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da arte PRÉ histórica A arte Prè-histórica é um dos fenó- menos mais curiosos na história da Arte. E apresenta isto de curioso: que nasceu, viveu e morreu deixando tais obras primas que nenhuma outra época soube produzir. © Não há animalistas comparáveis aos da época prè-histórica. Se quizermos aproximar esses artistas a outros dou- tras épocas, só encontraremos um termo de aproximação, também recuado na história : os animalistas assírio-caldai- cos. São verdadeiramente admiráveis as gravuras e esculturas de animais traba- lhados pelo homem primitivo. O precisão nos contornos e no mode- lado, a gracilidade dos movimentos, a minuciosa observação das atitudes, a vida que anima essas obras primas, chegam a comover-nos sinceramente. Como nasceu esta arte prodigiosa ? E como se perdeu sob a avalanche dos cataclismos ? e O caracter que na arte Prè-histórica mais nos fere, é o realismo intenso que a comanda; um realismo que não se encontra nos povos da antiguidade, um realismo que não deixa lugar à fantasia. Poderá preguntar-se a que princípio obedece este carácter: Se a um prin- cípio inato, se a um princípio adquirido. Se a um princípio puramente artístico, intrínseco, se a um princípio religioso, imposto. Mas tais preguntas ficariam sem res- posta. Talvez seriam, de resto, inúteis. O que na arte mais deve interessar o artista, é a obra em si. © Outro carácter notável da Arte das Cavernas: — a sobriedade. O mais sóbrio artista moderno não é mais sóbrio que o artista da época quaternária. Não há um pormenor inútil ou de medíocre significação. Cada traço, cada superfície, revelam uma meditação que nos escapa, ou um instinto artístico que nos espanta. Até à época modernista, não encon- tramos, na história da arte, exemplo mais notável. E uma sobriedade em que há equilíbrio sem prejuízo de inte- resse. e Finalmente, a Arte Prè-histórica, pelas suas características, revela-nos com elo- quência esta verdade tão esquecida: que o artista nasce, ainda que do nada; que o sentimento artístico é inato, como um fogo que anima os mais obscuros recan- tos da alma. DIONÍSIO DE 3 2

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Page 1: da arte PRÉ histórica · da arte PRÉ histórica A arte Prè-histórica é um dos fenó menos mais curiosos na história da Arte. E apresenta isto de curioso: que nasceu, viveu

da arte PRÉ histórica A arte Prè-histórica é um dos fenó­

menos mais curiosos na história da Arte. E apresenta isto de curioso: que nasceu, viveu e morreu deixando tais obras primas que nenhuma outra época soube produzir.

©

Não há animalistas comparáveis aos da época prè-histórica. Se quizermos aproximar esses artistas a outros dou­tras épocas, só encontraremos um termo de aproximação, também recuado na história : os animalistas assírio-caldai-cos.

São verdadeiramente admiráveis as gravuras e esculturas de animais traba­lhados pelo homem primitivo.

O precisão nos contornos e no mode­lado, a gracilidade dos movimentos, a minuciosa observação das atitudes, a vida que anima essas obras primas, chegam a comover-nos sinceramente.

Como nasceu esta arte prodigiosa ? E como se perdeu sob a avalanche

dos cataclismos ?

e O caracter que na arte Prè-histórica

mais nos fere, é o realismo intenso que a comanda; um realismo que não se encontra nos povos da antiguidade, um realismo que não deixa lugar à fantasia.

Poderá preguntar-se a que princípio obedece este carácter: Se a um prin­

cípio inato, se a um princípio adquirido. Se a um princípio puramente artístico, intrínseco, se a um princípio religioso, imposto.

Mas tais preguntas ficariam sem res­posta. Talvez seriam, de resto, inúteis. O que na arte mais deve interessar o artista, é a obra em si.

© Outro carácter notável da Arte das

Cavernas: — a sobriedade. O mais sóbrio artista moderno não

é mais sóbrio que o artista da época quaternária.

Não há um pormenor inútil ou de medíocre significação. Cada traço, cada superfície, revelam uma meditação que nos escapa, ou um instinto artístico que nos espanta.

Até à época modernista, não encon­tramos, na história da arte, exemplo mais notável. E uma sobriedade em que há equilíbrio sem prejuízo de inte­resse.

e Finalmente, a Arte Prè-histórica, pelas

suas características, revela-nos com elo­quência esta verdade tão esquecida: que o artista nasce, ainda que do nada; que o sentimento artístico é inato, como um fogo que anima os mais obscuros recan­tos da alma.

D I O N Í S I O D E S Á

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