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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE-EMPRESA E A
COMERCIALIZAÇÃO DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
Por: Tatiana Siqueira de Lima
Orientador: Prof. Francis Rajzman
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE-EMPRESA E A
COMERCIALIZAÇÃO DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
Apresentação de monografia ao Instituto a Vez do Mestre
– Universidade Candido Mendes como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista em Direito da
Concorrência e da Propriedade Intelectual.
Por: Tatiana Siqueira de Lima
Orientador: Prof. Francis Rajzman
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os professores e alunos
do curso de pós-graduação “Direito da
Concorrência e da Propriedade Intelectual”
(2010/2011) do Instituto a Vez do Mestre
pela generosidade, dedicação e entusiasmo
nas trocas de experiências, fundamentais
para o excelente aproveitamento do curso.
Agradeço também aos meus familiares, e
colegas de trabalho, especialmente ao meu
marido Luis Felipe, pela paciência e
incentivo, e a amiga Ana Carolina Monteiro,
pela atenção e apoio durante a elaboração
deste trabalho.
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RESUMO
O aumento da competitividade global e a crescente demanda por produtos e
serviços inovadores são fatores determinantes para que as empresas busquem nas
universidades o apoio necessário para obter velocidade, maior qualidade e menor
custo no desenvolvimento de suas inovações tecnológicas.
Apesar do relacionamento entre as universidades e o setor produtivo não ser
um processo recente no Brasil, pode-se dizer que ele ainda é imaturo, e em muitos
segmentos há um grande abismo entre as empresas e as universidades. Muitas
instituições de pesquisa possuem mentalidade puramente acadêmica e enfrentam
dificuldade para entender a importância da aplicação real, da disponibilização para a
sociedade e da exploração comercial dos resultados obtidos.
Diante deste contexto o presente trabalho visa estabelecer o cenário atual das
parcerias universidade-empresa, especialmente aquelas que envolvem transferência
de tecnologia e a comercialização das inovações tecnológicas, contribuindo para
identificação das principais motivações, assim como das barreiras que interferem no
avanço desta relação que tem forte impacto econômico.
Além disso, o marco regulatório, que estabelece a estruturação interna das
universidades para gerir e explorar suas tecnologias e as formas de licenciamento e
remuneração através destas, também foi abordado neste estudo.
Palavras-Chave: Cooperação Universidade-Empresa. Transferência de Tecnologia.
Gestão de Tecnologia. Núcleos de Inovação Tecnológica. Lei da Inovação.
Comercialização de Tecnologia. Valoração da Propriedade Intelectual.
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METODOLOGIA
A metodologia adotada para o desenvolvimento do presente trabalho consistiu
na realização de uma pesquisa bibliográfica sobre o tema abordado em livros,
revistas acadêmicas, base de dados, legislações e sites especializados.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7
CAPÍTULO I – A Relação Universidade-Empresa 9
1.1 – Aspectos Gerais 9
1.2. Relação Universidade-Empresa: Divergências
e Resultados 12
Capítulo II – A Transferência de Tecnologia e a Ação dos
Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) 15
2.1. A Transferência de Tecnologia 15
2.2. Amadurecimento da Relação Universidade-Empresa:
Criação dos NITs 16
Capítulo III – Marco Regulatório 19
3.1. Histórico 19
3.2. Constituição do Marco Regulatório do Processo de
Transferência de Tecnologia no Brasil 20
Capítulo VI – Valoração das Tecnologias e
Aspectos Comerciais 25
4.1. Valoração de Tecnologias 25
4.2. Valoração das Patentes 27
4.3. Aspectos Comerciais preconizados pela Legislação Brasileira 28
4.4. Preço e Garantias de Pagamento 29
CONCLUSÃO 31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 32
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INTRODUÇÃO
O crescimento da economia de um país relaciona-se diretamente com seu
desenvolvimento tecnológico, ou seja, sua capacidade de desenvolver e difundir
inovações tecnológicas internamente. Assim, a inovação tem papel fundamental
para a conquista de diferenciais competitivos, seja para os países movimentarem a
economia ou para as empresas obterem vantagens competitivas em relação a seus
concorrentes. (NUNES, 2010)
Para continuarem competitivas as empresas precisam inovar, disponibilizar
para o mercado, a uma velocidade cada vez maior, produtos e serviços inovadores.
Porém, sabe-se que as empresas dificilmente conseguem desenvolver todas as
tecnologias internamente, com a eficácia e a rapidez necessária, e por isso é
crescente a aproximação dos laboratórios universitários e empresariais, gerando
uma relação (transferência de tecnologia) entre aqueles que desenvolvem e/ou
detêm a tecnologia com aqueles que irão utilizá-la. (NUNES, 2010)
O tema transferência de tecnologia é instigante pelo fato de possuir grande
importância na aquisição tecnológica das nações, por meio das novas descobertas e
das rápidas mudanças tecnológicas mundiais. Mas, para que este processo se dê da
melhor maneira possível, e com ganhos tanto para os pesquisadores e
universidades, quanto para as empresas, para o mercado e para a sociedade, deve
haver uma sinergia entre as instituições de pesquisa, o governo e o mercado.
(NUNES, 2010)
No Brasil, o relacionamento entre as universidades e as empresas, embora
não seja novo, ainda é incipiente em muitos segmentos.
A pressão gerada pelo cenário mundial aliada a mudanças internas no país,
como a criação da Lei de Inovação em 2004, foram mediadores para que ocorresse
por parte das universidades uma maior conscientização da necessidade de proteger
o conhecimento, via patentes, para que os resultados da pesquisa chegassem ao
mercado e, sobretudo, para decidir a quem e como licenciar os direitos de
exploração, pois, não sendo produtoras nem fornecedoras de serviços, não lhes
compete explorar, por si só, tais resultados (STAL; FUJINO, 2005).
O trabalho aqui apresentado visa demonstrar o cenário atual das parcerias
universidade-empresa, especialmente aquelas que envolvem transferência de
tecnologia e a comercialização das inovações tecnológicas, contribuindo para
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identificação das principais motivações, assim como das barreiras que interferem no
avanço desta relação que tem forte impacto econômico.
Além disso, o marco regulatório, que estabelece a estruturação interna das
universidades para gerir e explorar suas tecnologias e as formas de licenciamento e
remuneração através destas, também foi abordado neste estudo.
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CAPÍTULO I – A RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA
1.1. Aspectos Gerais
As cooperações entre universidades e empresas possuem um papel
importante no desenvolvimento econômico dos países e vêm se tornando cada vez
mais freqüentes e bem sucedidas à medida que ambas as partes conseguem
atravessar as barreiras que dificultam esse relacionamento. (NUNES, 2010)
De acordo com Plonski (1995), temos como definição de cooperação:
Um modelo de arranjo interinstitucional entre organizações de natureza
fundamentalmente distinta, que podem ter finalidades diferentes e adotar
formatos bastante diversos. Incluem-se nesse conceito desde interações
tênues e pouco comprometedoras, como o oferecimento de estágios
profissionalizantes, até vinculações intensas e extensas como os grandes
programas de pesquisa cooperativa em que chega a ocorrer repartição dos
créditos resultantes da comercialização de seus resultados. (PLONSKI,
1995)
Essa relação universidade-empresa é cada vez mais necessária para a
evolução da sociedade contemporânea, e é nesse cenário que se torna importante o
entendimento dos reais interesses, motivações e, principalmente, impedimentos que
ainda complicam essa interação.
Ao longo do tempo, a universidade passou por mudanças de papéis
importantes que foram ampliando os objetivos de uma instituição de ensino. Uma
dessas mudanças foi no final do século XIX, a Primeira Revolução Acadêmica,
quando introduziu a atividade de pesquisa ao lado da docência, dando a ela a
devida importância, pois, até então, a pesquisa científica era realizada nas casas
dos pesquisadores. Atualmente, seguindo este raciocínio, a universidade passa por
uma Segunda Revolução Acadêmica, cuja palavra-chave é "capitalização do
conhecimento", pois assume uma terceira função, na relação estabelecida com o
setor produtivo, que é a atuação no desenvolvimento econômico, incorporada como
uma nova função acadêmica, ao lado do ensino e da pesquisa. Por meio destas
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novas atividades é garantida a inserção do corpo docente e discente no mercado de
trabalho, além da criação de novas capacitações para os novos postos de trabalho
(NUNES apud TERRA, 2001, p.2).
Esta nova missão da universidade provocou um debate internacional,
onde alguns defendem o abandono da “terceira missão” (desenvolvimento
tecnológico) pela universidade e o retorno às atividades pedagógicas e de pesquisa.
Este posicionamento tem influenciado alguns críticos que afirmam que a
transferência de tecnologia da academia para o setor produtivo pode criar custos
desnecessários de transferência de conhecimento e, também, podem gerar a
proteção de conhecimentos que deveriam fluir livremente. No entanto, algumas
inovações institucionais que estão ocorrendo apontam para o estreitamento das
relações entre a universidade e a empresa (NUNES apud ETZKOWITZ;
LEYDESDORFF, 2000).
Faz-se necessária, então, a definição do que é entendido como
universidade e, também, como empresa neste processo de cooperação tecnológica,
visto que estes atores podem assumir diferentes formas e papéis. Sob a
denominação de empresa, geralmente pessoa jurídica, podem ser observadas
empresas muito diferentes entre si, desde gigantes transnacionais até
microempresas locais. Além disso, no contexto de cooperação, o que se chama de
empresa pode ser também uma pessoa física, como um empreendedor ou, então,
uma empresa informal, isto é, um negócio que opera sem estar na forma da lei.
Já sob o rótulo de universidade pode ser encontrado, no contexto da
cooperação com a empresa, um amplo leque de entidades de ensino e/ou pesquisa.
Inclui qualquer instituição de ensino superior, universidade, centro universitário ou
faculdade isolada, tanto pública quanto comunitária ou privada e, neste caso, sem
ou com fim lucrativo. Além disso, o termo universidade aplica-se também a
instituições de pesquisa não pertencentes a uma universidade, a fundações de
direito privado conveniadas com uma instituição de ensino superior, a empresas
juniores e, até mesmo, a docentes que se prestam a dar consultoria individual
(NUNES apud PLONSKI, 1999).
Mesmo que tardio, o fenômeno de interação universidade-empresa
também está se tornando uma realidade no Brasil. Segundo Melo (2002), o grande
marco para esse relacionamento no país foi a abertura da economia brasileira para o
mercado externo, a partir do início da década de 90. Essa abertura de mercado
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proporcionou o aumento da produtividade e da competitividade comercial entre
empresas e, diante da necessidade de sobrevivência, a demanda de capacitação e
inovação tecnológica passou a ser cada vez maior.
São nas instituições científicas e tecnológicas e principalmente nas
universidades públicas que se produzem os trabalhos científicos que tornam o Brasil
detentor de 1,8% da produção científica indexada mundial, praticamente equivalente
a participação percentual de seu PIB no PIB mundial.
As empresas brasileiras, por outro lado, não tem demonstrado capacidade
em gerar idéias relevantes que possam gerar patentes. O percentual das patentes
depositadas pelo Brasil em relação ao total depositado pelo mundo no escritório
americano de patentes é da ordem de 0,06%. Podemos dizer então que nossa
participação no total mundial de patentes é 30 vezes menor que a nossa
participação cientifica no total mundial da produção cientifica indexada. (MELLO,
2008 apud MELLO; MACULLAN; RENAULT, 2007).
Uma das causas desse baixo desempenho inovador das nossas empresas
resulta de que, do total de cientistas brasileiros, apenas 23% (menos de 20 mil)
desenvolvem pesquisas em laboratórios industriais, enquanto na Coréia do Sul e
nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 54% (94 mil) e 80% (790 mil) dos
cientistas, respectivamente estão empregados nas indústrias para o
desenvolvimento de produtos e processos inovadores. (MELLO, 2008 apud CRUZ,
2007)
Em que pese tal cenário macro desfavorável, encontramos empresas
individualmente ou associadas em redes, buscando nas universidades competências
para ampliar suas capacitações tecnológicas para inovarem, muitas vezes
procurando soluções para pontuais gargalos tecnológicos, outras vezes para o
desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa em fase pré-competitiva. Por
outro lado, temos também exemplos de universidades, conjugando excelência
acadêmica com a comercialização de tecnologia gerada a partir das atividades de
pesquisa para empresas via patenteamento e licenciamento, ou seja, com a criação
de empresas por parte de seus pesquisadores a partir das tecnologias por eles
desenvolvidas (as assim chamadas spin-offs).
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1.2. Relação Universidade-Empresa: Divergências e Resultados
Em todo processo de cooperação as partes envolvidas esbarram em
problemas que dificultam o relacionamento, ao mesmo tempo em que encontram
motivações para realizá-lo.
Os benefícios potenciais derivados da ligação dos recursos de uma
universidade com a necessidade de solução de problemas de uma empresa
parecem óbvios, mas é na tentativa de promover essa integração que os desafios
emergem. Várias discordâncias dificultam a criação e a manutenção da aliança entre
empresa e universidade. As divergências dão origem a conflitos, provocando desvios
inesperados dos objetivos propostos. Nesse sentido, quanto maiores as
discordâncias entre os parceiros menor o sucesso da parceira universidade-
empresa. Dentre as causas das discordâncias, merecem ser analisadas: as
diferenças de cultura, a natureza dos objetivos e ou dos produtos gerados pelo
relacionamento e os choques inesperados no ambiente das relações. (SILVA;
MAZZALI, 2001)
As diferenças de cultura se manifestam, de modo especial, a partir da
consideração do horizonte de planejamento, da linguagem e do ambiente de
trabalho.
Com relação ao horizonte de planejamento, para as universidades, a
medida de tempo tem por referência um período de longo prazo, não muito bem
definido. As universidades estão voltadas para a criação e a disseminação do
conhecimento. Algumas metas existem, porém raramente são feitos projetos de
pesquisas onde se definem claramente prazos finais. Já com respeito às empresas,
há a preocupação com cronogramas, com o cumprimento de metas e outras
atividades a curto prazo, no contexto de um ambiente altamente competitivo.
Universidade e empresa empregam linguagens distintas; enquanto a
primeira se preocupa com a codificação do conhecimento, a segunda está voltada
ao conhecimento direcionado à geração de produtos. Os ambientes de trabalho na
universidade e na empresa são bastante diferentes. Para os pesquisadores da
universidade, a reputação no meio intelectual é a maior força motivacional, ficando
assim o foco de referência situado do lado de fora da organização, em seu grupo de
referência profissional. O parceiro universidade não entende as forças de mercado,
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as demandas de tempo, e as estruturas de incentivo da empresa. Já na empresa,
para a maioria dos gerentes envolvidos nas pesquisas e desenvolvimentos, o
superior hierárquico é o referencial crítico. As avaliações de desempenho vêm desta
fonte e levam em conta resultados específicos provenientes de sua atuação no
trabalho. Da mesma forma, a empresa não entende como tal o trabalho realizado
nas Universidades, nem são familiares com os investimentos em recursos humanos
e capital físico que precederam sua relação com a Universidade. (SILVA; MAZZALI,
2001)
Outro ponto crucial, é que os interesses dos pesquisadores da
universidade podem mudar, e a universidade os deixa relativamente livres para
abandonar determinados projetos e ingressarem em outros mais motivadores. Essas
diferenças motivacionais entre a universidade e a empresa são fundamentais e
podem contribuir negativamente para a efetividade das relações. Todas essas
diferenças culturais podem levar a desvios nas metas acordadas. Os objetivos das
duas organizações são bastante diferentes. A maioria das empresas quer aplicações
concretas, entrando na relação porque visam o acesso a: procedimentos inovadores,
soluções de seus problemas, novo conhecimento científico, novas ferramentas,
novas metodologias e novos produtos e serviços. A natureza da pesquisa
tecnológica, porém, é complexa, ambígua, e abstrata. Muito do conhecimento
gerado pode ser tácito, significando que seus princípios subjacentes são difíceis de
identificar e articular. Além disso, provavelmente existirão longos espaços de tempo
entre o início do projeto e a criação de produtos. Todas estas características podem
criar crises, enganos e dificuldades na transferência do conhecimento.
Já as universidades trabalham para a obtenção de um produto muito
diferente, que pode ser caracterizado a partir de contribuições para o conhecimento,
na forma de novos conceitos, modelos, soluções empíricas, técnicas de medidas, e
outras contribuições tecnológicas. Até mesmo quando as parcerias geram produtos
para provar os conceitos formulados, os chamados “protótipos”, os mesmos podem
satisfazer às universidades mas não às empresas. De um lado, estes protótipos
concretizam novas idéias e conceitos e, por outro lado, eles estão longe de um
produto comercial final.
Existem obstáculos para a transformação de um protótipo em um produto
comercial. O caminho para a comercialização é mais difícil na aliança entre
universidade e empresa, porque falta motivação e habilidade aos pesquisadores da
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universidade para se moverem além do protótipo e os representantes da empresa
têm dificuldade para o entendimento do conhecimento – explícito e tácito – inerente
ao protótipo.
Apesar das inúmeras barreiras que precisam ser transpostas para que
tenhamos uma relação bem-sucedida, no que se refere aos resultados obtidos deste
relacionamento verifica-se que esta experiência tem trazido resultados positivos para
ambas as partes. Para as universidades observa-se a possibilidade de revisão e
atualização de conteúdos e a oferta de disciplinas, auxilio na preparação de cursos
de reciclagem e atualização, adequando-os à realidade de mercado, além de
dissertações de mestrado, teses de doutorado, produtos e processos licenciados.
Para as empresas os resultados são: o aumento de sua competitividade, devido à
possibilidade de introdução de inovações no mercado, o acesso a recursos humanos
mais capacitados e adequados as necessidades, além do know how em pesquisa
através da co-titularidade em patente e artigos científicos.
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CAPÍTULO II - A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E A AÇÃO DOS NÚCLEOS
DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA (NITS)
2.1. A Transferência de Tecnologia
A tecnologia, como condição e elemento próprio da inovação, passou a
ser variável endógena dos modelos de crescimento econômico há poucas décadas.
Entretanto, ter a tecnologia e não ter a inovação e a difusão que lhes corresponda
pode limitar o desenvolvimento tecnológico de longo prazo. Disto resulta a
necessidade de transferir tecnologia. Como afirma o relatório do “International
Centre for Trade and Sustainable Development” (ICTSD) de 2008:
“There is no single definition for 'transfer of technology'. In general,
however, 'transfer of technology' can be defined as the transfer of
systematic knowledge for the manufacture of a product, for the application
of a process, or for the rendering of a serviceZ"
Isto significa dizer, que a transferência de tecnologia não é somente a
compra de uma máquina ou novos softwares, mas, sim, um processo complexo que
incorpora tanto o conhecimento operacional da tecnologia a ser disponibilizada
quanto dos mecanismos que sustentam essa nova tecnologia. (SOUZA, 2010).
A transferência de tecnologia pode acontecer de empresa para empresa,
de universidade para universidade, de universidade para empresa ou de empresa
para a universidade. Porém no caso das universidades, o caso mais freqüente é que
os conhecimentos desenvolvidos em laboratórios sejam transferidos para empresas
para que estas, de posse do conhecimento, o desenvolvem até obter um novo
produto ou melhoria de produtos ou processos já existentes. (NUNES, 2010 apud
CUNHA; FISCHMANN, 2003).
Segundo Garnika & Torkomian (2009), a utilização do conhecimento
gerado nas universidades representa rica fonte de informação e capacitação para o
desenvolvimento de novas tecnologias, possibilitando um caminho alternativo
complementar para o alcance de um patamar tecnológico superior para o país. A
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transferência de tais tecnologias ao meio externo se dá de muitas formas, sendo a
mais tradicional os profissionais que prepara e forma. Entretanto, pode se dar de
diversas outras formas:
• Spin-offs: a transferência de uma inovação tecnológica para um novo
empreendimento constituído por um indivíduo oriundo de uma organização-mae;
• Licenciamento: garantias de permissão ou uso de direitos de certo produto,
desenho industrial ou processo;
• Publicações: artigos publicados em periódicos acadêmicos
• Encontros: interação face a face, na qual uma informação técnica é trocada;
• Projetos de P&D cooperativos: acordos para compartilhamento de pessoas,
equipamentos, direitos de propriedade intelectual, geralmente, entre institutos
públicos de pesquisa e empresas privadas em uma pesquisa.
Entre as diferentes formas de transferência de tecnologias resultantes da
pesquisa acadêmica citadas, destacam-se o licenciamento de patentes e a criação
de novas empresas – spin offs, sendo que tais mecanismos formais de transferência
de conhecimentos e transformação em bens disponíveis ao mercado têm sido
considerados a mudança mais significativa nas relações universidade-empresa nos
últimos anos. (GARNICA & TORKOMIAN, 2009 apud GUSMÃO, 2002)
2.2. Amadurecimento da Relação Universidade-Empresa: Criação dos NITs
O reconhecimento da importância dessa cooperação entre universidades e
empresas tem proporcionado a diminuição do abismo que sempre existiu entre estas
instituições. Muito embora essa interação tenha se tornado uma exigência da
globalização, o histórico de exemplos bem sucedidos, como os descritos por Mello
(2008) impulsionam ainda mais o aprimoramento dessa relação.
A grande evidência do amadurecimento das universidades é a criação de
estruturas internas que tem como objetivo facilitar esse relacionamento com o setor
produtivo. Além disso, podemos dizer que a maior importância dessas estruturas é
assegurar que os direitos das universidades e de seus pesquisadores sejam
preservados.
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No Brasil, as patentes acadêmicas vêm ganhando notoriedade no
estabelecimento de políticas públicas em um ambiente caracterizado por inovações.
(AMADEI; TORKOMIAN, 2009 apud HAASE; ARAÚJO; DIAS, 2005)
A patente é um título de propriedade industrial sobre invenção ou modelo
de utilidade. Um prêmio outorgado pelo estado como recompensa ao inventor. O
registro de patente garante ao inventor certa segurança nas negociações entre ele e
a parte interessada em comprar determinada tecnologia para que possa ser aplicada
em algum setor industrial.
Estudos recentes demonstraram que a proteção intelectual, por meio das
patentes, estimula o desenvolvimento econômico do país e inovações tecnológicas
que geral riqueza e bem-estar geral, desde que as leis de proteção patentária sejam
bem aplicadas. (AMADEI; TORKOMIAN, 2009 apud SABINO, 2007)
A Lei de Inovação (Lei No 10.973, de 02/12/2004) e seu decreto
regulamentador No 5.563, de 11/10/2005 em seu artigo 17 pedem que as instituições
de ciência e tecnologia (ICT) nacionais – universidades ou institutos de pesquisa –
disponham de núcleos de inovação tecnológica (NIT) para gerir suas respectivas
políticas de inovação. Além disso, o artigo 17 do deferido decreto dispõe:
Art. 17 – A ICT deverá dispor de Núcleo de Inovação Tecnológica, próprio
ou em associação com outras ICT, com a finalidade de gerir sua política de
inovação.
Parágrafo único. São competências mínimas do Núcleo de Inovação
Tecnológica:
I - zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteção
das criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferência de
tecnologia;
II - avaliar e classificar os resultados decorrentes de atividades e projetos
de pesquisa para o atendimento das disposições da Lei no 10.973, de
2004;
III - avaliar solicitação de inventor independente para adoção de invenção
na forma do art. 23 deste Decreto;
IV - opinar pela conveniência e promover a proteção das criações
desenvolvidas na instituição;
V - opinar quanto à conveniência de divulgação das criações desenvolvidas
na instituição, passíveis de proteção intelectual; e
VI - acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos títulos
de propriedade intelectual da instituição.
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Em muitas universidades, estruturas similares já existiam com as mais
diversas denominações, como agências de inovação, escritórios de transferência de
tecnologia e núcleos de propriedade intelectual, dentre outras. O fato de atuarem
nessa interface entre a universidade e as empresas e enfrentarem os mesmos
desafios, levou seus gestores a constituírem em maio de 2006 o FORTEC, Fórum
dos Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia, que possui os seguintes
objetivos, conforme seu estatuto:
1. disseminar a cultura da inovação, da propriedade intelectual e da transferência de
tecnologia;
2. potencializar e difundir o papel das universidades e das instituições de pesquisa
nas atividades de cooperação com os setores público e privado;
3. auxiliar na criação e na institucionalização das Instâncias Gestoras de Inovação
(IGI);
4. estimular a capacitação profissional dos que atuam nas IGI;
5. estabelecer, promover e difundir as melhores práticas nas IGI;
6. apoiar as IGI, em suas gestões junto ao Poder Público e demais organizações da
sociedade civil;
7. mapear e divulgar as atividades e indicadores das IGI;
8. apoiar eventos de interesse de seus integrantes;
9. promover a articulação e o intercâmbio entre seus integrantes;
10. promover a cooperação com instituições do país e do exterior;
11. contribuir para a proposição de políticas públicas relacionadas à inovação
tecnológica. (TORKOMIAN et. al, 2009)
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CAPÍTULO III - MARCO REGULATÓRIO
3.1. Histórico
Apesar das discussões a respeito da interação entre universidades e
empresas serem recentes, em 1968, Sábato & Botana já haviam evidenciado a
importância de uma ação múltipla e coordenada de três elementos para o
desenvolvimento da sociedade contemporânea: governo, estrutura produtiva e infra-
estrutura científico-tecnológica. Apesar de terem se passado mais de 40 anos desta
publicação, podemos perceber que o tema continua atual e ainda há um longo
caminho para que tenhamos melhor interação entre esses elementos.
Observamos que as possibilidades de interação entre os vértices da
pirâmide se expandem à medida que se expandem as necessidades específicas da
sociedade contemporânea e que, nesse novo contexto, o papel das universidades e
institutos científico-tecnológicos (ICTs) públicos deixa de ser apenas fornecer mão
de obra qualificada para o mercado de trabalho.
Muito embora, a dinâmica das universidades seja distinta da das
empresas privadas, isto não significa que não seja possível uma interação produtiva
entre elas. Dentre os diversos mecanismos para esse relacionamento como, por
exemplo, a adequação de currículos e de cursos para atender a algumas
especificidades do mercado de trabalho ou até mesmo a realização de eventos e
programas de extensão universitária. Mais recentemente, uma nova forma de
interação tem chamado a atenção de pesquisadores e formuladores de políticas
públicas na área tecnológica: a possibilidade de transferência de tecnologia
produzida na universidade para as empresas privadas (SOUZA, 2010).
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3.2. Constituição do Marco Regulatório do Processo de Transferência de
Tecnologia no Brasil
Podemos entender marco regulatório como o conjunto de normas, leis e
diretrizes que regulamentam o funcionamento de determinado setor ou determinada
atividade em um país. Como já foi dito anteriormente, o processo de transferência de
tecnologia não é um fenômeno recente e, portanto, seu marco regulatório vem
sendo constituído ao longo do tempo. Nas últimas décadas, com a globalização e
com o desenvolvimento cada vez mais rápido de tecnologias nos diversos
segmentos produtivos, a legislação sobre o tema é alterada com maior freqüência.
(SOUZA, 2010)
No Brasil, os três documentos legais mais relevantes que constituem o
marco regulatório nesta área:
• Código Civil brasileiro (Lei nº 10.406/02)
• Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96)
• Lei de Inovação (Lei 10.973/04)
Embora não trate especificamente de contratos de transferência de
tecnologia, o Código Civil Brasileiro estabelece elementos que são comuns a bens
materiais e imateriais. Bens materiais estariam sujeitos a compra, venda e locação
(aluguel) enquanto bens imateriais estariam sujeitos a cessão ou licença (royalties).
(SOUZA, 2010 apud CARVALHO, 2009)
Tanto na previsão de que a forma seja de cessão ou de licença, ainda, há
possibilidade de que estas sejam onerosas ou gratuitas, constituindo tipologias
distintas de contratos normatizados pelo Código Civil Brasileiro.
Portanto, o Código Civil Brasileiro abrange critérios gerais para bens
materiais e imateriais e não trata especificamente de contratos de transferência de
tecnologia. Nesse sentido, a Lei Nº 9.279, de 14 de maio de 1996, que regula
direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, é mais específica.
De acordo com esta lei, a Lei de Propriedade Industrial (LPI), temos as
seguintes categorias contratuais de propriedade industrial:
• Licenciamento de direitos: por meio de exploração de patente ou de uso de marca;
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• Aquisição de conhecimentos: por fornecimento de tecnologia, por prestação de
serviços de assistência técnica e científica e por franquias.
O pedido de patente ou a patente, ambos de conteúdo indivisível, poderão
ser cedidos, total ou parcialmente. Em se tratando de transferência de tecnologia,
segundo o artigo 59 da citada Lei, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(INPI) fará as seguintes anotações:
I - da cessão, fazendo constar a qualificação completa do cessionário;
II - de qualquer limitação ou ônus que recaia sobre o pedido ou a patente; e
III - das alterações de nome, sede ou endereço do depositante ou titular.
Na Lei de Propriedade Industrial as empresas encontram um respaldo
jurídico para suas atividades de P&D e para a posterior transferência de titularidade
dos frutos desse investimento. Os elementos conceituais presentes nas relações
privadas continuam valendo para as instituições científicas e tecnológicas públicas.
No entanto, a aplicabilidade desses conceitos, as relações econômicas e as
implicações institucionais decorrentes da transferência de tecnologia de um ente
público para um privado passaram a ser regulamentados no Brasil a partir de 2004.
(SOUZA, 2010).
A Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, que dispõe sobre incentivos à
inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e que é
conhecida como a Lei da Inovação, assim como o Decreto nº 5.563, de 11 de
outubro de 2005, que a regulamenta, dão um passo importante para o
amadurecimento da relação entre universidades e empresas. Essa lei estabelece
uma nova visão sobre estas relações e está gestada em um contexto de integração
de políticas públicas, a Lei de inovação está intrinsecamente relacionada às políticas
educacionais, industriais e tecnológicas do País.
De acordo com o Ministério de Ciência e Tecnologia, esta normativa está
organizada em torno de 3 vertentes:
• Constituição de ambiente propicio às parcerias estratégicas entre as
universidades, institutos tecnológicos e empresas;
• Estimulo à participação de instituições de ciência e tecnologia no processo de
inovação; e
• Incentivo à inovação na empresa.
O espírito da lei é criar um ambiente dinâmico que incentive a inovação.
Nesse ambiente, as empresas, governo e institutos científicos e tecnológicos
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estabelecem uma relação sinérgica para a que o conhecimento produzido nas
universidades e institutos se transforme em inovação (processos e/ou produtos) nas
empresas e desta forma, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento industrial
do País.
Para contribuir com essa sinergia, diversos mecanismos estão previstos
nessa lei, entre eles:
I - Possibilidade de a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as
respectivas agências de fomento estimular e apoiar a constituição de alianças
estratégicas e o desenvolvimento de projetos de cooperação envolvendo empresas
nacionais, Instituição Científica e Tecnológica (ICT) e organizações de direito privado
sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa e desenvolvimento, que
objetivem a geração de produtos e processos inovadores.
II - Autorização para que as ICT possam compartilhar seus laboratórios,
equipamentos, instrumentos, materiais e demais instalações com microempresas e
empresas de pequeno porte em atividades voltadas à inovação tecnológica, para a
consecução de atividades de incubação. Permite também a utilização dos
laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e demais instalações existentes
nas próprias dependências da ICT por empresas nacionais e organizações de direito
privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa.
Em relação à transferência de tecnologia propriamente dita, a Lei de
inovação é, das normativas que constituem o marco regulatório, o mais específico.
Ela estabelece várias formas de transferência entre os quais: a comercialização de
criação desenvolvida pela ICT, a prestação de serviços e o estabelecimento de
parcerias para o desenvolvimento de produtos e processos inovadores.
A ICT que é titular de direitos de propriedade intelectual pode celebrar
contratos de transferência de tecnologia e de licenciamento para outorga de direito
de uso ou de exploração de criação por ela desenvolvida. A cessão (equivalente à
venda de bem material) ou licença (equivalente à locação) de direitos poderá ser a
título exclusivo ou não exclusivo.
Considerando que os negócios com instituições públicas requerem um
processo prévio de licitação, a Lei de Incentivo à Inovação previu a sua dispensa. O
requisito é que a contratação seja realizada por ICT ou por agência de fomento para
a transferência de tecnologia e para o licenciamento de direito de uso ou de
exploração de criação protegida por direitos de propriedade intelectual.
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A contratação, quando for realizada com dispensa de licitação e houver
cláusula de exclusividade, será precedida da publicação de edital com o objetivo de
dispor de critérios para qualificação e escolha do contratado.
O referido edital conterá informações sobre: o objeto do contrato de
transferência de tecnologia ou de licenciamento, mediante descrição sucinta e clara;
as condições para a contratação, dentre elas a comprovação da regularidade
jurídica e fiscal do interessado, bem como sua qualificação técnica e econômico-
financeira para a exploração da criação, objeto do contrato; os critérios técnicos
objetivos para qualificação da contratação mais vantajosa, consideradas as
especificidades da criação, objeto do contrato; e os prazos e condições para a
comercialização da criação, objeto do contrato. A lei estabeleceu como critério de
desempate, em igualdades de condições, a preferência pela contratação por
empresas de pequeno porte.
O edital será publicado no Diário Oficial da União e divulgado na Internet
pela página eletrônica da ICT, se houver, tornando públicas as informações
essenciais à contratação. Entre os deveres da empresa contratada, detentora do
direito exclusivo de exploração de criação protegida, está a comercialização da
criação dentro do prazo e condições estabelecidos no contrato, perdendo
automaticamente esse direito caso não a comercialize. No caso de aplicação desta
sanção pode a ICT proceder a novo licenciamento.
No entanto, quando a contratação for realizada sem a cláusula de
exclusividade ao receptor de tecnologia ou ao licenciado, e for dispensada a
licitação, poderá ser firmada diretamente, sem necessidade de publicação de edital.
A exploração comercial da criação protegida por direitos de propriedade intelectual,
mesmo sendo não exclusiva, exige da empresa receptora ou licenciada a
comprovação da regularidade jurídica e fiscal, bem como a sua qualificação técnica
e econômico-financeira. (TORKOMIAN et. al., 2009)
Quanto à prestação de serviços tecnológicos e para a inovação, a Lei
faculta à ICT prestar a instituições públicas ou privadas serviços voltados à inovação
e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. Neste caso, o servidor,
o militar ou o empregado público envolvido na prestação de serviço poderá receber
retribuição pecuniária, diretamente da ICT ou de instituição de apoio com que esta
tenha firmado acordo, sempre sob a forma de adicional variável e desde que
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custeado exclusivamente com recursos arrecadados no âmbito da atividade
contratada.
Quanto ao estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento de
produtos e processos inovadores, a Lei afirma que é facultado à ICT celebrar
acordos de parceria para realização de atividades conjuntas de pesquisa científica e
tecnológica e desenvolvimento de tecnologia, produto ou processo, com instituições
públicas e privadas e que as partes deverão prever, em contrato, a titularidade da
propriedade intelectual e a participação nos resultados da exploração das criações
resultantes da parceria.
Por determinação da Lei da Inovação, buscando fortalecer o novo marco
legal para apoio ao desenvolvimento tecnológico e inovação nas empresas
brasileiras, foi promulgada a Lei Nº 11.196, de 21 de novembro de 2005, conhecida
como Lei do Bem, que traz em seu Capítulo III a consolidação dos incentivos fiscais
que as pessoas jurídicas podem usufruir de forma automática desde que realizem
pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica.
Os benefícios da Lei do Bem são baseados em incentivos fiscais, tais
como:
• deduções de Imposto de Renda e da Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL)
de dispêndios efetuados em atividades de P&D;
• redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de máquinas
e equipamentos para P&D;
• depreciação acelerada desses bens;
• amortização acelerada de bens intangíveis;
• redução do Imposto de Renda retido na fonte incidente sobre remessa ao exterior
resultante de contratos de transferência de tecnologia;
• isenção do Imposto de Renda retido na fonte nas remessas efetuadas para o
exterior destinadas ao registro e manutenção de marcas, patentes e cultivares.
- 25 -
CAPÍTULO IV - VALORAÇÃO DE TECNOLOGIAS E ASPECTOS COMERCIAIS
4.1. Valoração de Tecnologias
O aumento da competitividade global e a crescente demanda de produtos
e serviços inovadores são fatores determinantes para que os setores produtivos
busquem nas universidades o apoio necessário para obter velocidade, qualidade e
menor custo no desenvolvimento de suas inovações tecnológicas.
Dentro desta premissa, o processo de transferência de tecnologia entre as
universidades e as empresas cria um caminho alternativo e complementar para o
alcance de um patamar tecnológico superior pelas empresas.
Observando o cenário brasileiro atual, percebe-se que o relacionamento
entre as instituições de ciência e tecnologia e as empresas ainda é imaturo, apesar
de já ser possível perceber que existe nas universidades uma crescente
conscientização da necessidade de proteger o conhecimento via patentes para que
os resultados da pesquisa cheguem ao mercado e para decidir a quem e como
licenciar os direitos de exploração, pois não lhes compete explorar, por si só, tais
resultados. (STAL; FUJINO, 2005)
Um bom resultado de pesquisa não é suficiente para iniciar um processo
de comercialização, é preciso transformá-lo em inovação. O depósito de patente é
fundamental para o processo de licenciamento, mas não é suficiente para o sucesso
da transferência. (STAL; FUJINO, 2005)
A capacidade do licenciador de fazer o licenciado compreender o real
valor da tecnologia é fator determinante para o sucesso da negociação, e quando a
tecnologia é o resultado de uma pesquisa acadêmica, esta valoração fica ainda mais
difícil. Para auxiliar os escritórios de transferência de tecnologia no cálculo dos
valores para licenciamento e taxas de royalties a AUTM – Association of University
Technology Managers tem um manual de orientação do Valuate 2000, onde
constam orientações, tais como a de conscientização da universidade de que o valor
adequado é aquele em ambos concordam. O comprador dificilmente pagará por
despesas anteriores de pesquisa e não há fórmulas adequadas pra obter o valor dos
investimentos na formação dos pesquisadores até o momento da invenção. Os
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resultados de pesquisa exigem desenvolvimento adicional até a produção e
distribuição. (STAL; FUJINO, 2005)
De acordo com Dechenaux, Goldfarb, shane e Thursby (2003) a grande
maioria das invenções licenciadas não são mais do que um protótipo no momento da
transferência da universidade para a empresa.
A universidade participa apenas da primeira fase de um longo processo,
até que a tecnologia se torne economicamente viável. Desta forma, o estágio
embrionário das invenções elevando o risco de investimento e obtenção de retorno
financeiro e econômico em curto prazo pode ser destacado como um dos motivos
pelos quais o aproveitamento financeiro não muito efetivo para os inventores e para
a universidade que lhes serviu de base para a invenção na transferência de
tecnologia e conhecimentos para as empresas. (BIRCHAL; ZAMBALDE, 2009)
Entre os principais fatores que afetam a avaliação da invenção pode-se
destacar:
• o potencial de mercado;
• como a tecnologia se ajusta ao licenciador em termos do portfolio de
tecnologias,abrangência de mercado, capacidade de manufatura e canais de
distribuição;
• se o produto abrirá novos mercados para o licenciado ou se vai apenas
acrescentar algo no mercado atual. O tempo necessário para o desenvolvimento da
tecnologia, os custos de manufatura e distribuição em relação às tecnologias
correntes;
• os benefícios da nova tecnologia frente à tecnologia corrente no mercado
pretendido, a existência de tecnologias alternativas em andamento e de outras
patentes relacionadas;
• o potencial de novas oportunidades decorrentes da aplicação em múltiplos
campos.
O INPI, em apresentação sobre o tema, recomendou alguns métodos para
valoração das tecnologias, tais como:
• Valoração através da apropriação de custos, o qual consiste no levantamento de
todas as despesas incluindo o custo de oportunidade;
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• Preço de mercado, isto é, preço de venda de tecnologias (produtos) semelhantes.
Comparação entre Fluxo de Caixa estimado da tecnologia atual e o Fluxo de Caixa
estimado da Inovação;
• O Método do Valor Presente (fluxo de caixa descontado)
Existem diversos modelos e métodos de valoração na literatura e optam
por aqueles que são mais compatíveis com seus conceitos e interesses. O objetivo
da valoração não é prever o valor exato da tecnologia no momento de sua
comercialização, mas fornecer, diante de todas as incertezas que caracterizam o
processo de inovação tecnológica, um valor esperado que, de certa forma, capte os
riscos e incertezas inerentes a este processo. Além deste, outro objetivo desta
análise é a definição de valores referência para uma eventual negociação.
(SANTOS; SANTIAGO, 2010)
4.2. Valoração das Patentes
O valor da patente está relacionado ao seu potencial de valorização e de
exploração econômica. A valoração econômica das patentes certamente segue os
mesmos modelos descritos anteriormente para valoração de tecnologias, porém
alguns parâmetros específicos são usados, tais como: o tempo de vida, que
considera retornos marginais decrescentes; a abrangência em relação às
reivindicações; a atividade inventiva embutida; a revelação de informações técnicas;
a dificuldade de invenção no seu entorno; a posição no portfolio ao qual a patente
pertence; a variedade de usos ou funções e o potencial de uso como patente
defensiva e como mercadoria de intercâmbio com concorrentes.
Sherry; Teece (2004) alertam para a possibilidade de mudança, às vezes em
curto espaço de tempo, do valor de uma inovação, distinguindo-o dos direitos de
propriedade intelectual associados a esta. No primeiro caso, o valor muda conforme
o ciclo de vida da inovação, que pode se tornar obsoleta em função de outra. No
segundo, do ponto de vista legal, há vários estágios na evolução de uma patente e a
cada estágio está associado um valor. Embora não haja mudanças técnicas entre as
fases de solicitação de registro, de aceitação da patente e de publicação da carta-
patente; do ponto de vista econômico há grande alteração, pois ela pode ser a
- 28 -
patente que dará origem a uma família de novas patentes. Para esses autores, as
negociações devem considerar o potencial de incerteza quanto à obtenção da
patente, incluindo a possibilidade de pagamento de caros processos de litígio.
(STAL; FUJINO, 2005)
4.3. Aspectos Comerciais preconizados pela Legislação Brasileira
No Brasil, conforme visto anteriormente, não há muitos documentos legais
constituindo o marco regulatório dos processos de transferência de tecnologia. Neste
cenário, a primeira lei que merece destaque, é a Lei de Propriedade Industrial, Lei nº
9.279 de 14 de maio de 1996, pois trata, no seu capítulo VIII, do licenciamento para
exploração de patentes. Além disso, esta lei passou a regular os direitos e
obrigações relativos à propriedade industrial no país, e por meio do Decreto nº 2.553
de 16 de abril de 1998, que a regulamenta, os aspectos relativos ao
compartilhamento de royalties entre as instituições públicas de pesquisa e as
universidades e seus pesquisadores, criando um ambiente favorável à proteção do
conhecimento no sistema brasileiro de inovação. (NUNES, 2010)
Apesar da existência da Lei de Propriedade Industrial, a transferência de
tecnologia somente passou a receber atenção especial após a Lei de Inovação
Brasileira, Lei nº 10.973, de 02 de dezembro de 2004, regulamentada pelo Decreto
5.563, de 11 de outubro de 2005, a qual dispõe, dentre outros temas, sobre o
estímulo à inovação por meio da colaboração entre o sistema público de Ciência e
Tecnologia e o setor empresarial.
A ausência de diretrizes legais específicas por parte do governo brasileiro
quanto às parcerias universidade e indústria no período anterior a Lei de Inovação
resultou em entraves para a transferência de tecnologia direta com foco no
licenciamento de patentes, pois havia dúvidas de caráter jurídico quanto à aplicação
da Lei de Propriedade Industrial no tocante à retenção pelas universidades dos
direitos de patente e também quanto à legalidade de contratos com o setor
empresarial para exploração das tecnologias desenvolvidas em universidades
públicas. (GARNICA & TORKOMIAN, 2009)
- 29 -
No que se refere à remuneração, o destaque é mesmo da Lei de
Inovação, onde no seu artigo 13 diz:
Art. 13. É assegurada ao criador participação mínima de 5% (cinco por
cento) e máxima de 1/3 (um terço) nos ganhos econômicos, auferidos pela
ICT, resultantes de contratos de transferência de tecnologia e de
licenciamento para outorga de direito de uso ou de exploração de criação
protegida da qual tenha sido o inventor, obtentor ou autor, aplicando-se, no
que couber, o disposto no parágrafo único do art. 93 da Lei no 9.279, de
1996.
§ 1o A participação de que trata o caput deste artigo poderá ser partilhada
pela ICT entre os membros da equipe de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico que tenham contribuído para a criação.
§ 2o Entende-se por ganhos econômicos toda forma de royalties,
remuneração ou quaisquer benefícios financeiros resultantes da exploração
direta ou por terceiros, deduzidas as despesas, encargos e obrigações
legais decorrentes da proteção da propriedade intelectual.
§ 3o A participação prevista no caput deste artigo obedecerá ao disposto
nos §§ 3o e 4o do art. 8o.
§ 4o A participação referida no caput deste artigo será paga pela ICT em
prazo não superior a 1 (um) ano após a realização da receita que lhe servir
de base.
4.4. Preço e Garantias de Pagamento
Os itens relativos a preço e garantias de pagamento estão entre os que
mais merecem atenção nos contratos de transferência ou licenciamento de
tecnologia.
No caso de licenciamento e cessão de propriedade intelectual o preço
pode ser expresso em royalties, uma porcentagem do resultado, que significa
compartilhar o risco na sua comercialização, requerendo a previsão de auditoria para
permitir o acesso à contabilidade da parte obrigada a essa prestação.
Pode-se ter um pagamento único chamado “lump-sum”, que elimina risco
e evita auditoria, recomendado para instituições de pesquisa e pequenas empresas
que não possuem uma equipe experiente de auditoria contábil.
- 30 -
Pode ser mista, “down payment” (sinal para entrada numa negociação, ou
prestação inicial de um contrato) mais royalty.
Dependendo da negociação, pode-se acrescentar nos contratos uma
clausula de garantias, para o caso de inadimplemento ou de não pagamento.
(TORKOMIAN et. al, 2009)
Em uma análise feita por Garnica e Torkomian (2009) verificou-se que as
faixas de royalties praticadas nos contratos assinados pelas universidades de São
de Paulo são convergentes com as praticadas no mercado. Essas taxas médias são
as seguintes para os respectivos casos estudados: USP, indústria de cosméticos
com média em 4%; Unesp, Unicamp e UFSCar, indústria química, com média em
3%; e Unifesp, indústria farmacêutica, 4,5%. (GARNICA & TORKOMIAN, 2009 apud
RUSSELL, 2007)
Segundo o INPI um percentual de royalty em torno de 5% é adequado,
porém em indústrias de alta produção e grande competição, como a indústria
automobilística, a porcentagem é menor, e em indústrias de baixa produção e alto
custo, como na indústria de aviões e certas áreas químicas ou na indústria
farmacêutica, a porcentagem é mais elevada, chegando a 7-8% ou mais ainda.
(INPI)
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CONCLUSÃO
Verificou-se neste trabalho que a gestão das inovações tecnológicas e as
transferências de tecnologia entre as universidades e as empresas tem ganhado
cada vez mais importância no Brasil, porém o relacionamento entre estas duas
instituições ainda pode ser considerado imaturo quando comparado ao cenário
internacional.
As diferenças de cultura, valores e missão das partes representaram durante
muitos anos as principais barreiras para o sucesso das parcerias entre as
universidades e as empresas. Após a Lei de Inovação as transferências de
tecnologia passaram a receber atenção especial, pois até então a ausência de
diretrizes legais específicas por parte do governo brasileiro também representava um
importante entrave. (GARNICA & TORKOMIAN, 2009)
A estruturação interna das universidades, através da criação dos NITs, para a
gestão efetiva das inovações, representou um importante marco no processo de
comercialização das tecnologias. Porém, o exercício de valoração das inovações, as
formas de pagamento e a fixação de percentual dos royalties ainda são os aspectos
mais delicados das tratativas. (GARNICA & TORKOMIAN, 2009)
Por fim, é importante destacar que dada a relevância dos impactos sociais e
econômicos diretamente relacionados às parcerias universidades-empresas, este
tema deve continuar sendo foco da atenção não só das empresas, mas também das
universidades e do governo.
- 32 -
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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estruturação e gestão de Núcleos de Inovação Tecnológica. Campinas: Komedi,
2009, 353 p.
- 34 -
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
RESUMO 4
METODOLOGIA 5
SUMÁRIO 6
INTRODUÇÃO 7
CAPÍTULO I – A Relação Universidade-Empresa 9
1.1 – Aspectos Gerais 9
1.2. Relação Universidade-Empresa: Divergências
e Resultados 12
Capítulo II – A Transferência de Tecnologia e a Ação dos
Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) 15
2.1. A Transferência de Tecnologia 15
2.2. Amadurecimento da Relação Universidade-Empresa:
Criação dos NITs 16
Capítulo III – Marco Regulatório 19
3.1. Histórico 19
3.2. Constituição do Marco Regulatório do Processo de
Transferência de Tecnologia no Brasil 20
Capítulo VI – Valoração das Tecnologias e
Aspectos Comerciais 25
4.1. Valoração de Tecnologias 25
4.2. Valoração das Patentes 27
4.3. Aspectos Comerciais preconizados pela Legislação Brasileira 28
4.4. Preço e Garantias de Pagamento 29
CONCLUSÃO 31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 32