curso de escrita acadêmica-uerj

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Sebastião Josué Votre Vinícius Carvalho Pereira Volume Único Redação de Textos Acadêmicos Apoio:

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Curso de Escrita Acadêmica-UERJ

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  • Sebastio Josu Votre

    Vincius Carvalho Pereira

    Volume nico

    Redao de Textos Acadmicos

    Apoio:

  • Material Didtico

    V971Votre, Sebastio Josu. Redao de textos acadmicos. volume nico / Sebastio Josu Votre; Vincius Carvalho Pereira - Rio de Janeiro: Fundao CECIERJ, 2011. 37837p.; 19 x 26,5 cm.7

    ISBN: 978-85-7648-709-8 1. Redao. 2. Gneros textuais I. Pereira, Vincius CarvalhoII. Ttulo.

    CDD: 808.06

    Referncias Bibliogrfi cas e catalogao na fonte, de acordo com as normas da ABNT.

    Copyright 2010, Fundao Cecierj / Consrcio Cederj

    Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrnico, mecnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Fundao.

    ELABORAO DE CONTEDOSebastio Josu VotreVincius Carvalho Pereira

    COORDENAO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONALCristine Costa Barreto

    DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISO Cristiane Brasileiro

    Fundao Cecierj / Consrcio CederjRua Visconde de Niteri, 1364 Mangueira Rio de Janeiro, RJ CEP 20943-001

    Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725

    PresidenteMasako Oya Masuda

    Vice-presidenteMirian Crapez

    Coordenao do Curso de LetrasUFF - Livia Reis

    Departamento de Produo

    2011.1

    EDITORFbio Rapello Alencar

    COORDENAO DE REVISOCristina Freixinho

    REVISO TIPOGRFICACarolina GodoiCristina FreixinhoElaine BaymaRenata Lauria

    COORDENAO DE PRODUORonaldo d'Aguiar Silva

    DIRETOR DE ARTEAlexandre d'Oliveira

    PROGRAMAO VISUALAlexandre d'OliveiraJanaina SantanaRicardo PolatoRonaldo d'Aguiar SilvaSanny Reis

    ILUSTRAOJefferson Caador

    CAPAJefferson Caador

    PRODUO GRFICAVernica Paranhos

  • Universidades Consorciadas

    Governo do Estado do Rio de Janeiro

    Secretrio de Estado de Cincia e Tecnologia

    Governador

    Alexandre Cardoso

    Srgio Cabral Filho

    Governo do Estado do Rio de Janeiro

    Secretrio de Estado de Cincia e Tecnologia

    Governador

    Alexandre Cardoso

    Srgio Cabral Filho

    UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIROReitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho

    UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Vieiralves

    UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitora: Malvina Tania Tuttman

    UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Motta Miranda

    UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROReitor: Alosio Teixeira

    UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEReitor: Roberto de Souza Salles

  • Aula 1 Gneros e tipos textuais _________________________________ 7 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira

    Aula 2 Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura _______ 39 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira

    Aula 3 Coeso textual _______________________________________ 65 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira

    Aula 4 Coerncia textual _____________________________________ 97 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira

    Aula 5 Argumentao ______________________________________ 127 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira

    Aula 6 Fichamento, resumo e resenha __________________________ 169 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira

    Aula 7 Projeto de pesquisa e relatrio __________________________ 197 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira

    Aula 8 Artigo cientfi co e monografi a __________________________ 247 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira

    Aula 9 Gneros textuais educacionais: ementa, programa de curso, prova escrita, apostila, manual e material para EAD _________ 295 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira

    Aula 10 Reforma ortogrfi ca e regras da norma padro _____________ 335 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira

    Referncias ______________________________________________ 369

    Redao de Textos Acadmicos

    SUMRIO

    Volume nico

  • objetivos1

    Meta da aula

    Apresentar os conceitos de gneros e tipos textuais.

    Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:

    1. identifi car exigncias macro e microestruturais dos gneros e tipos textuais;

    2. distinguir os conceitos de gneros e tipos textuais.

    Gneros e tipos textuaisSebastio Josu Votre

    Vincius Carvalho Pereira AULA

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    8 CEDERJ

    Ler completa o homem.

    Sir Francis Bacon (1562-1626)

    INICIANDO O PERCURSO

    Figura 1: Escrever bem um desafi o que percorre toda a nossa vida acadmica e profi ssional.

    Fonte: http://www.sxc.hu/pic/s/r/ro/rolve/1115824_laptop_keyboard_2.jpg

    Ol! Seja bem-vindo ao nosso curso de Redao de Textos

    Acadmicos! Estamos agora comeando um percurso de leituras,

    releituras e escritas dos diversos gneros textuais que fazem parte da vida

    de quem estuda, d aulas ou simplesmente quer melhorar sua produo

    escrita. Assim, nesta disciplina voc ganhar intimidade com o texto

    acadmico e mais segurana para trabalhar com ele.

    importante que voc perceba que o domnio das habilidades

    de comunicao escrita fundamental para seu sucesso na universidade

    e no mercado de trabalho. Ao corrigir uma prova, um professor no

    avalia apenas o contedo que o aluno ps no papel, mas a forma como

    isso foi feito: se o texto foi redigido com clareza, coeso, coerncia... Se

    pensarmos bem, alis, veremos que s ao ganhar forma que o contedo

    passa a existir diante do leitor. Alm disso, ao fi nal de muitos cursos de

    graduao ou ps-graduao, preciso elaborar um trabalho de concluso,

    apresentando um estudo um pouco mais longo e detalhado sobre um tema

    de seu interesse. Muitos alunos, inclusive, temem essa etapa do curso

    porque no se familiarizaram com a redao desse gnero de texto.

  • CEDERJ 9

    Da mesma forma, no mercado de trabalho, formulrios, relatrios e

    e-mails circulam o tempo todo, exigindo que o funcionrio esteja preparado

    para se comunicar com efi cincia por escrito em cada situao, atendendo

    s suas demandas especfi cas. J professores, mais especifi camente, so

    chamados a produzir textos e publicar com frequncia, j que muito do

    seu currculo se constri sobre esse tipo de atividade.

    Por tudo isso, nesta disciplina, voc travar contato com vrias

    formas de textos acadmicos, com foco nas particularidades de cada

    um deles. Alm disso, em momentos oportunos, vamos discutir algumas

    questes gramaticais que podem incomodar quem escreve, dando nfase

    sempre ao que mais produtivo e recorrente na escrita universitria. O

    objetivo, no entanto, no uma memorizao chata e pouco prtica.

    Afinal, basta consultar qualquer gramtica ou site de busca para

    encontrar a explicao de determinada exceo ou ponto gramatical

    menos conhecido. Na era da informao, est mais bem preparado no

    quem acumula um nmero maior de dados, mas quem sabe manipul-

    los, interpret-los e apresent-los de forma mais clara e efi ciente. Assim,

    queremos que voc seja um leitor e um redator cada vez mais efi ciente

    e autnomo, capaz de encontrar, decodifi car, utilizar e comunicar as

    informaes de que precisa ou que lhe so solicitadas.

    Ento, mos obra?

    Atende ao Objetivo 1

    1. Observe os textos I, II e III, ao fi nal desta atividade, e responda s per-guntas subsequentes:

    1.1 Apesar de todos esses textos falarem a respeito de um mesmo tema cogumelos , so bem diferentes entre si, pois foram produzidos em distintas situaes, com objetivos prprios. Identifi que, para cada um dos textos:

    a) que categoria de textos ele pertence (propaganda, romance, receita, soneto, reportagem etc.)

    ATIVIDADE

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    10 CEDERJ

    b) sua fi nalidade central;

    c) os principais leitores que se pretende alcanar.

    1.2. Diferentes categorias de texto apresentam a informao de maneiras distintas, a depender de sua fi nalidade (didtica, informativa, persuasiva etc.). Isso faz com que as formas de l-los sejam tambm diferentes, variando de acordo com os objetivos do leitor. Observe os textos II e III, por exemplo. Eles pressupem formas semelhantes de leitura? O tipo de informao que seus respectivos leitores buscam o mesmo? Justifi que sua resposta.

    1.3. Diferentes categorias de texto tambm apresentam escolhas lingusticas (palavras, construes sintticas, pontuao etc.) distintas. Observe agora os textos I e IV. As formas verbais que neles aparecem esto sendo empre-gadas no mesmo modo (indicativo, subjuntivo ou imperativo)? Relacione isso com as diferentes fi nalidades a que esses textos se propem.

    Indicativo modo verbal geralmente usado quando o falante v como certa a ao expressa pelo verbo. Exemplo: Maria abriu a porta.

    Subjuntivo modo verbal geralmente usado quando o falante v como hipottica a ao expressa pelo verbo. Exemplo: Talvez Maria abra a porta.

  • CEDERJ 11

    Imperativo modo verbal geralmente usado quando o falante v como uma ordem ou um pedido a ao expressa pelo verbo. Exemplo: Maria, abra a porta!

    Texto ISopa de creme de cogumelos

    INGREDIENTESsalsa;1 kg de ossos para sopa;2 folhas de louro;1 colher (sopa) de gros de pimenta;125 g de cebolas pequenas e redondas;400 g de cogumelos frescos;30 g de manteiga;sal e pimenta;molho ingls;4 colheres (sopa) de cherry;

    200 g de nata.

    MODO DE PREPARO: Ferva os ossos, as folhas de louro, os gros de pimenta e metade dos cogumelos lavados em 1/2 litro de gua. Cozinhe em fogo brando durante 1/2 hora. Passe por um passador. Descasque as cebolas e pique-as fi no. Limpe o resto dos cogumelos e passe-os por gua corrente. Numa panela, frite a cebola em manteiga. Junte os cogumelos lavados e frite bem. Retire 1/3 dos cogumelos da panela e ponha-os de parte. Regue os cogumelos restantes com o caldo de carne passado (cerca de 1 litro) e cozinhe em fogo brando durante 15 minutos. Bata a sopa no liquidifi cador e tempere bem com sal, pimenta, molho ingls, cherry e nata. Acrescente os cogumelos fritos sopa e aquea-a bem. Polvilhe com salsa picada.

    Texto II Cogumelos atraem turistas de todo o pas fazenda mostra diversas formas de cultivo e ensina produtores

    Turistas e produtores rurais de todo o pas esto descobrindo a mais nova atra-o do Vale do Paraba, a Fazenda Guirra, mais conhecida como a Fazenda dos Cogumelos. Entre as maiores atraes do local, o cultivo de diversas qualidades de cogumelos atrai pela lucratividade, que representa mais do que o dobro do investido pelo produtor.Os cogumelos so iguarias apreciadas pelos gourmets mais exigentes, como os franceses, italianos, americanos, chineses, e claro, japoneses. No Brasil, o consumo de cogumelos est ganhando espao entre os restaurantes mais requintados. Para atender a demanda do mercado, produtores rurais esto abdicando de outras culturas e aprimorando-se na arte de cultivar cogumelos.

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    12 CEDERJ

    Na Guirra, os visitantes aprendem as tcnicas necessrias para garantir uma boa produo com baixos investimentos. Alm da teoria, eles aprendem na prtica como montar estufas, inocular as toras de eucaliptos, desenvolver compostos para o cultivo de outros gneros de cogumelos, alm de aproveitar os resduos em hortas orgnicas.Os cursos acontecem nos fi nais de semana e renem grupos de 60 a 70 pessoas. Segundo o proprietrio da fazenda e zootecnista, Carlos Abe, que ministra os cursos, o cultivo do cogumelo atraente devido ao baixo investimento e lucratividade.O shiitake, por exemplo, desenvolve-se em toras de eucaliptos. Cada tora produz praticamente 1 quilo do cogumelo e exige um investimento na ordem de R$ 8,00 cada. No mercado, o quilo do produto negociado a R$ 17 e repassado aos con-sumidores por at R$ 30.(...)Por ms, a Fazenda Guirra exporta duas toneladas de cogumelos para o Japo. Produtores da regio do Vale do Paraba e de outros estados do pas, que j passa-ram pelo local, j esto cultivando e comercializando os cogumelos alguns deles tambm exportam para outros pases.(...)

    Texto IIISubstncias encontradas em 100 gramas de cogumelo-do-sol

    Elementos determinados Valores encontrados

    Umidade 9,67%

    Lipdios 1,48%

    Protenas 30,13%

    Cinzas 9,37%

    Fibra bruta 14,57%

    Fsforo 0,87%

    Potssio 2,34%

    Clcio 0,07%

    Magnsio 0,08%

    Enxofre 0,29%

    Cobre 61,88 mcg

    Zinco 86,90 mcg

    Ferro 79,13 mcg

    Glicdios 34,78%

    Fonte: http://www.unifenas.br/pesquisa/revistas/download/ArtigosRev2_99/pag169-172.pdf

  • CEDERJ 13

    Texto IV Doenas fngicas e fungos competidores em cogumelos comestveis do gnero Agaricus

    Leila Nakati Coutinho

    Os cogumelos comestveis, apreciados em muitas dietas europeias e orientais, vm crescendo de importncia nos ltimos anos, j que o seu cultivo tem sido apontado como uma alternativa para incrementar a oferta de protenas s populaes de pases em desenvolvimento e com alto ndice de desnutrio. Sob o ponto de vista nutricional, considerando o elevado contedo proteico dos mesmos, isso possibi-lita reciclar economicamente certos resduos agrcolas e agroindustriais. A cultura considerada uma atividade de ambiente protegido e tem mostrado um notvel incremento em diversos pases.A literatura especializada cita aproximadamente cerca de 2.000 espcies potencial-mente comestveis, porm apenas 25 delas so normalmente utilizadas na alimen-tao humana e um nmero ainda menor tem sido comercialmente cultivado. No Brasil, a primeira espcie cultivada foi o champignon de Paris [Agaricus bisporus (Lange) Singer]. Segundo a literatura nacional, o incio do cultivo em escala comercial parece datar dos anos 50. No existe uma documentao segura que permita localizar no tempo o incio do cultivo dessa espcie no Brasil, sendo certo, no entanto, que a popularizao de seu hbito alimentar na regio centro-sul data de uns 40 anos.Ao que tudo indica, quem primeiro deu incio a estudos sobre o assunto no mbito da Secretaria da Agricultura do Estado de So Paulo, tratando principalmente de adaptar a tecnologia estrangeira s nossas condies, foi Jlio Franco do Amaral que trabalhou no Instituto Biolgico.Embora recentemente a farta divulgao tenha despertado grande interesse pelo cogumelo comestvel e j existam cultivos altamente especializados nos quais so empregados equipamentos sofi sticados no Estado de So Paulo, a maior parte dos cultivos so ainda hoje rudimentares e conduzidos por famlias chinesas provenientes de Taiwan. Os mtodos de plantio mais frequentemente utilizados so resultado de uma experincia herdada por muitas geraes, porm destitudos de aprimoramento tcnico em decorrncia da falta de conhecimentos cientfi cos mais aprofundados.

    (...)

    RESPOSTAS COMENTADAS

    1.1.a.

    Texto I: receita, pois o texto est dividido em ingredientes e modo

    de preparo, ensinando o passo a passo para cozinhar uma sopa

    de creme de cogumelos.

    Texto II: notcia, pois o texto se estrutura em pargrafos breves e

    informativos, que relatam as experincias e estratgias comerciais

    da Fazenda Guirra.

    Texto III: tabela nutricional, pois o texto se estrutura em duas colunas:

    uma com os nutrientes, outra com suas porcentagens encontradas

    em 100g de cogumelo-do-sol.

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    14 CEDERJ

    Texto IV: texto acadmico, pois o autor no se limita apresentao

    dos fatos, dedicando-se a justifi c-los e/ou discuti-los e embasando

    sua argumentao em literatura especializada.

    1.1.b.

    Texto I: ensinar ao leitor como preparar determinado prato.

    Texto II: informar ao leitor o sucesso econmico do cultivo de cogu-

    melos em determinada fazenda.

    Texto III: apresentar ao leitor dados nutricionais sobre cogumelos.

    Texto IV: informar ao leitor certa descoberta cientfi ca sobre cogu-

    melos.

    1.1.c.

    Texto I: pessoas interessadas em culinria

    Texto II: leitores em geral de peridicos

    Texto III: pessoas que seguem regimes alimentares

    Texto IV: leitores acadmicos

    1.2. O texto II pressupe uma leitura menos compromissada, em que

    o leitor geralmente l apenas uma vez o texto. O texto III, no entanto,

    serve como material de consulta. Ao l-lo, o indivduo provavelmente

    busca uma informao especfi ca, no variedades.

    1.3. Como o texto I visa a ensinar algo ao leitor, dando-lhe regras

    para que se execute determinado procedimento, h uma predomi-

    nncia de verbos no imperativo. Por outro lado, como o texto IV visa

    a informar ao leitor uma descoberta cientfi ca, calcada em fatos e

    certezas, apresenta a maioria dos verbos no indicativo.

  • CEDERJ 15

    CONHECENDO OS GNEROS TEXTUAIS

    Figura 2: Os gneros textuais so defi nidos em funo das variadas situaes em que so usados.

    Fonte (vegetais): http://www.sxc.hu/pic/m/t/to/toutouke/1234596_vegetables.jpg

    Fonte (estetoscpio): http://www.sxc.hu/pic/m/b/ba/barky/1080262_stethoscope_2.jpg

    Fonte (jornal): http://www.sxc.hu/pic/m/l/lu/lusi/1102355_my_daily.jpg

    Ao realizar a atividade 1, voc pde observar um pouco da grande

    diversidade de categorias de texto que circulam em nosso dia a dia.

    Sem nos darmos conta, aprendemos na vida em sociedade como lidar

    com cada um deles e quando e onde deve-se usar um ou outro. A essas

    categorias de texto, defi nidas pela situao de uso, chamamos de gneros

    textuais ou gneros discursivos. Um gnero textual est sempre inserido

    em uma esfera de circulao, isto , em um conjunto de contextos sociais

    em que ele produzido (escrito ou falado) e recebido (lido ou ouvido).

    Assim, o gnero receita, como o texto I desta aula, pertence esfera da

    culinria. J o gnero notcia, como o texto II desta aula, pertence

    esfera jornalstica, enquanto o gnero tabela nutricional, como o texto

    III desta aula, pertence esfera da sade.

    importante que voc domine o maior nmero de gneros textuais

    possvel, pois isso o ajudar nas diferentes esferas de comunicao com

    as quais se defronta na vida cotidiana. Afi nal, saber falar, ouvir, escrever

    e ler bem no se resume s regras de concordncia ou de regncia;

    comunicar-se com efi cincia ser capaz de reconhecer as exigncias

    de cada situao e adequar-se s expectativas daquele com quem voc

    precisa interagir.

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    16 CEDERJ

    Nesta disciplina, voc aprender a comunicar-se em diversos

    gneros textuais da esfera acadmica, a que, alis, pertence o texto IV da

    Atividade 1, o qual um fragmento de artigo cientfi co. Selecionamos para

    este curso os principais gneros da escrita acadmica, embora haja uma

    quantidade enorme deles, a saber: artigos cientfi cos, relatrios cientfi cos,

    notas de aula, dirios de campo, teses, dissertaes, monografi as, artigos

    de divulgao cientfi ca, resumos de artigos, de livros, de conferncias,

    resenhas, comentrios, projetos, manuais de ensino, bibliografi as, fi chas

    catalogrfi cas, currculos vitae, memoriais, pareceres tcnicos, sumrios,

    bibliografi as comentadas, ndices remissivos, glossrios etc.

    Porm, antes de conhecer mais a fundo os gneros da esfera de

    circulao acadmica, preciso que voc entenda que fatores determinam

    as caractersticas de forma e contedo de um gnero textual:

    Tempo

    Um gnero textual surge sempre vinculado a um momento

    histrico, em que determinada necessidade humana exigiu uma forma

    especfi ca de comunicao. Na poca em que ainda no havia a internet,

    muitas pessoas se comunicavam por meio do gnero carta, que, embora

    mantenha algumas semelhanas com o gnero e-mail, apresenta certas

    particularidades. Cartas costumavam ser mais longas do que e-mails,

    porque o tempo entre uma correspondncia e outra, bem como o gasto

    envolvido, era necessariamente maior. Assim, era preciso garantir que

    todas as informaes necessrias fossem transmitidas com clareza logo

    na primeira carta. Com e-mails, muitas vezes mandamos apenas frases

    curtas, pois possvel trocar vrios deles ao longo do dia, literalmente

    conversando por meio de textos desse gnero.

    Alm disso, a questo do tempo envolve o momento em que a

    mensagem escrita/falada e o momento em que lida/ouvida. Desse

    modo, um gnero em que a produo e a recepo da mensagem

    ocorram ao mesmo tempo costuma apresentar menos informaes para

    contextualizar o receptor. Veja a seguir, por exemplo, uma transcrio

    de dilogo entre duas mulheres.

  • CEDERJ 17

    Transcrio

    L1: De massa, eu adoro. Me pego sempre indo num restaurante

    de massa ou num rodzio... No d pra ser magrinha assim, n?

    L2: Sei... Tambm... (risos)

    L1: Tambm adoro fazer... gosto de comer e fazer. Esse aqui, ,

    timo... Receita que eu peguei da minha irm... Que ela adora

    tambm, n?

    L2: Nem fala...

    L2: Que eu peguei quando ela tava casada. Olha a cor... Voc faz

    um molho... um molho que leva vrios queijos...

    L1: Hum...

    L2: Voc coloca cebola pra dourar junto com manteiga. Com

    manteiga ou margarina. A, voc acrescenta os queijos. Tambm

    leva vinho... Vinho branco depois dos queijo derretido... S duas

    colheres de sopa.

    PEUL Programa de Uso da Lngua UFRJ

    Observe que entre os interlocutores houve comunicao efi caz,

    mesmo com o emprego de frases que, para voc, neste momento, sejam

    difceis de entender plenamente, como Olha a cor. Como voc est

    recebendo essa mensagem em um momento diferente de quando ela foi

    produzida, no sabe a que cor o informante L2 se referia. No entanto,

    como L1 ouviu essa frase no mesmo momento e no mesmo lugar onde

    L2 estava, foi fcil saber de que cor L2 estava falando.

    Como nesta disciplina voc vai aprender a redigir e ler textos

    acadmicos, importante que voc perceba a importncia de, quando

    redigir seus textos, pensar no seu leitor. Ele ter acesso mesma situao

    em que voc escreveu o seu texto? Provavelmente, ele o ler em outro

    momento; logo, fundamental que voc explicite as informaes que

    no podero ser recuperadas a partir do contexto.

    Lugar

    Quando nos referimos a lugar, h dois fatores relevantes quanto

    aos gneros textuais. O primeiro deles o lugar fsico da produo

    e recepo dos textos (escola, escritrio, casa, empresa, mdia), que

    defi ne boa parte das escolhas textuais. Um bilhete escrito em casa tem

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    18 CEDERJ

    um formato diferente de uma circular no ambiente de trabalho, o que

    envolve no s o grau de formalidade, como tambm as particularidades

    dos assuntos discutidos em locais to distintos.

    No lugar fsico da universidade, do laboratrio ou da empresa,

    exige-se um grau maior de formalidade, tanto na comunicao oral

    quanto na escrita. frequente, por exemplo, o insucesso em entrevistas

    de emprego quando jovens falam muitas grias ou gesticulam de

    forma exagerada, recursos comunicativos vlidos, mas no pertinentes

    ao ambiente profissional. Nesse caso, melhor deix-los para a

    comemorao com os amigos aps a entrevista, na qual voc deve se

    portar de maneira mais reservada e dentro das normas de formalidade

    que se espera do entrevistado.

    Da mesma maneira, quando nos comunicamos por escrito em

    situaes menos formais, como em bilhetes, e-mails entre amigos,

    mensagens de texto em celulares ou softwares de mensagens instantneas,

    preocupamo-nos menos com a forma e mais com a velocidade da

    comunicao. No entanto, no ambiente acadmico a forma muito

    importante. Assim, voc no deve descuidar de questes como a

    concordncia, a pontuao, a ortografi a etc.

    Outra questo para a qual voc tem de prestar ateno enquanto

    escreve o fato de que muitas vezes o autor e o leitor no esto no mesmo

    lugar quando interagem com o texto. Assim, ao redigir um relatrio sobre

    um experimento, por exemplo, voc no deve escrever esta substncia

    mudou de cor. Se o leitor ler o texto em outro lugar, possivelmente

    longe da substncia de que voc est falando, no faz sentido a palavra

    esta, que faz referncia a um local prximo. Seria melhor, portanto,

    se voc redigisse a substncia analisada mudou de cor, pois no h

    uma noo espacial atrelada expresso a substncia.

    Alm do lugar fsico da produo e da recepo do texto, a

    posio social do produtor e do receptor tambm infl uencia no gnero

    textual e nas escolhas lingusticas. Desse modo, um texto escrito para um

    colega diferente de um texto escrito para o professor ou para o patro.

    Note, por exemplo, que o Manual de Redao Ofi cial da Presidncia da

    Repblica recomenda diferentes formas de encerrar uma comunicao

    ofi cial, a depender da hierarquia entre remetente e destinatrio. Assim,

    de acordo com essas regras que normatizam os textos circulantes nos

    rgos pblicos federais, um ofcio escrito para um superior deve conter

  • CEDERJ 19

    a despedida respeitosamente (seguida de vrgula), enquanto um ofcio

    escrito para algum de nvel hierrquico igual ou inferior deve apresentar

    a forma atenciosamente (seguida de vrgula).

    Porm, como as relaes de hierarquia dentro do mercado de

    trabalho nem sempre so to claras ou devem ser to ressaltadas ,

    sugerimos uma dica: o melhor seguir o padro adotado pelo remetente.

    Se este formal mesmo em conversas de corredor ou e-mails, faa como

    ele; por outro lado se voc recebe uma mensagem que se encerra por um

    abrao, pode soar rude responder com o protocolar atenciosamente.

    Nessas horas, deve prevalecer o bom senso. Por fi m, importante notar,

    nessas situaes, que quem assiste a apresentaes desse tipo espera que

    o expositor tambm saiba usar produtivamente a prpria voz como canal

    de comunicao. Ademais, essa fala deveria se articular com os slides,

    comentando e completando-lhe as informaes, e no repetindo-as.

    Para se familiarizar ainda mais com as tcnicas de produo de slides, d uma olhada nestes sites:http://tecnologia.uol.com.br/especiais/ultnot/2006/01/16/ult2888u135.jhtmhttp://www.geocities.com/Athens/Marble/4925/aula1.htm

    Canal

    Falar/ouvir e ler/escrever so pares de habilidades muito

    diferentes, que exigem competncias distintas. Os recursos de

    comunicao so outros, as estruturas gramaticais que usamos s

    vezes tambm mudam, bem como algumas palavras que usamos mais

    na oralidade ou na escrita.

    Um erro frequente de alguns alunos no prestar ateno a

    essas diferenas, escrevendo como se fala, de modo a obedecer ao fl uxo

    ininterrupto de ideias. Isso gera textos confusos, assim como algum que

    fala como se estivesse escrevendo, pensando demais e usando construes

    sintticas ou palavras muito complexas. por isso que um gnero

    textual deve estar intimamente relacionado ao canal ou meio pelo qual

    a mensagem ser comunicada.

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    20 CEDERJ

    Veja, por exemplo, que, ao fazer um seminrio, utilizam-se

    comumente softwares para apresentaes em slides. Muitas dessas

    apresentaes, no entanto, so malsucedidas porque seus elaboradores

    no atentam para o fato de que slides e papel so canais diferentes,

    exigindo maneiras tambm diversas de organizar as informaes a serem

    expostas. Enquanto o papel fi ca na mo do leitor, que pode consult-lo

    quantas vezes quiser, no seu prprio ritmo de leitura, um slide exposto

    em superfcies planas distantes, por um curto espao de tempo. Assim,

    no adianta pr muitos dados ou textos longos no slide, pois esse canal

    no permite confortvel leitura por muito tempo consecutivo. prefervel

    utilizar pequenos tpicos, fi guras e grfi cos e deixar para o papel textos

    que exijam mais tempo e concentrao na leitura.

    Objetivo da interao

    A escolha do gnero textual deve levar em conta a intencionalidade

    discursiva, isto , o objetivo que leva as pessoas a se comunicarem. Tais

    objetivos podem estar explcitos ou implcitos no texto e devem ser

    claramente percebidos por aquele que fala, pois diferentes objetivos

    requerem estratgias discursivas diferentes.

    Na rea de educao, por exemplo, comum que se exija dos

    alunos a redao de textos de opinio, a fi m de que eles se posicionem

    diante de algum tema polmico. Nesse caso, o objetivo do texto expor

    um ponto de vista acerca de algo, o que exige estratgias discursivas

    argumentativas e determinadas construes lingusticas, como conjunes

    que expressam causa/consequncia, adjetivos avaliativos etc. No atentar

    para esses fatores implicaria escrever um gnero textual diferente, o que

    causaria problemas de comunicao.

    O conjunto desses fatores externos ao texto defi ne caractersticas

    internas dos gneros textuais, como a organizao das informaes, a

    escolha de palavras, as construes lingusticas etc. Para ler e escrever

    com propriedade qualquer gnero textual, preciso conhecer a

    estrutura de cada um deles. Nas prximas aulas, voc ver quais so

    as caractersticas macroestruturais e microestruturais dos principais

    gneros acadmicos.

  • CEDERJ 21

    Atende ao Objetivo 1

    2. A seguir, h dois textos com a mesma temtica, mas pertencentes a gneros diferentes: o texto I um cartum, enquanto o texto II uma notcia. Leia-os atentamente para responder a estas perguntas:

    2.1. O texto I pertence ao gnero cartum, semelhante tira em quadrinhos mas formado geralmente por uma nica cena, com carter humorstico. Levando em considerao que o humor est intimamente relacionado quebra de expectativas, em que reside o humor desse cartum?

    2.2. Frequentemente, reduz-se o humor quilo que faz rir, como se seu nico objetivo fosse a comicidade. Levando em considerao o que voc aprendeu nesta aula sobre intencionalidade discursiva, pode-se dizer que o texto I visa exclusivamente a fazer o leitor rir? Justifi que sua resposta.

    2.3. Chamamos de intertextualidade o fenmeno segundo o qual dois ou mais textos dialogam entre si, isto , tm um ponto em comum, no que diz respeito ao contedo. A partir desse conceito, responda:

    a. Em que medida se aproximam os textos I e II?

    b. Em que medida diferem os textos I e II?

    2.4. Que interlocutores o autor do texto II demonstra que tinha em mente ao redigi-lo? Membros da comunidade acadmica? Leigos? Justifi que sua resposta com base na linguagem empregada no texto.

    ATIVIDADE

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    22 CEDERJ

    Texto I

    Texto IIProibio de celular na escola vira polmica em SP

    Lei aprovada na semana passada pela Assembleia bane os aparelhos das

    salas de aula. Alm de conversar, estudantes usam os telefones para colar

    nas provas.

    Do G1, com informaes do Fantstico

    Um projeto aprovado pela Assembleia Legislativa de So Paulo na semana passada est gerando polmica: ser que o celular deve ser banido das salas de aula? Hoje, em algumas escolas do estado, em cada carteira possvel encontrar um celular.Na teoria, o celular j proibido em algumas escolas estaduais de So Paulo, mas, na prtica, os alunos usam o telefone at para falar com a me durante a aula. Voc obrigada a parar a aula, chamar a ateno e, muitas vezes, ouve minha me! E eu digo: sua me no sabe que voc est na aula?, conta uma professora.Na semana passada, a Assembleia Legislativa de So Paulo aprovou um projeto de lei que probe pra valer esses aparelhinhos dentro das classes. Os alunos querem saber quais as punies e at mesmo se podem ser presos por descumprir a ordem.A nova lei quer evitar que os alunos se distraiam, que atrapalhem os colegas e pretende coibir tambm abusos como o caso de estudantes que usam o aparelho para colar nas provas. O professor no v o celular debaixo da mesa, no bolso. A gente vai passando cola, diz um deles.Eles usam mensagens de texto para passar cola com os celulares. Mas h at quem tire foto da prova ou de uma questo e mande para o amigo. A lei que probe celu-lares em sala de aula ainda no entrou em vigor, pois precisa ser aprovada pelo governador de So Paulo, Jos Serra.

  • CEDERJ 23

    RESPOSTAS COMENTADAS

    2.1. Ao ver no quadro-negro um aviso sobre celulares, o leitor do

    cartum imagina que os alunos tenham consigo esses aparelhos, e

    no itens de artilharia.

    2.2. Alm de fazer o leitor rir, o texto II suscita refl exes no s sobre

    o uso de celulares, mas sobre a relao professor-aluno.

    2.3.

    a. Ambos os textos apresentam a questo da proibio do uso

    dos celulares em sala de aula e a reao dos alunos a essa inter-

    dio.

    b. No que diz respeito ao contedo, o texto I ironiza a reao nega-

    tiva dos alunos, enquanto o texto II discute as questes legais em

    torno dessa proibio. Tal diferena de certa forma, resultante da

    distino das formas como esses textos foram escritos. Sendo o texto

    I um cartum, estrutura-se de forma breve, com linguagem verbal e

    no verbal, visando a efeitos humorsticos. J o texto II, sendo uma

    notcia, tem comprometimento com os fatos e as justifi cativas das

    aes relatadas, devendo se estender em explicaes e exemplos.

    2.4. As escolhas lingusticas do autor, como as palavras empre-

    gadas e as construes frasais, no exigem grau aprofundado de

    conhecimento prvio sobre o assunto. Isso caracteriza os textos

    escritos para o grande pblico, em que se usa s vezes at mesmo

    a linguagem informal para se aproximar do leitor, como no trecho

    probe para valer esses aparelhinhos. Assim, em vez do jargo

    que s o especialista compreenderia, no texto II optou-se por uma

    escrita acessvel ao leitor leigo.

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    24 CEDERJ

    CONHECENDO OS TIPOS TEXTUAIS

    Figura 3: Os tipos textuais so defi nidos em funo das caractersticas internas do texto.Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/y/yw/ywel/948188_learning_with_pencil.jpg

    At agora, voc viu nesta aula alguns gneros textuais, suas

    caractersticas e os fatores externos que os defi nem. A partir de agora,

    vamos estudar a relao dos gneros textuais com outro conceito

    importante da Lingustica: os tipos (ou modos) textuais.

    Um tipo textual envolve a seleo do carter da informao a ser

    apresentada em um texto, bem como a maneira de faz-lo. Enquanto o

    gnero condicionado por fatores externos, como tempo, lugar, canal

    e objetivo, como voc viu anteriormente, o tipo textual defi nido a

    partir das caractersticas internas do texto: os dados que ele veicula e

    as palavras e frases que o constituem. preciso atentar, porm, para o

    fato de que um gnero textual muitas vezes composto por mais de um

    tipo textual. Como exemplo, observe o texto a seguir.

    Desmatamento prejudica pssaros amaznicos

    13 de janeiro de 2007

    O desmatamento da Floresta Amaznica, que resulta em fragmen-

    tos pequenos e isolados de habitats, tem efeitos consistentemente

    negativos sobre vrias espcies de pssaros na fl oresta, sugere

    estudo desenvolvido por uma equipe de pesquisadores brasileiros

    e que foi publicado na edio desta semana da revista Science.

    Durante treze anos, Gonalo Ferraz, do Instituto Nacional de

    Pesquisas da Amaznia, em Manaus, e seus colegas realizaram

  • CEDERJ 25

    um estudo experimental de ampla escala no Projeto Dinmica

    Biolgica dos Fragmentos Florestais, visando quantifi car os efeitos

    do tamanho dos fragmentos e seu isolamento sobre 55 espcies de

    pssaros da Amaznia Central. Originalmente, todos os 23 trechos

    fl orestais analisados faziam parte de uma fl oresta contgua, porm

    11 desses trechos eventualmente foram isolados por fazendas.

    A metodologia separa os efeitos do tamanho e do isolamento,

    e tambm leva em conta o fato de que espcies diferentes so

    detectadas de forma diferente. Ferraz e seus colegas chegaram

    concluso de que o tamanho do fragmento fl orestal tem efeito

    negativo na ocorrncia das espcies, e que um menor nmero

    de espcies de pssaros se mantm nos fragmentos de menor

    tamanho. O isolamento desses fragmentos das reas maiores da

    fl oresta geralmente tambm tem efeito negativo, porm tal efeito

    varia consideravelmente dependendo da espcie. Os cientistas

    preveem que, com a destruio ainda maior da fl oresta, h a

    expectativa de que haja maior perda de espcies e que os efeitos

    do isolamento sejam mais graves.

    Como voc pde perceber, o texto citado se enquadra no gnero

    notcia, tendo sido publicado no ano de 2007 e divulgado pela internet.

    Como as notcias veiculam informaes para serem consumidas logo

    aps sua produo, fi cando desatualizadas em muito pouco tempo,

    geralmente so textos curtos, que possam ser lidos rapidamente. Seu

    objetivo informar o leitor sobre eventos pontuais, no se estendendo a

    refl exes mais profundas sobre o tema. Para isso, h o gnero reportagem,

    composto por textos mais longos e refl exivos.

    A notcia Desmatamento prejudica pssaros amaznicos

    apresenta mais de um tipo textual em sua composio, podendo-se destacar

    as sequncias narrativas e expositivas. Veja os trechos a seguir:

    (...) estudo desenvolvido por uma equipe de pesquisadores brasilei-

    ros e que foi publicado na edio desta semana da revista Science.

    Durante treze anos, Gonalo Ferraz, do Instituto Nacional de

    Pesquisas da Amaznia, em Manaus, e seus colegas realizaram

    um estudo experimental de ampla escala no Projeto Dinmica

    Biolgica dos Fragmentos Florestais (...)

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    26 CEDERJ

    Ferraz e seus colegas chegaram concluso de que o tamanho

    do fragmento fl orestal tem efeito negativo na ocorrncia das

    espcies (...)

    Nessas passagens, o foco do contedo so as aes dos cientistas,

    como se percebe na recorrncia a substantivos que se referem a esses

    indivduos. A informao foi organizada de forma narrativa, em que se

    enumeram atividades conduzidas pelos cientistas, como a publicao

    de um texto, a realizao de um estudo e a chegada a uma concluso.

    Para tanto, o autor da notcia empregou verbos no PRETRITO PERFEITO DO

    INDICATIVO, tempo verbal frequente para descrever as aes passadas em

    uma narrativa.

    Porm, as aes dos pesquisadores no so o foco principal dessa

    notcia. A maioria dos leitores desse texto est interessada nas concluses

    da pesquisa, mais do que nos procedimentos adotados pelos cientistas.

    Assim, embora o tipo textual narrativo esteja presente nesse texto, o tipo

    textual predominante o expositivo, notado a partir do ttulo.

    Para informar ao leitor como o desmatamento prejudica os

    pssaros amaznicos, o autor se vale de frases com construes diferentes

    das analisadas anteriormente. Observe:

    O desmatamento da Floresta Amaznica, que resulta em fragmen-

    tos pequenos e isolados de habitats, tem efeitos consistentemente

    negativos sobre vrias espcies de pssaros na fl oresta (...)

    (...) um menor nmero de espcies de pssaros se mantm nos

    fragmentos de menor tamanho. O isolamento desses fragmentos

    das reas maiores da fl oresta geralmente tambm tem efeito

    negativo, porm tal efeito varia consideravelmente dependendo

    da espcie.

    Veja que, nesses trechos, a nfase no recai mais nos especialistas,

    mas sim nos pssaros e na fl oresta, designados por diferentes estruturas

    substantivas. Alm dessa diferena no plano do contedo, h tambm

    mudanas no que diz respeito forma. Enquanto as sequncias narrativas

    apresentavam verbos no pretrito do indicativo, a predominncia nas

    sequncias expositivas de verbos no presente do indicativo, pois esse

    tempo geralmente empregado para apresentar fatos atemporais, isto

    , que so verdade a qualquer momento.

    PRETRITO PERFEITO DO INDICATIVO

    Tempo verbal que geralmente expressa aes terminadas no passado.

  • CEDERJ 27

    A seguir, observe mais um texto, em que esto presentes outros

    tipos textuais:

    Instrues gerais para o trabalho no laboratrio

    REGRAS DE SEGURANA

    1- O laboratrio um lugar de trabalho srio. Trabalhe com

    ateno, mtodo e calma;

    2- Prepare-se para realizar cada experincia, lendo antes os

    conceitos referentes ao experimento e, a seguir, leia o roteiro da

    experincia;

    3- Respeite rigorosamente as precaues recomendadas;

    4- Consulte seu professor cada vez que notar algo anormal ou

    imprevisto;

    5- Use um avental apropriado;

    6- No fume no laboratrio;

    7- Faa apenas as experincias indicadas pelo professor. Experi-

    ncias no autorizadas so proibidas;

    8- Se algum cido ou qualquer outro produto qumico for derra-

    mado, lave o local imediatamente com bastante gua;

    9- No toque os produtos qumicos com as mos, a menos que

    seu professor lhe diga que pode faz-lo;

    10- Nunca prove uma droga ou soluo;

    11- Para sentir o odor de uma substncia, no coloque seu rosto

    diretamente sobre o recipiente. Em vez disso, com sua mo, traga

    um pouco de vapor at o nariz.

    12- No deixe vidro quente em lugar que possam peg-lo inadver-

    tidamente. Deixe qualquer pea de vidro esfriar durante bastante

    tempo. Lembre-se de que vidro quente tem a mesma aparncia

    do vidro frio;

    13- S deixe sobre a mesa o bico de Bunsen aceso quando estiver

    sendo utilizado;

    14- Tenha cuidado com reagentes infl amveis; no os manipule

    em presena de fogo;

    15- Quando terminar o seu trabalho, feche com cuidado as tor-

    neiras de gs, evitando escapamento;

    (...)

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    28 CEDERJ

    PRINCIPAIS VIDRARIAS E ACESSRIOS LABORATORIAIS

    - Anel para funil: usado como suporte de funis;

    - Ala de platina: usada basicamente em microbiologia. Pode ser

    usada para outros fi ns;

    - Lmina: usada por vrios setores tcnicos e para diversos fi ns;

    - Lamnula: usada por vrios setores e para diversos fi ns;

    - Cmara de Neubauer: usada para contagem global de clulas

    vermelhas e brancas; usada em sedimentoscopia urinria;

    - Balo de destilao: usado em destilaes. Possui sada lateral

    para condensao de vapores;

    - Balo de fundo chato: usado para aquecimento e armazenamento

    de lquidos;

    - Balo de fundo redondo: usado para aquecimento de lquidos

    e reaes de desprendimento de gases;

    - Balo volumtrico: usado para preparar e diluir solues;

    - Becker: usado para aquecimento de lquidos, reaes de preci-

    pitao etc.

    - Bico de Bunsen: usado para aquecimentos de laboratrio;

    - Bureta: usada para medidas precisas de lquidos. Usada em

    anlises volumtricas;

    - Capilares: tubos de dimetro reduzido, usados em micropes-

    quisas. So usados tambm em hematologia (hematcrito) e

    bacteriologia;

    - Condensador: usados para condensar os gases ou vapores na

    destilao;

    (...)

    Prof Georgia Winkler

    O texto que acabamos de citar pertence esfera de circulao

    acadmica, enquadrando-se no gnero manual. Entretanto, como

    voc sabe, esse gnero no exclusivo do meio universitrio, sendo

    facilmente encontrado dentro das embalagens de quaisquer produtos

    eletroeletrnicos.

  • CEDERJ 29

    Ao redigir um manual, o autor do texto citado tinha intenes

    muito claras: instruir seu leitor quanto s regras de uso do laboratrio e

    seus principais instrumentos. Para tanto, optou por empregar dois tipos

    textuais predominantes: o injuntivo e o descritivo.

    O tipo textual injuntivo marcado pela determinao de regras

    e procedimentos, os quais podem ser facilmente identifi cados na seo

    Regras de segurana, do texto citado. Dessa seo, transcrevemos uma

    breve passagem para fi ns de anlise. Observe:

    1- O laboratrio um lugar de trabalho srio. Trabalhe com

    ateno, mtodo e calma;

    2- Prepare-se para realizar cada experincia, lendo antes os

    conceitos referentes ao experimento e, a seguir, leia o roteiro da

    experincia;

    3- Respeite rigorosamente as precaues recomendadas;

    4- Consulte seu professor cada vez que notar algo anormal ou

    imprevisto;

    5- Use um avental apropriado;

    Veja que o objetivo do autor (instruir o leitor acerca das regras de

    segurana no laboratrio) infl uencia a maneira de organizar a informao

    dentro do texto. Em vez de pargrafos e frases longas, detalhando e

    justifi cando cada um dos procedimentos, o autor escolheu usar frases

    curtas e claras, que facilitassem a leitura e chamassem a ateno daqueles

    a quem essas instrues se destinam. Tratando-se de regras que visavam

    a assegurar a segurana dos alunos, era imprescindvel que estas fossem

    apresentadas da maneira mais direta possvel.

    Alm disso, como j vimos, o objetivo do autor defi ne tambm as

    estruturas lingusticas do texto. Nesse caso, observe os verbos destacados

    nas frases transcritas. Esto todos fl exionados no modo imperativo, a

    fi m de ressaltar o carter de ordem/conselho que suas frases veiculam.

    Tal caracterstica reincidente no tipo textual injuntivo.

    Alm de ensinar algo, geralmente um manual descreve o

    funcionamento de determinado produto. No caso do texto que estamos

    analisando, o autor empregou o tipo textual descritivo para enumerar

    alguns instrumentos importantes na prtica laboratorial, apresentando,

    de forma bastante sucinta, suas principais caractersticas. Observe

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    30 CEDERJ

    agora um trecho retirado da seo Principais vidrarias e acessrios

    laboratoriais, no qual predomina a descrio:

    - Balo de destilao: usado em destilaes. Possui sada lateral

    para condensao de vapores;

    - Balo de fundo chato: usado para aquecimento e armazena-

    mento de lquidos;

    - Balo de fundo redondo: usado para aquecimento de lquidos

    e reaes de desprendimento de gases;

    - Balo volumtrico: usado para preparar e diluir solues;

    O tipo textual descritivo tambm infl uencia na forma de organizar

    a informao. Enquanto a seo anterior do texto se compunha de regras,

    esta uma longa enumerao de itens, ao lado dos quais se acrescentam

    breves descries, para facilitar a identifi cao dos utenslios tpicos

    de um laboratrio. Assim como o tipo textual descritivo determina a

    maneira de organizar a informao, as estruturas lingusticas e a escolha

    de palavras tambm so por ele marcadas. Veja, por exemplo, que no

    trecho transcrito h a presena constante de construes (destacadas em

    negrito) com valor de adjetivo, classe gramatical que atribui qualidades

    aos substantivos. Dessa forma, os tipos de balo so identifi cados por

    adjetivos simples, como volumtrico, ou por locues adjetivas, como

    de destilao, de fundo chato e de fundo redondo.

    Para concluirmos nosso estudo sobre os tipos textuais e sua relao

    com os gneros textuais, leia agora o texto a seguir.

    Normativas do IBAMA

    Reginaldo Constantino (UnB)

    A Constituio Federal de 1988 determina no seu artigo 218, par-

    grafo primeiro, que: "A pesquisa cientfi ca bsica receber tratamento

    prioritrio do Estado, tendo em vista o bem pblico e o progresso

    das cincias". Esse preceito constitucional vem sendo ignorado por

    vrios rgos do Governo Federal, que progressivamente vm criando

    barreiras burocrticas que impedem os cientistas de estudar a nossa

    biodiversidade.

  • CEDERJ 31

    O IBAMA apresentou para consulta pblica novas propostas de

    regulamentao de coletas e colees de material biolgico. So duas

    Instrues Normativas, uma sobre coleta e outra sobre cadastro

    de colees. Embora existam avanos em alguns pontos, a grande

    novidade a criao do Cadastro Nacional de Colees ex situ, que

    tenta colocar sob o controle do IBAMA todas as colees biolgicas

    brasileiras.

    A proposta inclui detalhes de como as colees devem ser organiza-

    das e administradas, sempre com a clara preocupao de facilitar o

    trabalho de controle e fi scalizao pelo IBAMA. obrigatria, por

    exemplo, a identifi cao da licena de coleta na etiqueta do espci-

    me e o envio de relatrios peridicos ao IBAMA sobre tudo o que

    acontece com o acervo. As colees seriam classifi cadas em tipo A

    e "tipo B", ambas com exigncias absurdas e fora da praxe existente

    mesmo nas instituies com mais infraestrutura. Os curadores de

    museus seriam reduzidos a meros burocratas com funo de manter

    bancos de dados, preencher formulrios e escrever relatrios. Ensino,

    pesquisa e extenso seriam atividades absolutamente irrelevantes.

    Como as autorizaes de coleta fi cariam dependentes do credencia-

    mento da respectiva coleo, quem no se submeter s exigncias do

    credenciamento nunca mais coletar uma mosca.

    A questo : quem deu ao IBAMA poderes para regulamentar ati-

    vidades da rea de Cincia e Tecnologia e especifi camente sobre as

    colees biolgicas? Nem o Ministrio da Cincia e Tecnologia e o

    CNPq ousam dizer aos pesquisadores como administrar seus labo-

    ratrios. Muitas colees so seculares e pertencem a instituies

    muito mais antigas que o prprio IBAMA, como, por exemplo, o

    Instituto Oswaldo Cruz. A misso institucional do IBAMA proteger

    o meio ambiente, e no direcionar os caminhos da cincia nacional.

    Essa proposta contraria frontalmente o artigo 218 da Constituio

    apresentado no incio e obviamente segue a tendncia observada de

    aumento da carga burocrtica sobre pesquisadores e do controle de

    funcionrios burocrticos sobre as atividades de pesquisa.

    (...)

    O texto citado foi escrito com um propsito diferente do que regia

    os dois outros anteriores, que, respectivamente, visavam a informar e

    instruir o leitor. Tais diferenas nos objetivos da interao acarretam

    estruturas e estratgias textuais tambm distintas entre os textos, como

    uma rpida comparao capaz de identifi car.

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    32 CEDERJ

    Normativas do IBAMA pertence ao gnero artigo de opinio,

    com o qual voc j deve estar familiarizado, pois frequente encontr-

    lo em editoriais de revistas e jornais. Como o prprio nome indica,

    esse gnero textual visa a apresentar o ponto de vista de algum acerca

    de determinado assunto, de modo a convencer o leitor da pertinncia

    da opinio do autor. Para atingir tal objetivo, esse gnero apresenta

    predominantemente o tipo textual argumentativo.

    Como marca caracterstica da organizao das informaes,

    o tipo textual argumentativo apresenta sempre uma tese (ponto de

    vista defendido) e os argumentos que a sustentam. No texto citado

    anteriormente, essa tese fi ca bem clara na seguinte passagem:

    Essa proposta contraria frontalmente o artigo 218 da Constituio

    apresentado no incio e obviamente segue a tendncia observada de

    aumento da carga burocrtica sobre pesquisadores e do controle de

    funcionrios burocrticos sobre as atividades de pesquisa.

    Alm disso, h pistas na prpria linguagem empregada pelo autor

    que permitem a identifi cao do tipo textual a que pertence o texto.

    Veja:

    Ensino, pesquisa e extenso seriam atividades absolutamente irre-

    levantes. Como as autorizaes de coleta fi cariam dependentes do

    credenciamento da respectiva coleo, quem no se submeter s

    exigncias do credenciamento nunca mais coletar uma mosca.

    (...) Muitas colees so seculares e pertencem a instituies muito

    mais antigas que o prprio IBAMA, como, por exemplo, o Instituto

    Oswaldo Cruz. A misso institucional do IBAMA proteger o meio

    ambiente, e no direcionar os caminhos da cincia nacional.

    No trecho transcrito, as palavras destacadas servem para conectar

    ideias e oraes: so as conjunes. Um texto argumentativo, para

    defender um ponto de vista, precisa relacionar uma srie de argumentos,

    expressando noes de causa, consequncia, comparao, oposio

    etc. Assim, no texto citado, a palavra como mostra que o fato de

    as autorizaes dependerem do credenciamento da coleo causa

    da submisso s exigncias do credenciamento. Da mesma forma, a

    expresso como, por exemplo introduz um exemplo de instituio mais

    antiga do que o Ibama: o Instituto Oswaldo Cruz. Por fi m, a locuo e

    no estabelece uma ideia de contraste entre a proteo ao meio ambiente

    e o direcionamento dos caminhos da cincia nacional.

  • CEDERJ 33

    Para tentar organizar de forma mais clara as informaes

    apresentadas nesta seo, optamos por construir o quadro a seguir,

    que relaciona os tipos textuais aos gneros em que cada um deles

    predominante. No entanto, preciso perceber que no h gnero puro,

    isto , um gnero textual que envolva apenas um tipo textual. Dessa

    forma, uma reportagem envolve narrao e exposio, uma bula de

    remdio envolve injuno e descrio, uma carta de reclamao envolve

    narrao e argumentao...

    Tipos de texto Gneros orais e escritos

    Narrao Conto, fbula, lenda, mito, biografi a, romance, novela, piada, crnica, notcia, relato...

    Argumentao Editorial, carta de leitor, assembleia, debate, resenha, ensaio, texto de opinio...

    Exposio Artigo cientfi co, seminrio, palestra, verbete, reportagem, resumo, fi chamento...

    Injuno Manual de instrues, receita de bolo, regulamento, regras de jogo, receita mdica...

    Descrio Laudo, guia de viagem, perfi l em comunidade virtual, relatrio, texto publicitrio...

    Quadro 1.1

    Gneros & tipos: uma dica extra

    O link a seguir se refere a um site em que se discutem as defi -nies de gnero textual e tipo textual, com as implicaes que esses conceitos acarretam na hora de ler e escrever um texto. Vale a pena conferir!http://www.algosobre.com.br/gramatica/genero-textual-e-tipologia-textual.html

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    34 CEDERJ

    Atende ao Objetivo 2

    3. Leia os dois textos a seguir e responda a estas questes:3.1. De que modo se estabelece uma intertextualidade entre os textos I e II?

    3.2. Os objetivos que levaram os autores desses textos a redigirem-nos so aparentemente diferentes. Explique como esses textos diferem quanto intencionalidade discursiva.

    3.3. Se os objetivos que norteiam a redao dos textos so diferentes, tambm o so os tipos textuais utilizados. Justifi que tal afi rmativa com base nos textos I e II, apontando exemplos de diferenas lingusticas resultantes das diferenas de tipologia textual.

    MA R C A S D E I N T E R L O C U O

    Construes lingusticas que usamos quando nos dirigimos a algum, para nos tor-narmos mais prximos do interlocutor (aquele que l/ouve).

    Texto IRelacionamentos em redes sociais - o impacto das redes sociais na maneira como as pessoas se relacionam, na solido e na prpria sade social.As redes sociais na internet renem 29 milhes de brasileiros por ms. Oito em cada dez pessoas conectadas no Brasil tm o seu perfi l publicado em algum site de relacionamentos. Elas usam essas redes sociais para manter contato com os amigos e conhecer pessoas, tanto com objetivos de amizade, profi ssional, amoroso ou pura-mente sexual. Uma pesquisa do Ministrio da Sade revelou que 7,3% dos adultos com acesso internet fi zeram sexo com algum que conheceram online.Dentre as redes sociais, o Orkut a preferida dos brasileiros; agora, avanam sobre o Twitter e o Facebook. A audincia do primeiro quintuplicou neste ano e a do segundo dobrou. Juntos, essas duas redes sociais foram visitadas por seis milhes de usurios em maio, um quarto da audincia do Orkut. Para cada quatro minutos na rede, os brasileiros dedicam um a atualizar seu perfi l e a visitar o dos amigos,

    segundo dados do IBOPE Nielsen Online.

    (...)

    ATIVIDADE

  • CEDERJ 35

    Redes sociais aumentam ou reduzem a solido? Para responder, necessrio saber que existem dois tipos de solido: a emocional e a social. Este conceito foi apresen-tado por Roben Weiss, socilogo americano da dcada de 70. Weiss afi rma que a solido emocional o sentimento de vazio causado pela falta de relacionamentos profundos. A solido social o sentimento de tdio e marginalidade causado pela falta de amizades ou de um sentimento de pertencer a uma comunidade.Vrios estudos tm reforado a tese de que as redes sociais diminuem a solido social, mas aumentam signifi cativamente a solido emocional. como se os participantes das redes sociais estivessem sempre rodeados de pessoas, mas no pudessem contar com nenhuma delas para uma relao mais prxima. J se falou em solido a dois, agora estamos na era da solido a mil.(...)

    Texto II

    ORKUT: a febre, a praga e o recndito

    Juliano Niederauer

    13 de janeiro de 2005

    O orkut (www.orkut.com) uma rede social que surgiu recentemente e mudou os hbitos de grande parte dos internautas, principalmente dos brasileiros. Por incrvel que parea, o Brasil representa mais de 50% dos usurios do orkut em todo mundo. Criado pelo engenheiro turco Orkut Buyukkokten, o site agora faz parte do imprio da Google, empresa proprietria do site de busca mais conhecido no mundo.Mas, afi nal, qual o diferencial do orkut? Por que ele est fazendo tanto sucesso, a ponto de atingir uma popularidade poucas vezes vista na Internet mundial? Os usu-rios o acessam de todas os lugares possveis, seja em casa, no trabalho, na escola ou na universidade. Se voc for a um cyber caf, um bar, uma casa noturna ou qualquer quiosque que possua acesso Internet, provavelmente ver algum acessando uma pgina de fundo lils, com vrias fotos de pessoas, comunidades etc. Do ponto de vista tcnico, percebemos rapidamente que se trata de um site bastante simples. No h nada de excepcional em termos de tecnologia. claro que se torna necessria uma superestrutura de rede e muitos servidores para suportar os milhes de acessos vindos de toda parte do mundo. Porm, em termos de programao, um desenvolvedor Web com certa experincia poderia fazer um site semelhante em poucas semanas. O fato que o sucesso do orkut no est na parte tcnica, mas sim na idia, somada estrutura que a Google colocou disposio para o projeto.(...)

    Existem muitas comunidades com temas interessantes, onde realmente surgem debates proveitosos. No entanto, se voc navegar pelo orkut, comear a perceber algumas inutilidades, como por exemplo:

    Comunidades gigantes: faz algum sentido voc fazer parte da comunidade Pla-neta Terra, que possui milhares de participantes? Pois acredite, no orkut existem vrias comunidades destinadas aos moradores do Planeta Terra.

    Usurios em milhares de comunidades: j vi usurios cadastrados em mais de 5.000 comunidades. Porm, a verdade que as comunidades que escolhemos

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    36 CEDERJ

    revelam um pouco de nossa identidade. Deveria haver um limite de comunidades por usurio, algo em torno de 40 ou 50.

    Comunidades grotescas: voc gostaria de fazer parte da comunidade Amantes da Pastelina?. Pois , ela j tem mais de 3.000 membros! Voc se chama Maria-na? Que tal fazer parte da comunidades Marianas, que j possui mais de 6.000 membros? Ok, no orkut tudo vlido! Afi nal, o que alguns consideram inconveniente, outros consideram muito divertido. Quem nunca gostou do seriado Chaves ir odiar as dezenas de comunidades dedicadas a ele. Mas quem um chavesmanaco poder fi car horas dando risada ao relembrar as histrias do programa, contadas pelos membros da comunidade. Existem tambm as comunidades do tipo Eu odeio. Por exemplo, se voc no gosta do Galvo Bueno, saiba que existem mais de 20 comunidades do tipo Eu odeio o Galvo Bueno.Enfi m, o orkut virou uma febre. E junto com a febre, veio uma praga, que so os famosos spams. Felizmente, esse problema est sendo contornado com a desabi-litao do envio de mensagens para os membros das comunidades. No incio, ao acessar o orkut, o sistema exibia um aviso do tipo Voc tem 54 novas mensagens, sendo que 99% delas eram um verdadeiro lixo eletrnico, como correntes, propa-gandas etc. Atualmente, voc pode enviar mensagens somente aos seus amigos, e no para uma comunidade inteira. Outro problema que merece destaque no orkut a autenticidade das informaes. Navegando pelo site, voc ir se surpreender ao descobrir que o Ronaldinho tem o seu perfi l cadastrado, assim como o Romrio, a Xuxa, o J Soares, a Gisele Bndchen e o presidente Lula. Porm, a maioria desses perfi s so falsos, e foram criados por alguns usurios que no tinham nada mais importante para fazer. claro que existem alguns famosos com perfi s verdadeiros no orkut, como o cantor Lo Jaime, que tem milhares de amigos. Certa vez, a apresentadora Silvia Abravanel (fi lha de Silvio Santos) foi ao programa Show do Tom na Rede Record e falou ao vivo que estava no orkut. Em poucos minutos, seu perfi l recebeu centenas de scraps (recados deixados pelos usurios), o que demonstra a popularidade da rede social.

    RESPOSTAS COMENTADAS

    3.1. Sendo a intertextualidade o fenmeno de dilogo entre os textos,

    pode-se dizer que I e II se aproximam quanto ao assunto abordado:

    o texto I apresenta o impacto das redes sociais na maneira como

    as pessoas se relacionam, enquanto o II fala dos pontos positivos e

    negativos de uma rede social especfi ca (o Orkut).

    3.2. Enquanto o texto I apresenta uma viso mais abrangente e

    impessoal, analisando racionalmente o fenmeno das redes sociais,

    o texto II veicula opinies pessoais do autor, que emprega exemplos

    mais concretos e especfi cos para dizer o que pensa a respeito do

    Orkut.

    3.3. Sendo o texto I expositivo, apresenta um tom mais objetivo, o

    que envolve uso de adjetivos com parcimnia e ausncia de marcas

    verbais ou pronominais de 1 pessoa do singular (eu acho, eu

  • CEDERJ 37

    penso, na minha opinio). J o texto II, por ser argumentativo e

    visar ao convencimento do leitor acerca de algo, vale-se de recursos

    expressivos como sinais de exclamao e interrogao, adjetivao

    carregada e marcas de interlocuo, como pois , ok etc.

    Nem s de palavras vivem os textos...

    Alm de textos compostos exclusivamente por palavras, h tambm aque-les que so formados apenas por imagens e os que combinam palavras e imagens. Assim, dizemos que h textos verbais, no-verbais e mistos. Na vida acadmica, frequente o contato com textos que exigem a deci-frao de imagens em sua leitura, como no caso dos grfi cos. A seguir, veja os principais tipos de grfi cos e uma breve anlise de cada um deles: grfi cos em pizza (ou grfi cos em torta): apresentam a contribui-o de cada um dos elementos para a formao total (se quiser ver um exemplo, v para http://wikimmed.blogs.ca.ua.pt/index.php/Josp/Relat%C3%B3rio_ase); grfi cos em colunas agrupadas: possuem um eixo vertical e outro hori-zontal, com barras que defi nem informaes a partir do entrecruzamento dos dois eixos (se quiser ver um exemplo, v para http://www.actaorl.com.br/detalhe_artigo.asp?id=3); grfi cos de linha: tambm possuem um eixo vertical e outro horizontal, com uma linha traada para indicar a variao de determinados valores ao longo de um processo; o prprio ttulo do grfi co expressa a relao estabelecida entre os dois eixos (se quiser ver um exemplo, v para http://www.embrapa.br/programas_e_projetos/pac-embrapa/apresentacao-do-pac-embrapa/revitalizacao-do-orcamento-da-embrapa).

    CONCLUSO

    Esperamos que, nesta aula, voc tenha se familiarizado um pouco

    mais com o trabalho com textos, desenvolvendo, inclusive, o prazer de

    manipular palavras, frases, pargrafos... Essa uma habilidade essencial

    s esferas acadmica e profi ssional, alm de permitir voos e refl exes

    cada vez mais altos, no que diz respeito ao crescimento pessoal e ao

    relacionamento com as outras pessoas.

    AU

    LA 1

  • Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais

    38 CEDERJ

    R E S U M O

    Nesta aula, voc aprendeu que ler ou escrever no so atividades sempre iguais:

    interagir com algum por meio de uma carta muito diferente de se comunicar

    por meio de um artigo de jornal, de uma receita de bolo ou de um poema. Cada

    situao de comunicao, com seu tempo, espao e canal especfi cos, junto com

    a intencionalidade particular do locutor, demanda um gnero textual e uma

    tipologia textual a serem empregados.

    Enquanto o gnero textual defi nido por componentes internos e externos ao

    texto, a tipologia textual tem a ver com as estruturas lingusticas predominantes

    em um texto. No entanto, preciso perceber que no h gnero puro, isto , um

    gnero textual que envolva apenas um tipo textual. Dessa forma, uma reportagem

    envolve narrao e exposio, uma bula de remdio envolve injuno e descrio,

    uma carta de reclamao envolve narrao e argumentao...

    O mais importante voc perceber o que aprendeu nesta aula como dicas e

    mecanismos para ajud-lo a redigir seus prprios textos, no como uma camisa de

    fora. Escrever e ler so atividades mltiplas, que ativam diferentes conhecimen-

    tos e mobilizam diversas habilidades, sendo impossvel (e incoerente) prescrever

    regrinhas aprisionadoras.

    INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA

    Na prxima aula, voc vai estudar uma das estruturas fundamentais na construo

    de um texto: o pargrafo. Vamos discutir sua extenso, sugestes para delimit-lo,

    organiz-lo e redigi-lo, de modo a tornar seus textos mais coerentes e coesos.

  • objetivos2

    Meta da aula

    Apresentar a estrutura geral do pargrafo e suas estratgias de escrita e de leitura.

    Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:

    1. identifi car as informaes principais e secundrias de um pargrafo;

    2. elaborar diferentes tipos de pargrafos, de acordo com o objetivo da interao.

    Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura

    Sebastio Josu VotreVincius Carvalho Pereira A

    ULA

  • Redao de Textos Acadmicos | Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura

    40 CEDERJ

    A leitura faz do homem um ser completo;

    a conversa faz dele um ser preparado,

    e a escrita o torna preciso.

    Sir Francis Bacon (1562-1626)

    INTRODUO

    Figura 1: Cada texto formado por variados blocos de informao, que precisamos aprender a reconhecer e organizar!Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/p/ph/photodria/111161_building_blocks.jpg

    Quando nos deparamos com textos escritos nos dias de hoje,

    temos difi culdade para imaginar o longo percurso evolutivo que a escrita

    seguiu at chegar sua forma atual. Na Grcia Antiga, os manuscritos

    no apresentavam separao grfi ca entre as palavras, e os prprios sinais

    de pontuao levaram algum tempo at se tornarem recursos expressivos

    sistemticos. A esse respeito, importante dizer que o primeiro sinal de

    pontuao de que se tem registro na histria da escrita o pargrafo,

    que, no entanto, tinha uma forma bem diferente na sua origem. Nos seus

    primrdios, o pargrafo consistia em um simples trao horizontal que

    marcava o fi m de uma seo de texto (captulo ou subcaptulo), recebendo

    o nome de para graphos (escrito margem, em grego).

    Hoje em dia, o pargrafo um dos recursos de pontuao mais

    importantes na composio de um texto, facilitando o processo de

    leitura porque organiza de forma clara e separa em blocos lgicos as

  • CEDERJ 41

    AU

    LA 2

    informaes. No entanto, muitos alunos encontram difi culdades na hora

    de organizar suas ideias em pargrafos, pois no sabem como relacion-

    las de forma clara, orden-las logicamente ou dividi-las em diferentes

    pargrafos. Para comearmos a pensar um pouco sobre essas questes,

    realize a atividade a seguir:

    Atende ao Objetivo 1

    1. Responda estas perguntas a partir do texto que se lhes segue:

    1.1. O texto I, que mostraremos logo a seguir, composto por quatro pargrafos, que dividem em blocos lgicos as informaes apresentadas e facilitam a leitura. Para que um texto seja interpretado e compreendido de forma satisfatria, importante que o leitor seja capaz de, ao fi nal da leitura de cada pargrafo, abstrair sua ideia geral, em torno da qual as demais se articulam. Vamos treinar fazer isso? Veja, ento, os desafi os que formulamos:

    a. Formule quatro frases que resumam de forma satisfatria cada um dos quatro pargrafos apresentados no texto I.

    b. Indique como esses pargrafos se relacionam entre si, isto , se introdu-zem um exemplo do que foi dito antes, um contraste, uma comparao, uma causa etc.

    1.2. Levando em considerao o gnero discursivo e o canal (a internet) em que foi divulgado o texto I, comente a extenso e a delimitao de seus pargrafos.

    ATIVIDADE

  • Redao de Textos Acadmicos | Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura

    42 CEDERJ

    Texto I Educao e Tecnologia: uma aliana necessria (adaptado)

    Juracy dos Anjos

    Entendidas por especialistas e educadores como ferramentas essenciais e indispen-sveis na era da comunicao, as novas tecnologias ganham espao efetivo nas salas de aula. Computadores ligados internet, software de criao de sites, televiso a cabo, sistema de rdio e jogos eletrnicos. Estas so algumas das possibilidades existentes e que podem ser aproveitadas no ambiente escolar como instrumentos facilitadores do aprendizado.Entretanto, apesar de muitas escolas possurem estas tecnologias, as mesmas no so utilizadas como deveriam, fi cando muitas vezes trancadas em salas isoladas e longe do manuseio de alunos e professores. Existem, segundo estudos recentes, professores e escolas que no conseguem interligar estes instrumentos s atividades regulares. De acordo com o pedagogo Arnaud Soares de Lima Jnior, o acesso s redes digitais de comunicao e informao importante para o funcionamento e o desenvol-vimento de qualquer instituio social, especialmente para a educao, que lida diretamente com a formao humana. No entanto, ele ressalta que os modos de viver e de pensar a organizao da vida esto em crise. Est em curso uma mudana qualitativa, em virtude da rpida transmisso de informaes entre as sociedades, rompendo, com isso, as barreiras geogrfi cas dos pases. Por isso, cabe educao uma parcela de responsabilidade tanto na compreenso crtica do(s) signifi cado(s) desta transformao, quanto na formao dos indivduos e grupos sociais. Estes devem assumir com responsabilidade a conduo social de tal virada, provocada, entre outros fatores, pela revoluo nas dinmicas sociais de comunicao e de processamento de informao, analisa Arnaud.

    RESPOSTAS COMENTADAS

    1.1.

    a. 1 pargrafo As novas tecnologias tornam-se cada vez mais

    importantes nas salas de aula, dado seu papel preponderante na

    era da comunicao.

    2 pargrafo Apesar de muitas escolas possurem as novas tec-

    nologias, estas so subutilizadas.

    3 pargrafo O acesso s redes digitais de comunicao e infor-

    mao importante para o funcionamento e o desenvolvimento de

    qualquer instituio social, especialmente para a educao, apesar

    das mudanas radicais que as sociedades vm sofrendo.

  • CEDERJ 43

    AU

    LA 2

    4 pargrafo A educao deve estimular a compreenso crtica

    do(s) signifi cado(s) desta transformao e seu impacto na formao

    dos indivduos e grupos sociais.

    b. O segundo pargrafo introduz uma oposio ao primeiro, na

    medida em que diz no serem usadas em algumas escolas as to

    importantes tecnologias vistas no pargrafo anterior. J o terceiro

    pargrafo ratifi ca as informaes do primeiro, por meio da citao de

    uma autoridade. Por fi m, o ltimo pargrafo estabelece uma relao

    de concluso com tudo o que foi dito anteriormente.

    1.2. O texto analisado nesta atividade foi escrito para ser lido na tela

    do computador, por um leitor conectado internet, o que acarreta

    caractersticas especiais na elaborao de seus pargrafos. No

    que diz respeito extenso dos pargrafos, textos veiculados por

    esse canal de comunicao costumam ser divididos em blocos no

    muito grandes, para facilitar o processo da leitura. No entanto, por

    tratar-se de texto informativo, os pargrafos no podem ser peque-

    nos demais, pois isso impediria o aprofundamento necessrio das

    informaes a serem apresentadas. Ademais, o fato de os pargrafos

    terem tamanhos razoavelmente semelhantes sugere ao leitor uma

    organizao balanceada da informao, com dosagem equilibrada

    de informaes principais e auxiliares.

    DELIMITANDO AS INFORMAES EM PARGRAFOS

    Figura 2: Cada bloco de informao em seu lugar...Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/d/da/danzo08/338003_ml_x4.jpg

  • Redao de Textos Acadmicos | Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura

    44 CEDERJ

    Ao resolver a Atividade 1, voc elaborou um resumo do texto

    com que trabalhava, pois sintetizou a ideia principal de cada pargrafo

    e determinou como elas se conectam entre si. Ainda que nem sempre,

    ao ler um texto, voc elabore um resumo escrito dele, mentalmente voc

    reproduz os mesmos procedimentos de raciocnio que enfocamos na

    atividade anterior: resumir e relacionar. Assim, para que um pargrafo

    seja claro para o leitor e torne mais efi ciente a comunicao (lembre-se

    de que, na maioria das vezes, o autor do texto no est fi sicamente pr-

    ximo do leitor para sanar-lhe eventuais dvidas), h algumas estruturas

    que podem ser seguidas, facilitando essas operaes mentais de sntese e

    relao. Vale lembrar, no entanto, que destacamos o verbo podem na

    frase anterior porque a pontuao e, consequentemente, a paragrafao

    no seguem regras absolutas. Na verdade, trata-se de alguns dos aspectos

    mais subjetivos da escrita, pois refl etem a forma como o autor organiza

    em sua mente o contedo que deseja comunicar.

    Quando voc for escrever seu prximo texto, deve levar em

    conta que preciso dividir as informaes apresentadas em partes rela-

    tivamente autnomas, mas que se relacionam entre si: os pargrafos.

    Cada uma dessas partes deve constituir em si mesma um pequeno texto,

    apresentando uma introduo, um desenvolvimento e uma concluso.

    Lembre-se de que, se seu leitor precisar fazer uma pausa durante a leitura,

    preferencialmente o far entre dois pargrafos, no no interior de um

    deles, de modo a acompanhar a exposio de determinado ponto at o

    fi nal. Para compreender melhor se duas informaes deveriam formar

    um nico ou dois pargrafos, observe o trecho a seguir, retirado de uma

    notcia veiculada na internet.

    Pesquisa do Instituto Butantan usa saliva de carrapato-estrela contra cncer

    Emilio SantAnna

    Aps 42 dias, tumores de camundongos tiveram reverso completa.

    Trabalho j dura 6 anos e tambm extrai anticoagulante da substncia

    Da saliva do carrapato-estrela (Amblyomma cajennense), a cincia

    conhece apenas os efeitos nocivos. A febre maculosa, doena muitas vezes

    fatal, transmitida pela picada do aracndeo. Da mesma substncia, porm,

    podem sair novos medicamentos contra o cncer, alm de anticoagulantes. H

    seis anos, pesquisadores do Instituto Butantan, em So Paulo, trabalham no

  • CEDERJ 45

    AU

    LA 2

    desenvolvimento de uma droga que possa ser utilizada com as duas fi nalidades.

    O prognstico animador.

    A pesquisa ainda no publicada foi um dos destaques no 22 Con-

    gresso Internacional da Sociedade de Trombose e Hemostasia, realizado em

    Boston (EUA), em julho. Imaginvamos que a saliva do carrapato tivesse

    algum componente que inibe a coagulao, pois, como hematfago, precisa

    manter o sangue fl uindo para se alimentar, explica a farmacutica Ana Marisa

    Chudzinski-Tavassi, coordenadora do estudo.

    Partindo dessa suspeita, a pesquisadora analisou a sequncia de genes

    da glndula salivar do carrapato, responsvel pela produo de uma protena

    anticoagulante. Os resultados foram comparados ao de anticoagulantes

    conhecidos como TFPI (presentes na saliva humana). A concluso foi que a

    protena presente na saliva poderia ser produzida em laboratrio. Um pedao

    do DNA analisado foi introduzido em bactrias Escherichia coli que passaram

    a secretar a mesma protena. Elegemos esse clone e produzimos a protena

    recombinante, explica Ana Marisa.

    O resultado do estudo transformou-se em um pedido de patente, depo-

    sitado em 2004, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). No

    entanto, em pouco tempo, Ana Marisa descobriu que a pesquisa renderia mais

    do que um futuro anticoagulante.

    (...)

    Tratando-se de um texto coeso e coerente, natural que todos

    os pargrafos, de alguma forma, abordem ideias semelhantes, mas a

    separao entre eles um refl exo da delimitao das diferentes aborda-

    gens que essas ideias podem receber. Assim, embora todo o texto que

    citamos gire em torno das pesquisas sobre a saliva do carrapato-estrela,

    cada um dos seus pargrafos apresenta diferentes aspectos sobre essas

    investigaes cientfi cas.

    Nesse caso, o primeiro pargrafo do texto introduziu o que os

    cientistas sabiam antigamente e o que j conhecem hoje sobre o pequeno

    aracndeo. Logo depois, o segundo pargrafo revela um outro enfoque do

    assunto, apresentando a hiptese inicial dos integrantes do projeto. Em

    seguida, o terceiro pargrafo relata a metodologia da pesquisa empregada

    para que se chegasse a determinados resultados. Veja, no entanto, que

    o autor do texto optou por separar o segundo e o terceiro pargrafo,

    provavelmente para evitar um bloco de informaes demasiado longo.

    Se olharmos estritamente para o contedo de cada um dos pargrafos,

    veremos que o segundo e o terceiro poderiam ter sido fundidos, forman-

  • Redao de Textos Acadmicos | Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura

    46 CEDERJ

    do uma unidade maior, visto que a ltima frase do segundo o que d

    ensejo exposio do terceiro. Porm, ao dividir essas informaes em

    dois pargrafos, o autor assegurou que o leitor interpretasse ambos os

    dados a hiptese e a metodologia como importantes. Por fi m, o quarto

    pargrafo indica o sucesso das pesquisas e a existncia de posteriores

    desdobramentos de suas descobertas.

    Perceba, pois, que a diviso em pargrafos, alm de organizar o

    texto, d pistas para a forma como o leitor deve compreender suas infor-

    maes, entendendo-as ora como unidades autnomas e centrais, ora

    como unidades dependentes e perifricas. Alm disso, ao defi nir em que

    ponto do texto precisa haver uma mudana de pargrafos, importante

    que voc considere o gnero textual em que est escrevendo, visto que

    diferentes gneros apresentam distintas caractersticas formais, como voc

    viu na aula anterior. O texto Pesquisa do Instituto Butantan usa saliva

    de carrapato-estrela contra cncer, por exemplo, enquadra-se no gnero

    notcia, escrito para informar de modo simples e rpido leitores no espe-

    cializados acerca de determinado assunto. Dessa maneira, seu autor optou

    por pargrafos mais curtos e diretos, que do agilidade leitura e facilitam

    a decodifi cao das informaes, embora de forma superfi cial.

    Por outro lado, caso se tratasse de artigo sobre a pesquisa com

    os carrapatos-estrela, a ser apresentado comunidade acadmica, seria

    necessria uma exposio mais aprofundada das questes envolvidas

    nesse estudo. Assim, se a notcia apenas exps as informaes da pesquisa,

    o artigo cientfi co teria de apresent-las, justifi c-las e discuti-las, o que

    exigiria pargrafos mais longos e carregados de informao.

  • CEDERJ 47

    AU

    LA 2

    CONHECENDO O TPICO FRASAL

    Figura 3: Vamos aprender a encontrar a ideia central de cada pargrafo?Fonte: http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=download&id=245511

    Na seo anterior, voc viu que a diviso de pargrafos, bem como

    sua extenso, norteada por variados critrios, mas o mais importante

    deles sempre a clareza do texto. Agora, voc vai conhecer a estrutura

    geral que os pargrafos costumam apresentar, facilitando o processo

    no s de escrita, mas tambm de leitura. Para tanto, leia atentamente

    o trecho (adaptado) logo a seguir, retirado do artigo A insustentvel

    leveza da complexidade, de Marcos Silveira Buckeridge.

    A insustentvel leveza da complexidade

    Marcos Silveira Buckeridge

    (...)

    O conhecimento cientfi co que dado nas escolas baseado principalmen-

    te em explicaes lineares. Por exemplo, a terceira lei de Newton, que conhecemos

    como o princpio de ao e reao, diz que a toda ao corresponde uma reao

    igual e contrria. No se d nfase a eventos no-lineares em que uma pequena

    modifi cao gera um grande efeito, como a hipottica formao de furaces

    a partir do bater das asas de uma borboleta, um cenrio clssico previsto no

    famoso efeito borboleta dentro da Teoria do Caos (SOUZA e BUCKENRIDGE,

    2004). O aquecimento global fruto de uma srie de fatores naturais e produ-

    zidos pelo homem que interagem de maneira no-linear, por isso as pessoas tm

    difi culdade em entend-lo.

  • Redao de Textos Acadmicos | Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura

    48 CEDERJ

    O resultado dessa situao que, ao ler um artigo, assistir a uma repor-

    tagem ou a um documentrio, o esforo para tentar compreender os mecanismos

    de complexidade envolvidos nas mudanas climticas to grande que no vale

    a pena prosseguir nessa tarefa. Ao desistir de entender um fenmeno, a mente

    simplesmente no liga o que acaba de ler ou ouvir a um contexto maior. Prova-

    velmente da que surge um processo de negao da realidade no mbito pessoal.

    Se imaginarmos que toda a sociedade tem que trabalhar duro para viver com mil

    afazeres dirios, entendemos o fenmeno chamado de negao coletiva.

    No se trata de algo que ocorra por preguia do indivduo, mas um

    processo de saturao de informaes que difi culta o processamento destas,

    difi cultando to fortemente a compreenso de um fenmeno ou processo, que

    a pessoa no consegue ir adiante (NICHOLSON-COLE, 2005; NORGAARD,

    2003; THOMAS, 2006). Professores podem experimentar o processo de negao

    em situaes em que apresentam aos seus alunos um grande nmero de conceitos

    novos de uma nica vez. Por exemplo, se tentarmos explicar a mecnica quntica

    a uma classe com crianas de 10 anos de idade, usando conceitos sofi sticados,

    compreendidos com difi culdade em um curso de graduao. A negao coletiva

    este mesmo fenmeno, que pode ocorrer com vrios indivduos da populao,

    evitando que determinados conceitos sejam compreendidos durante algum tempo

    (THOMAS, 2006).

    No trecho mostrado, o autor apresenta uma hiptese para justifi car

    a difi culdade que muitos indivduos tm de compreender a problemtica

    do aquecimento global. Cada um dos seus pargrafos expe diferentes

    informaes sobre o mesmo tema geral, mas h um padro estrutural

    neles que voc pode seguir ao escrever. Para isso, observe novamente o pri-

    meiro pargrafo, atentando agora para as informaes em destaque:

    O conhecimento cientfi co que dado nas escolas baseado prin-

    cipalmente em explicaes lineares. Por exemplo, a terceira lei de

    Newton, que conhecemos como o princpio de ao e reao, diz

    que a toda ao corresponde uma reao igual e contrria. No se

    d nfase a eventos no-lineares em que uma pequena modifi cao

    gera um grande efeito, como a hipottica formao de furaces

    a partir do bater das asas de uma borboleta, um cenrio clssico

    previsto no famoso efeito borboleta dentro da Teoria do Caos

    (SOUZA e BUCKENRIDGE, 2004). O aquecimento global

    fruto de uma srie de fatores naturais e produzidos pelo homem

    que interagem de maneira no-linear, por isso as pessoas tm

    difi culdade em entend-lo.

  • CEDERJ 49

    AU

    LA 2

    A frase em destaque no excerto que acabamos de citar resume a

    ideia geral em torno da qual se estrutura o pargrafo. Veja que as demais

    funcionam apenas como introduo ou justifi cativas para ela, preparando

    o leitor para a concluso expressa no ltimo perodo. Chamamos de

    tpico frasal essa frase que sintetiza a ideia central de cada pargrafo,

    servindo como guia tanto para quem l quanto para quem escreve.

    Perceba, porm, que nem sempre o tpico frasal o ltimo perodo

    do pargrafo, podendo aparecer em outras posies. Leia, ento, o

    segundo pargrafo do trecho retirado do artigo A insustentvel leveza

    da complexidade. Novamente, atente para as informaes destacadas

    em itlico.

    O resultado dessa situao que, ao ler um artigo, assistir a

    uma reportagem ou a um documentrio, o esforo para tentar

    compreender os mecanismos de complexidade envolvidos nas

    mudanas climticas to grande que no vale a pena prosseguir

    nessa tarefa. Ao desistir de entender um fenmeno, a mente

    simplesmente no liga o que acaba de ler ou ouvir a um contexto

    maior. Provavelmente da que surge um processo de negao da

    realidade no mbito pessoal. Se imaginarmos que toda a sociedade

    tem que trabalhar duro para viver com mil afazeres dirios,

    entendemos o fenmeno chamado de negao coletiva.

    No trecho citado, o pargrafo foi iniciado com o tpico frasal,

    que delimita a informao central a ser discutida nesse bloco: a com-

    plexidade do raciocnio no linear envolvido na compreenso dos fen-

    menos climticos, que desestimula a refl exo sobre o assunto. As frases

    subsequentes do exemplos ou reafi rmam o tpico frasal, expandindo

    suas informaes, mas sempre se remetendo a ele.

    Veja, agora, mais um exemplo, analisando o ltimo pargrafo do

    trecho retirado do artigo A insustentvel leveza da complexidade:

    No se trata de algo que ocorra por preguia do indivduo, mas

    um processo de saturao de informaes que difi culta o proces-

    samento destas, difi cultando to fortemente a compreenso de

    um fenmeno ou processo, que a pessoa no consegue ir adiante

    (NICHOLSON-COLE, 2005; NORGAARD, 2003; THOMAS,

    2006). Professores podem experimentar o processo de negao em

    situaes em que apresentam aos seus alunos um grande nmero

    de conceitos novos de uma nica vez. Por exemplo, se tentarmos

    explicar a mecnica quntica a uma classe com crianas de 10