currÍculo e tecnologias digitais: articulaÇÕes … · processo em rede, onde existe uma...
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CURRÍCULO E TECNOLOGIAS DIGITAIS: ARTICULAÇÕES ENTRE PIBID,
LIFE E PRODOCÊNCIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Jessiel Odilon Junglos (FURB)
Juliana de Favere (FURB)
1 INTRODUÇÃO
Este artigo é o resultado de uma pesquisa de iniciação científica1 em andamento,
produzida no contexto do grupo de pesquisa Políticas de Educação na Contemporaneidade2
Para responder a questão problema ‘Quais são as práticas discursivas dos bolsistas de
Iniciação à Docência (ID) do PIBID sobre o uso das tecnologias digitais no contexto
pedagógico?’ a pesquisa investigou uma formação realizada na Universidade Regional de
Blumenau (FURB), através de uma parceria entre três programas: o Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência3 (PIBID), o Laboratório Interdisciplinar de Formação de
Professores4 (LIFE) e o Programa de Consolidação das Licenciaturas5 (PRODOCÊNCIA). A
formação foi realizada no LIFE com: acadêmicos (bolsistas ID), professores da educação
básica (supervisores) e professores da universidade (coordenadores) integrantes do PIBID.
Nesta pesquisa, parte-se de alguns pressupostos: (i) os currículos do século XXI
exigem um diálogo com práticas que utilizam as tecnologias digitais nos processos de ensino
aprendizagem. (ii) as tecnologias digitais parecem ter afetado os modos de ser deste tempo e
(iii) as formas, as regulações e as estruturas educacionais por muito tempo consolidadas
apresentam uma incompatibilidade com os jovens, considerados nativos digitais.
O modo de lidar com a construção do conhecimento também apresenta mudanças.
De uma forma linear de transmissão de um detentor do conhecimento para os outros e o
processo em rede, onde existe uma coautoria na construção do conhecimento. Na internet é
1 A pesquisa é financiada pela Pró-reitora de Pesquisa e Extensão (PROPEX) da FURB através do Programa de
Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC/FURB) e orientada pela Prof.ª Dr.ª Gicele Maria Cervi. 2 O Grupo de Pesquisa objetiva problematizar assuntos relacionados à Escola na Contemporaneidade, focados
nas questões de Gestão, Currículo, Avaliação e sua relação com a constituição de subjetividades. 3 Programa da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) que tem como objetivo
a inserir os acadêmicos dos cursos de licenciatura no cotidiano da escola. 4 Programa da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) que visa à criação de
laboratórios interdisciplinares de uso comum das licenciaturas nas universidades. 5 Programa do MEC (Ministério da Educação) que visa ampliar a qualidade da formação de professores,
principalmente a formação inicial.
2
possível perceber o alargamento e a transição do acesso à informação e, muitas vezes, de
construção de conhecimento.
O espaço, o tempo, a relação entre pessoas e o mundo de comunicação modificam-
se continuamente. Com isso, segundo Silva e Claro (2007) altera-se o modo pela qual as
relações e o processo de ensinar e aprender se constroem. O tempo presente exige outras
habilidades dos indivíduos.
Entendendo o alargamento e a transição do acesso a informação também influencia
os modos de lidar com os processos de ensinar e aprender, a pesquisa investiga práticas
discursivas em relação ao uso das tecnologias digitais no campo educacional. E para isso,
apresenta sua metodologia de estudo bibliográfico, documental e pesquisa a campo.
O artigo propõe uma problematização sobre o uso das tecnologias digitais nos
currículos na formação inicial de professores a luz de Julia Varela, para entendermos o
processo histórico da escola, e Paula Sibilia e Marco Silva, para olharmos as tecnologias
digitais na escola contemporânea. A metodologia utilizada foi observação participante, que
segundo Minayo (1994) é o contato direto entre o pesquisador e o objeto a ser pesquisado,
onde o pesquisador pode ao mesmo tempo mudar e ser mudado pelo contexto que se encontra.
Até o presente momento foram realizadas a pesquisa bibliográfica, a observação participante
na formação e a aplicação do questionário. A pesquisa documental analisou as matrizes
curriculares dos cursos de licenciatura da FURB, para identificar em quais disciplinas, as
tecnologias digitais são foco de discussão ou estão inseridas nas práticas desenvolvidas.
Em relação à pesquisa de campo, que está em andamento, investigará as práticas
discursivas dos bolsistas PIBID sobre conceito e usos das tecnologias digitais. O público alvo
são os licenciandos integrantes do PIBID. PIBID tem como um dos objetivos a inserção das
tecnologias digitais nas práticas desenvolvidas nas escolas de educação básica onde os
subprojetos são desenvolvidos. Uma das maneiras utilizadas para concretizar esse objetivo é
proporcionar formação interdisciplinar para estes bolsistas, para que consigam inserir as
tecnologias digitais nas suas práticas pedagógicas e, também problematizar esse uso.
Assim, pesquisou-se uma formação na qual os bolsistas do PIBID participaram sobre
a temática. A Formação foi realizada em cinco encontros no segundo semestre de 2014 e teve
como objetivos: Problematizar o uso de tecnologias digitais na escolarização, na formação
3
docente e na sociedade contemporânea; Conhecer e vivenciar os modos de uso das
tecnologias digitais em práticas interdisciplinares; Criar um material interdisciplinar digital
para uso pedagógico; Contribuir na construção de Diretrizes que nortearão as práticas
pedagógicas com o uso de tecnologias digitais e; Planejar práticas pedagógicas que explorem
as tecnologias nos projetos.
Até o momento, com base na pesquisa bibliográfica, os estudos indicam que as
tecnologias digitais poderão contribuir para alterar formas que ainda estão consolidadas nas
práticas escolares, podendo trazer outra cultura sobre a escola, sobre o professor, sobre o
estudante, sobre a formação, para outro tempo, baseado na cibercultura, na conexão e nas
relações em rede.
2 A ESCOLA E SEUS FLUXOS
A escola não surgiu de um dia para o outro, mas de um processo de construção,
destruição e reconstrução em um determinado contexto histórico. O modo como conhecemos
a escola hoje, ainda está passando por mudanças e adaptações sociais, culturais e econômicas.
É importante conhecermos como, por qual motivo e com que função a instituição escola foi
criada, para que consigamos entender, um pouco melhor, os processos pela qual a escola está
passando. Segundo Varela e Alvarez-Uria (1992, p.70)
Condições sociais [...] permitiram o aparecimento da chamada escola nacional: 1.
Definição de um estatuto da infância; 2. A emergência de um espaço específico
destinado a educação das crianças; 3. O aparecimento de um corpo de especialistas
da infância dotados de tecnologias específicas e de ‘elaborados’ códigos teóricos; 4.
A destruição de outros modos de educação; 5. A institucionalização propriamente
dita da escola.
Com a possibilidade de criação da instituição escolar e suas legitimações, definiu-se
um Estatuto da Infância, em que foram atribuídas características que a essa categoria recém-
criada na sociedade. Varela e Alvarez-Uria apresentam características que começam a definir
esta etapa específica da vida
maleabilidade, de onde se deriva a capacidade de ser moldada; fragilidade (mais
tarde imaturidade) que justifica sua tutela; rudeza, sendo então necessária sua
‘civilização’; fraqueza de juízo, que exige desenvolver a razão; qualidade da alma,
4
que distingue o homem dos animais; e enfim, natureza em que se assentam os
germes dos vícios e das virtudes (1992, p.72)
Assim, as crianças começaram a ser separadas dos adultos para que a sua educação
tivesse o resultado esperado de formar corpos dóceis e úteis para a constituição de uma
sociedade moderna. Varela (1992) aponta que surgiram com isso os colégios, albergues, e
outros espaços que serviam para deixar as crianças numa espécie de quarentena. Essa
quarentena se dava de forma diferente entre as classes sociais. Geralmente a classe burguesa
deveria aprender o que era necessário para mandar quando se tornassem adultos, já as crianças
de classe menos favorecida aprenderiam os mais variados ofícios, como carpinteiro, artesão e
outros ofícios que não possuíam muito prestígio social. Estavam criados neste momento os
espaços específicos destinados à educação.
Com a criação desses espaços, a necessidade de constituição de um corpo de
especialistas tornou-se necessário. Os professores como detentores do conhecimento deveriam
assim ser transmissores para as crianças que estão nesses locais. Varela e Alvarez-Uria (1992)
destaca que o estatuto de mestre fazia com que além dos conhecimentos escolares, os
professores eram responsáveis por ensinar uma moral, comportamentos e princípios que
estavam de acordo com a ordem social da época.
A formação destes profissionais ficaria a cargo dos interesses de alguns, de
determinados grupos sociais, a burguesia, na qual “o objetivo primordial é que desempenhem
funções de acordo com a nova sociedade em vias de industrialização.” (VARELA;
ALVAREZ-URIA, 1992, p. 82)
A escola, além disso, precisava se firmar como único meio de se ter acesso aos
conhecimentos “verdadeiros” e “certos”. Para que isso acontecesse todas as outras formas de
educação precisavam ser destruídas e sua legitimidade contestada. Esse mecanismo de
destruição de outras formas de educação, que não atendiam a determinados objetivos de
determinados grupos sociais, pode ser vista no Brasil muito tempo depois da criação da escola
nas décadas de 30 e 40 do século XX, na Campanha de Nacionalização de Getúlio Vargas.
Foram criados ainda mecanismos para a institucionalização da escola, tornando-a
obrigatória e usando de castigos físicos para punir eventuais condutas que fugissem do padrão
social da época. Tudo isso fez com que a escola se tornasse um grande investimento como
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meio de controle econômico e social, que está a serviço de alguns. É neste espaço que
passarão todas as pessoas obrigatoriamente, em determinada idade, sendo delegado para
alguns, funções de comando e para outros de submissão. Dispositivos disciplinares e de
controle atuam para a instituição escolar que “têm por finalidade tutelar o operário, moralizá-
lo, converte-lo em honrado produtor, procuram igualmente neutralizar e impedir que a luta
social transborde, pondo em perigo a estabilidade política.” (VARELA; ALVAREZ-URIA,
1992, p.90)
Todos esses processos foram sendo construídos para que a escola cumprisse sua
função social: formar corpos e subjetividades dóceis e úteis para uma sociedade e continuasse
funcionado como uma maquinaria, pois segundo Corrêa (2002, p.74) a escola, “funciona
dentro desses objetivos como máquina, aparelho ou dispositivo [...] onde se processa a
fabricação desses indivíduos ideias”.
Pensando a criação da escola e o tempo presente, Sibilia (2012) indica que existem
explicações históricas e antropológicas para a disparidade entre a escola e os estudantes de
hoje. E isso não ocorreu de uma hora para outra, isso é um longo processo histórico que agora
se torna cada vez mais evidente e isso não fica restrito as tecnologias digitais recentemente
popularizadas. Esse processo faz ficar latente que “por um lado, então temos uma escola, com
um classicismo que ela carrega nas costas; por outro, a presença cada vez mais incontestável
desses “modos de ser” (grifos do autor) tipicamente contemporâneos” (SIBILIA, 2012, p. 15).
Em tempos de globalização, de conectividade, as tecnologias digitais vão ganhando
cada vez mais espaço e passam a ocupar a vida cotidiana das pessoas. Autores que estudam o
processo de escolarização apontam que as tecnologias digitais afetam a escola. Silva e Claro
(2007, p.83) indicam que
Papéis tradicionais de professores e alunos sofrem profundas mudanças, posto que o
professor ao invés de transmitir meramente os saberes, precisa aprender a
disponibilizar múltiplas experimentações, educando com base no diálogo, na
construção colaborativa do conhecimento, na provocação da autoria criativa do
aprendiz.
Segundo Sibilia (2012) hoje na escola, procura-se investir em características que
antes eram combatidas, como a originalidade, a livre iniciativa, a motivação, a livre iniciativa
e a vocação proativa. Essas características apresentam aproximação com um perfil
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empreendedor que se destaca como um perfil dos indivíduos desde tempo. Para Sibilia (2012)
a escola está se tornando uma maquinaria antiquada, e por isso, seus componentes e
funcionamento estão cada vez mais em conflito com os sujeitos desse tempo. Todas essas
mudanças ocorrem para que as subjetividades formadas nos espaços escolares atendam as
exigências da sociedade contemporânea
junto com os reluzentes e utensílios que a contemporaneidade tem dado à luz,
disseminam-se outras formas de edificar a própria subjetividade e, também, novas
maneiras de se relacionar com os outros e de se posicionar ou atuar no mundo
(SIBILIA, 2012, pág. 203).
Diante desse contexto, a pesquisa aproxima a legitimação das práticas escolares e os
modos de ser escolar desse tempo. E para isso, investiga como os estudantes das licenciaturas
entendem o uso das tecnologias digitais na escolarização.
3 INVESTIGANDO PRÁTICAS DISCURSIVAS SOBRE TECNOLOGIAS DIGITAIS
NO CONTEXTO DE UMA FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE
Entendemos que as tecnologias digitais ocupam, investem e contribuem para a
constituição de subjetividades. Do mesmo modo que ocupa, também podem ser possibilidades
de construção do conhecimento, e de ressignificar práticas pedagógicas seculares das
instituições escolares. Sibilia (2012) aponta que, em tempos de dispersão, onde os estudantes
pedem para serem motivados “a tríplice aliança entre mídia, tecnologia e consumo costuma
concorrer com vantagens – e, por conseguinte, com sucesso – para conquistar a atenção dos
entediados alunos do século XXI” (SIBILIA, 2012, p. 207). O que não é garantia de sucesso,
ou eficácia no processo de ensino-aprendizagem.
Num primeiro momento, para conhecer se as tecnologias digitais estão presentes na
formação docente nos cursos de licenciatura, as matrizes curriculares dos cursos foram
analisadas. A universidade investiga possui 14 cursos de licenciatura. Em um primeiro
momento buscou-se no nome das disciplinas alguma menção a tecnologia digital, e depois de
identificadas as disciplinas, analisou-se as ementas das mesmas, para identificar de que forma
as tecnologias digitais são abordadas. Após as análises constatou-se que poucas disciplinas
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possuem as tecnologias digitais como foco de discussão, fazendo com que os acadêmicos
tenham pouco contato com essa temática.
Para investigar as práticas discursivas dos bolsistas ID sobre as tecnologias digitas a
metodologia definida foi a observação participante, que Marconi e Lakatos (2005) definem
como sendo a real participação do pesquisador com o grupo a ser pesquisado, passando o
pesquisador a se confundir com o grupo.
A pesquisa participante acompanhou os encontros de uma Formação Docente sobre a
utilização das tecnologias digitais no processo de aprendizagem. A formação foi planejada em
cinco encontros, organizada como espaço para discussão, criação e reflexão sobre as
tecnologias digitais no contexto escolar.
Os encontros foram divididos em duas principais discussões complementares: (i)
sobre a escolarização na contemporaneidade e os modos de utilização das tecnologias digitais
e (ii) a construção de um objeto de aprendizagem.
Na primeira discussão foram problematizadas a escola contemporânea, seu processo
de criação e a formação docente para este tempo, além da incompatibilidade entre a
organização escolar e os estudantes. Os participantes também apontaram questões como a
falta de investimento em recursos tecnológicos digitais, a importância de o professor ter
domínio sobre essas ferramentas e a necessidade de o professor estar disposto a aprender.
Alguns apontamentos dão pistas sobre os novos desafios e transformações pela qual a escola
está passando e a importância de se refletir sobre isso.
No primeiro encontro os participantes conheceram e exploraram os equipamentos do
LIFE. Além disso, apresentaram suas expectativas com a formação e experiências com as
tecnologias digitais. Falas como “vim para o curso para aprender coisas novas, facilitar
minha vida” e “desfrutar os benefícios da tecnologia, adoro coisas novas” apontam que, a
inserção das tecnologias digitais é vista como uma novidade nas práticas docentes dos cursos
de licenciatura e nos projetos do PIBID e que são indicadas como facilitadoras.
No segundo encontro foram feitas algumas discussões e problematizações com base
nos textos de Marco Silva (2007) “A Docência Online e a Pedagogia da Transmissão” e de
Paula Sibilia (2012) “A Escola no Mundo Hiperconectado: Redes em vez de Muros?”. Foi
apontado o choque de gerações que as tecnologias digitais promovem e que essa
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incompatibilidade entre escola e escolares coloca em discussão as estruturas seculares da
escola, como a de que existe um detentor de conhecimento e um receptor de conhecimento. O
desafio do encontro, após as discussões, foi a criação de objetos educacionais para os
próximos encontros. Em grupos, os participantes deveriam, a partir de um roteiro de
produção, definir um objeto educacional que explorasse pontos evidenciados nos autores
estudados, ou seja, explorassem e produzissem um material com a intenção de contribuir com
o processo de aprendizagem.
Assim, na continuidade nas formações, o foco foi na produção dos objetos
educacionais. Um dos grupos escolheu a realidade aumentada, através da ferramenta
Aurasma6, para criar um jogo com tema sobre a vida de Fritz Müller7. E o segundo grupo se
propôs a criar um Manual de Pesquisa8 para adolescentes, crianças pequenas e professores,
pois um dos aspectos apontados durante as discussões foi a inexperiência tanto de professores,
como de estudantes na construção de uma pesquisa.
Os demais encontros foram dedicados a produção. Ao final os OEs foram
socializados. Neste momento realizamos a pesquisa com os participantes através de
formulário eletrônico para entender como foi a experimentação dos objetos criados, além de
discutir sobre o processo de construção de cada ferramenta e as impressões de cada um no
processo de construção. Na discussão, a participante que no primeiro encontro havia dito que
as tecnologias iriam “facilitar minha vida” apontou que estava equivocada uma vez que essa
facilitação não ocorreu no processo, pois com a criação da ferramenta gerou uma série de
pesquisas e tarefas secundárias.
Após a socialização foi aplicado um questionário com os participantes, que entre
outras perguntas, fazia as seguintes indagações: (i) “Para você, quais palavras-chave
representam o modo de utilização das tecnologias digitais no contexto educacional?” e (ii)
“Qual a relevância da formação para sua Formação e/ou Trabalho Docente? Se possível, cite
6 Aurasma é um software com poder de transformar qualquer coisa impressa em multimídias reais. 7 Johann Friedrich Theodor Müller. Nascido em 1822 é considerado um revolucionário em política, religião e
filosofia, Fritz Müller, como ficou conhecido no Brasil, foi um estudioso do meio ambiente. Aclamado como
“príncipe dos observadores da natureza” e como “precursor da ecologia”, faleceu em 21 de maio de 1897.
8 Os manuais de pesquisa foram criados em forma de gibi (adolescentes) e e-book (crianças pequenas). Links dos
trabalhos: http://pt.calameo.com/books/0040347117299484178c8 (acesso em 21/abr/2015) e
http://pt.calameo.com/read/004090703692c670211bd (acesso em 21/abr/2015).
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alguma alteração e/ou situação”. As respostas destas duas questões são utilizadas para a
análise e reflexão desta pesquisa, por estarem em sintonia com o objetivo proposto.
As respostas para a pergunta “para você, quais palavras-chave representam o modo
de utilização das tecnologias digitais no contexto educacional?” são indicadas no quadro
abaixo:
Respostas da pergunta “Para você, quais palavras-chave representam o modo de
utilização das tecnologias digitais no contexto educacional?” dos participantes da
Formação Docente Interdisciplinar – LIFE FURB
Interdisciplinaridade (3) Interação (2)
Pesquisa Utilização
Criatividade Formação
Habilidades Autoria
Tecnologia Colaboração
Reflexão Espaço de aprender
Possibilidades (2) Letramento digital
Moderação Aprendizagem (2)
Falta de investimento na escola Ferramentas
Dificuldade (2) Inovação (2)
. Realidade Interesse dos alunos
Abertura Desafios
Planejamento Segurança
I - (*) número de vezes que a palavra foi repetida.
Ao organizar as respostas desta maneira possuímos um panorama das palavras que
mais apareceram. Podemos citar “interdisciplinaridade” e “interação” e “inovação” como as
mais citadas pelos participantes, essas palavras possibilitam uma relação com o que Lévy
(1999) chama de processo virtualização dos processos de educar e aprender, pois ocorre uma
desmaterialização da informação. A virtualização possibilita uma maior interatividade entre
os sujeitos envolvidos e inova a maneira como o conhecimento de constrói, passando a ser de
coautoria). Esses dois processos – virtualização e interação – faz com que as tecnologias
digitais possam perpassar diferentes áreas do conhecimento e facilitem a aprendizagem.
Nas respostas podem-se notar também, expressões como “dificuldade” “interesse”,
“abertura”, “realidade” e “falta de investimento” que são de pessoas que estão em processo de
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formação e possuem uma visão um tanto quanto realista, sobre as tecnologias na escola.
Podem-se tomar, de certo modo, com tranquilidade essas respostas, pois surgem de pessoas
que vivem a maquinaria escolar no seu dia-a-dia e, por produção dessa mesma maquinaria,
que com as tecnologias continua construindo subjetividades e ocupando o tempo de todos os
atores envolvidos.
De maneira geral, ao analisar tais respostas, é possível perceber o processo pela qual
a escola está passando com a inserção das tecnologias digitais, com o choque de visões e
práticas que carregam características de um determinado tempo e de uma determinada
realidade. Tempos e realidades que estão se transformando para atender a necessidade da
sociedade contemporânea – corpos dóceis e úteis – que tem na escola o instrumento de
concretização.
As respostas da pergunta “qual a relevância da formação para sua Formação e/ou
Trabalho Docente? Se possível, cite alguma alteração e/ou situação” possibilita uma reflexão
sobre a mudança ou inquietações provocadas pela formação nos discursos dos bolsistas, o que
presumisse que irá alterar algum aspecto na sua prática pedagógica. As respostas estão
organizadas no quadro a seguir:
Respostas da pergunta “Qual a relevância da formação para sua Formação e/ou
Trabalho Docente? Se possível, cite alguma alteração e/ou situação” dos participantes
da Formação Docente Interdisciplinar – LIFE FURB
Aprendi a dominar outras ferramentas que eu não tinha conhecimento.
A formação nos fez buscar mais recursos tecnológicos para repensar algumas práticas, tanto
no PIBID quanto na formação profissional.
Estudar novos modelos de aplicativos para utilizar nas aulas.
Tivemos dificuldade em definir a ação interdisciplinar, talvez pela falta de cultura.
Facilitação do uso da tecnologia educacional, visando o interesse do aluno por esse tipo de
material e acreditando que isso contribua para sua aprendizagem.
Incentivou a buscar outros recursos tecnológicos, como montar vídeos para socializar os
trabalhos.
A alteração da visão da tecnologia. Não ver ela como vilã ou concorrente e sim como aliada
no processo pedagógico.
As mudanças não ocorreram durante minhas práticas docentes, mas sim, nas minhas
atividades como estudante e minha opinião sobre o uso de tecnologias e ferramentas de
pesquisa.
Abriu novas possibilidades para se pensar a prática docente no contexto atual através do
diálogo com outras áreas do conhecimento e exploração de suportes tecnológicos.
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Ao se deparar com tais respostas, é possível fazer algumas leituras sobre a percepção
dos participantes, a cerca da importância desse tipo de formação na sua prática docente.
Frases como “a formação nos fez buscar mais recursos tecnológicos para repensar algumas
práticas”, “incentivou a buscar outros recursos tecnológicos” e “abriu novas possibilidades
para se pensar a prática docente no contexto atual através do diálogo com outras áreas do
conhecimento e exploração de suportes tecnológicos” mostram que os participantes, de
maneira geral, percebem-se que as práticas discursivas dos estudantes seguem os fluxos da
contemporaneidade, na qual as tecnologias digitais parecem preencher e ocupar ainda mais os
currículos escolares.
Essa percepção é evidenciada na resposta “não ver ela [tecnologia digital] como vilã
ou concorrente e sim como aliada no processo pedagógico”. A inserção das tecnologias
digitais é uma discussão recente no âmbito educacional. O que parece legitimado nas práticas
discursivas encontradas é o modo descritivo e de exigência da utilização das tecnologias
digitais na sociedade contemporânea e na escola, com sua estrutura secular ainda fortemente
consolidada.
Outra resposta que chama a atenção é “tivemos dificuldade em definir a ação
interdisciplinar, talvez pela falta de cultura”. Toda a estrutura escolar, desde sua criação,
como aponta Varela, esta organizada na separação do conhecimento, em áreas que muitas
vezes não dialogam entre si, o que cria nos indivíduos uma cultura da individualidade. E a
mudança que esta ocorrendo, é uma mudança cultural, no sentido de desconstruir ou
transformar uma cultura escolar recente por algo que esteja mais condizente com a sociedade
atual.
Até o momento da pesquisa percebe-se que as tecnologias digitais não facilitam, mas
ocupam. Isso for percebido durante o processo de criação dos OEs. Além disso, sem objetivos
e intenções elas podem apenas dispersar e divertir. Dentre as ocupações pode-se pensar em
que as tecnologias digitais como uma possibilidade de comunicação e informação que pode
potencializar o aprendizado, já que é um recurso que os jovens estudantes são familiarizados.
Diante das discussões, desafios e problematizações, na próxima etapa da pesquisa, a
intenção é realizar entrevistas com os estudantes das licenciaturas, tentando buscar e
problematizar as práticas vivenciadas com as tecnologias digitais. Por um lado, acredita-se
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que as tecnologias digitais ocupam ainda mais as escolas, professores e estudantes. E por
outro, busca-se pesquisar sobre o seu potencial criador.
4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A formação possibilitou uma experimentação, com as tecnologias digitais, na criação
de conhecimento, tanto na construção dos objetos educacionais como também no próprio
trabalho do grupo. Participação, criatividade, motivação, que Sibilia (2012) aponta como
exigências da escola desse tempo, foram necessárias para que o trabalho proposto tivesse
sucesso. Ferramentas de pesquisa, de compartilhamento de documentos, criação de histórias,
edição de áudio e vídeo, mesmo não sendo o foco dos trabalhos estiveram presentes e
auxiliando todo o processo de discussão e criação dos objetos educacionais propostos.
A parceria entre dos programas LIFE, PIBID e Prodocência teve por objetivo
proporcionar uma discussão sobre uma cultura escolar, fazendo com que aspectos da
atualidade sejam discutidos e problematizados. A formação propôs concretizar, através da
experiência dos participantes, de um processo de coautoria, de coformadores, onde cada
participante em um dado momento poderia dar a sua contribuição para o projeto. Esse
movimento é importante, pois contribui para a transformação de uma lógica instaurada, de
repasse de conhecimento entre um criador e um receptor, prática que não condiz mais com a
realidade atual. Espaços como este, possibilitam discutir e problematizar práticas da e para a
escola contemporânea.
REFERÊNCIAS
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LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2011.
13
MINAYO, Cecília de S. et al. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 24ª ed.
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SIBILIA, Paula. A escola no mundo hiperconectado: redes em vez de paredes? Matrizes, São
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VARELA, Julia. ALVAREZ-URIA, Fernando. A Maquinaria Escolar. Teoria & Educação.
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