cultura do amendoim na guiné

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ALGUMAS PALAVRAS INICIAIS STAS terão por fim justificar até certo ponto a razão deste pequeno e modesto trabalho. . Quem trabalha na Guiné Portuguesa sabe que a sua cultura base é o amendoim. Como existe a vontade oficial de produzir mais, aparecem por toda a província entusiasmos febris em que muitas vezes se desperdiçam ener- gias que poderiam ser melhor aproveitadas, se tivessem sido bem orientadas. Como o nosso fim não é a crítica, mas sim apresentar alguns elementos para melhor resolução do problema, é isso que pretendemos fazer. A cultura da Guiné Portuguesa é essencialmente indígena com alguns pequenos erros que se torne necessário corrigir. Desde a preparação do terreno à colheita temos algumas questões a apresentar, que conhecidas por aqueles que se interessam por estes problemas, os podem ajudar na sua resolução, indicando-lhes o caminho para a obtenção de E

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Page 1: Cultura do amendoim na Guiné

ALGUMAS PALAVRAS INICIAIS STAS terão por fim justificar até certo ponto a razão deste pequeno e modesto trabalho. .

Quem trabalha na Guiné Portuguesa sabe que a sua cultura base é o amendoim.

Como existe a vontade oficial de produzir mais, aparecem por toda a província entusiasmos febris em que muitas vezes se desperdiçam ener-gias que poderiam ser melhor aproveitadas, se tivessem sido bem orien-tadas.

Como o nosso fim não é a crítica, mas sim apresentar alguns elementos para melhor resolução do problema, é isso que pretendemos fazer.

A cultura da Guiné Portuguesa é essencialmente indígena com alguns pequenos erros que se torne necessário corrigir.

Desde a preparação do terreno à colheita temos algumas questões a apresentar, que conhecidas por aqueles que se interessam por estes problemas, os podem ajudar na sua resolução, indicando-lhes o caminho para a obtenção de melhores produtos e maiores quantidades, com o mesmo trabalho.

Actualmente com os problemas que se levantam pela necessidade intensa que existe de protecção e conservação do solo, é primordial pro-curarmos intensificar a cultura com melhores sementes que nos dêem maiores produções. Se continuarmos com o propósito de alargar as áreas

E

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nós temos na nossa frente dificuldades cada vez maiores que se agravarão de ano para ano.

Podemos colher um exemplo frisante no Senegal, em que vastas áreas tiveram de ser abandonadas, por avançarem rapidamente para a esterilização.

Há que arrepiar caminho antes que seja tarde. I - Variedades de amendoim, em cultura na

Guiné Portuguesa

Pertencem todas as variedades da província à espécie Arachis hipogoea. É esta espécie muito cultivada nas regiões tropicais apresentando numerosas variedades. É uma planta de caules que rompem na base, junto ao solo, mais ou menos compridos, podendo em boas condições cobrir um círculo de 1,5 de diâmetro, quando prostrada.

As folhas são alternas com 2 pares de folíolos, apresentando estes uma relação comprimento/largura que pode ir de 1,5 a 2.

As inflorescências são cachos, com os pedicelos inseridos na axila das folhas; aparecem ao longo dos caules nas variedades prostradas e na base dos mesmos, nas erectas.

As flores são amarelas e com estrias avermelhadas na base do estandarte.

Os frutos são vagens que apresentam nervuras longitudinais unidas transversalmente, formando rede.

As sementes são separadas dentro das vagens por estrangulamentos que se vêm exteriormente.

Elas são protegidas por um tegumento fino, que apresenta colora-ções diferentes, conforme a variedade.

A amêndoa é constituída por dois cotilédones, cheios de matéria gorda tendo numa das extremidades o embrião.

A questão da classificação das espécies de amendoim, ainda apre-senta muitas dificuldades.

Para se fazer ideia da mesma, podemos dizer que as 3 espécies dife-rentes Arachis hypogoea, A. nambyquarae e A. rasteiro, têm o mesmo número de cromossomas, 2 n=40. Portanto somos levados a concluir que estas 3 espécies têm uma origem comum.

Se nos aparecem estas dificuldades nas espécies, nas variedades maiores elas são.

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Na Guiné Portuguesa, podemos dizer que há fundamentalmente duas variedades (tipos) de amendoim.

Uma, mais comum, que apresenta normalmente duas sementes, cilíndrica, sem plano de simetria definido e sem estrangulamento muito pronunciado.

Outra, apresentando normalmente três sementes, com plano de simetria definido com os estrangulamentos mais marcados, não sendo cilíndrica e tendo na sua extremidade uma protuberância em forma de crista.

As duas variedades são cultivadas, aparecendo a primeira no N. E. da província, sendo a mais própria para óleo; é mais produtiva e resiste menos ao excesso de chuvas. A segunda aparece mais entre os balantas que a cultivam, muitas vezes quase sem ser misturada; é menos produtiva e resiste mais às chuvas.

A primeira deve-se integrar possivelmente dentro da var. communis A. Chev. e a segunda dentro da var. stenocarpa A. Chev.

Ambas são variedade de caule prostrado e com um ciclo vegetativo, variando de 130 a 150 dias.

Além destas variedades por assim dizer indígenas, possui o Posto Experimental do Pessubé uma colecção de variedades vindas do jardim Colonial de Lisboa.

Aparecem-nos 3 variedades de caules erectos, Java, Spanish Bunch e Gudyathurn.

São idênticas; o seu ciclo vegetativo é bastante curto pois varia de 90 a 110; frutificam muito bem, sofrendo porém com o excesso de chuvas.

Quando semeadas cedo amadurecem ainda com elas e pela sua ten-dência para a germinação, tem que se ter um certo cuidado.

Temos ainda entre outras as variedades de caules prostrados, Dar-es-SaIam, Mucumi, Xuxululo, Migongo e Armando, que sendo de ciclo longo, necessitam de ser semeadas no princípio das chuvas. Produzem bem e são capazes de vir a fornecer óptimas sementes para confeitaria.

As variedades indígenas, como já dissemos anteriormente, são de ciclo longo variando este de 130 a 150 dias, conforme as regiões.

Seis dias após a sua sementeira germina a planta, prolongando-se a sua fase vegetativa até a floração. Esta inicia-se normalmente depois de 30 dias.

Dez dias após o aparecimento da mesma dá-se a entrada do

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ginóforo na terra; este está nas melhores condições para se desenvolver, aparecendo 15 dias depois a vagem diferenciada, sem que esteja completamente desenvolvida.

Quinze dias depois já nos aparecem algumas vagens completamente desenvolvidas. Passados 40 dias -aparecem as primeiras vagens maduras. O período necessário portanto para o desenvolvimento completo das pri-meiras flores é, desde a sementeira, de 110 dias. Como porém a floração inicial pouca importância tem e ela se estende com utilidade durante cerca de 40 dias, só teremos a planta completamente desenvolvida ao fim de cerca de 150 dias

II - Zona de cultura A cultura da mancarra é já muito antiga na Guiné Portuguesa; é

provável que tenha sido introduzida pelos portugueses com outras plantas de origem americana. Como produto de exportação só começou a ter importância a partir do último quartel do século passado.

A cultura extensiva iniciou-se na zona continental em volta do Rio Grande de Buba.

Devido às mais diversas razões, desde as lutas políticas até ao depauperamento dos solos e crise de oleaginosas, a cultura no fim do século passado começou a descer; alguns anos ela voltou-se a instalar aí novamente. Como já se tratava de solos cansados é provável que produzissem menos nesta segunda tentativa.

Devido portanto ao depauperamento dos solos a zona de cultura começou a estender-se para o norte à procura de melhores regiões.

Actualmente a cultura situa-se principalmente nas zonas de Farim, Bafatá e Nova Lamego.

Sob o ponto de vista climático a nova área pode-se considerar supe-rior à antiga.

III - Condições de vegetação Encontra a mancarra na Guiné Portuguesa condições especiais para

a sua vegetação quanto a temperatura. Ao longo de todo o ano, devido à mesma pode-se efectuar a cultura, embora na época seca seja necessária a sua rega.

Sendo a temperatura média de 26° na Província e não existindo em qualquer época amplitudes que possam comprometer a cultura, ela por este factor climático poderá ser efectuada.

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Já quanto a chuvas não tem a Guiné o mesmo comportamento, variando de Sul para Norte de 3.000 mms. a 1.300 mms., elas repartem-se ao longo dos meses de Junho a Novembro, vegetando a planta durante essa época.

Os meses de Agosto e Setembro com quedas diárias muitas vezes brutais, tornam difícil a vida da planta, prejudicando a floração.

O período de chuvas comporta o ciclo da planta, razão porque se deve semear cedo para se aproveitarem bem as últimas quedas pluvio-métricas.

Se semearmos tarde como acontece em grande parte da província o amendoim não atinge o seu desenvolvimento completo e há perda de peso e óleo.

Acontece isto, está claro, para os amendoins indígenas; se nós intro-duzirmos porém variedades mais precoces podemos e devemos semeá-los mais tarde, mas numa altura em que se possa aproveitar as últimas chuvas úteis.

Elas podem-se considerar as que caiem 20 dias após a formação da maioria das flores; o seu quantitativo deve atingir pelo menos 20 mms em queda consecutiva para ter influência na produção.

Em resumo, tem a Guiné Portuguesa condições especiais para a cul-tura da mancarra quanto a temperatura; quanto a chuvas, elas são exces-sivas, pois uma queda pluviométrica de 1.000 mms, bem repartida já é mais do que o suficiente.

Por outro lado, devido ao primeiro factor climático é possível efectuar-se com êxito a cultura irrigada do amendoim durante o período seco, obtendo-se durante este melhores produções.

É natural que se chegue com facilidade a produções de 2,5 a 3 tone-ladas por hectare, que tornariam a cultura remuneradora.

Sabe-se ainda, voltando a analisar a questão do clima, que cada tipo de amendoim tem a sua zona climática própria e que portanto é muitas vezes errado introduzir variedades que de antemão se sabe terem neces-sidades ecológicas diferentes.

Por exemplo o ir buscar mancarra ao Rufisque para introduzir na Guiné Portuguesa é errado, pois os amendoins aí são de pericarpo pouco espesso e têm o ciclo menor, não suportando portanto as chuvas excessivas e prolongadas; mas já será interessante introduzir, com as devidas cautelas, amendoim do Baixo-Casamança, que são de ciclo

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longo e possuem pericarpo espesso; isto para zonas com chuvas até 1.500 mms, norte e nordeste da província.

Mais para o sul necessário se torna procurarmos amendoins de con-feitaria, com pericarpo bastante espesso e de 4 a 5 sementes.

Quanto ao solo exige o amendoim, para se desenvolver perfeitamente, terras francas ou francos arenosos, que dêem fácil penetração aos ginó-foros, quando estes se formem.

À medida que a percentagem de argila aumenta (para cima de 10 %) podemos dizer que a produtividade do amendoim diminui.

Contudo a capacidade do solo, razão principal da sua inaptidão para a mancarra, pode também ser originada pela areia fina, limo ou matéria orgânica; quer dizer, dois solos diferentes, mas com a mesma capacidade podem dar rendimentos diferentes, pois o seu grau de fertilidade é diferente.

A presença de matéria orgânica em excesso, pode tornar-se contraindicada para a mancarra; em experiências efectuadas em M'Bambey no Senegal, demonstrou-se que havia um aumento de vagens chochas de cerca de 20 % quando isso acontecia; em solos com 3 % de matéria orgânica a produção pode ser normal.

Segundo M. Fleury a mancarra cultivada em solos mais pesados, tem uma menor percentagem de óleo.

Ainda a humidade do solo tem uma importância extraordinária na produção da mesma; é por esta razão que os indígenas da Guiné Portuguesa armam em camalhão [lomba de terra que se faz para parar ou reduzir a água] o solo, a fim de fugir ao excesso dela.

Existem porém solos que se enxugam facilmente após uma chuvada forte, podendo-se aí efectuar a cultura sem armação.

A armação do terreno, como já indicamos em notas anteriores, leva muitas vezes a uma esterilização do solo mais rápida, pela inversão de horizontes de perfil do solo, que provoca.

IV - Processos culturais indígenas e sua análise

A cultura do amendoim é praticada somente pelo indígena na Guiné

Portuguesa; não nos chegou ao conhecimento qualquer tentativa de cul-

tura por parte de elementos europeus.

Essa cultura a ser praticada por estes elementos só em condições

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especiais é que daria resultados capazes.

a) Rotação de culturas

Não deixa o indígena da Guiné de ter conhecimento mais ou menos preciso dos bons efeitos da rotação de culturas.

1) Entre fulas e mandingas é muito comum aparecer a rotação:

1. °ano – Sorgo

2.°ano – Amendoim

3. ° e 4.° ano - Pousio ou então, se as terras são mais ricas adoptam por vezes a rotação:

1.º e 2.° ano – Sorgo3.° » - Amendoim4.° » - Pousio

Não encontramos entre estas raças uma rotação com o amendoim à cabeça.

2) Entre os brames da ilha de Bolama cita Teixeira da Mota a

seguinte rotação:

1.º ano - Arroz de sequeiro

2.° » - Mancarra

3.° » - Milho preto

4.° » - Fundo

5.° » - Mancarra

Pode levar depois de três anos de pousio natural outra vez mancarra.

Se estiver mais de 3 anos, pode voltar a instalar-se novamente a rotação.

De qualquer modo a rotação é excessivamente extensa e esgotante; o

quinto ano de mancarra não deve ter muito interesse.

3) Entre os balantas de Nhacra muitas vezes é adoptada a rotação

seguinte:

a) Se o terreno é muito rico. 1.º ano - Arroz de sequeiro (leste)2º » - Mancarra3º » - Fundo4º » -Milho preto (com feijão)5º » - Fundo 6º » - Milho preto

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b) Se não é fértil. 1.º ano - Mancarra2º » - Fundo3º » -Milho preto (com feijão)4º » - Fundo 5º » - Milho preto (com feijão)

Vemos aqui um tipo de rotação mais equilibrada do que a dos man-canhas de Bolama.

Normalmente estas culturas são efectuadas em volta da tabanca, nunca muito afastadas. Aparece o fundo no segundo ano, pois o seu ciclo curto permite a sua colheita no fim das chuvas, quando ainda não há arroz. A associação de milho preto com feijão, permite que retirado aquele ainda fique o feijão no terreno, efectuando a sua protecção. Este só será retirado por Janeiro, ficando a sua matéria orgânica a proteger o solo. À parte esta restituição, acompanhada de cinzas de toda a espécie de detritos, não efectua o balanta desta zona, qualquer outra operação mantendo a cultura de fundo e de milho preto, até esgotamento total do solo.

A mancarra não volta mais ao local sem um pousio prolongado.4) Os papéis de Bissau usam muitas vezes a rotação

1.º ano - Arroz de sequeiro

2.° » - Mancarra

3.° » - Milho preto ou fundo

e depois um pousio de 4 anos; portanto o ciclo completo é de 7 anos.

A cultura fundamental é a mancarra, sendo as outras duas ali-mentares.

5) O mancanha da ilha de Bissau usa normalmente a dualidade: 1.0 ano·- Milho preto 2.º » - Mancarra

Este ciclo repete-se até depauperação total do solo.6) Entre manjacos aparece muitas vezes, quando cultivam a man-

carra, a seguinte rotação: 1.º ano - Arroz de sequeiro 2.° » - Milho preto 3.° » - Mancarra

Depois é abandonado o «lugar», até que o mato cresça novamente

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5 anos. A mancarra pode ir no 2º ano se por acaso o «lugar» não for muito rico.

Pelo que ficou dito verifica-se que nas diversas tribos, mais ou menos existe a noção de rotação; embora algumas sejam desordenadas c mal observadas, outras têm a sua justificação.

b ) Preparação do solo; lavouras

Ê das mais simples, a preparação do terreno para a cultura entre

os indígenas da Guiné Portuguesa.

O primeiro passo dá-o abatendo o mato, quer utilizando o machete quer duma espécie de machado gentílico. As árvores de diâmetros maiores são sujeitas a um tratamento especial, efectuando o indígena no seu tronco um corte anelar de casca. Depois junto delas é amontoada lenha à qual é lançada o fogo; todo o mato abatido arde.

Vemos portanto que na preparação do solo para a lavoura, usa o

indígena da Guiné Portuguesa a técnica bantú.

Algumas espécies que apresentam utilidade são respeitadas;

sucede isso com a Acácia albida e com a Parkia biglobosa. A primeira é mesmo indicadora de terrenos próprios para

amendoim e tem a particularidade de não possuir folhas durante a cultura; na época seca essas folhas aparecem ao mesmo tempo que a frutificação e o gado pega com avidez na vagem desta leguminosa.

Da segunda aproveitam algumas raças as vagens para a alimentação.

Conforme as tribos, assim usam os indígenas instrumentos manuais para a lavoura dos solos.

A armação do solo é sempre em camalhão, qualquer que seja a tribo. Antes, todos os restos orgânicos foram destruídos pelo fogo e as

cinzas espalhadas pelo solo, constituindo o único adubo. Depois o solo é removido superalimente, de 5 a 10 cm., na zona do

rego do camalhão, indo essa terra constituir o cimo do mesmo. Assim consegue o indígena tornar mais espessa a camada de solo. à

disposição da planta.

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Existem na Guiné Portuguesa, e conforme as raças, ferramentas diversas para efectuar este trabalho.

Assim o balanta, o manjaco, o mancanha e o papel utilizam o seu típico «arado», que consta de duas partes, o cabo que pode ter até 1,5 ms. de comprimento e a pá que se assemelha a uma pá de valar, terminando por um ferro que a protege de rápido desgaste.

O mancanha actualmente usa mais a enxada com cabo curto. O mandinga juntamente com o fula usam uma espécie de enxada

gentílica; a enxada propriamente dita é a pá de valar do balanta um pouco mais estreita na extremidade; o cabo faz com a pá um ângulo agudo de 30° e tem um comprimento de cerca de 50 cm.

Estes diversos trabalhos preparatórios necessitam de mais ou menos mão de obra conforme o estado primitivo dos mesmos. Normalmente como o indígena vive aqui em regime de aldeamentos, ajudam-se uns aos outros na execução dos mesmos. Porém a sua demora é função do grau de limpeza do solo.

Nunca será demasiado contarmos com 30 a 35 jornais-homens para a lavoura de um hectare de terreno.

c) Sementeira É usual na Guiné Portuguesa a mancarra ser descascada para

sementeira. O indígena, quando ela é de má qualidade, separa-a, efectuando

assim uma selecção grosseira. Esta não é porém completa, pois existe sempre dificuldade em separar aquela que, embora em mau estado, não o aparenta.

O fornecimento de sementes é aqui efectuado por intermédio dos celeiros administrativos; a mancarra é emprestada a título gratuito, sendo entregue na colheita. Os cuidados para a sua recepção são poucos e muitas vezes por falta de pessoal. nenhuris.

Em parte pode-se atribuir o fraco resultado da campanha de 1951 às más sementes colhidas em 1950; a par disso, tiveram as chuvas exces-sivas um efeito notório.

Actualmente a qualidade das sementes da província é má, sendo necessário procurar melhorá-la quer por escolha, quer por selecção. A simples escolha já pode ter muita influência sobre a qualidade da mancarra,

Para proceder à sementeira o indígena efectua sobre o camalhão. e numa linha só, a marcação com o calcanhar dando passos curtos de cerca

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de 30 cms. A distância entre as linhas de sementeira é de cerca de 80 cms.

Se a sementeira é efectuada nas primeiras chuvas (Junho) a planta desenvolve-se e cobre completamente o terreno no final do ciclo; se por qualquer circunstância a sementeira se efectua tarde, haveria necessidade de apertar o compasso.

Em ensaios efectuados no Pessubé obtiveram-se os melhores resul-tados para a sementeira nas primeiras chuvas com a mancarra indígena. A sementeira até fins de Julho embora produzisse razoàvelmente já tinha diferenças altamente significativas em relação à primeira. Depois de fins de Julho não convem semear mais, pois os resultados não compensam, aparecendo uma percentagem enorme de vagens falhadas.

Seria de ensaiar a introdução de variedades mais precoces afim de semeá-Ias no tarde.

A sementeira é efectuada muitas vezes por mulheres, sendo. o des-casque feito por crianças.

Para efectuar esta operação num hectare de terreno, o indígena gasta em média 10 dias. Cada covacho leva 2 ou 3 sementes, sendo isso função de quantidade disponível, do ataque de animais, qualidade das sementes, etc.

Existem na Guiné Portuguesa animais que destroiem as sementei-ras; é vulgar o ataque por cachorro-de-mango, macacos, etc.; a formiga branca também causa muitas vezes estragos.

d) Amanhos culturais

Os amanhos culturais, constituídos por mondas e sachas efectuados pelos indígenas, diferem de raça para raça, conforme eles são melhores ou piores cultivadores de mancarra.

Assim os mancanhas, das melhores raças no cultivo deste produto, efectuam uma primeira monda e sacha ligeira durante o primeiro mês do ciclo, não desfazendo então :o camalhão; seguidamente fazem uma sacha, destruindo aquele e amontoando as plantas.

As outras raças procedem de igual modo, mas a limpeza do terreno é que não atinge a perfeição daqueles.

O indígena na Guiné Portuguesa, normalmente só efectua duas sachas e mondas por ciclo da planta; não quer isto dizer que elas sejam suficientes, pois muitas vezes justifica-se perfeitamente uma terceira monda. Uma

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sacha então já vai destruir parte 'da produção, pelo que requere um certo cuidado.

As duas sachas podem absorver com facilidade 30 jornais. Se notarmos que a par dos trabalhos para a mancarra o indígena tem

que olhar pelas culturas alimentares que têm as mesmas necessidades em épocas idênticas, vemos que, por exemplo, para cultivar um hectare de terreno um homem válido tem que exercer durante as chuvas uma actividade grande.

Quer dizer, supondo que um homem válido cultiva por ano um hectare de terreno e que adopta a distribuição 0,5 ha de mancarra 0,4 ha de milho cavalo e 0,1 de outros produtos alimentares (batata doce, inharnes, -mandioca, etc.), temos que a distribuição do seu trabalho será de tal ordem que lhe absorverá completamente o tempo disponível.

De facto nós sabemos que para as variedades que tem, o indígena necessita de lavrar e semear o mais cedo possível, coincidindo os outros amanhos em época.

A sua capacidade de produção na hipótese de 1 hectare em cultura está portanto coberto. .

Para aumentarmos essa só utilizando variedades mais precoces, que produzam só para os meses de Janeiro ou Fevereiro, como O algodão, permitindo a sementeira fora da época crítica.

e) Colheita Embora não pareça, constitui esta operação um dos trabalhos que

mais cuidados exige na cultura, o indígena colhe a mancarra,' conforme as raças, ou muito cedo ou

demasiadamente tarde,. onerando o produto. Estão no primeiro caso por exemplo os balantas da região de

Mansoa, que, não se tendo ainda formado completamente a semente já se dedicam com afinco ao arranque da planta. A colheita nesta época, traz para o indígena uma perda grande em peso, embora a operação seja simplificada, pois os solos conservam-se ainda nesta época fáceis de trabalhar.

Para o comprador traz, como resultado a compra de produtos mais pobres em óleo e uma percentagem elevada de vagens chôchas.

Por outro lado raças, como a mancanha, efectuam o arranque dema-siado tarde e o solo atinge tal dureza que se torna necessário efectuar uma operação especial, batendo-lhe nas zonas das linhas com um pau,

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afim de depois ser facilitado o arranque por meio duma pequena sachola. Neste caso perde o indígena, pois além da colheita ser mais morosa,

há perda de vagens e peso. O comerciante ganha, pois a mancarra é mais densa, sendo a parte

externa do pericarpo submetida a uma limpeza por acção da formiga branca.

É urna. das operações que tem de ser mais controlada na Guiné se quizermos obter produtos de qualidade.

O arranque e separação das vagens dos caules é das operações que mais pessoal consome.

Após o arranque aguardam os indígenas o início da «campanha» para efectuar a separação das vagens.

Com a falta de cuidado que os caracteriza acontece muitas vezes a mancarra ser amontoada no solo, sofrendo estragos por acção das chuvas tardias; a simples colocação do produto sobre estrados feitos com paus do mato, pode evitar isso.

Para que o controle sobre o arranque da mancarra seja eficaz deve-se saber, quando ela está madura; ora isso só acontece após o amareleci-mento dalgumas folhas e, quando observadas as vagens, a parte interior do seu pericarpo está escura, tendendo para preto.

v - Doenças e pragas .

Aparecem com frequência na Guiné Portuguesa duas doenças no amendoim, embora pela sua extensão não constituam problema.

A primeira é uma doença criptogâmica, que se nos afigura tratar-se

do Cercospora personata. Aparece normalmente após. o desenvolvimento pleno da planta, ata- cando as folhas c tomando o aspecto de máculas negras. As

sementeiras efectuadas tarde sofrem, sendo bastante atacadas por ele. O tratamento, se económico, efectuar-se-la por meio da calda bor-

dalesa. A outra é a «roseta» do amendoim.

A planta é atacada com violência e a sua parte central fica reduzida,

tomando as folhas uma coloração amarelada.

Normalmente também não constitui problema, pois só aparece nos

campos que por qualquer circunstância foram semeados tarde

Por isso a densidade da sementeira tem importância, convindo neste

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caso apertar O compasso. De qualquer modo convem evitar a repetição da cultura, no mesmo campo, pois como se .sabe trata-se "duma virose.·

Aparece ainda por vezes, mas mais raramente uma doença cripto-

gâmica que ataca inicialmente a raíz, causando a morte da planta. É curioso no seu ataque, pois aparece muito dispersa; talvez se trate

dum fungo do género

Corticium. , Como pragas de campo nunca nos foi possível observar alguma

com importância. A mais importante praga de armazém que aparece na Guiné Portu-

guesa é conhecida vulgarmente pelo nome de ebicho preto da mancarras. Trata-se dum coleoptero que possivelmente está dentro do género Pachy-moerus; parece tratar-se da especia P. caciae.

São enormes os' estragos causados por esta praga; em celeiros que não estejam suficientemente protegidos, pode atacar até 80 % das vagens no' espaço de poucos meses.

A luta contra a 'praga deverá ser conduzida da seguinte forma: 1.0 Usar armazém apropriado, isto é, com pavimento betonado e

onde se possa efectuar desinfecção com facilidade. 2. Não misturar colheitas de anos diferentes.

3. Efectuar a desinfecção dos armazéns antes de armazenar a colheita nova com emulsão de petróleo a 4 % em água e sabão.

4.0 Efectuar a protecção do produto com' DDT ou gamexana. VI-Produção da Província-Comércio interno e externo do

produto Se observarmos a exportação da Guiné nos últimos dez anos

podemos verificar que o seu valor tem oscilado muito, sendo os valores dos últimos cinco anos, após o fim da grande guerra, mais harmónicos, talvez porque o produto tem sido mais procurado. Inclusivamente chegou-se a ultrapassar as 40.000 toneladas em 1949, o que já se pode considerar interessante.

Constitui este produto a principal exportação da província, seguiu-do-se-lhe o coconote.

O quantitativo anual das exportações nos últimos dez anos, foi: 1941 34.698 Toneladas 1942 19.326 :.

1943 35.298 »

Page 15: Cultura do amendoim na Guiné

1944 20.143 »

1945 36.394 » 1946 26.115 :.

1947 38.862 »

1948 39.195 »

1949 44.128 :. 1950 33.250 »

Vendo o que foi dito anteriormente podemos fazer notar que do quinquénio 1941-45 ao de 1946-50 houve um aumento médio anual de 7.000 toneladas de produto exportado.

O ano de 1950 já apresentou um decréscimo grande em virtude do preço e chuvas tardias; o de 1951 segundo parece, apresentará uma dife-rença maior, em virtude do excesso de chuvas, má qualidade de sementes e preço.

O comércio da mancarra tem aqui um aspecto curioso; a época de venda. do produto é conhecida com o nome de ecampanhas.

Ela abre normalmente no princípio de. Dezembro, estando termi-nada em Fevereiro. Durante este período o produto é completamente transaccionado, sendo o movimento comercial importante.

O principal mercado consumidor é. a metrópole, sendo o preço do produto controlado pelo governo central.

Existem na províncias as chamadas casas exportadoras, que possuiem grandes capitais para movimento.

Estas casas, como precisariam duma grande organização para com-prarem o produto, lançam mão de intermediários os quais mediante um contrato fazem a compra.

A compra só pode ser efectuada nos chamados «centros comerciais", sendo proibida a compra noutras condições; visa esta medida a protecção ao comércio estabelecido.

O transporte do produto para os centros comerciais é feito pelos indígenas que ou trazem ebalaioss à cabeça ou então usam burros.

O transporte animal é o mais usado na zona nordeste da província. O

comerciante amontoa a mancarra nos chamados «cercos", aguardando aí

saída para os portos de embarque. A mancarra que está para o interior onde não há rios, é transportada

em camião, para locais onde se possa efectuar o transporte fluvial. Daí ela vem em «lanchas) para' os armazéns nas zonas de embarque.

Page 16: Cultura do amendoim na Guiné

VII -Ideias sobre 8S possibilidades de desenvolvimento da produção na Guiné Portuguesa

Até à data pouco se tem feito com verdadeiro sentido técnico, para se tentar aumentar a produção da Guiné Portuguesa em amendoim.

As sementes distribuídas pelos celeiros administrativos não têm sido as melhores, ressentindo-se dessa falta de cuidado, as produções.

A mistura de sementes é frequente, o cuidado com selecção, a mais simples, é nenhum; enfim tudo se tem conjugado para que, embora se 'semeiem maiores áreas, a produção não sofra o incremento corres-pondente.

Embora a produção diminua devido à fraca qualidade das sementes, outros factores existem que muitas vezes contribuem para esse resultado. Assim as chuvas normalmente excessivas causam prejuízos grandes; por outro lado os solos não corrigidos e muitas vezes pouco férteis, também actuam no mesmo sentido.

Em conclusão para a resolução deste problema três pontos funda-mentais se deve procurar atingir:

a) Escolher o melhor meio para desenvolvimento da planta; b) Semear as melhores sementes;

c) Procurar aumentar a capacidade de trabalho do indígena.

Para atingir o ponto a) torna-se necessário:

1) O estudo climático da Guiné, afim de estabelecer as melhores zonas para a cultura.

Já anteriormente dissemos que cada tipo de amendoim tem o seu clima ideal.

Para o que nós conhecemos actualmente da climatologia da Guiné está justificado o avanço da cUltura para as zonas fronteiriças de N. E., pois aí chove menos. Já o mesmo não acontece quanto às variedades, pois devem ser deslocadas para aí as de ciclo mais curto e produtoras de óleo; as variedades de ciclo mais longo e pericarpo mais espesso, que são de confeitaria, têm o seu lugar marcado mais para o sul.

2) A indicação dos melhores tipos de solo para' a cultura. O indígena que já efectua a cultura em rotina sabe normalmente

procurar os melhores solos. De resto existem plantas que podem ter a função de indicadoras. Assim, a Acácia albida é característica de solos ligeiros e tem um papel muito importante na regeneração deles; a Cassia ocidentalis e a Cassia thora são também indicadoras. Solos em pousio

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cultivado com aquelas plantas, ao fim de um ano consideram-se suficien-temente regenerados.

Por outro lado a Guiera senegalensis é considerada indicador de terrenos cansados e o Combretum micranthum considera-se indicador de terrenos lateríticos, com couraça, ao mesmo tempo que a Imperatas cylindrica.

Quer dizer, existem no meio que estamos tratando, um certo número de plantas que só por si, são capazes de nos dar uma certa indicação, quanto à natureza e grau de fertilidade do solo.

3) A conservação e protecção do solo durante a rotação. Como já dissemos este problema é capital.

Põe-se portanto a necessidade do estudo racional da rotação ou rota-ções necessárias olhando em primeiro lugar àquele factor.

Já todos sabemos que aceleração e degradação dos solos nestas regiões, se deve em primeiro lugar ao estabelecimento de culturas de exportação, com carácter extensivo.

Tudo isto preveio de um conhecimento errado do potencial de ferti-lidade destes solos e da sua evolução. Hoje que já se começa a ter algumas noções sobre isso, procura-se arripiar caminho, tentando soluções.

É do conhecimento geral o papel importante que tem o coberto vege-tai na protecção do solo; é ainda desse conhecimento a facilidade e rapidez com que depauperam os mesmos nestas regiões.

Torna-se portanto necessário, quando pensarmos na rotação para esta zona, olhar ao pousio do solo e que este seja protegido.

Já anteriormente citamos duas leguminosas comuns da Guiné C. oci-dental e C. tora que poderiam servir para isso; qualquer delas .produz uma bela massa para enterramento.

o Calopogonium mucunoides ' (?) servma também para o mesmo fim; desenvolve-se com extrema rapidez e dá um coberto completo; o seu defeito maior é tornar-se uma -planta invasora.

O' pousio com coberto natural traria como resultado um prolonga-mento da rotação; normalmente só após um descanso de 4 anos é que o indígena considera o solo apto a novas culturas.

Fazer entrar dentro dos hábitos indígenas o pousio cultivado, sena dos maiores benefícios que se poderia obter.

Com ele conseguiríamos proteger o solo e ao. mesmo tempo enn-quecê-lo, tornando-o mais equilibrado na sua fertilidade.

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Resolver-se-ia assim o problema de humus no solo que é fundamental.

Está claro que se a par disto existisse a possibilidade de estrumações, seria

o ideal.

O ponto b será função de trabalho e verbas dos servíços oficiais. Todos

sabemos que até à data têm os serviços agrícolas da província lutado com

dificuldades e ainda hoje não estão convenientemente instalados. A sua

função parece muitas vezes desconhecida ou pelo menos ignorada; nestas

condições torna-se difícil trabalhar. Para que realmente se possa pensar convenientemente na obtenção de

melhores sementes na Guiné, tornar-sé-ia necessário quanto a nós, instalar na melhor região de amendoim um posto agrícola dedicado

ao seu melhoramento e selecção. Seria aí feito' o estudo do seguinte: . 1) Rotação mais conveniente

Ainda não está feito este estudo; poderíamos iniciar este trabalho, procurando quanto a' nós:

Fazer a pesquisa das plantas que com o amendoim deveriam cons-tituir a rotação cultural. Assim a inclusão no início da mesma, quando os terrenos possuam fertilidade para isso, do algodão, seria interessante, pois isto permitiria aumentar a capacidade de trabalho do indígena; esta seria realidade, pois a planta semeia-se e colhe-se mais tarde, ficando o seu ciclo portanto deslocado em relação ao normal na Guiné Portuguesa.

Além do algodão poder-se-la introduzir plantas dos géneros Urena e Hibiscus que, desde que a fertilidade seja suficiente, produzem bem.

Na verdade as espécies Urena lobata e Hibiscus cannabinus, desen-volvem-se aqui com facilidade.

Além <Ia escolha das plantas teríamos que ver~ficar a reacção do ciclo cultural do pousio.

Notar-se-ia o comportamento daquele, sendo protegido ou não e ainda se essa protecção fosse natural ou cultivada.

Além da inclusão de plantas de fibra, certas regiões necessitariam duma rotação com a cultura alimentar mais comum, pois conviria não esquecer estas, para não crear problemas -de alimentação.

Ter-se-ia presente sempre, que ao ser estudado um determinado tipo de rotação, ele deveria procurar quebrar a monocultura em que vive a província.

Esta é uma das realidades mais chocantes que aparece no panorama económico da Guiné.

2) Procura de tipos de amendoim e sua selecção

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Devia ainda esse Posto estabelecer uma colecção o mais completa possível dos diferentes tipos de amendoim, ao mesmo tempo que traba-lharia a matéria prima local, tentando melhorá-Ia.

Todas as variedades introduzidas deveriam ser controladas e elimi-nadas aquelas que não tivessem interesse. A selecção deveria ser geneológica, pois a planta é autogâmica. Far-se-ia a escolha dos melhores pés-mães, que seriam submetidos a estudo durante 2 ou 3 anos.

Depois ir-se-ia durante 3 ou 4 anos para ensaios comparativos de linhas, sendo então eliminados os piores.

Nos primeiros 2 ou 3 anos far-se-ia o estudo de caracteres que nos provassem a pureza dos pés-mães. .

Nos últimos 3 ou 4 executar-sé-ia, a par de ensaios comparativos, . os mesmos estudos que anteriormente, acompanhados de observações quanto a resistência às doenças.

Depois disto ir-se-ia para a reprodução no Posto, seguindo-se a mesma em talhões espalhados pela região de produção. Depois de observado o comportamento. na Província é que se iria para a reprodução em larga. escala.

3) Diversos problemas Deveriam ser efectuados ensaios no sentido de: 1) estudar os

melhores 'Processos de lavoura 2) armação de terreno 3) compasso (tentando os mais densos) 4) desinfecção de sementes 5) adubações e correcções.

1) Quanto a lavouras as últimas pesquisas nestas regiões têm intro-duzido novos conhecimentos sobre o modo como deve ser preparada a terra para a sementeira.

Deviam-se efectuar estudos em primeiro lugar para se ver o efeito do reviramento da leiva sobre a produção. Observando os solos da Guiné verifica-se que eles não têm normalmente grande profundidade e o seu reviramento pela aiveca traz como resultado levar 'Para a superfície, horizontes ainda não completamente desenvolvidos, em más condições portanto de fertilidade.

As questões de estudo da profundidade da lavoura seriam também de atender.

O conhecimento do material agrícola mais próprio, nas condições da província, seria de efectuar, tendo em vista as seguintes condições:

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a) Ser leve e resistente; b) Ser eficaz e de fácil manejo;

C)i Ser adaptada à tracção animal, notando-se que a força do gado desta zona é bastante menor que o da Europa.

2) O estudo do. processo de armação do terreno mais próprio para a cultura seria de efectuar.

Deveríamos atender a que, embora o normal na Guiné seja o cama-Ihão, 'Pode muitas vezes ser substituído com vantagem por outras armações.

É tudo uma questão de drenagem. 3) Seria ainda experimentada a variação de compasso, que tornasse

possível o estudo do melhor. Deve-se procurar o compasso que proteja o terreno no fim de 2 meses de cultura.

Os compassos mais densos são de aconselhar ; talvez o razoável esteja num quantitativo de 90.000 plantas por hectare, isto para a cultura indígena. Se a cultura for mecânica temos que estudar a abertura nas entre-linhas que deve dar à máquina possibilidades de trabalhar.

Em resumo a tendência deveria ser para apertar o compasso indí-gena que nos dá um 'número baixo de plantas por hectare.

4) Em virtude da importância que tem em qualquer região do globo a desinfecção das sementes, seria de efectuar o seu estudo para- a Guiné.

Em estudos efectuados na zona vizinha francesa, chegou-se :1 resul-tados muito importantes; de facto os aumentos verificados na produção pelo uso de fungicidas, foram aí até 20 %, o que é importantíssimo.

Muitas vezes sementes, que por quaisquer circunstâncias sofreram choques, são eficazmente protegidas pelo uso dos mesmos.

5) Fala-se actualmente muito em correcções e adubações de solos, estando ainda mal conhecido o seu comportamento nas regiões tropicais. Pelas quedas brutais de água que aqui se verifica e pelo desconhecimento das reacções que provocam, o seu estudo ainda está pouco desenvolvido.

Em todo o caso, em ensaios efectuados na Granja de Pessubé, veri-ficou-se em dois anos a influência significativa do cálcio e do fósforo, sob a forma de super fosfato, na produção de mancarra,

A correcção do solo nesta província afigura-se-nos pois, muito impor-tante; pena é que as possibilidades sejam mínimas, pois a única fonte daquele são as conchas marinhas.

O fósforo, embora aqui fàcilmente se insolubilize, pois existe ferro em abundância, ainda tem influência na produção.

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Para os outros elementos seria interessante continuar a verificar a acção dos mesmos na produção, pois ela não se mostrou importante.

Independentemente da acção dos elementos seria de estudar doses e épocas de aplicação dos mesmos.

Ainda seria de efectuar a pesquisa de elementos que como o magnésio parecem ter importância, como factores de produção.

Para uma ideia de como se deve efectuar a adubação da mancarra, podemos dizer que mil quilogramas do produto. retiram em média do solo o seguinte:

Azoto - 70 Kgs P20ij - 10 » K20 - 28 » Cao 18» MgO - 12 » Estes números são citados para o Senegal, 'Por S. Bouyer no seu

estudo <Croissance et nutrition minérale de d'arachide». Embora estes resultados não sejam certos, pois as variaçoes são

sempre muito grandes, podemos contudo verificar a presença daqueles elementos.

O magnésio que, como vemos apresenta um valor elevado, parece ter uma acção muito marcada na produção.

Os .ingleses que na Gâmbia trabalham no departamento de nutrição, apresentaram este elemento como responsável das fracas produções aí . obtidas, pois os solos são normalmente deficientes neste.

Ao valor elevado de azote não corresponde a necessidade do mesmo elemento ser aplicado em tão grande quantidade, pois trata-se de uma leguminosa.

O facto de não termos verificado a acção deste elemento e do potássio sobre a produção nos ensaios aqui efectuados, pode ter a sua razão na queda pluviométrica execessiva ; a aplicação fraccionada seria de aconselhar.

Em todo o caso lembramos sempre que qualquer aplicação de adubos nestas regiões tem grandes contras, pois o preço e as doses elevadas, devido a perdas por chuvas excessivas, tornam a aplicação anti-económica.

Para atingirmos o ponto c teríamos que, além de cumprir os pontos a e b, procurar ocupar o indígena completamente durante a sua época agrícola e ainda dilatá-la, se possível, pelo estabelecimento de regadio nas zonas mais apropriadas durante a época seca.

Para ocuparmos melhor a época de cultura, teríamos que arranjar produtos cuja colheita se fizesse mais tarde (caso do algodão) e em que a época da sementeira estivesse deslocada em relação ao ciclo cultural das plantas da Guiné Portuguesa, cuja sementeira se efectua normalmente no início das chuvas. Seria ainda de fazer o estudo de máquinas

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agrícolas nas condições que referimos anteriormente. Atém destes e de outros problemas a estudar, o Posto a instalar teria

campos de reprodução que teriam uma capacidade de produção de 200 toneladas.

Inicialmente e independentemente do seu estudo futuro, adotar-se-ia por exemplo a rotação cultural seguinte:

1.0 ano - algodão 2. o ano - amendoim 3.0 ano -leguminosa cultivada para enterrar.

3) Apertar o compasso usual;

4) Efectuar os granjeios oportunamente; 5) Fazer a colheita quando o produto está maduro, sendo

proibido caso contrário. B) Para o futuro e com os mesmos fins, seria necessano efectuar o

que se refere ao Posto Experimental de Amendoim. A. Castro

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