neste Plenário.É a democracia, Sr. Presidente, é a democracia!Não é bem a democracia que desejamos e sonha­mos, mas é a democracia, Sr. Presidente.

Vou terminar, Sr. Presidente.Agora fica claro, finalmente: se não houver 280

votantes, está nula a votação; não houve, estácancelada a votação.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência esclarece ao nobre ConstJtuinteBo­nifácio de Andrada que a emenda coletiva já foivotada em oportunidade anterior, mantida a ques­tão de ordem anteriomente.

Está em votação o § 39, da Emenda rr 2.038do Centrão.

O Sr. Gastone Righi - Sr. Presidente, então,é parte da emenda que é a própria emenda. Odestaque já foi votado. Nós vamos votar parteda emenda coletiva, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, quero recorrer ao Plenário dasua decisão.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­AMesa tem, por V. Ex' e pelos demais 558 Consti­tuintes, o maior respeito, é! maior consideração.Essa matéria, portanto, já se acha decidida e vaipara a votação.

OSR. GASTONERIGHI-E eu quero recor­rer ao Plenário da sua decisão, Sr. Presidente.Por maior respeito que tenho por V. Ex', entendoque V. Ex' não está acertadamente julgando nessamatéria e desejo recorrer ao Plenário. E declaromais a V. Ex':mantido esse entendimento da Me­sa, se atropelado o nosso direito a recorrer, nósnos retiraremos do Plenário, nos negamos a votara matéria nessas condições que V. Ex' está tentan­do impor. Não é possível! Quando se procuraum clima de harmonia, quando Sua Excelência,o Presidente da República, hoje em exercício, De­putado Ulysses Guimarães, nos convoca para as18:h para uma reunião de Lideranças, V.Ex' pro­cura atropelar o Regimento e impor aqui umavotação, contra a qual nos insurgimos. Nós, pe­remptoriamente, nos negamos a votar nessas cir-

cunstàncías. Então, eu me retiro, do Plenário esolicito aos meus companheiros que se retiremjunto comigo. O que está sendo feito é uma igno­mínia. Procuramos o Regimento e somos barra­dos, pela tentativa agora daquilo que não fizemos,não fizemos funcionar a motoniveladora, o rolocompressor.

Retiro-me do Plenário sob a forma de protesto!

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Vamos passar à votação. Peço aos Srs. Consti­tuintes que tomem assento nas respectivas ban­cadas. Vaiser procedida à votação.

O Sr. Carlos Sant'Anna - Sr. Presidente,sobre o processo de votação.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Constituinte Carlos Sant'A·nna para uma questão de ordem sobre a votação.

O SR. CARLOS SANT'ANNA (PMDB - BAPara uma questão de ordem. Sem revrsão do ora­dor.) - Entendi que V. Ex' está colocando emvotação o art. 39 da emenda coletiva. "Emendado Centrão",

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­É a Emenda 2.038, do Centrão.

O SR CARLOS SANT'ANNA - Por conse­guinte, recorro da decisão de V. Ex' à questãode ordem Recorro para que ela seja "examinadaem outro foro. sem emocionalidade, porque con­sidero que a decisão de V. Ex' não é correta.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência esclarece ao nobre Líder CarlosSant'Anna que S. Ex' poderá fazê-lo, se dispuserdo apoio de 35 senhores constituntes, conformepreceitua o Regimento, e o recurso não teria efeitosuspensivo.

Vaiser procedida à votação. V. Ex', com o apoiodos 35 constítumtes, encaminhe à Mesa o seurecurso, que não tera, evidentemente, efeito sus­pensivo.

A Presidência solicita aos senhores constituin­tes que tomem assento nas respectivas bancadas,porque vai ser processada a votação.

O Sr. Branelrão Monteiro - Sr. Presidente.peço a palavra para uma questão de ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra, para uma questão de ordem, oSr. Constituinte Brandão Monteiro.

O SR. BRANDÃO MONTEIRO - Para re­correr, é necessário que o recorrente participeda votação?

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­AMesa, na oportunidade, examinará a mformaçãoagora transmitida por V. Ex'

A Presidência pede aos senhores constituintesque tomem assento nas respectivas bancadas,porque vai ser processada a votação. Em votaçãoo § 39 da Emenda n- 2038 do Centrão.

Os senhores constituintes que se encontramnas bancadas queiram registrar os seus códigosde votação.

Quem aprovar, vota sim; quem rejeitar, votanão.

(procede-se a votação.)

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) -A mesa vai proclamar o resultado da votação:

SIM-22NÃO-196ABSTENÇÃO- 32TOTAL-250 I

Não houve quorum para a aprovação. Ficaadiada a votação.

Votaram os Srs. Constituintes:Presidente: Mauro Benevides - Abstenção.Acival Gomes - Não.Ademir Andrade - Não.Adhemar de Barros Filho - Não.Adolfo Oliveira- Abstenção.Adroaldo Streck - Não.Adylson Motta - Sim.Affonso Camargo - Não.Agassiz Almeida - Não.Airton Cordeiro - Abstenção.Airton Sandoval - Não.AlaricoAbib - Abstenção.Alceni Guerra - Abstenção.Aldo Arantes - Não.AloisioVasconcelos - Sim.AloysioChaves - Abstenção.AlvaroValle - Sim.Antero de Barros - Não.Antônio Britto - Não.Antônio Câmara - Não.Antôniocarlos Konder Reis - Não.Antoniocarlos Mendes Thame - Não.Antonio Farias - Não.Antonio Gaspar - Não.Arnaldo Martins - Não.ArtenirWerner - Sim.Artur da Távola - Não.Asdrubal Bentes - Abstenção.Augusto Carvalho - Não.Benedicto Monteiro - Não.Benedita da Silva- Não.Bernardo Cabral - Não.Beth Azize - Não.Bocayuva Cunha - Não.Brandão Monteiro - Não.Carlos Alberto Caó - Não.Carlos Chiarelli- Abstenção.Carlos Cotta - Não.Carlos Mosconi - Não.Carrel Benevides - Não.Cássio Cunha Lima - Não.Célio de Castro -Não.Celso Dourado -Não.César Maia- Não.Chagas Neto - Abstenção.Chagas Rodrigues - Não.Chico Humberto - Não.Cid Sabóia de Carvalho - Não.Cláudio Ávila - Sim.Cristina Tavares - Não.Del Bosco Amaral- Não.Delfim Netto - Sim.Dirce Tutu Quadros - Não.Dirceu Carneiro - Não.Dommgos Leonelli-Não.Edésio Frias - Não.Edivaldo Motta - Sim.Edrne Tavares - Abstenção.Edmilson Valentim- Não.Eduardo Bonfim - Não.Eduardo Jorge - Não.

Page 36: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

7088 Terça-feira 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAOONAL CONSTITUINTE Fevereirode 1988

Eduardo Moreira - Não.Egídio Ferreira uma - Não.Eraldo Trindade - Abstenção.Erico Pegoraro - Não.Evaldo Gonçalves - Abstenção.Fábio Feldmann - Não.Farabulini Júnior - Não.Fausto Fernandes - Sim.Felipe Mendes - Sim.Fernando Bezerra Coelho - Não.Fernando Cunha - Não.Fernando Gasparian - Não.Fernando Gomes - Não.Fernando Henrique Cardoso - Não.Fernando Santana - Não.Firmo de Castro - Não.Florestan Fernandes - Não.Floriceno Paixão - Não.Francisco Küster - Não.Francisco Pinto - Não.Francisco Rossi - Não.Gabriel Guerreiro - Não.Geraldo Alckmin Filho - Não.Geraldo Campos - NãoGeraldo Melo - Não.Gerson Camata - NãoGerson Peres - Não.Gidel Dantas - Abstenção.Guilherme Palmeira - Abstenção.Gumercindo Milhomem - Não.Haroldo Uma - Não.Haroldo Sabóia - NãoHélio Costa - Não.Hélio Duque - Não.Hélio Manhães - Não.Hélio Rosas - Não.Henrique Córdova - NãoHermes Zaneti - Não.Homero Santos - Sim.Ibsen Pinheiro - Não.Irajá Rodrigues - NãoIram Saraiva - Não.Irma Passoni - Não.Itamar Franco - Não.Ivo Lech - Não.Ivo Mainardi - Não.Ivo Vanderlinde - Abstenção.Jamil Haddad - Não.Jarbas Passarinho - Sim.João Calmon - NãoJoão Natal- NãoJoão Paulo - Não.Joaquim Bevilacqua - Não.Joaquim Francisco - Abstenção.Joaquim Sucena - Não.Jofran Frejat - Abstenção.Jorge Arbage - Sim. -Jorge Hage - Não.Jorge Uequed - Não.José Carlos Coutinho - Abstenção.José Carlos Grecco - Não.José Carlos Sabóia - NãoJosé Carlos Vasconcelos - Não.José da Conceição - Não.José Dutra - Não.José Elias Murad - NãoJosé Fernandes - Não.José Fogaça - NãoJosé Genoino - Não.José Guedes - NãoJosé Ignácio Ferreira - Não.

José Jorge - AbstençãoJosé Luiz de Sá - Abstenção.José Luiz Maia - Sim.José Maurício - Não.José Paulo Bisol- Não.José Queiroz - Não.José Richa - Não.José Tavares - Não.José Thomaz Nonô - Abstenção.José Tinoco - Sim.José Viana - Não.Juarez Antunes - Não.Júlio Costamilan - Não.Jutahy Magalhães ----' Não.Koyu lha - Não.Leopoldo Bessone - Não.Leopoldo Peres - Abstenção.Leur Lomanto - Sim.Lezio Sathler - Não.Lídice da Mata - Não.Louremberg Nunes Rocha - Abstenção.Lúcia Braga - Não.Lúcio Alcântara - Abstenção.LuizAlberto Rodrigues - Não.Luiz Freire - Não.Luiz Gushiken - Não.Luiz Inácio Lula da Silva - Não.Luiz Salomão - Não.Lysâneas Maciel - Não.Manoel Castro - Sim.Manoel Moreira - Não.Mansueto de Lavor - Não.Manuel Viana - Não.Marcelo Cordeiro - Não.Márcia Kubitschek - Abstenção.Marco Maciel - Sim.Marcos Lima - Não.Maria de Lourdes Abadia - Não.Mário Assad - Não.Mário Covas - Não.Mário Maia - Não.Maurício Correa - Não.Maurício Fruet - Não.Mendes Ribeiro - Não.Michel Temer - Não.Miro Teixeira - Não.Moema São Thiago - Não.Moysés Pimentel - Não.Myrian Portella - Não.Naphtali Alves de Souza - Sim.Nelson Carneiro - Não.Nelson Jobim - Não.Nelson Sabrá - Sim.Nelson Seixas - Não.Nelson Wedekín - Não.Nelton Friedrich - Não.Nestor Duarte - Não.Nilso Sguaregi - Não.Nion Albemaz - Não.OctávIo Elísio - Não.Olivio Dutra - Não.Osmir Uma - Não.Osmundo Rebouças - Não.Osvaldo Sobrinho - Abstenção.Paes de Andrade - Não.Paulo Delgado - Não.Paulo Macarini - Não.Paulo Paim - Não.Paulo Ramos - Não.Paulo Silva - Não.Percival Muniz - Não

Pimenta da Veiga - Não.Plínio Arruda Sampaio - Não.Pompeu de Sousa - Não.Raimundo Bezerra - Não.Raquel Capiberibe - Não.Raul Ferraz - Não.Renato Vianna - Não.Rita Camata - Não.Roberto Brant - Não.Roberto D'Ávíla- Não.Roberto Freire - Não.Roberto Rollemberg - NãoRonaldo Aragão - Não.Ronaldo Carvalho - Não.Ronan Tito - Não.Ruben Figueiró - Abstenção.Ruy Bacelar - Não.Ruy Nedel - Não.Salatiel Carvalho - Abstenção.Sandra Cavalcanti - Abstenção.Saulo Queiroz - Sim.Sérgio Spada - Não.Sigmaringa Seixas - Não.Siqueira Campos - Sim.Sólon Borges dos Reis - Sim.Stélio Dias - Abstenção.Tadeu França - Não.Teotonio VilelaFilho - Não.Ubiratan Aguiar - Não.Uldurico Pinto - Não.Valmir Campelo - Abstenção.Valter Pereira - Não.Vasco Alves - Não.Vicente Bogo - Não.Victor Faccioni - NãoVilson Souza - Não.Virgildásio de Senna - Não.Virgílio Guimarães - Não.Virgílio Távora - Abstenção.VitorBuaiz - Não.Vladimir Palmeira - Não.Wagner Lago - Não.Waldyr Pugliesi - Não.Walmor de Luca - Não.Wilma Maia - Não.Ziza Valadares - Não.

o Sr. Edésio Frias - Sr. Presidente, peçoa palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra, pela ordem, o Sr. Constituinte Edé­sio Frias.

O SR. EDÉSIO FlUAS (PDT - RJ, Pela or­dem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,ao iniciar a sessão, colocou V. Ex' verificação dequorum.

Havia 323 Constituintes presentes.Quero informar a V.Ex-que o Centrão se retirou

do plenário para não haver quorum. Eu gostariaque isso ficasse registrado.

o Sr. RuyNedel-Peço a palavra pela ordem,Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre Constituinte Ruy Nedel.

O SR. RUYNEDEL (PMDB-RS. Pela ordem.Sem revisão do orador.) -A verificação de quo­rum foi feita praticamente no mesmo momentodo processo de votação, que não se iniciou, pelo

Page 37: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

Fevereiro de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE1\

Terça-feira 9 7089

processo de retaliação nas questões de ordem.Logo, os que não votaram, abstiveram-se, nãoestiveram ausentes, houve uma abstenção de vo­tação, que não está expresso no painel,mas estãono plenário, Sr. Presidente. Portanto, existe quo­rum, e a prova mais clara e evidente disto é apresença físicado Constituintee nobre LíderCarolos Sant'Anna que estava aqui e se absteve devotar. Portanto, deve ser registrada a abstençãoe não a ausência de quorum

O Sr. Carlos Bant'Anna - Peço a palavrapela ordem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre LíderCarlos Sant'Anna.

O SR. CARLOS SANT'ANNA (PMDB- BA.Pela ordem. Sem revisãodo orador.) - Aretiradade quorum de uma votação é processo paria­mentar tão antigo quanto qualquer parlamentodo mundo.

O Sr. Hermes zaneti - Sr. Presidente, gosta­ria de formular uma questão de ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) -V. Ex' menciona o dispositivo regimental, nobreLíder Hermes Zaneti, para que a Presidência emrazão de decisão anterior, possa acolher ou nãoa sua questão de ordem.

O SR. HERMES ZANETI - O dispositivoregimental, Sr. Presidente, é no sentido de queeste Constituinte ouviu V. Ex' conceder a palavraao eminente Líder Carlos Sant'Anna, Eu gostariaque V. Ex' informasse de que partido S Ex' élíder, aqui, na Assembléia Nacional Constituinte.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência, ao tratar o Constituinte CarlosSant'Anna como Líder, fê-lo mencionando a cir­cunstância de ser S. Ex', na Câmara dos Deputa­dos, Líderda Maioria e é, sem dúvida,uma figurada maior expressão desse colegiado.

O SR. HERMES ZANETI - Quero advertirque V. Ex', com esse procedimento, está admi­tindo que o Poder Executivo tem liderança naAssembléiaNacionalConstituinte.Issoé um aten­tado contra a soberania da Constituinte e umaconfissão que vai colocá-lo sob suspeição, Sr.Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­APresidência esclarece que, também em relaçãoa V. Ex' o tratou como Líder, numa deferênciaa sua atuação marcante no Plenário da Assem­bléia Nacional Constituinte. Não houve discrimi­nação a V. Ex'

O Sr. Brandão· Monteiro - Sr. Presidente,peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Tem a palavra o nobre líder Brandão Monteiro.

O SR. BRANDÃO MONTEIRO (PDT- RJ.Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presi­dente, srs, constituintes, nos termos regimentaisdo que prescreve, subsidiariamente, o Regimentoda Câmara e do Senado, para a boa ordem dostrabalhos, requeiro a V. Ex', sr. Presidente, que,a partir de agora, as votações sejam feitas deacordo com o que prescrevem os regimentos detodos os parlamentos do mundo. Os parlarnen­tares que queiram obstruir a sessão devem seretirar;quanto aos que permanecem, os seus vo­tos devem ser computados como quorum e co­mo abstenção. É o normal e o que não está acon­tecendo nesta Casa.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­A Presidência, na oportunidade, apreciará a su­gestão de V. Ex'

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­No decorrer da Ordem do Dia, comparecerammais os srs;

CarlosVirgílio - PDS;Lourival Baptista- PFL.

VlI- ENCERRAMENTO

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a ses­são.

DEIXAMDE COMPARECER OS SENHORES:

Abigail Feitosa - PMDB; Aécio Neves ­PMDB; Afonso Arinos - PFL;Albérico Cordeiro- PFL;Albérico Filho - PMDB; AlércioDias ­PFL;Alfredo Campos - PMDB; AlmirGabriel­PMDB; Aloysio Teixeira- PMDB; Álvaro Antônio- PMDB; Alvaro Pacheco - PFL;AmauryMuller- PDT; Anna Maria Rattes - PMDB; AntônioCarlos Franco - PMDB; Antonio Pérosa ­PMDB; AntonioSalim Curiati- PDS;Antonio(Ie­no - PFL; Arnaldo Martins - PMDB; ArnaldoMoraes- PMDB; ArnoldFioravante- PDS;ÁtilaUra - PFL;Bosco França - PMDB; Caio Pom­peu - PMDB; Carlos Alberto- PTB;Carlos Be­nevides- PMDB; CarlosCardinal- PDT;CarlosDe'Carll- PMDB; CidCarvalho- PMDB; DáltonCanabrava-PMDB; DionísioHage- PFL;Dore­to Campanari - PMDB; EliézerMoreira- PFL;Ervin Bonkoskí - PMDB; Euclides Scalco ­PMDB; Expedito Machado - PMDB; Fausto Ro­dia - PFL;Felipe Cheídde - PMDB; FernandoLyra-PMDB; Fernando Velasco- PMDB; FlavioPalmier da Veiga- PMDB; FlávioRocha - PL;França Teixeira - PMDB; Francisco Amaral ­PMDB; Francisco Benjamim - PFL; FranciscoDiogenes - PDS; Furtado Leite - PFL; Gene­baldo Correia - PMDB; Genésio Bernardino ­PMDB; GeovahAmarante- PMDB; GeovaniBor­ges - PFL;Gerson Marcondes - PMDB; GilCé­sar - PMDB; GonzagaPatriota- PMDB; Gustavo

de Faria - PMDB; Henrique Eduardo AlvesrPMDJ3; Iberê Ferreira - P!7L; Ismael Wanderley- PMDB; IvoCersósimo - PMDB; Jairo Carneiro- PFL;Jayme Santana - PFL;Jesualdo Caval-canti- PFL; Joaci Góes - PMDB; João Agripino- PMDB; João Carlos Bacelar - PMDB; JoãoCastelo - PDS;João Cunha - PMDB; .João daMata-PFL;João Herrmann Neto- PMDB; JoãoLobo- PFL;João Machado Rollemberg- PFL;Joaquim Hayckel - PMDB; Jorge Medauar ­PMDB; José Agripino- PFL;José CarlosMartinez- PMDB; José Costa - PMDB; José Freire ­PMDB; José Maranhão -;- PMDB; Jose Serra -:PMDB; José Ulissesde Oliveira - PMDB; .JovannlMasini - PMDB; Lavoisier Maia - PDS; LélioSouza - PMDB; Luiz Marques- PFL;Luiz Soyer- PMDB; Luiz Viana- PMDB; Luiz Viana Neto- PMDB; Maguito VIlela - PMDB; Maluly Neto- PFL;Manoel Ribeiro - PMDB; Márcio Braga- PMDB; MárcioLacerda - PMDB; MarcondesGadelha - PFL; Maria Lúcia-- PMDB; MarioBouchardet- PMDB; Mário de OJiveira- PMDB;MárioLima- PMDB; MattosLeão- PMDB; Mau­rílio Ferreira Lima - PMDB; Mauro Borges "IPDC; Mauro Campos - PMDB; Mauro Miranda- PMDB; Messias Soares - PTR; Milton Lírpa- PMDB; Milton Reis - PMDB; Nelson Aguiar- PDT; Noel de Carvalho- PDT;Odacir Soares- PFL; Onofre Corrêa - PMDB; Osmar Leitão- PFL;OsvaldoMacedo-PMDB; OswaldoLimaFilho - PMDB; Paulo Marques - PF~; PauloZarzur- PMDB; Plínio Martins- PMDB; Raírruln­do Lira- PMDB; Raquel Cândido - PFL;RaulBelém - PMDB; Renan Calheiros- PMDBj Re­nato Bernardi- PMDB; RitaFurtado - PFL;Ro­berto Balestra - PDC;Roberto Campos - PDS;RobertoJefferson - PTB;RobertoVital- PMDB;Robson Marinho- PMDB; Rodrigues Palma ­PMDB; Ronaldo Cezar Coelho - PMDB; Rosede Freitas - PMDB; Rosplde Netto - PfrmB;Rubem Medina- PFL;RubervalPilotto- PDS;Sadie Hauache - PFL; Santinho Furtado ­PMDB; Sarney Filho- PFL;Sérgio Brito- PFL;Simão Sessím - PFL; Sotero Cunha' - PDC;Theodoro Mendes - PMDB; Víctor, Trovão ­PFL; Vieira da Silva- PDS; Vivaldo Barbosa ­PDT; Wilson Campos - PMDB; Wilson Martins-PMDB;

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) ­Encerro a sessão. designando para amanhã. ter­ça-feira.dia 9, às 13h30min, a seguinte

ORDEM DO DIA

Prosseguimento da votação, em primeiroturno.do Título 11 do Projeto de Constituição.

Encerra-se a Sessão às horas eminutos.

Page 38: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

ASSEMBLEIA NACIOI'tAL CONSnrOlNTE

lJDERArtÇAS NAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSnrmNTE

PMDB MessIas Góis Vice-Uderes:

Presidente: Uder: Aroldede Oliveira PIin10 ArrudaSampaio

OLYSSES GUIMARÃES JIUrIoCovu Alércio Dias JoéOenofno

Vice-Uderes:EvaldoQonçll1ves PL

19-Vice-Presidente:EucUdesScl!llco Simão Sessim Uder:

PauloMacarini Inocênciode Oliveira Adolfo OlIveIra

MAURO BENEVIDES AntônioPerosa Divaldo Suruagy

Robson M:uinho José Agripino MaiaPDC

AntônIo Britto Mauricio Campos

29-Vice-Presidente: Oonzaga Pmriota, PauÍoPimentel Uder:

JORGE ARBAGE Osmirüma José Uns Mauro Borges

GidelDantasPaes Landim

HenriqueEduardo Alves Vice-Uderes:

19-5ecretário: José Guedes PDS José MariaEymael

MARCELO CORDEIRO Ubiratan Aguiar Uder: Siqueira Campos

Rose de Freitas Amaral Netto PCdoB

VascoA1Yes Vice-Uderes:Uder:

29-Secretário:Cássio Cunha Uma Haroldo Uma

MÂRlOMAIAFlávioPalmier da Veiga Vtrglllo Távora

Joaci GóesHenriqueCórdova

Nestor DuarteVIctorFaccioni Vice-Uder:

AntonioMarizCarlos Virgillo AldoArantes

39-Secretário: Walmor de LucaPCB

ARNALDO FARIA DE SÁ RaulBelém PDT Uder:

Roberto Bl1II'lt Uder: Roberto Freire

Mauro Campos Brandio MonteIro Vice-Uder:

19-5uplente de Secretário: Hélio ManhãesFernando Santana

Teotonio VilelaFilhoVice-Uderes:

BENEDITA DA SILVA Aluizio BezerraAmauryMüller

Adhemar de Barros Filho PSBNIon AIbernaz

VJW!do Barbosa Uder:

29-Suplente de Secretário:Osvaldo Macedo Jamil HIIddadJovanni Masini José Fernandes

LWZSOYER José Carlos GreccoGeraldoAlckminFíiho PTB Vice-Uder:

PFL Uder: Beth Azize

39-Suplente de Secretário: Uder: Qutone RIghI

SOlERO CUNHA Jos6 Lourenço Vice-Uderes: PMB

Vice-Uderes: Sólon Borges dos Reis tider:

Fausto Rocha Ottomar Pinto Ant6n1oF....

Ricardo Fiuza Roberto jefferson PTRGeovaniBorges PT Uder:

/t1ozarIIdo Cavalcanti Uder:VaInü'Campelo LuIz In'do Lula da SIlva MessiasSoares

Page 39: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

COMISSÃO DESISTEMATIZAÇÃO

Presidente:AfonsoArinos- PFL- RJ

l°-Vice-Presldente.Aluízio Campos - PMDB - PB

2°_Vice-Presidente:Brandão Monteiro - PDT- RJ

Relator.Bernardo Cabral- PMDB - ~

PDS

AntoníocarlosKonderReis

DarcyPozzaGerson Peres

PDTBrandão MonteiroJosé Maurício

PTB

Jarbas PassarinhoJosé Luiz MaiaVirgflio Távora

LysâneasMaciel

PFL

Cleonâncio FonsecaEdison LobãoEnocVieiraGilsonMachadoHugo NapoleãoJoão AlvesJoão Menezes

PDS

Adylson MottaBonifáciode Andrada

Jonas PinheiroJosé LourençoJose TinocoMozarildo CavalcantiPaes LandimRicardoIzarSimão Sessim

Victor Faccioni

Suplentes

PTLuiz Inácio Lula Plínio Arruda

da Silva Sampaio

PLAdolfo Ohveíra

PDC

Siqueira Campos

PCdeBHaroldoLima

PCB

Roberto Freire

PSBJamil Haddad

PMDB

Antonio Farias

PCB

Pedo B

Luiz Salomão

Ottomar Pinto

PTB

PT

PL

PDT

BocayuvaCunha

Afif Domingos

José Genoíno

Fernando Santana

PDC

José MariaEymael Roberto Ballestra

AldoArantes

Joaquim BevilácquaFrancisco RossiGastone Righi

Abigail Feitosa José IgnácIoFerreiraMemir Andrade José Paulo BisolAlfredo Campos José RichaAlmirGabriel José SerraAluizio Campos José (llrssesde OliveiraAntonioBritto ManoelMoreiraArturda Távola Mário UmaBernardo Cabral MIlton ReisCarlosMosconi Nelson CarneiroCarlos Sant'Anna NelsonJobimCelso Dourado NeltonFriedrichOd Carvalho NilsonGIbsonCristinaTavares OswaldoUma FIlhoEgidlo Ferreira Lima Paulo RamosFernando BezerraCoelho Pimenta da VeigaFernando Gasparian PriscoVianaFernando HenriqueCardoso Raimundo BezerraFernando Lyra Renato ViannaFrancisco Pinto Rodrigues PalmaHaroldoSabóia Slgmaringa SeixasJoão Calmon Severo GomesJoão Hermann Neto Theodoro MendesJosé Fogaça Virgildáslo de SennaJosé Freire Wilson MartmsJosé Geraldo

PMDB

Titulares

AfonsoArmesAlceniGuerraAloysio ChavesAntonioCarlosMendesTharne

ArnaldoPrietoCarlos ChlarelhChristóvamChiaradIaEdme TavaresEraldoTinocoFrancisco DornellesFrancisco Benjamimlnocêncio Oliveira

PFL

João MenesesJosé JorgeJosé LinsJosé LourençoJose Santana de

VasconcellosJosé Thomaz NonôLUIS EduardoMárioAssadOsvaldo CoelhoPaulo PimentelRicardoFiuzaSandra Cavalcanti

PMDB

Aécio NevesAlbano FrancoAntomoMarizChagas RodriguesDaso CoimbraDélioBrazEuclides ScalcoIsraelPinheiroJoão AgripinoJoão NatalJosé Carlos GreccoJosé CostaJosé MaranhãoJosé Tavares

Luiz HenriqueManoelVianaMárcioBragaMarcos LimaMichel TemerMiro Teixeira.Nelson WedekinOctáVIO ElisioRoberto BrantRose de FreitasUldurico PintoVicente BogoVilson de SouzaZiza Valadares

PSB

Beth Azize

PMB

IsraelPinheiroFilho

Reuniões; terças, quartas e quintas-felras.

Secretária: MariaLaura CoutinhoI

Telefones: 224-2848 - 213·6875 ­213-6878.

Page 40: República Federativa ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTEimagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/180anc09fev1988.pdf · república federativa do brasil nacional constituinte ~-.-~. diÁrio

j EDIÇÃO DE HOJE: 40 PÁGINAS 1

Centro Gráfico do Senado FederalCaixa Postal 07/1203

Brasília - DF

t PREÇO DESTE EXEMPLAR: CZ$ 6,00 J