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http://1.bp.blogspot.com/-fyudDOLSuis/TWWqGW0Q-tI/AAAAAAAAAHc/eNFwkuD_fg8/s1600/o_pensador_rodin.png Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da SEESP Ensino Fundamental II e Ensino Médio Rede São Paulo de Teoria do Conhecimento d02

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Page 1: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESPEnsino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Rede Satildeo Paulo de

Teoria do Conhecimentod02

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Satildeo Paulo

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Sumaacuterio1 Problemas centrais da teoria do conhecimento 4

11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo 4

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico 8

2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento 12

21 ndash Conhecimento empiacuterico 12

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo 17

3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva 22

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo 22

32 ndash Raciociacutenio Indutivo 25

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo 27

4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo 30

41 - A virada informacional na Filosofia 31

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo 39

Bibliografia 44

Ficha da Disciplina 48

sumario

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1 Problemas centrais da teoria do conhecimento

11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

O que eacute conhecimento Na tentativa de oferecer uma resposta adequada para essa pergunta Platatildeo apresenta na obra Teeteto um diaacutelogo entre Soacutecrates e Teeteto um jovem matemaacutetico Nesse diaacutelogo Platatildeo atribui grande ecircnfase agrave habilidade filosoacutefica de diferenciar o verdadeiro do falso considerada o ponto de partida de qualquer tentativa de compreender a natureza do conhecimento Soacutecrates se compara aiacute agraves parteiras (embora se julgue superior a elas) cujo tra-balho ele acredita ser propriamente realizado pelas mulheres que ao atingirem certa idade jaacute natildeo podem procriar mas conhecem melhor do que as outras quando uma mulher estaacute graacutevida e o que fazer para ajudaacute-las no parto

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A suposta superioridade do parto das ideacuteias em relaccedilatildeo ao parto bioloacutegico residiria na sua capacidade de auxiliar a reflexatildeo filosoacutefica na difiacutecil tarefa de determinar criteacuterios de distinccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso Na seguinte passagem Soacutecrates explica em que consiste sua ale-gada superioridade

Soacutecrates ndash A minha arte obsteacutetrica tem atribuiccedilotildees iguais agraves parteiras com a diferenccedila de eu natildeo partejar mulher poreacutem homens e de acompan-har as almas natildeo os corpos em seu trabalho de parto Poreacutem a grande su-perioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens estaacute na iminecircncia de conceber eacute alguma quimera e falsidade ou fruto legiacutetimo e verdadeiro Neste particular sou igualzinho as parteiras esteacuteril em mateacuteria de sabedoria tendo grande fundo de verdade a censura que muitos me as assacam de soacute interrogar os outros sem nunca apresentar opiniatildeo pessoal sobre nenhum assunto por carecer justamente de sabedoria rdquo (Teeteto VII p10 150c-d)

O pressuposto platocircnico de que a tarefa do filoacutesofo eacute a de auxiliar na busca de verdades de-ixou raiacutezes profundas na tradiccedilatildeo filosoacutefica claacutessica e tambeacutem no pensamento contemporacircneo Neste toacutepico estaremos questionando esse pressuposto indicando algumas dificuldades a que ele parece conduzir

Uma primeira dificuldade jaacute indicada no diaacutelogo Teeteto consiste em estabelecer a busca de verdades apoiada nas sensaccedilotildees que nos acompanham como uma fonte aparentemente segura para guiar a accedilatildeo desde nossos primeiros contatos com o mundo A dificuldade surge devido ao caraacuteter singular (relativo ao indiviacuteduo) daquilo que se sente uma vez que as sensaccedilotildees parecem variar dependendo do estado daquele que as vivencia Aquilo que eacute sentido por exemplo como amargo por algueacutem pode ser percebido como doce por outrem dependendo do estado de cada um Em consequumlecircncia aquilo que eacute verdadeiro para um natildeo seraacute verdadeiro para o outro o relativismo parece inevitaacutevel se fundamentarmos o que entendemos por conhecimento nas sensaccedilotildees

Segundo a interpretaccedilatildeo platocircnica sensaccedilatildeo e aparecircncia se equivalem o que conduz agrave anaacutelise do conhecimento em termos do fluxo do movimento das coisas tais como elas nos aparecem O diaacutelogo platocircnico conduz agrave conclusatildeo de que a identificaccedilatildeo do conhecimento agrave sensaccedilatildeo leva agrave impossibilidade de se ultrapassar os limites do indiviacuteduo que vivecircncia tais sensaccedilotildees

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Uma segunda dificuldade tambeacutem tratada no Teeteto diz respeito agrave distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo verdadeira Existiria alguma diferenccedila relevante entre uma pessoa dotada de conhecimento e outra que apenas possui uma opiniatildeo verdadeira Consideremos por exem-plo a opiniatildeo de uma pessoa segundo a qual o Brasil seria derrotado na copa do mundo de 2010 Uma vez confirmada a sua opiniatildeo se mostra verdadeira mas quando indagada sobre as razotildees que a levaram a proferir tal opiniatildeo ela afirma que uma borboleta verde e amarela lhe antecipou o resultado do jogo Nessas condiccedilotildees tenderiacuteamos a considerar que tal pessoa natildeo possuiacutea realmente conhecimento sobre a classificaccedilatildeo do Brasil na copa Isso porque ela natildeo apresentou uma justificaccedilatildeo racional considerada apropriada para fundamentar a sua opiniatildeo sobre o evento em questatildeo

Outro exemplo anaacutelogo aparentemente menos problemaacutetico seria aquele de um jovem que acredita existir vida em Marte com base na leitura de histoacuterias em quadrinhos Tendo atualmente evidecircncias cientifica da possibilidade de existecircncia de vida em Marte a opiniatildeo do jovem pode vir a se mostrar verdadeira O que fica impliacutecito nesses exemplos eacute que a forma de justificaccedilatildeo racional apoiada em evidecircncias apropriadas constituiria o fator diferenciador entre conhecimento e opiniatildeo verdadeira

Figura 1 ndash Johannes Kepler httpptwikipediaorgwikiFicheiroJohannes_Kepler_1610jpg

Assim uma caracterizaccedilatildeo provisoacuteria do conhecimento fornecida por Platatildeo no diaacutelogo Teeteto eacute que ele seria opiniatildeo verdadeira racionalmente justificada Contudo o que torna as evidecircncias dos exemplos apresentados portadoras de legiacutetimo poder justificador (racional) do conhecimento

Uma resposta comum a esta pergunta ressalta que as evidecircncias consideradas relevantes permitem a construccedilatildeo de sistemas (ver httpptwikipediaorgwikiSistema) explicativos bem sucedidos Tais sistemas podem ser entendidos como conjuntos de hipoacuteteses unificadas e organizadas de acordo com princiacutepios compartilhados por uma comunidade de pesquisadores os quais possibilitam a justificaccedilatildeo racional de opiniotildees verdadeiras bem como a previsatildeo da ocorrecircncia de eventos no mundo

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Um exemplo bem conhecido de elaboraccedilatildeo de um tal sistema foi dado por Johannes Kepler (1571-1630) na explicaccedilatildeo da oacuterbita eliacuteptica do movimento de Marte Ateacute o seacuteculo XVII o movimento dos astros era entendido como expressatildeo da perfeiccedilatildeo divina e considerado cir-cular Como ressalta Norwood R Hanson (1958) Kepler na tentativa de verificar os dados registrados por Tycho Brahe (1546-1601) sobre o movimento de Marte encontrou dificul-dades aparentemente insuperaacuteveis ateacute o momento em que elaborou um novo sistema explica-tivo Ao abandonar os pressupostos geocecircntricos do sistema explicativo ptolomaico adotando em seu lugar a cosmologia copernicana Kepler propocircs um novo conjunto de hipoacuteteses que fundamentou um sistema heliocecircntrico a partir do qual os dados fornecidos por Ticho Brahe puderam ser compreendidos e explicados Aleacutem disso a partir desse novo sistema a previsatildeo das posiccedilotildees de Marte pocircde ser efetivamente realizada e empiricamente corroborada

Figura 2 ndash Tycho Brahe

httpptwikipediaorgwikiTycho_brahe

A habilidade de construir sistemas explicativos racionalmente justificados e em certos casos empiricamente corroborados distinguiria nessa perspectiva o conhecimento da mera opiniatildeo o conhecimento assim seria crenccedila verdadeira racionalmente justificada no interior de um sistema explicativo

A concepccedilatildeo denominada sistecircmica do conhecimento eacute apenas uma das vaacuterias tentativas de enfrentar as dificuldades levantadas pelo problema do Teeteto Alternativas a esta concepccedilatildeo satildeo oferecidas na antiguidade por ceacuteticos como Craacutetilo (seacuteculo V aC) por filoacutesofos relativistas como Protaacutegoras (480 a 410 aC) e na contemporaneidade por Richard Rorty (1931-2007) entre outros Mesmo com as diferentes perspectivas adotadas por esses filoacutesofos entendemos que o problema da distinccedilatildeo entre o conhecimento e a opiniatildeo verdadeira ainda se coloca No caso da proposta sistecircmica como saber se um sistema seraacute adequado para explicar racional-mente novos eventos Que criteacuterio de relevacircncia adotaremos para isso Afinal a histoacuteria da ciecircncia mostra que natildeo por acaso o sistema ptolomaico apesar de equivocado perdurou por muitos seacuteculos A dificuldade de explicitar um criteacuterio de relevacircncia segundo o qual uma ex-plicaccedilatildeo possa ser considerada racionalmente justificada traz de volta o problema do Teeteto que permanece natildeo resolvido

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Figura 3 ndash Representaccedilatildeo do sistema cosmoloacutegico ptolomaicohttpuniterranosapoptgeocentrehtm

Uma conclusatildeo provisoacuteria para encerrar este toacutepico eacute que parece que incorremos em um circulo vicioso quando tentamos solucionar o problema do Teeteto pois a tentativa bem suce-dida de distinguir conhecimento de opiniatildeo verdadeira apoiada em explicaccedilotildees racionalmente justificadas parece exigir ela proacutepria conhecimento

Ao constatar essa dificuldade o proacuteprio Platatildeo no final do diaacutelogo Teeteto rejeita a possibi-lidade de se entender conhecimento como opiniatildeo verdadeira aliada agrave explicaccedilatildeo racional uma vez que esta requer conhecimento para ser qualificada como tal Nesse sentido ele conclui

Ora seraacute o cuacutemulo da simplicidade estando noacutes agrave procura do conheci-mento vir algueacutem dizer-nos que eacute a opiniatildeo certa aliada ao conhecimento seja da diferenccedila ou do que for Desse modo Teeteto conhecimento natildeo pode ser nem sensaccedilatildeo nem opiniatildeo verdadeira nem a explicaccedilatildeo racional acrescentada a essa opiniatildeordquo (Teeteto p 76 209a)

Inuacutemeras discussotildees contemporacircneas do problema do Teeteto podem ser encontradas na literatura filosoacutefica destacando-se aquelas propostas por Chisholm (1966) e Ayer (1975) Gettier (1963) e Dretske (1981) cuja leitura permitiraacute ao leitor interessado acompanhar o desdobramento atual dessa temaacutetica Passemos agora ao estudo das possiacuteveis relaccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conhecimento comum

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico

Como vimos o conhecimento entendido como crenccedila verdadeira corretamente explicada en-volve seacuterias dificuldades entre elas um circulo vicioso pois o que caracterizaria uma crenccedila verdadeira e uma explicaccedilatildeo correta para aquele que natildeo possui de antematildeo conhecimento Vaacuterios filoacutesofos como Reneacute Descartes por exemplo tentaram superar essa dificuldade su-pondo que o conhecimento e sua justificativa estariam fundados em ideacuteias claras e distintas presentes na mente

Mas o que seria essa ldquomenterdquo Para Descartes e outros pensadores racionalistas a mente seria uma ldquosubstacircncia pensanterdquo com conteuacutedos de dois tipos principais as ideacuteias inatas e as

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ideacuteias adquiridas atraveacutes da experiecircncia As primeiras teriam sido originadas por Deus jaacute as segundas resultariam dos dados fornecidos pelos sentidos A combinaccedilatildeo dessas ideacuteias con-forme regras elaboradas pela razatildeo permite a formulaccedilatildeo de juiacutezos

Nesse contexto racionalista o conhecimento eacute estreitamente vinculado agrave noccedilatildeo de verdade estando associado ao domiacutenio proposicional e discursivo Aleacutem disso a justificaccedilatildeo racional alcanccedilada com o auxiacutelio do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese (que seraacute apresentado no Tema 3) eacute considerada essencial para distinguir as opiniotildees falsas das crenccedilas verdadeiras A capacidade de realizar tal distinccedilatildeo entre meras opiniotildees e crenccedilas verdadeiras constitui um dos marcos da alegada oposiccedilatildeo entre o conhecimento comum e o conhecimento cientiacutefico

Eacute um entendimento frequumlente (que iremos mais adiante questionar mas que eacute endossado por muitos filoacutesofos) que a opiniatildeo por vezes falsa constitui o elemento discursivo preacute-cientiacute-fico que alicerccedila o senso comum Faltaria agrave experiecircncia cotidiana com todas as suas alegadas pseudo-evidecircncias falhas equiacutevocos e preconceitos justamente a preocupaccedilatildeo de justificar racionalmente as crenccedilas que a sustentam

Figura 4 ndash Thomas ReidhttpptwikipediaorgwikiThomas_reid

Herdeiros do pensamento cartesiano filoacutesofos contemporacircneos argumentam que as cren-ccedilas verdadeiras e o construto teoacuterico que elas alicerccedilam constituiriam o arcabouccedilo da atividade cientiacutefica Nessa perspectiva a relaccedilatildeo que tradicionalmente se estabelece entre o conhecimen-to cientiacutefico e o conhecimento comum opinativo eacute de oposiccedilatildeo e confronto a ciecircncia se coloca como uma alternativa agrave visatildeo de mundo do senso comum e sua alegada ingecircnua confianccedila em sistemas de crenccedilas supostamente carentes de justificaccedilatildeo racional

Figura 5 ndash George E Moorehttpfair-useorgg-e-mooreprincipia-ethica

Em contraste outros filoacutesofos como Thomas Reid (1710-1796) George E Moore (1873-1958) e os pragmatistas em geral rejeitam a oposiccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e conhecimen-to comum Eles destacam a relevacircncia do conhecimento comum para a constituiccedilatildeo de nossos

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sistemas de crenccedilas fornecendo recursos sensoriais linguumliacutesticos entre outros de que se serve a reflexatildeo filosoacutefica e cientiacutefica

Apesar de pensadores como Reid e Moore que consideram o conhecimento comum em um vieacutes positivo terem influenciado o pensamento ocidental especialmente o de tradiccedilatildeo anglo-saxatilde as teses avessas ao conhecimento comum permaneceram ateacute recentemente majoritaacuterias na maioria das vertentes filosoacuteficas contemporacircneas Seria interessante neste momento que refletiacutessemos sobre os motivos que levam filoacutesofos e cientistas a defenderem dicotomia conhe-cimento cientiacutefico versus conhecimento comum Afinal que ganhos (ou perdas) tal dicotomia conhecimento acarreta no estudo do conhecimento Uma vez que como vimos no Toacutepico 11 sequer temos uma definiccedilatildeo precisa do que vem a ser conhecimento por que essa dicotomia permanece

Embora na tradiccedilatildeo filosoacutefica o problema do Teeteto seja central o fato eacute que a ciecircncia e as praacuteticas cotidianas de nossa cultura parecem avanccedilar carecendo o conhecimento de uma definiccedilatildeo Para evitar a paralisia ceacutetica uma caracterizaccedilatildeo operacional em termos de meios e fins tem sido adotada em vaacuterios estudos sobre a natureza do conhecimento Eacute a partir dessa perspectiva que procuramos especificar as principais caracteriacutesticas do conhecimento comum as-sim considerado em pelo menos trecircs sentidos

1 por ser cotidiano usual e frequumlente

2 por pertencer a uma comunidade de agentes e

3 por expressar a dinacircmica evolutiva dos tipos de accedilatildeo e de resoluccedilatildeo de problemas que caracterizam a espeacutecie humana em seu longo processo de aprendizagem

Considerando essas trecircs acepccedilotildees o conhecimento comum pode ser caracterizado como aquele que resulta de haacutebitos compartilhados por uma comunidade de agentes situados em seus respectivos ambientes em suas atividades bem sucedidas de resoluccedilatildeo de problemas es-pecialmente daqueles relacionados agrave preservaccedilatildeo da vida Por haacutebito entendemos a tendecircncia agrave repeticcedilatildeo na formaccedilatildeo de padrotildees ou tipos de accedilatildeo que mantecircm uma regularidade tanto no agente quanto na comunidade a que ele pertence

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Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

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bull METTRIE J O de la Lrsquoomme machine 1747 (Acesso em 23052010 httpfrwikisourceorgwikiLrsquoHomme_Machine)

bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
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Page 2: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Satildeo Paulo

2011

3

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02ficha sumaacuterio bibliografia TEMAS

1

2

3

4

Sumaacuterio1 Problemas centrais da teoria do conhecimento 4

11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo 4

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico 8

2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento 12

21 ndash Conhecimento empiacuterico 12

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo 17

3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva 22

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo 22

32 ndash Raciociacutenio Indutivo 25

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo 27

4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo 30

41 - A virada informacional na Filosofia 31

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo 39

Bibliografia 44

Ficha da Disciplina 48

sumario

4

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

1

2

3

4

tema1

1 Problemas centrais da teoria do conhecimento

11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

O que eacute conhecimento Na tentativa de oferecer uma resposta adequada para essa pergunta Platatildeo apresenta na obra Teeteto um diaacutelogo entre Soacutecrates e Teeteto um jovem matemaacutetico Nesse diaacutelogo Platatildeo atribui grande ecircnfase agrave habilidade filosoacutefica de diferenciar o verdadeiro do falso considerada o ponto de partida de qualquer tentativa de compreender a natureza do conhecimento Soacutecrates se compara aiacute agraves parteiras (embora se julgue superior a elas) cujo tra-balho ele acredita ser propriamente realizado pelas mulheres que ao atingirem certa idade jaacute natildeo podem procriar mas conhecem melhor do que as outras quando uma mulher estaacute graacutevida e o que fazer para ajudaacute-las no parto

5

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

1

2

3

4

tema1

A suposta superioridade do parto das ideacuteias em relaccedilatildeo ao parto bioloacutegico residiria na sua capacidade de auxiliar a reflexatildeo filosoacutefica na difiacutecil tarefa de determinar criteacuterios de distinccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso Na seguinte passagem Soacutecrates explica em que consiste sua ale-gada superioridade

Soacutecrates ndash A minha arte obsteacutetrica tem atribuiccedilotildees iguais agraves parteiras com a diferenccedila de eu natildeo partejar mulher poreacutem homens e de acompan-har as almas natildeo os corpos em seu trabalho de parto Poreacutem a grande su-perioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens estaacute na iminecircncia de conceber eacute alguma quimera e falsidade ou fruto legiacutetimo e verdadeiro Neste particular sou igualzinho as parteiras esteacuteril em mateacuteria de sabedoria tendo grande fundo de verdade a censura que muitos me as assacam de soacute interrogar os outros sem nunca apresentar opiniatildeo pessoal sobre nenhum assunto por carecer justamente de sabedoria rdquo (Teeteto VII p10 150c-d)

O pressuposto platocircnico de que a tarefa do filoacutesofo eacute a de auxiliar na busca de verdades de-ixou raiacutezes profundas na tradiccedilatildeo filosoacutefica claacutessica e tambeacutem no pensamento contemporacircneo Neste toacutepico estaremos questionando esse pressuposto indicando algumas dificuldades a que ele parece conduzir

Uma primeira dificuldade jaacute indicada no diaacutelogo Teeteto consiste em estabelecer a busca de verdades apoiada nas sensaccedilotildees que nos acompanham como uma fonte aparentemente segura para guiar a accedilatildeo desde nossos primeiros contatos com o mundo A dificuldade surge devido ao caraacuteter singular (relativo ao indiviacuteduo) daquilo que se sente uma vez que as sensaccedilotildees parecem variar dependendo do estado daquele que as vivencia Aquilo que eacute sentido por exemplo como amargo por algueacutem pode ser percebido como doce por outrem dependendo do estado de cada um Em consequumlecircncia aquilo que eacute verdadeiro para um natildeo seraacute verdadeiro para o outro o relativismo parece inevitaacutevel se fundamentarmos o que entendemos por conhecimento nas sensaccedilotildees

Segundo a interpretaccedilatildeo platocircnica sensaccedilatildeo e aparecircncia se equivalem o que conduz agrave anaacutelise do conhecimento em termos do fluxo do movimento das coisas tais como elas nos aparecem O diaacutelogo platocircnico conduz agrave conclusatildeo de que a identificaccedilatildeo do conhecimento agrave sensaccedilatildeo leva agrave impossibilidade de se ultrapassar os limites do indiviacuteduo que vivecircncia tais sensaccedilotildees

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Uma segunda dificuldade tambeacutem tratada no Teeteto diz respeito agrave distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo verdadeira Existiria alguma diferenccedila relevante entre uma pessoa dotada de conhecimento e outra que apenas possui uma opiniatildeo verdadeira Consideremos por exem-plo a opiniatildeo de uma pessoa segundo a qual o Brasil seria derrotado na copa do mundo de 2010 Uma vez confirmada a sua opiniatildeo se mostra verdadeira mas quando indagada sobre as razotildees que a levaram a proferir tal opiniatildeo ela afirma que uma borboleta verde e amarela lhe antecipou o resultado do jogo Nessas condiccedilotildees tenderiacuteamos a considerar que tal pessoa natildeo possuiacutea realmente conhecimento sobre a classificaccedilatildeo do Brasil na copa Isso porque ela natildeo apresentou uma justificaccedilatildeo racional considerada apropriada para fundamentar a sua opiniatildeo sobre o evento em questatildeo

Outro exemplo anaacutelogo aparentemente menos problemaacutetico seria aquele de um jovem que acredita existir vida em Marte com base na leitura de histoacuterias em quadrinhos Tendo atualmente evidecircncias cientifica da possibilidade de existecircncia de vida em Marte a opiniatildeo do jovem pode vir a se mostrar verdadeira O que fica impliacutecito nesses exemplos eacute que a forma de justificaccedilatildeo racional apoiada em evidecircncias apropriadas constituiria o fator diferenciador entre conhecimento e opiniatildeo verdadeira

Figura 1 ndash Johannes Kepler httpptwikipediaorgwikiFicheiroJohannes_Kepler_1610jpg

Assim uma caracterizaccedilatildeo provisoacuteria do conhecimento fornecida por Platatildeo no diaacutelogo Teeteto eacute que ele seria opiniatildeo verdadeira racionalmente justificada Contudo o que torna as evidecircncias dos exemplos apresentados portadoras de legiacutetimo poder justificador (racional) do conhecimento

Uma resposta comum a esta pergunta ressalta que as evidecircncias consideradas relevantes permitem a construccedilatildeo de sistemas (ver httpptwikipediaorgwikiSistema) explicativos bem sucedidos Tais sistemas podem ser entendidos como conjuntos de hipoacuteteses unificadas e organizadas de acordo com princiacutepios compartilhados por uma comunidade de pesquisadores os quais possibilitam a justificaccedilatildeo racional de opiniotildees verdadeiras bem como a previsatildeo da ocorrecircncia de eventos no mundo

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Um exemplo bem conhecido de elaboraccedilatildeo de um tal sistema foi dado por Johannes Kepler (1571-1630) na explicaccedilatildeo da oacuterbita eliacuteptica do movimento de Marte Ateacute o seacuteculo XVII o movimento dos astros era entendido como expressatildeo da perfeiccedilatildeo divina e considerado cir-cular Como ressalta Norwood R Hanson (1958) Kepler na tentativa de verificar os dados registrados por Tycho Brahe (1546-1601) sobre o movimento de Marte encontrou dificul-dades aparentemente insuperaacuteveis ateacute o momento em que elaborou um novo sistema explica-tivo Ao abandonar os pressupostos geocecircntricos do sistema explicativo ptolomaico adotando em seu lugar a cosmologia copernicana Kepler propocircs um novo conjunto de hipoacuteteses que fundamentou um sistema heliocecircntrico a partir do qual os dados fornecidos por Ticho Brahe puderam ser compreendidos e explicados Aleacutem disso a partir desse novo sistema a previsatildeo das posiccedilotildees de Marte pocircde ser efetivamente realizada e empiricamente corroborada

Figura 2 ndash Tycho Brahe

httpptwikipediaorgwikiTycho_brahe

A habilidade de construir sistemas explicativos racionalmente justificados e em certos casos empiricamente corroborados distinguiria nessa perspectiva o conhecimento da mera opiniatildeo o conhecimento assim seria crenccedila verdadeira racionalmente justificada no interior de um sistema explicativo

A concepccedilatildeo denominada sistecircmica do conhecimento eacute apenas uma das vaacuterias tentativas de enfrentar as dificuldades levantadas pelo problema do Teeteto Alternativas a esta concepccedilatildeo satildeo oferecidas na antiguidade por ceacuteticos como Craacutetilo (seacuteculo V aC) por filoacutesofos relativistas como Protaacutegoras (480 a 410 aC) e na contemporaneidade por Richard Rorty (1931-2007) entre outros Mesmo com as diferentes perspectivas adotadas por esses filoacutesofos entendemos que o problema da distinccedilatildeo entre o conhecimento e a opiniatildeo verdadeira ainda se coloca No caso da proposta sistecircmica como saber se um sistema seraacute adequado para explicar racional-mente novos eventos Que criteacuterio de relevacircncia adotaremos para isso Afinal a histoacuteria da ciecircncia mostra que natildeo por acaso o sistema ptolomaico apesar de equivocado perdurou por muitos seacuteculos A dificuldade de explicitar um criteacuterio de relevacircncia segundo o qual uma ex-plicaccedilatildeo possa ser considerada racionalmente justificada traz de volta o problema do Teeteto que permanece natildeo resolvido

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Figura 3 ndash Representaccedilatildeo do sistema cosmoloacutegico ptolomaicohttpuniterranosapoptgeocentrehtm

Uma conclusatildeo provisoacuteria para encerrar este toacutepico eacute que parece que incorremos em um circulo vicioso quando tentamos solucionar o problema do Teeteto pois a tentativa bem suce-dida de distinguir conhecimento de opiniatildeo verdadeira apoiada em explicaccedilotildees racionalmente justificadas parece exigir ela proacutepria conhecimento

Ao constatar essa dificuldade o proacuteprio Platatildeo no final do diaacutelogo Teeteto rejeita a possibi-lidade de se entender conhecimento como opiniatildeo verdadeira aliada agrave explicaccedilatildeo racional uma vez que esta requer conhecimento para ser qualificada como tal Nesse sentido ele conclui

Ora seraacute o cuacutemulo da simplicidade estando noacutes agrave procura do conheci-mento vir algueacutem dizer-nos que eacute a opiniatildeo certa aliada ao conhecimento seja da diferenccedila ou do que for Desse modo Teeteto conhecimento natildeo pode ser nem sensaccedilatildeo nem opiniatildeo verdadeira nem a explicaccedilatildeo racional acrescentada a essa opiniatildeordquo (Teeteto p 76 209a)

Inuacutemeras discussotildees contemporacircneas do problema do Teeteto podem ser encontradas na literatura filosoacutefica destacando-se aquelas propostas por Chisholm (1966) e Ayer (1975) Gettier (1963) e Dretske (1981) cuja leitura permitiraacute ao leitor interessado acompanhar o desdobramento atual dessa temaacutetica Passemos agora ao estudo das possiacuteveis relaccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conhecimento comum

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico

Como vimos o conhecimento entendido como crenccedila verdadeira corretamente explicada en-volve seacuterias dificuldades entre elas um circulo vicioso pois o que caracterizaria uma crenccedila verdadeira e uma explicaccedilatildeo correta para aquele que natildeo possui de antematildeo conhecimento Vaacuterios filoacutesofos como Reneacute Descartes por exemplo tentaram superar essa dificuldade su-pondo que o conhecimento e sua justificativa estariam fundados em ideacuteias claras e distintas presentes na mente

Mas o que seria essa ldquomenterdquo Para Descartes e outros pensadores racionalistas a mente seria uma ldquosubstacircncia pensanterdquo com conteuacutedos de dois tipos principais as ideacuteias inatas e as

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ideacuteias adquiridas atraveacutes da experiecircncia As primeiras teriam sido originadas por Deus jaacute as segundas resultariam dos dados fornecidos pelos sentidos A combinaccedilatildeo dessas ideacuteias con-forme regras elaboradas pela razatildeo permite a formulaccedilatildeo de juiacutezos

Nesse contexto racionalista o conhecimento eacute estreitamente vinculado agrave noccedilatildeo de verdade estando associado ao domiacutenio proposicional e discursivo Aleacutem disso a justificaccedilatildeo racional alcanccedilada com o auxiacutelio do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese (que seraacute apresentado no Tema 3) eacute considerada essencial para distinguir as opiniotildees falsas das crenccedilas verdadeiras A capacidade de realizar tal distinccedilatildeo entre meras opiniotildees e crenccedilas verdadeiras constitui um dos marcos da alegada oposiccedilatildeo entre o conhecimento comum e o conhecimento cientiacutefico

Eacute um entendimento frequumlente (que iremos mais adiante questionar mas que eacute endossado por muitos filoacutesofos) que a opiniatildeo por vezes falsa constitui o elemento discursivo preacute-cientiacute-fico que alicerccedila o senso comum Faltaria agrave experiecircncia cotidiana com todas as suas alegadas pseudo-evidecircncias falhas equiacutevocos e preconceitos justamente a preocupaccedilatildeo de justificar racionalmente as crenccedilas que a sustentam

Figura 4 ndash Thomas ReidhttpptwikipediaorgwikiThomas_reid

Herdeiros do pensamento cartesiano filoacutesofos contemporacircneos argumentam que as cren-ccedilas verdadeiras e o construto teoacuterico que elas alicerccedilam constituiriam o arcabouccedilo da atividade cientiacutefica Nessa perspectiva a relaccedilatildeo que tradicionalmente se estabelece entre o conhecimen-to cientiacutefico e o conhecimento comum opinativo eacute de oposiccedilatildeo e confronto a ciecircncia se coloca como uma alternativa agrave visatildeo de mundo do senso comum e sua alegada ingecircnua confianccedila em sistemas de crenccedilas supostamente carentes de justificaccedilatildeo racional

Figura 5 ndash George E Moorehttpfair-useorgg-e-mooreprincipia-ethica

Em contraste outros filoacutesofos como Thomas Reid (1710-1796) George E Moore (1873-1958) e os pragmatistas em geral rejeitam a oposiccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e conhecimen-to comum Eles destacam a relevacircncia do conhecimento comum para a constituiccedilatildeo de nossos

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sistemas de crenccedilas fornecendo recursos sensoriais linguumliacutesticos entre outros de que se serve a reflexatildeo filosoacutefica e cientiacutefica

Apesar de pensadores como Reid e Moore que consideram o conhecimento comum em um vieacutes positivo terem influenciado o pensamento ocidental especialmente o de tradiccedilatildeo anglo-saxatilde as teses avessas ao conhecimento comum permaneceram ateacute recentemente majoritaacuterias na maioria das vertentes filosoacuteficas contemporacircneas Seria interessante neste momento que refletiacutessemos sobre os motivos que levam filoacutesofos e cientistas a defenderem dicotomia conhe-cimento cientiacutefico versus conhecimento comum Afinal que ganhos (ou perdas) tal dicotomia conhecimento acarreta no estudo do conhecimento Uma vez que como vimos no Toacutepico 11 sequer temos uma definiccedilatildeo precisa do que vem a ser conhecimento por que essa dicotomia permanece

Embora na tradiccedilatildeo filosoacutefica o problema do Teeteto seja central o fato eacute que a ciecircncia e as praacuteticas cotidianas de nossa cultura parecem avanccedilar carecendo o conhecimento de uma definiccedilatildeo Para evitar a paralisia ceacutetica uma caracterizaccedilatildeo operacional em termos de meios e fins tem sido adotada em vaacuterios estudos sobre a natureza do conhecimento Eacute a partir dessa perspectiva que procuramos especificar as principais caracteriacutesticas do conhecimento comum as-sim considerado em pelo menos trecircs sentidos

1 por ser cotidiano usual e frequumlente

2 por pertencer a uma comunidade de agentes e

3 por expressar a dinacircmica evolutiva dos tipos de accedilatildeo e de resoluccedilatildeo de problemas que caracterizam a espeacutecie humana em seu longo processo de aprendizagem

Considerando essas trecircs acepccedilotildees o conhecimento comum pode ser caracterizado como aquele que resulta de haacutebitos compartilhados por uma comunidade de agentes situados em seus respectivos ambientes em suas atividades bem sucedidas de resoluccedilatildeo de problemas es-pecialmente daqueles relacionados agrave preservaccedilatildeo da vida Por haacutebito entendemos a tendecircncia agrave repeticcedilatildeo na formaccedilatildeo de padrotildees ou tipos de accedilatildeo que mantecircm uma regularidade tanto no agente quanto na comunidade a que ele pertence

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Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
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Page 3: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Sumaacuterio1 Problemas centrais da teoria do conhecimento 4

11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo 4

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico 8

2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento 12

21 ndash Conhecimento empiacuterico 12

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo 17

3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva 22

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo 22

32 ndash Raciociacutenio Indutivo 25

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo 27

4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo 30

41 - A virada informacional na Filosofia 31

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo 39

Bibliografia 44

Ficha da Disciplina 48

sumario

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1 Problemas centrais da teoria do conhecimento

11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

O que eacute conhecimento Na tentativa de oferecer uma resposta adequada para essa pergunta Platatildeo apresenta na obra Teeteto um diaacutelogo entre Soacutecrates e Teeteto um jovem matemaacutetico Nesse diaacutelogo Platatildeo atribui grande ecircnfase agrave habilidade filosoacutefica de diferenciar o verdadeiro do falso considerada o ponto de partida de qualquer tentativa de compreender a natureza do conhecimento Soacutecrates se compara aiacute agraves parteiras (embora se julgue superior a elas) cujo tra-balho ele acredita ser propriamente realizado pelas mulheres que ao atingirem certa idade jaacute natildeo podem procriar mas conhecem melhor do que as outras quando uma mulher estaacute graacutevida e o que fazer para ajudaacute-las no parto

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A suposta superioridade do parto das ideacuteias em relaccedilatildeo ao parto bioloacutegico residiria na sua capacidade de auxiliar a reflexatildeo filosoacutefica na difiacutecil tarefa de determinar criteacuterios de distinccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso Na seguinte passagem Soacutecrates explica em que consiste sua ale-gada superioridade

Soacutecrates ndash A minha arte obsteacutetrica tem atribuiccedilotildees iguais agraves parteiras com a diferenccedila de eu natildeo partejar mulher poreacutem homens e de acompan-har as almas natildeo os corpos em seu trabalho de parto Poreacutem a grande su-perioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens estaacute na iminecircncia de conceber eacute alguma quimera e falsidade ou fruto legiacutetimo e verdadeiro Neste particular sou igualzinho as parteiras esteacuteril em mateacuteria de sabedoria tendo grande fundo de verdade a censura que muitos me as assacam de soacute interrogar os outros sem nunca apresentar opiniatildeo pessoal sobre nenhum assunto por carecer justamente de sabedoria rdquo (Teeteto VII p10 150c-d)

O pressuposto platocircnico de que a tarefa do filoacutesofo eacute a de auxiliar na busca de verdades de-ixou raiacutezes profundas na tradiccedilatildeo filosoacutefica claacutessica e tambeacutem no pensamento contemporacircneo Neste toacutepico estaremos questionando esse pressuposto indicando algumas dificuldades a que ele parece conduzir

Uma primeira dificuldade jaacute indicada no diaacutelogo Teeteto consiste em estabelecer a busca de verdades apoiada nas sensaccedilotildees que nos acompanham como uma fonte aparentemente segura para guiar a accedilatildeo desde nossos primeiros contatos com o mundo A dificuldade surge devido ao caraacuteter singular (relativo ao indiviacuteduo) daquilo que se sente uma vez que as sensaccedilotildees parecem variar dependendo do estado daquele que as vivencia Aquilo que eacute sentido por exemplo como amargo por algueacutem pode ser percebido como doce por outrem dependendo do estado de cada um Em consequumlecircncia aquilo que eacute verdadeiro para um natildeo seraacute verdadeiro para o outro o relativismo parece inevitaacutevel se fundamentarmos o que entendemos por conhecimento nas sensaccedilotildees

Segundo a interpretaccedilatildeo platocircnica sensaccedilatildeo e aparecircncia se equivalem o que conduz agrave anaacutelise do conhecimento em termos do fluxo do movimento das coisas tais como elas nos aparecem O diaacutelogo platocircnico conduz agrave conclusatildeo de que a identificaccedilatildeo do conhecimento agrave sensaccedilatildeo leva agrave impossibilidade de se ultrapassar os limites do indiviacuteduo que vivecircncia tais sensaccedilotildees

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Uma segunda dificuldade tambeacutem tratada no Teeteto diz respeito agrave distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo verdadeira Existiria alguma diferenccedila relevante entre uma pessoa dotada de conhecimento e outra que apenas possui uma opiniatildeo verdadeira Consideremos por exem-plo a opiniatildeo de uma pessoa segundo a qual o Brasil seria derrotado na copa do mundo de 2010 Uma vez confirmada a sua opiniatildeo se mostra verdadeira mas quando indagada sobre as razotildees que a levaram a proferir tal opiniatildeo ela afirma que uma borboleta verde e amarela lhe antecipou o resultado do jogo Nessas condiccedilotildees tenderiacuteamos a considerar que tal pessoa natildeo possuiacutea realmente conhecimento sobre a classificaccedilatildeo do Brasil na copa Isso porque ela natildeo apresentou uma justificaccedilatildeo racional considerada apropriada para fundamentar a sua opiniatildeo sobre o evento em questatildeo

Outro exemplo anaacutelogo aparentemente menos problemaacutetico seria aquele de um jovem que acredita existir vida em Marte com base na leitura de histoacuterias em quadrinhos Tendo atualmente evidecircncias cientifica da possibilidade de existecircncia de vida em Marte a opiniatildeo do jovem pode vir a se mostrar verdadeira O que fica impliacutecito nesses exemplos eacute que a forma de justificaccedilatildeo racional apoiada em evidecircncias apropriadas constituiria o fator diferenciador entre conhecimento e opiniatildeo verdadeira

Figura 1 ndash Johannes Kepler httpptwikipediaorgwikiFicheiroJohannes_Kepler_1610jpg

Assim uma caracterizaccedilatildeo provisoacuteria do conhecimento fornecida por Platatildeo no diaacutelogo Teeteto eacute que ele seria opiniatildeo verdadeira racionalmente justificada Contudo o que torna as evidecircncias dos exemplos apresentados portadoras de legiacutetimo poder justificador (racional) do conhecimento

Uma resposta comum a esta pergunta ressalta que as evidecircncias consideradas relevantes permitem a construccedilatildeo de sistemas (ver httpptwikipediaorgwikiSistema) explicativos bem sucedidos Tais sistemas podem ser entendidos como conjuntos de hipoacuteteses unificadas e organizadas de acordo com princiacutepios compartilhados por uma comunidade de pesquisadores os quais possibilitam a justificaccedilatildeo racional de opiniotildees verdadeiras bem como a previsatildeo da ocorrecircncia de eventos no mundo

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Um exemplo bem conhecido de elaboraccedilatildeo de um tal sistema foi dado por Johannes Kepler (1571-1630) na explicaccedilatildeo da oacuterbita eliacuteptica do movimento de Marte Ateacute o seacuteculo XVII o movimento dos astros era entendido como expressatildeo da perfeiccedilatildeo divina e considerado cir-cular Como ressalta Norwood R Hanson (1958) Kepler na tentativa de verificar os dados registrados por Tycho Brahe (1546-1601) sobre o movimento de Marte encontrou dificul-dades aparentemente insuperaacuteveis ateacute o momento em que elaborou um novo sistema explica-tivo Ao abandonar os pressupostos geocecircntricos do sistema explicativo ptolomaico adotando em seu lugar a cosmologia copernicana Kepler propocircs um novo conjunto de hipoacuteteses que fundamentou um sistema heliocecircntrico a partir do qual os dados fornecidos por Ticho Brahe puderam ser compreendidos e explicados Aleacutem disso a partir desse novo sistema a previsatildeo das posiccedilotildees de Marte pocircde ser efetivamente realizada e empiricamente corroborada

Figura 2 ndash Tycho Brahe

httpptwikipediaorgwikiTycho_brahe

A habilidade de construir sistemas explicativos racionalmente justificados e em certos casos empiricamente corroborados distinguiria nessa perspectiva o conhecimento da mera opiniatildeo o conhecimento assim seria crenccedila verdadeira racionalmente justificada no interior de um sistema explicativo

A concepccedilatildeo denominada sistecircmica do conhecimento eacute apenas uma das vaacuterias tentativas de enfrentar as dificuldades levantadas pelo problema do Teeteto Alternativas a esta concepccedilatildeo satildeo oferecidas na antiguidade por ceacuteticos como Craacutetilo (seacuteculo V aC) por filoacutesofos relativistas como Protaacutegoras (480 a 410 aC) e na contemporaneidade por Richard Rorty (1931-2007) entre outros Mesmo com as diferentes perspectivas adotadas por esses filoacutesofos entendemos que o problema da distinccedilatildeo entre o conhecimento e a opiniatildeo verdadeira ainda se coloca No caso da proposta sistecircmica como saber se um sistema seraacute adequado para explicar racional-mente novos eventos Que criteacuterio de relevacircncia adotaremos para isso Afinal a histoacuteria da ciecircncia mostra que natildeo por acaso o sistema ptolomaico apesar de equivocado perdurou por muitos seacuteculos A dificuldade de explicitar um criteacuterio de relevacircncia segundo o qual uma ex-plicaccedilatildeo possa ser considerada racionalmente justificada traz de volta o problema do Teeteto que permanece natildeo resolvido

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Figura 3 ndash Representaccedilatildeo do sistema cosmoloacutegico ptolomaicohttpuniterranosapoptgeocentrehtm

Uma conclusatildeo provisoacuteria para encerrar este toacutepico eacute que parece que incorremos em um circulo vicioso quando tentamos solucionar o problema do Teeteto pois a tentativa bem suce-dida de distinguir conhecimento de opiniatildeo verdadeira apoiada em explicaccedilotildees racionalmente justificadas parece exigir ela proacutepria conhecimento

Ao constatar essa dificuldade o proacuteprio Platatildeo no final do diaacutelogo Teeteto rejeita a possibi-lidade de se entender conhecimento como opiniatildeo verdadeira aliada agrave explicaccedilatildeo racional uma vez que esta requer conhecimento para ser qualificada como tal Nesse sentido ele conclui

Ora seraacute o cuacutemulo da simplicidade estando noacutes agrave procura do conheci-mento vir algueacutem dizer-nos que eacute a opiniatildeo certa aliada ao conhecimento seja da diferenccedila ou do que for Desse modo Teeteto conhecimento natildeo pode ser nem sensaccedilatildeo nem opiniatildeo verdadeira nem a explicaccedilatildeo racional acrescentada a essa opiniatildeordquo (Teeteto p 76 209a)

Inuacutemeras discussotildees contemporacircneas do problema do Teeteto podem ser encontradas na literatura filosoacutefica destacando-se aquelas propostas por Chisholm (1966) e Ayer (1975) Gettier (1963) e Dretske (1981) cuja leitura permitiraacute ao leitor interessado acompanhar o desdobramento atual dessa temaacutetica Passemos agora ao estudo das possiacuteveis relaccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conhecimento comum

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico

Como vimos o conhecimento entendido como crenccedila verdadeira corretamente explicada en-volve seacuterias dificuldades entre elas um circulo vicioso pois o que caracterizaria uma crenccedila verdadeira e uma explicaccedilatildeo correta para aquele que natildeo possui de antematildeo conhecimento Vaacuterios filoacutesofos como Reneacute Descartes por exemplo tentaram superar essa dificuldade su-pondo que o conhecimento e sua justificativa estariam fundados em ideacuteias claras e distintas presentes na mente

Mas o que seria essa ldquomenterdquo Para Descartes e outros pensadores racionalistas a mente seria uma ldquosubstacircncia pensanterdquo com conteuacutedos de dois tipos principais as ideacuteias inatas e as

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ideacuteias adquiridas atraveacutes da experiecircncia As primeiras teriam sido originadas por Deus jaacute as segundas resultariam dos dados fornecidos pelos sentidos A combinaccedilatildeo dessas ideacuteias con-forme regras elaboradas pela razatildeo permite a formulaccedilatildeo de juiacutezos

Nesse contexto racionalista o conhecimento eacute estreitamente vinculado agrave noccedilatildeo de verdade estando associado ao domiacutenio proposicional e discursivo Aleacutem disso a justificaccedilatildeo racional alcanccedilada com o auxiacutelio do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese (que seraacute apresentado no Tema 3) eacute considerada essencial para distinguir as opiniotildees falsas das crenccedilas verdadeiras A capacidade de realizar tal distinccedilatildeo entre meras opiniotildees e crenccedilas verdadeiras constitui um dos marcos da alegada oposiccedilatildeo entre o conhecimento comum e o conhecimento cientiacutefico

Eacute um entendimento frequumlente (que iremos mais adiante questionar mas que eacute endossado por muitos filoacutesofos) que a opiniatildeo por vezes falsa constitui o elemento discursivo preacute-cientiacute-fico que alicerccedila o senso comum Faltaria agrave experiecircncia cotidiana com todas as suas alegadas pseudo-evidecircncias falhas equiacutevocos e preconceitos justamente a preocupaccedilatildeo de justificar racionalmente as crenccedilas que a sustentam

Figura 4 ndash Thomas ReidhttpptwikipediaorgwikiThomas_reid

Herdeiros do pensamento cartesiano filoacutesofos contemporacircneos argumentam que as cren-ccedilas verdadeiras e o construto teoacuterico que elas alicerccedilam constituiriam o arcabouccedilo da atividade cientiacutefica Nessa perspectiva a relaccedilatildeo que tradicionalmente se estabelece entre o conhecimen-to cientiacutefico e o conhecimento comum opinativo eacute de oposiccedilatildeo e confronto a ciecircncia se coloca como uma alternativa agrave visatildeo de mundo do senso comum e sua alegada ingecircnua confianccedila em sistemas de crenccedilas supostamente carentes de justificaccedilatildeo racional

Figura 5 ndash George E Moorehttpfair-useorgg-e-mooreprincipia-ethica

Em contraste outros filoacutesofos como Thomas Reid (1710-1796) George E Moore (1873-1958) e os pragmatistas em geral rejeitam a oposiccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e conhecimen-to comum Eles destacam a relevacircncia do conhecimento comum para a constituiccedilatildeo de nossos

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sistemas de crenccedilas fornecendo recursos sensoriais linguumliacutesticos entre outros de que se serve a reflexatildeo filosoacutefica e cientiacutefica

Apesar de pensadores como Reid e Moore que consideram o conhecimento comum em um vieacutes positivo terem influenciado o pensamento ocidental especialmente o de tradiccedilatildeo anglo-saxatilde as teses avessas ao conhecimento comum permaneceram ateacute recentemente majoritaacuterias na maioria das vertentes filosoacuteficas contemporacircneas Seria interessante neste momento que refletiacutessemos sobre os motivos que levam filoacutesofos e cientistas a defenderem dicotomia conhe-cimento cientiacutefico versus conhecimento comum Afinal que ganhos (ou perdas) tal dicotomia conhecimento acarreta no estudo do conhecimento Uma vez que como vimos no Toacutepico 11 sequer temos uma definiccedilatildeo precisa do que vem a ser conhecimento por que essa dicotomia permanece

Embora na tradiccedilatildeo filosoacutefica o problema do Teeteto seja central o fato eacute que a ciecircncia e as praacuteticas cotidianas de nossa cultura parecem avanccedilar carecendo o conhecimento de uma definiccedilatildeo Para evitar a paralisia ceacutetica uma caracterizaccedilatildeo operacional em termos de meios e fins tem sido adotada em vaacuterios estudos sobre a natureza do conhecimento Eacute a partir dessa perspectiva que procuramos especificar as principais caracteriacutesticas do conhecimento comum as-sim considerado em pelo menos trecircs sentidos

1 por ser cotidiano usual e frequumlente

2 por pertencer a uma comunidade de agentes e

3 por expressar a dinacircmica evolutiva dos tipos de accedilatildeo e de resoluccedilatildeo de problemas que caracterizam a espeacutecie humana em seu longo processo de aprendizagem

Considerando essas trecircs acepccedilotildees o conhecimento comum pode ser caracterizado como aquele que resulta de haacutebitos compartilhados por uma comunidade de agentes situados em seus respectivos ambientes em suas atividades bem sucedidas de resoluccedilatildeo de problemas es-pecialmente daqueles relacionados agrave preservaccedilatildeo da vida Por haacutebito entendemos a tendecircncia agrave repeticcedilatildeo na formaccedilatildeo de padrotildees ou tipos de accedilatildeo que mantecircm uma regularidade tanto no agente quanto na comunidade a que ele pertence

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Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
                                    5. Paacutegina 8
                                    6. Paacutegina 9
                                    7. Paacutegina 10
                                    8. Paacutegina 11
                                      1. Botatildeo 60
                                        1. Paacutegina 12 Off
                                        2. Paacutegina 13
                                        3. Paacutegina 14
                                        4. Paacutegina 15
                                        5. Paacutegina 16
                                        6. Paacutegina 17
                                        7. Paacutegina 18
                                        8. Paacutegina 19
                                        9. Paacutegina 20
                                        10. Paacutegina 21
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Page 4: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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1 Problemas centrais da teoria do conhecimento

11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

O que eacute conhecimento Na tentativa de oferecer uma resposta adequada para essa pergunta Platatildeo apresenta na obra Teeteto um diaacutelogo entre Soacutecrates e Teeteto um jovem matemaacutetico Nesse diaacutelogo Platatildeo atribui grande ecircnfase agrave habilidade filosoacutefica de diferenciar o verdadeiro do falso considerada o ponto de partida de qualquer tentativa de compreender a natureza do conhecimento Soacutecrates se compara aiacute agraves parteiras (embora se julgue superior a elas) cujo tra-balho ele acredita ser propriamente realizado pelas mulheres que ao atingirem certa idade jaacute natildeo podem procriar mas conhecem melhor do que as outras quando uma mulher estaacute graacutevida e o que fazer para ajudaacute-las no parto

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A suposta superioridade do parto das ideacuteias em relaccedilatildeo ao parto bioloacutegico residiria na sua capacidade de auxiliar a reflexatildeo filosoacutefica na difiacutecil tarefa de determinar criteacuterios de distinccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso Na seguinte passagem Soacutecrates explica em que consiste sua ale-gada superioridade

Soacutecrates ndash A minha arte obsteacutetrica tem atribuiccedilotildees iguais agraves parteiras com a diferenccedila de eu natildeo partejar mulher poreacutem homens e de acompan-har as almas natildeo os corpos em seu trabalho de parto Poreacutem a grande su-perioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens estaacute na iminecircncia de conceber eacute alguma quimera e falsidade ou fruto legiacutetimo e verdadeiro Neste particular sou igualzinho as parteiras esteacuteril em mateacuteria de sabedoria tendo grande fundo de verdade a censura que muitos me as assacam de soacute interrogar os outros sem nunca apresentar opiniatildeo pessoal sobre nenhum assunto por carecer justamente de sabedoria rdquo (Teeteto VII p10 150c-d)

O pressuposto platocircnico de que a tarefa do filoacutesofo eacute a de auxiliar na busca de verdades de-ixou raiacutezes profundas na tradiccedilatildeo filosoacutefica claacutessica e tambeacutem no pensamento contemporacircneo Neste toacutepico estaremos questionando esse pressuposto indicando algumas dificuldades a que ele parece conduzir

Uma primeira dificuldade jaacute indicada no diaacutelogo Teeteto consiste em estabelecer a busca de verdades apoiada nas sensaccedilotildees que nos acompanham como uma fonte aparentemente segura para guiar a accedilatildeo desde nossos primeiros contatos com o mundo A dificuldade surge devido ao caraacuteter singular (relativo ao indiviacuteduo) daquilo que se sente uma vez que as sensaccedilotildees parecem variar dependendo do estado daquele que as vivencia Aquilo que eacute sentido por exemplo como amargo por algueacutem pode ser percebido como doce por outrem dependendo do estado de cada um Em consequumlecircncia aquilo que eacute verdadeiro para um natildeo seraacute verdadeiro para o outro o relativismo parece inevitaacutevel se fundamentarmos o que entendemos por conhecimento nas sensaccedilotildees

Segundo a interpretaccedilatildeo platocircnica sensaccedilatildeo e aparecircncia se equivalem o que conduz agrave anaacutelise do conhecimento em termos do fluxo do movimento das coisas tais como elas nos aparecem O diaacutelogo platocircnico conduz agrave conclusatildeo de que a identificaccedilatildeo do conhecimento agrave sensaccedilatildeo leva agrave impossibilidade de se ultrapassar os limites do indiviacuteduo que vivecircncia tais sensaccedilotildees

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Uma segunda dificuldade tambeacutem tratada no Teeteto diz respeito agrave distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo verdadeira Existiria alguma diferenccedila relevante entre uma pessoa dotada de conhecimento e outra que apenas possui uma opiniatildeo verdadeira Consideremos por exem-plo a opiniatildeo de uma pessoa segundo a qual o Brasil seria derrotado na copa do mundo de 2010 Uma vez confirmada a sua opiniatildeo se mostra verdadeira mas quando indagada sobre as razotildees que a levaram a proferir tal opiniatildeo ela afirma que uma borboleta verde e amarela lhe antecipou o resultado do jogo Nessas condiccedilotildees tenderiacuteamos a considerar que tal pessoa natildeo possuiacutea realmente conhecimento sobre a classificaccedilatildeo do Brasil na copa Isso porque ela natildeo apresentou uma justificaccedilatildeo racional considerada apropriada para fundamentar a sua opiniatildeo sobre o evento em questatildeo

Outro exemplo anaacutelogo aparentemente menos problemaacutetico seria aquele de um jovem que acredita existir vida em Marte com base na leitura de histoacuterias em quadrinhos Tendo atualmente evidecircncias cientifica da possibilidade de existecircncia de vida em Marte a opiniatildeo do jovem pode vir a se mostrar verdadeira O que fica impliacutecito nesses exemplos eacute que a forma de justificaccedilatildeo racional apoiada em evidecircncias apropriadas constituiria o fator diferenciador entre conhecimento e opiniatildeo verdadeira

Figura 1 ndash Johannes Kepler httpptwikipediaorgwikiFicheiroJohannes_Kepler_1610jpg

Assim uma caracterizaccedilatildeo provisoacuteria do conhecimento fornecida por Platatildeo no diaacutelogo Teeteto eacute que ele seria opiniatildeo verdadeira racionalmente justificada Contudo o que torna as evidecircncias dos exemplos apresentados portadoras de legiacutetimo poder justificador (racional) do conhecimento

Uma resposta comum a esta pergunta ressalta que as evidecircncias consideradas relevantes permitem a construccedilatildeo de sistemas (ver httpptwikipediaorgwikiSistema) explicativos bem sucedidos Tais sistemas podem ser entendidos como conjuntos de hipoacuteteses unificadas e organizadas de acordo com princiacutepios compartilhados por uma comunidade de pesquisadores os quais possibilitam a justificaccedilatildeo racional de opiniotildees verdadeiras bem como a previsatildeo da ocorrecircncia de eventos no mundo

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Um exemplo bem conhecido de elaboraccedilatildeo de um tal sistema foi dado por Johannes Kepler (1571-1630) na explicaccedilatildeo da oacuterbita eliacuteptica do movimento de Marte Ateacute o seacuteculo XVII o movimento dos astros era entendido como expressatildeo da perfeiccedilatildeo divina e considerado cir-cular Como ressalta Norwood R Hanson (1958) Kepler na tentativa de verificar os dados registrados por Tycho Brahe (1546-1601) sobre o movimento de Marte encontrou dificul-dades aparentemente insuperaacuteveis ateacute o momento em que elaborou um novo sistema explica-tivo Ao abandonar os pressupostos geocecircntricos do sistema explicativo ptolomaico adotando em seu lugar a cosmologia copernicana Kepler propocircs um novo conjunto de hipoacuteteses que fundamentou um sistema heliocecircntrico a partir do qual os dados fornecidos por Ticho Brahe puderam ser compreendidos e explicados Aleacutem disso a partir desse novo sistema a previsatildeo das posiccedilotildees de Marte pocircde ser efetivamente realizada e empiricamente corroborada

Figura 2 ndash Tycho Brahe

httpptwikipediaorgwikiTycho_brahe

A habilidade de construir sistemas explicativos racionalmente justificados e em certos casos empiricamente corroborados distinguiria nessa perspectiva o conhecimento da mera opiniatildeo o conhecimento assim seria crenccedila verdadeira racionalmente justificada no interior de um sistema explicativo

A concepccedilatildeo denominada sistecircmica do conhecimento eacute apenas uma das vaacuterias tentativas de enfrentar as dificuldades levantadas pelo problema do Teeteto Alternativas a esta concepccedilatildeo satildeo oferecidas na antiguidade por ceacuteticos como Craacutetilo (seacuteculo V aC) por filoacutesofos relativistas como Protaacutegoras (480 a 410 aC) e na contemporaneidade por Richard Rorty (1931-2007) entre outros Mesmo com as diferentes perspectivas adotadas por esses filoacutesofos entendemos que o problema da distinccedilatildeo entre o conhecimento e a opiniatildeo verdadeira ainda se coloca No caso da proposta sistecircmica como saber se um sistema seraacute adequado para explicar racional-mente novos eventos Que criteacuterio de relevacircncia adotaremos para isso Afinal a histoacuteria da ciecircncia mostra que natildeo por acaso o sistema ptolomaico apesar de equivocado perdurou por muitos seacuteculos A dificuldade de explicitar um criteacuterio de relevacircncia segundo o qual uma ex-plicaccedilatildeo possa ser considerada racionalmente justificada traz de volta o problema do Teeteto que permanece natildeo resolvido

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Figura 3 ndash Representaccedilatildeo do sistema cosmoloacutegico ptolomaicohttpuniterranosapoptgeocentrehtm

Uma conclusatildeo provisoacuteria para encerrar este toacutepico eacute que parece que incorremos em um circulo vicioso quando tentamos solucionar o problema do Teeteto pois a tentativa bem suce-dida de distinguir conhecimento de opiniatildeo verdadeira apoiada em explicaccedilotildees racionalmente justificadas parece exigir ela proacutepria conhecimento

Ao constatar essa dificuldade o proacuteprio Platatildeo no final do diaacutelogo Teeteto rejeita a possibi-lidade de se entender conhecimento como opiniatildeo verdadeira aliada agrave explicaccedilatildeo racional uma vez que esta requer conhecimento para ser qualificada como tal Nesse sentido ele conclui

Ora seraacute o cuacutemulo da simplicidade estando noacutes agrave procura do conheci-mento vir algueacutem dizer-nos que eacute a opiniatildeo certa aliada ao conhecimento seja da diferenccedila ou do que for Desse modo Teeteto conhecimento natildeo pode ser nem sensaccedilatildeo nem opiniatildeo verdadeira nem a explicaccedilatildeo racional acrescentada a essa opiniatildeordquo (Teeteto p 76 209a)

Inuacutemeras discussotildees contemporacircneas do problema do Teeteto podem ser encontradas na literatura filosoacutefica destacando-se aquelas propostas por Chisholm (1966) e Ayer (1975) Gettier (1963) e Dretske (1981) cuja leitura permitiraacute ao leitor interessado acompanhar o desdobramento atual dessa temaacutetica Passemos agora ao estudo das possiacuteveis relaccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conhecimento comum

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico

Como vimos o conhecimento entendido como crenccedila verdadeira corretamente explicada en-volve seacuterias dificuldades entre elas um circulo vicioso pois o que caracterizaria uma crenccedila verdadeira e uma explicaccedilatildeo correta para aquele que natildeo possui de antematildeo conhecimento Vaacuterios filoacutesofos como Reneacute Descartes por exemplo tentaram superar essa dificuldade su-pondo que o conhecimento e sua justificativa estariam fundados em ideacuteias claras e distintas presentes na mente

Mas o que seria essa ldquomenterdquo Para Descartes e outros pensadores racionalistas a mente seria uma ldquosubstacircncia pensanterdquo com conteuacutedos de dois tipos principais as ideacuteias inatas e as

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ideacuteias adquiridas atraveacutes da experiecircncia As primeiras teriam sido originadas por Deus jaacute as segundas resultariam dos dados fornecidos pelos sentidos A combinaccedilatildeo dessas ideacuteias con-forme regras elaboradas pela razatildeo permite a formulaccedilatildeo de juiacutezos

Nesse contexto racionalista o conhecimento eacute estreitamente vinculado agrave noccedilatildeo de verdade estando associado ao domiacutenio proposicional e discursivo Aleacutem disso a justificaccedilatildeo racional alcanccedilada com o auxiacutelio do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese (que seraacute apresentado no Tema 3) eacute considerada essencial para distinguir as opiniotildees falsas das crenccedilas verdadeiras A capacidade de realizar tal distinccedilatildeo entre meras opiniotildees e crenccedilas verdadeiras constitui um dos marcos da alegada oposiccedilatildeo entre o conhecimento comum e o conhecimento cientiacutefico

Eacute um entendimento frequumlente (que iremos mais adiante questionar mas que eacute endossado por muitos filoacutesofos) que a opiniatildeo por vezes falsa constitui o elemento discursivo preacute-cientiacute-fico que alicerccedila o senso comum Faltaria agrave experiecircncia cotidiana com todas as suas alegadas pseudo-evidecircncias falhas equiacutevocos e preconceitos justamente a preocupaccedilatildeo de justificar racionalmente as crenccedilas que a sustentam

Figura 4 ndash Thomas ReidhttpptwikipediaorgwikiThomas_reid

Herdeiros do pensamento cartesiano filoacutesofos contemporacircneos argumentam que as cren-ccedilas verdadeiras e o construto teoacuterico que elas alicerccedilam constituiriam o arcabouccedilo da atividade cientiacutefica Nessa perspectiva a relaccedilatildeo que tradicionalmente se estabelece entre o conhecimen-to cientiacutefico e o conhecimento comum opinativo eacute de oposiccedilatildeo e confronto a ciecircncia se coloca como uma alternativa agrave visatildeo de mundo do senso comum e sua alegada ingecircnua confianccedila em sistemas de crenccedilas supostamente carentes de justificaccedilatildeo racional

Figura 5 ndash George E Moorehttpfair-useorgg-e-mooreprincipia-ethica

Em contraste outros filoacutesofos como Thomas Reid (1710-1796) George E Moore (1873-1958) e os pragmatistas em geral rejeitam a oposiccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e conhecimen-to comum Eles destacam a relevacircncia do conhecimento comum para a constituiccedilatildeo de nossos

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sistemas de crenccedilas fornecendo recursos sensoriais linguumliacutesticos entre outros de que se serve a reflexatildeo filosoacutefica e cientiacutefica

Apesar de pensadores como Reid e Moore que consideram o conhecimento comum em um vieacutes positivo terem influenciado o pensamento ocidental especialmente o de tradiccedilatildeo anglo-saxatilde as teses avessas ao conhecimento comum permaneceram ateacute recentemente majoritaacuterias na maioria das vertentes filosoacuteficas contemporacircneas Seria interessante neste momento que refletiacutessemos sobre os motivos que levam filoacutesofos e cientistas a defenderem dicotomia conhe-cimento cientiacutefico versus conhecimento comum Afinal que ganhos (ou perdas) tal dicotomia conhecimento acarreta no estudo do conhecimento Uma vez que como vimos no Toacutepico 11 sequer temos uma definiccedilatildeo precisa do que vem a ser conhecimento por que essa dicotomia permanece

Embora na tradiccedilatildeo filosoacutefica o problema do Teeteto seja central o fato eacute que a ciecircncia e as praacuteticas cotidianas de nossa cultura parecem avanccedilar carecendo o conhecimento de uma definiccedilatildeo Para evitar a paralisia ceacutetica uma caracterizaccedilatildeo operacional em termos de meios e fins tem sido adotada em vaacuterios estudos sobre a natureza do conhecimento Eacute a partir dessa perspectiva que procuramos especificar as principais caracteriacutesticas do conhecimento comum as-sim considerado em pelo menos trecircs sentidos

1 por ser cotidiano usual e frequumlente

2 por pertencer a uma comunidade de agentes e

3 por expressar a dinacircmica evolutiva dos tipos de accedilatildeo e de resoluccedilatildeo de problemas que caracterizam a espeacutecie humana em seu longo processo de aprendizagem

Considerando essas trecircs acepccedilotildees o conhecimento comum pode ser caracterizado como aquele que resulta de haacutebitos compartilhados por uma comunidade de agentes situados em seus respectivos ambientes em suas atividades bem sucedidas de resoluccedilatildeo de problemas es-pecialmente daqueles relacionados agrave preservaccedilatildeo da vida Por haacutebito entendemos a tendecircncia agrave repeticcedilatildeo na formaccedilatildeo de padrotildees ou tipos de accedilatildeo que mantecircm uma regularidade tanto no agente quanto na comunidade a que ele pertence

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Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 5: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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A suposta superioridade do parto das ideacuteias em relaccedilatildeo ao parto bioloacutegico residiria na sua capacidade de auxiliar a reflexatildeo filosoacutefica na difiacutecil tarefa de determinar criteacuterios de distinccedilatildeo entre o verdadeiro e o falso Na seguinte passagem Soacutecrates explica em que consiste sua ale-gada superioridade

Soacutecrates ndash A minha arte obsteacutetrica tem atribuiccedilotildees iguais agraves parteiras com a diferenccedila de eu natildeo partejar mulher poreacutem homens e de acompan-har as almas natildeo os corpos em seu trabalho de parto Poreacutem a grande su-perioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens estaacute na iminecircncia de conceber eacute alguma quimera e falsidade ou fruto legiacutetimo e verdadeiro Neste particular sou igualzinho as parteiras esteacuteril em mateacuteria de sabedoria tendo grande fundo de verdade a censura que muitos me as assacam de soacute interrogar os outros sem nunca apresentar opiniatildeo pessoal sobre nenhum assunto por carecer justamente de sabedoria rdquo (Teeteto VII p10 150c-d)

O pressuposto platocircnico de que a tarefa do filoacutesofo eacute a de auxiliar na busca de verdades de-ixou raiacutezes profundas na tradiccedilatildeo filosoacutefica claacutessica e tambeacutem no pensamento contemporacircneo Neste toacutepico estaremos questionando esse pressuposto indicando algumas dificuldades a que ele parece conduzir

Uma primeira dificuldade jaacute indicada no diaacutelogo Teeteto consiste em estabelecer a busca de verdades apoiada nas sensaccedilotildees que nos acompanham como uma fonte aparentemente segura para guiar a accedilatildeo desde nossos primeiros contatos com o mundo A dificuldade surge devido ao caraacuteter singular (relativo ao indiviacuteduo) daquilo que se sente uma vez que as sensaccedilotildees parecem variar dependendo do estado daquele que as vivencia Aquilo que eacute sentido por exemplo como amargo por algueacutem pode ser percebido como doce por outrem dependendo do estado de cada um Em consequumlecircncia aquilo que eacute verdadeiro para um natildeo seraacute verdadeiro para o outro o relativismo parece inevitaacutevel se fundamentarmos o que entendemos por conhecimento nas sensaccedilotildees

Segundo a interpretaccedilatildeo platocircnica sensaccedilatildeo e aparecircncia se equivalem o que conduz agrave anaacutelise do conhecimento em termos do fluxo do movimento das coisas tais como elas nos aparecem O diaacutelogo platocircnico conduz agrave conclusatildeo de que a identificaccedilatildeo do conhecimento agrave sensaccedilatildeo leva agrave impossibilidade de se ultrapassar os limites do indiviacuteduo que vivecircncia tais sensaccedilotildees

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Uma segunda dificuldade tambeacutem tratada no Teeteto diz respeito agrave distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo verdadeira Existiria alguma diferenccedila relevante entre uma pessoa dotada de conhecimento e outra que apenas possui uma opiniatildeo verdadeira Consideremos por exem-plo a opiniatildeo de uma pessoa segundo a qual o Brasil seria derrotado na copa do mundo de 2010 Uma vez confirmada a sua opiniatildeo se mostra verdadeira mas quando indagada sobre as razotildees que a levaram a proferir tal opiniatildeo ela afirma que uma borboleta verde e amarela lhe antecipou o resultado do jogo Nessas condiccedilotildees tenderiacuteamos a considerar que tal pessoa natildeo possuiacutea realmente conhecimento sobre a classificaccedilatildeo do Brasil na copa Isso porque ela natildeo apresentou uma justificaccedilatildeo racional considerada apropriada para fundamentar a sua opiniatildeo sobre o evento em questatildeo

Outro exemplo anaacutelogo aparentemente menos problemaacutetico seria aquele de um jovem que acredita existir vida em Marte com base na leitura de histoacuterias em quadrinhos Tendo atualmente evidecircncias cientifica da possibilidade de existecircncia de vida em Marte a opiniatildeo do jovem pode vir a se mostrar verdadeira O que fica impliacutecito nesses exemplos eacute que a forma de justificaccedilatildeo racional apoiada em evidecircncias apropriadas constituiria o fator diferenciador entre conhecimento e opiniatildeo verdadeira

Figura 1 ndash Johannes Kepler httpptwikipediaorgwikiFicheiroJohannes_Kepler_1610jpg

Assim uma caracterizaccedilatildeo provisoacuteria do conhecimento fornecida por Platatildeo no diaacutelogo Teeteto eacute que ele seria opiniatildeo verdadeira racionalmente justificada Contudo o que torna as evidecircncias dos exemplos apresentados portadoras de legiacutetimo poder justificador (racional) do conhecimento

Uma resposta comum a esta pergunta ressalta que as evidecircncias consideradas relevantes permitem a construccedilatildeo de sistemas (ver httpptwikipediaorgwikiSistema) explicativos bem sucedidos Tais sistemas podem ser entendidos como conjuntos de hipoacuteteses unificadas e organizadas de acordo com princiacutepios compartilhados por uma comunidade de pesquisadores os quais possibilitam a justificaccedilatildeo racional de opiniotildees verdadeiras bem como a previsatildeo da ocorrecircncia de eventos no mundo

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Um exemplo bem conhecido de elaboraccedilatildeo de um tal sistema foi dado por Johannes Kepler (1571-1630) na explicaccedilatildeo da oacuterbita eliacuteptica do movimento de Marte Ateacute o seacuteculo XVII o movimento dos astros era entendido como expressatildeo da perfeiccedilatildeo divina e considerado cir-cular Como ressalta Norwood R Hanson (1958) Kepler na tentativa de verificar os dados registrados por Tycho Brahe (1546-1601) sobre o movimento de Marte encontrou dificul-dades aparentemente insuperaacuteveis ateacute o momento em que elaborou um novo sistema explica-tivo Ao abandonar os pressupostos geocecircntricos do sistema explicativo ptolomaico adotando em seu lugar a cosmologia copernicana Kepler propocircs um novo conjunto de hipoacuteteses que fundamentou um sistema heliocecircntrico a partir do qual os dados fornecidos por Ticho Brahe puderam ser compreendidos e explicados Aleacutem disso a partir desse novo sistema a previsatildeo das posiccedilotildees de Marte pocircde ser efetivamente realizada e empiricamente corroborada

Figura 2 ndash Tycho Brahe

httpptwikipediaorgwikiTycho_brahe

A habilidade de construir sistemas explicativos racionalmente justificados e em certos casos empiricamente corroborados distinguiria nessa perspectiva o conhecimento da mera opiniatildeo o conhecimento assim seria crenccedila verdadeira racionalmente justificada no interior de um sistema explicativo

A concepccedilatildeo denominada sistecircmica do conhecimento eacute apenas uma das vaacuterias tentativas de enfrentar as dificuldades levantadas pelo problema do Teeteto Alternativas a esta concepccedilatildeo satildeo oferecidas na antiguidade por ceacuteticos como Craacutetilo (seacuteculo V aC) por filoacutesofos relativistas como Protaacutegoras (480 a 410 aC) e na contemporaneidade por Richard Rorty (1931-2007) entre outros Mesmo com as diferentes perspectivas adotadas por esses filoacutesofos entendemos que o problema da distinccedilatildeo entre o conhecimento e a opiniatildeo verdadeira ainda se coloca No caso da proposta sistecircmica como saber se um sistema seraacute adequado para explicar racional-mente novos eventos Que criteacuterio de relevacircncia adotaremos para isso Afinal a histoacuteria da ciecircncia mostra que natildeo por acaso o sistema ptolomaico apesar de equivocado perdurou por muitos seacuteculos A dificuldade de explicitar um criteacuterio de relevacircncia segundo o qual uma ex-plicaccedilatildeo possa ser considerada racionalmente justificada traz de volta o problema do Teeteto que permanece natildeo resolvido

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Figura 3 ndash Representaccedilatildeo do sistema cosmoloacutegico ptolomaicohttpuniterranosapoptgeocentrehtm

Uma conclusatildeo provisoacuteria para encerrar este toacutepico eacute que parece que incorremos em um circulo vicioso quando tentamos solucionar o problema do Teeteto pois a tentativa bem suce-dida de distinguir conhecimento de opiniatildeo verdadeira apoiada em explicaccedilotildees racionalmente justificadas parece exigir ela proacutepria conhecimento

Ao constatar essa dificuldade o proacuteprio Platatildeo no final do diaacutelogo Teeteto rejeita a possibi-lidade de se entender conhecimento como opiniatildeo verdadeira aliada agrave explicaccedilatildeo racional uma vez que esta requer conhecimento para ser qualificada como tal Nesse sentido ele conclui

Ora seraacute o cuacutemulo da simplicidade estando noacutes agrave procura do conheci-mento vir algueacutem dizer-nos que eacute a opiniatildeo certa aliada ao conhecimento seja da diferenccedila ou do que for Desse modo Teeteto conhecimento natildeo pode ser nem sensaccedilatildeo nem opiniatildeo verdadeira nem a explicaccedilatildeo racional acrescentada a essa opiniatildeordquo (Teeteto p 76 209a)

Inuacutemeras discussotildees contemporacircneas do problema do Teeteto podem ser encontradas na literatura filosoacutefica destacando-se aquelas propostas por Chisholm (1966) e Ayer (1975) Gettier (1963) e Dretske (1981) cuja leitura permitiraacute ao leitor interessado acompanhar o desdobramento atual dessa temaacutetica Passemos agora ao estudo das possiacuteveis relaccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conhecimento comum

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico

Como vimos o conhecimento entendido como crenccedila verdadeira corretamente explicada en-volve seacuterias dificuldades entre elas um circulo vicioso pois o que caracterizaria uma crenccedila verdadeira e uma explicaccedilatildeo correta para aquele que natildeo possui de antematildeo conhecimento Vaacuterios filoacutesofos como Reneacute Descartes por exemplo tentaram superar essa dificuldade su-pondo que o conhecimento e sua justificativa estariam fundados em ideacuteias claras e distintas presentes na mente

Mas o que seria essa ldquomenterdquo Para Descartes e outros pensadores racionalistas a mente seria uma ldquosubstacircncia pensanterdquo com conteuacutedos de dois tipos principais as ideacuteias inatas e as

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ideacuteias adquiridas atraveacutes da experiecircncia As primeiras teriam sido originadas por Deus jaacute as segundas resultariam dos dados fornecidos pelos sentidos A combinaccedilatildeo dessas ideacuteias con-forme regras elaboradas pela razatildeo permite a formulaccedilatildeo de juiacutezos

Nesse contexto racionalista o conhecimento eacute estreitamente vinculado agrave noccedilatildeo de verdade estando associado ao domiacutenio proposicional e discursivo Aleacutem disso a justificaccedilatildeo racional alcanccedilada com o auxiacutelio do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese (que seraacute apresentado no Tema 3) eacute considerada essencial para distinguir as opiniotildees falsas das crenccedilas verdadeiras A capacidade de realizar tal distinccedilatildeo entre meras opiniotildees e crenccedilas verdadeiras constitui um dos marcos da alegada oposiccedilatildeo entre o conhecimento comum e o conhecimento cientiacutefico

Eacute um entendimento frequumlente (que iremos mais adiante questionar mas que eacute endossado por muitos filoacutesofos) que a opiniatildeo por vezes falsa constitui o elemento discursivo preacute-cientiacute-fico que alicerccedila o senso comum Faltaria agrave experiecircncia cotidiana com todas as suas alegadas pseudo-evidecircncias falhas equiacutevocos e preconceitos justamente a preocupaccedilatildeo de justificar racionalmente as crenccedilas que a sustentam

Figura 4 ndash Thomas ReidhttpptwikipediaorgwikiThomas_reid

Herdeiros do pensamento cartesiano filoacutesofos contemporacircneos argumentam que as cren-ccedilas verdadeiras e o construto teoacuterico que elas alicerccedilam constituiriam o arcabouccedilo da atividade cientiacutefica Nessa perspectiva a relaccedilatildeo que tradicionalmente se estabelece entre o conhecimen-to cientiacutefico e o conhecimento comum opinativo eacute de oposiccedilatildeo e confronto a ciecircncia se coloca como uma alternativa agrave visatildeo de mundo do senso comum e sua alegada ingecircnua confianccedila em sistemas de crenccedilas supostamente carentes de justificaccedilatildeo racional

Figura 5 ndash George E Moorehttpfair-useorgg-e-mooreprincipia-ethica

Em contraste outros filoacutesofos como Thomas Reid (1710-1796) George E Moore (1873-1958) e os pragmatistas em geral rejeitam a oposiccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e conhecimen-to comum Eles destacam a relevacircncia do conhecimento comum para a constituiccedilatildeo de nossos

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sistemas de crenccedilas fornecendo recursos sensoriais linguumliacutesticos entre outros de que se serve a reflexatildeo filosoacutefica e cientiacutefica

Apesar de pensadores como Reid e Moore que consideram o conhecimento comum em um vieacutes positivo terem influenciado o pensamento ocidental especialmente o de tradiccedilatildeo anglo-saxatilde as teses avessas ao conhecimento comum permaneceram ateacute recentemente majoritaacuterias na maioria das vertentes filosoacuteficas contemporacircneas Seria interessante neste momento que refletiacutessemos sobre os motivos que levam filoacutesofos e cientistas a defenderem dicotomia conhe-cimento cientiacutefico versus conhecimento comum Afinal que ganhos (ou perdas) tal dicotomia conhecimento acarreta no estudo do conhecimento Uma vez que como vimos no Toacutepico 11 sequer temos uma definiccedilatildeo precisa do que vem a ser conhecimento por que essa dicotomia permanece

Embora na tradiccedilatildeo filosoacutefica o problema do Teeteto seja central o fato eacute que a ciecircncia e as praacuteticas cotidianas de nossa cultura parecem avanccedilar carecendo o conhecimento de uma definiccedilatildeo Para evitar a paralisia ceacutetica uma caracterizaccedilatildeo operacional em termos de meios e fins tem sido adotada em vaacuterios estudos sobre a natureza do conhecimento Eacute a partir dessa perspectiva que procuramos especificar as principais caracteriacutesticas do conhecimento comum as-sim considerado em pelo menos trecircs sentidos

1 por ser cotidiano usual e frequumlente

2 por pertencer a uma comunidade de agentes e

3 por expressar a dinacircmica evolutiva dos tipos de accedilatildeo e de resoluccedilatildeo de problemas que caracterizam a espeacutecie humana em seu longo processo de aprendizagem

Considerando essas trecircs acepccedilotildees o conhecimento comum pode ser caracterizado como aquele que resulta de haacutebitos compartilhados por uma comunidade de agentes situados em seus respectivos ambientes em suas atividades bem sucedidas de resoluccedilatildeo de problemas es-pecialmente daqueles relacionados agrave preservaccedilatildeo da vida Por haacutebito entendemos a tendecircncia agrave repeticcedilatildeo na formaccedilatildeo de padrotildees ou tipos de accedilatildeo que mantecircm uma regularidade tanto no agente quanto na comunidade a que ele pertence

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Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 6: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Uma segunda dificuldade tambeacutem tratada no Teeteto diz respeito agrave distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo verdadeira Existiria alguma diferenccedila relevante entre uma pessoa dotada de conhecimento e outra que apenas possui uma opiniatildeo verdadeira Consideremos por exem-plo a opiniatildeo de uma pessoa segundo a qual o Brasil seria derrotado na copa do mundo de 2010 Uma vez confirmada a sua opiniatildeo se mostra verdadeira mas quando indagada sobre as razotildees que a levaram a proferir tal opiniatildeo ela afirma que uma borboleta verde e amarela lhe antecipou o resultado do jogo Nessas condiccedilotildees tenderiacuteamos a considerar que tal pessoa natildeo possuiacutea realmente conhecimento sobre a classificaccedilatildeo do Brasil na copa Isso porque ela natildeo apresentou uma justificaccedilatildeo racional considerada apropriada para fundamentar a sua opiniatildeo sobre o evento em questatildeo

Outro exemplo anaacutelogo aparentemente menos problemaacutetico seria aquele de um jovem que acredita existir vida em Marte com base na leitura de histoacuterias em quadrinhos Tendo atualmente evidecircncias cientifica da possibilidade de existecircncia de vida em Marte a opiniatildeo do jovem pode vir a se mostrar verdadeira O que fica impliacutecito nesses exemplos eacute que a forma de justificaccedilatildeo racional apoiada em evidecircncias apropriadas constituiria o fator diferenciador entre conhecimento e opiniatildeo verdadeira

Figura 1 ndash Johannes Kepler httpptwikipediaorgwikiFicheiroJohannes_Kepler_1610jpg

Assim uma caracterizaccedilatildeo provisoacuteria do conhecimento fornecida por Platatildeo no diaacutelogo Teeteto eacute que ele seria opiniatildeo verdadeira racionalmente justificada Contudo o que torna as evidecircncias dos exemplos apresentados portadoras de legiacutetimo poder justificador (racional) do conhecimento

Uma resposta comum a esta pergunta ressalta que as evidecircncias consideradas relevantes permitem a construccedilatildeo de sistemas (ver httpptwikipediaorgwikiSistema) explicativos bem sucedidos Tais sistemas podem ser entendidos como conjuntos de hipoacuteteses unificadas e organizadas de acordo com princiacutepios compartilhados por uma comunidade de pesquisadores os quais possibilitam a justificaccedilatildeo racional de opiniotildees verdadeiras bem como a previsatildeo da ocorrecircncia de eventos no mundo

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Um exemplo bem conhecido de elaboraccedilatildeo de um tal sistema foi dado por Johannes Kepler (1571-1630) na explicaccedilatildeo da oacuterbita eliacuteptica do movimento de Marte Ateacute o seacuteculo XVII o movimento dos astros era entendido como expressatildeo da perfeiccedilatildeo divina e considerado cir-cular Como ressalta Norwood R Hanson (1958) Kepler na tentativa de verificar os dados registrados por Tycho Brahe (1546-1601) sobre o movimento de Marte encontrou dificul-dades aparentemente insuperaacuteveis ateacute o momento em que elaborou um novo sistema explica-tivo Ao abandonar os pressupostos geocecircntricos do sistema explicativo ptolomaico adotando em seu lugar a cosmologia copernicana Kepler propocircs um novo conjunto de hipoacuteteses que fundamentou um sistema heliocecircntrico a partir do qual os dados fornecidos por Ticho Brahe puderam ser compreendidos e explicados Aleacutem disso a partir desse novo sistema a previsatildeo das posiccedilotildees de Marte pocircde ser efetivamente realizada e empiricamente corroborada

Figura 2 ndash Tycho Brahe

httpptwikipediaorgwikiTycho_brahe

A habilidade de construir sistemas explicativos racionalmente justificados e em certos casos empiricamente corroborados distinguiria nessa perspectiva o conhecimento da mera opiniatildeo o conhecimento assim seria crenccedila verdadeira racionalmente justificada no interior de um sistema explicativo

A concepccedilatildeo denominada sistecircmica do conhecimento eacute apenas uma das vaacuterias tentativas de enfrentar as dificuldades levantadas pelo problema do Teeteto Alternativas a esta concepccedilatildeo satildeo oferecidas na antiguidade por ceacuteticos como Craacutetilo (seacuteculo V aC) por filoacutesofos relativistas como Protaacutegoras (480 a 410 aC) e na contemporaneidade por Richard Rorty (1931-2007) entre outros Mesmo com as diferentes perspectivas adotadas por esses filoacutesofos entendemos que o problema da distinccedilatildeo entre o conhecimento e a opiniatildeo verdadeira ainda se coloca No caso da proposta sistecircmica como saber se um sistema seraacute adequado para explicar racional-mente novos eventos Que criteacuterio de relevacircncia adotaremos para isso Afinal a histoacuteria da ciecircncia mostra que natildeo por acaso o sistema ptolomaico apesar de equivocado perdurou por muitos seacuteculos A dificuldade de explicitar um criteacuterio de relevacircncia segundo o qual uma ex-plicaccedilatildeo possa ser considerada racionalmente justificada traz de volta o problema do Teeteto que permanece natildeo resolvido

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Figura 3 ndash Representaccedilatildeo do sistema cosmoloacutegico ptolomaicohttpuniterranosapoptgeocentrehtm

Uma conclusatildeo provisoacuteria para encerrar este toacutepico eacute que parece que incorremos em um circulo vicioso quando tentamos solucionar o problema do Teeteto pois a tentativa bem suce-dida de distinguir conhecimento de opiniatildeo verdadeira apoiada em explicaccedilotildees racionalmente justificadas parece exigir ela proacutepria conhecimento

Ao constatar essa dificuldade o proacuteprio Platatildeo no final do diaacutelogo Teeteto rejeita a possibi-lidade de se entender conhecimento como opiniatildeo verdadeira aliada agrave explicaccedilatildeo racional uma vez que esta requer conhecimento para ser qualificada como tal Nesse sentido ele conclui

Ora seraacute o cuacutemulo da simplicidade estando noacutes agrave procura do conheci-mento vir algueacutem dizer-nos que eacute a opiniatildeo certa aliada ao conhecimento seja da diferenccedila ou do que for Desse modo Teeteto conhecimento natildeo pode ser nem sensaccedilatildeo nem opiniatildeo verdadeira nem a explicaccedilatildeo racional acrescentada a essa opiniatildeordquo (Teeteto p 76 209a)

Inuacutemeras discussotildees contemporacircneas do problema do Teeteto podem ser encontradas na literatura filosoacutefica destacando-se aquelas propostas por Chisholm (1966) e Ayer (1975) Gettier (1963) e Dretske (1981) cuja leitura permitiraacute ao leitor interessado acompanhar o desdobramento atual dessa temaacutetica Passemos agora ao estudo das possiacuteveis relaccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conhecimento comum

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico

Como vimos o conhecimento entendido como crenccedila verdadeira corretamente explicada en-volve seacuterias dificuldades entre elas um circulo vicioso pois o que caracterizaria uma crenccedila verdadeira e uma explicaccedilatildeo correta para aquele que natildeo possui de antematildeo conhecimento Vaacuterios filoacutesofos como Reneacute Descartes por exemplo tentaram superar essa dificuldade su-pondo que o conhecimento e sua justificativa estariam fundados em ideacuteias claras e distintas presentes na mente

Mas o que seria essa ldquomenterdquo Para Descartes e outros pensadores racionalistas a mente seria uma ldquosubstacircncia pensanterdquo com conteuacutedos de dois tipos principais as ideacuteias inatas e as

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ideacuteias adquiridas atraveacutes da experiecircncia As primeiras teriam sido originadas por Deus jaacute as segundas resultariam dos dados fornecidos pelos sentidos A combinaccedilatildeo dessas ideacuteias con-forme regras elaboradas pela razatildeo permite a formulaccedilatildeo de juiacutezos

Nesse contexto racionalista o conhecimento eacute estreitamente vinculado agrave noccedilatildeo de verdade estando associado ao domiacutenio proposicional e discursivo Aleacutem disso a justificaccedilatildeo racional alcanccedilada com o auxiacutelio do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese (que seraacute apresentado no Tema 3) eacute considerada essencial para distinguir as opiniotildees falsas das crenccedilas verdadeiras A capacidade de realizar tal distinccedilatildeo entre meras opiniotildees e crenccedilas verdadeiras constitui um dos marcos da alegada oposiccedilatildeo entre o conhecimento comum e o conhecimento cientiacutefico

Eacute um entendimento frequumlente (que iremos mais adiante questionar mas que eacute endossado por muitos filoacutesofos) que a opiniatildeo por vezes falsa constitui o elemento discursivo preacute-cientiacute-fico que alicerccedila o senso comum Faltaria agrave experiecircncia cotidiana com todas as suas alegadas pseudo-evidecircncias falhas equiacutevocos e preconceitos justamente a preocupaccedilatildeo de justificar racionalmente as crenccedilas que a sustentam

Figura 4 ndash Thomas ReidhttpptwikipediaorgwikiThomas_reid

Herdeiros do pensamento cartesiano filoacutesofos contemporacircneos argumentam que as cren-ccedilas verdadeiras e o construto teoacuterico que elas alicerccedilam constituiriam o arcabouccedilo da atividade cientiacutefica Nessa perspectiva a relaccedilatildeo que tradicionalmente se estabelece entre o conhecimen-to cientiacutefico e o conhecimento comum opinativo eacute de oposiccedilatildeo e confronto a ciecircncia se coloca como uma alternativa agrave visatildeo de mundo do senso comum e sua alegada ingecircnua confianccedila em sistemas de crenccedilas supostamente carentes de justificaccedilatildeo racional

Figura 5 ndash George E Moorehttpfair-useorgg-e-mooreprincipia-ethica

Em contraste outros filoacutesofos como Thomas Reid (1710-1796) George E Moore (1873-1958) e os pragmatistas em geral rejeitam a oposiccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e conhecimen-to comum Eles destacam a relevacircncia do conhecimento comum para a constituiccedilatildeo de nossos

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sistemas de crenccedilas fornecendo recursos sensoriais linguumliacutesticos entre outros de que se serve a reflexatildeo filosoacutefica e cientiacutefica

Apesar de pensadores como Reid e Moore que consideram o conhecimento comum em um vieacutes positivo terem influenciado o pensamento ocidental especialmente o de tradiccedilatildeo anglo-saxatilde as teses avessas ao conhecimento comum permaneceram ateacute recentemente majoritaacuterias na maioria das vertentes filosoacuteficas contemporacircneas Seria interessante neste momento que refletiacutessemos sobre os motivos que levam filoacutesofos e cientistas a defenderem dicotomia conhe-cimento cientiacutefico versus conhecimento comum Afinal que ganhos (ou perdas) tal dicotomia conhecimento acarreta no estudo do conhecimento Uma vez que como vimos no Toacutepico 11 sequer temos uma definiccedilatildeo precisa do que vem a ser conhecimento por que essa dicotomia permanece

Embora na tradiccedilatildeo filosoacutefica o problema do Teeteto seja central o fato eacute que a ciecircncia e as praacuteticas cotidianas de nossa cultura parecem avanccedilar carecendo o conhecimento de uma definiccedilatildeo Para evitar a paralisia ceacutetica uma caracterizaccedilatildeo operacional em termos de meios e fins tem sido adotada em vaacuterios estudos sobre a natureza do conhecimento Eacute a partir dessa perspectiva que procuramos especificar as principais caracteriacutesticas do conhecimento comum as-sim considerado em pelo menos trecircs sentidos

1 por ser cotidiano usual e frequumlente

2 por pertencer a uma comunidade de agentes e

3 por expressar a dinacircmica evolutiva dos tipos de accedilatildeo e de resoluccedilatildeo de problemas que caracterizam a espeacutecie humana em seu longo processo de aprendizagem

Considerando essas trecircs acepccedilotildees o conhecimento comum pode ser caracterizado como aquele que resulta de haacutebitos compartilhados por uma comunidade de agentes situados em seus respectivos ambientes em suas atividades bem sucedidas de resoluccedilatildeo de problemas es-pecialmente daqueles relacionados agrave preservaccedilatildeo da vida Por haacutebito entendemos a tendecircncia agrave repeticcedilatildeo na formaccedilatildeo de padrotildees ou tipos de accedilatildeo que mantecircm uma regularidade tanto no agente quanto na comunidade a que ele pertence

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Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

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Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bibliografia

Science 15 576-579 1948

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
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                                2. Paacutegina 5
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                                4. Paacutegina 7
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                                      1. Botatildeo 60
                                        1. Paacutegina 12 Off
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                                        5. Paacutegina 16
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                                              1. Botatildeo 58
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                                                          1. Botatildeo 57
                                                            1. Paacutegina 30 Off
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                                                            11. Paacutegina 40
                                                            12. Paacutegina 41
                                                            13. Paacutegina 42
                                                            14. Paacutegina 43
                                                              1. Botatildeo 64
                                                                1. Paacutegina 44 Off
                                                                2. Paacutegina 45
                                                                3. Paacutegina 46
                                                                4. Paacutegina 47
                                                                  1. Botatildeo 65
                                                                    1. Paacutegina 44 Off
                                                                    2. Paacutegina 45
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                                                                      1. Botatildeo 52
                                                                        1. Paacutegina 48 Off
                                                                        2. Paacutegina 49
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                                                                            1. Paacutegina 48 Off
                                                                            2. Paacutegina 49
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                                                                            5. Paacutegina 52
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                                                                              2. Botatildeo 8
                                                                              3. Botatildeo 4
Page 7: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

7

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

1

2

3

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tema1

Um exemplo bem conhecido de elaboraccedilatildeo de um tal sistema foi dado por Johannes Kepler (1571-1630) na explicaccedilatildeo da oacuterbita eliacuteptica do movimento de Marte Ateacute o seacuteculo XVII o movimento dos astros era entendido como expressatildeo da perfeiccedilatildeo divina e considerado cir-cular Como ressalta Norwood R Hanson (1958) Kepler na tentativa de verificar os dados registrados por Tycho Brahe (1546-1601) sobre o movimento de Marte encontrou dificul-dades aparentemente insuperaacuteveis ateacute o momento em que elaborou um novo sistema explica-tivo Ao abandonar os pressupostos geocecircntricos do sistema explicativo ptolomaico adotando em seu lugar a cosmologia copernicana Kepler propocircs um novo conjunto de hipoacuteteses que fundamentou um sistema heliocecircntrico a partir do qual os dados fornecidos por Ticho Brahe puderam ser compreendidos e explicados Aleacutem disso a partir desse novo sistema a previsatildeo das posiccedilotildees de Marte pocircde ser efetivamente realizada e empiricamente corroborada

Figura 2 ndash Tycho Brahe

httpptwikipediaorgwikiTycho_brahe

A habilidade de construir sistemas explicativos racionalmente justificados e em certos casos empiricamente corroborados distinguiria nessa perspectiva o conhecimento da mera opiniatildeo o conhecimento assim seria crenccedila verdadeira racionalmente justificada no interior de um sistema explicativo

A concepccedilatildeo denominada sistecircmica do conhecimento eacute apenas uma das vaacuterias tentativas de enfrentar as dificuldades levantadas pelo problema do Teeteto Alternativas a esta concepccedilatildeo satildeo oferecidas na antiguidade por ceacuteticos como Craacutetilo (seacuteculo V aC) por filoacutesofos relativistas como Protaacutegoras (480 a 410 aC) e na contemporaneidade por Richard Rorty (1931-2007) entre outros Mesmo com as diferentes perspectivas adotadas por esses filoacutesofos entendemos que o problema da distinccedilatildeo entre o conhecimento e a opiniatildeo verdadeira ainda se coloca No caso da proposta sistecircmica como saber se um sistema seraacute adequado para explicar racional-mente novos eventos Que criteacuterio de relevacircncia adotaremos para isso Afinal a histoacuteria da ciecircncia mostra que natildeo por acaso o sistema ptolomaico apesar de equivocado perdurou por muitos seacuteculos A dificuldade de explicitar um criteacuterio de relevacircncia segundo o qual uma ex-plicaccedilatildeo possa ser considerada racionalmente justificada traz de volta o problema do Teeteto que permanece natildeo resolvido

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Figura 3 ndash Representaccedilatildeo do sistema cosmoloacutegico ptolomaicohttpuniterranosapoptgeocentrehtm

Uma conclusatildeo provisoacuteria para encerrar este toacutepico eacute que parece que incorremos em um circulo vicioso quando tentamos solucionar o problema do Teeteto pois a tentativa bem suce-dida de distinguir conhecimento de opiniatildeo verdadeira apoiada em explicaccedilotildees racionalmente justificadas parece exigir ela proacutepria conhecimento

Ao constatar essa dificuldade o proacuteprio Platatildeo no final do diaacutelogo Teeteto rejeita a possibi-lidade de se entender conhecimento como opiniatildeo verdadeira aliada agrave explicaccedilatildeo racional uma vez que esta requer conhecimento para ser qualificada como tal Nesse sentido ele conclui

Ora seraacute o cuacutemulo da simplicidade estando noacutes agrave procura do conheci-mento vir algueacutem dizer-nos que eacute a opiniatildeo certa aliada ao conhecimento seja da diferenccedila ou do que for Desse modo Teeteto conhecimento natildeo pode ser nem sensaccedilatildeo nem opiniatildeo verdadeira nem a explicaccedilatildeo racional acrescentada a essa opiniatildeordquo (Teeteto p 76 209a)

Inuacutemeras discussotildees contemporacircneas do problema do Teeteto podem ser encontradas na literatura filosoacutefica destacando-se aquelas propostas por Chisholm (1966) e Ayer (1975) Gettier (1963) e Dretske (1981) cuja leitura permitiraacute ao leitor interessado acompanhar o desdobramento atual dessa temaacutetica Passemos agora ao estudo das possiacuteveis relaccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conhecimento comum

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico

Como vimos o conhecimento entendido como crenccedila verdadeira corretamente explicada en-volve seacuterias dificuldades entre elas um circulo vicioso pois o que caracterizaria uma crenccedila verdadeira e uma explicaccedilatildeo correta para aquele que natildeo possui de antematildeo conhecimento Vaacuterios filoacutesofos como Reneacute Descartes por exemplo tentaram superar essa dificuldade su-pondo que o conhecimento e sua justificativa estariam fundados em ideacuteias claras e distintas presentes na mente

Mas o que seria essa ldquomenterdquo Para Descartes e outros pensadores racionalistas a mente seria uma ldquosubstacircncia pensanterdquo com conteuacutedos de dois tipos principais as ideacuteias inatas e as

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ideacuteias adquiridas atraveacutes da experiecircncia As primeiras teriam sido originadas por Deus jaacute as segundas resultariam dos dados fornecidos pelos sentidos A combinaccedilatildeo dessas ideacuteias con-forme regras elaboradas pela razatildeo permite a formulaccedilatildeo de juiacutezos

Nesse contexto racionalista o conhecimento eacute estreitamente vinculado agrave noccedilatildeo de verdade estando associado ao domiacutenio proposicional e discursivo Aleacutem disso a justificaccedilatildeo racional alcanccedilada com o auxiacutelio do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese (que seraacute apresentado no Tema 3) eacute considerada essencial para distinguir as opiniotildees falsas das crenccedilas verdadeiras A capacidade de realizar tal distinccedilatildeo entre meras opiniotildees e crenccedilas verdadeiras constitui um dos marcos da alegada oposiccedilatildeo entre o conhecimento comum e o conhecimento cientiacutefico

Eacute um entendimento frequumlente (que iremos mais adiante questionar mas que eacute endossado por muitos filoacutesofos) que a opiniatildeo por vezes falsa constitui o elemento discursivo preacute-cientiacute-fico que alicerccedila o senso comum Faltaria agrave experiecircncia cotidiana com todas as suas alegadas pseudo-evidecircncias falhas equiacutevocos e preconceitos justamente a preocupaccedilatildeo de justificar racionalmente as crenccedilas que a sustentam

Figura 4 ndash Thomas ReidhttpptwikipediaorgwikiThomas_reid

Herdeiros do pensamento cartesiano filoacutesofos contemporacircneos argumentam que as cren-ccedilas verdadeiras e o construto teoacuterico que elas alicerccedilam constituiriam o arcabouccedilo da atividade cientiacutefica Nessa perspectiva a relaccedilatildeo que tradicionalmente se estabelece entre o conhecimen-to cientiacutefico e o conhecimento comum opinativo eacute de oposiccedilatildeo e confronto a ciecircncia se coloca como uma alternativa agrave visatildeo de mundo do senso comum e sua alegada ingecircnua confianccedila em sistemas de crenccedilas supostamente carentes de justificaccedilatildeo racional

Figura 5 ndash George E Moorehttpfair-useorgg-e-mooreprincipia-ethica

Em contraste outros filoacutesofos como Thomas Reid (1710-1796) George E Moore (1873-1958) e os pragmatistas em geral rejeitam a oposiccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e conhecimen-to comum Eles destacam a relevacircncia do conhecimento comum para a constituiccedilatildeo de nossos

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sistemas de crenccedilas fornecendo recursos sensoriais linguumliacutesticos entre outros de que se serve a reflexatildeo filosoacutefica e cientiacutefica

Apesar de pensadores como Reid e Moore que consideram o conhecimento comum em um vieacutes positivo terem influenciado o pensamento ocidental especialmente o de tradiccedilatildeo anglo-saxatilde as teses avessas ao conhecimento comum permaneceram ateacute recentemente majoritaacuterias na maioria das vertentes filosoacuteficas contemporacircneas Seria interessante neste momento que refletiacutessemos sobre os motivos que levam filoacutesofos e cientistas a defenderem dicotomia conhe-cimento cientiacutefico versus conhecimento comum Afinal que ganhos (ou perdas) tal dicotomia conhecimento acarreta no estudo do conhecimento Uma vez que como vimos no Toacutepico 11 sequer temos uma definiccedilatildeo precisa do que vem a ser conhecimento por que essa dicotomia permanece

Embora na tradiccedilatildeo filosoacutefica o problema do Teeteto seja central o fato eacute que a ciecircncia e as praacuteticas cotidianas de nossa cultura parecem avanccedilar carecendo o conhecimento de uma definiccedilatildeo Para evitar a paralisia ceacutetica uma caracterizaccedilatildeo operacional em termos de meios e fins tem sido adotada em vaacuterios estudos sobre a natureza do conhecimento Eacute a partir dessa perspectiva que procuramos especificar as principais caracteriacutesticas do conhecimento comum as-sim considerado em pelo menos trecircs sentidos

1 por ser cotidiano usual e frequumlente

2 por pertencer a uma comunidade de agentes e

3 por expressar a dinacircmica evolutiva dos tipos de accedilatildeo e de resoluccedilatildeo de problemas que caracterizam a espeacutecie humana em seu longo processo de aprendizagem

Considerando essas trecircs acepccedilotildees o conhecimento comum pode ser caracterizado como aquele que resulta de haacutebitos compartilhados por uma comunidade de agentes situados em seus respectivos ambientes em suas atividades bem sucedidas de resoluccedilatildeo de problemas es-pecialmente daqueles relacionados agrave preservaccedilatildeo da vida Por haacutebito entendemos a tendecircncia agrave repeticcedilatildeo na formaccedilatildeo de padrotildees ou tipos de accedilatildeo que mantecircm uma regularidade tanto no agente quanto na comunidade a que ele pertence

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Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
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                                  1. Botatildeo 63
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                                    8. Paacutegina 11
                                      1. Botatildeo 60
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                                        4. Paacutegina 15
                                        5. Paacutegina 16
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                                        7. Paacutegina 18
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                                        9. Paacutegina 20
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                                          1. Botatildeo 61
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Page 8: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Figura 3 ndash Representaccedilatildeo do sistema cosmoloacutegico ptolomaicohttpuniterranosapoptgeocentrehtm

Uma conclusatildeo provisoacuteria para encerrar este toacutepico eacute que parece que incorremos em um circulo vicioso quando tentamos solucionar o problema do Teeteto pois a tentativa bem suce-dida de distinguir conhecimento de opiniatildeo verdadeira apoiada em explicaccedilotildees racionalmente justificadas parece exigir ela proacutepria conhecimento

Ao constatar essa dificuldade o proacuteprio Platatildeo no final do diaacutelogo Teeteto rejeita a possibi-lidade de se entender conhecimento como opiniatildeo verdadeira aliada agrave explicaccedilatildeo racional uma vez que esta requer conhecimento para ser qualificada como tal Nesse sentido ele conclui

Ora seraacute o cuacutemulo da simplicidade estando noacutes agrave procura do conheci-mento vir algueacutem dizer-nos que eacute a opiniatildeo certa aliada ao conhecimento seja da diferenccedila ou do que for Desse modo Teeteto conhecimento natildeo pode ser nem sensaccedilatildeo nem opiniatildeo verdadeira nem a explicaccedilatildeo racional acrescentada a essa opiniatildeordquo (Teeteto p 76 209a)

Inuacutemeras discussotildees contemporacircneas do problema do Teeteto podem ser encontradas na literatura filosoacutefica destacando-se aquelas propostas por Chisholm (1966) e Ayer (1975) Gettier (1963) e Dretske (1981) cuja leitura permitiraacute ao leitor interessado acompanhar o desdobramento atual dessa temaacutetica Passemos agora ao estudo das possiacuteveis relaccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conhecimento comum

12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico

Como vimos o conhecimento entendido como crenccedila verdadeira corretamente explicada en-volve seacuterias dificuldades entre elas um circulo vicioso pois o que caracterizaria uma crenccedila verdadeira e uma explicaccedilatildeo correta para aquele que natildeo possui de antematildeo conhecimento Vaacuterios filoacutesofos como Reneacute Descartes por exemplo tentaram superar essa dificuldade su-pondo que o conhecimento e sua justificativa estariam fundados em ideacuteias claras e distintas presentes na mente

Mas o que seria essa ldquomenterdquo Para Descartes e outros pensadores racionalistas a mente seria uma ldquosubstacircncia pensanterdquo com conteuacutedos de dois tipos principais as ideacuteias inatas e as

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ideacuteias adquiridas atraveacutes da experiecircncia As primeiras teriam sido originadas por Deus jaacute as segundas resultariam dos dados fornecidos pelos sentidos A combinaccedilatildeo dessas ideacuteias con-forme regras elaboradas pela razatildeo permite a formulaccedilatildeo de juiacutezos

Nesse contexto racionalista o conhecimento eacute estreitamente vinculado agrave noccedilatildeo de verdade estando associado ao domiacutenio proposicional e discursivo Aleacutem disso a justificaccedilatildeo racional alcanccedilada com o auxiacutelio do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese (que seraacute apresentado no Tema 3) eacute considerada essencial para distinguir as opiniotildees falsas das crenccedilas verdadeiras A capacidade de realizar tal distinccedilatildeo entre meras opiniotildees e crenccedilas verdadeiras constitui um dos marcos da alegada oposiccedilatildeo entre o conhecimento comum e o conhecimento cientiacutefico

Eacute um entendimento frequumlente (que iremos mais adiante questionar mas que eacute endossado por muitos filoacutesofos) que a opiniatildeo por vezes falsa constitui o elemento discursivo preacute-cientiacute-fico que alicerccedila o senso comum Faltaria agrave experiecircncia cotidiana com todas as suas alegadas pseudo-evidecircncias falhas equiacutevocos e preconceitos justamente a preocupaccedilatildeo de justificar racionalmente as crenccedilas que a sustentam

Figura 4 ndash Thomas ReidhttpptwikipediaorgwikiThomas_reid

Herdeiros do pensamento cartesiano filoacutesofos contemporacircneos argumentam que as cren-ccedilas verdadeiras e o construto teoacuterico que elas alicerccedilam constituiriam o arcabouccedilo da atividade cientiacutefica Nessa perspectiva a relaccedilatildeo que tradicionalmente se estabelece entre o conhecimen-to cientiacutefico e o conhecimento comum opinativo eacute de oposiccedilatildeo e confronto a ciecircncia se coloca como uma alternativa agrave visatildeo de mundo do senso comum e sua alegada ingecircnua confianccedila em sistemas de crenccedilas supostamente carentes de justificaccedilatildeo racional

Figura 5 ndash George E Moorehttpfair-useorgg-e-mooreprincipia-ethica

Em contraste outros filoacutesofos como Thomas Reid (1710-1796) George E Moore (1873-1958) e os pragmatistas em geral rejeitam a oposiccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e conhecimen-to comum Eles destacam a relevacircncia do conhecimento comum para a constituiccedilatildeo de nossos

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sistemas de crenccedilas fornecendo recursos sensoriais linguumliacutesticos entre outros de que se serve a reflexatildeo filosoacutefica e cientiacutefica

Apesar de pensadores como Reid e Moore que consideram o conhecimento comum em um vieacutes positivo terem influenciado o pensamento ocidental especialmente o de tradiccedilatildeo anglo-saxatilde as teses avessas ao conhecimento comum permaneceram ateacute recentemente majoritaacuterias na maioria das vertentes filosoacuteficas contemporacircneas Seria interessante neste momento que refletiacutessemos sobre os motivos que levam filoacutesofos e cientistas a defenderem dicotomia conhe-cimento cientiacutefico versus conhecimento comum Afinal que ganhos (ou perdas) tal dicotomia conhecimento acarreta no estudo do conhecimento Uma vez que como vimos no Toacutepico 11 sequer temos uma definiccedilatildeo precisa do que vem a ser conhecimento por que essa dicotomia permanece

Embora na tradiccedilatildeo filosoacutefica o problema do Teeteto seja central o fato eacute que a ciecircncia e as praacuteticas cotidianas de nossa cultura parecem avanccedilar carecendo o conhecimento de uma definiccedilatildeo Para evitar a paralisia ceacutetica uma caracterizaccedilatildeo operacional em termos de meios e fins tem sido adotada em vaacuterios estudos sobre a natureza do conhecimento Eacute a partir dessa perspectiva que procuramos especificar as principais caracteriacutesticas do conhecimento comum as-sim considerado em pelo menos trecircs sentidos

1 por ser cotidiano usual e frequumlente

2 por pertencer a uma comunidade de agentes e

3 por expressar a dinacircmica evolutiva dos tipos de accedilatildeo e de resoluccedilatildeo de problemas que caracterizam a espeacutecie humana em seu longo processo de aprendizagem

Considerando essas trecircs acepccedilotildees o conhecimento comum pode ser caracterizado como aquele que resulta de haacutebitos compartilhados por uma comunidade de agentes situados em seus respectivos ambientes em suas atividades bem sucedidas de resoluccedilatildeo de problemas es-pecialmente daqueles relacionados agrave preservaccedilatildeo da vida Por haacutebito entendemos a tendecircncia agrave repeticcedilatildeo na formaccedilatildeo de padrotildees ou tipos de accedilatildeo que mantecircm uma regularidade tanto no agente quanto na comunidade a que ele pertence

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Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                                      1. Botatildeo 52
                                                                        1. Paacutegina 48 Off
                                                                        2. Paacutegina 49
                                                                        3. Paacutegina 50
                                                                        4. Paacutegina 51
                                                                        5. Paacutegina 52
                                                                          1. Botatildeo 53
                                                                            1. Paacutegina 48 Off
                                                                            2. Paacutegina 49
                                                                            3. Paacutegina 50
                                                                            4. Paacutegina 51
                                                                            5. Paacutegina 52
                                                                              1. Botatildeo 7
                                                                              2. Botatildeo 8
                                                                              3. Botatildeo 4
Page 9: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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ideacuteias adquiridas atraveacutes da experiecircncia As primeiras teriam sido originadas por Deus jaacute as segundas resultariam dos dados fornecidos pelos sentidos A combinaccedilatildeo dessas ideacuteias con-forme regras elaboradas pela razatildeo permite a formulaccedilatildeo de juiacutezos

Nesse contexto racionalista o conhecimento eacute estreitamente vinculado agrave noccedilatildeo de verdade estando associado ao domiacutenio proposicional e discursivo Aleacutem disso a justificaccedilatildeo racional alcanccedilada com o auxiacutelio do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese (que seraacute apresentado no Tema 3) eacute considerada essencial para distinguir as opiniotildees falsas das crenccedilas verdadeiras A capacidade de realizar tal distinccedilatildeo entre meras opiniotildees e crenccedilas verdadeiras constitui um dos marcos da alegada oposiccedilatildeo entre o conhecimento comum e o conhecimento cientiacutefico

Eacute um entendimento frequumlente (que iremos mais adiante questionar mas que eacute endossado por muitos filoacutesofos) que a opiniatildeo por vezes falsa constitui o elemento discursivo preacute-cientiacute-fico que alicerccedila o senso comum Faltaria agrave experiecircncia cotidiana com todas as suas alegadas pseudo-evidecircncias falhas equiacutevocos e preconceitos justamente a preocupaccedilatildeo de justificar racionalmente as crenccedilas que a sustentam

Figura 4 ndash Thomas ReidhttpptwikipediaorgwikiThomas_reid

Herdeiros do pensamento cartesiano filoacutesofos contemporacircneos argumentam que as cren-ccedilas verdadeiras e o construto teoacuterico que elas alicerccedilam constituiriam o arcabouccedilo da atividade cientiacutefica Nessa perspectiva a relaccedilatildeo que tradicionalmente se estabelece entre o conhecimen-to cientiacutefico e o conhecimento comum opinativo eacute de oposiccedilatildeo e confronto a ciecircncia se coloca como uma alternativa agrave visatildeo de mundo do senso comum e sua alegada ingecircnua confianccedila em sistemas de crenccedilas supostamente carentes de justificaccedilatildeo racional

Figura 5 ndash George E Moorehttpfair-useorgg-e-mooreprincipia-ethica

Em contraste outros filoacutesofos como Thomas Reid (1710-1796) George E Moore (1873-1958) e os pragmatistas em geral rejeitam a oposiccedilatildeo entre conhecimento cientiacutefico e conhecimen-to comum Eles destacam a relevacircncia do conhecimento comum para a constituiccedilatildeo de nossos

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sistemas de crenccedilas fornecendo recursos sensoriais linguumliacutesticos entre outros de que se serve a reflexatildeo filosoacutefica e cientiacutefica

Apesar de pensadores como Reid e Moore que consideram o conhecimento comum em um vieacutes positivo terem influenciado o pensamento ocidental especialmente o de tradiccedilatildeo anglo-saxatilde as teses avessas ao conhecimento comum permaneceram ateacute recentemente majoritaacuterias na maioria das vertentes filosoacuteficas contemporacircneas Seria interessante neste momento que refletiacutessemos sobre os motivos que levam filoacutesofos e cientistas a defenderem dicotomia conhe-cimento cientiacutefico versus conhecimento comum Afinal que ganhos (ou perdas) tal dicotomia conhecimento acarreta no estudo do conhecimento Uma vez que como vimos no Toacutepico 11 sequer temos uma definiccedilatildeo precisa do que vem a ser conhecimento por que essa dicotomia permanece

Embora na tradiccedilatildeo filosoacutefica o problema do Teeteto seja central o fato eacute que a ciecircncia e as praacuteticas cotidianas de nossa cultura parecem avanccedilar carecendo o conhecimento de uma definiccedilatildeo Para evitar a paralisia ceacutetica uma caracterizaccedilatildeo operacional em termos de meios e fins tem sido adotada em vaacuterios estudos sobre a natureza do conhecimento Eacute a partir dessa perspectiva que procuramos especificar as principais caracteriacutesticas do conhecimento comum as-sim considerado em pelo menos trecircs sentidos

1 por ser cotidiano usual e frequumlente

2 por pertencer a uma comunidade de agentes e

3 por expressar a dinacircmica evolutiva dos tipos de accedilatildeo e de resoluccedilatildeo de problemas que caracterizam a espeacutecie humana em seu longo processo de aprendizagem

Considerando essas trecircs acepccedilotildees o conhecimento comum pode ser caracterizado como aquele que resulta de haacutebitos compartilhados por uma comunidade de agentes situados em seus respectivos ambientes em suas atividades bem sucedidas de resoluccedilatildeo de problemas es-pecialmente daqueles relacionados agrave preservaccedilatildeo da vida Por haacutebito entendemos a tendecircncia agrave repeticcedilatildeo na formaccedilatildeo de padrotildees ou tipos de accedilatildeo que mantecircm uma regularidade tanto no agente quanto na comunidade a que ele pertence

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Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
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                                  1. Botatildeo 63
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                                    8. Paacutegina 11
                                      1. Botatildeo 60
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                                        4. Paacutegina 15
                                        5. Paacutegina 16
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                                        7. Paacutegina 18
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                                        9. Paacutegina 20
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                                          1. Botatildeo 61
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Page 10: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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sistemas de crenccedilas fornecendo recursos sensoriais linguumliacutesticos entre outros de que se serve a reflexatildeo filosoacutefica e cientiacutefica

Apesar de pensadores como Reid e Moore que consideram o conhecimento comum em um vieacutes positivo terem influenciado o pensamento ocidental especialmente o de tradiccedilatildeo anglo-saxatilde as teses avessas ao conhecimento comum permaneceram ateacute recentemente majoritaacuterias na maioria das vertentes filosoacuteficas contemporacircneas Seria interessante neste momento que refletiacutessemos sobre os motivos que levam filoacutesofos e cientistas a defenderem dicotomia conhe-cimento cientiacutefico versus conhecimento comum Afinal que ganhos (ou perdas) tal dicotomia conhecimento acarreta no estudo do conhecimento Uma vez que como vimos no Toacutepico 11 sequer temos uma definiccedilatildeo precisa do que vem a ser conhecimento por que essa dicotomia permanece

Embora na tradiccedilatildeo filosoacutefica o problema do Teeteto seja central o fato eacute que a ciecircncia e as praacuteticas cotidianas de nossa cultura parecem avanccedilar carecendo o conhecimento de uma definiccedilatildeo Para evitar a paralisia ceacutetica uma caracterizaccedilatildeo operacional em termos de meios e fins tem sido adotada em vaacuterios estudos sobre a natureza do conhecimento Eacute a partir dessa perspectiva que procuramos especificar as principais caracteriacutesticas do conhecimento comum as-sim considerado em pelo menos trecircs sentidos

1 por ser cotidiano usual e frequumlente

2 por pertencer a uma comunidade de agentes e

3 por expressar a dinacircmica evolutiva dos tipos de accedilatildeo e de resoluccedilatildeo de problemas que caracterizam a espeacutecie humana em seu longo processo de aprendizagem

Considerando essas trecircs acepccedilotildees o conhecimento comum pode ser caracterizado como aquele que resulta de haacutebitos compartilhados por uma comunidade de agentes situados em seus respectivos ambientes em suas atividades bem sucedidas de resoluccedilatildeo de problemas es-pecialmente daqueles relacionados agrave preservaccedilatildeo da vida Por haacutebito entendemos a tendecircncia agrave repeticcedilatildeo na formaccedilatildeo de padrotildees ou tipos de accedilatildeo que mantecircm uma regularidade tanto no agente quanto na comunidade a que ele pertence

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Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

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Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bibliografia

Science 15 576-579 1948

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                              1. Botatildeo 64
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                                                                        1. Paacutegina 48 Off
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                                                                            2. Paacutegina 49
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                                                                              2. Botatildeo 8
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Page 11: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

11

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

1

2

3

4

tema1

Aleacutem disso uma das principais caracteriacutesticas do conhecimento comum eacute que ele natildeo envolve necessariamente elementos linguumliacutesticos ele estaacute especialmente ligado a habilidades praacuteticas adquiridas principalmente por imitaccedilatildeo tentativa e erro O conhecimento comum pode ateacute ser descrito discursivamente como quando descrevemos por exemplo a habilidade de cultivar alimentos Mas ter a capacidade de descrever natildeo implica ter a capacidade por vezes complexa e dinacircmica de exercer ou executar as accedilotildees relativas ao plantio e agrave manutenccedilatildeo do cultivo de alimentos

Em siacutentese ressaltamos no conhecimento comum o seu aspecto praacutetico dinacircmico natildeo necessariamente linguumliacutestico Contudo poderiacuteamos argumentar que a atividade cientiacutefica tam-beacutem envolve praacuteticas natildeo discursivas em especial as laboratoriais Neste caso qual seria o elemento realmente diferenciador entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico A resposta mais frequumlente (e controversa) a esta questatildeo focaliza o meacutetodo de investigaccedilatildeo explica-ccedilatildeo e previsatildeo proacuteprio do conhecimento cientiacutefico Essa discussatildeo sobre a natureza do meacutetodo cientiacutefico seraacute objeto do Tema (3)

Para concluir o presente toacutepico interessa aqui refletir sobre a existecircncia de aspectos com-partilhados tanto pelo conhecimento cientifico quanto pelo conhecimento comum Como veremos no proacuteximo tema a observaccedilatildeo constitui a ponte que indubitavelmente conecta am-bos os tipos de conhecimento

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                            12. Paacutegina 41
                                                            13. Paacutegina 42
                                                            14. Paacutegina 43
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                                                                3. Paacutegina 46
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                                                                    4. Paacutegina 47
                                                                      1. Botatildeo 52
                                                                        1. Paacutegina 48 Off
                                                                        2. Paacutegina 49
                                                                        3. Paacutegina 50
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                                                                          1. Botatildeo 53
                                                                            1. Paacutegina 48 Off
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                                                                              1. Botatildeo 7
                                                                              2. Botatildeo 8
                                                                              3. Botatildeo 4
Page 12: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

21 ndash Conhecimento empiacuterico

Como vimos um dos elementos essenciais ndash talvez o mais relevante ndash da tentativa de definiccedilatildeo de conhecimento presente no Teeteto de Platatildeo eacute o da justificaccedilatildeo da opiniatildeo verda-deira Coerentemente os pesquisadores da teoria do conhecimento tecircm se concentrado sobre esse ponto procurando estabelecer o que afinal daria a fundamentaccedilatildeo necessaacuteria para que uma opiniatildeo qualquer adquirisse o status de conhecimento

Eacute faacutecil emitir uma opiniatildeo qualquer um pode fazecirc-lo despreocupadamente Podemos dizer e efetivamente dizemos coisas como ldquoA menina eacute loirardquo ldquoVai chover amanhatilderdquo ou ldquoCigarros provocam cacircncerrdquo ou ainda ldquoFulano de Tal eacute o melhor presidente que o Brasil jaacute teverdquo Es-sas opiniotildees podem ou natildeo ser verdadeiras Mas ao fazermos (e ao ouvirmos) tais afirmaccedilotildees precisamos tambeacutem definir o que as sustenta sob o risco de tornaacute-las gratuitas ou indefen-

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
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                                  1. Botatildeo 63
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                                    8. Paacutegina 11
                                      1. Botatildeo 60
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                                        4. Paacutegina 15
                                        5. Paacutegina 16
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                                        7. Paacutegina 18
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                                        9. Paacutegina 20
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                                          1. Botatildeo 61
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Page 13: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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saacuteveis mesmo se ao final forem verdadeiras Tomemos o exemplo da asserccedilatildeo ldquoVai chover amanhatilderdquo Se isso for dito sem o devido fundamento natildeo levaremos a frase em consideraccedilatildeo da mesma forma que natildeo nos perturbaremos com o enunciado ldquoO mundo acabaraacute no dia 18 de novembro de 2012rdquo caso natildeo haja a respectiva sustentaccedilatildeo Fica patente entatildeo a importacircn-cia da pergunta O que justifica nossas crenccedilas O que seria suficiente alegar para que a mera impressatildeo opiniatildeo sem compromisso de algueacutem mereccedila aceitaccedilatildeo universal e se transforme em conhecimento

No dia-a-dia muitas pessoas lanccedilam matildeo de diversos procedimentos para sustentar suas proacuteprias opiniotildees Um dos mais frequumlentes eacute o de ver para crer ndash o popular teste de Satildeo Tomeacute Como se sabe em passagem biacuteblica constante do Novo Testamento um dos doze apoacutestolos Tomeacute afirmou que soacute acreditaria na ressurreiccedilatildeo de Cristo se visse e tocasse o corpo ressur-reto e as chagas abertas pelos cravos da crucificaccedilatildeo A ideia contida nesse ldquotesterdquo eacute a de que devemos checar nossas expectativas pela observaccedilatildeo E de fato todos noacutes diariamente utiliza-mos esse processo para aferir nossas crenccedilas Quantas vezes natildeo abrimos uma janela para saber se estaacute chovendo ou fazendo sol se faz frio ou calor E o mesmo acontece com vaacuterias outras expectativas que por si soacutes sem o devido apoio observacional natildeo mereceriam adesatildeo Esse eacute o procedimento agrave primeira vista admitido sem reservas pelo senso comum Como sustentar que a Ana Luiacuteza tem olhos verdes Observando a cor de seus olhos Como saber (isto eacute conhecer o fato justificar a crenccedila) que existe um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva de Boraceacuteia Verificando por observaccedilotildees que ele estaacute laacute Como saber que certo remeacutedio daraacute conta de uma doenccedila Observando o efeito que exerce sobre os pacientes que o utilizam Em todos esses ca-sos eacute patente que empregamos a observaccedilatildeo extensivamente e quase inconscientemente para amparar nossas crenccedilas diaacuterias

Podemos complicar um pouco essa admissatildeo despreocupada do papel da observaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees A primeira complicaccedilatildeo importante eacute a de que natildeo esta-mos considerando apenas a observaccedilatildeo visual Analisemos um pouco essa afirmaccedilatildeo Quando Satildeo Tomeacute exige tocar as chagas de Cristo para crer na Ressurreiccedilatildeo ele natildeo pensa no aspecto visual mas taacutetil Os deficientes visuais podem fazer e fazem lsquoobservaccedilotildeesrsquo todos os dias caso consideremos que as afericcedilotildees taacuteteis ou auditivas por exemplo devam ser tambeacutem classifica-das como observaccedilotildees Nesse sentido mais acurado eacute afirmar que fazemos afericcedilotildees constata-ccedilotildees sensoriais nas quais todos os cinco sentidos ndash e natildeo apenas a visatildeo - satildeo empregados para

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
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Page 14: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees Sabemos que uma comida estaacute queimada ou estragada pelo paladar ou pelo olfato que o tempo estaacute frio pelo tato vaacuterios diagnoacutesticos cliacutenicos como os obtidos pelo exame com um estetoscoacutepio satildeo fundamentados na audiccedilatildeo Em todos esses ca-sos e numa infinidade de outros estamos fazendo observaccedilotildees sensoriais e natildeo apenas visuais que levam agrave sustentaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo de crenccedilas ou opiniotildees

Em segundo lugar aleacutem do alerta de que natildeo nos limitamos a observaccedilotildees visuais eacute tam-beacutem importante lembrar que na grande maioria das vezes fundamentamos nossas crenccedilas em observaccedilotildees mesmo que natildeo sejamos pessoalmente responsaacuteveis pela observaccedilatildeo que estaacute sendo considerada Muitas vezes levamos em conta a observaccedilatildeo de terceiros para sustentar nossas afirmaccedilotildees Fatos histoacutericos por exemplo tipicamente preenchem esse perfil se hoje sabemos que a famiacutelia real portuguesa chegou ao Brasil em 1808 isso se deve a relatos de con-temporacircneos do evento relatos que merecem nossa atenccedilatildeo posto que foram presumivelmente feitas por observadores originalmente bem localizados que por sua vez deram a base obser-vacional para o relato de terceiros que afinal chegou ateacute noacutes Mas natildeo eacute necessaacuterio pensar no saber historiograacutefico para evidenciar a importacircncia da observaccedilatildeo de terceiros Qualquer noticiaacuterio de televisatildeo ou de raacutedio atesta isso todos os dias acreditamos na existecircncia de um terremoto no Chile mesmo que natildeo o tenhamos presenciado Essa dependecircncia que temos das observaccedilotildees feitas por outros natildeo se circunscreve ao jornalista ao meacutedico ou a especialistas de algum tipo De fato eacute muito comum acreditarmos ateacute mesmo no relato de desconhecidos que nos transmitem informaccedilotildees quando algueacutem nos diz que horas satildeo usualmente achamos isso suficiente e desenvolvemos nossas accedilotildees sobre essa base Conclui-se como dissemos que as observaccedilotildees de terceiros satildeo comumente fundamentais para a sustentaccedilatildeo de nossas opiniotildees e boa parte daquilo que argumentamos adquire sua forccedila por meio de observaccedilotildees vivenciadas por pessoas que natildeo conhecemos e nem conheceremos Mas o que eacute relevante salientar neste contexto eacute que mesmo essa fundamentaccedilatildeo indireta de opiniotildees continua sendo baseada em observaccedilotildees embora sejam elas indiretas isto eacute realizadas por outros tanto quanto a susten-taccedilatildeo derivada de nossas observaccedilotildees diretas esse tambeacutem eacute um exemplo de legiacutetima susten-taccedilatildeo observacional

Todos os tipos de observaccedilatildeo listados ndash seja ela direta ou indireta visual ou natildeo ndash podem ser eficazes para a sustentaccedilatildeo de nossas crenccedilas e em princiacutepio desempenhar papel saudaacutevel nesse processo Normalmente observaccedilotildees satildeo instrumentos uacuteteis para que afastemos cren-

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

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bull METTRIE J O de la Lrsquoomme machine 1747 (Acesso em 23052010 httpfrwikisourceorgwikiLrsquoHomme_Machine)

bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
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Page 15: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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dices isto eacute crenccedilas sem fundamento que de outra maneira natildeo poderiam ser excluiacutedas Tais crenccedilas suscitam consequecircncias desagradaacuteveis e ateacute no limite extremamente perigosas A maravilhosa imaginaccedilatildeo humana pode acarretar expectativas fantasiosas que precisam ser domadas E a observaccedilatildeo eacute um meio trivial de debelaacute-las

Mas como jaacute salientado as observaccedilotildees nem sempre satildeo seguras Podemos ter ilusotildees de oacutetica ou falhas perceptuais de alguma ordem o que antes pensamos ser suco de laranja pode ser de fato suco de tangerina o que antes pensamos ser azul dado certo acircngulo de ilumina-ccedilatildeo pode ser efetivamente verde o rangido de uma porta pode ser confundido com outros sons e assim por diante Mesmo pessoas com boa acuidade visual podem no limite enxergar imagens de objetos (miragens em deserto por exemplo) que simplesmente natildeo existem Em outras palavras embora as observaccedilotildees sejam universalmente empregadas na fundaccedilatildeo de nos-sas crenccedilas elas satildeo ao fim e ao cabo potencialmente fraacutegeis Por isso caso se busque uma fundamentaccedilatildeo observacional mais robusta deve ser ela alicerccedilada sobre bases mais soacutelidas

Alcanccedilar essas bases mais seguras eacute talvez um dos problemas mais complexos e recalcitran-tes da histoacuteria da filosofia e natildeo seria possiacutevel descrever todos os meandros dessa antiga busca Mas podemos dizer muito superficialmente que existe um procedimento baacutesico normalmente lembrado quando se procura mitigar a fragilidade essencial de nossas observaccedilotildees individ-uais subjetivas Uma observaccedilatildeo individual embora relevante soacute adquire peso soacutelido para a fundamentaccedilatildeo de uma opiniatildeo caso faccedila parte de um sistema que congregue a contribuiccedilatildeo potencial de outros observadores Inevitavelmente condiccedilotildees de observaccedilatildeo satildeo variaacuteveis ndash os observadores satildeo distintos e apresentam acuidades diferenciadas as condiccedilotildees de tempo e es-paccedilo tambeacutem nunca satildeo rigorosamente as mesmas O que propicia a confianccedila que se atribui agrave observaccedilatildeo natildeo eacute tanto o peso do resultado observacional individual mas a forccedila do conjunto potencial de observaccedilotildees empregadas para a fundamentaccedilatildeo de determinada crenccedila

Quando levamos em conta a afirmaccedilatildeo ldquoExiste um mico-leatildeo dourado no setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteiardquo isso se deve natildeo agrave impressatildeo sensorial de uma uacutenica pessoa mas agrave su-posiccedilatildeo de que essa eacute uma afericcedilatildeo natildeo subjetiva isto eacute natildeo restrita agrave impressatildeo isolada de uma uacutenica pessoa mas a todo o conjunto de pessoas que venham a observar o setor 5 da reserva florestal de Boraceacuteia uma afericcedilatildeo intersubjetiva aberta a todo e qualquer indiviacuteduo Note-se como nesse caso natildeo estamos em princiacutepio restringindo-nos agraves observaccedilotildees experimenta-

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

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bull METTRIE J O de la Lrsquoomme machine 1747 (Acesso em 23052010 httpfrwikisourceorgwikiLrsquoHomme_Machine)

bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
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Page 16: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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das pelo indiviacuteduo isolado mesmo que excepcionalmente (ou supostamente) privilegiado O santo o mago o bruxo adquirem seu prestiacutegio pela presumida superioridade de suas observa-ccedilotildees individuais que se distinguem essencialmente das observaccedilotildees do ser humano comum As ldquovisotildeesrdquo que esses seres especiais afirmam possuir satildeo uacutenicas natildeo experienciadas por nin-gueacutem mais Por isso mesmo essas pessoas se auto-denominam ldquovidentesrdquo elas supostamente ldquovecircemrdquo ndash espiacuteritos democircnios imagens preditivas etc ndash quando as demais pessoas nas mesmas condiccedilotildees perceptuais natildeo conseguem ver nada semelhante No caso da base que procuramos para as nossas crenccedilas de senso comum a observaccedilatildeo individual mesmo daqueles que afirmam ser lsquodiferentesrsquo e mais qualificados natildeo tem prevalecircncia sobre a afericcedilatildeo comunitaacuteria sobre as diversas observaccedilotildees potenciais reprodutiacuteveis do ser humano comum que essas sim merece-riam atenccedilatildeo e legitimidade na fundamentaccedilatildeo do nosso conhecimento

Ora atraveacutes do sistema que descrevemos acima procuramos justificar opiniotildees a partir do aparato observacional de toda uma determinada comunidade de indiviacuteduos que deixa de ser como vimos algo restrito ao conhecimento subjetivo de um observador individual constru-indo uma ponte entre o subjetivo e o intersubjetivo Dessa maneira adquirimos conhecimento do mundo empiacuterico e estabelecemos a base epistemoloacutegica que procuraacutevamos para sustentar nossas opiniotildees com o emprego de observaccedilotildees um aparato empiacutericoobservacional de sus-tentaccedilatildeo das afirmaccedilotildees sobre o mundo experiencial

Evidentemente esse padratildeo de emprego das observaccedilotildees em meio ao processo de justifi-caccedilatildeo das crenccedilas ainda eacute geneacuterico e vago e sua estruturaccedilatildeo precisa eacute extremamente polecircmi-ca Mas persiste o fato de que na base mesma de nosso conhecimento do mundo empiacuterico encontramos as observaccedilotildees corriqueiras dos sujeitos cognitivos Em uacuteltima instacircncia elas teratildeo papel de relevo na definiccedilatildeo do que caracterizaremos como ldquoconhecimento empiacutericordquo (ver httpptwikipediaorgwikiCiC3AAncia) entendido como conhecimento do mundo observaacutevel

Entretanto mesmo que se admita a plausibilidade do uso das observaccedilotildees conforme as condicionantes discutidas acima para a justificaccedilatildeo das nossas crenccedilas eacute importante mencio-nar limitaccedilotildees cognitivas que natildeo podem ser transpostas pelo mero uso sistemaacutetico de obser-vaccedilotildees Eacute certo que agrave primeira vista as ldquojustificativas observacionaisrdquo parecem ser onipotentes Pelo conhecimento de senso comum isso eacute facilmente notado Se algueacutem questionar ou se

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
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Page 17: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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eu mesmo quiser sustentar minha crenccedila de que as videiras da chaacutecara de meu avocirc tecircm uvas maduras basta ir ateacute o local verificaacute-las e atestar assim a minha opiniatildeo As observaccedilotildees pare-cem ter um poder brutal capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte o valor das testemunhas oculares por exemplo eacute oacutebvio para a afericcedilatildeo de responsabilidades em tribunais e se registros filmados de uma accedilatildeo ou um nuacutemero de testemunhas idocircneas asseverar a culpa-bilidade de um acusado ele seraacute considerado culpado independentemente da intensidade de sua negaccedilatildeo Lembremos a expressatildeo ldquoContra fatos natildeo haacute argumentosrdquo querendo isso dizer que natildeo importa que evidecircncias possam ser aduzidas se as observaccedilotildees indicarem uma direccedilatildeo nada haacute que possa contradizecirc-las Mas seria mesmo assim

Uma hipoacutetese subjacente agrave confianccedila absoluta no poder fundante da observaccedilatildeo repousa na ideacuteia de que existem observaccedilotildees puras de fatos puros Nesses termos o procedimento de checagem e eventual chancela de nossas crenccedilas eacute direto bastando que elas sejam cotejadas com as observaccedilotildees isto eacute com nossa experiecircncia ndash aqui entendida como o conjunto das ob-servaccedilotildees potenciais de certa comunidade As observaccedilotildees seriam desse modo em condiccedilotildees normais uma pedra de toque praticamente indiscutiacutevel para a fundamentaccedilatildeo imparcial de nosso universo cognitivo posto que haveria uma separaccedilatildeo clara e radical entre as afirmaccedilotildees que estamos considerando e as observaccedilotildees que satildeo utilizadas para avaliaacute-las No entanto embora sedutora e aparentemente proacutexima ao senso comum essa separaccedilatildeo profunda entre observaccedilatildeo e crenccedilas estaacute longe de ser evidente e ao menos no cenaacuterio corrente da epistemo-logia eacute francamente questionada como veremos a seguir

21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Entre os expoentes da criacutetica recente ao postulado da independecircncia ou pureza dos da-dos observacionais encontramos nomes como os dos filoacutesofos Norwood R Hanson (l971) e Thomas S Kuhn (19622003) que desenvolveram em alguns textos hoje claacutessicos ndash seguindo uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica cujo expoente eacute o fiacutesico historiador da ciecircncia e filoacutesofo Pierre Duhem (1906) ndash a chamada ldquotese da contaminaccedilatildeoimpregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeordquo e expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias cientiacuteficas Esses autores identificam o conteuacutedo teoacuterico de constataccedilotildees bem estabelecidas da psicologia da

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
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                                  1. Botatildeo 63
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                                    8. Paacutegina 11
                                      1. Botatildeo 60
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                                        4. Paacutegina 15
                                        5. Paacutegina 16
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                                        7. Paacutegina 18
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                                        9. Paacutegina 20
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                                          1. Botatildeo 61
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Page 18: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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percepccedilatildeo particularmente a psicologia da Gestalt (ver httpptwikipediaorgwikiGestalt) evidencia que as pessoas vecircem o que sua bagagem conceitual lhes permite ver

Que um item observado por si soacute natildeo determina totalmente o que se vecirc fica imediata-mente patente quando consideramos exemplos corriqueiros como o do cubo de Necker (ver httpptwikipediaorgwikiCubo_de_Necker)

Figura 6 ndash Cubo de Necker

Nesse caso verifica-se que o mesmo objeto pode ser percebido com a face mais proacutexima voltada para cima ou para baixo Mesmo que nossa percepccedilatildeo mude nada indica que algo no objeto percebido tenha tambeacutem mudado Parece claro que o que quer que defina essa mu-danccedila de percepccedilatildeo natildeo decorre apenas de uma imposiccedilatildeo do objeto mas tambeacutem do sujeito perceptual Mais radical a teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo expotildee mais clara radical e dramaticamente essa relaccedilatildeo de dependecircncia da observaccedilatildeo em relaccedilatildeo a teorias ao sujeito experienciador e em particular agrave bagagem conceitual que a precede Hanson fornece um exemplo tiacutepico de como essa bagagem determinaria a observaccedilatildeo Para isso faz uso de duas conhecidas teorias astronocircmicas (agraves quais nos referimos no Toacutepico 11 do Tema 1) a teoria geocecircntrica ptolomaica segundo a qual todos os corpos celestes inclusive o Sol girariam em torno da Terra considerada como o centro do universo e a teoria heliocecircntrica segundo a qual a Terra e os demais planetas orbitariam em torno do Sol Conforme Hanson se adeptos des-sas teorias assistissem ao mesmo tempo a imagem de um por do sol veriam respectivamente o sol se movendo abaixo da linha do horizonte (adepto da teoria geocecircntrica) ou o horizonte se movimentando para cima e gradualmente ocultando o sol (adepto da teoria heliocecircntrica) Evidentemente a imagem em si do por do sol natildeo se alteraria mas as observaccedilotildees feitas por esses indiviacuteduos seriam muito diferentes entre si Ficaria assim evidenciada a forccedila da base conceitual adotada pelo sujeito agente observador para a definiccedilatildeo da observaccedilatildeo

As consequecircncias da teoria da impregnaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo satildeo marcantes e pro-fundas Todo o suposto poder das observaccedilotildees para a fundamentaccedilatildeo de nossas opiniotildees fica

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 19: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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ameaccedilado Se as observaccedilotildees satildeo elas mesmas dependentes das nossas expectativas e de nossa base conceitual como poderiam elas ser eficientes o bastante para sustentar legitimamente essas expectativas e conceitos Se adotaacutessemos a caracterizaccedilatildeo operacional de conhecimento em termos de meios e fins a que nos referimos no Toacutepico 12 um caminho para sustentar a nossa opiniatildeo ndash por exemplo a respeito da nossa crenccedila de que a Terra gira em torno do Sol ndash poderia ser alcanccedilado pela observaccedilatildeo natildeo a imediata mas pela observaccedilatildeo fornecida por apa-relhos em especial os aparelhos ampliadores de nossa percepccedilatildeo como a luneta e o telescoacutepio Neste caso as observaccedilotildees satildeo entremeadas com as hipoacuteteses heliocecircntricas das quais parti-mos Em consequumlecircncia e ao contraacuterio do que afirmamos antes a justificativa procurada para nosso conhecimento natildeo pode fazer uso das observaccedilotildees puras posto que elas simplesmente natildeo existem e em seu lugar podem estar aquelas contaminadas pela proacutepria opiniatildeo que se pretende corroborar e adquirir o status de conhecimento

A constataccedilatildeo de que existem limitaccedilotildees para o emprego imediato das observaccedilotildees na fun-damentaccedilatildeo de nosso conhecimento impotildee a conclusatildeo de que a base observacionalempiacuterica do conhecimento eacute se natildeo mais fraacutegil bem mais complexa do que talvez se pudesse supor De fato essas consideraccedilotildees deixam ver que a justificaccedilatildeo de nosso conhecimento sobre o mundo exige paralelamente aos elementos observacionais tambeacutem elementos natildeo-observacionais sem os quais natildeo teriacuteamos a base que procuramos Eacute importante a esta altura reiterar enfatica-mente o que estaacute em jogo aqui (1) precisamos encontrar uma justificativa para nossas crenccedilas caso pretendamos possuir algum conhecimento sobre o mundo exterior (2) as observaccedilotildees embora pareccedilam fornecer a base procurada talvez natildeo sejam capazes de exercer esse papel sem que algum elemento natildeo observacional seja acrescentado (3) cabe portanto indagar se existem e quais seriam tais componentes natildeo observacionais Com a admissatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo passa a ser crucial que tenhamos um modelo de justifica-ccedilatildeo alternativo agravequele que se pretendeu sustentar sobre o alicerce de observaccedilotildees ditas puras

Eacute antiga a ideia de que o conhecimento ou ao menos parcelas do nosso conhecimento pode ser sustentado sem o concurso de observaccedilotildees Isso eacute bem claro em relaccedilatildeo agrave fundamentaccedilatildeo de conhecimentos formais Em matemaacutetica ou em loacutegica por exemplo eacute usual a expectativa de que possamos manter e justificar nossas crenccedilas sem fazer uso de base observacional As provas (como a ldquoprova realrdquo ou ldquoprova dos noverdquo) de contas aritmeacuteticas por exemplo independem de que cotejemos os resultados com alguma observaccedilatildeo Evidecircncia disso eacute que por vezes chega-

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
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Page 20: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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mos com seguranccedila a algumas respostas matemaacuteticas de magnitudes que simplesmente natildeo podem em princiacutepio ser observadas Qualquer um sabe que a soma de 1 trilhatildeo de laranjas com outro trilhatildeo de laranjas resultaraacute em 2 trilhotildees de laranjas sem ter a necessidade de observar a sequecircncia de laranjas

A demonstraccedilatildeo de certos conhecimentos como os formais sem o concurso da experiecircncia eacute normalmente chamada na literatura filosoacutefica como demonstraccedilatildeo a priori isso eacute ldquoanterior agrave experiecircnciardquo e o conhecimento resultante conhecimento a priori Platatildeo novamente nos daacute um exemplo claacutessico que esclarece o perfil de uma demonstraccedilatildeo aprioriacutestica Em seu diaacutelogo Mecircnon ele descreve como um escravo sem qualquer estudo anterior pode ser levado a inferir por meio de puro raciociacutenio dedutivo isento de observaccedilotildees o teorema de Pitaacutegoras (ver httpwwweducfculptdocentesopombotraducoesmenonhtm) A conclusatildeo platocircnica eacute de que a aquisiccedilatildeo de conhecimento se assemelha a um resgate de memoacuteria ele o saber jaacute estaacute inscrito em noacutes e o que nos cabe eacute simplesmente rememoraacute-lo Num modelo cognitivo como esse natildeo admira que natildeo seja necessaacuteria a observaccedilatildeo para validaccedilatildeo do conhecimento

Contudo se no saber formal a deduccedilatildeo e a justificaccedilatildeo do conhecimento podem prescindir radicalmente de base observacional seria isso possiacutevel no caso do conhecimento empiacuterico a respeito do nosso mundo observaacutevel Vimos que observaccedilotildees puras natildeo estatildeo disponiacuteveis para noacutes mas seria viaacutevel uma fundamentaccedilatildeo absolutamente aprioriacutestica de nossas crenccedilas sobre o mundo observacional A resposta imediata eacute a de que nossas opiniotildees sobre o mundo empiacuterico natildeo se sustentam apenas sobre bases a priori natildeo observacionais Parece bastante contra-intu-itivo seja para o conhecimento de senso comum seja para o conhecimento cientiacutefico imaginar que poderiacuteamos deduzir formalmente sustentando em bases puramente a priori as opiniotildees e crenccedilas que temos sobre o mundo empiacuterico parece fora de questatildeo apoiar a minha crenccedila de que meu carro tem a cor preta por meio de procedimentos e evidecircncias semelhantes agravequeles que se emprega para justificar as afirmaccedilotildees da geometria ou da loacutegica por exemplo Para aferir a verdade de crenccedilas como essas precisariacuteamos de algum apoio a posteriori (isto eacute ldquoposterior agrave experiecircnciardquo)

O problema que se coloca portanto eacute algo proacuteximo agrave definiccedilatildeo do tipo de papel relativo dos elementos observacionais e aprioriacutesticos ndash que isoladamente como vimos natildeo poderiam alcanccedilar os objetivos de fundamentaccedilatildeo cognitiva E eacute aqui que as propostas filosoacuteficas se multiplicam Alguns teoacutericos privilegiam a parcela aprioriacutestica outros acentuam o papel da

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

bull PEIRCE C S Collected papers (CP) v 1-8 In C Hartshorne P Weiss and A Burks (Eds) The collected papers of Charles Sanders Peirce Cambridge MA Harvard University Press 1931-1958

bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

bull SANTOS B de S amp MENESES MP (Orgs) Epistemologias do Sul Satildeo Paulo Cor-tez 2010

bull SEARLE J R (1980) Minds brains and programs Behavioral and Brain Sciences 3 (3) 417-457 (httpspotcoloradoedu~rupertrSearlepdf versatildeo eletrocircnica acessada em 11052010)

bull TURING A Computing machinery and intelligence Mind 59 433-460 1950 (httpwwwloebnernetPrizefTuringArticlehtml Acesso em 20092010)

bull VICO G A Ciecircncia Nova Traduccedilatildeo de Marco Lucchesi Satildeo Paulo Record 1999

bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 21: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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observaccedilatildeo outros ainda propotildeem um equiliacutebrio entre ambas ou mesmo subvertem os termos do problema e questionam a possibilidade de se fornecer qualquer base fundacional para os juiacutezoscrenccedilas empiacutericos a partir de um mix aprioriacutestico e observacional (a posteriori) Con-tudo o que parece ser um elemento comum agraves diferentes abordagens do conhecimento eacute esta-rem elas focadas na estrutura fundacional dos juiacutezoscrenccedilas sejam eles a priori ou a posteriori

No proacuteximo Tema aprofundaremos a nossa investigaccedilatildeo sobre os tipos de raciociacutenio que supostamente fundamentam as crenccedilas candidatas ao conhecimento

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3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
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Page 22: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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tema 3

3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Como sugerimos no Tema 1 um elemento distintivo do conhecimento cientiacutefico diz re-speito a seu meacutetodo de investigaccedilatildeo Desde os gregos jaacute se tinha claro especialmente entre os geocircmetras um meacutetodo de anaacutelise e siacutentese segundo o qual um problema que se desejasse resolver deveria ser dividido em problemas mais simples tantas vezes quanto necessaacuterias ateacute chegar a um problema cuja soluccedilatildeo eacute conhecida Tendo realizado essa decomposiccedilatildeo analiacutetica o meacutetodo prescreve que se percorra o caminho de volta na tentativa de resoluccedilatildeo do problema originalmente formulado composto pelos sub-problemas mais simples Tal meacutetodo nem sem-pre eacute adequado para o estudo de sistemas complexos (ver httpptwikipediaorgwikiSiste-mas_complexos) cuja totalidade frequumlentemente natildeo eacute igual agrave soma de suas partes Exemplos de tais sistemas satildeo os seres vivos cuja decomposiccedilatildeo em partes pode acarretar a morte natildeo sendo possiacutevel sua recomposiccedilatildeo sinteacutetica Sistemas complexos satildeo tambeacutem investigados na Fiacutesica na Biologia nas Ciecircncias Ambientais na Sociologia entre outras

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tema 3

Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                                      1. Botatildeo 52
                                                                        1. Paacutegina 48 Off
                                                                        2. Paacutegina 49
                                                                        3. Paacutegina 50
                                                                        4. Paacutegina 51
                                                                        5. Paacutegina 52
                                                                          1. Botatildeo 53
                                                                            1. Paacutegina 48 Off
                                                                            2. Paacutegina 49
                                                                            3. Paacutegina 50
                                                                            4. Paacutegina 51
                                                                            5. Paacutegina 52
                                                                              1. Botatildeo 7
                                                                              2. Botatildeo 8
                                                                              3. Botatildeo 4
Page 23: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Contudo apesar de suas limitaccedilotildees o meacutetodo grego de anaacutelise e siacutentese serviu como fonte de inspiraccedilatildeo da reflexatildeo cientiacutefica e filosoacutefica Aleacutem disso eacute graccedilas a esse meacutetodo que a ativi-dade cientiacutefica natildeo apenas adquiriu uma unidade e uma identidade proacuteprias mas tambeacutem eacute graccedilas a ele que se pocircde conceber a noccedilatildeo de progresso no conhecimento cientiacutefico O mesmo natildeo pode ser dito poreacutem de outras aacutereas do saber tais como a proacutepria Filosofia e a Histoacuteria por exemplo que natildeo possuem um uacutenico meacutetodo consensual para o direcionamento de suas investigaccedilotildees Mas quais satildeo as principais caracteriacutesticas do meacutetodo de anaacutelise e siacutentese

A formulaccedilatildeo mais famosa de tal meacutetodo coube a Reneacute Descartes Em seu ceacutelebre Discurso do meacutetodo ele apresenta as seguintes regras

1 duvidar de tudo aquilo de que natildeo se tiver uma certeza clara e distinta

2 dividir os problemas em tantas partes quantas forem necessaacuterias para sua soluccedilatildeo

3 conduzir ordenadamente os pensamentos dos objetos mais simples aos mais complexos supondo uma ordem mesmo entre aqueles objetos que natildeo apresentem uma

4 realizar as recapitulaccedilotildees necessaacuterias para nada esquecer

Estas regras aparentemente simples quando aplicadas na investigaccedilatildeo cientiacutefica adquirem um poder explanatoacuterio considerado como a base sustentadora da atividade cientiacutefica em geral A busca de certeza no domiacutenio das explicaccedilotildees cientiacuteficas tem sido objeto de reflexatildeo de mui-tos filoacutesofos e cientistas que adotam o meacutetodo de anaacutelise e siacutentese em suas pesquisas

Essa praacutetica metodoloacutegica uma vez aliada agrave tecnologia desencadeou como enfatiza Luc Ferry (2007) um movimento desenfreado em vaacuterios domiacutenios da atividade cientiacutefica como por exemplo na Fiacutesica de partiacuteculas na Geneacutetica e na Computaccedilatildeo Tal praacutetica tambeacutem influ-encia diretamente nossa vida em geral como pode ser observado pelo impacto da tecnociecircncia em nossas accedilotildees cotidianas Natildeo entraremos em detalhes sobre este toacutepico que seraacute alvo de anaacutelise da disciplina Eacutetica

Ao inveacutes disso apresentaremos outro meacutetodo conhecido como meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo que influenciou fortemente a natureza das explicaccedilotildees cientiacuteficas contemporacircneas Trata-se da proposta de um meacutetodo de explicaccedilatildeo dedutiva a partir de leis gerais cuja compreensatildeo exige paciecircncia e um certo esforccedilo de atenccedilatildeo Dada a importacircncia desse meacutetodo em vaacuterios aspectos

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 24: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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do debate filosoacutefico contemporacircneo sugerimos que seja realizada mais de uma leitura para que seja assimilado aquilo que a primeira vista poderia passar despercebido

O meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo (daqui em diante MND) expressa uma concepccedilatildeo formal da explicaccedilatildeo cientiacutefica em linguagem natural (Popper 1959 1972 Braithwaite 1953 Gardin-er 1959 Nagel 1961 Hempel 1965 1975 e Hempel amp Oppenheim 1948) Nessa linguagem as explicaccedilotildees cientiacuteficas satildeo concebidas como argumentos dedutivos que possuem pelo menos um enunciado de lei natural em suas premissas Como ressalta Hempel (1975)

Uma explicaccedilatildeo no sentido que nos interessa aqui eacute basicamente uma resposta agrave pergunta sobre como certo acontecimento se deu ou sobre o porquecirc de certo estado de coisas Perguntas dessa espeacutecie respondem-se frequentemente em termos causais Pode-se dessa maneira explicar que a dilataccedilatildeo de um fio de cobre foi causada pela elevaccedilatildeo de sua temperatura ou que o suacutebito desvio do ponteiro de uma buacutessola foi causado pela mu-danccedila da corrente eleacutetrica em circuito proacuteximo ou que a lua manteacutem seu movimento orbital em torno da terra por causa da atraccedilatildeo gravitacional que terra e lua exercem uma sobre outra (p 160)

Hempel propotildee o seguinte esquema que ilustra diagramaticamente seu modelo de explica-ccedilatildeo cientiacutefica

L1 Lr (Leis Gerais)

Explanans

C1 C (Condiccedilotildees ou dados do fato a ser explicado)

____________________________________________________

Explanandum

E (Enunciado que descreve o fato a ser explicado)

No esquema acima o termo latino explanans designa o conjunto das leis gerais e das condiccedilotildees iniciais que caracterizam o evento a ser explicado Jaacute o termo explanandum se refere agrave conclusatildeo que descreve o fato a ser explicado Assim por exemplo o modelo prescreve que

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se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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tema 3

Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

bull DEBRUN M A A ideacuteia de auto-organizaccedilatildeo In DEBRUN M A GONZALEZ MEQ amp PESSOA JR O (Eds) Auto-organizaccedilatildeo Estudos Interdisciplinares v 18 Campinas Brasil Coleccedilatildeo CLE 1-23 1996

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
                                    5. Paacutegina 8
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Page 25: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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tema 3

se desejamos explicar a dilataccedilatildeo de um fio de cobre que permaneceu no sol ardente devemos enunciar a lei segundo a qual todo metal quando aquecido a altas temperaturas se dilata Aleacutem disso seraacute preciso explicitar as condiccedilotildees ambientais a que o fio de metal em questatildeo esteve exposto em especial aquelas relativas agrave temperatura Nessas condiccedilotildees a conclusatildeo a ser verificada sobre a expansatildeo do fio de cobre deveraacute ser deduzida das leis especificadas Essa deduccedilatildeo quando bem sucedida explicaraacute segundo Hempel a dilataccedilatildeo do fio Caso a con-clusatildeo natildeo se verifique o cientista deveraacute rever as condiccedilotildees iniciais da ocorrecircncia do evento em questatildeo eou buscar leis complementares

Cabe ressaltar que a aplicaccedilatildeo de leis gerais para a explicaccedilatildeo de eventos pressupotildee aleacutem da deduccedilatildeo um tipo de raciociacutenio indutivo para a validaccedilatildeo das leis gerais que natildeo se aplicam apenas a um caso particular mas a um conjunto geral de ocorrecircncias como veremos a seguir

32 ndash Raciociacutenio Indutivo

O conceito de induccedilatildeo possui vaacuterios sentidos mas para nossos propoacutesitos ressaltaremos dois deles

1 um sentido comum segundo o qual a induccedilatildeo eacute um tipo de inferecircncia que produz gen-eralizaccedilotildees a partir de casos particulares

2 um sentido mais restrito que envolve uma forma de verificaccedilatildeo de uma lei geral jaacute for-mulada

No sentido amplo (1) a induccedilatildeo eacute utilizada por exemplo quando raciocinamos por analo-gia ou quando fazemos previsotildees a partir de casos particulares ou ainda quando especulamos a respeito das causas de um evento na tentativa de detectar regularidades que nos permitam postular leis gerais Nesse sentido comum a induccedilatildeo estaacute presente no raciociacutenio utilizado quando a sua conclusatildeo ultrapassa os limites das premissas iniciais

No caso (2) jaacute dispomos de uma lei geral e raciocinamos fazendo previsotildees que a corro-borem Quando isso natildeo ocorre e uma lei geral eacute falseada temos uma anomalia neste caso como veremos o raciociacutenio abdutivo poderaacute ser empregado na tentativa de detectar regulari-dades e propor uma nova lei explicativa da aparente anomalia em questatildeo

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Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bibliografia

Science 15 576-579 1948

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
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                                                            1. Paacutegina 30 Off
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                                                              1. Botatildeo 64
                                                                1. Paacutegina 44 Off
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                                                                    1. Paacutegina 44 Off
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                                                                        1. Paacutegina 48 Off
                                                                        2. Paacutegina 49
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                                                                            1. Paacutegina 48 Off
                                                                            2. Paacutegina 49
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                                                                              2. Botatildeo 8
                                                                              3. Botatildeo 4
Page 26: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

26

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

1

2

3

4

tema 3

Figura 7 ndash David HumehttpptwikipediaorgwikiDavid_Hume

Antes de apresentar o raciociacutenio abdutivo cabe ressaltar um problema inerente ao raciociacutenio indutivo que jaacute foi levantado por muitos filoacutesofos especialmente por David Hume (1973) Ele argumenta que boa parte de nosso raciociacutenio depende de conclusotildees que esboccedilamos a partir de experiecircncias limitadas e que servem como guias praacuteticos para experiecircncias futuras Contudo ele argumenta que natildeo temos garantias loacutegicas de que o futuro seraacute como o passado Ainda que estejamos justificados em nossas generalizaccedilotildees do ponto de vista psicoloacutegico ou pragmaacutetico o mesmo natildeo ocorre em termos de necessidade loacutegica Assim por exemplo quando colocamos aacutegua para ferver temos a expectativa de que ela ferva quando sua temperatura alcance 100 deg centiacutegrados Mas se vamos a La Paz onde nunca estivemos antes e realizamos o mesmo procedimento para a fervura da aacutegua com as mesmas expectativas que temos em Satildeo Paulo veremos nossos esforccedilos frustrados porque a aacutegua ferve a 80deg Isto ocorre como sabemos agora porque em grandes altitudes a temperatura de fervura da aacutegua se altera Este exemplo permite perceber que nossas generalizaccedilotildees indutivas ainda que justificadas na perspectiva psicoloacutegica precisam constantes ajustes e natildeo podem ser consideradas permanentemente justificadas afi-nal natildeo temos garantia loacutegica que justifique a crenccedila sobre a necessidade de a natureza se comportar no futuro como se comportou no passado

A histoacuteria da ciecircncia estaacute repleta de exemplos de generalizaccedilotildees que tiveram que ser aban-donadas porque se descobriam casos particulares natildeo cobertos por elas O mais ceacutelebre exem-plo jaacute apresentado no Toacutepico 12 do Tema 1 eacute o abandono do geocentrismo

Em suma de acordo com o MND as explicaccedilotildees cientiacuteficas se fundamentam no raciociacutenio dedutivo partindo de leis gerais e de condiccedilotildees iniciais bem estabelecidas o que possibilita a conclusatildeo sobre o evento a ser explicado Essa explicaccedilatildeo por sua vez pode ser corroborada atraveacutes da induccedilatildeo mas tal atividade precisa ser constantemente verificada considerando-se a possibilidade de erros As teses cientiacuteficas mesmo quando justificadas podem vir a ser fal-seadas agrave luz de novas descobertas (a discussatildeo sobre o falibilismo seraacute retomada na disciplina Filosofia da Ciecircncia)

Se por um lado a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo constituem modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva o desenvolvimento do conhecimento parece exigir algo aleacutem de tais modalidades Isso porque

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                                            3. Paacutegina 50
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                                                                            5. Paacutegina 52
                                                                              1. Botatildeo 7
                                                                              2. Botatildeo 8
                                                                              3. Botatildeo 4
Page 27: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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na deduccedilatildeo a conclusatildeo estaacute contida nas premissas e a induccedilatildeo por sua vez apenas instancia aquilo que estaacute impliacutecito na lei

Para concluir vamos indicar brevemente a natureza de uma forma de raciociacutenio conhecida como raciociacutenio abdutivo que possibilita segundo Charles Sanders Peirce (1931-1958) Han-son (1958 1965) entre outros natildeo apenas o avanccedilo do conhecimento como tambeacutem uma loacutegica da descoberta cientiacutefica

33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

O raciociacutenio abdutivo tal como originalmente caracterizado por Peirce (1931-1958) con-stitui um modo de inferecircncia sobre o qual se estrutura o raciociacutenio criativo Em contraste com os raciociacutenios dedutivo e indutivo (que como vimos constituem modalidades de justificaccedilatildeo mas natildeo de ampliaccedilatildeo do conhecimento) o raciociacutenio abdutivo propicia a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses explicativas Ele se inicia com a percepccedilatildeo de anomalias ou de problemas aparentemente insoluacuteveis segundo leis gerais conhecidas Surpresas e duacutevidas iniciam um pro-cesso de busca e geraccedilatildeo de hipoacuteteses que se consideradas verdadeiras poderiam explicar o problema aparentemente anocircmalo

O tema da natureza do processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses tem sido objeto de grande polecircmi-ca na Filosofia Filoacutesofos como Peirce e Hanson por um lado defendem a existecircncia de uma Loacutegica da Descoberta e por outro Popper dentre outros negam a existecircncia de tal loacutegica ar-gumentando que o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses envolve aspectos subjetivos de grande interesse para a Psicologia mas de nenhum interesse para a Loacutegica da reflexatildeo filosoacutefica Uma amostra dessa polecircmica pode ser apreciada na seguinte afirmaccedilatildeo de Popper (1972)

[] a questatildeo de como um homem tem uma nova ideacuteia poderaacute ser de grande interesse para a psicologia empiacuterica mas eacute irrelevante para a anaacutelise loacutegica do conhecimento cientiacutefico () O meu ponto de vista para essa questatildeo eacute que natildeo haacute um meacutetodo loacutegico para se ter novas ideacuteias ou para a reconstruccedilatildeo loacutegica do seu processo Cada nova descoberta conteacutem lsquoum elementorsquo irracional ou lsquouma intuiccedilatildeorsquo criadora no sentido de Bergson (p 32)

Figura 8 ndash C S PeircehttpptwikipediaorgwikiCharles_Sanders_Peirce

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                                            3. Paacutegina 50
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                                                                            5. Paacutegina 52
                                                                              1. Botatildeo 7
                                                                              2. Botatildeo 8
                                                                              3. Botatildeo 4
Page 28: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Em oposiccedilatildeo a Popper Hanson (1963 1965) apoiando-se nas ideacuteias de Peirce sobre a loacutegica dos processos criativos ressalta a distinccedilatildeo entre razotildees para sugerir uma nova hipoacutetese (como uma possiacutevel soluccedilatildeo para um determinado problema) e motivaccedilotildees que levam um indiviacuteduo a escolher estrateacutegias especiacuteficas para resolver tal problema Conforme apontam Gonzalez e Haselager (2002)

Motivaccedilotildees diferentemente das razotildees para propor uma ideacuteia natildeo satildeo suscetiacuteveis

de anaacutelise loacutegica porque elas envolvem elementos subjetivos preferecircncias e gostos

que refletem a complexidade da nossa histoacuteria cultural instanciada diferentemente

em indiviacuteduos distintos Sem ignorar a relevacircncia das motivaccedilotildees nos processos de

criaccedilatildeo Peirce e Hanson focalizaram sua anaacutelise no elemento racional subjacente agrave

criatividade (p 23)

Na perspectiva da loacutegica da descoberta proposta por Peirce e Hanson o processo de geraccedilatildeo de hipoacuteteses explicativas oscila entre crenccedilas alicerccediladas em leis gerais bem estabelecidas e duacutevidas ou surpresas que as abalam As surpresas segundo Peirce podem ser ativas ou passivas As primeiras ocorrem () quando aquilo que se percebe conflita positivamente com as expectativas as surpresas passivas ocorrem () quando natildeo havendo nenhuma expectativa positiva () algo inesperado acontece tal como um eclipse total do sol que natildeo havia sido previsto (Collected Papers volume 8 sect315)

Como indicamos a surpresa produzida pela percepccedilatildeo de uma anomalia constitui o primeiro passo do raciociacutenio abdutivo O segundo passo consiste em admitir possibilidades alternativas agravequelas hipoacuteteses ateacute entatildeo bem estabelecidas Nesse processo de levantamento de possiacuteveis hipoacuteteses explicativas para a anomalia em questatildeo apenas algumas delas seratildeo candidatas a transformar a situaccedilatildeo surpreendente em uma situaccedilatildeo corriqueira A seleccedilatildeo da hipoacutetese que parece ser mais adequada constitui o terceiro passo do raciociacutenio abdutivo

Numa passagem bem conhecida Peirce (Collected Papers volume 5 sect 189) sugere a seguinte descriccedilatildeo loacutegica caracteriacutestica do raciociacutenio abdutivo

O fato surpreendente C eacute observado

Mas se [a hipoacutetese] A fosse verdadeira C se seguiria naturalmente

Portanto existe razatildeo para suspeitar que A seja verdadeira

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Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bibliografia

Science 15 576-579 1948

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                              1. Botatildeo 64
                                                                1. Paacutegina 44 Off
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                                                                    1. Paacutegina 44 Off
                                                                    2. Paacutegina 45
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                                                                        1. Paacutegina 48 Off
                                                                        2. Paacutegina 49
                                                                        3. Paacutegina 50
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                                                                            1. Paacutegina 48 Off
                                                                            2. Paacutegina 49
                                                                            3. Paacutegina 50
                                                                            4. Paacutegina 51
                                                                            5. Paacutegina 52
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                                                                              2. Botatildeo 8
                                                                              3. Botatildeo 4
Page 29: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

29

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

1

2

3

4

tema 3

Eacute importante ressaltar que o raciociacutenio abdutivo em contraste com o raciociacutenio dedutivo natildeo fornece garantias sobre sua validade Ele constitui apenas uma heuriacutestica uacutetil para guiar a mente na sua tentativa de se libertar das duacutevidas Como ressalta Peirce a abduccedilatildeo eacute um tipo de faculdade natural que

[] se assemelha ao instinto na sua falibilidade () pois embora ela frequumlentemente

conduza ao erro mais do que ao acerto contudo a frequumlecircncia relativa com que ela

acerta eacute na sua totalidade a coisa mais maravilhosa da nossa constituiccedilatildeo (CP vol-

ume 1 sect 81)

Uma vez proposta uma hipoacutetese ndash considerada provisoriamente verdadeira ndash que parece explicar a anomalia em questatildeo o proacuteximo passo do raciociacutenio abdutivo ocorre atraveacutes do teste indutivo dessa hipoacutetese geralmente realizado atraveacutes da observaccedilatildeo Sendo verificada induti-vamente essa hipoacutetese assumiraacute a forma de uma lei geral que serviraacute de base para o raciociacutenio dedutivo do tipo descrito pelo meacutetodo nomoloacutegico-dedutivo

Em siacutentese neste Tema apresentamos trecircs modalidades de raciociacutenio que fundamentam o conhecimento cientiacutefico (a) dedutivo atraveacutes do qual se infere uma conclusatildeo a partir de leis gerais e das condiccedilotildees que especificam a ocorrecircncia do evento a ser explicado (b) indutivo atraveacutes do qual se testa uma hipoacutetese que pode (ou natildeo) corroborar uma lei geral (c) abdutivo atraveacutes do qual novas hipoacuteteses satildeo propostas como candidatas explicativas de eventos que resistem agrave explicaccedilatildeo dedutiva ou indutiva Ressaltamos que apenas o raciociacutenio abdutivo permite a expansatildeo do conhecimento na medida em que atraveacutes dele novas hipoacuteteses podem ser propostas as quais fornecem explicaccedilotildees possiacuteveis para eventos aparentemente anocircmalos Como veremos no proacuteximo tema em tal circunstacircncia se considera que informaccedilatildeo foi gerada como resultado do processo abdutivo

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
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Page 30: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo

Ateacute agora investigamos problemas centrais da Teoria do Conhecimento tendo como fio condutor a reflexatildeo sobre a natureza do conhecimento (cientiacutefico e comum) e as suas formas de justificaccedilatildeo fundadas na observaccedilatildeo e nos raciociacutenios dedutivo indutivo e abdutivo Vimos que o raciociacutenio abdutivo possibilita a geraccedilatildeo de novas hipoacuteteses trazendo novidades am-pliadoras de haacutebitos e crenccedilas em geral Quando tais crenccedilas se mostram verdadeiras em um contexto elas satildeo consideradas informaccedilatildeo A relaccedilatildeo da informaccedilatildeo com o que pode ser con-hecido constitui o objeto central de investigaccedilatildeo do presente Tema Os seguintes problemas direcionaratildeo o nosso estudo nesta unidade final (1) o que eacute informaccedilatildeo e qual a sua relevacircn-cia filosoacutefica para o estudo do conhecimento (2) Como informaccedilatildeo e accedilatildeo se articulam na produccedilatildeo do conhecimento Satildeo estas as questotildees que seratildeo discutidas nos dois toacutepicos que compotildeem esta quarta unidade

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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ficha sumaacuterio bibliografia

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bibliografia

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bull GARDINER P The Nature of Historical Explanation Oxford Oxford University Press 1959

bull GETTIER EL Is Justified True Belief Knowledge Analysis Vol 23 p 121-23 1963 (httpwwwditextcomgettiergettierhtml acesso em 09082010)

bull GIBSON JJ The ecological approach to visual perception Boston Houghton Mifflin 1979

bull GONZALEZ MEQ BROENS M C MORAES J A A virada informacional na Filosofia alguma novidade para o estudo da mente Revista de Filosofia Aurora (PUCPR Impresso) v 22 p 137-151 2010

bull GONZALEZ M E Q HASELAGER W F G Abductive reasoning creativy and self-organization Cognitio Satildeo Paulo n 3 p 22-31 2002 (httpwwwpucspbrposfilo-sofiaPragmatismocognitiocognitio3cognitio3_sumariohtm ACESSO EM 20092010)

bull GONZALEZ M E Q NASCIMENTO T C A HASELAGER W F G Infor-maccedilatildeo e Conhecimento notas para uma taxonomia da informaccedilatildeo In FERREIRA A GONZALEZ MEQ COELHO J G (Org) Encontro com as Ciecircncias Cognitivas 1 ed Volume 4 Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2004

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bull HEMPEL C Explicaccedilatildeo cientiacutefica In MORGENBESSER S (org) Filosofia da ciecircn-cia Satildeo Paulo Cultrix 1975

bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

bull METTRIE J O de la Lrsquoomme machine 1747 (Acesso em 23052010 httpfrwikisourceorgwikiLrsquoHomme_Machine)

bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

bull PEIRCE C S Collected papers (CP) v 1-8 In C Hartshorne P Weiss and A Burks (Eds) The collected papers of Charles Sanders Peirce Cambridge MA Harvard University Press 1931-1958

bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

bull SANTOS B de S amp MENESES MP (Orgs) Epistemologias do Sul Satildeo Paulo Cor-tez 2010

bull SEARLE J R (1980) Minds brains and programs Behavioral and Brain Sciences 3 (3) 417-457 (httpspotcoloradoedu~rupertrSearlepdf versatildeo eletrocircnica acessada em 11052010)

bull TURING A Computing machinery and intelligence Mind 59 433-460 1950 (httpwwwloebnernetPrizefTuringArticlehtml Acesso em 20092010)

bull VICO G A Ciecircncia Nova Traduccedilatildeo de Marco Lucchesi Satildeo Paulo Record 1999

bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 31: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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41 - A virada informacional na Filosofia

Vivemos na era da Informaccedilatildeo ela entra em nossos lares atraveacutes da miacutedia (TV raacutedio jornal impresso livros internet etc) moldando a nossa concepccedilatildeo de mundo e afetando a nossa accedilatildeo Mas o que eacute isso que chamamos informaccedilatildeo Qual eacute a sua natureza Ainda que no co-tidiano o termo informaccedilatildeo seja intuitivamente bem compreendido a reflexatildeo filosoacutefica sobre ele desvela um mar de controveacutersias seria a informaccedilatildeo ldquoalgordquo material energeacutetico formal ou ela sequer possui substancialidade Tais controveacutersias surgem quando se diferencia a informa-ccedilatildeo do seu meio ou veiacuteculo material de transmissatildeo Afinal o que eacute isso que passa atraveacutes de sinais eleacutetricos bioquiacutemicos simboacutelicos entre outras tantas formas de canais de transmissatildeo da informaccedilatildeo Natildeo haacute ainda um consenso entre os estudiosos da informaccedilatildeo sobre a sua na-tureza uacuteltima mas todos concordam que a informaccedilatildeo seja ela o que for afeta diretamente o rumo das accedilotildees Natildeo entraremos aqui em detalhes sobre essas controveacutersias (detalhes podem ser encontrados em Gonzalez Nascimento e Haselager 2004 Machado 2003 Gonzalez Broens e Moraes 2010 dentre outros) Indicaremos apenas duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo que estatildeo mais diretamente ligadas aos problemas da Teoria do conhecimento discutidos ao longo desta disciplina

Uma primeira concepccedilatildeo de informaccedilatildeo que interessa diretamente aos filoacutesofos enfatiza a sua natureza abstrata formal e simboacutelica (Dretske 1981 1992 Juarreiro 1999 Capurro 2007 entre outros) Eacute nesse sentido que InFormAccedilatildeo diz respeito agrave accedilatildeo de dar forma As-sim por exemplo ao adquirir forma uma escultura incorpora informaccedilatildeo sobre a accedilatildeo do artista podendo constituir um veiculo para a expressatildeo de suas intenccedilotildees De modo similar hipoacuteteses do meacutetodo dedutivo (MND) apresentado no Tema 3 veiculam informaccedilatildeo sobre uma proposta explicativa de um dado evento

Uma concepccedilatildeo alternativa de informaccedilatildeo elaborada por estudiosos da Filosofia Ecoloacutegica caracteriza a informaccedilatildeo como padrotildees (luminosos sonoros etc) disponiacuteveis no meio ambi-ente que possibilitam a percepccedilatildeoaccedilatildeo (Gibson 1979 Large 2003 Chemero 2006) Assim por exemplo os padrotildees luminosos da tela do seu computador contecircm informaccedilatildeo natildeo apenas sobre os siacutembolos mas tambeacutem sobre as mensagens por eles transmitidas Nesse seu ambiente a informaccedilatildeo possibilita a sua accedilatildeo de ler e realizar as atividades sugeridas na plataforma de ensino Um outro exemplo mais natural de informaccedilatildeo disponiacutevel no meio ambiente que

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                                3. Paacutegina 46
                                                                4. Paacutegina 47
                                                                  1. Botatildeo 65
                                                                    1. Paacutegina 44 Off
                                                                    2. Paacutegina 45
                                                                    3. Paacutegina 46
                                                                    4. Paacutegina 47
                                                                      1. Botatildeo 52
                                                                        1. Paacutegina 48 Off
                                                                        2. Paacutegina 49
                                                                        3. Paacutegina 50
                                                                        4. Paacutegina 51
                                                                        5. Paacutegina 52
                                                                          1. Botatildeo 53
                                                                            1. Paacutegina 48 Off
                                                                            2. Paacutegina 49
                                                                            3. Paacutegina 50
                                                                            4. Paacutegina 51
                                                                            5. Paacutegina 52
                                                                              1. Botatildeo 7
                                                                              2. Botatildeo 8
                                                                              3. Botatildeo 4
Page 32: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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direciona a accedilatildeo eacute dado pelos padrotildees fiacutesico quiacutemico e oacutetico da fumaccedila esses padrotildees infor-maratildeo os animais sobre um incecircndio florestal Essa informaccedilatildeo por sua vez direcionaraacute a accedilatildeo dos animais na tentativa de se protegerem

Reflexotildees sobre as duas concepccedilotildees de informaccedilatildeo acima produziram no seacuteculo XX uma revoluccedilatildeo no estudo do conhecimento Adams (2003) privilegiando a primeira concepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo argumenta que teria ocorrido na deacutecada de 1950 uma ldquovirada in-formacional na Filosofiardquo ampliando o seu universo investigativo para um domiacutenio inter-disciplinar Segundo esse filoacutesofo tal virada teria ocorrido na Filosofia principalmente por ocasiatildeo da publicaccedilatildeo do texto de Turing Maacutequinas e Inteligecircncia (Computing Machinery and Intelligence) Ainda que vaacuterios outros pensadores tenham contribuiacutedo para essa virada nos deteremos na anaacutelise das teses centrais apresentadas pelas duas vertentes (a) simboacutelica e (b) ecoloacutegica da informaccedilatildeo no estudo do pensamento do conhecimento e da accedilatildeo

O principal representante da vertente simboacutelica eacute Alan Turing (ver httpptwikipediaorgwikiAlan_Turing e httpptwikipediaorgwikiMC3A1quina_de_Turing httpcomputabilidade-strikersblogspotcom) ele empregou o conceito de informaccedilatildeo para explicar a natureza do pensamento de acordo com as seguintes hipoacuteteses

1 Pensar eacute computar atraveacutes da manipulaccedilatildeo de siacutembolos

2 A natureza da inteligecircncia pode ser explicada atraveacutes de modelos mecacircnicos processa-dores de informaccedilatildeo simboacutelica que simulam (ou reproduzem) o pensamento subja-cente agrave atividade de resoluccedilatildeo de problemas

Fig 9 ndash Representaccedilatildeo graacutefica de uma Maacutequina de Turing(httpcomputabilidade-strikersblogspotcom)

De acordo com as hipoacuteteses (1) e (2) pensar eacute uma atividade mecacircnica de processamento de informaccedilatildeo simboacutelica que natildeo eacute propriedade exclusiva dos seres humanos podendo ser compartilhada ateacute mesmo por maacutequinas Natildeo eacute difiacutecil prever que a hipoacutetese (2) sobre o caraacuteter mecacircnico do pensamento seria alvo de intensa criacutetica por parte de filoacutesofos e religiosos en-tre outros (para detalhes sobre tais criacuteticas na filosofia ver por exemplo Dreyfus 19721975

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

Bibliografia

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bull BRAITHWAITE R Scientific Explanation Cambridge Cambridge University Press 1953

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

bull DEBRUN M A A ideacuteia de auto-organizaccedilatildeo In DEBRUN M A GONZALEZ MEQ amp PESSOA JR O (Eds) Auto-organizaccedilatildeo Estudos Interdisciplinares v 18 Campinas Brasil Coleccedilatildeo CLE 1-23 1996

bull DRETSKE FI Knowledge and the flow of the information Oxford Blackwell Publi-sher 1981

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

bull DUHEM P (1906) La theacuteorie physique son objet et sa structure Endereccedilo httpwwwarchiveorgstreamlathoriephysiqu00googlathoriephysiqu00goog_djvutxt acesso em 23052010)

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bull GONZALEZ MEQ BROENS M C MORAES J A A virada informacional na Filosofia alguma novidade para o estudo da mente Revista de Filosofia Aurora (PUCPR Impresso) v 22 p 137-151 2010

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bull GONZALEZ M E Q NASCIMENTO T C A HASELAGER W F G Infor-maccedilatildeo e Conhecimento notas para uma taxonomia da informaccedilatildeo In FERREIRA A GONZALEZ MEQ COELHO J G (Org) Encontro com as Ciecircncias Cognitivas 1 ed Volume 4 Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2004

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

Science 15 576-579 1948

bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

bull METTRIE J O de la Lrsquoomme machine 1747 (Acesso em 23052010 httpfrwikisourceorgwikiLrsquoHomme_Machine)

bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

bull PEIRCE C S Collected papers (CP) v 1-8 In C Hartshorne P Weiss and A Burks (Eds) The collected papers of Charles Sanders Peirce Cambridge MA Harvard University Press 1931-1958

bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull SEARLE J R (1980) Minds brains and programs Behavioral and Brain Sciences 3 (3) 417-457 (httpspotcoloradoedu~rupertrSearlepdf versatildeo eletrocircnica acessada em 11052010)

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bull VICO G A Ciecircncia Nova Traduccedilatildeo de Marco Lucchesi Satildeo Paulo Record 1999

bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
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Page 33: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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1992 Searle 1980 1992 Kravchenko 2007) O foco de insatisfaccedilatildeo desses pensadores reside justamente no pressuposto de que o pensamento humano seria nada mais do que um sistema mecacircnico de processamento de informaccedilatildeo

A partir da deacutecada de 1950 a discussatildeo em torno da polecircmica mecanicismo versus antimeca-nicismo na atividade de pensar assumiu uma dimensatildeo inesperada na Filosofia especialmente nas aacutereas da Filosofia da Mente da Linguagem da Muacutesica na Filosofia da Psicologia Ciecircncia Cognitiva e o que nos interessa mais de perto na Epistemologia

No que diz respeito agrave hipoacutetese (1) sobre o caraacuteter simboacutelico do pensamento entendemos que nenhuma novidade foi trazida por Turing uma vez que a tradiccedilatildeo filosoacutefica em sua grande maioria desde sempre postulou a natureza simboacutelicarepresentacional do pensamento Quanto agrave hipoacutetese (2) filoacutesofos como Pascal (1979) de la Mettrie (1747) entre outros jaacute ressaltavam aspectos mecacircnicos do pensamento Nesse sentido cabe indagar qual seria a novidade trazida pela alegada virada informacional na Filosofia segundo a acepccedilatildeo simboacutelica de informaccedilatildeo

Entendemos que a novidade proposta por Turing reside na junccedilatildeo das hipoacuteteses (1) e (2) para a elaboraccedilatildeo de modelos mecacircnicos explicativos do pensamento atraveacutes de processamen-to simboacutelico que natildeo se restringe a computar nuacutemeros O pensamento pode ser codificado por siacutembolos de condicionais do tipo ldquoSE o paciente apresentar os sintomas A B e C ENTAtildeO ele possivelmente tenha a doenccedila Xrdquo

Ao inveacutes de propor sistemas explicativos dos tipos anteriormente Turing introduz a noccedilatildeo de modelo como substituto de teorias explicativas Explicar natildeo eacute mais ldquodizerrdquo mas sim ldquofazerrdquo Cabe ressaltar que filoacutesofos como Giambattista Vico (17391744) jaacute defendiam essa hipoacutetese sobre a relevacircncia da modelagem para a produccedilatildeo do conhecimento Contudo a efetiva novi-dade trazida por Turing consiste no desenvolvimento de um meacutetodo de anaacutelise denominado Meacutetodo Sinteacutetico que possibilitou a modelagem mecacircnica do pensamento no contexto tecnoloacutegico informacional do seacuteculo XX Esse meacutetodo pressupotildee que

i- Explicar o pensamento (caracterizado como processamento sequumlencial de informa-ccedilatildeo simboacutelica) requer a elaboraccedilatildeo de modelagem mecacircnica

ii- O criteacuterio de avaliaccedilatildeo da modelagem apropriada do pensamento eacute dado pelo teste de Turing

Esse meacutetodo aparentemente simples provocou uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica ldquo com lastros

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

bull PEIRCE C S Collected papers (CP) v 1-8 In C Hartshorne P Weiss and A Burks (Eds) The collected papers of Charles Sanders Peirce Cambridge MA Harvard University Press 1931-1958

bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

bull SANTOS B de S amp MENESES MP (Orgs) Epistemologias do Sul Satildeo Paulo Cor-tez 2010

bull SEARLE J R (1980) Minds brains and programs Behavioral and Brain Sciences 3 (3) 417-457 (httpspotcoloradoedu~rupertrSearlepdf versatildeo eletrocircnica acessada em 11052010)

bull TURING A Computing machinery and intelligence Mind 59 433-460 1950 (httpwwwloebnernetPrizefTuringArticlehtml Acesso em 20092010)

bull VICO G A Ciecircncia Nova Traduccedilatildeo de Marco Lucchesi Satildeo Paulo Record 1999

bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 34: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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ateacute hoje imprevisiacuteveis em nossa vida cotidiana (por exemplo com a construccedilatildeo de computado-res e robocircs humanoacuteides que operam em redes interferindo em nossas atividades mais baacutesicas)rdquo (Gonzalez et al 2010 p 140)

Turing propocircs o seu famoso teste sob a forma de um jogo de imitaccedilatildeo se uma maacutequina puder se fazer passar por um ser humano em um diaacutelogo sem que o seu interlocutor perceba que se trata de uma maacutequina tal maacutequina constituiria um bom modelo explicativo do pensa-mento e ela proacutepria poderia ser reconhecida como inteligente Ainda que ateacute o momento nenhuma maacutequina tenha sido bem sucedida no teste de Turing por mais de alguns minutos as hipoacuteteses de Turing sobre a natureza mecacircnica do pensamento satildeo constantemente fortaleci-das graccedilas ao avanccedilo das novas tecnologias informacionais

A caracterizaccedilatildeo do pensamento em termos de informaccedilatildeo simboacutelica propiciou o surgi-mento de um programa de pesquisa que definiraacute o conhecimento como crenccedila fundada em Informaccedilatildeo (Dretske 1981) Muitas criacuteticas tecircm sido feitas por filoacutesofos a esse programa de pesquisa principalmente desenvolvidas na vertente da Ciecircncia Cognitiva conhecida como In-teligecircncia Artificial (IA) As diversas vertentes da Ciecircncia Cognitiva tecircm como elemento uni-ficador a praacutetica de modelagem mecacircnica no estudo do pensamento A maioria dessas criacuteticas ressalta o aspecto simplificador da teacutecnica de modelagem pois ela necessariamente seleciona aquelas variaacuteveis envolvidas no pensamento que podem ser computaacuteveis e assim passiacuteveis de descriccedilatildeo mecacircnica e reproduccedilatildeo por uma maacutequina Os primeiros modelos da IA por exem-plo natildeo incluiacuteam aspectos emocionais bioloacutegicos ambientais e sociais presentes nos processos de pensamento (atualmente algumas dessas variaacuteveis jaacute estatildeo sendo consideradas nos modelos da IA como pode ser verificado no livro The emotion machine de Marvin Minsky)

Se por um lado o avanccedilo da tecnologia informacional colaborou para o desenvolvimento e propagaccedilatildeo de modelagens do pensamento em conformidade com a concepccedilatildeo de informaccedilatildeo simboacutelica por outro lado a segunda vertente de estudos da informaccedilatildeo no seu vieacutes ecoloacutegico passou quase que despercebida na alegada virada informacional Algumas das hipoacuteteses dessa segunda vertente satildeo

1 O conhecimento proveacutem do aprendizado que ocorre na troca de informaccedilotildees entre os organismos e o meio ambiente possibilitando o desenvolvimento de accedilatildeo habilidosa Nesse sentido conhecimento e accedilatildeo habilidosa estatildeo intrinsecamente conectados natildeo

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

Bibliografia

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bull BRAITHWAITE R Scientific Explanation Cambridge Cambridge University Press 1953

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

bull DEBRUN M A A ideacuteia de auto-organizaccedilatildeo In DEBRUN M A GONZALEZ MEQ amp PESSOA JR O (Eds) Auto-organizaccedilatildeo Estudos Interdisciplinares v 18 Campinas Brasil Coleccedilatildeo CLE 1-23 1996

bull DRETSKE FI Knowledge and the flow of the information Oxford Blackwell Publi-sher 1981

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

bull DUHEM P (1906) La theacuteorie physique son objet et sa structure Endereccedilo httpwwwarchiveorgstreamlathoriephysiqu00googlathoriephysiqu00goog_djvutxt acesso em 23052010)

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bull GONZALEZ MEQ BROENS M C MORAES J A A virada informacional na Filosofia alguma novidade para o estudo da mente Revista de Filosofia Aurora (PUCPR Impresso) v 22 p 137-151 2010

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bull GONZALEZ M E Q NASCIMENTO T C A HASELAGER W F G Infor-maccedilatildeo e Conhecimento notas para uma taxonomia da informaccedilatildeo In FERREIRA A GONZALEZ MEQ COELHO J G (Org) Encontro com as Ciecircncias Cognitivas 1 ed Volume 4 Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2004

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

Science 15 576-579 1948

bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

bull METTRIE J O de la Lrsquoomme machine 1747 (Acesso em 23052010 httpfrwikisourceorgwikiLrsquoHomme_Machine)

bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

bull PEIRCE C S Collected papers (CP) v 1-8 In C Hartshorne P Weiss and A Burks (Eds) The collected papers of Charles Sanders Peirce Cambridge MA Harvard University Press 1931-1958

bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull SEARLE J R (1980) Minds brains and programs Behavioral and Brain Sciences 3 (3) 417-457 (httpspotcoloradoedu~rupertrSearlepdf versatildeo eletrocircnica acessada em 11052010)

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bull VICO G A Ciecircncia Nova Traduccedilatildeo de Marco Lucchesi Satildeo Paulo Record 1999

bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
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Page 35: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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se restringindo ao domiacutenio da informaccedilatildeo simboacutelica passiacutevel de descriccedilatildeo linguumliacutestica A linguagem seria apenas um dos elementos constitutivos do conhecimento que em geral pode ser expresso atraveacutes de gestos olhares haacutebitos de accedilatildeo que propiciam a percepccedilatildeo

2 Organismo e ambiente evoluem conjuntamente (co-evoluem) segundo um princiacutepio de reciprocidade De acordo com este princiacutepio o processo evolucionaacuterio propiciou a emergecircncia de ambientes especiacuteficos para diferentes espeacutecies formando cada um deles um nicho Um exemplo de nicho fornecido por von Uexkuumlll (1988) focaliza a presenccedila de uma flor em um ambiente que poderaacute fornecer alimento para uma abelha ou uma vaca um local de repouso para um inseto um ornamento para uma crianccedila entre outros es-sas relaccedilotildees proacuteprias de cada espeacutecie estruturam e constituem a marca especiacutefica de um nicho o qual fornece as bases informacionais para a accedilatildeo dos organismos nele situados

Figura 10 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em

diferentes contextos ecoloacutegicos(httpwwwrealflowerscoukweblogarchivesthe_real_flower_company_lovesindexhtml)

Figura11 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpwwwshutterstockcompic-2022137stock-photo-a-cow-eating-in-a-field-of-daisieshtml

Figura 12 ndash Ilustraccedilatildeo das diferentes possibilidades de accedilatildeo propiciadas por uma flor em diferentes contextos ecoloacutegicos

httpmanutitablogspotcom2008_05_01_archivehtml

A perspectiva ecoloacutegica do ambiente ressalta seu aspecto dinacircmico formador de nichos que envolvem mudanccedilas promovidas pelos organismos que deles fazem parte como por exemplo as bacteacuterias anaeroacutebicas que vem contribuindo desde os primoacuteridios da evoluccedilatildeo dos organ-ismos na Terra para a criaccedilatildeo da nossa atmosfera Esta perspectiva se distingue daquela que concebe o ambiente como um invoacutelucro passivo que possui supostamente a funccedilatildeo de nos abrigar Uma diferenccedila central entre essas duas perspectivas reside na adoccedilatildeo por parte da primeira do conceito de informaccedilatildeo ecoloacutegica

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edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

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tema 4

A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

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Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                                3. Paacutegina 46
                                                                4. Paacutegina 47
                                                                  1. Botatildeo 65
                                                                    1. Paacutegina 44 Off
                                                                    2. Paacutegina 45
                                                                    3. Paacutegina 46
                                                                    4. Paacutegina 47
                                                                      1. Botatildeo 52
                                                                        1. Paacutegina 48 Off
                                                                        2. Paacutegina 49
                                                                        3. Paacutegina 50
                                                                        4. Paacutegina 51
                                                                        5. Paacutegina 52
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                                                                            1. Paacutegina 48 Off
                                                                            2. Paacutegina 49
                                                                            3. Paacutegina 50
                                                                            4. Paacutegina 51
                                                                            5. Paacutegina 52
                                                                              1. Botatildeo 7
                                                                              2. Botatildeo 8
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Page 36: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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A informaccedilatildeo ecoloacutegica tambeacutem conhecida no inglecircs como affordance do meio ambiente pode ser caracterizada atraveacutes de padrotildees relacionais indicadores de possibilidades de accedilatildeo para organismos situados em seus respectivos nichos De acordo com Gibson (1979 p 127) as affordances do meio ambiente expressam o que ele proporciona a um organismo no domiacutenio da accedilatildeo as affordances exprimem necessariamente uma complementaridade entre organis-mo e ambiente Nesse sentido a percepccedilatildeo da informaccedilatildeo ecoloacutegica presente nas estruturas dinacircmicas mas relativamente invariantes do meio ocorre de maneira espontacircnea e direta (sem a mediaccedilatildeo de representaccedilotildees simboacutelicas)

Apesar de dinacircmicos os nichos envolvem invariantes relacionais de natureza estrutural ou transformacional que constituem as bases da informaccedilatildeo ecoloacutegica Segundo Gibson (1979) invariantes relacionais dizem respeito agraves relaccedilotildees dos organismos com as estruturas relativa-mente fixas dos elementos constitutivos do ambiente em funccedilatildeo de suas propriedades fiacutesico-quiacutemicas Assim por exemplo a terra a aacutegua o ar etc constituem invariantes estruturais devido aos elementos fiacutesico-quiacutemicos que os compotildeem para organismos terrestres aquaacuteticos e voadores

Invariantes transformacionais por sua vez expressam diferentes formas de movimento e estilos de mudanccedilas na accedilatildeo que caracterizam por exemplo o caminhar o correr o saltar ou o bater de asas de um animal Identificamos espontaneamente no movimento de uma pessoa por exemplo se ela caminha marcha ou corre graccedilas aos invariantes transformacionais pre-sentes nas diferentes formas de locomoccedilatildeo humana

Esses dois tipos de invariantes - estrutural e transformacional - constituem padrotildees infor-macionais que especificam o meio e se mantecircm relativamente inalterados para um agente ambientalmente situado O conhecimento dos organismos (natildeo necessariamente humanos) se desenvolve atraveacutes da detecccedilatildeo adaptaccedilatildeo e formaccedilatildeo desses invariantes na medida em que eles propiciam o estabelecimento de haacutebitos constitutivos das accedilotildees habilidosas que formaratildeo suas histoacuterias de vida

Como pode ser notado haacute diferenccedilas significativas entre as duas abordagens de informaccedilatildeo aqui apresentadas sendo a principal delas que a vertente simboacutelica enfatiza o seu aspecto for-mal abstrato destituiacutedo de um conteuacutedo e significado especiacuteficos Em contraste a concepccedilatildeo ecoloacutegica enfatiza o aspecto dinacircmico histoacuterico-evolutivo intrinsecamente significativo das

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 37: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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relaccedilotildees que se estabelecem entre organismo e ambiente na produccedilatildeo de informaccedilatildeo Es-sas diferenccedilas tecircm consequumlecircncias para o estudo do conhecimento enquanto a abordagem da informaccedilatildeo simboacutelica possibilita a elaboraccedilatildeo de modelos computacionais da atividade de resoluccedilatildeo de problemas por exemplo o mesmo natildeo ocorre com a vertente ecoloacutegica Para esta o conhecimento eacute situado e incorporado ou seja ele emerge das possibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas Natildeo por acaso as tentativas de modelagem computacional de accedilotildees habilidosas tecircm encontrado grandes dificuldades Pois como descrev-er em linguagem computacional a complexidade bioloacutegica social e histoacuterico-evolucionaacuteria de tais accedilotildees

No nosso seacuteculo estaacute ocorrendo um intenso debate em torno da possibilidade de criaccedilatildeo de robocircs humanoacuteides que efetivamente aprendam adquirindo conhecimento com a experiecircn-cia (httpwwwyoutubecomwatchv=Srwk-i5aXRQampfeature=related httpwwwyou-tubecomwatchv=auxjSYCKL4sampfeature=fvw httpwwwyoutubecomwatchv=EC-M-TTgXXIampfeature=related) Esse debate foge do escopo desta disciplina (ele seraacute aprofundado na disciplina Filosofia da Mente) contudo cabe ressaltar que a pesar das diferenccedilas entre as concepccedilotildees simboacutelica e ecoloacutegica ambas tecircm em comum o pressuposto de que a informa-ccedilatildeo pode produzir conhecimento e guiar a accedilatildeo Mas como se daacute a relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo conhecimento e accedilatildeo Seria possiacutevel compatibilizar essas duas concepccedilotildees aparentemente tatildeo antagocircnicas no estudo do conhecimento

Uma tentativa de compatibilizar essas duas vertentes visando encontrar uma saiacuteda para o problema do Teeteto de tal forma que seja possiacutevel definir o conhecimento sem pressupor con-hecimento eacute efetuada por Fred Dretske na obra Conhecimento e o fluxo de informaccedilatildeo (Knowl-edge and the Flow of Information) Esse filoacutesofo distingue informaccedilatildeo propriamente dita do significado que pode estar a ela associado Ele emprega o termo informaccedilatildeo em um sentido teacutecnico herdado da Teoria Matemaacutetica da Comunicaccedilatildeo (formulada por Claude Shannon para maiores informaccedilotildees a respeito podem ser consultados os seguintes endereccedilos httpptwikipediaorgwikiTeoria_matemC3A1tica_da_comunicaC3A7C3A3o httpwwwnumaboacomdownloadscriptologiapapers560-uma-teoria-matematica-da-comunicacao) para designar um componente objetivo do mundo que existe independente de um sujeito especifico que a perceba O significado da informaccedilatildeo por sua vez depende da rep-

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
                                    5. Paacutegina 8
                                    6. Paacutegina 9
                                    7. Paacutegina 10
                                    8. Paacutegina 11
                                      1. Botatildeo 60
                                        1. Paacutegina 12 Off
                                        2. Paacutegina 13
                                        3. Paacutegina 14
                                        4. Paacutegina 15
                                        5. Paacutegina 16
                                        6. Paacutegina 17
                                        7. Paacutegina 18
                                        8. Paacutegina 19
                                        9. Paacutegina 20
                                        10. Paacutegina 21
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Page 38: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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resentaccedilatildeo que um sujeito efetua da informaccedilatildeo recebida Nesse contexto uma nuvem escura por exemplo traz objetivamente informaccedilatildeo sobre um estado do meio ambiente que por sua vez pode ser representado como significando a proximidade de chuva para um observador comum ou como a presenccedila de um indicador de poluiccedilatildeo para um estudioso do clima Em ambos os casos o significado atribuiacutedo agrave informaccedilatildeo recebida varia conforme o observador dependendo da representaccedilatildeo que cada um possa efetuar

Da filosofia ecoloacutegica Dretske (1981) preserva a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo existe no meio ambiente indicando possibilidades de accedilatildeo para organismos nele situados Da concep-ccedilatildeo simboacutelica ele adota a hipoacutetese de que a informaccedilatildeo disponiacutevel no ambiente pode ser representada de forma abstrata no processo de atribuiccedilatildeo de significado Nesta perspectiva o conceito de informaccedilatildeo caracterizado como um indicador objetivo de um estado de coisas no mundo seraacute empregado por Dretske para definir o conhecimento da seguinte maneira

Um sujeito (S) possui conhecimento sobre uma situaccedilatildeoevento (E) se e somente se

1 (S) possui crenccedilas verdadeiras sobre (E)

2 Tais crenccedilas satildeo sustentadas fundadas em informaccedilatildeo

Para explicar a definiccedilatildeo acima Dretske propotildee o que ele denomina uma caracterizaccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo segundo a qual um sinal carrega informaccedilatildeo sobre o que ocorre em uma fonte se ele reproduzir factualmente as relaccedilotildees que se estabelecem nessa fonte tornando-as acessiacuteveis para qualquer receptor que se encontre em condiccedilotildees de recebecirc-las Assim por ex-emplo o movimento do ponteiro de um velociacutemetro bem regulado transmite a informaccedilatildeo sobre a velocidade da roda do carro para um receptor seja ele humano ou mesmo um eventual piloto automaacutetico adequadamente situado

Essa definiccedilatildeo nuclear de informaccedilatildeo pressupotildee que os eventos que ocorrem em uma fonte impotildeem certas restriccedilotildees ao sinal que carrega informaccedilatildeo sobre eles tornando-os estritamente dependentes de leis naturais No exemplo acima o movimento do ponteiro do velociacutemetro reflete de maneira inequiacutevoca (regulada por leis naturais) o movimento da roda do carro No caso de um ser humano essa informaccedilatildeo quando devidamente representada fundamentaria a crenccedila (verdadeira) sobre a velocidade do carro produzindo conhecimento significativo sobre o evento em questatildeo

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
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Page 39: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Em siacutentese o conhecimento seria para Dretske crenccedila verdadeira apoiada em informaccedilatildeo adequadamente representada Acontece que algumas vezes o receptor representa a informaccedilatildeo de forma equivocada Nessas condiccedilotildees ele teraacute crenccedilas falsas e cometeraacute erros que o im-pediratildeo de possuir conhecimento Seraacute a partir de sua accedilatildeo no ambiente que ele atraveacutes de um processo de aprendizagem e de correccedilatildeo de erros poderaacute vir a adquirir conhecimento

Dretske (1981) argumenta que sua definiccedilatildeo de conhecimento como crenccedila verdadeira fundada em informaccedilatildeo natildeo pressupotildee conhecimento uma vez que a informaccedilatildeo no seu sen-tido nuclear depende apenas do registro de leis naturais para ser processada Esta abordagem naturalizada do conhecimento enfrenta dificuldades que ainda satildeo objeto de debate entre os filoacutesofos Entre tais dificuldades cabe ressaltar aquela decorrente do pressuposto representa-cional dretskeano do conhecimento como garantir a fidedignidade de uma representaccedilatildeo em relaccedilatildeo a sua fonte Natildeo seria necessaacuterio um olhar onisciente ndash que tudo conhece ndash para avaliar a correspondecircncia inequiacutevoca entre os dados da fonte e sua representaccedilatildeo Natildeo entraremos em detalhes sobre essas dificuldades aqui (os interessados poderatildeo consultar a obra Dretske e seus criacuteticos) Para concluir este curso interessa-nos particularmente discutir o viacutenculo entre informaccedilatildeo e accedilatildeo no estudo do conhecimento

42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo

Na tradiccedilatildeo claacutessica muitos filoacutesofos propotildeem uma espeacutecie de divisatildeo de tarefas entre de um lado a investigaccedilatildeo da natureza do ser e dos princiacutepios que permitiriam conhececirc-lo e de outro lado o estudo do dever ser e de como agir virtuosamente Esta divisatildeo deu origem a uma subdivisatildeo dos objetos de investigaccedilatildeo filosoacutefica (a) questotildees que envolvem a natureza do conhecimento e (b) questotildees que dizem respeito agrave accedilatildeo Tal divisatildeo eacute particularmente forte nas abordagens segundo as quais os princiacutepios do conhecimento seriam anteriores agrave experiecircncia e agrave accedilatildeo concebidas como resultantes da deliberaccedilatildeo preacutevia do pensamento

A caracterizaccedilatildeo acima pode ser ilustrada pela seguinte passagem do Leviathan de Thomas Hobbes ldquo dado que andar falar e os outros movimentos voluntaacuterios dependem sempre de um pensamento anterior de como onde e o que eacute evidente que a imaginaccedilatildeo eacute a primeira ori-gem interna de todos os movimentos voluntaacuteriosrdquo (1651 Primeira Parte capiacutetulo VI)

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
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Page 40: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Nesse contexto a accedilatildeo eacute concebida como o efeito corporal externo da intenccedilatildeo mental in-terna que atuaria como causa da accedilatildeo podendo compor redes intencionais de eventos Quando escovamos os dentes de manhatilde antes de sair para o trabalho por exemplo a accedilatildeo de escovar os dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessatildeo de accedilotildees intencionais voluntaacuterias anteri-ores querer comer beber estudar trabalhar ajudar a famiacutelia dentre muitas outras

Embora a doutrina da anterioridade do conhecimento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo tenha sido domi-nante na filosofia ateacute recentemente ela eacute objeto de questionamento na contemporaneidade Comeccedila a tomar forma a hipoacutetese de que accedilatildeo e conhecimento se encontram intrinsecamente conectados sendo que a sua separaccedilatildeo acarreta consequumlecircncias ainda pouco analisadas pela tradiccedilatildeo filosoacutefica Uma das consequumlecircncias da separaccedilatildeo entre conhecimento e accedilatildeo diz res-peito agrave distinccedilatildeo entre ldquosaber querdquo e ldquosaber comordquo (Ryle 19492000) O primeiro caracteriza o saber cumulativo proposicional abstrato que envolve a capacidade de produzir conceitos e de teorizar independente da accedilatildeo O segundo caracteriza a habilidade incorporada e situada de aperfeiccediloar modos de agir adequados agraves condiccedilotildees ambientais na resoluccedilatildeo de problemas

Quando realizamos qualquer accedilatildeo que envolve conhecimento Ryle enfatiza natildeo fazemos duas coisas primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em praacutetica mas agimos hab-ilidosamente pura e simplesmente Nesse sentido a accedilatildeo que envolve conhecimento incorpora procedimentos especiais mas natildeo necessariamente antecedentes teoacuterico-proposicionais Mas em que consistem tais procedimentos especiais Eles envolvem praacuteticas cuidadosas que visam o aperfeiccediloamento de haacutebitos atraveacutes da aprendizagem focalizada na percepccedilatildeo e superaccedilatildeo de erros

Para Ryle estamos tatildeo habituados a explicar as accedilotildees habilidosas recorrendo agrave tradiccedilatildeo du-alista que a crenccedila de que o pensamento resulta de uma razatildeo ou mente substancialmente dis-tinta do corpo que as antecipam lsquocontagioursquo nossa visatildeo de mundo nosso autoconhecimento e haacutebitos linguumliacutesticos Ele argumenta que mesmo que desconheccedilamos muitos aspectos dos pro-cessos envolvidos na accedilatildeo habilidosa e sua relaccedilatildeo com as aptidotildees mentais podemos admitir que ela em geral natildeo ocorre como consequumlecircncia de um comando preacutevio dado pela mente A accedilatildeo habilidosa pode ser adequadamente compreendida como uma rede de disposiccedilotildees adqui-ridas ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que natildeo se esgota no momento de sua realizaccedilatildeo mas possui uma histoacuteria evolutiva

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

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bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

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bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

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bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

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bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
                                    5. Paacutegina 8
                                    6. Paacutegina 9
                                    7. Paacutegina 10
                                    8. Paacutegina 11
                                      1. Botatildeo 60
                                        1. Paacutegina 12 Off
                                        2. Paacutegina 13
                                        3. Paacutegina 14
                                        4. Paacutegina 15
                                        5. Paacutegina 16
                                        6. Paacutegina 17
                                        7. Paacutegina 18
                                        8. Paacutegina 19
                                        9. Paacutegina 20
                                        10. Paacutegina 21
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Page 41: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Assim por exemplo dirigir um automoacutevel requer aptidotildees cognitivas muito sofisticadas natildeo afirmamos que aprendemos a dirigir depois de lermos um manual intitulado Como dirigir em dez liccedilotildees Mesmo depois da leitura atenta do texto de ter sublinhado as passagens consid-eradas essenciais de ter ateacute memorizado os detalhes das liccedilotildees mas sem nenhuma preocupaccedilatildeo de praticar efetivamente cada uma delas dificilmente aprenderemos a guiar Por outro lado quando se dirige um automoacutevel mecanicamente sem a atenccedilatildeo e a concentraccedilatildeo necessaacuterias quando apenas se repete um conjunto de movimentos habituais tampouco o motorista estaraacute guiando com habilidade

Natildeo se trata de caracterizar a accedilatildeo habilidosa como uma cadeia de estiacutemulos e respostas condicionados artificialmente mas como a manifestaccedilatildeo de um conhecimento situado e in-corporado Conforme caracterizado no Toacutepico 41 este tipo de conhecimento emerge das pos-sibilidades oferecidas pelo ambiente pela estrutura fisioloacutegica do organismo e pela trajetoacuteria de sua histoacuteria de sucessos e fracassos na atividade de resoluccedilatildeo de problemas O conhecimen-to incorporado e situado difere tanto da memorizaccedilatildeo mecacircnica de regras quanto da simples repeticcedilatildeo dos mesmos modos de agir por condicionamento Uma diferenccedila fundamental eles eacute que o conhecimento situado e incorporado eacute sistecircmico ele se desenvolve de acordo com uma fun-cionalidade de longa duraccedilatildeo natildeo sendo comprimi-lo numa simples sequumlecircncia de estiacutemulosrespostas Em nosso exemplo acima dirigir um automoacutevel exige de iniacutecio a aprendizagem de uma habilidade e seu progressivo aperfeiccediloamento Uma vez adquirida essa habilidade pode se tornar mecacircnica caso em que o motorista se limite a repetir um mesmo conjunto de accedilotildees Se por outro lado o motorista mantiver sua atenccedilatildeo alerta e procurar um permanente aperfeiccediloa-mento diante das condiccedilotildees ambientais (sociais climaacuteticas etc) ele estaraacute desenvolvendo ao longo do tempo um conhecimento situado e incorporado que natildeo envolve a antecipaccedilatildeo do pensamento Trata-se de um ldquopensamento em accedilatildeordquo

Vale a pena lembrar que mesmo na perspectiva dualista ndash que pressupotildee a anterioridade do pensamento em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo ndash a apreciaccedilatildeo do conhecimento se daacute em geral no plano da proacutepria accedilatildeo Como observa Ryle natildeo dizemos que algueacutem eacute ldquointeligenterdquo ldquometoacutedicordquo ldquocriativordquo etc se a pessoa permanece em uma postura introspectiva e natildeo age de acordo com as expectativas associadas agraves performances inteligentes metoacutedicas ou criativas Para adjetivar algueacutem com alguma das qualidades acima eacute preciso que de algum modo se possa constatar uma habilidade

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

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bibliografia

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bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

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Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 42: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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A concepccedilatildeo de conhecimento situado e incorporado acima esboccedilada estaacute de acordo com a perspectiva ecoloacutegica que apresentamos no Toacutepico 41 Como vimos organismos em sua com-plexa rede de interaccedilotildees com o meio ambiente colaboram para a efetivaccedilatildeo de uma accedilatildeo hab-ilidosa quando ela incorpora informaccedilatildeo ecoloacutegica (affordance) na sua realizaccedilatildeo Contudo as affordances disponiacuteveis no meio podem confundir organismos desatentos conduzindo a erros Assim por exemplo uma flor vermelha venenosa para o ser humano pode servir de alimento para uma abelha uma crianccedila desinformada sobre essa affordance se envenenaraacute ao colocar na boca tal flor enquanto a abelha coletaraacute seu poacutelen sem problemas

Uma dificuldade da abordagem do conhecimento situado e incorporado reside nos criteacute-rios para se distinguir percepccedilatildeo correta da mera ilusatildeo sem a mediaccedilatildeo de pensamentos que antecedam a accedilatildeo Como um indiviacuteduo distinguiraacute por exemplo flores venenosas das que podem ser usadas como ornamento Uma resposta a esta dificuldade focaliza a dinacircmica evo-lucionaacuteria propiciada pelo princiacutepio de reciprocidade (mencionado no Toacutepico 41) organismos integrados em seus respectivos nichos quando exercitam a atenccedilatildeo aprendem a captar infor-maccedilatildeo adequada seja com a correccedilatildeo de erros seja atraveacutes de imitaccedilatildeo ou de procedimentos de ajuste que se impotildeem diante da presenccedila de novidades Tal resposta desloca o problema do conhecimento individual para uma rede complexa que envolve ambiente histoacuteria evolutiva social e bioloacutegica entre outros que satildeo objeto de estudo das teorias de Auto-Organizaccedilatildeo de Sistemas Complexos (Morin 2003 Debrun 1996) e da Ecologia de Saberes (Santos amp Meneses 2010)

Figura 13 ndash Capa de obra que enfatiza a pluralidade de epistemologiashttpwwwplanetanewscomautorBOAVENTURA20DE20SOUSA20SANTOS

O cenaacuterio acima nos deixa com uma sensaccedilatildeo de desconforto afinal natildeo apenas continua-mos sem resolver o problema do Teeteto mas tambeacutem introduzimos problemas que requerem informaccedilatildeo sobre complexidade sistemas auto-organizados e epistemologias ecoloacutegicas Sem duacutevida esta eacute a situaccedilatildeo em que nos encontramos na atualidade no estudo do conhecimento Entretanto entendemos que esse desconforto eacute saudaacutevel posto que ele possibilita o iniacutecio de um raciociacutenio abdutivo que permite a expansatildeo do horizonte filosoacutefico A nossa sugestatildeo eacute que ao inveacutes de aguardar passivamente que algueacutem traga uma soluccedilatildeo pronta para o problema de explicitar a natureza do conhecimento procuremos dar continuidade a essa busca a partir

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da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

Bibliografia

bull AYER A J As questotildees centrais da Filosofia Rio de Janeiro Zahar 1975

bull BRAITHWAITE R Scientific Explanation Cambridge Cambridge University Press 1953

bull CAPURRO R O conceito de ldquoinformaccedilatildeordquo In Perspectivas em Ciecircncia da Informaccedilatildeo v 12 n1 p 148-207 janabr 2007 (httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1413-99362007000100012 acesso em 03092010)

bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

bull DEBRUN M A A ideacuteia de auto-organizaccedilatildeo In DEBRUN M A GONZALEZ MEQ amp PESSOA JR O (Eds) Auto-organizaccedilatildeo Estudos Interdisciplinares v 18 Campinas Brasil Coleccedilatildeo CLE 1-23 1996

bull DRETSKE FI Knowledge and the flow of the information Oxford Blackwell Publi-sher 1981

bull DRETSKE FI Explaining behavior reasons in a world of causes Cambridge MIT Press 1992

bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

bull DUHEM P (1906) La theacuteorie physique son objet et sa structure Endereccedilo httpwwwarchiveorgstreamlathoriephysiqu00googlathoriephysiqu00goog_djvutxt acesso em 23052010)

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bibliografia

bull FERRY L Aprender a viver filosofia para os novos tempos Trad Vera Lucia dos Reis Rio de Janeiro Objetiva 2007

bull GARDINER P The Nature of Historical Explanation Oxford Oxford University Press 1959

bull GETTIER EL Is Justified True Belief Knowledge Analysis Vol 23 p 121-23 1963 (httpwwwditextcomgettiergettierhtml acesso em 09082010)

bull GIBSON JJ The ecological approach to visual perception Boston Houghton Mifflin 1979

bull GONZALEZ MEQ BROENS M C MORAES J A A virada informacional na Filosofia alguma novidade para o estudo da mente Revista de Filosofia Aurora (PUCPR Impresso) v 22 p 137-151 2010

bull GONZALEZ M E Q HASELAGER W F G Abductive reasoning creativy and self-organization Cognitio Satildeo Paulo n 3 p 22-31 2002 (httpwwwpucspbrposfilo-sofiaPragmatismocognitiocognitio3cognitio3_sumariohtm ACESSO EM 20092010)

bull GONZALEZ M E Q NASCIMENTO T C A HASELAGER W F G Infor-maccedilatildeo e Conhecimento notas para uma taxonomia da informaccedilatildeo In FERREIRA A GONZALEZ MEQ COELHO J G (Org) Encontro com as Ciecircncias Cognitivas 1 ed Volume 4 Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2004

bull HANSON N R Patterns of discovery London Cambridge University Press 1958

bull HANSON N R Observaccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo In MORGENBESSER S (Org) Filoso-fia da Ciecircncia Satildeo Paulo Cultrix 1975

bull HEMPEL C Explicaccedilatildeo cientiacutefica In MORGENBESSER S (org) Filosofia da ciecircn-cia Satildeo Paulo Cultrix 1975

bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

Science 15 576-579 1948

bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

bull METTRIE J O de la Lrsquoomme machine 1747 (Acesso em 23052010 httpfrwikisourceorgwikiLrsquoHomme_Machine)

bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

bull PEIRCE C S Collected papers (CP) v 1-8 In C Hartshorne P Weiss and A Burks (Eds) The collected papers of Charles Sanders Peirce Cambridge MA Harvard University Press 1931-1958

bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

bull SANTOS B de S amp MENESES MP (Orgs) Epistemologias do Sul Satildeo Paulo Cor-tez 2010

bull SEARLE J R (1980) Minds brains and programs Behavioral and Brain Sciences 3 (3) 417-457 (httpspotcoloradoedu~rupertrSearlepdf versatildeo eletrocircnica acessada em 11052010)

bull TURING A Computing machinery and intelligence Mind 59 433-460 1950 (httpwwwloebnernetPrizefTuringArticlehtml Acesso em 20092010)

bull VICO G A Ciecircncia Nova Traduccedilatildeo de Marco Lucchesi Satildeo Paulo Record 1999

bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                                    2. Paacutegina 45
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                                                                        2. Paacutegina 49
                                                                        3. Paacutegina 50
                                                                        4. Paacutegina 51
                                                                        5. Paacutegina 52
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                                                                            2. Paacutegina 49
                                                                            3. Paacutegina 50
                                                                            4. Paacutegina 51
                                                                            5. Paacutegina 52
                                                                              1. Botatildeo 7
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                                                                              3. Botatildeo 4
Page 43: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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tema 4

da reflexatildeo aqui proposta Se esse vier a ser o caso o objetivo desta disciplina teraacute sido alcanccedila-do propiciar elementos que desencadeiem o raciociacutenio abdutivo na compreensatildeo da dinacircmica de formulaccedilatildeo e anaacutelise de problemas filosoacuteficos concernentes agrave natureza do conhecimento Nesse sentido o desconforto pode se transformar em sensaccedilatildeo de gratidatildeo pela oportunidade que a atividade filosoacutefica nos oferece

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bibliografia

Bibliografia

bull AYER A J As questotildees centrais da Filosofia Rio de Janeiro Zahar 1975

bull BRAITHWAITE R Scientific Explanation Cambridge Cambridge University Press 1953

bull CAPURRO R O conceito de ldquoinformaccedilatildeordquo In Perspectivas em Ciecircncia da Informaccedilatildeo v 12 n1 p 148-207 janabr 2007 (httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1413-99362007000100012 acesso em 03092010)

bull CHEMERO A Information and direct perception a new approach (Acesso em 23092010 em httpediskfandmedutonychemeropaperstonyinfobrazilpdf ) 2006

bull CHISHOLM R M Teoria do Conhecimento Rio de Janeiro Zahar 1966

bull DEBRUN M A A ideacuteia de auto-organizaccedilatildeo In DEBRUN M A GONZALEZ MEQ amp PESSOA JR O (Eds) Auto-organizaccedilatildeo Estudos Interdisciplinares v 18 Campinas Brasil Coleccedilatildeo CLE 1-23 1996

bull DRETSKE FI Knowledge and the flow of the information Oxford Blackwell Publi-sher 1981

bull DRETSKE FI Explaining behavior reasons in a world of causes Cambridge MIT Press 1992

bull DREYFUS H L O Que os Computadores natildeo Podem Fazer Rio de Janeiro Eldorado 1975

bull DREYFUS HL What Computers Still Canrsquot Do A Critique of Artificial Reason Cambridge MA MIT Press 1992

bull DUHEM P (1906) La theacuteorie physique son objet et sa structure Endereccedilo httpwwwarchiveorgstreamlathoriephysiqu00googlathoriephysiqu00goog_djvutxt acesso em 23052010)

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bibliografia

bull FERRY L Aprender a viver filosofia para os novos tempos Trad Vera Lucia dos Reis Rio de Janeiro Objetiva 2007

bull GARDINER P The Nature of Historical Explanation Oxford Oxford University Press 1959

bull GETTIER EL Is Justified True Belief Knowledge Analysis Vol 23 p 121-23 1963 (httpwwwditextcomgettiergettierhtml acesso em 09082010)

bull GIBSON JJ The ecological approach to visual perception Boston Houghton Mifflin 1979

bull GONZALEZ MEQ BROENS M C MORAES J A A virada informacional na Filosofia alguma novidade para o estudo da mente Revista de Filosofia Aurora (PUCPR Impresso) v 22 p 137-151 2010

bull GONZALEZ M E Q HASELAGER W F G Abductive reasoning creativy and self-organization Cognitio Satildeo Paulo n 3 p 22-31 2002 (httpwwwpucspbrposfilo-sofiaPragmatismocognitiocognitio3cognitio3_sumariohtm ACESSO EM 20092010)

bull GONZALEZ M E Q NASCIMENTO T C A HASELAGER W F G Infor-maccedilatildeo e Conhecimento notas para uma taxonomia da informaccedilatildeo In FERREIRA A GONZALEZ MEQ COELHO J G (Org) Encontro com as Ciecircncias Cognitivas 1 ed Volume 4 Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2004

bull HANSON N R Patterns of discovery London Cambridge University Press 1958

bull HANSON N R Observaccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo In MORGENBESSER S (Org) Filoso-fia da Ciecircncia Satildeo Paulo Cultrix 1975

bull HEMPEL C Explicaccedilatildeo cientiacutefica In MORGENBESSER S (org) Filosofia da ciecircn-cia Satildeo Paulo Cultrix 1975

bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

Science 15 576-579 1948

bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

bull METTRIE J O de la Lrsquoomme machine 1747 (Acesso em 23052010 httpfrwikisourceorgwikiLrsquoHomme_Machine)

bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

bull PEIRCE C S Collected papers (CP) v 1-8 In C Hartshorne P Weiss and A Burks (Eds) The collected papers of Charles Sanders Peirce Cambridge MA Harvard University Press 1931-1958

bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

bull SANTOS B de S amp MENESES MP (Orgs) Epistemologias do Sul Satildeo Paulo Cor-tez 2010

bull SEARLE J R (1980) Minds brains and programs Behavioral and Brain Sciences 3 (3) 417-457 (httpspotcoloradoedu~rupertrSearlepdf versatildeo eletrocircnica acessada em 11052010)

bull TURING A Computing machinery and intelligence Mind 59 433-460 1950 (httpwwwloebnernetPrizefTuringArticlehtml Acesso em 20092010)

bull VICO G A Ciecircncia Nova Traduccedilatildeo de Marco Lucchesi Satildeo Paulo Record 1999

bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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ficha sumaacuterio bibliografia

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bibliografia

Science 15 576-579 1948

bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

bull METTRIE J O de la Lrsquoomme machine 1747 (Acesso em 23052010 httpfrwikisourceorgwikiLrsquoHomme_Machine)

bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

bull PEIRCE C S Collected papers (CP) v 1-8 In C Hartshorne P Weiss and A Burks (Eds) The collected papers of Charles Sanders Peirce Cambridge MA Harvard University Press 1931-1958

bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

bull SANTOS B de S amp MENESES MP (Orgs) Epistemologias do Sul Satildeo Paulo Cor-tez 2010

bull SEARLE J R (1980) Minds brains and programs Behavioral and Brain Sciences 3 (3) 417-457 (httpspotcoloradoedu~rupertrSearlepdf versatildeo eletrocircnica acessada em 11052010)

bull TURING A Computing machinery and intelligence Mind 59 433-460 1950 (httpwwwloebnernetPrizefTuringArticlehtml Acesso em 20092010)

bull VICO G A Ciecircncia Nova Traduccedilatildeo de Marco Lucchesi Satildeo Paulo Record 1999

bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 45: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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bibliografia

bull FERRY L Aprender a viver filosofia para os novos tempos Trad Vera Lucia dos Reis Rio de Janeiro Objetiva 2007

bull GARDINER P The Nature of Historical Explanation Oxford Oxford University Press 1959

bull GETTIER EL Is Justified True Belief Knowledge Analysis Vol 23 p 121-23 1963 (httpwwwditextcomgettiergettierhtml acesso em 09082010)

bull GIBSON JJ The ecological approach to visual perception Boston Houghton Mifflin 1979

bull GONZALEZ MEQ BROENS M C MORAES J A A virada informacional na Filosofia alguma novidade para o estudo da mente Revista de Filosofia Aurora (PUCPR Impresso) v 22 p 137-151 2010

bull GONZALEZ M E Q HASELAGER W F G Abductive reasoning creativy and self-organization Cognitio Satildeo Paulo n 3 p 22-31 2002 (httpwwwpucspbrposfilo-sofiaPragmatismocognitiocognitio3cognitio3_sumariohtm ACESSO EM 20092010)

bull GONZALEZ M E Q NASCIMENTO T C A HASELAGER W F G Infor-maccedilatildeo e Conhecimento notas para uma taxonomia da informaccedilatildeo In FERREIRA A GONZALEZ MEQ COELHO J G (Org) Encontro com as Ciecircncias Cognitivas 1 ed Volume 4 Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2004

bull HANSON N R Patterns of discovery London Cambridge University Press 1958

bull HANSON N R Observaccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo In MORGENBESSER S (Org) Filoso-fia da Ciecircncia Satildeo Paulo Cultrix 1975

bull HEMPEL C Explicaccedilatildeo cientiacutefica In MORGENBESSER S (org) Filosofia da ciecircn-cia Satildeo Paulo Cultrix 1975

bull HEMPEL C Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science New York Free Press 1965

bull HEMPEL C OPPENHEIM P Studies in the Logic of Explanation Philosophy of

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bibliografia

Science 15 576-579 1948

bull HOBBES T Leviatatilde ou mateacuteria forma e poder de um estado eclesiaacutestico e civil Trad Joatildeo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva Acesso em 27082010 em httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdh_thomas_hobbes_leviatanpdf 1651

bull JUARRERO A Dynamics in action intentional behavior as a complex system Cam-bridge MA MIT Press 1999

bull KHUN T (1962) A estrutura das revoluccedilotildees cientiacuteficas 7ordf ed Satildeo Paulo Perspectiva 2003

bull KRAVCHENKO A Where the autonomy A response to harnard amp deor In GON-ZALEZ M E Q HASELAGER W F G (Org) Mechanicism and autonomy Pragma-tics amp Cognition v 15 n 3 p 407-412 2007

bull LARGE D N Ecological Philosophy 2003 (Acesso em 23072010 httpwwwnewphilsocorgukOldWeb1EcologicalDavidLargePDF)

bull MACHADO A M N Informaccedilatildeo e controle bibliograacutefico um olhar sobre a Ciberneacuteti-ca Satildeo Paulo Editora da Unesp 2003

bull McLAUGHLIN BP Dretske and his critics Cambridge Mass USA Basil Blackwell 1991

bull METTRIE J O de la Lrsquoomme machine 1747 (Acesso em 23052010 httpfrwikisourceorgwikiLrsquoHomme_Machine)

bull MINSKY M The Emotion Machine Common sense Thinking Artificial Intelligence and the Future of the Human Mind New York Simon amp Schuster 2006

bull MORIN E Uma ciecircncia com consciecircncia Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003

bull NAGEL E The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation New York Harcourt Brace and World 1961

bull PASCAL B Pensamentos Trad Sergio Milliet Satildeo Paulo Abril 1979 Coleccedilatildeo ldquoOs pensadoresrdquo

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bibliografia

bull PEIRCE C S Collected papers (CP) v 1-8 In C Hartshorne P Weiss and A Burks (Eds) The collected papers of Charles Sanders Peirce Cambridge MA Harvard University Press 1931-1958

bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

bull SANTOS B de S amp MENESES MP (Orgs) Epistemologias do Sul Satildeo Paulo Cor-tez 2010

bull SEARLE J R (1980) Minds brains and programs Behavioral and Brain Sciences 3 (3) 417-457 (httpspotcoloradoedu~rupertrSearlepdf versatildeo eletrocircnica acessada em 11052010)

bull TURING A Computing machinery and intelligence Mind 59 433-460 1950 (httpwwwloebnernetPrizefTuringArticlehtml Acesso em 20092010)

bull VICO G A Ciecircncia Nova Traduccedilatildeo de Marco Lucchesi Satildeo Paulo Record 1999

bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 46: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

46

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

1

2

3

4

bibliografia

Science 15 576-579 1948

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bibliografia

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 47: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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bibliografia

bull PEIRCE C S Collected papers (CP) v 1-8 In C Hartshorne P Weiss and A Burks (Eds) The collected papers of Charles Sanders Peirce Cambridge MA Harvard University Press 1931-1958

bull PLATAtildeO Teeteto Versatildeo eletrocircnica do diaacutelogo platocircnico ldquoTeetetordquo Traduccedilatildeo Carlos Alberto Nunes Creacuteditos da digitalizaccedilatildeo Membros do grupo de discussatildeo Acroacutepolis (Filo-sofia) Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis Disponiacutevel em httpwwwcfhufscbr~wfilteetetopdf acesso em 13072010

bull POPPER K The Logic of Scientific Discovery London Hutchinson 1959

bull POPPER K A Loacutegica da Pesquisa cientiacutefica Satildeo Paulo Cultrix 1972

bull RYLE G (1949) The concept of mind London Penguin 2000

bull SANTOS B de S amp MENESES MP (Orgs) Epistemologias do Sul Satildeo Paulo Cor-tez 2010

bull SEARLE J R (1980) Minds brains and programs Behavioral and Brain Sciences 3 (3) 417-457 (httpspotcoloradoedu~rupertrSearlepdf versatildeo eletrocircnica acessada em 11052010)

bull TURING A Computing machinery and intelligence Mind 59 433-460 1950 (httpwwwloebnernetPrizefTuringArticlehtml Acesso em 20092010)

bull VICO G A Ciecircncia Nova Traduccedilatildeo de Marco Lucchesi Satildeo Paulo Record 1999

bull VICO G The new science Traduzida para o inglecircs da 3a ediccedilatildeo por Thomas Goddard Bergin e Max Harold Fisch (Acesso em 27092010 no endereccedilo httpia311516usarchiveorg2itemsnewscienceofgiam030174mbpnewscienceofgiam030174mbppdf

bull von UEXKUumlLL T A Teoria do Umwelt de Jakob von Uexkuumlll 1988 Acesso em 23092010 em httpleandrosalvadorcombrhtmltextosacademicossemioticaumwelt_uexkullpdf

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Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 48: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Ficha da disciplina

Autoria

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Mariana Claudia Broens

Ficha da Disciplina

Teoria do conhecimento

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Ficha da disciplina

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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ficha sumaacuterio bibliografia

1

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Ficha da disciplina

Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 49: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre

Jeacutezio Hernani Bonfim Gutierre possui a graduaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo (1977) mestrado em Filosofia - University of Cambridge (1994) e doutorado em Filosofia pela Uni-versidade Estadual de Campinas (2000) Atualmente eacute professor doutor da UNESP Realiza pesquisas na aacuterea de Epistemologia atuando principalmente nas seguintes aacutereas epistemolo-gia contemporacircnea Kuhn racionalismo Popper e ontologia da ciecircncia Desde 2001 exerce a funccedilatildeo de Editor Executivo da Fundaccedilatildeo Editora da Unesp

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Maria Eunice Quilici Gonzalez eacute PhD em Cognitive Science Language And Linguistics pela Universidade de Essex Inglaterra e professora Livre Docente da UNESP Tem experiecircn-cia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Filosofia Ecoloacutegica Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea Ciecircncia Cognitiva e Filosofia da Mente atuando principalmente nos seguintes temas informaccedilatildeo ecoloacutegica percepccedilatildeo-accedilatildeo auto-organizaccedilatildeo pragmatismo e Eacutetica da Informaccedilatildeo

Mariana Claudia Broens

Mariana Claudia Broens eacute doutora em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo e pro-fessora Livre Docente da UNESP Tem experiecircncia de pesquisa e de docecircncia em Teoria do Conhecimento Histoacuteria da Filosofia Moderna Histoacuteria da Filosofia Contemporacircnea e em Filosofia da Mente trabalhando os seguintes temas a abordagem mecanicista da mente Naturalismo Auto-Organizaccedilatildeo e Pragmatismo

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 50: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Apresentaccedilatildeo

A reflexatildeo filosoacutefica sobre a natureza do conhecimento revela uma seacuterie de problemas que satildeo objetos de investigaccedilatildeo da Teoria do Conhecimento entre eles estatildeo os seguintes (1) O que eacute conhecimento (2) Qual eacute a diferenccedila entre conhecimento e mera opiniatildeo (3) Quais satildeo as caracteriacutesticas que distinguem o conhecimento cientiacutefico do conhecimento comum (4) Quais satildeo os criteacuterios de justificaccedilatildeo do conhecimento (5) Como se relacionam conheci-mento percepccedilatildeo e accedilatildeo (6) Podemos identificar conhecimento com informaccedilatildeo

A maioria dos problemas acima tem sido objeto de discussatildeo na filosofia por seacuteculos no Ori-ente e no Ocidente sem uma resoluccedilatildeo consensual Aliaacutes diga-se de passagem que na filosofia a pluralidade de perspectivas eacute em geral considerada enriquecedora uma vez que o consenso pode facilmente se transformar em dogma Por outro lado um relativismo radical tambeacutem pode dificultar a proacutepria possibilidade de justificaccedilatildeo do conhecimento pois qual seria o cri-teacuterio a ser adotado para justificar inclusive o proacuteprio relativismo Diante desta dificuldade o pluralismo parece oferecer uma postura epistemoloacutegica defensaacutevel na medida em que ele pres-supotildee acordos fundamentais na reflexatildeo filosoacutefica conforme indicado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos Um desses acordos baacutesicos no que diz respeito ao estudo do conhecimento eacute a dificuldade de se estabelecer racionalmente os princiacutepios a partir dos quais seria possiacutevel justificar o que quer que seja considerado conhecimento Disputas infindaacuteveis entre dogmaacuteticos e ceacuteticos (ver httpptwikipediaorgwikiCeticismo httpscm2000sitesuolcombrceticismodogmaticohtml e httpwwwphilosophyprobrceticismohtm) ilus-tram o cenaacuterio filosoacutefico em que se desenrolaram os debates acerca de tais princiacutepios

Conforme mencionado na disciplina Filosofia Geral e Problemas Metafiacutesicos trecircs mo-dalidades principais se configuram na atividade filosoacutefica contemporacircnea cada uma com seu meacutetodo proacuteprio de investigaccedilatildeo a temaacutetica a histoacuterico-filosoacutefica e o comentaacuterio de obras

1 A reflexatildeo temaacutetica como o proacuteprio nome sugere focaliza temas e problemas da filoso-fia com a ajuda da literatura filosoacutefica mas sem se prender a sistemas filosoacuteficos ou a autores especiacuteficos

2 A reflexatildeo histoacuterico-filosoacutefica examina a trajetoacuteria no tempo e no espaccedilo das ideacuteias filosoacuteficas problemas e soluccedilotildees propostos a partir das contribuiccedilotildees de diversos filoacute-sofos

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3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
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                          1. Botatildeo 11
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                                5. Paacutegina 8
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Page 51: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

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Ficha da disciplina

3 O comentaacuterio por sua vez focaliza doutrinas particulares nas quais os estudiosos propotildeem hipoacuteteses classificatoacuterias eou explicativas dos problemas considerados rel-evantes na doutrina em questatildeo

A disciplina Teoria do Conhecimento aqui apresentada estaacute inserida na modalidade 1 Ten-do como preocupaccedilatildeo central questotildees temaacuteticas ela possui um perfil interdisciplinar bus-cando muitas vezes inspiraccedilatildeo e suporte nas ideacuteias de filoacutesofos cientistas e artistas particulares sem no entanto ter a preocupaccedilatildeo historiograacutefica de reproduzir em detalhes suas teses e argumentos Este seraacute o caso tambeacutem do nosso primeiro toacutepico o problema do conhecimento como exposto no diaacutelogo platocircnico Teeteto interessa-nos aqui principalmente o problema apresentado por Platatildeo mais do que a reconstruccedilatildeo das ideacuteias do filoacutesofo em questatildeo Esta opccedilatildeo nos parece adequada agraves expectativas de reflexatildeo interdisciplinar presentes na nova pro-posta curricular da disciplina Filosofia e tambeacutem ndash o que eacute importante ndash agraves expectativas dos alunos de Filosofia do ensino meacutedio

Discutiremos o problema da natureza do conhecimento em dois toacutepicos No primeiro il-ustramos parte desta problemaacutetica no contexto do pensamento claacutessico atraveacutes da anaacutelise do diaacutelogo de Platatildeo Teeteto Esse toacutepico (11) gira em torno da distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo e nele desenvolvemos ainda uma anaacutelise do problema sugerido no Teeteto a partir de uma perspectiva contemporacircnea No toacutepico (12) discutimos e problematizamos a alegada dicotomia entre conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Ementa da disciplina

A disciplina Teoria do conhecimento objetiva apresentar debates claacutessicos e contemporacircneos sobre o problema da natureza do conhecimento sua formulaccedilatildeo e algumas interpretaccedilotildees e tentativas de soluccedilatildeo eou dissoluccedilatildeo Seratildeo abordados os seguintes temas (1) Problemas centrais da Teoria do Conhecimento (11) O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhe-cimento e opiniatildeo (12) Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico (2) O papel da observaccedilatildeo no conhecimento (21) Conhecimento empiacuterico (22) A tese da contaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo (3) Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva (31) Raciociacutenio dedutivo (32) Raciociacutenio Indutivo (33) Raciociacutenio abdutivo (4) Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo (41) A virada informacional na filosofia (42) Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo o sabe como e o saber que

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isciplina 02TEMAS

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Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
                      3. Botatildeo 10
                        1. Paacutegina 3 Off
                          1. Botatildeo 11
                            1. Paacutegina 3 Off
                              1. Botatildeo 62
                                1. Paacutegina 4 Off
                                2. Paacutegina 5
                                3. Paacutegina 6
                                4. Paacutegina 7
                                5. Paacutegina 8
                                6. Paacutegina 9
                                7. Paacutegina 10
                                8. Paacutegina 11
                                  1. Botatildeo 63
                                    1. Paacutegina 4 Off
                                    2. Paacutegina 5
                                    3. Paacutegina 6
                                    4. Paacutegina 7
                                    5. Paacutegina 8
                                    6. Paacutegina 9
                                    7. Paacutegina 10
                                    8. Paacutegina 11
                                      1. Botatildeo 60
                                        1. Paacutegina 12 Off
                                        2. Paacutegina 13
                                        3. Paacutegina 14
                                        4. Paacutegina 15
                                        5. Paacutegina 16
                                        6. Paacutegina 17
                                        7. Paacutegina 18
                                        8. Paacutegina 19
                                        9. Paacutegina 20
                                        10. Paacutegina 21
                                          1. Botatildeo 61
                                            1. Paacutegina 12 Off
                                            2. Paacutegina 13
                                            3. Paacutegina 14
                                            4. Paacutegina 15
                                            5. Paacutegina 16
                                            6. Paacutegina 17
                                            7. Paacutegina 18
                                            8. Paacutegina 19
                                            9. Paacutegina 20
                                            10. Paacutegina 21
                                              1. Botatildeo 58
                                                1. Paacutegina 22 Off
                                                2. Paacutegina 23
                                                3. Paacutegina 24
                                                4. Paacutegina 25
                                                5. Paacutegina 26
                                                6. Paacutegina 27
                                                7. Paacutegina 28
                                                8. Paacutegina 29
                                                  1. Botatildeo 59
                                                    1. Paacutegina 22 Off
                                                    2. Paacutegina 23
                                                    3. Paacutegina 24
                                                    4. Paacutegina 25
                                                    5. Paacutegina 26
                                                    6. Paacutegina 27
                                                    7. Paacutegina 28
                                                    8. Paacutegina 29
                                                      1. Botatildeo 56
                                                        1. Paacutegina 30 Off
                                                        2. Paacutegina 31
                                                        3. Paacutegina 32
                                                        4. Paacutegina 33
                                                        5. Paacutegina 34
                                                        6. Paacutegina 35
                                                        7. Paacutegina 36
                                                        8. Paacutegina 37
                                                        9. Paacutegina 38
                                                        10. Paacutegina 39
                                                        11. Paacutegina 40
                                                        12. Paacutegina 41
                                                        13. Paacutegina 42
                                                        14. Paacutegina 43
                                                          1. Botatildeo 57
                                                            1. Paacutegina 30 Off
                                                            2. Paacutegina 31
                                                            3. Paacutegina 32
                                                            4. Paacutegina 33
                                                            5. Paacutegina 34
                                                            6. Paacutegina 35
                                                            7. Paacutegina 36
                                                            8. Paacutegina 37
                                                            9. Paacutegina 38
                                                            10. Paacutegina 39
                                                            11. Paacutegina 40
                                                            12. Paacutegina 41
                                                            13. Paacutegina 42
                                                            14. Paacutegina 43
                                                              1. Botatildeo 64
                                                                1. Paacutegina 44 Off
                                                                2. Paacutegina 45
                                                                3. Paacutegina 46
                                                                4. Paacutegina 47
                                                                  1. Botatildeo 65
                                                                    1. Paacutegina 44 Off
                                                                    2. Paacutegina 45
                                                                    3. Paacutegina 46
                                                                    4. Paacutegina 47
                                                                      1. Botatildeo 52
                                                                        1. Paacutegina 48 Off
                                                                        2. Paacutegina 49
                                                                        3. Paacutegina 50
                                                                        4. Paacutegina 51
                                                                        5. Paacutegina 52
                                                                          1. Botatildeo 53
                                                                            1. Paacutegina 48 Off
                                                                            2. Paacutegina 49
                                                                            3. Paacutegina 50
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                                                                              2. Botatildeo 8
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Page 52: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

52

UnespR

edefor bull Moacutedulo I bull D

isciplina 02TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

1

2

3

4

Ficha da disciplina

Estrutura da Disciplina

Disciplina Teoria do Conhecimento

Tema 1 Problemas centrais da Teoria do Conhecimento

Toacutepico 11 ndash O problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo

Toacutepico 12 - Conhecimento comum e conhecimento cientiacutefico

Tema 2 O papel da observaccedilatildeo no conhecimento

Toacutepico 21 ndash Conhecimento empiacuterico

Toacutepico 22 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo

Tema 3 Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva

Toacutepico 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo

Toacutepico 32 ndash Raciociacutenio Indutivo

Toacutepico 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo

Tema 4 Conhecimento Informaccedilatildeo e Accedilatildeo

Toacutepico 41 ndash A virada informacional na filosofia

Toacutepico 42 ndash Conhecimento Informaccedilatildeo e accedilatildeo ldquoSaber comordquo e ldquosaber querdquo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 53: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoCoordenadoria de Estudos e Normas PedagoacutegicasGabinete da CoordenadoraPraccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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Page 54: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · Johannes_Kepler ... Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado ... A combinação dessas idéias,

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Elisa Tomoe Moriya SchluumlnzenClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeoMaacutercio Antocircnio Teixeira de Carvalho

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Lia Tiemi HiratomiLiliam Lungarezi de Oliveira

Marcos Leonel de SouzaPamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • 1 Problemas centrais da teoria do conhecimento
    • 11 - O Problema do Teeteto a distinccedilatildeo entre conhecimento e opiniatildeo
    • 12 ndash Conhecimento comum e Conhecimento cientiacutefico
      • 2 ndash O papel da observaccedilatildeo no conhecimento
        • 21 ndash Conhecimento empiacuterico
        • 21 ndash A tese da impregnaccedilatildeocontaminaccedilatildeo teoacuterica da observaccedilatildeo
          • 3 ndash Modalidades de justificaccedilatildeo cognitiva
            • 31 ndash Raciociacutenio Dedutivo
            • 32 ndash Raciociacutenio Indutivo
            • 33 ndash Raciociacutenio Abdutivo
              • 4 ndash Conhecimento informaccedilatildeo e accedilatildeo
                • 41 - A virada informacional na Filosofia
                • 42 ndash Informaccedilatildeo Conhecimento e Accedilatildeo o ldquosaber comordquo e o ldquosaber querdquo
                  • Bibliografia
                  • Ficha da Disciplina
                      1. Botatildeo 2
                      2. Botatildeo 3
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                                                                            2. Paacutegina 49
                                                                            3. Paacutegina 50
                                                                            4. Paacutegina 51
                                                                            5. Paacutegina 52
                                                                              1. Botatildeo 7
                                                                              2. Botatildeo 8
                                                                              3. Botatildeo 4