cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO EDNA MICHELLE BORGES MEDEIROS CULTURA ORGANIZACIONAL E DA QUALIDADE: ESTUDO DE UMA INDÚSTRIA SALINEIRA NO RN NATAL/RN 2011

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Page 1: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

EDNA MICHELLE BORGES MEDEIROS

CULTURA ORGANIZACIONAL E DA QUALIDADE: ESTUDO DE UMA INDÚSTRIA SALINEIRA NO RN

NATAL/RN

2011

Page 2: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

EDNA MICHELLE BORGES MEDEIROS

CULTURA ORGANIZACIONAL E DA QUALIDADE: ESTUDO DE UMA INDÚSTRIA SALINEIRA NO RN

Dissertação apresentada à coordenação do mestrado profissional em administração, linha de pesquisa: Gestão estratégica de pessoas da Universidade Potiguar, como critério parcial para obtenção do título de mestre em administração. Orientadora: Profª. Drª. Fernanda Fernandes Gurgel

NATAL/RN 2011

Page 3: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

M488c Medeiros, Edna Michelle Borges.

Cultura organizacional e da

qualidade: estudo de uma indústria salineira no RN / Edna

Michelle Borges Medeiros. – Natal, 2011.

115 f.

Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade

Potiguar. Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-

Graduação.

Page 4: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

EDNA MICHELLE BORGES MEDEIROS

CULTURA ORGANIZACIONAL E DA QUALIDADE: ESTUDO DE UMA INDÚSTRIA SALINEIRA NO RN

Dissertação apresentada à coordenação do mestrado profissional em administração da Universidade Potiguar, como critério parcial para obtenção do título de mestre em administração.

Aprovada em _____/_____/_____.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Profª Fernanda Fernandes Gurgel, Drª

Orientadora Universidade Potiguar – UnP

______________________________________________ Profª. Jomária Mata de Lima Alloufa, Drª

Examinadora Externa Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

______________________________________________ Profª. Nilda Maria de Clodoaldo P. Guerra Leone, Drª

Examinadora Interna Universidade Potiguar – UnP

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais.

Page 6: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

AGRADECIMENTOS

A FAMÍLIA Por tanto entusiasmo por minhas conquistas. Em especial aos meus pais e irmãos, que nas noites em claro para pesquisa, me acalentavam com palavras de conforto e de bom humor.

A DEUS Que me deu a vida, e nela colocou o amor, a família, os amigos, a coragem, e a disposição

pelo trabalho, a perseverança e a certeza que amanhã será sempre um dia melhor do que hoje.

AOS MESTRES A UnP pela oportunidade de participar deste mestrado. Ao PPGA, por permitir realizar mais

este sonho. A todos os Professores do mestrado e em especial a Professora Dra. Fernanda Gurgel, por suas orientações, sua sabedoria em estimular ao aprendizado e paciência quando eu ainda

estava tentando me descobrir como pesquisadora, o meu muito obrigado. A professora Dra. Patrícia Webber, leitora deste trabalho, e que por diversas vezes soube me

fazer as perguntas certas, me ajudando a definir os caminhos a seguir. A secretária do PPGA, Nádia, pelo seu carisma e atenção.

Ao Mestre Wesley Adson, que com sua inteligência e paciência me ajudou a encontrar nos complexos caminhos da estatística os resultados almejados.

AOS AMIGOS Aqueles me ajudaram a retirar as pedras que encontrei pelo caminho. Aos colegas de

mestrado pela convivência, nos trabalhos, nas viagens, nos almoços e no compartilhamento dos mesmos problemas da vida de estudante. Aos meus colegas de trabalho, professores, que

sempre torciam pelo sucesso e às vezes compreendendo minha ausência.

A SALINA Que proporcionou, de tão bom agrado, a realização desta pesquisa, e até entendendo a

urgência na obtenção dos dados. Em especial aos Srs. Olavo e Kellyel, pela permissão e pelo convívio, os almoços temperados com informações valiosas para a pesquisa, sempre de forma

cordial e alegre, apesar de tanto trabalho.

Page 7: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

“Não há ausência de cultura, porque ela existe,

mesmo quando nada se faz para construir. O que

acontece é que umas facilitam o atingir dos

objetivos desejados, produzem satisfação e

adesão, as outras impedem e potencializam o

conflito improdutivo. Umas permitem o

desenvolvimento da inteligência e da inovação,

as outras são castradoras do desenvolvimento

humano.”

Jorge Marques

Page 8: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

RESUMO

A cultura organizacional, por tratar das regras, procedimentos e interligações informais existentes em toda organização formal, facilita o compromisso coletivo e molda o comportamento, dando sentido a seus ambientes. A cultura da qualidade é uma estratégia usada para se referir a um resultado final, em busca da satisfação de seus clientes através da eficiência do seu processo produtivo. Esta pesquisa teve como objetivo identificar a influência do tipo de cultura organizacional no nível de cultura da qualidade na refinaria de uma indústria salineira do Rio Grande do Norte. Os dados foram coletados mediante aplicação do instrumento OCAI (Organization Culture Assessment Instrument), que operacionaliza o Modelo de Valores Competitivos de Cameron e Quinn (2006), associado a taxonomia criada por Cameron (1997) para classificação do nível de cultura da qualidade. Este é formado por 24 proposições competitivas, divididas em seis dimensões, 1) Características Dominantes; 2) Liderança Organizacional; 3) Gerenciamento de Pessoas; 4) Coesão e União Organizacional; 5) Ênfase Estratégica; 6) Critérios de Sucesso, para identificar os perfis culturais e mais oito proposições competitivas, divididas em duas dimensões, 1) Com Referência a Produtos e Serviços; 2) Com Referência aos Clientes, para identificar o nível de cultura da qualidade. Os resultados das análises apresentam que o tipo da cultura organizacional predominante na refinaria é o Clã. O nível de cultura da qualidade apresentou valores predominantes para a Detecção de Falhas. Para que a organização mude seu nível de cultura da qualidade de Detecção de Falhas para o nível mais alto, Qualidade Perpétua Criativa, os resultados sugerem o tipo de cultura Hierárquica e também indicam que os funcionários da refinaria teriam dificuldades para se adaptar ao tipo de cultura Mercado, sendo que, ainda para esta possibilidade, implicaria na diminuição do nível de cultura da qualidade para o nível considerado mais baixo, Status quo. A pesquisa atingiu os objetivos propostos, o instrumento se mostrou eficiente. A dedução que se faz dos resultados obtidos, é que o aumento do nível de qualidade está relacionado positivamente com o tipo de cultura Hierárquica, logo a empresa deve trabalhar a mudança a partir da liderança, desenvolvendo gradualmente mecanismos de controle, tais como regras formais e políticas que favoreçam o aumento da coordenação e organização, de forma estruturada. No entanto é importante que novos procedimentos sejam percebidos de forma positiva pelos colaboradores, pois somente a partir da visão compartilhada entre todos é possível que haja o aumento do nível de aderência a cultura da qualidade.

Palavras-Chave: Cultura organizacional. Mudança organizacional. Gestão da Qualidade. Estratégias organizacionais.

Page 9: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

ABSTRACT

The organizational culture, for dealing with rules, procedures and informal linkages across existing formal organization, facilitates the collective commitment and shapes behavior, giving meaning to their environments. The quality culture is a strategy used to refer to a final result, in pursuit of customer satisfaction through the efficiency of their production process. This research aimed to identify the influence of organizational culture on the level of quality culture in a refinery salt industry of Rio Grande do Norte state. Data were collected by applying the instrument OCAI (Organization Culture Assessment Instrument), which operates the competing values model of Cameron and Quinn (2006), associated with the taxonomy created by Cameron (1997) for classifying the level of quality culture. This consists of 24 competitive proposals, divided into six dimensions: 1) Dominant characteristics, 2) Organizational Leadership, 3) People Management, 4) Organizational Cohesion and Union, 5) Strategic Emphasis, 6) Success Criteria for identifying the cultural backgrounds and eight propositions competitive, divided into two dimensions: 1) With reference to products and services, 2) With reference to customers, to identify the level of quality culture. The test results show that the type of organizational culture is the dominant clan in the refinery. The level of quality culture values were predominant in the detection of faults. For the organization to change its level of quality culture Fault Detection for the highest, Quality Perpetual Creative, the results suggest the type of hierarchical culture and also indicate that employees of the refinery would have difficulties to adapt to the type of culture market, and even to this possibility, would result in a decreased level of quality culture to the level considered lower status quo. The research achieved the proposed objectives, the instrument proved to be efficient. The implication is that the results obtained, that is to increase the quality level is positively related to the type of hierarchical culture, so the company must work to change from the leadership, gradually developing control mechanisms such as formal rules and policies that encourage increased coordination and organization in a structured manner. However it is important that new procedures are perceived positively by the employees, because only from the shared vision among all possible that there is an increase in the level of adherence to quality culture.

Keywords: Organizational culture. Organizational change. Quality Management. Organizational strategies

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Três níveis de programação mental humana....................................... 22

Figura 2 Como se formam as Culturas Organizacionais................................... 26

Figura 3 Níveis de cultura e suas interações...................................................... 33

Figura 4 As “Camadas de uma cebola” ou os diferentes níveis de manifestação de uma cultura...............................................................

35

Figura 5 Etapas do processo de transformação..................................................

50

Figura 6 Modelo de resistência individual à mudança.......................................

53

Figura 7 Empresas certificadas ISO 9001:2000 e 9001:2008 no Brasil....................................................................................................

61

Figura 8 Satisfação dos clientes com produtos e serviços com o selo ISO 9001.....................................................................................................

62

Figura 9 Principais dimensões e valores enfatizados pelo Modelo de Valores Competitivos........................................................................................

66

Figura 10 Tipologia cultural de Cameron e Quinn..............................................

67

Figura 11 Os valores que competem na gestão da qualidade total......................

71

Page 11: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Análise das dimensões dos pressupostos básicos...................................... 34

Quadro 2 Tipologia de rituais de Trice e Beyer........................................................ 37

Quadro 3 Série de Normas ISO 9000........................................................................ 60

Quadro 4 Estágios da Cultura da Qualidade............................................................. 73

Quadro 5 Planejamento do questionário em alinhamento aos objetivos do estudo..........................................................................................................

79

Page 12: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Frequência das variáveis sociodemográficas......................................... 81

Tabela 2 Distribuição dos colaboradores de acordo o tempo de serviço na empresa................................................................................................... 81

Tabela 3 Valores de média e desvio padrão para as variáveis tempo de experiência, tempo de serviço na empresa e tempo de serviço no setor que atua..................................................................................................

82

Tabela 4 Valores de média e desvio padrão da cultura organizacional................ 83

Tabela 5 Tipos de culturas identificadas em outras pesquisas.............................. 85

Tabela 6 Valores de média e desvio padrão da cultura organizacional distribuídos de acordo com o grau de instrução..................................... 86

Tabela 7 Valores de média e desvio padrão da cultura organizacional distribuídos de acordo com a área em que trabalha...............................

87

Tabela 8 Valores de média e desvio padrão a cerca da cultura organizacional entre valores de hoje e ideal distribuídos de acordo com o tempo de serviço na empresa................................................................................. 88

Tabela 9 Valores de média e desvio padrão da cultura organizacional distribuídos de acordo com a idade........................................................ 89

Tabela 10 Valores de média e desvio padrão da qualidade organizacional............ 90

Tabela 11 Níveis de culturas da qualidade identificadas em pesquisas.................. 91

Tabela 12 Valores de média e desvio padrão da qualidade organizacional distribuídos de acordo com o grau de instrução..................................... 92

Tabela 13 Valores de média e desvio padrão da qualidade organizacional distribuídos de acordo com a área em que trabalha............................... 93

Tabela 14 Valores de média e desvio padrão a cerca da qualidade organizacional entre valores de hoje e ideal distribuídos de acordo com o tempo de serviço na empresa................................................................................. 94

Tabela 15 Valores de média e desvio padrão da qualidade organizacional distribuídos de acordo com a idade........................................................ 95

Tabela 16 Correlação entre características pessoais e profissionais dos trabalhadores e o perfil cultural............................................................. 96

Tabela 17 Correlação entre características pessoais e profissionais dos trabalhadores e o nível de cultura da qualidade..................................... 97

Tabela 18 Correlação entre Qualidade e Perfil Cultural......................................... 99

Page 13: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

CVM Competitive Value Model (Modelo dos Valores Competitivos)

EUA Estados Unidos da América

INMETRO Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

ISO International Organization for Standardization (Organização Internacional para

Normalização)

NBR Norma Brasileira Regulamentadora

OCAI Organizational Culture Assesment Instrument (Instrumento de mensuração de

cultura organizacional)

OHSAS Occupational Health and Safety Assessment Series (Série de Avaliação da

Segurança e Saúde no Trabalho).

PMM Prefeitura Municipal de Mossoró

RN Rio Grande do Norte

SGQ Sistema de Gestão da Qualidade

Page 14: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 14

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .......................................................................................... 14

1.2 PROBLEMATIZAÇÃO ............................................................................................. 16

1.3 QUESTÕES DE PESQUISA ...................................................................................... 17

1.4 OBJETIVOS .............................................................................................................. 18

1.4.1 Geral ...............................................................................................................................18

1.4.2 Específicos ................................................................................................................. 18

1.5 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO ................................................... 18

1.6 TERRENO DA PESQUISA ....................................................................................... 20 1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................ 21

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 22

2.1 CULTURA ORGANIZACIONAL ............................................................................. 22

2.1.1 Conceitos ................................................................................................................... 22

2.1.2 Formação .................................................................................................................. 25

2.1.3 Função ...................................................................................................................... 28

2.1.4 Elementos ................................................................................................................. 29

2.1.5 Níveis culturais da organização ................................................................................. 31

2.1.6 Tipologias de cultura organizacional ......................................................................... 39

2.2 MUDANÇA ORGANIZACIONAL .......................................................................... 47

2.2.1 Forças para a mudança organizacional ....................................................................... 47

2.2.2 Estratégias para intervenção e mudança ..................................................................... 49

2.2.3 Resistência, apoio e maneira de lidar com a mudança ................................................ 51

2.3 SISTEMAS DE QUALIDADE ................................................................................. 55

2.3.1 Princípio de Qualidade .............................................................................................. 56

2.3.2 Processo de Certificações de Qualidade nas Empresas ............................................... 57

2.3.3 ISO 9001 ................................................................................................................... 59

2.4 ESTUDOS REALIZADOS SOBRE O TEMA ........................................................... 63 2.5 MODELO ADOTADO NA PESQUISA .................................................................... 66 2.5.1 Cultura organizacional............................................................................................... 66

2.5.2 Cultura da qualidade .................................................................................................. 70

3 METODOLOGIA .................................................................................................... 74

3.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................................................. 74

3.2 ÁREA DE ABRANGÊNCIA E PARTICIPANTES DA PESQUISA .......................... 75

3.3 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTO DE PESQUISA....................................... 76

Page 15: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ............................................................. 78

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................... 80

4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA ................................................................................................................. 80

4.2 A TIPOLOGIA DA CULTURA ORGANIZACIONAL REAL E IDEAL ................... 83

4.3 A PERCEPÇÃO DE TIPOS DA CULTURA ORGANIZACIONAL E AS VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS. ........................................................................................ 85

4.4 ANÁLISE DOS NÍVEIS DE CULTURA DA QUALIDADE, REAL E IDEAL, PERCEBIDOS PELOS FUNCIONÁRIOS ................................................................. 90

4.5 A PERCEPÇÃO DO NÍVEL DA CULTURA DA QUALIDADE E AS VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS. ........................................................................................ 91

4.6 CORRELAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS DE CULTURA DA QUALIDADE COM ALGUMAS CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICA ................................... 95

4.7 CORRELAÇÃO ENTRE OS PERFIS CULTURAIS E OS NÍVEIS DE CULTURA DA QUALIDADE ............................................................................................................. 98

5 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ....................................................... 101

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 104

ANEXOS ................................................................................................................. 111

Page 16: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

14

1 INTRODUÇÃO

Ao analisar a evolução das teorias organizacionais percebe-se que as organizações

podem ser analisadas como sistemas abertos e fechados, influenciadas por variáveis

endógenas e exógenas. Uma dessas variáveis endógenas é a cultura organizacional, por tratar

das regras, procedimentos e interligações informais existentes em toda organização formal.

Como estratégia para as organizações se manterem, em meio à alta concorrência no mercado

globalizado, as empresas buscam oferecer produtos e serviços de alta qualidade, demarcando

seu posicionamento no mercado. Os sistemas de gestão da qualidade são programas que

procuram dirigir e controlar os procedimentos de empresas, atestando certo padrão de

confiabilidade ao cliente.

A cultura da qualidade em uma empresa agrega o conceito de melhoria contínua da

qualidade, caracterizada pela manutenção de ideias, valores e costumes. A implementação de

sistemas de qualidade que atestem sua cultura da qualidade considera a possibilidade de

resistência a mudança, uma vez que surgem colaboradores que preservam culturas

conservadoras. Esta pesquisa considera o Modelo dos Valores Competitivos, que através dos

pressupostos básicos, declarados pelos funcionários de uma organização, identifica os tipos

culturais e sua relação com os níveis de cultura da qualidade.

Os aspectos metodológicos foram realizados por meio da investigação da realidade,

classificado como descritivo com abordagem quantitativa. A forma de coleta se deu através de

questionários aplicados com pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. O instrumento

utilizado foi o OCAI (Organizational Culture Assessment Instrument) de Cameron e Quinn

(2006), por se tratar de um instrumento de grande valor acadêmico e profissional, associado à

taxonomia criada por Cameron (1997) para classificação do nível de cultura da qualidade.

Além deste instrumento, que analisa os tipos de cultura e os níveis de cultura da qualidade,

aplicou-se um questionário para caracterizar as variáveis sociodemográficas dos pesquisados.

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO

A cultura organizacional dá aos membros uma identidade organizacional, facilita o

compromisso coletivo e molda o comportamento, dando sentido a seus ambientes, uma vez

Page 17: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

15

que pode ser identificada através de atitudes e noções, quando compartilhadas entre colegas

de trabalho, como maneira correta de agir, sentir e pensar os problemas.

Dependendo de sua força, a cultura organizacional pode ter uma influência

significativa sobre o comportamento e as atitudes de seus membros. Os costumes, as tradições

e a maneira geral de fazer as coisas em uma organização dependem muito do que foi feito

antes e do grau de sucesso então alcançado.

Cada sistema cultural está sempre em mudança, tal fato significa a ocorrência de

mudança nos padrões ideais da sociedade de forma a ajustá-la aos eventos reais. Nos dias

atuais, a cultura organizacional também é avaliada como ferramenta para condução de

processos de mudança ou solução de problemas de ordens interna e externa das organizações,

e também como forma de reconhecer melhor o comportamento organizacional e, por

conseguinte, elaborar estratégias eficientes que visem, sobretudo, maximizar o desempenho.

São cada vez maiores os investimentos e a preocupação das organizações para

satisfazer seus clientes, buscando constantemente a diferenciação de suas marcas e produtos,

com o objetivo de se tornarem mais competitivas. Observa-se a ocorrência de várias

transformações no ambiente e nas organizações, delineadas por diversos fatores políticos,

econômicos e sociais que se intensificaram pelo processo de globalização. Nesta perspectiva,

encontram-se os sistemas de gestão da qualidade como ferramentas estratégicas para as

organizações. Esses sistemas evoluíram com maior rapidez, a partir da década de 1940, após a

Segunda Guerra Mundial. Contudo, verifica-se uma enorme expansão dos programas de

qualidade no Brasil, principalmente, a partir da década de 1990. Várias práticas foram

transpostas, em especial por meio de filiais de empresas transnacionais e, na maioria das

vezes, importadas dos EUA e do Japão, contribuindo para o processo de reestruturação

produtiva no país.

A Qualidade é um processo presente nas empresas, tornando-se um conceito de

competitividade, que de forma interligada, envolve todo o processo desde a compra até a

distribuição ao consumidor. Segundo Fleury (1993), para a adoção de programas de qualidade

nas organizações é necessário a análise de vários fatores que podem dificultar ou facilitar o

processo de gestão da qualidade.

O mercado contemporâneo está bastante competitivo, isto faz com que as organizações

desenvolvam mecanismos que atestem que os produtos ou serviços ofertados estejam de

acordo com padrões de alta qualidade. A expressão ISO 9000 designa um grupo de normas

técnicas que estabelecem um modelo de gestão da qualidade para organizações em geral,

qualquer que seja o tipo ou dimensão, sendo o processo de certificação de qualidade nas

Page 18: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

16

empresas, especialmente as de padrão internacional, como a ISO 9001, uma garantia de seu

compromisso com a qualidade e também é um indicador que permite medir a melhoria

contínua do desenvolvimento do negócio. Para o cliente este mecanismo de gestão garante

confiança na hora de fechar a compra de um produto ou serviço.

1.2 PROBLEMATIZAÇÃO

No mercado existem diversos tipos de sistemas de gestão de qualidade, considerando o

tipo e porte da empresa, é possível encontrar algumas normas específicas para cada clientela,

bem como, existem sistemas mais abrangentes, que podem ser aplicados em qualquer

empresa. Além de uma estratégia de marketing para o público externo, no momento de

implantação de uma certificação de qualidade, as organizações precisam fazer o seu

marketing interno, para que haja um maior engajamento entre as pessoas no sentido de

promover as reais melhorias necessárias em todos os setores da empresa. A adequação de uma

empresa as normas de uma certificação de qualidade implica em mudança de alguns

processos, que dependendo da situação inicial, podem provocar grandes investimentos, em

função do tempo necessário para desenvolver o sistema, os custos de implantação,

manutenção e envolvimento dos funcionários, ou seja, muitas vezes implica na mudança de

processos internos, que podem ser contrários ou conflitantes, provocando grande impacto na

cultura organizacional existente.

As normas e valores culturais transmitem informações sociais que podem influenciar

no modo como às pessoas decidem comportar-se no trabalho e o modo como passarão a

perceber a si mesmos, seu trabalho e a organização. Os processos de desenvolvimento

organizacional propõem o processo de mudança que logo é percebido pela maioria das

pessoas como sendo uma ameaça por terem que reformular os modos como trabalham. Para

facilitar o processo de mudança os gerentes precisam identificar e superar as fontes de

resistência e incentivar as fontes de apoio. Nas organizações, o processo de certificação ISO

9001 pode representar uma drástica mudança nos processos internos, impactando diretamente

os funcionários, que podem vir a ser um dos obstáculos à mudança. Numa pesquisa realizada

por Borges (1996, apud SZYSZKA, 2001) foram questionadas 271 empresas certificadas ou

em processo de certificação, obtendo um retorno de 40,6% delas, num total de 110 empresas,

as quais apontaram os seguintes inconvenientes à certificação: o fato de ser trabalhoso,

Page 19: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

17

contínuo e dinâmico, tempo despendido na conscientização, resistência a mudanças,

existência de pouca cultura para a qualidade, entendimento dos requisitos e obtenção de

recursos para investimento. Nesta perspectiva, Fleury (1993) enfatiza que o êxito dos

programas de gestão da qualidade total esta relacionado com a mudança da cultura

organizacional. Robbins (2002) concorda com Fleury (1993) quando diz que o valor

compartilhado da cultura organizacional que a torna um instrumento poderoso para orientar e

modelar o comportamento.

Por tudo isso, um estudo que dê tratamento especial a questão da gestão da qualidade,

coerente com as necessidades dos clientes das empresas, e que considere as variáveis internas,

tal como a cultura organizacional, certamente contribuirá para o desenvolvimento durável e

para melhorar o sistema de manutenção de forma eficiente e eficaz. Portanto, o presente

trabalho tem como principal problema de pesquisa: qual a influência do tipo de cultura

organizacional no nível de cultura da qualidade na refinaria de uma indústria salineira com

certificação do sistema de qualidade ISO 9001?

1.3 QUESTÕES DE PESQUISA

1. Como se caracterizam as variáveis sociodemográficas dos respondentes da pesquisa?

2. De que forma se classifica o tipo da cultura organizacional presente na refinaria da

indústria salineira?

3. Como é percebido o modelo atual e o modelo ideal da cultura organizacional,

considerando suas características sociodemográficas?

4. Qual o nível de cultura da qualidade na refinaria da indústria salineira?

5. De que forma se correlacionam os níveis de cultura da qualidade com as características

sociodemográficas?

6. Qual a influência do tipo de cultura organizacional no nível de cultura da qualidade

percebido pelos colaboradores?

Page 20: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

18

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Geral

Analisar a influência do tipo de cultura organizacional no nível de cultura da qualidade

em uma indústria salineira com certificação ISO 9001.

1.4.2 Específicos

1. Caracterizar os pesquisados por meio das variáveis sociodemográficas.

2. Identificar a tipologia da cultura organizacional, real e ideal, segundo o Modelo de

Valores Competitivos.

3. Verificar as especificidades na percepção dos tipos de cultura organizacional de

acordo com as características sociodemográficas.

4. Analisar os níveis de cultura da qualidade, real e ideal, percebidos pelos funcionários.

5. Correlacionar os níveis de cultura da qualidade com as características

sociodemográficas.

6. Verificar a correlação entre a tipologia da cultura organizacional e os níveis de cultura

da qualidade percebidos pelos colaboradores.

1.5 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Nas organizações, dentre todos os fatos relevantes os maiores desafios são produzir

mais, com maior qualidade, usando menos recursos e de forma sustentável. Nesta perspectiva,

encontram-se os sistemas de gestão da qualidade como ferramentas estratégicas para as

organizações, já que podem aumentar a satisfação e o desempenho de seus clientes, não

somente externo, mas também para os internos, que são os colaboradores, pois estende seu

foco sobre todas as pessoas.

Page 21: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

19

O conceito de qualidade envolve diversos elementos, inclusive os relacionados à

subjetividade, uma vez que a concepção de qualidade pode mudar de indivíduo para

indivíduo, no entanto, de forma geral, observam-se a ausência de defeitos no produto ou

serviço, diversidade de opções de um produto ou serviço, requisito mínimo de funcionamento

e capacidade de fabricação. O sistema de gestão da qualidade NBR ISO 9001, refere-se a um

conjunto de atividades inter-relacionadas, instituídas para dirigir e controlar uma organização,

com base nos princípios de gestão da qualidade, de forma a obter melhoria contínua, que pode

ser avaliada por meio da satisfação de todos os indivíduos envolvidos com a organização.

A Norma Brasileira Regulamentadora ISO 9001 incentiva as melhorias nas

organizações, no entanto fazer com que os indivíduos na organização consigam romper ou

modificar os elementos culturais, em favor dos objetivos da organização, é sobremodo difícil,

pois se trata diretamente com costumes e rotinas, a fim de que possa trazer grandes benefícios

à empresa. Em muitas situações, pode haver contraposições, em termos de valores e

prioridades, assumidos explicitamente ou que não contribuem para transformar os processos

de mudança organizacional em realidades complexas para a gestão. Dessa forma, modelos de

gestão da qualidade, aplicados de forma não sistemática, podem gerar grandes esforços da

empresa, em torno dos objetivos organizacionais, sem, no entanto, conseguir retornos

esperados. E, além disso, podem representar um modelo altamente controlador das pessoas,

contrapondo-se a noção de descentralização e autonomia do trabalho.

É no continente europeu que prevalece a maior quantidade de empresas certificadas

ISO 9001. Na América do Sul, com 9014 registros, o Brasil é o país que mais tem empresas

certificadas (INMETRO, 2011). Estes indicadores demonstram números elevados, o que torna

relevante este estudo para que as organizações possam melhor aplicar os princípios e

conceitos de qualidade, possibilitando a produtividade e qualidade proposta pela certificação.

Por tudo isso é preciso analisar o grau de importância que a aplicação de um sistema

de gestão da qualidade tem para um negócio e quais as implicações no tocante a mudanças

culturais nas organizações bem como seu impacto na gestão de pessoas, uma vez que a

certificação na maioria das vezes implica em mudança comportamental.

Na perspectiva de Paladini (2002), inserir qualidade na cultura da organização é

transformar a qualidade em um valor para todos e convencer de que a mudança gera

benefícios. A certificação de qualidade nas organizações pressupõe que para cada processo

haja um procedimento, uma forma padrão de agir, e devido a essa complexidade as

organizações devem ter a preocupação de fazer um diagnóstico para poder executar mudanças

acertadas para se tornarem competitivas, por isso, antes de se implantar um programa de

Page 22: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

20

qualidade, seja ele japonês, americano ou outros, é preciso analisar os aspectos culturais da

organização, já que a gestão da qualidade envolve múltiplos elementos, com diferentes níveis

de importância.

1.6 TERRENO DA PESQUISA

Neste trabalho o objeto de estudo é uma Indústria Salineira que foi constituída no ano

de 1949, com sede social em Areia Branca – RN, mais especificamente foi estudada a

Refinaria, que conta atualmente com 165 funcionários. Desde sua fundação a Indústria exerce

a atividade de extração e comercialização de Sal Marinho, sendo a empresa transferida para

Mossoró em janeiro de 1951. Na década de 70 a empresa, passou a desenvolver e aprimorar a

implementação do processo de colheita, que passaria de Manual para Mecanizada. O inicio

desse novo processo de mecanização deu-se na Salina ainda em 1970, por ser na época, uma

salina de menor porte e relativamente nova, foi mais fácil implementar esse processo, e serviu

como piloto para a futura implantação do mesmo na segunda Salina da Indústria em 1975.

A implantação da Colheita Mecanizada foi considerada uma grande inovação no

processo produtivo que permitiu uma drástica redução nos custos de produção, bem como o

aumento no volume produzido e mais agilidade no processo de transporte, lavagem e

empilhamento/estocagem do produto nas salinas. A partir do ano 2000 a empresa passou a

contar com a instalação de uma moderna refinaria com capacidade para produzir sal da mais

alta qualidade para as várias necessidades da indústria têxtil, alimentícia, frigorífica,

siderúrgica, e para o consumo humano direto. Desde a concepção da Refinaria, no ano de

2000 a empresa já se estruturou preparando o pessoal para a obtenção da Certificação em

Qualidade. Segundo os gestores o próprio pessoal contratado já foi selecionado visando a

implementação desse Sistema.

Hoje após um longo processo de reestruturação administrativa, a empresa vem se

modernizando e aumentando sua capacidade de produção e industrialização do sal marinho.

Todas as marcas de sal da empresa são devidamente Registradas no Ministério da Saúde e

também conta com um laboratório próprio equipado, onde são realizadas todas as análises

necessárias a verificação da qualidade do sal produzido e industrializado.

Atualmente a empresa produz cem por cento de sua matéria-prima (sal marinho),

através de duas Salinas, não precisando adquirir de terceiros. O produto é atestado por seus

Page 23: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

21

principais clientes, Nestlé e Ajinomoto, como sendo de qualidade superior, porém ainda assim

afirmam ser constante a preocupação com a qualidade sanitária de seus produtos, higiene de

seus funcionários, do local de trabalho, como também em atender quaisquer reclamações que

possam advir de seus clientes internos e externos, zelando sempre por seu histórico que a mais

de meio século se perpetua.

1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO

A pesquisa está organizada em cinco capítulos. No primeiro apresentam-se os

elementos textuais, como a introdução ao tema, contextualização, problema de pesquisa,

questões de pesquisa, objetivos, justificativa e relevância do estudo, delimitação do estudo,

finalizada pela apresentação da estrutura do trabalho.

No segundo capítulo, apresenta-se o referencial teórico, contemplando os assuntos

relacionados à situação problemática e aos objetivos, a fim de obter conhecimentos na teoria a

respeito do tema, sendo estes, a cultura organizacional, na percepção de diversos autores,

como, Schein, Hofstede, Hand, Harrison, Cameron, Quinn e outros. Trata-se também sobre o

processo de mudança no âmbito organizacional, para entender como deve ser um processo de

implantação de sistemas de gestão, como o de qualidade, que gera algumas mudanças, e por

fim a gestão da qualidade e sua correlação com a cultura organizacional.

Em seguida, no terceiro capítulo, aborda-se a metodologia utilizada para atingir os

objetivos propostos nesta pesquisa. A caracterização do tipo de pesquisa, os participantes, o

procedimento adotado para coleta de dados, o instrumento de pesquisa, as variáveis de estudo,

a forma como os dados foram tratados e a caracterização do ambiente da pesquisa.

No quarto capítulo são apresentadas as análise dos dados coletados, de acordo com os

objetivos propostos. Finalmente, no último capítulo, observam-se as conclusões, sugestões e

limitações impostas à pesquisa, bem como as sugestões para possíveis estudos futuros nesta

área.

Page 24: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

22

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CULTURA ORGANIZACIONAL

2.1.1 Conceitos

O termo cultura tem muitos significados que varia desde a sua origem latina, referente

à lavoura da terra, nas línguas ocidentais, equivalente a civilização, relacionada a educação,

arte e a literatura. Do ponto de vista da antropologia social, “cultura” é a palavra que engloba

todos aqueles padrões de pensamento, sentimento e comportamento, tratados de forma

coletiva, por ser partilhada por pessoas que vivem no mesmo ambiente social onde é

adquirida. Ao analisar a figura 1, referente aos três níveis de programação mental humana

(HOFSTEDE, 1991, p. 20), remete-se a ideia de que a cultura é adquirida e não herdada, por ser

proveniente do ambiente social do indivíduo e não dos genes, distinguindo da natureza

humana, e da personalidade de cada um.

Figura 1 – Três níveis de programação mental humana Fonte: Hofstede (1991, p. 20)

Para o autor a natureza humana é universal por apresentar o que todos os seres

humanos têm em comum, como medo, raiva, amor, alegria, tristeza, necessidade de contato

com os outros, de jogo, de exercício, a capacidade de observar o meio e falar sobre isso com

outros seres humanos. A forma como cada um lida com os próprios sentimentos, o tipo de

Herdado Universal

Específico ao grupo ou categoria

Aprendido

Herdado e aprendido

Específico ao indivíduo

Page 25: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

23

comportamento apresentado nas diversas situações a que se expõe, é modificado pela cultura.

A personalidade é o que determina a individualidade de uma pessoa e a distingue das outras,

sendo formada através das influências da cultura e das experiências particulares de cada

indivíduo.

Ao falar-se de cultura, refere-se tipicamente ao padrão de desenvolvimento refletido

nos sistemas sociais de conhecimento, ideologia, valores, leis e rituais quotidianos

(MORGAN, 1996). Atualmente, o termo cultura é usado para significar que diferentes grupos

de pessoas têm diferentes estilos de vida. Segundo Hofstede (1998), o mundo está cheio de

confrontações entre pessoas, grupos e nações, que pensam, sentem e agem de forma diferente.

Ao mesmo tempo, essas pessoas, grupos e nações enfrentam problemas comuns que para

serem solucionados requerem cooperação, isso mostra que no processo de mudança deve-se

considerar o modo como as pessoas pensam.

Santos (1996, p. 45) afirma que a “cultura é uma construção histórica, seja como

concepção, seja como dimensão do processo social, e que não se trata de algo natural, não é

uma decorrência das leis físicas ou biológicas. Ao contrário, a cultura é um produto coletivo

da vida humana”.

Na percepção de Lakatos, do ponto de vista da sociologia, a cultura caracteriza e

estabelece distinção entre os grupos, ou seja, do ponto de vista da autora:

A cultura é tratada como o conjunto de normas desenvolvidas por um grupo de pessoas, transmitidas e transformadas no tempo, que determinam o comportamento individual aceitável nos relacionamentos e que contribuem, para a formação da identidade individual e do grupo. (LAKATOS,1992, p.131).

Para Schein (1992, p.12), o conceito de cultura organizacional deve ser compreendido

“como um padrão de pressuposições básicas compartilhadas, aprendidas por um grupo, e que

funcionaram suficientemente bem para serem consideradas como válidas e, portanto,

ensinadas aos novos membros como o modo correto de perceber, pensar e sentir em relação

aos problemas”.

A cultura organizacional trata-se da maneira informal e compartilhada de perceber e

participar na organização, suas regras, procedimentos e interligações não oficiais que moldam

os comportamentos dos membros e os ajudam a entender a organização bem como a si, neste

sentido, a subjetividade passou a ser considerado um aspecto importante de análise nos níveis

individual, grupal e organizacional, logo, é com o fluir da interação social que se desenvolve a

cultura organizacional, pois não se trata de algo imposto sobre uma condição social. Deal e

Page 26: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

24

Kennedy (1982, p.501), acreditam que “a cultura é sutil, intangível, implícita e sempre

presente e que toda organização desenvolve um conjunto básico de premissas, convicções e

regras que governam o comportamento no dia a dia do trabalho, que se aplica a todos os

membros de uma organização”.

Hofstede (1991) faz uma ressalva quanto ao uso da expressão cultura organizacional.

No que tange às semelhanças de definições, é importante ressaltar que a cultura

organizacional deve ser vista como um fenômeno próprio, diferente de muitos aspectos de

culturas locais, regionais e nacionais, visto que:

Uma organização, ou uma empresa, constitui um sistema social de natureza diferente de uma nação, quanto mais que não seja pelo fato de os membros de uma organização poderem decidir se participam, ou não, da mesma, estarem envolvidos com a mesma apenas durante as horas de trabalho e poderem um dia abandoná-la. (HOFSTEDE, 1991, p. 34).

É através da cultura que uma organização fixa a marca do seu perfil e orienta ou

controla o comportamento daqueles que a formam, no entanto se não for bem desenvolvida e

acompanhada pode-se dizer que uma cultura pode ser negativa por não resultar em

comportamentos individuais ou grupais desejados.

O modelo de ideologia organizacional proposto por Harrison (1972) define como

sendo:

Os sistemas de pensamento que são os determinantes centrais do caráter da organização, afetando o comportamento de seus membros, a habilidade para satisfazer de maneira eficaz necessidades e demandas e o modo de enfrentar o meio ambiente externo. (HARRISON, 1972, p. 17).

Comparando a definição de ideologia organizacional de Harrison (1972) com a

definição expressa por Hofstede (1991) pode-se concluir que ideologia organizacional é o

mesmo que cultura organizacional. E assim dizer que cultura organizacional pode ser definida

como sendo um conjunto de valores, regras, normas, símbolos, rituais, mitos, heróis e

linguagem que são compartilhados e transmitidos aos componentes da mesma organização e

que permitem sua identificação e sentimento de unidade.

É na forma de pensamento predominante ou no conjunto de valores, símbolos e

maneiras de como decidir e implementar ideias em uma determinada organização ou em

Page 27: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

25

locais delimitados, que se constrói e se identifica os aspectos culturais, de forma que cada

organização apresenta diversas características alinhadas com a sua estratégia.

2.1.2 Formação

As organizações são criadas porque uma ou mais pessoas percebem que a ação

coordenada de um grupo pode atingir objetivos que estão fora do alcance da ação individual.

Schein (1985, p.12), afirma que “o homem necessita interagir com outras pessoas, porque

sozinho o individuo é incapaz de satisfazer seus desejos e necessidades, de tal maneira que a

organização torna-se um instrumento através do qual os indivíduos atingem seus objetivos e

satisfazem seus desejos e necessidades”.

Nesse processo de construção, surge uma cultura que permeia a organização. Para

vários autores, os fundadores possuem um papel importante nesse processo. Ainda segundo

Schein (1985) o papel dos fundadores da organização é moldar seus padrões culturais, ao

imprimirem sua visão de mundo aos demais e também sua visão do papel que a organização

deve desempenhar no mundo. O autor ainda destaca alguns mecanismos para que os

fundadores possam incorporar e transmitir a cultura, como o grau de importância no que é

medido e no que prestam atenção; aos critérios através de processos formais como

normatizações, promoção funcional para os que agem conforme a crença do fundador, regras

para recrutamento, seleção, treinamento, ascensão profissional, desligamentos e premiações

ou ainda mecanismos de punição implícitos ou explícitos para os que não agem conforme o

esperado, às reações a incidentes críticos e crises, à alocação de recursos escassos e à

modelagem deliberada de papéis, através de treinamento e ensinamentos dos líderes. Assim,

vão-se caracterizando os valores e crenças organizacionais válidos por serem os mesmos dos

líderes-fundadores.

Na percepção de Robbins (2002), num primeiro momento, o fundador reúne pessoas à

sua volta, em função de seus objetivos, permanecendo somente os que forem (ou aprenderem

a ser rapidamente) extensões dos seus valores e crenças. Caso contrário, eles serão

descartados no processo. De forma natural, as soluções que demonstram resultados positivos

vão se repetindo e as que apresentem resultados negativos vão sendo descartadas, fazendo

com que as pessoas adotem um determinado modo de trabalhar, que podem chegar ao ponto

dos indivíduos nem pensar em outra forma de se trabalhar que não seja aquela que já se

mostrou satisfatória e agem de forma a não perceberem que já se utilizam desse princípio. De

Page 28: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

26

Filosofia dos fundadores da organização

Critérios de seleção

Dirigentes

Socialização

Cultura Organizacional

acordo com Robbins (2005) é possível observar na figura 2 que muitas práticas de recursos

humanos reforçam a cultura organizacional, fazendo com que os novos contratados e

funcionários veteranos se adequem à filosofia dos fundadores da organização.

Figura 2 - Como se Formam as Culturas Organizacionais Fonte: Robbins (2005, p. 385)

Uma forma comum utilizada nas organizações, com o intuito de disseminar seus

valores aos recém-contratados, é a socialização cultural, que pode ser aplicada de diversas

formas, considerando o contexto, o conteúdo e a dinâmica social. De acordo com o contexto,

a socialização pode acontecer formalmente ou informalmente, em conjunto ou individual. No

modelo formal as empresas se valem de vídeos institucionais, estudos de manuais, recepções

de boas-vindas, distantes de seus futuros postos de trabalho. Informalmente o processo se dá

diretamente em seu local de trabalho com o acompanhamento ou não de outros funcionários

veteranos. Na prática o processo formal é mais positivo, pois há maiores chances de ocorrer a

disseminação dos valores culturais desejados para organização. O conteúdo das tarefas a ser

repassado aos novos funcionários durante os primeiros dias, e em algumas empresas podem

durar até dois anos, vai depender da urgência para ocupação do cargo, dos conhecimentos

prévios do novato, e dos planos da empresa para o mesmo. Esse processo pode desenvolver

nos novos e veteranos um senso mais claro sobre aonde vão chegar à organização, ao

contrário, quando não há um processo que ajude aos funcionários a discernir sobre os

objetivos estratégicos da empresa e o caminho mais claro para o sucesso na mesma, pode

desencadear no futuro bem próximo problemas de satisfação, comprometimento e

relacionamentos interpessoais no ambiente de trabalho.

A dinâmica social acontece ainda no processo de recrutamento e seleção, antes mesmo

da escolha da pessoa que irá ocupar o cargo, pois nesta fase pré-liminar já se observa

comportamentos e aspectos relevantes da vida pregressa que possibilitem identificar no

indivíduo informações que possam ajustá-lo à cultura organizacional. Quando a abordagem é

Page 29: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

27

feita por processos seriais o indivíduo passa a ver os membros da organização como modelos

a serem seguidos.

Além dos aspectos internos a organização, Gordon (1991) enfatiza que os aspectos do

ambiente externo são importantes fatores que também influenciam na formação da cultura

organizacional. O autor acredita que a competitividade no qual uma companhia está inserida,

é uma importante dimensão na qual os pressupostos centrais da cultura da organização são

desenvolvidos. Neste cenário, três dimensões têm sido consistentes:

1 Complexidade ou concentração do mercado do produto (o número e a variabilidade

de firmas no ambiente competitivo);

2 Estabilidade ou dinamismo (a taxa de mudança no ambiente);

3 Generosidade (a extensão na qual o ambiente pode sustentar crescimento).

No entanto, diante do exposto, não se deve considerar que a formação da cultura de

uma organização tenha apenas aspectos internos inerente aos seus fundadores ou líderes, ou

ao mercado, uma vez que, segundo Calux (2005, p. 28), “pesquisadores podem encontrar

significativas variações em culturas dentro da mesma indústria”.

A influência de uma cultura organizacional nem sempre é uniforme, já que indivíduos

pertencentes à mesma cultura têm diferentes personalidades e comportamentos. Quando uma

organização não apresenta uma cultura dominante ou quando a organização é diversificada e

geograficamente dispersa é possível que se desenvolvam subculturas. Assim cada grupo pode

desenvolver sua própria linguagem e estabelecer um conjunto de conceitos facilitadores para a

formulação de prioridades do negócio, cuja principal dificuldade é a comunicação entre as

partes.

Se as organizações não tivessem uma cultura dominante e fossem compostas apenas de diversas subculturas, o valor da cultura organizacional como variável independente seria sensivelmente reduzido, pois não haveria uma interpretação uniforme do que representam os comportamentos apropriados e os não apropriados. É o aspecto do “valor compartilhado” da cultura organizacional que a torna um instrumento poderoso para orientar e modelar o comportamento. As empresas devem encontrar formas de dissolver estas separações funcionais, de forma que todos os grupos orientem as suas atividades em volta de um referencial comum e de conjuntos integrados de normas e prioridades. (ROBBINS 2002, p. 500).

Page 30: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

28

E quando estas subculturas incluem valores que sejam substancialmente contrários

àqueles da organização como um todo se diz, neste caso, que existe uma contracultura, que

poderá ser difícil de administrar. Porém uma contracultura pode ser positiva, quando força a

mudança de estratégias ultrapassadas e acomodadas, bem como incentiva a criatividade e a

iniciativa.

2.1.3 Função

De forma genérica, Schein (1985) destaca três funções básicas da cultura

organizacional: gerar uma integração interna, sentido de permanência aos membros de uma

organização e permitir uma adequação externa, como condições essenciais de adaptabilidade

e flexibilidade organizacional às mudanças ambientais; proteger a organização das ameaças

externas decorrentes das duas anteriores. Para o autor, a compreensão da cultura é abstraída

da interação entre o ambiente externo e o interno. Como o ambiente externo constantemente

exige adaptações da organização que garantam sua sobrevivência, é necessário administrar e

integrar o ambiente interno para que se ajuste não só ao ambiente externo, mas também aos

objetivos da própria organização, resultando numa busca por uma “cultura ideal”.

Para Wagner e Hollenbeck (2009) no processo de ajudar a criar um entendimento

mútuo da vida da organização, a cultura organizacional desempenha quatro funções básicas:

(a) dá aos membros uma identidade organizacional; (b) facilita o compromisso coletivo; (c)

promove a estabilidade organizacional; (d) molda o comportamento ao ajudar os membros a

dar sentido a seus ambientes. Isso tudo porque ao compartilhar, entre todos os membros da

organização, os valores, normas e percepções facilitam-se a comunicação e o sentimento de

propósito comum uma vez que há um maior entendimento coletivo do porque as coisas

acontecem de determinada maneira e em determinadas situações promovendo uma melhor

aceitação da equipe.

As principais funções da cultura organizacional são favoráveis tanto para a empresa

quanto para o empregado, melhorando o comprometimento e o comportamento desejável,

reduz-se a ambiguidade entre as pessoas. Uma possibilidade que não deve ser ignorada é que

a cultura organizacional pode apresentar aspectos negativos quando afetam a eficácia da

organização impondo barreiras a mudança e a diversidade.

Page 31: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

29

De acordo com Harrison, as funções mais relevantes de uma cultura organizacional

são:

Especifica os objetivos e valores a serem alcançados e que devem ser usados como parâmetro de medição de êxito e eficácia.

Prescreve o “contrato social”, a forma como os indivíduos devem se relacionar com a organização e vice-versa.

Indica a forma de controle e sua legitimidade na organização. Descreve as qualidades e características dos membros da organização que

devem ser valorizadas ou desacreditadas, e também como devem ser recompensadas ou punidas.

Mostra aos seus membros como devem tratar-se uns aos outros, competitiva ou colaborativamente, de perto ou à distância.

Estabelece métodos apropriados de lidar com o meio ambiente externo: exploração agressiva, negociação responsável e investigação ativa. (HARRISON, 1972, p. 01).

A estrutura e a cultura organizacional exercem efeitos cruciais na implantação das

estratégias da empresa, uma vez que as estruturas são as propriedades físicas tangíveis bem

como as funções de trabalho e relações de autoridade que influenciam o comportamento em

uma organização, está ligada ao nível de centralização do poder, a padronização e

formalização das regras e procedimentos. A cultura organizacional trata dos valores

compartilhados por funcionários e gerentes sendo assim, esta afeta e é afetada pela estrutura,

liderança, comunicação, grupos e motivação, além da história de vida dos gestores e da

organização.

2.1.4 Elementos

A cultura pode ser vista como uma metáfora considerando algo que a organização é,

ou como uma variável, considerando a cultura como algo que a organização tem (MORGAN,

1996). Na primeira hipótese o indivíduo é visto em seu grupo como parte do processo de

construção da realidade organizacional, compartilhando seus conhecimentos, habilidades e

atitudes e contribuindo para caracterização dos valores organizacionais. Na segunda hipótese,

que considera a cultura como algo que as organizações têm, é aceitar que ela pode ser

manipulada assim como se faz com a estratégia e a estrutura da empresa, de acordo com as

metas definidas pelos gestores. O fato é que mesmo que alguns elementos possam ser

observáveis estes nem sempre são decifráveis, e, portanto difíceis de manipular necessitando

ir além dos comportamentos observáveis, privilegiando a aprendizagem do grupo para lidar

Page 32: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

30

com os problemas de adaptação externa e ensinamentos aos demais membros como a forma

correta de se perceber, pensar e agir diante das adversidades.

Existem vários elementos por meio dos quais podem ser analisados e em conjunto são

capazes de identificar tipos de culturas organizacionais, estes elementos são os mitos, as

crenças, os pressupostos, as sagas, os heróis, as histórias, os tabus, os sistemas de linguagem,

as metáforas, os símbolos, os rituais, as cerimônias, o sistema de valores e as normas de

comportamento, que são aceitos de forma pública e coletiva pela organização por determinado

período, visto que a composição destes elementos pode mudar no passar dos anos por

diversos motivos, que podem ser intrínsecos ou extrínsecos à organização. Como já foi

mencionado no tópico anterior, uma mesma empresa pode ter diferentes culturas, chamadas

de subculturas ou contraculturas.

Os mitos são histórias imaginárias que ajudam a explicar atividades ou eventos que de

outro modo poderiam ser confusos, sendo de alta relevância para criação, assimilação e

disseminação de valores. As histórias são os relatos de eventos passados verdadeiros que

ilustram e transmitem normas e valores culturais mais profundos, servindo de informação para

os novos empregados. Para Freitas, na organização as histórias adquirem as seguintes

funções:

Funcionam como mapas que auxiliam os indivíduos a saber como as coisas são feitas por um determinado grupo. Para os novos funcionários, estes mapas funcionam como indicativos de ideias, do território social e das regras que podem ser violadas e daquelas consideradas sagradas. As histórias, como símbolos, dão conta dos eventos concretos, os quais podem ser exemplos dos objetivos e princípios compartilhados. Como scripts, fornecem orientação da empresa, falam do comportamento aceitável ou o que os colaboradores podem esperar da organização. (FREITAS, 1991, p.27).

Os heróis são tidos como as pessoas vivas ou falecidos, reais ou imaginários, que

possuem características altamente valorizadas em uma determinada cultura e que serve de

modelo, tidos como o correto para o comportamento desejado. São as pessoas de sucesso que

corporificam os valores e o caráter da organização e de sua cultura, por enfrentarem situações

complexas e atingir bons resultados, servindo como exemplo, estabelecendo novos padrões de

desempenho e incentivando a equipe de trabalho. A linguagem é um conjunto de símbolos

verbais que geralmente reflete a cultura particular da organização. É o conjunto de ditos,

metáforas, slogans, jargões, utilização de apelidos e outras formas de fala que contêm

Page 33: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

31

significados especiais somente entre as pessoas que pertencem àquela determinada cultura

organizacional.

Os ritos são atividades cerimoniais destinadas a comunicar ideias específicas ou a

realizar determinados propósitos. De forma simples podem ser identificados como ações

repetitivas. DaMatta (1983, apud BARBOSA, 2006) diz que os ritos são dramatizações do

social e fazem aprender e compreender os valores e revelam as crenças. O autor enfatiza que

por intermédio dos ritos, os indivíduos são adaptados e readaptados periodicamente às normas

e valores sociais que norteiam o contexto social no qual eles estão inseridos. Os ritos podem

ser de passagem, de degradação, de reforços, de renovação, de redução de conflitos ou de

integração. E os rituais são atividades coletivas, tecnicamente supérfluas, para atingir fins

desejados, mas considerados como essenciais numa determinada cultura, tais como a forma de

cumprimentar, cerimônias sociais ou religiosas.

Os valores de forma inconsciente são aprendidos ainda na infância. São sentimentos

orientados para que o indivíduo tome suas decisões de forma tendenciosa, conforme os seus

critérios. Por se tratar de aspectos intrínsecos torna-se difícil de serem percebidos

externamente, sendo apenas deduzidos pela forma como as pessoas agem face às

circunstâncias ocorridas em sua vida. São vistos como um sentimento orientado e núcleo da

cultura, onde há a definição da tendência para um estado de coisas em face de outro

antagônico: mau versus bom, bonito versus feio, paradoxal versus lógico, racional versus

irracional etc. Os símbolos são considerados as palavras, gestos, figuras ou objetos que

transportam um significado particular que é apenas reconhecido pelos que partilham a cultura,

assim como, por exemplo, a forma de se vestir, o estilo de cabelo e são de fácil imitação por

outros. E por último as normas, que em uma organização referem-se, às leis, regulamentos,

regras escritas e proibições que interferem diretamente no papel e no comportamento dos

elementos de uma organização. É o padrão desejado pelas organizações tido como o correto a

ser realizado.

2.1.5 Níveis culturais da organização

Segundo Schein (1985), a cultura ajuda a compreender e a justificar a maioria das

coisas que observamos nas organizações, até mesmo as mais difíceis, como a burocracia, a

política e o que aparentemente é irracional. Para o autor, existem níveis de cultura que devem

ser distinguidos para se compreender melhor a cultura de uma organização, para tanto se deve

Page 34: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

32

observar através de três diferentes níveis, que estariam de acordo com o grau no qual o

fenômeno cultural é visível ao observador. São eles: nível dos artefatos visíveis; nível dos

valores; nível das crenças e pressupostos básicos. No primeiro nível, na superfície, estão os

comportamentos públicos e outras manifestações físicas (artefatos e criações); no nível

seguinte, existe um senso do que deve ser feito (valores); no mais profundo nível estão

aquelas coisas que são acreditadas como corretos meios de lidar com o ambiente

(pressupostos básicos).

O nível dos artefatos inclui o ambiente físico das instalações, sua arquitetura,

tecnologia, layout do escritório, a linguagem escrita e falada do grupo, criações artísticas e

estilo personificado nas roupas, modo como as pessoas se vestem e se comportam, emoções

explícitas, mitos e histórias sobre a organização, rituais e cerimônias observáveis, o modelo

de documentação pública utilizado pela organização, como materiais de orientação para

funcionários, modelos de comportamento visíveis ou audíveis. A despeito deste nível de

análise é considerado enganador por serem dados facilmente identificáveis, porém sua

interpretação é difícil. Neste nível, a cultura é percebida pelos colaboradores, clientes e

fornecedores, que assim formam uma ideia da cultura organizacional, que pode ser positiva ou

negativa. Segundo Schein, (1992) para se identificar os artefatos dentro das organizações, é

necessário considerar as seguintes categorias: nível de formalidade nos relacionamentos com

autoridades; horários de trabalho; reuniões (com frequência, se são direcionadas, duração);

como são tomadas as decisões; eventos sociais e jargões.

O nível dos valores trata-se dos valores compartilhados pelos membros da

organização, sendo estes os que norteiam o comportamento das pessoas, deve-se analisar o

porquê os membros agem de determinada maneira. Procuram-se normalmente os valores que

governam os comportamentos, que podem ser obtido por meio de entrevistas com membros

chave na organização e em seus documentos formais. Esses documentos refletem os valores

básicos, integridade, trabalho em equipe, orientação ao cliente, qualidade do produto, no

atendimento, comprometimento, comportamento ético, autoconfiança e outros, mas, ainda

assim, somente serão explicitados seus valores manifestos, permanecendo ocultos os

sentimentos que, de fato, impelem esses indivíduos, já que as razões subliminares de seus

comportamentos continuam inconscientes. Os valores compartilhados comunicam a sociedade

à imagem da organização. Deal e Kennedy (1982, p.14), entendem que “os valores definem

sucesso de forma concreta para os empregados e estabelecem padrões de conduta na

organização”. Para estes autores, quando discutidos abertamente, são determinantes para o

sucesso das organizações, por serem as suas crenças e conceitos básicos, formadores da

Page 35: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

33

essência da cultura, a direção comum para todos os empregados e um guia para o

comportamento diário nas organizações.

O nível dos pressupostos básicos é caracteristicamente inconsciente, mas que

realmente determinam como os membros do grupo entendem, sentem e pensam. Para se

compreender este nível é preciso pensar nas organizações do ponto de vista histórico,

investigando, quais foram os valores e crenças dos fundadores e dos líderes. Os pressupostos

são realidades dadas como verdadeiras que, de fato, guiam o comportamento dos membros da

organização, na medida em que alguns comportamentos e valores são entendidos como

benéficos à solução de problemas e situações, eles vão sendo absorvidos pelo grupo,

tornando-se pressupostos inconscientes. É o que guarda, as percepções e sentimentos que

conduzem os indivíduos às ações. Na perspectiva de Schein (1992), neste nível encontram-se

dimensões que constituem uma base para o entendimento do teor cultural de uma organização

e envolvem aspectos do tipo: a) relacionamento organização e ambiente; b) natureza da

realidade e verdade; c) natureza da natureza humana; d) natureza da atividade humana; e)

natureza das relações humanas.

Os níveis apresentados na figura 3 tratam da análise da cultura em uma organização,

em seus diferentes níveis. Se não forem decifrados os padrões dos pressupostos básicos, não

há como interpretar os artefatos corretamente ou quanta segurança dar aos valores proferidos.

Entende-se desta forma que os pressupostos básicos são a essência da cultura.

Figura 3 - Níveis de cultura e suas interações

Fonte: Schein (1992)

Artefatos e Criações Tecnologia Artefatos e criações Padrões comportamentais visíveis

Valores Provado no ambiente físico Provado apenas pelo consenso social

Pressupostos Básicos Relacionamento com o ambiente Natureza da realidade, tempo e espaço Natureza da natureza humana Natureza da atividade humana Natureza das relações humanas

Oculto

Observável

Implícito

Page 36: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

34

Para conseguir uma análise ainda mais profunda, Schein (1992) afirma que é

necessário analisar a organização em níveis ainda mais profundos de um grupo, identificados

pelos próprios membros, na forma como pensam, sentem e julgam, através de cinco

dimensões, facilitada por alguns questionamentos, conforme o quadro 1 a seguir.

Análise das dimensões dos pressupostos Básicos

Relacionamento da organização com o ambiente

Identificam quais são os pressupostos básicos da organização sobre ela mesma

a) Identidade básica e papel: tipo de produtos, serviços, mercado, clientes, missão, visão, objetivos e sua posição frente ao mercado.

b) Posição adotada frente ao ambiente: dominante capaz de mudar e desenvolver seu próprio nicho de mercado ou ajusta-se com o nicho de mercado possível.

Natureza da realidade, tempo

e espaço

Natureza da realidade Trata da forma como são resolvidos os problemas, se são verificados através de objetivos, consensos ou experiências individuais, bem como os critérios de verificação adotados.

Natureza do tempo

Analisa a direção do foco, se predomina o que aconteceu no passado, ou os objetivos a serem alcançados no presente, ou nos investimentos, pesquisa e desenvolvimento planejados para o futuro, tudo isso pode acontecer de forma monocromática, uma atividade por vez, ou policromática, quando várias atividades são realizadas simultaneamente.

Natureza do espaço Analisa como o espaço é estruturado e quais seus significados simbólicos. Podendo ser organizado de forma a simbolizar status, poder, e relacionamentos.

Natureza da natureza humana

A forma como se aplica aos funcionários e aos níveis gerenciais

a) As pessoas são vistas como más: egoístas, preguiçosas, contrárias a organização.

b) As pessoas são vistas como boas: trabalham duro, comprometidas, generosas, a favor da organização.

c) As pessoas são vistas como neutras: mistos, variáveis, capazes de serem “bons ou maus”.

c) As pessoas são vistas como mutáveis e aperfeiçoáveis ou determinados pela condição de nascimento.

Natureza da atividade humana

A maneira como as pessoas agem frente ao seu ambiente

a) Proativas, orientadas para o fazer, para resolução dos problemas, a eficiência, e a descoberta.

b) Reativas, orientadas para o ser, prevalece a subordinação focalizada no aqui e agora, na satisfaçãdo individual e na aceitação do destino.

c) Harmoniosa, com orientação para o ser e o tornar-se, focaliza o tipo de atividade que tem por objetivo o desenvolvimento de todos os aspectos relevantes de modo integrado.

Natureza do relacionamento

humano

Relativo ao modo como os relacionamentos devem ser conduzidos

a) Relacionamento humano: linear (tradicional, hierárquico), colateral (cooperação de grupo), individual (competitivo);

b) Relacionamento organizacional: autocrático, paternalista, consultivo, participativo, delegativo ou colegiado.

Quadro 1 - Análise das dimensões dos pressupostos básicos Fonte: Shein (1992, apud HOFFMANN, 1995)

Kotter e Heskett (1994, p.4) ressaltam que “cada nível de cultura tende a influenciar

naturalmente o outro”, ficando mais nítida a percepção em valores compartilhados, os quais

influenciam o comportamento do grupo como na dedicação aos clientes, e a rapidez com que

os indivíduos tendem a responder às reclamações recebidas.

Page 37: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

35

Os autores ressaltam que a relação de causa e efeito também flui na direção oposta,

porque comportamentos e práticas influenciam valores. Quando funcionários que nunca

tiveram contato com o mercado começam a interagir com os problemas e necessidades dos

clientes, é possível começarem a dar maior valor a esses interesses. Neste sentido os autores

analisam a cultura de forma semelhante a análise dos níveis descrita por Schein (1985).

Na perspectiva de Hofstede (1991, p.22) “as diferenças culturais se manifestam de

diferentes formas”, que se apresentam em níveis, que podem ser comparados às camadas de

uma cebola, cuja visualização parte da camada externa para a mais interna. Através dessa

representação, conforme a figura 4, as camadas são representadas em símbolos, heróis, rituais

e valores.

Figura 4 – As “Camadas de uma cebola” ou os diferentes níveis de manifestação de uma cultura. Fonte: Hofstede (1991, p.23)

Neste sentido a abordagem de Hofstede (1991) se assimila a abordagem de Schein

(1985), por dividir em níveis ou camadas para análise da cultura. Na parte mais externa estão

os símbolos, tratam-se dos objetos, gestos, figuras e palavras que tem significado especial

para indivíduos de uma mesma cultura. Na camada seguinte estão os heróis, que são as

pessoas, mortas ou vivas, reais ou imaginárias, que servem de modelo de comportamento por

possuírem características altamente valorizadas na cultura. Posteriormente segue a camada

onde estão os rituais, estas são atividades coletivas e tecnicamente supérfluas, pois só fazem

sentido para quem faz parte do grupo, no entanto são realizadas pelos indivíduos e utilizadas

para atingir fins desejados. Estas três camadas são consideradas práticas por serem fáceis de

Page 38: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

36

serem observadas, porém difíceis de analisar. Na última camada estão os valores, são

inconscientes e imperceptíveis do exterior, podendo apenas ser deduzidos por meio das

atitudes das pessoas frente a circunstâncias diversas. De acordo com Gonçalves (2008, p. 32)

“os valores são adquiridos precocemente na vida, em especial na família, vizinhança e

escola”. As práticas organizacionais são aprendidas através da socialização no lugar de

trabalho. Dessa forma, ao nível nacional, as diferenças culturais residem mais nos valores e

menos nas práticas, já ao nível organizacional as diferenças culturais residem mais nas

práticas e menos nos valores. Cada indivíduo pertence a vários grupos ou categorias em

simultâneo, que exercem influência em sua programação mental, que correspondem a

diferentes níveis de cultura, identificados por Hofstede da seguinte forma:

um nível nacional, dependendo do país ao qual se pertence (ou países para as pessoas que emigram durante a sua vida);

um nível correspondente à pertença a um grupo regional e/ou étnico e/ou religioso e/ou linguístico; a maioria das nações são compostas por grupos culturalmente diferentes do ponto de vista regional e/ou étnico e/ou religioso e/ou linguístico;

um nível correspondente à pertença a um dos dois sexos, masculino ou feminino;

um nível de geração, diferente entre avós, pais e filhos; um nível correspondente à origem social, associado ao nível de escolaridades e

à profissão exercida; para aqueles que trabalham, um nível ligado à organização ou empresa e à

forma como os trabalhadores são aí socializados. (HOFSTEDE 1991, p. 25)

A parte visível da cultura: símbolos, heróis e rituais, podem ser mudados de forma

planejada, enquanto que a parte invisível da cultura, os valores, podem ser mudados, mas não

de forma planejada. As culturas organizacionais só podem ser completamente contempladas

por pessoas de dentro. Os observadores externos precisam ter empatia para tentar

compreender a cultura organizacional, no entanto, Hofstede (1991, p. 233) faz uma ressalva,

“mudar os valores coletivos de pessoas adultas numa determinada direção é extremamente

difícil, se não impossível”. É preciso que as pessoas estejam envolvidas com os valores

organizacionais por meio de uma liderança integradora, inspiradora e outras características

culturais como as estruturas e os sistemas.

De acordo com Trice e Beyer (1984), a cultura organizacional tem dois elementos

base:

Page 39: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

37

1 Substância: corresponde a rede de significados contidos nas ideologias, normas e

valores. Sendo que para análise utilizando este elemento, o pesquisador deve estar

inserido na rotina da organização;

2 Forma: corresponde às práticas onde estes significados são expressos, afirmados e

comunicados a seus membros. Este elemento é considerado pelos autores com

enfoque nos ritos e cerimônias por apresentar de forma mais visível, de fácil

identificação, que permitem a observação sem interferências.

Ainda segundo os autores Trice e Beyer (1984), a melhor forma para o analista

observar sem fazer interferências e eliminando a necessidade de estar presente no dia a dia da

organização é através da análise dos ritos e cerimônias, para tanto desenvolveram seis

tipologias para ritos, conforme o quadro 2, a seguir:

Tipo de rito Exemplos Objetivos Manifestados Objetivos Latentes

Rito de passagem Introdução Facilitar a transição de pessoas

em papéis sociais e status que são novos para eles

Minimizar mudanças nos meios em que as pessoas realizam papéis sociais

Treinamento básico militar

Restabelecer o equilíbrio nas relações sociais vigentes

Ritos de degradação

Demissão e contratação de um alto executivo

Dissolver as identidades sociais e seus poderes

Reconhecer publicamente que problemas existem e discutir seus detalhes Defender os limites do grupo, redefinindo quem pertence ao mesmo e quem não pertence Reafirmar a importância social e o valor do papel envolvido

Rito de engrandecimento Seminários

Aumentar as identidades sociais e seus poderes

Espalhar boas notícias sobre a organização

Dar reconhecimento público aos indivíduos por seus feitos; motivar outros a esforços similares Permitir às organizações dar algum crédito para feitos individuais Dar ênfase ao valor social da performance

Rito de renovação Atividades de desenvolvimento organizacional

Refazer a estrutura social e melhorar seu funcionamento

Assegurar aos membros que algo é feito com os problemas

Disfarçar a natureza do problema

Adiar o reconhecimento do problema Legitimar e reforçar os sistemas de poder e autoridade existentes

Rito de redução de conflito Barganha coletiva Reduzir conflito e agressão

Desviar a atenção da solução de problemas

Compartimentar conflitos e seus efeitos destrutivos Restabelecer o equilíbrio em relações sociais em distúrbio

Rito de integração Festa de final de ano

Encorajar e reviver os sentimentos comuns que unem os membros e os comprometem com o sistema social

Permitir a ventilação das emoções e o esquecimento temporário das normas

Festa de aniversário da empresa

Reafirmar, em contraste, a retidão moral das normas usuais

Quadro 2 - Tipologia de rituais de Trice e Beyer Fonte: Trice e Beyer (1984)

Page 40: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

38

Para Cox (1994) a cultura é um sistema de valores, crenças, significados

compartilhados, normas e tradições que diferencia um grupo de pessoas de outro. Do ponto de

vista do autor, a cultura organizacional está inserida dentro da cultura da nação (macrocultura)

e é sempre influenciada pela cultura regional, social, racial e de gênero de seus membros

(microcultura). Sendo necessário compreender as fronteiras de culturas grupais definidas com

base em dimensões de nacionalidade, classe socioeconômica, gênero e etnocentricidade.

Para os pesquisadores Kilmann, Saxton e Serpa (1986), a cultura é manifestada em

normas de comportamento, pressupostos subjacentes e manifestações da natureza humana,

cada um ocorrendo em um nível de profundidade diferente. As normas de comportamento

estão no primeiro nível logo abaixo da superfície. Descrevem os comportamentos e atitudes

que os membros da organização se pressionam uns aos outros para seguir. Normas, por

definição, são não escritas, mas são transmitidas de geração em geração de empregados

através de histórias, ritos e particularmente sanções que são aplicadas quando alguém

descumpre as normas. Enquanto que os pressupostos subjacentes (não explícitos) estão em

um nível intermediário, mais profundo do que as normas de comportamento, que são as

crenças fundamentais atrás de todas as decisões e ações. Esses pressupostos estão

relacionados com a natureza do ambiente no qual a organização está inserida e com as

necessidades, a forma de tomar decisões e as ações realizadas pelos stakeholders tanto no

presente como no futuro. As manifestações da natureza humana, estão no nível mais profundo

da cultura. É o conjunto de dinâmicas, desejos e motivos humanos que tornam um grupo de

pessoas único. Embora alguns grupos sejam diferentes na força e na natureza dessas

qualidades, algumas propriedades da natureza humana podem ser compartilhadas pelo grupo,

como por exemplo: capacidade mental, memória e objetividade.

Além desses três níveis característicos da cultura organizacional, os mesmos autores

distinguiram três aspectos de impacto que estão inter-relacionados e que podem impactar

positivamente ou negativamente o desempenho da organização, são eles: direção, penetração

e força. A direção do impacto é o curso que a cultura está fazendo a organização seguir, é

considerada positiva quando conduzem o comportamento na direção correta, ou negativa

quando o comportamento é conduzido na direção errada. A penetração é o grau que a cultura

é difundida ou compartilhada entre os membros do grupo; e a força é o nível de pressão que a

cultura exerce sobre os membros da empresa, independente da direção.

Page 41: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

39

2.1.6 Tipologias de cultura organizacional

Existem vários modelos de culturas organizacionais. O que torna este assunto tão

relevante é a constante mudança estratégica necessária para a sobrevivência das

organizações para se manter em ambientes tão competitivos. Tipologias de cultura

organizacional são modelos e teorias obtidas a partir de análises dos pesquisadores, para

auxiliar na compreensão da cultura organizacional.

Através dos estudos realizados em uma grande multinacional, Hofstede (1991, p. 219),

observou que “as principais diferenças entre as filiais nacionais eram relacionadas

principalmente aos valores dos seus empregados”. Através de um processo subjetivo atribuiu-

se nomes as seis diferentes dimensões interorganizacionais pelas quais a cultura poderia ser

compreendida, da seguinte forma: “a) orientação para o processo versus orientação para os

resultados; b) orientação para o empregado versus orientação para o trabalho; c) paroquial

versus profissional; d) sistema aberto versus sistema fechado; e) controle fraco versus

controle rígido; f) normativa versus pragmática”. (HOFSTEDE, 1991, p. 220).

A primeira dimensão, orientação para o processo versus orientação para os resultados,

ressalta se há uma maior preocupação com os fins ou com os meios para se atingir os

objetivos. Uma empresa orientada para processos tende a ser mais burocrática e as pessoas

estão mais voltadas para o que fazem do que para os resultados que produzem. Elas evitam

riscos e trabalham fazendo pequeno esforço, pois os dias são sempre iguais e o foco está

sempre em seguir regras. Já as empresas orientadas para resultados são mais preocupadas com

o objetivo do que com a forma de fazer. Nestas, as pessoas sentem-se confortáveis com

situações não familiares e despendem muito esforço no trabalho, que a cada dia é visto como

trazendo novos desafios. As empresas identificadas como orientadas aos resultados

geralmente são intensivas de mão de obra onde as pessoas colocam o máximo de esforço, pois

sempre há novos desafios. Na segunda dimensão, orientação para o empregado versus

orientação para o trabalho, observa que nas empresas com orientação para o empregado, os

indivíduos percebem que são levados em consideração, que a organização assume

responsabilidade pelo seu bem-estar e que as principais decisões são tomadas em grupo. Nas

empresas com orientação para o trabalho, não se percebe a preocupação da organização com o

bem-estar pessoal e familiar dos empregados. As decisões importantes geralmente são

tomadas por indivíduos e existe uma maior pressão pelo trabalho realizado. O lucro é o

principal indicador de desempenho.

Page 42: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

40

Na dimensão paroquial versus profissional, na primeira, paroquial, as pessoas

trabalham para a empresa, independente de qual seja o trabalho, e sentem que as normas da

organização sustentam seu comportamento tanto na vida profissional quanto particular. Além

das competências, a vida pessoal, o meio social e familiar é considerado no processo de

recrutamento de novos funcionários. Os empregados se tornam passivos em relação ao seu

futuro, deixando que a empresa assuma esta responsabilidade. Na organização orientada para

o profissionalismo, as pessoas exercem e buscam ser fiéis à sua profissão e podem exercê-la

em qualquer empresa que lhes ofereça emprego. Sentem que a empresa as admitiu

considerando apenas a competência técnica e que a vida pessoal e particular não é de interesse

da empresa, considerando que os assuntos extra-organização não são de interesse da empresa,

e por isso estão sempre se preocupando em se preparar para o futuro. A seguinte dimensão,

sistema aberto versus sistema fechado, refere-se ao comportamento das organizações em

relação a novos empregados ou pessoas externas. No sistema aberto, os funcionários

consideram a organização aberta a novos empregados e a pessoas externas, os novos membros

são bem-vindos e se adaptam de forma rápida. No sistema fechado, a organização e seus

membros são vistos como fechados e secretos, até mesmo internamente. Somente pessoas

muito especiais se adaptam à organização. Essa adaptação poderá demorar vários anos, em

função da influência da cultura nacional.

Na dimensão controle fraco versus controle rígido, nas empresas de controle fraco

geralmente não existe preocupação com custos, os horários das reuniões não são muito

respeitados e os controles não são severos. No caso de empresas com controle rígido, as

pessoas percebem a constante preocupação com custos e com pontualidade, apresentando um

maior esforço para que tudo seja realizado de acordo com que foi planejado e a alta direção

gasta muito tempo escrevendo relatórios e memorandos. Nessas organizações, até mesmo o

modo de vestir e o comportamento das pessoas são importantes. Os controles rígidos

geralmente são mantidos em empresas onde o nível de educação é baixo.

Já na dimensão normativa versus pragmática, refere-se ao comportamento da empresa

frente ao mercado. Nas empresas normativas, as normas de ética profissional e honestidade

são sempre destacadas, preocupam-se com o seu papel no mundo exterior. Os empregados

sentem a necessidade de seguir corretamente os procedimentos organizacionais, pois estes são

considerados mais importantes que os resultados, muito identificado em órgãos públicos.

Enquanto que nas unidades pragmáticas, a maior ênfase é dada à satisfação das necessidades

dos clientes, sendo os resultados mais importantes que os procedimentos. Quanto à ética

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41

profissional, adota-se postura mais pragmática do que dogmática, de maneira generalista, uma

análise típica das empresas privadas.

Estas seis dimensões da cultura organizacional têm caráter descritivo, apenas

descrevem o tipo cultural e não se trata de prescrever intrinsecamente se é uma cultura boa ou

má. Segundo Hofstede (1991, p. 233) este julgamento “depende de cada caso, de para onde se

quer levar a organização” ou de suas escolhas estratégicas, o que deve variar de organização

para organização. Na percepção de Alves (2006, p. 32) o autor observou uma relação entre as

dimensões “processo x resultados”, “paroquial x profissional”, “rígido x justo” e “normativo x

pragmático” devido à influência da competitividade da indústria na qual a empresa está

inserida. Já as dimensões “funcionário x função” e “aberto x fechado” sofrem influências de

fatores históricos como filosofia dos fundadores e crises recentes.

Hofstede considera usos práticos de tais comparações para a gestão de uma

organização, tais como:

Identificar as subculturas na própria organização; testar se a cultura é adequada às estratégias traçadas para o futuro; identificar as áreas de potencial conflito cultural entre os parceiros, no caso de fusões e aquisições; e, por último, medir a evolução das culturas organizacionais ao longo do tempo, repetindo a sondagem após um ou mais anos. (HOFSTEDE 1991, p.231-232)

Harrison (1972) e Handy (2006) buscaram através da simbologia caracterizar o grau

de formalização e centralização de poder dentro das organizações. Harrison (1972)

interpretava a cultura organizacional através de ideologias, responsável por estabelecer os

valores e objetivos das organizações, a direção da organização, o significado de sucesso, a

forma de mensuração e as relações entre os indivíduos e a organização. Desta forma propôs a

existência de quatro variedades de ideologias organizacionais: orientação para o poder,

orientação para os papéis, orientação para a tarefa e orientação para as pessoas.

A cultura com orientação para o poder concentra toda sua energia nas relações de

poder em todas as suas nuances, ou seja, é sua missão lutar incansavelmente, na tentativa de

conseguir o domínio do meio ambiente, subjugando toda oposição, não admitindo nenhuma

forma ou poder externo. Há uma nítida resistência à submissão ou a qualquer controle

externo. A perda de controle é vista como ameaça de perda de poder, sendo valorizado o

rígido controle, por isso as pessoas detentoras do poder tendem a manter o máximo controle

sobre seus subordinados, principalmente porque o sistema de reconhecimento, de

recompensas, de premiação ou de punição também é centralizado e é usado como arma de

Page 44: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

42

dominação ou submissão pelos detentores do poder. A competitividade é encarada como

forma de sobrevivência. Existe a tendência para que as negociações ocorram em prol de

proveito próprio, e por isso buscam a expansão de controle através da exploração de

concorrentes mais fracos. “Quando os acordos se tornam menos vantajosos, procuram-se

justificativas para revogá-los ou renegociá-los novamente em bases mais vantajosas”.

(HARRISON, 1972, p. 04). Essas organizações aparentemente não têm uma preocupação com

os valores humanos e o bem-estar geral. Sendo uma ideologia que tem como base o poder, a

tomada de decisões é centralizada e, normalmente, rápida. A flexibilidade na tomada de

decisões é razoável, na medida em que a confiança é a base da obtenção do poder. “A

resistência a mudanças é forte, visto que, nessa ideologia, o imprevisível pode ser ameaça à

manutenção do status quo” (HARRISON, 1972, p. 04). Quanto à reciprocidade de interesses

da organização e seus componentes, pode-se observar que, nessa ideologia, a coesão no grupo

é imposta, ocorre uma relação de submissão do indivíduo aos valores da organização. Com

isso, podem-se resumir as principais características dessa orientação como sendo: valorização

da competitividade e do conflito; valorização da expansão, dominando ou subjugando

concorrentes mais fracos; forte controle; decisão centralizada; flexibilidade média; resistência

a mudanças; coesão imposta; insegurança. Alguns exemplos organizacionais com esse tipo de

orientação são as organizações militares ou afins, as organizações familiares ou surgidas a

partir de um núcleo familiar, as quais preservam essa relação e as organizações que operam

em mercados altamente competitivos e atividades de alto risco.

A cultura organizacional com ênfase na orientação para os papéis apresentam um

perfil do tipo racional e ordenado ao extremo, sendo a legalidade, legitimidade e a

responsabilidade suas grandes preocupações. Por isso as regras, normas e procedimento são

cuidadosamente reformulados evitando que haja conflitos, direitos e privilégios. “Os

comportamentos são tidos como previsíveis e características como estabilidade e respeito são

avaliadas como forma de competência, dando-se grande ênfase aos status hierárquico”.

(HARRISON, 1972, p. 05). O foco principal recai sobre a função descrita, sobrepondo a

importância ao indivíduo que a desempenha. “Com uma forte valorização do previsível, do

estável, do legal, as mudanças são realizadas de forma lenta visto que precisa atender a

normas e procedimentos formais” (HARRISON, 1972, p. 10).

Normalmente, estas organizações não exigem desempenho extraordinário de seus

funcionários. A disciplina é altamente valorizada, e a segurança é um valor almejado pelos

componentes e oferecida pela ideologia. Assim, as características da orientação para o papel

são a legalidade, controle normativo, hierarquia, disciplina, estabilidade, foco no processo,

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43

baixa flexibilidade, fluxo de informações lento, decisão programada, coesão esperada e

segurança. São exemplos de organizações em que essa ideologia se evidencia as organizações

que operam em áreas altamente reguladas por lei, órgãos públicos e especializados em

auditorias e escritórios de advocacia.

“Nas organizações tidas com orientação para a tarefa, o valor máximo é atribuído ao

alcance dos objetivos, logo a fim de se atingir o objetivo, normas, regras e procedimentos

considerados inadequados ou obsoletos são questionados” (HARRISON, 1972, p. 06). A

estrutura, funções e atividades dessa organização são todas avaliadas em termos de suas

contribuições para os objetivos. Qualquer fato, pessoas ou instituições que de alguma forma

seja identificado como barreira no alcance da meta é rapidamente excluído ou substituído.

Existe um compromisso ideológico com a autoridade, respeitabilidade e ordem, a autoridade é

legitimada pela competência, conhecimento, da perícia e não da pessoa (orientação para o

poder) ou da função (orientação para a função). “As organizações orientadas para a tarefa são

moldadas na colaboração entre seus componentes e na flexibilização de suas estruturas como

forma de resolver, da melhor forma possível, o problema proposto” (HARRISON, 1972, p.

06). A competição não é um valor importante. A busca de aliados é, valorizada como forma

de vencer um desafio. Há um alto grau de informalidade nas relações e grande ênfase em

repostas rápidas e estruturas flexíveis no intuito de adaptar a empresa às modificações do

ambiente, decisões descentralizadas, objetividade nas ações e o pragmatismo nas suas

relações internas e com outras ideologias. A previsibilidade e estabilidade são ignoradas e

consideradas maçantes. O novo e a mudança são encarados como fatores motivadores. Quanto

à reciprocidade de interesses da organização e seus componentes, observa-se que a coesão no

grupo é situacional. A oportunidade e o tempo para resolução do problema definem esses

aspectos. A orientação para a tarefa é mais facilmente encontrada em organizações cujos

membros estão juntos devido a algum valor compartilhado, tarefa ou objetivo, podendo ser

caracterizada como: objetiva, pragmática e altamente flexível, foco na solução de problemas,

velocidade no fluxo de informações, fontes do poder são o conhecimento e a perícia, decisão

descentralizada, mudança, o novo e o inédito são fontes de motivação, coesão situacional. São

exemplos de organizações onde essa ideologia predomina organizações voltadas para a

pesquisa, organizações de serviços sociais, grandes organizações em que se criam forças-

tarefa que operam em mercados dinâmicos ou com tecnologias complexas e altamente

mutáveis.

Enquanto que a “cultura com orientação para pessoas têm como objetivo primordial

servir às necessidades de seus membros” (HARRISON, 1972, p. 07). É estimulada e

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valorizada a participação de todas as pessoas em todo o processo, desde o planejamento até a

execução das atividades fins, o respeito e a influência substituem o poder e a autoridade, para

que as pessoas não venham a infringir os seus valores, para realizarem suas atividades com

satisfação. O fluxo de informações tende a ser lento, uma vez que elas se processam de forma

direta. Pode-se caracterizar a orientação para a pessoa como: participativa e consensual; auto-

realização e gratificação individual são primordiais; organização como promotora da

realização da satisfação dos componentes; fluxo de informações direto e lento; decisão

consensual; poder e competitividade não são valorizados; coesão elevada; estabilidade é vista

como valor enquanto for conveniente aos interesses do indivíduo; razoável adaptação à

mudança. São exemplos de organizações com essa ideologia: universidades e centros de

pesquisa; grupos culturais; sociedades de artistas; cooperativas de profissionais liberais

(advogados, profissionais da saúde etc.).

Handy (2006) utiliza da mitologia grega para simbolizar as diferentes maneiras de

administrar. Baseado no modelo de Harrison (1972), Handy atribuiu as quatro dimensões da

tipologia aos deuses da Grécia antiga, e afirma que nenhuma cultura, ou deus, ou a

combinação de ambos, é ruim ou errada. “Apenas pode ser inadequada ao momento” ou ao

objetivo que se almeja alcançar (HANDY, 2006, p. 18). As culturas (ou deuses) identificadas

pelo autor são: A Cultura de Clube – Força (simbolizada por Zeus), a Cultura de Função (que

tem como símbolo Apolo), a Cultura de Tarefa (Palas Atena é seu símbolo) e a Cultura

Existencial (simbolizada por Dionísio).

Na cultura de clube representada por Zeus, que era o rei dos deuses que reinava sobre

o monte Olimpo por meio dos raios ou da chuva de ouro. Temido, respeitado e

ocasionalmente amado. Representa a tradição patriarcal, a hierarquia e a disciplina e a

excelência pela rapidez de decisão, apesar de não garantir qualidade. A seleção e a sucessão

são, portanto encaradas como variáveis críticas e muito tempo e esforço lhes são dedicados.

(HANDY, 2006, p. 19). A imagem associada a esta cultura é a teia de aranha com poder

concentrado no ponto central. Sendo suas principais características, segundo Handy (2006, p.

19, 47 e 51): forte hierarquização; O poder é muito valorizado e apresenta vários níveis;

decisões tomadas com rapidez, por intuição e impulso; resistência à mudança; foco no

resultado; a criação e manutenção de redes de informação e influência são altamente

valorizadas; a fonte da informação torna-se mais importante que a informação; a empatia é

fundamental para o sucesso e, a partir dela, aliada à confiança, se inicia e consolida o processo

de aprendizagem.

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Apolo era o deus da ordem e das regras, representando a cultura de função. Gentil na

Grécia antiga, o protetor das crianças e carneiros, bem como da ordem. Representa uma

cultura baseada na definição da função e da tarefa e não em torno de personalidade. As

culturas de Apolo são eficientes quando a vida é previsível, logo são difíceis de aceitar

mudanças. Outras características marcantes segundo Handy (2006, p. 23, 54 e 58) são: baixa

valorização da flexibilidade e iniciativa. As pessoas são anônimas; moderada distância do

poder. O poder é da função, não da personalidade; valorização da organização como entidade

protetora e gestora dos destinos dos seus empregados; as decisões são tomadas com base em

raciocínio lógico e à luz de normas e procedimentos; o aprendizado tem como base a

transferência. O conhecimento pode ser adquirido a partir de treinamento nas funções, normas

e procedimentos.

As organizações caracterizadas pela cultura de tarefa são representadas pela deusa

Atena, guerreira, patrona de Ulisses, aquele arqui-solucionador de problemas, dos artesãos e

dos líderes pioneiros. A criatividade é recompensada e a liderança raramente apresenta

comportamento explosivo. Segundo Handy outras características de Atena são:

o trabalho em equipe; o comando é conquistado pela sabedoria e o poder, normalmente exercido através da persuasão; a obediência é substituída pela concordância; há pouco controle ou preocupação com prazos e recursos; o aprendizado dá-se basicamente pela exploração e descoberta; o ser humano é visto como indivíduo, como valor importante para o resultado; a incerteza é estimulante e desafiadora. (HANDY, 2006, p. 27, 59 e 63)

E por fim a cultura existencial representada por Dionísio, deus do vinho e das canções.

Cultura tida como existencial, onde a organização existe para ajudar o indivíduo a atingir o

seu propósito. O principal recurso da organização é o talento, ou a habilidade do indivíduo,

sendo a preferida pelos profissionais. Algumas características de culturas existenciais,

segundo Handy:

A independência e a resistência a quaisquer formas de controle; o poder e a administração só se realizam por consenso; a estabilidade é desejada; o processo de aprendizagem se dá por imersão, por novas experiências. É comum Dionísio abandonar um projeto só porque não há mais o que aprender; resistência de que haja qualquer tipo de planejamento para desenvolvimento de suas habilidades. (HANDY 2006, p. 31, 32, 66 e 68)

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46

Para identificar as categorias de cultura organizacional, Aktouf (2001, p. 55) realizou

“pesquisas empíricas em onze empresas”, com o objetivo de analisar a cultura a partir de

quem vivenciou o cotidiano de uma organização e buscou compreender a cultura

organizacional como fenômeno social. O autor propõe quatro tipologias de cultura

organizacional, denominadas: a) Cultura dominada por Rupturas e Identidades Divididas; b)

Identidade em Formação ou em Mudança; c) Cultura Imposta e Identidade por Oposição; e d)

Visão Comum e Identidade Compartilhada.

A primeira tipologia de cultura organizacional identificada por Aktouf (2001, p. 57) a

“Cultura dominada por Rupturas e Identidades Divididas”, trata das organizações que se

caracterizam por: Gestão hierárquica rigorosa; Separação entre direção e empregados;

Comunicação desencorajada, salvo em ocasiões especiais ou em situações problemas;

Contradição entre discurso e atos práticos; Histórias e piadas ridicularizando a organização e

os dirigentes; Sinais de diferenças de posições funcionais visíveis reforçados; Clima de

hostilidade entre dirigentes e dirigidos; Por parte dos dirigentes, clima de desconfiança e

vigilância; Por parte dos empregados, clima de raiva do trabalho e da organização; Para a

chefia, os empregados possuem “mentalidade precária”, tentam fazer o menor esforço

possível e são incapazes de disciplina; Para os empregados, os dirigentes são “gênios”, “sem

coração”, “duas caras” e “hipócritas”.

O segundo tipo de cultura organizacional, denominada pelo autor de Cultura do

Passado ou Identidade em Processo de Mudança, é aquela que se apresenta “sob a forma de

clima de nostalgia de um estado passado, caracterizado por uma convivência generalizada e

por uma transformação, dolorosa, de imagem coletiva” (AKTOUF, 2001, p. 59). Dentre as

características desse modelo de cultura organizacional, destacam-se: Clima de “espírito de

outrora”; Lenda acerca do dirigente-fundador, que cuidava de todos e sabia de tudo; Idéia de

“quebra dramática”, após a reestruturação e a chegada da nova direção; Desaparecimento de

antigas cerimônias importantes.

O modelo seguinte é o chamado de Cultura Artificial ou Identidade Dissimulada. Para

Aktouf (2001, p. 62), essa categoria “representa uma tentativa deliberada de atribuir um

espírito coletivo, um pensamento coletivo a uma empresa, a partir dos atos dos dirigentes

especialmente direcionados para isto”. Nesse caso, as características comuns encontradas

foram: Esforço, por parte dos dirigentes, para criar e manter, ainda que de maneira “forçada”,

um ambiente de trabalho participativo e de comunicação informal e calorosa; Dirigentes

tentando aplicar fórmulas para uma “boa cultura”; Política de portas abertas, sorrisos

exagerados e tapinhas nas costas; Crenças e valores planejados em gabinete, pelos dirigentes e

Page 49: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

47

difundido para os empregados; Esforço periódico, formalizado, de redefinição dos objetivos

da organização; Por parte dos dirigentes, produção de um discurso repetido, baseado em

conceitos tais como “comunicação”, “proximidade”, “consenso” – apoiados em reuniões

formais, numerosas cerimônias e instalação de salas de descanso ou áreas de convivência.

O último modelo de cultura organizacional proposto por Aktouf (2001, p. 61) é a

Cultura de Visão e Identidade Compartilhadas. Para o autor, essa categoria “tem por base uma

visão coletiva e uma cultura de convergência, sem que haja uma vontade deliberada de utilizá-

las como instrumento de gestão”. As características dessa classificação são assim descritas:

Existência de um conjunto de ritos de iniciação aplicados a todos os novos empregados da

empresa; Herói fundador verdadeiramente visto como herói; Lenda profundamente enraizada,

relativa à criação da empresa e ao herói-criador; Lendas sobre heróis ocasionais; Anedotas

confirmando a mitologia dos heróis fundadores; Numerosas cerimônias, assiduamente

freqüentadas pelos empregados; Valores instalados e amadurecidos; Numerosos fatos e atos

indicadores de proximidade e participação.

Não existe uma ideologia ou orientação certa. O conhecimento das várias ideologias,

suas características e formas de relacionamento são fundamentais para o sucesso das

organizações. O que deve haver é o esforço para a adequação da orientação desejada pela

organização aos ambientes interno, externo e aos objetivos.

2.2 MUDANÇA ORGANIZACIONAL

2.2.1 Forças para a mudança organizacional

A mudança é uma constante hoje em dia, trata-se de uma necessidade criada pelo

próprio homem, seja nas organizações, na família ou com os amigos. Poucas organizações, se

é que há alguma, podem permanecer iguais por um longo tempo e sobreviver. A década de

1990 foi o início das reestruturações, em suas diversas fases, denominadas reengenharia,

downsizing, outplacemente, empowerment, jointventures, consórcios internacionais, fusões e

aquisições, entre outros. Na escola da administração científica (Taylor e Fayol) pouco se

falava sobre tal assunto, pois se ressaltava os aspectos negativos e a estabilidade era vista, de

forma administrativa, como uma forma das organizações permanecerem grandes e poderosas.

Naquela escola, segundo Fisher:

Page 50: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

48

Mudanças em larga escala, que abranjam diversos espaços da organização ou alterem diferentes processos, afetando as pessoas e suas relações, são encaradas, no escopo desse paradigma, como crises de alto risco geradoras de conflitos inadmissíveis. Por isso, esse tipo de mudança deveria ser evitado, todo esforço da administração deveria ser colocado na manutenção do status quo e, quando uma modificação fosse absolutamente inevitável, o gestor deveria circunscrevê-la ao mínimo espaço organizacional. (FISHER, 2002, p.148)

Nesta época predominava a visão mecanicista, ou seja, considerava-se que as

organizações eram como máquinas, capaz de detectar e substituir as peças defeituosas de

forma racional, sem considerar os impactos gerados nas pessoas. O termo mudança associado

a desenvolvimento passou a ser visto a partir da Escola de Desenvolvimento Organizacional,

a partir da década de 60, tido como um novo conceito de poder, baseado na colaboração e na

razão considerando o ambiente, a organização, os grupos e o indivíduo, removendo em parte

os aspectos negativos de crise, conflito e caos. Passou-se então a reconhecer a necessidade da

mudança e que ela não ocorre sem que haja mudança nas pessoas, portanto a base da cultura

de uma organização deve ser a valorização do capital intelectual. Segundo Ficher (2002) em

meados de 1985, um fator que facilitou o interesse pelo estudo da cultura organizacional

estava relacionado ao recente declínio da produtividade norte-americana e o ganho de

competitividade dos japoneses, especialmente no setor automobilístico. Fator importante

observado na cultura japonesa estava ligado aos valores do povo, tais como obediência, à

subordinação do indivíduo ao grupo, valorização do trabalho em equipe, gestão participativa

ao compartilhar ideias e sugestões, respeito aos mais velhos e à tradição, ao processo

decisório participativo e à filosofia da empresa. Comportamentos necessários a um país que

estava em processo de reconstrução no pós-guerra.

Segundo Cameron e Quinn (2006) mudança da cultura organizacional é uma meta

muito difícil de conseguir, não só porque a cultura é em grande parte desconhecida, mas

porque uma vez definido, interpretações comumente compartilhadas, valores padrões são

difíceis de modificar. No entanto, uma vez que foi determinado que mudar a cultura é um

objetivo desejado, membros de uma organização pode se envolver em um conjunto de etapas

que irá colocar a cultura em processo de mudança.

Antes de se implantar qualquer mudança, como por exemplo um programa de

qualidade, seja ele japonês, americano ou outros, é preciso analisar os aspectos culturais da

organização, o ideal é que se faça um diagnóstico da necessidade da mudança, para diminuir

as resistências e fortalecer o que verdadeiramente precisa mudar e como será feita a mudança.

Page 51: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

49

O gestor deve atuar como facilitador do processo oferecendo condições e recursos que

propiciem o desenvolvimento permanente.

Para acompanhar e se manter competitivas no mercado as organizações precisam

abandonar as atitudes reativas, buscando apenas “formas prontas” e assumir uma postura pró-

ativas e flexíveis em relação às mudanças, mesmo porque cada organização tem suas

peculiaridades que interferem nos seus resultados. Segundo Juran e Gryna (1991) a criação

organizada de mudanças benéficas, depende do planejamento de negócios da empresa e dos

programas de extensão atrelado a um planejamento estratégico da qualidade. A função

planejamento nas empresas busca, em essência, reduzir a incerteza, desta forma os gestores

devem se preocupar com a forma como as pessoas na organização compreendem a mudança,

isso diz respeito ao modo como estas vinculam o todo com as partes, dito de outra forma, os

processos de transformação que envolvem mudanças estruturais não são compreensíveis pelos

modelos de equilíbrio, o que equivale dizer que apenas as organizações instáveis são de fato

mutáveis.

2.2.2 Estratégias para intervenção e mudança

A cultural organizacional permite compreender a mudança organizacional. O processo

de mudança não significa somente mudar as tecnologias, estruturas, habilidades e motivações

dos empregados, o importante é a mudança de imagem e valores que devem guiar a ação.

Nesta perspectiva, Alves (2006) afirma que nos processos de mudança de estratégia, também

a cultura deve fornecer um suporte adequado para que os valores subjacentes às novas

abordagens sejam construídos, divulgados e compartilhados. Caso contrário, a mudança não

será totalmente assimilada.

Cameron e Quinn (2006) sugerem sete passos para o processo de mudança cultural,

são eles: 1) esclarecer o significado; 2) identificar histórias; 3) determinar iniciativas

estratégicas; 4) identificar pequenas vitórias; 5) Estabelecer métricas de sucesso; 6)

comunicação e símbolos; 7) desenvolvimento de liderança.

Fisher (2002) desenvolveu uma metodologia, que concorda com o modelo proposto

por Cameron e Quinn (2006), empregada na concepção e implementação do processo de

transformação organizacional, conforme a, figura 5 abaixo, no qual enfoca a importância da

otimização dos recursos humanos focados em resultados e da identificação dos fatores

restritores e facilitadores.

Page 52: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

50

Figura 5 - Etapas do processo de transformação Fonte: Ficher (2002, p. 155)

Na prática, este processo pode acontecer em ordem diferente da apresentada no

modelo, ou algumas etapas podem até ocorrer concomitantemente, uma vez que as empresas

são compostas de processos organizacionais interdependentes e dinâmicos. Este modelo

torna-se relevante, pois parte do pressuposto de que a organização pode ter ideias que possam

gerar as melhores soluções para seus problemas de desenvolvimento, levando em

consideração sua cultura organizacional, que incluem o conhecimento da missão, visão,

objetivos estratégicos, as competências existentes, e as expectativas que os stakeholders, têm

em relação à empresa. Em seguida é fundamental que haja um alto nível de comprometimento

dos grupos de mobilização bem como o apoio da alta cúpula organizacional que garantem

métodos decisórios que contribuam para o efetivo segmento dos processos, o

comprometimento contínuo com prática de alto nível de envolvimento, as quais utilizam com

sucesso os talentos dos funcionários e enfatizam a motivação, ajuda a reduzir a resistência a

mudanças entre gerentes e funcionários dos níveis hierárquicos mais baixos. As atividades em

AUSCULTAÇÃO • Mapeamento de aptidões e resistência à mudança • Mapeamento dos agentes do contexto interno e externo • Levantamento de restritores e alavancadores • Identificação de projetos e ações de aperfeiçoamento em andamento • Levantamento de opiniões e sugestões de atores sociais relevantes

CONCEPÇÃO • Diretrizes estratégicas da organização • Mobilização de grupos-tarefa • Plano de ação e projetos de aperfeiçoamento • Definição do perfil para os gestores organizacionais • Concepção da disseminação

DISSEMINAÇÃO / ADESÃO • Difusão de objetivos e estratégias para os diferentes atores organizacionais • Emprego de sistemas e instrumentos de gestão para promover a mudança • Absorção e internalização de objetivos e estratégias • Proposta de aperfeiçoamento • Compromissos individuais • Identificação de aspectos que facilitam ou inibem o processo

SUSTENTAÇÃO • Acompanhamento do plano de ação • Auscultação permanente • Revitalização de compromissos • Comunicação interna/ Processos decisórios

Page 53: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

51

prol das mudanças necessárias devem ser bem planejadas e disseminadas para que todos os

funcionários possam ser agentes facilitadores, uma vez que, para sustentação do processo de

transformação organizacional, esse processo como um todo deve acontecer de forma contínua

e portanto há a necessidade de constantes acompanhamento e uma boa comunicação interna.

De acordo com Hitt, Miller e Colella, (2007, p. 418), “as pressões para a mudança

podem ser classificadas como internas ou externas”. Algumas das pressões internas seriam (a)

as discrepâncias entre aspirações e desempenho, ou seja, entre o que foi planejado e o que é

efetivamente conquistado, (b) as forças do ciclo de vida, que são naturais a medida que uma

organização cresce. Já as pressões externas citadas pelos autores seriam (a) os avanços

tecnológicos, (b) introdução e extinção de regulamentações governamentais (c) mudanças em

valores estabelecidos pela sociedade, (d) dinâmica política inconstante, (e) mudanças nas

características demográficas e (f) crescente interdependência internacional. As organizações

devem ser sensíveis a essas pressões e buscar meios para que o processo aconteça de forma

planejada, alterando o estado atual indesejável para um estado novo e mais desejável.

Reações psicológicas dos indivíduos com relação à mudança evidenciam o alto grau

de dificuldade que é o seu gerenciamento. E para enfrentar estas dificuldades a administração

de recursos humanos nas organizações tem se valido muito mais de programas contínuos de

treinamento e desenvolvimento, alinhando os objetivos estratégicos e os resultados desejáveis

com o comprometimento dos funcionários.

2.2.3 Resistência, apoio e maneira de lidar com a mudança

Muitas pessoas têm uma rotina de vida, algumas durante a semana, acordam todos os

dias à mesma hora, chegam ao local de trabalho, ocupam a maior parte do seu tempo

exercendo o mesmo conjunto de atividades, ou seja, adotam rigorosas rotinas e rituais. O

medo e a insegurança nas pessoas com relação ao novo, ao desconhecido ou do resultado a ser

obtido é a grande barreira para mudar a forma de fazer as coisas, criação de uma zona de

desconforto e de alterar o status quo. Porém, o medo pode ser salutar, já que sem ele as

pessoas arriscariam mais e consequentemente estariam mais expostas ao perigo, também pode

ser positivo quando pressionam os agentes da mudança a serem mais cuidadosos e a tornarem

a natureza da mudança mais compatível com o ambiente, por outro lado, quando em excesso,

ou por falta de conhecimento, o medo pode levar a perda de oportunidades e fortalecer a

concorrência.

Page 54: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

52

Nas organizações o maior obstáculo na adoção do novo está na postura do presidente,

que reflete diretamente na cultura da organização, especialmente quando se acredita que o

melhor modelo é o atual. E assim prevalece a máxima de que “em time que se ganha não se

mexe”. Nesse sentido, a resistência à mudança poderia ser interpretada não como um fato de

vida organizacional, mas como “um padrão de comportamento adotado pelos detentores de

poder ou pelos agentes de mudança quando desafiados em sua autoridade, privilégios ou

status quo” (AGÓCS, 1997; SMITH, 1982 apud HERNANDES; CALDAS, 2002, p. 77). Os

gestores que não tiveram medo, insegurança ou hesitação começaram a mudar e ver as coisas

de outro ângulo para continuar no mercado e servir de modelo para outras empresas. Neste

contexto atual de intensas mudanças econômicas, tecnológicas e competitivas, muitas

empresas precisam realizar mudanças radicais de estratégias, de estrutura, de organização,

assim como de cultura, para que possam prosperar e por vez até sobreviver.

Pesquisas de Watson (1969, apud HERNANDES; CALDAS, 2002, p. 78) abrem

precedentes que mostram que “os seres humanos anseiam por estímulos, no qual o desejo por

novas experiências é um dos quatro mais básicos desejos do comportamento do ser humano”.

Em uma abordagem individual, segundo Lewin (1947, 1951 apud HERNANDES; CALDAS,

2002, p. 74), “o padrão de comportamento do indivíduo poderia ser diferente do padrão de

comportamento dos grupos ao qual ele pertence, e essa diferença seria permitida ou

encorajada em culturas diferentes e em graus diferentes”. Logo aqueles indivíduos que

tivessem um padrão de comportamento diferente do grupo estariam fadados ao isolamento ou

exclusão, assim o indivíduo tende a adotar um comportamento em função do valor social

percebido em relação ao grupo. Por outro lado, a ação individual pode corresponder a um

comportamento em função das necessidades, desejos, valores e experiências, baseada na

realidade percebida, que nem sempre é de acordo com a realidade dos fatos e acontecimentos.

Hernandes e Caldas (2002), baseado no modelo proposto por Bagoszzi; Lee (1999)

propuseram um diferente modelo analítico, ver figura 6, que consideram as variáveis

individuais no processo de percepção da mudança.

Page 55: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

53

Figura 6 - Modelo de resistência individual à mudança Fonte: Hernandes e Caldas. (2002, p. 85)

Acostumados com seus paradigmas, geralmente as pessoas só percebem aquilo que

reforçam os seus pré-conceitos e abolem aquilo que é destoante. Somente um acúmulo

considerável de informações levará a mudar o paradigma vigente.

As empresas devem desenvolver em seus gestores, ou agentes de mudança, a

capacidade de preparar seus colaboradores de maneira adequada para aceitar a mudança de

forma positiva, fazendo com que as pessoas entendam que a mudança faz parte da vida de

todos e que vai aparecer constantemente nos mais diversos momentos. Uma mudança dentro

da organização envolve alterações comportamentais, nas rotinas de trabalho e nos valores, em

resposta a mudanças ou antecipando alterações estratégicas, de recursos ou de tecnologia,

enfatizando a mudança das pessoas, dos métodos e da tecnologia, impostas pelo ambiente.

Segundo Morgan do ponto de vista das pessoas, há quatro tipos diferentes de postura

frente à mudança

Exposição à mudança ou

inovação

Processamento inicial

Resposta inicial Processamento estendido

Aceitação e resistência emocionais

Integração Conclusão

Exposição à mudança ou

inovação organizacion

al

Conhecimento, expectativas,

attitudes e comportamentos

Processamento inicial

Conhecimento, expectativas,

attitudes e comportamentos

Baixa consistência

Baixa motivação para

processamento estendido

Consistência moderada Alta motivação para processamento

estendido

Alta consistência Baixa motivação

para processamento

estendido

Percepção da mudança como oportunidade

Coleta de informações adicionais e

processamento estendido

Percepção da mudança como

ameaça

Emoções positivas

Alegria/orgulho/esperança/amor/ca

rinho

Processo cognitivo

Emoções negativasFrustrações/raiva/asnsiedade/medo/tristeza/culpa/vergonha

Integração das

informações e

tendência à ação

Decisão para supercar a resistência

Indecisão

Experimentação ou adoção

Características individuais (Dogmatismo, empatia, motivação, criatividade, aversão ao risco, dependência,

valores culturais, expertise e conformidade, por exemplo)

Características situacionais (cultura organizacional, solidariedade grupal, conflitos grupais, valores do grupo, estrutura

organizacional – hierarquia, processo decisório, canais de comunicação, divisão do trabalho etc. – e estrutura de poder, por exemplo)

Adoção de comportamento

resistente Ativo/Passivo

Page 56: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

54

Há aquelas pessoas que ignoram a mudança, recusam-se a reconhecê-la ou ainda não percebem a intensidade da mudança. Existem algumas que defendem a ideia de que a mudança é inevitável, alegando que tudo é vontade Divina e que nada pode ser feito. Há aquelas que cruzam os braços, como se procurassem atrasar os acontecimentos e aquelas que querem controlar a mudança dentro dos limites de sua área de ação. São os chamados pragmáticos, eles procuram planejar os efeitos da mudança, maximizando seus resultados. (MORGAN, 1996, p.365).

Em se tratando de mudança organizacional, o mesmo autor, afirma que deve ser

planejada e incorporadas seis características fundamentais: Deve ser inteligível, para facilitar

sua comunicação e compreensão; deve ser lógica, para criar um referencial para aqueles que

trabalham na organização; deve ser explícita, para evitar ambiguidades em termos de relações;

deve ser flexível para motivar as pessoas a enfrentar problemas inesperados e aproveitar

oportunidades imprevistas; deve ser estruturada a partir de princípios seguros, que ensejam

estabilidade e, ao mesmo tempo e, finalmente, deve agregar valor ao trabalho, para que a

organização se torne competitiva.

Téboul (1991) defende que para reduzir a resistência à mudança é necessária a criação

de um ambiente de confiança de forma que os funcionários não se sintam ameaçados de

perder seu emprego, cargo, poder, etc.; O incentivo a participação – onde as pessoas que serão

afetadas diretamente pela mudança participem desde o inicio e possam influenciar seu

resultado; Dar tempo ao tempo – entendo que as mudanças serão estabelecidas

progressivamente; e por último: Negociar – analisando o que está em jogo para os diferentes

atores e negociar modificações e compensações.

A gestão participativa costuma ser um efetivo método para a implantação de um

sistema de gestão da qualidade total, uma vez que o envolvimento dos interessados na

preparação de documentos fará com que se sintam parte do processo e não apenas meros

executores do que consideram um processo chato e burocrático. Mesmo porque são os

funcionários que realizam o trabalho ou executam as atividades, tanto administrativas quanto

operacionais, melhor do que ninguém na organização pode informar a sequência de realização

das atividades.

À medida que na empresa cresce, a comunicação informal, a coordenação e as técnicas

de gerência passam a não ser adequadas, e tem que ser suplantadas por sistemas formais, por

uma divisão estrita do trabalho e por uma administração profissional. Toda mudança se

mostra difícil. Para algumas pessoas que se dizem criativas, e empreendedoras, introduzir

sistemas e burocracias pode ser doloroso, uma vez que parece ser uma antítese daquilo que

atrai o gestor no primeiro momento do negócio. No entanto, neste mercado tão competitivo,

Page 57: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

55

se não for instituído processos corretos, não houver um bom planejamento, não houver

pessoas capacitadas, todo o negócio pode não funcionar bem.

2.3 SISTEMAS DE QUALIDADE

Para que uma empresa funcione bem ela precisa de um bom sistema para coordenar

todos os setores e atividades, que seja capaz de garantir a eficiência e a eficácia, fazendo com

que as pessoas façam o que deve ser feito e na hora correta, Segundo Dahlgaad e Dahlgaard-

Park (2006), no contexto da qualidade, o indivíduo torna-se elemento-chave e seu nível de

capacitação é determinante para o sucesso da organização.

A Gestão da Qualidade Total ou Total Quality Management (TQM), desenvolvida por

Deming, Juran, Feigenbaum e Crosby, autores norte-americanos, é uma forma de gestão que

teve seu auge nos anos de 80 e 90 nos países ocidentais (MARANHÃO, 2005). Porém foi no

Japão, devido a sua cultura, em que o TQM encontrou as condições ideais de aplicação e

resultados, servindo de exemplo e adoção pelas organizações de outros países, tornando-se

um grande movimento mundial. Durante muitos anos esse passou a ser um dos temas mais

abordados nos cursos de gestão empresarial com o intuito de identificar os principais passos

adotados pelos japoneses para seu sucesso competitivo e adaptá-lo a realidade de outros

países. Nos últimos anos, um dos pontos mais importantes no sistema produtivo é a

capacidade de gerar produtos de qualidade, conforme os requisitos de sustentabilidade,

segurança e viabilidade econômica. Conforme ressalta Maranhão.

Um Sistema de Gestão da Qualidade é apenas um conjunto de recursos e regras mínimas, implementado de forma adequada, com o objetivo de orientar cada parte da empresa para que execute de maneira correta e no tempo devido a sua tarefa, em harmonia com as outras, estando todas direcionadas para o objetivo comum da empresa: ser competitiva (ter qualidade com produtividade). MARANHÃO 2005, p. 27),

Os sistemas de qualidade tornaram-se um dos modos de mostrar para fornecedores,

compradores e clientes que a organização preza pela qualidade dos produtos ou serviços que

vende, preocupa-se com o meio ambiente, com a saúde e a segurança dos funcionários ou

sustenta uma relação responsável com a sociedade, pois a aplicação das normas consente

transformar discursos de boas intenções em algo palpável, ratificado por um organismo

Page 58: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

56

independente e percebível pelo mercado e a sociedade. O conceito de certificação tem várias

similaridades e pontos em comum com o conceito de padronização, por firmar certas

características do produto com vistas a assegurar as propriedades de reprodutibilidade, de

equivalência e de estabilidade adequadas às condições de produção e mudança de um sistema

industrial, possibilitando que os produtos sejam identificados, suas qualidades e seu

desempenho são certificados e sua evolução previsível.

Enfim, a qualidade é uma das principais estratégias competitivas nas diversas

empresas e nos diversos setores. Juran (2001) trata a Qualidade Superior como sendo as

características do produto que atendem às necessidades dos clientes e possibilitam a empresa:

aumento da satisfação dos clientes, tornam os produtos vendáveis e enfrenta a concorrência,

aumenta a participação no mercado. Ausências de deficiência possibilitam a empresa: redução

dos índices de erros, da repetição de trabalhos e os desperdícios, das falhas no uso e os custos

da garantia, da insatisfação dos clientes, de inspeções e testes, e do prazo para lançamento de

novos produtos no mercado, aumento dos rendimentos e capacidade, melhorias no

desempenho de entregas.

A qualidade é a capacidade de um produto, um serviço ou uma entidade para satisfazer

as necessidades de seus usuários.

2.3.1 Princípio de Qualidade

Nos séculos XVIII e XIX, quando predominavam a produção artesanal, os produtos

eram desenvolvidos de forma manual e a inspeção final de qualidade realizada informalmente,

visto que a qualidade era percebida pelos clientes em função dos atributos de desempenho,

utilidade e durabilidade do produto. Com o início da produção em grande escala, tornou-se

necessário o desenvolvimento de uma série de modelos-padrão de peças que viessem a servir

de gabaritos na fabricação em série e manutenção de máquinas. Em seguida muitas empresas

criaram o departamento de inspeção, com o objetivo de verificar e decidir pelos melhores

produtos e serviços, onde seriam descartadas as peças defeituosas, evitando chegar até o

consumidor final. Alguns métodos estatísticos foram criados para auxiliar nestas inspeções,

através de amostras quando detectados os produtos defeituosos parava-se todo o processo

produtivo e isso fazia com que se aumentassem os custos, que seriam recompensados pela

redução de gastos com retrabalho e perdas de material, bem como do melhor nível de

qualidade oferecido. (DEMING, 1982).

Page 59: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

57

Uma empresa para ter um produto de qualidade precisa projetá-lo conforme as

necessidades de seus clientes-alvo, produzi-lo de acordo com este projeto (o que dependerá,

de forma crítica, da qualidade dos insumos utilizados, ou seja, máquinas, peças adquiridas de

terceiros e funcionários operacionais) e oferecer um serviço de pós-venda que garanta reparo

durante sua vida útil. Portanto, qualidade não exige apenas um bom desempenho da função

produção da empresa, e sim de todas as suas funções principais, isto é, marketing e

desenvolvimento de produtos, suportadas pelas funções de apoio. (SLACK; CHAMBERS;

JHONSTON, 2002). Considerando o fato de que clientes mudam constantemente em termos

de desejos e necessidades podemos dizer que estamos na era da gestão estratégica da

qualidade, em função da rapidez e complexidade exigidas pelas empresas para se anteciparem

as necessidades futuras de seus clientes-alvo

Uma dificuldade em estudar a qualidade é que sua definição não é nem preciso nem

consensual, entendida em termos como eficácia, satisfação, empowerment e liderança, tratada

como uma construção ao invés de um conceito. Na realidade, cada pessoa/cliente tem uma

concepção subjetiva da noção de qualidade e existe a tendência de simplificar a questão e

associá-la com a ideia de luxo. Sendo que Juran (1991) define qualidade por meio de dois

significados: “A qualidade consiste nas características do produto que vão ao encontro das

necessidades dos clientes e dessa forma proporcionam a satisfação em relação ao produto”;

“A qualidade é a ausência de falhas”. De maneira objetiva um produto simplesmente deve

prestar os serviços para os quais foram concebidos em suas condições econômicas

determinadas, atendendo as necessidades dos clientes.

A gestão da qualidade é entendida como as boas práticas de fabricação adotadas em

todas as áreas da empresa, com o intuito de atingir o padrão de qualidade pré-estabelecido de

forma eficiente e eficaz. Na prática, as empresas costumam seguir um determinado Sistema de

Gestão da Qualidade, conforme o mercado que se quer atingir ou por algum tipo de

conveniência.

2.3.2 Processo de Certificações de Qualidade nas Empresas

É importante salientar que o sucesso no processo de certificação de qualidade nas

empresas deve está atrelado à compreensão de que a Gestão da Qualidade Total não é apenas

um conjunto de técnicas e sim uma nova filosofia de gestão. Segundo Green (1995) copiar

processos excelentes de outras companhias não traz a mudança cultural relacionada à Total

Page 60: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

58

Quality Manegment (TQM), buscando-se as partes ao invés do todo, porém nos dias atuais

tornou-se mais comum a substituição da nomenclatura Qualidade Total por Gestão da

Qualidade.

Uma organização que pretenda ter um alto padrão de qualidade em seus processos

precisa que todos os seus departamentos estejam concatenados. Com base no modelo japonês

de qualidade, Campos (1999) propõe um sistema de gestão da qualidade formado

essencialmente por dois programas: gerenciamento da rotina e gerenciamento das diretrizes

estratégicas. Portanto, para que a grande mudança em termos de desempenho ocorra, uma

empresa que pretenda implantar a gestão da qualidade de forma rigorosa, tendo como guia a

ISO 9001, tem de recorrer a alguns referenciais fora dela, isso porque, questões como a

motivação, o empowerment e o trabalho em equipe tendem a não se configurar como

prioridades, deixando o programa em um nível superficial, no qual não ocorre a mudança

cultural. Nas empresas que buscam apenas o certificado da ISO 9001, sem preocupação com a

mudança cultural, o processo de certificação, muitas vezes são conduzidos em episódios

isolados, normalmente momentos antes da auditoria, tornando o processo burocrático,

contando apenas com a participação superficial dos funcionários.

A gestão de qualidade é entendida como as boas práticas de fabricação adotadas em

todas as áreas da empresa, com o intuito de atingir o padrão de qualidade pré-estabelecido de

forma eficiente e eficaz. Na prática, as empresas costumam seguir um determinado Sistema de

Gestão de Qualidade, conforme o mercado que se quer atingir, por algum tipo de

conveniência, tais como: EUREPGAP1, Nature’s Choice2, APHIS3, PIF4, OHSAS5, ISO6, etc.,

sendo a ISO uma das mais utilizadas no Brasil em função do custo, facilidade de implantação,

apoio de diversas consultorias especializadas e boa aceitação dos clientes, que entendem que

as empresas que tem certificação ISO são mais organizadas e consequentemente podem

oferecer melhores produtos e serviços.

Normalmente para se obter uma certificação é necessário adquirir a brochura ou

arquivo eletrônico com as normas a serem seguidas, adotá-las na empresa e contratar uma

certificadora independente para aferir a aplicação correta dos padrões. Com as normas em

mãos, é preciso implantar um sistema de gestão que atenda aos seus requisitos. As regras para

a certificação indicam o que é preciso fazer na organização, não a maneira de pôr em prática. 1Eurep – Euro Retailer Produce Working Group/ Gap - Good Agriculture Practicis - EUROPA 2 Escolha natural – desenvolvido pelo TESCO em 1991 – EUROPA 3 Serviço de inspeção sanitária de animais e vegetais - EUA 4 Programa integrado de frutas - BRA 5 Occupational Health & Safety Advisory Services - OHSAS 6 International Organization for Standardization - Organização Internacional para Normalização – SUIÇA

Page 61: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

59

A presença de um consultor não é fundamental, mas a sua contratação pode acelerar o

processo de implantação. O INMETRO (Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade

Industrial), trata-se de uma autarquia vinculada ao Governo Federal, de acordo com este,

depois de a empresa se adequar aos requisitos da certificação, precisa contratar um organismo

certificador, órgão independente sem qualquer ligação com a entidade ou com o consultor que

ajudou na implantação, para atestar se ela realmente age em conformidade com as normas. A

auditoria checa in loco tudo aquilo que a empresa diz fazer. Os valores cobrados pelas

certificadoras variam conforme o ramo de atuação e o tamanho da organização. Cada país tem

o seu órgão semelhante ao nosso INMETRO que avalia e autoriza as certificadoras a realizar

as auditorias e emitir certificados. Olhando o certificado de uma empresa, pode-se observar

que nele vem estampado um selo do órgão que autorizou. Estes são chamados órgãos de

acreditação. “No Brasil, o INMETRO é o organismo de acreditação oficial, entretanto as

normas ISO 9001, ISO 14001 e ABNT 16001 têm caráter voluntário e não é obrigatório que

os organismos de certificação sejam acreditados pelo INMETRO”. (CAMARGO; WILNER,

2010, p. 97). No entanto, com o respaldo do INMETRO torna-se mais fácil solucionar

problemas que venham a surgir com um organismo de certificação.

O certificado é expedido quando os processos estão de acordo com o protocolo de

manejo aplicado, logo após, esta certificação se torna pública através do registro da empresa.

As empresas devem submeter-se a auditorias de manutenção periódica para renovação da

certificação, assim, o sistema de qualidade deve ser mantido, caso contrário o registro é

cancelado.

2.3.3 ISO 9001

A sigla ISO significa International Organization for Standardization (Organização

Internacional para Normalização), que foi estabelecida em 1947, por uma federação

internacional, formada por organismos de normalização nacionais de diversos países do

mundo com sede em Genebra, na Suíça, tem como objetivo fixar normas essenciais que

possam ser aplicada internacionalmente, incluindo a proteção aos países menos favorecidos.

No Brasil a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é a única representante legal

da ISO, e a série 9000, é apenas uma parte da série completa ISO, e que trata do assunto

gestão da qualidade. (CONHEÇA A ABNT, 2011). A sigla NBR é indicativa de Norma

Brasileira, sendo NBR ISO a tradução para o português da norma ISO, que foi adotada na

Page 62: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

60

integra. A ABNT é uma entidade de natureza privada, composto de vários Comitês Brasileiros

de Normalização Técnica (CB), sendo o CB 25 responsável pelo assunto Gestão da

Qualidade. De acordo com o quadro 3, a série 9001 de normas consiste em:

Número Título Finalidade

NBR ISO 9000 Sistemas de gestão da Qualidade - Fundamentos e Vocabulário

Estabelecer os fundamentos e o vocabulário da Qualidade

NBR ISO 9001 Sistemas de gestão da Qualidade – Requisitos

Especificações dos requisitos de sistemas de gestão da qualidade para uma organização “produzir” produtos conformes e obter satisfação dos clientes. É a única norma de natureza contratual da série 9000.

NBR ISO 9004 Sistemas de gestão da qualidade –Diretrizes para melhorias de desempenho

Prover guias para sistemas de gestão de qualidade, incluindo melhorias contínuas, para satisfação dos clientes e de outras partes interessadas.

NBR ISO 19011

Diretrizes para auditoria de sistemas de gestão da qualidade e gestão ambiental

Prover requisitos e diretrizes para processos de auditorias (SGQ – Sistema de Gestão de Qualidade e SGA – Sistema de Gestão Ambiental)

Quadro 3 - Série de Normas ISO 9000 Fonte: MARANHÃO (2005, p. 35)

A NBR ISO 9004 que trata das diretrizes para melhoria de desempenho está baseada

nos oito princípios de gestão da qualidade: 1) Foco no cliente; 2) Liderança; 3) Envolvimento

das pessoas; 4) Abordagem de processos; 5) Abordagem de sistema para gestão; 6) Melhoria

contínua (ou continuada); 7) Abordagem factual para tomada de decisões; 8) Relacionamento

com fornecedores visando o benefício mútuo. (LRQA, 2011). Estas diretrizes são

desenvolvidas para serem usadas pela alta administração como uma estrutura para guiar as

suas organizações em direção à melhoria de desempenho, ao levar em conta as necessidades

de todas as partes interessadas, não somente dos clientes.

As entidades normalizadoras, tanto governamentais como não, situadas em vários

países, assim como a ISO, tem como principal objetivo criar normas que deverão ser seguidas,

de forma que se reduza ao menor risco possível de oferecer perigo ao consumidor final, para

assegurar que materiais, produtos, processos e serviços estejam de acordo com o seu

propósito. Por isso é comum observar diversos produtos que tem a capacidade de funcionar

em qualquer lugar do mundo em função do seu padrão de qualidade, como por exemplo, os

cartões de crédito, tornando a vida das pessoas mais simples. Porém o Sistema de Gestão da

Qualidade (SGQ) de uma organização, não significando, necessariamente, conformidade de

Page 63: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

61

produto às suas respectivas especificações. O objetivo da ISO 9001 é prover confiança de que

o fornecedor poderá fornecer, de forma consistente e repetitiva, bens e serviços de acordo

com o que foi especificado.

Nas normas ISO, a qualidade é entendida como todas as características de um produto

ou serviço que são exigidas pelo consumidor, estabelecidas através de procedimentos que

buscam avaliar a qualidade na produção, o desenvolvimento, as instalações, os serviços pós-

venda e etc.

A adoção da norma pela empresa é voluntária, porém algumas empresas exigem de

seus fornecedores a adoção da norma ISO, como forma de reduzir a necessidade de

fiscalização, uma vez que a empresa certificada deve oferecer um padrão de qualidade

internacional. A figura 7 apresenta como está o cenário nacional de empresas certificadas ISO

9001.

Figura 7 – Empresas certificadas ISO 9001:2000 e 9001:2008 no Brasil Fonte: (INMETRO, 2011) – Adaptado pela pesquisadora.7

Os custo de implementação da ISO vai depender da atual situação da empresa, caso a

empresa tenha, desde o início de suas atividades, uma cultura voltada para a qualidade,

precisará de pouco investimento, já as empresas que tenha uma estrutura pobre necessitam de

um investimento bem maior, inclusive sobre aspectos culturais. Com ajuda de consultores

especializados e da atual situação da organização o tempo pode variar de 8 a 12 meses. O

sucesso da implementação depende do engajamento de todos os funcionários.

7 Relatório emitido em maio de 2011.

Page 64: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

62

Na figura 8, apresenta-se o resultado de uma pesquisa feita pelo INMETRO e o

Comitê Brasileiro de Qualidade da ABNT que avaliaram a satisfação com produtos e serviços

com o selo ISO 9001 para saber se o mercado realmente leva em conta as certificações.

Figura 8 - Satisfação dos clientes com produtos e serviços com o selo ISO 9001 Fonte: Camargo; Wilner (2010, p. 97)

A certificação não deve ser um fim, em si mesma, mas uma consequência. De maneira

estratégica, mais do que buscar a certificação, as organizações devem observar as vantagens

que a qualidade institui. O envolvimento com a melhoria da qualidade, além de ser uma das

exigências dos clientes, quando encarado de outro aspecto pode reduzir custos com

manutenção, assistência técnica, desperdícios e devoluções.

Page 65: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

63

2.4 ESTUDOS REALIZADOS SOBRE O TEMA

No contexto internacional dos negócios, um dos desafios é entender a diversidade

institucional e a cultura organizacional local. No Brasil os pesquisadores buscam

compreender por meio de agrupamentos e generalizações, que apesar de haver inúmeros

estudos ainda tornam-se complexo, diante da diversidade cultural existente, baseado na

formação histórica, cultural, social e econômica do país, além de constituírem variáveis

dinâmicas que sofrem mutações em função do meio e que interferem inteiramente nos

processos de gestão empresarial.

Segundo Brito, Ribeiro e Souza (2008), a partir dos 1970/80 houve uma maior

preocupação em mudança, em deixar os velhos processos gerenciais focados nas limitações

das políticas macroeconômicas, que se mostrava concentrador, para criação negociada de

instituições de fomento produtivo empresarial globalizado que segundo os citados autores.

de um lado demanda e provoca um movimento de uniformização e padronização dos mercados e produtos como forma de integrar os mercados; por outra parte, também provoca a diversificação e a flexibilização das economias e dos mercados locais, cria e produz diversidades, integrando valores globais com os padrões locais e articulando o local ao global. (BRITO; RIBEIRO; SOUZA, 2008, p. 250 e 251).

Em seguida, a partir de 1990, ainda estimulada pela globalização, que acometia a

forma de gestão nacional em função do aumento dos investimentos estrangeiros levou as

empresas locais a buscarem novas formas de gestão mais modernas, em virtude das

mudanças, tais como as privatizações, terceirizações, empowerment, e as fusões. O desafio

para os gestores é de agir local e pensar global, ou seja, atender as pressões do mercado

globalizado, considerando a cultura local e organizacional.

Hofstede (1991), em seu estudo com funcionários de uma multinacional presente em

mais de 40 países, descobriu que a maioria das diferenças entre as culturas nacionais podiam

ser caracterizadas por quatro dimensões: aversão à incerteza, masculinidades versos

feminilidade, individualismo versus coletivismo, distância do poder e a orientação de curto

prazo versus a de longo prazo. Wagner e Hollenbeck (2009) comparam a cultura brasileira

com a cultura americana, os autores afirmam que as empresas brasileiras e americanas tendem

a ser estruturadas em hierarquias relativamente altas e piramidais, nas quais as regras e os

procedimentos governam os comportamentos da maioria dos funcionários. O tipo de

Page 66: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

64

supervisão tende a ser direta como parte da tarefa do líder, sendo necessário quando as regras

e os procedimentos não conseguem oferecer a orientação necessária, caracterizando grande

distância do poder.

Brito, Ribeiro e Souza (2008) concordam com Wagner e Hollenbeck (2009) ao

afirmarem que no Brasil existem grande distância entre os trabalhadores e a elite que se

encontra no poder, traço relacionado à hierarquização social. Cota (1997, apud Wood Jr. e

Chu, 2008) adiciona que o Brasil é visto como um país cujos indivíduos e organizações

apresentam frequentemente comportamentos cordiais, ou seja, comportamentos permeados

pela aparência afetiva, mas não necessariamente sinceros ou profundos. Traduz-se na reduzida

capacidade de dizer “não”.

Dentre as sinalizações de traços da cultura brasileira, para Motta e Caldas (1997, p.

44) estão a Hierarquia, com forte centralização do poder, o Personalismo, baseada nas

relações afetivas, a Malandragem conhecida popularmente como “o jeitinho brasileiro”,

contrárias a determinações legais, o Sensualismo, como estratégia de manipulação, o

Conservador, resistente a mudanças e a religiosidade, onde o indivíduo ampara seus

problemas em uma entidade religiosa. Os pesquisadores Wood Jr. e Chu (2008), afirmam que

“O jeitinho brasileiro” é em geral percebido como algo negativo ao país, por ser considerado

como um comportamento pouco profissional ou até mesmo amador. Gera para o país um

sentimento de instabilidade e de falta de credibilidade nas instituições que o governam.

No contexto regional houve o interesse em conhecer as características culturais das

organizações do estado do Rio Grande do Norte, para tanto delimitou-se a procurar pesquisas

que tivessem utilizado o mesmo método utilizado neste trabalho, Cameron e Quinn (2006)

afim de uma posterior análise comparativa de dados.

Assim Câmera (2004) pesquisou em um hotel de grande porte da via costeira, entre os

funcionários de todos os setores, Silva (2007), pesquisou em trinta e sete restaurantes

localizados nas áreas que compõem o corredor turístico de Natal, Godeiro (2008) pesquisou

quarenta farmácias de manipulação do estado do Rio Grande do Norte, e por último, Rocha

(2010) pesquisou em três indústrias de laticínios do mesmo estado. Todos eles constataram,

através da análise dos resultados da pesquisa quantitativa, que o tipo de cultura organizacional

predominante na situação atual é Clã, o mesmo resultado foi demonstrado nas respostas dos

colaboradores como sendo o ideal para o futuro da organização, manter a cultura de hoje.

Estes resultados remetem a ideia de que este seja um tipo de cultura predominante nesta

região.

Page 67: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

65

Daft (2003, p. 298) caracteriza a cultura Clã da mesma forma que Cameron e Quinn

(2006), que “tem como foco principal o envolvimento e a participação dos membros da

organização e as expectativas de mudanças rápidas do ambiente externo”, seus principais

elementos são ênfase nas necessidades dos funcionários como um caminho para o alto

desempenho, há a crença, por parte dos gestores, de que envolvimento e participação criam

senso de responsabilidade e maior comprometimento e valorização da criatividade dos

empregados.

Logo, os resultados das pesquisas das empresas do estado do Rio Grande do Norte

diferem de outras pesquisas em nível nacional. Nas pesquisas de Wood Jr. e Chu (2008), que

buscou identificar aspectos típicos da cultura organizacional brasileira, afirmam prevalecer o

personalismo na gestão.

Personalismo - expressa a importância atribuída às pessoas e aos interesses pessoais em detrimento das pessoas ou interesses do grupo ou comunidade. Indica o alto grau de confiança depositado na rede de amigos e familiares para resolução de problemas ou obtenção de privilégios. A expressão popular local “para os amigos tudo, para os inimigos nada, para os indiferentes a lei” atribuída a uma importante figura política do século XX exemplifica esse traço. (WOOD JR.; CHU, 2008, p. 975)

Além do personalismo os autores atribuem ao Brasil outros traços da gestão brasileira,

tais como “o jeitinho”, que também foi mencionado por Brito, Ribeiro e Souza (2008), a

desigualdade de poder e hierarquia, a flexibilidade, a plasticidade, relativa a um povo que tem

como raiz o gosto pela miscigenação, pelo novo e pelo exótico, que marcado por sua

colonização, e o formalismo para assegurar a diminuição dos riscos, da ambiguidade e das

incertezas. Assim, é possível que a partir dos efeitos da globalização e da internacionalização

dos negócios haja influências dos valores e referenciais locais na constituição de culturas

organizacionais e de práticas de gestão características de uma nação, especialmente no Brasil

por ser um país com tanta diversidade cultural.

Page 68: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

66

2.5 MODELO ADOTADO NA PESQUISA

2.5.1 Cultura organizacional

Cameron e Quinn (2006) afirmam que ao identificar o tipo de cultura, em um processo

de mudança organizacional, é possível transformar resistências em impulso para que

melhorem sua performance.

Cameron e Quinn (2006) desenvolveram o Modelo de Valores Competitivos

(Competing Value Model – CVM), que apresenta duas polaridades principais, com base na

eficácia da organização, que são, o foco interno versus foco externo e controle versus

flexibilidade. Algumas organizações são eficazes se forem mudando, adaptáveis e orgânicas,

enquanto outras organizações são eficazes se forem estáveis, previsíveis e mecanicistas. Ou

seja, algumas organizações são eficazes se tiverem harmoniosas características internas,

enquanto outras são eficazes se tiverem foco na interação ou competir com os outros fora de

seus limites. A figura 9 ilustra a relação entre essas duas suposições, de forma que é notável

que elas se apresentem opostas ou concorrentes.

Figura 9 - Principais dimensões e valores enfatizados pelo Modelo de Valores Competitivos Fonte: Santos (2000)

Page 69: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

67

Juntas, essas duas dimensões formam quatro quadrantes, cada um representando um

conjunto distinto de indicadores de eficácia organizacional, conforme está representado na

figura 10. Segundo Cameron (1997), este quadro foi desenvolvido no início dos anos 1980,

como resultado de estudos de eficácia organizacional, seguido por estudos da cultura,

liderança, estrutura e processamento de informação.

Figura 10 - Tipologia cultural de Cameron e Quinn

Fonte: Santos (2000)

Essas dimensões se apresentam de forma opostas ou concorrentes, onde cada contínuo

destaca um valor fundamental que é o oposto do valor do outro e que também são

contraditórios ou concorrentes na diagonal. O quadrante superior esquerdo (Clã) identifica

valores que enfatizam a um foco interno e orgânico, enquanto que o inferior direito

(Mercado) identifica os valores que enfatizam às metas e o controle externo. Da mesma

forma, o quadrante direito superior (Inovadora) identifica os valores que enfatizam a criação

de novos desafios, enquanto o quadrante inferior esquerdo (Hierárquica) enfatiza as ações o

controle interno. Estes valores concorrentes ou opostos em cada quadrante da origem ao

nome para Modelo de Valores Competitivos.

Cada um dos quatro quadrantes tem um rótulo que apresenta as suas características

mais notáveis - Clã, Inovativa (Adhocracia), Mercado e Hierárquica. Cameron (2006)

explica que estes nomes foram derivados da literatura acadêmica e identifica o modo como,

ao longo do tempo, diferentes valores organizacionais tornaram-se associados com formas

diferentes, por exemplo, a hierarquia de Weber (1947), mercado de Williamson (1975), Clã

de Ouchi (1981), e Inovativa de Mintzberg (1986).

Page 70: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

68

O Modelo de Valores Competitivos toma por base seis dimensões, consideradas pelos

autores como chaves da cultura, são elas: 1) características dominantes 2) liderança

organizacional 3) gerenciamento de pessoas e equipes 4) coesão ou união organizacional 5)

ênfase estratégica 6) critérios de sucesso. As características dominantes indicam como se

apresenta a organização quanto ao seu ambiente podendo ser familiar, empreendedor,

competitivo ou controlado por procedimento. O estilo de liderança organizacional busca

identificar como se apresenta com relação à valorização das pessoas, a disposição para

assumir riscos, ao foco em resultados ou em procedimentos e regras. O gerenciamento de

pessoas e equipes analisa qual a forma predominante de como as pessoas são tratadas, se

focado no consenso e trabalho em equipe, na liberdade, na individualidade, na realização ou

na previsibilidade. A coesão ou união organizacional, identifica o que mantêm a organização

unida, se a lealdade e confiança, compromisso com a inovação, ações competitivas ou a

constância e estabilidade. A ênfase estratégica identifica o que é mais considerado no

desenvolvimento de estratégia, se a abertura ao desenvolvimento humano de forma

participativa, a aquisição de novos recursos em busca de novos desafios, o aumento da

produtividade através de ações competitivas, ou na eficiência e controle das operações. Os

critérios de sucesso ou como se define sucesso na empresa, pode ter por base a preocupação

com o desenvolvimento dos funcionários, a aquisição de novos recursos, conquista de novos

mercados de forma competitiva ou entregas confiáveis com baixo custo da produção. Nesta

pesquisa serão analisadas estas dimensões do ponto de vista dos funcionários.

Hitt, Miller e Colella, (2007, p. 398) também analisaram o modelo de Cameron e

Quinn (2006), no qual considerando “fatores como flexibilidade, controle interno e controle

externo, que fundamentam os quatro tipos de cultura: Clã, Hierárquica, Mercado e Inovativa

(Adhocracia)”.

A cultura Clã apresenta fortes características de um ambiente familiar, tipificado como

um lugar agradável para se trabalhar, onde as pessoas compartilham entre si suas

experiências pessoais e profissionais, como se seus melhores amigos estivessem no trabalho,

com uma grande parcela de comprometimento, lealdade e tradição. O valor é atribuído à

flexibilidade e a liberdade de ação, com o foco para dentro da organização, sendo os valores

e objetivos compartilhados, valorizando o senso de coletividade. Os líderes tendem a serem

mentores, conselheiros e até tidos como figura paterna. A organização enfatiza o

desenvolvimento de longo prazo, a eficácia é valorizada em termos da coesão e do moral dos

indivíduos dentro da empresa, logo, o sucesso é definido em termos de clima interno e

preocupação com as pessoas.

Page 71: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

69

A cultura hierárquica, baseada nos estudos de Weber (1947, apud CAMERON, 2006),

apresenta sete características típicas da burocracia, que são: as regras, a especialização, a

meritocracia, a hierarquia, domínios separados, a impessoalidade e a responsabilidade. Os

objetivos organizacionais são pautados nos resultados eficientes e previsíveis. O controle e a

estabilidade têm forte valor atribuído, com foco para dentro da organização. Os líderes

tendem a serem monitores e organizadores, através de regras, procedimentos e manuais. A

eficácia é mensurada em termos da eficiência e da coordenação ordenada. A organização

tende a ser um lugar formal e padronizado para se trabalhar.

Na cultura mercado, baseada nos estudos de Oliver Willianson (1975); Bill Ouchi,

(1981), (apud CAMERON, 2006), observa-se forte valor atribuído ao controle e à

estabilidade, com foco para fora da organização. É um ambiente de trabalho orientado para

resultados. Os líderes tendem a ser impulsivos, competitivos, duros e exigentes. A eficácia é

mensurada em termos do alcance de objetivos e da vitória sobre a concorrência no mercado.

A organização pode ser um lugar difícil de trabalhar, porque existe um foco constante nos

resultados e em fazer melhor do que os colegas.

O quarto tipo de cultura é a Inovativa, baseada nos estudos de Mintzberg (1986, apud

CAMERON, 2006), apresenta forte valor atribuído à flexibilidade e à liberdade de ação, com

foco para fora da organização. A empresa é caracterizada como um local de trabalho

dinâmico, empreendedor, criativo e vibrante para se trabalhar, com significativa propensão a

assumir riscos. Os líderes tendem a serem empreendedores e inovadores, talvez até mesmo

visionários. A eficácia é avaliada em termos da criatividade e da liderança em inovações no

mercado. A ênfase é de estar na vanguarda de novos conhecimentos, produtos e/ou serviços,

únicos e originais. Prontidão para mudar e enfrentar novos desafios são importantes. Ênfase

de longo prazo da organização está em rápido crescimento e aquisição de novos recursos.

O Modelo de Valores Competitivos propõe a oposição entre os tipos de cultura por

apresentarem valores opostos, ou seja, a cultura Clã se opõe a cultura Mercado, por a primeira

enfatizar o ambiente interno e a flexibilidade e a segunda por enfatizar o ambiente externo e o

controle. Também se opõem as culturas Inovadoras e a hierárquica, já que a primeira tem

ênfase no ambiente externo e na flexibilidade e a segunda enfatiza o ambiente interno e o

controle.

As organizações nem sempre têm apenas um elemento que possa caracterizá-la como

um modelo genuíno, e sim adotam diferentes valores em determinadas fases dependendo das

circunstâncias. Muitas vezes um tipo de cultura pode reduzir o comprometimento e a

motivação e em outro momento seja útil para suprir deficiências salariais; também podem

Page 72: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

70

servir perfeitamente quando a empresa ainda é de pequeno porte, mas no futuro, com o

desenvolvimento ou com mudanças no ambiente externo, já não proporcionem os resultados

desejados (CAMERON; QUINN, 2006).

2.5.2 Cultura da Qualidade

Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia a qualidade é usada para se referir

a um resultado, bem como um pré-ditor para um resultado final. Antes do final dos anos 1980,

a literatura acadêmica geralmente tratada de qualidade como um indicador da eficácia

organizacional (CAMPBELL, 1977; CONRAD E BLACKBURN, 1985 apud CAMERON,

1997).

Neste primeiro sentido, a qualidade se refere à taxa de erros ou defeitos em bens de

produção nas organizações, no entanto, são diversas pesquisas realizadas no intuito de definir

a qualidade. De acordo com as pesquisas de Garvin (1988, apud CAMERON, 1997),

identificou-se quatro "eras" de desenvolvimento da qualidade nos Estados Unidos: (1) era da

inspeção, em que a qualidade foi associada com erros detectados nos produtos ou serviços

depois de serem produzidos, (2) era de controle estatístico, em que os defeitos foram

reduzidos em controlar os processos de produção, (3) era da garantia de qualidade, em que as

técnicas e filosofias englobavam o controle de qualidade total e o topo da gestão assumiu a

responsabilidade de garantir a qualidade em toda a organização, e (4) uma era de gestão

estratégica, em que a qualidade foi definida a partir do ponto de vista do cliente e da estratégia

da organização com, foco na qualidade.

Entre os estudos relevantes sobre a relação entre a eficácia organizacional e a gestão

de qualidade, apresentam-se investigações conduzidas por Cameron (CAMERON et al, 1991;.

CAMERON, 1992, 1995 apud CAMERON, 1997) em que estudou as relações entre cultura

de qualidade e eficácia organizacional, entre automóveis, eletrônicos e organizações

educacionais. A cultura da qualidade é uma orientação organizacional para a qualidade, isto é,

um conjunto de valores, princípios e definições relacionadas com a qualidade, refletida na

forma de trabalhar, no modo de pensar, no compromisso pessoal, e no estilo de vida

compartilhada por membros de uma organização.

Page 73: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

71

As pesquisas de Cameron (1997) foram orientadas pela investigação de um modelo de

quatro tipos de culturas de qualidade que se desenvolveram nas últimas décadas: (1). Status

quo, (2) detecção de erro (3), prevenção de erros, e (4) a qualidade perpétua criativa. Cameron

e seus colegas descobriram que as organizações que tinham desenvolvido uma cultura de

qualidade avançada (ou seja, a prevenção de erros e qualidade perpétua criativa) foram mais

bem sucedidas em suas atividades e tinham níveis mais elevados de eficácia organizacional.

Partindo deste modelo de quatro tipos de cultura da qualidade, Cameron, juntamente

com outros pesquisadores, aplicaram o Modelo dos Valores Competitivos à gestão da

qualidade total e concluíram que para cada elemento do perfil cultural existiam estratégias que

contribuíam para a eficácia da organização e que estavam relacionadas a níveis da cultura da

qualidade. Ver figura 11.

Figura 11 - Os valores que competem na gestão da qualidade total Fonte: Cameron e Quinn, (2006)

O desenvolvimento das estratégias de qualidade surgira e se desenvolvera ao longo das

últimas décadas. Antes da década de 70, nas empresas não havia a preocupação com a

Page 74: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

72

qualidade, esta era privilégio da amizade que gerava confiança entre os engenheiros, auditores

e outros profissionais que chegavam para inspecionar o serviço. Neste nível de qualidade falta

dinamismo e pouco valor era dada a qualidade, sendo denominada de Status quo.

A partir da década de 70, de forma reativa, as empresas começaram a enfatizar a

cultura da qualidade de forma reativa, centrada no erro, não trazendo grandes benefícios, pois

só eram detectados depois de ocorridos e identificados. Neste tipo de cultura, caracterizada

como detecção de falhas, as organizações davam ênfase à inspeção, na tentativa de diminuir

os desperdícios, sendo que poucos membros da organização davam o devido valor à qualidade

como uma estratégia eficaz. Buscava-se manter um relacionamento amigável com os clientes

evitando a desordem ou a irritação.

Os anos 80 marcaram uma transição para uma cultura de prevenção do erro, ou

ênfase em evitar erros ao invés de corrigi-los após terem ocorrido. A principal meta deste tipo

de cultura é chegar ao defeito zero, realizando o trabalho certo desde a primeira vez,

focalizando o processo, sobre como o trabalho é realizado. O valor dado a qualidade é

repassado a todos os funcionários e não só aos supervisores ou tomadores de decisões,

acredita-se que a melhor forma de manter clientes fiéis é através da satisfação com os

produtos e serviço e por isso a ênfase é em satisfazê-los e agradá-los.

Por fim, que emergiu no final da década de 80 e no início da década seguinte, o quarto

tipo de cultura, a qualidade perpétua criativa. Esta cultura é um elo entre o melhoramento

contínuo e a inovação, de forma que os padrões de performance estejam constantemente

sendo elevados e desejados não só pela organização, como também pelos clientes. Esses

padrões das empresas mudam para atingir um objetivo e para melhorar o desempenho com o

propósito de atingir níveis de qualidade nos produtos e serviços que são não só esperados,

mas também algo que o cliente nem sabia que queria. Este tipo de organização procura

antecipar e ultrapassar as expectativas e necessidades dos clientes.

Desta forma, Cameron (1997), distribui as empresas em quatro estágios quanto à

cultura da qualidade, que são: a) status quo; b) detecção de falhas; c) prevenção de erro e d)

qualidade perpétua criativa, de acordo com o quadro 4.

Page 75: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

73

Quadro 4 - Estágios da Cultura da Qualidade. Fonte: Cameron, 1997.

Portanto observa-se que conhecer o tipo de cultura, assim como o estágio em que se

encontra o nível de cultura da qualidade da empresa mais eficaz se tornam as estratégias de

implantação ou o direcionamento de sistema de gestão da qualidade, tais como ISO 9001.

TIPOS CULTURAIS EM RELAÇÃO A PRODUTOS EM RELAÇÃO A CLIENTES

Status quo

• Não há preocupação com a qualidade;

• Responsabilidade nas mãos de poucos.

• Tratados como meros consumidores de bens e serviços.

Detecção de falhas

• Procurava evitar erros; • Reduzir desperdícios, retrabalhos e

reparos • Detecção de problemas; • Foco no resultado.

• Evitar aborrecer consumidores; • Responder às reclamações de forma

eficaz e correta; • Verificar a satisfação pós-venda; • Foco nas necessidades e exigências.

Prevenção de Erros

• Espera defeito zero; • Previne erros e enganos; • Todos da empresa são responsáveis; • Foco no processo e nas causas dos

problemas.

• Satisfaz os consumidores e excede as expectativas;

• Elimina os problemas antecipadamente;

• Foco nos atributos preferidos.

Qualidade Criativa Perpétua

• Melhoria constante e inovação; • Concentração nas coisas que deram

certo; • Foco na melhoria dos fornecedores,

consumidores e processos.

• Espera lealdade por toda a vida; • Encanta e surpreende os clientes; • Antecipa suas expectativas; • Cria novas preferências.

Page 76: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

74

3 METODOLOGIA

Nesta seção são apresentados os procedimentos metodológicos para obter ou coletar

dados para o estudo e para as análises. A avaliação de um trabalho científico, propriamente

dito, se dá, pelos seus conteúdos, conforme o que se deseja pesquisar especificamente e

quanto aos meios e formas empregadas na produção do trabalho. Trata-se ao domínio de

técnicas de coleta, interpretação de dados e de fontes de informação, em consonância com os

ritos acadêmicos.

3.1 TIPO DE PESQUISA

Segundo Vergara (2006) existe dois critérios básicos para definir o tipo de pesquisa,

sendo estes, quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins a pesquisa pode ser

exploratória, descritiva, explicativa, metodológica, aplicada ou intervencionista. Quanto aos

meios pode ser pesquisa de campo, de laboratório, documental, bibliográfica, experimental, ex

post facto, participante, pesquisa-ação ou estudo de caso.

A mesma autora caracteriza a investigação descritiva por “expor características de

determinada população ou de determinado fenômeno. Pode também estabelecer correlações

entre variáveis e definir sua natureza. Não tem compromisso de explicar os fenômenos que

descreve”. (VERGARA, 2006, p. 47).

Quanto aos fins esta pesquisa é do tipo descritiva de caráter correlacional. Descritiva

porque visa identificar os tipos de cultura e sua relação com as práticas de qualidade,

correlacionando com variáveis sociodemográficas.

No que diz respeito aos meios, este trabalho é um estudo de caso, porque é

circunscrito a uma empresa, e tem caráter de profundidade e detalhamento.

Segundo Gil (1994), o estudo de caso pode ser definido como um conjunto de dados

que descreve uma fase ou a totalidade do processo de uma unidade em suas várias relações,

que seja essa unidade uma pessoa, uma família, um profissional, uma instituição, uma

comunidade ou uma nação. Trata-se de um tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho

descritivo. O investigador não pretende intervir sobre a situação, mas dá-la a conhecer tal

como ela lhe surge.

Page 77: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

75

Este tipo de pesquisa é caracterizado pelo estudo de um objeto de maneira que permita

o seu amplo e detalhado conhecimento. Segundo Yin (2001), tal procedimento é utilizado

quando se pretende analisar o comportamento de indivíduos na área de trabalho, onde o

pesquisador irá analisar como ocorre o processo.

Para Lima (2004, p. 26), “os aspectos que caracterizam as vertentes metodológicas

podem ser de natureza quantitativa e qualitativa, uma vez que, dependendo desta escolha, os

recursos técnicos e os procedimentos metodológicos tendem a variar”.

A abordagem de análise nesta pesquisa é quantitativa, esta forma aborda o problema

através de procedimentos estatísticos traduzindo em números opiniões e informações para

classificá-las e analisá-las, para isso requer o uso de técnicas estatísticas (porcentagem, média,

moda, desvio padrão, coeficiente de correlação, etc.).

Embora Schein (1984) afirme que só é possível penetrar nos conceitos mais profundos

da cultura organizacional com abordagens qualitativas, o que permitiria aos pesquisadores

compreender as causas das suas manifestações, Cameron e Quinn (2006), baseados nos trinta

e nove indicadores de desempenho do modelo John Campbell em 1969 (apud CAMERON;

QUINN, 2006, p.15), analisaram as características em comum das organizações que

apresentavam alto índice de eficácia e através de análises estatísticas resultaram em um

conjunto de dimensões que após vários testes se tornou válido para identificar de forma

quantitativa os tipos de cultura (CAMERON, 1997).

3.2 ÁREA DE ABRANGÊNCIA E PARTICIPANTES DA PESQUISA

De acordo com Vergara (2006), os sujeitos da pesquisa são as pessoas que fornecem

os dados necessários para a realização desta. Roesch (1999) diz que, uma população é um

grupo de pessoas ou empresas que interessa entrevistar para o propósito especifico de um

estudo.

O campo de interesse deste estudo abrange uma indústria salineira localizada na

cidade de Areia Branca. Neste caso a população alvo são os funcionários da refinaria da

salina, por ser esta certificada ISO 9001. De um total de 165 funcionários, foram entrevistados

65 profissionais (n = 65) de diversas áreas, abrangendo aproximadamente 40% da totalidade

de empregados. O presente estudo tem caráter não-probabilístico com critério de exclusão os

funcionários da produção que tivessem nível de escolaridade muito baixo, pela dificuldade de

Page 78: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

76

leitura e interpretação das questões. Também não participaram os funcionários que estavam

ausentes no período da pesquisa, por motivos pessoais e/ou profissionais, tais como, atestados

médico, férias, treinamentos, etc.

3.3 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTO DE PESQUISA

A escolha da empresa ocorreu devido ao interesse da pesquisadora em estudar

empresas que tivessem alta preocupação com o padrão de qualidade e que tivesse alguma

interligação com a área de sal, por ser a exploração deste produto uma das principais

atividades econômicas da região, sendo a empresa convidada especificamente por ser

certificada ISO 9001:2008 e ganhadora de vários prêmios pela qualidade de seus produtos. A

pesquisadora entrou em contato com a empresa para saber a viabilidade de se realizar essa

pesquisa. O consentimento da empresa para a realização da pesquisa favoreceu a escolha. Os

questionários aplicados para o mapeamento da cultura organizacional e sua relação com as

variáveis, foram realizados no mês de setembro de 2011.

Segundo Lima (2004), questionário é o resultado da formação e da aplicação de uma

série ordenada de questões, com perguntas com opções de respostas de múltiplas escolhas, ou

seja, perguntas fechadas com uma série de alternativas previamente concebidas e questões de

fato, que remetem a dados objetivos sobre os respondentes.

A fim de atingir os objetivos propostos na pesquisa, a coleta de dados foi realizada

mediante aplicação de questionários com perguntas fechadas, que tiveram duração média de

20 minutos, sendo que algumas pessoas, de baixo nível de escolaridade gastaram até 2 horas

para respondê-lo. Os questionários foram aplicados em forma de entrevista a todos os

funcionários dos diversos setores, pois o controle e a implementação da qualidade de uma

empresa não depende somente do setor e sim do comprometimento de todos os colaboradores

da mesma. Os questionários foram respondidos no próprio local de trabalho, nos dias e

horários autorizados pelos gestores e aplicados na presença da pesquisadora, para garantir um

maior percentual de devolução e facilitar o processo, já que o mesmo questionário foi

utilizado em todos os níveis hierárquico da empresa.

O instrumento utilizado para coleta de dados desta pesquisa divide-se em duas partes,

sendo a primeira composta por dez perguntas relacionadas a questões sociodemográficas, com

indagações sobre características pessoais e profissionais dos respondentes e a segunda pelo

Page 79: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

77

questionário padronizado por Cameron e Quinn (2006), já utilizado por diversos estudos,

denominado OCAI (Organizational Culture Assessment Instrument), que operacionaliza o

Modelo dos Valores Competitivos, atual e ideal, formado por 24 proposições competitivas,

divididas em 6 dimensões, para identificar os perfis culturais e mais 8 proposições

competitivas, divididas em 2 dimensões, para identificar o nível de cultura da qualidade, na

percepção dos funcionários e gestores.

Por meio de seus indicadores o questionário capta informações capazes de

caracterizar, quantitativamente o tipo de cultura organizacional e o nível de cultura da

qualidade. As seis primeiras dimensões são: 1) Características Dominantes; 2) Liderança

Organizacional; 3) Gerenciamento de Pessoas e Equipes; 4) Coesão e União Organizacional;

5) Ênfase Estratégica; 6) Critérios de Sucesso. Estes indicam a tipologia da cultura da

organização, classificando-a em Clã, Inovativa, Mercado e Hierárquica. As duas últimas

dimensões são: 1) Com Referência a Produtos e Serviços; 2) Com Referência aos Clientes.

Estes indicam o nível da cultura da qualidade, classificando-o em Status quo, Detecção de

Falhas, Prevenção de Erros e Qualidade Perpétua Criativa.

Cada indicador apresenta quatro afirmações que caracterizam a organização, o

respondente deverá classificá-las em 1, 2, 3 e 4, sendo considerada a afirmativa quatro, pelo

respondente, aquela que for mais semelhante com a empresa, não se permitindo a repetência

da classificação, as opções de respostas se apresentam em duas colunas, denominadas atual e

ideal, afim de perceber diferença entre o que os respondentes consideram no modo atual e o

modo como deveria se apresentar (estimado como desejado para um prazo médio de 5 anos),

a afirmativa considerada número um, deve ser aquela que não parece com a organização. Nas

seis primeiras dimensões as afirmativas A - classificam a cultura Clã, as afirmativas B -

classificam a cultura Inovativa, as afirmativas C - classificam a cultura Mercado, e as

afirmativas D - classificam a cultura Hierárquica. Nas duas últimas dimensões as afirmativas

A - classificam o nível Status quo, as afirmativas B - classificam o nível Detecção de falhas,

as afirmativa C – classificam o nível Prevenção de Erros e as afirmativas D - classificam o

nível Qualidade Perpétua Criativa.

O questionário foi entregue a todos os funcionários da empresa junto com uma carta

explicando o motivo e o objetivo da pesquisa. O instrumento completo encontra-se em anexo

(Anexo B).

Page 80: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

78

3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

A estatística foi realizada com testes paramétricos e não paramétricos, de acordo com

resultados da normalidade. Feito a estatística descritiva, os dados foram expressos em média e

desvio padrão avaliados pelo programa estatístico Statistical Package for Social Science

(SPSS), versão 17.0 (SPSS. Inc, Chicargo, IL, EUA) e The SAS System for Windows 9.0

(English). Aqueles que apresentaram distribuição normal foram analisadas pela ANOVA

seguida pelo teste de Tukey, para se testar diferenças entre as médias de três ou mais grupos,

teste t para amostras independentes para testar dois grupos e teste t para amostras dependentes

quando comparou-se os resultados entre o hoje e o ideal tanto para cultura e qualidade

organizacional. Foi efetuado também testes de correlação de Pearson para quantificar o grau

de relação linear entre os resultados das variáveis. Kruskal-Wallis, Mann-Whitney, Wilcoxon e

Spearman., com finalidades equivalentes aos testes citados, foram utilizados quando o

principio da normalidade não foi satisfeita.

No quadro 5 apresenta-se a identificação dos objetivos da pesquisa e os itens do

questionário que favoreceram a obtenção dos resultados, bem como as ferramentas estatísticas

utilizadas:

Page 81: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

79

Objetivos da Pesquisa Itens do questionário Ferramenta estatística utilizada

Objetivo específico 1: Caracterizar os pesquisados por meio das variáveis sociodemográficas.

Parte I, itens de 1 a 10.

Análise estatística com freqüência absoluta e

porcentagem Objetivo específico 2: Identificar a tipologia de cultura organizacional, real e ideal, segundo o modelo de valores competitivos.

Parte II, itens de 1 a 6 Teste t, e Wilcoxon

Objetivo específico 3: verificar as especificidades na percepção de tipos de cultura organizacional de acordo as características sociodemográfica.

Parte I, itens de 1 a 10 e Parte II, itens de 1 a 8

ANOVA seguida pelo teste de Tukey, teste t para

amostras independentes e dependentes, Mann-Whitney, Wilcoxon e Kruskal-Wallis.

Objetivo especifico 4: Analisar os níveis de cultura da qualidade, real e ideal, percebidos pelos funcionários.

Parte I, itens de 1 a 10 e Parte II,

itens 7 e 8 Teste t, e Wilcoxon

Objetivo especifico 5: correlacionar os níveis de cultura da qualidade com as características sociodemográficas.

Parte I, itens de 1 a 10 e Parte II,

itens 7 e 8

Testes de correlação de Pearson. e Spearman.

Escolhidos de acordo com a normalidade.

Objetivo específico 6: verificar a correlação entre a tipologia da cultura organizacional e os níveis de cultura da qualidade percebidos pelos colaboradores.

Parte I, itens de 1 a 10 e Parte II, itens de 1 a 8

Testes de correlação de Pearson. e Spearman.

Escolhidos de acordo com a normalidade.

Quadro 5 - Planejamento do questionário em alinhamento aos objetivos de estudo Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Page 82: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

80

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo tem como objetivo apresentar a análise dos dados obtidos através da

pesquisa realizada com os funcionários da refinaria, através de questionário, mediante análise

estatística. A partir da análise foram apresentadas as características marcantes de cada uma

das categorias ou traços culturais. Tais características indicam a percepção que os

entrevistados possuem sobre a cultura organizacional e a forma como a gestão da qualidade é

praticada na empresa atualmente e para uma situação ideal, melhor para o futuro da

organização.

4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

As variáveis sociodemográficas foram analisadas através de estatística descritiva por

frequência absoluta e porcentagem. O primeiro objetivo específico desta pesquisa visou a

caracterização sociodemográfica, estes dados são relevantes uma vez que Gordon (1991)

enfatiza que os aspectos do ambiente externo são importantes fatores que também influenciam

na formação da cultura organizacional.

A maior parte do quadro de funcionários (60%) é formada por colaboradores naturais

das cidades de Areia Branca e Grossos/ RN. Quanto ao nível de escolaridade, 29% concluiu o

1º grau, 57% tem o 2º grau, 6% graduados e 3% fizeram curso de pós-graduação.

O resultado apresenta que a maioria dos funcionários é do gênero masculino (97%),

esta porcentagem de gênero pode ser devido ao tipo de trabalho realizado, que na maioria dos

cargos exige grande esforço e resistência física. A empresa tem um quadro de funcionários

relativamente jovem, mais de 60% está na faixa etária entre 18 e 30 anos (Tabela 1).

Page 83: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

81

Tabela 1 – Frequência das variáveis sociodemográficas

Variáveis Classe N n % (respondentes)

Gênero Masculino 163 63 97 Feminino 2 2 3

Cargo ocupado

Assistente/Auxiliar/Fiscal 150 55 85

Gerencia/Supervisão 15 10 15

Área que trabalha Administração 15 15 23

Produção 139 46 71 Qualidade 11 4 6

Nível de Escolaridade

Alfabetizado 31 3 5 1º Grau completo 80 19 29 2º Grau completo 48 37 57

Graduado 4 4 6 Especialista 2 2 3

Idade 18 a 30 anos

165 40 62

Acima de 30 anos 25 38 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Foram analisados dados dos funcionários advindos de todos os setores, sendo que a

maioria, 85%, ocupa cargos de assistente, auxiliar ou fiscal e 15% ocupa cargos de supervisão

ou gerencia. Na distribuição das pessoas pesquisadas prevalece o setor de produção, 71% são

trabalhadores braçais, 23% trabalham na área administrativa e 6% estão na área da qualidade.

Quanto ao tempo de serviço na empresa (tabela 2), 59% tem até quatro anos de

trabalho na empresa, 15% tem de quatro a seis anos e 26% trabalha na organização a mais de

6 anos, o que torna relevantes os dados da pesquisa, já que o fator tempo é importante para

que o funcionário se adapte a cultura da organização e passe a agir da forma considerada

correta por seus gestores.

Tabela 2- Distribuição dos colaboradores de acordo o tempo de serviço na empresa

Tempo de serviço na empresa Frequência Porcentagem

< que 1 ano 3 5 1 a 4 35 54

4 a 6 10 15

> que 6 17 26

Total 65 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Page 84: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

82

Santos (1996) afirma que a cultura é uma construção histórica, seja como concepção,

seja como dimensão do processo social, e que não se trata de algo natural, não é uma

decorrência das leis físicas ou biológicas. Ao contrário, a cultura é um produto coletivo da

vida humana. Logo a rotatividade de funcionários deve ser controlada, pois quando o índice é

alto desfavorece as relações pessoais entre os funcionários dificultando a disseminação dos

valores necessários para o resultado eficaz da organização. Na refinaria o índice de

rotatividade é relativamente baixo, isso deve favorecer ao fortalecimento da cultura

organizacional.

Um fator considerado, especialmente para a percepção do nível de cultura da

qualidade, é o tempo de experiência dos funcionários, adquirida tanto dentro da empresa

como em trabalhos anteriores, por crer que, com o passar do tempo as pessoas podem adquirir

um conhecimento mais profundo na área que atua e favorecer o aumento do nível de

qualidade de seus produtos ou serviços. Os dados da tabela 3 apontam que a maior

experiência profissional, nas atividades que desempenham atualmente, foi adquirida na

própria refinaria, já que a média do tempo de serviço na empresa (4,48 anos) é maior do que o

tempo de experiência no setor (3,7 anos).

Tabela 3 -Valores de média e desvio padrão para as variáveis tempo de experiência, tempo de serviço na

empresa e tempo de serviço no setor que atua.

Anos n Média Desvio padrão

Tempo de Experiência no setor 65 3,7 2,9

Tempo de serviço na empresa 65 4,58 3,26

Tempo de serviço no setor que atua 65 2,46 2,35 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Outro fator relevante, considerando que a refinaria em 2002, foi certificada ISO 9001

pela primeira vez, e que de 2002 a 2011 a empresa já passou por nove recertificações, que

seria a validação periódica, entende-se que os funcionários que estão na empresa com mais de

quatro anos de serviço, devem ter um nível de cultura da qualidade mais elevado, pois a

própria certificação ISO 9001, em seus critérios de qualidade, determina a realização de

treinamentos constantes, como forma de manter os funcionários capacitados a produzir com

maior qualidade.

Page 85: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

83

4.2 A TIPOLOGIA DA CULTURA ORGANIZACIONAL REAL E IDEAL

Para responder ao segundo objetivo específico desta pesquisa, buscou-se identificar o

tipo de cultura organizacional predominante na refinaria, utilizando o teste t, e Wilcoxon, para

tipos de cultura hoje e ideal. Entende-se que as diferenças entre os perfis de cultura atual e

ideal indicam as mudanças desejadas.

Calcularam-se os dados referentes à percepção da cultura atual e a ideal (pensando nos

próximos 5 anos da empresa). A relevância desta informação se dá pelo fato de perceber nos

funcionários o favorecimento de possíveis mudanças na organização.

Por meio das seis dimensões - a) Características Dominantes; b) Liderança

Organizacional; c) Gerenciamento de Pessoas e Equipes; d) Coesão e União Organizacional;

e) Ênfase Estratégica; f) Critérios de Sucesso - foi possível identificar o tipo de cultura. Cada

dimensão apresenta quatro alternativas, as opções de resposta “A” caracterizam o tipo de

cultura Clã, as opções de resposta “B” caracterizam o tipo de cultura Inovativa, as opções de

resposta “C” caracterizam o tipo de cultura Mercado e as opções de resposta “D” caracterizam

o tipo de cultura Hierárquica. Cada indicador apresenta quatro opções enumeradas de 1 a 4,

que caracterizam a organização, sendo o número 4 a opção que indica a alternativa mais

parecida com a organização.

A tabela 4 demonstra certo equilíbrio entre os quatro tipos de cultura, já que

estatisticamente não houve variação entre os tipos de cultura nas situações hoje e ideal, no

entanto, analisando os valores médios, prevaleceu o tipo de cultura Clã (2,80) como a mais

percebida pelos funcionários tanto na empresa hoje, quanto para o ideal (2,87). A cultura

Inovativa (2,51) apresenta-se como a segunda mais percebida pelos funcionários como sendo

o modelo real e também a segunda mais percebida como modelo ideal (2,52), demonstrando

que as pessoas consideram os elementos da cultura na situação hoje adequados, pois é como

eles querem que a empresa permaneça.

Tabela 4 - Valores de média e desvio padrão da cultura organizacional Empresa Clã Inovativa Mercado Hierárquica

Cultura organizacional Hoje 2,80± 0,63a 2,51±0,38bc 2,41±0,50cd 2,25±0,54d

Cultura organizacional Ideal 2,87±0,59a 2,52±0,42bc 2,38±0,54cd 2,21±0,49d

a,b,c Letras minúsculas significa diferença estatística na linha p<0,05 * Significa diferença estatística na coluna p<0,05 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Page 86: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

84

Observa-se que pode haver entre os funcionários a máxima de “em time que está

ganhando não se mexe”, o fato de prevalecer, na maioria dos resultados desta pesquisa, o

mesmo resultado para a forma como os funcionários veem a empresa hoje e para a cultura

ideal.

Cameron e Quinn (2006) caracterizam a cultura Clã por ser um local amigável, onde

as pessoas compartilham muito entre si, suas experiências pessoais e profissionais, a liderança

geralmente é considerada um exemplo de orientação, facilitação ou apoio, como forma de

incentivo ao trabalho, caracterizado por trabalho em equipe, consenso e participação. Há uma

grande ênfase na capacitação para o desenvolvimento e comprometimento dos colaboradores,

com valores que enfatizam o foco interno e integração, a flexibilidade e a liberdade.

Na cultura Clã há uma cumplicidade e integração estabelecida entre os membros da

“família”, as cerimônias realizadas são esperadas pelos colaboradores e assiduamente

frequentadas. Este tipo de organização costuma realizar ações que intensificam a cultura Clã,

tais como os eventos de confraternização (Natal e São João), aniversariantes do mês, além de

oferecer um ambiente para refeições comum à todos os níveis hierárquicos, onde todos

realizam suas refeições juntos. Os dirigentes costumam utilizar uma linguagem que se remete

a valores instalados, tais como integração entre a equipe, informalidade, sentimento de união

e de família e valorização do quadro funcional. As necessidades pessoais dos colaboradores

são levadas em consideração. Há a crença, por parte dos gestores, de que envolvimento e

participação criam senso de responsabilidade e maior comprometimento dos empregados.

Nos resultados encontrados, a tendência, após a cultura Clã, é pela cultura Inovativa,

tanto na situação atual como na situação ideal. A cultura Inovadora caracteriza-se como sendo

a organização um lugar que está em constantes mudanças em busca de melhorias, de forma

criativa e empreendedora. O estilo gerencial é caracterizado por tomadas de riscos e inovação,

no entanto as pessoas têm liberdade para fazer seu trabalho de maneira individual. Seus

valores enfatizam a criação de novos desafios, com foco externo em busca de diferenciação

através de um ambiente de flexibilidade e liberdade, baseada em normas e valores, no entanto

na refinaria não observa-se esse tipo de comportamento.

O desejo de mudança, comparando a situação atual e ideal é que haja um decréscimo

da cultura Mercado (de 2,41 para 2,38) e Hierárquica (de 2,25 para 2,21). Na cultura Mercado

os valores enfatizam a competitividade, a superação de metas desafiadoras e vencer a

concorrência, pois seu foco está no ambiente externo e na diferenciação, por meio de

estabilidade e controle dos processos. Na cultura Hierárquica os valores enfatizam o controle

e a estabilidade dos processos sendo o seu foco no ambiente interno e na estabilidade.

Page 87: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

85

Pesquisas relacionadas ao mesmo tema realizadas em diversas empresas no Rio

Grande do Norte, e que utilizaram o mesmo instrumento, obtiveram resultados semelhante. A

tabela 5 apresenta os tipos de cultura identificadas.

Tabela 5 – Tipos de culturas identificados em outras pesquisas Autor Local da pesquisa Tipo de cultura

Organizacional Hoje Tipo de cultura

Organizacional Ideal

Câmera (2004) Hotel em Natal Cultura Clã, seguida de Inovativa

Cultura Clã, seguida de Inovativa

Silva (2007) Restaurantes em Natal Cultura Clã, seguida de Inovativa

Cultura Clã, seguida de Inovativa

Godeiro (2008) Farmácias em Natal Cultura Clã, seguida de Inovativa

Cultura Clã, seguida de Inovativa

Rocha (2010) Indústrias de Laticínios no RN

Cultura Clã, seguida de Mercado Não aplicou

Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

A cultura tipo Clã prevalece, levando a crer que algumas características dominantes

relativas à liderança, gerenciamento de pessoas, ênfase estratégica e critérios de sucesso

tenham um estilo em comum nesta região.

4.3 A PERCEPÇÃO DE TIPOS DA CULTURA ORGANIZACIONAL E AS VARIÁVEIS

SOCIODEMOGRÁFICAS.

Para responder ao terceiro objetivo específico deste estudo, buscou-se compreender se

existe especificidade na percepção dos tipos de cultura organizacional de acordo com algumas

características sociodemográficas. Os dados foram analisados pela ANOVA seguida pelo teste

de Tukey, teste t para amostras independentes e dependentes, Mann-Whitney, Wilcoxon e

Kruskal-Wallis.

Analisando o tipo de cultura organizacional em relação ao nível de escolaridade

(Tabela 6), observou-se que o modo como as pessoas veem a empresa hoje é a maneira como

elas consideram a cultura ideal para a organização. No entanto a maneira como os

funcionários do nível de escolaridade de 1º grau percebem os elementos da cultura divergem

da percepção dos demais funcionários, já que percebem a organização como Cultura

Inovativa, e os funcionários do nível de 2º grau e nível superior percebem como cultura Clã.

Page 88: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

86

Tabela 6 – Valores de média e desvio padrão da cultura organizacional distribuídos de acordo com o grau de instrução

Indicadores 1º Completo 2º Grau completo Nível Superior

Situação Hoje

Clã 2,53 ± 0,63bAB 2,93 ± 0,53aA 3,08 ± 0,72abA

Inovativo 2,71 ± 0,37aA 2,44 ± 0,39bB 2,38 ± 0,32bA

Mercado 2,58 ± 0,43aA 2,38 ± 0,46abB 2,16 ± 0,71bA

Hierárquica 2,16 ± 0,47aB 2,24 ± 0,56aB 2,36 ± 0,6aA

Situação Ideal

Clã 2,64 ± 0,58cAB 2,91 ± 0,59bA 3,41 ± 0,43aA

Inovativo 2,69 ± 0,41aA 2,47 ± 0,43aB 2,19 ± 0,19bB

Mercado 2,40 ± 0,47aAB 2,43 ± 0,52aBC 2,19 ± 0,86aAB

Hierárquica 2,26 ± 0,43aB 2,18 ± 0,54aC 2,19 ± 0,53aB a,b,c Letras minúsculas significa diferença estatística na linha p<0,05 A,B,C Letras maiúsculas significa diferença estatística na coluna p<0,05

Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Considerando o conceito de Cameron e Quinn (2006), a cultura Inovativa é

caracterizada por um ambiente de trabalho dinâmico, empreendedor e criativo onde existe um

direcionamento para mudanças e novos desafios. Acredita-se que a forma Clã como é visto

pelas pessoas de nível superior, pode ser visto como diferente e inovador para os de nível

básico. Depende das referências profissionais que cada um tenha em outras experiências de

trabalho.

Na análise da percepção do tipo de cultura organizacional de acordo com a área em

que trabalha (Tabela 7) também não houve diferença entre a cultura hoje a cultura ideal. Nos

setores administrativo, produção e qualidade, prevaleceu o tipo de cultura Clã, seguida da

cultura Inovativa. Concordando com os dados anteriormente analisados relativos à tipologia

da cultura organizacional.

Page 89: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

87

Tabela 7- Valores de média e desvio padrão da cultura organizacional distribuídos de acordo com o área em que trabalha

Indicadores Administração Produção Qualidade

Situação Hoje

Clã 2,9 ± 0,66aA 2,74 ± 0,62aA 3,2 ± 0,58aAB

Inovativo 2,52 ± 0,51aAB 2,49 ± 0,34aBC 2,75 ± 0,39aBD

Mercado 2,35 ± 0,47aB 2,48 ± 0,48aC 1,83 ± 0,45bC

Hierárquica 2.22 ± 0,65B 2,27 ± 0,51D 2,20 ± 0,58CD

Situação Ideal

Clã 2,87 ± 0,61aAB 2,85 ± 0,60aA 3,12 ± 0,43aA

Inovativo 2,33 ± 0,34aC 2,58 ±0,43bAB 2,62 ± 0,43abA

Mercado 2,5 ± 0,51aBC 2,37 ± 0,52aBC 2,16 ± 0,89aA

Hierárquica 2,28 ± 0,52aC 2,20 ± 0,48aC 2,08 ± 0,64aA a,b,c Letras minúsculas significa diferença estatística na linha p<0,05 A,B,C Letras maiúsculas significa diferença estatística na coluna p<0,05 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

De acordo com o tempo de serviço na empresa (Tabela 8), observa-se que os

funcionários que estão a menos de 5 anos na empresa (2,75), tendem a perceber a cultura

organizacional da mesma forma que as pessoas com mais de 5 anos de tempo de serviço, que

percebem a empresa como Clã (2,91) na situação atual e também é como desejam que

permaneça. Isso confirma a teoria da formação da cultura, especialmente quando esta é forte,

de que é repassada de geração para geração, estabelecendo a forma valorizada para se

trabalhar. Para Lakatos (1992, p.131), do ponto de vista da sociologia, a cultura é “tratada

como o conjunto de normas desenvolvidas por um grupo de pessoas, transmitidas e

transformadas no tempo, que determinam o comportamento individual aceitável nos

relacionamentos e que contribuem, para a formação da identidade individual e do grupo”.

Page 90: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

88

Tabela 8 - Valores de média e desvio padrão a cerca da cultura organizacional entre valores de hoje e ideal distribuídos de acordo com o tempo de serviço na empresa.

Indicadores < 1 a 5 anos > que 5 anos

Situação Hoje

Clã 2,75 ± 0,66bA 2,91 ± 0,58aA

Inovativo 2,45 ± 0,38aAB 2,63 ± 0,38aA

Mercado 2,46 ± 0,52aAB 2,34 ± 0,45aB

Hierárquico 2,33 ± 0,55aB 2,10 ± 0,50aB

Situação Ideal

Clã 2,79 ± 0,58aA 3,03 ± 0,58aA

Inovativo 2,58 ± 0,38a AB 2,42 ± 0,48aB

Mercado 2,43 ± 0,57aBC 2,31 ± 0,48aB

Hierárquico 2,21 ± 0,49aC 2,22 ± 0,50aB a,b,c Letras minúsculas significa diferença estatística na linha p<0,05 A,B,C Letras maiúsculas significa diferença estatística na coluna p<0,05 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Da situação atual para a situação ideal, a cultura Clã, entre os funcionários com mais

de 5 anos de serviço na empresa, aumentou de 2,91 para 3,03, logo, a ideia que se faz é que,

com o passar dos anos o comprometimento dos funcionários com a organização e o trabalho

em equipe se tornará mais valorizado, percebe-se a intenção que os colaboradores tem de

ênfase no ambiente interno, como sendo o trabalho uma extensão da família.

Ao analisar as pessoas em função da idade, observou-se que a forma como as pessoas

percebem a empresa não diferem entre os mais jovens e os mais velhos (Tabela 9). Isso

demonstra uma cultura organizacional muito forte, já que na empresa tem pessoas de

diferentes gerações, com idades que variam de 18 a mais de 50 anos, porém a idade não

interfere em suas percepções quanto a cultura da empresa.

Page 91: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

89

Tabela 9- Valores de média e desvio padrão da cultura organizacional distribuídos de acordo com o idade

Indicadores 18 a 30 anos > que 31 anos

Situação Hoje

Clã 2,72 ± 0,60aA 2,93 ± 0,67aA

Inovativo 2,46 ± 0,34aAB 2,60 ± 0,45aA

Mercado 2,47 ± 0,52aAB 2,32 ± 0,45aB

Hierárquica 2,32 ± 0,52aB 2,14 ± 0,56aB

Situação Ideal

Clã 2,84 ± 0,53aA 2,93 ± 0,68aA

Inovativo 2,55 ± 0,44aB 2,48 ± 0,40aB

Mercado 2,42 ± 0,52aBC 2,33 ± 0,57aB

Hierárquica 2,19 ± 0,47aC 2,24 ± 0,53aB a,b,c Letras minúsculas significa diferença estatística na linha p<0,05 A,B,C Letras maiúsculas significa diferença estatística na coluna p<0,05 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

De acordo com Harrison (1972, p. 01), a cultura organizacional “descreve as

qualidades e características dos membros da organização que devem ser valorizadas ou

desacreditadas, e também como devem ser recompensadas ou punidas”. Mostra aos seus

membros como devem tratar-se uns aos outros, competitiva ou colaborativamente, de perto ou

à distância. No entanto Hofstede (1991, p. 233) faz uma ressalva, “mudar os valores coletivos

de pessoas adultas numa determinada direção é extremamente difícil, se não impossível”. É

preciso que as pessoas estejam envolvidas com os valores organizacionais por meio de uma

liderança integradora, inspiradora e outras características culturais como as estruturas e os

sistemas.

Os resultados da relação sociodemográfica apresentados demonstram pequenas

variações relacionadas, com a idade, nível de escolaridade, cargo, área de trabalho e tempo de

serviço na empresa que afetam a percepção dos funcionários quanto ao tipo de cultura, a mais

evidente foi em relação ao grau de instrução, no entanto tornam-se relevantes serem

consideradas em estudos sobre cultura, especialmente quando a cultura organizacional não

esteja alinhada às estratégias de mudanças para longo prazo.

Page 92: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

90

4.4 ANÁLISE DOS NÍVEIS DE CULTURA DA QUALIDADE, REAL E IDEAL, PERCEBIDOS PELOS FUNCIONÁRIOS

O quarto objetivo desta pesquisa foi analisar os níveis de cultura da qualidade, na

percepção dos funcionários, da forma em que se encontra na atualidade, bem como sua

percepção para o futuro, com o intuito de descrever a forma como a empresa trata a qualidade

de seus produtos, serviços e relacionamento com seus clientes. Para esta análise utilizou-se

teste t, e Wilcoxon, tanto para níveis de cultura da qualidade hoje e ideal.

Por meio de duas dimensões: a) Com Referência a Produtos e Serviços e b) Com

Referência aos Clientes, caracteriza-se o nível de cultura da qualidade. Cada dimensão

apresenta quatro alternativas, as opções de resposta “A” caracterizam o nível Status quo as

opções de resposta “B” caracterizam o nível Detecção de Falhas, as opções de resposta “C”

caracterizam o nível Prevenção de Erros e as opções de resposta “D” caracterizam o nível

Qualidade Perpétua Criativa.

Através da tabela 10 percebe-se que o nível de cultura de qualidade na empresa hoje é

de Detecção de Falhas (2,97), sendo que os funcionários entendem que o nível ideal para a

organização seria a de Qualidade Perpétua Criativa (2,85). O nível de qualidade menos

percebido, tanto nos dias atuais quanto para o futuro é o de Status Quo (1,75).

Tabela 10- Valores de média e desvio padrão da qualidade organizacional

Empresa Status Quo Detec. Falhas Preven. Erros Qualidade per.

Qualidade Hoje 1,75±0,94d 2,97±0,80a* 2,64±0,53bc 2,60±0,82c

Qualidade Ideal 1,94±0,94d 2,66±0,76bca 2,49±0,76c 2,85±0,65a* a,b,c Letras minúsculas significa diferença estatística na linha p<0,05 * Significa diferença estatística na coluna p<0,05 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Isso mostra que o nível de qualidade da empresa ainda é percebido pelos

colaboradores como centrada no erro, detectado depois de ocorrido e identificados, com

ênfase à inspeção. Do ponto de vista do tratamento dado aos clientes, neste nível de cultura da

qualidade, busca-se manter um relacionamento amigável evitando a desordem ou a irritação,

outra característica deste nível de qualidade é a busca em responder às reclamações de forma

Page 93: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

91

eficaz e correta, verificando a satisfação no pós-venda, com foco nas necessidades e

especialmente nas exigências.

No entanto, os funcionários desejam a mudança, pois entendem que o nível de

Qualidade Perpétua Criativa seria o ideal para a empresa. Segundo Cameron (CAMERON et

al, 1991;. CAMERON, 1992, 1995 apud CAMERON 1997) esta cultura é um elo entre o

melhoramento contínuo e a inovação, de forma que os padrões de performance estejam

constantemente sendo elevados e desejados não só pela organização, como também pelos

clientes. Esses padrões das empresas mudam para atingir um objetivo e para melhorar o

desempenho com o propósito de atingir níveis de qualidade nos produtos e serviços que são

não só esperados, mas também algo que o cliente nem sabia que queria. Este tipo de

organização procura antecipar e ultrapassar as expectativas e necessidades dos clientes.

Outras duas pesquisas (Tabela 11), em empresas do Rio Grande do Norte, que

utilizaram o mesmo instrumento obtiveram resultados semelhantes quanto ao nível de cultura

ideal, sendo que no nível de cultura hoje, a pesquisa feita por Câmera (2004), em um hotel da

via costeira em Natal, obteve um nível de qualidade mais alto, a Qualidade Perpétua Criativa.

Tabela 11 – Níveis de cultura da qualidade identificadas em outras pesquisas

Autor Local da pesquisa Nível de cultura da qualidade Hoje

Nível de cultura da qualidade Ideal

Câmera (2004) Hotel em Natal Qualidade Perpétua Criativa Qualidade Perpétua Criativa Godeiro (2008) Farmácias em Natal Detecção de falhas Qualidade Perpétua Criativa

Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

O nível de cultura da qualidade mais alto, Qualidade Perpétua Criativa é o mais

desejado em relação aos clientes, por esperar a lealdade por toda a vida, encontrando e

surpreendendo novos clientes, antecipando suas expectativas, criando novas preferências e em

relação aos produtos, oferecendo melhoria constante e inovação, cobrando esse compromisso

dos fornecedores e nos processos internos. Logo percebe-se que os funcionários sabem o que

é certo.

4.5 A PERCEPÇÃO DO NÍVEL DA CULTURA DA QUALIDADE E AS VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS.

Page 94: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

92

Analisou-se o nível de cultura da qualidade com algumas características

sociodemográficas, como idade, escolaridade, área de trabalho e tempo de serviço na

empresa. Os dados foram analisados pela ANOVA seguida pelo teste de Tukey, teste t para

amostras independentes e dependentes, Mann-Whitney, Wilcoxon e Kruskal-Wallis.

A respeito da qualidade atual os maiores valores aparecem no nível de Detecção de

falhas, observado com todos os funcionários. Ao tratar o nível de qualidade ideal (Tabela 12)

percebe-se que os funcionários entendem que o melhor para a empresa seria elevar o nível de

qualidade em Qualidade Perpétua Criativa, com maior ênfase no pessoal de nível de

escolaridade mais elevado. Para Barçante (1998) a qualidade é o meio através do qual as

empresas buscam oferecer produtos e serviços para os clientes com valor superior ao da

concorrência, porém com um elevado desempenho operacional por parte da empresa.

Tabela 12 – Valores de média e desvio padrão da qualidade organizacional distribuídos de acordo com o grau de instrução

Indicadores 1º Completo 2º Grau completo Nível Superior

Situação Hoje

Status Quo 1,86 ± 1,10aB 1,81 ± 0,90aD 1,0bB

Detecção de Falhas 2,71 ± 1,01aAB 3,10 ± 0,67aA 3,08 ± 0,73aA

Prevenção de Erros 2,65 ± 0,47aA 2,60 ± 0,59aBC 2,91 ± 0,20aA Qualidade Perpétua Criativa 2,68 ± 0,86aAB 2,47 ± 0,8aC 3,0 ± 0,63aA

Situação Ideal

Status Quo 2,13 ± 0,99aA 1,94 ± 0,92abC 1,33 ± 0,60bB

Detecção de Falhas 2,65 ± 0,78aA 2,72 ± 0,75aAB 2,58 ± 0,73aA

Prevenção de Erros 2,52 ± 0,73aA 2,39 ± 0,80aBC 2,83 ± 0,60aA Qualidade Perpétua Criativa 2,68 ± 0,50aA 2,87 ± 0,72abA 3,25 ± 0,52bA

a,b,c Letras minúsculas significa diferença estatística na linha p<0,05 A,B,C Letras maiúsculas significa diferença estatística na coluna p<0,05

Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Outro fator relevante é a tecnologia da informação em favor da qualidade, cada vez

mais evoluída requer um grau de escolaridade que permita uma maior facilidade em aprender,

que está relacionado com o grau de instrução do indivíduo. Fleury (1993) afirma que as

Page 95: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

93

organizações devem preparar o background para receber os programas de qualidade,

garantindo que ela tenha pessoas alinhadas às estratégias do negócio.

Neste caso, pode ser que possíveis mudanças que exijam um grau mais elevado de

qualidade nos produtos ou serviços, não haveria resistência por parte do pessoal do nível de

escolaridade superior (3,25).

Desta vez analisando (Tabela 13) o nível de cultura da qualidade em relação à área em

que trabalha, praticamente na situação atual os funcionários dos setores administrativo (3,03)

e produção (2,95) veem a empresa no nível de Detecção de Falhas, no setor de qualidade não

foi possível distinguir com exatidão, se as pessoas percebem a qualidade como Detecção de

Falhas ou Qualidade Perpétua Criativa, já que os dois resultados são iguais (3,0). Porém para

o futuro da organização, todos apresentam que o nível de Qualidade Perpétua Criativa seria o

ideal para a empresa nos próximos 5 anos. Para Harry (1998) a qualidade quando aplicada nos

processos da organização deve possibilitar a criação de valores para os consumidores de seus

produtos e serviços e também para seus funcionários em todas as áreas de trabalho da

empresa. Logo se percebe que na refinaria todas às áreas acreditam na mudança por um nível

de qualidade superior.

Tabela 13- Valores de média e desvio padrão da qualidade organizacional distribuídos de acordo com o área em que trabalha

Indicadores Administração Produção Qualidade

Situação Hoje

Status Quo 1,6 ± 0,87abC 1,85 ± 0,98aC 1,12 ± 0,25bB

Detecção de Falhas 3,03 ± 0,83aA 2,95 ± 0,81aB 3,0 ± 0,7aA

Prevenção de Erros 2,8 ± 0,49aAB 2,57 ± 0,54bA 2,87 ± 0,25abA Qualidade Perpétua Criativa 2,46 ± 0,71aB 2,60 ± 0,86aA 3,0 ± 0,70aA

Situação Ideal

Status Quo 1,86 ± 0,99aB 2,01 ± 0,95aB 1,5 ± 0,70aB

Detecção de Falhas 2,73 ± 0,84aA 2,66 ± 0,76aA 2,50 ± 0,40aAB

Prevenção de Erros 2,46 ± 0,81aAB 2,48 ± 0,77aA 2,62 ± 0,62aAB Qualidade Perpétua Criativa 2,93 ± 0,82abA 2,78 ± 0,59bA 3,37 ± 0,47aA

a,b,c Letras minúsculas significa diferença estatística na linha p<0,05 A,B,C Letras maiúsculas significa diferença estatística na coluna p<0,05 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Page 96: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

94

É importante verificar também o nível de cultura da qualidade em função do tempo de

serviço na empresa (Tabela 14), já que torna possível perceber se houve aumento, diminuição

ou estabilidade, no nível da cultura da qualidade com o passar do tempo.

Tabela 14 -Valores de média e desvio padrão a cerca da qualidade organizacional entre valores de hoje e

ideal distribuídos de acordo com o tempo de serviço na empresa.

Indicadores < 1 a 5 anos > que 5 anos

Situação Hoje

Status Quo 1,71 ± 0,91aC 1,82 ± 1,01aD

Detecção de Falhas 2,96 ± 0,83aA 3,00 ± 0,75aAB

Prevenção de Erros 2,61 ± 0,53aB 2,69 ± 0,51aBC

Qualidade Perpétua Criativa 2,70 ± 0,81aAB 2,41 ± 0,80aCD

Situação Ideal

Status Quo 1,98 ± 0,94aC 1,86 ± 0,96aB

Detecção de Falhas 2,69 ± 0,79aAB 2,63 ± 0,71aA

Prevenção de Erros 2,45 ± 0,72aBC 2,56 ± 0,84aAB

Qualidade Perpétua Criativa 2,80 ± 0,64aA 2,93 ± 0,67aA a,b,c Letras minúsculas significa diferença estatística na linha p<0,05 A,B,C Letras maiúsculas significa diferença estatística na coluna p<0,05 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

A constatação que se teve é de que, os funcionários que tem até 5 anos de serviço na

empresa pensam da mesma forma dos funcionários que estão na empresa a mais de 5 anos. A

análise que se faz é que possivelmente os critérios de contratação e os treinamentos aplicados

aos funcionários podem contribuir para que haja um alinhamento, até mesmo para aqueles que

estão em seu primeiro emprego.

Analisando os dados da tabela que diz respeito à idade dos funcionários da refinaria

(Tabela 15), que visa observar se existe semelhança ou diferenças na percepção do nível da

cultura da qualidade entre as pessoas mais jovens e os mais velhos, os resultados foram

semelhantes, as pessoas de 18 a 30 anos de idade (3,03) veem a qualidade na empresa da

mesma forma das pessoas mais velhas (2,88), como sendo Detecção de Falhas. Para o nível de

cultura considerado ideal para organização, o pessoal acha que deveria mudar para o nível de

Page 97: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

95

Qualidade Perpétua Criativa, independente da idade, já que entre os mais novos (2,76) e os

mais velhos (3,0) prevalece o desejo de mudança.

Tabela 15 - Valores de média e desvio padrão da qualidade organizacional distribuídos de acordo com idade

Indicadores 18 a 30 anos > que 31 anos

Situação Hoje

Status Quo 1,82 ± 0,97aC 1,64 ± 0,89aB

Detecção de Falhas 3,03 ± 0,85aA 2,88 ± 0,72aA

Prevenção de Erros 2,60 ± 0,53aB 2,72 ± 0,52aA Qualidade Perpétua Criativa 2,53 ± 0,82aB 2,70 ± 0,81aA

Situação Ideal

Status Quo 2,01 ± 0,93aB 1,84 ± 0,97aC

Detecção de Falhas 2,71 ± 0,80aA 2,60 ± 0,69aAB

Prevenção de Erros 2,46 ± 0,75aAB 2,54 ± 0,78aB Qualidade Perpétua Criativa 2,76 ± 0,59bA 3,0 ± 0,72aA

a,b,c Letras minúsculas significa diferença estatística na linha p<0,05 A,B,C Letras maiúsculas significa diferença estatística na coluna p<0,05 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Embora o aumento da idade não diferencie o resultado em relação aos mais jovens, a

Qualidade Perpétua Criativa é o índice mais alto na situação ideal para todos os níveis. O

resultado final da análise em função das características sociodemográficas não apresentou

diferenças em relação ao resultado global, a situação hoje e ideal permaneceu a mesma em

relação a todas as características sociodemográficas, hoje prevalece os elementos do nível de

Detecção de Falhas e para a situação ideal o nível de Qualidade Perpétua Criativa.

4.6 CORRELAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS DE CULTURA DA QUALIDADE COM ALGUMAS CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICA

Em resposta ao quinto objetivo específico, correlacionando os indicadores de cultura

organizacional na situação atual e ideal com as variáveis, idade, tempo de experiência no

Page 98: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

96

setor, tempo de experiência na empresa e o tempo de serviço no setor que atua (Tabela 16),

observa-se que quanto maior a idade mais os funcionários veem a cultura da organização

como Clã (0,2096) e menos os funcionários veem a cultura como sendo hierárquica (-0,232).

A percepção do tipo de cultura, em função da variável de tempo de experiência no

setor, indica que quanto maior o tempo de experiência maior a percepção da cultura Inovativa

(0,2149), e menor a percepção do tipo de cultura Hierárquica (-0,285). O mesmo aconteceu na

correlação entre o nível de cultura e o tempo de serviço na empresa, por apresentar que,

quanto maior o tempo, mais os funcionários veem a cultura Inovativa (0,2942) e menos

Hierárquica (-0,2706), da mesma forma em relação ao tempo de serviço no setor que atua.

Esta experiência pode ter sido adquirida na empresa atual ou em outras anteriormente

trabalhadas, no entanto quanto mais o funcionário se sente seguro, pelo nível de experiência

adquirido, menos sente a necessidade do controle e da rigidez do chefe. Estatisticamente,

comparando a situação real e ideal, não houve correlação significativa.

Tabela 16 – Correlação entre características pessoais e profissionais dos trabalhadores e o perfil cultural

Indicadores Idade Tempo de

experiência no setor

Tempo de serviço na empresa

Tempo de serviço no setor que atua

Situação Hoje

Clã 0,2096* 0,1293 -0,0255 -0,003

Inovativo 0,1847 0,2149* 0,2942** 0,2704**

Mercado -0,1827 -0,064 0,028 -0,025

Hierárquica -0,232* -0,285** -0,2706** -0,2219* Situação Ideal

Clã 0,012 0,064 0,061 0,093

Inovativo -0,085 -0,149 -0,09 -0,09

Mercado -0,07 0,032 -0,061 -0,054

Hierárquica 0,082 0,033 0,021 0,007 * Significa diferença estatística a p<0,1 ** Significa diferença estatística a p<0,05 *** Significa diferença estatística a p<0,01 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Page 99: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

97

As mesmas variáveis foram correlacionadas aos níveis de cultura da qualidade, com o

intuito de verificar como a idade, o tempo de experiência no setor, o tempo de serviço na

empresa e o tempo de serviço no setor que atua, interferem na percepção do nível de cultura

da qualidade.

Analisando apenas a situação atual (Tabela 17), quanto maior o tempo de serviço na

empresa, menos os funcionários percebem o nível de qualidade da organização como sendo a

Qualidade Perpétua Criativa (-0,225), e quanto maior o tempo de experiência no setor, menor

a percepção do nível de qualidade mais alto (-0,223). Remetendo a possibilidade de que as

pessoas não absorveram, com o passar do tempo, tanto no setor atual como na empresa, a

evolução da cultura da qualidade, podendo este ser um fator crítico negativo para aderência à

certificação com o pessoal mais antigo na empresa. Isso pode favorecer a ideia de que para

aumentar o nível de cultura da qualidade faz-se necessário uma liderança com bastante foco

para resultados, já que precisa constantemente orientar suas equipes.

Tabela 17– Correlação entre características pessoais e profissionais dos trabalhadores e o nível de cultura da qualidade

Indicadores Idade Tempo de

experiência no setor

Tempo de serviço na empresa

Tempo de serviço no setor

que atua Situação Hoje

Status Quo -0,079 -0,065 -0,007 -0,111

Detecção de Falhas -0,064 0,1965 0,091 0,170

Prevenção de Erros 0,122 -0,010 0,007 0,190 Qualidade Perpétua criativa 0,029 -0,110 -0,225* -0,223*

Situação Ideal

Status Quo -0,062 -0,055 -0,090 -0,048

Detecção de Falhas 0,0161 0,1088 -0,007 0,111

Prevenção de Erros 0,049 -0,1306 0,109 -0,017 Qualidade Perpétua criativa 0,1379 0,041 0,07 -0,123

* Significa diferença estatística a p<0,1 ** Significa diferença estatística a p<0,05 *** Significa diferença estatística a p<0,01

Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Page 100: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

98

O levantamento das necessidades de treinamentos deve ser realizado constantemente,

mesmo com os funcionários considerados experientes, pelo tempo de serviço que tem na

empresa ou no setor que atua. Outra possibilidade é que o trabalho seja bastante repetitivo e

desgastante, fazendo com que o nível de qualidade baixe em função do tempo, uma

possibilidade a ser a analisada é quanto a rotatividade de funções com a intenção de aumentar

o nível de qualidade. Ainda na tabela 17, observa-se que estatisticamente não houve

correlação significativa, para análise da situação ideal, que considera o melhor para a empresa

no futuro, considerando os próximos 5 anos.

4.7 CORRELAÇÃO ENTRE OS PERFIS CULTURAIS E OS NÍVEIS DE CULTURA DA QUALIDADE

Quanto ao sexto e último objetivo específico procurou-se analisar se o tipo de cultura e

o nível de cultura da qualidade estão correlacionados e se existe alguma especificidade entre

as características sociodemográficas. Foi efetuado testes de correlação de Pearson e

Spearman, escolhidos de acordo com a normalidade.

Na percepção de Fleury (1993), para a adoção de programas de qualidade nas

organizações, é necessário a análise de vários fatores que podem dificultar ou facilitar o

processo de gestão da qualidade. Na tabela a seguir (Tabela 18), é possível verificar

diretamente a correlação que o nível de cultura da qualidade da refinaria tem com os tipos de

cultura organizacional.

Na situação hoje, o nível de Status quo, o mais baixo nível de qualidade, não apresenta

nenhum tipo de correlação significativa com os tipos de cultura organizacional, especialmente

com a cultura Clã, que foi o tipo de cultura mais representativa no resultado desta pesquisa,

conforme apresentado no item 4.2. No entanto, os resultados apontam que na percepção dos

funcionários, quanto maior o tipo de cultura Clã, menos características do nível de Qualidade

Perpétua Criativa (-0,236), ou que para um maior nível de cultura de Qualidade Perpétua

Criativa menos características de cultura Clã a organização deve ter. Isso representa a

necessidade de mudanças no tipo de cultura da organização, no caso da estratégia da empresa

exigir que haja um maior nível de cultura da qualidade.

Page 101: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

99

Tabela 18- Correlação entre Qualidade e Perfil cultural Clã Inovativa Mercado Hierárquica

Situação Hoje

Status quo 0,029 0,011 0,14 -0,1933 Detecção de Falhas 0,1899 0,04 -0,09 -0,142 Prevenção de Erros 0,077 -0,030 -0,293** 0,182 Qualidade Perpétua criativa -0,236* 0,013 0,111 0,207*

Situação Ideal

Status Quo -0,362*** -0,073 0,3848*** 0,095 Detecção de Falhas 0,173 0,087 -0,197 -0,067 Prevenção de Erros 0,2037 0,147 -0,279** -0,082 Qualidade Perpétua criativa 0,1046 -0,234* -0,061 0,117

* Significa diferença estatística a p<0,1 ** Significa diferença estatística a p<0,05 *** Significa diferença estatística a p<0,01 Fonte: Dados da pesquisa (elaboração da autora)

Segundo Cameron e Quinn (2006), mudança da cultura organizacional é uma meta

muito difícil de conseguir, porque uma vez definida, interpretações comumente

compartilhadas, valores e padrões são difíceis de modificar. Antes de se implantar qualquer

mudança, é preciso que se faça um diagnóstico para identificar e diminuir as resistências e

fortalecer o que verdadeiramente precisa mudar e como será feita a mudança.

Outro resultado significante a ser analisado foi a correlação entre o tipo de cultura

Mercado e o nível de cultura da qualidade de Prevenção de Erros, o resultado negativo (-

0,293) não é favorável a cultura da refinaria. O nível de Prevenção de Erros é um nível mais

elevado do que o nível predominante, na percepção dos funcionários, na situação atual da

empresa, Detecção de Falhas. A cultura Mercado é caracterizada pelo foco externo e

diferenciação através de um forte envolvimento com os clientes, logo as pessoas na refinaria

teriam dificuldade em terem que se adaptar a uma cultura do tipo Mercado, para obter um

nível de qualidade mais elevado.

De acordo com os resultados, entende-se que, para a refinaria ter um nível de cultura

da qualidade mais elevado, da Qualidade Perpétua Criativa, é necessário que o tipo de cultura

predominante seja a Hierárquica, já que apresentou uma correlação positiva significativa

(0,207), é possível que esse resultado aconteça em função da faixa etária, pessoas jovens que

precisem de orientação, ou que o tipo do negócio seja realmente inovador para o nível de

Page 102: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

100

escolaridade atual das pessoas, ou ainda que as pessoas precisem aprender mais e por isso

necessite de melhores controles e orientação de pessoas de níveis mais elevados.

Já na situação ideal, de forma significativa, os resultados demonstram que quanto mais

Clã for o tipo da cultura organizacional, menor será o nível de qualidade Staus quo, já que a

correlação se apresentou de forma negativa (-0,362), ou seja, o nível de qualidade mais baixo

tem relação negativa com o tipo da cultura predominante na refinaria, isso é bom para a

empresa, e demonstra que as pessoas se preocupam com o ambiente de trabalho, mas não

deixam de lado a preocupação com a qualidade.

A correlação negativa (-0,234) entre o tipo de cultura Inovativa e o nível de qualidade

mais elevado, não é bom para a empresa pois, na análise apresentada no item 4.2, a cultura

Inovativa apresenta-se como a segunda mais percebida pelos funcionários no modelo atual e

também a segunda mais percebida como modelo ideal, logo, caso a empresa opte por uma

mudança no tipo da cultura, em busca de uma melhor cultura da qualidade, esta não deverá

ser através da cultura Inovativa, pelo menos da forma como os funcionários pensam hoje.

Ainda na segunda parte da tabela 18, Situação Ideal, um dos resultados mais

relevantes, apresenta que quanto mais forte a cultura do tipo Mercado maior o nível de cultura

da qualidade Status quo (0,3848). Trata-se de uma relação extremamente positiva, em que as

características dominantes, a liderança organizacional, o gerenciamento de pessoas, a união

organizacional, a ênfase estratégica e os critérios de sucesso da cultura do tipo Mercado,

caracterizada por buscar mensurar as preferências dos clientes, a busca constante pelo

aumento da produtividade, e a criação de parcerias com cliente e fornecedores, favorecesse o

nível de qualidade Status quo. Este resultado assemelha-se a pesquisa de Câmera (2004),

acredita-se no caso desta pesquisa, que isso pode ter acontecido porque os funcionários em

sua análise da situação ideal, seja o seu desejo pessoal para eles próprios e não o desejo

coerente para qualidade da empresa, ou até mesmo que eles não consigam fazer uma projeção

para os próximos 5 anos da empresa. Ainda na análise da cultura Mercado, esta também não

favoreceria o nível de cultura da qualidade, já que apresentou uma correlação negativa com o

nível Prevenção de Erros (-0,279). Acredita-se que para um tipo de cultura Mercado, os

funcionários, considerando a baixa qualificação, especialmente no setor operacional, teriam

muita dificuldade em ser individualmente responsáveis por determinados níveis de

desempenho. Para a situação ideal não houve nenhuma correlação significativa entre o nível

de cultura da Qualidade Perpétua Criativa e os tipos de cultura organizacional.

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101

5 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

A pesquisa atingiu seu objetivo geral, que era o de identificar o tipo de cultura

organizacional em uma indústria salineira e sua importância para a aderência do sistema de

qualidade. Os objetivos específicos também foram contemplados nos resultados obtidos, na

medida em que foi possível analisar as suas relações propostas.

Quanto a caracterização sociodemográficas dos funcionários, na refinaria predomina o

gênero masculino, o nível de escolaridade é relativamente baixo, a maioria tem até o ensino

médio. A idade dos respondentes é bastante variada, porém predominam pessoas na faixa

etária de 18 a 30 anos, alguns estão em seu primeiro emprego. Na análise do tempo médio de

serviço na empresa, a maioria dos colaboradores tem até quatro anos.

Sobre o segundo objetivo, que foi a identificação da tipologia de cultura

organizacional, através do Modelo de Valores Competitivos, apresentou-se, para a situação

atual, predominância dos elementos da cultura Clã, com tendência a mudança para a cultura

Inovativa. A cultura Clã é caracterizada pelo foco interno e integração, baseada em normas e

valores associados à liberdade e flexibilidade, ou seja, este tipo de cultura não se caracteriza

como uma organização competitiva, que busca agressivamente um espaço no mercado. Para a

situação considerada como ideal para a organização, os resultados revelaram que os

funcionários não querem mudança, permanecem com a ideia de continuar como está, como

sendo o ideal para a organização, isso demonstra que a refinaria apresenta uma cultura

organizacional bastante consolidada.

Quanto ao terceiro objetivo, de verificar a especificidade na percepção do tipo de

cultura organizacional de acordo com características sociodemográficas, neste estudo, as

principais diferenças, para a situação atual e ideal, foi influenciada apenas pelo nível de

escolaridade. Na situação ideal, quanto maior o nível de escolaridade maior a percepção do

elemento cultural Clã. Quanto menor o nível de escolaridade na organização maior a

percepção do elemento cultural Inovativa.

Para o quarto objetivo específico, de analisar os níveis de cultura da qualidade, real e

ideal, percebidos pelos funcionários, para a situação atual, encontrou-se o nível a de Detecção

de falhas, que tem como meta corrigir erros, no entanto os colaboradores demonstraram uma

visão positiva, pois entendem que o melhor para a organização seria que ela tivesse o nível

mais alto de qualidade, a Qualidade Perpétua Criativa, que tem como meta o melhoramento

contínuo.

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102

No quinto objetivo específico, de correlacionar os níveis de cultura da qualidade, real

e ideal, com as características sociodemográficas, percebidos pelos funcionários, apresentou

que os funcionários com mais tempo de serviço na empresa tem menor percepção de

elementos da Qualidade Perpétua Criativa.

A última análise, de verificar a correlação entre a tipologia da cultura organizacional

com os níveis da cultura da qualidade percebida pelos funcionários, demonstrou que na

situação atual, quanto maior os elementos do tipo de cultura Clã menos características do

nível de Qualidade Perpétua Criativa. A cultura Hierárquica é a que mais favorece a

percepção dos elementos, que representam os elementos no nível de qualidade mais alto, a

Qualidade Perpétua Criativa. Entende-se que o desejo da cultura hierárquica deve-se a baixa

qualificação dos funcionários, que não tem condições de estabelecer metas individuais e

controle na gestão da produção, a não ser que seja pela ordem dos seus dirigentes, que criam e

mantêm um ambiente de trabalho participativo.

A cultura tipo Mercado, se mostrou na percepção dos funcionários, como a mais

negativa, pois além de não apresentar tais características, os colaboradores não veem como

sendo uma cultura ideal para a organização, pois implicaria na diminuição do nível de cultura

da qualidade para o Status quo e ainda apresentou uma correlação negativa com o nível de

Detecção de Falhas.

O instrumento utilizado nesta pesquisa, apesar de utilizar questões fechadas, que

impossibilita a análise além de valores pré-estabelecidos, neste caso, se mostrou eficiente e

adequado aos objetivos da pesquisa. Especialmente na correlação entre cultura organizacional

e Cultura da qualidade, permitindo uma análise estratégica para as diversas áreas da

administração.

Apesar de atingir os objetivos propostos houveram algumas limitações. No

questionário encontram-se termos que são difíceis, especialmente para pessoas de baixo nível

de escolaridade. A pesquisa tinha inicialmente o propósito de aplicar os questionários com

todos os empregados, mas percebeu-se que muitas pessoas da área operacional tinham baixo

nível de escolaridade, e que suas respostas poderiam prejudicar o resultado da pesquisa. Com

isso, optou-se por trabalhar com o disponível de acordo com os critérios de exclusão. Sugere-

se a aplicação deste instrumento em outras áreas e em outras empresas do ramo salineiro para

efeito comparativo em busca de indicadores estratégicos para tomada de decisões, visto que a

pesquisa foi realizada em apenas uma das unidades da empresa.

É importante enfatizar que a pesquisa considerou apenas a refinaria, onde a rotina dos

funcionários é bem diferente do escritório central e de outras áreas da Indústria, já que nesta

Page 105: cultura organizacional e da qualidade: estudo de uma indústria

103

parte da empresa os funcionários são tratados de forma bem particular, em função da estrutura

e localização geográfica. Diariamente, a organização se responsabiliza por pegar os

funcionários em suas casas, bem cedo e deixá-los em casa no final do dia. Estes funcionários

passam o dia juntos, fazem as mesmas refeições, descansam no mesmo local (em um alpendre

que fica ao redor do refeitório) e normalmente compartilham suas vidas uns com os outros. A

refinaria tem 165 funcionários e todos se conhecem e se relacionam, é possível que os

resultados aqui, se comparados com os funcionários do escritório central em Mossoró/RN ou

Recife/PE, apresentem outros tipos de cultura organizacional, já que a rotina de vida e de

trabalho deles difere bastante da rotina dos funcionários da refinaria, inclusive nas metas,

estilo de liderança, gerenciamento de pessoas e manuseio dos produtos.

Os resultados apontam que o tipo de cultura mais indicada, para o aumento do nível da

qualidade dos produtos e serviços, seria o Hieráquico, e como já mencionado, o tipo de

cultura predominante atualmente é fortemente Clã. Para uma possível mudança, faz-se

necessário um alerta, já que o processo de mudança não é fácil e implica em algumas

resistências, especialmente nesta situação, que apresentaram traços culturais fortes. Outro

dado importante desta pesquisa é que não se identificou correlação positiva entre a cultura

Hieráquica e as variáveis sociodemográficas. Portanto, a indicação que se faz, é trabalhar a

mudança a partir da liderança, desenvolvendo gradualmente mecanismos de controle, tais

como regras formais e políticas que favoreçam o aumento da coordenação e organização, de

forma estruturada. No entanto é importante que estes procedimentos sejam percebidos de

forma positiva pelos colaboradores, para o aumento da eficiência, diminuição dos custos de

produção, sucesso organizacional e consequentemente o sucesso profissional destes

funcionários. Pois somente a partir da visão compartilhada entre todos é possível que haja o

aumento do nível de aderência a cultura da qualidade.

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104

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ANEXOS

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ANEXO A - INSTRUMENTO DE PESQUISA SOCIODEMOGRÁFICO

1. Sexo: __________________________ 2. Tipo de cargo que ocupa

( ) Direção ( ) Gerencia ( ) Supervisor ( ) Fiscal ( ) Assistente ( ) Outros __________________

3. Função exercida:____________________________________________ 4. Área em que trabalho

( ) Administração ( ) Produção ( ) Comercial ( ) Outros_______________

5. Nível de escolaridade ( ) Doutor ( ) Mestre ( ) Especialista ( ) graduado ( ) 2º grau completo ( )1º grau completo ( ) Alfabetizado ( ) Semi-analfabeto

6. Idade ( ) de 18 a 20 anos ( ) de 21 a 30 anos ( ) de 31 a 40 anos ( ) de 41 a 50 anos ( ) mais de 50 anos

7. Naturalidade: ________________________ Nacionalidade: _____________________ 8. Tempo de experiência no setor: _____________________________________ 9. Tempo de serviço na empresa:_______________________________________ 10. Tempo de serviço no setor que atua: __________________________________

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ANEXO B - DESCRIÇÃO DO TIPO DE CULTURA E CULTURA DA QUALIDADE MODELO OCAI

Classifique os itens abaixo na ordem que mais classifica a empresa (1º, 2º, 3º, 4º), começando pela coluna hoje (situação atual da empresa) e em seguida a coluna ideal (situação que no seu ponto de vista seria melhor para a empresa). A ordem de prioridade deve ser respeitada, não se permitindo a repetição da classificação na mesma coluna. Responda primeiro a coluna hoje e depois a coluna ideal. 1 Não se parece com minha organização 2 É mais ou menos parecida com minha organização 3 É parecida com minha organização 4 É muito parecido com a minha organização

Exemplo Hoje Ideal A 4 3 B 2 1 C 3 4 D 1 2

1 CARACTERÍSTICAS DOMINANTES (Grau de trabalho em equipe, nível de

criatividade, e foco nos objetivos) Hoje Ideal

A A organização é um lugar muito pessoal. É como uma extensão da família. As pessoas parecem compartilhar muito entre si (as suas experiências pessoais e profissionais)

B

A organização é um lugar muito dinâmico (que está constantemente mudando) e empreendedor. As pessoas têm disposição para se expor e correr riscos (sempre mudando para melhorar).

C A organização é bastante orientada para aos resultados. Uma das principais preocupações é ter o trabalho concluído. As pessoas são muito competitivas e orientadas para a realização.

D

A organização é um lugar muito controlado e estruturado, é um lugar muito rígido, onde tudo que se faz é controlado pelo chefe. Procedimentos formais geralmente governam o que as pessoas fazem.

2 LIDERANÇA ORGANIZACIONAL (Estilo de liderança) Hoje Ideal

A A liderança na organização geralmente é considerada um exemplo de orientação, facilitação ou apoio. Onde os meus superiores geralmente incentivam meu trabalho.

B

A liderança na organização geralmente é considerada um exemplo de empreendedorismo, inovação, ou de assumir riscos. Os meus superiores são considerados dinâmicos, estão sempre tentando inovar para maior sucesso da empresa.

C

A liderança na organização geralmente é considerada um exemplo de foco direcionado, orientando aos resultados e agressivo. Estão sempre preocupados em atingir metas e conseguir resultados.

D A liderança na organização geralmente é considerada um exemplo de coordenação, organização ou de eficiência operacional estável.

3 GERENCIAMENTO DE PESSOAS E EQUIPES (Como estes são tratados, nível de participação) Hoje Ideal

A O estilo gerencial na organização é caracterizado por trabalho em equipe, consenso e participação.

B

O estilo gerencial na organização é caracterizado por tomada de riscos, individuais, inovação, liberdade e originalidade. A liberdade para fazer as coisas do jeito que achar melhor é respeitada.

C O estilo gerencial na organização é caracterizado por uma forte competitividade, elevado nível de exigência e de realização. O importante é ganhar da concorrência.

D O estilo gerencial na organização é caracterizado por segurança no emprego, conformidade,

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previsibilidade e estabilidade nos relacionamentos, sendo mais caracterizada pela estabilidade do que por mudanças rápidas.

4 COESÃO OU UNIÃO ORGANIZACIONAL (Nível de lealdade e compromisso) Hoje Ideal

A O que mantém a organização unida é a lealdade e confiança mútua. O comprometimento com a organização é muito valorizado.

B O que mantém a organização unida é o compromisso com a inovação e o desenvolvimento. Há ênfase em ser o pioneiro, procurando sempre fazer coisas novas.

C O que mantém a organização unida é a ênfase na realização e no alcance das metas. Agressividade e vencer são temas comuns. Tem a ambição de ser a melhor.

D O que mantém a organização unida são as regras formais e as políticas. Manter a organização com uma operação estável é importante.

5 ÊNFASE ESTRATÉGICA (direcionamentos estratégicos) Hoje Ideal

A A organização enfatiza o desenvolvimento humano. Confiança, abertura e participação dos colaboradores são permanentes.

B A organização enfatiza a aquisição de novos recursos e a criação de novos desafios. Tentar coisas novas e buscar oportunidades, para a melhoria da empresa, são ações valorizadas.

C

A organização enfatiza ações competitivas e realização, para aumentar a produtividade e o atingimento de resultados. Superar metas desafiadoras e vencer no mercado são preocupações dominantes.

D A organização enfatiza a constância e estabilidade. Eficiência, controle e operações estáveis são importantes.

6 CRITÉRIO DE SUCESSO (Como o sucesso é definido e recompensado) Hoje Ideal

A A organização define sucesso tendo por base o desenvolvimento de recursos humanos, trabalho em equipe, comprometimento dos empregados e preocupação com as pessoas.

B A organização define sucesso tendo por base o fato de dispor dos produtos mais novos e originais. Ela é inovadora e líder em produtos.

C A organização define sucesso tendo por base vencer no mercado e ser melhor do que a concorrência. Liderança competitiva no mercado é primordial.

D A organização define sucesso tendo por base a eficiência. Entregas confiáveis, programação estável e baixo custo de produção são críticos.

7 COM REFERÊNCIA A PRODUTOS E SERVIÇOS Hoje Ideal

A A questão da qualidade dos serviços e produtos é pouco discutida na empresa.

B Os membros da empresa procuram identificar defeitos na qualidade dos produtos e serviços e tentam refazê-los corretamente.

C Os membros da empresa procuram evitar erros antes de acontecerem.

D Os membros da empresa buscam oferecer produtos e serviços acima das expectativas dos clientes.

8 COM REFERÊNCIA AOS CLIENTES Hoje Ideal

A A empresa procura evitar muito contato com os clientes, preferindo não precisar conversar com eles.

B A empresa procura atender corretamente os clientes e atender suas necessidades e exigências.

C A empresa antecipa e ultrapassa as expectativas e necessidades dos clientes.

D A empresa procura surpreender e encantar os clientes pela qualidade dos serviços para garantir seu retorno no futuro.