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Crônicas para Meditação Nei Leite Mendonça 1ª Edição Goiânia 2014

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Crônicas para Meditação

Nei Leite Mendonça

1ª Edição

Goiânia2014

SUMÁRIO

Apresentação ......................................................................5Prefácio ..............................................................................7Prece ...................................................................................9A Cura pela Fé .................................................................11A Dor do Espírito .............................................................12A Esperteza não Compensa ..............................................14A Grandeza .......................................................................17A Ponte .............................................................................18A Riqueza .........................................................................20A Saúde da Alma ..............................................................22A Viagem..........................................................................23Achado Perdido ................................................................25Administrar a Vida ...........................................................30Alvorecer ..........................................................................32As Virtudes .......................................................................33Bater à Porta .....................................................................34Bosque da Saudade ..........................................................38Caminhada .......................................................................41Casa Pequenina ................................................................43Citações Naturais .............................................................45Conversa de Português .....................................................47Crescimento Espiritual .....................................................49Cruz para Redimir ............................................................51Cura Orgânica ..................................................................52Depressão .........................................................................54Edifi car .............................................................................56Em Cima do Muro ...........................................................57Encruzilhada da Vida .......................................................58Falando da Natureza ........................................................62

Fechar a Porta ..................................................................69Libertação ........................................................................70Mensagem do Além .........................................................72No Fulgor da Vida ............................................................75O Despertar ......................................................................77O Mandatário ...................................................................79O Retorno .........................................................................80O Sertanejo Solitário ........................................................82Orgulho ............................................................................85Os Quatro Personagens ....................................................87Paixões .............................................................................91Passaporte da Saúde .........................................................93Pedras ...............................................................................95Pensamentos .....................................................................96Pequenas Cidades .............................................................97Popurri............................................................................100Progressão ......................................................................103Progresso Espiritual .......................................................104Promessas Cumpridas ....................................................107Refúgio Solitário ............................................................109Rico Pobre ......................................................................115Rota da Vida ...................................................................117Roteiro Diamante ...........................................................119Saudade ..........................................................................120Sonhos Dourados ...........................................................121Superstição .....................................................................124Um Caipira na Cidade ....................................................126Um Quarteto Insólito .....................................................131Vida Retida .....................................................................134Vidas Existentes .............................................................138

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APRESENTAÇÃO

Os artigos e crônicas espíritas desta obra revelam não apenas o conhecimento que o autor tem da Doutrina Espírita, mas, sobretudo, sua alma generosa e o quanto aprendeu em sua vida.

São refl exões de quem cultiva a Doutrina Espírita desde a meninice – eis que é fi lho de família espírita. Estuda-a, pois, há longo tempo e a compreendeu em seus três aspectos: científi co, fi losófi co e religioso. Seus textos falam de seus esforços para vivenciar os sublimes ensinos evangélicos, à luz do Espiritismo; e das ricas experiências que a vida lhe proporcionou, seja como pai de família, seja como cidadão cônscio de todos os seus deveres.

Seu temperamento comedido, reservado, de poucas palavras e atenta observação da vida que o cerca, ensejaram-lhe apreender e vivenciar a mensagem da Boa Nova.

De forma criativa, ilustra em diversas crônicas, a importância de se praticar os ensinos de Jesus e, sobretudo, de se combater os inimigos íntimos, especialmente o orgulho, a vaidade e o egoísmo.

Em muitas outras revela que soube facear os obstáculos que a vida lhe apresentou, confi ando em Deus e crescendo para Ele; aceitando as provações com humildade e aprendendo as lições que elas nos trazem a todos, em nossa caminhada evolutiva.

Nesta obra, doa-nos precioso legado de uma vida honrada, de estudo, de trabalho, do cumprimento de suas

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obrigações, além do dever.Seus textos trazem-me à lembrança a bela poesia de

Francisco Otaviano1:

Ilusões da vida:

Quem passou pela vida em branca nuvem,E em plácido repouso adormeceu;Quem não sentiu o frio da desgraça,Quem passou pela vida e não sofreu;Foi espectro de homem, não foi homem,Só passou pela vida, não viveu.

Ele é, pois, alguém que não só passa pela vida, mas a

vive em plenitude, sendo útil não apenas a si e à sua família, mas à comunidade e a todos que o cercam.

Gebaldo José de Sousa

1 Francisco Otaviano de Almeida Rosa: político de certo prestígio no Segundo Império. Chegou a Senador e ascendeu na carreira diplomática. Tem poucas publicações. Viveu de 1825 a 1889. Fonte: Jornal O Semeador, mai/01. FEESP.

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PREFÁCIO

Conviver neste planeta de provas e expiações exige perspicácia no comportamento, para que evitemos novos compromissos que nos distanciem ainda mais do nosso de-sejo maior, que é o estado de felicidade.

Foi pensando no bem-estar de todos que nos propu-semos, em comum com os mensageiros do além, estudar o que projetamos no presente compêndio. A temática de vida nos condicionou a recrutar as experiências com auxílio de irmãos do além, mediante inspiração, para a elaboração dos textos em apreço. A capacidade dos mentores foi grandiosa para o trabalho.

Os temas abordados nas páginas deste fascículo per-mitem refletir sobre a mente e amenizar estados angustio-sos, tendo em vista que para o nosso estudo tivemos como base a literatura espírita.

O leitor tem o direito de criticar. Nossa intenção foi de ajudar e não denegrir.

Fica aí esta humilde colaboração pessoal a quem nos der a honra de sua leitura.

Goiânia, outubro de 2014.

O Autor

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PRECE

Reverenciamos Deus na formação do Universo, no brilho das estrelas, na harmonia da natureza, na criação do homem, na criança que sorri, no jovem que espera e no ido-so que recorda. O reverenciamos, ainda, no progresso da humanidade e no avanço da ciência, nas possibilidades ili-mitadas da tecnologia, que devem ser revertidas para o bem estar de todos os homens.

Senhor, que fizeste da nossa criação um ser inteligen-te em demanda do infinito e que Estais em nosso íntimo a proteger-nos para que saibamos cumprir com esmero a mis-são que acabamos de receber, que plantemos hoje o futuro para sermos melhores do que ontem.

Rogamos ao Senhor, que nos incite a paciência para compreender melhor as pessoas como elas são e não como desejamos que elas sejam; que nos dê humildade a fim de superarmos a intolerância alheia; que tenhamos fé e espe-rança na superação dos obstáculos que depararmos no dia-a-dia de nossa vida; que em todas as situações irradiemos bom humor a todos que nos cercam.

Senhor, não permita que pensamentos negativos nos desviem da rota sadia; que tenhamos vigilância constante de nossas atitudes, que consigamos santificar o nosso cará-ter, dignificar sempre a nossa personalidade, espiritualizar o nosso raciocínio. Ilumine o nosso coração, a fim de con-tarmos sempre com a Vossa presença, porque:

- ainda que conquistemos as maiores distâncias atin-

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gindo outros planetas e outras humanidades no Império Cósmico,

- ainda que enfeixássemos nas mãos todos os pode-res da ciência com a possibilidade de comandar a força dos átomos,

- ainda que conseguíssemos enxergar no futuro os passos das nações;

- ainda que possuíssemos as chaves do conhecimento universal para descerrar as portas das grandes revelações,

Se não tivermos amor nos corações, solidariedade nas ações, sentimento de acolhida pelo outro, de nada valerão para nós as vitórias da inteligência e permaneceremos ilha-dos em nossa própria inferioridade, inabilitados para qual-quer ascensão à felicidade.

Nos momentos de intolerância que vivemos nos dias de hoje, em que nações se digladiam egoisticamente em busca de poder, queremos contar, Senhor Jesus, com o Seu amparo e com o apoio do Seu amor para nortear os passos de toda a humanidade, especialmente daqueles que sofrem vítimas desses conflitos, como também os nossos passos na caminhada que agora iniciamos.

Que assim seja!

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A CURA PELA FÉ

A fé lógica, com base na razão, ajustada à esperan-ça com apoio nos pensamentos sadios e elevados, tem um grande poder na conquista da realização dos desejos do ho-mem e na cura de suas enfermidades.

O organismo humano é constituído autoimune a qual-quer enfermidade, através das glândulas endócrinas e os centros energéticos, que formam os hormônios destinados a recompor o desgaste dos órgãos do corpo somático, em virtude dos distúrbios enfermiços provocados pelo próprio homem.

As pessoas, pela inércia e pela falta de vigilância men-tal, cometem desvios de comportamento que comprometem a sua saúde física. O homem não vigilante é uma pessoa ví-tima fácil dos pensamentos negativos e consequentemente do assédio de Espíritos imperfeitos que vibram na mesma faixa mental.

Para que as glândulas endócrinas liberem hormô-nios necessários para o controle da saúde são necessárias condições favoráveis para correção do órgão enfermo. São indispensáveis pensamentos sábios, muita fé, esperança e concentração.

A fé leva o cérebro a estimular a produção de diversas enzimas por meio da glândula hipófise. Elas melhoram o sistema imunológico no combate a doenças físicas. Pela fé, o homem mobiliza o sentimento e a emoção na captação das energias magnéticas que, associadas aos hormônios fí-

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sicos, são irradiadas pela mente através do sistema nervoso no órgão enfermo.

Uma vez que nem todas as pessoas têm esse potencial de cura, é necessário o socorro da medicina convencional.

A DOR DO ESPÍRITO

O porquê da vida leva o homem a ridículas quedas por ele mesmo provocadas para, depois disso, se levantar. Estas quedas são procedentes de seu estado de alma enfer-ma.

As enfermidades orgânicas são reflexos das doenças da alma.

Quem desfruta de um comportamento irregular põe em risco a própria sobrevivência. É preciso que a humani-dade aprenda a viver com sabedoria, amando a si própria e ao seu semelhante, cumprindo assim as leis que regem a vida na Terra.

A existência de muito sofrimento, em geral, é atinente a existências pretéritas, pois o Espírito ao reencarnar traz consigo o carma de uma “luta” a superar, constituída por suas imperfeições.

Não é em vão a afirmação de Jesus Cristo de que o planeta Terra não é um local de felicidade, é sim um plano de provas e expiações.

Vencer as dificuldades que surgem durante a vida é um desafio que todo cristão tem de enfrentar com fé e espe-

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rança para conter a dor que o aflige, pois ele é o responsável por esta situação.

“Sofrer” é uma lavagem ou banho que o Espírito su-porta como forma de reforma íntima, para eliminação de suas próprias imperfeições.

O universo é uma criação divina que sempre tem es-timulado o ser humano a investir em seu benefício pessoal, absorvendo com presteza os saberes que a natureza lhe re-serva, desenvolvendo a humanidade e formas de superação das dificuldades surgidas durante a vida física.

É dever amar a si mesmo e aos semelhantes, saber viver com sabedoria no cumprimento das leis a que está submetido.

As pessoas devem ser otimistas, mantendo pensamen-tos higienizados, sentimentos nobres e não se aborrecendo com dificuldades e sofrimentos, pois tudo é temporário.

O sofrimento que aflige o Espírito na erraticidade é muito superior à dor física, uma vez que a dor moral contida na consciência do ser só é minorada pelo arrependimento. Por isso deve o homem reconhecer seus atos maléficos e desenvolver o arrependimento por tê-los praticado. Sofri-mento penoso para quem o suporta, vítima de si próprio, mas necessário, uma vez que o leva a cumprir a Justiça Di-vina.

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A ESPERTEZA NÃO COMPENSA

Joaquim, de nacionalidade portuguesa, homem sem cultura, mal educado e sem escrúpulos, pessoa ativa e mal intencionada, pela maneira como conduzia sua vida, con-seguiu adquirir muitos recursos financeiros. Manoel, seu conterrâneo, conhecia bem a sua fama, a sua maneira de proceder; eram amigos, porém de naturezas incompatíveis.

Dizia Joaquim:– Quero ficar mais rico de qualquer forma, pois so-

mente assim me tratarão como mereço e terei condições de usar o meu prestígio na submissão dos meus compatriotas. Manoel, dizia Joaquim, você não ganha dinheiro e nem fica rico vendendo alimentos. Tem de fazer como eu, ser esperto e, se possível, ludibriar o freguês.

– Ora Joaquim, dizia Manoel, acho que devemos va-lorizar a vida com bons propósitos e não ferir os interesses dos amigos, a convivência com eles nos é salutar e agra-dável. Somos pobres e eles são amigos que conquistamos. Joaquim, você corre atrás do ouro, não tem amigos para confidências, é natural que sofra angústia e solidão!

– Tu te enganas, Manoel, expunha Joaquim, sou mui-to procurado para negócios e uso a minha tática. Nem sem-pre sou bem compreendido, mas nunca perco e assim levo a vida, cuidando dos meus interesses, não dispondo de tempo para lazer.

Expressava Manoel:– Joaquim, a vida não é só ganhar dinheiro e guardá

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-lo. Deste mundo nada se leva a não ser os bons propósitos, honestidade, amor no coração e a Deus.

Entendia Joaquim, com a sua pseudossabedoria, que na vida dos negócios há sempre um que ganha e outro que perde. Homem rico, Joaquim era sempre procurado por muitas pessoas. Certa feita recebeu a visita de Pablo Spino-za, espanhol que, simulando simplicidade, disse de si para si mesmo:

– Hoje é o dia de dar o pulo do gato em Joaquim.Pablo, homem esperto e astucioso, não perdia oportu-

nidade de fazer bons negócios. Dizia Pablo:– Joaquim, tu sabes que nas minhas terras há muito

ouro, até em pepitas, e como sei que o amigo gosta de ex-plorar jazidas deste minério, quem sabe façamos um bom negócio.

– Ora Pablo, observou Joaquim, não me desperta grande interesse este negócio. Quero sim comprar ouro, po-rém não descarto um estudo in loco para avaliar a possibili-dade de um negócio.

Pablo, que conhecia bem suas terras, adquiriu de um garimpeiro um quilo de ouro misto e enterrou na fazenda de forma que, se pesquisado, pudesse encontrá-lo.

Depois de se entenderem, marcaram uma data para visita às terras, local onde Joaquim constatou a veracidade e animou-se para o negócio.

De retorno à cidade, ambos trocavam ideias sobre a transação e fecharam o negócio. O valor foi alto e Pablo documentou o comprador.

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Despediram-se. Pablo cumprimentou o amigo dese-jando-lhe muito sucesso com o aumento do patrimônio. Em seguida, tomou o transporte com destino ignorado.

Joaquim, homem inculto, porém ambicioso, manco-munava consigo mesmo:

– Agora que tenho a jazida, vou ficar mais poderoso, vou contratar alguns trabalhadores para extrair o ouro que tenho.

Qual não foi a tristeza de Joaquim ao verificar que caiu no “conto do vigário”, pois nas terras adquiridas não existia ouro algum como pensava.

Joaquim ajustava as contas com o próprio pensamen-to:

– Um dia quero encontrar com o safado espanhol para acertar as contas. Ora, ninguém nunca me ludibriou, não será esse homem que vai me enganar.

Quando Joaquim caiu em si, ficou tenso e indignado, quis localizar o espanhol, porém já era tarde, pois ele já havia viajado há dias.Agora, pobre, sem recursos e sem amigos, pois que o seu comportamento egoístico não recomendava amizade, Jo-aquim ainda contou com o conterrâneo Manoel que con-servou sua amizade, haja vista que a Espiritualidade amiga não desampara ninguém.

Refletia Manoel junto a Joaquim:– Joaquim, a esperteza não compensa, o patrimônio

que temos é um empréstimo divino e deve ser bem adqui-rido para contar com as benções de Deus para prosperar,

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somente assim as pessoas podem ser felizes.A maior riqueza está no coração, em saber dar de si

em favor do próximo, sem esperar retorno.

A GRANDEZA

O fracasso por que passa o homem que foi rico, orgu-lhoso e egoísta é o resultado do mau uso do poder econô-mico e social, submisso que está à lei de Causa e Efeito. A prática da caridade com humildade no coração é condição indispensável para evitar uma reencarnação em condições vexatórias como resgate do pretérito de débitos assumidos.

Deve saber comportar-se diante dessas situações en-tre ambos os estados, pois todos tendem ir a Deus. Porém, é necessário o cumprimento dos estágios na escola da vida, que nos premia com as virtudes adquiridas com o compor-tamento moral, retemperado no amor ao próximo como a si mesmo, servindo a Deus, que a tudo assiste.

A sociedade humana é composta por homens orgu-lhosos e egoístas, na qual o pobre não tem acesso, em que não se é valorizado sem a boa apresentação. As pessoas portadoras de enfermidades da alma (orgulho, egoísmo e vaidade) são criaturas fadadas a surpresas desagradáveis.

Para a correção das enfermidades é necessário que o paciente curse a escola da vida, a qual indicará a forma de eliminar essas imperfeições e o preparo para uma vida mais feliz. É um estágio difícil, pois o paciente dificilmente re-

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conhece a enfermidade. Contudo, todos os homens estão submissos às leis naturais e divinas que regem a vida.

Jesus não desprezava ninguém, porém valorizava a simplicidade e convidava: “vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus, 11: 28-30).

O jugo a que Jesus alude constitui-se de seus ensina-mentos e o fardo é a prática do aprendizado.

Se desejas isentar-se dos males e paixões terrenas e escapar das reencarnações dolorosas, cultive a moral e faça com que a vez do dever enriqueça sua alma de conhecimen-to da ciência e da moral cristã a fim de livrar-se das imper-feições da alma para o fiel cumprimento de sua missão e o real cultivo da lei do amor e da caridade.

A PONTE

Sendo os conhecimentos infinitos, o homem tem o dever de adquiri-los para o seu aprimoramento espiritual junto à Lei do Progresso.

Ante o exposto, cumpre trabalhar com denodo, a fim de atingir a meta almejada. Como Espíritos que somos, temos direitos e obrigações a cumprir, pois vivemos num planeta de provas e expiações, no qual temos o dever de

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adquirir experiências e aprimoramento moral. Jesus Cristo recomendou que devemos nos amar e instruir. Temos, as-sim, o dever de desejar ao próximo aquilo que queremos que nos seja feito.

Há muitas pessoas que vivem na ilusão das paixões enfermiças pelas contingências que o planeta oferece. Ne-gligenciam o aprimoramento íntimo, única maneira de se conseguir a relativa felicidade.

As ilusões, quando maléficas, interceptam o progres-so moral, vinculado às enfermidades da alma.

O rio das ilusões tem duas margens. À direita, vivem as pessoas que superaram a fase aguda das ilusões, alcança-ram grau de evolução condizente ao dos Espíritos nobres, cumprem as leis e a justiça com rigor e são felizes, ambien-te que reflete a Terra regenerada no futuro.

À margem esquerda residem os infelizes sofredores, de mau caráter, enfermos da alma, que prevaricaram no cumprimento das leis. Hoje sofrem as consequências, sub-missos que são à Lei de Causa e Efeito.

De quando em vez, tentam migrar para a outra mar-gem, porém são impedidos pelo estado de imperfeição e a barreira na ponte. Somente os aptos terão passagem fa-cultativa. Já os renitentes, que não aceitam progredir, serão impedidos pela Mãe Natureza, até que satisfaçam as condi-ções necessárias a essa mudança.

Assim deverá ser o planeta no futuro, para haver paz e felicidade.

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A RIQUEZA

No transcorrer de nossa existência sempre cultivamos o pensamento na busca de melhores condições de vida. Para atingirmos esse fim, lutamos de corpo e alma com esforço para a consecução desse objetivo. Porém, nem sempre so-mos vitoriosos.

A despeito do esforço pessoal, somos premiados com o que merecemos.

Tudo que nos chega às mãos é um empréstimo que Deus nos concede para que o conservemos e dele façamos bom uso no intuito de que contribua para nosso aprimora-mento. Se conseguimos bens materiais com as benções de Deus, é lógico que temos maior responsabilidade e compro-misso na prestação de contas no plano espiritual, pois muito será pedido a quem muito recebeu.

Observemos o rol daqueles que sobressaem na coleti-vidade como depositários de bens materiais e que, durante a vida, cumprem fielmente as obrigações, sendo, o prêmio, a manutenção patrimonial durante a existência terrena.

O mesmo não acontece com o depositário infiel, que não faz bom uso dos seus bens e o empréstimo é suspenso, voltando à natureza que sabiamente o distribuirá àqueles que são merecedores.

Para desenvolver atividades que a vida nos exige, temos de avaliar também, além do patrimônio tangível, o extrafísico: a saúde, a paz, o código da ética moral (humil-dade, indulgência, amor, serenidade e conhecimento da Ci-

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ência e da Filosofia) que constituem o nosso bem-estar e felicidade que são riquezas dadivosas de Deus.

A nossa responsabilidade na manutenção destes bens, como fiéis depositários que somos, é muito grande e qual-quer falha no comportamento compromete nosso bem-es-tar; portanto, é indispensável para a nossa felicidade, o cumprimento do código de ética moral e, para o qual, temos de estar vigilantes e atentos quanto ao nosso pensamento.

O nosso maior tesouro na Terra é a vida física com saúde, para a qual damos pouca importância e, diante dos atos desvirtuados, colocamos em risco a sobrevivência. O comportamento humano é diversificado, há aqueles que sa-bem valorizar a vida com sabedoria e discernimento, com atitudes que lhes garantam uma vida em harmonia com as leis a que estão submetidos.

Há homens que pela sua indiferença malbaratam a vida, empregando seu tempo em procedimentos que põem em risco a sua própria sobrevivência. Existem criaturas que, obcecadas pela vaidade, egoísmo e outras imperfei-ções morais, se portam como suicidas inconscientes e per-dem a existência na maior ignorância da vida extrafísica.

No afã de crescer, o cidadão busca arregimentar co-nhecimentos equacionando suas emoções e sentimentos num patamar de atitudes nobres que lhe permitam um apri-moramento espiritual graduado, atingindo assim o objetivo da existência terrena.

Não obstante os maus procedimentos, homens que desvalorizam a vida levados que são pelos vícios e hábitos

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de toda estirpe, portam-se como cegos na estrada da vida, envolvidos que são por tensões terrenas a influenciar a sua trajetória.

A SAÚDE DA ALMA

A humanidade nasce para crescer, evoluir moral e es-piritualmente, que é a finalidade de todo ser. Esse propó-sito exige muito esforço e dinamismo para eliminação das imperfeições íntimas, dos hábitos adicionais, dos vícios e paixões intrínsecas e das injunções do carma referentes a existências passadas.

O Espírito foi criado simples e ignorante, porém in-teligente, para aprender e evoluir até alcançar a perfeição relativa, sempre contínua, cuja atividade é cooperar e mo-nitorar na administração do universo no cumprimento das Leis de Deus. Tal evolução pode ser iniciada nesta vida, seguindo as prescrições dos ensinamentos de Jesus.

As pessoas, imbuídas do processo de elevação espi-ritual têm a obrigação de manter muita vigilância mental, a fim de evitar envolvimento nas tentações que surgem na estrada da vida e que insuflam ideias tendenciosas que des-virtuam o homem, levando-o à decadência moral.

Em virtude de a maioria dos terráqueos ser composta de pessoas enfermas da alma é fácil a qualquer ser “descer a ladeira” do infortúnio caindo em desajuste moral com a prática de atos que ferem as leis civis e divinas, ensejando a

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infelicidade e o sofrimento.Ante o sofrimento de que o indivíduo é acometido,

é aconselhável que desperte, caia em si e reconheça os er-ros praticados, tendo a frente um desafio a vencer para o aprimoramento íntimo, em busca da saúde e controle das emoções para a conquista de uma vida tranquila e feliz, ex-tensiva à espiritual.

A VIAGEM

Passeios, distração e viagens complementam a vida do homem, evitam o estresse e o ócio que tornam nebulosa a existência humana. Deve-se ter conhecimento do comple-mento da vida para tirar o melhor proveito da experiência no tocante ao comportamento moral e religioso, pois nesse traslado muita coisa pode acontecer.

Preparar o Espírito para uma vigilância mental per-manente, buscando manter um comportamento modelar como exemplo de vida para os demais concidadãos, é uma necessidade.

O homem precisa ter uma maneira de tornar a vida menos amarga, utilizando-se dos meios atrativos para trazer satisfação, serenidade e bem-estar. Evitará, assim, as angús-tias, o estresse e a depressão, doenças da alma a refletirem-se no corpo somático.

É verdade que a distração é uma necessidade, porém deve ser comedida e dentro do respeito e comportamento na

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convivência social.A convivência social é uma necessidade e relaciona-

se com a prosperidade dos homens. O convívio e o inter-câmbio permitem às pessoas aprimorarem o seu íntimo no cumprimento dos deveres éticos e morais.

Para amealhar novos conhecimentos e o resgate dos compromissos pretéritos, aqui nos encontramos nessa gran-de viagem rumo ao futuro. Essa grande nave que é a Terra, inserida nesse imenso oceano que é o universo, deu início a essa viagem com o nascimento e terminará com a volta para a espiritualidade.

É notório que o nosso comportamento é importante para que não sejamos surpreendidos com o término da exis-tência prematuramente.

Existem pessoas que dão evidência ao luxo, às posses, viajando em primeira classe. Outras, porém, conformam-se humildemente em seguir a trajetória da vida em uma “pequena jangada”, onde enfrentarão todos os obstáculos do caminho. Há, entretanto, aquelas pessoas medianeiras dispostas a viagens intermediárias, que simples e modestas não postergam as suas disponibilidades de poder e seguem em embarcação discreta.

Considerando a finalidade de nossa existência e a trajetória terrena, que é o aprimoramento espiritual, os que viajam no luxo são aqueles que empregam o seu tempo nos prazeres que a vida oferece no auge do orgulho e egoísmo, sem medir as consequências de seus atos, sem precaver-se para uma possível fatalidade que pode ocorrer em razão da

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conduta que acaba adotando. Não valorizando a vida, agem como “suicidas conscientes”, devendo retornar à espiritu-alidade compulsoriamente em completo desconhecimento da vida extrafísica.

Os medianos conformam-se com a vida em curso, no estudo e na prática da ética moral, coadjuvados com os ensinos de Jesus e aprimoramento com a ciência espiritu-al. Para alcançar o seu bem-estar e felicidade, preparam-se para uma vida futura equivalente.

Já as pessoas que se conformam em levar a vida em uma “jangada”, de forma humilde, muitas delas são dotadas de bons sentimentos, bons e sadios pensamentos que lhes facultam emoções salutares e felizes. Praticantes do bem, demonstram evolução interior.

ACHADO PERDIDO

No curso da vida há situações que merecem distinção. Trata-se de oportunidades que, se forem bem desfrutadas, deixam um largo momento de engrandecimento, pelas re-compensas financeiras e morais.

Assim, nas comunidades os serviços sociais se fazem sempre necessários, para que a cidade se mantenha em con-dições habitáveis.

Várias são as atividades que compõem o grupo de responsabilidades da administração municipal. São consi-deradas prioritárias iluminação pública, água e esgoto, edu-

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cação e saúde, limpeza pública, segurança etc.Para a manutenção desse conglomerado de ativida-

des, é feita a contratação de trabalhadores para atender às necessidades dos órgãos. No tocante à limpeza pública, a cidade é dividida por regiões e estas, em quadras, entregues a cada trabalhador ou gari.

Ao Sr. Pedro coube a quadra onde se situam gran-des cerealistas. Era de praxe, esse operário de meia-idade, pobre pai de família, honesto e trabalhador, terminar sua tarefa com antecedência.

Vivia com minguado salário, que mal dava para aten-der às necessidades da família. Morava em um casebre de pau a pique sem o conforto necessário. Apesar da simplici-dade de sua casa, sua esposa, Joana, fazia de tudo para tra-zer a moradia sempre bem apresentada, com flores e vasos a enfeitar a sala. Como tudo na vida, Deus permite as re-compensas, pelo dinamismo, honestidade no cumprimento do dever moral.

– Pedro, você levantou hoje diferente – disse a es-posa. – Alegre, sorridente, comunicativo como nunca, até parece que vai ter um dia anormal.

– Ora, Joana, esta noite foi muito proveitosa para mim! Dormi muito e tive meus diletantismos. Mas dessa vez foi diferente, pois sonhei ter achado um objeto que não pude distinguir. Vou trabalhar, está na hora. Cuide das crianças. Até logo!

E inicia seu trabalho como de costume, com muita alegria. Parecia que algo lhe ocorreria nesse dia.

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As cerealistas dessa região são visitadas por importa-dores para compra de cereais. E, é claro, entre os visitantes, alguns são mais dispersos. Assim é que justo nesse dia, ao transitar pela calçada, alguém deixa cair sua carteira próxi-mo ao muro, que, por obra do destino, fica encoberta com as folhas das árvores.

Após o descanso do almoço, Pedro continua sua tare-fa de varrer as ruas e calçadas, quando se surpreende ao en-contrar aquela carteira recheada de documentos e dinheiro.

Percebe, assim, que não tinha sonhado em vão. Não obstante suas necessidades, nunca desejou, con-

tudo, ficar com o que não lhe pertencia. Muito religioso, queria honrar sua honestidade.

Ao terminar o trabalho daquele dia, segue para casa pensando no ocorrido. E assim que chega, conta à Joana. Ela, esfuziante, diz:

– Agora Pedro, vamos fazer a nossa independência! Ao que Pedro argumenta:– Temos sim de buscar nossa independência, mas

com trabalho e esforço próprios, pois o que é alheio não nos pertence. Vou procurar o dono dos documentos.

Ao abrir a carteira, vê o passaporte com a foto do Sr. Manoel Paes, um português cuja residência era em Lisboa. Encontra seu telefone e de imediato entra em contato com ele.

– Sou eu, Manoel Paes, que tu queres seu gajo?Incontinente, se identifica:– Aqui quem fala é o Pedro. O Senhor está bem? Con-

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seguiu fazer bons negócios? – Que nada, Sr. Pedro. Não imagina que me roubaram

a carteira com meus documentos e dinheiro. Agora estou a pensar o que fazer para voltar para casa, pois tenho grandes negócios a resolver e não posso me demorar.

– Nem tudo neste mundo está perdido, Sr. Manoel. Sou gari, pobre e de pouco recursos, porém procuro ser honesto, trabalhador e religioso. Como em todo trabalho, surgem surpresas, hoje foi um dia especial. Encontrei a sua carteira, junto ao muro, coberta com folhas. Ela está em meu poder.

– Que sorte tivemos, Sr. Pedro! Não esperava encon-trar esses documentos, o que me traria muitos transtornos. Sr. Pedro, por sua qualidade de pessoa honesta e honrada, vou dar-lhe uma recompensa. Deve ter na carteira 40 mil reais. Desse dinheiro você fica com a metade, 20 mil reais. Dê-me o seu endereço que irei à sua casa tomar um café e pegar minha carteira.

– Sr. Manoel, será um prazer recebê-lo em nossa casa. É uma oportunidade para uma boa palestra.

Conforme o combinado, após algumas horas, chega de táxi a visita.

– Não repare, Sr. Manoel. A nossa casa é simples e modesta. Levamos uma vida de pobre, porém honrada. Joa-na, faça um bom café e aqueles sonhos apetitosos, enquanto conversamos. Aqui está sua carteira, com todos os seus do-cumentos e o dinheiro.

– Sr. Pedro, eu moro em Lisboa onde tenho várias lo-

Crônicas para Meditação - 29

jas de supermercado. Para abastecer meus armazéns, venho comprar cereais no Brasil. Fiz várias compras e vou retor-nar logo, só dependo desses documentos.

– Pedro, o café está posto, chame o Sr. Manoel para se servir.

Após degustar o lanche, o Sr. Manoel elogia os bo-linhos. “São esplêndidos”, diz. Até pede a receita para D. Joana.

– D. Joana, pela sua presteza e dedicação, vou dar-lhe um presente em retribuição.

Satisfeitos com o encontro, o Sr. Manoel deseja votos de felicidades e bem-estar ao casal e seus filhos. E registra que a pobreza não era motivo para não sentirem bem e para que não pudessem viver em paz e em harmonia.

– Já o mesmo não acontece comigo – diz o Sr. Mano-el. Apesar de rico, levo uma vida solitária e triste, sem obje-tivos, desde que minha Luiza partiu para o além, deixando um vazio em meu coração.

– Sr. Manoel, invista num objetivo seguro, pois que desta vida nada se leva. Curta a vida nos deveres para con-sigo e para com os semelhantes, no amor a Deus, que está sempre presente em seu coração, e estimule a prática do bem a todo semelhante, sem distinção. Assim você voltará a ser feliz.

– Sr. Pedro, agradeço pela distinção e pelos conselhos que me tocaram no coração. Vou me dedicar ao auxílio aos meus compatriotas carentes. Por hoje é só. Adeus. E até a volta. Oportunamente voltarei a vê-los. Estou grandemente

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agradecido por tudo.

ADMINISTRAR A VIDA

Se a natureza nos deu a vida física para o desfrute do que almejamos, que é a felicidade em si, por que encon-tramos na estrada da vida tantas pessoas distanciadas e à margem do caminho que leva ao bem-estar? Seria a inca-pacidade de administrar a vida? Ou incorrem nos velhos hábitos preexistentes do atual estágio?

Seja como for, há sempre incorreção no cumprimen-to das leis que regulam os destinos dos homens na Terra. Se situarmos o sofrimento do ser humano, vamos encontrar sempre um motivo para que isto ocorra em cumprimento da Lei de Causa e Efeito.

O que conduz as pessoas a se furtarem do cumpri-mento do dever? Será pelo egoísmo de tudo querer e nada possuir, que atenda aos anseios? Levados pela procura da felicidade, muitas vezes os homens se exacerbam no com-portamento, desviando-se da estrada e colocando-se à mar-gem do caminho. Esquecem-se de que a tão procurada feli-cidade está em torno de si, em suas mãos.

Basta abrir os olhos e observar à sua volta as belezas naturais que Deus colocou ao seu dispor, para coadjuvar seu bem-estar, o qual, muitas vezes, é menosprezado pela falta de sensibilidade.

De nada adianta as pessoas acusarem a má sorte, o

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destino ou qualquer forma de subterfúgio para responsabi-lizar a Deus pela desdita que sofrem.

A existência das leis imutáveis da natureza e as leis civis da sociedade são para serem cumpridas, de modo que a sua transgressão resulta no comprometimento do homem com resultados negativos e sofrimento. Não tem ele motivo de queixas a não ser de si próprio, pois nada que acontece na vida sem uma causa justa e um fim útil.

Na contingência da vida, o homem que não souber coordenar os seus procedimentos, deixando-se levar por caminhos que nada produzem de bom, naturalmente terá a malgrado de colher o que lhe cabe na divisão das responsa-bilidades assumidas.

A vida do homem é composta de fases boas e momen-tos difíceis, o que faz parte da jornada evolutiva de cada pessoa. O importante é saber superar as dificuldades se-guindo os princípios éticos e de elevada moral. É isso o que permitirá às pessoas alcançarem maior nota na classificação de sua paz, felicidade e bem-estar.

O estado de felicidade é subjetivo. Para tanto, basta as pessoas saberem viver em comunidade, usando o princípio da humildade e indulgência recíproca. Assim, devem culti-var, como norma de vida, o preceito “não faça ao próximo o que não deseja para si”.

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ALVORECER

No limiar da vida, o homem é sempre joguete das paixões terrenas, vítima de si próprio pela falta de uma vi-gilância mental, evitando desta forma a incursão do mau caminho.

Lutar sempre pela vida em comunhão com as forças da Natureza, que se presta permanentemente em induzir o homem no caminho do bem.

As forças naturais emanadas de Deus vêm sempre atender o homem na hora precisa, porém é necessário a sua conjugação com esta sábia energia para o merecimento tá-cito da benesse.

Dada à condição física do homem, que ainda se deixa levar pelas paixões mórbidas, as pessoas se esquecem do necessário aprimoramento moral e do progresso espiritual para usufruir da assistência superior.

A reencarnação propicia ao homem o progresso in-dispensável para alcançar a plenitude espiritual. Estamos todos a caminho na grande viagem em busca da felicidade que aguarda os homens de bem.

Partindo do princípio de que a bondade e a evolução são condições únicas para a felicidade, é imprescindível do-mar as inclinações inferiores com o despertar da consciên-cia e a manutenção dos pensamentos em vigília para o bem, evitando destarte agressão inferior.

Servir a Deus é o mesmo que amar a si próprio, e consiste no cumprimento das Leis que regem a vida. É de

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todo importante saber que fora do amor não há salvação que implica no cumprimento fiel do “amai ao semelhante desejando-lhe tudo o que se deseja para si”.

Partindo desta premissa, ninguém pode ignorar a lei que retrata a vontade de Jesus, consubstanciada na Lei do Amor. Tudo no Universo está sob a inspiração da Lei de Causa e Efeito, que regula as ações dos seres encarnados e dos Espíritos.

Somos todos senhores do nosso livre arbítrio, portan-to responsáveis pelos nossos atos. Não importa reclamar aquele que não é feliz se não soube amar a si próprio na ilu-minação das imperfeições morais para a aquisição da saúde e bem-estar feliz.

AS VIRTUDES

A virtude faz parte de um conjunto de qualidades es-senciais que o verdadeiro homem de bem possui.

Ser sóbrio, honesto, caridoso, trabalhador, humilde, indulgente e resignado são virtudes de todo homem bem-intencionado.

Os homens dotados das qualidades morais devem ser simples e modestos a exemplo de Jesus, pois somente assim desfrutarão das benesses de Deus.

As pessoas que alimentam as enfermidades da alma dificilmente submetem-se a cursar a Escola da Vida onde se cultuam estas virtudes, a não ser forçados por circunstân-

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cias que as oprimam à aceitação.A piedade é simulacro de todas as virtudes. Em ação,

ela eleva para o desfrute do bem-estar, saúde e felicidade.A maior caridade é conosco mesmos. Trata-se da

eliminação das imperfeições da alma com aprimoramento moral e espiritual, aquisição de conhecimentos da Ciência e Filosofia Espírita, capacitando o homem à assistência ao próximo, como Jesus nos ensinou: “Amais e Instruí-vos”.

O mal não merece comentários. Evite fazê-los. Co-mente só coisas boas que dignificam o seu ego e construam a moral.

Qualquer palavra produz vibrações que atraem as semelhantes. Seja prudente nos pensamentos e atitudes. E tudo será envolvido por uma onde energética de paz, saúde e bem- estar.

A opulência e o poder alimentam as enfermidades da alma. Minimizar sua ação é o ideal para que a prática do bem seja espontânea.

A conquista das virtudes e a sua prática são importan-tes para o fiel comprimento das leis que regem a vida. Com elas se adquirem os bônus para a poupança espiritual.

BATER À PORTA

Em determinada cidade brasileira, barroca, com hábi-tos pregressos por tradição e predomínio de casas de estilo colonial e europeu em razão da origem dos seus habitantes,

Crônicas para Meditação - 35

ruas e avenidas eram calçadas de pedra e plantações enfei-tavam a cidade com suas ramagens floridas, propiciando um ambiente de prazer e tranquilidade.

Por força do progresso e da suntuosidade que tinha o centro da cidade, foram surgindo construções modernas e edifícios de alto relevo, dispondo de vários andares para comércio e moradia, contrastando com a antiga povoação.

Nesse ambiente de tranquilidade residia um cidadão, velho por idade, Sr. Pedro, coronel por tradição. Poderoso, rico e possuidor de várias glebas de terra, muitos escravos já libertos e denominados de tarefeiros cuidavam de suas propriedades, sob a supervisão de um administrador que, a posteriori, lhe prestava conta do que ocorria em suas fa-zendas.

O coronel, sempre disposto, não se abatia por peque-nos fatos. Mas era explosivo, impaciente, impulsivo e man-dão. Era tido na cidade como o Senhor dos Anzóis, pelo seu hábito de colecionar esses objetos. Avarento que era, desejava tudo para si, sem se ater aos direitos alheios. Co-ronel Pedro, a despeito dos seus predicados, era garboso e conquistador. Não media as consequências de suas atitudes. E essa peçonhenta criatura assim vivia, sem religião e fé.

Certo dia, sentado em sua cadeira de balanço, quase a cochilar, é surpreendido com batidas em sua porta. Sem se levantar, pergunta:

– Quem é? – Sou eu, Senhor dos Anzóis, o Sr. José, responde do

lado de fora.

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– Já que veio, entra e senta, pois velho não cresce, arremata o coronel.

Assim que se senta, Sr. José é indagado pelo coronel:– Qual o motivo da sua visita?– Vim propor-lhe um negócio, pois sei que o nobre

coronel é um exímio pescador. Venho de longe e aprecio muito esta cidade hospitaleira e de agradável ambiente.

– Aqui não precisa de hospital, o nosso povo é sadio!, retruca o coronel.

De maneira educada, Sr. José o corrige:– Não me refiro a hospital coronel, falo da bondade e

acolhimento das pessoas.Ao que o coronel novamente indaga:– Qual a sua naturalidade? Sr. José, de imediato, responde:– Sou de Pedroso, é uma bela cidade! O senhor co-

nhece?– Ah! Estive lá há muitos anos a negócios. Impaciente o coronel encurta a conversa.– Sr. José, o tempo passa e pouca coisa se fez, vamos

ao que interessa. Deixe de bajulação e adiante o assunto.Um pouco constrangido com a forma de se expressar

do coronel, Sr. José busca ser mais comedido.– Sinto-me lisonjeado em estar diante de sua pessoa,

tão considerada na sociedade local. Apesar de pequeno que sou, tenho uma coleção de anzóis, que adquiri em minhas passagens por diversos países. Num deles comprei um an-zol especial, de ouro 14 quilates, com algumas pedras que

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o adornam. Não desejava vendê-lo, mas a necessidade sur-giu e, sabendo que o senhor é colecionador, estou aqui para oferecer-lhe.

O coronel, na sua pompa, pede, então, ao Sr. José que lhe mostre tal anzol, a fim de avaliar o objeto. E assim que o Sr. José abre a maleta onde guarda os anzóis, o coronel, de imediato, passa a examiná-los um a um, colocando-os contra a luz e lustrando algumas peças com a camisa. Ob-serva com muito cuidado e atenção, até que é interrompido pelo Sr. José:

– Que tal coronel, gostou dos objetos? Este anzol é um belo exemplar para sua coleção, não acha? É uma peça útil para suas pescarias. Além disso, pode embelezar ainda mais a sua coleção.

O coronel, então, lhe faz uma proposta. Diz que não compraria, mas que tinha interesse em trocar o anzol de ouro por outro, mais valioso, e exalta o objeto ao Sr. José.

José, imaginando estar tirando vantagem do coronel, concorda com a troca:

– Negócio fechado!Ao se despedir, Sr. José agradece o coronel pela opor-

tunidade de negociar com ele e de conhecê-lo. Até o convi-da para estar presente no dia do seu aniversário, sugerindo a realização de uma pescaria juntos em seu barco.

Envaidecido com os elogios e satisfeito com a troca que fizera, o coronel trata de agradecer o Sr. José pela pre-ferência em ir procurá-lo.

De sua parte, na ânsia de querer ludibriar o velho co-

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ronel, o Sr. José nem por instante imagina estar sendo enga-nado. Pensava levar em sua maleta um anzol de maior valor comercial, o que não era verdade.

O coronel, por sua vez, tido como esperto e bom de negócio, mas também mal-intencionado, surpreende-se, al-guns dias depois, quando descobre que o objeto que havia trocado não era de ouro e nem de pedras preciosas.

Assim, tanto o Senhor dos Anzóis quanto o Sr. José saem frustrados. Afinal, quem muito quer nada tem, se os desejos não forem guiados por boas intenções.

O egoísmo, o orgulho e a vaidade, doenças da alma, acarretam prejuízos morais à vida corpórea das pessoas. Os portadores dessas enfermidades dificilmente as reconhe-cem, quase sempre despertando para a realidade com sofri-mento compulsório.

BOSQUE DA SAUDADE

Todas as cidades mais estruturadas busca utilizar suas áreas verdes para implantação de locais recreativos e manu-tenção do oxigênio da região.

Entre essas áreas, há sempre uma que, pela localiza-ção, formação e beleza prazerosa do local, tem destaque e é priorizada pela população.

Assim surgiu o Bosque da Saudade, local preferido para tardes primaveris. São seus assíduos frequentadores os velhos solitários e os quarentões sonhadores.

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O Sr. Carlos, sexagenário, é um homem de bons prin-cípios, de alma nobre, humilde e atencioso. Porém é pobre e de poucos recursos, o que o leva a constantes reclamações e confidências com o amigo e também frequentador do bos-que, o Sr. José.

Ambos invariavelmente trocavam ideias de um pas-sado distante, relembrando os tempos da juventude e os sonhos que tinham para um futuro promissor. Os anos se passaram, o Sr. Carlos constituiu família, educou os filhos, encaminhando-os na vida da forma que lhe era possível.

Hoje, velho e solitário, não recebe sequer um telefo-nema dos filhos e netos. Leva uma vida de infinita tristeza. Homem pacato e de pouca conversa, não se conforma com o desprezo da família.

É o bosque que lhe oferece horas de refúgio para re-flexão, à sombra de um gigantesco jacarandá bem antigo. E esse gigante do bosque não reclama, apesar de velho, soli-tário e sofrido pela ação do tempo e pelas mãos de jovens inconsequentes, que lhe feriram o caule. Ele está ali, enfei-tando o recinto com suas belas flores, fornecendo o húmus para o solo e oferecendo a sombra para todos que ali se aconchegam.

O Sr. José, por sua vez, é extrovertido, contador de anedotas, de “mentiras de pescador”, está sempre cercado por curiosos para ouvir suas falácias imaginativas. Assim passa o tempo o falador, que não se preocupa com a solidão, pois sabe conviver com essa situação.

Como de hábito, em suas reuniões diárias, o Sr. Car-

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los, argumenta: – José, você que é feliz, pois está sempre alegre e,

apesar da idade, é cercado por jovens cheios de sonhos. De-sejava muito participar desse estado de alma que você tem, mas minhas forças não são suficientes para me despir desse estado depressivo, que me atormenta a alma.

– Ora Carlos, nesse mundo tudo é transitório. Temos de alimentar sempre muita fé e esperança na superação dos problemas que nos afligem a consciência. Talvez você não saiba administrar essa dinâmica tão comum entre os ho-mens. A solidão, nossa companheira, fere as nossas emo-ções, provoca distúrbios somáticos. É uma doença da alma que precisa ser eliminada dos nossos corações. Penso que, se você se esforçar para esquecer o passado, se alimentar de novos pensamentos, os seus problemas serão amenizados, pois você conta com bons companheiros que o auxiliarão na caminhada. É nosso dever ter mais esperança, pois dias melhores virão para aquele que aprender a superar os obstá-culos que a vida nos impõe, fruto dos nossos procedimentos durante a existência, portanto de nossa única responsabili-dade.

– Mas, caro José, a vida não tem sido fácil. Mesmo assim estou me esforçando para conquistar a superação dos problemas que adquiri, não ignoro.

A situação dos velhos ficava ainda mais acentuada pela presença, nos fins de semana, de grupos musicais que ali se aglomeravam, para alegria de alguns e tristeza de ou-tros, com suas canções melodiosas e músicas que desper-

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tavam saudades e recordações de épocas que não voltam mais.

– Carlos, procure minimizar os seus sentimentos ne-gativos, controlar suas emoções e verá despontar um raio de luz a dirigir seus passos.

– Amigo José, apesar da idade avançada, não tive o prazer de receber tão valiosos conselhos, para que seja des-pertada em mim uma nova vida de otimismo e entusiasmo. Resolvi até fazer uma longa viagem para visitar meus fami-liares e tenho de me retirar para meus preparativos. Adeus, até a volta, se me for possível voltaremos a nos rever, mes-mo em outras paragens. Que Deus abençoe as nossas traje-tórias!

– Vá com Deus. Observe o que eu lhe disse e será feliz! – disse-lhe José.

Assim terminou o diálogo entre os dois anciãos, com um lastro de ensinamentos!

CAMINHADA

Saber enfrentar as dificuldades nos caminhos da vida é um desafio a se vencer. Para a tomada das rédeas do ca-minho a ser percorrido, há de se usar de muita perspicácia, para ser bem-sucedido na caminhada.

Nunca se deve dar por finda a trajetória, pois que ela é muito grande, e seus resultados serão sentidos na outra vida. Por tudo isso é que se recomenda ter muita vigilância

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mental, para evitar se desviar do compromisso assumido, que é o do aprimoramento íntimo e consequentemente da felicidade tão apregoada.

É necessário que o viajante do planeta esteja sempre atento e disposto ao cumprimento do dever, que é a carida-de para com o próximo e consigo mesmo.

Manter a vigilância constante é uma atitude necessá-ria para evitar o assédio aos irmãos enfermos, que procuram interceptar a caminhada, colocando pedras na rota a ser tri-lhada.

O pensamento produz energias. Estas, bem equacio-nadas, se traduzem em saúde orgânica para o homem. É muito importante manter a mente sempre higienizada, caso se quiser isentar das energias espirituais negativas que inva-riavelmente procuram as mentes enfermas para associarem-se à procura de satisfazer seus apetites negativos. Trata-se de perturbação que somente declinará com a melhoria espi-ritual do indivíduo enfermo.

Apenas com a prática da caridade e a aquisição das virtudes do bem, com interesse e denodo no trabalho para o aprimoramento espiritual, é que se pode dar por vencida a caminhada tumultuosa.

As virtudes, quando bem empregadas, dignificam o homem e elevam sua moral. O virtuoso é sempre uma pes-soa desprendida dos interesses egoísticos dos bens mate-riais. Encontrar pessoas dessa estirpe não é tão fácil. Exis-tem muitas. Porém elas não atendem às recomendações de Jesus Cristo, quando este diz: “Dê com a mão direita para

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que a outra não veja”. O bem deve ser ocultado para que o orgulho e a vaidade não se enalteçam.

Todo indivíduo tem a obrigação de praticar o bem despretensiosamente. A recompensa virá naturalmente de Deus, que saberá doar segundo o merecimento de cada um.

CASA PEQUENINA

O homem tem o dever de cumprir as leis a que está submisso. Não obstante essa exigência, ele se compraz em fugir à responsabilidade, dando vazão às suas paixões in-trínsecas da alma. Como resultado, ao invés de desfrutar a felicidade tão almejada, passa a sofrer o desgaste psíquico com enfermidades, desgosto, angústia e solidão,

Por ironia do destino, narra a história, a existência de um casal que, tendo alimentado as enfermidades da alma e já cansado pela incompreensão do semelhante e pela sua intransigência, decidiu isolar-se no interior, em um sítio re-cém-adquirido.

Eram pessoas de meia-idade, sujeitos às intempéries da vida, com saúde comprometida pela incúria no compor-tamento. Mesmo com todos os inconvenientes, elas decidi-ram-se pela permanência nas terras. Pela falta de habitação, passaram a morar precariamente sob uma barraca locada à sombra de uma paineira, próxima a um regato procedente do manguezal, em cujo riacho os pássaros se banhavam e promoviam uma festa no arvoredo.

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Assim viveram as personagens por determinado tem-po. Tão prazeroso era o local, que nem mesmo o fato de a casa ser de pau a pique e ser coberta de sapé, além de não oferecer conforto, de causar dó, era motivo para não se sen-tirem felizes. Suas companhias eram os pássaros e outros animais que ali surgiam. Havia paz e tranquilidade. O local era aprazível, no sopé de uma montanha, de onde se abaste-ciam de frutas nativas.

Não obstante felizes, havia momentos de solidão e sofrimento, saudade dos tempos passados, resultando em angústia, o que causava profundo sofrimento. Diante des-ses estados depressivos, procuraram abolir as enfermidades da alma, burilando-se das intempéries do passado. Afinal, haviam chegado à conclusão de que era uma tolice a sua permanência no orgulho, na vaidade, na intolerância com o próximo. E passaram a ter mais saúde, disposição e cora-gem para enfrentar a vida no campo.

Certo dia, o marido teve de ir à cidade para abaste-cer a dispensa vazia. Ao retornar, qual não foi sua surpre-sa quando encontrou a casinha toda florida, vazia, sem a querida esposa. Pôs-se a chorar, remoendo a sua falta. Ela, que passava horas em brincadeira, apareceu sorrindo ale-gremente, dando vazão aos sentimentos de amor ao esposo. Um retrato da felicidade do casal.

Como todo ser humano está sujeito às Leis Naturais, os personagens em apreço passaram por desajustes emocio-nais, provocados por sofrimento causados por problemas de saúde e de atividades laborais. Contudo, como uma forma

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de abolir os hábitos inconvenientes, passaram a praticar a humildade, tolerância, resignação, caridade para consigo mesmos e fé em Deus. Foi tudo isso que lhes permitiu ven-cer os empecilhos da estrada da vida.

CITAÇÕES NATURAIS

A natureza é bela. Ela esbanja o humor nas suas mais variadas formas. Dá para o homem tudo de que necessita, em suma, os meios para a sobrevivência e para tornar-se feliz.

Vejamos o pôr do sol, com sua grandeza de expressão salutar. Ele deixa o seu brilho para o luar, que ilumina as noites estreladas no firmamento.

Quem se dispuser a observar as noites frias do inver-no e as demais estações que regulam a atmosfera, verá o amanhecer de cada dia com o brilho solar a clarear e forne-cer o calor exigido pelos seres orgânicos.

Observando-se o infinito no firmamento, vê-se uma miríade de estrelas e planetas a movimentarem-se harmo-niosamente, demonstrando a eloquência do Criador da Na-tureza. Não é em vão que os cientistas e filósofos de outrora sempre enobreceram o criador que é Deus, pelas dádivas da Natureza à existência humana.

A Natureza, de que fazemos parte, com seu exuberan-te esplendor, nos fornece a vida orgânica em toda a pleni-tude, assim como o oxigênio, sem o qual não há vida orgâ-

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nica. É a energia vital a alimentar todos os seres animados (orgânicos).

Aquele que aceita os ditames da Natureza com espon-taneidade pode considerar-se feliz, pois é sabido que todo homem que conduz a sua vida nos patamares da lógica com a mente sadia, alicerçada na boa moral e na ética, defende-se dos ínvios caminhos do infortúnio com mais sabedoria e conhecimento de causa.

A ciência corrobora com novas formas e com a eclo-são de meios preciosos para a humanidade conseguir a tão sonhada felicidade. Porém as pessoas desviam-se da indi-cação científica para atingir a meta, ingressam na rota das sensações fisiológicas não recomendadas, pois, via de re-gra, desvirtuam o sentimento. Deviam sim cumprir as leis morais que constroem a felicidade e o bem-estar.

Nos tempos atuais, o ser humano, em vez de procu-rar orientar-se na aceitação das Leis Naturais para culminar com o equilíbrio somático, distancia-se de Deus, descum-prindo suas Leis, com a prática de atos lesivos e condená-veis, vindo em consequência o sofrimento dos mais varia-dos matizes.

Diante dos fatos negativos da humanidade em curso ideológico, os homens criam a dissensão e o desajuste nas comunidades, levados que são pelo egoísmo, orgulho e a falta de uma moral disciplinada. Tornam-se vítimas de si próprios, no sofrimento e na dor a que terão de enfrentar compulsoriamente.

Ante os fatos citados, espalham-se a luta e a rudez

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nas diversas camadas da sociedade, constituindo o que se denomina de interesses insaciáveis pela lei do mais forte, dizimando vidas, trazendo a dor e o sofrimento egoístico predominante.

Como tudo na Natureza não é estável e obrigado a transformações pela Lei do Progresso, o homem, submis-so ao mesmo regime, não pode furtar-se ao aprimoramento íntimo, pelo sofrimento compulsório a que está sujeito pelo mau comportamento, em virtude da ignorância e desconhe-cimento das leis que regem a vida na Terra.

CONVERSA DE PORTUGUÊS

Antônio Pereira é português, natural de Lisboa, cida-de que deixa saudade pelas suas belezas naturais. Não dis-tante de sua casa, mora o Sr. Parreira de Luver, um ancião também português, cuja residência é uma quinta, toda plan-tada com frutas portuguesas, ao lado de um lago natural, às margens do Rio Tinoco, que lhe oferece esplêndida visão à sombra de um cajueiro sobre uma pequena colina.

Antônio Pereira, trabalhador em serviços rudes para manutenção e sustento da família, lembrava-se sempre do amigo patrício, mas não tinha a oportunidade para uma con-versa amistosa, pois estava sempre indisponível em função de suas lides diárias.

Um belo dia de primavera, o Sr. Pereira teve um dia de descanso e foi para um bate-papo com o amigo Luver.

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Assim que localizou o telefone, até então desconhecido, li-gou:

– Quem fala?– Sou Luver, ao seu dispor.– Ora lá! – responde Pereira – não me conhece mais?

Sou eu Pereira, amigo.– Por que tu não falaste logo? Agora sim, sei quem és,

é o compadre!– Pereira, há tempo queria falar-te, mas não tinha teu

endereço completo. Como vai tua família, compadre? É com muita alegria que renovo meus cumprimentos. Apesar de minha quinta ser aprazível, vivo solitário, angustiado. Não tenho com quem palestrar, porém tenho saúde, que Deus tem me dado.

– Amigo Luver, vou levando aquela vida que tu sabes de quando moramos em Portugal. Tenho muito trabalho e minguado salário, que mal dá para sustentar a família. Tu sabes que o Vitor, aquele seu afilhado, casou-se há três anos e me deu dois netos, o Carlinho e a Glorinha?

– Uai, compadre, tu não me avisaste do casamento do meu afilhado querido? Desejava ter participado da festa!

– Ora compadre Luver, foi tudo muito rápido, não tive tempo de te participar, mesmo porque não dispunha de teu telefone e endereço. Tudo correu normal, vinho do Porto e a famosa bacalhoada em forma de bolo, usado em nossa pátria, e outras iguarias da terra natal. Como tu sabes, lá ainda moram os meus familiares. Vieram muitos e trou-xeram notícias dos teus irmãos, que vão bem, cada vez mais

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aquinhoados. A vida por aqui tem sido difícil, mas estou feliz com

meus netinhos. A Lourdes, minha esposa, manda-lhe lem-branças, ela está bem. Às vezes lhe surge uma dor de ca-beça, mas é passageira. Toma um chá caseiro e volta ao normal.

– Compadre Antônio, as coisas são difíceis para todo mundo. Aqui não tendo renda fixa, vivo da renda de alguns produtos da minha quinta. Dá muito trabalho, mas passo o tempo distraído com as plantações e as aves que tenho, sem contar a Moneca, a vaquinha de estimação, que só falta falar, é inteligente e amiga.

– Compadre, o tempo passa, deixa saudade, mas o que fazer? É a lei natural. Tu te lembras do nosso tempo de juventude, em que nos reuníamos na confeitaria do Júlio na Rua Direita, que não é torta, para saborear o delicioso boli-nho de bacalhau e torta de tufu?! Que tempo bom era aque-le, só passear e gozar a vida. Hoje estamos velhos, mãos calejadas. O que nos resta é saber viver com otimismo e esperança nos dias que nos aguardam, alimentando o amor à vida, quer a presente como a futura, pois a vida continua. Apenas mudamos de vestes e fazemos novos amigos.

CRESCIMENTO ESPIRITUAL

No provir de uma nova vida, o Espírito traz consigo recordações instintivas que se afloram em inclinações e ge-

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niosidades. E é no estágio terreno que se vivencia a expan-são das boas e das más tendências, conforme sua evolução moral.

Compete a quem é de direito a obrigação de educar os filhos conforme a inclinação e gênio deles, encaminhan-do-os para a rota do bem, a fim de tornarem-se homens de bem e cidadãos honestos.

Acontece que, de ordinário, as pessoas não dão im-portância à extinção das enfermidades da alma, optando pela expansão das paixões inferiores e não valorizando a oportunidade das suas existências.

Os homens têm a obrigação de se amar e assim aos seus semelhantes, pois caminham juntos à procura da evo-lução espiritual. Viver em harmonia com a natureza é um dever do homem que deseja investir no aprimoramento ín-timo, livrando-se dos sofrimentos que afligem a população terrena.

Ter fé, esperança e caridade, eis o trinômio a que to-dos terão de percorrer se quiserem ter uma vida de paz e alegria. Somos todos viajantes do universo em demanda da eternidade feliz, reservada aos que cumprem as Leis que a Mãe Natureza determina.

Ser feliz é o objetivo de todo ser humano, porém são poucas as pessoas que alcançam este objetivo, que está con-dicionado ao seguinte preceito: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como ama a si próprio. O ser humano ainda não compreendeu que é um Espírito imortal em fase de crescimento, que necessita lutar contra suas próprias im-

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perfeições morais.Amar é o principal caminho para se atingir a meta que

está reservada a toda a humanidade, que é a felicidade, a ser atingida através da prática da caridade. A escola da vida ensina como extirpar as imperfeições da alma – o egoísmo, o orgulho e a vaidade –, através da aquisição de virtudes como a humildade, a paciência, a tolerância e a resignação.

CRUZ PARA REDIMIR

A reencarnação é uma realidade consumada pela so-ciedade diante de fatos que ocorrem diariamente, qual seja o renascimento de mutilados, outros enfermos. Vários re-nascem com inteligências acima da média, em tenra idade, demonstram inclinação para a música, outros para a ciên-cia, para a arte, para as letras e tantas outras áreas do conhe-cimento que demandam amadurecimento do Espírito.

Ao renascerem, algumas pessoas trazem uma série de compromissos para resgatar, outras uma missão a desem-penhar, subjugando todos estes fatos à evolução espiritual. As dificuldades e os sofrimentos são instrumentos de que a Natureza, com a Lei do Progresso, se utiliza para a correção moral dos Espíritos encarnados ou não.

A cruz que o ser encarnado conduz não é leve, todavia pode se tornar mais leve quando se olha para trás e se vê companheiros em piores condições. Ante estes fatos, o ser humano deve munir-se de conformação com humildade, fé

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e esperança sem nostalgia para que o sofrimento produza os efeitos almejados que são a correção moral e a cura da alma.

Narram os mentores que, quando no desligamento do corpo físico pelo sono, a alma deposita a cruz na casa das cruzes para procurá-la no dia seguinte. Muitos reclamam o peso de sua cruz, outros a retiram sem murmurar. Hou-ve a alma de um homem que não reconheceu a sua cruz. Achando-a grande, foi procurá-la junto às demais cruzes. Que decepção! As outras eram bem maiores do que a sua. Argumentou o encarregado do setor:

– Eu lhe disse que a sua cruz era esta! Teve que aceitá-la humildemente, pois ninguém sofre

sem justa causa.Por esta narrativa, cumpre a cada um procurar se

amar e bem assim aos semelhantes na prática da caridade, cumprindo as leis que regem a vida, saneando, tanto quanto possível, as enfermidades da alma a fim de tornar a sua cruz mais leve e, consequentemente, alcançando bem-estar e fe-licidade que constituem uma poupança espiritual.

CURA ORGÂNICA

Quando o Espírito reencarna, traz consigo o carma, ou seja, a missão a ser cumprida durante a vida na Terra. Pode ser uma tarefa específica ou o resgate de compromis-sos de faltas cometidas em vidas passadas. Trata-se de esta-

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dos inscritos no subconsciente do homem, sem observância aos nascimentos expiatórios defeituosos e mutilados.

O resgate dos débitos é um desafio a vencer. O cami-nho é pleno de dificuldades. Além disso, existem as enfer-midades físicas, que surgem pela infração às leis naturais. O medicamento indicado para as diversas enfermidades é ter fé, esperança e resignação, com oração a Deus, em serviço imunológico com humildade, a fim de iluminar as doenças da alma (orgulho, egoísmo e vaidade).

Como paliativo indispensável, há a medicina conven-cional, que trata das enfermidades físicas. Como coadju-vante, existe a cura pela fé, a qual depende do merecimento espiritual do paciente.

A ciência confirma que o pensamento positivo, alia-do à fé lógica, promove uma transformação no organismo humano, funcionando como medicamentos auxiliares dire-tos, pois liberam os hormônios preciosos às enfermidades somáticas.

A respiração profunda é fator importante, funcionan-do como calmante e relaxante muscular, pois auxilia na re-cuperação da saúde física e fortalece a imunidade, com a ingestão de mais energia oxigenada (oxigênio), indispensá-vel à saúde.

Não devemos criar sofrimento para nós mesmos sob nenhum pretexto. Devemos nos precaver contra os sofri-mentos que ameaçam o nosso equilíbrio emocional e orgâ-nico.

Fustiguemos o nosso Espírito a não dar expansão a

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sentimentos impuros e excessos de toda ordem sob a alega-ção de que a vontade e a carne são fracas, pois é o Espírito o responsável por todas as anomalias, que são os desejos do próprio homem.

DEPRESSÃO

Viver é a meta desejada por todo ser humano. Ain-da que estejamos encarnados, somos imortais uma vez que somos Espíritos. Em Espírito desejamos a vida, posto que somos vida.

Compartilhamos a vida coletivamente numa multidão de seres, todavia devido às condições fisiológicas humanas, assim como as psicológicas e espirituais, as pessoas se dis-tanciam na formação de grupos homogêneos que, por sua vez, limitam-se a tratar de assuntos pessoais, econômicos, profissionais, dentre outros, nem sempre agradáveis e afins a todos.

Muitas pessoas se refugiam dos assuntos pueris ven-tilados pela maioria, preocupados com o necessário buri-lamento da alma, mas outras estabelecem um refúgio in-dividual que as levam a perderem-se de si mesmas e da sociedade. Assim, almas reencarnadas de tantas eras, que deveriam ocupar-se das coisas do Espírito, o menosprezam por serem ainda imperfeitas, pois se entregam às paixões terrenas em detrimento da vida espiritual.

Podemos dizer que muitos indivíduos, amedronta-

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dos pela solidão a que se entregam, ao se refugiarem da colmeia de seres coletivos aos quais se encontram ligados, nem sempre se deparam com alternativas que atendam aos seus anseios, partindo para maior isolamento e consequente angústia, desencadeando a depressão, enfermidade da alma de difícil correção.

Dada à diversidade moral e de cultura dos homens, a convivência coletiva é necessária, pois é a partir do cresci-mento conquistado no relacionamento coletivo que a alma se projeta rumo à perfeição.

Grande parte da humanidade terrena sofre enfermida-des da alma, como o egoísmo, o orgulho e a vaidade, que degeneram em doenças fisiológicas. Para as pessoas de-pressivas, é indispensável a assistência psicológica como forma de minorar o problema, porém é exigível a boa von-tade e o interesse pessoal.

As enfermidades espirituais da alma são absorvidas pelo períspirito, que as transfere para o órgão mais sensível do corpo físico em forma de dor e sofrimento. Por isso, a Espiritualidade Superior adverte às pessoas da necessidade urgente de reforma íntima como forma de eliminação das imperfeições morais e prática do amor ao semelhante e a si próprias, no preparo para o futuro, que é o remanescente do presente, como este é o reflexo do passado.

Servir a Deus é a meta almejada, bem como sentir a Sua Presença em nosso íntimo. Cumpramos as leis naturais que regem a vida, submissos que somos à Natureza – Livro Divino.

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EDIFICAR

Suprir as deficiências físicas é medir as coordenadas sentimentais da vida. É ver o mundo em torno de nós, ob-servando que Deus dá a todos o caminho certo para alcan-çar o bem-estar e a felicidade.

As pessoas lutam para a conquista da sua felicidade. Porém se esquecem de que, para isso, são necessários de-dicação, esforço e boa vontade na remoção das pedras do caminho. Isso exige adquirir conhecimentos intelectuais e morais, e colocá-los em ações, para sermos felizes.

Hoje somos melhores do que ontem, e no futuro sere-mos melhores do que agora.

O sofrimento que o homem experimenta na vida não é obstado ao seu bem-estar, uma vez que maiores dores poderão advir àquele que não souber absorver a experiên-cia, vindo a reclamar sem observar que há outros com grau maior de sofrimento. Oportunamente, dirá: “Eu era feliz e não sabia”, pois Deus tira do mal o medicamento que edi-fica a alma.

Reverenciamos Deus no Pai, no amor que tonifica o coração, no perdão das ofensas, na beleza da vida, na cria-ção do universo, na harmonia da Natureza, na flor que desa-brocha, na criança que chora, na Natureza que nos alimenta, na primavera que rejuvenesce, na vida que temos com saú-de, ou na doença recebida com resignação, assim como na paz, pelo dever cumprido!

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EM CIMA DO MURO

Rude é a vida que leva o Espírito comprometido com os débitos do pretérito. Por ser expiação, a pessoa com dé-bito com a justiça divina tem de pautar a vida com muita reserva para o resgate dos débitos com parcimônia e resig-nação, pois a felicidade que almeja está vinculada a estes ajustes.

Sofrer no percurso da existência terrena é natural, pois só assim há o burilamento íntimo. A escola da vida orienta como proceder nas horas difíceis, nos momentos críticos de enfermidade espiritual que atinge grande parte da sociedade humana.

O homem que pouco valoriza as oportunidades que lhe são oferecidas para o seu aprimoramento espiritual mantendo os hábitos e costumes ligados aos sentimentos inferiores torna-se prisioneiro de si próprio pela consciên-cia comprometida e permite o assédio de energias análogas em prejuízo da saúde.

O homem tem por dever a prática da caridade, não adianta alegar ignorância do preceito, pois está inserido nos ensinos de Jesus que fora da caridade não existe salvação.

Ficar em cima do muro alegando que não fez mal ao semelhante não adianta, uma vez que a prática do bem é obrigação. Desejar ao próximo o que se deseja para si pró-prio, porém apenas verbalizar não resolve, é necessário ter ação.

É na escola da vida que se aprende a cura das enfer-

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midades da alma (egoísmo, orgulho e vaidade), no cultivo da humildade, paciência, resignação, caridade em desejar para o semelhante o que se quer para si próprio.

Cultuar Deus no coração, respeitar e cumprir as leis naturais e civis, fazer o bem sem ostentação, usar de indul-gência e humildade são virtudes que enaltecem o homem para aquisição da saúde e da felicidade.

ENCRUZILHADA DA VIDA

Na longa estrada da vida, as pessoas transitam num vai e vem sem destino, procurando um arrimo onde pos-sam encontrar segurança e conforto interior, traduzidos em felicidade. Acontece que o percurso é longo e a estrada é pedregosa, permeada de sulcos, e que acaba pondo em risco a sobrevivência do viajante.

O caminho nos leva a pensar numa trilha sem fim, especialmente para aqueles que, fracos e indecisos, vivem manipulados por sentimentos opostos às Leis Naturais que conduzem à verdadeira felicidade.

Não bastassem as dificuldades do trânsito no cami-nho, surgem as intempéries da natureza, colocando mais obstáculos para que, com essas dificuldades, se obtenha a elevação. Acontece que a trilha é repleta de curvas, difi-cultando sobremaneira a subida ao cume, onde se acha a encruzilhada da vida.

Ao atingirem a meta, as pessoas têm de decidir, com

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respeito e altivez, se seguem a retidão ou partem para um dos desvios. No desvio à esquerda, o homem passa a inte-grar o grupo dos que se comprazem na maldade, no ódio e na vingança, alimentados pelo egoísmo, pelo orgulho e demais paixões que são por Espíritos assemelhados.

Na rota à direita, o homem se esquece de que é um ser em crescimento e que precisa aprimorar o seu ego no cum-primento do dever. Insuflado por energias invisíveis que induzem à felicidade efêmera à custa do sacrifício alheio, no desejo de sobrepor-se à coletividade e cultivando pen-samentos e sentimentos enfermiços para conquista de bens transitórios, ele desvia-se do caminho reto.

As pessoas tendem sempre a se associar e pela intimi-dade fazem conjecturas para o futuro. Assim vivia Antônio, homem pobre, de bons princípios, dada a inspiração para procedimentos lineares que o conduz para a paz e o bem-es-tar, colocando-o em posição de destaque entre seus amigos sem se envaidecer. É pessoa humilde, de elevado Espírito solidário, o que não ocorre com Gustavo, seu amigo de tra-balho.

Gustavo, seu amigo, pobre, visionário, honesto e tra-balhador, porém inconformado com sua situação econômi-ca, desejava ser rico e gozar a vida. Almejava ser político para ganhar prestígio em posto de comando, inspirado por ideais de difícil realização.

Antônio sempre aconselhava o amigo a ser prudente nos seus procedimentos e pensar muito antes de tomar de-cisões precipitadas, levadas pelo impulso emocional, pois a

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estrada é longa e o percurso, difícil.Gustavo, solteiro, deixou o emprego que possuía. Am-

bicioso, juntou-se a novos amigos de ideal, embrenhando-se na multidão e distanciando-se de Antônio. Porém, sem esquecê-lo, suas recomendações sempre eram lembradas, mas, sem suporte, não as cumpria. Os interesses materiais falavam mais alto.

Antônio, comedido em suas ações, não tinha grandes ilusões na vida presente. Interessava-se por cultuar os prin-cípios de Jesus, praticava o bem e o amor para com os se-melhantes, procurando sempre seu aprimoramento íntimo. Assim seguia sua trajetória de vida, sem iludir-se pelos con-vites e propostas desairosas que aconteciam na encruzilha-da. Com esperança, continuava o seu destino, seguindo com retidão, o que o conduziria a belos esplendores, desfrutando de uma vida mais suave e com menos dificuldade e sofri-mento, em ambiente de confraternização e solidariedade mútua. Neste ambiente, a multidão sabe cumprir com ma-estria e ética moral o código das Leis Naturais, cujo cume é um planalto, lugar de muita paz e constante presença de Deus e de onde se vislumbra o horizonte na integralidade.

O mesmo destino não teve Gustavo que, apesar de muito trabalho e sofrimento no percurso, conseguiu chegar à encruzilhada, onde várias pessoas de diversos estágios morais ali se achavam, anunciando a rota a seguir. Esti-mulavam os viajantes a seguirem trilhas que atendiam às aspirações de cada homem, porém ilusórias, sem qualquer fundo moral, onde cada qual era insinuado a encontrar seu

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“bem-estar e felicidade” transitórios (dinheiro, reuniões li-bertinas, jogos e vícios habituais).

Gustavo, visionário, pensou bastante e entrou pela rota da direita, acreditando que seus sonhos seriam realiza-dos. Após uma temporada e a despeito de muito trabalho, Gustavo não conseguiu o que desejava, provocando-lhe frustração, angústia e depressão pelo despreparo moral em que se achava, consequência de um passado desvirtuado.

Decorridos vários anos, ambos vencidos pela idade e saúde abalada, voltaram para a erraticidade, levando os reflexos da vida física, hábitos, sentimentos, cultura, expe-riência adquirida e aparência fisionômica.

Depois de vários anos na nova morada, Antônio, que desfrutava de bem-estar, resultado de seu bom comporta-mento na vida anterior, teve a inspiração de procurar por seu velho amigo. Várias foram as investigações nas regiões umbralinas até localizar o Espírito de Gustavo em estado de fazer dó, pois estava envolvido por ondas magnéticas de seu próprio pensamento, emissões negativas, cego na mul-tidão, com dor e sofrimento que o angustiavam e o depri-miam, incapacitando-o de reconhecer Antônio.

Antônio, possuidor de bom grau de conhecimento, muita luz espiritual e amor no coração, com dificuldade despertou Gustavo por alguns instantes. Gustavo conseguiu reconhecê-lo e, atento, pôs-se a ouvi-lo. Antônio, a fim de esclarecer o motivo de seu sofrimento, aconselhou seu ami-go a lutar por dias melhores, a mudar de pensamento, a ar-repender-se dos maus procedimentos, pois Deus é justo e

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ninguém sofre sem justa causa. Ao término dos dizeres de Antônio, Gustavo chorou

de emoção e alegria ao rever o amigo. Lembrara-se dos seus conselhos e advertências na época de juventude, sensi-bilizando Antônio, que se pôs a orar pelo amigo que estava em péssimo lugar e sofrendo.

Gustavo manifestou o desejo de acompanhar Antônio pelos caminhos que percorria nesse novo lar, porém Antô-nio o advertiu dizendo-lhe que o seu desejo era louvável, mas que entre ambos existia uma “muralha”, impossível de ser transposta neste momento. Antônio despediu-se com a promessa de retornar em momento oportuno. Precisava ir, pois tinha muitos afazeres. Gustavo, triste ao saber do final do encontro, voltou ao seu estágio, para cumprir o seu des-tino naquele presídio de cerceamento temporário da cons-ciência.

Essas são narrações da vida cotidiana do homem que devem ser consideradas como advertências para o cumpri-mento do dever junto aos ensinamentos de Jesus e que, se bem seguidas, possibilitam adquirir uma vida gloriosa e fe-liz.

FALANDO DA NATUREZA

A Terra é criada por força das Leis Naturais e cir-cunscrita com energias a direcionarem a sua generosidade. Os seus movimentos, coordenados pela lei da física, im-

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primem-lhe diretrizes que cooperam para a manutenção da energia cósmica ponderável para a vida orgânica no am-biente terráqueo.

Não se deve deixar de perceber as adequações do sis-tema organizacional a que está cingido o planeta Terra por força das Leis Naturais. Assim, os seres orgânicos existen-tes sobre a terra nada mais são do que a junção dessa mesma energia transfigurada e transformada em massa ponderável por meio da qual a vida se manifesta em sua plenitude.

No afã de cooperar com a harmonia que deve imperar no ambiente terráqueo, certa pessoa designada por Picasso era tida entre os amigos como suspeito pelo seu comporta-mento ilusório em relação a tudo que o cercava.

Certa feita, Picasso, dado a devaneios e verdadeira sintonia com as dádivas naturais, deixou a convivência so-cial e optou por conviver mais de perto com a Natureza. Assim, solitário e feliz, Picasso passou a morar em um ca-sebre de sapé, no sopé de uma grande cordilheira, à margem de um lago Azul, ladeado por um grande bosque de árvores frondosas e floridas, por onde circulava o leito murmurante de pedras preciosas, formando uma cascata na qual cintila-vam os raios do sol da primavera.

Picasso, na varanda, admirava a beleza no por do sol em tardes primaveris, observando o voo dos pássaros como a agradecer a Deus por tão belo esplendor; as andorinhas, com voo rasante, gorjeavam no azul celeste a refletir no lago de onde emanava um perfume inebriante a contagiar todo o ambiente a sua margem.

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Assim, este homem que, no contato com a Nature-za, parecia desenvolver poderes mágicos, compunha o seu habitat com a convivência pacífica de animais e aves ali existentes. Picasso falava de si para si:

– Vou arregimentar os meus animais para um passeio no alto da Serra na noite de lua cheia. Para chegar ao cume, enfrentaremos alguns obstáculos na caminhada, pois a subi-da é íngreme com vários sulcos e pedriscos escorregadios. De lá, teremos uma esplêndida visão do luar e uma salutar brisa a se espraiar na colina campestre.

Foram ao passeio e ficaram na Serra até altas horas. Ao retornarem, voltaram por outra trilha, embora mais lon-ga, de melhor acesso.

Ao chegarem, todos cansados, cada qual tomou o seu aposento para o descanso merecido, pois na manhã seguinte teriam muito que fazer. Na manhã primaveril, Picasso com os instrumentos de trabalho foi em direção ao bosque das árvores frutíferas, levando em sua companhia, Leão, o cão de guarda.

Lá chegando, preparou a refeição matinal com lanche reforçado para, em seguida, dirigir-se ao trabalho. Procedeu a limpeza das plantas com a poda anual e a necessária hi-gienização. As pequenas receberam energia vital que foram transferidas das árvores mais velhas e sadias. Usando os poderes sensoriais adquiridos no contato com a Natureza, Picasso conversou com as plantas nelas inoculando ener-gias renovadoras, hauridas do cosmo.

As plantas são como os animais, renovam constante-

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mente suas células e moléculas. Assim, Picasso aproveitou para que elas se tornassem sadias e pudessem crescer e flo-rescer saudáveis. Era uma tarefa longa, porém prazerosa e uma terapia para as horas de solidão. Ele gostava da Natu-reza, pois se sabia parte dela e era consciente da convivên-cia com um ambiente que todas as pessoas utilizavam para sua sobrevivência, a exemplo do oxigênio.

Como era tarde, teriam de retornar para casa. Leão como sempre o acompanhava; prepararia uma refeição substancial: um sopão de legumes que ele e os animais apreciavam. Chegando a casa, todos a postos à porta, com-binam que não haveria brigas e nem divergência entre eles, menos Coiote, o macaco teimoso que não ficava sem bana-na na refeição.

Após se alimentarem, os animais adormeceram, me-nos Leão, que se manteve em vigília. Picasso fez a higiene de rotina e a limpeza da casa para, após, descansar na rede e apreciar o luar da madrugada. Há certa altura da noite, acordou assustado com o balançar da rede como se alguém ali estivesse se encontrado a deleitar-se com ele em sono profundo. Recordou-se de que havia sonhado com idêntico proceder; analisa e chega à conclusão de que era sua alma que, servindo-se de seus poderes extra-sensoriais, fizera aquele devaneio.

Iniciado o novo dia, teria de terminar a tarefa come-çada no dia anterior. Iria levar Leão e Patureba, valentes e fiéis amigos. Já decorridas várias horas de trabalho, ainda faltavam algumas fruteiras para socorrer, inclusive o ma-

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jestoso pinheiro com o qual dividia suas horas de solidão; árvore sensitiva que respondia ao tato de Picasso quando exalava o tradicional perfume de seu caule.

Nos momentos de calor, se sentia à vontade sob a sombra daquele velho pinheiro que lhe refazia as energias e tranquilizava a alma com o perfume de suas flores e fra-grância de suas folhas.

Picasso sabia dispor de facilidades em conviver com a Natureza, pois afinal todo homem percorreu os graus evo-lutivos da progressão linear da alma, que compartilha os reinos mineral, vegetal e animal; neste último nos distingui-mos por sermos dotados de raciocínio, razão, inteligência e livre arbítrio, fruto da evolução conquistada no correr dos milênios.

Assim a história de Picasso, homem estudioso da ci-ência da Natureza adverte aos leitores que na estrada da vida sempre encontraremos percalços de difícil transposi-ção com o propósito de testar a nossa capacidade de supera-ção do problema, exigindo-nos muita paciência, humildade, vigilância constante do pensamento com ações positivas e, sobretudo, muita fé e esperança em Deus, que está perma-nentemente em nosso íntimo, observando as nossas neces-sidades e merecimento na lei de causa e efeito.

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FATOS HISTÓRICOS PARA O DISCERNIMENTO HUMANO

Narra a história que em determinada região na zona rural, residia um senhor, de nome Teodoro, com sua família, possuidor de bom patrimônio, era auxiliado pelos filhos em seu custeio. Com o decorrer dos anos os filhos tornaram-se adultos e independentes, cada qual tomou rotas diferentes, menos o caçula, que permaneceu junto aos pais.

Passaram-se os anos, o pai tornou-se enfermo e con-traiu o mal de Alzheimer. Onerava o filho com quem resi-dia, impondo-lhe o dispêndio de muito trabalho, era ner-voso, depressivo, impaciente e obsceno. Os demais irmãos não desejavam assistir o velho impertinente.

Os filhos cobiçavam a herança que teriam com a mor-te do pai e assim planejavam como fazer para livrarem-se do velho em péssimo estado de saúde. Após o resultado da junta médica, ficou acordado pelos irmãos que deveriam colocar o velho em um saco e levá-lo para um local distante sob a sombra de um jacarandá, em cima de um monturo de cupim, deixando-lhe apenas alguns agasalhos, água e ali-mentos.

No local combinado depositaram o patriarca, sob pro-testos. Mas o que fazer? Esperando o fim da vida, ali ele permaneceu até os últimos dias de sua existência, sem con-tar com a sensibilidade da família, pois não era simpático aos filhos.

Decorrido vários dias, os filhos reunidos programa-

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ram a divisão da herança, cabendo ao mais velho distribuir os bens, mesmo porque foi dele a sugestão de dar fim ao velho Teodoro. Assim, terminou a tarefa nefasta para o fim de uma vida. Todo ato maléfico gera compromissos com a lei de causa e efeito que devem ser resgatados.

Não sabia ele, o velho Teodoro, que em existências pretéritas e com os mesmos familiares, teve procedimento igual ao dos filhos que, na presente reencarnação, ainda ali-mentavam orgulho, egoísmo, falta de amor e de sensibili-dade que, indiretamente, cumpriram a justiça divina. A vida nos reserva muitas surpresas.

Decorridos vários anos o filho mais velho, líder do ato nefando, tornou-se velho. Sem regra na vida e com ida-de avançada caiu gravemente enfermo, dando muito traba-lho ao único filho que possuía, porém sem esperanças de recuperação.

Paulo, o jovem filho primogênito, era egoísta e vaido-so, gostava de festas e saídas noturnas, o que era impedido de exercer livremente devido ao quadro de saúde de seu pai que agora estava impossibilitado de locomover-se por cau-sa do agravamento constante de sua enfermidade, não tinha ele meios de livrar-se do “intruso” que era um obstáculo para os seus programas.

Certo dia, já cansado da rotina que lhe impunha o co-tidiano, deliberou dar um sumiço no velho pai, colocando-o em um meio de transporte e deixando-o sob a sombra de um jacarandá para o término de sua vida. Porém, foi surpre-endido pelo pai que, em voz alta disse ao filho: – Foi nesse

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monturo que deixei seu velho avô. Diante dessas palavras, o filho mais velho, líder de crime outrora, manifestava seu arrependimento e suscitava o arrependimento em seu filho, trazendo-o de volta a si, e desencadeando o fim de uma se-quência de fatos de várias reencarnações.

O filho arrependido tratou de cuidar do velho pai que melhorou seu quadro de saúde e ainda deu muito prazer à família.

A maldade, levada a efeito, torna o infrator com a consciência cerceada, exigindo-lhe reencarnações doloro-sas para resgate dos compromissos.

FECHAR A PORTA

A solidariedade é um dever que todo homem deve praticar. Essa virtude deve imperar no coração de todo ci-dadão de bem.

Ser bom e virtuoso é desejar ao próximo o que que-reria para si próprio. Convém às pessoas, por dever, manter uma vigilância mental permanente, a fim de evitar a incur-são no caminho do mal, que inibe o cumprimento do dever, com a consequente queda moral.

As virtudes do bem, quando exercidas com humilda-de e desprendimento, elevam a personalidade de quem o pratica, dando-lhe, por acréscimo, bem-estar e felicidade.

Todos nós somos visitados diariamente por Espíri-tos do além, atraídos pelos pensamentos e sentimentos que

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alimentamos. Essa sintonia pode ser benéfica ou prejudi-cial, considerando o teor do sentimento do cidadão. Todo pensamento sugerido que foge da ética e da moral deve ser rejeitado, pois se trata de um Espírito leviano e atrasado que deseja infelicitar o cidadão. Além da sugestão mental, dá ao homem mal-estar, tristeza, melancolia, inércia etc., segundo a inferioridade do Espírito. São dignos de piedade, para os quais devemos orar e fechar a porta à sua influência, mudando a forma de pensar e sentir.

Os Espíritos bons, assimilados pelos pensamentos e sentimentos nobres, nos auxiliam com sugestões elevadas, transferindo ao organismo físico bem-estar.

Viver com prazer é dever de todo cidadão, pois que Deus assim o quer.

LIBERTAÇÃO

As potencialidades humanas são escravizadas pela matéria, por conta de o amadurecimento do ego ainda não permitir a sua emancipação emocional.

É na vida atual que o homem encontra o lenitivo para deter o impulso às paixões inferiores que perturbam a sua consciência.

Valorizar a vida é de suma importância para a gran-deza espiritual. Todos os habitantes do planeta Terra são viajores na grande nau da vida com destino definido, por-tanto a convivência em comunidade é indispensável para o

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entendimento mútuo.As condições físicas do planeta exigem do ser huma-

no adaptação para sobrevivência orgânica. Entretanto este se esquece de que “nem só de pão vive o homem”, e sim aliado aos ensinos de Jesus Cristo.

O verdadeiro homem de bem é aquele que vivencia a Justiça Divina no cumprimento das Leis Naturais, na práti-ca da Lei do Amor e Caridade na íntegra, tem a consciência tranquila pelo cumprimento do dever.

A libertação espiritual do ser humano só se consegue com o aprimoramento moral, com a extinção das enfermi-dades da alma (orgulho, egoísmo e vaidade), que neutrali-zam o cumprimento da Lei de Amor e Caridade e a aqui-sição das virtudes do bem, dificultando o aprendizado na escola da Vida.

Conhecer-se a si mesmo é a forma eloquente de ana-lisar o comportamento do cidadão, para verificar se está ou não de acordo com as leis que regem a vida. Trata-se da maneira condizente de alcançar a libertação espiritual.

O aspecto fisionômico do Espírito na erraticidade, com débitos contraídos presos à sua consciência enfermiça, predispõe o seu perispírito à deformação temporária, con-forme os desequilíbrios mentais, cuja libertação só se con-segue com arrependimento sincero e aprimoramento moral.

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MENSAGEM DO ALÉM

As pessoas devem procurar, por todos os meios, não prejudicar o semelhante nos interesses que possam tocar seus sentimentos e emoções, pois tais procedimentos ficam gravados na mente por vários estágios reencarnatórios.

Assim aconteceu há vários séculos entre duas perso-nagens amigas e familiares. Moravam, no atual estágio, em uma cidadela onde as pessoas são todas amigas e de uma convivência social pacífica. Estes jovens cresceram, tor-naram-se adultos, sempre amigos, companheiros nas horas boas como nos momentos difíceis.

Participavam das reuniões na igreja, nas festas quan-do convidados, das reuniões de interesse da sociedade, quais irmãos gêmeos.

Todavia, para manutenção deste estado amigo é ne-cessário muita vigilância, controle emocional, compreen-são e tolerância mútua, sem o que não perdura a amizade. Com todo o entendimento que desfrutavam, sempre um de-les procurava sobrepujar o companheiro com suas ideias extravagantes que, muitas vezes, insistia na manutenção de seus ideais. Assim viviam Paulo, jovem simpático, de boa conversa, bem trajado, sempre disposto às tarefas que o destaque junto à coletividade e às jovens beldades requisi-tava, e seu amigo Manoel, vulgo Mané, simples e modesto, de bom coração, brincalhão, anedotista por convicção, que o destacava junto aos circunstantes pelas histórias cômicas que narrava, dando-lhe um vigor inaudito pelos aplausos

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recebidos.Como é natural, os jovens têm sempre um ideal: ad-

quirir uma família e manter a prole. Ante seus ideais, Paulo e Mané decidiram se casar com moças de cidades vizinhas, as quais não se conheciam.

Assim, Paulo e Mané foram levando a vida cada qual em seu habitat, porém sempre surgiam arranhões entre os figurantes, impulsionados que eram pelas esposas ciumen-tas e Mané ficava sempre em desvantagem.

Durante três décadas, a amizade foi mesclada pela in-compreensão de Paulo, que procurava sempre manter hege-monia sobre Mané que, de boa índole e tolerante, sempre o desculpava, porém era para ele um mal estar.

Este estado de desajuste trouxe para ambos muitos dissabores e distanciamento temporário. Depois de longo tempo, vencidos pela idade e desgaste natural, ambos vol-taram à erraticidade, sempre com a mesma contenda que os colocaram frente a frente a uma existência posterior, na qual foram irmãos consanguíneos. Contudo, a relação entre ambos permanecia incompatível pelo gênio extrovertido de Manoel, que era rejeitado por Paulo, pois era presunçoso.

Os tempos passaram e Paulo foi premiado com nova reencarnação. Nascido em cidade grande, filho de uma fa-mília mediana que tudo fazia para seu bem-estar. Tornou-se adulto, constituiu família, casando-se com Alzira, sua atual esposa, com a qual teve vários filhos; porém, sempre genio-so, dado à vaidade e orgulho pela sua criação, na qual foi registrado como Paulito, nome que muito prezava.

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Paulito, médium de efeitos físicos que ignorava tal faculdade, fornecia inconscientemente energia fluídica ec-toplasmática ao Espírito de Mané na erraticidade que, em processo de evolução, procurava de todas as formas des-vencilhar-se dos sentimentos e pensamentos retrógrados de existências pretéritas.

Não obstante este estado de Espírito, Mané, de bom caráter, procura levar uma vida extrafísica alegre e de bom humor. De vez em quando, engajava-se em brincadeiras inofensivas com Paulito, utilizando de suas energias fluí-dicas para atuar nos aparelhos telefônicos, alarmes, relógio despertador, etc.

– Hoje vou desabafar, diz Mané. Toca o telefone na hora do almoço.

– Alô, quem fala? – É Mané. A vida dá muitas surpresas e deixa as pes-

soas sem saída. Estou ao seu lado Paulito, o seu almoço é bom, reserve alguns petiscos para mim.

Paulito ficou assustado com o falatório invisível; dei-xou o almoço e narrou à esposa o fato, a qual o acalmou, julgando ser o Manoel do armazém. Interrogaram-lhe sobre o assunto e ele negou tudo.

Com a negativa do Manoel do armazém, Paulito ficou mais curioso ainda.

– Vou descansar, disse Mané, voltarei quando lhe pre-parar uma surpresa.

Após vários meses, chama o telefone. Quem atende é Alzira, que fora esposa de Mané em existência anterior.

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– Alô, quem fala?– Sou eu, meu bem, seu esposo! A mulher ficou assustada, sem saber o que falar. Pau-

lito, na outra linha, ouvia toda a narrativa. Ciumento, ficou nervoso sem saber como desvencilhar-se do desconhecido que nesse instante sussurrou-lhe aos ouvidos como a de-monstrar a sua presença, colocando Paulito mais assustado e intrigado, pois isto nunca havia acontecido.

– Afinal – fala Mané – sou eu, Paulito, seu irmão em existências remotas, para o qual deixo a seguinte mensa-gem: “O mal não compensa, a simplicidade aliada à prática do amor ao próximo é tudo na vida para superar e vencer a caminhada gloriosa para o além”.

NO FULGOR DA VIDA

As pessoas nascem e, quando pequenas, ainda na in-fância, não têm noção alguma do que será a vida adulta e responsável.

Aos responsáveis pela educação é que cumpre o de-ver de orientar, criar e educar esses rebentos no curso da vida, preparando-os para a convivência na sociedade, ensi-nando a cultura moral e espiritual, a fim de que eles vençam os obstáculos de uma carreira bem sucedida.

Assim viviam duas famílias de classe média. O Sr. João era um dos pais de família e tinha dois filhos e o Sr. Pedro era outro e possuía um filho. De quando em vez se

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visitavam, trocando ideias sobre o futuro dos filhos. João, trabalhador honesto, não poupava esforços na aquisição de recursos para a manutenção da prole.

Indagava Pedro: – João, que formatura pretende dar aos seus filhos?

– Ora Pedro, dizia João, a Maria deve seguir o magis-tério e o Manoel deve seguir a carreira que desejar.

Era a vez de João palpitar: – Pedro, você já pensou no que o Tião vai ser? Este menino esperto e muito inteligente deverá ser um bem sucedido engenheiro.

Assim, estas famílias na cidade pequena estreitavam cada vez mais as amizades. Tião, a contragosto do pai, cur-sou Medicina, pois que esta era a sua vocação, não obstante seu pai quisesse que ele se tornasse um engenheiro para ajudá-lo nas construções.

Os meninos se tornaram jovens, os jovens cresceram, transformaram-se em adultos sempre amigos incondicio-nais. Nem sempre os filhos seguem o desejo de seus pais, pois cada um tem sua vocação inata: instinto, missão, esco-lha? Quem pode saber a programação espiritual que antece-deu a presença daquela vida na Terra?

João tinha esperança de que sua filha Maria fosse uma exímia educadora, ficou decepcionado, pois ela não apreciava esta profissão, sua vocação era tratar de enfer-mos. Assim, Tião, filho de Pedro, que admirava Maria e era correspondido, uniu-se a ela em matrimônio, satisfazendo o desejo de ambas as famílias.

João e Pedro, já velhos, nas tardes ou ao luar da noite,

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trocavam ideias a respeito dos filhos. Expressava Pedro:– João, aprendemos que não se pode cercear a vo-

cação dos filhos, pois eles nascem com certas tendências ao desenvolvimento de vocações profissionais que, muitas vezes, não são aquelas de nossos desejos ou interesses.

– Entretanto, dizia Pedro, por sua vez, é verdade que há exceções quanto ao que se entende por cerceamento na vocação dos filhos, especialmente quando se nota compor-tamentos rebeldes ou nocivos ao desenvolvimento saudável da criança, já em tenra idade, nos quais devemos intervir, orientando-a e encaminhando-a no sentido de educá-la para a vida.

No caso de nossos amigos, João, Pedro e os seus fi-lhos, como tudo na existência terrestre possui suas causas, quiçá estas famílias constituíram um elo amigo ou parentes-co de épocas e vidas remotas que as vocações profissionais de Tião e Maria vieram não somente consumar, mas tam-bém perpetuar e alicerçar.

O DESPERTAR

Nossos Maiores nos informam que os Espíritos para uma nova jornada reencarnatória nos planos físicos, via de regra, passam por uma fase preparatória para a qual ficam inconscientes e sujeitos a sonoterapia, como uma forma de esquecimento temporário. É notório que para reencarnar o Espírito se submete a uma série de recomendações com as

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quais se compromete cumprir. Assim ele traz para a nova vida física compromissos assumidos e ajustados ao carma que deve superar.

Desta forma, vemos crianças que ao despertar no al-vorecer para a vida nova, nascem sadias, perfeitas e inte-ligentes, contrapondo-se a outras enfermas, raquíticas, de inteligência indefinida e até com corpos mutilados.

É desta maneira que a justiça divina se cumpre. Os primeiros Espíritos dotados de regular progresso passam por provas e missões para alcançar mais um degrau no seu processo evolutivo; os segundos, ainda enfermos e compro-metidos por expansão do instinto de maldade em existên-cias pretéritas, estão submissos à expiação como forma de resgate e sujeitos que são à Lei de Ação e Reação.

Ao iniciar a trajetória terrena no cumprimento das promessas assumidas, muitos homens, ainda que vigilantes, permanecem inertes e indiferentes às tarefas que cumprem realizar para o seu progresso espiritual. Muitos assumem novos débitos e realizam apenas pequenos ajustes em suas tarefas.

O progresso moral da humanidade na Terra é muito lento em virtude da própria condição física do planeta com seus “atrativos” que induzem o homem a caminhos distor-cidos da ética evolutiva de fundo moral. Os habitantes da Terra em sua maioria são pessoas comprometidas com suas vidas passadas e que aqui se encontram a fim de resgatar compromissos e acompanhar a Lei do Progresso a que to-dos estão submissos.

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A humanidade terrena tem em mãos benesses que lhes conferem oportunidades de crescimento, porém não desfruta da caminhada corretiva para seu aprimoramento íntimo e se entrega a cultuar o “bezerro de ouro”, na figu-ra do egoísmo, orgulho, com a expansão de todos os seus sentimentos inferiores na prática maldosa de seus instintos e imperfeições.

Essas pessoas, além de não quitarem seus débitos, in-tensificam seus compromissos para futuras reencarnações, além do sofrimento que terão de suportar na erraticidade, estado transitório a que é submetido o infrator em virtude de sua indiferença em atender o cumprimento das Leis Di-vinas.

O MANDATÁRIO

A humanidade terrena, desvirtuada por interesses egoísticos, orgulho e vaidade, não se entende na convivên-cia em comunidade.

Com comportamentos anômalos, os mandatários se digladiam em busca da supremacia e domínio dos povos subordinados. Em decorrência da pressão superior e tratos desiguais, os povos se rebelam em busca da liberdade.

Diante desses fatos, os humildes são os mais sofredo-res, por não disporem de meios que lhes deem uma vivência pacífica e digna.

As pessoas dominantes fazem o impossível para se

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manterem na posição, alimentadas pelas enfermidades da alma. Os mandatários se servem de subterfúgios diversos para lograrem êxito em suas atividades. Como tudo na vida é temporário, esses líderes não fogem à regra.

Somos todos Espíritos em fase de progresso. Há os que, alimentados pelo orgulho e egoísmo, usam mal o livre-arbítrio, resultando em sofrimento físico e moral.

Vencido o estágio terreno, terão de voltar à erratici-dade em piores condições, cujo sofrimento é indispensável para reparo das faltas. Após longo período de ajustes, retor-nam à nova vida mediante reencarnação.

Estas criaturas, não obstante o sofrimento a que fi-zeram jus, terão de voltar à vida física em condições hu-milhantes e padecendo de sofrimentos tenazes para resgate dos débitos do pretérito. Assim, a Justiça Divina se faz pre-sente no cumprimento da Lei de Causa e Efeito.

O RETORNO

Todas as pessoas que vivem no planeta Terra são Es-píritos encarnados em busca de aprimoramento moral.

Há seres missionários que cumprem bem a tarefa, desfrutando saúde, bem-estar e felicidade. Existem os que estão em provações, aceitando sem murmurar o peso da cruz que lhe está reservada, segundo as suas obras.

A grande maioria dos homens está em expiação, ví-timas que são de um passado tenebroso pelo mau uso do

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livre-arbítrio.Ser bom, honesto, trabalhador, cumpridor das leis a

que está submisso deve ser a obrigação de todo cidadão vir-tuoso. Porém, há muitas pessoas que negligenciam o cum-primento das leis, estimulados pelos sentimentos inferiores e de Espíritos afins, partindo para a criminalidade e vícios diversos sem medir consequências.

Na volta à erraticidade, os missionários que cumpri-ram bem a tarefa serão felizes. Aqueles que executaram bem a provação terão assegurado um lugar digno na outra vida. Já os que são alimentados pelo sentimento negativo, que não valorizam a vida, estimulados pelas enfermidades da alma na prática do infortúnio, voltam à erraticidade em piores condições. Sofrerão as consequências dos males pra-ticados a si e ao próximo.

Saber viver e conviver com os semelhantes é um desafio a ser vencido. Trata-se de experiência que muitos seres não adquirem, vítimas que são das enfermidades da alma (orgulho, egoísmo e vaidade).

Viver com sabedoria, amando a si próprio e aos se-melhantes com a prática da caridade e a meta recomendada por Jesus Cristo, é o que traz salvação. Fazer uma poupança para a espiritualidade deve ser a meta de todo cidadão bem-intencionado.

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O SERTANEJO SOLITÁRIO

Em uma das colinas da Serra do Adeus, em pleno ser-tão do Brasil, reside uma família que saíra da terra natal à procura de paz e felicidade.

O Sr. Vitório, com a esposa e dois filhos, embrenhou-se pela estrada deslumbrante, porém pedregosa, superando obstáculos de riachos e pontes pueris de má conservação, livrando-se a custo de animais inconvenientes que procura-vam interceptar a caminhada, até a chegada ao destino após um mês de andanças.

Instalando-se na sonhada colina com vista para o sul, com queda de água banhada pelos raios solares a refletir o arco-íris constante, tudo indicava estar em um céu perma-nente.

Como em tudo no início é novidade e inspira prazer, ali também não era diferente. O Sr. Vitório passou a traba-lhar com todas as forças para manutenção da prole. No iní-cio foi difícil, pois lhe faltava alguém que o auxiliasse nas lides do campo. Porém isso não o desanimava, pois contava com o estímulo de Maria, sua esposa.

Fazer uma choupana de pau a pique era o recurso. Projetou sua moradia que, embora simples e pobre, aga-salhava toda a família. O campo era próspero, mas exigia trato para produzir. Cercado pela mata, seus únicos amigos eram os animais já domesticados. Os pássaros silvestres fa-ziam-lhe companhia nos momentos de recreio no campo.

Ao soar da tarde, em uma figueira em torno da casa,

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a passarada cantava orquestrando o ambiente como a agra-decer por mais um dia superado. Os animais, já habituados com a presença amiga, se colocavam à disposição de um carinho do vizinho intruso.

Quando chegava do trabalho, deixava a ferramenta a certa distância da casa, pois os animais mais arredios pu-nham-se de pé a observar o interlocutor que se aproximava. Vendo quão inofensivo era o visitante, rendiam-se ao acon-chego do Vitório.

Assim, cresciam os filhos longe do colégio que ficava distante, porém não ficaram analfabetos, pois seus pais, que tinham curso superior, ministravam-lhes seus conhecimen-tos.

Desse modo, passou uma longa temporada com muito trabalho e sacrifício da família. Vitório, já cansado das lutas diárias, rogava a Deus melhores oportunidades de progres-so. Os filhos, já adolescentes, estimavam uma vida mais ativa e com um futuro mais promissor. Por isso, decidiram voltar para a cidade de origem e juntarem-se aos familiares para continuarem os estudos.

Com a saída dos filhos, a solidão tomara conta de sua alma. Já velho e cansado, habituara-se a trocar confidências com a esposa no sopé de uma árvore do lado da moradia, no clarão da lua.

Passaram-se os anos até que um dia bate-lhe à porta um viajor à procura da felicidade. Era o Sr. Pitanga, co-nhecido antigo, procedente da cidade grande, que, cansado e desiludido da sociedade, desejava refúgio naquelas para-

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gens. O Sr. Vitório tomara-se de alma nova com a vinda do visitante. Todavia, como o hóspede nunca trabalhara, não se adaptou ao trabalho na lavoura e serviços braçais. Aque-le que a princípio despertava fulgor e esperança tornou-se pesadelo, pois o visitante e hóspede negava-se ao trabalho, aspirando comer e dormir como forma de felicidade.

Os animais amigos tronaram-se arredios com a che-gada do intruso, que ficava a espreitá-los, espantando-os, não os deixando dormir. A despeito de Vitório proteger os animais, Pitanga batia em alguns e chutava com os pés os pobres jacarés.

Assim, Pitanga tinha uma vida que pediu a Deus, po-rém nunca supunha que algo pudesse lhe acontecer, vítima de si próprio. Certo dia, despido ao saber das águas da ca-choeira, distraído, não esperava que ali morasse o animal que havia ferido. Como o bicho é irracional e age pelo ins-tinto, como defesa, o jacaré tirou-lhe um pé e feriu o outro. Agora, sem recursos e paraplégico, só lhe restava voltar às origens, utilizando-se de um cavalo de custeio do sítio.

Vitório, que defendia os animais e a natureza, não esperava que tal acidente pudesse acontecer, porém acon-teceu...

Nas cercanias da casa, Vitório construiu tapumes de madeira a fim de impedir aproximações indesejáveis e des-frutar de mais privacidade. Assim, Vitório, com sua família, podia ter maior liberdade, cultuar a Deus e a natureza que tudo lhe dava, exigindo-lhe o cumprimento das leis. Com o passar dos anos, Vitório, enfermo pela idade avançada, veio

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a falecer, deixando a viúva a sós na propriedade.Sem condições de sobrevivência, Maria convocou

os filhos, venderam o imóvel e retornaram à vida social na cidade natal. Com eles ficaram a experiência de que a feli-cidade não está aqui ou acolá, mais sim no íntimo de cada coração, em saber compreender a vida no cumprimento das Leis Naturais, cultuar a vontade suprema de Deus, que é amar ao próximo como a si mesmo.

ORGULHO

Na vida há um trapézio no qual os homens se apoiam nas suas lides, para distinguir a trajetória a percorrer no per-curso da vida física.

Apoiados neste tripé, os cidadãos praticam seus atos e procedimentos que podem levá-los à prosperidade material e espiritual pelos desafios a vencer. Isso não é fácil, pois as enfermidades retidas no subconsciente são de difícil elimi-nação.

Há os que se comprazem em mantê-las, pois a perma-nência lhe é agradável, não havendo interesse na sua extin-ção, a qual somente ocorrerá com a doença compulsória.

Orgulho, vaidade e egoísmo, eis o tripé que afeta gran-de parte da humanidade terrena. Não obstante ser a prática do bem de difícil execução, há pessoas que portam os dis-túrbios emocionais no caminho da redenção, que cumprem com as recomendações de Jesus no “Amai e instruí-vos”.

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Para livrar-se das doenças malignas, o caminho é co-nhecer-se a si próprio e inscrever-se na escola da vida que inspira a humildade, a tolerância, o amor e a caridade, a fé e a esperança, para vencer os obstáculos que afligem o cidadão enfermo.

Infelizmente o orgulho é potencialmente alimentado pelo instinto de grandeza e superioridade, não admitindo conceitos que inibam o seu comportamento.

Essas pessoas ordinariamente são portadoras do ego-ísmo e vaidade, complementando o trio que nos inibe de projetos que conduzam à libertação espiritual, única forma de alcançar a paz e a felicidade.

De ordinário, na intimidade consciencial não são fe-lizes os que assim agem, pois sujeitos que estão às leis que regem a vida podem ser surpreendidos compulsoriamente com desajustes orgânicos de difícil cura, submissos que são à Lei de Causa e Efeito.

O cidadão não deve furtar-se ao cumprimento das leis que regem a vida, sob a pena de ser cerceado em sua liber-dade, segundo as faltas cometidas.

Somos todos Espíritos, porém encarnados nesta gran-de viagem rumo ao infinito. Todavia o bom comportamento é fator importante para o sucesso da viagem. É dever do homem dominar as reações emocionais, a fim de evitar a impulsividade nos pensamentos, palavras e atos que com-prometam a alma.

Toda infração às leis que regem a vida (naturais e ci-vis) traz consigo castigo correspondente, como medida cor-

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retiva compulsória para ajuste do infrator. Os pensamentos dão origem às formas e imagens. Os sentimentos configu-ram as emoções, inspiram as ações. E os sentidos realizam. Assim segue a vida.

OS QUATRO PERSONAGENS

Torquato era homem de bons princípios. Foi criado sob a égide religiosa de uma família que o educou em colé-gio religioso. Pela ajuda prestada aos colegas e pelas notas de classe que superavam a de todos, foi agraciado com o título de cidadão benemérito. Tudo isso contribuía para o envaidecimento de Torquato e para que se destacasse entre os amigos, pela sua postura de líder estudantil. Porém era teimoso e intransigente em suas aspirações.

Júlio, pessoa de regular poder econômico, de bom coração, humilde e trabalhador, bom chefe de família, nas horas vagas fazia suas andanças pelos bairros pobres da ci-dade, onde tinha o prazer de ajudar as pessoas necessitadas. Por esse gesto de desprendimento, era considerado “o pai dos pobres”.

Antônio, moço jovem, casado com Isabela, era assa-lariado e ganhava o necessário para o sustento das despesas domésticas. Possuidor de boa saúde, realizava trabalhos ex-tras, o que lhe possibilitava fazer pequenas poupanças.

Os dois, Torquato e Antônio, deixam mostra eloquen-te do proceder e caráter de cada um. Eram independentes,

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porém era desejo formar um conjunto para atividades so-ciais de amparo à infância, o que não foi possível por falta de hegemonia de pensamentos e de recursos. Ficou acorda-do que cada um seguiria o exemplo do amigo Júlio. Cabe ao leitor fazer a crítica do caráter e moral de cada personagem.

José, rapaz inteligente, formado em Direito, despro-vido da sorte para o alcance de um bom emprego na área, é pobre, com pouco recurso financeiro, na verdade quase nenhum, e não tem uma boa apresentação. Assim, vive à procura de serviço sem importar-se com sua natureza. Cole-tor de papéis na rua de sua cidade, o trabalho lhe rende uma pequena mas importante remuneração. É sempre alegre, jo-vial e satisfeito com o trabalho.

Certo dia, ao passar por determinada rua, entregaram-lhe algumas sacolas com roupas usadas, papéis para reciclar e também um lanche. Emocionado com a dádiva, José agra-deceu pela ajuda.

Ao chegar a sua choupana, colocou as sacolas com as roupas à parte e seguidamente foi até ao posto de compra levar os papéis que havia coletado naquele dia. Ao retornar, verificou o que havia nas sacolas e constatou que, além das vestimentas, tinha mantimentos e até algumas guloseimas. Assim, vistoriando uma por uma, viu que, apesar de usadas, as peças estavam em bom estado, havia roupas de cama e calçados quase que novos. Surpreso ficou ao notar, no fun-do de uma dessas sacolas, uma caixa que, ao ser aberta, continha joias e relógios de alto valor.

Intrigado com o episódio do dia e pensando na situ-

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ação que estava vivendo com aqueles objetos de alto valor em sua posse, José não dormiu à noite. Pensava como fazer com aquela pequena fortuna que não lhe pertencia.

Como é de bons princípios e honesto em tudo que fa-zia, José decidiu voltar ao lugar onde recebera tais presen-tes para devolvê-los. Pela campainha chamou a proprietária e explicou o motivo de ali estar e expôs toda a situação para a senhora.

Em seu relato, disse que, na sua passagem pela rua, uma pessoa saiu de sua residência, dirigiu-se até ele e lhe entregou várias sacolas. E dentro de uma delas estava a re-ferida caixa com as joias, relógios e demais objetos de valor e ele queria devolver, pois tais objetos deveriam estar ali por engano e pertenciam aos donos da casa.

Dona Mariana, a senhora que o atendeu, prestava atenção em José e ficou bastante surpresa com a atitude do rapaz, pois jamais imaginou que alguém pudesse ter a ati-tude de devolver os objetos de estimação de grande valor. Após o término das explicações, dona Mariana perguntou a José se ele possuía curso superior, já que tinha um bom vocabulário, boa dicção e postura, o que o distinguia dos demais que trabalhavam nessa profissão. Ele respondeu ser formado em direito, mas que por falta de oportunidade e em razão da necessidade o destino o levou até o trabalho de coletor de papéis.

Ao término da resposta de José e diante do raro episó-dio que havia acontecido em sua vida, dona Mariana deci-diu recompensá-lo e disse-lhe que, a partir daquele instante,

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iria trabalhar com o seu esposo em um novo emprego e não mais como coletor. Indicou-lhe que procurasse o escritório do esposo, fornecendo-lhe o telefone e o endereço e pediu que agendasse uma visita com o gerente. José, agradecido, despediu-se.

Já no novo emprego, José exercia a profissão, mas ainda era visto pelos colegas da comunidade como o “cole-tor de papéis”. Isso não o abalava, pois carregava consigo seus princípios morais, suas ideias e sonhos que o fizeram, em determinado tempo, comprar uma casa melhor para si e seus familiares. Assim seguia a vida.

No novo ambiente de trabalho, Torquato era seu cole-ga. Bom profissional, mas intransigente em suas opiniões e austero, sempre dificultava o consenso, para que pudessem chegar ao entendimento. Certa tarde, na sala de reuniões do escritório, numa discussão acirrada, parte dos participantes aprovava um projeto de ajuda à associação do bairro em que José coincidentemente morava e a outra parte, apoiada por Teodoro, não aprovava o auxílio almejado.

Diante da situação, José, representando o proletariado do bairro, considerado por alguns do escritório uma pessoa inculta, sem capacidade, pediu a palavra e fez uma oração abrasadora, apresentando argumentos convincentes que fizeram com que o projeto de ajuda fosse aprovado. Pela sua eloquência no discurso e capacidade em solucionar o entrave que já delongava e ficara bem acalorado, José foi aplaudido pelos presentes.

O trabalho, quando bem honrado, acaba se tornando

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uma terapia para o aprimoramento íntimo do homem, seja ele qual for. Qualquer atividade deve ser sempre valorizada, pois dignifica quem a faz.

Dada a diversidade dos hábitos, sentimentos, pensa-mentos, inteligência e comportamento, as pessoas não se equiparam, mesmo porque cada um tem uma tarefa espe-cífica a realizar no curso da vida, eis o motivo pelo qual os integrantes não se entendiam.

A convivência em comunidade é indispensável para o aprimoramento das pessoas no esforço que devem fazer para o entendimento, tolerância, humildade e compreensão mútua entre os concidadãos.

Todas as pessoas têm por obrigação combater seus inimigos íntimos, que são as imperfeições morais, através de um pensamento higienizado, bons sentimentos e contro-le emocional para ter uma vida tranquila e feliz.

Todo ser humano que se comporta mal, desrespeitan-do as leis, com sentimentos negativos, aliado ao instinto primário, sobrepondo a consequência, vai sofrer pelos des-lizes praticados.

PAIXÕES

A serventia da vida é buscar os meios necessários à sobrevivência humana em busca da perfeição. Lutar para alcançar esse objetivo é um desafio a ser vencido. Somos todos irmãos nesta grande viagem em prol da melhoria in-

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terna.Driblar as tentações do caminho é uma tarefa notória

e exigível para a conquista do bem que deve dormitar no coração de todo homem. A vida é difícil, pois se cerca de muitos obstáculos a serem vencidos.

É precisamente no esforço pessoal que está o mérito que Deus nos concede.

Ser bom e virtuoso é o objetivo a se alcançar, para o desfrute do bem-estar e de relativa felicidade.

Não fora a dedicação empregada para vencer as pedras do caminho, com as quais, a todo momento, nos defronta-mos, tornar-se-ia difícil viver. A vida terrena é ilusória. Ne-cessita-se de estímulos para minimizar as dificuldades no trajeto do viver. O que é prejudicial é a dedicação exclusiva às ilusões, sem se preocupar com a realidade da vida. O objetivo deve ser a aquisição de conhecimento intelectual e moral, suportes para a evolução do homem e cumprimento das Leis de Deus.

A opulência e o poder alimentam as enfermidades da alma. Minimizá-las à ação é o ideal para que a prática do bem seja realidade.

A maior parte do sofrimento humano provém de não se saber distinguir a ilusão da realidade. Para o crescimento espiritual é necessário dominar o ego. Assim eliminam-se as ilusões em favor da realidade.

A gentileza solidária faz parte do caráter do cidadão que se reconhece a si mesmo na análise do comportamento moral.

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As virtudes adquiridas postas em ação demonstram a superioridade espiritual do homem. As virtudes são valori-zadas quando bem praticadas, demonstração eloquente da Lei de Justiça, Amor e Caridade.

Grande porcentagem da humanidade não valoriza a vida e o tempo que Deus lhe confiou. Envolve-se em pai-xões enfermiças com excessivas ilusões, sem consideração à realidade em torno de si. É preciso lembrar que a existên-cia é passageira e a prestação de contas é indispensável na vida extrafísica.

PASSAPORTE DA SAÚDE

No decorrer de sua existência, o homem esquece que a vida é transitória, passageira, passando a gastar seu pre-cioso tempo em atos lúgubres, sem demonstrar o menor res-quício de evolução.

Sem medir o tempo que Deus lhe concede para a bus-ca da felicidade, extravia a rotina do tempo em atividades que nada contribuem para seu bem-estar. Desvirtuando a existência, acusa Deus pela má sorte financeira, saúde aba-lada, sem procurar a causa desses infortúnios. Vale lembrar que o homem é o único responsável por tais desajustes.

No percurso da existência, surgem fatos diversos que merecem atenção especial, se forem considerados os bene-fícios ou a gravidade deles. Situados em posições diversas, logram o prazer da vida, através da Natureza, que nos pre-

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mia, generosamente, com momentos de prazer e satisfação em logradouros aprazíveis, nos quais se pode desfrutar do oxigênio à sombra de belos arvoredos e do gorjear dos pás-saros que se juntam às manhãs ensolaradas. São momentos que deixam saudades.

A vida é premiada com oportunidades que levam à meditação, nas quais se recobram dados passados presos na consciência a nos lembrar das atitudes boas ou más realiza-das na vida. Quando as atitudes são boas, nos dão prazer e satisfação. E o resultado é a saúde fisiológica. Todavia, as más atitudes nos dão angústia e depressão, prejudicando a saúde.

Ante tais ocorrências, a prática do bem é recomenda-da, além de ser um dever social e humanitário, cujo retorno é garantido pela natureza.

A caridade sintetizada pela prática do bem é uma recomendação de Jesus, que nos diz que devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mes-mos.

Amar consiste em desejar ao próximo o que gostaria que fosse feito a você, é respeitar e cumprir com as Leis Naturais e civis, ser comedido nas atitudes com ética e mo-ral ilibada, não ser egoísta, nem orgulhoso, mas humilde de coração.

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PEDRAS

É na vida física que o Espírito resgata os compro-missos de vidas pretéritas, outros vêm cumprir apenas uma missão.

As pedras no caminho constituem os obstáculos a se-rem vencidos para o cumprimento do dever, exigindo do cidadão muita dedicação, boa vontade para a retirada das pedras do coração.

Os tropeços na vida acontecem pela má gestão da or-ganização na vida e as enfermidades da alma, porém o difí-cil é a readaptação para a qual é necessária muita humildade e resignação.

Em síntese, as enfermidades da alma são o egoísmo, o orgulho e a vaidade, pedras que dificultam o trajeto na vida e cuja remoção é indispensável para a felicidade do paciente e paz no coração.

É comum vermos pessoas de bom poder aquisitivo, desfrutando de bom grau de cultura, caminhando em senti-do contrário para a conquista do bem-estar, isto ocorre em função do mau caráter e deslize praticado, vítimas que são da própria imperfeição da alma.

Para dirimir as imperfeições, o importante é participar do curso que a escola da vida oferece, onde o cidadão deve amar a Deus e ao próximo como a si próprio. As enfermi-dades da alma inibem o cumprimento das leis que regem a vida, as quais preparam o cidadão para o sucesso dos ideais.

A existência física é indefinida e passageira, pois a

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verdadeira é a espiritual, onde se colhe os frutos da existên-cia terrena e quem cumpriu os ensinos será feliz. Todavia, quem desvirtuou os ensinos vai sofrer as consequências, submisso que é da lei de causa e efeito.

A escola da vida ensina como proceder diante das pe-dras do caminho, com a humildade, a paciência, a indulgên-cia, a resignação, eliminando do coração o orgulho, o ego-ísmo e a vaidade, enfermidades que afetam o corpo físico de difícil cura.

PENSAMENTOS

O pensamento, utilizado como força na genética, pode reter inúmeras desordens sociais e destruir muitas chagas sociais.

Projetando resoluta e frequentemente nossa vontade sobre os perversos e infelizes, podemos consolar, conven-cer, aliviar e curar enfermidades. Por meio desse exercício não só se obteriam resultados extraordinários para o melho-ramento do homem, mas também se poderia dar ao pensa-mento uma acuidade, uma força de penetração incalculável.

Graças a uma combinação íntima de bons fluidos, as-pirados do reservatório ilimitado da Natureza, consegue-se, com a assistência dos bons Espíritos, restabelecer a saúde comprometida, restituir a esperança e a energia dos enfer-mos.

Pode-se até, por um impulso regular e perseverante

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da vontade, via pensamento, agir à distância sobre os incré-dulos, enfermos, os céticos, e mais, abalar sua obstinação, atenuar, fazer penetrar um raio de verdade no entendimento dos mais hostis.

Eis aí uma forma ignorada da sugestão mental, des-se potencial invisível de que se servem os homens, o qual, se utilizado no sentido do bem, transformaria o estado da sociedade, despertando-nos a consciência para o cumpri-mento do dever.

Mas para que se produzam os efeitos desejados é ne-cessária uma ação energética e perseverante, com podero-sos impulsos, como paciência, fé, esperança e abnegação. Mas para isso é preciso haver merecimento espiritual.

PEQUENAS CIDADES

As cidades interioranas com uma vida pacata e de pouca atividade, quase sempre, condicionam os seus habi-tantes a uma convivência social muito aconchegante, com formação de grupos ocupacionais.

Em virtude da dinâmica na expansão evolutiva, força-dos que são pela tecnologia moderna, estes grupos sempre se harmonizam. Diferenciam-se, contudo, em função do aprendizado intelecto científico e moral dos seus partici-pantes.

Uns deleitam com suas experiências pessoais no pra-zer com a vida campestre, outros se dão ao convívio social

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no desfrute de um lazer pouco salutar que lhes proporcio-nam um desgaste moral nocivo à saúde.

Todavia, há sempre aqueles tidos como crentes, que procuram levar uma vida mais metódica sem estardalhaço, com uma convivência mais harmoniosa, na procura do bem-estar próprio e dos semelhantes.

Na cogitação de uma liderança coletiva, há aqueles que se distanciam do campo religioso, sem esquecer os que se dedicam à política e outras atividades econômicas. No desejo de conseguirem postos relevantes partem para a dis-puta pessoal, os participantes se digladiam para a conquista das melhores classificações.

Para atingirem o ponto culminante, as pessoas des-tes grupos valem-se de tudo, usam de meios sem medir as consequências, golpeiam os sentimentos de um bom amigo com termos injuriosos que ferem as emoções dos compa-nheiros, distanciando-se das pessoas, vítimas de um idea-lismo personificado de pouco benefício para a coletivida-de. Com estes propósitos, criam desafetos e se distanciam, mantendo, todavia um reduzido grupo.

Entre os participantes de grupos destacava-se o Sr. João, pessoa de meia idade, com família numerosa, traba-lhador, honesto, de bons princípios, religioso e incapaz de ferir a sensibilidade do semelhante, insensível às fofocas e intrigas de pessoas sem escrúpulos e maldosas.

Também havia o Sr. Paulo, político e idealista, faná-tico, de princípios morais duvidosos, muitas vezes verba-lizando termos que magoavam os sentimentos das pessoas

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com as quais convivia. Paulo, pelo seu Espírito de grandeza e orgulho, não aceitava réplica, apelidos, não obstante sen-tia-se bem com a sua maneira de ser em meio aos seus con-cidadãos. Assim, conviviam na mesma cidade João e Paulo que aparentemente eram amigos.

Ambos trocavam ideias, porém Paulo procurava se destacar e, às vezes, expressava opiniões fortes que exter-navam seus sentimentos menos nobres. Alcoolizado tirou satisfação com João pelo apelido que lhe dera. Sem perce-ber que o havia irritado, João, humildemente se desculpou pelo ocorrido, levando o caso na brincadeira. Paulo não aceitou a justificativa e, enfurecido e raivoso, quis levar o encontro às vias de fato, ameaçando João de morte.

Cego de ódio e de arma em punho, sem direção, Pau-lo atirou. Foi quando, por trás dele, surgiu um ser de vestes brancas que disse com firmeza: – Deixe a arma! Neste ins-tante, voltou-se e viu o vulto que desapareceu.

Incontinente Paulo ficou tácito, trêmulo e sem ação por vários minutos. Quando voltou a si, levou as mãos à ca-beça, arrependeu-se do que iria fazer, valorizando um fato tão quimérico que poderia custar a ele, e também a João, muito sofrimento.

O vulto era um Espírito amigo de João que lhe veio ao socorro. A perda de ação pode ser atribuída ao pensamen-to e à emoção de João projetada no adversário que, com o auxílio dos Mentores do além, magnetizaram Paulo inibin-do-o daquele ato.

A vida correta de João o amparou, a bondade do Alto

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o socorreu e possibilitou a capacidade de lucidez de Paulo que, em segundos, compreendeu que o crime não compen-sa. A vigilância mental é indispensável para o sucesso de qualquer convivência social, assim como a tolerância e o entendimento mútuo favorecem a vida o respeito necessário à convivência pacífica.

POPURRI

Os males imbuídos na consciência do cidadão (or-gulho, egoísmo e vaidade) proliferam na sociedade pelas condições físicas do Planeta e pela pequenez dos seus ha-bitantes. Como não há regra sem exceção, uma grande por-centagem de homens de bem cultiva a lei do amor e cari-dade.

A lei do amor deve imperar no Planeta, após o apri-moramento dos seus habitantes, com a eliminação das en-fermidades da alma.

Para atingir o ideal são necessários assiduidade, força de vontade e conhecimento de si próprio. Para conhecer-se a si, o cidadão deve colocar-se frente ao “espelho mental” e proceder à crítica do seu comportamento e verificar as suas imperfeições.

Se está ele imbuído no sentimento da fraternidade cristã, cumpre as leis naturais e civis da sociedade para a conquista da felicidade almejada.

O egoísmo é uma das piores enfermidades da alma,

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pois neutraliza todas as virtudes do bem, levando o cidadão à falência moral. O egoísmo é incompatível com a lei do amor e da caridade. Quanto mais acentuado for o egoísmo, mais usurpador se torna o cidadão, ficando ele susceptível às enfermidades morais e físicas.

A forma mais eficiente de se combater a predominân-cia maléfica da matéria sob o Espírito é a convivência à abnegação consigo mesmo.

Ao dormir, após a oração de agradecimento a Deus pela vida com consciência tranquila pelo dever cumprido, deve-se fazer uma retrospectiva dos bons atos e verificar se houve a prática da negligência à caridade a alguém.

Da vida nada se leva, exceto a consciência tranquila do dever cumprido, as virtudes adquiridas pelas boas ações, os conhecimentos intelectuais e morais e a aparência física.

A felicidade é um estado de Espírito atinente a cada pessoa. Ela se vincula ao bom comportamento do cidadão. No bom comportamento está inserido o amor a Deus e ao próximo como a si próprio, o que exige a prática da carida-de.

Os hábitos, quando integrados à vida do cidadão, condicionam-no a atos mecânicos nem sempre bons e satis-fatórios. O objetivo do cidadão deve ser o de se aprimorar. Para isto é importante a prática de atos bons que estimulam a elevação espiritual.

Se se quer libertar-se dos males terrenos e escapar das reencarnações dolorosas, deve ser cultivada a moral e fazer com que a voz do dever enriqueça a alma de conhecimentos

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da ciência e da moral cristã. Isso permitirá o livrar-se das imperfeições e o fiel cumprimento da missão de cada um na prática da lei do amor e caridade.

Diante de fatos indesejáveis e comentários desairo-sos, o melhor procedimento é usar a prudência, ver, ouvir e calar. Sem as qualidades que nos santifiquem o caráter, dignifiquem a personalidade, espiritualizem o raciocínio e iluminem o coração, é impraticável a felicidade nesse e nos mais gloriosos mundos. Ninguém se perde. Todos se sal-varão. Pois Deus, que é bom e justo, dá a todos a oportuni-dade de redenção através da reencarnação. Por meio desta, o homem poderá adquirir sua autoiluminação espiritual, o resgate do pretérito e o preparo do futuro.

O Espírito que não renuncia espontaneamente às suas imperfeições morais será obrigado à aceitação compulsória pela lei do progresso. As percepções do Espírito estão con-dicionadas ao grau de sua evolução. É por meio desta que o Espírito percebe o que lhe desperta interesse. Ninguém consegue crescer espiritualmente sem o resgate dos débitos retidos na consciência.

A luz deve ser colocada sobre o candeeiro e não de-baixo dele, a fim de que todos a vejam e aprendam os en-sinamentos que são verdadeiros bloqueadores de instinto maléfico do ser humano. A luz que projeta são os ensinos de Jesus Cristo. Eles são uma represália às enfermidades da alma (egoísmo, orgulho e vaidade).

Os pensamentos dão origem às formas e imagens. Os sentimentos configuram as emoções, inspiram as ações. E

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os sentidos realizam-nas.Para que o sofrimento dê fruto na correção moral do

cidadão, é indispensável que se mantenha imbuído dos prin-cípios da fé, esperança e humildade, paciência e resignação.

O pensamento é a força que determina, estabelece, transforma, edifica, constrói e destrói a felicidade do ser humano. É indispensável à vigilância mental permanente, para o fim de livrar-se das injunções maléficas que surgem durante a viagem terrena.

O Espiritismo como ciência e filosofia deve ser estu-dado e pesquisado por todos os cultos religiosos, uma vez que é de ordem universal, e sua prática enaltece o progresso do ser humano.

PROGRESSÃO

Os Espíritos são criados simples, ignorantes, mas do-tados de inteligência para que por intermédio da linha do progresso atinjam a finalidade de sua criação que é a de evoluir por si nos vários círculos da vida física, até alcançar um estágio de perfeição no planeta de destino.

Assim vivem as pessoas que habitam o orbe terreno, cada qual numa linha de conduta e um modo de pensar he-terogêneo em função da diversidade progressiva.

As pessoas não perdem por aguardar as novas opor-tunidades que surgem no caminho da vida que podem pro-porcionar os meios precisos para alcançar a evolução moral

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e espiritual condizente no preparo para uma vida feliz e ra-diante na erraticidade.

Faz parte da evolução do ser humano a diversificação mental, para que se tolerem mutuamente com humildade e indulgência recíproca, a fim de alcançarem o objetivo alme-jado que é o progresso moral.

O progresso se faz lentamente mediante diversas eta-pas de vida reencarnatória até alcançar o estado angelical ou de ministros de Deus, como auxiliares no cumprimento e execução das leis divinas ou naturais do universo.

As pessoas devem viver com sabedoria, valorizando a oportunidade que Deus lhes concede para progredirem, amando o próximo e a si mesmas, poupando-se de excessos que comprometam o equilíbrio físico e emocional, nutrin-do-se de pensamentos e sentimentos bons e sadios, e evitan-do tanto quanto possível atitudes que acarretem riscos a sua segurança física.

É necessário prever o futuro espiritual, cultivando o presente com boas ações sendo esse o reflexo do passado.

PROGRESSO ESPIRITUAL

Se tudo na vida fosse fácil de conseguir, não haveria necessidade do esforço pessoal para atingir a finalidade que é a conquista de bens materiais que oferece ao cidadão tran-quilidade e bem-estar.

As dificuldades são instrumentos de que Deus se ser-

Crônicas para Meditação - 105

ve para testar a capacidade de seus filhos na superação dos obstáculos. Todavia, o egoísta contumaz procura subterfú-gios que atendam quase que meramente ao ego emocional, cuja imperfeição o predispõe compulsoriamente ao desa-juste orgânico.

As pessoas levadas por este caminho dificilmente conseguem a paz verdadeira. As enfermidades procedentes das imperfeições da alma que perpetuam na trajetória física, dificultam a realização de uma felicidade perfeita.

A indisponibilidade íntima em eliminar tais distúrbios vem provocar obrigatoriamente os desajustes emocionais com resultado negativo na consciência do cidadão.

Tais recursos, que se projetam da alma de cada pes-soa, não condizem com a finalidade precípua da reencar-nação, cujo fim é o de resgatar compromissos pretéritos e aprimorar a alma no combate de suas imperfeições para uma vida melhor na erraticidade, na vida espiritual.

É na vida espiritual que o Espírito projeta a sua cons-ciência conforme a sua evolução, a qual redimensiona o seu estágio na erraticidade a fim de se conseguir nova reencar-nação.

Assim que assume o compromisso de volta à vida fí-sica, o indivíduo traz consigo o carma a ser resgatado ou missão a ser cumprida. Nessa trajetória terráquea, muitos desvirtuam o seu fim e além de não atingirem o resultado aguardado, aumentam os seus compromissos com as novas faltas cometidas.

Procede à verdade ao responder pelos deslizes co-

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metidos, ajustando-os na lei de causa e efeito. Sendo Deus Bom e Onipotente, deixa que seus filhos aprendam espon-taneamente a procura da felicidade, todavia aqueles menos preparados encontram mais dificuldade, portanto, torna-se mais longa a sua trajetória evolutiva.

As diversas passagens pela vida física são a forma que o Espírito dispõe para testar a sua escolaridade e apren-der a cumprir e respeitar a lei do progresso, sem a qual não existe aprimoramento espiritual.

De volta a nossa pátria, onde há a classificação do aprendizado terráqueo, os homens (Espíritos) se culpam en-tre si pelo desvio de conduta e mau uso do livre arbítrio, em virtude de suas consciências comprometidas, sendo obriga-dos a voltar à escola terrena para novo aprendizado.

Ali não se cultua o prazer físico e sim o das virtu-des aquinhoadas no percurso terráqueo; aqueles que melhor aproveitaram o estágio, portanto mais evoluídos, gozam do bem-estar pelo dever cumprido com maior altivez.

Não ficamos isentos de um retorno, pois é na reencar-nação que o Espírito coloca à prova o seu progresso até que possa alcançar um grau de aperfeiçoamento que o conduza a mundos superiores.

Somos todos carentes de evolução, pois o conheci-mento é infinito e temos a obrigação pessoal de atingir a angelitude. O sofrimento do Espírito na erraticidade é mui-to acentuado para aquele que ainda possui a consciência comprometida pelo mau uso do livre arbítrio e a prática dos deslizes cometidos na vida física, que se torturam no

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conjunto afinado com o sentimento negativo de que ainda dispõe. Todavia, os bons que atingiram um grau de aprimo-ramento espiritual, desfrutam a recompensa de uma vida mais tranquila e feliz.

Diante desta narrativa, os homens têm o dever de amarem-se e aos semelhantes, a fim de investirem no futuro que os aguardam.

PROMESSAS CUMPRIDAS

Ser útil ao próximo é o modo pelo qual se adquire a potencialidade de uma verdadeira paz interior.

Realiza-se o bem para que Deus possa realizar a be-nesse de felicidade tão almejada por todo cidadão. Não se deve furtar à realização do aprimoramento íntimo, para li-beração das torpezas que afligem o ser humano – orgulho, egoísmo e vaidade.

Na vida temos de ter a nossa história. O bem vincula-se ao progresso espiritual.

Quando nascemos, somos dependentes de tarefas e expiações a cumprir. Assim, temos o dever de cumprir os encargos que escolhemos como reflexos da vida pregressa.

Conta-nos a história que dois personagens no além confabulavam sobre como seria a nova trajetória carnal para a qual estavam autorizados.

Um dizia que ao voltar desejava burilar a sua alma levando uma vida pobre e difícil, pois queria servir a Deus

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na sua pureza e no cumprimento das leis a que está subme-tido na Terra.

O segundo, ser rico e poderoso para gozar a vida, pois tinha vários planos a cumprir.

Assim ambos nasceram. O primeiro homem e o se-gundo, mulher.

O rapaz tinha na vida os meios de que poderia valer-se para cumprir a sua tarefa. Estudou com dificuldade, pois os genitores eram paupérrimos. Com zelo e dedicação, for-mou-se em arquitetura, o que lhe permitiu boa colocação e salário condizente com o seu trabalho.

Até então, tudo corria dentro do previsto, até que o egoísmo e o orgulho, que estavam ocultos, vêm à baila. A posse de bens despertava o interesse pela constituição de uma firma, que poderia gerar riquezas.

Como na vida há muitas surpresas, ainda jovem, ena-morou-se de uma bela jovem, com a qual contraiu núpcias.

Mal sabia o jovem que a esposa era o seu amigo com o qual confidenciava a próxima reencarnação.

Deixaram, no além, vários Espíritos amigos, dentre os quais dois que lhes eram mais íntimos. Com o lar mon-tado, nasceram-lhes dois rebentos gêmeos, seus amigos de outrora.

Como a firma prosperava, a família tinha o conforto merecido. Os filhos cresceram fortes, inteligentes, cursa-ram engenharia. O pai, abastado, juntamente com os filhos, criou uma construtora com boas perspectivas de progresso.

Não obstante alimentar grandeza e orgulho, era bom

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empregador, salariava os funcionários mais que o normal. Construiu creche, habitação digna para os auxiliares e ope-rários, criou passe livre para compras no armazém. Enfim, era considerado o “pai dos pobres”.

Aboliu os males da alma. A esposa dedicava horas de trabalho à creche, cuidando das crianças com alimentação e medicamentos fornecidos pela farmácia da firma. Seu neto era o médico.

Fazia o bem por prazer. Era virtuoso no cumprimento das leis que regem a vida.

Com o correr do tempo, já velho e a tarefa cumprida, veio a óbito. Qual não foi a surpresa ao encontrar os velhos amigos que o esperavam. Tinha passe livre, conquistado pela condição moral adquirida.

A empresa continuou crescendo sob a administração dedicada da mãe e dos filhos, que herdaram do pai as qua-lidades morais.

O pai, feliz pelo trabalho realizado, continuava a ins-pirar os filhos no cumprimento do dever, no amor a Deus e ao próximo como a si mesmo.

REFÚGIO SOLITÁRIO

Quando nascemos, trazemos uma trajetória de vida a ser percorrida, cuja tarefa consiste em uma missão de provas ou no resgate de um passado comprometido. Mui-tas pessoas, para o cumprimento dos compromissos feitos,

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seguem a rota que a consciência lhes indica. Outros, porém, pela sua imperfeição, caminham em sentido oposto à Lei do Progresso e se aferram na prática de atos lesivos, que os comprometem ainda mais, ao invés do resgate prometido.

Nesse sentido, muitos aplicam a sua inclinação a ati-vidades diversas que pouco concorrem para seu progresso moral e espiritual. Outros habitualmente procuram ativar a sua trajetória com mais sensatez, reconhecendo as suas imperfeições e limitações.

Assim é que muitos empregam o tempo em ativida-des remuneratórias, e nos intervalos de repouso e descanso acercam-se de atividades esportivas. Muito se tem dito so-bre uma variada gama de esportes, porém algumas se desta-cam pela sua praticidade.

Em uma pequena cidade interiorana, residia um se-nhor quarentão, solteiro e órfão de pais. O senhor Antônio, trabalhador, pobre, honesto, semianalfabeto, era tido como dinâmico, pois, apesar da situação em que sempre vivera, era alegre, prestativo, de boa convivência social. O espor-te era seu ponto fraco. Aí pensou em como poderia fazer para adquirir uma bicicleta para as horas de recreio, pois seu minguado salário mal dava para atender às suas neces-sidades básicas.

Imaginando como proceder, foi inspirado a fazer uma rifa esportiva entre os amigos. Mãos à obra, sempre pensan-do em seu sonho de tornar-se um andarilho.

A gráfica, a única existente na cidade, fez a impressão de cem cartelas numeradas. O prêmio era um estágio em

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fim de semana na hospedaria Lagoa Azul.Mas em tudo há sempre alguém com Espírito de mal-

dade, pessoas que nem sempre mostram o que são, de modo que as aparências enganam... Foi quando um dos aparentes amigos arguiu suspeitas sobre a honestidade de Antônio, colocando em risco a venda de seus bilhetes.

Do total apurado, faltava-lhe a venda de 5% da rifa, montante suficiente para a aquisição do rodante. Foi à loja e conseguiu do vendedor um desconto especial, com a con-trapartida de inserir em suas roupas a propaganda da loja.

Após o negócio, Antônio foi verificar a quem coube o bilhete premiado. Qual não foi a surpresa quando descobriu de ter sido ele mesmo o ganhador, uma vez que não foram vendidos todos os bilhetes.

Ante o ocorrido, Antônio deu o prêmio ao dono da loja, que, lisonjeado, o transferiu para o balconista. Depois dos ajustes finais, Antônio foi acondicionar os objetos para a viagem dos seus sonhos. A bagagem teria de ser completa, para não pôr em risco o passeio.

Antônio, solitário, desejava ir só. Entretanto, a con-tragosto, teve um companheiro até a Lagoa Azul, num percurso de 60 quilômetros, até o sopé da serra de mesmo nome, Serra Azul.

Lá se vão os dois amigos, vagarosamente pela estrada além, íngreme e pedregosa, que os levaria ao destino al-mejado. Com trabalho, percorreram uma parte da estrada e pernoitaram à sombra de um pequizeiro, sobre uma rede, há mais de dois metros de altura.

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Não fosse uma fogueira improvisada, teriam de ficar alertas, pois a visita de um tigre faminto os perturbava com seus miados. João, que trazia consigo uma arma, decidiu atirar no animal para afugentá-lo. Voltada a calmaria, pude-ram então descansar.

Pela manhã, Antônio fez um lanche rápido e foi veri-ficar as pegadas do animal intruso, concluindo tratar-se de um gato selvagem existente na região. Antônio foi desper-tar João, pois teriam muita estrada a percorrer.

– Antônio – diz João – estou com muito sono, quase não dormi à noite, aguarde um pouco.

Ansioso, Antônio fazia planos para a viagem, quando João pulou da rede.

– Estou em forma, vamos partir.Ambos reiniciaram o percurso na estrada íngreme e

com muitos sulcos, pois se iniciava ali a subida da Serra Azul.

Já cansados, tiveram de empurrar as bicicletas estrada afora. Já era tarde quando avistaram ao longo da estrada uma luz junto a um casebre e seguiram em sua direção. Ba-teram palmas e foram recebidos por um velho senhor. Pe-diram se poderiam pernoitar sob a mangueira ali existente. O velho, no entanto, logo se prontificou a dar-lhes repouso na casa.

Prosa vai, prosa vem, ficaram sabendo que o velho, Sr. Pedro, era natural de sua cidade, onde moram vários pa-rentes seus.

– Ora, meninos, para onde vocês vão, andando por

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essas bandas?– Sr. Pedro, o João vai para a Lagoa Azul e eu, sem

destino, vou andar por terras estranhas. O senhor mora aqui há muito tempo?

– Tem uma temporada comprei esta propriedade do Zé Manoel lá em Alvorada e vim morar aqui. Fiz esta casa, planto lavoura, crio algumas rezes, tenho o Lambari, meu cavalo de estimação, vale ouro, é meu braço direito. Estou velho, é verdade, mas gozo de boa saúde, assim vou criando minha família. Foi quando surgiu uma donzela, esbelta e graciosa, que foi apresentada pelo Sr. Pedro como sua filha. Ela portava três copos de chá quente, pois fazia muito frio, o que era natural na região.

– Maria é muito dedicada e trabalhadora – diz o Sr. Pedro.

Maria simpatizou-se com João e ele retribuiu com graça.

Já era noite quando o Sr. Pedro colocou dois colchões de palha sobre o piso de terra na sala, onde passaram a noi-te. A casa era tosca, de pau a pique, coberta de sapé, em cujas paredes havia muitos furos que tornavam o aposento mais frio.

Amanheceu o dia e ambos se preparavam para uma nova jornada da viagem, quando surgiu Maria agradecendo a visita dos moços, pedindo a João que, em sua volta, viesse tomar um café com bolo que ela iria preparar. Embora cons-trangido pelo galanteio da moça, João aceitou.

Antônio, muito circunspecto, agradeceu ao Sr. Pedro

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pela hospedagem. Despediram-se e retornaram para a estra-da, empurrando as bicicletas morro acima.

Depois de um longo percurso margeando a mata nati-va e a ribanceira que forma o boqueirão da lagoa, à direita da estrada, há um desvio por onde se chega à lagoa, trilha a ser percorrida por João. João tornou-se amigo de Antônio e, ao despedirem-se, deu-lhe de presente a arma que portava, uma vez que ele teria de percorrer longa distância em situ-ação de perigo.

Antônio continuou sua jornada solitária. Lá pelas tan-tas, parou e deixou de lado a bicicleta e a sacola de alimen-tos. Logo surgiram uns símios, que queriam roubar-lhe os suprimentos, o que o obrigou a afugentá-los a pedradas.

Já estava bastante cansado e anoitecia no alto da ser-ra, quando avistou uma colina na vastidão do horizonte. Pelo clarão lunar, viu uma enorme mangueira verdejante e florida. Decidiu-se então ir em sua direção e refugiar-se sob a fruteira. Armou a rede, colocou seus pertences e foi re-pousar. No dia seguinte, vislumbrou a lagoa, com sua bele-za natural. Um riacho, que se precipita na serra, forma uma esplêndida cachoeira, cuja água alimenta a Lagoa Azul, re-fletindo o azul celeste, origem de sua denominação.

Diante de tanta beleza, de tranquilidade e de pura at-mosfera, decidiu fixar ali sua moradia.

– Optei por estudar a ciência universal para encontrar na Natureza a existência de um ser superior que governa e orienta toda a existência humana. Nesta solidão, constatei a realidade da vida, a tarefa reservada a cada cidadão e a

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comunhão com Deus.

RICO POBRE

A vida nos traz muitas surpresas. Algumas pessoas se transformam surpreendentemente de ricos em pobres, ou-tros de pobres em ricos. O poderio econômico de que algu-mas pessoas desfrutam não lhes pertence, é um empréstimo que Deus lhes concede para que se faça bom uso.

Pela tendência moral, muitos ricos se revestem de egoísmo, orgulho e vaidade, enfermidades da alma que os inibem ao cumprimento do dever moral e cívico na gestão financeira, a que está submissa as variações do mercado. O código de ética adverte como gerir os bens patrimoniais, os quais são dados por empréstimo cujo patrimônio pertence a Deus.

Tempos atrás, havia dois senhores, ricos e poderosos; o primeiro era o Sr. Rui, que fazia uso do dinheiro em em-préstimos à população, cobrando juros acima dos de merca-do, movido pela ganância e egoísmo e quem não o pagava era surpreendido pelo seu cobrador que usava de ameaças de sequestro de bens e até a prisão ao devedor.

Por não confiar em dinheiro depositado em banco e sem muita atenção ao que acontecia ao redor de sua pessoa, o Sr. Rui guardava boa parte de sua fortuna no cofre de sua residência e todo dia se punha a contá-lo.

Certo dia, uma condição adversa na economia fez

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com que a moeda viesse a ser trocada e o dinheiro que antes valia muito, passou a não mais ter valor algum e a fortuna que ele possuía não passava agora de um monte de papel, transformando-o de rico em pobre. Já de muita idade e sem recurso para cuidar da saúde, veio a óbito.

O segundo ricaço, o Sr. Reinaldo, era um industrial, detentor de um vasto patrimônio, avarento, brigava por qualquer migalha e era tido como um péssimo patrão pelos funcionários, remunerava-os mal e nas horas extras não os remunerava.

Na sociedade, o Sr. Reinaldo era conhecido como o “Rei do Arroz”, porém não dispunha de bom prestígio, era mau caráter; na compra do cereal, roubava no peso e sem-pre era favorecido, e na venda fazia o mesmo.

Na vida há surpresas. Certa data o patrimônio do “Rei do Arroz” virou pó, sua grande indústria sofreu um incên-dio e esse incêndio a consumiu por completo. As causas nunca foram descobertas. Já velho e sem forças para reagir, enfermo, veio a falecer.

Na erraticidade, em pleno sofrimento pelas enfermi-dades da alma, ambos encontram-se municiados pelo refle-xo da vida física que, na vida espiritual, ainda sentem.

As impressões e sensações que sentem dão-lhes a im-pressão de estarem encarnados, dada a aparência do corpo que tem com o antigo. Essa situação causava aos Espíritos um desconforto, pois falavam e ninguém os ouvia a não ser os companheiros de infortúnio.

Dada a condição de inferioridade espiritual, ali per-

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maneciam por longo tempo e com a presença de Espíritos a quem fizeram sofrer a exigir-lhes reparos, com expressões descorteses e angustiosas, ferindo-lhes os sentimentos.

Decorridos vários anos de sofrimento e arrependidos, conseguiram autorizar a reencarnar no seio da família em verdadeira pobreza.

As crianças cresceram como as demais, com as mes-mas tendências da vida anterior. Sem estudo, aprenderam a profissão; um foi ser sapateiro, o outro folheiro encanador. Consorciaram-se com moças que foram ex-esposas, tive-ram vários filhos a quem fizeram sofrer em outra existência, criaram todos com dificuldade, com esperança de melhora, pois estavam cumprindo um castigo que o tribunal da cons-ciência acusava pelo mau uso da riqueza que possuíram.

As enfermidades do Espírito são de difícil cura, exi-gindo do paciente boa vontade, paciência, humildade, re-signação e esperança para vencer o mal e ser feliz.

ROTA DA VIDA

No caminho da vida, encontra o homem vários obstá-culos. Vencer as dificuldades é de suma importância para a conquista do bem-estar.

Para vencer os primeiros passos, não deve o homem titubear no cumprimento das tarefas que lhe são reservadas. Ele precisa nutrir-se da energia cósmica, lastreada na fé e esperança, para a superação dos empecilhos e vencer a mis-

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são que lhe foi confiada.Todas as pessoas têm tarefas a cumprir. Uma delas

refere-se ao seu aprimoramento íntimo. O cidadão cônscio de suas responsabilidades deve se esmerar no cumprimento do que lhe cabe. Afora isso, precisa libertar-se dos miasmas que permeiam a consciência pela falta de vigilância mental.

Todo ser humano tem, no seu íntimo, uma trajetória preestabelecida a percorrer, a qual corrobora para sua edifi-cação espiritual e autoestima. Entretanto, muitos se desviam do roteiro e se enveredam por caminhos tortuosos que, além de nada construir, criam ondas de sofrimento, vinculando a consciência a desgastes que os obrigam à reparação do-lorosa. E como se isso não bastasse, culpam a Deus pela má sorte e o seu destino, esquecendo-se de que seguem o seu roteiro por livre-arbítrio e de que são os construtores de seu bem-estar ou infortúnio. Isso porque cada um é juiz em causa própria.

Ante tais assertivas, deve o reencarnado absorver o máximo da experiência que passa em qualquer dos estágios, aprimorando conhecimentos de ordem moral e da ciência espiritual. Devem, assim, cultivar o amor universal como parâmetro para a conquista do mais alto grau de progresso que se adquira em uma existência.

No campo da atividade tem o homem infinitas manei-ras de exemplificar o mais belo dos ensinos de Jesus Cristo. Trata-se da caridade, conforme recomenda o Evangelho Se-gundo o Espiritismo, em seu capítulo XV, página 245, que diz: “Fora da caridade não há salvação”. A caridade é que

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condiciona o nosso bem-estar na espiritualidade.No exercício das diversas maneiras de caridade, o ho-

mem encontra a aproximação com Deus. Ao desenvolver sua sensibilidade, ele pode ouvir e sentir a inspiração divina em seu coração e na consciência.

Devemos cultuar nosso amor a Deus. E só o fazemos por meio do exercício da caridade, que é a única forma de reverência a Deus e a Jesus, nosso guia e orientador no cur-so da vida.

A melhor maneira de preservar a caridade é estar sempre atento ao seguinte preceito de Cristo: “Faça ao se-melhante o que deseja para si”.

ROTEIRO DIAMANTE

A vida na atual trajetória terrena é cheia de surpresas, algumas boas e as demais carregadas de más consequên-cias. Há uma incógnita a vencer!

A forma como as pessoas vivem, preocupadas com a aquisição de mais patrimônio financeiro, com grandes visões no afã de adquirir bens além de suas necessidades, projetando situações que lhes permitam possuir empreen-dimentos ativos que lhes deem um retorno compensatório, o que nem sempre ocorre devido a circunstâncias diversas lhes acarreta, muitas vezes, consequências adversas.

Muitos caem na angústia mental depressiva, alimen-tados por pensamentos negativos, associados a energias ex-

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trassensoriais, que tornam essas pessoas passíveis de prati-car atos condenáveis que comprometem o estágio evolutivo na vida terrena.

Vítimas de si mesmas, pela ânsia de poder, riqueza, prestígio e posição social que as levam a sonhar alto, ali-mentadas pelo orgulho e egoísmo, essas pessoas são capa-zes da prática de atos que fogem à ética e à moral, esforçan-do-se para manterem a posição almejada, esquecendo-se de que este patrimônio é um empréstimo divino, condicionado à boa aplicação e que pode ser subtraído a qualquer mo-mento pela má administração.

As pessoas devem procurar viver num patamar de serenidade, paz, saúde, amor e caridade que são indispen-sáveis à felicidade. Para manter esta posição, é necessário conhecer a si próprias e despertar seus pensamentos e sen-timentos, voltando-os à prática da caridade, a fim de colo-cá-los em harmonia com os ensinamentos de Jesus e com os conhecimentos evangélicos na busca de praticá-los para sua elevação espiritual, conquistando uma vida melhor e, consequentemente, mais feliz.

SAUDADE

Saudade é palavra doce, que toca nossas emoções e sentimentos, inspirando a consciência do cidadão saudosis-ta ao cumprimento das leis que regem a vida.

O ser humano é muito sentimentalista, e os fatos mais

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importantes são sempre lembrados. Quem não se recorda de um fato ocorrido na infância, na juventude ou na fase adulta que traz saudade e boas lembranças ou desalento ou mágoa pelo insucesso ocorrido?

A vida nos traz muitas surpresas, conduzindo-nos no bom caminho, que resulta em felicidade. Todavia, por ne-gligência e inércia mental, nos enveredamos pelo caminho que dá prazeres transitórios e aparente satisfação, mas com resultado nocivo.

Na vida, o homem ignora a existência espiritual, me-nosprezando o que há de mais precioso. Trata-se dos conhe-cimentos que ele deve adquirir, para seu bem-estar e forma-ção da “poupança espiritual”.

A lei do amor deve ser praticada, porém é esquecida eventualmente pelo homem, levado pelo egoísmo. A justiça divina se faz presente nos momentos de insensatez, ante o sofrimento do semelhante que clama por assistência.

No planeta em que vivemos, o sofrimento, pauta da vida, como forma de ajuste espiritual e aprimoramento mo-ral, é indispensável à cooperação em prol do bem-estar so-cial recomendado por Jesus, quando disse: “Amai a Deus e ao próximo como a si mesmo”. A recompensa virá por acréscimo.

SONHOS DOURADOS

A humanidade nasce para crescer e evoluir. Para atin-

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gir a meta, há necessidade da eliminação das rugas, das im-perfeições da alma.

É comum que todos tenham um sonho, uma aspiração para um futuro promissor, ligado às lides da matéria, com posicionamento voltado para as coisas concretas que pos-sam trazer-lhes a felicidade.

Assim vivem as pessoas a sonhar com um beneplácito para encontro do tesouro oculto. As pessoas de toda estirpe, quer econômica ou social, procuram a custo encontrar um tesouro, pois o egoísmo cria o interesse pelo aumento do poderio econômico, sem limites, sem fronteiras...

Com as vistas voltadas para aquisição de bens ma-teriais, visando integrar o patrimônio ajustável às necessi-dades extravagantes do cotidiano, o homem não mede as consequências, na suposição de que esses bens granjearão a felicidade plena. Engana-se o que assim pensa. A vida não consiste somente em armazenar bens concretos, mas tam-bém bens da alma, que se colocam acima das futilidades engessadas pela vida material.

É neste caminhar que o homem encontra o tesouro oculto, que faz com que a sua alma dourada pela Bondade Divina possa despontar para uma nova vida, não obstante ainda física, com luzes a indicar-lhe a trajetória a percorrer no caminho da verdadeira felicidade, que consiste na paz de consciência, em querer para o semelhante o que deseja para si mesmo.

Está contida neste preceito a recomendação do ver-dadeiro ensinamento que deve ter o homem em mente, que

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é o de amar uns aos outros, que valoriza o amor a Deus, na expressão da prática do bem como dever, porém ainda pouco exercida.

Jesus, em seus conselhos aos discípulos, instruiu-os de que a caridade fosse praticada sem preconceitos para com todo cidadão, pois que todos são enfermos da alma, necessitados do socorro, a fim de aprimorar o íntimo pelas experiências próprias.

É verdade que o bem-estar só é conseguido à custa do querer e do esforço próprio. Jamais o homem conseguirá o que almeja sem o labor próprio, pois que nada se arquiva no patrimônio psicofísico do cidadão sem que haja o devido merecimento.

Assim acontece com aquele que procura o tesouro oculto que, aliás, está em suas mãos e o deixa escapar pelo descumprimento das leis que regem a vida: o de amar a si próprio e amar os semelhantes. O ser humano, como Espí-rito encarnado temporariamente, deveria ativar suas inten-ções em busca da renovação interior, no preparo para uma nova vida mais feliz, que é a verdadeira e imutável, a do Espírito.

Nada vale juntar tesouros materiais em detrimento dos bens espirituais que são imperecíveis, valores tais que, somados, como o amor, a fé, a esperança, a humildade, etc., não são superados por bens físicos.

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SUPERSTIÇÃO

O homem inteligente, voltado para as benesses líri-cas que a sociedade oferece e no apogeu dos prazeres fugi-dios da ética moral, entrega-se de corpo e alma à busca do bem-estar e felicidade nos gozos materiais. Ao agir assim, esquece-se de que a verdadeira felicidade não consiste na vida material, mas, sobretudo, na vida espiritualizada que se encontra em nosso íntimo, ao alcance de nossas mãos.

Saber ser feliz não é privilégio de todos, mas do ser inteligente que sabe administrar a sua vida nos moldes ins-pirados nos ensinos do mestre Jesus.

A felicidade é sempre relativa ante o infinito, porém está condicionada ao grau de evolução e interpretação da maneira de como ser feliz. Há homens que desfrutam de tudo que aspiram na atual vida, entretanto reclamam da au-sência de felicidade.

É natural que isso aconteça. Ao desvincular-se da vida espiritual e entregar-se às paixões do mundo e ao egoísmo desregrado, deixa sempre uma válvula que compromete o bem-estar.

No corre-corre da vida para manutenção do seu sta-tus, apega-se a tudo que considera importante como pretex-to de assegurar-lhe a pretensa felicidade.

Na avaliação do prazer de ser feliz, há pessoas que convivem em ambiente que para alguns é hostil, mas que para outras é normal e prazeroso, de acordo com seu conhe-cimento e condição evolutiva.

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Assim é que os homens apegados à tradição popu-lar de fundo religioso cercam-se de sofismas supersticiosos para montarem o seu estafe social, a fim de serem felizes. Porém invariavelmente lhes falta algum complemento, vin-do a pesar-lhe na consciência, como a paz em família, os negócios malsucedidos, a saúde física etc.

Conta a história que determinado cidadão, bem situa-do, cheio de superstições, não tolerava alguns enfoques que pudessem pôr à prova o seu modo de pensar e sentir. Acha-va que passar sob uma escada dava azar, ver um gato preto causava desgosto, o uivo de um cão traria doença, o canto da coruja, má sorte. Assim, ele evitava tudo que pudesse obstaculizar o seu bem-estar.

Embora mantivesse seu ponto de vista inspirado nas superstições, a vida corria-lhe normal. Como em geral o ho-mem alimenta-se de um sentimento egoístico, esse cidadão não fugia à regra.

O tempo foi passando e ele sempre desejoso em au-mentar o seu patrimônio. Ludibriava as pessoas que com ele negociavam, valia-se de meios e subterfúgios para não atender às necessidades de seus empregados, voltava-se para as coisas passageiras da vida. Isso tudo aos poucos o afastou dos compromissos íntimos perante a fé cristã.

Decorrido algum tempo, as premissas foram se es-maecendo, até o ponto de toda mística cair por terra, pois a crendice popular nada podia oferecer de bom ou mau, pelo fato de suas variantes estarem lastreadas em nossos pensa-mentos e procedimentos.

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Assim, o nosso cidadão jamais seria feliz alimentan-do aqueles pensamentos tão distantes da solidariedade cris-tã, não obstante tivesse tudo que desejava. Mas faltava-lhe o principal – a caridade consigo próprio –, a única maneira de ser feliz, com amor a Deus e ao próximo.

UM CAIPIRA NA CIDADE

Neste imenso Brasil existem regiões de difícil acesso. Numa delas, num sertão desprovido de qualquer meio de comunicação e civilização, mora um ilustre cidadão bra-sileiro, filho de uma nação rica de trabalhadores honestos. Trata-se do Sr. Antônio, vulgo Tonho, casado com Maria das Dores, pais de José e Tião.

Tonho possui uma fazenda com muito gado e outros animais de custeio. Para manter a família, cultiva uma la-voura de cereais. Não vende o gado, pois não sabe fazer contas. Com um recurso vindo de herança, vive de modo simples, como peão sertanejo.

Lá pelas tantas, em um dos dias em que tudo parecia terminar de forma igual, Tonho toma a decisão de levar a família para um passeio na cidade. Chama a esposa e pede-lhe para arrumar os meninos. Maria argumenta que não po-deriam ir, pois tinha muitos afazeres e os meninos estavam desprovidos de roupas.

Mesmo concordando com a esposa, diz que partiriam cedo na manhã seguinte e sai para arrumar os animais.

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Amanhecido o dia, Tonho pede para Maria acordar o Zé e chamar o Tião. E enquanto ela arruma a matula, acon-dicionando-a no bornal, arreia os cavalos para a viagem.

Ao arrumar-se, Maria chama a atenção de Tonho para o calçado que usava, dizendo que suas botas estão gastas e muito feias. Ele replica que ninguém iria prestar atenção nisso e as calça. Saem rumo à viagem. Tonho lidera a comi-tiva, seguido de sua mulher e dos meninos, cada qual com sua matula, capa de chuva e cobertor para o frio.

A distância entre a fazenda e a cidade é longa, vários dias de viagem. Na trilha passam por trechos pedregosos, atravessam dois córregos, sobem uma enorme serra que margeia um desfiladeiro, fazendo ali um pouso forçado à margem da estrada. Maria reclama para Antônio, dizendo que ele não havia pensado quando programou a viagem, pois é muito trabalhosa e ela já está cansada; não aguenta mais.

Antônio retruca. Argumenta que quem está na chuva é para se molhar. E avisa que estão chegando e que ela iria gostar, pois fariam compras e passeariam muito.

Depois de muito cansaço e trabalho com os animais esbaforidos pela viagem, chegam a Pau D’Arco, uma pe-quena cidade no interior do sertão, porém com bons atrati-vos e comércio ativo.

Assim que chegam, Maria pede a Antônio para provi-denciar uma pousada onde possam descansar e dar comida às crianças, já que todos estão famintos. Antônio avisa que já avistara a hospedaria onde ficariam e determina que ela

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fique com as crianças, enquanto ele trataria dos animais, que estão esgotados e com fome. Tão logo terminasse, vol-taria.

Decorre certo tempo, Tonho chega e Maria lhe adver-te que as crianças estavam com medo de ficarem sozinhas. Necessitava arrumar uma candeia para iluminar o quarto, além de água e comida. Tudo ajeitado, Tonho resolve des-cansar e fica matutando o que fazer na manhã seguinte.

Ao acordar, Tonho levanta-se e avisa à Maria que iria até a loja da esquina comprar uma bota nova. Ela recomen-da que seja um calçado bom e bonito, e que não demorasse, pois as crianças queriam passear.

– Veja lá, seu moço, se eu tenho cara deste tal de número? Edu, tenho nome, me chamo Tonho; muito bem, agora podemos nos entender, não é?

O balconista insiste:– Qual é o número do seu calçado?– Ah! Já me esqueci; parece que é 24. Na fazenda a

gente mede é com palmo.– Aqui na cidade é o número da bota. Não somos de

briga, vou lhe arranjar um calçado de seu gosto, de número 40.

Tonho experimenta e diz ter ficado boa, apenas um pouco grande a do pé direito, ao que o vendedor alega que deveria ser erro de fábrica. Ainda assim, Tonho fica com a bota marrom e pede ao vendedor para jogar fora a que ele usava.

Ao sair da loja em direção à pensão, Tonho manca,

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pois uma das botas é maior que a outra e, além disso, há um pequeno prego que lhe machuca o calcanhar. Na pensão Maria recomenda a Tonho que retorne à loja, pois estava com dificuldades de caminhar. Porém tomasse seu café an-tes, já que havia saído em jejum.

Ao voltar à loja, Tonho procura pelo vendedor e diz que queria trocar as botas que acabara de comprar. O bal-conista que o atendeu diz, sem nenhum escrúpulo, que não poderia, pois ele já tinha usado o calçado e não havia o que fazer. Tonho apela, indigna-se e mostra que o erro foi de fábrica. O calçado era de tamanho diferente e ainda tinha um prego que o machucava. Ao terminar a explicação o bal-conista realiza a troca.

Resolvido o problema, Tonho e a família saem pela cidade, a passeio, todos arrumados. Vão ao cinema e de-pois tomam um lanche. Por onde passam, se impressionam com o que veem. Tudo era novidade. No interior, nada disso existia.

Observam as lojas enfeitadas e os diversos mane-quins. Tião, ao ver um manequim sem roupa, indaga ao pai sobre a tal mulher que não se mexe mesmo estando nua. Tonho ouve de alto a pergunta do filho, mas põe-se a ca-minhar. Adiante veem um enorme prédio, com inúmeros apartamentos. Tonho, admirado, pergunta a si mesmo como era possível construir casa tão alta e ela não cair.

Andando pela cidade, ficam admirados. Quando che-gam ao cinema, Tião fica assustado com a porção de gente num mesmo lugar. Tonho explica que ali estão para com-

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prar o ingresso. Ficam em fila e acompanham a multidão.Depois de longa demora, chega a vez de Tonho e de

sua família. Ao entrar no cinema, mais um susto dos meni-nos. Tudo é escuro, apenas uma lanterna ilumina o recinto.

Sentam-se à frente a pedido dos garotos. Estes, acos-tumados a andar descalços, não toleram o calçado e o reti-ram. O ocupante da cadeira ao lado reclama, dizendo não suportar o mau odor do ambiente, mas seguem sem dar atenção à reclamação.

Assim que o filme tem início, os meninos ficam sur-presos. Tião sempre pergunta ao pai o que está vendo na tela. Aparece um homem grande que acredita ser um gigan-te. Fica com medo, mas Tonho o tranquiliza, dizendo-lhe que é apenas um filme. Neste instante surge um menino vendendo pipocas e guloseimas.

Zé se interessa pelas bolinhas coloridas. Já Tião gosta das pipocas e, ao saber que se trata de milho frito, indaga ao pai se isso é o que davam aos porcos. Tonho confirma, mas explica que existem outras utilidades para o milho com que alimentavam os animais, como o fubá, a farinha. Tudo dependia da utilidade que queriam dar ao alimento.

A resposta de Tonho faz com que Zé pergunte o mo-tivo de o porco engordar e o homem não, já que sempre ouviu dizer que o milho é que engorda o porco. Tonho arre-mata dizendo que o porco engorda porque come e dorme o dia todo, já o homem se alimenta com o milho, mas como trabalha não engorda.

Ao término do filme todos saem. Tião segue com um

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pé calçado e ou outro não. Próximo ao cinema, tomam um lanche no barzinho. Satisfeitos, de barriga cheia, Tonho paga a conta e voltam à pensão para arrumar a tralha. To-nho quita a hospedagem e vão todos dormir, pois na manhã seguinte sairiam bem cedo.

Logo que acorda, Tonho sai para arrear os cavalos, enquanto Maria chamava os meninos. Cada um pega sua trouxa. Tonho faz as últimas recomendações. Maria deveria usar a sombrinha, pois o sol estaria bem forte nesse dia. A viagem é longa e poderia haver alguma mudança no tempo. Além disso, a estrada não é boa.

Durante a caminhada, Tonho ressalta a amizade feita com o pessoal da pensão. “Aquele que parte leva saudades e os que ficam também”.

UM QUARTETO INSÓLITO

As pessoas que se comportam mal aprisionam a sua consciência para futuros reparos em novas experiências re-encarnatórias. Como resultado disso, como que colhendo os frutos amargos de uma preexistência, encontramos pessoas mutiladas de nascença.

Nascem no orbe terreno crianças que trazem do pre-térito o reflexo de sua má conduta, resultando na mutilação fisiológica como reparo e resgate dos compromissos assu-midos, contribuição natural para o aprimoramento saudável da alma pelos sofrimentos que terão de suportar.

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Esses grupos distinguem-se pelo seu comportamen-to. Existem os que se irmanam na luta pelo conhecimento e elevação moral que lhes permita uma existência feliz e proveitosa. Todavia, há grupos formados que se qualificam pela imperfeição moral e na prática dos mais variados des-lizes, que comprometem a existência, vinculando a consci-ência em terríveis sofrimentos, como forma de correção da saúde da alma, incursos que estão na lei de causa e efeito.

Há grupos que se formam em função dos sentimentos homogêneos, hábitos e pensamentos assimilativos. Surge, assim, uma minicolmeia de amigos do pretérito que anun-ciam o desejo de aprimoramento íntimo, pois reconhecem os motivos da falência a que foram levados pela imperfei-ção pessoal, motivo pelo qual convivem cada qual com seu problema resignadamente com fé e esperança na superação dos obstáculos a serem vencidos.

Na vida assimilativa, as pessoas reúnem-se para ex-posição dos problemas pessoais e planejamento para o fu-turo. Assim, quatro jovens alegres e dispostos, cada qual com seu déficit nascituro, reúnem-se periodicamente para uma conversa amistosa, vinculando mais a amizade entre os companheiros a semelharem-se como irmãos consanguí-neos.

Tião, que é mudo, aceita resignado o fardo de sua própria escolha. Jó, que é gago acentuado, é um dos mais alegres do grupo, pois diverte os amigos e a si próprio com suas histórias. Zé, surdo incurso em falhas pretéritas, é jo-vem batalhador, reconhece suas falhas e aceita com paci-

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ência sua provação. Guto, o ceguinho, é o mais novo do grupo, pois, a despeito da sua deficiência, cumpre bem seus encargos, é sério e dadivoso para com seus amigos.

Os componentes do grupo são músicos e Guto é can-tor profissional. Depois de muito entendimento, resolveram formar um quarteto musical: Os Insólitos. Os músicos fica-ram distribuídos da seguinte forma: o cantor é o Guto; Zé, o baterista; Tião, no violão e Jó no contrabaixo, os quais podem ser eventualmente substituídos.

O primeiro ensaio foi na casa de Guto, que tem difi-culdade de locomoção. Após um período de trabalho foram para um descanso merecido e um suculento lanche. Em se-guida, veio uma animada palestra.

Como sempre, Jó sentia-se primário na conversa. Como era gago e tinha dificuldade em manifestar seus pen-samentos, a turma se divertia com o amigo, o qual sabia contornar a situação, não se importando com as brincadei-ras.

Assim que acalmaram, Jó veio com suas histórias. Muito extrovertido, animava o grupo com suas histórias inebriantes. Tião tencionava liderar o grupo, porém não dis-punha das formas dos gracejos de Jó, que o deixava cons-trangido. Jó, como sempre, dava início às brincadeiras. Foi quando resolveu contar a sua versão da história:

– Aamama Maria é uma momo moça fe feliz co com seus qui quinze anos e e é gra graciosa, mui muito na na namoradeira, eu go go gosto dela.

Tião logo interferiu: – Você gosta de costela? De boi

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não! O Guto logo argumentou: – O encosto de uma costela

no tempo frio aquece e é bom! Foi quando Jó, já impaciente, diz: – Vo vo vocês não

me me dei deixam contar a his história pois a Ma Maria não gos gostou da dabrin brincadeira e zarzar zarpou.

Tião, que presenciou toda a brincadeira, gesticulou que Jó é muito inexperiente e não soube cativar a Maria. Essa moça é bem-vista por toda a turma, porém ela simpa-tiza muito com Jó.

Terminada a reunião, cada qual partiu para sua casa, levando a saudosa lembrança de momentos felizes que pas-saram juntos, como uma família em evolução.

VIDA RETIDA

Norteie a vida sem prazeres aberrantes. Ante esta ver-dade é muito importante que o homem se nutra de bons propósitos e sentimentos nobres a fim de superar os impre-vistos e as incompreensões dos semelhantes, eliminando os inimigos íntimos, que são as imperfeições morais que im-pedem o progresso espiritual do ser.

A convivência é exigível como forma de aprimora-mento mútuo pela indulgência e tolerância recíproca. Dian-te de fatos que melindram os sentimentos, surge, de quando em vez, mau entendimento, gerando antipatia e, às vezes, ódio e vingança.

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É notória a insatisfação, pois cria um círculo magné-tico que os envolve, potencializando a enfermidade insupe-rável e a consciência assimilativa com energias inteligentes extrafísicas imperfeitas.

Conta-nos a história uma narrativa que ilustra sobre-maneira fatos aberrantes ocorridos. Não muito distante, nasceram duas crianças. Eram dois meninos. Um, filho de pais bem-sucedidos, e outro de uma família pobre, que mal se mantinha à custa de esforços.

As crianças cresceram e se educaram sempre amigas e com ideais nobres, esperançosas e específicas. João, o fi-lho de família abastada, não poupava a sua grandeza, pois nada lhe faltava. Vítor, com sua timidez, dado o desajuste de condições sociais, era sempre visto com resquícios de menosprezo pelo amigo. Porém se sobressaía pela esper-teza, por ser trabalhador, honesto, inteligente e esforçado para tornar-se um homem de bem.

Assim, vivenciaram todas as transformações com que a vida lhes brindava. João, acostumado à vaidade, era ar-rogante e, por que não dizer, pretensioso e nutrido de mui-tos defeitos adquiridos no rol dos ambientes frequentados. Vítor, com sua simplicidade, era tido como conselheiro e arguia João:

– Você, amigo, deve procurar uma maneira de levar a vida com mais complacência com os menos aquinhoados, ter mais paciência e mostrar que você é um cidadão de bem e nortear seus atos de forma que não mereça críticas.

– Ora, Vítor, já ando aborrecido com seus conselhos e

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sua intenção de obstar os meus desejos. Quero dar expansão às minhas emoções, aproveitar a vida nos prazeres da socie-dade, pois sou jovem e tenho este direito.

No afã de satisfazer seu ideal, enveredou-se na bebi-da e nos tóxicos, consumidos sem ouvir os vários apelos e conselhos dos pais e amigos de infância.

Certo dia, embriagado, embrenhou-se em luta com um conhecido, companheiro de ilusões, levando a pior, pois com as escaramuças saiu todo ferido com hematomas e cego de um olho. Refeito do acontecido, animado de ódio e vingança pôs-se a espreitar para consumar a sua pretensão.

Vítor, o amigo, não poupava esforços para dissuadi-lo da vingança, porém, João replicava:

– Vítor, um homem como eu não pode ficar apático ante o acontecido, tenho o meu amor próprio, vou partir para o ajuste.

Com este ideal, possuído de uma arma, foi ao local de reuniões costumeiras para disputa da honra. O companheiro da refrega, prevendo o que poderia acontecer, muniu-se de uma arma, porém João foi mais esperto e feriu o agressor, deixando-o prostrado no chão, morto.

Ante o acontecido, João foi detido e segregado da so-ciedade, por muito tempo. Todavia, pelo prestígio do pai e de bons defensores, foi libertado por legítima defesa.

Vítor, como de costume, continuava no seu trabalho e estudo aprimorativo, não se esquecendo de agradecer a Deus pela sua vitória, serenidade e bem-estar junto à sua boa esposa e filhos. Vítor inquiria:

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– João, como pode você levar uma vida de prazeres aparentes e agora estar sofrendo dessa forma? Sempre o ad-verti do que poderia acontecer nessa vida de orgia! É neces-sário observar que a vida não consiste somente em prazeres, mas sobretudo no bom comportamento e atendimento aos preceitos da religião, que nos exorta ao cumprimento das leis de Deus e do aprimoramento íntimo.

– Ora, Vítor, depois dos fatos que já se foram, tenho pensado em como fazer para ter paz no coração. Estou so-frendo e não acho alternativa para sair desta situação.

Diz Vítor:– João, você sempre teve vista alta, animado pelo

seu orgulho e posição social enveredado pelo caminho do mal, não obstante as advertências recebidas. Na vida nada acontece sem justa causa e um fim útil. É necessário que haja plantação boa para colher o retorno bom: o que você plantou de bom? Nada! Assim, hoje está colhendo os frutos correspondentes do que fez. Resta agora penitenciar-se e procurar com paciência e humildade superar os sofrimentos por que passa, a fim de despojar de seu coração o orgulho, o egoísmo, o ódio, a vingança e tantos outros defeitos.

– Vítor, hoje me curvo diante dos desígnios que pro-curei, pois com meu proceder meu pai, levado pelo desgos-to, está acamado, vítima de enfarte e eu, cego e doente.

– Ora João, não se amargure tanto, pois se voltar sua visão verá que há muita gente com maiores sofrimentos e que apreciariam carregar a sua cruz. Ninguém é culpado pelos nossos sofrimentos, somos nós que, pela indiferença,

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inércia e invigilância mental, caminhamos pela estrada lar-ga da vida com as facilidades e prazeres infrutíferos, com vícios e maus procedimentos, sem nada plantar de útil e proveitoso para com o semelhante. Assim, João, hoje você está recebendo o retorno daquilo que você mesmo fez. A Justiça Divina é imparcial, pois não premia como não cas-tiga nenhum de seus filhos; resta-nos cumprir e acatar as leis naturais e as leis civis às quais estamos submissos e seremos felizes.

VIDAS EXISTENTES

A natureza revela a existência infinita de formas de vida à procura de sua subsistência, para se manterem vivas e em harmonia, cujo fim concorre para sua evolução per capita e universal.

Constantemente registram-se na orla terrena diver-sas variações atmosféricas, que se dão ao labor de espargir meios que concorram para o aprimoramento energético e íntimo do ser vivente a que se refere o criador.

Ser partícipe da colmeia de vidas existentes na na-tureza é uma glória, pois que o Senhor dos mundos vem sempre aprimorando, pelas vidas sucessivas, a dinâmica fi-siológica desses viventes.

Estas esfinges geológicas que detêm o quadro pro-missor da existência na Terra vêm demonstrar a grandeza do patrocinador da criação suprema que é Deus, por inter-

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médio da Natureza.Afinal o que faz o homem nas diversas vidas para

sua grandeza evolutiva? Habita a Terra à procura de seu progresso íntimo e espiritual, resguardando a sua integrida-de física para alcançar na erraticidade a evolução almejada, prêmio pelo esforço empregado em prol do desenvolvimen-to individual e coletivo do ser humano.

Este, habituado no comportamento maléfico, nem sempre se ajusta ao cumprimento das leis de causa e efeito, cujos sofrimentos por ele mesmo gerados deve suportar.

O número das reencarnações espirituais é indefinido e elas se sucedem até que o Espírito consiga o aprimora-mento condizente com o planeta em que habita. A vida do Espírito reencarnado no planeta Terra é muito tumultuada, pois o desvio de comportamento é grande, com a expansão das paixões inferiores exigindo do cidadão muita vigilância mental para não ser surpreendido com atos que comprome-tam a sua existência.

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CapaRicardo Mendonça Oliveira de Queiroz

DiagramaçãoEdileizer Muoio

ImpressãoGráfi ca e Editora Aliança