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CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 1 1

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  • CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 1 1

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  • CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 1 3

    1. .

    A utilização de sistemas simbólicos está naturalmente patente no dia-a-dia da

    Humanidade, desde muito cedo. Signos, símbolos e ícones de toda a espécie têm

    servido como uma das mais eficazes formas de comunicação. Senão, vejamos

    exemplos do nosso quotidiano, como sinais de trânsito, sistemas de cores para divisão

    de tarefas, alegorias, como a Justiça, para definir o edifício do Tribunal.

    Símbolos e ícones que podem assumir um significado diferente mediante o contexto

    do objecto ou local em que se encontra, ou da pessoa que o vê, mas que,

    habitualmente, é relativamente homogéneo.

    Em contexto artístico, a utilização de um ou vários símbolos (que poderão ser mais, ou

    menos, ambíguos) serve igualmente o propósito da comunicação de determinada

    mensagem.

    Mas, afinal, o que é um Ícone?

    A definição que encontramos no dicionário diz-nos o seguinte:

    «Ícone [ˈikun(ə)] - nome masculino - Do grego eikón, «imagem», pelo latim icŏne-,

    «idem»

    1. RELIGIÃO imagem pintada da Virgem, dos santos e anjos ou de cenas bíblicas,

    usada principalmente nas igrejas orientais católicas ou nas igrejas ortodoxas

    2. signo que mantém com o seu referente uma relação natural de similitude

    3. pessoa, facto ou coisa capazes de evocar e representar determinado movimento,

    período, atividade, etc.

    4. INFORMÁTICA símbolo que, numa interface gráfica, representa uma função ou um

    documento que o utilizador pode selecionar.»

    (in: Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015 : http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/ícone )

    Tal como o símbolo, o ícone é, no fundo, aquilo que representa ou sugere algo, ou

    seja, é aquilo que usamos ou convencionamos para transmitir a nossa mensagem

    específica, dentro daquilo que seja corrente no sistema de ideias em que nos

    inserimos. Tal é o exemplo dos símbolos de lavagem de roupa.

    O ícone vai, portanto, substituir a mensagem escrita, transmitindo-a eficazmente

    através de uma representação pictórica.

  • CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 1 4

    Podemos recorrer, também, ao dicionário para nos ajudar a definir Iconografia e

    Iconologia:

    «Iconografia [ikunuɡrɐˈfiɐ] - nome feminino - Do grego eikonographía, «pintura de

    retratos»

    1. conjunto de imagens a respeito de um determinado assunto

    2. estudo e descrição das imagens, quadros, bustos e pinturas antigas e modernas»

    (in: Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto

    Editora, 2003-2015 : http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/iconografia)

    «Iconologia [ikunuluˈʒiɐ] - nome feminino - Do grego eikonología, «linguagem

    figurada»

    estudo e interpretação de imagens, monumentos antigos, figuras alegóricas e seus

    atributos.»

    (in: Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto

    Editora, 2003-2015 : http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/iconologia)

    Inicialmente, quando da análise de uma obra de arte, distinguia-se iconografia

    «pretendida» ou «subentendida», digamos assim, da iconografia «interpretativa».

    A iconografia «pretendida» ou «subentendida» é aquela que se refere à atitude do

    artista, do patrono ou do observador contemporâneo (à obra) perante a função ou

    significado dos símbolos ou imagens presentes na obra. Por vezes, a descrição da

    intencionalidade da representação vem descrita em obras escritas, como tratados

    iconográficos que fornecem os dados que os artistas devem seguir (como é o caso do

    tratado De picturis et imaginibus sacris, de 1570, escrito pelo teólogo Joannes

    Molanus), ou em cartas e memórias do artista ou do próprio patrono. Outros

    documentos derivados da obra, como sejam os programas de pintura associados à

    pintura de diversos tectos tardo-barrocos, e os próprios contractos de feitura das obras

    são também fontes que auxiliam na leitura iconográfica. Abaixo temos o exemplo do

    tratado de Giorgio Vasari, em que descreve o esquema decorativo do Palazzo Vecchio

    e as suas intenções decorativas e iconográficas.

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    (in http://www.gonnelli.it/photos/auctions/xlarge/4142.jpg)

    Todavia, por vezes, o significado da obra de arte é apenas descortinado através de

    métodos ligados à própria historiografia, e quando da análise iconográfica, teremos de

    deduzir as informações pelas correntes filosóficas, teológicas ou literárias da época de

    produção da obra em questão. É isto que trata a iconografia «interpretativa» e que,

    hoje em dia, chamamos de Iconologia, na medida em que se tornou uma disciplina de

    estudo da História da Arte.

    Sistematizando, podemos, então, diferenciar Iconografia e Iconologia nos seguintes

    termos:

    Quadro 1. Iconografia e Iconologia

    Iconografia Estudo descritivo das imagens Classifica-as e descreve-as a partir da sua representação e associando-as a fontes textuais Palavra-chave: Descrição

    Iconologia Ramo de estudo da História da Arte Contextualiza as obras como produtos do pensamento de determinado autor ou momento histórico Palavra-chave: Interpretação

    Seguidamente, vamos contextualizar a Iconografia como corrente de estudo.

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    O uso de ícones na expressão artística remonta a 3000 a.C., às civilizações neolíticas

    do Médio Oriente, que usavam figuras de formato animalista para representar os seus

    deuses. Vemos, por exemplo, a deusa egípcia Hathor associada à vaca, sendo

    representada nos relevos e pinturas murais como uma mulher com cabeça de vaca.

    Do mesmo modo, o deus-Sol Ra é representado com a cabeça de um falcão e Ptah, o

    deus da criação, com cabeça de touro.

    De sua parte, as civilizações clássicas associam os seus deuses a objectos

    específicos. Na antiga Grécia, podemos identificar, por exemplo, Zeus acompanhado

    de uma águia ou de um relâmpago, Apolo com uma lira e Diana, sendo a caçadora,

    traz consigo arco e flecha.

    A civilização romana irá refinar este uso alegórico de simbologias, relacionando, por

    exemplo, uma mulher rodeada de cachos de uvas e trigo, com a abundância da terra e

    os produtos de uma boa colheita agrícola.

    Ainda durante o período de vigência do Império Romano, o despontar dos símbolos do

    Cristianismo, como o peixe ou a pomba, que identificavam respetivamente Cristo e o

    Espírito Santo, permitiu aos cripto-Cristãos identificarem-se de forma mais ou menos

    inconspícua, escapando ao martírio. Todavia, na arte cristã mais tardia, a tendência

    imperou e alargou-se a quantidade e variedade de representações iconográficas. É

    aqui que vemos surgir a maioria dos atributos dos Santos, tornando-se eles mesmos

    agora associados a objetos específicos, que serviriam para identificá-los.

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    Imagem de Santa Margarida de Cortona (Museu das Cinzas, Vila do Conde) .

    No exemplo da imagem, aquilo que nos permite identificar a santa em questão serão

    as vestes franciscanas e pés descalços, que nos orientam a pensar que seja uma

    religiosa desta ordem mendicante, e o crânio, que é um dos atributos conhecidos de

    Santa Margarida de Cortona. O crânio poderia encontrar-se noutra posição, como seja

    entre as mãos da mesma, e, poderíamos também identificá-la com um cilício e

    vergastas, na medida em que a sua história nos conta que se sujeitou a longas e

    duras penitências quando integrou a Ordem Terceira de São Francisco.

    A pintura alegórica tornou-se mais popular durante o período da Renascença e através

    do século XVIII. Os artistas imaginavam complexas composições cheias de

    simbolismo, representando, por exemplo, o tema da vaidade humana, popular na

    época Barroca. Jóias, moedas de outro ou instrumentos musicais significariam os

    prazeres mundanos, enquanto crânios, velas apagadas ou ampulhetas recordariam o

    espectador que a morte é iminente (Memento Mori).

    Na arte contemporânea, fruto da procura pela individualização do artista, o uso da

    iconografia tornou-se mais heterogéneo. O artista deixou de parte os significados mais

    correntemente conhecidos e atribuiu-lhes um novo significado, consoante as suas

    intenções artísticas.

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    O Cubismo, o movimento Dada e a própria PopArt são exemplares desta re-

    construção de ícones, usando como símbolos objectos mais mundanos (como latas de

    sopa, jornais, tiras de banda desenhada, etc.) que procuravam reflectir a cultura

    moderna entretanto nascida.

    A Iconografia como corrente de estudo começa a despontar com os estudos do

    historiador de arte Aby Warburg (1866-1929), ainda no século XIX, que defendia que

    a história das imagens é que nos ensina a função geral das imagens, sendo um

    mecanismo de expressão de necessidades e expectativas e uma forma de

    comunicação religiosa e política.

    É no sentido de desenvolver a ideia da importância do estudo das obras de arte em

    todos os seus detalhes, que funda o Instituto Warburg, em Hamburgo. Identificado

    como um Instituto dedicado ao estudo da História da Arte e todas as disciplinas que

    esta envolve, o Instituto Warburg é dedicado ao estudo das principais áreas de

    interesse do historiador homónimo, como sejam a relação iconológica entre a palavra

    e a imagem; a passagem dos símbolos pela História, o revivalismo da Antiguidade na

    arte Renascentista e a sua presença na época moderna e o papel da arte europeia do

    norte (em especial Dürer).

    No entanto, será apenas com Erwin Panofsky (1892-1968) que a Iconografia se

    assumirá como área de estudo. Tendo sido aluno de Warburg na Universidade de

    Hamburgo, Panofsky desenvolveu os seus estudos orientando-se para a definição da

    Iconologia. Anos depois, em 1939, no seu ensaio Estudos em Iconologia, Panofsky,

    como Warburg, fala de uma leitura além daquela de descrição formal da obra. Ou seja,

    sugere que, perante uma obra de arte, passemos a perguntar não apenas «O quê?»,

    mas também «Por quê?».

    A sua análise d’O Casamento dos Arnolfini, de Jan Van Eyck, de 1935, será o primeiro

    estudo que faz dentro da temática da simbologia e iconografia de obras de arte. Aquilo

    que, à partida, poderia parecer um retrato confuso e desorganizado, estava, na

    realidade, a transmitir uma mensagem muito clara: era a representação de um

    contrato de casamento, este simbolizado através da presença de diversos elementos

    cuja simbologia oculta apontavam para o sacramento do casamento (como o cão, a

    sandália, o leito nupcial, o espelho, a própria assinatura do pintor, que afirma que

    «…esteve aqui», como se tivesse testemunhado um evento de importância) e o

    significado que poderiam assumir no contexto em que a obra foi produzida.

    Panofky detalha, assim, a sua ideia de uma análise através de três níveis de «leitura»,

    que analisaremos seguidamente.

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    Quadro 2. – Os três níveis de compreensão da arte de Panofsky.

    Nível de análise

    Tipo de análise Objecto de análise

    Primário ou

    Natural Pré-iconográfico

    Pessoas, animais, objectos, eventos,…

    Secundário ou Convencional

    Iconográfico Temas e conceitos, alegorias,

    histórias, mitologias, …

    Terciário ou Intrínseco

    Iconológico Princípios socioculturais

    subjacentes

    Nesse sentido, podemos dizer que Panofsky defende que acaba por haver a

    necessidade de conhecer os costumes e hábitos diários específicos da época, do local

    e, até, dos intervenientes da produção em questão, para «melhorar» a possível leitura

    que se faça de uma qualquer obra. Porque há uma razão pela qual o autor incluiu

    aquele símbolo, há que fazer um trabalho de análise contextualizado.

    Esta sua insistência em querer conhecer a arte em todos os seus aspetos e

    significados ocultos foi aquilo que levou Panofsky a entender a arte como nenhum

    historiador havia antes conseguido, assumindo a Iconografia como disciplina própria.

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    Tal como dissemos anteriormente, em 1939, Panofsky apresenta o seu método

    iconológico de análise da obra de arte. Para ele, a análise não poderia depender

    apenas das fontes literárias, até porque, nem sempre são existentes. Passa a

    investigar, assim, o modo como, de acordo com as diferentes condições históricas a

    que está sujeito, o artista escolhe o tema, objecto ou facto. Passa a estudar o

    significado.

    Panofsky deu este mesmo exemplo:

    Um homem levanta o seu chapéu. Em termos iconográficos, o que existe é esta acção

    em que o homem retira o chapéu da cabeça. Todavia, numa análise iconológica,

    descortina-se um significado do gesto. Tendo como base a cultura ocidental que

    possuem ambos intervenientes (quem vê e quem levanta o chapéu), sabemos que

    aquele é um gesto de cordialidade. Todavia, chegar a este nível de compreensão

    depende, à partida, de um conhecimento prévio dos valores sociais que envolvem

    esse gesto.

    Assim sendo, Panofsky identifica três níveis de compreensão, como já vimos:

    1. O primário ou natural

    2. O secundário ou convencional

    3. O terciário ou intrínseco.

    A partir da imagem d’A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, vamos analisar cada um

    destes pontos.

    A Última Ceia – Leonardo da Vinci, Sala do Refeitório do Convento de Santa Maria

    delle Grazie, Milão.

    http://en.wikipedia.org/wiki/Last_Supper#mediaviewer/File:%C3%9Altima_Cena_-

    _Da_Vinci_5.jpg

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    O nível primário corresponde a um nível básico de entendimento, ou seja, a percepção

    natural da obra. Assim, nesta pintura, aquilo que vamos identificar são treze homens à

    mesa na hora da ceia. Neste primeiro nível, não usamos conhecimentos nem domínios

    culturais aprofundados para perceber a mensagem.

    O segundo nível de compreensão requer já um certo conhecimento iconográfico, na

    medida em que aqui começa a interpretação da mensagem e do seu significado.

    Assim, qualquer indivíduo que tenha tido uma educação da cultura ocidental poderá, à

    partida, identificar a cena como a da Última Ceia de Jesus com os seus Apóstolos.

    No terceiro e último nível de interpretação, o observador não apenas recebe e

    interpreta a mensagem contida naquela representação, como procura interpretá-la sob

    o ponto de vista histórico, social e cultural, procurando interrelações que ampliem o

    seu significado. Este nível vê a arte não apenas como acto isolado, mas como produto

    de circuntâncias históricas, sociais e culturais propícias à sua criação. Desta forma, o

    terceiro nível de conhecimento necessita de um conhecimento e entendimento mais

    aprofundados, a nível técnico, cultural e histórico, para responder à última questão: «O

    que significa?»

  • CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 1 12

    www.infopedia.pt

    etext.lib.virginia.edu/cgi-local/DHI/dhi.cgi?id_dv2-57

    autocww.colorado.edu/~blackmon/E64ContentFiles/PeriodsandStyles/Iconography.hmtl

    dictionaryofarthistorians.org/

    warburg.sas.ac.uk/home

    www.educ.fc.ul.pt/hyper/resources/mbruhn

    http://www.dezenovevinte.net/artistas/ra_migliaccio.htm

    www.youtube.com/watch?v=JyhGyYJLngM

    www.youtube.com/watch?v=J5vjA44ezpU