curso de atualizaÇÃo em ovinocultura

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CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA Palestrantes: Carlos Eduardo C. Belluzo Carlos N. Kaneto Gustavo Martins Ferreira Coordenação e Organização: Prof. Dr. Hamilton Caetano Prof. Dr. Luiz Eduardo Corrêa Fonseca Promoção: UNESP – CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE APOIO, PRODUÇÃO E SAÚDE ANIMAL CAMPUS DE ARAÇATUBA – SP Novembro - 2001

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Page 1: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

Palestrantes:

Carlos Eduardo C. Belluzo

Carlos N. Kaneto

Gustavo Martins Ferreira

Coordenação e Organização:

Prof. Dr. Hamilton Caetano

Prof. Dr. Luiz Eduardo Corrêa Fonseca

Promoção:

UNESP – CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE APOIO, PRODUÇÃO E SAÚDE ANIMAL

CAMPUS DE ARAÇATUBA – SP Novembro - 2001

Page 2: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO A OVINOCULTURA 1

1. Introdução 1

2. Origem e seleção natural 1

3. Classificação zoológica 2

4. Domesticação 3

5. Clima 3

6. Informações fisiológicas sobre ovinos 6

7. Solo, topografia e qualidade das pastagens 7

II. PRINCIPAIS RAÇAS OVINAS 8

1. Raças especializadas na produção de lã fina 8

2. Raças mistas 9

3. Raças especializadas na produção de carne 9

4. Raças deslanadas 11

III. SISTEMA DE PRODUÇÃO 12

IV. INSTALAÇÕES PARA OVINOS 13

1. Pastagens 13

2. Cercas 14

3. Centro de manejo 16

4. Cabanha 19

5. Cochos 19

6. Bebedouros 20

7. Equipamentos 20

V. PASTAGENS PARA OVINOS 20

1. Introdução 20

2. Princípios básicos 23

3. Hábitos de pastejo do ovino 24

4. Produtividade anual das pastagens e necessidades dos ovinos 26

5. Forrageiras mais indicadas 27

6. Consorciação de gramíneas com leguminosas 30

7. Manejo e lotação do pasto 32

8. Importância da fertilidade do solo 35

Page 3: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

VI. CONSORCIAÇÃO DE OVINOS COM CULTURAS ANIMAIS E VEGETAIS

35

1. Introdução 36

2. Algumas culturas vegetais viáveis 36

3. Consorciação com culturas animais: pastoreio múltiplo 41

VII. NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE OVINOS 45

1. Exigências nutricionais 46

2. Suplementação e rações 46

3. confinamento de cordeiros 48

4. Creep-feeding 51

5. Alimentos para ovinos: suas características 52

VIII. ASPECTOS BÁSICOS EM UMA CRIAÇÃO DE OVINOS 61

1. Reprodução 61

2. Parição e lactação 66

IX. SELEÇÃO E DESCARTE DE OVINOS 71

1. Aspectos gerais 71

2. Principais causas de descarte 72

X. SANIDADE: PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS OVINOS 76

1. Clostridioses 76

2. Pasteurelose 78

3. Diarréia dos cordeiros 79

4. Podridão dos cascos (foot rot) 79

5. Queratoconjuntivite 80

6. Ectima contagioso 81

7. Mastite 81

8. Controle sanitário: principais recomendações 82

9. Vias de aplicação de medicamentos 84

XI. SANIDADE: PRINCIPAIS DOENÇAS PARASITÁRIAS NA OVINOCULTURA

89

1. Considerações gerais 89

2. Controle 103

XII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 105

APÊNDICE: RAÇAS DE OVINOS 106

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

I. INTRODUÇÃO A OVINOCULTURA

Este capítulo foi extraído de Carvalho et al. (2001) e Sobrinho (1993).

1. Introdução

A ovinocultura foi uma das primeiras explorações animais levadas a efeito

pelo homem, no começo da civilização, proporcionando-lhe alimento, em forma de

carne e leite, e proteção através da lã e da pele.

As fibras de origem vegetais têm suas produções limitadas em determinadas

regiões. A lã, ao contrário, é um produto que, em maior ou menor escala, é obtido

em quase todas as latitudes.

Com a reativação da ASPACO (Associação Paulista dos Criadores de Ovinos)

em 1984 e a criação do departamento de Ovinocultura pela CAFENOEL

(Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de São Manuel) em 1985, a ovinocultura

paulista passou a se destacar como mais uma opção agropecuária, lembrando-nos

de que a ovelha foi a primeira espécie domesticada pelo homem, acompanhando-o

pelo mundo inteiro, além de ser considerada, em muitas regiões, fonte de

subsistência para populações desfavorecidas.

As universidades, instituições e órgãos de pesquisa ligados à ovinocultura

têm mostrado que o estado de São Paulo apresenta excelentes condições

tecnológicas e ambientais para produzir racionalmente carne, lã, pele e até leite de

ovinos. A idéia de que ovino lanado só deve ser criado em regiões frias é errônea. A

lã é isolante térmico, protegendo tanto do frio quanto do calor. Temos como exemplo

a Austrália, que com seus rebanhos da raça Merino Australiano, criados em

condições semidesérticas, é a maior produtora mundial de lã fina.

Esta atividade é viável economicamente desde que obedecidas certas

normas, principalmente relacionadas aos manejos reprodutivo, nutricional e

sanitário.

2. Origem e Seleção Natural

O tronco original dos ovinos domésticos deve ser procurado no gênero Ovis e,

dentro deste, nos grupos de ovinos selvagens representados pelo Argali (Ovis

Page 5: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

ammon), Urial (Ovis vignet) e Mouflon (Ovis musimon). Desses grupos, o Mouflon

ainda é encontrado em estado selvagem nas montanhas da Córsega e da Sardenha.

O Urial ainda existe no Irã, Afeganistão, partes da Índia e do Tibet.

É conveniente reconhecer duas espécies de ovelhas selvagens: Ovis

canadensis, a ovelha de corno grosso americana e Ovis ammon, a ovelha selvagem

asiática e européia. A Ovis canadensis nunca foi domesticada e foi eliminada como

antepassado das ovelhas domésticas por razões zoogeográficas. Só restou, como

animal primitivo para a domesticação, a Ovis ammon com suas subespécies.

Atualmente, existem no mundo mais de 800 raças de ovelhas domésticas. A

grande variedade de fenótipos sugeriu investigações sobre quais seriam as

subespécies selvagens da ovelha doméstica, sendo provável que algumas

subespécies tenham mudado de lugar devido a alterações climáticas ao final da

época glacial. Também podem ter desaparecido algumas subespécies anteriores

que intervieram na domesticação.

Durante as migrações dos povos e entre as tribos vizinhas, trocavam-se

animais de cria. Alguns rebanhos de ovelhas domésticas chegaram a regiões nas

quais viviam outras subespécies, e com elas podem ter se cruzado.

Daí ser impossível definir, atualmente, a espécie de ovelha selvagem que deu

origem às raças ovinas atuais.

O menor tamanho dos animais é uma característica da domesticação,

referente às ovelhas que, em algumas estações do ano, sofriam restrições

alimentares, determinando perdas de peso e diminuição da produção de leite.

No início, o homem domesticou as ovelhas por sua carne e depois

demonstrou interesse pelo leite, ordenhando as ovelhas, constituindo uma nova

orientação a cria. Entretanto, a mudança mais importante para o homem, quanto à

domesticação, aconteceu quando o pêlo da ovelha selvagem foi substituído por

fibras de lã. Não se pode demonstrar se o aparecimento da ovelha de lã fina foi

devido à mutação ou seleção, aproveitando-se crias obtidas através de cruzamentos

consangüíneos.

3. Classificação Zoológica

Reino: Animal

Sub-reino: Vertebrata

Filo: Chordata

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Classe: Mammalia

Ordem: Ungulata

Sub-ordem: Artiodactyla

Grupo: Ruminantia

Família: Bovidae

Sub-família: Ovinae

Gênero: Ovis

Espécie: Ovis aries (ovinos domésticos)

4. Domesticação

A ovelha foi domesticada pelo homem primitivo, no período neolítico, quatro

ou cinco mil anos a.C.

Quase todos os animais domésticos têm seus antecedentes selvagens na

Europa e na Ásia. A ovelha e a cabra parecem ser os primeiros animais a serem

domesticados. O homem domesticou a ovelha selvagem em seu habitat, facilitada

pela redução do estresse de adaptação.

5. Clima

5.1. Temperatura

O clima é um dos principais fatores que determinam as possibilidades de êxito

em uma criação de ovinos.

O comportamento e a adaptação dos ovinos ao clima é variável com o

indivíduo, a raça e o manejo que lhe é dispensado.

Embora a espécie ovina se encontre difundida em todas as regiões do

mundo, verifica-se que as maiores concentrações populacionais desta espécie estão

nas zonas de clima temperado frio, isto é, em latitudes de 25º a 40º em ambos os

hemisférios. Exceções a esta regra são observadas quando a redução da latitude é

compensada pela altitude, como no Peru, em zona equatorial (clima tropical), onde

ovinos são criados nos altiplanos da cordilheira dos Andes a mais de 3000 metros de

altura.

Page 7: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

A temperatura tem atuação preponderante sobre os ovinos, principalmente

nas propriedades da lã.

Altas temperaturas contribuem para a congestão permanente das partes

superficiais da derme, podendo as camadas profundas da derme ficar com má

circulação, o que se contrapõe à nutrição dos folículos pilosos, com fibras tendendo

a se tornarem finas e curtas. Com frio permanente, os fenômenos são inversos,

tornando as fibras mais grossas e longas.

Na América do Sul, há uma região que se estende do trópico de Capricórnio

ao paralelo de 38º de latitude Sul que apresenta clima subtropical úmido (clima de

transição). Abrange o Sul do Estado de São Paulo, grande parte do Estado do

Paraná, os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, o Uruguai, várias

províncias da Argentina e pequena área do Paraguai, caracterizando-se por verão

quente e inverno fresco.

A Austrália, um dos países de grande concentração de ovinos no mundo, tem

grande parte do seu rebanho na área de clima subtropical úmido, análogo ao da

América do Sul. Por outro lado, as áreas secas do Oeste dos Estados Unidos, as

extensas regiões semi-áridas da Austrália e da Patagônia podem impedir a criação

de bovinos, suportando uma certa população ovina.

5.2. Umidade Relativa

Umidade relativa alta diminui a produção de lã, afetando suas propriedades,

principalmente a suavidade ao tato.

A umidade baixa torna a lã menos elástica e resistente, pela diminuição da

suarda.

Os ovinos adaptam-se e produzem melhor sob temperaturas medianas, com

umidade relativa média.

5.3. Precipitação Pluviométrica

Precipitação pluviométrica elevada e alto grau de umidade do ar dificultam a

evaporação da água do solo, favorecendo, com isso, a proliferação de agentes

patológicos, prejudiciais a espécies ovina.

A Tabela 1 mostra as condições climáticas do Sul do Brasil, Austrália e Nova

Zelândia.

Page 8: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Tabela 1. Situação geográfica e condições climáticas do Sul do Brasil, Austrália e Nova Zelândia.

Local Situação geográfica

(latitude sul)

Precipitação pluviométrica (m)

Temperatura média (ºC)

Brasil (Sul) 19º 34º 800-2000 18.0

Austrália 11º 39º 400-2000 18.0

Nova Zelândia 34º 47º 1500-2000 16.5

As seguintes condições são próprias para a criação de ovinos:

- temperatura: mínima = 5º C

máxima = 25º C

- precipitação pluviométrica = 75 mm a 115 mm por mês, ou seja, 900 mm a 1380

mm por ano.

- umidade relativa entre 55 a 70% em altas temperaturas e entre 65 e 91% em

baixas temperaturas.

5.4. Fotoperíodo

As ovelhas são, de modo geral, poliéstricas estacionais, apresentando cios

em determinado período do ano, não havendo uniformidade quanto ao início e

duração da estação reprodutiva. Nas diferentes raças, a amplitude do período

reprodutivo é determinada pela origem geográfica das mesmas.

O fator que controla o início e o término da estação de reprodução nos ovinos

é a variação entre as horas diárias de luz e de escuridão (fotoperíodo), através do

estímulo exercido sobre a hipófise. O decréscimo da luminosidade, além de

aumentar a fertilidade das ovelhas, estimula o desejo sexual e ativa a produção

espermática dos carneiros.

Na Figura 1, é apresentada a curva teórica de fertilidade das raças produtoras

de lã no Rio Grande do Sul. Observa-se que, no momento em que a curva de

luminosidade está começando sua ascensão, em julho (a), a curva de fertilidade

decresce. Quando o incremento das horas diárias de luz é muito acentuado, (agosto

– setembro), as ovelhas paralisam a atividade sexual (b). Ao contrário, de março a

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

maio, quando é intensa a diminuição da luminosidade, a fertilidade atinge seu ponto

máximo (c).

Figura 1. Curva da fertilidade de ovelhas no Rio grande do Sul, Brasil, em função da luminosidade.

6. Informações fisiológicas sobre ovinos

6.1. Zona de termoneutralidade

Temperatura crítica inferior: -15ºC a + 5ºC

Temperatura crítica superior: 40ºC

6.2. Temperatura corporal (retal)

Ovinos com mais de um ano de idade: 38,5 a 40ºC

Ovinos até um ano de idade: 38,5 a 40,5ºC

6.3. Freqüência respiratória

Normal: 12 a 20 movimentos/minuto

Sob altas temperaturas: 400 movimentos/ minuto

O estresse térmico (câmara climática) aumenta a freqüência respiratória e a

radiação solar direta aumenta a taxa de sudorese.

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

6.4. Valores fisiológicos normais do sangue da espécie ovina

Tabela 2. Valores fisiológicos normais do sangue da espécie ovina.

Valor de referência

Hemácias (106/mm3) 8 a 16

Hemoglobina (g/100mL) 8 a 16

Hematócrito (%) 24 a 50

Leucócitos (103/mm3) 4 a 12

Basófilos (%) 0 a 3

Eosinófilos (%) 1 a 10

Neutrófilos Bastonetes (%) 0 a 2

Neutrófilos Segmentados (%) 10 a 50

Linfócitos 40 a 75

Monócitos 1 a 6

7. Solo, Topografia e Qualidade das Pastagens

O solo tem fundamental importância tanto na quantidade como na qualidade

das pastagens. A sua composição química deve reunir os elementos indispensáveis

ao desenvolvimento das plantas que serão ingeridas pelos ovinos.

Os solos arenosos são geralmente secos, muito permeáveis à água e, por

isso, incapazes de fixarem os elementos minerais. Neles, a vegetação é pouco

variada e de baixo valor nutritivo. São chamados campos pobres, onde não é

possível criar raças especializadas para carne ou de dupla aptidão (carne e lã), mas

somente raças pouco exigentes e produtoras de lã fina, como a Merino Australiano e

a Ideal.

Solos de topografia acidentada, com pequenas camadas de terra arável, por

serem pouco profundos, dificilmente permitem o estabelecimento de pastagens

cultivadas, apesar da relativa fertilidade. Nesses campos, adaptam-se bem os ovinos

de porte pequeno e médio, especialmente os de raça Merino, que são pouco

exigentes nutricionalmente, mas sensíveis à umidade.

Os solos argilosos, de um modo geral, são profundos, pouco permeáveis,

porém com maior fertilidade. A vegetação predominante é de maior valor nutritivo,

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

bastante variada e densa, permitindo o cultivo de forrageiras e a criação de raças de

dupla aptidão e as especializadas na produção de carne.

A topografia deve permitir o fácil escoamento das águas de chuva e um certo

abrigo contra ventos frios. Os solos baixos, pouco permeáveis não são indicados,

favorecendo as afecções dos cascos e as infestações parasitárias dos ovinos.

II. PRINCIPAIS RAÇAS OVINAS

Este capítulo foi extraído de Carvalho (2001). As fotos de animais de cada

raça se encontram, em anexo, no final da apostila.

1. Raças especializadas na produção de lã fina

1.1. Merino Australiano

Raça que apresenta lã de excelente qualidade e elevado valor econômico,

destinada à fabricação de tecidos finos. Adapta-se perfeitamente às condições de

alta temperatura e vegetação pobre em vista de seu pequeno porte e velo muito fino

e denso, que funciona como verdadeiro isolante térmico. Não tolera, todavia,

umidade excessiva. Em termos teóricos, teria 70% de potencial para produzir lã e

30% para carne. A lã atinge, via de regra, as classes merina e amerinada.

1.2. Ideal ou Polwarth

Originária da Austrália, a raça Ideal possui em sua formação ¾ de sangue

Merino Australiano e ¼ de sangue Lincoln, raça inglesa de grande porte e de lã

grossa. O trabalho de seleção efetuado pelos Australianos deu como resultado uma

raça com excelente capacidade para produzir lã, aliada à produção de carcaça com

desenvolvimento satisfatório. A lã é um pouco mais grossa que a da raça Merino

Australiano, em decorrência da infusão de sangue Lincoln, conservando, no entanto,

excelente qualidade em termos de classificação, enquadrando-se, basicamente, nas

classes prima A e prima B.

A raça Ideal apresenta 60% de potencial para lã e 40% para carne.

Page 12: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

2. Raças Mistas

2.1. Corriedale

Raça mista por excelência (50% de potencial para lã e 50% de potencial para

carne). Foi formada na Nova Zelândia, também a partir das Raças Merino

Australiano e Lincoln, possuindo, porém, ½ sangue de cada. Em vista disto, sua lã

se apresenta mais grossa que a da raça ideal (classificada como cruzadas 1 ou 2).

Um pouco mais exigente que as raças anteriormente referidas, adapta-se bem,

todavia, ao regime extensivo de exploração. É um fato natural que, à medida que

aumenta o tamanho do animal, estarão se elevando, paralelamente, seus

requerimentos nutritivos.

2.2. Romney Marsh

Originária da Inglaterra, caracteriza-se pela produção de lã bastante grossa

(predominantemente cruzas de 3 e 4) e boa aptidão para a produção de carne. Um

aspecto que cabe salientar, diz respeito a sua adaptabilidade a solos mais úmidos,

tendo em vista que sua região de origem é baixa e tem bastante umidade. Exige,

porém, melhor nível nutricional que as raças já citadas. Apresenta 40% de potencial

para produção de lã e 60% para produção de carne.

3. Raças especializadas na produção de carne

Este grupo é sabidamente mais exigente em termos nutricionais e de

ambiente em geral, adaptando-se melhor às criações mais intensificadas, como no

caso das pequenas propriedades. Nestas, em virtude da impossibilidade de se

trabalhar com grandes rebanhos, o retorno econômico propiciado pela lã não seria

tão significativo.

3.1. Ile de France

Originária da França, foi formada através de cruzamentos de raças inglesas

com Merino Rambonillet. Foi introduzida no Brasil por volta de 1973 e teve uma boa

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

aceitação em virtude de produzir lã de melhor qualidade, em relação às demais

raças de carne. São animais de grande porte, com bom desenvolvimento de massa

muscular nas regiões nobres (pernil, lombo e paleta).

As fêmeas apresentam altos índices de fertilidade e prolificidade, com média

de 1,40 a 1,70 cordeiros por parto.

Os cordeiros são bastante precoces, apresentando ótimo ganho de peso, o

que propicia a obtenção de carcaças de boa qualidade.

3.2. Hampshire Down

Raça originária do Sul da Inglaterra através de cruzamentos entre carneiros

Wiltshire e Berkshire. Também pertence ao grupo dos “Cara Negra” e expandiu-se

bastante em determinadas regiões do Brasil, tendo se adaptado bem dentro das

condições de meio ambiente já comentadas. Possui grande capacidade para

produção de carne de excelente qualidade.

3.3. Poll Dorset

Raça introduzida recentemente no Brasil por uma cabanha paulista, no ano

de 1991. É uma raça de carne, originária da Austrália. Em sua formação, entraram

principalmente as raças Ideal, Dorset Horn e Poll Merino. Embora de origem

Australiana, os melhores rebanhos são Neozelandeses, os quais sofreram um

grande melhoramento para produção de carne.

Suas principais aptidões são a produção de carne de excelente qualidade,

velo sem fibras meduladas e pigmentadas e não estacionalidade de cio, sendo essa

uma característica ainda não testada em condições brasileiras.

3.4. Texel

De origem Holandesa, foi introduzida no Brasil por volta de 1972. São animais

que, também, apresentam lã branca e, por isso, são muito utilizados no cruzamento

industrial com matrizes laneiras ou mistas. São animais bastante precoces,

caracterizando-se pela produção de carcaças de boa qualidade, com baixo teor de

gordura.

Page 14: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

3.5. Suffolk

Raça originária da Inglaterra através de cruzamentos entre ovelhas Norfolk

(animais nativos da região sudeste da Inglaterra) com carneiros da raça Southdown.

Foi aceita como raça a partir de 1859. Pertence ao grupo dos “Cara Negra”,

apresentando cabeça e membros totalmente desprovidos de lã e cobertos por pelos

negros. Adaptou-se bem ao Brasil, sendo criada nas mais diferentes regiões.

As fêmeas têm boa habilidade materna, com grande produção leiteira,

permitindo alimentar bem mais de um cordeiro. São animais bastante precoces,

produzindo carcaças magras e de boa qualidade.

4. Raças deslanadas

As raças deslanadas se apresentam como alternativa para regiões onde não

é conveniente a exploração da lã, como, por exemplo, regiões de vegetação

inadequada ou com carência de mão-de-obra para tosquia.

Destacam como produtoras de pele de ótima qualidade, sendo que em São

Paulo estão representadas principalmente pelas raças Santa Inês e Morada Nova.

4.1. Morada Nova

Raça nativa do Nordeste, resultante possivelmente de seleção natural e

recombinação de fatores em ovinos Bordeleiros e Churros trazidos pelos

colonizadores portugueses. A ação continuada do ambiente quente e seco do

Nordeste promoveu a perda da lã e a adaptação do animal. Apresenta pelagem

vermelha ou branca.

São animais bastante rústicos, que se adaptam às regiões mais áridas,

desempenhando importantes funções sociais.

Produzem carne e, principalmente, peles de ótima qualidade, são ovelhas

muito prolíferas.

Page 15: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

4.2. Santa Inês

Existem muitas hipóteses em relação à origem da raça Santa Inês, como a

que diz que esta é o resultado do cruzamento entre as raças Bergamácia (raça

italiana) e Morada Nova; e a que cita a descendência de ovelhas africanas, trazidas

pelos escravos negros.

O Santa Inês é um ovino de grande porte, produzindo boas carcaças e peles

fortes e resistentes. As fêmeas são ótimas criadeiras, parindo cordeiros vigorosos,

com freqüentes partos duplos e apresentando excelente capacidade leiteira.

A raça é caracterizada por quatro pelagens: branca, chitada, vermelha ou

marrom e preta.

III. SISTEMA DE PRODUÇÃO

Este capítulo foi extraído de.Carvalho et al. (2001).

Sendo o ovino ruminante, o mesmo é capaz de transformar as forragens

inviáveis para consumo humano em proteína animal de elevado valor biológico. O

mais indicado para a sua criação é explorar os recursos pastoris, principalmente se

levarmos em consideração o clima extremamente propício ao desenvolvimento das

forrageiras em nosso País.

Em São Paulo, o sistema de produção que apresenta maior eficiência em

pasto é aquele que visa a obtenção dos principais produtos oriundos da ovelha:

carne, lã e pele. Esta eficiência é obtida quando se realiza o cruzamento industrial,

ou seja, ovelhas de raça de lãs, mistas ou deslanadas são cobertas por carneiros de

raça de carne. A lã de boa qualidade seria produzida pelas ovelhas. Todos os

cordeiros ½ sangue, independentemente do sexo, seriam abatidos após desmame e

terminação, originando carcaças de boa qualidade.

A prática deste sistema de produção possibilitará a existência de, no mínimo,

três tipos de criadores:

• Os cabanheiros de raças mistas, que se encarregariam de produzir reprodutores

melhoradores para rebanhos comerciais;

• Os cabanheiros de raças de carne, encarregados de produzir reprodutores tipo

carne para utilização nos rebanhos comerciais;

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

• O criador comercial de rebanho base de raça mista, adquirindo reprodutores

submetidos a constante processo de seleção e melhoramento.

Mais uma opção em termos de sistema de produção seria o ovinocultor

especializado em engordar cordeiros e/ou borregos para abate, seja em pastagem

ou mesmo em confinamento. A escolha de um ou outro tipo de criação depende da

área disponível, das condições ambientais como um todo e da aptidão do criador.

IV. INSTALAÇÕES PARA OVINOS

Este capítulo foi extraído de Carvalho et al. (2001) e Sobrinho (1993).

O manejo dos ovinos pode ser considerado simples, quando se puder dispor

de mão-de-obra habilitada e infra-estrutura adequada. As instalações necessárias

para o perfeito manejo dos animais não são complexas, devendo, no entanto, ser

planejadas dentro de padrões específicos. Os principais componentes da estrutura

necessária à implantação de uma ovinocultura serão descritos a seguir.

1. Pastagens

Como já dissemos, o ovino é um ruminante. Portanto, a pastagem é, sem

dúvida, o primeiro fator a ser analisado.

Antes de tudo, deve-se ter conhecimento, através de uma análise, das

necessidades do solo, sabendo-se que são comuns a deficiência de fósforo, elevado

teor de alumínio (tóxico para as plantas) e o baixo pH (acidez).

A ovelha não tolera pastagens muito altas. Esta condição é altamente

estressante à espécie, que tem por hábito o convívio comunitário e a busca das

partes mais baixas do capim. Por isso, depois de corrigir o solo, é recomendável

formar pastagens com gramíneas de crescimento rasteiro.

O manejo das pastagens é muito importante. Deve-se levar em conta o

comportamento do capim, a época do ano, o microclima da região e também o

comportamento animal. A subdivisão em piquetes vai depender muito do espaço

disponível. Em áreas pequenas não se recomendam muitas subdivisões, em função

de alta concentração de animais em espaços reduzidos, provocando elevado índice

de reinfestação parasitária.

Page 17: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Para calculo de lotação trabalha-se com unidade animal (U.A), sabendo-se

que uma vaca equivale a 1 U.A e um ovino adulto a 0,2 U.A Sendo assim se, por

exemplo, uma pastagem suportar 2 U.A por hectare equivaleria a 2 vacas ou 1 vaca

e 5 ovelhas.

Outros aspectos importantes na pastagem estão relacionados à drenagem e

sombreamento. Os pastos devem ser isentos de alagadiços e áreas inundadas. A

falta de sombra na pastagem é fator limitante para a reprodução. O estresse térmico

provoca em ovelhas no inicio de gestação a reabsorção do embrião, e nos

reprodutores a má qualidade do sêmen. Isto coloca em risco toda reprodução de

cordeiros em um ano. Daí a importância da arborização dos pastos ou dos bosques

naturais e artificiais para a proteção contra os ventos e, principalmente, radiação

solar. A proporção dos bosques é de 0,5 hectare para cada 500 ovelhas.

2. Cercas

Figura 2. Modelo de cerca para ovinos (medidas em centímetros)

As cercas para ovinos devem ser construídas com 6 á 7 fios de arame liso,

mourões com espaçamentos de 10 metros e 4 a 5 tramas nos meios. O 1º fio de

arame deve ficar a 10 cm do solo. O 2º e o 3º fios devem distanciar 15 cm entre si e

em relação ao 1º. Entre o 3º e o 4º fios o espaço deve ser de 25 cm e entre o 4º, 5º e

o 6º fios de 30 cm, dando uma altura total de 1,30 m que servirá também para

manter animais de grande porte. No entanto, se a propriedade já possuir cercas para

bovinos, mesmo de arame farpado, basta acrescentar 2 ou 3 fios nos espaços

inferiores.

Page 18: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

A cerca elétrica pode ser utilizada na subdivisão de pasto. Neste caso são 2

fios, um a 10 e outro a 20 cm do solo.

2.1. Cercas de arame farpado

Este material só é utilizado para ovinos deslanados, explorados para

produção exclusiva de carne. Deve ser construída com seis fios, com o seguinte

espaçamento a partir do solo:

1º fio – 5 cm

2º fio – 10 cm

3º fio – 15 cm

4º fio – 15 cm

5º fio – 20 cm

6º fio – 25 cm

Total – 90 cm de altura

Em locais onde há consorciação com eqüinos e bovinos, a altura da cerca

será dimensionada em função destes, podendo-se construí-la de arame farpado,

colocando-se arame liso galvanizado apenas nos vãos inferiores.

2.2. Cercas de arame liso

É o mais utilizado. Geralmente usamos fio ovalado, galvanizado, nº 15/17

(1000 m/ 15 Kg).

Espaçamento dos fios:

2.2.1.Cerca de 5 fios:

1º fio – 10 cm

2º fio – 15 cm

3º fio – 20 cm

4º fio – 25 cm

5º fio – 25 cm

Total – 95 cm de altura

Page 19: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

2.2.2. Cerca de 6 fios:

1º fio – 10 cm

2º fio – 15 cm

3º fio – 20 cm

4º fio – 25 cm

5º fio – 30 cm

6º fio – 30 cm

Total – 1,30 m de altura (Atendendo não só aos ovinos, como também aos bovinos e

eqüinos).

3. Centro de Manejo

Como o próprio nome diz, esta indispensável instalação centraliza,

funcionalmente, todas as práticas com o rebanho (Figura 3). É composto de:

• Mangueiras: têm a finalidade de facilitar a repartição do rebanho nas várias

categorias desejadas, de modo de a caber um numero razoável de uma soa

vez. Podem ser feitas de tábuas de madeira ou outro material que a substitua,

numa altura de 1 metro. Considerar 1m2/ animal

• Tronco de contensão (Figura 4): preferencialmente de tábua, deve ter 90 cm

de altura, e de 6 a 12 m de comprimento, abertura superior a 50cm inferior a

30 cm. Outro modelo é o tronco no sistema australiano, em que a largura é

maior e no qual se enfileiram vários animais sendo que o tratador caminha

entre eles.

• Pedilúvio: Para tal, pode ser aproveitado o piso do tronco ou ainda uma

mangueira menor, com profundidade de 10 cm. Requer atenção para não

deixar bordas que permitam que o animal deixe os cascos fora da solução.

Page 20: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Figura 3. Planta baixa do centro de manejo.

Page 21: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Figura 4. Vista frontal do tronco de contenção

• Banheiro anti-sárnico (Figura 5): para controlar as parasitoses externas do

ovino (basicamente, sarna e piolho). Esta é a parte mais cara do centro de

manejo,mas indispensável para aquelas criações onde a lã tem

representatividade importante em termos econômicos. O tanque de imersão,

em concreto, deve ter 60cm de largura, 1,20m de profundidade e no mínimo

8m de comprimento, com rampa de saída iniciando- se 4m após a entrada.

Estas medidas não devem ser superiores se não houver pretensão de

expandir o rebanho, uma vez que o excesso do produto utilizado torna a

prática de alto custo. Ao final da rampa de saída deverá haver dois currais

cimentados denominados escorredouros, com a finalidade de retornar à

banheira parte da solução absorvida pela lã, após a passagem por uma caixa

de decantação.

Figura 5. Vista lateral da banheira e pedilúvio

Page 22: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

• Local de tosquia: pode ser usado um barracão já existente na propriedade, ou

mesmo uma mangueira do centro de manejo, desde que tenha piso cimentado,

cobertura e energia elétrica.

• Cobertura: deverá cobrir essencialmente o tronco de contenção, a banheira anti-

sárnica e escorredouros, além do local para tosquia.

4. Cabanha

Trata-se de uma instalação com piso ripado, elevada do solo, que tem por

finalidade principal abrigar reprodutores, animais de exposição e de alto nível.

Portanto é dispensável nas criações comerciais. É conveniente que nas cabanhas

destinadas a abrigar reprodutores de raças de carne não se use o piso ripado em

função dos problemas de aprumo que podem causar.

5. Cochos

Os cochos são usados basicamente para o fornecimento de sal mineral e

rações . No campo, os cochos de sal podem seguir vários modelos, assim como os

de gado, mas em menores proporções. Podem ser constituídos de qualquer material

que não contamine o produto fornecido, como madeira, fibra e cimento. Os cochos

de sal devem ser de fácil manipulação, podendo-se transporta-los de um piquete

para outro, conforme o uso. A cobertura é importante para evitar que o sal seja

molhado em dias de chuva.

Ao contrário do sal, os cochos para rações devem ter medidas mínimas para

atender a todos animais que, depois de acostumados, procuram a dieta avidamente.

Estes são usados mais especificamente nas cabanhas ou nos confinamentos. Os

cochos para confinamento devem oferecer de 10 a 15cm/cabeça, no caso de

cordeiros, e de 25 a 30 cm/cabeça, para os animais adultos. As outras medidas

podem variar em torno de 30 cm para a largura, 20 a 25 cm para a profundidade e

15 a 30 cm distantes do solo, conforme a categoria.

Tambores serrados ao meio funcionam bem para oferecer alimentos no pasto,

como silagens.

Page 23: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

As manjedouras para fornecimento de capins e fenos seguem as medidas de

10 cm entre ripas verticais de 5 cm, saindo de um ângulo de 45º. As telas, como as

de alambrado, também funcionam na substituição das ripas de madeira. Na

cabanha, as manjedouras construídas sobre o cocho permitem um maior

aproveitamento do volumoso.

6. Bebedouros

A água pode ser fornecida em caixas de alvenaria providas de bóia, ou

recipientes de fácil manutenção e limpeza.

Nas cabanhas, o sistema em que cada baia apresenta seu bebedouro, onde

todos são alimentados por uma única caixa provida de bóia, é o mais recomendável

pela eficiência de manutenção e limpeza.

7. Equipamentos

São poucos os equipamentos necessários para a ovinocultura. De modo

geral, eles não são muito diferentes dos utilizados para bovinos e eqüinos.

São eles: tesoura para corte de lã (martelo), tesoura para aparo dos cascos,

pistola de vermifugação e vacinação, tatuador ou alicate para brincos, ripado de

madeira para tosquia, seringas, agulhas, e outros.

V. PASTAGENS PARA OVINOS

Este capítulo foi extraído de.Sobrinho (1993) e Cunha et al. (1999).

1. Introdução

A produção de ovinos de corte se apresenta como uma boa opção de

atividade econômica aos pecuaristas, embora essa atividade agropecuária sempre

teve a sua imagem ligada à produção de lã. Todavia essa associação vem sofrendo

uma mudança acentuada, seja em função dos baixos preços alcançados pela lã,

tanto no mercado interno como externo, seja pelo crescente aumento na demanda

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

da carne ovina, mais especificamente pela carne de cordeiro. Em face disso os

criadores têm procurado direcionar a criação neste sentido.

Em São Paulo, nos últimos anos tem-se verificado não só um aumento no

efetivo dos rebanhos, mas também no número de propriedades envolvidas nessa

atividade. Apesar de ainda não estar definitivamente estabelecido, nem

adequadamente dimensionado, o mercado de carne ovina vem apresentando

crescimento inconteste, o que se reflete nos preços relativamente altos observados

em nível de mercado consumidor. Essa maior demanda, todavia, é específica para

carcaças de boa qualidade, ou seja, com peso médio de 12 a 13 kg, provenientes de

animais novos, com no máximo 120 dias de idade. Até essa idade, os animais

mostram alta velocidade de crescimento e maior eficiência no aproveitamento de

alimentos menos fibrosos que animais mais velhos, apresentando uma proporção

significativamente maior do corte traseiro em relação ao dianteiro e costilhar e, ainda

um nível adequado de gordura corporal, suficiente para propiciar uma leve cobertura

da carcaça, protegendo-a contra a perda excessiva de umidade durante o processo

de resfriamento e um mínimo de gordura intramuscular, a qual garante o paladar

característico da carne ovina, o que aliado a pouca maturidade dos feixes

musculares do animal jovem, garante um bom nível de maciez.

Mesmo na região Sul do país, onde grande parte dos planteis possui na lã o

objetivo maior da criação, se tem verificado uma maior preocupação na exploração

mais intensiva da produção de carne. Para isso, utiliza-se reprodutores de raças com

maior potencial para ganho de peso sobre os planteis já existentes de ovelhas de

raças lanígeras (Corriedale, Ideal e Merino). Assim, busca-se a obtenção de

cordeiros mais precoces e com melhor caracterização de carcaça, mantendo-se,

ainda a produção de lã pelas matrizes.

Na região sudeste tem-se tornado usual a utilização de matrizes comuns, sem

raça definida, ou ainda de animais deslanados, notadamente da raça Santa Inês,

mantidas em pastagens e cruzadas com reprodutores de raças de corte, Suffolk e Ile

de France. As crias são amamentadas em pastagens exclusivas para matrizes com

crias ao pé, sendo confinados do desmame ao abate. Em algumas criações adota-se

o confinamento das mães e crias já a partir do nascimento, o que possibilita a

adoção do desmame precoce aos 45 dias, o que resulta em níveis de ganho de peso

bastante elevados, além de menor mortalidade de crias.

Através desse sistema de criação, consegue-se animais com peso vivo entre

28 e 30 kg, considerado ideal para abate, com idades inferiores aos 120 dias. Para

Page 25: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

tanto, o peso ao nascer deve estar em torno dos 3,5 kg com o desmame ocorrendo

entre 45-60 dias, com os animais pesando entre 15 e 19 kg. Para tanto a expectativa

de ganho diário de peso vivo irá aproximar-se de 280 e 240 g, respectivamente nos

períodos de pré e pós desmame.

Esses índices, todavia, não são obtidos unicamente pela utilização de bons

reprodutores de raças de corte. Há ainda que se considerar vários outros pontos

igualmente importantes tais como o nível alimentar e sanitário, tanto das matrizes

como das crias, o uso de instalações adequadas e de técnicas corretas de manejo.

Do ponto de vista econômico, vale frisar que o ganho do produtor depende,

de um lado da maior disponibilidade de produtos de comercialização, ou seja, deve-

se buscar obter maior número possível de cordeiros por ano e por hectare de área

utilizada para a produção de forragem (pastagem, campineira e para material para

ensilagem), e de outro lado deve-se buscar o menor custo de produção possível,

todavia sem prejuízo da qualidade.

Dessa maneira para se obter resultados positivos na ovinocultura é preciso

além do bom desempenho e qualidade individual dos cordeiros, ter-se ainda uma

elevada disponibilidade de animais para abate, o que quer dizer, elevado número de

cordeiros nascidos (eficiência reprodutiva) e desmamados (baixa mortalidade e alta

aptidão materna) e, principalmente, um baixo custo de produção.

A maior eficiência reprodutiva é obtida pela seleção rigorosa das matrizes

dando-se preferência àquelas oriundas de parto múltiplo e descartando-se aquelas

que apresentem idade à primeira cobertura e intervalo entre partos superiores há 12

meses. Deve-se buscar ainda peso ao nascer igual ou superior a 3,0 kg e peso ao

desmame igual ou superior a 15,0 ou 19,0 kg, respectivamente aos 45 ou 60 dias de

idade. Também um bom manejo reprodutivo e nutricional, como a realização do

“flushing” e o uso de adequado nível nutricional no terço final da gestão, devem

receber especial atenção, de forma a se trabalhar com índices de fertilidade e

prolificidade acima dos 85% e 150% respectivamente.

A maior disponibilidade de cordeiros para abate é obtida ainda com a

diminuição da mortalidade das crias, resultado da utilização de esquemas de manejo

sanitário e técnicas criatórias adequadas, incluindo a vacinação preventiva, seleção

de fêmeas com maior habilidade materna e a adoção de práticas cuidadosas de

manejo das crias, desde o parto até o abate.

Já a diminuição do custo de produção depende das medidas anteriores e,

mais ainda da produção de alimentos em quantidade e qualidade adequadas, mas a

Page 26: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

baixo custo. Para isso, a base da alimentação deve ser constituída de volumosos de

boa qualidade, ou seja, de alto valor nutritivo, o que quer dizer: alta concentração em

nutrientes, alta digestibilidade e alta aceitabilidade pelos animais.

2. Princípios básicos

Considerando-se as condições de clima e solo e ainda as características da

estrutura e divisão fundiária predominantes na região Sudeste do Brasil, a utilização

de pastagem formadas por forrageiras de elevada produtividade e bom valor

nutritivo, utilizadas em regime de pastejo intensivo, mostra-se como uma das

alternativas de maior interesse para a ovinocultura intensiva.

É importante ressaltar que as ovelhas em fase final de gestação,

principalmente aquelas com crias múltiplas no ventre, apresentam altos níveis de

exigência nutricional, o que quer dizer, necessidade do aporte de quantidades

consideráveis de proteína, energia, minerais e vitaminas.

Pastagem com elevada disponibilidade de forragens de alto valor nutritivo

podem suprir a totalidade de nutrientes necessários, tanto à manutenção corporal

das matrizes como às demandas da gestação. Já em condições de pastagens mais

fracas, seja em termos de disponibilidade de matéria seca (MS) ou baixa qualidade

da espécie forrageira predominante no pasto, há necessidade de suplementação

alimentar de forma a se fornecer, em quantidade e qualidade, os nutrientes que a

pastagem não consegue suprir. Nessas condições é necessária a utilização

excessiva de concentrados na alimentação das matrizes, o que eleva

significativamente o custo de produção e pode comprometer a viabilidade econômica

da atividade.

A obtenção de boas pastagens para a utilização com ovinos depende do

atendimento de alguns pontos básicos:

• Uso de forrageiras produtivas e de elevado valor nutritivo, ou seja, com alta

aceitabilidade pelos ovinos, elevada concentração em nutrientes (energia

proteína, minerais e vitaminas) e boa digestibilidade.

• A utilização de gramíneas de porte médio a baixo, com altura inferior a 1,0 m,

são mais adequadas ao comportamento dos ovinos em pastejo.

• Manutenção de níveis de fertilidade de solo adequados às exigências da

forrageira utilizada, com reposição dos nutrientes removidos pelo pastejo e

lixiviação através de adubações em épocas estratégicas.

Page 27: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

• Adoção do sistema de pastejo rotacionado como forma de melhorar e

uniformizar a utilização da forragem e, principalmente, diminuir o nível de

infestação por lavas de helmintos (endoparasitos).

• Diversificação das forrageiras utilizadas, seja pelo uso da consorciação com

leguminosas ou pela formação de áreas com gramíneas diversas, em pastos

exclusivos, garantindo a diversificação dos nutrientes disponíveis e

aumentando o nível de ingestão de matéria seca pela variação da dieta. Isto

resulta ainda em maior segurança em termos de problemas de ordem

climática (secas e geadas) e fitossanitárias (pragas e doenças), em função

da diferenciação das características e potencialidades das diversas

forrageiras.

• Uso preferencial de espécies de hábito de crescimento cespitoso (porte

ereto), que em função da sua arquitetura, favorecem a inativação de larvas e

ovos de helmintos (endoparasitos), em razão de permitirem uma maior

insolação (dessecação das larvas pela diminuição da umidade e ação de

radiação ultravioleta).

3. Hábitos de pastejo do ovino

O ovino, de maneira geral, pasteja preferencialmente gramíneas, promovendo

corte uniforme e baixo da vegetação, à medida que percorre a pastagem. No

entanto, o deslanado tende a apresentar um comportamento algo semelhante ao do

caprino, ingerindo uma quantia considerável de ramas e folhas, promovendo um

pastejo mais seletivo e menos uniforme.

O consórcio de ovino com bovino levaria à melhor utilização da pastagem,

visto que o ovino pasta mais baixo, consumindo a forragem que o bovino não

conseguiria aproveitar.

Outro aspecto importante do comportamento dos ovinos em pastagem é o

fato de não entrarem em pastagens altas (acima de sua altura). Nessa situação, o

plantel tende a permanecer perifericamente, penetrando na pastagem somente após

o rebaixamento da mesma, através do pastejo ou pisoteio por bovinos ou roçadeiras.

A produção animal em pastagens caracteriza-se, hoje, pelo baixo nível

tecnológico, trazendo como conseqüência uma produtividade insatisfatória,

verificada em muitas áreas ocupadas pela pecuária.

Page 28: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Na nutrição animal, a quantidade ingerida de alimentos tem importância

fundamental, visto ser um dos fatores determinantes da maior ou menor

disponibilidade de nutrientes para os processos fisiológicos do animal, e

conseqüentemente, ao seu desempenho. O valor nutritivo, por sua vez, depende

não apenas da composição química, como também da digestibilidade da gramínea,

que diminui à medida que a planta avança seu processo de maturação, cujo ápice

coincide com a seca invernal, época em que há também, paralisação quase que

total do crescimento. Esta estacionalidade da produção forrageira é um dos

principais problemas a se solucionar no sistema de exploração de ovinos a pasto.

Quanto à capacidade de consumo do animal, considera-se que é regida pelos

seguintes fatores:

- Palatabilidade da forrageira;

- Velocidade de passagem pelo tubo digestivo;

- Efeito do ambiente sobre o animal;

- Quantidade de forragem disponível.

Ovinos apresentam hábitos alimentares diferentes, em alguns aspectos, dos

de bovinos. Alguns são decorrentes da própria anatomia, como é o caso da

possibilidade de pastejo rente ao solo, em razão dos lábios superiores fendidos e

bastante móveis, o que possibilita extrema habilidade na apreensão de partes

selecionadas das forragens, dada a possibilidade de utilização dos lábios, dentes e

língua. No caso dos bovinos, os lábios são rijos e de pouca mobilidade, sendo a

língua o principal instrumento de apreensão, trazendo os alimentos para dentro da

boca, para serem cortados pela ação dos dentes contra a almofada dentária. Dessa

maneira, os bovinos têm maior dificuldade na apreensão das partes menores das

forragens, o que impossibilita seleção tão eficiente dos alimentos, quanto a seleção

feita por ovinos. Em termos práticos, devidos a esta seletividade exercida pelo ovino,

não é conveniente estabelecer pastagens com diferentes espécies de gramíneas,

pois a tendência seria a degradação paulatina daquela que fosse mais palatável. A

maneira correta seria escolher uma gramínea sabidamente recomendada, levando-

se em consideração sua adaptabilidade às condições de solo e clima da região,

além de um manejo adequado ao hábito alimentar do animal, levando-se em conta a

altura e a densidade da gramínea, de maneira que o animal consiga suprir sua

capacidade máxima de ingestão no menor espaço de tempo possível.

Page 29: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

4. Produtividade anual das pastagens e necessidades dos ovinos

A produção forrageira sofre estacionalidade que, muitas vezes, pode coincidir

com fases em que as exigências nutricionais dos ovinos são altas.

Uma maneira de amenizar este problema poderá ser adotando-se técnicas de

conservação de forragens (silagem e/ou fenação), que permitem armazenar as

sobras da época de máxima produção das pastagens, para suprir as deficiências da

fase de seca invernal.

Outra maneira seria, conhecendo-se as necessidades nutricionais das

diferentes categorias ovinas, ajustar as fases do ciclo produtivo à disponibilidade de

forragem, apesar de não se conseguir, assim, resolver completamente o problema.

No período pós-desmama, a ovelha é relativamente tolerante às restrições

alimentares moderadas, pois se encontra livre de lactação. Por isso, quando as boas

pastagens são escassas, deve-se aproveitá-las com os cordeiros desmamados, para

que o estresse da desmama não seja tão acentuado.

Duas a três semanas antes do início e duração do encarneiramento, deve-se

melhorar o nível nutricional, para que a ovelha seja fecundada com ganho de peso

positivo, prática denominada “flushing”.

4.1. Sazonalidade da produção de pastagens

No estado de São Paulo, as condições climáticas determinam a existência, no

ano, de duas estações bem distintas: a das chuvas e calor (fim da primavera, verão

e início de outono), com chuvas concentradas e temperaturas elevadas; e a das

seca (fim do outono, inverno e início da primavera), com poucas chuvas e

temperaturas baixas.

Essas duas estações determinam, nas espécies forrageiras, um ritmo de

crescimento bastante intenso na estação das águas, em confronto com baixas taxas

de crescimento no período seco.

Dessa maneira, considerando-se que o plantel tende a permanecer estável

durante o ano, teremos a ocorrência de excedentes de produção nas águas e déficit

na seca. Esse problema poderá ser contornado com a utilização de processos de

conservação de forragem (feno ou silagem) para emprego posterior. A escolha do

método deve considerar o tipo de forrageira e de maquinário disponíveis.

Page 30: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Outra maneira seria a produção de forrageiras de inverno, como aveia,

azevém ou centeio, embora apresentem maiores custos e riscos (secas e geadas).

5. Forrageiras mais indicadas

Os ovinos têm por habito pastejar preferencialmente o topo das plantas,

rebaixando a altura da pastagem pouco a pouco, como se estivesse retirando a

forragem em camadas. Todavia em função da anatomia bucal, caracterizada pela

extrema mobilidade dos lábios e pela forma de apreensão do alimento com uso de

lábios, dentes e língua, conseguem ser bastante eficientes na separação e escolha

do alimento a ser ingerido, conseguindo apreender, com facilidade, partes

específicas da forragem mesmo as de menor tamanho. Isso possibilita ao animal,

quando em pastejo, escolher as partes mais tenras e palatáveis da planta, rejeitando

as fibrosas e portanto de menor valor nutritivo. Dessa maneira os ovinos conseguem

realizar o pastejo bastante seletivo e rente ao solo.

Em função disso as forrageiras mais indicais são aquelas que suportem o

manejo baixo, apresentem intensa capacidade de rebrota através das gemas basais

e que possuem sistema radicular bem desenvolvido garantindo boa fixação ao solo

O ovino mostra acentuada preferência por forrageiras de porte médio a baixo.

Em pastagens com plantas de porte mais elevado, com altura acima de1,0 metro, os

animais tendem a explorar mais intensivamente as áreas marginais, resultando em

sub-aproveitamento da forragem das áreas centrais. Outra característica típica é o

comportamento extremamente gregário apresentado pela espécie, que dificilmente

explora a pastagem isoladamente, movimentando-se sempre em grupos. Em face

disto, quando em pastagens de porte mais alto, que dificultam a visualização entre

os animais do rebanho, os ovinos tendem apresentar intensa movimentação pela

área, mostrando maior preocupação em se manterem próximos aos demais, o que

prejudica o nível de ingestão de alimento e resulta em aumento de perdas por

acamamento devido ao pisoteio excessivo.

Tomando-se em conta somente esses aspectos, as forrageiras mais

indicadas seriam aquelas de hábito estolonífero (prostrado), tais como Coast Cross,

Tiftons e Estrelas (gênero Cynodon), Pangola (gênero Digitaria), Pensacola (gênero

Paspalum). Estas gramíneas atendem relativamente bem às exigências da espécie e

seus hábitos de pastejo peculiares, no entanto e apesar de serem as mais utilizadas

atualmente com ovinos, apresentam dois pontos bastante negativos: a maioria

Page 31: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

apresenta propagação por mudas, o que dificulta e encarece a formação de áreas

maiores de pastagens e, mais importante, em função do hábito de crescimento

prostrado formam uma massa vegetal fechada que, mesmo quando rebaixada,

impede a penetração mais intensa da radiação solar e mantém um microclima

favorável a sobrevivência das larvas dos helmintos. Isso dificulta o controle de

verminose, principal problema sanitário para os ovinos, sendo essa tanto maior

quanto maior a lotação das pastagens, podendo chegar a inviabilização da atividade.

Em face disso e em determinadas circunstâncias, essas forrageiras começam a ser

preteridas por alguns criadores.

Outras forrageiras, normalmente utilizadas em pastagens para bovinos, tem

sua utilização dificultada para ovinos por apresentar porte excessivamente elevado

ou por não tolerarem o pastejo rente ao solo e pisoteio intensivo promovido pelo

ovino. Nesse grupo estão incluídas a maioria das gramíneas dos gêneros Panicum

(colonião), Chloris (Rhodes) e Setaria, que ainda tem o agravante da baixa

aceitabilidade.

As gramíneas do gênero Brachiaria, apesar da vantagem de propagação por

semente e da acentuada persistência e rusticidade, apresentam problemas de baixo

valor nutritivo, limitando a sua utilização àquelas categorias de menor exigência

nutricional. Alem disso, em função do habito de crescimento prostrado, dificultam o

controle da verminose. Esses aspectos são ainda agravados pela maior

possibilidade de ocorrência de fotossensibilização em ovelhas paridas e animais

mantidos exclusivamente sobre essa forrageira.

Uma das alternativas que tem mostrado melhores resultados é o capim

Aruana (Panicum maximum cv. Aruana) que apresenta as seguintes características:

• Cultivar do “colonião”, selecionado no Instituto de Zootecnia em Nova Odessa;

• Elevado valor nutritivo e excelente aceitabilidade pelos animais;

• Alta produtividade de forragem, variando de 18 a 21 toneladas. de matéria seca

(MS)/ha/ano, com 35 a 40% dessa produção ocorrendo no inverno (período seco

do ano);

• Porte médio, atingindo aproximadamente 80 a100 cm de altura;

• Grande capacidade e rapidez de perfilhamento, com grande numero de gemas

basais, rebrotando após cada ciclo de pastejo.

• Boa capacidade de ocupação da área de pasto, não deixando áreas de solo

descobertas, o que evita o praguejamento e auxilia no controle de erosão;

• Propagação por sementes (formação mais fácil, rápida e de menor custo);

Page 32: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

• Boa produção de sementes, garantindo o restabelecimento rápido da pastagem

em caso de necessidade de recuperação (após eventuais “acidentes”, como

queima e geadas, ou degradação por falha de manejo);

• Boa tolerância ao pastejo baixo (rente ao solo) promovido pelo ovino, o que

possibilita a adoção dessa técnica de manejo como parte estratégica no controle

de parasitas (helmintos), promovendo a exposição de larvas às intempéries

climáticas (radiação solar e vento);

• Arquitetura foliar ereta e aberta, típica das forragens cespitosas (em touceiras),

que propicia uma maior incidência de radiação solar e maior ventilação dentro do

perfil da pastagem. Isso força a migração das larvas para a base do capim logo

às primeiras horas da manhã, após a secagem do orvalho, favorecendo o

controle da verminose: e

• Mostrou-se relativamente tolerante às geadas e ao ataque de cigarrinha.

Outra alternativa de interesse é o capim Tanzânia, também cultivar de

Panicum maximum, que apresenta algumas características semelhantes ao Aruana,

apresentando, todavia, porte um pouco mais elevado e capacidade de perfilhamento

um pouco menor (menor quantidade de gemas basais).

Essas forrageiras, em função do habito de crescimento cespitoso, apresentam

um manejo mais complexo que aquelas de habito prostrado. No entanto, o ganho

em desempenho e, principalmente, o aspecto favorável com relação ao controle da

verminose, justificam a sua indicação como forrageiras ideais para os ovinos,

prestando-se tanto para pastejo como para fenação (ou silagem).

5.1. O emprego do capim Aruana em Nova Odessa (IZ)

Durante todo o período em que o Aruana está sendo utilizado na unidade de

ovinos em Nova Odessa (SP), tem-se procurado avaliar anualmente a sua

produtividade e comportamento sob pastejo, obtendo-se valores médios da ordem

de 18 a 21 toneladas. de MS/ha/ano. A boa qualidade da forragem vem sendo

atestada pelo excelente desempenho obtido com fêmeas ovinas das raças lle de

France e Suffolk, em gestação ou em crescimento.

A área de pastagem utilizada é subdividida em cinco piquetes, possibilitando

um manejo rotacionado no qual cada pasto é utilizado por um período de 9 a 15 dias

(no máximo), tendo um período de repouso de 40 a 60 dias, dependendo da

Page 33: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

disponibilidade de forragem e da situação do “stand” da forrageira no piquete após

cada ciclo de pastejo.

No verão (período das chuvas) cada piquete é subdividido com auxilio de

cerca eletrificada móvel, sendo movimentada em faixas, liberando-se 1/3 da

pastagem a cada período de 3 a 5 dias.

A elevada produtividade e alto valor nutritivo do Aruana é dependente de uma

adequada reposição de nutrientes no solo, que é feita anualmente através da

fertilização química com N, P, K e Ca, com base em análise de solo e,

eventualmente, da forragem. A necessidade média de reposição tem sido de 50

kg/ha de fósforo e 30kg/ha de potássio. A correção da acidez do solo foi feita

inicialmente na formação da pastagem, e, posteriormente, após 3 anos da formação

da pastagem, com a distribuição de 2000kg/ha de calcário em área onde foi

introduzida leguminosa (soja perene). A reposição de P, K e Ca é feita a lanço,

normalmente no inicio do período das águas. A adubação nitrogenada correspondeu

a 150 kg/ha de N, tendo sido utilizado o nitrocálcio ou sulfato de amônio como adubo

nitrogenado. Dessa quantia, 100kg/ha foram distribuídos a lanço no final do período

das águas e os outros 50kg/ha junto com restante da adubação (início do período

das águas subseqüentes).

Em razão desses aspectos, tem sido possível a utilização de lotações altas na

pastagem, da ordem de 35 cabeças/ha/ano contra uma média de 12 a 20

cabeças/ha/ano, obtida pelos criadores com outras forrageiras. Além disso, foram

realizadas somente de 5 a 6 aplicações/ano de anti-helmínticos contra 10 a 12

usualmente utilizadas pelos pecuaristas.

Dessa maneira, o capim aruana mostra-se como uma excelente alternativa,

senão a ideal, para o pastejo pelos ovinos, desde que em condições adequadas de

manejo, solo e clima, podendo a sua utilização contribuir significativamente para que

a ovinocultura se firme cada vez mais como alternativa de viabilização sócio-

econômica para a pequena e media propriedade rural no Estado.

6. Consorciação de gramíneas com leguminosas

Outra alternativa a ser considerada na busca de pastagens mais produtivas é

a utilização da consorciação de gramíneas com leguminosas forrageiras. Essa

prática melhora o valor nutritivo da forragem disponível na pastagem, além de

diminuir a quantidade de adubo necessário para a reposição do nitrogênio, em

Page 34: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

função da fixação do N2 atmosférico promovida pelas leguminosas. Todavia a

consorciação exige a adoção de técnicas de manejo específicas para a obtenção de

bons resultados, principalmente em razão da menor velocidade de crescimento da

leguminosa em relação às gramíneas. A primeira consideração é quanto à

adequação entre as forrageiras a serem consociadas, sendo que neste aspecto as

gramíneas cespitosas são mais adequadas que as estoloníferas por permitirem, em

função da arquitetura ereta, maior luminosidade e espaço para vegetação das

leguminosas, inclusive servindo-lhe de suporte. Outro ponto a ser considerado é a

reposição de nutrientes, que deve favorecer principalmente a leguminosa, em função

da sua maior taxa de vegetação.

O manejo da pastagem, em termos de período de ocupação e de repouso,

taxa de lotação e altura mínima de pastejo, deve ser adequado às duas forrageiras.

Por variar para cada tipo de consorciação, considerando-se caso a caso, o manejo

deve ser baseado na avaliação visual da quantidade de forragem disponível e da

proporção gramínea/ leguminosa, não havendo uma regra fixa de procedimento.

Uma das práticas importantes para se garantir a persistência da leguminosa

na pastagem é possibilitar, de tempos em tempos, o seu florescimento e

sementeação, o que garante a ressemeadura natural e pereniza a forrageira na

pastagem. Para tanto, é necessário fazer o diferimento do pastejo de um ou dois

piquetes a cada ano no período de florescimento e sementeação da leguminosa.

Aliás, igual providência deve ser considerada também com relação à gramínea.

Nesse sentido é primordial, para que se obtenha sucesso na consorciação, a

escolha de leguminosas precoces, ou seja, que apresentem florescimento entre

março e maio, época do ano na qual ainda é possível vedar a área ao pastejo sem

prejuízo na alimentação dos animais.

A consorciação com leguminosas tardias, com florescimento entre junho e

agosto, impossibilita essa prática, pois o florescimento ocorre na época de menor

disponibilidade de forragem em nossa região. Dessa maneira, sem a possibilidade

de ressemeadura natural, a tendência é o desaparecimento ou a diminuição

acentuada da presença da leguminosa em dois ou três anos. Essa é,

indubitavelmente, uma das principais causas da dificuldade verificada, pela maioria

dos pecuaristas, na manutenção de pastagens consorciadas.

Com relação a isso há uma certa parcela de culpa por parte dos técnicos

envolvidos nos processos de estudo e seleção dessas forrageiras, que muitas vezes,

por levar em conta somente o potencial produtivo em termos quantidade de

Page 35: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

MS/ha/ano, elegiam como mais adequadas àquelas espécies ou cultivares que

sobressaiam nas parcelas dos campos de ensaios nesse aspecto. Como as

leguminosas diminuem drasticamente o crescimento vegetativo ao florescerem,

aquelas que florescem primeiro (precoces) tem menor período de crescimento

vegetativo e, portanto, menor produção de MS em relação às tardias. Estas, por

permanecerem em vegetação por maior período de tempo, acabam apresentando

maior produção das MS por área. Em face disso a grande maioria das leguminosas

disponíveis no mercado são de variedades tardias.

Dessa maneira, para que haja sucesso na consorciação, os seguintes

aspectos devem ser levados em conta:

• Adequação da leguminosa e gramínea às condição de clima de solo da região;

• Bom potencial de produção de sementes de ambas forrageiras;

• Utilização de cultivares precoces de leguminosas;

• Manutenção de níveis adequados de fertilidade, notadamente de micronutrientes;

• Adequação do manejo aos hábitos de crescimento das forrageiras, com ênfase

para a leguminosa;

• Determinação de épocas oportunas de diferimento do pastejo para possibilitar o

florescimento e ressemeadura natural das forrageiras.

7. Manejo e lotação do pasto

O manejo adequado das pastagens, a serem utilizadas por ovinos, deve

obrigatoriamente levar em conta dois aspectos: a obtenção de forragem em níveis

elevados de qualidade e quantidade e a manutenção de um reduzido nível de

contaminação por ovos e larvas dos helmintos (endoparasitas). Estes dois pontos

irão refletir na carga animal a ser utilizada, ou seja, no número de matrizes que as

pastagens poderão manter.

Visando-se exploração intensiva das áreas disponíveis, determina-se o

número total de matrizes da criação, que representará a carga animal máxima, com

base na área de pastagens efetivamente disponível e no potencial de produção

anual, em termo de produção de MS da forrageira predominante. Considera-se

constante o número de matrizes durante todo o ano e admite-se já, de princípio, a

necessidade de utilização de forragem conservada (preferencialmente silagem) para

suprir deficiência de alimento no período “seco”.

Page 36: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Na definição da carga animal deve se considerar ainda uma perda média por

acamamento e pisoteio de aproximadamente 20% do total da MS produzida e uma

média de ingestão de MS de 3,0% do peso vivo (PV) cabeça/dia.

A título de ilustração e considerando-se as condições existentes no Instituto

de Zootecnia em Nova Odessa (SP), estimou-se o potencial médio de produção de

forrageiras como o Aruana, Coast Cross, Tiffton e Transvala em 18 a 20 toneladas

de MS/ha/ano, para condições de manejo rotacionado e nível de reposição anual de

N de 250 a 300kg/ha. Nessas condições a lotação máxima da pastagem seria de

aproximadamente 30 cabeças/ha, considerando-se valores médios de:

• Peso vivo de matriz = 60kg

• Intervalo entre partos = 8 meses

• Numero de parições = 1,5/matriz/ano

• Período de aleitamento =52 dias/ parição (45 a 60 dias)

• Período de confinamento em aleitamento de crias = 78 dias/ano

• Período de pastejo = 287 dias/ano

• Consumo diário de MS = 1,8 kg (3% do PV)

• Consumo total de MS de forragem em pastejo =517kg MS/ matriz/ano (a)

• Produção de forragem =19.000kg de MS/ha de pasto/ano

• Perda de forragem por acamamento e pisoteio = 3.800 kg de MS

• Forragem disponível = 15.200kg de MS/ ha de pasto/ano(b)

• Lotação máxima = 30 cabeças / ha ano (b/a)

Deve ser lembrado ainda a necessidade do plantio, anualmente, de uma área

de 1,5 ha de milho ou de sorgo para a produção de silagem e de 1,0 ha de capineira,

para um módulo de criação de 100 matrizes, estando incluído nessa estimativa, o

consumo das matrizes, crias e reprodutores.

As pastagens devem ser manejadas, obrigatoriamente, em esquema de

rotação, visando principalmente manter-se o controle da infestação da forragem por

larvas de helmintos em níveis mais baixo possíveis. Deve-se evitar períodos de

ocupação superiores a 5 a 7 dias, visando minimizar a exposição dos animais às

larvas infestantes (L3) eclodidas naquele mesmo ciclo de pastejo (auto infestação).

Dessa maneira, quando a população de larvas infestantes torna-se significativa, os

ovinos já terão saído daquela área de pastagem, cuja forragem estará bastante

rebaixada, ficando as larvas sem hospedeiros e expostas as intempéries climáticas

Page 37: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

(radiação solar e vento). O período de repouso irá variar em função da época e do

ano, das condições climáticas, da forrageira e das condições de fertilidade do solo.

Em média, considera-se um período de 35 a 45 dias como suficiente para se ter uma

boa recuperação da forrageira, além de uma considerável diminuição na quantidade

de larvas infestantes.

Resultados bastante positivos podem ser obtidos dividindo-se a área total de

pastagem em 5 ou 6 piquetes, utilizados em rotação direta do inverno. No período

de verão cada um desses piquetes é subdividido em três, com uso de cerca elétrica,

liberando-se 1/3 da área de cada vez para pastejo em faixas. Nos períodos de

condições climáticas intermediárias (primavera e outono), pode-se reduzir para duas

o número de subdivisões de cada piquete.

Nesse esquema as novas faixas são acrescentadas aquelas já pastejadas, as

quais, apesar de continuarem acessíveis aos animais, não são mais pastejadas, seja

por não possuírem forragem, seja pelo acúmulo de urina e fezes. Essas áreas,

todavia, são preferidas pelos animais para descanso e ruminação, diminuindo assim

as perdas por acamamento e pisoteio na área em pastejo efetivo.

Outra prática interessante, e que pode resultar em menor taxa infestação dos

animais por larvas de helmintos, é a restrição do pastejo nas primeiras horas do dia,

quando a pastagem, em razão do orvalho, ainda apresenta elevado teor de

umidade. Nessas condições as larvas apresentam-se distribuídas em todo o perfil da

pastagem. Quando o orvalho seca e a umidade do topo das plantas vai diminuindo

em função da radiação solar, as larvas tendem a migrar para as partes mais baixas

da planta em busca de ambiente mais sombreado e com maior umidade, que

ofereça maior proteção contra a radiação solar e contra a dessecação.

Nessas condições, apesar de poder haver um alto nível de infestação na

área, como as larvas estão concentradas nas partes mais baixas das plantas, os

ovinos, pelo fato de executarem um pastejo mais de topo, estarão ingerindo

forragem com menor contaminação, reduzindo assim sua infestação por

endoparasitas. Esse efeito é notório em forrageiras de habito cespitoso, no período

de maior vegetação da forragem, correspondente ao verão chuvoso das regiões

Sudeste e Centro Oeste. No período de inverno essa prática não apresenta

resultados significativos. Com forrageiras de hábito prostrado (estolonífero), mesmo

no verão não se observa resposta considerável a esse procedimento.

Outra prática a ser adotada no esquema de controle da verminose é a

utilização concomitante da área de pastejo por bovinos e/ou eqüinos. Isso se deve a

Page 38: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

baixa possibilidade de infestação cruzada entre as diferentes espécies de helmintos

que parasitam cada uma delas e ao papel de limpeza que cada espécie efetua para

a outra quando ingere ou elimina nas pastagens larvas de vermes específicas da

outra espécie. Há ainda que se considerar o aspecto positivo que a consorciação de

espécies com diferentes hábitos de pastejo exerce sobre a quantidade e qualidade

de forragem, em função da maior uniformidade e equilíbrio no pastejo.

8. Importância da fertilidade do solo

Elevada produtividade de alto valor nutritivo são características essenciais

nas forrageiras a serem utilizadas com ovinos. Para tanto é necessário que o nível

de fertilidade do solo seja compatível com as exigências da forrageira. Capins como

Coast Cross, Tiffton, Aruana e Tanzânia, em função do elevado valor nutritivo,

notadamente em função dos teores de proteína e minerais bastante significativos,

exigem solos com elevada capacidade de saturação de base (V%) e altos teores de

nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), além dos micronutrientes.

A redução da fertilidade, em função da contínua remoção de nutrientes

promovida pelo pastejo e ainda pela lixiviação, resulta em gradativa redução na

produtividade, bem como na qualidade da forragem. Isto exige a reposição

constante dos nutrientes através da fertilização. E, apesar de o N ser

indubitavelmente o nutriente de maior efeito na produção de MS das gramíneas, a

resposta a esse nutriente é limitada pela deficiência dos demais.

Pesquisas conduzidas no instituto Zootécnica, em Nova Odessa, mostraram

que o parcelamento da reposição de N, aplicando-se 2/3 da dose total no final do

período das chuvas e o 1/3 restante no inicio do período das chuvas, resultou em

maior produção de forragem por área, bem como na melhoria na distribuição da

produção durante o ano, com aumento proporcionalmente maior no período da

estiagem.

VI. CONSORCIAÇÃO DE OVINOS COM CULTURAS

VEGETAIS E ANIMAIS

Este capítulo foi extraído de.Sobrinho (1993).

Page 39: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

1. Introdução

A criação de ovinos, no estado de São Paulo, deveria constituir numa das

principais fontes de riqueza, dadas às condições de ordem econômica, climática e

agrostológica que se verificam. Entretanto, estima-se que o estado de São Paulo

possua apenas pouco mais de 250.000 cabeças de ovinos, cuja produção de lã não

deve ultrapassar 300 toneladas. Por outro lado, além de termos condições

ecológicas adequadas à produção de lã e carne, possuímos um vasto mercado

interno para absorver, em crescente proporção, qualquer quantidade desses

produtos; e com o advento da fibra sintética, devemos manter a lã na condição de

produto insubstituível, melhorando os métodos de produção por meio de

investigações científicas e experimentações.

Dentre estas, considera-se de caráter emergente, pela inexistência de

trabalhos, estudos sobre consorciação de ovinos com outras culturas vegetais e

animais. No primeiro caso, as observações levariam a concluir se os ovinos

poderiam ser utilizados no combate às ervas daninhas das culturas sem danos a

estas (ataque à casca do caule, ingestão de folhas, mudas novas e frutos), assim

como se os animais apresentariam desenvolvimento ponderal e qualidade de lã

(matéria vegetal aderida) satisfatória, sendo também permitido concluir sobre as

épocas em que os animais poderiam ter acesso à cultura em consorciação, levando-

se em consideração os tratos culturais.

No segundo caso, ou seja, consorciação de ovinos (bovinos, eqüinos e

periferia de tanques de piscicultura), embora seja praticada por um pequeno número

adeptos, também se apresenta ainda sem embasamentos científicos, embora seja

sabido que ambas as espécies se beneficiem em tal consorciação, principalmente no

tocante às infestações parasitárias, devido ao fato de não serem cruzadas, e como

recurso para melhor aproveitamento das pastagens.

2. Algumas culturas vegetais viáveis

Desde algum tempo, tem-se preconizado a criação de ovinos em áreas

ocupadas por culturas perenes como cafezais, laranjais e macieiras, com o intuito da

utilização do espaço disponível entre as árvores, freqüentemente invadido por outras

plantas; notadamente algumas espécies de gramíneas que se constituem em

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

problemas para o manejo da cultura em questão, mas que se aplicam perfeitamente

na alimentação dos ovinos.

Não é comum se creditar aos ovinos o hábito de ingerir plantas lenhosas a

não ser em condições ecológicas especiais ou quando há falta de outros alimentos.

São vários os fatores que influenciam a seleção e composição da dieta dos

ruminantes, configurando um quadro complexo.

No caso da consorciação de ovinos com culturas, parece ser a complexidade

devida ao grande número de seus componentes botânicos. Entretanto, caprinos e

ovinos mantidos em caatinga, tiveram a composição florística de suas dietas

variando do mínimo de cinco ao máximo de doze espécies botânicas ao longo do

ano. Esse fato demonstra que a apetibilidade de uma dada espécie botânica da

pastagem varia em função de sua abundância, dos outros componentes a ela

associados, do tipo animal, do ano e da época do ano, e da familiaridade do animal

com a pastagem.

A preferência alimentar sobre as forragens também varia de acordo com a

espécie animal e com a intensidade do pastoreio. Em termos gerais, os bovinos e

ovinos tendem a pastejar mais gramíneas, enquanto que os caprinos parecem

preferir o consumo de espécies lenhosas.

2.1. Café e Cítricos

Muita ênfase se tem dado ao barateamento dos pastos destinados às

ovelhas, de forma a reduzir o custo de produção das mesmas, buscando-se

pastagens alternativas que possam alimentá-las convenientemente. Entre tantas, a

colocação de ovelhas em lavouras permanentes, onde possam, além de utilizar uma

pastagem barata (e porque não dizer indesejável), prestar serviços na limpeza

destas.

No tocante à consorciação de ovinos com culturas de café e cítricos, embora

as condições de limpeza dessas culturas hajam melhorado, é viável a introdução de

métodos simples e econômicos (controle biológico) que permitam ao produtor

manter suas lavouras livres de ervas daninhas que predominam nesta ou naquela

região.

Desses vegetais, a maioria tem ciclo vegetativo de cerca de 60 dias, dentro

dos quais deverão ser eliminados a fim de evitar concorrência com a cultura e

produção de sementes. Assim, os ovinos tenderiam a manter limpo o solo sob a

Page 41: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

cultura, pois os vegetais à sombra mantêm-se mais tenros, havendo preferência da

espécie por estes.

Em lavoura de café já se tem alguma pequena experiência e observa-se, em

algumas propriedades, que o efeito foi bastante satisfatório, mesmo porque, nem

sempre os pastos recebem cargas de corretivos ou adubações tão grandes, como o

recebem as invasoras, presentes nas ruas da lavoura. No entanto, não existem

ainda dados muito precisos acerca de tal prática, visto que as condições são

extremamente variáveis, não se podendo prever as taxas de lotação e suporte por

ano.

O que se sabe, é que as ovelhas e cordeiros são totalmente avessos às

folhas do cafeeiro, não as consumindo sob nenhuma hipótese, mas apresentando

indícios de consumirem os grãos, tão logo comecem a amadurecer. Nessa época,

porém, os próprios tratos culturais, como arruamento (abril – maio), impedem que se

coloque as ovelhas na mesma. Daí, até a esparramação (agosto – setembro), as

ovelhas não deverão ter acesso à lavoura.

Em trabalhos desenvolvidos com ovinos para controle de mato em cafezais,

observou-se que os carneiros não ingerem folhas ou brotações do cafeeiro, mesmo

na falta de outras plantas, sendo, portanto, seletivos a cafeeiros. Dentre as ervas,

preferiram as plantas de folha estreita como a grama-seda (Cynodon dactylon),

capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capim-colchão (Digitaria sanguinalis sp),

picão preto (Bidens pilosa), caruru (Amaranthus sp) e botão-de-ouro (Galinsoga

parviflora), deixando de comer mentrasto (Ageratum conyzoides), Joá-bravo

(Solanum sisymbriifolium) e guanxuma (Sidasp), sendo que o sapé (Imperata

brasiliensis) foi aceito somente quando novo. Sendo necessário o desenvolvimento

de estudo mais aprofundado sobre a relação entre a quantidade de mato ingerida e

a quantidade de ervas produzidas por área.

As lavouras de citrus também têm sido vistas como capazes de fornecer

pastagens de excelente qualidade aos ovinos. No entanto, pode-se observar em

algumas propriedades que se utilizaram dessa prática, que as ovelhas preferem as

ervas daninhas das entrelinhas, não deixando de consumir as folhas das laranjeiras

e limoeiros que estiverem ao alcance. Assim, a menos que haja alguma medida de

contorno a esse entrave, não se recomenda a consorciação ovelha-cítricos.

Em qualquer um desses casos, é importante observar que a incidência de

carrapichos e picões em tais pastagens, pode comprometer sensivelmente a

Page 42: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

qualidade de lã (lã com semente ou carrapicho), devendo haver uma tosquia dos

animais antes de sua entrada para a lavoura.

2.2. Seringueira

Considerando que a cultura da seringueira ocupa grandes áreas, por

necessitar de grandes espaçamentos, há grandes possibilidades de sucesso na

consorciação, principalmente devido ao fato de a cultura não necessitar de

pulverizações.

2.3. Manga

A cultura da manga também apresenta grandes espaçamentos (9x9m a

11x11m, em solos pobres) e os ovinos entrariam como uma fonte de renda adicional,

visto que a manga só produz uma colheita por ano, além de deixarem o espaço

intercalar entre as plantas limpo, havendo ainda fertilização do solo atribuída ao

esterco.

Os animais deverão permanecer em pastejo durante o dia, sendo recolhidos

à noite em um aprisco ou cercado, de modo a evitar o ataque de predadores. No

período da safra, os animais serão retirados para outra área, devendo ser também

movidos quando da aplicação de inseticidas ou fungicidas, levando-se em

consideração o período de carência de cada produto.

Um aspecto que preocupa em tal consorciação, é o fato de termos

informações de que alguns ovinos ingerem o fruto da cultura em questão, sendo

constatado ovinos com um grande número de sementes no rúmen.

2.4. Milho

Este consórcio vem sendo adotado na Cabanha Sinuelo, município de Lagoa

Vermelha, RS, em experimento com terminação dos animais em lavoura de milho.

O rebanho é composto por 60 ovelhas da raça Hampshire Down, maioria SO

(seleção ovina), manejados numa área de 10 ha, sendo que para o experimento são

utilizados apenas quatro hectares.

O trabalho se baseia em colocar, a partir de dezembro, quando o milho

plantado mais cedo está com um porte mais alto, os cordeiros nascidos em final de

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

agosto e início de setembro, recém-desmamados. Nessa fase, os cordeiros comem

apenas as gramíneas entre as plantas e as folhas mais baixas do milho, não

prejudicando o desenvolvimento normal da cultura.

Na segunda quinzena de março, são semeados nessa mesma área de milho,

aveia para pastagem; quando esta começa a nascer, os animais são retirados e

abatidos, obtendo-se carcaças pesando em média 15 Kg.

Assim, importante é o resultado econômico dessa sistemática, por permitir

uma produção praticamente sem custos e sem interferir nas demais atividades,

sendo adequada para pequenas áreas onde a necessidade de diversificação é

acentuada, comprovando a tese de que as pequenas propriedades podem absorver

a criação de ovinos com boa lucratividade.

2.5. Maçã

Os ovinos realizam um perfeito equilíbrio agropecuário quando criados em

culturas de maçãs. A macieira é uma planta não atacada pelos ovinos, mesmo em

se tratando de mudas novas.

Tal consorciação foi levada a efeito na Estância e Cabanha Vila Rica, no

município de Itapetininga , SP, com resultados animadores, utilizando-se ovinos de

raça Ideal (Polwath).

2.6. Amoreira

Em países europeus, tal consorciação é levada a efeito considerando que,

naquelas condições, essa cultura se apresenta com o aspecto arbóreo.

No Brasil, considerando o maior número de cortes e a apresentação ramosa

da planta, somados à sua elevada palatabilidade, poderá implicar em um pastejo

muito intenso, aumentando a relação haste: folha. Dessa forma, em nossas

condições, devemos evitar a consorciação, podendo-se fornecer as folhas de

amoreira verdes ou conservadas, no cocho, considerando o elevado teor protéico da

mesma.

2.7. Áreas Reflorestadas

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

O sistema silvopastoril, que consiste na consorciação de espécies florestais

com pecuária, pretende acabar com o conceito de que as áreas reflorestadas são

impróprias a outras explorações durante o ciclo das árvores.

Vale ressaltar a utilização desse sistema pela companhia Agrícola e Florestal

Santa Bárbara, no Vale do Rio Doce (MG), onde foram utilizados gado bovino e

ovino visando reduzir o capim colonião predominante entre as mudas da espécie

florestal.

Análises de dados relacionados com tal consorciação incorreram numa série

de vantagens, dentre as quais o controle das gramíneas, na maioria das vezes, as

principais invasoras nos povoados florestais.

Em virtude das condições climáticas favoráveis, o capim colonião (Panicum

maximum, Jacq) é muito agressivo, apresentando crescimento rápido, o que obriga

as empresas florestais a realizarem de quatro a seis capinas anuais, onerando os

custos do empreendimento. Nas áreas planas, é viável a capina mecanizada,

entretanto, nos locais de topografia irregular, é utilizado trabalho braçal.

Assim, além de concorrer com as mudas de eucalipto na absorção de

nutrientes, o capim colonião, na sua fase avançada de desenvolvimento, dificulta o

combate às formigas, além de facilitar a propagação de incêndios florestais.

A criação de ovinos é, portanto, alternativa econômica para o empresário

florestal, sendo necessário que haja, na composição dos lotes, a presença de

bovinos, pois estes farão o rebaixamento da vegetação, facilitando a atuação dos

ovinos com seu hábito de pastejo rasteiro. A consorciação de bezerros e ovelhas em

áreas de eucaliptos recém-plantadas, antes da primeira capina, levou a concluir que

o local não sofreu qualquer dano até os dois anos de consorciação, sendo que a

taxa de lotação adequada foi de 1 UA/ha/ano, havendo, inclusive, ganho de peso

dos animais.

Sabe-se de experiências de consorciação de ovinos, até então bem

sucedidas, em lavoura de pêssegos e ameixas, não tendo havido, até o presente,

trabalhos que pudessem quantificar os resultados.

3. Consorciação com cultura animais – pastoreio múltiplo

O sistema de produção mista (bovinos de corte e ovinos) está bastante

generalizado na zona pecuária do Rio Grande do Sul. Para dar uma idéia de sua

importância, é suficiente mencionar que os bovinos de corte contribuem com 16,4%

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

do valor bruto da produção agropecuária do Rio Grande do Sul e os ovinos com

4,5%. A chamada pecuária extensiva (bovinos de corte, ovinos, eqüinos e outros)

ocupa, aproximadamente, 150.000 Km e se constitui em atividade bastante

importante em mais de 60.000 unidades de produção agropecuária daquele Estado.

Em geral, bovinos de corte e ovinos são explorados segundo um sistema

tradicional, pouco tecnificado e que apresenta níveis baixos de produtividade, com

altos índices de mortalidade e baixos rendimentos de lã por ovino e por hectare.

Devido a essa situação, é impossível encontrar uma solução para o

desenvolvimento agropecuário do Rio Grande do Sul, sem contemplar o incremento

da eficiência sócio-econômica do sistema de produção mista: bovinos de corte e

ovinos.

3.1. Pastoreio Múltiplo

A maioria dos trabalhos em pastoreio combinado é oriunda de autores norte-

americanos e sul-africanos, sendo que os últimos dedicam-se mais ao estudo do

pastoreio combinado de ruminantes domésticos. O pastoreio contínuo por ovinos é

considerado mais prejudicial à pastagem do que o de caprinos, em virtude da maior

intensidade de pastejo daqueles sobre os componentes da vegetação do estrato

herbáceo, resultando em maior exposição do solo.

Os efeitos do pastoreio múltiplo de caprinos e bovinos em pastagens de

vegetação arbórea e arbustiva foram avaliados na África do Sul. O trabalho

desenvolveu-se em duas fases. A primeira, que perdurou por seis anos, incluiu áreas

de pastoreio por bovinos e áreas por caprinos. Nesta primeira etapa, o desempenho

dos bovinos superou ao dos caprinos e ao das duas espécies combinadas. Todavia,

as parcelas submetidas ao uso por caprinos tiveram a sua produção de gramíneas

aumentada, sendo controlada sua cobertura arbustiva. Foi, então, iniciada a

segunda fase da pesquisa, em que os piquetes, anteriormente utilizados por

bovinos, passaram a sê-lo por caprinos e vice-versa. Ambas as espécies se

beneficiaram, apresentando ganhos de peso superiores aos obtidos na primeira

fase. Assim, o autor concluiu que, em longo prazo, a combinação das duas espécies

seria a melhor opção. A proporção sugerida seria de um bovino para dois caprinos.

Por sua vez, o pastoreio de cavalos, altamente seletivos por gramíneas,

favoreceu o crescimento do arbusto Purshia tridentata, principal componente da

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

dieta de veados e alces. Assim, a combinação das três espécies herbívoras resultou

no uso mais uniforme da pastagem e melhorou o seu desempenho produtivo.

Em trabalho desenvolvido na Austrália, em uma pastagem com vegetação

predominada pelo eucalipto (Eucaliptus populnea) com substrato de arbustos e uma

camada herbácea de gramíneas e ervas de folha larga, comparou as dietas de

caprinos, ovinos e bovinos. A superposição das dietas variou com as espécies

animais comparadas e com a época do ano. Ovinos e bovinos mostraram maior

competição, enquanto caprinos e ovinos tiveram menor superposição das dietas. O

autor concluiu que o pastoreio por duas ou mais espécies herbívoras resultou em

melhor distribuição da pressão do pastejo, uso mais completo de um maior número

de componentes da vegetação e benefício mútuo para as espécies animais.

Segundo os dados de diversos trabalhos, ovinos em pastagem nativa

preferiram 62% de gramíneas, 15% de ervas e 23% de ramas. Por sua vez, ovinos

em condições de super-pastoreio consumiram 79% de gramíneas, 8% de ervas e

14% de ramas, enquanto que em pastagens não pastejadas, preferiram 29% de

gramíneas, 42% de ervas e 30% de ramas. Em outra pesquisa, foi constatado que a

dieta de ovinos era de 60% de gramíneas, 18% de ervas e 22% de arbustos,

enquanto que os caprinos apresentaram, em sua dieta, 48% de gramíneas, 40% de

arbustos e 12% de ervas.

3.2. Descontaminação de Pastagens

A descontaminação das pastagens é realizada pela utilização da espécie

ovina em pastejo alternado com bovinos e eqüinos. Trata-se de uma prática

baseada na especificidade parasitária dos vermes, ou seja, larvas infectantes dos

parasitas de ovinos que forem ingeridas por eqüinos serão destruídas, pois não

encontrarão ambiente adequado para seu desenvolvimento, em se tratando de um

hospedeiro de outra espécie.

Como exceção temos o T. axei, que infecta ruminantes e eqüinos. Tal fato

não é preocupante, pois o principal parasita dos ovinos é o Haemonchus e não

Trichostrongylus, o que credencia os eqüinos para descontaminar pastagens de

ovinos e vice-versa.

Quanto ao pastejo misto, envolvendo bovinos e ovinos, estudo comparativo

da prevalência de nematódios gastrintestinais em ovinos e bovinos criados na

mesma pastagem, em condições do Rio Grande do Sul, revelou a não ocorrência de

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

infestações cruzadas por espécies dos gêneros Haemonchus, Oesophagostomum,

Nematodirus e Bunostomum, sendo que apenas algumas espécies dos gêneros

Cooperia e Trichostrongylus axei apresentaram infestações cruzadas.

Tendo por base as características morfológicas e biológicas, Haemonchus

contortus é caracterizado como parasita de ovinos, enquanto H. Placei, como de

bovinos, sendo completamente inexpressiva a infestação natural cruzada ovino-

bovino.

Na Austrália, é relatado que Haemonchus placei é um parasita

preferencialmente de bovinos, enquanto H. contortus é um parasita de ovinos, o que

foi confirmado por estudos que verificaram redução significativa na contaminação de

pastagens de ovinos por H. contortus e T. colubriformes, quando estas foram

submetidas a pastejo prévio com bovinos jovens.

No Brasil, piquetes mantidos com bovinos adultos, por dois e quatro meses,

apresentaram níveis de contaminação inferiores aos dos campos manejados com

pastejo misto (bovinos e ovinos) ou somente com ovinos. Por outro lado, quando foi

realizado pastoreio alternado com bezerros e ovinos, a contaminação da pastagem

apresentou os maiores níveis, sugerindo a ocorrência de infestações cruzadas dos

vermes entre bovinos e ovinos. Tal constatação deveu-se ao fato de que as

espécies de Haemonchus estudadas (H. contortus e H. placei) podem parasitar

ovinos e bovinos.

A questão também pode ser explicada pelo fato dos bovinos adultos

apresentaram uma resistência bastante elevada à verminose. Assim, devido à

resposta imunitária do hospedeiro, a maioria das larvas infectantes ingeridas por

esses animais são destruídas no aparelho digestivo, o mesmo não acontecendo com

os bovinos jovens.

Em São Paulo, torna-se necessária à realização de experimentos visando

verificar quais as espécies de Haemonchus que parasitam bovinos e ovinos criados

juntos ou isoladamente, de forma a orientar os ovinocultores com segurança,

podendo-se, desde já, recomendar a utilização apenas de bovinos adultos ou de

eqüinos como descontaminadores das pastagens no estado. Esses animais irão

ingerir o capim com as larvas infectantes para os ovinos, as quais, em sua maioria,

serão destruídas no aparelho digestivo desses animais por encontrarem um

hospedeiro inadequado para sua instalação ou um animal resistente ao parasita.

Assim, os bovinos ou eqüinos deverão permanecer cerca de dois meses nos

piquetes escolhidos para que sejam estes descontaminados. Após este período, os

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

piquetes devem permanecer sem animais até que haja recuperação da pastagem, o

que irá variar com a época do ano, tipo de forragem e uso de irrigação.

Considerando que as categorias que apresentam maior susceptibilidade à

verminose são ovelhas em final de gestação e início de lactação e cordeiros a partir

do desmame, esses animais deverão ser destinados às pastagens

descontaminadas. Caso não seja possível prepará-las, tanto para as ovelhas quanto

para os cordeiros, deve-se dar preferência aos últimos, por serem estes mais

suscetíveis. É importante lembrar que as medidas de descontaminação dos piquetes

selecionados, deverão iniciar com base na data prevista para o início das parições.

Para que seja retardada a recontaminação das pastagens, deve-se

administrar aos ovinos um anti-helmíntico de amplo espectro, antes da introdução

desses animais nas pastagens.

3.3. Consorciação de ovinos com áreas próximas a conjunto de

tanques e viveiros de peixe

Tanques de piscicultura são recintos construídos de terra ou alvenaria,

destinados à reprodução, estocagem de alevinos e matrizes e manejo de peixes. Por

outro lado, os viveiros são recintos de terra destinados exclusivamente ao

crescimento e engorda dos peixes.

No caso da consorciação com a espécie ovina, as construções sofisticadas,

como as dos tanques de alvenaria ou concreto, devem ser evitadas, dando-se

preferência às de terra, formadas pela escavação do terreno e por diques, ou de

barragem, por permitirem um melhor deslocamento dos animais em toda a área,

explorando até mesmo a vegetação lateral muito próxima à lâmina d’água.

Quanto à vegetação disponível para os ovinos, deve consistir-se de

gramíneas de hábito de crescimento prostrado bastante rizomatosas, de modo a

evitar a erosão da orla dos tanques, coincidindo com a preferência dos ovinos.

VII. NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE OVINOS

Este capítulo foi extraído de Carvalho et al. (2001) e Valverde (2000). Serão

abordados todos os aspectos relacionados com a nutrição e alimentação de ovinos,

exceto aqueles referentes à utilização de pastagens, já abordados no capítulo V.

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

1. Exigências nutricionais

As exigências nutricionais dos ovinos em proteína, energia, minerais e

vitaminas variam em função de vários fatores, tais como:

• Raça: as raças mais precoces e de grande porte, como as especializadas na

produção de carne, tendem a apresentar maior exigência nutricional que as

raças produtoras de lã ou mistas. Já as raças deslanadas apresentam-se,

ainda, menos exigentes;

• Idade: os animais mais jovens tendem a apresentar maiores exigências, em

razão do maior ritmo de crescimento;

• Categoria ou situação fisiológica: o estado fisiológico afeta

significativamente as exigências nutricionais. A gestação, principalmente em

seu terço final, e a lactação levam a um aumento considerável dessas

exigências;

• Sistema de criação: em criações extensivas, onde os animais têm de

percorrer grandes distâncias entre áreas de pastejo, saleiros ou bebedouros,

as exigências nutricionais, principalmente em energia, tendem a ser maiores

que a dos animais em pastagens menores e mais produtivas.

2. Suplementação e rações

De maneira geral, os ovinos podem ser mantidos exclusivamente em regime

de pastagem, tendo sempre à vontade água e sal mineral. No entanto, em

determinadas situações relacionadas à época do ano, exigência da categoria animal

e manejo do rebanho, pode ser necessário o fornecimento de um suplemento ou

complemento alimentar.

Forrageiras conservadas e rações balanceadas são, normalmente, ou

suplementos utilizados. Quando as condições e os níveis nutricionais da pastagem

forem bons, poderemos oferecer rações mais simples, apenas para manutenção,

como, por exemplo, ao prender os animais a noite. Por outro lado, quando as

pastagens estiverem degradadas, as suplementações deverão ser ricas em proteína

e energia.

As suplementações formadas por rações concentradas devem se fornecidas

na quantidade de 30 a 40% do total de matéria seca (MS) consumida.

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

A seguir, apresentaremos algumas fórmulas de rações com os principais

ingredientes:

2.1. Rações complexas

1) Feno coast-cross 30%

Rolão milho 20%

Milho (fubá) 33,5%

Farelo de soja (45% PB) 15%

Calcário calcítico 1,5%

Valores nutricionais: 13,5% PB; 65% NDT; 0,69% Ca e 0,3% P

2) Feno de alfafa 35%

Milho (fubá) 30%

Farelo de soja 15%

Farelo de trigo 19%

Calcário calcítico 1%

Valores nutricionais: 18% PB; 65% NDT; 0,8% Ca e 0,4% P

3) Feno de alfafa 35%

Milho (fubá) 36%

Farelo de trigo 28%

Calcário calcítico 1%

Valores nutricionais: 16% PB; 65% NDT; 0,8% Ca e 0,4% P

As rações acima já contêm o volumoso; portanto, seu fornecimento deve ser à

vontade para os animais, que também devem ter sempre à disposição sal mineral.

As rações cujo volumoso é o feno de alfafa apresentam custo mais elevado; no

entanto, melhoram bastante a lã e o estado geral dos animais.

Outra opção seria o fornecimento de volumoso e concentrado

separadamente. Neste caso, o volumoso (feno, capineira ou silagem) deve estar

sempre à disposição do animal e apresentar boa qualidade. No caso das capineiras,

estas devem ser oferecidas aos animais quando novas, ou seja, entre 45 a 90 dias

de crescimento, pois é nesta fase que apresentam melhor valor nutricional.

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

2.2. Concentrados

1) Milho (fubá) 70%

Farelo de soja 28%

Calcário calcítico 1,5%

Fosfato bicálcico 0,5%

Valores nutricionais: 19% PB; 76% NDT; 0,75% Ca e 0,4% P

2) Milho (fubá) 60%

Farelo de soja 23%

Farelo de trigo 15%

Calcário calcítico 2%

Valores nutricionais: 18,8% PB; 74% NDT; 0,82% Ca e 0,46% P

3) Milho (fubá) 68%

Farelo de algodão (28%) 30%

Calcário calcítico 2%

Valores nutricionais: 16% PB; 75% NDT; 0,8% Ca e 0,44% P

4) Milho (fubá) 52,8%

Farelo de soja 21,5%

Farelo de trigo 13%

Farelo de algodão 9,5%

Calcário calcítico 2%

Fosfato bicálcico 0,2%

Sal fino 1%

Valores nutricionais: 19,3% PB; 72% NDT; 0,86% Ca e 0,45% P

3. Confinamento de cordeiros

Atualmente, no estado de São Paulo, os melhores resultados para terminação

de cordeiros para abate ou recria de fêmeas são obtidos através do confinamento.

Principais vantagens do confinamento:

• Máximo aproveitamento da área disponível, pois não haverá necessidade de

reservar uma área para desmame dos cordeiros; esta área (25% da área

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

ocupada pelas matrizes) pode ser utilizada para aumentar o número de

fêmeas produzindo cordeiros;

• Menor taxa de mortalidade, pois, quando confinamos os cordeiros,

praticamente eliminamos o problema de verminose, a principal causa de

“perda” de cordeiros durante a recria.

Como desvantagem, podemos citar o aumento do custo, principalmente com

alimentação e mão-de-obra.

Os cordeiros a serem confinados devem ser recém-desmamados (45 a 90

dias) e estar em bom estado físico e sanitário. Os melhores animais para

confinamento são provenientes de cruzamento industrial, pois, devido ao “choque de

sangue” (heterose), apresentam excelente ganho de peso.

Com relação às instalações, poderemos utilizar mangueiras, barracões,

cercados ou mesmo a própria cabanha. O piso pode ser ripado, cimentado ou de

terra, evitando-se, no entanto, que haja locais em que a água emposse e onde

nasçam gramíneas. A cobertura pode ser total ou parcial, ou seja, pode cobrir

somente a linha de cocho e fornecer alguma sombra para os animais. A área a ser

considerada para cordeiros até 30Kg de peso é de 0,60 m2/cabeça, em instalações

totalmente cobertas, e 5 m2/cabeça quando somente a linha de cochos é coberta.

Tomada a decisão de confinar os cordeiros, devemos ter alguns cuidados:

• Sendo o consumo de alimentos cerca de 3 a 4% do peso vivo/cabeça/dia em

MS, deve-se programar sempre a mais para evitar mudanças dos

ingredientes da ração, bem como dos níveis de energia e proteína que

poderiam causar atrasos e perdas de peso;

• Sal mineral deve estar sempre à vontade;

• A castração e a descola são desnecessárias aos cordeiros confinados,

executando-se machos e fêmeas que serão recriados para reprodução;

• A tosquia no início do confinamento poderá aumentar o consumo de

alimentos e conseqüentemente o ganho de peso;

• Deve-se formar lotes com idade e tamanho homogêneos, para diminuir o

efeito da dominância;

• No caso de usar feno como volumoso na ração, aconselha-se picá-lo e

mistura-lo ao concentrado, a fim de evitar perdas e aumentar o consumo

deste ingrediente;

• Deve-se vermifugar os cordeiros antes de entrarem no confinamento;

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

• Quinze dias antes do desmame, os cordeiros devem ser vacinados contra

enterotoxemia, carbúnculo sintomático e gangrena gasosa (Sintomatina

Polivalente) com uma dose do reforço 15 a 21 dias após.

A seguir daremos exemplos de dietas para confinamento. Lembramos que

muitos outros alimentos podem ser utilizados, desde que estejam nas proporções

corretas. A escolha por um outro ingrediente vai depender de sua disponibilidade e

custo, em cada região.

Exigências nutricionais para confinamento (% MS)

PB = 14%; NDT = 65%; Ca = 0,8% e P = 0,4%

3.1. Rações completas para confinamento de cordeiros

1) Feno de gramínea 38%

Milho (fubá) 37,5%

Farelo de algodão 23%

Calcário calcítico 1,5%

Valores nutricionais: 14% PB; 62% NDT; 0,7% Ca e 0,35% P

2) Feno de gramínea 20%

Milho (fubá) 31%

Rolão de milho 22%

Farelo de soja 14%

Farelo de trigo 13%

Calcário calcítico 2%

Valores nutricionais: 15% PB; 68% NDT; 0,9% Ca e 0,4% P

3) Feno de gramínea 30%

Rolão de milho 55%

Farelo de soja 15%

Calcário calcítico 1,5%

Valores nutricionais: 13,5% PB; 62% NDT; 0,7% Ca e 0,3% P

Page 54: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

3.2. Concentrados para confinamento de cordeiros

1) Rolão de milho 60%

Farelo de algodão 40%

Calcário calcítico 2%

Valores nutricionais: 16% PB; 60% NDT; 0,9% Ca e 0,5% P

OBS.: este concentrado, pela quantidade de fibra existente, cerca de 12% de FB,

pode ser usado sem volumoso.

2) Milho (fubá) 58%

Farelo de soja 27%

Farelo de trigo 12%

Calcário calcítico 2%

Sal mineral para ovinos 1%

Valores nutricionais: 20% PB; 75% NDT; 0,9% Ca e 0,5% P

3) Rolão de milho 70%

Farelo de soja 30%

Calcário calcítico 1,3%

Valores nutricionais: 19% PB; 76% NDT; 0,6% Ca e 0,35% P

Se utilizarmos ração completa, esta deve ser oferecida à vontade aos

animais. No caso de utilizar concentrado e volumoso separadamente, deveremos

fornecê-los na seguinte proporção: ½ da MS em volumoso e ½ em concentrado.

Ex: em animais com 15 Kg de peso vivo, o consumo de MS é da ordem de 0,6

Kg/cab/dia; portanto deveremos fornecer aproximadamente 0,3 Kg de concentrado +

0,3 Kg de MS de volumoso, ou seja, aproximadamente 1,2 Kg de matéria verde.

4. Creep-feeding

Trata-se de um sistema em que os cordeiros em amamentação têm acesso a

uma suplementação alimentar, através de uma instalação onde apenas eles

conseguem ter acesso.

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

O sistema pode ser aplicado a partir dos 10 dias de idade dos cordeiros. A

instalação deve ser disposta em local sombreado (quando na pastagem) ou coberto,

preferencialmente em áreas de descanso do rebanho.

A ração do creep-feeding deve ser palatável e fornecida a vontade, formulada

preferencialmente por concentrado com altos valores de proteína e energia.

Sugestões:

1) Milho em grão moído ou fubá 76%

Farelo de soja 20%

Açúcar 2%

Calcário calcítico 1,5%

Sal mineral para ovinos 0,5%

Valores nutricionais: 17% PB; 78% NDT; 0,6% Ca e 0,3% P

2) Milho em grão moído ou fubá 70%

Farelo de algodão 26%

Açúcar 2%

Calcário calcítico 2%

Sal mineral para ovinos 0,5%

Valores nutricionais: 15% PB; 75% NDT; 0,8% Ca e 0,4% P

5. Alimentos para ovinos: suas características

5.1. Alimentos volumosos

5.1.1. Fenos

Os fenos (ou pasto seco) constituem alimentos de grande valor para a

alimentação dos ovinos e, especialmente, quando são de leguminosas. É

conveniente lembrar que o valor nutritivo dos fenos vai depender especialmente da

época de corte, dos métodos utilizados na colheita da pastagem, preparação,

proporção de folhas e armazenamento.

Em geral, pode-se dizer que todos os fenos de boa qualidade e muito

especialmente os de leguminosas (alfafa e trevos), podem compor perfeitamente

100% da ração nos ovinos.

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Como índice geral, o feno de leguminosas, cortado oportunamente e

preparado adequadamente, apresenta em torno de 52% de NDT na MS. O feno de

gramínea cortada no período de crescimento bem preparado, apresenta ao redor de

47% de NDT.

5.1.2. Palhas

Principalmente as palhas de cereais são mais alimentos de emergência,

podendo utilizar-se somente como parte da ração já que são de baixo valor nutritivo

e pouca palatabilidade. Assim, são pobres em energia, proteína, cálcio, fósforo e

vitaminas. Apresentam 35% de NDT e não se prestam para rações de produção. A

palha de aveia figura como a de maior valor, seguida de cevada e depois a de trigo.

5.1.3. Silagens

Quando há falta de forragens verdes, a silagem bem preparada é em alimento

suculento e apetecível, de grande utilidade.

a) Silagem de Milho – Essa forragem é satisfatória para a alimentação de ovinos, e

calcula-se um valor nutritivo comparativo (quilo a quilo) de 33% a 50% a respeito

de um feno de leguminosa. A boa silagem de milho contém, em média 52% de

NDT, e é boa fonte de caroteno. Em geral, exige energia e fósforo

suplementares.

b) Silagem de pastos – Sendo de boa qualidade e, especialmente elaborada, a

partir de leguminosas, tem um valor nutritivo e utilização semelhante à silagem

de milho, no entanto, é normalmente superior a este no seu conteúdo de proteína

e cálcio. Esse aspecto deve ser levado em conta de forma especial, já que isso

pode significar importante economia de suplementos protéicos.

c) Silagem de folhas e coroas de beterraba açucareira – Atribui-se um valor

nutritivo de 17 – 25%, em média, em comparação com o feno de leguminosas e

de 50%, comparando-se com a silagem de milho, embora em alguns casos,

quando é convenientemente suplementada, seu valor seja similar ao da silagem

de milho. Recomenda-se fornecê-la em quantidades não superiores a 35% - 40%

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

da ração total, principalmente pelo seu efeito laxante. Por isso, recomenda-se

sempre administrar com essa forragem um suplemento mineral de carbonato de

cálcio (120 g X 100 Kg de alimento), para evitar em parte esse problema e suprir

a deficiência de cálcio.

Para as folhas e coroas frescas de beterraba açucareira, recomendam-se as

mesmas normas gerais que para a silagem. Assim, essa forragem pode, então, ser

utilizada de três maneiras diferentes:

- Pastoreio direto no potreiro, uma vez que as raízes tenham sido retiradas.

- Amontoando a forragem em pilhas pequenas, para que perca certa quantidade

de umidade e logo levá-la até onde estão os animais, à medida que seja

necessário.

- Elaboração de silagem. Em alguns experimentos, tem-se fornecido essa silagem

a ovinos, como parte da ração em quantidades de 1.5 kg por animal, e por dia,

com bons resultados, mas suplementado com carbonato de cálcio.

Alguns pecuaristas não recomendam fornecer a cordeiros e carneiros grandes

quantidades dessa silagem, nem também a raiz fresca de beterraba açucareira,

porque em certas ocasiões, tem-se apresentado problemas de cálculos urinários

nesses animais.

d) Silagem de Sorgo – Essa forragem pode constituir um bom substituto da silagem

de milho, especialmente naqueles regiões, onde é difícil a obtenção de bons

rendimentos com o milho. Se lhe atribui um valor nutritivo de 25% a 30% junto a um

feno de leguminosa de boa qualidade.

5.1.4. Forragens de corte

Possuem característica, semelhante às dos pastos, porém, um pouco

inferiores, pois, quando pastejam, os animais rejeitam as partes menos apetecíveis

das plantas, de menor valor nutritivo, que são incluídas na colheita mecânica. A

composição e o valor nutritivo da planta cortada verde, dependem do estágio de

vegetação, da fertilidade do solo e de outros fatores.

Nas capineiras e culturas forrageiras para corte, é mais fácil o emprego de

fertilizantes e da irrigação, porque em áreas pequenas pode ser obtida uma grande

massa verde com diversos cortes anuais, embora o custo da forragem seja mais alto

que do pasto cortado diretamente pelos animais.

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

5.1.5. Pastos

O pasto de boa qualidade, em crescimento ativo, é o alimentos preferido

pelos ovinos. Como não-concentrado, é rico em energia, pois contém mais de 60%

de NDT na MS. A consorciação de leguminosas e gramíneas melhora os valores

nutritivos e protéicos das pastagens. Todavia, com o amadurecimento das plantas, o

valor do pasto decresce, a ponto de, nos períodos de seca prolongada, serem

insuficientes os teores de energia, proteína, fósforo e caroteno.

5.2. Raízes e tubérculos

Tem um alto conteúdo em água e, dessa maneira, sua porcentagem de MS

fica entre 10% e 15%, na maioria dos casos. Por essa razão, seu valor nutritivo no

estado fresco é escasso, comparado a outras forragens de um conteúdo de MS

superior, No entanto, as raízes e os tubérculos, tais como mandioca, batata doce,

beterraba, cenoura e nabos, possuem teores razoáveis de fósforo e são pobres em

proteínas e cálcio. Em geral, são, também, pobres em vitaminas, exceto a batata

doce e a cenoura que são fontes de caroteno. A MS possui um baixo conteúdo de

fibra que é muito digestível e de valor energético consideravelmente elevado, por

seu alto conteúdo de carboidratos (açúcares).

As raízes podem ser fornecidas ao gado ovino, segundo recomendações

européias, em quantidades que oscilem entre 7 e 9 kg diário por animal, cuidando-se

de suplementá-las, convenientemente, no que diz respeito ao cálcio, ao fósforo e à

vitamina A. Para engorda, calculam-se que as raízes e os tubérculos, tenham em

média, um valor comparativo de 68% em comparação com a silagem de milho.

Assim, 4 kg de raízes correspondem praticamente a 2.5 kg de silagem de milho ou a

1 kg de milho em grão.

Recomenda-se seu fornecimento convenientemente picados, evitando-se

possíveis problemas de atragamento e afogo nos animais.

5.3 Grãos, subprodutos e outros concentrados

Page 59: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Os cereais e seus subprodutos são muito usados na alimentação dos

animais, porque são de fácil produção em muitas regiões. São palatáveis e ricos em

energia, embora pobres em proteínas e minerais.

a) Aveia – Constitui o grão perfeito para a alimentação de ovinos (ovelhas,

carneiros, cordeiros de engorda). Possui alta palatabilidade um moderado

conteúdo de fibra que ajuda a evitar transtornos digestivo que são freqüentes ao

se fornecer grãos aos animais. Atribui-se lhe um valor nutritivo de 75% - 100%,

sendo que comparado ao milho em grão pode substituir de 10 a 100% do

alimento básico da ração, no entanto atinge seu maior valor quando substitui

somente uma porcentagem menor que 100%. Deve ser fornecida esmagada, ou

como grão inteiro moído grosso. Supera o milho em proteína, energia, cálcio e

fósforo.

b) Milho – Tem alto valor nutritivo e seu uso na alimentação ovina está restrito,

especialmente por seu preço elevado, comparado outros grãos. No caso de se

fornecê-lo aos animais, deve-se cuidar não fazê-lo em excesso, já que seu baixo

conteúdo de fibra e sua concentração nutritiva podem produzir transtornos

digestivos sérios. Além disso, é mais pobre em proteína que outros grãos de

cereais e seu conteúdo de cálcio é baixo, razões pelas quais se recomenda seu

fornecimento juntamente com uma forragem de boa qualidade, para se obter

máximo benefício. Deve ser fornecido aos ovinos de preferência como quirera ou

desintegrado, com ou sem palha.

c) Cevada, trigo, centeio – Esses grãos de cereais tem um valor nutritivo

semelhante, destacando-se os dois últimos pelo seu maior conteúdo em proteína

que o milho.

Constituem alimentos satisfatórios para o gado ovino e quando comparados com

o milho, seus valores relativos quanto à alimentação são: trigo 90% - 95%,

cevada 85% - 100% e centeio 83% - 87%. Podem substituir 100% do alimento

básico, porém, isso não é conveniente nem econômico, já que seu máximo

rendimento e utilidade é alcançado quando figura como complemento de uma

ração, cujo grosso está constituído por forragem de qualidade. Nesse aspecto,

deve-se lembrar que os grãos de cereais são, em geral, baixos em cálcio e sua

maior utilidade está no fato de fornecerem quantidades consideráveis de energia

Page 60: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

que deve ser administrado aos ovinos só em certos períodos críticos que

passaremos a analisar mais adiante.

d) Sorgo – Seu cultivo e utilização está especialmente indicado para aquelas

regiões onde não é possível conseguir bons rendimentos com o milho. Os grãos

de Sorgo podem substituir parcialmente o milho, embora possuam valor nutritivo

um pouco menor. Devem ser triturados grossos.

e) Farelo de trigo – Esse subproduto de moinho constitui um bom alimento para os

ovinos, alcançando um valor nutritivo relativo de 90% comparado ao milho,

quando usado em proporção não superior a 33% em substituição ao alimento

básico. Seu conteúdo protéico é superior ao dos grãos de cereais, sendo, talvez,

o alimento comum mais rico em fósforo. No entanto, é baixo em cálcio e contém

quantidades mínimas de vitimas A e D. Dado o seu conteúdo relativamente alto

em fibra, é um alimento “sadio” que não produz transtornos digestivos e,

conseqüentemente, pode constituir uma valiosa ajuda para tornar mais “leve” os

concentrados mais pesados e para iniciar os animais no consumo de grãos ou

concentrados.

f) Arroz – Os grãos moídos podem substituir parcialmente o milho, mas são pouco

empregados, ao contrário de alguns subprodutos.

O farelo comum de arroz é pobre em proteína, rico em gordura e sua

digestibilidade varia com a proporção das cascas. É de difícil conservação, pois

estraga facilmente. Já o farelo desengordurado, é mais rico em proteína e

contém menos energia, porém é de conservação mais prolongada;

g) Subprodutos agroindustriais – A utilização de resíduos e produtos

agroindustriais que apresentam valores de comercialização mais reduzidos, tem

sido preconizada, para a alimentação de animais, especialmente em sistema

intensivo de terminação de bovinos. Apesar de aproximadamente 70% dos

resultados existentes sobre avaliação nutritiva dos alimentos para ruminantes,

terem sido obtidas em pesquisas com ovinos, são muito escassas as

informações não-convencionais, principalmente em sistemas de alta produção.

Dessa forma, torna-se importante à discussão de alguns aspectos relativos à

viabilidade da utilização de subprodutos agroindustriais na alimentação de

Page 61: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

cordeiros em sistema intensivo de produção, objetivando-se aumentar a rapidez

de comercialização e a produção de carcaças de melhor qualidade.

5.4. Suplementos protéicos

Como seu nome indica, esses alimentos caracterizam-se pelo seu elevado

conteúdo de proteína em comparação com os alimentos comuns.

Considerando-se que a maioria desses suplementos constituem subprodutos

da elaboração de diferentes materiais, sua composição é bastante instável dadas às

variações existentes na matéria prima mesma e nos diversos processos empregados

na elaboração do produto principal. Isso deve ser considerado na avaliação das

quantidades nutritivas desses suplementos, já que isso determinará sua correta

utilização na alimentação ovina.

Estes alimentos são usados em quantidades relativamente pequenas por

serem de alto custo, comparados com outros alimentos. No entanto, a incorporação

de alguns poucos gramas diários são geralmente suficientes. Porém, podem ser

fornecidas quantidades altas, sem inconveniente algum, mas seu uso e proporções

estarão determinados, principalmente, pela classe e pela qualidade da forragem que

estiver sendo fornecida ao gado, considerando-se suas necessidades alimentares,

num determinado momento, e pelo custo relativo dos outro alimentos em

comparação com o suplemento protéico.

Os suplementos protéicos, então, estão destinados especialmente a fornecer

a proteína necessária para o crescimento normal e o desenvolvimento do gado, e

serão usados essencialmente durante os períodos “críticos” da alimentação e

quando forem administradas forrageiras de qualidade deficiente ou não

leguminosas.

a) Farelo de linhaça – É um excelente suplemento protéico para o gado ovino e

seu uso está limitado especialmente pelo alto custo e escassa digestibilidade.

Atribuindo-se-lhe, normalmente um conteúdo protéico de 35% e de um baixo

conteúdo de fibra, comparado a outros suplementos protéicos de origem

vegetal, é um excelente suplemento para rações de animais destinados a

exposições. É rico em fósforo.

b) Farelo de girassol – Sua composição e seu valor nutritivo é variável,

dependendo, principalmente, da quantidade de casca que contenha. Em

Page 62: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

algumas análises, tem-se determinado 47% de proteína em dependência do

teor de fibra. Seu conteúdo de fibra é superior ao farelo de linhaça. É um

suplemento que possui, ainda, proteína de boa qualidade, junto a condições

de alta palatabilidade, o que faz desse alimento um suplemento protéico de

alto valor para toda classe de gado ovino. Tem, também, a qualidade de

conservar-se em boas condições durante o armazenamento. É rico em fósforo

e seu uso depende do preço.

c) Farelo de colza – Contém aproximadamente 33% de proteína e quando

usado em pequenas quantidades, seu valor nutritivo é semelhantes ao dos

suplementos anteriores. No entanto, é de palatabilidade inferior, e a literatura

cita casos de toxicidade e abortos, quando fornecido em quantidades altas a

ovelhas prenhes. Assim, recomenda-se sua administração em níveis não-

superiores a 250 g diários para ovelhas prenhes. Usado nessa proporção em

rações balanceados, estima-se que seu valor nutritivo seja similar ao do farelo

de linhaça.

d) Farelo de soja – É palatável e contém, aproximadamente, 47% de proteína,

além de ser boa fonte de cálcio e fósforo. Seu emprego em rações de

ruminantes depende do preço, pois é muito procurado para rações de aves e

suínos.

e) Farelo de amendoim – Quando de boa qualidade, não-oriundo de

amendoim atacado por fungo é um bom suplemento protéico, pois apresenta

em torno de 50% de proteína e é apetecível.

f) Farelo de coco – O farelo de coco da Bahia contém uns 20% de proteína e é

de difícil conservação; o de coco babaçu é semelhante mas seu teor protéico

é de 22%. Não devem ser usados com exagero.

g) Farinha de peixe – Esse suplemento é utilizado, principalmente, nas rações

de aves e suínos, no entanto, pode também incorporar-se nas rações ovinas

sempre que o preço for conveniente. Nesse aspecto é interessante destacar

que a farinha de peixe possui geralmente, o dobro do conteúdo de proteína

(60%) comparada aos suplementos protéicos vegetais (33%). No entanto,

Page 63: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

tem-se demonstrando que a proteína de ambas as classes de suplementos é

igualmente efetiva na alimentação de ovinos adultos.

Dessa maneira, será conveniente usar farinha de peixe sempre que seu preço

não for superior ao dobro do preço dos suplementos protéicos vegetais.

Deve-se levar em conta, também, que, em geral, a farinha de peixe não é

palatável para ovinos. Nesse sentido, aconselha-se sua incorporação às mesclas de

concentrados, em proporção não superior a 10% ou 15%.

5.5. Outros alimentos

Nesse grupo, incluem-se os chamados alimentos de emergência, tais como

cascas de cereais, cascas de amendoim, sabugos de milho e bagaço de cana. São

pobres em todos os sentidos, e devem ser fornecidos moídos, em quantidade

limitadas e devidamente suplementados. As cascas de arroz podem irritar o tubo

digestivo.

Dentre os produtos de origem vegetal, merece ainda atenção o melaço de

cana. Só contém 3% de proteína, mas é rico em energia, muito palatável e laxante.

Deve ser usado diluído em água, na proporção de 1:1 a 1:2, e dado justamente com

volumosos e concentrados secos, devidamente suplementados com proteínas. O

melaço, por peso, possui 67% do valor energético do milho, mas oferece a vantagem

de estimular a multiplicação bacteriana no rumem, portanto, a digestão das

forragens fibrosas. Desde que o custo do melaço não seja superior a 60% do custo

do milho, ele pode substituir com vantagem até 1/3 dos concentrados da ração com

introdução gradativa na dieta. Como indicação geral, a dose do melaço para ovinos

deve ser a seguinte por cabeça: 100 g para cordeiros e 250 g para adultos.

a) Antibióticos: Tem-se realizado inúmeros experimentos para determinar a

conveniência de se administrar diversos antibióticos aos ovinos. Nesse sentido,

os resultados tem sido contraditórios e, assim, em algumas ocasiões tem-se

conseguido melhores aumentos de peso e maior eficiência alimentar na cria e

engorda de cordeiros, mas, em muitos casos, as vantagens obtidas não tem sido

suficientemente grandes para compensar o custo extra que significou fornecer o

antibiótico.

Page 64: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

b) Hormônios: A implantação de peletes contendo estilbestrol tem sido praticada no

gado ovino, com resultados não totalmente claros. A doses usadas tem sido

variáveis (3mg – 6mg – 12mg) e os efeitos do hormônio, especialmente em

cordeiros de engorda, traduzem-se em ganhos de peso e eficiência nutritiva

superiores à dos animais não-implantados. No entanto, em alguns ensaios, a

implantação com 12 mg de estibestrol trouxe como conseqüência em vários

animais, prolapso uterino nas fêmeas e do reto nos machos, além de

complicações nas vias urinárias.

Os limites máximos de emprego de diversos alimentos para os ovinos são

apresentados na Tabela 3.

VIII. ASPECTOS BÁSICOS EM UMA CRIAÇÃO DE OVINOS

Este capítulo foi extraído de Sobrinho (1993) e Cunha et al. (1999).

A eficiência da produção de um rebanho está diretamente relacionada ao

número de produtos obtidos. Maior número de cordeiros desmamados implicará em

maior número de animais para venda e maiores possibilidades para fazer a

reposição e seleção do rebanho.

A produção de cordeiros está relacionada com a sobrevivência e

desenvolvimentos Pós-nascimento.

Para se aumentar os índices reprodutivos no rebanho ovino deve-se buscar:

a) Diminuir o número de ovelhas falhadas (aumentar a taxa de parição).

b) Aumentar o número de cordeiros nascidos por ovelha parida (taxa de

prolificidade).

c) Diminuir o número de cordeiros que morrem após o nascimento (Taxa de

mortalidade). No Rio grande do Sul, esta taxa fica entre 15 e 40%.

1. Reprodução

1.1. Encarneiramento (acasalamento)

A introdução de reprodutores é a fase inicial do processo reprodutivo que

culminará com a venda do cordeiro e afetará o manejo da propriedade.

Page 65: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Tabela 3. Limite máximo de emprego de diversos alimentos para ovinos.

VOLUMOSOS, RAÍZES E TUBÉRCULOS Por 50 Kg de P.V./ Dia

Forragens verdes: Capim cortado 4,0

Silagem: Silagem de milho 2,0

Volumosos secos: Fenos 1,5

Palhas 0,5

Raízes e tubérculos: Cenouras 2,0

Mandioca ou batata 1,0

Beterraba ou nabo 1,5

CONCENTRADOS E DIVEROS % da Ração

Algodão, farelo 30

Amendoim, farelo 30

Amendoim, casca moída 5

Aveia moída 70

Arroz, farelo 50

Arroz, farelo desengordurados 40

Cana, melaço diluído 20

Centeio moído 40

Cevada, polpa seca 40

Coco, farelo 30

Girassol, farelo 30

Grãos de feijão moídos 15

Linhaça, farelo 15

Milho, quirera ou fubá 50

Milho, desintegrado 70

Milho, farelo proteinoso 25

Milho, farelo de glúten 25

Milho, sabugo moídos 5

Trigo, farelo 50

Soja, farelo 30

Sorgo, grão moído 40

Sal mineralizado 2

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

1.2. Antecipação da idade ao primeiro acasalamento

A antecipação da idade ao primeiro acasalamento resultará nos seguintes

benefícios:

1. Aumenta a vida reprodutiva dos animais.

2. Aumenta a produção do rebanho.

3. Reduz o custo de manutenção das borregas durante o período não produtivo.

4. Facilita os programas de seleção pela informação antecipada que se obtém da

produção dos animais.

1.3. Época de acasalamento e estação de monta

O período de atividade sexual dos ovinos varia com a raça e região de

criação, conforme o esquema abaixo, sendo controlado pelos fatores ambientais:

1. Fotoperiodismo

2. Temperatura

RAÇA FOTOPERIODISMO ÉPOCA

Lanadas (RS) Poliéstricas estacionais Verão - outubro

Deslanadas (Nordeste) Poliéstricas contínuas + Seca (Todo o ano)

a) Estação de monta ou cobertura

A estação de monta deve ser determinada em função dos objetivos do

criador. A estação curta, porém nunca menor que 45 dias, permite uma centralização

de nascimentos, facilitando o manejo. No entanto, o criador só terá cordeiros para

oferecer ao mercado durante um curto período de tempo.

A estação de monta longa, nunca superior a 90 dias, dificultará o manejo, pois

os nascimentos serão espaçados. Apresenta vantagem de haver cordeiros de várias

idades, podendo o criador, se for o caso, manter contratos de fornecimento desses

animais.

A estação de monta determinará as necessidades. Assim, se a cobertura

ocorrer em janeiro/fevereiro, a parição se dará em junho/julho, obtendo-se bom

mercado em novembro e dezembro, meses propícios para o comércio de carne de

cordeiro. Deve-se prever, porém, a alimentação das ovelhas em início de lactação

Page 67: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

em meses de pouco pasto disponível. A cobertura em abril/maio permite o

nascimento em setembro/outubro, obtendo-se cordeiros em idade de abate próximo

de março/abril. O mercado é menos favorável, mas com bom manejo as

necessidades de suplementação serão mínimas.

O ovinocultor ainda tem a possibilidade de fazer a cobertura a cada oito

meses, correspondendo aos cinco meses de gestação, 45 a 60 dias de aleitamento

e 30 dias de descanso da ovelha, sendo que neste último período já se inicia o

processo de rufiação. Para o processo de rufiação podemos utilizar machos

vasectomizados ou com desvio de pênis, ou ainda manter os reprodutores próximos

às fêmeas, pois a liberação do cheiro característico do macho induzirá a fêmea a

entrar em cio.

A opção de monta a cada oito meses permitirá ao ovinocultor a possibilidade

de ter animais para comercialização o ano todo, porém necessitará um

acompanhamento melhor de seu rebanho, quanto ao estado nutricional e sanitário,

pois exigirá mais tanto das ovelhas como dos reprodutores,

A escolha entre as estações de monta curta, longa ou a cada oito meses deve

ser tomada em função das perspectivas de mercado e das possibilidades de cada

criador.

Para monta a campo, aconselhamos um macho para 35 fêmeas, sendo que

na monta controlada pode-se aumentar o número de fêmeas por macho.

Para os machos, pode-se aproveitar os animais de grande desenvolvimento

zootécnico para algumas poucas coberturas já aos 10 meses, porém a idade de

plenitude física aconselhável é após os 18 meses. Porém o mesmo deverá receber

uma alimentação adequada e cuidados sanitários, para que não seja comprometido

o seu desenvolvimento, bem como produza boa qualidade e quantidade de

espermatozóides, obtendo assim um bom índice de fecundidade.

As ovelhas primíparas (borregas de primeira cobertura) possuem

comportamento muito diferente daquele apresentado por ovelhas de mais idade.

Como algumas características, citam-se:

1) Cio curto, podendo ser de três horas.

2) Falta de desejo sexual, levando a pouca procura pelos carneiros durante

esse período.

3) Em função do cio e da falta de desejo sexual, são servidas ou copuladas

menor número de vezes, em comparação com o que ocorre com as

ovelhas de mais idade.

Page 68: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

4) As borregas produzem pouca mucosidade, principal veículo condutor do

espermatozóide até o óvulo, ao contrário das ovelhas.

5) As borregas têm formação de papilas caídas na entrada do canal cervical,

revestindo-o muitas vezes e dificultando, assim, o acesso do

espermatozóide para a fecundação.

b) Aspectos essenciais na escolha da época de acasalamento

1. Deverá corresponder ao período de maior atividade sexual das ovelhas e de

melhor produção de sêmen dos carneiros;

2. O momento de venda dos cordeiros deverá coincidir com preços de mercado e

condições de comercialização favoráveis.

3. O melhor momento está relacionado com os aspectos de manejo (mão-de-obra)

e alimentação.

c) Número ou percentagem de carneiros a usar

2 a 3% do rebanho

d) Alimentação durante o período reprodutivo

É vantajoso o emprego de suplementação alimentar por duas a três semanas

antes do acasalamento (Flushing) de forma a provocar efeito dinâmico do peso, o

que propicia:

1. Alta apresentação de cios no momento da entrada dos carneiros.

2. Aumento da taxa ovulatória e maior concepção e sobrevivência embrionária,

aumentando as taxas de fertilidade e prolificidade.

e) Outros aspectos

- Exame zootécnico e reprodutivo, descartando-se animais deficientes.

- Tosquia, seguida de banho, se necessário.

- Dosificação anti-helmíntica pré-acasalamento.

- Manutenção em piquetes com suficientes pastagens, água e sombra.

Page 69: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

2. Parição e lactação

Normas de manejo:

1. Assegurar boas condições de alimentação às ovelhas no pré-parto e no pós-

parto.

2. Preparação do rebanho para parição, assim como os piquetes.

3. Assistência ao rebanho durante a parição.

2.1. Alimentação da ovelha durante a prenhez e lactação

a) Prenhez:

A alimentação da ovelha durante a prenhez e lactação será determinada

pelas diferentes exigências nutricionais dentro destas fases.

Até a metade do período da gestação (2º ao 3º mês) os requerimentos são

mínimos.

Ao final do 3º mês de gestação o conteúdo uterino (feto, membranas e

líquidos fetais) pesa em torno de 3 a 5 Kg (33% do peso final).

Ao final da gestação (4º e 5º meses) as exigências nutricionais são elevadas:

Últimas seis semanas de gestação: 70% do desenvolvimento do feto.

Últimas quatro semanas de gestação: 50% do desenvolvimento do feto.

Últimas duas semanas de gestação: 25% do desenvolvimento do feto.

Assim, o desenvolvimento do feto ao final da prenhez aumenta as exigências

energéticas, sendo esses requerimentos maiores nas ovelhas com gestação múltipla

devido:

1. Perda do apetite das ovelhas pela redução no volume do rúmen, devido ao maior

espaço físico ocupado pelo(s) feto(s).

2. Aumento do nível de estrógenos circulantes, produzidos durante a gestação,

contribui para inibir o apetite das ovelhas.

Ao nascimento, o peso do cordeiro (parto simples) representa

aproximadamente 60% do peso total do conteúdo uterino, enquanto que em partos

duplos este percentual é de 85 a 70% (Cordeiros com 3,0 Kg de peso ao nascer

terão conteúdo uterino com peso de 5,0 Kg).

OBS: Alimentação deficiente na fase final de gestação acarretará em:

1. Menor peso corporal e menor vigor dos cordeiros ao nascimento.

Page 70: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

2. Pouco desenvolvimento do úbere e redução na produção de colostro.

3. Menor habilidade materna.

4. Menor produção de leite no início da lactação.

OBS: O efeito do bom estado nutricional da ovelha durante a gestação será

observado na sobrevivência do cordeiro:

1. Nascimento de cordeiros fortes e vigorosos, com menores possibilidades de

mortalidade.

2. Boa produção de leite das ovelhas, melhorando o ritmo de crescimento dos

cordeiros.

3. Instinto materno das ovelhas, resultando em menores índices de abandono de

cordeiros.

4. Evitar transtornos metabólicos (toxemia da gestação, hipocalcemia),

principalmente nas ovelhas com gêmeos.

b) Lactação:

Cerca de duas a três semanas após o parto são observadas as maiores

exigências de todo o ciclo reprodutivo.

Na amamentação do cordeiro existe a necessidade de 6 litros de leite por kg

de ganho, sendo que no 20º dias pós-parto ocorre a máxima eficiência na conversão

do leite.

A partir da terceira semana após o parto ocorre ingestão gradual de alimentos

pelos cordeiros, sendo que a partir da oitava semana pós-parto (dois meses), o

consumo de pasto passa a ser uma prática habitual, pois o rúmen do animal já se

encontra fisiologicamente apto.

2.2. Recomendações para manejo dos cordeiros

a) Corte e desinfecção do umbigo: Quando essa prática, de vital importância, não

se realiza, o umbigo pode ser via de penetração de germes patógenos, trazendo,

como conseqüência, a presença de quadros septicêmicos agudos e inúmeras

enfermidades que resultam em altos índices de mortalidade.

A presença de insetos (moscas) pode trazer resultados negativos, ao

depositar seus ovos no umbigo que não tenha sido desinfetado, ocasionando miíase

que põem em perigo a vida do recém-nascido.

Page 71: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Deve-se cortar o umbigo com uma tesoura limpa e desinfetada (com iodo,

álcool ou outro produto desinfetante), a uma distância de cinco centímetros do

abdômen e aplicar tintura de iodo na porção que pende do animal, assim como na

zona de inserção e parte do abdômen.

b) Manejo das crias abandonadas: algumas mães ao parirem não produzem leite

suficiente, ou ainda no caso de trigêmeos e de morte da mãe, as crias podem ser

alimentadas com leite de vaca “in natura” ou leite em pó.

c) Corte da cauda: deve ser utilizada nos animais de lã, a fim de manter asseada a

região perianal, evitando-se assim problemas de bicheiras (miíases) e no casos de

fêmeas para se evitar acidente com reprodutores no momento da cópula e conseguir

maior higiene nos partos. Nas raças deslanadas, não se deve utilizar essa prática,

pois a cauda serve para repelir as moscas, evitando assim as bicheiras e que as

mesmas incomodem os animais.

Essa prática deverá ser feita nos animais com aproximadamente 5 dias de

vida, pois com idade muito avançada causa maiores sofrimentos e problemas de

cicatrização. Atualmente o método mais utilizado é o elástico, que consiste na

colocação de um anel de elástico na base da cauda, na altura das pregas. Após 48 a

72 horas da aplicação do elástico, o rabo deve ser amputado com faca ou canivete

desinfetado abaixo do elástico. Em seguida proceder a desinfecção do local

utilizando produto repelente. Para confeccionar esse anel pode ser utilizada

borracha flexível tipo torniquete, “garrote” ou “tripa de mico”, cortando-se os anéis

com aproximadamente 2 mm.

d) Castração: não é mais é utilizada nos rebanhos, visto que o abate deve ocorrer

com, no máximo, 6 meses de idade e com peso vivo de 30 a 32 Kg e a castração

leva a uma maior quantidade de gordura em detrimento da de músculo.

e) Sinalação: consiste na marcação para identificação dos animais podendo se

utilizar a tatuagem e/ ou brinco.

A tatuagem é feita com auxílio de tatuador de pequeno porte (quatro dígitos)

na orelha ou na prega na base da perna traseira. No caso de animais deslanados,

principalmente os de pelagem escura, a tatuagem é feita na prega caudal, tomando-

se sempre o cuidado de não atingir vasos sanguíneos que prejudicam a eficiência da

Page 72: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

mesma. Quando o problema ocorrer na orelha poderá levar a deformações

permanentes do animal.

O uso de brinco é uma das técnicas mais utilizadas, visto a facilidade de

identificação do animal, porém não deve ser utilizado isoladamente, pois no caso de

perda não há como identificar o animal, dessa maneira é necessário que se faça o

uso também da tatuagem na prega da base da perna traseira. O brinco a ser

utilizado deve ser o de pequeno porte, preferencialmente de plástico flexível, com

numeração nas duas peças, e ser aplicado com alicate apropriado.

f) Desmame: pode ser classificado de acordo com o período de aleitamento:

• Precoce: com 35 a 45 dias de aleitamento Exige maior atenção na alimentação

das crias, que devem ter acesso a cocho exclusivo (creep feeding) com ração

concentrada de teores de proteína e energia elevados, acompanhamento

atencioso do desenvolvimento dos animais, excelente nível tecnológico na

criação e total confinamento. As vantagens desse sistema consistem na

disponibilização das fêmeas para nova cobertura precocemente, obtenção de

cordeiros mais cedo, desde que tenham alimentação em quantidade e

qualidade e diminuição das aplicações de vermífugos, visto que esse sistema

evita a contaminação da mãe para a cria.

• Semi Precoce: desmame dos 45 a 70 dias. Exige, como no desmame precoce,

creep feeding e um bom acompanhamento do rebanho, porém não tão intenso.

• Normal: dos 70 aos 80 dias. Os animais devem ser confinados com a mãe,

porém não exige o creep feeding. Nesse sistema, quando bem trabalhado, a

mortalidade pré e pós desmame é muito pequena. As crias devem receber uma

dose de vermífugo na semana do desmame, visto que já podem ter sido

contaminadas pelo contato com as fezes das mães. Utilizando esse sistema

obtém-se, em rebanhos bem manejados, peso de abate (30 a 32 Kg peso vivo)

aos 90 dias de idade.

• Tardia: após 80 dias. Utiliza-se esse sistema em criações extensivas, porém

não é o mais indicado, pois a mortalidade é elevada devido a contaminação dos

animais jovens por ovos de helmintos, eliminados pelas fezes dos animais

adultos.

2.3. Mortalidade de cordeiros

Page 73: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

a) Principais causas da mortalidade de cordeiros:

- Nutrição (fome)

- Predadores

- Mão-de-obra (funcionário)

b) Prejuízos representados pela mortalidade de cordeiros recém-

nascidos:

- O pasto consumido pelas ovelhas para a produção de cordeiros é perdido.

- O investimento nos carneiros não retorna integralmente.

- O menor número de cordeiros faz diminuir os índices de seleção com a

conseqüentemente perda de material genético.

- Perda de tempo, trabalho e insumos empregados.

c) Manejo para reduzir a mortalidade de cordeiros:

- Adequada alimentação das ovelhas ao final da gestação e durante a lactação.

- Combate dos predadores.

- Parições em locais com abrigos.

- Correta assistência ao rebanho durante a parição.

Tabela 4. Composição média do leite de ovelha.

Nutrientes Teor

Água (%) 80,1

Matéria Seca (%) 19,9

Proteína Total (%) 5,8

Caseína (%) 4,5

Outras (%) 1,3

Lactose (%) 4,8

Gordura (%) 8,2

Cinzas (%) 0,9

Cálcio (%) 0,25

Fósforo (%) 0,17

Valor Energético (kcal/kg) 1000

Page 74: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Figura 6. Relação entre o peso dos cordeiros ao nascer e a porcentagem de

natalidade.

IX. SELEÇÃO E DESCARTE DE OVINOS

Este capítulo foi extraído de Sobrinho (1993).

1. Aspectos gerais:

O ovinocultor procura melhorar seu plantel através da venda (descarte) de

animais inservíveis e a manutenção dos mais produtivos.

Considerando seu objetivo econômico, de produção de lã ou carne, deve-se

selecionar o rebanho numa ou noutra direção ou, se for o caso, dar o mesmo valor

para ambas características a selecionar.

A seleção zootécnica consiste em escolher, dentro da mesma raça, os

indivíduos que sejam capazes de proporcionar máxima produção durante o maior

tempo (longevidade), com o mínimo de despesa e trabalho.

A seleção dos animais é um processo importante para melhorar os índices de

produção do rebanho. A prática de seleção deve ser orientada para dois objetivos:

1º) aumentar as médias de produção do rebanho durante sua vida útil, e 2º)

Page 75: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

aumentar a média de produção das futuras gerações. A ênfase da seleção deve ser

aplicada aos animais jovens que serão incorporados aos rebanhos de produção. Por

outro lado, deve-se revisar, anualmente, os rebanhos de cria, visando a eliminação

dos animais que apresentam problemas que estejam afetando sua produção.

Porém, a prática corrente deve ser a de selecionar as borregas pela sua

performance (lã, peso, corporal, etc) e, anualmente, refugar as que apresentam

defeitos marcados na sua produção.

O descarte (ou refugo) é uma prática de manejo que se realiza com o objetivo

de eliminar ou separar os animais que apresentam características que afetam

negativamente sua produção. O descarte deve ser feito anualmente para evitar criar

e alimentar, por muito tempo, animais pouco produtivos. Entretanto, deve-se ter

precaução em não descartar animais que, embora apresentem certa alteração tanto

na produção de lã como no estado corporal, podem vir a ser os mais produtivos. Isto

acontece com ovelhas que, tendo parido e criado o cordeiro, geralmente apresentam

más condições devido ao efeito da gestação, parição e aleitamento de um ou mais

cordeiros.

2. Principais causas de descarte

Os principais fatores a serem considerados num processo de descarte são:

2.1. Defeitos corporais

Existem diversas anormalidades, adquiridas ou de origem hereditária, que

afetam negativamente a produção, dando motivo para descarte tanto de animais

jovens como adultos. Os principais defeitos são:

a) Prognatismo: é uma tara hereditária muito comum nos ovinos e resulta da

falta de coincidência entre os dentes incisivos da mandíbula como o maxilar

superior. Quando a mandíbula avança, diz-se que há prognatismo inferior, e quando

o maxilar é que se destaca, denomina-se prognatismo superior ou agnatismo.

Em ambos os casos, o animal é grandemente prejudicado pela dificuldade de

apreensão do pasto, o que ocasiona uma deficiência alimentar que se manifesta por

redução da produção.

Page 76: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

b) Defeitos do úbere: correspondem, principalmente, a problemas de

mastites ou alterações dos tetos e polimastia (presença de tetas supranumerárias),

de ordem negativa, pois não são funcionais, dificultando a amamentação.

c) Defeitos nas extremidades (cascos): podem ser de origem hereditária ou

decorrentes de problemas crônicos de manqueiras, miíases, etc.

d) Defeitos de aprumo: de certa gravidade morfológica são as falhas dos

membros anteriores ou posteriores que podem se apresentar muito fechados ou

desviados para fora ou para dentro. Também encontram-se animais que pisam mal,

principalmente nas extremidades posteriores, onde o garrão pode servir de apoio, ao

invés do casco.

Com relação aos aprumos, estes devem ser causa de descarte somente em

casos em que a locomoção do animal encontra-se realmente comprometida, já que

as apreciações são subjetivas, porém não influenciando na produção de lã e carne.

Há uma série de outras características corporais que o criador

freqüentemente considera no processo de seleção como causas de descarte, porém

apresentam pouca ou nenhuma relação com a produtividade dos animais, como

constituição ou conformação do animal, “feminilidade” das ovelhas, tipo de cabeça,

tamanho e implantação das orelhas e aprumos.

2.2. Idade

O descarte por idade é feito para assegurar o máximo de produtividade do

rebanho. O produtor decidirá a idade adequada de descarte de suas ovelhas,

segundo as condições físicas (ex: desgaste dentário) ou estado corporal das ovelhas

velhas, do número de animais disponíveis para a substituição e da estrutura ótima

do rebanho que deseja, segundo a finalidade de sua produção (lã ou carne).

Um fator importante a ser considerado no número de animais a serem

refugados é a quantidade de ovinos disponíveis para substituir aqueles que serão

eliminados, principalmente quando se pretende aumentar o rebanho. Os animais de

substituição, geralmente, são aqueles que apresentam dentes de leite ou dois

dentes, sendo gerados no próprio estabelecimento e cujo número, dependerá das

porcentagens de parição e de desmame. Por isso, quanto maior o número de

Page 77: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

cordeiros produzidos, maiores as possibilidades para descartar animais menos

produtivos.

Para se realizar um trabalho de seleção efetivo e contínuo num rebanho, o

índice mínimo de natalidade deverá ser de 80%. Estudos mostram que as

porcentagens de parição aumentam com a idade da ovelha até atingirem um

máximo aos cinco a seis anos, para declinar a partir dos sete anos. O contrário

sucede com a lã, onde a produção por animal é máxima aos dois a três anos, para

diminuir posteriormente, influenciada pelo comportamento reprodutivo.

A mortalidade das ovelhas aumenta consideravelmente a partir dos sete anos

de idade, além de apresentarem problemas dentários que afetam o consumo de

alimentos, influenciando negativamente sua produção. Assim, as ovelhas de cria

devem permanecer no rebanho, salvo raras exceções, no máximo até 6 anos de

idade, sendo abatidas posteriormente. O adequado descarte das ovelhas e a

incorporação das melhores borregas, manterá o rebanho estabilizado.

Os carneiros, em idades avançadas, estão mais propensos a apresentarem

problemas de fertilidade, sendo estes muito freqüentes após os sete anos. Para se

obter bons resultados, os reprodutores devem ser substituídos após serem utilizados

ao redor de quatro anos, embora os mesmos possam encarneirar durante um

número maior de anos. O uso de carneiros por muitos anos, principalmente quando

empregados em monta natural, apresenta como inconvenientes: (a) os cordeiros

velhos são geralmente menos ativos; (b) progresso genético mais lento, (c) menor

fertilidade.

2.3. Fertilidade

Indiscutivelmente, deve-se acrescentar à seleção fenotípica a seleção por

fertilidade. Assim, as ovelhas que perderam o cordeiro ou não produziram (falhadas),

deverão ser separadas e controladas até a próxima parição, eliminando-se, então,

aquelas que, novamente, não parirem.

Nas fêmeas, quando a cobertura resultou infértil, podem ser apontadas as seguintes

causas:

• Falta de ovulação: Devido a transtornos do folículo de Graaf; persistência do

corpo amarelo; obesidade ou deficiência nutricional; tumores diversos e

ausência congênita de órgãos do aparelho genital.

Page 78: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

• Inacessibilidade dos espermatozóides ao óvulo: Devido a um desvio do colo

do útero, atresia ou terminação em fundo de saco da vagina e malformações

diversas.

• Útero impróprio ao desenvolvimento do ovo: Por apresentar metrites, tumores,

espasmos ou germes patogênicos.

• Secreções espermáticas: Provenientes de infecção das vias genitais

femininas.

• Incompatibilidade: morte do ovo nos primeiros dias (reação antígeno –

anticorpo).

Nos machos, podem aparecer os seguintes problemas que afetam a

fertilidade:

• Impotência: pode ser causada por atrofia congênita dos órgãos sexuais; pela

paralisia dos nervos penianos ou por decorrência de certas doenças,

destacando-se entre estas a aftosa.

• Saltos muito repetidos e em intervalos curtos: a quantidade normal de

espermatozóides pode tornar-se reduzida. Com o excesso de coberturas, os

espermatozóides podem apresentar formas imaturas, visto não haver tempo

suficiente para sua maturação.

• Temperatura externa elevada: prejudicam muito o sêmen do carneiro,

podendo leva-lo à infertilidade. A situação pendular do escroto tem por

finalidade conservar os testículos a uma temperatura menor que a do corpo

do animal.

• Febre: o carneiro com febre pode manifestar transtornos na fertilidade por

certo período após cessar a elevação da temperatura corporal.

• Defeitos testiculares

• Epididimite: doenças infecciosa, cujo agente causal é a Brucela ovis, que

reduz a quantidade normal de espermatozóides viáveis.

• Criptorquidismo: retenção do(s) testículo(s) na cavidade abdominal. Neste

caso, pode ou não ocorrer a esterilidade.

• Hipoplasia: falta de desenvolvimento do(s) testículo(s)

Finalmente, deve-se realçar que o descarte não constitui a principal norma a

um processo de seleção. O mais importante, num programa de melhoramento do

rebanho, é o emprego de reprodutores selecionados por produtividade (baseado em

Page 79: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

produção de lã e o peso corporal) e a reposição das ovelhas de descarte pelas

melhores borregas existentes no rebanho.

X. SANIDADE: PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS OVINOS

Este capítulo foi extraído de Cunha et al. (1999), Nunez (1999) e Sobrinho (1993).

Serão abordadas as seguintes enfermidades: clostridioses, pasteurelose, diarréia dos cordeiros,

foot-rot, queratoconjutivite e ectima contagioso.

1. Clostridioses

São bactérias que se encontram no meio ambiente em forma de esporos.

Estes esporos são uma camada que os protege contra o calor, raios solares, a

maioria dos desinfetantes e até a fervura.

Elas penetram nos animais através de cortes, injeções, pela respiração,

comendo e bebendo. Após a penetração nos animais, eles ficam aguardando o

momento propício para a sua multiplicação, eles são anaeróbios e qualquer

contusão que diminua o aporte de oxigênio na região é o suficiente para o

aparecimento da doença. No intestino a doença ocorre quando há mudanças súbitas

na alimentação com a adição de concentrados.

A seguir apresentamos as principais clostridioses.

1.1. Carbúnculo sintomático (Clostridium chauvei): manqueira

Ocorre uma destruição extensa da área muscular em um ou dois dias. Ocorre

claudicação, inchaço e alteração da cor dos músculos para vermelho escuro ou

preto.

1.2. Edema maligno (Clostridium septicum): gangrena gasosa

No local afetado ocorre uma infecção gasosa. A morte ocorre entre 12 a 48

horas.

Page 80: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

1.3. Clostridium sordeli

Morte súbita dos animais devido a sua potente toxina, a pele fica enegrecida

no peito e garganta.

1.4. Hepatite necrótica (Clostridium novy)

Morte súbita, líquido no abdômen, fígado necrosado e a pele fica enegrecida

no abdômen.

1.5. Intestino purpúreo (Clostridium perfringens B e C)

Os sintomas são cólicas, diarréia fétida com sangue e convulsões, a parte

afetada do intestino fica azul escura.

1.6. Doença da superalimentação (Clostridium perfringens D)

Mudanças bruscas de alimentação, com altas taxas de carboidratos, liberam

os clostrídios, suas toxinas caem na corrente sanguínea matando os animais em

poucas horas.

Tratamento: para estas seis clostridioses, altas doses de penicilina podem salvar

os animais, se detectados a tempo.

Profilaxia: a maioria das vacinas encontradas no mercado é de alta eficácia na

prevenção das doenças acima citadas. Vacinando-se as mães antes do parto,

elas irão passar a imunidade para os cordeiros através do colostro. Aos três

meses de idade vacina-los e repetir a vacinação de seis em seis meses ou de

ano em ano de acordo com o tipo de vacina.

1.7. Tétano (Clostridium tetani)

É uma bactéria que sobrevive por vários anos no meio ambiente porque se

mantém esporulada, encontra-se na terra e no esterco, principalmente de eqüinos. A

fase que mais aparece na cabanha é no parto, na castração, na descola e na

Page 81: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

tosquia. Qualquer ferida que o esporo se aloje, ao formar a casca para cicatrizar,

torna o meio anaeróbio, propiciando o meio ambiente ideal para o desenvolvimento

do Clostridium tetani, neste momento inicia-se a liberação das toxinas que são

neurotóxicas, provocando espasmos tônicos musculares e enrijecimento progressivo

dos membros, da boca e das orelhas.

Tratamento: nos casos leves de tétano, altas doses de penicilina e a limpeza

das feridas resolvem o problema. Nos caso agudos, mesmo com a limpeza das

feridas e antibioticoterapia, a morte é inevitável.

Prevenção: em propriedades com muitos problemas, vacinar os animais e

sempre cuidar bem das feridas de castrações, corte do rabo dos cordeiros e

cortes na tosquia, evitar a criação de eqüinos no piquete dos carneiros.

2. Pasteurelose (Pasteurella haemolytica)

A Pasteurela encontra-se normalmente nas vias aéreas dos animais. O

estresse do desmame, de transporte, castração, mistura com outros animais e locais

mal arejados, facilitam a multiplicação e a invasão dos pulmões pelos

microrganismos.

Em certos casos a enfermidade é tão aguda que o animal morre sem

apresentar sintomas. Na maioria dos casos os animais têm febre, respiram com

dificuldade e, devido à destruição dos alvéolos e dos capilares, ocorrem áreas

extensas de hemorragias tornando os pulmões hepatizados.

Tratamento: é importante começar o tratamento o mais cedo possível através de

antibioticoterapia de largo espectro de ação e em altas doses.

Prevenção: a maioria das vacinas produz baixa resposta imunitária, as

importadas têm um adjuvante que facilita o contato das células “T” com antígeno,

o que aumenta em muito a resposta imunitária.

Esquema de vacinação: vacinar as ovelhas prenhas um mês antes da parição,

com duas doses em intervalos de 10 dias. Após a parição vacinar os cordeiros

com 15 dias de vida e com 30 dias e repetir a vacinação de seis em seis meses.

Page 82: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

3. Diarréia dos cordeiros

A diarréia por Escherichia coli ocorre principalmente nos confinamentos onde

a mãe fica junto ao cordeiro e o local não é bem arejado e seco. A mãe deita com o

úbere em cima das fezes umedecidas e o cordeiro ao mamar se contamina com

coliformes patogênicos aparecendo uma diarréia de coloração amarelo brilhante,

cólicas abdominais, diminuição do apetite e muitas vezes o animal desidrata e

morre.

Tratamento: antibióticos de largo espectro, preferencialmente após o

antibiograma.

Prevenção: criar os animais em um ambiente arejado e o mais seco e limpo

possível, de preferência uma vez por semana passar o lança chamas nas

instalações.

4. Podridão do casco (foot rot)

Esta enfermidade é causada pela associação de duas bactérias, o

Fusobacterium necrophorum que ataca o epitélio interdigital e o Bacteróides

nodosus que penetra pela muralha do casco, deslocando-o e facilitando a

penetração de outras contaminações.

A lama e o esterco facilitam a aparição do processo, devido a dois fatores: o

amolecimento do casco pela umidade e a proliferação das bactérias pelo meio se

tornar anaeróbio no casco. Estas bactérias têm pouco tempo de vida nas pastagens,

sendo que a sua sobrevida gira em torno de três semanas. Por isso é importante o

isolamento dos animais afetados, porque eles mantêm a contaminação no meio

ambiente. O surto pode atingir até 70% do rebanho, os animais enfermos ficam

muito debilitados, eles não se alimentam bem devido à dor nos membros.

Tratamento e Prevenção: casquear todos os animais do rebanho, iniciando

pelos animais que já estiverem claudicando, e isolar os mesmos após casquear.

Desinfetar os materiais, queimar os resíduos de casco e casquear o resto dos

animais repetindo o processo acima. Sempre tirar toda a área contaminada,

porque qualquer resíduo que fique o problema retorna.

Page 83: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Usar pedilúvio com formol (5 a 10%) ou sulfato de zinco (10%). Passar

inicialmente os animais sadios, com uma duração dentro do pedilúvio de 5

minutos, e após os enfermos por 20 minutos. Repetir o tratamento uma vez por

semana por três semanas consecutivas e após de 15 em 15 dias por mais quatro

vezes.

Os animais sadios devem ser levados para uma pastagem com pelo menos 30

dias de descanso e os doentes levados a um local seco, de preferência em

estrados de madeira. Nos casos mais complicados, a aplicação de três doses de

tetraciclina, com um intervalo de 48 horas entre cada aplicação, auxilia em muito

o tratamento.

Os corredores de acesso ao centro de manejo são fundamentais para a

disseminação da doença, principalmente em períodos de umidade, por isso se

torna necessário novos casqueamentos, para evitar o crescimento excessivo dos

cascos, com isto as bactérias não ficarão alojadas nos animais.

A vacina nacional não tem demonstrado muita eficácia e a importada auxilia em

torno de 50% na prevenção, mas é proibitiva devido ao preço elevado.

Os animais confinados, se estiverem em local úmido, também irão apresentar o

mesmo problema.

Ao comprar animais de fora, fazer uma quarentena após o casqueamento.

5. Queratoconjuntivite (Pink Eye)

Várias bactérias podem causar este problema nos ovinos: Mycoplasma

psitacci, Branhamella ovis e Ricktsia conjuntivae. É uma doença altamente

contagiosa e dependendo do agente patogênico pode levar a graves lesões, como

ulcerações da córnea e até cegueira permanente.

Esta doença é transmitida através de moscas, poeira, pastagens altas e

principalmente quando os animais se alimentam em chocos, pelo contato com os

enfermos ou ao esfregarem os olhos nos cochos contaminados.

Tratamento: geralmente colírios à base de cloranfenicol ou tetraciclinas,

associados com anti-inflamatórios, resolvem o problema.

Prevenção: ao comprar animais ou ao retornar de exposições, deixar os animais

de quarentena, ao menor sinal da doença tratar todo o lote. Caso a doença já

esteja disseminada no plantel, separar os animais afetados, tratá-los por 10 dias

Page 84: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

e em cada tratamento desinfetar o rosto dos animais com uma solução de iodo a

5%, parar o tratamento por alguns dias e se aparecer algum animal novamente

com o problema eliminá-lo porque ele é um portador crônico da doença. Os

animais que não tinham problema devem ser tratados preventivamente com

colírio por cinco dias. As vacinas existentes não são muito eficazes devido ao

grande número de agentes da doença.

6. Ectima contagioso

Esta doença é viral e atinge animais adultos e jovens, sendo os jovens os

mais suscetíveis. Na forma benigna os vírus saem da corrente sanguínea e se

alojam no epitélio nasal e bucal. Na forma maligna se alojam também na cavidade

bucal e em várias regiões do corpo, podendo levar os cordeiros novos à morte por

causar dificuldade na alimentação e problemas de infecção secundária. Nas mães

ocorrem feridas graves nos tetos que podem levar a mastites severas, inclusive

inutilizando as mamas.

Tratamento: tratar as feridas dos animais enfermos com um chumaço de

algodão embebido em iodo ou com pomada à base de cloranfenicol e violeta

genciana.

Prevenção: fazer quarentena dos animais comprados ou que participam de

exposições. Em caso de um surto na propriedade, isolar os animais doentes e

vacinar todo plantel. As vacinas são muito eficientes contra a doença. Se houver

algum caso maligno, é necessário revacinar anualmente o rebanho e

principalmente os cordeiros nascidos por pelo menos três anos consecutivos. A

vacina é efetuada riscando-se a face interior da coxa com um estilete, mas sem

provocar sangramento, com um cotonete embebido com o líquido vacinal,

esfrega-se na lesão. Após 10 dias, aparece uma crosta no local, o que indica que

a vacina está funcionando.

7. Mastite

As piores são causadas pelo Staphilococcus aureus e a Pausterela

hemolytica, provocando uma mastite aguda e necrosante que pode levar o animal à

Page 85: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

morte em poucas horas. Ao ser tratado em tempo e eficazmente, o animal se salva,

mas o teto afetado vai se desprendendo aos poucos e cai.

As mastites de curso menos agudo podem aparecer de várias formas, como

as sub-clínicas ou as que entumecem e empedram os tetos.

Tratamento: o tratamento preferencialmente teria que ser feito após o

antibiograma, mas às vezes o produtor não tem condições de procurar o

laboratório ou o caso é grave e o animal tem que ser tratado imediatamente. Para

o tratamento das mastites mais leves a infusão de pomada com antibiótico nos

tetos resolve o problema. Na mastite aguda é necessário, além da aplicação nos

tetos, entrar com antibióticos de largo espectro e em altas quantidades para

salvar o animal.

Prevenção: para prevenir os problemas, ao comprar animais sempre examinar o

úbere e no menor sinal de problema não comprá-los. Examinar todas as ovelhas

do plantel um mês após a desmama, e se aparecer alguma com problema, caso

seja um animal de pouco valor e o caso for de difícil tratamento, eliminá-la do

plantel. Em caso de confinamento, manter o local sempre limpo, e se aparecer

algum animal enfermo isolá-lo. Os cordeiros mamam nas ovelhas contaminadas

e após vão mamar em outras ovelhas transmitindo a contaminação.

8. Controle sanitário: principais recomendações

A maioria dos insucessos na ovinocultura está relacionada com os óbitos

decorrentes de falhas no manejo sanitário do rebanho, dessa maneira o produtor

deve tomar os seguintes cuidados:

8.1. Medidas Gerais

- Revisão constante dos animais, separando os doentes.

- Fornecer mistura mineral à vontade.

- Limpeza e desinfecção dos instrumentos e ferramentas usados nos animais.

- Quarentena de animais adquiridos ou a serem introduzidos no rebanho.

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

8.2. Vacinações

- Vacinar os animais contra carbúnculo sintomático, enterotoxemia e gangrena

Gasosa (verificar se a vacina atinge o Clostridium perfringens).

• Ovelhas: anualmente, 30 dias antes do parto.

• Cordeiros: 45 a 60 dias de idade (época da desmama), duas aplicações (dose de

reforço 21 dias depois da 1ª dose).

• Revacinação anual em todo rebanho (dose única)

8.3. Podridão dos Cascos

• Casqueamento (aparo) e revisão periódica dos cascos dos animais.

• Predilúvio preventivo: manejo de rotina em todo o rebanho uma vez por mês e na

época de chuvas duas vezes por mês,

• Pedilúvio curativo: isolar os animais que aparecem doentes e, nos casos graves,

fazer tratamento com antibióticos e aplicação de solução anti-séptica manual ou

passagem dos animais doentes no pedilúvio.

Preparo da Solução de Pedilúvio:

a) Sulfato de Zinco (10%)

Detergente comum = 2 mL/litro

Exemplo: em 50 litros de água adicionar 5 Kg de sulfato de Zinco e 100 ml de

detergente comum

b) Sulfato de Cobre (10%)

c) Formol (2.5%)

Exemplo: 6 litros de formol a 40% em 100 litros de água.

8.4. Caudectomia

Outra medida que deve ser tomada é a caudectomia (corte da cauda) nos

animais que possuem lã, para se evitar acúmulo de fezes que poderá levar a

ocorrências de miíases. No caso de fêmeas, quando adultas, a presença da cauda

dificultará penetração ou ainda poderá lesionar o pênis do reprodutor no momento

da cópula.

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Há dois métodos para a execução do corte da cauda, o formão de ferro em

brasa e o elástico. Recomendamos o uso do elástico, pois sua cicatrização é mais

rápida e o perigo de infecção é menor, além disso a técnica é mais simples.

A caudectomia deve ser realizada nos cordeiros com idade de cinco a sete

dias de vida, pois quando maiores a cicatrização é mais lenta, podendo inclusive

levar a hemorragias devido à espessura da cauda.

9. Vias de aplicação de medicamentos

9.1. Subcutânea

Consiste na deposição de medicamento entre a pele e o tecido muscular logo

abaixo desta. O local de aplicação deve ter a pele mais solta, como por exemplo, na

tábua do pescoço ou atrás da paleta. (Figura 7).

Técnica: puxar a pele de maneira que forme um triângulo (Figura 8), e introduzir a

agulha na face anterior; a ponta da agulha deverá estar, obrigatoriamente, no

espaço subcutâneo

Figura 7. Locais para a injeção subcutânea.

Page 88: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Possíveis complicações:

- Abscesso por falta de assepsia do local de aplicação ou do material;

- Necrose de músculos, por erro na aplicação (intramuscular superficial);

- Choque, por sensibilidade ao produto injetado.

São inevitáveis, com o uso de certos medicamentos, manifestação dolorosa

imediata, porém de curta duração, ou reação inflamatória tardia (sem gravidade, se a

assepsia foi correta).

9.2. Intramuscular

Consiste na deposição de medicamentos, irritantes pela via subcutânea,

dentro da massa muscular. O local de aplicação deve apresentar grande massa

muscular, tal como a região das coxas (Figura 9).

Técnica: após a assepsia do local, introduzir a agulha no músculo. Antes de injetar o

medicamento, deve-se voltar ligeiramente o êmbolo da seringa, para certificar-se de

que a agulha não atingiu nenhum vaso sanguíneo. Aplicar no máximo cinco ml por

ponto de injeção em animais adultos, evitando-se, com isto, a dilaceração das fibras

musculares.

Possíveis complicações:

- Abscesso por:

- Falta de assepsia;

Figura 8. Técnica para a injeção subcutânea (agulha 10x10).

Page 89: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

- Medicamentos irritantes (caso a injeção não tenha sido profunda, difundindo-se

sob a pele);

- Volumes superiores a cinco ml.

- Manqueira por paralisia, no nervo ciático, imediatamente após a injeção.

9.3. Intraperitoneal

Consiste na deposição do medicamento dentro da cavidade peritoneal.

Técnica: após desinfecção local criteriosa, introduzir a agulha no flanco direito, na

direção do membro posterior esquerdo (Figura 10). O medicamento deve ser

ligeiramente morno e injetado lentamente.

Possíveis complicações:

- Cólicas, provenientes de produtos injetados frios ou muito rapidamente, ou por

medicamentos incompatíveis com esta via.

- Peritonite (inflamação do peritôneo), por má assepsia ou pela utilização de

produtos oleosos, que são mal absorvidos por esta via.

Figura 9. Local para a injeção intramuscular (agulha 20x10).

Page 90: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

9.4. Endovenosa

Consiste na deposição do medicamento na corrente sanguínea, através da

punção de uma veia superficial.

Vantagens:

- Ação instantânea do medicamento, que atinge concentração sanguínea máxima,

sendo por isto muito usada nas doenças metabólicas ou infecciosas

(particularmente nas septicemias);

- Permite a administração de grandes doses de medicamentos, como por exemplo,

na reidratação.

Inconvenientes:

- O efeito do medicamento é de curta duração, porque o produto começa a ser

eliminado rapidamente do organismo. Recomenda-se, portanto, fracionar a dose

total, aplicando dois terços por via endovenosa e um terço por outra via.

Local de injeção: veias superficiais, como a jugular direita ou esquerda (Figura 11).

Técnica: faz-se necessário uma pessoa para conter o animal. O operador pressiona

a veia jugular, no terço inferior do pescoço. Após esta pressão, a veia aumenta de

Figura 10. Via peritoneal.

Page 91: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

volume. O operador deve observar o trajeto da veia e, com a seringa na outra mão,

introduzir a agulha. Para certificar-se da introdução correta da agulha dentro da veia,

voltar um pouco o êmbolo da seringa, verificando se o sangue reflui. Relaxar a

compreensão feita na base do pescoço e injetar o medicamento lentamente.

Terminada a injeção, retirar a agulha e friccionar o local, para evitar a formação de

hematoma.

Para facilitar a visualização da veia, pode-se fazer a compreensão (“garrote”) no

pescoço, com auxílio de uma corda e, ainda, depilar a região do pescoço onde será

feita a aplicação.

Possíveis complicações:

- Septicemia, se a desinfecção local não foi bem feita;

- Choque, por medicamentos injetados muito frio ou rapidamente;

- Hematoma (acúmulo de sangue no tecido perivascular), em decorrência de

injeções repetidas e falta de prática do operador; se a assepsia for bem feita,

dificulta as complicações.

9.5. Considerações gerais

Estas injeções, qualquer que seja a via eleita, devem ser feitas por pessoas que

tenham alguma prática. Caso não seja possível, aconselha-se o uso de machos

Figura 11. Jugular esquerda – via endovenosa e posicionamento da agulha.

Page 92: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

mestiços ou capões destinados ao abate, para treinamento, até que se alcance a

prática necessária, para só depois se fazer aplicações no rebanho ovino base de

seleção.

XI. SANIDADE: PRINCIPAIS DOENÇAS PARASITÁRIAS NA

OVINOCULTURA

Este capítulo foi elaborado por Carlos N Kaneto.

1. Considerações gerais

O sucesso de qualquer empreendimento destinado à exploração animal se

apóia num tripé constituído de melhoramento genético, nutrição e sanidade. Dessa

maneira, é da maior importância que esses fatores, influenciados pelo ambiente,

básicos e fundamentais, devam se desenvolver de forma harmônica para se atingir o

sucesso em qualquer sistema de produção animal.

Fora de seu estado de higidez, um animal como uma fábrica complexa

destinada à produção de carne ou lã, mesmo quando criado em condições

ambientais favoráveis e com a melhor tecnologia, deixa de produzir economicamente

ou simplesmente não produz nada. Assim, percebe-se que a sanidade se constitui

na base para qualquer programa de produção animal, fato reconhecidamente aceito

por todos os estudiosos do desenvolvimento da pecuária no Brasil.

Inúmeros fatores contribuem favorável ou desfavoravelmente para a

manutenção da saúde dos animais, como os decorrentes do meio ambiente, do

manejo e os provocados por doenças causadas por agentes físicos, químicos e

biológicos.

Dentre os problemas de ordem sanitária que prejudicam o desempenho de

nossos rebanhos, notadamente os ovinos, as doenças provocados por parasitas ou

parasitoses, são responsáveis por grandes prejuízos, merecendo a atenção de todos

que estejam envolvidos nesse setor.

Um parasito, de maneira abrangente, pode ser definido como um ser vivo que

se aloja em outro ser vivo, de espécie diferente da sua, que é chamado de

hospedeiro, dele auferindo vantagens e provocando-lhe algum dano. Trata-se,

Page 93: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

portanto, de uma associação entre seres vivos onde ocorre uma unilateralidade de

benefícios, sendo o ser beneficiado denominado parasito e o prejudicado, o

hospedeiro.

Esse conceito, porém, inclui também as bactérias, os vírus e os fungos e,

então para efeito didático, as doenças provocadas por esses agentes são

denominadas de enfermidades infecciosas e são estudadas no âmbito da

Microbiologia.

Os parasitos de importância médica e veterinária estão distribuídos em 3

grandes grupos: Artrópodes, Protozoários e Helmintos.

Na ovinocultura ocorrem agravos à saúde dos animais provocados por

representantes desses três grupos, como se verá a seguir.

Os artrópodes abrangem os chamados ectoparasitos ou parasitas externos,

que são aqueles que se localizam na superfície externa dos animais. Dentro desse

grupo encontram-se os animais invertebrados com patas articuladas como os

carrapatos, as sarnas, os piolhos, as pulgas, as moscas e os mosquitos, que

provocam danos aos animais e ao homem de uma maneira direta ou indiretamente,

agindo como veiculadores de agentes causadores de outras doenças

Sob a denominação de miíase é reconhecida a presença e o desenvolvimento

de larvas de moscas em tecidos de animais vivos. Na espécie ovina, as principais

miíases são a "bicheira" e a oestrose ou "mal da cabeça".

A oestrose é provocada pelas larvas de moscas da espécie Oestrus ovis, as

quais se localizam nas cavidades nasais e seios frontais dos ovinos.

As moscas fêmeas adultas após serem fertilizadas pelos machos põem as

larvas contidas no interior de um envoltório, nas narinas dos animais. Cada mosca

coloca cerca de 25 larvas de cada vez e durante a sua vida produz cerca de 500

larvas.

Uma vez na cavidade nasal dos ovinos, essas larvas que medem cerca de um

mm de comprimento quando ovipostas, se dirigem para dentro das fossas nasais,

aderem-se à mucosa dos condutos alimentando-se do muco aí existente. Em

seguida essas larvas vão se dirigir aos seios frontais onde se desenvolvem e

crescem atingindo o tamanho de 2,5 a 3 cm, sendo então expelidas através de

descargas nasais e espirros dos animais.

Page 94: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

O período em que a larva fica parasitando o animal ou período larval é de

aproximadamente 25 dias, porém, pode se estender por até um ano nas regiões de

clima frio. Durante esse período, as larvas ficam exercendo a sua ação deletéria

sobre os ovinos.

Altas infestações podem fazer com que o animal perca o apetite, emagreça,

podendo mesmo morrer.

Uma vez expelidas pelo animal, as larvas maduras vão ao solo e nele

penetram nas suas camadas mais superficiais e passam para outra fase de sua vida

que é a de pupa. Nessa fase, a mosca passa se desenvolver no interior da pupa,

que tem a casca escura e imóvel. Nessa forma, o parasito permanece por um

período variável de 21 a 42 dias. Passado esse período, as moscas adultas

emergem do pupário.

As moscas adultas do gênero Oestrus não se alimentam e vivem por cerca de

15 dias.

Os animais acometidos pelas larvas de Oestrus, ficam irritados, espirram com

freqüência, balançam muito a cabeça e esfregam as narinas nas patas. Geralmente

apresentam também, corrimentos nasais e dificuldade respiratória

Esses sintomas ocorrem porque no período larval as larvas exercem uma

ação mecânica extremamente irritativa, através dos seus ganchos orais e espinhos

que provocam uma inflamação das membranas mucosas nasais com secreção

muco-purulenta ou mesmo sanguinolenta.

O diagnóstico da oestrose pode ser feito através da observação dos sintomas

apresentados, pela identificação da larva expelida pelas descargas nasais e espirros

do animal e também por necropsia. O tratamento poderá ser realizado através da

aplicação de drogas endectocidas, que atuam sobre parasitas internos e externos

dos animais.

As miíases conhecidas como "bicheiras" são provocadas por larvas de

moscas da espécie Cochliomyia hominivorax, também conhecida como "varejeira".

As moscas dessa espécie copulam apenas uma vez na vida. Essa

peculiaridade biológica permitiu a sua erradicação nos Estados Unidos da América

do Norte através da utilização de machos esterilizados por radiação.

Normalmente elas depositam seus ovos em massas compactas contendo de

200 a 300 ovos que são colocados nas bordas de feridas recentes dos animais.

Cada fêmea pode ovipor cerca de 1800 ovos.

Page 95: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Uma vez postos nas bordas das feridas, em menos de 24 horas, desses ovos

eclodem as larvas. Essas larvas se alimentam de tecido vivo dos animais fazendo

uma cavidade na ferida que tende a aumentar de profundidade progressivamente,

pois novas posturas de ovos são realizadas na mesma ferida. Isso pode ser

comprovado pelo encontro de larvas de diferentes tamanhos numa mesma ferida.

A ferida geralmente fica sangrando constantemente pelo seu orifício e exala

um mau cheiro característico, facilmente sentido quando se chega perto do animal

acometido pela "bicheira".

Se o animal com essa miíase não for medicado, as larvas se alimentam por

um período de 5 a 9 dias e abandonam a lesão indo ao solo para puparem. Nas

camadas mais superficiais do solo (2 a 3 cm) se transformam em pupas.

O período pupal é de 7 a 10 dias nas épocas quentes, podendo se prolongar

nas épocas mais frias.

As moscas adultas vivem por cerca de 15 dias podendo sobreviver por até 42

dias nos períodos mais frios.

As moscas causadoras de "bicheiras" se alimentam de néctar das flores e

substâncias açucaradas produzidas pelas plantas e, somente após a cópula e com o

desenvolvimento dos seus ovários, é que ocorre um aumento das suas

necessidades protéicas para a maturação dos seus ovos. Elas são então atraídas

pelo odor das feridas e cortes na pele dos animais nos quais vão provocar a

ocorrência de miíases.

A gravidade e extensão dos danos que a "bicheira" provoca depende do local

do corpo do animal que for atingido e das reinfestações provocadas por novas

posturas. Existem casos que podem levar o animal a morte quando não tratados, ou

mesmo podem provocar lesões sérias e incapacitantes. O mau cheiro exalado atrai

outras espécies de moscas podendo então ocorrer miíases secundárias provocadas

por larvas de moscas que se alimentam de tecido necrosado, agravando ainda mais

o processo.

Geralmente os locais do corpo do animal mais atingidos pela "bicheira" são

decorrentes de práticas normais de manejo como castração, tosquia, corte de cauda,

tratamento inadequado ou não tratamento de umbigo dos recém nascidos,

colocação de brincos ou marcação, e ferimentos provocados por arames farpados,

etc.

Como medidas preventivas recomenda-se, na medida do possível, que certas

práticas de manejo, como a descola dos cordeiros e outras que predispõem o animal

Page 96: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

à "bicheira", sejam executadas no período seco (agosto) quando a população de

moscas varejeiras é menor.

É muito importante ressaltar que se deve manter uma vigilância constante nos

animais realizando-se inspeções freqüentes para surpreender a ocorrência de

"bicheira" para logo no início do seu aparecimento. Para isso deve-se sempre

orientar o funcionário que cuida do rebanho para que o mesmo possa identificar a

ocorrência da bicheira logo no início de seu aparecimento.

O tratamento deve ser providenciado imediatamente com aplicação de

inseticidas em aerossóis ou spray ("mata bicheiras") ou mesmo com medicamentos

que atuam também sobre ectoparasitas (avermectinas), evitando assim que as

larvas caiam no solo e continuem o seu ciclo de vida.

O berne, juntamente com a "bicheira" e o carrapato é um das mais

importantes pragas que atingem a pecuária bovina brasileira, porém, embora tenha

sido assinalado em alguns ovinos após a tosquia, atualmente parece não ser de

ocorrência muito freqüente nessa espécie animal. O berne nada mais é do que a

larva de uma outra mosca chamada Dermatobia hominis, e se caracteriza por se

localizar no tecido subcutâneo dos animais ou mesmo do homem, formando nódulos

com um orifício, por onde ela respira. Essa mosca é de ocorrência mais freqüente

em regiões de matas e morros.

Os ovinos podem ainda ser atacados por outras espécies de artrópodes como

os ácaros produtores de sarna Psoroptes ovis e pelos piolhos Damalinia ovis. A

sarna ovina não tem sido observada no Estado de São Paulo ao contrário da

Damalinia, cuja presença tem sido freqüentemente assinalada nesse Estado.

Esses dois ectoparasitos são parasitas permanentes não apresentando uma

fase não parasitária. Eles são transmitidos através do contato direto entre um animal

infestado com outro sadio. Como eles completam o seu ciclo de vida nos animais, o

seu controle é relativamente mais fácil e pode ser realizado através do tratamento

com banhos com produtos à base de inseticidas (piretróides).

O segundo grande grupo de parasitas é o dos protozoários.

Esse grupo abrange organismos unicelulares que podem provocar doenças

nos animais entre eles os ovinos.

Page 97: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Várias espécies de protozoários do gênero Eimeria têm sido diagnosticadas

em exames de fezes de ovinos, nos quais provocam uma doença chamada

coccidiose.

Esses parasitas são microscópicos e se localizam no tubo digestivo dos

animais. Eles penetram nas células epiteliais do tubo digestivo onde se multiplicam,

provocando uma destruição das células parasitadas podendo resultar, em

conseqüência disso, diarréia hemorrágica, com a saída de oocistos, que são suas

formas de disseminação, nas fezes dos animais. Essas formas de disseminação da

coccidiose são visíveis apenas ao microscópio. Os animais acometidos pela

coccidiose em alguns casos sofrem perda de peso, fraqueza e podem chegar à

morte.

A doença é mais freqüente nos animais jovens com até 8 semanas de idade

porém pode atingir também os animais mais velhos. Várias espécies de Eimeria já

foram identificadas parasitando cordeiros criados a campo, porém, a enfermidade

adquire maior importância em animais confinados.

As infecções com pequeno número de oocistos induzem à imunidade sem

produzir doença, ou seja, os animais conseguem adquirir uma relativa resistência a

essa doença. Parece que essa é a regra nas condições de criação extensiva, porém,

em cordeiros confinados, podem ocorrer casos severos levando os animais à morte.

Os animais adquirem a infecção através da ingestão de oocistos esporulados

juntamente com os alimentos, portanto, as principais medidas para a prevenção da

coccidiose são as de impedir que os animais comam alimentos contaminados,

colocando os cochos de ração e bebedouros em altura adequada para evitar a

contaminação do alimento com as fezes e manter os locais de confinamento limpos

e secos pois a umidade favorece a esporulação dos oocistos.

A coccidiose em ovinos é um assunto pouco estudado quando comparado

com a mesma doença em outras espécies como as aves comerciais. Na avicultura

de corte, por exemplo, as espécies de Eimeria que parasitam os frangos são de

grande patogenicidade e o sistema de produção, com elevada densidade animal,

favorece a sua ocorrência. A alternativa encontrada foi fazer a prevenção através da

adição de medicamentos coccidiostáticos na ração, fornecida continuadamente às

aves.

Pesquisas com ovinos têm demonstrado que o tratamento contínuo dos

animais com coccidiostáticos podem proporcionar um ganho de peso superior aos

Page 98: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

não tratados, porém, o assunto é carente de maiores informações a respeito dos

possíveis e reais prejuízos causados pela coccidiose em cordeiros.

A toxoplasmose também é uma doença provocada por um protozoário

chamado Toxoplasma gondii. Essa é uma das doenças que atingem uma enorme

variedade de espécies animais, inclusive o homem. Nos ovinos, entretanto, na

maioria das vezes ela é assintomática, mas quando atinge ovelhas gestantes, pode

provocar abortamento.

Os gatos são os hospedeiros definitivos do Toxoplasma e eliminam as formas

infectantes do parasito, chamadas de oocistos, através das fezes. Os outros

animais, entre eles os ovinos, se infectam, principalmente, ao ingerir alimento

contaminado com fezes de gato portador do Toxoplasma.

Como medida preventiva, recomenda-se impedir que os gatos tenham acesso

aos cochos e aos locais de armazenamento de rações, pois eles poderiam

contaminar os alimentos com as suas fezes contendo oocistos.

O último grupo de parasitos é o dos helmintos, vulgarmente denominados de

vermes. É o grupo de maior importância, devido aos prejuízos que provoca

especialmente na ovinocultura.

De uma maneira geral, os vermes podem ser achatados ("vermes chatos") ou

cilíndricos ("vermes redondos").

Os vermes chatos podem ser em forma de folha ou em forma de fita

segmentada.

A Fasciola hepatica é um verme chato freqüente na Região Sul e em algumas

áreas da Região Sudeste do Brasil. No Estado de São Paulo é muito freqüente na

região do Vale do Paraíba.

Esse verme se localiza no fígado dos animais acometidos e apresenta um

ciclo biológico complexo, pois necessita de um caramujo para completar o seu

desenvolvimento.

Os animais adquirem a infecção ao ingerirem alimento ou água contendo as

formas imaturas da Fasciola denominadas metacercárias. Essas metacercárias uma

vez ingeridas vão atingir o fígado e canais biliares que são o habitat desse verme.

Durante o seu crescimento a Fasciola provoca intensa destruição do tecido hepático,

provocando hemorragias que resultam em anemia, emagrecimento e mesmo a

morte do animal parasitado.

Page 99: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

A doença é comum nas áreas alagadiças e locais de plantação de arroz, onde

a presença do caramujo é comum.

Nas regiões tradicionais de criação de carneiro no Estado de São Paulo, na

atualidade, ela não tem sido assinalada, mas deve se ter em mente que essa

doença pode estar se expandindo podendo vir a ocorrer no futuro.

Existem duas espécies de parasitos achatados em forma de fita segmentada

muito freqüentes em ruminantes chamadas Moniezia expansa e Moniezia benedeni,

que devido à semelhança com a tênia humana ou solitária, são chamadas de tênias

dos bovinos e ovinos.

As moniezias se localizam no intestino delgado e podem atingir vários metros

de comprimento. Elas se fixam na parede do intestino através de 4 ventosas

localizadas na sua cabeça, e eliminam continuamente os segmentos finais de seu

corpo juntamente com as fezes.

É muito comum, se observar pequenos esses pequenos filamentos

amarelados ou esbranquiçados nas fezes dos carneiros, não havendo necessidade

de outros exames para diagnosticar a doença. Esses segmentos estão repletos de

ovos do verme que são mais ou menos triangulares. Esses ovos, porém, não são

visíveis a olho nu, sendo somente observados quando se utiliza um microscópio.

Nas pastagens, esses ovos são espalhados pela desintegração desses filamentos e

são ingeridos por pequenos ácaros que vivem livremente no solo. No interior do

corpo desses ácaros esses ovos se desenvolvem em larvas infectantes para os

ovinos.

Os ovinos ao pastarem, ingerem juntamente com o alimento, os ácaros

contendo as formas larvárias da Moniezia. Os sucos digestivos do carneiro irão

digerir os tecidos do ácaro e liberar a larva da Moniezia que irá se aderir na mucosa

do intestino delgado onde irá crescer até se transformar em adulto. O corpo da

Moniezia pode atingir vários metros de comprimento sendo constituído de dezenas

de segmentos.

A Moniezia não é hematófaga. Não possuindo tubo digestivo, ela absorve os

alimentos através de seu próprio tegumento. A capacidade de a Moniezia provocar

prejuízos à saúde dos ovinos é considerada pequena por muitos, porém, vale

lembrar que elas competem com os ovinos na absorção do alimento pré-digerido,

diminuindo portanto o aproveitamento do mesmo pelos animais.

Page 100: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Da mesma forma que os ovinos podem ser parasitados pelas moniezias, os

cães podem ser parasitados por outros vermes chatos que se localizam no seu

intestino delgado. O principal deles, em relação aos ovinos, é o Echinococcus

granulosus, que é a menor "tênia" conhecida, pois o seu corpo é constituído de

apenas 3 segmentos. Periodicamente, o cão elimina o último segmento repleto de

ovos do Echinococcus juntamente com as suas fezes que irão contaminar o solo, as

pastagens e a água do meio ambiente.

Os ovinos ao ingerirem capim contaminado com esses ovos do parasito irão

funcionar como seu hospedeiro intermediário. O ovo após ser ingerido irá liberar um

embrião que irá atingir principalmente o fígado e os pulmões dos carneiros. Nesses

órgãos, irá se desenvolver gradativamente a larva do parasito que é chamada de

Cisto hidatico. Essa larva tem um aspecto de uma bexiga e pode ser de tamanhos

variados podendo ser do tamanho de uma bola de sinuca ou mesmo maior.

Com outras espécies de animais pode ocorrer o mesmo que ocorre com os

ovinos, até mesmo com o homem, porém, a doença é mais comum nos ovinos.

Essa doença nos animais e no homem é chamada de hidatidose e, nas

regiões onde ocorre, é de grande importância pelas perdas que provoca na criação

de ovinos e em Saúde Pública, por atingirem também a espécie humana.

Os cães se infectam quando comem vísceras, principalmente o fígado e

pulmões contendo o Cisto hidatico.

Como medidas indicadas para o controle da hidatidose, portanto, são

recomendados o tratamento dos cães portadores do verme adulto ("tênia"

Echinococcus) com vermífugo adequado para que eles não contaminem as

pastagens disseminando a doença, não fornecer vísceras cruas dos ovinos abatidos

para os cães e não permitir que eles tenham acesso a carcaças de animais mortos.

Os chamados "vermes redondos", que na verdade são cilíndricos, são

também conhecidos como nematóides.

Das espécies de vermes que se localizam no pulmão e vias aéreas dos

ovinos o Dictyocaulus filaria é o mais importante e comum. Esse verme determina

um quadro de bronquite parasitária com o animal acometido apresentando tosse e

dificuldade respiratória. A verminose pulmonar é de ocorrência menos comum do

que a gastrintestinal não só nos ovinos como também nos bovinos.

Page 101: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Os animais infectados eliminam larvas através das fezes que irão contaminar

as pastagens. Após um curto período de tempo, essas larvas se desenvolvem nas

pastagens se tornando infectantes para outros animais.

Os animais contraem a verminose pulmonar através da ingestão de larvas

infectantes juntamente com o alimento.

Com relação à verminose gastrointestinal existem vários gêneros de vermes

que a provocam. Os mais comumente encontrados no Estado de São Paulo são o

Haemonchus, Trichostrongylus, Cooperia, Oesophagostomum e Strongyloides. Nos

estados da Região Sul outros gêneros como Ostertagia e Nematodirus também

ocorrem, sendo o primeiro extremamente patogênico para os ovinos. Por enquanto a

sua presença não tem sido relatada no Estado de São Paulo.

Raramente a verminose gastrointestinal é provocada por apenas um tipo de

verme. Geralmente as infecções são mistas havendo uma somatória dos efeitos

deletérios que eles provocam nos animais parasitados.

Esses vermes são responsáveis por elevados prejuízos econômicos por

provocarem retardo do crescimento, diminuição da produção de carne ou lã e

aumento da taxa de mortalidade, além do gasto com vermífugos e mão de obra.

Embora cada tipo de verme apresente peculiaridades próprias, de uma

maneira geral pode-se considerar o ciclo biológico de Haemonchus, Cooperia,

Trichostrongylus e Oesophagostomum como se segue:

A vida de um nematódeo típico se inicia com a cópula entre machos e fêmeas

adultas que estão no seu habitat. Depois de fertilizadas, as fêmeas realizam a

postura de ovos que irão para o meio exterior com as fezes do animal.

Esses ovos só são visíveis quando se usa um microscópio e quando

eliminados, apresentam várias células em seu interior, que em conjunto tem um

aspecto de amora. Possuem também um câmara de ar que permite que eles flutuam

quando colocados em uma solução mais densa. Essa propriedade permite a sua

visualização em laboratório através de técnicas de flutuação.

Esses ovos, encontrando condições propícias de umidade, temperatura,

evoluem passando a conter uma larva em seu interior (embrionamento). Quando

completamente desenvolvida, essa larva eclode e fica no meio ambiente se

alimentando de microorganismos e matéria orgânica presentes no solo e nas

pastagens, cresce e evolui até atingir a forma infectante, chamada de L 3. Para

prosseguir o seu desenvolvimento a L 3 necessita ser ingerida pelo animal. Essas

larvas são bastante resistentes podendo permanecer por vários meses nas

Page 102: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

pastagens. Elas são bastante móveis e são governadas pelo estímulo da umidade.

Nas horas mais frescas do dia, elas se locomovem pela película de orvalho que

recobre as vegetações indo em direção das partes mais altas das vegetações. Nas

horas mais quentes e ensolaradas elas se dirigem para as partes inferiores das

plantas, chegando a penetrar nas superfície do solo em busca de um ambiente mais

propício para a sua sobrevivência.

A umidade ótima para os ovos e larvas é de 80 a 100% e a temperatura entre

22 a 26 ºC. Temperaturas superiores a 30 ºC provocam um desenvolvimento mais

rápido, porém, as larvas se tornam hipercinéticas e consomem rapidamente suas

reservas e morrem mais rapidamente. As larvas podem sobreviver por longos

períodos no microclima existente nas partes baixas da vegetação, rente ao solo,

onde o grau de umidade e temperatura é mais ou menos constante, graças à

proteção das camadas das folhas.

O animal adquire a infecção ao ingerir a larva infectante juntamente com o

pasto. Dentro do organismo do animal, a larva evolui e cresce até atingir o estágio

adulto no local de sua preferência ao longo do tubo digestivo do animal.

O Haemonchus preferencialmente se localiza no abomaso, assim como o

Trichostrongylus axei. Uma outra espécie de Trichostrongylus, o Trichostrongylus

colubriformis e a Cooperia se localizam o intestino delgado e o Oesophagostomum

parasita o intestino grosso.

Localizados em seu habitat, machos e fêmeas copulam e passam a produzir

ovos que serão eliminados através das fezes do animal, fechando o chamado ciclo

biológico.

Deve-se observar que durante a vida desses vermes, ocorrem duas fases

distintas: uma se passa no interior do animal, que vai desde a ingestão da larva

infectante até o verme adulto (fase parasitária) e a outra que se passa no meio

ambiente, que vai do ovo até a forma infectante (fase de vida livre ou pré-

parasitária).

Esse reconhecimento é muito importante quando se discute as medidas de

manejo zootécnico que podem ser aplicadas para dificultar o contato entre os

vermes e os animais.

Geralmente as larvas seguem um desenvolvimento padrão no interior do

organismo do animal de maneira que após 3 a 4 semanas elas já se transformaram

Page 103: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

em adultas. Entretanto, sob certas condições, esse desenvolvimento pode se

retardar por um tempo mais longo (até 4 meses) no interior da mucosa do tubo

digestivo. As larvas retornam ao seu crescimento principalmente quando a

resistência do hospedeiro é quebrada ou diminuída. A partir do momento em que

essas formas imaturas reassumem o seu desenvolvimento elas se tornam adultas

rapidamente e passam a causar doença nos hospedeiros.

O Strongyloides é um verme que apresenta um ciclo de vida diferente dos

demais. Em sua forma adulta ele se localiza no intestino delgado e as fêmeas põem

ovos de casca fina que saem com as fezes do animal contendo uma larva no seu

interior. O desenvolvimento da fase não parasitária é semelhante ao dos outros

vermes acima citados, porém, as larvas infectantes penetram através da pele dos

animais para infectá-los. Esse parasito também pode ser transmitido da mãe para a

sua cria através da placenta e do leite podendo ser encontrado em animais recém

nascidos.

Diferentemente do que ocorre com outras doenças, a verminose

gastrointestinal se apresenta sob forma pouco aparente ou subclínica e crônica, de

maneira que apenas 5% dos casos se manifestam de maneira clara e visível.

Agindo lentamente, os vermes mostram seus efeitos a longo prazo, passando

muitas vezes despercebidos pelos criadores.

As mortes nem sempre se devem diretamente aos efeitos dos vermes no

metabolismo do animal, mas o enfraquecimento provocado por eles torna o animal

mais sensível a outras enfermidades que, em condições normais, eles não seriam.

Em outras palavras, a morte pode ser resultado de uma outra doença que se

instalou em conseqüência da debilidade orgânica que o animal parasitado

apresenta.

Novamente deve-se enfatizar a importância do desenvolvimento harmonioso

do tripé de fatores da produção animal.

Quando há abundância de pastagens de boa qualidade a ação dos vermes

pode ser pouco notada, mas quando as pastagens são de baixa qualidade,

superlotação e condições ambientais deficientes, as verminoses causam estragos

consideráveis.

O Haemonchus é considerado o verme de maior patogenicidade para os

ovinos. É um verme que se alimenta de sangue do seu hospedeiro. Acredita-se que

ele injete uma substância anticoagulante no ferimento que provoca na mucosa

estomacal de modo que a perda de sangue por parte do animal continue por mais 5

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

ou 6 minutos após ele ter abandonado o local de adesão. Estima-se que um ovino

maciçamente infectado por Haemonchus pode perder cerca de 140 ml de sangue

por dia e que cada verme possas sugar 0.08 ml de sangue por dia.

As espécies de Ostertagia também são hematófagas, porém, as principais

lesões são causadas pelas larvas infectantes que penetram na mucosa gástrica

formando nódulos esféricos, no interior dos quais se desenvolvem. Esses parasitos

lesam as glândulas gástricas fazendo com que desapareçam as células produtoras

de ácido clorídrico, o que eleva o pH normalmente de 2 a 3 para 7. Essa elevação

do pH inibe a ação da pepsina e o pepsinogênio, interrompe a digestão péptica e

leva ao desenvolvimento de bactérias anaeróbias desencadeando o aparecimento

de diarréias.

O Trichostrongylus e a Cooperia não são hematófagos. Eles se nutrem de

alimento pré-digerido e de células superficiais da mucosa do tubo digestivo,

provocando reações inflamatórias, erosão e hiperplasia do epitélio, e aumentam a

secreção de muco tornando a digestão deficiente.

Essas espécies e também o Strongyloides provocam lesões menos graves,

porém determinam inflamação catarral, espessamento do epitélio e erosão na

mucosa do tubo digestivo.

O Oesophagostomum embora se localize no intestino grosso em sua forma

adulta, logo que suas larvas saem do abomaso, podem penetrar na mucosa do

intestino delgado formando nódulos na sua parede. Esses nódulos tendem a se

calcificar, interferindo na mecanicidade e no bom funcionamento do intestino

prejudicando o peristaltismo e a absorção intestinal.

Vários são os fatores que interferem na ocorrência das verminoses. Os

cordeiros passam a sofrer infecções significativas a partir de 1 mês e meio de idade,

sendo mais sensíveis que os animais mais velhos.

O estado fisiológico dos animais também influem bastante. Está comprovado

que no período periparto e durante a lactação as ovelhas sofrem infecções mais

pesadas que após o desmame.

Em estudos comparativos, animais das raças Romney-Marsh foram mais

resistentes que animais das raças Merino Australiano, Ideal e Corriedale e animais

da raça Crioula lanada foram mais resistentes que os da raça Corriedale.

Além da diferença entre animais de raças diferentes existem diferenças de

sensibilidade entre animais de uma mesma raça. (resistência individual), existindo

Page 105: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

uma correlação positiva entre resistência e produtividade, havendo possibilidades de

formação de rebanhos mais resistentes à verminose através de seleção genética

dentro de cada raça.

Uma medida de caráter prático para identificar os animais mais sensíveis é

observar aqueles que apresentam sintomatologia clínica, devendo na medida do

possível, serem eliminados do rebanho, pois se calcula que cerca de 10% dos

animais de um rebanho alberguem a metade dos vermes existentes enquanto a

outra metade estaria distribuída entre os outros animais (90%).

As lotações altas facilitam a transmissão das verminoses e baixas

desfavorecem.

O diagnóstico da verminose ovina pode ser estabelecido com base na

sintomatologia apresentada pelos animais como emagrecimento, anemia, edema

submandibular, caquexia e diarréia. Melhor ainda é complementar o diagnóstico

clínico com exame parasitológico de fezes, cultura de larvas e necropsia de alguns

animais doentes.

Para a colheita das fezes para exame laboratorial, deve-se colhê-las

diretamente do reto do animal. Para tanto é bastante prático a utilização de luvas de

plástico descartáveis. Em animais de pequeno porte introduz-se apenas um dedo,

em animais maiores pode-se introduzir dois dedos, fazendo-se uma massagem na

mucosa retal. Após ter obtido o material, descalçar a luva, invertendo-a, podendo-se

dar um nó na luva para melhor conter as fezes colhidas. O envio para o laboratório

deve ser o mais rápido possível e as amostras de fezes devem ser,

preferencialmente, acondicionadas em caixas isotérmicas com gelo.

É importante que se analise uma amostra representativa do rebanho para o

diagnóstico da verminose. Recomenda-se que se colha material de 10% de cada

categoria animal, e que sejam colhidas amostras tanto de animais aparentemente

saudáveis como dos que estão apresentando algum sinal indicativo de verminose.

Com relação ao tratamento e controle das verminoses gastrintestinais deve-

se ter em mente que 95% das verminoses são subclínicas ou seja não apresentam

sintomas evidentes, ressaltando-se a importância da realização de exames de fezes

dos animais.

O controle tem sido baseado na aplicação de drogas antihelmínticas existindo

propriedades onde a aplicação de medicamentos têm sido feita a cada 15 dias.

Page 106: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA

OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

Entretanto, esse uso exclusivo e intenso, tem levado ao aparecimento de

populações de vermes resistentes a essas drogas, como se verá adiante.

Calcula-se que, em decorrência do ciclo de vida dos vermes gastrintestinais,

apenas cerca de 5% da sua população esteja na fase parasitária, passível de sofrer

a ação do medicamento enquanto 95% esteja em fase de vida livre na forma de

ovos e larvas nas pastagens.

Muitos são os fatores que devem ser considerados no controle dos vermes

como as fases de vida do animal que eles são mais atacados, as espécies de

vermes predominantes no rebanho, o tipo de vermífugo a ser usado, as condições

climáticas, as condições das pastagens, etc.

A resistência dos vermes a uma droga pode ser definida como um aumento

na habilidade de uma estirpe de parasito para tolerar doses de uma droga que são

letais para a maioria dos indivíduos de uma população da mesma espécie (dose

terapêutica). O seu aparecimento em um rebanho ocorre devido à seleção de alelos

de genes cuja expressão está envolvida nos mecanismos de ação da droga anti-

helmíntica. Essa habilidade é hereditária sendo transferida aos descendentes. O uso

indiscriminado, intenso e freqüente de vermífugos exerce uma pressão de seleção

muito grande resultando no aparecimento de populações de vermes resistentes a

um ou vários grupos químicos de vermífugos. Atualmente, o fenômeno da

resistência dos vermes de ovinos aos anti-helmínticos é um dos principais problemas

no desenvolvimento da ovinocultura no Estado de São Paulo e no Brasil, pois se

pode chegar a uma situação onde nenhuma base farmacológica disponível seja

eficiente.

A utilização de medicamentos deve ser empregada em esquemas de manejo

que visem diminuir o número de aplicações minimizando a pressão de seleção

exercida e mantendo a produtividade do rebanho.

2. Controle

O controle da verminose gastrointestinal dos ovinos é um assunto complexo e

carente de informações de pesquisa, e para o estabelecimento de programas de

controle, é recomendável que o ovinocultor procure assistência técnica especializada

a fim de que as medidas gerais possam ser adequadas e aplicáveis a cada situação

específica. Entretanto, uma série de recomendações podem ser relacionadas com o

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

intuito de diminuir o aparecimento e a disseminação de populações de vermes

resistentes.

1. Não se deve confiar apenas no vermífugo, devendo-se buscar medidas

auxiliares de controle relacionadas com a descontaminação das pastagens.

2. Administrar a dose correta de vermífugo quando for tratar os animais, pois

as sub-dosagens podem acelerar o aparecimento de populações resistentes.

3. Utilizar os grupos de vermífugos de amplo espectro em rodízio lento ou

anual com a utilização de uma ou duas aplicações de um vermífugo com ação contra

Haemonchus, em áreas onde ele for problema, com o objetivo de retardar o

aparecimento da resistência.

4. Não introduzir parasitas resistentes junto com animais de compra, tratando-

os previamente e mantendo-os confinados no mínimo por 24 horas antes de serem

incorporados ao rebanho.

5. Utilizar apenas drogas com eficácia anti-helmíntica igual ou acima de 90%

para o rebanho.

6. Adotar práticas combinadas que permitam a utilização de áreas de

pastagens livres ou com baixos índices de contaminação por larvas ou que visem a

descontaminação das pastagens, como a utilização de pastagens recém-

implantadas, áreas utilizadas com outras culturas agrícolas, pastejo rotacionado de

ovinos com outras espécies animais como bovinos e eqüinos, pastejo dos jovens na

frente dos adultos, etc.

7. Desmame precoce e terminação de cordeiros em confinamento.

8. Seleção de animais geneticamente resistentes aos vermes.

Essas recomendações são de caráter geral e não são aplicáveis a todas as

propriedades na sua totalidade, entretanto, julga-se que possam contribuir para uma

melhor eficiência dos programas de controle da verminose ovina, programas esses

que devem ser avaliados periodicamente através da realização de exames de fezes

dos animais.

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

XII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, E.B., OLIVEIRA, M.A.G., DOMINGUES, P.F. Base para criação de

ovinos no estado de São Paulo. São Manuel: ASPACO, 2001, 81p.

CUNHA, E.A. et al. Produção intensiva de ovinos. Nova Odessa: IZ, 1999. (Apostila)

NUNEZ, C.M. Profilaxia das enfermidades de ovinos criados em pastejo intensivo e

confinamento. In: SIMPÓSIO PAULISTA DE OVINOCULTURA E ENCONTRO

INTERNACIONAL DE OVINOCULTURA, 5. Botucatu:UNESP, Campinas: SAA/CATI,

Nova Odessa: IZ, São Manuel: ASPACO, 1999. p.11-20

SOBRINHO, A.G.S. Tópicos em ovinocultura. Jaboticabal: FCAV/UNESP, 1993.

179p (Apostila)

VALVERDE, C. 250 maneiras de preparar rações balanceadas para ovinos. Viçosa:

Ed. Aprenda Fácil, 2000. 180p

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OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO

RAÇAS DE OVINOS

Merino

Ideal

Corriedale

Romney Marsh

Ile-de-France

Hampshire Down

Polled Dorset

Texel

Sulfolk

Morada Nova

Santa Inês

Dorper

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