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DISCIPLINA: MÉTODOS PROJETIVOS DE AVALIAÇÃO Tema: Entrevistas, Entrevista para aplicação de teste. Prof. Suely Alves

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DISCIPLINA: MÉTODOS PROJETIVOS DE AVALIAÇÃO Tema: Entrevistas, Entrevista para aplicação de teste.

Prof. Suely Alves

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COM BASE NO LIVRO:NUANCES DOS TESTES PSICOLÓGICOS

Editora: Idea Autor: Valdeci GonçalvesAno: 2010

 

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ENTREVISTA PSICOLÓGICA:

I - UM BREVE HISTÓRICO

A entrevista psicológica sofreu algumas modificações no início do século XIX, quando predominava o modelo médico. Naquela época, Kraepelin usava a entrevista com o objetivo de detalhar o comportamento do paciente, e, assim, poder identificar as síndromes e as doenças específicas que as classificavam segundo a nosografia vigente.

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Enquanto isso, Meyer, psiquiatra americano, se interessava pelo enfoque psicobiológico (aspectos biológicos, históricos, psicológicos e sociais) do entrevistado. A partir de Hartman e Anna Freud o interesse da entrevista se deslocou para as defesas do paciente. Isto é, a psicanálise  teve sua influência na investigação dos processos psicológicos, sem enfatizar o aspecto diagnóstico, antes valorizado.

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Nos anos cinqüenta, Deutsch e Murphy apresentaram sua técnica denominada Análise Associativa que considerava importante registrar não somente o que o paciente dizia, mas, também, em fornecer informações sobre o mesmo. Desse modo, desviou-se o foco sobre o comportamento psicopatológico para o comportamento dinâmico. Ainda nesta década, Sullivan concebeu a entrevista como um fenômeno sociológico, uma díade de interferência mútua.

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Após este período, a entrevista e o Aconselhamento Psicológicos se deixaram influenciar, entre outros, por Carl Rogers, cuja abordagem consiste em centrar no paciente. Ou seja, em procurar compreender, de acordo com o seu referencial, significados e componentes emocionais, tendo como base a sua aceitação incondicional por parte do entrevistador.

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II - DEFINIÇÃO DE ENTREVISTA PSICOLÓGICA

A entrevista psicológica é um processo bidirecional de interação, entre duas ou mais pessoas com o propósito previamente fixado no qual uma delas, o entrevistador, procura saber o que acontece com a outra, o entrevistado, procurando agir conforme esse conhecimento (WIENS apud NUNES, In: CUNHA, 1993).

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Enquanto técnica, a entrevista tem seus próprios procedimentos empíricos através dos quais não somente se amplia e se verifica, mas, também, simultaneamente, absorve os conhecimentos científicos disponíveis. Nesse sentido, Bleger (1960) define a entrevista psicológica como sendo “um campo de trabalho no qual se investiga a conduta e a personalidade de seres humanos” (p.21). Uma outra definição caracteriza a entrevista psicológica como sendo “uma forma especial de conversão, um método sistemático para entrar na vida do outro, na sua intimidade” (RIBEIRO, 1988, p.154).

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Enfim, Gil (1999) compreende a entrevista como uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação (p.117). A entrevista psicológica pode ser também um processo grupal, isto é, com um ou mais entrevistadores e/ou entrevistados. No entanto, esse instrumento é sempre em função da sua dinâmica, um fenômeno de grupo, mesmo que seja com a participação de um entrevistado e de um entrevistador.

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III - OS OBJETIVOS DA ENTREVISTACom base nos critérios que objetivaram a entrevista em saúde mental, pode-se classificar a entrevista quanto aos seguintes objetivos: a) Diagnóstica – Visa estabelecer o diagnóstico e o prognóstico do paciente, bem como as indicações terapêuticas adequadas. Assim, faz-se necessário uma coleta de dados sobre a história do paciente e sua motivação para o tratamento. Quase sempre, a entrevista diagnóstica é parte de um processo mais amplo de avaliação clínica que inclui testagem psicológica;

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b) Psicoterápica – Procura colocar em prática estratégia de intervenção psicológica nas diversas abordagens - rogeriana (C. Rogers), jungiana (C. Jung), gestalt (F. Perls), bioenergética (A. Lowen), logoterapia (V. Frankl) e outras -, para acompanhar o paciente, esclarecer suas dificuldades, tentando ajudá-lo à solucionar seus problemas;

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c) De Encaminhamento – Logo no início da entrevista, deve ficar claro para o entrevistado, que a mesma tem como objetivo indicar seu tratamento, e que este não será conduzido pelo entrevistador. Devem-se obter informações suficientes para se fazer uma indicação e, ao mesmo tempo evitar que o entrevistado desenvolva um vínculo forte, uma vez que pode dificultar o processo de encaminhar; d) De Seleção – O entrevistador deve ter um conhecimento prévio do currículo do entrevistado, do perfil do cargo, deve fazer uma sondagem sobre as informações que o candidato tem a respeito da empresa, e destacar os aspectos mais significativos do examinando em relação à vaga pleiteada, etc.;

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e) De Desligamento – Identifica os benefícios do tratamento por ocasião da alta do paciente, examina junto com ele os planos da pós-alta ou a necessidade de trabalhar algum problema ainda pendente. Essa entrevista também é utilizada com o funcionário que está deixando a empresa, e tem como o objetivo obter um feedback sobre o ambiente de trabalho, para providenciais intervenções do psicólogo em caso, por exemplo, de alta rotatividade de demissão num determinado setor; f) De Pesquisa – Investiga temas em áreas das mais diversas ciências, somente se realiza a partir da assinatura do entrevistado ou paciente, do documento: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Resolução CNS no 196/96), no qual estará explícita a garantia ao sigilo das suas informações e identificação, e liberdade de continuar ou não no processo.

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IV - A SEQUÊNCIA TEMPORAL DAS ENTREVISTAS DIAGNÓSTICASEssa seqüência pode ser subdividida em: entrevista inicial; entrevistas subseqüentes e entrevista de devolução, caracterizadas de forma diferente, e mostrando objetivos distintos conforme o momento em que elas ocorram (GOLDER, 2000). a) Entrevista Inicial É a primeira entrevista de um processo de psicodiagnóstico. Semidirigida, durante a qual o sujeito fica livre para expor seus problemas. Segundo Fiorini (1987), o empenho do terapeuta nessa primeira entrevista pode ter uma influência decisiva na continuidade ou no abandono do tratamento (p.63). Pinheiro (2004) salienta que a mesma ocorre num certo contexto de relação constantemente negociada. O termo negociação se refere ao posicionamento definido como “um processo discursivo, através do qual [...] são situados numa conversação como participantes observáveis, subjetivamente coerentes em linhas de histórias conjuntamente produzidas”(DAVIES & HARRÉ apud PINHEIRO, 2004, p.186).

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Essa entrevista, geralmente, inicia-se com a chamada telefônica de um outro técnico, encaminhando o entrevistado para a avaliação psicodiagnóstica, ou com a chamada do próprio entrevistado. Tem como objetivos discutir expectativas, clarear as metas do trabalho, e colher informações sobre o entrevistado, que não poderiam ser obtidas de outras fontes. As primeiras impressões sobre o entrevistado, sua aparência, comportamento durante a espera, são dados que serão analisados pelo entrevistador, e que podem facilitar o processo de análise do caso.

Para Gilliéron (1996), a primeira entrevista deve permitir conhecer: - O modo de chagada do paciente à consulta (por si mesmo, enviado por alguém ou a conselho de alguém, etc.);- O tipo de relação que o paciente procura estabelecer com o seu terapeuta;- As queixas iniciais verbalizadas pelo paciente, em particular a maneira pela qual ele formula seu pedido de ajuda (ou sua ausência de pedido).

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A partir dessas impressões e expectativas, entrevistador e entrevistado constroem mutuamente suas transferências, contratransferências, e resistências que foram ativadas bem antes de ocorrer o encontro propriamente dito. Um clima de confiança proporcionado pelo entrevistador facilita que o entrevistando revele seus pensamentos e sentimentos sem tanta defesa, portanto, com menos distorções. No final dessa entrevista devem ficar esclarecidos os seguintes pontos: horários, duração das sessões, honorários, formas de pagamento (quando particular), condições para administrar instrumentos de testagem e para as condições de consulta a terceiros.

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b) Entrevistas Subseqüentes Após a entrevista inicial, em que é obtida uma primeira impressão sobre a pessoa do paciente, esclarecimentos sobre os motivos da procura, e realização do contrato de trabalho de psicodiagnóstico, via de regra são necessários mais alguns encontros. O objetivo das entrevistas subseqüentes é a obtenção de mais dados com riqueza de detalhes sobre a história do entrevistado, tais como: fases do seu desenvolvimento, escolaridade, relações familiares, profissionais, sociais e outros.

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c) Entrevista de Devolução ou Devolutiva No término do psicodiagnóstico, o técnico tem algo a dizer ao entrevistado em relação ao que fundamenta a indicação. Em 1991, Cunha, Freitas e Raymundo (apud NUNES, In: CUNHA, 1993), elaboraram algumas recomendações sobre

a entrevista de devolução: - Após a interpretação dos dados, o entrevistador vai comunicar-lhe em que consiste o psicodiagnóstico, e indicar a terapêutica que julga mais adequada;- O entrevistador retoma os motivos da consulta, e a maneira como o processo de avaliação foi conduzido;- A devolução inicia com os aspectos menos comprometidos do paciente, ou seja, menos mobilizadores de ansiedade;- Deve-se evitar o uso de jargão técnico (expressões própria da ciência circulante entre os profissionais da área, em outras palavras “gíria profissional”), e iniciar por sintoma ligado diretamente à queixa principal;- A entrevista de devolução deve encerrar com a indicação terapêutica.

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V - DIFERENÇA ENTRE ENTREVISTA, CONSULTA E ANAMNESE A técnica da entrevista procede do campo da medicina, e inclui procedimentos semelhantes que não devem ser confundidos e nem superpostos à entrevista psicológica. Consulta não é sinônimo de entrevista. A consulta consiste numa assistência técnica ou profissional que pode ser realizada ou satisfeita, entre as mais diversas modalidades, através da entrevista. A entrevista não é uma anamnese. Esta implica numa compilação de dados preestabelecidos, que permitem fazer uma síntese, seja da situação presente, ou da história de doença e de saúde do indivíduo. Embora, se faça a anamnese com base na utilização correta dos princípios que regem a entrevista, porém, são bem diferenciadas nas suas funções. Na anamnese,  o paciente é o mediador entre sua vida, sua enfermidade, e o médico. Quando por razões estatísticas ou para cumprir obrigações regulamentares de uma instituição, muitas vezes, ela é feita pelo pessoal de apoio ou auxiliar. A anamnese trabalha com a suposição de que o paciente conhece sua vida e está, portanto, capacitado para fornecer dados sobre a mesma. Enquanto que, a hipótese da entrevista é de que cada ser humano tem organizado a história de sua vida, e um esquema de seu presente, e destes temos que deduzir o que ele não sabe. Ou seja, “o que nos guia numa entrevista, do mesmo modo que em um tratamento, não é a fenomenologia reconhecível, mas o ignorado, a surpresa”(GOLDER, 2000, p.45). Nessa perspectiva, Bleger (1980) compreende que, diferentemente da consulta e da anamnese, a entrevista psicológica tenta o estudo e a utilização do comportamento total do indivíduo em todo o curso da relação estabelecida com o técnico, durante o tempo que essa relação durar (p.12).

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A entrevista psicológica funciona como uma situação onde se observa parte da vida do paciente. Mas, nesse contexto não consegue emergir a totalidade do repertório de sua personalidade, uma vez que não pode substituir, e nem excluir outros procedimentos de investigação mais extensos e profundos, a exemplo de um tratamento psicoterápico ou psicanalítico, o qual demanda tempo, e favorece para que possa emergir determinados núcleos da personalidade. Este tipo de assistência, também não pode prescindir da entrevista. Esta que apresenta lacunas, dissociações e contradições que levam alguns pesquisadores a considerá-la um instrumento pouco confiável. Mas, com diz Bleger (1980), essas dissociações e contradições, são inerentes à condição humana, e a entrevista oferece condições para que as mesmas sejam refletidas e trabalhadas.

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VI - TIPOS DE ENTREVISTA Segundo Gil (1999), as entrevistas podem ser classificadas em: informal, focalizada, por pautas e estruturada. a) Entrevista Informal (livre ou não-estruturada) – É o tipo menos estruturado, e só se distingue da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta de dados. O que se pretende é a obtenção de uma visão geral do problema pesquisado, bem como a identificação de alguns aspectos da personalidade do entrevistado; b) Entrevista Focalizada (semi-estruturada ou semidirigida) – É tão livre quanto a informal, todavia, enfoca um tema bem específico. Permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas quando este se desvia do tema original o entrevistador deve se esforçar para sua retomada;

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c) Entrevista por Pautas (semi-estruturada ou semidirigida) – Apresenta certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesses que o entrevistador vai explorando ao longo do seu curso. As pautas devem ser ordenadas e guardar certa relação entre si. O entrevistador faz poucas perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente à medida que se refere às pautas assimiladas. Quando este, por ventura, se afasta, o entrevistador intervém de maneira sutil, para preservar a espontaneidade da entrevista;

d) Entrevista Estruturada (fechada) – Desenvolve-se a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanecem invariável para todos os entrevistados, que geralmente são em grande número. Por possibilitar o tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o desenvolvimento de levantamentos sociais.

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VII – A ENTREVISTA QUANTO AO SEU REFERENCIAL TEÓRICO O processo de entrevista é orientado por seu referencial teórico. Aqui serão vistas, em síntese, algumas das perspectivas:

a) Perspectiva Psicanalítica – Tem como base os pressupostos dos conteúdos inconscientes. O entrevistador busca avaliar a motivação inconsciente, o funcionamento psíquico e a organização da personalidade do entrevistado. A entrevista é orientada para a psicodinâmica da estrutura intrapsíquica ou das relações objetais1 e funcionamento interpessoal;

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b) Perspectiva Existencial-humanista – Não procura formular um diagnóstico, e sim, verificar se o interesse do indivíduo está auto-realizado ou não. Aqui não existe uma técnica específica de entrevista, estas são consideradas pelos existencialistas como manipulação. O entrevistador reflete o que ouve, pergunta com cuidado, e tenta reconhecer os sentimentos do entrevistado;

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c) Perspectiva Fenomenológica – Estuda a influência dos pressupostos e dos preconceitos sobre a mente, e que os acionam ao estruturar a experiência e atribuir-lhe um significado. Além de uma atitude aberta e receptiva, é necessário que o entrevistador atue como observador participante, e que, assim, seja capaz de avaliar criticamente, através de sua experiência clínica e conhecimento teórico, o que está ocorrendo na entrevista.

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VII – A ENTREVISTA QUANTO AO SEU MÉTODO Segundo Ribeiro (1988), a realização da entrevista psicológica segue diferentes enfoques:

a) Psicométrico – O entrevistador faz uso constante de uma série de instrumentos: testes, pesquisas, controle estatístico, etc., predeterminados, enquanto dispositivos para a aquisição de conhecimentos sobre o entrevistado. Nessa situação, dificilmente o entrevistador conseguirá aprofundar a relação, o encontro permanece mais em nível formal e informativo do que espontâneo, criativo e transformador. Isto não quer dizer que seja menos válida ou mais superficial;

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b) Psicodinâmico – A relação poderá ser mais aprofundada devido ao fato do entrevistador contar com maior disponibilidade de tempo para questionar o entrevistado, e conduzir a situação de maneira “menos estruturada”. Sua atenção não está no aqui e no agora, ela atende a uma dinâmica de causa-efeito na qual submensagens poderão dificultar a comunicação;

c) Antropológico – Abrange a relação ambiente-organismo na compreensão da comunicação. Qualquer dado será considerado, mas, nem sempre, é possível dizer em que momento ele está e onde será utilizado. Esse tipo de entrevista parece mais complexo, assim sendo, exige mais prática do entrevistador para analisar as informações.

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VIII - TÉCNICAS DE ENTREVISTA

Um dos aspectos essenciais da entrevista está na investigação que se realiza durante o seu transcurso. As observações são registradas em função das hipóteses que o entrevistado emite. O entrevistador ordena na seguinte disposição: observação, hipótese e verificação. Uma boa observação consiste, de algum modo, em formular hipóteses que vão sendo reformuladas durante a entrevista em função das observações subseqüentes.

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No entender de Bleger (1980), o trabalho do psicólogo somente adquire real envergadura e transcendência quando coincidem a investigação e a tarefa profissional, porque estas são as unidades de uma práxis que resguarda a tarefa mais humana: compreender e ajudar os outros. Assim, indagação e atuação, teoria e prática, devem ser manejadas como momentos e aspectos inseparáveis do mesmo processo.

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8.1) Segundo Bleger (1980), a entrevista se diferencia de acordo com o beneficiário do resultado:

- A entrevista que se realiza em benefício do entrevistado, a exemplo da consulta psicológica ou psiquiátrica;- A entrevista cujo objetivo é a pesquisa, valorizando, apenas, o resultado científico da mesma;- A entrevista que se realiza para terceiro, neste caso, a serviço de uma instituição. Com exceção do primeiro tipo de entrevista, os demais exigem do entrevistador que desperte interesse ou motive a participação do entrevistado.

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8.2) Segundo Gil (1999), as entrevistas podem se dá em duas modalidades: Face a face e por Telefone. A entrevista tradicional tem sido realizada face a face. No entanto, nas últimas décadas vem sendo desenvolvida a entrevista por telefone. - Principais vantagens da entrevista por telefone, em relação à entrevista pessoal: custos mais baixos; facilidade na seleção da amostra; rapidez; maior aceitação dos moradores das grandes cidades, que temem abrir suas portas para estranhos; facilidade de agendar o momento mais apropriado para a realização da entrevista; - Limitações da entrevista por telefone: interrupção da entrevista pelo entrevistado; menor quantidade de informações; impossibilidade de descrever as características do entrevistado ou as circunstâncias em que se realizou a entrevista; parcela significativa da população que não dispõe de telefone ou não tem seu nome na lista.

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8.3) Segundo Erickson (apud SCHEEFFER, 1977), algumas recomendações devem ser aplicáveis ao processo de entrevista psicológica: - O entrevistador deve ter o cuidado para não transformar a entrevista numa conversa social. “Como posso ajudá-lo?”, é uma boa maneira de se iniciar uma entrevista;- O entrevistador não deve completar as frases do entrevistado. Devem-se evitar perguntas que induzam respostas do tipo “sim” ou “não”. Não interromper o fluxo do pensamento do entrevistado, a não ser que ele se perca em idéias que fogem dos tópicos da entrevista;- A atitude do entrevistador deve ser de aceitação completa das vivências do entrevistado. Não deve haver discussão de pontos de vista;-

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As pausas e silêncios são, quase sempre, embaraçosos para o entrevistador. Nesses momentos, possivelmente, o entrevistado está revivendo experiências que não consegue expressar verbalmente. Quando as pausas forem longas, o entrevistador poderá retomar um tópico anterior que estava sendo discutido;- O tempo de entrevista deve ser marcado, e o entrevistado será comunicado de quanto tempo dispõe. Se necessário, marca-se outra (s) entrevista (s). Deve-se limitar o número de assuntos em cada sessão para não confundir o entrevistado;- É necessário trocar o pronome pessoal “eu”, pelo uso de expressões2 mais vagas, tais como: “parece que ...”; “parece melhor ...”; etc.;- Recomenda-se fazer o resumo do que fora discutido em cada final de entrevista. E que o entrevistador faça uma síntese para o entrevistado do que foi abordado na sessão;- O término da entrevista não deve transformar-se numa conversa social, sem nenhuma relação com os problemas discutidos. Isto pode prejudicar o resultado da entrevista.

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8.4) Segundo Foddy (2002), é aconselhável o investigador ou entrevistador: - Adotar uma atitude comum e casual. Ex. “Por acaso você ...”;- Empregar a técnica “Kinsey” de olhar os inquiridos bem nos olhos, e colocar a pergunta sem rodeios de modo a que eles tenham dificuldade em mentir;- Adotar uma aproximação indireta de modo a que os inquiridos forneçam a informação desejada sem terem consciência disso, a exemplo das técnicas projetivas;- Colocar as perguntas perturbadoras na parte final do questionário ou da entrevista de modo a que as respostas não sofram qualquer conseqüência desse efeito.

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8.5) Segundo Gilliéron (1996), pode-se estudar os comportamentos do paciente praticamente em relação a dois eixos: - A anamnese do sujeito que permite a observação dos comportamentos repetitivos que dão uma idéia exata da sua personalidade: trata-se do ponto de vista histórico;- A observação do comportamento do paciente quando da primeira entrevista também fornece indicações muito precisas sobre a organização da sua personalidade.

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IX – DINÂMICA DA ENTREVISTA

O entrevistador, no seu papel de técnico, não deve expor suas reações e nem sua história de vida. Não deve permitir em ser considerado como um amigo pelo entrevistado e, nem entrar em relação comercial, de amizade ou de qualquer outro benefício que não seja o pagamento dos seus honorários. Para Gilliéron (1996), a investigação repousará: - Na análise do comportamento do paciente com relação ao enquadre;- Num modelo preciso suscetível de evidenciar a dinâmica relacional que se estabelece entre o paciente e o terapeuta; modelo de apoio objetal. 

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O entrevistado deve ser recebido com cordialidade, e não de forma efusiva. Diante de informações prévias fornecidas por outra pessoa, se deixa claro que essas não serão mantidas em reserva. Em função de não abalar a confiança do entrevistado, estas lhe serão comunicadas. A reação contratransferencial deve ser encarada com um dado de análise da entrevista, não se deve atuar diante da rejeição, inveja ou qualquer outro sentimento do entrevistado. As atitudes deste não devem ser “domadas” ou subjugadas, não se trata de querer triunfar e nem se impor perante o mesmo.  Compete ao entrevistador averiguar como essas atitudes funcionam e como o afetam. O grau de repressão do entrevistado, de um certo modo, tem uma relação direta com o nível de repressão do entrevistador.

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Necessariamente, o entrevistado que fala muito não traz à tona aspectos relevantes das suas dificuldades. A linguagem que é um meio de transmitir informação, mas poderá ser também uma maneira poderosa de se evitar uma verdadeira comunicação (BLEGER, 1980). Nem sempre, uma carga emocional intensa significa uma evolução no processo. O silêncio é uma expressão não-verbal que muitas vezes comunica bem mais que as palavras. O silêncio é, geralmente, o fantasma do entrevistador iniciante. Ele pode ser também uma tentativa de encobrir a faceta de um momento o qual o sujeito não consegue enfrentar. Castilho (1995) cita uma série de tipos de silêncio que são comuns nas dinâmicas de grupo, mas que também ocorrem, com bastante freqüência, no processo de entrevista, etc. Para ilustrar foram destacados alguns tipos de silêncio:

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Silêncio de Tensão – É a expressão da ansiedade. Facilmente observado através da postura corporal tensa ou inquieta do entrevistado, da sua respiração ofegante, do tamborilar dos dedos, etc.; - Silêncio de Medo – Deixa o entrevistado petrificado, na sua tentativa de fugir de uma situação psicologicamente ameaçadora. Esse silêncio suscita muita tensão e, como conseqüência, forte descarga psicossomática; - Silêncio de Reflexão – Surge normalmente após a intervenção do entrevistador, ou logo após um feedback, ou mesmo depois do entrevistador ter passado por algum tipo de vivência. Nele, observa-se a ausência de tensão, há um recolhimento introspectivo de elaboração mental; - Silêncio de Desinteresse – O indivíduo perde o foco da atenção, camufla resistência, se desinteressa pela situação externa porque interiormente ela o atinge.

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9.1) A Ansiedade na Entrevista A ansiedade é parte da existência humana, todas as pessoas a sentem em grau variado, por vezes consiste em uma resposta adaptativa do organismo (SIERRA, 2003). Para Bion (apud ALMEIDA & WETZEL, 2001), se duas pessoas estão numa sala de análise sem angústia, não está havendo análise (p.272). Calligaris (apud GOLDER, 2000), percebe que em todo encontro, o outro está imediatamente implicado enquanto “semelhante imaginário”, o que se busca primeiro é uma tela, uma espécie de cumplicidade que supõe um sentido comum ao que estamos dizendo(p.151). Desse modo, a ansiedade é um indicativo do desenvolvimento de uma entrevista, e deve ser controlada pelo entrevistador, a sua própria, e a que aparece no entrevistado.

9.2) Transferência e Contratransferência

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